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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA A RELAÇÃO ENTRE O APRENDIZADO E O MUNDO DO TRABALHO NA CONCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO DO CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E ADULTOS DO MUNICÍPIO DE PINHAIS - PR DANIELA FERNANDA FERREIRA DA SILVA Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Domingos Leite Lima Filho CURITIBA 2005

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA

A RELAÇÃO ENTRE O APRENDIZADO E O MUNDO DO TRABALHO NA

CONCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO DO CENTRO ESTADUAL DE

EDUCAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E ADULTOS DO MUNICÍPIO DE PINHAIS - PR

DANIELA FERNANDA FERREIRA DA SILVA

Dissertação apresentada como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de

Educação Tecnológica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Domingos Leite Lima Filho

CURITIBA

2005

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DANIELA FERNANDA FERREIRA DA SILVA

A RELAÇÃO ENTRE O APRENDIZADO E O MUNDO DO TRABALHO NA

CONCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO DO CENTRO ESTADUAL DE

EDUCAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E ADULTOS DO MUNICÍPIO DE PINHAIS - PR

Dissertação apresentada como requisito parcial para a

obtenção do grau de Mestre em Tecnologia. Programa

de Pós-Graduação em Tecnologia, Centro Federal de

Educação Tecnológica do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Domingos Leite Lima Filho

CURITIBA

2005

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do CEFET-PR – Unidade Curitiba

S586r Silva, Daniela Fernanda Ferreira da A relação entre o aprendizado e o mundo do trabalho na concepção dos estudan- tes de ensino médio do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos do município de Pinhais-PR / Daniela Fernanda Ferreira da Silva. – Curitiba : CEFET-PR , 2005. xv, 215 f. : il. ; 30 cm Orientador : Prof. Dr. Domingos Leite Lima Filho Dissertação (Mestrado) – CEFET-PR. Programa de Pós-Graduação em Tecno- logia. Curitiba, 2005. Bibliografia : f. 194-203

1. Educação para o trabalho – Pinhais (PR). 2. Aprendizagem. 3. Ensino médio.

4. Ensino profissional. 5. Educação de adultos. 6. Educação e estado – Brasil. 7. Política e Educação – Brasil. 8. Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos. I. Lima Filho, Domingos Leite, orient. II. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Curso de Pós-Graduação em Tecnologia. III. Título. CDD : 370.113 CDU : 37.035.3

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Dedico este trabalho a todos os meus “ex-

alunos” da EJA, que sempre estarão na

minha memória e no meu coração.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a Nossa Senhora, a quem recorro em todos os momentos de minha

vida.

Aos meus queridos pais, base firme da minha existência, que me ensinaram

que o amor, a gratidão e o respeito ao próximo são os valores mais importantes que

podemos deixar como herança aos nossos filhos.

Ao meu amor Everilton, por ser um companheiro firme e por vezes duramente

objetivo, nos momentos em que minha natural “inconstância” e o desânimo frente às

dificuldades estiveram prestes a vencer.

A minha filha Georgia, estímulo da minha vida, pela sua doçura e

companheirismo.

Aos meus queridos irmãos e familiares, principalmente minha Tia Zilda e Vó

Ondalina, que com suas orações e apoio espiritual contribuíram para que esse

trabalho chegasse ao final.

Ao meu orientador, Professor Domingos, pela sua competência, clareza de

idéias, paciência e carinho que sempre me dedicou, e à Professora Zenaide, pela

revisão do texto, leitura e sugestões.

Aos meus colegas do Programa de Pós-Graduação, a quem tive o privilégio

de conhecer e travar discussões e reflexões que muito contribuíram para meu

trabalho.

Aos alunos, professores e funcionários do Centro Estadual de Educação

Básica para Jovens e Adultos – CEEBJA - Pinhais, pela colaboração, gentileza e

consideração que tiveram durante todo o trabalho feito em campo.

Às professoras Sônia Ana e Suzana e ao professor Mário, pelas ótimas

contribuições que fizeram à pesquisa, bem como a gentileza e generosidade pelo

empréstimo de materiais referentes ao que foi sugerido.

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ELOGIO DO APRENDIZADO

Aprenda o mais simples! Para aqueles Cuja hora chegou Nunca é tarde demais! Aprenda o ABC; não basta, mas Aprenda! Não desanime! Comece! É preciso saber tudo! Você tem que assumir o comando! Aprenda, homem no asilo! Aprenda, homem na prisão! Aprenda, mulher na cozinha! Aprenda, ancião! Você tem que assumir o comando! Freqüente a escola, você que não tem casa! Adquira conhecimento, você que sente frio! Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma. Você tem que assumir o comando! Não se envergonhe de perguntar, camarada! Não se deixe convencer Veja com seus olhos! O que não sabe por conta própria Não sabe. Verifique a conta É você que vai pagar. Ponha o dedo sobre cada item Pergunte: O que é isso? Você tem que assumir o comando. Bertolt Brecht

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SUMÁRIO

LISTA DE

GRÁFICOS..............................................................................................viii

LISTA DE

TABELAS..................................................................................................ix

LISTA DE ABREVIATURAS E

SIGLAS.....................................................................xi

RESUMO..................................................................................................................xiv

ABSTRACT...............................................................................................................xv

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................16

2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NUM CONTEXTO DE

MODIFICAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO..................................................23

2.1 REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO, ESCOLA E TRABALHO SOB UMA

PERSPECTIVA CRÍTICA..................................................................................23

2.1.1 Escola e Trabalho: uma relação contraditória...............................................23

2.1.2 O Papel da Escola nas Modificações Sociais................................................29

2.2 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

NO BRASIL.......................................................................................................37

2.2.1 Histórico.........................................................................................................38

2.2.2 A Década de 80: Contestação e Busca por Mudanças..................................61

2.2.3 Políticas Públicas Referentes a EJA a partir de 1990....................................64

2.2.4 A Educação de Jovens e Adultos e o Atual Governo Federal........................66

3 A RELAÇÃO DA EDUCAÇÃO E O TRABALHO NO CONTEXTO

DO ENSINO MÉDIO E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS NOS DIAS ATUAIS............................................................................69

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO DA EDUCAÇÃO E O

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TRABALHO NO DECORRER DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

REFERENTES AO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO..........................................69

3.1.1 Governo Lula: Ensino Médio e Tentativa de Articulação entre

Trabalho, Ciência e Cultura...........................................................................78

3.2 AS ATUAIS DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO E

SUAS IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.................80

3.2.1 Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: A “Tentativa

Teórica” de Unitariedade...............................................................................82

3.3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS ATUAIS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUAL LEGISLAÇÃO...................90

3.3.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96)..............90

3.3.2 A Resolução CEB/CNE n.1/2000 – Institui as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.........................................93

3.3.3 O Parecer CEB/CNE n. 11/2000 – Dispõe as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.........................................95

3.3.3.1 Fundamentos e funções da EJA: Definições prévias.................................96

3.3.3.2 Conceito e Funções da EJA.......................................................................98

3.3.3.3 Cursos da Educação de Jovens e Adultos...............................................105

3.3.3.4 Os Exames...............................................................................................107

3.3.3.5 Sobre iniciativas Públicas e Privadas......................................................108

3.3.3.6 Sobre indicadores estatísticos da situação da Educação de Jovens e

Adultos.....................................................................................................109

3.3.3.7 Formação Docente para a Educação de Jovens e Adultos.....................111

4 O MUNICÍPIO DE PINHAIS: HISTÓRIA, EMANCIPAÇÃO AS

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.....114

4.1 O MUNICÍPIO DE PINHAIS: CARACTERÍSTICAS HISTÓRICAS,

FÍSICAS E POPULACIONAIS........................................................................114

4.1.1 Histórico......................................................................................................114

4.1.2 Evolução Política de Pinhais.......................................................................117

4.1.3 Pinhais Hoje................................................................................................118

4.2 O ATUAL CEEBJA – PINHAIS, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

DENTRO DA EJA/PR....................................................................................121

4.2.1 CEEBJA – Pinhais......................................................................................124

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4.2.1.1 Os PACs – Postos Avançados do CEEBJA............................................129

5 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E INSERÇÃO NO MUNDO DO

TRABALHO: ASPECTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS...................131

5.1 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA........................131

5.2 DEFINIÇÃO E PERFIL DA AMOSTRA..........................................................134

5.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS........................138

5.3.1 Análise dos dados: Descrição e sistematização dos dados obtidos..........139

5.3.1.1 Perfil Sócio-Econômico: quem são os alunos da EJA?...........................140

5.3.3.2 Escolaridade............................................................................................151

5.3.3.3 Sobre o Trabalho.....................................................................................169

6 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS DAS ANÁLISES E

POSSÍVEIS ENCAMINHAMENTOS FUTUROS...............................................184

REFERÊNCIAS......................................................................................................194

APÊNDICE A..........................................................................................................204

ANEXO A................................................................................................................210

ANEXO B................................................................................................................215

vii

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – GÊNERO DOS RESPONDENTES...........................................................141 GRÁFICO 2 – FAIXA ETÁRIA DOS RESPONDENTES..................................................142 GRÁFICO 3 – NATURALIDADE DOS PESQUISADOS..................................................144 GRÁFICO 4 – LOCAL DE RESIDÊNCIA ATUAL............................................................145 GRÁFICO 5 – SITUAÇÃO DE MORADIA DOS RESPONDENTES................................146 GRÁFICO 6 – ESTADO CIVIL DOS RESPONDENTES.................................................147 GRÁFICO 7 – TIPO DE TRANSPORTE MAIS UTILIZADO PELOS PESQUISADOS....149 GRÁFICO 8 – RENDA FAMILIAR DOS PESQUISADOS...............................................150 GRÁFICO 9 – INSTITUIÇÃO ONDE REALIZARAM O ENSINO

FUNDAMENTAL – 1ªFASE............................................................................................151 GRÁFICO 10 –INSTITUIÇÃO NA QUAL OS PESQUISADOS REALIZARAM O

ENSINO FUNDAMENTAL – 2ª FASE (5ª A 8ª SÉRIES)................................................152 GRÁFICO 11 – TEMPO DE AFASTAMENTO DOS ESTUDOS DOS

RESPONDENTES ANTES DE INICIAR NA EJA............................................................153 GRÁFICO 12 - INGRESSO NO ENSINO MÉDIO REGULAR.........................................154 GRÁFICO 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE NO QUAL INGRESSARAM NA EJA........155 GRÁFICO 14 – NÚMERO DE DISCIPLINAS CONCLUÍDAS PELOS

RESPONDENTES..........................................................................................................156 GRÁFICO 15 – NÚMERO DE DISCIPLINAS CURSANDO ATUALMENTE....................157 GRÁFICO 16 – MOTIVOS PARA INGRESSAR NA EJA................................................160 GRÁFICO 17 – PONTOS QUE CONSIDERAM MAIS IMPORTANTES NO

APRENDIZADO DO CEEBJA.........................................................................................161 GRÁFICO 18 – GRAU DE DIFICULDADE ATRIBUÍDO PELOS RESPONDENTES

ÀS DISCIPLINAS DO ENSINO MÉDIO DO CEEBJA.....................................................163 GRÁFICO 19 – CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE AS AULAS DO ENSINO

MÉDIO DO CEEBJA E A VIDA COTIDIANA DOS PESQUISADOS...............................163 GRÁFICO 20 – USO DE ESPAÇOS ALTERNATIVOS DURANTE AS AULAS

DE ENSINO MÉDIO DO CEEBJA..................................................................................164 GRÁFICO 21 – CONCEITO QUE ASSOCIA A CATEGORIA TRABALHO.....................170 GRÁFICO 22 – SITUAÇÃO ATUAL EM RELAÇÃO AO MUNDO DO TRABALHO.........172 GRÁFICO 23 – IMPORTÂNCIA QUE OS ALUNOS DEPOSITAM NO ENSINO DO

CEEBJA PARA UM BOM DESEMPENHO NO ATUAL MUNDO DO TRABALHO..........176

viii

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - GÊNERO DOS RESPONDENTES................................................................141 TABELA 2 - FAIXA ETÁRIA DOS RESPONDENTES.......................................................143

TABELA 3 –NATURALIDADE DOS COMPONENTES DA AMOSTRA..............................143

TABELA 4 – LOCAL DE MORADIA DOS PESQUISADOS...............................................145 TABELA 5 – SITUAÇÃO DE MORADIA............................................................................145 TABELA 6 – ESTADO CIVIL DOS PESQUISADOS.........................................................146 TABELA 7 – TIPO DE TRANSPORTE QUE UTILIZAM PARA LOCOMOÇÃO

ENTRE SUAS CASAS E O CEEBJA.................................................................................148 TABELA 8 – RENDA DO GRUPO FAMILIAR DOS RESPONDENTES.............................149 TABELA 9 – INSTITUIÇÃO NA QUAL OS RESPONDENTES REALIZARAM

O ENSINO FUNDAMENTAL – 1ª FASE............................................................................151 TABELA 10 – TIPO DE INSTITUIÇÃO NA QUAL OS PESQUISADOS

REALIZARAM O ENSINO FUNDAMENTAL – 2ª FASE (5ª A 8ª SÉRIES) .......................152 TABELA 11 – TEMPO DE AFASTAMENTO DOS ESTUDOS ANTES

DE INICIAR A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS....................................................153 TABELA 12 – INGRESSO NO ENSINO MÉDIO REGULAR.............................................154 TABELA 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE QUE INGRESSARAM NA EJA.....................155 TABELA 14 – NÚMERO DE DISCIPLINAS CONCLUÍDAS PELOS RESPONDENTES...156 TABELA 15 – NÚMERO DE DISCIPLINAS CURSANDO ATUALMENTE........................157

TABELA 16 – MOTIVAÇÃO QUE LEVOU A INGRESSAR NA EJA.................................160 TABELA 17 – ASPECTOS QUE CONSIDERA IMPORTANTE DENTRO

DO APRENDIZADO QUE RECEBE NO CEEBJA............................................................161

TABELA 18 – GRAU DE DIFICULDADE ATRIBUÍDO ÀS DISCIPLINAS

DO ENSINO MÉDIO DO CEEBJA....................................................................................162 TABELA 19 – CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE AS AULAS DO ENSINO

MÉDIO DO CEEBJA E A VIDA COTIDIANA DOS PESQUISADOS.................................163

TABELA 20 – USO DE ESPAÇOS ALTERNATIVOS DURANTE AS AULAS

DE ENSINO MÉDIO DO CEEBJA....................................................................................164 TABELA 21 – CARACTERIZAÇÃO DO CONCEITO QUE OS PESQUISADOS

ASSOCIAM A CATEGORIA TRABALHO.........................................................................170 TABELA 22 – SITUAÇÃO ATUAL EM RELAÇÃO AO TRABALHO.................................172 TABELA 23 – IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO NO CEEBJA EM RELAÇÃO

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A UM BOM DESEMPENHO NO MUNDO DO TRABALHO.............................................176 TABELA 24 – JUSTIFICATIVAS A RESPEITO DA IMPORTÂNCIA DOS

ESTUDOS NO CEEBJA..................................................................................................176

x

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANDES - Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais BIRD - Banco Internacional de Desenvolvimento CAIC - Centro de Atendimento Integral à Criança CEAA - Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos CEAAL - Conselho de Educação de Adultos da América Latina CEAD - Centro Estadual de Educação Aberta Continuada a Distância CEB - Câmara de Educação Básica CEDES - Centro de Estudos Educação e Sociedade CEEBJA - Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos CGEJA - Coordenação-geral de Educação de Jovens e Adultos CES - Centros de Estudos Supletivos CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNE - Conselho Nacional de Educação CNER - Campanha Nacional de Educação Rural COEJA - Coordenadoria da Educação de Jovens e Adultos CONFITEA - Conferência Internacional de Educação de Adultos CONSED - Conselho Nacional de Secretarias de Educação CPC - Centro Popular de Cultura Cruzada ABC - Cruzada Ação Básica Cristã

DEJA - Departamento Estadual de Jovens e Adultos DCNEJA - Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de Jovens e Adultos DCNEM - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio EJA - Educação de Jovens e Adultos ENEJA - Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos FMI - Fundo Monetário Internacional FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

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FNEP - Fundo Nacional do Ensino Primário FUNDEF - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do magistério INAF - Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEP - Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MCP - Movimento de Cultura Popular MEB - Movimento de Educação de Base MEC - Ministério da Educação MNCA - Mobilização Nacional Contra o Analfabetismo MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização MOVA - Movimento de Alfabetização de Adultos MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra MTE - Ministério do Trabalho e Emprego ONGs - Organizações não Governamentais PACs - Postos Avançados do CEEBJA PAS - Programa Alfabetização Solidária PCNEM - Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio PEA - População Economicamente Ativa PLANFOR - Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios PNE - Plano Nacional de Educação PROEP - Programa de Expansão da Educação Profissional PRONERA - Programa Nacional de Educação na reforma Agrária SEA - Serviço de Educação de Adultos SECAD - Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade SEEA - Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo SEED-PR - Secretaria do Estado da Educação do Paraná SEF - Secretaria do Ensino Fundamental SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SIRENA - Sistema Rádio-Educativo Nacional

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SESI - Serviço Social da Indústria SUS - Sistema Único de Saúde UNE - União Nacional de Estudantes UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância WCEFA - Conferência Mundial sobre Educação para Todos

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo verificar a concepção que os alunos de Ensino Médio do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos do município de Pinhais possuem sobre o aprendizado no referido Programa e sua relação com a inserção, manutenção e mobilidade dentro do atual mundo do trabalho. Em termos metodológicos esta pesquisa caracterizou-se como qualitativa, de natureza interpretativa, de perspectiva histórica, sendo desenvolvida nas seguintes etapas: levantamento teórico da produção acadêmica desenvolvida no Brasil sobre a Educação de Adultos pela qual se pôde verificar a necessidade da aproximação entre pesquisas sobre a EJA e as que se referem ao Ensino Médio e profissional. Pela revisão bibliográfica referente ao histórico da temática que possibilitou contextualizar a educação de jovens e adultos no panorama da educação brasileira. E através da análise das políticas públicas específicas da Educação de Jovens e Adultos relacionando-as com as políticas atuais do Ensino Médio, elaborando uma visão aprofundada da legislação sobre essas modalidades de ensino, como também do ideário no qual se baseiam esses documentos, podendo assim ser feita uma reflexão sobre as mediações e possíveis contradições entre a escolarização formal e a categoria trabalho. Por fim, foi utilizado para a pesquisa de campo um questionário com questões fechadas e questões abertas além de entrevista semi-estruturada aplicados aos sujeitos da pesquisa, possibilitando, através dos dados obtidos, levantar algumas reflexões sobre as condições concretas do Ensino Médio no CEEBJA-Pinhais e as contradições da relação entre ensino de adultos e educação média. Os resultados, bem como as considerações sobre as análises obtidas através da pesquisa de campo, servem para que se aprofundem as reflexões sobre a especificidade dessa modalidade de ensino (EJA), como também sobre o grupo heterogêneo e singular que compõe a Educação de Jovens e Adultos. Palavras-chave: CEEBJA-Ensino Médio, Educação; Educação de Jovens e Adultos;

Ensino Médio; Política Educacional; Trabalho e Educação.

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ABSTRACT

The present paper aims to verify the conception that the students of the High School in the State Center of Basic Education for Youth and Adult in Pinhais town have about the learning in the referred Program and its relation with the insertion, maintenance and mobility in the present world of work. In methodological terms this research is characterized by being qualitative, of interpretative nature, of historical perspective, being developed in the following steps: theoretical survey of the academic production developed in Brazil about Adult Education when we could verify the necessity of approaching researches about EJA (Education of Youth and Adult) and the ones that refer to High School and professional teaching; bibliographical revision referent to the history of the theme that allowed us to put in context the education of youth and adult in the Brazilian education background; analysis of the specific public policies of Youth and Adult Education relating them to the present policies of High School, elaborating a stronger vision of the legislation about those modalities of teaching, as well as an idea in which those documents are based, enabling, thus, a reflection about the mediation and possible contradictions between formal school and work category; at last, a questionnaire with close questions and with open questions besides the semi-structured interview applied to the subjects of the research were used in the field research, enabling, through the data obtained, rise some reflection about the concrete condition of High School teaching in CEEBJA- Pinhais and the contradictions in relation to adult teaching and High School teaching. The results, as well as the considerations about the obtained analysis through the field research serve to deepen the reflections about the specificity of this modality of teaching (EJA), as well as the heterogeneous and singular group that constitutes the Youth and Adult Education. Key words: CEEBJA - High School teaching; Education; Youth and Adult Education; High School; Educational Policy; Work and Education.

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1 INTRODUÇÃO

No decorrer da história da educação no Brasil, especialmente a partir dos

anos de 1930, a educação de jovens e adultos quase sempre esteve identificada ou

atrelada à educação popular (PAIVA, 1983), e as políticas educacionais, ao longo do

tempo, foram refletindo os embates que dividiam a sociedade brasileira: por um lado,

as classes populares, trabalhadores e camadas médias da população urbana

ansiavam por direitos básicos (como é a educação formal); do outro, as elites

detentoras do poder que, ao mesmo tempo em que articulavam o desenvolvimento

do país mediante integração subalterna à economia capitalista internacional,

buscavam apropriar-se privadamente do aparato burocrático estatal em formação,

com vistas a evitar um comprometimento mais efetivo com a educação das massas,

pois isso poderia sugerir um perigo ao poder dos grupos hegemônicos.

Nesse sentido, pode-se afirmar que o ensino dirigido a jovens e adultos na

história brasileira surgiu como uma preocupação somente próximo à metade do

século XX, quando as elites intelectuais iniciam a discussão sobre a questão do

analfabetismo e, a partir daí, a educação do povo se torna objeto de políticas de

Estado (FRIGOTTO, CIAVATTA, 2004).

Desde então, as políticas públicas educacionais dirigidas à educação popular,

ao ensino supletivo, ou a mais recentemente denominada educação de jovens e

adultos, refletiram essa tensão e embates, o que pode ser observado pelas políticas

adotadas desde a década de 1940 até os dias atuais1.

Na história atual, o discurso e, de certo modo, a prática foram sendo

modificados. Percebe-se que a questão normativa direcionada à educação de

Jovens e Adultos (Leis, Pareceres e outros documentos legais) e,

conseqüentemente, as políticas públicas referentes a essa modalidade, tiveram um

relativo progresso. No entanto, a realidade nos mostra dados que refutam a tão

propalada melhoria no ensino desta modalidade. Segundo dados do Instituto Paulo

Montenegro em parceria com a organização não governamental (ONG) Ação

Educativa, na recente pesquisa do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

(Inaf, 2003, p. 23), ficou demonstrado que “somente um em cada quatro brasileiros

1 As políticas públicas referentes à educação popular e da EJA serão melhor aprofundadas no capítulo II, tópico 2.2. sobre o histórico da educação de jovens e adultos.

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17

jovens e adultos é satisfatoriamente alfabetizado, ou seja, tem a habilidade de achar

informações em textos longos, comparar textos e estabelecer relações entre as

informações”.

Assim, a necessidade e importância de realização de estudos e pesquisas

sobre as políticas públicas para a educação de jovens e adultos continua a ser um

tema relevante, principalmente neste momento em que o governo federal anuncia a

pretensão de propiciar uma política de fortalecimento e continuidade da educação de

jovens e adultos, num contexto fortemente “mudancista” almejado pela sociedade

brasileira e expresso a partir de 2002, por meio da Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), através de sua Coordenadoria-

geral de Educação de Jovens e Adultos (CGEJA) e demais Departamentos

Estaduais de Jovens e Adultos (DEJA).

Esse foi o contexto conjuntural que levou esta pesquisadora a apresentar, ao

Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), o interesse pela realização

desta pesquisa que trata da realidade da Educação de Jovens e Adultos de Pinhais.

Ela relaciona-se às experiências adquiridas durante minha trajetória escolar e

profissional. Desde minha formação no magistério (ensino médio), quando sentia

que havia uma lacuna de conteúdos e práticas que fossem específicas ao ensino de

jovens e adultos, como também na minha vivência profissional quando, durante seis

anos, trabalhei com essa modalidade de ensino que oportunizou-me, a partir da

prática, refletir sobre os encaminhamentos e políticas que norteavam a EJA.

A partir dessas reflexões, surgiu a necessidade de buscar respostas sobre

como a EJA contribuía para que seus estudantes/trabalhadores tivessem um melhor

desenvolvimento nas relações sociais e de trabalho.

Partindo dessas reflexões em torno da própria experiência e considerando o

destaque que a temática da educação de jovens a adultos vem alcançando no

contexto das políticas públicas em curso no país, foi possível construir o problema

desta pesquisa que buscará responder de que forma a Educação de Jovens e

Adultos contribui para a inserção e mobilidade dos seus participantes (alunos) no

atual mundo do trabalho, e como esses alunos relacionam o ensino na EJA com sua

vida produtiva.

Com relação à problemática citada, a pesquisa tem, como objetivo principal,

verificar qual a importância que os alunos do Ensino Médio da Educação de Jovens

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e Adultos depositam no aprendizado que recebem no Centro Estadual de Educação

Básica para Jovens e Adultos de Pinhais (CEEBJA-Pinhais), em relação à inserção,

manutenção e mobilidade no atual mundo do trabalho.

Considerando esses aspectos, nossos objetivos específicos são:

1) Contextualizar historicamente a Educação de Jovens e Adultos no

panorama da educação brasileira e, em particular, no CEEBJA-Pinhais;

2) Analisar os documentos que regulamentam as políticas publicas do ensino

de jovens e adultos relacionando-os com as políticas relativas ao Ensino Médio, no

que diz respeito ao desenvolvimento produtivo de seus alunos;

3) Verificar quem são os alunos do CEEBJA-Pinhais e como percebem a

relação entre o aprendizado no CEEBJA-Pinhais e sua inserção, manutenção e

mobilidade no mundo do trabalho.

Buscando cumprir tais objetivos, o desenvolvimento da pesquisa revelou-se

um espaço de aprendizado, reflexão metodológica e aprofundamentos teórico-

conceituais, durante o qual cumprimos várias etapas que se intercalaram no tempo e

também nos diversos espaços em que a pesquisa se materializava.

Num primeiro momento, foi feito um levantamento das produções referentes

ao tema, a fim de que evidenciássemos a pertinência e validade do objeto de estudo.

Utilizamos para isso o trabalho de Sérgio Haddad (2000), que fez um levantamento

das pesquisas acadêmicas ligadas ao tema da educação de jovens e adultos no

período de 1986 a 1998. Esse primeiro estudo, de natureza introdutória, teve por

objetivo detectar e discutir os temas emergentes da pesquisa nesse campo, além de

consultar a produção das pesquisas mais atuais de grupos como os que pertencem

à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED),

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)

e AÇÃO EDUCATIVA que são referências em discussões ligadas à educação,

trabalho e educação de Jovens e Adultos.

Descobrimos, no decorrer desta pesquisa, o quanto a questão da EJA e sua

relação com Políticas destinadas ao Ensino Médio careciam de estudos. Segundo

HADDAD (2000, p. 37), faz-se necessário: “... um aprofundamento maior dos

princípios que norteiam ambas as práticas sociais – a educação e o trabalho - a fim

de compreender a intersecção necessária de ambas nesta modalidade de ensino”.

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Ainda segundo o autor, é preciso uma aproximação maior entre as pesquisas sobre

o Ensino Médio e Profissionalizante e a EJA.

Pudemos observar por este levantamento prévio que a maioria das pesquisas

relatam estudos de casos e que, portanto, segundo HADDAD (2000), suas

conclusões são bastante diversas e, por vezes, contraditórias entre si, podendo

propiciar baixo grau de generalização.

Essa situação, ainda segundo HADDAD (2000), advém da diversidade dos

referenciais teóricos dos autores. No entanto, nos permitimos também considerar

que essas mediações e possíveis contradições são oriundas, em parte, da própria

diversidade e heterogeneidade dos grupos que constituem a EJA, e das relações

que cada um destes grupos constrói em seu processo sócio-histórico.

Partindo da premissa referente à continuidade dos estudos da população

jovem e adulta, e por entender-se que, pela atual legislação (LDBEN nº 9.9394/96),

a educação de jovens e adultos é uma modalidade integrante da educação básica,

por conseguinte compreende não só o processo de alfabetização, mas também

cursos e exames que possibilitem a jovens e adultos terem acesso ao ensino

fundamental e médio, pode-se considerar que é no Ensino Médio que a questão do

trabalho torna-se mais evidente, tanto no que diz respeito aos conteúdos, quanto na

própria concepção dessa modalidade. Essa consideração foi importante para a

delimitação do objeto e opção pelo trabalho de campo, tendo em vista os objetivos

desta pesquisa.

Portanto, foi feito um recorte no universo da Educação de Jovens e Adultos,

para que, dessa maneira, fosse possível levantar considerações acerca da relação

entre a categoria Trabalho e a EJA. Por conseguinte optou-se pelo Ensino Médio

dessa modalidade, mais especificamente o Ensino Médio semipresencial que

acontece no turno noturno do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos do

Município de Pinhais (CEEBJA-Pinhais).

A escolha se deu, em parte, pela experiência profissional no referido Centro

Educacional, o que facilitou o desenvolvimento da pesquisa de campo; mas,

principalmente, pelo caráter atípico desse Programa de EJA (semipresencial) que

trabalha com uma clientela bastante variada e num ritmo totalmente distinto do

Ensino Médio presencial.

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A revisão bibliográfica nos possibilitou um conhecimento geral da história da

EJA no país, e de suas particularidades e por outro lado, o estudo e diálogo com as

idéias de diversos autores e pesquisadores da educação geral, e da EJA em

particular, a partir de um posicionamento mais crítico, possibilitou ter uma melhor

compreensão das contradições e mediações dentro do processo de escolarização

formal e sua relação com a categoria Trabalho.

A análise documental foi primordial, pois, através do discurso oficial

relacionado às críticas de diversos autores - como Gaudêncio Frigotto, Marise

Ramos, Acácia Kuenzer entre outros - pudemos obter uma visão mais ampla e

aprofundada não somente da legislação, mas também do ideário em que foram

baseados os documentos legais que norteiam a EJA e o Ensino Médio.

Por fim, para desenvolver a pesquisa de campo optou-se pela utilização de

questionário com questões abertas e questões fechadas, dirigidas ao grupo que

representaria a amostra (alunos do Ensino Médio do CEEBJA) e entrevista semi-

estruturada com o Diretor e demais funcionários do Programa, o que nos

proporcionou o momento onde a realidade e a teoria se defrontam e, com base nos

dados obtidos, pudemos levantar algumas reflexões sobre a concreta condição do

Ensino Médio do CEEBJA-Pinhais e as contradições dessa relação.

Dessa forma, o texto que segue como dissertação de mestrado e que

apresenta o percurso e conclusão da presente pesquisa, está estruturado em seis

capítulos, organizados da maneira descrita a seguir.

Os capítulos iniciais trazem uma contextualização do objeto de estudo, tendo

um caráter predominantemente teórico, baseado em fontes secundárias.

No segundo capítulo apresentamos reflexões sobre as bases conceituais que

a educação, a educação formal e o trabalho possuem no modo de produção

capitalista e no que se refere ao próprio histórico da EJA na educação formal

brasileira. Esse capítulo é dedicado a algumas considerações sobre educação,

escola e a categoria trabalho através de uma análise referenciada na perspectiva do

materialismo histórico-dialético. Para tanto, utilizamos autores como Karl Marx,

Gyorg Lukács, Antonio Gramsci, Gaudêncio Frigotto, Bárbara Freitag, Vanilda Paiva,

entre outros, que levantam questões contraditórias no que diz respeito à ordem geral

sobre as categorias mencionadas.

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Neste mesmo capítulo, na seqüência, apresentamos um breve histórico da

educação de jovens e adultos no Brasil, utilizando como referência as análises de

autores que possuem vasta experiência na pesquisa referente à EJA, como

BEISIEGEL, PAIVA, DI PIERRO, entre outros.

Pôde-se evidenciar com esses estudos, o aspecto quase sempre marginal

desta modalidade de ensino, pois as políticas públicas referentes à EJA tiveram, no

transcorrer da história da educação brasileira, um caráter compensatório e, na

maioria das vezes com experiências muito pontuais, pretendendo apenas resolver a

questão imediata do analfabetismo, sem uma preocupação em oportunizar políticas

mais permanentes e que dessem uma continuidade ao processo de educação

desses jovens e adultos.

No terceiro capítulo analisamos a educação média e sua relação com a

categoria Trabalho, bem como as políticas públicas atuais que norteiam o Ensino

Médio e a Educação de Jovens e Adultos. Para tanto, nos remetemos a nomes

como: FRIGOTTO, CIAVATTA, RAMOS, KUENZER, LIMA FILHO, RUMMERT, entre

outros, que estão no centro dos debates relacionados à crítica e possível

reestruturação dos direcionamentos legais dessas modalidades de ensino.

Por pretendermos uma pesquisa a partir de uma perspectiva histórica, que

buscasse compreender a realidade para além da superficialidade e da causalidade

dos fenômenos, foi preciso que, além de uma contextualização da Educação de

Jovens e Adultos no decorrer do processo histórico de formação do sistema

educacional no Brasil, adentrássemos no processo de formação do Município de

Pinhais, e por conseqüência no Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos

de Pinhais (CEEBJA), a fim de que pudéssemos traçar relações mais consistentes

entre a realidade da pesquisa de campo e o seu entorno. Esse foi o objetivo

cumprido pelo quarto capítulo.

Na continuidade, o quinto capítulo apresenta todo o percurso metodológico da

pesquisa, desde a sua concepção inicial (análise bibliográfica e análise documental)

até a escolha e definição da amostra. É também nesse capítulo que fazemos a

sistematização dos dados obtidos na pesquisa de campo e sua análise com base na

teoria que apresentamos nos capítulos anteriores.

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O sexto e último capítulo aborda as considerações sobre os resultados das

análises, bem como os possíveis encaminhamentos futuros referentes aos assuntos

tratados.

Por fim, torna-se importante afirmar que esta dissertação pretende fazer um

convite à reflexão sobre como o aluno da EJA considera seu aprendizado, no que

diz respeito a sua condição de Ser produtivo, num mundo como o de hoje, cheio de

incertezas e mudanças rápidas. Um mundo no qual o discurso oficial sustenta que o

conhecimento é um fator decisivo para o desenvolvimento social e econômico de

qualquer nação, e que deve ser incentivado e desenvolvido em todas as suas

modalidades. Portanto, é preciso pensar como isto pode se tornar realidade,

mediante a definição e implementação de políticas públicas que de fato estabeleçam

prioridades e atendimento de direitos a um grupo que quase sempre foi tão

marginalizado quanto o que compõe a Educação de Jovens e Adultos.

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2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NUM CONTEXTO DE

MODIFICAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO

Este capítulo tem por objetivo fazer algumas reflexões a cerca do conceito de

educação, educação formal e as relações, muitas vezes contraditórias, com a

categoria Trabalho. Será feita uma breve contextualização do percurso histórico da

educação relacionando a escola e o trabalho, e o papel que a educação escolar

desempenhou e ainda desempenha nas modificações sociais. Seguindo este

caminho, faremos um breve histórico da educação de jovens e adultos no Brasil,

com a qual a história de educação popular, como um todo, está intimamente

relacionada.

2.1 REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO, ESCOLA E TRABALHO SOB UMA

PERSPECTIVA CRÍTICA.

2.1.1 Escola e Trabalho: uma relação contraditória

Pensar a escola dissociada das relações sociais e, conseqüentemente, da

produção, é algo, se não superficial, quase impraticável para quem pretende

compreender um pouco o caminho que a educação formal ocidental traçou no

decorrer da sua história. Para isso é necessário observar que, durante todo o

processo de organização social do ser humano, o trabalho e o aprendizado estão

imbricados intimamente. É no processo produtivo que o indivíduo apreende a

realidade que o cerca, satisfaz necessidades e cria novas: é quando o aprender,

através da interação com a natureza, com as situações complexas e, principalmente,

com outros indivíduos, resulta no seu próprio desenvolvimento geral.

As origens do trabalho e da educação coincidem e se confundem com a

própria existência do homem. É pelo trabalho que o ser produz tanto as condições

materiais quanto espirituais de sua existência. É na ação do homem sobre a

natureza, adaptando-a e transformando-a para as necessidades humanas que o Ser

humano define a sua essência.

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Nesse processo de transformação da natureza e da sociedade, o ser humano

transforma a si próprio, construindo sua história, num processo de

autotransformação sem fim.

Como nos coloca MARX (1983), diferente dos outros animais, o homem, ao

agir sobre a natureza, tem a capacidade de imaginar algo pronto antes mesmo de

ser feito, de planejar e idealizar (capacidade teleológica). E através dessa interação

ser humano/natureza/ser humano, ele cria sua identidade e seu processo educativo.

No princípio, o modo de produção vigente era o comunal. Sem distinção de

classes. Os homens produziam sua existência em comum e nesse processo se

educavam. Nas trocas sociais e na lida com a terra e com a natureza os homens se

educavam mutuamente, e assim como as novas gerações.

Sabe-se que, na economia de subsistência, a produção resolvia uma limitada

e pouco cambiante gama de necessidades; o trabalho era indissociável de seus fins

e conseqüentemente o trabalhador possuía a capacidade total ou quase total de

decidir como produzir seu produto. Por ter controle sobre seu processo de trabalho,

era dono de seu tempo, e “o tempo é o espaço em que se desenvolve o ser

humano” (MARX apud ENGUITA, 1989, p. 9).

No desenvolvimento e complexificação de sua produção e reprodução social,

os homens, ao se fixarem na terra, sendo esta o principal meio de produção, dão

início à propriedade privada, dividindo a sociedade em classes2. Nessa forma

particular de propriedade e relação de produção, os donos da terra não precisavam

trabalhar para viver, vivendo assim do trabalho alheio. E é dentro da sociedade de

classes que está a origem da escola formal, pois existindo uma classe ociosa

(proprietários de terras), surge uma educação diferenciada. Para SAVIANI (1994, p.

152), “... a palavra escola em grego significa o lugar do ócio”. A classe dominante

tinha uma educação diferenciada que era feita na escola, em contrapartida, a

educação da maioria era feita no próprio trabalho, no processo ativo, lidando com a

materialidade e transformando-a3.

Durante a Antiguidade e grande parte da Idade Média, as escolas

continuaram a serem locais para a ocupação do “ócio”. Quem nelas ingressasse se

2 Para aprofundamento ver ENGELS, F. A Origem da família, da propriedade privada e do Estado. 8ª edição. Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1982. 215 p. 3 É importante distinguir a educação da origem da escola formal. Para tanto ver ENGUITA, M. A Face Oculta da Escola: educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

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dedicava aos exercícios físicos e de caráter “nobre” (influência da Igreja) visando

uma formação para a vida aristocrática e militar. A grande maioria, em

compensação, continuava a se educar pelo trabalho, no próprio processo de

produção. A característica da escola ainda é de não-trabalho.

Com o deslocamento do eixo do processo produtivo do campo para cidade,

da agricultura para a indústria, surge um novo modo de produção que é o capitalista

ou burguês. É claro que isso não se deu de forma abrupta ou mesmo linear e

simultânea em todos os locais. Resultou de um processo histórico decorrente de

inúmeras modificações dentro das relações sociais e culturais. Mas sob uma

perspectiva crítica e uma visão dialética da história, não se pode compreender nem

estudar a escola e a educação como unidades autônomas, e sim associadas às

relações sociais de qual fazem parte, conforme o estágio do desenvolvimento das

relações de produção e das forças produtivas.

Se, dentro do período da Idade Média, a cidade se subordinava ao campo, na

sociedade moderna ocorre uma inversão desses papéis. Com o desenvolvimento

das cidades através do comércio e indústrias, o campo progressivamente passa a

ser regido por relações tipicamente urbanas que, enfim, tornam-se dominantes.

Diferente do período medieval, quando as relações sociais dominantes eram

do tipo natural (caráter estratificado, hereditário), a sociedade moderna rompe com

essa idéia, trazendo com força o princípio do direito positivo, ou seja, como os

ideólogos da sociedade moderna se referem, ao contrato social, à organização da

sociedade, não mais por laços naturais e sim através de contrato. Essa relação de

contrato levou o trabalhador a uma suposta liberdade. Essa “liberdade” está

intimamente ligada à propriedade, onde o trabalhador é o proprietário de sua força

de trabalho, e que pode e deve vendê-la ao dono dos meios de produção

(capitalista), através de um contrato.

Essa “liberdade” contraditória da sociedade capitalista pode ser explicitada

através do que Marx coloca em O Capital (1983): o trabalhador é livre porque se

desvincula da terra, e vende sua força de trabalho (sentido aparentemente positivo),

mas ao mesmo tempo é despojado de todos os seus meios de subsistência e, com

isso, o que ele produz lhe vai se tornando alheio. Ou, nos termos de MARX,

despojado da terra, a única propriedade que resta ao trabalhador é a sua própria

força de trabalho, a qual é imperioso alienar ao capitalista.

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A escola, portanto, contribuiria para a criação de um novo perfil de ser social,

desempenhando um papel importante para a adequação desse novo ser ao modo de

produção capitalista, não só no que diz respeito a conteúdos, mas, principalmente, a

atitudes, na formação de normas e hábitos, tais como obediência, pontualidade e

assiduidade, que auxiliaram a “domesticar” esses novos trabalhadores.

Dentro dessa sociedade contratual, vai-se exigindo conseqüentemente a

generalização da escola, pois uma sociedade centrada na cidade e na indústria

necessita que a ciência se converta em potência material, como Bacon preconizava

no início da idade Moderna – conhecer é poder.

Nesse período da história, o desenvolvimento científico se dirige ao domínio

da natureza, transformando os conhecimentos em meios de produção material. O

domínio da escrita se faz amplamente necessário e deve ser disseminado, afinal a

ciência necessita de registros, e, diferente do direito natural que era transmitido

pelos costumes, espontâneo, o direito positivo precisaria ser registrado por escrito.

Essa questão de vinculação do desenvolvimento urbano com o desenvolvimento

escolar continua fortemente presente ainda hoje, como diz SAVIANI (1994, p. 156):

“...quanto mais avança o processo urbano-industrial, mais se desloca a exigência da

expansão escolar”.

A escola está associada ao progresso, à aquisição de hábitos civilizados,

políticos, no sentido de formar sujeitos que exerçam seus direitos e deveres na

sociedade moderna, centrada na cidade e na indústria. Com isso a escola torna-se a

agência educativa dominante da moderna sociedade, a tal ponto que a forma escolar

passa a ser considerada e confundida com a educação propriamente dita.

Mas esse papel, ao mesmo tempo em que é abrangente, demonstra o caráter

contraditório da escola. No momento em que a sociedade capitalista preconiza a

generalização da educação escolar básica, ela reconstitui a diferença entre as

escolas para as massas, que se limitam à educação básica ou, quando muito,

prosseguem estritamente nas habilitações profissionais; e as escolas de elite,

destinadas estritamente à formação intelectual, daí a frase famosa atribuída a Adam

Smith (1983): “Instrução para os trabalhadores, porém em doses homeopáticas”,

quer dizer, um mínimo de instrução para que desempenhem seu papel na sociedade

capitalista, mas que ao mesmo tempo não ultrapassem a segurança para a

manutenção da ordem social.

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Se, como dizia Bacon, (1988), “saber é poder”, em uma sociedade baseada

na propriedade privada, o saber é força produtiva, e como tal deve pertencer à

classe dominante, pois, dentro desse tipo de sociedade, o trabalhador deve deter

apenas sua força de trabalho. Com isso observamos o caráter contraditório do

capitalismo, o trabalhador não pode deter todo o saber, pois este é meio de

produção, mas ao mesmo tempo necessita de algum tipo de conhecimento a fim de

desempenhar seu papel, que é a transformação de sua força de trabalho em

produção, e conseqüentemente em mais-valia.

O que se observa então é que a escola - por ter em sua essência o caráter

contraditório de, ao mesmo tempo, atender às exigências do sistema capitalista e de

ser uma reivindicação por parte dos trabalhadores ao “poder” do saber – torna-se

campo de enfrentamento dessas posições antagônicas.

Mas, como podemos observar, o capital consegue operar tais contradições e

metamorfosear-se para manter sua força. Através dos tempos ele vai modificando e

adaptando-se às novas perspectivas e conflitos que surgem em seu interior.

Por isso, no período em que as massas trabalhadoras reivindicaram a

expansão do conhecimento sistematizado, dentro do próprio processo de produção

foram encontrados mecanismos para adequar o problema. Uma forma bem típica foi

o taylorismo, estudo pelo qual foram analisadas as formas do processo de produção

cujo saber os trabalhadores dominavam. Dessa maneira, Taylor sistematizou e

desapropriou os trabalhadores do sistema relativo ao conjunto do processo produtivo

e elaborou a organização científica e racional do trabalho, centralizando a

concepção e o controle que passam para as mãos de poucos, especificamente os

donos do capital, ou os seus prepostos, os gerentes. A parcelização, a fragmentação

e o controle do tempo e dos movimentos são características dessa forma específica

de organização da produção, tendo seu incremento na adaptação da linha de

montagem (fordismo). Como coloca LEITE (1994, p. 63) “... o fordismo conseguiu

garantir ao capital a determinação autoritária da cadência do trabalho, através da

submissão dos trabalhadores à velocidade da linha”. Ford conseguiu com isso levar

a desqualificação e divisão do trabalho propostas por Taylor às últimas

conseqüências.

Nesse processo de desenvolvimento da produção capitalista verifica-se que,

assim como foi parcelizado o conhecimento do trabalhador em seu próprio espaço

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produtivo, a escola reforçou essa fragmentação através de conteúdos

desconectados da realidade e de ensinamentos específicos para desempenhar com

maior destreza e produtividade4, trabalhos essencialmente manuais. A educação em

tal contexto, forçosamente adquiriu o caráter de reforçar a distinção entre trabalho

manual e intelectual.

Essa imagem, segundo MACHADO (1989) “ideológica e adaptadora da

educação” se baseia na teoria Estrutural-Funcionalista, em que o ensino é um

instrumento de organização e aperfeiçoamento da sociedade em seus aspectos

sociais e econômicos. O ajustamento à vida organizada da sociedade era uma

necessidade e obrigação, por esse motivo a educação deveria proporcionar ao

indivíduo o desempenho adequado de seu papel social e, através do aprendizado de

uma profissão baseada na divisão do trabalho intelectual e manual, da

especialização e compartimentação de conhecimentos, que legitimava o padrão de

sociedade exigido pelas classes dominantes.

Dentro dessa teoria, conforme MACHADO (1989), o ensino técnico e a

educação representavam ideologicamente um canal para mobilidade social. Através

do esforço próprio do indivíduo, este poderia ascender socialmente. Se não

conseguisse, a culpa seria dele mesmo e não de problemas estruturais da

sociedade. Nesse tipo de concepção, o espaço escolar seria um mecanismo para

selecionar e hierarquizar, ao mesmo tempo em que produziria legitimação e reforço

das desigualdades sociais.

2.1.2 O Papel da Escola nas Modificações Sociais

Verificou-se pelo que foi dito até agora, que também a escola serviu como

instrumento de dominação por parte de uma classe social (burguesia), mas não foi o

único, pois a educação se efetiva em várias instituições, tais como a família, a Igreja,

a comunidade em que o indivíduo está inserido, e que expressam uma doutrina

pedagógica de maneira implícita ou explícita. Esta doutrina objetiva uma concepção

4 Produtividade do trabalhador e do trabalho são conceitos complexos. Nossa referência aqui é o conceito de produtividade conforme o interesse imediato do capitalista, ou seja, produzir maior quantidade de produtos (mercadoria) em menor tempo de trabalho, isto é, produzir mais com menor quantidade de força de trabalho, ou, com uma menor força de trabalho produzir mais excedentes. (MARX,1983).

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de homem e sociedade que varia sob determinada época, contexto e classe social

dominante.

A relação entre escola e organização / transformação da sociedade tem sido

objeto de estudo e elaboração teórica de muitos autores, notadamente desde o

século XIX. Nos limites deste trabalho, não podemos nos aprofundar detidamente

nessas análises, no entanto, é pertinente e necessário para a contextualização

histórica da temática de nossa pesquisa que façamos uma breve remissão à origem

das reflexões sobre a relação entre educação e sociedade. Faremos isso,

principalmente, a partir de obras de autores nacionais, como Bárbara Freitag,

Vanilda Paiva, Gaudêncio Frigotto, Lucília Machado e Domingos Leite Lima Filho

que nos aproximarão de clássicos como Durkheim, Dewey, Parsons, entre outros.

Para nomes como Durkheim e Parsons, a educação é um fato social, e como

tal deve ser imposta coercitivamente (no caso de Durkheim) ao indivíduo, que

deverá integrar-se ao sistema social em que vive. É preservando a integridade do

sistema social, sua ordem, seu equilíbrio e conservando seus limites que o indivíduo

estaria apto a fazer parte dessa sociedade (FREITAG, 1986).

Ainda segundo FREITAG (1986), tanto Durkheim quanto Parsons

consideravam os fatos sociais externos ao indivíduo, apenas Parsons ressaltava a

complementaridade entre sistema social e o sistema de personalidade, ou seja,

mecanismos que atuam para satisfazer os requisitos de ambos, em que sociedade e

indivíduos se beneficiam (troca de equivalentes). Para ambos autores, os princípios

básicos que regem o funcionamento do sistema social são a continuidade, a

conservação, a ordem e a harmonia, portanto, a manutenção de um tipo de

sociedade, capitalista e industrial.

Dentro da escola, verificou-se a necessidade da internalização e reprodução

de normas e atitudes que representassem o todo, não o individual. Os méritos

seriam representativos se perpetrassem as regras da sociedade vigente. Para

Durkheim e Parsons, a escola é também apenas um dos meios para a manutenção

da sociedade.

É com John Dewey que se verifica um grande ênfase no papel da educação

formal para o alcance de uma sociedade democrática. Para ele, a escola deveria

assumir características de uma pequena sociedade democrática, formando alunos

que futuramente aperfeiçoariam as instituições deficitárias. Pode-se considerar que

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as desigualdades sociais, históricas e de qualquer outro caráter são “mascaradas” e

interpretadas como naturais e derivadas de diferenças individuais, nesse sentido o

postulado de “igualdade de chances” contribuiria para reforçar essas desigualdades.

(REALE; ANTISERI, 1991, p. 503-514).

Mesmo com essa consideração, é preciso reforçar o caráter democrático –

igualitarista de Dewey, que via o indivíduo e a sociedade num contexto dinâmico de

constantes mudanças, no qual os conflitos seriam solucionados mediante ações

“democraticamente” conduzidas, e quando esse sistema societário estivesse

implantado, tudo se faria para a sua conservação.

Karl Mannheim considerava, assim como Dewey, o caráter dinâmico das

relações indivíduo/ sociedade, mas para ele a educação assumia uma conotação

política mais clara. Como FREITAG (1986, p. 20) cita, “A educação vem a ser o

processo de socialização dos indivíduos para uma sociedade racional, harmoniosa,

democrática, por sua vez controlada, planejada, mantida e reestruturada pelos

próprios indivíduos que a compõem.”

Para Mannheim, não só a escola serve como agente dessa socialização. Se

para Dewey, os alunos que saíssem das escolas-modelo seriam os aprimoradores

das instituições deficitárias da sociedade, para Mannheim seriam os cientistas que

comandariam e ditariam as regras dessa sociedade democrática (intelligentsia).

Apesar desses dois autores possuírem aspectos comuns na relação indivíduo

– sociedade, é pertinente expressar a importância de DEWEY, para a mudança no

enfoque especificamente relacionado à escola, direcionando para o aluno e não ao

mestre o papel de protagonista para a organização da educação formal de maneira

geral.

Segundo SILVA (2002), nas primeiras décadas do século XX, a necessidade

de racionalizar o ensino, devido ao processo emergente da industrialização e a

busca de que se atendesse aos princípios de igualdade dentro da sociedade

americana em decorrência do grande contingente imigratório desse período, levou

os americanos a seguirem os princípios tecnocráticos de BOBBIT e TYLER, e o

modelo de escola progressista de DEWEY, “mais preocupado em considerar os

interesses e experiências das crianças e dos jovens na construção do processo

democrático” (FERREIRA, 2003, p. 71).

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No Brasil, podemos considerar que a “escola progressista” de Dewey , e que

generalizou-se no país denominando-se Escola Nova5, teve influência nas

modificações mais efetivas do sistema educacional brasileiro do início do século

passado, e que será comentado no tópico seguinte, referente ao Histórico da EJA.

Retornando ao papel que a educação formal desempenhou nas mudanças da

sociedade, é com Jean Claude Passeron e Pierre Bourdieu que se vai considerar a

concepção de processo educativo através de uma visão histórica da sociedade e do

homem, com análise e crítica da sociedade capitalista, na qual a estrutura de

classes, decorrente da divisão social do trabalho, baseada na apropriação dos meios

de produção, é característica.

Para esses autores a escola “cumpre”, ao mesmo tempo, sua dupla função de

reprodução cultural e da estrutura de classes: uma manifesta-se na ideologia

(representações simbólicas), outra, na própria realidade social.

Assim, ao mesmo tempo em que a escola foi uma vitória às exigências dos

próprios trabalhadores, desempenhou o papel de reprodutora da estratificação social

existente. A submissão aos superiores, aos mais aptos, as recompensas

meritocráticas (positivas ou negativas) e a conformidade com a sua própria condição

social serviram tanto para o “adestramento” desses jovens e futuros trabalhadores

assalariados quanto para a manutenção da sociedade capitalista.

Mas não deve ser esquecido o caráter econômico da educação porque, como

diz FREITAG (1986), se as funções da escola fossem limitadas apenas à reprodução

social e cultural das relações sociais, como seriam justificadas as interferências e

investidas do Estado do mundo empresarial no aprimoramento do sistema escolar?

Com o desenvolvimento das potências industriais e o crescimento econômico

conjuntural dos países desenvolvidos, começaram a ser realizados estudos que

identificavam uma ligação entre crescimento econômico e maior escolaridade.

No final dos anos de 1950 e começo da década de 1960 Theodore Schultz e

Gary Becker buscaram explicar, de maneira teórica e empírica, vínculos entre

escolarização e renda do trabalhador, formulando a Teoria do Capital Humano. Por

5 Pode-se considerar, segundo SILVA (2002), que DEWEY tinha preocupações muito mais ligadas ao conhecimento e a construção da democracia, que com aspectos da economia. Diferente das considerações de outros dois grandes representantes da Escola Nova americana;F. BOBBIT e Ralph TYLER, representantes dos aspectos mais “tecnocráticos” dessa corrente pedagógica. Para saber mais sobre DEWEY e Escola Nova ver: SILVA (2001),FERREIRA (2003), GHIRALDELLI Jr (1992)

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essa Teoria, as atividades como educação, cuidados médicos, formação no trabalho,

entre outras, que de alguma forma influenciam a renda das pessoas são chamadas

inversão de capital humano e, sendo assim, as diferenças salariais seriam apenas

reflexos das diferentes inversões em capital humano. (LIMA FILHO, 2003).

Segundo a Teoria do Capital Humano, o desenvolvimento social, o progresso

tecnológico e a competitividade econômica de uma nação, seriam explicados pelo

estoque de capital humano dessa mesma nação: “no aumento das capacidades

adquiridas das pessoas no mundo inteiro e nos avanços cognitivos úteis está a

chave da futura produtividade econômica e de suas contribuições ao bem-estar

humano” (SCHULTZ, 1985, p. 9). Daí o destaque à valorização dos investimentos

em educação e capacitação.

Conforme nos apresenta FRIGOTTO (1993), em sua crítica à Teoria do

Capital Humano, SCHULTZ parte do seguinte pressuposto: “O componente da

produção, decorrente da instrução, é um investimento em habilidades e

conhecimentos que aumenta futuras rendas e, desse modo, assemelha-se a um

investimento em outros bens de produção” (SCHULTZ apud FRIGOTTO, 1993, p.

40).

Para FRIGOTTO, de acordo com LIMA FILHO (2003), a Teoria do Capital

Humano esconde, por detrás de seu perfil científico e de funcionalidade técnica, a

função de legitimar o sistema capitalista, reforçando sua manutenção e

recomposição, pois suprime os fatores estruturais como as relações de poder e

propriedade, a questão de classes, dominação e força que condicionam as

desigualdades entre países. Para os teóricos do Capital Humano, as desigualdades

seriam resultados de aspectos conjunturais que poderiam ser resolvidos “mediante o

desenvolvimento de fatores de produção dentre eles o estoque de capital humano”

(LIMA FILHO, 2003, p. 73).

Através de pesquisas e quantificações do retorno individual e social da

educação, os economistas da educação tentavam confirmar a validade de suas

colocações e, por muito tempo, não só nos países desenvolvidos, mas também no

Brasil como em outros em desenvolvimento, utilizaram e justificaram as ações e

políticas para a formação educacional e profissional.

O conceito de capital humano consiste, segundo T. SCHULTZ (1985), em

“entidades que têm a propriedade econômica de prestar serviços futuros de um valor

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determinado”; segundo MACHADO (1989), com isso, Schultz “transforma” em

capitalistas todos os trabalhadores, pois todos seriam portadores de um fator de

produção básico que é sua própria força de trabalho.

Também através da crítica à Teoria do Capital Humano, LIMA FILHO (2003,

p. 68) observa que: “... a teoria atribui à decisão individual não apenas o aspecto

quantitativo (trabalhar mais ou menos horas, ou não trabalhar), mas também o

aspecto qualitativo (a qualificação de sua própria força de trabalho, medida em

aporte de capital humano). Essa abstração apologética é característica da forma

neoclássica6 de ver o mundo”.

O processo educativo é reduzido à função de desenvolver habilidades

intelectuais, atitudes e conhecimentos que gerarão capacitações para o trabalho, e

por conseqüência maior produção. Segundo a própria teoria, “os aumentos de renda

da mão-de-obra dependem basicamente de que se amplie sua produtividade”

(SCHULTZ, 1985, p. 101). No entanto, segundo LIMA FILHO (2003, p. 71), “a

profunda assimetria verificada na oferta de trabalho e no valor dos salários, tanto em

âmbito nacional quanto internacional, evidenciou a impossibilidade de estabelecer-se

a suposta correlação positiva entre estas variáveis e a inversão em capital humano”.

Apesar dessa teoria ter sofrido um desgaste e críticas profundas em sua

estrutura, quanto a sua excessiva “mercantilização” da educação e falta de

resultados efetivamente positivos no que diz respeito ao incremento à educação e

desenvolvimento integral da sociedade, verifica-se que ainda hoje seus conceitos

são utilizados e “modernizados” por muitas organizações internacionais7 e nomes

importantes ligados à educação profissional e empresarial.

Mas esse tipo de teoria teve seu maior enfraquecimento, principalmente em

decorrência das profundas modificações no mundo do trabalho, através da

introdução de novas tecnologias, tais como a microeletrônica, a automação e outras

inovações tecnológicas que o capital foi implementando na necessidade de reciclar 6 Para maiores considerações sobre a teoria neoclássica do mercado de trabalho ver: LIMA FILHO, D. L. A “Feliz Aliança” entre Educação, Desenvolvimento e Mobilidade Social: Elementos para uma Crítica à Nova Roupagem do Capital Humano (Revista NETE, 2003). 7Segundo LIMA FILHO (2003), a teoria do capital humano, a partir do final dos anos de 1980, através do modelo neoliberal de intervenção estatal e com a economia política da globalização, recebe uma atualização através dos ditames e estudos dos organismos internacionais (BANCO MUNDIAL, CEPAL/UNESCO entre outros).

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ou substituir o modelo taylorista/fordista que já não respondia à complexidade da

produção capitalista nem garantia a lucratividade das empresas no processo de

acirramento da concorrência intercapitalista. Ou seja, as sucessivas crises que o

modo de produção capitalista sofreu desde a década de 1970, ocasionaram

transformações significativas no interior do processo produtivo.

No turbilhão de modificações, as palavras de ordem no mundo atual do

trabalho e dentro do modo de produção capitalista, são: qualificação contínua e

flexibilidade, tanto em relação aos meios de produção quanto ao que diz respeito à

própria força de trabalho e adaptação dos aparelhos produtivos às novas exigências

e oscilações do mercado.

O trabalhador deve então estar em constante aperfeiçoamento, não basta ser

especialista em apenas algum tipo de função deve ter o caráter generalizante e, ao

mesmo tempo integrador de variadas competências para poder sobreviver no

mercado de trabalho.

Então, a educação formal (escolar) encontra-se atualmente enfrentando um

dilema de proporções muito grandes no que diz respeito às suas bases filosóficas

estruturais. Hoje, de modo geral, a escola graduada reforça uma posição competitiva

entre os indivíduos, dando ênfase cada vez maior às necessidades e flutuações do

mercado. Isso se verifica, inclusive, através do prolongamento do tempo que

mantém o estudante no sistema escolar, liberando, como diz FRIGOTTO (1993),

“em doses homeopáticas”, os trabalhadores; formando, cada vez mais, de maneira

fragmentada e conseqüentemente proporcionando maior alienação desse futuro

trabalhador.

Ao invés de realizar a promessa integradora de satisfação de necessidades e

demandas de caráter coletivo (pleno emprego8), promete agora algo estritamente

privado, ou seja, de responsabilidade do próprio trabalhador: a empregabilidade.

Empregabilidade, que na visão crítica de GENTILI (2002, p. 52), é aquela: “...

que articula e oferece coerência aos três elementos que poderiam permitir superar a

8 Como sabemos o pleno emprego no capitalismo é uma experiência restrita geograficamente, temporalmente e conjunturalmente: é o caso do “Welfare State” em parte da Europa Ocidental, na “fase de ouro” do capitalismo pós-segunda guerra mundial. Sob o capitalismo, o desemprego de trabalhadores é regra, não exceção. Para aprofundamento ver LIMA FILHO, D. L. Breve Ensaio sobre as virtudes da virtualidade: elementos para uma crítica ao conceito da sociedade da informação. (2003). Em QUELUZ, Gilson L. (Org).Tecnologia e Sociedade. Torre de Papel, 2003

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crise do desemprego mediante uma dinamização dos mercados de trabalho: a

redução dos encargos patronais, a flexibilização trabalhista e a formação profissional

permanente”.

Os dois primeiros itens relacionam-se diretamente a vitórias sociais históricas

no mundo do trabalho, ou seja, através da diminuição dos encargos patronais e

maior flexibilidade das leis trabalhistas é que se torna muito mais fácil a manipulação

e dominação por parte dos empresários e da classe burguesa sobre a classe dos

trabalhadores.

Vemos com isso que, a Teoria do Capital Humano, ainda que possa parecer

esgotada em sua formulação original, passa por um processo de atualização, em

que se ressalta na educação o caráter individualista e ferozmente competitivo entre

os indivíduos9.

Cada vez mais são valorizadas as competências individuais, colocadas em

um discurso plasmado por referenciais neoliberais, de que o trabalho em grupo, a

cooperação e a criatividade desempenharão o papel de destaque no ensino.

Essa colaboração recíproca, cooperação mútua está muito longe de uma

solidariedade social, pois só é necessária para atingir determinados fins, quer

decorrentes das necessidades de mercado, de entidades internacionais e/ ou

empresariais.

Mas, por ser a prática educativa uma prática social contraditória, pois se

efetiva no interior de classes de interesses antagônicos, melhor dizendo com os

interesses burgueses em contradição com os daqueles que constituem a classe

dominada, a escola é fundamentalmente um lugar de disputas e de luta; luta pelo

saber e pela articulação desse saber com os interesses de classe.

Por isso é preciso reforçar a indissociabilidade da atividade prática com a

reflexão teórica, tornar cada vez mais crítica a classe dominada, lemos em

GRZYBOWSKI (citado por Frigotto): ...a educação, qualquer que seja, é resultado de uma disputa social. Por isso, ela varia, se reestrutura, tem um movimento contraditório em seu interior.(...) Na perspectiva das classes subalternas, em especial os trabalhadores, a educação é antes de mais nada, desenvolvimento de potencialidades e apropriação do ‘saber social.Trata-se de buscar na educação conhecimentos e habilidades que permitam uma melhor compreensão da realidade

9 Para aprofundamento ver: LIMA FILHO, D. L. A “Feliz Aliança” entre educação, desenvolvimento e mobilidade social: elementos para uma crítica à nova roupagem do capital humano. (Revista NETE, 2003)

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e elevem a capacidade de fazer valer os próprios interesses econômicos, políticos e culturais (GRZYBOWSKI apud FRIGOTTO, 1993, p. 205). O trabalhador reivindica a escolaridade, pois sabe que o conhecimento

também é uma forma de poder. Mas isso não implica em necessariamente aceitar

saberes que não objetivam concretamente seus desejos de ser parte integrante e

importante, ou seja, de ser sujeito da sociedade.

Em todo esse processo contraditório até aqui descrito, de necessidade e de

negação da escolarização da classe trabalhadora, é que se realiza uma modalidade

específica, e que é nosso objeto de estudo: a Educação de Jovens e Adultos.

Na atualidade, a EJA no Brasil é objeto de inúmeras políticas públicas10 que

também se apresentam como contraditórias: por um lado, são resultado de lutas e

reivindicações dos trabalhadores e do processo de democratização da sociedade;

por outro, as políticas incorporam dentro de si e buscam, de certa forma, dirigir as

demandas sociais para o atendimento de interesses das necessidades da produção

capitalista no presente.

Para entender tais questões é necessário, no entanto, investigar a própria

história da constituição e desenvolvimento da Educação de Jovens e Adultos no

Brasil. É o que será tratado no próximo tópico.

2.2 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL

A história da educação de jovens e adultos no Brasil está ligada intimamente

à história da educação popular em geral, sendo considerada como parte integrante

da problemática mais ampla da educação popular.

Por isso é pertinente a explanação feita logo no início do 3º Capítulo do

Parecer CNE/CEB nº 11/2000, referindo-se às leis como resultado de conflitos

histórico-sociais e que expressam a multiplicidade das forças sociais não apenas

como decisões de legisladores específicos. Ou seja, as mudanças nas leis

referentes ao ensino, no decorrer da história da educação, quer sejam de maneira a

contribuir para um avanço quer para retroceder em pontos importantes, estiveram

10 Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (Resolução CEB/CNE nº 1/2000); Parecer CEB/CNE nº 11/2000 que apresenta um relatório minucioso sobre a EJA e suas DCNs; a LDBEN 9.9394/96 (Seção V do Capítulo V), além dos Programas específicos de cada uma das Secretarias Estaduais de Educação do Brasil (serão mais explanados no Capítulo 4 da presente pesquisa).

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sempre relacionadas a conflitos sociais de cada período histórico, e devem ser

compreendidas à luz desses momentos.

Para que se possa traçar o caminho, mesmo que de forma breve, das

modificações que ocorreram na história da educação de jovens e adultos, é

necessário que se parta do princípio de que a luta por mudanças na educação

brasileira fez parte de embates em setores mais amplos da sociedade. Os

“movimentos educativos”, como tão bem coloca PAIVA (1983, p. 20), “refletem

basicamente as condições sociais, econômicas e políticas dessa sociedade”.

No Brasil, as modificações e avanços nos sistemas educacionais e no ensino

em geral foram, a princípio, responsabilidade de políticos e profissionais de outras

áreas que não da própria educação, conforme se pode observar pela seguinte

citação: ... no Brasil, devemos levar em consideração a precária formação cultural o profissional de nossas elites, bem como seu acompanhante preferido: a pretensão intelectual. A educação, por isso mesmo, sofreu especialmente em virtude da carência de quadros técnicos, da tradição dos pareceres surgidos de fora do campo especializado e do seu próprio caráter de prática social, que ajudaram a difundir a idéia de que, sobre ela, todos são igualmente capazes de opinar e decidir (PAIVA, 1983, p. 24). Os fatores que contribuíram para as várias modificações de perspectivas que

a educação popular, e conseqüentemente a EJA, sofreu desde seu início, são

bastante complexos e, portanto, necessitam de um estudo mais denso, o que não é

possível neste momento dado os limites de nossa pesquisa.

Buscaremos apenas contextualizar, de forma breve, essa relação no percurso

da formação dos movimentos educacionais no Brasil. Será dada maior ênfase nas

últimas décadas do século XX, aproximando-nos, assim, das mudanças mais atuais

e que de alguma forma influenciaram e ainda influenciam o nosso objeto de estudo,

ou seja, os alunos da Educação de Jovens e Adultos do CEEBJA – Pinhais.

2.2.1 Histórico

Pode-se considerar que não havia muitas referências na legislação brasileira,

até meados da década de 1930, à educação de adultos, pois esta fazia parte da luta

geral para a educação do povo travada dentro dos conflitos sociais entre as elites

que disputavam o poder e os setores populares de trabalhadores que desejavam de

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alguma forma modificar a estrutura da sociedade, ou conquistar melhores condições

de vida e direitos sociais como, por exemplo, a educação pública.

Até a vinda da família real portuguesa em 1808, o panorama da educação

brasileira era bastante precário. A princípio, a educação no Brasil-Colônia era

responsabilidade de religiosos, principalmente jesuítas e franciscanos que tinham

como objetivo a difusão da doutrina cristã, além de ensinar os padrões da civilização

ocidental, e treinar os indígenas para trabalhos manuais.

Com o passar dos anos, essa educação religiosa foi se direcionando

paulatinamente às elites, e no momento em que a reforma de Pombal (28 de junho

de 1759) determinou o fechamento das escolas dos jesuítas, foram eles os afetados

por essa medida, pois, de acordo com PAIVA (1983), na época da expulsão da

Companhia de Jesus, já havia no Brasil 24 colégios para a formação das elites,

diversos seminários, além das escolas de ler e escrever.

Pode-se considerar que os religiosos, após a consolidação do domínio

português, através do “amansamento” gradativo dos índios, pela catequese e

recrutamento de vocações religiosas, puderam enfatizar o ensino das elites.

De acordo com PAIVA (1983), o desenvolvimento de um sistema de

educação popular nesse período não era favorável nem de interesse, tanto no que

diz respeito à situação econômica, social ou política da Colônia: O regime de escravidão e as condições sociais do conjunto da sociedade não propiciavam um interesse especial pelo ensino. A educação pouco podia contribuir para a ascensão dos membros daquela formação social; não existia, tampouco, grandes possibilidades de participação política para a qual a educação pudesse ser importante. Além da religião, poucos eram os motivos que atuavam em favor do desenvolvimento do ensino (PAIVA, 1983, p. 58).

A reforma do Marquês de Pombal refletia as modificações que estavam

ocorrendo na Europa no século XVIII, onde as idéias iluministas circulavam, e já

influenciavam outras colônias americanas, provocando revoltas e anseios de

liberdade. E o “sistema de ensino poderia ser veículo dessas idéias” (PAIVA, 1983,

p. 58), desse modo, a necessidade de manter as Colônias culturalmente isoladas era

premente, tanto no que diz respeito à educação das elites quanto à educação

popular.

Dessa forma, a necessidade de se organizar efetivamente um sistema

educacional no Brasil, após a expulsão dos jesuítas, só iria acontecer com a

chegada da família real, pois era preciso que fossem atendidos os representantes da

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aristocracia portuguesa e que também houvesse um preparo dos quadros para as

ocupações técnico-burocráticas que surgiam.

Nesse período, a partir de 1808 foram sendo criados cursos de cunho militar

(Academias Militares), utilitários de nível superior (Agricultura, Medicina, Economia

Política, Botânica e Química) e artístico – culturais (Academias de Belas Artes,

Imprensa Regia, Biblioteca Pública, etc). Apesar da efervescência de novos espaços

culturais e do incremento de oportunidades de ensino, em relação à educação

elementar houve pouquíssimo progresso. O ensino básico das elites era feito de

forma privada em suas residências, e a educação popular ainda estava muito ligada

à oralidade e ao aprendizado prático das atividades produtivas11.

É com a Independência do Brasil que surge uma maior atenção à educação

elementar e à ampliação do ensino, principalmente em face das necessidades de se

compor pessoal para os novos quadros do país recém-independente. O ensino

secundário recebe impulso através da criação do Colégio Pedro II, e várias medidas

são tomadas no decorrer do primeiro Reinado e das Regências (1822 -1840) de

grande importância para a educação popular.

A Constituição Imperial de 1824 coloca, no artigo 179, inciso 32 “..a todos os

cidadãos, a instrução primária e gratuita”. No entanto, para ser considerado cidadão

naquele período, era necessário que se fosse livre ou liberto. Num país

escravocrata, e basicamente agrícola, a educação escolar não se dava como uma

das prioridades políticas do período, estava destinada às elites que

desempenhariam um papel na burocracia imperial. Para os demais, e principalmente

os caboclos, escravos e indígenas, o ensino da leitura e escrita era considerado

inútil e desnecessário e o que se aprendesse através da oralidade e na prática do

trabalho bastaria. Além, é claro da obediência através de todo tipo de violência ou

sujeição.

Porém, segundo Vanilda Paiva (1983), o mais importante instrumento legal

referente à educação popular nesse período, e que teria conseqüências até os dias

atuais, é o Ato Adicional de 1834, que promovia a descentralização do ensino

11 Segundo CUNHA (2000), o “desvalor” da aprendizagem de ofícios origina-se desde a escravidão pois, nenhum homem livre queria exercer atividades que eram consideradas “coisas de escravos”, sendo esse tipo de aprendizagem destinado aos órfãos, os miseráveis e aos abandonados. Para uma discussão sobre o caráter eminentemente prático da educação/aprendizagem para trabalhadores no Brasil durante o período Colonial ver: CUNHA, L. A. Ensino de Ofícios Artesanais e Manufatureiros no Brasil Escravocrata. Vol. I. São Paulo: Unesp, 2000.

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elementar, dando autonomia às Províncias de legislar e promover a instrução pública

em seus próprios estabelecimentos. Dessa forma, o Governo Central se isentava de

qualquer responsabilidade e uniformidade no ensino elementar.

Em decorrência desse ato, durante todo o Império e parte do período

republicano, o desenvolvimento da instrução popular básica foi bastante precário; a

carência das Províncias e a falta de diretrizes mais uniformes em nível nacional

contribuíram para a má qualidade e a lenta difusão da educação elementar ou

primária.

Contudo, algumas tentativas para que fosse estimulado o aprendizado básico

aos adultos foram apresentadas através do decreto nº 7.247 de 19/4/1879 de

reforma de ensino promovida por Leôncio Carvalho. Nesse decreto, previa-se a

criação de cursos para adultos analfabetos, livres ou libertos, do sexo masculino,

com duas horas diárias de duração no verão e três horas no inverno, com as

matérias iguais às dos estudantes do período diurno. Apesar da falta de efetividade

da reforma, verifica-se uma preocupação com a insuficiência e carência de

educação mais formal, pois o país começava a surgir perante outras nações vizinhas

e européias com um certo grau de crescimento, mas com a instrução de seu povo

muito baixa, o que não era positivo.

Nesse período, personalidades como Rui Barbosa, Machado de Assis entre

outros, expressavam o “perigo” que a ignorância representava para o crescimento da

nação. Pode-se considerar, com base nas categorias referidas por Vanilda Paiva em

seu livro “Educação Popular e Educação de Adultos, que Rui Barbosa faz parte dos

“realistas da educação”, pois ele reconhece a “importância do ensino para a

construção de uma nação de progresso”(BARBOSA apud PAIVA, 1983, p. 27).

Suas idéias liberais, assim como as de muitos políticos e intelectuais da

época, influenciaram as mudanças político-educativas que seriam apresentadas na

primeira Constituição Republicana (1891).

Porém, antes que a nova Constituição fosse promulgada, é interessante

comentar uma Lei que propiciou muito dos embates do início da República referente

à educação popular, denominada Lei Saraiva (3029/1881), que condicionava o

exercício do voto à alfabetização. Muitos políticos e representantes das oligarquias

da época travaram discussões a respeito dessa Lei, entre eles o próprio Rui

Barbosa, que lhe era favorável, pois considerava como um “estímulo às classes

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populares para que se instruíssem, a fim de poderem participar da vida política”12. É

certo que assim ampliava-se a consulta para votação, porém restringia-se a oferta,

pois as classes dominantes necessitavam manter seu poderio, e a ausência de

instrução básica era uma forma de “bloquear” a ultrapassagem que por ventura

elementos das classes trabalhadoras e escravos libertos poderiam fazer em relação

à barreira da renda, como coloca PAIVA (1983, p. 83): “...dessa forma, beneficiava

apenas os setores médios emergentes que pressionavam por participar do poder e

que tinham na instrução um instrumento de ascensão social”.

No entanto, com a incorporação dessa lei (de 1882) no texto da Constituição

de 1891, ao mesmo tempo em que se valorizava a instrução como forma de

ascender socialmente, originava-se o preconceito contra o analfabeto, sendo

considerado um sujeito incapaz e marginal. Pode-se observar que, até o final do

Império, não era colocada em dúvida a capacidade da pessoa que não sabia ler e

escrever para poder desempenhar seu papel dentro da sociedade e no processo

produtivo da época, haja vista que a maioria da população, incluindo parte da elite,

não possuía este tipo de aprendizagem. Esse estigma que o analfabeto carrega de

ser considerado um sujeito “inferior”, menos capaz, entre outros termos bastante

depreciativos, vai acompanhar a fala e as idéias de muitos e dos próprios

estigmatizados, até os dias atuais; como coloca PAIVA: somente quando a instrução se converte em instrumento de identificação das classes dominantes (que a ela tem acesso) e quando se torna preciso justificar a medida de seleção é que o analfabetismo passa a ser associado à incompetência(...)tal idéia se difunde amplamente no país e estará presente em toda a nossa história da educação popular posterior (PAIVA, 1983, p. 83).

A Constituição de 1891, a primeira após a proclamação da República, pouco

contribuiu para a melhoria da educação elementar da população brasileira em geral,

pelo contrário, em alguns pontos pode-se dizer que houve um retrocesso. Um

exemplo foi o de que retiraram do texto da Carta Magna a referência à gratuidade da

instrução mantendo-se a isenção de responsabilidade direta da União com a

organização dos sistemas de ensino. Continuava sendo competência das antigas

Províncias, agora Estados, cuidar e organizar a educação básica. O papel da União,

como é mencionado no próprio texto da Constituição, no art.35, parágrafo 2º é de

12 Ver mais sobre o discurso de Rui Barbosa em Vanilda Paiva p.81 e 82. Educação Popular e Educação de Adultos(1983)

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“....não privativamente, animar no país o desenvolvimento das letras, artes e

ciências...”

Baseada nas idéias liberais e positivistas que circulavam no período, essa

Constituição, segundo o Parecer CEB/CNE nº11/2000: “..fazia do indivíduo o pólo

da busca pessoal de ascensão, desconsiderando a clara existência e manutenção

de privilégios advindos da opressão escravocrata e de formas patrimonialistas de

acesso aos bens econômicos e sociais.”

De maneira geral, verifica-se que poucas realizações concretas se efetivaram

quanto ao ensino elementar durante as primeiras décadas da República. Segundo

BORBA (1984), mesmo ocorrendo sucessivas reformas educativas (em 1901, 1909,

1911, 1915 e 1925)13 referentes ao ensino secundário, superior e técnico –

profissional e ocasionando um ligeiro desenvolvimento nessas modalidades de

ensino, o sistema educativo brasileiro de modo geral ainda possuía uma orientação

bastante ligada aos preceitos do ensino jesuíta, voltado para as línguas clássicas, à

moral e à filosofia, com pouquíssima relação com o mundo do trabalho14 e sem uma

concepção mais abrangente e global.

No entanto é importante salientar que, no decorrer das primeiras décadas do

século XX, mais precisamente nos anos vinte, pode-se delinear de maneira mais

clara muitas das características da educação popular no Brasil, quando surgem as

origens de várias idéias pedagógicas que irão nortear sistemas de ensino e buscas

de soluções de problemas educativos.

Para PAIVA (1983), a questão da educação, no período do início da

República (a partir de 1887) até meados dos anos de 1930, estava ligada a

perspectivas internas ou externas ao sistema. Dentre as consideradas de

perspectiva externa, podemos citar os “entusiastas da educação”, que partiam do

pressuposto de que a “educação era a fórmula para a solução de todos os males da

sociedade”. Sob essa perspectiva ocorreu relativa expansão da rede escolar para

13 Em 1901(Código de Ensino de Epitácio Pessoa), 1909(Criação das escolas de Aprendizes e Artífices), 1911 (Lei Orgânica Rivadávia Correia), 1915 (Reforma de Carlos Maximiliano) e 1925 (Reforma João Luiz Alves – Lei Rocha Vaz). Conforme PAIVA, 1983, p. 317 14 No ensino técnico profissional houve um certo desenvolvimento através do decreto de 1909 que cria as escolas de Aprendizes e Artífices e o ensino agronômico, no entanto, essas escolas visavam ao treino de rudimentos básicos para a criação de mão-de-obra um pouco mais especializada e adequada às necessidades produtivas da época. Ademais, tinham um forte viés de segregação e correção já que era destinada aos “desvalidos da fortuna” para retirá-los do “vício e do crime”. (Decreto nº 7.566, de setembro de 1909)

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alfabetização do povo. No entanto, apesar do aspecto positivo desse movimento, se

configurou principalmente em um crescimento quantitativo, pois a difusão da

educação popular baseava-se nos modelos já existentes de escola (NAGLE, p. 263).

A perspectiva interna surge da preocupação diretamente ligada a melhorias

das condições didático-pedagógicas dos sistemas escolares apartir do aparecimento

dos “otimistas da educação”, movimento cronologicamente posterior aos

“entusiastas da educação”, que com base no relativo “desenvolvimento da escola

normal na década de 1920, e através das idéias escolanovistas que começam a

influenciar os novos ‘profissionais da educação’, propõe as primeiras tentativas de

reformulação e remodelação dos sistemas educacionais no Brasil (NAGLE, p.271).

Ambos movimentos são desenvolvidos, segundo GHIRALDELLI Jr. (1992, p. 15) por

“intelectuais das classes dominantes do país”, ou seja, apesar dos aspectos

positivos desses movimentos, ainda não se observa um efetivo envolvimento da

população geral nas transformações educacionais no período.

Conforme foi comentado, os primeiros “profissionais da educação”, segundo

PAIVA (1983), surgem buscando as dimensões científicas dos processos didático-

metodológicos do ensino, através da defesa do tecnicismo15 na educação, e a

descrença ao compromisso com idéias políticas. Se antes os ditames referentes à

educação eram elaborados e tratados por profissionais externos (como políticos,

médicos, etc) ao exercício do ensino, nesse momento surgem os “conhecedores das

técnicas pedagógicas” que acreditam na “neutralidade da educação”.

Mas não são apenas os “profissionais da educação” que estarão preocupados

em modificar e reformar a educação no Brasil; após a Primeira Guerra Mundial,

muitos movimentos civis e também oficiais empunhavam a bandeira contra o

analfabetismo. Dentre eles, os movimentos operários inspirados em ideais

15 É importante diferenciar o termo “tecnicismo”, deste período, para o que irá surgir no período do regime militar (a partir do final da década de 1960 e decorrer de 1970). Se o primeiro se ocupava da questão didático-metodológica em um nível de construção de processos que visariam à melhoria do aprendizado, o tecnicismo do período militar era ligado a bases muito mais ideológicas, visando não apenas a questão metodológica do aprendizado, mas também o “adestramento”, e conformação dos padrões e limites permitidos e requeridos pelo modelo autoritário e concentrador de renda implantado no período. Neste sentido, o tecnicismo educacional da ditadura significava “ a preparação estrita da força de trabalho [que] buscava propiciar melhores condições de reprodução do capital pela maior extração de mais valia, via aperfeiçoamento técnico e controle ideológico. Neste aspecto, o Estado projeta à escola o papel de contribuir para moldar um condicionamento da força de trabalho, seja pelo conteúdo, seja pela disciplina.”(LIMA FILHO, 2002, p.110).Para maiores aprofundamentos ver: ALVES, M. H. M. Estado e Oposição no Brasil (1964 – 1984). São Paulo: vozes. 1984.Ver também: GERMANO, W. Estado militar e Educação no Brasil. São Paulo: Cortez, 1993.

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comunistas ou libertários começam a pleitear e reivindicar maior valor à educação.

Revelando o espírito de época, uma onda de nacionalismo invade o país,

estimulando o governo federal a financiar escolas primárias e normais no sul, dentro

dos núcleos de população imigrada, sendo essa a primeira intervenção direta

financiada pela União16, a fim de “barrar” a influência de estrangeiros que poderiam

incitar revoltas na população.

Também surgem os primeiros movimentos a favor do ensino rural, com o

objetivo de “ferir o poder agrário em suas bases” (PAIVA, 1983, p. 95), pois é nesse

momento que o grupo industrial–urbano17 começa a se expandir e se fortalecer,

necessitando aumentar suas bases eleitorais. Segundo PAIVA (1983, p. 96), pode-

se dizer que esses movimentos, a fim de modificar e reformular a educação, eram

ligados às “lutas entre grupos dominantes pela hegemonia dentro do sistema”.

Apesar de toda essa efervescência em torno de reformas na educação,

novamente pouco se contribuiu para o ensino de adultos sem instrução. Há apenas

uma sugestão de medida no Decreto nº 16.782/A de 13/1/1925 (Lei Rocha Vaz)

referente à difusão do ensino primário, que dizia em seu art. 27: “Poderão ser

criadas escolas noturnas, do mesmo caráter, para adultos, obedecendo às mesmas

condições do art. 25”.Neste artigo a União era obrigada a parcialmente subsidiar o

salário dos professores primários atuantes em escolas rurais. Aos Estados ficava o

encargo de oferecer residência, escola e material didático, além de pagar o restante

do salário do professor. Essa dimensão da reforma referente à criação de escolas

noturnas ficou sem efeito, pois o medo das elites de uma incorporação massiva de

eleitores novos e a sempre alegada falta de recursos da União para contribuir com

sua parte, impediram sua efetividade.

É na década de 1930, com a aceleração da industrialização no país, com o

aumento significativo dos processos de urbanização e, principalmente, como forma

de colocar limites às lutas sociais existentes, que se apresentam as motivações

imediatas para que o Estado se imponha mais efetivamente nas “questões sociais”.

16 Via Decretos : nº 13.175 de 6/9/1918, nº 13.390 de 8/1/1919 e nº 13.460 de 5/2/1919 17 Vale lembrar que este grupo originou-se da burguesia cafeeira, que segundo FAUSTO (1969, p. 112) “ se constituiu ao longo da Primeira República como única classe nacional no sentido de que só ela reunia condições para articular formas de ajustamento e integrar assim o país, na medida de seus interesses”. Portanto seguindo essa linha, não havia diretamente conflito de interesses, mas sim adequação de diferentes interesses de um mesmo grupo, no caso, a burguesia do café. Para saber mais sobre este período, ver: FAUSTO, B. (1983) e MORAES, C. S. V. (2003).

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Dessa maneira e, principalmente após a “Revolução de Trinta”18, ocorre um

grande impulso na importância da educação escolar, como descreve PAIVA (1983,

p. 172): Também o governo, alertado do grande poder de manipulação oferecido pela educação aos governantes, tratará de utilizá-la como instrumento de sedimentação de seu poder político e das estruturas sócio-econômicas vigentes, conforme podemos constatar através das intenções explícitas do Estado Novo de utilizar o sistema educativo e a educação como instrumento de difusão ideológica. Enquanto, alguns anos antes os “profissionais da educação” (“otimismo

pedagógico”) travavam lutas apenas por melhores condições técnicas para o ensino,

alegando uma obrigatória neutralidade da educação, verifica-se apartir dos anos

trinta, que estes mesmos teóricos da educação precisariam tomar partido.

Nesse novo período, quando as novas condições políticas forçavam todos a

refletir sobre a realidade social e buscar interpretações para essa realidade, fazia-se

necessário se posicionar de alguma forma, ou mantendo silêncio quanto ao aspecto

político da educação e, conseqüentemente fazendo parte do ideário governista, ou

buscando uma mobilização através das idéias de transformação da sociedade.

É a partir de 1930 que ocorrem grandes discussões e mobilizações em favor

de novas concepções pedagógicas. As necessidades educativas do povo começam

a serem levadas em consideração e, pela primeira vez, é reconhecida, em caráter

nacional, “a educação como direito de todos e que deveria ser ministrada pela

família e pelos poderes públicos” (art.149 da Constituição de 1934 apud PARECER

nº 11/2000).

No mesmo sentido, o artigo 150, da referida Constituição de 1934, sobre o

princípio de que o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece a obrigatoriedade

do “ensino primário integral, gratuito e de freqüência obrigatória, extensivo aos

adultos”. Pode-se observar que esse avanço na formulação da Constituição

caracterizava bem os movimentos sociais do período, tendo em vista um projeto de

sociedade mais democrática.

No que diz respeito especificamente à educação de adultos, pode-se dizer

que é a partir dessa década (meados de 1930), que ela é percebida de maneira

independente, através da experiência do Distrito Federal (1933-35) e pelas

18 Para o aprofundamento sobre a caracterização da chamada “Revolução de Trinta”, suas motivações e impactos na sociedade brasileira ver, entre outros, FAUSTO, B. A revolução de 1930 –historiografia e história. Brasiliense, 1983.

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discussões ocorridas durante o Estado Novo, em decorrência do resultado do Censo

de 1940, que indicava a existência de 55% de analfabetos nas idades de 18 anos ou

mais.

A reforma do Distrito Federal, em 1928, sobre a educação de adultos, com o

objetivo de organizar cursos elementares noturnos, foi uma experiência de grande

importância na história da educação no Brasil, pois além de configurar-se como “o

primeiro movimento de caráter extensivo fora dos moldes tradicionais das escolas

noturnas” (PAIVA, 1983, p.116) possuía um aspecto político forte. Seu principal

representante e articulador foi Anísio Teixeira que, com o levante comunista de

novembro de 1935, foi considerado suspeito e afastado do cargo juntamente com

seus colaboradores mais próximos.

É pertinente ressaltar a importância de Anísio Teixeira dentro da história

educacional brasileira. Conforme GHIRALDELLI Jr. (1992),o Educador representava

o grupo dos “liberais igualitaristas”, que desejavam construir um país democrático, e

no plano educacional seguiam as teses gerais da Pedagogia Nova, mais

especificamente, as idéias de Dewey. Para Anísio Teixeira a escola deveria “servir

de contrapeso aos males e desigualdades sociais provocados pelo sistema

capitalista” (GHIRALDELLI Jr., p. 42), portanto estaria aberta para todas as classes

e camadas sociais, possibilitando a construção de uma sociedade nova. Seu

trabalho desempenhado no Distrito Federal e anteriormente na reforma do ensino na

Bahia (meados da década de 1920 e início de 1930), atingiu vários setores

educacionais inclusive o ensino de adultos. Sua força moral, idéias e reformas no

sistema educacional ainda hoje servem de referência para muitos educadores.

Apesar da aprovação da Constituição de 1937, que segundo o Relator do

Parecer que dispõe sobre as DCNEJA (PARECER CEB/CNE nº11/2000, p. 11)

representa o “temor das elites frente às exigências de maior democratização social e

instrumento de um projeto modernizador excludente”, e de várias outras

arbitrariedades do governo ditatorial em relação a direitos civis, houve um

significativo progresso no que diz respeito a fomentos destinados à educação básica

e conseqüentemente à educação de adultos, com a instituição do Fundo Nacional do

Ensino Primário (FNEP), através do decreto nº 4.958 de 14/11/1942. Esse fundo

constituir-se-ia de tributos federais criados especificamente para esse fim e voltados

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para a melhoria e ampliação, em todo o país, do sistema de ensino primário, sendo

estes recursos aplicados nos Estados via convênios.

Também, a partir do anúncio da redemocratização no País, em 1945, grupos

ligados ao recém legalizado Partido Comunista, além de outros representantes de

esquerda, organizavam atividades educativas em relação à problemática da

educação de adultos. Surgem os Centros de Cultura Popular e as Universidades

Populares. Também membros da sociedade civil sem filiação político-partidária e os

serviços oficiais do Estado começam a se movimentar em torno de ampliar as

oportunidades de educação de adultos e favorecer a difusão cultural.

Com o término da 2ª Guerra Mundial, e o fim da ditadura Vargas, enfatiza-se

a necessidade da “educação das massas” (PAIVA, 1983, p.175). Em 1946, através

do Decreto-lei nº 8.529 de 2/1/1946, Lei Orgânica do Ensino Primário, é reservado o

Capítulo III ao curso primário supletivo. Seria este voltado a adultos e adolescentes

devendo seguir os mesmos princípios do ensino primário fundamental, com

disciplinas obrigatórias, mas com dois anos de duração (Conforme Parecer nº

11/2000, p.12). E, nesse mesmo ano, o INEP iria lançar um apelo às autoridades de

ensino do país para que fossem criados núcleos em favor de uma campanha de

educação de adolescentes e adultos analfabetos, com base nos recursos já

acumulados durante o ano de 1945 no FNEP.

Com a possibilidade de um impulso orçamentário como esse que viria do

FNEP, havia uma necessidade, então muito mais sólida, de se buscar estratégias

educacionais mais democráticas, através da escolha de diretrizes políticas para um

programa de educação amplo. Aos Estados era sugerido que ampliassem suas

redes de ensino supletivo a partir dos recursos federais e, logo em seguida, ocorre o

lançamento da CEAA (Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos), que

nasceu da regulamentação do Fundo Nacional de Ensino Primário (FNEP), visando

atender aos apelos da Unesco em favor da educação popular.

Essa campanha foi a primeira de proporções em grande escala com vistas à

“sanar a grande chaga” que era o analfabetismo. Direcionava-se principalmente para

o meio rural, pois o ensino supletivo até então se concentrava predominantemente

nas capitais. Era uma campanha que, segundo PAIVA (1983), tinha objetivos

claramente políticos, destinados à sedimentação do poder político das estruturas

sócio-econômicas que escolheram a democracia liberal com a derrubada do Estado

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Novo e necessitavam difundir entre o povo os postulados do novo regime. Para isso,

era preciso dar maior oportunidade de participação na vida política a um amplo

número de pessoas, aumentando assim os contingentes eleitorais. Concentrava-se

no meio rural, pois assim poderia enfraquecer o poder das oligarquias ruralistas e

aumentaria a qualificação da mão de obra da indústria que começava a ser vista

como uma forma de progresso e crescimento econômico da Nação. Como cita

PAIVA: “... a difusão da instrução era, portanto, um meio de proporcionar recursos

humanos para o desenvolvimento e a industrialização do país” (1983, p. 180).

A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos funcionou durante o

período de 1947 a 1963 quando foi extinta, devido aos escassos recursos dirigidos a

ela por motivo de não atender a um de seus principais objetivos que era a

alfabetização de um número amplo de pessoas.

A partir de 1958, com a constatação do declínio da CEAA, e através de dados

com resultados também bastante decepcionantes em outras campanhas

governamentais, ocorre no país um período de reconhecimento público da falência

das campanhas de massa e ao mesmo tempo cresce a mobilização no campo da

educação de adultos.

Mas é a partir da década de 60 que é intensificada essa mobilização tanto em

âmbito governamental quanto nos meios civis e em grupos políticos católicos, que

iniciam movimentos em favor da alfabetização de adultos, tendo cada um desses

grupos perspectivas e pensamentos próprios. Dentro do governo observou-se, com

base nos resultados da eleição que levou Jânio Quadros ao poder, candidato que

não possuía compromissos diretos com as oligarquias tradicionais, que o aumento

gradativo do contingente eleitoral havia contribuído para essa “rebeldia política” dos

eleitores que desobedeciam os líderes tradicionais, demonstrando dessa forma a

importância de se organizar e valorizar programas que multiplicassem o número de

eleitores a curto prazo. Em paralelo, cresce o interesse dos representantes da igreja

católica, pela problemática da educação de massa e, ao mesmo tempo, surgem

grupos políticos católicos que serão de grande importância para a educação popular,

orientados por um novo prisma denominado pensamento social cristão.

Apesar da renúncia ao cargo de Presidente por Jânio Quadros, em 1961, e de

o período que precedeu e sucedeu esse fato ter sido bastante confuso e turbulento,

foi, segundo PAIVA (1983), bastante fecundo em favor da educação de adultos. Foi

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um momento de grandes movimentações e modificações não só no que diz respeito

à mudança de forma de governo (presidencialismo para parlamentarismo) e à

instabilidade política ocorrida após a renúncia, mas também à grande variabilidade

ideológica concorrente e à promulgação da LDBEN (Lei nº 4.024 de 20 de dezembro

de 1961).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 4.024/61),

assim como a Constituição de 1946, reconhece a educação como direito de todos e,

a respeito do ensino primário, torna-o obrigatório a partir da idade de 7anos.

Também aponta a criação de cursos supletivos correspondentes ao nível de

desenvolvimento do estudante que iniciar essa etapa após a idade regular (acima de

sete anos), e a permissão de maiores de 16 anos obterem certificados de conclusão

do curso ginasial, e maiores de 19 anos a certificação de curso colegial, através de

“exames de madureza”. Como esta orientação não diz quem são os responsáveis

pelos exames, não só os estabelecimentos oficiais, mas também as escolas

privadas autorizadas pelas Secretarias e Conselhos passam a realizá-los,

favorecendo um aumento da oferta de cursos (que nos anos 70 e 80 vão proliferar)

com pouquíssimo comprometimento educacional e de qualidade duvidosa, visando

apenas à emissão de certificados a um pessoal despreparado e com grandes

defasagens de conteúdo.

Sobre esses cursos e exames relativos ao ensino supletivo, serão feitas

algumas considerações quando tratarmos do Movimento Brasileiro de Alfabetização

(MOBRAL), programa governamental criado em 1967.

Antes das redefinições ocorridas na educação geral após o golpe de 1964,

ocorreram movimentos de conseqüências importantíssimas para a educação de

adultos. Além dos programas oficiais ou que possuíam algum vínculo com o governo

(MEB – Movimento de Educação de Base e MNCA – Mobilização Nacional Contra o

Analfabetismo), outras experiências enriqueceram o período de 1961 a 1964,

merecendo destaque de nossa parte, assim como alguns comentários, pois influíram

e ainda influem no pensamento dos representantes da educação de jovens e adultos

de hoje. Foram eles: o MEB – Movimento de Educação de Base CPC – Centros

Populares de Cultura e o MCP – Movimento de Cultura Popular.

A Mobilização Nacional Contra o Analfabetismo (MNCA) foi criada para

priorizar as regiões mais urbanizadas, no mesmo período em que o Movimento de

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Educação de Base (MEB) iniciava seus projetos nas regiões mais subdesenvolvidas

do país. Dessa forma pretendia-se, por parte do governo, unificar as campanhas

ministeriais.

A MNCA foi criada através do decreto nº 51.222, de 22 de agosto de 1961,

dias antes da renúncia do presidente da República Jânio Quadros, não chegando a

ser implantada. Sua retomada acontece somente através do decreto nº 51.470, de

22 de maio de 1962, já no governo João Goulart, tendo algumas modificações em

relação à determinação inicial.

A MNCA desempenhava, segundo PAIVA (1983), o papel de um programa

“tampão”, pois se pretendia aplicar os recursos disponíveis à educação de adultos

em algo enquanto não era aprovado o Plano Nacional de Educação, com vistas a

integrar diversas campanhas e serviços referentes à educação popular. No entanto,

tão logo o Plano Nacional de Educação foi aprovado (setembro de 1962),

determinou-se a reorganização da MNCA e no seu lugar surge o Programa de

Emergência (decreto nº 51.552 de 26 de setembro de 1962), visando a ampliação e

melhoria qualitativa da educação popular em geral, tanto no que diz respeito ao

ensino primário comum quanto à alfabetização adulta.

O que se observa nesse período que vai do final de 1961 ao início de 1963, é

uma tendência, dentro dos programas governamentais, de se buscar soluções para

os problemas da educação popular em geral, e não especificamente das

modalidades que pertenciam a ela (tal como a educação de adultos). É nos

movimentos locais, de diferentes regiões do país, que acontecia um tratamento mais

especifico e exclusivo referente à educação de adultos.

O Movimento de Educação de Base (MEB), criado em 1961, nasceu de um

acordo entre o governo e a CNBB (Conselho Nacional dos Bispos do Brasil), sob a

inspiração de D.Eugênio Sales. Teve sua origem vinda da experiência que

D.Eugênio Sales teve com as escolas radiofônicas, em Natal (Rio Grande do Norte)

em 1958. A Igreja, com o MEB, “procurava reconquistar suas bases populares

perdidas devido ao seu apoio às elites políticas economicamente dominantes” (SÁ

apud BORBA, 1984, p. 53).

Inicialmente a atuação do MEB limitava-se às regiões Centro-oeste, Nordeste

e Norte, em suas áreas mais subdesenvolvidas. A partir de 1963, aumenta seu

campo de ação, objetivando alcançar todas as regiões subdesenvolvidas do Brasil.

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O MEB, até 1962, desenvolvia um trabalho de conscientização de valores

físicos, morais e cívicos na educação dos camponeses. A partir desse ano, sob a

forte influência das esquerdas cristãs, o MEB irá sustentar como idéia base a

educação como comunicação a serviço da transformação da sociedade, como indica

PAIVA (1983, p. 224) : “(...)a mobilização político-ideológica do período se refletirá

no MEB e começa a caracterizar-se como um movimento de cultura popular e a

buscar uma metodologia que transcendesse a mera organização de escolas

radiofônicas.”

A questão da transformação social torna-se um objetivo primordial da

educação de base, sendo destacada na metodologia do MEB a conscientização via

desenvolvimento de uma educação criativa, com o objetivo de agir sobre o mundo,

com a conseqüente mudança de atitudes frente à sociedade excludente em que

estavam inseridos o conhecimento e valorização da cultura e da arte popular.

Entretanto, o golpe de Estado em 1964 e o novo regime militar que cerceará e

perseguirá todos os movimentos sociais e populares, considerados de caráter

“subversivo”, fazem com que o Movimento de Educação de Base mude sua

orientação. Ocorre uma reformulação em seus conteúdos, dando ênfase, a partir de

então, à instrução religiosa e à catequização. Seus novos dirigentes apoiavam uma

política dita “neutra”, e com isso, o MEB se separava dos movimentos populares,

conforme coloca BORBA (1984, p. 58) : “Dessa forma, seguindo uma orientação

religiosa, afastado dos problemas políticos e das lutas pelos oprimidos, o MEB foi

integrado ao MOBRAL no começo da década de 70”. Com isso o Movimento de

Educação de Base perdeu sua função fortemente política, entretanto, conseguiu se

manter com subsídios governamentais e sem grandes vicissitudes por um período

razoável.

Os Centros Populares de Cultura situam suas origens no interior de

movimentos criados por organismos sociais e a Igreja Católica desde a metade dos

anos 50, na tentativa de influenciarem o processo de mudança social. Mas é em

1959, quando o Teatro Arena se transfere de São Paulo para o Rio de Janeiro, que

uma série de debates entre artistas do teatro e intelectuais sobre a enorme distância

entre a vida política e social em relação à arte e também sobre o elitismo e,

conseqüentemente, o restrito público que participava da vida cultural dominante,

fizeram com que florescesse a idéia da criação de centros populares de cultura. A

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partir de 1961, com o objetivo de atingir uma maior abrangência de público, unem-se

à União Nacional de Estudantes (UNE), dando, dessa forma, expressão aos seus

anseios de contestação e de participação política, com o objetivo de atingir as

comunidades e bairros mais populares.

A atividade fundamental era o teatro nas ruas, com linguagem popular e

sendo encenado nas praças públicas, sindicatos e universidades (BORBA, 1984,

p.44), porém desenvolviam também outras atividades como palestras, filmes,

exposições de arte, valorizando a cultura do povo, a cultura nacional.

Os CPCs multiplicaram-se por todo o país entre os anos de 1962 e 1964, com

organização específica de cada região. Os que pertenciam à UNE possuíam uma

organização e infra-estrutura mais organizada. Apesar disso, alguns CPCs que não

tinham essa ligação, já possuíam um comprometimento mais apurado na questão

relativa à alfabetização de adultos: Somente no final de 1963, o CPC da UNE pensou em cuidar também do problema da alfabetização, chegando a levantar a possibilidade de organização de uma Universidade de Cultura Popular que atuaria por correspondência com material didático, vendido nas bancas de jornais. Em compensação, outros CPCs, como de Belo Horizonte, enfatizaram o programa de alfabetização, chegando a elaborar material didático próprio (PAIVA, 1983, p. 223) Apesar de a ênfase estar no campo da cultura popular, pela qual tentavam

motivar e mobilizar a população na direção da problemática social (BORBA, 1984, p.

46), alguns centros de cultura popular tinham a alfabetização de adultos como

prioridade e núcleo central do trabalho educativo (PAIVA, 1983, p. 235), porém, a

maioria dos CPCs atuava com pouco “vigor e profundidade” nesse campo (BORBA,

1984, p. 46), sendo a arte didática de cunho político a principal vertente para

contribuir no processo de transformação da realidade brasileira.

Os centros populares de cultura foram desativados após 1964, mas alguns

pequenos grupos continuaram suas atividades de forma bastante reduzida devido à

repressão e aos escassos recursos advindos de pequenos grupos de pessoas que

ainda se arriscavam a colaborar e, em 1972, deixaram de atuar efetivamente.

O Movimento de Cultura Popular (MCP) criado em 1960, na cidade de Recife,

nasceu da iniciativa de artistas, intelectuais e estudantes universitários que se

aliaram à prefeitura da capital pernambucana, no combate ao analfabetismo e com o

intuito de elevar o nível cultural da população, através do desenvolvimento da

educação de base e conscientização das massas populares.

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O Movimento de Cultura Popular desenvolveu-se principalmente com a ajuda

de educadores como Paulo Freire e Germano Coelho, que haviam estudado o

movimento francês Povo e Cultura (BORBA, 1984, p. 46) e possuíam uma forte

influência de idéias socialistas e cristãs. Segundo Vanilda Paiva, o movimento

pretendia encontrar uma “fórmula brasileira” para a prática educativa ligada à cultura

e às artes do povo, não apenas na questão de valorizar a produção cultural deste,

mas também criando condições para que o povo usufruísse e se orgulhasse de sua

própria cultura; porém, as atividades básicas do MCP estavam fundamentalmente

ligadas à conscientização das massas, via alfabetização e educação de base.

Apesar da propagação de Movimentos de Cultura Popular pelo país, estes

foram em menor escala que os Centros Populares de Cultura, pois os primeiros,

devido suas atividades mais amplas e sistemáticas em relação à educação de base

e à alfabetização, necessitavam de grandes recursos para se multiplicarem,

dificultando sua abrangência pelo país. Por esse motivo, os MCPs mais

desenvolvidos restringiram-se a Pernambuco e ao Rio Grande do Norte, com a

Campanha “De Pé no Chão também se aprende a Ler”, criada em 1961.

O MCP pernambucano e a Campanha do Rio Grande do Norte possuíam

formulações teóricas bastante próximas, apesar de guardarem as especificidades

características de cada local a que pertenciam. Suas bases, no entanto, advinham

de um pensamento comum, que era o de promover a “integração do homem

brasileiro no processo de libertação econômico-social e político-cultural de nosso

povo” (PAIVA, 1983, p. 238), isto é, fazer com que o Ser assuma seu papel de

sujeito no processo de construção social. E dentro deste tipo de pensamento, quem

exerceu maior influência, não só nos MCPs como também sobre os profissionais da

educação em geral, foi Paulo Freire.

Suas idéias, que a princípio estavam fortemente ligadas a uma sociologia

pragmática, com uma “visão cristã do mundo” (PAIVA, 1983, p. 251), com o passar

de algum tempo, e através das vivências trocadas no processo educativo do

Movimento, e da grande ruptura dos caminhos de liberdade de ação destes

movimentos quando do golpe de 1964, fizeram com que Freire buscasse autores e

práticas que se referissem mais ao processo histórico do homem e às lutas de

classes na transformação das estruturas sociais. Para ele, a educação é um ato de

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liberdade e o diálogo é o ponto chave, e é através dele que educador e educando se

realizam e se transformam.

A metodologia de alfabetização criada por ele e utilizada no Movimento

pernambucano serviu de base não só para outros movimentos, mas também para

práticas educativas que tivessem por objetivo uma educação mais crítica e

transformadora. Através do levantamento do universo vocabular dos grupos, eram

escolhidas palavras que fossem ricas não apenas no que diz respeito à sua fonética

e dificuldade fonêmica, mas que também representassem uma dada realidade

social, política ou cultural para, a partir daí, propiciar a discussão, e então trabalhar a

questão da “decomposição das famílias fonêmicas correspondentes aos vocábulos

geradores” (PAIVA, 1983, p. 253).

Tudo isso era feito com uma adequada preparação dos coordenadores que,

além de prepararem o material didático a ser utilizado, faziam o levantamento inicial

das palavras. Mas esse trabalho só se tornava realmente efetivo e consistente em

função da troca entre seus participantes, pela convivência entre teoria e prática,

entre o real dos educandos e o conhecimento formal dos educadores, em uma

relação de respeito mútuo e de recíproca aprendizagem.

O diálogo pensado e utilizado nas práticas educativas do método, era

baseado no conceito antropológico de cultura, pois dessa maneira ajudaria ao adulto

não alfabetizado a superar sua compreensão mágica do mundo e ter uma postura

mais crítica da realidade. Segundo PAIVA (1983, p. 252), seria: “... a distinção entre

o mundo da natureza e o mundo da cultura e o realce do papel ativo do homem

sobre a realidade criando cultura”.

Por ser um movimento de forte cunho político e de conscientização das

massas, após o golpe de Estado de 1964, suas atividades foram interrompidas e

muitos de seus participantes foram perseguidos pela polícia, presos (entre eles

Paulo Freire) e exilados. Como descreve BORBA (1984, p. 54), “... a mobilização

pela participação das camadas populares promovida pelo MCP, pelo CPC e em

parte pelo MEB, assustava as oligarquias as quais viam na alfabetização um perigo

aos seus interesses”.

Nesse período, era perigoso ter um povo com a consciência crítica e

mobilizada, portanto a educação de adultos, a partir de 1964, terá um retrocesso

muito grande no que diz respeito ao aspecto qualitativo. O que antes desse período

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representou, em alguns poucos anos, um desenvolvimento de idéias pelas quais

povo teria uma participação real na sociedade em que vivia, através da

efervescência de movimentos em prol de uma educação de base mais democrática

e crítica, após 1964 o que se observou foi o desmonte dos programas que poderiam,

de alguma forma, representar um perigo à estabilidade do regime e à preservação

da ordem capitalista. A educação de adultos fica, então, entregue à orientação norte-

americana que, através da “doutrina da interdependência” que predominou no

período ditatorial militar, propiciava doações e recursos aos programas que fossem

condizentes com a política dominante.

Ao mesmo tempo em que a nova política, voltada para o exterior, acabou com

a organização social reivindicativa e com a jovem educação popular, era necessário,

aos olhares externos e também internos, mostrar preocupação para resolver

questões sobre a educação do povo e alfabetização de adultos19. Dessa maneira, a

idéia da criação do MOBRAL começa a surgir auxiliada pela contribuição de

tecnocratas que recomendarão experiências de alfabetização funcional, ao invés de

amplas campanhas de alfabetização e educação de adultos.

O MOBRAL, Movimento Brasileiro de Alfabetização, foi criado pela Lei nº

5.379 de 15 de dezembro de 1967, sucedendo à mobilização verificada nos meses

anteriores em relação ao problema da educação de adultos20, e seus objetivos eram,

de acordo com BORBA (1984), possibilitar a democratização de oportunidades

através da educação, beneficiando a população mais pobre, reduzir o analfabetismo

e promover a integração dos novos alfabetizados à sociedade da qual eles estavam

à margem.

A Fundação MOBRAL possuía liberdade (via Lei nº 5379 de 15/12/1967), de

tratar convênios com entidades nacionais e internacionais, públicas e privadas, com

vistas a atingir seus objetivos. No entanto, durante seus quinze anos de

funcionamento, seus recursos foram provenientes, principalmente, da fatia de 2% do

Imposto de Renda de pessoas jurídicas.

19 Sobre as tentativas e mecanismos de institucionalização da ditadura, bem como sua legitimação, ver em: ALVES, M. H. Moreira. Estado e Oposição no Brasil – (1964 – 1984). Editora Vozes. 1984. 20 Segundo PAIVA (1983), no Dia Internacional da Alfabetização (08/09/1967) vários decretos foram assinados visando a criação de um grupo interministerial para levantamento de recursos destinados à alfabetização (decr. nº 61.311, decr. nº 61.312, decr. nº 61.313, decr. nº 61.314)

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Em 1970, a lei que criou a Fundação foi revista. Foi proposta a promoção da

“alfabetização funcional e a educação continuada dos adultos” (CASÉRIO, 2003, p.

45). A valorização do homem pela aquisição das técnicas de escrita, leitura e

cálculos e a integração e reajustamento deste à família, à comunidade e à Pátria,

eram os objetivos da alfabetização funcional da proposta do MOBRAL.

Mas o que caracterizava de modo mais marcante essa proposta era a

vinculação da educação de adultos com as prioridades presentes e futuras de mão-

de-obra, ressaltando a necessidade da colaboração de todos, embora como cita

PAIVA (1983, p. 294) “fossem levantadas dúvidas acerca da oportunidade política da

utilização de estudantes universitários nas tarefas alfabetizadoras”.

Seus pressupostos gerais defendiam atividades que levassem a mudanças

sociais, pensando a educação como um processo de ajuda ao Ser humano no que

se refere a organizar e desenvolver suas potencialidades.

No entanto, mesmo considerando que este desenvolvimento de

potencialidades do Ser deve levar em consideração as relações sociais e o meio em

que vive, salientando os direitos e responsabilidades no desenvolvimento

econômico, político, cultural e social, o MOBRAL reforçava que as “mudanças

sociais” deveriam estar “dentro dos limites previamente estabelecidos pela ordem

vigente, ou seja, na sedimentação das estruturas, mas com modernização” (PAIVA

apud CASÉRIO, 2003, p. 46).

Durante todo o período de funcionamento, o MOBRAL expandiu-se sobre o

território brasileiro de maneira muito mais ampla que qualquer outra campanha de

massa pudesse se comparar. Isto não quer dizer que os resultados foram melhores

ou mais compensadores do que as campanhas de alfabetização em massa

anteriores. Pensava-se, quando da criação do Plano Complementar ao Plano

Nacional de Educação (1966), que a então jovem Fundação MOBRAL seria o órgão

responsável pela pretensa extinção do analfabetismo no país até 1975. No entanto ,

em 25 de novembro de 1985, o MOBRAL encerra suas atividades sem ter cumprido

essa finalidade e, segundo observações de seu próprio Presidente em 1985, Vicente

Paula Barreto, além dos milhões de analfabetos existentes no país no período de

funcionamento do programa, existiam ainda um número expressivo de pessoas que

passaram pelo MOBRAL e que poderiam ser considerados como analfabetos

funcionais, pois apenas “aprenderam a desenhar o nome ou ler sem compreender o

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significado das palavras”. (MOBRAL pretende melhorar o nível de seus professores,

1985, p.12)

O que é relevante se comentar sobre esse programa governamental é que

pela primeira vez, segundo FREITAG (1986, p. 83) se implantou um “movimento que

antes de qualquer coisa alfabetize a força de trabalho e eleva, ao mesmo que por

um mínimo, o seu nível de qualificação”, no entanto como a própria autora também

salienta, é também a primeira vez que se evidencia o caráter ideológico da

alfabetização, com o intuito explícito de “inculcar no operariado os valores do

capitalismo autoritário”.

Devido a razões políticas e desacreditada nos meios educacionais a

Fundação MOBRAL foi extinta em 1985, e nesse mesmo ano foi criada a Fundação

Educar, que segundo (DI PIERRO, et al, 2001) assimilou o que restava da estrutura

e os recursos, agora bem mais escassos, antes destinados ao MOBRAL. A

Fundação Educar, devido ao período em que foi criada, possuía intenções explícitas

de propiciar a educação de adultos baseada em novos modelos e paradigmas. De

acordo com DI PIERRO et al (2001) :

Nesse período, muitos programas governamentais acolheram educadores ligados a experiências de educação popular - até então desenvolvido prioritariamente em experiências de educação não formal – com a promoção da escolarização de jovens e adultos por meio de programas mais extensivos de educação básica.

No entanto, apesar do caráter renovador dos ideais da Fundação Educar, sua

atuação foi bastante curta, sendo extinta em 1990, no início do governo Fernando

Collor de Mello no qual foi criado pelo MEC o Programa Nacional de Alfabetização e

Cidadania (PNAC), que tinha por objetivo mobilizar a sociedade em favor da

alfabetização de crianças, jovens e adultos através de comissões que envolveriam

órgãos governamentais e não-governamentais. No entanto, segundo DI PIERRO et

al (2001, p.7) essas comissões “não puderam exercer nenhum controle sobre a

destinação de recursos e o programa foi encerrado depois de um ano”.

Antes de tratar especificamente sobre as modificações e reformas

educacionais e da conjuntura social brasileira em que ocorreram, nas últimas

décadas do século XX, é interessante lembrar que, como cita o Parecer CEB nº

11/2000, “... é no interior de reformas autoritárias, como foi o caso das Leis nº

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5.540/68 e nº 5.692/71, e desta modernização conservadora que o ensino supletivo

terá suas bases legais específicas” (PARECER, 2000, p. 13).

É com a Lei nº 5692/1971 que se encontra a primeira tentativa de articular

sistematicamente as experiências de Educação de Adultos e ensino fundamental e

médio e, nessa mesma Lei, o ensino supletivo ganha um capítulo próprio (Capítulo

IV) com cinco artigos. Os cursos seriam organizados dentro dos sistemas estaduais

e poderiam acontecer por correspondência, à distância ou por outros meios

adequados; os exames seriam feitos em estabelecimentos oficiais e reconhecidos;

as entidades particulares que recebiam auxílio ou subvenções do Poder Público

deveriam colaborar, promovendo cursos e outras atividades educativo-culturais para

adolescentes e adultos do ensino supletivo.

No entanto, o que poderia ser caracterizado como um avanço na questão de

valorizar a especificidade desse grupo, acarretou, em muitos casos, em uma

deterioração do ensino de adultos; com metodologias não condizentes, falta de

recursos e de estrutura para cursos noturnos de qualidade e o “comércio” de ofertas

de cursos e diplomas em entidades particulares, visando apenas a certificação, sem

um compromisso real de continuidade de educação a estes alunos. Tudo isso

contribuiu para o aumento da exclusão e da marginalização da educação de jovens

e adultos.

Pode-se inferir que todo esse quadro desanimador da EJA “prosperou” devido

ao histórico de políticas excludentes desde a década de 1970 e principalmente pela

falta de incentivo político e financeiro por parte do governo federal que conforme cita

DI PIERRO et al (2001, p.8) “levou os programas estaduais – responsáveis pela

maior parte do atendimento à educação de jovens e adultos – a uma situação de

estagnação e declínio”. Também segundo HADDAD et al apud DI PIERRO et al

(2001, p.8), a crescente tendência a municipalização da EJA, sem muitas vezes o

preparo gerencial e técnico necessário para o atendimento dessa modalidade, foi

resultado não tanto de uma política coordenada de descentralização, mas sim da

“omissão das esferas federal e estadual”

Esse caráter marginal que estigmatiza a EJA, pode ser observado até hoje,

através da desarticulação e descaso dos poderes públicos em oferecer uma infra-

estrutura e pessoal específico para atender esse grupo, que quase sempre fica ao

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encargo das concessões e “benevolência”, dos espaços cedidos e pessoal

“emprestado”, por Prefeituras e organizações civis.

Com base em estudos referentes às políticas públicas recentes, quando o

ensino supletivo foi bastante abordado, as conclusões de maneira geral indicam que

as oportunidades abertas pelas políticas públicas de educação de jovens e adultos,

principalmente no que diz respeito ao ensino supletivo, não modificaram “a

hierarquia social pré-existente, servindo antes à manutenção do status quo”

(HADDAD, 2000, p. 89).

BASTOS (1986), que realizou uma pesquisa sobre o aspecto político do

ensino supletivo analisando sua legislação definida no período de 1970 a 1972,

considera tal aspecto como um mecanismo de exclusão: A análise crítica mostrou que o governo defendia uma posição de integração dos excluídos no sistema escolar, mas, ao apresentar uma solução legal para integrá-los, entrou em contradição, pois a legislação do ensino supletivo criou um sistema paralelo, independente e inferior ao sistema regular de ensino. Essa contradição corresponde ao projeto político e econômico dos anos 70. O ensino supletivo tal como está institucionalizado pela legislação, acabou se tornando um mecanismo de exclusão, na medida em que não permite o reingresso ao sistema regular de ensino(BASTOS apud HADDAD, 2000, p. 89).

2.2.2 A Década de 80: Contestação e Busca por Mudanças

A década de 80 revela-se como um período de reorganização e reivindicação

por parte da sociedade civil para a redução da distância entre ela e o Estado. Vários

movimentos em diversas instâncias das esferas sociais aglutinaram a sociedade civil

como um todo.

O processo de abertura política, embora lento, refletiu de maneira direta na

organização de atividades do campo educacional; fatores tais como, o início das

greves do magistério, o movimento “pró-anistia” que trazia um maior

comprometimento de pessoas ligadas à área educacional e cultural de tendências

ideológicas diversas; e a criação de entidades importantes na área da educação

(Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior – ANDES, Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED, Centro de Estudos

Educação e Sociedade – CEDES e a Associação Nacional de Educação – ANDE),

contribuíram para que os educadores se organizassem e iniciassem uma rica

produção científica para embasar a prática educacional. É o período em que houve

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uma grande movimentação em busca de mudanças tanto no aspecto conjuntural da

sociedade quanto no interior de esferas sociais, assim como no campo da educação.

É a partir desse período que acontece a “sistematização das pedagogias de

natureza dialética”, com nomes como Moacir Gadotti (Pedagogia Dialética), José

Carlos Libâneo (Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos) e Demerval Saviani

(Pedagogia Histórico-Crítica) entre outros, que segundo CASÉRIO (2003, p. 32-33)

”começam a dar respostas em termos teóricos, e vão orientar a militância política

das associações, sem perder a especificidade das mesmas (sindicais ou científicas),

mas com atuação política na construção da educação brasileira”.

O período que se iniciou com o governo de José Sarney, em 1986,

denominado de “Nova República”, segue com a expansão de ações, tanto

educativas quanto políticas, desenvolvidas por organizações da sociedade civil que

assumiriam características de movimentos de educação popular. Segundo DI

PIERRO (2000, p. 67), esses movimentos teriam suas origens nos movimentos

educativos da década de 1970.

Também esse é o período da formulação da nova Constituição Federal

Brasileira, e os trabalhos no Congresso Constituinte iniciaram-se em março de 1987

e estenderam até 1988, quando foi aprovada a Constituição. A maioria das

discussões efervescentes no momento teriam sua convergência na produção do

texto da nova Carta Magna do País.

No âmbito da educação, já no período do Congresso Constituinte, surgiu a

forte intenção de se criar uma nova lei geral de educação, seguindo a idéia de

renovação advinda da nova Constituição, portanto a década de 1990 iniciou-se com

a expectativa e envolvimento de vários grupos ligados à educação, para discutir e

estruturar a nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBE).

LIMA FILHO (2002), de acordo com as críticas feitas por SAVIANI (1997)

sobre a nova LDB e toda a sua tramitação, desde as primeiras discussões até o

momento da aprovação do Projeto Darcy/MEC em 17.12.1996, salienta que houve

conflitos profundos em relação à política de governo diretamente articulada com o

ideário neoliberal, e o modelo pensado pela sociedade civil organizada.

Para o autor, “a tramitação da LDB no Congresso Nacional ensejou a disputa

de diferentes concepções educacionais que refletiam distintos projetos de

sociedade” (LIMA FILHO, 2002, p.152).

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Por conseguinte, o Projeto de Lei apresentado pela sociedade civil

organizada, PL nº 1258/88, que após tramitar nas diversas Comissões e relatorias e

chegar ao Senado Federal sob a designação de PL-C 101/93, ficou por mais dois

anos em tramitação paralelamente a outro apresentado pelo Senador Darcy Ribeiro,

e que vinha ao encontro às necessidades do ideário governista, e das elites.

Durante esses dois anos de tramitação, onde não faltaram manobras

diversas, articuladas, segundo LIMA FILHO (2002, p. 152) “com grupos privados e

com a participação do próprio MEC”, foi então aprovado o Substitutivo Darcy/MEC

em 25.10.1995, e conseqüentemente excluído o projeto construído através da

participação civil.

Apesar da intensa mobilização e manifestação contrária de diversos setores

da sociedade organizada (grupos sindicais, acadêmicos, partidários e populares) o

projeto de lei foi aprovado e sancionado pelo Presidente da República em

20.12.1996, denominado de Lei nº 9.394/96.

Na continuidade, com a criação e implementação da nova LDB (Lei das

Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº 9.394/96), a Educação de Jovens e

Adultos recupera e amplia a noção de direito ao ensino fundamental (existente na

Constituição de 1934), e suprime a expressão ensino supletivo embora para exames

esse termo ainda seja utilizado, mas com um diferencial, pois está contido em uma

nova concepção de EJA, segundo o Parecer nº 11/2000.

Na seção V do Capítulo II da Educação Básica da LDB, fica determinado aos

sistemas de ensino assegurar exames e cursos que proporcionem oportunidades

educacionais apropriadas aos interesses, condições de vida e trabalho dos adultos e

jovens.

Nessa nova concepção, a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade

regular da educação básica e, portanto, não pode ser considerada um apêndice

desta e sim, dentro de sua função reparadora, uma forma de resgatar um direito

efetivo não realizado.

A Educação de Jovens e Adultos na legislação atual é considerada uma

modalidade da educação básica e como tal é reconhecida como um direito público

subjetivo na etapa do ensino fundamental, possuindo um perfil e características

próprias, e por esse motivo deve ter sua especificidade respeitada e não

discriminada. Isso quer dizer que, como define o próprio Parecer nº 11/2000:

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(...)os estudantes da EJA também devem se equiparar aos que sempre tiveram acesso à escolaridade e nela puderam permanecer (...) a chegada ao patamar igualitário entre cidadãos se louvaria no tratamento desigual aos desiguais que, nesta medida, mereceriam uma prática política conseqüente e diferenciada(PARECER CEB/CNE nº 11/2000, p. 8 )

Esta diferença não pode ser considerada uma “facilitação ou aligeiramento”

de conhecimentos e etapas, mas sim o atendimento diferenciado a um público

heterogêneo e plural que possui a urgência de equiparar-se aos que tiveram

oportunidade de manter seus estudos na idade própria.

Nos documentos legais referentes à Educação de Jovens e Adultos21 um

termo muito encontrado é o que se refere à colaboração e integração entre os entes

federativos para sustentabilizar políticas públicas referentes à Educação de Jovens e

Adultos. Pelas Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação de Jovens e Adultos,

essas políticas integradas são a base para que a EJA aconteça de forma a

realmente contribuir positivamente para seu público.

Apesar de ter ocorrido um grande avanço no intuito de democratizar o ensino

básico para a sociedade brasileira e, principalmente na maior oferta e preocupação

com a Educação dos Jovens e Adultos por parte dos sistemas de ensino Estadual e

Municipal, o Governo Federal optou por priorizar a oferta de Ensino Fundamental às

crianças e adolescentes. Quando o então Presidente da República vetou um inciso

da Lei 9.424/96, que permitia computar as matrículas no Ensino Fundamental

presencial de jovens e adultos nos cálculos do Fundef (Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Magistério), ocasionou um desestímulo por parte dos Estados e

Municípios de investirem na Educação de Jovens e Adultos” (DI PIERRO, 2003,

p.13).

Segundo RUMMERT (2002), o conteúdo “marcadamente flexível” da nova

LDB de 1996 evidencia a lógica da relação custo/benefício que quase sempre

caracterizou e ainda caracteriza as políticas de educação de jovens e adultos.

Também sobre o texto da LDB, DI PIERRO (2000, p.113) evidencia as

“incoerências, lacunas, estreiteza intelectual, falta de inventividade e funcionalidade

ligada aos interesses privados no ensino”. Portanto, para a autora, a LDB desanima

muitos que trabalham com a EJA.

21 LDB – Lei das Diretrizes e Bases da Educação e Emenda Constitucional nº 14, de 1996; Parecer nº 11/2000 CEB/CNE, referente às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.

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2.2.3 Políticas Públicas Referentes a EJA a partir de 1990

Neste tópico faremos algumas referências gerais à política de Educação de

Jovens e Adultos a partir dos anos de 1990 até o período atual, pois o

aprofundamento da análise desse período será feito em capítulo específico22.

Pretendemos apenas situar algumas das experiências no campo da EJA, e

apresentar os organismos responsáveis pelos encaminhamentos dados.

Primeiramente, para se compreender o funcionamento de algumas políticas

referentes a EJA, a partir da década de 1990, é preciso que se esteja a par,

conforme reza a legislação, da distribuição, em três esferas do governo, da

responsabilidade pública pela manutenção e desenvolvimento do ensino. Dentro do

art. 211 da Constituição Federal de 1988, a União estabelece o regime de

colaboração entre Estados, Distrito Federal e Municípios, cabendo aos Estados a

responsabilidade do Ensino Fundamental (5ª à 8ª séries) e Médio; aos Município, os

encargos pela Educação Infantil e Ensino Fundamental (1ª à 4ª séries); e ao

Governo Federal, a responsabilidade pelo Ensino Superior e algumas Escolas

Técnicas de nível Médio e pós-Médio (DI PIERRO & GRACIANO, 2003, p.10).

Dessa maneira, a implementação de programas de educação básica de jovens e

adultos cabe prioritariamente aos Estados e Municípios, com os quais, de maneira

suplementar, na forma de apoio técnico e financeiro, a União colaborará.

No início dos anos 90, a responsabilidade pela política federal de educação

de jovens e adultos, ficava a cargo de uma Coordenação (COEJA), organismo

subordinado à Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação, que

foi criada quando ocorreu a extinção da Fundação Educar. Entre os anos de 1997 a

2002, a COEJA, enquanto recebia recursos financeiros do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação (FNDE), implementou programas de formação de

educadores das redes estaduais e municipais; estabeleceu referenciais curriculares

e disseminou materiais didáticos referentes ao ensino destinado a jovens e adultos.

Entretanto, as iniciativas de capacitação profissional e alfabetização de adultos

22 Capítulo 3; tópico 3.3 : As Políticas Públicas atuais para a Educação de Jovens e adultos: Análise da atual legislação da EJA (Diretrizes Curriculares Nacionais) e as referências à categoria Trabalho nela contidas.

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foram coordenadas por outros órgãos de governo: o Ministério de Trabalho e

Emprego (Plano Nacional de Educação – PLANFOR), o Conselho da Comunidade

Solidária (Programa Alfabetização Solidária – PAS), o Ministério do Desenvolvimento

Agrário (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária –PRONERA) e o

Programa de Apoio a Estados e Municípios para a Educação Fundamental de

Jovens e Adultos - Programa Recomeço. Segundo DI PIERRO (2003), o governo

federal, a partir da segunda metade de 1990, com esses Programas, ocupou-se com

“intervenções focalizadas ou de caráter compensatório” referentes à educação de

jovens e adultos, visando atender de maneira prioritária as regiões mais pobres do

país.

Na ausência de políticas públicas nacionais de escolarização de jovens e

adultos mais efetivas, parcerias entre governos municipais e sociedade civil

organizada produziram iniciativas locais de grande significação. Podemos dizer que,

a partir da metade da década de 1990, intensificaram-se as parcerias entre Estado e

sociedade civil no que se refere à educação de Jovens e adultos, que contribuíram

de forma expressiva para a democratização do Ensino Básico para esse público. Se,

por um lado essa abertura para participação da sociedade civil nas ações do Estado,

referentes à educação de jovens e adultos é positiva, pois contribui para um controle

social maior e amplia os canais de comunicação entre estas esferas, por outro,

transfere a “responsabilidade” que deveria ser do Estado de manter e dar condições

para a concretização de direitos universais, tais como o acesso à educação. Como

constata DI PIERRO:

(...) As parcerias entre Estado e organizações da sociedade civil comportam uma ambigüidade: de um lado transferem a responsabilidade pela garantia de direitos universais para a sociedade civil que, obviamente, não possui condições estruturais para responder a essa demanda com a amplitude necessária; de outro lado, ampliam os canais de participação e controle social sobre as ações do Estado.(DI PIERRO, 2003, p.18)

2.2.4 A Educação de Jovens e Adultos e o Atual Governo Federal

Em janeiro de 2003, inicia-se o governo do presidente Luis Inácio Lula da

Silva que, por sua postura política e bases partidárias, gerou expectativas bastante

positivas no que concerne a políticas públicas sociais, pois nos anos anteriores estas

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sofreram restrições de investimento muito grandes, em decorrência dos

compromissos econômicos determinados pelas instituições financeiras externas.

No entanto, o que se observa é que, apesar de haver um comprometimento

maior no discurso dos representantes do governo no que diz respeito às políticas de

inclusão social, e nisso podemos incluir as referentes ao ensino de jovens e adultos,

as ações ainda são muito tímidas e desarticuladas, necessitando de uma

mobilização e envolvimento maior entre as esferas do governo.

Mas, apesar de não estar havendo uma profunda diferença entre a gestão

anterior e a do atual governo, na forma de tratar os assuntos ligados à política social,

algumas ações já estão sendo desenvolvidas principalmente na tentativa de se

erradicar um dos problemas-base que contribuem para a desigualdade e exclusão

social, que é o analfabetismo.

Já no início do governo Lula, segundo DI PIERRO (2003), foi anunciado, pelo

então Ministro da Educação Cristovam Buarque, que a alfabetização de adultos seria

uma prioridade e, na continuidade, foi criada a Secretaria Extraordinária de

Erradicação do Analfabetismo (SEEA) com o objetivo de erradicar o analfabetismo

em um ritmo mais acelerado que o estabelecido pelo Plano Nacional de Educação,

ou seja, durante os quatro anos de mandato. Para isso foi lançado o Programa Brasil

Alfabetizado, com o qual o MEC contribuiria financeiramente com órgãos públicos

estaduais e municipais, organizações sem fins de lucro que desenvolveriam ações

de alfabetização e instituições de ensino superior que desenvolveriam projetos

ligados à alfabetização de adultos, tornando-se assim uma campanha “plural”, que

acolheria uma diversidade de iniciativas e metodologias de alfabetização.

Entretanto, após a mudança de Ministros (Cristovam Buarque por Tarso

Genro), a alfabetização de adultos foi incorporada à nova Secretaria da Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade, sob a direção do economista Ricardo

Henriques, que tem enfatizado a necessidade de “promover um acesso mais

contínuo e completo à educação”(CARTA CAPITAL, 2004, p.12).

Se na primeira gestão do MEC, sob o governo Lula, tentou-se atender de

forma rápida a um grande número de pessoas analfabetas, através de recursos

financeiros mais efetivos e uma mobilização maior por parte do governo e demais

parceiros sociais, na atual gestão observa-se, pela fala do diretor da Secretaria da

Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, Ricardo Henriques, uma

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preocupação em se estabelecer uma “política pública” e continuada referente ao

assunto.

Através da busca de uma maior participação e articulação entre estados e

municípios no Programa Brasil Alfabetizado, e da busca de se criar “consórcios de

municípios coordenados pelos estados” (HENRIQUES apud CARTA CAPITAL,

2004, p.15), será gerada uma política pública que pretende “melhorar os índices de

desenvolvimento humano e transcender mandatos”.

Os resultados dessas ações ainda não podem ser mensurados, porém pode-

se observar uma intenção de tornar mais sólidas as bases da Educação de Jovens e

Adultos, tendo uma preocupação mais ampla em dar continuidade ao ensino desse

público, percebendo que apenas alfabetizar não basta, é preciso projetos e políticas

que dêem possibilidades à inclusão social desses sujeitos.

Com isso tudo que foi apresentado até o momento, pode-se observar o

quanto a Educação de Jovens e Adultos, no decorrer da história educacional

brasileira, esteve atrelada a políticas de resultados rápidos, pelas quais as grandes

campanhas em prol da alfabetização nacional, além de ineficientes e quase sempre

demagógicas, agravaram a situação de muitos jovens e adultos que passaram de

não alfabetizados para a condição de “analfabetos funcionais”.

Pode-se perceber, também, que a EJA, apesar das reestruturações que

sofreu em sua trajetória, ainda continua sem uma definição clara de quem se

responsabilizaria pelo seu oferecimento. Segundo BEISIEGEL23 citado por

CHILANTE (2005, p. 56), a obrigatoriedade do ensino fundamental estendendo sua

gratuidade àqueles que não tiveram acesso em idade própria, conforme aparece no

art. 208 da Constituição de 1988, não deixa claro a quem deve oferecer a educação

de jovens e adultos, “relativizando o imperativo constitucional e permitindo ao Estado

desobrigar-se de suas responsabilidades”.

Após esse panorama da educação popular e conseqüentemente da educação

dirigida aos jovens e adultos, pretendemos, no próximo Capítulo, levantar algumas

considerações sobre a relação da educação e trabalho, no interior das políticas

públicas destinadas ao Ensino Médio e da EJA, tentando, através dessas

23 BEISIEGEL, Celso de Rui. Considerações sobre a política da união para a educação de jovens e adultos analfabetos. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n.4, p. 27-28,jan.a abr.1997

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imbricações, refletir sobre o nosso objeto de pesquisa que é o aluno de Ensino

Médio do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos de Pinhais.

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3 A RELAÇÃO EDUCAÇÃO E TRABALHO NO CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO

E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NOS DIAS ATUAIS

Neste capitulo, faremos algumas considerações sobre a trajetória do Ensino

Médio e sua relação com a categoria Trabalho no decorrer das políticas públicas do

País. Daremos ênfase à problemática que se refere à questão da dualidade x

unitariedade que quase sempre esteve presente no histórico das políticas

educacionais referentes ao Ensino Médio.

Em seguida, analisaremos mais especificamente as atuais Políticas que

norteiam tanto o Ensino Médio, quanto a Educação de Jovens e Adultos, a fim de

que possamos refletir sobre as implicações destas, na realidade do objeto de nossa

pesquisa.

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO EDUCAÇÃO E TRABALHO NO

DECORRER DAS POLÍTICAS PÚBLICAS REFERENTES AO ENSINO MÉDIO

BRASILEIRO

Conforme atual Lei das Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB

9394/96), em seu artigo nº 22, a educação básica tem por finalidade “desenvolver o

educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e

fornecer-lhe meios para progredir no trabalho24 e em estudos posteriores”,

destacando que, no Ensino Médio, a questão da continuidade dos estudos e

principalmente a preparação básica para o trabalho devem ser mais desenvolvidas.

Apesar de o texto da LDB ressaltar como princípios a cidadania e a

preparação básica para o trabalho, e as diretrizes curriculares tanto do Ensino Médio

quanto da Educação de Jovens e Adultos fundamentarem seus currículos nesses

princípios, o que se observa, principalmente no Ensino Médio, ainda é a falta de

efetiva concretização desses objetivos.

Mesmo após sete anos da divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais

para o Ensino Médio (PCNEM, 1998), pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC),

24 Grifo nosso

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sua implementação plena não ocorreu. De acordo com Lúcia Helena Lodi25, a razão

disso decorre de fatores políticos, pois essas diretrizes não tiveram suficiente

discussão nos diversos segmentos da comunidade educacional; fatores

pedagógicos, a falta de orientação teórica e o desconhecimento, por parte dos

profissionais responsáveis pela educação básica, de termos como “competências”

defendidas pelos textos oficiais dos representantes do governo, foram barreiras

erguidas contra a incorporação das novas orientações; e o fator social, devido à

separação do Ensino Médio da Educação Profissional (Decreto nº 2.208/97) que,

segundo Lodi (2004) “...teve como conseqüência a ampliação do tempo de formação

para o ingresso na vida produtiva”, ocorrendo a evasão dos alunos de um ou de

ambos os cursos.

Antes de continuar a tecer considerações sobre as perspectivas atuais de

modificações, conforme debates em curso no interior de diversos fóruns

educacionais referentes ao Ensino Médio e profissional, pretende-se enfocar o último

fator mencionado pela Professora Lúcia Helena, que diz respeito à separação do

Ensino Médio e da educação profissional. Este embate dentro da história da

educação brasileira sempre foi bastante polêmico e mal resolvido, tanto pelos

responsáveis pelas políticas públicas que nortearam o ensino de maneira a

favorecer as desigualdades e discriminações entre as classes, quanto do próprio

público educacional que sofreu os efeitos das diversas modificações que o ensino

teve na sua relação com o trabalho.

O sistema educativo brasileiro, desde o seu início, segundo KUENZER

(1988), sempre foi marcado pela “dualidade estrutural” que separava a educação

diretamente direcionada e articulada para o trabalho, da educação geral.

Os primeiros cursos profissionais criados no Brasil pelo governo federal eram

direcionados à preparação dos mais pobres e “desvalidos da sorte” para

desempenharem um papel útil ao sistema produtivo, enquanto que o ensino regular

servia aos interesses das classes mais favorecidas, que iriam ser a “base pensante”

da sociedade.

25 Diretora do Departamento de políticas de Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica/MEC-2004

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As Escolas de Aprendizes e Artífices 26(dezenove em todo Brasil), que foram

criadas em 1909 e eram subordinadas ao Ministério da Agricultura, Indústria e

Comércio, além de buscarem uma alternativa para inserir no mercado de trabalho

jovens de origem humilde, os então chamados “pobres e desvalidos da fortuna”,

visavam também desempenhar o controle social, pois esses jovens pobres

representavam “...potenciais elementos de desordem social” (QUELUZ, 2000, p. 29).

Essas escolas, além de atenderem a sociedade capitalista no que diz respeito ao

fornecimento de pessoal com preparo técnico específico em determinadas funções

para desempenhar um papel satisfatório no sistema produtivo, atuaram também, e

principalmente, como “consolidadora da nacionalidade através do trabalho produtivo”

(QUELUZ, 2000, p. 32), disciplinando e exercendo um eficaz controle social das

classes proletárias.

Segundo KUENZER (1997), apesar de essas escolas estarem relacionadas

às modificações econômicas e sociais do período em que o Brasil vivia, a criação

delas não era decorrência direta das necessidades de mão de obra qualificada. Essa

preocupação só iria surgir objetivamente na década de 1940, em função dos

processos de industrialização e urbanização do País. É deste período a Lei Orgânica

do Ensino Industrial, e de outras leis orgânicas, criando as bases para um ensino

profissional por ramos, com destaque para a indústria. Essa Lei articulou e organizou

o funcionamento das Escolas de Aprendizes e Artífices com os recém- criados

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (1942) e o SENAC – Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial (1946), cuja proposta curricular possuía um

caráter eminentemente prático, sem grandes preocupações com a formação teórica.

É a partir das leis orgânicas que as Escolas de Aprendizes e Artífices, além

dos cursos básicos para a indústria e cursos de aprendizagem, começam a oferecer

também cursos técnicos (1942), com “equivalência parcial ao sistema regular de

ensino” (KUENZER, 1997, p. 14). Isso quer dizer que os concluintes dos cursos

técnicos poderiam ingressar em cursos superiores “relacionados” aos cursos que

fizeram27.

26 Ver mais em: QUELUZ. Gilson Leandro, Concepções de Ensino Técnico na República Velha 1909-1930.Ed. CEFET-PR. Curitiba. 2000. 270 p. 27 Com a chamada “Reforma Capanema”, quando foram editadas as “leis orgânicas” da gestão de Gustavo Capanema a frente do Ministério da Educação, segundo LIMA FILHO (2002, p. 222) “foi iniciada a articulação do ensino industrial – a partir de então dividido em primeiro ciclo (básico) e

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Nesse período a educação para o trabalho ainda é específica de um sistema

federal de ensino técnico, complementado por um sistema privado de formação para

a indústria e o comércio. O desenvolvimento, tanto do sistema regular de ensino

quanto do sistema de ensino técnico, acontece de maneira paralela, com pouca

articulação entre os dois sistemas.

Essa situação de dualidade só começa a se modificar efetivamente com a

criação da Lei nº 4.024/61 (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional de

1961), quando a incorporação dos cursos técnicos de nível médio ao sistema regular

de ensino estabelece a equivalência plena entre os cursos propedêuticos

(científicos) e profissionalizantes (magistério, agrícola, comercial e industrial). A

existência de dois ramos equivalentes, porém diferenciados, no Ensino Médio

(profissionalizante e propedêutico), embora tenha contribuído para a valorização do

ensino profissionalizante dentro do sistema de ensino regular, ainda demonstrava a

separação entre formação profissional e educação geral, expressando a divisão

entre trabalho manual e intelectual, quando “jovens e adultos são preparados para

exercer funções diferenciadas – intelectuais ou manuais” (KUENZER, 1997 p.15).

Segundo a autora: O que caracteriza, portanto, a relação entre educação e trabalho até esse período é a inexistência de articulação entre o mundo da “educação”, que deve desenvolver as capacidades intelectuais independentemente das necessidades do sistema produtivo, e o mundo do trabalho, que exige o domínio de funções operacionais que são ensinadas em cursos específicos, de formação profissional.(KUENZER, 1997, p.15)

Até então o ensino profissional ainda era direcionado para os filhos da classe

trabalhadora, que teriam a necessidade de serem incorporados no mercado de

trabalho o quanto antes, quanto as chances de continuidade de educação (ensino

superior), eram um sonho distante. Para os oriundos das classes mais favorecidas,

destinava-se o ensino mais acadêmico, pois seriam esses que desempenhariam um

papel maior na hierarquia social.

Com as modificações em 1964, em decorrência da proposta de

racionalização28 em todos os setores da vida política, econômica e social do país, o

segundo ciclo (técnico) – com a organização escolar nacional, estando esta organizada nos ramos secundário (ginasial ou comercial), normal, industrial, comercial e agrícola.” 28 É fato que a racionalização, principalmente no âmbito educacional já era um ponto discutido e buscado desde a década de 1930. (PAIVA, 1983),(GHIRALDELLI Jr., 1992). No entanto o que se observa nesse período é uma influência muito maior dos Estados Unidos, através dos acordos MEC-USAID, nos quais a idéia que a educação técnica aumentaria a eficiência da força de trabalho, e

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sistema de ensino sofreu uma transformação considerável. Pela necessidade de se

diminuir a demanda pelo ensino superior que, para o momento político, era uma

forma de mobilizar práticas políticas nocivas para o governo, mas principalmente ao

atendimento das necessidades do mercado de trabalho em função das metas de

desenvolvimento econômico acelerado que o país se propunha, foi criada a Lei nº

5692/71. Dentre os objetivos manifestos da política educacional, se enunciava a

pretensão de romper com a dualidade do sistema de ensino de 2º grau.

A Lei nº 5692/71 tinha por finalidade a qualificação para o trabalho, através da

habilitação profissional durante o ensino de 2º grau, pelo qual todos deveriam passar

independentemente de sua origem social ou do tipo de escola, já que a lei

estabelecia a profissionalização compulsória (obrigatória) nesse nível de ensino29.

Na prática pouca coisa mudou, pois as desigualdades de acesso à escola,

além da falta de vontade política para assegurar a viabilização de recursos para o

desenvolvimento de profissionais qualificados para o ensino e de infra-estrutura para

sustentar as diferentes modalidades de habilitações que deveriam ser ofertadas,

oportunizaram a continuidade dos variados tipos de escola de 2º grau com diferentes

níveis de qualidade.

O fracasso da nova legislação tornou-se mais evidente quando, em 1975,

através do Parecer nº 76/75, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) fornece uma

nova orientação que propunha “a educação profissionalizante” em detrimento da

contida no Parecer nº 45/72 referente à habilitação profissional. Dessa maneira, o

ensino de 2º grau deixa de preparar especificamente pessoas para desempenhar

uma profissão definida e se compromete a um preparo de base para iniciar uma área

de atividade, argumentando que essa preparação básica daria ao estudante a

possibilidade de uma visão de mundo mais ampla e de uma adaptação mais fácil às conseqüentemente incrementaria a industrialização, contribuindo para resolver os problemas relativos ao subdesenvolvimento do país. É bom lembrar que este é o momento na história educacional brasileira, em que a teoria do Capital Humano começa a influenciar de maneira mais direta e contundente todas as diretrizes e políticas referentes à educação. Para saber mais ver: (SAVIANI, 1997). 29 No entanto, conforme LIMA FILHO (2002), “o argumento de ingresso dos jovens no mercado de trabalho ao término do ensino secundário era, evidentemente, dirigido aos oriundos das classes trabalhadoras, para os quais o ensino secundário continuaria sendo o nível terminal. Todavia, a tecnocracia e o planejamento educacional não poderiam sanar as contradições originadas nas relações sociais de produção, no modelo de desenvolvimento adotado pelo país e em sua forma de inserção na economia mundial. Resulta que, não somente a profissionalização foi um fracasso – o ensino secundário continuou sendo fundamentalmente propedêutico ao ensino superior – como

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modificações no processo produtivo. Segundo KUENZER (1997, p. 136), esse

Parecer “...reedita a dualidade estrutural, colocando por terra o único avanço que se

havia conquistado”. Ao manter escolas de habilitações plenas e parciais, de caráter

excessivamente instrumental, e escolas básicas que objetivavam as atividades

intelectuais, o Parecer serviu apenas para confirmar a falta de unidade entre a

educação e o trabalho dentro do ensino de 2º grau. Também é reforçada a confusão

e conseqüente deterioração do sistema de ensino público de 2º grau, quando em

1982, pela Lei nº 7.044 é extinta a escola de profissionalização única obrigatória,

reconhecendo, segundo KUENZER (1997), o caráter excessivamente propedêutico

do ensino de 2º grau, e o descompromisso deste com o mundo do trabalho.

Segundo GARCIA & LIMA FILHO (2004, p. 5), com a Lei 7.044/82, foi

restabelecida a “dicotomia entre o saber teórico, ministrado nos cursos

propedêuticos, e o saber prático, ministrado pelos cursos técnicos”, reforçando a

falta de definição e de especificidade do Ensino Médio, e mais, caracterizando-o

mais uma vez em sua dualidade estrutural original30.

Pode-se perceber com o que foi colocado até aqui, o quanto a educação

formal brasileira e, especificamente a que diz respeito ao ensino profissionalizante e

de 2º grau, expressava a estrutura social na qual a sociedade brasileira estava

baseada, e a separação entre trabalhadores intelectuais e trabalhadores manuais se

manifestava e se reproduzia também pela forma, natureza, qualidade e quantidade

de educação que recebiam.

Apesar de o ensino de 2º grau, de acordo com GARCIA & LIMA FILHO

(2004), ser bastante inconsistente quanto as suas finalidades em relação aos demais

graus de ensino (Fundamental e Superior), pode-se considerar que, durante todo

seu percurso na educação brasileira, ele foi destinado ao encaminhamento de

jovens e jovens adultos para o mercado de trabalho, através da formação de mão de

obra específica para o atendimento de setores do sistema produtivo (nas escolas

técnicas e industriais) e também como etapa final para muitos que ingressavam no

também a expansão econômica não se sustentou para além do limitado período do ‘milagre brasileiro’”. (p. 112 -113) 30 Destacamos que a dualidade estrutural do Ensino Médio é uma forma particular, talvez de maior evidência, da dualidade geral que caracteriza a educação brasileira desde os seus níveis iniciais e elementares ao longo da história. Pela qual reitera-se a negação da educação escolar plena e de qualidade aos trabalhadores e às classes populares, oferecendo a estes, em contrapartida, programas e modalidades compensatórias.

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mundo do trabalho a fim de atender suas necessidades básicas e de suas famílias,

quando a continuidade de estudos (nível superior) não estava em cogitação. Além

disso, contribuía para que se criasse um contingente que, devido a sua continuidade

nos estudos, além de não “convulsionarem” o sistema produtivo, ainda estariam

mais aptos para desempenhar carreiras de maior qualificação.

No entanto, a partir da metade da década de 1980, com a abertura política e

as modificações inseridas no processo de redemocratização da sociedade brasileira,

surgem, segundo GARCIA & LIMA FILHO (2004), discussões sobre a articulação da

educação com o trabalho, sob uma perspectiva Gramsciana, que diz que o trabalho

serviria como princípio organizador de todo o currículo de 2º grau. Autores como

SAVIANI (1989), KUENZER (1997), ZIBAS (1992), entre outros, levantavam a

bandeira da criação de uma educação “politécnica” no ensino de 2º grau, onde o

trabalho seria tomado como “princípio educativo”, de maneira que, segundo SAVIANI

(1989), a lacuna entre o saber teórico e o saber prático fosse resolvida através do

desenvolvimento “multilateral” de todos os princípios, fundamentos e ângulos que

norteiam a organização da produção moderna.

Apesar desse período ter sido rico em contribuições e discussões no campo

teórico, pode-se considerar que ocorreu um profundo retrocesso nas políticas

públicas referentes ao ensino de 2º grau, que dizem respeito às tentativas de

eliminar a dualidade nessa modalidade de ensino, principalmente a partir dos anos

de 1990, e em especial após a entrada do governo de caráter neoliberal de

Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1995.

Durante os dois mandatos do Governo Fernando Henrique Cardoso, pôde-se

observar que foram criadas variadas leis, decretos, pareceres que provocaram,

segundo LIMA FILHO (2003), alterações marcantes no que diz respeito à educação

nacional em todos os seus níveis e modalidades, mas principalmente no que se

refere ao ensino Médio e Ensino Técnico31.

Tanto o Ministério da Educação (MEC) quanto o Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE) iniciam, nesse período, “um acelerado processo de implementação

de políticas públicas específicas dirigidas ao campo da educação e formação de

31 O debate a cerca das mudanças referentes ao ensino técnico, sua relação e formas de articulação com a educação básica e superior pode ser mais aprofundado através do texto de: LIMA FILHO. Domingos L., A Desescolarização da Escola: impactos da reforma da educação profissional. 2003

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trabalhadores, tendo por foco a geração de emprego e renda” (LIMA FILHO, 2003, p.

20).

Através do Decreto nº 2.208/97, que se pode considerar como o principal

instrumento legal referente à Reforma da Educação Profissional sob a coordenação

do Ministério da Educação, são estabelecidos os objetivos, níveis e modalidades da

educação profissional e sua articulação com o ensino regular. No decorrer do

processo para a implantação dessas mudanças e para a sua efetiva viabilização foi

criado, em 1997, o PROEP32 (Programa de Expansão da Educação Profissional),

provendo recursos para que a União e os Estados iniciassem as significativas

modificações em suas redes de ensino técnico e médio.

Nesse período, as diretrizes governamentais foram fortemente influenciadas

por orientações de caráter neoliberal, em conformidade com as políticas de

organismos internacionais (Banco Mundial, Banco Interamericano de Investimento,

Fundo Monetário Internacional, entre outros), tendo por objetivo a mercantilização

não só da educação, mas de todos os setores da sociedade, reforçando o caráter de

individualismo e competição, em detrimento de questões relativas ao bem estar

social. As modificações referentes a esse momento, principalmente na área

educacional, ainda estão sendo sentidas e analisadas. Como nos coloca FRIGOTTO

& CIAVATTA (2004): O ideário funcional e privatista que presidiu a reforma das escolas técnicas federais atingiu, pelo efeito de demonstração e pela injeção de recursos internacionais, os sistemas estaduais em níveis diferenciados. Mas, na sua essência, onde foi completamente aplicado desfez o vínculo do ensino médio com o nível técnico, prevendo, nas escolas federais, a redução progressiva, até a extinção, de vagas no nível médio. As conseqüências de todo esse processo ainda estão por ser devidamente conhecidas. O que se sabe hoje é que a “desarrumação” geral do sistema, além de perdas ou vantagens localizadas, gerou posições de resistência ao desmonte e de reflexão sobre as novas possibilidades (FRIGOTTO & CIAVATTA, 2004, p.18). Após esse “desmantelamento” de cursos das Instituições que trabalhavam o

Ensino Médio geral com o ensino profissional técnico que, segundo KUENZER

(2000), de alguma maneira desempenharam uma real articulação entre o saber

32 Segundo Lima Filho, o PROEP constitui-se como principal instrumento de implantação da reforma, através de recursos vultosos (na ordem de 500 milhões de dólares para o período de 1997-2003),sendo 40%destes recursos destinados às instituições públicas federais e estaduais e 60% para projetos de “segmento comunitário” incluindo os de iniciativa privada.(projetos de empresas privadas, educacionais ou não, associações patronais do campo industrial e agrícola, e de serviços do Sistema S: SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, SENAC- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, SENAR- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural e SENAT- Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte.

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teórico e o saber prático, o que se verificou foi a disseminação ampla de cursos

públicos e, principalmente particulares, chamados de pós-médios que visavam suprir

as necessidades imediatas de jovens que desejavam ter alguma chance de carreira

num mercado de trabalho cada vez mais oscilante e instável33.

O que se observa, então nesse período, é, segundo RAMOS (2004), a

profunda desarticulação entre as políticas públicas educacionais e um projeto de

nação e sociedade na qual estivessem contempladas a democracia, a soberania e a

identidade do cidadão.

Por esse motivo, dentro da própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB), principalmente no que se refere ao Ensino Médio, o objetivo dessa

modalidade é o preparo para a “vida”, dada a impossibilidade de se preparar para

um mercado de trabalho tão instável quanto é o atual. É interessante a colocação de

RAMOS (2004), quanto à tônica que predominou dentro dos ditames

governamentais dos anos de 1990, em especial no que se refere ao Ensino Médio:

Sob um determinado ideário que predominou em nossa sociedade nos anos 1990, preparar para a vida significava desenvolver competências genéricas e flexíveis, de modo que as pessoas pudessem se adaptar facilmente às incertezas do mundo contemporâneo. Um possível projeto de nação ou de sociedade – categorias consideradas obsoletas em face da globalização e do neoliberalismo -, mas seria, fundamentalmente um projeto individual (RAMOS, 2004, p. 39)

Pode-se concluir, com o que foi apresentado até o momento, que a relação

entre Educação (Ensino Médio) e Trabalho, na década de 1990, sofreu modificações

consideráveis na legislação a que obedece, encaminhando-se no sentido da

desarticulação entre as duas categorias (Trabalho e Educação). Neste sentido, o

caráter fragmentário de conhecimentos, com pouca ou nenhuma relação entre a

prática dos processos produtivos ainda continua sendo característico nos currículos

do Ensino Médio.

33 A qualidade desses cursos não será objetivo de análise no presente trabalho, no entanto, levanta questionamentos que são bastante pertinentes para pesquisas futuras.

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3.1.1 Governo Lula: Ensino Médio e Tentativa de Articulação entre Trabalho, Ciência

e Cultura

Durante os dois mandatos do Governo Fernando Henrique Cardoso, as

políticas educacionais relativas ao Ensino Médio e à Educação Profissional

orientaram-se pelo pensamento neoliberal, quando as oscilações do mercado e os

objetivos do capital internacional foram o fio condutor das políticas públicas.

A própria LDB por ser, segundo FRIGOTTO (2004), “minimalista” e

consonante com a proposta do período em que foi criada, facilitava as medidas que

seriam impostas no decorrer do percurso, abrindo as portas para que os interesses

de forças conservadoras e favoráveis ao contexto internacional fossem atingidos,

tendo por base as exigências do mercado internacional e da desregulamentação,

privatização e descentralização dos países periféricos.

Por decorrência, no ano seguinte à aprovação da nova LDB, é baixado o

Decreto n.2.208/97 que, assim como outros instrumentos legais (ex: Portaria

n.646/97), viria, segundo FRIGOTTO, CIAVATTA & RAMOS (2005, p. 4), “... não

somente proibir a pretendida formação integrada no Ensino Médio, mas

regulamentar formas fragmentadas e aligeiradas de educação profissional em

função das alegadas necessidades do mercado.”

Terminado o período do Governo Fernando Henrique Cardoso e com a

“perspectiva de um governo democrático popular” (FRIGOTTO, CIAVATTA &

RAMOS, 2005, p. 2) que se avizinhava com a eleição do Presidente Luis Inácio Lula

da Silva, apostou-se, segundo LIMA FILHO & GARCIA (2004), em mudanças

substantivas nos rumos do país. E as discussões que antecederam à LDB34, foram

retomadas com o objetivo de se criar uma proposta que articulasse ciência, cultura e

trabalho, como “elementos norteadores de uma nova política educacional” (id, p. 25).

Autores como FRIGOTTO (2004), KUENZER (2003), RAMOS (2004), entre

outros, reforçam a teoria de que, através de uma base que seja unitária e de

educação tecnológica para o Ensino Médio, haveria a possibilidade de reverter as

distorções em que a educação média está colocada. Para RAMOS (2004, p. 41), é

34Sobre todo decorrer da tramitação dos principais documentos legais produzidos no processo de aprovação da atual LDB, e os embates decorrentes das forças contrárias à implementação do Projetode Lei Darcy/MEC, estão aprofundados em: SAVIANI. Dermeval, A Nova Lei da Educação: LDB Trajetória Limites e Perspectivas. Autores Associados, Campinas, 1997.242 p.

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necessário que esta unitariedade no ensino médio seja definida em seus objetivos e

princípios, e que desenvolva e contemple, ao mesmo tempo, “as múltiplas

necessidades socioculturais e econômicas dos sujeitos que o constituem –

adolescentes, jovens e adultos”.

Por conseqüência, durante todo o ano de 2003, segundo FRIGOTTO,

CIAVATTA & RAMOS (2005), foi retomada a disputa entre educadores, consultores

e dirigentes de sindicatos, organizações não-governamentais e instituições

empresariais, para que se chegasse ao Decreto n. 5154, de julho de 2004, que

revoga o Decreto 2.208/97, porém, segundo LIMA FILHO (2004), mantém as

mesmas contradições do antigo decreto.

Essas contradições presentes no conteúdo do atual Decreto 5154/04,

conforme FRIGOTTO, CIAVATTA & RAMOS (2005, p. 27), podem revelar a “timidez

política” do atual Governo na perspectiva de criar um projeto nacional de

desenvolvimento popular e de massa que necessita efetivamente reformas

estruturais concomitantes.

Em conformidade com a opinião dos autores acima citados, LIMA FILHO &

GARCIA (2004, p. 25), no texto que levanta questões sobre a atual discussão acerca

da reestruturação do Ensino Médio e da Educação Profissional, entendemos que o

atual Governo deveria sinalizar, de maneira mais firme e clara, seu posicionamento

perante o compromisso com “a construção e o avanço da democracia social”.

Para esses autores, as contradições que o Decreto n.5154/04 revela, refletem

que: (...) a definição e condução da política educacional dependerão fundamentalmente da ação das instituições da sociedade civil organizada que tenham compromisso com a construção e o avanço da democracia social e da capacidade de interlocução e pressão destes com os governos, reforçando o que já havia sido colocado por Kuenzer (2000, p. 20) que “a elaboração de uma nova proposta pedagógica que conduza a essa formação de novo tipo não é um problema pedagógico, mas um problema político e considerando ademais que, embora os instrumentos jurídicos direcionem as ações, ao fim e ao cabo, a negação ou a afirmação de uma lei dependem das forças sociais em disputa. (LIMA FILHO & GARCIA, 2004, p. 25)

Portanto, podemos considerar que, a expectativa positiva que o Governo de

Luis Inácio Lula da Silva inspirou na sociedade, no seu início, agora se traduz em

indefinições de rumos e, por vezes, a própria aceitação de posicionamentos

tradicionais em relação às políticas públicas em geral, mas em especial as que se

relacionam com o desenvolvimento social.

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Nesse tópico não pretendemos firmar conclusões, haja vista que as

mudanças no interior das políticas referentes ao Ensino Médio e sua relação com a

educação profissional estão apenas sendo iniciadas, necessitando assim de um

período mais longo para analisar seus resultados. Tentamos, no entanto, apresentar

alguns dos pontos mais contraditórios que estão em quase todas as políticas

públicas referentes ao Ensino Médio e que se relacionam intimamente com a

categoria trabalho.

No próximo tópico trataremos especificamente das atuais Diretrizes

Curriculares para o Ensino Médio, como se relacionam e quais são suas implicações

nos Programas da atual Educação de Jovens e Adultos.

3.2 AS ATUAIS DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO E SUAS

IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Como já foi discutido no tópico anterior, a educação média visa, conforme

dispõe a atual Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBE/1996),

articular a educação com o mundo do trabalho e a prática da cidadania.

As Diretrizes Nacionais Curriculares referentes ao Ensino Médio (DCNEM),

por sua vez, constituem um conjunto de “definições doutrinárias” (CEB/1998) sobre

os fundamentos, princípios e procedimentos que devem nortear as propostas

político-pedagógicas de cada unidade escolar que integra os diversos sistemas de

ensino no país.

No entanto, apesar dos sete anos que já se passaram desde a instituição das

DCNEM (Resolução nº 3/98), pode-se considerar que o seu conteúdo ainda suscita

dúvidas e debates tanto no âmbito das políticas educacionais governamentais,

quanto dentro do próprio espaço escolar.

Não é intenção da presente pesquisa aprofundar as questões sobre a

reformulação que está ocorrendo dentro das políticas públicas referentes ao Ensino

Médio, tanto no aspecto regulamentar quanto no que se refere às modificações

curriculares que estão em andamento nos sistemas de ensino, pois devido à

complexidade do tema, isso requereria um tempo maior de estudos. O que se

pretende é traçar, de maneira breve, algumas relações entre as Diretrizes atuais que

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regem o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos, especificamente no que

diz respeito ao Ensino Médio direcionado a esse público, e refletir sobre as atuais

condições do Ensino Médio dentro do Centro Estadual de Educação Básica para

Jovens e Adultos (CEEBJA – Pinhais).

Relacionar o Ensino de Jovens e Adultos com as atuais Diretrizes Nacionais

para o Ensino Médio dentro desta pesquisa é de extrema relevância visto que a

articulação entre a educação e o trabalho, e a preparação para o desenvolvimento

da cidadania são os pontos principais do discurso estabelecido nas DCNEM e nos

parâmetros curriculares nacionais do ensino médio.

Apesar de as Diretrizes não tratarem, especificamente da relação entre

Ensino Médio e Ensino de Jovens e Adultos, visto que esta modalidade de ensino

possui suas próprias Diretrizes Curriculares35, pode-se inferir, através de seus

princípios e fundamentos, uma estreita ligação entre seus objetivos teórico-

pedagógicos36. No entanto, se a pesquisa documental constatou esta aproximação

conceitual, por outro lado, a pesquisa de campo detectou um distanciamento muito

grande em relação à aplicação prática desses mesmos objetivos no CEEBJA –

Pinhais, conforme será exposto nos capítulos seguintes.

Desta maneira, antes de iniciar algumas considerações acerca dessa relação

contraditória entre os preceitos teóricos das Diretrizes Curriculares Nacionais para o

Ensino Médio e sua efetiva aplicação por parte do Centro de Educação Básica para

Jovens e Adultos, faz-se necessário comentar tópicos e categorias importantes

dessas Diretrizes, à luz das análises de alguns autores que contribuíram e ainda

contribuem de maneira crítica para o debate e a reformulação de questões bastante

controversas que se apresentam no referido texto.

3.2.1 Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: A “Tentativa Teórica”

de Unitariedade

35 Estas Diretrizes só foram instituídas em 2000, através da Resolução CEB/CNE nº1 de 05/07/2000.

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Como já foi colocado anteriormente, o Ensino Médio, desde sua origem

dentro do sistema educacional brasileiro, possuiu um caráter ambíguo em relação à

sua finalidade e objetivos, ora tentando preparar indivíduos para o mundo do

trabalho ora para a continuidade dos estudos, sem conseguir articular de forma

realmente competente essas duas dimensões. Segundo KUENZER (2000, p. 26),

essa dualidade estrutural configurou-se como “a grande categoria explicativa da

constituição do Ensino Médio e profissional no Brasil”, visto que legitimou dois

caminhos bastante diferenciados em relação às funções do mundo da produção

econômica; um para os que exerceriam funções de dirigentes e, por conseguinte,

necessitavam de um preparo maior na escola, e outro para os que teriam passagem

curta pelo ambiente escolar, sendo preparados através de cursos de formação

profissional específicos destinados para o mundo do trabalho37.

No entanto, essa relação sempre esteve em constante discussão e, no

decorrer da história da educação brasileira, houve momentos em que aconteceu a

aproximação em busca da unidade entre educação média e profissional, mas, por

variados motivos, principalmente de concepções político – pedagógicas distintas

essa articulação entre educação e trabalho dentro do Ensino Médio não conseguiu

ainda ser concretizada, exceto algumas experiências pontuais em determinados

espaços que não podem ser caracterizadas como o todo dessa modalidade de

ensino38.

Apesar de o texto das atuais DCNEM reforçarem a necessidade de uma

educação integral do indivíduo, e que o trabalho e a cidadania são os objetivos

intrínsecos do Ensino Médio e da educação como um todo, e por conseqüência, a

educação e o trabalho estão intimamente ligados e devem estar articulados em

36 A Proposta Pedagógica do Ensino Fundamental e Médio do CEEBJA baseia-se e fundamenta-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Parecer 15/98 e nas diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos – Parecer 11/2000 37 Este debate sobre o caráter e objetivos do Ensino Médio e sua relação com o mundo do trabalho, inclusive sob a forma de educação/formação profissional e tecnológica, segue bastante intenso e não concluído na atualidade, conforme evidenciam GARCIA e LIMA FILHO (2004). 38GARCIA e LIMA FILHO (2004) recuperam o debate travado a partir dos anos de 1970, no contexto da Lei 5692/71, passando por todo o período que decorreu dos anos de 1980 no processo da Constituinte (1988) até a edição da LDB (1996), prosseguindo com as DCN’s e reforma da Educação Profissional (Decreto 2.208/97) e chegando até o Decreto 5.154 (2004) e o debate atual. Os autores destacam que, apesar das variadas modificações e direcionamentos das políticas relacionadas ao ensino de 2ºgrau e ensino profissional no decorrer dos últimos 35 anos não foi possível que se chegasse a um consenso quanto à definição da finalidade e dos objetivos do ensino médio, tendo sempre oscilado entre a unificação e a dualidade característica entre as duas modalidades de ensino (propedêutico e profissional).

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todas as áreas de conhecimento, pode-se inferir que essa ligação encontra-se muito

mais no discurso dos relatores das referidas Diretrizes do que na ação propriamente

dita dos sistemas de ensino e mais precisamente menos nos espaços escolares

onde acontece o processo educativo: (...)Essa é a esperança e a promessa que o novo humanismo traz para a educação, em especial a média: a possibilidade de integrar a formação para o trabalho num projeto mais ambicioso de desenvolvimento da pessoa humana. (DCNEM,1998) (...)não haverá dissociação entre formação geral e preparação básica para o trabalho, nem esta última se confundirá com a formação profissional ... a preparação básica para o trabalho deverá estar presente tanto na base nacional comum como na parte diversificada (DCNEM, art.12, 1998). Para tentar esclarecer um pouco essa contradição entre o “pretendido e o

feito”39 é preciso refletir sobre a forma como essas concepções contidas no texto

legal que rege o Ensino Médio foram pensadas, de onde elas partiram, e em que

ideário político elas se baseiam, a fim de que se possa traçar um paralelo com o

objeto desta pesquisa.

Sabe-se que as mudanças que ocorreram no Ensino Médio dentro da história

da educação brasileira sempre estiveram relacionadas a modificações e oscilações

ocasionadas no mundo do trabalho. Segundo RAMOS (2000), no momento em que

os indivíduos prolongassem ou encerrassem seus estudos posteriores ao Ensino

Médio, para ingressar no mercado de trabalho, estariam determinando sua posição a

ser ocupada “na divisão social e técnica do trabalho” (RAMOS, 2000, p. 38).

Essa concepção de “preparo para o mercado de trabalho”, no entanto, no

início dos anos de 1990 já não resolvia a questão da inserção, principalmente pela

crise no mundo capitalista, que agravava o desemprego estrutural. O modelo

econômico brasileiro acompanhava o ideário neoliberal, cujo processo de

globalização e as grandes modificações no mundo do trabalho exigiam uma

mudança de enfoque na educação. Já não bastava o aprendizado mecânico de

procedimentos e o desenvolvimento específico de determinadas ações, nem a

educação meramente clássica para atender, sob o ponto de vista das demandas do

capital, às necessidades da produção flexível e da concorrência intercapitalista40.

Sob essa perspectiva, era preciso que o Ensino Médio desse uma sólida base de

educação geral e ao mesmo tempo preparasse para a vida, mediante o

39 Alusão ao texto de Kuenzer: “O Ensino Médio agora é para a vida: Entre o pretendido, o dito e o feito” (2000). 40 Para aprofundamento ver ANTUNES (1997) e FRIGOTTO (1996).

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desenvolvimento de habilidades e competências41. Baseada nesse tipo de

pensamento, foi consubstanciada a Resolução 03/98 do CNE, que institui as

Diretrizes Nacionais para o Ensino Médio, visando o “preparo para a vida” dos

adolescentes, jovens e adultos que ingressassem nessa modalidade de ensino.

Esse “preparo para a vida”, segundo KUENZER (2000), vai em contraposição

direta à proposta de preparo para o trabalho, como se esta não estivesse

preparando os indivíduos para a vida.

Seguindo a linha de pensamento da autora, o Ensino Médio, de acordo com

as Diretrizes atuais, apesar de disseminar a idéia de uma escola única onde o

ensino profissional é um complemento da educação geral e, por isso, anexo à

educação média, e não parte dela, contribui para a continuidade da escola dual e,

por não ser claro a quem se destina, torna-se mais perversa a relação entre essa

dualidade.

Para KUENZER (2000), a educação média continua favorecendo um pequeno

grupo de privilegiados, para quem as experiências culturais e sociais que possuem

oferecem uma considerável vantagem no que diz respeito ao saber sistematizado e

às relações que podem efetuar com estes saberes, em detrimento daqueles em que

a escola, por vezes, é um dos poucos espaços para a elaboração e o

desenvolvimento dos processos científicos e tecnológicos da sociedade em que

vivem.

Por esse motivo, não basta, segundo KUENZER (2000), ampliar o número de

vagas para o ingresso no Ensino Médio, como forma de democratização do mesmo,

pois se fazem necessárias políticas públicas precondizentes que possibilitem uma

efetiva melhoria nessa modalidade de ensino, com espaços físicos adequados,

equipamentos e, principalmente, professores e pessoal capacitado com uma visão

aprofundada e crítica das diretrizes e conteúdos agora exigidos para trabalhar com

esses sujeitos.

Então se levanta a seguinte questão: como pode um nível de ensino ter como

finalidade o “preparo para a vida”, sem pensar no quão é heterogêneo e vasto o

grupo de sujeitos que nele estão inseridos? E como tão bem nos diz RAMOS

(2004, p. 39) “...Sujeitos que têm uma vida, uma história e uma cultura. Que têm

necessidades diferenciadas, mas conquistaram direitos universais”. E por essa 41 A respeito do conceito e modelo de competências, ver em KUENZER (2002), HIRATA (1994).

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razão, perguntamos: onde a clientela do Ensino Médio do Centro de Educação

Básica de Jovens e Adultos está inserida? Quê tipo de Ensino Médio eles recebem?

Essas perguntas dificilmente serão plenamente respondidas, no entanto,

através da pesquisa realizada em campo, buscou-se clarificar algumas dessas

questões, de maneira a se traçar um paralelo para comparar o quanto os

pressupostos legais (LDBE, DCNEM, DCNEJA) se materializam e se aproximam ou

não da realidade42. Por conseguinte, o que se pretende, neste momento, é fazer

algumas aproximações com categorias importantes das atuais Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, e a realidade analisada no Ensino

Médio do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos de Pinhais.

A primeira categoria a ser comentada diz respeito à própria essência do

documento, que é a articulação da educação com o trabalho e a cidadania. Para

RAMOS (2004, p. 41), o texto das DCNEM oscila entre dois conceitos: “trabalho

como princípio e trabalho como contexto... trabalho como práxis humana e trabalho

como práxis produtiva”.

O trabalho como princípio se apresenta no Parecer através da proposta de

uma formação básica sólida, que tenha a amplitude de fazer com que o aluno

compreenda os princípios científico-tecnológicos básicos e também as questões

sócio-históricas que organizam e permeiam as relações sociais modernas e os

processo produtivos, de maneira a formar “cidadãos tecnicamente competentes”,

sem uma relação direta entre preparação básica para o trabalho e conteúdos

estritamente profissionalizantes. Assim, os conhecimentos para o mundo do trabalho

deveriam ser básicos para qualquer atividade produtiva, o ensino profissionalizante

poderia ser integrado ao ensino médio, mediante o acréscimo de carga horária

mínima43. Para RAMOS (2004, p.41), o trabalho, nesta perspectiva, aparece “como

práxis humana e como práxis produtiva”.

No entanto, ainda segundo a autora, o que se observa no decorrer do texto

das Diretrizes, é a apropriação desse conceito de trabalho como princípio, sob uma

ótica do capital, e cuja justificativa da preparação básica para o trabalho se dá pela

necessidade de preparar recursos humanos que assimilem e se adaptem às

42Esta análise será aprofundada no Capítulo 5, referente à análise dos dados obtidos da presente pesquisa. 43 Ver com maiores detalhes no texto das Diretrizes Curriculares Nacionais de Ensino Médio. Parecer CEB/CNE n. 15/98.

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constantes mudanças tecnológicas e às novas formas de organização dos

processos produtivos. Perde-se com isso o caráter de trabalho como princípio

educativo que engloba práxis humana e práxis produtiva.

Essa visão ligada ao capital pode ser evidenciada em vários momentos do

Parecer das DCNEM (1998) e também nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação de Jovens e Adultos, destacando-se os seguintes trechos: (...) nas condições contemporâneas de produção de bens, serviços e conhecimentos, a preparação de recursos humanos para um desenvolvimento sustentável supõe desenvolver a capacidade de assimilar mudanças tecnológicas e adaptar-se a novas formas de organização do trabalho. Esse tipo de preparação faz necessário o prolongamento da escolaridade e a ampliação das oportunidades de continuar aprendendo(DCNEM, 1998, p.12). (...) pode-se dizer que o acesso a formas de expressão e de linguagem baseadas no micro-eletrônica são indispensáveis para uma cidadania contemporânea e até mesmo para o mercado de trabalho... num mercado de trabalho onde a exigência do ensino médio vai se impondo, a necessidade do ensino fundamental é uma verdadeira corrida contra um tempo de exclusão não mais tolerável (...) no século que se avizinha, e que está sendo chamado de “o século do conhecimento”, mais e mais saberes aliados a competências tornar-se-ão indispensáveis para a vida cidadã e para o mundo do trabalho(DCNEJA, 2000, p. 5).

Desse momento em diante observam-se os conceitos de trabalho e cidadania

predominantemente ligados ao contexto, na medida em que esses “contextos”

facilitariam a capacidade de continuidade dos estudos, e de adaptabilidade às

mudanças na sociedade e no mundo produtivo.

É também dentro desta visão de projetos individuais, e adaptação e

sociabilização adequada aos padrões culturais e produtivos atuais que o conceito de

cidadania é concebido, segundo Ramos, uma “cidadania possível” dentro de uma

sociedade instável como a que vivemos. Para a autora, é preciso que se “alargue”

esse conceito e se abarque o “plano dos direitos, como valor universal consolidado

nas práticas sociais solidárias” (RAMOS, 2004, p. 44).

Dentro do ensino direcionado para jovens e adultos, especificamente no

interior da Proposta Pedagógica do Centro de Educação Básica para Jovens e

Adultos de Pinhais, o que se observa é a utilização, senão na íntegra, basicamente

idêntica dos ditames do texto das Diretrizes Nacionais do Ensino Médio e das

Diretrizes do Ensino de Jovens e Adultos, o que significa que as referências e

críticas às DCNEM e às DCNEJA e seus respectivos Pareceres, formuladas pelos

autores mencionados (GARCIA & LIMA FILHO, KUENZER e RAMOS) podem ser

facilmente aplicadas ao Ensino Médio de Jovens e Adultos.

Portanto, as categorias trabalho e cidadania, dentro do Ensino de Jovens e

Adultos no CEEBJA, também refletem a oscilação e ambigüidade entre princípio e

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contexto educativo, podendo ser considerado este último como a referência mais

clara tanto nos documentos oficiais, quanto nas falas dos representantes da Direção

e alunos da instituição pesquisada.

Outra categoria de grande relevância dentro das Diretrizes do Ensino Médio e

que entra em contradição com a realidade do Ensino Médio de Jovens e Adultos de

Pinhais, diz respeito aos princípios pedagógicos que devem nortear as propostas

curriculares do Ensino Médio em geral, que é utilizar como pressupostos básicos a

interdisciplinaridade e a contextualização.

Segundo as DCNEM e as DCNEJA, a interdisciplinaridade deve ser mais que

a simples justaposição de disciplinas, deve ser uma “prática pedagógica e didática

adequada aos objetivos do ensino médio” (DCNEM, p.26), propiciada através da

relação de “diálogo permanente” entre as disciplinas. Ainda referente à

Interdisciplinaridade, as Diretrizes Nacionais do Ensino Médio propõem que: (...) a relação entre as disciplinas tradicionais pode ir da simples comunicação de idéias até a integração mútua de conceitos diretores, da epistemologia, da terminologia, da metodologia e dos procedimentos de coleta e análise de dados. Ou pode efetuar-se, mais singelamente, pela constatação de como são diversas as várias formas de conhecer. Pois até mesmo essa “interdisciplinaridade singela” é importante para que os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes (DCNEM, 1998, p. 27). Essa interdisciplinaridade, segundo RAMOS (2004), refere-se a uma visão

muito mais “metodológica” que propriamente epistemológica, pois direciona as

atividades pedagógicas para a possibilidade de relacionar disciplinas em torno de

projetos de pesquisa e ação, havendo um eixo integrador que pode ser um projeto

de investigação, um plano de intervenção ou o próprio objeto de conhecimento.

Por outro lado, ao abordar a contextualização, as Diretrizes Nacionais do

Ensino Médio nos colocam que: Contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto. Na escola fundamental ou média o conhecimento é quase sempre reproduzido das situações originais nas quais acontece sua produção. Por esta razão quase sempre o conhecimento escolar se vale de uma transposição didática, na qual a linguagem joga papel decisivo... A contextualização evoca por isso áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vida pessoal, social e cultural, e mobiliza competências cognitivas já adquiridas. As dimensões de vida ou contextos valorizados pela LDB são o trabalho e a cidadania (DCNEM, 1998, p. 29). A contextualização seria um recurso para “ampliar as possibilidades de

interação, não apenas entre disciplinas nucleadas em uma área de conhecimento,

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como também entre as próprias áreas de nucleação44” (RAMOS, 2004, p.45). Essa

contextualização se daria através da associação de experiências cotidianas e dos

conhecimentos do próprio aluno, visando tornar a aprendizagem com significância.

Com base no que nos coloca RAMOS (2004), e através dos trechos retirados

das DCNEM e das DCNEJA, levanta-se o seguinte questionamento referente ao

Ensino Médio de Jovens e Adultos do CEEBJA: como pode haver

interdisciplinaridade e contextualização dentro de um curso onde as disciplinas são

organizadas separadamente, e oferecidas aos alunos de maneira individual, de

acordo com a disponibilidade de horários e datas que satisfaçam às necessidades

pessoais de cada um?45 E partindo desse questionamento, como pode ser

relacionado o conhecimento prático dos alunos com o saber produzido de maneira

sistemática e científica, se estes mesmos alunos não possuem elos de ligação e

continuidade dentro das disciplinas, mesmo sendo elas constituintes de áreas de

conhecimento afins?

Para RAMOS (2004), corre-se o risco de cair em uma “pseudo-

aprendizagem”, pois a articulação do pensamento com a ação são imprescindíveis

para a apropriação do conhecimento, e se não houver essa recriação da prática no

pensamento, através da abstração e, retornando a essa realidade, de forma a

considerar suas “múltiplas determinações e suas dimensões essenciais, complexas

e contraditórias”, pode-se cair em representações “errôneas e equivocadas” da

realidade, ou ainda limitações para a compreensão de alguns conhecimentos devido

à restrição de determinados contextos. A própria autora alerta sobre o risco de se

construir “falsos conhecimentos” ao se “considerar a existência de uma continuidade

e de uma equivalência entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento científico”

ou seja, da possibilidade de passar de um para o outro sem rupturas.

Sendo assim, podemos considerar que esse tópico da pesquisa suscitou

muito mais questionamentos que propriamente conclusões, devido, principalmente,

ao caráter polêmico e contraditório da relação Ensino Médio e Ensino Profissional,

de suas finalidades e objetivos e, por conseqüência, das implicações dentro do

44 O currículo do ensino médio foi organizado em áreas de conhecimento correspondentes aos seus propósitos. Dentro da proposta curricular do ensino médio do CEEBJA-Pinhais são utilizadas estas mesmas áreas e dentro delas os mesmos conceitos para habilidades e competências a serem atingidas. Ver em DCNEM 15/98 e Proposta Pedagógica CEEBJA –Pinhais – 2002. 45 Sobre a forma de organização e oferta de disciplinas do CEEBJA, será explanado com mais detalhe no Capítulo IV, item 4.2, referente ao atual CEEBJA – Pinhais.

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Ensino de Jovens e Adultos. Citando GARCIA & LIMA FILHO (2004, p. 2):

“compreendendo que este é um debate em construção no qual se explicitam

posições diversas, seja no âmbito teórico ou nas posições relativas à implementação

de políticas públicas”, não podemos ter posicionamentos conclusivos e prontos

sobre as questões levantadas.

Pretendeu-se, no entanto evidenciar algumas categorias que se apresentam

nas DCNEM e que possuem maior relevância para as posteriores análises dos

dados obtidos na pesquisa de campo.

O último tópico deste Capítulo tratará dos documentos que norteiam

efetivamente a Educação de Jovens e Adultos atualmente no País, ou seja, a

Resolução CEB/CNE nº 1, de julho de 2000 e o Parecer CEB nº 11/2000 que

estabelem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e

Adultos, quando serão feitas algumas considerações a respeito do conteúdo das

Diretrizes e sua relação com a prática do Programa do Centro de Educação Básica

para Jovens e Adultos do Município de Pinhais.

3.3 AS POLÍTICAS PÚBLICAS ATUAIS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUAL LEGISLAÇÃO DA EJA

No tópico anterior fizemos comentários sobre as atuais Diretrizes Curriculares

Nacionais para o Ensino Médio, bem como sobre possibilidades e limites dessas

Diretrizes em relação à realidade educacional como um todo, e em especial no que

diz respeito à Educação de Jovens e Adultos.

Agora nosso objetivo é comentar brevemente a legislação na qual a EJA está

especificamente alicerçada, ou seja, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB 9394/96), a Resolução CEB/CNE n. 1/2000 que institui as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, e o Parecer CEB/CNE

n. 11/2000 que dispõe sobre as atuais Diretrizes Curriculares da EJA.

Iremos nos ater com maior aprofundamento no texto referente ao Parecer

CEB/CNE n. 11/2000, pois é este que serve como pressuposto teórico do Programa

de Educação de Jovens e Adultos do CEEBJA – Pinhais.

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3.3.1 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional brasileira apresenta a

educação de jovens e adultos como uma das modalidades da educação básica, e

destina-se ao atendimento de jovens e adultos que não tiveram, na idade própria,

continuidade ou acesso ao ensino fundamental e médio. Também a denominação

“Educação de Jovens e Adultos” é uma substituição ao termo “Ensino Supletivo”

referente a esta modalidade na Lei n. 5.692/71.

Em relação a esta modificação de termos de “Ensino Supletivo” para “EJA”,

no Estado do Paraná, através da Resolução 3.120/98, foi alterado primeiramente o

nome dos antigos Centros de Estudos Supletivos (CES) para Centro Estadual de

Educação Aberta Continuada à Distância (CEAD). E depois, em 1999, com a

Resolução 4561/99 passaram a ser denominados Centro Estadual de Educação

Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA).

Dentro da LDB – 1996, os artigos 37 e 38 da seção V – Capítulo II – Da

Educação Básica, são os que se referem à educação de jovens e adultos. É

explicitado nestes artigos que os sistemas de ensino devem assegurar gratuitamente

oportunidades educacionais por meio de exames supletivos46 e cursos apropriados a

essa parcela da população. Também é citado no inciso 2º que o poder público deve

ser responsável pela viabilização e estímulo ao acesso e permanência dessa

população jovem e adulta.

Uma novidade importante que surge na atual LDB refere-se ao rebaixamento

da idade mínima para os exames supletivos, de dezoito anos para quinze anos na

etapa fundamental, e de vinte e um anos para dezoito anos no ensino médio. Essa

questão sobre a idade mínima será mais aprofundada no tópico que comentaremos

sobre o Parecer CEB/CNE n.11/2000.

Outro ponto que merece destaque, refere-se ao artigo 5º da LDB,

especificamente em seu inciso 2º, no qual observa-se a tendência à focalização das

ações do governo, ao assegurar, em primeiro lugar, o acesso ao ensino fundamental

46 Observa-se que a LDB 9.394/96 ainda utiliza o adjetivo supletivo ao falar em cursos e exames, no entanto, de acordo com o Parecer CEB/CNE n.11/2000, este termo deve ser aplicado somente para designar modalidades de exames.

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dos sete aos quatorze anos (ensino obrigatório) e a retirada do termo “obrigatório”

da modalidade da educação de jovens e adultos, através da Emenda 14/96,

tornando a EJA apenas gratuita, demonstrando que a Educação de jovens e Adultos

não fazia parte de uma das prioridades do Governo Federal no que diz respeito

principalmente à alocação de recursos para um atendimento que não fosse restrito a

programas de alfabetização focalizados em determinadas regiões do país

(CHILANTE, 2005, p. 310).

Para RUMMERT (2002), a Lei 9.394/96 possui, no que diz respeito à EJA, um

conteúdo de caráter excessivamente flexível, que evidencia a lógica na qual as

políticas de EJA estão baseadas: a relação custo/benefício.

Outra autora que critica a “fluidez” dos artigos dirigidos à educação de jovens

e adultos é Maria Clara DI PIERRO (2000); ela considera que a redação final da LDB

– 1996 causou decepção e frustração a muitos que trabalhavam com a EJA, em

decorrência das “lacunas, incoerências, estreiteza conceitual, falta de inventividade e

funcionalidade aos interesses privados no ensino” (DI PIERRO, 2000, p. 114). Um

alerta interessante que a autora faz, diz respeito à flexibilidade dessa modalidade de

ensino que viabiliza sua utilização como forma de aceleração de estudos, pois

admite o acesso a outros níveis da própria modalidade (passagem de séries, e

etapas) por meio de avaliações de conhecimentos adquiridos de maneira informal.

Se por um lado isto valida conhecimentos fora do espaço escolar formal, valorizando

a realidade do aluno, por outro lado pode favorecer a desqualificação e deterioração

do aprendizado futuro desse jovem ou adulto.

Podemos também observar que, durante a década de 1990, e principalmente

a partir da metade dessa década, as ações do Governo Federal referentes à

modalidade de educação de jovens e adultos, caracterizaram-se por “intervenções

focalizadas e de caráter compensatório” (DI PIERRO; GRACIANO, 2003, p. 17), nas

quais os programas47 que surgiram nesse período contaram, e alguns ainda contam,

sob regime de parceria, com a participação de sindicatos, federações, empresas,

caracterizando uma intensa mobilização da sociedade civil na oferta de educação de

jovens e adultos.

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3.3.2 A Resolução CEB/CNE n.1/2000 – Institui as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos

Tomando como referência o Parecer CEB/CNE n.11/2000, o Conselho

Nacional de Educação (CNE), através da Câmara de Educação Básica (CEB),

expediu a Resolução CEB/CNE n. 1, de 05 de julho de 2000, homologada pelo

Ministro da Educação em 07 de julho de 2000, na qual são instituídas as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. A função desta

resolução é a de estabelecer diretrizes nacionais para a EJA, e que devem ser

observadas obrigatoriamente , nas etapas fundamental e média, pelas instituições

que integrem a organização da educação nacional, considerando, segundo o artigo

1º “... o caráter próprio desta modalidade de educação”(RESOLUÇÃO CEB/CNE

n.1/2000, p. 42).

A Resolução CEB/CNE n. 1/2000 apresenta 25 artigos que normatizam, em

âmbito nacional, a educação de pessoas jovens e adultas em todas as suas

modalidades.

O primeiro artigo dessa Resolução trata do que já foi comentado no parágrafo

anterior, ou seja, a instituição das Diretrizes Curriculares, bem como a

obrigatoriedade da observação das mesmas por parte das instituições que

caracterizam essa modalidade de ensino.

O art. 2º trata da submissão da organização da EJA aos termos dos artigos 4º

e 5º da LDB-1996, que se referem ao direito à educação, dos artigos 37 e 38 que

são específicos à educação de jovens e adultos, e do artigo 87, que trata da

Educação Profissional em nível técnico, quando de sua viabilização.

Pelos artigos que dizem respeito ao direito à gratuidade do ensino (art. 4º da

LDB) e do direito público subjetivo à educação (art. 5º), segundo CHILANTE (2005,

p. 30), “aplicam-se plenamente aos jovens e adultos somente na etapa fundamental,

o que significa o adiamento da imediata universalização do ensino médio”.

Os artigos 3º e 4º da Resolução especificam que devem ser estendidas para

a modalidade da EJA as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental

47 Dentre os programas destacam-se: Programa Alfabetização Solidária (PAS); Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA); Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador (PLANFOR); Programa Recomeço e Programa Brasil Alfabetizado.

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(Res. CEB/CNE n. 02/98), bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino

Médio (Res. CEB/CNE n. 03/98). No artigo 5º fica estabelecido que os componentes

curriculares e o modelo pedagógico da EJA também devem respeitar às Diretrizes

tanto do ensino fundamental, quanto do ensino médio e Profissional de nível técnico

(Res. CEB n. 16/99), mas que isso não deve descaracterizar a EJA, pois a

identidade própria dessa modalidade deve ser assegurada através da adaptação dos

programas seguindo critérios de eqüidade, diferença e proporcionalidade48. Em

concordância ao artigo 5º da Resolução CEB/CNE n. 1/2000, os artigos 18, 19, 20 e

21 explicitam que os cursos e exames supletivos devem submeter-se às Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Médio. Sobre os exames, estes

devem ser ofertados e aplicados por instituições autorizadas e reconhecidas pelos

respectivos sistemas de ensino.

No artigo 6º podemos observar que a organização da EJA tem uma tendência

bastante flexível, e pode ser desenvolvida sob diversas formas, como no espaço

escolar ou extra-escolar, pela iniciativa pública, privada ou através da cooperação da

sociedade civil. Esse caráter marcadamente flexível da EJA permite a autonomia de

cada sistema de ensino para organizar a estrutura e duração dos cursos referentes à

modalidade de ensino de jovens e adultos.

Através dos artigos 7º e 8º da Resolução, fica estabelecido o limite mínimo de

idade para os exames supletivos e para a conclusão na etapa fundamental,

obedecendo ao Art. 4º e 5º da LDB, que determina a obrigatoriedade do ensino

fundamental dos sete aos quatorze anos.

Nos artigos 10 e 15 da Resolução, fica explicitada a incumbência do poder

público (sistemas estaduais e municipais de ensino), quanto ao credenciamento,

acompanhamento e avaliação das instituições que aplicarão os exames supletivos.

No artigo 22, há um elemento novo que diz respeito à possibilidade de

certificação de habilidades e conhecimentos obtidos em processos formativos extra-

escolares, através de exames divulgados e aplicados por instituições de ensino

autorizadas e credenciadas. Tanto os procedimentos quanto às normas destes

exames devem sempre primar pela qualidade.

48 O texto completo referente ao artigo 5º da Resolução CEB/CNE n.1/2000, bem como o texto integral da referida resolução encontra-se no Anexo 2 da presente pesquisa.

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Segundo CHILANTE (2005, p. 34), que pesquisou as políticas públicas

referentes à EJA, a partir da década de 1990, estabelecendo mediações entre essas

políticas e as condições históricas específicas desse período e contextualizando a

EJA num processo mais amplo das relações sociais, a questão principal que pode

ser observada, de maneira geral, no conteúdo da Resolução CEB/CNE n.1/2000 é a

“concepção da EJA apenas como alfabetização, e o uso das etapas fundamental e

média como formas de correção de fluxo do sistema escolar”, caracterizando a

suplência como principal função da Educação de Jovens e Adultos no Brasil.

3.3.3 O Parecer CEB/CNE n. 11/2000 – Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos

O Parecer CEB/CNE n. 11/2000 aprovado em 10 de maio de 2000, dispõe

sobre as Diretrizes da Educação de Jovens e Adultos que, por sua especificidade,

necessitava não apenas seguir as deliberações advindas das Diretrizes Curriculares

Nacionais já aprovadas para o Ensino Fundamental (CEB/CNE n. 02/98) e Ensino

Médio (CEB/CNE n. 03/98), mas também necessitava uma apreciação mais

aprofundada sobre os fundamentos, funções e conceitos da Educação de Jovens e

Adultos (EJA).

A EJA, de acordo com a Lei 9.394/96, passa a ser uma modalidade da

educação básica nas etapas de ensino fundamental e médio e, portanto, segue as

Diretrizes para o ensino fundamental e ensino médio. No entanto, dadas às suas

características específicas da relação idade/série e da forma de funcionamento da

EJA, era preciso um documento mais específico e abrangente, que contextualizasse

os ditames das referidas Diretrizes a um público tão heterogêneo e complexo como

é o da Educação de Jovens e Adultos; também para esclarecer muitas dúvidas

advindas principalmente dos sistemas que se valiam do antigo supletivo.

Por essa razão, através de audiências, conferências e encontros com a

comunidade educacional brasileira e representantes do Ministério de Educação,

pensaram-se os principais tópicos da estrutura do Parecer.

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3.3.3.1 Fundamentos e funções da EJA: Definições prévias

Em primeiro lugar é preciso reiterar que, de acordo com o próprio texto do

Parecer, suas Diretrizes são obrigatórias, e se dirigem “... aos sistemas de ensino e

seus respectivos estabelecimentos que venham a se ocupar da educação de jovens

e adultos sob a forma presencial e semipresencial de cursos, e tenham como

objetivo o fornecimento de certificados de conclusão de etapas da educação básica”

(PARECER CEB n. 11/2000, p. 2). Por esse motivo, é o principal documento que as

Secretarias de Estaduais de Educação utilizam e pelo qual norteiam suas

deliberações, normas e ações para a Educação de Jovens e Adultos.

Apesar de se destinar ao universo educacional e administrativo credenciado,

reconhecido e autorizado, o próprio texto do Parecer coloca que as Diretrizes

servem também como um referencial pedagógico para as iniciativas que

autonomamente desejam desenvolver projetos para essa modalidade de ensino, por

meio de programas de educação, definidos no caput do art. 1º da LDB, mas que não

visem certificados oficiais de conclusão de estudos.

Um ponto importante no início do estabelecimento dos conceitos e funções da

EJA, é o entendimento do relator sobre a tipificação em pares opostos, por vezes

bastante equivocada e incompleta, com a qual se caracteriza a população brasileira,

considerando o país tipicamente dual49. E que essa dualidade existente no Brasil

persiste ainda em relação à separação entre os alfabetizados/analfabetos,

letrados/iletrados como se esses termos constituíssem atualmente um “novo divisor

de cidadãos”.

Um detalhe significativo refere-se à primeira referência à tecnologia e ao

mercado de trabalho; na página 2, do texto do Parecer, com o seguinte trecho: (...) pode-se dizer que o acesso a formas de expressão e de linguagem baseadas na micro-eletrônica são indispensáveis para uma cidadania contemporânea e até mesmo para o mercado de trabalho. No universo composto pelos que dispuserem ou não deste acesso, que supõe ele mesmo a habilidade de leitura e escrita (ainda não universalizadas), um novo divisor entre cidadãos pode estar em curso (BRASIL, 2000, p. 2).

49 Segundo texto do Parecer: “...do Brasil e de suas presumidas identidades muito já se disse. São bastante conhecidas as imagens ou modelos do país cujos conceitos operatórios de análise se baseiam em pares opostos e duais: ‘Dois Brasis’, ‘oficial e real’, ‘Casa Grande e Senzala’, ‘o tradicional e o moderno’, capital e interior, urbano e rural, cosmopolita e provinciano, litoral e sertão assim como os respectivos ‘tipos’que os habitariam e os constituiriam”(BRASIL, 2000, p. 28).

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Neste pequeno trecho, já se percebe a urgência do aprendizado básico (ler e

escrever) para que se possibilite outros aprendizados mais complexos (linguagem

eletrônica)50. Ressalta o alerta para a enorme separação entre os que detêm o

conhecimento formal e sabem utilizá-lo, e os que não tiveram oportunidade de

acesso a esse conhecimento. É interessante observar também a utilização do termo

mercado de trabalho que irá se repetir algumas vezes no decorrer do texto. Observa-

se, então, que ao reduzir a relação da escola à lógica mercantil do trabalho, dá-se

um forte sentido de venda de força de trabalho, característica central do modo de

produção capitalista.

3.3.3.2 Conceito e Funções da EJA

Percebe-se que, apesar de uma focalização de políticas públicas no ensino

fundamental obrigatório e gratuito conveniente à relação idade própria/ano escolar,

expressão esta constante na LDB (Lei das Diretrizes e Bases) brasileira e de ter

conseguido expandir quantitativamente o número de vagas para crianças e jovens

no ensino formal, o número de excluídos do ensino fundamental e médio é muito

grande, mantendo jovens, adolescentes e adultos sem escolaridade obrigatória

completa.

Mesmo sendo desenvolvidos, nos últimos anos, esforços dentro dos sistemas

de ensino para propiciar um atendimento mais aberto a adolescentes e jovens que

desejam reingressar na escolaridade, assim como um trabalho de caráter preventivo

para diminuir as diferenças e distorções entre idade – ano escolar, ainda, de acordo 50 Nesta citação do Parecer CEB/CNE n.11/2000 evidencia-se uma aproximação às formulações dos organismos internacionais acerca da necessidade de domínio dos chamados “códigos culturais da modernidade”, que LIMA FILHO (2004) evidencia em seu texto que por sua vez faz uma crítica ao conceito de “sociedade da informação”: os organismos mundiais recomendam a prioridade na utilização dos recursos públicos para as séries iniciais da educação básica, atentando ao objetivo de que ‘Toda a população deve estar capacitada para manejar os códigos culturais da modernidade, ou seja, o conjunto de conhecimentos e habilidades necessárias para participar da vida pública e desenvolver-se produtivamente na sociedade atual...Essas capacidades são as necessárias para o manejo das operações aritméticas básicas, leitura e compreensão de um texto, comunicação escrita, observação, descrição e análise crítica do meio, recepção e interpretação de mensagens dos meios de comunicação modernos, participação na formulação e execução de trabalhos em grupo’(CEPAL,1995, p. 249 apud LIMA FILHO, 2004, p. 17).

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com o PARECER CEB/CNE n. 11/2000: “a média nacional de permanência na

escola na etapa obrigatória (oito anos) fica entre quatro a seis anos. E os oito anos

obrigatórios acabam por se converter em 11 anos” (BRASIL,2000, p. 3). Em razão

disso, muitos alunos que já deveriam estar no Ensino Médio, estendem-se no ensino

fundamental, aumentando a distorção idade/ano e tornando cada vez mais distante

um acerto definitivo do fluxo escolar.

Os dados que constam no Parecer referentes ao número de analfabetos,

apesar de estarem desatualizados (IBGE,1996), demonstram com base em dados

mais atuais, que é muito grande o contingente de pessoas não alfabetizadas no

Brasil. É correto dizer que a porcentagem baixou de 14,7% em 1996 para 10,9%51,

porém esse número é resultado, principalmente, das políticas educacionais ligadas

ao ensino fundamental em idade própria. Ou seja, o número de jovens e crianças

analfabetas está regredindo, no entanto, na fase adulta pouco se modificou nos

últimos anos.

Segundo o próprio Parecer, o maior número de analfabetos é formado por

pessoas de regiões pobres e do interior, com idade mais avançada, e provenientes

dos grupos afro-brasileiros. Muitos desses indivíduos passaram pela escola formal, e

pelos antigos cursos supletivos. O Parecer considera ainda que:

(...) a Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas. Ser privado deste acesso é, de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença significativa na convivência social contemporânea (Parecer, 2000, p. 3). O Parecer ressalta a necessidade de não se ter uma visão preconceituosa da

pessoa analfabeta, pois esta não deve ser considerada inculta ou vocacionada

apenas para trabalhos rudimentares, e sim se ater à pluralidade e diversidade da

cultura oral que muitos desenvolveram em sua vida, considerando principalmente a

dimensão sócio-cultural do letramento.

A percepção da dimensão sócio-cultural da questão alfabetismo/letramento é

essencial, pois como observa a professora Magda Soares(1998): (...) um adulto pode ser analfabeto, porque marginalizado social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, se se interessa em ouvir a

51 Dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2003), Síntese dos Indicadores 2003. Disponível em : www.ibge.org.br

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leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros lêem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as escreva(...) se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita (SOARES, 1998, p. 24 apud BRASIL, 2000, p. 4). A professora Leda Tfouni, em perspectiva semelhante, destaca que: O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição da escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas “letradas”em sociedades ágrafas (TFOUNI, 1995, p. 9–10 apud BRASIL, 2000, p. 4). Segundo o Parecer, sendo a leitura e a escrita bens de relevância tanto no

aspecto prático como em seu valor simbólico, o não acesso a “graus elevados de

letramento é particularmente danoso para se conquistar uma cidadania plena.”

(BRASIL, 2000, p.4). Observa-se a necessidade de se “conquistar” a cidadania, e

não obtê-la como um direito, ou seja, a dificuldade que é a obtenção de plena

cidadania para alguns grupos. Esta dificuldade está ligada intimamente às raízes

histórico-sociais de nosso país. Sabe-se que, segmentos sociais como os negros,

índios, caboclos migrantes, trabalhadores braçais entre outros, recebiam das elites

dirigentes apenas a discriminação e total desinteresse pela educação escolar, de

maneira a reforçar o caráter subalterno desses grupos. Por essa razão, os

descendentes desses mesmos grupos sofrem até hoje as conseqüências dessas

desigualdades históricas.

Por esse motivo, é neste tópico que aparece a primeira das três funções da

EJA, a função reparadora. De acordo com o texto, a reparação à qual a função da

educação de jovens e adultos se refere é de uma “dívida inscrita” em nossa

sociedade e na vida de tantos indivíduos, reconhecendo o princípio da igualdade de

direitos, e não confundindo essa noção de reparação com a de suprimento, dada a

limitação do conceito deste último que pode simplesmente significar um “remediar,

diminuir”, ou “preencher de maneira imediata algo que falta”52, e não a consideração

de um “direito negado” que deve obrigatoriamente ser reparado.

Na Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Jovens e Adultos, de

1997, uma das bases desse Parecer, percebe-se o discurso do “mundo em

transformação” no qual a alfabetização é apenas um início necessário para a

52 Significados atribuídos ao termo “suprimento”, encontrados em: SUPRIR. In: HOLANDA FERREIRA, Aurélio B. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira. p. 1340.

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participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, e requisito

básico para a educação continuada durante toda a vida53.

Mostra também o quanto a aquisição dos códigos relativos à leitura e escrita

representam um meio e instrumento de poder, e que a incorporação desses códigos

tornando-os quase naturais a quem os possui, obscurece o quanto é imprescindível

este acesso54.

A atribuição mais significativa da função reparadora da EJA, segundo

CHILANTE (2005), é a inclusão. Para a autora esta função partiria do raciocínio de

que a conseqüência da inclusão escolar acarretaria conseqüentemente a inclusão à

vida cidadã e, partindo disso, o acesso ao mercado de trabalho. Torna-se, portanto

imprescindível, segundo o Parecer, que, para o indivíduo ser efetivamente

considerado um cidadão, deve estar inserido no mundo produtivo.

Para DEL PINO (2001, p. 81), a idéia da chamada inclusão social através da

escola é baseada num reducionismo e não se sustenta na prática, pois, a

escolarização na fase atual do desenvolvimento capitalista tem sido apropriada para

justificar a seletividade no mercado de trabalho, que se sabe não possui lugar para

todos. Essa idéia vai ao encontro do que RAMOS (2003) aponta como paradoxo

entre a inclusão via escola em contrapartida à exclusão via mercado, mostrando

que os processos de educação para a cidadania e para o trabalho se confundem

“justamente no momento em que o mercado de trabalho reserva espaço para cada

vez menos pessoas”(RAMOS, 2003, p.22).

No Parecer CEB/CNE n.11/2000, esta inclusão no mercado só é possibilitada

através do investimento pessoal, adquirindo, dessa maneira, características

individuais que são apreciadas pelo capital e que, segundo PAIVA (2001, p.56),

demonstram a capacidade “para enfrentar o emprego, o desemprego, e o auto-

emprego...”. Mais uma vez vemos o quanto a Teoria do Capital Humano ainda

influencia, mesmo sem ser claramente anunciada, as diretrizes que norteiam de

maneira geral a Educação.

Para CHILANTE (2005, p. 125), a função reparadora da EJA tem transferido

ao indivíduo a “responsabilidade por adquirir a capacidade de incluir-se ou não,

nesta sociedade”, contribuindo dessa maneira para “encobrir a realidade social que 53 A formulação da educação ao longo da vida também tem como referência o documento da UNESCO, “Educação um Tesouro a Descobrir”, conhecido como Relatório Jacques Dellors (1996).

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produz a exclusão, além de impedir uma discussão sobre as possibilidades reais de

sua superação”.

Sobre essa questão da “inclusão social do indivíduo”, é importante destacar o

papel que a escola representa em relação a isto, dentro do Parecer, constituindo-se,

segundo CHILANTE (2005, p. 121) “num meio de alterar a posição do indivíduo na

sociedade”. No texto esta idéia é reforçada através das seguintes concepções

referentes ao espaço escolar:

1. espaço democrático de conhecimento e de postura tendente a assinalar um

projeto de sociedade menos desigual;

2. auxiliadora da eliminação das discriminações, propiciando desta maneira

espaço para diversas modalidades de liberdade;

3. colaboradora, mas não a responsável pela eliminação das discriminações

que estes alunos sofreram e sofrem até hoje. A educação escolar faz parte dos

sistemas sociais, mas não representa o todo destes sistemas. Seu poder de

participação é bastante significativo, mas não pode ser considerado como base para

mudanças na sociedade. As desigualdades e injustiças sociais devem, segundo o

Parecer, ser encaradas e combatidas por todas as estruturas da sociedade.

Todos este itens são muito interessantes e pertinentes, mas fica a dúvida;

será que a escola está mesmo desempenhando esse papel de espaço democrático

e colaborador para a eliminação de discriminações, principalmente para esses

jovens e adultos que a ela regressam?

Segundo o levantamento feito por HADDAD (2000), relativo às pesquisas

referentes à EJA no País, do período de 1986 a 1998, tais pesquisas demonstram

um quadro bastante desanimador sobre o espaço escolar destinado ao universo que

compõe a educação de adultos. Algumas das principais conclusões presentes nas

pesquisas analisadas, no que diz respeito à escola são as seguintes: A escola reproduz a estrutura de desigualdade social presente na sociedade capitalista. Está longe da realidade e das necessidades concretas dos alunos, daí resultam repetência, evasão e fracasso(...) a escola noturna é marginalizada, a freqüência das aulas é prejudicada pela falta de professores, os serviços de apoio pedagógico são inexistentes, o relacionamento com o corpo administrativo não é cordial. As experiências de cursos e exames supletivos reforçam esta marginalidade da Educação de Jovens e Adultos segundo os autores das pesquisas (HADDAD, 2000, p.46-47).

54 Conforme os já citados “Códigos Culturais” referidos pelo documento CEPAL/UNESCO (1995).

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A segunda função atribuída à Educação de Jovens e Adultos se denomina

função equalizadora. Essa função teria, por objetivo, favorecer todos aqueles que

por qualquer motivo tiveram interrompida, sua trajetória educacional, através de

políticas que garantissem o retorno e permanência em um “universo escolar que lhes

seja próprio” (RUMMERT, 2002, p. 122).

Apresentada pelo Parecer como possibilidade para igualdade de

oportunidades, a função equalizadora está interligada e propicia a continuidade da

primeira função (reparadora), pois a partir do direito à reparação de uma dívida tão

discriminatória quanto é a exclusão aos mecanismos da leitura e escrita, a questão

da eqüidade se faz primordial. Eqüidade essa que significa, nas palavras do relator

do Parecer: “...a forma pela qual se distribuem os bens sociais de modo a garantir

uma redistribuição e alocação em vista de mais igualdade, considerada as situações

específicas.”(BRASIL, 2000, p. 6)

A função equalizadora tem a finalidade de propiciar a distribuição dos

componentes curriculares num patamar igualitário de formação, restabelecendo a

igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação, reconhecendo e

respeitando a diferença e alteridade própria dos Jovens e Adultos em seu processo

de formação, valorizando, dessa forma, o desenvolvimento e o mérito desses

indivíduos.

Tal função parte do princípio da discriminação positiva, ou seja, dar maiores

oportunidades aos que precisam mais. Segundo CHILANTE (2005, p. 130), esta

ampliação de oportunidades aos que “mais” necessitam, coaduna-se muito bem com

a política de focalização tão comum nos anos 90, cujo fundamento é de não mais

criar direitos universais, apenas realizar o atendimento seletivo aos “mais

necessitados”.

Segundo o texto do Parecer, essa “igualdade” de oportunidades se daria a

partir da abertura de mais vagas para estes “novos alunos”, favorecendo assim seu

reingresso ao espaço escolar.

Mas apenas a abertura de novas vagas não seria o bastante para que a

reparação ocorresse de maneira satisfatória, mais que vagas é necessário ter-se um

modelo pedagógico próprio a fim de atender às especificidades desse público: (...) são adultos ou jovens adultos, via de regra mais pobres e com vida escolar mais acidentada. Estudantes que aspiram a trabalhar, trabalhadores que precisam estudar, a clientela do ensino médio tende a tornar-se mais heterogênea, tanto etária quanto

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socioeconomicamente, pela incorporação crescente de jovens e adultos originários de grupos sociais, até o presente, sub-representados nessa etapa da escolaridade (Parecer CEB/CNE nº15/98 apud Parecer nº11/2000, p. 6). Refletindo ainda sobre o termo “eqüidade”, que por vezes no texto do Parecer

surge como sinônimo de “igualdade”, consideramos exatamente o oposto, ou seja,

os conceitos de eqüidade e igualdade representam, segundo LIMA FILHO (2003)

“lógicas opostas”, que se caracterizam pelo antagonismo.

Segundo GENTILI (1996, p. 43) apud LIMA FILHO (2002, p. 96), no ideário

neoliberal que ocupa os discursos dos políticos, e nos documentos de organizações

internacionais, o conceito de eqüidade articula-se ao conceito de justiça, pela qual as

diferenças individuais e por que não dizer naturais devem ser respeitadas, e um

sistema social “justo” poderia, inclusive, promover as diferenças naturais existentes

entre as pessoas, garantindo assim uma suposta igualdade.

Para CHILANTE (2005, p. 132), a ressignificação, por parte das políticas

sociais dos Estados neoliberais, do conceito de igualdade pelo de eqüidade nos

documentos oficiais, tornando-os equivalentes, “pressupõe uma ordem social onde o

fundamento é a diferença, a desigualdade, principio básico do liberalismo”. Em uma

perspectiva semelhante, LIMA FILHO (2002) considera que: “... as políticas sociais

dos Estados neoliberais substituem a universalização do direito, ou seja, a igualdade

pela eqüidade e isso significa nada mais que a capitulação ante o status quo”. Ainda

segundo LIMA FILHO (2002), a política de eqüidade mostra claramente seu caráter

ideológico, pois, “uma política que se limita a proporcionar uma igualdade formal de

oportunidades, renuncia deliberadamente combater, de maneira ativa, a

desigualdade real” (CHOMSKY apud LIMA FILHO, 2002, p. 96).

O texto do Parecer, seguindo o contexto neoliberal em que foi produzido,

reforça a urgência da eqüidade para a Educação de Jovens e Adultos a fim de que

estes possam ser efetivamente inseridos no mercado de trabalho: “... num mercado

de trabalho aonde a exigência do ensino médio vai se impondo, a necessidade do

ensino fundamental é uma verdadeira corrida contra o tempo de exclusão não mais

tolerável” (BRASIL, 2000, p. 5).

Com base nesse texto, volta-se para a primeira função declarada pela EJA,

que objetiva a inclusão social, pela qual o indivíduo só estaria completo e realmente

pertencendo à sociedade se estiver inserido no mundo do trabalho.

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A terceira, e o que dá realmente sentido à Educação de Jovens e Adultos, é

sua função qualificadora, podendo também ser chamada de permanente. Essa

função não se identifica com a qualificação profissional (nível técnico), mas não é

oposta a ela, pois, dentro do potencial humano, o poder de se qualificar e requalificar

faz parte de sua base.

Essa função qualificadora indica que, em qualquer idade e época da vida, o

Ser humano tem possibilidade de se desenvolver, formar e construir competências,

conhecimentos, valores e habilidades que ultrapassem os espaços formais da

escolaridade conduzindo a própria realização e o reconhecimento do outro.

O texto coloca também muitas palavras e frases “de efeito”, como: “século do

conhecimento”, “competências indispensáveis”, “saberes diversificados”, entre

outras, que reforçam a urgência do aprendizado básico da leitura e escrita para que

esses jovens e adultos iniciem seu caminho em rumo à efetiva cidadania, e

igualdade que tanto necessitam.

Na seqüência comentaremos as recomendações que o Parecer expõe sobre

a organização dos cursos, exames, corpo docente, iniciativas públicas e privadas,

além dos indicadores estatísticos da modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

3.3.3.3 Cursos da Educação de Jovens e Adultos

Os programas, cursos e exames da educação de jovens e adultos constam na

Lei de Diretrizes e Bases como obrigatórios nas entidades dos poderes públicos, e

constituem sua organização estrutura e duração, respeitadas as orientações das

Diretrizes Nacionais, como parte integrante da autonomia dos estados (Parecer

CEB/CNE n. 5/97).

A normatização em termos de organização e estrutura dos cursos pertence à

autonomia dos sistemas estaduais e municipais, cabendo a estes sistemas

autorizarem, quando necessário e previamente verificado, a criação de novos cursos

e credenciamento dos locais onde estes acontecerão.

Toda a documentação legal deverá ser exigida quando da primeira

autorização dos cursos, tais como, objetivos, identificação institucional, estrutura

curricular, carga horária, processo de avaliação, que aparecerão no regimento

escolar, e projeto pedagógico, dando ênfase ao caráter específico desta

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modalidade de ensino. Mas fica a dúvida: quando os cursos já estão legalizados, as

futuras modificações não necessitam de uma documentação tão rígida? E que

acompanhamento é feito na prática?

No texto do Parecer é reforçada novamente a importância primordial que as

Diretrizes Curriculares Nacionais da EJA têm para a criação de novos cursos, pois a

utilização dessas diretrizes garante uma base comum nacional, e serve de referência

às exigências dos exames e certificados de conclusão.

Quanto à relação entre Ensino Médio e Ensino Fundamental, o Parecer é

bastante específico no que diz respeito à flexibilidade para se avaliar a mudança de

um nível para outro. Coloca a importância da verificação da capacitação do

estudante, por meio de testes, documentos e aferições em espaços escolares, de

acordo com as regras comuns e legais. Apesar de alertar a necessidade de um

ensino fundamental que ocorra dos sete aos quatorze anos, como um direito

institucional, percebe que existem especificidades nesta modalidade de ensino que

necessitam avaliações mais específicas e flexíveis.

No entanto, talvez por ser de autonomia dos Estados e Municípios a

organização e estrutura dos cursos da EJA, não ficam muito especificados quais ou

que tipo de parâmetros se utilizam para avaliar os conhecimentos destes jovens e

adultos, a fim de que eles passem de uma etapa para outra (do ensino fundamental

para o ensino médio). O que é mencionado no Parecer, sobre a progressiva

passagem de uma etapa à outra, é o esforço para que estes jovens e adultos

consigam chegar a um patamar de igualdade com os alunos que estão na correta

relação idade/nível escolar. Isso não quer dizer, como o próprio texto coloca, um

“aligeiramento” de etapas, mas sim, como o próprio artigo 24 da LDB explicita no seu

inciso V, letras b e c que se refere à verificação do rendimento escolar: “‘b)... a

possibilidade de estudos para alunos com atraso escolar;... ‘c)... a possibilidade de

avanço nos cursos e nas séries mediante verificação de aprendizado.”

O texto é bastante cuidadoso no que se refere à questão de não tratar a

Educação de Jovens e Adultos meramente como um aproveitamento de estudos,

experiências e práticas como fonte de conhecimentos, ou apenas uma forma de

certificação sem as devidas considerações sobre a real base de conhecimentos

desse aluno. Coloca sim a necessidade de se harmonizar os conhecimentos

adquiridos e obtidos no decorrer da vida deste estudante, com a experiência

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curricular legal, de acordo com o que aparece no próprio art. 24 inciso III, no texto do

Parecer: (...) nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a seqüência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino(LDB apud BRASIL, 2000, p. 21). Em todo o decorrer do texto é salientada a necessidade de que sejam

aproveitados os saberes e conhecimentos adquiridos no decorrer da vida destes

alunos, tanto no que diz respeito à vida escolar passada, e talvez até mais, os

conhecimentos que construíram em sua vida produtiva e profissional. Como está

redigido no seguinte trecho: (...) a EJA é o momento significativo de reconstruir estas experiências da vida ativa e ressignificar conhecimentos de etapas anteriores da escolarização articulando-os com os saberes escolares.A validação do que se aprendeu “fora” dos bancos escolares é uma das características da flexibilidade responsável que pode aproveitar estes “saberes” nascidos destes “fazeres”(BRASIL, 2000, p. 21). Pensando na articulação entre experiência de vida e saber formal, o Parecer

explana, com bastante ênfase, a necessidade de que os espaços onde a EJA

acontece proporcionem a construção, através de suas atividades, de uma identidade

própria, valorizando a própria cultura discente, incentivando e considerando as

potencialidades diversas de seus alunos.

3.3.3.4 Os Exames

Os exames da Educação de Jovens e Adultos devem se guiar de acordo com

o art. 9º, VI da LDB, que diz: A União incumbir-se-á:...VI – assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino; Essa colaboração se verifica através das instituições oficiais e particulares,

especificamente credenciadas e avaliadas para o oferecimento de cursos de EJA.

Busca-se garantir que elas possam realizar exames adequados, de qualidade e com

o devido rigor da lei, dirigidos aos alunos que desejem progredir de um nível a outro

no processo educacional, ou que estão em fase de término de cada etapa de ensino

(ensino fundamental ou ensino médio).

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Cabe aos sistemas de ensino estadual e municipal criarem e realizarem esses

exames supletivos, respeitando a idade mínima estabelecida para a EJA para o

término de cada etapa do ensino formal: para o ensino fundamental é necessário

que o aluno tenha a idade mínima de quinze anos completos; para iniciar no ensino

médio é preciso que o jovem não tenha menos de dezessete anos completos e

apenas com dezoito anos completos poderá ser incluído em exames. (BRASIL,

2000, p. 24)

O Parecer reforça o cuidado de que não se encare ou utilize as Diretrizes da

Educação de Jovens e Adultos para justificar ou servir de “álibi” a uma

desobrigatoriedade escolar de oito anos e com isso aligeirar fases de ensino e

facilitar o término da educação escolar regular, propiciando um ensino inadequado

ou insuficiente para esses jovens.

3.3.3.5 Sobre iniciativas Públicas e Privadas

O Parecer expõe o quanto o campo da Educação de Jovens e Adultos é

amplo, complexo e heterogêneo, e que diversas agências, tanto públicas quanto

privadas, com diferentes modalidades de estrutura para atender a estes jovens e

adultos, funcionam por todo o país.

Essa variedade de opções tem sua base no próprio público que freqüenta

esse tipo de ensino, e não poderia ser diferente, pois os alunos que compõem a EJA

são pessoas de diversas idades e experiências de vida, que construíram sua história

de vida percorrendo variados caminhos e possuem interesses bastante distintos

entre si.

É posto que a União tem atuação continuada ao longo de anos, de alguma

maneira, no âmbito da educação de jovens e adultos sob forma de assistência

técnica e financeira. No entanto, na atual legislação, ressalta-se a presença da

União principalmente na articulação entre os diferentes entes federativos, e como

aparece no próprio texto do Parecer: “... amparado pelos ditames contitucionais e

infra-constitucionais, a União, ao deixar de atuar diretamente nessa área, reserva

aos Estados e Municípios a ação direta de atuação”(BRASIL, 2000, p. 32).

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Pode-se inferir que, se isso por um lado é bastante positivo, pois cada

sistema de ensino tem autonomia para criar e administrar cursos conforme às

especificidades próprias de cada localidade respeitando às diferenças regionais, por

outro lado, isenta a União de um papel mais efetivo no que diz respeito à qualidade

do que está acontecendo. É preciso que o papel articulador da União seja muito

presente e concreto para que não se recaia em erros ocorridos no passado, como

por exemplo, a política de alfabetização em massa, na década de 1970, quando

ocorreu a concentração de todas as políticas referentes ao ensino de adultos no

Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que segundo CASÉRIO (2003),

depois de quinze anos de funcionamento, encerrou suas atividades sem ter

cumprido a finalidade pela qual foi fundado, ou seja, erradicar o analfabetismo no

Brasil. Isto ocorreu devido a diversos fatores, mas segundo (PAIVA,1983),

principalmente pela diversificação de suas atividades e conseqüentemente a

dispersão por parte da União em atender efetivamente o objetivo central do

Movimento.

Uma diretriz importante, assumida pelo Parecer, diz respeito ao compromisso

de articulação entre as diversas esferas da sociedade para que realmente se efetive

a Educação de Jovens e Adultos como um direito público e subjetivo, é a seguinte: (...) a EJA deve ser um compromisso de institucionalização como política pública própria de uma modalidade dos ensinos fundamental e médio e conseqüente ao direito público subjetivo.E é muito importante que esta política seja articulada entre todas as esferas de governo e com a sociedade civil a fim de que a EJA seja assumida, nas suas três funções, como obrigação peremptória, regular, contínua e articulada aos sistemas de ensino dos Municípios, envolvendo os Estados e a União sob a égide da colaboração recíproca (BRASIL, 2000, p. 32). A necessidade de colaboração recíproca mediante políticas integradas entre

os diversos setores da sociedade é uma constante em todo o texto do Parecer. Nele

é citado que não só o envolvimento de órgãos oficiais responsáveis pela educação,

mas iniciativas de instituições privadas e do empresariado devem ser bastante

consideradas e valorizadas, fortalecendo parcerias já existentes e ao mesmo tempo

buscando novas ações integradas, que visem o desenvolvimento humano e

profissional desses estudantes.

É importante também salientar que as funções de reparação e de equalização

da Educação de Jovens e Adultos, de acordo com o texto, não deverão ser

encaradas como finalidade da EJA, são pelo contrário condicionantes para que a

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função primordial seja realmente efetivada, que é a função qualificadora. É essa a

função, segundo o Parecer, que deve nortear o futuro da Educação de Jovens e

Adultos.

3.3.3.6 Sobre indicadores estatísticos da situação da Educação de Jovens e

Adultos

Apesar do Parecer colocar alguns indicadores que se encontram

ultrapassados, pois se referem a dados obtidos do INEP e IBGE de 1996,

interessantes são as referências ao decrescente número de analfabetos entre a

população de 15 anos ou mais, e em contrapartida o grande número quase que

estacionário de pessoas analfabetas com idade mais avançada.

Pode-se inferir a partir desse fato que, pela obrigatoriedade e maior oferta de

vagas, além de um trabalho mais efetivo de políticas públicas referentes ao ensino

fundamental na idade de 7 a 14 anos, o número de jovens analfabetos

sistematicamente teve uma significativa redução, porém, como o próprio Parecer

expõe, os anos de estudo que representam a alfabetização funcional55(quatro anos)

e outros itens que validam se uma pessoa é alfabetizada funcionalmente,

demonstram que o número de analfabetos funcionais é muito maior em nosso país.

Seguindo recomendações da UNESCO, a partir da década de 1990, o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou também a divulgar

índices de analfabetismo funcional, utilizando por base o número de séries escolares

concluídas. Segundo o Censo Demográfico de 2000, cerca de 33 milhões de

brasileiros, com 15 anos ou mais (27,3% desse grupo), eram analfabetos funcionais.

Desde 2001, também a organização não-governamental Ação Educativa, vem

realizando pesquisas para medir o analfabetismo funcional utilizando outros critérios

além da escolaridade56, obtendo, dessa maneira, dados mais específicos e

detalhados da situação da alfabetização na população. 55 O termo alfabetismo funcional vem sofrendo revisões constantes ao longo do tempo, refletindo segundo DI PIERRO (2003) as mudanças socioculturais que vêm acontecendo no mundo. Atualmente considera-se que a alfabetização funcional pela capacidade da pessoa “utilizar a leitura, a escrita e o cálculo para fazer frente as demandas de seu contexto social e usar essas habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida”(DI PIERRO, 2003, p. 8) 56Segundo DI PIERRO (2003), a pesquisa anual feita através da parceria entre a organização não governamental Ação Educativa e o instituto Paulo Montenegro, leva em conta além da escolaridade

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Esses indicadores vêm colaborando para que se possa compreender mais

aprofundadamente o analfabetismo funcional, e a partir destas informações realizar

ações mais efetivas para avaliar os programas de educação e contribuir para a

melhoria do ensino.

3.3.3.7 Formação Docente para a Educação de Jovens e Adultos

No que diz respeito à formação do docente que trabalha com a Educação de

Jovens e Adultos, o Parecer é bastante claro e incisivo na necessidade de um

preparo especial para esse profissional. Não basta apenas a formação básica que o

professor de ensino fundamental recebe durante o curso de magistério e/ou do curso

superior de pedagogia ou com licenciatura. É preciso que este profissional, além de

receber uma formação pedagógica característica geral de formação docente, esteja

apto à complexidade dessa modalidade de ensino.

Como o próprio Parecer explica: (...) Assim esse profissional do magistério deve estar preparado para interagir empaticamente com esta parcela de estudantes e de estabelecer o exercício do diálogo. Jamais um professor aligeirado ou motivado apenas pela boa vontade ou por um voluntariado idealista e sim um docente que se nutra do geral e também das especificidades que a habilitação como formação sistemática requer (BRASIL, 2000, p. 34).

Diálogo e interação são as ações-chave entre os partícipes (professor e

aluno) dessa modalidade de ensino, pois a maioria destes adultos e jovens retornam

às salas de aula com motivações e necessidades bastante significativas quanto ao

que diz respeito à vida social e produtiva. Muitos, inclusive, possuem idades

semelhantes e por vezes superiores às de seus professores.

O professor, em resposta a tudo isso, deve considerar todas essas

especificidades e a pluralidade de conhecimentos e informações que serão trocadas

durante as aulas. É direito do docente, e cabe à instituição pública ou privada o

mínima (quatro anos), as habilidades demonstradas na utilização da leitura, da escrita e das funções matemáticas. Os resultados e dados referentes aos anos de 2001, 2002 e 2003. estão disponíveis no site: www. acaoeducativa.org.br, acessado em: 13/08/2004.

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dever, de acordo com a Lei57, prover necessária capacitação profissional e

aperfeiçoamento continuado, a fim de que o docente possa atender de forma mais

satisfatória possível a seus alunos.

A Educação de Jovens e Adultos deve ter projetos pedagógicos próprios que

considerem as características e reais expectativas desse público tão heterogêneo e

plural não devendo, para tanto, “transportar” as técnicas e modelos pedagógicos do

ensino fundamental, adequados às crianças que se encontram na relação

idade/série deste nível escolar. Como o próprio Parecer orienta: “...não se pode

“infantilizar” a EJA no que se refere a métodos, conteúdos e processos”(BRASIL,

2000, p. 35). E ainda, para reforçar essa posição de diferenciar e dar um caráter

próprio a EJA, cita-se o art. 5, no seu inciso 2º: Os conteúdos destinados(...)aos anos iniciais do ensino fundamental serão tratados em níveis de abrangência e complexidade necessários à (re)significação de conhecimentos e valores,nas situações em que são (des)construídos/(re)construídos por crianças, jovens e adultos (BRASIL, 2000, p. 37)

Um alerta muito interessante que aparece no texto, diz respeito à abrangência

da necessidade de se qualificar o professor de maneira diferenciada no que se

refere à Educação de Jovens e Adultos, não só nos dois segmentos do ensino

fundamental, mas também através da consideração ao diferencial próprio do Ensino

Médio. Ou seja, apesar do Parecer ser bastante direcionado ao nível fundamental e

de alfabetização, posto que reiteradamente o texto ressalta as funções de reparação

e equalização de um direito negado, que é a aprendizagem básica da leitura e

escrita, a fim de que a primordial função da EJA seja realmente posta em prática

(função qualificadora), o Ensino Médio fica considerado talvez como uma

continuidade do trabalho de reparação e equalização dos níveis de ensino desses

jovens e adultos. Pode-se inferir que a função qualificadora da EJA encontre seu

verdadeiro espaço a partir do Ensino Médio, por ser esse o nível em que se

completa a educação básica, compreendida aqui como base educacional mínima

necessária para assegurar pleno desenvolvimento da cidadania e da

profissionalização.

Pode-se também analisar, de forma bastante positiva, a questão referente à

associação da pesquisa como modo de enriquecer os conhecimentos e estimular os

57 De acordo com o que está disposto no art.67, II que contempla o aperfeiçoamento profissional continuado dos docentes e quando e onde couber, o disposto na Res.CNE/CEB 03/97.

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futuros docentes a um ato educativo muito mais rico. O Parecer incita as instituições

formadoras de professores, principalmente as universidades, a estimular

efetivamente a pesquisa como forma de diagnosticar e conhecer realmente a

situação destes jovens e adultos, quase sempre marginalizados e esquecidos.

Dessa forma, busca-se: Uma metodologia que se baseie na e se exerça pela investigação só pode auxiliar na formação teórico-prática dos professores em vista de um ensino mais rico e empático. Além disso, o docente introduzido na pesquisa, em suas dimensões quantitativas e qualitativas, poderá, no exercício de sua função, traduzir a riqueza cultural dos seus discentes em enriquecimento dos componentes curriculares.(BRASIL, 2000, p. 36)

Para isso realmente acontecer é necessário, e o próprio Parecer alerta, que

haja uma ação integrada e espaço próprio para EJA dentro dos sistemas

educacionais, universidades e outras instituições formadoras de educadores.

O que se questiona é, se realmente existem esses espaços, ou colocando de

outra maneira, se há um verdadeiro desejo para a existência desses espaços e de

ações integradoras nas diversas entidades responsáveis pela formação de

professores?

Finalizando o relato sobre a estrutura do Parecer CEB/CNE n. 11/2000,

observa-se uma contradição no que diz respeito à questão curricular, que ocorre nas

orientações para a EJA. Essa contradição é evidenciada no momento que o relator

aponta como perigosa a elaboração de diretrizes curriculares específicas para a

Educação de Jovens e Adultos, pois, segundo ele, pode-se configurar em uma nova

dualidade. Considera que seguir os referenciais curriculares para o Ensino Médio e

Ensino Fundamental, não significa uma “reprodução descontextualizada face ao

caráter específico da EJA” (BRASIL, 2000, p. 36), e que os princípios do

reconhecimento de identidades pessoais, contextualização, e das diversidades

coletivas constituem-se em diretrizes nacionais dos conteúdos curriculares a serem

utilizados. Segundo CHILANTE (2005) o Parecer desconsidera: toda a situação precária do atendimento a essa modalidade da educação, devida principalmente à impossibilidade de usar recursos como os do Fundef, ou ainda, `a inexistência no Brasil de cursos de professores especificamente para a EJA, remetendo às escolas e aos professores a tarefa de ressituar os componentes curriculares do ensino fundamental e médio para jovens e adultos (CHILANTE, 2005, p. 43). Concluindo, neste capítulo pretendíamos apresentar as atuais Políticas

Públicas referentes ao Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos, levantando

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algumas considerações à cerca da relação com a realidade social e produtiva que se

apresenta no contexto brasileiro.

No próximo capítulo trataremos especificamente do Município no qual se

insere nosso objeto de estudo, fazendo uma breve descrição das características

populacionais e físicas do Município de Pinhais, bem como do atual Centro Estadual

de Educação Básica para Jovens e Adultos, CEEBJA-Pinhais.

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4 O MUNICÍPIO DE PINHAIS: HISTÓRIA, EMANCIPAÇÃO E AS POLÍTICAS

PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Neste capítulo faremos uma pequena apresentação do município onde foi

realizada esta pesquisa, comentando brevemente aspectos políticos, econômicos e

sociais de sua história.

Trataremos, também, da organização e funcionamento do Centro de

Educação Básica para Jovens e Adultos e a relação desse Programa com outras

Políticas Públicas referentes à EJA dentro da Secretaria de Educação do Estado do

Paraná. Também será melhor caracterizado o CEEBJA – Pinhais, sua

regulamentação, aspectos físicos, clientela, e especificidades dentro do Município de

Pinhais, a fim de que possamos contextualizar, da maneira mais abrangente

possível, nosso objeto de estudo.

4.1 O MUNICÍPIO DE PINHAIS: CARACTERÍSTICAS HISTÓRICAS, FÍSICAS E

POPULACIONAIS

4.1.1 Histórico

O Município de Pinhais está situado na região metropolitana de Curitiba e

conta com uma população de 102.985 habitantes (Censo de 2000), de acordo com

dados retirados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2004.

Pinhais, enquanto município, possui uma história bastante curta, tendo se

emancipado do Município de Piraquara somente em 1992, porém a ocupação de seu

território foi se constituindo há vários séculos. Não é caráter deste estudo aprofundar

estudos em todos os momentos da formação sócio – econômica, cultural e política

de Pinhais, mas mostrar de maneira breve quais períodos foram de maior

significação para a configuração da cidade atual58.

A região entre os rios Palmital e o Itatiba (Atuba) que hoje compreende

Pinhais e parte do Município de Colombo, foi concedida para fins de colonização no

58 As informações históricas, bem como os dados referentes a composição do povoamento do município de Pinhais baseiam-se no texto de : XAVIER, Aarão P. Nos Trilhos do Tempo – História e Memória de Pinhais. Pinhais: Prefeitura Municipal de Pinhais, 2000. 176 p.

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século XVII ao Capitão Manoel Picam de Carvalho59, genro do então Capitão

povoador de Curitiba, Mateus Leme, fazendo parte do processo de povoação do

Primeiro Planalto. O período de extração de ouro, que teve curta duração, com a

simultânea descoberta do ouro nas Minas Gerais (início do século XVIII), ocasionou

um considerável movimento migratório do Planalto Curitibano para a região sudeste

do país, acarretando um período de estagnação na região dos Campos de Curitiba.

No século XVIII, com a criação de gado em escala comercial, principalmente

no Rio Grande do Sul, e sendo os Campos de Curitiba um entreposto do comércio

no caminho das tropas que vinham do sul, desenvolvia-se também economicamente

na região do Planalto Curitibano o cultivo da erva-mate, que era exportada via porto

de Paranaguá. Tanto o comércio de gado quanto a exportação da erva-mate eram

feitas por muares através de trilhas abertas em meio à mata. Os caminhos que

ligavam o litoral ao Planalto de Curitiba denominavam-se Itupava, da Graciosa e

Arraial Grande. O caminho da Graciosa, que posteriormente serviu de base para a

abertura da Estrada da Graciosa, e juntamente com o Itupava que começava seu

trajeto onde atualmente fica o Circulo Militar de Curitiba e se estendia no sentido

leste, passando pelos rios Belém, Juvevê, Bacacheri, Atuba, Palmital e Canguiri,

passava pela região onde hoje se situa Pinhais.

Mesmo tendo um razoável crescimento na região nesse período, é a partir da

modernização do transporte, na segunda metade do século XIX, quando em 1880

iniciou-se a construção de uma ferrovia ligando o litoral paranaense à região do

planalto curitibano, que se configurou uma grande dinamização dos Campos de

Curitiba e, conseqüentemente, é nesse momento que a região de Pinhais começa a

formar um núcleo populacional nos arredores de estação de São José dos Pinhais

(1885) e da Cerâmica (1898).

A ocupação territorial de Pinhais, em sua história recente, tem suas raízes

ligadas intimamente à construção da Ferrovia Paranaguá-Curitiba, inaugurada em

1885, e a implementação de uma indústria de cerâmica que, a partir da primeira

década do século XX, tornou-se uma das mais produtivas e dinâmicas do Paraná.

Junto à inauguração da Estrada de Ferro foram construídas as casas dos

funcionários responsáveis pela manutenção da ferrovia, iniciando um esboço de

59 LEÃO,Ermelino de. Diccionário Histórico Geográfico e Etnográfico do Paraná. Curitiba: Vol. IV,1994

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pequeno povoado. A região, como muitas do Paraná, constituía-se de grande

número de fazendas com uma esparsa população ocupada na produção agrícola de

subsistência. É também o período das primeiras imigrações de europeus, fundando

suas respectivas colônias. Nessa região estabeleceram-se muitos imigrantes

alemães, poloneses e italianos, sendo que estes últimos fundaram uma colônia

bastante conhecida na região denominada Novo Tirol. A maioria deles ocupava-se

com o cultivo da terra e manufaturas de cunho artesanal e de pouca expressão para

fora das suas colônias.

A abertura da Estrada de Ferro ligando o Planalto Curitibano ao litoral

significou um avanço de grande importância para a economia do Paraná,

fomentando o surgimento de novos empreendimentos econômicos. É nesse

momento que em 1898 começa a ser construída a cerâmica da família Torres,

instalada na região bem próxima à linha férrea.

A indústria de cerâmica, que num primeiro momento pertencia à família

Torres e atendia quase que de forma artesanal às necessidades dos municípios dos

arredores da região de Curitiba, sofreu uma forte modificação quando foi comprada

por Guilherme Weiss, que iniciou um processo de grande dinamização, importando

novos maquinários, ampliando a capacidade de produção e, conseqüentemente,

com a modernização dos equipamentos, necessitou de mão de obra especializada.

Com isso, mais migrantes que já exerciam atividades em olarias conhecidas nas

regiões, como Hauer e São José, instalaram-se na área próxima à Cerâmica, que

era dotada de infra-estrutura como armazém e residências construídas para os

trabalhadores da fábrica.

Com isso o núcleo produtivo-populacional foi se ampliando e adquirindo

proporções de vila, até meados de 1960, quando o então diretor da Cerâmica,

Humberto Scarpa (genro de Guilherme Weiss) desativou os trabalhos da fábrica e

iniciou o processo de loteamento das terras, originando vários bairros que hoje

compõem o município de Pinhais.

É também na década de 1960 que Pinhais torna-se um Distrito de Piraquara,

iniciando a implantação de uma infra-estrutura básica para atender à crescente

população de muitos migrantes que se sentiam atraídos pela região devido à

proximidade com a capital (Curitiba) e pelos baixos custos das terras. A partir de

então, Pinhais começa a configurar-se estruturalmente como cidade.

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4.1.2 Evolução Política de Pinhais

Pinhais, como todas as demais regiões metropolitanas de Curitiba, até fins do

século XIX, pertencia ao território de Curitiba. No ano de 1890 uma parte desse

território foi desmembrada, passando a constituir o município de Colombo. Sendo

assim, Pinhais passou a pertencer administrativa e politicamente a este novo

município.

Na década de 1930, com o sistema de interventorias nos estados brasileiros,

o então Interventor do Paraná, Manoel Ribas, promoveu modificações político-

administrativas, inclusive na delimitação geográfica de vários municípios do Estado.

O município de Colombo foi extinto (seu território foi reanexado posteriormente a

Curitiba, sendo recriado mais tarde), passando o território de Pinhais a pertencer ao

município de Piraquara, recém criado após se desmembrar de São José dos

Pinhais.

A partir do crescimento populacional da região de Pinhais, na década de

1960, a comunidade reivindicou a instalação de serviços públicos locais, e

paralelamente, começaram a ingressar representantes pinhaenses na ordem política

de Piraquara. Devido a isso, em 21 de novembro de 1964, Pinhais torna-se um

Distrito, pertencente ainda a Piraquara.

Nos anos 1970 e 1980 o município recebeu um enorme contingente

populacional, acarretando aumento de demandas em vários setores. A necessidade

de implantação de uma infra-estrutura mais abrangente, exigiu a organização e o

gerenciamento de um poder público local.

Dessa maneira, em 1991 foi realizado um plebiscito para verificar o interesse

da população pela implantação de um poder legislativo e executivo local. Essa

consulta resultou num alto índice de aprovação da emancipação política, perfazendo

um total de 87% de aprovação. Com isso, em 20 de março de 1992, foi instalado

oficialmente o município de Pinhais.

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4.1.3 Pinhais Hoje

Pinhais possui hoje, de acordo com os dados obtidos pelo Censo de 2000,

cerca de 102.985 habitantes, sendo que deste número, aproximadamente 100.726

habitantes estão fixados na área urbana e 2.259 habitantes na área rural. Dos

102.985 habitantes, 42.218 são mulheres acima de 10 anos e 40.525 são homens

com 10 anos ou mais de idade, perfazendo o total de 82.793 habitantes. É o terceiro

município mais populoso da região metropolitana de Curitiba, ficando atrás apenas

de São José dos Pinhais com 204.316 habitantes e Colombo com 183.329

habitantes, municípios com histórico de emancipação muito mais antigo.

Pinhais, tem sua economia impulsionada basicamente em atividades de:

Serviços (principalmente na área gráfica e construção civil), Comércio e Indústria.

Com pólos comercial e industrial bem definidos, Pinhais conta com 520 indústrias no

Setor Secundário, 1114 estabelecimentos comerciais e cerca de 222

estabelecimentos de prestação de serviços, entre os quais podemos destacar:

atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas, além de

empresas de serviços coletivos, sociais e pessoais60. O tipo de indústria dominante é

referente à transformação de produtos de matéria plástica, mecânica e metalurgia.

A renda média da população residente é de 597,10 reais, sendo que o

rendimento nominal de homens com 10 anos ou mais de idade é na média mensal

de 716,56 reais, enquanto que o rendimento médio das mulheres na mesma faixa

etária chega apenas ao valor de 436,63 reais, o que reforça a hipótese de distinção

salarial por gênero61, tão recorrente no país.

Na área de Assistência à Saúde, de acordo com dados cedidos pela

Secretaria Municipal da Saúde de Pinhais (novembro de 2004), o município conta

com nove (9) unidades de saúde de responsabilidade da Secretaria, e no total vinte

(20) estabelecimentos de saúde, dos quais dezessete (17) são prestadores de

serviços ao Sistema Único de Saúde – SUS. Dentro da Secretaria Municipal de

Saúde de Pinhais, através da Divisão de Educação e Orientação à Saúde, são

coordenados alguns programas referentes ao desenvolvimento de ações educativas, 60Dados obtidos em Censo 2000. disponível em: www.ibge.br

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preventivas e de assistência à população, tais como: Sistema integrado de Saúde

(SIS) Pré-Natal (referente à saúde da gestante e recém-nascidos); Planejamento

Familiar; Hipertensão e Diabetes; Preventivo ginecológico e Teste do Pezinho.

No que diz respeito à habitação, Pinhais contava, em 2001, com 28.584

domicílios particulares permanentes, e com cerca de 30.425 famílias residentes

nesses domicílios, perfazendo a média de 3,6 pessoas residentes por domicílio

(IBGE, 2004). Destes 28.584 domicílios, 27.999 estão ligados ao abastecimento de

água (rede geral), mas apenas 14.842 domicílios possuem ligação com o sistema de

esgoto.

Quanto ao transporte viário, Pinhais, até 2003, possuía 29.189 veículos

registrados, sendo 68,9% automóveis (20.120), e uma frota de 195 ônibus que

atendem a população dos bairros do município e regiões. É interessante citar o

considerável número de ciclomotores, motocicletas e motonetas pertencentes à frota

do município de Pinhais, ao todo chegam a 12,7% do total de veículos.

Quanto à educação, Pinhais possui um número grande de escolas de nível

fundamental (21 escolas), administradas pela Prefeitura com 8.278 crianças

matriculadas na faixa etária de 7 a 14 anos, cinco escolas estaduais (5ª à 8ª séries)

com 8.103 jovens matriculados e 8 escolas estaduais responsáveis pelo Ensino

Médio regular, com cerca de 5.144 matrículas. O Ensino Supletivo acontece apenas

nas escolas estaduais, com aproximadamente 660 matriculados no Ensino

Fundamental e 311 no Ensino Médio. Este Ensino Supletivo faz parte da Educação

de Jovens e Adultos, pertencendo a modalidade de Ensino Presencial e

Semipresencial.

Pinhais, de acordo com dados do último Censo (2000), possui taxa de

alfabetização da população acima de 10 anos de idade de 94,7%, ou seja, dos

82.793 habitantes nessa faixa etária, 78.434 são alfabetizados. Não é um número

excepcional, mas está à frente de alguns municípios do próprio Estado do Paraná,

como Guarapuava, Londrina, Foz do Iguaçu, entre outros, que possuem grandes

populações e, do ponto de vista econômico, possuem maior destaque. Pode-se

considerar que, pelo compromisso do grupo responsável pela área da Educação, e

talvez porque desde a criação do município até a atual gestão, não tenha sido

61 Para aprofundamentos sobre a questão ver: BRUSCHINI, Cristina. “Gênero e Trabalho no Brasil: novas conquistas ou persistência da discriminação?”(Brasil, 1985/95).

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substituída a pessoa responsável pelo gabinete da Secretaria de Educação, o perfil

de comprometimento e de posicionamento quanto à educação básica regular não

tenha sofrido rupturas ou modificações bruscas no seu processo.

Quanto à educação destinada aos Jovens e Adultos de 5ª à 8ª séries e

Ensino Médio, que compete ao Estado atender, algumas modificações ocorreram no

seu processo desde que foi implantada no município. Essas modificações serão

mais bem explanadas no próximo tópico que trata do Centro Estadual de Educação

Básica para Jovens e Adultos CEEBJA – Pinhais.

Pinhais, como muitas regiões da área metropolitana de Curitiba, está cada

vez mais expandindo seu volume populacional devido à necessidade de muitas

pessoas vindas de outros municípios e da própria capital se fixarem na região que é

muito próxima de Curitiba e de fácil acesso, diferente de alguns bairros curitibanos

que são bem mais distantes do Centro. Mas isso não quer dizer que o município

aumentou proporcionalmente sua infra-estrutura para atender a essa demanda, pelo

contrário, o que se observa através dos dados estatísticos sobre saneamento

básico, saúde e habitação, foi um aumento da população carente e residente em

áreas proibidas sem o mínimo para sua subsistência, aumentando

consideravelmente a violência em algumas regiões.

4.2 O ATUAL CEEBJA – PINHAIS, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DENTRO

DA EJA/PR.

Para que possamos situar e explicitar a organização, funcionamento e demais

disposições referentes ao Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e

Adultos – CEEBJA/ Pinhais, é necessário que seja efetuada uma breve descrição de

como a Educação de Jovens e Adultos – EJA - é representada, atualmente dentro

do Estado do Paraná.

O órgão responsável na Secretaria de Estado da Educação pela oferta,

coordenação, acompanhamento, aprimoramento e avaliação da educação de jovens

e adultos no Paraná denomina-se DEJA – Departamento de Educação de Jovens e

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Adultos e, de acordo com a Lei nº 9394/96 (art.37 e 38), Parecer nº11/2000-

CEB/CNE, Resolução nº01/2000-CEB/CNE, e as Deliberações: nº08/2000,

nº09/2001, nº004/99, nº07/99, nº14/99 e nº16/99 a ele compete as seguintes

atribuições legais:

* Propor e coordenar medidas que viabilizem a oferta de Educação de Jovens

e Adultos – EJA;

* Acompanhar, orientar e avaliar a oferta de EJA;

* Supervisionar o cumprimento das normas e diretrizes de EJA;

* Realizar junto aos demais departamentos a integração de Planejamento da

Educação de Jovens e Adultos;

* Fornecer orientação técnica aos Núcleos Regionais de Educação,

estabelecimentos de ensino e demais parceiros que ofertem Educação de Jovens e

Adultos.

As linhas nas quais as ações executadas pelo Departamento de Educação de

Jovens e Adultos, de acordo com documento extraído da página eletrônica da

Secretaria de Educação do Paraná, são precisamente as seguintes; Ensino

Presencial; Ensino Semipresencial; Exames Supletivos no Paraná; Exames

Supletivos no Japão; Projetos e Parcerias.

Ensino Presencial: organizado em uma estrutura de disciplinas/módulos

correspondentes às disciplinas da Base Nacional Comum, na forma de Etapas(4

Etapas para o Ensino Fundamental, 4 Etapas para o Ensino Médio), tendo cada uma

delas duração de 20 semanas, com 100 (cem) dias letivos, composta de aulas

geminadas para cada disciplina ofertada na etapa, de duração de 100 minutos ou

200 minutos, dependendo da disciplina e carga horária. Ofertado no período noturno

dos estabelecimentos de ensino regular, têm seu horário previsto para

funcionamento entre as 19h e 22:30h com aulas, distribuídas em 05 (cinco) dias da

semana, de segunda a sexta-feira.

A promoção do aluno ocorre de acordo com a verificação do seu

aproveitamento ao final das disciplinas com base na freqüência igual ou superior a

75% nas aulas e apropriação de conteúdos e desenvolvimento de habilidades e

competências esperadas. A matrícula é feita por disciplinas/módulos organizadas de

acordo com as Etapas, tendo como exigência a idade mínima (maiores de 14 para o

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Ensino Fundamental e maiores de 17 para o Ensino Médio) e comprovante de

escolaridade.

Ensino Semipresencial: os cursos na modalidade semipresencial se

caracterizam por momentos não presenciais de estudo orientado e independente e

presenciais com carga horária previamente definida pela instituição ofertante para

freqüência escolar. As instituições responsáveis por esses cursos são os Centros

Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJAS) e as escolas

públicas que ofertam a Educação Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio). O

atendimento presencial nesses estabelecimentos se divide em: atendimentos

presenciais individuais que serão organizados pela escola e oferecidos aos alunos,

ficando a critério do aluno a melhor maneira de cumprir a carga horária de cada

disciplina, tendo bastante flexibilidade na organização do mesmo; e atendimentos

presenciais coletivos que priorizam o encaminhamento dos conteúdos de maneira

coletiva, oportunizando aos alunos de usufruírem o espaço e recursos do ambiente

escolar. Os momentos não-presenciais serão disponibilizados pelos alunos a fim de

que exerçam o auto-didatismo e aprofundamento de estudos para a

complementação da aprendizagem.

A verificação do rendimento escolar se dará através de avaliações

processuais e prova final do Banco de Itens. Essas avaliações variam de acordo

com a disciplina, sendo a quantidade mínima de quatro avaliações, tendo o resultado

da média dessas avaliações o peso de 40% da nota do aluno na disciplina, e 60%

advindo da avaliação através da prova feita pelo Banco de Itens. A solicitação por

parte do aluno para a prova do Banco de Itens somente será permitida após a

realização de todas as avaliações processuais, tendo um prazo máximo de 90 dias.

O aluno terá a possibilidade de realizar uma segunda prova no prazo de 15 dias, se

não obtiver a média necessária na prova do Banco de Itens.

O Banco de Itens é aplicado e corrigido apenas pelo Diretor do CEEBJA e

somente ele poderá ter acesso ao sistema (SABI – Sistema de Acompanhamento de

Banco de Itens). Este sistema é alimentado por professores do Estado que

trabalham nos CEEBJAs. Essas questões são trocadas mensalmente pela SEED.

Exames Supletivos no Paraná: Através da Lei 9394/96 (Diretrizes e Bases da

Educação) e pela Deliberação 008/2000 do Conselho Estadual de Educação do

Paraná – CEE, é permitido às escolas, que ofertam ensino semipresencial,

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executarem exames supletivos, organizados pela Secretaria de Estado da Educação

e coordenados pelo Departamento de Educação de Jovens e Adultos (DEJA), aos

interessados em certificar competências e conhecimentos em nível Fundamental e

Médio, sem a exigência de escolaridade anterior ou freqüência em cursos regulares.

Os pré-requisitos necessários para a inscrição nesses exames são: a comprovação

da idade mínima (15 anos completos para o Ensino Fundamental e 18 anos

completos para o Ensino Médio) e a apresentação da carteira de identidade (original

e cópia) no ato da inscrição. O calendário com as datas dos exames Supletivos será

anual, podendo ser consultado nos CEEBJAS e pelo site do Departamento de

Educação de Jovens e Adultos – DEJA.

Exames Supletivos no Japão: Este tipo de exame é realizado através da

parceria entre o Ministério da Educação, Ministério das Relações Exteriores e

Secretaria do Estado da Educação do Paraná, tendo por objetivo “proporcionar aos

brasileiros que lá residem temporariamente, a certificação equivalente em nível

fundamental e médio”(DEJA, 2004). As inscrições podem ser feitas via Internet com

o preenchimento da Ficha de Inscrição ou nos Consulados Gerais de Tóquio e

Nagóia.

Projetos e Parcerias: são realizados através de parcerias com outros órgãos

governamentais, com entidades não-governamentais, empresas, entre outros que

desejam realizar projetos visando a escolarização básica de determinados grupos

sociais. São vários os projetos e parcerias em que o Departamento de Educação de

Jovens e Adultos está envolvido, entre eles podemos citar os seguintes: PAC (Posto

Avançado do CEEBJA) caracterizado por ações pedagógicas direcionadas a grupos

sociais que não possuem disponibilidade para a escolaridade nos estabelecimentos

oficiais (sedes dos CEEBJAs) e necessitam um atendimento diferenciado e próximo

de suas moradias; termos de Cooperação Técnica são parcerias entre a SEED e

Empresas em que os funcionários têm a oportunidade de obter a escolarização

básica no próprio ambiente de trabalho, cabendo aos CEEBJAS a orientação,

avaliação e certificação dos mesmos; Programa “Gente da Terra” parceria e

convênios da SEED com Organizações Não-Governamentais, abrangendo projetos

direcionados a diversos municípios paranaenses com uma clientela que abrange

trabalhadores Rurais Temporários, Agricultores de Vilas Rurais, Índios de Reservas,

Posseiros, entre outros , oferecendo escolarização básica para Jovens e Adultos

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desses grupos; Projeto Girassol, destinado a pessoas que estão em conflito com a

Lei (condenadas ou em andamento do processo), ofertando Educação Básica

mediante Termo de Cooperação Técnica entre a SEED e entidades carcerárias.

O Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA),

dentro da EJA segue a linha de Ensino Semipresencial, no entanto o CEEBJA –

Pinhais iniciou seus trabalhos nessa modalidade mas sofreu modificações deixando

de efetuar o atendimento individual, característico dos momentos não-presenciais,

para realizar apenas o atendimento coletivo, de disciplinas ministradas por

professores em sala de aula, com freqüência obrigatória e de maior extensão para

cobrir a carga horária total do curso.

4.2.1 CEEBJA – Pinhais

O Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – CEEBJA –

Pinhais situa-se no Bairro Vila Maria Antonieta, à rua João Mendes Batista, 430, no

Município de Pinhais; no ano de 1996 foi inaugurado sob a autorização de

funcionamento constante na Resolução nº 3916/96, publicada no Diário Oficial do

Estado do Paraná em 20/11/96.

Esse estabelecimento tem como mantenedor o Governo do Estado do Paraná

e funciona em prédio locado (Centro de Atendimento Integral à Criança -CAIC – Pe.

Marcelino Champagnat e escolas municipais e estaduais da região onde se

encontram os Postos Avançados do CEEBJA - PACs). A área de atuação deste

CEEBJA corresponde aos municípios de Pinhais, Piraquara, Campina Grande do Sul

e Quatro Barras, que fazem parte do Núcleo Regional de Educação – Área

Metropolitana Norte.

Atendendo ao disposto nas Constituições Federal e Estadual, na Lei

nº9.394/96, nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação de Jovens e Adultos,

instituídas pelo Parecer nº011/2000, o CEEBJA tem por finalidade conforme o seu

Regimento Escolar: “...ofertar cursos de 1º Segmento do Ensino Fundamental, 2º

Segmento do Ensino Fundamental e Ensino Médio destinados à preparação do

jovem e do adulto, por meio de metodologia adequada ao desenvolvimento cultural e

formação da vida cidadã dos alunos”.(Regimento Escolar, p.8)

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A filosofia na qual o Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e

Adultos – CEEBJA – Pinhais fundamenta-se, segundo sua Proposta Curricular, em

três bases primordiais.

A primeira considera a educação como “direito público e subjetivo” (Parecer

nº11/00 apud Proposta Curricular 2001) e para tal, a proposta pedagógica do

CEEBJA visa a efetiva universalização desse direito dos Jovens e Adultos.

O segundo ponto norteador é a consideração da EJA como modalidade da

Educação Básica e, portanto devendo ser ofertada aos cidadãos que a ela recorrem,

de maneira regular, e não como uma forma supletiva de ensino.

E o terceiro ponto estabelece a necessidade de se garantir uma pedagogia

própria à modalidade da EJA, com metodologia que atenda à diversidade e

tipificidade do público adulto.

A ação educativa da Proposta Pedagógica do CEEBJA, conforme o texto de

seu documento oficial (Proposta Curricular CEEBJA-Pinhais/2001) é guiada pelos

princípios Ético, Estético e Político, com o resgate da auto-estima, o respeito à

individualidade, a liberdade de expressão para que o indivíduo tenha possibilidade

de construir e reconstruir sua história através da socialização e a construção de sua

cidadania são pontos-chave para a realização plena da educação desses Jovens e

Adultos. Partindo desses princípios, a filosofia proposta pelo CEEBJA “ampara-se na

idéia da Totalidade e Interdisciplinaridade de Conteúdos” (Proposta Curricular,p. 21)

e, como o próprio texto da Proposta indica, “...a ação educativa precisa incentivar o

aprender a ser, ser na totalidade, na coletividade, e para isso a pessoa, a partir do

exercício do ser, passa a fazer coletivamente”.

Percebe-se claramente, apesar de não constar de maneira literal no texto da

Proposta Curricular do CEEBJA-Pinhais, que documentos como o Parecer nº011/00

CEB/CNE que dispõe as Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação de Jovens e

Adultos, a Lei nº9.394/96 das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e o texto da

Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Jovens e Adultos de 1997, serviram

de embasamento para a constituição da filosofia e encaminhamentos pedagógicos

do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos do município de

Pinhais.

Apesar de seu funcionamento ter iniciado em 1996, a oferta do Ensino Médio

no CEEBJA - Pinhais só foi autorizada e implantada a partir de agosto de 2000,

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através da Resolução nº 267/01. Até então o CEEBJA caracterizava-se pelo Ensino

Presencial e Semipresencial de 1º e 2º Segmentos do Ensino Fundamental, nas

dependências do CAIC – Pinhais, e Presencial nos Postos Avançados do CEEBJA –

PACs das escolas municipais e estaduais da região.

A partir de 2002, também na sede (CAIC), o ensino Semipresencial sofreu

modificações, tornando-se muito semelhante ao Ensino Presencial com o seguinte

diferencial: ao invés de ter suas avaliações caracterizadas por Etapas, continuou

com o sistema de disciplinas característico do Ensino Semipresencial que norteia os

demais CEEBJAS do Estado do Paraná62.

Conforme depoimento dado pelos dirigentes representantes da equipe do

CEEBJA – Pinhais em entrevista realizada em 03/07/2004, os motivos para essa

mudança de estrutura organizacional e pedagógica foi a pouca procura e interesse

dos alunos pelo atendimento individual, e também a necessidade que os estudantes

sentiam de encontros mais freqüentes e em grupos para compreenderem e

assimilarem melhor os conteúdos.

Em razão da diversidade de cursos e heterogeneidade dos grupos que os

compõem, o Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos possui

conteúdos curriculares organizados por áreas de conhecimento para o primeiro

segmento do Ensino Fundamental; por disciplinas para o segundo segmento do

Ensino Fundamental e por disciplinas de acordo com as áreas de conhecimento para

o Ensino Médio63.

A estrutura organizacional do CEEBJA – Pinhais compõe-se dos seguintes

órgãos conforme seu regimento escolar (agosto/2000): Conselho Escolar, Equipe de

Direção, Equipe Administrativa, Órgãos Cooperadores, que serão melhor

explanados a seguir:

O Conselho Escolar é presidido pelo Diretor do Estabelecimento, como

dirigente da proposta pedagógica e constituído juntamente por representantes da

comunidade escolar (professores, alunos e demais funcionários) e representantes

dos movimentos sociais organizados comprometidos com a escola pública. Tem

62 Esta informação foi obtida através de entrevista feita em 03/07/2004, com o então Diretor do CEEBJA – Pinhais, Prof : Laérsio Jorge Falcate. 63 Fonte: Regimento Escolar – CEEBJA – Pinhais. 2000

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como principal atribuição estabelecer e garantir a implantação da proposta

Pedagógica do Centro, eixo de toda e qualquer ação a ser desenvolvida.

Na Equipe de Direção, a direção será exercida por membro ocupante de

cargo de magistério escolhido na forma da lei vigente, e cabe ao diretor(a) a gestão

dos serviços escolares a fim de garantir o alcance dos objetivos educacionais do

estabelecimento de ensino, definidos na proposta pedagógica.

A Equipe Pedagógica; compõe-se do Supervisor Escolar, Orientador

educacional, Corpo docente, Coordenador (es) de Ações Pedagógicas.

A Equipe Administrativa; é constituída pela equipe de apoio administrativo,

secretária(s), e pessoal de serviços gerais.

Os Órgãos Cooperadores são representados pela Associação de Professores

e Alunos (A.P.A) e pelo Conselho de Avaliação dos Alunos.

Quanto à forma de funcionamento das atividades letivas, o CEEBJA – Pinhais

caracteriza-se por aulas preferencialmente no período noturno, a partir das 17:50 h

até as 22:10h, sendo ofertadas algumas disciplinas aos sábados, de acordo com a

necessidade e procura por parte dos alunos. O Ensino Médio divide-se em dois

horários diários; 18:10 às 20:10 e 20:10 às 22:10, com duas disciplinas de duas

aulas geminadas.

Para o Ensino Médio e Fundamental de 2º Segmento, as matrículas são feitas

de acordo com a oferta e a disponibilidade de horários e dias. A carga horária

semanal de cada disciplina é de 4 horas-aula, ministradas em dois dias da semana,

ou variando conforme a carga horária da disciplina em 2 horas aula uma vez por

semana. Por esse motivo, é natural que principalmente os estudantes do Ensino

Médio cursem no máximo três disciplinas por vez. A oferta possui um caráter

bastante flexível em vista da clientela à qual atende, podendo acontecer mais de

uma turma das disciplinas mais procuradas (exemplo: Português, Matemática,

História, etc) em horários e dias da semana diferenciados a fim de atender às

necessidades de seus alunos.

A EJA do Ensino Médio tem como referência os princípios, fundamentos e

procedimentos propostos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

– Parecer 15/98 e resolução nº 02 de abril de 1998/CNE e, como as demais

modalidades da Educação Básica de Jovens e Adultos, está baseada nas Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e adultos – Resolução nº01/2000

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– CEB/CNE e, conforme sua proposta curricular (2001, p.15) não está organizada

em regime de séries anuais (primeiro,segundo ou terceiro anos), mas em regime

disciplinar, cabendo ao aluno cumprir todas as disciplinas para a conclusão de seus

estudos. As disciplinas estão divididas em três grandes áreas do conhecimento,

denominadas: Linguagem, Código e suas Tecnologias; Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias, todas

essas disciplinas estão baseadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio.

O direito à promoção do segundo segmento do Ensino Fundamental para o

Médio, ou à conclusão deste, será concedido ao aluno que obtiver aproveitamento

suficiente (apropriação dos conteúdos e esperado desenvolvimento de competências

e habilidades) e freqüência igual ou superior à 75% (setenta e cinco por cento) de

cada uma das 10 disciplinas que devem ser finalizadas. Através de uma ficha de

avaliação contínua do professor, serão registradas as avaliações processuais do

aluno durante o decorrer da disciplina. Essa ficha é individual e terá a freqüência do

aluno, notas das avaliações processuais e a média das mesmas, com peso de 40%

(quarenta por cento) da nota total do aluno. Os 60% restantes virão da avaliação da

prova final da disciplina aplicada pelo Diretor, através do Banco de Itens, retirado via

Internet pelo Sistema SABI.

Os alunos que vierem de outros CEEBJAS ou que já cursaram algumas das

séries do Ensino Fundamental ou Médio em estabelecimentos regulares ou

supletivos, a fim de promoção e continuidade de seus estudos, devem apresentar

documentação comprobatória e, na falta desta, realizarão testes para aferir seus

conhecimentos.

4.2.1.1 Os PACs – Postos Avançados do CEEBJA

Os Postos avançados do CEEBJA - PACs, são formados por turmas do

segundo segmento do Ensino Fundamental que se encontram em 9(nove) escolas

municipais e estaduais espalhadas pela região, a fim de atender os estudantes das

proximidades. Esses Postos subordinam-se ao CEEBJA onde se centraliza toda a

documentação referente aos seus alunos.

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Nestes mesmos ambientes é importante salientar que se atende ao ensino de

primeiro segmento do Ensino Fundamental, este subordinado à outra coordenação

denominada Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA), que também faz

parte do Departamento de Educação de Jovens e Adultos, mas é responsável pela

alfabetização e educação de 1ª a 4ª séries (1º Segmento do Ensino Fundamental).

Seus dirigentes e sede não são os mesmos que representam o CEEBJA.

Nos PACs, conforme a fala do representante da direção do CEEBJA, o

público componente é bastante distinto do público que compõe as turmas da Sede.

Com base das fichas de matrículas desses alunos, e através de reuniões com os

professores dos Postos, verificou-se que a maioria dos matriculados são mais jovens

que os da Sede e têm perspectivas do curso bem distintas entre si.

O CEEBJA – Pinhais, de acordo com o Ofício 031/04, enviado em 08/06/2004

a SEED/PR pelo Diretor do estabelecimento, divulgou o número de turmas e alunos

matriculados no período de junho e julho de 2004:

* Ensino Fundamental – fase 1 ( 25 alunos) – 1 turma;

* Ensino Fundamental – fase 2 (723 alunos) – 26 turmas;

* Ensino Médio – (885 alunos) – 25 turmas;

* Postos Avançados do CEEBJA – PACs - 1.085 alunos matriculados.

Total até o momento: 2.718 alunos matriculados.

No próximo capítulo trataremos dos encaminhamentos metodológicos da

pesquisa teórica e de campo, e explicitaremos nossa opção metodológica, objetivos

e os critérios para a definição e perfil da amostra. Na seqüência faremos as análises

dos dados obtidos através da pesquisa realizada no estabelecimento do Programa

de Ensino Médio para Jovens e Adultos do CEEBJA – Pinhais.

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5 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E INSERÇÃO NO MUNDO DO

TRABALHO: ASPECTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS

Este capítulo tem por objetivo apresentar o percurso e os recursos

metodológicos desenvolvidos na presente pesquisa, os instrumentos que foram

utilizados para a coleta de dados, o contato e o ambiente onde a pesquisa foi

realizada, bem como os sujeitos que participaram do trabalho.

Também serão apresentados os resultados alcançados mediante a

sistematização e as análises feitas a partir dos dados obtidos, com base nas

categorias de maior significância para os objetivos do presente estudo.

5.1 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Por ter como principal objetivo, dentro da pesquisa, a verificação de como os

alunos do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos de Pinhais (CEEBJA-

Pinhais) consideram as contribuições dadas pelo Programa no que diz respeito à

inserção, à manutenção e à mobilidade dentro do mundo produtivo e ao que

realmente o CEEBJA se propõe em suas Diretrizes, tornou-se necessário um

percurso metodológico pelo qual a relação entre a teoria e a realidade fosse

considerada em uma perspectiva dialógica. Nesse sentido, os condicionantes

históricos, o entendimento das múltiplas relações sociais e as mediações que

condicionam o processo foram levados em conta. Partindo desses pressupostos, foi definido o tipo de pesquisa, de campo e

documental, por isso a perspectiva teórica assumida baseou-se na análise histórico

– crítica, pois é através da apreensão das relações sociais e das contradições que

essas relações propiciam que podemos vislumbrar os sujeitos sociais que fazem

parte do processo, e compreender o resultado das ações ocorridas. Por esse motivo,

neste tipo de abordagem metodológica, tanto o objeto de estudo quanto o

pesquisador estão relacionados num processo de grande interação entre o objeto do

conhecimento e o sujeito.

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129

Num primeiro momento, buscou-se, através da revisão bibliográfica e de

leituras críticas, apreender elementos fundamentais acerca da produção acadêmico-

histórica mais recente sobre a temática escolhida. Buscou-se verificar pesquisas e

outros estudos que trataram do assunto a fim considerar a pertinência dessa

produção e a contextualização da educação de jovens e adultos nas políticas

educacionais do País.

Terminada essa etapa, iniciou-se a pesquisa documental, quando foram

utilizados textos referentes ao histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil

e, principalmente, documentos oficiais que nortearam e os que ainda norteiam tanto

as políticas públicas da EJA quanto o Ensino Médio brasileiro.

Os principais documentos oficiais utilizados para a análise teórica foram:

a) Parecer das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens

e Adultos (CEB nº 11/2000);

b) Resolução CEB/CNE nº 01/2000, que estabelece as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a EJA;

c) Lei das Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96) e Emenda

Constitucional nº 14/1996;

d) Parecer CEB/CNE nº 15/98 referente às Diretrizes Curriculares Nacionais

Para o Ensino Médio;

e) Resolução CEB/CNE nº 03/98, que institui as Diretrizes Curriculares

Nacionais para o Ensino Médio;

f) Decreto nº 2.208 de 17 de abril de 1998, que regulamenta o 2º inciso do art.

36 e os arts. 39 a 42 da Lei nº 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional.

g) Decreto n. 5.154/2004 que revoga o Decreto n. 2.208/1997 e regulamenta

o inciso 2º do art. 36 e os arts. 39 a 42 da Lei nº 9.394/96.

h) Documentos referentes ao Ensino de Jovens e Adultos fornecidos pela

Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR);

i) Proposta Pedagógica do Ensino Médio do Centro Estadual de Educação

Básica para o Ensino de Jovens e Adultos do município de Pinhais;

j) Documentos e comunicados do Ministério da Educação (MEC) referentes às

políticas públicas destinadas aos jovens e adultos.

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130

Seguindo a orientação de uma linha teórico-metodológica histórico-crítica

para a fundamentação da pesquisa, buscamos considerar condicionantes e

determinantes da relação trabalho e educação, discutindo, em particular, o papel do

Ensino Médio em relação ao mundo do trabalho, as políticas públicas referentes ao

Ensino de Jovens e Adultos e os desdobramentos que elas acarretam tanto no

campo educacional, quanto na vida social e produtiva dos sujeitos.

Concomitantemente, desde o início do desenvolvimento da fundamentação

teórica, a realidade atual do objeto de estudo (no caso o CEEBJA e seus sujeitos) foi

buscada através de visitas agendadas, entrevistas com os responsáveis pela direção

e orientação do Programa e pelo contato com os alunos protagonistas da pesquisa,

pois forneceriam os dados essenciais para a construção deste trabalho.

Esse procedimento teve em vista a possibilidade de construção do

conhecimento, através de um processo de aproximação com a realidade que

considera a ação dos sujeitos e as mediações entre eles ocorridas, nas relações

sociais de produção.

Pode-se, com isso, caracterizar que o tipo de pesquisa realizado foi de

natureza qualitativa descritiva, pois teve como objetivo expor as características de

um fenômeno ou população determinada, num momento determinado, de maio a

outubro de 2004. É denominada qualitativa, pois a fonte direta da pesquisa é o

próprio ambiente do objeto, com o pesquisador fazendo parte integrante do processo

de conhecimento, interpretando e atribuindo significados aos fenômenos

observados.

Apesar de se considerar uma pesquisa de natureza qualitativa, foram

utilizados instrumentos para a coleta de dados de características quantitativas.

Essas características foram sistematizadas e, com base na

quantificação/incidências, foi possível traçar um perfil social dos sujeitos da pesquisa

e de importantes características do CEEBJA-Pinhais/PR.

No entanto, para, além disso, os dados obtidos foram analisados através de

elementos qualitativos, valorizando as opiniões e idéias dos respondentes.

O instrumento de coleta de dados selecionado foi o questionário semi-aberto

composto de questões fechadas e questões abertas, devido ao volume e

heterogeneidade do grupo que compõe o universo da pesquisa. Foi preservado o

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131

anonimato, buscando-se proporcionar uma maior liberdade aos sujeitos para

responder as questões propostas.

Apesar de considerarmos o pesquisador como parte integrante do processo

de construção do conhecimento, e de que por esse motivo não pode ser considerado

um indivíduo neutro durante todo o processo, tentou-se, no decorrer das entrevistas

preliminares, seleção prévia da amostra e, principalmente no momento da coleta dos

dados, através dos questionários, fazer o possível para não influenciar as respostas

dos participantes. Para tanto, foram colocadas todas as orientações referentes às

perguntas do questionário no início do instrumento de maneira clara e objetiva, no

sentido de evitar que os respondentes tivessem dúvidas ou sentissem alguma

dubiedade nas questões.

5.2 DEFINIÇÃO E PERFIL DA AMOSTRA

A pesquisa de campo foi realizada no Centro Estadual de Educação Básica

para Jovens e Adultos – CEEBJA/ PINHAIS, localizado no Centro de Atendimento

Integral a Criança – CAIC-Marcelino Champagnat, situado na Rua João Mendes

Batista, 430, Vila Maria Antonieta, município de Pinhais-PR, no período de maio a

outubro de 2004, com alunos que estavam cursando o Ensino Médio do período

noturno, do respectivo programa.

A opção pelos alunos do período noturno do Ensino Médio se deu pelo

encaminhamento ao longo da pesquisa, quando se verificou que a relação da

educação com o mundo do trabalho possui um significado muito forte, tanto no que

diz respeito à legislação vigente64, quanto no que concerne às expectativas da

clientela.

É importante também destacar a opção específica do CEEBJA- Pinhais; em

primeiro lugar pelo fato de a pesquisadora já ter familiaridade com o ambiente e com

64 Apesar de a LDB, colocar como princípios o trabalho e a cidadania em todos os níveis de ensino, é no ensino médio que podemos observar o quanto a categoria trabalho desempenha um papel de destaque. Ver mais em: RAMOS,2001;KUENZER,1997; SAVIANI,1989.

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o pessoal envolvido na prática pedagógica de Ensino de Adultos65, o que muito

facilitou o acesso aos arquivos referentes à documentação dos alunos, e também

pelo conhecimento prévio do cotidiano de trabalho no Centro de Educação Básica

para Jovens e Adultos de Pinhais, propiciando uma relação mais clara e objetiva de

alguns elementos que serão pertinentes para análises posteriores. Também pela

importância que o referido estabelecimento possui perante outros CEEBJAs66, além

de trabalhar o Ensino Médio de forma atípica em relação aos demais Centros de

Educação Básica do Estado, pois o ensino, apesar de ser denominado semi-

presencial nos documentos oficiais, acontece de forma presencial, mas com

algumas particularidades.67

Foi dada preferência aos alunos que estivessem com no mínimo 4 disciplinas

concluídas, pois pressupõe-se que possuem certa familiaridade com o processo de

Ensino do respectivo programa. Isto revela que grande parte desses alunos

ingressou no início de 2004 (em março foram ofertadas as primeiras disciplinas do

ano), ou aproximadamente no final de 2003, reforçando o caráter de rápida

rotatividade de alunos nas disciplinas.

Num primeiro momento, pela heterogeneidade do grupo que compõe o

Ensino Médio do CEEBJA- Pinhais, assim como em toda a modalidade de Educação

de Jovens e Adultos, foram adotados critérios de hierarquia das variáveis para a

composição da amostra. Com base nas fichas de matrícula e registros escolares do

CEEBJA, foi realizado um prévio levantamento do alunado que compõe esse

universo, mediante classificação de algumas variáveis como; gênero, faixa etária,

naturalidade, e número de disciplinas concluídas e em processo de conclusão.

Através da obtenção desses dados foram selecionados os alunos que participariam

da amostra.

Para que estas informações fossem obtidas de forma a caracterizar

idoneamente a amostra, foram precisos alguns esclarecimentos quanto à forma com

que os alunos são matriculados nas disciplinas, o tempo de duração das mesmas, a

65 A pesquisadora foi professora de alfabetização de adultos, no município de Pinhais (1998 – 2001), e trabalhou com ensino fundamental regular no CAIC-Pinhais, sede do atual CEEBJA-Pinhais (1991 – 1998). 66 O CEEBJA – Pinhais é responsável pelo ensino desta modalidade (ensino semi-presencial e presencial de jovens e adultos) nos municípios de Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e Campina Grande do Sul (Dados da SEED- PR, Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Norte). 67 As singularidades, estruturamento e funcionamento do atual CEEBJA-Pinhais estão melhor explanadas no Capítulo 3, tópico 3.2, da presente pesquisa.

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variedade desse tempo entre diferentes disciplinas e se elas possuíam níveis de

diferenciação68. Também foi preciso consultar as listas de matriculados nas

disciplinas em andamento e as que já encerraram (pelo menos deste ano). Todas

essas informações foram fornecidas pelos responsáveis da Secretaria de Ensino de

Jovens e Adultos do CEEBJA – Pinhais, mediante visitas ao estabelecimento,

durante os meses de maio a agosto de 2004, quando tanto a Direção da EJA,

quanto alguns professores e funcionários do local foram entrevistados pela

pesquisadora.69

Quanto às variáveis previamente definidas, é importante destacar os

resultados obtidos durante o percurso, a fim de que se possa ter um conhecimento

mais abrangente do universo pesquisado.

No momento em que fora feita a pesquisa de campo, estavam matriculados

efetivamente no Ensino Médio, 561 alunos, sendo que desses, 260 são do sexo

masculino e 301 do feminino, ou seja, 53,6% são mulheres e 46,4% homens.

A faixa etária é bastante variada, e observamos o número de 61 alunos com

idades entre 17 e 19 anos; 105 alunos entre 20 e 24 anos; 126 alunos entre 25 e 30;

71 alunos entre 31 e 40 anos; 63 alunos entre 41 e 50 anos; 10 alunos acima de 50

anos.

É pertinente colocar que 82 fichas de matricula estavam com ausência de

dados e de documentação legal, e que dessas, 22 fichas estavam completamente

sem dados, apenas com o nome do matriculado, o que segundo os responsáveis

pela documentação se dá pela não exigência obrigatória da apresentação de todos

os documentos no ato da matricula (fotocópia de identidade, comprovantes de

residência e de conclusão do ensino fundamental), pois a secretaria possibilita que

tais documentos sejam trazidos no decorrer do curso. Pode-se supor, com esta

informação, a dificuldade de se estabelecer um contato, ou mesmo informações

mais detalhadas do aluno que porventura se queira conhecer. É também pertinente

refletir sobre a real situação na qual essas pessoas se encontram quanto à posse de

tais documentos. Pode-se inferir, que alguns desses estudantes não possuem

sequer documentos básicos (identidade, CPF, conclusão do ensino fundamental,

68 Todos estes itens estão detalhados no Capítulo 3, tópico 3.1 do presente estudo,que trata do funcionamento e organização do CEEBJA – Pinhais. 69 Estas entrevistas preliminares tinham o objetivo de aproximar a pesquisadora à realidade dos sujeitos pesquisados, no caso os alunos do Ensino Médio do CEEBJA.

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etc). Quando questionado sobre esses dados, o Diretor do CEEBJA, explicou que o

Programa não pode deixar de matricular os alunos mesmo com a ausência destes

documentos, entretanto também não é verificado se esses mesmos estudantes os

possuem ou não. O Diretor salientou que pela característica “autônoma” do estudo

no CEEBJA, torna-se difícil um maior aprofundamento das relações extra-escolares

com os alunos.

Refletindo sobre isto, podemos considerar que apesar do discurso oficial de

que a educação pretende colaborar para que esse jovem e adulto faça parte

efetivamente da sociedade, o descaso com a condição básica de cidadania, ou seja,

de direito à documentação, do grupo que compõe o ensino no CEEBJA, por parte

dos responsáveis da administração (direção, secretaria e orientação), reforça a

exclusão e marginalidade que esses indivíduos quase sempre estiveram.

Outro ponto importante foi o de encontrar fichas de matrícula de alunos com

15 anos (5 ao todo), pois é de conhecimento legal que a idade mínima para o

ingresso no ensino médio da EJA70 é de 17 anos completos. Segundo a Direção do

CEEBJA, esses alunos são encaminhados pelo Conselho Tutelar e, portanto,

possuem respaldo legal para estarem nesta modalidade de ensino.

A região/localidade de origem do grupo investigado também é bastante

heterogênea, no entanto é válido destacar o grande número de pessoas nascidas

em municípios do interior do Paraná, 215 no total, tendo o número restante se

dividido em 14 pessoas nascidas em Pinhais (município sede do CEEBJA); 21

pessoas originárias de Piraquara; 207 pessoas de Curitiba e 82 pessoas de outros

Estados brasileiros. Como foi explicitado no parágrafo anterior, alguns não possuíam

qualquer informação além do próprio nome, perfazendo um total de 22 fichas nas

quais não constavam esses dados.

Outra variável que possui bastante relevância para que se faça uma análise

mais significativa no decorrer deste estudo, diz respeito ao número de disciplinas já

cursadas pelos alunos, e o número de desistências e repetências de disciplinas.

A grande maioria dos alunos que ingressou no início do ano de 2004 já havia

completado e sido aprovada em três disciplinas, e estava matriculada no mínimo em

70... os cursos de EJA de nível médio deverão ser voltados especificamente para alunos da faixa etária superior à própria para a conclusão deste nível de ensino, ou seja, 17 anos completos (CEB/CNE n. 01/2000, art.8, inciso 2º).

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outras três disciplinas. Apesar desses alunos terem um bom aproveitamento, o

número de disciplinas em que foram reprovados ou das quais que desistiram é

considerável: dos 561 matriculados, 107 foram reprovados ou desistiram, perfazendo

19,7% do total. Tal fato pode levantar questionamentos futuros sobre como acontece

o controle da evasão escolar e dos mecanismos de motivação que levaram esses

alunos a desistências e reprovações.

Com base nesses dados preliminares, foi resolvido, em comum acordo entre

pesquisadora e orientador, caracterizar e determinar percentualmente a amostra que

melhor representasse o universo da pesquisa. Para isso, estabeleceu-se que um

mínimo de 5% do total de matriculados seria suficiente para abranger de maneira

satisfatória os objetivos da pesquisa. Portanto, das 561 pessoas matriculadas, 28

seriam selecionadas com base nas variáveis previamente estabelecidas, a fim de se

obter uma amostra equilibrada.

5.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Durante o processo de pré-seleção da amostra, foram utilizadas técnicas de

observação direta, pela qual a familiaridade com o ambiente oportunizou uma

vivência e maior aproximação à realidade do CEEBJA e aos sujeitos envolvidos

(pesquisadora – equipe pedagógica, pesquisadora – alunos, alunos – equipe

pedagógica). Também foram feitas entrevistas abertas com os responsáveis pelo

CEEBJA-Pinhais (Diretor, assessor pedagógico, secretária e três professores), a fim

de que contextualizássemos nossos objetivos na prática do processo educativo do

Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos.

Após a pré-definição da amostra, com base nas variáveis já explicitadas no

tópico anterior, foram selecionados os 28 representantes do universo total da

pesquisa. A amostra orientou-se de acordo com a base real estabelecida no

processo do trabalho de campo.

Definido o grupo, o instrumento para a coleta de dados escolhido foi o

questionário semi – aberto71, com 33 questões divididas em três grandes grupos – 71 O modelo do questionário consta no Apêndice A desta dissertação.

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Dados Sócio-Econômicos; Escolaridade e Trabalho72, de maneira a abranger as

características sócio-econômicas do respondente, seu caminho escolar até o

ingresso no CEEBJA, e suas experiências, expectativas e conhecimentos referentes

à categoria trabalho e a relação com o ensino no CEEBJA.

O período para a elaboração do questionário compreendeu os meses de maio

a junho de 2004, quando as questões foram sendo buriladas a partir do contato da

teoria com a realidade do objeto de estudo. Em julho de 2004 foi realizada a

aplicação do teste piloto com três alunos do Ensino Médio do Centro de Educação

Básica para Jovens e Adultos de Pinhais, a fim de que fossem realizados os

eventuais ajustes e alterações das questões propostas. Pôde-se, nesse processo,

constatar pouca dificuldade para o entendimento e resolução das perguntas, o que

facilitou a rápida aplicação do instrumento na amostra real.

Como já foi mencionado anteriormente, a amostra foi intencional, ou não

casual, devido à prévia seleção do grupo a partir das variáveis escolhidas. Foram,

então entregues em mãos, pelo pesquisador, os questionários aos 28 participantes,

sendo todos devolvidos no decorrer do mês de setembro de 2004. A partir dos dados

obtidos, iniciou-se a análise das variáveis e categorias mais significativas para atingir

os objetivos propostos pela pesquisa.

5.3.1 Análise dos dados: Descrição e sistematização dos dados obtidos

A primeira parte do questionário dirigiu-se ao objetivo de obter dados

referentes ao perfil sócio–econômico (sexo, naturalidade, composição e renda

familiar, moradia e utilização de eletroeletrônicos e eletrodomésticos) dos

respondentes, no caso da presente pesquisa, os alunos do Ensino Médio do

CEEBJA – Pinhais. Foram elaboradas 11 questões semi-abertas a fim de que os

respondentes tivessem a liberdade de acrescentar, ou não, elementos que não

estivessem sendo contemplados nas alternativas fechadas.

A segunda parte do questionário destinou-se às questões relacionadas à

formação e escolaridade dos respondentes. Foram 14 perguntas, sete delas ligadas

diretamente ao processo de formação escolar ao longo de suas vidas, e as outras

72 Estes grupos serão melhor evidenciados no item 5.3.1, referente a análise dos dados desta dissertação.

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sete questões tratando do ingresso no CEEBJA (motivação, grau de satisfação e

importância dos estudos na Educação de Jovens e Adultos).

Por fim, o terceiro grupo de questões está composto por oito questões

referentes à categoria trabalho, seu significado, situação atual no processo

produtivo, relação entre o ensino do CEEBJA e o mundo do trabalho. Dentre os

grupos, este é o que possui o maior número de questões subjetivas (quatro no total)

e, portanto, dados os objetivos desta pesquisa, será o que trataremos com um

aprofundamento mais amplo.

Para melhor visualização dos dados da pesquisa, optou-se pelo uso

concomitante de tabela/gráfico73, intercalados pelas análises e possíveis

contribuições necessárias para o entendimento das respostas.

5.3.1.1 Perfil Sócio-Econômico: quem são os alunos da EJA?

Com relação ao gênero dos respondentes, a porcentagem de alunos do

gênero feminino foi de 57%, e do gênero masculino foi de 43% do total. Este número

vai ao encontro do objetivo da pré–seleção das variáveis mais significativas feitas

com o universo total da pesquisa, pois dos 561 alunos matriculados no período, 301

eram do sexo feminino e 260 eram representantes masculinos.

Observa-se que, segundo dados do MEC74, as mulheres iniciam em minoria

nas escolas, ocupando cerca de 48,6% das vagas no ensino pré-escolar e

fundamental, no entanto, a partir da sexta série do ensino fundamental o número

aumenta para 50,4% do total de estudantes. Também, segundo dados do Censo

Escolar 2003, dos quase 5,4 mil municípios brasileiros com Ensino Médio, as

mulheres representam maioria das matrículas em 73,4% dos municípios. Com tudo

isso o nível de escolaridade feminino passou a ser sensivelmente maior que o

masculino (6,7 anos em média de estudo em comparação com 6,3 anos em média

de estudo masculino)75.

73 A fundamentação para a utilização desta referência quadro/gráfico parte de : MOROZ, Melania; GIANFALDONI, Mônica Helena T.A. O Processo de Pesquisa: iniciação. Brasília: Ed. Plano, 2002 74Dados obtidos a partir de levantamento do INEP/MEC. Censo Escolar. Disponível em: www.inep.gov.br/básica/Censo/Escolar/ Sinopse/ Sinopse.asp, acesso em: 11/09/04. 75 Dados obtidos através do Pnad/ IBGE de 2002.Endereço eletrônico: www.ibge.gov.br acesso em:22/11/04

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TABELA 1 - GÊNERO DOS RESPONDENTES

GÊNERO OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM MASCULINO 12 43 FEMININO 16 57 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 1 – GÊNERO DOS RESPONDENTES

43%

57%

MASCULINOFEMININO

De acordo com os dados pode-se observar que a maioria dos respondentes

encontra-se na faixa etária dos 20 aos 40 anos, totalizando 64% da amostra, contra

29% de pessoas com idade acima de 40 anos e apenas 7% entre 15 e 20 anos.

GRÁFICO 2 – FAIXA ETÁRIA DOS RESPONDENTES

7%

32%

32%

29%15 A 20

20 A 30

30 A 40

ACIMA DE 40

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Cruzando os dados obtidos com números nacionais referentes ao nível de

instrução da população brasileira, verificou-se coerência entre os resultados, pois

segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE-PNAD/ 2003)76 o

nível de instrução da população teve uma contínua elevação desde 1993; a

proporção de pessoas com 10 anos ou mais de idade e com 11 anos ou mais de

estudo, aumentou de 14,4% em 1993 para 24,9% em 2003, refletindo o efeito da

escolarização crescente de crianças e jovens na última década. Pode-se inferir, com

estes números, o porquê de se ter um pequeno contingente de jovens entre 15 a 20

anos no Ensino Médio do CEEBJA – PINHAIS, em comparação com a faixa etária

de 20 a 40 anos77.

Outra questão pertinente a ser levantada sobre a faixa etária que compõe o

Ensino Médio do CEEBJA, relaciona-se a comparação com os alunos matriculados

no Ensino Fundamental da EJA – Pinhais. De acordo com dados oficiais fornecidos

pelo Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) do município, referentes ao

número de matrículas na alfabetização e Ensino Fundamental no 1º semestre de

2004, do total de 368 matrículas efetuadas, 236 eram de pessoas com idade acima

de 50 anos, reforçando o que o próprio Parecer expõe sobre a situação ser muito

mais precária no que diz respeito ao aprendizado para as pessoas de maior idade.78

TABELA 2 – FAIXA ETÁRIA DOS RESPONDENTES

FAIXA ETÁRIAOCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM 15 A 20 2 7 20 A 30 9 32 30 A 40 9 32 ACIMA DE 40 8 29 TOTAL 28 100%

Os números referentes à origem dos pesquisados demonstram uma grande

diferença de valores entre os nascidos no próprio município de Pinhais (apenas 4%)

76 Dados obtidos pela PNAD – Síntese de Indicadores 2003. IBGE 77 Acrescente-se a isso que a EJA, através de suas Diretrizes, orienta e exige que o Ensino Médio oferecido nesta modalidade é dirigido oficialmente a alunos com idade igual ou superior a 17 anos completos(Resolução CEB/CNE n. 01/2000, art. 8, inciso 2º) 78 PARECER CEB/CNE nº 11/2000. que dispõe as Diretrizes e Bases Nacionais da educação de Jovens e Adultos.

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e os que são de outras localidades. Pinhais, como já foi comentado no capítulo

referente à sua história, é razoavelmente jovem, e como município emancipado tem

uma trajetória bastante curta (aproximadamente 13 anos); portanto, pode-se inferir

que grande parte dos estudantes que compõem o quadro do CEEBJA – Pinhais, por

estarem em sua grande maioria na faixa etária acima dos 20 anos, são originários de

municípios limítrofes de Curitiba, e do interior do Paraná79.

TABELA 3 – NATURALIDADE DOS COMPONENTES DA AMOSTRA

NATURALIDADE OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM CURITIBA 9 32 INTERIOR/PR 12 43 PINHAIS 1 4 OUTRO ESTADO 6 21 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 3 – NATURALIDADE DOS PESQUISADOS

32%

43%

4%

21%CURITIBA

INTERIOR/PR

PINHAIS

OUTROS ESTADOS

79 Ver mais sobre a questão da migração dentro do Estado do Paraná, e em particular Pinhais em: XAVIER, Aarão P. Nos Trilhos do Tempo – História e Memória de Pinhais. 2000.

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Outro dado a ser comentado é o grande número de pessoas vindas de outros

Estados e do próprio interior do Paraná, reforçando o que já foi comentado sobre a

intensificação das migrações ocorridas nos anos de 1970 e 1980, durante a

chamada “modernização agrícola” que foi acelerada em todo o estado paranaense, e

a implantação de pequenas e médias indústrias, além dos grandes

empreendimentos comerciais que foram instalados no Município de Pinhais na

década de 198080. Também, como já foi destacado no Capítulo 4, por localizar-se na

região metropolitana da grande Curitiba, residem, e para Pinhais se deslocam,

grandes contingentes de trabalhadores que se empregam nas diversas atividades

produtivas nesse núcleo.

Através dos dados, pode-se constatar que a maioria dos respondentes habita

no próprio município onde está localizado o CEEBJA – Pinhais, perfazendo 85% do

número total da amostra, sendo que os 15% restantes residem nos municípios

limítrofes de Pinhais, ou seja, Curitiba, Piraquara e Colombo. Isto indica que, apesar

do CEEBJA – Pinhais ter como área de atuação os municípios de Piraquara,

Pinhais, Campina Grande do Sul e Quatro Barras, que são parte da Área

Metropolitana Norte, evidencia-se que a procura é principalmente pelos próprios

moradores da cidade e proximidades do Centro Educacional, talvez pela facilidade

de acesso. Também pelo horário noturno, compreende-se que o grupo que compõe

a EJA do Programa prefira o ambiente pela proximidade e segurança81, diferente de

outras escolas da região.

TABELA 4 – LOCAL DE MORADIA DOS PESQUISADOS

LOCAL / RESIDÊNCIA OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM COLOMBO 2 7 CURITIBA 1 4 PINHAIS 24 86 PIRAQUARA 1 4 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 4 - LOCAL DE RESIDÊNCIA ATUAL

80 Empresas como Carrefour e Makro, e Indústrias de Metalurgia. (Xavier, 2000, p. 65) 81 Cabe comentar que apenas o CAIC- Marcelino Champagnnat, sede do CEEBJA – Pinhais, possui seguranças em suas dependências, diferente de outras escolas noturnas e PACs que utilizam apenas sistemas de alarme e encontram-se em regiões mais afastadas do centro do município.

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142

7% 4%

85%

4%

COLOMBO

CURITIBA

PINHAIS

PIRAQUARA

Dos vinte e três respondentes moradores de Pinhais, a maior parte reside há

mais de dez anos no município (cerca de 67,8%), portanto, antes da própria

emancipação da cidade.

Outro dado relevante obtido pela pesquisa se refere à situação de moradia

dos alunos do CEEBJA-Pinhais. Dos 28 respondentes, 24 são proprietários da

residência, ou seja, 85,7% do total, enquanto que 14,3% moram em propriedade

cedida, ou por parentes ou como caseiros da residência.

TABELA 5 – SITUAÇÃO DE MORADIA

TIPO DE MORADIAOCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM ALUGADA 1 4 CEDIDA 3 11 PRÓPRIA 24 86 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 5 – SITUAÇÃO DE MORADIA DOS RESPONDENTES

4% 11%

85%

ALUGADA

CEDIDA

PRÓPRIA

No que se refere ao estado civil dos 28 respondentes da pesquisa, 17 são

casados ou vivem em comunhão estável, totalizando um percentual de 60%,

enquanto os solteiros representam 36% e divorciados apenas 4% da amostra.

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Do percentual dos que estão casados, 71,4% possuem filhos, na média de

um a três filhos por pessoa. Um ponto importante a ser evidenciado é que os

pesquisados que se encontram na faixa etária mais avançada, ou seja, acima de 45

anos, são os que possuem maior número de filhos (acima de cinco filhos). Esses

números estão em acordo com resultados de pesquisas nacionais que demonstram

que a média de moradores por domicílio diminuiu cerca de 4% no período de 1993 a

2003. Isso pode ser explicado, pela progressiva diminuição do número médio de

filhos por mulher, que em 1991 era de 2,9 filhos e, pelos dados do Censo de 2000, é

de 2,3 filhos82.

TABELA 6 – ESTADO CIVIL DOS PESQUISADOS

ESTADO CIVIL OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM CASADO 15 54 SOLTEIRO 10 36 OUTRO 1 4 DIVORCIADO 2 6 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 6 – ESTADO CIVIL DOS RESPONDENTES

36%

4% 6%

54%

CASADO

SOLTEIRO

OUTRO

DIVORCIADO

Quanto às condições de atendimento e fornecimento de serviços básicos

referentes à habitação e posse de bens duráveis dos respondentes, verificou-se que

cerca de 89,2% possuem abastecimento de água, no entanto, destes, apenas 60,7%

82 Fonte: Censo Demográfico 2000, IBGE. Acesso em 18/05/2004. End. www.ibge.org.br . Ainda sobre esses dados, a Síntese de Indicadores 2003, reforça que a progressiva diminuição do número médio de filhos por mulher diminuiu cerca de 5,8% em dez anos. PNAD2003, IBGE.

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dispõe de esgotamento sanitário adequado83. Estes números estão de acordo, ainda

que inferiores, com dados referentes ao município de Pinhais, onde, dos 27.999

domicílios particulares ligados à rede de abastecimento de água, cerca de 53%

possuem ligação de esgoto à rede geral84. No entanto, o fato de a média de

atendimento de saneamento básico da amostra seja inferior à média municipal pode

refletir que, de modo geral, os alunos do CEEBJA também estão, pelo nível

socioeconômico, inferiores aos da média municipal.

As ligações e fornecimento elétrico abrangem o total de 96,4% dos

pesquisados e o serviço de coleta de lixo atinge 100% das moradias. Um resultado

marcante diz respeito ao serviço de telefonia prestado aos respondentes, cerca de

89,2% possuem o serviço de telefonia fixa e 58% o serviço de telefonia móvel

(celular). Este resultado vai ao encontro dos dados fornecidos pela Pesquisa

Nacional Por Amostra de Domicílios que demonstram um crescimento na proporção

de domicílios com telefone de 42,2% de 1993 a 200385.

Quanto à posse e utilização de equipamentos eletro–eletrônicos e

eletrodomésticos, a partir das respostas obtidas, podemos observar que de quase

todas as alternativas ofertadas, a grande maioria foi assinalada pelos pesquisados,

demonstrando concordância com dados oficiais dos domicílios brasileiros que

tiveram crescimento na aquisição de bens como geladeira, máquina de lavar,

televisão, entre outros, nos últimos 12 anos.86

Através dos dados podem-se obter os seguintes resultados referentes à

posse de eletrodomésticos e eletro-eletrônicos dos respondentes: 100% possui

geladeira; 96,4%, fogão a gás; 35,7%, forno de microondas; 96,4%, ferro elétrico;

10,2%, máquina de lavar roupas; 3,5%, outros tipos de eletrodomésticos.87Entre os

equipamentos eletro-eletrônicos podemos destacar os seguintes números: 89,2%

83 Quando a instalação sanitária está ligada à rede coletora de esgoto ou à fossa séptica. Informações obtidas pelo PNAD/2003. 84 Dados obtidos pelo site do IBGE/Cidades. Endereço eletrônico: www.ibge.br/cidades, acesso em: 22/11/2004 85 Esses números se referem tanto ao serviço de telefonia fixa quanto móvel, este último com um crescimento de 2002 para 2003 de cerca de 31,3% como única fonte de atendimento de telefonia na moradia. PNAD/2003. 86 Verificar tabela 4, referente ao percentual de domicílios dotados de bens duráveis no total de domicílios permanentes por grandes regiões.PNAD/2003.E.eletrônico:www.ibge.gov.br, acesso em: 22/11/04 87 Exemplo: Ventilador, máquina de lavar louça, aspirador de pó,etc.

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possui aparelho de televisão; 32,1%, VHS; 57,1%, aparelho de som; 92,8%, rádio;

14,2%, aparelho de DVD e 18,1% microcomputador.

No que diz respeito ao meio de transporte mais usual utilizado pelos

respondentes para seu deslocamento ao CEEBJA, observou-se que, das

alternativas assinaladas, a proporção foi bastante semelhante entre o uso de

veículos automotores88, veículos ciclomotores89 e o caminho a pé. É interessante

perceber o grande número de estudantes que se locomovem utilizando bicicletas ou

outros tipos de veículos ciclomotores, comprovando os dados referentes ao

transporte dentro do município de Pinhais, onde a frota desse tipo de veículo é

bastante considerável90.

TABELA 7 - TIPO DE TRANSPORTE QUE UTILIZAM PARA LOCOMOÇÃO ENTRE SUAS

CASAS E O CEEBJA

TIPO DE TRANSPORTE OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM PEDESTRE 9 32 VEÍCULO AUTOMOTOR 11 39 VEÍCULO CICLOMOTOR 8 29 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 7 – TIPO DE TRANSPORTE MAIS UTILIZADO PELOS PESQUISADOS

32%

39%

29%PEDESTRE

VEÍCULO AUTOMOTOR

VEÍCULO CICLOMOTOR

Quanto à renda familiar, os dados mostram que, dos 28 pesquisados, apenas

4% possuem renda até um salário mínimo, ou seja, valores até duzentos e sessenta

e cinco reais91. A faixa com maior freqüência do grupo encontra-se com renda

88 Seguintes veículos citados: carro próprio, ônibus, táxi, carro de colega. 89 Bicicletas, motocicletas e motonetas. 90 Para informações mais detalhadas sobre dados específicos relacionados ao município ver: Capítulo 3, item 3.1 da presente dissertação. 91 Salário Mínimo Nacional de 2004, vigente na ocasião da pesquisa: R$ 265,00 (Duzentos e sessenta e cinco reais)

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familiar de dois a três salários e abaixo de cinco salários mínimos (entre quinhentos

e trinta e setecentos e noventa e cinco reais). Observa-se, contudo, que 54% dos

alunos do CEEBJA-Pinhais (amostra pesquisada), pertencem a famílias com renda

familiar de três salários mínimos.

TABELA 8 – RENDA DO GRUPO FAMILIAR DOS RESPONDENTES

RENDA FAMILIAR OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM ATÉ UM SALÁRIO MÍNIMO 1 4 1 A 2 SALÁRIOS 10 36 2 A 3 SALÁRIOS 4 14 3 A 4 SALÁRIOS 5 18 4 A 5 SALÁRIOS 8 29 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 8 - RENDA FAMILIAR DOS PESQUISADOS

4%

35%

14%18%

29% ATÉ UM SALÁRIO MÍNIMO

1 A 2 SALÁRIOS

2 A 3 SALÁRIOS

3 A 4 SALÁRIOS

4 A 5 SALÁRIOS

Resumindo as questões relativas ao perfil sócio-econômico dos pesquisados:

Em síntese, de acordo com os dados referentes ao perfil sócio-econômico dos

pesquisados, pode-se caracterizar a amostra da seguinte maneira: o número de

pessoas do gênero feminino é sensivelmente maior que do masculino, (cerca de

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57% é de mulheres e 43% homens), destes, 64% está na faixa etária entre 20 e 40

anos, 29% possui idade acima de 40 anos e apenas 7% encontra-se na faixa de 15

a 20 anos. A grande maioria nasceu fora do município de Pinhais (cerca de 96% do

total), em regiões como Curitiba, interior do Paraná e outros Estados do país.

Dos respondentes, 36% é de solteiros, 4% divorciados e o número de

casados ou que vivem uma relação de comunhão estável perfaz 60% do total. Do

grupo cerca de 71% tem filhos.

Em relação à moradia dos pesquisados, 85,7% possui residência própria, na

sua maioria dentro do município de Pinhais (85%) e arredores como Colombo,

Piraquara e Curitiba (cerca e 15% do total). Quanto à infra-estrutura e fornecimentos

de serviços públicos nas residências, pode-se observar que 89,2% possui

abastecimento básico de água, 96,4%, fornecimento elétrico e 89%, serviço de

telefonia fixa.

Quanto à posse de eletro–eletrônicos e eletrodomésticos, a grande maioria

possui de quatro a cinco equipamentos de bens duráveis, tendo assim certo conforto

e facilidade para a realização de tarefas domésticas. Esses números vão ao

encontro do resultado obtido da renda familiar média dos entrevistados que, em

alguns casos, chega a quatro ou cinco salários mínimos, o que possibilita

razoavelmente a aquisição desses bens.

Na seqüência, serão analisadas as questões referentes à escolaridade dos

entrevistados, sua trajetória dentro do espaço escolar até o ingresso no CEEBJA,

seus motivos para o retorno aos estudos e, especificamente, à escolha do Centro de

Educação Básica para Jovens e Adultos de Pinhais.

5.3.3.2 Escolaridade

Quanto ao Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries, verificou-se, através dos

dados coletados, que todos os respondentes realizaram seus estudos nessa etapa

em instituições públicas. Destes, 79% na modalidade regular de ensino, enquanto

21% utilizaram a modalidade supletiva. Pode-se observar que a grande maioria dos

que estudaram nas instituições de ensino regular o concluíram no período normal

referente à idade/série.

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TABELA 9 – INSTITUIÇÃO NA QUAL OS RESPONDENTES REALIZARAM O ENSINO

FUNDAMENTAL – 1ª FASE

ENSINO FUNDAMENTAL- 1ªFASE OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEMINSTITUIÇÃO PÚBLICA - ENSINO SUPLETIVO 6 21 INSTITUIÇÃO PÚBLICA REGULAR 22 79 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 9 – INSTITUIÇÃO ONDE REALIZARAM O ENSINO FUNDAMENTAL – 1ª FASE

21%

79%

INSTITUIÇÃO PÚBLICA -ENSINO SUPLETIVO

INSTITUIÇÃO PÚBLICAREGULAR

A partir da 2ª fase do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries), apesar do número

de estudantes ainda ser maior em escolas públicas (29%), aparecem dados

referentes às instituições particulares (4%).

TABELA 10 – TIPO DE INSTITUIÇÃO NA QUAL OS PESQUISADOS REALIZARAM O

ENSINO FUNDAMENTAL – 2ª FASE (5ª A 8ª SÉRIES)

ENSINO FUNDAMENTAL - 2ª FASE OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM CEEBJA 15 53 INSTITUIÇÃO PARTICULAR - ENSINO SUPLETIVO 1 4 INSTITUIÇÃO PÚBLICA - ENSINO SUPLETIVO 4 14 INSTITUIÇÃO PÚBLICA REGULAR 8 29 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 10 – INSTITUIÇÃO NA QUAL OS PESQUISADOS REALIZARAM O ENSINO

FUNDAMENTAL – 2ª FASE (5ª A 8ª SÉRIES)

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53%

4%14%

29%

CEEBJA

INSTITUIÇÃOPARTICULAR - ENSINOSUPLETIVO

INSTITUIÇÃO PÚBLICA -ENSINO SUPLETIVO

INSTITUIÇÃO PÚBLICAREGULAR

O número de pessoas que realizaram seus estudos no ensino regular e

supletivo (29% e 18% respectivamente) fica relativamente aproximado, podendo-se

inferir que o número de estudantes no ensino fora da referência idade/série, torna-se

maior, pois, nesse tópico já aparece o Centro de Educação Básica para Jovens e

Adultos que, apesar de não se colocar como ensino supletivo e sim Educação de

Jovens e Adultos, possibilita o reingresso das pessoas que desejam dar

continuidade aos seus estudos. Pode-se perceber pelos dados, que o número de

pessoas que concluíram a 2ª fase do Ensino Fundamental no CEEBJA (53%) é

maior que a soma de todas as outras modalidades apresentadas (47%), podendo-se

inferir que muitos dos que ingressam no Ensino Médio do CEEBJA são oriundos do

Ensino Fundamental do próprio estabelecimento, traçando, dessa maneira, uma

continuidade e linearidade no processo de ensino- aprendizagem.

Essa questão relativa à continuidade da freqüência à EJA é importante

característica dessa modalidade educacional e será aprofundada no capítulo

seguinte. Por ela se observa a complexidade da análise da Educação Fundamental

em nosso país, inferindo-se que, apesar de fundamental, o cumprimento da

universalização do nível fundamental da Educação Básica, direito constitucional, é

ainda um longo percurso se considerarmos sua baixa efetividade, tomando-se como

referência os dados de nossa pesquisa que indicam que somente 29% dos alunos

de Ensino Médio da EJA concluíram o ensino fundamental na escola de ensino

regular.

Apesar de grande parte dos alunos darem continuidade aos estudos a partir

do momento que ingressam na EJA, com base nos resultados da Tabela 11, pode-

se observar que a maioria dos respondentes esteve afastada do espaço escolar por

períodos longos (no mínimo acima de cinco anos). Os dados revelam uma variedade

bastante considerável nos períodos de afastamento (algo característico na

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modalidade de Ensino de Jovens e Adultos), no entanto, a porcentagem maior

refere-se aos períodos mais extensos (de 10 a 20 anos), num total de 33% da

amostra. TABELA 11 – TEMPO DE AFASTAMENTO DOS ESTUDOS ANTES DE INICIAR A

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

TEMPO DE AFASTAMENTO ANTES DA EJA OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEMMENOS DE 1 ANO 2 7 1 A 5 ANOS 6 21 5 A 10 ANOS 4 14 10 A 20 ANOS 9 33 MAIS DE 20 ANOS 7 25 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 11 – TEMPO DE AFASTAMENTO DOS ESTUDOS DOS RESPONDENTES

ANTES DE INICIAR NA EJA

7%

21%

14%33%

25%

MENOS DE 1 ANO

1 A 5 ANOS

5 A 10 ANOS

10 A 20 ANOS

MAIS DE 20 ANOS

Pelos dados já analisados, pôde-se observar que a maioria dos respondentes

concluiu o Ensino Fundamental na modalidade supletiva ou de EJA, portanto, os

resultados sobre o ingresso no Ensino Médio Regular corroboram com a análise

anterior, evidenciando que, do total da amostra, apenas 25% ingressaram nessa

modalidade tendo os 75% restante iniciado seus estudos de 2º grau no Ensino de

Jovens e Adultos; dos 25% que ingressaram no Ensino Médio Regular, nenhum

completou o 2º ano.

TABELA 12 - INGRESSO NO ENSINO MÉDIO REGULAR

ENSINO MÉDIO REGULAROCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM NÃO 21 75 SIM 7 25 TOTAL 28 100%

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GRÁFICO 12 - INGRESSO NO ENSINO MÉDIO REGULAR

75%

25%NÃO

SIM

Sobre o nível de escolaridade em que ingressaram na Educação de Jovens e

Adultos, pôde-se observar que a maioria iniciou no Ensino Médio (57%), ou seja, o

retorno aos estudos ocorreu num espaço de tempo razoavelmente curto, no entanto,

cerca de 43% está dando continuidade a sua educação básica já feita no próprio

estabelecimento, evidenciando desta forma a busca pelo crescimento educacional

por parte desses jovens e adultos. No entanto, como veremos no decorrer da

pesquisa, a questão da continuidade dos estudos parece tomar um rumo mais

direcionado ao que diz respeito à melhoria profissional e não tanto ligada a

aspirações universitárias. TABELA 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE QUE INGRESSARAM NA EJA

INGRESSO NA EJA OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM ENSINO MÉDIO 16 57 FUNDAMENTAL - 1ª FASE 3 11 FUNDAMENTAL - 2ª FASE 9 32 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 13 - NÍVEL DE ESCOLARIDADE NO QUAL INGRESSARAM NA EJA

57%

11%

32%ENSINO MÉDIO

FUNDAMENTAL - 1ª FASE

FUNDAMENTAL - 2ª FASE

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O número de disciplinas concluídas e as que estão sendo realizadas no atual

momento mostra que a maioria dos respondentes já concluiu pelo menos três

disciplinas92 (76%), demonstrando que possuem familiaridade em relação ao

estabelecimento e ao processo de ensino e avaliação.

Remetendo-nos ao capítulo que trata da organização e do funcionamento do

Ensino Médio no CEEBJA, é interessante recordarmos que, para fins de conclusão

da etapa média de ensino no Programa, é necessário que os alunos concluam dez

disciplinas, distribuídas nas seguintes Áreas de Conhecimento: Linguagem Códigos

e suas Tecnologias, Ciências da Natureza Matemática e suas Tecnologias, Ciências

Humanas e suas Tecnologias93.

TABELA 14 – NÚMERO DE DISCIPLINAS CONCLUÍDAS PELOS RESPONDENTES

DISCIPLINAS CONCLUÍDAS OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM DE 1 A 3 DISCIPLINAS 7 25 DE 3 A 6 DISCIPLINAS 8 29 DE 6 A 10 DISCIPLINAS 12 43 TODAS DISCIPLINAS CONCLUÍDAS 1 4 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 14 – NÚMERO DE DISCIPLINAS CONCLUÍDAS PELOS RESPONDENTES

92 Considerou-se como realizadas as disciplinas nas quais o respondente foi aprovado. 93 Para ver quais disciplinas pertencem a cada uma das áreas de conhecimento, consultar Anexo B da pesquisa.

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153

25%

29%

42%

4%DE 1 A 3 DISCIPLINAS

DE 3 A 6 DISCIPLINAS

DE 6 A 10 DISCIPLINAS

TODAS DISCIPLINASCONCLUÍDAS

Sobre as disciplinas que estão sendo cursadas atualmente, nota-se que a

metade dos respondentes está fazendo duas disciplinas no período, e apenas 14%

está matriculado em três disciplinas. Esse fato pode ser esclarecido pela carga

horária de algumas disciplinas, por exemplo, Português e Matemática requerem

maior disponibilidade de tempo e dedicação para sua realização94. Um fato

importante referente às disciplinas é o grande número de estudantes que realiza

repetidamente algumas e, por vezes, sendo aprovado mais de uma vez sem

perceber95. A partir desse fato, pôde-se inferir que, talvez os sucessivos períodos de

freqüência/abandono por parte dos alunos no decorrer do processo educativo, ou

também a dificuldade por parte do corpo administrativo em disponibilizar os

resultados das avaliações e seus respectivos registros, tenham favorecido essas

situações confusas a respeito das disciplinas já realizadas.

Pode-se inferir que essa falta de organização adequada dos documentos

referentes a escolaridade dos alunos é possibilitada também pela pouca exigência

por parte das Secretarias responsáveis pela EJA para que se façam avaliações

efetivas dos procedimentos didático –pedagógicos utilizados nos Programas, bem

como a falta de análises de dados sobre a questão da desistência e aprovação e

reprovação nos cursos. De certa forma isso reforça o caráter “descosturado” das

políticas direcionadas a Educação de Jovens e Adultos.

TABELA 15 - NÚMERO DE DISCIPLINAS CURSANDO ATUALMENTE

94 A grade curricular e carga horária de cada disciplina constam do Anexo B da presente pesquisa. 95 Estes dados foram observados durante a pré-seleção, quando foram pesquisadas as pastas de documentação de cada aluno matriculado no Ensino Médio do CEEBJA/Pinhais, na secretaria do estabelecimento.

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NÚMERO DE DISCIPLINAS EM CURSO OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM1 DISCIPLINA 10 36 2 DISCIPLINAS 14 50 3 DISCIPLINAS 4 14 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 15 - NÚMERO DE DISCIPLINAS CURSANDO ATUALMENTE

36%

50%

14%1 DISCIPLINA

2 DISCIPLINAS

3 DISCIPLINAS

Sabe-se que a atividade profissional e os níveis de escolaridade dos pais são

fatores condicionantes no processo de escolarização de seus filhos96. Assim o

instrumento de coleta de dados da presente pesquisa trouxe questões relativas a

essa temática, buscando evidenciar possíveis vínculos, continuidades e

descontinuidades no processo educacional tendo como referência a escolarização e

profissionalização dos núcleos familiares.

Quanto à escolaridade e atividade profissional dos pais dos respondentes,

puderam ser coletadas as seguintes informações: 78,5% das mães possuem o

ensino fundamental de 1ª fase; desse número, 68% não o completou ou não é

alfabetizada. A escolaridade paterna tem uma pequena vantagem, 71% completou

as séries iniciais (1ª a 4ª séries), 21% fez o ensino fundamental – 2ª fase completo e

8% realizou o Ensino Médio em comparação com apenas 3,5% das mães que

iniciaram essa etapa de ensino.

96 Essa afirmação pode ser corroborada no texto de DI PIERRO (2001), citando TORRES (1999) quando lamenta o “desestímulo aberto” por parte dos organismos internacionais quanto ao investimento em educação de adultos: “... deixar de lado a educação de adultos é ignorar mais uma vez o ponto de vista da demanda educativa, a importância da família como suporte fundamental para o bem estar e a aprendizagem infantil, e, em última instância, como fator relevante nas condições de aprendizagem no meio escolar. Educar os adultos-pais e mães de família e os adultos-comunidade é indispensável para o alcance da própria Educação Básica para Todas as Crianças. (TORRES, 1999 apud DI PIERRO et al, 2001)

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Assim, ainda que os dados não nos permitam generalizar, é possível verificar

elementos de continuidade na não-conclusão da educação básica na relação

idade/série, entre os alunos do CEEBJA-Pinhais e a trajetória de vida escolar de

seus pais.

No que diz respeito às atividades profissionais dos pais, pode-se constatar

que 57% das mães não possui uma atividade profissional remunerada sendo

consideradas “do lar”; 26% é de autônomas ou que trabalham na informalidade; 7%

trabalha no comércio e 10% é aposentada. Quanto aos pais, 10% é de falecidos e

não foi informado o tipo de profissão que possuíam; 28% é de aposentados; 28%

trabalha no setor de prestação de serviços; 25% trabalha na agricultura e 9%

trabalha na área da construção civil.

É interessante observar as características de gênero que tiveram

consideráveis modificações com o passar de gerações. O espaço que antes era

ocupado pela maioria das mães, o “lar”, na geração posterior é invertido para os

postos de trabalho formais e principalmente informais.

Segundo dados apresentados na pesquisa de MARCONATO (2002) referente

a inserção profissional da mulher catarinense na educação formal, nos últimos vinte

anos, cerca de 20 milhões de brasileiras ingressaram no população

economicamente ativa, devido “a mudanças no conceito de trabalho, que passou a

incluir atividades como de alto consumo e produção familiar” (PACELLI apud

MARCONATO, p. 41). No entanto esse desenvolvimento da mulher no mundo do

trabalho, não representou necessariamente o avanço da igualdade entre os gêneros.

Segundo a autora, as mulheres continuam a desempenhar dupla jornada de

trabalho, ganham salários menores que os homens quando exercem a mesma

função, e por vezes são preteridas na hora de serem promovidas a cargos de maior

prestígio e poder.

Com base nos dados referentes aos aspectos da vida profissional e da

escolaridade dos pais dos respondentes, podemos inferir algumas conexões entre a

não-conclusão da educação básica na relação idade/série dos pesquisados e a

possível necessidade de contribuição na renda familiar. Levando em consideração

que a maioria dos alunos que compõem a amostra já está integrada, ou pelo menos

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esteve integrada no processo produtivo97, tem-se claro que, por necessidade de

contribuir economicamente no espaço familiar, esse indivíduo foi levado, no decorrer

de sua vida, a abandonar a escola.

Com relação à motivação que levou o pesquisado a ingressar na Educação

de Jovens e Adultos, a categoria trabalho alavanca todas as outras intenções. De

acordo com os dados, 64% respondeu que a decisão de reiniciar os estudos na EJA

está intimamente ligada às questões relativas às exigências, melhoria e mobilidade

dentro do processo produtivo. Quanto à intenção de continuidade dos estudos,

através de cursos profissionalizantes e técnicos ou ingresso em uma universidade,

25% apontou as alternativas referentes a essa motivação; os outros 11% estão

ligados especificamente à satisfação pessoal (compreensão da realidade que os

cerca, influência dos filhos, etc).

É interessante ressaltar o número de respostas que consideravam a

continuidade dos estudos ligada a cursos técnicos e profissionalizantes. Dos sete

respondentes, apenas dois consideraram a possibilidade de ingressar em um curso

universitário. Esse tipo de resultado demonstra o quanto à educação para esses

indivíduos representa principalmente uma forma de melhoria das condições sócio-

econômicas mais emergentes, enfocando o pensamento ligado ao “mercado de

trabalho”, pois os cursos que mais apareceram como futuros estudos estão ligados

às necessidades que se apresentam atualmente no âmbito profissional98. TABELA 16 – MOTIVAÇÃO QUE LEVOU A INGRESSAR NA EJA

MOTIVAÇÃO PARA INGRESSO OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM CONTINUIDADE DOS ESTUDOS 7 25 LIGADA AO TRABALHO 18 64 SATISFAÇÃO PESSOAL 2 7 OUTROS 1 4 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 16 – MOTIVOS PARA INGRESSAR NA EJA

97 A questão da trajetória do grupo no que diz respeito ao mundo do trabalho, será melhor demonstrada e analisada no próximo tópico, nas questões finais do instrumento de coleta de dados da presente pesquisa. 98 Através das respostas observou-se que grande parte dos que estão fazendo algum curso fora do espaço escolar ou que pretendem estudar após o término do Ensino Médio, são ligados à informática, vendas e cursos técnico-profissionais.

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157

25%

64%

7% 4%

CONTINUIDADE DOSESTUDOS

LIGADA AO TRABALHO

SATISFAÇÃO PESSOAL

OUTROS

Foi solicitado, dentro da mesma questão, que os respondentes citassem a

alternativa de maior importância dentre todas as ofertadas, e pôde-se observar que

a necessidade de se conseguir um emprego melhor (mobilidade profissional), e as

exigências do próprio trabalho que estão desempenhando atualmente são as

questões mais destacadas, perfazendo o total de 65% das respostas. Esse resultado

vai ao encontro de pesquisas anteriores que tratam de temática semelhante99. Neste

sentido, segundo HADDAD (2000, p. 50), “atribui-se à escola o mérito de possibilitar

a superação de dificuldades impostas pelo mundo do trabalho e da ascensão social”.

Esse autor destaca também o fato de que estes mesmos alunos “reconhecem que a

escola oferece habilidades básicas para obtenção posterior de um conhecimento

técnico, além de atribuírem a ela a qualificação social, ou seja, aprenderem tratar

bem as pessoas, a defender seus direitos e discutir vários assuntos” 100.

Essas contribuições de diferentes pesquisas podem corroborar com os dados

obtidos na questão que diz respeito à importância que o pesquisado dá ao

aprendizado que está tendo atualmente no CEEBJA. Através da tabela/gráfico a

seguir, observa-se uma estreita relação entre o futuro profissional, a necessidade de

compreensão da realidade e o valor que agregam aos conhecimentos que são

disponibilizados dentro do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e

Adultos de Pinhais.

TABELA 17 – ASPECTOS QUE CONSIDERA IMPORTANTE DENTRO DO APRENDIZADO

QUE RECEBE NO CEEBJA

99 Pesquisas destacadas: (Cesana, 1992; Dorigon, 1997; Lassalvia, 1992 e Almeida, 1993). 100 As pesquisas referentes à relação escola e trabalho fazem parte do texto de Haddad, Sérgio. O Estado da Arte das Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Ação Educativa. 2000.

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IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEM COMPREENSÃO DA REALIDADE 8 20 EM RELAÇÃO AO SEU COTIDIANO 8 20 PARA SEU FUTURO PROFISSIONAL 24 60 TOTAL 40 100%

GRÁFICO 17 – PONTOS QUE CONSIDERAM MAIS IMPORTANTES NO APRENDIZADO

DO CEEBJA

20%

20%60%

COMPREENSÃO DAREALIDADE

EM RELAÇÃO AO SEUCOTIDIANO

PARA SEU FUTUROPROFISSIONAL

Observa-se que 60% dos respondentes considera importante o aprendizado

no CEEBJA para o seu futuro profissional. Pode-se inferir daí a necessidade

fundamental de conteúdos, metodologia e didática adequados a dar conta desse

vínculo entre o processo de escolarização na EJA e o mundo do trabalho, buscando-

se atender aos anseios de seu alunado.

Os dados referentes ao grau de dificuldade que os alunos atribuem aos

conteúdos das disciplinas que concluíram ou que estão em processo de conclusão

demonstram que a maioria considera ter pouca dificuldade para compreender e

assimilar os conhecimentos ministrados em aula (78%), e 7% afirma não ter

dificuldade alguma. Apesar desses resultados, levanta-se um outro questionamento,

essa facilidade de compreensão e assimilação dos conteúdos se dá por um

aprendizado realmente significativo, pela real qualidade de ensino ou pelo

facilitamento e aligeiramento do ensino noturno?

Essa questão será retomada no final desse tópico, quando trataremos do

resumo das considerações sobre a escolaridade do aluno do CEEBJA. No entanto,

com relação a esse tema, é importante destacar a conclusão da pesquisa de

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OLIVEIRA (2004) sobre a recente expansão da educação básica no Brasil e as

conseqüências para o ensino médio noturno; a autora destaca que, apesar dessa

modalidade de ensino ter crescido muito durante a última década, “os problemas

inerentes ao Ensino Médio agravam-se quando se trata do turno da noite”, por vários

fatores: instalações precárias, atividades restritas à sala de aula, e por vezes um

certo nível de condescendência por parte dos professores em relação ao rendimento

de seus alunos101.

TABELA 18 – GRAU DE DIFICULDADE ATRIBUÍDO ÀS DISCIPLINAS DO ENSINO MÉDIO

DO CEEBJA

GRAU DE DIFICULDADE DE ASSIMILAÇÃO DE CONTEÚDOS E DISCIPLINAS OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM NENHUMA DIFICULDADE 2 7 POUCA DIFICULDADE 22 79 RAZOÁVEL DIFICULDADE 3 11 MUITA DIFICULDADE 1 4 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 18 – GRAU DE DIFICULDADE ATRIBUÍDO PELOS RESPONDENTES ÀS

DISCIPLINAS DO ENSINO MÉDIO DO CEEBJA

7%

78%

11% 4%NENHUMA DIFICULDADE

POUCA DIFICULDADE

RAZOÁVEL DIFICULDADE

MUITA DIFICULDADE

101 Para saber mais sobre essa e outras pesquisas relacionadas ao ensino médio e educação de Jovens e Adultos ver: ; FRIGOTTO,Gaudêncio (org,) CIAVATTA, Maria. Ensino Médio: Ciência,

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160

Uma informação importante diz respeito à relação do aprendizado das aulas

no CEEBJA e a vida diária dos respondentes. O resultado pode ser apresentado a

seguir:

TABELA 19 – CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE AS AULAS DO ENSINO MÉDIO DO

CEEBJA E A VIDA COTIDIANA DOS PESQUISADOS

CORRELAÇÃO DAS AULAS DO CEEBJA E SEU COTIDIANO OCORRÊNCIAS PERCENTAGEMNENHUMA 3 11 POUCA 3 11 RAZOÁVEL 9 32 MUITA 13 46 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 19 – CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE AS AULAS DO ENSINO MÉDIO DO

CEEBJA E A VIDA COTIDIANA DOS PESQUISADOS

11%11%

32%

46%NENHUMA

POUCA

RAZOÁVEL

MUITA

Do total da amostra, 46% considerou que existe estreita relação entre o

aprendizado teórico e a vida cotidiana; 32% acha que existe razoável relação e 22%

considera que há pouca ou nenhuma correlação. Esse resultado vai ao encontro de

estudos como o de RIBEIRO (1999), que em sua pesquisa sobre os níveis de

habilidades e atitudes em diferentes contextos do uso da leitura e escrita no

município de São Paulo, demonstrou que o nível de escolaridade e a utilização da

leitura e escrita no mundo do trabalho facilitam e oportunizam maior desempenho

em atividades que requerem correlação com o aprendizado formal e atitudes

cotidianas102.

cultura e trabalho.Brasília:MEC,SEMTEC,2004.p.157 – 179. 102 Ver mais em: RIBEIRO, Vera Mª Mazagão. Alfabetismo e Atitudes: pesquisa com jovens e adultos.Ação Educativa, 1999.

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Quanto à utilização de espaços alternativos como biblioteca, laboratórios de

informática ou ciências, ginásio entre outros, durante as aulas de Ensino Médio do

CEEBJA, as respostas são bastante negativas, cerca de 92% nunca utilizou espaços

além da sala de aula e apenas 4% utiliza semanal e mensalmente o ginásio e a

biblioteca escolar.

TABELA 20 – USO DE ESPAÇOS ALTERNATIVOS DURANTE AS AULAS DE ENSINO

MÉDIO DO CEEBJA

UTILIZAÇÃO DE ESPAÇOS ALTERNATIVOS OCORRÊNCIAS PERCENTAGEMSEMANALMENTE 1 4 MENSALMENTE 1 4 NÃO UTILIZAM OUTROS ESPAÇOS ALÉM /SALA DE AULA 26 92 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 20 – USO DE ESPAÇOS ALTERNATIVOS DURANTE AS AULAS DE ENSINO

MÉDIO DO CEEBJA

4% 4%

92%

SEMANALMENTE

MENSALMENTE

NÃO UTILIZAMOUTROS ESPAÇOSALÉM /SALA DE AULA

Estes dados, apesar de decepcionantes, demonstram a real situação que os

alunos do curso de Educação de Jovens e Adultos enfrentam dentro da Estrutura do

CAIC-Pinhais. Como já foi mencionado no Capítulo sobre a estrutura do CEEBJA-

Pinhais, a Prefeitura Municipal é responsável pelo prédio onde o referido Programa

acontece, no entanto, o espaço também pertence à escola de Ensino Fundamental

Antônio Andrade, de responsabilidade da Prefeitura. Por essa razão, os espaços

como Laboratórios (informática, ciências, artes, etc) e Biblioteca Geral funcionam

apenas no horário mantido pelos funcionários da Prefeitura, ou seja, no período

diurno, não sendo permitida a utilização por parte dos estudantes da noite.

Essa falta de articulação entre as esferas estaduais e as municipais acarreta

prejuízo quase que exclusivamente para os alunos da EJA, além da relativa

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“facilidade” de assimilação dos conteúdos das disciplinas, reforçam uma das

conclusões que HADDAD (2000) levanta a partir das pesquisas sobre o Estado da

Arte da Educação de Jovens e Adultos no Brasil: A crise do ensino noturno passa pelo aluno que não consegue questionar os esquemas rígidos da escola regular e, por vezes, quer que lhe seja ‘facilitada’ a conclusão dos estudos; passa por professores que vêem no turno uma continuidade das práticas com crianças (FERNANDES apud HADDAD, 2000, p.20); por coordenadores pedagógicos e diretores que julgam o turno noturno como uma perda de tempo, restringindo o acesso a materiais, equipamentos e espaços específicos da escola (CAFFER apud HADDAD, 2000, p.20).

Sobre o uso de equipamentos tecnológicos básicos como microcomputador,

as respostas foram as seguintes: cerca de 35,7% nunca utilizou e nem sabe utilizar;

46,4% sabe utilizar razoavelmente, mas não é permitido dentro do estabelecimento

escolar (CEEBJA); 10,7% possui noções básicas, mas não acha necessário usá-las

durante as aulas do CEEBJA e 7,2% não respondeu nenhuma das alternativas.

Outro ponto a mencionar é que cerca de 92,8% respondeu que o CEEBJA não

disponibiliza esse tipo de ferramenta aos seus alunos, e 7,2% não respondeu esta

questão.

A indisponibilidade do equipamento (microcomputador) é confirmada pela fala

do próprio Diretor do CEEBJA, em entrevista dada à pesquisadora (fevereiro 2004),

quando comenta que o Laboratório existente é de uso exclusivo dos alunos do

ensino fundamental regular tendo, para essa finalidade, pessoal responsável para a

manutenção e atendimento ao público diurno, e que o Laboratório destinado aos

alunos da EJA ainda não está disponível e não tem data definida para sua

implementação. Nas palavras do Diretor: ...no momento o Laboratório de Informática está desativado, mas vai ser reativado, porque nós temos alguns equipamentos, mas ainda não tem data definida... o uso dos equipamentos do pessoal “do dia” (responsabilidade da equipe da prefeitura), não está disponível para nós. Ainda a gente não tem esse tipo de integração. Eu acredito que é uma questão de tempo(ENTREVISTA concedida pelo Diretor do CEEBJA-Pinhais em 03/07/04). Outro aspecto importante a considerar, e que constitui também uma

particularidade que diferencia a EJA do ensino regular, é que uma boa parte de seu

alunado ou já concluiu ou participa paralelamente de outras atividades formativas,

em geral, ligadas ao mundo do trabalho.

Assim, a questão referente a cursos extras que estariam realizando ou que já

concluíram, obteve respostas variadas e bastante heterogêneas quanto às

características e finalidades dos cursos; dos 28 respondentes, cerca de 35,7% fez

ou está fazendo cursos de caráter profissionalizante, que vão desde treinamento no

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163

próprio espaço de trabalho, até cursos específicos de centros profissionalizantes

como Senai e Sebrae; oito dos 28 respondentes (cerca de 28,5%) concluíram ou

estão fazendo cursos ligados à área de informática, em estabelecimentos

particulares; e aproximadamente 39% respondeu que não fez e não está fazendo

nenhum curso fora do Ensino Médio do CEEBJA.

Resumindo as questões relativas a escolaridade dos pesquisados:

O resultado dos dados referentes à vida escolar dos pesquisados, de seus

pais, além das questões que dizem respeito aos motivos, importância e grau de

dificuldade que encontram dentro do Ensino Médio do CEEBJA – Pinhais, podem

assim ser resumidos: dos 28 respondentes, cerca de 22 realizaram o Ensino

Fundamental – 1ª fase (1ª a 4ª série), em Instituições Regulares de Ensino, ou seja,

no período correspondente à idade/série.

No entanto, a partir do Ensino Fundamental – 2ª fase vemos estes números

mudarem radicalmente, 71% dos pesquisados concluíram o ensino de 5ª a 8ª série

na modalidade supletiva ou de ensino de Jovens e Adultos (CEEBJA). Quanto ao

tipo de Instituição onde foi realizado o Ensino Fundamental como um todo, se

pública ou privada, apenas 4% responderam que o Ensino Fundamental de 2ª fase

foi realizado em Instituições Particulares.

Quanto ao tempo fora de sala de aula antes de ingressarem na modalidade

de EJA, as respostas demonstraram que a maioria dos pesquisados esteve no

mínimo cinco anos afastada (72%), e cerca de 58% estiveram fora do ensino formal

por mais de dez anos.

O número de respondentes que ingressou na EJA a partir do Ensino Médio

perfaz 57% do total da amostra, sendo apenas 25% os que iniciaram o Ensino Médio

na modalidade Regular.

Quanto ao grau de escolaridade da família, pôde-se observar que a maioria

possui o Ensino Fundamental incompleto (78% das mães e 71% dos pais), e que os

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164

pais possuem pequena vantagem no que diz respeito aos anos de estudo em

relação às mães.

A respeito da importância que os respondentes dão ao aprendizado no

CEEBJA, e que os motivou a ingressar na EJA, as opiniões refletem estreita ligação

com o mundo do trabalho. Sobre os motivos que os levaram a estudar novamente,

64% considerou as questões ligadas ao trabalho como mais relevantes, e da

importância dada ao aprendizado do CEEBJA, 60% considera importante para seu

futuro profissional.

Quanto às disciplinas ofertadas no Ensino Médio do CEEBJA, verificou-se

que 71% dos pesquisados concluíram no mínimo três disciplinas, e 49% está em

processo de finalização de disciplinas, ou seja, realizaram quase 10 disciplinas no

total. A grande maioria está matriculada em uma ou duas disciplinas, na

porcentagem de 86% da amostra. No que diz respeito ao grau de dificuldade

encontrado na compreensão e assimilação dos conteúdos, 89% considera ter

razoável ou pouca dificuldade, e apenas 4% respondeu ter muita dificuldade na

aprendizagem.

Apesar de grande parte das respostas serem positivas quanto à relação entre

o que aprendem nas aulas e a vida cotidiana dos pesquisados (46% para muita

correlação e 32% para razoável correlação), a questão sobre a utilização de espaços

alternativos como biblioteca, laboratórios, ginásio e locais fora do espaço escolar

para serem vivenciados e experimentados, como forma de incrementar as aulas, foi

bastante negativa, pois 92% respondeu que não utiliza qualquer espaço que não

seja a própria sala de aula para seus estudos e porventura pesquisas solicitadas.

Pelo que foi apresentado até o momento, podemos considerar que a maioria

dos alunos do CEEBJA – Pinhais parece satisfeito com o aprendizado no Programa.

No entanto se formos refletir sobre o contexto adverso que se apresenta no

estabelecimento (desarticulação entre Município e Estado, falta de liberdade para

utilização dos espaços alternativos, ausência de material didático mais atualizado),

podem surgir dúvidas quanto à real situação desse ensino. Para que se pudesse

analisar com maior propriedade a qualidade do ensino desse Programa, assim como

de outros ligados a EJA, seriam necessárias pesquisas posteriores, além de políticas

que viabilizassem avaliações sistemáticas e periódicas dos cursos de Educação de

Jovens e Adultos.

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Outro aspecto relevante que se apresentou nas respostas dos alunos é a

contradição entre a realidade e a teoria que norteia a EJA. De acordo com o Parecer

(n.11/2000), a EJA deve incentivar os alunos a continuar seus estudos, no entanto,

através da falta de integração entre as modalidades da Educação Básica, que se

apresenta pela desarticulação das esferas públicas (municipais e estaduais),

contribuem para o caráter marginal e preconceituoso do aluno da EJA em relação

aos alunos do Ensino Regular. A ausência de espaços comuns, e de atividades

integradas entre o ensino regular e a educação de jovens e adultos, colabora para

que os alunos da EJA sintam-se excluídos do espaço que também é por direito

deles. Isso tudo contribui para que muitos desistam ou sintam-se incapazes de

continuar seus estudos.

Dando continuidade a nossa apresentação dos dados coletados, no próximo

item trataremos sobre as questões relativas à categoria trabalho. Nessa etapa,

utilizaremos, além de instrumentos de caráter quantitativo (tabela/gráfico), trechos

das respostas dos pesquisados para que assim possamos traçar algumas

considerações entre as opiniões dos respondentes e as reflexões teórico-conceituais

e metodológicas referentes ao assunto.

5.3.3.3 Sobre o Trabalho

A primeira questão referente ao grupo de perguntas ligadas à categoria

Trabalho, diz respeito a que tipo de conceito os alunos do Ensino Médio do CEEBJA

associam ao tema. Foram oferecidas cinco opções para que marcassem as

alternativas que estivessem de acordo com suas opiniões, sendo uma delas aberta

para que expressassem outros conceitos que, porventura, não fossem

contemplados.

As alternativas basearam-se numa perspectiva histórico-dialética,

caracterizando, por esse motivo, conceitos que abarcassem duas dimensões

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distintas e articuladas da categoria Trabalho103, como nos coloca FRIGOTTO (2002),

“trabalho como mundo da necessidade e trabalho como mundo da liberdade”, ou

seja, considerar o trabalho subordinado às necessidades imperativas do ser humano

para suprir e manter sua vida social e biológica e, a partir dessa satisfação básica, a

fruição do trabalho “mais especificamente humano – trabalho criativo e livre ou

trabalho não – delimitado pelo reino da necessidade” (FRIGOTTO, 2002, p. 14).

Todos os respondentes assinalaram mais de uma alternativa, e com base no

número de incidências foi construída a seguinte tabela e gráfico com o total das

ocorrências e porcentagem:

TABELA 21 – CARACTERIZAÇÃO DO CONCEITO QUE OS PESQUISADOS ASSOCIAM A

CATEGORIA TRABALHO

CONCEITOS OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM

AUTO-REALIZAÇÃO 12 27 INDEPENDÊNCIA 8 18 SATISFAÇÃO DE NECESSIDADES BÁSICAS 23 52 NÃO RESPONDEU 1 2 TOTAL 44 100%

GRÁFICO 21 – CONCEITO QUE ASSOCIA A CATEGORIA TRABALHO

27%

18%53%

2%

AUTO-REALIZAÇÃO

INDEPENDÊNCIA

SATISFAÇÃO DENECESSIDADESBÁSICAS

NÃO RESPONDEU

Pelos dados podemos observar que 53% dos pesquisados associam o

Trabalho à forma de satisfazer às necessidades básicas, tais como a alimentação,

moradia, vestimenta, educação, saúde etc. Os 47% restantes consideraram o

103 Para maior aprofundamento sobre a categoria trabalho ver: MARX (1983), LUKÁCS (1978), GRAMSCI (1979)

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significado do Trabalho estar ligado à auto–realização e independência (27% e 18%

respectivamente) e 2% não respondeu.

Da questão aberta que solicitava ao pesquisado a especificação de qual outro

tipo de conceito poderia associar ao Trabalho, apenas três pessoas expressaram

suas opiniões. Uma das respostas coincidia com a alternativa sobre a satisfação das

necessidades básicas, as outras duas opiniões não deixaram claro qual tipo de

associação faziam em relação ao assunto, parecendo apenas um “desabafo” quanto

à própria situação em que se encontravam no momento. Esse parece ser o caso do

respondente nº 23, que destacou: “...só pelo motivo de não estar trabalhando com

carteira assinada, não quer dizer que sou folgada, faço algum serviço doméstico

informal, que não deixa de ser trabalho.”

Essa opinião, apesar de ter sido expressa por apenas um respondente, nos

faz refletir sobre a supervalorização que a maioria das pessoas dá ao emprego

formal, especificamente a carteira assinada. Pode-se observar, de maneira

subliminar, na resposta do aluno, que a classificação de um trabalho se apresenta,

moralmente importante, se estiver atrelado à formalidade. Como se as diversas

modalidades de trabalho existentes dentro do sistema capitalista atual, nas quais

grande parte da população está inserida, fossem menos qualificadas e valorizadas.

Analisando as alternativas que obtiveram maior incidência e que se referem à

satisfação de necessidades básicas e auto–realização, pode-se considerar que,

mesmo distintas, elas se complementam e, portanto indicam que a categoria

trabalho representa a estes jovens e adultos a maneira de se tornarem um ser

completo, de assumirem a própria existência de forma independente.

Nesse sentido, é pertinente retornar à perspectiva histórico-dialética, ou seja,

é a partir do trabalho que o Ser humano constrói e reconstrói sua existência, através

das múltiplas relações que troca entre seus semelhantes, e o meio em que vive, e

portanto, o trabalho é “...humanamente imprescindível ao homem desde sempre”

(FRIGOTTO, 2002, p.12). Essa dimensão ontológica do trabalho, ou seja, sua

dimensão criadora da vida humana, difere das formas que o trabalho assume dentro

do modo de produção capitalista, quando a alienação e “mercantilização” do

trabalhador torna-se um dos pressupostos para que as desigualdades estruturais

intrínsecas a esse modo de produção persistam.

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Apesar disso, vivemos dentro do capitalismo, e é dentro dele que

encontramos aspectos tão contraditórios como as respostas dadas pelos

pesquisados que, mesmo fazendo parte desse processo alienante e escravizante do

sistema capitalista atual, ainda consideram, mesmo que subjetivamente, o Trabalho

um espaço educativo e libertador.

Na seqüência das análises, a questão 27 tratou da situação em que se

encontram os alunos pesquisados em relação ao trabalho, ou seja, se estão

trabalhando atualmente, se nunca trabalharam ou se estão sem trabalho. A tabela e

gráfico abaixo representam as respostas obtidas:

TABELA 22 – SITUAÇÃO ATUAL EM RELAÇÃO AO TRABALHO

SITUAÇÃO ATUAL OCORRÊNCIAS PERCENTAGEM DESEMPREGADO 7 25 PROCURANDO PRIMEIRO EMPREGO 1 4 TRABALHANDO 20 71 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 22 - SITUAÇÃO ATUAL EM RELAÇÃO AO MUNDO DO TRABALHO

25%

4%71%

DESEMPREGADO

PROCURANDO PRIMEIROEMPREGO

TRABALHANDO

Através da tabela/gráfico podemos observar que mais da metade dos

respondentes está trabalhando atualmente (71%) e que apenas um dos 28

representantes da amostra nunca trabalhou, mas assim como os outros 25% que

estão desempregados, ele está à procura de trabalho. Esses dados são

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significativos, em primeiro lugar, para compreendermos que a EJA não é somente

uma modalidade educacional para jovens e adultos que não concluíram a educação

básica em sua relação idade/série. A EJA é, também, e fundamentalmente, uma

modalidade educacional de jovens e adultos Trabalhadores.

Apesar desse resultado ter um aspecto positivo tendo em vista que grande

parte da amostra está inserida no mercado de trabalho e cerca de 70% desse grupo

está com registro em carteira, corroborando com números oficiais nacionais

referentes ao sensível aumento no contingente de pessoas com carteira de trabalho

assinada (3,3%) e queda no número de empregados sem registro (3,4%) de 2002

para 2003104, observa-se, através das opiniões pessoais desses jovens e adultos, a

inquietação e necessidade de aquisição de conhecimentos e, principalmente,

certificados, para a manutenção e mobilidade no processo produtivo.

Perguntamos aos pesquisados que estão sem emprego, se o CEEBJA

contribui e de que maneira para as atuais exigências do mundo do trabalho e que

fazem parte do contexto da proposta curricular do referido Programa. As respostas

foram bastante sucintas, no entanto, evidenciaram a preocupação com a certificação

referente à conclusão do Ensino Médio. Dos oito respondentes, seis colocaram

como principal contribuição o Certificado de Ensino de 2º grau. Segundo a opinião

de um dos pesquisados “(...) a conclusão do 2º grau é fundamental para um

emprego digno e estável” (respondente nº 12). As outras duas contribuições

referiam-se à melhoria das relações sociais, pois através dos novos contatos que

estavam mantendo entre professores e colegas, aumentaria a possibilidade de

novos contatos para conseguir um novo trabalho. Assim se expressa outro sujeito da

pesquisa : “(...) está me ajudando a conhecer pessoas diferentes, a conversar com

mais segurança com os professores e com os outros”(respondente nº 23).

Também foi solicitado ao grupo que está trabalhando atualmente que

assinalasse as alternativas mais relevantes referentes à contribuição que o ensino

no CEEBJA estava propiciando para a melhoria da sua ocupação profissional

(ascensão e mobilidade no trabalho).

Todos os respondentes do grupo dos que estão trabalhando no momento

assinalaram, no mínimo, duas das cinco alternativas que lhes foram oferecidas, e

dentre estas as respostas mais freqüentes referiam-se aos conteúdos aprendidos e

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ao certificado de conclusão do Ensino Médio (cerca de 65% das respostas) como

fatores que contribuiriam para a melhoria profissional. Dentre os que responderam

mais de duas alternativas, foi incluída a questão de melhoria das relações sociais, ou

seja, dos novos contatos que travariam dentro do espaço escolar.

Pelas respostas das questões feitas tanto para o grupo que está trabalhando

atualmente105, quanto para os que não estão trabalhando106, pôde-se levantar alguns

pontos em comum nas respostas.

O primeiro deles refere-se à importância atribuída à necessidade da obtenção

do certificado de conclusão do Ensino Médio para o ingresso ou mobilidade dentro

do processo produtivo. Se somarmos as respostas dos dois grupos, verificaremos

que a grande maioria considera de primordial importância a conclusão do Ensino

Médio para a conquista de uma vaga no mercado de trabalho (grupo desempregado)

ou melhoria no atual emprego.

A questão da certificação é bastante controversa, pois mesmo sendo um dos

objetivos básicos do Programa do Centro de Educação Básica para Jovens e

Adultos, não só de Pinhais como também de todos os CEEBJAs que integram a EJA

do Paraná, não pode ser considerada a finalidade dessa política pública. O incentivo

da continuidade, ou seja, “propiciar a todos a atualização de conhecimentos por toda

a vida” (Parecer 11/2000, p.11), que se refere à função qualificadora da EJA, este

sim, de acordo com o texto do próprio relator do Parecer das Diretrizes da Educação

de Jovens e Adultos, significa o “próprio sentido da EJA” (id., ib.).

Apesar da certificação ser um dos fatores de maior importância dentro do

CEEBJA, categoria destacada nas concepções de políticas públicas e nos discursos

oficiais de autoridades governamentais e empresários, refletidas nas falas tanto para

alunos quanto para os professores e Direção, observou-se a preocupação por parte

dos pesquisados com relação aos conteúdos e a troca de contatos que estabelecem

no ambiente escolar.

De acordo com as opiniões de alguns dos pesquisados, existe a consideração

de que o Ensino no CEEBJA propicia a melhoria do ato da própria comunicação, não

apenas na questão de novos contatos com vistas a um possível resultado

profissional, mas também na interação entre seus pares e o grupo docente. Um 104 Dados obtidos pelo PNAD/2003. IBGE. 105 Ver as questões 30 e 31 do questionário, apêndice A.

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exemplo é a afirmação de um dos respondentes do grupo que está sem trabalho, na

sua opinião quanto à contribuição que o ensino no CEEBJA estava lhe

proporcionando em relação à obtenção de um emprego: “(...)está me ajudando, na

atitude de comunicar-me com outras pessoas. Antes de entrar no CEEBJA eu era

muito fechada, tímida. Não conseguia expressar-me” (respondente nº 25).

Essa opinião discente vai ao encontro do pensamento oficial, pois de acordo

com a fala do Diretor do CEEBJA – Pinhais, a contribuição que o Programa propicia

aos alunos lidarem com as atuais modificações no mundo do trabalho, que ocorrem

de maneira indireta, e não como uma finalidade específica.

(...) com certeza, a partir do momento que o sujeito estuda, ele ganha uma sociabilização maior, uma compreensão maior do mundo. Então é nesse momento que o estudo no CEEBJA entra, justamente contribuindo para o mundo do trabalho... Hoje o mundo do trabalho exige categorias totalmente diversificadas do trabalhador, que antigamente. Exige um sujeito que saiba inovar, trabalhar em grupo, saiba tomar decisões, saiba como se relacionar,saiba como sair de situações das quais ele não encontra saída em grupo, entende? Então exige-se um sujeito totalmente sociabilizado hoje, O que há vinte anos o mercado de trabalho exigia, que era um sujeito totalmente seccionado, exclusivo na sua área, sem contato com o universo daquilo que uma empresa abrange ( entrevista concedida em 03/07/04).

Observa-se pela fala do atual Diretor do Programa, uma linha de pensamento

que condiz com os direcionamentos oficiais da educação do final da década de

1990, ou seja, com perfil neoliberal de lidar com questões referentes ao ensino,

falando do trabalho em grupo, mas ao mesmo tempo reforçando a necessidade do

individualismo e o “fazer por si mesmo” para se alcançar o objetivo. Uma questão

interessante que poderia ser levantada a partir desse trecho da entrevista, refere-se

ao caráter contraditório da afirmação do diretor sobre as novas exigências do

trabalhador, principalmente no que diz respeito à mudança do perfil desse

trabalhador que deve deixar de ser “um sujeito seccionado, exclusivo na sua área”.

Como explicar isto num Programa onde as disciplinas são seccionadas e os

professores não têm um conhecimento integral das próprias áreas das quais fazem

parte? Para esse tipo de questionamento talvez sejam necessárias pesquisas

futuras que aprofundem esse debate.

De qualquer modo, na fala do Diretor, plasmada pela concepção neoliberal,

revela-se o pragmatismo utilitário estabelecido pela ordem para o papel da escola:

servir ao “mercado de trabalho” quando formava um trabalhador “totalmente 106 Ver questões 28 e 29 do questionário, apêndice A.

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172

seccionado” e hoje deve servir ao “novo universo da empresa”, que exige um

trabalhador “inovador”.

Voltando aos pontos convergentes das opiniões dos alunos, pode-se observar

que, quanto ao valor que atribuem ao aprendizado que possuem no CEEBJA e a

relação deste para um bom desempenho no atual mundo do trabalho, a maioria

considera de grande importância, e as justificativas são variadas, mas quase todas

estão relacionadas, de alguma maneira, à realização no mundo do trabalho.

Vejamos através das tabelas e gráfico abaixo, o grau de importância que os

respondentes depositam no ensino do CEEBJA, e as justificativas mais recorrentes: TABELA 23 – IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO NO CEEBJA EM RELAÇÃO A UM BOM

DESEMPENHO NO MUNDO DO TRABALHO

IMPORTÂNCIA DO APRENDIZADO NO CEEBJAOCORRÊNCIA

S PERCENTAGEMMUITA IMPORTÂNCIA 22 79 NENHUMA IMPORTÂNCIA 1 4 POUCA IMPORTÂNCIA 2 7 RAZOÁVEL IMPORTÂNCIA 3 11 TOTAL 28 100%

GRÁFICO 23 – IMPORTÂNCIA QUE OS ALUNOS DEPOSITAM NO ENSINO DO CEEBJA

PARA UM BOM DESEMPENHO NO ATUAL MUNDO DO TRABALHO

78%

4%7%

11%

M UITA IM PORTÂNCIANENHUM A IM PORTÂNCIAPOUCA IM PORTÂNCIARAZOÁVEL IM PORTÂNCIA

Pelos dados podemos inferir que a grande maioria dos pesquisados considera

o aprendizado do Programa muito importante no que diz respeito a um bom

desempenho no mundo do trabalho, pois dos 28 respondentes apenas um acha que

o aprendizado no CEEBJA não tem qualquer relação e importância com a questão.

Dentre as justificativas podemos observar, de acordo com a tabela:

TABELA 24 – JUSTIFICATIVAS A RESPEITO DA IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS NO

CEEBJA

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JUSTIFICATIVAS OCORRÊNCIA

S PERCENTAGEMAQUISIÇÃO DE CONHECIMENTO 4 14 MELHORIA NAS RELAÇÕES DE TRABALHO 10 36 MELHORIA NAS RELAÇÕES SOCIAIS E PROFISSIONAIS 10 36 CONSEGUIR EMPREGO 2 7 NÃO RESPONDEU 2 7 TOTAL 28 100%

De acordo com as respostas podemos observar que a questão referente à

melhoria nas relações sociais e, conseqüentemente, profissionais são as mais

citadas como contribuição do ensino do CEEBJA (cerca de 72% das respostas).

Este resultado, embora se aproxime do entendimento do atual Diretor no que diz

respeito ao caráter socializante do processo de ensino do Programa, pode ser

interpretado de forma mais abrangente, diversa do pensamento restrito do Diretor

para quem a socialização proporcionada pela educação na EJA estava subordinada

às exigências passadas e atuais do mercado e das empresas.

Os conhecimentos adquiridos em aula também são considerados pontos

fortes para a melhoria do desempenho profissional, pois além dos conteúdos formais

das disciplinas, as referências ao cotidiano e à realidade facilitam as conexões entre

o aprendido na escola e o vivenciado na prática profissional. Citaremos a seguir

alguns trechos das respostas dos alunos que evidenciam os resultados favoráveis

ao alto grau de importância dedicado ao Ensino Médio do CEEBJA:

1º)sobre autonomia e segurança: “...É muito importante porque a pessoa fica

mais segura de fazer uma entrevista de trabalho, pois sabe falar e escrever bem

melhor que antes” ( respondente nº 8);

2º)sobre a necessidade de atualização e relacionamento interpessoal: “... Por

estar mais atualizada, saberei lidar melhor com as pessoas com quem trabalho”

(respondente nº 11);

3º)sobre as rápidas mudanças no mundo do trabalho e por conseqüência a

competição que existe dentro deste processo: “... Pelo motivo que a cada ano que

passa, tudo está se inovando e tendo mais exigências profissionais”(resp. nº 16), “...

O mercado de trabalho está muito concorrido, e o CEEBJA abriu as portas para que

adultos possam trabalhar e estudar” (resp. nº 2), “... Porque vemos noções básicas

profissionais e de inter-relacionamento pessoal” (resp. nº 22).

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A última questão levanta uma provocação quanto ao grau de satisfação que

os respondentes consideram do Ensino Médio no CEEBJA, em relação aos motivos

que lhes fizeram com que eles retornassem aos estudos. Partimos do pressuposto

que, com base na pesquisa prévia, o grupo possuía um percurso de

desenvolvimento dentro do Programa e, portanto, poderia fazer uma breve análise

do que desejou ao ingressar até o ponto em que está.

Esta necessidade baseou-se no levantamento de outras pesquisas referentes

ao Ensino de Jovens e Adultos107, analisadas por HADDAD (2000) e que

evidenciaram, segundo o autor, as transformações nos desejos desses estudantes

frente ao processo escolar formal: (...)a representação da escola vai se transformando com o passar do tempo. Nessa trajetória, passam primeiro por um momento de expectativa antes do ingresso à escola, depois um momento de decepção, de desânimo, culminando com a desistência. No entanto, o valor que os alunos dão à escola não decresce, vai pelo contrário sendo fortalecido no período em que ficaram fora dela (HADDAD, 1998, p. 49). Pretendíamos verificar se, dentro da nossa pesquisa, essas considerações

mais generalizantes poderiam ser confirmadas ou refutadas.

O que se observou, a partir das respostas do grupo, foi a proximidade das

opiniões dos componentes da nossa amostra, com as considerações das pesquisas

analisadas por HADDAD até 1998. Os alunos do CEEBJA, também possuem um

histórico de desistências e decepções com o processo formal de educação, no

entanto suas aspirações frente à realidade escolar, são bastante otimistas,

considerando o ensino do Programa, até o momento, satisfatório e condizente com

suas motivações iniciais. Para melhor evidenciar esse resultado separamos as

opiniões por categorias mais abrangentes, e que serão agora descritas:

1ª)Compreensão do mundo e aquisição de novos conhecimentos:

Os respondentes que evidenciaram esse tipo de motivação, explicaram que a

satisfação pelo programa vem do fato das disciplinas conseguirem fazer conexões

entre a teoria e o mundo que os cerca. Esse é um dado positivo, pois, seguindo a

linha de pensamento de KUENZER (2000), a escola média verdadeiramente

democrática deve propiciar condições favoráveis para que os alunos trabalhadores

107 As pesquisas citadas que tratam especificamente desta relação aluno-escola são: SOUZA (1994) e DIAS (1998).

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consigam estabelecer relações entre o seu fazer diário, a ciência oficial e a cultura

dominante.

Alguns alunos conseguem definir claramente quando a teoria se conecta com

sua experiência no campo profissional, como por exemplo, o respondente nº 18

quando se considera satisfeito com o ensino do CEEBJA: Sim. Porque na minha área de trabalho a matemática é constante. A metrologia e o desenho são fundamentais para saber, ver, entender e compreender. E isto só é possível estudando. Outros responderam que as informações a respeito do mundo causam

melhoria tanto no aspecto de suas vidas sociais, quanto produtivas, exemplo disso é

o que nos coloca a respondente nº 14: Para o desenvolvimento e conscientização do mundo atual, pela coleta de informações que nos pluga a realidade e conseqüentemente a melhoria no nossa vida pessoal e profissional. 2ª)Valorização da auto-estima, realização pessoal:

Quase todos os pesquisados, em algum momento das respostas, considerou

a questão de satisfação pessoal como um dos pontos importantes para o retorno às

atividades escolares. No entanto, alguns foram categóricos ao considerar esta

categoria como a mais destacada no que diz respeito a sua satisfação com o ensino

no CEEBJA. Através das opiniões, pudemos observar o quanto o aprendizado é

valorizado e quanto a consciência do estudante auxilia a sensação de segurança e

autocontrole das situações a serem enfrentadas. Segundo ALMEIDA (1993), os

estudantes jovens e adultos atribuem à escola a qualificação social, que quer dizer,

o aprendizado do bom trato entre as pessoas, a defesa de seus direitos e a

discussão de diversos assuntos.

Citaremos, abaixo, trechos que trazem exemplos da satisfação do

aprendizado no Ensino Médio do CEEBJA em relação à auto-estima dos

pesquisados: “Sim, está contribuindo porque hoje me sinto mais feliz e sei que sou capaz. Posso enfrentar um curso ou até mesmo daqui algum tempo uma faculdade”(respondente nº 7). “Gostei muito de retornar as aulas, fez para minha vida pessoal uma grande diferença voltar aos estudos. Estou muito feliz de estar concluindo o Ensino Médio” (respondente nº 21). “Estou satisfeita, pois ativa nossa memória, aumenta a auto-estima, e facilita mais nossa vida, para convivermos em sociedade com novas oportunidades... como cidadãos” (respondente nº 27).

3ª)Continuidade dos estudos:

Essa talvez venha a ser a categoria mais relevante, que é o desenvolvimento

da função qualificadora da Educação de Jovens e Adultos, ou seja, o caráter

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permanente da educação, que é, segundo o Parecer da EJA : “a base do potencial

humano... o poder de se qualificar, requalificar e descobrir novos campos de atuação

como realização de si” (Parecer nº 11/2000, p. 7). No entanto, apenas dois

respondentes consideram a hipótese de continuidade dos estudos, como motivação

para reingressar no Ensino Médio. Pode-se inferir que, para o restante do grupo, os

anseios dirigem-se para questões mais urgentes, como a conquista de um trabalho

ou melhoria no emprego em que estão. Os trechos que evidenciam essa motivação

foram os seguintes: ... agora eu sei que nunca é tarde para fazer o que sempre sonhei, terminar os meus estudos e concluir uma universidade(respondente nº 15). (...) está contribuindo e muito, pois cada matéria que concluo, fica mais próximo de alcançar o meu tão sonhado objetivo que é como já falei fazer técnico de enfermagem. E só posso fazer quando concluir o Ensino Médio (respondente nº 28). 4ª)A questão da certificação:

Apesar dessa ser a categoria mais mencionada, pois diz respeito à conclusão

de uma etapa que para muitos alunos significa o encerramento de sua trajetória

escolar, observou-se uma profunda preocupação com a importância do aprendizado

que estão tendo. Essa preocupação vai de encontro a resultados de pesquisas

dentro da Educação de Jovens e Adultos que relatam as opiniões desses alunos

frente ao ambiente escolar. Essas pesquisas analisadas sob a ótica de HADDAD

(1998), demonstraram que, na maioria dos casos, os alunos possuem uma visão

bastante crítica não só em relação as suas vivências curriculares, mas também no

que diz respeito as suas aspirações de continuidade nos estudos, e na sua busca de

realização profissional e pessoal, vendo a impossibilidade do sistema escolar

instrumentalizar o indivíduo para o pleno exercício da cidadania108.

Exemplos dessa dupla preocupação, de ao mesmo tempo completar o Ensino

Médio e obter uma boa base de conhecimentos, foram as respostas dos seguintes

pesquisados: ... Retornei a estudar para não ficar para trás, procurando o melhor para mim.O certificado do 2º grau, mais as coisas que estão me ensinando aqui, vão me ajudar para que futuramente eu esteja apto a promoções no trabalho, ou a arrumar uma função com salário melhor (respondente nº 15). ...Estou satisfeita com o ensino do CEEBJA porque sem conhecimento e sem o 2º grau completo, hoje serei mais um procurando emprego (respondente nº 6).

108 Pesquisas referidas: (Foltran,1993); (Hickman,1992); (Portela, 1989).

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Apenas um respondente fez crítica diretamente, não só ao processo de

ensino dentro do CEEBJA, mas também à educação como um todo. Vale a pena

citar sua opinião, pois reflete o caráter bastante heterogêneo e contraditório do grupo

que integra o Ensino de Jovens e Adultos que, apesar de considerar a importância

do que estão aprendendo no Programa, reflete sobre a sua situação e a situação de

todo o ensino direcionado a Adultos: ...Por um lado estou satisfeita com o ensino do CEEBJA, pois, facilita para obter o comprovante de conclusão dos estudos do fundamental e Médio. Mas por outro lado sinto-me frustrada, pois eu queria aprender mais, apreender de verdade, acho que a educação ainda é muito falha. Pois penso que o governo devia dar mais importância para a educação, abrir outros tipos de cursos no CEEBJA – Pinhais (respondente nº 19) Essa posição mais crítica e preocupada com os rumos de seu aprendizado é

algo que no Ensino Médio Regular109, composto principalmente por jovens

adolescentes, talvez não seja tão usual. Essa distinção básica de público entre o

Ensino Médio da EJA e o Ensino Médio Regular, segundo RUMMERT (2002), é

caracterizada pela “diversidade”. Para essa autora, o grupo que integra o Ensino de

Jovens e Adultos, apesar de diverso e heterogêneo, possui, entretanto, uma

característica em comum, que é “a partilha de expectativas, que constituem a

expressão do desejo de viver “uma vida melhor”(RUMMERT, 2002. p.125).

Resumindo as questões relativas à categoria Trabalho:

O último bloco de questões teve por objetivo levantar dados referentes ao

conceito associado à categoria trabalho, situação em que o grupo se encontra frente

ao atual mundo produtivo (se está trabalhando ou não, ou se nunca trabalhou) e a

importância do ensino no CEEBJA em relação as suas aspirações profissionais bem

como a satisfação ou não dos motivos que os fizeram reingressar nos estudos.

Os conceitos que associam à categoria trabalho foram organizados da

seguinte maneira: 53% dos pesquisados associa o trabalho à satisfação de

109 Apesar deste termo se referir ao ensino de Jovens e Adultos por Lei, pois faz parte da educação básica como um todo, tomamos a liberdade de utilizá-lo para exemplificar o ensino médio geral, em que a idade/série está condizente com o que é considerado “normal”.

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necessidades básicas, 18% considera o trabalho como meio de se atingir a

independência, 27% liga a categoria à auto–realização e 2% não respondeu.

Quanto à situação em que os pesquisados se encontram atualmente em

relação ao trabalho, pode-se constatar que, dos 28 respondentes, 20 estão

trabalhando (cerca de 71%) e, desse grupo, 70% é composto por trabalhadores

formais, ou seja, com carteira de trabalho assinada. Sete respondentes já

trabalharam, mas atualmente estão sem emprego, e apenas um nunca trabalhou. A

média de tempo em que o grupo desempregado está fora do mercado de trabalho é

de no mínimo seis a oito meses (cerca de seis respondentes), e no máximo três

anos (um respondente).

Quanto à contribuição que os respondentes consideram do ensino no

CEEBJA para a manutenção ou inserção no mundo do trabalho, a maioria das

respostas estava ligada à questão da certificação. No entanto a qualidade dos

conteúdos e os novos contatos estabelecidos durante o curso também foram fatores

de grande relevância para o grupo.

A maioria considera de grande importância o aprendizado do CEEBJA em

relação a um bom desempenho no atual mundo produtivo (cerca de 79%), 11%

considera de razoável importância e outros 11% (7% e 4% respectivamente)

considera pouco ou sem nenhuma importância o ensino do Programa com relação

ao trabalho. As justificativas ficaram, na maioria das vezes relacionadas à melhoria

nas relações sociais e profissionais (72%), 14% relacionou a base de conhecimentos

que adquiriu no processo escolar, 2% apenas como forma de conseguir emprego

(via certificação) e 2% não respondeu.

A última questão estava ligada diretamente à satisfação dos motivos pelos

quais reingressaram no ensino formal (EJA). As respostas evidenciaram a

valorização da auto–estima, compreensão do mundo atual e aquisição de novos

conhecimentos, a continuidade dos estudos e a certificação como categorias mais

comuns. Grande parte do grupo está satisfeita até o momento com o Programa,

considerando que o mesmo está contribuindo para sua melhoria tanto nas relações

sociais quanto profissionais.

Podemos concluir até o momento, com base nos dados analisados nesse

último tópico, que os alunos do Ensino Médio do CEEBJA – Pinhais, apesar de

considerarem o Trabalho como um espaço de desenvolvimento pessoal, ainda o

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vêem basicamente como forma de satisfação básica das necessidades, no qual o

interesse pelo seu trabalho dirigi-se ao valor de troca proporcionado pelo salário,

reforçando seu aspecto mais alienante, característica das relações capitalistas de

produção.

Também se percebe, tanto no discurso do corpo administrativo (direção,

secretaria), quanto nas opiniões dos alunos que a questão do atendimento às

necessidades do mercado, e a empregabilidade são pontos decisivos para a

continuidade dos estudos. Nesses discursos vemos o quanto a Teoria do Capital

Humano ainda reside e persiste, sob uma nova “roupagem”, sendo justificada e

corroborada pelo ideário neoliberal que se apresenta, de maneira indelével, em

todas as citações.

O próximo Capítulo aprofundará algumas análises das questões

apresentadas e tratará das considerações finais da presente pesquisa assim como

desenvolverá uma breve reflexão sobre os resultados obtidos e as possibilidades e

necessidades do desenvolvimento de novos estudos e pesquisas a partir dos

objetivos atingidos.

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6 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS DAS ANÁLISES E

POSSÍVEIS ENCAMINHAMENTOS FUTUROS

Neste capítulo pretendemos finalizar esta dissertação, verificando

brevemente o processo percorrido a fim de que possamos resgatar os objetivos da

pesquisa, os elementos de maior pertinência e relevância que se evidenciaram nas

análises e as conclusões que chegamos ao final deste processo. Destacaremos,

também, as necessidades e as possibilidades de novas pesquisas relacionadas à

educação de jovens e adultos, em especial no tocante à temática abordada.

Consideramos que todo o encaminhamento deste trabalho foi de grande

importância para que pudéssemos compreender, dentro de nossas possibilidades, a

relação entre o referencial teórico e a realidade de nosso objeto de estudo, cujo

objetivo principal diz respeito à percepção que os alunos da EJA possuem sobre o

ensino no Programa do CEEBJA, e a relação com a situação no mundo do trabalho.

A partir do momento em que iniciamos o levantamento bibliográfico, e

aprofundamos nossas leituras na área da educação, da educação de jovens e

adultos e da relação da educação com o trabalho concomitantemente com a vivência

na realidade da pesquisa de campo, tivemos a oportunidade de relacionar e

apreender com maior abrangência e, por que não dizer propriedade, aspectos

essenciais para nosso estudo.

Também, através das análises dos documentos oficiais referentes à EJA e ao

Ensino Médio, pudemos refletir sobre as concepções e os contextos sócio-históricos

nos quais foram elaborados esses documentos permitindo que fosse possível

levantar considerações sobre o ideário que norteia essas diretrizes e resoluções.

Outro aspecto primordial para a realização positiva desta pesquisa foi o

encaminhamento metodológico escolhido. A partir da opção da perspectiva teórica

baseada na análise histórico – crítica, na qual a apreensão das relações sociais e

das contradições envolvidas e propiciadas por essas relações permite vislumbrar os

sujeitos sociais que fazem parte do processo, bem como compreender o resultado

das ações ocorridas, possibilitou uma aproximação muito concreta com a realidade

dinâmica e processual do objeto pesquisado.

A trajetória percorrida pelo desenvolvimento da pesquisa permitiu que

conseguíssemos atender satisfatoriamente os objetivos que havíamos proposto

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desde o início, portanto é interessante remeter-nos a eles, a fim de que possamos

evidenciar os resultados considerados.

O primeiro objetivo a ser atingido refere-se à contextualização histórica da

EJA no panorama da educação brasileira e especificamente no CEEBJA – Pinhais.

Podemos considerar que ao estudarmos a história da educação direcionada a jovens

e adultos na História da Educação brasileira pôde-se verificar o quanto essa

modalidade de ensino esteve atrelada à educação popular geral e, ao mesmo

tempo, marginalizada ou tratada de maneira compensatória pelas políticas públicas

a ela direcionada. No entanto, através dessa contextualização histórica, foi possível

que redimensionássemos, dentro da história da educação, a importância do ensino

supletivo, pois este pode ser considerado um dos primeiros encaminhamentos

educacionais de políticas públicas direcionadas à população brasileira.

Constatamos, também, no segundo objetivo proposto e pesquisado por meio

das análises dos documentos atuais que norteiam as políticas públicas do Ensino

Médio e da EJA, a presença do ideário neoliberal e a forte influência das agências

internacionais nas fundamentações e orientações do ensino no Brasil, pelas quais a

valorização da educação básica está ligada intimamente ao modelo de

desenvolvimento econômico, social e político do país, proposto e conduzido não de

forma consensual e linear, mas sob influência de contradições e processos de

mediação política e social, formando hegemonias sob influência tanto das elites

tradicionais e de sua adesão negociada ao capital internacional, quanto da

resistência das classes trabalhadoras e populares.

Dessa forma, os recursos financeiros, além das políticas integradas ao nível

da União, Estadual e Municipal, direcionam-se principalmente à fase do ensino

fundamental e Médio, de acordo com a idade/série, sobretudo a partir dos anos de

1990. A EJA, no entanto, possui diretrizes e políticas de caráter excessivamente

“flexíveis”, o que a torna bastante vulnerável e desconectada da Educação Básica,

apesar de estar respaldada perante a Lei, como uma modalidade dessa Educação.

Essa desconexão da EJA em relação às demais modalidades da Educação

Básica (Ensino Fundamental e Ensino Médio), foi bastante característica em todo o

decorrer da história educacional no Brasil. Pôde-se constatar que, apesar da

mudança do termo Ensino Supletivo para Educação de Jovens e Adultos, pouca

coisa foi modificada, pois ainda se observam Programas de caráter

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predominantemente pontuais ou emergenciais para resolver a questão do

analfabetismo e da educação para as pessoas que estiveram fora da escola por um

grande período.

Por fim, o nosso terceiro objetivo, e que pode ser considerado o que mais nos

trouxe dados e nos fez refletir sobre a situação da EJA dentro das políticas públicas

educacionais, diz respeito ao perfil do aluno da EJA, bem como as percepções e

considerações que esses alunos têm do Programa do Centro Estadual de Educação

Básica para Jovens e Adultos do município de Pinhais.

Dentro desse objetivo, tivemos a oportunidade de destacar as considerações

e as conclusões mais importantes da nossa pesquisa, pois através dos dados

fornecidos pela realidade do objeto de estudo, em relação com o referencial teórico e

histórico considerado, enriquecemos nossa aprendizagem, podendo talvez assim

contribuir para o debate sobre a EJA na Educação brasileira.

Uma das primeiras conclusões que pudemos levantar foi a heterogeneidade

do grupo que compõe a EJA, especificamente, o Ensino Médio do CEEBJA –

Pinhais. São pessoas de gênero, perfis e idades variadas, no entanto verificou-se

um grande número de indivíduos na faixa etária entre 20 e 40 anos (64%), ou seja,

pertencem à população com idade “economicamente ativa”, reforçando nossa

justificativa pela escolha do Ensino Médio, em detrimento do Ensino Fundamental.

Sobre essa escolha, é pertinente colocar a experiência da pesquisadora como

professora na alfabetização da EJA. Esse prévio conhecimento da área da pesquisa

possibilitou que fossem verificadas, por exemplo, algumas variáveis quanto às

diferenças existentes dentro da própria modalidade de educação de Jovens e

Adultos, em relação ao Ensino Médio e à Alfabetização e Ensino Fundamental. De

acordo com dados do Programa de Educação de Jovens e Adultos de Pinhais –

PEJA – Pinhais, o grupo que faz parte da alfabetização e do ensino fundamental – 1ª

fase, é composto principalmente por adultos de “maior idade” (acima dos 50 anos), e

normalmente já estão aposentados, ou em vias de se aposentar, com motivações

bem distintas da amostra que compõe nossa pesquisa. Para a maioria daqueles

adultos que estão em processo de alfabetização e no ensino fundamental, o retorno

ao espaço escolar caracteriza a realização de um “sonho”, ou seja, a satisfação

pessoal e, conseqüentemente, o crescimento da auto-estima. Esses dados diferem

dos resultados obtidos pela nossa pesquisa, que apontam a necessidade da

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certificação e da melhoria das condições econômicas, através da obtenção de um

emprego, ou manutenção deste, nas respostas referentes às motivações que os

levaram a retornar aos estudos.

Outro ponto importante relativo ao perfil do aluno do CEEBJA – Pinhais

refere-se ao histórico escolar anterior. Pôde-se constatar que a maioria dos alunos

fizeram o ensino fundamental de 1ª fase em Instituições regulares de ensino, e que a

partir do ensino fundamental de 2ª fase isso se modifica radicalmente. Esse dado

reforça questões sobre a exclusão (desistência e/ou reprovação) de jovens da

escola no período de 5ª a 8ª séries. Também traz relações com outro dado da

pesquisa, referente ao grau de escolaridade dos familiares dos respondentes, pelo

qual constatou-se que a maioria dos pais possuem o Ensino Fundamental

incompleto, o que se pode inferir na conseqüente baixa escolaridade dos filhos. Essa

é uma constatação importante de nossa pesquisa, pois evidencia cabalmente as

mediações e condicionantes que se estabelecem nos processos das desigualdades

educacionais como reiteração de desigualdades sociais.

Outra reflexão que pode ser feita em relação ao dado mencionado, diz

respeito à necessidade de ingresso no mundo do trabalho ainda na adolescência e

juventude. Apesar de não ter sido questionado explicitamente o motivo da

desistência dos estudos antes de ingressar na EJA, pelas respostas de outras

questões referentes ao Trabalho, pode-se considerar de maneira subliminar que a

necessidade econômica pesou, em muitos casos, para a desistência dos estudos.

A importância da educação do CEEBJA – Pinhais está de acordo com as

expectativas de seus alunos conforme suas respostas sistematizadas e analisadas

nesta pesquisa, relacionada diretamente ao mundo do trabalho. A motivação

principal, o valor que agregam ao aprendizado e a relação que fazem desse ensino

está quase sempre ligada ao trabalho. Através da certificação, dos conhecimentos

gerais adquiridos nas disciplinas, e nas relações sociais que estabelecem, esses

indivíduos consideram que estão, de alguma forma, agregando valores que lhes

serão úteis para o mundo atual do trabalho.

Essa consideração de “investir em si mesmo”, para num futuro ter um retorno

através de um emprego ou de uma posição melhor no mercado de trabalho, tem

estreita ligação com o discurso oficial, desde o início dos anos de 1990, de caráter

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neoliberal e, que mantém acesa, mas com “outra roupagem”110, os fundamentos da

Teoria do Capital Humano. Esse discurso, que pode ser percebido nas respostas

dos alunos e na fala do diretor do CEEBJA – Pinhais é consonante com a maioria

das opiniões de políticos e empresários, além de permear a sociedade, o que a

nosso ver é bastante preocupante, pois, os alunos do CEEBJA possuem um

otimismo muito grande na perspectiva de conseguir um espaço na sociedade, de

serem incluídos nessa sociedade através de um trabalho digno, pelo esforço que

dispendem ao retornar aos estudos. No entanto, sabemos, pela atual conjuntura,

que a questão do desemprego estrutural no sistema capitalista é um condicionante

de enormes proporções. Portanto, como a questão individual, ou seja, como o

investir em si próprio, poderia “competir” com questões muito mais complexas? Em

outras palavras, de acordo com LIMA FILHO (2003), em um sistema social em que

se reduz o trabalho a emprego, a operação de responsabilizar “unicamente” o

indivíduo pela obtenção de seu emprego revela-se profundamente ideológica porque

nesse sistema baseado estruturalmente na comercialização da força de trabalho

caberia “primordialmente” ao próprio sistema a produção das condições objetivas de

comercialização da força de trabalho, ou seja, a empregabilidade.

Assim, a condição de desemprego, antes que (in)competência do trabalhador,

pode ser considerada como condição histórica do capitalismo, no qual os períodos

de grande desemprego são mais regra do que exceção.

Retornando à questão do “otimismo” que foi evidenciado na maioria das

opiniões sobre a relação entre o aprendizado no CEEBJA e a melhoria das

condições profissionais dos pesquisados, podemos confirmar o que RUMMERT

(2002) expressa sobre a característica comum do público que integra a EJA, que é

de desejar “uma vida melhor”.

Ao nosso ver este é um dos pontos que distingue o Ensino Médio Regular do

Ensino Médio da EJA, ou seja, apesar da heterogeneidade e diversidade do grupo

que compõe a EJA ser uma característica predominante, a aspiração por condições

melhores de vida, e conseqüentemente de chances no mundo do trabalho, é um

diferencial do público do Ensino Regular, que é na maioria das vezes composto por

110 Alusão ao Titulo do artigo já citado, de LIMA FILHO (2003) :” A ‘Feliz Aliança’ entre educação, desenvolvimento e mobilidade social: elementos para uma crítica à nova roupagem do capital humano.Revista Trabalho & Educação.

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adolescentes e jovens que ainda estão formando suas opiniões e expectativas de

futuro, no qual além do trabalho, a continuidade dos estudos é uma de suas

principais metas111.

Pelos dados que obtivemos na pesquisa de campo, evidenciou-se que a

continuidade dos estudos via cursos universitários não é um dos principais objetivos

dos alunos do CEEBJA. A grande maioria considera que a certificação do Ensino

Médio lhes dará possibilidade de conseguir um emprego, ou progredir no trabalho

em que estão, a pretensão de cursar uma universidade não se apresenta de modo

imediato como uma das maiores aspirações desse público. Pode-se considerar que,

apesar do “otimismo” pela melhoria das condições de vida que agregam aos

estudos, esses jovens e adultos são bastante realistas quanto às possibilidades de

um futuro universitário. A questão do sentimento de inferioridade em relação aos que

estudam no Ensino Regular, ainda se apresenta consideravelmente forte no aluno

da EJA.

Quanto ao Programa do Ensino Médio do CEEBJA – Pinhais, foi possível

levantar algumas considerações sobre as possibilidades e impossibilidades em

relação às expectativas de seus alunos. Um primeiro ponto refere-se ao que o

Programa se propõe e o que realmente ocorre na prática. Podemos perceber que

tanto nos textos oficiais quanto na fala da Direção que norteia o CEEBJA, a questão

do Trabalho não é um dos objetivos diretos, mas está permeando todo o contexto

das disciplinas e das práticas de sala de aula. A certificação é o mote do Programa,

e, para os que dirigem e orientam as ações pedagógicas, através dessa certificação,

os alunos estarão aptos a “conseguir um espaço no mundo do trabalho”112. Também

é através do encaminhamento didático-pedagógico que na opinião da Direção,

acontece uma “preparação para o bom desempenho no campo profissional, através

de atividades nas quais a colaboração e integração do grupo, evidenciariam o “novo

perfil do trabalhador”.

Não pretendemos analisar o quanto esse “novo perfil” está relacionado ao

ideário neoliberal que tomou conta das exigências atuais no mercado de trabalho.

111 Não iremos nos ater nas questões mais profundas sobre a atual condição do ensino Médio Regular, nem sobre o público que a compõe. Para maiores aprofundamentos ver: MINAYO (1999), POCHMANN (2000), AÇÃO EDUCATIVA (2002) 112 Frase do Diretor do CEEBJA em 03/07/2004.

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Queremos sim, evidenciar a contradição embutida nessas considerações dentro da

própria realidade do Programa, levantando os questionamentos a seguir.

Como é possível reforçar aspectos de colaboração, integração e trabalho em

grupo no qual os laços sociais devem ser fortalecidos, num Programa cuja

característica de atendimento é predominantemente “individualizada e impessoal”?

Como é possível a perspectiva de um trabalho interdisciplinar e integrado nesse

espaço escolar caracterizado pela desarticulação tanto política (campo das relações

municipais e estaduais), quanto didático-pedagógica (disciplinas isoladas)?

Essas questões nos servem de base para que procuremos refletir não apenas

sobre o Ensino Médio da EJA, mas também sobre a relação da EJA como

modalidade da Educação Básica. Isso nos leva a pensar se houve realmente

transformações no campo da Educação de Jovens e Adultos, ou se o que ocorreu

foram apenas mudanças de nomenclatura (Ensino Supletivo – EJA). Consideramos

que esses questionamentos podem incitar outras pesquisas que os aprofundem com

maior propriedade.

Dando continuidade às conclusões desta pesquisa, o que se pôde perceber

sobre a opinião dos alunos referente à contribuição que o Ensino Médio do CEEBJA

– Pinhais foi que essa modalidade de ensino proporciona as questões relacionadas

ao trabalho, evidenciam que, tanto nos conteúdos quanto nas relações sociais que

ocorrem dentro do espaço escolar, o Programa está colaborando positivamente.

Verificamos também que a certificação está embutida em quase todas as respostas,

evidenciando dessa maneira que tanto a opinião dos alunos quanto o objetivo

primeiro do Programa estão na mesma direção.

Esse resultado demonstra o quanto a categoria Trabalho está profundamente

ligada ao seu aspecto de satisfação das necessidades de sobrevivência. Nesse

aspecto, uma vez que as necessidades são supridas pela troca da mercadoria força

de trabalho por outra mercadoria, o salário, que irá se converter em meio para

aquisição de outros produtos ou serviços necessários à sobrevivência, fica claro que

o trabalho e o produto do trabalho deste trabalhador é visto como estranho, ou seja,

no seu caráter mais alienante. Bem distinto do que diz respeito à característica

“libertadora” e de “princípio educativo” (FRIGOTTO, 2002), pela qual o Ser humano

aprende e se transforma pelo e no Trabalho.

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Apesar das opiniões reforçarem que o Ensino no CEEBJA – Pinhais colabora

positivamente para a inserção, manutenção e mobilidade no atual mundo do

trabalho, vemos que o Programa não aprofunda questões sobre as contradições

desse mundo do trabalho onde a exclusão e a deterioração das relações no

processo produtivo cada vez mais ficam acirradas.

Observa-se, dentro do Programa, um “alheamento” relacionado à situação de

vida de seus alunos; a falta de dados sobre a própria situação escolar de seu grupo

bem como o pouco referencial estatístico dos resultados do processo educacional do

Programa demonstra o quanto a modalidade da EJA ainda é marginalizada.

Finalizando nossa exposição das conclusões da pesquisa, percebemos que,

apesar de não ser possível uma generalização dos resultados analisados sendo este

um estudo de caso, pode-se sugerir considerações relevantes como as que foram

apresentadas para a situação geral da EJA no Brasil.

Um dos aspectos relevantes é o que diz respeito à heterogeneidade e

diversidade do grupo que representa a EJA. Pessoas que possuem realidades e

histórias de vida distintas entre si, mas que têm esperanças e expectativas muito

fortes sobre o aprendizado que estão tendo. Brasileiros que, por motivos de diversas

ordens (econômicas, sociais), foram excluídos do processo formal de ensino e que,

por isso talvez, retornem com muito mais vontade e otimismo para a vida escolar.

Isso por si já seria motivo suficiente para que governos dessem maior atenção às

políticas direcionadas a esse público. No entanto, o que vemos são sucessivas

medidas pontuais e na maioria das vezes demagógicas relacionadas à EJA.

É preciso que se pense numa Educação de Jovens e Adultos

verdadeiramente preocupada em “restaurar um direito negado”113, e não apenas em

sanar questões isoladas e pontuais, de acordo com as necessidades que surgem, ou

seguindo padrões e ditames externos e alheios à realidade dessa modalidade.

Faz-se necessário que se considere a Educação Básica em todas as suas

modalidades, um direito, de acordo com a opinião de FRIGOTTO (2005, p. 3) “ (...)

um direito que não é para o mercado, é para a vida, a felicidade, o sonho, a criação,

a contestação política, a crítica, enfim, para entender-se como ser humano.”

Nessas reflexões apresentadas não pretendemos desconsiderar os méritos

que o Programa do CEEBJA-Pinhais apresenta, posto que, mesmo adaptado e

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seguindo a linha “mercadológica” de ver a educação, tão comum no ideário

neoliberal, o CEEBJA consegue, de várias maneiras e por vezes indiretas, contribuir

para a satisfação de seus alunos através das relações sociais que trocam, pelo

desenvolvimento da auto-estima e segurança que seu grupo apresenta após ter

ingressado no estabelecimento. No entanto, é preciso que o Programa almeje mais

que apenas contribuir indiretamente com a satisfação de seus alunos; que aprofunde

em seus conteúdos e práticas os aspectos contraditórios do sistema produtivo e

social no qual estamos inseridos; que “instigue” em seus alunos a inquietação para

que reflitam sobre a situação atual no mundo a fim de que se sintam efetivamente

parte dele.

Pensando nessas provocações, e também refletindo sobre as inquietações

que surgiram no decorrer dessa pesquisa e durante o percurso da pesquisadora

como participante desse universo, na categoria docente, algumas recomendações e

perspectivas foram surgindo com o intuito de sugerir possíveis caminhos para a EJA:

- Políticas públicas efetivamente integradas nas esferas municipal, estadual e

da União tanto no aspecto didático-pedagógico quanto no que diz respeito à

manutenção e incrementação da modalidade EJA;

- Sistemas de avaliação de Cursos e Programas mais freqüentes e de

resultados públicos, a fim de que se possa fazer um acompanhamento de qualidade

e as possíveis reformulações se necessárias;

- Valorização do corpo docente que trabalha com EJA através de capacitação

específica e diferenciada das demais modalidades, de maneira que esse

educador(a) tenha possibilidade de contribuir efetivamente na formação integral de

seus alunos;

- Valorização do grupo que compõe a EJA, jovens e adultos que necessitam

uma atenção diferenciada e especial, para os quais a aprendizagem deve priorizar a

experiência de vida, o estímulo para a continuidade dos estudos, a ampliação dos

horizontes desses indivíduos, bem como a articulação e integração com as demais

modalidades de ensino.

Por fim, gostaríamos de ressaltar que essa pesquisa teve por objetivo verificar

as opiniões dos alunos da EJA, de um grupo pequeno, e que por isso não possibilita

um grau de generalização muito grande. No entanto, com os resultados obtidos, 113 Parecer das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação de jovens e adultos.

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tivemos a oportunidade de adentrar num mundo tão rico e cheio de possibilidades,

como é o da Educação de Jovens e Adultos. Um universo de contradições,

expectativas, desilusões e sonhos de uma vida melhor, e que, portanto, necessita de

um cuidado especial por parte de governantes, intelectuais e da sociedade.

Para encerrar, voltamos a citar um trecho da epígrafe que foi utilizada no

início desta dissertação, e que resgata e representa exatamente o que consideramos

sobre a importância do aprendizado para o público da EJA:

...Veja com seus olhos! O que não sabe por conta própria...não sabe. ... Pergunte: O que é isso? Você tem que assumir o comando.114

114 BRECHT, B. Elogio do Aprendizado. In: Poemas: 1913 – 1956. 1986.São Paulo: Editora brasiliense. p.121.

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___________. A desescolarização da escola: impactos da reforma da educação profissional (período 1995 a 2002). Curitiba, Editora Torre de Papel, 2003. ___________. Breve Ensaio sobre as Virtudes da Virtualidade: elementos para uma crítica ao conceito de sociedade da informação. In:__ Tecnologia e Sociedade: (Im)possibilidades. Curitiba, Editora Torre de Papel, 2003. ___________. Dimensões e limites da globalização. Petrópolis, Editora Vozes, 2004. LOBO, Flávio. Ensaio sobre a cegueira. Carta Capital, São Paulo, n. 311, p. 10 – 16, out. 2004. LUKÁCS, G. O Trabalho. In: Per uma ontologia dell’essere sociale. Roma, Editori Riutini, l. 1, v. 2, 1981 (tradução Ivo Tonet) MACHADO, Lucília Regina de Souza. A educação e os desafios das novas tecnologias. In: FERRETI, Celso João et al. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. ___________. Educação e divisão social do trabalho: contribuição para o estudo do ensino técnico industrial brasileiro. 2. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. – (Coleção Contemporânea) MARCONATO, Neuza. Mulheres professoras: o ser o fazer na inserção profissional. Florianópolis, 2002. Dissertação (Mestrado em Engenharia de produção) Universidade Federal de Santa Catarina. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Ed. Victor Civita. São Paulo. 1983. L.1, v. 1 e 2. __________; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 5. ed. Tradução de José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Hucitec, 1986. MÉSZAROS, István. Para além do Capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução de Paulo Cezar Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Editora da UNICAMP, Boitempo, 2002. MINAYO, M. C. S. et al. Fala, galera juventude , violência e cidadania no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UNESCO/ Garamond, 1999. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações Curriculares do Ensino Médio. Secretaria de Educação básica – SEB – Departamento de Políticas de Ensino Médio. Brasília, 2004. Tiragem 2000.

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SOUZA, A. B. de. A escola representada por alunos de cursos de alfabetização e pós-alfabetização de jovens e adultos que passaram anteriormente pelo ensino regular: contribuição a compreensão do cotidiano escolar. São Paulo, 1994. Dissertação (Mestrado em Psicologia e educação) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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VENTURA, Jaqueline P. O PLANFOR e a educação de jovens e adultos trabalhadores: a subalternidade reiterada. Niterói, 2001. Dissertação (Mestrado em Educação) – Setor de Educação e trabalho, Universidade Federal Fluminense.

XAVIER, Aarão P. Nos Trilhos do Tempo – História e Memória de Pinhais. Pinhais: Prefeitura Municipal de Pinhais, 2000. 176 p.

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APÊNDICE A

QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DA EJA PINHAIS Este formulário é para ser preenchido individualmente, não necessitando ser feito algum tipo de identificação (nome) para preservar o sigilo das informações aqui apontadas. Nas questões abaixo você estará assinalando com x a(as) alternativas conforme o seu entendimento. Em algumas das questões você será desafiado a fazer algum comentário ou colocar suas considerações.

As informações que você puder nos fornecer serão muito importantes para a pesquisa que estamos desenvolvendo sobre o pape que o CEEBJA – PINHAIS está desempenhando na sua vida social e profissional atual e futura. I. DADOS SÓCIO – ECONÔMICOS 1. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 2. Data de nascimento: ___/___/19___. 3. Cidade e Estado (UF) onde você nasceu:_____________________________________ 4. Residência atual: ( ) Pinhais ( ) em cidade vizinha. Qual:________________________ Há quanto tempo mora neste local: _________________________________________ 5. Estado Civil: ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Separado(a) ( ) outro:______________________________________________________________ 6. Tem filho(s): ( ) Sim. ( ) Não. Em caso afirmativo, quantos filhos? _________________________________________ 7. Sobre a situação de sua residência/moradia: ( ) Residência Própria ( ) Residência alugada ( ) Residência cedida ( ) outra. Especifique: _____________________________________________________ 8. Marque os serviços públicos ou privados que você possui em sua residência. ( ) Rede de abastecimento de água ( ) Energia elétrica ( ) Rede de esgoto público ( ) Coleta de lixo ( ) Telefone fixo ( ) Telefone celular ( ) Outro: Especifique:_____________________________________________________

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9. Marque com um X os aparelhos eletro-eletrônicos que você possui em sua casa: (coloque o número de aparelhos se houver mais de um) ( ) Televisor ( ) Rádio ( ) vídeo cassete ( ) Computador ( ) Fogão a gás ( ) Aparelho de DVD ( ) Aparelho de som ( ) Forno de microondas ( ) Geladeira ( ) Ferro Elétrico ( ) Outros. Especifique:____________________________________________________ _______________________________________________________________________ 10. Qual o meio de transporte que você utiliza para seu deslocamento pessoal do CEEBJA para sua casa? Se for necessário marque mais de uma alternativa. ( ) a pé. ( ) Carro Próprio ( ) Motocicleta ( ) Bicicleta ( ) Ônibus ( ) Trem ( ) Outro. Especifique:_____________________________________________________ 11. Qual a renda do seu grupo familiar (soma da renda dos moradores na mesma residência, incluindo a sua remuneração, se você possui ): ( ) até um salário mínimo ( até R$265,00) ( ) de 1 a 2 salários mínimos ( de R$265,00 à R$530,00) ( ) de 2 a 3 salários mínimos ( de R$530,00 à R$795,00) ( ) de 3 a 4 salários mínimos ( de R$795,00 à R$1.060,00) ( ) de 4 a 5 salários mínimos ( de R$1.060,00 à R$1.325,00) II. SOBRE SUA ESCOLARIDADE 12. Você estudou o Ensino Fundamental – 1ª fase ( 1ª à 4ª série) em: (se necessário, marque mais de uma alternativa) ( ) escola pública ( ) escola particular ( ) ensino regular ( ) supletivo Escreva o ano em que você concluiu o ensino fundamental (1ªà 4ªséries):___________ 13. Você estudou o Ensino Fundamental – 2ª fase (5ª à 8ª séries) em: ( ) escola pública ( ) escola Particular ( ) ensino regular ( ) supletivo ( ) outro. Explique:________________________________________________________ Escreva o ano em que você concluiu o ensino fundamental (5ªà 8ªséries) :___________ 14. Antes de ingressar na EJA – PINHAIS, você já havia iniciado o Ensino Médio (2ºgrau) em outro lugar? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo, especifique até que série você cursou :_____________Foi em Ensino Regular ou Supletivo:______________ 15. Por quanto tempo você ficou fora da escola, antes de iniciar seus estudos na EJA – Pinhais:_________________________________________________________________

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16. Há quanto tempo você estuda na EJA –Pinhais? ( ) desde o Ensino Fundamental – 1ªfase(1ª à 4ªséries) . Qual série de início:________ ( ) a partir do Ensino Fundamental – 2ªfase( 5ª à 8ªséries). Qual série de início:_______ ( ) a partir do Ensino Médio(2ºgrau). Há quanto tempo?___________________________ 17. No atual estágio de seus estudos do Ensino médio – EJA-PINHAIS, quantas disciplinas você já concluiu?_________________________________________________________ Quantas disciplinas você está cursando atualmente?_____________________________ 18. Sobre seus pais: a) Qual o grau de escolaridade de sua mãe: ( ) Não possui escolaridade. ( ) Em fase de alfabetização. ( ) Ensino Fundamental – 1ª fase ( 1ª à 4ª séries), incompleto. ( ) Ensino Fundamental - 1ª fase ( 1ª à 4ª séries), completo. ( ) Ensino Fundamental – 2ª fase ( 5ª à 8ª séries), incompleto. ( ) Ensino Fundamental – 2ª fase ( 5ª à 8ª séries), completo. ( ) Ensino Médio, incompleto. ( ) Ensino Médio, completo. ( ) Outro. Especifique:___________________________________________________ b) Qual o grau de escolaridade de seu pai: ( ) Não possui escolaridade. ( ) Em fase de alfabetização. ( ) Ensino Fundamental – 1ª fase ( 1ª à 4ª séries), incompleto. ( ) Ensino Fundamental – 1ª fase ( 1ª à 4ª séries), completo. ( ) Ensino Fundamental – 2ªfase ( 5ª à 8ª séries), incompleto. ( ) Ensino Fundamental – 2ª fase ( 5ª à 8ª séries), completo. ( ) Ensino Médio, incompleto. ( ) Ensino Médio, completo c) Em que trabalha sua mãe: ___________________________ d) Em que trabalha seu pai: ____________________________ 19. Marque as alternativas que você considera como motivos para você ter reiniciado seus estudos na EJA – PINHAIS: ( ) exigência do seu emprego atual ( ) para conseguir um trabalho ( ) para conseguir um emprego melhor ( ) para fazer novos amigos ( ) para compreender melhor o mundo que o cerca ( ) para poder cursar uma universidade ( ) apenas para satisfação pessoal ( )outros motivos. Especifique-os: ____________________________________________ Dentre as alternativas que você marcou, há alguma que você considerou a mais importante para motivá-lo à sua volta aos estudos na EJA? Qual?___________________________________________________________________ 20.Marque com um X as alternativas que representam a importância que você dá ao aprendizado do CEEBJA no atual momento de seus estudos: ( ) para seu futuro profissional. ( ) para as coisas que você faz em seu dia a dia.

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( ) para compreender a realidade. ( ) para conseguir um trabalho atualmente. 21. Quanto aos conteúdos das disciplinas,você acha que sua aprendizagem até agora foi com: ( ) nenhuma dificuldade ( ) pouca dificuldade ( ) razoável dificuldade ( ) muita dificuldade 22. Para você, qual é a relação entre o que você aprende nas aulas do CEEBJA e sua vida cotidiana: ( ) nenhuma relação ( ) pouca relação ( ) razoável relação ( ) muita relação 23. Em suas aulas no CEEBJA, são utilizados espaços alternativos como biblioteca, laboratórios (de informática, ciências, etc): ( ) semanalmente ( 1 ou mais vezes por semana) ( ) quinzenalmente ( 1 vez a cada quinzena) ( ) mensalmente. ( ) não utilizam espaços fora de sala de aula para estudos. Especifique quais espaços, além da sala de aula, podem ser utilizados em suas atividades de estudo e pesquisa, no CEEBJA:____________________________________ 24. No CEEBJA, com que freqüência você utiliza o computador como ferramenta para auxiliar em sua aprendizagem: ( ) nunca utiliza, e nem sabe utilizar. ( ) sabe utilizar, mas não pode utilizar no espaço do CEEBJA. ( ) sabe utilizar, mas não acha necessário seu uso durante as aulas do CEEBJA. ( ) o CEEBJA não disponibiliza este tipo de ferramenta aos seus alunos. 25. Você já fez ou está fazendo algum curso além do ensino no CEEBJA? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo responda: ( ) curso profissionalizante. Nome do curso:__________________________________ Local do curso:_______________________________ data de conclusão:_____________________________ ( ) outro tipo de curso.Especifique:_______________________________________ III. SOBRE O TRABALHO 26.Marque com um X as alternativas as quais você associa à categoria TRABALHO: ( ) trabalho como forma de independência(dos pais, marido/esposa,etc) ( ) trabalho como satisfação pessoal, auto-realização. ( ) trabalho como forma de exploração. ( )trabalho associado à satisfação de necessidades básicas (comida, vestimenta, educação). ( )outros.Especifique:___________________________________________________ _____________________________________________________________________ 27. Com relação ao trabalho, qual é a situação que você se encontra atualmente?

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( ) nunca trabalhou,nem procurou trabalho. ( ) nunca trabalhou mas está procurando trabalho. ( ) já trabalhou mas está desempregado. ( ) está trabalhando. ATENÇÃO: Se você está trabalhando NÃO responda as questões 28 e 29: 28. Se você já trabalhou e está desempregado, há quanto tempo está sem trabalho? ( ) até 1 mês. ( ) mais de 1 mês até 3 meses. ( ) mais de 3 meses até 6 meses. ( ) mais de 6 meses até 1 ano. ( ) mais de 1 ano.Há quantos anos: ____________________________________________ 29. Na sua opinião, escreva em que os seus estudos no CEEBJA, estarão lhe ajudando a satisfazer as atuais exigências para obter um emprego? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ATENÇÃO: Se você está trabalhando atualmente, responda as questões 30 e 31: 30. Marque a(s) alternativa(s) que você considera que são importantes em seus estudos no CEEBJA, para melhorar sua ocupação profissional (subir de cargo, ou mudar de atividade, etc): ( ) os conteúdos aprendidos que lhe dão base para compreender melhor as exigências do atual mundo do trabalho. ( ) além dos conteúdos, o certificado que você recebe ao concluir o curso. ( ) apenas o certificado que você recebe ao final do curso. ( ) os novos contatos que você mantém durante o período do curso (entre colegas, professores,etc) ( )outros motivos. Especifique-os:_____________________________________________ 31. Marque qual é sua situação quanto à sua ocupação profissional: ( ) assalariado na cidade, sem registro de carteira profissional assinada. Especifique a função que você executa:____________________________________________________ ( ) assalariado na cidade, com carteira assinada. Especifique a função que você executa:_________________________________________________________________ ( ) trabalho informal. Especifique:_____________________________________________ ( ) autônomo. Especifique:___________________________________________________ ( ) trabalha com agricultura familiar. ( ) funcionário publico. Especifique a função que você exerce:______________________ ( ) outro. Especifique_______________________________________________________ 32. Qual a importância do que você aprende no CEEBJA para um bom desempenho no atual mundo do trabalho: ( ) nenhuma importância ( ) pouca importância ( ) razoável importância ( ) muita importância Explique porque você escolheu essa alternativa:________________________________

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________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 33. Você acha que o ensino no CEEBJA está contribuindo para a satisfação dos motivos que lhe fizeram reiniciar seus estudos? Porquê? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO A – RESOLUÇÃO CEB/CNE Nº 1, DE 5 DE JULHO DE 2000 Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para

a Educação e Jovens e Adultos.

O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, de conformidade com o disposto no Art. 9º, § 1°, alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, e tendo em vista o Parecer CEB/CNE 11/2000, homologado pelo Senhor Ministro da Educação em 7 de junho de 2000, RESOLVE:

Art. 1º Esta Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação de Jovens e Adultos a serem obrigatoriamente observadas na oferta e na estrutura dos componentes curriculares de ensino fundamental e médio dos cursos que se desenvolvem, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias e integrantes da organização da educação nacional nos diversos sistemas de ensino, à luz do caráter próprio desta modalidade de educação.

Art. 2º A presente Resolução abrange os processos formativos da Educação de

Jovens e Adultos como modalidade da Educação Básica nas etapas dos ensinos fundamental e médio, nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em especial dos seus artigos 4º, 5º ,37, 38, e 87 e, no que couber, da Educação Profissional.

§ 1º Estas Diretrizes servem como referência opcional para as iniciativas autônomas que se desenvolvem sob a forma de processos formativos extra-escolares na sociedade civil.

§ 2º Estas Diretrizes se estendem à oferta dos exames supletivos para efeito de certificados de conclusão das etapas do ensino fundamental e do ensino médio da Educação de Jovens e Adultos. Art. 3º As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental

estabelecidas e vigentes na Resolução CEB/CNE 2/98 se estendem para a modalidade da Educação de Jovens e Adultos no ensino fundamental.

Art. 4º As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio estabelecidas e

vigentes na Resolução CEB/CNE 3/98, se estendem para a modalidade de Educação de Jovens e Adultos no ensino médio.

Art. 5º Os componentes curriculares conseqüentes ao modelo pedagógico

próprio da educação de jovens e adultos e expressos nas propostas pedagógicas das unidades educacionais obedecerão aos princípios, aos objetivos e às diretrizes curriculares tais como formulados no Parecer CEB/CNE 11/2000, que acompanha a presente Resolução, nos pareceres CEB/CNE 4/98, CEB/CNE 15/98 e CEB/CNE 16/99, suas respectivas resoluções e as orientações próprias dos sistemas de ensino.

Parágrafo único. Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de eqüidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das

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diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar: I - quanto à eqüidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a

fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação;

II- quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores;

III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica.

Art. 6º Cabe a cada sistema de ensino definir a estrutura e a duração dos cursos

da Educação de Jovens e Adultos, respeitadas as diretrizes curriculares nacionais, a identidade desta modalidade de educação e o regime de colaboração entre os entes federativos.

Art. 7º Obedecidos o disposto no Art. 4º, I e VII da LDB e a regra da prioridade

para o atendimento da escolarização universal obrigatória, será considerada idade mínima para a inscrição e realização de exames supletivos de conclusão do ensino fundamental a de 15 anos completos.

Parágrafo único. Fica vedada, em cursos de Educação de Jovens e Adultos, a matrícula e a assistência de crianças e de adolescentes da faixa etária compreendida na escolaridade universal obrigatória ou seja, de sete a quatorze anos completos. Art. 8º Observado o disposto no Art. 4º, VII da LDB, a idade mínima para a

inscrição e realização de exames supletivos de conclusão do ensino médio é a de 18 anos completos.

§ 1º O direito dos menores emancipados para os atos da vida civil não se aplica para o da prestação de exames supletivos.

§ 2º Semelhantemente ao disposto no parágrafo único do Art. 7º, os cursos de Educação de Jovens e Adultos de nível médio deverão ser voltados especificamente para alunos de faixa etária superior à própria para a conclusão deste nível de ensino ou seja, 17 anos completos. Art. 9º Cabe aos sistemas de ensino regulamentar, além dos cursos, os

procedimentos para a estrutura e a organização dos exames supletivos, em regime de colaboração e de acordo com suas competências.

Parágrafo único. As instituições ofertantes informarão aos interessados, antes de cada início de curso, os programas e demais componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificação dos professores, recursos didáticos disponíveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições. Art. 10. No caso de cursos semi-presenciais e a distância, os alunos só poderão

ser avaliados, para fins de certificados de conclusão, em exames supletivos presenciais oferecidos por instituições especificamente autorizadas, credenciadas e avaliadas pelo

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poder público, dentro das competências dos respectivos sistemas, conforme a norma própria sobre o assunto e sob o princípio do regime de colaboração.

Art. 11. No caso de circulação entre as diferentes modalidades de ensino, a

matrícula em qualquer ano das etapas do curso ou do ensino está subordinada às normas do respectivo sistema e de cada modalidade.

Art. 12. Os estudos de Educação de Jovens e Adultos realizados em instituições

estrangeiras poderão ser aproveitados junto às instituições nacionais, mediante a avaliação dos estudos e reclassificação dos alunos jovens e adultos, de acordo com as normas vigentes, respeitados os requisitos diplomáticos de acordos culturais e as competências próprias da autonomia dos sistemas.

Art. 13. Os certificados de conclusão dos cursos a distância de alunos jovens e

adultos emitidos por instituições estrangeiras, mesmo quando realizados em cooperação com instituições sediadas no Brasil, deverão ser revalidados para gerarem efeitos legais, de acordo com as normas vigentes para o ensino presencial, respeitados os requisitos diplomáticos de acordos culturais.

Art. 14. A competência para a validação de cursos com avaliação no processo e

a realização de exames supletivos fora do território nacional é privativa da União, ouvido o Conselho Nacional de Educação.

Art. 15. Os sistemas de ensino, nas respectivas áreas de competência, são co-

responsáveis pelos cursos e pelas formas de exames supletivos por eles regulados e autorizados.

Parágrafo único. Cabe aos poderes públicos, de acordo com o princípio de publicidade: a) divulgar a relação dos cursos e dos estabelecimentos autorizados à aplicação de exames supletivos, bem como das datas de validade dos seus respectivos atos autorizadores. b) acompanhar, controlar e fiscalizar os estabelecimentos que ofertarem esta modalidade de educação básica, bem como no caso de exames supletivos. Art. 16. As unidades ofertantes desta modalidade de educação, quando da

autorização dos seus cursos, apresentarão aos órgãos responsáveis dos sistemas o regimento escolar para efeito de análise e avaliação.

Parágrafo único. A proposta pedagógica deve ser apresentada para efeito de registro e arquivo histórico. Art. 17 – A formação inicial e continuada de profissionais para a Educação de

Jovens e Adultos terá como referência as diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental e para o ensino médio e as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores, apoiada em:

I – ambiente institucional com organização adequada à proposta pedagógica; II – investigação dos problemas desta modalidade de educação, buscando

oferecer soluções teoricamente fundamentadas e socialmente contextuadas; III – desenvolvimento de práticas educativas que correlacionem teoria e prática; IV – utilização de métodos e técnicas que contemplem códigos e linguagens

apropriados às situações específicas de aprendizagem.

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Art. 18. Respeitado o Art. 5º desta Resolução, os cursos de Educação de Jovens e Adultos que se destinam ao ensino fundamental deverão obedecer em seus componentes curriculares aos Art. 26, 27, 28 e 32 da LDB e às diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental.

Parágrafo único. Na organização curricular, competência dos sistemas, a língua estrangeira é de oferta obrigatória nos anos finais do ensino fundamental. Art. 19. Respeitado o Art. 5º desta Resolução, os cursos de Educação de Jovens

e Adultos que se destinam ao ensino médio deverão obedecer em seus componentes curriculares aos Art. 26, 27, 28, 35 e 36 da LDB e às diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio.

Art. 20. Os exames supletivos, para efeito de certificado formal de conclusão do

ensino fundamental, quando autorizados e reconhecidos pelos respectivos sistemas de ensino, deverão seguir o Art. 26 da LDB e as diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental.

§ 1º A explicitação desses componentes curriculares nos exames será definida pelos respectivos sistemas, respeitadas as especificidades da educação de jovens e adultos.

§ 2º A Língua Estrangeira, nesta etapa do ensino, é de oferta obrigatória e de prestação facultativa por parte do aluno.

§ 3º Os sistemas deverão prever exames supletivos que considerem as peculiaridades dos portadores de necessidades especiais. Art. 21. Os exames supletivos, para efeito de certificado formal de conclusão do

ensino médio, quando autorizados e reconhecidos pelos respectivos sistemas de ensino, deverão observar os Art. 26 e 36 da LDB e as diretrizes curriculares nacionais do ensino médio.

§ 1º Os conteúdos e as competências assinalados nas áreas definidas nas diretrizes curriculares nacionais do ensino médio serão explicitados pelos respectivos sistemas, observadas as especificidades da educação de jovens e adultos.

§ 2º A língua estrangeira é componente obrigatório na oferta e prestação de exames supletivos.

§ 3º Os sistemas deverão prever exames supletivos que considerem as peculiaridades dos portadores de necessidades especiais. Art. 22. Os estabelecimentos poderão aferir e reconhecer, mediante avaliação,

conhecimentos e habilidades obtidos em processos formativos extra-escolares, de acordo com as normas dos respectivos sistemas e no âmbito de suas competências, inclusive para a educação profissional de nível técnico, obedecidas as respectivas diretrizes curriculares nacionais.

Art. 23. Os estabelecimentos, sob sua responsabilidade e dos sistemas que os

autorizaram, expedirão históricos escolares e declarações de conclusão, e registrarão os respectivos certificados, ressalvados os casos dos certificados de conclusão emitidos por instituições estrangeiras, a serem revalidados pelos órgãos oficiais competentes dos sistemas.

Parágrafo único. Na sua divulgação publicitária e nos documentos emitidos, os cursos e os estabelecimentos capacitados para prestação de exames deverão registrar o número, o local e a data do ato autorizador.

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Art. 24. As escolas indígenas dispõem de norma específica contida na Resolução

CEB/CNE 3/99, anexa ao Parecer CEB/CNE 14/99. Parágrafo único. Aos egressos das escolas indígenas e postulantes de

ingresso em cursos de educação de jovens e adultos, será admitido o aproveitamento destes estudos, de acordo com as normas fixadas pelos sistemas de ensino. Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando

revogadas as disposições em contrário. FRANCISCO APARECIDO CORDÃO Presidente da Câmara de Educação Básica

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ANEXO B –

Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos CEEBJA – PINHAIS

Ensino Fundamental e Médio