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1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL LUCILENE SIQUEIRA FERNANDES O IDOSO E A INTERGERACIONALIDADE COM O PÚBLICO INFANTIL A PARTIR DO PROJETO “ERA UMA VEZ... ATIVIDADES INTERGERACIONAIS” REALIZADO PELO SESC- CE ATRAVÉS DO TSI. FORTALEZA 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

LUCILENE SIQUEIRA FERNANDES

O IDOSO E A INTERGERACIONALIDADE COM O PÚBLICO INFANTIL A PARTIR

DO PROJETO “ERA UMA VEZ... ATIVIDADES INTERGERACIONAIS”

REALIZADO PELO SESC- CE ATRAVÉS DO TSI.

FORTALEZA

2014

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LUCILENE SIQUEIRA FERNANDES

O IDOSO E A INTERGERACIONALIDADE COM O PÚBLICO INFANTIL A PARTIR

DO PROJETO “ERA UMA VEZ... ATIVIDADES INTERGERACIONAIS” REALIZADO

PELO SESC- CE, ATRAVÉS DO TSI.

Monografia submetida à aprovação do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação.

Orientadora: Prof.(a) Mestre. Kelly Maria Gomes Menezes

FORTALEZA

2014

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LUCILENE SIQUEIRA FERNANDES

O IDOSO E A INTERGERACIONALIDADE COM O PÚBLICO INFANTIL A PARTIR

DO PROJETO “ERA UMA VEZ... ATIVIDADES INTERGERACIONAIS” REALIZADO

PELO SESC- CE, ATRAVÉS DO TSI.

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Nota obtida:

Data de aprovação:

BANCA EXAMINADORA

Prof. (a) Ms. Kelly Maria Gomes Menezes (Orientadora)

Prof. (a) Ms. Moíza Sibéria Silva de Medeiros

Prof. (a) Esp. Marília Rodrigues Pimentel

4

Aos meus pais, Benedito e Antônia, pelo amor,

ensinamentos e apoio incondicional. Ao meu

esposo, Edson, que sempre esteve ao meu

lado me incentivando e apoiando minhas

decisões. Foram eles que me fizeram acreditar

que é possível realizar sonhos. Amo muito

vocês.

5

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, que me manteve forte diante das dificuldades

encontradas, me mostrando o melhor caminho a seguir. Pelas pessoas maravilhosas

que colocou ao meu lado, contribuindo de alguma forma para o meu crescimento

pessoal e profissional.

Aos meus queridos pais Benedito e Antonia, que me educaram com muito amor, me

proporcionando a oportunidade de estudar, quero os agradecer de forma gloriosa,

pois são eles os grandes responsáveis pela minha conquista.

Ao meu esposo Edson, que sonhou junto comigo, sendo muito compreensivo e me

incentivando durante toda a caminhada. Obrigada por acreditar no meu potencial.

Aos meus irmãos, João Paulo, Margarene, Ana Paula e Eliana com quem pude

contar sempre.

Aos meus sobrinhos (a) Geovana, Sofia, Mariah e Charles Filho que foram minha

fonte de alegria nos momentos difíceis.

Aos meus cunhados (a) Glaison, Charles, Gerardo e Crisneide que ficaram na

torcida pela minha conquista.

As minhas amigas, Marcia Maria, Nathalia e Pâmela Brasileiro, Jessica, Leidiane,

Danielle,Inez Coutinho, Eloisa Helena, pelas boas energias que me transmitiram.

A minha orientadora Kelly Maria Gomes Menezes por aceitar ser minha orientadora

colaborando com o processo de produção.

As minhas supervisoras de estágio, Joseane Soares, Sandra Maia, Nathalia Bertini,

agradeço pelos ensinamentos.

Aos meus colegas de trabalho que tanto me incentivaram.

Aos professores da FAC que contribuíram para meu crescimento profissional.

As queridas Marília Rodrigues Pimentel e Moíza Sibéria Silva de Medeiros que

aceitaram fazer parte da minha banca.

A diretoria do SESC pela oportunidade de viabilizar meus estudos e me dar a

chance de estagiar e realizar minha pesquisa nessa instituição tão renomada.

A coordenação do Trabalho Social com Idosos (TSI) na pessoa de Ingrid Roseli,

obrigada pelo apoio na realização da pesquisa.

6

Em especial aos idosos e crianças do projeto “Era uma vez” que me receberam de

braços abertos. Os idosos que se dispuseram prontamente a participarem da

pesquisa, agradeço de forma muito especial. Obrigada!

7

Para que a velhice não seja uma irrisória paródia de

nossa existência anterior, só há uma solução – é

continuar a perseguir fins que deem um sentido a nossa

vida: dedicação a indivíduos, a coletividade, a causas,

trabalho social ou político, intelectual, criador.

Contrariamente ao que aconselham os moralistas, é

preciso desejar conservar na última idade paixões fortes

o bastante para evitar que façamos um retorno sobre nós

mesmos. A vida conserva um valor enquanto atribuímos

valor a vida dos outros, através do amor, da amizade, da

indignação, da compaixão. Permanecem, então, razões

para agir ou para falar. Aconselha-se frequentemente as

pessoas a “preparar” sua velhice. Mas se isso significa

apenas juntar dinheiro, escolher o lugar da

aposentadoria, arranjar hobbies, não se terá, quando

chegar a hora, avançado nada. Mais vale não pensar

demais na velhice, mas viver uma vida de homem

bastante engajada, bastante justificada, para que se

continue a aderir a ela, mesmo quando já se perderam

todas as ilusões e quando já arrefeceu o ardor vital.

(Simone de Beauvoir)

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RESUMO

O fenômeno do envelhecimento populacional é hoje uma realidade tanto nos países

desenvolvidos quanto nos que estão em desenvolvimento. Desta forma, torna-se

necessário a discursão acerca da temática em suas diversas áreas, e é a partir

dessa analise que verificamos a relevância de realizamos um estudo sobre o

envelhecimento. Diante do exposto, realizamos uma pesquisa a partir de um projeto

do Serviço Social do Comércio (SESC), através do programa de Trabalho Social

com Idosos (TSI) tendo como objetivo principal analisar a compreensão dos idosos

acerca do projeto “Era uma vez...atividades intergeracionais” realizado pelo SESC,

para o fortalecimento das relações intergeracionais entre os idosos e o público

infantil. Os objetivos específicos são: identificar o perfil sócio-econômico dos idosos

participantes do projeto; conhecer a visão dos idosos acerca do público infantil;

verificar as possíveis mudanças proporcionadas pelo projeto na relação entre idosos

e crianças. Para alcançar tais objetivos nos utilizamos da pesquisa de natureza

quali-quatitativa com caráter bibliográfico, além da pesquisa documental e de campo.

As técnicas utilizadas foram: entrevistas semi-estruturadas, observação participante,

questionário misto objetivo e subjetivo. Como instrumentos foram utilizados roteiro

de entrevista, roteiro de questionário, gravador de voz diante da autorização dos

idosos, além da utilização de diário de campo. A entrevista se deu pelo método de

saturação em que foram ouvidos sete idosos utilizando como critério de escolha o

tempo de caminhada no projeto. Analisando os dados obtidos com a pesquisa,

verificamos que os idosos compreendem que a partir do projeto “Era uma vez...”

suas vidas se transformaram inclusive a sua forma de olhar as crianças também se

modificou. O questionamento inicial de como ocorre a relação entre os idosos e as

crianças vai se esclarecendo no decorrer da pesquisa e principalmente através das

falas dos idosos que enfatizam o respeito aos limites de cada um dentro e fora do

projeto já que a realidade sócio-econômica de ambos (Idosos e Crianças) são

distintas. Os idosos em sua maioria tem ensino superior e são aposentados já as

crianças vivem em comunidades carentes e a sua participação no projeto “Era vez...”

se deve a inclusão no Programa de Habilidades Específicas (PHE) realizado pela

escola Educar SESC, local onde acontece o projeto.

Palavras chaves: Idoso; Criança; intergeracionalidade.

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ABSTRACT

The phenomenon of population aging is a reality today in both developed and

developing countries that are. Thus, it becomes necessary to discuss the topic in

various areas, and it is from this analysis that verified the relevance of a study on

aging. Given the above, this research from a project of the Serviço Social do

Comércio – SESC (Social Service of Commerce), through the Social Work program

with Elderly - TSI having as main objective to analyze the understanding of elderly

about the project "Once upon a time... intergenerational activities" conducted by

SESC, to strengthen intergenerational relationships among the elderly and children.

The specific objectives are to identify the economic society profile of the elderly

participants of the project, meet the vision of the elderly about public child; determine

possible changes caused by the project on the relationship between the elderly and

children. To achieve these goals we utilize the research of qualitative and

quantitative nature with bibliographical, documentary research and beyond the field.

The techniques used were semi-structured and subjective interviews, participant

observation, objective mixed questionnaire. As instruments of interviews,

questionnaire script, voice recorder before the release of the elderly beyond the use

of field diary were used. The interview was given by the saturation method in which

seven people using as a criterion for choosing the walking time to the project were

heard. Analyzing the data obtained from the research, we found that elderly

understand that from the “Once upon a time ... " project turned their lives including

their way of looking at children has also changed. The initial question of how to give

this relationship between elderly and children will be explaining during the research

and mostly through the words of the elderly that emphasize respect for the limits of

each within and outside the project since the economic reality of both ( elderly and

children) are distinct . Elderly people mostly have higher education and are now

retired children live in poor communities and their participation in the project " Once

upon a time ... " should be included in the Program Specific Skills ( PSS ) conducted

by the school Educar SESC, local where the project takes place.

Key words: Elderly; Child; Intergenerationality.

10

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Sexo dos idosos..............................................................................42

Gráfico 2 Faixa etária dos idoso.....................................................................43

Gráfico 3 Estado civil dos idosos...................................................................44

Gráfico 4 Onde nasceram dos idosos............................................................44

Gráfico 5 Onde residem os idosos................................................................45

Gráfico 6 Filhos e netos dos idoso.................................................................45

Gráfico 7 Idosos que tem seus netos morando consigo.................................46

Gráfico 8 Escolaridade dos idosos..................................................................46

Gráfico 9 Situação sócio-ocupacional dos idosos...........................................47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 (porcentagem) - Presença de idosos nas populações por país...........23

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LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

CAPs Caixa de Aposentadorias e Pensões

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

FAC Faculdade Cearense

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LBA Legião Brasileira de Assistência

LOAS Lei Orgânica da Assistência

ONU Organização das Nações Unidas

PHE Programa de Habilidades Específicas

PNI Política Nacional do Idosos

SESC Serviço Social do Comércio

TSI Trabalho Social com Idosos

UNFPA Fundo de Apoio das Nações Unidas

WHO World Health Organozation

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................14

1 ENVELHECIMENTO..........................................................................................18

1.1 Concepções sobre velhice e envelhecimento..................................................18

1.2 Envelhecimento populacional mundial.............................................................20

1.2.1 O fenômeno de feminização da velhice........................................................24

1.3 Envelhecimento populacional no Brasil...........................................................28

1.4 A população idosa e a legislação brasileira ....................................................31

2 PERCURSO METODOLÓGICO........................................................................36

2.1 Natureza, tipos, técnicas e instrumentos da pesquisa....................................36

2.2 Aproximação com o tema................................................................................39

2.3 O Serviço Social do Comércio (SESC) como espaço de socialização da

população idosa.....................................................................................................40

2.4 Sujeitos da pesquisa e o seu perfil sócio-econômico......................................42

3 INTERGERACIONALIDADE.............................................................................48

3.1 Relações intergeracionais..............................................................................48

3.1.1 A co-educação entre idosos e crianças.......................................................51

3.2 Projeto “Era uma vez...atividades intergeracioanis”.......................................51

3.2.1 Analise dos dados.......................................................................................53

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................61

REFERÊNCIAS.....................................................................................................64

APÊNDICE............................................................................................................67

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INTRODUÇÃO

O fenômeno do envelhecimento populacional está ocorrendo de forma

acelerada principalmente nos países em desenvolvimento. De acordo com dados da

Organização das Nações Unidas (ONU) o número de pessoas com 60 anos ou mais

deve alcançar a faixa de dois bilhões até 2050. Assim como nos demais países, no

Brasil o fenômeno do envelhecimento está ocorrendo de forma rápida. É o que

verificamos nos dados fornecidos pelo censo 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e estatística (IBGE) que cita o Brasil como o sexto país no que se

refere ao número de idosos previsto para 2025.

Em decorrência do crescimento da população idosa, o Brasil país que está

em processo de desenvolvimento encontra grandes desafios na área da saúde,

assistência e previdência social para o seguimento idoso, se tornando urgente o

enfrentamento dessas questões. Nessa linha de pensamento Mascaro (1997, p. 10)

faz uma reflexão: “[...] a sociedade brasileira precisa urgentemente se organizar. [...]

Num País em desenvolvimento como o nosso, carregado de contrastes, envelhecer

bem, com boa qualidade de vida, é ainda um privilégio.” Essa discussão também é

contemplada por Debert (2004, p. 12) quando sinaliza que

A preocupação da sociedade com o processo de envelhecimento deve-se, sem dúvida, ao fato de os idosos corresponderem a uma parcela da população cada vez mais representativa no ponto de vista numérico. Contudo, explicar por razões de ordem demográfica a aparente quebra da “conspiração do silêncio” em relação à velhice é perder a oportunidade de descrever os processos por meio dos quais o envelhecimento se transforma em um problema que ganha expressão e legitimidade, no campo das preocupações sociais no momento.

Diante do crescente fenômeno do envelhecimento compreendemos a

relevância de estudos voltados para o segmento idoso. A proximidade com pessoas

idosas despertou o interesse pela temática, visualizando no trabalho de conclusão

de curso (TCC), momento oportuno para realizarmos um estudo sobre a população

idosa em que contemplamos de forma secundária o público infantil por fazer parte do

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universo dos idosos. Como pergunta de partida tivemos a seguinte indagação: como

ocorre o relacionamento entre idosos e crianças?

Esse estudo tem como objetivo principal analisar a compreensão dos idosos

acerca do projeto “Era uma vez... atividades intergeracionais” realizado pelo SESC,

para o fortalecimento das relações intergeracionais entre os idosos e o público

infantil. Os objetivos específicos foram: identificar o perfil sócio-econômico dos

idosos participantes do projeto; conhecer a visão dos idosos acerca do público

infantil; verificar as possíveis mudanças proporcionadas pelo “Era uma

vez...atividades intergeracionais na relação entre idosos e crianças.

Para obter êxito no alcance dos objetivos nos utilizamos da pesquisa de

natureza quali-quatitativa com caráter bibliográfico, além da pesquisa documental e

de campo. As técnicas e instrumentos utilizados dentre outros foram:entrevistas

semi-estruturadas, observação participante, roteiro de entrevistas, roteiro de

questionário, gravador de voz utilizado diante da autorização dos idosos, além da

utilização de diário de campo. A entrevista se deu pelo método de saturação em que

foram ouvidos sete idosos utilizando como critério de escolha o tempo de caminhada

no projeto. Os idosos estão referenciados em suas falas a partir de pseudônimos os

quais os mesmos optaram por nome de flores.

Para realizar um estudo relacionado ao envelhecimento é indispensável ter

como referência a autora Simone de Beauvoir em sua obra, A velhice: Realidade

Incomoda, que traz como objetivo quebrar o silêncio característico o qual era dado a

discussão sobre o segmento idoso. Beauvoir (1990) acreditava que de todas as

idades vividas pelas pessoas, uma delas, a velhice, talvez fosse a que

conservássemos por mais tempo, no entanto sendo esta uma visão puramente

abstrata. Beauvoir (1997, p. 15) expressa a dificuldade de descrever a velhice na

espécie humana,

[...] na verdade, quando se trata de nossa espécie, não é fácil circunscrevê-la. Ela é um fenômeno biológico: o organismo do homem idoso apresenta certas singularidades. A velhice acarreta, ainda, consequências psicológicas: certos comportamentos são considerados, com razão, como característicos da idade avançada. Como todas as situações humanas, ela tem uma dimensão existencial: modifica a relação do individuo com o tempo

16

e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história. Por outro lado, o homem não vive nunca em seu estado natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela sociedade à qual pertence.

O fenômeno do envelhecimento populacional caracteriza-se pelas mesmas

causas em qualquer parte. Dentre outras seriam elas: a queda da mortalidade infantil

e a diminuição da natalidade, por exemplo, esses seriam os motivos do aumento da

expectativa de vida na França, dos homens para 68 anos e das mulheres para 75

anos. Nos Estados Unidos a expectativa de vida dos homens aumentou para 71

anos e das mulheres para 77 anos. Essas são as considerações de Beauvoir (1990)

sobre as causas do aumento da expectativa de vida de homens e mulheres. No

segundo capitulo deste trabalho nos aprofundaremos nessa discussão trazendo

dados sobre o envelhecimento populacional mundial e no Brasil.

A pesquisa de campo foi realizada a partir do projeto “Era uma vez

atividades... intergeracionais” realizado pelo Serviço Social do Comércio (SESC),

onde pudemos ter uma melhor compreensão de como ocorre a relação entre idosos

e crianças, e ainda tivemos o entendimento da relevância de projetos como este

para o fortalecimento das relações intergeracionais.

As categorias teóricas que embasam esse estudo são: “Idoso”, “Criança” e

“Intergeracionalidade”. Que foram estudadas a partir de autores de grande

relevância, dentre eles estão: Beauvoir (1990); Bosi (1994); Bercquó (1996); Debert

(2004); Camarano (2002); Leme (1998); Magalhães (1987); Mascaro (1997); Neri

(2006); Ferrigno (2010).

O estudo realizado está organizado em três capítulos: No primeiro capítulo

abordaremos as concepções sobre envelhecimento e velhice; envelhecimento

populacional mundial e brasileiro em suas perspectivas políticas e sociais; o

fenômeno de feminização da velhice, trazendo uma discussão de gênero; a

legislação brasileira e a população idosa, trazendo um breve contexto histórico das

lutas e conquista dos idosos brasileiros.

17

Compreendemos que debater sobre o envelhecimento em seus aspectos

econômicos, culturais, intergeracionais, políticos e de gênero é uma forma de

minimizar o preconceito que infelizmente ainda é uma realidade em nossa

sociedade. Pudemos encontrar esse pensamento na teoria de Beauvoir (1970, p.13)

quando a autora faz uma reflexão acerca do tratamento que a sociedade dá ao

segmento idoso.

[...] A sociedade impõe à imensa maioria dos velhos um nível de vida tão miserável que a expressão “velho e pobre” constitui quase um pleonasmo; inversamente: a maior parte dos indigentes são velhos. O lazer não abre ao aposentado possibilidades novas; no momento em que é, enfim, libertado das pressões, o indivíduo vê-se privado de utilizar sua liberdade. Ele é condenado a vegetar na solidão e no enfado, decadência pura.

No segundo capítulo traremos o percurso metodológico utilizado para a

realização do presente estudo. Nesse capítulo trazemos também a aproximação

com o tema e ainda apresentaremos o Serviço Social do Comércio (SESC) como

espaço de socialização da população idosa. Enfim, apresentaremos os sujeitos da

pesquisa e o seu perfil sócio-econômico que será representado a partir de gráficos

que trazem uma melhor visualização dos dados obtidos.

No terceiro e último capítulo traremos alguns conceitos de geração para

darmos início à discussão acerca da intergeracionalidade, colocando em pauta a

coeducação entre idosos e crianças. E é nesse capítulo que apresentamos o campo

de pesquisa que é o projeto “Era uma vez...atividades intergeracionais”.

Finalizaremos com a apresentação dos resultados e a análise dos dados obtidos

através da pesquisa, dessa forma, trazendo nossa contribuição para a discussão

acerca da intergeracionalidade do idoso com o público infantil.

18

1 ENVELHECIMENTO

O presente estudo não irá se aprofundar na temática sobre a divisão dos

idosos por grupos de acordo com sua idade é interessante conhecermos um pouco

sobre essa divisão que é utilizada para fins de estudos sobre o envelhecimento e

que está divido em três grupos: os idosos novos, referindo-se às pessoas com idade

entre 65 a 74 anos que ainda estão ativas ou vigorosas; os idosos velhos, que

seriam aqueles na faixa etária entre 75 a 84 anos; e por fim, os idosos mais velhos

de 85 anos ou mais que teriam maior probabilidade de ficarem doentes, além de

terem dificuldades para realizar atividades da vida cotidiana. Esses dados são

contemplados por Papalia, Olds e & Feldman (2006) sobre essa atual divisão a que

se referem os especialistas nos estudos sobre o envelhecimento. Sobre o

envelhecimento na atualidade e as diferentes faixas etárias dos idosos Irigaray e

Schneider (2008, p. 54) sinalizam que,

A distinção entre idosos jovens, idosos velhos e idosos mais velhos pode auxiliar no entendimento de que o envelhecimento não é algo determinado pela idade cronológica, mais é consequência das experiências passadas, da forma como se vive e se administra a própria vida no presente e de expectativas futuras; é, portanto, uma integração entre as vivências pessoais e o contexto social e cultural em determinada época e nele estão envolvidos diferentes aspectos: biológico, cronológico, psicológico e social.

1.1 Concepções sobre velhice e envelhecimento

Para darmos início à discussão acerca do envelhecimento é relevante a

compreensão dos termos envelhecimento e velhice, que na concepção de Messy

(1999), são coisas diferentes. Se consultarmos o dicionário da língua portuguesa

“Priberam” sobre o significado de envelhecimento constataremos que é o ato ou

efeito de envelhecer. Já a palavra velhice designa que velho é aquele de idade

avançada. Descrição semelhante, podemos encontrar na obra de Messy (1999) o

envelhecimento visto como um processo que se inicia logo após o nascimento até

o fim da vida, adquirindo no decorrer de sua trajetória várias noções, por exemplo,

o enfraquecimento, que exprime a ideia de perda. No entanto, diferentemente do

19

envelhecimento a velhice não é um processo e sim uma característica do idoso.

Com maior clareza, Messy (1999, p. 23), explana sobre a diferença entre ambos:

Se o envelhecimento é o tempo da idade que avança, a velhice é o da idade avançada, entenda-se, em direção a morte. [...] a palavra envelhecimento é quase sempre usada num sentido restritivo e em lugar de velhice. A sinonímia dessas palavras denuncia a denegação de um processo irreversível que diz respeito a todos nós, do recém nascido ao ancião. Essa confusão de termos fortalece uma ilusão de salvação em que, pretensamente, só os velhos envelhecem...e já que os velhos são os outros...! [...].

Iniciaremos a discussão sobre o processo de envelhecimento com Messy

(1999), que vai além da conceituação de envelhecimento e velhice, trazendo

também a discussão da não existência da pessoa idosa em que esse seria somente

um termo social para designar o velho. Uma das preocupações trazidas pelo autor é

a imagem negativa da velhice para os jovens.

Entendemos que diante dos diversos aspectos e peculiaridades inerentes a

essa faixa etária, o envelhecimento é um processo dinâmico e complexo de ordem

cronológica, biológica, social e psicológica. De acordo com Schineider e Irigaray

(2008), a idade cronológica é a passagem do tempo referindo-se ao número de anos

decorridos desde o nascimento; já a idade biológica caracteriza-se pela mudança no

corpo e na mente, tais mudanças ocorrem durante o processo de envelhecimento; a

idade social se estabelece de acordo com a cultura de cada sociedade de forma que

as pessoas são vistas pelo seu status social; por fim a idade psicológica que pode

ser definida a partir do modo como se comportam ao longo da vida.

Numa concepção semelhante, porém, contemplando outras peculiaridades

do processo, Mascaro (2007, p.09), coloca que “[...] existem várias maneiras de se

vivenciar o envelhecimento e a velhice, segundo circunstâncias de natureza

biológica, psicológica, social, econômica, histórica e cultural.”. Com relação à visão

que as pessoas tendem a ter sobre o envelhecimento, Mascaro (1997, p.07-08) a

descreve da seguinte forma:

[...] Quando se é jovem, o envelhecimento e a velhice parecem realidades muito distantes, muito longínquas. Imaginamos e fantasiamos que só os outros é que irão envelhecer e somente o ser ao nosso lado ficará velho e

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morrerá. A velhice é, portanto uma fase natural da vida e não há como fugir deste ciclo: nascimento, crescimento, amadurecimento, envelhecimento e morte.

Sobre o processo em discussão, Bobbio (1997) considera que a velhice é a

continuação da juventude e adolescência, podendo estas terem sido vividas de

maneira diferente de acordo com cada período da história, considerando tanto a sua

vida particular quanto a social. Na mesma linha de pensamento, Leme (1998)

descreve o envelhecimento como um processo dinâmico que varia de acordo com

cada indivíduo, porém, havendo a necessidade de uma separação etária para fins

de levantamentos de dados estatísticos. Ainda sobre o processo de envelhecimento,

Magalhães (1998, p.13) tem uma visão semelhante a dos demais autores

contemplados até então, conforme podemos observar na sua colocação:

[...] o conceito de Idoso envolve múltiplas dimensões, entre as quais ressaltamos a biológica, a cronológica, social demográfica, cultural, psicológica, ideológica e política. [...] em uma perspectiva histórica, podemos compreender que o Idoso é uma invenção social, da mesma forma que a criança é um produto da revolução burguesa e industrial.

Entretanto, quando precipitadamente concluímos que os autores estão em

uma mesma linha de pensamento ao conceituarem envelhecimento e velhice,

encontramos autores que discordam, por exemplo, da velhice como perspectiva de

idade cronológica. A partir de estudos realizados por Messy (1999), pudemos

verificar essa discordância quando cita Maud Mannoni (1999) que em uma obra

recente descreve o testemunho de Octave Mannoni “ A velhice não tem nada a

haver com idade cronológica. É um estado de espírito. Há velho de vinte anos, como

há jovens de oitenta. Trata-se de uma questão de generosidade de sentimento. [...]”

(MANONI apud MESSY, 1999, p. 14).

1.2 O envelhecimento populacional mundial

Após uma breve contextualização sobre envelhecimento e velhice,

buscaremos compreender como ocorre o processo do envelhecimento

21

populacional no mundo. De acordo com Zimerman (2000), no mundo inteiro,

com o decorrer dos anos, é cada vez maior o número de pessoas idosas e

isso está relacionado a diversos fatores, por exemplo, o aumento da

expectativa de vida. No Brasil não seria diferente, pois aos poucos deixamos

de ser um país de jovens. Sobre o significativo aumento da população idosa,

Leme (1998, p. 11) esclarece que:

O progressivo aumento da população idosa é um fenômeno que vem sendo observado em todo o mundo. Tal aumento deve-se, em parte, às melhores condições de vida e a maior expectativa de vida que pode ser observada, inclusive no Brasil, em todas as camadas sociais [...] deve-se ainda a diminuição do número de nascimentos, ocasionado pelos diversos meios contraceptivos utilizados nos últimos 30 anos.

Sobre o envelhecimento populacional mundial é necessário saber que este

fenômeno está ocorrendo tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em

desenvolvimento. Sobre esse crescimento que está ocorrendo de forma acelerada,

Borges (2006, p. 98) chama nossa atenção para um aspecto relevante que ocorre

nos países desenvolvidos:

No mundo, particularmente nos países desenvolvidos, esse processo tem ocorrido de forma gradual, o que tornou possível uma maior consciência da população, o maior desenvolvimento das ciências relacionadas ao assunto, bem como o planejamento das políticas e ações direcionadas a esse segmento etário, por parte do poder público, possibilitando um relativo ajuste social.

Sobre os países desenvolvidos, Giddens (2005) relata que os mesmos

permanecerão avançando no número de idosos e que quase todos irão vivenciar

esse fenômeno. Na contemporaneidade, nos países desenvolvidos, a cada sete

pessoas, uma tem mais de 65 anos, tendendo a chegar à contagem de para cada

quatro pessoas uma ter idade acima de 65 anos, isso nos próximos 30 anos.

Giddens (2005, p. 145), conclui que “[...] quase todos os países desenvolvidos

testemunharão o envelhecimento de suas populações nas próximas décadas [...]”.

Diante desse fenômeno que é o crescimento da população idosa, que

inclusive está acontecendo de forma muito rápida no mundo inteiro, a Organização

das Nações Unidas (ONU) compreendeu ser necessário a abertura de espaços para

22

discussões acerca do assunto, para que haja uma reflexão sobre a reestruturação

das políticas sociais voltadas para a pessoa idosa e, é com esse propósito, que

surgem as assembleias mundiais sobre o envelhecimento.

Em 2002, na cidade de Madri, na Espanha, aconteceu a II Assembleia

Mundial do Envelhecimento promovida pela ONU. A partir das discussões realizadas

na Assembleia, criou-se o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento

(Documento A/CONF/197/3/Add.2), estabelecendo que todos os idosos devem

envelhecer com dignidade e enquanto cidadãos de direito permanecerem

participativos na sociedade. Outro resultado obtido com a Assembleia foi a

Declaração Política (Documento A/CONF/197/3/Add.1) que frisa a importância da

integração do envelhecimento nas questões políticas, nas medidas econômicas e

sociais. Estima-se que nos países em desenvolvimento a população idosa

quadruplicará até 2050. Desta forma, em nível mundial se tornam urgentes ações

voltadas para as questões do envelhecimento, com destaque para a importância da

integração entre os países em desenvolvimento. A declaração política, documento o

qual citamos anteriormente, destaca a relevância de se considerar as

potencialidades dos idosos:

As potencialidades das pessoas idosas são uma base sólida de desenvolvimento futuro, permitindo que a sociedade conte cada vez mais com as competências, experiências e sabedoria dos idosos para que se aperfeiçoem por iniciativa própria e contribuam ativamente para o aperfeiçoamento da sociedade em geral. (DECLARAÇÃO POLÍTICA, 2002).

Segundo a ONU, em seu relatório técnico “Envelhecimento da população

mundial” elaborado em 2009 pela Divisão de População do Departamento de

Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, estima-se que até 2050, nos

países em desenvolvimento, o segmento idoso crescerá mais que qualquer outro.

Segundo dados do relatório, nos países desenvolvidos a expectativa de vida elevou-

se em 11 anos entre 1950 e 2010, já nos países menos desenvolvidos o aumento foi

bem maior, aumentando em 26 anos no mesmo período. Existem estimativas do

23

Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), que no mundo 80% dos idosos

viverão nos países em desenvolvimento no ano de 2050. Os idosos com mais de 60

anos de idade será um segmento maior do que a população com idade abaixo de 15

anos.

Ainda de acordo com dados fornecidos pela UNFPA, obtidos através do

relatório que trata sobre a “Situação da população Mundial” realizado em 2011 na

Etiópia, país pobre de população pequena, onde a expectativa de vida está em torno

de 57 anos, está ocorrendo um crescimento no número de pessoas idosas com 60

anos ou mais, uma população de 82,9 milhões de habitantes 5,2% são pessoas

idosas. Podemos verificar abaixo o quadro representando através de porcentagem a

presença de idosos nas populações, por país:

Tabela 1: Presença de idosos nas populações, por país (porcentagem)

Fonte: Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da

Nações Unidas, 2011.

1.2.1 A feminização da velhice

60 anos ou mais 65 anos ou mais 80 anos ou mais

China 12,3 8,2 1,4

Egito 8,0 5,0 0,7

Etiópia 5,2 3,3 0,4

Finlândia 24,8 17,2 4,7

Índia 7,6 4,9 0,7

México 9,0 6,3 1,3

Moçambique 5,1 3,3 0,4

Nigéria 5,0 3,2 1,1

Antiga Republica

Iugoslávia da

Macedônia

1,67 1,18 2,1

24

Diante de toda a trajetória entrelaçada por desafios e conquistas,

destacamos um aspecto de grande relevância no processo de envelhecimento, que

é a feminização da velhice, já que a população idosa hoje é majoritariamente

feminina. Anteriormente buscamos compreender quais aspectos estavam

favorecendo o crescente e acelerado processo de envelhecimento. Nessa etapa

faremos uma breve discussão sobre gênero, para que possamos compreender por

que as mulheres são maioria na população idosa.

Berquó (1988) sinaliza que na década de 1980, já se chamava a atenção

para o processo de feminização do envelhecimento e suas consequências. A autora

revela ainda alguns dados sobre esse quadro referente a esse processo: ”[...] 1940,

isto é, para cada 100 mulheres de 65 anos ou mais, há apenas 83 homens na

mesma faixa etária [...]”. Considerando ainda que o déficit de homens idosos cresce

ainda mais para as idades mais avançadas. Berquó (1988, p. 27) traz outros dados

relevantes sobre a distribuição por sexo da população idosa:

Quanto à distribuição por sexo da população idosa, em 1991, a população feminina respondia por 52,8% do total da população de 60 a 64 anos e por 54,6% do grupo de 65 anos e mais. Na Região Sudeste esta proporção chegava a 56,4% na população de 65 anos e mais; no Sul, 55,4% e; no Nordeste, 52,9%. Para as regiões de fronteira agrícola (Norte e Centro-Oeste), a população masculina de 60 a 64 anos era mais da metade do total, sendo que na população de 65 anos e mais nota-se um equilíbrio entre o contingente de homens e mulheres; nessas áreas, diferente do que ocorre nas demais regiões do país, a razão de sexo é equilibrada reforçando o papel da migração masculina.

Sobre essa discussão, Giddens (2005, p. 147) afirma que: “[...] o

envelhecimento é um fenômeno relacionado ao gênero”. E ainda de acordo com

Mascaro (1997), existem várias explicações para esse número elevado de mulheres

idosas:

A existência do maior contingente de mulheres na velhice tem várias explicações: a redução da mortalidade materna, resultado das melhores condições de saúde e da queda da fecundidade; a mortalidade diferencial por sexo, com uma diferença de sete a nove anos favorecendo as mulheres na expectativa de vida, a existência ainda hoje no Brasil, de uma norma que faz com que o homem se case com uma mulher mais jovem do que ele.” (BERQUÓ Apud MASCARO, 1997, P.86).

25

Simson, Neri e Cachione (2006, p. 139) atribuem a feminização da velhice

aos aspectos de gênero, familiares e sociais. Encontramos essas categorias no

seguinte argumento dos autores:

No modelo tradicional de contrato de gênero, as mulheres aparecem como mais conectadas ao espaço familiar. Ao responsabilizar-se taticamente pela provisão dos cuidados, as mulheres responsabilizam-se, inclusive, pelo estímulo à ajuda mútua e ao cuidado, no processo de intercâmbio entre as gerações. Por outro lado, a maior exposição ao cuidado faz delas candidatas menos prováveis a posse de recursos materiais, ficando estes reservados ao homem, geralmente tido como o provedor. Com o aumento da longevidade, as mulheres idosas tem grande chance de serem oneradas pela tarefa de cuidar e, depois que elas findam, de ficarem sozinhas, pobres e dependentes das gerações mais jovens.

No que se refere ao processo de envelhecimento majoritariamente feminino,

verificamos a partir de dados do IBGE, com a realização de Censos demográficos,

que, em 1996, de 12,4 milhões da população idosa brasileira 54,4%, ou seja, mais

da metade, eram mulheres. O predomínio do sexo feminino no segmento idoso traz

consigo demandas específicas nas políticas públicas. Porém, mesmo com o

número de mulheres se sobressaindo no que se refere à longevidade, em outros

aspectos como, por exemplo, físicos e mentais, as mulheres são menos

favorecidas do que os homens. Outra repercussão é o elevado número de

mulheres morando sozinhas, o que está se tornando uma tendência já que a

grande maioria são viúvas, e existe um crescente número de mulheres divorciadas.

Essas são as considerações de Camarano (2002), no que se refere ao fenômeno

de feminização da velhice.

Nessa mesma linha de pensamento, Giddens (2005, p. 147) considera que o

envelhecimento feminino passa por discriminação, a partir da ideia de que a

velhice feminina é fortemente influenciada por papéis anteriormente pré-

estabelecidos, por exemplo, a mulher na figura de cuidadora do lar e dos filhos.

Assim,

[...] Os anos posteriores são influenciados por experiências anteriores na vida; por causa das responsabilidades domésticas e maternais, as mulheres em geral participam menos que os homens do trabalho remunerado. [...].

26

Estudos revelam que as mulheres mais velhas têm rendimento pessoal mais baixo que os homens e também sofrem desigualdades em outros campos. [...] com o aumento da idade, as mulheres sofrem mais do que os homens em invalidez. Isso significa que elas requerem mais assistência e apoio simplesmente para realizar suas tarefas diárias e rotinas de cuidado pessoal.

Partindo de uma reflexão sobre gênero e envelhecimento, Debert (2004)

teoriza que o envelhecimento de homens e mulheres ocorre de formas distintas, em

que alguns autores veem o envelhecimento feminino como fruto de discriminação

por parte da sociedade, na visão de que a mulher teria um papel exclusivamente

reprodutivo e de cuidado com as crianças. Mas, ainda de acordo com Debert (2004),

existem autores que veem o processo de envelhecimento feminino como algo

positivo, por exemplo, o vínculo com os filhos se torna mais intenso, dessa forma, os

filhos ficariam mais dispostos a cuidar da mãe.

Menezes (2012) em sua pesquisa trata a feminização da velhice em diversos

aspectos, dentre eles o sociológico em que nas transformações no padrão de

comportamento das mulheres idosas, uma das características dessas mudanças

estaria relacionada com seu padrão social, porém, Menezes afirma que com relação

ao fenômeno do envelhecimento feminino, não podemos realizar uma análise

somente a partir de um único ponto de vista, pois essa análise estaria incompleta.

“[...] analisar o fenômeno de feminização do envelhecimento considerando apenas

as mulheres significa conhecê-lo pela metade [...]” (MENEZES, 2012, p.43).

No entanto, Menezes (2012) teoriza que independente das diferenças

sociais, hoje, existe uma flexibilidade bem maior do que existia antigamente no que

se refere aos assuntos do tipo “a época de se constituir família; o relacionamento

dos jovens com seus pais, inclusive os parentes mais velhos; o relacionamento dos

avós com seus netos; isso dentre vários outros aspectos”. Ainda sobre a vida social,

as mulheres idosas são bem mais participativas dos grupos de convivência e dos

espaços políticos, sendo elas mais engajadas em projetos. Esses fatores

mencionados favorecem para que as mulheres idosas estejam em maior evidência

na sociedade.

27

Na realidade, apesar das constatações obtidas seja por meio de pesquisas,

realização de censos demográficos ou ainda por outros meios, de que as mulheres

tem a vida mais prolongada do que as dos homens, isso não apaga a realidade de

que elas têm condições de vida inferior à deles, já que, por exemplo, as mulheres

idosas sofrem mais que os homens quando se trata de invalidez. Essas são as

considerações de Menezes (2012) sobre o fenômeno de feminização da velhice.

No campo demográfico sobre a distribuição por sexo da população idosa

brasileira, em 1991, constatou-se que as mulheres idosas correspondiam a 52,8%

da população entre 60 a 64 anos, chegando a 54,6 % na faixa etária de 65 anos ou

mais. Fazendo uma analise por região, verificou-se que no sudeste as mulheres com

65 anos ou mais eram 56,4% da população, no sul 55,4% e; no Nordeste, 52,9%. Na

região agrícola a população masculina com idade entre 60 e 64 anos estava acima

de 50%, sendo que a população com idade de 65 anos ou mais estava equilibrada

entre homens e mulheres. Esses dados foram apresentados por Berquó (1996) em

seu estudo demográfico sobre mulheres e homens brasileiros.

No entanto, além da busca pela compreensão do processo de feminização

da velhice é relevante que estejamos atentos para algumas consequências desse

fenômeno, por exemplo, o aumento das demandas de políticas públicas para as

idosas, que na concepção de Bassit (2006) esse aspecto não pode passar

despercebido. Os dados obtidos através de estudos realizados por Bassit a partir de

sua pesquisa feita com mulheres entre os anos de 1926 e 1936, reforça o que já foi

mencionado anteriormente por outros autores estudados até aqui, que é o fato de

que na relação entre mulheres e envelhecimento está a questão de gênero, que

ocorrem a partir de construções históricas e sociais.

A partir dos resultados obtidos em sua pesquisa Bassit (2006, p. 127)

conclui que o processo de envelhecimento das mulheres se dá de diferentes

formas, o que vai variar de acordo com a sociedade a qual estão inseridas.

Podemos verificar isso em seu relato:

28

A maturidade dessas mulheres foi construída a partir de valores como a família de origem, o ideal de casamento e a constituição de suas próprias famílias, consagrada através do nascimento dos filhos. Observamos que mesmo as mulheres solteiras e sem filhos reafirmaram esses valores, entretanto na impossibilidade de construir suas próprias famílias, redirecionaram sua maturidade para cuidados com a família de origem.

Bassit (2006) analisa que as mulheres entrevistadas em sua pesquisa

compreendem o envelhecimento como uma etapa da vida que se está sujeito as

doenças e à incapacidade, além da tão temida exclusão social.

1.3 O envelhecimento populacional no Brasil

Posteriormente a uma breve contextualização do envelhecimento

populacional mundial, verificaremos agora como se dá esse processo em nosso

país. Da mesma forma que nos demais países do mundo, no Brasil, o

envelhecimento populacional está ocorrendo com muita rapidez, no entanto, temos

que considerar que, diferentemente dos países desenvolvidos, o Brasil está em

desenvolvimento. Mascaro (1997, p. 10) ressalta que “[...] num País em

desenvolvimento como o nosso, carregado de contrastes, envelhecer bem, com boa

qualidade de vida, é ainda um privilégio.” E ainda, de acordo com Borges (2006, p.

98),

Na sociedade brasileira, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, o processo de envelhecimento populacional vem ocorrendo bruscamente e coincide com um quadro de crise nos Estados, com o agravamento dos problemas sociais e da situação de grandes desigualdades.

Para Neri e Freire (2000), mesmo na atualidade, a velhice está ligada ao

envelhecimento do corpo e ao afastamento da vida social. De acordo com Helman

(2005), na sociedade em que vivemos os idosos têm status pouco relevante já que

os jovens possuem maiores habilidades e que mesmo a velhice sendo um processo

de construção social ainda sofre preconceito. Giddens (2005) compartilha da ideia

de que na sociedade atual os idosos tem baixo status. Contudo, o autor traz o

29

processo de envelhecimento em seus aspectos negativos e positivos. É o que

verificaremos a seguir na fala de Giddens (2005, p. 145):

Dois processos um tanto contraditórios estão envolvidos aqui. De um lado, os idosos nas sociedades modernas tendem a ter status mais baixo e menos poder do que tinham em culturas pré-modernas. Nessas culturas, como nas sociedades não ocidentais hoje (como a Índia e a China), acreditava-se que a velhice trazia sabedoria, e as pessoas mais velhas de uma comunidade eram amiúde os verdadeiros núcleos de decisão. Hoje, a idade avançada normalmente traz consigo o efeito contrário. Em uma sociedade que passa por constantes mudanças, como a nossa, o conhecimento acumulado das pessoas mais velhas muitas vezes parece para os jovens não mais um valioso depósito de sabedoria, mas, simplesmente, um anacronismo.

Por outro lado, no entanto, as pessoas mais velhas hoje em dia estão bem menos propensas a aceitar o envelhecimento como um processo inevitável de deteriorização do corpo. [...] O processo de envelhecimento era geralmente aceito como uma inevitável manifestação da devastação do tempo. Mas, cada vez mais, o envelhecimento não é algo admitido como natural; os avanços na medicina e na nutrição têm que muito do que um dia foi considerado inevitável sobre o envelhecimento pode ser contestado ou retardado. Em média, as pessoas atingem idades bem mais avançadas do que há um século, como resultado de melhoria nos cuidados com a nutrição, higiene e saúde.

Numa visão menos fatalista, Ferring (2003) compreende que com o aumento

da expectativa de vida dos idosos, os mesmos ganharam espaço na sociedade

contemporânea, onde mesmo os jovens tendo status elevado, estudos revelam que

a forma de tratar os idosos está se transformado.

Podemos verificar o fenômeno do envelhecimento populacional brasileiro a

partir dos dados fornecidos pelo Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), em que os idosos de 65 anos ou mais, que em 1991

eram de 4,8 %, em 2000 aumentaram para 5,9 % chegando a ser 7,4% da

população em 2010. Conforme World Health Organization (WHO, 2005) o Brasil

será o sexto País no que se refere ao número de idosos no ano de 2025.

Diante dos dados apresentados, perguntamo-nos quais são os fatores que

estão contribuindo para o fenômeno do envelhecimento populacional brasileiro?

Alguns autores acreditam que o crescimento do número de idosos no Brasil deve-se

30

à baixa taxa de fecundidade e à redução da mortalidade infantil, essa é a concepção

de Camarano (2002). Pensamento semelhante nos traz Borges (2006, p. 105) em

sua fala:

Alguns acontecimentos, comuns tantos nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, contribuíram para esse aumento substancial da população idosa. Dentre eles, pode-se citar a redução da mortalidade infantil e das taxas de fertilidade associadas à introdução de novas tecnologias na área dos cuidados médicos. Entretanto, a grande diferença é que, em países como o Brasil, os fatos citados não estão associados com a melhoria das condições de vida. [...].

Diante da teoria dos autores e dos dados apresentados, compreendemos

que o aumento populacional no número de idosos reflete grandes desafios para um

país que está em desenvolvimento, que é o caso do Brasil, tornando-se necessária a

discussão sobre o envelhecimento da população brasileira. Mascaro (1997, p. 09),

afirma que “em nosso País o tema velhice é da maior importância, pois, com o

aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de natalidade, houve um

crescimento do número de idosos na população brasileira”.

A longevidade, portanto, é resultado de diversos fatores, dentre eles as

conquistas obtidas na área da saúde e social. Contudo, o crescimento do segmento

Idoso no Brasil, traz consigo grandes desafios no âmbito demográfico, econômico e

social. Torna-se, pois, fundamental a intervenção do poder público através da

elaboração de políticas sociais que atendam as necessidades inerentes a essa faixa

etária. No século XXII o Brasil terá 8,5 milhões de idosos com idade de 60 anos ou

mais, e a cada 20 pessoas 01 será idosa, e mais tarde a cada 12 pessoas 01 será

idosa, essas foram as conclusões de Berquó (1996) após a realização de estudos

demográficos.

Camarano (1999) traz uma ideia semelhante à de Berquó (1996) sobre as

questões que permeiam o processo do envelhecimento populacional. Podemos

compreender que esse fenômeno não está ligado somente às questões

demográficas, mas também múltiplas faces da questão social que exigem políticas e

programas específicos para esse segmento etário. Para Camarano (1999, p.20-21),

31

“o envelhecimento populacional traz novos desafios, sobretudo a transferência de

recursos para atender as especificidades desse segmento da população”.

Sobre os desafios enfrentados pelos idosos no Brasil e a busca pela

superação dos mesmos, Barros (2011) conclui que, com o aumento da expectativa

de vida dos idosos, cresce também a necessidade de políticas públicas para os

mesmos. Com a Constituição Federal de 1988 os idosos passam a ter proteção

jurídica em que se coloca como fundamentais a cidadania e a dignidade da pessoa

humana. Essa afirmação de Barros (2008) contempla a fala de alguns autores

estudados até aqui, de que junto com o fenômeno do envelhecimento populacional,

surgem demandas específicas e a urgência na criação de leis que regulamentem os

direitos da população idosa. É sobre essa questão que discutiremos a seguir.

1.4 A população idosa e a legislação brasileira

Iniciaremos a discussão acerca da legislação brasileira para os idosos,

buscando compreender o que é direito. Segundo Fernandes (1997), direito é um

conjunto de regras que representa o poder público e a sociedade que tem como

objetivo estabelecer a conduta social, o mesmo por sua vez está integrado ao

cotidiano das pessoas refletindo sobre as necessidades de cada sociedade em seu

tempo. Ainda de acordo com Fernandes (1997) a compreensão sobre direito surgiu

no decorrer dos séculos diante da necessidade da convivência humana, iniciando

um processo de civilização resultando na criação de normas. Fernandes (1997) faz

uma viagem no tempo e relembra o Código de Hamurabi onde se encontraram as

primeiras distinções entre a infância e a idade adulta. Tratava-se de 22 artigos

registrados em pedras que continham a forma de consideração e direitos dos velhos.

Dentre outros, o autor cita também achados no Egito que traziam a preocupação

em poupar e assistir as pessoas idosas.

A partir da obra de Fernandes publicada em 1997, podemos compreender

que desde a antiguidade já havia uma preocupação com a condição da pessoa

32

idosa, sendo que anteriormente se buscava garantir os direitos dos idosos a partir de

regras de convivência, contudo, com os avanços ocorridos no decorrer da história,

as regras de convivência passam a ser regidas por leis. E ainda assim, no Brasil, a

conquista de uma legislação para a população idosa foi um processo lento e de

muitas lutas é o que veremos adiante ainda neste capítulo.

Para falarmos sobre a população idosa e a legislação brasileira precisamos

contemplá-las em seus aspectos positivos e negativos, ou seja, é necessário uma

analise em sua totalidade. No Brasil, por exemplo, o crescimento no número de

idosos ocorre paralelamente ao crescimento das desigualdades sociais em que

aposentados e pensionistas são vistos como causadores de déficits da previdência

pública, tornando-se um processo difícil o envelhecimento em nosso País. Lobato

(2008, p. 214-215) sinaliza essa ideia em sua fala a seguir:

[...] a concentração de renda persiste, aumentando a distância entre ricos e pobres em nossa sociedade. Recente estudo publicado no jornal o Globo a respeito das mudanças na economia brasileira nos últimos quarenta anos, revela que ainda temos 25,5 milhões de pobres (IBGE, 2007), muitos sobrevivendo com menos de um salário mínimo, não tendo garantias de que farão três refeições por dia. [...] Nesse contexto, pensar em condições dignas de vida para os idosos é enfrentar o desafio de respeitá-los como ex-trabalhadores, que embora não participando mais da produção, ajudaram a construir a riqueza do nosso País.[...] Daí que envelhecer com dignidade não é uma responsabilidade individual, mas coletiva. Implica não só a criação de políticas públicas como também a garantia de acesso dos idosos a essas políticas.

Verificaremos agora uma visão panorâmica sobre a legislação brasileira que

contempla a população idosa. No que tange às políticas sociais voltadas para o

segmento idoso, convém esclarecer que sua trajetória nasce num contexto de lutas

da classe trabalhadora. No Brasil, estas lutas começam a ter resultados em 1923

com a lei Eloi Chaves que instituiu as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs).

Em Janeiro de 1947 o Ministério da Previdência e Assistência social define a política

social do idoso. De acordo com Carvalho (2007), na década de 1970 criou-se dois

benefícios não contributivos, foram eles as aposentadorias para trabalhadores rurais

e a renda mensal vitalícia para os necessitados urbanos e rurais com mais de 70

anos de idade. Chegando à década de 1980, temos as conquistas obtidas a partir da

33

Constituição Cidadã de 1988, a respeito Rezende e Cavalcante (2009, p. 167)

afirmam que:

[...] Os idosos de todas as partes do Brasil demonstraram sua força política nas galerias do congresso, na praça dos três poderes, nas inúmeras passeatas de aposentados e pensionistas, dentre outras manifestações públicas. Parece-nos impossível um quadro completo das lutas populares nos processos constituídos por aposentados.

A Constituição de 1988 amplia e consolida os direitos da população idosa,

por exemplo, a dignidade da pessoa humana e a promoção dos direitos sem

qualquer forma de preconceito ou descriminação independente da idade do

cidadão.1 Sobre o idoso, dentre outros, o texto da Constituição traz o dever dos

filhos mais velhos em amparar os pais na velhice. Leme (1998, p. 63) coloca o

seguinte sobre a questão familiar do idoso:

A importância do apoio familiar para a pessoa que envelhece é essencial. A família pode, com precisão, ser considerada o hábitat natural da pessoa humana. Na família, efetivamente, somos mais naturais, conhecidos, sem máscaras sociais, por nossos defeitos e nossas qualidades.

Em setembro de 1993, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) nasce

de uma conquista que contou com a participação dos trabalhadores do campo, a Lei

surge com o objetivo de atender usuários da assistência social. Somente seis anos

após Constituição Federal através da Lei 8.842, ocorre a criação da Política Nacional

do Idoso (PNI), através da Lei nº 8.842 de 04 de janeiro de 1994, a qual cria o

Conselho Nacional do Idoso, tendo como objetivo assegurar os direitos sociais do

idoso, promovendo sua autonomia, integração e participação na sociedade.2 Sobre a

PNI, Simson, Neri e Cachione (2006, p. 80), expressam que:

1 Constituição Federal de 1988. Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos

menores, e os filhos maiores tem o dever de amparar e ajudar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Art. 230. A família a sociedade o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito a vida. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.

2 Lei nº 8.842/94 – Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais

do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na

34

[...] tem como objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade’ (art. 1º). Esses direitos básicos devem ser concretizados a partir de políticas sociais [...]. A PNI torna-se, assim, um marco na definição de um novo paradigma, mas ainda não se firmou no âmbito dos direitos sociais, por ainda não ter sido alvo de destinação de recursos suficientes para sua consecução, salvo em algumas iniciativas esporádicas.

Fernandes (1997) relata que houve uma grande demora para que surgisse

um documento legal caracterizando a relevância do tema velhice no Brasil,

destacando a importância da instituição SESC- São Paulo, já que a mesma

proporcionou diversos cursos voltados para os idosos e assim chamando a atenção

para relevância do tema, contribuindo para a discussão dessa temática em 1976, no

l Seminário Nacional de Estratégias de Políticas para o Idoso, realizado em Brasília-

DF. Ainda sobre a (PNI) Fernandes (1997, p. 20) enfatiza que:

É uma lei especial, que procura valorizar a qualidade de vida e a longevidade. A lei estabelece recomendações para que pessoas idosas sejam entendidas e desfrutem de vida plena e saldável, segura e satisfatória, juntos de suas famílias e na comunidade onde vivem. Identifica, inclusive, os campos de maior apoio.

Rezende e Cavalcante (2009) teorizam que a legislação brasileira para o

segmento idoso está entre as mais avançadas do mundo. Inclusive, no tocante à lei,

a PNI é um marco para as ações ao público idoso, porém, compreende-se que as

diretrizes da lei estão distantes da realidade dos idosos brasileiros.

Ainda de acordo com Rezende e Cavalcante (2009), após uma trajetória que

durou mais de seis anos, finalmente em 2003 foi sancionada a lei nº 10.741, que

dispõe sobre o Estatuto do Idoso. É de grande relevância destacar que esse

processo se deu em meio a debates com a participação dos movimentos sociais dos

idosos e aposentados. Constituído como um avanço para a sociedade brasileira, o

comunidade. – Art. 2º Considera-se idoso, para os efeitos desta lei, a pessoa maior de sessenta anos de idade.

35

Estatuto do Idoso caracteriza, dentre outros avanços, as especificidades na área da

saúde.3

3 Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas

com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Capitulo – I (Direito a vida) Art. 8º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta lei e da legislação vigente.

36

2 PERCURSO METODOLÓGICO

Antes de iniciarmos o percurso metodológico é relevante compreendemos o

que é metodologia, que na concepção de Minayo (1993) é o pensamento e a prática

exercida na realidade, onde se inclui simultaneamente a teoria, os instrumentos e a

criatividade do pesquisador. De maneira semelhante pensam os autores Deslandes,

Neto e Gomes (1994, p.16) quando compreendem metodologia como:

[...] o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa o lugar central no interior das teorias e esta sempre referida a elas. [...] a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do pesquisador.

As categorias teóricas utilizadas para a fundamentação desta pesquisa

foram “Idoso”, “Criança” e “Intergeracionalidade”. Através de pesquisa quali-

quantitativa com caráter bibliográfico a partir de autores de grande relevância sobre

as temáticas abordadas, dentre eles estão: Beauvoir (1990); Bosi (1994); Bercquó

(1996); Debert (2004); Camarano (2002); Leme (1998); Magalhães (1987); Mascaro

(1997); Neri (2006); Ferrigno (2010).

2.1 Natureza, tipos, técnicas e instrumentos da pesquisa

Realizamos uma pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa, para que

possamos relacionar os dados estudados e assim termos um resultado final que

tenha credibilidade. Sobre a pesquisa qualitativa Minayo (2001) argumenta que a

mesma possibilita um trabalho com infinitos significados, compreendendo de forma

aprofundada as relações, processos e fenômenos. Num pensamento semelhante os

autores Deslandes, Neto e Gomes (1994), afirmam que a pesquisa qualitativa se

refere a questões particulares, preocupando-se com uma realidade que não pode

ser representada em números e sim compreende diversos motivos, aspirações

crenças e atitudes.

37

Ainda sobre a pesquisa qualitativa, Minayo (2008) sinaliza que está é um

processo iniciado com uma pergunta que diante das respostas geram-se dúvidas e

questionamentos. Esse tipo de pesquisa divide-se em três momentos. O primeiro

momento é exploratório em que o pesquisador prepara-se para ir a campo. O

segundo momento seria sua inserção em campo, onde faria as observações e

levantamentos dos dados necessários. E finalizando o terceiro momento com a

análise do material levantado e os documentos já existentes.

Já no que se refere à pesquisa quantitativa, Fonseca (2002) esclarece

que esta por sua vez tem caráter objetivo sendo de grande relevância, já que os

resultados mostram a realidade das pessoas que participaram da pesquisa. Porém,

o autor considera que a utilização da pesquisa quantitativa e qualitativa permite que

sejam obtidas mais informações acerca do objeto pesquisado. Martinelli (1999)

também considera importante a relação entre ambas, pudemos observar isso

quando chama nossa atenção para percebermos essa relação de

complementaridade e articulação. Com relação à utilização de ambas as pesquisas

os autores Deslandes, Neto e Gomes (1994, p.22) esclarecem que:

A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto cientistas sociais que trabalham com estatísticas apreendem dos fenômenos apenas a região visível, ecológica, morfológica e concreta, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas. O conjunto de dados qualitativos e quantitativos, porém, não se opõe. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia.

Minayo (1993) considera a pesquisa qualitativa como um trabalho artesanal

já que a pesquisa é realizada baseada em “conceitos, preposições, hipóteses,

métodos e técnicas [...]. A esse ritmo denominamos ciclo de pesquisa [...] começa

com uma pergunta e termina com uma resposta [...]”. O processo de pesquisa

qualitativa divide-se em três momentos: a fase exploratória; trabalho de campo e

análise do material obtido.

Optamos também pela pesquisa bibliográfica a partir de um levantamento de

referências teóricas já publicadas, desta forma foi possível conhecer o que já se

escreveu e o que foi publicado acerca da temática referente à pesquisa. É o que

38

remete o pensamento Gil (2002) quando fala que esse tipo de pesquisa deve estar

baseado em material já elaborado, principalmente nos livros e artigos científicos. Gil

(2002, p. 45), fala sobre a principal vantagem desse tipo de pesquisa:

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diariamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. Por exemplo, seria impossível para um pesquisador percorrer todo o território brasileiro em busca de dados sobre população ou renda per capta. [...] Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos.

Utilizarmo-nos também da pesquisa documental que inclusive é semelhante

à pesquisa bibliográfica, porém Gil (2002) chama nossa atenção para algo

fundamental que as diferenciam que seria a natureza das fontes, já que a pesquisa

bibliográfica utiliza da contribuição dos autores sobre diferentes temáticas, e a

pesquisa documental vai utilizar material que ainda está sendo analisado, o que não

diminui a sua importância. Dessa forma, a pesquisa documental torna-se necessária

para a nossa pesquisa visibilizando a leitura das anamneses que contém os dados

dos Idosos, este documento é preenchido quando o Idoso chega ao trabalho social

com idosos (TSI) pela primeira vez e é entrevistado por uma Assistente Social, as

informações contidas nesse documento são ricas e de grande relevância para a

análise dos dados.

As técnicas utilizadas foram: entrevistas semi-estruturadas, observação

participante, questionário misto objetivo e subjetivo. Como instrumentos foram

utilizados os seguintes: roteiro de entrevistas, questionário, gravador de voz diante

da autorização dos idosos além da utilização de diário de campo.

Diante de uma investigação em que os principais sujeitos são os idosos é

coerente ouvi-los, sobre sua história de vida, motivações e implicações na sua

participação no projeto “Era uma vez...” dessa forma, realizamos entrevistas que

foram agendas de acordo com a disponibilidade dos entrevistados, o local escolhido

foi uma sala do Núcleo SESC Saúde, onde teríamos conforto necessário e

privacidade para que os idosos se sentissem a vontade para falarem sobre as

39

questões propostas pelo roteiro de entrevista. O intuito era ouvi-los de forma neutra,

para que posteriormente pudéssemos acrescentar as informações na análise dos

dados. Como salientou Martinelli (1999, p. 22) “Cada pesquisa é única, pois se o

sujeito é singular, conhecê-lo significa ouvi-lo, escutá-lo, permiti-lhe que se revele. E

onde o sujeito se revela? No discurso e na ação”.

O momento da inserção em campo ocorreu durante os encontros do grupo

que acontecem uma vez por semana na escola Educar SESC. Sobre a observação

participante típica da pesquisa qualitativa, Martinelli (1999) avalia que é algo muito

relevante, pois nos tornamos sujeitos da pesquisa. “[...] quanto mais emoção

colocarmos nas nossas pesquisas, mais vida elas terão. [...] para mantermos a

objetividade devamos ocultar a emoção. (VILANOVA apud MARTINELLI, 1999, p.

25). Durante a observação participante, foram realizados os diários de campo onde

foram anotadas as principais atividades realizadas pelo grupo no período da

observação, descreveremos os principais trechos no terceiro capítulo.

2.2 Aproximação com o tema

Como foi mencionado anteriormente nos utilizamos da metodologia

qualitativa. Martinelli (1999) contempla que mais do que descrever um objeto ela

busca verificar as trajetórias de vida e experiências sociais dos sujeitos envolvidos

exigindo disponibilidade e interesse do pesquisador. A escolha desta temática

ocorreu pelo real interesse no assunto, ou seja, por uma necessidade de

compreensão de como se dá essa relação entre idosos e crianças.

Já havia uma aproximação por parte dos pesquisadores com os projetos

realizados pelo SESC, o que facilitou o acesso favorecendo para uma melhor

compreensão do contexto e da trajetória dos programas e projetos realizados pela

instituição. Foi levada em consideração também a disponibilidade dos

pesquisadores. Desta forma, compreendemos que o fácil acesso, a disponibilidade

de tempo e principalmente o interesse pela temática favorecem para o entendimento

40

da trajetória de vida e experiência dos idosos. Ressaltando que os sujeitos principais

desse estudo são os idosos, porém, a participação das crianças torna-se

fundamental para a obtenção dos resultados finais.

2.3 O Serviço Social do Comércio (SESC) como espaço de socialização para

a população idosa

Diante da inegável realidade do progressivo aumento da população idosa,

na ultima década, no Brasil ocorreu um crescimento no surgimento de programas

voltados para o público idoso. De acordo com Debert (2004) escolas abertas,

universidades para a terceira idade e os grupos de convivência abrem espaços

significativos, demonstrando uma sensibilização da sociedade brasileira diante das

questões do envelhecimento. Ainda de acordo com Debert (2004, p. 16),

As pessoas de mais idade, na certeza de que hoje não podem viver como antigamente, ocupam e redefinem novos espaços criados para envelhecer, respondendo de maneiras diversas ao tipo de controle de emoção que passa a ser neles exigido.

No Brasil, algumas instituições foram pioneiras na criação de programas e

projetos voltados para a população idosa. É o caso do Serviço Social do Comércio

(SESC), da Legião Brasileira de assistência (LBA) e das Universidades abertas para

a Terceira Idade. Debert (2004) coloca que foi a partir da década de 1980 que esses

espaços sociais foram criados, sendo os três programas abertos a todos os idosos e,

mesmo tendo uma diversidade de propostas, o objetivo geral seria rever os

estereótipos pelos quais a velhice passa na sociedade brasileira. Os programas

foram criados de acordo com o Plano de Ação Mundial sobre o envelhecimento,

(2002) o qual já foi explanado anteriormente.

Das três instituições citadas como pioneiras no desenvolvimento de trabalho

com idosos, iremos nos aprofundar um pouco no contexto histórico do SESC,

instituição onde serão realizadas as coletas de dados para análise a partir do

programa de Trabalho Social com Idosos (TSI), através do projeto “Era uma vez...

atividades intergeracionais”.

41

No Brasil, já existem políticas públicas para o idoso que asseguram os

direitos sociais dos mesmos, garantindo sua autonomia, integração e participação

em ações intergeracionais. No artigo 4, inciso I da PNI, há a referência à integração

do idoso com as demais gerações. Porém, isso não é o suficiente e, assim,

evidencia a importância de instituições como o SESC e algumas outras que

desenvolvem trabalhos que buscam efetivar os direitos conquistados pelos idosos.

O SESC foi criado em 13 de setembro de 1946 e no Ceará, foi fundado em

20 de maio de 1948. O SESC é uma instituição social, de caráter privado e sem fins

lucrativos, é mantida pelos empresários do comércio de bens e serviços. A atuação

do SESC é de agente facilitador na transformação da sociedade, estimulando o

desenvolvimento da cidadania e contribuindo para uma melhor qualidade de vida

dos comerciários e da comunidade de forma geral, a partir de ações nas áreas de

Educação, Cultura, Lazer, Saúde e Assistência Social.

Sobre o trabalho realizado com os idosos no Brasil, Nunes (2001) ressalta a

importância da instituição SESC, que iniciou o TSI na década de 1960 em São Paulo

com o objetivo de desenvolver atividades socioeducativas e culturais oferecendo

espaços para a convivência e o lazer de idosos. Por sua vez, Debert (2004) refere-

se aos programas do SESC voltados para os idosos, como uma iniciativa bem

sucedida na promoção do envelhecimento e ainda com a abertura de espaços para

que os idosos pudessem se encontrar para a realização de diversas atividades.

No Ceará, desde 1983 o TSI atua na promoção do envelhecimento ativo,

focando na integração social, respeito e valorização do idoso. Dentro deste

programa, existem diversos projetos voltados para o público idoso, dentre eles o

“Era uma vez... atividades intergeracionais”, o qual escolhemos como campo de

pesquisa. Retornaremos a falar sobre o projeto “Era uma vez”, mais adiante no

terceiro capítulo onde passaremos a conhecê-lo de forma um pouco mais

aprofundada.

42

2.4 Sujeitos da pesquisa e o seu perfil sócio-econômico

Sujeitos da pesquisa

A pesquisa sobre a intergeracionalidade do idoso com o público infantil a

partir do projeto “Era uma vez...” teve seu universo restrito aos idosos do projeto

realizado pelo TSI no SESC Fortaleza. O mesmo conta com a participação de doze

idosos. Contudo, selecionamos sete para participarem da pesquisa, tendo como

critério o tempo de caminhada no projeto. Dessa forma, fica claro que esta pesquisa

não contou com um grande numero de sujeitos participantes e a mesma se deu por

meio de saturação que para Martinelli (1999) esse momento ocorre quando

identificamos que já obtivemos a informação necessária relacionada a nossa

temática. Para tanto, sobre trabalhar com grupos menores, Martinelli (1999, p. 24)

coloca que “[...] é preciso aprofundar o conhecimento em relação a aquele sujeito

com o qual estamos dialogando[...] temos a possibilidade de compor

intencionalmente o grupo de sujeitos com os quais vamos realizar nossa pesquisa”.

Perfil dos Idosos

Quanto ao sexo

Gráfico 1: Sexo dos idosos

0

1

2

3

4

5

6

Feminino

Masculino

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

Dos sete idosos entrevistados, somente um é do sexo masculino. O

percentual relativo ao sexo aponta que a participação das mulheres em atividades

de grupo é superior a participação dos homens. Menezes (2012) sinaliza que em

43

geral as mulheres idosas realmente são mais envolvidas em projetos e tem maior

participação nos grupos de convivência, além de estarem presentes nos espaços

políticos, o que as deixa em evidência nos espaços sociais, sendo que o mesmo não

ocorre com os idosos do sexo masculino. Alguns aspectos justificam essa tímida

participação em grupos sociais por parte dos idosos do sexo masculino, é o que

percebemos na seguinte afirmação de Carvalho (2007, p. 80):

Pode-se dizer também que essa reduzida participação dos idosos do sexo masculino não se deve apenas ao fato da expectativa de vida da mulher ser maior que a do homem, essa realidade abrange, principalmente, as questões culturais bastante enraizadas pela sociedade: portanto, percebe-se que para alguns idosos as atividades que estimulam o convívio, a participação democrática, o contato no mesmo nível entre os participantes, são “atividades femininas” e podem torná-los menos importantes na hierarquia social.

Quanto à idade:

Gráfico 2: Faixa etária dos idosos

Ent re 50 a 6 0 anos

Ent re 6 1 a 70 anos

Ent re 71 a 8 0 anos

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

A partir do levantamento do perfil socioeconômico dos idosos participantes

do projeto “Era uma vez...” verificamos que: os idosos tem idades entre 55 a 75

anos, sendo que, o TSI considera a idade de 50 anos como requisito básico para

inscrição e participação em seus projetos, esclarecendo que iremos ampliar essa

discussão no terceiro capítulo. Desta forma, dois de seus doze participantes tem

idade inferior a que está estabelecida na legislação que considera idosa a pessoa a

partir de 60 anos.

44

Quanto ao estado civil

Gráfico 3: Estado civil dos idosos

solteiro

casado

divorciado

viúvo

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

Fica claro o elevado número de idosas viúvas confirmando os estudos sobre

a feminização da velhice conforme indicadores do (IPEA) realizado em 2005, que

aponta que das mulheres idosas, 41% tinha a viuvez como situação conjugal. Dados

do IBGE (2000) se confirmam, pois sinalizavam que estava crescendo o número de

divorciados em todas as camadas sociais. Por último ficaram os solteiros, não

havendo nenhum idoso que estava casado no momento da pesquisa.

Quanto a Naturalidade

Gráfico 4: Onde nasceram os idosos

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

Quanto à residência atual

Gráfico 5: Onde residem os idosos

45

Fortaleza

Pentecoste

Maranguape

Ipú

Crato

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

Diante dos gráficos 4 e 5 pudemos verificar que a maioria dos idosos

nasceram em Fortaleza, sendo que, todos residem atualmente na capital cearense

Quanto a terem filhos e netos

Gráfico 6: filhos e netos dos idosos

0 2 4 6 8

Sem netos

Sem filhosSem filhos

Com filhos

Sem netos

Com netos

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e

trabalho.

Quanto aos netos morarem com os idosos

Gráfico 7: Idosos que tem seus netos morando consigo

46

Fortaleza

Pentecoste

Maranguape

Ipú

Crato

Sobre os idosos que tem filhos e netos estão em maioria, contudo, os idosos que

tem seus netos morando consigo estão em número bem menor

Quanto à escolaridade

Gráfico 8: Escolaridade dos idosos

0

1

2

3

Ensino

fundamental

Ensino fundamental

Ensino médio

Graduação

Especiailzação

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

Os dados acima demonstram que os idosos participantes do projeto “Era

uma vez...” estão empatados entre ensino médio, graduação e especialização. Vale

ressaltar que no projeto existem idosos analfabetos, esclarecendo que os mesmos

não estão participando da pesquisa diretamente, não por seu grau de escolaridade,

mas como já foi falado anteriormente, o critério foi convidar os idosos com maior

tempo de participação no projeto. Lembramos ainda que os cinco idosos que não

foram entrevistados fazem parte da pesquisa, por exemplo, através dos diários de

campo, da observação participante e de outros momentos.

47

Quanto à situação sócio-ocupacional

Gráfico 9: Situação sócio-ocupacional dos idosos

Empregado

Desenpregado

Aposentado por idade

Aposentado por incapacidade ao trabalho

Beneficiário BPC

Licença médica

Aposentado por tempo de serviço

Fonte: Dados obtidos a partir do levantamento de dados demográficos, realidade de vida e trabalho.

Observamos que a grande maioria dos idosos entrevistados está

aposentada por tempo de trabalho seguido por aqueles que estão aposentados por

idade. Esclarecemos que não haviam idosos empregados e desempregados, desta

forma, não sendo contemplados no gráfico.

Os dados apresentados através dos gráficos foram obtidos a partir do

preenchimento de formulários que antecederam as entrevistas. Ressaltamos que os

dados foram complementados com a leitura das anamneses dos idosos,

documentos esses que são preenchidos no momento do ingresso dos idosos no

programa, ficando arquivados no TSI. Os dados colhidos a partir das entrevistas

serão apresentados no próximo capítulo.

48

3 INTERGERACIONALIDADE

Antes de iniciarmos uma reflexão sobre intergeracionalidade se faz

necessário conhecermos alguns conceitos apresentados ao termo geração.

“Observa-se que a despeito da relevância do conceito de geração, há confusões

tanto no discurso popular quanto nos trabalhos científicos sobre o seu significado

[...]” (ATTIAS-DONFUT Apud FERRIGNO 2009, p. 57). Ferrigno (2010, p. 34) reflete

que “Podemos, pois, considerar que as gerações são socialmente construídas,

porque, antes de tudo, o indivíduo é que é socialmente construído [...]”.

Depois de uma breve reflexão acerca do termo geração, iremos agora

buscar compreender o que significa o termo intergeracionalidade. Consultando o

dicionário da língua portuguesa Priberam, verificamos que intergeracionalidade está

relativo às relações entre gerações. E ainda de acordo com Goldman (2002) “a

intergeracionalidade é um conceito que se vive, que se aplica a vida cotidiana. É

uma forma de aproximação entre gerações para melhor compreender e buscar,

solidariamente soluções aos problemas que envolvem todas as faixas etárias.”

3.1 Relações intergeracionais

Para falarmos sobre relações intergeracionais entre idosos e crianças é

preciso conhecermos no mínimo o conceito das categorias idoso, criança e

intergeracionalidade. No primeiro capítulo trabalhamos o conceito do sujeito

principal da pesquisa que é o idoso e no início desse terceiro capítulo trazemos o

conceito de intergeracionalidade a partir de alguns autores. Daremos continuidade

expondo o conceito da categoria criança, sendo que a mesma é definida pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), através da Lei nº 8069/90, como

pessoa com idade até 12 (doze) anos incompletos.

49

A criança vem conquistando seu espaço ao decorrer de cada geração

essa conclusão pode ser encontrado em um trabalho precursor na concepção de

infância, de Ariés (1978) onde sinaliza que entre os séculos XIX e XX a criança

passa a ganhar importância dentro do contexto familiar. Diante de suas produções

o autor recebeu algumas críticas, uma em especial nos chama atenção que é a

crítica de Besançon “A criança não é apenas um traje, as brincadeiras, a escola,

nem mesmo o sentimento da infância [...] ela é uma pessoa, um processo”

(BESANÇON apud ARIÉS, 1978, p. 56).

Com relação à garantia da integração do idoso com outras gerações

Goldeman (2002) fala que a intergeracionalidade é algo que se aplica e que se vive

no dia a dia, como forma de entrelaçar gerações com o intuito de compreender os

problemas peculiares de todas as faixas etárias. Magalhães (1987, p.34) teoriza

sobre a intergeracionalidade afirmando que “o mundo contemporâneo não cria

oportunidades para que o diálogo com as gerações antigas seja efetivo e frequente”.

Diante das afirmativas dos autores, buscamos verificar se a legislação brasileira

voltada para o idoso trás algo a respeito, e constatamos que no Brasil já existem

políticas públicas para o idoso que asseguram os direitos sociais do idoso

garantindo sua autonomia, integração e participação em ações intergeracionais. No

artigo 4, inciso I da PNI faz referência à integração do idoso com as demais

gerações.

As relações entre idosos e outras gerações podem ser descritas na citação

de Novais (1997, p.55): “A criança e o idoso talvez se reúnam em uma dimensão

intemporal, ao qual eles pertencem por direito, um por não haver ainda saído dela e

o outro por tê-la reencontrado”. Já na concepção de Beauvoir (1990) a idade

modifica as relações ao longo do tempo sendo a sociedade contemporânea um todo

não totalizante, em que o velho é visto com estranhamento pelas pessoas

consideradas “ativas”. A autora descreve o velho como alguém que tem toda uma

história de vida e diante de si uma expectativa de vida limitada.

Já na concepção de Magalhães (1987, p. 81-82) as relações

intergeracionais sejam elas o idoso com a criança ou o idoso com o jovem, uma

50

coisa é certa, essa relação estará carregada de emoções e inclusive de um

preconceito “natural” do ser humano. É desta forma que ele caracteriza o processo

de intergeracionalidade:

Se observássemos o contato das crianças com os Idosos, que imagem nos seria sugerida? Se observássemos o contato dos jovens com os idosos, [...]. Em todos os contatos, a situação estará carregada de emoções, sentimentos, idéias e preconceitos próprios da condição cultural do observador, [...] .Em qualquer caso, essa imagem terá cor, luz, emoção, noções e pré-noções a partir do indivíduo que observa[...].

Com foco na relação intergeracional entre Idosos e Crianças, Oliveira (2003,

p.6) considera que nessa relação entre gerações ocorre um processo de

transformação em que os idosos são remetidos a reviverem momentos de suas

vidas que já haviam sidos esquecidos pelos mesmos. É o que pudemos verificar em

sua teoria,

As crianças pouco a pouco vão, mesmo que sequer o saibam, forçando os velhos a se transformarem. Ora são levados a revirar o fundo da alma, avivando práticas esquecidas, memórias apagadas, conhecimentos relegados para trás. ora são levados por mãos infantis a conhecer novos brinquedos, outros hábitos, maneiras diferentes, programas nunca experimentados.

Pode-se dizer que as relações intergeracionais quase sempre têm em seu

contexto estudos sobre família. Na atualidade a relação entre as gerações se dá em

espaços exclusivo, claro, com exceção da família, já que é no ambiente familiar que

ocorrem com frequência o encontro entre gerações, mesmo que não se relacionem

afetivamente, é certo que estão próximos fisicamente. Analisando de forma positiva

a relação intergeracional é algo bom e enriquecedor. Desta forma, sendo necessário

encontrar uma forma de que esse relacionamento também se estabeleça fora do

ambiente familiar essas são as considerações de Ferrigno (2009) acerca da

importância da expansão das relações intergeracionais além do contexto familiar.

3.1.1 A coeducação entre idosos e crianças

51

Na apreciação acerca da obra de José Carlos Ferrigno que tem como título

“Coeducação entre gerações” o diretor regional do SESC São Paulo, Danilo Santos

Miranda aprecia que: os conceitos infância, adulto e velhice são uma construção

social, com isso o papel de cada uma dessas gerações está relacionado à atribuição

de status para cada indivíduo. As relações entre as gerações se estabelecem

primeiramente no seio familiar sendo pouco comum encontrar relações

intergeracionais que não se baseiem no vínculo familiar. Pudemos encontrar essa

ideia descrita mais claramente em Ferrigno (2010, p. 13-14-15)

A ideia de coeducação pressupõe que o compartilhamento de ações e a não hierarquização entre os sujeitos do processo, uma troca afetiva e igualitária de experiências que transcende a obviedade de expectativas anteriormente estabelecidas. [...] o relacionamento entre os idosos e os mais jovens enriquece igualmente as partes, trazendo-lhes ideias e oportunidades renovadas. Ali, a relação ensino-aprendizagem questiona a predeterminação de papéis sobre quem ensina e quem aprende, podendo mesmo invertê-la. [...] jovens, trata-se de observar e ensaiar a experiência da velhice vindoura, [...] faz-se uma reflexão antecipada sobre o que se deseja da vida [...] Aos idosos cabe à quebra de estereótipos quanto às possibilidades e tempo livre de viver.

Acredita-se que ao compartilhar as experiências entre idosos e jovens está

se combatendo o preconceito etário, o que pode contribuir para uma sociedade mais

justa, tolerante e solidária, conclui Ferrigno (2010).

3.2 Projeto “Era uma vez...atividades intergeracionais

Diante da experiência do SESC através do TSI sobre as questões do

envelhecimento, surge a necessidade de uma reflexão sobre o envelhecimento a

partir da infância. Essa percepção levou o SESC a criar o projeto “Era uma

vez...atividades intergeracionais” sua gênese tem como base uma experiência

francesa, tendo como metodologia a leitura de um livro infanto- juvenil.

No Brasil, o projeto está sendo desenvolvido em alguns Estados, com

perspectiva de ampliação para os demais onde ainda não acontece. O projeto “Era

uma vez...” é uma atividade intergeracional e uma ação sócio-educativa. O projeto é

52

realizado através de atividades pedagógicas e sociais, desenvolvidas com um grupo

misto tendo a participação de idosos e crianças, sendo a leitura o eixo condutor no

processo de sensibilização dos problemas do envelhecimento.

No SESC Fortaleza, o projeto conta com a participação de 25 crianças e 12

idosos. É sempre importante ressaltar que, o Trabalho Social com Idosos (TSI),

estabelece como critério para participar do TSI, idade mínima de 50 anos, desta

forma, dois dos sete participantes do presente estudo tem idade inferior a 60 anos,

porém, estavam dentro do critério de seleção, pois são veteranos no projeto.

O público infanto-juvenil, que é uma das partes desse todo que compõem o

projeto, é composto por um grupo de crianças com idade entre 05 e 11anos, que

moram em comunidades em situação de vulnerabilidade. As crianças estudam pela

manha em escolas públicas e a tarde participam do Programa de Habilidades

Específicas (PHE) ofertado pela escola Educar SESC. E, é a partir de sua inclusão

nesse programa que elas têm a oportunidade de participarem do projeto “Era uma

vez...”.

Os encontros acontecem todas as terças feiras no período da tarde nas

dependências da escola Educar SESC, a escola faz parte do SESC Ceará e é

parceira na realização desse projeto. Os idosos se reúnem no TSI e junto com uma

Assistente Social que está à frente do projeto são levados por uma Van até o Educar

SESC para o encontro com as crianças.

Como já falamos anteriormente, a leitura é o eixo condutor do processo. A

escolha do livro acontece anualmente sendo utilizado nos encontros semanais no

decorrer de todo o ano. Em 2013, o livro contemplado foi: Carta da vovó e do vovô

da autoria de Ana Elisabete. A partir do livro foram discutidos os direitos sociais dos

idosos e das crianças. O projeto consiste em estimular as experiências entre as

gerações fora do contexto familiar, minimizando o isolamento social e favorecendo o

convívio dos idosos na sociedade, proporcionando autonomia e independência

favorecendo ao exercício da cidadania de idosos e crianças.

53

3.2.1 Análise dos dados

A coleta de dados com o grupo do projeto “Era uma vez...” ocorreu durante o

mês de novembro de 2013. Nesses encontros tivemos a oportunidade de estar com

eles no momento de preparação para uma oficina de rádio que foi realizada no

encerramento de 2013, em comemoração aos vinte anos de projeto. Os encontros

semanais ocorreram normalmente durante todo o mês, sendo que, parte do encontro

ficou reservado para os ensaios da apresentação da oficina. Dos encontros em que

participamos, escolhemos um para descrevê-lo brevemente no presente trabalho. No

dia 29 de novembro de 2013 tivemos um momento diferente no grupo, os encontros

que quase sempre se dividiam em três momentos, ocorreram de maneira especial

nesse dia, como descrevemos a seguir.

No primeiro momento, os idosos que participam do grupo há mais tempo

foram convidados a se colocarem a frente e falarem sobre os momentos marcantes

que tiveram dentro do projeto. Esse momento foi muito emocionante, cada um falou

sobre algo que marcou a sua vivência no grupo, enquanto um citou as visitas aos

abrigos onde realizavam a leitura de livros para os idosos que lá moravam, outro

relembrou com nostalgia uma festa realizada em comemoração aos quinze anos do

projeto, onde os familiares das crianças puderam participar e celebrar com os

idosos. Logo em seguida como era de costume todos foram separados em grupos

mistos (idosos e crianças).

No segundo momento foram realizados trabalhos em grupos onde cada um

deveria representa o projeto através de desenhos. Nesse momento pudemos

perceber as dificuldades de alguns para realizarem a atividade, mas observamos

também que os que tinham maior habilidade e agilidade, ao concluírem seus

desenhos ajudavam aqueles que não estavam conseguindo desempenhar a tarefa.

No terceiro momento ocorreram as apresentações e os depoimentos de

crianças e idosos. O que foi percebido nas falas das crianças é que além de situação

financeira precária, também estavam precisando de carinho e atenção. Idosos e

crianças ressaltaram a importância das oficinas realizadas ao decorrer do ano, do

54

quanto o projeto é maravilhoso dizendo que o projeto passou tão rápido que nem se

deram conta.

Para analise dos dados coletados, seguimos o roteiro de entrevistas, no

apêndice – A, contudo, estão contemplados nesse trabalho somente os pontos

fundamentais para nosso estudo. As entrevistas foram realizadas com sete dos

doze idosos participantes do projeto “Era uma vez...” tendo como critério de

escolha o tempo de caminhada no projeto. Na análise foram consideradas todas as

respostas, sendo que, precisamos de um segundo momento com dois

entrevistados por considerar que suas respostas não estavam precisas e também

por compreendermos que no dia das entrevistas os idosos estavam passando por

algum problema, o que foi confirmado pelos mesmos na segunda entrevista. Vale

salientar que as entrevistas ocorreram por meio de saturação ocorrendo que,

quando percebemos que as falas se repetiam, já era o momento de encerramos as

entrevistas. Os idosos estão referenciados em suas falas a partir de pseudônimos

os quais os mesmos optaram por nome de flores.

Nesse momento de análise dos dados trazemos autores que são referencia

para nosso estudo. Dentre eles está Beauvoir (1990) teorizando que a velhice é uma

fase confusa e que através de vários testemunhos a palavra velhice tem sentidos

diferentes, sendo para cada pessoa um destino singular. Ao iniciarmos as entrevista

perguntamos sobre o que é ser idoso e as respostas foram de certa forma distintas

de certa forma reforçando a singularidade descrita pela autora. Enquanto uns

acreditam que ser idosos é ter uma vida ativa e mais liberdade para viver, outros

acham que ser idosos é aproveitar a vida conforme ela se apresenta. Trazemos a

seguir a fala de um (a) idoso (a) que nos chamou a atenção pela emoção de suas

palavras.

Eu acho que um idoso com sabedoria, ele tem acúmulos de experiência,

sabedoria de vida, de perdas. [...] reescrever sua história, eu estou tirando por

mim, hoje eu me acho uma pessoa melhor eu não me acho nem idosa apesar da

idade, mas eu aprendi muito agora, por isso estou falando de idoso com

sabedoria, porque eu estou reescrevendo a minha história de outra maneira, é

55

qualidade de vida eu acho, nem todos tem né, mas se souber pegar essa parte do

que ele viveu, do que ele sofreu as dores existenciais que todos nós temos, o

jovem , a criança, o adulto tem essas dores ninguém escapa são os invernos

chamados, existenciais, e você com acumulo de anos, você transformá-los e

reescrever a sua historia, e aprendendo a ter mais tolerância, paciência,

resignação, aceitação, é difícil, é muito difícil, mas não é impossível, porque eu

estou nesse caminho e estou tendo mais ganhos. (Girassol – 64 anos)

Quando perguntados sobre o que é ser criança verificamos que a

compreensão deles é semelhante, pois acreditam que ser criança é sinônimo de

brincadeiras, espontaneidade, criatividade, veracidade, coração bondoso.

Eu acho que ser criança é uma idade muito linda porque ela é muito espontânea,

sincera, ela num tem grandes preocupações, é uma idade de muito aprendizado

[...] é uma sementezinha a se formar, eu acredito de parte genética e de outras

adquiridas para transformar numa pessoas boa. (Girassol – 64 anos).

Aqueles melhores momentos que nós passamos antes da fase adulta

provavelmente aproveitando aquele período de desenvolvimento de uma criança.

(Copo de leite – 74 anos).

Depois de verificarmos a compreensão dos idosos sobre ser idoso e ser

criança, traremos agora suas percepções sobre as relações intergeracionais.

Contudo, anteriormente verifiquemos a teoria de Magalhaes (1987), que nos convida

a uma reflexão sobre a relação intergeraional quando questiona sobre qual a

imagem que nos surge quando imaginamos o contato das crianças com os idosos

respondendo a sua própria indagação ele imagina um encontro carregado de

emoções. Na relação entre essas duas gerações tão distintas deve ser levado em

consideração além dos estilos de vida, os saberes, os valores, também a questão da

memória. É que teoriza Carvalho (2007, p. 54) “A presença simultânea das gerações

envolvendo crianças e idosos, requer uma percepção dos limites e possibilidades de cada um no seu

tempo, a criança abordando a sua vivencia, e o idoso transcendendo o hoje e resgatando as suas

reminiscências”. Nessa mesma linha de pensamento está uma das idosas que

entrevistamos, quando perguntada sobre como se dá a sua relação com as crianças

ela responde:

56

As crianças tem um poder de criar. Você tem que dar um tempo para intelecto

deles, porque se você quiser que ele faça uma coisa de adulto ela pode até fazer

mais vai custar. Cada fase da vida tem seu brilho à velhice é uma fase muito

bonita e a infância também não podemos é queimar as etapas. (Acácia – 66 anos)

A seguir, outro depoimento marcante sobre a relação entre as gerações. É a

resposta de um (a) idoso (a) quando perguntado (a) sobre os pontos negativos

dessa relação.

Eu via ponto negativo nas crianças antes de ter esse conhecimento que eu tenho

hoje. Eu achava que elas gritavam demais, eram pessoas irritantes, dengosa, eu

tirava até pelos meus filhos hoje eu me arrependo, já pedi perdão ao meu filho que

se foi, peço sempre a minha ilha, a façoela enxergar que eu só dei aquilo que eu

tinha. Hoje se fosse pra eu criá-los eu tinha criado de outra maneira, com outro

entendimento, mas isso depois que eu passei muitos erros, sofri muito, não lia, em

parte a minha filha tem um pouco de receio comigo quando eu digo a ela minha

filha eu te amo muito, pra ela é um choque porque na época que era pra eu dizer

eu não disse. Você tá entendo, eu queria que Deus abrisse a mente dela. Eu

nunca disse isso antes pra ela porque nunca ninguém me disse e nem eu aprendi

em colégio. Resumindo eu acho que não tem criança difícil tem adultos difíceis

como mãe ou como educadora.(Girassol – 64 anos).

Diante desses relatos sobre as relações intergeracionais é que percebemos

a dimensão da relevância de projetos como o “Era uma vez...”. Debert (2004),

contempla a relevância dos grupos de convivência que disponibilizarão espaços

para a socialização da população idosa demonstrando a sensibilização da sociedade

diante das questões do envelhecimento já que os idosos compreendem que já não

podem mais viver como antigamente, dessa forma, ocupando e redefinindo novos

espaços para o processo do envelhecimento.

Observamos que fica nítido nas falas dos idosos o significado do projeto “Era

uma vez...” em suas vidas. Logo a seguir, deixamos registradas um trecho das falas

de todos os entrevistados que quando perguntados sobre qual o significado do

projeto em suas vidas, responderam:

57

É maravilhoso eu adoro o projeto. Aprendi muita coisa no projeto com as

crianças e também com os idosos. Eu me sinto muito feliz no projeto. Eu me

sinto feliz em vir para o projeto para rever minhas amigas, as crianças,

(Jasmim – 75 anos)

Eu tenho 18 anos no projeto Era uma vez... e eu entrei por isso, pela

simpatia que eu tenho pelas crianças em que a palavra fundamental é

paciência é saber ouvir, tente ouvir uma criança que você aprenderá muito

mais. . O meu pai era poeta minha avó fazia drama então eu nasci e me

criei. Então o projeto Era uma vez. me enriqueceu muito porque me lembrou

o meu passado. Apesar de algumas pessoas do projeto têm dificuldade com

a leitura, mas elas tem criatividade. (Acácia – 66 anos)

O projeto é bem criativo, ativo, porque trabalha o idoso e a criança, através

da leitura, participação entre as duas gerações. (Crisântemo – 73 anos)

Eu aprendi muito lá nessa parte de convivência tanto com as crianças como

com os adultos, essa parte sociais, ficar mais espontânea eu era muito

tímida quando eu cheguei, cheguei com todos os meus defeitos eu me

achava muito imperfeita. (Girassol – 64 anos)

O projeto Era uma vez... foi muito importante na minha vida, hoje mesmo

aconteceu uma coisa muito observadora pra mim, eu disse já estou com

saudades vou lhes deixar, vou deixar o projeto vem uma colega e disse,

não, não faça isso você já tem dez anos nesse projeto. Eu sinto que as

vezes eu tenho dificuldade, quando eu não tinha dificuldade eu vinha com a

maior facilidade, mas hoje em dia tá havendo muita dificuldade, eu venho de

coletivo, então eu acho que vou deixar, tem também a saúde da gente, a

gente fica assim meio temerosa, mas o projeto em termo de experiência pra

mim tá sendo uma maravilha, esses dez anos eu não me arrependo de

maneira alguma de ter participado, Hoje eu fiquei tão contrariada em relação

a essa parte do coletivo que me deu vontade de dize eu não vou mais

participar, mas depois passou e eu pretendo continuar. (Copo de leite – 74

anos)

58

Quando entra num projeto desses, passa um ano, dois anos é justamente

por isso, mexe com o físico, espirito, com tudo, porque quando você está

interagindo com crianças, você esta trabalhando sua mente, seu espirito

também, então como um projeto cultural foi muito bom pra mim para minha

pessoa. (Tulipa – 58 anos)

Bastante magnifico, eu tenho outras coisas que faço, mas o projeto me

nivela, e amadurece cada vez mais. (Lírio – 55 anos)

Diante das relações entre gerações tão distintas, nos indagamos se existe

alguma fora de preconceito etário, e quando perguntados sobre a existência de

preconceito por parte das crianças a resposta foi unanime, relataram jamais terem

sido tratados de forma preconceituosa pelas crianças. Pelo contrário, a relação com

as crianças trouxe mudanças positivas em suas vidas de forma que passaram a ser

mais carinhosos com seus netos, amadureceram no que se refere à vivência com

crianças, inclusive teve uma idosa que relatou que a proximidade com as crianças a

deixava com preguiça de envelhecer.

A não existência do preconceito dentro do grupo favorece para a

coeducação entre crianças e idosos. De acordo com Ferrigno (2010) existe entre

ambos uma relação igualitária sendo esta uma condição fundamental no processo

de coeducação. Baseado no respeito e na amizade ocorre a construção de uma

relação equilibrada, deixando de lado o sentimento inicial de inferioridade por parte

dos idosos que aos poucos se percebem capazes de aprender e ensinar. E é dessa

forma que os idosos do projeto comtemplam a coeducação que eles afirmam que

realmente existe dentro do projeto. As falas dos idosos acerca da coeducação se

complementam.

É uma troca de ideias, conhecimento, você pode ser velhinho e não ter

sabedoria e uma criança lhe ensina muito mais através de suas palavras,

gestos, carinho e afeto. (Acácia – 66 anos)

As atividades já são programadas para que exista essa coeducação através

da leitura, comentário do livro, esse ano estudamos muito sobre os direitos

59

sociais dos idosos, tinha muitas crianças que não sabiam o que era direito,

estatuto do idoso. (Copo de leite – 74 anos)

É perceptível o contentamento dos idosos em fazer parte do projeto, porém,

será que eles pretendem continuar, aliás vamos além, onde eles (Idosos) se veem

em 2014, 2015...? Todos responderam prontamente dizendo que tem muitos

projetos e a maioria pretende permanecer no projeto “Era uma vez”.

É, agora você tocou num assunto que está obscuro e ao mesmo tempo

muito claro, a minha filha quer muito que eu vá morar perto dela. Minha filha

sabe que o SESC é uma base muito forte para mim, então ela não quer tirar

esse apoio. Quando eu participo de um trabalho voluntário eu entro num

estado de êxtase, eu me transformo, é uma energia que eu não sei o que é.

Eu vou continuar no projeto sim. (Girassol – 64 anos)

Tem horas que eu digo assim, eu vou deixar aí eu fico naquela aflição de

faltar, mas as vezes é preciso, mas aí eu penso toda terça eu vou conhecer

gente nova é melhor do que ficar em casa de frente a televisão. Se Deus me

permitir eu tava pensando em participar do projeto das poesias. Mas aí eu

penso o perigo de chegar em casa tarde, é num sei [...] mas eu vou

continuar no projeto “Era uma vez” (Crisântemo – 73 anos)

Bem, pretendo continuar no projeto... (Copo de leite – 74 anos)

Diante do que foi exposto até aqui o que pudemos verificar é que o projeto

“Era uma vez...atividades intergeracionais” contribui para o fortalecimento das

relações entre os idosos e o público infantil, minimizando o isolamento dessas

gerações, além de contribuir com o conhecimento e com o exercício da cidadania de

crianças e idosos. Dessa forma, colaborando com a construção de uma sociedade

para todas as idades. Podemos verificar essa compreensão mais claramente, em

suas falas a seguir.

Fortalece a partir do momento que o projeto está educando as crianças, as

vezes a gente vê que aquelas crianças não tem o carinho, amor em casa, aí

a gente da isso pra eles. (Jasmim – 75 anos)

60

As crianças olham pra gente querendo ser da família da gente, não sei se

por conta da situação econômica, pedem pra levar pra casa, adotar...o

projeto fortalece no conhecimento da criança. (Copo de leite – 74 anos)

Fortalece a partir do momento em que as atividades realizadas dentro do

projeto são planejadas para serem realizadas em parceria, criança e idoso,

o vinculo que se estabelece no momento das atividades do grupo, gera um

respeito e uma amizade fortalecida e é isso que projeto proporciona.

(Acácia – 66 anos)

Todas as falas dos idosos contempladas nesse estudo refletem fielmente o

que verificamos durante todo o período de observação participante. Contudo, é

preciso ressaltar que o que a grandeza desse projeto também se deve ao intenso

envolvimento e comprometimento da equipe técnica, que não somente no momento

do planejamento, mas também na execução das atividades deixam transparecer o

amor com que exercem a função de agentes facilitadores no desenvolvimento do

projeto “Era uma vez...atividades intergeracionais”.

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A liberdade e a lucidez não servem para grande coisa, se nenhum objetivo nos solicita mais: ela tem um grande valor se ainda somos habitados por projetos. A maior sorte do velho, mais do que gozar de uma boa saúde, é sentir que, para ele, o mundo está ainda povoado de fins. Ativo, útil, escapa ao tédio e a decadência. O tempo em que vive permanece o seu, e os comportamentos defensivos ou agressivos que caracterizam habitualmente a última idade não lhe são impostos. Sua velhice é, por assim dizer, passada em silêncio. Isso supõe que, na idade madura, ele se tenha engajado em projetos que desafiam o tempo: na nossa sociedade de exploração, esta possibilidade é recusada à imensa maioria dos homens. (Beauvoir, 1990, p.603)

Realizar um estudo sobre a intergeracionalidade do idoso com o público do

infantil não foi fácil, considerando que existem poucas publicações referentes à

categoria intergeracionalidade. No entanto, não encontramos dificuldades para

encontrar publicações sobre a categoria Idoso já que a mesma está sendo bastante

discutida na atualidade.

Diante do individualismo que consome a sociedade contemporânea tendo

como consequência o distanciamento das gerações, compreendemos a relevância

de trabalhos intergeracionais. O projeto “Era uma vez...” é um exemplo. Durante o

trajeto percorrido para esse estudo, verificamos que todo o trabalho realizado dentro

do grupo favorece ao fortalecimento das relações entre idosos e crianças, a partir do

momento do planejamento até a execução das atividades, onde acontece sempre

uma parceria entre as gerações para a realização das atividades propostas.

Ressaltamos a compreensão que os idosos tem acerca da contribuição do projeto

para o fortalecimento dessas relações.

O que pudemos verificar é que a intergeracionalidade proporciona uma troca

de saberes entre as gerações. Os idosos não subestimaram a capacidade das

crianças, pelo contrário eles acreditam que mesmo com sua larga experiência de

vida eles aprendem muito com as crianças e dessa forma nasce o respeito aos

limites do outro gerando uma cumplicidade.

62

A partir do preenchimento dos questionários sobre o perfil sócio- econômico

dos idosos, verificamos que todos são aposentados e a grande maioria é divorciada

e por opção moram sozinhos. Com os resultados obtidos através da pesquisa,

percebemos que os idosos precisam desse espaço de socialização proporcionados

pelo SESC, inclusive alguns relataram que não se imaginam sem o SESC, pois

quando estão participando dos projetos eles afastam a solidão.

Percebemos ainda, que a partir do projeto os idosos passaram a ter uma

visão diferente do que eles tinham anteriormente sobre as crianças. Se antes as

crianças eram vistas como bagunceiras e chatas como foi definido por uma idosa, a

partir da convivência eles passaram a ter a percepção de que é preciso analisar o

que está por trás do comportamento da criança. Nesse sentido, é relevante

ressaltarmos que as crianças que participam do projeto vivem em comunidades com

vulnerabilidade social, em alguns casos o pai é usuário de drogas ou o irmão está

preso acusado de assalto. Dessa forma, sendo imprescindível a sensibilidade dos

idosos para saber se em determinado momento a criança esta querendo chamar

atenção por algum motivo e os idosos têm a compreensão desse papel deles dentro

do grupo.

Portanto, é nesse sentido que o projeto é um divisor de águas na vida dos

idosos. A partir do projeto ocorreram algumas mudanças em suas vidas, pois além

de aprenderem sobre seus direitos enquanto cidadãos, também tiveram aprendizado

a partir das dificuldades vividas pelas crianças, tendo a oportunidade de contribuírem

para a formação dessas crianças.

Considerando que alguns aspectos relevantes sobre o envelhecimento não

foram contemplados nesse trabalho por não estarem no foco da pesquisa, por

exemplo, a discussão sobre a preparação das crianças para o envelhecimento, e a

intergeracionalidade sobre o aspecto das diferenças sociais, destacamos a

relevância de se realizar estudos que contemplem esses aspectos.

Por fim, ressaltamos a necessidade da ampliação do estudo sobre a

intergeracionalidade do idoso com o público infantil de forma geral, bem como,

63

realizar pesquisas tendo uma aproximação com os profissionais que atuam em

projetos intergeracionais, pois os mesmos como facilitadores dos grupos têm um

papel fundamental no processo de construção das relações intergeracionais.

O presente trabalho deixa algumas indagações sobre o futuro das relações

intergeracionais. Quais seriam as estratégias para aproximar as gerações num

momento em que a tecnologia está em alta? E ainda, essas estratégias seriam de

acordo com cada faixa etária? Até que ponto os idosos estão preparados para um

trabalho em grupo com a geração atual? A criação de vínculos contribui ou atrapalha

para a obtenção de resultados em um grupo intergeracional?

64

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(acesso em: 05.01.14)

67

APÊNDICE

APÊNDICE A – Roteiro Orientador Entrevistas.

1. O que é ser idoso? O que é ser criança?

2. De forma geral como se da sua relação com as crianças?

3. Quais os pontos positivos e negativos na relação com as crianças?

4. As crianças estão preparadas para o processo de envelhecimento?

5. Qual o significado do projeto “Era uma vez” na sua vida?

6. Há quanto tempo está participando do projeto?

7. Conhece o perfil demográfico, econômico e social das crianças?

8. Na sua concepção o que é intergeracionalidade?

9. Em algum momento sofreu algum tipo de preconceito por parte das

crianças?

10. Existe um contato com as crianças fora do projeto?

11. A relação com as crianças a partir do projeto mudou a sua vida de alguma

forma?

12. Existe a coeducação entre gerações dentro do projeto?

13. Qual a sua participação no desenvolvimento do projeto?

14. O projeto traz alguma contribuição para a sociedade? Qual?

15. Dentro do projeto, já aconteceu algo que lhe marcou?

16. Quais os assuntos que as crianças gostam de conversar no intervalo das

atividades?

17. Participa de outros projetos no TSI?

18. Como e onde você se vê daqui alguns anos?

68

APÊNDICE B – Questionário

1. Nome:______________________________________________________

2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

3. Idade:_______

4. Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outros

5. Naturalidade: ____________________________

6. Reside em: ( ) Fortaleza ( ) Outros Município

7. Você tem filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?___(Idade:__________)

8. Você tem netos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?___(Idade:__________)

Moram com o (a) Sr.(a)? ( ) Sim ( ) Não

9. Qual a sua formação acadêmica?

( ) Não alfabetizado ( ) Alfabetizado ( ) Ens. Fundamental ( ) Ens. Médio

( ) Superior Incompleto ( ) Superior completo

10. Você trabalha? ( ) Sim ( ) Não Qual a profissão?_________________

11. Situação Sócio ocupacional: ( ) Empregado ( ) Desempregado ( )

Aposentado por idade ( ) Aposentado por incapacidade ao trabalho ( )

Beneficiário do BPC por idade ( ) Beneficiário do BPC por incapacidade para o

trabalho ( ) Licença médica ( ) Outros:_________________

Desde:____/____/_______

69

APÊNDICE B –