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Ano 14. Nº 40. 2019 www.pwc.com.br/revista-ceo ceo Brasil Perfil Walter Schalka, CEO da Suzano: o papel dos executivos é transformar a sociedade Opinião O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, segundo Sandrine Ferdane e Mauro Rochlin Pesquisa O impacto do uso da inteligência artificial na economia mundial até 2030 Entrevista Uma análise do embaixador Carlos Cozendey sobre a adesão do Brasil à OCDE Empresa A nova fase da Bayer na liderança da revolução agrícola Tendência A missão de qualificar pessoas por meio de projetos de upskilling Legado A relevância da Osesp na construção da identidade cultural brasileira Personalidade Roberto Müller Filho e a luta pela liberdade de imprensa no Brasil

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Ano 14. Nº 40. 2019www.pwc.com.br/revista-ceo

ceoBrasilPerfil Walter Schalka, CEO da Suzano: o papel dos executivos é transformar a sociedade

OpiniãoO acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, segundo Sandrine Ferdane e Mauro Rochlin

PesquisaO impacto do uso da inteligência artificial na economia mundial até 2030

EntrevistaUma análise do embaixador Carlos Cozendey sobre a adesão do Brasil à OCDE EmpresaA nova fase da Bayer na liderança da revolução agrícola

TendênciaA missão de qualificar pessoas por meio de projetos de upskilling

LegadoA relevância da Osesp na construção da identidade cultural brasileira

PersonalidadeRoberto Müller Filho e a luta pela liberdade de imprensa no Brasil

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CEO Brasil é uma publicação da PwC BrasilConselho EditorialFernando Alves, Fábio Cajazeira,Federico Servideo, Marco Castro, Durval Portela,Marcos Panassol e Carlos SousaEditora executiva: Paula PavonCoordenação: Alexandre Moschella e Ana Silveira

Projeto EditorialGrupo CDI Comunicação e MarketingDireção: Everton VasconcelosCoordenação: William Maia

Reportagens: Danilo MecenasFotos: Leandro Fonseca Direção de arte e diagramação: Bruno Pitton e Hannah StofbergRevisão: Ivana GomesFoto da capa: Leandro FonsecaImpressão: Eskenazi

Copyright: PwC BrasilCEO Brasil é uma publicação bimestralA PwC Brasil não se responsabiliza pelas opiniõesde terceiros publicadas nesta revistawww.pwc.com.br

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editorial

Em um ambiente econômico que se altera rápida e drasticamente e segue desafiador para todos, a perenidade dos negócios e o sucesso dos profissionais em posição de liderança dependem cada vez mais de resiliência e atualização constante. Promover a diversidade, buscar a autonomia na gestão e antecipar riscos nos movimentos estratégicos são comportamentos comuns em líderes bem-sucedidos.

Uma referência nessas questões é Walter Schalka, profissional com mais de 30 anos de carreira e CEO da maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, a Suzano. Reconhecido e premiado pela rapidez e assertividade na resolução de problemas corporativos, Schalka fala na seção Perfil sobre valores como trabalho em equipe e empoderamento pessoal e explica como o contato com visões diversas e a curiosidade de aprendiz são capazes de mudar um negócio — e também um país.

Nas relações multilaterais, as parcerias entre países e blocos econômicos são essenciais para promover trocas comerciais, investimentos e, principalmente, desenvolvimento. A seção Opinião traz Sandrine Ferdane, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil e CEO do Banco BNP Paribas no Brasil, e Mauro Rochlin, doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor na Fundação Getulio Vargas, para analisarem as perspectivas do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

A seção Entrevista também trata de um tema relevante para as relações internacionais do Brasil. Convidamos o embaixador Carlos Márcio Cozendey, delegado brasileiro junto às organizações econômicas internacionais sediadas em Paris, para analisar o processo de adesão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Entre outros desafios, o país precisará adaptar seu modelo tributário às exigências da OCDE para garantir o apoio dos países-membros e entrar nas cadeias globais de valor.

Fernando Alves, sócio-presidente da PwC Brasil

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No agronegócio, também está em curso uma profunda transformação. No contexto desse processo está a Bayer, protagonista da seção Empresa. Apresentamos o momento vivido pela empresa, que se fortaleceu ainda mais após a incorporação da norte-americana Monsanto, tendo ampliado sua representatividade no plano global com uma estratégia para a elevação da produtividade no campo.

A seção Pesquisa traz temas atuais para a economia mundial e para a gestão de problemas ambientais, como o uso da inteligência artificial. Com base no relatório How Al Can Enable a Sustainable Future, da PwC, constatou-se que aplicações de IA nos setores de agricultura, água, transporte e energia permitirão uma injeção de US$ 5,2 trilhões na economia mundial até 2030, além de reduzir as emissões mundiais de gases de efeito estufa em até 4%.

Em Tendência, mostramos como empresas, governos e instituições podem contribuir, por meio de projetos de upskilling, para a formação das pessoas no mindset e na proficiência digitais. Trazemos um debate sobre as atuais necessidades do mercado de trabalho e os impactos causados pela ineficiência do sistema educacional brasileiro, no contexto de uma elevada taxa de desemprego da população de 18 a 24 anos, que, segundo o IBGE, superou os 25% e representa o dobro da taxa média de desemprego da população brasileira.

Experiências inspiradoras para os negócios são sempre bem-vindas. É com esse intuito que a seção Personalidade traz um dos mais relevantes jornalistas do Brasil, responsável pela reestruturação do jornal Gazeta Mercantil, consagrado diretor de jornalismo e publisher da edição brasileira da revista Harvard Business Review, Roberto Müller Filho. A seção, que narra o início da trajetória de Müller, discorre sobre a importância da liberdade de imprensa para o futuro do jornalismo.

Para finalizar, na seção Legado destacamos a história da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que completou 65 anos no mês de setembro, com muita dedicação à música clássica. Evidenciamos a consagração da Osesp como um dos grandes pilares na valorização de talentos, na formação de plateia e na consolidação de nossa identidade nacional.

Boa leitura!

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Pesquisa. O relatório How Al Can Enable a Sustainable Future, da PwC, revela o impacto da inteligência artificial na economia mundial e a contribuição do uso da tecnologia na gestão de problemas ambientais. O estudo demonstra que as aplicações de IA nos setores de agricultura, água, transporte e energia permitirão uma injeção de US$ 5,2 trilhões no PIB global até 2030.

Empresa. Após a incorporação da norte-americana Monsanto, a alemã Bayer consolida sua posição de liderança na revolução agrícola. A empresa ampliou seu portfólio tecnológico, aumentou a representatividade brasileira nos resultados globais e espera, nos próximos anos, equilibrar as crescentes necessidades da sociedade, produzindo mais alimentos com menos recursos naturais.

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Na CEO nº 40

Opinião. Sandrine Ferdane, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil, e Mauro Rochlin, professor de Economia na Fundação Getulio Vargas, analisam os benefícios e os desafios do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. O pacto promete injetar até US$ 125 bilhões na economia brasileira em 15 anos.

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Perfil. Walter Schalka, CEO da Suzano, fala à CEO Brasil sobre sua trajetória pessoal e profissional, os valores e princípios que regem suas decisões e comenta sobre o papel dos executivos na transformação da sociedade.

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Tendência. A responsabilidade de governos, de instituições da sociedade civil e de organizações do setor privado na missão de qualificar pessoas no mindset e na proficiência digitais por meio de projetos de upskilling. Essa formação especializada surge como o único meio de minimizar o impacto das transformações causadas pelas novas tecnologias sobre a força de trabalho nos próximos anos.

Legado. Com mais de seis décadas de dedicação à música clássica, variadas atividades educacionais e notáveis apresentações internacionais, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo se consagra como um dos grandes pilares na valorização de talentos, na formação de plateia e na consolidação da identidade nacional.

Personalidade. A trajetória de Roberto Müller Filho, publisher da edição brasileira da revista Harvard Business Review. Aos 75 anos, o jornalista revela episódios marcantes de sua carreira, a reestruturação da Gazeta Mercantil, a luta pela liberdade de imprensa durante o regime militar e comenta sobre o futuro do jornalismo no Brasil.

Entrevista. O embaixador Carlos Cozendey, delegado brasileiro junto às organizações econômicas internacionais sediadas em Paris, analisa o processo de adesão do Brasil à OCDE, a priorização do apoio do governo norte-americano à Argentina e à Romênia, os possíveis reflexos para a indústria e a expectativa de crescimento da economia brasileira. A entrada na organização promete alinhar o sistema regulatório do Brasil às melhores condutas internacionais.

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perfil

Páginas do futuroLíder da Suzano, Walter Schalka acredita que o papel dos executivos vai muito além dos muros das empresas: é preciso transformar a sociedade. Para ele, valores como trabalho em equipe, empoderamento pessoal, contato com visões diversas e curiosidade são capazes de mudar um negócio – e também um país

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Sempre que encontra um espaço na agenda, o paulistano Walter Schalka busca refúgio no litoral norte paulista. É lá, com o pé na areia, descansando ou jogando voleibol com amigos e parentes, que o executivo procura se desconectar da rotina constante de tomada de decisões estratégicas, determinantes para o futuro da maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo, a Suzano. Neto de imigrantes judeus com origem no Leste Europeu, torcedor fanático do Santos, aprendeu com o pai, Luiz, o valor das conexões entre as pessoas, da natureza e, como gosta de ressaltar, da pontualidade. “Inúmeras vezes cheguei com meu pai no estádio para comprar ingresso e o Peixe já estava fazendo gol. Aprendi, desde então, a sempre chegar cedo a todos os compromissos”, lembra.

Tal aprendizado tornou-se uma característica pela qual o executivo passou a ser reconhecido no mercado. Schalka antecipa problemas e encontra soluções criativas em momentos decisivos. “O líder tem o papel de ser um direcionador, contribuindo com estratégias, tomando riscos e motivando o time a ser e fazer mais e melhor sempre”, afirma.

“Não acredito em um ‘super-CEO’. Uma pessoa não tem o poder de transformação

definitivo sobre uma organização” Walter Schalka, CEO da Suzano

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Em mais de 30 anos de carreira, Schalka teve uma passagem pelo Citibank, pela holding do empresário Roberto Klabin, e foi um dos principais responsáveis pela expansão da Votorantim Cimentos, liderando suas operações no Brasil e em 14 países, até chegar à presidência da Suzano. Lá, conduziu o mais ambicioso negócio da empresa: a fusão com a Fibria. Em 2019, foi reconhecido pela quinta vez consecutiva pela RISI, principal fornecedora de informações para a indústria de base florestal do mundo, como o CEO do ano na América Latina.

Casado com Mônica, pai de três filhos, Andrea, Beatriz e Gustavo, e avô de Arthur, Schalka é formado em Engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e tem especializações pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), pelo Instituto IMD (Suíça) e pela Universidade Harvard (EUA). Neste depoimento à CEO Brasil, ele apresenta sua visão sobre o papel dos executivos na transformação da sociedade.

“Sempre fui curioso. Acredito que todos que passam pela nossa vida são pessoas que nos ensinarão algo e contribuirão para o nosso crescimento pessoal e profissional. Tenho como lema a música do Gonzaguinha que fala sobre a ‘beleza de ser um eterno aprendiz’. Estar o tempo todo trabalhando com pessoas diferentes, com visões distintas, e aprender a ouvir são princípios que me permitiram construir soluções melhores e mais assertivas ao longo da vida. Meu sucesso pessoal e profissional tem a ver com isso.

Cresci no Jardim São Paulo, na zona norte da capital paulista. Ia para a aula pela manhã e à tarde ficava na rua fazendo as coisas que todo moleque gostava de fazer: jogar bola, soltar pipa, rodar pião – atividades que as novas gerações fazem menos hoje em dia. Foi assim até os 13 anos, quando nos mudamos para Higienópolis e passei a estudar no Colégio Rio Branco.

Fui muito exigido pelo meu pai em relação aos estudos. Isso fez com que eu e meu irmão tivéssemos destaque na vida escolar. Era um excelente aluno de física, química e matemática. E, naquela época, bom aluno nessas matérias certamente faria Engenharia. Acabei prestando vestibular para o ITA e passei. Vários professores me inspiraram durante os cinco anos de curso. Lembro do professor Claudio Jorge e do grande Wolnei. Eles me ensinaram profundamente sobre a questão humana, como conviver e aprender com a diversidade – lições que aplico em todas as empresas por onde passei. O problema, na época, era que eu não queria ser engenheiro de prancheta [risos].”

Pensando à frente

“As pessoas gastam muito tempo pensando nos problemas que tiveram no passado, procurando culpados. Não gosto disso. Temos de encontrar soluções e olhar sempre para o futuro. Não importam as condições em que encontrei a Suzano quando assumi a presidência em 2013. O que importa é o passo seguinte. Tive 12 propostas de trabalho quando me formei no ITA. Optei pelo menor salário, que foi a vaga de trainee no Citibank – o melhor programa do gênero em 1983. O resultado dessa escolha foi que aprendi mais do que imaginava. No primeiro dia, não sabia nem o que era débito e crédito. Passei por diversas áreas, desde o crédito até o electronic banking, que, em 1983, ainda estava no início. As pessoas têm de olhar para a jornada e deixar de balizar suas decisões pelo curto prazo. Poderia ter ganhado um salário 30% maior em outra empresa, mas aquilo não mudaria a minha vida.

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Uma cronologia

1978É aprovado no vestibular para Engenharia no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)

1985 Entra na holding financeira do Grupo Maepar

1983Inicia no programa de trainee do Citibank

1989Assume o cargo de diretor financeiro e administrativo na Dixie Lalekla

1995Com a fusão das empresas Dixie Lalekla e Toga passa a diretor-geral do grupo

2005Ingressa no Grupo Votorantim para assumir a presidência da Votorantim Cimentos

1997Assume a presidência do Grupo Dixie Toga, participando de forma decisiva dos processos de expansão, fusão e transferência do controle acionário da empresa

2013É convidado a assumir a presidência da Suzano Papel e Celulose

2019Lidera a transformação da Suzano após a conclusão da combinação dos ativos com a Fibria

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Depois que terminei o programa de trainee, comecei uma longa jornada de aprendizados e crescimento pessoal. A convite do empresário Roberto Klabin, ingressei em sua holding e depois assumi a direção financeira de uma das empresas do grupo, a Dixie Lalekla, especializada na produção de embalagens plásticas. Em 1995, com a fusão da Dixie Lalekla com a Toga [fabricante de embalagens flexíveis e semirrígidas], passei a ser diretor-geral. Dois anos depois, assumi a presidência da empresa. Saímos de um faturamento de R$ 10 milhões para mais de R$ 1 bilhão e abrimos o capital.

Em janeiro de 2005, vendemos a Dixie Toga e aceitei o convite para ser presidente da Votorantim Cimentos.

A Votorantim me oferecia novos desafios. O objetivo era a internacionalização, além da expansão do negócio para outros mercados. Fui muito feliz durante os quase oito anos que fiquei na empresa. Tenho profundo respeito e admiração pela família Ermírio de Moraes. Tínhamos fábricas em apenas dois países e terminamos com presença em 14. Em diversas regiões, o negócio de argamassa e concreto cresceu significativamente. O Ebitda da empresa triplicou nesse período, construímos muitas fábricas no Brasil. Foi um projeto muito gratificante.”

O papel na Suzano

“O convite da Suzano veio em 2013. A empresa estava endividada. Tinha projetos ambiciosos, mas o nível de rentabilidade era ruim. Era, claramente, um projeto de turnaround. Aceitei o principal desafio da minha vida. A pergunta que me fazia era: ‘Como olhar para a frente?’. Questionava como poderíamos fazer mais e melhor naquele momento delicado. As principais transformações não foram necessariamente físicas, e sim culturais. Não acredito em um ‘super-CEO’. Uma pessoa não tem o poder de transformação definitivo sobre uma organização. É necessária uma mudança no processo de empoderamento das lideranças, de delegação de decisões, de descentralização, de aumento de velocidade nos processos. Não acredito em poucas pessoas decidindo e muitas executando. Todos devem pensar e executar. Assim, as pessoas exercem seu pleno potencial e se motivam por isso. O grande desafio é criar valor com os colaboradores, stakeholders e as comunidades dos locais em que trabalhamos.

Em janeiro deste ano, concluímos a combinação dos ativos da Suzano Papel e Celulose com os da Fibria, criando a Suzano. Eram duas empresas vencedoras. Estamos vivendo um momento muito importante em nossa história e trabalhando para extrair as sinergias, uniformizar os processos e sistemas e unificar as culturas.

Aprendi que precisamos conviver com pessoas diferentes. Não é respeitar o outro por ‘tolerância’, mas aprender com a diversidade. Aceitamos profissionais de diversas regiões do país, perspectivas de vida e níveis sociais. Essa visão me permitiu construir soluções melhores e preparar a empresa para um futuro de crescimento ainda maior.

Sou uma pessoa que está o tempo todo buscando algo novo. Um amigo brincava, dizendo que sou ‘insaciável’, e talvez, ele tenha razão. Cada vez que chegamos a um objetivo, apresento outro, e assim, sucessivamente. Tenho uma esposa [Mônica Schalka] que me ajuda a colocar os pés no chão. Ela é uma pessoa generosa e sempre presente. Ensinamos a importância da união e da humildade para nossos filhos. Hoje, eles estão bem formados, com dignidade pessoal e boa qualidade de vida. Queremos que esses valores, que são importantes para nós, sejam passados para as próximas gerações.

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Referências

Mahatma Gandhi e Nelson Mandela. Eles conseguiram transformar a sociedade em que viviam com mensagens positivas

Paixão Santos Futebol Clube. Minha família é santista

Uma meta Mudar o Brasil. Contribuir para um país mais justo e melhor para todos

Um livro

A Marcha do Sal, de Érico Hiller, publicado pela editora Vento Leste, de minha esposa, Mônica Schalka. Todo o lucro da venda do livro é revertido aos fotógrafos

Uma cidade Berlim – foi lá que corri a minha primeira maratona e entendi que podemos nos desafiar e ir além

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Walter Schalka: "Estar o tempo todo trabalhando com pessoas diferentes e aprender a ouvir são princípios que me permitiram construir soluções melhores e mais assertivas ao longo da vida"

“Acredito que o nosso papel como executivos exceda os muros das empresas. Não é apenas olhar como fazer uma empresa ser melhor, mas como transformar a sociedade”

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“As pessoas gastam tempo pensando nos problemas, procurando culpados. Não gosto disso. Temos de encontrar soluções e olhar para o futuro”

Walter Schalka, CEO da Suzano

Cidadania

“Acredito que o nosso papel como executivos exceda os muros das empresas. Não é apenas olhar como fazer uma empresa ser melhor, mas como transformar a sociedade. Temos um país corporativista, patrimonialista, cheio de problemas estruturais. Os pilares para a mudança estão na educação e na igualdade de oportunidades. Faço parte do projeto Parceiros da Educação. Há oito anos, adotei a Escola Estadual Padre Pasquale Filippelli, em Diadema, no ABC Paulista.

Lá estudam 1.450 crianças do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. As notas melhoraram muito! Em outro projeto, o Você Muda o Brasil, juntei-me a outros empresários na busca por amenizar os problemas estruturais brasileiros, como a geração de empregos. É nossa responsabilidade com o país. Quero deixar como legado um país melhor para as pessoas à minha volta. E acredito que a nossa geração se omitiu muito nesse processo; por isso, trabalho intensamente para fazermos um Brasil mais justo e bom para todos.”

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opinião

Acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia eliminará tarifas de 93% das exportações e promete injetar de US$ 87,5 bilhões a US$ 125 bilhões na economia brasileira nos próximos 15 anos, segundo o Ministério da Economia

Pacto de oportunidades

Após vinte anos de negociação, o Mercosul – Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai – e a União Europeia selaram um acordo de livre-comércio. O pacto, anunciado em junho de 2019, é um marco histórico no relacionamento entre os dois blocos, que, juntos, representam cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e um mercado de 780 milhões de pessoas. Entre os substanciais princípios do pacto estão a ampliação da competitividade e da produtividade; a facilitação do fluxo de investimentos; a redução de tarifas alfandegárias; a melhoria do ambiente regulatório; e o fomento à integração nas cadeias globais de valor.

De acordo com o Ministério da Economia, o tratado representará incremento de US$ 87,5 bilhões a US$ 125 bilhões no PIB brasileiro em 15 anos, aumento do investimento no Brasil da ordem de US$ 113 bilhões e ganhos de US$ 100 bilhões em exportações. Os produtos nacionais, segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), passarão a ter acesso preferencial a 25% do comércio mundial com isenção ou redução do imposto de importação. Atualmente, dos 1.101 produtos que o Brasil tem condições de exportar para a União Europeia, 68% enfrentam tarifas ou cotas.

A efetivação do acordo, no entanto, precisa obter a autorização do Parlamento Europeu e dos 28 Estados-membros da União Europeia. É o segundo maior mercado do Mercosul; no ano passado, o comércio entre os países dos dois blocos movimentou cerca de € 88 bilhões.

Para analisar os benefícios e os desafios do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, a CEO Brasil ouviu Sandrine Ferdane, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB), CEO do Banco BNP Paribas no Brasil e membro do comitê da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), e o economista Mauro Rochlin, doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor de Economia na Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ).

Sandrine Ferdane, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB), CEO do Banco BNP Paribas no Brasil e membro do comitê da Federação Brasileira de Bancos (Febraban)

Mauro Rochlin, doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor de Economia na Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ)

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O acordo entre os blocos representa um estímulo ao fortalecimento do Mercosul e, em paralelo, o fim de uma cultura comercial brasileira isolacionista?

Sandrine: O acordo comercial favorece o acesso de produtores sul-americanos ao enorme mercado europeu. Fortalece o Mercosul e aumenta os incentivos para a manutenção de seus membros, inclusive criando condições mais propícias para que o bloco negocie acordos comerciais com outros países. Embora o atual governo brasileiro tenha o objetivo claro de abrir a economia à competição internacional, é importante ressaltar que as negociações começaram em 1999 e foram conduzidas desde então por vários outros governos. Assim, em nossa visão, não é adequado dizer que a política comercial brasileira seja isolacionista.

Mauro: A economia brasileira ainda é muito fechada. A corrente de comércio tem um peso muito pequeno em relação ao PIB nacional e o acordo representa, de fato, um movimento de uma maior abertura comercial do país em relação ao exterior. O livre-comércio tende a favorecer uma maior troca de produtos e serviços entre países com menores alíquotas alfandegárias. Não acredito que seja, necessariamente, um estímulo ou uma intensificação de laços comerciais entre os países do Mercosul, visto que existe um grande ponto de tensão na Argentina.

É possível apontar quais setores da economia serão mais impactados pelo acordo entre os dois blocos? Sandrine: O acordo reduzirá tarifas de importação de ambos os lados e também diminuirá barreiras não tarifárias, barateando insumos e bens de capital para as empresas. A princípio, o setor agrícola dos países do Mercosul deve ser mais beneficiado. No lado europeu, haverá importante redução de tarifas, o que poderá beneficiar as exportações de máquinas, automóveis, produtos químicos e farmacêuticos.

Mauro: Os benefícios potenciais são basicamente relacionados aos ganhos de mercados em larga escala. Se uma empresa atua no Brasil com bons preços e produtos, conseguirá, assim que o acordo for efetivado, ganhar um novo mercado e ter mais competitividade. O setor agropecuário, com a exportação de soja, milho e proteínas [carne bovina, suína e de aves], pode se beneficiar em demasia por ter vantagens competitivas mais evidentes.

“O acordo reduzirá tarifas de importação e barreiras não tarifárias, barateando insumos e bens de capital para as empresas de ambos os lados”

Sandrine Ferdane, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB)

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As tarifas de importação e exportação de produtos industrializados serão reduzidas ou eliminadas em até 15 anos. Esse acordo representa algum risco para a indústria brasileira?

Sandrine: A indústria brasileira encontra-se estagnada e, para voltar a crescer, enfrenta o desafio de aumentar sua competitividade. Embora o aumento da competição internacional gere um forte estímulo para investimentos em busca de ganhos de produtividade, é imperativo que o governo brasileiro atue para reduzir ineficiências econômicas estruturais importantes, como as decorrentes de seu complicado sistema tributário e as enormes deficiências de infraestrutura.

Mauro: O acordo prevê, por exemplo, a eliminação das barreiras alfandegárias no setor automobilístico em 15 anos. Isso significa dizer que, se a indústria brasileira quiser competir em iguais condições, terá de ter a mesma produtividade e qualidade da indústria europeia. O risco, caso a indústria não consiga equidade de condições, seria uma invasão de automóveis europeus no mercado brasileiro. Outro ponto importante diz respeito às questões europeias fitossanitárias, que podem se apresentar como barreiras à entrada de produtos pecuários de outros países. Essas barreiras têm duplo papel para a União Europeia: servem tanto para defesa do consumidor quanto para impedir a entrada de produtos estrangeiros.

A instabilidade política na região é um fator de risco para a concretização do acordo? Sandrine: A instabilidade política na região, principalmente com a crise na Argentina, pode colocar em risco o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, sobretudo se o novo governo argentino radicalizar sua posição a favor da proteção comercial – embora ainda não esteja claro qual caminho será seguido pelos argentinos.

Mauro: A Argentina é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil e um destino importante das exportações industriais. Assim, é preciso observar com cautela qual será a posição oficial do novo governo argentino. Numa situação em que a posição de ambos os países passe a ser mais extrema, o acordo estaria em risco, assim como o próprio Mercosul.

“O acordo pode ajudar na retomada do crescimento brasileiro, desde que o país tenha cuidado para que a inserção nessa corrente comercial não seja dependente do agronegócio”

Mauro Rochlin, professor de Economia na Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ)

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Até o momento, o acordo de livre-comércio entre os blocos é um anúncio político. Quais os próximos passos para a concretização?

Sandrine: A próxima etapa é uma revisão técnica e jurídica do acordo, assim como a tradução do texto para os idiomas dos países envolvidos. Depois, o texto será encaminhado ao Conselho da União Europeia, que decidirá sobre a assinatura formal. Será definida uma data com o Mercosul para a assinatura do acordo. Após a assinatura, o acordo será encaminhado aos congressos nacionais dos países sul-americanos para ratificação e à Europa, onde terá de ser aceito pelo Parlamento Europeu e, então, por seus membros, de acordo com os requisitos constitucionais de cada um.

Mauro: É um acordo que diz respeito às relações bilaterais que envolvem muita diplomacia entre os países, além de um corpo técnico discutindo inúmeros detalhes. Acredito que o acordo de livre-comércio possa ajudar na retomada do crescimento brasileiro, desde que o Governo Federal tenha cuidado para que a inserção nessa corrente comercial não seja dependente do setor agropecuário. O cuidado, para tanto, é que a indústria nacional possa competir em igualdade de condições no mercado europeu e tenha ganhos reais com a concretização do acordo.

Destaques de acordoMercosul e União Europeia acordaram a eliminação de tarifas de 93% das exportações; o setor agrícola brasileiro será um dos mais beneficiados

Fonte: Ministério das Relações Exteriores

Produto agrícolas UE liberará 99% do comércio de produtos agrícolas, sendo que 81,7% terão tarifas eliminadas

Setor de serviçosEmpresas de ambos os blocos terão acesso aos dois mercados nas mesmas condições das companhias nacionais

Bens industriaisBloco europeu liberou 100% de seu mercado, sendo que 80% terão liberalização imediata. Mercosul terá prazos de até 15 anos para liberalizar setores sensíveis

Redução tarifária

Segurança alimentar

Mais de 85% das exportações do Mercosul terão a eliminação imediata de tarifas e cerca de 60% dos produtos ofertados sofrerão redução tarifária em até 15 anos

O padrão de segurança alimentar da Europa terá de ser respeitado por todos os países

Cooperação

Meio ambiente

Haverá troca de experiências no desenvolvimento de boas práticas de governança corporativa de empresas estatais

O tratado exige o cumprimento do Acordo de Paris no que diz respeito às mudanças climáticas e às normas trabalhistas

Propriedade intelectualPaíses deverão seguir as normas estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) na facilitação do acesso, produção e comercialização de produtos inovadores e criativos

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pesquisa

O aumento do uso da inteligência artificial injetará trilhões de dólares na economia mundial nos próximos anos e, ao mesmo tempo, contribuirá para a redução das emissões de gás carbônico, segundo pesquisa da PwC

Caminho sustentável

Em 19 de agosto deste ano, a chegada de uma nuvem negra de fumaça transformou em noite uma corriqueira tarde paulistana e chamou novamente a atenção do mundo para o impacto que o desmatamento pode ter sobre a vida no planeta caso nada seja feito para frear a rota de destruição da Floresta Amazônica e de outros biomas essenciais para a manutenção do clima na Terra.

Esse novo alerta surge num contexto de macrotendências que devem continuar provocando mudanças aceleradas nas relações sociais e econômicas em todo o mundo. Exemplos disso são o crescimento da população global – que deve crescer 16,5% até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas –, passando pelo aumento da produção de lixo, até a automatização de funções de trabalho provocada pela disseminação de novas tecnologias.

Mas, se de um lado a digitização já está colocando em xeque modelos de negócios tradicionais, de outro o avanço tecnológico surge como um grande aliado para a solução de problemas complexos da humanidade. É o que aponta o relatório How AI Can Enable a Sustainable Future, da PwC, que analisa como o uso da inteligência artificial (IA) pode contribuir para a gestão de impactos ambientais, e das mudanças climáticas, e estimular globalmente o crescimento econômico de diversas formas até 2030.

Segundo a pesquisa, as aplicações da tecnologia em quatro setores – agricultura, água, transporte e energia – vão injetar US$ 5,2 trilhões na economia mundial no período, criando 38,2 milhões de empregos e diminuindo em até 4% as emissões mundiais de gases de efeito estufa.

Smart farming: o uso da inteligência artificial deve proporcionar irrigação mais eficiente e sustentável

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Inteligência ambiental

De acordo com o relatório da PwC, é possível vislumbrar um futuro próximo em que a IA potencializará o uso de dados de satélite e de sensores terrestres para monitorar e gerenciar problemas ambientais em tempo real. “Será possível mapear a fauna e a flora e acompanhar os níveis de temperatura em determinada área, a quantidade de chuvas e focar pontos prioritários de combate a incêndios”, explica Tomás Roque, sócio e especialista em Analytics da PwC Brasil.

“Com esses dados, será possível prever melhor a quantidade de água, o tamanho da equipe e da estrutura operacional para atuar em cada ponto de incêndio”, acrescenta Luis Enrique Sánchez, professor titular na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em gestão de impactos ambientais.

O potencial desse modelo inteligente de preservação ambiental é significativo. Ainda de acordo com o estudo, o uso de sistemas de alerta para investigação de desmatamento e queimadas pode salvar 32 milhões de hectares de floresta, globalmente, até 2030. Nas duas últimas décadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados mais de 300 mil focos de incêndio na região amazônica. São cerca de 400 mil km² de área verde queimada, o que equivale a uma área do tamanho da Alemanha, segundo uma pesquisa da Universidade de Oklahoma divulgada na revista científica Nature Sustainability.

Eficiência e economia

Não é apenas no combate direto aos efeitos da ação humana que a inteligência artificial poderá fazer a diferença. A expectativa é que a tecnologia traga mais eficiência e economia em diversos níveis. “Na agricultura, poderemos usar imagens de satélites e drones para identificar pontos de presença de nematoides [larvas microscópicas] e saber exatamente as coordenadas geográficas para fazer a pulverização de agentes microbiológicos de forma mais precisa. Assim, evita-se o uso excessivo de defensivos agrícolas e água”, explica Tomás Roque.

No setor de transportes, a tecnologia proporcionará a produção em maior escala de veículos autônomos, que terão maior eficiência energética e racionalizarão trajetos, reduzindo o trânsito e o número de veículos nas ruas. No setor de energia, a inteligência artificial contribuirá para a inovação na estrutura das redes de produção e distribuição, além do carregamento de veículos elétricos.

O estudo também estima uma economia de US$ 150 milhões em todo o mundo e uma redução de até 2,2% na emissão de gases causadores do efeito estufa até 2030. “A grande beleza do uso da inteligência artificial é replicar modelos sustentáveis que demandariam custo e estrutura maiores em diversos países. E, por consequência, equalizar a emissão de gás carbônico e alcançar níveis satisfatórios de água”, afirma Roque.

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Desafios e oportunidades

Esse cenário, no entanto, precisará ser acompanhado com atenção, especialmente na área ambiental, segundo Luis Sánchez. “A coleta de dados, muitas vezes, é desenvolvida por equipes com procedimentos diferentes. Se os dados forem de má qualidade, as conclusões poderão estar distantes da situação real. Assim, precisa-se de vários anos de estudo para resultados mais assertivos”, afirma.

O futuro sustentável almejado vai requerer a união de governos, universidades, empresas e sociedade civil. “A inteligência artificial oferece inúmeras aplicações. Contudo, o mundo precisa olhar as possibilidades de forma estruturada, regulada e que não ofereça riscos à sociedade”, afirma Sánchez.

Luis Enrique Sánchez, professor titular na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), especialista em gestão de impactos ambientais

“A inteligência artificial oferece inúmeras aplicações, mas o mundo precisa olhar as possibilidades de forma estruturada, regulada e que não ofereça riscos à sociedade”

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Benefícios da IAQual o impacto global do uso da tecnologia nos setores de agricultura, energia, transporte e água até 2030?

US$ 5,2 trilhõesCrescimento da economia global US$ 2,6 trilhões

Economia no consumo de energia elétrica

US$ 38,2 milhões de empregos

Necessidade de mão de obra qualificada

US$ 2,4 milhões de toneladas

Redução da produção de CO²

Fonte: How AI Can Enable a Sustainable Future, PwC

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“A grande beleza é replicar modelos sustentáveis que demandariam custo e estrutura maiores em diversos países”

Para o professor, os dados precisam estar acessíveis a toda a população e ser compartilháveis. “É um processo de reconhecimento do uso da tecnologia com critérios e regras comuns para desenvolver recursos, produtos e serviços em todos os países”, complementa Sánchez.

Em relação ao impacto social, a pesquisa aponta a criação de quase 40 milhões de novos empregos. “As pessoas vão estar mais preparadas para uma nova tecnologia, um novo século”, afirma Roque. A China, por exemplo, planeja investir 150 bilhões de dólares em cursos e treinamentos relacionados à inteligência artificial. “Não podemos mais estar em um mundo atual pensando com a cabeça do século passado”, finaliza Roque.

Tomás Roque, sócio e especialista em Analytics da PwC Brasil

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empresa

Bayer consolida a fusão com a Monsanto e amplia ainda mais a representatividade brasileira nos resultados globais, posicionando o grupo alemão na dianteira da revolução agrícola

Liderança no campo

Uma estimativa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) prevê que, nas próximas quatro décadas, a produção global de alimentos precisará crescer 70% para fazer frente ao aumento da população mundial e incluir centenas de milhões de pessoas que, atualmente, vivem à margem dos padrões internacionais de segurança alimentar. Um em cada nove habitantes do planeta não tem comida suficiente para levar uma vida saudável e ativa.

Com um cenário de mudanças climáticas imprevisíveis e escassez de terras cultiváveis em diversas regiões do mundo, a chave para solucionar essa equação deverá estar no aumento da produtividade no campo – produzir mais utilizando menos terra e poupando recursos naturais.

Foi para se posicionar na liderança dessa revolução iminente que a alemã Bayer AG, uma das maiores e mais bem-sucedidas empresas do setor químico e farmacêutico do mundo, tomou sua decisão mais ousada em 150 anos de história: a fusão com a americana Monsanto, pioneira no mercado de tecnologia agrícola. “Somos agora a empresa mais capacitada para conduzir a nova transformação do campo.

A Monsanto já era um importante player e a união entre as empresas garantirá ainda mais pesquisa, desenvolvimento e inovações para contribuir para a solução dos desafios do agricultor”, afirma Marc Reichardt, CEO da Bayer no Brasil.

O processo de aquisição, com a aprovação de órgãos de regulação de mercado em vários países, começou em 2016 e durou cerca de dois anos. A Bayer investiu aproximadamente R$ 247 bilhões – a maior compra feita por uma empresa alemã no exterior. Hoje, a companhia opera com 115 mil funcionários e tem receita anual combinada de R$ 182 bilhões, dos quais R$ 15 bilhões vêm do Brasil.

Para Maurício Moraes, sócio e líder de Agribusiness da PwC Brasil, a combinação das duas empresas permite a captura de sinergias complementares e a ampliação da expertise no desenvolvimento de biotecnologias que beneficiam o agronegócio mundial. “A Bayer fundiu portfólios de sementes, traits [genes], defensivos agrícolas e biológicos para liderar um setor em pleno processo de concentração empresarial, integrando tecnologias digitais e trazendo um diferencial competitivo ao mercado”, avalia.

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Compromisso global

O crescimento da Bayer, ao longo de mais de um século, pautou-se na transparência, na credibilidade e na confiança nos produtos oferecidos para beneficiar os consumidores. Por meio dos pilares da inovação, da sustentabilidade e da transformação digital, a empresa espera equilibrar as crescentes necessidades da sociedade e minimizar os impactos ambientais causados ao planeta. “Temos o compromisso de diminuir em 30% o impacto médio ambiental de nossos produtos até o fim da próxima década. O desafio reside em produzir mais, com mais segurança e sem aumentar o espaço de produção”, aponta Reichardt.

São 35 unidades de pesquisa e 175 de melhoramento genético de sementes em todo o mundo. Os investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento chegam a R$ 11 bilhões, sendo aproximadamente R$ 2,1 bilhões destinados ao Brasil.

Um exemplo de inovação é o defensivo agrícola Fox® Xpro, indicado para o controle de doenças fúngicas nas culturas de algodão, cevada, girassol, milho, soja e trigo. A solução foi apresentada no ano passado e traz uma molécula inédita, a Bixafen, que tem efeitos mais eficientes e duradouros na cultura – um acréscimo de produtividade de 3 sacas por hectare na colheita.

As novidades atingem todos os campos do setor agrícola, desde a preparação do solo, passando pelo planejamento do plantio, até a colheita. A empresa lançou a plataforma Climate FieldView™, que coleta e processa dados de campo de maneira contínua, gerando mapas e relatórios em tempo real – todos acessíveis em dispositivos móveis, tablets ou computadores. A ferramenta já alcançou 24 milhões de hectares pagos nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil e na Europa. “Aliar o conhecimento sobre agroquímicos à biotecnologia, aos defensivos biológicos, ao big data e à digitização do campo é o caminho para um novo salto de produtividade e qualidade na produção de alimentos”, afirma Reichardt.

“A fusão com a Monsanto foi a melhor oportunidade para nos tornarmos líderes no setor agrícola”

Marc Reichardt, CEO da Bayer no Brasil

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Bayer no BrasilO país é o segundo maior mercado da companhia em negócios agrícolas. Em três anos, a Bayer planeja ampliar a representatividade brasileira nos resultados globais

6 mil colaboradores

R$ 2,1 bilhões investimento em pesquisa e desenvolvimento

R$ 15 bilhões receita anual

80% faturamento da companhia no setor agrícola

37 unidades de atuação

Fonte: Bayer

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Marc Reichardt, CEO da Bayer no Brasil: os esforços da Bayer estão voltados para preservação da saúde, garantia da oferta de alimentos de qualidade e uso racional dos recursos naturais

De olho no Brasil

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de alimentos, com uma safra de grãos de 242 milhões de toneladas em 2018 – um crescimento de 6,4% em relação ao ano anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os negócios agrícolas correspondem a 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “É um cenário de crescimento contínuo que oferece possibilidades para investimentos de grandes players do setor”, avalia Moraes.

Como maior produtor de soja do mundo e um dos líderes globais na produção de alimentos, o país, segundo Marc Reichardt, é fundamental para o crescimento da Bayer. “É o nosso segundo maior mercado no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. O Brasil tem lugar de destaque no planejamento estratégico. Nos próximos três anos vamos ampliar ainda mais essa representatividade nos resultados globais”, afirma.

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Os investimentos refletem o bom momento da companhia no Brasil. O setor agrícola, hoje, representa cerca de 80% do faturamento da Bayer no Brasil – um aumento de 60% em relação às vendas antes da junção com a Monsanto. “Acreditamos no sucesso e na evolução do agronegócio brasileiro. Vamos ser o principal parceiro dos brasileiros na concretização dessa revolução de produtividade e sustentabilidade. O Brasil é fundamental para garantir alimentação para milhões de pessoas ao redor do mundo”, aponta Reichardt.

Metas ambiciosas

O futuro é promissor em todas as divisões de negócios da Bayer, que incluem as divisões agrícola, farmacêutica e de produtos de consumo. Espera-se um crescimento global em vendas de 5% ao ano, até 2022, mais investimentos em tecnologia e plataformas digitais. “Queremos fortalecer ainda mais os negócios, direcionando os esforços para agronegócio e saúde. Na divisão Pharmaceuticals, por exemplo, estamos lançando medicamentos inovadores para o câncer, em uma verdadeira revolução do tratamento oncológico”, afirma Reichardt.

Para o CEO, a Bayer é “uma empresa de ciências da vida, feita por cientistas”, que toma decisões baseadas em dados. “A fusão com a Monsanto foi a melhor oportunidade para nos tornarmos líderes no setor agrícola”, conclui.

Maurício Moraes, sócio e líder do setor de Agribusiness da PwC Brasil

“Existe uma complementaridade entre as expertises das empresas. Isso gera potencial para avanços tecnológicos e inovação por meio do lançamento de produtos e serviços”

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tendência

Num contexto em que a evolução tecnológica tem exigido novas habilidades da força de trabalho, é imperativo que empresas, governos e instituições somem esforços para promover a qualificação digital das pessoas, sob pena de ser gerado outro tipo de exclusão, aquela causada pelo chamado digital gap

Momento de agir

Até 2030, a robótica e a inteligência artificial poderão eliminar até um terço dos postos de trabalho. Essa conclusão está presente num levantamento global feito pela PwC e poderia parecer extrema à primeira vista. Porém, já são diversos os exemplos que fazem esse prognóstico parecer cada dia mais verossímil. Um bom exemplo é a taiwanesa Foxconn, maior fabricante de componentes eletrônicos do mundo, que investiu US$ 342 milhões e substituiu cerca de 10 mil funcionários de suas linhas de produção por braços mecanizados, orientados por inteligência artificial.

Fábio Cajazeira, sócio e líder de Clientes e Mercados da PwC Brasil: "A atuação conjunta entre empresas, governos e instituições do terceiro setor é o único caminho que possibilitará resultados de impacto na qualificação digital dos brasileiros"

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Fábio Cajazeira, sócio e líder de Clientes e Mercados da PwC Brasil

“Tecnologias avançadas exigem pessoas capacitadas a operá-las. É imperativo um estado de permanente aprendizado”

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A evolução tecnológica, no entanto, não se restringe ao setor industrial. Atividades tradicionalmente executadas por humanos, como serviços contábeis e atuariais, e até mesmo a produção de peças jurídicas, já estão “ameaçadas” pelo avanço de tecnologias como big data, machine learning e deep learning. Esse cenário de incerteza sobre o futuro tem colocado em estado de alerta profissionais em todo o mundo e chamado a atenção das organizações sobre a necessidade de preparar as pessoas para a nova economia digital, em que novas habilidades serão fundamentais para a competitividade da força de trabalho.

A urgência e a importância de adotar medidas de impacto, que promovam a qualificação digital das pessoas, no entanto, talvez ainda não sejam amplamente percebidas pela sociedade em geral. Segundo a pesquisa Upskilling Hopes and Fears, da PwC, que ouviu 22 mil pessoas em 11 países, em 2019, 53% dos entrevistados acreditam que sua função mudará significativamente ou se tornará obsoleta nos próximos dez anos, e 38% deles afirmam não ter participado de qualquer programa de qualificação digital em suas empresas.

Tais resultados chamam ainda mais a atenção quando se nota que 79% dos executivos ouvidos pela CEO Survey 2019, da PwC, lamentam a falta de qualificação de seus colaboradores. Para eles, essa questão não apenas contribui para os altos índices de turnover como também ameaça o crescimento de suas organizações. “A situação é tão crítica para os profissionais quanto para as empresas, que têm feito enormes investimentos em tecnologia, mas não têm obtido o retorno esperado em termos de aumento de produtividade e eficiência”, observa Fábio Cajazeira, sócio e líder de Clientes e Mercados da PwC Brasil.

Segundo o levantamento Prediction 2020, da Forrester Research, estima-se que as empresas invistam globalmente cerca de US$ 3 trilhões em tecnologia por ano, mas o crescimento da produtividade permanece relativamente baixo, em grande medida, por causa da assimetria na difusão das novas ferramentas digitais entre seus colaboradores. “Tecnologias avançadas exigem pessoas capacitadas a operá-las. Além disso, é preciso desenvolver um estado de aprendizado permanente: ‘aprender’ novas habilidades, adquirindo novos conhecimentos; ‘desaprender’ o que ficou ultrapassado e não funciona mais; e ‘reaprender’, adaptando conhecimentos legitimados às mudanças de contexto”, afirma Cajazeira.

Desafio brasileiro

Esse cenário, contudo, é ainda mais preocupante devido à crônica ineficiência do sistema educacional brasileiro, que, segundo especialistas, onera o país – gastos com escolas, universidades e institutos públicos passam de R$ 300 bilhões por ano, segundo o Ministério da Educação — mas não consegue capacitar efetivamente as pessoas para um mundo cada vez mais digital. Na avaliação de Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, “somos um país que vem se esforçando e investindo em educação, mas com resultados precários”. “O problema reside em um sistema descentralizado, com baixo desempenho. Há uma questão clara de má gestão pública”, analisa Paes de Barros.

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O paradoxo brasileiro ganha amplitude maior quando se observa a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos, que supostamente deveriam ter mais vantagens competitivas no mundo digital. O desemprego nessa faixa da população superou o dobro da média geral em agosto deste ano (12%) e chegou a 25,8%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O atual modelo educacional não tem preparado o brasileiro para as novas necessidades e exigências do mercado de trabalho. Isso reflete na dificuldade de contratação de mão de obra qualificada pelas empresas”, afirma Cajazeira.

Somando esforços

A atuação conjunta da iniciativa privada, órgãos públicos e instituições do terceiro setor em torno de uma agenda de qualificação digital da sociedade, de acordo com Cajazeira, é o único caminho que possibilitaria ao país enfrentar com sucesso esse desafio. “De forma isolada, nenhuma organização, nem mesmo o governo, poderá atuar de forma eficaz na solução desse problema, dada a dimensão da população a ser alcançada”, afirma. O primeiro passo é promover a conscientização para a urgência e importância de investir já na qualificação das pessoas. “Caso contrário, a enorme desigualdade social existente no país aumentará ainda mais com os efeitos da exclusão digital das pessoas”, analisa Cajazeira.

Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper: “Somos um país que vem se esforçando e investindo em educação, mas com resultados precários”

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Nosso futuro. Hoje: o exemplo da PwC

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Digital Week, na sede da PwC Brasil, em São Paulo: semana dedicada ao desenvolvimento de novos conhecimentos e digital mindset

Entendendo que as empresas têm papel fundamental na promoção da qualificação digital das pessoas, a PwC está investindo cerca de US$ 3 bilhões, em até quatro anos, para colocar em prática um abrangente programa de Digital Upskilling nos 158 países em que tem presença.

“O objetivo é engajar 100% dos profissionais, não importando a função que exercem, a geração a que pertencem ou mesmo o nível de familiaridade com as tecnologias digitais que possuem, para criar um ambiente propício à inovação e à adaptação às mudanças do mercado”, explica Marcos Panassol, sócio e líder de Capital Humano da PwC Brasil.

As tecnologias emergentes que são alvo do programa de qualificação incluem, entre outras, a análise de dados, a inteligência artificial, o blockchain e o design thinking.

Para isso, a PwC disponibilizou a seus profissionais um conjunto de ativos e ferramentas, incluindo podcasts, conteúdos multimídia, plataformas de gamificação e aplicativos. Dentre esses recursos, destacam-se o Digital Fitness, aplicativo pelo qual o profissional avalia seu grau de maturidade digital, recebe um score e define uma trilha de desenvolvimento; o Digital Lab, que funciona como um laboratório de novas ideias para aprimorar processos e criar novas oportunidades de negócio; o Digital Accelerator, em que profissionais recebem treinamento intensivo e especializado sobre uma série de tecnologias essenciais e maneiras de agir; e, por fim, o Digital Hub, plataforma que concentra as iniciativas digitais da PwC.

“Nosso programa proporciona uma oportunidade única de desenvolvimento digital aos profissionais e contribui para a manutenção de sua relevância frente às disrupções no mercado de trabalho. Em contrapartida, a firma também conseguirá oferecer aos seus clientes e ao mercado as melhores experiências digitais — com mais eficiência, agilidade e menor custo. Trata-se, portanto, de um dos maiores programas de Digital Upskilling do mundo, e já vem sendo base inclusive para programas de transformação digital de vários clientes da PwC”, completa Panassol.

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entrevista

Embaixador Carlos Márcio Cozendey, delegado brasileiro junto às organizações econômicas internacionais sediadas em Paris, analisa com otimismo o processo de adesão do Brasil à OCDE e afirma que o país avançou em 90% das recomendações da entidade

Clube de boas práticas

Há pouco mais de dois anos, o governo brasileiro formalizou o pedido de adesão à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – composta de 36 nações, em sua maioria desenvolvidas, como Estados Unidos, Japão e países da União Europeia. A entrada na organização poderá facilitar acordos bilaterais ou multilaterais, reduzir os riscos de perda do grau de investimento, diminuir o custo de captação de empréstimos, aumentar a credibilidade das empresas e, sobretudo, alinhar o sistema regulatório às melhores condutas internacionais. Além do Brasil, Argentina, Romênia, Peru, Bulgária e Croácia são candidatos a membros plenos da OCDE.

Em maio deste ano, os Estados Unidos sinalizaram apoio ao pleito do Brasil durante a reunião do órgão em Paris. Cinco meses depois, porém, a agência de notícias Bloomberg divulgou que o governo norte-americano decidiu priorizar apenas a entrada da Argentina e da Romênia na organização. Pelo Twitter, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, negou que o país tenha retirado o apoio ao Brasil, relembrando a declaração conjunta feita pelos presidentes

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“Temos uma economia e políticas públicas convergentes com a OCDE; já cumprimos cerca de 90% das recomendações e decisões exigidas”Embaixador Carlos Márcio Cozendey, delegado brasileiro junto às organizações econômicas internacionais sediadas em Paris

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Donald Trump e Jair Bolsonaro no dia 19 de março em Washington. “Reconhecemos os esforços em curso no Brasil para mais reformas econômicas, melhores práticas e um marco regulatório que esteja alinhado com os padrões da OCDE”, escreveu o chefe da diplomacia americana, indicando que o pleito brasileiro tem boas chances no médio prazo.

“O clube de boas práticas”, como designado pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet, propõe-se a ser uma entidade coordenadora de estudos e projetos de cooperação em matéria de políticas públicas nas mais diferentes áreas. Para entrar na entidade, porém, é necessário cumprir ou comprometer-se a implementar uma série de medidas, que incluem o controle da inflação e das contas públicas, a cooperação no combate à corrupção e à evasão fiscal, além da padronização de normas tributárias e de regras de proteção à propriedade industrial.

Em entrevista à CEO Brasil, o embaixador Carlos Márcio Cozendey, delegado brasileiro junto às organizações econômicas internacionais com sede na capital francesa, como a Agência Internacional de Energia (AIE) e o Clube de Paris, analisou as chances de sucesso da demanda brasileira e os desafios e oportunidades que essa adesão representa para o país.

Qual o impacto de um apoio prioritário dos Estados Unidos à entrada da Argentina e da Romênia para as expectativas brasileiras? Como ficou claro nas declarações do secretário de Estado norte-americano [Mike Pompeo] e do próprio presidente norte-americano, Donald Trump, os Estados Unidos mantêm o apoio à entrada do Brasil na organização, que conta, inclusive, com a concordância de todos os países-membros.

Elite econômica36 países compõem a OCDE – membros são responsáveis por cerca de 80% do comércio global

CanadáUS$ 1,6 trilhão

MéxicoUS$ 1,1 trilhão

ChileUS$ 277 bilhões

AustráliaUS$ 1,3 trilhão

Nova ZelândiaUS$ 205 bilhões

Estados UnidosUS$ 19,3 trilhões

EstôniaUS$ 25 bilhões

EslovêniaUS$ 48 bilhões

FinlândiaUS$ 251 bilhões

EspanhaUS$ 1,3 trilhão

FrançaUS$ 2,5 trilhões

AlemanhaUS$ 3,6 trilhões

ÁustriaUS$ 416 bilhões

BélgicaUS$ 492 bilhões

EslováquiaUS$ 95 bilhões

DinamarcaUS$ 324 bilhões

HolandaUS$ 826 bilhões

HungriaUS$ 139 bilhões

IslândiaUS$ 23 bilhões

GréciaUS$ 200 bilhões

IrlandaUS$ 333 bilhões

ItáliaUS$ 1,9 trilhão

LetôniaUS$ 30,2 bilhões

NoruegaUS$ 398 bilhões

LuxemburgoUS$ 62,4 bilhões

Lituânia US$ 47 bilhões

SuéciaUS$ 538 bilhões

SuíçaUS$ 678 bilhões

República ChecaUS$ 215 bilhões

Reino Unido US$ 2,6 trilhões

PortugalUS$ 217 bilhões

PolôniaUS$ 524 bilhões

JapãoUS$ 4,8 trilhões

Coreia do SulUS$ 1,5 trilhão

IsraelUS$ 350 bilhões

TurquiaUS$ 851 bilhões

Fonte: Ministério da Economia

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Ocorre que não há consenso entre os membros se devem ser iniciados os processos de acessão com todos os seis países candidatos, nem em que ordem isso se daria. Os Estados Unidos, por exemplo, preferem um processo mais gradual e mantiveram a proposta apresentada no ano passado de que se iniciasse com Argentina e Romênia. Nesse sentido, não houve novidade recente na posição norte-americana.

É consenso que o Brasil tem muito a ganhar com a entrada na OCDE. Quais as vantagens e os benefícios para o país?

Existem duas dimensões principais: uma primeira vantagem do processo de acessão é interna, porque implica um alinhamento de políticas públicas e econômicas às convergências da OCDE. Algumas medidas já estão alinhadas no Brasil, mas, em outros casos, serão necessárias mudanças na legislação do país. A ideia é melhorar essas políticas em benefício da população, do desempenho da economia, da atração de investimentos e, também, do desenvolvimento das indústrias domésticas. A segunda dimensão pode ser considerada internacional, uma vez que as condutas definidas acabam tendo impacto global e, embora não sejam obrigatórias, todos acabam adotando – inclusive os países que não são membros. Então, ao entrar na OCDE, o Brasil passa a participar, desde o início, dessa formulação de padrões globais.

Há uma série de recomendações que o Brasil precisa atender no processo de adesão. O país é capaz de cumpri-las?

Temos uma economia e políticas públicas bastante convergentes com a OCDE. Na avaliação do governo federal e em nosso entendimento, já cumprimos cerca de 90% das recomendações e decisões exigidas. Nossa legislação e nossas práticas já estão alinhadas com quase todos esses instrumentos legais. No entanto, os membros da organização terão de examinar essa avaliação e concordar com ela. Assim, caso a candidatura brasileira seja aceita e nossa avaliação consolidada pela OCDE, nós teremos 10% para discutir, modificar ou negociar.

Sabe-se que a questão tributária é fortemente discutida entre os países candidatos. Como a organização analisa esse tema?

Há comitês que discutem a questão tributária, mas não é uma área com diretrizes obrigatórias. É uma discussão sobre as melhores práticas. As exigências recaem com mais ênfase sobre as questões transfronteiriças, principalmente para evitar que empresas multinacionais que transacionam entre suas afiliadas transfiram lucros para países que tributam menos. O objetivo é avaliar de quais maneiras as jurisdições de cada país-membro vão se comunicar para definir como serão as taxas, em especial as dos impostos sobre a renda.

Há alguma resistência da Receita Federal em adotar os padrões e as recomendações tributárias da OCDE?

A Receita Federal tem uma posição de cautela. Todo esse exercício de diálogo indica uma abertura da instituição, mesmo com certo grau de sigilo. Ao aceitar esse diálogo com o secretariado, o órgão mostra que está se preparando para essa mudança.

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Quais são os próximos passos para termos a adesão do Brasil à OCDE?

A OCDE ainda não decidiu em que ordem vai analisar esses pedidos de adesão. Depois do aceite, depende ainda da velocidade de cada país em atender aos requisitos exigidos pelos países-membros. Acreditamos que o Brasil venha se preparando há bastante tempo para esse momento. Temos um grau de convergência às exigências bastante razoável. Nas reformas estruturais que ainda estão em curso, como a tributária, por exemplo, deve-se ter um olhar sobre a experiência dos outros países. Afinal, a OCDE funciona também como uma espécie de consultoria, por ter conhecimentos que podem nos ajudar a refletir sobre as melhores práticas e medidas a serem aplicadas no país.

Preços de transferência: um dos principais desafios

Para Romero Tavares, sócio e líder da área de International Tax (ITS) da PwC Brasil e representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI) nas tratativas com a OCDE, o principal obstáculo para o ingresso do país na organização são os chamados “preços de transferência” – regras de controle dos preços praticados por multinacionais, além da tributação de remessas internacionais de royalties e serviços. “As regras brasileiras de ‘preços de transferência’ por vezes funcionam como uma barreira para investimentos estrangeiros. Por serem diferentes do padrão estabelecido pelos países-membros da entidade, representam risco de dupla tributação e, como consequência, reduzem a possibilidade de integração do Brasil com as cadeias globais de valor”, avalia.

De acordo com Tavares, é preciso que o país incorpore ao sistema tributário o princípio arm’s length [transação de plena concorrência], praticado pelos países-membros da OCDE, e as “diretrizes” de preços de transferência e, assim, crie um sistema misto de controle de preços de transferência, no qual as normas brasileiras sejam mantidas e aprimoradas. “A nossa proposta é termos um sistema alternativo de safe harbors que possibilite às empresas optarem com segurança entre métodos simplificados, baseados nas regras brasileiras, e moldes mais complexos, nos termos das diretrizes da OCDE. O apoio dos Estados Unidos e de outros países ao Brasil se mantém; porém, depende da convergência unilateral do Brasil aos princípios e padrões da organização, o que deve ocorrer enquanto o momento político e o alinhamento entre o Brasil e os EUA nos favorecem”, afirma.

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legado

Ao completar 65 anos de história e dedicação à música clássica, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo se consagra como um dos grandes pilares na valorização de talentos, na formação de plateia e na consolidação da identidade nacional

Sinfonia brasileira

Era possível sentir um clima diferente nos corredores da Sala São Paulo durante o mês de setembro. A imponente sala de concertos onde ocorrem apresentações sinfônicas e de câmara, localizada no centro da capital paulistana, era palco de celebrações pelo aniversário de 65 anos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). “Atingimos a maturidade com uma vitalidade invejável. Para uma orquestra, é um momento alegre e bastante simbólico”, afirma Marcelo Lopes, diretor executivo da Fundação Osesp – instituição que administra a sinfônica paulista desde 2005.

Batizada inicialmente de Orquestra Estadual de São Paulo, a Osesp foi criada em 1954, durante o Quarto Centenário da capital, um momento em que a cidade passava por um acelerado desenvolvimento social e econômico. Hoje, após mais de seis décadas de estabelecimento de laços afetivos, variadas atividades educacionais e apresentações internacionais, a Osesp celebra o seu maior legado: a consolidação da identidade cultural brasileira através da música clássica.

“A Orquestra, por meio de seu repertório, fala essencialmente do Brasil, com suas tendências, gêneros, etnias e, sobretudo, a complexidade da nossa sociedade. Descobrimos uma geração de artistas brasileiros, formamos públicos e nos apresentamos em festivais mundo afora”, acrescenta Lopes. Na última década, sob o comando da regente norte-americana Marin Alsop, a Osesp se apresentou no Festival BBC Proms, de Londres, um dos mais importantes de música clássica do planeta, na Philharmonie de Berlim, na Salle Pleyel de Paris, na Grande Sala do Festival de Salzburgo e no Royal Festival Hall, de Londres, além de ter se tornado a primeira orquestra profissional brasileira a excursionar pela China.

Sala São Paulo: Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo sob regência do maestro paulistano Isaac Karabtchevsky em 2019

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O terceiro momento, segundo Marcelo Lopes, foi a criação da Fundação Osesp em 2005, tendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à frente do Conselho de Administração. Além da Sinfônica, a entidade mantém quatro coros; um setor educativo que inclui a Academia da Osesp, com mais de 40 bolsistas, e programas de divulgação e treinamento para mais de 25 mil alunos e professores; um centro de Documentação Musical, com a Editora da Osesp, dedicada à música brasileira, e um Selo Digital. “Foi o elo jurídico e institucional para que a organização se tornasse o que é hoje”, avalia Lopes.

Osesp em números

músicos109

assinantes fidelizados

10 mil de pessoas acessam concertos via rádio, TV e internet

5 milhões crianças e adolescentes atendidos

25 mil

cantores45

bolsistas44

Fonte: Osesp

Caminho e princípios

Inúmeros capítulos marcam a trajetória da Osesp, sendo que três momentos podem ser considerados fundamentais para a história da organização. De acordo com Gil Jardim, professor livre-docente do Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), o primeiro remonta ao período compreendido entre 1973 e 1996, com a chegada do maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996), responsável pelo desenvolvimento da primeira geração de músicos e pela criação do Festival de Campos de Jordão, nos moldes do Festival de Música de Tanglewood (Massachusetts, EUA).

Depois, em 1997, com a presença do regente John Neschling, destacam-se os saltos de qualidade, excelência artística e, sobretudo, formação de plateia. Nesse período foi criada a Sala São Paulo (1999), com capacidade para 1.484 espectadores. “De forma contemporânea, Neschling implementou o padrão de qualidade da orquestra, tornando-a suficientemente competente para levá-la a turnês no exterior. Foi absolutamente genuína e inteligente a estratégia de gravar obras de autores nacionais para o mercado externo”, afirma Jardim, que é diretor artístico e regente titular da Orquestra de Câmara da ECA/USP – OCAM.

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Brasilidades

A Osesp conquistou, ao longo dos anos, importantes prêmios de melhor concerto sinfônico e, também, de câmara, a exemplo do Grande Prêmio da Revista Concerto e, por quatro vezes, do Prêmio da Música Brasileira. Foi reconhecida pela revista Gramophone como uma das três orquestras de maior ascensão no cenário internacional e conquistou o prêmio 5 estrelas para o CD Prokofiev – Sinfonia 6, da BBC Music Magazine. Hoje, é considerada uma das melhores orquestras da América Latina e sua sede, a Sala São Paulo, foi eleita pelo jornal The Guardian, em 2015, uma das dez melhores salas de concertos do mundo. O reconhecimento se deve, em parte, a projetos como a gravação de dez das onze Sinfonias de Heitor Villa-Lobos (exceto a nº 5, que é dada por perdida), o que ajudou a difundir internacionalmente a contribuição musical deixada pelo compositor.

O escolhido para a missão, que durou sete anos, foi o maestro paulistano Isaac Karabtchevsky – uma das principais referências da música clássica brasileira. “Confesso que, ao me deparar com essa responsabilidade, senti preocupação. Unimos forças internas, com a colaboração essencial de Antonio Carlos Neves Pinto [coordenador do Centro de Documentação Musical da Osesp] e do grupo de musicólogos. Discutíamos e revisávamos algumas das contradições extraídas das partituras originais. Esse processo foi essencial para transmitir esse legado às futuras gerações”, afirma Karabtchevsky.

“Reconstruir Villa-Lobos é reconstruir a nossa nação. É a representação de um país poderoso, viável, admirável e colorido. Cabia à Osesp trazer à luz o Brasil imaginado por ele”, afirma Lopes. A orquestra também gravou integralmente as sinfonias de Camargo Guarnieri – um dos mais importantes compositores brasileiros. “Sem dúvida, os projetos de uma orquestra refletem seu compromisso com a sociedade a que pertence. É muito importante que se mantenha uma programação amplamente diversificada, contemplando o maior número de tendências musicais possível”, comenta Jardim.

Marcelo Lopes, diretor executivo da Fundação Osesp: “Falamos do Brasil, com suas tendências, gêneros, etnias, e também da complexidade da nossa sociedade”

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Próximos dez anos

Com a maturidade e consagração de artistas nacionais, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo busca consolidar-se como a maior organização de música clássica brasileira e ampliar os limites geográficos de atuação dos músicos, maestros e estudantes. “Queremos ser um dos canais de desenvolvimento da música latino-americana. É fazer da região um mercado relevante, com um circuito de orquestras interligando São Paulo, Buenos Aires e Santiago. Somos vistos como uma flagship da região e não podemos estar isolados no mundo”, aponta Lopes. A responsabilidade dessa expansão, no entanto, ficará a cargo do maestro suíço Thierry Fischer, que, a partir de 2020, substituirá Marin Alsop como diretor musical e regente titular da Osesp.

Para Gil Jardim, o futuro da Osesp precisa ser pensado em conjunto com o desenvolvimento de outras orquestras no continente. “O sucesso estará na criação de uma grande rede fortalecendo, de uma só vez, um número considerável de instituições musicais e, consequentemente, trazendo à luz os incontáveis valores étnicos e culturais de cada uma das regiões abraçadas”, analisa. De acordo com Karabtchevsky, esse projeto resume o compromisso da próxima geração com a manutenção da identidade cultural brasileira por meio da música clássica. “O legado sempre será o amor irrestrito à música e a forma como transformá-la de relação abstrata a um fenômeno pulsante de vida e criatividade”, finaliza.

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Gil Jardim, professor livre-docente do Departamento de Música da Universidade de São Paulo (USP): “O futuro da Osesp precisa ser pensado em conjunto com o desenvolvimento de outras orquestras no continente”

Isaac Karabtchevsky, maestro e regente titular da Orquestra Petrobras Sinfônica:“O legado sempre será o amor irrestrito à música e a forma como transformá-la de relação abstrata a um fenômeno pulsante de vida e criatividade”

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“Considero que um dos sonhos que consegui concretizar foi o de participar da história, lutar pela democracia e contribuir para a manutenção da liberdade”Roberto Müller Filho, jornalista e publisher da Harvard Business Review Brasil

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Um dos jornalistas mais conceituados no país, Roberto Müller liderou a “era de ouro” da Gazeta Mercantil e também passou pelas principais redações brasileiras, sempre mantendo a crença na importância da imprensa para a construção de uma nação melhor

O valor da liberdade

Foi durante o confinamento no navio-prisão Raul Soares, ancorado na Ilha de Barnabé, na margem do Porto de Santos, que Roberto Müller Filho entendeu o significado de uma palavra que marcaria sua trajetória de vida: liberdade. Era setembro de 1964, seis meses depois do início do regime militar. “Fiquei enclausurado por mais de um mês na embarcação, com centenas de pessoas [médicos, advogados, sindicalistas e professores] consideradas ameaças pelos militares”, relembra Müller, que, na época, fazia parte do quadro do Partido Comunista na Baixada Santista.

Natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, Müller tinha 23 anos quando foi detido por sua ligação com o “Partidão”. Era químico e funcionário da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em Cubatão. Ali, no canteiro de obras, recrutou operários e engenheiros para a militância. Pregava que era preciso “fazer alianças com quem defende o Brasil, priorizar a industrialização e não ter pressa para mudar a história”.

“Eu era comunista, sim. Mas, antes de tudo, era nacionalista e democrata, amava meu país”, afirma. Esses foram os ideais que marcaram para sempre sua trajetória como protagonista de páginas marcantes do jornalismo brasileiro, principalmente na Gazeta Mercantil, um projeto que assumiu com ele, em 1974, um caráter “nacionalista e democrático”. “Foi um jornal que mostrou o desenvolvimento da indústria e contribuiu para a democratização do país”, afirma.

Aos 78 anos, é considerado um dos jornalistas mais influentes da América Latina. Desde 2005, é publisher da versão brasileira da Harvard Business Review, uma das mais importantes revistas de economia e gestão de negócios do mundo. Em 1997, Müller recebeu a Special Citation [Citação Especial] do Prêmio Maria Moors Cabot, outorgado pela Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, concedido a jornalistas com contribuições significativas na defesa da liberdade de imprensa. Foi escolhido pelo CEPDOC, da Fundação Getulio Vargas, no livro Eles mudaram a imprensa!, lançado em 2003, como um dos seis jornalistas brasileiros que tiveram uma participação fundamental na reformulação ou na criação de órgãos de imprensa.

“Vivemos um período de profundas transformações, não só em tecnologia, economia, mas nos costumes e no comportamento humano”

Roberto Müller Filho, jornalista e publisher da Harvard Business Review Brasil

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Desvio do caminho

Da infância pacata, Roberto Müller lembra as leituras de Machado de Assis, Jorge Amado, Euclides da Cunha e Dostoiévski. Era presidente do Clube de Português, onde discutia com os amigos literatura e política. “Sou um pouco filho das ideias positivistas”, afirma Müller. O gosto pela escrita, a firmeza na articulação das palavras e o tino para política contribuíram para a conquista do primeiro emprego, aos 17 anos, na rádio PRA 7, onde redigia o noticiário no programa Rotativa Sonora, edições da hora do almoço e do jantar. Articulado, destacou-se pela apuração criteriosa das informações. “O jornalista é parceiro da informação ou é cúmplice, escondendo-se atrás do anonimato. Por esse motivo, as matérias devem sempre ser assinadas. Devemos sempre mostrar os dois lados da notícia”, afirma.

Papel da imprensa

Roberto Müller conheceu ícones importantes do jornalismo. Um deles foi Cláudio Abramo, diretor de redação da Folha de S. Paulo, a quem deve as primeiras lições no exercício do jornalismo profissional e, também, a primeira oportunidade de trabalho, no final de 1964. Abramo ficou conhecido pela frase: “O jornalismo é, antes de tudo, e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”. “Ele foi um grande mestre, me apresentou o mundo do jornalismo sério. Ainda hoje, não tiraria uma vírgula do que ele disse”, afirma Müller.

No início da jornada profissional, nos anos 1960, como jornalista da Folha e de O Estado de S. Paulo e, também, das revistas Veja, Realidade, Visão e Expansão, Roberto Müller compreendeu que o papel da imprensa “é fundamental na preservação do estado democrático de direito. E era muito curioso que aqueles velhos donos de jornais, muito conservadores, valorizassem os ‘comunistas’ nos jornais”, afirma.

A linha tênue entre jornalismo e política

Müller assumiu a redação da Gazeta Mercantil em 1974, onde ficou por quase 20 anos. Implementou transformações importantes: deu autonomia aos editores para escrever reportagens, criou a pauta consolidada [uma espécie de segmentação do conteúdo econômico] e a interligação entre os assuntos, distribuídos em diversas editorias. Müller introduziu, também, a assinatura do autor em todas as reportagens – uma prática pouco habitual na época.

Antes de entrar na Gazeta Mercantil, o jornalista havia perguntado para Herbert Levy e seu filho Luiz Fernando [proprietários do jornal] se teria liberdade para trabalhar. “Eles me disseram: ‘Produza conteúdos com toda a liberdade’. Eu contratava quem eu quisesse, sem discriminação social, ideológica nem política. O importante era ser bom jornalista e ter regra de conduta”, lembra.

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A visão de Roberto Müller, enquanto permaneceu no cargo de editor-chefe, fez o periódico tornar-se a mais prestigiada publicação financeira do Brasil, sendo constantemente comparado ao The Wall Street Journal, dos Estados Unidos. “É dessa forma que se constrói a liberdade do leitor, do internauta, do ouvinte. É o direito de receber a melhor e mais equilibrada informação possível. Isso, sim, é ser democrático e defensor da liberdade”, diz.

O distanciamento do jornalismo aconteceu apenas em dois momentos, quando Roberto Müller assumiu a chefia de gabinete do Ministério da Fazenda durante a gestão de Dilson Funaro, entre 1985 e 1987, e quando chefiou a Secretaria de Ciência e Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, por pouco mais de um ano, até o final do governo de Luiz Antônio Fleury Filho, em 1994.

Novos tempos

Com seis décadas de experiência no jornalismo, Müller observa o mundo com perplexidade. “Vivemos um período de profundas transformações, não só em tecnologia, economia, mas nos costumes e no comportamento humano. Isso demanda, entre as pessoas da minha idade, um grande esforço de adaptação e de compreensão para acompanharmos o mundo”, afirma.

Foi nesse contexto que o jornalista assumiu, em 2005, o desafio de comandar a edição brasileira da Harvard Business Review. “Cada publicação é uma escola, uma aula de formação de líderes, gestores, presidentes e alta direção de empresas. A excelência dos artigos define bem a qualidade do nosso trabalho”, comenta.

O desafio é encontrar novas maneiras de chegar ao leitor por meio de vários canais e atingir os mais jovens. “A Harvard é muito contemporânea porque investiu no digital, mas os critérios jornalísticos ainda são os mesmos: a edição criteriosa e o respeito à pluralidade e à diversidade”, afirma Müller. Aos novatos que estão chegando agora ao jornalismo, o conselho do guru é simples: “Ter paixão”.

Questionado se já realizou seus sonhos, Müller é reflexivo. “A vida foi me levando para esta jornada. Considero que um dos sonhos que consegui concretizar foi o de ser testemunha participante da história, lutar pela democracia e contribuir para a manutenção da liberdade”, pontua.

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Gay Talese

Jornalista e escritor norte-americano. Trabalhou para o jornal The New York Times e contribuiu para a criação de um jornalismo com características narrativas provenientes da literatura. “Talese criou um novo jornalismo. Ensinou como escrever de forma criativa e contextualizada.”

Cláudio Abramo

Jornalista e escritor. Foi responsável por mudanças no estilo, na formatação e no conteúdo dos dois maiores jornais paulistas: O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. “Cláudio foi um grande mestre. Jornalista exemplar, conciliador, de enorme caráter e ética.”

Da política à literatura

Ulysses Guimarães Político e advogado. Foi presidente da Câmara dos Deputados em três momentos (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988), comandou a Assembleia Nacional Constituinte entre 1987 e 1988 e foi um dos principais opositores do regime militar. “Foi o grande responsável pela redemocratização, com a Diretas Já. Ele tinha honradez e habilidade política.”

Dilson Funaro

Empresário e político. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como ministro da Fazenda durante o governo de José Sarney, entre 1985 e 1987, conduziu a criação do plano de estabilização financeira, o Plano Cruzado. “Funaro é uma inspiração por causa da sua coragem, patriotismo e humildade.”

Thomas Mann

Escritor e romancista alemão. Premiado com o Nobel de Literatura de 1929, é considerado um dos maiores escritores do século 20. É autor de livros internacionalmente conhecidos, como Buddenbrooks (1900) e A Montanha Mágica (1924). “Thomas Mann conta histórias com raro talento narrativo.”

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Roberto Müller contou com diversas inspirações em sua formação profissional.A seguir, cinco personalidades importantes que influenciaram sua trajetória

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PublicaçõesSizing the Prize - PwC’s Global Artificial Intelligence Study

A inteligência artificial vai se consolidar como principal fonte de transformação, disrupção e vantagem competitiva na economia global nos próximos anos. Para acompanhar o ritmo dessa revolução, as empresas precisarão saber direcionar seus investimentos, entender os tipos de recursos necessários e implementar uma estratégia responsável e transparente, capaz de manter a confiança dos clientes e dos stakeholders. Nesse relatório, a PwC avaliou o real valor dessa tecnologia, como capitalizar seu uso nos negócios e seu impacto para os diversos setores da economia.

http://bit.ly/pwc_sizingtheprize

Pesquisa Global de Crises PwC 2019

Crises não são novidade no ambiente de negócios. Preparar-se para enfrentá-las sempre foi prática necessária, mas a realidade atual requer cuidados ainda maiores. Nesse contexto, o levantamento da PwC apresenta um amplo panorama de experiências vividas por organizações que passaram por situações delicadas nos últimos anos, além de identificar as melhores práticas de gestão. A pesquisa, realizada em 43 países, revelou que quase 70% das empresas sofreram pelo menos uma crise nos últimos cinco anos.

http://bit.ly/pwc_globaldecrises

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Talent Trends 2019

Cada vez mais, os altos executivos se preocupam com o impacto que empresas, estratégias e atividades terão sobre o meio ambiente, as comunidades locais e seus colaboradores, e, também, de que modo equilibrar as pressões de custo e metas de ganhos trimestrais. Nesse contexto, o desafio é a composição da força de trabalho. A automação traz uma promessa de maior produtividade e lucro, mas qual seria o custo para os funcionários e para a sociedade? Qual a responsabilidade das corporações na qualificação de seus funcionários?

http://bit.ly/pwc_talenttrends2019

The Low Carbon Economy Index 2019

Apesar dos aumentos significativos em energia renovável, a diferença entre as emissões de gases de efeito estufa e a meta do Acordo de Paris continua a crescer. A maior parte da demanda de energia foi gerada por combustíveis fósseis, que aumentaram as emissões globais em 2% — o mais rápido aumento de emissões desde 2011. O consumo de energia também cresceu quase 3%. De acordo com o levantamento, as empresas precisam lidar com a crescente intensidade dos impactos climáticos e com uma resposta política incoerente em todo o mundo.

http://bit.ly/pwc_lowcarboneconomy

Pesquisa Global Entertainment & Media Outlook

As pessoas estão utilizando um leque maior de dispositivos conectados para organizar e selecionar seu consumo pessoal de mídia. De acordo com a pesquisa Global Entertainment & Media Outlook, da PwC, até 2030, os grandes players do setor de mídia apostarão na personalização do conteúdo, com base na análise de dados e na utilização dos padrões de uso de cada usuário, para se manterem competitivos no mercado. Segundo o levantamento, o crescimento médio do setor no Brasil, nesse período, será de 5% ao ano, com destaque para o aumento de 15% no consumo de vídeo sob demanda, 13% em publicidade digital e 12% em games.

http://bit.ly/pwc_globalentertainmentandmedia

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