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CFO – Direito Processual Penal Militar Resumo de DPPM – Introdução Prof. Rogério Silvio www.prolabore.com.br 1 Conceito É o conjunto de normas e princípios que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal Militar. Regulam ainda, as atividades preliminares da polícia judiciária militar. Princípios Gerais: Princípio do devido processo legal Não há pena sem processo: No Brasil ninguém vai preso sem o devido processo legal (art. 5º, LIV da CF) Princípio do Juiz Natural Há duas regras básicas: a) Há um juiz competente para a causa; b) Está proibido pela Constituição Federal a criação de Tribunal de Exceção (art. 5º, LIII e XXXVII). Princípio do Contraditório É a possibilidade de contrariar argumentos, provas. (art. 5º, LV da CF) Existem provas que são colhidas sem o contraditório, são as chamadas Provas Cautelares. Exemplo de prova cautelar: perícias. As provas cautelares tem o contraditório diferido, ou seja, adiado, o contraditório é postergado para o processo. Princípio da Ampla Defesa Contém duas regras básicas: a) Possibilidade de produzir provas; b) Possibilidade de recursos. Obs.: não existe fase de defesa no Inquérito Policial, pois é peça administrativa. Princípio da Presunção de Inocência Este princípio está conceituado na Convenção Americana sobre direitos humanos. Consiste em que todo acusado é presumido inocente até que se comprove a sua culpabilidade (art. 5º, LVII da CF). Duas regras: a) Cabe a quem acusa o ônus de provar a culpabilidade; b) Regra de tratamento no sentido do acusado não poder ser tratado como condenado. c) Súmula 09 do STJ - Prisão Provisória - Apelação - Presunção de Inocência. A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência. Princípio da Verdade Real O juiz não pode se conformar com a simples notícia-crime trazida pela parte. Todos os meios probatórios em princípio são válidos para comprovar a verdade real. Da inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito (art. 5º, LVI da CF) a) Prova ilícita - são as provas adquiridas por meios ilícitos. Ex.: prova mediante tortura (Lei 9.455/97). b) Prova Ilegítima - são as provas colhidas com violação de normas processuais. Ex.: ouvir uma testemunha proibida de depor (art. 355 do CPPM). Princípio da Obrigatoriedade No crime militar a ação é sempre pública e o Ministério Público Militar é obrigado a oferecer a denúncia. Vide art. 30 do CPPM: A denúncia deve ser apresentada sempre que houver: a) prova de fato que, em tese, constitua crime; b) indícios de autoria. Exceção: Transação Penal - Art. 76 da Lei 9.099/95 - onde o Ministério Público faz um acordo com o réu, ao invés de denunciá-lo. Princípio da Indisponibilidade do Processo Art. 32 do CPPM - iniciado o processo o Ministério Público não poderá dispor dele, ou seja, abrir mão na acusação. Exceção: Suspensão Condicional do Processo – (art. 89 da Lei 9.099/95)

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CFO – Direito Processual Penal Militar

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Conceito É o conjunto de normas e princípios que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal Militar.

Regulam ainda, as atividades preliminares da polícia judiciária militar. Princípios Gerais:

Princípio do devido processo legal Não há pena sem processo: No Brasil ninguém vai preso sem o devido processo legal (art. 5º, LIV da CF)

Princípio do Juiz Natural Há duas regras básicas: a) Há um juiz competente para a causa; b) Está proibido pela Constituição Federal a criação de Tribunal de Exceção (art. 5º, LIII e XXXVII).

Princípio do Contraditório É a possibilidade de contrariar argumentos, provas. (art. 5º, LV da CF) Existem provas que são colhidas sem o contraditório, são as chamadas Provas Cautelares. Exemplo de prova

cautelar: perícias. As provas cautelares tem o contraditório diferido, ou seja, adiado, o contraditório é postergado para o

processo.

Princípio da Ampla Defesa Contém duas regras básicas: a) Possibilidade de produzir provas; b) Possibilidade de recursos. Obs.: não existe fase de defesa no Inquérito Policial, pois é peça administrativa.

Princípio da Presunção de Inocência

Este princípio está conceituado na Convenção Americana sobre direitos humanos. Consiste em que todo acusado é presumido inocente até que se comprove a sua culpabilidade (art. 5º, LVII da CF). Duas regras: a) Cabe a quem acusa o ônus de provar a culpabilidade; b) Regra de tratamento no sentido do acusado não poder ser tratado como condenado. c) Súmula 09 do STJ - Prisão Provisória - Apelação - Presunção de Inocência. A exigência da prisão

provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência.

Princípio da Verdade Real O juiz não pode se conformar com a simples notícia-crime trazida pela parte. Todos os meios probatórios em princípio são válidos para comprovar a verdade real.

Da inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito (art. 5º, LVI da CF) a) Prova ilícita - são as provas adquiridas por meios ilícitos. Ex.: prova mediante tortura (Lei 9.455/97). b) Prova Ilegítima - são as provas colhidas com violação de normas processuais. Ex.: ouvir uma testemunha

proibida de depor (art. 355 do CPPM). Princípio da Obrigatoriedade

No crime militar a ação é sempre pública e o Ministério Público Militar é obrigado a oferecer a denúncia. Vide art. 30 do CPPM:

A denúncia deve ser apresentada sempre que houver: a) prova de fato que, em tese, constitua crime; b) indícios de autoria.

Exceção: Transação Penal - Art. 76 da Lei 9.099/95 - onde o Ministério Público faz um acordo com o réu, ao invés de denunciá-lo. Princípio da Indisponibilidade do Processo Art. 32 do CPPM - iniciado o processo o Ministério Público não poderá dispor dele, ou seja, abrir mão na acusação. Exceção: Suspensão Condicional do Processo – (art. 89 da Lei 9.099/95)

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Princípio da Oficialidade Os órgãos da persecução penal são oficiais.

Princípio da Iniciativa das partes/inércia da jurisdição

art. 129, I CR/88, art. 29 do CPPM, Art. 5º LIX CR/88. – o juiz não pode dar início ao processo sem a iniciativa da parte.

Princípio da Publicidade O processo e os atos processuais são públicos. Este Princípio não é absoluto, pois é possível restringir a publicidade do processo em casos especiais. (arts. 387 do CPPM – vide)

“ A instrução criminal será sempre pública, podendo, excepcionalmente, a juízo do Conselho de Justiça, ser secreta a sessão, desde que o exija o interesse da ordem e disciplina militares, ou a segurança nacional”.

PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO PROCESSO PENAL MILITAR

Princípio da prevalência da índole do processo penal militar Os casos omissos no CPPM serão suprimidos pela legislação do processo penal comum, quando aplicável

ao caso concreto, mas sem prejuízo da índole do processo penal militar (art. 3º, “a” do CPPM). A índole do processo penal militar está diretamente ligada aos valores, prerrogativas, deveres e obrigações,

que sendo inerente aos militares e devem ser observados no decorrer do processo, enquanto o acusado mantiver o posto ou graduação correspondente.

Princípio da manutenção das prerrogativas do posto ou graduação do réu (art. 73 do CPPM)

Mesmo estando subjudice o militar não perde as prerrogativas inerentes à sua condição de militar. Prerrogativa do posto ou graduação Art. 73. O acusado que for oficial ou graduado não perderá, embora sujeito à disciplina judiciária, as prerrogativas do posto ou graduação. Se preso ou compelido a apresentar-se em juízo, por ordem da autoridade judiciária, será acompanhado por militar de hierarquia superior a sua. Parágrafo único. Em se tratando de praça que não tiver graduação, será escoltada por graduado ou por praça mais antiga.

Princípio do juízo hierárquico O militar que for compor o conselho de justiça deve possuir precedência hierárquica ao militar-réu (art. 23

da Lei 8.457/92, LOJM da União) Aplicação subsidiária da lei processual penal militar

Art. 1º, § 2o Aplicam-se, subsidiariamente, as normas deste Código aos processos regulados em leis especiais. Conforme assevera Jorge César de Assis em seu livro “CÓDIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR ANOTADO “, que o §2º foi derrogado, não havendo mais aplicação subsidiária do CPPM a processos regulados por leis especiais.

Para o autor, muito embora a Lei n. 7.170/83 prevê a competência da Justiça Militar para processar e julgar os crimes contra a segurança externa do Brasil (previstos naquela lei), os artigos da lei que assim recomendam encontram-se derrogados, visto que o art. 109, IV da CF, atribui a competência para processo e julgamento para a justiça federal. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL MILITAR

A lei deve ser interpretada no sentido literal (exemplo: a detenção do indiciado – art. 18 do CPPM)

O art. 2º prevê que a lei processual penal militar deve ser interpretada no sentido literal de suas expressões. Os termos técnicos hão de ser entendidos em sua acepção especial, salvo se evidentemente empregados com outra significação.

Todavia admite a interpretação extensiva ou restritiva. Não se admitindo essas interpretações, quando:

a) cercear a defesa pessoal do acusado (Devido processo legal, contraditório e ampla defesa);

b) prejudicar ou alterar o curso normal do processo, ou lhe desvirtuar a natureza;

c) desfigurar de plano os fundamentos da acusação que deram origem ao processo.

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SUPRIMENTO DOS CASOS OMISSOS Art. 3o Os casos omissos neste Código serão supridos: a) pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar (utilização da videoconferência – art. 185, § 2º do CPP – Lei n. 11.900/09); b) pela jurisprudência; c) pelos usos e costumes militares (antiguidade é posto); d) pelos princípios gerais de Direito; e) pela analogia.

POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR - PJM Exercício de Polícia Judiciária Militar (arts. 7º e 8º)

A autoridade de PJM é aquela com competência legal para a realização de todos os atos relacionados com a investigação do delito castrense, dispostos em lei. Cabe ressaltar, que esta competência não se estende a todos os militares, mas somente àqueles definidos na Lei Processual Penal Militar. Competência da polícia judiciária militar Art. 8o Compete à polícia judiciária militar: a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial (seria a Lei n. 7.170/83), estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria; b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como realizar as diligências que por eles lhe forem requisitadas; c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar ; d) representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e da insanidade mental do indiciado; e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e responsabilidade, bem como as demais prescrições deste Código, nesse sentido; f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação das infrações penais, que esteja a seu cargo; g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar; h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que legal e fundamentado o pedido.

Assim, o CPPM define no seu art. 7º e §§, quais são as autoridades com competência de polícia judiciária

militar. Sendo, de maneira geral, os Comandantes, Diretores e Chefes, conforme conceito do art. 23 do CPM. Podendo tal competência ser delegada aos OFICIAIS da ativa, para fins especificados e por tempo limitado, e

deve-se ainda respeitar o posto/graduação do indiciado.

DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

CONCEITO E FINALIDADE

O Código de Processo Penal Militar estabelece em seu art. 9º, que o IPM é o instrumento de que se serve a

PJM para a apuração sumária de fato tipificado como crime militar e sua autoria. É uma instrução provisória, com a finalidade de buscar os elementos necessários à propositura da ação

penal. Assim, a persecução criminal inicia-se com a instauração do IPM, procedimento inquisitorial e

investigatório, que tem por escopo subsidiar o Ministério Público, titular da ação penal militar, com elementos e base suficientes para o seu oferecimento, cabendo à polícia judiciária militar estadual esta importante tarefa. MODOS POR QUE PODE SER INICIADO Art. 10. O inquérito é iniciado mediante portaria: a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator; b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente, por ofício;

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c) em virtude de requisição do Ministério Público; (obs: não existe a previsão do juiz requerer, igual no CPP) d) por decisão do Superior Tribunal Militar , nos termos do artigo 25 (revogado – conforme Jorge César de Assis – se o IPM só pode ser desarquivado se requerido pelo MP, o STM não pode requerer sua instauração – art. 25, §1º); e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em virtude de representação devidamente autorizada de quem tenha conhecimento de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar; f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da existência de infração penal militar. ESCRIVÃO DO INQUÉRITO (art. 11) Se o indiciado for Oficial, deverá ser no mínimo um 2º Tenente (Oficial) e nos demais casos, poderá ser até 3º Sargento. CARACTERÍSTICAS a) Escrito: art 21 CPPM

b) Sigiloso: art. 16 CPPM (ver Súmula vinculante 14, art. 7º, Xlll a XV E § 1º da lei 8906/04); O Encarregado pode incorrer em crime de abuso de autoridade se vedar o acesso do advogado (art. 3º, letra “j”, da Lei n. 4.898/65).

c) Oficialidade: Órgão oficial (art. 144, § § 4º e 6º CR/88 e art. 7º CPPM);

d) Inquisitivo: art. 5º, LV, CR/88; (acusação X defesa), art. 315, § único, CPPM (DILIGÊNCIAS REQUERIDAS) e 142 CPPM (NÃO OPOSIÇÃO DE SUSPEIÇÃO AO ENCERREGADO DO IPM);

e) Indisponibilidade: O art. 24 do CPPM proíbe o arquivamento dos autos do IPM pela autoridade militar, embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado, existindo uma obrigatoriedade legal de remessa dos autos ao Poder Judiciário Militar depois de conclusos pelo encarregado.

VALOR PROBATÓRIO - RELATIVO

Segundo dispõe o art. 297 do CPPM, o juiz formará convicção pela livre apreciação do conjunto das

provas colhidas em juízo. Constituindo-se o IPM em instrução provisória, podemos deduzir que as provas colhidas nesta fase, apesar de possuir grande valor probatório, não podem ser consideradas, isoladamente, como elemento idôneo de convicção na busca da verdade real.

A Constituição Federal, através dos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, seria maculada, quando uma prova, possível de ser concretizada em juízo, fosse antecipada para a fase extrajudicial, valendo, posteriormente, como meios de prova contra o réu.

Desta forma, não poderá a autoridade judiciária militar fundamentar uma decisão condenatória utilizando-se tão somente do conjunto probatório constante no IPM, pois tem este apenas valor informativo para a propositura da ação penal militar.

Entretanto, em que pese se tratar de instrução provisória, de caráter inquisitivo, possuindo valor informativo para a instauração da ação penal, nesta fase se realizam certas provas periciais que, embora se realizem sem a participação do indiciado, possuem em si maior dose de veracidade em face de fatores de ordem técnica difíceis de ser deturpados, proporcionando desta maneira uma apreciação objetiva e segura, podendo ter valor idêntico ao das provas colhidas em juízo. PRAZOS

O IPM deverá terminar em 20 (vinte) dias quando o indiciado estiver preso, contado esse prazo a partir do

dia em que se executar a ordem de prisão. Caso o indiciado esteja solto, o prazo para a sua conclusão será de 40 (quarenta) dias, contados a partir da data da sua instauração, a critério do Cmt da Unidade (autoridade com a competência de PJM originária).

Ocorrendo a privação da liberdade do indiciado durante a realização do IPM, o Encarregado terá somente mais 20 dias para concluir o procedimento, caso ainda faltavam mais de 20 dias para completar os aqueles 40 iniciais.

Por outro lado, se lhe restavam, por exemplo, apenas 05 dias dos 40, o Encarregado terá apenas mais 05 dias.

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INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO A incomunicabilidade do indiciado no IPM encontra-se disposta no art. 17 do CPPM, prevendo que o

encarregado poderá manter incomunicável o indiciado, que estiver legalmente preso, por três dias no máximo. O dispositivo se refere ao indiciado legalmente preso, ou seja, aquele autuado em flagrante ou recolhido por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, ou detido por ordem escrita e fundamentada do encarregado do IPM.

Difere o diploma castrense do comum, pois neste a incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho fundamentado do juiz, enquanto que naquele, o texto sugere uma faculdade do Encarregado.

O tema não é pacífico entre a doutrina. Os que são contra sustentam a questão da CF que, no capítulo destinado ao “Estado de Defesa e Estado de Sítio”, proclama que “é vedada a incomunicabilidade do preso” (art. 136, § 3º, inc. IV). Sendo proibida a incomunicabilidade nas situações excepcionais, em que o Governo deve tomar medidas enérgicas para preservar a ordem pública e a paz social, podendo por isso restringir direitos, com maior razão não se pode permiti-la em situações de normalidade.

Outros doutrinadores entendem que este dispositivo legal não foi revogado pela Constituição Federal, baseado no entendimento de que as medidas adotadas durante o sistema constitucional das crises, ou seja, durante o Estado de Defesa e Estado de Sítio, são informadas pelos princípios da necessidade e da temporariedade, destinando-se, tão somente, à manutenção e ao restabelecimento da normalidade constitucional. Para Jorge César de Assis o art. 17 está revogado pela Constituição Federal. O autor acima afirma categoricamente que a incomunicabilidade do indiciado constitui crime de abuso de autoridade por parte da autoridade de polícia judiciária militar (Lei nº 4.898/65). DETENÇÃO DO INDICIADO

A detenção, como antes dito, é uma espécie de prisão provisória decretada pelo encarregado do Inquérito

Policial Militar, independentemente de flagrante delito ou ordem judicial, cujo prazo de duração é de 30(trinta) dias, podendo este ser prorrogado por mais 20 (vinte) dias a critério da autoridade detentora das atribuições de Polícia Judiciária, elencadas no art. 18 do CPPM, in fine.

Uma vez decretada a detenção, o encarregado do Inquérito deverá comunicar o fato imediatamente ao juiz a quem caberá decidir acerca da manutenção ou não da prisão.

O art. 18 do CPPM, ao disciplinar a espécie de prisão em exame, não fez referência em momento algum aos tipos de crimes em que cabe a decretação da custódia, muito menos impôs qualquer espécie de restrição, a exemplo de requisitos, pressupostos ou fundamentos para decretação.

A ausência de previsão de restrições destinadas a regular a modalidade de cerceamento provisório de liberdade, todavia, não deve servir de justificativa para arbítrios e desmandos por parte da autoridade militar encarregada da apuração. Dúvidas não remanescem no sentido de que os requisitos relativos aos indícios suficientes da autoria, bem como concernentes à certeza da materialidade do fato, devem estar presentes para que se dê um mínimo de suporte à prisão. Ademais deve a autoridade responsável fundamentar sua decisão, por ser indispensável para a validade do ato.

Detalhe de crucial importância diz respeito ao confronto imprescindível do art. 18 do CPPM, com o mandamento constitucional inserto no art. 5º, inc. LXI, da CF, que só admite a prisão sem flagrante e sem ordem judicial, nos casos de transgressão disciplinar e nas hipóteses de crimes propriamente militares, ou seja, aqueles que só podem ser cometidos por militar, e que estão previstos exclusivamente no CPM.

Por conta do exposto, só será admitida a detenção (espécie de prisão provisória) no caso de crimes propriamente militares, não se podendo cogitar hipótese de sua incidência nos delitos impropriamente militares, por força da vedação, a contrário sensu, feita pela Lei Maior. INSTAURAÇÃO DE NOVO IPM

A requerimento do MP, o Juiz Militar determina, através de despacho, o arquivamento dos autos de IPM.

A decisão de arquivamento, via de regra, não causa o trânsito em julgado, e nada impede que o surgimento de novas provas modifiquem a matéria de fato, ensejando o procedimento penal. É permitido que a autoridade de PJM proceda a novas pesquisas mesmo após o arquivamento do inquérito.

O art. 25, do CPPM, dispõe o seguinte: O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de outro, se novas provas aparecerem

em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos de extinção da punibilidade.

§ 1º Verificando a hipótese contida neste artigo, o juiz remeterá os autos ao Ministério Público, para fins do disposto no art. 10, letra c.

§ 2º O Ministério Público poderá requerer o arquivamento dos autos, se entender inadequada a instauração do inquérito.

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Para Jorge César de Assis, via de regra, não há trânsito em julgado da decisão de arquivamento do IPM e cita a Súmula n. 524 do STF, ipsis literis: “Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas”. DEVOLUÇÃO DO IPM PARA NOVAS DILIGÊNCIAS

A devolução do IPM à autoridade de polícia judiciária militar, para realização de novas diligências,

somente será admitida nas seguintes hipóteses: através de requisição motivada do MP quando entender necessárias diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, ou por determinação do Juiz Militar, antes da denúncia, para o preenchimento de formalidades previstas no CPPM, ou para complemento probatório que julgue necessário, segundo disposição expressa do art. 26 da legislação processual penal militar. Segundo o parágrafo único do referido artigo, ocorrendo qualquer das hipóteses ventiladas, o juiz militar marcará prazo não excedente de vinte dias, para a restituição dos autos. SUFICIÊNCIA DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE

A Lei Processual Penal Militar prescreve que, se por si só, o APF, for suficiente para a elucidação do fato e

sua autoria, ele constituirá o IPM. Neste caso, outras diligências serão dispensadas, exceto o exame de corpo de delito nas infrações que deixarem vestígios e a identificação e avaliação da coisa, quando seu valor influir na aplicação da pena (art. 27 do CPPM).

O IPM é a apuração sumária de um fato considerado crime militar e de sua autoria, e caso o APF contenha os elementos de convicção autorizadores do órgão de acusação à elaboração da denúncia, nada impede que assim proceda. Todavia, caso entenda o parquet que não se consubstanciam tais elementos de convicção para embasar a denúncia, requererá ao Juiz de Direito Militar a devolução do auto à autoridade de Polícia Judiciária Militar para que as diligências necessárias sejam completadas, requerendo a instauração de IPM. PRESCINDIBILIDADE DO IPM

O representante do MP não se vale do IPM como única maneira para elaborar a denúncia, pois documentos

e papéis podem conter os necessários e razoáveis elementos de convicção à embasar a propositura da ação penal. São três as hipóteses elencadas pelo CPPM:

Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado sem prejuízo das diligências requisitadas pelo Ministério Público: a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais; b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação, cujo autor esteja identificado; c) nos crimes previstos nos arts. 341 (desacato a juiz) e 349 (desobediência a ordem judicial) do Código Penal Militar.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

A autoridade de polícia judiciária militar não pode arquivar e nem requerer o arquivamento do Inquérito

Policial (art. 24 do CPPM). Somente o Ministério Público é quem tem legitimidade para pedir o seu arquivamento, mas somente o juiz

é quem manda arquivar. Se o juiz discordar do Ministério Público, ele enviará os autos ao Procurador Geral que se entender que há

elementos, designará outro promotor para fazer a denúncia, ou insiste no arquivamento, o qual vincula o juiz a fazê-lo (art. 397 do CPPM).

DA AÇÃO PENAL MILITAR E DO SEU EXERCÍCIO

Não há pena sem processo. Não há processo sem ação. Conceito: é o direito de pedir a tutela judicial. Fundamento Constitucional: Art. 5º, XXXV, CF/88 Características: 1. Direito Subjetivo - pertence a alguém, tem titular. Na ação penal militar que é, via de regra, pública (art. 29 do

CPPM), o titular é o Ministério Público. 2. É um Direito Específico ou Determinado - o direito de ação está sempre vinculado a um fato concreto.

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Natureza: é matéria de Direito Processual, com a ação inicia-se o processo. O CPM também disciplina esta matéria, mas é instituto de Direito Processual. Exercício do Direito de Ação Deve ser exercido regularmente. O exercício regular depende do preenchimento de algumas condições que são as condições da ação ou de procedibilidade. Estas podem ser genéricas ou específicas: a) Genéricas - são condições que sempre são exigidas. São três: 1. Possibilidade Jurídica do Pedido - significa que o pedido deve versar sobre um fato típico, ou seja, descrito em

lei. 2. Legitimidade “ad causam” para causa - no Polo Ativo: Ministério Público e Ofendido. No Polo Passivo:

pessoa física, maior de 18 anos e que for autora do crime. 3. Interesse de Agir - é o pedido idôneo, quando existe “fumus boni juris” - quando há justa causa - quando estão

presentes prova ou probabilidade da existência do crime e prova ou probabilidade da autoria do crime. b) Específicas - são condições que são exigidas eventualmente. Ex.: Requisição do Ministro do Ministério Militar

ou da Justiça (art. 31 do CPPM). Classificação da Ação A ação pode ser: Pública - divide-se em Incondicionada e Condicionada Privada - divide-se em Exclusivamente Privada, Personalíssima e Subsidiária da Pública. No âmbito militar, a ação penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público Militar (art. 29 do CPPM).

Ação Penal Pública Incondicionada

Esta ação é exclusiva do Ministério Público (TITULAR) . Mas se o Ministério Público não entrar com a ação no prazo, cabe Ação Penal Privada Subsidiária da Pública. Muito embora, o CPPM não disponha sobre esta ação, trata-se de um direito constitucional previsto no art. Art. 5º, LIX, CF. Princípios da Ação Oficialidade - a ação penal é proposta pelo Ministério Público. O Ministério Público é órgão oficial. Obrigatoriedade - ou Legalidade Processual - o Ministério Público na ação pública é obrigado a denunciar, agir desde que exista justa causa. Exceção: é a Transação Penal - Art. 76 da Lei 9.099/95 - O Ministério Público não denuncia, ele propõe um acordo. Indisponibilidade - a ação penal uma vez proposta é indisponível. art. 32 CPPM. Vale também para o recurso do Ministério Público (art. 512 CPPM). Exceção: Suspensão Condicional do Processo - Lei 9.099/95. Indivisibilidade - a ação penal deve ser proposta contra todos os co-autores conhecidos. Intranscendência - a ação penal não pode transcender a pessoa do delinqüente. A ação penal é um direito:

1) Autônomo: não confunde com o direito material que visa tutelar 2) Abstrato: independe do resultado final do processo 3) Subjetivo: o titular pode exigir do Estado juiz a prestação-jurisdicional 4) Público: a atividade jurisdicional que se invoca é pública

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Ação Penal Pública Condicionada Requisição do Ministro da Defesa (arts. 136-141 do CPM) ou Ministro da Justiça (art. 141 do CPM – autor civil) Requisição é uma ordem. Mas não vincula o Ministério Público, ele pode ou não denunciar. Quando o Ministério Público receber a requisição ele pode: a) denunciar, se tiver dados suficientes; b) requerer abertura do Inquérito Policial se os dados são insuficientes; ou c) Arquivar, se fato é atípico ou estiver extinta a puibilidade; d) propor a remessa dos autos ao juízo comum, se for o caso.

É um ato administrativo, político, que segue a conveniência. Pois, trata-se de crime contra a segurança externa do país e, consequentemente, envolve a questão da soberania nacional e relações internacionais. Prazo - o Ministro não tem prazo, mas existe um limite prescricional. Da Ação Penal Privada Subsidiária da Pública (art. 5º, LIX da CF)

(Como o CPPM não prevê tal espécie de ação deve-se aplicar as regras do CPP, conforme dicção do art. 3º

do CPPM).

Só é cabível quando o Ministério Público deixa de oferecer denúncia no prazo legal. Cabe quando há inércia do Ministério Público. Se o Ministério Público pediu o arquivamento do IPM, não cabe a APPSP.

Art. 129 CF - diz que quem promove a Ação Penal é exclusivamente o Ministério Público. O art. 29 do CPPM prevê que a ação penal é pública e somente pode ser promovida por denúncia do

Ministério Público Militar. Art. 5º, XLIX, CF - traz a Ação Penal Privada Subsidiária da Pública. É uma ação facultativa, mas tem um prazo decadencial de 6 meses.

Poderes do Ministério Público 1. Pode repudiar a queixa, sem mesmo fundamentar, mas tem nesse caso a obrigação de denunciar. É a denúncia

substitutiva. 2. Se o Ministério Público não repudiar a queixa ele pode: a) Aditá-la; b) Fornecer provas; c) Interpor Recursos. 3. Se o querelante negligenciar, o Ministério Público assume a ação. Se a denúncia substitutiva for inepta, cabe ao juiz rejeitá-la (Art. 78 CPPM).

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Page 9: CFO MG - Direito Processual Penal Militar - Resumo de DPPM - Introdução - Rogério Sílvio

CFO – Direito Processual Penal Militar

Resumo de DPPM – Introdução

Prof. Rogério Silvio

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DO PROCESSO O art. 35 do CPPM apresenta de forma clara os três momentos do processo penal militar: INICIA-SE com o recebimento de denúncia pelo juiz, EFETIVA-SE com a citação do acusado EXTINGUE-SE (TERMINA) no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível, quer resolva o mérito, quer não.

ESTRUTURA E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

(arts. 125 §§ 3º, 4º e 5º da CF; arts. 109 a 111 da Const. Estadual)

INSTÂNCIA

AJME

(Em MG, SP e RS existem 03 auditorias, nos demais, apenas

uma)

Processa e julga os militares dos Estados (ativa, reserva e reformado) nos crimes militares e as ações judiciais contra atos disciplinares de militares.

JUIZ DE DIREITO DO

JUÍZO MILITAR

(de carreira)

(Atua Promotor e Defensor Público)

JUIZ

SINGULAR

Julga os crimes em que a vítima for civil e as ações judiciais contra atos disciplinares.

CONSELHO ESPECIAL

Réu: Oficial (e praça, acusado no mesmo

processo). É nomeado para cada processo.

CONSELHO

PERMANENTE

Réu: Praça. (é nomeado para atuar por um período determinado de três meses).

2ª INSTÂNCIA

TJM MG (No Brasil,

existe o TJM somente em

MG, SP e RS).

Julga os recursos da 1ª instância, os HC, MS e a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

07 JUÍZES (nomeados),

sendo 04 Coronéis da ativa

e 03 civis.

(Atua Promotor e Defensor Público)

Decisões Colegiadas (via de regra - três juízes)

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