centro universitÁrio una instituto de educação … do turismo de minas gerais have favored the...

280
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação continuada, pesquisa extensão Mestrado profissional em gestão social, educação e desenvolvimento local FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES: DESAFIOS À PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS MUNICÍPIOS NO PLANEJAMENTO E GESTÃO DO TURISMO REGIONAL E LOCAL. Belo Horizonte 2011

Upload: vankhue

Post on 03-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Instituto de educação continuada, pesquisa extensão Mestrado profissional em gestão social, educação e

desenvolvimento local

FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA

CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES: DESAFIOS À PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS MUNICÍPIOS NO PLANEJAMENTO E

GESTÃO DO TURISMO REGIONAL E LOCAL.

Belo Horizonte

2011

Page 2: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FREDERICO FERREIRA DE OLIVEIRA

CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES: DESAFIOS À PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS MUNICÍPIOS NO PLANEJAMENTO E

GESTÃO DO TURISMO REGIONAL E LOCAL.

Dissertação apresentada no Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovações Sociais, Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa: Processos Político-Sociais: Articulações Institucionais e Desenvolvimento Local.

Orientadora: Prof. Dra. Andréa Márcia Santiago Lohmeyer Fuchs.

Belo Horizonte

2011

Page 3: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meus pais, Josias Francisco de Oliveira e Elsa Ferreira de Oliveira que apesar da distância, do meu silêncio e das minhas ausências sempre são e serão o meu eterno porto seguro.

Dedico também aos meus irmãos Fabrício Ferreira de Oliveira e Ana

Paula Ferreira de Oliveira, que sempre souberam me compreender e me apoiar. E, por fim dedico de maneira especial a todos aqueles cidadãos que

acreditam na participação social como o instrumento e meio para se modificar o cenário das políticas públicas no Brasil e em especial à de turismo.

Page 4: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

AGRADECIMENTO

Agradeço inicialmente à Providência Divina e aos dons do Espírito

Santos que se fizeram presentes durante toda a caminhada deste mestrado,

iluminando-me e mostrando o caminho para o alcance de meus objetivos.

Agradeço a Nossa Senhora do Carmo que como modelo de obediência

e de serviço abençoou-me nos momentos de desespero, de ilusão e de desânimo.

Agradeço à minha orientadora Profa. Dra. Andréa Márcia Santiago

Lohmeyer Fuchs que com seu apoio, dedicação, carinho e amizade tornou possível

a realização desta dissertação.

Agradeço a meus pais Josias Francisco de Oliveira e Elsa Ferreira de

Oliveira que com seus exemplos de pais, mestres, educadores ensinaram-me os

verdadeiros valores para uma vida ética e responsável.

Agradeço a meus irmãos Fabrício Ferreira de Oliveira e Ana Paula

Ferreira de Oliveira que com paciência e amor meu auxiliaram no caminho

acadêmico.

Agradeço a Paulo Afonso de Oliveira Júnior, mais que um amigo, um

irmão, que com suas palavras, exemplos e mesmo em seu silêncio se fez presente

nesta jornada.

Agradeço a Rafael Ladeira incansável motivador, amigo e conselheiro

que me fez acreditar que alçar novos vôos é sempre possível.

Agradeço à Mariana Resende que desde o início da idéia da pesquisa

possibilitou que o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes fosse meu material de

estudo, e que ao longo da dissertação não poupou esforços para me ajudar.

Agradeço a Denilson Silva Reis, que como Presidente do Circuito

Turístico Trilha dos Inconfidentes permitiu e apoiou a minha pesquisa.

Agradeço a todos os municípios que compõem o Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes, pois foi a partir dos exemplos práticos deles que a

inquietação para esta pesquisa surgiu.

Agradeço à Roberta Cardoso, amiga e companheira, que com seus

olhos meigos e suas palavras sempre me motivaram e me alegraram em dias tão

difíceis ao longo do mestrado.

Page 5: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Agradeço à Andréia Barreto, amiga e companheira também, que com

sua energia e inquietação me mostrou que é sempre possível ir além.

Agradeço a Gleison Macedo e sua esposa Vanete Macedo que

acolheram sempre de braços abertos em sua casa em Belo Horizonte, possibilitando

a concretização desse importante passo para a minha vida acadêmica.

Agradeço aos meus tios Agenor Macedo e Maria Macedo que apesar

de uma rápidas estadas em sua casa, sempre foram hospitaleiros e amáveis

comigo.

Agradeço aos meus novos amigos do CEFET/RJ – UnED Petrópolis

que me receberam de maneira tão calorosa e que com seus exemplos de

professores, pesquisadores têm me auxiliado nestes novos caminhos que estou

trilhando.

Agradeço de modo especial a todos os meus alunos do Instituto de

Ensino Superior Presidente Tancredo de Almeida Neves e do CEFET/RJ – UnED

Petrópolis que souberam compreender o isolamento, as noites de nervosismo e as

cobranças para a compreensão de conceitos e sua aplicação para o

desenvolvimento em turismo.

Agradeço Carla Bronzo Ladeira Carneiro por aceitar a participação na

minha banca de defesa e por acrescentar novos questionamentos e inquietações em

meu caminho acadêmico.

Agradeço à professora Eloisa Santos que desde o primeiro dia de aula

como aluno especial me recepcionou de maneira calorosa e sempre me possibilitou

o livre diálogo e apresentação de minhas inquietações e dúvidas.

Page 6: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

“Para os grandes racionalistas, a idéia verdadeira possui uma

característica dupla: embora seja uma produção humana, ela

recebe fiança divina”.

Saint-Sernin (1998, p. 204)

Page 7: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

RESUMO

Em Minas Gerais a partir de 1999 o modelo organização da atividade turística desenvolve-se a partir da formação de clusters turísticos. O espaço geográfico do estado foi dividido em regiões de interesse turístico comum, visando garantir aos municípios com vocações equivalentes e complementares o desenvolvimento da atividade turística de maneira conjunta e regionalizada. A organização, o planejamento e a execução da prática turística, nas regiões turísticas do estado de Minas Gerais, a partir da concepção de cluster turístico, recebeu o nome de “circuitos turísticos”. Estes definidos como organismos estabelecidos formalmente que congregam os diferentes municípios já regionalizados para que de maneira conjunta reordenem a atividade turística, e promovam o desenvolvimento e aprimoramento da atividade turística regional e local, a partir de uma gestão participativa. Assim, este trabalho pretende analisar a partir dos eixos de conteúdo, método e gestão, a participação social dos atores envolvidos no planejamento e gestão do turismo regional do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, visando compreender se essa participação social tem-se constituído como instrumento de democratização da gestão social no âmbito da política pública regional de turismo no estado de Minas Gerais. Foi realizada uma pesquisa quanti-qualitativa com os participantes do CTTI que possibilitou estabelecer a discussão entre gestão social e participação social, analisando a participação dos membros envolvidos no planejamento, na organização e no funcionamento do CTTI, bem como as consequências de suas ações na gestão turística. Conclui-se que a gestão participativa do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes se inscreve dentro da esfera de conhecimento da gestão social, ao ser entendida como uma gestão que possibilita a todos os atores sociais as mesmas possibilidades de vocalização de suas demandas, da integração às diferentes estruturas administrativas eletivas, além de possibilitar aos atores sociais participantes novos conhecimentos e informações a respeito do planejamento e da execução de atividades e ações em prol ao desenvolvimento turístico regional. Assim, confirmou-se a hipótese central deste trabalho ao compreender que as práticas institucionais estabelecidas pela Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais têm favorecido o processo de participação social como mecanismo de democratização para as gestões públicas municipais engajadas no CTTI, resultando no desenvolvimento da gestão social no âmbito das ações das políticas públicas de turismo. Palavras chaves: Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes. Políticas Públicas. Participação social. Turismo.

Page 8: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

ABSTRACT

In Minas Gerais from 1999 the organization of touristic activity from the formation of

tourism clusters. The geographical area of the state was divided into areas of

common touristic interest, ensuring that municipalities with similar vocations and

complementary development of tourism in a joint and regionalized manner. The

organization, planning and execution of touristic practice, throughout the tourist

regions in the state of Minas Gerais, from the conception of the tourism cluster, were

named “Circuitos Turísticos” (Touristic Circuits). These formally defined as organisms

that bring together the different municipalities already regionalized in order to reorder

the touristic activity, and promote the development and improvement of regional and

local tourism, from a participative management. Thus, this paper aims to analyze

from the axes of content, method and management, social participation of the actors

involved in the planning and management of regional tourism of Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes in order to understand if this social participation has been

established as a tool for democratization of social management in the public policy of

regional tourism in the state of Minas Gerais. A quantitative and qualitative research

has been done with participants of the CTTI that allowed a discussion among social

management and social participation, analyzing the role of members involved in the

planning, organization and functioning of CTTI, and the consequences of their

actions in tourism management. It is concluded that the participatory management of

the Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes falls within the sphere of social

management of knowledge, to be understood as a management that enables all

social actors voicing the same opportunities to their demands, integrating the

different elective administrative structures, and providing social actors participants

new knowledge and information about the planning and execution of activities and

actions to promote regional tourism development. Thus, we confirmed the hypothesis

of this paper to learn that the institutional practices established by the Secretaria de

Estado do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation

as a mechanism for democratizing municipal administrations engaged in CTTI,

resulting in the development of social management within the actions of public

policies on tourism.

Keywords: Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes. Public Policies. Social

Participation.Tourism.

Page 9: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – A visão do policy cycle linear................................................................ 67

Figura 02 – A visão do policy cycle e intervenção.............................................. 68

Figura 03 – Modelo sistêmico do processo político em Políticas Públicas.......... 74

Figura 04 – Gestão Social................................................................................... 138

Figura 05: Modelo de definição do conceito de turismo...................................... 146

Figura 06 – O processo do planejamento turístico participativo......................... 165

Figura 07 – O policy clycle à luz do planejamento turístico participativo............. 171

Figura 08 – Site do CTTI...................................................................................... 257

Figura 09 – Site do CTTI link Institucional........................................................... 260

Figura 10 – Site do CTTI link Regimento Interno................................................. 260

Figura 11 – Site do CTTI link Estatuto................................................................. 261

Figura 12 – Site do CTTI link Composição das estruturas.................................. 262

Figura 13 – Site do CTTI link Composição das estruturas.................................. 262

Figura 14 – Site do CTTI link Reuniões............................................................... 263

Figura 15 – Site do CTTI link Atas....................................................................... 264

Page 10: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Municípios aprovados para o recebimento do ICMS 2010/2011..... 189

Tabela 02 – Valor de Repasse do ICMS Turístico 2010/2011 de Janeiro a Julho....................................................................................................................

191

Tabela 03 – Valor total de Repasse do ICMS Turístico 2010/2011 Circuitos Turísticos.............................................................................................................

193

Tabela 04 – Distância dos municípios que compõem o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes da sede administrativa............................................................

202

Tabela 05 – Valores repassados de janeiro a julho de 2011 referente ao critério ICMS turístico aos municípios do Circuito Trilha dos Inconfidentes........

212

Tabela 06 – Municípios respondentes ao questionário....................................... 214

Page 11: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Relação dos Circuitos Turísticos e Municípios contemplados com o ICMS Turístico 2010/2011..................................................................................

190

Gráfico 02 – Relação entre Circuitos Turísticos e valores repassados com o ICMS Turístico 2010/2011.....................................................................................

195

Gráfico 03 – Índice de resposta dado ao questionário.......................................... 214

Gráfico 04 – Prazo de envio de ofícios e/ou convites............................................ 215

Gráfico 05 – Disponibilização dos ofícios e/ou convites no site do CTTI.............. 217

Gráfico 06 – Disponibilização de instrumentos para a gestão do CTTI................. 218

Gráfico 07 – Avaliação do CTTI pelos municípios................................................. 219

Gráfico 08 – Auto-avaliação dos representantes municipais................................. 224

Gráfico 09 – Realização de reuniões fora da cidade sede do CTTI......................

228

Page 12: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

LISTA DE SIGLAS

CF-88 – Constituição Federal de 1988

CNTur – Conselho Nacional de Turismo

COMTUR’s – Encontro de Conselhos Municipais de Turismo

COSB – Comissão de Simplificação Burocrática

CTTI – Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes

EMBRATUR – Empresa Brasileira de Turismo

FMI – Fundo Monetário Internacional

FUMTUR – Fundo Municipal de Turismo

FUNGETUR – Fundo Geral do Turismo

GESTUR 2010 – Fórum regional em prol do desenvolvimento turístico e formação

de lideranças regionais

MEI – Microempreendedor Individual

MPT – Municípios com potencial turístico

MT – Municípios turísticos

OMT – Organização Mundial do Turismo

ONG – Organização não-governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

PLANTUR – Plano Nacional de Turismo

PNMT – Programa Nacional de Municipalização do Turismo

PNT – Política Nacional de Turismo

PPA – Plano Plurianual

RIMTUR – Relatório de Informação Turística

ROTA/ER – Regionalização do turismo para os municípios ao longo do trajeto do

caminho determinado como Estrada Real.

SETUR – Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais

Page 13: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 14

1.1 Problematização do objeto, questão central e hipótese...................................... 18

1.2 Objetivos................................................................................................................... 20

1.2.1 Objetivo Geral......................................................................................................... 20

1.2.2 Objetivos Específicos............................................................................................. 21

1.3 Abordagem metodológica...................................................................................... 21

1.3.1 Base do estudo qualitativo: a hermenêutica-dialética............................................ 23

1.3.2 Modo de investigação: o estudo de caso................................................................ 26

1.3.3 Procedimentos e técnicas de coleta e análise de dados........................................ 27

1.3.3.1 Coleta e análise de fontes secundárias............................................................... 28

1.3.3.2 Coleta e análise de fontes primárias.................................................................... 29

1.4 Estrutura da dissertação.......................................................................................... 30

2 O CENÁRIO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS MEDIANTE O

REFERENCIAL DAS REFORMAS DO ESTADO E DA PRÁTICA DA

DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO

NACIONAL.......................................................................................................................

33

2.1 Os diversos caminhos de reforma percorridos pelo estado nacional brasileiro

em prol de um estado democrático...............................................................................

34

2.2 Descentralização e participação social como processos de condução de

políticas públicas no Brasil............................................................................................

42

2.3 Políticas e políticas públicas na condução da vida social do Brasil............................ 59

2.3.1 Características e padrões das políticas para o Brasil.............................................. 59

2.3.2 Políticas Públicas e suas aplicações no campo da práxis....................................... 69

3 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E A GESTÃO SOCIAL: NOVOS CAMINHOS

DEMOCRÁTICOS PARA A SOCIEDADE CIVIL BRASILEIRA......................................

98

3.1 Sociedade civil e sua contribuição para a democracia......................................... 98

3.2 Participação social: caminhos para a prática democrática.................................. 105

3.2.1Redemocratização, Constituição Federal de 1988 e participação social.................. 106

3.2.2 Maior voluntariedade da sociedade em participar................................................... 112

3.2.3 Resultados concretos do processo de participação social no Brasil democrático... 120

3.2.4 As gestões públicas e a maior porosidade dos espaços participativos................... 126

3.3 Avanços proporcionados pela redemocratização no cenário da gestão e de

Page 14: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

práticas sociais: gestão social........................................................................................... 131

4 PLANEJAMENTO TURÍSTICO COMO INSTRUMENTO DA PRÁTICA

DESCENTRALIZADA DE GESTÃO PÚBLICA...............................................................

144

4.1 O planejamento turístico e suas interfaces com a organização da atividade

turística............................................................................................................................

152

4.1.1 O processo do planejamento turístico participativo................................................. 155

4.2 Políticas públicas de turismo: novos panoramas e perspectivas...................... 166

4.2.1 Políticas públicas e participação social para o desenvolvimento do turismo no

estado de Minas Gerais....................................................................................................

181

5 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E TURISMO SOB A PERSPECTIVA DO CIRCUITO

TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES..................................................................

199

5.1 O desenho institucional do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes............ 200

5.2 A operacionalização do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes em prol da

participação social.............................................................................................................

212

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 237

7 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO.................................................................................. 252

7.1 Introdução.................................................................................................................. 252

7.2 Apresentação............................................................................................................. 253

7.3 Objetivo...................................................................................................................... 256

7.4 Conceito..................................................................................................................... 256

7.5 Características........................................................................................................... 256

7.6 Plano de operações e protótipo do site.................................................................. 258

7.7. Detalhamento e protótipo da nova estrutura do site CTTI................................... 259

7.7.1 Links Regimento Interno e Estatuto......................................................................... 259

7.7.2 Link Estruturas......................................................................................................... 261

7.7.3 Link Reuniões........................................................................................................... 262

7.7.4 Link Atas................................................................................................................... 263

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 265

APÊNDICE........................................................................................................................ 278

Page 15: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

1 INTRODUÇÃO

As políticas públicas brasileiras, em especial às destinadas ao setor

turístico, podem ser compreendidas como instrumentos para indução do

desenvolvimento da realidade local (CRUZ 2001), isto é, a partir das diferentes

demandas da sociedade, os agentes públicos organizam instrumentos legais que

visem garantir determinado serviço ou grupo de requisitos legais, modificando as

condições de vida de um determinado grupo que sofra a ação da política pública

(COSTA, 2004).

O caráter público vinculado à política traz o significado de “coisa

pública” (res publica) e, portanto, afeta a todos sob a égide de uma lei e o apoio de

uma comunidade de interesses, não sendo, contudo, referência exclusiva do Estado.

Nesse sentido, as políticas públicas comprometem tanto o Estado quanto a

sociedade, que embora sejam reguladas e frequentemente providas pelo Estado,

também englobam preferências, escolhas e decisões privadas. Enquanto lócus de

materialização de direitos, a política pública deve ser localizada no campo político de

disputa entre forças distintas, que irão refletir na sua execução as circunstâncias

históricas, políticas e sociais (PEREIRA, 2008).

Historicamente no Brasil, as principais demandas sociais brasileiras

têm-se concentrado no atendimento às necessidades básicas como a educação,

saúde, moradia e saneamento básico, criando assim um aparato legal bem alargado

para estes atendimentos. Contudo, no campo do turismo percebe-se que pouco se

tem avançado em relação à criação e consolidação de mecanismos legais, de

caráter público, que visem garantir à população maior acesso às atividades de lazer,

bem como incluindo as atividades de turismo, mediante o planejamento e

ordenamento das atrações turísticas de um dado território que possa promover a

democratização dos produtos e serviços turísticos disponibilizados.

O setor turístico em função de sua ordenação e de seu

desenvolvimento possui em seu seio uma gama de diferentes atores públicos,

privados e civis com interesses específicos, o que de certa forma faz com que atuem

de maneira isolada e sem a preocupação formal de que se comprometam com a

geração de alternativas de desenvolvimento social e na melhora da realidade local.

A geração de impactos negativos é então resultado dessa ação

individualista e egoísta de cada um dos atores envolvidos direta e indiretamente com

Page 16: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a atividade turística, promovendo situações como a exclusão social da comunidade

local quando da sua não inserção no mercado de trabalho gerado pelo turismo;

segregação socioespacial e aumento da discriminação das pequenas comunidades

locais; concentração de renda em pequenos grupos de atores da iniciativa privada,

tais como empresários do setor hoteleiro, do setor de alimentos e bebidas

(restaurantes, bares e similares), empreendimentos de entretenimento, casas

noturnas dentre outros exemplos; e, por fim, enfraquecimento de culturas e

comportamentos culturais dos grupos sociais não preparados para o contato com a

cultura externa imposta pela atividade turística.

Os impactos negativos descritos podem ser destacados pelo do

processo de globalização e pasteurização do produto turístico, pois a partir da

massificação da demanda turística, as destinações turísticas iniciam um processo de

cópia de casos de sucesso, repetindo assim o ordenamento geográfico, a

reprodução de construções, estilos arquitetônicos e, porque não dizer, os

comportamentos culturais, buscando sempre agradar o olhar dos turistas,

esquecendo-se dos valores internos da comunidade.

O pensamento da atividade turística, inserido no contexto da política

pública, deveria basear-se na conjugação de esforços entre poderes públicos, setor

privado (empresários do setor turísticos e outros) e comunidade local, visando o

desenvolvimento de produtos e serviços turísticos autênticos, com características

próprias, combatendo diretamente a geração dos impactos negativos que servem

para manchar a imagem turística da localidade, além de fazer que ao longo prazo a

situação social dessa localidade seja comprometida de forma direta pelo turismo.

Um dos paradigmas da atividade turística é conciliar os interesses

econômicos dos empresários e os interesses sócio-culturais por parte das

administrações públicas e da comunidade local frente à capacidade de geração de

emprego e renda, os quais ficam concentrados no setor privado. A partir desse

paradigma a ação ou intervenção do poder público poderá assumir duas

características distintas: permanecer enquanto expectador ativo criando

instrumentos regulatórios que visem a proteção do espaço, o ordenamento da

atividade e a capacitação da comunidade local para a inserção no mercado turístico;

ou poderá se constituir em um expectador passivo, agindo apenas no recolhimento

dos tributos, não criando dificuldades para o crescimento do setor privado, não

levantando os impactos negativos causados no território e na comunidade local.

Page 17: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Ainda dentro desse paradigma a comunidade local também poderá

atuar de maneira passiva ao ser absorvida no mercado turístico, mesmo que por

salários muito baixos, más condições de trabalho, perda do espaço geográfico frente

à valorização imobiliária, marginalização ou perda dos traços culturais ao abraçar a

cultura externa como melhor e mais valorativa. Contudo, a comunidade local

também pode assumir o papel de agente ativo por meio da capacitação de seus

membros para melhor se adequarem ao mercado turístico e aos novos postos de

trabalhos surgidos, criar mecanismos de reivindicação junto ao poder público de

acompanhamento e ordenamento do mercado turístico e seu crescimento no espaço

territorial e, fortalecimento da cultura local como traço importante para a atração e

continuidade da atividade turística e assim, incidir na gestão pública que garanta um

desenvolvimento local pautado nos interesses coletivos e bem estar da comunidade

local e não somente nos interesses privados.

Para tanto, a atividade turística poderá ter no ordenamento e no

planejamento da atividade a construção de modelos de crescimento mais justos e

democráticos, possibilitando também que grupos de municípios com vocações

turísticas similares, possam juntos estabelecer a planificação, diretrizes e ações que

de maneira conjunta construam novos quadros para o desenvolvimento da atividade

turística enquanto promotora de benefícios positivos para o tripé que sustenta o

produto turístico: o poder privado, poder público e comunidades locais, visando a

redução dos impactos negativos (BENI, 1998; RUSCHMANN, 2001; PETROCCHI,

2001; DIAS, 2003).

No Brasil, essa planificação foi iniciada em 1994 com o Plano Nacional

de Municipalização do Turismo; o qual trabalhou em diversos municípios brasileiros

a capacitação dos agentes do tripé turístico para a construção de planejamentos

democráticos a partir da formação dos conselhos municipais de turismo (DIAS,

2003).

Frente ao modelo de gestão proposto pelo Plano Nacional de

Municipalização do Turismo e como resultado da Política Nacional de Turismo, em

Minas Gerais o modelo de organização da atividade turística adotado em 1999 deu-

se a partir da formação de clusters turísticos, isto é, o espaço geográfico do estado

foi dividido em regiões de interesse turístico comum, visando garantir aos municípios

com vocações equivalentes e complementares o desenvolvimento da atividade

turística de maneira conjunta e regionalizada.

Page 18: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A organização, o planejamento e a execução da prática turística nas

regiões turísticas do estado de Minas Gerais, na concepção de cluster turístico1,

recebeu o nome de “circuitos turísticos” a partir do Decreto-lei Estadual no.

43.321/2003, sendo definido como “organismos estabelecidos formalmente que

congregam os diferentes municípios já regionalizados para que de maneira conjunta

reordenem a atividade turística, mediante a ação coletiva e contínua, contribuindo

para a consolidação de uma atividade regional” (MINAS GERAIS, 2003).

Esses circuitos turísticos devem funcionar a partir da dinâmica de

entidades sem fins lucrativos, podendo se estabelecer como associação, agência de

desenvolvimento ou como uma organização não-governamental (ONG), com

estatutos e regimentos próprios contando com a participação de representantes das

administrações públicas municipais, empresários ligados direta e indiretamente com

a atividade turística e cidadãos. Essa participação, segundo a Secretaria de Estado

do Turismo de Minas Gerais (SETUR)2 é prevista nos espaços das Assembléias

Gerais, sendo estas de caráter deliberativo das ações dos circuitos turísticos

mineiros.

O cenário atual que envolve a participação dos interlocutores

municipais nas assembléias do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes apresenta

alguns aspectos e particularidades importantes a serem consideradas. Os

municípios envolvidos possuem vocações turísticas diferentes, fazendo com que

haja constantemente disputas por ações distintas entre os mesmos. O

desenvolvimento turístico dos municípios envolvidos apresenta patamares

diferentes, ou seja, alguns municípios já possuem o turismo como a principal

atividade econômico-financeira, enquanto em outros municípios a atividade turística

é ainda um novo desafio a ser enfrentado e implementado por parte dos

interlocutores municipais.

O Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, unidade de análise

empírica desta pesquisa, integra as 52 regiões turísticas do estado de Minas Gerais.

Enquanto materialização dessa prática turística regionalizada se constitui como um

canal de diálogo entre os gestores municipais no que tange ao desenvolvimento e

1 Cluster turístico refere-se na complementação da oferta turística local pelas cidades integrantes,

cada qual com parte do produto turístico: hospedagem, equipamentos de alimentos e bebidas, serviços de entretenimentos e fatores de atratividade ou também conhecidos como atrativos turísticos. A oferta de todos os destinos irá proporcionar ao turista o máximo de aproveitamento da experiência turística em diversas realidades e culturas. 2 Resolução nº 008 de 28 /04/ 2008.

Page 19: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

aprimoramento da atividade turística regional e local a partir de uma gestão

participativa.

1.1 Problematização do Objeto, questão central e hipótese

O Decreto-lei estadual nº 43.321/2003 cria os circuitos turísticos

formalizando a existência do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes (CTTI); ao

fazê-lo define que esse processo de regionalização da atividade turística deva

acontecer de forma conjunta e coletiva, abrindo espaço para a participação

democrática dos diferentes atores envolvidos. Contudo, esse mesmo Decreto-lei

condiciona a possibilidade de captação de recursos por parte dos municípios junto

ao Poder Executivo estadual somente àqueles que integrarem os circuitos turísticos:

“os órgãos da administração pública municipal do Poder Executivo, seja direta ou

indireta, mediante fundações, autarquias ou empresas públicas somente poderão

apresentar projetos para a captação de recursos se estiver participando de um

circuito turístico” (MINAS GERAIS, 2003).

Nesse sentido, questiona-se se essa regionalização do turismo definida

no plano formal-legal em Minas Gerais, a partir do tripé do setor turístico (poder

público, setor privado e comunidade local) não está restrita a uma ação gerencial

estatal, visando apenas a regulamentação legal, em detrimento de processo

participativo que congregue a partir de interesses múltiplos, dos atores envolvidos

essa integração. E mais, nos indagamos também se ao estabelecer de forma

hierarquizada a necessidade por parte dos municípios de se congregarem em

circuitos turísticos e discutirem “em conjunto” o planejamento, o desenvolvimento e a

promoção da atividade turística estariam assegurando efetivamente a participação

social dos diferentes atores, e em especial os municípios, por meio de seus

representantes públicos constituídos.

É certo que tanto nas normativas (resoluções estaduais) quanto nos

documentos e espaços de comunicação institucional do Circuito Turístico Trilha dos

Inconfidentes há uma afirmação sempre presente da necessidade da participação

dos membros representantes, desenhada a partir de uma agenda de divisão de

responsabilidades, cabendo então a estes uma compreensão das funções do Poder

Executivo, do setor privado, como também da própria comunidade em prol da

atividade turística. Contudo, mesmo o Governo do estado de Minas Gerais propondo

Page 20: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a premiação aos municípios participantes por meio de benefícios de políticas

públicas, ainda verifica-se uma instabilidade por parte dos municípios na

participação no CTTI.

Segundo a Resolução da SETUR nº 008/2008, a gestão dos circuitos

turísticos, entre eles o CTTI, deverá ser desenvolvida por meio do plano estratégico

a ser elaborado conjuntamente pelos atores envolvidos, definindo as ações com foco

no desenvolvimento da atividade turística regional; e da participação dos membros

representantes dos poderes públicos municipais, empresariado e cidadãos no que

se refere ao planejamento, acompanhamento e incremento do turismo regionalizado.

Assim, se questiona se esse plano estratégico é resultado do processo

de participação social dos atores envolvidos. E, sobretudo, qual e como tem sido a

participação dos gestores municipais nos mecanismos de gestão do Circuito

Turístico Trilha dos Inconfidentes como, por exemplo, na elaboração do plano

estratégico, na participação das assembléias enquanto espaços de incidência das

definições e decisões do desenho da gestão desse circuito turístico?

A gestão do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes vem passando

por um processo de mudanças seguindo as orientações legais da Resolução

SETUR nº 008/2008. Entre as ações destacamos a contratação de um gestor para

circuito3 e o descredenciamento nominal dos municípios inadimplentes com a

contribuição mensal do Circuito4. A partir do acompanhamento das reuniões e

assembléias do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes temos observado que

algumas das participações dos gestores municipais nas reuniões e assembléias está

mais relacionada à criação de vias para o futuro recebimento de verbas públicas

estaduais voltadas para o incremento do setor turístico5 do que propriamente com os

interesses coletivos voltados ao desenvolvimento do turismo local.

3 De acordo com o artigo 2

o, inciso IV, alínea “e” a Resolução n

o 008/2008, os circuitos turísticos

mineiros que visem a certificação junto à Secretaria de Estado do Turismo deverão manter em cada circuito um bacharel em turismo com a finalidade de responder tecnicamente pelos projetos a serem desenvolvidos em prol do turismo regionalizado. 4 O artigo 3

o define a composição dos municípios participantes dos circuitos turísticos e, no parágrafo

3o, define que cada município mineiro deverá a partir da sua região geográfica, pertencer a somente

um circuito turístico. E, no parágrafo 4o demarca que “Os municípios declarados inadimplentes pelo

Circuito Turístico ficarão impedidos de receber quaisquer benefícios e só voltará a ter direito de recebê-los após 30 (dias) da regularização do fato que motivou tal situação, devidamente comprovada pelo Circuito junto a SETUR” (MINAS GERAIS, 2008). 5 No dia 18 de junho de 2010, o Governo do Estado de Minas Gerais promulgou o Decreto-lei n

o

45.403, no qual estabelece o regulamento para o critério “turismo” para a distribuição da parcela da receita do produto da arrecadação do Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS)

Page 21: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Os questionamentos gestados tanto no exercício da prática profissional

do pesquisador quanto no processo de formação e produção acadêmicas

despertaram a necessidade de compreender o processo de participação social e

interação dos membros representantes junto às assembléias dos circuitos na

proposição de agendas de ações turísticas regionalizadas.

Nesse sentido, a questão central que move esta pesquisa é: a

estrutura institucional do CTTI (organização, planejamento e execução), incluindo as

dinâmicas e práticas adotadas tem favorecido a participação social, dos atores

envolvidos, como instrumento de democratização da gestão social no âmbito da

política pública de turismo?

A partir da questão central da pesquisa estabelece-se a seguinte

hipótese: os instrumentos/mecanismos adotados na gestão do turismo regional do

estado de Minas Gerais, bem como suas práticas institucionais não tem favorecido o

processo de participação social, enquanto um mecanismo de democratização da

gestão pública, e consequentemente, comprometido o desenvolvimento de uma

gestão social no âmbito das ações de política pública de turismo.

1.2 Objetivos

A partir da questão central e hipótese construída é importante a

explicitação dos objetivos a serem alcançados na busca de uma aproximação do

problema de pesquisa. Nesse sentido, faz-se a explicitação clara dos objetivos a

serem alcançados no desenvolvimento da pesquisa e estudo proposto.

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar se a dinâmica e práticas institucionais do Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes, na sua organização, no seu planejamento e na sua gestão,

tem efetivamente favorecido a participação social dos atores envolvidos e se esse

processo tem se constituído como um importante instrumento de democratização da

gestão social na política pública de turismo regional em Minas Gerais.

pertencente aos municípios, gerando assim mais uma nova fonte de recursos a serem acessadas pelos cofres públicos municipais.

Page 22: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

1.2.2 Objetivos Específicos

Analisar as estratégias das políticas públicas que promovem o turismo em

Minas Gerais, os documentos do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes

(doravante CTTI), tentando estabelecer uma discussão entre aplicação,

diálogos, gestão social e participação social;

Compreender como ocorre a formação e o crescimento regional do turismo no

CTTI com o desenvolvimento das gestões públicas;

Analisar o conjunto de ações e princípios políticos, sociais e filosóficos

oferecidos pela adoção da política estadual, no ramo do turismo,

estabelecendo como ocorre o processo de gestão social nas práticas de

políticas públicas;

Analisar a participação dos membros envolvidos na CTTI (planejamento,

organização e funcionamento), bem como as consequências de suas ações

na gestão turística.

1.3 Abordagem metodológica

O conhecimento da realidade, sob o ponto de vista antropológico,

sempre existiu. Diferentes formas de se buscar esse conhecimento da realidade são

empreendidas: a religião, a filosofia, os mitos, a poesia, as artes (entre outras). A

ciência é apenas uma das formas de compreensão e construção da realidade e na

sociedade Ocidental assume a forma hegemônica (MINAYO, 2008).

Nesse sentido Japiassu (1981, p. 62) completa afirmando que:

(...) a ciência não se interessa pelo objeto real em seu estado bruto. O objeto real só se torna objeto científico quando for retirado do seu estado ‘natural, vale dizer, quando for ‘construído’, elaborado, pensado por uma teoria, ou seja, quando for enquadrado por um ponto de vista teórico.

Muito embora a metodologia assuma a tarefa de formalização,

enquanto disciplina instrumental de questionamentos e indagações, que orientam o

pesquisador para conhecer o objeto (JAPIASSU, 1981), ela não tem um fim em si

mesma. Antes ela é um meio para atingir um fim.

Page 23: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Assim, Bourdieu (2004, p. 14) nos alerta para a permanente

necessidade da vigilância epistemológica, no sentido de “não ceder à tentação de

transformar preceitos do método em cozinha científica, ou engenhoca de

laboratórios”.

A prática científica é tanto para Japiassu (1981) quanto para Bourdieu

(2004), e com eles concordo, uma prática humana, histórica e processual. Assim, o

processo de amadurecimento no campo da pratica científica vai sendo construído à

medida que vamos fazendo e refazendo as reflexões, vamos problematizando a

partir das teorias que nos permitem conhecer melhor o objeto de pesquisa

(JAPIASSU, 1981 apud FUCHS, 2009).

Pode-se ainda argumentar que a metodologia é a forma concreta com

que se trilha a busca pelo conhecimento e, refere-se à maneira com que o

conhecimento desejado possa ser adquirido a partir do modo racional e eficiente

(DENCKER, 1998).

Por fim, o campo da prática científica é concebido do ponto de vista

metodológico como a articulação de diferentes instâncias, de diferentes polos que

determinam o espaço no qual a pesquisa se apresenta, apanhada num campo de

forças e determinadas exigências internas (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE,

1991).

Da conjugação dos diversos polos que se mesclam para a produção

metodológica deste projeto, pode-se apresentar que são: polo epistemológico

(campo do conhecimento teórico-metodológico: a abordagem qualitativa da

hermenêutica dialética) – a escolha; pólo teórico (o quadro referencial teórico,

construído a partir das categorias teóricas que irão sustentar o projeto); pólo

morfológico (a estrutura do projeto – teoria e metodologia) e; pólo técnico (o modo

de investigação – Estudo de Caso).

1.3.1 Base do estudo qualitativo: a hermenêutica-dialética

Nas ciências sociais a busca da construção do conhecimento se baseia

na realidade histórica. Ao mesmo tempo em que procura a profundidade no saber, o

Page 24: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

pesquisador social estará aperfeiçoando uma metodologia e elaborando uma norma

para a sua validação (DENCKER, 1998).

A profundidade no conhecimento se valerá também da visão holística

no estudo das ciências sociais, pois parte-se do princípio que: “(...) a compreensão

do significado de um comportamento ou evento só é possível em função da

compreensão das inter-relações que emergem de um dado contexto” (ALVES-

MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2003, p. 131).

O conhecimento dos diversos significados da realidade a ser

observada pelo pesquisador das ciências sociais é a principal manifestação da

forma da pesquisa, sendo possível a todas as pessoas empreenderem tal ação.

Contudo, para que a pesquisa empreendida possa ser validada como científica,

carecerá o pesquisador de obter dados mais sólidos do conhecimento, utilizando-se

de métodos e técnicas formais e institucionais impondo cortes metodológicos

específicos, fazendo com que o conhecimento gerado possa ser validado como

ciência (DEMO, 2000).

A cientificidade, frente a esse quadro difuso de pensamentos e

posições a respeito do uso dos métodos e das técnicas da ciência na produção do

conhecimento, estabelece então um caminho alternativo aos pesquisadores sociais,

ao conceber que o objeto de análise da pesquisa social é diferente do das ciências

naturais: “A cientificidade, portanto, tem que ser pensada como uma idéia reguladora

de alta abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos”

(MINAYO, 2001, p. 12).

O trabalho científico então caminha sobre duas vertentes: numa

estuda, pesquisa, observa, mede, testa e apresenta os resultados, em outra vertente

inventa os métodos, ratifica o caminho do conhecimento, abandona alguns caminhos

já trilhados e segue para outra direção (MINAYO, 2001).

Ora se cabe ao pesquisador a diferenciação da aplicação das técnicas

a partir do objeto a ser estudado, é importante ressaltar que o emprego de

metodologias qualitativas não descaracteriza, não desqualifica os trabalhos de

metodologias quantitativas: “(...) é preciso saber integrar as dimensões que fazem

parte de uma realidade única, tendo sempre em mente, criticamente, o que cada

metodologia tem de forte e de fraco” (DEMO, 2000, p. 37).

A opção pela abordagem qualitativa é feita pelo pesquisador frente ao

objeto de pesquisa, pois caberá à experiência do pesquisador verificar quais são os

Page 25: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

melhores instrumentos de pesquisa que poderão extrair do objeto a informação que

responderá a seus questionamentos:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa com um nível da realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos (MINAYO, 2001, p. 21-22).

A pesquisa qualitativa assume uma faceta de pesquisa indutiva, na

qual o pesquisador parte de observações livres, mas que possuem o rigor da ciência

e o caráter de cientificidade como guias nessas observações. As dimensões e

categorias próprias do objeto de pesquisa irão emergir numa sequência progressiva

quando do processo de coleta e análise dos dados do objeto (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 2003).

Para que a utilização da metodologia qualitativa resulte em uma análise

de dados confiáveis, é necessário que no decurso da observação livre o pesquisador

aceite os critérios da historicidade, da colaboração, mas que, sobretudo possa ser

revestido da humildade do aprender a aprender e saber que o conhecimento é

aproximado, construído (MINAYO, 2001).

Para o empreendimento desta pesquisa no campo da atividade

turística, a aplicação da metodologia qualitativa fará com o que o pesquisador

estude a realidade e o momento histórico no qual o objeto está inserido, implicando

a formalização dessa discussão apresentada: haverá a aquisição de conhecimento

ao mesmo passo que se desenvolve e se aprimora o método empreendido para a

construção do conhecimento (DENCKER, 1998).

Frente a essa abordagem qualitativa aliamos a proposição da

hermenêutica-dialética, enquanto “um importante caminho do pensamento para

fundamentar a pesquisa qualitativa” (MINAYO, 2008).

A proposição da hermenêutica-dialética é de importância para esta

pesquisa pela sua dinâmica e precisão para a coleta de dados e, por apresentar um

aprofundamento na análise dos dados coletados frente ao referencial teórico

abordado como suporte da pesquisa (OLIVEIRA, 2001).

A proposta de Habermas (1987 apud MINAYO, 2008) passa pela

construção de um movimento interativo entre hermenêutica e dialética, valorizando

as complementaridades e oposições entre as duas: a) ambas trazem no seu núcleo

Page 26: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a idéia fecunda dos condicionamentos históricos da linguagem, das relações e das

práticas; b) ambas partem do pressuposto de que não há observador imparcial; c)

ambas questionam o tecnicismo em favor do processo intersubjetivo de

compreensão e de crítica; d) ambas ultrapassam as tarefas de serem simples

ferramentas para o pensamento e e) ambas estão referidas à práxis estruturada pela

tradição, pela linguagem, pelo poder e pelo trabalho.

Contudo, a hermenêutica6 e a dialética7 não são conceitos que

convergem para o mesmo ponto, mas que quando analisados em conjunto traduzem

o objeto pesquisado a partir da visão das diferentes facetas que o compõem e:

No entanto, enquanto a hermenêutica enfatiza o significado do que é consensual, da mediação, do acordo e da unidade do sentido, a dialética se orienta para a diferença, o contraste, o dissenso, a ruptura do sentido, portanto para a crítica (MINAYO, 2008, p. 168).

A junção de ambos os métodos faz com que um implique no outro,

criando a cumplicidade resultando numa visão realista a respeito do objeto

pesquisado. A compreensão epistemológica do objeto de pesquisa se dará no

caminho do pensamento/conhecimento a partir da interpretação ou reinterpretação

da realidade estudada.

1.3.2 Modo de Investigação: o estudo de caso

Para alcançar os objetivos propostos nessa pesquisa a partir do

problema de pesquisa optamos pelo modo de investigação do Estudo de caso, pois

refere-se a uma estratégia de pesquisa que visa a compreensão do objeto estudado,

que em sua essência trata-se de um fenômeno social complexo, ao envolver

diversos e diferentes atores do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes:

(...) o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e

6 A hermenêutica se refere à interpretação do sentido das palavras, assim como a arte de interpretar

leis, códices, textos sagrados, etc. 7 A dialética é definida como a arte de raciocinar a partir de métodos. Refere-se ao que é lógico,

possui uma lógica. A forma de apresentação da dialética é a argumentação engenhosa e dialogada entre aqueles que a praticam ou a estudam. A dialética considera dois planos categoriais de análise: a) como a dialética imagina a realidade (a idéia do conflito social, totalidade, unidade de contrários, teoria e prática e condições objetivas e subjetivas); b) como ela imagina o conhecimento.

Page 27: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos (YIN, 2005, p. 20).

Contudo, os cientistas sociais preferem utilizar o estudo de caso como

uma parte da pesquisa, ou seja, utiliza-se o estudo de caso como um instrumento da

fase exploratória da investigação, carecendo de outros instrumentos científicos como

a investigação exploratória para alicerçar a discussão e, por conseguinte dar

cientificidade ao estudo empreendido (YIN, 2005).

Tal concepção é refutável ao conceber que o estudo de caso, por se

tratar de uma técnica de pesquisa, exige do pesquisador um profundo e exaustivo

estudo da realidade pesquisada. Desta forma o uso da técnica permite um profundo

conhecimento dos processos e das relações que envolvem o objeto de pesquisa

(DENCKER, 1998).

A profundidade do conhecimento a ser obtido com a aplicação da

técnica de estudo de caso, faz com que se advogue que esta técnica cria suportes

metodológicos para afirmar que a idéia de cientificidade aplicada ao objeto, pois a

cientificidade abarca em si pólos opostos como a unidade e a diversidade:

(...) existe a possibilidade de encontrarmos semelhanças relativamente profundas em todos os empreendimentos que se inspiram na idéia geral de um conhecimento por conceitos, seja de caráter sistemático, seja exploratório e dinâmico. (...) Mas por outro lado, a cientificidade não pode ser reduzida a uma forma determinada de conhecer, ela pré-contem, por assim dizer, diversas maneiras concretas e potenciais de realização (MINAYO, 2001, p. 11).

Se o objeto de pesquisa refere-se à dinâmica e práticas institucionais

como elemento de participação social entre os membros dos diversos municípios

que compõem o Circuito Trilha dos Inconfidentes, a técnica a ser empregada deverá

ser aquela que corrobore na construção de novos postulados teóricos e científicos a

partir da observação destes no CTTI.

1.3.3 Procedimentos e técnicas de coleta e análise de dados

Bourdieu (2004) de forma categórica e precisa chama atenção do

pesquisador para as facilidades de uma aplicação automática de procedimentos já

experimentados e, ensina que “que toda a operação, por mais rotineira e rotinizada

Page 28: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

que seja, deve ser repensada, tanto em si mesma quanto em função do caso

particular” (BOURDIEU, 2004, p. 14).

Nesse sentido, em se tratando esta pesquisa também de uma análise

de Políticas públicas setoriais, em específico das políticas públicas de turismo do

Estado de Minas Gerais, a contribuição de Frey soma-se na apresentação do campo

mais instrumental-operacional da pesquisa. Segundo Frey (2000a, p. 214):

(...) o interesse da análise de políticas públicas não se restringe meramente a aumentar o conhecimento sobre planos, programas e projetos desenvolvidos e implementados pelas políticas setoriais. (...) Pretende analisar a inter-relação entre as instituições políticas, o processo político e os conteúdos de política.

Feito a devida sinalização para os cuidados com os instrumentos e a

adequada utilização destes faz-se necessário o detalhamento do modo de operar a

realização da pesquisa.

Definida a unidade de análise empírica, a saber: o Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes, as razões que contribuíram para sua escolha pode ser

fundamentada nos dizeres de Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2003, p. 162):

[...] a escolha do campo onde serão coletados os dados, bem como dos participantes é proposital, isto é, o pesquisador os escolhe em função das questões de interesse do estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade dos sujeitos.

A delimitação geográfica correspondente ao estado de Minas Gerais

deu-se em razão da inserção do pesquisador no campo de pesquisa, o que favorece

um maior aprofundamento na temática. Dentro desta delimitação estão os 20

municípios que fazem parte do CTTI.

Assim, para o conhecimento, análise e compreensão da realidade que

cerca a participação social no Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, será

necessário dar continuidade à pesquisa bibliográfica para aprofundar as categorias

teóricas de análise que cercam o presente projeto de pesquisa, pois são elas que

permitirão a possibilidade explicativa da realidade estudada (DEMO, 2000).

A coleta de dados compreende várias fontes que à luz do referencial

teórico permitirá a reinterpretação da realidade. Os dados a serem colhidos como

fontes de informação empírica são descritos abaixo, além da bibliográfica, a

documental e experimental.

Page 29: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

1.3.3.1 Coleta e análise de fontes secundárias

Compreendeu uma rigorosa e criteriosa pesquisa documental a partir

dos seguintes documentos institucionais do Circuito Turístico Trilha dos

Inconfidentes: o estatuto, o regimento, as atas das reuniões, outros documentos

relativos ao Circuito no que se refere ao planejamento, gestão e condução da

atividade turística regional. E, será analisada a política nacional de turismo e a

política estadual de turismo, permitindo ao pesquisador a visualização do panorama

das diretrizes e orientações estabelecidas pelo poder público federal e estadual em

relação ao turismo.

Como procedimento de análise foi realizada uma leitura criteriosa

selecionando informações a partir dos três grandes eixos de análise: conteúdo,

método e gestão partindo do modelo adotado por Avritzer (2010), que foram

relacionados com as demais fontes primárias de dados discutidas ao longo da

dissertação.

A leitura do Estatuto do CTTI se baseará na 4ª (quarta) versão do

documento, visto que, antes dessa alteração e com base na leitura das atas a forma

de composição dos municípios que integram o CTTI não era definida causando a

entrada e saída de cidades.

A leitura das atas do CTTI se deu a partir da data de 17 de julho de

2007, quando se iniciou o processo de discussão em prol da alteração do Estatuto e

do Regimento Interno, até o mês de julho do ano de 2011. Foram lidas e trabalhadas

um total de nove atas referentes à Assembléia Geral e oito atas das reuniões da

Diretoria Executiva do CTTI.

O levantamento qualitativo, a partir das atas das assembléias, traçou o

perfil dos representantes e dos municípios que integram o CTTI a fim de identificar

como tem sido historicamente a participação dos atores sociais envolvidos no

planejamento e gestão do CTTI.

1.3.3.2 Coleta e análise de fontes primárias

O primeiro momento da pesquisa se deu com a observação livre das

assembléias do CTTI para a compreensão de como se dava o processo envolvendo

Page 30: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a organização, o planejamento e a gestão tanto do Circuito Turístico quanto da

atividade turística regionalizada. Para tanto, foram observadas 02 (duas)

assembléias, a primeira no dia 30 de novembro de 2010, a qual serviu de base para

a identificação dos primeiros questionamentos e da construção das hipóteses de

pesquisa. A segunda reunião observada foi a realizada no dia 12 de abril de 2011, a

qual possibilitou o contato do pesquisador com o corpo gestor do CTTI e a obtenção

de documentos para a análise dos dados secundários.

Para entender a relação entre o desenho institucional do CTTI com a

prática da participação social definiu-se pela aplicação de instrumental avaliativo –

questionário – que foi preenchido pelos integrantes do Circuito Turístico Trilha dos

Inconfidentes (Apêndice 1), visando obter uma fotografia da participação, da ação e

do envolvimento dos representantes nas discussões e na gestão do Circuito

Turístico Trilha dos Inconfidentes.

Para a obtenção desse panorama de observação da gestão do CTTI,

foi enviado aos municípios por e-mail o instrumental de coleta de dados

(questionário) com ênfase quantitativa para que os gestores municipais pudessem

respondê-lo de maneira fácil e cômoda, assinalando a percepção

individual/municipal da gestão turística participativa.

O prazo dado pelo pesquisador aos municípios para que pudessem

responder ao questionário foi de um mês a partir da data do envio, data esta que se

deu no início do mês de junho.

Alguns municípios responderam prontamente ao pesquisador enviando

o questionário respondido antes do final do prazo, somando um total de 11

municípios. Dado a finalização do prazo para a resposta, somente um município

enviou o questionário, e os outros oito municípios não responderam e não

sinalizaram interesse em responder à pesquisa.

A aplicação do método misto (qualitativo e quantitativo) se justifica

também pela necessidade de explicitar em como a teoria pesquisada, enquanto

estrutura de orientação para o estudo empreendido, é de fato observada no campo

da práxis do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes.

O nível de confiança dos dados foi calculado em 90% a partir do

resultado obtido com o total de respondentes do questionário, representando que a

probabilidade do erro amostral efetivo seja de 90% menor do que o erro amostral

admitido pela pesquisa.

Page 31: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Nessas condições, a amostra e o resultado da pesquisa de fato irão

contribuir para que se possa analisar em como a gestão do CTTI é desenvolvida e

avaliada pelos municípios respondentes ao questionário emitido.

1.4 Estrutura da dissertação

Quanto à estrutura a dissertação está assim organizada: o primeiro

capítulo irá apresentar, inicialmente, a discussão conceitual envolvendo diferentes

autores e visões a respeito da construção histórica das reformas político-

administrativas as quais deram os contornos atuais para o Brasil e seus estados,

mas tendo como unidade de análise o processo da democratização como fio

condutor das análises feitas; os diferentes procedimentos político-administrativos em

consonância com a democratização das ações trouxeram consigo a inserção do

pensamento da descentralização para que o Estado Nacional brasileiro pudesse

reorganizar a administração pública e com isso um conjunto de diferentes posições

são apresentadas a partir da dicotomia existente entre as agendas social-democrata

e a neoliberal procedendo a essa análise em profundidade.

A discussão toda empreendida é margeada pelo pensamento político e

por isso no terceiro momento do primeiro capítulo é delineado a formação do

conceito de política e como esta se estabelece a partir da realidade democrática,

além de empreender a disposição do pensamento das políticas públicas e como

estas se estabelecem enquanto mecanismo de atendimento às demandas sociais

apresentadas após a reforma do Estado Nacional brasileiro e admissão de práticas

descentralizadas em prol da maior democratização das ações públicas promovidas

pelo Estado.

O segundo capítulo possui o seu viés edificado mediante os diferentes

processos que a gestão das políticas públicas feitas pelo Estado consegue alcançar

mediante o estabelecimento da prática da participação social como fruto da

democratização e da descentralização. Para tanto, apresenta-se inicialmente como o

processo participativo é incluído na agenda das reformas democráticas do Estado

Nacional brasileiro, a partir da sociedade civil e de suas diferentes configurações

adotadas ao longo dos anos; num segundo momento discute-se a participação

social como lócus das práticas democráticas e de maior envolvimento entre o Estado

e a sociedade civil promovendo o alargamento das práticas democráticas e cidadãs

Page 32: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

fazendo com que se torne possível a criação de espaços participativos que visem ao

controle social das políticas públicas; e por fim, o conceito de gestão social é

apresentado como um novo modelo de gestão que poderá auxiliar tanto o Estado

quanto a sociedade civil para que a participação social possa ser efetivada não

somente nos espaços participativos, mas como um conceito central de novas

práticas gerências em prol da democracia e cidadania.

Já o terceiro capítulo aborda a atividade turística enquanto recorte do

objeto a ser analisado nesta pesquisa partindo da compreensão de como o conceito

de turismo é formado a partir de diferentes elementos e motivações; em um segundo

momento é discutido como o planejamento turístico é empregado como instrumento

formal para que possa administrar a atividade turística em uma dada região visando

a ordenação dos atores sociais e as suas responsabilidades contribuindo para que o

desenvolvimento e o crescimento possam ser elementos que visem contribuir para a

comunidade local, o empresariado e o poder público, e apresenta-se a discussão

pormenorizada a respeito de como o processo do planejamento turístico participativo

pode ser benéfico em prol da sinergia entre esses diferentes atores sociais

envolvidos com o turismo local e/ou regional; num terceiro momento é delineado a

construção do pensamento das políticas públicas para a atividade turística e em

como estas estão promovendo o alargamento da discussão em prol do envolvimento

dos diferentes atores sociais a partir do planejamento e da ordenação da atividade

turística; e por fim, faz-se a análise das políticas públicas do Estado de Minas Gerais

a partir dos seus diferentes instrumentos legais sancionados.

O quarto capítulo apresenta a discussão do objeto de pesquisa em si,

ou seja, o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes é compreendido a partir das

vertentes da sua estrutura institucional, de como o planejamento das ações se dá a

partir da participação social dos membros associados, e de como a execução e a

gestão do circuito turístico é percebida pelos diferentes atores sociais integrantes a

partir da análise profunda de variáveis que se esmeram em criar um cenário

avaliativo a respeito da gestão e da participação social; além de se discutir como o

planejamento turístico participativo pode ser visualizado com base nas práticas e da

ação dos gestores e dos membros associados em prol do desenvolvimento da

atividade turística regional, além de perceber como o processo de descentralização

está sendo efetivado em detrimento das discussões e da gestão feita pelos próprios

associados a partir de seus conhecimentos e práticas locais.

Page 33: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Com base nos resultados desse estudo proposto no mestrado

pretende-se contribuir com o debate científico e com o entendimento e a busca de

alternativas ao problema de pesquisa levantado; propor alternativas concretas que

contribuam para a consolidação de práticas de gestão coletivizada e participativa do

Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, promovendo desta forma o turismo

regional como instrumento de integração dos municípios participantes e, fomentando

o desenvolvimento turístico regional e local.

E por fim, o presente estudo visa contribuir na construção e

operacionalização de uma agenda permanente de discussão entre os membros

representantes municipais nas assembléias do Circuito Turístico Trilha dos

Inconfidentes a partir do sentido da participação social como instrumento para a

democratização das ações públicas e fortalecendo as interações sociais entre poder

público, privado e comunidade local.

Page 34: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

2 O CENÁRIO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS

MEDIANTE O REFERENCIAL DAS REFORMAS DO ESTADO E DA

PRÁTICA DA DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

DO ESTADO NACIONAL

A formulação das políticas públicas no atual cenário político-social

brasileiro tem contribuído para que novas medidas legais possam ser colocadas em

favor da sociedade, principalmente em prol de comunidades que historicamente não

possuíam acesso à esfera do poder político, sanando assim necessidades e

demandas por serviços sociais, além de criar diálogo entre os mais diferentes atores

sociais que possam ser envolvidos nessa mudança de cenário.

Mas cabe ressaltar que esse processo da formulação de políticas

públicas veio a ganhar corpo e respaldo a partir das intensas mudanças ocorridas

dentro da esfera estatal, mais precisamente após inúmeras reformas pelas quais o

Estado Nacional brasileiro passou mediante o seu ajuste para se adequar às

condições de tempo e necessidades sociais.

E, mediante tais reformas uma ação que vem ganhando destaque e

permanência no conjuntos das mesmas é o processo constante de descentralização

das instâncias de poder e de serviços públicos para espaços mais próximos da

população, criando assim um elo entre o poder público e sociedade, e políticas

públicas e descentralização.

Para tanto, o presente capítulo se debruça no corpo teórico de autores

para a apresentação em um primeiro momento, de como se estabeleceram as

reformas no processo histórico e político do Brasil, mas tendo o cuidado de abordá-

lo mediante o recorte da democratização e processos políticos; num segundo

momento é apresentado como a descentralização é apresentada a partir das

reformas do Estado Nacional para que uma nova agenda política possa ser

conduzida; e num terceiro momento a discussão da polissemia que o conceito de

política recebe para que se construa um caminho de como a política pública é

pensada e apresentada à sociedade após os dilemas da reforma do Estado e a

inclusão da descentralização no cotidiano político-administrativo do Estado.

Page 35: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

2.1 Os diversos caminhos de reforma percorridos pelo estado nacional

brasileiro em prol de um estado democrático

Pensar no Estado é conceber um mister de preocupações, interesses e

vontades coletivas de uma nação vocalizadas ou expressas por um conjunto

determinado de atores sociais, os quais irão ora exercer livremente a vontade da

coletividade, ou seja, a sociedade por compreendê-la e representá-la, ora irão

exercer autoritariamente o poder de controlar e dirigir a coletividade mediante

instrumentos de pressão e controle extremo.

Mas refletir a respeito do Estado é, sobretudo, uma tarefa árdua,

principalmente quando esta reflexão é feita no entendimento da formação e

estabelecimento do Estado Nacional brasileiro. Muitos foram os processos

administrativos e de poder que estiveram presentes, ora criando instrumentos

legítimos em prol da formação da cúpula do poder – os políticos e o corpo de

funcionários que compõem o Estado – ora agindo em favor de interesses

individualistas e formando uma rede de clientelismos e patronagens, deteriorando o

sentido da democracia.

Poder-se-ia pensar que a figura do Estado e o seu controle sobre a

sociedade seria igualado a uma família e o poder que o provedor dessa família tem

sobre os seus, mas o Estado é muito mais do que isso, pois este representa um

conjunto de interesses, proteções e serviços que devem ser disponibilizados a todos

e não somente a um pequeno grupo:

Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva (...) (HOLANDA, 1995, p. 141).

Considerar, o Estado como um conjunto de princípios e valores que

irão reger a vida de uma sociedade, do conjunto de diversas e diferentes famílias é

assegurar que a todas sejam providas suas necessidades coletivas de maneira

igualitária, mas que para que exista é preciso uma ordem, um conjunto de regras e

instrumentos legais que possam dar ordem ao caos que é a vida social e a

convivência das diversas pessoais nas cidades.

Page 36: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Neste tocante, Holanda (1995) destaca que o papel do indivíduo na

vida do Estado, tendo graus diferentes de responsabilidade e de ação, não ficando à

margem ou à espera constante de que o Estado por si só tenha o vislumbre de como

melhor servi-lo e em como apresentar as normas e regulamentos para que possam

ser seguidos por ele.

Pensar nesse conjunto de responsabilidades e de ações que cabe

aos indivíduos é refletir que a formação do Estado é um processo lento, dificultoso e

em muitas vezes contraditório por não refletir a vontade de todos, mas somente de

alguns, mas que em essência é um processo que emana da razão e da ação

humana (BRESSER-PEREIRA, 2010a).

Se assim é pensando e apresentado o Estado é, portanto,

compreensível que em determinados momentos históricos alguns indivíduos roguem

para si o direito da condução do Estado mediante seus interesses e suas vontades.

Para a realidade brasileira, pensar no Estado Nacional é refletir sobre

os seus mais de 200 (duzentos) anos de formação; refletir em como uma simples

colônia extrativista consegue o status de vice-reinado e, por uma reviravolta histórica

passa a ser sede da Monarquia Portuguesa, passando então a ser provido por uma

série de benefícios antes inimagináveis, tais como a instalação de um banco próprio,

ampliação de faculdades e centros de estudos, melhora nos serviços públicos

básicos, além da incorporação dos preceitos de como é o funcionamento das

diferentes estruturas de poder internas do Estado8.

Mas como o viés para a reflexão desta parte da pesquisa é sobre as

reformas administrativas, cabe então mencionar que as primeiras reformas para a

composição do atual Estado brasileiro se deram quando da proclamação da

República, alterando a maneira em como a condução política era conduzida:

abandonava-se a Monarquia Portuguesa e a sua corte e passava-se para o

processo Presidencialista, apoiado nos pilares do voto, no apoio de políticos, e da

manutenção do poder em favor de nova elite brasileira – os cafeicultores paulistas

(COSTA, 2008).

8 Para uma maior e mais abrangente visão a respeito do início da formação do Estado brasileiro

recomenda-se a leitura do artigo “Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas”, redigido por Frederico Lustosa da Costa e publicado na Revista de Administração Pública no ano de 2008, no número 42. Neste artigo é desvelado como a administração colonial portuguesa apresenta à realidade brasileira o know-how da burocracia estatal européia, em especial a portuguesa, e em como esses laços entre burocracia e poder político são incorporados para a realidade brasileira, perdurando até os dias atuais, tornando-se assim parte da vida sociocultural e política do Estado Nacional brasileiro.

Page 37: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Essa transformação pode num primeiro momento não representar em

muito uma ampla alteração no modo como o Estado brasileiro foi conduzido por um

longo período de tempo, mas demonstra como a base do pensamento e da

condução política era feita. Alteram apenas as denominações de monarquia para

república, de províncias para estados, de condes, viscondes e barões para

senhores, coronéis e políticos.

Toda essa nova estrutura apresentava uma caracterização

metamorfoseada do que era a Monarquia Brasileira de Dom Pedro II: as províncias

transformadas em estados agora não dependiam mais dos seus figurões (barões,

viscondes) escolhidos pela monarquia para lhe representarem, mas passavam a

depender da vontade e do interesse dos senhores, dos coronéis locais e dos

políticos para fazer valer a suas vontades e interesses nos espaços ditos como

democráticos que são as a assembléia nacional, as assembléias estaduais, as

câmaras de vereadores locais.

Passando então historicamente pela República Velha, a era Vargas, o

surto de crescimento nacional por Juscelino Kubitscheck, o que se pode observar no

quadro do Estado nacional brasileiro é que:

Embora tenha havido avanços isolados durante os governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, Jânio Quadros e João Goulart, o que se observa é a manutenção de práticas clientelistas, que negligenciavam a burocracia existente, além da falta de investimento na sua profissionalização. A cada deságio surgido na administração do setor público, decorrente da própria evolução socioeconômica e política do país, a saída utilizada era sempre a criação de novas estruturas alheias à administração direta e o conseqüente adiamento da difícil tarefa de reformulação e profissionalização da burocracia existente (COSTA, 2008, p. 849).

Se o Brasil aprende o modo de funcionamento da burocracia

portuguesa nos idos do tempo colonial, é sabido que esse pensamento perdurasse

por um determinado tempo, mas não que fosse corrompendo a estrutura interna do

Estado, criando dificuldades e obstáculos para que o desenvolvimento e o

crescimento pudessem ser absorvidos de maneira igualitária por toda a sociedade.

Controlar a burocracia e as suas redes de poder é quase uma meta a

ser alcançada para qualquer um dos políticos eleitos pelos brasileiros em prol da

construção da imagem de um novo Estado Nacional, mas pelo que foi demonstrado

por Costa (2008) não foi vencido pelos governantes, mas sim alimentado

Page 38: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

gradualmente em favor de clientelismos e patronagens referente à condução

político-administrativa do Estado por cada um dos governantes.

O aumento gradual da burocracia mediante a criação de novas

estruturas internas do Estado como agências, fundações ou empresas estatais, cada

qual com a sua autonomia e distanciamento da esfera do poder central do Estado

pode parecer, num primeiro momento, como um avanço técnico para se operar

ações pontuais em favor da discrepante realidade socioeconômica da população

brasileira.

Mas cada vez que se criava uma nova estrutura administrativa

independente da esfera central do Estado, estava-se ao mesmo tempo alimentando

a burocracia com novos elementos e novos processos administrativos morosos, e

criando redes isoladas e sem comunicação com o núcleo central do poder do

Estado.

Com isso, a autonomia política era exercida livremente pelos partidos

políticos que controlassem essas estruturas administrativas indiretas, fazendo com

que os interesses particularistas e clientelistas recebessem agora não somente a

legitimação do Estado, mas também, em determinados casos, aportes financeiros

para a realização dessas ações individualistas.

Frente a tal realidade caótica no Estado brasileiro, em 1° de abril de

1964 o Brasil passa a ser governado não mais por um conjunto democrático de

políticos, mas por uma base de atores militares, pois exatamente nesta data foi

realizada uma intervenção direta na condução do Estado Nacional pelas Forças

Armadas.

O governo militar durante o longo período de poder frente ao Estado

Nacional implementou uma série de reformas administrativas que alteraram

profundamente a estrutura e o pensamento da condução da vida social, econômica

e política dos brasileiros:

(...) promoveu uma reforma tributária, reorganizou o sistema bancário, reestruturou o ensino universitário e realizou uma ampla reforma administrativa. Em 1965 teve início a reforma tributária que se consolidou com a Constituição de 1967, uniformizando a legislação, simplificando o sistema e reduzindo o número de impostos. Ela trouxe uma brutal concentração de recursos nas mãos da União, esvaziando financeiramente estados e municípios que ficaram dependentes de transferências voluntárias (COSTA, 2008, p. 851).

Page 39: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Desse conjunto de reformas o que mais chama a atenção é o caráter

centralista adotado pelo governo militar, ou seja, com os recursos financeiros

unificados e centralizados na União, os estados e municípios se tornam reféns

político e economicamente dos interesses da União, não cabendo a estes questionar

as transferências de recursos, pois estas se davam de maneira voluntária.

Outro preceito importante adotado pelos governos militares foi o

pensamento de que as ações estatais deveriam sempre se orientar pelos princípios

do planejamento, da coordenação, da descentralização, da delegação de

competências e do controle (COSTA, 2008).

A adoção de tais preceitos inicia na vida pública do Estado a criação e

o estabelecimento cada vez maior do poder dos burocratas e do favorecimento do

conhecimento técnico, distanciando assim as ações do Estado (as políticas) da

população e mesmo dos problemas vivenciados pela sociedade9.

Questionar a União neste momento histórico representava questionar

as Forças Armadas, era questionar a ordem determinada pelo conjunto de militares

que foram incorporados no corpo de burocratas do Estado. E questionar a União

igualmente representava uma insurreição contra o poder dos militares, não sendo

assumida publicamente tal postura, nem por políticos que estavam incorporados no

Estado, nem pela sociedade que era amplamente reprimida.

Frente a tal realidade, árdua a tarefa de pensar em democracia, pois a

prática estatal era impregnada de pensamentos como o centralismo, autoritarismo e

conservadorismo, não permitindo que a ideia de um Estado de fato democrático

fosse cogitada pela sociedade.

No cenário social um conjunto de atores sociais se une engajados na

luta por direitos, mas não voltados unicamente para o acesso aos serviços e bens

públicos, como a saúde, educação, moradia e segurança, mas para que os direitos

devessem ser legitimadores da igualdade dos sujeitos de uma sociedade, como

também corroborar para a diferença desses mesmos sujeitos: mulheres, negros,

homossexuais, trabalhadores, sindicalistas dentre outros movimentos sociais que

estiveram à frente na luta pela cidadania (KAUCHAKJE, 2007).

9 O papel da burocracia, dos burocratas e do conhecimento técnico será tratado mais adiante neste

texto quando for discutido o conceito de políticas públicas e como o conjunto de atores internos do

Estado se estabelece e age.

Page 40: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A principal intenção desse grupo de atores sociais era a criação de

uma redemocratização do Estado no Brasil, agindo da correção dos erros cometidos

pelos governos militares, e possibilitando à sociedade a eleição de seus atores

políticos para que os representassem nas diferentes estruturas de poder do Estado.

Neste tocante, pode-se dizer que a luta convergia em favor da eleição

direta de um Presidente da República, conseguindo o apoio de diferentes correntes

políticas oposicionárias no contexto político, mas que ao vislumbrarem novamente a

possibilidade das eleições e do real controle democrático, a conversão de forças se

fez inevitável (NOGUEIRA, 2005).

Tal campanha num primeiro momento foi vencida pelo plano

parlamentar em vigor, mas que conseguiu num segundo momento a energia

necessária para reunir todos os brasileiros descontentes com a realidade do governo

militar: “A chegada ao poder da Aliança Democrática, em 1985, simbolizou o fim de

uma época e redefiniu as condições concretas do fazer político, dando passagem a

uma nova dialética entre Estado e a sociedade” (NOGUEIRA, 2005, p. 23).

A ditadura e os governos militares chegam ao fim e, com eles a

alvorada dos novos tempos: re-configurar um país que há muitos anos não sabia

mais o que significava o direito de votar, o direito de expressar suas vontades e de ir

ao encontro do Estado e apresentar as suas necessidades.

Com o fim da ditadura e frente a essa nova realidade social, o principal

instrumento em favor da democracia necessitava ser alterado: o texto da

Constituição Brasileira. Se em 1967 os militares impõem o regime democrático

autoritário, para a nova configuração do Brasil, seria necessário que um outro

instrumento fosse escrito em favor da sociedade, contemplando a abertura do

diálogo não somente da sociedade para com o Estado, mas entre todos aqueles que

necessitam da atuação ou intervenção direta do Estado.

Assim, em 1988 é promulgada a nova Constituição do Estado brasileiro

e com ela um conjunto de profundas mudanças para o contexto da administração

pública: a democratização do Estado, a descentralização, a reforma do serviço

público (ABRUCIO, 2007).

Conceber um Estado democrático é dar à população o status de

controle social perante o conjunto de ações, planos, programas e políticas que são

emanados do Estado para a sociedade, favorecendo desta maneira que a sociedade

possa mediante os princípios da legalidade, da publicidade e da transparência ter

Page 41: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

amplo acesso às decisões dos atores políticos. Mas ainda assim constitui o

alicerçamento de que o controle do Estado não se dará por somente órgãos

internos, mas operado em conjunto a partir da reformulação das estratégias de ação

do Ministério Público, que passa a ser o órgão governamental que recebe as

intenções de controle da sociedade.

Se o conjunto de reformas recebe o nome de reformas democráticas,

cabe então questionar o autoritarismo e o centralismo das ações empreendidas

pelos governos militares e para tanto, apresentou-se no texto da Constituição

Federal de 1988 (CF-88) o princípio da descentralização, ou seja, a partir da

participação cidadã e de maior proximidade e autonomia das esferas supranacionais

com os problemas, necessidades e demandas da sociedade, credita-se ao Estado

um novo campo para a formulação e implementação de novos instrumentos legais

que corroborem em favor do desenvolvimento social, das melhorias nos serviços

públicos e de uma maior proximidade das esferas de poder para com a sociedade,

que antes era alijada das discussões político-administrativas do Estado.

E, para completar o conjunto de reformas, a CF-88 trouxe em seu texto

um mecanismo para a constante profissionalização da burocracia estatal: o princípio

da seleção meritocrática e universal, baseada nos concursos públicos. Tal medida

se fez necessária para combater o empreguismo clientelista exercido há muitos anos

por políticos interessados em criar redes de poder locais financiadas com o dinheiro

público.

Com a meritocracia nas diferentes instâncias do poder público,

paulatinamente será substituída a rede corrupta e nefasta de burocratas que

exerciam e alimentavam os sistemas políticos de patronagem, criando assim uma

melhor imagem do serviço público em geral e dando capacidade de que o Estado a

cada momento histórico possa se estabelecer com base em pessoas e

conhecimentos próprios.

Mas esse pensamento e a ordenação deste no texto constitucional de

1988 não foram suficientes para resolver o problema da estruturação e ação do

Estado uma vez que, como já exposto, o Estado não é estático em forma, intenção e

movimento, pelo contrário, a cada nova configuração da sociedade, a cada

transformação do cenário macroeconômico global, novos desafios são propostos

para o Estado e a apresentação de soluções e inovações governamentais.

Page 42: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Portanto, a reforma do Estado quando pensada a partir e pela

democratização deve contemplar diferentes estratégias além das apresentadas

acima, mas que possam contemplar um conjunto de medidas em prol do aumento

da eficiência do serviço prestado pelo Estado à sociedade, contemplar e atuar em

prol da redução de estruturas internas e agir diretamente para que exista um

programa de cortes salutares dos gastos públicos, além de contemplar o

pensamento da desestatização de serviços públicos que somente oneram o erário

público e que poderiam ser melhor prestados à sociedade pela iniciativa privada

(COSTA, 2010).

A agenda da reforma democrática do Estado representa por si só um

complexo sistema de ações e efeitos tanto nas estruturas internas do Estado quanto

os serviços prestados à sociedade, pois assim estar-se-ia de fato pensando e agindo

de forma a privilegiar um amplo processo de reforma, não só do Estado, mas

garantindo o caráter efetivo da democratização das ações pensadas em favor da

sociedade como um todo.

Desta maneira, pode-se argumentar que ao fim do período das

reformas democráticas do Estado frente ao regime dos governos militares resultou

em um extenso passivo abrangendo as dimensões política, financeira, administrativa

e social, que necessitarão de grandes esforços contínuos para que sejam vencidas

todas as barreiras e para que novos projetos, ações e políticas possam ser

formulados e implementados em prol da sociedade brasileira.

E o enfretamento das agendas neoliberais com as de posição social-

democratas ajustará toda a discussão do cenário político e eleitoral frente aos

cargos políticos do Estado. Além dessa questão, a globalização e o processo de

regionalização assumirão destaque nos discursos e preocupações do Estado

Nacional, pois:

(...) passará a conviver com uma complexa trama de problemas e pressões difícil de ser decodificada e assimilada. Tornou-se “pós-moderno” sem ter conseguido ser plenamente ‘moderno’. Ganhou uma agenda imensa, desafiadora, enigmática (NOGUEIRA, 2005, p. 25).

As reformas do Estado servem como um grande instrumento para a

compreensão da vida pública do Brasil, e serve como um importante mosaico da

composição e transformação dos espaços de poder, da formação política e em como

Page 43: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a sociedade brasileira assistiu a todas as mudanças ora como agente passivo, ora

como agentes atuantes em prol das mudanças reivindicadas.

Mas as reformas do Estado não devem ser vistas como experiências

de sucesso ou insucesso absoluto (COSTA, 2008), pois se assim fossem o

pensamento das reformas convergiria para uma discussão de agendas políticas e

não de pensamento democrático.

Neste processo intenso das reformas democráticas empreendidas pelo

Estado Nacional brasileiro, a descentralização é que ganha visões críticas e arestas

apresentadas pelas diversas agendas políticas, necessitando de uma investigação

mais profunda, pois a partir da descentralização é que o campo das políticas

públicas no Brasil ganha novos contornos e significados.

2.2 Descentralização e participação social como processos de condução de

políticas públicas no Brasil

Para compreensão dos processos de mudança que ocorrem na

sociedade brasileira de maneira geral é preciso que haja um entendimento a

respeito de um importante conceito: o da descentralização.

A história político-econômica do Estado Nacional sempre foi marcada

por transformações, também denominadas de reformas do Estado Brasileiro, as

quais conduziram a construção de uma nação a partir dos processos colonizadores

portugueses de meados do século XVI, cuja principal característica residia na

centralização do poder decisório na Coroa Portuguesa por meio de seus

mandatários (COSTA, 2008).

Do processo colonial à República, o Estado Brasileiro passou por

reformas administrativas que buscavam sanar as deficiências culturais inscritas

pelos processos centralizados e burocráticos, alcançando em alguns estágios

importantes avanços como no período de 1952 a 196210, quando houve a criação da

10

Costa (2008, p. 848) menciona que este período é caracterizado pela crescente divergência entre a administração direta, a qual era entregue ao clientelismo e submetida aos ditames de normas rígidas e controles versus a administração descentralizada por meio do novo aparato jurídico representado pelas autarquias, empresas, institutos e grupos ad hoc, os quais eram dotados de autonomia gerencial e que podiam realizar contratações sem a realização de concursos, caracterizando a contratação de especialistas. Essa maleabilidade da administração descentralizada faz com que surjam no Estado órgãos públicos com excelência administrativa, fazendo com que o núcleo central da administração permanecesse obsoleto e burocratizado.

Page 44: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Comissão de Simplificação Burocrática (COSB), visando estudos que promovessem

a descentralização dos serviços oferecidos pelo Governo Federal (COSTA, 2008).

Sendo assim, o processo de descentralização precisa ser

contextualizado não somente como uma nova forma de gerir o Estado, mas como

um novo processo de relação entre as bases que sustentam o Estado:

(...) um conjunto de fatores esgarça as bases de sustentação do Estado desenvolvimentista e do pacto federativo que o sustentou. Nas últimas décadas, ocorreu um efetivo processo de desconcentração produtiva, com a emergência de novas elites regionais modernas que, conectadas diretamente com o exterior, questionam o poder de regulação do Estado nacional e de sua expressão política, o governo federal (ARRETCHE, 1996, p. 11).

É preciso que se compreenda que essas novas elites regionais

juntamente com a incapacidade do Estado em responder ativamente às demandas

da população, no que se refere à prestação de serviços e atendimento das

necessidades sociais básicas, criam um propício quadro para que sejam repensadas

as forma de administrar a coisa pública e até mesmo em criar novos mecanismos

que visam o atendimento à população e aos anseios das novas classes regionais

(LOBO, 1990).

Existem ainda outras teses que sustentam que na década de 1970 o

paradigma “centralização e intervencionismo” a partir da tradição social-democrata,

que vinha sendo aplicada nos países ocidentais a partir de meados da década de

1950, possibilitaram a abertura de um novo campo de questionamento: a discussão

do grande aparato burocratizado das administrações públicas, ou seja, questionar e

repensar a forma como o planejamento centralizado da economia, assim como, o

processo de formação do espaço urbano nos países capitalistas estava sendo

operado e formado (SOUZA, 1997).

Esses questionamentos começam a ter força quando ganham espaço

nas agendas dos organismos internacionais como a Organização das Nações

Unidas (ONU), Banco Mundial e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)

ao defenderem a descentralização (TOBAR, 1991).

Esses organismos internacionais representam as principais linhas para

obtenção de financiamentos e buscam na adoção da descentralização, por parte de

países que buscam o saneamento fiscal, um avanço no setor social das sociedades

periféricas (COHN, 1994).

Page 45: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A descentralização é também defendida neste momento histórico pelos

setores progressistas das sociedades de países de políticas centralizadoras, em

especial aos países da América Latina, que visavam mediante as práticas

descentralizadas à criação dos novos espaços institucionais de participação, tendo

nestes espaços o poder deliberativo como estratégia política a qual poderia ampliar

as oportunidades de acesso da população às instâncias de poder (COHN, 1994).

No caso brasileiro, o tema descentralização tornou-se pauta das

discussões nos municípios no que tange à inovação na área de tecnologia e

serviços urbanos, mas destaca-se que os novos arranjos institucionais e as novas

práticas de participação são assuntos constantes nessas discussões, pois se

referem a uma “(...) revitalização substantiva da democracia no nível municipal, que

se contrapõe à inércia e impotência dos estados nacionais” (FREY, 2000b, p. 98).

No Brasil, as forças progressistas apóiam a aplicação da

descentralização ao perceber que é necessário que haja transformações sociais e

políticas no cotidiano das políticas, como também, incorporar ao aparato político-

estatal o processo de democratização da administração pública e, o principal

argumento utilizado era a implementação das diretrizes do orçamento participativo

(RIBEIRO; GUEDES, 2000).

As reclamações dos setores progressistas brasileiros possuem

validade frente ao quadro dos males detectados como fatores que impediam o

desenvolvimento maior e mais justo para a população brasileira, a saber:

(...) Em primeiro lugar, a hipertrofia e a ocorrência de conflitos distributivos dentro das próprias burocracias estatais e, associada a estes fatores, a generalizada ineficiência organizacional e técnica das administrações de desenvolvimento. Em segundo lugar, o desrespeito com relação às necessidades da população nos processos de planejamento e de decisão política, assim como um déficit de democracia e de participação política (FREY, 2000a, p. 100).

O cenário econômico brasileiro durante a década de 1980 se mostra

imerso em uma profunda crise: crescimento da taxa de endividamento nacional,

estrangulamento dos investimentos internos e orientação das políticas a partir do

tutelamento de organismos internacionais como o BID (Banco Interamericano de

Desenvolvimento) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), além dos desafios em

implementar um plano político que consolide a democracia a partir de reformas

sociais baseadas na universalização dos serviços públicos (SOUZA, 1997).

Page 46: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Além desse complexo e difuso quadro econômico e político, há de se

recordar ainda que na década de 1980 e também na década de 1990 as reformas

administrativas, de amplo debate político, institucional e administrativo, trouxeram

novos enfoques que visavam à atuação dos governos e da própria sociedade para a

condução do Brasil.

A reflexão sobre a reforma político-administrativa do Estado se debruça

na discussão de um novo processo que venha a convergir na união de forças entre

governo e sociedade, ou seja, incluindo outros atores políticos e sociais (esferas

subnacionais, membros do setor privado e da sociedade civil) na participação da

formulação e implementação de um novo plano político (SOUZA; CARVALHO,

1999).

A descentralização é então o tema central que decorre da reflexão

sobre a reforma do Estado, chegando a um consenso de que as propostas de

formas descentralizadas de prestações de serviços públicos poderiam ser

experiências mais democráticas, que de certa maneira serviriam para fortalecer e

mesmo consolidar a democracia, sendo assim desejável que a reforma do Estado

incorporasse essas novas experiências e apresentasse para a população, em geral,

a imagem de um Estado com preocupações e com ações voltadas a propagar a

equidade, justiça social, a redução do favoritismo e clientelismo entre Estado e

sociedade e, um aumento do controle social por parte da sociedade (ARRETECHE,

1996).

Neste âmbito de discussão, a descentralização ganha corpo e

orientações a partir do texto da CF-88 ao desenhar uma nova ordem institucional e

federativa para o Brasil: parte do texto constitucional legitima a democracia a partir

da inserção da participação popular e societal nos espaços político-institucionais e,

incorpora na agenda federativa o compromisso com a descentralização político-

institucional além da descentralização tributária para estados e municípios (SOUZA,

2001).

Desta maneira, a descentralização pode ser compreendida como um

procedimento que visa

(...) reverter rápida e traumaticamente os resultados do longo processo histórico de centralização através da transferência de recursos, atribuições e poder em geral, desde a cúpula do Estado até as bases do mesmo Estado, atingindo a própria sociedade (FELICISSIMO, 1994, p. 47-48).

Page 47: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A aplicação da descentralização no universo brasileiro visando a uma

superação do quadro de políticas centralizadas e distantes das demandas sociais

implica em duas possibilidades: como um processo de modernização arcaica ou

como um processo de modernização orientada para a melhora da qualidade de vida

e democratização política sustentado por Cohn (1994).

A modernização arcaica pode ser vista como um processo de

recentralização do poder na esfera federal e tendo como predominância no discurso

os critérios econômico-financeiros ao discutir e definir “quanto” e “como”

descentralizar sem que essa discussão seja permeada pelo estilo clientelista e

particularista da gestão pública (COHN, 1994).

Já a modernização orientada para a melhora da qualidade de vida e

democratização política refere-se a um processo de transferência de poder da esfera

federal para as esferas estaduais e municipais brasileiras, mas com orientação

específica: a de que os atos públicos sejam imbuídos de autonomia, não somente no

quesito gerencial, mas no que se refere à abertura da permeabilidade da população

local. A autonomia deve incorporar nas esferas estaduais e municipais novos atores

sociais e políticos que poderão contribuir para a melhora das políticas e da

prestação dos serviços públicos prestados. A permeabilidade política tende a

apresentar um caráter mais racional e eficiente na gestão da política e dos gastos

públicos, pois estarão norteados pela efetiva constituição do atendimento às

demandas da população (COHN, 1994).

A descentralização e sua aplicação no cotidiano do poder e das esferas

nacionais refere-se a um amplo e complexo quadro de aplicações conforme pode

ser visualizado pela discussão de Cohn (1994), mas deve-se ressaltar ainda que a

Constituição de 1988 cria em seu texto a autorização para que as esferas estaduais

possam implementar programas nas áreas de saúde, educação, assistência social,

habitação e saneamento, contudo o texto constitucional em momento algum inclui a

obrigatoriedade em implementar tais programas (LEITE, 2009).

Ora dessa forma, é nítido que a descentralização nos primeiros anos

da aplicação do texto constitucional representa uma morosidade na sua

aplicabilidade e na discussão das competências e responsabilidades dos entes

estaduais e municipais frente à esfera federal, mas não invalidando sua

Page 48: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

aplicabilidade e seu avanço para o desenvolvimento da democratização e maior

eficiência das políticas.

A descentralização é então um processo que surge como uma nova

opção de gestão do Estado e de como o mesmo lida com as demandas da

população, o orçamento e a forma dos gastos públicos.

Mas é preciso pontuar que existem diferentes posições a respeito do

conceito de descentralização, ou seja, a descentralização assume diferentes papeis

de acordo com os interesses do mercado, do Estado e da aplicação que se dará aos

recursos públicos.

A vertente dos gastos públicos, arrecadação e distribuição dos

recursos financeiros aos estados e municípios é sempre tema recorrente na

discussão da aplicação do conceito de descentralização11 ao aparato estatal,

buscando uma equidade seja na distribuição, seja na aplicação dos recursos

financeiros para as demandas sociais da população, mas os arranjos político-

institucionais em vigor no atual Estado podem vir a não contribuir para a

consolidação dessa nova postura descentralizadora no que tange à divisão e

distribuição de recursos financeiros.

É importante destacar também que o conceito de descentralização

assume vertentes conceituais diferentes em função das diferentes agendas políticas

dominantes no Brasil, a agenda estabelecida pelos Neoliberais e a dos Social-

democratas, com demonstrado no quadro 1.

Essa distinção de significados para o conceito de descentralização

marca as diferenças de pensamentos e agendas políticas institucionalizadas no

Brasil e, o significado incorpora a funcionalidade particularizada a partir das

características dos usuários, ou seja, os diferentes atores sociais utilizam o conceito

de descentralização de maneiras particulares, visando o alcance de seus objetivos e

a busca da satisfação de suas necessidades e demandas sociais.

11

Lobo (1990) aponta que a problemática da distribuição dos recursos financeiros para os estados e

municípios é a principal via temática para justificar a chamada “desordem” do Estado, ou seja, um

Estado centralizador com diferentes instâncias burocráticas e de poder sempre atrelado à União,

fazendo com que se crie uma imagem de solução desses problemas por meio da aplicação do

conceito de descentralização nas diferentes instâncias de poder do Estado (União, estados e

municípios).

Page 49: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Neoliberal Social-Democrata

Desregulamentação Privatização Descentralização/Desconcentração Fragmentação do Social Indivíduo/Mercado

Desconcentração político-administrativa Municipalização Sociedade solidária e organizada Autogestão, co-gestão, participação Novas formas de organização do político Coletivo/Estado

QUADRO 1 - Agenda Neoliberal x Agenda Social-Democrata. Fonte: SOUZA, 1997, p. 4.

Mas é importante salientar que o conceito de descentralização mesmo

a partir das diferentes agendas político-institucionais em vigor no Brasil, assume

elementos comuns, a saber:

a) Sua aplicação sugere pensar no fortalecimento da esfera "local"; b) O problema da descentralização é de caráter político, a implementação eficaz e eficiente do mesmo é de caráter administrativo; c) O processo em si não é possível de se atingir de forma isolada e só é viável dentro do marco de um processo geral de reforma; d) A conceitualização dicotômica centralização vs descentralização não têm poder explicativo sob os dados empíricos (TOBAR, 1991, p. 3).

O poder local, o caráter político, a efetividade, eficiência e reforma são

os principais elementos que norteiam o encaminhamento comum para o conceito de

descentralização a partir das agendas Neoliberal e Social-Democrata quando se

discute e se percebe a realidade brasileira.

Cria-se então um quadro difuso e repleto de meandros político-

institucionais que ora visam a defender o conceito e o processo de descentralização,

ora enxergam e propagam a descentralização como um mal que corrompe a

administração e a relação de isonomia do Estado. Portanto, é necessário que se

compreenda o que significam e o que implicam as diferentes maneiras de se

conceber e aplicar o conceito de descentralização das diferentes agendas político-

institucionais em vigor no Brasil.

A descentralização defendida pelos neoliberais é apoiada pela visão e

objetivos do Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Banco

Interamericano de Desenvolvimento, os quais visam um saneamento da utilização

dos recursos públicos para o aumento e da efetividade dos serviços públicos

prestados (FELICISSIMO, 1994).

A defesa neoliberal da descentralização apóia-se na redução das

funções do Estado no que se refere ao setor social, ou seja, visa garantir a

Page 50: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

satisfação elementar das demandas da população e garantir a defesa dos direitos

humanos; ao mesmo passo em que compreende que há a necessidade da

diminuição reguladora do Estado ao permitir que as forças do mercado tenham

autonomia para o desenvolvimento e crescimento (FELICISSIMO, 1994).

Na dimensão econômica, os neoliberais apontam que a

descentralização mediante a redução do papel do Estado em regular, no

enxugamento da estrutura burocrática permitirá que maiores volumes financeiros

possam ser repassados aos estados e municípios a fim de que a eficiência dos

serviços públicos possam ser alcançados (JUNQUEIRA et al, 1997).

Essa visão neoliberal representa que a aplicação da descentralização

deve passar pelo âmbito político ao permitir que o mercado, ou melhor, o setor

privado possa se apropriar das obrigações ditas estatais oferecendo à população

melhores serviços públicos (FELICISSIMO, 1994).

Todo este quadro de ações – desregulamentação, privatização,

desconcentração e fragmentação do social, caracterizam a intenção dos neoliberais

em fazer com que o Estado Nacional se transforme no Estado Mínimo ao deslocar a

força das mudanças para o interesse do mercado fazendo com que o Estado, a

partir dessa nova reorientação, tenha como papel as funções residuais e gerindo

apenas políticas compensatórias (JUNQUEIRA et al, 1997).

Já o modelo proposto pela agenda social-democrata visa estabelecer

um processo democratizante nos eixos administrativos, econômicos e políticos do

aparelhamento estatal, tendo como princípios políticos:

rejeitar o clientelismo, principalmente no setor popular, resistindo ao imperativo da necessidade imediata e à mercantilização da política; promover o efetivo exercício da soberania popular; promover os direitos humanos, privilegiando o direito à vida e à autodeterminação; exercer o controle do Estado, combinando as instituições da democracia representativa com formas mais diretas de participação e gestão; apoiar o estabelecimento da pluralidade dos canais de representação social que superem o reinvindicacionismo (FELICISSIMO, 1994, p. 51).

Já no que se refere aos eixos administrativo e econômico, a

descentralização como modelo democratizante busca apoiar-se na descentralização

territorial do Estado, que significa a multiplicação de cenários de gestão local

favorecendo o atendimento e a inovação nos serviços públicos prestados à

população (FELICISSIMO, 1994).

Page 51: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Ao deslocar o poder de decisão da distribuição de recursos públicos

para mais próximo da população, mediante os novos espaços de participação social,

aponta-se uma redefinição da relação Estado e Sociedade, garantindo agilidade e

eficiência aos serviços públicos prestados ou a virem a ser prestados de acordo com

a necessidade de cada gestão local (JUNQUEIRA et al, 1997).

Enfim, o modelo de descentralização democratizante visa promover a

democracia efetiva a partir dos diferentes níveis e instâncias sociais e estatais

acessíveis e, orientada para a hegemonia da população na administração

democrática e propondo alternativas para superar crises, e descobrindo formas

alternativas para a organização da convivência social (FELICISSIMO, 1994).

Desta forma, a descentralização democratizante constitui-se de um

movimento que parte de baixo para cima, ou seja, parte das demandas da

população local apoiadas e convergidas em espaços de participação que serão

transformadas em políticas públicas e na inovação dos serviços públicos prestados,

ao mesmo passo que essa dinâmica “de baixo para cima” representa uma alteração

profunda nos núcleos de poder já constituídos, seja no campo estatal, seja no

campo da sociedade (RIBEIRO; GUEDES, 2000).

As diferentes agendas políticas para a aplicação da descentralização

conduzem a dificuldades no processo de sua efetivação, ou mesmo apresenta

arenas para debates acalorados entre as posições, de um lado e de outro, mas que

de certa forma representam o núcleo discursivo para que a descentralização não

caia no ostracismo ou mesmo que se torne apenas um elemento inovador no texto

da CF-88.

Se por um lado, as agendas políticas apresentam esse universo de

discussões e visões, estudiosos e pesquisadores apontam outras vertentes

discursivas para a compreensão do que representa a descentralização e o ato de

descentralizar, visões essas que serão apresentadas a seguir.

Uma primeira posição a respeito do conceito de descentralização é a

transferência do poder central do Estado para “(...) outras instâncias de poder,

constituindo um processo para um reordenamento do aparato estatal” (JUNQUEIRA,

1997b, p. 5).

Essa transferência de poder, uma nova delegação do poder de decisão

a esferas administrativas diferentes irá determinar a redistribuição como resposta

direta às antigas formas de poder centralizado, mas é preciso ressaltar que a

Page 52: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

transferência de poder, ou seja, a descentralização é, sobretudo neste momento

conceitual, uma decisão político-administrativa, por envolver diferentes atores

sociais: aqueles que irão transferir suas responsabilidades, como aqueles atores

sociais que irão receber as novas atribuições (JUNQUEIRA, 1997a).

É preciso destacar, neste momento, que não se está discutindo a

capacitação dos atores sociais que irão neste momento da descentralização receber

a transferência de poder e nem mesmo discutir a atuação destes atores com o poder

recebido, mas sim o desenho que a descentralização pode assumir.

Com a transferência de poder da esfera central para esferas

secundárias e terciárias, busca-se a redução do aparato estatal e da burocracia

existente, mas também mostra-se como um novo processo a ser vencido pela

própria fisiologia do poder centralizador:

(...)Tal perspectiva exige uma reestruturação profunda do processo decisório e tem como premissa a redistribuição do poder, o que encontra obstáculos na própria trajetória centralista brasileira, onde diferentes regimes autoritários utilizaram largamente as políticas sociais como objeto de troca política e estratégia de cooptação de grupos sociais (SOUZA et al., 2007, p. 68).

Se em períodos históricos anteriores o Estado nacional figurava como

estrutura ineficiente, poderão também os estados e os municípios assumirem esse

novo papel, os de agentes públicos ineficientes no atendimento às demandas, ao

criarem novas estruturas de interesse, clientelismos e partidarismos, carecendo

assim do controle da população frente às ações políticas dos municípios e estados.

Outra crítica a respeito da transferência de poder é quando há o

envolvimento do setor privado: o Estado no interesse de diminuir a sua estrutura

burocrática e de assumir o papel de agente público eficiente faz com que o mercado

passe a ser o centro regulatório das ações (JUNQUEIRA, 1997b).

A partir dessa visão o Estado deveria reduzir-se a funções mínimas12 e,

gerando um sistema de políticas sociais cada vez menores, ou por não dizer excluir

o aparato estatal de toda e qualquer forma de políticas sociais. A prerrogativa para

12

A redução do Estado ao Estado Mínimo é uma visão alicerçada no pensamento dos neoliberais: “para os neoliberais, portanto, descentralização significa redução do papel do Estado para chegar ao Estado Mínimo, deslocando a força motriz da mudança para o mercado, e de redução da organização que permanecerá cumprindo as funções residuais e gerindo as políticas compensatórias” (JUNQUEIRA, 1997b, p. 7).

Page 53: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

essa nova postura está no discurso do déficit público e no desestímulo ao trabalho

que o Estado advoga ao manter uma política social (JUNQUEIRA, 1997b).

Tal posicionamento é rebatido ao perceber que a descentralização ao

assumir o papel de instrumento democrático, poder ser vista como:

(...) instrumento adequado para o uso e a redistribuição mais eficiente dos orçamentos públicos, ao mesmo que tempo que os objetivos da descentralização são identificados com a democratização do Estado e com a promoção de maior justiça social, através de políticas sociais mais eficientes (SOUZA et al., 2007, p. 70-71).

A gestão eficiente e eficaz se dará pelo uso correto do onde, para que,

para quem e com que serão utilizados os recursos descentralizados para a

sociedade que os demanda, assim a reforma do Estado: “(...) tem, portanto, o

propósito de democratizar o Estado, mudando a natureza de suas relações com a

sociedade, no sentido de assegurar a vigência da ordem igualitária” (COSTA, 2010,

p. 244).

Assim, ao conceber a descentralização como transferência de poder,

competências e atribuições da esfera federal a esferas estaduais, municipais,

instâncias subnacionais, reconhece-se o lócus necessário para que o controle

democrático efetuado pelos cidadãos possa ser concretizado (SOUZA et al., 2007).

A transferência de poder como significado para a descentralização

também pode assumir a ambiguidade do termo desconcentração, isto porque nos

discursos oficiais e mesmo em textos governamentais os termos descentralização e

desconcentração são utilizados como palavras de mesmo sentido.

Mas o significado de desconcentração é bem diferente da

descentralização, ou seja, desconcentração refere-se a uma mudança na dispersão

físico-territorial de agências governamentais que até então estavam localizadas em

áreas centrais ou estratégicas (LOBO, 1990).

Desconcentração também pode ser compreendida a partir de um

conjunto de ações e procedimentos que visem à racionalização, modernização e

reprodução ampliada do sistema político-administrativo a ser modificado pela

descentralização (TOBAR, 1991).

Essa argumentação faz crer que quando governos querem criar a

imagem de ações e programas de descentralização, nada mais fazendo do que

desconcentrar ações, agências ou prestações de serviços públicos, criando a

Page 54: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

imagem de que está implementando uma reforma, mas na verdade está apenas

criando uma ilusão da aplicação da descentralização.

Frente ao processo de desconcentração o Estado nacional opta por dar

continuidade aos processos de descentralização, implicando no fortalecimento

institucional e administrativo dos níveis municipal e estadual, mas priorizando a

centralidade dos recursos financeiros obtidos por meio dos tributos públicos no

núcleo central da administração federal.

Mesmo sendo a desconcentração um dos processos de aplicação da

descentralização, é preciso compreender que a descentralização é um

processo/instrumento de ação governamental, ou seja, a descentralização pode ser

utilizada de maneira isolada, sem que outros aspectos do aparato estatal sejam

modificados, como por exemplo, reformas fiscais, administrativas econômicas ou

mesmo financeiras não criando assim uma supervalorização do conceito e de sua

aplicabilidade como instrumento de salvação, ou de criação para o aumento da

democracia, participação e controle social (LOBO, 1990).

O combate das desigualdades promovidas por processos políticos

centralizados e nem sempre eficazes encontra no conceito de descentralização a

medida correta para a eficiência das ações, pois segundo Junqueira (1997) a

descentralização é compreendida como uma estratégia que visa a reestruturação do

aparato estatal, não tendo como objetivo a redução daquilo que é prestado ao povo,

mas significa agilidade e eficiência ao deslocar para as esferas municipais e

estaduais a competência e o poder de delegar e executar as políticas públicas.

O deslocamento para as esferas municipais e estaduais, com o objetivo

de compreender a descentralização como uma estratégia para a municipalização de

responsabilidades na prestação de serviços públicos envolve a co-responsabilidade

à medida que é feita uma articulação das forças políticas do município, como

também com organizações da sociedade civil para a qualidade, efetividade e

eficiência do serviço a ser prestado (LOBO, 1990).

Já a estadualização como estratégia de descentralização é defendida a

partir de esferas estaduais que sejam fortes e eficientes quanto à prestação dos

serviços já em vigor nas suas esferas, havendo assim uma coerência na designação

do novo serviço a ser prestado pela esfera estadual, fortalecendo o princípio do

gradualismo da descentralização (TOBAR, 1991).

Page 55: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

O gradualismo, ou seja, a progressividade da aplicação do conceito de

descentralização na agenda das reformas do Estado se faz necessário, pois:

(...) é importante que as transformações na direção de novos arranjos político-institucionais se dêem progressivamente, a partir de capacidades reconhecidas e aceitas. Não se acredita em descentralização que venha por decreto (LOBO, 1990, p. 9).

A municipalização e a estadualização como forma de descentralização,

e mesmo como estratégia do princípio do gradualismo, deve incorporar na

aplicabilidade a adequação de diferentes realidades definidas no tempo e no

espaço, permitindo a consolidação das transferências de poder, da nova prestação

de serviço ou mesmo da nova em como se portar com a política de descentralização

de forma gradual e continuada, mas, sobretudo que sejam pactuadas como

resultados para mudanças positivas para a população (SCATENA, TANAKA, 2001).

O deslocamento da instância do poder federal para os poderes

municipal e estadual faz com que as demandas da população que antes não eram

atendidas por falta de conhecimento das carências regionais, passam a serem vistas

e atendidas com maior agilidade, mas ao mesmo tempo deve-se observar a

fragilidade do atendimento a essas carências.

Outro princípio destacado por Lobo (1990) em prol da

descentralização, enquanto uma instrumentalização de municipalização e

estadualização, é a flexibilidade: as ações descentralizadas implicam em considerar

as diferenças econômico-financeiras, políticas, técnicas-administrativas e sociais de

cada realidade, seja dos municípios, seja dos estados, fazendo com que cada qual

apresente respostas diferentes às demandas sociais da população.

Assim é preciso conceber que a descentralização a partir da vertente

municipalização e estadualização é um processo contínuo de tempo e de espaço e

que deve ser destacado:

Nega-se, portanto, a idéia da descentralização enquanto projeto de governo com delimitação precisa de espaço e tempo. Em alguns setores e regiões, o processo poderá se dar de forma mais rápida e abrangente; em outros, de forma mais lenta e limitada; em alguns, não se dará de forma alguma, mantendo-se a centralização como mais eficaz. Mais do que um projeto de governo, a descentralização deve ser vista como uma política de Estado (LOBO, 1990, p. 9).

Page 56: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Desta forma, a descentralização não pode ser vista ou compreendida

como uma via de mão única de sentido de cima para baixo a ser implementada por

todos os entes subnacionais como estratégia de superação dos problemas político-

administrativos do Estado. Mas sim como uma estratégia política que possa fazer

com que a União, estados e municípios a partir da descentralização, venham a

prestar os serviços públicos com maior efetividade e eficiência à população, em

geral, visando à diminuição dos contrastes sociais e, melhorando a imagem da coisa

pública como eficiente e não mais como morosa e burocrática.

Para tanto, é preciso que a descentralização possa promover o

aprimoramento das relações a serem estabelecidas a partir dos novos pactos e

acordos entre os entes intergovernamentais; criar condições para a capacitação dos

governos subnacionais para atuarem como agentes de intervenção nas realidades

locais; e ainda promover por parte da população organizada a ação de controle

social das ações empreendidas pelo poder público local (LOBO, 1990).

Há de se ressaltar que cabe à população assumir o papel de controle

das ações públicas a partir dos processos de descentralização das políticas

públicas. Percebe-se que o deslocamento do poder decisório é um movimento que

visa democratizar a gestão através da participação da população local

(JUNQUEIRA, 1997).

O controle social é defendido por Lobo (1990), Tobar (1991) e Arretche

(1996) ao postularem que, mediante a prática de controle exercido pela população

local, as novas políticas e serviços públicos descentralizados poderiam alcançar a

sua efetividade e eficiência, uma vez que estariam em constante vigilância por parte

dos usuários finais.

Vale ressaltar que o controle social é também uma importante

ferramenta exercida pela população para exigir dos governos ações que

estabeleçam novos e melhores serviços públicos, mediante a determinação de

estratégias e ações de descentralização que visem alcançar a transparência no

processo decisório, criando um elo entre a descentralização e a democratização do

Estado e:

Portanto, reformas do Estado nessa direção (descentralização) seriam desejáveis, dado que viabilizariam a concretização de ideais progressistas, tais como eqüidade, justiça social, redução do clientelismo e aumento do controle social sobre o Estado (ARRETCHE, 1996, p. 1).

Page 57: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Desta maneira, o controle social é entendido como prerrogativa para o

pleno exercício da democracia no Brasil, uma vez que, mediante a organização da

sociedade para participar ativamente de ações do poder público, buscando

responsabilizá-lo quando do não cumprimento adequado do atendimento às

necessidades da população (LOBO, 1990).

Mas a partir dessa vertente conceitual da descentralização se torna

nítido que a população passa a integrar o processo das ações do poder público, mas

que necessita se organizar e reivindicar seu espaço de participação.

A participação de diferentes atores sociais, isto é, de entidades

públicas e privadas, deve gerenciar e acompanhar a execução das políticas

públicas, tornando viável a descentralização da gestão pública definida no texto

constitucional de 1988 (ROCHA; SANTOS, 2010).

Contudo, para que este processo possa ocorrer é necessária a

transformação político-administrativa do Estado, permitindo a participação como

processo de encaminhamento para a solução dos problemas sociais, pois cria

facilitadores de acesso para a população às esferas de poder e por consequência

direta o atendimento das demandas sociais geradas (JUNQUEIRA, 1997).

A descentralização mediante o auxílio da participação da população

tende a romper com antigos padrões autoritários do Estado com a construção de

mecanismos político-institucionais de articulação, o estabelecimento de canais de

comunicação, as pressões e o controle social exercido passam a serem aceitos,

constituindo assim elementos de constante avaliação das ações do Estado (LOBO,

1990).

A participação social no processo de implementação e condução da

descentralização serve segundo Nogueira (2005), para vocalizar a democracia, ou

seja, a partir da participação social o poder público passa a compreender melhor as

demandas, as diferenças e as aspirações da população local, mediante um

processamento político que consiga o alcance de uma síntese dessas reivindicações

e comportamentos, pois caso contrário, estaria a população advogando em causa

própria e não contribuindo para o exercício da cidadania e mesmo da democracia.

Toda esta discussão possibilita compreender a descentralização como

uma nova maneira de condução político-administrativa do Estado, aumentando as

possibilidades da efetividade e eficiência no atendimento e na prestação dos

Page 58: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

serviços públicos; representa um novo desenho de relacionamento entre entes

intergovernamentais que necessitam estabelecer uma comunicação e troca de

informações que possibilitem a dinamização dos serviços públicos. Um novo

desenho de relacionamento entre a União, os estados e os municípios que ganham

novos papeis e novas obrigações ao dispensarem a atenção e o atendimento direto

à população local, além de serem protagonistas do desenvolvimento das regiões,

das cidades e mesmo de pequenas comunidades. Por fim, a descentralização

representa a inclusão da sociedade como mediadora e avaliadora das estratégias e

ações da descentralização a partir da atuação do controle social e da participação

social.

Mas é preciso salientar que o conceito e a atuação da descentralização

não somente cria um ambiente favorável, deve-se observar que o conceito tem seus

limites e seu lado obscuro, principalmente por se tratar ainda de uma prática em

exercício e relativamente nova na história político-administrativa do Brasil.

Sendo a cultura política do Brasil impactada ainda pelos traços da

cultura centralista e clientelista, a descentralização pode criar o efeito do

neolocalismo, ou também denominado neomunicipalização, tendo ações predatórias

sobre a cidadania social, pois representa a:

(...) disputa entre localidades por investimentos industriais – deslegitimando as prioridades sociais em lugar de benefícios fiscais e isenções tributárias –, nas estratégias de exclusão e apartheid social, em que mendigos são expulsos ou impedidos de entrarem em municípios afluentes, etc (MELO, 1996, p. 15).

Ou seja, com a descentralização e as novas políticas de condução dos

territórios os municípios e os estados podem iniciar disputas por interesses

particulares visando o aumento da arrecadação de impostos, mas ao mesmo tempo

podem contribuir para o aumento da exclusão social e da desorganização

institucional, ou seja, a União pode vir a ter de aumentar o repasse de verbas de

ajuda a programas e projetos sociais a áreas pouco desenvolvidas e diminuir o

repasse a áreas ditas desenvolvidas.

O neolocalismo/neomunicipalismo é revestido também do antigo

autoritarismo, com a redistribuição de poder entre os entes da federação, as forças

regionais retornam ao cenário político visando impor suas vontades e aspirações,

muitas vezes pressionando para que as mudanças político-institucionais e os

Page 59: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

benefícios sejam efetivados prioritariamente em regiões específicas de seus

interesses (LOBO, 1990).

Outro problema encontrado ao discutir a implantação da

descentralização reside na diversidade política, econômica e social do Brasil. Essa

diversidade acaba por prejudicar o próprio objetivo da descentralização e de suas

reformas e faz com que a descentralização financeira em favor das esferas

subnacionais esvazie o cofre público, reduzindo as chances de ajuda federal a favor

das esferas estaduais e locais no que tange ao objetivo de minimizar as

desigualdades das diversidades presentes no Brasil (SOUZA; CARVALHO, 1999).

Outro problema a ser considerado na descentralização é o histórico

comportamento cultural da política brasileira: a constante visão de curto prazo. Para

que se estabeleça um processo de descentralização, como afirmado em momento

anterior, é preciso que se estabeleça um continnum no tempo e no espaço das

políticas e da atuação do poder público. Contudo, o que se observa na atuação do

poder público é exatamente a visão imediatista, que quer obter resultados a curtos

prazos e, quando não são obtidos, seja por falta de conhecimento e informações da

realidade, seja por despreparo da estrutura burocrática do Estado ou por ineficiência

e falta de conhecimento dos servidores públicos, abandonam-se as idéias, políticas,

programas e ações em curso para implementar outras (LOBO, 1990).

Ora, todo esse movimento de quebra da continuidade de um processo

de reforma de ações e político-institucional, como no caso da descentralização,

exige que seja repensada as formas e estruturas político-administrativas

empreendidas a partir do conceito de descentralização, uma vez que, os curtos

ciclos políticos têm favorecido em especial às autoridades com interesses

específicos e que nada tem a acrescentar a uma nova história da política pública

brasileira.

Percebe-se que a reforma do Estado mediante a descentralização da

execução das políticas públicas exige uma estreita relação entre participação e

garantias e, por não dizer entre democracia e cidadania, fazendo com que haja de

fato o acesso aos direitos prescritos na CF-8813 (COSTA, 2010).

13

A CF-88 significou um importante passo para a reforma do Estado brasileiro, pois introduziu novos princípios para a organização do Estado, requalificou os direitos que sustentam a cidadania, redefiniu a origem e a aplicação dos recursos econômicos para o bom emprego na sociedade, fixou os limites da intervenção do Estado, reorganizou alguns dos serviços públicos prestados pelo Estado e, inseriu novos instrumentos de política pública, principalmente na área social (COSTA, 2010, p. 251).

Page 60: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

2.3 Políticas e políticas públicas na condução da vida social do Brasil

2.3.1 Características e padrões das políticas para o Brasil

A reforma do Estado e, porque não dizer da maneira como são

executadas as ações, programas e projetos é que caracteriza o conceito de política,

pois é por meio da constante reforma do Estado e da agenda permanente de

discussão de normas e dos valores que os cidadãos podem promover a mudança

visando o progresso (BRESSER-PEREIRA, 2010b).

Mas política não representa somente o ato da reforma, consiste na

prática de administrar o Estado, as autarquias, empresas públicas e outros

aparelhos estatais que necessitam da ordem política que vise os objetivos sociais

acordados entre sociedade e membros representantes eleitos (BRESSER-

PEREIRA, 2010a).

Tal pensamento segue embasado nos dizeres de Meirelles (2009, p.

45):

A política, como forma de atuação do homem público, não tem rigidez científica, nem orientação artística. Rege-se – ou deve reger-se – por princípios éticos e comuns e pelas solicitações do bem coletivo. (...) os rumos que conduzam a atividade governamental ao encontro das aspirações médias da comunidade.

O conceito de política também envolve o ato e, porqu não dizer, a arte

de argumentar e fazer compromissos visando obter maioria para assim alcançar o

poder e, se manter no poder, criando bases para o ato de governar. Mas, o termo

política também é conceituado à luz do ato de tomar decisões racionais, as quais

não são embasadas na ética da convicção, mas sim com base na ética da

responsabilidade (BRESSER-PEREIRA, 2010a).

O significado da política assume outras vertentes quando o conceito é

elucidado a partir dos pensamentos de Arendt (2009), a vertente da pluralidade dos

homens e da convivência entre os diferentes. Os homens são em essência frutos da

vontade divina, dotados de almas, de vontades e aspirações mundanas, para tanto

buscam na convivência com os outros homens estabelecerem contatos e nestes

contatos realizarem cada qual a sua vontade, e nesta pluralidade de atos humanos a

Page 61: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

política não atinge a profundidade dos atos, pois “(...) a falta de profundidade de

pensamento não revela outra coisa senão a própria ausência de profundidade, na

qual a política está ancorada” (ARENDT, 2009, p. 21).

Ou seja, as relações humanas são dotadas de uma profundidade de

interesses e subterfúgios inerentes ao próprio comportamento humano, mas a

política e a sua superficialidade se torna aparente quando comparada ao complexo

comportamento humano; na política as vontades e as necessidades entre aqueles

que buscam satisfazê-las e entre aqueles que podem satisfazê-las são

estabelecidas na superficialidade das discussões e das vontades, não há o

questionamento e a reflexão profunda do como e do por que satisfazer as vontades

daqueles que a buscam.

Se a política é baseada na pluralidade dos homens e tem na

superficialidade a sua marca aparente, é imperativo que se compreenda que a

política também trata da convivência entre os diferentes, expressa na convivência

humana e na forma de organização social: podendo ser os grupos de convivência, a

família ou em outros aspectos sociais em comum, expressando nestes espaços

suas vontades e necessidades e utilizando a política como artifício de mediação

novamente entre aqueles que buscam a satisfação de suas necessidades e entre

aqueles que podem satisfazê-las.

Essa percepção de Arendt (2009) a respeito da política versa sobre o

campo filosófico e conceitual e, porque não dizer numa discussão do sentido

clássico do que é a política, para tanto, faz-se necessário compreender que o

conceito de política, e mesmo a palavra política, tem sua origem na Grécia Clássica

sendo associada ao conceito de pólis, ou seja, cidade, que indicava o espaço em

que todas as atividades humanas se relacionavam, seja o relacionamento social,

público e/ou cidadão (PEREIRA, 2008).

Assim, a pólis grega ou a política como espaço de relacionamento é

permeado das sutilezas humanas: das vontades, das vaidades, da corrupção, dos

medos, dos anseios, da força, como também é marcada pelos diferentes pontos de

vista entre aqueles que se relacionam e estabelecem a prática política como os

valores, crenças, opiniões e ideologias fazendo com que o campo da política seja

cultivado a partir dos conflitos ou das divergências.

Mas há de se compreender que os conflitos e as divergências não são

em si carregados dos aspectos negativos ou, em outras palavras, não são maus em

Page 62: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

essência. Na verdade a força que move a história da humanidade e o próprio

desenvolvimento dos atos políticos é praticado quando há o consenso entre as

partes, entre os homens, que assumem na política a arena dos debates e da

mediação entre seus interesses e aspirações, colaborando para que, mediante a

política, haja a regulação civilizada em substituição a outras práticas arbitrárias do

uso do poder em fazer valer os interesses daqueles que os reivindicam (PEREIRA,

2008).

Contudo, o conceito de política não pode ser visto somente a partir da

sua vertente da benignidade, pois a política é inseparável do político, afirma

Nogueira (2005, p. 63): “a política e o ser político formam um amalgama que possui

como partes da mistura o antagonismo da democracia e do poder”.

Este amalgama é referendado ao se perceber que o conceito de

política e a sua prática são vistos e concebidos a partir de preconceitos humanos. A

sociedade, desde a sua antiguidade, percebe que a política é formada em seu

interior por um complexo sistema de teias feitas pela “(...) velhacaria de interesses

mesquinhos e de ideologia mais mesquinha ainda” (ARENDT, 2009, p. 27). E a

exterioridade da política oscila entre a propaganda vazia e a dinamização das forças

opressoras, a partir da violência contra aqueles que lutam contra a tirania daqueles

que exercem a política (ARENDT, 2009).

A partir desse pensamento, a política não é somente um espaço e um

conjunto de atos voltados para a deliberação consensual racional, mas representa a

arena de lutas e paixões, interesses e vontades daqueles que são representados

(sociedade) e dos representantes (políticos) (NOGUEIRA, 2005).

É mister destacar que as relações políticas apresentam seu caráter

dialético, de um lado o Estado como agente da aplicação dos recursos financeiros e

mesmo políticos voltados para a satisfação das vontades e das necessidades

sociais e, de outro lado a sociedade que reivindica, luta e aspira para que suas

vontades e necessidades sejam atendidas e sanadas pelo Estado, mas cabe à

sociedade o papel de eleger os representantes para a composição do corpo político

estatal (BRESSER-PEREIRA, 2010b).

Dessa luta de interesses pode-se perceber que alguns atos podem ser

desastrosos, pois serão deliberações, atos políticos, programas ou ações que visem

atender aos interesses de alguns, contrariando o status da ética e moral

apresentado por Meirelles (2005) e, mesmo indo contra os interesses do que é

Page 63: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

coletivo, do que deve atender a todos, princípios estes presentes no art. 3º da CF-

8814.

A eleição é, em si, um ato da liberdade humana em escolher seus

representantes para que, quando haja a fusão entre homem eleito e corpo estatal

ambos se tornem coisa única, movida pelos interesses da coletividade, agindo em

prol da sociedade e promovendo a política como instrumento da liberdade da

humanidade.

A liberdade, como ação final da política, é a força que promove a

igualdade e a justiça entre os homens que formam a sociedade, e que para eles é

orientada a composição do Estado e sua estrutura.

Mas a liberdade como coisa política não significa a livre constituição

dos seres humanos, não expressa o significado que todos devem e podem agir a

partir de suas vontades, de suas paixões, da sua natureza humana, mas

compreende “(...) negativamente como o não-ser-dominado e não-dominar, e

positivamente como um espaço que só pode ser produzido por muitos, onde cada

qual se move entre iguais” (ARENDT, 2009, p. 48).

A dominação e a não dominação vista como parte negativa é citada

para que não se compreenda a coisa política somente como uma diretriz para a livre

vontade e a livre liberdade dos espaços nos espaços públicos e geográficos, pois se

assim fosse, poderia haver Estados totalitários agindo em prol da coação dos

homens e fazendo com que estes criassem uma mentalidade falseada da realidade

e até mesmo da ação da política e, porque não dizer, do próprio Estado.

Desse pensamento poderiam surgir vários questionamentos como: não

ser dominado e fazer valer meus interesses a todos? É estabelecer a política entre

os iguais? Poderia haver mediação e diálogo entre os homens quando estes não

podem dominar?

Ora, muitas respostas poderiam vir a partir desses questionamentos e,

talvez alguns estariam circunscritos ao pacto da convivência humana, mas outras

respostas poderiam vir do estabelecimento econômico entre os homens. O não ser

dominado ou não dominar o outro poderia estar ligado à liberdade do ser, do se

14

Percebe-se que na redação do artigo 3o da CF-88 há o estabelecimento dos objetivos gerais para o

Brasil e sua composição: Art. 3o. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil: I – construir uma sociedade livre, Justa e solidária; II – erradicar o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).

Page 64: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

estabelecer como homem isolado dos outros e neste isolamento poder criar a utopia

da sobrevivência isolada, sozinha. Mas se o homem é por natureza um ser social e,

compreendendo toda a história da sociedade e do estabelecimento econômico entre

as diferentes sociedades, pode o homem construir um espaço social de não

dominação econômica?

Esse questionamento é apenas propositivo para que se pense a

respeito do que é liberdade e, como a liberdade pode assumir diferentes vertentes

conceituais, não cabendo neste estudo uma discussão filosófica e sociológica do

que é liberdade e de como o homem constrói, destrói ou reconstrói a liberdade, mas

é objetivo deste trabalho perceber que a liberdade do homem o faz questionador

daquilo que é a liberdade como espaço da prática política, como ato da construção

de um Estado e, mesmo para que se estabeleça o diálogo entre as diferenças

ideológicas humanas, ideologias essa que compõem o pluralismo que é o Estado e

a composição do que é a política.

E, resgatando a citação positivamente apresentada por Arendt (2009)

de que a liberdade política é a construção de espaços produzidos pelos diversos e

diferentes homens e, que nestes espaços cada qual se move entre seus iguais. Esta

concepção é deveras importante para que se veja que a sociedade e, mesmo o

Estado, é a construção de espaços coletivos da humanidade a partir de suas

diferenças etárias, sexuais, de pensamento, de origem em que cada qual pode se

expressar, se conhecer e se relacionar com o outro, criando sempre novas formas

de relacionamento baseados na liberdade das interações.

Ao mesmo tempo que a partir das diferenças socioculturais da

humanidade, que compõe esse quadro, a liberdade do movimento entre os homens

é vista pela igualdade, pois caso contrário não haveria a liberdade para a construção

da sociedade e das práticas sociais.

Porém, deve-se salientar que essa igualdade de relacionamentos a

partir da liberdade estabelecida pela política não expressa o conceito grego de

Isonomie, ou seja, isonomia, a igualdade de tratamento entre todos aqueles que

compõem a sociedade, pois:

(...) isonomia não significa que todos são iguais perante a lei nem que a lei seja igual para todos, mas sim que todos têm o mesmo direito à atividade política; e essa atividade na polis era de preferência uma atividade de conversa mútua (ARENDT, 2009, p. 49).

Page 65: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Por isso a isonomia é vista como parte do princípio da liberdade, mas

não significa a totalidade da liberdade. Para que uma sociedade (polis) possa ser

constituída a partir dos princípios de liberdade política, é preciso que todos que nela

interajam possam praticar a isonomia e receberem o mesmo tratamento do Estado,

não havendo prevaricação perante uns poucos escolhidos, isso seria a prática ou

princípio de que alguns seriam os “eleitos”, os melhores entre aqueles homens que

compõem a sociedade e, restaria o questionamento: como estes atingiram tal

status?

Essa prevaricação de atos e ações públicas cercearia o princípio da

isonomia e colocaria em cheque o conceito de liberdade como pilar para a política

em uma sociedade que busque em seus atos a constante aplicação da justiça a

todos.

A liberdade e a isonomia enquanto conceitos ligados à política

justificam as implicações que o ato da realização da política têm no cotidiano dos

homens, pois toda ação política tem o caráter de alterar a situação social sobre a

qual incide (COSTA, 2004).

É certo que a política não é um caminho linear, pois em seu centro há o

caráter dialético entre a sociedade civil e o Estado, o qual é preenchido de

discussões, lutas, acertos e erros. Mas para que a política possa ser autônoma

nesse processo de interesses é preciso que haja uma sociedade civil e uma nação

democrática.

Quando a sociedade civil é dotada dos princípios e das ações

democráticas, maiores serão as chances de se ter um Estado também democrático,

possibilitando que a política seja deliberada por e pelos princípios democráticos,

diminuindo as diferenças de educação, de renda e de poder entre os membros.

Para se alcançar esse estágio é importante que o conceito de

autonomia relativa da política seja instituído em um país de princípio democrático. A

autonomia não deve ser lida como alijamento da sociedade civil das instâncias de

poder; não pode ser compreendida como liberdade plena dos oficiais públicos em

impor suas vontades à sociedade; mas significa a liberdade em decidir. A palavra

relativa na expressão atribui o sentido de que a autonomia não é liberdade plena,

ficando condicionada às estruturas sociais (classes e grupos sociais) e econômicas

(regras e procedimentos da economia capitalista) (BRESSER-PEREIRA, 2010b).

Page 66: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A autonomia relativa da política é então compreendida como um

conceito que traz a mediação, o controle, a participação da sociedade civil na

construção das deliberações governamentais que possam servir de instrumentos de

democratização, visando a construção de uma sociedade livre, mais justa e solidária

e, promovendo o desenvolvimento nacional.

Para tanto, é preciso que se compreenda que a política possua uma

metodologia própria para análise denominada de policy analysis, ou seja, análise

das inter-relações entre as instituições políticas, entre o processo político e os

conteúdos das políticas para então de fato se conhecer como uma determinada

sociedade (povo e governo) é regida e como se rege (FREY, 2000a).

Mas para que se compreenda o policy analysis é necessário entender

outros conceitos que norteiam tal viés de abordagem a saber: policy, politics e polity

a partir da discussão empreendida por Frey (2000a).

Toda política tem a sua dimensão institucional para que possa ganhar

corpo burocrático e espaço para ser legislada, assim, no policy analysis esta

dimensão é denominada de policy e abrange os sistemas jurídicos, a estrutura

institucional do sistema político-administrativo de um Estado.

Já no que se refere à dimensão do processual, ou seja, da execução

do ato político, a denominação é dada pelo conceito politics e assume o caráter

conflituoso, pois trabalha com a imposição dos objetivos, aos conteúdos e às

decisões de distribuição de efeito da política formulada.

A politics seria a arena para a formulação da prática política levando

em consideração as demandas da sociedade, mas que por vezes será mediada

pelos interesses do Estado fazendo com que o caráter conflituoso, conforme é

aludido por Frey (2000a), se torne presente em todo o processo de legislação da

política.

Novamente poder-se-ia recuperar a discussão empreendida por Arendt

(2009) quando diz que a política deve ser baseada na liberdade e feita para e pelo

homem, e não para atender aos interesses de grupos menores ou dar continuidade

às práticas clientelistas discutidas por Arretche (1996).

E, por fim, polity se refere propriamente a uma dimensão do conteúdo

do que é feito: como os programas políticos foram construídos, quais problemas

técnicos podem ser observados ao final da redação da política e qual o conteúdo

material dessas decisões políticas realizadas.

Page 67: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A polity em essência é a lei ou o instrumento legal ao fim legislado pelo

corpo do Estado, compreendendo a dialética estabelecida entre o corpo executivo e

o legislativo envolvido no desenvolvimento da polity.

Para a composição da polity deve-se sempre partir do pressuposto de

que a redação final do texto é fruto de inúmeras aspirações e vontades da

sociedade, e que o texto da polity é resultado final de acumulações discursivas a

partir de decisões emanadas das esferas periféricas e fortuitas da sociedade que

compõe a polis (CARADE, 2009).

Este pensamento é deveras importante para que novamente seja

resgatado o papel da sociedade, de seus representantes e mesmo dos políticos em

estarem atentos e abertos a debates e reflexões a respeito daquilo que deve ser

legislado e em como o Estado pode avançar e se desenvolver em prol da

coletividade e não dos interesses escusos de grupos/estruturas essas que

emperram e fazem com o que o Estado e a politics sejam apenas instrumentos de

mando e julgo, mantendo a estrutura clientelista e assistencialista.

Todo este quadro de agentes e ações criados a partir da visão

processual da política, a partir das interfaces entre policy, politics e polity para que

se crie um entendimento do que é o policy analysis, tem a sua dinâmica no policy

cycle ao ser visto como um amálgama dos distintos elementos do campo processual

da política (CARADE, 2009).

Para tanto é preciso que se compreenda que a política possui uma

metodologia própria para a sua criação e articulação com a sociedade civil e com as

instâncias de poder constituídas mediante o corpo burocrático estatal, a qual recebe

o nome de policy cycle. O pensamento exposto permite que se compreenda quem

são os demandantes da política (sociedade, estados, municípios ou outros) e

aqueles que irão formulá-la (corpo legislativo do Estado, estado, municípios e união)

(FREY, 2000a).

O policy cycle tem a sua dinâmica a partir de ciclos deliberativos,

constituindo-se de diferentes estágios, mas cada qual dotado de um processo

dinâmico e que envolve o aprendizado para aqueles que participam e integram os

ciclos: definição de agenda, identificação de alternativas, avaliação das opções,

seleção das opções, implementação e avaliação (SOUZA, 2006).

O processo do policy cycle pode ser visto como um processo linear a

partir da figura 01, na qual pode-se perceber que as demandas da sociedade são

Page 68: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

configuradas, organizadas e traduzidas em políticas; num segundo momento tais

políticas são implementadas pelo Estado a partir de suas diretrizes, cabendo ao

Estado e à sociedade realizar o acompanhamento e a avaliação de seus resultados,

podendo a sociedade requerer junto ao corpo político modificações e uma nova

configuração para a política em vigor.

Mas, o processo linear do policy cycle não pode ser visto como um

arranjo perfeito, pois algumas premissas podem ser equivocadas para a composição

da formulação das políticas e mesmo o processo de retroalimentação como proposto

na figura 01.

A legalidade do esquema do policy cycle linear é fundamentada na

excessiva atenção dada à formulação da política em detrimento de outras

dimensões como o estabelecimento de uma agenda política e do confronto entre as

especificações da política e de suas alternativas para a implementação (SILVA;

MELO, 2000).

FIGURA 01 – A visão do policy cycle linear. Fonte: SILVA; MELO, 2000, p. 6.

Como afirmado anteriormente, a politics representa uma arena, um

espaço de debates, de confrontos entre diferentes atores sociais em prol da

definição de políticas que atendam aos interesses sociais, mas que sofrerão a

intervenção do Estado ou, possivelmente até o seu veto. Desta forma, é preciso que

na figura 01 seja inserido um estágio anterior à formulação de políticas, podendo

assumir então uma configuração imaginária, a partir da figura 02.

Page 69: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 02 – A visão do policy cycle e intervenção. Fonte: SILVA; MELO, 2000. Adaptado por OLIVEIRA, 2011.

Neste processo, compreende-se que antes da formulação das políticas,

a sociedade e o Estado realizem debates, provocações, estabelecimento de

agendas inserindo o tema da reivindicação ou da demanda social na pauta política,

para que então os temas da política abordados pela sociedade possam por parte do

Estado “(...) ser avaliada preliminarmente a partir de seus custos e benefícios das

várias opções disponíveis de ação, assim como uma avaliação das chances do tema

ou projeto de se impor na arena política” (FREY, 2000b, p. 227).

Há outra vertente de análise para a composição da arena política,

aquela na qual o ponto de partida para a demanda social é barganhado entre

aqueles que demandam, ou seja, atores sociais corrompidos pelo corpo político do

Estado; e outra vertente de análise considera que a sociedade e seus atores sociais,

que reivindicam a proposição de uma agenda política em prol de determinada

necessidade, agem pela persuasão para com o corpo político do Estado,

encontrando de maneira mais fácil o consenso na arena política (SOUZA, 2006).

Outra crítica ao modelo de policy cycle linear recai na implementação

de políticas que pode representar, numa primeira análise, a visão ingênua e irreal do

funcionamento do aparato estatal, uma utopia de que toda formulação política será

implementada em perfeição e harmonia com as demandas levantadas e

apresentadas nas agendas políticas (SILVA; MELO, 2000).

Page 70: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A estrutura burocrática do Estado e seus aparelhos nem sempre

poderão absorver com imediatismo as reivindicações da sociedade transformadas

em políticas, uma vez que, para a sua implementação dependerá de orçamentos

disponíveis, pessoas, locais e outras variáveis concernentes a cada caso, como

também dependerá da situação econômico-social de cada estado ou município. Se a

política for do estilo top-down (de cima para baixo), as políticas são formuladas na

esfera federal e sua implementação dependerá das esferas estaduais e municipais,

as quais nem sempre estão preparadas para a aplicação em imediato das

mesmas(SILVA; MELO, 2000).

Outra crítica ainda se inscreve na dinâmica do policy cycle quando este

é concebido a partir da linearidade, pois em determinadas situações a gênese desse

processo de ciclos pode ser facilmente burlada quando houver interesses e outras

prevaricações inerentes às estruturas de poder envolvidas com a política a ser

formulada (CARADE, 2009).

Mas deve-se ressaltar que quando a dinâmica do policy cycle cumpre

todas as etapas e envolve o Estado e a sociedade como atores sociais co-

responsáveis na retroalimentação e monitoramento da política formulada e

implementada, pode-se compreender que haverá a existência de maiores chances

para que a política seja implementada de maneira eficaz e que seu

acompanhamento seja feito de maneira eficiente pelos atores sociais.

2.3.2 Políticas Públicas e suas aplicações no campo da práxis

A compreensão da política enquanto um instrumento de mediação

entre o Estado e a sociedade para que determinados serviços públicos possam ser

prestados, inscreve-se no campo das obrigações do Estado Democrático para com a

população e deve-se notar que estas obrigações se dão em função do interesse e

da direção assumida pela governabilidade do Estado, mas se os interesses são

expressos ou são requeridos pela sociedade como se dará a redação de políticas?

O Estado, com seu corpo de funcionários e com a sua burocracia, nem

sempre pode compreender as diversas facetas dos problemas que afligem a

sociedade de maneira geral, carecendo assim de espaços próprios para que

demandas sociais possam ser conhecidas e, por ventura, transformadas em corpo

Page 71: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

legal (política) específico. Para tanto, convenciona-se determinar tal ação como

política pública.

Mas acreditar que a partir das demandas societais o Estado legisle

novos ordenamentos jurídicos seria deveras imaturo e infantil acreditar que este é o

caminho, ou mesmo acreditar que o caminho é dado de maneira simplória. Por isso,

é preciso lançar novas luzes para que se conheça o desdobrar das políticas públicas

e como as mesmas nascem e se orientam.

Inicialmente, a compreensão da origem e da ontologia de uma área de

conhecimento é essencial para que se possa conhecer a sua práxis, conduzindo

aquele que se aventura nesse conhecimento pelos diversos caminhos deste novo

conhecimento (SOUZA, 2006; TREVISAN, BELLEN, 2008).

Desta forma, estudar o conceito de política pública deve ser visto como

um processo por meio do qual se obterá maior conhecimento a respeito de

características generalistas dos sistemas políticos e das relações que são

estabelecidas entre política e política pública, de um lado, ou entre governo e

sociedade de outro lado (SARAIVA, 2006).

Para melhor compreensão do conceito de política pública recorrer-se-á

ao histórico de sua aplicação e de sua iniciação no campo das práticas públicas e

societais, que é marcado por romper e/ou pular as etapas determinadas pela

tradição européia, no que se refere aos estudos e pesquisas nessa área.

Isto é, a política pública, enquanto disciplina acadêmica, nasce nos

Estados Unidos da América, recebendo a atenção dos pesquisadores, mas sem que

houvesse relações com as bases teóricas sobre a atuação do Estado, e sim

admitindo uma ênfase nos estudos sobre a ação dos governos (SOUZA, 2006).

Tal situação é perturbadora para o campo dos estudos, principalmente

quando confrontado pelo rigor acadêmico estabelecido pelos centros de estudos

europeus que se debruçam na compreensão das políticas públicas como “(...)

teorias explicativas sobre o papel do Estado e de uma das mais importantes

instituições do Estado – o governo –, produtor por excelência, de políticas públicas”

(SOUZA, 2006, p. 22).

As diferenças estruturais dos métodos de análises entre os Estados

Unidos da América e os países europeus, de maneira geral, se dão em função da

própria condução e orientação do Estado onde, de um lado encontramos nos

Estados Unidos da América um Estado que tem seu papel fundamentado na

Page 72: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

regulação do mercado mediante políticas que atendam ao corpo societal sem ferir os

princípios democráticos já estabelecidos, no extremo oposto encontra-se nos países

europeus grande tradição do papel e da ação do Estado na condução e na

regulação da vida social, além de prover serviços públicos orientados para a

sociedade em geral.

Assim, as relações estabelecidas pelas políticas públicas nos Estados

Unidos da América compreende como os governos locais tendem a solucionar

pontualmente as demandas originadas por segmentos sociais de uma localidade e

não atendendo ao princípio da universalidade da política, quando assume seu viés

de pública.

Na Europa seria impensável conceber políticas públicas que não

atendam às demandas da sociedade de maneira geral, pois assim poderiam criar

antigos vícios ou mesmo alimentar a nefasta estrutura clientelista, assumindo assim

contra-caminhos à democracia.

Além desses fatores sócio-culturais inerentes a cada uma das duas

situações ponderadas, é preciso que se compreenda que a política pública surge

como um novo processo político capaz de lidar com os cenários das incertezas que

decorrem das rápidas mudanças de contexto sendo motivados pelas transformações

políticas, econômicos e/ou estruturais dos diversos e diferentes países de cunho

democrático (SARAIVA, 2006).

Mas é preciso que se compreenda que quando a ação do Estado,

mediante uma política pública, é estruturada a partir de uma agenda propositiva,

esta servirá para orientar os gestores públicos na produção, condução e

implementação de políticas mais eficazes, atendendo sempre ao princípio da

democracia e, concebida como um arranjo institucional engendrado pela sociedade

e Estado, concomitantemente (CARADE, 2009).

A política pública enquanto disciplina e campo do conhecimento

conduz os pesquisadores para a análise sobre a identificação da situação problema

que conduzirá o encontro da sociedade com o Estado, solicitando deste uma

solução para a situação vivenciada, ou seja, a legislação de uma política pública

(SOUZA, 2003).

Retornando ao debate de quando se inicia a aplicação e a

instrumentalização das políticas públicas, deve-se reportar à década de 1970, mais

precisamente quando do estabelecimento da Guerra Fria e da valorização da

Page 73: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

tecnocracia, nos Estados Unidos da América, como configuração das políticas em

criarem novas soluções para os problemas socioeconômicos enfrentadas (SOUZA,

2006).

A política pública enquanto um instrumento para a apresentação de

uma solução para os problemas de origem social ou emanados da sociedade, não

pode ser compreendida apenas à luz das análises técnicas e frias do corpo

burocratizado do Estado, deve sim, ser um ajustamento entre as partes – Estado e

sociedade – que mediante uma interação de forças possam chegar a um

denominador comum, que será a redação propriamente dita da política pública

(RONCARATTI, 2008).

A mediação entre Estado e sociedade é apontada como o principal

caminho que diferencia uma política estatal de uma política pública, pois o que está

em jogo é um enfrentamento das diferentes relações de poder. Segundo Rua (2011,

p. 1) “ as políticas públicas (policies), por sua vez, são outputs, resultantes da

atividade política (politics): compreendem o conjunto das decisões e ações relativas

à alocação imperativa de valores”.

A alocação imperativa de valores conforme é destacado por Rua

(2011), se configura em um árduo trabalho dialógico entre a sociedade, a qual

requer com determinada urgência a resolução de seus problemas enfrentados, e o

Estado que, por sua vez, pode se esquivar ou justificar que o problema apontado

pela sociedade será resolvido, mas não naquele momento, pois algumas variáveis

podem não ser favoráveis para a solução requerida, tais como: orçamento,

disponibilidade financeira e redação final do ordenamento jurídico (a política pública

em si).

Desta forma, o conceito de política pública é revestido de intensos

fluxos de decisões públicas, orientando-se na manutenção do equilíbrio social ou da

introdução de desequilíbrios voltados a modificar essa realidade. Essas decisões

são condicionadas pelo próprio fluxo, como também pelas reações e modificações

que a própria política pública é capaz de causar no tecido social, além dos valores,

idéias e visões dos que adotam ou influenciam na decisão (SARAIVA, 2006).

Outro ponto de destaque no conceito de política pública é seu caráter

estratégico ao ser vista como uma bússola que aponta para diversos fins, mas fins

estes que de alguma forma são demandados por diferentes grupos que participam

do processo decisório de uma política pública (SARAIVA, 2006).

Page 74: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

As decisões políticas correspondem a uma livre escolha por parte do

Estado dentre um grupo de opções e/ou alternativas, conforme as preferências dos

atores envolvidos neste processo de escolha, pautando-se no ajustamento entre os

fins pretendidos e os meios disponíveis (RUA, 2011).

Essa visão é carregada de lateralidade, ou seja, a decisão política pode

ser feita sem que haja o consentimento da sociedade, ou mesmo que a decisão a

ser tomada pelo Estado não atenda em momento algum qualquer necessidade ou

demanda da sociedade.

Por isso o conceito e a sua aplicação – políticas públicas – inscrevem-

se em duas áreas: a da política – que é uma ação de intermediação entre estruturas

de poder, mas que é definida a partir de um determinado grupo de atores (Estado,

governos) e, a pública – que é o caráter da coletividade, do que é público, tendo a

sua origem nas demandas sociais.

Mas deve-se ressaltar que o conceito de política pública, além de ser

fruto de constantes fluxos decisórios e de diferentes estruturas de poder, tem como

finalidade algo muito simples que é a consolidação dos princípios democráticos para

a sociedade, maior justiça social, a manutenção do poder (SARAIVA, 2006).

Por isso, as políticas públicas tendem a ter uma maior repercussão na

economia e na sociedade, pois partem de uma visão holística do tema (demanda

social) a ser convertida em diferentes ações governamentais tais como planos,

programas, projetos, bases de dados, ou sistema de informação e pesquisa

(SOUZA, 2006).

Essas novas ações representam novos gastos públicos e com isso

necessita-se de tempo para a sua implementação, como também de recursos

públicos para colocá-las em prática, carecendo assim de tempo e de disponibilidade

do Estado para articular a efetivação da política pública.

Mas retornando à discussão dos processos políticos e dos outputs da

política pública, recorre-se à figura 03 para melhor ilustração e explanação do

processo sistêmico para a adoção de uma política pública.

Em uma primeira análise, a figura 03 lembra em muito o processo

desenhado na figura 02, quando se concebia a explicação do policy cycle e as

intervenções durante este processo, mas nesta figura 03 dentro do sistema político

originam-se também as demandas, as quais são denominadas de withinputs, outra

Page 75: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

variável que na figura 02 não aparecia, pois se tratava apenas do desenho da

política e não de políticas públicas.

FIGURA 03 – Modelo sistêmico do processo político em Políticas Públicas. Fonte: RONCARATTI, 2008, p. 6. Adaptado por OLIVEIRA, 2011.

As definições do modelo sistêmico carregam os pensamentos de Rua

(1998), Rua (2011) e de Easton (1970), os quais apresentam um diálogo frutífero

para a compreensão do que são os inputs, withinputs, e os outputs, conforme

demonstrados na figura 03.

Os inputs são definidos a partir de dois grandes grupos: exigências ou

demandas e os apoios ou sustentáculos, pois para que uma política pública possa

ser concebida é necessário que haja uma demanda reclamante por esta e que

também existam apoios ou sustentáculos que possibilitem que essa demanda possa

ser recebida pelo sistema político (RONCARATTI, 2008).

As exigências ou demandas quando expressas na forma sistêmica de

inputs são vistas como reivindicações por bens e serviços públicos, tais como saúde,

educação, estradas, transportes, segurança pública, melhores normas de higiene e

controle sanitário para os produtos alimentícios, dentre outros conjuntos de

demandas sociais. Podem ser expressos também como demandas da intenção de

participação no sistema político em vigor como o reconhecimento do direito, o

acesso a cargos públicos por parte de estrangeiros dentre outras tantas demandas

oriundas da sociedade (RUA, 2011).

Page 76: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

O apoio, também chamado de sustentáculos, não está diretamente

vinculado às demandas da sociedade, mas é instrumento, ferramenta ou mesmo

ação que dá apoio ao sistema político em vigor, podendo ser visto como a

obediência e o cumprimento de leis e regulamentos, como também comportamentos

favoráveis ao sistema político (RUA, 2011; RONCARATTI, 2008).

No centro da figura 03 encontra-se o sistema político, que será o meio

pelo qual os inputs da sociedade são ouvidos, considerados para que possam ser

apresentados às discussões e futuras decisões. O sistema político é formado pelo

corpo de políticos eleitos pelo sufrágio eleitoral democrático e possui seus

desdobramentos, conforme já apresentado anteriormente, nos poderes executivos e

legislativos, cada qual com atribuições e responsabilidades.

Desta maneira, o sistema político tende a realizar os outputs do modelo

sistêmico respondendo à sociedade e às suas necessidades com políticas públicas

específicas, tendo no campo das decisões e das disputas internas de poder uma

resposta às exigências ali apresentadas, mas ao mesmo tempo tende a recorrer aos

inputs de apoio como uma estratégia de sustentação do próprio sistema político em

vigor (RONCARATTI, 2008).

Tal utilização dos inputs de apoio para a sustentação do sistema

político é uma maneira de criar uma regulação por retroação, ou seja, à medida que

são criadas novas políticas públicas que atendam ao input de demanda, o sistema

político cria um processo de retroação, maximizando o apoio disponível e

respondendo com dinamicidade o seu envolvimento necessário e preciso para com

a sociedade:

Assim, de maneira bastante simplificada, podemos considerar que grande parte da atividade política dos governos se destina à tentativa de satisfazer as demandas que lhes são dirigidas pelos atores sociais ou aquelas formuladas pelos próprios agentes do sistema político, ao mesmo tempo que articulam os apoios necessários (RUA, 2011, p. 3).

Mas, as políticas públicas como outputs do processo político, ou seja,

saídas ou produtos finais do processo político, de acordo com Rua (2011), devem

ser vistos com cautela e com o devido reconhecimento do que de fato são políticas

públicas e do que são decisões políticas, pois em determinadas situações o sistema

político poderá utilizar-se dos inputs de demanda não organizados e não

Page 77: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

reivindicados por atores sociais fortes para convertê-lo em uma ação política

unilateral.

Outra consideração deve ainda ser feita com relação aos inputs do

modelo sistêmico do processo político para a formulação de políticas públicas:

percebe-se que existem diferentes graus de demandas por parte da sociedade e que

cada grau pode representar ou não uma abertura do sistema político em atendê-la.

Assim, de acordo com Rua (2011), são três diferentes graus de demandas: as

demandas novas, as demandas recorrentes e as demandas reprimidas.

As demandas novas podem ser consideradas como aquelas que

nascem a partir do surgimento de novos atores políticos no contexto social ou

mesmo de novos problemas enfrentados pela sociedade. A cada momento histórico

a sociedade passa a perceber e a enfrentar novos dilemas e problemas, seja no que

tange aos serviços públicos, seja na necessidade de acesso a novos produtos e,

portanto, a cada novo obstáculo a ser enfrentado diferentes atores sociais que

carecem por serviços públicos reivindicam uma solução para tais problemas.

Já os novos atores políticos não são necessariamente aqueles atores

que não existiam no contexto dos inputs em um dado momento, mas sim atores

políticos que passam a se organizar frente a uma situação não mais suportada e

visam pressionar o sistema político para que novos outputs possam ser

regulamentados.

O segundo grau de demanda são aquelas denominadas de

recorrentes, pois são expressas por problemas recorrentes na vida da sociedade e

que o sistema político, de certa maneira, tende a incluir em sua agenda de

discussão, mas que não apresenta uma resposta concreta mediante um output.

O sistema político pode ser visto como sistema carregado de

demandas recorrentes, pois por dificuldade em estabelecer uma agenda concreta e

até mesmo em coordenar as ações que visem o input de apoio interno para que as

ações em fase de planejamento se convertam em output, acabam por gerar na

sociedade e nos atores sociais e políticos constantes debates a respeito da

morosidade, da burocracia e da falta de atenção para com a sociedade:

Quando se acumulam as demandas e o sistema não consegue encaminhar soluções aceitáveis, ocorre o que se denomina “sobrecarga de demandas”: uma crise que ameaça a estabilidade do sistema. Dependendo da sua

Page 78: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

gravidade e da sua duração, pode levar até mesmo à ruptura institucional. Mesmo que isto não ocorra, o sistema passa a lidar com crises de governabilidade (...) (RUA, 2011, p. 3).

E por fim, apresentam-se as demandas reprimidas, que podem ser

conceituadas como “estados de coisas” ou mesmo por “não-decisões”.

Diferentemente da demanda recorrente, na qual as necessidades fazem parte da

agenda do sistema político, as demandas reprimidas são situações recorrentes no

cotidiano das pessoas, mas que não conseguem espaço ou canal de introdução por

meio dos atores sociais e políticos nas agendas do sistema governamental.

A não entrada na agenda governamental é que faz com que a

demanda reprimida seja denominada de “estado de coisa”, mas quando a situação-

problema é vista e compreendida pelo sistema político e converte-se não em um

input do modelo sistêmico do processo político de políticas públicas, mas em um

problema político, o próprio sistema não poderá mais não enxergar ou mesmo não

compreender a necessidade urgente para o atendimento da necessidade expressa

pela sociedade.

E, quando o “estado de coisa” se converte em um item da agenda

governamental é porque conseguiu apresentar pelo menos uma das características

abaixo destacadas por Rua (2011).

O estado de coisa é fonte geradora de mobilização da ação política,

seja essa ação coletiva de grandes grupos ou mesmo de grupos pequenos, mas

grupos estes dotados de fortes recursos de poder por meio de atores individuais

estrategicamente situados dentro do sistema político.

Quando há uma situação de crise extrema como uma catástrofe,

calamidade ou outro evento de forte impacto na sociedade, logo o sistema político

cria condições para que se supere o estado de coisa vivenciada pela sociedade ou

por um grupo da sociedade.

E, por fim, o estado de coisa pode ser encarado como uma situação de

oportunidade por parte do sistema político, criando assim um tratamento

diferenciado para o então problema da sociedade.

Estas três situações características são necessárias para que se

compreenda novamente que a política pública não é fruto da resolução de uma

questão pontual ou vivenciada por um determinado grupo de pessoas, pois desta

maneira estaria se configurando no sistema político de políticas clientelistas e

Page 79: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

direcionadas a grupos específicos e agindo em favor do favorecimento e não do

coletivo e do público.

Para tanto, é necessário compreender quem são os atores que

movimentam as diferentes esferas (política e societal) em prol da criação de políticas

públicas que versem a respeito de soluções dos problemas enfrentados.

A literatura de políticas públicas denomina esses agentes promotores

de mudanças como atores políticos: “(...) são os envolvidos na política, ou melhor,

nos conflitos em torno da alocação de bens e recursos públicos” (RONCARATTI,

2008, p. 7).

Essa visão demonstra de maneira clara que não é somente o corpo de

atores que trabalha e atua diretamente com o Estado. Representa dizer que existem

outros atores que formam o corpo estatal, aqueles que têm acesso à apresentação,

discussão e implementação de políticas que irão afetar toda sociedade. Mas

representa a indicação de que o campo da política pública é permeado pelos atores

sociais, os quais serão beneficiados direta ou indiretamente com a implementação

de determinada política pública, pois, como apresentado nesta discussão, a política

pública é um ato que implica na melhora de condições socioeconômicas ou de

regulamentação para a sociedade em geral.

Pode-se então dizer que outros segmentos da sociedade,

diferentemente do governo, são envolvidos na discussão das políticas públicas como

grupos de interesse e movimentos sociais, cada qual com um maior ou menor grau

de influência sobre a política pública a ser demandada, como também terá diferentes

graus de inputs de apoio junto aos atores políticos que formam o governo (SOUZA,

2006).

Mas tal pensamento de Souza (2006) não implica na percepção única

de que o governo e seus atores políticos fiquem à mercê dos interesses da

sociedade organizada ou, que o Estado e seu corpo de funcionários e políticos são

agentes excluídos num primeiro momento da atenção e da preocupação com as

demandas da sociedade. O que se percebe é que o campo das políticas públicas é

exatamente um campo difuso e tenso entre as constantes disputas de poder (Estado

versus sociedade), como também é um campo que apresenta configurações que

são tecidas a partir da demanda ou de um problema enfrentado pela sociedade, o

qual tende a se dissolver a partir da implementação da política pública reivindicada.

Page 80: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Dessa forma Rua (1998) e Rua (2011) apresentam uma distinção das

diferentes características de cada grupo de atores que compõem o difuso quadro

dos inptus de demanda das políticas públicas.

Para que o Estado e suas obrigações possam funcionar de maneira

correta e democrática, é preciso que este seja constituído de pessoas que possam

representar o interesse da população nos espaços de discussões políticos e na

composição de corpos administrativos específicos. Tais pessoas são denominadas

de atores políticos, ou seja, atores cuja posição e ocupação junto ao Estado resulta

de mandatos eletivos (RUA, 1998; RUA, 2011).

Num segundo momento, ainda na discussão da esfera política e

estatal, existem determinados cargos, funções e obrigações que não são

desempenhados pelos atores políticos, pois estes poderiam transformar as ações do

Estado em um conjunto de atos políticos, voltados para as manifestações

clientelistas e individualistas, contrariando ao princípio da isonomia do Estado e da

própria política. Para tanto, o Estado é composto de burocratas, que são os atores

que atuam no cenário político, mas que ocupam cargos que demandam

conhecimentos específicos sobre determinados assuntos nos quais o Estado atua

diretamente (habitação, saúde, impostos, transportes públicos, educação dentre

outros) (RUA, 2011) e, tem o seu ingresso no setor público não a partir do mandato

eletivo, mas sim do concurso público, corroborando para a isonomia do tratamento

do Estado para a composição do seu corpo burocrático.

Mas deve-se atentar que entre os burocratas e os atores políticos

existe sempre um clima tenso e de disputas, pois os interesses dos burocratas

referem-se ao cumprimento de princípios da administração pública e das leis,

normas e portarias expedidas pelo próprio Estado, o que no conjunto pode

representar um legítimo enfrentamento para que práticas clientelistas e

individualistas de políticos sejam combatidas e evitadas (RUA, 2011).

Saindo da esfera política do Estado e compreendendo os diferentes

atores sociais, é possível dizer que, num primeiro momento, os trabalhadores,

mediante grupos de movimentos sociais, são representativos e importantes atores

no processo das políticas públicas, pois como vem sendo discutido a política tendo o

seu caráter de pública deve atender aos interesses da sociedade e, é por meio dos

atores sociais oriundos de movimento sociais que as demandas reprimidas e as

recorrentes são incorporadas na agenda estatal devido à pressão de sindicatos,

Page 81: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

movimentos sociais diversos, organizações não governamentais (ONGs) e pelos

diversos movimentos religiosos (RUA, 2011).

Num segundo momento, os atores sociais ainda são compostos pelos

atores privados, em específico pelos empresários, os quais são mais dotados de

poder no que se refere aos inputs de apoio junto ao governo, pois são eles que, em

essência, provém o Estado de recursos financeiros por meio do constante e rigoroso

sistema de impostos e arrecadação. Dessa forma, possuem um maior grau de

influência no campo da formulação das políticas públicas e, podem se manifestar na

área da política pública como atores individuais ou como atores coletivos (RUA,

2011).

Mas como o campo das políticas públicas é um campo de complexos

interesses e de ações específicas para a sociedade, outro importante conjunto de

atores deve ser mencionado neste momento: os agentes internacionais. Agentes

financeiros como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e outras

instituições que provém de recursos externos a política do Estado, acabam por

também pressionarem o Estado e seu corpo de funcionários a legislar políticas

públicas que cumpram com protocolos internacionais ou mesmo que atendam às

demandas e pressões político-econômicas externas (RUA, 2011).

Numa primeira análise e entendimento poderia ser citado que esses

agentes externos possuem pouco poder de intervenção na política interna e até

mesmo na legislação de políticas públicas, mas quando se compreende que os

Estados e as políticas estão interligadas com o processo de globalização,

compreende-se, que em determinadas situações, não há países e políticas isoladas,

mas sim países e democracias que juntas buscam o mesmo objetivo: se tornarem

países mais justos e com economias equilibradas.

E, por fim, mas não menos importante podem ser citados como atores

no processo de políticas públicas a mídia e seus diversos e diferentes meios de

comunicação com a sociedade. A mídia tem um importante papel para com as

políticas públicas na medida em que dissemina para toda a população como as

ações empreendidas pelo poder público, as políticas e as políticas públicas estão

sendo pensadas e implementadas, com o objetivo de contribuir para que haja um

constante acompanhamento da sociedade no que diz respeito à aplicação dos

recursos financeiros públicos e em como as demandas sociais (reprimidas ou

Page 82: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

recorrentes) podem ser incorporadas nas agendas políticas ao serem retratadas nos

veículos de comunicação (RONCARATTI, 2008).

Essa discussão dos atores sociais e políticos que compõem o quadro

de formulação e implementação das políticas públicas serve como bússola para que

seja possível identificar em quais pontos pode ocorrer uma sobrecarga de interesses

ou mesmo para identificar quais são os principais atores em conflito a partir de

políticas públicas em discussão.

Mas no ínterim dessa discussão a respeito da proposição de políticas

públicas e atores sociais envolvidos no processo, é preciso que seja feita uma

consideração pontual a respeito dos withinputs do processo, mais precisamente, é

preciso considerar que a máquina estatal burocrática pode assumir mais do que

simplesmente o papel de apoio ao processo de formulação de políticas públicas,

mas que em determinada situações pode representar o início do processo em prol

das mesmas.

É preciso que se reflita bem a respeito de como os withinputs podem

iniciar um processo de formulação de política pública, visto que a própria acepção do

termo público traz consigo as características que a necessidade, vontade e desejo

emanam de uma sociedade e não de um Estado para a sociedade.

Se assim for concebido o processo de formulação de políticas públicas

a partir dos withinputs seria então contraditório nomear as políticas que nascem da

vontade do Estado e denominá-las de políticas públicas.

Essa reflexão de como o Estado e seus winthinputs são fomentadores

para a formulação e implementação de políticas públicas inicia-se com o

conhecimento do papel da burocracia perante a própria vida política estatal, e em

como a burocracia pode arrogar o papel de ator principal desse processo.

Para iniciar tal processo é preciso que se saiba o que vem a ser a

burocracia, para tanto, a mesma pode ser definida como um conjunto de pessoas

que são organizadas de maneira hierárquica, as quais realizam um conjunto de

trabalhos de elevada natureza rotineira dentro das diversas estruturas de trabalho

(RONCARATTI, 2008).

Pode parecer que esse corpo de pessoas trabalha de forma alienada

ao cotidiano externo ao ambiente em que trabalham, além de terem uma

compreensão extremamente restrita aos assuntos e conhecimento somente ligados

Page 83: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

ao desempenho de suas tarefas, pensamento este que é muitas vezes ligado ao que

é a burocracia.

Mas, quando se desvela o lado preconceituoso a respeito da

burocracia pode se perceber que existe todo um trabalho e conhecimento que é

inerente ao pleno funcionamento da estrutura do Estado e, porque não dizer do

sistema político em si. A:

(...) amplitude e (...) natureza do poder burocrático exige que se esclareça que este nunca é exercido com base apenas nos recursos que lhe são próprios – o controle do conhecimento técnico. O poder dos burocratas depende do respaldo ou da delegação de algum ator político estratégico que sustentará sua posição como policymarker (IPEA, 2010, p. 307).

Isto quer dizer que a burocracia não é apenas um corpo amorfo de

pessoas, mas sim um conjunto de conhecimentos e procedimentos que sustenta a

estrutura do Estado, assim como o seu poder perante a estrutura do Estado em si

não é assumida lateralmente, mas sim compartilhada com os atores políticos,

fazendo com que a burocracia seja um instrumento de apoio às decisões políticas.

Mas ainda assim, outra distinção se faz importante para melhor

localização da burocracia no complexo sistema estatal-político, qual seja a

compreensão de que existem duas cúpulas de poder envolvidas: o núcleo decisional

e o núcleo operacional (SUBIRATS, 2006).

As características do núcleo operacional são claras, pois representam

a máquina burocrática atuando de maneira cega ou em algumas situações,

indiferente, mediante processos formalizados para alcançar o cumprimento dos

objetivos fixados por uma linha de obrigações ou no âmbito de uma decisão política

(SUBIRATS, 2006).

Já o núcleo decisional é representado pelos burocratas com maior

acesso aos espaços políticos ou que mantêm relações diretas com os atores

políticos colaborando para que informações privilegiadas a respeito das estruturas

do Estado e para a formulação de políticas possam ser alcançadas de maneira mais

fácil e rápida, valorizando o trabalho da burocracia.

Desta maneira, a burocracia quando vista a partir dessas duas

vertentes (núcleo decisional e núcleo operacional) é compreendia em estruturas que

mantêm o processo da continuidade do funcionamento do Estado e, em como

determinadas ações são empreendidas pelo próprio Estado, definindo-se que a

Page 84: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

formulação de estratégias se torne claramente diferenciada da sua aplicação

(SUBIRATS, 2006).

A aplicação é empreendida pelo corpo burocrático do Estado, com

suas tarefas rotineiras, já a formulação das estratégias é feita pelos burocratas: os

quais são pessoas que ocupam cargos de alto escalão ou de direção de órgãos da

administração pública do Estado, sejam cargos na administração direta ou indireta

do Executivo, mas tendo estes um alto grau de conhecimento técnico a respeito dos

temas aos que estão sob a sua tutela de ação (IPEA, 2010).

O alto grau de conhecimento dos burocratas faz com que eles sejam

vistos como atores de destaque no conjunto de outros atores políticos, pois os

mesmos conseguem operar decisões de maneira mais efetiva e eficiente, além de

conseguirem operar a realidade à qual está subordinada a sua ação.

Essas ações são operadas pelos burocratas quando estes dispõem de

uma completa gama de informações do que acontece dentro e fora da sua área de

competência administrativa; e que a situação ou o entorno no qual se operam as

suas ações é suficientemente estável para que não seja necessária a reformulação

das decisões no processo de implementação (SUBIRATS, 2006).

Isto quer dizer que quando um burocrata detém alto grau de

conhecimento técnico e ainda assim da realidade a que ele opera e que está

propenso a agir mediante uma ação, uma política ou mesmo uma política pública, o

grau de assertividade será muito maior comparada a de outros atores

essencialmente políticos, pois como já discutido, o ator político é impregnado de

ações e de intenções individuais ou clientelistas.

Mas, é preciso ainda compreender que o campo da burocracia é

também uma arena de disputa constante entre os burocratas e os atores políticos,

pois o que está em jogo é o processo de autonomia para se construir políticas

públicas que possam sanar as deficiências e/ou necessidades da sociedade,

levando consigo o caráter personalístico das ações políticas.

A representação de tal situação é vislumbrada quando os partidos

políticos, mediante a ação de seus atores políticos, não conseguem consolidar a sua

posição e função governativa em prol da elaboração e defesa de projetos ou

políticas públicas de próprias de seu governo. Cabe aos burocratas e à burocracia o

papel de descisores ou de implementadores dessas ações:

Page 85: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

por sua vez, o exercício da função governativa pela burocracia alija os partidos políticos deste processo relegando-os cada vez mais para a função de representantes de clientelas ou grupos particularistas na sociedade e reforçando suas práticas meramente reprodutoras de posição de poder – reeleição e conquista de recursos necessários para tal (IPEA, 2010, p. 321).

Quando visto sob este prisma, a burocracia e o corpo de burocratas

podem parecer como atores que buscam defender o Estado e suas atribuições

democráticas, contudo, é necessário considerar que a eleição de políticos e a

escolha democrática dos partidos políticos constituem instrumentos indissolúveis

dos preceitos democráticos.

Além de tal concepção, a burocracia e seus agentes são muito pouco

capazes de se adaptarem às mudanças, e muito pouco capazes ainda de adaptar-se

aos novos compromissos assumidos pelo Estado democráticos nos últimos anos e,

menos capazes ainda de resistir à dinâmica da fragmentação dos interesses e da

contínua mutilação tecnológica das últimas décadas (SUBIRATS, 2006).

Se a burocracia é vista como um conjunto de procedimentos

formalizados é fácil perceber que uma abrupta mudança no rumo da metodologia, ou

mesmo no foco da atenção dos programas e planos de governo fará com que estes

facilmente percam o foco e o direcionamento de suas atividades.

Além da inoperância é preciso reforçar que o contínuo avanço

tecnológico faz com que a própria burocracia esteja sob constante ameaça, em

virtude da simplificação de procedimentos e da constante busca da eficiência

administrativa15.

Mas como a discussão aqui empreendia é compreender em como a

burocracia se inscreve no processo das políticas públicas e não no entendimento de

como a burocracia e o corpo de burocratas se comporta no corpo estatal, é preciso

que se busque conhecer quais são os recursos mais importantes que a própria

burocracia possui e que explicam a sua importância no processo de formulação e

implementação de políticas públicas.

15

"Assim, princípio da eficiência é o que impõe à administração pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, rimando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitarem-se desperdícios e garantir-se maior rentabilidade social" (MORAES, 1999, p. 30).

Page 86: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Em primeiro lugar, o controle sobre a informação e a sua capacidade

profissional faz com que a burocracia se estabeleça, como já afirmado anteriormente

como um núcleo a parte dos núcleos políticos do Estado (SUBIRATS, 2006).

O controle sobre a informação processada do Estado, assim como o

entendimento das informações emanadas de outras instâncias governamentais,

além do grande grau de conhecimento dos programas políticos faz com que a

burocracia já tenha por si só uma diferenciação de conhecimento e porque não dizer

de poder frente aos atores políticos que iniciam as suas atividades junto ao corpo

executivo do Estado.

E, atrelado ao controle da informação, a capacidade profissional e as

habilidades dos burocratas fazem com que a formulação de políticas públicas,

quando orientadas pelo Estado, tenham uma alta propensão a serem aceitas e

implementadas com eficácia.

Outro recurso de destaque empregado pela burocracia é a rede de

contatos informais e formais a partir dos mais diferentes serviços da administração

pública, mantendo a estrutura burocrática sempre informada e a par dos últimos

acontecimentos e gerando um conhecimento não-formalizado a respeito dos pontos

positivos e negativos de programas e planos governamentais, aumentando ainda

mais o grau de influência e de poder não-tácito nas arenas de disputas em prol da

formulação de políticas públicas (SUBIRATS, 2006).

E, por fim, a permanência de burocratas e mesmo da burocracia nos

desenhos de políticas públicas, programas e planos governamentais garantem a

estes recursos mais eficazes para que a estrutura política do Estado se utilize de

seus conhecimentos e de suas ações em prol da necessária efetivação para as

ações ora empreendidas ou a serem empreendias (SUBIRATS, 2006).

Esta discussão dos recursos utilizados pela burocracia para a sua

manutenção e retroalimentação neste processo como importante ator withinput das

políticas públicas é trespassada pela pergunta: pode haver relação entre

competência e política?

Tal questionamento é feito por Bobbio (2004) ao compreender que

existe ainda outro aspecto a ser considerado entre a burocracia e os burocratas, a

tecnocracia:

Page 87: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

(...) Os princípios fundamentais dessa ideologia são, além da predominância da eficiência e da competência, a concepção da política como reino da incompetência, da corrupção e do particularismo; o tema do desinteresse das massas a respeito da res pública com a conseqüente profissionalização do decision-making, a tese do declínio das ideologias políticas e a substituição de uma espécie de kome tecnológica (BOBBIO, 2004, p. 1235).

A inserção da burocracia, ou porque não dizer, a intromissão no

modelo sistêmico de políticas públicas é amparado pelo pensamento acima exposto

de Bobbio (2004) ao considerar que a sociedade possui desinteresse em se

envolver nas discussões do espaço público, acreditando que mediante o voto e a

eleição de políticos sua participação para a construção de novas e melhores

políticas púbicas já esteja cumprindo.

Tal posicionamento da sociedade, frente ao pensamento de Bobbio

(2004), contraria boa parte da discussão aqui empreendida, pois se não houver em

nenhum momento a intervenção da sociedade, acredita-se que o Estado pode vir

novamente a assumir uma postura centralizadora, creditando somente ao corpo

burocrático as decisões e implementações das políticas públicas, afastando por

completo a visão a respeito da inserção da sociedade como processo de início da

formação de agendas em prol de políticas públicas e, cabe ainda mencionar que tal

afastamento da sociedade poderia colocar em xeque a defesa e manutenção do

Estado democrático.

Por outro lado, o pensamento de Bobbio (2004) ainda apresenta outro

elemento importante a ser considerado no ínterim da discussão de políticas públicas

que é o caráter dos políticos e suas intenções para com o uso da máquina

administrativa do Estado, ou seja, em muitas situações poderá o político em favor de

seus interesses induzir outros agentes políticos com menor grau de conhecimento,

seja da realidade da sociedade ou dos interesses do próprio Estado, que

determinadas políticas públicas sejam votadas e aprovadas em favor próprio,

contribuindo para que as ações corruptas sejam vistas pelos burocratas como algo a

ser vencido a partir de suas ações.

Esta talvez possa ser uma das mais importantes ações do corpo de

burocratas e mesmo da burocracia: o constante combate à ação corrupta de

determinados agentes e atores políticos que se elegem pelo voto da sociedade, mas

que agem em favor e benefício próprio ou em favor de grupos selecionados. Essa

batalha dos burocratas é mediante a aplicação cansativa da burocracia, vencendo

Page 88: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

os atores políticos menos preparados e com menor grau de conhecimento de como

a máquina estadista funciona e em como a rede de interesses interna faz com que

manobras corruptas possam facilmente ser desmontadas quando percebidas pelos

burocratas.

A presente discussão, a partir da visão de Bobbio (2004), ganha outros

ares quando comparada ao pensamento do IPEA (2010) ao considerar que a

burocracia tem se consolidado na história democrática do Brasil como ator de

fundamental importância durante o processo decisório de políticas públicas, pois

mesmo com a divergência de pensamentos entre burocratas e atores políticos, os

princípios democráticos e a vontade de fazer instrumentos legislativos mais próximos

da sociedade são garantidos pela intenção e ação dos burocratas.

De certa maneira então, é do próprio interesse do Estado que exista

um corpo de burocratas e uma estrutura burocrática que possa dar conta do avanço

e do desenvolvimento da sociedade, a partir da configuração de políticas públicas,

com caráter mais técnico e com um maior respaldo dos núcleos decisórios do

próprio Estado, seja do poder Legislativo ou do poder Executivo.

Assim, se compreende que em determinados momentos históricos da

vida pública do Estado Nacional brasileiro surgiram iniciativas e ações que

consolidaram a prática dos burocratas e legitimaram seu extremo conhecimento

técnico, sendo denominada de insulamento burocrático.

Compreender o insulamento burocrático é compreender, ao mesmo

tempo, como o Estado é carente de informações técnicas e como é necessário uma

distância da visão dos técnicos, da visão extremista de determinados atores

políticos, os quais muitas vezes precisam do Estado para que suas intenções e

vontades possam ser feitas a qualquer custo, ainda que contrariando os

instrumentos legais em vigor.

Mas o modo de operação do insulamento burocrático é que se revela

um pouco contraditório quando comparado ao modus operanti das políticas públicas

e mesmo aos preceitos democráticos, pois:

(...) Supõe uma espécie de isolamento do núcleo técnico do Estado contra a interferência do público. Desse modo, a alta burocracia estatal da sociedade permanecia isolada, conhecida como tecnocracia, implementando políticas e tomando decisões sem a participação do povo ou sociedade e de seus representantes (RONCARATTI, 2008, p. 12).

Page 89: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Se a concepção das políticas públicas é como defendido neste texto e

com base em um corpo de autores e pensadores do próprio conceito, a prática do

insulamento induz a um afastamento da sociedade em relação ao Estado e, porque

não dizer, um afastamento tendencioso do próprio Estado para com a sociedade,

criando um aparato de instrumentos normativos, políticas públicas, planos e

programas que visam ao atendimento daquilo que somente o próprio Estado

entende que a sociedade necessita.

Além disso, sem a participação da sociedade estar-se-ia invalidando o

conceito de políticas públicas e ao mesmo tempo desconstruindo a necessidade do

modelo sistêmico de políticas públicas, já que a intervenção do Estado se daria de

maneira unilateral, não cabendo em nenhum momento incluir a sociedade nessas

discussões.

Tal posicionamento do insulamento burocrático é visto pelo dilema

estabelecido por Bobbio (2004) e que ganha novos contornos na visão de IPEA

(2010) ao compreender que a partir do insulamento burocrático menores serão as

chances de que práticas clientelistas desenvolvidas por atores políticos mal

intencionados sejam mantidas pelo Estado.

Mas cabe destacar que, ao mesmo tempo em que se compreende que

a simples prática da manutenção do insulamento burocrático reduziria as práticas

clientelistas, poderia ser gerada pelo Estado uma posição enfatizada para que a

ordem democrática e os impactos negativos do insulamento burocrático sejam

maximizados e tenham suas experiências ampliadas (IPEA, 2010).

Para conceber que o insulamento burocrático nem sempre é a melhor

alternativa para que o processo de políticas públicas seja neutralizado dos

interesses dos atores políticos mal intencionados, deve-se recorrer à história política

do Brasil e rever como o regime militar adotou, mediante o insulamento burocrático,

uma nova maneira de conduzir a democracia:

(...) buscou-se isolar a Administração Pública da influência da sociedade, de modo que as decisões eram tomadas sem que houvesse qualquer participação e as políticas públicas eram executadas sem mecanismos de controle social (RONCARATTI, 2008, p. 12).

Se não há controle social sobre as políticas públicas, como acreditar

que o insulamento burocrático não pode gerar novos estratagemas de clientelismos

Page 90: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

e favoritivismos? E como não questionar o insulamento burocrático como um

instrumento da não-democracia?

Esses questionamentos referem-se como a sociedade, o Estado, o

corpo de burocratas e mesmo os atores políticos devem criar novos parâmetros de

relacionamento em prol da uniformização das agendas de políticas públicas, para

que sejam cada vez menores as chances de que o insulamento burocrático seja

instrumentalizado novamente pelo Estado Nacional democrático.

E combater o pensamento de que basta a competência para decidir os

fins de uma política pública (BOBBIO, 2004), por meio da participação da sociedade

nas arenas públicas com o Estado é que se pode construir novos postulados que

servirão para que os atores políticos sejam capazes de formular novas políticas

públicas que tendam a ser efetivas e eficientes em sua essência e prática.

Assim, a burocracia pode ser vista como um processo ambíguo: ora

fornecendo informações e apoio aos gestores das políticas públicas; ora agindo

contra a aplicabilidade das políticas públicas por se sentir lesada, ou seja,

discriminada por não centralizar em si e no conjunto de seus conhecimentos e

técnicas as diretrizes das políticas públicas.

A participação da sociedade no conjunto de ações empreendidas pelo

Estado faz com que a política assuma seu viés social, mas nem todas as políticas

realizadas podem levar a alcunha de política pública, pois trata-se de uma vertente

conceitual do termo política.

Quando intitula-se uma política como política pública deve-se

considerar que o elemento balizador e diferenciador é a palavra pública, pois leva

consigo um conjunto de resoluções e ações que são empreendidos pelo Estado,

mas que estarão sob o controle da sociedade (PEREIRA, 2008).

Assim, existem diferentes tipos de políticas públicas que são

classificadas segundo os pesquisadores do tema como: políticas distributivas,

redistributivas e regulatórias.

As políticas distributivas podem ser compreendidas como aquelas que

tendem à alocação de recursos financeiros em áreas ou setores demandados pela

sociedade. Caracterizam-se também pela facilidade com a qual os recursos

financeiros a serem aplicados são dispensados de forma atomizada a unidades

isoladas (RONCARATTI, 2008).

Page 91: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Essa ação atomizada gera um entendimento de que as políticas

distributivas são por vezes individualistas privilegiando determinados grupos sociais

ou regiões, não atendendo ao princípio da universalidade (SOUZA, 2006).

Para tanto, é preciso compreender determinados pensamentos e

vertentes a respeito da aplicabilidade de políticas distributivas e seus impactos em

um ambiente social democrático.

Para tanto, Neder (1988) apresenta que para o Estado construir

políticas distributivas é necessário que haja um engajamento em desempenhar com

eficácia o recolhimento de tributos da sociedade, para que então possa construir

políticas distributivas sem causar novos prejuízos aos cofres públicos.

Mas essa construção política é vista como uma ação de dependência,

ou seja, para que as políticas distributivas possam ser implementadas é necessário

um empenho das agências oficiais do Estado no contínuo recolhimento de tributos.

Caso haja uma diminuição dos recolhimentos de tributos automaticamente as

políticas distributivas serão afetadas e a sociedade que depende desses recursos

públicos distribuídos não será beneficiada.

Assim, para que haja eficácia desse tipo de política pública é preciso

uma contínua articulação entre o recolhimento de tributos e sua aplicação direta nas

políticas públicas distributivas, mas deve-se destacar que durante esse processo a

legitimidade política:

(...) reside na possibilidade de tornar menos gritantes as contradições (...)visando às assimetrias inerentes a um exercício de igualdade dos sujeitos sociais. Dessa forma - e enfocando especificamente as políticas públicas alocadoras e produtivas de caráter distributivo -, a igualdade não é uma qualidade referenciada pela inexistência de assimetrias, mas balizada pela existência da impossibilidade de superar inteiramente as assimetrias. Daí não se segue que a impossibilidade seja, em si, justificativa/justificadora da e para a distribuição iníqua da riqueza. Na verdade, a centralidade da legitimidade política reside no equacionamento (em conjunturas e lugares específicos) das formas e conteúdos não da distribuição da riqueza per se, mas dos procedimentos segundo os quais os sujeitos sociais em disputa podem fixar, acompanhar e fazer cumprir regras disciplinando seus conflitos que envolvam a apropriação privada da acumulação econômica na sociedade e a distribuição social da riqueza gerada por essa acumulação (NEDER, 1988, p. 22).

Esta visão de inquietação e de controle social deve ser constante a

respeito de um processo que é por si só contraditório ao caráter discutido e

apresentado ao longo deste texto que é a universalidade das políticas públicas, mas

Page 92: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

que se compreende que em determinados casos é impossível garantir a todos o

pleno acesso a uma política pública. As diferenças socioeconômicas de uma

população é que irão fazer com que os inputs de demandas e as decisões políticas

versem a respeito da aplicabilidade de uma política pública distributiva.

A legitimidade política durante o processo da legislação de uma política

pública distributiva é que garantirá o contínuo do caráter democrático, sem que seja

criado ou imposto a patronagem e o clientelismo como formas dominantes desta

política em questão (RONCARATTI, 2008).

Já as políticas redistributivas caracterizam-se por atender a um número

maior de pessoas e sua aplicação pelo Estado representa perdas financeiras

concretas de curto prazo a certos grupos sociais e ganhos futuros incertos para

outros (SOUZA, 2006).

O seu caráter, diferentemente das políticas distributivas, é a

universalização da redistribuição, gerando impactos em categorias diferentes da

sociedade: ricos e pobres, grandes e pequenos (RONCARATTI, 2008).

A contradição existente no centro das políticas públicas redistributivas

reside no fato de que, em determinadas situações, a sua aplicabilidade e constância

podem gerar uma desigualdade de renda a longo prazo coibindo a iniciativa e o

espírito empresarial. Tal fato se explica porque as políticas redistributivas estão

amparadas nas transferências de recursos financeiros a parcelas da população

menos favorecidas, obrigando o Estado a criar mecanismos de recolhimento de

tributos cada vez mais vorazes e eficientes para dar suporte à parcela da população

em estado de carência, no que diz respeito às políticas públicas redistributivas.

Se há um constante aumento do valor e da forma dos recolhimentos,

poder-se-á vislumbrar que, num futuro, os atores sociais que compõem a iniciativa

privada iniciarão movimentos reclamatórios junto ao Estado exigindo a diminuição da

carga tributária à custa de diminuição de sua ação ou até mesmo da saída do país

de determinadas empresas e, com isso empregos e impostos (CYSNE, 2009).

Essa visão é permeada pela postura neoliberal e social democrata nas

agendas políticas, assim como a descentralização, as políticas públicas também são

vistas com pontos de vistas diferenciados e diferenciadores sobre a sua prática e

eficácia.

A agenda neoliberal corrobora o pensamento da não universalidade

dos benefícios oriundos da aplicabilidade de determina política social de cunho

Page 93: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

redistributivo, uma vez que concebe as desigualdades sociais como resultantes dos

processos decisórios individuais, cabendo à política social um papel de ajuste de

seus efeitos, ou seja, uma ação regulatória mas não compensatória (TEIXEIRA,

2002).

Já a visão social-democrata concebe que os benefícios sociais

oriundos de políticas públicas redistributivas devem ser concebidos como

instrumentos de proteção aos mais fracos economicamente, pois em detrimento dos

desajustes da supremacia do capital os membros da sociedade não possuirão

condições de acessarem determinados serviços e garantias sociais se não por meio

de políticas públicas que garantam uma relativa distribuição de renda e possibilitem

que direitos sociais possam ser universalizados (TEIXEIRA, 2002).

O campo da política pública redistributiva se constitui como uma

polarização de conflitos e interesses, pois o caráter desta política é o deslocamento

consciente de recursos financeiros a camadas sociais menos favorecidas da

sociedade (RONCARATTI, 2008).

As diferentes posturas indicam que o campo da formulação de políticas

públicas, em especial as de caráter redistributivo, é permeado pela disputa de poder

de diferentes agendas e também perpassa pela intenção e pelo apoio de atores

sociais em especial, fazendo com que a política pública garanta ou não a sua

aplicabilidade.

Não se quer com essas visões demonstrar que as políticas públicas de

caráter redistributivas carregam um objetivo ruim ou que possuem um caráter

pejorativo para o Estado, mas apresentar que existe um lado a ser discutido e muito

bem analisado antes da sua implementação.

E, por fim as políticas públicas regulatórias são expressas por meio de

ordens, proibições, decretos e portarias que têm como efeito, como o próprio

conceito expressa, a regulação de determinada atividade ou serviço, seja ele público

ou privado (FREY, 1999; RONCARATTI, 2008).

Os impactos dessa política pública afeta em menor proporção o campo

de discussão das políticas públicas distributivas e redistributivas, pois a sua atenção

é dada aos custos e benefícios que podem ser gerados para o Estado para melhor

regulação da vida social pública e privada (FREY, 1999).

Se os impactos da política regulatória são vistos como custos e

benefícios, percebe-se que a discussão dessa área política é na vertente econômica

Page 94: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

e nas linhas setoriais subseqüentes, e não diretamente na área social ou de

garantias sociais.

Mas assim como nas políticas distributivas e redistributivas, a política

pública regulatória possui também sua arena de conflito tão importante quanto às

outras ou talvez de maior proporção e conta com uma multiplicidade de atores

sociais envolvidos e afetados por tal política.

Essa multiplicidade de atores sociais age de acordo com seus

interesses e organiza-se em torno das relações econômico-financeiras que querem

que sejam regulamentadas ou que está sendo afetada pela aplicabilidade efetiva de

uma política pública de regulação (RONCARATTI, 2008).

A multiplicidade de atores sociais faz ainda com que os inputs de apoio

sejam vistos de diferentes ângulos: ora apoiando as ações do Estado, ora

pressionando para que determinação ação seja posta em prática, configurando um

quadro difuso e complexo para que alianças e acordos políticos possam ser feitos ao

longo prazo.

A configuração específica das políticas regulatórias irá depender dos

processos de conflito, consenso e coalizão que a multiplicidade de atores sociais

assuma em detrimento de determinada agenda política em discussão (FREY, 1999).

Assim, a política pública pode ser compreendida como uma ação

pública executada pelo Estado, mas ação esta que deve nascer da necessidade e

da vontade da sociedade que, organizada, reivindica a sua ação e implementação

normalmente em um dado território ou para um grupo de cidadãos.

Mas cabe ressaltar que na política pública sempre deverá haver a

intervenção da sociedade, seja demandando, dando suporte, apoio ou através do

controle democrático exercido frente à intervenção do Estado (PEREIRA, 2008).

Cabe ainda apresentar que uma política para assumir o papel de

política pública deve objetivar a concretização de direitos sociais inscritos no

conjunto dos direitos assegurados pelo texto da CF-88, os quais foram conquistados

pela sociedade e somente poderão ser aplicados por meio de políticas públicas, que

por vezes assumem o papel de programas, projetos ou serviços segundo

denominações atribuídas pelo Estado (PEREIRA, 2008), cabendo então uma

compreensão a respeito das políticas públicas na visão político-administrativa do

Brasil.

Page 95: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Inicialmente deve-se justificar que a análise de políticas públicas no

Brasil é um campo incipiente, padecendo de fragmentação organizacional e temática

apesar do crescimento das políticas públicas já implementadas (FARIA, 2003).

Visto essa dificuldade, deve-se recorrer a uma importante característica

do processo político brasileiro:

Até o início dos anos 1980, as políticas públicas promovidas pelo Estado brasileiro se caracterizavam, em primeiro lugar, pela centralização decisória e financeira na esfera federal. (...) As políticas públicas eram marcadas, em segundo lugar, pela fragmentação institucional (RONCARATTI, 2008, p. 22).

A centralidade das políticas públicas na esfera federal faz com que se

questione até que ponto essas políticas poderiam de fato ser denominadas de

políticas públicas uma vez que, como profundamente discutido, o caráter de público

é dado pela participação da sociedade na apresentação de suas demandas e na

convergência de agendas em prol da discussão.

Se as decisões são aglutinadas na esfera federal e se possuem um

caráter centralizador, como considerá-las então políticas públicas e, como

considerar também que existe um conceito de autonomia dos atores sociais na

reivindicação dessas demandas?

Esses questionamentos nos fazem perceber que o tema política

pública só consegue ganhar o devido espaço e a correta conceituação quando o

Estado brasileiro passa pelas profundas reformas democráticas trazendo para a

Constituição Federal um conjunto de garantias sociais que antes não eram

imaginadas e que não anteriormente não teriam espaço na agenda governamental

para a sua discussão.

Outro pensamento a respeito da centralidade do processo decisório

das políticas públicas refere-se à necessidade de articulação dos estados e

municípios com a esfera federal em prol da formulação de políticas públicas, mas

estas teriam muito mais o caráter de favoritismos e práticas clientelistas do que

propriamente de políticas públicas:

(...) a centralização financeira instituída pela reforma fiscal de meados dos anos 60 concentrou os principais tributos nas mãos do governo federal e, ainda que tenha ampliado o volume da receita disponível dos municípios, uma vez realizadas as transferências, estas estavam sujeitas a estritos controles do governo federal (ARRETCHE, 1999, p. 113).

Page 96: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Num segundo momento é percebido que a fragmentação institucional

criada pela própria burocracia do Estado fez com que as políticas públicas não

tivessem um papel de universalização, mas sim de práticas distributivas, fazendo

com que a sua ação se desse de maneira restrita e dependente dos recursos

financeiros da esfera federal.

Já a partir dos anos de 1980 o debate a respeito das políticas públicas

e, por conseguinte, o papel do Estrado no Brasil assume novas arenas e atores

sociais e faz com que haja uma grande mobilização nacional voltada para a

democratização dos processos de decisão, da equidade dos resultados das políticas

públicas e de maiores garantias sociais (RONCARATTI, 2008).

Para tanto, a descentralização e a maior participação da sociedade na

formulação e implementação das políticas públicas fez com que houvesse um

profundo questionamento do papel do Estado brasileiro centralizador versus uma

maior autonomia política dos estados e municípios em prol da introdução da

eficiência nas políticas públicas.

No Brasil pós 1988 e com a redação da nova Carta Magna, a

autoridade política de cada nível de governo se faz soberana e independente das

demais. E, diferentemente de outros países, os municípios brasileiros após 1988

foram declarados entes federativos autônomos implicando na autoridade soberana

de prefeitos em sua circunscrição (ARRETCHE, 1999).

Mas tal processo deve ser visto com cautela, pois a autonomia dada a

estados e municípios faz com que se reconfigure a distribuição de recursos de

maneira igualitária entre todos e, faz com que as políticas públicas que antes eram

efetivadas pela esfera federal passem a ser possíveis nas esferas estaduais e

municipais.

As novas agendas políticas passam agora a lidar com as demandas

sociais (novas, recorrentes e reprimidas) que antes não possuíam espaço na arena

de discussão centralizada e com isso uma nova gama de atores sociais surge no

ínterim dessa gênese reivindicando espaços e ações de estados e municípios

(ARRETCHE, 1999).

Essa profusão de atores sociais, demandas e novas responsabilidades

faz com que haja um novo relacionamento e novas formas de articulação do Estado

para com a sociedade civil e com o setor privado:

Page 97: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A descentralização, por sua vez, não significa apenas transferir atribuições de forma a garantir eficiência, mas é vista, sobretudo, como redistribuição de poder, favorecendo a democratização das relações entre Estado e sociedade, bem como do acesso aos serviços (RONCARATTI, 2008, p. 23).

Mas este novo processo de redistribuição de poder é conferido pelos

estados e municípios a partir dos repasses financeiros de recursos para que sejam

colocadas em práticas as novas políticas públicas, pois os agentes públicos (estados

e municípios) somente efetivarão tais políticas com recursos próprios quando

puderem perceber que os benefícios gerados a partir das novas políticas públicas

serão maiores que os recursos financeiros aplicados para a sua efetivação

(ARRETCHE, 1999).

Essa postura de proteção aos cofres públicos estaduais e municipais

evidencia o peso e importância que a descentralização das políticas públicas é ainda

uma nova realidade para as gestões públicas municipais, cabendo a estas a opção

de executá-las.

A participação, vista como elemento integrante da política pública, que

vise à descentralização, se faz valorizada ao colocar em evidência a dimensão local,

isto é, os movimentos sociais, as organizações populares, os conselhos e outros

instrumentos de participação da sociedade cujo objetivo é estabelecer formas

dinâmicas de controle social para as políticas públicas a serem oferecidas à

população.

Para tanto, o próximo capítulo irá tratar como a participação social

integra-se com a nova realidade do Estado brasileiro, seja no tocante à

apresentação de suas demandas, seja como ator social e político na formulação e

implementação de políticas públicas. E, será discutido também como a gestão social

pode contribuir para que novos estágios democráticos possam ser consolidados no

Estado favorecendo a práticas políticas mais justas e efetivas à sociedade.

Page 98: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

3 A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E A GESTÃO SOCIAL: NOVOS CAMINHOS

DEMOCRÁTICOS PARA A SOCIEDADE CIVIL BRASILEIRA

Os processos participativos vêem contribuindo para que a gestão de

políticas públicas, e mesmo a gestão administrativa do Estado, sejam incorporadas

por novos e inovadores processos a partir de um novo contexto sócio-político

brasileiro, fazendo com que o controle social seja exercido pela sociedade.

Esses novos passos para o aumento da democracia só foram possíveis

mediante a intensa reforma social que ocorreu no seio da sociedade, isto é, a partir

da sua mobilização e articulação os atores sociais e membros da sociedade

perceberam que unidos poderiam reivindicar novas posturas dos agentes políticos

em prol de profundas transformações para a melhora das realidades locais.

Assim, os processos participativos criados pela sociedade civil –

movimentos sociais, organizações, associações comunitárias, é que o presente

capítulo se organiza com o objetivo de compreender como a sociedade civil vem

possibilitando que a democracia seja efetivada; além de pesquisar e demonstrar

como a participação social se incorporou na agenda governamental do Estado

brasileiro, criando novos espaços e dotando a sociedade civil de responsabilidade,

no que tange ao controle social das políticas públicas; e, por fim, como caminho de

desenvolvimento e aprimoramento dos estágios participativos e novos

conhecimentos gerados pela participação social nos diversos espaços da sociedade

civil, apresenta-se o conceito de gestão social e como o mesmo está colaborando

para que novos processos de gestão possam ser incorporados pelo Estado

brasileiro.

3.1 Sociedade civil e sua contribuição para a democracia

A partir das reformas do Estado, percebe-se que não somente a

estrutura política da sociedade se faz preocupada com a manutenção da

democracia, mas a própria sociedade percebe que é necessário que haja uma

organização e mobilização em prol da discussão de como o Estado deve se

reorganizar.

Page 99: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

E sociedade inicia um processo de reflexão de como pode contribuir

para que este novo Estado possa estar apto a apresentar novas soluções aos

problemas vivenciados.

Cabe então uma reflexão a respeito de quem são esses atores sociais

que entram em cena durante o processo de reforma do Estado. Que interesses

esses atores possuem para que a democratização seja cada vez mais efetiva e

eficiente no que tange aos serviços públicos, e como esses atores percebem os

espaços políticos e partidários que compõem a esfera do Estado?

São esses os questionamentos que servirão de guia para a

compreensão de como a sociedade civil tem contribuído no alargamento da

democratização do Estado para toda a sociedade.

Inicialmente, é preciso que se estabeleça uma diferenciação entre

sociedade civil e Estado, pois num primeiro momento pode transparecer que toda a

sociedade está envolvida diretamente em contribuir com as reformas do Estado.

Além disso, têm-se o mercado – espaço no qual as relações de

trabalho e renda são organizadas e possuem uma dinâmica própria – e em como a

sociedade também é influenciada e influencia o comportamento deste:

(...) A sociedade civil é a parte da sociedade que está fora do aparelho do Estado. Ou, situada entre a sociedade e o Estado, é o aspecto político da sociedade: a forma pela qual a sociedade se estrutura politicamente para influenciar a ação do Estado. (...) Entre a sociedade, de um lado, e o Estado e o mercado, de outro, temos a sociedade civil. (...) Já a sociedade civil, como entidade intermediária, embora também possa ser subsidiariamente pensada em termos de instituição, está aqui sendo vista como o agente ou ator social concreto ou real (BRESSER-PEREIRA, 1998, p. 6).

A sociedade civil pensada como entidade intermediária poderia ser

vista como um elemento amorfo e sem poder de intervenção diretamente na

condução e no pensamento do Estado, ou seja, se o Estado é formado por atores

políticos eleitos pela sociedade, como esta mesma sociedade é questionadora da

atuação daqueles que ela elegeu? Mas a questão não é tão simples quanto possa

parecer, pois o voto é apenas um dos instrumentos da expressão democrática e a

continuidade na observação e cobrança de ações efetivas do Estado para a

superação dos problemas sociais é uma obrigação da sociedade como um todo,

tendo como norte o status da democracia.

Page 100: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Por um lado pode-se perceber que não é toda a sociedade que busca

a intervenção e o questionamento do papel desempenhado pelos atores políticos

junto à esfera do Estado, mas sim um conjunto de pessoas que, organizadas,

buscam expressar a vontade e o anseio de toda uma sociedade frente ao Estado.

De outro lado este mesmo agrupamento de pessoas pode também

interferir diretamente no mercado, mas de uma maneira diferenciada, pois as

relações econômico-sociais do mercado não são formadas por laços democráticos,

mas sim de interesses financeiros, sendo necessária outra forma de organização e

de intervenção desses atores sociais neste espaço.

Retornando à discussão entre Estado e sociedade, o novo papel que o

Estado assume frente às constantes mudanças após as reformas representa dizer

que maior é seu estágio democrático, ou seja, a partir das reformas e da intervenção

da sociedade, novas formas de comportamento e de ações são conduzidas pelo

Estado, mas isto não representa em si a única fonte de decisões democratizantes,

pois:

(...) os legislativos eleitos já não monopolizam ou hierarquizam a elaboração das leis; os tribunais ou parlamentos nacionais já não são as instâncias supremas na hierarquia jurídica; o vínculo entre a soberania territorial e a político-jurídica dissolveu-se, e a própria soberania desagregou-se, fragmentou-se e tornou-se complexa (COHEN, 2003, p. 421).

Daí surge a necessidade de uma sociedade civil organizada e não

alienada ao aparato político formal do Estado e de seus diversos aparelhamentos,

cabendo assim que as esperanças a respeito de um novo modelo democrático de

Estado e de sociedade surjam a partir de uma sociedade civil capaz de gerar a

solidariedade, de tornar públicas as questões a serem discutidas e repensadas junto

ao campo de ação do Estado, efetivando a democracia (COHEN, 2003).

A não alienação da sociedade civil frente ao Estado é fruto de uma

relação histórica construída a partir dos diferentes processos de diferenciação social

existentes com o próprio Estado, como também de um resultado de processos

internos de transformações nos quais os atores sociais individuais que integram a

sociedade civil estabelecem entre si vínculos de agregação e participação,

construindo alicerces para que a democracia seja efetivada a partir de suas ações e

reivindicações.

Dessa maneira, os movimentos sociais, as associações laicas e

religiosas, fundações, institutos e organizações não-governamentais representam a

Page 101: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

construção dos atores sociais que compõem a base da sociedade civil (NEDER,

1998).

Cabe mencionar neste momento que a noção organizacional dada aos

movimentos sociais é de extrema importância para que se compreenda como a

sociedade civil é formada e em como a mesma estabelece as suas ações:

Movimentos sociais são formas de ação coletiva com algum grau de organização. Representam o conflito ou a contradição entre setores da população pela conquista e/ou administração de recursos e bens econômicos, culturais e políticos; também promovem modificações e transformações das relações instituídas de uma sociedade, havendo os que almejam a manutenção das instituições sociais (KAUCHAKJE, 2007, p. 81).

Os movimentos sociais, ao longo da história da sociedade,

representam a vocalização das aspirações, contradições e das manifestações

contrárias à opressão à não democratização do Estado, fazendo com que toda a

sociedade repense os seus caminhos e estabeleça novos espaços de diálogos, de

aprendizagem e de convivência desses atores sociais que se sentem insatisfeitos ou

não aparados pelas relações institucionalizadas do Estado.

É a partir da organização e do aprendizado dos movimentos sociais

que os grupos citados por Neder (1998) surgem no cenário da sociedade, buscando

desta maneira ocupar espaços que antes eram dominados por representantes de

interesses econômicos, grupos políticos e burocratas já estabelecidos no Estado

(GOHN, 2007).

Estes novos atores sociais buscam, com a participação política,

estabelecer novos pactos políticos que redirecionem o modelo político empreendido

pelo Estado, ou seja, com a mobilização, articulação e organização os novos atores

sociais são capazes de criarem novos espaços junto à sociedade e, desta maneira,

criar uma agenda de discussão paralela ao Estado que busque a discussão contínua

dos interesses democráticos para a gestão da coisa pública (GOHN, 2007).

Assim, discute-se a representação da sociedade civil em prol de novas

políticas públicas, ao conceber que a sociedade civil organizada é dotada de maior

conhecimento a respeito de suas necessidades, como também é capaz de oferecer

soluções que visem a contribuir para a superação de problemas já estabelecidos na

agenda política, mas para os quais ainda não foi proposta uma solução.

Page 102: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

O Estado está incorporando a sociedade civil organizada a partir dos

novos espaços democráticos como conselhos, audiências públicas, redes jurídicas

(sejam elas locais, ou aquelas que se articulam a outras de caráter regional,

nacional ou por ventura e necessidade internacional), além dos fóruns temáticos ou

de participação popular (GOHN, 2007).

Discute-se que a forma de representação e atuação da sociedade civil

e dos espaços de participação junto à organização e atuação do Estado pode ser

vistos de duas maneiras:

(...) Em um caso, estamos falando de uma representação quase coletiva e, no outro, de uma forma coletiva e não-institucionalizada de ação que gera a representação. Este último não possui as características da igualdade matemática da soberania, tão cara à idéia de representação eleitoral, e não possui o elemento monopolista territorial na medida em que partilha a capacidade de decisão com outras instituições presentes no território. O importante em relação a essa forma de representação é que ela tem sua origem em uma escolha entre atores da sociedade civil, decidida frequentemente no interior de associações civis. (...) A diferença entre a representação por afinidade eleitoral é que a primeira se legitima em uma identidade ou solidariedade parcial exercida anteriormente (AVRITZER, 2007, p. 457-458).

Todos estes novos espaços democráticos visam lidar com soluções na

área de políticas públicas e sociais por representantes da sociedade civil engajados

com a problemática em discussão. Mas podem também coexistir grupos de pessoas

não organizadas, mas que possuem uma íntima ligação com a temática em

discussão, a proposição de novos espaços participativos.

A composição destes espaços participativos é feita pelos atores sociais

que compõe a sociedade civil. Pode-se assim dizer que a sociedade civil nada mais

é do que um instrumento socializador de indivíduos que buscam uma inserção na

esfera política.

Mas tal concepção é refutável ao entender que o laço que une os

diferentes atores sociais em grupos, associações ou movimento sociais é o laço de

solidariedade a ser estabelecido, pois é a solidariedade que movimenta a união das

pessoas e não o interesse por afinidade eleitoral ou política.

Essa concepção refuta a posição de que a sociedade civil poderia ser o

núcleo exclusivo de novos atores políticos ou mesmo de novos partidos políticos,

pois se assim fosse pensada, a sociedade civil seria reduzida a um caráter

Page 103: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

extremamente político, invalidando o histórico de lutas, reivindicações e conquistas

dos movimentos sociais.

Portanto é preciso que a sociedade civil deva ser concebida a partir da

conceituação gramsciniana como um palco para o pluralismo de organismos

concebidos como “privados”, ou seja, associações e organizações, sindicatos,

partidos, atividades culturais, meios de comunicação e outros organismos que

buscam se inserir na dinâmica da vida social, criando assim uma esfera na qual as

classes organizadas defendem seus interesses e disputam a hegemonia social

(DURIGUETTO, 2007).

Tal pensamento é ainda confirmado ao conceber a dimensão cultural

dado ao conceito de sociedade civil gramsciniano, no qual as associações,

organizações e as redes que são estabelecidas entre os membros associados se

forjam mediante alianças, identidades coletivas e valores éticos em prol do

estabelecimento de um campo de luta e arena para a contestação social, ou para

afirmar a contra-hegemonia de atores sociais subalternos (COHEN, 2003).

Toda essa arena de lutas e de contestação social faz com que surja

uma dinâmica e uma inovação para a tematização dos problemas sociais

vivenciados pelos membros da sociedade em geral; e como resultado da tensão

existente entre a sociedade civil gramsciniana, o Estado e o mercado, novos valores

e novas identidades coletivas são formadas, além da criação da autonomia cívica

institucionalizada por parte da sociedade civil (COHEN, 2003).

Uma visão menos atrelada à luta e ao embate sócio-político é

apresentada na conceituação dada à sociedade civil na visão de Habermas “(...) os

atores não visam à conquista do poder do Estado ou à organização da produção; em

vez disso, tentam influenciar pela participação em associações e movimentos

democráticos e por meio da mídia pública” (COHEN, 2003, p. 426).

A base para o pensamento de Habermas está na compreensão de que

a sociedade civil está localizada na esfera pública autônoma, os atores sociais não

estão vinculados ou presos na dicotomia entre Estado e mercado, mas sim na

vinculação e propagação de convicções que sejam temas de relevância para o

conjunto da sociedade, contribuindo assim para a interpretação de valores e

produção de bons fundamentos (DURIGUETTO, 2007).

A ação da sociedade civil do ponto de vista habermasiano é suposta

mediante a sua influência nas instituições e organizações da sociedade política e

Page 104: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

econômica, determinando que sejam estabelecidos “sensores” no interior do Estado

e do mercado para que tais ações possam de fato serem colocadas em prática. O

conceito de “sensor” refere-se aos espaços públicos institucionalizados no interior do

Estado e do mercado sensíveis à influência dos atores sociais que compõem os

diversos grupos da sociedade civil, podendo ser exemplificado pelos cidadãos no

primeiro caso e por consumidores no segundo caso (COHEN, 2003).

Até este ponto a discussão tem apresentado a sociedade civil como um

conjunto de pessoas dotadas de boas intenções e que a todo o momento

reverenciam a democracia como elemento balizador de suas ações, contudo, é

preciso avançar na conceituação e compreender que existe outro lado da sociedade

civil: o egoísmo:

(...) Destacada do Estado e concebida como campo oposto e não integrado a ele, a sociedade civil converte-se em terra de ninguém, como toda e qualquer sociedade “desestatalizada”, isto é, não estruturada por um pólo que contrabalance as desigualdades e que faça com que valores gerais (justamente os da cidadania política) prevaleçam sobre interesses particulares-egoísticos (NOGUEIRA, 2005, p. 111).

Tal ponto de vista é particularmente importante para a reflexão da ação

dos atores sociais que estão organizados sob o conceito de sociedade civil. Se por

um lado as suas ações tendem a criar uma sociedade mais democrática, por outro

lado, podem buscar a afirmação ou fazer com que se prevaleça seus interesses e

suas aspirações, não contribuindo de fato para o que seria a construção de uma

sociedade mais democrática e cidadã.

Pode-se então argumentar que a sociedade civil é conceituada como

esfera pública não-estatal da cidadania, a qual possui sua base material nos

discursos e consensos a respeito do autêntico interesse público, não prevalecendo

os interesses egoísticos ou hegemônicos, mas criando um processo discursivo e

consensual entre os atores envolvidos, seja o Estado, o mercado e a própria

sociedade civil em prol do reconhecimento, garantia e consolidação dos direitos

sociais, políticos e culturais de uma sociedade democrática (DURIGUETTO, 2007).

Ressalta-se que a organização da sociedade civil frente ao Estado

representa um fenômeno histórico resultante dos processos de diferenciação social,

no qual o processo interno de transformação dos indivíduos em atores sociais

mobilizados em prol da participação de organizações que apresentem tais agendas,

Page 105: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

contribuindo para que a sociedade civil seja formada no âmago da democracia

(BRESSER-PEREIRA, 1998).

Dessa forma, os atores sociais que compõem a sociedade civil criam

estratégias e vínculos para que possam ser inseridos nas agendas dos Estados,

motivando a participação no debate público em prol da dissensão e da crítica

pertinente ao processo de construção da opinião coletiva e para a formação da

vontade dos cidadãos, influenciando o processo legislatório e as políticas públicas

(COHEN, 2003).

A sociedade civil, com a sua maneira própria de organização e

funcionamento, permite que a sua autonomia frente às estruturas burocráticas do

Estado sejam mais eficientes, contudo é preciso que se compreenda que os atores

que se organizam e engajam em movimentos sociais possam ser dotados de

criatividade e do senso de questionamento em relação à política em funcionamento.

E, é necessário que esta sociedade civil queira não somente

permanecer como instrumento e canal de reivindicação e de contestação apenas

perante o Estado, mas que queria contribuir, participar da construção de uma nova

sociedade e de um novo modelo de Estado para a sociedade num todo.

Dessa forma, a sociedade civil é o lócus para que a participação social

possa ser preenchida com outros significados contribuindo para a democratização

do Estado e proposição de novo instrumental político-administrativo, fazendo com

que os espaços políticos e partidários possam se tornar mais porosos para com o

ideal cidadão e participativo, sendo esta a discussão a ser empreendida no próximo

tópico.

3.2 Participação social: caminhos para a prática democrática

A participação vista como elemento integrante da política pública que

vise a descentralização se faz valorizada ao colocar em evidência a dimensão local:

os movimentos sociais, as organizações populares, os conselhos e outros

instrumentos de participação da sociedade cujo objetivo é estabelecer formas

dinâmicas de controle social para as políticas públicas a serem oferecidas à

população (ROCHA; SILVA, 2010).

O fortalecimento da sociedade civil na discussão e na própria condução

das políticas públicas faz com que nasça um novo projeto de condução política do

Page 106: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Estado, pois as ações a partir da participação sofrerão um maior controle e haverá

uma desmonopolização no que tange à formulação e à implementação das ações

públicas, desmitificando a idéia de público como sinônimo de estatal (PAULA, 2005).

3.2.1 Redemocratização, Constituição Federal de 1988 e participação social

Os atos propositores de mudança envolvem diversos e diferentes

atores sociais em torno de temas que suscitam a insatisfação ou a necessidade de

que modificações possam ser colocadas à disposição daqueles que reivindicam a

mudança.

A partir da mobilização da sociedade civil em torno de agrupamentos

de atores mobilizados a partir de determinadas causas ou objetivos, o Estado e o

mercado se tornam alvos para que críticas possam ser feitas, mas, acredita-se que

com o diálogo estabelecido entre as partes, novas ações e posturas possam ser

tomadas em prol da superação dos problemas.

No tocante ao Brasil, é preciso que se compreenda que o histórico da

relação entre o Estado e a sociedade civil se torna tênue a partir da década de 1970

e intensifica-se na década de 1980, quando a insatisfação da sociedade para com a

postura intransigente, centralista e burocrática do Estado coloca de lado as

aspirações democráticas da sociedade como um todo.

Mas para que se compreenda de fato esse cenário do surgimento de

novos atores e da reforma do Estado, é preciso destacar o fenômeno que une a

sociedade civil e que ao mesmo tempo torna-se o principal argumento para a

renovação do Estado: a inserção da participação social na agenda oficial.

A reforma do Estado não é apenas uma aspiração dos atores políticos

de esquerda, mas também dos que se posicionam à direita, exigindo que o Estado

burocrático e centralizador possa ser repensado em conjunto com a sociedade e que

novas ações e pensamentos possam ser postos em prática (NEVES, 2007).

Contudo, o Estado centralizador e burocrático alimentava a utopia de

que os processos participativos, ou mesmo a inclusão da sociedade civil na

discussão dos rumos administrativos e políticos da estrutura oficial do Estado

tenderiam a agir como um freio, ou seja, os instrumentos democráticos participativos

como a consulta popular, a negociação e formação de fóruns democráticos

poderiam ser entendidos como empecilhos para o crescimento econômico, pois ao

Page 107: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

inserir na agenda do Estado novos e diferentes atores sociais haveria uma

morosidade paulatina e constante para a tomada de decisão, aumentando a demora

no atendimento das necessidades e na implementação dos serviços públicos

(NOGUEIRA, 2005).

De certa forma a posição de distanciamento do Estado para com a

sociedade civil é muito bem alicerçada quando se retoma a discussão dos estágios

burocráticos e da tecnocracia, ou seja, para este corpo burocrático é impensável o

Estado discutir com pessoas sem capacitação a respeito de temas, assuntos ou

políticas e políticas públicas, pois estes assuntos estariam centrados na esfera

estatal.

Esse posicionamento demonstra a pré-disposição contrária à

participação social dos burocratas e mesmo dos políticos centralistas, pois caso o

adotassem procedimentos participativos, poderiam estes atores políticos

corromperem as estruturas de poder do próprio Estado.

Muitas foram as discussões, manifestações e reivindicações da

sociedade civil para que os pensamentos e posições estadistas criadas pela cultura

burocrática do Estado centralizador pudessem ser derrubadas em prol da

redemocratização do Estado:

Esse tema percorre a história do país num contexto de luta pela democracia, conflitos sociais e conquistas, ganhando maior legitimidade, fundamentalmente em âmbito local, com a emergência dos “novos movimentos sociais” que, a partir dos anos 1970 e 1980, se organizaram como espaços de reivindicação e, mais tarde, como ação propositiva, recusando relações subordinadas, de tutela ou de cooptação por parte do Estado, dos partidos ou de outras instituições. Esses novos sujeitos constroem uma vigorosa cultura participativa e autônoma, multiplicando-se por todo o país, influenciando a constituição de uma vasta teia de ações coletivas e de organizações populares e contribuindo para o aprofundamento da democracia (PINTO, 2004, p. 59).

As constantes lutas que se formaram no âmago da sociedade

questionavam não somente a postura centralizadora e ditatorial do Estado brasileiro,

mas reivindicavam melhores condições de acesso às decisões político-

administrativas, e uma postura democrática de um Estado voltado para o

atendimento da sociedade e não das vontades e intenções do corpo de burocratas

estatizados.

Cabe ainda mencionar que se o Estado, nas décadas de 1970 e 1980

não permitia a formalização dos espaços de participação local, é a própria sociedade

Page 108: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

civil que os cria a partir dos movimentos sociais16 com o intuito claro de fomentar

espaços de protesto e contestação social. Mas o que é importante destacar nesse

momento histórico do Brasil é a forma como a própria sociedade oprimida pelo

Estado ditatorial se organiza e inicia um processo de intenso questionamento dos

rumos democráticos do país.

Nesse sentido, dá-se destaque à tensão existente no cerne da

sociedade: a fragmentação sociopolítica, a busca da cidadania política e social para

todos os membros da sociedade, e o combate à exclusão social imposta pelas

políticas nacionais centralizadoras e clientelistas (FELICISSIMO, 1994).

A combinação de todos esses fatores motiva as lutas constantes da

sociedade contra a posição do Estado, não cabendo mais a postura passiva frente

às ações, mandos e políticas que não se tornam efetivas e eficientes.

Além da formação e conscientização crítica por parte da sociedade

frente às situações de desigualdade, discriminação a que é colocada, faz com que

haja uma vontade coletiva a partir de objetivos comuns: o combate da situação de

isolamento das ações do Estado e das políticas em vigor (PINTO, 2004).

A sociedade, mediante a sua intenção de participar e contribuir para a

construção de um Estado e mesmo de uma sociedade melhor suscita o direito de

participar da vida político-administrativa do Estado.

Para tanto, é preciso que haja cidadãos pré-dispostos a serem sujeitos

de cidadania ativa, ou seja, cidadãos que como portadores de seus direitos e

deveres, irão criar direitos para a abertura de espaços de participação política no

cenário nacional (LACERDA; SANTIAGO, 2007).

Os sujeitos sociais ativos devem definir as demandas sociais que

consideram como pertencentes ao conjunto de seus direitos para então ir lutar pelo

reconhecimento e aceitação dos mesmos: “Nesse sentido, é uma estratégia dos

não-cidadãos, dos excluídos, uma cidadania ‘desde baixo’”. (DAGNINO, 2004, p.

104)

O reconhecimento das demandas sociais por parte das classes

oprimidas e a sua ação de ir lutar para o atendimento das mesmas, é que promove a

construção da nova cidadania enquanto um processo para a consolidação do sujeito

16

O assunto movimentos sociais será tratado posteriormente neste estudo, pois a sua importância para a redemocratização do Estado, como também para a criação da postura de participação social é de suma importância, carecendo assim um aprofundamento específico.

Page 109: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

social ativo e participativo nos espaços públicos e políticos. Tal pensamento é

reforçado ao compreender que o conceito de participação social exige ser inclusivo e

amplo, não se limitando apenas aos caminhos institucionais já traçados.

Para a gestão do Estado democrático de fato o desafio é romper com o

ranço de antigas políticas segmentadas e de pouca eficácia para os problemas que

pretendiam resolver, e empreender a participação ampla e não seletiva de sujeitos

sociais que possam de fato serem instrumentos da construção conjunta da nova

política pública (LACERDA; SANTIAGO, 2007).

A participação social inserida no contexto político-social deve ser

compreendida como a efetiva democratização do poder, pois define a agenda e os

investimentos públicos de maneira partilhada, coletiva, fazendo com que haja a

garantia de que os interesses e as demandas da sociedade sejam atendidos

(PINTO, 2004).

Para este estudo é importante salientar que a participação social,

enquanto instrumento para a viabilização e deliberação das políticas públicas,

deverá ser exercida de maneira conjunta com o Estado, não criando

distanciamentos ou separatismos partidários; a ação da participação da sociedade

nas políticas públicas deve assumir o status de controle social.

Contudo, a sociedade civil não é um conjunto de sujeitos homogêneos

e com as mesmas necessidades, mas refere-se a um quadro amplo e difuso:

diversos e diferentes atores sociais se relacionam, mas não buscam ser absorvidos

por determinadas estruturas partidárias ou estatais (COSTA, 2002).

A sociedade civil frente a toda essa articulação e mobilização, frente ao

o corpo de políticos do Estado consegue uma importante vitória para a

redemocratização do Estado Nacional brasileiro: a promulgação da CF-88:

A Constituição Federal de 1988 foi o marco legal que possibilitou a articulação entre dois elementos básicos que constituíram o processo de redemocratização do Estado brasileiro: a descentralização político-administrativa e o incentivo às práticas locais de participação. Este último, impulsionado por meio da construção de espaços democráticos pautados no fortalecimento da participação dos sujeitos contribui para qualificar a democracia e a cidadania (PINTO, 2004, p. 64).

A participação não pode ser compreendida como fruto da imposição de

uma política ou de uma ação unilateral do Estado, ou seja, visando simplesmente

incluir a sociedade civil nas discussões, projetos e ações políticas apenas como

Page 110: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

cumprimento da agenda ascendida pela CF-88, gerando desta maneira o não

comprometimento da sociedade civil.

Mas a participação deve ser vista como um novo instrumento de gestão

para as políticas públicas, um instrumento de liberdade voltado para a construção de

uma nação cidadã, possibilitando o comprometimento daqueles que participam na

construção de uma realidade mais justa, democrática e cidadã (MIELKE, 2010).

A partir da década de 1990, a cidadania passa a ser incorporada na

agenda oficial e tende para a proximidade com o conceito de participação social,

visto que, o cidadão ao se comportar de maneira cívica, imbuído de

responsabilidade social para com os outros e para com toda a sociedade, não

buscará exercer somente seus direitos, mas compreenderá quais são seus deveres

para a construção de uma sociedade mais cidadã e, ao mesmo tempo buscar o

aprimoramento da participação social como um pilar da democracia (GOHN, 2007).

A participação social e a cidadania expressam a conquista dos

movimentos sociais no período de redemocratização do Estado e mesmo da

sociedade, ao fazer que suas necessidades, suas demandas específicas, o respeito

às identidades locais, as diferenças fossem reconhecidas pelas políticas do Estado

brasileiro (GOHN, 2007). .

Ainda sim, a introdução da participação social na agenda do Estado

pós redemocratização fez com que os atores sociais e mesmo a sociedade como um

todo fossem reconhecidos como cidadãos pertencentes às comunidades com

características únicas e peculiaridades que necessitam ser compreendidas pelo

Estado brasileiro, fazendo com que o discurso oficial se amplie no atendimento

dessas novas demandas sociais (GOHN, 2007).

Outro ponto que carece destaque é que a partir da CF-88, a sociedade

civil empreendeu uma luta contra a ditadura militar em prol da ressurreição da

democracia e do nascimento da democracia participativa para a vida político-

administrativa do Estado brasileiro.

Com a promulgação da CF-88, importantes elementos inovadores

foram incluídos na gestão do Estado como as iniciativas populares, a participação

das comunidades em prol da formulação dos planos diretores das cidades, além de

outros inúmeros exemplos de participação social inseridos (NOGUEIRA, 2005).

Mas, a participação social como pressuposto básico da CF-88 é

reafirmada quando se percebe a introdução de um novo mecanismo administrativo

Page 111: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

para o Estado-Nação: a descentralização participativa. A gestão administrativa do

Estado brasileiro, que antes era conduzida pelos burocratas, tecnocratas e outros

atores políticos encravados no âmago da burocracia passa a receber informações e

apoio da sociedade civil a partir dos fóruns participativos, fazendo com que as

políticas públicas de seguridade social como saúde, educação e assistência social

fossem co-geridas pelo Estado e sociedade civil, tendo como lócus a participação

das comunidades para a contribuição de melhores serviços públicos17 (NOGUEIRA,

2005).

Outro ponto de destaque na discussão de participação social e CF-88,

se refere a uma resignificação das decisões políticas, ou seja:

(...) faz sentido supor que instituições de âmbito local, dotadas de efetivo poder, possam representar um incentivo à participação política, dado que podem possibilitar formas mais efetivas de controle sobre a agenda e sobre as ações de governo. No entanto, não é suficiente que se reforme apenas a escala ou âmbito da esfera responsável pela decisão a ser tomada. É necessário que se construam instituições cuja natureza e cujas formas específicas de funcionamento sejam compatíveis com os princípios democráticos que norteiam os resultados que se espera produzir (ARRETCHE, 1996, p. 48).

Assim, não basta ter no texto da CF-88 as condições favoráveis à

inclusão da participação social no cotidiano da gestão político-administrativa do

Estado, mas sim construir espaços democráticos e cidadãos para que a sociedade

civil e seus atores sociais possam de fato contribuir para a construção de novas e

melhores políticas públicas sociais e setoriais.

3.2.2 Maior voluntariedade da sociedade em participar

A participação social, conforme está sendo discutida neste estudo,

refere-se à condição de ação do ator social em querer modificar sua realidade,

17

Para melhor ilustração desse importante avanço social destaca-se o texto da Carta Magna de 1988: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).

Page 112: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

conquistar um espaço mais justo e solidário junto à sociedade e ter acesso melhor

aos serviços públicos prestados pelo Estado.

Mas de certa maneira a participação social dos atores da sociedade

civil representa a idéia de autoformação, isto é, os atores da sociedade que se

sentem motivados a participar estão se constituindo enquanto cidadãos

democráticos, os quais buscam repensar suas origens, as suas identidades e seus

destinos (GUIMARÃES, 2009).

A autoformação pressupõe que o ator social não busca num

determinado momento histórico a sua inserção no conjunto de transformações da

sua realidade, mas sim se refere em pensar em um processo de mobilização do

povo brasileiro para o alcance de suas demandas e de suas aspirações

(GUIMARÃES, 2009).

Quando refletida desta maneira, a participação social da sociedade

brasileira, ao longo das décadas de 1970 e 1980, representa todo o contexto de

lutas e disputas contra o autoritarismo do Estado no contexto da ditadura até a

conquista da participação social, no final da década de 1980, e toda essa

mobilização tem seu marco a partir dos movimentos sociais:

Os movimentos sociais emergem das contradições fundamentais da sociedade em seus aspectos econômicos, políticos e culturais. Emergem também de demandas conjunturais decorrentes de carências econômico-culturais. Entretanto, contradições e carências não bastam para explicar o surgimento e manifestação dos movimentos, é necessário levar em conta elementos como: práticas organizativas e participativas de grupos sociais específicos com potencialidade para compor o campo movimentalista; suas interpretações e representações sociais sobre a experiência social e sobre as forças sociais que dizem representar e contra as quais se antagonizam. Além disso, é fato preponderante a posição de agentes externos (como apoios ou ambiente cultural ou politicamente repressivo) (KAUCHAKJE, 2007, p. 81).

Pode-se pensar que os movimentos sociais tendem a possuir um

caráter de reivindicação e de luta constante contra todas as posturas contrárias

àquelas reivindicadas. Contudo, a reflexão deve possuir o seguinte olhar: os

movimentos sociais são inicialmente espaços de diálogo e apresentação de

insatisfações da sociedade, que se organizam a partir de um determinado tema,

objetivo ou realidade que os une (GOHN, 2003).

O espaço dos movimentos sociais representa, para aqueles que

participam, a construção do sentimento de pertencimento social: os sujeitos de uma

Page 113: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

realidade local que se sentiam excluídos e não conseguiam se congregar em grupos

sociais de pouca relevância encontram junto aos movimentos sociais o espaço

concreto para expressar por meio do discurso, do diálogo e da prática as suas

carências e dificuldades vivenciadas, e que em conjunto com outros indivíduos

podem construir a possibilidade do alcance da superação desses problemas,

sentindo-se dessa forma incluídos em um grupo ativo (GOHN, 2003).

Por isso, tem-se que os movimentos sociais urbanos no Brasil durante

a década de 1980 tinham um caráter reivindicativo no que se refere ao controle

social sobre o Estado para que houvesse melhorias das condições sociais (saúde,

educação, assistência social). Já a partir da década de 1990, com a promulgação da

Constituição Federal de 1988, há um deslocamento no eixo das reivindicações,

deixando de ser um confronto contra o Estado para se tornar uma participação

negociada (NEVES, 2007).

O interesse dessa participação negociada por parte dos movimentos

sociais refere-se a duas questões: a primeira é a busca por novos direitos para a

construção de uma cidadania ativa, e a segunda questão se refere ao

estabelecimento de uma agenda participativa das classes populares na gestão das

cidades, construindo uma cultura democrática-participativa (NEVES, 2007).

Para uma melhor compreensão a respeito da cidadania ativa, deve-se

entender o caráter pedagógico dos movimentos sociais, que propicia aos sujeitos

sociais o aprendizado para a participação cidadã; refere-se ainda à constituição de

sujeitos dotados de criatividade para o enfrentamento da realidade social na qual

estão inseridos (KAUCHAKE, 2007).

A presente discussão remete à percepção de que cidadania deve ser

compreendia à luz da ação política deliberativa: o sujeito social deve empreender a

sua participação em instâncias diferentes da sociedade para garantir o seu papel

como cidadão detentor de direitos, mas que luta em prol dos mesmos, não se

tornando um sujeito social passivo das políticas públicas (TENÓRIO, 1998).

Os sujeitos sociais quando alijados do processo econômico e social, do

direito à propriedade, encontram na participação de movimentos sociais o

conhecimento e o saber antes negado de maneira formal e, que este processo de

aprendizagem o faz sujeito de sua vida e protagonista de mudanças sociais

(MARTINTS, 2009).

Page 114: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A cidadania requer por parte da sociedade a constituição de sujeitos

sociais ativos, ou seja, aqueles que possuem a definição clara das suas

necessidades e aspirações e empreendendo movimentos e lutas em prol do

reconhecimento destas. De certa forma, refere-se à cidadania como um processo de

baixo para cima onde os não-cidadãos, os excluídos é que deverão traçar

estratégias em conjunto para a conquista de suas necessidades (DAGNINO, 2004).

Neste tocante, remete-se ao que prevalece no campo das práticas

políticas a tese da imaturidade e da desqualificação das camadas populares para a

participação social e para a cidadania, percepção esta que é superada quando o

indivíduo é dotado de consciência, liberdade e responsabilidade, e estabelece-se a

capacidade de agir frente à sua realidade social, a vontade de participar, de lutar em

prol da sua cidadania (ARROYO, 1991).

A participação social vem como resposta a estes anseios sociais: os

novos sujeitos sociais que emergiram com os movimentos sociais serão os

condutores de novos pactos políticos que possam redirecionar o modelo político

vigente e, por não dizer em novas diretrizes para que a cidadania possa ser

compreendida como o acesso pleno aos direitos constitucionalizados (GOHN, 2007).

A participação social e a conquista da cidadania deliberativa para um

Brasil democrático são fatores que fortalecem o caminhar dos movimentos sociais e,

por não dizer para os dias atuais, também para as organizações não

governamentais e suas ações.

O conceito de cidadania participativa possui como lastro a amplitude da

cidadania, não se restringindo apenas ao direito do voto, mas sim no que se refere

ao direito à vida do homem como um todo, ou seja, a cultura cidadã, fundada em

valores éticos universais e impessoais (GOHN, 2004).

E, mediante a concepção democrática radical, a participação cidadã

tem por objetivo o fortalecimento da sociedade civil no que tange à construção de

novos caminhos para uma nova realidade social, realidade esta que corrobore para

que a desigualdade e as exclusões de qualquer natureza possam ser combatidas

mediante o entendimento da igualdade e da diversidade cultural que cada homem

possui em sua comunidade ou seu local (GOHN, 2004).

Destaca-se então que a participação cidadã é concebida além da

fronteira do relacionamento homem-sociedade-Estado, mas trata-se de um projeto

Page 115: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

emancipatório e civilizador alicerçando a construção de uma sociedade democrática

e sem injustiças sociais (GOHN, 2004).

Quando se percebe que os movimentos sociais e seu caráter dialógico

servem enquanto campo para o desenvolvimento de novos atores sociais ao redor

de temas que tendem para a exclusão social, ao não atendimento de necessidades

sociais, percebe-se em essência que a condição cidadã desses atores está sendo

furtada por um Estado que tende a não compreender a situação social a qual esses

atores estão imersos, mas, é necessário que se perceba que o Estado antes da

década de 1970 possuía um forte caráter, como tem sido destacado ao longo deste

estudo, centralizador apoiado em decisões burocráticas.

Mas quando este ator social percebe a sua autonomia, a sua

capacidade transformadora em sua comunidade, organizando-se em agrupamentos

ou movimentos sociais, pode então lutar para a conquista de um espaço

reivindicativo junto ao Estado e fazendo com que os direitos ligados à condição

cidadã sejam efetivados, além de construir uma identidade para a participação

cidadã nos espaços democráticos junto com o Estado e a sociedade em geral.

O segundo questionamento apresentado por Neves (2007) no que

tange à participação negociada pelos movimentos sociais é a inserção dos atores

sociais nos espaços públicos para a discussão da gestão das cidades, no sentido de

como repensar a comunidade, as necessidades sociais, e em como o Estado em

conjunto com a sociedade civil podem descobrir novas e inovadoras estratégias para

o alcance dos problemas vivenciados pelos atores sociais em suas comunidades.

A resposta para este questionamento surge ao se fazer uma leitura

mais minuciosa a respeito da tendência atual da participação social entendida como

“(...) expressão de práticas sociais democráticas interessadas em superar os

gargalos da burocracia pública e em alcançar soluções positivas para os diferentes

problemas comunitários” (NOGUEIRA, 2005, p. 121).

Não se pode compreender em pleno século XXI que a participação

social ainda seja entendida e vista como simplesmente o veículo de pressão popular

contra o Estado, pois se assim fosse estar-se-ia estagnando o conceito às práticas

das décadas de 1970 e 1980 e desconsiderando todos os avanços políticos e

participativos que foram conseguidos a partir da CF-88.

Além de que, a sociedade civil igualmente poderia ser concebida como

um conceito inerte frente a todas as modificações sociais, político e econômicas que

Page 116: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a cada período histórico se inscrevem na vida cotidiana dos diferentes atores

sociais, sejam de uma comunidade, cidade ou país.

Para tanto, a resposta do questionamento de Neves (2007) pode

receber outro tratamento além do que o apresentado por Nogueira (2005), que é o

conceito de governabilidade participativa, o qual é entendido a partir do

relacionamento mais efetivo que é estabelecido entre o Estado e os cidadãos,

relação esta baseada na cidadania ativa dos membros da sociedade civil que

buscam participar e contribuir nesse novo desenho de gestão pública, como pela

democracia integral intrínseca aos meandros da administração pública do Estado

(WANDERLEY; RAICHELIS, 2009).

Desta maneira, está se discutindo a gestão participativa entre

sociedade civil e Estado, ambos abertos à dinâmica social, mas cabendo ao Estado

neste momento uma posição imersa em procedimentos e ações democráticas e com

maior grau de competência no que tange ao aparelhamento em auxiliar as

comunidades a construírem procedimentos próprios para que se autogovernem,

corroborando para um fortalecimento da sociedade civil e seus movimentos sociais

inerentes a cada realidade (NOGUEIRA, 2005).

A organização e a mobilização social em prol da construção de uma

sociedade civil mais forte aliada à participação cidadã serve enquanto instrumento

para que o conceito de comunidade seja atribuído ao conjunto de atores sociais

ativos, ou seja, aqueles que buscam se inserir nas discussões locais em prol da

melhora dos programas sociais, serviços públicos e prol do atendimento das

necessidades sociais que possam traçar um caminho de baixo para cima:

A participação passa a ser concebida como uma intervenção social periódica e planejada, ao longo de todo circuito de formulação e implementação de uma política pública. Para que venha a ocorrer a Participação Cidadã, os sujeitos de uma localidade/comunidade precisam estar organizados/mobilizados de uma forma que ideários múltiplos fragmentados possam ser articulados (GOHN, 2004, p. 19).

O resultado dessa ação conjunta entre Estado e sociedade civil por

meio da participação nas políticas públicas amplia sua representação enquanto

sujeito que demanda, fiscaliza e controla as ações do Estado onde, mediante a

participação nas políticas públicas, a sociedade civil busca em conjunto com o

Estado a melhora da qualidade de vida. (AVRITZER, 2009).

Page 117: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Contudo, é preciso que se destaque que os diferentes caminhos

tomados pelos movimentos sociais no Brasil democrático pós-Constituição de 1988

sinalizou que a democracia não é um status puro e acabado, exige-se dos cidadãos

o contínuo status de altera e acompanhamento da ação do Estado e, ao mesmo

tempo exige por parte da sociedade a formação de novos movimentos sociais.

A partir dessa ideia, é possível dizer que a partir da década de 1990,

novas e diferentes formas de movimentos sociais se iniciam no Brasil, deixando para

trás o caráter de luta em prol da democracia, da abertura do Estado para com a

sociedade civil. E, frente às medidas e políticas neoliberais incorporadas ao

procedimento político-administrativo do Estado, os novos movimentos sociais

tendem para uma organização em prol de temas como as reformas estatais, ações

de cunho cidadão contra a fome, o desemprego, a reivindicação por melhores

condições para aposentados e pensionistas do sistema previdenciário, atos em prol

da paz, contra a violência urbana (GOHN, 2004).

E, ainda podem ser citados os movimentos sociais que emanam de

outras demandas da sociedade, não mais aquelas ligadas às necessidades sociais,

mas sim ligadas à melhora da vida urbana e cultural das comunidades: os

movimentos de gênero (feminismo e de homossexuais), os étnicos (negros e povos

indígenas), de faixa etária (crianças e adolescentes), ambientalistas, os ligados à

deficiência e mobilidade e, por fim aos movimentos sociais ligados à diversidade

cultural (KAUCHAKJE, 2007).

Esses novos movimentos sociais emergem a partir de um cenário

construído a duras penas pelos antigos movimentos sociais e pela disputa legítima

de espaço dialógico com o Estado, além de criar na sociedade civil uma disposição

dos cidadãos para exercer o direito de participar, de fazer parte das discussões de

interesse social e a criação de uma conscientização crítica a partir do contínuo

questionamento e da negação das situações que envolvem a discriminação e a

desigualdade social, resultando na intervenção coletiva social em prol de objetivos

comuns, pois: “A consciência crítica e analítica da realidade facilita a compreensão

da importância da força social quando é articulada em torno de objetivos pré-

definidos” (PINTO, 2004, p. 61).

Outra posição deve ser considerada ao se pensar em como os novos

movimentos sociais se posicionam junto ao Estado democrático e participativo já

que nem toda participação social representa por imediato uma intervenção política,

Page 118: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

mas isto não representa o pensamento de que a participação social não seja

orientada por algum tipo de relação de poder. Aqueles atores sociais que se inserem

no campo da participação social almejam afirmar-se perante outros, sobrepujar

alguém, buscar a resolução de algum problema utilizando-se de recursos sejam eles

políticos, técnicos, financeiros ou intelectuais próprios ou disponíveis em espaços

comunitários (NOGUEIRA, 2005).

O contato da população em espaços decisórios antes reservados

somente às autoridades representa um entrave na divisão do poder, representando

em como a participação social sofre dificuldades para sua realização nesses

espaços de poder. Para tanto, os atores sociais que buscam se inserir mediante a

participação social nos espaços antes restritos necessitam de novos padrões de

relacionamento para com o poder governamental, fazendo com que todos

compreendam seus papeis, seus significados e, que o poder antes reservado a

poucos seja compartilhado, construindo junto (ROCHA; SANTOS, 2010).

Essa colocação é importante para que se ponderem as formas de

participação social, políticas públicas e papel do Estado frente à nova sociedade

pós-Constituinte de 1988. Creditar somente à livre iniciativa da sociedade em

participar da vida política é algo que necessita de um processo educacional.

Assim, a realidade socioeconômica, política e cultural da população, para quem o poder é transferido, determina diferentes posições sociais e distâncias desse poder. Por isso, a descentralização não garante automaticamente a participação, podendo, em algumas circunstâncias, reiterar as diferenças (JUNQUEIRA, 1997, p. 35).

A descentralização e a nova configuração do Estado a partir das

medidas da reforma democrática de 1988 podem ser vistas, como se está

debatendo, enquanto um grande avanço para a inserção da sociedade civil nos

diferentes níveis de governança do Estado, participando não somente para a

melhora das comunidades, mas criando novos parâmetros para que a cidadania

possa ser exercida de fato e de direito por todos. Mas ao mesmo tempo a simples

indicação da participação no texto da CF-88 não representa que todos os atores

sociais da sociedade civil terão condições para dialogarem, compreenderem e

tomarem as decisões corretas, seja na implementação de políticas públicas, seja na

distribuição de recursos financeiros para a melhora de serviços públicos.

Page 119: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Os movimentos sociais, a partir da reflexão conceitual, demonstram

que os espaços nos quais os atores sociais se congregam e organizam funcionam

num primeiro momento enquanto um local de aprendizagem: como dialogar, como

ouvir o outro, como estabelecer o convívio com o outro, para que então possam

conseguir se inserir da discussão e na vivência dos espaços tecnocráticos e/ou

burocráticos do Estado, garantidos pela CF-88.

O que é interessante de constatar é que os movimentos sociais têm o

caráter pedagógico fazendo com que os atores sociais a partir de suas realidades,

conhecimentos e vivências em como podem transformar a sua realidade a partir da

constituição de sujeitos criativos e imbuídos do espírito da participação cidadã

(KAUCHAKJE, 2007).

Pode-se notar então que a discussão e a aprendizagem gerada pelos

movimentos sociais representa o empoderamento aos atores sociais, ou seja,

segundo uma agenda emancipatória os movimentos sociais servem enquanto uma

janela para que os atores sociais participativos e cidadãos possam visualizar melhor

a realidade social na qual estão inseridos, realizando diagnósticos e propondo

propostas de melhora e de superação das dificuldades (GOHN, 2004). E, o

empoderamento ainda pode ser visto como:

Construir cidadãos éticos, ativos, participantes, com responsabilidade diante do outro e preocupados com o universal e não com particularismos é retornar as utopias e priorizar a mobilização e a participação da comunidade educativa na construção de novas agendas (GOHN, 2007, p. 53).

Nesse sentido o empoderamento dos atores locais e a aprendizagem

conseguida com a prática nos movimentos sociais, faz com que os antigos espaços

de poder do Estado sejam questionados não por atores sem a necessária condição

para intervirem de maneira positiva na realidade local, ao contrário disso, os atores

locais quando dotados do empoderamento se tornam agentes de mudança não

somente para a realidade local, como também para a própria estrutura burocrática

do Estado que necessita aprender ainda com a comunidade em como criar novas e

melhores políticas públicas locais.

É nesse sentido que a realidade político-administrativa do Estado

brasileiro vem sendo modificada e modernizada, vencendo antigos obstáculos para

a inserção da participação dos atores da sociedade civil mobilizada e articulada,

Page 120: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

fazendo com que novos espaços e agendas possam ser definidos em prol do

desenvolvimento comunitário/local, e que novos desenhos como os fóruns,

conselhos e orçamentos participativos possam ser capazes de serem desenhados e

colocados em prática, aumentando o controle social por parte da sociedade para

com o Estado e fazendo com que a cidadania, a democracia e mesmo a participação

social sejam os novos pilares do Brasil pós-Constituição de 1988.

3.2.3 Resultados concretos do processo de participação social no Brasil democrático

A participação como novo elemento no campo da gestão pública

corresponde além de uma mudança teórico-ideológica, mas também às exigências

da globalização capitalista ao Estado e ao mesmo tempo pela sociedade:

A gestão pública também está pressionada pela sociedade, não só naquilo que tem prolongamento do passado – não só pelos problemas relacionados à pobreza, às injustiças, às carências –, mas também naquilo que contém demandas provenientes das novas estruturas sociais que se estão constituindo nos últimos anos, fruto do aprofundamento do processo de democratização, das mudanças culturais, da reestruturação produtiva, das novas políticas econômicas e financeiras, da diferenciação funcional e social (NOGUEIRA, 2005, p. 124).

Essas reivindicações da sociedade passam pela demanda de políticas

públicas eficientes, pela demanda em participar e contribuir no novo desenho da

pública, todo esse contexto é denominado como governabilidade participativa.

O princípio democrático, neste novo desenho de gestão pública, é

ressaltado por Bresser-Pereira (2005) ao dizer que o princípio da autonomia dos

gestores públicos vincula-se às responsabilidades sociais, à demonstração de

resultados e da excelência dos serviços prestados à sociedade.

Considerando o conjunto conceitual apresentado da participação social

e dos movimentos sociais e pensando a sua implicação para a gestão de novas

políticas públicas e para o alicerçamento do princípio democrático, destaca-se que

os conselhos de política e os orçamentos participativos representam o conjunto de

instituições participativas concretas para o processo da inovação da participação

social no contexto do Brasil democrático (AVRITZER, 2009).

Os conselhos como espaços democráticos e aparelhamento inovador

para o contexto político-administrativo do Estado para com a sociedade civil podem

Page 121: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

ser entendidos como possibilidade da reordenação das políticas públicas brasileiras

a serem implementados em prol do direcionamento de novas formas de governança

democráticas:

De fato, os conselhos gestores foram a grande novidade nas políticas públicas ao longo dos anos. Com caráter interinstitucional, eles têm o papel de instrumento mediador na relação sociedade/Estado e estão inscritos na Constituição Federal de 1988, e em outras leis de país, na qualidade de instrumentos de expressão, representação e participação da população (GOHN, 2007, p. 83).

Frente a este pensamento, pode-se citar que foram criados e

instalados diversos conselhos nos diferentes municípios brasileiros ao longo dos

anos a partir de 1988, tais como conselhos setoriais nas áreas de: saúde, educação,

cultura, assistência social, meio ambiente. Como conselhos de segmento podem ser

citados os do idoso, da mulher e da criança e adolescente; e como conselhos

temáticos podem ser exemplificados os da moradia e o de direitos humanos (PINTO,

2004).

Os conselhos gestores, não representam somente o caráter

participativo para a gestão das políticas públicas, mas representam o espaço

democrático e conquistado pela sociedade para propor inovações no campo da

gestão político-administrativa do Estado.

Isto significa afirmar que os conselhos são em essência instituições

híbridas, ou seja, contam com a participação de atores do executivo e de atores da

sociedade civil relacionados com o setor temático com o qual o conselho atua. O

formato institucional dado aos conselhos é definido por instrumentos legais próprios

de cada municipalidade brasileira, seguindo as diretrizes estabelecidas pela CF-88,

adotando como critério norteador a paridade representativa, ou seja, nos:

Page 122: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

(...) conselhos de saúde, os usuários ocuparam metade da representação; no caso da assistência social e dos conselhos da criança e do adolescente, entidades da sociedade civil ocupam metade das vagas no conselho (AVRITZER, 2009, p. 34).

Nesta perspectiva cabe à sociedade civil e ao poder público local

discutirem fervorosamente quem serão os representantes, tanto da sociedade civil

dentre o conjunto de representações temáticas envolvidas com o conselho gestor a

ser definido, quando por parte do próprio poder público local.

Esta consideração é deveras importante para que os membros dos

conselhos gestores a serem formados não estejam apenas representados por

pessoas indicadas pelo poder público, contribuindo para que o papel do conselho se

restrinja à plena aceitação das diretrizes e das ações a serem legitimadas pelo

poder público local, como também necessita que os membros indicados pelo poder

público possam contribuir com dados e informações necessárias e relevantes para

que os atores da sociedade civil organizada, representados nas cadeiras do

conselho, possam inferir em argumentações propositivas para a superação real dos

problemas enfrentados pelos usuários dos serviços públicos (PINTO, 2004).

Nesse bojo argumentativo, deve-se destacar que os conselhos

gestores podem assumir duas posições bem diferenciadas quanto à sua atuação: a

serem órgãos consultivos ou deliberativos.

É importante diferenciar o papel do conselho consultivo e do conselho deliberativo em termos políticos e administrativos, quanto à sua relação com a diretoria da instituição. O conselho consultivo é um espaço de maior representação da sociedade, sem qualquer poder hierárquico sobre a diretoria. É uma instância de escuta da sociedade, ou seja, seu caráter político se dá pela participação, e não tem qualquer responsabilidade administrativa. Ao conselho deliberativo, usualmente, compete deliberar sobre a política geral de administração da entidade, seus planos de benefícios, orçamento anual, e suas alterações e planos de aplicação do patrimônio. Também é comum o colegiado validar decisões de diretoria (PIRES, 2011, p. 64).

O entendimento dessas duas posições que os conselhos gestores

tomam frente à dinâmica da participação social inserida na relação

sociedade/Estado marca o papel de como os atores sociais podem contribuir para o

alargamento do cânone democrático brasileiro, mas que é preciso que o poder

público compreenda qual de fato é o papel a ser desempenhado pelo conselho

gestor a ser estabelecido.

Page 123: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Pode-se notar uma preferência do poder público, o qual possui

dificuldade na compreensão do papel da participação social na gestão de políticas

públicas, em atribuir aos conselhos gestores apenas o status de consultivo,

referendado o conhecimento, a participação dos atores sociais e a sinergia com os

representantes do poder público nomeados. Contudo, como é destacado por Pires

(2011), não há qualquer responsabilidade na condução da vida político-

administrativa do poder público, ou seja, no que tange à condução das políticas

públicas setoriais e em como as mesmas podem ser redimensionadas para o

atendimento das comunidades fica a cargo da voluntariedade política do poder

público em acatar ou não os pareceres do conselho consultivo.

No outro lado dessa moeda participativa, que são os conselhos,

encontram-se os de caráter deliberativo, os quais de fato podem e devem intervir

diretamente na condução político-administrativa do Estado no que tange à

modificação, implementação e/ou inovação nos serviços públicos prestados. Além

de serem órgãos fiscalizadores e de controle da ação do Estado, pois serão estes

conselhos que irão aprovar a prestação de contas de determinados gastos públicos.

Tal posicionamento é referendado ao se fazer a leitura do pensamento

de Gohn (2007, p. 88-89) no que se refere à constituição, responsabilidade e

funcionamento dos conselhos gestores:

(...) A lei vinculou-os ao poder Executivo do município, como órgãos auxiliares da gestão publica. É preciso, portanto, que se reafirme em todas as instâncias seu caráter essencialmente deliberativo, por a opinião apenas não basta. Nos municípios sem tradição organizativo-associativa, os conselhos têm sido apenas uma realidade jurídico-formal, e muitas vezes um instrumento a mais nas mãos dos prefeitos e das elites, falando em nome da comunidade, como seus representantes oficiais, não atendendo minimamente aos objetivos de se tornarem mecanismos de controle e fiscalização dos negócios públicos.

A postura dos conselhos e seu poder de ação dependem

essencialmente da vontade política dos atores políticos do poder público local, mas

ao mesmo tempo deve sofrer pressão dos atores locais para que a condição de

consultivo se torne deliberativo, para que de fato o conselho possa ser um órgão de

controle social.

O que é interessante constatar da relação estabelecida entre os

conselhos gestores deliberativos e o poder público local é a formação da gestão

compartilhada, não cabendo ao poder executivo transferir para a sociedade civil

Page 124: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

organizada – conselhos gestores – o poder político de responsabilidade das ações a

serem realizadas, implementadas ou modificadas, pois se o assim fizesse estaria

contrariando ao dispositivo legal constitucional que atribui a responsabilidade pública

e fiscal aos gestores públicos, cabendo à sociedade civil organizada e aos

conselhos o papel de agentes públicos fiscalizadores (GOHN, 2007).

A democracia e a participação social devem ser vistas como elementos

principais para que a gestão pública promova a construção de novas políticas

públicas as quais se vinculam com a descentralização, promovendo uma

aproximação das instâncias de poder à dimensão local.

Para tal realização pode-se citar outro resultado concreto do processo

de participação social no Brasil democrático: o orçamento participativo e sua

contribuição para o aumento do controle social sobre o poder público local.

O orçamento é o instrumento básico do contrato político que subjaz a

essas relações, bem como das interações entre os diferentes organismos estatais

encarregados de executar tal contrato. Contudo, em uma sociedade comandada por

uma forte tradição autoritária e patrimonialista, como é o caso do Brasil, o orçamento

público tem sido menos a expressão do contrato político do que a expressão da sua

ausência.

O orçamento participativo é uma forma de administração pública que

rompe com a tradição política centralizadora recorrendo à participação direta da

população em diferentes fases da preparação e da implementação orçamentária,

com uma preocupação especial pela definição de prioridades para a distribuição dos

recursos de investimento (SANTOS, 2002).

E, o orçamento participativo pode ser também concebido em prol da

manifestação emergente de um espaço público institucionalizado, no qual os

cidadãos e o poder público convergem em autonomia mútua, configurando-se como

um modelo de co-gestão entre o poder político e a sociedade civil, construindo um

instrumento político-administrativo para a realidade local que sirva para que

mudanças estruturais possam ser feitas a partir das demandas e necessidades

locais (PINTO, 2004).

Esse modelo de co-gestão mediante a prática do orçamento

participativo faz com que haja mudança da postura dos líderes comunitários e do

poder público: num primeiro momento pode-se citar que essa postura se referencia

na busca da superação da política centralizada e paternalista nas quais muitos

Page 125: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

municípios brasileiros ainda estão incluídos; e num segundo momento a criação de

uma nova dinâmica de relacionamento entre os atores sociais e os atores políticos

para a participação institucionalizada seja incluída na agenda de discussões,

propiciando dessa maneira o alargamento da democracia e concretização da

participação da sociedade local em prol da resolução dos problemas.

Mas o modelo de co-gestão pode representar no nível comunitário

duas facetas diferentes para as lideranças comunitárias: o despertar de um espírito

comunitário e imbuído da vontade em participar, lutar e mobilizar outros atores

sociais em prol das mudanças necessárias e requeridas pela comunidade; como

também pode suscitar nas lideranças comunitária o perigo do clientelismo e

carreirismo (SANTOS, 2002).

Os líderes comunitários quando de fato representam a sua comunidade

nas assembléias, reuniões e outros encontros referentes ao orçamento participativo

de uma dada municipalidade devem sempre buscar a resolução do problema

comunitário e da apresentação de soluções inovadoras, mas que sejam de âmbito

comunitário. Isto significa dizer que o líder é o representante máximo dos anseios da

comunidade local, não defendendo necessidades e vontades próprias, mas sim a

vontade coletiva de um conjunto de pessoas.

Mas em contra-partida, a íntima relação com o poder pode corromper a

liderança comunitária, fazendo com que os interesses que antes eram comunitários

passem a ser voluntariados de acordo com as aspirações político-administrativas do

poder público ao perceber que a liderança comunitária passa a ser inserida num

conjunto de privilégios e cargos públicos, ou mesmo que esta liderança comunitária

se torne defensora de determinada posição político-partidária, colocando em

segundo plano a representatividade e passando a ser mais uma peça dentro do

complexo jogo do poder público.

A diferenciação dessas posições das lideranças comunitárias deve ser

levada em consideração para que o objetivo do orçamento participativo não seja

modificado ou corrompido, pois se assim o for estar-se-ia deturpando o conceito de

participação social, controle social e maior porosidade do poder público para com as

iniciativas locais em prol de melhoras constantes nas políticas públicas.

Para que seja compreendido o processo de implantação do orçamento

participativo, é preciso que se deixe claro que, como todo processo político-

administrativo, a vontade sempre parte do poder público, nesse caso do prefeito da

Page 126: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

municipalidade em incorporar na sua administração a participação social e a co-

gestão com a comunidade. A partir desse ato operam-se diferentes ações, mas que

podem ser resumidas18 na formação de diferentes assembléias regionais e

temáticas que são operadas a partir da livre participação da comunidade, ou seja,

todos os cidadãos que desejam e querem participar das assembléias se tornam

automaticamente representantes e membros de igual poder de deliberação

(AVRITZER, 2009).

Tanto os conselhos gestores quanto o orçamento participativo

representam como a participação social tem avançado de maneira concreta no

cotidiano da gestão pública, e ao mesmo tempo representa resultados concretos de

como a participação social tem modificado de maneira positiva a democracia

brasileira, superando os problemas, as desigualdades sociais e propiciando a

aproximação da população para com as estruturas de poder e de prática política.

É importante destacar que toda essa aproximação faz com que seja

questionado constantemente como o poder público eleito faz a utilização dos

recursos públicos em determinados locais, faz também com que a população local

se mobilize e crie diferentes movimentos locais de participação que possam servir

como instrumentos de informação e condução para as políticas públicas e serviços

públicos disponibilizados nas comunidades por parte do poder público que tende a

essa porosidade da participação social em sua administração, sendo então

necessário conceber uma gestão pública que incorpore além dos conselhos

gestores e do orçamento participativo a participação social em suas administrações.

3.2.4 As gestões públicas e a maior porosidade dos espaços participativos

A relação entre sociedade civil e Estado, no que se refere à criação de

diferentes mecanismos de incentivo à participação social, tende não somente à

democratização do Estado, mas essencialmente a politização da sociedade civil,

pois com uma sociedade consciente de seu papel de agente de transformação e

com a vontade em participar e contribuir para que novos serviços públicos possam

18

Para maior aprofundamento na discussão do orçamento participativo indicasse a leitura pormenor dos artigos de Boaventura de Souza Santos intitulado de “Orçamento participativo em Porto Alegre: para uma democracia redistributiva”, e o artigo de Leonardo Avritzer “Modelos de deliberação democrática: uma análise do orçamento participativo no Brasil” ambos os artigos encontram-se disponíveis na obra “Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa” de 2002.

Page 127: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

ser prestados é que torna a democracia e a cidadania conceitos vivos, ou seja,

conceitos que não estão presentes somente nos documentos oficiais e no texto da

CF-88, mas sim presentes na vida das comunidades.

Ao mesmo tempo é preciso considerar que para que haja o aumento da

porosidade dos espaços participativos nas gestões públicas brasileiras é preciso que

se vençam os antigos ranços políticos como a centralização, a burocracia e a falta

de transparência dos atos e orçamentos públicos para que então a participação

social possa ser implementada nas suas diferentes maneiras (NEVES, 2007).

Além dos conselhos gestores e do orçamento participativo outros

formatos de participação social devem ser apontados, tais como audiências públicas

envolvendo a discussão de diversos temas de caráter normativo para a

implementação de políticas públicas (municipal, estadual e/ou federal); preparação e

elaboração do Plano Plurianual (PPA), e por fim a criação de novos conselhos

gestores que envolvem a tematização de assuntos em áreas sociais sem a tradição

de mobilização e participação social (AVRITZER, 2009).

Pode-se notar que existe uma preferência por parte do poder público

executivo local na formação de conselhos gestores, pois estes tendem a dinamizar a

formulação e a implementação das políticas públicas mediante uma aproximação

direta do poder público com a sociedade civil e a comunidade local. E ao mesmo

tempo serve como um canal de democratização e aproximação do poder para com

as camadas desprovidas de interesse no que se refere à discussão político-

administrativa do Estado; e essa voluntariedade do poder público executivo traça

novos caminhos para a gestão do Estado e por que não dizer da gestão pública.

Tal proposição de gestão pública ganha a conceituação de governança

local quando assume escala microrregional: a governança representa a sinergia

inclusiva que visa potencializar a ação e os ganhos coletivos e, significa ao mesmo

tempo uma apropriação particular das energias e dos recursos coletivamente

produzidos e mobilizados (ROVER, 2008).

Desta forma, percebe-se que a conceituação de gestão pública

somada ao conceito de governança enfatiza o entrelace da democracia e da

inserção da sociedade através da participação social visando à construção de um

novo patamar para a ação das políticas e das políticas públicas.

Page 128: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Ao mesmo tempo pode-se compreender que o que está sendo

realizado mediante a inserção da participação social na gestão pública é a criação

da gestão compartilhada, ou seja:

A gestão compartilhada em suas diferentes formas de conselhos, colegiados etc., precisa desenvolver uma cultura participativa nova, que altere as mentalidades, os valores, a forma de conceber a gestão pública em nome dos direitos da maioria e não de grupos lobbistas. Isso implica a criação de coletivos que desenvolvam saberes não apenas normativos (legislações, formatos de aplicação de verbas etc.) embora esses itens também sejam importantes, dado o papel dos fundos públicos no campo de disputa política em torno das verbas públicas. Mas é preciso desenvolver também saberes que orientem as práticas sociais, que construam novos valores, aqui entendidos como a participação de coletivos de pessoas diferentes com metas iguais (GOHN, 2007, p. 51-52).

A porosidade da gestão pública somada à gestão compartilhada faz

com que as necessidades, vocações e anseios locais possam ser inseridos na

administração político-administrativa local pelo poder executivo, não se tornando

instrumento de poder e de barganha para antigos políticos centralistas e de ações

escusas. Mas, representa compreender que a comunidade local com seus saberes e

fazeres é capaz de contribuir de maneira positiva para com a mudança de

paradigmas da gestão pública local.

Ainda a respeito do pensamento de Gohn (2007) é possível conceber

outro instrumental democrático-participativo: os coletivos, que representam espaços

de conhecimento e formação para a comunidade que antes não era envolvida

diretamente na condução da vida político-administrativa de sua comunidade e que

agora passa a receber essa incumbência.

Ora, se a participação social, como demonstrado anteriormente, para

alguns setores sociais já está deveras avançado é necessário então que a gestão

pública local tenha atenção para outras áreas temáticas e outros saberes, fazendo

com que se crie uma administração participativa interdisciplinar, na qual os

diferentes saberes das comunidades mediados por atores sociais com maior

experiência em participação social e política possam conduzi-los em um processo

educativo constante, reforçando cada vez mais a importância em participar e

contribuir para o desenho de novas formas democráticas de poder.

Contudo, é preciso que não seja construída uma utopia participativa na

gestão pública na qual a participação sempre contribui para a maior democratização

das ações públicas, esse pensamento se refere aos questionamentos:

Page 129: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

(...)verificar se a gestão participativa, ao “socializar” e compartilhar determinadas decisões – ao co-reponsabilizar os governados –, não estaria ajudando a que se embaralhe e se complique o próprio processo decisório, com a ampliação do risco potencial de indefinições ou de vazios decisionais (NOGUEIRA, 2005, p. 119).

A co-reponsabilidade nas decisões político-administrativos da gestão

pública deve sim ser mediada entre Estado e sociedade civil, desde que a própria

sociedade civil esteja preparada para compreender o que se está sendo votado, no

que se está participando para que então se sinta comprometida, pois caso contrário,

poderá se sentir apenas como um fantoche na mão da gestão pública e agindo

apenas como legitimadora das ações já estabelecidas pelo poder público local. Essa

simples legitimação pode fazer com que haja a desmotivação da sociedade civil em

continuar a participar, ou mesmo em participar do projeto pseudo-participativo da

gestão pública.

E, como apresentado por Nogueira (2005), essa pseudo-participação

pode resultar em vazios decisionais ou indefinições para a implementação de

políticas públicas que necessitam da aprovação da sociedade civil. Este entrave

administrativo pode motivar a morosidade da gestão pública local na efetivação de

soluções para os problemas vivenciados pela comunidade local em função da

desmobilização e a falta de organização da comunidade.

A despolitização da comunidade local mediante uma ação coercitiva da

gestão pública local reduz a participação social à condição de simples recurso

gerencial (NOGUEIRA, 2005), servindo apenas para que as decisões técnico-

gerenciais sejam referendadas, não servindo para o alargamento do cânone

democrático-participativo.

Esses questionamentos e pensamentos que versam a respeito do lado

reverso da participação social devem ser muito bem pensados para que as gestões

públicas com pouco comprometimento com a participação social, a democracia, a

cidadania não utilizem do discurso democrático apenas para a construção de uma

propaganda participativa, conselhos e fóruns gestores legitimadores de ações

unilaterais por parte do Estado.

O cenário da participação social frente à gestão pública deve ser

referenciado com mais duas posições, a saber: a competência governamental em

admitir a participação social como instrumento colaborativo e auxiliar da gestão e o

Page 130: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

compromisso político em incorporar na agenda política os compromissos

participativos (PINTO, 2004).

O reverso da participação social como demonstrado acima enfatiza a

precariedade das gestões públicas municipais na incorporação da participação

social como instrumentos legitimadores da ação político-administrativa que tende

para a maior democratização e transparência de seus atos, mas que para o alcance

desse processo é preciso que tenha um corpo político, burocratas e tecnocratas

preparados e com conhecimentos para implementarem e aglutinarem a participação

social junto às esferas de poder e de decisão dessas gestões, contribuindo assim

para que a participação social seja efetivada e contribua com novos projetos e ações

de co-gestão para a comunidade local.

E, por fim, deve-se dar destaque ao compromisso político dos gestores

públicos em incorporarem de fato e de direito a participação social no processo de

co-gestão e co-responsabilidade em prol da mudança da realidade local. O

compromisso político em muitos casos precisará de agentes políticos com coragem

e motivação para romper com antigos laços históricos de clientelismos, centralismos

e estruturas burocráticas ineficientes traçando através da participação social uma

nova perspectiva de futuro para as comunidades locais e mesmo para toda a

sociedade local.

Todo esse processo – participação social e contribuição para o

aumento de espaços dialógicos – faz com que a gestão pública cresça

continuamente em paralelo com os avanços tecnológicos, sócio-culturais e

educacionais da sociedade local, rompendo com os ranços políticos centralistas e

clientelistas, auxiliando a incorporação de novos atores sociais no cenário da gestão

pública e fazendo com que os cidadãos possam efetivar sua cidadania ao contribuir

para um planejamento e para uma gestão pública democrática de fato.

3.3 Avanços proporcionados pela redemocratização no cenário da gestão e de

práticas sociais: gestão social

Page 131: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

O tema gestão pública e participação social recebe novos elementos

para a sua compreensão quando se percebe que nele está envolvido também a

dimensão das políticas públicas e de práticas sociais, carecendo assim de nova

redefinição, ou melhor, de um alargamento para a sua compreensão, possibilitando

ao universo de pesquisas e proposições a conceituação de gestão social para esse

entrelace de realidades: Estado, participação da sociedade nas práticas

governamentais e organizações sociais.

Ademais, a denominação de gestão social para esse conjunto de ações

e atores sociais busca expressar a noção de controle social inerente a todo este

processo de gestão conjunta, visto que, com a participação de um número

diferenciado de atores participantes na e para a gestão governamental há um maior

diálogo entre diferentes saberes e conhecimentos, fazendo com que a

interdisciplinaridade existente amplie a visão dos gestores para com os problemas

locais a serem enfrentados e resolvidos.

Contudo, para que seja estabelecida essa base dialógica entre Estado,

sociedade civil, movimentos sociais e organizações do terceiro setor19 envolvidas e

comprometidas com a gestão democrática e participativa mediante o conceito de

gestão social, é preciso que se compreenda que a gestão social é amparada por

uma problemática muito maior do que a simples articulação, mobilização e

participação desses atores sociais: representa uma nova postura contra a

construção de uma sociedade capitalista desigual e marginalizadora.

A base ideológica na qual a sociedade atual está estabelecida baseia-

se no tripé capitalismo, lucro e distanciamento com as preocupações individuais,

19

Por se tratar de um conceito que não é elemento central na discussão empreendida, cabe uma

nota sobre o terceiro setor. Longe de haver consenso em torno do conceito, a discussão sobre o

terceiro setor revela entendimentos e concepções ideopolíticas divergentes. Para alguns autores,

entre eles Ficher (2005). Este se organiza na realidade brasileira tendo como fator de organização os

avanços democráticos gerados durante e pós a redemocratização do Estado brasileiro. Como

exemplos de organizações e instituições que compõem o terceiro setor podem ser citadas as

organizações filantrópicas, fundações, institutos empresariais, associações de defesa de direitos,

dentre outras diversas formas organizativas pelas quais a sociedade civil manifesta-se como pólo

dinâmico de atuação social frente às questões que não são geridas pelo Estado e pelo mercado.

Contudo, para Montaño (2007, p. 181) o termo terceiro setor é "carente de rigor teórico - não é

preciso na caracterização do espaço que ocupa e antes confunde do que esclarece, e desarticulador

do social, pressupondo a existência de um primeiro setor - dividindo a realidade social em três

esferas autônomas: o Estado, o mercado e a 'sociedade civil'".

Page 132: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

causando mais malefícios para o desenvolvimento social do que benefícios quando

se percebe que:

(...) O capitalismo como sistema é realmente um bom organizador microeconômico da produção, mas é um péssimo distribuidor, um empregador cada vez mais precário e um destruidor ambiental que leva, ao concentrar poderosas tecnologias em formas cada vez mais predatórias de exploração dos recursos naturais, a um impasse planetário (DOWBOR, 1999, p. 31).

O capitalismo assim visto faz com que novas fortunas sejam geradas

num curto prazo, não importando em como as cifras financeiras são geradas e os

impactos produzidos serão absorvidos pelas comunidades, o que importa é

satisfazer a grande massa de consumidores.

E, nesse ínterim está o lucro e os interesses individualistas dos

empresários, e por não dizer também, de alguns governos em se colocarem em

posição passiva para com os problemas e impactos negativos gerados na sociedade

a partir da degradação ambiental, da explosão demográfica descontrolada em áreas

produtivas, e do descontrole financeiro da população na aquisição de produtos e

serviços além dos seus níveis de renda.

Não se pode compreender e aceitar que tal posicionamento – a

conjunção de todos os impactos negativos causados à sociedade e ao ambiente

local - seja saudável e louvável para um governo local pelo simples aumento de

arrecadação de impostos e tributos, há de se questionar e se problematizar a gestão

do local e do social por um maior número de atores sociais frente aos governos.

Esse posicionamento é destacado como a gestão contra o social, pois

se configura como estratégia tecnológica e instrumental por partes dos empresários

em forçarem os governos locais a aceitarem os impactos negativos como

beneficiários para o aumento da empregabilidade local, do maior afluxo de capital

para a economia local, mas ao mesmo tempo está se construindo bases para que as

organizações do campo social e os direitos de cidadania da sociedade local sejam

destituídos ou mesmo obliterados por essa conjunção de fatores (MAIA, 2005).

Mas tal obliteração não é mais tão eficiente quando se retorna à

discussão dos movimentos sociais e suas conquistas em um país democrático como

o Brasil, isto é, no contraponto da gestão contra o social encontram-se movimentos

sociais e seus atores que buscam confrontar o Estado e o mercado (empresários)

Page 133: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

para com os problemas vivenciados nas esferas locais: miséria, emprego, renda e

desenvolvimento social.

Essa dialética promovida entre a sociedade civil e os movimentos

sociais perante o Estado faz com que novos conhecimentos e práticas sejam criadas

e que indicadores sociais sejam construídos para que possa de fato monitorar como

a ação capitalista está promovendo avanços sociais ou possibilitando o aumento do

abismo social, mas além disso os indicadores sociais criados pelos movimentos

sociais e diferentes organizações do terceiro setor que compõe a sociedade civil

fazem com que seja possível a transformação da sociedade fundada em valores

como a democracia, justiça, igualdade, equidade e cidadania universal (MAIA,

2005).

Tal posicionamento se baseia não somente na busca da maior inserção

da sociedade na gestão participativa e democrática local, mas sim criar mediante a

participação e o processo dialógico com o Estado o desenvolvimento societário

cidadão, tendo o social como centro, garantindo à população local o direito de

exercer a sua cidadania mediante a participação decisória nos rumos da vida em

sociedade (MAIA, 2004).

Ao se compreender a interação entre sociedade civil e Estado no

tocante às novas formas de gestão pública, está ao mesmo tempo se referindo em

como promover novos espaços para que sejam repensados o desenvolvimento

social e a participação dos atores sociais nesse processo.

Para que a temática gestão social seja alicerçada devidamente e

amparada pelos conceitos discutidos ao longo deste estudo, tomar-se-á como novo

parâmetro o entendimento de que desenvolvimento social refere-se a um processo

integrador que visa à expansão das liberdades subjetivas interligadas de uma

sociedade (SEN, 2000).

Ao refletir em como a liberdade pode alicerçar o desenvolvimento

social e garantir novos processos gestionários para o setor governamental público, é

preciso que se amplie o que vem a ser liberdade:

As liberdades não são apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais. Além de reconhecer, fundamentalmente, a importância avaliatória da liberdade, precisamos entender a notável relação empírica que vincula, uma às outras, liberdades diferentes. Liberdade política (na forma de liberdade de expressão e eleições livres) ajudam a

Page 134: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

promover a segurança econômica. Oportunidades sociais (na forma de serviços de educação e saúde) facilitam a participação econômica. Facilidades econômicas (na forma de oportunidades de participação no comércio e na produção) podem ajudar a gerar a abundância individual, além de recursos públicos para os serviços sociais. Liberdades de diferentes tipos podem fortalecer umas às outras (SEN, 2000, p. 25-26).

Com base nesse importante pensamento, justifica-se que o

desenvolvimento social não é contraditório ao capitalismo e ao lucro, o que se busca

é uma maior inserção da sociedade local no processo de ganhos e distribuições

geradas a partir do capitalismo.

Ao mesmo tempo é importante salientar que para o Estado prover as

necessidades sociais de uma sociedade é preciso que exista um aporte financeiro

que garanta a continuidade das políticas públicas e dos serviços prestados, e com

isso a melhor distribuição dos recursos financeiros por toda a sociedade faz com que

haja uma possibilidade maior de desenvolvimento tanto para o governo e suas

diferentes esferas, quanto para a sociedade.

Ainda sim, depreende-se do conceito de liberdade vislumbrado por Sen

(2000) que quanto maior for o desenvolvimento aliado às liberdades, maiores serão

as chances da sociedade local se inserir em processos participativos democráticos,

buscando sempre garantir que políticos e gestores públicos sejam eleitos mediante o

cumprimento de uma agenda que garanta o desenvolvimento social e o aumento

das liberdades sociais.

Pode transparecer num primeiro momento que a visão de Sen (2000) é

utópica ou mesmo de proporções universais inconcebíveis para a sociedade atual,

mas quando se reflete a respeito dos ganhos sociais gerados pelas diferentes lutas

dos movimentos sociais, percebe-se que o Brasil e a reforma democrática foram

estabelecidos nesse caminhar proposto por Sen (2000), mas a continuidade é que

dependerá da vontade da sociedade em avançar na construção conjunta desse

processo de desenvolvimento social.

Mediante tal contextualização a respeito de como a sociedade civil

busca a sua inserção na discussão da governabilidade local, pode-se então iniciar a

construção do entendimento e discussão dos avanços gerados por diferentes

pensadores a respeito do conceito de gestão social.

Inicialmente a gestão social é pensada como um envolvimento na

participação equilibrada de diferentes segmentos sociais resultando na abertura de

Page 135: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

um espaço de arquitetura e decisão social, com o apoio de centros acadêmicos e

pensadores, motivando assim a maior articulação entre os participantes nesse

processo gestionário (DOWBOR, 1999).

A articulação entre os diferentes atores sociais em prol do diálogo e da

construção de um processo participativo democrático faz com que sejam

referendadas as posições de que a participação da sociedade civil e seus diferentes

atores sociais possam contribuir para com os gestores públicos no tocante ao maior

e melhor conhecimento das informações e experiências locais, favorecendo a

efetividade das políticas públicas.

Tal contribuição da sociedade civil e dos atores sociais faz com que se

configure que a gestão social e as políticas públicas não podem ser dotadas do

ímpeto do tecnocratismo, pois se assim fossem estariam repetindo antigos modelos

de gestão publica e colocando por terra todos os avanços sociais conquistados ao

longo da reforma democrática do Estado.

Mas para pensar e refletir sobre o conceito de gestão social é preciso

que se busque conhecer melhor as duas palavras que conjuntamente expressam a

visão inicial de Dowbor (1999): a gestão e o social, para que então possa ser

expandido e demonstrado em como o conceito vem se desenvolvendo e sendo

repensado por outros pesquisadores.

A gestão pode ser compreendida a partir de sua etimologia, vindo do

latim gestionare indicando a declinação de gesto, podendo ser compreendida quase

que exclusivamente a partir da sua perspectiva instrumental: valores, propósitos,

referenciais teóricos e metodológicos, além das práticas efetivadas pelos agentes

(MAIA, 2004).

Desta maneira, a gestão pode ser concebida como um processo que

tem a sua construção na sociedade, fundado e revelado na indissociabilidade das

seguintes dimensões: ético-política, teórica-metodológica e técnico-operativa (MAIA,

2004).

Se a gestão é um processo feito e pensado a partir do conjunto de

práticas sociais, o conceito então possui um entrelace com o apelo e a participação

da sociedade, no que tange a diferentes ações e posições que depreende uma

característica cidadã para a sua efetivação (MAIA, 2005).

Se a gestão é então vista como um processo social e que visa à

cidadania, pode-se considerar a gestão como instrumento e prática para a condução

Page 136: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

do Estado pós-reforma democrática, ou seja, a gestão representa um novo modelo

de como gerir os serviços públicos no que se refere ao aumento da proposta

democrática e cidadã reivindicada pelos movimentos e organizações sociais ao

longo da história da construção democrática do Brasil (MAIA, 2005).

Mas, quando a gestão é concebida friamente a partir dos

conhecimentos gerados pelas ciências administrativas, o conceito recebe o

entendimento como um processo que

(...) visa ao uso racional dos recursos para a realização econômica. O que significa dizer que o conjunto de “ativos” deverá ser mobilizado, ajustado, a normas, procedimentos e medidas, que viabilizem a otimização do capital investido (CARRION; CALOU, 2008, p. 15).

Quando concebida friamente a partir dessa ótica, a gestão assumiu

para a condução do Estado, um forte caráter neoliberal, sustentando a posição das

privatizações, da focalização e da descentralização das políticas sociais, fazendo

com que o Estado assuma uma posição de mediador entre os interesses do

mercado e as necessidades da sociedade, o que de certa forma representa para a

história democrática brasileira uma incrível perda das conquistas sociais geradas ao

longo da reforma democrática e da promulgação da CF-88 (MAIA, 2005).

Entretanto, refletir e conceituar a gestão social representa muito mais

do que a simples intervenção da gestão para e na condução do Estado e das

políticas públicas, significa gerir as demandas e as necessidades do social mediante

a vontade e a ação da sociedade por meio de formas diversificadas de gestão e/ou

mecanismos de auto-organização, tendo como princípio o associativismo (FRANÇA

FILHO, 2008).

Quando a gestão social é compreendida a partir de tal posicionamento,

refere-se a uma abertura da conceituação de gestão e mesmo a relação da

sociedade com o Estado, uma vez que, não cabe à sociedade mediante os atributos

participativos esperar que o ambiente político-administrativo brasileiro crie espaços e

agendas que viabilizem o ideal democrático-participativo, mas cabe à sociedade o

papel de agente transformador de sua realidade local e com isso, a gestão pode

auxiliar uma transformação de objetivos e condução dos movimentos sociais,

fazendo com que a preocupação e o interesse se voltem na conquista do poder de

Page 137: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

motivar a sociedade local e propor modificações e conquistas de autonomia para os

moradores deste espaço mediante os diferentes organismos associativos.

A conquista da autonomia como forma de gestão social está

intimamente ligada à gestão organizacional, utilizando-se dos conhecimentos e

técnicas instrumentais da administração para gerir as demandas e as práticas

sociais de uma determinada lógica local (FRANÇA FILHO, 2008).

Pode parece que a conceituação de gestão social se inscreve como

uma prática de gestão que tende a unir duas posições bem distintas: os

conhecimentos e saberes da administração com os saberes e conhecimentos locais

e sociais, entretanto não se pode convencionar tal pensamento, pois os

instrumentos e saberes formais da administração não são acessíveis pelos membros

da comunidade local.

Cada comunidade local, cada associação ou movimento social tende a

construir seus próprios modelos de gestão, e deve-se referendar que os

conhecimentos formais estão num primeiro momento de análise longe do acesso

desses moradores de comunidade, ou seja, a universidade, os centros acadêmicos

e outros espaços formais de conhecimentos e saberes não são acessíveis a todos

os membros da comunidade local devido às falhas e à carência financeira dessas

comunidades.

Mas restaria o questionamento: como então essas comunidades,

associações e movimentos sociais podem conduzir um processo de gestão social

sem os conhecimentos e saberes formais? E, como pode esse processo ser

denominado de gestão e ainda sim ter uma interferência na condução do Estado e

das políticas públicas?

Essa é a lógica contrária da gestão social: gerar conhecimentos e

práticas a partir da própria relação da sociedade local com os seus problemas e

frente a esse desafio construir instrumentos próprios para a gestão, além disso,

persiste a lógica contrária com relação ao econômico e o social:

(...) onde o primeiro deixa de ser uma prioridade, e acrescenta-se ainda a importância do aspecto político, a gestão social revela uma vocação forte de redefinição da relação entre economia e política, numa perspectiva de reconciliação entre o econômico e o social. De fim em si mesmo, o aspecto econômico se transforma num meio para a consecução de outros objetivos (sociais, políticos, culturais, ecológicos...) (FRANÇA FILHO, 2008, p. 34).

Page 138: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A lógica contrária da gestão social com relação ao aspecto econômico

é que faz com que os saberes e conhecimentos locais sejam valorizados, evitando

com isso que a racionalidade e os instrumentos administrativos da gestão impliquem

na imposição de práticas e atividades que sejam contrárias àquelas de anseio das

comunidades locais.

Frente a esse pensamento, pode-se apresentar que a conceituação de

gestão social refere a um desdobramento de inúmeras realidades e práticas, as

quais podem ser visualizadas no esquema abaixo reproduzido:

FIGURA 04 – Gestão Social. Fonte: FRANÇA FILHO, 2008, p. 35.

Com base na figura 04, pode-se compreender que a gestão social

frente aos desafios enfrentados busca intervir em diferentes áreas da vida social

buscando a satisfação das demandas e necessidades da comunidade local, mas

tendo um envolvimento direto com as políticas públicas estatais e uma articulação

com organizações populares, universidades, entidades não governamentais

(SINGER, 1999).

Page 139: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Outro posicionamento para a conceituação de gestão social se baseia

na relação entre a sociedade local e governo mediante a viabilização de políticas

públicas, projetos e programas governamentais assegurando uma melhora efetiva

na realidade local das comunidades (CARVALHO, 1999).

Ambos os posicionamentos devem ser discutidos à luz da história e do

momento em que foram pensados: o Brasil estava saindo de um período ditatorial no

qual as políticas públicas e as ações governamentais refletiam, como já discutido

nesse estudo, uma postura centralista e tecnocrática, não permitindo às

comunidades locais apresentarem as suas demandas e necessidades. Dessa forma

a conceituação exposta por Singer (1999) e Carvalho (1999) demonstra de maneira

bem clara a vontade da sociedade civil organizada e mesmo dos atores sociais das

comunidades locais em se inserir nesse campo de discussão e de ação do Estado,

propondo posturas inovadoras para a gestão das políticas públicas e mesmo para o

social.

A discussão da conceituação e das práticas de gestão social avança no

tempo e têm-se outro posicionamento que apresenta que a gestão social é um

processo de mediação social que deve articular múltiplos níveis de poder: do poder

individual ao poder social. Mas sempre se orientando na negociação do que deve

ser feito, do porque e para quem as ações da gestão social se revertem, cabendo

compreender que o processo dessa gestão não é individualizado ou estatizado, mas

é um processo coletivo que pode ser realizado com diferentes graus de simetria de

participação e envolvimento, trazendo consigo nessa simetria/assimetria os difusos

conflitos de interesses dos diversos atores sociais envolvidos e suas diferentes

escalas de poder. (FISCHER, 2002).

Percebe-se que a discussão avança e o envolvimento da sociedade

civil e dos atores sociais no tocante à participação e inserção de suas demandas na

agenda política já se fazem presentes, contudo o interesse agora da conceituação é

em como fazer com que ambos os atores participantes desse processo – de um lado

a sociedade civil e os atores sociais locais e de outro lado o Estado com seu

aparelhamento técnico-administrativo e seus interesses financeiros e políticos –

possam chegar a um consenso, ou melhor, a uma mediação vantajosa para ambos

os lados.

Como no processo do policy cycle, a gestão social é mais do que uma

vontade unilateral dos agentes envolvidos, mas é a formação de um campo de

Page 140: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

discussão e diálogo entre os atores sociais e governamentais envolvidos, ambos

tendendo para as suas vontades e posições, mas ambos buscando uma maneira

conciliatória para fazer com que a realidade local possa de fato ser alterada.

Esse envolvimento dos atores sociais e políticos fornecem subsídios

para que a conceituação de gestão social possa florescer com um novo conceito a

ser aplicado nas gestões públicas, as quais visam a melhora da condição de vida da

população e a implementação de políticas públicas e sociais:

(...) gestão social (...) constitui em um campo interdisciplinar e intersetorial de conhecimentos e práticas que dão suporte aos processos decisórios estratégicos e de implementação de ações públicas destinadas à realização do bem estar social (CKAGNAZAROFF, 2004, p. 13).

A gestão social vista a partir do conceito acima exposto visa ao

conhecimento e o gerenciamento da complexidade social para a apresentação de

soluções para os conflitos existentes e, por isso denota-se uma gestão voltada para

o local, centrada na ação das políticas públicas. Mas há de se ressaltar que o

conflito é ainda existente e inscreve-se nessa arena dialética entre Estado e

sociedade civil, fazendo que os elementos conflituosos (necessidades e demandas

da sociedade versus interesses políticos) venham a ser gerenciados pela gestão

social a ser executada pelo Estado com o apoio da sociedade civil.

Avançando nessa postura de relacionamento entre Estado e sociedade

civil local, a conceituação de gestão social recebe um tratamento, ou melhor, é

pensada como um gerenciamento público, tendo um viés participativo como modelo

de condução para os processos decisórios entre os diferentes atores sociais e

políticos envolvidos, significando assim uma administração pública societal (PAULA,

2005).

Mas cabe neste momento uma reflexão a cerca da condução do

desenvolvimento do conceito de gestão social a partir dos pensamentos expostos

por Paula (2005): se a discussão e a vontade motivacional da gestão social

representam a intervenção positiva dos saberes e conhecimentos locais para o

ambiente político-administrativo do Estado, como pode-se conceituar a gestão social

como um modelo de administração pública? Ou ainda, se os preceitos democráticos

participativos estão inscritos na CF-88, por que creditar à conceituação de gestão

social esse viés de administração pública societal?

Page 141: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Ambos os questionamentos demonstram em como a fragilidade

conceitual faz com que haja uma aproximação, ou melhor, uma redução conceitual

da gestão social como mais um mecanismo unilateral do Estado, colocando em

descrédito as práticas sociais e mesmo em como a gestão social se faz inscrita nas

realidades locais.

Não é producente creditar todas as inovações sociais somente ao

Estado e colocar em segundo plano os avanços sociais desenvolvidos pela

sociedade civil local mediante os espaços participativos/associativos, pois se assim

for pensado, o conceito de gestão social não representa avanço algum para a

sociedade, mas sim uma nova ferramenta de gestão do Estado.

Ora, é fácil perceber que esse posicionamento deve ser considerado

com cautela, e creditado a mais uma forma de aprimorar as práticas administrativas

do Estado, mas sempre percebendo que é a sociedade local o espaço para que

essa prática (gestão social) aconteça e se desenvolva.

Essa argumentação recebe o apoio conceitual de que os modelos de

inovação para as práticas governamentais, ou seja, a administração pública não

deve ser confundida com o tipo de regime político:

Se os autores querem chamar esse tipo de gestão pública de “gestão social”, não tenho objeções. Haveria assim uma “administração pública gerencial social”. E assim seria possível distingui-la não apenas da administração pública burocrática, mas também de versão mais liberais e autoritárias de administração gerencial. O que não podem, porém, é comparar modelo de administração pública com o tipo de regime político. Como também não podem colocar todas as versões de administração pública gerencial numa mesma categoria e associá-las às estratégias neoliberais (BRESSER-PEREIRA, 2005, p. 51).

Tal posicionamento pode parecer num primeiro momento como

autoritário e sem espaço para a discussão, mas o que de fato Bresser-Pereira

(2005) faz é se posicionar com a intenção clara de demonstrar que a administração

pública não pode ser constantemente redefinida, ou melhor, reconceituada ao bel

prazer dos pesquisadores sem o devido conhecimento do que é o Estado e todo o

seu aparto burocrático necessário.

Mas se está nesse momento fazendo um juízo de valor entre a

administração pública e a burocracia existente como algo ruim para a sociedade e a

gestão social como algo inovador e que é capaz de resolver os problemas das

práticas político-administrativas do Estado.

Page 142: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A gestão social é um conceito que deve ser lido como um modelo de

gestão, ou seja, pode ser ou não incorporado pelas gestões políticas estatais,

contribuindo para o aumento das práticas participativas e democráticas no Estado,

incorporando novos atores sociais para a discussão e avaliação das políticas

públicas de interferência local, mas em momento algum será capaz de se tornar o

elemento maior que a administração pública e a burocracia existente.

Com base nessa argumentação a gestão social tem sido reconceituada

a partir da reflexão das formas de organizações sociais; da relação existente entre

as dimensões político, econômica e social que vêem a compor a realidade total da

sociedade; e ao mesmo tempo criar novos espaços de participação no qual os

diferentes atores estatais, empresariais e comunitários possam dialogar a respeito

dos problemas e necessidades vivenciados por estes. Desta maneira a gestão social

demonstra o caminhar para uma sociedade horizontalizada e participativa, na qual a

formação de redes se configura como um novo desenho organizacional (DOWBOR,

2006).

Com isso, pode-se compreender que a gestão social:

(...) não está atrelado às especificidades de políticas públicas direcionadas a questões de carência social ou de gestão de organizações do denominado terceiro setor, mas, também a identificá-lo como uma possibilidade de gestão democrática, onde o imperativo categórico não é apenas o eleitor e/ou contribuinte, mas sim o cidadão deliberativo; não só a economia de mercado, mas também a economia social (...) não é o monologo, mas, ao contrário, o diálogo (TENÓRIO, 2008, p. 54-55).

A gestão social é então um processo dialógico entre os diferentes

atores sociais num espaço de participação, cidadania e democracia tendo como elo

os problemas sociais, econômicos, culturais e ambientais e buscando a construção

de novos e inovadores processos de gestão apoiados em diferentes conhecimentos,

fazendo que haja a construção de novos processos descentralizados mediante o

planejamento das ações e como estas terão seus desdobramentos na prática.

A compreensão de como a sociedade civil se forma, organiza e

mobiliza diferentes atores sociais em prol do objetivo democrático, representa para a

história da democracia brasileira uma verdadeira revolução, tanto de pensamento

quanto de postura e atitude, além de demonstrar em como os movimentos sociais

conquistaram novos espaços na sociedade.

Page 143: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Esse levante democrático fez com que as bases políticas do Estado

brasileiro repensassem a forma de receber, compreender e construir em conjunto

com a sociedade brasileira a partir de novos instrumentos políticos, priorizando a

participação social e os diferentes atores sociais como interventores das políticas

públicas e das práticas de programas e projetos governamentais.

Além disso, sinalizou que novos modelos de gestão social estão sendo

pensados e criados a partir das realidades locais, contribuindo desta maneira para

que a participação social não seja vinculada somente aos espaços de controle social

e de legitimação de ações do Estado, mas servindo como base para que estes

inovadores processos de gestão possam ser articulados com o Estado para uma

melhor e mais eficaz intervenção nas sociedades locais, contribuindo assim para o

desenvolvimento social, o aumento dos direitos voltados à cidadania e possibilitando

que a democracia seja exercida de fato por todos no contexto da sociedade

brasileira.

O capítulo seguinte buscará analisar como o campo da atividade

turística está sendo alterado a partir dos pensamentos e das contribuições da

participação social mediante a implementação de novas políticas públicas setoriais

sob viés dessa análise.

Page 144: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

4 PLANEJAMENTO TURÍSTICO COMO INSTRUMENTO DA PRÁTICA

DESCENTRALIZADA DE GESTÃO PÚBLICA

O turismo se encontra em um cenário que o indica como uma das

atividades econômicas de maior crescimento, com forte tendência a intensificar

progressivamente sua representatividade no mercado global.

É uma atividade econômica que mobiliza diversos setores produtivos

de bens e serviços, requerendo o trabalho de inúmeras categorias técnicas e

profissionais, promovendo a geração de emprego e renda.

Desta forma, o turismo representa um fator de estímulo para a iniciativa

privada que busca implantar novos empreendimentos, constituindo uma nova

dinâmica econômica para a localidade.

Contudo, o turismo não pode ser visto apenas como um fator de

desenvolvimento econômico para a localidade. Necessita, antes disso, ser

compreendido enquanto um instrumento para o desenvolvimento sociocultural da

localidade na qual a atividade se desenvolve ou tem potencial para se desenvolver.

Pois caso contrário, os efeitos negativos advindos com a atividade turística serão

potencializados: acentuação da estagnação do turismo, afetando outras atividades

econômicas além do turismo; aumento do fator de aculturação da comunidade local;

geração de conflitos de interesse entre os indivíduos e o grupo social, quando se

parte da análise divergente entre as realidades etnosocioeconômicas, dentre outros

fatores (MOLINA, 2005).

Para que os efeitos positivos sejam maximizados em uma destinação

turística é preciso que se compreenda que o fenômeno turístico deve partir da

percepção de um sistema de agentes interligados, os quais se relacionam direta e

indiretamente com atividades e serviços:

(...) turismo é o conjunto de serviços que tem por objetivo o planejamento, a promoção e a execução de viagens, e os serviços de recepção, hospedagem e atendimento aos indivíduos e aos grupos, fora de suas residências habituais (ANDRADE, 2001, p. 38).

A atividade turística deve ser compreendida sob a ótica da estruturação

de uma destinação turística (nação, estado ou município), a qual necessita de

Page 145: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

padrões de desenvolvimento e planejamento para o crescimento ou, mesmo, o

fortalecimento do turismo como fator de relevância para a natureza econômica.

Para que se perceba melhor a complexidade da atividade turística e

suas facetas com relação à comunidade local, ao empresariado e ao Estado, Molina

(2005) apresenta um esquema no qual busca discutir o processo básico de

conceituação em turismo, incluindo características pouco compreendidas ou

estudadas por outros pesquisadores no âmbito conceitual do turismo (figura 5).

Parte-se do princípio de que, para que ocorra o turismo, deverão existir

alguns princípios básicos ou um conjunto de conceitos que conduzam o praticante

dessa atividade a uma destinação em especial, tendo, dessa maneira, a percepção

do que busca encontrar no local, tendo como origem a motivação.

Mas, para que possa haver a motivação para conhecer e deslocar-se

do seu local de habitação para uma destinação turística, deverá existir um consenso

entre três das partes do esquema apresentado por Molina (2005), conforme figura 5

apresentada na página seguinte. São elas: tempo obrigatório, ócio e tempo livre.

Esses conceitos, na literatura básica sobre o tema, buscam demonstrar aos

pesquisadores a concepção do turismo a partir somente da institucionalização

destes tempos, ou melhor, da separação formal desses períodos para que, então, o

ser humano possa estabelecer qual ou quais motivações irão conduzi-lo ao espaço

turístico.

Waichman (1997) retrata a percepção atribuída ao tempo livre nas

práticas ligadas à recreação, mas, para este estudo, fez-se um recorte conceitual a

partir do tempo livre, pois livre será o tempo entendido como aquele no qual o

homem poderá expressar as suas necessidades e demandas próprias.

Essa afirmação refere-se à liberdade de escolha do homem e o que ele

realiza dentro desse período temporal de ociosidade, não devendo ser condicionado

a atividades ou ações praticadas dentro de padrões sociais obrigatórios. O homem

deverá ser livre nas suas escolhas relativas ao tempo livre, incluindo passeio,

caminhadas, leitura ou estudos, dentre outras inúmeras atividades a serem

realizadas e que poderiam ser enumeradas, mas, a escolha, a eleição, se dará

somente com plena liberdade de escolha, caracterizando assim a percepção

demonstrada pela figura de Molina (2005).

Page 146: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 05 – Modelo de definição do conceito de turismo. Fonte: MOLINA, 2005, p. 15.

O tempo obrigatório, o tempo do trabalho e o das ações sociais

obrigatórias não são de livre escolha do homem, mas estão ligados a interesses

sociais e econômicos de acordo com a perspectiva de Paiva (1995), Waichman

(1997), Trigo (1998), Dumazedier (2001), Dias (2003). Essas percepções são

advindas da Revolução Industrial, segundo a qual a compreensão do tempo livre

passa a ser o da implantação da jornada de trabalho, deixando o homem livre para

realizar atividades à sua escolha e que o conduzam a estados não alienantes.

No período anterior à Revolução Industrial, somente caberiam dois

tempos: o tempo desocupado e de ociosidade, pois, não havendo a

institucionalização das fábricas e do salário, o homem produzia apenas para o seu

consumo ou para ir ao encontro dos insumos básicos para a manutenção da vida

(DUMAZEDIER, 2001).

Page 147: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Assim, não se pode conceber o conceito de turismo em períodos

anteriores à Revolução Industrial, pois o homem não fazia diferenciação do tempo

livre – ócio, para com o tempo trabalhado – instituído. O ato de o homem encaixar-

se dentro de padrões societais de consumo e produção o fez desenvolver atividades

que o retirassem dos estados alienantes pungentes nas intermináveis jornadas de

trabalho a serem cumpridas.

Percebe-se, então, que o tempo livre e o ócio são características

inexoráveis do conceito de turismo e, dentro desse pressuposto, Montejano (1996)

descreve uma sequência de funções psicossociais atribuídas ao ócio, as quais

encontram-se em acordo com a classificação proposta por Dumazedier (2001).

São funções psicossociais: função do descanso, função de diversão e

de desenvolvimento. Esta última pode ser interpretada como dúbia ou mesmo como

parte do tempo obrigatório – estudo – mas, os autores a analisam como integrante

do processo de escolha livre do homem, no qual serão eleitas atividades ligadas ao

desenvolvimento intelectual, artístico e físico. Isso demonstra claramente a

preocupação do homem em conhecer locais ligados aos fatores culturais e históricos

e em desenvolver atividades físicas em locais de extrema beleza natural

(DUMAZEDIER, 2001).

Um segundo momento de extrema importância, destacado dentro do

esquema apresentado por Molina (2005) e corroborado por Rodrigues (2001), inclui

os valores, necessidades e expectativas sociais, os quais são justificados ao

analisar a complexidade da conceituação turística.

Esses valores, necessidades e expectativas sociais são apresentados,

ou melhor, são percebidos pelos turistas somente após a ruptura espacial do local

de trabalho/vida do trabalhador, ou com o êxodo do campo para as metrópoles. O

homem parte em busca de outras possibilidades sociais e sensoriais a serem

vivenciadas e, dentro dessa procura, emerge o turismo, como prática social distinta

das tradicionais socialmente reconhecidas ou, mesmo, marginalizadas (NICOLAS,

2001).

Esta visão demonstra a busca do homem por valores distintos

daqueles com os quais está em contato cotidianamente, indo ao encontro de outros

ou mesmo na compreensão daqueles sobre os quais não tem um julgamento

preciso, mas que o conduzem ao entendimento deste. Assim, justifica-se o processo

Page 148: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

proposto por Dumazeider (2001) ao afirmar que o homem busca o seu

desenvolvimento intelectual a partir de ações fora do seu espaço cotidiano.

Mas, ao se lançar na busca do conhecimento de outros valores e de

outras culturas, o homem estará se lançando num universo social distinto do seu,

indo ao encontro de culturas e locais que o façam refletir a respeito do seu espaço.

Desta maneira, pode-se compreender que o praticante do turismo se

desloca a partir de um conjunto de motivações intrínsecas baseadas no desejo de

vivenciar o espaço turístico e o conhecimento a ele associado, estabelecendo um

novo cotidiano, distinto do seu local de habitação, mas, relacionado à estrutura

social local (GEIGER, 2001).

Mas tal pensamento deve ser analisado com cautela, uma vez que se

vive em uma sociedade pautada no consumo e orientada para as viagens

(KRIPPENDORF, 2003).

A reflexão iniciada por Krippendorf (2003) corrobora para uma leitura

do conceito de turismo, não a partir do lado individual da escolha da destinação e

dos valores e necessidades a serem satisfeitas, mas sim a partir das expectativas

sociais envolvidas. A sociedade sempre desenvolveu uma segregação social em

relação às escolhas de destinações, principalmente ao realizar a leitura dos

conceitos iniciais propostos pelos autores Dumazeider (2001) e Geiger (2001).

Há destinações elitizadas em que a prática do turismo se dava e ainda

se dá somente para poucos privilegiados economicamente, e destinações populares

em que a prática do turismo se faz dentro da estrutura tempo trabalhado–tempo

livre, marcada pelos períodos de férias escolares e regulamentadas.

Esta análise cria justificativas para que as expectativas sociais dos

praticantes da atividade turística estejam alinhadas com os valores e necessidades

dos praticantes com relação às destinações turísticas consumidas.

Há uma coerção social para o que fazer e onde visitar, questionando o

conceito de liberdade da escolha inerente ao homem. Isso porque se há a liberdade

como conceito norteador do tempo livre, haveria de se ter também plena liberdade

na eleição das destinações pelos praticantes da atividade turística (KRIPPENDORF,

2003).

Contudo, deve-se realizar uma conjugação conceitual temporal,

buscando apresentar o turismo como fruto da Revolução Industrial e, assim, produto

de uma sociedade do consumo e para o consumo, com padrões de comportamento

Page 149: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

orientados por grupos sociais mais abastados economicamente, interferindo no

próximo processo destacado por Molina (2005): as manifestações.

Para que haja o deslocamento será necessária a existência de fatores

que motivem o turista para esta ação. Beni (1998) analisa esses fatores como um

conjunto de recursos naturais e culturais presentes na localidade de destino,

também nomeada de núcleo receptor.

Essa análise, segundo o mesmo autor, se dará ainda por meio da

identificação e do estabelecimento das condicionantes da viagem e, por

conseguinte, dos componentes comportamentais que envolvem o turista, como: a

origem da viagem, os meios de transporte utilizados, a natureza da viagem, o tempo

de permanência no local, os equipamentos receptivos solicitados, as motivações e

as necessidades do turista, o grau de participação nas atividades turístico-recreativa,

no núcleo receptor e, por fim, a estratificação a que pertence o consumidor.

Tais observações são concernentes à figura 5 apresentada por Molina

(2005) ao se referir às atividades e ao conjunto de fatores que tendem a motivar ou

a despertar o interesse do turista em relação ao núcleo receptor, dando início ao

processo de conceituação do turismo.

As atrações caracterizam-se como a razão individual para a eleição de

um núcleo receptor, oferecendo ao turista razões para realizar a escolha com base

na motivação individual ou nas manifestações que espera encontrar no núcleo

durante a visita (COOPER et al., 2001).

Contudo, Molina (2005), ao apresentar tal conjunto de fatores

(manifestações ideológicas, políticas, econômicas, sociais, psicológicas e físico-

ambientais), busca apresentar dentro do conceito de turismo as influências que o

núcleo receptor exerce nos turistas, como apresentado por Beni (1998) e Cooper et

al. (2001), despertando o interesse para características que tendem a assumir um

perfil único, invariável de destino para destino.

A primeira influência é realizar a leitura do núcleo receptor como um

amálgama, isto é, um conjunto intrínseco, inseparável, no qual cada elemento

exerce influência sobre o outro e todos influenciando diretamente o turista e suas

motivações. A primeira influência, conforme destacado por Beni (1998), recebe o

nome de atrações ou recursos naturais e culturais. Mas, segundo Cooper et al.

(2001), ainda podem ser observadas amenidades (hospedagem, venda de comida e

bebida, entretenimento, comércio varejista e outros serviços), acesso (transporte

Page 150: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

local, terminais de transporte) e serviços auxiliares, sob a forma de empresas e

organizações locais.

Todo esse conjunto tem suas particularidades, mas deve apresentar

um nível de qualidade a ser oferecido ao turista, para que, então, ocorra o despertar

da motivação e do interesse para com o núcleo receptor. Cooper et al. (2001)

inferem na dificuldade de controle, e mesmo de coordenação, de cada um desses

componentes, exigindo um desmembramento teórico, o qual será abordado mais

adiante.

Todo núcleo receptor é formado por experiências culturais a serem

vivenciadas pelo turista, dando à visita uma diferenciação do espaço de origem da

demanda (turista). Não existem, nesse ponto, referências quantificadas. Cooper et

al. (2001) afirmam que essas experiências devem ser encontradas pelo próprio

núcleo, não devendo ser tomadas como experiências padrões, pois, caso fossem,

invalidaria a motivação do turista para ir ao encontro de novas realidades, novas

experiências.

Outro conceito apresentado por Cooper et al. (2001) é a

inseparabilidade do amálgama e da experiência pelos núcleos receptores. Não há

como o estudioso do conceito de turismo desconstruir ou realizar a separação

desses, pois o consumo do amálgama se dá somente dentro do núcleo receptor e as

experiências culturais vão se construindo e sendo percebidas pelos turistas no ato

do consumo, durante todo o período de estada, caracterizando o conceito

apresentado por Molina (2005).

A inseparabilidade conduz à observação de que o turista não é o único

sujeito dentro do núcleo receptor; a população local é agente de todo o desmembrar

dessas particularidades unificadoras dos núcleos receptores. Se o turista busca

vivenciar uma experiência turística, tenderá a buscá-la fora do seu local de origem e

entrando em contato com outra realidade social existente. Cooper et al. (2001)

discutem que, para a ação do turismo, a localidade receptora deverá ser um

organismo social vivo, dotado de um cotidiano que faça sentido para os moradores

locais e, nele, o turista se encaixa temporariamente, vivenciando as manifestações

ideológicas, políticas, econômicas, sociais, psicológicas e físico-ambientais

apresentadas por Molina (2005).

O turista realiza, no seu deslocamento, a busca por novos elementos

da paisagem, espaços construídos e o movimento da vida, atribuindo a esses um

Page 151: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

caráter de estranheza ao confrontar com a sua realidade local. Mas, a diferenciação,

a estranheza, é percebida como fator de motivação, ou melhor, como fatores de

atração para o turismo e os núcleos receptores (WAINBERG, 2000).

Assim, deve-se realçar um dos conceitos formulados pela Organização

Mundial do Turismo (OMT), que define o turismo como sendo “a soma de relações e

de serviços resultantes de um câmbio de residência temporário e voluntário

motivado por razões alheias a negócios ou profissionais”, como destacado por

Barreto (1995, p.12). Essas relações são também compreendidas sob a ótica do

planejamento e das implicações econômicas envolvidas, haja vista o destaque para

a motivação dos turistas e visitantes em realizarem o deslocamento para

destinações turísticas. Essa motivação, segundo a conceituação apresentada, deve

ser alheia a negócios ou a profissões, submergindo a atividade turística nos campos

do lazer e do ócio.

Arendit (2000, p. 21) apresenta a definição mais atualizada emitida pela

OMT:

Fenômeno que ocorre quando um ou mais indivíduos se transladam a um ou mais locais diferentes de sua residência habitual por um período maior que 24 horas e menor que 180 dias, sem participar de mercados de trabalho nos locais visitados.

A não participação no mercado de trabalho por turistas e visitantes é

marcada pela atualização da conceituação. Percebe-se, então, que o turismo é uma

atividade que deve ser desenvolvida para o aproveitamento do tempo livre do ser

humano, sob as mais diferentes maneiras de ser organizado.

Também são encontradas em Barreto (1995, p. 14), outras

considerações de grande importância sobre a atividade turística:

(...) elemento essencial para definir o turismo é todo o arcabouço toda a preparação envolvida. Para que uma pessoa possa viajar existe toda uma equipe que faz o planejamento do receptor que presta serviços no local; que providencia as vias de acesso, saneamento básico, alojamento, alimentação e recreação.

Os fatores motivacionais irão agir diretamente para o favorecimento de

planejamentos turísticos em localidades, a fim de suprir os desejos dos turistas e

visitantes: novas atividades, equipamentos de hospedagem, qualificação do setor de

Page 152: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

alimentos e bebidas e uma série de outras ações que se façam necessárias para

amparar o turismo no local de sua ocorrência.

4.1 O planejamento turístico e suas interfaces com a organização da atividade

turística

O planejamento deve ser decifrado como um conjunto de ações que

visem projetar, dar ordem a partir de objetivos propostos focados numa realidade

futura (ANSARAH, 2001).

O planejamento conduzido por meio dos objetivos definidos poderá

provocar mudanças estruturais na localidade, visando o aceleramento econômico

dos agentes envolvidos, priorizando a visão conceitual econômica, pois discute a

introdução e a abertura para que o poder privado faça investimentos na localidade

turística, promovendo a geração de renda, de novos postos de emprego e, a

melhora de vida da comunidade local, desde que todo esse desenvolvimento

econômico seja ordenado por um processo planejado (RUSCHAMANN, 2001).

Outra definição importante para este estudo diz respeito ao

planejamento enquanto um processo em constante atuação, utilizando-se de

informação obtida dentro do núcleo receptor e tendo constantes processos

decisórios para as etapas a serem implementadas ou consideradas (PETROCCHI,

2001).

Esse processo de planejar a atividade turística pode ser discutido sob

uma visão sistêmica20, assim como apresentado por Beni (1998), em que cada etapa

é pré-determinada a partir de uma série de objetivos listados para o processo de

planejamento.

Esses autores (BENI, 1998; PETROCCHI, 2001; ANSARAH, 2001)

partem do princípio de que o planejamento envolve ações que visam o

desenvolvimento contínuo da atividade turística, tendo como foco uma visão de

futuro. Esse desenvolvimento continuado deverá ser fixado por meio de ações

determinadas a serem executadas, demonstrando a necessidade de se fixar

20

O sistema de turismo conceituado por Beni (1998) permite a visualização da atividade turística em sua totalidade, compreendendo três macros conjuntos: o das relações ambientais, o da organização estrutural e o das ações operacionais. Cada um destes com desmembramentos e especificidades que são inerentes à atividade turística e sua correlação com o território na qual o turismo se desenvolve.

Page 153: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

objetivos e metas consistentes e revisados no decurso do planejamento e de sua

implementação.

Nesse sentido, é importante utilizar um arcabouço científico-

metodológico para o alcance de objetivos e metas a serem perseguidos dentro do

planejamento, no qual a utilização de métodos científicos conduzirão o planejamento

desta atividade a uma maior probabilidade de acertos. Molina e Rodríguez (2001, p.

71) destacam, em relação a esse pensamento, que:

(...) num contexto científico, para chegar a conhecer, mudar e avaliar a

realidade, é necessário organizar e conduzir previamente um processo de

observação, registro e dedução de fenômenos e fatos que sirvam para

identificar e estabelecer hipóteses que, por sua vez, sejam comprovadas

ou rechaçadas pela observação e experimentação. Se estas hipóteses

resistem à comprovação, servirão de base para elaboração de leis, das

quais surgirão, numa ordem dedutiva, teorias e modelos.

O planejamento, a partir da compreensão de Molina e Rodríguez

(2001), assume um caráter de cientificidade apoiado em teorias e conceitos que irão

conduzir o processo de forma cautelosa, buscando minimizar os possíveis erros e

mensurando os impactos de possíveis alterações no ambiente.

Ainda, Beni (1998), Ruschmann (2001), Petrocchi (2001) e Dias (2003)

afirmam que o planejamento turístico não é uma ferramenta ou um conceito de

abrangência somente para uma única localidade, mas há todo um contexto sócio-

geográfico partindo do pressuposto de que as localidades vizinhas se inter-

relacionam e, da mesma maneira, sofrem influências ambivalentes que

compreendem os fatores culturais, econômicos e sociais.

Muito embora o planejamento turístico assuma uma estrutura diferente

em cada área e região a ser aplicado, esse segue um padrão em linhas gerais

partindo da dimensão política, na qual durante todo o processo a ser realizado

deverá ser conduzido, orientado ou coordenado pelo poder público (MOLINA;

RODRIGUEZ, 2001).

O planejamento turístico traduzido em ações empreendidas pelo poder

público se dará por meio da manutenção e ampliação da infra-estrutura básica,

melhoria nas políticas públicas e sociais dentre outras, assegurando que o

desenvolvimento do núcleo turístico receptor seja efetivado pelo Estado (COOPER

et al., 2001).

Page 154: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A orientação do planejamento pelo poder público visa não somente

ordenar a atividade turística, mas garantir que aspectos como o social e o cultural

não sejam marginalizados pela vontade e interesse da iniciativa privada, assumindo

desta maneira o seu viés enquanto uma política pública setorial.

Percebe-se que o planejamento é parte da condução da vida social e

da manutenção do amálgama turístico, ou seja, a infra-estrutura básica de uma

localidade, as atrações turísticas e os serviços turísticos prestados pelos

empresários, compõem esse difuso e complexo amálgama do núcleo receptor

(COOPER et al., 2001).

Desta forma, a execução do planejamento se dará por meio de

programas de ação direcionados às tipologias desde que assumam o caráter

estratégico, tático ou operacional21, pois, a correta compreensão conduzirá o

planejador no discernimento da melhor orientação a ser seguida frente à diversidade

de caminhos e opções. A execução poderá se dar em tempos distintos, isto é, cada

planejamento a ser executado poderá ter um período diferente, assumindo o caráter

de longo, médio ou curto prazo, em conformidade com as necessidades do local ao

qual se aplica (PETROCCHI, 2001).

O termo planejamento, como um instrumento de política do Poder

público, assume uma leitura na dimensão social segundo a qual as ações a serem

realizadas irão impactar diretamente a população local e o seu cotidiano para que se

alcance a diversidade das experiências culturais e a atração de investimentos

econômicos no núcleo receptor. Contudo, segundo Molina e Rodriguez (2001), todo

o processo de planejamento deverá ter como objetivo a manutenção ou o aumento

da qualidade de vida dos envolvidos nas áreas a serem transformadas, pois, caso

contrário, o processo de aculturação da comunidade poderá ocultar ou até

exterminar as experiências culturais a serem perseguidas pelos turistas, retirando o

interesse e a motivação dos turistas em o conhecerem.

Se o processo de planejamento turístico é algo que envolve diversos

atores, situações e empreendimentos é necessário que seja um processo construído

em conjunto, com a participação de todos os envolvidos para que o desenvolvimento

21

De acordo com Petrocchi, (2001, p. 68), os termos estão respectivamente relacionados ao tipo de organização, estabelecendo diagnóstico, objetivos e estratégias, e aos escalões intermediários, subordinados à alta administração, caracterizados por planos setoriais (programas voltados para áreas específicas) e são tarefas executadas dentro de uma empresa.

Page 155: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

tanto, econômico quanto o social sejam alcançados por todos de maneira igualitária

e justa.

Esse processo construído em conjunto suscita a prerrogativa da

participação das lideranças locais como sujeitos do processo de planejamento,

implementação, gestão e monitoramento da atividade turística (RODRIGUEZ, 1999).

Assim, a atividade turística e, por conseguinte seu planejamento, deve

ser vista como uma nova possibilidade de geração de trabalho e renda, mas que

promova a interação e a cooperação entre os atores locais, produzindo um valor

agregado intangível (MIELKE, 2010).

Souza (1999) corrobora com os questionamentos apresentados por

Junqueira (1997), Rocha e Santos (2010) e Mielke (2010) no que diz respeito à

heterogeneidade da sociedade e assimetria de poder nos distintos espaços, sejam

públicos ou privados, estatais ou não estatais, colocando em questão a real e livre

participação da população na gestão do turismo local. A resposta deste

questionamento reside nos pensamentos de Mielke (2010, p. 21): “(...) alinhar

pensamentos para que todos tenham o mesmo foco é um processo árduo, exigindo

muita experiência e profissionalismo por parte dos envolvidos”.

O planejamento do turismo, na perspectiva da gestão democrática

participativa, deve ter como princípio a participação e cooperação da comunidade

local e do empresariado para que em conjunto com os entes estatais, possam

construir e conduzir a política pública de turismo.

4.1.1 O processo do planejamento turístico participativo

Pensando de uma forma restrita, o planejamento turístico é instrumento

para a ordenação do produto e da atividade turística local, mediante a visualização

de um sistema de dados e informações gerados a partir de uma visão técnica. Mas

será que somente a visão técnica conseguirá garantir que, de fato, o planejamento

turístico seja efetivado?

Mediante este questionamento é que surge a discussão e a proposição

de novas metodologias que sejam empregadas em prol da ordenação e do

planejamento da atividade turística, isto é, com base nos conhecimentos e práticas

técnicas é possível agregar outros conhecimentos e práticas de diferentes atores

sociais envolvidos, criando outra forma de se pensar e agir o planejamento turístico

Page 156: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

mediante a participação social.

Quando se percebe a participação social de diferentes atores sociais

da localidade na qual se pretende organizar ou planejar a atividade turística, espera-

se que o efeito multiplicador na economia local gerado pelo turismo possa vir a

beneficiar um conjunto maior de pessoas e empreendimentos, agregando um maior

número de interessados em discutir e pensar a atividade turística local (DIAS 2003).

A participação social quando empregada no planejamento da atividade

turística não se refere somente ao envolvimento dos atores sociais na condução da

atividade em sua localidade, mas busca empreender uma nova metodologia que

resulte não somente em interpretações e análises técnicas oriundas dos processos

metódicos e tecnicistas do planejamento turístico, mas sim criando amparos para

que a participação social na gestão do turismo possa ser discutida.

Admitindo-se a gestão participativa de um conjunto de diferentes atores

sociais locais no planejamento turístico, espera-se estruturar o desenvolvimento da

comunidade receptora da atividade turística fundamentada num processo de

organização pela e para a comunidade, na qual cada ator social que se envolve

assume o papel de sujeito no direcionamento de ações que tenham o cunho de

estratégias sustentáveis para a destinação turística (CONCEIÇÃO; NUÑEZ, 2007).

Desta maneira, pensar em planejamento participativo para o turismo é

gerar um processo de desenvolvimento que tenha como compromisso ser pensado

de maneira endógena, a partir das realidades do cotidiano, dos anseios e

necessidades da comunidade local, assim como também do envolvimento do setor

produtivo turístico (equipamentos de hospedagem, alimentação, bares,

transportadoras turísticas dentre outros).

Para tanto é preciso que se considere o que venha a ser entendido

como comunidade, para que não se convencione a concepções errôneas ou mesmo

marginalizadoras desse conceito:

(...) comunidade é uma organização de seres interdependentes, mas que se articulam e interagem em relacionamentos existencialmente primários (quando as pessoas mantêm vínculo direto, espontâneo e informal, avaliando e controlando o ambiente comum de sua existência) e secundários (decorrem normas e decisões coletivas, nos quais há um controle externo à pessoalidade de cada indivíduo) (OLIVEIRA, 2008, p. 24).

Page 157: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Para tanto, a comunidade não é somente formada pelos indivíduos,

excluindo o setor privado que movimenta de fato a atividade turística, como também

a comunidade não pode ser vista como um elemento que venha a excluir o setor

público, pelo contrário, é exatamente a reunião de todos esses atores sociais.

De certa maneira, é compreensível que os laços e vínculos primários e

secundários sejam dados a partir da interferência que cada um dos atores sociais

venha a ter com outros pares da própria comunidade e, como ressalta Oliveira

(2008), persiste uma relação de interdependência entre todos aqueles que estão

localizados no perímetro da comunidade.

A partir da perspectiva da interdependência dos diferentes atores

sociais que compõem o espaço da comunidade local, a participação no processo do

planejamento turístico vem recebendo importantes contribuições favoráveis para o

aumento de estratégias que contemplem essa inter-relação entre os diferentes

atores sociais, pois os benefícios e os impactos advindos com a atividade turística

irão refletir diretamente na comunidade receptora.

Pensando desta maneira, o planejamento turístico, quando envolve a

dimensão da participação social, estimulará a consciência dos atores sociais para

uma verdadeira mudança, ou seja, a partir da discussão e participação de um maior

número de atores sociais interessados no desenvolvimento da comunidade local, as

propostas para o planejamento turístico sairão das esferas teóricas e segmentadas e

passarão a ser de responsabilidade de todos os que se envolvem. Além disso,

mediante a participação social no planejamento turístico, almeja-se que as ações

determinadas de médio e longo prazo sejam efetivadas, não caindo no ostracismo

do poder público, o qual, em grande parte, é o executor unilateral do planejamento

turístico (LOCH; WALKOWSKI, 2009).

O planejamento turístico participativo gera uma gestão integrada dos

recursos e ações a serem empreendidos na comunidade local, fazendo com que o

cidadão busque se envolver com o processo em si não objetivando somente o

desenvolvimento econômico da localidade, mas buscando na participação social

uma contribuição para que o turismo possa utilizar os recursos naturais e culturais

da comunidade sem depreciá-los (OLIVEIRA, 2008).

Essa faceta do planejamento turístico participativo é que deve ser

ressaltada quando se percebe que o turismo é uma atividade com grande poder em

prol do desenvolvimento da comunidade receptora: gera novos postos de trabalho,

Page 158: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

aumenta o fluxo circular da economia local, atrai novos investimentos, potencializa a

ação dos governos locais em prol das necessidades e dos problemas pontuais de

infra-estrutura básica.

A percepção do planejamento turístico participativo não é criar uma

utopia participativa que irá mediante novos canais de comunicação e interação

resolver todos os problemas da comunidade, mas se torna um forte instrumento para

que o desenvolvimento e a sustentabilidade possam ser inseridos nas agendas

propositivas do turismo local:

Percebe-se então que um dos pontos que viabilizam o processo de desenvolvimento regional se traduz na aplicação de um planejamento, considerando a capacidade de harmonizar as formas de articulação local com uma proposta sustentável que produza raízes na vocação regional e crie uma identidade da população local em relação a idéia de sustentabilidade (CONCEIÇÃO; NUÑEZ, 2007, p. 5).

Harmonizar não significa excluir por total os problemas e necessidades

sinalizados pelos diferentes atores sociais que compõem a comunidade turística

receptora, pelo contrário, significa cria um sistema participativo no qual as

necessidades serão sinalizadas e mediante uma discussão e um processo de

estabelecimento de metas e obrigações cada um dos atores envolvidos tomará para

si a responsabilidade na resolução do problema sinalizado.

Toda essa discussão fica amarrada a uma compreensão das

necessidades democráticas das comunidades locais latino-americanas que almejam

que o desenvolvimento e o crescimento econômico sejam compartilhados com todos

os membros das comunidades:

Uma das necessidades mais prementes das sociedades da região latino-americana consiste em projetar mecanismos para elevar quantitativa e qualitativamente o grau de participação de seus membros e suas instituições em tudo que se refere à identificação de prioridades, estratégias de execução das soluções e avaliação dos resultados obtidos. Fica difícil ascender a um desenvolvimento socioeconômico mais elevado sem estas condições e suas implicações (MOLINA, 2001, p. 123).

A participação social no planejamento turístico não representa uma

discussão dogmática, para além do que pode de fato ser feito em prol da

comunidade turística receptora, mas deve ser compreendida como um novo

mecanismo para a gestão da atividade turística local, promovendo assim a inter-

Page 159: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

relação dos diferentes atores sociais, além de promover o desenvolvimento e a

sustentabilidade para todos os atores envolvidos direta e indiretamente na dinâmica

turística.

Assim, a gestão participativa no planejamento turístico deve

reconhecer as complexidades que envolvem a atividade turística em uma

comunidade receptora, para que então possa processar de maneira prioritária para

todo o conjunto de atores envolvidos com se dará o processo de mudanças que

visem o alavancar do desenvolvimento (OLIVEIRA, 2008).

Tendo como elo o compromisso social a ser pactuado entre os

diferentes atores sociais envolvidos na dinâmica do planejamento turístico

participativo, criar-se-á a garantia de que as questões urgentes que venham a

ameaçar a estabilidade da comunidade receptora sejam então resolvidas ou que

venham a ser pauta das discussões desses atores (MOLINA, 2001).

Além da complexidade local existem outras justificativas para que o

processo participativo seja implementado no âmbito da atividade turística, uma vez

que o processo do planejamento turístico tende a um forte caráter centralizador a

partir das abordagens sistêmicas como apresentadas no tópico anterior.

O planejamento turístico centralizado, ou seja, aquele que apresenta o

governo como núcleo da ação e transformação da comunidade turística receptora,

não consegue resolver todos os dilemas e problemas apresentados pela

complexidade de fatores próprios da atividade turística, uma vez que, no processo

de planejamento turístico centralizado fatores como coesão política, participação dos

membros da comunidade, descontinuidade governamental e comprometimento

político não são levados em consideração na etapa de formulação, escrita e

finalização do documento final do planejamento turístico centralizado (ENDRES,

2002).

Os fatores como coesão política e descontinuidade governamental

foram temas já levantados neste estudo quando da discussão das políticas públicas

e sua formulação, e percebe-se que são temas que perpassam outras esferas de

decisão governamental.

A coesão política vista a partir da realidade local pode durante um

período governamental auxiliar e trazer para a comunidade um conjunto de ações,

empreendimentos, serviços públicos que visem contribuir de maneira positiva para o

desenvolvimento do turismo como também a própria comunidade local. Mas se não

Page 160: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

houver coesão política na administração pública local, tanto a comunidade

(cidadãos) quanto o empresariado do setor turístico serão olvidados quando da

formulação dos planos políticos do governo local, não se tornando elementos de

discussão e preocupação.

Ainda assim, é preciso que se compreenda que a coesão política e a

descontinuidade governamental afeta diretamente a maneira como o planejamento

turístico é conduzido nas comunidades. No início de uma nova gestão político-

administrativa os planos e ações do antigo governo são colocados de lado e inicia-

se um novo processo de se repensar todas as ações a serem empreendidas

localmente, abandonando com isso as ações e programas já em fase de execução e

apresentação dos primeiros resultados.

Com isso, o desenvolvimento, não só do turismo como da própria

comunidade, sofre ações intervalares: o ciclo de desenvolvimento é interrompido até

que novos projetos sejam construídos e colocados em prática. Obras, serviços

públicos, facilidades de acesso às esferas do poder local são repensados e a

comunidade local e o empresariado se tornam vítimas da morosidade e da

burocracia a ser instalada novamente na gestão político-administrativa.

Não se quer com isso justificar que planejamentos turísticos antigos

não sejam modificados ou que se permaneça continuamente com antigos vícios da

administração pública. Contudo, mediante a participação social dos atores locais, o

planejamento turístico que já venha colhendo bons frutos deve ser continuado e

repensado, mas jamais destruído ou colocado de lado.

A concentração de poder dos governos em poucos atores políticos cria

a base que justifique que novos procedimentos sejam incorporados à realidade local

em prol da melhor dos serviços públicos, incluindo nestes em especial a discussão

do turismo.

Desta maneira para que o planejamento turístico participativo possa ser

implementado na realidade local, este deverá mediante a focalização no

desenvolvimento local ter um conjunto de ações descentralizadas, pois:

(...) planejar significa ser e agir de forma responsável, orientando ações que

Page 161: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

contemplem o bem-estar coletivo. Seguindo este raciocínio, entende-se que toda e qualquer atividade deva ser realizada com ética e sem falsas promessas e meras palavras que assegurem expectativas ilusórias apenas para beneficiar instituições. No viés do novo paradigma de desenvolvimento inclusivo, significa ter como meta a melhoria da qualidade de vida e do índice de desenvolvimento humano, descentralizando ações e incorporando preceitos que envolvam a gestão participativa e integrada de todos os envolvidos no processo de planejamento do turismo (OLIVEIRA, 2008, p. 27).

Não é a partir de um sistema político-administrativo que vise atender

somente ao empresariado que deve construir um processo de planejamento

turístico, uma vez que, como já demonstrado anteriormente, o turismo não é uma

atividade que envolve um número ou mesmo somente alguns atores sociais da

comunidade turística receptora, mas que depende de todo um complexo sistema de

inter-relações entre todos da comunidade.

E, não se pode convencionar que o planejamento turístico é um

instrumento que vise a dar respostas imediatas a problemas e às situações

apresentadas por um grupo, pois, se assim fosse, não se trataria de um instrumento

que venha a promover o desenvolvimento e sim somente o crescimento econômico

e social do grupo a ser atendido.

O turismo e, por conseguinte, o planejamento turístico deve ser

pensado a partir da dinâmica da participação social mediante a vontade política de

envolver o maior número possível de atores sociais que de fato possam promover

uma discussão sadia e proveitosa em prol do desenvolvimento do turismo e da

própria comunidade (MOLINA, 2001).

Mas é preciso que se compreenda que o processo do planejamento

turístico participativo, assim como o processo das políticas públicas, representa

vencer as barreiras impostas à vontade política em compartilhar o poder decisório

sobre o que venha a ser feito na comunidade local, demonstrando de maneira clara

como a vontade política pode ser interessada na manutenção dos privilégios

temporais estabelecidos e nas estruturas de poder já arraigadas à administração

política do poder público local (MOLINA 2001).

É preciso que se ressalte que o planejamento participativo é um

instrumento que nasce da vontade coletiva dos atores sociais interessados no

desenvolvimento, tanto da atividade turística quanto da comunidade turística

receptora, não sendo possível subjugar o planejamento turístico somente como ação

técnica, a qual faz com que os envolvidos sejam treinados e disponham de amplo

Page 162: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

conhecimento técnico.

Ao justificar o planejamento turístico como um conjunto de técnicas

aprimoradas que tendem a impedir que a comunidade receptora local participe das

decisões a serem empreendidas em prol do turismo, trata-se do reforço do discurso

do poder público em criar barreiras e impedimentos para que outros atores sociais

venham a contribuir de fato para uma melhor compreensão e apresentação de idéias

e sugestões que visem à melhora do produto turístico local (DIAS, 2001).

Ainda pode-se comentar que, frente ao exposto por Bobbio (2004) e

IPEA (2010), ao conceber que o sistema político administrativo do Estado é

composto por um forte vínculo na burocracia e no tecnocratismo para a defesa da

concentração do poder sob alegação de que as classes populares possuem pouco

conhecimento técnico que de fato possa auxiliar à condução de construção de novos

cenários, é preciso que estes desafios sejam vencidos e que o planejamento

turístico participativo possa ser implementado na realidade local.

A situação do distanciamento do planejamento turístico da comunidade

local é referendada na concepção da atividade turística quando compreendida a

partir da perspectiva econômica, ou seja, o turismo acontece a partir dos

equipamentos de hospedagem, alimentação, bares, estabelecimentos de lazer e

entretenimento que são de origem privada, não carecendo da população para a sua

realização. Mas por outro lado, é importante pensar e refletir que é a sociedade local

que será afetada, tanto positivamente como negativamente com a movimentação

turística gerada, necessitando para tanto do envolvimento em prol do planejamento

turístico participativo:

No caso do turismo, o planejamento participativo apresenta-se como uma excelente alternativa para fazer oposição aos excessivos desequilíbrios gerados nos pólos turísticos, especialmente se se leva em conta que neles prolifera a marginalização em suas dimensões ideológicas, cultural, política e econômica (MOLINA, 2001, p. 126).

Dessa maneira, o planejamento da atividade turística deve ser

repensado mediante o envolvimento dos atores sociais locais com seus diferentes

conhecimentos e saberes para que a realidade local, mediante suas peculiaridades

e atrações turísticas, possa servir como bússola para o turismo participativo.

Mediante a fundamentação do planejamento turístico participativo, a

partir da participação ativa da população local, haverá a estimulação da consciência

Page 163: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

em prol de mudanças verdadeiras na realidade turística (LOCH; WALKOWSKI,

2009), não sendo citadas ou convencionadas somente aquelas que se referem à

iniciativa privada (empresários do setor turístico), e que se atrelem à infra-estrutura

local, que estejam vinculadas unicamente à atividade turística (estradas,

saneamento e abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica dentre

outros exemplos), olvidando as carências e necessidades da comunidade local.

Mas é preciso que as propostas a serem atribuídas e legitimadas no

planejamento turístico participativo saiam das esferas teóricas e sejam postas em

prática mediante a priorização de ações de médio e longo prazo a partir do

levantamento dos recursos a serem utilizados, tanto pelo poder público quanto pela

iniciativa privada, como também pela comunidade local (LOCH; WALKOWSKI,

2009).

A aprendizagem da priorização das atividades e mesmo a utilização

racional dos recursos frente às necessidades de todos os atores sociais legitimados

no planejamento turístico participativo faz com que seja constantemente criado um

sistema de conhecimentos e práticas a respeito do planejamento turístico frente às

necessidades e insatisfações de todos os atores sociais envolvidos (MOLINA, 2001),

favorecendo uma continuidade dos planos e programas resultantes do planejamento

turístico participativo.

O planejamento turístico participativo não representa somente uma

nova ferramenta para incorporar as vontades, necessidade e insatisfações dos

diferentes atores sociais em prol da melhora e continuidade do desenvolvimento da

atividade turística, mas baseia-se no princípio do desenvolvimento regional, ou seja:

O modelo participativo de planejamento do desenvolvimento regional baseia-se na ampliação da base de decisões autônomas por parte dos atores locais, gerando a capacidade de harmonizar as sinergias locais com um plano de desenvolvimento que produza raízes e identidades regionais e com a consciência coletiva de pertencer ao território comum, onde o conceito de espaço seja entendido como um meio constante de transformação (CONCEIÇÃO; NUÑEZ, 2007, p. 3).

Perceber que o território da comunidade receptora local é um meio de

constantes transformações cria a justificativa de que o planejamento turístico deve

compreender as várias dinâmicas sociais que criam e recriam o espaço, além de

abranger o desenvolvimento dos atores sociais e de suas aspirações para com o

espaço e para com a atividade turística.

Page 164: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Todo o posicionamento feito nesta pesquisa faz com que se justifique a

necessidade da implantação do planejamento turístico participativo como redesenho

para que a cidadania seja efetivada por todos os atores sociais da comunidade

turística receptora.

Essa argumentação se baseia no princípio de que a participação social

dos atores locais em prol de processos de planejamento participativo se inscreve

como uma medida para efetivar o direito do indivíduo decidir qual caminho será

trilhado para a construção de seu destino (DIAS, 2001).

Ao entender que o planejamento turístico participativo se inscreve na

esfera da cidadania, está se construindo para os atores sociais locais a efetivação

dos princípios democráticos, ao conceber que todo o espaço deve ser pensando de

maneira conjunta, sem que haja atores sociais com poder maior de resolução das

situações ou com poder maior de interferência na realidade local.

Esse pensamento referenda a posição de Dagnino (2004) do combate

ao mito da falta de preparado da comunidade e dos agentes locais em prol do

processo de planejamento participativo, pois a cidadania deve ser uma ação que

emana das bases da sociedade até os níveis mais altos, fazendo com que os

princípios democráticos sejam efetivados de maneira igualitária.

No contraponto dessa argumentação – o centralismo das decisões e o

tecnocratismo que envolve o planejamento – o planejamento turístico participativo

pode ser vislumbrado a partir da figura 06.

A figura 06 apresenta as três esferas que são discutidas nesta

pesquisa a partir da aplicação da metodologia do planejamento turístico participativo:

o poder público como sendo o núcleo gestor do planejamento e das ações a serem

empreendidas, uma vez que cabe ao mesmo os principais investimentos, em obras

e serviços de infra-estrutura e melhoria na comunidade local receptora da atividade

turística. O setor privado, composto pelos empresários que movimentam direta e

indiretamente a cadeia produtiva do setor turístico mediante a geração de emprego e

renda, além de oferecer os serviços básicos procurados pelos turistas e visitantes

em uma comunidade local receptora.

E, por fim percebe-se a esfera da comunidade local e seus atores

sociais que são afetados direta e indiretamente pelo turismo, compondo também o

corpo de empregos e funcionários dos estabelecimentos turísticos privados, além de

servirem como complemento para o amálgama turístico, podendo ser a cultura local

Page 165: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

mais um fator motivacional para a atividade turística.

A área de interseção marcada na figura 06 representa os diferentes

interesses das esferas acima citadas que buscam, mediante uma nova dinâmica, a

resolução dos problemas e/ou a contribuição para o que turismo possa se

desenvolver e crescer trazendo benefícios para todos.

FIGURA 06 – O processo do planejamento turístico participativo. Fonte: adaptado de LOCH; WALKOWSKI, 2009, p. 53.

Mas, essa área de interseção é demonstrada a partir de uma figura

geométrica composta de várias arestas. Tal desenho vem corroborar o pensamento

de que nem sempre a participação social, a articulação e a verbalização das

necessidades laterais de cada esfera serão tomadas como prioritárias, carecendo

sempre de um processo dialógico e mediado para que haja um consenso a favor da

maioria dos atores envolvidos no processo de planejamento turístico participativo.

Trata-se então de um sistema de correlação de forças que busca

sustentar o modelo do planejamento e do enfoque participativo para o turismo entre

os diversos atores sociais que se inserem neste sistema, tendo como objetivo ideal

um futuro melhor para a comunidade receptora turística (DIAS, 2001).

Mas deve-se frisar que, sendo o setor público o núcleo gestor, este

Page 166: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

deve ser preocupado em atender às expectativas da comunidade local, além de ser

bem preparado e eficiente no que tange ao desenvolvimento da comunidade em prol

do turismo beneficiando o setor privado e primando para o seu crescimento contínuo

(DIAS, 2001).

O processo do planejamento turístico participativo deve prever como

demonstrado na figura 06, além das constantes trocas de informações e

conhecimentos entre os diferentes atores sociais envolvidos, mecanismos

constantes de retroalimentação (MOLINA, 2001), pois o planejamento turístico não é

um instrumento estático que não possa ser alterado mediante contingências na

realidade local, mas pelo contrário, é um sistema que deve se adaptar às novas

necessidades e prioridades dos atores sociais envolvidos, tanto do poder público,

quando da comunidade e dos empresários.

Com a retroalimentação haverá sempre uma sinergia maior entre os

envolvidos e fortalecendo os vínculos e o interesse em participar constantemente

das decisões descentralizadas do planejamento turístico da localidade, além de

favorecer maior preocupação local para o tema turismo e desenvolvimento não

sendo somente uma ansiedade por parte do poder público e privado, mas sim da

comunidade como de todos.

Para tanto, percebe-se que frente ao exposto o planejamento turístico

participativo pode ser compreendido como uma nova metodologia frente ao

planejamento turístico tradicional, mas que nos últimos anos vêm ganhando força a

partir das novas políticas públicas de turismo que são editadas tanto pelo Governo

Federal brasileiro quanto pelo Governo Estadual de Minas Gerais, assunto este

tratado a seguir.

4.2 Políticas públicas de turismo: novos panoramas e perspectivas

De acordo com Beni (1998), a política de turismo deve ser entendida

como um conjunto de fatores que irão condicionar e dar diretrizes básicas para o

alcance dos objetivos gerais expressados para o incremento e desenvolvimento da

atividade turística em um determinado país. Ainda assim, pode ser compreendido

como as prioridades da ação do Estado em facilitar o planejamento e as atividades

relacionadas direta e indiretamente com o turismo.

Apresentada desta maneira, a política de turismo deve nortear-se por

Page 167: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

três grandes áreas que condicionam o pensamento e a organização da política, a

saber: o cultural, o social e o econômico (BENI, 1998).

Num primeiro momento, a política de turismo terá como preocupação o

legado cultural de uma comunidade receptora, região turística ou mesmo de um

país, pois a preservação da cultura representa a preservação futura dos fluxos

turísticos, uma vez que, a movimentação turística existe em função de algo que

desperta o interesse de turistas e visitantes. Sendo a cultura essa fonte

motivacional, deverão os governos locais, regionais ou nacionais criarem um

conjunto de normas que visem à proteção e salva-guarda dessa atratividade.

O legado cultural não se constrói isolado da dimensão social de uma

comunidade receptora turística, mas sim como um sistema vivo no qual a cultura é

criada e recriada pela vivência social da comunidade. A dimensão social faz com

que o turismo crie novas estruturas de pensamento em prol da superação dos

problemas e das necessidades que a comunidade receptora vivencia em seu

cotidiano, mediante a geração de emprego e maior disponibilidade de renda na

economia local.

Assim, quando a política de turismo é implementada de maneira efetiva

para lidar com as dimensões culturais e sociais de uma comunidade receptora,

estar-se-á criando um novo status para que a democracia e a cidadania possam ser

asseguradas como direitos conquistados pela a população local.

E, por fim, a dimensão econômica se encontra vinculada à política de

turismo ao estimular e dinamizar novos empreendimentos turísticos na comunidade

turística receptora, favorecendo o comércio local, o setor de prestação de serviços e

outras atividades comerciais que, direta ou indiretamente, se inter-relacionam com a

atividade turística.

Não mais importante que estimular a atividade turística

local/regional/nacional, a política de turismo, quando efetivada de maneira positiva,

trará ao longo prazo um aumento no volume de transações financeiras, fazendo com

que o produto nacional e a entrada de divisas sejam beneficiados a partir dessa

importante dinâmica econômica que é o turismo.

Entendendo a política de turismo ainda como um conjunto de

intenções, diretrizes e estratégias e/ou ações deliberadas, no âmbito do poder

público, em virtude do objetivo geral de alcançar e/ou dar continuidade ao pleno

desenvolvimento da atividade turística num dado território (CRUZ, 2001), cria-se

Page 168: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

uma normatização específica e necessária para que a comunidade receptora local,

regional e/ou nacional não venha a sofrer com o desenvolvimento desenfreado e

sem planejamento.

Mas se o pensamento exposto expressa de maneira positiva a

implantação da política de turismo, pode-se considerar que o seu caminho é mesmo

trilhado por outras políticas públicas setoriais?

A resposta deste questionamento encontra-se na falta de articulação e

de importância que o setor turístico recebeu historicamente do Governo Federal,

diferentemente de outras políticas públicas como saúde, educação e assistência

social (MAIA, 2004), fazendo com que o setor turístico se auto-organizasse a partir

de suas realidades e das redes de poder local (governos municipais/regionais e

empresários) articulando e possibilitando a cada um o favorecimento naquilo que de

fato tinham o interesse: a geração econômica.

A auto-regulação da atividade cria sem a devida normatização a

exclusão contínua e marginalizadora da comunidade local, fazendo com que os

impactos negativos do turismo sejam visualizados: especulação imobiliária,

concentração de renda em um pequeno grupo de atores locais (empresários), falta

de investimentos e má distribuição dos recursos públicos em infra-estrutura local,

marginalização da comunidade local, dentre outras ações negativas advindas com o

turismo.

Para que se crie a proteção e se promova o desenvolvimento das três

dimensões apontadas por Beni (1998) em prol do turismo é necessário que se

reconheça o papel que a CF-88 veio desempenhar frente à problemática da auto-

regulação e dos problemas ocasionados com o turismo:

Para que se cumpram a orientação constitucional de buscar o desenvolvimento social e econômico do país através da atividade turística, foram dados aos Administradores Públicos dos três níveis político-administrativos da Federação (à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios) dois caminhos: (1) promovê-lo e (2) incentivá-lo. Não se trata de alternativas, mas de vias distintas que deverão ser igualmente percorridas. Administradores públicos e legisladores não só devem incentivar o turismo, como também estimulá-lo (MAMEDE, 2004, p. 24).

Colocado desta forma, a atividade turística deve priorizar o

desenvolvimento e crescimento da comunidade turística receptora, mas a partir de

um planejamento que vise a um desenvolvimento sustentável, tanto ambiental

Page 169: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

quanto social e cultural, além de criar, a partir da realidade local turística, meios para

que a promoção do destino ocorra.

É mister destacar que ao se referir à promoção, Mamede (2004) não

está se referindo a práticas de publicidade e propaganda (cartazes, folders,

outdoors, mídia em televisão e internet), mas sim, a um conjunto de ações

promovidas de maneira conjunta entre o poder público local, a iniciativa privada e a

comunidade local visando a superação dos problemas que possam vir a ser danosos

para a atividade turística.

Para tanto, enfatiza-se a necessidade do planejamento turístico de

maneira participativa entre os diversos atores sociais, fazendo com que novos laços

sejam feitos entre estes, assim como unir a discussão em prol do desenvolvimento

da comunidade receptora, fortalecendo não somente a infra-estrutura local e a

comunidade, mas sim criando uma comunidade turística mais atrativa e preparada

para recepcionar a atividade turística, tanto no presente quanto no futuro.

Outro ponto destacado por Mamede (2004) é a idéia de incentivar o

turismo na comunidade local: muitas comunidades possuem fatores de atratividade

turística significativos (locais para visitação, áreas naturais, construções histórica,

gastronomia típica, cultura popular dentre outros exemplos) para que se estabeleça

uma movimentação turística, contudo, sem que haja um despertar e um

planejamento desses fatores atrativos a atividade turística continuará sendo apenas

um desejo e uma vontade unilateral de algum ator local.

Incentivar o turismo é então uma prerrogativa do poder público, o qual

deve compreender que a comunidade local pode, mediante o desenvolvimento do

turismo, criar novas possibilidades para o seu crescimento a partir da geração de

novos postos de trabalho, valorização da cultural local, atração de investimentos

externos, e com isso maior possibilidade de investimentos na infra-estrutura local de

serviços públicos.

Como exemplo de incentivos ao turismo, é possível citar os

empréstimos ao setor privado para futuros investimentos nas regiões turísticas em

desenvolvimento ou já desenvolvidas, incentivos fiscais para a fixação de novos

empreendimentos turísticos, diminuição de cargas tributárias específicas ao setor

turístico (DIAS, 2001).

Por outro lado, existirão incentivos praticados pelo Estado que irão

atuar diretamente sobre a comunidade receptora contribuindo para que haja a

Page 170: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

expansão da atividade22, maior acesso da comunidade local a espaços de lazer e

entretenimento, além de promoção e estimulo ao turismo social por meio de

associações e organizações sociais mediante a doação de terrenos ou cessão de

espaços públicos para que possam ser transformados em locais de lazer (DIAS,

2001).

O estímulo promovido pelo Estado sobre a comunidade receptora

perpassa pela qualidade, ou seja, ao se compreender que a atividade turística é uma

forte cadeia de serviços a serem prestados diretamente a turistas e visitantes, a

atividade necessitará de um número de pessoas que possam prestar estes serviços

com qualidade. Para tanto, é dever do Estado promover ações que possibilitem que

a comunidade local possa estar apta a essa prestação.

Desta forma, o Estado deve, mediante as suas particularidades,

promover nas comunidades receptoras a oferta de cursos técnicos de qualificação

(guias de turismo, gerenciamento de empreendimentos turísticos etc.), ensino

acadêmico nas modalidades bacharelado e tecnólogo visando à formação de

profissionais aptos a compreenderem a dinâmica e o mercado turístico, estimulando

desta maneira o turismo, a partir de uma visão profissionalizada (MAMEDE, 2004).

Os incentivos educacionais e de formação profissional oferecidos pelo

Estado fazem com que a comunidade turística receptora possa criar, ao longo do

tempo, novos empreendimentos próprios, não carecendo somente dos empresários

externos para a movimentação e o crescimento do setor, possibilitando assim a

autonomia dos atores locais e o seu desenvolvimento como cidadãos de fato.

Assim, assevera-se que o turismo cria uma nova dinâmica para o

interesse e a preocupação do Estado ao considerar que:

O Estado se está preocupado com o desenvolvimento do setor, não pode desprezar tais particularidades, da mesma forma que não pode permitir que os interesses, nem sempre legítimos, de um ou alguns prejudiquem toda uma coletividade (MAMEDE, 2004, p. 25).

Tal pensamento é corroborado por Dias (2001) ao perceber que o

22

A fim de criar mecanismos de atuação direta, o Estado promulgou a Lei Complementar nº 128/2008

que cria a modalidade do Microempreendedor Individual (MEI), legalizando um conjunto de

trabalhadores que viviam à margem do mercado formal de trabalho como vendedores ambulantes,

artesãos dentre outros profissionais que estão inseridos na economia da atividade turística.

Page 171: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Estado é o representante máximo do interesse geral, do interesse de todos, devendo

assim, sob a sua responsabilidade, orientar os caminhos do desenvolvimento

turístico pautado no interesse da coletividade.

Essa discussão é referendada pelos apontamentos já discutidos por

Arretche (1996) e Arendit (2009) ao refletir que a política e, por conseguinte, as

ações do Estado devem sempre proporcionar ao homem a liberdade de suas

escolhas frente à sua realidade; como também referendar que o Estado é o corpo

legal de normas que visa ao combate de práticas clientelistas atendendo sempre ao

que é de todos e para todos.

Sendo assim, pensar em políticas de turismo é se debruçar no policy

cycle e em como a dinâmica dos ciclos deliberativos se justifica mediante o processo

do planejamento turístico participativo, fazendo com que exista uma integração entre

os diferentes atores sociais em prol do estabelecimento de uma agenda de

discussões e assuntos que venham a propor a identificação de problemas e

necessidades inerentes à atividade turística e aos seus desdobramentos em cada

uma das esferas participativas.

Para tanto, reconfigura-se o policy cycle à luz do planejamento turístico

participativo como instrumento interventor para as políticas públicas de turismo,

como demonstrado na figura 07.

A figura 07 apresenta, de forma sintética, a explanação do policy cycle

levando-se em consideração os pensamentos de Frey (2000a), Silva e Melo (2000),

Dias (2001), Molina (2001), Souza (2006), Carade (2009) e Loch e Walkowski

(2009).

No centro da figura 07 encontram-se as esferas representativas das

demandas de uma localidade/região: o Poder Público, o setor privado e a

comunidade e os atores locais, cada qual tendo interesses e objetivos ora

convergentes ora divergentes uns dos outros, mas tendo como elo o interesse pela

atividade e pelo desenvolvimento do turismo.

Page 172: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 07 – O policy clycle à luz do planejamento turístico participativo. Fonte: Elaboração própria,

2011.

Na interseção ampliada pela forma geométrica com as arestas

representa o espaço no qual os atores sociais das três esferas se encontram para

debaterem e discutirem em conjunto os caminhos da atividade turística, como

também para pensarem a formulação de políticas públicas para o turismo.

Há que se destacar que a figura 07 declara a intenção democrática na

formulação de políticas públicas de turismo, não se focando nos centralismos

autoritários de alguns governos, tampouco favorecendo a visão tecnocrática do

planejamento turístico; práticas que precisam ser combatidas com o alargamento do

empoderamento dos atores sociais a respeito da cidadania e da vontade e

necessidade em contribuir para o desenho de uma nova sociedade e para o turismo

desenvolvido e sustentável.

A formulação da política pública de turismo, após as contribuições de

todos os atores sociais, é apresentada aos legisladores para que possam fazer sua

aprovação e publicação tornando-a então legal e aplicável. Deve-se atentar para o

fato de que no Brasil a formulação e a implementação são prerrogativas do Poder

Público, reconhecidas pela CF-88.

A implementação, como demonstrada na figura 07, recebe a

delimitação de um grande círculo que envolve as três esferas, tendo a intenção de

mostrar que os efeitos advindos da política pública de turismo serão sentidos por

Page 173: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

todos os atores sociais de uma comunidade turística receptora, que a política não é

um instrumento unilateral ou protecionista para um determinado grupo de atores

sociais, mas um instrumento democrático que visa a colaborar para o

desenvolvimento e o crescimento de toda a comunidade.

Assim sendo, as setas internas nas esferas demonstram que todo o

processo de implementação das políticas públicas de turismo deverá sofrer o

processo constante de monitoramento por parte de cada uma das esferas, para que

as ações e objetivos da política sejam efetivados em sua totalidade, evitando com

isso o protecionismo ou a implementação de ações que visem somente um

determinado grupo social.

Por fim, como demonstrado na figura 07, a política pública de turismo

não pode ser compreendida como um instrumento democrático estático, ou seja,

após a sua implementação é necessário que as três esferas estejam a todo o

momento discutindo os planos e programas definidos pela política a fim de perceber

se já não alcançaram seus objetivos e necessitam de novas ações para superar

novos desafios e atender às novas necessidades de cada uma das esferas da

comunidade.

Todo este processo representa um continuum democrático a ser

coordenado pelo Poder Público, pois é este o grande agente capaz de conduzir o

processo de política pública do turismo, ao mesmo tempo em que se compreende

que a política pública de turismo respeita os anseios e necessidades dos atores

sociais de um determinado tempo, precisando sempre ser renovado e incorporando

novos atores no espaço para o planejamento turístico participativo, contribuindo

assim como novas idéias e sugestões em prol do turismo e do desenvolvimento

comunitário.

O processo de implementação de uma política pública de turismo para

a realidade brasileira passou por um longo caminho até ser efetivado levando em

consideração alguns aspectos demonstrados na figura 06. Teve o seu início no ano

de 1938 até o ano de 1966, tendo como resultado um conjunto de diplomas legais

que regulamentavam a atividade turística, além de organizar e fiscalizar os serviços

turísticos internos e externos no Brasil (DIAS, 2001).

Durante o período de 1966 a 1991, foram criados outros instrumentos

legais, em especial o Fundo Geral do Turismo (FUNGETUR), que visava ao

financiamento de projetos especiais vinculados ao desenvolvimento do turismo em

Page 174: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

diversas áreas de interesse turístico no Brasil (MAMEDE, 2004).

Já nas décadas de 1970 e 1980, o Governo Federal desperta para

atuação mais vigorosa, no que tange à proteção de áreas de interesse turístico e

bens de valor cultural e natural, mediante planos, programas e ações vinculadas

entre o Conselho Nacional de Turismo (CNTur)23 e a Empresa Brasileira de Turismo

(EMBRATUR)24, fazendo com que a atividade turística passasse a ocupar a agenda

de vários ministérios federais (DIAS, 2001).

O que se percebe ainda nesse período de 1966 a 1991 é uma

centralidade das ações em prol do desenvolvimento turístico: caberia ao Governo

Federal organizar, planejar e coordenar as atividades de turismo em todo o Brasil,

mas tendo o foco nos serviços turísticos de maior movimentação, ou seja, as

transportadoras turísticas (empresas de aviação, transporte rodoviário e ferroviário),

equipamentos de hospedagem (hotéis, pousadas, pensões e outros similares),

equipamentos de alimentos e bebidas (restaurantes, bares, lanchonetes e afins).

Ao mesmo tempo em que se percebe que será o Governo Federal a

determinar quais serão as atrações turísticas a serem preservadas e quais destas

deverão receber incentivos para a sua preservação, demonstrando em como a

comunidade receptora local com seus atores sociais, sua cultura, seus

conhecimentos são colocados em um segundo patamar, ou seja, aquilo que de fato

motiva a existência do turismo não é vislumbrado pelo Governo Federal do período

analisado como algo que carecia de proteção e desenvolvimento.

Mas, a partir da promulgação da CF-88, inicia-se um novo processo de

se pensar e repensar a realidade turística e, no ano de 1992, é promulgado Decreto-

lei nº 448, de 14 de fevereiro de 1992, o qual dispõe a respeito da Política Nacional

de Turismo.

O Art. 2º da Política Nacional de Turismo (PNT) apresenta duas

importantes diretrizes frente ao que se está discutindo nesta pesquisa. Primeiro o

turismo passa a ser pensando como instrumento que visa à promoção da

valorização e preservação dos patrimônios naturais e culturais do Brasil; e em um

23

O Conselho Nacional de Turismo (CNTur) foi criado no ano de 1967, mediante o Decreto-lei 60.224/67, art. 6º e recebendo como atribuição a característica de formular diretrizes a serem obedecidas pela política nacional de turismo (CRUZ, 2001). 24

A EMBRATUR é instituída também no ano de 1967 pelo mesmo Decreto-lei nº 60.224/67, Art. 20, recebendo o objetivo de estudar e propor ao CNTur atos normativos que fossem necessários à promoção da política nacional de turismo (CRUZ, 2001).

Page 175: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

segundo momento destaca o beneficiário maior da política e do desenvolvimento do

turismo é o próprio homem.

Estas diretrizes avançam na discussão e na compreensão de que a

atividade turística é em essência uma ação promovida pelo e para o homem,

devendo este ser envolvido diretamente no objetivo do desenvolvimento turístico, e

tendo o mesmo foco de atenção que se dá para os patrimônios naturais e culturais

do Brasil.

A PNT de 1992 apresenta seu conjunto de objetivos:

Art. 3º - A Política Nacional de turismo tem por objetivo: I- democratizar o acesso ao Turismo Nacional, pela incorporação de diferentes segmentos populacionais, de forma a contribuir para a elevação do bem estar das classes de menor poder aquisitivo; II- reduzir as disparidades sociais e econômicas de ordem regional, através do crescimento da oferta de emprego e melhor distribuição de renda; III - aumentar os fluxos turísticos, a taxa de permanência e o gasto médio de turistas estrangeiros no País, mediante maior divulgação do produto brasileiro em mercados com potencial remissivo em nível internacional; IV - difundir novos pontos turísticos, com vistas a diversificar os fluxos entre as Unidades de Federação e beneficiar especialmente as regiões de menor nível de desenvolvimento; V - ampliar e diversificar os equipamentos e serviços turísticos, adequando-os às características socioeconômicas regionais e municipais; VI - estimular o aproveitamento turístico dos recursos naturais e culturais que integram o patrimônio turístico, com vistas à sua valorização e conservação; VII - estimular a criação e implantação de equipamentos destinados a atividades de expressão cultural, serviços de animação turística e outras atrações com capacidade de retenção e prolongamento da permanência dos turistas (BRASIL, 1992).

O conjunto dos objetivos demonstra como o Governo Federal Brasileiro

passa a perceber que o turismo pode se consolidar como uma importante atividade

econômica, além de garantir que a população seja incluída nos processos

democráticos de decisão a fim de criar a diminuição das disparidades sociais e

econômicas regionais.

A atenção para com o produto turístico interno se envereda pelo

desenvolvimento de regiões com menor poder de atração turística já consolidada,

isto é, o Governo Federal compreendendo que a potencialidade turística é

encontrada em diversas áreas dispersas ao longo de todo o território brasileiro, mas

que nem em todas essas áreas o turismo já se encontra estabelecido mediante

investimentos privados e públicos que garantam o acesso e a estadia dos turistas e

visitantes.

Page 176: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Para tanto, ao colocar nos incisos IV e V do Art. 3º, percebe-se que não

somente as regiões turísticas tradicionais irão continuar a receber recursos e

investimentos do Governo Federal, mas a partir de tal colocação passam a ser

incluídos nas agendas em prol do desenvolvimento turístico outras regiões e áreas,

mas levando-se em consideração suas características e peculiaridades.

A partir da aplicabilidade do Decreto-lei nº 448, de 14 de fevereiro de

1992, é possível perceber que se inicia um processo de alteração na condução das

políticas públicas de turismo, passando do estágio de centralização para a

descentralização das ações mediante a implantação do Plano Nacional de Turismo

(PLANTUR), no ano de 1992.

O PLANTUR era em essência um grande plano detalhado de ações a

serem empreendidas pelo poder público a fim de efetivar a Política Nacional de

Turismo a partir de sete programas específicos: Programa Pólos Turísticos,

Programa Turismo Interno, Programa Mercosul, Programa Ecoturismo, Programa

Marketing Institucional, Programa Qualidade e Produtividade do Setor Turístico,

Programa de Formação dos Recursos Humanos para o Turismo. Cada um desses

programas receberam o tratamento de subprogramas com o intuito de facilitar a sua

aplicabilidade nas realidades locais (DIAS, 2001).

Cabe neste momento uma reflexão a respeito de como a teoria do

policy cycle referenda algumas posições futuras frente à implantação e articulação

das políticas públicas com as realidades: o PLANTUR se tornou apenas uma

ferramenta de propaganda do Governo Federal, em 1992, devido ao fato de ter a

sua implementação antes da finalização da Política Nacional de Turismo (DIAS,

2001).

Os dois documentos são de fato imprescindíveis para o

desenvolvimento e para o incremento da atividade turística em diversas áreas ao

longo do território brasileiro. Contudo, o que não se poderia conceber é como o

Governo Federal não soube como conduzir processos tão diferentes no mesmo

período temporal, ocasionando a ineficiência de ambos os instrumentos.

O Governo Federal, percebendo as falhas advindas da falta de

norteamento e condução do processo político-administrativo, tanto da Política

Nacional de Turismo como do PLANTUR, resolve, a partir de 1994, deflagrar um

novo processo de construção de novas diretrizes nacionais para a Política Nacional

Page 177: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

de Turismo mediante o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT)

(DIAS, 2001).

O PNMT tinha como princípios a participação social da sociedade local,

dos empresários e do poder público mediante a constituição do Conselho Municipal

de Turismo, criando a dinâmica participativa como elemento de condução do

processo de planejamento turístico, como também enfatizava a necessidade da

municipalização do turismo, isto é, deveria ser o município a discutir e a encontrar as

formas e necessidades específicas para se propor em como o turismo será

trabalhado pela comunidade turística receptora.

Nesta percepção os governos locais passam a ser elementos que

devem agregar, convidar e motivar a comunidade local e seus atores locais, além de

empresários do setor, a participarem de maneira efetiva nas discussões e

proposições do Conselho Municipal de Turismo.

Além do princípio da participação social, o PNMT cria outro instrumento

que visa o empoderamento dos participantes dos conselhos municipais de turismo: o

Fundo Municipal de Turismo (FUMTUR): um fundo financeiro a ser gerido pelos

membros dos conselhos municipais de turismo, recebendo aportes financeiros

advindos de verbas públicas, doações ou geração de recursos próprios, a partir de

outros instrumentos legais municipais a serem instituídos.

Com a aplicação do FUMTUR o que se esperava era que os conselhos

municipais de turismo pudessem ter maior autonomia das estruturas burocráticas

político-administrativas dos municípios, não carecendo das aprovações e dos

interesses políticos para a implantação de programas e ações de cunho municipal

que poderiam contribuir para o desenvolvimento e crescimento da atividade turística.

O PNMT funcionava a partir da seguinte metodologia: os municípios

eram identificados pela EMBRATUR como locais prioritários para o desenvolvimento

do turismo a partir de pesquisas anuais do Relatório de Informação Turística

(RIMTUR); num segundo momento os municípios eram classificados em municípios

turísticos (MT), os que já possuíam fluxo turístico consolidado, além de

apresentarem infra-estrutura turística propícia ao turismo, e em municípios com

potencial turístico (MPT), que seriam os municípios que possuem recursos naturais,

históricos e/ou culturais que poderiam vir a se desenvolver mediante a atividade

turística, fomentando o crescimento socioeconômico do município (DIAS, 2001).

Page 178: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

As ações da EMBRATUR eram divididas em dois momentos: para os

municípios turísticos a idéia se concentrava em articular os atores sociais que

deveriam compor o conselho municipal de turismo, treinar esses atores para o

entendimento de como deve ser pensada e empregada a atividade turística de

maneira sustentável na comunidade, além de apresentar a metodologia do

FUMTUR. Ao fim desse processo, havia uma certificação a ser dada pela

EMBRATUR aos municípios turísticos que cumprissem as obrigações estabelecidas

no PNMT, passando assim, oficialmente, a integrarem a rede de municípios do

PNMT.

Já para os municípios com potencial turístico, a EMBRATUR

estabeleceu um estágio inicial diferente: o corpo técnico da EMBRATUR realizava

nestes municípios oficinas de sensibilização para a identificação dos atores sociais

que poderiam dinamizar o desenvolvimento turístico naquela comunidade; depois da

sensibilização era feita a capacitação desses atores sociais para que então

pudessem compreender a dinâmica do conselho municipal de turismo e, ao fim

conseguirem criar o FUMTUR.

O PNMT passa receber ao longo dos seus oito anos de duração, 1994

a 2002, o status de programa mais duradouro e bem sucedido no setor turístico,

uma vez que conseguiu atingir os seguintes números: foram realizadas ao todo

1.107 oficinas em todo o Brasil, capacitando um total de 28.000 agentes municipais,

e tendo o envolvimento direto de 1,5 milhão de voluntários ao longo do período das

realizações das oficinas. E, no ano de 2002, dos 1.529 municípios que foram

listados como municípios com potencial turístico (MPT), 1.450 ainda apresentavam

engajamento junto ao PNMT (EMBRATUR, 2002).

Este programa é um exemplo de que a partir da participação social, do

empoderamento dos atores sociais e da abertura de espaços dinâmicos de

participação e diálogo. Serve para fazer crer que o desenvolvimento do turismo não

pode ser convencionado somente às estruturas tecnocráticas, mas sim que emana

da comunidade local e das bases comunitárias os saberes, o conhecimento e as

idéias para que de fato o turismo possa crescer e se desenvolver de maneira

sustentável e propícia a todos.

Para que a política pública de turismo possa gerar benefícios às

comunidades que baseiam suas atividades no turismo é preciso levar em

consideração as diferenças existentes em toda a área geográfica brasileira: áreas

Page 179: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

turistas com diferentes fatores de atratividade, isto é, a cultura, as atrações

históricas, os atrativos naturais. A partir de tal quadro, o Ministério do Turismo

formulou para o período de 2003-2007 a Política Nacional de Turismo com as

diretrizes e metas para que o turismo possa atuar como indutor do desenvolvimento

sócio-econômico do país (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007).

Com vistas à articulação da Política Nacional de Turismo, foi lançado

em junho de 2007, o Programa de Regionalização do Turismo, que em seu cerne

apresenta os seguintes ideais:

(...) induz à cooperação e complementaridade das atividades econômicas relacionadas ao turismo, na respectiva região e, busca superar as estratégias de competição entre localidades, de modo a convalidar a construção de laços de solidariedade e de associativismo (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007, p. 24).

O Programa de Regionalização do Turismo de acordo com o Ministério

do Turismo (2007), incentiva e apóia a formação de redes locais de colaboração

para que a competição entre as localidades turísticas possa ser minimizada. Além

disso, estimula o fortalecimento de laços ampliando a produtividade e distribuindo o

fluxo turístico, buscando promover a redução de custos da cadeia produtiva

envolvida e a facilitação no acesso às inovações tecnológicas e a novos mercados

e, por fim, a troca de experiências e de informações entre os membros integrantes

da rede.

A gestão municipal é priorizada pelo Programa de Regionalização do

Turismo, uma vez que compreende que a esfera municipal deve ser o agente de

nucleação das decisões, pois ao perceber que o desenvolvimento do turismo carece

de um conjunto de instrumentos legais, investimentos financeiros e articulação com

outras esferas do poder público, é esta que deverá criar tais instrumentos

possibilitando que o planejamento turístico possa ser efetivado a partir das diretrizes

do Programa. Necessita-se assim de um aparato político-administrativo que seja

responsável pela efetivação dessas ações (BRASIL, 2010a).

Tal medida pode transparecer, num primeiro momento, como uma

análise pseudo-justificativa para a centralização das decisões e ações no poder

público municipal. Contudo, o Programa de Regionalização do Turismo prevê que

seja implementado o Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável do Turismo:

instrumento democrático a ser confeccionado pelo conjunto dos diferentes atores

Page 180: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

sociais que de fato estão integrados e engajados no desenvolvimento do turismo.

A ênfase não é colocar o município como centro da efetivação, mas

passa a colocá-lo como figura principal e que deverá sofrer, a todo o momento, o

monitoramento e avaliação por parte dos atores sociais que compõem a estrutura

participativa do turismo no município, vistoriando e avaliando se as ações propostas

no plano municipal estão evoluindo e auxiliando o desenvolvimento do turismo

municipal.

O monitoramento e a avaliação constante por parte dos atores sociais,

tanto das ações do poder público local, quanto do Plano Municipal de

Desenvolvimento Sustentável, faz com que seja gerado o conhecimento da gestão

de impactos (BRASIL, 2010): perceber como o turismo vem afetando, tanto

positivamente quanto negativamente, a comunidade e intervir para que os efeitos

positivos possam ser dinamizados para um maior número de pessoas, tanto como

agir prontamente quando identificadas as causas dos impactos negativos.

O conjunto dessas ações de monitoramento e avaliação cria a

sustentabilidade do processo do plano municipal de desenvolvimento, uma vez que,

o plano deve ser um instrumento que seja capaz de articular a realidade local com

os objetivos futuros a serem alcançados, mas deve ser também capaz de ser

modificável mediante cada novo estágio de desenvolvimento e crescimento, tanto da

comunidade local quanto da atividade turística.

Assim, o Programa de Regionalização do Turismo cria as bases

municipais para que, ao se discutir e pensar o turismo de forma regional estar-se-á

discutindo o desenvolvimento com a participação de atores sociais com alto grau de

empoderamento, conhecimento de suas potencialidades e atratividades turísticas,

podendo garantir que a discussão regional seja feita para proporcionar uma maior

distribuição dos recursos financeiros gerados pela movimentação turística, assim

como fazer com que os benefícios promovidos pelo turismo sejam efetivados para

todos os municípios e munícipes.

Outro ponto que merece destaque no Programa de Regionalização do

Turismo é a característica de descentralizar a gestão do turismo a partir do

estabelecimento de governanças regionais, isto porque, mediante os efeitos

positivos advindo com o PNMT, com o desenvolvimento dos municípios turísticos e

dos municípios com potencial turístico em municípios turístico, o Governo Federal

compreendeu que a ênfase do processo de desenvolvimento deve ser botton-up

Page 181: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

(debaixo para cima), partindo dos atores sociais da comunidade local, do

empresariado e do poder público local o estabelecimento de agendas próprias em

favor do turismo e do seu desenvolvimento.

Assim, a descentralização e as ações em prol do desenvolvimento

regional se dão mediante o estabelecimento de uma governança regional que

agrupará todos os municípios que irão compor a região turística a ser integrante do

Programa de Regionalização do Turismo, mas compreendo que por governança

regional entende-se:

Instância de Governança Regional é uma organização social com participação do poder público e dos atores privados da atividade turística, com o papel de fazer a gestão do turismo, com visão de sustentabilidade e também coordenar o Programa de Regionalização na região (BRASIL, 2010b, p. 87).

O processo de estabelecimento da instância de governança regional

deverá sempre primar pela transparência dos processos político-administrativos

(BRASIL, 2010b), fazendo com que todos os atores sociais, cada qual representante

de uma realidade diferente, possam encontrar neste espaço o local para a troca de

informação, formação de conhecimento e motivação para a continuação do processo

de regionalização do turismo.

Como vem sendo apregoado pelo processo do planejamento turístico

participativo, o Programa de Regionalização do Turismo deve ser embasado num

constante processo de representatividade dos setores envolvidos com a atividade

turística, de maneira a garantir que todo o envolvimento se dará de maneira

participativa e compartilhada entre os atores sociais (BRASIL, 2010b).

Se a participação social em áreas como a saúde, educação e

assistência social ainda sofre desafios e problemas para estabelecer instâncias

participativas, democráticas, transparentes, é compreensível que críticas sejam

possíveis às políticas públicas de turismo e aos programas que estão sendo

executados, mas deve-se pensar que se trata de um processo a ser construído pela

sociedade civil, poder público e empresariado em prol não somente do

desenvolvimento do turismo, mas em fazer com que a sociedade, de maneira geral,

possa ser dotada de novos valores ou mesmo recuperar certos valores perdidos ao

longo do tempo.

Descentralizar as políticas públicas de turismo é um desafio novo para

o Brasil democrático e para os diferentes interesses que movem a atividade turística

Page 182: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

nas comunidades e nos municípios turísticos, mas que a partir dessas novas

experiências e resultados favorece à continuação dos programas e planos, além de

servir como uma postura de empoderamento para a sociedade como um todo,

movendo-a sempre à frente e tendo como guia a democracia e a cidadania como

luzes nesse trajeto.

4.2.1 Políticas públicas e participação social para o desenvolvimento do turismo no

estado de Minas Gerais

O Estado de Minas Gerais vem desenvolvendo ações que possibilitam

que as políticas públicas voltadas para o incremento e desenvolvimento do setor

turístico possam de fato contemplar a participação social nos processos decisórios.

Uma destas ações foi a criação da Secretaria de Estado de Turismo de Minas

Gerais (SETUR), por meio da Lei Estadual no 13.341, de 28 de outubro de 1999

(MINAS GERAIS, 1999).

Nesta Lei Estadual, o Governo de Minas Gerais estabelece que a

Política Estadual de Turismo deve ser implementada por meio de um sistema de

descentralização da participação. Define que a participação de órgãos públicos,

entidades afins com o Governo Estadual de Minas Gerais, dos representantes dos

poderes públicos municipais e da iniciativa privada deverão, em conjunto planejar e

organizar o desenvolvimento da atividade turística no estado (BOLSON; ÁLVARES,

2005).

A descentralização em Minas Gerais recebe outro incentivo por parte

do Governo Estadual com a criação dos Circuitos Turísticos Mineiros, visto que, por

possuir uma enorme área geográfica, o ordenamento, programas e o planejamento

de ações não poderiam unicamente partir da SETUR, mas sim das instâncias locais

de poder a partir de suas realidades.

Para uma melhor compreensão dos Circuitos Turísticos, o site do

Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes apresenta a seguinte definição:

Circuito Turístico é o fruto da implementação de um planejamento integral, que envolve um conjunto de municípios de uma mesma região, com afinidades culturais, sociais e econômicas que se unem para organizar e desenvolver a atividade turística regional de forma sustentável, através da integração contínua dos municípios consolidando uma atividade regional (CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES, 2010a, s/p.).

Page 183: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Contudo, a simples organização ou instituição de um Circuito Turístico

em uma dada região geográfica de Minas Gerais pode vir a não representar de fato

a execução da política pública mineira em prol do desenvolvimento da atividade

turística. No ano de 2003, o Governo de Minas Gerais estabelece o processo de

reconhecimento dos Circuitos Turísticos.

O reconhecimento dos Circuitos Turísticos é dado pelo Decreto-lei no

43.321, de 08 de maio de 2003, em cujo texto fica determinado o caráter obrigatório

da participação em circuitos turísticos de municípios mineiros que por ventura

tenham interesse em angariar recursos financeiros voltados para o planejamento e

promoção do turismo (MINAS GERAIS, 2003).

Tal medida se fez necessária para dar sustentabilidade aos circuitos

turísticos que se viam esvaziados da participação de representantes do poder

público municipal e, tornavam-se simplesmente instituições inativas. Isto é, não

existiam ações concretas para a proposta de regionalização e desenvolvimento da

atividade turística e, para permitir o monitoramento, por parte da SETUR, da gestão

dos circuitos.

O processo de reconhecimento dos circuitos turísticos ganha, no ano

de 2008, por meio da Resolução da SETUR no 008 (MINAS GERAIS, 2008), outras

normas e critérios, profissionalizando o setor turístico e, por conseguinte, a forma

como o turismo em Minas Gerais é planejado. Neste sentido, Bolson e Álvares

(2005) destacam que, com a regionalização do turismo a partir dos circuitos

turísticos e, em momento posterior, por meio dos processos de certificação dos

circuitos turísticos, a SETUR criou condições para uma nova atuação nos municípios

mineiros, fomentando assim o planejamento do turismo a partir das realidades locais

e com os atores locais.

Emerge assim, uma compreensão do novo papel do Estado, não mais

como centralizador do poder e das decisões, mas como um elo de uma corrente que

é constituída pelo setor privado, pelos membros das comunidades, das

organizações civis e de outros integrantes que buscam assumir suas

responsabilidades, mas que compartilham o poder, possibilitando desta maneira,

segundo o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes (2010a, s/p.), o envolvimento e

o desenvolver de uma postura proativa dos integrantes na resolução dos problemas,

a partir de uma ótica da corresponsabilidade.

Page 184: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Os Circuitos Turísticos em Minas Gerais representam de acordo com

Gohn (2007), espaços públicos novos para a operacionalização das políticas

públicas de maneira participativa, integrando-se à discussão do desenvolvimento

local empreendida anteriormente.

Costa (2002) diz que para a consolidação e a construção de uma nova

sociedade, deve haver espaços públicos porosos, isto é, que permitam que a

sociedade civil e o Estado possam dialogar a respeito dos problemas que permeiam

o cotidiano das pessoas. Este espaço deve ser uma arena para a propagação de

conhecimentos e saberes que alimentam tanto a sociedade civil quanto o Estado,

criando uma sinergia benéfica para ambos.

Mas para que os Circuitos Turísticos possam ser vistos como espaços

públicos de diálogo, é preciso observar que a cultura democrática, isto é, que a

busca pelos direitos, passa pela formação de um novo sujeito social que é, na visão

de Dagnino (2004), aquele que compreende a sua participação como um processo

voltado para a mudança, para a luta da ampliação dos espaços da política e,

servindo assim como um instrumento para a construção de uma nação democrática

de fato.

É, este novo sujeito social que irá participar das discussões e reuniões

dos Circuitos Turísticos buscando reforçar a conquista de seus direitos e deveres a

partir de uma posição cidadã, imbuída da essência do conceito de cidadania, que se

baseia segundo Carvalho (2008) no amálgama dos direitos civis, dos direitos

políticos e dos direitos sociais formando um conjunto de direitos que buscarão

assegurar aos cidadãos o amparo legal de suas necessidades, desejos e

aspirações.

O conceito de cidadania é reforçado por Boneti (2007) frente à

participação dos atores sociais nos Circuitos Turísticos mineiros, o qual deve ser

pautado pela consciência do local, pelo conviver e viver na e para a coletividade,

pelo pertencer a grupos e organizações sociais e, pela percepção do direito ao

acesso igualitário aos bens e serviços sociais produzidos socialmente.

A qualidade cívica da participação dos atores sociais nos Circuitos

Turísticos é revestida, também, de um caráter pedagógico, conforme afirma

Kauchakje (2007, p. 90): “(...) caráter pedagógico inserido no processo de

aprendizado da participação cidadã, mas, sobretudo, seu caráter pedagógico

Page 185: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

propicia a constituição de sujeitos criativos na própria constituição da realidade

social”.

Dowbor (2006) diz que o sujeito social pode realizar a transformação

econômica e social a partir da sua realidade, necessitando para isso que a idéia de

educação voltada para o desenvolvimento local capacitaria pessoas, tornando-as

aptas para participar de forma mais ativa dos espaços públicos que permitam a

transformação, o desenvolvimento. Entende-se que os Circuitos Turísticos em Minas

Gerais se configuram em um desses espaços.

Paiva (2002) reforça o entendimento de que os sujeitos sociais alijados

do processo econômico e social encontram nos processo de participação, entre eles

nos movimentos sociais, o conhecimento e o saber antes negado de maneira formal

e, que este processo de aprendizagem o faz sujeito de sua vida e protagonista de

mudanças sociais.

Esta mudança de comportamento social permite o que Kauchakje

(2007) e Gohn (2007) definem como empoderamento, ou seja, os atores sociais

através de sua participação ativa em espaços públicos de discussões conquistam o

atendimento de suas necessidades, o respeito por suas identidades e diferenças

culturais e, resgatam a auto-estima e fortalecem o sentimento de pertencimento a

uma dada comunidade local.

O processo de desenvolvimento turístico local no estado de Minas

Gerais, através da gestão social dos Circuitos Turísticos, é consolidado a partir das

novas legislações que se esmeram em evidenciar o envolvimento e a participação

da base comunitária nos processos decisórios da condução da atividade turística

nos municípios mineiros, reforçando o pensamento exposto por Mielke (2010, p. 24):

Está claro que, quando a comunidade já se apresenta organizada politicamente, havendo um avançado estágio de cooperação e empoderamento, processo de inserção e estruturação estratégico do turismo torna-se mais fácil. Porém, o que normalmente ocorre é justamente o contrário. Tendo ainda o agravante de a atividade turística não ser o negócio principal da comunidade.

Compreender os Circuitos Turísticos em Minas Gerais como espaços

de diálogo que promovam a cidadania e a educação é conceber uma visão

aprofundada a respeito dos processos de desenvolvimento das políticas públicas

Page 186: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

estaduais voltadas para a descentralização de suas ações e, apresentando às

comunidades a possibilidade da construção, em conjunto, do desenvolvimento local.

Mas é necessário sinalizar que todo este processo é construído a longo

prazo e com esforços tanto da comunidade local, que recebe e ampara este

processo, quanto do Estado, que possui uma visão descontínua das políticas

públicas, que são interrompidas a cada quatro anos, de acordo com o ciclo

democrático das eleições.

Para que ocorra o planejamento turístico participativo nos espaços dos

circuitos turísticos, são necessários recursos financeiros para que os programas e

ações concebidos pelos circuitos turísticos e, por conseguinte, pelos municípios

mineiros, possam de fato estimular a geração de emprego e renda aos munícipes e

oferecer aos turistas e visitantes atrativos e infra-estrutura de qualidade.

É com este intuito que o Governo de Minas Gerais cria novos

mecanismos de distribuição de recursos aos municípios. Através da Lei Estadual n.o

18.030 de 12 de janeiro de 2009 (MINAS GERAIS, 2009), possibilitam novas

destinações a parcelas da receita do produto da arrecadação do imposto sobre

operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de

transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS), incluindo o setor

de turismo.

No artigo 9o, da Lei Estadual no 18.030/2009 (MINAS GERAIS, 2009),

ficam estabelecidos os critérios de valores decorrentes da aplicação dos percentuais

destinados à atividade turística:

§ 1º - Para se habilitar à participação no critério "turismo", o Município deverá: I - participar do Programa de Regionalização do Turismo da SETUR; II - elaborar uma política municipal de turismo; III - constituir e manter em regular funcionamento o Conselho Municipal de Turismo e o Fundo Municipal de Turismo (MINAS GERAIS, 2009).

No decurso das políticas públicas mineiras, os incisos I, II e III da Lei

Estadual no 18.030/2009 (MINAS GERAIS, 2009), servem como elementos

fomentadores para que a descentralização e a participação popular se firmem como

elementos agregadores de novas posturas e condutas para o planejamento turístico,

por parte dos municípios integrantes dos circuitos turísticos.

O simples fato de participar de circuito turístico certificado segundo a

Resolução da SETUR no 008/2008 (MINAS GERAIS, 2008), não significa possuir um

Page 187: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

processo de planejamento e de ações concretas que visem a estimular o setor de

turismo. Mas, para aqueles municípios realmente engajados com o processo de

desenvolvimento regional e dos circuitos turísticos, o governo estadual de Minas cria

um estímulo financeiro compensador.

As exigências apresentadas pela Lei Estadual no 18.030/2009 (MINAS

GERAIS, 2009) são aludidas por Bolson e Álvares (2005), quando estes analisaram

a estrutura para o planejamento turísticos nos municípios mineiros participantes de

circuitos turísticos pertencentes à área geográfica da Estrada Real.

Bolson e Álvares (2005) apresentam que 52,2% dos municípios não

possuíam o conselho municipal de turismo instituído, refletindo uma idéia de que a

simples participação no circuito turístico iria sanar as deficiências municipais no

tocante ao processo de planejamento turístico e, pode-se ainda dizer que por falta

de conhecimento dos gestores municipais a respeito da importância do que

representam os conselhos municipais de turismo, os mesmos não eram constituídos.

Se o processo de regionalização faz com que haja uma estrutura e

espaços democráticos de participação e inclusão social, os conselhos municipais de

turismo são os instrumentos para que as decisões e os programas planejados no

circuito turístico possam ser verbalizados através das realidades locais, mediante

ações específicas.

A Lei Estadual no 18.030/2009 não informava aos gestores municipais

quando seria criada a sua regulamentação específica, criando uma expectativa nos

municípios que já atendiam aos incisos I, II e III, do § 1o, do Art. 9o (MINAS GERAIS,

2009), e permitindo aos demais municípios participantes de circuitos turísticos

certificados o encaminhando de ações para o cumprimento das necessidades legais.

A resposta para a regulamentação foi promulgada em 18 de junho de

2010, por meio do Decreto-lei de no 45.403 da SETUR (MINAS GERAIS, 2010), o

qual regulamenta o critério “turismo” da Lei no 18.030/2009 (MINAS GERAIS, 2009),

e que em seu artigo 3o apresenta a seguinte redação:

Art. 3º São requisitos mínimos para habilitação do Município: I - participar do Programa de Regionalização do Turismo da SETUR; II - possuir uma política municipal de turismo; III - possuir e manter em regular funcionamento o Conselho Municipal de Turismo e o Fundo Municipal de Turismo (MINAS GERAIS, 2010).

Page 188: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

O Governo de Minas Gerais, por meio de seus colaboradores da

SETUR, apresentou discretas alterações na redação dos incisos II e III do § 1o, do

Art. 9o da Lei Estadual no 18.030/2009 (MINAS GERAIS, 2009), o que na redação

anterior era uma proposição, agora se torna uma obrigação, tanto a política

municipal de turismo quando o conselho municipal de turismo e o fundo municipal de

turismo.

Essa discreta alteração na redação dos verbos faz com que muitos

municípios mineiros participantes de circuitos turísticos certificados não consigam

protocolar até a data de 15 de julho de 2010, conforme data limite estabelecida no §

5o, do Art. 9o da Lei Estadual no 18.030/2009 (MINAS GERAIS, 2009) e referendado

no Art. 8o do Decreto-lei no 45.403 da SETUR (MINAS GERAIS, 2010), os

documentos necessários para a habilitação e aprovação da destinação da parcela

do ICMS destinado ao incremento da atividade turística municipal.

Contudo, a legislação turística não veda ou proíbe novos pedidos de

participação ao ICMS Turístico. Apenas veda a participação dos municípios ao

volume financeiro para o ano de 2011, mas nada impedindo a sua participação para

o ano de 2012, e assim por diante.

Para tanto, apresenta-se a tabela 01 com o resultado obtido pelos

municípios participantes dos circuitos turísticos mineiros que conseguiram ser

inscritos para a obtenção dos recursos financeiros a serem gerados no ano de 2011

a partir do ICMS Turístico.

Esses dados permitem que sejam observados que, para o primeiro ano

de vigência da Lei Estadual n.o 18.030/2009 (MINAS GERAIS, 2009) e do Decreto-

lei no 45.403 da SETUR (MINAS GERAIS, 2010), um conjunto de municípios passa a

receber benefícios financeiros direto do Governo do Estado de Minas Gerais,

corroborando o fortalecimento dos cumprimentos legais em vigor, além de

demonstrar que a participação social está sendo efetivada nas instâncias de

governança municipais a partir da análise turística.

Mas ao mesmo tempo, quando analisada a tabela 01 com o número

total de circuitos turísticos inscritos no perímetro do Estado de Minas Gerais,

percebe-se que a partir do gráfico 01, somente 17 circuitos turísticos conseguiram

atender aos requisitos estabelecidos pelos documentos legais para o recebimento

dos benefícios financeiros oriundos do repasse do ICMS. Do total dos municípios

percebe-se que somente 44 estão engajados com o desenvolvimento turístico a

Page 189: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

partir dos princípios da descentralização, regionalização, municipalização e

planejamento turístico participativo.

TABELA 01 – Municípios aprovados para o recebimento do ICMS 2010/2011.

Fonte: SETUR, 2011, s/p.

A leitura do gráfico 01 demonstra de maneira clara a necessidade de

avançar em muito para que a gestões regionais dos circuitos turísticos possam se

efetivar e conseguir que os princípios da municipalização e da participação social

N° Município Circuito Turístico

1 Alfredo Vasconcelos Trilha dos Inconfidentes 2 Angelândia Pedras Preciosas 3 Antonio Carlos Trilha dos Inconfidentes 4 Araporã Águas Do Cerrado 5 Argirita Serras E Cachoeiras 6 Bueno Brandão Serras Verdes Do Sul De Minas 7 Cachoeira de Minas Serras Verdes Do Sul De Minas 8 Cachoeira Dourada Águas Do Cerrado 9 Camanducaia Serras Verdes Do Sul De Minas 10 Cambuí Serras Verdes Do Sul De Minas 11 Capelinha Pedras Preciosas 12 Capitólio Nascentes Das Gerais 13 Caratinga Rota do Muriqui 14 Carmo de Minas Das Águas 15 Catas Altas da Noruega Villas e Fazendas 16 Caxambu Das Águas 17 Chapada do Norte Lago De Irapé 18 Conceição da Barra de Minas Trilha dos Inconfidentes 19 Coronel Xavier Chaves Trilha dos Inconfidentes 20 Cristália Lago De Irapé 21 Datas Diamantes 22 Dores de Campos Trilha dos Inconfidentes 23 Felício dos Santos Diamantes 24 Gonçalves Serras Verdes Do Sul De Minas 25 Grão Mogol Lago de Irapé 26 Ipanema Rota do Muriqui 27 Ipuiúna Caminhos Gerais 28 Jequeri Montanhas E Fé 29 Lagoa Dourada Trilha dos Inconfidentes 30 Passa Quatro Terras Altas Da Mantiqueira 31 Piedade de Caratinga Rota do Muriqui 32 Poços de Caldas Caminhos Gerais 33 Pouso Alegre Serras Verdes Do Sul De Minas 34 Sabará Ouro 35 Sacramento Da Canastra 36 Santa Rita de Minas Rota do Muriqui 37 São Tiago Trilha dos Inconfidentes 38 Sapucaí Mirim Serras Verdes Do Sul De Minas 39 Simonésia Pico da Bandeira 40 Tocos do Moji Serras Verdes Do Sul De Minas 41 Turmalina Lago De Irapé 42 Uberlândia Triangulo Mineiro 43 Varginha Vale Verde e Quedas D'Água 44 Virgolândia Trilhas do Rio Doce

Page 190: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

sejam efetivados em maior proporção, pois se o Estado de Minas Gerais é dividido

em 46 circuitos turísticos e somente 17 circuitos foram contemplados, ou seja,

somente 37% do total dos circuitos irão receber os benefícios gerados.

GRÁFICO 01 – Relação dos Circuitos Turísticos e Municípios contemplados com o ICMS Turístico 2010/2011. Fonte: Elaboração própria, 2011.

Para um primeiro ano de vigência de legislação do ICMS Turístico,

pode-se dizer que o índice alcançado é satisfatório, mas quando se compreende que

os circuitos turísticos mineiros, a formação de instâncias regionais de governança e

a descentralização, municipalização e participação social são conceitos que estão

sendo trabalhados desde o ano 1999, quando se deu início todo esse processo de

formação de circuitos.

Percebe-se que o Governo do Estado de Minas Gerais mediante a

Secretaria de Estado do Turismo, os gestores e presidentes de cada circuito turístico

assim como os governos municipais, comunidade e empresários necessitam alinhar

suas praticas e receberem maior atenção para a mobilização em prol do

planejamento turístico participativo, aumentando para os próximos anos o índice dos

circuitos turísticos mineiros atendidos pelo ICMS Turístico.

Ora, se o Estado de Minas Gerais possui um total de 853 municípios, e

se somente 44 conseguiram obter a aprovação para o recebimento do ICMS

Page 191: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Turístico, pode-se concluir que somente 5,2% dos municípios estão sendo

agraciados com os benefícios financeiros, sinalizando que há um longo caminho em

prol da democratização do turismo nos municípios e que para os próximos anos o

volume financeiro dividido deverá sofrer uma redivisão, caso haja o aumento de

municípios que cumpram as determinações dos dispositivos legais em vigor no

Estado de Minas Gerais no tocante ao ICMS Turístico.

Mas é preciso que se compreenda que a distribuição dos recursos

financeiros do Governo do Estado de Minas Gerais para os municípios que

atenderam aos requisitos legislados com relação ao ICMS Turístico faz com que se

repense o desenvolvimento turístico local e mesmo o aumento dos investimentos

dos governos municipais para com a atividade turística, uma vez que, se antes não

havia qualquer instrumento legal que apoiasse financeiramente o turismo, a partir do

ano de 2011 o desenvolvimento turístico passa a ser apoiado e financiado com

recursos públicos.

Ao mesmo tempo se compreende que os municípios mineiros que

atenderam à legislação do ICMS Turístico conseguirão legitimar um conjunto maior

de ações municipais e locais em prol do turismo, visto que, os conselhos municipais

detêm o instrumento de fomento ao turismo local, que é o Fundo Municipal de

Turismo.

Para melhor visualização dos recursos financeiros redistribuídos pelo

Governo do Estado de Minas Gerais aos municípios contemplados com o requisito

do ICMS Turístico, apresenta-se a tabela 02, na qual há a demonstração financeira

total distribuída de janeiro a julho do ano de 2011, contemplando a indicação de

cada município e o circuito turístico no qual está inserido.

TABELA 02 – Valor de Repasse do ICMS Turístico 2010/2011 de Janeiro a Julho.

MUNICÍPIO CIRCUITO TURÍSTICO VALOR

Alfredo Vasconcelos Trilha dos Inconfidentes R$ 84.326,96 Angelandia Pedras Preciosas R$ 91.164,49

Antônio Carlos Trilha dos Inconfidentes R$ 99.629,69

Arapora Águas Do Cerrado R$ 12.046,71

Argirita Serras E Cachoeiras R$ 24.079,77

Bueno Brandão Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 108.420,37

Cachoeira de Minas Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 96.373,69

Cachoeira Dourada Águas Do Cerrado R$ 11.069,92

Camanducaia Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 78.140,60

Cambui Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 91.164,32

Page 192: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

MUNICÍPIO CIRCUITO TURÍSTICO VALOR

CIRCUITO TURÍSTICO CIRCUITO TURÍSTICO VALOR

VALOR CIRCUITO TURÍSTICO VALOR

Capelinha Pedras Preciosas R$ 108.421,07

Capitolio Nascentes Das Gerais R$ 39.070,48

Caratinga Rota do Muriqui R$ 104.187,08

Carmo de Minas Das Águas R$ 96.373,94

Catas Altas da Noruega Villas e Fazendas R$ 36.140,18

Caxambu Das Águas R$ 91.163,69

Chapada do Norte Lago De Irapé R$ 96.379,12

Conceição da Barra Minas Trilha dos Inconfidentes R$ 52.092,98

Coronel Xavier Chaves Trilha dos Inconfidentes R$ 39.070,44

Cristalia Lago De Irapé R$ 52.110,60

Datas Diamantes R$ 60.237,53

Dores de Campos Trilha dos Inconfidentes R$ 108.420,45

Felicio dos Santos Diamantes R$ 78.140,97

Gonçalves Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 52.112,71

Grão Mogol Lago de Irapé R$ 65.117,40

Ipanema Rota do Muriqui R$ 104.187,03

Ipuiuna Caminhos Gerais R$ 88.559,61

Jequeri Montanhas e Fé R$ 78.141,05

Lagoa Dourada Trilha dos Inconfidentes R$ 88.559,69

Passa Quatro Terras Altas Da Mantiqueira R$ 104.187,33

Piedade de Caratinga Rota do Muriqui R$ 84.326,08

Poços de Caldas Caminhos Gerais R$ 26.046,95

Pouso Alegre Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 78.140,74

Sabara Ouro R$ 117.211,03

Sacramento Da Canastra R$ 39.070,38

São Tiago Trilha dos Inconfidentes R$ 117.211,45

Sapucai-mirim Rota do Muriqui R$ 65.116,70

Simonesia Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 117.211,59

Santa Rita de Minas Pico da Bandeira R$ 48.186,88

Tocos do Mogi Serras Verdes Do Sul De Minas R$ 36.142,48

Turmalina Lago De Irapé R$ 91.165,23

Uberlandia Triangulo Mineiro R$ 78.140,72

Varginha Vale Verde e Quedas D'Água R$ 65.117,27

Virgolandia Trilhas do Rio Doce R$ 72.279,21

VALOR TOTAL REPASSADO AOS MUNICÍPIOS R$ 3.274.456,58

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2011, s/p.

Para um primeiro ano é importante que se ressalve que os valores

distribuídos irão contribuir sobremaneira para que o turismo possa ser repensando e

que novos serviços públicos e ações municipais se convertam em prol da

profissionalização, do planejamento participativo do turismo, assim como se torne

uma atividade sustentável e que inclua o maior número possível de atores locais que

se preocupam com desenvolvimento da comunidade municipal como um todo.

Page 193: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A próxima tabela apresentada, a de número 03, demonstra o volume

financeiro distribuído para cada circuito turístico mineiro:

TABELA 03 – Valor total de Repasse do ICMS Turístico 2010/2011 Circuitos Turísticos.

CIRCUITO TURÍSTICO VALOR REPASSE

Águas do Cerrado R$ 23.116,63

Caminhos Gerais R$ 114.606,56

Da Canastra R$ 39.070,38

Das Águas R$ 187.537,63

Diamantes R$ 138.378,50

Lago de Irapé R$ 304.772,35

Montanhas e Fé R$ 78.141,05

Nascentes das Gerais R$ 39.070,48

Ouro R$ 117.211,03

Pedras Preciosas R$ 199.585,56

Pico da Bandeira R$ 48.186,88

Rota do Muriqui R$ 409.911,64

Serras E Cachoeiras R$ 24.079,77

Serras Verdes do Sul de Minas R$ 657.706,50

Terras Altas da Mantiqueira R$ 104.187,33

Triangulo Mineiro R$ 78.140,72

Trilha dos Inconfidentes R$ 537.216,91

Trilhas do Rio Doce R$ 72.279,21

Vale Verde e Quedas D'Água R$ 65.117,27

Villas e Fazendas R$ 36.140,18

TOTAL DO REPASSE R$ 3.274.456,58

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2011, s/p.

Se o pensamento do Governo Federal é fomentar a regionalização do

turismo, o Governo do Estado de Minas Gerais fez com que, mediante a distribuição

de recursos financeiros aos municípios fosse gerado um incremento em prol do

crescimento e do desenvolvimento da atividade turística.

Contudo, é preciso que se coloque uma importante prerrogativa dos

governos municipais ao receberem os recursos provindos da distribuição do ICMS,

isto é, o recurso financeiro é depositado diretamente na conta de repasses estaduais

nos municípios, não havendo qualquer conta exclusiva em prol dos repasses

realizados.

Tal colocação faz com que se responsabilizem os gestores municipais

(prefeitos e secretários de planejamento, orçamento e finanças) para que os novos

recursos obtidos não sejam incluídos como nova fonte de recursos financeiros a

Page 194: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

compor o volume total do orçamento público municipal, pois se assim for

compreendido, os gestores municipais não são obrigados a repassarem às

estruturas político-administrativas dos municípios que lidam com o turismo

(secretarias, fundações e empresas municipais de turismo) os novos recursos

obtidos.

Pode parecer que os recursos obtidos, mediante o cumprimento da

legislação do ICMS Turístico, servirão como um novo instrumento de

desenvolvimento da atividade turística, mas o legislador, em momento algum,

indicou no corpo da lei que deverá o município aplicar os recursos obtidos somente

com a atividade turística. Cabe aos membros do conselho municipal de turismo fazer

o papel de agentes fiscalizadores e promotores da mudança de pensamento dos

gestores municipais.

A democratização das informações municipais dos recursos

financeiros, o aumento e a incorporação da participação social no processo político-

administrativo dos municípios está proporcionando a quebra da rotina de ações

centralistas e pseudo-democráticas que alguns gestores municipais podem vir a ter.

Ao mesmo tempo, é papel dos conselhos municipais, fiscalizarem e acompanharem

a aplicação dos recursos públicos mediante as demandas da sociedade, como

também colaborar para que a aplicação dos recursos públicos seja efetivada

seguindo as diretrizes e objetivos das políticas públicas municipais, não somente as

vinculadas ao turismo.

Já o gráfico 02 demonstra como os recursos financeiros repassados

aos municípios contemplados com a legislação do ICMS Turístico estão distribuídos

pelos circuitos turísticos.

Deve-se observar que os circuitos turísticos com as cidades turísticas

mais conhecidas e divulgadas pelo estado de Minas Gerais, como o Circuito dos

Diamantes tendo a cidade de Diamantina a sua principal destinação turística, e o

Circuito Turístico do Ouro, tendo Ouro Preto e Mariana como atrações que

representam a imagem turística do Estado, são agraciados com poucos recursos

financeiros quando comparados com o Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de

Minas e Trilha dos Inconfidentes.

Page 195: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

GRÁFICO 02 – Relação entre Circuitos Turísticos e valores repassados com o ICMS Turístico 2010/2011. Fonte: Fundação João Pinheiro, 2011, s/p.

Essa percepção denota a uma importante observação: o requisito

ICMS Turístico não tem por objetivo a promoção e o desenvolvimento dos

municípios já consolidados como instrumento de avaliação, mas são a participação

social, o envolvimento comunitário e o interesse no desenvolvimento do turismo

regional os indicadores para que de fato os valores financeiros possam ser

distribuídos.

Ao mesmo tempo, a distribuição do ICMS Turístico seguindo os

preceitos estabelecidos na legislação, faz com que os gestores municipais dos

municípios turísticos já consagrados repensem suas posturas, deixando de pensar e

planejar o turismo somente a partir da esfera do poder público, mas que percebam

que, mediante a participação social e os conselhos municipais de turismo, o

planejamento turístico pode vir a trazer novos resultados e novas ações que venham

a renovar e reposicionar a destinação turística no mercado turístico emissivo.

Mas deve-se ressaltar que a política pública de turismo de Minas

Gerais, mesmo sendo considerada como um importante avanço para o incremento

Page 196: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

da atividade turística no estado, possui algumas arestas que necessitam de maior

discussão e observação.

Uma primeira aresta que necessita ser discutida tanto pelo Governo do

Estado de Minas Gerais como com os gestores dos circuitos turísticos do estado, é

que a política pública representa um instrumento de fomento do turismo, premiando

aos municípios que atendem aos requisitos dispostos a respeito da participação

social, mediante a prática constante dos conselhos municipais de turismo e dos

fundos municipais de turismo, contudo, consideram que todos os municípios de

Minas Gerais possuem o turismo como principal atividade econômica.

Essa primeira observação faz com que os municípios que não

possuem nenhuma vinculação direta com o turismo acabem por fomentar atividades

e grupos de atores sociais apenas para o cumprimento da legislação e a obtenção

dos benefícios financeiros gerados a partir da redistribuição do ICMS arrecadado

pelo Estado de Minas Gerais. Cabendo algumas indagações: o turismo e a

participação social para estes municípios não estariam sendo forjados apenas para

o recebimento do recurso financeiro? Poderão estes municípios conseguir efetivar

políticas públicas municipais na área do turismo, mesmo não possuindo o setor

produtivo local organizado e existente?

Os questionamentos acima conduzem a reflexão para a segunda

aresta encontrada na política pública de turismo de Minas Gerais: nem todos os

municípios mineiros possuem vocação turística e muito menos potencial turístico.

Isto significa que o turismo depende, como argumentado anteriormente, do

complexo amálgama apresentado por Cooper et al (2001), que desta forma

diferencia a movimentação turística entre os diferentes municípios.

A legislação da política pública de turismo mineiro se torna um

instrumento cego frente a esta realidade, ou seja, para o Governo do Estado de

Minas Gerais todos os municípios possuem vocações turísticas que podem ser

convertidas em produtos turísticos. Mas se fosse assim, algo tão simplório, o estado

de Minas Gerais, estaria entre os que mais recebem turistas e visitantes25. Mas não

é essa a realidade existente, o que denota que o Governo de Minas Gerais

25

Para melhor visualização dos dados do turismo brasileiro, indica-se a leitura da cartilha “Dados do turismo brasileiro”, disponibilizada pelo Ministério do Turismo no site institucional a partir do seguinte link de acesso: <http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Cartilha-Dados_Turismo-15x21-web.pdf>.

Page 197: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

necessita ainda se preocupar com os principais destinos receptores de turismo,

gerando maior profissionalização e investimentos, assim como assegurar mediante

diplomas legais, que o planejamento da atividade turística continue seguindo o

caminho da participação social, dos circuitos turísticos e da municipalização.

Outra aresta que acompanha a problematização e os questionamentos

gestados refere-se a um amparo e colaboração somente para a profissionalização

dos municípios que possuem a vocação turística já em desenvolvimento,

construindo um abismo entre aqueles que já possuem o turismo inscrito como

atividade socioeconômica pertencente ao leque de atividades correlatas ao

município, contra aqueles que ainda não conseguiram a sensibilização e a atração

de investimentos para o que turismo possa se tornar uma nova estratégia de

desenvolvimento local para o município.

Essa medida pode causar a marginalização de municípios mineiros que

jamais terão a possibilidade de acessarem os recursos provindos da redistribuição

do ICMS Turístico a partir da legislação em vigor, motivando o descrédito naquilo

que de fato deve representar uma política pública setorial, ou seja, a política pública

deve emanar da necessidade da coletividade e atender ao maior número possível de

realidades.

Para tanto, essas argumentações e as arestas apresentadas

demonstram que a política pública de turismo de Minas Gerais necessita de maiores

discussões e opiniões para aprimorar sua efetivação para o maior número possível

de municípios mineiros, mas sem que se perca o viés da participação social, da

municipalização em prol do planejamento turístico participativo.

Assim, o processo de desenvolvimento turístico no estado de Minas

Gerais, através da participação social dos circuitos turísticos, é consolidado a partir

das novas legislações que se esmeram em evidenciar o envolvimento e a

participação da base comunitária nos processos decisórios da condução da

atividade turística nos municípios mineiros.

O próximo capítulo desta pesquisa abordará como a participação

social, o monitoramento das políticas públicas de turismo do Estado de Minas Gerais

e o entrosamento dos diferentes atores sociais na instância regional de

desenvolvimento do turismo, ou seja: como o Circuito Turístico Trilha dos

Inconfidentes tem se apropriado desse conhecimento gerado a partir das diferentes

Page 198: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

políticas públicas federais e estaduais para a condução do desenvolvimento

socioeconômico a partir do vetor turismo regional e participação social.

Page 199: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

5 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E TURISMO SOB A PERSPECTIVA DO

CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES

A gestão social, pensada como instrumento para a condução da

atividade turística e impulsionada pelo processo da participação social, surge como

uma importante temática que pode contribuir para um aprofundamento na

compreensão da dinâmica multifacetada que representa a realidade turística nas

esferas governamentais municipal, estadual/distrital, federal e/ou internacional.

Os diversos atores sociais que movimentam o turismo necessitam ser

vistos como elementos principais da atividade turística e, não somente as

organizações que eles em si representam como por exemplo, hotéis, restaurantes,

empresas de transportes turísticos dentre outras, para que então se visualize

nominalmente aqueles que são beneficiados, aqueles que são marginalizados e

mesmo aqueles atores que não sofram nenhuma dessas ações, mas que se

interessam e buscam contribuir para o aprimoramento do turismo.

O Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, entendido como resultado

de ações da política pública do turismo no estado de Minas Gerais, desenvolve-se a

partir de um processo de regionalização voltado para o planejamento da atividade

turística a partir das realidades socioeconômicas e culturais de municípios afins. A

leitura dos circuitos turísticos no estado de Minas Gerais perpassa ainda pela

dinâmica da descentralização das instâncias de poder, isto é, com a criação dos

circuitos turísticos aproximam-se dos munícipes a competência do andamento das

decisões no tocante ao turismo e, facilita a compreensão dos atores sociais

representantes do poder público local, iniciativa privada e membros da comunidade

local para a condução em conjunto da atividade turística.

Para tanto, é objetivo deste capítulo compreender como as estratégias

das políticas públicas que vem promovendo o turismo em Minas Gerais, além dos

documentos oficiais do CTTI, visam estabelecer o diálogo entre participação social,

desenvolvimento turístico e controle social.

Page 200: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

5.1 O desenho institucional do circuito turístico trilha dos inconfidentes

O desenho institucional do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes é

compreendido a partir da participação social e da gestão participativa podem ser

vislumbradas mediante a leitura e apreciação do Estatuto da Associação do Circuito

Turístico Trilha dos Inconfidentes, assim como do Regimento Interno e do caderno

de atas das assembléias deliberativas, os instrumentos criam o conjunto de

regulamentos internos visando a organização, administração e funcionamento do

Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes (CTTI).

O primeiro dado a ser extraído dos documentos é que o CTTI foi

fundado no ano de 2000, no município de Santa Cruz de Minas constituindo-se

enquanto uma entidade civil de direito privado, sem fins lucrativos, gozando de

autonomia financeira e administrativa.

A data de fundação pode ser lida enquanto parâmetro para legitimar as

ações empreendidas pelo Governo do Estado de Minas Gerais a partir da publicação

da Lei Estadual n.o 13.341, de 28 de outubro de 1999 (MINAS GERAIS, 1999), a

qual estabelece que os governos municipais devam se articular de forma

regionalizada para que o turismo possa ser planejado a partir do pensamento do

planejamento turístico participativo.

A constituição da personalidade jurídica do CTTI pode transparecer,

num primeiro momento, algo que é justificável perante os parâmetros de

participação social, mas é preciso que se tenha o cuidado com as devidas

colocações, tendo em vista que a Resolução da SETUR no 008/2008 (MINAS

GERAIS, 2008), no que se refere ao Art. 2º, inciso II, alínea “a”, na qual se apregoa

que, para os circuitos turísticos receberam a chancela de “Certificado de

Reconhecimento dos Circuitos Turísticos de Minas Gerais”, a primeira exigência

estatutária é que a entidade deverá ser definida como sem fins lucrativos, tendo os

objetivos e as finalidades direcionados para o desenvolvimento do turismo

sustentável de forma regional.

Assim concebida a colocação da SETUR, o que se percebe é que a

política pública e os seus contornos designados pelo corpo burocrático do Estado

moldam as estruturas e funcionamento dos circuitos turísticos em Minas Gerais,

prevalecendo uma postura de que cabe ao Estado o papel regulamentador e

Page 201: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

formalizador de como os espaços de participação social para discutirem o turismo

serão pensados e organizados.

De certa maneira, a postura da SETUR em ditar que os circuitos

turísticos devam ser configurados enquanto entidades sem fins lucrativos e voltados

para a discussão do turismo regionalizado faz com que se crie um correto

direcionamento das discussões e do envolvimento dos atores sociais em um único

tema. Mas pode o Estado compreender e ditar que regras são melhor aplicadas às

diversas realidades dos circuitos turísticos do estado de Minas Gerais?

As resoluções expedidas pela SETUR apresentam-se como

instrumentos que vão se ajustando às realidades dos circuitos turísticos e de suas

práticas, enquanto lócus da participação social para o planejamento turístico

regionalizado. Mas é preciso que essas resoluções tragam consigo instrumentos e

ferramentas aplicáveis às diversas realidades e não apenas novos obstáculos para

que os atores sociais reunidos nos circuitos turísticos tenham surpresas em prol do

atendimento das legislações publicadas.

Retornando à leitura e reflexão dos documentos internos do CTTI a

partir do ano de 2007 ao ano de 2011, a sede do circuito turístico se encontra na

cidade de São João del Rei, no Estado de Minas Gerais. Percebe-se que a sede do

circuito turístico na cidade descrita representa a localização central perante o

conjunto das cidades participantes, dado este que pode ser percebido mediante a

apresentação da tabela 04.

A distância média dos municípios pertencentes ao CTTI da cidade sede

administrativa, São João del-Rei, representa aproximadamente 47 km (quarenta e

sete quilômetros), não sendo empecilho ou fator que possa vir a dificultar a

locomoção para a participação de reuniões, assembléias, cursos ou outras ações

que o CTTI venha a desenvolver que carece da participação dos municípios

integrantes.

Esse importante dado precisa ser compreendido melhor enquanto um

facilitador para a maior integração ao perceber como a dinâmica estabelecida no

Decreto-lei nº 43.321, de 08 de maio de 2003 (MINAS GERAIS, 2003), faz com que

os municípios se vejam obrigados a integrar e participar efetivamente de algum

circuito turístico.

Page 202: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

TABELA 04 – Distância dos municípios que compõem o Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes da sede administrativa.

Município Distância da sede em Km

Alfredo Vasconcelos 68,2 Antônio Carlos 72,5 Barbacena 61,1 Barroso 34,9 Carrancas 74 Conceição da Barra de Minas 30,2 Coronel Xavier Chaves 18,1 Dores de Campos 35,1 Entre Rios de Minas 68 Ibituruna 68,7 Lagoa Dourada 36,2 Madre de Deus de Minas 58,7 Nazareno 50,4 Piedade do Rio Grande 74,4 Prados 27,8 Resende Costa 46,7 Santa Cruz de Minas 6,4 São João del-Rei São Tiago 46,6 Tiradentes 15,7

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Os municípios participantes mediante a locomoção de seus

representes passam a gastar um valor financeiro menor, pois a distância a ser

percorrida para participar das ações é menor, não necessitando de gastos extras

com hospedagem e alimentação.

Visto como o CTTI se organiza, a análise parte para o entendimento de

como de dá a composição do CTTI e de seus associados.

O CTTI enquanto uma associação sem fins lucrativos apresenta como

base no seu Estatuto que a integração de novos atores sociais se dê com base no

objetivo de desenvolver o turismo de forma participativa e regionalizada, agregando

representantes do poder público, da iniciativa privada e sociedade civil.

O CTTI permite também que autarquias, fundações, organizações não

governamentais e organizações da sociedade civil de interesse público, além de

sindicatos, associações e outros instituições representantes de classe, possam

integrar o conjunto de atores sociais em favor da participação e das discussões da

atividade turística participativa e regionalizada.

Pensando assim, o CTTI é administrado por um conjunto de órgãos

internos, a saber: a Assembléia Geral, Diretoria Executiva, Conselho Fiscal e equipe

Page 203: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

operacional, carecendo de recursos financeiros advindos dos associados para a

manutenção das atividades.

O processo decisório do CTTI é visto a partir dos diferentes órgãos

internos e deliberado somente pela Assembléia Geral e pela Diretoria Executiva,

cada qual com atribuições diferentes, mas tendo como finalidades e objetivos o

turismo regionalizado e a política pública nacional e a estadual de turismo.

A Assembléia Geral é o principal espaço para que os diferentes atores

sociais integrantes ao CTTI possam se articular e deliberar sobre projetos, ações

e/ou modificações necessárias no instrumento do plano integrado em prol do

desenvolvimento sustentável da região geográfica de abrangência do circuito.

Os atores sociais que compõem o CTTI devem se reunir

ordinariamente, uma vez ao ano ,conforme convocação a ser expedida pela Diretoria

Executiva e tem como atribuições: a eleição da Diretoria Executiva e do Conselho

Fiscal, aprovar as contas e alterar o estatuto interno, além de destituir os

colaboradores contratados que venham a compor a equipe operacional, de acordo

com as justificativas expedidas pela Diretoria Executiva.

É importante que se ressalve algumas considerações a respeito da

caracterização dos representantes dos municípios junto à Assembléia Geral: para

que o município possa se integrar ao CTTI é preciso que seja estabelecido um

convênio, o qual irá disciplinar o objetivo do instrumento jurídico, ou seja, visando à

execução de programas de trabalho, projeto/atividade ou evento de interesse

recíproco, em regime de mútua cooperação; mediante a transferência de recursos

públicos; além de apresentar mediante a identificação clara de quem será o

representante da concedente26 para o convenente27, ou seja, o CTTI.

É pela a identificação da concedente que se gera o ator social

representativo do município junto ao corpo dos demais atores que irão deliberar a

respeito das decisões e que, segundo o Estatuto do CTTI, somente este terá direito

ao voto, não podendo repassar esta obrigação/responsabilidade mediante

26

Órgão da administração pública federal direta, autárquica ou fundacional, empresa pública ou sociedade de economia mista, responsável pela transferência dos recursos financeiros ou pela descentralização dos créditos orçamentários destinados à execução do objeto do convênio (BRASIL, 1997). 27

Órgão da administração pública direta, autárquica ou fundacional, empresa pública ou sociedade de economia mista, de qualquer esfera de governo, ou organização particular com a qual a administração federal pactua a execução de programa, projeto/atividade ou evento mediante a celebração de convênio (BRASIL, 1997).

Page 204: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

procuração a outro representante legal para que compareça às reuniões da

Assembléia Geral.

Tal mecanismo protecionista que o CTTI, mediante seu instrumento

legal – Estatuto, deseja exemplificar que se o município ao conceber o convênio

apresentar como representante máximo o prefeito municipal, este deverá arcar com

as responsabilidades de suas tarefas e funções administrativas do município além

de se preocupar também com as decisões e deliberações do CTTI.

A vedação do voto por procuração faz perceber que os integrantes da

Assembléia Geral tiveram o esmero em fazer com que os prefeitos municipais

passem a outorgar aos secretários municipais ligados à pasta de turismo a

incumbência e a responsabilidade em participar ativamente no processo participativo

do CTTI.

Assim, a representação e as agendas a serem deliberadas pelas

reuniões da Assembléia Geral terão a continuidade da representação, além da

assiduidade representativa, não criando rupturas nos processos de discussões.

Contudo, o Estatuto faz uma importante distinção entre a intenção de

participação e o direito à participação nas assembléias deliberativas do CTTI: todos

os atores sociais que se tornem associados ao circuito turístico deverão ter seus

nomes aprovados pela Diretoria Executiva e deverão contribuir mensalmente com

uma quantia financeira a ser determinada pela Assembléia Geral. Ou seja, o direito

ao voto fica condicionado ao pagamento das mensalidades, carecendo assim de

uma breve discussão do que é direito de participar e do que é dever de participar na

discussão do turismo regionalizado e participativo.

Ao instituir a contribuição financeira como instrumento segregador e

meritocrático, poderá ficar a assembléia deliberativa do CTTI esvaziada de atores

sociais, assim como das necessidades e demandas sociais que precisam ser

discutidas em prol do desenvolvimento turístico, promovendo assim apenas a

discussão e a deliberação de ações em prol dos atores sociais que possuem a

capacidade financeira do pagamento mensal da contribuição.

Mas é preciso que se perceba que existe outra vertente dessa

segregação do direito ao voto dos atores sociais que compõem o CTTI: ao

apresentar a necessidade da contribuição mensal, estabelece-se que para o

funcionamento do circuito turístico é preciso que haja uma determinada entrada

financeira fixa, podendo assim fazer com que o corpo técnico e que as despesas

Page 205: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

administrativas possam ser devidamente pagas, auxiliando o desenvolvimento das

ações do CTTI.

Cabe ressaltar que o processo deliberativo da Assembléia Geral se

dará durante as reuniões. Mediante o seguinte sistema: a Assembléia Geral se

reunirá em primeira convocação com a presença de um terço dos sócios

convocados e que estejam em dia com o pagamento das mensalidades, ou em

segunda convocação, que se dará no período de 30 minutos após a primeira

convocação com qualquer número de sócios, podendo assim deliberar a respeito da

pauta da reunião convocada.

Mas para que a deliberação venha a envolver a destituição de algum

dos colaboradores da equipe técnica, alteração estatutária ou a respeito da extinção

do CTTI, o Estatuto apresenta que a Assembléia Geral necessitará de contar

obrigatoriamente com dois terços dos sócios convocados e que apresentem a

regularidade fiscal para com o CTTI.

As distinções a respeito do número de participantes para as diferentes

categorias de deliberações estabelecidas no Estatuto do CTTI fazem com que haja

uma maior agilidade para as decisões a serem tomadas pelos membros presentes

nas reuniões da Assembléia Geral, ao mesmo tempo em que representa uma

valorização para os membros que se deslocaram de seus municípios para a reunião.

Em outra análise o quórum mínimo de participantes na Assembléia

Geral sempre se dará, pois dada a primeira convocação e o número de membros

presentes não atinja o estabelecido no Estatuto, caberá ao presidente do CTTI

postergar a abertura da Assembléia para 30 minutos após a primeira convocação,

ou seja, as decisões deliberadas poderão referendar apenas os interesses daqueles

atores sociais que sempre se fazem presentes nas reuniões.

Para que não ocorra a prevaricação de interesses e de decisões,

caberá aos membros o espírito de cooperação regional a ser formado mediante o

estabelecimento da governança local (ROVER, 2008) que atue em favor da

formação de sinergia entre os diferentes atores que participam da Assembléia Geral,

gerando assim ganhos coletivos a todos.

O processo deliberativo da Assembléia Geral deve então se configurar

como co-gestão e co-responsabilidade entre os diferentes atores sociais envolvidos

para que haja a mudança da realidade regional turística, gerando maiores benefícios

a todos.

Page 206: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A outra instância deliberativa do CTTI, é a Diretoria Executiva que será

composta por membros participantes da Assembléia Geral e que serão eleitos

também pela mesma Assembléia Geral para que possam cumprir um mandato de 02

(dois) anos, podendo haver a reeleição para mais um mandato, conforme fica

estabelecido no Estatuto do CTTI.

As reuniões da Diretoria Executiva acontecerão ordinariamente uma

vez a cada mês, ou uma vez a cada dois meses, de acordo com o critério a ser

deliberado pelos componentes dessa diretoria.

As deliberações da Diretoria Executiva se darão seguindo o mesmo

princípio da Assembléia Geral, ou seja, com a presença de no mínimo dois terços

dos membros convocados em primeira chamada ou pela simples maioria dos

presentes a partir da segunda chamada, 30 (trinta) minutos após a primeira

convocação.

O campo de ação da Diretoria Executiva é bem diferente do da

Assembléia Geral, visto que, cabe a esta diretoria determinar o âmbito de atuação

do CTTI mediante a composição de documentos como estudos, planos e propostas

para que se efetive o processo de regionalização e do desenvolvimento turístico,

além das ações administrativas e financeiras do cotidiano do circuito turístico.

O conhecimento das diferentes realidades turísticas dos municípios

participantes do CTTI, assim como o espírito de participação e de integração,

deverão ser os elementos motivadores para os membros que comporão a Diretoria

Executiva, além de sempre buscar, mediante as agendas a serem deliberadas, a

simetria e a assimetria dos diferentes conflitos de interesses dos atores sociais

envolvidos no processo de regionalização do turismo, o que de certa forma faz-se

perceptível em como a gestão social é aplicável no bojo das ações administrativas

da diretoria executiva.

A gestão social como um processo que visa ao combate das posições

tecnocráticas e de ações clientelistas é sustentada por um conjunto de atores sociais

que se unem em para a motivação em comum.

No CTTI cada um desses atores sociais traz consigo conhecimentos e

práticas diferenciadas, fazendo com que na arena de debates essas diferenças de

informação sirvam como alicerce em prol de processos decisórios mais justos e

solidários, fazendo com que a gestão não seja baseada no interesse individualista,

Page 207: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

mas no interesse coletivo e que se destine à realização do bem-estar comum de

todos os participantes.

Essa postura de ação dos atores sociais eleitos para atuarem na

Diretoria Executiva do CTTI não deve ser vista como uma gestão utópica e perfeita,

visto que, as ações a serem deliberadas envolvem um conjunto de atos que visam à

satisfação da demanda coletiva dos municípios integrantes do CTTI, cada qual com

seus interesses e necessidades em específico, mas que, ao integrarem a arena

participativa do CTTI deverão compreender seu papel de agentes de

desenvolvimento local e regional e não assumirem os interesses individualistas

como pauta de ação.

Desta maneira, a gestão exercida pela Diretoria Executiva do CTTI se

encaixa na conceituação explanada por Paula (2005) a ser compreendida como uma

gestão social mediante o gerenciamento público, tendo nas características

participativas o modelo para a condução dos processos deliberativos, auxiliando

assim o desenvolvimento regionalizado do turismo.

Outra análise pode ser elucidada ao se compreender que a Diretoria

Executiva do CTTI é formada por membros representantes da Assembléia Geral, ou

seja, caso o prefeito municipal assuma para si esta responsabilidade e se for eleito

como membro da Diretoria Executiva, passará a ter maior envolvimento com a

administração do CTTI, além de ter de disponibilizar mais tempo para

deslocamentos constantes para a cidade sede do circuito turístico, em função de

compromissos oficiais junto ao CTTI – reuniões e assembléias, dentre outros.

O Conselho Fiscal é mais um dos organismos internos do CTTI, mas

que não possui a característica deliberativa, uma vez que, tem por objetivo o

monitoramento e a avaliação da situação financeira do circuito turístico. Sua

composição é dada da mesma forma que da Diretoria Executiva: dentre os atores

sociais participantes da Assembléia Geral, seis membros podem ser eleitos para

assumirem esta responsabilidade e desempenharem o mandato também de dois

anos.

E, por fim apresenta-se na leitura do Estatuto, a Equipe Operacional do

CTTI, a qual deverá ser constituída por um gestor, um turismólogo, um secretário e

por um escritório de contabilidade que fará a escrituração dos dados contábeis.

Page 208: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

No Estatuto consta que o número de colaboradores da Equipe

Operacional poderá ser aumentado tendo-se em vista a necessidade de maiores

ações e a disponibilidade financeira do CTTI.

O Regimento Interno apresenta maiores detalhes a respeito das

obrigações e de como as ações deverão ser desempenhadas pelo gestor e pelo

turismólogo do CTTI. Para o gestor, as atribuições e responsabilidades são

configuradas mediante o conjunto de ações e atividades administrativas e

operacionais que visem a sustentar a Diretoria Executiva.

Já para o turismólogo, o Regimento Interno apresenta que as

atribuições e responsabilidades serão desempenhadas por um rol de atividades

técnicas e específicas da área do turismo, tais como: desenvolver estratégias de

propostas e ações que colaborem para a difusão e conhecimento do produto

turístico regional, tanto no mercado turístico local, nos municípios que compõem a

região geográfica do CTTI, como no mercado turístico externo, ou seja, em outros

municípios, estados e países, visando a atração de um maior número de turistas e

visitantes para as cidades do circuito turístico.

Cabe ao turismólogo a incumbência de elaborar projetos, convênios,

contratos e termos de referências que auxiliem o desenvolvimento dos projetos e

ações do CTTI para que o conjunto dos municípios envolvidos no circuito turístico

possa vir a desfrutar dos mesmos níveis de promoção e desenvolvimento da

atividade turística regionalizada.

A execução das políticas públicas não se configura como um quadro

isolado das atividades desenvolvidas pelas entidades sociais criadas para serem

instrumentos de efetivação das demandas do Estado, isto é, ao perceber que o CTTI

é formado como instrumento de articulação entre Estado, municípios e sociedade

civil organizada, há de fato a execução plena da política pública em vigor.

Mas, ao se fazer a leitura do Regimento Interno e da compreensão da

obrigatoriedade da presença de um turismólogo, é preciso que se questione se o

profissional contratado é apenas um avanço da percepção dos atores do CTTI em

se ter um agente capacitado e que possa de fato auxiliar no processo de

desenvolvimento turístico regionalizado, ou se trata somente de mais um

cumprimento das obrigações legais impostas pelo Estado?

O questionamento apresenta-se bem real ao se fazer a leitura

pormenorizada da Resolução da SETUR no 008/2008 (MINAS GERAIS, 2008), na

Page 209: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

qual no inciso IV, alínea “e” diz que o circuito turístico que almejar ser certificado

pela SETUR deverá fazer constar em seu quadro pelo menos um bacharel em

turismo para que exerça ações e se torne responsável técnico pelos projetos a

serem desenvolvidos pelo circuito turístico.

É justificável que a presença de um profissional formado em turismo

exercerá melhor as atividades em prol do turismo regionalizado, além de poder

conduzir o processo de ações e projetos em consonância com as diretrizes legais

determinadas pelo Governo Federal e Estadual. Mas o que dizer do caráter

pedagógico da arena participativa dos circuitos turísticos? E como fica o

empoderamento dos atores sociais e a gestão social a ser desenvolvida pelos

membros do circuito turístico?

Questionar a presença do turismólogo é fruto de um processo no qual é

preciso refletir se o Estado tem sim a necessidade de que a articulação e a

efetivação da política estadual de turismo venha a se consolidar em diferentes

regiões geográficas de Minas Gerais mediante os circuitos turísticos por meio de um

profissional qualificado.

Esse questionamento apresenta-se verbalizado na ata do CTTI da data

de 17 de julho de 2007, na qual os membros da Assembléia Geral apresentam que o

circuito turístico deverá contar com um novo gestor e que este tenha um perfil de

administrador, tendo no bacharel uma posição secundária.

Tal posicionamento da Assembléia é o que de fato aparece na redação

do Regimento Interno, no qual o gestor tem maiores responsabilidades e atuará

como um interlocutor direto nas diferentes realidades municipais e que será

juntamente com o presidente do CTTI o interlocutor com os gestores de cada

município, representantes da iniciativa privada, da sociedade civil, como também

nos espaços e reuniões com representantes do Governo do Estado de Minas

Gerais.

A leitura das atas, no curso do ano de 2008, para o entendimento dos

desdobramentos do papel do gestor e do bacharel em turismo apresenta que de fato

o gestor assume cada vez mais o papel de interlocutor direto com os municípios e

com os demais atores sociais que compõe o CTTI, cabendo à turismóloga o

desempenho de atividades de caráter técnico.

Em especial, é necessário que se destaque que com a separação das

atividades entre gestor e turismóloga houve uma agilidade na sensibilização de que

Page 210: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

os municípios que compõem a região geográfica do CTTI voltassem a se interessar

pelas discussões e a participar das Assembléias, assim como do estabelecimento de

convênios de cooperação técnica, fazendo com que o volume financeiro pudesse ser

recuperado e que outras ações fossem desenvolvidas.

Ao mesmo passo, a turismóloga em contato direto com a SETUR

conseguiu compreender desde o início como se daria o processo para a obtenção

de recursos financeiros advindos com o repasse mensal do ICMS turístico: na

reunião da data de 04 de julho de 2008, a turismóloga informa aos presentes como a

SETUR está elaborando a proposta de lei que regulamentará a distribuição dos

recursos de ICMS mediante a criação do critério turismo junto à Lei Estadual

denominada de Lei Hobin Hood28, conforme Decreto-lei nº 32.771, de julho de 1991

(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2011).

A informação repassada aos membros da Assembléia Geral do CTTI

faz com que se crie o pensamento de preparação em todos os municípios que

compõem o circuito turístico visando o recebimento dos recursos financeiros a serem

advindo com o critério de redistribuição do ICMS no estado de Minas Gerais.

Essa situação ilustra o pensamento apresentado por Silva e Melo

(2008) quando discutem que as políticas públicas são formuladas nas esferas

superiores, mas que a sua execução dependerá das estruturas municipais, ou no

caso aqui discutido, dos circuitos turísticos estarem preparados para a aplicação em

imediato.

Desta maneira, é preciso que se reflita que a posição da SETUR na

Resolução da SETUR no 008/2008 (MINAS GERAIS, 2008) sustentará a capacidade

de conhecimento e de articulação entre os municípios que integram um determinado

circuito turístico para que consigam receber os benefícios oriundos da redistribuição

do ICMS a partir do critério turismo.

Além disso, é importante que se ressalte que o conhecimento e o poder

técnico, ou convencionado de tecnocratismo, quando se observa a atuação da

turismóloga em fazer a comunicação da nova prática administrativa a ser adotada

28

Em 2009, após longos debates pelo Estado, promovidos pela Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais, foi aprovada e publicada em 12 de janeiro de 2009 a Lei nº 18.030, originária do projeto de Lei n° 23/2003. Esta irá promover mudanças significativas na distribuição da cota-parte do ICMS pertencentes aos municípios do Estado, tendo em vista a inclusão de seis critérios (turismo, esportes, municípios sede de estabelecimentos penitenciários, recursos hidrícos, ICMS solidário e mínimo per capita) e um subcritério do ICMS Ecológico (mata seca). A nova Lei entrou em vigor em janeiro de 2010, mas a distribuição realizada com base nos novos critérios somente iniciará a partir de 2011 (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2011).

Page 211: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

pelo Governo de Minas Gerais, além de se colocar à disposição dos municípios

integrantes do CTTI para o acompanhamento em favor do cumprimento das

exigências estabelecidas pela SETUR, podem trazer para a realidade participativa o

empoderamento e o saber técnico disseminando para os participantes das arenas

deliberativas novos aprendizados, fazendo assim com que a vivência e

conhecimento apreendido auxiliem na transformação da realidade local e de fato

referendando a posição ideológica de Kauchakje (2007).

O papel da turismóloga frente ao desenho da política pública de Minas

Gerais e, em especial, quando da aprovação do critério turismo junto ao ICMS

turístico fez, com que o CTTI ganhasse um novo contorno para a gestão, levando a

crer que o modelo adotado se configura como o de gestão compartilhada de acordo

com o apregoado por Gohn (2007), no qual a ênfase se dá no comprometimento dos

atores sociais que compõem a arena deliberativa.

A gestão do CTTI termina o ano de 2008 com base na leitura das atas,

com a seguinte alteração significativa: na Equipe Operacional o gestor do circuito

turístico pede o seu desligamento formal devido a problemas de saúde, cabendo à

Diretoria Executiva a difícil decisão a ser tomada para que o destino do circuito

turístico não venha a ser alterado frente ao processo do ICMS turístico, já em fase

de encaminhamento.

Na data de 28 de janeiro de 2009, a Diretoria Executiva apresenta à

Assembléia Geral uma importante modificação no quadro do funcionamento do

circuito: a turismóloga passa a acumular o cargo de gestora do CTTI.

Pode transparecer que são competências diferentes as do gestor

comparadas ao cargo de turismólogo como descreve o Estatuto e o Regimento

Interno do CTTI. Contudo, mediante o contato da turismóloga com o corpo técnico

da SETUR e com os diferentes atores sociais que compõem a Assembléia Geral, o

andamento das ações e de futuros planejamentos do circuito turístico será de

responsabilidade da nova gestora/turismóloga, criando justaposição de obrigações e

competências.

O resultado do comportamento proativo da turismóloga e do

envolvimento direto dos municípios em assumir as responsabilidades locais para o

recebimento do benefício do ICMS turístico podem ser visualizados na tabela 05. A

redistribuição financeira entre os municípios do Estado de Minas Gerais representou

um importante incremento para as economias locais demonstrando que a atividade

Page 212: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

turística pode ser vista como um novo elemento que dependerá da participação

social para a continuação do repasse financeiro.

TABELA 05 – Valores repassados de janeiro a julho de 2011 referente ao critério ICMS turístico aos municípios do Circuito Trilha dos Inconfidentes.

MUNICÍPIO CIRCUITO TURÍSTICO VALOR

Alfredo Vasconcelos Trilha dos Inconfidentes R$ 84.326,96 Antônio Carlos Trilha dos Inconfidentes R$ 99.629,69

Conceição da Barra Minas Trilha dos Inconfidentes R$ 52.092,98

Coronel Xavier Chaves Trilha dos Inconfidentes R$ 39.070,44

Dores de Campos Trilha dos Inconfidentes R$ 108.420,45

Lagoa Dourada Trilha dos Inconfidentes R$ 88.559,69

São Tiago Trilha dos Inconfidentes R$ 117.211,45

VALOR TOTAL REPASSADO AOS MUNICÍPIOS R$ 589.311,66

Fonte: Elaboração própria, 2011.

A ênfase do ICMS turístico não se configura apenas como vertente em

benefício dos circuitos turísticos, mas concebe maior importância à organização da

participação social municipal em favor do Conselho Municipal de Turismo e da

organização e aplicabilidade da política pública municipal de turismo, prevalecendo à

visão de que os conselhos participativos são instrumentos da vontade tanto dos

atores políticos em estabelecer tal mecanismo participativo, quanto dos atores

sociais em participar e opinarem com sugestões que possam fazer com que o

conselho possa assumir o caráter deliberativo em prol do turismo municipal.

5.2 A operacionalização do circuito turístico trilha dos inconfidentes em prol

da participação social

A gestão interna do CTTI demonstra-se incorporada aos elementos da

gestão participativa por meio da Assembléia Geral com o caráter deliberativo,

permitindo que todos os membros associados tenham o direito a deliberarem as

ações, programas, projetos dentre outros atos inerentes à gestão do circuito

turístico.

Por outro lado, percebe-se que a ênfase do processo de gestão do

CTTI se baseia na intensa participação e integração das gestões municipais,

mediante a indicação de representantes do poder público provindo de secretarias

municipais articuladas ou não com o turismo e/ou os prefeitos municipais.

Page 213: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A ênfase desse processo se dá mediante a construção histórica dos

circuitos turísticos enquanto parte da política pública do Estado de Minas Gerais, isto

é, como processo político, a SETUR, desde 1999 estabelece que a gestão do

turismo se dê mediante o processo de descentralização cuja ênfase será a

conjugação de esforços entre os municípios com características turísticas

complementares.

A partir de modificações e de melhores processos para a gestão dos

circuitos turísticos, a SETUR estabelece o processo de certificação para os

municípios que passem a integrar e participar efetivamente dos circuitos turísticos,

buscando com isso assegurar a continuidade da política pública, assim como

fortalecer o processo para os circuitos que já se encontram articulados e

propositores de processos em prol da atividade turística regionalizada.

Com a implantação do critério ICMS turístico, a SETUR demonstra

como o processo de gestão dos circuitos turísticos irá garantir aos municípios novos

canais para a obtenção de recursos financeiros que auxiliem o desenvolvimento

local do turismo e que venha a fortalecer a ação dos conselhos municipais de

turismo e dos fundos municipais de turismo.

Esta análise conduz à necessidade de se conhecer, mediante os dados

apresentados anteriormente, como os gestores municipais percebem a gestão do

CTTI e como avaliam a ação do circuito turístico, para que se possa alargar a visão

de como é o processo de gestão participativa do turismo em Minas Gerais, tendo

como unidade de análise o CTTI.

Apresenta-se na tabela 06 os municípios que responderam o

questionário no prazo determinado, os municípios que responderam ao fim do prazo

e os municípios que não responderam ao questionário.

É considerável destacar que a data de envio dos questionários e o

prazo dado para as respostas aos municípios garantiria a tranqüilidade para o envio

dentro do prazo determinado, o que leva a inferir que possa ter havido a falta de

interesse dos municípios em responder à pesquisa.

Page 214: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

TABELA 06 – Municípios respondentes ao questionário.

Respostas dadas no prazo

Antônio Carlos Barroso Carrancas Conceição da Barra de Minas Coronel Xavier Chaves Dores de Campos Entre Rios de Minas Lagoa Dourada Prados Resende Costa São João del Rei Respostas dadas ao fim do prazo Barbacena Não responderam Alfredo Vasconcelos Ibituruna Madre de Deus de Minas Nazareno Piedade do Rio Grande Ritápolis Santa Cruz de Minas São Tiago Tiradentes

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Para melhor visualização do resultado do índice de resposta dada ao

questionário enviado, observa-se o gráfico 03.

A porcentagem de respondentes ao questionário até o fim do prazo

estipulado pela pesquisa demonstra que 57% dos municípios se sensibilizaram com

a pesquisa e demonstram interesse em contribuir com as informações, e que 47%

dos municípios não demonstraram interesse em responder ao questionário.

GRÁFICO 03 – Índice de resposta dado ao questionário. Fonte: Elaboração própria, 2011.

Page 215: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A este respeito é preciso que se considere que a atividade turística nos

municípios componentes do CTTI nem sempre possui estruturas administrativas

próprias designadas para a gestão do turismo municipal, cabendo esta

responsabilidade a secretários que acumulam outras funções administrativas. É

possível inferir que alguns municípios ainda não se sensibilizaram a respeito da

importância em participar e contribuir para o processo de gestão do circuito turístico

analisado, tendo em vista que a gestora do CTTI enviou a cada município avisos e

solicitações para que o questionário fosse respondido, servindo não somente como

parte das informações desta pesquisa, como também parte do processo de

avaliação do próprio circuito turístico.

O que de fato resulta da análise da tabela 06 e do gráfico 03 é que o

processo de gestão regionalizada e participativa em favor do turismo passa por

caminhos de aprendizagem e incorporação da importância do que de fato é a

participação social e a gestão social entre os municípios visando ao

desenvolvimento turístico comum.

Na primeira pergunta, o intuito era de observar se o CTTI envia os

ofícios e/ou convites para as reuniões e assembléias com antecedência aos

gestores municipais, e o resultado obtido está demonstrado no gráfico 04:

GRÁFICO 04 – Prazo de envio de ofícios e/ou convites. Fonte: Elaboração própria, 2011.

A percepção que se tem dos dados apresentados no gráfico 04 é de

que os gestores municipais possam se preparar e assegurar que consigam participar

Page 216: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

das reuniões mediante a resposta de 73% dos respondentes. Contudo 27% dos

municípios que responderam informaram que o CTTI envia os ofícios e/ou convites

com alguns dias de antecedência, cabendo então a esses gestores municipais a

urgência em se prepararem e reorganizarem suas agendas de trabalho para

conseguirem ir às reuniões e assembléias promovidas pelo CTTI.

A observação final do gráfico possibilita afirmar que, no geral, há sim a

preocupação da gestão do CTTI em que haja o máximo possível de participação dos

municípios, tendo em vista que nenhum dos respondentes assinalou que o envio dos

ofícios e/ou convites se dá no dia que antecederá as reuniões, assim como não

houve nenhuma resposta que não há o envio dos comunicados.

Para o processo de participação social e para a gestão regional do

turismo é importante que as assembléias e reuniões possam sempre contar com o

máximo possível de membros associados, tendo em vista que o processo e as

ações a serem deliberadas serão efetivados pelos municípios e não somente pelo e

para o circuito turístico.

Como o processo de comunicação entre a gestão do CTTI e os

membros municipais associados é algo que precisa ser melhor compreendido, o

questionário levantou a problemática se o circuito turístico disponibiliza no site do

próprio circuito os ofícios e/ou convites enviados, resultando no gráfico 05.

O resultado é animador ao perceber que 92% dos respondentes

recebem os ofícios e/ou convites e os conferem no site do CTTI, dando a percepção

de que de fato há o acompanhamento das ações por parte da gestão do circuito,

como também a constante visita no site do circuito turístico.

Mas 8% dos respondentes afirmaram que o CTTI não disponibiliza as

informações enviadas por fax e/ou email no site do Circuito Turístico, o que leva a

algumas considerações: o site pode conter um desenho (design) que não seja

amigável a alguns usuários, ou seja, a maneira como as informações são

disponibilizadas no site não consegue estabelecer comunicação direta e intuitiva aos

municípios associados ao CTTI; outra observação se faz na utilização do site por

parte dos gestores municipais: será que os gestores estão de fato acessando o site

e conhecendo as informações disponibilizadas ou estão apenas informando que o

circuito turístico não disponibiliza as informações por falta de conhecimento e

interesse para com o site?

Page 217: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

GRÁFICO 05 – Disponibilização dos ofícios e/ou convites no site do CTTI. Fonte: Elaboração

própria, 2011.

Esse questionamento pode ser muito bem referendado e respondido

quando se observa que se 92% dos municípios afirmam acessar as informações

(ofícios e/ou convites) no site do circuito turístico é porque de fato estas estão

presentes no ambiente virtual do CTTI, não sendo possível afirmar que não há

disponibilização.

A condução do questionário faz a indagação se os municípios

associados possuem acesso aos documentos formais do CTTI – estatuto,

regimento, atas e outros instrumentos – que visem auxiliar o processo de gestão do

turismo regional; as respostas dadas seguem demonstradas no gráfico 06.

Novamente, o índice de respostas demonstra que o CTTI de fato pensa

a gestão do circuito turístico enquanto um processo que deve ter como parâmetro a

transparência das informações que visem ao maior envolvimento dos municípios

associados, pois 92% dos respondentes afirmaram que os instrumentos formais

para a gestão são disponibilizados para os municípios.

Page 218: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

GRÁFICO 06 – Disponibilização de instrumentos para a gestão do CTTI. Fonte: Elaboração própria,

2011.

Essa informação representa importante avanço para que se pense no

processo descrito na figura 07 ao se pensar em como deve ser a construção do

policy clycle à luz do planejamento turístico participativo: o contato dos municípios

participantes com tais instrumentos facilita a compreensão de como é o processo de

construção das políticas públicas, de como se dá o estabelecimento das demandas

e necessidades, além de auxiliar aos municípios com maior grau de dificuldade para

o entendimento do que venha a ser o processo de gestão do turismo tanto municipal

quanto regional.

Os outros oito por cento dos municípios que responderam não

visualizarem a disponibilização das informações podem assim se posicionar, tendo

em vista que, estes documentos não estão em suas mãos, mas sim com a gestão do

CTTI, carecendo assim de uma ação efetiva do CTTI em disponibilizar tais

documentos por meio digital, seja no site ou por email, para que esses municípios

possam ter o máximo possível de informações e conhecimento a respeito da gestão

regionalizada do turismo.

Frente a esta problemática levantada, a próxima pergunta representa

um quadro avaliativo dos municípios mediante as ações desenvolvidas pelo CTTI,

de acordo com o demonstrado no gráfico 07.

Page 219: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

GRÁFICO 07 – Avaliação do CTTI pelos municípios. Fonte: Elaboração própria, 2011.

A primeira variável analisada para a compreensão da avaliação

baseava-se em como os municípios percebem a interlocução e o diálogo entre eles

promovido mediante as ações do CTTI, e o resultado observado apresentou índices

otimistas: sete dos 12 respondentes classificaram que as ações empreendidas pelo

CTTI são muito boas, dois respondentes classificaram como ótima, perfazendo um

total de nove respondentes que avaliam de maneira acima da satisfatória, e três

respondentes classificaram as ações como boas.

As respostas dadas à primeira variável consolidam o pensamento de

que o processo de descentralização da gestão do turismo mediado pelos próprios

municípios, por meio do circuito turístico consegue formar o espaço dialógico e

participativo proposto Frey (2000a) e Silva e Melo (2000) – arena política – no qual o

interesse é de que todos os membros participantes possam interagir e conseguir

fazer com que suas demandas sejam ouvidas e discutidas.

Além disso, a arena política ou o espaço dialógico consegue motivar os

participantes e fazer com que a presença deles nas assembléias sejam asseguradas

por meio da qualidade dos debates e da importância das deliberações a serem

tomadas por todos.

Page 220: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A próxima variável questionada refere-se em como os participantes das

assembléias avaliam a ação do CTTI em prol da participação nesse espaço

dialógico e o resultado se torna equilibrado de acordo com os dados obtidos, mas

que todos os respondentes classificam como positiva e efetiva o estímulo dado pelo

circuito a favor da participação nas assembléias.

A terceira variável observada se baseia em como os municípios

avaliam o controle social exercido por eles a respeito das ações deliberadas pelo

CTTI em prol do turismo regional; o resultado obtido foi bem distribuído nas

categorias de avaliação, o que denota que alguns municípios percebem que o

processo de gestão do circuito turístico pode conter traços definidos como ações

top-down como discutido por Silva e Melo (2000).

Esse processo pode afetar a qualidade da participação dos municípios

que integram a Assembléia Geral ao fazer com que os temas, ações e projetos

discutidos sejam somente aqueles de interesse da Diretoria Executiva, não sendo o

resultado de um processo amplamente discutido e colocado em votação por todos.

Mas cabe aos municípios integrantes da Assembléia Geral fazerem-se

atuantes mediante o que Gohn (2004) denomina de cidadania participativa, na qual

cada membro da sociedade deve atuar em espaços participativos e que busquem

apresentar seus problemas, suas demandas e necessidades, para que por meio do

diálogo e do embate possa haver a resposta aos problemas apresentados.

E essa deverá ser a posição dos municípios que assinalaram a

avaliação como boa e regular: buscar se inserir nas discussões e apresentarem

seus pontos de vistas e solicitações para que haja uma avaliação melhor no tocante

ao controle dos participantes em prol do turismo regional.

Considerando o conjunto das variáveis apresentadas até o momento, a

próxima variável visa perceber como o planejamento do turismo é formalizado pelo

CTTI e os índices de respostas conduzem novamente à observação positiva: todos

assinalaram positivamente que o circuito turístico por meio de suas ações, visa

facilitar o planejamento turístico.

O planejamento turístico consiste em um grande conjunto de

instrumentos técnicos que necessita de amplo conhecimento para a sua

aplicabilidade e recolhimento de resultados positivos. Ao se estabelecer o processo

do planejamento turístico participativo como enfatizado por Molina (2001), no

entanto, os municípios com menor grau de conhecimento técnico conseguem utilizar

Page 221: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

tais ferramentas por meio do envolvimento de outros atores sociais que dominam o

conhecimento técnico e que auxiliam a todos na sua compreensão e aplicabilidade.

Mas como houve cinco respondentes que assinalaram como boa a

ação do CTTI em prol do planejamento turístico, é aconselhável que haja reuniões e

treinamentos em específico que vise auxiliar a todos os municípios para que

compreendam melhor como desenvolverem o planejamento turístico em suas

cidades e desta maneira contribuir para a melhora do turismo regional.

Neste tocante é importante destacar que a Resolução da SETUR nº

008/2008, item IV, alínea “b”, no que se refere à gestão dos circuitos turísticos,

esclarece que o grupo de atores envolvidos deverá, por meio de processo próprio,

desenvolver conjunto de ações que visem ao desenvolvimento sustentável da

atividade turística regional por meio da execução do Plano Estratégico.

Apreciando o conjunto de documentos oficiais do CTTI observa-se que

no ano de 2010 os atores sociais do circuito turístico se reúnem para formular a

versão do documento Planejamento Estratégico para o quadriênio 2011/2014

(CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES, 2010c).

Como resultado da mobilização e articulação dos diversos atores

sociais que integram o CTTI, o texto do Planejamento Estratégico do circuito turístico

foi elaborado de maneira participativa e tendo como princípios norteadores as

diretrizes dos planos municipais de turismo apresentados por cada um dos

representantes municipais (CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES,

2010c), possibilitando, desta maneira, o diálogo entre os objetivos e metas da

instância de governança regional que é o próprio CTTI com todos os municípios que

o integram.

Além das diretrizes municipais, o Planejamento Estratégico do CTTI

2011/2014 está integrado com a perspectiva de incrementar a atividade turística nos

municípios que compõem o circuito, por meio da estimulação do espírito de

cooperação para que a utilização dos recursos turísticos regionais possa se dar a

partir do viés sustentável; além de apresentar como objetivo o estabelecimento e

promoção de serviços de capacitação e treinamento dos recursos humanos nos

diversos municípios para que possam atuar de maneira qualificada nas suas

realidades locais (CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES, 2010b).

O planejamento turístico participativo é então visto como uma realidade

para os gestores municipais, mediante os diferentes mecanismos adotados pela

Page 222: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

gestão do CTTI seja na elaboração do plano estratégico, na participação das

assembléias enquanto espaços de incidência das definições e decisões do desenho

da gestão desse circuito turístico

O resultado do planejamento turístico, tanto local quanto regional, é

enfatizado pela política pública do Estado de Minas Gerais ao criar o critério ICMS

turístico, assim a próxima variável questiona como os municípios avaliam a

promoção do aumento de acesso aos recursos públicos financeiros por parte do

CTTI e o resultado apresentado denota a observação mediana de avaliação tendo

em vista que 06 (seis) respondentes assinalaram que consideram como boa a

atuação do CTTI em prol de novos recursos financeiros aos municípios.

Contudo, é preciso que se perceba que os recursos financeiros

advindos do Estado de Minas Gerais para os municípios devem ser angariados

mediante esforços próprios destes, ou seja, os municípios deverão conseguir o

cumprimento dos requisitos determinados nas resoluções expedidas pela SETUR,

não havendo como o CTTI intervir diretamente nesse processo. Além disso, o CTTI

se estabelece enquanto um organismo de caráter participativo e que visa ao

desenvolvimento turístico regional, atuando em prol de todos os municípios que

compõem a Assembléia Geral e não mediando ou priorizando algum município em

específico.

De certa maneira, o resultado emitido pelos municípios pode também

se configurar como a satisfação mediana frente ao resultado do ICMS turístico, isto

é, nem todos os municípios que protocolaram a documentação na SETUR visando à

obtenção dos recursos obtiveram a chancela, desmotivando e promovendo uma

visão tendenciosa para com o CTTI nas respostas do questionário.

Como assinalado, o CTTI deverá promover reuniões e treinamentos

voltados para o planejamento turístico. Essa condução passa a ser visualizada na

última variável avaliada na pergunta 04, a qual buscou levantar como os municípios

participantes avaliam o processo de formação e capacitação promovido pelo CTTI.

O índice maior informado pelos municípios avaliou como boa o

processo de formação representando seis respondentes, três respondentes avaliam

como ótimo, dois como muito boa e um avaliou como regular os esforços

empreendidos pelo CTTI.

A aprendizagem é um processo que necessita da sua continuidade

temporal, envolvendo diferentes estratégias que visem ao conhecimento, à

Page 223: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

motivação e ao empoderamento daqueles que estão vivenciando como destacado

por Molina (2001) e referendando o pensamento de Kauchakje (2007) e Gohn (2007)

ao propor que os atores sociais é que de fato são os promotores da mudança e da

superação dos problemas locais e regionais.

O CTTI ao criar um processo contínuo e permanente em prol da

formação das lideranças municipais, visando o processo do desenvolvimento do

pensamento e da ação turística regionalizada e participativa, criará a base para que

aumente gradativamente a percepção positiva a respeito do processo de formação e

capacitação destas lideranças municipais.

Ao confrontar a realidade apresentada pela variável discutida com os

dados do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes (2010c), percebe-se que ao

longo do ano de 2010, foram efetivadas seis diferentes ações em prol do

desenvolvimento turístico regional, por meio de cursos, encontros e palestras: Curso

Gestão de Projetos Culturais, Encontro de Conselhos Municipais de Turismo

(COMTUR’s), Fórum regional em prol do desenvolvimento turístico e formação de

lideranças regionais (GESTUR 2010), palestra com representantes da ROTA/ER29

em prol do desenvolvimento de produtos e serviços regionais vocacionados para o

turismo eqüestre30, capacitação do grupo gestor na cidade de Tiradentes e palestra

turismo e meio ambiente visando a sensibilização dos gestores municipais em prol

do turismo natural e sustentável.

Assim, permanece a visão de que cabe ao CTTI divulgar mais os

eventos que promovem a capacitação dos gestores municipais, mas, ao mesmo

tempo, também deverá o CTTI criar controle rigoroso a respeito das capacitações e

dos cursos promovidos, fazendo com que os municípios se integrem cada vez mais

ao conteúdo discutido e principalmente aproveitem os exemplos e conhecimentos

passados nesses espaços para diversificarem a oferta dos produtos e serviços

locais, contribuindo assim para a diferenciação do turismo regional.

A discussão do questionário encaminha-se para outro grande conjunto

de variáveis que visa identificar como os representantes municipais se avaliam

29

Projeto da Estrada Real – ER de regionalização do turismo para os municípios ao longo do trajeto do caminho determinado como Estrada Real, denominado como Projeto ROTA. 30

O Turismo Eqüestre que tem nos eqüídeos o principal atrativo ou, pelo menos, uma das principais motivações, já é reconhecido em diferentes países como um importante segmento dentro das atividades de turismo e lazer, contando com grande e crescente número de adeptos (IDESTUR, 2011).

Page 224: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

perante a participação nas ações, reuniões e na Assembléia Geral do CTTI, o

gráfico 08.

GRÁFICO 08 – Auto-avaliação dos representantes municipais. Fonte: Elaboração própria, 2011.

A primeira variável da quinta questão do questionário busca

compreender como os representantes municipais participam das reuniões e

assembléias: motivados e interessados?

O resultado demonstrou a visão dos representantes ao avaliarem como

boa, no total foram sete respondentes, dois se avaliaram como ótima e três como

muito boa o grau de participação nas reuniões, o que denota que o empoderamento

e a motivação se fazem presentes nos representantes municipais.

Quanto maior é a percepção positiva a respeito da auto-avaliação dos

representantes municipais nos espaços de participação e deliberação do CTTI,

maior é a possibilidade destes se perceberem como sujeitos criativos e que

possuem o espírito da participação cidadã como destaca Kauchakje (2007) nos seus

apontamentos.

A constituição de sujeitos criativos e com o interesse na participação

cidadã faz com que os espaços deliberativos do CTTI se convertam em espaços

promotores de mudança para a gestão do turismo local e regional e que o

conhecimento gerado por meio das discussões possa ser promotor de mudanças

também para o representante municipal.

Page 225: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A variável seguinte procurou pesquisar como os representantes

municipais se avaliam durante as reuniões e assembléias: tendem a se comunicar

mediante conversas e trocas de informações, idéias com os outros municípios

integrantes do CTTI?

O resultado demonstrado no gráfico 08, considerando que nove

respondentes assinalaram que possuem uma articulação com outros representantes

municipais mostrou que o processo de gestão do CTTI é discutido pelos presentes

nas Assembléias Gerais, buscando, mediante o diálogo com os outros

representantes municipais, se envolverem com a dinâmica do planejamento turístico

participativo e regionalizado.

Mas, é preciso que se atente para os três representantes municipais

que marcaram como resposta a opção regular: a gestão do circuito turístico não

deve ser algo pensando por poucos e sem estabelecer um diálogo promissor entre

todos aqueles que se encontram nas assembléias.

Se o processo de descentralização do turismo foi pensado como um

mecanismo para aproximar a realidade turística dos seus reais atores sociais e para

que a discussão seja feita na esfera local e/ou regional, é preciso que haja uma

constante motivação para que os participantes de espaços gestores participativos

estabeleçam laços de comunicação, além de trocas de informações e

conhecimentos.

O know-how de uma determinada destinação turística poderá

representar idéias e práticas inovadoras que devem ser compartilhadas nos espaços

de gestão da atividade turística que tenha como princípio a participação social, a

descentralização e a regionalização, motivando uma melhora constante para a

atratividade turística regional.

Desta maneira, cabe à gestão do CTTI perceber que deverá haver

momentos específicos que estimulem os municípios a se comunicarem uns com os

outros, mediante dinâmicas ou outras ações que tendam à familiarização dos temas

discutidos como, por exemplo, o planejamento turístico regional, ações e projetos a

serem deliberados, novo posicionamento frente às diretrizes estabelecidas pelo

Governo Federal e pelo Governo Estadual, que possam impactar diretamente a

condução da atividade turística nos municípios.

A próxima variável investigada refere-se à preocupação e ao interesse

dos representantes municipais para com as ações desempenhas pelos gestores do

Page 226: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

CTTI, tendo em vista que é da Assembléia Geral do CTTI que emana as diretrizes,

os planos de ação e outros documentos necessários à gestão, organização e

planejamento em prol da atividade turística regionalizada.

Os representantes municipais assinalaram, em sua maioria, que

possuem interesse pelas ações dos gestores como ótima, representando desta

maneira, o contato direto para com as informações e com os processos de gestão

em desenvolvimento.

É mister salientar que esse posicionamento é favorável e importante

para a gestão regionalizada do turismo, pois colabora para reforçar a sinergia entre

os gestores e os representantes municipais, fazendo com que as temáticas a serem

discutidas e deliberadas sejam de interesse geral, além de significar a proximidade

dos gestores com os representantes municipais durante o processo de gestão do

CTTI.

Esse envolvimento e sinergia entre os representantes municipais

reforça o pensamento a respeito das práticas descentralizadas de gestão do turismo,

principalmente quando revisitado o pensamento de Frey (2000a), ao compreender

que é mediante novos arranjos institucionais e novas práticas de participação social

que a temática democracia, empoderamento e transparência vão se alicerçando

nesses novos espaços participativos, nesse estudo o CTTI.

A descentralização e o maior interesse dos atores sociais em participar

dos espaços em prol da gestão participativa circunscrevem-se no pensamento de

Arretche (1996) ao pensar que essas novas experiências participativas apresentam

à população a imagem de um novo Estado preocupado com a equidade, justiça e,

ao fim colaborando para que o controle social possa ser exercido de fato pela

sociedade.

Assim, o interesse dos representantes municipais se faz não somente

pelas ações a serem deliberadas, mas como ato de compreensão de que o CTTI é

um espaço de diálogo e confronto construído por todos os representantes e

instrumento de controle social da atuação dos gestores do circuito turístico.

Se há o envolvimento, a motivação e o interesse pelas ações dos

gestores do CTTI, a última variável da auto-avaliação dos representantes municipais

para com o CTTI converge para a seguinte pergunta: os representantes municipais

seguem as orientações e diretrizes estabelecidas pelo circuito turístico em prol da

região?

Page 227: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

As respostas dadas apresentam que há um alto índice de avaliação

positiva – 10 respondentes – avaliam que seguem as orientações e diretrizes

traçadas pelo CTTI em prol da região, dando uma ótima avaliação para o processo

de participação social e envolvimento dos representantes municipais.

O processo de gestão do CTTI vem se consolidando desde 2000

quando oficialmente é estabelecido o circuito turístico e a composição dos

municípios participantes e que, ao longo destes anos vários foram os procedimentos

adotados em prol do turismo regional, sempre perseguindo as diretrizes federal e

estadual para nortear o bojo de diretrizes regionais.

O índice obtido com as respostas dos representantes municipais

converge para que seja referendada a importância da constituição e fortalecimento

da instância de governança regional, como é destacado pelo Programa Nacional de

Regionalização do Turismo (BRASIL, 2010b), tendo neste recorte a sustentabilidade

das ações e do pensamento.

A gestão que se pretende estabelecer é que a organização do turismo

regional possa ser um processo de longo prazo, justificando que os representantes

municipais ao assinalarem em sua totalidade a avaliação positiva de que seguem as

orientações do CTTI, o processo de gestão do circuito turístico tende a ser

sustentável a longo prazo, possibilitando que novos projetos e planos sejam

traçados possibilitando que o desenvolvimento e o crescimento econômico para a

região seja obtido mediante o caminhar e a reflexão de que o turismo é uma

atividade que exige o constante envolvimento de todos.

Fecha-se o bloco de avaliação da gestão do CTTI e dos representantes

municipais perante o CTTI com uma análise positiva de que a descentralização da

atividade turística proposta pelo Estado de Minas Gerais está sendo absorvida pelos

municípios e se consolidando, ao longo do tempo, como um processo regionalizado

e participativo.

A próxima pergunta formulada questiona os representantes municipais

se estes participam de reuniões fora da cidade sede do CTTI. Os dados resultantes

do questionamento são apresentados no gráfico a seguir:

Page 228: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

GRÁFICO 09 – Realização de reuniões fora da cidade sede do CTTI. Fonte: Elaboração própria,

2011.

O interesse desta pergunta voltou-se para descobrir se há a

preocupação do CTTI em fazer as reuniões programadas em municípios diferentes a

cada período, favorecendo àqueles representantes municipais que estão mais

afastados geograficamente participarem no maior número possível de encontros.

O índice obtido com as respostas foi de 50% para sim e para não, o

que de início representou uma margem de dúvida para verificar se de fato as

reuniões acontecem ou não em municípios outros que não o da sede do CTTI.

Para tanto, a verificação das respostas dadas se deu com o apoio da

leitura das atas das assembléias promovidas pelo CTTI, a partir de 17 de julho de

2007, e que somente em 26 de novembro de 2009 acontece a primeira sessão

extraordinária fora da cidade sede do CTTI, tendo o município de Alfredo

Vasconcelos essa prerrogativa.

O motivo da reunião fora da cidade sede do CTTI tem uma importante

justificativa: Alfredo Vasconcelos a partir de 26 de novembro de 2009 passa a

integrar oficialmente o CTTI, tendo a reunião o objetivo de aproximar os

representantes municipais dos outros municípios ao novo membro integrante, como

também de aproximar os representantes do poder público municipal de Alfredo

Vasconcelos dos gestores do CTTI.

Desta maneira, pode-se inferir que o índice de respostas se deu a partir

da lembrança desta única reunião em quatro anos de análise de documentos oficiais

do CTTI, ou seja, os representantes municipais que estão atuantes e acompanhando

Page 229: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

o processo de gestão do CTTI assinalaram a variável sim e, os novos

representantes municipais assinalaram a variável não como opção no questionário

enviado.

Não menos importante, mas cabível neste momento, é de se

referendar a posição estratégica do município de São João del Rei como sede do

CTTI, pois como demonstrado na tabela 04 deste estudo, a distância dos municípios

componentes do CTTI até o município sede representa uma equidade entre todos,

não havendo a necessidade de que as reuniões sejam feitas em municípios diversos

ao da sede.

Diferente das perguntas anteriores, a próxima pergunta foi construída

para que os respondentes pudessem ter a liberdade de expressar suas idéias, não

havendo variáveis quantitativas apresentadas, o que fez com que a análise se desse

a partir da perspectiva qualitativa, mediante a organização das informações em

blocos de respostas

Assim, o questionamento feito apresentava a seguinte questão: quais

seriam as deficiências e desvantagens de se discutir regionalmente o turismo a partir

das reuniões e assembléias do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes?

Como cada município do CTTI possui uma realidade turística diferente,

persiste a dificuldade em se alinhar temas e discussões que motivem a todos os

municípios em uma única reunião, carecendo um papel atuante dos gestores para

compreenderem essa diversidade e se alinharem a partir de ações e projetos que

una a todos.

Tal pensamento percorre nas atitudes dos representantes municipais

durante as reuniões e assembléias, pois surge no conjunto das respostas que

alguns municípios parecem mais preocupados com suas realidades locais do que

com a região. O fato é que o turismo é uma atividade que possui um complexo

sistema de relações, isto é, por ser a atividade turística considerada a partir do

comportamento das pessoas que se sentem motivadas a visitar determinada

localidade, ao mesmo passo em que representa o envolvimento dos empresários

locais que precisam criar uma rede de serviços de hospitalidade que possa oferecer

aos turistas e visitantes da localidade a satisfação das diferentes necessidades e

motivações que os levou até lá.

E quando se está discutindo regionalmente o turismo, como no caso

ora analisado, é compreensível que os municípios que já se encontram com a

Page 230: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

atividade turística consolidada venham a agir de maneira individualista e/ou egoísta

dentro das reuniões e assembléias, pois precisam que os gestores do CTTI tenham

respostas e propostas para a manutenção e diferenciação da atividade turística

regional, não se preocupando somente com a estruturação de cada município que

ainda não se encontra alinhado à perspectiva do turismo consolidado.

Como a atividade turística em cada município é um elemento

diferenciador entre os municípios integrantes do CTTI, faz com que haja, durante as

reuniões a perda de foco e objetivo, como salientado pelos respondentes. Tal

situação necessita de uma intervenção dos gestores para criar constantemente a

motivação e ao mesmo tempo fazer com que todos os presentes na reunião

compreendam que é na coletividade que acontece a aprendizagem e o despertar de

novos conhecimentos e práticas, fazendo com que a diferença da realidade turística

e a diversidade de interesses possam auxiliar a todos em futuras reuniões e temas a

serem discutidos.

Ainda tratando da diversidade e das diferenças da realidade turística os

respondentes sinalizam que a deficiência e a desvantagem em se discutir

regionalmente o turismo se inscreve na esfera da infra-estrutura turística local, ou

seja, alguns municípios, por já possuírem a atividade turística como realidade

implantada, já possuem alguns empreendimentos que visem ao atendimento de

turistas e visitantes, enquanto outros municípios ainda estão buscando se preparar

para receber a movimentação turística.

Destaca-se que a deficiência apontada é de fato algo que pode

desmotivar a participação e a integração de determinados municípios às discussões,

pois para estes o interesse é em como manter ou aumentar o fluxo turístico, a

divulgação da atratividade turística, além de despertar nos empresários locais maior

interesse em investir no turismo, exigindo assim uma postura diferenciada perante

os gestores do CTTI. Postura esta que deve se dar mediante ações e planos que

visem ao atendimento dessas necessidades, mas ao mesmo tempo sem que se

coloque em posição diferenciada os municípios já com o turismo implementado dos

que estão buscando a implementação.

O desafio é constante para os gestores do CTTI de discutir

regionalmente o turismo e fazer com que as vocações locais possam se

complementar, além de fazer com que os municípios que já possuem a atividade

Page 231: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

turística aceitem dialogar com outros municípios, promovendo assim constante troca

de conhecimento e informação.

Outra resposta dada pelos representantes municipais foi a de que

existe a dificuldade de se ter a presença de prefeitos ou de representantes com

poder de decisão nas reuniões, para que estas tenham de fato o efeito deliberativo e

não somente um encontro para repasse de informações e troca de conhecimento.

A deliberação em uma estrutura gestora como o CTTI é de

fundamental importância para que os representantes presentes se sintam de fato

responsabilizados e tenham autoridade para decidirem a respeito do rumo da

atividade turística enquanto um instrumento para o desenvolvimento regional.

Essa deficiência – a falta de representantes nas reuniões com poder de

deliberação – é fruto de um processo que ainda está sendo absorvido pelas

estruturas do poder público municipal: enquanto os prefeitos e secretários de turismo

acreditarem serem os sujeitos indispensáveis para a deliberação nas reuniões,

muitas votações terão de ser adiadas esperando ter o número suficiente para que

seja decidido a proposição, projeto e/ou ação discutida na reunião.

O que se percebe é que ainda persiste o centralismo do poder de

deliberação e que alguns prefeitos e/ou secretários não o querem repassar para os

indicados a lhes representarem nas reuniões e assembléias do CTTI, o que dificulta

e torna moroso o processo de deliberação no circuito turístico.

Este é o grande desafio para os gestores do CTTI: conseguir explicar

para os prefeitos e secretários de turismo que ao se indicarem como membros

representantes de seus municípios passarão a ter obrigações próprias, não cabendo

a delegação destas responsabilidades a outros representantes ou mesmo

repassando por meio de procuração a responsabilidade de deliberar e/ou votar nas

assembléias do CTTI, situação esta vedada pelo estatuto do circuito.

Cabe então aos representantes municipais, e aqui se está discutindo o

papel dos prefeitos e secretários de turismo que buscam se inscrever no CTTI, não

visualizarem o circuito turístico enquanto mais uma participação honorífica, mas sim

como uma participação social ativa e necessária para que o desenvolvimento

turístico da região possa ser analisado e discutido mediante as demandas a serem

surgidas nas reuniões e assembléias, ou por outros mecanismos internos e externos

do CTTI.

Page 232: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Mesmo sendo a pergunta uma interrogação a respeito das deficiências

e desvantagens, surgiu como resposta uma interessante proposta para que os

problemas levantados e discutidos possam ser melhor apreciados pelos membros

representantes: existir oportunidades de encontros entre os participantes do Circuito,

proporcionando troca de experiências.

A agenda oficial de reuniões e assembléias do CTTI se motiva a partir

das necessidades estatutárias e extraestatutárias, buscando a discussão de

problemas ou apresentando agendas que precisam do envolvimento e discussão

dos representantes para a sua deliberação.

Mas, ao mesmo tempo, surge pelos representantes a necessidade de

que exista no calendário de reuniões o planejamento de alguns encontros que

possam ser realizados com o objetivo de que os municípios participantes do CTTI

troquem informações, conhecimentos e até mesmo propor modificações aos

processos internos do CTTI em andamento.

O trabalho feito em conjunto pelos membros representantes municipais

precisa ser dinâmico e que venha a absorver novas demandas, pois se as

deficiências identificadas se focam no individualismo, na discussão de problemas,

devem estes membros encontrar soluções que visem ao atendimento de todos os

municípios, ou seja, essas novas reuniões seriam exatamente para fazer com que

os municípios que ainda não possuem o turismo como atividade socioeconômica

implantada possam aprender com os municípios turísticos o que é preciso fazer para

se construir uma base sólida, justa e participativa para que a atividade turística

venha a ser incorporada ao rol de outras atividades municipais.

A dinâmica da participação social faz com que os atores sociais que de

fato se engajam no processo de gestão do turismo regionalizado a partir da

descentralização das políticas públicas no Estado de Minas Gerais, em especial no

CTTI, busquem maior envolvimento para com a realidade a ser gerida e que não

cabe somente aos gestores a atuação e ação, mas que é de responsabilidade de

todos a contínua discussão e ação em prol do turismo regional.

Por fim, o questionário apresenta um espaço para que os

representantes municipais possam dar sugestões aos gestores do Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes a fim de melhorar a gestão e a participação dos municípios

nas reuniões e assembléias.

Page 233: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A primeira sugestão dada seria a divulgação do conteúdo das reuniões

por meio eletrônico a ser definido pelo CTTI para que os representantes municipais,

membros da sociedade civil e demais atores sociais ausentes possam acompanhar

o rumo das discussões e das deliberações adotadas.

A participação social e a motivação constante dos membros

representantes se dão mediante o envolvimento com a discussão empreendida, e se

houver a divulgação eletrônica dos conteúdos discutidos essa inovação

proporcionará aos membros do CTTI maior empoderamento das discussões e

deliberações, proporcionando o alargamento dos princípios democráticos e de

transparência dos atos do circuito turístico.

Contudo, é preciso salientar que o simples acompanhamento das

reuniões e assembléias por meio das atas e documentos eletronicamente

disponíveis não faz com que a participação social seja efetivada. É preciso que

todos os representantes estejam presentes em todas as reuniões e assembléias,

principalmente porque o poder de deliberação é individual e, desta forma, é

necessária a participação ativa nas reuniões e assembléias.

A definição de calendário das reuniões é a segunda proposta

apresentada pelos representantes, pois com esta definição tornaria fácil o

planejamento em prol das participações presenciais. Destaca-se que o CTTI, como

apresentado no gráfico 04, sempre envia com antecedência os convites e/ou ofícios,

mas mesmo assim, como se está discutindo a formação de uma agenda regional,

alguns municípios poderão ter outros compromissos locais já agendados e com a

definição do calendário antecipado de reuniões, facilitaria a organização dos

compromissos e o maior envolvimento e participação dos representantes com poder

de deliberação nas reuniões.

Ao mesmo tempo em que se estabelece uma agenda, é proposto que

as reuniões sejam realizadas em municípios diversos ao da sede do CTTI, criando a

oportunidades de outros representantes conhecerem o trabalho do circuito, como os

próprios prefeitos de cada localidade.

Essa proposta, como já discutida anteriormente, é cabível de

realização e principalmente frente à necessidade e vontade dos representantes

municipais, pois assim, as realidades turísticas tanto discutidas nas reuniões

poderiam ser visualizadas e conhecidas por todos, facilitando desta maneira a

compreensão em futuros encontros que visem à discussão de melhorias e

Page 234: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

implementação de ações em prol dos municípios que ainda não possuem a atividade

turística estruturada.

Tanto quanto seria também uma boa oportunidade para os membros

do CTTI conhecerem, na prática, como alguns municípios estão trabalhando o

turismo, o envolvimento da comunidade local e de empresários, dinamizando as

relações entre os municípios e mesmo destes para com os gestores do circuito.

Como a discussão da gestão participativa do CTTI está baseada na

participação social e no envolvimento dos atores sociais, surge como sugestão que

os gestores deveriam permitir aos representes o melhor aproveitamento do item da

pauta das reuniões designado de “palavra aberta”, espaço para que os

representantes municipais possam apresentar suas dúvidas, sugestões e perguntas

diversas tanto aos gestores do circuito turístico, como para outros membros

representantes presentes nas reuniões e assembléias.

Essa sugestão é na verdade um item que precisa ser refletido pelos

gestores do CTTI, pois é mediante o constante diálogo, conversa e questionamento

que o processo de gestão pode ir se aprimorando e auxiliando para que todos os

participantes compreendam seu papel nesse grupo, se motivem e ajudem os outros

municípios a se desenvolverem.

A prática da participação social é um eterno aprendizado a ser

compreendido por todos os atores sociais participantes das arenas participativas.

Não é objetivo ou essência do conselho gestor ser apenas um espaço para a

apresentação das agendas já pré-definidas ou discutidas, mas sim o espaço para o

constante embate sadio entre os representantes, pois assim é que se percebe que

não há interesses individualistas ou clientelistas sendo discutidos ou deliberados.

O grupo gestor do CTTI deverá propor um novo espaço para que os

membros participantes possam verbalizar suas necessidades, demandas ou

dúvidas, ou então criar encontros específicos para a discussão e aprimoramento de

determinado tema, seja mediante oficinas ou encontros temáticos para que o tema a

ser discutido nas reuniões oficiais e/ou assembléias seja deliberado com plena

consciência por todos participantes presentes, após os encontros específicos

traçados a partir das demandas dos atores sociais do CTTI.

Outra sugestão é dada levando em consideração o maior grau de

descentralização da política de turismo do Estado de Minas Gerais: poderiam os

gestores de o CTTI realizar reuniões com representantes do COMTUR e com o setor

Page 235: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

privado de todas as cidades que fazem parte do circuito, pelo menos duas vezes ao

ano, com o objetivo de troca de informações, priorizações, e discussões de casos de

sucessos.

Essa proposta é apresentada oportunamente tendo em vista os efeitos

advindos da implementação do critério turismo na redistribuição do ICMS no estado

de Minas Gerais, a partir da necessidade da comprovação do funcionamento do

COMTUR, mas que nem todos os municípios possuem pessoal capacitado para o

entendimento em como conduzir o conselho municipal em prol do turismo municipal

e não como um instrumento manipulativo da estrutura político-administrativa dos

municípios.

A reunião dos membros representantes municipais no COMTUR com

os gestores do CTTI ajudaria a todos a terem visão de como outros conselhos estão

atuando, resolvendo problemas burocráticos e técnicos e até mesmo como estão

desenvolvendo suas políticas municipais de turismo.

Não é possível acreditar que a partir da legislação aprovada pelo

Estado de Minas Gerais que automaticamente os municípios passariam a

compreender e atuar de maneira eficiente o rol de problemas relacionados com a

atividade turística a nível local, carecendo assim do monitoramento do CTTI para

que os representantes municipais possam ser sensibilizados a respeito do seu papel

e da sua importância nos conselhos municipais de turismo, além de apresentar

sugestões a respeito de como o trabalho em prol do turismo é realizado pelo CTTI

para todos os municípios integrantes.

O contato entre o CTTI e os conselhos municipais de turismo não seria

eficiente somente para os municípios, mas também colaboraria para que os gestores

do circuito turístico pudessem, segundo outra sugestão dada, buscar novos projetos

e oportunidades para o fortalecimento do turismo municipal e regional.

Com o conhecimento das diversas realidades in loco é possível aos

gestores do CTTI perceberem de fato o que são as necessidades prioritárias a

serem deliberadas pelo circuito em prol do estabelecimento de ações e programas

que visem à dinamização do planejamento turístico regional.

Pode-se concluir que o planejamento e o desenvolvimento das

atividades turísticas empreendidas pelos diferentes atores sociais no espaço

dialógico e participativo que é o CTTI, vem gerando uma ação concreta para que

estabeleça a agenda em prol do turismo regional.

Page 236: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

As proposições, objetivos e ações propostos pelo conjunto de

instrumentos legais expedidos pelo estado de Minas Gerais e pela SETUR estão

sendo incorporados pelo CTTI, tornando instrumentos que auxiliam no processo da

regionalização do turismo, assim como a Política Nacional de Turismo e o Programa

de Regionalização do turismo expedidos pelo Governo Federal.

O estado de Minas Gerais desde o ano de 1999 formatou a

organização do turismo de maneira descentralizada e, ao fim da análise de todo o

material pesquisado, percebe-se que mesmo as diferentes realidades

socioeconômicas e turísticas poderiam sinalizar entraves para a formação da

agenda de regionalização do turismo. Contudo, o CTTI, ao perceber que a partir da

regionalização e da descentralização o turismo poderia ser melhor planejado e

executado, vem possibilitando que o conjunto de municípios, a partir de seus atores

sociais, contribuam para este desenvolvimento ao mesmo passo que a união de

todos os atores sociais reunidos no circuito turístico, inscreve-se como elo de

fortalecimento e motivação em prol do turismo regional.

Page 237: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reflexão a respeito do Estado empreendida nesta pesquisa além de

buscar à elucidação de conceitos e proposições a respeito de quais são as

obrigações e as tarefas deste importante instrumento regulador da vida em

sociedade, buscou sobretudo relacionar como os problemas da sociedade brasileira

foram sendo incorporados, ou não, pelas diferentes correntes de pensamento e

ações que perpassaram a história da formação do Estado Brasileiro.

O conjunto das reformas político-administrativas possibilita hoje aos

estudiosos do tema compreender que, em cada momento histórico, diferentes

pensamentos e ações conduziram tanto a burocracia estatal quanto o corpo de

políticos e burocratas, como também que o contrário pode ser percebido, uma vez

que os burocratas e os políticos são partes inerentes ao Estado e é a partir da ação

destes atores, sob a tutela da burocracia, que as necessidades da sociedade são ou

não ouvidas, atendidas e sanadas.

Mas, para que o Estado possa de fato ser entendido como um conjunto

de princípios e valores em prol da vida em sociedade é preciso que seja ressaltado o

caráter da democracia como elemento nuclear desta instituição social. Nesse

sentido, a ação dos diferentes atores estatais – políticos, burocratas e servidores

públicos – deveria ser pautada não nos interesses marginais, político-partidários ou

clientelistas, mas sim no que se refere ao bem coletivo, ou seja, aquele que é

convertido em prol do maior número possível de cidadãos.

Se pensado por este prisma, o Estado deve não somente atender à

coletividade, quanto permitir que a coletividade tenha acesso a ele, significando

dizer que, quanto maior o entendimento a respeito da democracia e da transparência

dos atos públicos, maior deverá ser o acesso dos cidadãos ao Estado, colaborando

com informações, apresentando suas necessidades e carências, controlando e

monitorando as ações e os gastos públicos, visando à melhoria constante da vida

social e do desenvolvimento nacional.

O controle social enquanto elemento das práticas de gestão do Estado

faz com que se projete um cenário de maior organização que vise ao atendimento

das demandas sociais, além de sinalizar a incorporação dos princípios

democráticos, combatendo as práticas centralizadas e clientelistas.

Page 238: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

É, portanto imperativo pensar que o conjunto das reformas do Estado

brasileiro atrelado ao princípio da descentralização fez com que a efetivação do

controle social fosse possível, assim como fez com que as decisões político-

administrativas a respeito do emprego dos recursos públicos se tornassem mais

próximas da sociedade que de fato necessidade destes e que pode apresentar

soluções para este atendimento.

A descentralização democratizante permite ao Estado inovar na sua

gestão político-administrativa, deixando de ser espaço por excelência dos

conhecimentos técnico-administrativos (burocracia), espaço restrito aos servidores

públicos, burocratas e políticos para incorporar a sociedade como novo elemento

nessa gênese.

A junção de diferentes conhecimentos e saberes faz com que a

proposição dada pela CF-88 da descentralização reafirme o caráter inovador do

controle social da população local perante as ações do Estado descentralizado,

podendo, assim, além do acompanhamento dos atos públicos, monitorar a gestão do

corpo político-administrativo como um todo.

Na discussão apresentada na dissertação ficou destacado que

mediante a inovação da descentralização aliada ao controle social, a gestão político-

administrativa do Estado passa a carecer de novos processos e dinâmicas para dar

conta da complexidade das demandas sociais crescentes e aparentes frente a este

novo cenário.

As decisões políticas surgem como instrumentos para legitimarem a

ações democráticas do Estado, tornando reais e dirigidas aos grupos sociais que

necessitam de serviços públicos específicos, tal como visa regular as diferentes

funções e necessidades sociais; mas estas decisões, mesmo que democráticas,

precisam também incorporar o controle social e a sociedade para que de fato

possam ser de maior abrangência e de melhor eficiência.

Por isso, compreende-se que existe, como foi discutido nos capítulos, a

diferença entre política e política pública, ambas estão inscritas na arena estatal,

mas a política pode apenas apresentar e vocalizar as intenções e objetivos do

Estado e nem sempre convergindo para o atendimento das necessidades sociais.

As políticas públicas, por sua vez, apresentam a vocalização das

demandas sociais discutidas e acolhidas pelo Estado mediante instrumentos

regulatórios que de fato visem ao atendimento das necessidades e demandas

Page 239: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

sociais, ou seja, tendem a apresentar o caráter da coletividade, daquilo que de fato é

público e não direcionado a determinados grupos ou interesses político-partidários.

A política pública não é apenas um instrumento para o atendimento das

necessidades sociais, mas sim o instrumento para que a democracia, a

descentralização e o controle social sejam empregados como elementos

estratégicos para a nova gestão estatal, não podendo esta ser indiferente para com

os avanços sociais, técnicos e políticos do atual período histórico do Brasil.

Cada política pública homologada pelo Estado pode fazer com que os

gastos públicos sejam convertidos em diferentes ações governamentais podendo

surgir, a partir dela, uma série de desdobramentos como planos, programas,

projetos ou pesquisas que visem à correta implementação das ações dirigidas à

sociedade, ou seja, este é um cenário projetado frente ao que de fato representam

as políticas públicas, contudo as práticas locais podem corromper este pensamento.

Política pública, democracia e controle social fazem parte de um

complexo sistema vascular que se emaranha dentro do Estado permitindo que uma

nova oxigenação seja possível às arcaicas burocracias e gestões dando lugar à

inovação e à participação da sociedade como novos elementos gestionários.

Incorporar a sociedade no bojo das ações e deliberações do Estado é

sim, como discutido, um processo inovador, mas para tanto, é preciso que se reflita

que a sociedade não é um conjunto unânime de cidadãos e que nem todos estes

estão dispostos efetivamente a se integrarem nas discussões e deliberações do

Estado, portanto a referência à sociedade é vista a partir do conceito do que é

sociedade civil.

A sociedade civil a integrar estes novos espaços democráticos e

deliberativos do Estado é entendida como esfera pública não-estatal da cidadania, a

qual possui nos diálogos e consensos o respeito ao autêntico interesse para o que é

público, não agindo mediante interesses egoístas ou hegemônicos.

A sociedade civil, mediante seus diferentes atores sociais, é capaz de

criar estratégias e vínculos que permitem a sua aproximação e permeabilidade na

estrutura gestionária do Estado, fazendo com que a democracia, descentralização e

controle social possam aos poucos ser absorvidos pelas estruturas arcaicas e

melindrosas do Estado que precisa se modernizar, mas que ainda não sabe como e

que ao mesmo tempo precisa se alinhar aos novos pensamentos democráticos dos

tempos atuais.

Page 240: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Ora, mas não cabe somente ao Estado a compreensão das novas

ordens democráticas e gestionárias, cabe, por conseguinte, que a sociedade civil

esteja preparada, capacitada e interessada em participar e contribuir para com o

avanço das políticas públicas e de outras ações estatais, pois caso contrário estaria

apenas reafirmando a debilidade que o Estado lhe confere: um corpo amorfo de

atores sociais que pressionam o Estado para o atendimento das demandas sociais,

mas que em momento algum se manifesta como interesse em contribuir de fato.

A sociedade civil organizada e participativa faz com que o Estado se

inove e ao mesmo tempo faz com que novos espaços participativos sejam criados, a

fim de dinamizar a gestão pública, enfatizando a necessidade da participação social

como elemento inovador.

A participação social, expressa como sistema de relação entre

sociedade civil e Estado, fez com que se perceba que existam duas esferas que

estão em constante embate, mas que em determinados momentos, interesses e

necessidades se intersecionam permitindo o contado direto da sociedade com os

diferentes espaços e aparatos estatais e vice-versa, possibilitando a discussão

aproximada a respeito das necessidades e demandas sociais, como também da

apresentação de sugestões e contra-argumentação das possíveis ações que visem

ao coletivo.

Mas para que essa aproximação entre as diferentes esferas fosse

possível, a participação social foi um processo de construção social mediante os

passos dados durante o processo de redemocratização do Brasil, processo este que

exigiu forte organização da sociedade em diversos movimentos sociais que

possibilitaram a vocalização da insatisfação com a gestão centralizadora e de como

as políticas eram expressas mediante o corpo político e técnico do Estado.

A redemocratização abre possibilidades para que a participação social

permita maior abertura a novos pensamentos e atores no bojo dos espaços

decisórios do Estado, ao mesmo tempo em que se discute a descentralização das

ações para os estados e municípios.

O novo conjunto de atores sociais – sociedade civil organizada,

movimentos sociais e outros – incorporados aos espaços deliberativos precisam

agora agir em favor da legitimação das demandas e necessidades sociais e ao

mesmo tempo aprender como é o funcionamento político-administrativo do Estado,

Page 241: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

pois o simples fato de participar não significa a efetivação da participação social

como um processo de superação da centralização estatal.

Para tanto, a participação social faz com que os atores sociais passem

a usufruir e construir uma nova dinâmica denominada cidadania ativa, que é a

constituição de cidadãos dotados do espírito criativo para o enfrentamento da

realidade social à qual estão inseridos a partir dos espaços deliberativos do Estado.

A cidadania ativa e participação social permitem que os problemas,

demandas sociais e reivindicações das comunidades locais sejam tratados como

agendas das reuniões nos espaços deliberativos e não como assuntos secundários,

pois ao participar destes novos espaços os atores sociais estão ali representando

todo o conjunto de cidadãos que clamam por soluções e melhores serviços públicos.

Para o Estado, a participação social representa também um novo

elemento para a sua gestão, pois as decisões antes apresentavam o caráter

unilateral, isto é, o Estado era onipotente em suas ações ao deliberar a respeito da

quantidade, da qualidade e da distribuição dos recursos financeiros, dos serviços

públicos e da atenção para com as comunidades locais e depois da

redemocratização, da descentralização, do controle social, das novas políticas

públicas e da participação social, essa lógica é subvertida e novos parâmetros para

a gestão precisam ser descobertos e construídos em conjunto pela sociedade civil e

Estado.

A participação social gera não somente estes novos laços de

aproximação do Estado para com a sociedade civil organizada, mas gera em ambas

as esferas um novo conceito de responsabilização: as ações, deliberações e

políticas públicas agora são empreendidas não somente pelo Estado e sim em

conjunto com a sociedade civil, podendo esta ser cobrada e pressionada pela

sociedade em geral.

Por isso, participação social é tida como um processo que emancipa os

cidadãos, tornando-os mais responsáveis pelos seus atos nos espaços estatais de

participação e deliberação; serve como instrumento pedagógico ao desenvolver

novas habilidades e conhecimentos nos atores sociais que se integram a estes

espaços; e aumenta a capacidade da sociedade como um todo em controlar e

monitorar as ações e atos públicos do Estado.

Page 242: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A aprendizagem e a responsabilização dos atos públicos na

participação social faz com que um novo processo gestionário se apresente a partir

da discussão empreendida: a gestão social.

A gestão social é vista como a superação dos processos de gestão que

enfatizam a unilateralidade dos atos públicos estatais, ao ter na discussão e no

diálogo exercido entre os atores sociais e públicos envolvidos o trajeto para que as

ações e políticas públicas possam ser efetivadas.

O processo discursivo e dialógico a ser exercido pelos diferentes atores

sociais faz com que a realidade local seja vista não como um problema a ser

enfrentado pelo Estado, mas como lócus para que novos e melhores serviços e atos

públicos possam ser empreendidos, gerando assim novos conhecimentos e padrões

para a administração pública.

Desta maneira, a gestão social é vista como um processo inovador que

tem na cidadania ativa a sua base de sustentação e na participação social o

elemento motriz para a sua efetivação, e não cabe construir limites de atuação ou

emprego deste conceito, pois como é um processo da sociedade e para a

sociedade, o Estado é citado apenas como exemplo de seu uso, cabendo este

modelo de gestão ser adotado por diferentes instituições, sejam do terceiro setor

como de outros setores econômicos.

Assim, o processo dialógico e participativo é que faz a gênese da

gestão social nos diferentes espaços e setores nos quais possivelmente pode ser

utilizado, sinalizando o estado rudimentar que os processos de gestão

centralizadores ou com pouca porosidade para a participação apresentam no atual

cenário social.

A atividade turística é considerada a partir das análises empreendidas

anteriormente como elemento integrante do complexo amálgama apresentado

anteriormente, mas que representa parcela significativa quando analisado a partir de

seus efeitos produzidos em uma dada destinação.

A gestão do Estado perpassa pela gestão do turismo, assim como os

elementos de descentralização e democracia são também elementos que estão

auxiliando a maior permeabilidade de conceitos, estudos e visões a respeito de

como a atividade turística pode ser instrumento para a promoção do aumento da

qualidade de vida, da responsabilização dos diferentes atores locais para com a

Page 243: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

preservação dos recursos turísticos (atrativos) que representam a história, a cultura,

os valores e os conhecimentos da sociedade local.

O pensamento a respeito do conceito de turismo, como demonstrado,

não é algo que visa a simplificar a realidade ou apresentar limites possíveis para a

compreensão do que seja ou não o turismo, mas emana um conjunto de elementos

que auxiliam os pesquisadores a observarem em profundidade quais são os

diferentes laços sociais que permitem que o turismo seja percebido como uma

atividade social, econômica e cultural.

Essas diferentes perspectivas demonstram que a atividade existe não a

partir somente do território, ou seja, dada uma destinação com atrativos que

exerçam fascínio e interesse em outras pessoas, sendo então possível ter a

atividade turística sendo realizada naquele espaço, mas a observação vai além da

destinação e se envolve com aquele que pratica o turismo, ou seja, o ser humano e

suas diferentes motivações e expectativas, aliadas à necessidade de abstração da

realidade e do tempo de trabalho.

Essa visão holística faz com que os diferentes elementos que

compõem o conceito de turismo sejam analisados de maneira distinta, mas

entendendo que cada um destes possuem ligação, ou melhor, conseqüências tanto

no indivíduo quanto na coletividade – sociedade – ao desejarem e demandarem por

produtos e serviços turísticos.

Ao se mencionar estas conseqüências estão sendo mencionados os

impactos que o turismo gera nas destinações a serem visitadas ou consumidas

pelos turistas e visitantes. Em um primeiro momento, pode-se afirmar que o turismo

é promotor de desenvolvimento e crescimento tanto da economia local, quanto dos

padrões e da qualidade de vida das comunidades locais, resgate da memória e

valorização da cultura local, além de maior interesse da população por locais, fatos e

personagens que possam servir de novos elementos a serem divulgadores e

motivadores para a atividade turística.

Mas em um segundo momento, pode-se afirmar que o turismo é

promotor de transformações negativas, ou seja, o consumo turístico e a lógica

capitalista fazem com que o interesse dos empresários seja maior do que os

interesses sócio-culturais da população, interferindo nas relações econômicas,

alterando a forma como o Estado lida com o espaço geográfico, e por fim pode gerar

Page 244: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

a marginalização da comunidade local ao não ser inserida nos espaços destinados à

atividade turística (empregos, serviços, comércio, etc.).

Para a regulação, ou melhor, para o ajustamento dos impactos

positivos e negativos em uma dada comunidade ou destinação turística,

desenvolveram-se os estudos e pesquisas a respeito do planejamento turístico e em

como este pode representar um conjunto de conhecimentos e técnicas a ser

empregado pelo Estado quanto pela iniciativa privada objetivando a manutenção, o

desenvolvimento e o crescimento dos espaços turísticos.

O planejamento turístico e seu escopo conceitual esmeram-se na

necessidade do ordenamento das ações corretas para a efetivação da atividade

turística com mínimos impactos negativos, tendo na relação Estado – Empresários –

Comunidade local o tripé de sua sustentação.

Cada um destes elementos do tripé conceitual deve ter suas

responsabilidades e envolvimento com o turismo, não podendo a atividade turística

ser planejada e conduzida sob a tutela da iniciativa privada, mesmo sabendo que é a

própria iniciativa privada quem será a maior beneficiária, observando que os grandes

equipamentos hoteleiros, restaurantes, bares, locais de entretenimento e eventos

são de interesse da iniciativa privada não podendo estes ser coisas estatais.

A comunidade local é concebida pelo planejamento turístico a partir de

tripé com menor poder de intervenção, pois em grande parte das destinações

turísticas a iniciativa privada se estabelece com a intenção de promover o

desenvolvimento e o crescimento local e sempre é bem-vista pela comunidade local

no primeiro momento, contudo, o desenvolvimento do turismo faz com que a

iniciativa privada vá aos poucos marginalizando a comunidade local devido a alguns

fatores como: falta de conhecimento e capacitação para serem empregados nos

serviços formais gerados, inexperiência para com a gestão de negócios e

empreendimentos, carência econômico-financeira fazendo-a vender propriedades a

baixos valores para a iniciativa privada dentre uma série de outros exemplos a

serem dados.

Para tanto, o objeto de estudo e apreciação do planejador em turismo é

compreender as diferentes forças exercidas por cada um destes membros do tripé

conceitual, mas tendo a observação do importante papel que o Estado tem neste

sistema: o de legislar, monitorar e controlar a atividade turística. Ao se referir à

atribuição de legislar, retorna-se a discussão empreendida a respeito de políticas

Page 245: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

públicas. No tocante ao turismo, é importante que os processos da política pública

de turismo possam convergir para a arena dialógica entre os membros do tripé do

planejamento turístico favorecendo ao princípio democrático e descentralizado.

Já o sistema de monitoramento e controle são ações exercidas pelo

Estado que carece de pareces e instrumentos técnicos próprios do planejamento

para que a atividade turística possa, ao longo de seu desenvolvimento ser vetor de

geração de emprego e renda, além de ser vetor de desenvolvimento local para a

destinação turística.

Percebe-se que o planejamento turístico tende a apresentar um caráter

dialógico e participativo no seu bojo de ações, mas prevalece o status de

instrumento técnico e de difícil apropriação para a comunidade local, do conjunto de

conhecimentos e saberes a serem aplicados no enfrentamento da marginalização,

da exclusão e dos interesses de classe.

Para tanto, a literatura pesquisada demonstra que há avanço na

orientação do planejamento turístico para a inserção da comunidade local e da

facilitação da compreensão do instrumental técnico empregado, avanço este que

recebe a denominação de planejamento turístico participativo.

A intenção dos pesquisadores analisados não é de criar uma utopia

participativa, mas sim de inserir a comunidade local em espaços próprios para que

possa apresentar suas demandas, necessidades e contribuições em prol do

desenvolvimento turístico local.

O conceito de planejamento turístico participativo, ao ser analisado,

demonstrou um refino das teorias anteriormente pesquisadas, ou seja, o pensar em

ações e estratégias que visem à participação social, que tendam a colaborar no

aumento da porosidade de estratégias descentralizadas e democráticas no tocante

ao Estado, e na aproximação do Estado e comunidade local com a iniciativa privada

responsabilizando cada um destes pelos efeitos positivos e negativos gerados na

comunidade local.

Do conceito de planejamento turístico participativo depreende o

pensamento a respeito das políticas públicas para o setor turístico, não mais como

elemento centralizado e de responsabilidade unilateral do Estado, mas sim como

instrumento legitimador dos anseios e necessidades do próprio Estado, da iniciativa

privada e da comunidade local.

Page 246: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

A instrumentalização do policy clycle conduziu a pesquisa no

empreendimento de figurar, de maneira sintética, como deve ser pensado e

empregado o ato de se desenvolver novas e melhores políticas públicas para o setor

turístico brasileiro, dada as suas características e peculiaridades conforme descritas

ao longo da dissertação.

O Estado tem seu local privilegiado no processo das políticas públicas

de turismo, mas ao mesmo tempo tem também toda a atenção e controle da

comunidade local e do setor privado para que de fato possam ser implementados

projetos, planos, programas e outras ações para a sua efetivação.

Ao analisar a política pública de turismo do Estado de Minas Gerais

percebe-se que o processo iniciou-se tendo como parâmetro os tradicionais

caminhos políticos públicos, ou seja, a centralização e os preceitos tecnocráticos,

pois foi uma política planejada pelos membros da Secretaria de Estado do Turismo

de Minas Gerais.

Mas ao remontar sua trajetória, seus efeitos e resultados apontam que

a regionalização do turismo em Minas Gerais fez com que os diversos municípios se

responsabilizassem a respeito da necessidade de organização, planejamento e

desenvolvimento de ações que colaborassem para que os circuitos turísticos se

efetivassem como pólos receptores de turistas e visitantes.

Os municípios mineiros ao criarem as instâncias de governanças

regionais com a inserção dos gestores municipais (prefeituras), dos distintos

membros da iniciativa privada e membros da comunidade local, permitiram que a

descentralização do planejamento turístico se aproximasse das realidades locais e

fosse discutida pelas partes interessadas e não como um conjunto de medidas a

serem cumpridas a partir das decisões emanadas pela Secretaria de Estado do

Turismo de Minas Gerais.

Nestas instâncias regionais a participação social é o viés que interliga,

motiva e delega responsabilidades e atribuições aos diferentes membros que

integram estes espaços deliberativos, fazendo com que a coletividade haja em prol

dos interesses de todos e não privilegiando os municípios mais desenvolvidos ou

tendo um tratamento diferenciado para com os municípios com menor

potencialidade turística.

As relações socioeconômicas de cada um dos municípios que

compõem estas instâncias regionais é que são os elementos motivadores para a

Page 247: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

agregação e discussões: o interesse da política pública do estado de Minas Gerais é

fazer com que a descentralização permita aos diferentes atores sociais locais

discutirem o planejamento e a ordenação do turismo regional a partir de suas

realidades, problemas e oportunidades.

Os resultados concretos da política pública de turismo de Minas Gerais

passam a ser expressos não somente pelo aumento da demanda turística nas

destinações locais, mas sim a partir da redistribuição dos recursos do ICMS

mediante o critério turismo.

Tal observação se faz justificada, uma vez que, para o recebimento dos

recursos financeiros do ICMS Turístico, cada circuito turístico, além de cada

município deverá comprovar que a participação social é elemento integrante do

pensamento e da realidade técnica-gerencial a partir dos indicadores: existência de

conselho municipal de turismo, aprovação de política pública de turismo municipal,

relatório das atividades e ações desenvolvidas pelo conselho municipal de turismo.

Inicialmente questionou-se se o processo dos circuitos turísticos em

Minas Gerais não seria apenas uma simples interação sem envolvimento, sem

motivação, ou seja, o contrário do que é de fato participação social e o resultado

homologado pela Secretaria de Estado do Turismo de Minas Gerais para a

redistribuição dos recursos do ICMS Turístico provou que os municípios estão, sim,

engajados na política pública de turismo do estado.

Um fato que chama a atenção na análise dos resultados da

homologação da redistribuição dos recursos para o ano de 2011 foi a ausência dos

municípios turísticos consolidados como Ouro Preto, Mariana, Diamantina e

Tiradentes por não conseguirem comprovar a efetivação da participação social em

seus municípios.

Este resultado reforça o posicionamento a respeito da distância

existente entre as gestões públicas municipais, os empresários e a comunidade

local. Cada um destes elementos trabalham o turismo de maneira isolada e sem a

preocupação com os impactos advindos com o mau gerenciamento da atividade;

além de demonstrar que a participação social, a descentralização e a

democratização ainda são assuntos a serem discutidos e inseridos nas agendas

desses municípios.

Por outro lado os resultados apresentam que a participação social e a

descentralização não são assuntos dominados somente pelos grandes municípios,

Page 248: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

pelo contrário os resultados homologados, apresentados na tabela 02 referente ao

ICMS Turístico, demonstraram que os municípios menores é que estão efetivando

de maneira concreta a participação social como elemento condutor para o

desenvolvimento da atividade turística local e permitindo que os diferentes atores

locais possam ser envolvidos nas discussões e ações para o turismo.

Os espaços participativos, como os conselhos municipais de turismo,

tendem a apresentar uma nova dinâmica para a condução da atividade turística e

por isso nem sempre são bem recebidos pelos representantes públicos, pois ao

envolver novos atores sociais nas discussões, poderá o Estado ser responsabilizado

e cobrado para que ações efetivas sejam realizadas e não somente permanecendo

no ostracismo e nos discursos da dificuldade em agir e da falta de recursos

financeiros para atuar.

Essas inquietações formaram os diversos elos de pensamento e

análise do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, a partir dos documentos

formais internos – regimento e estatuto, atas de reuniões das assembléias,

instrumentos de avaliação e acompanhamento das atividades do circuito e, ao fim

pode-se perceber que as relações socioeconômicas de cada município podem

representar problemas de assimetria num espaço participativo como o circuito

turístico. No entanto, a regionalização do turismo a partir dos espaços dialógicos e

participativos, segundo a análise feita, faz com que se credite aspectos positivos no

que se refere ao conjunto de planos, ações e resultados alcançados a partir da

participação social e da regionalização do turismo.

A regionalização do turismo ao ser proposta inicialmente pelo estado

de Minas Gerais e mais tarde como parte da Política Nacional de Turismo, mediante

o Programa de Regionalização, segundo a análise empreendida a partir do CTTI, fez

com que fosse derrubado o pensamento de que o tripé do setor turístico (poder

público, setor privado e comunidade local) não seria capaz de se organizar em um

espaço dialógico e participativo, a partir das temáticas envolvendo turismo e

desenvolvimento regional.

Não se pode ignorar que a ação do Governo de Minas Gerais ao

propor a regionalização, seria a de criar espaços em prol do simples cumprimento da

ação gerencial estatal, no que se refere apenas à regulamentação legal: os

municípios iriam se agrupar em circuitos turísticos, mas o turismo, mediante o

planejamento e a sua execução não se dariam de maneira plena, ou seja, os

Page 249: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

circuitos turísticos seriam apenas espaços formalizados para que a SETUR pudesse

perceber que a legislação estaria sendo cumprida.

Os resultados demonstrados pelo CTTI permitem afirmar que o

processo participativo foi sim estabelecido pelos municípios participantes e

integrantes do circuito turístico e, que a partir dos múltiplos, diferentes e

incongruentes interesses está sendo estabelecido o processo da participação social,

de legitimação das demandas de cada um dos membros representantes, havendo

com isso o processo democrático e transparente para o planejamento turístico

participativo.

Pode-se perceber com a análise dos resultados que os municípios do

CTTI que foram contemplados com os recursos dos ICMS Turístico foram aqueles

que se engajaram no processo de tornar realidade a prática da participação social

para as discussões turísticas em seus municípios, contrariando os pensamentos de

que somente os grande municípios ou aqueles com a atividade turística

estabelecida, como São João del-Rei e Tiradentes, seriam contemplados.

As agendas formadas pelo CTTI não se consolidam na esfera do

simples atendimento das demandas determinadas pelo Governo de Minas, avançam

além disso, se constituem a partir da vocalização dos atores sociais a partir de suas

demandas e das realidades locais para que então seja de fato consolidado o

processo de desenvolvimento e crescimento da atividade turística regionalizada.

A gestão participativa do CTTI gerou, no ano de 2010, diferentes ações

como citadas neste estudo que possibilitaram ao conjunto dos municípios

participantes a articulação, permitindo que novas proposições e novas ações

possam ser planejadas e executadas nos próximos anos.

O elemento central que move as ações e programas do CTTI é a

participação social ativa dos membros, isto é, as assembléias e reuniões do CTTI

demonstraram a partir da pesquisa realizada, que a interação e participação dos

membros participantes se inscrevem como ação democratizante e construída a partir

da coletividade destes atores sociais participantes.

Os municípios que integram o CTTI tendem a ter maior possibilidade

de que suas políticas públicas municipais possam ser executadas por meio do

conhecimento e das constantes trocas de informação na arena participativa do

circuito turístico, além de poderem conhecer como os municípios que já possuem o

Page 250: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

turismo como atividade socioeconômica implementada e desenvolvida poderão

inovar em suas realidades locais.

Pode-se então compreender que a estrutura organizacional, seja esta

entendida a partir das vertentes: organização, planejamento e execução, incluindo

as dinâmicas e práticas adotadas pelo CTTI como elementos que favorecem e

fortalecem a participação social dos diferentes atores sociais envolvidos, sendo ao

mesmo tempo entendido este espaço e sua organização como instrumentos que se

articulam em prol da democratização da viabilização das políticas públicas de

turismo do estado de Minas Gerais.

Ainda sim, pode-se argumentar que a gestão participativa do CTTI se

inscreve dentro da esfera de conhecimento da gestão social, ao ser entendida como

uma gestão que possibilita a todos os atores sociais as mesmas possibilidades de

vocalização de suas demandas, da integração às diferentes estruturas

administrativas eletivas, além de possibilitar aos atores sociais participantes novos

conhecimentos e informações e, por não dizer, da colaboração em prol da cidadania

ativa dos diferentes espaços públicos.

Como recorte para o entendimento dessas considerações traçadas a

partir do CTTI, infere-se afirmar que os gestores municipais integrantes do CTTI

passam, mediante a participação das reuniões e assembléias, a possuir a

capacitação em prol da gestão participativa: a participação social é um processo

construído pelo e para os atores sociais que integram os espaços dialógicos,

participativos e deliberativos, como o CTTI.

No que tange ao processo de aprendizagem por parte dos gestores

municipais para com a participação social, é mister enfatizar que é a esfera

municipal a responsável pelo processo, a nível local, de fazer com que os diferentes

atores sociais se envolvam para discutir, planejar e executar ações em prol do

turismo municipal.

Ainda sim, pode-se comentar que a gestão descentralizada do turismo,

a partir dos circuitos turísticos, favorece o exercício conjunto do planejamento

turístico estratégico a partir da vertente da regionalização: o CTTI apresenta,

conforme dados da pesquisa, que os interesses e vocações turísticas, mesmo sendo

desiguais e em diferentes patamares de desenvolvimento, podem convergir para o

processo de planejamento turístico participativo e estratégico, pois a lógica adotada

é regional e não direcionada para alguns municípios.

Page 251: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Os documentos analisados, além do resultado concreto dos

questionários, fazem com que se construa uma realidade favorável de que a gestão

descentralizada do turismo em Minas Gerais, a partir do estudo de caso

empreendido – CTTI – se consolide no cenário nacional como modelo de gestão

turística, mas que esse modelo evidencia a partir dos elementos analisados pela

pesquisa realizada que avanços estão sendo possibilitados no campo da

participação social, mas ainda muito há que se avançar em prol da descentralização

e das políticas públicas de turismo, em se tratando de gestão turística brasileira.

O planejamento e a gestão do turismo regional e local quando

analisados a partir do CTTI representam desafios para a concretização da

participação social nos municípios integrantes deste circuito turístico, pois a

descentralização, a concepção de novas políticas públicas e planejamento

participativo representam temas novos, quando vistos sob a ótica do turismo.

Este percurso desenvolvido com a pesquisa empírica aliada ao

referencial teórico levou à negação da hipótese inicial que considerava os

instrumentos/mecanismos adotados na gestão do turismo regional do estado, bem

como suas práticas institucionais, não favorecendo o processo de participação

social, enquanto um mecanismo de democratização da gestão pública e

consequentemente, comprometido com o desenvolvimento de uma gestão social no

âmbito das ações de política pública de turismo, a partir dos dados levantados e

discutidos ao longo de todo o estudo.

Por fim apresenta-se como contribuição para o processo contínuo da

regionalização, descentralização e aumento da democracia e cidadania ativa para os

atores sociais do CTTI o projeto de intervenção na realidade pesquisada.

Como demonstrado pelo resultado da pesquisa a partir dos

questionários, o processo de comunicação efetivado pelos gestores do CTTI carece

de alguns ajustes para que os atores sociais participantes possam ter maior acesso

às informações, sejam elas de ordem estatutária, dos resultados concretos obtidos

pelo circuito turístico, ou seja, para o acompanhamento das discussões e

deliberações empreendidas pelos atores sociais.

Para tanto, o projeto de intervenção vem apresentar um novo modelo

para o design do atual site virtual do CTTI: a intenção é de que a democratização

das informações possibilite o aumento das discussões, melhora dos processos

Page 252: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

deliberativos e empoderamento dos atores sociais que integram este circuito

turístico.

Page 253: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

7 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Inovações tecnológicas no design do site do Circuito Turístico Trilha dos

Inconfidentes em prol do Empoderamento e Participação Social

7.1 Introdução

O turismo regional é um instrumento capaz de dinamizar as relações

entre os municípios que buscam se inserir em novos espaços dialógicos buscando,

por meio da participação social e da troca de conhecimento, experiências e

informações para a superação de problemas e/ou situações que impeçam o

desenvolvimento e o crescimento dessa atividade socioeconômica.

Além disso, compreende-se que a partir das posições legais

estabelecidas pelo Governo de Minas Gerais, a partir de 1999, e com o suporte da

Política Nacional de Turismo e do Programa de Regionalização do Turismo, os

municípios de Minas Gerais estão consolidando as instâncias regionais de

governança como realidade prática e factível, com o intuito de contribuir para o

planejamento turístico participativo.

Em especial, ao observar a realidade da participação social e de como

os membros participativos interagem a partir da realidade do Circuito Turístico Trilha

dos Inconfidentes – CTTI, é preciso que novas dinâmicas participativas possam ser

incorporadas ao cotidiano deste circuito.

O CTTI, atualmente, já possui avanços significativos com relação ao

planejamento turístico participativo e na proposição e execução de programas e

ações que se revertam para a melhora do turismo regional, além de conseguir a

articulação entre os diferentes atores sociais que hoje compõem a estrutura

institucional do circuito.

Mas para que o processo de participação social possa sempre ser

motivador e instigador, percebe-se que é preciso investir na inovação e no

acompanhamento dos avanços tecnológicos, em especial àqueles ligados à

comunicação: o site do CTTI, hoje, conta com uma estrutura que aparentemente

responde às demandas dos usuários, mas sendo possível perceber que é possível

criar novas relações entre usuários, CTTI e informação.

Page 254: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Este projeto de intervenção apresentará como os meios de

comunicação estão sendo impactados a partir da modernização da internet e em

como essa ação pode significar avanços em prol da melhora da participação social,

da transparência dos atos e deliberações dos atores sociais que contribuem

ativamente com o processo de regionalização do turismo.

7.2 Apresentação

Os meios de comunicação foram revolucionados após o surgimento da

internet e da expansão do World Wide Web, o que resultou em novos e inovadores

elementos que visam à democratização do acesso à informação, ou seja, a partir da

internet as possibilidades de acesso a banco de dados, textos, listas de discussões,

entre outras, que antes eram de difícil acesso ao grande público, se tornaram

abertas e públicas, disponibilizadas nas diferentes páginas com endereço na web.

As informações, que antes não eram acessíveis ao cidadão comum –

ora por exigir o investimento de recursos financeiros necessários para o acesso à

tecnologia (o preço de computadores e hardwares para o acesso à internet), ora

pelas poucas fontes de informações não serem abertas a todas as pessoas que as

buscavam – passam a estar mais disponibilizadas contrapondo inclusive às práticas

de organizações que mantinham sob seu controle informações não socializadas ao

público. A internet, nesse sentido, e a web surgem com caráter revolucionário na

facilitação dessas informações (MONTEIRO, 2001).

Contudo, nos dias atuais o que se verifica é exatamente o contrário: as

organizações estão buscando cada vez mais disponibilizar informações e conteúdos

que auxiliem os cidadãos a compreenderem melhor seus serviços, produtos e outras

ações que venham a ter em determinada comunidade ou país, criando uma imagem

positiva e aberta perante os consumidores e cidadãos.

Entretanto, a utilização dos recursos interativos da internet deve ser

visto com ressalvas, principalmente quando analisado a partir do viés internet –

democracia – política. Os argumentos empregados enfatizam que, a partir da rede

mundial de computadores, as distâncias e as relações entre as pessoas são

atenuadas, causando a impressão de que todos vivem muito próximos uns dos

outros.

Page 255: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Mas essa relação de proximidade entre as pessoas, quando vistas a

partir do interesse que envolve a temática democracia e política, tendem a

estabelecer não uma relação verticalizada, mas sim horizontalizada: os internautas

relacionam-se com outros usuários e não de maneira mais profunda com a

organização (EISENBERG, 2003).

Ao se pensar em organizações, Eisenberg (2003) está citando o

Estado e suas diversas formas de instâncias organizacionais: secretarias,

autarquias, fundações, seções, departamento dentre outros órgãos vinculados de

maneira direta e indireta à execução das ações estatais.

A crítica proposta por Eisenberg (2003) na diferenciação entre

horizontalidade e verticalidade do relacionamento dos usuários dos espaços virtuais

do Estado refere-se à superficialidade das relações a serem estabelecidas: os

usuários dos sites públicos ao perceberem determinado problema, insatisfação para

com os serviços prestados ou apresentando suas críticas e sugestões para com o

site nos espaços próprios o fazem sem que se sintam na obrigação de dialogarem

com o Estado.

A interação social entre o Estado e os usuários do espaço virtual não

se dá pela verticalidade: caso o Estado resolva responder, apresentar seu

posicionamento ao usuário do site, este, por sua vez, não estará interessado nas

respostas ou nos argumentos, pois sua relação não é que seja estabelecido um

diálogo propositivo em prol de melhoras, e sim apenas um canal de direção única

entre usuário – site.

A horizontalidade assim percebida faz com que os usuários destes

espaços virtuais tornem os fóruns ou outros links que permitam o aprimoramento dos

serviços públicos prestados pelo Estado não possam avançar por meio do diálogo e

de um processo comunicativo.

A verticalidade apresentada por Eisenberg (2003) se daria na medida

em que ao receber determinada reclamação, sugestão ou mesmo comentário o

Estado pudesse por meio do mesmo canal de comunicação – o site, estabelecer um

processo dialógico compreendendo em profundidade a informação postada no

espaço virtual e apresentando argumentos, soluções e outras informações ao

usuário, e este por sua vez respondendo ao Estado se o conjunto de dados providos

no processo dialógico sana as suas inquietações.

Page 256: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Esta discussão é vista por Cardoso (2004) de outro ponto de vista.

Segundo o autor, a internet e a rede mundial, quando analisadas a partir das

experiências dos governos, tende a apresentar serviços públicos mais adequados

aos cidadãos, tendo em vista que a transparência e o controle social da sociedade

para com o governo é aumentada a partir de novos meios de comunicação, pois:

uma dramática alteração nas formas pelas quais os cidadãos interagem com seus representantes e governantes, seja em termos de transmitir seus desejos, aspirações e necessidades, seja em termos de opinar sobre iniciativas, projetos ou políticas governamentais ou, ainda, em termos de acompanhar e controlar a ação daqueles que os representam e governam (CARDOSO, 2004, p. 33-34).

Assim, Cardoso (2004) apresenta que é necessário que se estabeleça

um processo verticalizado de comunicação entre usuário e organização a partir do

espaço virtual – internet, pois com a modernização dos meios de comunicação o

Estado e, por sua vez, o próprio político não podem se manter distanciados da

população, carecem de instrumentos próprios e inovadores para que o

acompanhamento e controle social sejam cada vez mais efetivados.

A utilização da internet como meio de comunicação é necessária nos

dias atuais quando se trata do viés democracia – instituições públicas – política,

visando não somente o repasse de informações, mas sim o estabelecimento de

novos parâmetros de relacionamento com os cidadãos das comunidades locais.

É, então, a partir deste pequeno recorte conceitual, que

fundamentamos nossa proposta de intervenção: apresentar ao Circuito Turístico

Trilha dos Inconfidentes a criação de um portal virtual de comunicação, uma home-

page na internet, como uma ferramenta de “pedagogia de gestão democrática e

participativa”. Essa proposta objetiva tornar este recurso mais uma ferramenta da

participação e representação municipal junto às assembléias e reuniões do CTTI, no

qual as informações ligadas aos aspectos turísticos promocionais estariam

acessíveis em um ambiente seguro, e os seus representantes poderiam ter acesso

às atas e documentos oficiais do CTTI, facilitando o acesso às informações das

reuniões e tomadas de decisões.

Page 257: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

7.3 Objetivo

Propor ao Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes a utilização de

novas ferramentas de comunicação, via internet, para que haja o incremento da

participação social dos membros associados às decisões e deliberações realizadas.

7.4 Conceito

A proposta a ser apresentada espelha-se na iniciativa de que vários

governos vêm tendo para o alargamento das possibilidades de participação e

controle social dos cidadãos nos serviços públicos prestados, aplicação de recursos

financeiros, além de promover a interatividade entre cidadãos e governo de maneira

mais transparente e menos burocratizada.

O conceito norteador da proposta a ser apresentada ao CTTI é o da

“Casa dos Conselhos”. A partir de um mesmo ambiente virtual da Web, os diferentes

portais de conselhos municipais instituídos e em funcionamento nas cidades, tais

como Mossoró (RN), Ouro Preto (MG), Petrópolis (RJ), São Carlos (SP), Vitória

(ES), dentre outros municípios brasileiros, disponibilizam informações a respeito dos

para o alargamento dos preceitos democrático-participativo para as políticas

públicas.

O conceito adotado é de que o emprego do meio de comunicação, a

internet, possa permitir que, por meio da Web, encontros entre cidadãos e os

membros associados ao CTTI possam debater as proposições deliberadas nas

reuniões e assembléias do circuito promovendo a expansão dos argumentos e maior

visão crítica a respeito das deliberações.

7.5 Características

Atualmente o CTTI disponibiliza, na rede mundial de computadores, um

sítio com importantes informações para os usuários, em geral, tendo a figura 8 como

página principal:

Page 258: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 08 – Sítio do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes. Fonte: CTTI, 2011, s/p.

Os principais links de acesso estão relacionados às atividades

desempenhadas pelo CTTI em relação ao turismo regional, facilitando o acesso às

informações pelos usuários, em geral, do site; além de contar com espaço específico

para contato de quem acessa o endereço virtual do circuito turístico para com os

gestores.

Contudo, não existe nenhuma forma específica de comunicação

referente à gestão do CTTI para os membros associados. Aqueles que por ventura

não possam comparecer às reuniões e assembléias, somente terão acesso ao

conteúdo das atas e deliberações na próxima reunião, ou se a secretaria executiva

do CTTI disponibilizasse as atas por e-mail digitalizadas (o que não vem

acontecendo e mesmo assim torna-se uma atividade dispendiosa de tempo). Essa

ausência ou hiato nas informações por meio do espaço virtual – site – dificulta o

acompanhamento das discussões, a processualidade da gestão do CTTI, ou mesmo

das definições que poderão afetar a todos os municípios envolvidos.

A criação dessa ferramenta, com vista à socialização dos conteúdos

que envolvem a gestão do circuito turístico, contribuirá para que membros

associados e mesmo a sociedade civil possam também acompanhar e opinar a

respeito dos trabalhos e ações desempenhadas pelo CTTI em prol do turismo

regionalizado.

Page 259: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

De uma maneira geral, compreende-se que a adoção de uma nova

estrutura do site com conteúdo específico, ou seja, a partir da inserção de novos

links direcionados para a divulgação das atas das reuniões e dos documentos

técnicos do CTTI, significará uma tecnologia de divulgação de conteúdo técnico,

possibilitando uma maior interação dos atores participantes do circuito com os

processos de tomadas de decisão para a gestão turística dos municípios

componentes e, também como instrumento de monitoramento e controle social por

parte da comunidade, em geral, face às decisões tomadas para o desenvolvimento

da atividade turística regional.

Além destes fatores, destaca-se que, por se tratar de um circuito

turístico que abrange 21 municípios, as distâncias, mesmo que curtas, representam

custos para o deslocamento dos representantes em todas as assembléias e

reuniões. Estes custos estariam minimizados no estudo do conteúdo das reuniões

anteriores disponibilizados a partir dos novos links propostos, além de poderem

estudar com antecedência os projetos e ações a serem propostas em futuros

encontros.

A nova estrutura do site a ser apresentada seria constituída da

inserção de novos links, visando ao conteúdo técnico do CTTI, contemplando a

disponibilização do Regimento Interno, Estatuto, Estruturas do CTTI, além de

apresentar um link dedicado às Reuniões e às Atas das reuniões anteriores. No

próximo subtópico deste projeto de intervenção serão pormenorizadas as

informações pertinentes a cada um destes links descriminados.

Portanto, a criação deste instrumento de comunicação virtual facilitará

a participação dos atores sociais envolvidos na gestão do CTTI, além da divulgação

do conhecimento e uma maior mobilização desses atores sociais.

7.6 Plano de operações e protótipo do site

Para que os novos links possam vir a ser funcionais para os usuários

do site do CTTI, será preciso que os gestores atuais desempenhem a administração

funcional deste espaço, alimentando-o constantemente com informações que sejam

de relevância, tanto para os usuários em geral, quanto para os membros

associados.

Page 260: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

O processo de alimentação de informações para os novos links se

iniciará com a digitalização do Estatuto e do Regimento Interno; da preparação dos

documentos que se referem à estrutura do CTTI, organogramas, levantamento dos

currículos dos atores sociais que atualmente ocupam cargos eletivos e outras

informações adicionais; além de digitalizar as atas das reuniões que aconteceram

antes da inserção do novo link.

A partir da inserção dos novos links, caberá ao gestor do CTTI e da

equipe de gestão operacional, ao fim de cada reunião, disponibilizar em, no máximo

24 (horas), a ata da reunião e/ou assembléia em link específico para que os usuários

do site possam ler e tomarem conhecimento a respeito do que foi deliberado.

Apresenta-se abaixo a estrutura pensada para os novos links, a serem

contemplados a partir do link “Institucional” já existente na atual estrutura do site do

CTTI.

7.7 Detalhamento e protótipos da nova estruturação do site CTTI

7.7.1 Links Regimento Interno e Estatuto

Serão disponibilizados pelo gestor do CTTI e da equipe de gestão

operacional cópias em arquivos digitais em extensão que não permitam a sua

edição, facilitando aos novos membros a historicidade e/ou o conhecimento de como

o CTTI vem construindo sua trajetória em prol do turismo regional.

A cada alteração no Regimento Interno e/ou no Estatuto, estas deverão

ser digitalizadas e postadas novamente no site, mas tendo o cuidado de preservar

as versões anteriores, para que se construa, virtualmente, um traçado histórico a

respeito da gestão do CTTI.

Este link poderá ser compreendido com exemplo bem sucedido dos

conceitos de descentralização e da formalização da instância regional de

governança, conceitos estes propostos pelo Ministério do Turismo, a partir de suas

políticas e planos (Figuras 09, 10 e 11).

Page 261: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 09 – Site do CTTI link Institucional. Fonte: Elaboração própria, 2011.

FIGURA 10 – Site do CTTI link Regimento Interno. Fonte: Elaboração própria, 2011.

Page 262: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 11 – Site do CTTI link Estatuto. Fonte: Elaboração própria, 2011.

7.7.2 Link Estruturas

Neste link serão apresentados os organogramas funcionais da

Assembléia Geral e da Diretoria Executiva, além de apresentar um mini-currículo dos

atores sociais que ocupam cargos eletivos nesses espaços, fazendo com que os

usuários conheçam a trajetória profissional e política de cada um destes atores

sociais, além de apresentar emails de contatos institucionais para que os usuários

possam se aproximar o máximo possível destes atores, estabelecendo novos

vínculos (Figuras 12 e 13).

Page 263: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

FIGURA 12 – Site do CTTI link Composição das estruturas. Fonte: Elaboração própria, 2011.

FIGURA 13 – Site do CTTI link Composição das estruturas. Fonte: Elaboração própria, 2011.

7.7.3 Link Reuniões

Caberá a este link apresentar, para debate virtual, os temas que irão

compor a pauta das próximas reuniões, seja da Diretoria Executiva, seja da

Assembléia Geral. O intuito desse espaço virtual é ampliar o diálogo entre os

membros associados e a sociedade civil que não estão participando diretamente das

reuniões, mas que se interessam pela temática discutida.

Page 264: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

As discussões serão postadas como mini-textos e cada usuário poderá

postar sua posição, contribuindo para fomentar o diálogo, a proposição de novas

idéias, apresentação de dúvidas e sugestões que possam ir além dos espaços como

reuniões e assembléias do CTTI.

A gestão deste espaço será coordenada pelo Gestor, em conjunto com

a equipe de gestão operacional, a qual caberá monitorar, mediar, responder e retirar

deste espaço as mensagens que julgar impróprias para o diálogo neste link.

Ainda no link Reuniões apresentará aos usuários a agenda de reuniões

a serem realizadas, tanto pela Diretoria Executiva quanto a Assembléia Geral,

facilitando assim aos membros associados a disponibilização de agenda para a

participação nestas (Figura 14).

FIGURA 14 – Site do CTTI link Reuniões. Fonte: Elaboração própria, 2011.

7.7.4 Link Atas

Os usuários do site terão acesso, por meio de arquivo digital em

extensão, que não permitirá a sua edição, às atas das reuniões e assembléias já

efetivadas, possibilitando o acompanhamento das discussões realizadas, tanto na

Diretoria Executiva quanto na Assembléia Geral.

Caberá ao Gestor do CTTI, em deliberação com a Diretoria Executiva,

decidir a partir de qual data serão disponibilizados os documentos a comporem este

Page 265: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

importe link para o controle social e transparência dos atos, deliberações e

encaminhamentos do CTTI (Figura 15).

FIGURA 15 – Site do CTTI link Atas. Fonte: Elaboração própria, 2011.

Page 266: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

REFERÊNCIAS

ABRUCIO, Fernando Luiz. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um balanço crítico e a renovação da agenda de reformas. In: REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Revista de Administração Pública: edição especial comemorativa 1967-2007. Rio de Janeiro, 2007, n. 67, pp.67-86. ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais sociais. São Paulo: Cengage Learning, 2003. ANDRADE, José Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 2002. ANSARAH, Marília Gomes dos Reis (org.) Turismo: como aprender como ensinar. São Paulo: SENAC, 2001, v. 2. ARENDIT, Ednilson José. Introdução à economia do turismo. 2. ed. Campinas: Alínea, 2000. ARENDT, Hannah. O que é política? 8.ed. Trad. Reinaldo Guarany. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. ARRETCHE, Marta T. S. Mitos da descentralização: mais democracia e eficiência nas políticas públicas? Revista Brasileira de Ciências Sociais. 1996, n. 11, v.31, pp.44-66. ___________________. Políticas sociais no Brasil: descentralização em um Estado federativo. Revista Brasileira de Ciências Sociais. 1999, n. 14, v. 44, pp.111-141. AVRITZER, Leonardo. Sociedade Civil, instituições participativas e representação: da autorização à legitimidade da ação. In: DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 2007, n.3, v.50, pp. 443-464 _________________. Sociedade civil e participação no Brasil democrático. In: AVRITZER, Leonardo (org.). Experiências nacionais de participação social. São Paulo: Cortez, 2009, pp. 27-69. _________________ (org.) A dinâmica da participação local no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010. BARRETO, Margarita. Manual de Iniciação ao Estudo do Turismo. Campinas,SP: Papirus, 1995.(Coleção Turismo). BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 2.ed. São Paulo: SENAC – São Paulo, 1998. BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. 12.ed. Brasília: UNB, 2004, v. 2. BOLSON, Jaisa Gontijo; ÁLVARES, Lucia Capanema. Descentralização e democratização da gestão pública: a implantação dos circuitos turísticos em Minas

Page 267: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

Gerais. 2005, pp-1-16. Disponível em <http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?idconteudo=8065>. Acesso em 20 de jul. de 2010. BONETI, Lindomar Wessler. Educação e movimentos sociais hoje. IN: ALMEIDA, Maria de Lourdes Pinto de; JEZINE, Edineide (org). Educação e movimentos sociais: novos olhares. Campinas: Alínea, 2007, pp.55-73 BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON Jean-Claude; PASSERON, Jean-Claude. Ofício de Sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia. Petrópolis: Vozes, 2004. BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Contém as emendas constitucionais posteriores. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm>. Acesso em 19 de jul. de 2010. BRASIL. Ministério do Turismo. Secretaria de Políticas de Turismo Programa de Qualificação a Distância para o Desenvolvimento do Turismo: turismo e sustentabilidade, formação de redes e ação municipal para regionalização do turismo. Ministério do Turismo, coordenação Ana Clévia Guerreiro Lima. 2. ed. Florianópolis : SEaD/UFSC, 2010a. ________________________. Secretaria de Políticas de Turismo Programa de Qualificação a Distância para o Desenvolvimento do Turismo: sensibilização, mobilização, institucionalização da instância de governança regional. Ministério do Turismo, coordenação Ana Clévia Guerreiro Lima. 2. ed. Florianópolis : SEaD/UFSC, 2010b. BRASIL. Presidência da República. Ministério da indústria, do comércio e do turismo. Instituto Brasileiro de Turismo. Decreto-lei nº 448, de 14 de Fevereiro de 1992. Brasília: 1992. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sistema Nacional De Atendimento Socioeducativo - SINASE/ Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Brasília-DF: CONANDA, 2006. BRASIL. Supremo Tribunal Nacional. Instrução Normativa STN nº 1, de 15 de Janeiro de 1997: Celebração de Convênios. Disponível em <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/in1_97.pdf>. Acesso em 16 de set. de 2011. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Sociedade civil: sua democratização para a reforma do Estado. Brasília: ENAP, 1998. _________. Réplica: comparação impossível. Revista de Administração de Empresas, v.45, n.1, p. 50 e 51, jan-mar/2005.

Page 268: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

_________. Estado, estado-nação e revolução capitalista: textos para discussão. São Paulo: Escola de Economia de São Paulo, 2010a. _________. A construção política do Estado. São Paulo: Escola de Economia de São Paulo, 2010b. BRUYNE, Paul de, HERMAN, Jacques, SCHOUTHEETE, Marc de. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais. 5.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991. CARADE, Hildon Oliveira Santiago. Políticas públicas: uma abordagem teórico-metodologica nos campos da ciência política e da antropologia. Revista Eletrônica de Ciências Sociais – CSOnline, ano 3, ed. 8, set/dez. 2009, pp. 150-172. Disponível em <http://www.editoraufjf.com.br/revista/index.php/csonline/article/view/512>. Acesso em 23 de mai. de 2011. CARDOSO, René Fernando. Um estudo sobre os resultados da utilização da Bolsa Eletrônica de Compras no Governo do Estado de São Paulo. Revista do Serviço Público, Enap, ano 55, n. 4, out./dez. 2004. CARRION, Rosinha; CALOU, Ângela. Pensar a gestão social em terras de “Padinho Cícero”. n: SILVA JR., Jeová Torres et al. (orgs.) GestãoSocial: práticas em debate, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa universitária, 2008, p.15-19. CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 11. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. CARVALHO, Maria do Carmo B. Gestão social: alguns apontamentos para o debate. In: RICO e RAICHELIS (orgs.) Gestão Social: uma questão em debate. São Paulo: EDUC, 1999. CIRCUITO TURÍSTICO TRILHA DOS INCONFIDENTES. O que é um circuito turístico? 2010. Disponível em <http://www.trilhadosinconfidentes.tur.br/institucional.php>. Acesso em 20 de jul. de 2010a. _____________________________________________. Planejamento Estratégico 2011/2014. São João del Rei: Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, 2010b. _____________________________________________. Relatório de Ações: 2010. São João del Rei: Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes, 2010c. CKAGNAZAROFF, Ivan Beck. Ferramentas de gestão social: uma visão introdutória. In: CARNEIRO, Carlo Bronzo Ladeira; COSTA, Bruno Lazzarrotti Diniz. Gestão social: o que há de novo?. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2004, pp.13-29. COHN, Amélia. Descentralização, Saúde e Cidadania. In: Revista Lua Nova, 1994, n.32.

Page 269: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

COHEN, Jean L. Sociedade civil e globalização: repensando categorias. In: DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, 2003, n. 3, v. 46, pp.419-459. CONCEIÇÃO, Ronald Jesus da; NUÑEZ, Blas Enrique Caballero. Planejamento participativo e desenvolvimento regional sustentável: uma análise do método aplicado na região metropolitana de Curitiba (RMC). In: Seminário Nacional Paisagem e Participação: Práticas no espaço livre público, 2007, São Paulo. Anais. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2008. COOPER, Chris; FLETCHER, John; WANHILL, Stephen; GILBERT, David; SHEPHERD, Rebeca. Turismo: princípios e práticas. Trad. Roberto Cataldo Costa. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. COSTA, Bruno Lazzarotti Diniz. Política, instituições e estratégias de implementação: elementos para a análise de políticas e projetos sociais. In: CARNEIRO, Carla Bronzo; COSTA, Bruno Lazzarotti Diniz (org). Gestão social: o que há de novo? Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2004, pp.31-46. COSTA, Frederico Lustosa da. Contribuição a um projeto de reforma democrático do Estado. In: Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, 2010, n. 44, mar/abr.2010, pp.239-270. COSTA, Frederico Lustosa da. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformar. In: REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, 2008, n. 42, set/out.2008, pp.829-874. COSTA, Sérgio. As cores de Ercília: esfera pública, democracia, configurações pós-nacionais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, pp.37-63. CRUZ, Rita de Cássia. Política de turismo e território. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2001. CYSNE, Rubens Penha. Desigualdade de Renda e Políticas Distributivas: Duas Questões Metodológicas. 2009. Disponível em <http://www.fgv.br/professor/rubens/HOMEPAGE/ARTIGOS_E_REPORTAGENS_DE_POL_ECON/Artigos_Publicados/2009/Desigualdade%20de%20Renda%20e%20Pol%C3%ADticas%20Distributivas_original.pdf>. Acesso em 05 de jun. de 2011. DAGNINO, Evelina. Os movimentos sociais e a emergência de uma nova ação de cidadania. In: DAGNINO, Evelina. Anos 90: política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2004, pp. 103-115. DEMO, Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 1998.

Page 270: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

DIAS, Reinaldo. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2001. ____________. Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas, 2003. DOWBOR, Ladislau. A gestão social em busca de paradigmas. In: RICO, Elizabeth de Melo; RAICHELIS, Raquel (orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: EDUC; IEE, 1999, p. 31-42. ________________. Educação e desenvolvimento local. 2006. Disponível em:<www.dowbor.org/06edulocal.doc> Acesso em 21 de jul., 2010. DUMAZAEDIER, Jofre. Sociologia empírica do lazer. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. DURIGUETTO, Maria Lúcia. Sociedade civil e democracia: um debate necessário. São Paulo: Cortez, 2007. EASTON, David (org.) Modalidades de Análise Política. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. EISENBERG, José. Internet, democracia e república. DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 46, no 3, pp. 491 a 511, 2003. EMBRATUR. Retratos de uma caminhada: Programa Nacional de Municipalização do Turismo/PNMT: 8 anos. Elaborado pela Gerência de Programas Nacionais. Brasília: EMBRATUR, 2002. ENDRES, Ana Valéria. O planejamento como instrumento de condução política do Estado: do centralizado ao participativo e seus reflexos no planejamento turístico no Nordeste. In: Revista Turismo em Análise. São Paulo: ECA/USP, v.13, n.1, p. 66-78, maio 2002. FELICÍSSIMO, José Roberto. A descentralização do Estado frente às novas práticas e formas de ação coletiva. In: São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 8, n. 2, p. 45-52, 1994. FISCHER, Rosa Maria. Estado, Mercado e Terceiro Setor: uma análise conceitual das parcerias intersetoriais. In: Revista de Administração – RAUSP. Universidade de São Paulo: São Paulo, vol. 40, n. 1, janeiro-março, 2005, pp. 5-18. Disponível em <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/2234/223417390001.pdf>. Acesso em 05 de ago. de 2011. FISCHER, Tânia. A gestão do desenvolvimento social: agenda em aberto e propostas de qualificação. In: VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública. Lisboa: 2002, pp. 1-13. Disponível

Page 271: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

em<http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/clad/clad0044559.pdf>. Acesso em 29 de dez. de 2010. FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho. Definindo gestão social. In: SILVA JR., Jeová Torres et al. (orgs.) GestãoSocial: práticas em debate, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa universitária, 2008, p.27-37. FREY, Klaus. Análise de políticas públicas: algumas reflexões conceituais e suas implicações para a situação brasileira. Cadernos de Pesquisa PPGSP, UFSC, Florianópolis, 18, set. pp.1-36, 1999. Disponível em <http://www.sociologia.ufsc.br/cadernos/Cadernos%20PPGSP%2018.pdf>. Acesso em 05 de jun. 2011. __________. Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da análise de políticas públicas no Brasil. In: Planejamento e políticas públicas. n. 21, jun. 2000a. __________. Descentralização: lições atuais de Tocqueville. Lua Nova: Revista de Cultura e Política. São Paulo, n. 51, pp. 97-118, 2000b. FUCHS, Andréa Márcia S. Lohmeyer. Telhado de Vidro: as intermitências do atendimento socioeducativo no Brasil. 2009. Tese (Doutorado em Política Social) – Universidade de Brasília, Departamento de Serviço Social, Brasília. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Lei Hobin Hood: pesquisa por critério ICMS Turístico. Disponível em <http://www.fjp.mg.gov.br/robin-hood/index.php/transferencias/index.php?option=com_jumi&fileid=15>. Acesso em 16 de ago. de 2011. ________________________. O Histórico da Lei Robin Hood. Disponível em <http://www.fjp.mg.gov.br/robin-hood/index.php/leirobinhood/historico>. Acesso em 17 de set. de 2011. GEIGER, Pedro Pinchas. Turismo e espacialidade. IN: RODRIGUES, Adyr A. B. (org.). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 3. ed. São Paulo: Hicitec, 2001. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002. GOHN, Maria da Glória (org.). Movimentos sociais no início do século XXI: antigos e novos atores sociais. Petrópolis: Vozes, 2003. __________________. Movimentos sociais, políticas públicas e educação. IN: ALMEIDA, Maria de Lourdes Pinto de; JEZINE, Edineide (org). Educação e movimentos sociais: novos olhares. Campinas: Alínea, 2007, pp.33-54. GONÇALVES, Carlos Alberto; MEIRELLES, Anthero de Moraes. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. Belo Horizonte, 2002.

Page 272: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

GUIMARAES, Juarez Rocha. Culturas brasileiras da participação democrática. In: AVRITZER, Leonardo (org.). Experiências nacionais de participação social. São Paulo: Cortez, 2009, pp. 13-26. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. IDESTUR – Instituto de desenvolvimento do turismo rural. Turismo equestre no Brasil: uma atividade que exige profissionalismo turístico, e principalmente: “responsabilidade pela vida”. Disponível em <http://www.idestur.org.br/navegacao.asp?id_menu=2&id_conteudo_exibir=45>. Acesso em 26 de set. de 2011. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Estado, instituições e democracia: democracia. Brasília: Ipea, 2010, v. 2. JAPIASSU, Hilton. O mito da Neutralidade Cientifica. Rio de Janeiro: Imago, 1981. JUNQUEIRA, Luciano Antônio Prates P., Novas formas de gestão na saúde: Descentralização e intersetorialidade. Saúde e Sociedade,1997, n.6:31-46. JUNQUEIRA, Luciano Antônio Prates; INOJOSA, Rose Marie; KOMATSU, Suely. Descentralização e intersetorialidade na gestão pública municipal no Brasil: A experiência de Fortaleza. In: XI Concurso de Ensayos Del CLAD “Él tránsito de La cultura burocrática al modelo de La gerencia pública: perspectivas, posibilidades y limitaciones”. Caracas, 1997. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e método. Trad. Daniel Grassi. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. KAUCHAKJE, Samira. Movimentos sociais no século XXI: matriz pedagógica da participação sociopolítica. IN: ALMEIDA, Maria de Lourdes Pinto de; JEZINE, Edineide (org). Educação e movimentos sociais: novos olhares. Campinas: Alínea, 2007, pp.75-92. KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. Trad. Contexto Traduções. 3. ed. Revisada. São Paulo: Aleph, 2003. LACERDA, Willian Almeida de; SANTIAGO, Idalina Maria Freitas Lima. A participação popular na gestão local do programa Saúde da Família em Campina Grande, Paraíba. In: Rev. Katál. Florianópolis, v.10, n.2, PP.197-205, jul/dez 2007. LEITE, Cristiane Kerches da Silva. Descentralização das políticas sociais no Brasil: o lugar dos estados no processo de municipalização. Revista Política Hoje. Pernambuco, v. 18, n. 2, 2009, pp.306-341. LOBO, Thereza. Descentralização: conceitos, princípios, prática governamental. In: Cadernos de pesquisa. São Paulo, v. 74, pp.5-10, agosto de 1990

Page 273: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

LOCH, Carlos; WALKOWSKI, Marinês da Conceição. O processo participativo no planejamento turístico do espaço rural de Alfredo Wagner/SC.In: Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 3, n. 1, p. 46-67, abril 2009. Disponível em <http://www.revistas.univerciencia.org/turismo/index.php/rbtur/article/viewFile/132/165>. Acesso em 01 de ago. de 2011. MAIA, Marilene. Gestão estratégica: há algum modelo específico para as organizações sociais? In: Conferência Internacional de Gestão Social. Mesa Redonda IX. 2004. Disponível em <www.sesirs.org.br/conferencia/conferencia2005/anais/.../marilene_maia.doc>. Acesso em 05 de jul. de 2011. ____________. Gestão social: reconhecendo e construindo referenciais. Revista Virtual Textos & Contextos, n.4, ano IV, dez.2005. MALHOTRA. Naresh K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Trad. Nivaldo Montingelli Jr. e Alfredo Alves de Farias. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MAMEDE, Gladston. Direito do turismo: legislação específica aplicada. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2004. MARTINS, Paulo Henrique. Ação pública local e desafios de uma cidadania solidária. Disponível em <http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=396&Itemid=216>. Acesso em: 13 de dez. 2009. MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 35 ed. Atualizado por Eurico de Andrade Azevedo, Délcio Balestero Aleixo, José Emanuel Burle Filho. São Paulo: Malheiros Editores, 2009. MELO, Marcus André. Crise federativa, guerra fiscal e “hosbbesianismo municipal”: efeitos perversos da descentralização? Revista São Paulo em Perspectiva. São Paulo, v. 10, n. 3, pp.11-20, jul-set. 1996. MIELKE, Eduardo Jorge Costa. Desenvolvimento turístico de base comunitária. Campinas: Alínea, 2010. MINAYO, Maria Cecília de S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11 a ed. São Paulo, HUCITEC, 2008. MINAS GERAIS. Lei 13173 de 20 de janeiro de 1999. Belo Horizonte, 1999. _____________. Decreto-lei 43321 de 08 de maio de 2003. Belo Horizonte, 2003.

Page 274: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

_____________. SETUR. Resolução SETUR 008 de 28 de abril de 2008. Belo Horizonte, 2008. _____________. Lei 18030 de 21 de janeiro de 2009. Belo Horizonte, 2009. _____________. Decreto-lei 45403 de 18 de junho de 2010. Belo Horizonte, 2010. MINISTÉRIO DO TURISMO. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil: Ação Municipal para a Regionalização do Turismo. Brasília, 2007. MOLINA, Sérgio. Planejamento integral do turismo: um enfoque para a América Latina. Trad. Carlos Valero. Bauru: Edusc, 2001. _____________. Turismo: metodologia e planejamento. Bauru: Edusc, 2005. MOLINA, Sérgio; RODRÍGUEZ, Sérgio. Turismo: planejamento integral. São Paulo; EDUSC, 2001. MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social: critica ao padrão emergente de intervenção social. 4ed. São Paulo. Cortez, 2007. MONTEIRO, Luís. A internet como meio de comunicação: possibilidades e limitações. Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM). XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação, Campo Grande/MS, set. 2001. MONTEJANO, Jordi Montaner. Psicosociología del turismo. Pie de Imprenta: España. Madrid. 1996. MORAES, Alexandre de. Reforma Administrativa: Emenda Constitucional nº 19/98. 3. ed., São Paulo : Atlas, 1999. NEDER, Ricardo Toledo. Políticas distributivas e legitimidade política. Análise & Conjuntura, vol. 3, nº 2, mai/ago. Belo Horizonte, 1988. NEDER, Ricardo Toledo. As ONGs na reconstrução da sociedade civil no Brasil. In: Seminário Inter-nacional Sociedade e a Reforma do Estado. São Paulo, 1998. pp. 1-8. NEVES, Ângela Vieira. Espaços públicos e práticas políticas: os riscos de despolitização da participação da sociedade civil. In: DAGNINO, Evelina; TATAGIBA, Luciana (org). Democracia, sociedade civil e participação. Chapecó: Argos, 2007, pp.395-420. NICOLAS, Daniel Hiernaux. Elementos para un análisis sociogeorgráfico del turismo. IN: RODRIGUES, Adyr A. B. (org.). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 3. ed. São Paulo: Hicitec, 2001. NOGUEIRA, Marco Aurélio. Um estado para a sociedade civil: temas éticos e políticos da gestão democrática. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2005.

Page 275: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

OLIVEIRA, Anelize Martins de. Planejamento participativo como instrumento de desenvolvimento turístico responsável. In: Caderno Virtual De Turismo. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, v.8, n. 3, 2008, pp. 22-28. Disponível em < http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/1154/115415172002.pdf>. Acesso em 01 de ago. de 2011. OLIVEIRA, Maria Marly de. Metodologia Interativa: um processo hermenêutico dialético. In: INTERFACES BRASIL/CANADÁ. Porto Alegre, v1, n.1, 2001, pp. 67-78. Disponível em < http://www.revistabecan.com.br/arquivos/1178668221.pdf>. Acesso em 08 de dez. de 2010. PAIVA, Jane. Onde a luta ensina: olhos de aprendiz no movimento social. In: Teias. Políticas públicas, movimentos sociais e educação. Revista. Faculdade de Educação / UERJ. Rio de Janeiro, ano 3, n.6, jul./dez. 2002, pp.9-19 PAIVA, Maria das Graças de Menezes V. Sociologia do Turismo. Campinas: Papirus, 1995. PAULA, Ana Paula Paes de. Administração pública brasileira: entre o gerencialismo e a gestão social. In: RAE. RAE Debate. São Paulo: RAE, jan/mar, 2005, vol. 45, n. 1, pp.36-49. PEREIRA, Potyara A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania. In: BOSCHETTI, Ivanete; BHEHRING, Rosseti; SANTOS, Silvana Mara de Morais dos; MIOTO, Regina Célia Tamaso (org). Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2008, pp.87-108. PEREIRA, Potyara A. Política social: temas e debates. São Paulo: Cortez, 2008 (a). PETROCCHI, Mário. Gestão de pólos turísticos. São Paulo: Futura, 2001. PINTO, Vanessa Daniela Silva. O exercício do direito de participar para democratizar a gestão pública municipal. Ser Social. Brasília, 2004, n. 15, jul/dez, pp.57-84. PIRES, Alexandre Kalil. Participação social em organizações públicas. In: CARDOSO JÚNIOR, José Celso; PIRES, Roberto Rocha C. (org). Gestão pública e desenvolvimento. Brasília: Ipea, 2011, v. 6 (Diálogos para o desenvolvimento), pp. 57-66. RIBEIRO, Ricardo; GUEDES, Taís Justo Caniato. Descentralização: limites e possibilidades. In: YANNOULAS, Silvia C. Controle democrático, descentralização e reforma do Estado. Brasília: FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, 2000. ROCHA, Janne Alves; SANTOS, Margarida Maria Silva dos. Gestão social: novos requerimentos à formação de gestores de políticas sociais no Brasil. 2010

Page 276: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

RODRIGUES, Adyr Balastreri (org.). Turismo e desenvolvimento local. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 1999. RODRIGUES, Adyr A. B. Desafios para os estudiosos do turismo. IN: RODRIGUES, Adyr A. B. (org.). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 3. ed. São Paulo: Hicitec, 2001. RONCARATTI, Luanna Sant´Anna. Políticas Públicas. In: RONCARATTI, Luanna Sant´Anna; FONTENELLE, Alessandro. MPOG - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: políticas públicas e gestão governamental. Brasília: VESTCON, 2008. ROVER, Oscar José; BIRKNER, Walter Marcos Knaesel; MUSSOI, Eros Marion. Gestão do desenvolvimento local/regional: descentralização, governança e redes de poder. In: REVISTA GRIFOS NOSSOS. Revista Grifos Nossos. 2008, pp. 75-91. Disponível em <http://apps.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/grifos/article/viewArticle/245>. Acesso em 29 de dez. 2010. RUA, Maria das Graças. Política Pública e Políticas Públicas no Brasil: conceitos básicos e achados empíricos. In: O Estudo da Política: tópicos selecionados. Brasília: Paralelo, n. 15, 1998. RUA, Maria das Graças. Análise de Políticas Públicas: conceitos básicos. Disponível em <http://vsites.unb.br/ceam/webceam/nucleos/omni/observa/downloads/pol_publicas.PDF>. Acesso em 28 de mai. de 2011. RUSCHMANN, Dóris van de Meene. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas, São Paulo: Papirus, 2001. SAINT-SERNIN, Bertrand. A razão no século XX. Trad. Mário Pontes. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília, EdUnB, 1998. SANTAELLA, Lúcia. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo: Hacker Editores, 2001. SANTOS, Boaventura Souza. Orçamento participativo em Porto Alegre: para uma democracia redistributiva. In: SANTOS, Boaventura Souza (org.). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pp. 455-562. SARAIVA, Enrique. Introdução à teoria da política pública. In: SARAIVA, Enrique; FERRAREZI, Elisabete. Políticas Públicas: coletânea. Brasília: ENAP, 2006, v.1. SCATENA, João Henrique Gurtier; TANAKA, Oswaldo Yoshimi. Os instrumentos normalizadores (NOB) no processo de descentralização da saúde. Saúde e Sociedade (online). 2001, vol.10, n.2, pp. 47-74. Disponível em:

Page 277: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-12902001000200005&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em 23 de abr. de 2011. SECRETARIA DE ESTADO DE TURISMO DE MINAS GERAIS – SETUR. ICMS Turístico. Disponível em <http://www.turismo.mg.gov.br/icms-turistico>. Acesso em 16 de ago. de 2011. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. SINGER, Paul. Alternativas da gestão social diante da crise do trabalho. In: RICO, Elizabeth de Melo; RAICHELIS, Raquel (orgs.). Gestão social: uma questão em debate. São Paulo: EDUC; IEE, 1999, p. 55-68. SILVA, Pedro Luiz Barros; MELO, Marcus André Barreto. O processo de implementação de políticas públicas no Brasil: características e determinantes da avaliação de programas e projetos. Campinas: Núcleo de Estudos de Políticas Públicas - Universidade Estadual de Campinas, 2000. (Caderno n. 48). SILVA JÚNIOR, Jeová Torres et al. (orgs.) GestãoSocial: práticas em debate, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa universitária, 2008. SOUZA, Celina. “Estado do campo” da pesquisa em políticas públicas no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 2003, v.18, n. 51, pp.15-20. SOUZA, Celina. Federalismo e Descentralização na Constituição de 1988: Processo Decisório, Conflitos e Alianças. DADOS - Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 44, n. 3, 2001, pp. 513 a 560. _____________. Políticas públicas: uma revisão de literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45. SOUZA, Celina; CARVALHO, Inaiá M. M. de. Reforma do Estado, descentralização e desigualdades. Lua Nova. São Paulo: CEDEC, Dez 1999, n.48, p.187-212. SOUZA, Manuel Tibério Alves de. Argumentos em torno de um “velho” tema: a descentralização. Dados. Rio de Janeiro, v. 40, n. 3, 1997. SOUZA, Marcelo José Lopes de. Como pode o turismo contribuir para o desenvolvimento local? IN: RODRIGUES, Adyr Balastreri (org.). Turismo e desenvolvimento local. 2. Ed. São Paulo: Hucitec, 1999, pp.17-22. SOUZA, Rosimary Gonçalvez de Souza; MONNERAT, Giselle Lavinas; SENNA, Mônica de Castro Maia. Tendências atuais da descentralização e o desafio da democratização na gestão da saúde. IN: BRAVO, Maria Inês Souza; PEREIRA, Potyara A. P. (prg.). Política Social e democracia. 3. ed. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2007.

Page 278: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

SUBIRATS, Joan. El papel de la burocracia en el proceso de determinación e implementación de las políticas publicas. In: SARAIVA, Enrique; FERRAREZI, Elisabete (org.). Políticas públicas: coletânea. Brasília: ENAP, 2006, 2. V. TEIXEIRA, Elenaldo Celso. O papel das Políticas Públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade. Cadernos da AATR –BA (Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia), Bahia, p. 1-11, 2002. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/aatr2/a_pdf/03_aatr_pp_papel. pdf>. Acesso em: 05 jun. 2011. TENÓRIO, Fernando G. Gestão social: uma perspectiva conceitual. In: RAP, Rio de Janeiro: FGV, v. 32, n. 5, p. 7-23, set./out. 1998. __________________. (Re)Visitando o conceito de gestão social. In: SILVA JR., Jeová Torres et al. (orgs.) GestãoSocial: práticas em debate, teorias em construção. Fortaleza: Imprensa universitária, 2008, p.39-59. TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael van. Avaliação de políticas públicas: uma revisão teórica de um campo em construção. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, n. 42(3), mai./jun. 2008, pp. 529-550. TRIGO, Luiz Gonzaga. Sociedade pós-industrial e o profissional em turismo. Campinas: Papirus, 1998. TOBAR, Frederico. O conceito de descentralização: usos e abusos. Planejamento e políticas públicas. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, n. 5, pp. 31-51, 1991. WAICHMAN, Pablo. Tempo livre e recreação: um desafio pedagógico. Trad. Jorge Peres Gallardo. Campinas, SP: Paipirus, 1997. WAINBERG, Jacques. Cidades como sites de excitação turística. IN: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos (org.). Turismo Urbano. São Paulo: Contexto, 2000. WANDERLEY, Luis Eduardo; RAICHELIS,Raquel. A cidade de São Paulo: relações internacionais e gestão pública. São Paulo: EDUC, 2009.

Page 279: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

APÊNDICE

Apêndice 1 – Questionário

1. Há o envio de ofícios e/ou convites para as reuniões com antecedência por parte da gestão do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes? ( ) Sempre envia com antecedência ( ) Envia com alguns dias de antecedência ( ) Envia no dia anterior ( ) Não envia 2. Os ofícios e/ou convite são disponibilizados eletronicamente no site do Circuito Turístico? ( ) Sim ( ) Não 3. O Circuito Turístico procura proceder a redação e disponibilização de documentos como estatuto, regimento, atas e outros instrumentos para a gestão do turismo regional? ( ) Sim ( ) Não 4. Como você avalia a ação do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes:

Ótima

Muito Boa

Boa Regular Ruim

Aumenta o diálogo entre os municípios participantes

Estimula a participação nas assembléias

Permite maior controle dos participantes nas ações em prol do turismo regional

Facilita o planejamento do turismo

Promove (promoveu) o aumento de acesso a recursos financeiros públicos

Promove a formação e capacitação dos participantes das reuniões em prol do desenvolvimento da ação turística

Comentários adicionais opcional:

Page 280: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Instituto de educação … do Turismo de Minas Gerais have favored the process of social participation ... Fundo Geral do Turismo GESTUR 2010 – Fórum

5. Como você avalia a sua participação no Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes:

Ótima

Muito Boa

Boa Regular Ruim

Participa com interesse das reuniões e assembléias

Conversa e troca informações, idéias e sugestões com outros municípios que participam das reuniões

Se interessa pelas ações dos gestores do Circuito Turístico

Segue as orientações e diretrizes estabelecidas pelo Circuito Turístico em prol da região

Comentários adicionais: 6. As reuniões são realizadas em cidades distintas da sede do Circuito Turístico? ( ) Sim ( ) Não 7. O Circuito Turístico promove a sensibilização da comunidade receptora da reunião, através de seus atores principais, com antecedência? ( ) Sim ( ) Não 8. Quais seriam as deficiências e desvantagens de se discutir regionalmente o turismo a partir das reuniões e assembléias do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes? 9. Que sugestões poderiam ser dadas aos gestores do Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes a fim de melhorar a gestão e a participação dos municípios nas reuniões e assembléias?