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CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM
PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM ACUPUNTURA
BIOSSEGURANÇA
UM ENFOQUE PARA A PRÁTICA DA ACUPUNTURA
ANA PAULA FRANCO PACHECO
FLORIANÓPOLIS (SC), 2010
ANA PAULA FRANCO PACHECO
BIOSSEGURANÇA
UM ENFOQUE PARA A PRÁTICA DA ACUPUNTURA
Monografia apresentada ao Centro
Integrado de Estudos e Pesquisas
do Homem (CIEPH), como requisito
parcial para obtenção do grau de
Especialista em Acupuntura.
CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM
Florianópolis, 2010
CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM
PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM ACUPUNTURA
BIOSSEGURANÇA
UM ENFOQUE PARA A PRÁTICA DA ACUPUNTURA
Elaborado por
ANA PAULA FRANCO PACHECO
COMISSÃO EXAMINADORA:
____________________________________________
Prof. Marcelo Fabian Oliva, Esp. em Acupuntura
Orientador/ Presidente de Banca
____________________________________________
Prof. Luiza Regina Pericolo Erwig, Ms. em Acupuntura
Membro de Banca
Florianópolis, 2010
RESUMO
Em mãos competentes, a acupuntura é geralmente um procedimento seguro,
com poucas contra-indicações ou complicações. No entanto, há sempre um
risco potencial, mesmo que pequeno, de transmissão de infecção de um
paciente para outro ou de introdução de organismos patogênicos.
Biossegurança em Acupuntura, portanto, exige vigilância constante na
manutenção de elevados padrões de limpeza, esterilização e técnica
asséptica.
Estas diretrizes são destinadas a hospitais, clínicas e profissionais e fornecer
normas de segurança na prática clínica da Acupuntura. Tem por objeto reduzir
ao mínimo o risco de infecção e de acidentes, alertar aos acupuntores sobre as
contra-indicações e orientar sobre a maneira de lidar com as complicações que
ocorrem durante o tratamento.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 07 2 ASPECTOS LEGAIS DA ACUPUNTURA NO BRASIL .................................. 09 3 BIOSSEGURANÇA EM ACUPUNTURA ......................................................... 12 4 PREVENÇÃO DE INFECÇÃO ......................................................................... 14 4.1 Ambiente de Trabalho Limpo......................................................................... 14 4.2 Higienização da Mãos ................................................................................... 15 4.2.a Sabonete Comum ....................................................................................... 17 4.2.b Agentes Anti-sépticos ................................................................................. 18 4.3 Preparação dos locais de Inserção das Agulhas ........................................... 21 4.4 Esterilização e Armazenamento de Agulhas e Equipamentos ...................... 22 4.4.1 Limpeza ...................................................................................................... 25 4.4.2 Desinfecção ................................................................................................ 26 4.4.3 Esterilização ............................................................................................... 29 4.5 Técnicas Assépticas ...................................................................................... 32 4.6 Gestão Cuidadosa e Descarte de Agulhas Usadas e Compressas ............... 34 5 CONTRA-INDICAÇÕES NA PRÁTICA DA ACUPUNTURA ........................... 40 5.1 Gravidez ........................................................................................................ 40 5.2 Emergências Médicas e Situações Cirúrgicas............................................... 40 5.3 Tumores Malignos ......................................................................................... 40 5.4 Distúrbios Hemorrágicos ............................................................................... 41 6 ACIDENTES E REAÇÕES INDESEJÁVEIS .................................................... 42 6.1 Qualidade da Agulha ..................................................................................... 42 6.2 Posição do Paciente ...................................................................................... 42 6.3 Desmaios....................................................................................................... 42 6.4 Convulsões .................................................................................................... 43 6.5 Dor ................................................................................................................. 44 6.5.1 Durante a Inserção das Agulhas ................................................................ 44 6.5.2 Após a Inserção das Agulhas ..................................................................... 44 6.5.3 Após a Retirada das Agulhas ..................................................................... 45 6.6 Agulha Emperrada ......................................................................................... 45 6.7 Agulha Quebrada .......................................................................................... 45 6.8 Infecção Local ............................................................................................... 46 6.9 Queimaduras Durante a Moxabustão ............................................................ 46
7 ELETROESTIMULAÇÃO E LASERTERAPIA ................................................. 47 8 LESÕES EM ÓRGÃOS IMPORTANTES ......................................................... 48 8.1 Áreas Que Devem ser Evitadas .................................................................... 48 8.2 Precauções.................................................................................................... 48 8.2.1 Tórax, Costas e Abdômen .......................................................................... 49 8.2.2 Pulmões e Pleura ....................................................................................... 49 8.2.3 Fígado, Baço e Rins ................................................................................... 49 8.2.4 Sistema Nervoso Central ............................................................................ 49 8.2.5 Outros Pontos ............................................................................................. 50 8.2.6 Sistema Circulatório ................................................................................... 50 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 52
7
1 INTRODUÇÃO
A Medicina Tradicional Chinesa caracteriza-se por um sistema médico integral,
originado há milhares de anos na China. Utiliza linguagem que retrata
simbolicamente as leis da natureza e que valoriza a inter-relação harmônica
entre as partes visando a integridade. Como fundamento, aponta a teoria do
Yin-Yang, divisão do mundo em duas forças ou princípios fundamentais,
interpretando todos os fenômenos em opostos complementares.
O objetivo desse conhecimento é obter meios de equilibrar essa dualidade.
Também inclui a teoria dos cinco movimentos que atribui a todas as coisas e
fenômenos na natureza, assim como no corpo, uma das cinco energias
(madeira, fogo, terra, metal, água). Utiliza como elementos a anamnese,
palpação do pulso, observação da face e língua em suas várias modalidades
de tratamento (Acupuntura, plantas medicinais, dietoterapia, práticas corporais
e mentais).
A Acupuntura é uma tecnologia de intervenção em saúde que aborda de modo
integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, podendo ser
usada isolada ou de forma integrada com outros recursos terapêuticos.
Originária da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a Acupuntura compreende
um conjunto de procedimentos que permitem o estímulo preciso de locais
anatômicos definidos por meio da inserção de agulhas filiformes metálicas para
promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como para prevenção de
agravos e doenças.
Achados arqueológicos permitem supor que essa fonte de conhecimento
remonta há pelo menos 3.000 anos. A denominação chinesa zhen jiu, que
significa agulha (zhen) e calor (jiu) foi adaptada nos relatos trazidos pelos
jesuítas no século XVII como Acupuntura (derivada das palavras latinas acus,
agulha e punctio, punção). O efeito terapêutico da estimulação de zonas
neurorreativas ou "pontos de acupuntura" foi, a princípio, descrito e explicado
8
numa linguagem de época, simbólica e analógica, consoante com a filosofia
clássica chinesa.
No ocidente, a partir da segunda metade do século XX, a Acupuntura foi
assimilada pela medicina contemporânea, e graças às pesquisas científicas
empreendidas em diversos países tanto do oriente como do ocidente, seus
efeitos terapêuticos foram reconhecidos e têm sido paulatinamente explicados
em trabalhos científicos publicados em respeitadas revistas científicas. Admite-
se atualmente, que a estimulação de pontos de Acupuntura provoque a
liberação, no sistema nervoso central, de neurotransmissores e outras
substâncias responsáveis pelas respostas de promoção de analgesia,
restauração de funções orgânicas e modulação imunitária.
A OMS recomenda a Acupuntura aos seus Estados-membros, tendo produzido
várias publicações sobre sua eficácia e segurança, capacitação de
profissionais, bem como métodos de pesquisa e avaliação dos resultados
terapêuticos das medicinas complementares e tradicionais. O consenso do
National Institutes of Health dos Estados Unidos referendou a indicação da
acupuntura, de forma isolada ou como coadjuvante, em várias doenças e
agravos à saúde, tais como odontalgias pós-operatórias, náuseas e vômitos
pós-quimioterapia ou cirurgia em adultos, dependências químicas, reabilitação
após acidentes vasculares cerebrais, dismenorréia, cefaléia, epicondilite,
fibromialgia, dor miofascial, osteoartrite, lombalgias e asma, entre outras.
A MTC inclui ainda práticas corporais (lian gong, chi gong, tuina, tai-chi-chuan);
práticas mentais (meditação); orientação alimentar; e o uso de plantas
medicinais (Fitoterapia Tradicional Chinesa), relacionadas à prevenção de
agravos e de doenças, promoção e recuperação da saúde.
9
2 ASPECTOS LEGAIS DA ACUPUNTURA NO BRASIL
No final da década de 70, a OMS criou o Programa de Medicina Tradicional,
objetivando a formulação de políticas na área. Desde então, em vários
comunicados e resoluções, a OMS expressa o seu compromisso em incentivar
os Estados-Membros a formularem e implementarem políticas públicas para
uso racional e integrado da MTC nos sistemas nacionais de atenção à saúde,
bem como para o desenvolvimento de estudos científicos para melhor
conhecimento de sua segurança, eficácia e qualidade. O documento
“Estratégia da OMS sobre Medicina Tradicional 2002-2005” reafirma o
desenvolvimento desses princípios.
No Brasil, a legitimação e a institucionalização dessas abordagens de atenção
à saúde iniciaram-se a partir da década de 80, principalmente após a criação
do SUS. Com a descentralização e a participação popular, os estados e os
municípios ganharam maior autonomia na definição de suas políticas e ações
em saúde, vindo a implantar as experiências pioneiras.
Alguns eventos e documentos merecem destaque na regulamentação e
tentativas de construção da política (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008):
1985: celebração de convênio entre o Instituto Nacional de Assistência Médica
da Previdência Social (Inamps), a Fiocruz, a Universidade Estadual do Rio de
Janeiro e o Instituto Hahnemaniano do Brasil, com o intuito de institucionalizar
a assistência homeopática na rede publica de saúde;
1986: 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), considerada também um
marco para a oferta das Práticas Integrativas e Complementares no sistema de
saúde do Brasil, visto que, impulsionada pela Reforma Sanitária, deliberou em
seu relatório final pela "introdução de práticas alternativas de assistência à
saúde no âmbito dos serviços de saúde, possibilitando ao usuário o acesso
democrático de escolher a terapêutica preferida";
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1988: resoluções da Comissão Interministerial de Planejamento e
Coordenação (Ciplan) nºs 4, 5, 6, 7 e 8/88, que fixaram normas e diretrizes
para o atendimento em homeopatia, acupuntura, termalismo, técnicas
alternativas de saúde mental e fitoterapia;
1995: instituição do Grupo Assessor Técnico-Científico em Medicinas Não-
Convencionais, por meio da Portaria nº 2543/GM, de 14 de dezembro de 1995,
editada pela então Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da
Saúde;
1996: 10ª Conferência Nacional de Saúde que, em seu relatório final, aprovou
a “incorporação ao SUS, em todo o País, de práticas de saúde como a
fitoterapia, acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas e
práticas populares”;
1999: inclusão das consultas médicas em homeopatia e acupuntura na tabela
de procedimentos do SIA/SUS (Portaria nº 1230/GM de outubro de 1999);
2000: 11ª Conferência Nacional de Saúde que recomenda “incorporar na
atenção básica: Rede PSF e PACS práticas não convencionais de terapêutica
como acupuntura e homeopatia”;
2001: 1ª Conferência Nacional de Vigilância Sanitária;
2003: constituição de Grupo de Trabalho no Ministério da Saúde com o objetivo
de elaborar a Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares
(PMNPC ou apenas MNPC) no SUS (atual PNPIC);
2003: Relatório da 1ª Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica, que
enfatiza a importância de ampliação do acesso aos medicamentos fitoterápicos
e homeopáticos no SUS;
2003: Relatório Final da 12ª CNS que delibera pela efetiva inclusão da MNPC
no SUS (atual Práticas Integrativas e Complementares).
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2004: 2ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovações em Saúde à
MNPC (atual Práticas Integrativas e Complementares) que foi incluída como
nicho estratégico de pesquisa dentro da Agenda Nacional de Prioridades em
Pesquisa;
2005: Decreto Presidencial de 17 de fevereiro de 2005, que cria o Grupo de
Trabalho para elaboração da Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos;
2005: Relatório final do seminário "Águas Minerais do Brasil", em outubro, que
indica a constituição de projeto piloto de Termalismo Social no SUS;
2006: Em fevereiro o documento final da política foi aprovado por unamidade
no Conselho Nacional de Saúde e consolidou-se, assim, a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares no SUS, publicada na forma das
Portarias Ministeriais nº 971 em 03 de maio de 2006, e nº 1.600, de 17 de julho
de 2006.
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3 BIOSSEGURANÇA EM ACUPUNTURA
A Comissão de Biossegurança da FIOCRUZ define a biossegurança como
sendo “O conjunto de ações voltadas para a prevenção , minimização ou
eliminação de riscos inerentes as atividades de pesquisa, produção , ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, riscos que podem
comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou a
qualidade dos trabalhos desenvolvidos”. (TEIXEIRA & VALLE, 1996)
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece há muito tempo que a
segurança, e particularmente a segurança biológica, são questões importantes
a nível internacional.
No Brasil, a legislação pertinente à biossegurança atualmente está veiculada à
Lei Nº 11.105 de 25 de março de 2005 que dispõe sobre a Política Nacional de
Biossegurança. A Lei Nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995 foi revogada, criou a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, uma dimensão ampla que
extrapola a área da saúde e do trabalho, sendo empregada quando há
referência ao meio ambiente e à biotecnologia. (HINRICHSEN, 2004).
Lembramos que a saúde dos trabalhadores abrange um campo específico da
área da saúde pública no Brasil, que procura atuar através de procedimentos
próprios, com a finalidade de promover e proteger a saúde das pessoas
envolvidas no exercício do trabalho. Assim, voltada para a saúde do
trabalhador, tem-se a Portaria Nº 37 de 06/12/2002, que instituiu a Norma
Regulamentadora (NR) 32, que trata especificamente da Segurança e Saúde
do Trabalho nos Estabelecimentos de Assistência a Saúde. (MASTROENI,
2006)
Dispomos de orientações destinadas a hospitais, clínicas e profissionais,
fornecendo normas de segurança na prática clínica de acupuntura, com a
finalidade de minimizar os riscos de infecção e acidentes, alertar os
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acupunturistas sobre contra-indicações, e aconselhar sobre a gestão das
complicações que ocorrem durante o tratamento.
Em mãos competentes, a acupuntura é geralmente um procedimento seguro,
com poucas contra-indicações ou complicações. A sua forma mais
comumente utilizada envolve penetração da agulha da pele e pode ser
comparada a uma via subcutânea ou injecção intramuscular. No entanto, há
sempre um risco potencial, mesmo que pequeno, de transmissão de infecção
de um paciente para outro (por exemplo, HIV ou hepatite) ou de introdução de
organismos patogênicos. Segurança em acupuntura, portanto, exige vigilância
constante na manutenção de elevados padrões de limpeza, esterilização e
técnica asséptica.
Há, além disso, outros riscos que não podem ser previstos ou evitados, mas
que o acupunturista deve estar preparado. Estes incluem: agulhas quebradas,
reações indesejáveis, dor ou desconforto e lesão inadvertida de importantes
órgãos.
Finalmente, existem os riscos devido à formação inadequada do
acupunturista. Estes incluem a seleção inadequada de pacientes, os erros de
técnica, e à falta de reconhecer contra-indicações e complicações, ou para
lidar com situações de emergência quando elas surgem.
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4 PREVENÇÃO DE INFECÇÃO
“O objetivo do controle de infecção é impedir a penetração de microorganismos
em locais onde eles não existam previamente, bem como evitar a carga de
novos agentes à área já contaminada garantindo segurança a todos os
pacientes e à equipe.” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007).
Como acontece com qualquer injecção subcutânea ou intramuscular, a
prevenção de infecção em acupuntura requer: (WHO-WFAS, 1999, tradução
nossa)
1 Ambiente de trabalho limpo;
2 Higienização das mãos;
3 Preparação dos locais de inserção das agulhas;
4 Esterilização e armazenamento de agulhas e equipamentos
5 Técnica asséptica, e
6 Gestão cuidadosa e descarte de agulhas usadas e compressas.
4.1 Ambiente de Trabalho Limpo
Os consultórios devem ser amplos e arejados. De acordo com a RDC 50/02, a
sua metragem deverá ser de 7,5m², o piso e paredes deverão ser de material
lavável e preferencialmente na cor clara . Deverá dispor de lavatórios/pias
exclusivos para lavagem das mãos, as torneiras devem ter comando do tipo
que dispensem o contato das mãos, quando do seu fechamento. Junto ao
lavatório deverá haver dispersadores de sabão líquido e provisão de papel
toalha.
O ambiente deverá ser mantido livre de sujeira e poeira. A limpeza deverá ser
feita com água e sabão e hipoclorito de sódio a 1%. Não é permitida a
colocação de plantas, devido a possibilidade de contaminação por Aspergillus,
o que poderá ocasionar riscos ao paciente. É importante o controle da
qualidade do ar no ambiente, que deverá seguir as recomendações da portaria
3523/98 e da RDC 09/03.
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A sala de tratamento deve ser livre de poeira e sujeira e deve ter uma área
especial de trabalho, como uma mesa coberta com uma toalha estéril, onde
devem ser colocados os equipamentos esterelizados necessários para o uso.
Estes equipamentos deverão ser também cobertos com uma toalha estéril.
4.2 Higienização das Mãos
Para a Anvisa/MS, a higienização das mãos é reconhecida, mundialmente,
como uma medida primária, mas muito importante no controle de infecções
relacionadas a assistência a saude. Por este motivo, tem sido considerada
como um dos pilares da prevencao e controle de infecções dentro dos serviços
de saúde, incluindo aquelas decorrentes da transmissão cruzada de
microrganismos multirresistentes.
A Portaria do Ministério da Saúde MS nº 2616, de 12 de maio de 1998
estabelece as ações mínimas a serem desenvolvidas sistematicamente, com
vistas à redução da incidência e da gravidade das infecções relacionadas aos
serviços de saúde. Destaca também a necessidade da higienização das mãos
em serviços de saúde. A Resolução da Diretoria Colegiada RDC nº 50, de 21
de fevereiro de 2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, do Ministério
da Saúde (Anvisa/MS), dispõe sobre Normas e Projetos Físicos de
Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, definindo, dentre outras, a
necessidade de lavatórios/pias para a higienização das mãos. Esses
instrumentos normativos reforçam o papel da higienização das mãos como
ação mais importante na prevenção e controle das infecções relacionadas à
assistência à saúde. (ANVISA/MS, 2009)
Recentemente, o termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização
das mãos” devido à maior abrangência deste procedimento. O termo engloba a
higienização simples, a higienização anti-séptica, a fricção anti-séptica e a anti-
sepsia cirúrgica das mãos. (ANVISA/MS, 2007)
Para entender os objetivos das diversas abordagens à higienização das mãos
é importante conhecer os conceitos de microbiota transitória e microbiota
residente.
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A microbiota transitória, que coloniza a camada superficial da pele, consiste
de microrganismos não-patogênicos ou potencialmente patogênicos, tais como
bactérias, fungos e vírus, que raramente se multiplicam na pele. No entanto,
alguns podem provocar infecções relacionadas à assistência à saúde.
Sobrevive por curto período de tempo e é passível de remoção pela
higienização simples das mãos, com água e sabonete, por meio de fricção
mecânica. É freqüentemente adquirida por profissionais de saúde durante
contato direto com o paciente (colonizados ou infectados), ambiente,
superfícies próximas ao paciente, produtos e equipamentos contaminados.
A microbiota residente, que está aderida às camadas mais profundas da
pele, é mais resistente à remoção apenas por água e sabonete. As bactérias
que compõem esta microbiota (e.g., estafilococos coagulase negativos e
bacilos difteróides) são agentes menos prováveis de infecções veiculadas por
contato.
Sendo assim, a pele pode servir como reservatório de microrganismos que
podem ser transmitidos por contato direto, pele com pele, ou indireto, por meio
de objetos e superfícies do ambiente.
Deve ser lembrado ainda que fungos (e.g., Candida spp.) e vírus (e.g., vírus da
hepatite A, B, C; vírus da imunodeficiência humana - HIV; vírus respiratórios;
vírus de transmissão fecal-oral como rotavírus; grupo herpes como varicela,
vírus Epstein-Barr e citomegalovirus) podem colonizar transitoriamente a pele,
principalmente polpas digitais, após contato com pacientes ou superfícies
inanimadas, podendo ser transmitidos ao hospedeiro susceptível.
Para prevenir a transmissão de microrganismos pelas mãos, três elementos
são essenciais para esta prática:
a. agente tópico com eficácia antimicrobiana,
b. procedimento adequado ao utilizá-lo (com técnica adequada e no tempo
preconizado) e
c. adesão regular no seu uso (nos momentos indicados).
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A seguir serão abordados determinados produtos que podem ser utilizados
para higienização das mãos: sabonete comum e os anti-sépticos (álcool,
clorexidina, iodo/iodoforos e triclosan), considerando modo de ação, ação
antimicrobiana e problemas decorrentes do seu uso. (ANVISA/MS, 2009)
4.2.a Sabonete Comum (sem associação de anti-séptico)
O sabonete comum não contém agentes antimicrobianos ou os contêm em
baixas concentrações, funcionando apenas como conservantes. Os sabonetes
para uso em serviços de saúde podem ser apresentados sob várias formas:
em barra, em preparações líquidas (as mais comuns) e em espuma.
Favorecem a remoção de sujeira, substâncias orgânicas e da microbiota
transitória das mãos pela ação mecânica.
Em geral, a higienização com sabonete líquido remove a microbiota transitória,
tornando as mãos limpas. Esse nível de descontaminação é suficiente para os
contatos sociais em geral e para a maioria das atividades práticas nos serviços
de saúde. Porém, a eficácia da higienização simples das mãos, com água e
sabonete, depende da técnica e do tempo gasto durante o procedimento que
normalmente dura em média 8 a 20 segundos, sem contar o tempo necessário
para se deslocar para e retornar da pia. O processo completo leva muito mais
tempo, estimado em 40 a 60 segundos
Nos serviços de saúde, recomenda-se o uso de sabonete líquido, tipo refil,
devido ao menor risco de contaminação do produto. Os sabonetes estão
também regulamentados pela resolução ANVS n. 481, de 23 de setembro de
1999.
Regras básicas para higienização das mãos:
• Duração do procedimento: 40 a 60 segundos.
• No caso de torneiras com contato manual para fechamento, sempre utilize
papel-toalha.
• O uso coletivo de toalhas de tecido é contra-indicado, pois estas
permanecem úmidas, favorecendo a proliferação bacteriana.
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• Deve-se evitar água muito quente ou muito fria na higienização das mãos, a
fim de prevenir o ressecamento da pele.
Seqüência da lavagem das mãos: (LACEN/SC, 2007)
Palma Dorso Espaços Polegar interdigitais
Articulação Unhas e Punhos dos dedos extremidades
4.2.b Agentes Anti-sépticos
São substâncias aplicadas à pele para reduzir o número de agentes da
microbiota transitória e residente. Entre os principais anti-sépticos utilizados
para a higienização das mãos, destacam-se: Álcoois, Clorexidina, Compostos
de iodo, Iodóforos e Triclosan.
Os agentes anti-sépticos utilizados para higienização das mãos devem ter ação
antimicrobiana imediata e efeito residual ou persistente. Não devem ser
tóxicos, alergênicos ou irritantes para pele. Recomenda-se que sejam
agradáveis de utilizar, suaves e ainda, custo-efetivos.
Álcool
A atividade antimicrobiana em geral dos álcoois se eleva com o aumento da
cadeia de carbono, porém a solubilidade em água diminui. Somente os álcoois
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alifáticos que são completamente miscíveis em água, preferencialmente o
etanol, o isopropanol e o n-propanol, são usados como produto para
higienização das mãos.
De modo geral, os álcoois apresentam rápida ação e excelente atividade
bactericida e fungicida entre todos agentes utilizados na higienização das
mãos. Soluções alcoólicas entre 60 a 80% são mais efetivas e concentrações
mais altas são menos potentes, pois as proteínas não se desnaturam com
facilidade na ausência de água.
Os álcoois, em geral, têm excelente atividade germicida in vitro contra
bactérias vegetativas Gram-positivas e Gram-negativas, incluindo patógenos
multirresistentes (e.g., MRSA e VRE), Mycobacterium tuberculosis, e vários
fungos. Certos vírus envelopados (e.g., herpes simples, HIV, vírus influenza,
vírus sincicial respiratório e vírus vaccínia), são susceptíveis aos álcoois
quando testados in vitro. O vírus da hepatite B é um vírus envelopado, menos
susceptível, mas inativado pelo álcool a 60 - 70% e o vírus da hepatite C
também é inativado nessas concentrações.
Portanto, produtos alcoólicos são mais efetivos na higienização das mãos de
profissionais de saúde quando comparados aos sabonetes comuns ou
sabonetes associados a anti-sépticos.
O mais indicado para anti-sepsia da pele do paciente antes da colocação de
agulhas é o álcool a 70%.
Ressalta-se que a eficácia de preparações alcoólicas para higienização das
mãos é afetada por vários fatores: tipo, concentração, tempo de contato,
fricção e volume de álcool utilizado, e se as mãos estavam molhadas no
momento de aplicação do álcool.
Importante:
• Duração do Procedimento: 20 a 30 segundos.
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• Para evitar ressecamento e dermatites, não higienize as mãos com água e
sabão imediatamente antes ou depois de usar uma preparação alcoólica.
• Depois de higienizar as mãos com preparação alcoólica, deixe que elas
sequem completamente (sem utilização de papel-toalha).
Clorexidina
A clorexidina apresenta boa atividade contra bactérias Gram-positivas, menor
atividade contra bactérias Gram-negativas e fungos, mínima atividade contra
micobactéria e não é esporicida.
Tem atividade in vitro contra vírus envelopados (herpes simples, HIV,
citomegalovírus, influenza e vírus sincicial respiratório), mas atividade
substancialmente menor contra os vírus não envelopados (rotavírus,
adenovírus e enterovírus)
Formulações aquosas ou detergentes contendo 0,5 %, 0,75% ou 1% de
clorexidina são mais efetivas que sabonetes não associados a anti-sépticos,
mas menos efetivas que soluções detergentes contendo gluconato de
clorexidina a 4%. As preparações com gluconato de clorexidina a 2% não
apresentam diferenças significativas de atividade antimicrobiana comparadas
àquelas contendo 4% de clorexidina4-5,9,11-12,15,31.
A clorexidina tem efeito residual importante, em torno de 6 horas. O uso de
clorexidina para a higienização das mãos nos serviços de saúde é seguro e a
absorção pela pele é mínima, senão nula. A ocorrência de irritação na pele é
concentração-dependente, com probabilidade maior para produtos que contém
4% de clorexidina e quando utilizados com freqüência para higienização das
mãos, sendo que reações alérgicas são raras.
Iodóforos - PVPI (Polivinilpirrolidona iodo)
Iodóforos são moléculas complexas compostas de iodo e de um polímero
carreador chamado “polivinilpirrolidona”, cuja combinação aumenta a
solubilidade do iodo e provê um reservatório de iodo, liberando-o ao ser
utilizado e reduzindo o ressecamento da pele.
21
Tem atividade ampla contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, bacilo
da tuberculose, fungos e vírus (exceto enterovírus), possuindo também alguma
atividade contra esporos. Entretanto, em concentrações utilizadas para anti-
sepsia, usualmente os iodóforos não têm ação esporicida.
Triclosan
O triclosan, cujo nome químico é éter 2,4,4’- tricloro-2’-hidroxofenil, é um
derivado fenólico. Este anti-séptico tem amplo espectro de atividade
antimicrobiana, sendo bacteriostático com concentrações inibitórias mínimas
(CIM) entre 0,1 a 10 µg/mL, entretanto, as concentrações bactericidas mínimas
são de 25-500 µg/mL por 10 minutos de exposição.
A atividade bactericida é maior contra bactérias Gram-positivas, incluindo
MRSA, do que contra bactérias Gram-negativas, particularmente a P.
aeruginosa. Possui atividade razoável contra microbactérias e Candida spp.,
mas é limitada contra fungos filamentosos, como Aspergillus spp., cuja CIM é
100 µg/mL.
4.3 Preparação dos Locais de Inserção das Agulhas
Os pontos de acupuntura são definidos pelo Ministério da Saúde como:
“Regiões específicas do corpo humano e de animais, de localização bem
definida através de referenciais anatômicos, situadas abaixo do tecido celular
subcutâneo, na proximidade de fáscia, tecidos musculares e muitas vezes
periósteo, com propriedades neurorreativas que desencadeiam estímulo
terapêutico; envolvem diversas estruturas subjacentes – nervos, vasos
sangüíneos, músculos, tendões, fáscias, ligamentos, ossos, cápsulas
articulares – a profundidades variáveis (de poucos milímetros até mais de dez
centímetros); apresentam projeção sobre a superfície cutânea, também de
localização bem definida, de dimensão diminuta (cerca de 3 mm²), projeção
esta que serve de ponto de aplicação para penetração da agulha de
acupuntura em direção àquelas regiões neurorreativas. São usados também
para fins diagnósticos, sinalizando a existência de diversas condições
22
patológicas quando se apresentem com alterações estruturais ou em sua
sensibilidade”. (MS, 2005)
Uma das principais ferramentas da acupuntura são as agulhas sistêmicas,
definidas pelo Ministério da Saúde como instrumento filiforme perfurante, de
ponta divulsionante, destinadas à penetração em pele, tecido subcutâneo e
músculos. Assim sendo, as agulhas são reconhecidas como artigos críticos por
penetrarem na pele e tecidos do paciente, devendo ser considerado seu risco
potencial para carrear microrganismos causadores de infecções. Cuidados
especiais devem ser tomados na escolha da melhor agulha a ser utilizada,
certificando-se da sua procedência, esterilização, embalagem e conservação
antes do manuseio, evitando contaminações. (PIMENTA, 2009)
Apesar das agulhas serem consideradas artigos críticos, existem poucos
relatos de casos de contaminação devido ao uso de agulhas de acupuntura,
mostrando ser uma técnica segura e eficaz, na qual se recomenda o uso de
materiais descartáveis, devidamente esterilizados e embalados. (PIMENTA,
2009)
Segundo Wash não há evidências de que um número significante de
microrganismos possa ser transmitido pelos procedimentos de acupuntura,
mas o controle de infecção é essencial. (PIMENTA, 2009)
Os locais de inserção da agulha devem ser limpos, livres de cortes, feridas ou
infecções. O ponto a ser agulhado deve ser limpo com álcool etílico 70% ou
com álcool isopropílico, a partir do centro para a área próxima através de um
movimento rotativo e de fricção, e o álcool deverá secar. (WHO-WFAS, 1999,
tradução nossa)
4.4 Esterilização e Armazenamento de Agulhas e Equipamentos
Por tratar-se de um material que penetra na pele e em vários outros tecidos,
segundo a Resolução RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) n°. 306, de 07
de dezembro de 2004, as agulhas de acupuntura pertencem ao grupo E –
23
perfurocortantes, que são os objetos e instrumentos contendo cantos, bordas,
pontas ou protuberâncias rígidas e agudas, capazes de cortar ou perfurar.
Enquadram-se neste grupo: lâminas de barbear, bisturis, agulhas, escalpes,
ampolas de vidro, lâminas e outros similares provenientes de serviços de
saúde.
Por ser uma técnica invasiva que usa agulhas como uma de suas principais
ferramentas, recomenda-se sempre o uso de agulhas descartáveis de boa
procedência. Além do uso de materiais descartáveis, é necessário seguir as
normas de precauções padrão no desempenho de todas as atividades da área
da saúde de atendimento a pacientes, independente de suspeita ou não de
doenças transmissíveis para prevenir a transmissão de microrganismos, pois
essas medidas protegem o profissional e também previnem a transmissão
cruzada entre pacientes. (PIMENTA, 2009)
Para a OMS e a Federação Mundial de Acupuntura e Moxabustão (WFAS), a
esterilização é necessária para todas as agulhas de acupuntura (filiforme, sete
estrelas, subcutânea, cabeça redonda subcutânea), ventosas e outros
equipamentos utilizados (bandejas de armazenamento, pinças, mandril, etc.)
Recomenda-se, em todas as instâncias, agulhas de acupuntura estéreis e
mandril descartáveis. No entanto, o uso de agulhas descartáveis não deve
diminuir a vigilância do terapeuta em adotar técnicas assépticas em outros
aspectos da prática clínica. Todas as agulhas devem ser descartadas
imediatamente após o uso e colocadas em um recipiente especial. (WHO-
WFAS, 1999, tradução nossa)
Cada agulha estéril filiforme deve ser utilizada para perfurar apenas uma vez, e
uma única vez. A agulha sete estrelas pode ser usada repetidamente no
mesmo paciente, mas deve ser esterilizada antes de ser utilizada em outro
paciente. O terapeuta é responsável por garantir que esses padrões sejam
mantidos. (WHO-WFAS, 1999, tradução nossa)
24
Imediatamente após o uso, agulhas reutilizáveis e outros equipamentos
contaminados devem ser imersos em um desinfetante químico eficaz,
embebidos em água, com ou sem detergente e, após limpeza cuidadosa, bem
enxaguados em água antes de serem embalados para esterilização. (WHO-
WFAS, 1999, tradução nossa)
O pacote esterilizado deve ser armazenado em uma área segura e limpa, bem
ventilada e livre de umidade excessiva, para afastar qualquer possibilidade de
condensação e crescimento de bolores. O tempo máximo de armazenamento
seguro varia de acordo com o tipo de embalagem. As agulhas devem ser
colocadas em um tubo de ensaio, que deve ter algodão para proteção das
pontas, e claramente rotulado com uma data de validade não superior a sete
dias após a data de esterilização. Condições de armazenamento inadequado
pode, no entanto, causar a perda da esterilidade do equipamento muito tempo
antes da data de expiração. A integridade do pacote deve ser inspecionado
antes do uso. Agulhas estéreis armazenadas em bandejas de agulha devem
ser reesterilizadas no final do dia, porque as bandejas podem tornar-se
contaminadas durante o uso no tratamento. (WHO-WFAS, 1999, tradução
nossa)
O processamento de artigos inclui a limpeza, desinfecção e esterilização. É
importante saber classificar o artigo, pois de acordo com a classificação, este
poderá passar apenas pelo processo de desinfecção ou deverá ser
esterilizado. Lembrando ainda que para o bom processamento de artigos, a
limpeza é fundamental.
Segundo o Ministério da Saúde, os artigos utilizados em serviços de saúde
classificam-se em: (MS/94, SS-374/95, 1994)
Artigos críticos: são aqueles que penetram através da pele e mucosas,
atingindo os tecidos sub-epiteliais, sistema vascular, bem como todos os que
estejam diretamente conectados com este sistema. Ex: agulhas, martelo,
sangrador, pinça, ventosas utilizadas em sangria. Devem ser esterilizados para
uso.
25
Artigos semi-críticos: são todos aqueles que entram em contato com a pele
não íntegra ou com mucosas íntegras. Ex: Equipamentos respiratórios e de
anestesia, endoscopia, etc. Requerem desinfecção de alto nível ou
esterilização. Não há exemplos destes artigos em acupuntura.
Artigos não críticos: são todos aqueles que entram em contato com a pele
íntegra do paciente. Ex: ventosas (quando não utilizada para sangria),
aparelhos de pressão, etc. Requerem limpeza ou desinfecção de médio ou
baixo nível.
4.4.1 Limpeza
É a remoção de material orgânico e sujidades dos objetos e precede as ações
de desinfecção e/ou esterilização. Neste processo se orienta a utilização de
água com detergente ou produtos enzimáticos.
Tem como objetivos:
Remover sujidades.
Remover ou reduzir a quantidade de microorganismos.
Garantir a eficácia do processo de desinfecção e esterilização.
Preservar o material.
A limpeza pode ser desenvolvida através de métodos manuais ou mecânicos.
(MS/94, SS-374/95, 1994)
a. Limpeza manual: é o procedimento realizado manualmente, onde a
sujidade é removida por meio da ação física com auxilio de detergente,
água e artefatos como esponja e escova.
b. Limpeza mecânica: é realizada por máquinas automatizadas
específicas para este fim. A remoção da sujeira ou matéria orgânica
ocorre pela ação combinada da energia mecânica (vibração sonora),
térmica (temperatura entre 50º e 55ºC) e química (detergentes).
Soluções enzimáticas apresentam excelente ação de limpeza, mas não
possuem atividade bactericida e bacteriostática.
26
4.4.2 Desinfecção
É um processo que destrói microorganismos, patogênicos ou não, dos artigos,
com exceção de esporos bacterianos, por meios físicos ou químicos.
Níveis de desinfecção:
a. Alto nível: destrói microorganismos na forma vegetativa e alguns
esporulados, destrói ainda o bacilo da tuberculose, vírus e fungos. Faz-
se necessário o enxágüe do material com água estéril e manipulação
com técnica asséptica.
Usar Aldeídos e ácido peracético.
b. Médio nível ou nível intermediário: destrói microorganismos na forma
vegetativa, com exceção dos microorganismos esporulados, inativa o
bacilo da tuberculose, a maioria dos vírus e fungos.
Usar Álcool, hipoclorito de sódio a 1%, cloro orgânico, fenol sintético,
monopersulfato de potássio e associações.
c. Baixo nível: destrói microorganismos na forma vegetativa, alguns vírus
e fungos, não elimina o bacilo da tuberculose, nem os microorganismos
esporulados.
Usar quaternário de amônia e hipoclorito de sódio 0,2%.
27
TABELA 1: Produtos Utilizados na Desinfecção de Artigos e o Nível de
Desinfecção
PRODUTO NÍVEL DE
DESINFECÇÃO
TEMPO DE
EXPOSIÇÃO
RESTRIÇÕES DE USO
Glutaraldeído a 2% ALTO 45 minutos Materiais porosos retem o
produto
Ácido peracético +
peróxido de
hidrogênio
ALTO 15 minutos Danifica metais
Hipoclorito de sódio
a 1%
MÉDIO 30 minutos Danifica metais e
mármore
Álcool a 70% MÉDIO 30 segundos Danifica acrílico e
borracha
Quaternário de
Amônia
BAIXO 30 minutos Não há
Fonte: Secretaria Estadual Saúde Rio Janeiro, 2003
28
TABELA 2: Uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e Toxidade
dos Produtos Utilizados na Dsesinfecção de Artigos
PRODUTO EPI TOXICIDADE
Álcool a 70% luva de borracha cano longo Não apresenta
Quaternário de amônia
luva de borracha cano longo Não apresenta
Peróxido de hidrogênio
avental impermeável, óculos, luva de borracha cano longo, botas
Irritante para os olhos. Os níveis no ambiente não deve ultrapassar 1 ppm.
Hipoclorito Avental impermeável, luva de borracha cano longo, botas, óculos.
Misturado a substância ácida, libera gás de cloro.
Em contato com formaldeído, produz substância cancerígena.
Ácido peracético + peroxido de hidrogênio
Máscara de filtro químico, avental impermeável, óculos, luva de borracha cano longo, botas.
Irritante para mucosas (não significativa)
Glutaraldéido Máscara de filtro químico, avental impermeável, óculos, luva de borracha cano longo, botas.
Irritante para mucosa (olhos, nariz, garganta), podendo causar asma, dermatites, epistaxe e rinite. Os níveis no ambiente, não deve ultrapassar 0,2ppm.
Ácido perácetico Máscara de filtro químico, avental impermeável, óculos, luva de borracha cano longo, botas
Pode ocasionar queimaduras em contato direto com a pele, cegueira se entrar em contato com olhos, irritante para mucosa do nariz, garganta e pulmão.
Fonte: Secretaria Estadual Saúde Rio Janeiro, 2003
29
Fatores que afetam a eficácia do desinfetante (SESRJ, 2003):
a. Quantidade e localização dos microorganismos presentes no artigo a ser
processado: a limpeza eficaz reduz a quantidade de microorganismos,
permitindo melhor ação do germicida, artigos com lúmen dificultam este
processo.
b. Resistência de microorganismos aos germicidas: os microorganismos
esporulados, e as mycobactérias, são normalmente mais resistentes aos
produtos utilizados, entre as bactérias destacamos a P.aeruginosa que
apresenta maior resistência aos germicidas do que outras bactérias
gram-positivas ou negativas.
c. Concentração e potência do desinfetante.
d. Fatores químicos e físicos, como temperatura, pH, umidade relativa.
e. Presença de matéria orgânica: a reação química entre o desinfetante e a
matéria orgânica compromete a ação do produto.
f. Tempo de exposição.
4.4.3 Esterilização
É a eliminação completa de todas as formas de vida microbiana presente em
artigos. Este processo pode ocorrer através de meios físico, químico liquido e
químico gasoso (como as mais utilizadas).
Físico: autoclave (calor úmido sob pressão), estufa (calor seco) e radiação
gama.
Químico liquido: glutaraldeídos, ácido peracético e fomaldeído (em desuso).
Químico gasoso: gás de óxido de etileno.
Apresentamos, no quadro abaixo, os métodos, equipamentos e soluções
utilizadas no processo de esterilização, relacionando a temperatura e o tempo
de exposição para os diversos processos. (SESRJ, 2003)
30
TABELA 3: Processo de Esterilização
MÉTODO EQUIPAMENTO /
SOLUÇÃO
TEMPERATURA TEMPO
FÍSICO
Vapor sob
pressão
Autoclave
Gravitacional 121ºC 30 minutos
Pré-vácuo 134ºC 4 minutos
Calor
seco
Estufa
170ºC 1 hora
160ºC 2 horas
QUÍMICO
Líquido
Glutaraldeído (imersão) 25°C 10 horas
Ácido peracético 50°C 12 minutos
Ácido peracético + peróxido
de hidrogênio (imersão)
20° C
3 horas
Peróxido de hidrogênio 20° C 6 horas
Gasoso
Óxido de etileno 54,4ºC 3 horas
Plasma de peróxido de
hidrogênio
54ºC 1 hora
Fonte: Secretaria Estadual Saúde Rio Janeiro, 2003
Observação: a estufa atualmente é pouco recomendada, uma vez que a
penetração do calor é lenta, não uniforme, a alta temperatura exigida danifica o
material e há dificuldade de validação do processo. (SESRJ, 2003)
A esterilização a vapor é o método mais utilizado para as agulhas de
acupuntura e outros instrumentos de metal. É atóxico, barato e rápido se
utilizado em conformidade com as instruções do fabricante (por exemplo:
tempo, temperatura, pressão, envoltórios e carga). A esterilização a vapor só é
plenamente eficaz quando livre de ar, de preferência de 100% vapor saturado.
31
A pressão em si não tem influência sobre a esterilização, mas serve como um
meio de obtenção de altas temperaturas exigidas. (WHO-WFAS, 1999,
tradução nossa)
O calor seco também pode ser usado para esterilizar agulhas e
particularmente para esterilizar materiais que possam ser danificados pelo
calor úmido, mas pode deixar as agulhas frágeis. Ele requer temperaturas
mais elevadas e maior tempo de esterilização. (WHO-WFAS, 1999, tradução
nossa)
Instrumentos feitos de borracha ou plástico, que são incapazes de suportar a
elevada temperatura de uma autoclave podem ser esterilizados quimicamente,
com concentrações apropriadas e tempo adequado de imersão (por exemplo:
6% de peróxido de hidrogênio por seis horas). (WHO-WFAS, 1999, tradução
nossa)
Para ventosa, recomenda-se que seja utilizada de vidro, de borracha ou de
plástico, desde que o vidro seja resistente a altas temperaturas requeridas para
esterilização. É importante ressaltar que as agulhas em água fervente não é
suficiente para a esterilização, nem é a imersão em álcool, uma vez que estes
métodos não destroem bactérias resistentes, esporos ou certos vírus. (WHO-
WFAS, 1999, tradução nossa)
Manutenção
Todos os esterilizadores devem ser verificados periodicamente. O esterilizador
deve ser carregado na conformidade com as instruções do fabricante, com
espaço de ar suficiente entre as embalagens para permitir a boa circulação e
penetração de vapor ou ar quente. A eficácia da esterilização deve ser
regularmente verificada com indicadores biológicos, indicadores de controle de
autoclave ou por outros testes para garantir que o conteúdo foi submetido a
condições corretas de esterilização. (WHO-WFAS, 1999, tradução nossa)
A utilização de um novo padrão de esterilização para caixa de agulhas é
recomendado. A caixa é feita de um tipo especial de metal sensível ao calor,
32
com buracos de ar que se abrem automaticamente sob alta temperatura, e
fecham-se quando a temperatura cai abaixo de 75 ° C. (WHO-WFAS, 1999,
tradução nossa)
4.5 Técnicas Assépticas
O Ministério do Trabalho e Emprego, em sua Norma Regulamentadora nº 6
(NR nº 6) informa no item 6.1 que Equipamento de Proteção Individual (EPI) é
todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador,
destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança (contra
agentes biológicos, por exemplo) e a saúde no trabalho.
Para a prática da Acupuntua, descrevemos a seguir os EPI, suas indicações e
os cuidados necessários que se deve ter para o uso adequado deste material.
Luvas: protegem, pelo mecanismo de barreira, profissionais que se
expuserem a microorganismos através de acidentes pérfurocortantes em até
50%. Protegem, ainda, o terapeuta da exposição contínua a patógenos
encontrados nos fluidos orgânicos.
Máscara: seu uso visa evitar ou diminuir o risco a que estão expostos
profissionais de saúde, pacientes e acompanhantes, em contrair doenças por
vias aéreas.
Protetor Ocular: tem por finalidade proteger a mucosa ocular de acidentes
com agentes biológicos contaminantes, agentes mecânicos e agentes
químicos.
Avental (jaleco): sua utilização objetiva diminuir os riscos de contaminação da
vestimenta bem como pessoas que mantenham contato.
Touca: visa evitar a deposição de aerossóis contaminados no cabelo do
terapeuta, bem como de transmiti-los aos próximos clientes.
33
O terapeuta necessita atenção para alguns cuidados básicos a serem
observados durante a inserção das agulhas. Após a anti-sepsia da pele do
paciente não palpar o ponto de inserção e o eixo da agulha deve ser mantido
em um estado estéril antes da punção. Agulhas devem ser manipuladas de tal
maneira que os dedos do terapeuta não toquem o eixo. Se houver dificuldade
em inserir uma agulha longa, como a utilizada na punção do VB30 ou B54
segurando apenas na parte superior, o eixo deve ser mantido no lugar com
uma bola de algodão estéril. O uso de luvas cirúrgicas estéreis descartáveis
torna fácil a manipulação de agulhas sem contaminação. (WHO-WFAS, 1999,
tradução nossa)
Sobre a retirada de uma agulha, uma bola de algodão estéril deve ser usada
para pressionar a pele no local da inserção, protegendo assim a superfície da
pele do paciente do contato com patógenos potenciais, e o terapeuta da
exposição de agulhas usadas e fluidos do corpo do paciente. Todas as
compressas ou bolas de algodão contaminadas por sangue ou por fluidos do
corpo devem ser descartadas em um recipiente especial para resíduos
infectantes. (WHO-WFAS, 1999, tradução nossa)
De um modo geral, o profissional da saúde está constantemente exposto a
patologias veiculadas por sangue, tais como AIDS, hepatite B (HBV) e hepatite
C (HCV), devendo utilizar as medidas de precaução padrão já referidas
anteriormente para todo e qualquer paciente, independente de seu
diagnóstico.
Diante do citado, ressaltamos algumas medidas de biossegurança para a
prevenção de acidentes na prática de Acupuntura:
a) ter atenção durante a realização dos procedimentos;
b) nunca utilizar os dedos como anteparo durante a realização de
procedimento que envolva materiais perfurocortantes;
c) nunca reencapar agulhas, entortá-las ou quebrá-las;
d) não utilizar agulhas para fixar papéis;
e) descartar os materiais perfurocortantes em recipiente específico (resistentes
a perfuração e com tampa);
34
f) manter os recipientes próximos ao local de realização do procedimento;
g) descartar o recipiente quando 2/3 de sua capacidade for atingido;
h) optar por materiais descartáveis sempre que possível.
Em caso de acidente com material biológico:
Na pele: lavar exaustivamente com água e sabão. O sabão antiséptico pode
ser usado.
Em mucosa: lavar exaustivamente com água ou com solução fisiológica.
Em ambos os casos, procurar imediatamente um serviço de atendimento
(posto de saúde ou unidade de referência). O Ministério da Saúde está
adotando técnicas anti-retrovirais imediatamente após a exposição.
Outra alternativa preventiva importante é o programa de imunização, que
objetiva aumentar a resistência dos profissionais da saúde contra
microorganismos patológicos. As vacinas permitem um processo de
imunização ativa, protegendo os profissionais e, indiretamente, a família e
pacientes do risco de contaminação. São importantes: Hepatite B (HBV),
Influenza, H1N1, Sarampo, Caxumba, Rubéola, Difteria, Varicela, Tétano, Anti-
pneumocócica.
Além do HIV, o HBV e o HCV, vírus das hepatites B e C, respectivamente,
estão altamente relacionados à infecção de profissionais da saúde, pós
exposição ocupacional.
4.6 Gestão Cuidadosa e Descarte de Agulhas Usadas e Compressas.
De acordo com o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Silvio
Valle, a maior preocupação nos dias atuais é com a liberação de produtos
perigosos no meio-ambiente. Entre eles estão os Resíduos de Serviços de
Saúde (RSS), resíduos de indústrias químicas e produtos transgênicos que
ainda não foram perfeitamente testados. (ANVISA, 2009)
A Agência Nacional da Vigilância Sanitária - Anvisa, cumprindo sua missão de
“proteger e promover a saúde da população garantindo a segurança sanitária
35
de produtos e serviços, e participando da construção de seu acesso”, dentro
da competência legal que lhe é atribuída pela Lei nº 9782/99, chamou para si
esta responsabilidade e passou a promover um grande debate público para
orientar a publicação de uma norma específica. Fruto disso, em 2003, foi
promulgada a Resolução de Diretoria Colegiada, RDC Anvisa nº 33/03 com
enfoque na metodologia de manejo interno de resíduos, na qual consideram-se
os riscos envolvidos para os trabalhadores, para a saúde e para o meio
ambiente. A adoção dessa metodologia de análise de risco resultou na
classificação e na definição de regras de manejo que, entretanto, não se
harmonizavam com as orientações da área ambiental estabelecidas na
Resolução CONAMA nº 283/01. (MS/ANVISA, 2006)
Esta situação levou os dois órgãos a buscarem a harmonização das
regulamentações. O entendimento foi alcançado com a revogação da RDC
ANVISA nº 33/03 e a publicação da RDC ANVISA nº 306 (em dezembro de
2004), e da Resolução CONAMA nº 358, em maio de 2005. A sincronização
demandou um esforço de aproximação que se constituiu em avanço na
definição de regras equânimes para o tratamento dos RSS no país, com o
desafio de considerar as especificidades locais de cada Estado e Município.
(MS/ANVISA, 2006)
A RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº 358/05 versam sobre o
gerenciamento dos RSS em todas as suas etapas. Definem a conduta dos
diferentes agentes da cadeia de responsabilidades pelos RSS. Refletem um
processo de mudança de paradigma no trato dos RSS, fundamentada na
análise dos riscos envolvidos, em que a prevenção passa a ser eixo principal e
o tratamento é visto como uma alternativa para dar destinação adequada aos
resíduos com potencial de contaminação. Com isso, exigem que os resíduos
recebam manejo específico, desde a sua geração até a disposição final,
definindo competências e responsabilidades para tal. (MS/ANVISA, 2006)
A Resolução CONAMA nº 358/05 trata do gerenciamento sob o prisma da
preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Promove a
competência aos órgãos ambientais estaduais e municipais para
36
estabelecerem critérios para o licenciamento ambiental dos sistemas de
tratamento e destinação final dos RSS. (MS/ANVISA, 2006)
Por outro lado, a RDC ANVISA nº 306/04 concentra sua regulação no controle
dos processos de segregação, acondicionamento, armazenamento, transporte,
tratamento e disposição final. Estabelece procedimentos operacionais em
função dos riscos envolvidos e concentra seu controle na inspeção dos
serviços de saúde. (MS/ANVISA, 2006)
De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº
358/2005, são definidos como geradores de RSS todos os serviços
relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os
serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios
analíticos de produtos para a saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se
realizem atividades de embalsamamento, serviços de medicina legal, drogarias
e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e
pesquisa na área da saúde, centro de controle de zoonoses; distribuidores de
produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores produtores de materiais e
controles para diagnóstico in vitro, unidades móveis de atendimento à saúde;
serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros similares.
De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 e Resolução CONAMA nº 358/05, os
RSS são classificados em cinco grupos:
Grupo A (potencialmente infectantes): engloba os componentes com
possível presença de agentes biológicos que, por suas características de
maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção.
Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas
(membros), tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, dentre outras.
Devem ser acondicionados em saco branco leitoso com a simbologia de
substância infectante. De acordo com as suas características receberá uma
sub-classificação de A1 a A5 e deverão ter tratamentos diferenciados.
37
Grupo B (químicos): contém substâncias químicas que podem apresentar
risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex:
medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo
metais pesados, dentre outros.
Devem ser acondicionados em recipientes de material rígido, adequados para
cada tipo de substância química, respeitadas as suas características físico-
químicas e seu estado físico, e identificados de acordo com o item 1.3.4 da
RDC ANVISA nº 306/04. De acordo com as suas características receberá uma
sub-classificação de B1 a B5.
Grupo C (rejeitos radioativos): quaisquer materiais resultantes de
atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores
aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de
Energia Nuclear - CNEN, como, por exemplo, serviços de medicina nuclear e
radioterapia etc.
É representado pelo símbolo internacional de presença de radiação ionizante
(trifólio de cor magenta) em rótulos de fundo amarelo e contornos pretos,
acrescido da expressão REJEITO RADIOATIVO, indicando o principal risco
que apresenta aquele resíduo, além de informações sobre o conteúdo, nome
do elemento radioativo, tempo de decaimento, data de geração, nome da
unidade geradora, conforme norma da CNEN NE 6.05 e outras que a CNEN
determinar.
Grupo D (resíduos comuns): não apresentam risco biológico, químico ou
radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos
resíduos domiciliares. Ex: sobras de alimentos e do preparo de alimentos,
resíduos das áreas administrativas etc.
Não necessitam de processos diferenciados relacionados ao
acondicionamento, identificação e tratamento, devendo ser considerados
38
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). Para os resíduos do GRUPO D, destinados
à reciclagem ou reutilização, a identificação deve ser feita nos recipientes e
nos abrigos de guarda de recipientes, usando código de cores e suas
correspondentes nomeações, baseadas na Resolução CONAMA nº 275, de 25
de abril de 2001, e símbolos de tipo de material reciclável:
I - azul - PAPÉIS
II - amarelo - METAIS
III - verde - VIDROS
IV - vermelho - PLÁSTICOS
V - marrom - RESÍDUOS ORGÂNICOS
Para os demais resíduos do Grupo D deverá ser utilizada a cor cinza nos
recipientes. Caso não seja procedida a reciclagem, poderá ser utilizada a cor
preta.
Grupo E (perfurocortantes): materiais perfuro-cortantes ou escarificantes,
tais como lâminas de barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas,
lâminas de bisturi, lancetas, espátulas e outros similares.
Os materiais perfurocortantes devem ser descartados separadamente, no local
de sua geração, imediatamente após o uso, em recipientes rígidos (tipo
Descarpack), resistentes à punctura, ruptura e vazamento, com tampa,
devidamente identificados, baseados nas normas da ABNT NBR 13853/97 -
Coletores para RSS perfurantes e cortantes e NBR 9259/97- Agulhas
hipodérmicas estéreis e de uso único, sendo expressamente proibido o
esvaziamento desses recipientes para o seu reaproveitamento.
As agulhas descartáveis devem ser desprezadas juntamente com as seringas,
quando descartáveis, sendo proibido reencapá-las ou proceder a sua retirada
manualmente.
O símbolo que representa o GRUPO E, é o símbolo de substância infectante
constante na NBR-7500 da ABNT de março de 2000, com rótulos de fundo
39
branco, desenho e contornos pretos, acrescido da inscrição de RESÍDUO
PERFUROCORTANTE, indicando o risco que apresenta aquele resíduo.
Os resíduos do Grupo E devem ser encaminhados para destinação final em
Aterro Sanitário, devidamente licenciado em órgão ambiental competente.
Caso não haja a disponibilidade do tipo de destino final acima mencionado,
devem ser submetidos a autoclavação para que haja redução ou eliminação da
sua carga microbiana. Neste caso, os resíduos resultantes do tratamento
devem ser acondicionados e identificados como resíduos do tipo D.
Observação: no caso dos consultórios de Acupuntura são gerados apenas
resíduos dos grupos D e E. No último caso é comum a utilização do
“Descarpack” e a contratação de uma empresa de tratamento de resíduos para
recolhê-los.
Os estabelecimentos de serviços de saúde são os responsáveis pelo correto
gerenciamento de todos os RSS por eles gerados, cabendo aos órgãos
públicos, dentro de suas competências, a gestão, regulamentação e
fiscalização.
40
5 CONTRA-INDICAÇÕES NA PRÁTICA DA ACUPUNTURA
Devido a “ação reguladora" da acupuntura, é difícil estipular contra-indicação
absoluta para esta forma de terapia. No entanto, por razões de segurança,
deve ser evitada nas condições abaixo relacionadas (WHO-WFAS, 1999,
tradução nossa):
5.1 Gravidez
A acupuntura pode induzir o parto e, portanto, não deve ser realizada durante
a gravidez, a menos que seja necessário para outros fins terapêuticos, e só
com grande cautela. A penetração e a manipulação das agulhas em
determinados pontos promove a contração uterina. No entanto, isto pode ser
útil durante o trabalho de parto e diminuir sua duração.
Tanto a acupuntura quanto a moxabustão são contra-indicadas em pontos
localizados no baixo ventre e na região lombo sacra durante o primeiro
trimestre de gestação. Após o 3º mês de gestação devem ser evitados os
pontos no abdomem superior, região lombo sacra e pontos que causem
sensações fortes assim como pontos na orelha.
5.2 Emergências Médicas e Situações Cirúrgicas
A acupuntura é contra-indicada em situações de emergência. Nesses casos,
deve prestar os primeiros socorros e providenciar transporte para uma
emergência médica.
A acupuntura não deve ser usada para substituir uma necessária intervenção
cirúrgica.
5.3 Tumores Malignos
A acupuntura não deve ser usada para o tratamento de tumores malignos. Em
particular, a inserção de agulha no local do tumor deve ser proibida. No
entanto, a acupuntura pode ser usada como uma medida complementar, em
combinação com outros tratamentos para o alívio da dor ou outros sintomas,
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para diminuir os efeitos colaterais da quimioterapia e da radioterapia e, assim,
melhorar a qualidade de vida.
5.4 Distúrbios Hemorrágicos
A inserção de agulhas deve ser evitada em pacientes com transtornos
hemorrágicos ou de coagulação, ou em pessoas que estão em terapia
anticoagulante ou que tomam medicamentos com efeito anticoagulante.
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6 ACIDENTES E REAÇÕES INDESEJÁVEIS
Alguns tipos de acidentes e reações indesejáveis podem acontecer na prática
da acupuntura. Ressaltamos alguns pontos a serem observados para prevenir
tais situações. (WHO-WFAS, 1999, tradução nossa)
6.1 Qualidade da Agulha
O melhor material para as agulhas de acupuntura é o aço inoxidável. Deve-se
examinar cuidadosamente cada uma delas antes de usar. Se ela estiver
dobrada, com o corpo corroído ou com a ponta curvada ou sem corte, a agulha
é defeituosa e deve ser descartada.
Recomenda-se que a qualidade de fabricação das agulhas de acupuntura seja
controlada pela autoridade nacional de saúde
6.2 Posição do Paciente
O paciente deve assumir uma postura confortável antes da inserção das
agulhas e ser orientado a permanecer quieto e evitar mudança de posição
abruptamente durante o tratamento.
6.3 Desmaios
Durante o tratamento com acupuntura, o paciente pode sentir que vai
desmaiar. Portanto, antes de iniciar tem que explicar em detalhe o processo de
aplicação das agulhas e as sensações que pode causar. Para aqueles que vão
receber a acupuntura pela primeira vez, recomendamos o tratamento em
posição deitada e com manipulação suave. Deve-se observar com atenção e
controlar o pulso com freqüência para a detecção precoce de qualquer reação
adversa. Preste atenção especial se os pontos de aplicação das agulhas
podem provocar hipotensão, por exemplo o F 3 (Taichong).
Os sintomas de desmaio iminente incluem sensação de mal-estar, sensação
de vertigem; movimento e balanço de objetos à sua volta e fraqueza. Uma
sensação de opressão no peito, palpitações, náuseas e às vezes vômitos. A
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pele geralmente fica pálida e o pulso fraco. Em casos graves, pode-se detectar
extremidades frias, suores frios, queda da pressão arterial e perda da
consciência. Essas reações se devem com frequência ao nervosismo, a fome,
a fadiga, fraqueza extrema do paciente, uma posição inadequada, ou uma
manipulação muito vigorosa.
Se os sintomas de alarme forem observados, as agulhas devem ser removidas
imediatamente. Colocar o paciente em posição horizontal com a cabeça baixa
e as pernas elevadas, porque os sintomas são provavelmente devido a uma
situação transitória do fornecimento inadequado de sangue para o cérebro.
Oferecer bebidas quentes doce. Os sintomas geralmente desaparecem após
um curto descanso.
Em casos graves, deve prestar os primeiros socorros e quando o paciente
encontrar-se clinicamente estável, pode-se aplicar os seguintes tratamentos
mais adequados:
a) pressionar o VG 26 (shuigou) com a unha ou puncionar VG 26 (shuigou),
SC 9 (zhongchong), VG 25 (suliao), SC 6 (neiguan) e E 36 (zusanli), ou
b) aplicar moxabustão em VG 20 (baihui), VC 6 (qihai) e VC 4 (guanyuan).
O paciente normalmente irá responder rapidamente a essas medidas, mas se
os sintomas persistirem, deve-se recorrer aos cuidados médicos de
emergência.
6.4 Convulsões
O paciente deve ser questionado sobre a história pregressa de convulsão e em
caso afirmativo observar rigorosamente as reações do paciente durante o
tratamento. Caso ocorram, as agulhas devem ser imediatamente retiradas e os
procedimentos necessários deverão ser adotados. Se a situação não
estabilizar rapidamente ou se as convulsões continuarem, o paciente deve ser
transferido para um centro de emergência médica.
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6.5 Dor
O tratamento com acupuntura normalmente é indolor quando há penetração
rápida e habilidosa da agulha, porém a dor poderá ocorrer nas situações
abaixo relacionadas.
6.5.1 Durante a Inserção das Agulhas
Dor durante a inserção é devido a uma técnica normalmente desajeitada ou a
agulhas sem corte, tortas ou grossas. Também pode ocorrer em pacientes
muito sensíveis. Na maioria dos pacientes a penetração rápida e hábil da
agulha através da pele é indolor.
A técnica correta e a força ideal da aplicação devem ser aprendidas através da
prática. Alguns dispositivos podem facilitar a penetração suave e rápida, por
exemplo o uso de tubos de guia de agulha (mandril).
A “sensação de acupuntura” de dor, formigamento e peso, indicando a
chegada do Qi (T’chi) no ponto deve ser distinguido das reações dolorosas.
6.5.2 Após a Inserção das Agulhas
A dor que ocorre quando a agulha é inserida profundamente nos tecidos pode
ser devido ao contato com as fibras nervosas receptoras da dor, que no caso a
agulha deve ser superficializada até abaixo da pele e logo inserida
cuidadosamente em outra direção.
A dor produzida quando gira a agulha com uma amplitude muito grande, ou
quando é levantada e empurrada, geralmente é porque entrelaça com o tecido
fibroso. Para aliviar a dor, a agulha deve ser girada suavemente para frente e
para trás até a fibra ser liberada.
A dor produzida quando a agulha já está colocada normalmente é causada
quando o paciente se move e alivia quando o paciente retorna a posição
original.
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6.5.3 Após a Retirada das Agulhas
Ocorre devido a estimulação excessiva ou a manipulação desajeitada. Para
casos suaves, pressionar o local; para casos graves realizar a moxabustão
além da pressão.
6.6 Agulha Emperrada
Após a inserção pode ser difícil ou impossível de girar a agulha, levantar e
empurrar, ou até mesmo retirar a agulha. Isto é devido ao espasmo muscular,
a rotação da agulha com uma amplitude muito grande, rotação em uma única
direção, ao entrelaçamento das fibras musculares com o corpo da agulha ou
ao movimento do paciente.
O paciente deve ser orientado a ficar relaxado. Se a causa é a rotação
excessiva em uma direção, a condição será aliviada quando a agulha for
rodado na direção oposta. Se o bloqueio da agulha é devido a espasmo
muscular, deve ser deixada em seu local por um tempo e depois retirada por
rotação ou massagear em torno do ponto, ou outra agulha deve ser inserida
nas proximidades para desviar a atenção do paciente. Se o bloqueio da agulha
é causado porque o paciente mudou de posição, deve-se retornar à postura
inicial e retirar a agulha
6.7 Agulha Quebrada
Poderá ocorrer devido a má qualidade da agulha, forte espasmo muscular,
pela erosão entre a lâmina e o cabo, movimento brusco do paciente, retirada
incorreta de uma agulha presa ou dobrada, ou utilização prolongada de
corrente galvânica.
Se uma agulha dobrar durante a inserção, deve ser retirada e substituída por
outra. Não deve aplicar muita força para manipular as agulhas, principalmente
durante o ato de levantar e empurrar. A junção entre o corpo da agulha e o
cabo (local onde o terapeuta toca com os dedos) é a parte que está mais apta
a quebrar. Portanto, ao inserir a agulha, deve deixar sempre um quarto ou um
terço do corpo da agulha acima da pele.
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Se uma agulha se quebrar, o paciente deve ser orientado a manter a calma e
não se mover, a fem de evitar que a parte quebrada da agulha penetre mais
profundo nos tecidos. Se um parte da agulha quebrada ainda está acima da
pele, remova-a com uma pinça. Se ela está no mesmo nível da pele, pressione
suavemente em torno do local até a parte quebrada ficar exposta e, em
seguida, removê-la com uma pinça. Se ela está completamente sob a pele,
oriente o paciente a retomar sua posição anterior que muitas vezes aparecerá
o extremo do corpo da agulha Se isto não for bem sucedido, temos que
recorrer a uma intervenção cirúrgica.
6.8 Infecção Local
Negligência na utilização de técnicas assépticas rigorosas pode causar
infecções locais, especialmente na terapia de acupuntura auricular. Quando
ocorrer infecção desse tipo, as medidas adequadas devem ser tomadas
imediatamente.
A inserção de agulha deve ser evitada em áreas de tratamento de linfedema.
6.9 Queimaduras Durante a Moxabustão
A moxabustão indireta é necessária para evitar queimaduras na pele. Embora
a moxabustão com cicatriz é feita por meio da queimadura da pele para
produzir uma supuração não bacteriana, esta técnica só deve ser utilizada com
o pleno conhecimento e consentimento prévio do paciente. Esta é uma técnica
terapêutica especial que se aplica apenas em pontos específicos.
A moxabustão direta não deve ser aplicada nos pontos do rosto ou em zonas
onde se localizam tendões ou grandes vasos sanguíneos. A moxabustão com
supuração não-bacteriana perto de uma articulação também é inadequada
porque o movimento da articulaçao pode dificultar a cura. Particular atenção
deve ser dada aos pacientes com um nível reduzido de consciência,
perturbações sensoriais, distúrbios psicóticos, dermatite purulenta, ou em
áreas de circulação prejudicada.
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7 ELETROESTIMULAÇÃO E LASERTERAPIA
A eletroestimulação, quando não aplicada corretamente, é potencialmente
prejudicial. É contra-indicada: na gravidez, em pacientes com marca-passos,
em pessoas sem sensibilidade da pele, nos casos de insuficiência circulatória,
doenças arteriais graves, febre de origem desconhecida ou lesões de pele
significativas.
Recomenda-se um acompanhamento cuidadoso da eletroestimulação para
evitar lesões neurais. A corrente galvânica deve ser utilizada apenas por um
período muito curto de tempo.
A terapia a laser de baixa energia pode danificar os olhos, portanto o paciente
e o operador devem usar óculos de proteção.
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8 LESÕES EM ÓRGÃOS IMPORTANTES
Aplicada corretamente, a acupuntura não deve provocar danos em nenhum
órgão. Contudo, se isto ocorrer, pode ser grave.
Há um grande número de pontos de acupuntura, alguns dos quais envolvem
pouco ou nenhum risco, enquanto que em outros sempre existe a possibilidade
de uma lesão significativa, principalmente nas mãos de pessoas não
qualificadas ou sem experiência.
Dado que os programas de formação em acupuntura estão orientados a
diferentes níveis de pessoal, deduz-se que eles devem ser adaptados aos
conhecimentos, habilidades e experiências dos interessados. Em níveis
elementares, deve ser selecionado um número limitado de pontos de
acupuntura. Em níveis profissionais, esse número pode ser estendido, mas
mesmo neste caso, o uso de determinados pontos e manipulações devem
limitar-se àqueles com grande experiência.
Serão mostrados a seguir exemplos de pontos que possuem um risco
potencial especial. Como em todas as formas de tratamento, é importante
medir o risco frente ao benefício esperado. (WHO-WFAS, 1999, tradução
nossa)
8.1 Áreas Que Devem Ser Evitadas
Existem algumas áreas que não devem ser puncionadas, por exemplo: as
fontanelas dos recém-nascidos, os órgãos genitais externos, os mamilos, o
umbigo e o globo ocular.
8.2 Precauções
Prestar atenção especial nos pontos de aplicação das agulhas próximos de
órgãos vitais ou zonas sensíveis. Os acidentes podem ocorrer durante o
tratamento devido às características das agulhas usadas, dos locais de
aplicação das agulhas, a profundidade de inserção das agulhas, as técnicas de
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manipulação utilizadas e a estimulação aplicada. Na maioria dos casos podem
ser evitados se as devidas precauções forem tomadas. Se ocorrerem, o
acupunturista deve saber lidar com o problema de forma eficaz para evitar
maiores danos. A lesão acidental de um órgão importante requer intervenção
médica ou cirúrgica urgentes. (WHO-WFAS, 1999, tradução nossa)
8.2.1 Tórax, Costas e Abdômen
Pontos do tórax, costas e abdômen devem ser puncionados com cuidado, de
preferência na direção oblíqua ou horizontal, para evitar danos aos órgãos
vitais. Deve prestar especial atenção na direção e na profundidade da inserção
das agulhas.
8.2.2 Pulmões e Pleura
Lesões dos pulmões e da pleura devido à inserção de uma agulha muito
profunda em pontos do tórax, das costas ou da fossa supraclavicular podem
provocar pneumotórax traumático. Os sintomas mais frequentes são tosse, dor
no peito e falta de ar que surgem repentinamente durante a manipulação,
principalmente se a agulha provocar uma laceração grave do pulmão. Outra
possibilidade é que os sintomas apareçam gradualmente ao longo de várias
horas após o tratamento de acupuntura.
8.2.3 Fígado, Baço e Rins
A punção do fígado ou do baço pode produzir uma perfuração com
hemorragia, dor local e sensibilidade anormal ao toque ou pressão, assim
como rigidez dos músculos abdominais. A punção do rim pode provocar dor na
região lombar e hematúria. Se a lesão for leve, o sangramento pára
espontaniamente, mas se a hemorragia for grave pode causar um choque com
uma queda da pressão arterial.
8.2.4 Sistema Nervoso Central
A manipulação inadequada em pontos localizados entre as vértebras cervicais
superiores e suas imediações, como por exemplo o VG 15 (yamen) e o VG 16
(fengfu), pode atingir a medula, provocando dor de cabeça, náuseas, vômitos,
redução brusca do ritmo da respiração e desorientação, seguidos de
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convulsões, paralisia ou coma. A aplicação muito profunda das agulhas entre
outras vértebras localizadas acima da primeira lombar pode atingir a medula
espinhal, provocando dor fulminante nas extremidades ou no tronco abaixo do
local da punção.
8.2.5 Outros Pontos
Outros pontos potencialmente perigosos e que exigem uma habilidade e
experiência especiais no seu uso são:
B 1 (jingming) e E 1 (chengqian), localizados próximo ao globo ocular;
VC 22 (tiantu), em frente da traquéia;
E 9 (renying), perto da artéria carótida;
BP 11 (Jimen) e BP 12 (chongmen), perto da artéria femoral; e
P 9 (taiyuan), na artéria radial.
8.2.6 Sistema Circulatório
Deve prestar particular atenção à aplicação de agulhas em áreas de má
circulação (por exemplo, veias varicosas), onde há risco de infecção e evitar a
punção acidental de artérias (por vezes aberrantes), que pode causar
sangramento, hematoma, espasmo arterial ou de complicações mais graves
quando há uma alteração patológica (por exemplo, aneurisma, aterosclerose).
Em geral, o sangramento devido a punção de um vaso sanguíneo superficial
pode parar mediante uma pressão direta.
51
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle da infecção tornou-se uma grande preocupação dos órgãos
reguladores da saúde, dos pacientes e dos profissionais desta área. O
aparecimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), o vírus da
hepatite B e o reaparecimento da tuberculose trouxeram à tona a preocupação
da população mundial com os riscos de transmissão a que profissionais e
pacientes estariam expostos se não tomassem medidas de biossegurança nos
seus ambientes de trabalho. Tais medidas devem ser rigorosamente
empregadas na rotina de atendimento para todos os pacientes com um
protocolo de controle de infecção, protegendo pacientes e profissionais das
infecções cruzadas e garantindo um ambiente de trabalho eficaz que assegure
aos indivíduos a sua integridade física e mental.
A acupuntura é uma terapia segura e eficaz, desde que todas as normas de
biossegurança sejam seguidas para evitar possíveis riscos na sua prática,
principalmente a transmissão de microrganismos. Entretanto, é necessário que
haja um controle de infecção rígido, com o cumprimento e atualização das
normas, com a fiscalização sistemática pelos orgãos responsáveis.
Por ser uma técnica invasiva, que emprega agulhas como uma de suas
principais ferramentas de aplicação, recomenda-se sempre o uso de agulhas
descartáveis de boa procedência para evitar infecções cruzadas, seguindo
sempre as normas de biossegurança.
Este manual foi elaborado com a finalidade de contribuir para a promoção da
saúde de modo a dinamizar e ampliar as formas de controle das doenças
infectocontagiosas e para uma boa prática da acupuntura.
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