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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATERIAIS Análise de falha de um elastômero utilizado como material auxiliar na produção de pneus Thaís Magdalena de Paula Rio de Janeiro 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE

MATERIAIS

Análise de falha de um elastômero utilizado como material auxiliar na

produção de pneus

Thaís Magdalena de Paula

Rio de Janeiro

2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE

MATERIAIS

Análise de falha de um elastômero utilizado como material auxiliar na

produção de pneus

Dissertação apresentada, como

requisito parcial para obtenção do

título de Mestre, ao Programa de

Pós-Graduação em Ciência e

Tecnologia de Materiais, do Centro

Universitário Estadual da Zona

Oeste. Área de concentração:

Elastômeros.

Orientado(a): Thaís Magdalena de Paula

Orientador(a): Dr. Alex da Silva Sirqueira

Rio de Janeiro

2016

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FICHA CATALOGRÁFICA

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL

DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU

ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A

FONTE.

____________________ ______________________________

Data Thaís Magdalena de Paula

X000 Paula, Thaís Magdalena de.

Análise de falha de um elastômero utilizado como

material auxiliar na produção de pneus / Thaís Magdalena

de Paula. – 2016.

45f.

Orientador: Dr. Alex da Silva Sirqueira.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário Estadual

da Zona Oeste, Rio de Janeiro.

1. Elastômeros. 2. Vulcanização.

XXX 000.000

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4

FOLHA DE APROVAÇÃO

Thaís Magdalena de Paula

Análise de falha de um elastômero utilizado como material auxiliar na

produção de pneus

Dissertação apresentada, como

requisito parcial para obtenção do

título de Mestre, ao Programa de

Pós-Graduação em Ciência e

Tecnologia de Materiais, do Centro

Universitário Estadual da Zona

Oeste. Área de concentração:

Elastômeros.

Aprovado em: 26 de Abril de 2016.

Banca Examinadora:

_____________________________________________________

Prof. Dr. Alex da Silva Sirqueira (Orientador) Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – UEZO

_____________________________________________________

Profa. Dra. Adriana dos Anjos Silva Universidade Federal Fluminense – UFF _____________________________________________________

Profa. Dra. Patricia Reis Pinto Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – UEZO

Rio de Janeiro

2016

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5

Dedicatória

Dedico este trabalho

de Mestrado à minha mãe,

Rosangela Orfei Magdalena de

Paula por me apoiar e

incentivar em todos os

momentos da minha vida.

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6

Agradecimento

Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre ao meu lado, ouvindo

minhas preces.

Ao meu companheiro Diego Bazani Boechat, pela compreensão nos

momentos de estudo em que fiquei ausente, sempre me apoiando e me

encorajando a lutar pelos meus sonhos.

Aos professores do curso de pós-graduação de Ciência e Tecnologia de

Materiais da UEZO, que com toda dedicação e comprometimento passaram seus

conhecimentos aos alunos.

Em especial ao Professor Dr. Alex da Silva Sirqueira pela orientação deste

trabalho, paciência e disponibilidade em me apoiar nas dificuldades encontradas

ao longo desta jornada.

Ao Sr. Rodrigo Carvalho, que me cedeu às amostras deste estudo realizado.

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RESUMO

PAULA, Thaís Magdalena de. Análise de falha de um elastômero utilizado

como material auxiliar na produção de pneus. 2016. Pré-projeto (Mestrado

Profissional). Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais

– Centro Universitário Estadual da Zona Oeste 2016.

O trabalho teve como objetivo analisar as falhas de um material utilizado

para a produção de pneus, denominado câmara. Foram retiradas diferentes

amostras do material após utilização para avaliação dos danos causados pelos

carregamentos cíclicos e análise das falhas do material. Através deste estudo, foi

proposto melhorias nas condições de uso do material, propondo melhorias de

processo para atingir o objetivo desejado.

Palavras-chave: elastômeros, vulcanização, falha de elastômetros.

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ABSTRACT

Paula, Thaís Magdalena de. Failure analysis of an elastomer used as an

auxiliary material in the production of tires. 2016. Pre-project (Master).

Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Materiais – Centro

Universitário Estadual da Zona Oeste 2016.

The study aimed to analyze the failure of a material used for the production of

tires, called chamber. They were taken different samples of the material after use

to evaluate the damage caused by cyclic loading and analysis of the failures of the

material. Through this study, It is proposed the best conditions of use of the

material, suggesting process improvements to achieve the desired goal.

Keywords: elastomers, vulcanization, elastomers failure.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Desenhos de versões do pneu inventado por R. W. Thompson [2]. . 4

Figura 2: Desenho do pneu concebido por J. B. Dunlop [2]. ............................ 5

Figura 3: Pneu com câmara [4]. ....................................................................... 6

Figura 4: Pneu sem câmara [4]. ....................................................................... 6

Figura 5: Constituintes do pneu [4]. ................................................................. 7

Figura 6: Mero da borracha natural................................................................. 9

Figura 7: Processo de Vulcanização [10]. ....................................................... 11

Figura 8: Gráfico torque versus tempo [13]. .................................................... 13

Figura 9: Deformação Elástica 5 ................................................................... 15

Figura 10: Prensa de cozimento. [29] ............................................................. 23

Figura 11: Câmara de cozimento. [30] ............................................................ 24

Figura 12: Câmara com falha. ...................................................................... 25

Figura 13: Foto das amostras ....................................................................... 27

Figura 14: Percentual de Inchamento por tipo de amostra. .......................... 35

Figura 15: Teor de cinzas ............................................................................. 38

Figura 24: Imagens amostra nova. ............................................................... 39

Figura 25: Imagens amostra 9 ciclos. ........................................................... 40

Figura 26: Imagens amostra 154 ciclos no ponto da ruptura. ....................... 41

Figura 27: Imagens amostra 154 ciclos fora do ponto de ruptura. ................ 41

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iv

Figura 28: Imagem amostra 380 ciclos. ........................................................ 42

Figura 29: Imagens amostra 383 ciclos. ....................................................... 43

Figura 16: TGA - Amostra 0 .......................................................................... 44

Figura 17: TGA - Amostra 9 .......................................................................... 45

Figura 18: TGA - Amostra 154 ...................................................................... 45

Figura 19: TGA - Amostra 380 ...................................................................... 46

Figura 20: TGA - Amostra 383 ...................................................................... 46

Figura 21: Curvas módulo de armazenamento ............................................. 47

Figura 22: DMA - Tangente delta x módulo de armazenamento .................. 48

Figura 23: DMA – Tangente delta x módulo de perda .................................. 48

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Ensaio Inchamento. ...................................................................... 29

Tabela 2: Ensaio Teor de Cinzas. ................................................................. 30

Tabela 3: Amostra para curva DMA. ............................................................. 32

Tabela 4: Peso das amostras para TGA. ...................................................... 33

Tabela 5: Resultados ensaio inchamento. .................................................... 34

Tabela 6: Resultados teor de cinzas. ............................................................ 36

Tabela 7: Comparação % Inchamento x curva modulo armazenamento ...... 50

Tabela 8: Protocolo de conformidade ........................................................... 52

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1: Percentual de Inchamento ......................................................... 28

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ............................................................................................... 3

2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 3

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 4

3.1 A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO DO PNEU .................................................. 4

3.2 ELASTÔMEROS ........................................................................................ 7

3.3 A HISTÓRIA DA BORRACHA .................................................................... 8

3.4 BORRACHA ............................................................................................... 8

3.5 A HISTÓRIA DA VULCANIZAÇÃO............................................................. 9

3.6 A VULCANIZAÇÃO .................................................................................. 10

3.7 LIGAÇÕES CRUZADAS ........................................................................... 14

3.8 A DEFORMAÇÃO DOS ELASTÔMEROS ................................................ 15

3.9 A FRATURA DE POLÍMEROS E DEGRADAÇÃO DA BORRACHA ........ 16

3.10 A ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICA ..................................... 17

3.11 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DE POLÍMEROS ........................... 20

3.12 TERMOGRAVIMETRIA ............................................................................ 20

3.13 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA ................................... 21

3.14 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FISICO-QUÍMICAS ............................. 21

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3.15 INCHAMENTO ......................................................................................... 21

3.16 TEOR DE CINZAS ................................................................................... 22

4 RELEVÂNCIA E VIABILIDADE ................................................................ 22

5 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 26

5.1 ENSAIO INCHAMENTO ........................................................................... 27

5.2 ENSAIO TEOR DE CINZAS ..................................................................... 29

5.3 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA ................................... 31

5.4 ANÁLISE TÉRMICA DINÂMICO-MECÂNICA .......................................... 31

5.5 TERMOGRAVIMETRIA ............................................................................ 32

6 RESULTADOS E DISCURSÃO ................................................................ 33

6.1 INCHAMENTO ......................................................................................... 33

6.2 TEOR DE CINZAS ................................................................................... 35

6.3 MEV .......................................................................................................... 38

6.4 TERMOGRAVIMETRIA ............................................................................ 43

6.5 ANÁLISE TÉRMICA DINÂMICO-MECÂNICA .......................................... 47

7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS ............................................ 49

7.1 CONCLUSÃO ........................................................................................... 49

7.2 TRABALHOS FUTUROS .......................................................................... 53

8 REFERÊNCIA .......................................................................................... 54

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1 INTRODUÇÃO

A fabricação de pneus é uma atividade competitiva, onde existem vários

fabricantes em busca de uma maior fatia de mercado, que está cada vez mais

exigente, procurando o melhor custo-benefício na hora de trocar os pneus do

veículo.

A cada dia os clientes estão mais criteriosos, à procura de mais benefícios e

tecnologias sem aumento de custo. Para sobreviver em um cenário tão

competitivo, faz-se necessária uma política agressiva de redução de custos na

área industrial, visando a excelência e a produtividade, reduzindo ao máximo o

desperdício e trabalhos que não agregam valor ao produto final. A identificação e

eliminação dos desperdícios industriais são prioridade na indústria de pneus, e se

tornam uma estratégia de sobrevivência para as empresas do ramo.

O pneu é um dos componentes mais importantes de um veículo automotor,

ele suporta o peso da estrutura, da carga transportada e faz o contato com o solo.

Ele também transforma a força do motor em tração e é responsável pela

estabilidade do veículo e pela eficiência da frenagem.

A constituição de um pneu é, basicamente, uma mistura de borracha natural

e de elastômeros sintéticos (polímeros com propriedades físicas semelhantes às

da borracha natural). A adição de negro de carbono confere à borracha

propriedades de resistência mecânica, durabilidade e desempenho.

Após a mistura ser trabalhada e ganhar as formas necessárias através dos

processos de calandragem e extrusão, os constituintes do pneu são empilhados

em sequência e o pneu ganha forma em um molde. É utilizado o enxofre,

compostos de zinco como aceleradores e outros compostos ativadores e

antioxidantes.

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A vulcanização dos pneus é necessária para transformar as propriedades

dos elastômeros que compõem este produto. Esta etapa da fabricação transforma

o comportamento plástico, comum nos polímeros, em comportamento elástico,

possibilitando as aplicações mecânicas.

As chamadas câmaras de cozimento são locais onde ocorre a vulcanização,

a parte interna é revestida por uma membrana que infla para gerar pressão no

pneu. Essas membranas são fabricadas com borracha butílica e, trata-se de uma

borracha altamente impermeável a gases e líquidos [1].

Esta borracha tem o seu ponto de cura, ou seja, temperatura em que ocorre

a transformação do regime plástico em elástico mais elevado que o ponto de cura

necessário para que ocorra o mesmo fenômeno nos componentes que constituem

o pneu, pois ela será utilizada em vários ciclos de cozimento. A impermeabilidade

deste material é importante porque dentro dele circulam gases, que não podem

entrar em contato com o pneu durante o processo de vulcanização, o que

comprometeria o processo de vulcanização e a qualidade do pneu.

A vida útil média ideal de uma câmara gira em torno de 300 cozimentos, ou

seja, para cada câmara comprada, serão produzidos 300 pneus. Contudo, em

alguns casos, tem-se a saída prematura desde material auxiliar, devido a danos

que ocasionam problemas de qualidade no produto, sendo necessária a

substituição. Atualmente, a vida útil média da câmara está aproximadamente em

215 cozimentos, 28% (vinte e oito por cento) menor que o valor ideal, praticado

por outras usinas do grupo.

A vida útil reduzida da câmara gera um consumo maior deste material, mão

de obra para montá-la e tempo de máquina parada para a troca, gerando

improdutividade. O aumento da vida útil deste material acarretará outros ganhos

indiretos para a empresa, além da economia do consumo deste material.

Esta dissertação teve como objetivo estudar o motivo da redução do tempo

de vida útil da membrana de cozimento.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho foi a criação de uma metodologia de testes e

caracterização do material que permita estipular um critério de falha para as

câmaras utilizadas no cozimento de pneumáticos. Identificando o motivo pelo qual

as câmaras estão com sua vida útil reduzida.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Este trabalho tem o como objetivos específicos:

Avaliação dos danos causados pelos carregamentos cíclicos sobre o

comportamento mecânico, térmico e a microestrutura do material.

Identificação do motivo das falhas prematuras.

Propor ações de melhoria para o aumento da vida útil da peça.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 A HISTÓRIA E A EVOLUÇÃO DO PNEU

A primeira patente teve registro em 1845, pelo engenheiro escocês Robert

William Thomson. A invenção foi testada em uma carruagem utilizada na época,

onde os pneus proporcionaram rotação mais suave que as rodas da época, que

eram feitas de ferro ou borracha macia. A invenção, que utilizava uma banda de

couro protegendo uma câmara de ar, amenizou os esforços de tração, tornando a

viagem mais confortável. Porém, devido a dificuldades de fabricação, a invenção

foi esquecida. A Figura 1 apresenta dois modelos dos primeiros pneus criados. A

Figura 1(B) é uma evolução do primeiro modelo 1(A).

Figura 1: Desenhos de versões do pneu inventado por R. W. Thompson [2].

Em 1888, John Boy Dunlop registrou uma segunda patente, chamada de

“roda pneumática”. Porém dois anos depois, esta foi revogada, devido a existência

da patente do Thomson, e o invento caiu em domínio público. Este segundo

invento era constituído de tubos de borracha internos a uma banda de rodagem.

Dunlop ainda adicionou uma válvula de retenção ao produto, o que possibilitou

encher de ar. A invenção de Dunlop pode ser vista na Figura 2.

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Figura 2: Desenho do pneu concebido por J. B. Dunlop [2].

O primeiro pneu para charrete foi criado pelos irmãos André e Édouard

Michelin, em 1894. Mais tarde, os irmãos também criaram os primeiros pneus para

automóveis. [3].

O pneu atual nada tem a ver com os modelos apresentados acima, os pneus

são mais complexos, constituídos de borracha, material têxtil e metais.

Atualmente, existem dois tipos de pneus que pode ser colocado no caminhão

ou ônibus. São eles: pneus com câmara e pneus sem câmara. Os pneus radiais

(sem câmara) representam um avanço tecnológico em relação aos pneus

convencionais (com câmara).

A Figura 3 mostra os componentes de montagem de um pneu com câmara

e a Figura 4 mostra os componentes de montagem de um pneu sem câmara, este

último com a montagem bem mais simples.

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6

Figura 3: Pneu com câmara [4].

Figura 4: Pneu sem câmara [4].

A Figura 5 representa os constituintes do pneu radial. Ele pode ser dividido

em três partes: a banda de rodagem, que entra em contato com o solo, o flanco,

que absorve os impactos na rodagem e o talão, que encaixa na roda.

A banda de rodagem recebe o desenho específico para o tipo de solo que o

pneu é indicado. As cinturas metálicas e lonas metálicas são partes internas do

pneu, que ajudam na sustentação. O revestimento de goma interno é constituído

por uma goma impermeável para que o ar não seja liberado. O talão recebe um

aro interno, que serve como apoio na montagem da roda. [4]

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Figura 5: Constituintes do pneu [4].

3.2 ELASTÔMEROS

Os elastômeros são polímeros, que em temperatura ambiente, podem ser

deformados, em níveis de deformações muito grandes e em seguida, retornam

elasticamente às suas formas originais. Estes materiais são comumente

chamados de borracha, e possuem propriedades de alta elasticidade. [3, 5]

De acordo com Rodrigues, os elastômeros são polímeros de alta massa,

formados por longas cadeias orgânicas. Eles são compostos por uma sequência

repetitiva de um ou mais tipos de monômeros [3].

Pode-se encontrar na natureza o elastômero conhecido como borracha

natural, que é obtido na extração do látex. Este material no seu estado natural não

possui as características desejadas ao processo industrial, como já foi abordado, é

necessário que sejam submetidos a um processo chamado vulcanização para ter

sua propriedade termoquímica melhorada e ter a aplicação industrial necessária.

[3]

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8

3.3 A HISTÓRIA DA BORRACHA

Não existem relatos de utilização da borracha no mundo antigo, antes da

descoberta de Colombo. Este conheceu a borracha em sua segunda viagem à

América (1496), quando observou meninos utilizando uma borracha em formato

de bola no Haiti. E com o descobrimento das Américas, os europeus foram

descobrindo as aplicações e utilizações deste material que tem sua origem na

extração do látex do tronco de algumas espécies de árvores.

Durante anos a pesquisa da borracha foi realizada através de missões de

europeus às Américas. Porém existiam grandes dificuldades para manusear este

material, já que a temperatura ambiente, a borracha é pegajosa e com o aumento

da temperatura, durante o verão, contribuí para o comportamento plástico da

borracha, que ao receber esforço mecânico, se deformava permanentemente. [6]

3.4 BORRACHA

Borrachas são polímeros da família dos elastômeros, que no seu estado

primário possui cadeias lineares de isopropeno com alto massa molecular. Neste

estado não existem ligações moleculares entre as cadeias, portanto o material

pode apresentar fluência quando submetido a uma tensão em temperaturas

superiores à de transição vítrea. [6]

A Figura 6 representa o mero, unidade de formação de uma molécula de

borracha natural.

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9

Figura 6: Mero da borracha natural.

As borrachas são classificadas em duas famílias: borrachas naturais e

borrachas sintéticas. As borrachas naturais são obtidas a partir do látex e as

borrachas sintéticas são obtidas através do refinamento do petróleo. [6]

As borrachas raramente são utilizadas na forma pura. Para que possa ter

aplicação prática, vários são os ingredientes introduzidos, cuja escolha é baseada

no conjunto de propriedades desejadas. A mistura de borrachas a outros

compostos é devido a três razões: melhoria das propriedades, do processamento

e para reduzir os custos de fabricação. Existem várias maneiras de se realizar a

mistura, sendo a mecânica a mais utilizada. A maior dificuldade ao se trabalhar

com misturas de borrachas está na obtenção de uma vulcanização uniforme em

todas as fases poliméricas, por causa da diferença de solubilidade dos vários

aditivos em relação às borrachas utilizadas. [7]

3.5 A HISTÓRIA DA VULCANIZAÇÃO

Em 1838, Nathaniel Hayward descobriu que misturando enxofre à borracha e

expondo à luz do sol, a superfície deste composto deixa de ser pegajosa. Esta

descoberta foi o primeiro passo para o avanço do estudo da vulcanização da

borracha. Trabalhando sobre o mesmo problema, Charles Goodyear descobriu

que aquecendo o composto constituído de borracha e enxofre, poderia obter

produtos com propriedades superiores as da borracha natural. A palavra

vulcanização foi inventada por William Brockedon, que a derivou da palavra

Vulcano, o deus do fogo. Este nome foi sugerido por envolver calor e enxofre,

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10

agente da reação de origem vulcânica. Porém, o nome cura também foi utilizado

para descrever o processo. [6]

3.6 A VULCANIZAÇÃO

Durante a etapa de desenvolvimento de uma formulação elastomérica, a

borracha é submetida a uma temperatura, passando por mudanças físicas e

químicas que levam à alteração de suas propriedades. Essas alterações se devem

a fatores como: tempo e temperatura de vulcanização, método de vulcanização,

tipo de elastômero e presença de aditivos. Os agentes de vulcanização mais

comuns na indústria são enxofre e peróxido. [8]

A vulcanização de um polímero transforma o comportamento plástico com

baixa dureza em comportamento elástico com elevada dureza, tornando-o

adequado a diversas aplicações mecânicas, como é o caso dos pneus. [9]

O processo de vulcanização é eficaz a partir de condições de tempo,

temperatura e pressão adequadas. Para uma determinada temperatura, leva-se

em conta um tempo necessário para a vulcanização. O objetivo final deste

processo é a obtenção de um produto de qualidade, com garantia da coesão entre

os produtos, que será assegurada pela reação durante a vulcanização, entre os

produtos constituintes do pneu. [10]

A Figura 7 representa o processo de vulcanização. Onde a borracha

natural, que tem característica pegajosa e possui alta deformação se transforma

em borracha vulcanizada, após a formação de uma estrutura tridimensional com

ligações cruzadas.

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11

Figura 7: Processo de Vulcanização [10].

O processo de vulcanização pode ser definido como conversão da borracha

através de um processo químico de formação de ligações cruzadas, ou seja, um

processo onde as cadeias moleculares, até então independentes, são conectadas

através de ligações químicas primárias formando reticulados, que levam a

formação de uma rede tridimensional no material. Essa organização estrutural

permite manter ou incrementar as propriedades elásticas e reduzir o

comportamento plástico do material. Existem dois processos de vulcanização a

estática e a dinâmica. O processo de vulcanização estática necessita da adição de

calor e de agente de cura em determinadas temperaturas por um tempo específico

para formar as ligações cruzadas entre as macromoléculas dos elastômeros

durante processos de transformação. A vulcanização dinâmica é um processo de

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cura de um elastômero durante a mistura no estado fundido com um

termoplástico, que resulta em uma classe de materiais denominada termoplásticos

vulcanizados, os quais apresentam as propriedades da borracha vulcanizada,

porém pode ser processada como um termoplástico convencional. Um grande

número de elastômeros e termoplásticos é combinado para produzir

termoplásticos por vulcanização dinâmica. [11]

O processo de vulcanização também pode ser definido como um conjunto de

reações químicas complexas onde os reagentes reagem entre si e,

posteriormente, com as cadeias elastoméricas, para formar uma rede de ligações

cruzadas tridimensional. Durante o processo, reações laterais como a

dessulfurização e a degradação das ligações cruzadas, além de modificações na

cadeia principal da borracha, também podem ocorrer simultaneamente. [12]

Embora o processo de vulcanização seja de natureza química, pode-se

realizar testes para a definição dos parâmetros de cozimento a partir das

alterações físicas do material. Estas mudanças ocorrem em três estágios: período

de indução, estágio de cura ou vulcanização e estágio de reversão. [13].

Para a definição da temperatura e tempo necessário para a vulcanização,

utiliza-se um equipamento chamado de reômetro de contato. Este pode ser

utilizado para a definição dos parâmetros de vulcanização. O equipamento

consiste essencialmente de 2 pratos, que são aquecidos, e de um registrador de

torque em função do tempo. A amostra é colocada em uma cavidade aquecida e a

resistência oferecida pela borracha, a uma oscilação de baixa amplitude, é medida

em função do tempo. [13]

A curva resultante é mostrada na Figura 8, onde os três estágios descritos

forma visualizados. Em geral, utiliza-se o tempo de vulcanização igual à 90%, para

assegurar que o material não atingirá o estágio de reversão, indesejável, já que

neste estágio o material retorna as propriedades iniciais, após da vulcanização.

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13

Figura 8: Gráfico torque versus tempo [13].

A formação de ligações cruzadas em borrachas com apenas o enxofre como

agente de vulcanização é um processo lento, mesmo a elevadas temperaturas e

exige longos períodos de reação. Nessas condições a reticulação torna-se

ineficiente, e não há obtenção de valores de resistência mecânica e propriedades

de envelhecimento satisfatórias. A duração desse procedimento pode demorar 5

horas à temperatura de 150 °C, o que não é desejável. Por isso, faz-se necessário

a adição de aceleradores, que permitem controlar o tempo e/ou a temperatura

requerida para a vulcanização. Possibilitar a vulcanização em tempo reduzido

além de melhorar as propriedades do vulcanizado. [14]

O tempo de cozimento pode variar em função da formulação, por exemplo, o

tempo de vulcanização de uma borracha tipo SBR (borracha de butadieno-

estireno) pode variar entre 53 e 21 minutos utilizando a mesma temperatura,

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14

apenas variando as quantidades dos outros componentes contidos da formulação.

[15]

Ao comparar o tempo necessário para a vulcanização de duas borrachas

distintas sem adição de outros aditivos, observa-se que este tempo também é

diferente. Para uma temperatura de 160°C, a borracha natural (BR) necessita de

6,6 minutos para vulcanizar, enquanto para a borracha de butadieno-estireno

(SBR) são necessários 28,2 minutos. Estes resultados foram definidos utilizando

um reômetro de disco oscilatório. [16]

3.7 LIGAÇÕES CRUZADAS

A vulcanização é a conversão da borracha através de um processo químico

de ligações cruzadas. Canevarolo16 define ligações cruzadas como ligações

covalentes formadas entre duas cadeias poliméricas, que as mantêm unidas por

força primárias, formando uma rede tridimensional. É necessário um nível elevado

de energia para quebrar este tipo de ligação.

As ligações denominadas covalentes são compartilhamentos de dois elétrons

entre os átomos, este tipo de ligação normalmente envolve curtas distâncias e

altas energias, por isso é necessário grande quantidade de energia para quebrá-

la.

As cadeias poliméricas com ligações cruzadas estão ligadas entre si,

através de seguimentos de cadeias unidas por ligações primárias covalentes

fortes. Pode-se classificar os polímeros de acordo com sua densidade. Polímeros

com baixa densidade de ligações cruzadas, por exemplo, borracha vulcanizada e

polímeros com alta densidade de ligações cruzadas, por exemplo, termirrígidos.

Estas ligações cruzadas amarram uma cadeia à outra, impedindo o livre

deslizamento. [17]

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15

3.8 A DEFORMAÇÃO DOS ELASTÔMEROS

Em seu estado sem tensões, os elastômeros são amorfos e compostos por

cadeias moleculares altamente torcidas, dobradas e espiraladas. Ao receber um

esforço de tração, a deformação elástica irá distorcer, desenrolar e retificar as

cadeias, parcialmente, porém quando há a liberação da tensão, elas voltam ao

seu estado original. A Figura 9 representa este fenômeno, no item “a” tem-se a

representação do estado sem tensões e a letra “b” representa a resposta elástica

em resposta à aplicação de tensão de tração. [5]

Figura 9: Deformação Elástica 5

(CALLISTER, 2002)

Entropia é o fenômeno onde a força motriz necessária para a deformação

elástica é um parâmetro termodinâmico, ou seja, é a medida do grau de desordem

no interior do sistema. Quanto maior o grau de desordem, maior a entropia. À

medida que o elastômero recebe força de tração, suas cadeias ficam mais

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16

retilíneas, se tornando mais alinhadas e ordenadas. A entropia irá aumentar se as

cadeias retornarem ao estado original. Quando esticado, o elastômero aumenta

sua temperatura, este comportamento é característico do material estudado e é o

oposto ao encontrado em outros materiais. [5]

Callister5 define os critérios para que um polímero seja considerado um

elastômero. Ele não deve ser facilmente cristalizado, as rotações das ligações da

cadeia devem estar relativamente livres, uma cadeia retorcida deve responder de

imediato à aplicação de uma força, o início do surgimento da deformação plástica

deve ser retardado, o elastômero deve estar em temperaturas acima da transição

vítrea, abaixo desta temperatura o material se torna frágil.

3.9 A FRATURA DE POLÍMEROS E DEGRADAÇÃO DA BORRACHA

A resistência à fratura dos polímeros é baixa se comparada aos outros tipos

de materiais. A fratura está associada à formação de trincas em regiões onde se

concentram as tensões. As ligações covalentes da estrutura em rede ou as

ligações cruzadas se rompem durante a fratura. [5]

A falha por fadiga ocorre devido à nucleação e propagação de defeitos em

materiais devido a ciclos alternados de tensão e deformação. As tensões

cisalhantes provocam um escoamento localizado, isto aumenta a concentração de

tensões dando origem a uma descontinuidade inicial. À medida que esta

descontinuidade torna-se mais alongada, ela pode começar a propagar gerando

uma trinca de fadiga.

Além das falhas por fadiga do material, pode-se verificar degradação do

material.

A borracha natural possui ligações insaturadas e seus principais processos

de degradação são a oxidação, onde as cadeias poliméricas reagem com o

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17

oxigênio, causando quebra e/ou rearranjo das cadeias e a ozonólise, reação do

ozônio com as duplas ligações das cadeias poliméricas da borracha natural. O

resultado da ozonólise da borracha natural é uma redução da massa, da

resistência mecânica, de isolamento elétrico, de flexibilidade e elasticidade. O

aumento na densidade de ligações cruzadas leva ao aumento na rigidez do

polímero e à combinação dos dois fenômenos resulta na formação de micro

fissuras. O ozônio degrada a borracha mesmo na ausência de tensão mecânica,

entretanto, a degradação pode ser aumentada sob tensão mecânica. A

degradação do ozônio sem tensão, pode não ser identificada a olho nu, porém sob

tensão as fissuras são propagadas. Quanto maior o tempo de exposição mais

profundas as fissuras se tornam, levando o rompimento do material. Uma grande

densidade de ligações cruzadas faz com que ocorra um aumento na resistência à

degradação por ozônio, pois há uma redução da mobilidade das cadeias

poliméricas, dificultando assim a difusão do gás no material, aumentando a

proteção ao ataque do ozônio. A degradação da borracha pode ser intensificada

na presença de radiação, umidade e calor. [18]

3.10 A ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICA

O comportamento dos polímeros depende de diversos fatores: composição

química, temperatura, força aplicada, velocidade de aplicação do esforço e taxa de

aquecimento, por exemplo. A resposta aos estímulos mecânicos se diferenciam

devido ao comportamento viscoelástico dos polímeros. Os métodos de

caracterização mecânica de um material são relacionados à intensidade que a

força é aplicada sobre ele. [19]

As propriedades mecânicas de um material podem ser definidas por

vários tipos de ensaios. Testes estáticos, dinâmicos, não destrutivos, destrutivos,

de curta duração ou de longa duração.

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18

A análise dinâmico-mecânica, também conhecida como DMA, consiste em

avaliar o módulo de perda, para a componente viscosa, e o módulo de

armazenamento, para a componente elástica, de compressão ou de cisalhamento

em função da temperatura. Este experimento oferece informações a respeito do

comportamento viscoelástico do sistema polimérico é interessante avaliar o

comportamento mecânico em função da temperatura, e não apenas à temperatura

ambiente. [20]

A análise consiste em se aplicar uma tensão ou deformação mecânica

oscilatória de baixa amplitude a um sólido ou líquido viscoso, medindo-se a

deformação sofrida. Esta variação pode ser em função da frequência de oscilação

ou da temperatura. As curvas obtidas no DMA são características macroscópicas,

porém o resultado da análise das propriedades mecânicas do material visoelástico

pode ajudar na interpretação do comportamento da estrutura molecular,

principalmente no que se refere a seu grau de cristalinidade, massa molar e

ligações cruzadas. Portanto, este estudo abrange as propriedades microscópicas

do material. A cristalinidade em polímeros está intimamente ligada ao grau de

organização de sua estrutura molecular. A presença de regiões cristalinas na

estrutura polimérica é responsável por modificar as propriedades mecânicas do

polímero. Essa alteração nas propriedades mecânicas está relacionada ao maior

grau de organização entre as macromoléculas reduzindo as regiões amorfas e por

consequência a acomodação rotacional entre os segmentos. Esses fatores geram

um aumento na rigidez do material, impactando a viscoelasticidade. Essas

mudanças das propriedades viscoelástica podem ser avaliadas analisando o

comportamento do polímero obtido nas curvas DMA. O módulo de elasticidade de

um polímero semicristalino é diretamente proporcional ao grau de cristalinidade. O

aumento da cristalinidade aumenta a temperatura de transição vítrea, diminui a

intensidade do valor da tangente de delta e promove a expansão da faixa da

temperatura de transição. Variações na massa molar na faixa abaixo da

temperatura de transição vítrea, não são observadas alterações de

comportamento no módulo de elasticidade das curvas de DMA. Na região acima

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19

da temperatura de transição vítrea, o comportamento as curvas para o módulo

torna-se dependente da massa. Esse comportamento é devido ao aumento dos

entrelaçamentos entre as moléculas que ocorre com o aumento da massa molar.

A presença de ligações cruzadas na estrutura molecular dos polímeros deixa as

cadeias mais presas uma as outras, diminuindo a quantidade de segmentos que

apresentam movimentos rotacionais. Por consequência, também do aumento das

ligações cruzadas, os segmentos que ainda podem adquirir movimentos

rotacionais, precisam se distanciar desses pontos rígidos para que possam

adquirir movimentos. Para que ocorra o aumento da distância intermolecular,

esses segmentos necessitam de mais energia, aumentando assim a temperatura

inicial para o polímero entrar na fase de transição. Esse comportamento pode ser

observado nas curvas DMA para o módulo de armazenamento em função da

temperatura. [21]

A análise das curvas DMA é importante quando se anseia acompanhar a

síntese de um polímero que precisa passar por processos que envolvem o

aumento das ligações cruzadas, por exemplo, o processo de vulcanização para os

elastômeros. Esse tipo de análise permite avaliar a quantidade de cruzamentos

efetivos presentes no polímero, esperado pela adição de monômeros

tridimensionais ou de aditivos. Mudanças na cristalinidade, massa molecular e nas

ligações cruzadas dos polímeros, são parâmetros importantes que pode alterar

completamente as propriedades do material e implicando no tipo de aplicação que

se propõe. [22, 23]

Estudos envolvendo as propriedades dinâmico-mecânicas da borracha

natural vulcanizada indicam que mudanças significativas na Tg que podem ser

conseqüência da formação de grupos heterocíclicos ao longo da cadeia

elastomérica. Este fenômeno contribui para uma redução da mobilidade molecular

da cadeia polimérica. As diferenças nos valores da Tg não devem ser atribuídas

apenas às diferenças no grau de reticulação, mas também a outras interações

intra ou intermolecular, que podem variar de acordo com o tempo de vulcanização

empregado. [24]

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20

Em testes realizados em borracha natural oriundas de diferentes pode-se

observar uma média da Tg igual a -76,36 entre as amostras produzidas com latex

extraído de diferentes clones de árvores. O valor de Tg obtido com a borracha

natural comercial foi – 65,9. Quando há o aumento da transição indica menor

mobilidade das cadeias do material podendo obter um material mais flexível. [25]

3.11 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DE POLÍMEROS

3.12 TERMOGRAVIMETRIA

Canevarolo[26] definiu a termogravimetria como um tipo de análise térmica na

qual a variação da massa da amostra, que poderá ser perda ou ganho, é

determinada em função da temperatura e/ou tempo, enquanto a amostra é

submetida a uma programação controlada de temperatura. Esta técnica possibilita

conhecer alterações que o aquecimento pode provocar na massa dos materiais,

possibilitando o estabelecimento da faixa de temperatura em que adquirem

composição química, fixa, definida e constante, a temperatura em que começa a

se decompor, o conhecimento das reações de desidratação, oxidação, combustão

e decomposição.

A análise por termogravimetria avalia a estabilidade térmica das borrachas. O

comportamento térmico do material é um parâmetro importante para a

determinação das etapas de formulação e processamento da borracha. Para a

borracha natural sem nenhum outro aditivo, observa-se que a temperatura inicial

de decomposição é próxima a 300°C, e que em aproximadamente 380°C, a massa

inicial já está reduzida a cerca de 50%. Estes resultados foram obtidos em ensaios

e foram publicados por Dall’Antonia [25].

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21

3.13 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

A principal função de um microscópio é tornar visível ao olho humano o que

for muito pequeno para tal. Os microscópios ópticos convencionais ficam,

limitados a um aumento máximo de 2000 vezes, porque acima deste valor,

detalhes menores são imperceptíveis. Um microscópio eletrônico de varredura

(MEV) utiliza um feixe de elétrons no lugar de fótons utilizados em um microscópio

óptico convencional, o que permite solucionar o problema de resolução. [26]

O princípio de funcionamento do MEV consiste na emissão de feixes de

elétrons por um filamento capilar de tungstênio (eletrodo negativo), mediante a

aplicação de uma diferença de potencial. Essa variação de voltagem permite a

variação da aceleração dos elétrons, e também provoca o aquecimento do

filamento. A parte positiva em relação ao filamento do microscópio (eletrodo

positivo) atrai fortemente os elétrons gerados, resultando numa aceleração em

direção ao eletrodo positivo. A correção do percurso dos feixes é realizada pelas

lentes condensadoras que alinham os feixes em direção à abertura da objetiva. A

objetiva ajusta o foco dos feixes de elétrons antes dos elétrons atingirem a

amostra analisada. [27]

3.14 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FISICO-QUÍMICAS

3.15 INCHAMENTO

Devido à estrutura reticulada que a borracha adquire durante o processo de

vulcanização ela se torna insolúvel pela presença de ligações cruzadas entre as

cadeias. As ligações cruzadas formadas são de alta energia e não se rompe pela

ação de solventes, o que torna o material insolúvel. [17]

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22

Este ensaio envolve diferentes características do material como a

instauração na cadeia macromolecular, reticulação e polaridade. Neste ensaio

pode-se ajudar a identificar o teor de material inorgânico ou as cargas do material.

A experiência é realizada através de uma amostra que é colocada em um

recipiente de paredes rígidas contendo um único orifício para a colocação da

amostra. Após ser atingido o equilíbrio, a amostra é retirada do recipiente e

pesada. [28]

3.16 TEOR DE CINZAS

O percentual de cinzas representa o teor de material inorgânico presente.

Esta análise permite a observação da má dispersão da massa elastomérica ou o

teor elevado de cargas inorgânicas.

4 RELEVÂNCIA E VIABILIDADE

Para vulcanização de pneus são necessários vários materiais auxiliares. O

pneu, ainda na sua forma plástica, é colocado em uma prensa de cozimento, onde

será submetido a uma temperatura e pressão em um dado tempo para que suas

características de utilização sejam alcançadas. Na Figura 10, pode-se ver um

exemplo de prensa de cozimento.

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23

Figura 10: Prensa de cozimento. [29]

Um ciclo genérico de vulcanização de pneus pode ser descrito da seguinte

maneira: a primeira operação consiste na regulagem das condições operacionais

da prensa (temperatura e tempo de vulcanização), monta-se a câmara de

cozimento no interior da prensa, após a preparação do equipamento, coloca-se o

modelo cru do pneu, liga-se a válvula situada no interior da câmara de cozimento

que será responsável por controlar a pressão deste subconjunto, fecha-se a

prensa e inicia-se o ciclo de vulcanização; com a prensa fechada é introduzido ar

comprimido, à pressão adequada, na câmara de vulcanização. Após atingir o

tempo necessário para o cozimento, a prensa abre, a câmara entra em vácuo, ou

seja, retira-se toda a pressão imposta nela durante o processo de vulcanização e

retira-se o pneu. Neste momento o ciclo de vulcanização é finalizado. [29]

A câmara de cozimento é uma ferramenta flexível que se deforma de forma

progressiva e uniforme quando ela é submetida aos esforços. Previamente

introduzida como interface na parte interna do produto ainda cru, o enchimento

desta câmara fará com que o pneu apresente uma curvatura interna regular e uma

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24

reprodução externa precisa do perfil do molde. Ela pode ser definida como uma

câmara de cozimento bicônica, fabricada em material butyl, que é produzido a

partir do elemento butil, também citado em algumas ocasiões como butila. Trata-

se de um nome genérico dado ao radical alquila -C4H9. Pode ser derivado de

qualquer um dos isômeros do alcano butano. Ela é fixada através de parafusos na

prensa, se posiciona no interior do produto antes do cozimento transmitindo a

energia mecânica do fluido e permitindo a moldagem externa e interna do pneu.

Ela também é responsável pela transmissão da energia térmica do fluido para o

pneu. Esta peça também é um elastômero, e assim como o pneu, precisa passar

por um processo de vulcanização para obter as características necessárias a sua

utilização.

A câmara tem duas finalidades durante o ciclo de cozimento. Ela empurra o

pneu contra o molde, ajudando na moldagem do produto, auxilia na transferência

de calor no interior do pneu. A Figura 11 mostra a câmara montada em uma

prensa de cozimento no momento do fim do cozimento do pneu. [30]

Figura 11: Câmara de cozimento. [30]

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25

Este material é utilizado na fabricação de todos os pneus, pois sem ele, não

é possível realizar o processo de cozimento. Este material tem um custo

aproximado de R$300,00 (considerando o valor do produto e os gastos com

logística), tendo uma vida útil atual de 215 ciclos, porém a vida útil desejada é de

300 ciclos.

A Figura 12 mostra uma câmara que apresentou falha após 9 ciclos, tendo

que ser retirada de produção prematuramente. Esta falha causa um defeito no

aspecto do pneu, e por isso não é aceitável a utilização deste material com este

tipo de falha.

Figura 12: Câmara com falha.

A falha sempre ocorre nas extremidades do material. A região em questão

entra em contato com o talão do pneu, parte onde se tem a maior dureza, pois é a

região que ficará em contato com a roda após a montagem.

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26

Observa-se que além do consumo acima do desejado, as falhas que

ocorrem com a câmara de forma inesperada também são responsáveis pelo

descarte de pneus produzidos, que apresentam problemas no processo de

vulcanização e são descartados por não atenderem aos critérios de qualidade

definidos para a comercialização do produto.

Ao elevar a vida útil do material auxiliar em estudo também está sendo

reduzida a possibilidade de descarte do produto com alguma falha no processo de

cozimento, já que depois de passar por este processo, não é possível a

reciclagem dos materiais que constituem o pneu para a produção.

Outro problema ocasionado pela saída prematura deste material auxiliar é o

tempo de máquina parada para a troca após detectada a falha, que atualmente

ocorre em 30 minutos. Caso o estudo consiga aumentar a vida útil da câmara,

haverá a redução no número de trocas de câmaras e, consequentemente aumento

no tempo de produção.

5 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram separados cinco tipos de amostras de câmaras, são elas: câmaras

com saída prematura do processo de produção, que atenderam uma vida útil,

superando 300 ciclos e que não realizaram nenhum ciclo (câmaras novas). Estas

amostras são fornecidas pelo mesmo fabricante e com as mesmas condições de

fabricação.

As amostras foram identificadas da seguinte forma: 0 – amostras novas; 9 –

amostra com saída de produção após 9 ciclos; 154 - amostra com saída de

produção após 154 ciclos; 380 - amostra com saída de produção após 380 ciclos;

383 - amostra com saída de produção após 383 ciclos.

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27

A Figura 13 mostra as peças utilizadas. Analisando as fotos podemos

verificar a diferença de aspecto entre elas. A amostra 0, sem utilização tem uma

aspecto diferente das demais, limpa e sem nenhuma aparência de rugosidade ou

imperfeição. A amostras 154, que trabalhou durante 154 ciclos, já apresenta um

aspecto esbranquiçado, porém se não fosse o rasgo, ainda apresentaria um

aspecto adequado para a utilização. A amostra 9, que só trabalhou durante 9

ciclos, apresenta pequenas fissuras em todo a extensão. As fotos da câmara 380

e 383, que tiveram vida útil satisfatória, apresentam um aspecto de borracha

envelhecida nas extremidades.

Figura 13: Foto das amostras

5.1 ENSAIO INCHAMENTO

Foram utilizadas amostras de aproximadamente 2 x 2 x 3 mm. Foram feitas

duas amostras para cada tipo. Para este experimento vamos analisar a

quantidade de solvente que vai penetrar nas cadeias. Quanto maior for à

densidade de ligações cruzadas, maior será o percentual do inchamento.

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28

Estas amostras foram pesadas e colocadas em recipiente de vidro com boca

larga e tampa removível, contendo o solvente tolueno durante 7 dias ao abrigo da

luz, para garantir as condições do equilíbrio termodinâmico. Após o período, elas

foram pesadas novamente.

A Tabela 1 mostra os dados com o ensaio do inchamento, onde as amostras

foram numeradas por tipo. As amostras foram identificadas pelo número de ciclos

e por 1 e 2, para cada tipo. O percentual de inchamento foi calculado com a

Equação 1.

Equação 1: Percentual de Inchamento

(

(1)

% Inchamento = M 7dias – M0 x 100

M0

Onde,

M7 dias = massa final, após 7 dias imerso no solvente;

M0 = massa inicial.

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29

Tabela 1: Ensaio Inchamento.

Nº Amostra Tipo da amostra M0 (g)

1 0 1,53

2 0 1,35

1 9 0,79

2 9 0,80

1 154 0,83

2 154 0,64

1 380 0,91

2 380 0,79

1 383 1,23

2 383 1,00

5.2 ENSAIO TEOR DE CINZAS

Foram realizadas amostras de tamanho aproximado 2 x 2 x 3 mm. Foram

coletadas 5 exemplares de cada tipo de amostra. As amostras foram pesadas e

colocadas em cadinho de porcelana. Foram utilizados 2 cadinhos de porcelana,

que também foram pesados e identificados. Foi utilizado um forno do modelo F-

MUFLA 1800 3P Inox do fabricante FDG Equipamentos.

As condições estabelecidas para o ensaio foram: aquecimento até 900°C,

temperatura constante de 900°C por 10 minutos e retorno a temperatura ambiente

com taxa de resfriamento de 10 °/min.

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30

A Tabela 2 apresenta as informações sobre o ensaio, onde M0 é a massa

da amostra inicial em gramas. Foram utilizados 2 cadinhos, e para cada amostra,

foi registrado o cadinho utilizado.

Tabela 2: Ensaio Teor de Cinzas.

Cadinho Tipo amostra M0 amostra (g)

1 0 2,16

2 0 1,36

1 0 1,53

1 0 2,02

2 0 1,79

1 9 1,05

1 9 1,09

2 9 1,07

2 9 1,11

2 9 1,10

2 154 0,96

1 154 1,25

2 154 2,10

1 154 1,99

2 154 1,88

2 380 1,19

1 380 1,73

1 380 2,02

2 380 1,10

1 380 1,67

2 383 1,02

1 383 1,21

2 383 1,02

1 383 2,07

2 383 1,02

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31

5.3 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

As morfologias das amostras vulcanizadas em diferentes tempos de

operação foram obtidas pelo microscópio eletrônico de varredura modelo JSN-

6490-LV. Como o material estudado possui negro de fumo na sua composição,

não foi necessária nenhuma preparação nas amostras, pois ele fez o papel do

condutor.

5.4 ANÁLISE TÉRMICA DINÂMICO-MECÂNICA

As amostras vulcanizadas foram preparadas com o tamanho especificado na

Tabela 3, onde por ser visto, para cada tipo de amostra, o comprimento, largura e

espessura.

As curvas DMA foram obtidas em equipamento do fabricante TA Instruments

modelo Q800, “single cantilever”, com taxa de 3°C/min e frequência de 1 Hz.

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Tabela 3: Amostra para curva DMA.

Amostra / Ciclos Comprimento (mm) Largura (mm) Espessura (mm)

0 17,5 13,12 3,27

09 17,5 12,60 3,80

154 17,5 12,45 3,97

380 17,5 12,03 3,23

383 17,5 13,04 2,36

5.5 TERMOGRAVIMETRIA

Este experimento foi realizado em equipamento do fabricante TA Instruments

- modelo Q600. A Tabela 4 mostra o peso inicial das amostras analisadas. A taxa

de aquecimento aplicada foi 4°C/min.

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Tabela 4: Peso das amostras para TGA.

Tipo

Amostra Peso amostra (mg)

0 12,42

9 10,85

154 11,60

380 10,56

383 11,13

6 RESULTADOS E DISCURSÃO

6.1 INCHAMENTO

Este teste teve como objetivo analisar o teor de material inorgânico ou

cargas nas diferentes amostras, como já foi explicado na seção 3.12.1. Na Tabela

5 podem-se analisar os dados do ensaio, nela constam as seguintes informações:

número e tipo da amostra, a massa inicial, identificada como M0, e a massa após

7 dias imerso ao solvente. Na última coluna está descrito o percentual de

inchamento, que foi calculado com a equação 1, descrita na seção 5.1.

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34

Tabela 5: Resultados ensaio inchamento.

Amostra

Tipo da

amostra M0 (g) M7dias (g) %

1 0 1,5 3,8 1,5

2 0 1,3 3,3 1,4

1 9 0,8 1,9 1,4

2 9 0,8 1,8 1,3

1 154 0,8 2,0 1,4

2 154 0,6 1,5 1,3

1 380 0,9 2,1 1,3

2 380 0,8 1,8 1,3

1 383 1,2 2,7 1,2

2 383 1,0 2,2 1,2

A Figura 14 mostra o gráfico com os resultados obtidos no ensaio de

inchamento. Pode-se observar que a amostra inicial, ou seja, com ciclo de

operação igual a zero, apresenta o maior valor de inchamento. Este

comportamento pode ser explicado pela formação de reticulações durante o uso

da câmara de vulcanização, ou seja, serão formadas com o uso do artefato que

sofre o efeito da pressão e da temperatura. A amostra após o uso tem o valor

inchamento reduzido, o que sugere menor quantidade de solvente na massa

vulcanizada devido às ligações cruzadas. A redução no valor de inchamento da

massa vulcanizada esta relacionada com o aumento da densidade de ligação

cruzada e aumento no teor de material inorgânico ou cargas na amostra. Neste

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35

caso a redução é em função do aumento da densidade de ligação cruzada, pois a

formulação utilizada é a mesma.

A Figura 14 é a representação gráfica da Tabela 5, os resultados são as

médias das amostras de cada tipo de ciclo. Pode-se observar que a amostra nova,

sem utilização, teve o maior valor de inchamento e a medida de a amostra tem

mais ciclos de uso, o resultado reduz sutilmente. Não foi verificada diferença

significante neste teste.

Figura 14: Percentual de Inchamento por tipo de amostra.

6.2 TEOR DE CINZAS

O objetivo deste ensaio foi mensurar o teor de cinzas das diferentes

amostras, como foi explicado na seção 3.12.2. A Tabela 6 apresenta as massas,

em gramas, das amostras iniciais, M0, as amostras pesadas junto ao cadinho

após a queima na mufla, Mf total e Mf amostra, que é a Mf total subtraída da

massa do cadinho, o que representa a massa da cinza de cada amostra.

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Tabela 6: Resultados teor de cinzas.

Cadinho Tipo

amostra M0 amostra (g) Mf total (g) Mf amostra (g) %

1 0 2,16 40,24 0,06 2,7%

2 0 1,36 43,07 0,02 1,3%

1 0 1,53 40,21 0,03 1,8%

1 0 2,02 40,22 0,04 2,0%

2 0 1,79 43,09 0,04 2,3%

1 9 1,05 40,19 0,02 1,5%

1 9 1,09 40,21 0,03 3,2%

2 9 1,07 43,07 0,02 1,9%

2 9 1,11 43,08 0,03 2,9%

2 9 1,10 43,07 0,02 2,0%

2 154 0,96 43,08 0,03 3,3%

1 154 1,25 40,22 0,04 3,1%

2 154 2,10 43,11 0,06 2,9%

1 154 1,99 40,25 0,07 3,4%

2 154 1,88 43,12 0,08 4,0%

2 380 1,19 43,08 0,03 2,7%

1 380 1,73 40,21 0,03 1,8%

1 380 2,02 40,21 0,03 1,5%

2 380 1,10 43,07 0,02 1,9%

1 380 1,67 40,25 0,07 4,1%

2 383 1,02 43,08 0,03 2,9%

1 383 1,21 40,21 0,03 2,2%

2 383 1,02 43,07 0,02 2,0%

1 383 2,07 40,22 0,04 2,0%

2 383 1,02 43,07 0,02 2,2%

A Figura 15 apresenta o teor de cinzas das amostras com os diferentes tipos

de ciclos de trabalho. A amostra nova, apresentou o resultado de 2% de teor de

cinzas, a amostra que saiu prematuramente com 9 ciclos teve o resultado de

2,3%, a câmara que saiu de produção um 154 ciclos devido a uma ruptura

localizada, teve o maior resultado com 3,3% de teor de cinzas. Para as amostras

que saíram envelhecidas, com a vida útil desejável, pode-se observar os valores

de 2,4% para o material que saiu com 380 ciclos e 2,3 % para a peça que saiu

com 383 ciclos. Espera-se que a diferença de teor de cinza não ultrapasse 1%, o

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que garantiria a integridade total da peça. Quanto maior o número de reticulação,

menor será o teor de cinzas. Logo, podemos concluir que a amostra 154 tem um

valor reduzido de reticulação em relação as demais peças estudadas.

Analisando os resultados do teor de cinza das amostras vulcanizadas após

diversos ciclos de uso. Nota-se uma ligeira variação no teor de cinzas da amostra

com 154 ciclos. Esta diferença pode ser um indicativo de má dispersão da massa

elastomérica, o que resultaria em pontos com elevado teor de cargas inorgânicas

ou negro de fumo.

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Figura 15: Teor de cinzas

6.3 MEV

As Figuras 24, 25, 26, 27, 28 e 29 apresentam as morfologias das amostras

vulcanizadas em diferentes tempos de operação obtidas pelo microscópio

eletrônico de varredura.

Nota-se substancial diferença entre as morfologias obtidas, um perfil mais

uniforme para a amostra antes do ciclo de operação foi observado. As amostras

com defeito apresentaram micro rupturas, o que corrobora com os resultados do

teor cinza, provavelmente oriundo de alto teor de cargas ou negro de fumo

localizado. As amostras com 380 e 383 ciclos apresentam morfologia típica de um

material envelhecido com fraturas superficiais.

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39

Figura 16: Imagens amostra nova.

As imagens da Figura 24 mostram uma homogeneidade do material novo,

ainda sem utilização.

As imagens da Figura 25 foram feitas na região da fratura. Pode-se observar

fraturas superficiais e outras mais profundas, que pode ser oriundo de uma

degradação de ozônio e/ou oxigênio no material. A câmara que saiu com nove

ciclos não possuía nenhum local sem as fissuras demonstradas nas imagens, ou

seja, toda a superfície da peça estava com o mesmo aspecto de degradação.

Pode-se supor que, inicialmente, estas fissuras não poderiam ser vistas a

olho nu, e por isso esta peça foi colocada para uso. Porém quando a peça entrou

em serviço, sendo inflada e desinflada, as fissuras superficiais aumentaram sua

amplitude.

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Figura 17: Imagens amostra 9 ciclos.

A Figura 26 são imagens da amostra que trabalhou durante 154 ciclos, no

local onde ocorreu a fratura. A Figura 27 também se refere à mesma peça, porém

as imagens foram feitas fora do ponto da fratura, pode-se observar que a peça

apresenta boa homogeneidade fora do ponto onde ocorreu a fratura. O que

confirma a hipótese de que esta peça em questão sofreu saída prematura devido

algum problema pontual, que pode estar relacionado a má dispersão elastomérica.

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Pode-se supor que no ponto onde ocorreu a fratura houvesse maior concentração

de material inorgânico, o que tornou aquele ponto mais frágil, causando a ruptura.

Figura 18: Imagens amostra 154 ciclos no ponto da ruptura.

Figura 19: Imagens amostra 154 ciclos fora do ponto de ruptura.

A amostra 154 teve sua saída prematura devido ao aparecimento de uma

trinca concentrada em um local, o que pode ser efeito da má dispersão da massa

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elastomérica constatada no teste de cinzas, a concentração de material inorgânico

ou de cargas pode ter fragilizado o material que sofre uma falha pontual. Esta

hipótese é confirmada após análise da Figura 27, imagem obtida pelo microscópio

eletrônico de varredura, feita fora do ponto de ruptura, onde o material se

apresenta em boas condições.

A Figura 28 mostra as imagens da peça após 380 ciclos de trabalho, pode-

se observar uma superfície irregular, típica de borracha envelhecida. O mesmo

tipo de observação pode ser feito para a Figura 29, que são imagens de uma peça

que trabalhou 383 ciclos antes de ser retirado de utilização.

Figura 20: Imagem amostra 380 ciclos.

Estas duas peças sofreram esforços durante a vida útil, o que tornou o

material mais rígido.

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Figura 21: Imagens amostra 383 ciclos.

A característica das fissuras das figuras 28 e 29 é bem diferente das

encontradas nas imagens das amostras 9, onde pode ser identificada fissuras de

maior amplitude. A amostra 9 apresenta micro rupturas que podem ter sido

causadas por degradação do material e as amostras 380 e 383 apresentam

aspecto de envelhecimento, após muitos ciclos de vida. Este tipo de

envelhecimento é esperado, pois o material é utilizado à temperatura em torno de

150°C e sob esforço de tração e compressão.

6.4 TERMOGRAVIMETRIA

O ensaio foi realizado para conhecer as alterações que o aquecimento pode

gerar no material, como foi explicado na seção 3.11.1. Este estudo é pertinente ao

caso, pois o material trabalha submetido à temperatura como foi abordado na

seção 4.

As Figuras 16, 17, 18,19 e 20 referem-se aos resultados de termogravimetria

realizada nas amostras, 0, 9, 154, 380 e 383, respectivamente. As curvas

termogravimétricas sugerem a decomposição térmica em uma única etapa, porém

ao analisar a derivada, evidencia inflexões da curva TG que são discretas nas

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amostras 0, 9 e 154. Conclui-se que ao longo da utilização, esta primeira perda de

massa não ocorra no envelhecimento do material. Fenômeno não encontrado nas

curvas 380 e 383, que são amostras já envelhecidas. Ou seja, o material não

perde massa após longo período de utilização. A presença do pequeno pico nas

amostras nova, com 9 ciclos e com 154 ciclos pode ser excesso de agente de

reticulação que ainda não reagiu nestas amostras.

Figura 22: TGA - Amostra 0

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Figura 23: TGA - Amostra 9

Figura 24: TGA - Amostra 154

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Figura 25: TGA - Amostra 380

Figura 26: TGA - Amostra 383

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47

6.5 ANÁLISE TÉRMICA DINÂMICO-MECÂNICA

A Figura 21 o módulo de armazenamento após o ensaio. Pode-se verificar

que os maiores valores são das amostras com maior tempo de utilização e a

amostra nova é a com menor valor. Como foi mencionado da seção 3.10, o

módulo de armazenamento refere-se à componente elástica do material. Há

redução dos valores a partir do momento que as regiões amorfas se acomodam,

dificultando o movimento rotacional, aumentando a rigidez do material. Pode-se

concluir que quanto menos ciclos o material for exposto, menor será o módulo de

armazenamento, ou seja, o material apresenta menor rigidez.

Figura 27: Curvas módulo de armazenamento

As Figuras 22 e 23 apresentam a relação entre a tangente Delta, o módulo

de armazenamento e o módulo de perda. O módulo de perda, como foi explicado

na seção 3.10, refere-se à componente viscosa, representa a habilidade do

material de dissipar energia. Estes dois gráficos são referentes ao material sem

utilização, ou seja, amostra nova (amostra 0).

Na Figura 22 pode-se observar que o pico da tangente Delta, valor 0,57,

ocorre à temperatura de - 22°C (temperatura de transição vítrea).

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Figura 28: DMA - Tangente delta x módulo de armazenamento

Figura 29: DMA – Tangente delta x módulo de perda

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7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

7.1 CONCLUSÃO

Pode-se constatar uma coerência nos resultados dos testes de inchamento e

DMA, na Tabela 7 fica fácil de observar que à medida que o percentual de

inchamento reduz a amplitude do módulo de armazenamento obtido com a técnica

DMA aumenta. Em ambos os casos a amostra 9 apresentou resultados diferentes

do esperado. Como já foi explicado na seção 6.1, o valor do percentual de

inchamento reduz devido à formação de reticulações durante o uso do material

sobre pressão e temperatura. Assim como a redução de amplitude das curvas dos

módulos de armazenamento, mostra uma rigidez do material, que tem seu

movimento rotacional dificultado. O resultado da amostra 9 não favorece a

hipótese que está sendo apresentada, porém ao analisar a imagem MEV do

material na seção 6.5 e comparar com o efeito do ozônio descrito na seção 3.9,

pode-se especular que esta ruptura ocorreu devido ao fenômeno de ozonólise,

sugerindo mau armazenamento do material, a degradação só pôde ser vista a

olho nu após o material ser submetido a tensão, quando as micro fissuras se

propagaram.

Apesar da amostra 9 ter resultado que não confere com seu tempo de uso, a

comparação dos resultados dos dois ensaios confirma que esta amostra tem

desempenho diferenciado e elimina a hipótese de que o teste pode estar incorreto.

O material desta amostra não está coerente com o padrão das demais, o que faz

necessária a reflexão e o estudo da má qualidade encontrada neste material.

Pelas imagens da microscopia eletrônica de varredura, pode-se verificar que a

superfície está repleta de micro fissuras.

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50

Tabela 7: Comparação % Inchamento x curva modulo armazenamento

Baseando-se nos resultados dos testes, conclui-se:

A amostra 9 apresentou problemas no início da vida útil, provavelmente

sofreu ataque de ozônio surgindo micro trincas, não perceptíveis a olho nu, foi

colocada em produção e foi submetida ao esforço mecânico, pois a peça é inflada

e tem seu diâmetro aumentado em até 100%, esta solicitação fez com que

aumentasse a amplitude das fissuras. Pode-se supor que a saída prematura desta

peça devido à estocagem não adequada do material, como foi mencionada na

seção 3.9, a degradação da borracha pode ocorrer por ozônio e ser agravada pela

presença de radiação, umidade e calor.

Após esta desconfiança das condições de estocagem do material, foi

constado que o local de armazenamento fica próximo à área onde carregadores

de baterias para empilhadeiras, que são emissores de ozônio. Os carregadores

foram realocados para outro prédio.

Foi realizado um teste inflando a câmara e realizando uma inspeção visual

das demais peças que estavam nas mesmas condições de estocagem e foi

contatado de 30% das peças apresentaram o mesmo problema. Estas peças

foram descartadas para que não fossem colocadas em produção. Este fato

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51

contribui para a especulação de que o mau armazenamento ao lado de emissores

de ozônio possam ter degradado o material em questão.

As amostras 380 e 383 saíram com a vida útil desejada, elas estavam com

aparência de material envelhecido e boa flexibilidade que pôde ser verificada na

analise do DMA, o que era esperado.

Após a conclusão descrita acima, propõem-se as seguintes ações de

melhoria, visando a redução dos custos industriais no setor de vulcanização de

pneus:

Contato com fabricante do material auxiliar em questão para solicitar

melhoria no processo de obtenção da mistura elastomérica, para reduzir a má

dispersão.

Realização de um projeto para melhoria as condições de armazenagmento,

protegendo o material contra ataque de ozônio, umidade, radiação e calor. Desta

forma, atuando na prevenção de peças como defeito parecido com a estudada,

que saiu com apenas 9 ciclos.

Implantar um sistema de controle tipo FIFO, first in, first out, onde a câmara

mais antiga em estoque deve ser a primeira a ser utilizada para uso, garantindo o

menor tempo de estocagem possível, amenizando possível degradação no

armazenamento.

Levando-se em consideração que a unidade de negócio estudada fica longe

das duas fabricas do material auxiliar e que o estoque necessário para não haver

ruptura deste material é maior do que nas demais fábricas, considera-se que a

probabilidade de degradação do material no armazenamento é maior.

Conclui-se que a vida útil do material pode ser reduzida devido à degradação

durante armazenamento e a má dispersão elastomérica.

Após o trabalho realizado foi criado o protocolo de conformidade das peças

recebidas. Cada lote de material recebido deve ter uma peça separada para a

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realização dos testes e após a confirmação da boa qualidade do lote recebido,

deve ser estocado corretamente.

Tabela 8: Protocolo de conformidade

PROTOCOLO DE CONFORMIDADE CÂMARAS DE VULCANIZAÇÃO

Tipo de ensaio Quantidade de

peça

Equipamento

necessário

Resultado

esperado

Análise morfológica do

material

1 peça Microscópio

eletrônico de

varredura

A imagem obtida

em 3 pontos da

peça deve ser

uniforme.

Teor de cinzas 5 amostras de 2 x

2 x 3mm retiradas

de 1 única peça

Forno tipo mufla –

será necessária

utilização de

cadinho de

porcelana.

Após amostras

serem submetidas à

temperatura de

900°C por 10 min, o

teor de cinzas deve

ser inferior a 2,5%

Teste de inflagem

câmara

1 peça Prensa de

vulcanização

Após inflar a

membrana à uma

pressão de 900

mbar, verificar a

presença de

fissuras na

superfície.

Data: Responsável:

Número do Lote: Situação (aprovado / não aprovado):

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53

7.2 TRABALHOS FUTUROS

Como sugestão para trabalhos futuros, pode-se emunerar:

Caracterizar detalhadamente o efeito da temperatura e umidade do

ambiente de armazenagem do produto sobre a vida útil da peça.

Sugere-se a comparação das temperaturas e umidades de

armazenagens das demais usinas.

Estudar se o transporte marítimo das peças impacta na qualidade do

material assim como a forma de acondicionamento durante o

transporte é a mais adequada.

Realizar um estudo para caracterizar o efeito do ozônio através de

teste de envelhecimento por ozônio confirmando a degradação da

peça que saiu prematuramente com 9 ciclos.

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54

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[16] Visconte,L. Y.; Nunes, R. C. R.; Abreu, H. M. B.; Misturas NR/SBR:

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