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Centro Espírita Centro Espírita Caboclo Caboclo Sete Flechas Sete Flechas 40 anos de dedicação à 40 anos de dedicação à Umbanda e a caridade Umbanda e a caridade

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Page 1: Centro Espírita Caboclo Sete Flechascecabocloseteflechas.com.br/revista.pdf · Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar a Terra; ... reconhecimento e de amor. Como Moisés

Centro EspíritaCentro EspíritaCabocloCaboclo

Sete FlechasSete Flechas

40 anos de dedicação à 40 anos de dedicação à Umbanda e a caridadeUmbanda e a caridade

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Fundado em 23/04/1972Presidente: Janete Apparecida Bertti dos Reis

23/04/1972 – Rua Antonio da Silva, 121 – Vila Maria01/06/1985 – Rua Th omaz Speers, 693 – Vila Maria

01/05/1991 – Rua Anny, 977 – Jd. Independência – São João Clímaco

22/04/199 – Rua São João Evangelista, 69 casa 4 – Vila Santa Clara

Vamos agradecer à Oxossi e à OxumAo Caboclo Sete Flechas e a Cigana Pandilha

Sobre as graças alcançadas...

Vamos bater-cabeça para OxaláVibrar para a força divina

A natureza sagrada e os elementares do Universo.

Vamos homenagear o reino da UmbandaIncensar esse kasuá africano, indígena e cigano.

Cantar, dançar e tocar tambor.

Ao Céu e à TerraVamos comemorar os 40 anos desse Centro Espírita

Com a jornada iluminada da Mãinha.

Vamos saudar a direita e a esquerdaPedir perdão e permissão

Para continuar os trabalhos...

Umbándá, Umbándá, Umbándá

Ao òrún e ao iléPor Wilton Garcia

PRECE DE CÁRITAS

Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a verdade; ponde no coração do homem a compaixão e a caridade!

Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao afl ito a consolação, ao doente o repouso.

Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, à criança o guia, ao órfão o pai!

Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não conhece, esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte, a paz, a esperança, a fé.

Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infi nita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.

E um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de amor.

Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos, oh Poder!, oh Bondade!, oh Beleza!, oh Perfeição!, e queremos de alguma sorte merecer a Vossa Divina Misericórdia.

Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, afi m de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde se refl etirá a Vossa Divina e Santa Imagem.

Assim Seja.

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Mainha incorporada com o Caboclo Sete Flechas

Este livreto tem a fi nalidade de homenagear a fundadora do Terreiro, D. Janete, carinhosamente conhecida como “Mainha”. Ao completar 40 anos à frente do Terreiro, seus fi lhos querem contar a trajetória da mulher que em toda sua vida dedicou os dias a fazer a caridade. Assumiu esta missão com carinho e devoção, transmitindo à todos os fi lhos mensagens de amor e humildade, sem deixar de ser fi rme e segura. Muitas pessoas passaram por esta casa e muitas ainda virão. Com certeza quem teve a oportunidade de conhecê-la, nunca a esquecerá, pois com seu jeito simples, sempre orientou a todos com bom senso e amor. A história será contada por seus fi lhos: Deise, Daniel e seu afi lhado Alex - médiuns que estão com ela desde o início, acompanhando, aprendendo e desejando ser ao menos um refl exo de sua imagem.

Nossa história na visão de Mainha, nossa fundadora.

Janete Apparecida Bertti dos Reis nasceu em 08/01/1937, na cidade de Rio Claro, Estado de São Paulo; fi lha de Amabile Giusti e Antonio Bertti. Foi a quinta fi lha dos seis irmãos. Sua mãe faleceu quando ela tinha 4 anos, deixando os fi lhos para serem criados pelo pai que junto aos irmãos mais velhos trabalhavam na roça. Nessa época seu pai já fazia benzimento em crianças e nas pessoas que o procuravam, era ela quem buscava as ervas para o pai benzer e aproveitava para fi car olhando como seu pai fazia, mal sabia ela que seu caminho já estava sendo traçado. Ao completar oito anos, como a família passava difi culdades fi nanceiras

e até fome, seu pai a encaminhou para trabalhar em casa de família para cuidar de crianças. Era uma criança já com a responsabilidade de cuidar de outras crianças. Na primeira casa onde trabalhou sua patroa era professora e como não pôde frequentar a escola, aproveitava quando a mesma ia ensinar os fi lhos e observando as aulas dadas às crianças, aprendeu a ler e escrever, praticamente sozinha. Não aguentando mais as difi culdades, quando completou 14 anos, seu pai resolveu mudar para São Paulo em busca de uma vida melhor. Encaminhou cada um dos fi lhos para um trabalho onde poderiam dormir e foi morar em uma pensão, difi cultando os encontros da

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família. Já com 18 anos, aproveitou um dia de folga do serviço e foi conhecer um Centro de Mesa Branca chamado “Pai Desmancha Tudo”. Foi com a intenção de conhecer, porém logo foi convidada a participar da mesa onde iniciou seus trabalhos e fi cou trabalhando até seus 24 anos. Nesse período conheceu o homem que viria ser seu marido, João Batista, levou-o para o centro, mas ele não se adaptou aos trabalhos. Quando casaram foram morar na Rua Henrique Leitão, na Vila Maria e fi cou difícil frequentar as sessões, quando vieram os fi lhos se afastou completamente do centro. Depois da morte de seu pai, começou a sonhar com ele e nesses sonhos ele passava para ela as orações que usava nos benzimentos. Assim Janete começou a fazer seus benzimentos em casa, primeiramente em seus próprios fi lhos.

Sua fi lha mais velha, Deise, ao completar 4 anos de idade, começou a ter problemas, todos diziam que era espiritual. Começou a procurar por terreiros de Umbanda para cuidar da menina, mas em todo lugar que ia, com a fi lha nos braços e o fi lho a tira colo, ninguém atendia, mandavam que voltasse no dia da sessão. Foi então que conheceu o Terreiro da D. Dirce, onde levava os dois fi lhos, Deise e Daniel, para tomar passe e tratá-los. Como não podia trabalhar por causa das crianças serem pequenas, levou seu marido ao centro, porém como era caminhoneiro, viajava muito e não conseguia participar das sessões. Além da difi culdade em frequentar os trabalhos, João também não gostava do Terreiro e em 1970 conheceu o Terreiro do Sr. Ogum de Ronda, localizado na estrada do Cangaíba. João levou a esposa e os fi lhos para lá e quando viajava, Janete levava as crianças, pois precisava tratar a fi lha. Em 1972 mudaram para a Rua Antonio da Silva, ainda na Vila Maria, em uma casa com quarto, sala, cozinha e um cômodo em cima onde funcionava um salão de beleza que pertencia a fi lha do dono da casa. Frequentaram o terreiro do Sr. Ogum de Ronda por quase dois anos. Sua fi lha já fazia parte do corpo mediúnico da casa, mas em 23/04/1972, na festa de Ogum, a menina passou muito mal, os médiuns da casa a pegaram e quando Serena na sua festa.

Eu quero doce, eu quero bala...

João e Janete no quintal da casa onde começou o Terreiro

iam levá-la para um quartinho e mandar a entidade que estava com ela embora, D. Janete foi atrás e não permitiu. Nessa hora o guia chefe da casa disse que se ela tirasse a menina dali ele não se responsabilizaria por nada. Ela pegou a fi lha desmaiada, trouxe para casa e assumiu a responsabilidade sozinha. Chegando em casa, a menina ainda não havia acordado e num ato de desespero, desafi ou a espiritualidade. - Se é que um dia eu tive um Guia, que apareça agora e ajude a minha fi lha. Quem respondeu ao chamado foi a Pomba Gira Cigana, acordou a menina, deu o nome de Cinira, pediu um champagne Espuma de Prata e disse que se em 7 dias não fosse realizada uma sessão ali naquela casa, ninguém mais daria jeito na menina.

Na semana seguinte a primeira sessão foi realizada com Janete, João, Deise e Daniel. Ninguém sabia nada, pegaram a mesa de centro da sala, colocaram a imagem do Preto Velho e um abajur de plástico de Nossa Senhora Aparecida em cima de uma toalha branca. A Deise havia procurado em alguns livros como abrir uma sessão, copiou em um papel e foi lendo para seus pais, foi quando o Caboclo Sete Flechas veio, retirou o papel da menina e mandou que ela anotasse o que era para fazer na semana seguinte. Sem conhecimento e vendo a grande responsabilidade que chegava em suas mãos, Janete novamente procurou D. Dirce, para que ela a orientasse. Foi lá que ela fez sua obrigação de Mãe de Santo, foi

A família na pequena laje anexa ao quarto que abrigava o terreiro.

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feita a lavagem de cabeça e para a sua oferenda ela levou ao centro dois carrinhos de feira, um com frutas e o outro com grãos; arroz, feijão, pipoca, canjica e etc. Continuou trabalhando em sua casa e seguindo a orientação do Caboclo Sete Flechas e da Cigana que agora era chamada de Pandilha. Tudo isso ainda trabalhando na máquina de costura para sustentar os fi lhos, pois seu marido era alcoólatra e não colaborava. Algum tempo depois, o quarto de cima fi cou livre e Janete alugou também aquele cômodo para poder fazer as sessões em um local à parte da casa. Nessa época mais pessoas já frequentavam o terreiro que ainda não tinha nome.

Em 1983 no Primado D. Janete conhece D. Iracema. Para fazer a sua preparação ela aproveita que as crianças estão na escola e vai para a Federação fazer suas obrigações. Com D. Iracema ela recebeu orientação, fez seu juramento, porém quem entregou o Diploma para Janete foi D. Joanna Imparato, pois D. Iracema havia falecido. No dia do seu juramento foi a primeira vez que ela levou a fi lha a sessão do Primado. O começo da história da D. Janete é este. Daqui para frente quem conta a história da casa são seus fi lhos: Deise e Daniel e seu afi lhado: Alex.

Festa do Primado do Brasil em homenagem a Oxossi.A alegria de Mainha por ter levado a maioria dos seus fi lhos.

Oxum consagrando o jogo de Búzios

Trabalho na mata - 1983 Deolinda, Carminha, Janete, Deise, Eliane e Adilson. Embaixo: Tia Maria, Tadeo, Isabel

e Fábia

O Erê Cosminho

Mãe Deise e Mainha saudando Oxossi e o Caboclo Arranca Toco

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Nossa história na visão de Mãe Deise, que divideNossa história na visão de Mãe Deise, que divideo comando do Terreiro com Mainha.o comando do Terreiro com Mainha.

Vou começar a contar à partir do que me lembro. Morávamos na Vila Maria – Rua Henrique Leitão – em um quarto e cozinha. Minha mãe sempre na sua máquina de costura. Na escola eu passava muito mal, tinha desmaios, ia ao médico e ninguém sabia o que eu tinha, fora os acessos de raiva que eram incontroláveis. Tudo isso estudando no Sion, uma escola católica dirigida por freiras. Quando eu tinha 9 anos de idade, foi a época da minha primeira comunhão que eu só ia por causa do sorvete no fi nal da aula. Minha mãe sempre foi uma pessoa especial, como não teve oportunidade de estudar sempre fez de tudo para que meu irmão e eu tivéssemos o que ela não teve. Nas aulas de catecismo quando o padre distribuía santinhos para os alunos, eu nunca pegava nenhum, pois não tinha o de Yemanjá, fato que deixava o padre furioso. Lembro que em uma determinada aula separaram os meninos das meninas para dar explicações de adulto, quando a freira perguntava: Quem sabe o que é menstruação? Quem sabe como se faz um nenê? Era somente eu que levantava a mão, fato que não fi cou despercebido. Fiquei presa na sala até que minha mãe viesse me buscar para ser questionada como eu, com aquela idade, sabia dessas coisas; onde eu havia aprendido aquilo? A resposta de minha mãe até hoje me dá muito orgulho. “Ela aprendeu comigo, dei a ela como presente de aniversário um livrinho que explicava todas essas coisas”

Fui liberada, mas minha mãe daí por diante sempre foi vista com outros olhos. Mudamos para a casa da Rua Antonio da Silva, no mesmo quintal morava o casal Manuel e Margarida pais do Alex, nosso atual Mestre Guau. Por volta dos anos 70 minha mãe me levava no Terreiro do Senhor Ogum de Ronda. Meu Pai também frequentava o mesmo terreiro mas como era muito criança lembro de pouca coisa, alguns fatos marcantes, mas principalmente das

Deise na sua Primeira Comunhão

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imagens. Havia uma imagem enorme de Yemanjá localizada no fundo do terreiro, de costas para a assistência com sete atabaques na sua frente. Eu imitava os atabaqueiros batendo nas pernas, que fi cavam roxas. Para participar das sessões naquela casa era obrigado comprar o uniforme branco de lese e com uma coroa de fi tas na cabeça. Minha mãe se desdobrou na sua máquina de costura para conseguir o dinheiro, acreditando que acabaria com minhas crises. Eu só podia trabalhar com Yemanjá, com a criança ou tocar atabaque. Adorei a idéia, porque assim fi caria ao lado daquela imagem de Yemanjá. Subia num banquinho de preto velho para alcançar mas caia frequentemente, pois passava mal e lá ia eu pro chão de novo. Outro fato marcante foi quando fui proibida de ir a uma gira de esquerda que

aconteceria num sitio, como preparativo para a festa de Ogum na semana seguinte. dNo dia da festa durante a sessão, apaguei. Acordei na sala de casa, com uma mulher estranha na minha frente. Fiquei apavorada, aquela mulher jovem, ruiva, vestida com lenços e muito brava apontava o dedo pra mim e dizia que queria uma sessão na casa. E de repente minha mãe estava lá novamente. Era dia 23 de abril de 1972 - Festa de Ogum. Hoje sabemos que era o Santo do meu Pai, que nos vários terreiros que frequentou era tido como fi lho de Xangô. Anos depois compreendemos que meu pai era fi lho de Ogum Xoroquê e que se tivesse sido tratado corretamente, as coisas poderiam ter sido diferentes. Nossa primeira gira foi complicada, não sabíamos nem como abrir uma sessão. Os primeiros médiuns foram o Neto e a Alice, um casal amigos do trabalho do meu pai. Dali em diante o

Mainha e Mãe Deise e nosso primeiro congá.

Nossas datas importantes

nosso caminho foi sempre guiado pelas Entidades e pelo carinho de minha mãe, que se desdobrava entre o centro, a casa, os fi lhos e as costuras. A família do meu pai não poderia nem imaginar que estávamos fazendo “aquilo” em casa, por esse motivo, fazíamos as sessões aos sábados e quando terminava limpávamos a casa correndo, por que se alguém aparecesse no domingo não perceberia nada.

Quando começamos usar o quartinho que fi cou vago vieram a Carminha e o Seu Zé Carlos, a Deolinda e sua fi lha Lola, a Julia e pessoas foram chegando, como também foram chegando as Entidades: Caboclo Sete Demandas, Luizinho e sua violinha, seu Zé Pilintra e o Exú Morcego do meu pai. Da parte da minha mãe; Vó Benta, o Cosminho, o Baiano Fumaça e aquela ruiva que deu o nome de “Cinira”. Os atendimentos também começaram e minha mãe atendia as pessoas durante o dia entre uma costura e outra. Às vezes, quando chegava da escola, a sala estava cheia de gente, minha mãe largava a costura pela metade, louça na pia, a tábua de passar roupa armada. Como não cobrava nada, as pessoas que esperavam, faziam o serviço que ela tinha deixado de fazer para atendê-las. Quando perguntavam quem era e entidade que atendia, ela se apresentava

Neto, Alice, Janete e João por volta de 1972

Pandilha nas primeirasvisitas e Tia Maria

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como a Pomba Gira Cinira, mas as pessoas confundiam seu nome e a chamavam de Maria Padilha, Maria Pandilha, Padilha, PANDILHA, e esse foi o nome que fi cou até hoje da nossa mentora espiritual, que vinha depois do Caboclo Sete Flechas e explicava tudo o que nós não entendíamos. Descobri que a Pandilha podia explicar como funcionava uma sessão de uma maneira bem peculiar. Na escola tive um trabalho em grupo e cada grupo falaria sobre uma religião e por “coincidência” o meu grupo fi cou com a parte da Umbanda. Nosso grupo montou algumas perguntas, pedimos para D. Janete chamar a Cigana e ela foi respondendo todas as nossas perguntas. Foi o melhor trabalho da sala. Ela também disse que a Umbanda era uma religião que estava crescendo e que eu deveria estudar, aconselhou-me a anotar todas as informações que eu pudesse.

Também me contou sobre um juramento de minha mãe, que por conta do que passou comigo, jurou que quem batesse à sua porta nunca receberia um não, nunca seria mandada voltar somente no dia da sessão e que as crianças poderiam participar junto com suas mães, pois o que passou comigo, ela não queria ver ninguém passar. Quando pequena eu desmaiava, ela corria comigo em vários terreiros e benzedeiras, que mandavam voltar no dia da sessão, e lá voltava ela comigo nos braços e meu irmão a tira colo. Foi uma época em que fomos em vários lugares, centros de mesa branca, terreiros de Umbanda, meu pai me levou até no candomblé mas nada adiantava, eu vivia passando mal. Até que no Terreiro do Senhor Ogum de Ronda disseram que eu só iria melhorar quando desenvolvesse minha mediunidade. Nasci na Umbanda,

Da esquerda para a direita: Dona Deolinda, Mainha, Deise, Dona Caminha, Seu Zé Carlos e Dona Julia.

desde que me conheço por gente lembro de ser Umbandista. Em 1983, em uma de suas bebedeiras, meu Pai quebrou o congá inteiro, desafi ando Pai Xangô, dizendo que ele não existia e que não era seu pai coisa nenhuma, depois virou a estante onde fi cavam as imagens. Nesse meio tempo minha mãe, meu irmão e eu corremos para a rua, os vizinhos chamaram a polícia e fomos todos para a delegacia. Lá chegando meu pai dizia que meu irmão e eu havíamos agredido ele, porém o policial que nos levou foi nossa testemunha. Ele viu meu pai destruindo o terreiro e Deise recebendo Yemanjá na praia

As primeiras sessões eram feitas com esta imagem de Pai Joaquim e um abajur de plástico de Nossa

Senhora AparecidaAbraçando seu fi lho Henrique Junior na obrigação para Iansã

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OBRIGADO MEU DEUS POR TER ME DADO A BENÇÃO DE SER FILHA

ESPIRITUAL E CARNAL DESSA GRANDE MAINHA.

Confesso que no começo foi difícil, era complicado dividir você com tantos outros fi lhos, principalmente porque para mim, eles não eram seus fi lhos de verdade. Era estranho ter que entrar na fi la para poder falar com você. Eu ainda não conhecia o sentido de palavras como compromisso, missão, generosidade e caridade. Hoje eu entendo o signifi cado dessas palavras porque você me ensinou durante todos esses anos. Obrigada por me colocar à frente de tudo isso somente quando eu estava preparada. Obrigada por dizer não quando eu achava que podia. Agora eu entendo que a gente só esta preparada quando acha que ainda falta muito e não quando

Mãe Deise no dia do seu juramento no Primado do Brasil

se tem a certeza de que já sabe tudo. Antes de agradecer a você eu preciso agradecer a Deus por ter escolhido você para ser minha mãe e minha orientadora nessa encarnação. Obrigada Deus por ter me colocado nas mãos da Mainha.

OBRIGADA MÃE EU TE AMO!

rolando escada abaixo. Não lembro o nome do delegado que nos atendeu, mas depois de ouvir a história de minha mãe, nos encaminhou para o PRIMADO DE UMBANDA e a orientou para registrar o terreiro, voltar para a casa e cobrar pelos atendimentos particulares. E foi assim que minha mãe conheceu D. Iracema do Primado, separou-se do meu Pai e assumiu o terreiro de vez. Dali em diante, D. Iracema a instruiu tanto na parte espiritual como na parte jurídica. Depois disso começamos a realizar as obrigações no nosso terreiro e seguindo as instruções da Pandilha, comecei a anotar tudo o que os médiuns faziam, tendo até hoje a documentação de todos que passaram pela nossa casa. Após sete anos que meu Pai destruiu o congá ele teve a prova de que Xangô existia. Ele faleceu quando consertava a janela com um martelo e caiu do prédio onde morava. Quando a D. Joana Imparato assumiu a presidência do Primado eu comecei a ir e conheci a atual presidente do Primado do Brasil, D. Maria Aparecida Nalessio, hoje carinhosamente chamada de Mãe Cidinha. Quando ia à federação com minha mãe, via a Cida ajudando a Joana e fi cava admirada, voltava para casa sonhando que quando eu crescesse queria ajudar minha mãe como a Cida ajudava a Joana. Acho que consegui realizar esse sonho, pois sei que sou o braço direito de minha mãe. Hoje sei que a Cida na época era

Cambona Chefe da D. Joana. Em 2009 fi z o curso de Comandante Chefe de Terreiro no Primado do Brasil, aprendi a hierarquia e levei para o nossa casa. Esse é um resumo da nossa história, cheia de complicações, mas também de aprendizados. Hoje temos um Terreiro com vários médiuns, mas o que tenho de mais precioso é a fi gura da minha mãe, nossa querida MAINHA, apelido que foi colocado por uma de nossas médiuns que já voltou para o plano espiritual: a Fábia. Mainha foi o presente que Deus me deu, sem ela não sei por que caminhos eu teria seguido, só tenho certeza de que se hoje sou uma pessoa melhor, foi graças a ela.

Como era nosso querido congá.

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Minha história no terreiro Caboclo Sete Flechas começa assim: Meus pais moravam no mesmo quintal da Dona Janete e Seu João e fui batizado na Igreja católica por eles. Com o tempo aprendi o que é realmente ter uma madrinha. Com muita alegria meus padrinhos me mostraram valores sobre o que ser na vida. Na infância não tinha conhecimento do que era ser umbandista, pois minha mãe não aceitava a religião e não permitia que eu me aproximasse. Nas noites de sábado eu ouvia o som dos tambores, aquele barulho me fascinava e quando tentava descobrir de onde vinha, perguntava a minha mãe e ela respondia que o barulho vinha da rua, mas dentro de mim eu já sabia que o som dos tambores vinha da casa da madrinha. Morando na Vila Maria Baixa fi cou mais difícil para ver a madrinha pois minha mãe não deixava eu ir até sua casa sozinho por que a rua era perigosa para uma criança. Mas de tanto insistir, minha mãe resolveu me deixar ir apenas nas férias com uma condição: só poderia ir se passasse de ano na escola. Minha mãe dizia que não acreditava na umbanda mas de vez em quando ia falar com a Pandilha e um dia ouviu que eu seria umbandista e ela respondeu que não teria um fi lho macumbeiro. Fui crescendo e comecei a ir

sozinho à casa da madrinha e quando não passava na escola, sentava no banquinho da madrinha e ouvia da Dona Janete e ouvia da Deise, que sempre me considerou seu irmão mais novo, ela comia meu toco sem dó e sem piedade. Eu levava na brincadeira, mas ouvir as duas era o que mais me doía pois eu sabia que elas tinham razão! Nessa época por causa do horário da escola, eu só conseguia ir às festas de Cosme e Damião, que eram realizadas aos domingos, onde fi cava deslumbrado com o som dos atabaques. Lembro com muito carinho meu primeiro mestre, aquele que me orientou e ensinou a fazer os primeiros barulhos no tambor: Washington. Desse

Alex, nosso mestre Guaú, conta como foi a sua história em nosso Centro

Batizado do Alex na Igreja Católica

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período também me lembro da Fábia, do Tadeo, da Isabel, da Dona Carminha, da Cida Cordeiro e de outros que já não me lembro o nome, mas que fi zeram parte da minha história no terreiro. Quando o terreiro foi para São João Clímaco, meus pais já tinham mudado para Itaquera e a Madrinha me dava o dinheiro para a condução, assim eu poderia frequentar sua casa. Nesse período eu ajudava a cobrir a garagem com lonas e plásticos para proteger do sol e da chuva e assim começava minha iniciação para trabalhos futuros. Comecei a sentir as primeiras irradiações mas me refugiava nos fundos da casa, sozinho. Parecia que eu estava perturbado, conseguia ver tudo, mas não entendia nada; sentia medo, mágoa, raiva, solidão, tristeza, também sentia alegria quando acabava um descarrego, que eram feitos na gira dos baianos. Um dia o Fumaça, o baiano que trabalha com a Madrinha, mandou me chamar e disse: - Se o Bichinho não quer vir pelo amor, deixe que quando sentir a dor ele saberá o que fazer. Passaram alguns anos até que em um dos fi nais de semana eu encontro o Daniel, o Henrique, o Tadeo, o Washington ensaiando. Fiquei admirado em ver o Daniel, um cara que por muitos anos nunca quis saber de encarar a responsabilidade de tocar; o Henrique, que foi um dos meus

padrinhos, roqueiro, cabeludo, tocava bateria, nunca tinha tocado um atabaque; o Tadeo que já fazia parte da curimba; e o Washington, o Mestre, ensaiando, tocando. Esses caras foram para mim, uma fonte de inspiração para tomar coragem de encarar a Umbanda e a curimba como minha religião. Comecei a ter mais interesse e compreensão sobre o que estava havendo comigo, o fruto daquela semente que na infância rotava em mim e numa das sessões, o Fumaça precisou de vários médiuns para desmanchar um trabalho e me chamou para tocar atabaque, mesmo sem saber. No fi nal da sessão a Pandilha me disse que estava mais que na hora de começar a trabalhar e comecei a ensaiar os primeiros toques com o pessoal da curimba. Também vieram mais cobranças sobre minhas responsabilidades, dentro e fora do terreiro. Assim fui participando dos trabalhos e achei incrível minha evolução espiritual. Sou grato ao Terreiro Caboclo Sete Flechas por ter iluminado meu caminho desde a adolescência, pois se não fosse guiado por eles eu não seria o homem que sou hoje. Comemorando nossos 40 anos de iluminação espiritual, agradeço a Cigana Pandilha por ter acreditado em mim, confi ado em minhas mãos e ter me dado a grandeza de ser um eterno servo da Umbanda, trazendo alegria e esperança

Okê arôOxossi !

Rei das matas e caçador

através da curimba. Agradeço às Entidades Sete Saias, Sete Encruzilhadas, Zé Pilintra por ter me mostrado o quanto é bom fazer o bem ao próximo. Agradeço a Deus por ter enviado ao nosso plano, um espírito grandioso e iluminado que tem o nome de JANETE APARECIDA BERTTI DOS REIS. Ela é nosso rei e nossa rainha, por todos esses anos fez de nossas vidas um caminho de paz, amor, esperança e sabedoria, para

pensarmos certo e assim agirmos para o bem. Sou grato a essa pessoa que até hoje me encaminha para um futuro de amor e perseverança. Com muito orgulho a chamo de MADRINHA e sempre minha gloriosa MÃE. Aos meus irmãos e afi lhados; obrigado por confi arem e acreditarem em nossos trabalhos; amo todos vocês.

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Salve o Rei da Umbanda, Salve nosso Pai Oxossi, Salve nossa Mãe Oxum. Rogo ao nosso Pai Oxalá que ilumine nossos passos no caminho da luz e da prosperidade. Que esta data: 23 de abril; seja guardada nos corações de todos àqueles que crêem em um único Deus, pois sem ele nós não seríamos ninguém. Confi e... As coisas acontecem na hora certa, exatamente quando devem acontecer. Momentos felizes; louve a Deus. Momentos difíceis; busque a Deus. Momentos silenciosos; adore a Deus. Momentos dolorosos; confi e em Deus. E a cada momento; agradeça a Deus. A Todos, Obrigado!!!

Alex tocando para Obá.

Curso de canto e toque são dadas aos domingos

Alex na festa do Primado

Pedrinho chega para completar a Festa de Cosme.

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Apesar de acompanhar a saga do nosso terreiro desde o seu primeiro dia, eu só comecei a me interessar pela religião por volta dos meus 26 anos de idade. Morávamos em São João Clímaco e as sessões eram feitas na garagem da casa. Como não tinha cobertura, eu e o Alex colocávamos algumas lonas plásticas no sábado de manhã, ajeitávamos os atabaques e eu saia de casa, só fi cava quando tinha alguma festa. Lembro perfeitamente do dia em que ao atravessar o quintal para entrar em casa percebi que tinha algo errado com os atabaques. Não sabia bem o que estava acontecendo e fi quei preocupado com o fato. Era a última sessão do ano antes das férias e no fi nal dela fui conversar com a Pandiha e contei o que tinha sentido. Nem minha mãe nem a Cigana jamais havia me pressionado a trabalhar e naquele dia não foi diferente, com muita calma e paciência ela me explicou que realmente a vibração da curimba não estava boa naquele dia e me ofereci para ajudar. Tive a ajuda do Washington, da Fábia e do Tadeo para aprender a tocar. Afi nal eu nunca tinha tentado tocar até então e fi quei as férias inteiras treinando, até levava um dos tambores para o meu quarto. Fazíamos a festa de Oxossi numa

Daniel, atual Cambone Chefe da casa.

cachoeira para retomar os trabalhos e neste dia toquei a primeira vez para as entidades. Este lugar tinha algumas áreas demarcadas para os terreiros e toquei quase sem escutar o meu atabaque, tinha um outro centro na área ao lado com vários atabaques que cobriam nosso som. Apesar da difi culdade aquilo foi inesquecível e confi rmei que estava na hora de assumir a Umbanda como minha religião. Tive ajuda de vários outros fi lhos de santo para me aperfeiçoar nos toques e para aprender a cantar. Dediquei-me totalmente a curimba e não pretendia desenvolver minha mediunidade

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apesar de ter uma percepção muito boa sobre as vibrações do terreiro e não demorou muito para eu ter as primeiras incorporações. Fiz algumas obrigações para o aperfeiçoamento mediúnico e até hoje me considero um aprendiz. Hoje meu objetivo é fazer com que os trabalhos corram bem e dar apoio aos meus irmãos de santo. Assumi esta função quando a Deise passou a comandar o Terreiro junto com a Mainha. Foi ela que me mostrou que chega uma época que deixamos nossas necessidades de lado e procuramos o bem comum do Terreiro. Não importa se

precisamos trabalhar na frente do congá, como combone ou até mesmo segurar alguma vibração na tronqueira enquanto todos estão lá dentro. Tenho orgulho da nossa religião e de fazer parte dessa família que podemos contar sempre com cada um de vocês, para rir, chorar para dançar e para cantar para nossas entidades e nossos orixás. Quando comecei a escrever sobre nossa história me emocionei com as lembranças, com a saudade de algumas pessoas importantes que não estão mais tão perto de nós e com a dedicação de

Daniel e sua família no batizado do Th eo

cada médium da casa. Resolvi então descrever algumas ocasiões importantes que seguem nas próximas páginas. Espero poder agradar a todos e mostrar a força da simplicidade que a Mainha prega.

Obrigação para a Esquerda

Iansã dançando com Xangô.Juramento no Primado

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Okê arôOkê arôOxossi !Oxossi !

Rei das matas e caçadorRei das matas e caçador

Imagem extraida do site: http://umbandaimagens.blogspot.com.br

Nosso terreiro é regido por Oxossi, o orixá caçador dono das matas que promove a cura através das plantas medicinais. Ele é rápido e certeiro e também é conhecido como caçador de uma fl echa só. Trabalha em companhia de Ossãem, dono das folhas e também grande curador. Nossa casa carregada as características deste orixá, com dinamismo e alegria, tem vários

fi lhos jovens e nossas crianças são muito bem vindas, aprendendo desde cedo a fi losofi a da nossa querida Umbanda. É uma casa de cura onde muitas pessoas buscam o alívio de suas dores e acabam tornando-se frequentadores dos trabalhos, alguns para contemplar da assistência e outros que vestem branco e fazem parte da gira. Ver os fi lhos Oxossi dançando é mágico, a energia

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toma conta da sessão com o rítimo que a entidade emana. Nas festas distribuimos frutas que são abençoadas, sugerindo fartura a todos presentes. Salve Oxossi, esperamos que sua benção seja derramada sobre nós sempre. Oke Arô!

Ao pé de uma árvorePedi licença a Oxossi

Para saudar seu poder.

Keró

Aproveito sua luzPara sentir

O alívio do sofrer.

Bravo valente guerreiroOxossi é atento e veloz

Alento de um querer.

Keró

Da Aruanda sagradaEm sonho, ele apareceuA desvendar meu viver.

Keró

Com esse Orixá ninguém podePorque ele irradia energia

E é o que quero ter.

De punho, arco e lançaEvoco sua virtude de reiA descarregar meu Ser.

Keró

No combate ou na disputaNo enfrentar ou na lutaO alado vem da fl oresta.

Mandiga de brigaAcende sua forçaAquela que estremece o mundo.

Keró

Cavaleiro da mata virgemQue faz o galo cantarComo fl echa solta no ar.

Keró

Índio cacique São SebastiãoDe chapéu de couro fi rmeAgradeço seu cuidar

Keró Oxossi, kerótexto de Wilton Garcia

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OxumOxumDona das cachoeiras e do ouro, encanta a

todos com sua beleza

O Vestido de OxumO Vestido de Oxum

O vestido de Oxum cintilaO vestido de Oxum cintilaRoda, gira e vibra.. Roda, gira e vibra.. A formosura meninaA formosura meninaA delicada afi naA delicada afi na

A perfeição divinaA perfeição divinaA harmonia refi naA harmonia refi na

A elegância alinhaA elegância alinhaA materna iluminaA materna ilumina

Quando Mainha incorpora Oxum é difícil não se emocionar. Ela se deita em frente aos atabaques, cobre sua cabeça com pano amarelo ouro e somente se levanta quando está com sua coroa. Olha-se no espelho e ajeita os detalhes. Começa a dançar, convidando todos a acompanhá-la em seu ritmo cadenciado e suave. Na dança demonstra toda a ternura da entidade, seus movimentos suaves deixam claro que ela é a deusa da fertilidade.Encanta a todos com seu jeito menina, dona das águas doces e das cachoeiras, dona do ouro e da fecundidade. Se fossemos escolher palavras para descrever sua vibração seriam: carinho, dengo, manha, mimo e charme. Não pense que essas qualidades trazem fragilidade. Oxum é determinada e arquiteta muito bem a defesa contra seus inimigos, fazendo com que eles

provem do próprio veneno. Assim é a regência de Oxum em nossa casa: É carinhosa e afetiva e acolhedora, mas também rígida e educadora.

Ora ieiê Oxum!

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Oxum abençoando as crianças na festa de Cosme e Damião

A beleza de Oxum na casa da Vila Maria nos anos 80.

Oxum dançando para Oxossi.

Nas homenagens à Oxum os médiuns vestem-se para a Iabá

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os horrores do mundo. São ex-escravos que cultuam a africanidade de um DEUS NEGRO! Diante do Congá, vestido de branco, saúdo meu orixá para agradecer a energia sagrada que emana uma irradiação necessária ao pranto: faz chorar a dor, o sofrimento e as amarguras da terra seca... O que me dá proteção, me ergue e me guia a uma nova morada! Desse sincretismo, rezei três ave-marias e um pai-nosso. Mas, não deixei de bater tambor na hora do canto sagrado. Foi o galo preto, a farofa e a erva forte que me fi zeram levantar o mastro de São Sebastião. Do vento, o ar; da água, a força; da pedra, a terra; das folhas, o fogo. Senão, deixo um padé na encruzilhada. Nessa ordem, Exu e Pombo-gira precisam quebrar demanda, mau-olhado, olho-gordo,

inveja e espinhela caída. Do reisado da paróquia de São Benedito, também, surgem as congadas, em que Canga deve ser homenageado – tanto na umbanda quanto no candomblé de terreiro. E, da falange juremeira, emerge o Caboclo Aymoré. Essa lança que cruza meu destino eleva minha alma, transpassa e toca o coração, no sentimento de bravura, rapidez e justiça para resignação dos pecados. Dos quatro cantos do mundo, vaquei, vaquei, vaquei. Rodei, rodei, rodei. Girei, girei, girei... Me deparei com a estrada aberta por Ogum, as matas de Oxóssi, a cachoeira de Oxum, a pedra de Xangô, as folhas de Ossãe, o barro de Nanã, o vento de Iansã, o mar de Iemanjá e a luz de Oxalá. Salve Ifá e Obatalá. Axé!

Nossas datas Nossas datas importantesimportantes

A alegria é um ponto forte da nossa casa e homenageamos nossas entidades com festas, ajudando a divulgar o nome e os costumes da nossa querida religião. Nas páginas seguintes colocarei algumas fotos de nossas datas comemorativas e também alguns fatos que marcaram nossa história. Um desses fatos foi a oração que nosso irmão Wilton Garcia trouxe em comemoração ao dia da Consciência Negra em 2011. A leitura deste texto emocionou todos os presentes e convidou-nos a pensar em nossas raizes.

A mítica africana me ajuda a ver/ler o mundo a partir do Ojuran – um sonho, uma visão. Trata de uma possível redimensão imaginária, em que meus ancestrais quilombolas encontram o apoio da negritude, para manifestar a centelha do Divino Espírito Santo... Na festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos têm mineiros, baianos, boiadeiros e marinheiros. Nela, o povo brinca, reza, canta e dança. A criançada corre atrás do bumba-meu-boi. As

Ojuran

moças procuram o pau de Santo Antônio, pra casar. E as sereias vêm encantar os rapazes, enquanto aguardam a passagem da procissão. Dela, Santa Anastácia surge como o milagre da chuva para a colheita do campo. O plantio das ervas cabe aos pretos velhos, conhecedores de mandigas e feitiçarias. São doces senhores que sabem da vida e distribuem bondade e benevolência. Mestres que buscam refúgio para ajudar a Divina Providência contra

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Nossa história na visão de Mãe Deise, que divideo comando do Terreiro com Mainha.

que vêem buscar ajuda espiritual em consultas particulares com a Pandilha e com a Sete Saias que fazem questão de vir cumprimentar num dia tão importante para nós.

Também recebemos a visita de comandantes e frequentadores de outros Centros que vêem prestigiar nossa alegria de completar mais um ano dedicado a caridade. Antigos

O salão é transformado em uma grande tenda.

Mari e Lilian colaborando com a organização da festa.Salve o Povo Salve o Povo CCiiggaannoo Todos os anos, para comemorar o aniversário do Terreiro e da primeira vez que a Pandilha incorporou, realizamos a festa do Povo Cigano. Escolhemos um domingo do mês de abril e começamos a comemoração na parte da tarde. São trazidas frutas, grãos, pães, bolos e vinho para

serem abençoados pelas entidades e distribuídos para os presentes. O salão é todo decorado e fi ca com um ar mágico, exalando o clima místico dos nossos queridos guias que trabalham nesta linha. Sempre temos um público muito grande, que enche tanto o terreiro como a assistência, são muitos fi lhos

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médiuns da casa, que por vários motivos deixaram de frequentar as giras vem matar um pouco da saudade. Além da dança, do vinho e da comida com fartura, os ciganos tem a oportunidade de chamar as pessoas que vem só para assistir para, em conversas descontraídas, transmitir energia e bons fl uidos, trazendo felicidade e aquele ar de leveza que tanto gostamos. Este ano vamos comemorar 40 anos e teremos novamente uma linda festa. Obrigado a todos que nos ajudam.

Pandilha ao lado Nycollas e Júnior

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Eu quero doce, Eu quero doce, eu quero bala...eu quero bala...

A festa de Cosme e Damião é uma das mais populares comemorações da Umbanda onde crianças, independente da sua religião, recebem doces abençoados pelas entidades. Em nossa casa fazemos esta festa no domingo mais perto do dia 27 de setembro. Primeiro vem Oxum na companhia dos erês para abrir os trabalhos e derramar suas bençãos. Começa então a distribuição das guloseimas a todas as crianças. Que bagunça deliciosa! Depois que todos pegaram

seus saquinhos e estão de barriguinha cheias, chega a Serena, a caboclinha de Mainha que esbanja disposição e vitalidade. Os ogans tocam e cantam pontos para Cosme e Damião e uma sequência de pontos para os Orixás e Guias onde os erês imitam as suas danças. Esta saudável brincadeira é muito boa para os médiuns mais novos aprenderem e conhecerem as vibrações das entidades. Afi nal é sempre mais fácil aprender brincando.

Serena na sua festa.Serena na sua festa.

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Agradeço aos guias pela inspiração e todos meus irmãos de santo que mandaram fotos, textos e muita energia.Daniel Bertti ([email protected])

Algumas imagens que não poderiam deixar de ser publicadas.

Vamos agradecer à Oxossi e à OxumVamos agradecer à Oxossi e à OxumAo Caboclo Sete Flechas e a Cigana PandilhaAo Caboclo Sete Flechas e a Cigana Pandilha

Sobre as graças alcançadas...Sobre as graças alcançadas...

Vamos bater-cabeça para OxaláVamos bater-cabeça para OxaláVibrar para a força divinaVibrar para a força divina

A natureza sagrada e os elementares do Universo.A natureza sagrada e os elementares do Universo.

Vamos homenagear o reino da UmbandaVamos homenagear o reino da UmbandaIncensar esse kasuá africano, indígena e cigano.Incensar esse kasuá africano, indígena e cigano.

Cantar, dançar e tocar tambor.Cantar, dançar e tocar tambor.

Ao Céu e à TerraAo Céu e à TerraVamos comemorar os 40 anos desse Centro EspíritaVamos comemorar os 40 anos desse Centro Espírita

Com a jornada iluminada da Mãinha.Com a jornada iluminada da Mãinha.

Vamos saudar a direita e a esquerdaVamos saudar a direita e a esquerdaPedir perdão e permissãoPedir perdão e permissão

Para continuar os trabalhos...Para continuar os trabalhos...

Umbándá, Umbándá, UmbándáUmbándá, Umbándá, Umbándá

Ao òrún e ao iléAo òrún e ao iléPor Wilton GarciaPor Wilton Garcia

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