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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE Preparação e caracterização de compósitos a base de Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) e amido de milho (AM) Dermeval Teodoro Junior Rio de Janeiro 2012

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE

Preparação e caracterização de compósitos a base de

Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) e amido de milho

(AM)

Dermeval Teodoro Junior

Rio de Janeiro

2012

DERMEVAL TEODORO JUNIOR

Aluno do Curso Superior de Tecnologia em Polímeros

Matrícula: 0623800092

Preparação e caracterização de compósitos a base de

Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) e amido de milho

(AM)

Dermeval Teodoro Junior

Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, apresentado

ao Curso de Graduação em Polímeros, do UEZO

como parte dos requisitos para a obtenção do grau de

Tecnólogo em Polímeros, sob a orientação da Profa

Luciana Portal da Silva e coorientação do pesquisador

Márcio da Silva Coutinho.

Rio de Janeiro

DEZEMBRO DE 2012

ii

iii

Dedico este trabalho a minha esposa e

filhos, meus familiares, amigos e a todos os

professores e colaboradores que me

apoiaram na jornada de graduação.

iv

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora e professora Luciana Portal da Silva, por sua

dedicação, apoio e incentivo na realização deste trabalho.

Ao coorientador e pesquisador Márcio da Silva Coutinho, pela atenção

dispensada e em especial nas analises reológicas.

Ao professor Ricardo de Freitas Cabral pelo apoio na realização deste

trabalho.

A Embrapa Agroindústria de Alimentos, na figura do pesquisador Carlos

Wanderley Piler de Carvalho, pela colaboração no desenvolvimento

deste trabalho.

A Técnica Mônica Cristina Vieira e a Laboratorista Cristiane Rocha

Vieira, pela ajuda no laboratório.

Aos meus pais Dermeval Teodoro e Cilene Reis Teodoro e minha irmã

Márcia Maria Teodoro Fontoura, por sempre estarem comigo.

Aos meus filhos Samuel Alvarenga Teodoro e Ester Alvarenga Teodoro,

pelo carinho e sorrisos motivadores nesta jornada.

A minha querida e amada esposa Ana Claudia Alvarenga Teodoro, pela

paciência, cuidado, motivação e encorajamento nos momentos em que

pensei em desistir.

A Deus, “Senhor que fez o céu e a terra.” (Salmos 112.2)

v

Resumo

A busca por materiais compósitos visa o melhoramento de materiais e a

redução do uso de fontes não renováveis. Este trabalho objetiva preparar e

caracterizar compósitos a base de Polietileno de Baixa Densidade (PEBD) com

diferentes teores de amido de milho (AM), (0, 1, 10 e 30% em peso), utilizando-

se o processamento por extrusão. Analisou-se o teor de AM na matriz de

PEBD, realizando-se a avalição das propriedades morfológicas, térmicas e

reológicas, além da observação visual dos materiais. O AM foi seco por 24 h,

misturado ao PEBD e processados em extrusora monorosca com matriz de

filmes tubulares (0, 1, e 10% em peso de AM) e matriz plana (30% em peso de

AM). Os resultados de caracterização visual mostraram que os filmes variaram

de transparente a opaco e de homogêneo a heterogêneo, de acordo com o

aumento no teor de AM na matriz de PEBD. A avaliação de análise térmica

mostrou um aumento sutil da Tm (Temperatura de fusão cristalina) até 10% em

peso de AM e um aumento bastante significativo (12ºC), na Tm do compósito

com 30% em peso de AM. Da mesma forma a temperatura de degradação

térmica do compósito aumentou consideravelmente a partir de 10% em peso

de AM, sugerindo que a adição de AM promoveu uma estabilidade térmica ao

compósito A densidade mostrou um sutil aumento com o teor de AM. A fluidez

do compósito variou consideravelmente, reduzindo-se com o aumento do teor

de AM, aumentando-se assim a viscosidade do sistema. A reologia mostrou

que todas as composições apresentaram um comportamento não newtoniano e

que a presença de AM afetou o comportamento viscoelástico das amostras.

Palavras-chave: PEBD, amido,compósitos, reologia.

vi

Abstract

The search for composite materials, aims at the improvement of materials

and reducing the usage of non-renewable sources. This study aims to prepare

and characterize composites based on Low Density Polyethylene (LDPE) with

corn starch (CS), (0, 1, 10 and 30% by weight), using extrusion processing.

Examined if the level of AM in the matrix of LDPE, performing This evaluation of

the morphological properties, thermal and rheological properties, and visual

observation of materials. The AM was dried for 24 hours, mixed with LDPE

single screw extruder and processed into films tubular matrix (0, 1, and 10 wt%

CS) and planar array (30 wt% CS). The results of visual characterization

showed that the films varied from transparent to opaque and homogeneous to

heterogeneous in accordance with the increase in the concentration of CS in

the matrix of LDPE. The evaluation of the thermal analysis shows a slight

increase in Tm (Glass transition temperature) up to 10 wt% CS and a very

significant increase (12 ° C), the Tm of the composite 30 wt% CS. Likewise, the

thermal degradation of the composite increased significantly from 10 wt% CS,

suggesting that the addition of CS promoted thermal stability to the composite

density showed a subtle increase in the content of CS. The fluidity of the

composite varied considerably reduced with the increase of the content of CS,

thus increasing the viscosity of the system. The rheology showed that all

compositions had a non-Newtonian behavior, and the presence of CS affect the

viscoelastic behavior of the samples.

Keywords: LDPE, starch, composites, rheology.

vii

“As grandes ideias surgem da observação de pequenos detalhes”

Augusto Cury

viii

SUMÁRIO

Resumo.............................................................................................................. v

Abstract............................................................................................................. vi

Lista de Figuras.................................................................................................. xi

Lista de Tabelas .............................................................................................. xiii

Lista de Siglas e Abreviaturas ......................................................................... xiv

Lista de Trabalhos realizados com este Estudo .............................................. xv

1. Introdução ...................................................................................................... 1

1.1. Objetivo Geral ......................................................................................... 3

1.2. Objetivos Específicos ............................................................................. 3

1.3. Justificativa ............................................................................................. 3

2. Revisão Bibliográfica ..................................................................................... 4

2.1. O Amido .................................................................................................. 4

2.1.1. Propriedades do amido ................................................................... 5

2.1.1.1. Gelatinização ........................................................................... 5

2.1.1.2. Fusão ....................................................................................... 6

2.1.1.3. Gelificação ............................................................................... 6

2.1.1.4. Retrogradação ......................................................................... 7

2.1.2. O processamento do amido ............................................................ 7

2.1.3. Outros aspectos do amido ............................................................... 8

2.1.3.1. Filmes de amido encontrados no mercado nacional .............. 10

2.1.3.2. O amido no cenário mundial .................................................. 10

2.1.3.3. O cultivo do milho no Brasil .................................................... 11

2.2. O Polietileno ......................................................................................... 12

2.2.1. O processamento do PEBD .......................................................... 14

2.2.2. Os tipos de polietileno ................................................................... 17

2.2.2.1. Algumas propriedades do PEBD................................................ 18

2.2.3 O processamento do PEBD............................................................ 19

2.2.4. O PEBD no cenário mundial .......................................................... 19

2.2.5. O PEBD no cenário brasileiro ........................................................ 19

2.2.5.1. O consumo de PEBD no cenário brasileiro ................................ 20

2.2.6. Aplicações do PEBD ..................................................................... 22

2.3. Os compósitos ...................................................................................... 24

ix

2.4. O Processamento por extrusão ............................................................ 25

2.4.1. Extrusão de filmes planos ............................................................. 25

2.4.2. Extrusão de filmes tubulares ......................................................... 25

2.5. Caracterização ...................................................................................... 26

2.5.1. Caracterização Física .................................................................... 26

2.5.1.1. Caracterização Visual ............................................................ 26

2.5.2. Caracterização Fisicomecânica ..................................................... 26

2.5.2.1. Ensaio de Densidade ............................................................. 26

2.5.2.2. Ensaio de Dureza ................................................................... 27

2.5.2.3. Determinação do Índice de Fluidez ....................................... 27

2.5.3. Caracterização Morfológica ........................................................... 28

2.5.3.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .......................... 28

2.5.4. Caracterização Térmica ................................................................ 29

2.5.4.1. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) ......................... 29

2.5.5. Caracterização Reológica ............................................................. 31

2.5.5.1. O ensaio de Reológico ........................................................... 31

2.5.5.2. O ensaio de Varredura de Amplitude e Frequência ............... 32

2.5.5.3. O ensaio de Fluência e Recuperação .................................... 32

3. Metodologia ................................................................................................. 33

3.1. Materiais ............................................................................................... 33

3.2. Equipamentos ....................................................................................... 34

3.3. Métodos ................................................................................................ 34

3.3.1. Preparação das amostras para extrusão ...................................... 37

3.3.2. Processamento por extrusão do PEBD/AM .................................. 38

3.3.2.1. Extrusão de filmes tubulares .................................................. 38

3.3.2.2. Extrusão de filmes planos ...................................................... 40

3.3.3. Caracterizações realizadas no PEBD e nas misturas (PEBD/AM) 42

3.3.3.1. Caracterização Visual ............................................................ 42

3.3.3.2. Ensaio de Densidade ............................................................. 42

3.3.3.3. Ensaio de Dureza ................................................................... 43

3.3.3.4. Determinação do Índice de Fluidez ........................................ 44

3.3.3.5. Caracterização Morfológica ................................................... 45

3.3.3.6. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) ......................... 46

3.3.3.7. Caracterização Reológica ...................................................... 46

x

3.3.3.7.1. Ensaio de Varredura de Amplitude e Frequência ........... 46

3.3.3.7.2. Ensaio de Fluência e Recuperação ................................ 47

4. Resultado e Discussão ................................................................................ 49

4.1. Caracterização Visual ........................................................................... 49

4.2. Caracterização físico-mecânica ............................................................ 51

4.2.1. Análise de Densidade ...................................................................... 51

4.2.2. Análise de Dureza ........................................................................... 51

4.2.3. Análise do Índice de Fluidez ............................................................ 52

4.3. Caracterização Morfológica .................................................................. 52

4.3.1. Análise da Morfologia (MEV) ......................................................... 52

4.4. Caracterização Térmica ........................................................................ 54

4.4.1. Análise Térmica ............................................................................. 54

4.5. Caracterização Reológica ..................................................................... 55

4.5.1. Análise Reológica (Varredura de Amplitude e Frequência) .......... 55

4.5.2. Análise Reológica (Fluência e Recuperação) ............................... 57

5. Conclusão .................................................................................................... 58

6. Sugestões para trabalhos futuros ................................................................ 59

7. Referências Bibliográficas ........................................................................... 60

xi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1. Segmentação do mercado de polímeros no Brasil ............................. 2

Figura 2.1. Estrutura de amilose (a) e amilopectina (b) componentes do amido .. 4

Figura 2.2. Estimativa de evolução de produção e demanda de amido, por grande

regiões e nos principais mercados mundiais ...................................................... 11

Figura 2.3. Representação da estrutura de PEBD .............................................. 13

Figura 2.4. Mecanismo de polimerização via radical livre, por transferência de

cadeia ................................................................................................................... 15

Figura 2.5. Mecanismo de polimerização via radical livre, por transferência de

cadeia ................................................................................................................... 16

Figura 2.6. Representação esquemática da estrutura de PEBD ........................ 17

Figura 2.7. Evolução da estrutura do polietileno ................................................. 17

Figura 2.8. Participação de cada material na produção física ............................ 21

Figura 2.9. Empregos formais na Indústria de Embalagem, por material .......... 21

Figura 2.10. Segmentação do mercado de transformados plásticos por processo

de produção ......................................................................................................... 22

Figura 2.11. Composição média relativa dos plásticos no lixo urbano ............... 22

Figura 2.12. Segmentação do mercado por tipo de resina ................................. 23

Figura 3.1. Foto dos pelets de PEBD .................................................................. 31

Figura 3.2. Foto do (AM) ..................................................................................... 31

Figura 3.3. Diagrama de blocos .......................................................................... 35

Figura 3.4. Foto dos materiais previamente misturados manualmente .............. 37

Figura 3.5. Foto da rosca da extrusora de filmes tubulares sem elemento de

mistura ................................................................................................................. 38

Figura 3.6. Etapas do processamento de filmes tubulares ................................. 39

Figura 3.7. Foto da rosca da extrusora de filmes planos com um elemento de

mistura ................................................................................................................. 40

xii

Figura 3.8. Etapas do processamento de filmes planos ..................................... 41

Figura 3.9. Foto do Medidor de densidade digital ............................................... 43

Figura 3.10. Foto do Durômetro Shore D ............................................................ 44

Figura 3.11. Foto do Medidor de Índice de Fluidez ............................................. 45

Figura 3.12. Foto do Microscópio eletrônico de varredura .................................. 45

Figura 3.13. Foto do Calorímetro diferencial de varredura (DSC) ...................... 46

Figura 3.14. Foto do Reômetro ........................................................................... 47

Figura 3.15. Foto dos corpos de prova (Cp) ....................................................... 48

Figura 4.1. Foto dos filmes obtidos após processamento ................................... 49

Figura 4.2. Micrografia da superfície dos filmes obtidos após processamento ... 53

Figura 4.3. Viscosidade Complexa em função da Frequência Angular .............. 56

Figura 4.4. Ângulo de Perda em função do Teor de amido ................................ 56

xiii

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Propriedades, formulação inicial e final de termoplásticos à base de

amido de trigo com diferentes níveis de plastificação ....................................... 9

Tabela 2.2. Propriedades Físicas do PEBD..................................................... 18

Tabela 2.3. Faturamento da Industria de Embalagens no Brasil (bilhões de

reais) ................................................................................................................ 20

Tabela 3.1. Quantidade de AM e PEBD para secagem .................................. 37

Tabela 3.2. Parâmetros do processamento por extrusão dos filmes tubular .. 40

Tabela 3.3. Parâmetros do processamento por extrusão do filme plano ........ 42

Tabela 3.4. Resumo de todos os processamentos realizados ........................ 42

Tabela 4.1. Resultado da avaliação visual dos filmes obtidos no processamento

.......................................................................................................................... 50

Tabela 4.2. Resultado da análise de densidade dos filmes ............................ 51

Tabela 4.3. Resultado da análise de dureza dos filmes .................................. 51

Tabela 4.4. Resultado da análise do índice de Fluidez dos filmes .................. 52

Tabela 4.5. Resultado da análise do (DSC) .................................................... 54

Tabela 4.6. Resultado da Fluência e Recuperação ........................................ 57

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AM Amido de milho

Cp Corpo de prova

DTA Análise térmica diferencial

DSC Calorimetria Exploratória Diferencial

IF Índice de Fluidez

MFI Medida do Índice de Fluidez

MEV Microscopia Eletrônica de Varredura

PC Poli-carbonato

PCL Poli-caprolactona

PE Polietileno

PEAD Polietileno de alta densidade

PEBD Polietileno de baixa densidade

PELBD Polietileno linear de baixa densidade

PEUAPM Polietileno de ultra alto peso molecular

PEUBD Polietileno de ultra baixa densidade

PET Poli-Tereftalato de Etileno

PIB Produto Interno Bruto

PMMA Poli-metacrilato de metila

PTFE Poli-tetrafluor de Etileno

PVC Poli-cloreto de Vinila

RVL Região de viscoelasticidade linear

Tg Temperatura de transição vítrea

Tm Temperatura de fusão cristalina

G’ Módulo de armazenagem (em função da amplitude de tensão)

G” Módulo de perda (em função da amplitude de tensão)

ω Frequência angular

δ Ângulo de fase

ESTE ESTUDO DEU ORIGEM AOS SEGUINTES TRABALHOS CIENTÍFICOS

Em 2012:

Dermeval Teodoro Jr. ;COUTINHO, M. S.; CABRAL, R.F. ; SILVA, L. P.

Influence of Processing Conditions on Morphological, Thermal and Rheological

Properties of Gelatinized Starch and Low Density Polyethylene Blends. In: XX

Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 2012, Joinville.

Anais do XX Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 2012.

COUTINHO, M. S.; CABRAL, R.F. ; Dermeval Teodoro Jr. ; SILVA, L. P. Efeito

da Adição de Amido de Milho nas Propriedades de Fluxo e Processabilidade de

Polietileno de Baixa Densidade. In: VII Encontro Técnico de Materiais e Química,

2012, Rio de Janeiro. Livro de Resumos VII Encontro Técnico de Materiais e

Química, 2012.

COUTINHO, M. S.; SILVA, L. P. ; Ana Carla Lima Fonseca Coutinho ; CABRAL,

R.F. ; Dermeval Teodoro Jr. . Evaluation from Morphological and Rheological

Properties of Low Density Polyethylene and Corn Starch Blends. In: XXXV

Encontro Nacional de Física da Matéria Condensada, 2012, Águas de Lindóia.

Programa Científico. São Paulo: Gráfica Paym, 2012. v. I. p. 41-41.

COUTINHO, M. S.; SILVA, L. P. ; CABRAL, R.F. ; Dermeval Teodoro Jr. . Estudo

das Propriedades Térmicas e Reológicas de Misturas de Polietileno de Baixa

Densidade e Amido de Milho. In: XIX Congresso Brasileiro de Engenharia

Química, 2012, Búzios - RJ. Livro de Resumos XIX COBEQ, 2012.

Dermeval Teodoro Jr. ;COUTINHO, M. S.; Carlos Wanderlei Piler de Carvalho ; CABRAL, R.F. ; SILVA, L. P. Estudo Reológico de Compósitos de Polietileno de Baixa Densidade/Amido de Milho Ecologicamente Corretos Processados em Extrusora Monorosca. In: V Jornada de Ciência e Tecnologia da UEZO, 2012, Rio de Janeiro. Anais V JCT UEZO, 2012.

1

1. INTRODUÇÃO

A busca por materiais compósitos visa o melhoramento de materiais e a

redução do uso de fontes não renováveis. Hoje em dia as indústrias têm

desenvolvido um interesse especial pelos polímeros que não agridem o meio

ambiente, e apresentem boas propriedades reológicas e mecânicas

(SCOTT,1995).

Esta procura real tem levado investigadores em todo o mundo, a pesquisar

polímeros com características biodegradáveis, não tóxicos e passíveis de

reciclagem, preferencialmente, provenientes de recursos renováveis e de baixo

custo, a fim de assegurar o desenvolvimento sustentável (SCOTT,1995). Neste

contexto, o amido apresenta-se então como um material muito interessante, pois

é de baixo custo, encontrado em abundância na natureza, sob a forma de

grânulos, basicamente, composto por dois tipos diferentes de moléculas de

polissacarídeos: amilose (linear) e amilopectina (ramificada) (BLANSHARD, 1987

apud COUTINHO, 2011). Embora estes grânulos inchem quando absorvem a

água através de ligações de hidrogênio estabelecidas com os seus grupamentos

hidroxila livres, eles são ainda capazes de manter alguma ordem e cristalinidade,

no entanto, o aquecimento destes grânulos de amido inchados conduz a um efeito

que perturba as ligações de hidrogênio entre as unidades de glicose adjacentes,

ocorrendo assim o processo conhecido como, processo de gelatinização do

amido (BLANSHARD, 1987 apud COUTINHO, 2011).

Misturas de amido com polímeros sintéticos têm sido extensivamente

estudadas, tendo como objetivo a melhora das propriedades físicas e mecânicas

do amido, conduzindo também a redução do custo, do produto final (COUTINHO,

2011).

O polietileno de baixa densidade (PEBD) é um polímero obtido por

mecanismo via radical livre, ramificado e de baixa cristalinidade. Possui

densidade que varia entre 0,92 a 0,94 g/cm3, temperatura de transição vítrea (Tg):

-20° C; temperatura de fusão cristalina (Tm) :120° C. É um termoplástico com boas

2

propriedades mecânicas, resistência química excelente, versátil, sendo

empregado como filmes, em embalagens e transporte dos mais diversos materiais

(MANO, MENDES, 2007; PISTOR, CHIESA, ZATTERA, 2010).

Embora o PEBD seja um dos polímeros com grande potencial para formar

compósitos com amido, ele possui baixa polaridade e a compatibilidade entre os

polímeros de baixa densidade, leva frequentemente a misturas com baixas

propriedades físico-mecânicas (SPINACÉ, DE PAOLI, 2005). Com a finalidade de

contornar estas limitações, o controle das condições de processamento são muito

importantes para assegurar a interação entre o amido e o PEBD, buscando um

comportamento semelhante à misturas convencionais, polímero/polímero.

A Figura 1.1 mostra que a demanda de polímeros convencionais está

representada nas áreas de: embalagens (41%), descartáveis (11%) e construção

civil (12%). Esta segmentação é semelhante ao que ocorre em nível mundial

(PRADELLA, 2006).

Figura 1.1. Segmentação do mercado de polímeros no Brasil (PRADELLA, 2006).

Estes são os mercados de polímeros que potencialmente podem ser

substituídos por bioplásticos (PRADELLA, 2006). As áreas de embalagens e

descartáveis são abastecidas principalmente por Polietileno (PE), Polipropileno

(PP) e, em destaque, Poli-Tereftalato de Etileno (PET) para os vasilhames. A área

3

de construção civil é coberta em grande parte por Poli-Cloreto de Vinila (PVC) e

seus compostos na confecção de tubos, conexões e revestimentos para cabos

elétricos (PRADELLA, 2006).

1.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo deste trabalho é preparar e caracterizar os compósitos a base

de PEBD e amido de milho (AM).

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Processar amostras de misturas de PEBD/AM, sem compatibilizante,

utilizando o processamento por extrusão, em extrusoras monoroscas de filmes

tubulares e de filmes planos;

- Investigar o comportamento das amostras processadas de acordo com o

teor de amido, avaliando as propriedades: físicas, físico-mecânicas, morfológicas,

térmicas e reológicas.

1.3. JUSTIFICATIVA

Tendo em vista a grande produção de artefatos à base de PEBD, que em

sua maioria, deriva de recursos não renováveis, com curto tempo de vida útil,

podendo levar anos para decompor no meio ambiente. Pesquisadores têm

investigado constantemente polímeros com características que possam assegurar

o desenvolvimento sustentável e degradação com mais facilidade no meio

ambiente.

4

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. O AMIDO

O amido é um polissacarídeo de reserva de plantas superiores, pode

ser extraido da batata, mandioca, caules, trigo, arroz, milho e etc; compreende

duas frações: 70% de amilose que é uma cadeia linear, insolúvel em água,

composta de unidades de glicose ligadas por ligações α,1-4 glicosídicas e 30% de

amilopectina, composta também de unidades de glicose, mas contendo um alto

nível de ligações cruzadas 1-6 entre um grupo hidroxila de uma cadeia de glicose

e o carbono 6 da glicose de outra cadeia, conforme apresentado na Figura 2.1

(PRADELLA, 2006).

(a)

(b)

Figura 2.1. Estrutura de amilose (a) e amilopectina (b) componentes do amido

(PRADELLA, 2006).

5

O amido se localiza nas células de plantas e é armazenado em formas de

grânulos, que podem variar de 2 a 100 µm de diâmetro, sendo sua forma e

tamanho característico da planta de origem, o amido nativo possui propriedades

hidrofílicas, mas seu processamento é prejudicado, pois sua temperatura de fusão

é acima de sua temperatura de degradação (PRADELLA, 2006; CEREDA, 2001).

Devido ao seu baixo custo e alta disponibilidade, o amido tem sido bastante

estudado no sentido de ser modificado ou misturado com outras substâncias

químicas para melhoramento de sua processabilidade, formando uma família

bastante versátil de bioplásticos (PRADELLA, 2006). Pode ser usado em

aplicações onde ser biodegradável e/ou derivar de recursos naturais agrega valor,

particularmente onde plásticos petroquímicos são usados para aplicações com

vida útil curta ou quando a reciclagem é difícil ou não é econômica (AVELLA, DE

VLIEGER, ERRICO, FISCHER, VACCA, VOLPE, 2005).

2.1.1. PROPRIEDADES DO AMIDO

O amido tem as seguintes propriedades: gelatinização, fusão, gelificação e

retrodegradação. O aquecimento de suspensões de amido com excesso de água

(maior que 60%) causa uma transição irreversível denominada gelatinização

(BASTOS, 2010).

2.1.1.1. Gelatinização

A gelatinização é definida como o colapso das ordenações moleculares

dentro do grão do amido com concomitantes mudanças irreversíveis nas

propriedades, assim como inchamento do grão, fusão cristalina, perda da

birrefringência, modificação do padrão de difração de raios-X, desenvolvimento da

viscosidade e solubilização do amido (BASTOS, 2010). Ocorre quando grãos do

amido, insolúveis, são aquecidos em água acima de uma determinada

temperatura, chamada temperatura de gelatinização e representada por T(G), o

6

que leva ao seu inchamento e posterior rompimento (JAROWENKO, 1971 apud

BASTOS, 2010).

A temperatura de gelatinização depende do tipo e da concentração do

amido, do teor de umidade e da taxa de cisalhamento durante o aquecimento

(VAN SOEST, 1996 apud BASTOS, 2010).

O inchamento dos grânulos e a concomitante solubilização da amilose e

amilopectina induzem à perda gradual da integridade granular com a geração de

uma pasta viscoelástica (VAN SOEST, 1996 apud BASTOS, 2010).

2.1.1.2. Fusão

Assim, o processo de fusão é definido como o inchamento dos grãos

devido a absorção das moléculas de água, seguida pela fusão dos domínios

cristalinos e das estruturas helicoidais, à medida que se observa a perda da

ordenação de curto alcance. Em sistemas com teores intermediários de água

pode-se observar a ocorrência dos processos de gelatinização e de fusão, sendo

que esta ocorre sempre a uma temperatura superior àquela (SHOGREN, 1992;

SOUZA, 1999 apud BASTOS, 2010).

2.1.1.3. Gelificação

A gelificação ocorre quando após a gelatinização submete-se a pasta

viscoelástica amorfa ao resfriamento e armazenamento. A turbidez aumenta,

assim como a viscosidade e a rigidez, formando-se um gel opaco. Forma-se uma

rede tridimensional intermolecular constituída por moléculas de amilose, que

ocorre durante o resfriamento de suspensões quentes. A estrutura tridimensional

termossensível é reforçada por grânulos inchados gelatinizados, chamados

fantasmas, que contêm, principalmente, amilopectina. As etapas da gelificação

passam por um estágio inicial no qual acontece a gelificação da amilose

solubilizada, ocorrendo uma separação de fases; ocorre então uma cristalização

mais lenta, provavelmente na fase rica em polímero. A resistência do gel

dependerá da concentração e do tamanho das moléculas de amilose e das moléculas no

7

interior dos fantasmas. O amido de milho forma um gel rígido. O fenômeno de

gelificação ocorre com altas concentrações de amido (VAN SOEST, 1996 apud

BASTOS, 2010).

2.1.1.4. Retrogradação

A retrogradação é um processo no qual, acima da temperatura de transição

vítrea (Tg), o amido amorfo ou o amido com baixo grau de ordenação,

independente do teor de água, começa a se reassociar em um estado mais

ordenado. O fenômeno inclui a formação de hélices duplas ou simples,

gelificação, formação de entrelaçamentos ou zonas de junção e cristalização de

agregados de estruturas helicoidais resultantes (VAN SOEST, 1996 apud

BASTOS, 2010).

A retrogradação da amilose e da amilopectina, ocorrem de acordo com

processos cinéticos diferentes, entretanto, algumas etapas comuns às duas

moléculas são: interações das cadeias, formação de hélices duplas, cristalização

e formação de redes interconectadas (PUTAUX, BÚLEON, CHANZY, 2000).

2.1.2. O PROCESSAMENTO DO AMIDO

O processo mais frequentemente empregado, para a obtenção do amido

termoplástico, é a extrusão a elevadas temperaturas de uma mistura de amido e

um plastificante.

A transformação do amido de sua forma nativa, em grânulos, para um material

amorfo ou parcialmente amorfo envolve pelo menos duas etapas.

Primeiramente, ocorre intumescimento do grânulo na presença da água ou

de outro agente plastificante, processo este denominado de gelatinização (TALJA,

2007). Depois em temperaturas maiores, sob o efeito de forças de cisalhamento,

ocorre a total desestruturação do grânulo. Quando esses dois processos são

realizados em equipamentos de processamento de polímeros, para gerar um

8

material amorfo, o processo é denominado de desestruturação. O produto obtido

é amorfo e é denominado de amido desestruturado ou amido termoplástico (Shi,

Liu, Ding, Han, Zhang, Chen, Tian, 2007).

No processo de extrusão, dependendo das condições do processo, o

tratamento térmico pode destruir a estrutura cristalina do amido, de tal forma que,

no ciclo de aquecimento, o viscoamilograma apresenta ausência de pico e valores

muito baixos de viscosidade. Porém, se os tratamentos não são tão severos,

determinada concentração de amido pode ter conservado parte da estrutura

amilácea. Nessa condição, observam-se valores relativamente altos de

viscosidade de pasta, pois há maior número de grânulos em condição de

intumescimento (CARVALHO, ASCHERI, VIDAL, 2002).

2.1.3. OUTROS ASPECTOS DO AMIDO

O amido não é um verdadeiro termoplástico, mas quando submetido a um

processo termo-mecânico em presença de um plastificante como, por exemplo,

água, glicerol ou sorbitol, este polímero perde sua estrutura granular

semicristalina e adquire o comportamento similar ao de um termoplástico fundido,

ou seja, o amido funde e escoa, permitindo seu uso em equipamentos de injeção,

extrusão e sopro, como os utilizados para o processamento de plásticos sintéticos

(LOURDIN, 1999).

A água adicionada à formulação tem duas funções: a de agente

desestruturante do grânulo nativo, com rompimento das ligações hidrogenadas

entre as cadeias, e de plastificante. Porém faz-se necessário utilizar outro

plastificante adicional, que será pouco influenciado pelas condições atmosféricas

em um mecanismo de sorção-dessorção que permitirá a obtenção de uma fase

fundida em temperatura inferior à de degradação do amido (AVEROUS, 2002).

Na extrusão do amido, a combinação de forças de cisalhamento,

temperatura e plastificação, permite obter um material termoplástico fundido, que

pode ser em seguida, submetido à termoformação ou injeção (BASTOS, 2010).

9

A baixa resistência à água e as variações nas propriedades mecânicas sob

umidade prejudicam o uso do amido. Os derivados deste produto possuem uma

alta permeabilidade à umidade e degradam de forma rápida para muitos tipos de

aplicações. Modificações para remediar esses problemas encarecem o produto

final, limitando as soluções. Além da sensibilidade à umidade, o fato dos

biopolímeros de amido apresentarem propriedades mecânicas que se alteram

com o tempo, a baixa força de resistência ao impacto e no caso dos produtos

termoformados, a pequena espessura dos produtos formados, limitam o uso dos

derivados do amido (AVEROUS, 2004 apud BASTOS, 2010).

Faz-se necessária a adição de cerca de 20 a 40% de plastificante, em

relação ao peso do amido, com propriedades hidrofílicas. O teor em plastificante

apresenta relação direta com as propriedades mecânicas e a transição vítrea do

material (BASTOS, 2010), como mostra a Tabela 2.1.

Tabela 2.1. Propriedades, formulação inicial e final de termoplásticos à base de amido de trigo com diferentes níveis de plastificação(AVEROUS, 2004 apud

BASTOS, 2010).

Amido (%)

Umidade (*)

Teor Glicerol (% Amido) (*)

Densidade Transição Vítrea (°C)

Módulo E (MPa)

1 74 16(9) 14(14) 1,39 43 997

2 70 12(9) 26(25) 1,37 8 52

3 67 9(12) 36(35) 1,35 -7 26

4 65 0(13) 54(50) 1,34 -20 2

(*) Dados obtidos após a formação (extrusão e injeção – moldagem) e equilíbrio em 230°C e 50% de umidade relativa.

As propriedades dos polímeros termoplásticos variam em função do tipo de

amido utilizado, com ênfase para o teor de amilose. O amido de milho rico em

amilose (70% de amilose) ou de um tipo de ervilha (35% de amilose) são

indicados para melhorar o preparo dos materiais. No entanto, mesmo que os

valores de resistência à tração sejam aceitáveis (30 a 60 MPa), os materiais

permanecem frágeis em razão do pequeno alongamento na ruptura (em torno de

6%) (BASTOS, 2010). Esta propriedade explica a necessidade de melhorar o

comportamento plástico. O efeito do teor de amilose é considerado um fator

favorável na ausência de plastificante; em caso da adição de plastificante obtém-

10

se o efeito inverso, pois os filmes com maior teor de amilopectina reagem mais e

possuem melhor plasticidade. Neste caso, os amidos com menores teores de

amilose podem ser preferidos (LOURDIN, 1999).

2.1.3.1. Filmes de amido encontrados no mercado nacional

Os filmes de amido existentes no mercado são compostos principalmente

de amido complexado com poliésteres termoplásticos, tais como a

policaprolactona (PCL), para formar produtos biodegradáveis e compostáveis

(BASTIOLI, 2000). Para uso em sacos para reciclagem de lixo orgânico

(compostagem), embalagem, higiene e agricultura, esses filmes possuem

propriedades similares ao polietileno de baixa densidade (PEBD) (BASTOS,

2010).

2.1.3.2. O amido no cenário mundial

O mercado mundial de amido está dividido em cinco matérias-primas,

quatro delas de origem tropical (milho, batata, batata-doce e mandioca). Dessas,

o milho é a mais significativa, com 75% da produção mundial de amido, conforme

mostra a Figura 2.2. É a principal fonte de amido nos Estados Unidos (99% da

produção), na Europa (46%), na Ásia e no Brasil. Apenas a Tailândia e alguns

poucos países da Ásia possuem outras matérias-primas como principal fonte de

matéria-prima para amido (Associação Brasileira dos Produtores de Amido de

Mandioca, 2012).

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, totalizando 53,2

milhões de toneladas na safra 2009/2010. A primeira ideia é o cultivo do grão para

atender ao consumo na mesa dos brasileiros, mas essa é a parte menor da

produção. O principal destino da safra são as indústrias de rações para animais

(Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca, 2012).

11

Figura 2.2. Estimativa de evolução de produção e demanda de amido, por grande

região e nos principais mercados mundiais (Associação Brasileira dos Produtores

de Amido de Mandioca, 2012).

2.1.3.3. O cultivo do milho no Brasil

Cultivado em diferentes sistemas produtivos, o milho é plantado

principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, tem em sua composição

75% de amido, 10% de proteína, 4,8% de lipídios, 2,0 de açucares e 1,4 de

cinzas,. O grão é transformado em óleo, farinha, amido, margarina, xarope de

glicose e flocos para cereais matinais (Ministério da Agricultura, 2012).

12

O estudo das projeções de produção do cereal, realizado pela Assessoria

de Gestão Estratégica do Mapa, indica aumento de 19,11 milhões de toneladas

entre a safra de 2008/2009 e 2019/2020. Em 2019/2020, a produção deverá ficar

em 70,12 milhões de toneladas e o consumo em 56,20 milhões de toneladas

(Ministério da Agricultura, 2012).

Esses resultados indicam que o Brasil deverá fazer ajustes no seu quadro

de suprimentos para garantir o abastecimento do mercado interno e obter

excedente para exportação, estimado em 12,6 milhões de toneladas em

2019/2020. Número que poderá chegar a 19,2 milhões de toneladas (Ministério da

Agricultura, 2012).

O Brasil está entre os países que terão aumento significativo das

exportações de milho, ao lado da Argentina. O crescimento será obtido por meio

de ganhos de produtividade. Enquanto a produção de milho está projetada para

crescer 2,67% ao ano nos próximos anos, a área plantada deverá aumentar

0,73% (Ministério da Agricultura, 2012).

2.2. O POLIETILENO

O polietileno é uma poliolefina e está entre os polímeros mais importantes

em termos de produção mundial e nacional. Ele é o terceiro plástico mais

produzido no mundo por ser um polímero muito versátil devido a sua baixa

densidade, boa processabilidade e baixo custo (KOUNTOU, NIAOINAKIS, 2006).

É um polímero parcialmente cristalino, flexível, cujas propriedades são

acentuadamente influenciadas pela quantidade relativa das fases amorfa e

cristalina. No entanto, o seu uso é restrito por causa de vários inconvenientes,

inclusive baixa resistência a tração e também baixa resistência ao calor

(KOUNTOU, NIAOINAKIS, 2006).

A palavra polietileno está, frequentemente, acompanhada por expressões

como: de baixa densidade, de alta densidade, de baixa pressão, de alta pressão,

de baixo ponto de fusão, de alto ponto de fusão, linear, ramificado e outras. Estas

locuções se referem a características dos dois polietilenos (PE) mais antigos e

13

importantes: o polietileno de baixa densidade (PEBD) e o polietileno de alta

densidade (PEAD) (GUITIÁN, 1995). A Figura 2.3 ilustra a representação do

PEBD.

O monômero para ambos polímeros é o mesmo: o etileno. O etileno

(CH2=CH2), um dos monômeros de menor peso molecular (28,05g/gmol), é uma

molécula pequena, plana e simétrica. O fato de sua dupla ligação ser

eletronicamente compensada a faz perfeitamente apolar. Por isto, o etileno é

pouco reativo e resulta a difícil reação do etileno consigo mesmo. Sua baixa

reatividade explica que as primeiras tentativas para polimerizar o etileno só deram

polímeros de baixo peso molecular (GUITIÁN, 1995).

Figura 2.3. Representação da estrutura de PEBD (TUDO SOBRE PLÁSTICO, 2012).

O PE obtido a baixas pressões e temperaturas (PE de baixa pressão) é

preparado por polimerização por adição iniciada por catalisadores de

coordenação ou de Ziegler-Natta, por exemplo, TiCl4 + Al(C2H5)3 (GUITIÁN,

1995).

Como as condições de pressão e temperatura são muito suaves, graças

aos prodigiosos catalisadores de coordenação, só ocorre, praticamente, a reação

normal de polimerização. Portanto, na ausência quase total de reações de

transferência, forma-se um PE de cadeia linear. As cadeias do PE ramificado não

se podem acercar umas a outras tanto quanto podem as do PE linear (GUITIÁN,

1995).

Resultado: o PE ramificado tem baixa densidade e o PE linear tem alta

densidade. Por isto, o PE de alta pressão passou a chamar-se PE de baixa

densidade (PEBD) e o PE de baixa pressão passou a chamar-se PE de alta

densidade (PEAD) (GUITIÁN, 1995).

14

As menores unidades cristalinas, lamelas, são planares e consistem de

cadeias perpendiculares ao plano da cadeia principal e dobradas em zig-zag, para

cada 5 a 15nm, embora haja defeitos que são pouco frequentes (DOAK, 1986

apud COUTINHO, 2003).

Os polietilenos são inertes face à maioria dos produtos químicos comuns,

devido à sua natureza parafínica, seu alto peso molecular e sua estrutura

parcialmente cristalina. Em temperaturas abaixo de 60°C, são parcialmente

solúveis em todos os solventes (COUTINHO, 2003).

Entretanto, dois fenômenos podem ser observados (NEVES, 1999 apud

COUTINHO, 2003):

- Interação com solventes, sofrendo inchamento, dissolução parcial,

aparecimento de cor ou, com o tempo, completa degradação do material.

- Interação com agentes tensoativos, resultando na redução da resistência

mecânica do material por efeito de tenso-fissuramento superficial.

Em condições normais, os polímeros etilênicos não são tóxicos, podendo

inclusive ser usados em contato com produtos alimentícios e farmacêuticos, no

entanto certos aditivos podem ser agressivos. No passado, o polietileno era

classificado pela sua densidade e pelo tipo de processo usado em sua fabricação

(NEVES, 1999 apud COUTINHO, 2003).

Atualmente, os polietilenos são mais apropriadamente descritos como

polietilenos ramificados e polietilenos lineares (SILVA, 1999; MARTINS, 1999

apud COUTINHO, 2003).

2.2.1. O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO PEBD

O processo de produção de PEBD utiliza pressões entre 1000 e 3000

atmosferas e temperaturas entre 100 e 300 °C. Temperaturas acima de 300 ºC

geralmente não são utilizadas, pois o polímero tende a se degradar. Vários

iniciadores (peróxidos orgânicos) têm sido usados, porém o oxigênio é o principal

(BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO, 2003).

15

A reação é altamente exotérmica e assim uma das principais dificuldades

do processo é a remoção do excesso de calor do meio reacional. Essa natureza

altamente exotérmica da reação a altas pressões conduz a uma grande

quantidade de ramificações de cadeia, as quais têm uma importante relação com

as propriedades do polímero. Até recentemente, nenhum outro meio comercial

para sintetizar PE altamente ramificado era eficaz. Contudo, hoje existem

algumas evidências de que ramificações longas podem ser produzidas por

catalisadores metalocênicos (BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO, 2003).

Polietileno de baixa densidade é um polímero parcialmente cristalino (50 –

60%), cuja temperatura de fusão (Tm) está na região de 110 a 115 °C. A

espectroscopia na região do infravermelho revelou que o polietileno de baixa

densidade contém cadeias ramificadas (BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO,

2003).

Essas ramificações são de dois tipos distintos, com dois mecanismos

propostos (BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO, 2003):

- Ramificações devido à transferência de cadeia intermolecular, que

surgem de reações do tipo apresentado, na Figura 2.4, com o seguinte

mecanismo proposto (BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO, 2003).

Figura 2.4. Mecanismo de polimerização via radical livre, por transferência de

cadeia (BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO, 2003).

Essas ramificações são, na maioria das vezes, tão longas quanto a cadeia

principal do polímero. Em geral, contêm algumas dezenas ou centenas de átomos

de carbono. Esse tipo de ramificação tem um efeito acentuado sobre a

viscosidade do polímero em solução. Pode ser identificada pela comparação entre

16

a viscosidade de um polietileno ramificado e a de um polímero linear de mesmo

peso molecular. Além disso, a presença dessas ramificações determina o grau de

cristalização, as temperaturas de transição e afetam parâmetros cristalográficos

tais como tamanho dos cristalitos (PEREIRA, 1997; BILLMEYER, 1984 apud

COUTINHO, 2003).

- O segundo mecanismo proposto na Figura 2.5 para a formação de

ramificações curtas no polietileno de baixa densidade (produzido via radicais

livres) é a transferência de cadeia intramolecular (BILLMEYER, 1984 apud

COUTINHO, 2003).

Figura 2.5. Mecanismo de polimerização via radical livre, por transferência de

cadeia (BILLMEYER, 1984 apud COUTINHO, 2003).

Essas ramificações curtas são principalmente n-butila, porém grupos etila e

n-hexila, em menores proporções, também são formados pela transferência de

cadeia intramolecular (PEREIRA, 1997).

Em relação à estrutura cristalina, o PEBD, quando comparado ao

polietileno linear, apresenta cristalitos menores, menor cristalinidade e maior

desordem cristalina, já que as ramificações longas não podem ser bem

acomodadas na rede cristalina (PEREIRA, 1997). A Figura 2.6 mostra uma

representação da estrutura de PEBD, onde se pode observar a presença das

ramificações ligadas à cadeia principal e a Figura 2.7 mostra a evolução da

estrutura do polietileno (FORTE, 1996 apud COUTINHO, 2003).

17

Figura 2.6. Representação esquemática da estrutura de PEBD (COUTINHO,

2003).

Figura 2.7. Evolução da estrutura do polietileno (FORTE, 1996 apud COUTINHO, 2003).

2.2.2. OS TIPOS DE POLIETILENO

Dependendo das condições reacionais e do sistema catalítico empregado

na polimerização, cinco tipos diferentes de polietileno podem ser produzidos

(COUTINHO, 2003):

- Polietileno de baixa densidade (PEBD ou LDPE) - Polietileno de alta

densidade (PEAD ou HDPE);

- Polietileno linear de baixa densidade (PELBD ou LLDPE);

18

- Polietileno de ultra alto peso molecular (PEUAPM ou UHMWPE);

- Polietileno de ultra baixa densidade (PEUBD ou ULDPE);

- Polietileno de Baixa Densidade (PEBD ou LDPE).

2.2.2.1. Algumas propriedades do PEBD

O PEBD tem uma combinação única de propriedades: tenacidade, alta

resistência ao impacto, alta flexibilidade, boa processabilidade, estabilidade e

propriedades elétricas notáveis. As propriedades físicas do PEBD são

apresentadas na Tabela 2.2. Os valores aparecem em intervalos devido à

dependência da temperatura e da densidade (DOAK, 1986 apud COUTINHO,

2003).

Tabela 2.2. Propriedades Físicas do PEBD (DOAK, 1986 apud COUTINHO, 2003).

Propriedades Método ASTM PEBD

Densidade (g/cm3) D 792 0,912-0,925

Temperatura de fusão cristalina °C - 102-112

Índice de refração (nD) D 542 1,51-1,52

Tração no escoamento (MPa) D 638 6,2-11,5

Alongamento no escoamento (%) D 638 100-800

Resistência a tração (MPa) D 638 6,9-16

Alongamento máximo (%) D 638 100-800

Módulo elástico (MPa) D 638 102-240

Dureza (Shore D) D 676 40-50

Apesar de ser altamente resistente à água e a algumas soluções aquosas,

inclusive a altas temperaturas, o PEBD é atacado lentamente por agentes

oxidantes. Além disso, solventes alifáticos, aromáticos e clorados, causam

inchamento a temperatura ambiente. O PEBD é pouco solúvel em solventes

polares como álcoois, ésteres e cetonas (DOAK, 1986 apud COUTINHO, 2003).

A permeabilidade à água do PEBD é baixa quando comparada a de outros

polímeros. A permeabilidade a compostos orgânicos polares como álcool ou éster

19

é muito mais baixa do que aos compostos orgânicos apolares como heptano ou

éter dietílico (COUTINHO, 2003).

2.2.3. O PROCESSAMENTO DO PEBD

O PEBD pode ser processado por extrusão, moldagem por sopro e

moldagem por injeção. Assim sendo, é aplicado como filmes para embalagens

industriais e agrícolas, filmes destinados a embalagens de alimentos líquidos e

sólidos, filmes laminados e plastificados para alimentos, embalagens para

produtos farmacêuticos e hospitalares, brinquedos e utilidades domésticas,

revestimento de fios e cabos, tubos e mangueiras (CATÁLOGO DE PRODUTOS

DA BRASKEM, 2011).

2.2.4. O PEBD NO CENÁRIO MUNDIAL

Reprojetado em função da globalização, o mercado brasileiro de polietileno

ganhou novo perfil em volume e qualidade, gerando maior oferta e tipos (grades)

de melhor desempenho e produtividade para a indústria de transformação. As

poliolefinas representam aproximadamente 60% da demanda mundial de

termoplásticos, onde os polietilenos se encaixam no patamar dos 40% (RETO,

2000).

2.2.5. O PEBD NO CENÁRIO BRASILEIRO

No Brasil, as poliolefinas representam cerca de 65%, dos quais 43%

correspondem aos polietilenos. O mercado brasileiro de polietileno cresce em um

ritmo duas vezes superior ao do Produto Interno Bruto (PIB). Entre 1999 e 2000,

as vendas aumentaram em mais de 150 mil toneladas (cerca de 10% da produção

nacional). O mercado de polietileno linear avança acentuadamente sobre a resina

de baixa densidade convencional, cujas vendas estão estagnadas e a sua

produção apresenta tendência de queda. Enquanto o volume de produção do

polietileno linear de baixa densidade cresceu 25% entre 1999 e 2000 e o de alta

20

densidade aumentou 17%, o de baixa densidade convencional caiu 2% (RETO,

2000).

2.2.5.1. O consumo de PEBD no cenário brasileiro

O consumo de resinas termoplásticas para embalagens, das quais os

polietilenos tem 39% da demanda, alcançou 50,3% da produção brasileira de 5,92

milhões de toneladas (COSTA, 2011).

O valor bruto da produção de embalagens no Brasil cresceu de 29 bilhões

para 40,5 bilhões de reais de 2005 a 2010, conforme dados expostos na Tabela

2.3, apontando um crescimento de cerca de 40% em cinco anos (COSTA, 2001).

Tabela 2.3. Faturamento da Industria de Embalagens no Brasil (bilhões de reais)

(COSTA, 2011).

Ano Receita de vendas

líquidas

Valor bruto da

produção

2005 29,4 29,00

2006 31,3 30,90

2007 33,2 33,00

2008 35,5 35,00

2009 35,5 35,00

2010 41,1 40,50

A produção física de embalagens que originou este faturamento foi dividida

da seguinte maneira pelos materiais de embalagem: papel, papelão e cartão

(33,2%), plástico (29,7%), metal (26,6%), vidro (8,7%) e madeira (1,8%). A

participação relativa de cada material é apresentada na Figura 2.8, podendo ser

verificado que os produtos celulósicos lideram com um terço do mercado,

seguidos pelo plástico e pelo metal (COSTA, 2001).

21

Figura 2.8. Participação de cada material na produção física (COSTA, 2011).

Ao final de 2010 os empregos formais nas indústrias que produzem

embalagens no Brasil totalizavam cerca de 218000, distribuídos pelos materiais

como se mostra na Figura 2.9, destacando-se as indústrias de transformação do

plástico para embalagens que empregam perto de 118000 pessoas,

representando 54,15% dos empregos formais (COSTA, 2001).

Figura 2.9. Empregos formais na Indústria de Embalagem, por material (COSTA,

2011).

Os processos de transformação utilizados pela indústria de embalagens

plásticas no Brasil são pela ordem: extrusão, para a produção de filmes (57%),

injeção (19%), sopro (16%) e rotomoldagem (1%), ficando 7% para os demais

22

processos, entre eles a termoformagem e o revestimento, conforme se apresenta

na Figura 2.10 (COSTA, 2011).

Figura 2.10. Segmentação do mercado de transformados plásticos por processo

de produção (COSTA, 2011).

A composição do plástico pós-consumo coletado, divulgada pelo instituto

do PVC (2010) é mostrada na Figura 2.11, com participação de 37% para o

polietileno (INSTITUTO DO PVC, 2011).

Figura 2.11. Composição média relativa dos plásticos no lixo urbano (INSTITUTO

DO PVC, 2011).

2.2.6. APLICAÇÕES DO PEBD

A primeira aplicação prática do PE foi a de recobrir cabos elétricos

submarinos, por ser excelente isolante da eletricidade e ter semelhanças

23

mecânicas com a guta-percha (polímero natural, isômero da borracha) então

usada com esta finalidade (GUITIÁN, 1995).

Hoje a maior parte do PEAD se usa em objetos moldados, como: utensílios

domésticos, caixas de transporte, engradados, brinquedos, capacetes, garrafas,

frascos, bisnagas, bombonas, baldes, etc. O restante se usa em objetos

extrudados, como: folhas resistentes opalescentes (sacos, sacolas, embalagens),

fios, cabos, malhas, redes, tubos rígidos, isolamento de fios e cabos elétricos, etc

(GUITIÁN, 1995).

E a maior parte do PEBD se usa em: folhas flexíveis (agricultura,

construção, sacos industriais), folhas de alta transparência, folhas

termocontráteis, revestimento de papelão, etc. O restante se usa em: frascos,

ampolas de soro, tubos e mangueiras flexíveis, isolamento de fios e cabos

elétricos, etc. O PEAD e o PEBD têm muitas aplicações comuns, mas, em geral, o

PEAD é mais duro e resistente e o PEBD é mais flexível e transparente. Exemplo

da relação dureza e flexibilidade: com PEAD se fabricam tampas com rosca

(rígidas) e com PEBD, tampas sem rosca (flexíveis) (GUITIÁN, 1995).

A aplicação do processo de transformação varia em função das resinas

que se utilizam como a Figura 2.12 mostra.

Figura 2.12. Segmentação do mercado por tipo de resina (COSTA, 2011).

24

O processo mais utilizado para a transformação de resinas de polietileno é

o de extrusão de filmes, com 78% para PEBD e PEBDL e 40% para o PEAD.

Sobre a fabricação de filmes é importante destacar o fato que os filmes

normalmente são fabricados com uma mistura de dois ou três tipos de resina de

polietileno, dependendo das propriedades desejadas para o sistema de

embalagem especificado (COSTA, 2011).

Os processos de extrusão e injeção são igualmente aplicados às três

variedades de polietileno para produzir pequenas peças, como tampas e frascos,

além de preformas. A técnica da moldagem por sopro é a segunda mais utilizada

para o PEAD, sendo pouco aplicada ao PEBD e não aplicada ao PEBDL (COSTA,

2011).

O processo de rotomoldagem só é utilizado na transformação do PEBDL,

enquanto a produção de ráfia para sacarias é aplicada apenas para o PEAD

(COSTA, 2011). Outros processos são aplicados apenas ao PEBD, entre eles a

termoformagem e o revestimento (COSTA, 2011).

2.3. OS COMPÓSITOS

Os compósitos são a mistura de dois ou mais materiais, sendo um a matriz

e o outro reforço, assim combinados para formar um novo material com

propriedades melhores que os componentes individuais. Então os compósitos são

formados por duas fases: uma chamada matriz, que é contínua e outra

comumente chamada de fase dispersa (CALLISTER, 2002).

A matriz tem a função de manter as fibras unidas, de transferir e distribuir

as tensões mecânicas para as cargas e de proteger a superfície da carga contra

danos. Nos compósitos a fase dispersa pode ser encontrada em forma de fibras,

onde as mesmas são as cargas de reforço mais eficientes. Elas são utilizadas

como agente sustentador de tensões e visam conferir elevadas propriedades

mecânicas aos compósitos e também, melhorar a combinações de características

mecânicas, tais como rigidez, tenacidade e resistência mecânica nas condições

ambiente e em altas temperaturas (CALLISTER, 2002).

25

2.4. O PROCESSAMENTO POR EXTRUSÃO

A moldagem de peças extrusadas é um processo contínuo. Ele consiste

em fazer passar a massa polimérica moldável através da matriz com o perfil

desejado e por resfriamento em água e/ou ar, a peça extrusada vai solidificando

progressivamente (MANO, MENDES, 2007).

O extrusado pode ser enrolado em bobinas, cortado em peças de

dimensões especificadas ou cortado em grânulos regulares, com uma faca

rotativa. O processo permite a fabricação contínua de tarugos, tubos, lâminas ou

filmes, isto é produtos que apresentam perfil definido. O processo de extrusão é

aplicável a termoplásticos e termorrígidos, desde que a formulação da massa a

extrudar seja adequada (MANO, MENDES, 2007).

O processo de extrusão permite o revestimento de fios metálicos, a

formação de camadas sobrepostas para a formação de laminados, a produção de

filmes planos ou inflados, preparação de pré-formas (“parison”) para moldagem

por sopro e etc (MANO, MENDES, 2007).

2.4.1. Extrusão de filmes planos

No processamento por extrusão de filmes planos, a massa fundida passa

por uma matriz retangular e ao sair é resfriada pelo ar ambiente e pelas calandras

que ajudam na orientação das cadeias poliméricas, solidificando e dando

estabilidade ao filme formado. As velocidades de puxamento das calandras tem

influência no acabamento e propriedades do artefato.

2.4.2. Extrusão de filmes tubulares

No processamento por extrusão de filmes tubulares, a massa fundida

passa por uma matriz anelar, onde recebe a injeção de ar e infla orientando as

cadeias poliméricas no sentido horizontal, solidificando e sendo puxado por

roletes que orientam as cadeias poliméricas no sentido vertical. As velocidades de

26

puxamento dos rolos e bobinas tem influência no acabamento e propriedades do

artefato.

2.5. CARACTERIZAÇÃO

2.5.1. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA

2.5.1.1 Caracterização Visual

A avaliação visual de embalagens plásticas permite a detecção de pontos

relacionados com a aparência e a formação da embalagem que pode influenciar

no seu desempenho físico-químico, tanto em nível de maquinabilidade ou de

resistência, quanto no seu aspecto visual (SARANTÓPOULOS, 2002).

2.5.2. CARACTERIZAÇÃO FISICO-MECÂNICA

2.5.2.1. Ensaio de Densidade

De acordo com a ASTM-D792, os corpos de prova para este ensaio são

obtidos de peças e devem ter menos que 1cm3 de volume, bem como não devem

ter superfícies rugosas ou impurezas, como gorduras, nem reentrâncias ou

regiões puntiformes (MANRICH, 2005).

A amostra previamente seca e pesada ao ar é imersa em um fluido (água

normalmente) e então é pesada neste outro meio. O valor da densidade é

calculado através da razão do peso aparente medido no ar e o peso aparente

medido quando a amostra está totalmente imersa no fluido (MANRICH, 2005).

Densidade e gravidade específica apresentam o mesmo valor numérico.

No entanto, gravidade específica é adimensional, em função de ser obtida através

da razão entre dois pesos. Densidade é o peso no ar em gramas por centímetro

cúbico a 23°C (MANRICH, 2005).

Densidade ou gravidade específica indicam o grau de uniformidade de um

produto. Mudanças na densidade podem significar variação na cristalinidade,

27

perda de plastificante ou outros aditivos, ou ainda absorção de solventes ou

umidade (MANRICH, 2005).

2.5.2.2. Ensaio de Dureza

Define-se dureza como a medida da resistência oposta a penetração de

uma superfície, por um instrumento de dimensões determinadas e sob carga

também determinada. Os aparelhos mais comuns para essa determinação são os

durômetros Shore A, calibrados numa escala arbitraria de 0 a 100. Neste tipo de

durômetro existe uma agulha de formato tronco cônico que sobressai da caixa do

aparelho e é mantida na posição zero da escala, por ação de uma mola (ALVES,

2005).

Ao comprimi-lo contra o corpo de prova, a agulha tenderá a entrar na caixa,

comprimindo a mola. Este movimento é transmitido ao ponteiro da escala, quanto

mais difícil for a penetração mais será dura a amostra e maior será a leitura na

escala (ALVES, 2005).

Os durômetros podem ser portáteis ou montados sobre uma base,

permitindo desta maneira, leituras mais corretas. A leitura da dureza deve ser feita

um segundo após o aparelho ser comprimido contra a amostra. A medida da

dureza em polímeros não é muito precisa, devendo haver sempre uma tolerância

de +/- 5 unidades nas suas especificações ou +/- 3 unidades para as mais

rigorosas (ALVES, 2005).

2.5.2.3. Determinação do Índice de Fluidez

O Índice de Fluidez (IF) é uma medida de fluidez dos polímeros para

controle de qualidade da matéria prima, servindo também como padrão para

classificação de resinas para processamento e aplicação. O equipamento para a

medida do IF consiste em um barril aquecido com um pistão acionado por um

peso padrão. O polímero flui por um capilar também padronizado. O valor do IF é

o peso que flui pelo capilar durante 10 minutos (g/10 min). As normas fixam os

28

parâmetros principais para um teste de IF. Por exemplo: a) capilar D = 2,095 mm;

L = 8 mm; b) carga ou peso sobre o material: 2,16 kg para PE (190°C); 2,16 kg

para PP (230°C) (MANRICH, 2005).

Valores de IF baixos estão relacionados a valores de viscosidades altas do

polímero naquela temperatura e taxa de cisalhamento. Portanto, o IF é uma

medida isolada do comportamento reológico de uma resina e pode ser

interpretada de maneira inadequada, principalmente porque o teste é feito a

baixas velocidades e os processos ocorrem a taxas de cisalhamento que podem

ser até 103 vezes maiores (MANRICH, 2005).

2.5.3. CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA

2.5.3.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A técnica é realizada com o microscópio eletrônico de varredura, que sem

dúvida é o microscópio mais versátil devido às suas várias características. É

geralmente utilizado para estudo de estruturas superficiais ou subsuperficiais de

amostra com dimensões relativamente grandes. As imagens tem alta

profundidade no foco, o que significa obter diferentes relevos da superfície da

amostra simultaneamente em foco, são imagens tridimensionais, portanto, mais

fáceis de interpretar que as imagens de projeção de microscopia de transmissão

(CANEVAROLO, 2007).

O aspecto mais atrativo da microscopia de varredura é a facilidade de

preparação de amostras. Materiais não condutores como a maioria dos polímeros,

requerem em geral, apenas de revestimentos condutivos ou uso de baixa

voltagem de aceleração do feixe. Como a topografia da superfície é geralmente a

principal característica de interesse na análise, a espessura da amostra não é um

aspecto crítico, como acontece com a microscopia eletrônica de transmissão. Os

revestimentos metálicos mais utilizados são ouro, liga ouro-paládio, platina,

alumínio e carbono (CANEVAROLO, 2007).

Alguns materiais poliméricos apresentam particular sensibilidade a elétrons

de alta energia. O efeito da interação do feixe com materiais orgânicos tem como

29

resultado a ionização que pode levar a reticulação ou mesmo à ruptura de

ligações químicas. Alguns desses materiais poliméricos são: Politetrafluor de

Etileno (PTFE), Poli-cloreto de Vinila (PVC), Poli-metacrilato de Metila (PMMA),

Poli-carbonato (PC) e Polietileno (PE) (CANEVAROLO, 2007)

O dano causado na amostra pode ser reduzido tomando algumas

precauções em termos de condições de operação do equipamento e de

preparação de amostras tais como: a) adicionar camadas de material condutor

sobre a amostra ara melhorar sua condutividade e assim reduzir o acumulo de

cargas; b) utilizar técnica de baixa dosagem de feixe; c) usar intensificadores

eletrônicos de imagens e d) conduzir as análises microscópicas a baixas

temperaturas, com o objetivo de reduzir efeitos secundários (CANEVAROLO,

2007).

Também é possível revelar diferentes domínios em materiais multifásicos

aplicando-se técnicas de ataque seletivo (utilizando métodos químicos como

solventes, ou feixe de íons ou moléculas) em amostras polidas ou cortadas em

micrótomo. Se a taxa de ataque de vários componentes (partes cristalinas e

amorfas, fases poliméricas, partículas inorgânicas) é diferente, as estruturas do

interior do material serão reveladas na superfície de fratura (CANEVAROLO,

2007).

2.5.4. CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA

2.5.4.1. Calorimetria diferencial de varredura (DSC)

Devemos observar que o termo “calorimetria exploratória diferencial” tem

sido motivo de confusão em análise térmica, divido aos diferentes tipos de

equipamentos que usam o mesmo nome. Estes instrumentos são baseados em

configurações, que podem ser divididas em dois grandes grupos: DSC

(Calorimetria Exploratória Diferencial) fluxo de calor e DSC de compensação de

potência. Os limites de temperatura podem variar de um equipamento para outro,

mas geralmente se encontram na faixa de -180 a 725°C (CANEVAROLO, 2007)

30

Neste trabalho foi utilizado o DSC de fluxo de calor, que é uma técnica

derivada da análise térmica diferencial (DTA). A propriedade física medida

também é a diferença de temperatura entre a amostra (A) e o material de

referência (R) (∆T = TA – TR), enquanto ambos são submetidos a uma

programação rigorosamente controlada de temperatura. Neste tipo de DSC

amostra e referência são colocados em cápsulas idênticas, posicionadas sobre

um disco termoelétrico e aquecidos por uma única fonte de calor. O calor é

transferido para as cápsulas de amostra e referência por meio de disco, com fluxo

de calor diferencial entre ambas as cápsulas sendo controlado por meio de

termopares conectados ao disco, uma vez que ∆T, em um dado momento é

proporcional à variação de entalpia, à capacidade calorífica e à resistência

térmica total do fluxo calórico (CANEVAROLO, 2007).

A confiabilidade e reprodutibilidade dos dados medidos por DTA/DSC,

dependem da eliminação de variáveis, que podem ser divididas em duas

categorias: a) fatores instrumentais; b) característica da amostra (CANEVAROLO,

2007).

Alguns fatores instrumentais dependem da construção do equipamento,

não podendo ser alterado pelo operador, como por exemplo: a) o material que

compõe o disco suporte dos cadinhos; b) a geometria do forno ;c) o tamanho dos

pontos de solda de junção dos termopares com o suporte das cápsulas de

amostra e referência; d) a localização dos termopares e outros (CANEVAROLO,

2007).

A técnica de acompanhar o processo de fusão, permite estudar uma série

de fenômenos relacionados à estrutura e a propriedades dos polímeros, tais

como: a) temperatura de fusão; b) calor de fusão; c) grau de cristalinidade; d)

identificação de misturas, presença de ramificações; e) copolimerização e outras.

Estudos de cristalização isotérmica são igualmente muito importantes no

estabelecimento da morfologia e no processamento do polímero (CANEVAROLO,

2007).

31

2.5.5. CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA

2.5.5.1. O ensaio Reológico

A reologia é a ciência que estuda o fluxo e a deformação de matéria; ara

este estudo, são aplicadas tensões ou deformações no material e são analisadas

as suas respostas, estas últimas também na forma de deformações ou tensões. É

uma medida da mudança de forma de um corpo. As relações entre tensões e

deformações constituem as chamadas equações reológicas de estado, que

representam as propriedades reológicas do material (CANEVAROLO, 2007).

As geometrias de placas paralelas e cone-placas são muito utilizadas para

medir as propriedades reológicas de materiais poliméricos. As razões principais

são: a) são geometrias simples e consequentemente fáceis de limpar; b) a placa

ou o cone podem se movimentar a uma velocidade angular predeterminada, ou

impor uma tensão predeterminada; c) como estas velocidades em tensões

angulares e tensões aplicadas são pequenas, a estrutura microscópica do

sistema polimérico é pouco modificada, permitindo então ser analisada a partir

das respostas a estas velocidades e tensões. Consequentemente, este tipo de

geometria fornece mais informações sobre a estrutura molecular de sistemas

poliméricos que a reometria capilar por exemplo (CANEVAROLO, 2007).

Existem dois tipos de reômetros de placas paralelas e cone-placa: a) os de

deformação controlada; b) os de tensão controlada (CANEVAROLO, 2007).

Os reômetros de placas paralelas aplicam uma deformação de

cisalhamento ao material, enquanto os de cone-placa aplicam uma tensão de

cisalhamento ao mesmo. Neste trabalho foi utilizado o reômetro de placas

paralelas. Diz-se que são controlados pois a deformação ou tensão aplicadas

independem do material, ou seja, independentemente do tipo de material que esta

sendo testado, estas deformações e tensões aplicadas serão aquelas

predeterminadas pelo equipamento. Assim, as respostas do material refletem o

comportamento do mesmo sob estas deformações e tensões (CANEVAROLO,

2007).

32

2.5.5.2. O ensaio de Varredura de Amplitude e Frequência

É um ensaio dinâmico que tem por objetivo determinar a região de

viscosidade linear (RLV) e fornecer uma idéia da estabilidade mecânica, pois

exprime como os módulos irão varia em função da amplitude de tensão aplicada.

Enquanto os módulos permanecem constantes, o material encontra-se dentro da

RVL, quando os módulos começam a variar, o sistema está saindo da RVL, ou

seja, ocorre uma desestruturação do material, por isso o ensaio de fluência e

recuperação deve utilizar um valor de tensão de cisalhamento contido dentro da

RVL, sendo geralmente conduzido após o ensaio de varredura de amplitude.

2.5.5.3. O ensaio de Fluência e Recuperação

Neste ensaio, determina-se a propriedade reológica, fluência e

recuperação, que consiste em aplicar uma tensão de cisalhamento constante,

durante certo tempo, ao mesmo tempo em que é medida a deformação de

cisalhamento resultante. Após retira-se a tensão de cisalhamento constante,

medindo-se a deformação resultante durante certo temo ou até esta última atingir

o valor de zero ou um valor constante (CANEVAROLO, 2007)

33

3. METODOLOGIA

Neste capítulo serão apresentados os materiais, equipamentos e métodos

utilizados no desenvolvimento deste trabalho.

3.1. MATERIAIS

Os materiais que foram utilizados estão listados a seguir:

A. Termoplástico: Polietileno linear de baixa densidade, (PEBD), tipo BF

20008 S3, de índice de fluidez 0,75 g/10 min (2,16 kg/190°C) e densidade de

0,920 g/cm³, gentilmente fornecido pela empresa Rio Polímeros S.A, Duque de

Caxias - RJ, atualmente pertencente ao grupo Braskem S.A., (Figura 3.1.).

Figura 3.1. Foto dos pellets de PEBD

B. Amido: amido de milho, denominado AM, de procedência Qualimax

Food Service, adquirido em mercado popular da Zona Oeste do município do Rio

de Janeiro, adquirido da indústria alimentícia, Liotécnica Tecnologia em Alimentos

Ltda (São Paulo, Brasil), (Figura 3.2.).

Figura 3.2. Foto do (AM)

34

3.2. EQUIPAMENTOS

Os equipamentos utilizados para a preparação e caracterização das

amostras foram:

- Estufa de aquecimento, marca Marconi, modelo MA 033 (1)

- Extrusora de filmes tubulares, tipo monorosca, marca AX Plásticos (1)

- Extrusora de filmes planos, tipo monorosca, marca AX Plásticos(1)

- Microscópio eletrônico de varredura (MEV), marca JEOL, modelo JSN

6490 LV (1)

- Durômetro Shore D, marca, modelo GS 702 TYPE (1)

- Densímetro Digital, marca GEAKA, modelo DSL 910 (1)

- Medidor de índice de fluidez, marca CEAST, modelo, QUICK INDEX (1)

- Calorímetro Diferencial de Varredura (DSC), marca NETZSCH, modelo

200-F3 MAIA (1).

- Prensa hidráulica de aquecimento, marca Marconi, modelo MA 098 A (1)

- Paquímetro, marca Digmess, modelo Digital 300,00 mm (1)

- Reômetro Oscilatório, marca Haake, modelo MARS (2)

Os equipamentos utilizados encontram-se nos seguintes locas: (1) Centro

Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) – Rio de Janeiro / RJ, (2) Embrapa

Agroindústria de Alimentos – Rio de Janeiro / RJ.

3.3. MÉTODOS

A Figura 3.3, mostra o diagrama de blocos contendo todas as etapas do

trabalho experimental envolvidas nesta monografia, as quais foram divididas em 3

etapas, listadas a seguir:

1. Preparação prévia dos componentes;

2. Preparação dos compósitos PEBD/AM;

3. Caracterizaçãodos compósitos PEBD/AM.

35

36

37

3.3.1 Preparação das amostras para a extrusão

Para a preparação das amostras, primeiramente 150 g de amido de milho

foram secos em estufa de secagem, cuja temperatura de aquecimento foi

controlada em 90° C, permanecendo por um período de 24 h. Após este período,

foram separados quatro Beckers e, em três deles, o amido seco foi distribuído

com pesos diferentes em cada um. Ato contínuo separou-se 897,50 g de PEBD,

que foram distribuídos com pesos diferentes nos quatro Beckers e misturados

conforme mostra a Tabela 3.1. Em seguida todos os Beckers foram recolocados

na estufa de secagem, onde permaneceram por um período de 12 horas, com

temperatura de aquecimento controlada em 100° C. Após o período de secagem

do amido junto ao PEBD, as misturas foram colocadas em sacos de PEBD,

fechados e em seguida agitados manualmente de forma vigorosa, buscando

melhorar desta forma, a distribuição dos grãos de amido nos pellets de PEBD. Em

seguida encaminhou-se a mistura para o processamento, (Figura 3.4.). A Tabela

3.4 mostra a composição das amostras de PEBD/AM para o processamento por

extrusão.

Figura 3.4. Foto dos materiais previamente misturados manualmente

Tabela 3.1. Quantidade de AM e PEBD para secagem

Amostr

a

Quantidade

de AM (g)

Quantidad

e de PEBD

(g)

Composição

da mistura

(%p/p)

PEBD/AM 1 - 250 100/0

2 2,5 247,5 99/1

3 25 225 90/10

4 75 175 70/30

38

3.3.2 Processamento por extrusão do PEBD/AM

3.3.2.1 Extrusão de filmes tubulares

Com o objetivo de formar um filme tubular a base de PEBD/AM, com

diferentes teores de amido de milho em sua composição, foi utilizada a extrusora

monorosca de filmes tubulares, marca AX Plásticos, São Paulo - SP, com duas

zonas de controle de temperatura no cilindro e uma zona no cabeçote filmes

tubulares. A Figura 3.5 mostra a rosca única utilizada nos processamentos.

Figura 3.5. Foto da rosca da extrusora de filmes tubulares sem elemento de

mistura

A Figura 3.6 (a à h) mostra as etapas do processamento, desde à extrusão,

à confecção dos filmes. Os percentuais AM utilizados neste processamento

mostrado na Figura 3.6, foram de 0, 1 e 10% em peso (amostras 1, 2 e 3,

respectivamente), apresentados na Tabela 3.2. Tentou-se processar uma amostra

com 30% em peso de amido de milho, utilizando-se este tipo de processamento,

porém, não foi possível. Logo, utilizou-se para o preparo da mistura, a extrusora

de filmes planos (perfil de chapa).

39

Figura 3.6. Etapas do processamento de filmes tubulares

40

Os parâmetros utilizados neste processamento são apresentados na Tabela 3.2.

Tabela 3.2. Parâmetros do processamento por extrusão dos filmes tubulares

% de

amido

(em peso)

Zonas Temperatura (ºC) Velocidade da

rosca (RPM)

Velocidade

da bobina

(RPM)

Velocidade de

puxamento dos

rolos (RPM)

0

1, 2, 3

128, 161, 141

35

36

36 1

10

*Torque adquirido = 37 N/m

3.3.2.2 Extrusão de filmes planos

Com o objetivo de formar um filme plano a base de PEBD/amido de milho, com

diferentes teores de amido de milho em sua composição, foi utilizada a extrusora

monorosca de filmes planos, marca AX Plásticos, São Paulo - SP, com duas zonas de

controle de temperatura no cilindro e uma zona no cabeçote filmes tubulares. A Figura

3.7 mostra a rosca única, com um elemento de mistura utilizada no processamento.

Figura 3.7. Foto da rosca da extrusora de filmes planos com um elemento de mistura

Após a tentativa, sem sucesso, de processar a amostra com 30%, na extrusora de

filmes tubulares, utilizou-se para o preparo da mistura, a extrusora de filmes planos (perfil

de chapa). A Figura 3.8 (a à h) mostra as etapas do processamento, desde à extrusão, à

confecção dos filmes. O percentual de AM utilizado neste processamento foi de 30% em

peso, apresentado na Tabela 3.3.

41

Figura 3.8. Etapas do processamento de filmes planos

42

Os parâmetros utilizados neste processamento, são apresentados na

Tabela 3.3.

Tabela 3.3. Parâmetros do processamento por extrusão do filme plano

% de

amido

(em peso)

Zonas Temperatura (ºC) Velocidade da

rosca (RPM)

Velocidade

da bobina

(RPM)

Velocidade de

puxamento

dos rolos

(RPM) 30 1, 2, 3 128, 161, 141 60 20 20

*Torque adquirido = 37 N/m

Tabela 3.4. Resumo de todos os processamentos realizados

Amostra Quantidade de

Amido (g)

Quantidade de

PEBD (g)

% de amido

(em peso)

Tipo de processamento

1 - 250 0 Extrusão de Filmes Tubulares

2 2,5 247,5 1 Extrusão de Filmes Tubulares

3 25 225 10 Extrusão de Filmes Tubulares

4 75 175 30 Extrusão de Filme Plano

A Tabela 3.4 mostra um resumo de todos os processamentos realizados.

Após os processamentos, todos os filmes obtidos foram acondicionados em

sacolas de polietileno, para avaliação e ensaios posteriores.

3.3.3 Caracterizações realizadas no PEBD e nas misturas (PEBD/AM)

3.3.3.1 Caracterização Visual

Após o processamento e, subsequente formação dos filmes, foram

observados aspectos visuais das amostras, tais como: transparência, rugosidade,

coloração, aglomerados, bolhas e vazios. Todas as visualizações foram

registradas em uma tabela, que será apresentada no capítulo de Resultados.

3.3.3.2 Ensaio de Densidade

Os ensaios de densidade das amostras foram executados segundo a

norma ASTM D792-08 (2008), no equipamento mostrado na Figura 3.9. Para isto,

foram cortadas cinco amostras de 7,00 mm x 7,00 mm para a realização do

43

ensaio. Pelo método escolhido, a amostra foi pesada seca e depois submersa em

um recipiente com água destilada, sendo assim avaliado o empuxo. A partir

desses dados o equipamento forneceu o valor da densidade aparente do material

analisado. Para cada amostra foi excluído o maior e o menor valor, calculando

assim a média aritmética das três determinações.

Figura 3.9. Medidor de densidade digital (UEZO)

3.3.3.3 Ensaio de Dureza

Os ensaios de dureza das amostras foram executados segundo a norma

ASTM D2240–05(2010), com o equipamento demonstrado na Figura 3.10. Para

isto, foram confeccionados quatro corpos de prova das amostras com espessura

de 3,00 mm x 30,00 mm de diâmetro para a realização do ensaio. Pelo método

escolhido, o corpo de prova foi colocado em uma bancada, como apoio e então

foram escolhidos cinco pontos, onde ocorreu a mordedura e aplicação de carga,

por cinco segundos, momento em que ocorrerá a resistência do material a carga

aplicada. Com esse procedimento o equipamento forneceu o valor da dureza

Shore D do material analisado. Para cada amostra foi excluído o maior e o menor

valor, calculando assim a média aritmética das três determinações.

44

Figura 3.10. Foto do Durômetro Shore D (UEZO)

3.3.3.4 Determinação do Índice de Fluidez

O ensaio de índice de fluidez tem por objetivo avaliar a fluidez do material

e, assim, inferir sobre a processabilidade do mesmo.

Os ensaios de índice de fluidez das amostras foram executados segundo a

norma, ASTM D1238-10 (2010) no equipamento mostrado na Figura 3.11. Foram

separados 5,00g de cada amostra e colocada no equipamento, o qual já se

encontrava aquecido a uma temperatura de 190ºC e submetido à carga de 2,16

Kg. Para cada amostra, foram coletadas 5 alíquotas no tempo de 20 segundos,

cada. Após o resfriamento das alíquotas, cada uma foi pesada e, a partir desses

dados, foi calculado o valor do índice de fluidez, cuja unidade é expressa em

gramas/10 minutos. Para cada amostra foi excluído o maior e o menor valor,

calculando assim a média aritmética das três determinações.

45

Figura 3.11. Foto do Medidor de Índice de fluidez (UEZO)

3.3.3.5 Caracterização Morfológica

A caracterização morfológica tem por objetivo verificar a dispersão da

carga (amido de milho) na matriz polimérica do PEBD, com diferentes teores de

amido na composição. A Figura 3.12 mostra o equipamento utilizado nesta

caracterização.

Foram cortadas quatro amostras de 10,00 mm x 10,00 mm para a

realização das micrografias. Pelo método escolhido, as amostras tiveram que ser

metalizadas com ouro para melhor formação da imagem e proteção do filme

compósito contra o feixe de elétrons de 30 kv e com detector de elétrons

secundários. A partir das imagens capturadas pelo equipamento foi possível

visualizar as características morfológicas do material analisado.

Figura 3.12. Foto da preparação das amostras e Microscópio eletrônico de

varredura (UEZO)

46

3.3.3.6 Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)

A análise de DSC foi realizada visando-se verificar a temperatura de

transição térmica na fusão (Tm) das amostras com diferentes teores de amido de

milho na matriz de PEBD. As condições de análise foram: taxa de aquecimento de

10 ºC/min; faixa de temperatura variando de 30 a 300 ºC e peso da amostra em

torno de 5,00 mg. A Figura 3.13 mostra o equipamento utilizado.

Figura 3.13. Foto do Calorímetro diferencial de varredura (DSC) (UEZO)

3.3.3.7 Caracterização Reológica

3.3.3.7.1 Ensaio de Varredura de Amplitude e Frequência

Realizou-se ensaios dinâmicos para determinação da região de

viscoelasticidade linear (RVL) através de varredura de amplitude na faixa de 0,35

a 300,00 Pa com frequência fixa de 1,00 Hz para obtenção do perfil dos módulos

de armazenagem (G’) e de perda (G”) em função da amplitude de tensão. Em

seguida foram realizados os testes de varredura de frequência na faixa de 0,63 à

92,22 rad/s com amplitude de tensão de 1,00 Pa, dentro da RVL. A Figura 3.14

mostra o equipamento utilizado nesta caracterização.

47

Figura 3.14. Foto do Reômetro com o acessório cone-placa

Para isto, foram confeccionados quatro corpos de prova (CPs) das

amostras com espessura de 1,00 mm x 25,00 mm de diâmetro. A geometria

utilizada foi a de placas paralelas de baixa inércia com haste cerâmica PP35H

com (gap) de 1,00 mm e sistema de controle de temperatura elétrico UTCE/P,

todo o ensaio foi conduzido a uma temperatura de 190ºC.

3.3.3.7.2 Ensaio de Fluência e Recuperação

A caracterização reológica teve por objetivo avaliar a viscosidade

zero, tempo de relaxação e a recuperação elástica do material processado,

verificando possíveis alterações pós-processamento. A Figura 3.14 mostra o

equipamento utilizado nesta caracterização e a Figura 3.15 mostra os corpos de

prova utilizados no ensaio.

Foram confeccionados quatro corpos de prova (CPs) das amostras com

espessura de 1,00 mm x 25,00 mm de diâmetro, utilizou-se geometria de placas

48

paralelas de baixa inércia com haste cerâmica PP35H com (gap) de 1,00 mm e

sistema de controle de temperatura elétrico UTCE/P.

O ensaio foi realizado com tensão constante de 10,00 Pa durante 300 s;

posteriormente mantidas sob tensão de cisalhamento nula, durante 300 s, para

observação da recuperação das estruturas.

Figura 3.15. Foto dos corpos de prova (Cp)

49

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados obtidos nesta

monografia.

4.1. CARACTERIZAÇÃO VISUAL

Esta técnica permite uma visualização do aspecto físico do material,

observando a ocorrência de irregularidades ou mudanças de coloração no

material processado. A Figura 4.1 mostra os filmes obtidos após processamento.

Figura 4.1. Foto dos filmes obtidos após processamento

PEBD PEBD/AM

(99/1)

PEBD/AM

(90/10)

PEBD/AM

(70/30)

Seta d Setas a e b Seta c

50

O resultado da avaliação visual dos filmes processados é apresentado na

Tabela 4.1.

Tabela 4.1. Resultado da avaliação visual dos filmes obtidos no processamento.

Com relação à transparência, observou-se nas amostras 1 e 2, certa

transparência, reduzindo na amostra 2, com a inserção de 1% em peso de amido

de milho (setas a e b). Ao aumentar-se o percentual de amido para 10% em peso,

observa-se redução brusca da transparência, com filme ficando mais opaco, com

coloração branca (seta c). Esta opacidade aumenta com 30% em peso de amido

de milho, observando-se, também, nesta amostra, a presença de aglomerados,

mostrando heterogeneidade na mistura. A heterogeneidade também promoveu

presença de rugosidade desta amostra (seta d). Logo, pode-se concluir que, pelos

resultados obtidos na análise visual, observa-se que dependendo da quantidade

de amido incorporado a composição das amostras, os filmes variam quanto à

transparência, rugosidade, coloração e aglomerados.

% de

amido

(em peso)

Matriz

da

Extrusora

Aspectos Visuais

Amostras Transparência Rugosidade Coloração Aglomerados Observações

1

0

Tubular

Alta

Ausente

Incolor

Ausente

Filme fino,

transparente e

com superfície

regular e

homogênea.

2

1

Tubular

Média

Ausente

Incolor

Ausente

Filme fino,

transparente e

com superfície

regular e

homogênea.

3

10

Tubular

Opaca

Ausente

Branca

Ausente

Filme fino,

opaco, com

superfície

regular e

homogênea.

4

30

Plana

Opaca

Presente

Amarelada

Presente

Filme fino,

opaco, com

superfície

regular e

heterogênea.

51

4.2. RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-MECÂNICA

4.2.1 Análise de densidade

A Tabela 4.2 apresenta o resultado da análise de densidade dos filmes.

Tabela 4.2. Resultado da análise de densidade dos filmes

Amostras % de amido

(em peso)

Matriz da

Extrusora

Densidade (g/cm3)

1 0 Tubular 0,91

2 1 Tubular 0,94

3 10 Tubular 0,95

4 30 Plana 0,98

Avaliando os resultados das medidas de densidade obtidos dos filmes

utilizando-se a extrusão com matriz plana, observa-se que houve um sutil

aumento no valor de densidade dos compósitos, em relação ao filme de PEBD

processado, o que pode ser sugerido pela adição do amido de milho em

percentuais de 1 e 10% em peso. Já o resultado obtido para o compósito com

30% em peso, foi também observado um aumento no valor de densidade,

possivelmente também devido a quantidade de amido de milho presente na

composição, e não devido ao tipo de extrusão, pois o perfil de rosca é o mesmo.

4.2.2 Análise de dureza

A Tabela 4.3 apresenta o resultado da análise de dureza dos filmes.

Tabela 4.3. Resultado da análise de dureza dos filmes

Amostras % de amido

(em peso)

Matriz da

Extrusora

Dureza

Shore D

1 0 Tubular 48

2 1 Tubular 46

3 10 Tubular 48

4 30 Plana 47

52

Avaliando os resultados da dureza obtidos, observou-se que ocorreu

pequena variação desta propriedade, o que já se esperava, pois são filmes com

espessuras próximas.

4.2.3 Análise do Índice de Fluidez

A Tabela 4.4 apresenta o resultado da análise do índice de Fluidez dos

filmes.

Tabela 4.4. Resultado da análise do índice de Fluidez dos filmes

Amostras % de amido

(em peso)

Matriz da

Extrusora

Amostra IF (g/10min)

1 0 Tubular 1 0,76

2 1 Tubular 2 0,74

3 10 Tubular 3 0,66

4 30 Plana 4 0,55

Avaliando os resultados do Índice de Fluidez dos compósitos de PEBD/AM,

observa-se que ocorreram mudanças consideráveis. Houve uma redução na

fluidez do material com o aumento no teor de amido de milho na matriz de PEBD.

Este fato pode estar relacionado justamente ao aumento da quantidade de AM

incorporada na matriz, que aumenta a viscosidade do material, reduzindo, assim,

sua fluidez. E, de fato, durante o processamento, foi observado claramente o

progressivo aumento da viscosidade do extrudado em função do aumento do teor

de amido, o que corrobora para os resultados de fluidez encontrados.

4.3. RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA

4.3.1 Análise da morfologia (MEV)

A técnica de MEV permite analisar a morfologia do material e avaliar como

está distribuída a carga em uma matriz, inferindo-se, assim, sobre possíveis

interações matriz-carga, em um compósito. Neste intuito, foram analisadas as

morfologias das superfícies das amostras dos compósitos obtidos com 0, 1, 10 e

53

30% em peso de amido de milho. A Figura 4.2 apresenta as micrografias destes

compósitos, os quais foram obtidas com 1000X de aumento.

A micrografia do PEBD (amostra 1) apresenta em sua superfície,

regularidade, como já esperado. Ao adicionar-se 1% de amido de milho na matriz

de PEBD (amostra 2), observa-se a presença de grânulos de amido totalmente

rompidos (seta a), porém, não muito bem inseridos na matriz de PEBD

(impressão de “descolamento” da matriz) e outros que não se romperam,

presentes na superfície (seta b), o que sugere-se que não ocorreu a completa

desestruturação do amido. Este resultado pode ter sido alcançado devido a não

uniformidade de mistura do amido de milho ao PEBD durante este

processamento.

Figura 4.2. Micrografia da superfície dos filmes obtidos após processamento

A amostra 3, que apresenta 10% em peso de amido de milho, observou-se

uma completa desestruturação dos grânulos de amido, assim como sua

homogeneização na matriz de PEBD (setas c e d). Aumentando-se o percentual

de amido de milho para 30% em peso (amostra 4), observa-se também o mesmo

efeito (seta e) e provavelmente um defeito (seta f), devido a parte do amido de

Seta b

Seta c Seta d Seta e Seta f

Amostra 1 - PEBD Amostra 2 - PEBD/AM

(99/1)

Amostra 3 - PEBD/AM

(90/10)

Amostra 4 - PEBD/AM

(70/30)

Seta a

54

milho que não se desestruturou e não se misturou a matriz de PEBD, durante o

processamento. Pode-se inferir que, em todos os casos, mostra-se que o amido

de milho, mesmo não gelatinizando, possui boa interação com o PEBD.

4.4. RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA

4.4.1 Análise térmica (DSC)

Com o objetivo de identificar e comparar o efeito do teor de amido de milho

nas misturas com o PEBD na temperatura de transição térmica na fusão (Tm) do

PEBD e na temperatura de degradação do PEBD foi realizada a técnica de

Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC). Os resultados obtidos com o DSC

são apresentados na Tabela 4.5.

Tabela 4.5. Resultados de Temperatura de fusão e de degradação térmica do PEBD nas misturas PEBD/AM

Amostras % de AM

(em peso)

Matriz da

Extrusora

Tm (°C) Temperatura

de degradação

(°C)

1 0 Tubular 122,6 223

2 1 Tubular 122,8 225

3 10 Tubular 122,1 232

4 30 Plana 134,5 238

A amostra 1, relativa ao PEBD puro, apresentou temperatura de fusão de

122,6 °C. Este resultado era esperado, pois, de acordo com a literatura esta é a

temperatura de fusão do PEBD (GUITIÁN, 1995). Ao adicionar-se 1% em peso de

amido de milho (amostra 2), observou-se que ocorreu um pequeno acréscimo de

0,2 °C na temperatura de fusão (122,6 para 122,8 °C), mas este valor não é

significativo, o mesmo ocorrido ao adicionar-se 10% em peso de amido de milho

(amostra 3). Entretanto, ao adicionar-se 30% em peso de amido de milho

(amostra 4), houve um aumento considerável da temperatura de fusão de 122,6

para 134,5°C, em 12ºC. Este resultado está de acordo com o trabalho de Almeida

(2001).

55

Com relação a temperatura de degradação térmica, na amostra 1, relativa

ao PEBD, o valor obtido foi de 223,0°C. Ao adicionar-se 1% de amido de milho,

(amostra 2), não houve um aumento consideravel. Porém, ao aumentar-se

consideravelmente o percentual de amido de milho para 10% (amostra 3) e 30%

em peso (amostra 4), observou-se um aumento considerável na temperatura de

degradação térmica de 223,0 °C no PEBD puro, para 232 °C e 238°C,

respectivamente. Estes resultados são bastante positivos, pois pode-se sugerir

que está havendo uma maior estabilidade da mistura PEBD/amido de milho, que

está promovendo um aumento na temperatura de degradação térmica.

4.5. RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA

4.5.1. Análise reológica (Varredura de amplitude e frequência)

Com este ensaio foi determinada a região de viscosidade linear (RVL), que

fornece uma idéia da estabilidade mecânica do material, pois exprime como os

módulos irão variar em função da amplitude de tensão aplicada.

Enquanto os módulos permanecem constantes, o material encontra-se

dentro da RVL, quando os módulos começam a variar, o sistema está saindo da

RVL, ou seja, ocorre uma desestruturação do material, da região de

viscoelasticidade linear (RVL).

O resultado obtido indicou, a utilização de uma tensão constante de 10,00

Pa durante 300 s.

Com este resultado os testes de varredura de frequência foram realizados

na faixa de 0,63 à 92,22 rad/s com amplitude de tensão de 1,00 Pa, dentro da

RVL. As Figuras 4.4 e 4.5, mostram os testes dinâmicos realizados na amostra,

relacionando a Viscosidade Complexa em função da Frequência Angular e o

Ângulo de Perda em função do teor de amido.

56

Figura 4.3. Viscosidade Complexa em função da Frequência Angular

Quando a amostra apresenta um comportamento puramente viscoso, o

valor do ângulo de perda é de 900. Quando o comportamento é puramente

elástico, o valor do ângulo de perda é zero, resultados indicam a predominância

do caráter elástico com o aumento do teor de amido, melhorando assim as

propriedades mecânicas do compósito, em função das interações

intermoleculares estabelecidas entre as cadeias poliméricas.

Figura 4.4. Ângulo de Perda em função do Teor de amido

57

4.5.2. Análise reológica (Fluência e Recuperação)

Conforme mostra a Tabela 4.6, ocorreu um aumento da viscosidade zero e

na recuperação elástica, exceto para a composição com 1% de AM, indicando

que a presença do AM, tende a fornecer a estabilidade requerida na mistura para

evitar os fenômenos de sedimentação e separação de fases. A viscosidade zero

está vinculada à viscosidade no plateau newtoniano dos polímeros, quanto maior

o valor da viscosidade zero, maior é a estabilidade mecânica do polímero,

evidenciando também o aumento das componentes elásticas na mistura. Com o

aumento do cisalhamento, o polímero atinge uma região não-newtoniana

(pseudoplástica), a diminuição dos tempos de relaxação em função da presença

do amido corrobora com as observações descritas.

Tabela 4.6. Resultado da Fluência e Recuperação

Amostras % de

amido

(em peso)

Matriz da

Extrusora

Viscosidade

Zero (Pa.s)

Recuperação

Elástica (%)

Tempo

de Relaxação (s) 1 0 Tubular 2,16 10E+4 8,35 49,39

2 1 Tubular 1,92 10E+4 4,84 41,49

3 10 Tubular 2,60 10E+4 12,32 97,85

4 30 Plana 3,25 10E+4 25,95 95,68

O módulo de armazenamento (G') e módulo de perda (G") mostrou

ligeiramente dependência de frequência, tanto modulo aumenta, quanto o

aumento da frequência angular (ω), G" magnitudes foram maiores do que G',

magnitudes para todas as composições estudadas, ângulo de fase (δ) pode ser

calculada como uma razão entre G" / G', os resultados indicaram que com o

aumento de teor de amido a elasticidade aumentou exponencialmente.

58

5. CONCLUSÕES

Em geral, o processamento do PEBD com o amido de milho foi satisfatório,

em todos os percentuais de amido de milho utilizados, mesmo fazendo-se uso de

uma extrusora mono-rosca que não é a ideal para o processamento dos

compósitos.

A adição do AM exerceu forte influência nas propriedades de fluxo do

PEBD, sendo este efeito mais relevante na amostra com alto teor de amido (30%

em peso), onde ocorreu predominância do comportamento elástico, aumento

considerável de viscosidade e redução importante na fluidez do material. Estas

mudanças no fluxo ocasionaram também informações importantes com relação

ao aspecto visual das amostras. O aumento no teor de amido de milho (de 0 à

30% em peso) modificou os filmes gerados, passando os mesmos de

transparentes a opacos, de não rugosos a rugosos, de sem coloração, passando

a coloração branca (com 10% em peso de AM) e amarela, com 30% em peso de

amido de milho (coloração amarela que se deve a alta quantidade de amido de

milho). A análise de dureza não mostrou modificação significativa. A densidade só

foi modificada significativamente com a adição de 30% em peso de amido de

milho.

Todas as misturas tiveram comportamento não newtoniano, apresentando

um comportamento de fluxo (pseudoplástico). A predominância do

comportamento elástico, sendo este efeito mais relevante nas amostras com 30%

em peso de amido de milho, indica a viabilidade de obtenção de um produto

sustentável com boas características mecânicas.

O controle das condições de processamento permitiu o desenvolvimento

dos compósitos sem a necessidade de utilização de agentes compatibilizantes e

as técnicas de caracterização utilizadas apresentaram boa correlação.

59

6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Os resultados apresentados nesta monografia que existem diversas linhas

de pesquisas a serem exploradas na busca do melhoramento do compósito

PEBD/AM. Aprofundar o conhecimento do comportamento do material e seu

processamento se faz importante para melhorar sua qualidade, possível aumento

do teor de amido, e definir possíveis aplicações.

Como exemplo de estudos ainda a serem abordados, pode-se citar:

1. Estudar outros percentuais de amido de milho incorporados ao PEBD.

2. Realizar processamentos por extrusão de filmes com o PEBD pós-

consumo obtidos de sacolas plásticas pós-consumo com o AM e comparar os

resultados obtidos neste estudo.

3. Estudar as melhores aplicações para o compósito, diante das

necessidades apresentadas no mercado de artefatos plásticos.

60

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