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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES CEARENSES CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL ANA CÉLIA SALES DE SOUZA POLÍTICAS SOCIAIS NA VELHICE: A visão dos idosos sobre o Projeto Sociedade e Saúde em Guaiúba - Ce FORTALEZA 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADES CEARENSES

CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

ANA CÉLIA SALES DE SOUZA

POLÍTICAS SOCIAIS NA VELHICE:

A visão dos idosos sobre o Projeto Sociedade e Saúd e em Guaiúba - Ce

FORTALEZA

2014

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ANA CÉLIA SALES DE SOUZA

POLÍTICAS SOCIAIS NA VELHICE:

A visão dos idosos sobre o Projeto Sociedade e Saúde em Guaiúba - Ce

Trabalho apresentado ao curso de Serviço Social da Faculdades Cearenses para obtenção do título de bacharel em Serviço Social. Orientadora: Ms. Ruth Brito dos Santos

FORTALEZA 2014

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ANA CÉLIA SALES DE SOUZA

POLÍTICAS SOCIAIS NA VELHICE:

A visão dos idosos sobre o Projeto Sociedade e Saúde em Guaiúba - Ce

Trabalho apresentado ao curso de Serviço Social da Faculdades Cearenses para obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Aprovado em ____/____/________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________

Prof.ª Ms. Ruth Brito dos Santos (orientadora)

___________________________________________________________________

Prof.ª Ms. Mariana Albuquerque Aderaldo

___________________________________________________________________

Prof.ª Esp. Kely Cristina Saraiva Teles Magalhães

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A Deus.

Aos meus filhos, Anderson e Jonatas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS, pela oportunidade de tornar um sonho em realidade, por ter me

acolhido nos momentos de oração, escutando minhas preces, me fortalecendo na fé

e sustentando em todas as vezes que pensei em desistir, por permitir tantas

vivencias que fortaleceram e me fizeram acreditar que este sonho seria possível,

obrigado Senhor!

Aos meus queridos e amados filhos, Anderson e Jonatas, que estão sempre do meu

lado apoiando e colaborando e me incentivando. Acreditando sempre na conquista

deste ideal, com suas mensagens de carinho e compreensão, por todo o tempo que

fiquei ausente sem dar-lhes a devida atenção.

Ao meu querido Pai Antônio Vitalino de Souza (in memória), sei que está feliz por

esta conquista em minha vida.

A todos os familiares que sempre me incentivaram e compreenderam, por todos os

momentos que fiquei ausente e não pude participar dos momentos em família

programados por todos, meu muito obrigado pela compreensão.

Principalmente a minha querida irmã Ana, pelo apoio exclusivo, de todas as vezes

que precisei de apoio ou de um ombro amigo, pude contar com você. Dedico esta

conquista também a você, pessoa que tanto amo.

A todos os professores do curso de serviço social da Faculdade Cearense – FAC

pelos conhecimentos transmitidos na minha trajetória acadêmica.

As minhas amigas, que me apoiaram e incentivaram, e que torcem sempre para que

tudo der certo. Beijos carinhosos.

A minha orientadora Ruth Brito, pelo empenho, compromisso e dedicação. Pela

excelente contribuição para a construção deste trabalho. Só tenho que agradecer,

Deus lhe pague.

A Banca Examinadora por ter aceitado o convite, Kely Magalhães e Mariana

Aderaldo, mais uma vez obrigada pela disponibilidade e atenção.

Aos idosos do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade, pela solidariedade,

acolhimento, sorrisos e por se disporem a partilhar um pouco de suas experiências.

Muito Obrigada!

Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente e que se fizeram

presente para que este momento se tornasse realidade. A todos o meu muito

obrigada!

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“Há duas épocas na vida, infância e

velhice, em que a felicidade está em caixa

de bombons”

(Carlos Drummond de Andrade)

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RESUMO

Conhecendo o projeto Sociedade e Saúde em Guaiúba, tem o objetivo de analisar

as políticas públicas na vida dos idosos inseridos no projeto, através das políticas

por ele desenvolvidas. Tendo como objetivo geral observar se o projeto Sociedade e

Saúde de Guaiúba se constitui com uma estratégia de contribuição para promover

políticas públicas na vida dos idosos. Tem como objetivos específicos: Compreender

o significado que os idosos atribuem ao processo de envelhecimento e a velhice;

analisar as motivações que levaram os idosos a participarem do projeto Sociedade e

Saúde; perceber a visão dos participantes referente as atividades desenvolvidas no

projeto; entender as mudanças que ocorreram a partir da sua inserção no projeto,

bem como, suas perspectivas para o futuro. Para execução deste trabalho foram

fundamentais os diálogos com alguns autores que contribuíram para o debate em

torno do tema, entre eles, podemos destacar: BEAUVOIR (1990); DEBERT (1999);

MASCARO (2004); dentre outros. Para alcançar os objetivos realizamos uma

pesquisa qualitativa e como técnicas instrumentais utilizamos a observação simples

e entrevista semi-estruturada, tendo como universo dez idosos. Para interpretar os

dados foram utilizadas as falas dos sujeitos constituindo-se portanto a analise de

discurso. Como resultado constatamos que a velhice passou de fenômeno a

vivencia cotidiana de um número cada vez maior de pessoas, que esta é uma

construção social e que o entendimento das políticas públicas pelos próprios idosos

depende do contexto em que os mesmos estão inseridos, podendo ser vista e

vivenciada de forma positiva ou não. Foi verificado ainda que da efetivação de

políticas públicas depende um envelhecer bem e que estas embora tenham

avançado, ainda não são suficientes para a crescente demanda desse segmento

populacional no Brasil. Percebemos que o projeto pesquisado através das ações e

dos resultados positivos é um exemplo de políticas públicas que promove o bem

estar e melhora as condições de qualidade de vida aos idosos que dele participam.

Palavras-chave: Políticas públicas. Processo de envelhecimento. Velhice.

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ABSTRACT

Knowing the Society and Health Guaiúba project, aims to analyze public policies on

the lives of the elderly inserted in the project, through policies developed by him.

Aiming to observe if the Society and Health Guaiúba project is to contribute to a

strategy to promote public policies on the lives of the elderly. So having specific

objectives: Understand the meaning that older people attach to the process of aging

and old age; analyze the motivations that led the elders to join the Society and Health

Project; realize the vision of the participants regarding the activities in the project;

understand the changes that occurred from its inclusion in the project, as well as its

prospects for the future. , DEBERT (1999 ); MASCARO (2004 ), among others

BEAUVOIR (1990 ): For this assignment dialogues with authors that contributed to

the debate around the theme, among them we highlight were fundamental. To

achieve the objectives we conducted a qualitative research and how instrumental

techniques used simple observation and semi - structured interview, with the

universe ten elderly. To interpret the data subjects speeches constituting therefore a

discourse analysis were used. As a result we found that old age has gone from

phenomenon to everyday experiences of a growing number of people, this is a social

construction and that the understanding of public policies by older people themselves

depends on the context in which they are embedded , can be seen and experienced

in a positive way or not. It was also found that the effectiveness of public policies

depends on a stale well and although they have advanced, it is still not enough for

the growing demand of this population segment in Brazil. We realized that the project

researched through actions and positive results is an example of public policy that

promotes the welfare and best conditions of quality of life for seniors who participate.

Keywords: Public Policies. Process aging. Old age.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BM Bombeiro

BPC Benefício de Prestação Continuada

CBMCE Corpo de Bombeiro Militar do Ceará

CRAS Centro de Referência da Assistência Social

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

NOB Norma Operacional Básica

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PNI Política Nacional do Idoso

PNSI Política Nacional de Saúde do Idoso

PSBS Projeto Saúde Bombeiro e Sociedade

SUS Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

1 COMPREENDENDO O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E ATENÇÃO

PÚBLICA PARA A VELHICE ....................................................................................14

1.1 A Velhice Através Dos Tempos............................................................................14

1.2 A Velhice Nos Dias Atuais....................................................................................18

1.3 Políticas Públicas Para A Velhice.........................................................................22

1.3.1 Política Nacional Do Idoso................................................................................23

1.3.2 Estatuto Do Idoso..............................................................................................25

1.3.3 Política Nacional De Saúde Do Idoso...............................................................27

2 PROJETO SOCIEDADE E SAÚDE ........................................................................30

2.1 História De Guaiúba.............................................................................................31

2.2 Locus Da Pesquisa...............................................................................................32

2.3 Chegando Ao Campo Da Pesquisa......................................................................32

2.4 Projeto Saúde, Bombeiro E Sociedade No Ceará...............................................33

2.5 Percurso Metodológico.........................................................................................34

2.6 Ações Realizadas Pelo Projeto............................................................................37

2.7 Entrevistas............................................................................................................38

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................47

APÊNDICE.................................................................................................................48

ANEXOS....................................................................................................................49

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população brasileira é reflexo do aumento da

expectativa de vida, devido ao avanço no campo da saúde e à redução da taxa de

natalidade. Prova disso é a participação dos idosos com 75 anos ou mais no total da

população - em 1991, eles eram 2,4 milhões (1,6%) e, em 2000, 3,6 milhões (2,1%).

A população brasileira vive, hoje, em média, de 68,6 anos, 2,5 anos a

mais do que no início da década de 90. Estima-se que em 2020 a população com

mais de 60 anos no País deva chegar a 30 milhões de pessoas (13% do total), e a

esperança de vida, a 70,3 anos.

O quadro é um retrato do que acontece com os países como o Brasil, que

está envelhecendo ainda na fase do desenvolvimento. Já os países desenvolvidos

tiveram um período maior, cerca de cem anos para se adaptar. A geriatra Andrea

Prates (2011), do Centro Internacional para o Envelhecimento Saudável (CIES),

prevê que, nas próximas décadas, três quartos da população idosa do mundo esteja

nos países em desenvolvimento.

A população de idosos com 60 anos ou mais no Ceará aumentou 61% em

dez anos. Isso porque os dados do Censo 2010 confirmam que esse contingente

etário está em 1,063 milhão de pessoas, enquanto em 2000 esse valor correspondia

a exatos 658,9 mil. Conforme o Instituto de Pesquisa e Estatística Econômica do

Ceará (IPECE) o Ceará obteve a 16ª posição no Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal (IDHM). O Ceará foi o nono estado que mais avançou em termos

relativos, melhorando quase 30% entre 1991 e 2010. Nesse período, a expectativa

de vida do cearense cresceu de 58 anos para 75.

Segundo o censo de 2010, realizado pelo IPECE, a cidade de Guaiúba

tem uma população de 24.091 mil habitantes, ocupando assim a 82ª (octogésima

segunda) posição de cidade mais populosa no estado do Ceara e a 1338º no Brasil.

O impacto do envelhecimento para o País não se resume à crescente

participação do idoso no total da população, boa parte dos idosos hoje são chefes

de família e nessas famílias a renda média é superior àquelas chefiadas por adultos

não idosos. Segundo o Censo 2000 (IBGE) 62,4% dos idosos e 37,6% das idosas

são chefes de família, somando 8,9 milhões de pessoas, além disso, 54,5% dos

idosos chefes de família vivem com os seus filhos e os sustentam.

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O interesse pelo tema do envelhecimento surgiu pela inquietação de ver a

situação dos idosos diante a sociedade moderna. A partir de uma visita realizada ao

Lar Torres de Melo1, quando cursava a disciplina de Gerontologia, conteúdo

curricular optativo no sexto semestre do Curso de Serviço Social pude observar que

há no local diversos grupos de idosos:

• Idosos em situação de abrigamento; muitas vezes são deixados por

familiares, apenas com um bilhete no bolso e o cartão da aposentadoria.

• Idosos com total autonomia; são inseridos e/ou participam da Instituição por

conta própria, geralmente são pessoas que querem ter um contato, um convívio

social com seus pares (comunidade idosa), coisa que usualmente não existe no seio

familiar.

• Idosos em total dependência; freqüentemente estão acamados, e necessitam

de atenção e cuidados específicos, principalmente em relação a saúde.

Diante deste quadro, alguns questionamentos surgiram. O idoso que vive

em situação de abrigamento, como se vê em relação a outros idosos? Quais serão

as perspectivas de vida para o futuro? O que está sendo elaborada/pensado para

essa demanda de idosos? Será que estamos preparados com políticas públicas de

qualidade para atender esse idoso? Será que esse idoso terá seus direitos

garantidos para viver com dignidade e qualidade de vida? Será que nossas crianças

estão sendo educadas para receber esse idoso, tratando-o e respeitando-o sem

preconceito? São esses os questionamentos e as dúvidas que me direcionam aos

caminhos para o desenvolvimento do trabalho.

O objetivo geral da pesquisa é analisar a participação dos idosos

inseridos no projeto “Sociedade e Saúde”, desenvolvido no município de Guaiúba.

Para alcançar esse objetivo elencamos os seguintes objetivos específicos:

compreender o significado que os idosos atribuem ao processo de envelhecimento,

analisando as motivações que levaram os idosos a participarem do projeto

Sociedade e Saúde e perceber a visão dos participantes referente às atividades

1 Unidade de abrigo de longa permanência. Esta instituição existe há 108 anos em Fortaleza, trata-se de uma organização não governamental, mas que recebe ajuda do Estado para sua manutenção. Mais informações disponíveis em: http://www.lartmelo.org.br/site/

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desenvolvidas no projeto, procurando entender as mudanças que ocorreram a partir

da sua inserção no mesmo, bem como suas perspectivas para o futuro.

Para atingir o objetivo deste trabalho foi necessário pesquisar sobre os

conceitos de velhice e políticas públicas, bem como aprofundar os conhecimentos

acerca das políticas públicas voltadas para o processo de envelhecimento e velhice.

O primeiro momento foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica relacionada

aos temas em discussão. Foram eles: BEAUVOIR (1990), DEBERT (2004),

MASCARO (1997), HADDAD (1986), MAGALHÃES (1989), MINAYO (2004), dentre

outros, que serviram de suporte teórico para a realização da pesquisa por

abordarem os temas em questão. O segundo momento refere-se à pesquisa de

campo, a observação e análise dos idosos que participam do projeto.

O projeto “Sociedade e Saúde” que fora fonte para a pesquisa, é

realizado na cidade de Guaiúba, a partir de uma parceria entre Governo Municipal e

Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará, que desenvolve atividades físicas com

pessoas idosas. O trabalho apresenta-se relevante para a área de estudo, pois

busca conhecer práticas cotidianas que serão atuais em um futuro próximo. Já que

no futuro o nosso País será um País de idosos, é importante conhecermos práticas

de políticas públicas voltadas para esse público.

O estudo foi realizado de forma qualitativa, pois foi através desse tipo de

pesquisa que pudemos analisar os caminhos que permeiam o cotidiano dos idosos

que participam do projeto “Sociedade e Saúde”, bem como nos permitiu ter um olhar

mais abrangente sobre o processo de envelhecimento. Quanto ao campo de estudo,

a pesquisa foi desenvolvida no Centro de Educação, Arte e Cultura do município de

Guaiúba, localizado no bairro Centro, situado a rua Rodolfo Teófilo, nº 05. Os

sujeitos da pesquisa foram os idosos que participam do projeto há mais de 04

(quatro) anos. Para participarem da pesquisa os idosos foram submetidos à

assinatura de um termo de consentimento de participação, onde está exposto que

seus nomes serão fictícios para resguardar suas imagens, conforme resolução

466/12.

O presente trabalho foi dividido em dois capitulo, onde abordam o

processo de envelhecimento, assim como a velhice e as políticas públicas voltadas

para este público e uma pequena abordagem do projeto “Sociedade e Saúde”

desenvolvido no município de Guaiúba.

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O primeiro capítulo, composto por três tópicos e que tem como título:

“Compreendendo o processo de Envelhecimento e Atenção pública para a Velhice”,

abordamos a velhice através dos tempos, a velhice nos dias atuais e as políticas

públicas para a velhice, direcionando as políticas públicas voltada para este público

sendo as mesmas: Política Nacional do Idoso, Estatuto do Idoso e Política Nacional

de Saúde do Idoso.

O segundo capitulo, intitulado de “Projeto Sociedade e Saúde” e

composto por sete tópicos, abordamos a história de Guaiúba, o locus da pesquisa, a

chegada ao campo da pesquisa, um breve histórico do projeto Saúde, Bombeiro e

Sociedade no Ceará, percurso metodológico, ações realizadas no projeto, e

entrevistas, sendo possível verificar uma análise das categorias processo de

envelhecimento, envelhecimento e políticas públicas, contemplando assim os

sujeitos da pesquisa.

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1 COMPREENDENDO O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E ATENÇÃO

PÚBLICA PARA A VELHICE

“Vejo você hoje em dia acabada

Quem te viu quem te vê quando eras

amada

Hoje a velhice apoderou-se de você

Eu não sinto saudade da mocidade e nem

vivo a sofrer

Assim diz você”

(Nelson Cavaquinho, Alcides Dias Lopes)

1.1 A Velhice Através Dos Tempos

O envelhecimento é uma etapa da vida caracterizada pela longevidade

dos anos, ou seja, é a última etapa do ciclo da vida humana. Desde o nascimento

passamos por várias fases: infância, adolescência, até chegar a fase adulta e

posteriormente chegamos ao processo de envelhecimento que tem apenas ponto de

partida e não de retorno.

Na antiguidade a vida era muito difícil e para que o indivíduo pudesse

suportar as várias moléstias era preciso que o mesmo tivesse muita saúde. Poucas

pessoas conseguiam atingir uma idade avançada, pois somente uma minoria

privilegiada tinha condições de cuidar de sua saúde. A infância e a idade adulta

eram diferenciadas através do sexo e da classe social. As meninas e os filhos dos

camponeses se casavam com pouca idade, os filhos dos artesãos e dos

comerciantes, entre 12 e 14 anos, já aprendiam um oficio e começavam a trabalhar,

sendo baixa a expectativa de vida da época.

Na antiga sociedade os indivíduos que tinham mais idade eram honrados.

Na Grécia Antiga, mais especificamente na cidade de Esparta, os idosos eram

reverenciados e possuíam muita autoridade. Já em Atenas o neto tinha o mesmo

nome do avô e esse hábito retratava a forma respeitosa como os mais velhos eram

tratados e considerados. No império Romano a avó idosa cuidava da casa de campo

ou dos filhos da família.

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Na idade média os idosos não eram inclusos na alta classe dos senhores

feudais. Os mesmo eram afastados das atividades em decorrência do trabalho árduo

do campo e muitos velhos não podiam participar da vida pública. Assim, o sistema

feudal se estruturou através de batalhas e lutas pelo poder, estas batalhas eram

realizadas por homens jovens e adultos que possuíam força e vitalidade para

defender seus feudos.

No século XVII, na sociedade francesa, a expectativa de vida era baixa e

o homem perdia seu lugar na sociedade ao completar 50 anos de idade, mas o

idoso que possuía riquezas continuava a ser honrado. No mesmo século, teve início

o surgimento de asilos e hospitais na Inglaterra, que tinham a função de abrigar os

doentes, os pobres e os velhos que eram abandonados.

Já no século XVIII, na Europa, o indivíduo que fosse considerado idoso

com pouca idade, e não representasse o sacerdote ou um chefe de família, era

distanciado da vida social. Com a Revolução Francesa, que limitou os poderes

patriarcais, o pai tinha seu poder, porém fossem mais limitados, tanto no espaço

público quanto no privado.

No século XIX se solidificou o processo de industrialização, com o avanço

da tecnologia estimulada pela ciência, que possibilitou melhores condições

sanitárias e a descoberta dos remédios e vacinas, melhorando o desenvolvimento

da medicina que permitiu a erradicação das doenças que liquidavam as populações

e interrompiam o processo de envelhecimento nas sociedades.

Assim, em virtude das mudanças que foram acontecendo, ocorreu um

novo posicionamento em relação à duração da existência humana, a velhice

começou a aparecer como um fenômeno social e não somente biológico. Entretanto,

a ideia da velhice foi se fortalecendo no imaginário social por apresentar condições e

possibilidades.

Constatamos também que no decorrer da história da velhice não eram

apenas as sociedades capitalistas que desvalorizavam seus velhos, outras

sociedades também que apresentavam um número reduzido de velhos não os

suportavam, pois os mesmos não combinavam com sua forma de organização.

Constatamos ainda que em algumas sociedades os velhos eram respeitados e que

em outras, o processo de envelhecimento era tratado com desrespeito e zombaria.

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Desta forma podemos compreender o fenômeno da velhice e alguns

fatores históricos que identificamos nas diferentes épocas e lugares, já que os

aspectos relacionados são complexos e não existem isoladamente.

A idade do ser humano, independente de como ele se encontre

psicologicamente, socialmente, ou biologicamente é importante para se

compreender o processo de envelhecimento, mas não para determinar o começo ou

o fim desta etapa da vida. A concepção de velhice na sociedade relata esta fase

associada a doença, e suas limitações, a idéia de finitude, e a negação da mesma.

Isto fica claro desde o tratamento que se da na sociedade quanto na literatura que

traz diferentes denominações para as pessoas velhas, os quais são: idoso, pessoa

idosa ou variações como terceira idade, idade madura. No entanto, a maior parte

das dificuldades relacionadas a velhice está relacionada a cultura que limita e não

valoriza.

Portanto a compreensão da categoria velhice como sendo uma etapa da

vida somente será possível a partir da capacidade de saber relacionar esta em seus

aspectos biológicos, cronológicos, psicológicos e sociais. Segundo DEBERT (1999),

essa compreensão da interação dessas dimensões está diretamente ligada as

condições culturais nas quais o indivíduo está inserido, sendo importante ressaltar

que a relação acima citada é relevante na categorização de um indivíduo como

velho ou não.

BEAUVOIR (1990, p. 112) nos faz observar algumas diferenças culturais

que há entre a compreensão de velhice entre o ocidente e o oriente, apontando

como os idosos chineses são respeitados. “Toda a casa devia obediência ao homem

mais idoso. Não havia contestação pratica de suas prerrogativas morais, pois a

cultura intensiva que se pratica na China exige mais experiência do que força.”

Na obra “A Reinvenção da Velhice: Socialização e Reprivatização do

Envelhecimento”, a mesma autora traz reflexões sobre a velhice, analisando o tema

não apenas pelas estatísticas, mas analisa a visualidade da velhice pelo modo como

se deu a construção dessa visualidade. É este papel que a pesquisa social

desempenha: a análise não apenas dos dados com vistas ao aumento do número de

idosos, mas indo além, descobrindo, investigando o porquê da velhice ganhar

ênfase no cenário nacional e mundial, buscando compreender toda a sua

complexidade, visualizando como um conjunto de interfaces.

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De acordo com BEAUVOIR (1990), a velhice não é uma abstração porque

as pessoas também não a são e isso implica em dizer que a velhice é uma realidade

em que as pessoas idosas vivem cada uma delas, com suas particularidades, suas

experiências diferenciadas uma das outras, no entanto histórias únicas, vivencias

cheias de significados e vividas no contexto socioeconômico, cultural e étnico em

que cada um está inserido.

Na época contemporânea, início do século XXI, ao mesmo tempo em que a sociedade potencializa a longevidade, ela nega aos velhos o seu valor e sua importância social. Vive-se em uma sociedade de consumo na qual apenas o novo pode ser valorizado, caso contrário, não existem produção e acumulação de capital. Nesta realidade, o idoso passa a ser ultrapassado, descartado, ou seja, ficou velho já está fora de moda. E como o homem não vive nunca em seu estado natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela sociedade que pertence logo é marginalizado e por sua fragilidade em diversos aspectos, inerentes a esta etapa da vida, absorve tantas consequências negativas. (BEAUVOIR, 1990, p. 121).

Ao observamos uma pessoa idosa é evidente que as transformações

físicas, psicológicas, sociais estão explícitas (DEBERT,1999). A primeira e a

segunda são consideradas como naturais do ponto de vista biológico, já que o

passar dos anos atribui aos indivíduos desgaste das células por exemplo. Portanto o

cabelo cai e/ou fica branco, a pele enruga, o corpo fica mais suscetível a doenças,

enfim a capacidade física passa a ser cada vez mais limitada e os desafios em

consequência disso são maiores. Já a terceira é uma construção diária que consiste

na perda de identidade, papeis sociais e assim da importância antes tida pelo idoso.

No livro “A velhice”, obra considerada uma autobiografia, Simone de

Beauvoir (1990) escreveu que o idoso é como uma espécie de objeto que incomoda,

não tem utilidade, e quase tudo que se deseja é poder tratá-lo como quantia

desprezível. É esse pensamento que tem alguns idosos – conforme os próprios

discursos – de acordo com a atenção que não lhe é dada, e ainda pelo

entendimento de muitos da imagem negativa da velhice associando-o apenas as

perdas: da própria identidade física, da beleza, da autonomia e independência, da

memória, da felicidade, etc.

Também um aspecto relevante que deve ser citado é o tratamento dado

pela sociedade (ou não dado devidamente) ao tratarmos de idoso, já que

consensualmente a idéia que se tem do velho é estereotipada e algumas vezes

preconceituosa, que contribui significantemente para a deturpação da imagem do

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idoso e isto é considerado conseqüências sociais para os indivíduos que chegam a

velhice.

Assim de maneira clara, exemplificaremos a condição étnica enquanto

determinante que influencia nas questões que envolvem a velhice e o processo de

envelhecimento, não da visão errônea desta estar relacionada a fatores

morfológicos, como a cor da pele ou estatura, por exemplo, mas da que compreende

os fatores culturais, sendo estes a religião, a língua, os hábitos alimentares e outras

tradições como aponta MASCARO (2004) e estes são fatores que exerce

diretamente influência sobre como gestar o envelhecimento em uma sociedade.

1.2 A Velhice Nos Dias Atuais

O nosso País está se tornando um país de velhos. Segundo pesquisa do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2025 o nosso País será o

sexto País em número de idosos.

Segundo o censo de 2000 os idosos são hoje 14,5 milhões de pessoas,

8,6% da população total do País, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). O instituto considera idosas as pessoas com 60 anos ou mais,

mesmo limite de idade considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para

os países em desenvolvimento. Em uma década, o número de idosos no Brasil

cresceu 17%, em 1991, ele correspondia a 7,3% da população.

No que se refere ao estado do Ceará a população de idosos com 60 anos

ou mais aumentou 61% em dez anos. Isso porque os dados do Censo 2010

confirmam que esse contingente etário está em 1,063 milhão de pessoas. Enquanto

em 2000 esse valor correspondia a exatos 658,9 mil conforme o Instituto de

Pesquisa e Estatística Econômica do Ceará (IPECE). O Ceará obteve a 16ª posição

no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), foi o nono estado que

mais avançou em termos relativos, melhorando quase 30% entre 1991 e 2010.

Nesse período, a expectativa de vida do cearense cresceu de 58 anos para 75.

O envelhecimento, e depois a morte, não estão, portanto, relacionados com um certo nível de desgaste energético, com um número dado de batimentos, mas sobrevém quando um determinado programa de crescimento e de manutenção chegou a seu termo. (BEAUVOIR, 1990, p. 32).

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19

O processo de envelhecimento acontece com independência e

autonomia, para que se tenha um envelhecimento ativo, ou seja, ser ativo, não quer

dizer que ainda se encontre inserido no mercado de trabalho, mas que viva com

saúde, segurança e proteção.

Para se envelhecer com saúde, é necessário que o idoso possa contar

com alguns quesitos, como por exemplo: o idoso possa estar inserido no convívio

familiar e comunitário, possa conviver intergeracional, ou seja, ter contato com

outras gerações de pessoas, tenha condições de moradia digna, com saneamento

básico e meio ambiente saudável, que possa participar da cultura, do esporte, do

lazer, com trabalho e renda dentro da comunidade, desde que esses idosos se

sintam disponíveis e com condições físicas e psicológicas, independência e

autonomia para desenvolver determinadas atividades.

O que define o sentido e o valor da velhice é o sentido atribuído pelos homens a existência, é o seu sistema global de valores. E vice-versa: segundo a maneira pela qual se comporta para com seus velhos, a sociedade desvenda, sem equívocos, a verdade – tantas vezes cuidadosamente mascarada – de seus princípios e de seus fins. (BEAUVOIR, 1909, p. 86).

Foi pensando nesse idoso com uma vida saudável e ativa que resolvemos

pesquisar e realizar este trabalho com essa visão de um futuro melhor para os

nossos idosos, porque falar em um Brasil de jovens já se tornou um mito, o nosso

País vem silenciando a velhice por décadas e de acordo com as pesquisas do

(IBGE) a velhice aparece em número e em representatividade social. Quando a

velhice passa de uma questão filantrópica e privada para a esfera pública, a

perspectiva dominante de sua inclusão integral é um direito que deve ser alcançado.

A preocupação da sociedade com o processo de envelhecimento deve-se

ao fato de os idosos corresponderem a uma parcela da população cada vez mais

representativa nos dias atuais. O aumento da expectativa de vida se deu devido a

redução da taxa de fertilidade e o acréscimo da longevidade, com a implantação de

políticas públicas voltadas para a camada de idosos, tanto na saúde, saneamento

básico e com campanhas de vacinação para este público.

Se tornar velho e aceitar a velhice é se orgulhar dos muitos anos que

conferem experiência, sabedoria, liberdade. Podemos concluir que a velhice é uma

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construção social e cultural, sustentada pelo preconceito de uma sociedade que

quer viver muito, mas não quer envelhecer.

De acordo com MAGALHÃES (1989) finalmente, é preciso pensar que o

envelhecimento e as condições em que o indivíduo chega a ser velho resultam de

uma longa existência onde saúde, educação, trabalho, lazer, alimentação etc.

entram no somatório dos ganhos e perdas de cada um, a partir de seu nascimento.

Pensar numa velhice saudável é pensar, sobretudo nas condições que permitam ao

adulto envelhecer bem, assim como pensar o adulto como resultado do jovem e

deste, como a continuidade da criança. Pensar, portanto, em uma verdadeira

Política de Envelhecimento é pensar, a rigor, em nossas crianças e filhos, pois serão

eles os que efetivamente poderão ser beneficiários ou vítimas do que fizermos hoje.

Aos velhos de hoje só nos resta compensar perdas que poderiam ter sido evitadas,

fossem outras as condições históricas de seu ciclo e percurso de vida

A gerontologia foi criada com profissionais e instituições encarregados da

formação de especialistas no envelhecimento. São os gerontólogos, que atuam na

transformação da velhice em uma questão social e do idoso em um novo ator

político, com programas e projetos voltados para a terceira idade.

Conforme pensa Ecléa Bosi;

O trabalho é negado do imediato e ação criadora, se o que é o que significa, e se o trabalho da velhice é o trabalho de lembrar, sua lembrança não deve ser degradada. É preciso não lhe negar o trabalho nem lhe espolir a memória, muito menos destituí-la de valor, seja pelo abandono a indiferença ou pelo tratamento ridicularizado da experiência do que foram e fizeram. É indispensável que a dignidade e a respeitabilidade sejam preservadas, independente do estágio etário em que se encontram. (BOSI, 1983, p. 74).

Portanto, entendendo que o processo de envelhecimento é um fato que

atinge idosos nas diferentes camadas, segmentos ou classes sociais, e que os

mesmos vivem a velhice de forma diferente, podemos assim considerar que o fim da

vida é um fenômeno que evidencia a reprodução e ampliação das desigualdades

sociais em todo mundo.

De acordo com os modelos da sociedade capitalista, a pessoa vale pelo

que produz. O idoso é visto, nesta sociedade, como menos produtivo ocasionando

assim a sua substituição pelos mais jovens, desvalorizando a pessoa idosa. A

sociedade utiliza esse modelo social, atribuindo qualidades negativas aos velhos,

negando-os um futuro de qualidade. De acordo com DEBERT (1999) este modelo

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também é utilizado pelos próprios idosos para classificar outros, fugindo da própria

realidade.

Se fizermos uma retrospectiva das reflexões sobre o Idoso no Brasil de hoje veremos que biologicamente estamos aumentando o percurso de vida de nossa população, em virtude da difusão dos benefícios farmacêuticos, médicos e sanitários, que caminham a frente das condições sociais, econômicas, culturais e políticas, indispensáveis para que o ser biológico esteja envolvido por circunstancias favorecedoras do bem-estar social e da elevação da qualidade de vida. (MAGALHÃES, 1989, p. 48)

Isso mostra que vivendo em condições dignas e adequadas podemos ter

uma vida longa e com qualidade, principalmente quando se tem políticas públicas

voltadas para esses idosos que tanto contribuíram para a construção de um país

justo e que sonham que um dia exista igualdade social para todos.

O envelhecimento faz parte do ciclo de vida das pessoas, assim como a

infância e a juventude. Isso quer dizer que é um processo natural e dinâmico. Ao

reconhecer o envelhecimento como um processo inevitável e irreversível, as

condições crônicas e incapacitantes, que normalmente acompanham esse processo,

podem ser prevenidas ou retardadas não só através de intervenções da área

médica, mas também da social, econômica e ambiental.

Reconhecemos que houve avanços, principalmente com a promulgação da CRFB/88 (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988) que pode ser considerado um sistema de garantias da cidadania que em muito abarca proteção social a pessoa idosa. Nesta a seguridade social é de fato contemplativa ao segmento do idoso, já que nela são enfatizadas as políticas da saúde, previdência e assistência, principais demandas desse segmento populacional. É nesta também que a assistência social e a saúde serão compreendida como direito social. (BORGES, 2006, p. 45).

Os direitos dos idosos assegurados na Constituição de 1988 foram

regulamentados através da Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS (Lei nº

8.742/93). Entre os benefícios mais importantes proporcionados por esta Lei,

constitui-se o Benefício de Prestação Continuada, regulamentado em seu artigo 20.

Este benefício consiste no repasse de um salário-mínimo mensal, dirigido as

pessoas idosas e as portadoras de deficiência que não tenham condições de

sobrevivência.

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1.3 Política Públicas Para A Velhice

No âmbito das políticas públicas apontamos duas perspectivas que

devem estar presentes na implantação da Política Nacional do Idoso. Uma é a

formulação de políticas públicas constituída de benefícios, de serviços, de

programas e de projetos que visam a melhoria das condições de vida e de cidadania

da população idosa; a segunda é da participação, e da inclusão do idoso no

processo de formulação, realização e efetivação dessas políticas.

A autora Potyara Pereira (2008) afirma que para compreender política

pública é necessário primeiramente saber o que é política em seus dois principais

significados. Segunda ela, o primeiro está relacionado a eleição, voto, partido,

parlamento. Já o segundo refere-se as ações do Estado frente as questões

demandadas pela sociedade que são de responsabilidade do mesmo desde que

passou a ser o interventor.

É justamente sobre o segundo significado de política que compreende de

forma mais ampla as ações do Estado no atendimento as demandas da sociedade,

de suas necessidades, mediante direitos conquistados e pautados em lei com vista a

concretização destes, é que iremos abordar. Acreditamos ser importante destacar

que política pública não significa somente ação, mas também uma posição de não

agir diante de determinada situação, ou seja, o Estado opta por não interferir numa

questão de sua responsabilidade.

Conforme a definição, Pereira (2008) ressalta que política pública tem

como marca principal o fato de ser pública, o que quer dizer “de todos” e não por

estar ligada ao Estado. Esta deve sob controle da sociedade ter uma orientação

para a ação pública e ser administrativa por uma autoridade de mesmo caráter.

Outra característica da política pública é segundo a autora, ter como objetivo a

concretização dos direitos sociais obtidos através de conquistas e pautados na lei

em que os mesmos estão assegurados.

A política social “é uma espécie do gênero política pública” de acordo com

PEREIRA (2008:92) e a identificação desta com os direitos sociais, conforme

acontece com as políticas públicas de um modo geral, decorre do fato dessas

políticas terem como horizonte a equidade e a justiça social e para que haja

concretude destas, do Estado sejam cobradas ações que efetivam os direitos,

possibilitando assim que os valores se transformem em realidade.

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Podemos citar como exemplo de medidas que promovem bem estar ao

idoso pelas políticas públicas a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social – Nº

8.742, de 7 de dezembro de 1993) em que no Artigo 1º fica claro que a assistência

social é direito do cidadão e dever do Estado, não mais atribuída ao

“assistencialismo” como até então, sendo realizadas através de um conjunto de

ações para garantir o atendimento as necessidades básicas. Sobre o que consta

nesta, vale ressaltar que a assistência social é para quem dela necessita e não para

todos como deveria. Em relação ao idoso, além do Art. 2º inciso I que fala sobre a

política de assistência social ter como objetivo “a proteção à família, à maternidade,

à infância, à adolescência e à velhice” (BRASIL, 1997), é nesta que fica

regulamentado o BPC (Benefício de Prestação Continuada), principal fonte de renda

dos idosos em situação de vulnerabilidade no Brasil.

O benefício (BPC) concede, em caráter não contributivo, concedido e

pago o valor de um salário mínimo pelo INSS (Instituto nacional do Seguro Social) a

quem não possuir meios de prover sua subsistência e nem sua família conforme

previsto no art. 194 da Constituição e regulamentado pela LOAS, com algumas

alterações tendo sido feitas a partir do Estatuto do Idoso em 2003, que consistiu em

ser beneficiado o idoso a partir de 65 anos (antes era 67).

Pode ser concedido a quem preencher os requisitos citados:

• Ser portador de deficiência ou ter idade mínima de sessenta e cinco anos

para o idoso não-deficiente;

• Renda familiar mensal inferior a um quarto de salário (1/4) do salário mínimo;

• Não estar vinculado a nenhum regime de previdência social;

• Não receber benefício de espécie alguma, salvo o de assistência médica;

• Comprovar não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la;

provida por sua família.

1.3.1 Política Nacional Do Idoso

Existe hoje no Brasil uma política para o idoso: é a Lei 8.842. Ela

representa um passo inicial no sentido de reconhecer a importância desse segmento

populacional. Essa lei é reconhecida como uma das mais avançadas do mundo, e

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orienta-se pelos princípios da Constituição Federal de 1988 e também pelos

princípios das Nações Unidas: independência, participação, assistência, auto -

realização e dignidade.

Compreendemos que as políticas públicas em relação ao idoso estão

diretamente relacionada a proteção, a liberdade, a cidadania, ao lazer e ao afeto.

Estas prerrogativas legais estão bem presentes na Política Nacional do Idoso, outro

instrumento que avança na luta em defesa dos direitos do idoso. Neste o idoso é

visto a partir da idade cronológica (60 anos), pode-se considerar como a primeira

política direcionada ao público desta faixa etária. Portanto citamos o primeiro artigo

que consideramos contemplar as especificidades tratadas neste trabalho: Artigo 1º

“assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua

autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (BRASIL,1996).

A Política Nacional do Idoso, instituída pela Lei 8.842/94, regulamentada

em 3/6/96 através do Decreto 1.948/96, amplia significativamente os direitos dos

idosos. Desde sua promulgação e implantação, tem sido um documento importante

para a população idosa. Nesse contexto a política, conforme regulamentada em lei,

visa tratar as questões dos idosos pautadas pelos seguintes princípios: a) o idoso é

um sujeito de direito, de cidadania, é responsabilidade da família, da sociedade e do

Estado assegurá-lo em toda sua abrangência; b) o idoso é um ser total,

conseqüentemente, a proteção que lhe é devida deve compreender todas as

dimensões do ser humano; c) o idoso é sujeito de relação, portanto, não deve sofrer

discriminação e marginalização de qualquer natureza, com a conseqüente perda dos

vínculos relacionais; d) e finalmente o idoso é sujeito único e, portanto, os

programas e serviços devem reconhecer a múltipla dimensão do envelhecimento.

A partir da análise desses princípios, podemos afirmar que a lei de

Assistência Social como política de direito, que implica não apenas na garantia de

uma renda, mas também vínculos relacionais e de pertencimento que assegurem o

mínimo de proteção social, visando a participação, a colaboração, a autonomia e a

emancipação, a construção da cidadania e de um novo conceito social para a

velhice.

O Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento proposto pela

Organização das Nações Unidas, na Política Nacional do Idoso (Dec. N. 1.948/96),

no Estatuto do Idoso e nas deliberações da IX Conferência Nacional de Direitos

Humanos, além de outros instrumentos legais referentes à implementação da

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Política Nacional do Idoso baseia sua discussão pautada nos seguintes eixos

temáticos:

I - Ações para efetivação dos direitos das pessoas idosas quanto à promoção,

proteção e defesa.

II - Enfrentamento à violência contra a pessoa idosa.

III - Atenção à Saúde da pessoa idosa.

IV - Previdência Social.

V - Assistência Social à pessoa idosa.

VI - Financiamento e orçamento público das ações necessárias para a efetivação

dos direitos das pessoas idosas.

VII - Educação, Cultura, Esporte e Lazer para as pessoas idosas.

VIII - Controle Social: o papel dos Conselhos.

1.3.2 Estatuto Do Idoso

Na atualidade, o Estatuto do Idoso, criado pela Lei nº 10.741, de 01 de

outubro de 2003, estabelece prioridade absoluta as normas protetivas ao idoso,

desde os novos direitos e estabelecendo mecanismos de proteção permanente as

condições de vida, inviolabilidade física, psíquica e moral.

Essa nova legislação veio contribuir com a promoção das políticas

públicas na velhice, colaborando cada vez mais para que o idoso viva mais e cada

vez melhor, fortalecendo que envelhecer bem é um direito sendo, portanto as

políticas públicas um dever do Estado.

Conforme as Disposições Preliminares do Título I do Estatuto do Idoso,

Art. 2º, o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana,

sem prejuízo da proteção integral, além de assegurar-lhe todas as oportunidades e

facilidades para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento

moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

De acordo com o Capítulo I, do Direito a Vida, podemos citar o Art. 8º, nos

afirmando que o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um

direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.

Conforme o Capítulo II, Do Direito a Liberdade, ao Respeito e a

Dignidade, podemos destacar, os seguintes aspectos: I – faculdade de ir, vir e estar

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nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II

– opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – prática de esportes e de

diversões; V – participação na vida familiar e comunitária; VI – participação na vida

política, na forma da lei; VII – faculdade de buscar refúgio, auxílio e orientação.

Do Capítulo IV, do Direito a Saúde, podemos destacar também o Art. 15º

que diz: é assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do

Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em

conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção,

proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que

afetam preferencialmente os idosos.

Do Capítulo VIII, da Assistência Social, devemos destacar o Art. 33º. A

assistência social aos idosos será prestada, de forma articulada, conforme os

princípios e diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, na Política

Nacional do Idoso, no Sistema Único de Saúde e demais normas pertinentes.

Do Capítulo IX, da Habitação, destacamos o Art. 37º. O idoso tem direito

a moradia digna, no seio da família natural ou substituta, ou desacompanhado de

seus familiares, quando assim o desejar, ou, ainda, em instituição pública ou

privada.

Do Capítulo X, do Transporte, podemos destacar o Art. 39º. Aos maiores

de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes

coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e

especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares.

No dia 1º de outubro de 2013, comemorou-se dez anos de Estatuto do

Idoso, tendo muito o que se comemorar, mas não podemos cruzar os braços, pois

ainda temos muito o que conquistar, devemos sempre lutar por um mundo igualitário

para todos, que todos possam usufruir de direitos dignos de cidadão idoso, que um

dia contribuiu e fez parte desta nação, que infelizmente é um povo tão desigual.

Vamos lutar para que em nossas conquistas futuras, possamos ter pessoas com um

padrão de vida mais digno e humanitário.

Na perspectiva da sociedade global a questão da velhice e do envelhecimento em nosso pais esta estreitamente vinculada a transformação do nosso modelo de produção econômica, assim como de criação de aposentadorias recompensadoras, benefícios sociais adequados, programas de conservação da saúde, estruturas institucionais compensadoras da perda de sociabilidade, formas de preservação da

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autonomia vital e assistência progressiva e evolutiva, na medida da perda da capacidade e funções biológicas. (MAGALHÃES, 1989, p. 56)

É pensando em uma sociedade mais justa, com mais igualdade de

classes sociais, com menos preconceito, com menos abandono, que poderemos

aprimorar, estudar, pesquisar e trabalhar para construirmos políticas públicas

voltadas a essa população que tanto contribuiu e nos ensinou para a construção do

nosso país, porque os velhos de hoje foram crianças no passado e as crianças de

hoje serão os velhos do futuro.

1.3.3 Política Nacional De Saúde Do Idoso

Instituída pela portaria 2528/GM de 19 de outubro de 2006, busca garantir

atenção adequada e digna para a população idosa brasileira, principalmente os

considerados frágeis e/ou vulneráveis, estabelecendo importante papel para a

equipe de saúde da família. Em 2006, foi publicado o Pacto pela Saúde do SUS

(Portaria GM/MS 399/2006) e a saúde do idoso é elencada como uma das seis

prioridades pactuadas entre as três esferas de governo no SUS.

A construção de uma política pública de saúde com foco no

envelhecimento e na saúde da pessoa idosa estabelece uma dimensão necessária

às transformações da sociedade e a construção do Sistema Único de Saúde. O

envelhecimento populacional apresenta-se como um fenômeno atual de grande

relevância em todo o mundo, pois à medida que as sociedades envelhecem os

problemas de saúde entre os idosos desafiam os sistemas de saúde e de

seguridade social.

São diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (SAS,

2009) e do Pacto da Saúde:

• Promoção do envelhecimento ativo e saudável;

• Manutenção e recuperação da capacidade funcional;

• Atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa;

• Estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;

• Implantação de serviços de atenção domiciliar;

• Acolhimento preferencial em unidades de saúde, respeitado o critério de risco;

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• Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde

da pessoa idosa;

• Produção de conhecimento e capacitação intensiva dos profissionais de

saúde da rede do SUS, para esse atendimento.

Foi constituída então a Área Técnica de Saúde da Pessoa Idosa no GTAE

– Grupo Técnico de Ações Estratégicas de Saúde (SES, 2009), com a estruturação

de um Comitê Técnico Assessor para apoiar a elaboração e implementação da

política estadual, composto por vários especialistas e gestores, bem como um

colegiado de articuladores regionais para a elaboração de planos regionais de saúde

da pessoa idosa no SUS, indicando e priorizando as intervenções necessárias;

A área técnica tem como proposição a construção de uma política de

atenção integral, alinhada a política nacional, que atue tanto na promoção do

envelhecimento saudável como no cuidado adequado aos idosos dependentes no

sentido da melhoria da qualidade de vida e da dignidade da pessoa idosa.

Nesse processo, foram consideradas como diretrizes estratégicas para a

implantação de políticas de atenção integral à saúde da pessoa idosa no SUS:

Eixo envelhecimento ativo:

• Promoção de saúde e prevenção de agravos, riscos e doenças.

• Implantação da vigilância de quedas, acidentes e violências contra as

pessoas idosas.

• Melhoria da qualidade das Instituições de Longa Permanência de Idosos.

Eixo rede de atenção:

• Incorporação das ações referentes a saúde da pessoa idosa com implantação

da caderneta de saúde da pessoa idosa e do gerenciamento de cuidados na

atenção básica.

• Apoio da estratégia de “cuidadores comunitários” de pessoas idosas na

atenção básica.

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• Melhoria da qualidade, acesso e humanização dos serviços de atenção à

saúde com o foco das pessoas idosas, utilizando a estratégia “amigos da pessoa

idosa”.

• Estabelecimento de núcleos regionais de referência geriátrica gerontológica à

saúde da pessoa idosa (unidades e centros de referência ambulatoriais e

hospitalares).

Mudanças foram acontecendo gradativamente, a partir das políticas

públicas criadas em benefício das pessoas idosas. Muitas mudanças aconteceram e

dentre elas podemos citar o aumento da expectativa de vida e as campanhas de

vacinação para pessoas idosas.

Uma velhice bem sucedida, com boa qualidade de vida, depende das chances do individuo quanto a usufruir de condições adequadas de educação, urbanização, habitação, saúde e trabalho durante todo o seu curso de vida, e também do delicado equilíbrio entre as limitações e as potencialidades do individuo, o qual lhe possibilita lidar, com diferentes graus de eficácia, com as perdas inevitáveis do envelhecimento. (MASCARO,2004, p 72).

Portanto, podemos refletir que a população idosa teve alguns ganhos com

a criação dessas políticas que contribuíram bastante para o aumento da expectativa

de vida e a melhoria da qualidade de vida, e não podemos esquecer, nos dias atuais

se vive bem mais e melhor.

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2 PROJETO SOCIEDADE E SAÚDE

“Vá te mirar no espelho e veja como estás

velha

Estás no último degrau da vida

Não vou zombar de você porque também

vou pra lá

Mais tarde a velhice de mim vai se

apoderar

Assim diz você”

(Nelson Cavaquinho, Alcides Dias Lopes)

O projeto “Sociedade e Saúde”, objeto dessa pesquisa, é realizado na

cidade de Guaiúba, a partir de uma parceria entre governo municipal e corpo de

bombeiros do Estado do Ceará, que desenvolve atividades com pessoas idosas. O

mesmo acontece no Cento Educacional de Arte e Cultura (CEARC), situado a rua

Rodolfo Teófilo, Nº 05, bairro centro.

Para inserção no projeto é necessário estar em processo de

envelhecimento e querer participar do mesmo compartilhando assim com o grupo e

aceitando o pacto de conveniência que foi elaborado com a participação de todos.

O objetivo do projeto é melhorar as condições de vida de todos os

participantes, ou seja, melhoraria da saúde como um todo, com o completo bem

estar físico, mental e social, porque melhora a movimentação óssea, recupera a

autoestima, fortalece o vínculo de amizade entre os mesmos e ainda revigora o bem

estar, reafirmando o sentido de ser e estar “de bem com a vida”.

A parceria do governo do estado com o município de Guaiúba se deu

desde 2009 (dois mil e nove), onde um profissional do corpo de bombeiros (Marcio

Mendonça) teve a iniciativa de implantar este projeto no município, contando com a

parceria da secretaria de saúde, com o apoio e incentivo para com as pessoas

idosas e o apoio de uma fisioterapeuta que tinha como objetivo orientar as pessoas

idosas de acordo com suas limitações, recuperando ou devolvendo assim sua

autoestima e melhoria da sua vida diária.

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A princípio o projeto teve início com 60 idosos, proporcionando atividades

físicas e promovendo momentos de entretenimento e lazer, com atividades

educativas, religiosas e divertimento.

No início, o projeto acontecia duas vezes na semana, sendo as segundas

e sextas-feiras, tendo uma hora de duração, com início às 17:00hs. Atualmente os

dias de encontro são as segundas e quartas-feiras, no mesmo horário, com a

orientação física do Prof. Araújo, aposentado do corpo de bombeiros.

2.1 História De Guaiúba

O município de Guaiúba tem suas origens ligadas a época em que o

Brasil foi dividido em Capitanias Hereditárias, quando em 08 de setembro de 1682,

foi doado pelo capitão Sebastião de Sá aos militares Jorge Martins e Manoel de

Souza e ao funcionário de Fortaleza, Francisco Dias de Carvalho. O nome Guaiúba

é de origem tupy, e segundo tradução de José de Alencar significa “Por onde vem as

águas do vale”.

Em 15 de novembro de 1986, um plebiscito decidiu que Guaiuba deveria

ser elevada à condição de município. Assim, o então governador Gonzaga Motta

assinou a Lei nº 11.301, de 13 de março de 1987, tornando o município de Guaiuba

emancipado. Guaiuba é um município brasileiro do estado do Ceará. Faz parte da

região metropolitana de Fortaleza.

Possui área geográfica de 267 km², incluindo-se os Distritos de Água

Verde, Itacima, Dourado, Baú, e São Jerônimo. Encontra-se a 26,1 km da capital

cearense, tendo como via principal de acesso a CE-060.

Está localizado na região dos maciços residuais, comumente chamados

de serras dispersas pelas depressões sertanejas, formando um complexo

paisagístico de extrema singularidade.

É no centro comercial de Guaiuba, região próxima ao calçadão, que se

pode encontrar os supermercados, o Banco do Brasil, a Agência dos Correios, a

casa lotérica e a sede da prefeitura.

Conforme o censo 2010 (IBGE), a população de guaiuba é de 24.091

habitantes, tendo uma porcentagem de 33% de idosos.

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2.2 Locus Da Pesquisa

O cenário onde a pesquisa foi realizada consiste na delimitação que

fizemos do Projeto Sociedade e Saúde, onde decidimos pesquisar, por ser um

exemplo seguido da capital de Fortaleza e copiado em nosso município, pela

iniciativa de um bombeiro de Guaiúba, sendo um modelo de políticas públicas

direcionada a pessoa em processo de envelhecimento.

O mesmo acontece no Centro de Educação, Arte e Cultura (CEARC),

localizado no centro da cidade e que tem uma grande área de lazer, com clima

agradável proporcionado pelo local arborizado e condições estruturais físicas para

que projeto aconteça. É de fácil acesso para todos que desejam e querem participar.

Para a maioria dos idosos deste município esta é a única opção em realizar

atividade física, social, cultural e de participar da programação de eventos que é

estabelecida para este segmento populacional.

2.3 Chegando Ao Campo Da Pesquisa

Chegando ao campo de pesquisa despertamos curiosidades em alguns

idosos que nos indagaram quanto as observações e registros em diário de campo.

Nas entrevistas utilizamos gravador com autorização dos entrevistados e

através de Termo de Livre Consentimento. Todas foram realizadas no próprio campo

de pesquisa, onde foram esclarecidas quanto a preservação de suas identidades,

que dentro do trabalho seriam referidas por codinomes, embora algumas falaram

não haver problemas e autorizaram registro inclusive com fotos de suas imagens.

As entrevistas foram momentos inesquecíveis, ricos de conhecimento e

experiências. Na maioria do tempo houve a neutralidade exigida de um pesquisador,

mas por algumas vezes ao ouvir histórias tão emocionantes se tornara difícil manter

uma postura imparcial.

A princípio foi pensado em entrevistar dez idosos para a coleta de

informações sobre o processo de envelhecimento e a velhice, e sua participação no

projeto. Para análise das falas fizemos uma relação das informações colhidas com

as idéias dos teóricos que se dedicaram ao estudo do assunto em questão, sem

desconsiderar as perspectivas de políticas públicas voltadas para este público.

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2.4 O Projeto Saúde, Bombeiro E Sociedade No Ceará

O projeto dos bombeiros no Ceará teve início em 22 de abril de 2002 na

cidade de Fortaleza pela iniciativa do capitão Renato Luiz de Souza, a partir de um

olhar observatório dos bombeiros que presenciavam as pessoas idosas fazendo

caminhadas e exercícios físicos em praças públicas e alongamentos que na sua

grande maioria apresentavam-se incorretos.

Desse modo o Capitão reuniu-se com o grupo do corpo de bombeiros e

lançou a idéia, a qual logo foi aceita, todos se apresentaram orgulhosos em poderem

ajudar, orientando os idosos a se exercitarem, respeitando suas limitações,

compartilhando suas experiências e fazendo novas amizades.

Segundo o Capitão Renato, a integração do idoso com outras pessoas e

o compartilhar de experiências é um agente eficaz para melhorar a qualidade de

vida deles. Os grupos se desenvolveram de tal maneira que, atualmente já possuem

alguns grupos com atividades específicas, como aulas de teatro e dança. Todas as

atividades realizadas são orientadas por bombeiros, militares capacitados

tecnicamente.

Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida por meio de atividades

físicas, hábitos saudáveis de alimentação e integração social, o projeto é o maior em

atenção ao idoso da América Latina, contando com 380 núcleos que beneficiam

cerca de 45 mil pessoas da terceira idade. As aulas acontecem duas vezes por

semana, com aproximadamente, 1h de duração cada. Em Fortaleza, existem ao

todo 194 núcleos que são divididos por bairros e atendem 20 mil idosos. Já na

Região Metropolitana e Interior são 173 núcleos atendendo 25 mil idosos.

O projeto Saúde Bombeiros e Sociedade, pioneiro no Brasil, desenvolve

também o Programa Saúde do Idoso - Acompanhamento e Prevenção. A ação faz

um trabalho de visita, orientação e acompanhamento de 27 mil idosos do projeto

Saúde, Bombeiros e Sociedade.

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará percebeu que, através

de atividades físicas programadas, e de baixo impacto, de estímulo à participação

em programas de relevância social, a comunidade de idosos poderia enfrentar o

problema da exclusão social e dos preconceitos sofridos, proporcionando-lhes

melhoria na qualidade de vida.

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O trabalho, desenvolvido pelos integrantes da Corporação do Corpo de

Bombeiros, oferece diariamente recreação, atividades físicas e socioculturais

orientadas, além de esclarecimento quanto à saúde e o bem estar através de

palestras, abordando temas como diabetes, hipertensão, primeiros-socorros,

acidentes domésticos etc.

2.5 Percurso Metodológico

No percurso metodológico para a realização da pesquisa com os idosos

que participam do Projeto Saúde e Sociedade, foi utilizado o método dialético por

acreditar que o mesmo tem características de contextualizar o objeto pesquisado,

abrangendo-o em sua totalidade. Conforme Minayo (2010) a dialética trata da

questão que valoriza a qualidade e quantidade trabalhando também com as

contradições intrínsecas as ações e realizações do ser humano, e com o movimento

perene entre parte e todo e interioridade e exterioridade dos fenômenos. Assim nos

fez compreender o movimento do mundo real e com essa compreensão vir atuar

enquanto assistente social com capacidade de intervenção e transformação da

realidade.

Para a análise dos dados coletados foi considerado a existência de uma

relação entre o mundo natural e o mundo real, portanto, consideramos que as ações

dos sujeitos pesquisados, o seu pensar através do seu falar, e as considerações em

relação a estes sujeitos, os idosos, tem relação com as determinações que as

condicionam.

Optamos em usar a pesquisa qualitativa por acreditar que essa

metodologia possibilita se ter uma idéia mais ampla acerca do objeto que

certamente torna a pesquisa mais rica, permitindo assim uma melhor compreensão

dos temas abordados.

Segundo Minayo (1996) os dados qualitativos consistem em descrições

detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus

próprios termos, permitindo que o pesquisador tenha flexibilidade e criatividade no

momento da coleta e também ao analisá-los. “A metodologia é muito mais que

técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a

teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade”, aduz a

referida autora.

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A coleta de dados foi realizada através da aplicação de roteiro de

entrevista e pesquisa de campo, onde utilizamos 02 (duas) técnicas: a primeira foi a

observação participante. A segunda foi a entrevista semi-estruturada, que segundo

Minayo (2004) combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, onde o

entrevistado tenha disponibilidade de discorrer o tema proposto, sem respostas ou

condições prefixadas pelo pesquisador.

Após a coleta de dados, prosseguimos para a fase ou etapa de análise

das informações colhidas, em que foi transcrita de forma integral o conteúdo das

entrevistas, procurando identificar os aspectos significativos sobre a temática de

interesse, onde os roteiros foram analisados na perspectiva qualitativa, através da

técnica.

Segundo Minayo,

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilha com seus semelhantes. Desta forma, a diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da realidade social é de natureza e não de escala hierárquica. (MINAYO, 2004, p. 26).

Atualmente, participam 120 idosos no projeto, onde o gênero

predominante é o feminino, com idade igual ou superior a cinqüenta anos. A maioria

são viúvas e moram com filhos e/ou netos, são aposentadas, não sabem ler nem

escrever (o analfabetismo prevalece), alguns somente conseguem assinar o próprio

nome. A religião que predomina é o catolicismo. Os participantes afirmam que

gostam muito e sentem-se como uma família, dizem ter amigos onde podem

conversar e compartilhar suas histórias de vida, contar seus planos de futuro e

assim sucessivamente.

O índice de evasão é baixo, quando tende a aumentar um grupo

responsável realiza visita domiciliar, para saber o que houve, ou o que está

acontecendo, mas todas as vezes que é realizado visita domiciliar por falta, a

desculpa é sempre a mesma, que faltou por acomodação, mas vai voltar a participar,

sempre volta e agradece pelo interesse do grupo sobre a sua participação no

projeto.

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Uma ação que já se tornou comum entre os participantes é a

solidariedade de um para com os outros, pois sempre que um dos membros do

grupo fica doente, eles fazem questão de informar ao grupo todo e se organizam

para realizarem uma visita com todos os participantes ou pelo menos aqueles que

podem e querem, e que desejam prestar sua solidariedade aquele enfermo no

momento, seja no leito de um hospital ou no seu domicílio.

Vale ressaltar ainda que a relação interpessoal, professor – aluno é uma

das melhores possíveis, pois todos se respeitam e se gostam muito, coisa que é

fundamental se tratando de um grupo que trabalha com pessoas idosas e/ou em

processo de envelhecimento. Os participantes do projeto fazem questão de trocarem

mensagens de apoio, de carinho, tanto aluno professor, como professor aluno, pois

o mesmo sabe o nome de todos e sempre os trata assim. Essa relação muito boa

partindo desse princípio mostra que realmente existe interesse por parte do mesmo

para que haja essa interação.

É considerado idoso todo e qualquer indivíduo com 60 anos ou mais,

sendo que essa é uma população que vem crescendo a cada dia nos países

desenvolvidos e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil onde a expectativa

de vida aumentou bastante e segundo pesquisas a longevidade continuará

crescendo e em 2025.

O Brasil será o sexto pais em número de pessoas idosas, chegando a 18

milhões a população idosa que irá superar a população jovem. Portanto, o Brasil

será um país de idosos.

Com o crescimento do número de pessoas com 60 anos ou mais,

precisamos nos preocupar como está vivendo o idoso nos dias atuais, como está

sendo a qualidade de vida deles e o que está sendo feito para melhorar ou adequar

a cidade para proporcionar melhores condições de vida para essas pessoas.

Viver bem na velhice está diretamente ligado ao idoso que tem vida ativa,

e para esse idoso ter vida ativa ele precisa viver com saúde, ter proteção e viver

com segurança. No entanto, as políticas públicas voltadas a atenção e ao tratamento

desse idoso devem estar dentro desta expectativa, oferecendo-lhe saúde, proteção

e segurança de qualidade.

Devemos aprender a respeitar o desejo do idoso, sempre orientando-o e

explicando-o o que deve ser melhor para ele, mas devemos respeitar suas decisões

com tolerância e sem indignações. Devemos aprender a lidar com a pessoa idosa

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respeitando as suas limitações, sejam físicas, psicológicas ou biológicas, pois para o

idoso ter uma qualidade de vida é preciso ser aceito na família, na comunidade e

manter sua cidadania e hábitos culturais sem qualquer tipo de preconceito. Deve ser

tratado com respeito e dignidade, tendo nesse idoso uma pessoa que tem muito

para nos ensinar, e que também ainda é capaz de aprender e ser útil para família

e/ou comunidade, ou na sociedade na qual o mesmo se encontra inserido.

No envelhecimento, o idoso precisa se sentir independente e ter

autonomia para desenvolver suas atividades básicas, para sentir-se ativo e com

qualidade de vida adequada. Deve também ser integrado a família, participando das

decisões a serem tomadas, ou pelo menos tendo a oportunidade de ser ouvido,

podendo assim expor seu pensamento e idéias.

O idoso nunca deve ser excluído de conversas ou decisões, por mais

simples que sejam, para que não se sinta inútil e desenvolva nele o estado

depressivo ou, sentimento de abandonado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde é

o completo bem estar físico mental, social e espiritual, e não apenas a ausência de

doenças, portanto, o idoso também deve se enquadrar nesse perfil com todas suas

limitações, seja física, mental, social e espiritual.

O trabalho de pesquisa passou por um processo de legalização para

atender as normas exigidas pela faculdade e para legitimar este estudo tomamos

nota na mesma de um ofício com pedido de autorização de campo para pesquisa

acadêmica. Este foi entregue a coordenação do projeto “Sociedade e Saúde”

representado pelo Maestro Marcio Mendonça, coordenador geral de quem

obtivemos resposta positiva para realização da pesquisa.

2.6 Ações Realizadas Pelo Projeto

Além das atividades físicas realizadas pelo grupo, eles sempre

finalizavam os encontros fazendo orações em benefício do grupo, familiares e

amigos. Também programam e realizam passeios culturais e/ou a praia, balneários e

etc. Destacando que o lugar preferido por todos do grupo é ir à praia, todos

comemoram com aplausos quando o destino do passeio é aceito por todos.

Cada encontro tem início com os cumprimentos, onde todos dão as boas

vindas uns aos outros, inclusive ao professor e toda a equipe. Logo após as

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saudações tem início o alongamento e somente depois de se alongarem, é que os

exercícios são iniciados. Nesse momento o professor explica os ganhos que as

atividades físicas em desenvolvimento podem trazer a vida dos participantes.

Os exercícios são sempre acompanhados de música apropriada, ou seja,

adequada para aquela atividade. Após as seções de exercícios, para finalizar

acontece novamente um alongamento para poder encerrar as atividades físicas,

sem comprometimento ao corpo. Para finalizar acontece o momento de oração, que

é sempre realizada por um dos participantes onde ele aproveita para reunir todos

naquele momento de fé, orando, agradecendo e pedindo a intersecção do Senhor

naquele momento de integração.

No momento de oração, na maioria das vezes os participantes aproveitam

para agradecer e fazerem depoimentos no que mudou em sua vida a partir da

inserção no projeto, que melhorou sua saúde, sua autoestima, melhorou sua vida

social, sendo que alguns relatam ainda que deixaram até de tomar algumas

medicações por não ser mais necessário. Em alguns relatos eles aproveitam para

agradecer aos companheiros porque se sentem como uma família pelo bem estar

que os amigos lhe proporcionam.

Portanto podemos destacar as principais atividades realizadas no projeto:

• Realização de atividades físicas de baixo impacto para os idosos;

• Recreação com dinâmicas em grupos;

• Passeios;

• Instruções sobre acidentes domésticos e em geral;

• Oração;

2.7 Entrevistas

A entrevista foi o instrumento selecionado para a coleta de informações

no decorrer da pesquisa e a técnica usada foi a entrevista semi-estruturada que deu

condições ao informante de abordar livremente o tema proposto com a utilização de

perguntas previamente formuladas pela pesquisadora. Minayo destaca que este

procedimento;

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[...] não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos autores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva. (MINAYO, 1994, p. 57).

A pesquisa intitulada de Políticas Sociais na Terceira Idade: Conhecendo

o Projeto Sociedade e Saúde em Guaiúba - Ce tenta expressar através das falas

das análises dos discursos o momento da coleta de dados com uma simples

conversa entre amigas, em um significado informal, pertencente ao senso comum. É

importante ressaltar que os discursos foram transcritos de forma fidedigna, sem

nenhuma alteração as falas das entrevistadas.

Portanto, com o objetivo de preservar a identidade das idosas

entrevistadas, dei-lhes o nome das mulheres de Flor, são elas: Flor (1), Flor (2), Flor

(3), Flor (4), Flor (5), Flor (6). Segue o perfil das protagonistas desta pesquisa:

Flor (1) é viúva, tem 68 anos e mora sozinha. Aposentada, pratica

exercícios no projeto, participa do grupo de convivência do CRAS e gosta de

passear na casa dos filhos parentes e amigos.

Flor (2) é viúva, tem 66 anos e mora com filhos. Aposentada, pratica

exercícios no projeto e realiza atividades domésticas em casa.

Flor (3) é viúva, tem 62 anos e mora com um neto. Aposentada, pratica

exercícios no projeto e é responsável por todas as atividades domésticas do lar.

Flor (4) é viúva, tem 60 anos e mora com os filhos. Aposentada, pratica

exercícios no projeto, participa do grupo de convivência do CRAS e realiza tarefas

domesticas em casa.

For (5) é viúva, tem 60 anos e mora com filhos. Aposentada, ajuda a

cuidar de um neto, pratica exercícios no projeto, participa do grupo de convivência

do CRAS e toma conta dos afazeres domésticos.

Flor (6) é viúva, tem 62 anos e mora sozinha. Aposentada, pratica

exercícios no projeto, participa do grupo de convivência do CRAS, realiza as tarefas

domésticas e gosto muito de passear e dançar.

Você se considera velho(a)?

Flor – 1- (68 anos) Não. Velho pra mim é uma coisa que não presta mais,

vive encostada num canto de parede, onde ninguém liga. Eu sou idosa (séria).

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Flor – 2- (66 anos) Não. Só agora foi que passei a viver, de primeiro, era

só cuidar de casa, filhos e marido. Quando fiquei viúva, os fios casaram, ai passei a

viver, puder passear (risos).

Flor – 3- (62 anos) Nam. Eu gosto demais da vida que tenho agora, puder

sair, passear dançar, fazer exercícios é bom demais, Não me acho velha não, digo

que estou vivendo a feliz idade.

Flor – 4- (60 anos) Não. Tô vivendo só agora, depois que fiquei viúva,

antes o marido deixava participar dessa coisa não, dizia que pra quem não tinha o

que fazer e eu tinha que ta em casa para cuidar dele (silêncio).

Flor – 5- (60 anos) Não. Foi só agora que passei a aproveitar a vida, ter

amiga e puder dançar que gosto tanto, antes o marido deixava não, tinha ciúmes

(risos).

Flor – 6- (62 anos) Não. Ser velho é não gostar das coisas, eu gosto de ta

no meio das coisas, participo do projeto, vou também para o grupo de convivência

do CRAS e nem acho que já tenho essa idade, porque me acho capaz de fazer

qualquer coisa ainda (risos).

Todas as respostas foram de forma espontânea, simples e aberta, onde

ficaram bem a vontade. Podemos observar em suas falas que a velhice é uma forma

de como se encara a realidade da vida, que as vivências, a sua condição de saúde e

econômica, é que reflete o seu modo de pensar e conseqüentemente a forma como

se encara a velhice

A expressão velho, que nos leva a pensar em algo antiquado, desgastado ou obsoleto, foi substituída por idoso, significando a passagem do tempo e aquele que tem bastante idade. A fase da velhice foi substituída por terceira idade e mais recentemente por maturidade. (MASCARO, 2004, p. 69).

Segundo a autora, a construção das novas imagens da velhice pelos

próprios idosos, é de não aceitação, ou seja, de negação da velhice já que a maioria

deseja viver cada vez mais e não aceitam o que preconceituosamente, lhes é

reservado. Isso foi confirmado nas falas dos sujeitos pesquisados, não é a idade que

determina a chegada da velhice, e sim a condição física em seu limite, e também

para o aspecto social que facilita o desrespeito e/ou desprestígio ao idoso em que a

sociedade constrói estereótipos em relação aos mesmos.

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O termo velhice, na sociedade atual, é carregado de preconceito e traz

consigo a idéia de incapacidade, inferioridade e quase sempre de exclusão. Para

alguns, a velhice representa os aspectos negativos de um período de anos vividos,

já para os nossos entrevistados, a velhice tem outros significados.

Por que você participa do projeto “Sociedade e Saúde”?

Flor -1- (68 anos) Ah gosto muito, desde que comecei a ir fazer exercícios

melhorei muito dos ossos, olhe tinha uma dor horrível nesse joelho chega era

inchado e só foi começar a fazer exercício miorei muito, ele nem incha mais e ando

é muito.

Flor – 2- (66 anos) Acho bom. Conheço pessoas, conheço professores, a

gente passeia, eles tratam agente muito bem, são delicados, são prestativos. É uma

coisa que a gente se diverte, lá você pode chegar triste como for que eles lhe

animam. É bom demais.

Flor -3- (62 anos) Dou nota dez para o projeto. Antes eu tinha problemas

de saúde nos braços, em que o médico disse que não tinha jeito, uma tal de

(bursite), que nenhum remédio dava jeito e foi as atividades físicas que passei a

realizar no projeto que fizeram eu melhorar muito. Agora me movimento, danço, faço

tudo.

Flor – 4- (60 anos) É bom demais, a gente faz amizade, se diverte,

passeia e ainda faz as atividades físicas que faz bem a saúde, faz com que a gente

nem se sinta que está ficando idosa, pois eu me sinto feliz em participar desse

projeto.

Flor – 5- (60 anos) Gosto muito, gosto de participar do projeto, gosto do

professor, das colegas que tenho aqui, aqui a gente se diverte, brinca e tem até

passeio.

Flor – 6- (62 anos) Bom demais, espero que nunca acabe, porque esse

projeto é nosso divertimento, a gente fica contando os dias para chegar logo a

segunda feira, pra nos se encontrar, fazer os exercícios e se divertir um pouco, a

gente brinca e prosa com as colegas.

Identificamos nas falas das idosas entrevistadas uma relação de gratidão

com os profissionais envolvidos, a acolhida que sentem ao saírem de suas casas

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para ir até lá e principalmente as mudanças que lhes ocorreram após ingressarem

no projeto.

A velhice é estigmatizada, de um modo geral, na sociedade moderna. É

carregada de preconceitos, onde o idoso só tem alguma importância, se produzir,

caso contrário, ele é excluído.

Nos dias atuais a aparência e a moda, como a beleza do corpo mudou

muito, hoje um corpo bonito, bronzeado, esbelto, ágil, saudável e principalmente

jovem é exibido com prazer. De acordo com a MASCARO (2004),“nega-se o

envelhecimento, combatendo, encobrindo e recalcando seus sinais mediante

inúmeras estratégias e disfarces.

Seguindo os relatos da autora, hoje tentamos adiar o envelhecimento

cuidando da saúde, prevenindo as doenças que chegam com o desgaste do

organismo e fazendo uso dos recursos da indústria da beleza e do

rejuvenescimento.

O que mudou em sua vida a partir da inserção no projeto?

Flor – 1- (68 anos) Tudo, to dizendo miorou as dor nos ossos

principalmente esse joelho. Gosto muito tenho amigas, passeio, gosto muito de ir

para praia, foi só quando conheci o mar, ave Maria esse projeto é minha vida,

porque nem gosto mais de ficar em casa e de primeiro era só em casa num saia

para canto nenhum, tinha pra onde.

Flor – 2- (66 anos) Mudou muita coisa, agora tenho muitas amigas, as

atividades físicas que a gente faz é muito bom, nós nem se da conta que tem esses

anos todo, porque, eles faz a gente se sentir muito bem de saúde também.

Flor – 3- (62 anos) Me fez um bem danado, fiquei boa do problema do

braço que num podia nem me pentear e com os exercícios físicos que o professor

ensina, to boazinha, eles também gosta muito da gente sabia.

Flor – 4- (60 anos) Bom demais, adoro ir para o projeto, os passeios, as

colegas, as brincadeira que o professor ensina, a gente sente que eles tem carinho

pela gente sabe.

Flor -5- (60 anos) Minha vida ficou bem melhor, porque fiz muitas

amizades e me sinto bem de saúde depois que comecei a participar do projeto, o

professor é muito bom, orienta a gente sobre as quedas e outras coisas também.

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Flor – 6- (62 anos) Maravilha, gosto muito, minha vida mudou porque

antes quase não tinha amigas, hoje não, tem elas aqui, todos são legal, levam

agente para passear e nós nunca se sente só, tem o carinho deles.

Assim, podemos observar pelas falas das idosas entrevistadas que as

mesmas gostam e sentem-se muito bem em participar do projeto, pois o mesmo tem

surtido efeitos satisfatório, seja no campo da saúde, e/ou na vida social, todos são

vistos com respeito e dignidade, melhorando portanto seu bem estar perante

amigos, vizinhos e familiares.

Embora a sociedade rotule os marcos de idade, o mais importante é

reconhecer que a idade da velhice é relativa e não tem o mesmo significado para

todas as pessoas. Se olharmos a nossa volta percebemos a existência de muitos

contrastes e de uma grande diversidade de velhos.

Conforme os relatos de BOSI (1997), no livro “Memória e Sociedade:

Lembranças de Velhos”, é preciso transformar e recriar a vida, restaurar as relações

humanas, para que os idosos de hoje e do futuro vivam seu envelhecimento com

dignidade e sejam tratados como verdadeiros cidadãos.

Portanto é importante que os idosos estejam inseridos em programa e/ou

projetos que desenvolvam políticas públicas direcionadas para este público,

transformando assim o mito, que lugar de velho é em casa assistindo televisão ou

em uma cadeira de balanço, dando, porém um novo destino aos idosos atuais e

melhorias de vida para o futuro, com mais saúde e divertimento.

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3 Considerações Finais

“Assim diz você”

(Nelson Cavaquinho, Alcides Dias Lopes)

O trabalho intitulado de “Políticas Sociais na Velhice: a visão dos idosos

sobre o Projeto Sociedade e Saúde em Guaiúba - Ce”, realizado no segundo

semestre do ano de 2013, na referida cidade, possibilitou ampliar o conhecimento

acerca da velhice e políticas públicas voltadas aos idosos deste município, a partir

da observação simples e direta de como funcionam enquanto estratégias de garantir

as políticas públicas direcionadas as pessoas em processo de envelhecimento e

velhice.

Observamos que o processo de envelhecimento está marcado por

inúmeras transformações biológicas e carrega consigo intensas mudanças de

caráter social e econômico, além de inúmeros estigmas trazidos pelo preconceito

imposto dia após dia, aqueles que de certa forma não se adéquam ao perfil social,

pelo simples fato de ser velho.

A verdade é que se faz necessário que a manutenção e expansão desta

concepção de velhice sejam mantidas, de forma a garantir uma segurança aos

indivíduos para se envelhecer de forma digna. Esta se materializa quando ocorre o

suprimento de suas necessidades, ou seja, referimo-nos a sua independência

financeira, saúde e autonomia, para sua sobrevivência. Estas são, portanto, as

necessidades primordiais para se envelhecer com dignidade.

Conforme as legislações que asseguram direitos a pessoa idosa ou em

processo de envelhecimento, essas não são de fato efetivadas, nem são capazes de

romper com o preconceito enfrentado por essa demanda populacional e ainda

bastante marginalizada. Preconceito este, presente em nossa cultura quase que de

forma intrínseca e constituído historicamente ao longo dos anos. Portanto a não

efetivação desses direitos e a exclusão social dos idosos constituem os maiores

desafios a serem superados na contemporaneidade.

Nos estudos realizados, constatamos que as políticas públicas que

asseguram os direitos as pessoas em processo de envelhecimento e velhos obteve

vários avanços nas últimas décadas, mas ainda não são suficientes, não atendem a

todas as demandas dessa faixa etária. Conforme as estatísticas em relação ao

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crescimento da população idosa, as políticas públicas não tem crescido na mesma

proporção. Sendo, portanto, necessária a efetivação de mais políticas públicas e que

as mesmas sejam de fato eficazes.

O Projeto Sociedade e Saúde é um exemplo que poderia ser copiado,

expandido e utilizado como referência para implantação de novos projetos e/ou

ações que na mesma medida contemplasse esse segmento da população, que

merece todo nosso respeito.

Esta forma de política pública no segmento do idoso em Guaiúba se

destaca muito, porque o projeto promove a socialização, favorece o convívio social,

tira-os da ociosidade e ainda promove o estabelecimento de novas relações de

amizades, aumentando portanto, as relações sociais.

Assim, ao relatar sobre a importância do projeto, todas as idosas falaram

de impressões positivas, da melhoria em relação a saúde, do lazer e principalmente

do social. Relembrando as fala, quando perguntamos o que mudou em sua vida a

partir da inserção no projeto, obtivemos como resposta: “Tudo, to dizendo miorou as

dor nos ossos principalmente esse joelho. Gosto muito, tenho amigas, passeio,

gosto muito de ir pa praia, foi só quando conheci o mar, ave Maria esse projeto é

minha vida, porque nem gosto mais de ficar em casa e de primeiro era so em casa

num saia pa canto nenhum, tinha pra onde.” Não podemos negar a velhice,

devemos acreditar que a velhice é uma fase da vida, e como as outras devemos

viver o melhor possível.

No contexto do envelhecimento, a categoria gênero traz uma

peculiaridade: as mulheres apresentam uma longevidade maior do que os homens.

De modo que vivenciamos assim o fenômeno da feminização do envelhecimento.

Esse fenômeno, recorrente em todo mundo, ocorre devido a certos fatores:

biológicos (por exemplo, taxas de hormônios), postura diferente em relação ao

consumo de álcool e fumo, utilização dos serviços de saúde de forma contínua, e

também sua inserção diferenciada no mercado de trabalho.

Outra característica, bem presente na velhice feminina, aponta para um

fator importante: o número de viúvas também supera o número de casadas e

solteiras.

Essas mudanças sociais, decorrentes das transformações culturais,

possibilitam as pessoas idosas exercerem novos papeis sociais, já que não mais, se

dedicam exclusivamente a cuidar da casa, do marido e netos. Com mais freqüência

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as mulheres idosas se objetivam a conquistar uma maior sociabilidade, o que

justifica a grande aceitação do projeto, Saúde e Sociedade (PSBS), que ao mesmo

tempo em que desenvolve atividades físicas de baixo impacto, gera novos vínculos

sociais o que promove o surgimento de novos papéis sociais, tendo em vista que os

idosos participantes do projeto experimentam uma realidade oposta aos estigmas da

velhice e se comportam de forma autônoma e independente.

É importante salientar que os assistentes sociais têm como uma das

principais competências, a formulação, implementação e avaliação das políticas

públicas, tendo o dever de entender essa realidade dos idosos brasileiros e com

outras categorias desenvolver trabalhos na perspectiva da promoção de um

envelhecimento saudável e bem sucedido. No entanto, não é tarefa fácil, mas é

possível, embora a longo prazo, mudar a concepção de velhice inútil, limitada e

associada a finitude para uma velhice atuante, e com melhores condições de vida,

com saúde e dignidade.

Portanto, este trabalho faz ainda um convite aos demais pesquisadores e

profissionais que se interessam pelas políticas públicas voltadas para as pessoas

em processo de envelhecimento e velhice, para que juntos possamos ter um novo

olhar acerca dos modelos de como devemos desenvolver políticas públicas para as

pessoas idosas e também compreender quais estratégias sociais poderiam enfrentar

as debilidades ocasionadas pelo envelhecimento.

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Referências Bibliográficas: BEAUVOIR, Simone de. A Velhice . Tradução de Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos . 3ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1983. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988. ______. Estatuto do Idoso : Lei federal nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Brasília, DF, Senado, 2003. ______. Política Nacional do Idoso : Lei federal nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Brasília, DF, Senado, 1994. DEBERT, Guita Grin. A Reinvenção da Velhice: Socialização e Processos d e Reprivatização do Envelhecimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp, 2004. HADDAD, Eneida. A Ideologia da Velhice . São Paulo: Cortez, 1986. ________. O Direito à Velhice: Os Aposentados e a Previdência Social . São Paulo: Cortez, 1993. MAGALHÃES, Dirceu Nogueira. A Invenção Social da Velhice . Rio de Janeiro: Editora Papagaio,1989. MASCARO, Sonia de Amorim. O Que é Velhice . São Paulo: Editora Brasiliense, 1997. (coleção primeiros passos). MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade.Rio de Janeiro: Vozes, 2004. MORAES, Myriam e Barros, Lins de (org.) Velhice ou Terceira Idade? Estudos Antropológicos sobre Identidades, Memória e Polític a. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getulio Vargas, 1998. PEREIRA, Potyara A. P. Formação em serviço social, política social e o fenômeno do envelhecimento. Brasília: Revista ser social (UnB), v.21, p. 241 – 257, 2008.

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APÊNDICE

Roteiro das entrevistas

Nome:

Idade:

1. Você se considera velho (a)?

2. Como se vê diante a sua família e a comunidade?

3. Por que você participa do projeto “Sociedade e Saúde”?

4. O que mudou em sua vida a partir da inserção no projeto?

5. Quais suas perspectivas de vida para o futuro?

6. Você participa de outra atividade no município?

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ANEXO I

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Declaro, por meio deste Termo, que concordei em ser entrevistado (a) e/ou participar

na pesquisa de campo referente à pesquisa intitulada: O que fazer para ter

qualidade de vida na velhice? Um estudo sobre os idosos que participam do Projeto

“Sociedade e Saúde” no Município de Guaiúba, desenvolvida pela estudante

Acadêmica em Serviço Social, da Faculdade Cearense, Ana Célia Sales de Souza.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer

incentivo financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar

para o sucesso da pesquisa. Fui informado (a) do objetivo geral, estritamente

acadêmico, do estudo que, em linhas gerais, fala sobre a análise da participação dos

idosos que freqüentam o projeto “Sociedade e Saúde”, em Guaiúba. Fui também

esclarecido (a) de que os usos das informações por mim oferecidas estão

submetidos às normas éticas destinadas à pesquisa e que minha colaboração se

fará de forma anônima, por meio de entrevista, a ser gravada a partir da assinatura

desta autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pela

pesquisadora e/ou sua orientadora – Ruth Brito dos Santos. Fui ainda informado (a)

de que posso me retirar desse estudo a qualquer momento, sem prejuízo nenhum a

minha pessoa ou sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos. Atesto

recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e

recebimento de uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

Guaiúba, ____ de _________________ de 2013.

________________________________________________________________

Assinatura do(a) participante

________________________________________________________________________

Assinatura da pesquisadora

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ANEXO II

Imagens

Figura 1 - Imagem referente a participação dos alunos do Projeto Sociedade e Saúde no desfile cívico

municipal de 7 de Setembro de 2013.

Figura 2 - Imagem referente a participação dos alunos do Projeto Sociedade e Saúde no desfile cívico

municipal de 7 de Setembro de 2013.

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Figura 3 - Imagem da execução de exercícios físicos pelos participantes do Projeto Sociedade e Saúde -

Guaiúba - Ce.

Figura 4 - Imagem da execução de exercícios físicos pelos participantes do Projeto Sociedade e Saúde -

Guaiúba - Ce.

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ANEXO III

Música: Velhice

Autor: Nelson Cavaquinho, Alcides Dias Lopes

Vejo você hoje em dia acabada

Quem te viu quem te vê quando eras amada

Hoje a velhice apoderou-se de você

“Eu não sinto saudade da mocidade e nem vivo a sofrer”

Assim diz você

Vá te mirar no espelho e veja como estás velha

Estas no último degrau da vida

Não vou zombar de você porque também vou pra lá

Mais tarde a velhice de mim vai se apoderar

Assim diz você