centro de ensino superior do cearÁ faculdade … olhar dos... · questão da compreensão da...

85
1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MARLÚCIA LIMA ROSENDO PELO OLHAR DOS SÁBIOS: A ÓTICA DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS SERVILUZ SOBRE AS MUDANÇAS ADVINDAS COM O ESTATUTO DO IDOSO. FORTALEZA 2013

Upload: duongdang

Post on 21-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MARLÚCIA LIMA ROSENDO

PELO OLHAR DOS SÁBIOS: A ÓTICA DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS SERVILUZ SOBRE AS MUDANÇAS ADVINDAS COM O ESTATUTO DO IDOSO.

FORTALEZA 2013

2

MARLÚCIA LIMA ROSENDO

PELO OLHAR DOS SÁBIOS: A ÓTICA DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS SERVILUZ SOBRE AS MUDANÇAS ADVINDAS COM O ESTATUTO DO IDOSO.

Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito para obtenção do titulo de bacharelado. Orientadora: Profª Ms. Valney Rocha Maciel

FORTALEZA 2013

3

Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

R813p Rosendo, Marlúcia Lima

Pelo olhar dos sábios: a ótica dos idosos atendidos no CRAS

Serviluz sobre as mudanças advindas com o estatuto do idoso / Marlúcia Lima Rosendo. Fortaleza – 2013.

84f. Il.

Orientador: Profª. Ms. Valney Rocha Maciel.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Velhice. 2. Cidadania. 3. Estatuto do idoso. I. Maciel,

Valney Rocha. II. Título

CDU 364.65

4

MARLÚCIA LIMA ROSENDO

PELO OLHAR DOS SÁBIOS: A ÓTICA DOS IDOSOS ATENDIDOS NO CRAS SERVILUZ SOBRE AS MUDANÇAS ADVINDAS COM O ESTATUTO DO IDOSO.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Profª. Ms Valney Rocha Maciel

(Orientadora)

Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade - UECE

_______________________________________________________

Profª Ms. Kelly Maria Gomes Menezes

Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade - UECE

1ª Examinadora

_______________________________________________________

Profª Ms. Ruth Brito dos Santos

Mestrado Acadêmico Políticas Públicas e Sociedade - UECE

2ª Examinadora

5

Dedicatória Aos meus pais, aos meus filhos e às minhas irmãs por estarem sempre presentes em todos os momentos da minha vida.

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a Deus, pois sem a fé e a esperança que NELE

deposito, certamente não teria conseguido chegar ao final dessa jornada. “E não

ando sozinho, não estou sozinho, pois sei: Deus cuida de mim.”

Aos meus pais, Antonio e Luzia, por todo o seu amor e dedicação.

Obrigada por tudo que fizeram ao longo da vida para que eu me tornasse a pessoa

que sou. Agradeço imensamente a Deus pela vida de vocês.

Aos meus filhos, Melina e Paulo Henrique, por serem a razão de minha

vida. Com eles aprendi o significado do amor incondicional e adquiri força e estímulo

para realizar meus sonhos.

À minha irmã, Evanilda, por seu apoio, incentivo, amizade e desvelo.

Obrigada por seu valoroso e significativo auxílio na elaboração deste trabalho e por

poder contar sempre com você em todas as circunstâncias, especialmente nos

momentos em que mais necessito.

À minha orientadora, Profª Ms. Valney Rocha Maciel, pelo incentivo, pela

disponibilidade, pela transmissão dos conhecimentos e pela segurança transmitida a

mim nos momentos em que me encontrava mais angustiada. Realmente uma

orientadora magnífica.

Às minhas amigas, Cristina Sousa, Jailma Rodrigues, Mirnna

Vasconcelos, Glaucineide Pinto e Érika Lorena, por terem participado comigo de

todo o processo de construção de nossa formação acadêmica e por terem

demonstrado sua amizade durante todo esse tempo. “Nossa amizade o Senhor

escreveu. Nós somos prova do cuidado de Deus.”

A todos os colegas de turma, e que se tornaram amigos, que

conseguiram, assim como eu, ultrapassar todas as barreiras e dificuldades ao longo

desse processo de formação acadêmica que, ao mesmo tempo, foi tão prazeroso e

tão árduo.

Aos professores que compartilharam o seu saber para a construção de

minha formação acadêmica e profissional.

7

Aos membros da banca, Profª Ms. Kelly Menezes e Profª Ms. Ruth Brito,

por terem aceitado participar desse momento que é tão significativo para mim.

Aos profissionais da Secretaria do trabalho, Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (SETRA) e do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)

do Serviluz, de forma especial à Coordenadora do CRAS, Kariny Vasconcelos, e à

Assistente Social da mesma instituição, Adriana Nascimento, e aos entrevistados,

pela colaboração para a concretização desta pesquisa.

8

“Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo. Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo.

Não viva de fotografias amareladas... Continue, quando todos esperam que desistas.

Não deixe que enferruje o ferro que existe em você. Faça com que em vez de pena, tenham respeito por você.

Quando não conseguir correr através dos anos, trote. Quando não conseguir trotar, caminhe.

Quando não conseguir caminhar, use uma bengala. Mas nunca se detenha.”

(Madre Teresa de Calcutá)

9

RESUMO A sociedade atual se depara com o tema da velhice como uma questão que ganha destaque a cada dia e que requer cada vez mais estudos e pesquisas em decorrência não somente do crescimento significativo dessa população, mas também por representar um desafio em virtude das especificidades que apresenta e que demandam respostas eficientes e eficazes do poder público. Sendo assim, o presente trabalho teve por objetivo analisar a ótica dos idosos atendidos no CRAS Serviluz sobre as mudanças advindas com o Estatuto do Idoso e para isso foi necessário perceber a concepção que os idosos possuem acerca da velhice; identificar a compreensão que os idosos possuem sobre cidadania; apreender o entendimento que os idosos possuem sobre o Estatuto do Idoso e identificar a opinião dos idosos com relação ao seu sentimento de valorização e respeito na nossa sociedade. Apresentamos como categorias centrais: Velhice, Cidadania e o Estatuto do Idoso. Abordamos aspectos que contribuíram para a compreensão do fenômeno da velhice, além de realizarmos um breve relato histórico e explanarmos sobre a questão do fenômeno da velhice no Brasil e no Ceará. Destacamos a questão da compreensão da cidadania e realizamos breves considerações acerca das Constituições que antecederam a Constituição Federal de 1988 e sua relação com a velhice, assim como relatamos sobre a Constituição de 1988 e a forma como considerou a temática da velhice em seu processo de discussão e elaboração. Abordamos também a Política Nacional do Idoso e destacamos neste trabalho o Estatuto do Idoso. No que se refere às escolhas metodológicas, a pesquisa apresentou um caráter qualitativo e foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Como técnica para a coleta de dados foi empregada a entrevista semi-estruturada e como método de análise a hermenêutica-dialética. As análises apontam para a ótica dos idosos no que se refere às mudanças advindas com o Estatuto do Idoso, bem como dos demais aspectos que envolvem essa legislação específica no que diz respeito à representação da velhice, à cidadania e à questão da valorização e do respeito segundo a concepção do próprio idoso.

Palavras-chave: Velhice. Cidadania. Estatuto do Idoso.

10

ABSTRACT

Today's society faces the theme of old age as an issue that is highlighted every day and that requires more and more studies and research due not only to the significant growth of this population, but also because it represents a challenge due to the specificities that shows and the demand efficient and effective answers from the government. Thus, the present study aimed to analyze the perspective of the elderly who are attended in CRAS Serviluz about the changes brought to the Brazilian Elderly Statute and to get to that, it was necessary to understand the conception that the elderly have about old age; identifying the understanding that older people have about citizenship; apprehend the understanding that the elderly have on the Brazilian Elderly Statute and identify the opinion of the old people in relation to their sense of appreciation and respect in our society. We address aspects that contributed to the understanding of the old age phenomenon , and we also perform a brief historical account and explain about the issue of the aging phenomenon in Brazil and Ceará. Highlight the issue of understanding of citizenship and conduct brief considerations about the Constitutions that preceded the Brazilian Federal Constituition of 1988 and its relation to old age, as reported about the 'Brazilian Federal Constituition of 1988'and how the theme of old age was considered in its process of discussion and elaboration. We also address the Política Nacional do Idoso and highlight in this work the Brazilian Elderly Statute. Regarding to methodological choices, the research presented a qualitative character and were used bibliographic, documental and field research. As technique for data collection, we used semi-structured interviews and as method of analysis , we used the hermeneutic-dialectic. The analysis point to the perspective of the elderly regarding to changes brought from the Brazilian Elderly Statute, as well as other aspects that involve this specific legislation with regard to the representation of old age, citizenship and the issue of valuation and respect according to the conception of the elderly themselves. Keywords: Old Age, Citizenship, Brazilian Elderly Statute.

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

FAS– Fundação da Ação Social

FUNSESCE – Fundação de Serviços Sociais do Ceará

FPA – Fundação Perseu Abramo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

LBA – Legião Brasileira de Assistência

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MP – Ministério Público

MPAS – Ministério da Previdência Social

ONGs – Organizações Não Governamentais

ONU – Organização das Nações Unidas

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PNI – Política Nacional do Idoso

PSB – Proteção Social Básica

12

SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo

SEDAS – Secretaria de Educação e Assistência Social

SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social

SESC – Serviço Social do Comércio

SETRA – Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

SUS – Sistema Único de Saúde

13

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................14 CAPÍTULO I – ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DA VELHICE ................................................................................................................ 18

1.1 Compreensão e breve relato histórico do fenômeno da velhice ..................... 18 1.2 A questão do fenômeno da velhice no Brasil ................................................... 28 1.3 A questão do fenômeno da Velhice no Ceará e o desenvolvimento da política pública municipal de assistência ............................................................................ 32

CAPÍTULO II – AS LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO AO IDOSO NO BRASIL......................................................................................................................36

2.1 Compreendendo o tema Cidadania.............................. ...................................36 2.2 Breves considerações sobre as constituições brasileiras e a sua relação com o fenômeno da velhice...............................................................................................42 2.3 A Velhice na Constituição Federal de 1988................................................. ....45 2.4 A Política Nacional do Idoso.............................................................................48

2.5 O Estatuto do Idoso...........................................................................................51 CAPÍTULO III – CRAS SERVILUZ: O PROTAGONISMO DOS IDOSOS NA ELUCIDAÇÃO DAS MUDANÇAS ADVINDAS COM O ESTATUTO DO IDOSO...............................................................................................57

3.1 A comunidade do Serviluz: origem e desenvolvimento....................................57 3.2 O CRAS Serviluz e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos .. 59 3.3 Metodologia utilizada ....................................................................................... 61 3.4 Perfil dos Sujeitos da Pesquisa e as análises qualitativas ............................... 65

3.4.1 REPRESENTAÇÃO DA VELHICE ............................................................. 65 3.4.2 CIDADANIA ............................................................................................... 67 3.4.3 ESTATUTO DO IDOSO ............................................................................. 68

3.4.4 VALORIZAÇÃO E RESPEITO DO IDOSO EM NOSSA SOCIEDADE SEGUNDO A CONCEPÇÃO DO PRÓPRIO IDOSO. ........................................... 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................74 REFERÊNCIAS..........................................................................................................78APÊNDICES...............................................................................................................81APÊNDICE 1 - Roteiro de entrevista semi-estruturada..............................................82 APÊNDICE 2 - Termo de consentimento livre e esclarecido.....................................83 APÊNDICE 3 - Consentimento livre e esclarecido.....................................................84 APÊNDICE 4 - Imagens dos idosos...........................................................................85

14

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea vivencia significativas mudanças nos

âmbitos sociais, econômicos e culturais. Essas transformações advêm da própria

dinâmica histórica que em sua complexidade se reinventa a cada dia e a população

idosa não está imune a essas transformações.

Nesse sentido, observamos que o Brasil era um país que apresentava

uma população jovem em sua maioria até os anos de 1980 e em virtude da

diminuição da taxa de natalidade e do aumento significativo da expectativa de vida

outra realidade vem sendo evidenciada nas últimas décadas. Esse fato é

comprovado pelos dados analisados através de diversos estudos e pesquisas dentre

os quais podemos citar a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD)

desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que

demonstra que, dentre outras considerações, em 2010 a população brasileira

alcançou o quantitativo de 195,2 milhões de habitantes enquanto que a população

idosa, nessa mesma época, atingiu o número de 21 milhões de habitantes,

ocupando assim um espaço expressivo da sociedade brasileira.

A velhice constituiu-se em um desafio para a sociedade de uma forma

geral em virtude do despreparo no trato às especificidades dessa população, já que

os velhos não representam somente uma questão numérica, mas uma questão

social que requer respostas eficientes do poder público.

A inatividade, uma maior vulnerabilidade a doenças e as limitações físicas

são fatores que atingem a todos os idosos de uma forma geral. Em se tratando de

idosos considerados pobres, acrescentam-se ainda outros fatores como: a política

focalizada de assistência social, atendimento de saúde precário, habitação

insalubre, alimentação inadequada e a falta de acesso ao lazer.

Diante de tal contexto social tornou-se imprescindível a atuação do

Estado no sentido de criar políticas públicas que atendessem a essa demanda e

suas necessidades mais emergentes. Assim, foram criadas leis como o Estatuto do

Idoso que tem como objetivo promover uma melhor qualidade de vida para essa

população.

Percebemos que a temática da velhice representa uma das expressões

da questão social, sendo, portanto, um dos objetos sobre o qual o serviço social

15

intervém. E, como os demais problemas sociais, apresenta complexidades que

requerem profundo estudo e avaliação na busca de alternativas que contribuam para

a possível solução dos problemas.

A presente pesquisa tem como objetivo analisar a ótica dos idosos

atendidos no CRAS Serviluz sobre as mudanças advindas com o Estatuto do Idoso

e, para isso, se fez necessário perceber a concepção que os idosos possuem acerca

da velhice; identificar a compreensão que os idosos possuem sobre cidadania;

apreender o entendimento que os idosos possuem sobre o Estatuto do Idoso e

identificar a opinião dos idosos com relação ao seu sentimento de valorização e

respeito na nossa sociedade.

O interesse pela pesquisa surgiu a partir do trabalho desenvolvido no

CRAS Serviluz como Educadora Social desde o ano de 2006. Ao planejarmos e

executarmos as atividades propostas, tínhamos curiosidade sobre o resultado das

oficinas sócio-educativas desenvolvidas, ou seja, diversos temas eram discutidos

nessas oficinas, entretanto não obtínhamos um resultado concreto sobre a forma

como as informações eram assimiladas pelos idosos.

O Estatuto do Idoso era retratado praticamente em todas as temáticas, já

que ele se faz necessário e presente em todos os campos dos direitos e deveres

relacionados ao idoso. Diante dessa constatação surgiu o estímulo para iniciarmos

uma pesquisa que nos oferecesse subsídios para que pudéssemos compreender a

ótica dos idosos atendidos nessa instituição acerca das mudanças advindas com

essa legislação.

Para atingirmos o objetivo proposto pela pesquisa foi imprescindível

pesquisarmos sobre os conceitos de velhice e cidadania, bem como aprofundarmos

os conhecimentos acerca do Estatuto do Idoso. Em um primeiro momento

realizamos uma pesquisa bibliográfica relacionada aos temas em questão e autores

como Beauvoir (1990), Covre (2003), Duriguetto (2007), Faleiros (2007), Gil (2011),

Gohn (2009), Goldman (2000), Mascaro (2004), Minayo (1998), Neri (2005), Ramos

(2002), Teixeira (2008), dentre outros, contribuíram para a realização da pesquisa

por abordarem os principais conceitos referentes à temática em questão. O

levantamento bibliográfico foi elaborado a partir de artigos científicos, jornais (O

Povo), livros, documentos e estudos realizados por institutos de pesquisa.

16

O próximo passo foi prepararmos uma metodologia de pesquisa

apropriada e aplicá-la com o objetivo de obtermos e analisarmos os relatos

coletados. Levando em consideração a natureza do objeto de pesquisa optamos por

uma pesquisa com abordagem qualitativa e utilizamos como técnica para a coleta de

dados a entrevista semi-estrutura (roteiro em anexo). Como método de análise

adotamos o método hermenêutico-dialético

A pesquisa de campo sucedeu durante o mês de maio e junho de 2013.

Realizamos 6 (seis) entrevistas durante esse período, sendo que a seleção dos

sujeitos se deu por meio da amostragem por acessibilidade ou conveniência,

amostragem esta, que não apresenta nenhuma exatidão estatística e por essa

razão, dentre todos os tipos, representa o que possui menos exigência para a

seleção dos elementos.

O presente trabalho foi dividido em 3 (três) capítulos e nos dois primeiros

referenciamos a parte teórica e no ultimo apresentamos a metodologia utilizada e os

resultados da pesquisa.

No capítulo I, intitulado “Aspectos gerais sobre o fenômeno da velhice”

procuramos apreender aspectos que possibilitaram uma maior compreensão acerca

do fenômeno da velhice, bem como de seu contexto histórico, além de trazermos

informações sobre o avanço dessa população no Brasil e no estado do Ceará.

Fizemos também um breve relato sobre o desenvolvimento da Política Pública

Municipal de Assistência.

Neste capítulo identificamos diversos fatores que, ao serem analisados,

contribuíram para uma maior compreensão deste fenômeno em toda a sua

complexidade, levando em conta também o seu contexto histórico. Em seguida,

trouxemos dados de institutos de pesquisa, de jornais e de artigos científicos com o

intuito de trazer informações a nível de Brasil e do estado do Ceará.

No capítulo II, denominado “As legislações de proteção ao idoso no

Brasil” nosso objetivo foi compreender o tema cidadania, realizar breves

considerações sobre as constituições brasileiras e de como estas fazem referência à

velhice, bem como explanar acerca da Política Nacional do Idoso e do Estatuto do

Idoso.

Já no capítulo III, cujo tema é “CRAS Serviluz: o protagonismo dos idosos

na elucidação das mudanças advindas com o Estatuto do Idoso” realizamos um

17

breve relato sobre a origem e desenvolvimento da comunidade do Serviluz, assim

como, sobre o CRAS Serviluz e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos (SCFV). Abordamos também a metodologia utilizada e destacamos o perfil

dos sujeitos da pesquisa e as análises qualitativas que foram subdivididas em:

Representação da velhice, Cidadania, Estatuto do Idoso e a questão da valorização

e do respeito do idoso em nossa sociedade segundo a concepção do próprio idoso.

Nas considerações finais apresentamos nossas conclusões, elaboradas a

partir da pesquisa realizada. Constatamos que os idosos não possuem um

conhecimento amplo e satisfatório acerca da totalidade do Estatuto do Idoso e, por

esse motivo, eles não conseguem identificar maiores mudanças ocorridas com a

implementação dessa legislação, a não ser àquelas que permeiam o seu cotidiano

mais assiduamente.

18

CAPÍTULO I – ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENÔMENO DA

VELHICE

“Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres”. (Sêneca)

A temática velhice ganha destaque na sociedade atual como uma questão

que exige cada vez mais estudos e pesquisas em virtude do crescimento da

população idosa. Vinculado ao crescimento populacional desse segmento específico

aumentam também as suas necessidades sociais, o que demanda do Estado a

criação de políticas públicas e legislações que garantam a efetivação de seus

direitos e atendam as suas necessidades.

O presente capítulo tem como objetivo compreender o fenômeno da

velhice nos seus mais variados aspectos e desenvolver um breve relato histórico,

observando como se deu o seu processo de desenvolvimento nas diversas

sociedades ocidentais ao longo do tempo, assim como também e mais

especificamente no Brasil e no estado do Ceará, lócus de nossa pesquisa.

1.1 Compreensão e breve relato histórico do fenômeno da velhice

Inicialmente, é necessário identificarmos e analisarmos diversos fatores

para que possamos construir um conceito adequado sobre velhice. Essa

compreensão oferece subsídios para a elaboração de políticas públicas adequadas

a esse público que tem como ponto comum apenas o desgaste físico ocasionado

pelo avançar da idade, embora esse desgaste seja evidenciado de maneiras

diferenciadas nos indivíduos em questão.

A compreensão da velhice, enquanto fenômeno social, está submetida a

uma gama de fatores econômicos, sociais, políticos e ideológicos que se manifestam

nas contradições geradas pelo sistema capitalista. Dessa forma, não existe uma

19

velhice, existem várias velhices, a depender da condição social do indivíduo, sendo

assim,

A velhice não se constitui um fenômeno homogêneo e a-histórico. A posição de classe social torna diferenciada a situação dos idosos, reproduzindo-se, nesta faixa etária, as condições de vida que perpassam o cotidiano das classes sociais fundamentais. (GOLDMAN, 2000, p. 20),

Nesse sentido, “a conjuntura marca a correlação de forças e sua análise

permite detectar formas diferenciadas de poder da população idosa em contextos

históricos determinados” (Ibid, p. 21). Por se tratar de um fenômeno complexo, além

do entendimento da velhice enquanto fenômeno social, apresentaremos outros

elementos que nos auxiliarão na sua apreensão levando em consideração aspectos

diversos.

Beauvoir (1990) declara que a velhice se trata de um fenômeno biológico,

uma vez que determinadas particularidades aparecem apenas no organismo de um

indivíduo velho, entretanto, ela está relacionada também a aspectos psicológicos no

sentido de que alguns comportamentos ocorrem em virtude da idade avançada,

além disso, os fatores biológicos não podem ser analisados sem que os fatores

psicológicos sejam considerados, e da mesma forma os psicológicos com relação

aos biológicos.

Contribuindo para essa afirmação de Beauvoir (1990), estaremos

explanando acerca de alguns fatores que nos auxiliarão a ampliar nosso

entendimento acerca desse fenômeno, a saber: aspecto cronológico ou censitário,

burocrático, fisiológico e psicológico ou subjetivo. A velhice cronológica ou censitária

consiste na velhice formal, é determinado um limite e quem alcançar esse limite

determinado é considerado velho; a velhice burocrática diz respeito à conquista de

uma aposentadoria, quando se consegue alcançá-la; a velhice fisiológica

corresponde ao enfraquecimento do organismo do indivíduo em decorrência do

passar dos anos e a velhice subjetiva ou psicológica não possui uma especificação

definida, pois esta depende do modo de ser de cada pessoa, ou seja, o indivíduo só

começa a se sentir velho quando suas ideias, valores e comportamentos passarem

a não condizer mais com os que são predominantes na sociedade (BOBIO1,

HAYFLICKY2 e SÉGUIN3 apud RAMOS, 2002).

. 1 BOBBIO, Norberto. Tempo de Memória: de senectude e outros escritos autobiográficos. Tradução de Daniela Versiani. Rio de Janeiro: Campus, 1997

20

Juntamente a esses aspectos relacionados à velhice abordados

anteriormente, adicionam-se as velhices: excluída, a pseudovelhice e a velhice

precoce que auxiliam na compreensão mais ampla do fenômeno em questão. A

velhice excluída é identificada nos velhos que se encontram no meio rural,

suburbano ou urbano após a extinção de sua capacidade produtiva; a pseudovelhice

representa os indivíduos que, apenas com 40 anos de idade ou menos, não

encontram mais espaço no mercado de trabalho, em virtude de desqualificação

profissional ou mesmo pela ausência de vagas suficientes para abranger esse

público específico e a velhice precoce é verificada naquelas pessoas que

apresentam, precocemente, aspectos de envelhecimento em consequência das

condições de vida adversas (IBID, 2002).

De acordo com Beauvoir (1990), a velhice resulta de um longo processo

dinâmico que está ligado à ideia de mudanças que se configuram como irreversíveis

e desfavoráveis. A velhice traz consigo uma deterioração que é temida pelo

indivíduo e que contraria a virilidade ou feminilidade que tanto é enaltecida na fase

jovem e adulta, sendo assim, a tendência é de recusa dessa fase da vida que leva à

involução senil4, já que ela representa aspectos relacionados à feiura, doença e

impotência.

Além disso, conforme Goldman (2000), os idosos ao se depararem com a

recusa de sua própria autoimagem tendem a adotar como corretos os valores

impostos pela sociedade que os discrimina e, dessa forma, esse indivíduo que não

possui meios para ultrapassar as dificuldades que advém com o envelhecimento

acaba sendo influenciado por preconceitos que o conduz para a margem da

sociedade.

Segundo Ramos (2002), as sociedades ocidentais começaram a atribuir

outras nomenclaturas e sentidos para essa fase da vida, em decorrência desse

temor ocasionado pelo enfraquecimento físico, pelo medo da morte e pela solidão e

para Goldman (2000) o objetivo das várias denominações é suavizar no discurso,

2 HAYFLICK, Leonard. Como e porque envelhecemos. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues e Priscila Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus. 1997. 3 SÉGUIN, Élida. Proteção legal ao idoso. In: SÉGUIN, Élida (org.). O direito do idoso. Rio de janeiro: Lumen Júris, 1999. P. 01-42. 4 De acordo com o dicionário online de português este termo significa: metabolismo retrógrado da velhice. Disponível em <http://www.dicionarioglobal.com/portugues/176914-senil> Acesso em: 16 de junho de 2013.

21

apesar de não se obter muito resultado, a estigmatização que os velhos vivem na

cotidianidade.

Termos como terceira idade, melhor idade e pessoas idosas começaram

a ser utilizados em detrimento da palavra velho que se configura muitas vezes como

uma ofensa quando é usada para identificar uma pessoa com mais idade. Dessa

forma, cada uma dessas nomenclaturas possui um significado diferente, como é o

caso de terceira idade, termo proposto pelo gerontologista francês Huet que levou

em consideração fatores como o fato de:

não poder ver os velhos e os aposentados como setores desprivilegiados da sociedade; a forma como as aposentadorias são estruturadas hoje e o fato de a população de aposentados ser constituída por um contingente cada vez mais jovem (RAMOS, 2002, p. 26)

Dessa forma, a denominada Terceira Idade tem seu surgimento instituído

a partir da aposentadoria que representa o desligamento do sujeito do processo

produtivo formal e muitas vezes o indivíduo é excluído prematuramente do mercado

de trabalho para que os lucros do capital possam ser intensificados. Nesse sentido,

O sistema econômico no Brasil está longe de empregar satisfatoriamente sua população e sua força de trabalho; embora seja certo que o desemprego entre os jovens seja perturbador, não se pode desmentir que o sistema econômico esteja desempregando precocemente as pessoas que avançam em anos; precisamente, o sistema econômico vale-se da enorme força de trabalho que dispõe para substituir pessoas ainda em idade de trabalhar por outras mais jovens às quais paga menos; o sistema econômico unificou os mercados de mão-de-obra sob os conceitos de idade e sexo, valendo-se dessas distinções sempre que é possível tirar vantagens de menor remuneração. (OLIVEIRA5, 1977, p. 41 apud GOLDMAN, 2000, p. 14).

Verifica-se, então, que a lógica do capital conduz as sociedades a

transformarem os indivíduos em mercadorias e os idosos acabam sendo restringidos

à categoria de “mercadorias descartáveis” e uma acusação mais intensa acerca do

drama cotidiano da velhice é relatada a seguir:

Para a sociedade a velhice aparece como uma espécie de segredo vergonhoso, do qual é indecente falar [...]. Com relação às pessoas idosas, essa sociedade não é apenas culpada, mas criminosa. Arigada por rãs dos mitos da expansão e da abundância, trata os velhos como párias. (BEAUVOIR, 1990, p. 8 apud GOLDMAN, 2000, p. 14).

Segundo Beauvoir (1990), a forma como a sociedade compreende e trata

a velhice acarreta em um questionamento dessa mesma sociedade, já que é por

meio dela que se tem acesso ao significado de qualquer vida antecedente. Ao se

5 OLIVEIRA, Francisco. A economia da dependência imperfeita. RJ, Graal, 1977.

22

comparar as formas de organização de uma sociedade com outras, observamos a

recorrência da questão da velhice e, com isso podemos analisar de que forma os

problemas dessas pessoas poderiam ser atenuados e, ainda, descobrir até que

ponto é atribuída a responsabilidade do sistema em que se vive com relação a essa

questão em particular.

De acordo com Ramos (2002), a melhor idade é outra terminologia

utilizada para designar o indivíduo com mais idade, entretanto, a fase da velhice se

configura em uma fase propícia para o surgimento de problemas de saúde, para o

enfraquecimento e vulnerabilidade para transpor os obstáculos que a vida oferece,

portanto, esse termo não parece ser suficiente para identificar a velhice como sendo

uma fase de benefícios e satisfação, já que esses aspectos não condizem com a

realidade de grande parte da população que envelhece e que se encontra nas mais

variadas condições de vida.

Mais um termo bastante usado é o de pessoa idosa que corresponde à

ideia de pessoa com mais idade. Esse termo foi moldado pela Organização Mundial

de Saúde em 1957, adquirindo grande reconhecimento no Brasil nos últimos anos,

sendo usado, inclusive, na Constituição Brasileira de 1988 em seu artigo 2306.

No entanto, essa expressão pessoa idosa se relaciona bem mais a uma

categoria social, como se representasse a incorporação de indivíduos de uma

mesma profissão inseridos em uma mesma congregação, comparando-se esta

determinação, inclusive, ao nome de um país com o intuito de indicar seus

habitantes. Além disso, a união dessas duas palavras, pessoa idosa, pressupõe a

supressão do indivíduo com sua história pessoal, seu caráter, suas particularidades,

no sentido de que este sujeito se torna um habitante da velhice (MESSY7, 1993 apud

RAMOS, 2002).

Segundo Beauvoir (1990), a sociedade de uma forma geral não visualiza

a velhice como uma etapa da vida que demonstra clareza, ou seja, entre o

adolescente e o adulto existe o conflito da puberdade que pode ser encarado como

uma linha da passagem entre essas duas fases de vida específicas, considerando o

fato de que apenas com 18 anos ou 21 anos os jovens conseguem sua inserção na

6 Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (BRASIL, 1988). 7 MESSY, Jack. A pessoa idosa não existe: uma abordagem psicanalítica da velhice. Tradução de José de Souza e Mello Werneck. São Paulo: Aleph, 1993.

23

sociedade dos homens, entretanto, o início da velhice não possui uma definição

clara, é identificada somente uma variação que depende da época e do lugar onde

este velho se encontra.

Com o objetivo de ampliar um pouco mais a questão da compreensão do

fenômeno da velhice é importante trazer à tona a reflexão acerca do lugar onde este

ser idoso está inserido e a forma como ele é identificado e tratado pelos membros da

sociedade e da família em épocas distintas, levando em consideração a seguinte

reflexão:

A involução senil de um homem produz-se sempre no seio de uma sociedade; ela depende estreitamente da natureza dessa sociedade e do lugar que nela ocupa o indivíduo em questão. O próprio fator econômico não poderia ser isolado das superestruturas sociais, políticas e ideológicas de que está revestido... Para compreender a realidade e a significação da velhice, é, portanto, indispensável examinar o lugar que é destinado aos velhos, que representação se faz deles em diferentes tempos, em diferentes lugares. (IBID, p. 47-48)

Assim sendo, é de suma importância a tentativa de conhecimento e

apropriação da história da velhice nas sociedades antigas reconhecendo, entretanto,

que essa é uma tarefa difícil e que se torna impraticável descrever uma narrativa

acerca da velhice, pois a história sugere uma continuidade, e a velhice implica em

uma finitude, o que impossibilita essa condição. Dessa maneira,

O velho, enquanto categoria social, nunca interveio no percurso do mundo. Enquanto conserva uma eficácia, ele permanece integrado à coletividade e não se distingue dela: é um adulto macho de idade avançada. Quando perde suas capacidades, aparece como outro; torna-se então, muito mais radicalmente que a mulher, um puro objeto; ela é necessária à sociedade; ele não serve para nada: nem para valor de troca, nem reprodutor, nem produtor, não passa de uma carga. (IBID, p. 110).

Sônia Mascaro (2004) também argumenta acerca da dificuldade dos

historiadores em explorar a realidade da velhice nas sociedades antigas, e, segundo

o historiador Moses I. Finley, as pedras tumulares eram as únicas formas

documentais disponíveis e estas não representavam a maioria da população na

antiguidade e, além desse fato, na Grécia clássica e em Roma antiga, as mulheres e

os escravos não eram contabilizados nas estimativas populacionais e nas

estratégias políticas.

A vida na antiguidade era muito difícil e para que o indivíduo pudesse

suportar as diversas moléstias era necessário que este tivesse muita saúde. Poucas

pessoas conseguiam atingir uma idade avançada, já que somente uma minoria

privilegiada tinha condições de cuidar de sua saúde. A infância e a idade adulta

24

eram diferenciadas através do sexo e da classe social. As meninas se casavam com

pouca idade e os filhos dos camponeses, dos artesãos e dos comerciantes, entre os

12 e 14 anos, já aprendiam um ofício e começavam a trabalhar, sendo a baixa

expectativa de vida da época a causa para que esses fatos ocorressem.

Era comum que as atividades produtivas começassem muito cedo e não

havia uma idade concreta que estabelecesse a hora de parar, pois não havia

nenhuma apreciação formal ou institucional que deliberasse questões relativas à

aposentadoria dos trabalhadores.

Nas sociedades antigas, os indivíduos que tinham mais idade eram

honrados o que é mostrado em algumas ocorrências, tais como, o fato de que, na

Grécia, os jovens não cuidavam dos negócios públicos; em Esparta, os idosos

possuíam muita autoridade e eram muito reverenciados; em Atenas o neto tinha o

mesmo nome do avô por se tratar de um hábito honroso; no Império Romano, a avó

ou alguma familiar idosa cuidava das casas de campo ou dos filhos das famílias

abastadas e a subsistência dos pais idosos, caso fosse necessário, era de

responsabilidade dos filhos e, se estes não cumprissem com sua obrigação

poderiam pagar multas ou até mesmo serem presos.

De acordo com relatos dos historiadores Paul Veyne e Michel Rouche e

abordados por Mascaro (2004), ainda no Império Romano, o poder paterno era

reinante e o pai podia, inclusive, condenar o filho à morte, todavia, de uma forma

geral, existia um número reduzido de idosos e aqueles que não faziam parte das

famílias nobres, não possuíam prestigio algum, além disso, o idoso tinha que

demonstrar um comportamento forte e maduro, caso contrário não era aceito pela

sociedade.

Na alta Idade Média, os idosos que não estavam inclusos na alta classe

dos senhores feudais tinham uma vida muito penosa. Estes indivíduos eram

afastados das atividades em decorrência do trabalho árduo do campo e muitos deles

também não podiam se vincular à vida pública, além disso, o sistema feudal se

estruturou através da realização de batalhas e lutas pelo poder, batalhas estas que

eram realizadas por homens jovens ou por adultos que possuíam vitalidade e força

para defender seus feudos.

As mulheres idosas atravessavam uma situação bem mais complicada,

segundo o historiador Charles de La Roncière, pois o envelhecimento estava ligado

25

à viuvez e as mulheres que se encontravam nessa condição eram inferiorizadas no

interior da família. Essas mulheres se sentiam desprezadas e sem prestígio algum,

mesmo quando encontravam refúgio na casa de algum filho.

A Igreja da Idade Média influenciava todas as esferas da atividade

humana, inclusive as que tinham referência com a existência do homem, sendo

assim, “Existia na sociedade da Idade Média uma identidade entre o poder patriarcal

e o poder das estruturas monásticas, e os jovens obedeciam e respeitavam os mais

velhos, como obedeciam a Deus” (MASCARO, 2004, p.29).

Com o aparecimento da burguesia, ocorre um renascimento comercial e

urbano e esse renascimento passou a valorizar, inclusive, a perfeição e a força dos

corpos jovens, o que trouxe como consequência a desvalorização e o menosprezo

aos indivíduos com mais idade, especialmente às mulheres idosas que passaram a

ser comparadas até mesmo com feiticeiras.

Na sociedade francesa do século XVII, a média de vida era baixa e o

homem perdia seu lugar na sociedade ao completar apenas 50 anos de idade,

porém o idoso que tinha riquezas continuava a ser honrado. Ainda neste século,

começaram a surgir hospitais e asilos na Inglaterra que tinham a função de abrigar

os pobres, os doentes e os idosos que eram abandonados.

Na Europa do século XVIII, o indivíduo também era considerado idoso

com pouca idade e, caso não representasse um chefe de família, monarca ou

sacerdote, este idoso era distanciado da vida social. A Revolução Francesa limitou

os poderes patriarcais, porém o pai ainda mantinha o seu poder, embora fossem

mais limitados, tanto no espaço público quanto no privado.

E há ainda outra dimensão a ser considerada sobre o aspecto da velhice

nesse período: a prioridade da condição dos machos que se confirmava pelo

aparecimento apenas de indivíduos do sexo masculino nos códigos, nas lendas e

nos livros e pelo fato de que as disputas de poder só diziam respeito a esses

machos. Nesse sentido,

As sociedades que tem uma história são dominadas pelos homens; as mulheres jovens e velhas podem até disputar a autoridade na vida privada; na vida pública, seu estatuto é idêntico; são eternas menores. (BEAUVOIR,1990, p. 111).

Durante o século XVIII e parte do Século XIX se deu a solidificação do

processo de industrialização, sendo a tecnologia avançada bastante estimulada pela

ciência, o que possibilitou melhores condições sanitárias nas cidades e o

26

desenvolvimento de remédios e vacinas pela medicina para serem utilizados na

erradicação das doenças que liquidavam com as populações e que interrompiam o

processo de envelhecimento e esse processo se dava em torno de sociedades em

que

a velhice e sua representação ainda não faziam parte do imaginário social, senão como uma possibilidade remota, de pouca relevância. Ainda não existia uma velhice social, mas apenas uma velhice biológica, com repercussões sociais. Chegar à velhice era muito raro em razão das condições insalubres para a existência e a longevidade humana. (RAMOS, 2002, p. 15)

Enquanto ocorria o avanço do processo de industrialização, era

necessário também que houvesse uma capacitação da mão de obra o que requeria

que os trabalhadores vivessem mais tempo para compensar o que havia sido gasto

com sua capacitação. Já o burguês desejava viver mais para que pudesse aumentar

seus negócios e usufruir mais de sua riqueza e de seu poder.

Em virtude dessas mudanças que estavam ocorrendo e que exigiam um

novo posicionamento diante da duração da existência humana, a velhice começou a

aparecer como um fenômeno social e não somente biológico e a ideia da velhice foi

se fortalecendo no imaginário social por apresentar uma história e condições de

possibilidades.

Ainda de acordo com Ramos (2002), antes da concretização do

capitalismo, o tema velhice não era levado em consideração e, após a sua

solidificação surgiu a necessidade de se estudar e conhecer cada uma das fases

biológicas do ser humano (nascimento, crescimento, amadurecimento e morte) com

o objetivo de disponibilizar para o mercado de trabalho um homem ideal.

Na medida em que o mercado apresentava suas necessidades, o governo

direcionava suas políticas para aprimorar as condições biológicas e sanitárias da

população, o que ocasionou um aumento nas pesquisas médicas e, para que sua

tarefa fosse realizada com sucesso, os médicos dividiram a vida humana em

períodos e a cada faixa etária do ser humano foram distribuídos valores diferentes

que se relacionavam à utilidade do indivíduo no que se referia à produção e

reprodução da riqueza.

A velhice além de ser vista como objeto de saber, começou a ser

referenciada como uma etapa de finalização da evolução, sendo reconhecida,

inclusive, como sinônimo de decadência, ou seja, a velhice passou a não ter mais

nenhum valor simbólico para a sociedade.

27

Mesmo criando condições que possibilitaram a muitas pessoas a chegada

à fase da velhice, as sociedades modernas também criaram muitos obstáculos que

impossibilitaram a utilização dos bens e serviços oriundos dessas sociedades, já que

Não parece lógico gastar dinheiro, elaborar políticas públicas, dedicar atenção a um segmento da população que nada mais tem a oferecer para um modelo de sociedade em dinâmica transformação e acumulação. O ritmo ágil do capitalismo não tolera o ritmo lento do velho (RAMOS, 2002, p. 21)

A força econômica está vinculada à aquisição de direitos, ou seja, aqueles

idosos que não possuem eficácia econômica não tem condições também de lutar

para que seus direitos sejam garantidos e efetivados. Dessa forma, Beauvoir (1990,

p. 10) destaca que “O interesse dos exploradores é o de quebrar a solidariedade

entre os trabalhadores e os improdutivos, de maneira que estes últimos não sejam

defendidos por ninguém”.

No decorrer da história da velhice constatamos que não eram somente as

sociedades capitalistas que desvalorizavam seus idosos, outras sociedades que

apresentavam um número bem reduzido desses sujeitos também não os

suportavam porque estes não combinavam com sua forma de organização,

entretanto, constatamos também que em algumas sociedades os idosos eram muito

respeitados e que em outras, o envelhecimento era tratado com gozação e

zombaria, diante disso,

Pode-se afirmar tranquilamente que a diferença dessas sociedades para as atuais é que não se condenam mais explicitamente os velhos à morte. Sua condenação acontece de maneira sorrateira, indireta, à medida que não são oferecidos os serviços mínimos para que tenham uma existência digna, embora muitas sociedades hoje disponham de recursos suficientes para tanto. (RAMOS, 2002, p. 19)

A compreensão do fenômeno da velhice se faz necessária, bem como os

fatores históricos que a identificam nas diferentes épocas e lugares, já que os

aspectos relacionados a essa temática são bastante complexos e não existem

isoladamente.

A partir da apreensão dos fatores acima relacionados vamos avançar em

nossa pesquisa abordando como se constituiu o desenvolvimento da velhice no

Brasil, com a utilização de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e

estatística (IBGE), da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) e da

Pesquisa Idosos no Brasil – Vivências, desafios e expectativas na terceira idade e

demais informações relacionadas ao tema proposto.

28

1.2 A questão do fenômeno da velhice no Brasil

O processo da longevidade da população vem se manifestando como um

fenômeno mundial que repercute nos âmbitos social e econômico da sociedade,

contudo, esse processo se dá de forma diferenciada nos vários países do mundo.

Nos países considerados desenvolvidos, esse processo se realizou de

forma lenta, no decorrer de mais de cem anos. Na Inglaterra, por exemplo, o

processo de envelhecimento começou após a Revolução Industrial, período em que

foram disponibilizados elementos necessários para enfrentar as mudanças que

ocorreram com essa alteração demográfica. Na atualidade ocorre, inclusive, um

crescimento negativo da população desses países desenvolvidos, apresentando um

percentual de natalidade menor que o percentual de mortalidade. Já nos países

considerados em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, “este processo se

caracteriza pela rapidez com que o aumento absoluto e relativo das populações

adulta e idosa modificou a pirâmide populacional”. (VERAS, 2010, p. 6)

De acordo com Venturi e Bolkany (2007), o Brasil era um país que

apresentava uma população jovem em sua maioria até os anos de 1980 e em

virtude da diminuição da taxa de natalidade e do aumento significativo da

expectativa de vida outra realidade vem sendo evidenciada nas últimas décadas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), a

partir do ingresso e gradativa divulgação dos métodos anticonceptivos orais no país,

os índices de natalidade começaram a cair em torno da década de 1960. Em virtude

desse fato, por volta dos anos de 1960-1970 é verificada uma pequena redução na

quantidade populacional (2,89%), o que é ratificado durante os próximos 10 anos

quando é verificado um percentual de crescimento de 2,48%.

De uma forma geral, as mudanças que ocorreram na sociedade brasileira

e de um modo mais particular, as transformações que aconteceram na família,

incidiram em uma diminuição da fecundidade no país no decorrer dos anos e, já em

1991, a fecundidade apresentava 2,89 filhos por cada mulher e, nos anos de 2000,

2,39 filhos por cada mulher. Os dados do IBGE informam ainda que,

Em 1980, para cada grupo de 100 mulheres, havia 98,7 homens. Em 2000, já se observam 97 homens para cada 100 mulheres e, em 2050, espera-se que a razão de sexo da população fique por volta de 94%. Dessa forma, verificam-se elevações no excedente feminino população total que, em

29

2000, era de 2,5 milhões de mulheres e, em 2050, poderá atingir quase 7 milhões. (IBGE, 2008)

Tem-se observado que, desde os anos de 1990-2000, o número de

crianças entre 0 e 14 anos vem reduzindo em valor absoluto, entretanto, as taxas

que equivalem ao número de indivíduos com 65 anos ou mais, embora não sejam

frequentes, são as mais altas e podem ultrapassar os 4% ao ano entre 2025 e 2030.

Em 2050 a população idosa excederá os 22,71% da população total do país

enquanto que as crianças com idade entre 0 e 14 anos corresponderá a 13,15%

dessa população.

Alguns dados se referem também às mudanças relacionadas às ligações

entre as pessoas que se inserem e continuam nas ditas idades ativas e aqueles

indivíduos que chegam às idades consideradas potencialmente inativas. Esses

dados indicam que,

Em 2000, para cada pessoa com 65 anos ou mais de idade, aproximadamente 12 estavam na faixa etária chamada de potencialmente ativa (15 a 64 anos). Já em 2050, para cada pessoa com 65 anos ou mais de idade, pouco menos de 3 estarão na faixa etária potencialmente ativa. No tocante às crianças e jovens, existirá cada vez mais pessoas em idade potencialmente ativa “destinadas” a suprir suas necessidades. (IBGE, 2008).

Alguns fatores como os progressos na área da medicina e as melhores

condições de vida do povo brasileiro tendem a aumentar a média de vida do

indivíduo que chegará ao nível de 81,29 anos em 2050, de acordo com estimativas

do IBGE. Esse índice condiz com a média atual de países como a Islândia que é de

81,80 e do Japão que é de 82,60.

A morte de jovens decorrentes de fatores ligados à violência incide sobre

a expectativa de vida do indivíduo. No Brasil já foi identificada uma diminuição no

índice de mortalidade, levando em consideração todas as faixas etárias, entretanto,

a partir da década de 1980 foram registrados diversos casos de morte,

principalmente de adultos jovens do gênero masculino relacionados à violência, que

aumentaram a taxa de mortalidade e reduziram em 2 ou 3 anos a expectativa

estimada atualmente.

Segundo pesquisa desenvolvida pelo PNAD – Pesquisa Nacional de

Amostra de Domicílios, em 20108 “a população brasileira atingiu 195,2 milhões de

8 Informação obtida por meio do: IBGE: “A Síntese dos Indicadores Sociais 2010 – Uma análise das

Condições de Vida da População Brasileira”. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2013.

30

habitantes e sua densidade demográfica, 22,9 hab.km2”. Já no que se refere à

população idosa,

o país contava com uma população de cerca de 21 milhões de pessoas de 60 anos ou mais de idade. Com uma taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição populacional, combinada ainda com outros fatores, tais como os avanços da tecnologia, especialmente na área da saúde, atualmente o grupo de idosos ocupa um espaço significativo na sociedade brasileira. (IBGE, 2010)

Ainda segundo relatório da PNAD, “no período de 1999 a 2009, o peso

relativo dos idosos (60 anos ou mais de idade) no conjunto da população passou de

9,1% para 11,3%” e levando em consideração ainda dados relacionados a essa

pesquisa,

é possível traçar um breve perfil socioeconômico deste segmento populacional. As mulheres são a maioria (55,8%), assim como os brancos (55,4%) e 64,1% ocupavam a posição de referência no domicílio. A escolaridade dos idosos brasileiros é ainda considerada baixa: 30,7% tinham menos de um ano de instrução. Pouco menos de 12,0% viviam com renda domiciliar percapita de até ½ salário mínimo e cerca de 66% já se encontravam aposentados. (IBGE, 2010).

De acordo com dados do IBGE (2012), a taxa de fecundidade, verificada

em todos os grupos sociais no Brasil, vem diminuindo em consequência das

transformações que ocorreram na sociedade nos últimos anos, tais como o

crescimento da urbanização, aumento da escolaridade, o fato de que as mulheres

estão inseridas cada vez mais no mercado de trabalho, dentre outras.

A longevidade da população ganha destaque também no âmbito

das políticas sociais em virtude da rapidez de sua ocorrência, o que gera

questionamentos relacionados ao mercado de trabalho, à previdência social, ao

sistema de saúde e de assistência social, já que entre os períodos de 2001 a 2011

houve um aumento bastante acentuado na quantidade de pessoas idosas e esse

número passou de 15,5 milhões de pessoas para 23,5 milhões de pessoas durante

esse período específico, assim sendo,

A participação relativa deste grupo na estrutura etária populacional aumentou de 9,0% para 12,1% no período. A participação do grupo com 80 anos ou mais de idade chegou a 1,7% da população em 2011, correspondendo a pouco mais de 3 milhões de indivíduos”.(IBID, 2012).

Os estudos comprovam que a maior parte da população idosa é formada

por pessoas do sexo feminino, cerca de 55,7% em decorrência das consequências

da mortalidade diferencial por sexo. Existem aspectos bastante evidentes

31

relacionados a essa população específica e pode-se destacar alguns fatores

predominantes, a saber,

forte presença em áreas urbanas (84,1%); maioria branca (55,0%); inserção no domicílio como a pessoa de referência (63,7%); 3,9 anos de estudo em média, sendo que 32% têm menos de 1 ano de estudo; grande maioria (76,8 %) recebe algum benefício da previdência social; e 48,1% têm rendimento de todas as fontes igual ou superior a 1 salário mínimo, enquanto cerca de um a cada quatro idosos reside em domicílios com rendimento mensal per capita inferior a 1 salário mínimo. (IBID, 2012).

Com relação aos aspectos negativos identificados nessa fase da vida, foi

constatado o seguinte,

As piores coisas que viriam com a idade reproduzem alguns traços negativos da imagem da velhice, como as debilidades físicas e doenças (citadas espontaneamente por 57% dos idosos e 49% dos não idosos) e a dependência física, precisar da ajuda dos outros, a perda de autonomia (apontada respectivamente por 14% e 24%), mas destaca-se ainda a discriminação social contra a pessoa idosa (18% e 24%) (VENTURI e BOKANY, 2007, p. 27).

. Conforme os dados anteriores, muitos fatores negativos acompanham a

velhice, entretanto, no decorrer dessa mesma pesquisa, os idosos e não idosos

entrevistados também citaram aspectos positivos relacionados a essa fase da vida.

Para os entrevistados,

As melhores coisas de ser idoso (a) estão relacionadas à experiência de vida, à sabedoria (citadas) espontaneamente por 21% dos idosos e por 34% dos não idosos), ao tempo livre que os idosos dispõem para se dedicar ao que querem ou podem fazer (lembrado respectivamente por 16% e 22%), a contarem com carinho ou proteção familiar (13% e 15%), a gozarem de novos direitos sociais (lembrados por 12% nos dois segmentos), como prioridade em filas, gratuidade em ônibus e descontos em eventos culturais, e a terem a independência econômica e financeira (12% e 14%) – quase todos tem renda própria (79%, contra 64% dos não idosos) e a maioria (77%) considera-se chefe de família. (IBID, p. 26)

A velhice vem acompanhada por consequências positivas e negativas,

podendo o indivíduo assimilar mais aspectos negativos ou mais aspectos positivos,

levando em consideração as experiências vivenciadas no decorrer de sua vida. Daí,

novamente, ressaltamos a importância da compreensão do fenômeno da velhice em

todas as suas especificidades e construção histórica para que se possa apreender,

de fato, todos os aspectos que constituem e efetivam a temática proposta.

Os autores supracitados relatam que mesmo com as conquistas e

melhorias na condição de vida dos idosos, os progressos ainda são diminutos na

sociedade brasileira com relação a esse campo específico, sendo bastante escassos

no que diz respeito à eliminação das discriminações voltadas a esse público

específico e que podem se agravar cada vez mais em virtude do constante

32

crescimento dessa população. Além disso, os autores lembram que as médias

encontradas, muitas vezes não condizem com a realidade, especialmente em países

como o Brasil que apresenta inúmeras desigualdades vinculadas a classe social,

relações de gênero e diferenças regionais.

O Brasil está se transformando rapidamente em um país de idosos e

inúmeras diversidades regionais são identificadas e analisadas isoladamente, pois

cada região possui uma realidade específica construída historicamente. Pensando a

partir desse indicativo, voltaremos nossa atenção ao Estado do Ceará com o

objetivo de apreender a realidade e os fatores associados ao desenvolvimento

dessa população específica e de como se deu o processo de desenvolvimento da

política pública municipal de assistência.

1.3 A questão do fenômeno da Velhice no Ceará e o desenvolvimento da política

pública municipal de assistência

No período que vai de 1998 a 2008 foi verificado um crescimento no

número de idosos tanto no Brasil como também na região Nordeste e no estado do

Ceará, segundo dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD, 2010) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com pesquisa realizada em 2010 pelo Instituto de Pesquisa e

Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), a população do Ceará em 1998

apresentou um total de 618.917 idosos enquanto que no ano de 2008 essa

população cresceu para 914.514. O estado ocupava a 6ª posição do ranking

nacional em 1998, o que representava 10% de sua população e no ano de 2008 o

Ceará aparece na 10ª posição, contudo se insere no grupo de estados que

apresenta mais de 10% de sua população constituída por idosos.

No que diz respeito à faixa de idade, o número de idosos no Ceará entre

60 e 65 anos, em 1998, era de 204.938 e em 2008 esse número passou para

293.909. Aqueles que tinham 81 anos ou mais, em 1998, representavam um

quantitativo de 68.245 e em 2008 esse número passou para 134.433 idosos.

Essa população apresentava um percentual de 64,1% localizada na área

urbana em 1998 e em 2008 esse percentual subiu para 71,1% e foi também

averiguado através da PNAD que estes idosos escolhem viver em casas e que

33

84,5% residem em domicílio próprio. Outro fato interessante a ser abordado diz

respeito ao papel que o idoso desempenha na família. No ano de 2008, foi verificado

que este indivíduo é considerado o chefe da família.

O percentual de pessoas analfabetas decresceu em 2008 em

comparação ao ano de 1998. Ocorreu também uma redução na taxa de pobreza e

na taxa de indigência durante esse período. Já no que se refere ao número de anos

de estudo, este é bem reduzido se for confrontado com o da população adulta. Em

1998 a percentagem era de 1,79% anos de estudo em média e em 2008 essa taxa

subiu para 2,79%.

De acordo com notícia do jornal O Povo de 30 de junho de 2012, a

população idosa do Ceará triplicou nos últimos 40 anos, de acordo com censo do

IBGE. Entre os anos de 1970 e 2010 o quantitativo passou de 205 mil para 758 mil e

em virtude desse crescimento, a população de idosos representa 8,9% do número

total de cearenses, o dobro do que era constatado em 1970 (4,7%).

O crescimento do número de idosos superou o crescimento da população

cearense e, para Paulo Cordeiro, gerente de supervisão da unidade estadual do

IBGE, esse efeito vai refletir na Previdência Social, na Medicina e no Turismo. Já o

Geriatra Antero Coelho Neto, ainda segundo a reportagem citada anteriormente,

afirma que esse acréscimo advém de um “estilo de vida mais saudável, à proteção

contra os fatores de risco e à promoção da saúde”, todavia “a sociedade não está

preparada para encarar as consequências do crescimento”.

A notícia supracitada ainda destaca que é relatado nas pesquisas

realizadas em torno da questão da população idosa, que esta apresenta um

crescimento acelerado no Brasil e como não poderia deixar de ser, este aumento é

verificado também no estado do Ceará, entretanto, como em todos os estados

brasileiros, não houve e não há uma preparação adequada para o atendimento das

necessidades específicas dessa população, tanto por parte da sociedade como no

que diz respeito às iniciativas governamentais.

Na busca de conhecermos um pouco mais sobre os trabalhos

direcionados ao atendimento de idosos no estado do Ceará, estaremos realizando

uma breve contextualização acerca da política pública municipal de assistência dos

então denominados grupos de convivência para idosos, nos apoiando em

34

informações obtidas por meio de trabalhos acadêmicos que consideramos de

bastante relevância para a explanação deste assunto específico.

Dessa forma, de acordo com Soares (2010)9, somente após o surgimento

do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), em 1976, que tinha como função

coordenar o atendimento aos idosos e pessoas excepcionais em seus Centros

Sociais, é que foram iniciadas as ações institucionais direcionadas às pessoas com

mais de 60 anos de idade, ações estas vinculadas ao poder público federal do

estado do Ceará. Já na década de 1980, a responsabilidade pela execução desses

trabalhos ficou a cargo da Legião Brasileira de Assistência (LBA) que realizava um

trabalho de atendimento ao idoso por meio de grupos de convivência e em asilos.

Foi também na década de 1980 que os trabalhos com idosos foram

iniciados em âmbito estadual, trabalhos estes, desencadeados pelos estímulos

financeiros provenientes do governo federal e pela batalha que a sociedade civil

organizada estava desenvolvendo na época, na tentativa de que essa população

específica obtivesse condições de vida digna.

A gestão dos trabalhos com idosos ficou, inicialmente, sob a

responsabilidade da Fundação de Serviços Sociais do Ceará (FUNSESCE) e, em

1990 essa gestão foi transferida para a Fundação da Ação Social (FAS) em virtude

do processo de reorganização do sistema de assistência social proporcionada pelo

governo do estado.

Diversos contratos foram firmados entre o Estado e os órgãos não-

governamentais com o objetivo de impulsionar o prosseguimento das atividades

dirigidas às questões da população idosa e, para que esse fato fosse consumado, o

Estado prestava auxílio financeiro e técnico a essas instituições não-

governamentais.

A aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e a eliminação

da LBA foram os acontecimentos que levaram a assistência social a passar a ser

desenvolvida em nível municipal nos estados brasileiros. Diante dessa ocorrência,

9 SOARES, Elydiana de Souza. A cadeira de balanço está vazia: os papéis sociais dos idosos

participantes de grupos de convivência na cidade de Fortaleza. 2010. 162 p. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade) – Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, 2010. Disponível em: <http://www.uece.br/politicasuece/index.php/arquivos/doc_view/124-elydianadesouzasoares?tmpl=component&format=raw> Acesso em: 10 de junho de 2013.

35

no estado do Ceará, todo o processo de eliminação da LBA foi liderado pelo governo

do estado, que estadualizou e municipalizou todos os serviços vinculados a esta

instituição.

Sendo assim, após a extinção da LBA e, de acordo com os princípios de

descentralização e diretrizes recomendadas pela Lei Orgânica de Assistência Social

– LOAS em 1995, toda a rede de assistência foi transferida para a esfera estadual,

cuja responsabilidade pelo implemento do plano de assistência social ficou a cargo

da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (SETAS), porém o

município de Fortaleza só conseguiu, de fato, reorganizar suas Secretarias e

Coordenadorias no sentido de moldar-se ao novo formato de assistência

recomendados pela LOAS em meados de 1998.

A aprovação da Lei Municipal nº 7.945 que faz referência ao Sistema

Descentralizado e Participativo da Assistência Social, atribuiu a responsabilidade

pela realização das ações da assistência social em nível municipal à Secretaria de

Educação e Assistência Social (SEDAS), ações estas, que deveriam efetivar a

proteção social à família, à velhice, à infância e aos portadores de deficiência.

Ainda de acordo com Soares (2010), a Secretaria Municipal de

Assistência Social (SEMAS) foi criada em 10 de julho de 2007, por intermédio da Lei

Complementar de nº 0039. Esta Secretaria tinha a finalidade de coordenar a Política

Municipal de Assistência Social por meio da efetivação do Sistema Único de

Assistência Social (SUAS), além de elaborar políticas, formulando direcionamentos

gerais e verificando questões que requeriam prioridades que serviriam para orientar

as ações sociais da prefeitura no intuito de melhorar as condições de vida da

população.

Atualmente as ações vinculadas à assistência no âmbito municipal são de

responsabilidade da Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (SETRA), no entanto, estaremos nos dirigindo a essa Secretaria específica no

capítulo III, onde faremos menção ao cenário de nossa pesquisa.

36

CAPÍTULO II – AS LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO AO IDOSO NO

BRASIL

“Não é razoável que tantos esforços sejam feitos para prolongar a vida humana, se não forem dadas condições adequadas para vivê-la.”

(Marcelo Salgado)

No capítulo II estaremos abordando questões relativas à cidadania, à

forma como as Constituições Brasileiras se reportaram ao fenômeno da velhice e ao

que dispõe a Política Nacional do Idoso e, de forma mais específica, o Estatuto do

Idoso.

2.1 Compreendendo o tema Cidadania

De acordo com Goldman (2000), a discussão no Brasil acerca do tema

cidadania ultrapassou os centros acadêmicos e se expandiu para a sociedade não

apenas com o objetivo de conhecer a temática, mas especialmente com o intuito de

tornar possível a execução deste assunto na prática social do dia a dia, embora a

realidade demonstre que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que essa

possibilidade se realize.

De acordo com Gohn (2009), a questão da cidadania, no liberalismo, se

refere aos direitos naturais e que não podem ser prescritos relacionados ao homem

e que se constituem na liberdade, na igualdade diante da lei e no direito à

propriedade. A cidadania também faz referência aos direitos da nação relacionados

à soberania nacional e à divisão dos poderes: executivo, legislativo e judiciário.

A propriedade é consolidada como direito soberano na Declaração dos

Direitos do Homem de 1789 e o proprietário era o cidadão que era representado

pelo indivíduo que tinha bastante discernimento para escolher, com conhecimento

de causa, aqueles que iriam representá-lo sem se deixar induzir por qualquer

espécie de influência e, além disso, esse cidadão também era o proprietário de

terras e de imóveis. Surge, então, o sujeito político burguês que não possui uma

37

procedência social atrelada ao clero e à nobreza. À vista disso, a autora supracitada

declara que a propriedade

Era vista como uma afeição à coisa pública. Todo proprietário, em princípio, seria um interessado na boa gestão do Estado. O fato de se ter uma propriedade seria a garantia da independência econômica necessária à liberdade de espírito e ao desprendimento das paixões. Por tudo isto preconizava-se que só os proprietários tinham direito à plena liberdade e à plena cidadania. Sabemos que os proprietários para os liberais eram os burgueses. (DIDEROT apud GOHN, 2009, p. 12).

Gohn (2009) declara que Locke explana uma diferença com relação aos

direitos vinculados à classe trabalhadora e à burguesia, já que a primeira utilizava

apenas as mãos e não a cabeça por ser habituada somente ao arado e à enxada

sendo considerada incapaz de ter grandes ideias e que os assalariados não tinham

a capacidade de pensar e, por essa razão, não poderiam ser reconhecidos como

cidadãos que tinham a aptidão de atuar com racionalidade política. Entendia-se que

“a educação para a cidadania não faria parte do universo da classe trabalhadora

porque ela não seria cidadã. A igualdade natural, inata entre os homens, seria

desfeita no plano da sociedade real” (LOCKE apud GOHN, 2009, p.12).

Essa compreensão começou a ser modificada no século XXIII por meio

do racionalismo ilustrado que se propunha a mudar a ordem social e política agindo

sobre a consciência e a educação e era imprescindível que ocorresse uma reforma

política em que o homem, ao se tornar livre e consciente, se tornasse também

sujeito histórico capaz de transformar a realidade.

Com o avanço da consolidação do capitalismo, as classes dominantes

voltaram a conceber a educação como um instrumento de controle social sendo

indicado pelos teóricos da economia política como mecanismo que evitaria a

desordem. “O pressuposto básico era de que o povo instruído seria ordeiro,

obediente a seus superiores e não presa de crendices e superstições religiosas e

místicas.” (GOHN, 2009, p. 13).

Ainda de acordo com a autora, o que era recomendado, de fato, pela

economia clássica do século XIII era o cidadão passivo e a educação que realmente

importava era a constituição e a produção da mercadoria necessária para o trabalho.

Dessa forma, o fundamento da questão da cidadania passará para a questão do

poder

38

No século XIX, a cidadania é direcionada a todos, porém a intenção era

disciplinar as massas na expectativa de que os integrantes da sociedade

participassem do convívio social de maneira harmônica por meio da educação. Vale,

inclusive, enfatizar que os direitos sociais são concedidos pelo Estado e não

conquistados pelos indivíduos.

Concepções novas de cidadania surgiram no século XX em que o projeto

burguês destacou “a questão dos direitos dos indivíduos, menos como direitos e

mais como deveres. Deveres para com o Estado, [...]. O Estado passa a

regulamentar os direitos dos cidadãos e a restringi-los [...].” (GOHN, 2009, p. 14).

Simultaneamente à questão da cidadania regulamentada pelo Estado

observa-se a ampliação do neoliberalismo comunitarista, neste mesmo século, em

que

a cidadania é pensada como retorno à ideia de comunidade em contraposição à sociedade urbano-industrial burocratizada. Trata-se de uma transfiguração do real pois as instituições da sociedade civil moderna [...] são representadas como uma grande comunidade.(GOHN, 2009, p. 14).

Existe ainda uma terceira concepção de cidadania que se refere à

cidadania coletiva e que apresenta um novo sujeito histórico que representa um

agente de mobilização e de coação por transformações sociais que são os

movimentos sociais. O denominado cidadão coletivo inserido nos movimentos

sociais realiza manifestações fundamentadas nos interesses de coletividades de

diversas especificidades. Dessa forma, surgem os grupos que reivindicam a

concretude da cidadania dos negros, dos homossexuais, das mulheres, dentre

outros grupos. “A cidadania coletiva se constrói no cotidiano através do processo de

identidade político-cultural que as lutas cotidianas gerem.” (GOHN, 2009, p. 16-17).

Para muitas pessoas o termo cidadão está vinculado ao direito de votar,

entretanto, este ato de votar, segundo Covre (2003, p. 8) “não garante nenhuma

cidadania, se não vier acompanhado de determinadas condições de nível

econômico, político, social e cultural”. Sendo assim, o significado desse termo está

relacionado à posse de direitos e deveres no sentido de sentir-se súdito e senhor. Já

Fernandes (1997, p. 39) amplia esse entendimento, reconhecendo que cidadão é o

indivíduo que participa da comunidade de forma elaborada e que possui

conhecimentos acerca do direito, o que lhe propicia viver com dignidade, soberano

39

de seu futuro e habilitado a exercer uma função que auxilie na promoção do

desenvolvimento da sociedade e do país a que pertence.

A Carta de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU)

de 1948 descreve esta condição relacionada aos direitos e deveres do indivíduo e

sua proposição mais abrangente de cidadania é

a de que todos os homens são iguais ainda que perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. E ainda: a todos cabem o domínio sobre seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer. E mais: é direito de todos poder expressar-se livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos sociais, lutar por seus valores. Enfim, o direito de ter uma vida digna de ser homem. (COVRE, 2003, p. 9)

Esta proposição traz um destaque para os direitos, mas é relevante

também destacar os deveres no sentido de que o cidadão procure

Ser o próprio fomentador da existência dos direitos a todos, ter responsabilidade em conjunto pela coletividade, cumprir as normas e propostas elaboradas e decididas coletivamente, fazer parte do governo, direta ou indiretamente, ao votar, ao pressionar através dos movimentos sociais, ao participar de assembleias – no bairro, sindicato, partido ou escola. E mais: pressionar os governos municipal, estadual, federal e mundial (em nível de grandes organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional – FMI) (IBID, p. 9).

A concretização dos direitos e deveres dos indivíduos será

constantemente dificultada por aqueles que se encontram no poder, já que estes

procurarão sempre atender às suas necessidades e não às necessidades da

sociedade em geral. Sendo assim, a cidadania só será concretizada com o exercício

da reivindicação, da apropriação de espaços, da luta para que os direitos dos

indivíduos sejam, de fato, validados e, partindo dessa afirmativa, o exercício da

cidadania pode ser utilizado como uma tática para se criar uma sociedade muito

melhor.

O indivíduo costuma relacionar cidadania apenas com os direitos que tem

a receber e tem a tendência de esquecer o fato de que ele próprio pode reivindicar a

existência desses direitos. Sendo assim, cidadania também pode ser compreendida

da seguinte forma:

é o próprio direito à vida no sentido pleno. Trata-se de um direito que precisa ser construído coletivamente, não só em termos do atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis de existência, incluindo o mais abrangente, o papel do(s) homem(s) no Universo (IBID, p.11).

40

Para Gurjão (2006), a cidadania resulta de um processo de participação,

sendo considerada uma conquista da burguesia que representa a realização

democrática de uma sociedade. A cidadania tem a função de garantir o acesso ao

espaço público a todos os indivíduos, possibilitando-lhes condições de sobrevivência

dignas.

Segundo Covre (2003), a questão da cidadania é compreendida em

termos de direitos civis, políticos e sociais, sendo assim, os direitos civis se referem

fundamentalmente ao direito de locomoção, segurança, liberdade de expressão,

dentre outros, e a luta pela conquista desses direitos tem se mostrado muito acirrada

em todo o mundo, inclusive na América latina. Já os direitos sociais surgiram no

século XX e estão relacionados a

Tudo que vai desde o direito ao mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar por completo na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. (MARSHALL, 1963, p.68 apud GOLDMAN, 2000, p. 25)

Direitos como a educação pública, laica e universal, a saúde e a

assistência social, dentre outros, fazem parte dos chamados direitos sociais e estes

somente se materializam na prática, mesmo sendo instituídos em legislações como

Constituições e Estatutos. Em países em desenvolvimento como é o caso do Brasil,

o aparato legal contempla os direitos sociais, mas a realidade desmistifica a letra morta da lei. O usufruto dos direitos sociais só pode ser garantido com a efetiva participação política da população através dos instrumentos de organização, de pressão e de denúncia. (GOLDMAN, 2000, p. 26)

Além disso, os direitos sociais são os mais fragilizados e,

consequentemente, os mais atingidos pelo neoliberalismo e, por dependerem da

organização da sociedade de uma forma geral e do estágio de desenvolvimento do

movimento operário, esses direitos representam o eixo de condução das políticas

sociais.

Os direitos sociais só se consolidam quando as políticas sociais se

constituem, sendo que estas são analisadas por algumas visões marxistas como

sendo elementos utilizados pela burguesia para que seu processo de dominação

seja legalizado, no entanto, outras percepções indicam que as políticas sociais se

constituem em instrumentos utilizados pelo Estado para favorecer a classe pobre da

sociedade. Não é possível orientar as políticas sociais para uma só direção já que, a

41

atuação dessas políticas se dá em meio à batalha pela supremacia com a utilização

de instrumentos de harmonia e também de dominação.

Segundo Covre (2003), os indivíduos que detém o poder e o capital

financeiro tem criado a sua percepção de cidadania em cima dos direitos sociais e é

por meio dessa concepção de cidadania que eles tentam controlar a classe

trabalhadora, que deve se manter passiva e apenas estar disposta a receber os

direitos que são ofertados de forma espontânea pelos governantes e pelos

capitalistas.Já no que se refere aos direitos políticos, estes

dizem respeito à deliberação do homem sobre sua vida, ao direito de ter livre expressão de pensamento e prática política, religiosa etc. Mas, principalmente, relacionam-se á convivência com os outros homens em organismos de representação direta (sindicatos, partidos, movimentos sociais, escolas, conselhos, associações de bairro etc) ou indireta (pela eleição de governantes, parlamento, assembleias), resistindo a imposições dos poderes (por meio de greves, pressões, movimentos sociais). E, ainda, dizem respeito a deliberações dos outros dois direitos, os civis e os sociais – esclarece quais são esses direitos e de que modo chegar a eles.” (IBID, p. 15)

Diante do que foi exposto sobre os direitos civis e os direitos políticos é

relevante afirmar que os primeiros se subordinam à existência dos últimos e que

estes estão submetidos à existência de regimes totalmente democráticos. Esses

conjuntos de direitos constituem os direitos do cidadão e não podem ser separados,

visto que sua concretização depende da relação que eles mantém entre si, além

disso, esses direitos também “são dependentes da correlação das forças

econômicas e políticas para se efetivar.” (IBID, p. 15).

Existem dois conceitos diversos de cidadania: a cidadania ativa e a

cidadania passiva. “A cidadania ativa é aquela que institui o cidadão como portador

de direitos e deveres, mas essencialmente criador de direitos para abrir novos

espaços de participação política” e “a cidadania passiva é aquela que é outorgada

pelo Estado, com a ideia moral do favor e da tutela” (DURIGUETTO, 2007, p. 201).

A autora supracitada assinala a necessidade de construção, por parte da

população, de uma educação política rotineira e efetiva para que uma participação

cidadã ativa seja consolidada, nesse sentido, essa participação cidadã ativa poderia

ser conseguida através dos seguintes meios: informação, conscientização e

incentivo à organização e à participação.

De acordo com Faleiros (2007), o processo de constituição da

modernidade, proclamado na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, está

vinculado à concepção que se tem acerca do termo cidadania nos dias atuais. A

42

modernidade é entendida “como um processo de produção da sociedade pela

própria sociedade” (IBID, p. 154) e a cidadania moderna é percebida como a

demonstração do homem liberto, que sabe competir e produzir sua história.

A dignidade do ser humano se constitui como fundamento prioritário da

Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, porém, é preciso refletir

acerca de que “o estabelecimento de direitos iguais, numa sociedade desigual, e

para grupos específicos, é uma questão fundamental que articula cidadania com

democracia”. (IBID, p. 154)

Dessa forma, segundo Covre (2003), a Constituição Federal é um

instrumento que deve ser utilizado pelos cidadãos com a perspectiva de

encaminhamentos e de conquistas de propostas que promovam a igualdade e,

apesar da dificuldade de se concretizar tudo que é deliberado nos direitos e deveres

do cidadão, a Carta Universal dos Direitos Humanos está presente nas

Constituições de cada país, embora alguns países ressaltem mais a sua existência

do que outros.

2.2 Breves considerações sobre as constituições brasileiras e a sua relação com o fenômeno da velhice

Cada legislação apresenta as suas especificidades e estas estão

vinculadas ao contexto histórico e social da época em que foram elaboradas e,

consequentemente aprovadas, portanto, nossa próxima reflexão se dará em torno

da relevância da velhice nas constituições brasileiras que antecederam a

Constituição Federal de 1988.

O Brasil sempre ocupou uma das últimas posições nas avaliações

realizadas pela Organização das Nações Unidas que tem como função medir o grau

de desenvolvimento humano de um país. Isso se dá pelo fato do país não haver

priorizado, no decorrer de sua história,

ações voltadas à erradicação da pobreza, da marginalização, da desigualdade social, da violência, através de políticas públicas consistentes e permanentes, como de saneamento básico, educação de qualidade, saúde preventiva, habitação (RAMOS, 2002, p. 59-60).

43

Assim sendo, levando em consideração uma realidade em que os direitos

humanos não adquiriram a devida importância, ações que pudessem garantir uma

vida prolongada e com qualidade para a população, de uma forma geral, não foram

efetivadas, não sendo, inclusive, priorizadas pelas Constituições brasileiras que

antecederam a Constituição de 1988.

Ainda de acordo com Ramos (2002), durante o período de vigor das

primeiras constituições brasileiras, a preocupação fundamental dos constituintes e

governantes deveria ter sido com os direitos humanos fundamentais, já que, em

decorrência desse descaso, grande parte da população não conseguia nem alcançar

a fase da velhice. As condições de vida da população eram terríveis e nem mesmo

os procedimentos médicos mais avançados que contribuíram para o envelhecimento

artificial da grande maioria da população em meados do século XX conseguiram

obter sucesso nesse período.

Passemos então para alguns aspectos formadores dessas Constituições

e alguns levantamentos sobre a forma como as mesmas lidavam e reconheciam a

questão da velhice como assunto de preocupação e relevância para a sociedade

das épocas em questão.

De acordo com Castro (2008), a responsabilidade pela elaboração da

Carta Constitucional de 1824 foi dada a uma comissão nomeada por Dom Pedro I,

formada por seis ministros e mais quatro membros escolhidos pelo citado Imperador

e que tinha como denominação: Conselho de Estado. Essa Constituinte deveria

demonstrar a sua lealdade ao poder monárquico, portanto, não poderia funcionar por

vontade própria.

Em conformidade com Ramos (2002), a Constituição de 1824, conhecida

como Constituição Política do Império, não se referiu em nenhum de seus 119

artigos à questão da velhice como sendo uma fase da vida que necessita de

proteção e atenção por parte do Estado.

Segundo Castro (2008), a Assembleia Constituinte convocada por

Deodoro da Fonseca no dia 22 de junho de 1890 deveria legitimar o governo

republicano que havia surgido por meio de um golpe militar. Dessa forma, o Governo

provisório determinou o regime republicano federalista e modificou o nome do país

para Estados Unidos do Brasil através de um decreto, sendo a Constituição de 1891

bastante influenciada pela Constituição Norte-Americana.

44

E, de acordo com Bonavides e Andrade (1989), o objetivo da Constituição

da Primeira República era desestruturar o poder pessoal dos governantes e manter

o Estado afastado da sociedade o mais que fosse possível.

No que se refere à questão da velhice, a Constituição de 1891 fez

menção somente à aposentadoria por invalidez, em seu artigo 75, não mencionando

a aposentadoria por idade do servidor público. Interessante retratar que,

se houve alguma preocupação com a velhice nessa Constituição, essa preocupação esteve voltada apenas para garantir os interesses de uma parte da burocracia e não os de toda uma população, até mesmo porque quem tinha chance de chegar a essa fase da vida eram apenas os integrantes da elite, especialmente a pertencente à burocracia estatal. (RAMOS, 2002, p. 61)

O declínio da primeira Constituição Republicana foi marcado pela

Revolução de 193010: “As mesmas armas que derribaram a monarquia, e ergueram

a República constitucional de 1891, inspiraram a caminhada revolucionária da

Aliança Liberal” (BONAVIDES E ANDRADE, 1989, p. 260).

Muitos questionamentos ainda são vinculados ao movimento de 1930,

contudo é certo que este movimento realmente marca o fim da Primeira República e

um novo começo para o sistema republicano e federativo do Brasil. Mais um

Governo provisório foi estabelecido e com ele uma ditadura foi fundada em todo o

território nacional, ditadura esta, iniciada por Getúlio Vargas. A questão social que já

era evidenciada nas ruas e sindicatos era tratada como caso de polícia.

O decreto nº 21.402 expedido pela ditadura militar declarava que no dia 3

de maio de 1933 fossem realizadas as eleições de uma nova Assembleia

Constituinte, sendo criada também uma comissão que deveria elaborar o anteprojeto

da constituição. Assuntos sobre a ordem econômica e social apareceram pela

primeira vez na história das constituições brasileiras e um fato que marcou bastante

esse período foi a questão de que as mulheres puderam votar pela primeira vez no

país, levando o Brasil a ser um dos pioneiros nesse sentido no mundo todo.

Com relação à velhice, Ramos (2002, p. 61) declarou que a Constituição

dos Estados Unidos do Brasil de 1934 abordou em seu artigo de número 121 que “a

legislação do trabalho deveria garantir assistência previdenciária, mediante

contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor, inclusive da

10

“É vista como ponto de ruptura do sistema agrário-comercial exportador voltado para o mercado capitalista e dá base à emergência do sistema industrial mais dinâmico e de efeitos multiplicadores que se estendem a todo sistema sócio-econômico-cultural”. (GOLDMAN, 2000, p. 22).

45

velhice” entretanto esse disposto não alterou a condição da população, na sua

totalidade, de garantir o direito de envelhecer com dignidade.

Segundo Bonavides e Andrade (1989), a Constituição de 1937 foi a

primeira constituição que não apresentou representação popular em sua elaboração

e foi influenciada pela Constituição da Polônia, sendo, em decorrência desse fato,

denominada de “A Polaca” pelos analistas e críticos da época. Já de acordo com

Ramos (2002), com relação ao tema velhice, seguiu na mesma direção da

Constituição anterior, praticamente copiando em seu art. 137 o que havia sido

disposto no art. 121 da Constituição de 1934.

A Constituição de 1946 surgiu a partir de um movimento que rejeitava o

Estado Novo, que resultava em uma nova compreensão do estado brasileiro

determinada através das palavras do ministro da Justiça Francisco Campos: “só o

Estado forte pode exercer a arbitragem justa, assegurando a todos o gozo da

herança comum da civilização e da cultura” (Bonavides e Andrade, 1989, p. 346) e,

de acordo com as declarações de Ramos (2002), esta constituição não visualizou a

velhice como representante de um problema social e não a considerava direito

humano fundamental.

Por fim, a Constituição do Brasil de 1967, cuja publicação se deu em

pleno regime militar, não revelou nenhuma proposta nova no que se refere ao direito

à velhice. Em síntese, todas essas constituições tinham apenas a função de:

“legitimar governos autoritários, não comprometidos com a efetivação dos direitos

humanos” (IBID, p. 62).

2.3 A Velhice na Constituição Federal de 1988

Veremos agora, de que forma a Constituição de 1988 se reporta à

questão da velhice e, para dar início às nossas explanações, segundo as

considerações de Ramos (2002), é necessário que entendamos que a Constituição

leva ao conhecimento de toda uma sociedade, regras que são determinadas por

valores que devem ser compreendidos como fundamentais para o exercício real do

poder. Por este motivo é denominada Lei Magna da sociedade.

46

Ainda segundo o autor supracitado, uma Constituição legítima e

verdadeira deve ser elaborada pelos próprios cidadãos e estes, por sua vez, devem

ser sensatos o bastante para que percebam que a finalidade de uma constituição

incide em constituir uma sociedade que tenha a capacidade de ampliar a justiça, a

liberdade, o desenvolvimento, a igualdade e a democracia, valores estes que são

inseparáveis.

Nesse sentido, vale ressaltar que os idosos começaram a ocupar o

espaço político em meados da década de 1980 por meio da manifestação dos

movimentos sociais de aposentados e pensionistas e, ao se perceberem

protagonistas históricos, exigiram participar da Constituição de 1988. Dessa forma,

de acordo com Goldman (2000, p. 24) “iam às comissões técnicas, [...] organizavam

protestos em diversas capitais, lotavam o plenário do Congresso Nacional, atraindo

a atenção da mídia, dos parlamentares e da população em geral”.

A importância dos valores indicados em uma constituição se dá pelo fato

de que estes pressupõem um progresso das sociedades por meio do atendimento

das necessidades através da apreensão de que a existência do ser humano não

deve ser vinculada ao sofrimento.

Segmentos organizados da sociedade civil realizaram uma fiscalização

contínua durante a elaboração da Constituição Federal de 1988 e os constituintes

responsáveis pela construção desta Carta Magna do país conseguiram criar a

constituição brasileira que mais teve compromisso com o ideário constitucional. A

Constituição surge, então, com a função de consolidar a ideia de que o indivíduo é

portador de direitos e que as formas utilizadas para a garantia desses direitos devem

ser de obrigação do Estado.

No que se refere ao tema envelhecimento, este passou a fazer parte, de

forma mais categórica da agenda política do Brasil, desde que o país foi subscritor

do Plano Internacional de Ação para o Envelhecimento de 1982. O debate acerca

deste tema foi realizado de forma bastante ampla durante o processo de elaboração

da constituição de 1988, pois esta ocasião coincidiu com o período de

redemocratização do país. Em decorrência deste debate, o tema foi inserido no texto

constitucional no capítulo que trata das questões sociais (CAMARANO e

PASINATO, 2004).

47

As políticas de proteção social aos idosos brasileiros foram consolidadas

por meio da Constituição de 1988, assinaladas por orientações advindas da

Assembleia de Viena e, neste sentido,

Uma das conclusões da assembleia de Viena foi a conscientização dos países da necessidade de incorporarem nos seus planos propostas de ações que garantissem um envelhecimento saudável. A sociedade deveria ser trabalhada no sentido de adotar um conceito positivo e ativo de envelhecimento, orientado ao desenvolvimento. Isso significa uma mudança do papel do idoso na sociedade (IBID, p. 266)

Os constituintes assentaram na parte Dos Princípios Fundamentais, a

finalidade da República Federativa do Brasil na citada lei e que resulta na promoção

“do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação” (Brasil, 1988 apud RAMOS, 2002, p. 71). Sendo

assim, esta foi a primeira Carta magna brasileira que tratou da questão da idade no

sentido de privá-la de qualquer tipo de discriminação, e esse dispositivo favoreceu

bastante a população idosa no sentido de levar em consideração, dentre outros

fatores, a sua baixa escolaridade, a sua relação no mercado de trabalho e a sua

relação familiar.

De acordo com Fernandes (1997) existem alguns artigos na citada Lei

que não se referem especificamente à pessoa idosa, entretanto, eles podem ser

ampliados a esta população, a saber, o art. 5º que determina

que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito á vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (BRASIL,1988)

Este artigo da Constituição federal de 1988, ao assegurar “que todos são

iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza” só fortalece a ideia de

Ramos quando este afirma que este documento foi o primeiro a se manifestar

quanto à carência da discriminação com relação ao idoso, embora o citado artigo

não atinja especificamente essa população, ela está inserida nos preceitos do texto

constitucional. Já os artigos 229 e 230 fazem referência direta à velhice e indicam

que

Os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade; a família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, garantido-lhes o direito à vida; os programas de amparo aos idosos devem ser preferencialmente executados nos lares; aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes urbanos (RAMOS, 2002, p. 71)

48

A Constituição de 88 também garantiu o acesso à educação e á saúde

para todas as pessoas e à assistência social para quem dela precisasse. O Ensino

Fundamental se constituiu em obrigatório e gratuito sendo garantido a todas as

pessoas que não tiveram a oportunidade de cursá-lo na idade apropriada

(CAMARANO e PASINATO, 2004).

O conceito de seguridade social passou a ser incluído, o que mudou a

direção da rede social de proteção no sentido de que esta deixou de ter seu contexto

atrelado apenas à questão social-trabalhista e assistencialista, passando a ter uma

correlação de direito de cidadania, cujo texto

estabeleceu como princípios básicos, a universalização, a equivalência de benefícios urbanos e rurais, a seletividade na concessão, a irredutibilidade do valor das prestações previdenciárias, a fixação do benefício mínimo em um salário mínimo, a equanimidade no custeio e a diversificação da base de financiamento, a descentralização e a participação da comunidade de trabalhadores, empregadores e aposentados na gestão (artigo 194 da Constituição Federal, 1988 apud CAMARANO e PASINATO, 2004, p. 266-267)

Como vimos, a Constituição Federal de 1988 considerou a questão da

velhice como assunto de relevância, possibilitando assim um processo de debate do

tema em questão e possíveis encaminhamentos no texto constitucional,

diferentemente das constituições brasileiras que a antecederam, entretanto é

necessário analisar todo o contexto sócio-histórico da época, que se fundava no

período de redemocratização do país, além de refletir, inclusive, nos aspectos que

influenciaram esse diálogo, aspectos estes, que se remetem à influência do

progresso do debate em nível internacional sobre a questão do envelhecimento.

De acordo com Fernandes (1997), mesmo com o avanço dessa discussão

e de seus resultados em temos legais, os indivíduos se tornam fragilizados por não

conhecerem e, ainda, por não terem acesso aos direitos assegurados na

Constituição, já que estes direitos não são amplamente divulgados, e, além disso,

muitos indivíduos não reconhecem nem mesmo o significado de cidadania.

2.4 A Política Nacional do Idoso

De acordo com Camarano e Pasinato (2004), vários elementos

constitucionais vinculados às políticas setoriais de proteção ao idoso foram

regularizados no decorrer da década de 1990.

49

As autoras supracitadas destacam alguns desses instrumentos que

surgiram nesse período como é o caso dos Planos de Custeio e de Benefícios da

Previdência Social consentidos em 1991, além disso, elas também fazem referência

à Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS (Lei 8.742, de dezembro de 1993), lei

esta que possibilitou a organização de vários programas e projetos, tendo como

corresponsáveis, as três esferas do poder. O Benefício de Prestação Continuada

(BPC) foi concedido, mediante esta lei, aos indivíduos que tinham mais de 70 anos

de idade, cujas famílias possuíssem uma renda per capta menor que ¼ do salário

mínimo. Essa idade diminuiu para 67 anos em 1998 e para 65 anos no ano de 2004.

A Política Nacional do Idoso – PNI (Lei 8.842, de 4 janeiro de 1994) deu

continuidade aos procedimentos difundidos na Constituição Federal de 1988, sendo

a Secretaria de Assistência Social, vinculada ao, na época, Ministério da Previdência

Social (MPAS) e, atualmente, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS), o órgão responsável pela sua coordenação e gestão. Nesse período

também foi instituído o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI) que só teve

sua execução efetivada em 2002. As principais diretrizes que norteiam a PNI se

constituem em

Incentivar e viabilizar formas alternativas de cooperação intergeracional; atuar junto às organizações da sociedade civil representativas dos interesses dos idosos com vistas a formulação, implementação e avaliação das políticas, planos e projetos; priorizar o atendimento dos idosos em condição de vulnerabilidade por suas próprias famílias em detrimento ao atendimento asilar; promover a capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia; priorizar o atendimento do idoso em órgãos públicos e privados prestadores de serviços; e fomentar a discussão e o desenvolvimento de estudos referentes à questão do envelhecimento (CAMARANO e PASINATO, 2004, p. 269).

Para as autoras, a PNI incide em um conjunto de atos governamentais

que tem como finalidade garantir os direitos sociais dos idosos, visto que, enquanto

sujeitos detentores de seus direitos, estes devem ter suas necessidades físicas,

econômicas, sociais e políticas atendidas de formas distintas.

Já Teixeira (2008, p. 266) afirma que “a PNI toma o idoso como grupo

etário, homogêneo, e mascara não apenas as desigualdades sociais, mas também a

tragédia do envelhecimento para os trabalhadores”. Nesse sentido, a autora ressalta

que o foco da política deve ser os trabalhadores e esse fato se dá em virtude da

vulnerabilidade social em que se encontra esta classe específica (a dos

50

trabalhadores), especialmente no curso de seu envelhecimento, mesmo levando em

consideração o fato de que esta política deve ser universal.

A PNI, assim como o Estatuto do Idoso, que nos dedicaremos mais

adiante, possibilitou uma reatualização da cultura das privatizações no

enfrentamento das questões sociais e, dessa forma, a PNI começou

não apenas a regular as diversas iniciativas privadas e públicas de ações de proteção ao idoso, criando princípios e diretrizes para uniformizá-las, mas também a legalizar formalmente e incentivar essas instituições privadas como executoras da política, instituindo um “novo” e, ao mesmo tempo, um “velho” métier de fazer política social no Brasil, marcados por continuísmos históricos nas formas de proteção social, que as lutas por democratização e a Constituição Federal de 1988 não foram capazes de romper e de mudar, sob a retórica da participação da sociedade civil nas decisões, gestão execução e fiscalização das políticas, expressas nos princípios de descentralização e participação social (IBID, p. 265).

A Política Nacional do Idoso é retratada por ângulos diferentes pelas

autoras em questão, enquanto Teixeira (2008) se refere a esta política como

instrumento que possibilitou o avanço das instituições privadas na tentativa de

enfrentamento das questões sociais vinculadas à população idosa, ressaltando

ainda que esta política deveria ter como alvo os trabalhadores, principalmente os

que estão envelhecendo, Camarano e Pasinato (2004) a descrevem como uma

política que tem como objetivo garantir os direitos dos idosos através de ações

governamentais, cuja operacionalização e ações relacionadas ao setor assistencial

acontecem de maneira descentralizada, por intermédio de sua articulação com as

diversas políticas ligadas aos idosos, tanto em nível estadual quanto em nível

municipal, e também através das parcerias realizadas com a sociedade civil.

Para Teixeira (2008), essa legislação, especificamente, trilha os novos

caminhos da política social, ou seja, os caminhos vinculados às diretrizes

internacionais que consideram o Estado apenas instrumento regulador, co-

financiador, cujas atribuições com a proteção social devem ser repartidas com a

sociedade civil por meio de ações realizadas por Organizações Não Governamentais

(ONGs), família, comunidade ou entes municipais e que tem como resultados

programas pontuais que apresentam metas limitadas quando comparadas ao

aumento significativo do número de pessoas idosas.

Interessante a visão desta autora, pois nos faz refletir acerca dos meios

encontrados pelo Estado para que os direitos sejam efetivados de acordo com as

diretrizes das várias legislações brasileiras. Sendo enfatizada, novamente, a

51

fundamental importância sobre a questão do conhecimento e apropriação do

contexto histórico e social da época em que se deu o processo de discussão e

aprovação de uma legislação específica.

2.5 O Estatuto do Idoso

De acordo com Neri (2005), o processo de preparação e aprovação do

Estatuto do Idoso, bem como da Política Nacional do Idoso, se deu por meio da

pressão que setores organizados da sociedade realizaram sobre os políticos.

Na década de 1980 as Faculdades de Medicina, especialmente as de São

Paulo e as do Rio Grande do Sul, criaram vários projetos que tinham a finalidade de

capacitar pessoas para lidar com a saúde dos idosos. Desde essa época, a

Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) vem aparecendo como

maior associação a formar médicos aptos a trabalharem em Geriatria. As

Universidades da Terceira Idade também começaram a surgir a partir dessa década.

Instituições preocupadas com o fenômeno da velhice foram surgindo cada

vez mais nos anos que se seguiram e estes anos ficaram marcados como os anos

em que as áreas da Geriatria e Gerontologia, de fato, se estabeleceram e, além

disso, inúmeras especialidades profissionais começavam a se dedicar ao

atendimento da velhice. (LOPES, 2000 apud NERI, 2005).

No final dos anos de 1990, três cursos de mestrado e doutorado e alguns

cursos de especialização relacionados à Gerontologia tiveram início, apesar das

oposições enfrentadas no interior da própria Universidade. A Política Nacional do

Idoso e o Estatuto do Idoso surgiram por ocasião desse processo de

desenvolvimento que ocorria, pois os profissionais que participavam de instituições,

tais como SBGG e Universidades, assim como os cidadãos idosos que se uniram

com o objetivo de defender seus direitos como aposentados, foram os responsáveis

pela pressão sobre o governo, apresentando ideias e propostas para a elaboração

desses documentos.

Acreditava-se que o fenômeno da velhice era um problema médico-social

e que os problemas sociais dos idosos eram provenientes da discriminação, do

preconceito e das atitudes negativas que existiam na sociedade.

52

Ainda de acordo com Neri (2005, p. 12), “o Estatuto do Idoso aparece

como a explicitação das políticas públicas que o Estado estabelece em relação aos

idosos” e vale ressaltar que a concepção de políticas públicas, nos estados

democráticos modernos, está vinculada à concepção de cidadania, compreendida

como

O conjunto das liberdades individuais expressas pelos direitos civis: direito de ir e vir; direito à informação, ao trabalho, à fé, à propriedade e à justiça; direito de votar e ser votado; direito de participar do poder político; direito à segurança e ao bem-estar econômico. O Estatuto do Idoso reafirma esse conceito expresso na nossa Constituição de 1988 (IBID, p. 12-13)

Segundo Camarano e Pasinato (2004), o Estatuto do Idoso obteve sua

aprovação no ano de 2003, após um processo de sete anos de tramitação no

Congresso Nacional e este documento único apresenta leis e políticas que já haviam

sido aprovadas e acrescenta novos subsídios que irão possibilitar, em longo prazo, a

afirmação de medidas que tem como objetivo proporcionar bem-estar aos idosos.

Neri (2005) tece vários comentários acerca do Estatuto do Idoso e um

deles se refere ao artigo 1º que determina como pessoas idosas, aquelas com idade

igual ou acima de 60 anos. A autora explica que essa demarcação da idade está

ligada ao que dispõe a organização das Nações Unidas no sentido de que, nos

países em desenvolvimento, devem ser consideradas idosas as pessoas que

estejam com 60 anos ou mais. Desse modo, documentos como o Estatuto do Idoso

definem o público alvo das políticas que constitui.

O Estatuto do Idoso, em parceria com outras leis que gerem os direitos

das minorias, visa transformar os idosos em sujeitos que tem garantido os seus

direitos políticos, civis e sociais, o que é apontado em seu artigo 2º:

O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (BRASIL, 2003, p. 3 apud TEIXEIRA, 2008, p. 289).

Para Neri (2005), a proteção social é atribuída como direito aos cidadãos

que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco social e esta só será

integral se cada sociedade apresentar condições e valores que a fundamentem. A

autora ainda complementa alegando que, nem nos países onde a proteção social é

universal e vasta, todas as oportunidades são ofertadas a todos os indivíduos,

53

independente de sua idade, e ela ainda declara que há uma diminuição das

oportunidades sociais para as pessoas velhas nas sociedades industrializadas

contemporâneas, enquanto que várias oportunidades são ofertadas aos mais jovens

e produtivos, pois os investimentos que forem disponibilizados com este público

retornarão para a sociedade em forma de benefícios imediatos.

De acordo com CAMARANO e PASINATO (2004), os 118 artigos que

compõem essa legislação tratam dos direitos fundamentais e das necessidades de

proteção dos idosos com o intuito de fortalecer as diretrizes da Política Nacional do

Idoso, entretanto existem dois atos propostos no Estatuto que são considerados

polêmicos, a saber, o parágrafo 3º do artigo 15º que diz o seguinte: “É vedada a

discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados

em razão da idade” e o parágrafo único do artigo 34º que propõe:

Aos idosos, a partir de sessenta e cinco anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de um salário mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas). Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas. (BRASIL, 2003, p. 21)

Os responsáveis legais pelos planos de saúde do país alegam que a

extinção da discriminação etária acarretará em um aumento no valor dos planos de

saúde dos demais segurados, já que os acréscimos com os custos que advém com

o envelhecimento deverão ser divididos com todos os membros dos planos e a

questão de não se mostrar com exatidão quais benefícios não serão aceitos para

cálculo da renda familiar tem sido alvo de interpretações diferenciadas, o que tem

gerado vários processos judiciais que visam a obtenção do benefício.

Em relação à forma de se fazer política social em concordância com as

propostas de diminuição dos gastos públicos, Teixeira (2004, p. 289) afirma que

se contrapõe às tendências “universalistas” da política; promove pulverizações das ações, superposição de programas, projetos setorializados, fragmentados e limitados à resolução de problemas específicos, locais, movidos por sentimentos humanitários de solidariedade e voluntariado, que dificultam a identificação do problema de um ponto de vista global e estrutural, e de responsabilidade pública.

Dessa forma, as diretrizes da Política Nacional do Idoso são reafirmadas

no artigo 3º do Estatuto do Idoso:

54

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003, p. 15)

Segundo os argumentos de Neri (2005), com relação ao artigo 3º,

priorizar os direitos de uma classe específica possibilita a discriminação de outros

segmentos, a partir da compreensão que se tem de que todos os brasileiros são

iguais perante a lei e que este é um princípio que referencia todo Estado

democrático.

Em contraposição ao pensamento de Teixeira (2008), Neri aponta como

um avanço, tanto da PNI quanto do estatuto do Idoso, o fato de serem dadas

condições para a formação de parcerias entre o poder público e a sociedade civil e

entre as instituições privadas, públicas e não-governamentais no que se refere aos

direitos dos idosos e ela utiliza o argumento de que, neste país, o acesso aos

serviços públicos não é garantido para grande parte da população que dele

necessita e que poderia lhes proporcionar uma vida digna.

Entretanto, é constatado um progresso do Estatuto com relação à PNI no

sentido de definir as responsabilidades do governo que ultrapassam a elaboração de

textos e a utilização de verbos ambíguos. Essa afirmação é ratificada no artigo 9º do

Estatuto do Idoso, o qual faz a seguinte consideração:

É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade (BRASIL, 2003, p. 16).

O Estado se torna responsável pela efetivação do direito à saúde do idoso

por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e esta legislação ainda determina que

os idosos recebam gratuitamente os medicamentos que precisarem principalmente

os que são de uso contínuo, assim como órteses, próteses e outros materiais que se

fizerem necessários em habilitações, reabilitações e tratamentos diversos.

O artigo 20º do Estatuto do Idoso (2003, p.19), dispõe que “o idoso tem

direito à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e

serviços que respeitem sua peculiar condição de idade”. Neri (2005) comenta que,

ao se colocar “respeitar sua peculiar condição de idade” se pressupõe que o idoso

não é favorecido por suas condições físicas, intelectuais e sociais, o que pode gerar

55

um risco no sentido de que somente programas ingênuos, antiquados e

preconceituosos sejam proporcionados aos velhos.

Com relação à garantia dos direitos civis, essa legislação trata em seu

artigo 39 da gratuidade dos transportes coletivos urbanos e semi-urbanos às

pessoas que tenham mais de 65 anos, bem como a reserva sem nenhum custo de

duas vagas nos transportes interurbanos para os idosos que possuam uma renda de

até dois salários mínimos. Segundo Teixeira (2008), essa última determinação tem

gerado muitos conflitos judiciais, pois o governo deposita a responsabilidade pela

realização dessa ação nas mãos dos empresários, sem oferecer auxílio algum para

estes, o que dificulta a efetivação desse direito, entretanto, essa ação se percebe na

lógica da divisão das atribuições que tendem a garantir a efetivação dos direitos.

Este documento traz novidades com relação aos assuntos relacionadas

ao trabalho e á profissionalização, porém são inovações que tendem a fortalecer os

meios que possam combater a discriminação em decorrência da idade, ao invés de

procurar alternativas que intensifiquem a questão da empregabilidade das pessoas

com mais idade.

Em comparação com a PNI, esta lei traz outra inovação que diz respeito à

assistência pública monetária aos idosos: é confirmado o benefício de um salário

mínimo aos idosos que comprovem necessidade extremada, sendo assim, para a

aquisição do benefício é preciso que se preencha esse critério focalista e seletivo e

não simplesmente que este benefício seja concedido aos trabalhadores enquanto

direito ao descanso e a uma velhice digna, ou seja, só terão acesso a esse benefício

aqueles indivíduos que não tiverem condição de prover a sua subsistência ou de tê-

la provida por sua família, nos termos da LOAS.

Esta lei também institui as estruturas judiciais e os crimes que podem ser

submetidos a penalidades, inclusive, aos relacionados à discriminação do idoso e,

além disso, esta legislação atribui ao Ministério Público (MP), à Vigilância Sanitária e

aos Conselhos a responsabilidade pela fiscalização das instituições que tem como

função atender a este idoso.

Na concepção de Teixeira (2008), mesmo garantindo os direitos, a

efetivação do Estatuto do Idoso está confusa quando esta faz referência à questão

“público não estatal”, ou seja, quando a responsabilidade pela garantia e execução

dos direitos é repassada para o setor privado, seja ele lucrativo ou filantrópico.

56

Já para Neri (2005), as políticas que se referem aos idosos e às

regulações de seu Estatuto só existem no papel e elas só se tornarão concretas

através do esforço das categorias profissionais vinculadas ao atendimento das

necessidades dos idosos no intuito de conhecer a realidade deste indivíduo e

estabelecer competências para que sejam tomadas as decisões cabíveis e, aqueles

cidadãos idosos que fazem parte de associações de defesa de seus direitos também

devem estar inseridos nesse processo de constituir instrumentos que possibilitarão o

cumprimento do Estatuto do Idoso.

57

CAPÍTULO III – CRAS SERVILUZ: O PROTAGONISMO DOS IDOSOS NA ELUCIDAÇÃO DAS MUDANÇAS ADVINDAS COM O ESTATUTO DO IDOSO

Foi demarcado como cenário desta pesquisa, o Centro de Referência de

Assistência Social (CRAS), localizado na comunidade denominada Serviluz. Essa

escolha se deu em virtude de atuarmos como Educadora Social, há 7 anos, nesta

instituição e de nossa inquietação com relação à compreensão e apropriação do

Estatuto do Idoso por parte dos idosos que são atendidos no Serviço de Convivência

e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) desse CRAS.

Dessa forma, estaremos realizando um breve relato histórico acerca dos

fatos que contribuíram para a formação desta comunidade e alguns determinantes

que motivaram a implantação de um CRAS nesse território, bem como algumas

informações inerentes a esse equipamento específico.

3.1 A comunidade do Serviluz: origem e desenvolvimento

De acordo com Lima (2005)11, a comunidade do Serviluz originou-se a

partir da construção de uma termoelétrica localizada na ponta do Mucuripe. Na

década de 1950, a Autarquia Municipal Serviço de Luz e Força de Fortaleza

(SERVILUZ) foi instalada nos arredores do novo porto de Fortaleza e sua finalidade

era produzir, transformar e distribuir a energia elétrica para a cidade. Em decorrência

da nomenclatura dessa instituição os arredores da Usina do Mucuripe passaram a

ter a denominação de Serviluz e, por volta do ano de 1955, já se podia observar a

existência de alguns poucos habitantes nessa localidade.

11

LIMA, Ernandy Luis Vasconcelos de. Das Areia da praia às areias da moradia: um embate sócio ambiental em Fortaleza. 2005. 188 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal do Ceará. Programa Regional de Pós –graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente – PRODEMA. Fortaleza, 2005. Disponível em: <http://www.prodema.ufc.br/dissertacoes/125.pdf> Acesso em: 06 de junho de 2013

58

Segundo Nogueira (2007)12, este pequeno pedaço de praia, localizado

entre o Oceano Atlântico, o porto novo e as várias indústrias de gás e combustível,

foi sendo habitado por um diversificado contingente de trabalhadores, como:

pescadores, marisqueiras, surfistas, meretrizes, portuários, dentre outros. Os

moradores utilizavam uma anedota que, aparentemente, servia para ressaltar os

primeiros vinculos de seus moradores com o lugar, a saber, “Aqui é o Serviluz: de

dia falta água e de noite falta luz”.

Os primeiros habitantes do Serviluz migraram de praias distantes e são

herdeiros da atividade pesqueira. Seus costumes e modos de vida tinham

características seculares que ressaltavam que o sustento da família está relacionado

diretamente à integração do homem com o seu meio ambiente e não com a venda

de sua força de trabalho. Sendo assim, “No mar o relógio é a lua, são os ventos, as

tempestades e o tamanho das marés” (NOGUEIRA, 2007, p. 19)

A ocupação dessa localidade se deu também pela chegada de pessoas

oriundas do interior do estado, em períodos de grande seca, e que estavam à

procura de melhores condições de vida na capital. O local apresentou um

crescimento desordenado e aquele refúgio de pescadores passou a ser conhecido

como uma perigosa favela de Fortaleza. Os moradores se sentiam envergonhados

em virtude das transformações pelas quais o perfil da localidade estava passando e

do preconceito que outros moradores da cidade passaram a desenvolver com

relação ao Serviluz.

Segundo dados do IBGE (2010), atualmente a comunidade do Serviluz

conta com uma extensão territorial de 246,80 hectares e possui uma população de

22.382 habitantes e, conforme diagnóstico social realizado em 2012 por meio da

Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) e cujo processo de elaboração

ficou a cargo dos profissionais que atuavam nos territórios em que os CRAS

encontravam-se localizados, esta comunidade apresenta diversas vulnerabilidades

sociais, com destaque para o tráfico e consumo de drogas, conflitos entre as

gangues presentes na comunidade, crianças/adolescentes servindo como aviões

para os traficantes, altos índices de homicídios, prostituição, dentre outras formas de

expressões da violência.

12

André Aguiar Nogueira é licenciado em História pela Universidade Federal do Ceará e Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com a dissertação “Fogo, Vento, Terra e Mar: migrações , natureza e cultura popular no Bairro Serviluz em Fortaleza”.

59

3.2 O CRAS Serviluz e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

A implantação do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) na

comunidade do Serviluz ocorreu no dia 17 de janeiro de 2006 ainda na primeira

gestão da então prefeita do município de Fortaleza, Srª Luizianne de Oliveira Lins,

segundo informações colhidas na própria instituição. O CRAS se configura em

uma unidade pública estatal descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização e oferta de serviços da proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e do DF. Dada sua capilaridade nos territórios, se caracteriza como a principal porta de entrada do SUAS, ou seja é uma unidade que possibilita o acesso de um grande número de famílias à rede de proteção social de assistência social. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS DA PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA DO SUAS, 2009, p. 9)

Os serviços de Proteção Social Básica são desenvolvidos diretamente

nos CRAS e em outras instituições básicas e públicas de assistência social. Sendo

assim, a atuação do CRAS se dá da seguinte forma:

O CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando a orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário. (...) Na proteção básica, o trabalho com famílias deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes arranjos familiares, superando o reconhecimento de um modelo único baseado na família nuclear, e partindo do suposto de que são funções básicas das famílias: prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado. (POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – PNAS, 2005, p.35).

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, aprovada pela

Resolução nº 109 (Anexo B) e publicada em 11 de novembro de 2009 pelo Conselho

Nacional de Assistência Social (CNAS), é o documento que organiza a distribuição

dos serviços socioassistenciais relacionados à Proteção Social Básica, Proteção

Social Especial de Média Complexidade e Proteção Social Especial de Alta

Complexidade. A Proteção Social Básica (PSB) abrange o Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos (SCFV) que consiste em um

serviço realizado em grupos, organizado a partir de percursos, de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo com o seu ciclo de vida, a fim de complementar o trabalho social com famílias e prevenir a ocorrência de situações de risco social (TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, 2009, p. 9)

No município de Fortaleza, a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (SETRA) é o órgão responsável pela normatização e

60

execução do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no que se refere à

Proteção Social Básica (PSB). A citada secretaria tem como finalidades:

Prover mínimos e atender necessidades básicas (sobrevivência, acolhida e convívio); oferecer condições para que as pessoas e grupos estejam livres da fome, de forma regular e permanente; contribuir para promover a integração das políticas e articulação das ações de qualificação social e profissional e ações vinculadas ao emprego, ao trabalho, à renda, à educação; gerar emprego e trabalho decente para combater a pobreza e as desigualdades; erradicar o trabalho escravo e eliminar o trabalho infantil13

De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, o

SCFV para Idosos tem como objetivo desenvolver atividades que favoreçam o

processo de envelhecimento, contribuindo para o aumento da autonomia, do

fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário, além de prevenir as

situações de risco social.

Conforme informações obtidas no CRAS Serviluz, o SCFV para Idosos

conta atualmente com 45 idosos inscritos com idade igual ou superior a 60 anos e a

equipe responsável pela elaboração e execução das atividades é formada por uma

assistente social que possui a designação de Técnica de Referência do SCFV para

Idosos e uma Educadora Social.

As Educadoras Sociais participam a cada dois meses de Oficinas

Metodológicas e Vivenciais que tem o objetivo de direcionar as ações que deverão

ser realizadas com os idosos que participam do SCFV dos diversos CRAS de

Fortaleza mediante temáticas específicas. Essas temáticas e ações são elaboradas

e executadas por uma equipe multidisciplinar de profissionais da PSB da SETRA, a

saber, assistentes sociais, sociólogos, psicólogos, arte-educadores, dentre outros.

A equipe de cada CRAS, após a realização das oficinas, se reúne e

constrói o planejamento para os dois meses subsequentes à oficina, sempre

considerando a especificidade de seu território de atuação. Ressaltamos que o

Estatuto do Idoso, por se tratar de uma legislação que perpassa os diversos campos

de garantia dos direitos e deveres do cidadão idoso, é comumente inserido nos

temas propostos ao longo do ano.

Ressaltamos que, pelo fato de fazermos parte desta equipe do CRAS

Serviluz e acompanharmos de perto o SCFV é que nos sentimos instigadas a

13 Informação obtida por meio de slides disponibilizados pela própria Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome referenciando a sua Reforma 2013.

61

realizarmos essa pesquisa com o objetivo de analisar a ótica dos idosos atendidos

no CRAS Serviluz sobre as mudanças advindas com o Estatuto do Idoso.

3.3 Metodologia utilizada

Este capítulo faz menção à metodologia empregada em nossa pesquisa

de acordo com escolhas feitas ao longo de diversos estudos fundamentados em

leituras que referenciam esse tema específico e que nos forneceram subsídios para

que esta construção fosse efetivada. Apoiamo-nos nas considerações de

metodólogos conceituados, assim como Minayo (1994, p. 16), que destaca que “a

metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas

que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do

investigador”.

Sendo assim, compreendendo que a realidade é dinâmica e que o

processo de mudanças é contínuo, optamos por realizar uma análise orientada pelo

método hermenêutico-dialético visto que

nesse método a fala dos atores sociais é situada em seu contexto para melhor ser compreendida. Essa compreensão tem, como ponto de partida, o interior da fala. E, como ponto de chegada, o campo da especificidade histórica e totalizante que produz a fala. (MINAYO, 1994, p. 77).

Duas hipóteses podem ser destacadas desse método de análise: A

primeira se refere ao fato de que não existe um acordo e nem um determinante que

indique um ponto de chegada com relação ao processo de construção do

conhecimento e a segunda hipótese diz respeito “ao fato de que a ciência se

constrói numa relação dinâmica entre aqueles que praticam e a experiência que

surge na realidade concreta” (Ibid, p. 77).

Há que se considerar também que o primeiro nível de interpretação a ser

elaborado é o das determinações fundamentais e este nível faz referência, dentre

outras questões, “à conjuntura sócio-econômica e política do qual faz parte o grupo

social a ser estudado; à história desse grupo e política que se relaciona a esse

grupo” (Ibid, p. 77).

Já o segundo nível de interpretação se fundamenta nos fatos com os

quais nos deparamos no decorrer da investigação e também aponta questões que

devem ser apreciadas durante esse processo de interpretação, a saber, “as

62

comunicações individuais, as observações de condutas e costumes, a análise das

instituições e a observação de cerimônias e rituais” (Ibid, p. 78).

No que se refere às etapas a serem seguidas para que esta proposta seja

operacionalizada, a autora traz as seguintes indicações: (a) ordenação dos dados,

ou seja, todos os materiais adquiridos na pesquisa de campo, como por exemplo, a

transcrição das falas e a releitura do material, devem ser mapeados; (b)

Classificação dos dados: Nesta etapa é necessário ter a compreensão de que os

dados obtidos são constituídos a partir de um questionamento que realizamos

acerca deles, baseados em uma fundamentação teórica e, levando em consideração

aquilo que identificamos como importante nos textos, nós formamos as categorias

específicas. Dessa forma, conseguimos determinar as diversas informações

presentes na comunicação; (c) Análise final: etapa na qual se procura formar

relações entre os dados e os referenciais teóricos da investigação com o intuito de

conseguirmos encontrar respostas aos questionamentos da pesquisa tendo por base

os seus objetivos, e, sendo assim, serão formuladas articulações entre o concreto e

o abstrato, o geral e o particular, a teoria e a prática.

É destacada ainda a importância das contribuições e dos limites da

hermenêutica e da dialética para que seja possível a compreensão e a crítica da

realidade social posta e, de acordo com Minayo (2010), a hermenêutica vincula-se à

compreensão dos textos, da realidade, dos fatos históricos, da cotidianidade e suas

restrições podem ser complementadas pelas determinações do método dialético. Já

a dialética, ao acentuar a questão da transformação, da divergência de opiniões e

dos macroprocessos pode ser favorecida pelo movimento hermenêutico que ressalta

a combinação e a importância do cotidiano.

Dessa forma, optamos também pelo método referente à pesquisa

qualitativa que diz respeito à análise das relações, da história, das crenças, das

representações das percepções e dos conceitos que fazem referência às

compreensões que o homem tem acerca do seu modo de viver, da forma como

constituem a si mesmos e seus objetos. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa

trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 1994, p. 21-22)

63

Com o intuito de obter o maior número possível de informações acerca do

que se pretendia pesquisar, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a pesquisa

documental e a pesquisa de campo.

Segundo Gil (2011), a pesquisa bibliográfica se fundamenta nos

conhecimentos repassados por diferentes autores sobre um determinado tema,

portanto, a principal vantagem deste tipo de pesquisa é que as informações obtidas

são bem mais abrangentes do que as informações conseguidas por meio de

pesquisas diretas realizadas pelo próprio pesquisador.

Ainda para o autor supracitado, a pesquisa documental se parece

bastante com a pesquisa bibliográfica, porém apresenta como diferença a origem

das fontes, pois a pesquisa documental faz alusão a materiais que não obtiveram

nenhum tratamento analítico ou que ainda podem ser reconstruídos, caso haja

necessidade, em concordância com a finalidade da pesquisa. Já a pesquisa de

campo tem como particularidade o processo de interrogatório direto com os

indivíduos que se deseja conhecer a conduta.

A entrevista foi a técnica selecionada para a coleta de informações no

decorrer da pesquisa e a modalidade usada foi a entrevista semi-estruturada que

deu oportunidade ao informante de abordar livremente o tema proposto com a

utilização, entretanto, de perguntas previamente formuladas pela pesquisadora.

Minayo (1994, p. 57) destaca que este procedimento

não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva.

A seleção dos sujeitos que constituíram a amostra para que a pesquisa

fosse efetuada se deu através da amostragem por acessibilidade ou conveniência

que, de acordo com Gil (2011), não apresenta tanta rigidez como os outros tipos de

amostragem e, por esse motivo, também não expressa nenhum rigor estatístico.

Esse tipo de amostragem é utilizado nas pesquisas exploratórias e qualitativas e

permite que o investigador escolha aqueles elementos mais acessíveis, aceitando

que estes elementos possam ser os representantes do universo em questão.

Dessa forma, não encontramos barreiras no decorrer da execução desta

pesquisa. A Faculdade Cearense forneceu um ofício solicitando a autorização da

SETRA para a realização das entrevistas com os idosos e demais informações que

64

pudessem ser obtidas junto ao CRAS e a citada secretaria se mostrou

extremamente disponível e acessível no sentido de conceder a autorização com

bastante brevidade, requerendo apenas uma cópia do trabalho final para que fique à

disposição dessa instituição, no que foi prontamente atendida.

A pesquisa foi realizada durante os meses de maio e junho de 2013 e na

primeira semana de maio iniciamos o processo de seleção dos sujeitos

esclarecendo acerca do objetivo proposto em nossa pesquisa. Dessa forma,

utilizamos alguns momentos das oficinas sócio-educativas realizadas no SCFV do

CRAS Serviluz, com a prévia autorização da Coordenadora da citada instituição,

para explanarmos sobre o que gostaríamos de estar realizando e solicitamos a

participação espontânea daqueles idosos que pudessem estar colaborando para a

efetivação das entrevistas no que fomos atendidas por aproximadamente 10 (dez)

idosos, sendo que apenas 7 (sete) demonstraram disponibilidade nos horários

indicados para a execução das entrevistas. Das sete entrevistas realizadas, 6 (seis)

foram aproveitadas satisfatoriamente para a concretização das análises e uma das

entrevistas foi descartada por não apresentar elementos que pudessem fundamentar

nossa pesquisa.

Importante ressaltar a colaboração e apoio dos idosos selecionados para

o desenvolvimento das entrevistas a partir da leitura do termo de consentimento livre

e esclarecido e da solicitação de suas assinaturas que consolidavam o processo de

autorização para o início das entrevistas. Os idosos não colocaram obstáculos nem

mesmo ao uso de um gravador, equipamento que foi utilizado para a realização da

pesquisa.

Conversamos também com a Técnica de Referência do SCFV do citado

CRAS que contribuiu bastante com o desenvolvimento de nossa pesquisa ao nos

fornecer informações acerca do serviço e disponibilizando um diagnóstico social do

território em questão.

O pré-teste foi realizado com dois dos participantes do SCFV e

verificamos que alguns questionamentos necessitavam de mudanças, pois não

estavam muito claros e findavam por se repetir. Algumas perguntas foram então

reelaboradas a fim de que fosse dado prosseguimento a essa etapa da pesquisa.

Após a coleta de todas as entrevistas, iniciamos o processo de transcrição das falas

para posterior análise.

65

3.4 Perfil dos Sujeitos da Pesquisa e as análises qualitativas

Indicaremos no quadro abaixo, o perfil dos sujeitos de acordo com sua

idade, sexo, naturalidade, escolaridade, estado civil, com quem reside e o bairro

onde mora.

Os entrevistados foram indicados por meio de um código, simbolizado

pela letra E, que faz referência à palavra Entrevistado, seguida de um número que

identifica cada idoso que participou da pesquisa. Sendo assim, E1 se refere ao

entrevistado 1, E2 se refere ao entrevistado 2, e assim sucessivamente.

Idade Sexo Naturalidade Escolaridade Estado civil

Com quem reside

Bairro

E1 69 F Cascavel 3º ano Casada Neto Serviluz E2 75 F Aracati 3º ano Casada Esposo e

filho Serviluz

E3 71 F Fortaleza 3º ano Separada Sozinha Serviluz E4 75 F Natal - RN 5ª série Solteira Filha,

genro e netos

Serviluz

E5 71 F Acaraú 4º ano Casada Esposo e filho

Serviluz

E6 77 M Camocim Não estudou Casado Esposa, filhos e netos

Serviluz

Fonte: Direta, 2013

Com relação ao grau de instrução dos participantes ressaltamos que

todos os entrevistados não foram além do ensino fundamental, o que revela um

baixo nível de escolaridade e, consequentemente, uma maior exposição a situações

de vulnerabilidade e risco social.

3.4.1 REPRESENTAÇÃO DA VELHICE

O primeiro questionamento fez referência à representação da velhice para

cada um dos idosos entrevistados e as respostas foram as seguintes:

“Logo quando eu comecei a ficar velha que foi quando eu cheguei aqui no grupo, eu era uma pessoa muito, eu acho até doente, eu não tinha muita vida, eu não saía, eu era uma pessoa muito presa eu me acho até que eu era encabulada, matuta, não gostava muito de conversar com ninguém. Eu fiquei assim depois que eu fiquei mais velha, né? Porque quando eu mais nova, eu era uma pessoa assim muito descontraída, eu brincava, eu dançava, eu fazia tudo e quando a velhice chegou eu acho que veio tudo junto.” (E1)

66

Nesta fala são incorporadas informações que corroboram com as

informações obtidas no decorrer da construção de nossa pesquisa bibliográfica com

relação à percepção da velhice, no sentido de termos observado que a entrevistada

apresentou uma espécie de estranhamento com relação ao processo de

envelhecimento, o que ocasionou uma modificação no seu modo de ser,

estimulando até um pensamento negativo com relação à sua situação de saúde e

levando-a a dizer, inclusive, que não tinha vida. Este fato é destacado nas

considerações feitas por Beauvoir (1990) quando esta afirma que a velhice está

vinculada a transformações que são rejeitadas pelos indivíduos já que estas

consistem em um processo irreversível e desfavorável e que sugere fatores que

estimulam a doença e a impotência.

Concordamos que esse estranhamento ocorre para todos os indivíduos,

até porque as limitações físicas, biológicas, psicológicas alcançam a todos, em

maior ou menor grau, entretanto a forma de encarar esse processo de

transformação é influenciada por diversos fatores que contribuem para a sua

aceitação ou rejeição. É necessário, portanto, analisarmos os fatores econômicos,

biológicos, as relação familiares e comunitárias constituídas até essa fase, os

aspectos culturais, enfim, a velhice deve ser analisada em toda a sua complexidade

para que possamos tentar entender o comportamento inerente ao sujeito.

Analisamos ainda outras falas que fazem referência à representação da

velhice:

“É ótimo, ser velho é ótimo, tô gostando mais do que quando era nova. Porque eu me acho bem, sou dona de mim né? Não preciso de ninguém nas horas mais difíceis, mas eu acho muito bom ser velha. Melhor do que quando eu era nova. Gosto muito da minha vida de velha.” (E3)

“Pra mim, a velhice representou muito mais do que quando uma parte de quando eu era nova, porque agora eu me sinto muito bem. Uma parte da minha mocidade foi bom, outra foi muito ruim e agora tá sendo uma maravilha.” (E4)

“Olha, pra mim a velhice não representa coisa ruim não. Pra mim só representa coisa boa, porque olha, eu aprendi tanta coisa depois de eu idosa, muito mais de quando eu era mais nova.” (E5)

Ramos (2002, p. 119) aborda outra forma de encarar a velhice ao declarar

que “os velhos não devem se ver como seres de outro tempo. O tempo a que

pertencem é o tempo de sua existência” e as falas das entrevistados E3, E4 e E5

confirmam essa declaração, já que as mesmas afirmam que sua fase atual está

sendo bem melhor do que o período em que eram jovens, inclusive a E5 alega que

67

só aprendeu coisas boas nessa fase de sua vida. Sendo assim, essas idosas estão,

de fato, se apropriando do que a velhice tem a ofertar no sentido de lhes trazer

benefícios e aprendizados, e, ao mesmo tempo, elas não sentem falta de outras

épocas de suas vidas. O momento atual é o momento que é vivenciado e

aproveitado por cada uma delas em toda a sua plenitude.

Ao compararmos as falas da E3, E4 e E5 com a fala da E1 podemos

confirmar o que foi destacado na análise da E1, quando abordamos o fato de que

fatores diversos influenciam na aceitação ou rejeição da velhice. A forma de encarar

o envelhecimento se deu de forma distinta o que consolida nossa análise anterior.

3.4.2 CIDADANIA

Nossa segunda indagação foi sobre a concepção dos idosos acerca do

tema cidadania e se eles se consideram cidadãos. Eis suas respostas:

“Cidadania eu acho que eu não entendo muito bem dessa palavra. Pra falar a verdade eu não entendo, eu já até ouvi essa palavra aqui, mas eu tou meia assim esquecida das coisa, eu esqueço mas não deve ser uma coisa muito ruim não. Ser um cidadão é ser uma pessoa que tenha respeito, é ser uma pessoa que respeite o outro e que tenha um endereço próprio, eu acho que isso daí é ser um cidadão. Acho que é, né? Pagar suas contas, né? Comprar e pagar sem dever nada pra ninguém, ter o nome limpo que nem água. Isso aí é ser cidadão na minha opinião. É eu sou, sou uma cidadã, por esse lado aí eu sou.” (E1)

“Pra mim cidadania é assim. É Uma pessoa que tem caráter, né? Tem respeito. Mesmo como pobre, mas seja limpinho, respeitando os outro, vivendo uma boa vizinhança. Eu acho que cidadania é mais ou menos um respeito. Que Todo mundo olha e vê aquela mulher é pobre, mas é direitinha. Isso eu acho muito importante. Eu me considero, me considero sim uma cidadã (risos). E respeitosa, porque todo mundo me respeita.” (E2)

“Cidadania, é... Cidadania eu quero dizer que cidadania é... que é a gente viver no que é da gente viver assim sem ser obrigado dos outros, viver assim na liberdade da gente, viver tranquilo, viver todo liberto. Pra mim cidadania é isso. Respeitar os outro, ser respeitado.” (E6)

De acordo com Fernandes (1997), cidadania está vinculada ao fato de

que todas as pessoas inseridas em uma sociedade tenham direitos e cumpram os

deveres estabelecidos. Dessa forma, quando realizamos nosso questionamento,

logo percebemos que os idosos entrevistados tiveram muita dificuldade para

respondê-la e o que nos chamou a atenção foi a ênfase que eles deram com relação

ao fato de respeitar e ser respeitado por todos. Eles não se reportaram à questão da

relação de cidadania com os direitos e deveres dos indivíduos, no que se refere à

forma da lei, embora a E1 tenha nos dito que cidadão é aquela pessoa que paga

68

suas contas e que não deve nada a ninguém. De uma forma indireta ela estava se

referindo ao exercício dos deveres que engloba a compreensão de cidadania.

Entretanto, quando os idosos se referem ao fato de respeitar e ser

respeitado compreendemos que, à maneira deles, eles apreendem a essência de

cidadania, ou seja, respeitar no sentido de cumprir os seus deveres e ser respeitado

no sentido da efetivação dos seus direitos.

3.4.3 ESTATUTO DO IDOSO

Nosso próximo questionamento foi acerca do que os entrevistados

sabiam sobre o Estatuto do Idoso e os idosos responderam a essa indagação da

seguinte forma:

“O Estatuto do idoso é bom porque aconteceu muita coisa boa depois desse estatuto. Não tudo, né? Que era pra ter muito mais do que a gente tem, mas eu graças a Deus depois que entrei no estatuto do idoso eu tenho direito à minha passagem de ônibus de graça, eu vou e venho e não pago nenhum tostão. Pra mim é ótimo. Tem remédio de graça, né? Que a gente não tinha esse direito antigamente, e hoje a gente já tem, apesar da saúde tá bem ruinzinha, mas mesmo assim a gente tem direito né?” (E1)

“O Estatuto do Idoso é tanta coisa... bem que eu já vi um bocado, mas não boto na cabeça e não me lembro. Se você vai num ônibus aí veja as pessoas tudo sentado e às vezes a gente fica em pé, mas no Estatuto do Idoso tem que dar uma cadeira pras pessoa né? Como bem, você vai pra fila de um banco tem que ter uma fila própria pro idoso, receber o idoso bem. E eu já li a cartilha do idoso, mas eu não sei as coisa não.” (E4)

“Eu tenho um livro do Estatuto do Idoso. Nesse livro tem muitas coisa que ajuda o idoso. No Estatuto do Idoso existe uma lei pra gente viajar que não paga a passagem e querendo voltar de lá pra cá se não tiver passagem, paga só meia passagem. Isso não existe. Tem que pagar a passagem inteira.” (E6)

Segundo Neri (2005), o Estatuto do Idoso se refere às especificações das

políticas públicas estabelecidas pelo Estado com relação às pessoas idosas e essas

políticas públicas estão relacionadas à compreensão de cidadania no que diz

respeito às liberdades dos indivíduos que são manifestadas nos direitos civis, como

por exemplo, o direito de ir e vir e o direito à segurança e ao bem-estar econômico.

Esse documento tende a reiterar essa concepção promulgada na Constituição

Federal de 1988.

Nesse sentido, ao analisarmos as falas dos entrevistados, destacamos

que eles fazem menção apenas aos direitos que estão mais próximos a eles e que

69

fazem parte de sua realidade, como é o caso da gratuidade nos transportes coletivos

públicos urbanos e semi-urbanos, assim como a questão da prioridade dos assentos

nesses transportes e a questão da prioridade do atendimento em órgãos públicos e

privados que prestam serviços à sociedade. Dessa forma, consideramos que esses

idosos não compreendem o Estatuto do Idoso na sua totalidade, eles não

conseguem dimensionar o quão importante é esse documento no sentido de

possibilitar, segundo Camarano e Pasinato (2004), a efetivação de medidas que tem

o intuito de oferecer bem-estar a essa população específica através das várias leis e

políticas expostas.

O Estatuto apresenta artigos de extrema relevância para a garantia dos

direitos e execução dos deveres por parte dessa população específica, e,

infelizmente, os idosos entrevistados não manifestaram conhecimento e, muito

menos, apropriação de alguns desses direitos. O artigo 24 merece destaque, pois

afirma que

A participação dos idosos em atividades culturais e de lazer será proporcionada mediante descontos de pelo menos 50% (cinquenta por cento) nos ingressos para eventos artísticos, culturais, esportivos e de lazer, bem como o acesso preferencial aos respectivos locais. (Brasil, 2003, p. 19).

Com relação a esse artigo identificamos que a sua fundamentação possui

a mesma perspectiva dos direitos mencionados pelos idosos, porém a grande

diferença consiste no fato de que eles não tem acesso a esses locais; a ida a esses

lugares não faz parte do cotidiano desses idosos e, daí o motivo de eles não

reconhecerem esse direito, fato que é constatado na declaração de Dallari (1998)

quando este afirma que “um direito só existe realmente quando pode ser usado”.

Não podemos negligenciar, inclusive, os artigos que fazem referência às

penas que devem ser aplicadas ao(s) indivíduo (s) que cometerem qualquer ato de

desrespeito ou que abandonarem um cidadão idoso e, que em nenhum momento, foi

mencionado pelos entrevistados.

Além disso, muitas vezes, não só os idosos, mas os membros das

sociedades em geral, ao reconhecerem que seus direitos não estão sendo

efetivados, tendem a se submeterem a situações que lhes causam muitos prejuízos

e injustiças por não possuírem meios para se defender.

Dessa forma, é necessário o exercício da tentativa de aprofundamento e

compreensão do contexto social em que estes sujeitos estão inseridos e a forma

70

como eles estão habituados a encarar a questão da garantia dos seus direitos; a sua

formação política e educacional; as limitações que advém com o avançar da idade

no sentido de se conseguir memorizar determinadas informações, enfim, é preciso

levar em consideração todos os aspectos que constituem a totalidade em questão.

Perguntamos também onde foi que os idosos aprenderam sobre esse

Estatuto no que eles responderam:

“No CRAS. Aqui foi onde eu vim aprender porque eu não sabia o que era isso. Aqui foi onde eu vim aprender com certeza e participar de reunião sobre isso,né? Sobre o estatuto do idoso.” (E1)

“Aqui no CRAS. No momento da reunião. O estatuto do idoso é eu sair da minha casa e vim pro CRAS assistir as reunião, quando eu vou assim pro posto, pro banco tem umas pessoa legal que dá o lugar a gente, bota a gente pra frente assim no ônibus. Mas tem muita que não dá não, é criticando as pessoas.” (E3)

“Aqui no CRAS. Aonde eu aprendi foi aqui no CRAS e depois que eu entrei aqui foi que eu aprendi já muita coisa do negócio do Estatuto do Idoso.” (E6)

Diante das falas dos entrevistados, podemos verificar que as oficinas

temáticas realizadas pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

estão cumprindo seu papel de informar acerca do Estatuto do Idoso. Todos os

entrevistados responderam que haviam aprendido sobre essa legislação no CRAS.

Mesmo que a totalidade das informações repassadas não seja atingida, como

pudemos observar ao questionar sobre o Estatuto do Idoso, é extremamente válido

saber que nessa unidade pública estatal descentralizada da política de assistência

social, os idosos estão tendo acesso a novas possibilidades de conhecimentos e,

até mesmo, de existência.

Em seguida, indagamos se houve mudança na vida do Idoso com o

Estatuto, ao que eles responderam que,

“Mudou. Porque muita gente faz vista quando vão no ônibus, não dão cadeira, não. Até hoje, se eu chegar no ônibus e tiver cheio, eu sento. Não entro em fila pra nada graças a Deus. Então pra mim isso é tudo. E sempre sou respeitada por todo mundo graças a Deus. Todo mundo gosta de mim e me respeita.” (E4)

“Ah, mudou muita coisa, os meus direito. Eu andava no ônibus e aquela cadeira da frente eu não sabia que era dos idosos, né?. E hoje eu já sei, “Por bondade me dê aí essa cadeira”, aí eles vão, olha pra minha cara e me dá a cadeira, né? Os direito da passagem já reconheci que é meu direito, né? Com esse estatuto mudou. As mudanças pra mim foram boas, porque sempre que eu vou atrás de uma coisa do idoso eu encontro. Então foi bom. Eu nunca ia atrás porque não encontrava.” (E5)

“Mudou. Porque antigamente nós tinha que pagar passagem e hoje a gente não paga, mesmo que espere 2, ou 3 dia, mas não paga passagem e isso aí pra nós que somo idoso facilitou muita coisa, né?” (E6)

71

As respostas dos entrevistados fortalecem o que eles explanaram acerca

do que sabem sobre o Estatuto do Idoso. As mudanças citadas por eles condizem

apenas com o que eles utilizam em seu dia-a-dia e não ultrapassa esses limites e,

de acordo com Torre (1980, p. 158), “o ritmo da mudança depende do maior ou

menor número de atitudes individuais e sociais que o aceleram ou dificultam” (1980,

p.158).

A condição social dos idosos influencia em uma percepção mais clara e

abrangente acerca das mudanças advindas com o Estatuto do Idoso, ou seja, esses

idosos não tem acesso, por exemplo, a planos de saúde, então como podem ampliar

seus conhecimentos no que diz respeito a não discriminação do idoso com relação a

valores diferenciados em virtude da idade? Esse fato se dá também com relação à

participação e acesso nas atividades de cultura, educação, esporte e lazer.

Muitos deles não compreendem nem mesmo a diferença entre

aposentadoria e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), benefício este, que

está posto no artigo 34 do Estatuto do Idoso e que declara que:

Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS.

Muitos idosos acreditam que aposentadoria e BPC se tratam de um

mesmo direito. Sendo assim, percebemos o quanto precária é a ótica dos idosos

com relação às mudanças que ocorreram a partir dessa legislação, cujo intuito é

especificar as políticas públicas com relação ao atendimento da população idosa

para que estes tenham acesso a uma existência com dignidade.

Por isso, ressaltamos que, enquanto não se mudarem as perspectivas,

especialmente no que se refere à educação e à formação política dos indivíduos,

que um dia se tornarão idosos, as mudanças de atitude com relação à garantia e

efetivação dos direitos serão cada vez mais negligenciadas por alguns segmentos

da sociedade. E esse processo de mudança tem que ser construído e fortalecido ao

longo do tempo com a finalidade de preparar o sujeito para torná-lo cidadão ciente

de seus direitos e deveres, possibilitando assim, uma velhice repleta de

conhecimentos e de acesso aos direitos, e, consequentemente, de bem-estar e

dignidade.

72

3.4.4 VALORIZAÇÃO E RESPEITO DO IDOSO EM NOSSA SOCIEDADE SEGUNDO A CONCEPÇÃO DO PRÓPRIO IDOSO.

Perguntamos, para encerrar nossa entrevista, se os idosos acham que

são valorizados e respeitados na nossa sociedade e o porquê de suas respostas.

Eis o que eles nos responderam:

“O idoso, ele não tem fins lucrativos, não tem. Nós não trabalha mais pra ganhar, nós não paga, não tem nada.” (E2)

Quando nós realizamos essa pergunta para esta idosa ela modificou o

tom de voz ao nos responder. Seu tom de voz ficou melancólico e nós pudemos

perceber a tristeza que se manifestou naquela sua declaração. Sua fala expõe a

essência do sistema capitalista de produção, onde as relações sociais se baseiam e

se fundamentam em condições de exploração construídas a partir do trabalho.

Compreendemos que o que a idosa quis dizer é que não se sente mais valorizada e

nem respeitada porque não possui mais “fins lucrativos”, ou seja, ao perder o seu

potencial produtivo nessa sociedade dissipa-se, inclusive, o seu valor.

“Porque no Estatuto tem muita coisa boa que deve nós ter para o nosso respeito, pra tudo né? E não voga esse respeito porque a sociedade não bota isso em prática, né? E devia ser do jeito que tem no livro, no Estatuto, devia eles fazer, né? Eu acho que ainda falta esse pequeno ponto pra gente procurar esse direito ainda. Às vezes a gente não procura, a gente merece mais ainda.” (E5)

“Eu já tenho visto muita pessoa reclamar. Umas reclama de barriga cheia porque não vão atrás, né? Tem uns que vão atrás e consegue, mas tem outros, que nem procurar o que é deles não sabem.” (E6)

Covre (2003) ao explanar acerca dos deveres do cidadão, nos comunica

que este deve provocar a existência dos direitos dos sujeitos, pressionar o governo

por meio de sua participação em movimentos sociais, em assembleias de bairro, de

partido, dentre outros e, além disso, essa autora ainda acrescenta que, para que se

materialize a cidadania é preciso que haja reivindicação, que as pessoas se

apropriem de espaços e da luta para que seus direitos sejam válidos.

A E5 aborda que a sociedade não coloca em prática o respeito ao idoso e

que este idoso ainda não tem o costume de lutar pela garantia e efetivação dos seus

direitos, o que é ressaltado também pelo E6. Ao realizarmos essas entrevistas e

ouvirmos cada um dos idosos, percebemos, de fato, que ainda é um desafio para o

idoso reivindicar seus direitos, seja por meio de sua participação em movimentos

sociais, seja pelo nível de formação política e educacional que foi construído ao

73

longo do tempo. Além disso, a condição social do idoso também influencia

significativamente em seu comportamento diante de situações que necessitem de

uma reação reivindicatória.

74

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatamos em todo o processo de realização da pesquisa que o

fenômeno da velhice vem ampliando seus espaços gradativamente em

consequência do aumento quantitativo do número de idosos na atualidade e, em

virtude desse aumento, várias ações foram formuladas, bem como legislações que

se dispõem a tratar desse tema específico.

No primeiro capítulo vimos que a compreensão da velhice se dá por meio

da análise de fatores econômicos, sociais, políticos e ideológicos que são originados

nas contradições oriundas do sistema capitalista e que não existe apenas uma

velhice, mas várias velhices, que estão relacionadas à condição social do indivíduo.

Além disso, outros fatores devem ser analisados para que se compreenda, de fato,

esse fenômeno tão complexo.

Observamos também que muitos indivíduos temem essa fase da vida

porque esta representa uma maior debilidade e está vinculada a mudanças que se

constituem como irreversíveis e desfavoráveis e que outras nomenclaturas foram

criadas para que essas questões pudessem ser amenizadas, como é o caso de

terceira idade cuja origem se deu a partir da aposentadoria que consiste no

desligamento do indivíduo do processo produtivo formal. Para finalizar esse capítulo,

o contexto histórico da velhice foi abordado no sentido de se compreender esse

fenômeno levando em consideração o local onde este indivíduo está inserido e a

forma como ele é identificado e tratado pelos integrantes da sociedade e da família

em épocas diferentes.

Diante de tudo que foi exposto neste capítulo, constatamos que não

podemos analisar a velhice de uma forma simplista. É necessário que se tente

apreender todos os aspectos que influenciam o processo do fenômeno em questão.

O lugar onde este idoso está inserido, ou esteve inserido, no que diz respeito ao seu

contexto social incide significativamente no seu comportamento diante de situações

que ocorram e que estão relacionadas à sua condição de velho. A forma como ele é

tratado, a sua condição biológica e psicológica, enfim, são fatores que não podem

ser negligenciados para uma compreensão eficaz e real.

A questão da velhice no Brasil e no estado do Ceará também foi

identificada através de dados adquiridos por meio de informações obtidas nos

75

institutos de pesquisa o que comprova o aumento significativo dessa população

específica e a política pública municipal de assistência foi relatada a partir das ações

que eram de responsabilidade do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) até

as ações desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS)

demonstrando que esses trabalhos só iniciaram a nível estadual na década de 1980,

estimulados pelo apoio financeiro do governo federal e pela luta organizada pela

sociedade civil da época em prol de uma condição de vida digna para os idosos.

Nesse sentido, verificamos o aumento dessa população a nível de Brasil e

no estado do Ceará, entretanto esse aumento não foi acompanhado pelo Estado no

sentido de garantir a efetivação dos seus direitos. Havia um acompanhamento

realizado pelos órgãos municipais, porém as necessidades básicas e as condições

fundamentais de existência desse público não eram totalmente atendidas, como

ainda não são na atualidade. As atividades e ações são pontuais, o que não

possibilita um resultado contínuo e satisfatório. Mesmo assim não podemos negar

que houve uma preocupação e iniciativas foram tomadas.

No segundo capítulo, o tema cidadania foi abordado com o intuito de

possibilitar a sua compreensão levando em consideração a forma como vários

autores a apreendem e, dessa maneira, passamos a compreender esse tema como

sendo um direito que precisa ser construído de forma coletiva, através da

participação de todos os cidadãos para que se consiga não só atender as

necessidades fundamentais, mas para se poder ter acesso a todos os níveis de

existência digna do ser humano.

Ainda no segundo capítulo pudemos observar que as constituições

brasileiras que antecederam a Constituição Federal de 1988 não demonstraram

preocupação com a velhice e que seu objetivo maior era validar seus governos

autoritários que não demonstravam compromisso com a concretização dos direitos

humanos, diferentemente da Constituição de 1988 que se reportou à questão da

velhice como assunto de relevância, o que possibilitou diversas discussões e

encaminhamentos no texto constitucional.

A Política Nacional do Idoso deu prosseguimento aos processos de

conquista iniciados pela Constituição Federal de 1988, entretanto, ressaltamos a

forma com que Teixeira (2008) reconhece esta Política e, até mesmo o Estatuto do

76

Idoso, no sentido de que estes possibilitaram uma reatualização da tradição das

privatizações nas questões relacionadas ao enfrentamento das questões sociais.

Já o Estatuto do Idoso, além do fato abordado anteriormente, surgiu com

o objetivo de especificar as políticas públicas estabelecidas pelo Estado no que diz

respeito aos idosos, além de se constituir uma legislação que visa amparar o idoso

com relação à garantia de seus direitos civis, políticos e sociais, atuando inclusive

como instrumento fomentador de cidadania.

Nesse sentido, os direitos são garantidos em diversas áreas como:

transporte público, habitação, saúde, previdência social, assistência social, medidas

de proteção, políticas de atendimento ao idoso, acesso à justiça, dentre outras.

Sendo assim, consideramos de extrema relevância o conhecimento e apropriação

desse instrumento de lei por parte de toda a população idosa para que as mudanças

propostas nessa legislação pudessem sair da letra morta e se tornassem reais e

acessíveis a todos de forma igualitária.

Com relação às informações colhidas e analisadas ao longo de nossa

pesquisa, pudemos constatar que os idosos encaram de forma distinta a questão da

representação da velhice no sentido de que um demonstrou um estranhamento

dessa fase e outros acreditam que essa é a melhor fase de suas vidas, melhor até

que a juventude. Já com relação à cidadania, percebemos que os idosos não

possuem um conhecimento concreto acerca desse tema, embora compreendam a

sua essência e a traduzam de uma forma mais simplificada.

Com relação ao Estatuto do Idoso pudemos constatar que os idosos só

conseguem assimilar os direitos que se tornam mais corriqueiros como é o caso da

gratuidade nos transportes públicos municipais e inter-estaduais, da prioridade dos

assentos nesses transportes e nos locais que prestam serviço à sociedade. Outros

direitos e deveres presentes no Estatuto são até desconhecidos para eles, pois não

são utilizados com frequência no seu cotidiano.

Dessa forma, podemos adentrar no cerne de nossa pesquisa que se trata

da ótica dos idosos do CRAS Serviluz sobre as mudanças advindas com o Estatuto

do Idoso. Os idosos entrevistados não nos expuseram direitos que os mesmos não

utilizam em seu dia-a-dia, não nos passaram questões que demonstrassem maiores

conhecimentos e apropriações, nos demonstraram incertezas e dificuldades de

memorização dos direitos, enfim, o que pudemos constatar é que eles sabem da

77

existência dessa lei, entretanto não conseguem se aprofundar e tomar para si o que

está posto nos diversos artigos. As mudanças só são percebidas porque eles ainda

conseguem acessar alguns direitos mais básicos e corriqueiros, o que não deixa de

ser um avanço, sem dúvida alguma. Observamos que essa legislação surgiu com o

intuito de auxiliar o idoso na garantia de seus direitos civis, políticos e sociais de

forma indistinta e igualitária como instrumento fomentador de cidadania, mas

infelizmente o que pudemos observar é que ainda não atingiu de forma adequada as

camadas mais desprivilegiadas de nossa sociedade, em virtude de todo um

processo econômico, social, político e ideológico.

Com relação à valorização e ao respeito, os idosos compreendem que

não são valorizados e nem respeitados, porque não se sentem mais pertencentes ao

sistema de produção capitalista e, por esse motivo, não possuem mais “fins

lucrativos”, segundo palavras de uma entrevistada. Ademais, o sentimento de

desvalorização do idoso presente em nossa sociedade implica muitas vezes na

desmotivação desse idoso na luta pela garantia de seus direitos.

Ressaltamos a importância do Serviço Social no âmbito das políticas

relacionadas ao idoso, no que concerne ao repasse de informações acerca da

existência dos direitos e da necessidade de defendê-los, visto que, muitos idosos

ainda não conseguem ter acesso a essas informações. É fundamental que o

assistente social realize um trabalho de sensibilização com o idoso para que este

queira, de fato, participar da defesa de seus direitos.

Para finalizar, observamos que a pesquisa concluída é um importante

subsídio para a realização de futuras pesquisas relacionadas a essa mesma

temática e que tenham como objetivo poder contribuir com informações que auxiliem

na compreensão dos múltiplos aspectos relacionados à velhice.

78

REFERÊNCIAS

BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BOKANY, Vilma; VENTURi, Gustavo. A Velhice no Brasil: contrastes entre o vivido e o imaginado. In: Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Edições SESC. SP, 2007. BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História Constitucional do Brasil. Brasília: Paz e Terra Política, 1989 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. _______. Estatuto do Idoso. Lei nº 1074/2003. Brasília, DF: outubro de 2003. _______. Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. Brasília, 1993. _______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Conselho Nacional de Assistência Social. Tipificação nacional de serviços socioassistenciais: texto da resolução nº109, de 11 de novembro de 2009, publicada no Diário Oficial da União em 25 de novembro de 2009. Brasília, 2009. _______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. 1. ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009. _______. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2005. _______. Política Nacional do Idoso. Brasília, 1994. CAMARANO, Ana Amélia; PASINATO. Maria Tereza. O envelhecimento populacional na agenda das Políticas Públicas. In: Os Novos Idosos Brasileiros: Muito Além dos 60. Rio de Janeiro: IPEA, 2004. CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008. CEARÁ, Governo do Estado. Perfil Populacional do Ceará. Instituto de Pesquisa e Estratégia econômica do Ceará – IPECE, 2010. Disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/Perfil_Populacional_do_Ceara.pdf> Acesso em: 18 de maio de 2013. COVRE, Maria de Lourdes Manzini. O que é Cidadania. São Paulo: Brasiliense, 2003.

79

DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. DIÓGENES, J. População Idosa do Ceará triplica em 40 anos. Jornal O Povo, Fortaleza, 30 de junho de 2012. Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/fortaleza/2012/06/30/noticiasjornalfortaleza,2869314/populacao-idosa-do-ceara-triplica-em-40-anos.shtml. Acesso em: 18 de maio de 2013. DURIGUETTO, Maria Lúcia. Sociedade civil e democracia: um debate necessário. São Paulo: Cortez, 2007. FALEIROS, Vicente de Paula. Cidadania: os idosos e a garantia de seus direitos. In: Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Edições SESC. SP, 2007. FERNANDES, Flávio da Silva. As pessoas idosas na legislação brasileira. São Paulo: LTr, 1997. FORTALEZA, Prefeitura Municipal. Diagnósticos Socioterritoriais dos CRAS de Fortaleza. Secretaria Municipal de Assistência Social - SEMAS, 2012. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª ed. 4. reimp São Paulo: Atlas, 2011. GOHN, Maria da Glória Marcondes. Movimentos sociais e educação. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2009. GOLDMAN, Sara Nigri. Velhice e Direitos Sociais. In: Envelhecer com Cidadania: quem sabe um dia?. Rio de Janeiro: CBCISS; ANG/ Seção Rio de Janeiro, 2000. GURJÃO, M. Planejamento Participativo: Um exercício da Cidadania? O Projeto São José na Comunidade Coqueiro/Caucaia. 2006. 125 f. Dissertação (Mestrado em Planejamento e Políticas Públicas) – Centro de Estudos Sociais Aplicados. Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, 2006. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?.>Acesso em: 03 de novembro de 2012. IBGE: A Síntese dos Indicadores Sociais 2010 – Uma análise das Condições de Vida da População Brasileira. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2013. _____. A Síntese dos Indicadores Sociais 2012 – Uma análise das Condições de Vida da População Brasileira. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2012/SIS_2012.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2013.

80

______. População Brasileira envelhece em ritmo acelerado. Disponível em: <http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=1272> Acesso em: 20 de abril de 2013. LIMA, Ernandy Luis Vasconcelos de. Das Areia da praia às areias da moradia: um embate sócio ambiental em Fortaleza. 2005. 188 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal do Ceará. Programa Regional de Pós –graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente – PRODEMA. Fortaleza, 2005. Disponível em: <http://www.prodema.ufc.br/dissertacoes/125.pdf> Acesso em: 06 de junho de 2013. MASCARO, Sonia de Amorim. O que é Velhice. São Paulo: Brasiliense, 2004. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo. Editora Hucitec. 2010. MINAYO, Maria Cecília de Souza (ORG). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes,1994. NÉRI, Ana Liberalesso. As políticas de Atendimento aos Direitos da Pessoa Idosa expressas no Estatuto do Idoso. In: A Terceira Idade. São Paulo, v. 16, nº 34, p. 7-24, out. 2005. NOGUEIRA, André Aguiar. Fogo, vento, terra e mar. A arte de falar dos trabalhadores do mar. Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer do Município de Caçapava. São Paulo. 2007. RAMOS, Paulo R. B. Fundamentos constitucionais do direito à velhice. Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 2002. SOARES, Elydiana de Souza. A cadeira de balanço está vazia: os papéis sociais dos idosos participantes de grupos de convivência na cidade de Fortaleza. 2010. 162 p. Dissertação (Mestrado acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade) – Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza, 2010. Disponível em: <http://www.uece.br/politicasuece/index.php/arquivos/doc_view/124-elydianadesouzasoares?tmpl=component&format=raw> Acesso em: 10 de junho de 2013. TEIXEIRA, Solange Maria. Envelhecimento e trabalho no tempo do capital: implicações para a proteção social no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008. TORRE, M.B.L. Della. O Homem e a Sociedade: uma introdução à sociologia. 8ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1980. VERAS, Renato. A longevidade da população: desafios e conquistas. In: Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Editora Cortez. nº 75 ano XXIV, Especial 2003.

81

APÊNDICES

82

APÊNDICE A - Roteiro de entrevista semi-estruturada.

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas apenas para fins

acadêmicos, sendo constituintes da monografia em Serviço Social em processo.

Garanto que sua identidade será preservada por meio do anonimato, conforme os

princípios éticos em pesquisa

Nome completo:

Data de Nascimento:

Naturalidade:

Sexo:

Escolaridade:

Estado civil ou situação conjugal:

Com quem reside:

Bairro onde reside:

01) O que a velhice representa para o Sr/Sra?

02) O que o Sr/Sra entende por cidadania? O Sr/Sra se considera um cidadão?

03) O que o Sr/Sra sabe sobre o Estatuto do Idoso?

04) Onde foi que o Sr/Sra aprendeu sobre este Estatuto?

05) O que foi que mudou na sua vida com o Estatuto do Idoso?

06) O/A Sr/Sra acredita/acha que os idosos são valorizados e respeitados na nossa sociedade? Por quê?

83

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido.

Título da Pesquisa: “Pelo olhar dos sábios: a ótica dos idosos atendidos no CRAS

Serviluz sobre as mudanças advindas com o Estatuto do Idoso”.

Pesquisador: Marlúcia Lima Rosendo

Orientadora: Profª MsValney Rocha Maciel

O Sr. (Sra.) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que tem

como finalidade analisar a ótica dos idosos atendidos no CRAS Serviluz sobre as

mudanças advindas com o Estatuto do Idoso. Tal pesquisa é requisito para a

conclusão do curso de Bacharelado em Serviço Social pela Faculdade Cearense.

Ao participar deste estudo, o Sr. (Sra.) permitirá que o pesquisador utilize

suas informações para a realização desta pesquisa. Entretanto, as informações

obtidas serão mantidos em sigilo, somente o pesquisador e sua orientadora terão

conhecimento das informações. O participante tem a liberdade de desistir a

qualquer momento do estudo caso julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A

qualquer momento poderá pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa através

do telefone do pesquisador.

O maior benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o

desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador

se compromete a divulgar os resultados obtidos. O Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo

de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua

participação.

Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa.

84

APÊNDICE C - Consentimento livre e esclarecido.

Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e

esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa “Pelo olhar

dos sábios: a ótica dos idosos atendidos no CRAS Serviluz sobre as mudanças

advindas com o Estatuto do Idoso”.

____________________________________________ Nome do participante

____________________________________________ Assinatura do participante

____________________________________________ Assinatura do pesquisador

____________________________________________ Profª Valney Rocha Maciel

Orientadora/ Faculdade Cearense

85

APÊNDICE D - Imagens dos idosos.

Imagem nº 1 – SCFV Idosos em período de Festas Juninas.

Fonte: Direta, 2012.

Imagem nº 2 – SCFV Idosos em momento de encontro semanal no CRAS.

Fonte: Direta, 2012.