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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
LARISSA MARIA GOMES DE FRANÇA
A PERCEPÇÃO QUE AS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NA AS SOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CATARINA LABOURÉ POSSUEM SOBRE S UAS
RELAÇÕES FAMILIARES
FORTALEZA 2014
LARISSA MARIA GOMES DE FRANÇA
A PERCEPÇÃO QUE AS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CATARINA LABOURÉ POSSUEM SOBRE SUAS
RELAÇÕES FAMILIARES
Monografia submetida á aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Graduação sob orientação da Profª. Ms. Flaubênia Maria Girão de Queiroz.
FORTALEZA 2014
LARISSA MARIA GOMES DE FRANÇA
A PERCEPÇÃO QUE AS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CATARINA LABOURÉ POSSUEM SOBRE SUAS
RELAÇÕES FAMILIARES
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense- FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora compostas pelos professores. Data de aprovação ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
Professora Ms. Flaubênia Maria Girão de Queiroz – Orientadora
Professor Dr. Mário Henrique Castro Benevides - Examinador
Professora Ms. Valney Rocha Maciel – Examinadora
Aos meus pais e minha irmã, pelo incentivo, apoio e amor incondicional.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente á Deus que sempre foi a minha fortaleza durante
todos esses anos, sendo uma fonte de esperança e força nos momentos difíceis.
Agradeço á minha mãe Tânia França e meu pai Raimundo França por todo o amor,
carinho e dedicação desde que eu nasci através de uma educação e ensinamentos
que me fizeram a pessoa que eu sou hoje. Essa vitória é tão minha quanto de vocês.
Agradeço a minha irmã Lívia França e ao meu cunhado Luciano Freires pela
paciência em esperar a minha aula terminar para irmos para a casa se não fosse
essa atitude eu teria perdido conteúdos importantes para a minha formação.
Também agradeço toda a minha família: avós, avôs, tias (os), primas (os), madrinha
e meu padrinho.
Agradeço as minhas amigas Gislane Cavalcante, Janaina Moura e Jobileide
que incentivaram a minha jornada. Agradeço também aos meus amigos Marcelo
Michiles, Alady Silva, Aritana Kelly, Aline Gomes, Jaqueline Freitas e Fátima Evilene,
amizades construídas durante o Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense,
vocês foram indispensáveis para o meu processo de formação. Agradeço também
as assistentes sociais do Hospital São José Sílvia da Costa Tavares e Maria de
Fátima Paiva que são exemplos de compromisso ético com o serviço social e
contribuíram por demais com a minha formação.
Agradeço a todos os meus professores da Faculdade, e principalmente a
minha orientadora e professora Flaubênia Girão que foi peça fundamental para a
construção da minha monografia. Agradeço também a banca examinadora que
gentilmente aceitou o meu convite.
Por fim, agradeço a assistente social da Associação de Assistência Social
Catarina Labouré Márcia que facilitou o meu estudo na instituição e também
agradeço de forma especial às idosas que foram indispensáveis para a minha
pesquisa.
O que importa na vida, não é o ponto de partida, mas a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher! (Cora Coralina)
RESUMO
O envelhecimento da população trouxe consequências para o país. A família e o
Estado são as principais instituições responsáveis pelo o cuidado com os idosos. A
presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a percepção que as idosas
institucionalizadas na Associação de Assistência Social Catarina Labouré possuem
sobre suas relações familiares. E os objetivos específicos são: investigar as relações
familiares das idosas institucionalizadas na Associação de Assistência Social
Catarina Labouré; compreender a relação existente entre as idosas e suas famílias,
hoje; e conhecer as relações sociais entre as idosas institucionalizadas. O objeto de
estudo orientou para uma pesquisa bibliográfica, de campo, qualitativa e descritiva-
exploratória. Para a coleta de dados foram utilizadas a observação direta e a
entrevista semi-estruturada. A análise dos dados deu-se pelo Discurso do Sujeito
Coletivo que fundamenta-se na Teoria das Representações Sociais. Os resultados
da pesquisa mostram várias percepções dos idosos sobre suas relações familiares e
essas percepções estão atreladas a forma que essas relações foram construídas e
como estão dispostas atualmente.
Palavras Chave: Idoso. Família. Relações Familiares.Institucionalização.
ABSTRACT
The population’s ageism brought some consequences for the country, and the family and the State are the main institutions which are responsible for the careness with old people. This research has a general objective, which is to analyze the perception from institutionalized old people at Catarina Labouré Social Attendance Association; to comprehend the existent relationship between the elderly and their families, nowadays; and to know the social relations among institutionalized elder people. The object of the study becomes inclined to a descriptive-exploratory, qualitative, field and bibliographic research. The observation and the semi-structured interview were utilized for the data collection. The data analysis was made through Discourse of the Collective Subject, which bases on Social Representations Theory. The results of the research demonstrate vary perceptions from the elderly about their familiar relationships and these perceptions are connected with the way those relations were built and how they are disposed currently.
Keywords: Old. Family. Familiar relations. Institutionalization.
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Perfil dos Sujeitos da Pesquisa..............................................................49
QUADRO 2 Como você chegou à instituição?...........................................................51
QUADRO 3 Qual o significado de família para você?................................................55
QUADRO 4 Você se relaciona com alguém da sua família?.....................................59
QUADRO 5 Como era sua relação familiar antigamente?.........................................62
QUADRO 6 Qual sua relação com as pessoas que trabalham aqui ....................... 64
QUADRO 7 Hoje você tem amigos(as)?...................................................................66
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AASCL Associação de Assistência Social Catarina Labouré
BPC Benefício de prestação continuada
CNDI Conselho Nacional dos Direitos do Idoso
CF Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988
DSC Discurso do Sujeito Coletivo
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ILPI Instituição de Longa Permanência para Idosos
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PBF Programa Bolsa Família
PNI Política Nacional do Idoso
SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................11
CAPÍTULO 1 - O Fenômeno do envelhecimento ..........................................15
1.1- Conceitos sobre a Velhice..........................................................................15
1.2-O contexto do envelhecimento no mundo e no Brasil.................................19
1.3- As legislações que amparam a população idosa no Brasil........................23
CAPÍTULO 2 – Família ....................................................................................28
2.1 – Conceitos sobre família............................................................................28
2.2- A Família e o Idoso....................................................................................36
2.3- Família, Institucionalização e Idoso...........................................................39
CAPÍTULO 3 - Percurso metodológico e resultados da pesquisa .............43
3.1- Metodologia................................................................................................43
3.2- Campo de Pesquisa...................................................................................47
3.3- Sujeitos da Pesquisa..................................................................................49
3.4- Discurso do Sujeito Coletivo.......................................................................51
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................69
REFERÊNCIAS..................................................................................................72
APÊNDICES.......................................................................................................76
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INTRODUÇÃO
O presente estudo trata de pessoas idosas que vivem em uma instituição e
suas relações familiares. O tema idoso foi escolhido por sua relevância social no
Brasil de hoje e por ser uma questão que chamou a atenção durante a vida
acadêmica na realização de atividades do curso de Serviço Social. A pergunta que
se quis responder com a pesquisa foi “Como as idosas institucionalizadas se
relacionam com seus familiares?”.
O Brasil passou rapidamente pela fase chamada de transição demográfica,
que se caracterizou por trazer mudanças na vida social e econômica do país,
aumentando significantemente a população idosa no Brasil (SOARES, 2009).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
2050, o nosso país vai ter aproximadamente 18% (dezoito por cento) da sua
população composta por idosos. Desta forma irá necessitar investimento em
políticas públicas para essa população, buscando ampliar, garantir e efetivar direitos
para esses idosos. Esse alto índice populacional de idosos exige a ampliação da
discussão dessa temática, visto que apesar do aumento dessa população, o
envelhecimento ainda não é pauta de discussão o suficiente para que hajam
políticas apropriadas para o idoso.
A palavra “envelhecimento”, no imaginário social, carrega vários estereótipos
e preconceitos da sociedade. A velhice é considerada, muitas vezes, a última idade,
a qual é caracterizada pela perda de força, inutilidade, dependência, fragilidade,
decadência, abatimento e principalmente fase que precede o falecimento. Segundo
Ribeiro (2011), nessa fase além da morte gradativa do organismo, o idoso precisar
conviver com a morte profissional e intelectual, visto que na sociedade produtiva que
vivemos o idoso como já ultrapassou a sua idade produtiva é colocado á margem na
sociedade.
A família, definida como uma das instituições mais importantes em uma
sociedade, possui responsabilidades sociais, principalmente em relação ao idoso.
Grande parte dos cuidados com eles incide sobre suas famílias. Devido às
transformações estruturais familiares, além da diminuição no número de filhos,
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grande parte dos seus componentes trabalha ou estuda fora de casa, tornando
muito difícil a atenção com o idoso.
Com o aumento do número de idosos, a consequente questão do cuidado
exigido e a problemática das famílias as instituições asilares acabam sendo mais
requisitadas e efetuando maior quantidade de acolhimentos. Denomina-se asilo o
estabelecimento de assistência social onde são acolhidas com segurança crianças
desvalidas, idosos desamparados, mendigos e pessoas com transtornos mentais.
Segundo Foucault (1978) no surgimento dessas instituições o internamento,
não era apenas destinado aos loucos, mas também a outros grupos que a
sociedade segregava. Considera-se também como casa para zelar pelas pessoas
consideradas dependentes e incapazes de cuidar-se sozinhas e tomar decisões
diárias. Existem outras denominações para os asilos como abrigo, lar, casa de
repouso, casas dos velhinhos, clínica geriátrica e entre outras designações, todas
elas designadas empregadas para diminuir o peso da palavra asilo.
Os modelos de asilos existentes no Brasil ainda se assemelham muito as
instituições totais, que se caracterizam como locais fechados que funcionam com
regime de internação, onde um número significativo de internos vive em tempo
integral sobre a direção de uma equipe que administra a vida da instituição. Para
Goffman (1996), uma instituição total pode ser definida como um espaço de moradia
ou trabalho, onde indivíduos em situação semelhante levam uma vida fechada e
administrada.
A instituição escolhida para embasar a pesquisa foi à Associação de
Assistência Social Catarina Labouré (AASCL), também conhecida como Casa de
Nazaré. Ela surgiu em 15 de novembro de 1941, originada do trabalho realizado pela
Companhia das Filhas de Caridade.
A aludida casa é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, criada com o
propósito de produzir o bem. A Lei Federal nº 12.101, do ano de 2009, estabelece os
parâmetros para as instituições filantrópicas, onde uma das suas características é o
fato do lucro alcançado ser revertido em benefício da própria instituição.
A escolha dessa instituição deveu-se a participação em projetos sociais
voltados para as idosas na própria instituição Catarina Labouré, onde há uma
facilitação ao acesso, devido as proximidades da residência da pesquisadora e por
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ela conhecer pessoas que trabalham na instituição. Assim, surgiram algumas
curiosidades que levaram a questionamentos sobre o idoso que vive em instituição e
suas relações com seus familiares.
Atualmente, a instituição é administrada por irmãs de caridade, com
características de instituição total. Possui alguns funcionários remunerados e tem
apoio de voluntários e discentes de vários cursos. A AASCL é uma entidade que
abriga apenas idosas. Diariamente, a instituição acolhe várias visitas de grupos
pastorais, escolas públicas e privadas, e outras pessoas que gostam do trabalho,
trazendo doações, alegria e entusiasmo para as idosas.
A AASCL funciona em sistema de casa lar, onde oferta alimentação,
promoção à saúde, boas condições de higiene e possuem várias atividades de
recreação e lazer. A instituição tem uma grande preocupação na manutenção dos
vínculos familiares, para as idosas que ainda possuem esta referência. Mas, não
precisou de muitas visitas para perceber que existia entre as idosas e suas famílias
uma grande distância que se faz presente no cotidiano dessas mulheres. Por outro
lado, observou-se que existia uma boa relação entre as idosas e os funcionários e
voluntários da instituição criando assim um relacionamento de companheirismo, o
que diminui os efeitos da distância de seus parentes.
Nessa perspectiva, o objetivo geral da pesquisa foi analisar a percepção que
as idosas institucionalizadas na Associação de Assistência Social Catarina Labouré
possuem sobre suas relações familiares. E os objetivos específicos foram: investigar
as relações familiares das idosas institucionalizadas na Associação de Assistência
Social Catarina Labouré; compreender a relação existente entre as idosas e suas
famílias hoje, e conhecer as relações sociais entre as idosas institucionalizadas.
O referencial teórico da pesquisa é desenvolvido nos dois primeiros capítulos.
O primeiro está relacionado ao fenômeno do envelhecimento no mundo e no Brasil
e, o segundo, dedica-se à família e as relações familiares. No que diz respeito ao
envelhecimento, dialogou-se principalmente com Simone de Beauvoir (1990),
Mercadante (1997), Valsecchi (1999), Goldman (2009), e Ribeiro (2008). A
aproximação com a categoria família se deu por meio de Héredia; Cortelletti; Casara
(2010), Simões (2011), Santos (2010), Osterne (2004), Losacco (2010) e Goffman
(1996).
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O terceiro capítulo refere-se ao caminho metodológico e os resultados da
pesquisa. Os autores utilizados para essa construção foi Minayo (1999), Demo
(2009), Martinelli (1999), Oliveira (2002), Gil (2002), Marconi e Lakatos (2003), Cervo
(2007), e Levèvre e Lefèvre (2005).
No processo da pesquisa foi importante a escolha do método, pois é a partir
dele que a pesquisa caminha em busca de sua construção. De acordo com Minayo
(1999) “[...] a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto
de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo
do pesquisador”. (MINAYO 1999, p. 22)
Para o desenvolvimento da pesquisa foi exigida à abordagem qualitativa e o
desenho foi por meio de uma pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica. A coleta
de dados utilizou as técnicas de observação direta e entrevista, já as análises dos
dados coletados deram-se através do Discurso do Sujeito Coletivo que, segundo
Lefèvre, Crestana e Cornetta (2002), é uma forma de análises dos resultados da
pesquisa qualitativa que tem as narrativas como matéria-prima. Por meio desses
métodos buscou-se responder aos objetivos propostos pela pesquisa, buscando
uma maior compreensão acerca do tema.
15
1. O Fenômeno do envelhecimento
O Envelhecer é um fenômeno que já ocorre em quase todos os países do
mundo, aliás, “de todos os fenômenos contemporâneos, o menos contestável, o
mais certo em sua marcha, o mais fácil de prever com muita antecedência, e, talvez
o de consequências mais pesadas é o envelhecimento da população” (SAUVY apud
BEAUVOIR, 1990, p. 271).
Os motivos do crescimento da população idosa mundial são diversos, mas os
seus números estão aumentando, principalmente devido aos avanços na saúde e
pelas reduzidas taxas de natalidade e mortalidade. De acordo com a Organização
das Nações Unidas (ONU), as pessoas com 60 anos ou mais devem dobrar entre
2007 e 2050, e mais ou menos em 2050, o número terá triplicado. E na maioria dos
países, daqui a quatro décadas, a população acima de 80 anos chegará a 400
milhões.
Esse processo exige dos governos e autoridades providências e políticas
públicas voltadas para essa parcela da população que está em crescimento e
necessita gozar de uma velhice saudável, sem violação de nenhum dos seus
direitos. Mas, a responsabilidade não deve decair apenas para os governos, e sim,
para toda a sociedade, que deve compreender esse processo como natural e evitar
os preconceitos que acometem a maioria dessas pessoas. Segundo Camarano
(1999):
Reconhece-se que o envelhecimento populacional traz novos desafios. Um deles diz respeito às pressões políticas e sociais para a transferência de recursos na sociedade. Por exemplo, as demandas de saúde se modificam com maior peso nas doenças crônico-degenerativas, o que implica maior custo de internamento e tratamento, equipamentos e medicamentos mais dispendiosos. A pressão sobre o sistema previdenciário aumenta significativamente. O envelhecimento também traz uma sobrecarga para a família, sobrecarga essa que é crescente com a idade. (CAMARANO et al 1999, p. 02)
Percebemos que a velhice trás inúmeros problemas para a sociedade, então
é necessário se preparar para esse envelhecimento que é previsível em todo o
mundo, evitando assim mais ônus para a sociedade e contribuindo para uma velhice
saudável e com qualidade de vida.
1.1 Conceitos sobre a Velhice
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O processo de envelhecimento envolve compreensões e concepções
diversas. A velhice é vivida e compreendida de acordo com cada cultura e não existe
apenas uma concepção e sim inúmeras concepções dessa fase, variando de acordo
com a história e com o tempo. Segundo Bruno (2003):
A velhice como categoria construída socialmente tem sido vista e tratada de maneira diferente, de acordo com períodos históricos e com a estrutura social, cultural, econômica e política de cada povo. Essas transformações, portanto, não permitem um conceito absoluto da velhice e apontam para a possibilidade de haver sempre uma nova condição a ser construída, para se considerar essa etapa da vida do ser humano (BRUNO 2003, p. 76).
Desde a antiguidade, os homens percebiam o declínio e as mudanças que
ocorriam no organismo com o passar dos anos, e buscavam também as causas
dessas alterações. Em cada sociedade, a visão de velhice era diferenciada de
acordo com a cultura local. Algumas civilizações idolatravam os idosos, devido as
suas experiências, outras os repudiavam pela sua idade avançada e pela sua falta
de capacidade funcional.
De acordo com Lemos (2001), a percepção que a sociedade possui dessa
fase remonta a época dos Hebreus, Babilônios e Gregos. Esses povos possuíam
sua visão diferenciada da velhice e procuravam técnicas para retardar o
envelhecimento. A imortalidade e algumas formas para manter a juventude fizeram-
se presentes na cultura dos Babilônios. Na Grécia Antiga os idosos eram
desprezados, apenas Platão, filosofo grego, considerava que a velhice era uma fase
que carregava mais prudência, sensatez e astúcia. Em Roma, os anciãos tinham
uma condição privilegiada, possuindo cargos importantes na política.
Na antiguidade, o primeiro a pensar sobre a velhice foi o médico grego
Hipócrates, através da sua teoria pitagórica dos quatro humores: sangue, fleuma,
bile amarela, bile negra; onde a velhice resultava de uma quebra entre eles, assim
como a doença. Segundo o médico, a velhice começava aos 56 anos e era
comparada ao inverno de acordo com as outras estações da natureza. (BEAUVOIR,
1990)
Vários médicos na antiguidade estudaram e elaboraram as suas teorias sobre
a velhice, contribuindo em cada momento histórico para um maior esclarecimento
sobre essa fase. Segundo Beauvoir (1990):
Foi no século II que Galeno fez uma síntese geral da medicina antiga. Ele considerava a velhice como intermediária entre a doença e a saúde. Ela não é exatamente um estado patológico: entretanto, todas as funções fisiológicas do velho ficam reduzidas ou enfraquecidas. [...] (BEAVOUIR 1990, p.24)
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Na Idade Média, o conhecimento sobre a medicina e a velhice foi quase
inexistente, deixando essa fase conhecida basicamente como uma doença incurável
e um enfraquecimento biológico. Beauvoir (1990) detalha o processo de
envelhecimento para várias civilizações, demonstrando que esse processo é variável
de acordo com a cultura e a história.
Observa-se, então, que o significado e a importância da velhice variavam de
acordo com a civilização a qual o idoso estava inserido. Outro fator importante eram
as relações estabelecidas anteriormente, principalmente com a sua própria família,
relações estas que repercutiam positivamente ou negativamente no futuro, de
acordo com a forma com que elas foram construídas no passado.
A velhice é um processo que implica complicados fatores de ordem biológica,
psicológica, social e cultural. Na sociedade em que vivem, muitas vezes, os idosos
são vistos apenas como a oposição aos jovens. Para Goldman (2009), os fatores
culturais que mais atacam essa população são relacionados às sociedades que
exaltam o novo, o moderno, o jovem e esnobam o antigo e o velho, ocasionando
nesses idosos problemas com sua autoimagem e, muitas vezes, eles acabam
internalizando essas rejeições e legitimando como verdadeiras. Segundo
Mercadante (2003):
No modelo social de velho, as qualidades a ele atribuídas são estigmatizadoras e contrapostas às atribuídas aos jovens. Assim sendo, qualidades como atividade, produtividade, memória, beleza e força são características presentes no corpo dos indivíduos jovens e as qualidades opostas a estes presentes no corpo dos idosos (MERCADANTE 2003, p. 56).
O caminho de vida do ser humano é composto por diversas experiências boas
e ruins e também por momentos de decisões, onde as interpretações pessoais e
determinações sociais e culturais influenciam na escolha de cada um. A fase da
velhice é um período de mudança física, biológica e emocional. A forma como é
vivida essa etapa pela pessoa idosa vai depender de suas condições subjetivas e
socioculturais. Segundo Beauvoir (1990):
Ela é um fenômeno biológico: o organismo do homem idoso apresenta certas singularidades. A velhice acarreta, ainda, consequências psicológicas: certos comportamentos são considerados, com razão, como características da idade avançada. Como todas as situações humanas, ela tem uma dimensão existencial: modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história (BEAUVOIR 1990, p. 15).
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Essa fase onde a idade encontra-se mais avançada é vista, muitas vezes pelo
imaginário social como o fim da vida, onde as possibilidades e perspectivas de futuro
dão lugar a um processo de estagnação. Para Giddens (2005, p. 150) “em uma
sociedade que valoriza muito a juventude, a vitalidade e a atratividade física, as
pessoas mais velhas tendem a se tornar invisíveis [...]”. Isso ocorre devido à
vulnerabilidade que remete à pessoa idosa nesta fase, principalmente, pela
diminuição das condições físicas. Valsecchi (1999) afirma que:
Nas sociedades modernas, a velhice é sinônimo de recusa e banimento. Recusa vestida com diferentes roupagens: algumas, bastante evidentes, passam pela segregação e pelo isolamento social, pela ruptura dos laços afetivos, familiares e de amizade, pela negação do direito de pensar, propor, decidir, fazer, pela expropriação do próprio corpo [...] (VALSECCHI 1999, p. 41).
A autora ressalta que o local atribuído e exercido por todos os indivíduos
deriva das soluções encontradas, por cada coletividade, para retribuir aos
imperativos de sua existência: como “lugares sociais” revestem-se de valores e
juízos morais. Por outro lado, este processo de classificação a partir destes
determinantes biológicos não é imóvel nem inalterável, mas dinâmico e
constantemente renovado, mesmo naquelas sociedades que, aos olhos do
pensamento ocidental, parecem ter “parado no tempo”. A autora ressalta que é
nessa conjuntura que a velhice deve ser compreendida, onde é uma fase da vida
como qualquer outra, e que existe a articulação entre mecanismos universais e
particulares.
De acordo com Mercadante (1997) a velhice é ao mesmo tempo natural e
cultural. É natural e, portanto, universal se compreendida como um fenômeno
biológico, mas é também rapidamente um fato cultural na medida em que é
revestida de conteúdos simbólicos. São esses conteúdos que informam as ações e
as representações dos sujeitos. A autora mostra que é fundamental para a reflexão
da velhice o entendimento de como ocorrem essa relação natural e cultural.
Para Beauvoir (1990), os indivíduos temem a degradação que a velhice
acarreta, pois ela contradiz o ideal viril ou feminino adotado pelos jovens e adultos. A
atitude geralmente é de recusa e repulsa imediata, visto que para muitos, ela
representa impotência, feiura e doença.
Essa fase modifica principalmente o corpo do idoso, onde se torna inevitável
essas mudanças biológicas no decorrer do tempo. Pele, visão, audição, olfato,
potência sexual, cabelos, dentes e entre outros sentidos e partes do corpo se
19
modificam. Mas, apesar dessas mudanças corporais o organismo no idoso é
passível de adaptação ao meio. Segundo Monteiro (2003):
[...] Em suma, envelhecer é um processo contínuo de mudança do organismo pela passagem da temporalidade. A cada novo acontecimento, um novo padrão corporal adquirido. A estrutura muda sempre que o corpo se move no espaço. Assim, a experiência vem continuamente carregada de possibilidades de transformação. Isto quer dizer que o corpo estará aberto à aquisição do conhecimento enquanto houver possibilidades de experimentação. Por meio do movimento, o conhecimento é adquirido, conservando a vida (MONTEIRO 2003, p. 144).
Diante de todas as características do envelhecimento relatadas, os idosos
cada vez mais se sentem excluídos da sociedade, necessitando de um apoio,
principalmente emocional e físico para gozar de uma velhice de qualidade. A família,
como instituição principal na vida de uma pessoa, é a responsável por a maioria dos
cuidados com os idosos, cumprindo normas socioculturais importantes da
sociedade.
Como fenômeno multifacetado, o envelhecimento da população imprime
mudanças na sociedade e suas relações, principalmente na família que precisa de
uma nova organização. Os idosos necessitam de um apoio emocional e físico para
gozar dessa fase com qualidade.
1.2 O contexto do envelhecimento no mundo e no Bras il
O envelhecimento da população é um fenômeno que vem se manifestando
em quase todos os países do mundo. Vários fatores têm sido favoráveis para o
crescimento da chamada terceira idade, tais como: baixa fecundidade, diminuição na
taxa de natalidade, queda na mortalidade infantil, novas técnicas de saúde e o
aumento da expectativa de vida das pessoas. Não se pode esquecer o aumento do
uso de métodos contraceptivos, uma maior inserção da mulher no mercado de
trabalho e a ampliação da educação. Segundo Socorro; Dias(2010):
Nas últimas décadas, houve uma mudança no quadro populacional, caracterizando-se por uma notável elevação da população idosa em todo o mundo. A urbanização das cidades, o processo de industrialização e os avanços tecnológicos e médicos foram fatores preponderantes para o aumento da expectativa de vida, pois estão associados a melhorias nutricionais, de higiene pessoal, de condições sanitárias e ambientais (SOCORRO; DIAS. 2010, p. 91).
O aumento dessa parcela da população e todo o processo de envelhecimento
vêm preocupando os países, que buscam aumentar a visibilidade dos problemas
20
acarretados por essa fase. Contudo, esse crescimento não acontece de forma
homogênea em todas as nações do planeta. Segundo Veras (2003):
[...] nos países desenvolvidos, tal processo se deu de forma lenta, ao longo de mais de cem anos. Países como a Inglaterra, por exemplo, iniciaram o processo de envelhecimento de sua população, ainda em curso, após a Revolução Industrial, no período áureo do Império Britânico, dispondo de recursos necessários para fazer frente ás mudanças advindas desta transformação demográfica. Atualmente, alguns desses países apresentam inclusive um crescimento negativo da sua população, com taxa de natalidade mais baixa que mortalidade. Já no grupo de países chamados em desenvolvimento, tendo o Brasil como exemplo, este processo se caracteriza pela rapidez com que o aumento absoluto e relativo das populações adulta e idosa modificou a pirâmide populacional [...] (VERAS 2003, p. 18).
Esse envelhecimento não ocorre de maneira idêntica para homens e
mulheres, pois, predominantemente as mulheres vivem mais que os homens. De
acordo com Veras (2003), alguns dos fatores que influenciam para a mortalidade
masculina são: homicídios, acidentes de trabalho e trânsito, suicídios, acometem
quatro vezes mais na população masculina, onde as mulheres tem menos exposição
a esses acidentes do que os homens; o consumo em nível maior de álcool, fumo e
entorpecentes é mais para os homens; e pelo fato da mulher preocupar-se mais com
a saúde e fazer uso dos serviços de saúde com frequência maior que o homem.
Estas possuem uma condição maior de descobrir uma doença a tempo para o seu
tratamento.
As mulheres, por viverem mais tempo que os homens, são consideradas
como mais solitárias, estabelecendo a parcela mais desfavorecida da população.
Apesar dessa condição, as idosas possuem uma melhor adaptação à velhice do que
os homens, pois estas, na maioria das vezes, possuem na casa e na família, papéis
que possibilitam encontrar outra ocupação e manter a sua própria identidade. Já os
homens depois, que saem da sua idade considerada ativa, onde consequentemente
acarretam uma diminuição de recursos e nível de vida, na maioria dos casos, eles
ingressam em um drama que ocasionam graves problemas morais e psicológicos
(BEAUVOIR, 1990).
De acordo com uma reportagem no G1 (2011), os dados da ONU
demonstram que o planeta possui 893 milhões de pessoas com mais de 60 anos,
mas na metade desse século, os números passaram de 2,4 bilhões. Apenas no
continente Africano o crescimento populacional está em alta, com uma média acima
de três filhos por mulher (4,64). No continente europeu, na América do Norte e na
21
Ásia, a média da taxa de natalidade é basicamente de 1,53, e 2,03. Na China e na
Índia, que são países populosos e já possuem mais de um bilhão de pessoas, a sua
população poderá ficar estável em poucas décadas.
O processo de envelhecimento da população atinge todo o mundo, com
poucas exceções, “[...] se antes era considerado um “privilégio dos países do
Primeiro Mundo, é agora a novidade e o grande desafio dos países “emergentes” ou
em desenvolvimento” (VALSECCHI 1999, p. 50).
A População idosa no Brasil cresceu significantemente segundo o Censo de
2010, realizado recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). O percentual populacional de idosos com 65 anos de idade ou mais, nas
pesquisas anteriores, era de 4,8% da população em 1991, 5,8% em 2000, e agora
chegam a 7,4% do total de 190.755.799 de habitantes brasileiros. Mostrando
consequentemente um aumento da expectativa de vida para a população brasileira.
De acordo com Berzins (2003):
A expectativa de vida do brasileiro é de 68,6 anos. Na última década a esperança de vida ao nascer da população teve um ganho de 2,6 anos, ao passar de 66 anos, em 1991, para 68,6 anos em 2000. A população feminina teve um incremento mais expressivo do que a população masculina. Em 1991, as mulheres possuíam em média 7,2 anos a mais do que os homens e em 2000 chegou a 7,8 anos.(BERZINS 2003, p. 28).
As regiões com mais idosos, segundo o IBGE, são as regiões Sudeste e Sul,
com os maiores índices de envelhecimento com um percentual de 8,1%, em 2010.
As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, experimentaram também mudanças
significativas em relação a essas cifras. Como consequência desses indicadores,
houve uma redução expressiva na população com idade até 25 anos. Alguns
estudos realizados pelo IBGE mostram que em 2050, o Brasil terá 259,8 milhões de
habitantes, com aproximadamente 18% da população idosa, indicando que no nosso
país essa parcela da população será a sexta do mundo.
O Estado do Ceará verificou também um crescimento nas taxas da população
idosa. Segundo uma reportagem do jornal O Povo (2012), os números triplicaram
nas últimas quatro décadas (entre 1970 e 2010). Estes saltaram de 205 mil para 758
mil, passando a representar 8,9% dos cearenses. Essas taxas constataram que o
crescimento dessa parcela da população foi superior ao da população cearense, que
passou de 4,3 milhões para 8,4 milhões entre 1970 e 2010. De acordo com
Menezes; Lopes; Marucci apud Menezes (2012):
22
A cidade de Fortaleza possui 2.141.402 habitantes e, destes, 160.231 (7,5%) são indivíduos com 60 anos ou mais e assim como acontece no Brasil, Fortaleza tem experimentado aumento substancial na população idosa. De acordo com dados dos Censos Demográficos realizados nos anos de 1980 e 2000, constata-se que o crescimento da população idosa de Fortaleza em 20 anos foi expressivo, em relação à população total, visto que, enquanto houve aumento de 63% na população total, houve aumento de 130% na população idosa (60 anos e mais).
Os indicadores demográficos mostram o aumento representativo dessa faixa
etária no Brasil, demonstrando que a sociedade brasileira está passando por um
processo de mudança em sua pirâmide etária, sendo necessária uma maior
visibilidade para o envelhecimento dessa população (GOLDMAN, 2009).
Percebe-se então que o Brasil não pode mais ser considerado um país
prevalentemente jovem, visto que as pesquisas demográficas comprovam
envelhecimento cada vez maior de seu contingente populacional. Através desse
crescimento é inegável a necessidade de estudar e compreender melhor a velhice,
contribuindo assim, com melhores respostas para as demandas dessa população,
buscando melhorias para a qualidade de vida dessas pessoas.
Esse envelhecimento que atinge o mundo é considerado um grande problema
para o capitalismo, pois as pessoas mais velhas e que estão em processo de
envelhecimento são consideradas improdutivas e não são mais uteis para o sistema
de produção capitalista. “Quando o trabalhador se encontra na condição de velho é
descartado pelo capital, que não lhe dá condições de sobrevivência” (TEXEIRA apud
OLIVEIRA; FERNANDES E CARVALHO, p. 3).
O processo da velhice para o sistema capitalista é uma fase que onera muitos
gastos, haja vista que os idosos, além de não cooperarem com a sua mais-valia
para a produção, não contribuem com os mesmos percentuais para a previdência
social e, sim, utilizam dessa política através da aposentadoria, além dos gastos com
a saúde, maiores do que em outra faixa etária e as políticas sociais que precisam
ser criadas e implementadas para garantirem os mínimos direitos para essas
pessoas.
Segundo uma reportagem do G1(2011), o processo de envelhecimento da
população, juntamente com a diminuição da natalidade está preocupando os países,
principalmente da Europa, onde os seus governos já estão adotando políticas que
incentivam os pais a gerarem mais filhos, buscando aumentar a população jovem de
seus territórios. A Austrália é um dos países que mais incentivam a natalidade
através de um Departamento de Assistência Familiar que cria subsídios a
23
aumentarem as suas famílias. Estes benefícios ajudaram a aumentar 14% dos
nascimentos na última década na Austrália. O governo francês também incentiva a
reprodução através de subsídios, cuidados gratuitos com crianças até 03 anos e
grandes períodos de licença maternidade para as mães. Na Alemanha, o governo
além de oferecer subsídios eles oferecem um terço do salário que os pais recebiam
em seus empregos para pararem um ano de trabalhar para cuidarem dos filhos.
Os países buscam a qualquer custo aumentar a natalidade para evitar uma
recessão da população jovem dos seus estados, diminuindo a mão de obra para a
produção capitalista e aumentando os custos com políticas para a população
improdutiva que não oferece mais lucro para o país.
Na sociedade em que se vive existem inúmeros estereótipos em relação à
velhice e vários termos utilizados para nomear essa fase e essas pessoas que estão
no processo de envelhecimento, os mais comuns dos termos são idosos, velhos ou
terceira idade. Para Goldman (2009):
As várias designações tentam, sem muito sucesso, suavizar, no discurso, a estigmatização que os idosos vivem no cotidiano. Importa, mais que a rotulação, a superação do estigma a que os idosos são submetidos e a significação que adquire na construção do espaço de cidadania como sujeitos históricos (GOLDMAN 2009, p. 160).
O termo idoso é utilizado, na maioria das vezes, pelas políticas sociais e para
o censo demográfico. Há alguns autores que preferem utilizar a termologia velho
como sinônimo de idoso. Para outros, é considerado aquele que não tem mais
utilidade. Segundo Alcântara (2003, p. 1) no Brasil o termo “velho” esta associado a
designações negativas. O termo terceira idade é mais utilizado para as pessoas com
o poder aquisitivo mais elevado. Então, escolher entre idoso, velho ou terceira idade
vai depender do autor e da interpretação de cada um sobre os termos. Dentre os
apresentados, no presente estudo a termologia escolhida será o idoso.
1.3 As legislações que amparam a população idosa no Brasil
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007) o idoso é aquele
habitante de um país em processo de desenvolvimento com sessenta anos ou mais,
e nos países já desenvolvidos, são considerados aqueles habitantes com ou acima
de sessenta e cinco anos. Mas para Goldman (2009, p.159), “A idade cronológica
serve apenas como um índice objetivo, embora haja diferenciações entre gêneros,
classes sociais, padrões de qualidade de vida no processo de envelhecimento”.
24
No Brasil o homem ou a mulher com sessenta anos de idade ou mais são
considerados integrantes da terceira idade, e possuem direitos previstos tanto na
Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988, quanto em normas
infraconstitucionais. Logo no Art. 3° da CF, constituem como um dos objetivos
fundamentais a promoção do bem de todos sem qualquer discriminação, inclusive a
de idade, ofertando saúde para todos, previdência para quem contribuiu
anteriormente e assistência para quem dela necessitar. Segundo Rulli Neto apud
Cielo; Vaz (2003):
A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu texto, expressamente, direitos e garantias fundamentais, mas, apesar disso, há a necessidade de vontade política para o implemento da norma – direcionamento das políticas públicas para a proteção do ser humano, sempre que não for auto-aplicável o dispositivo constitucional ou no caso de depender de implementação de políticas públicas. (RULLI NETO 2003 apud CIELO; VAZ, 2009, p.34).
A Carta Magna de 1988 aumentou e solidificou os direitos para essa
população. Várias conquistas foram asseguradas por esse mecanismo como:
aposentadoria de acordo com o tempo de serviço; aposentadoria de acordo com a
idade; pensão por morte; reajustes dos benefícios relacionados ao salário mínimo;
cálculo da aposentadoria baseado nos últimos 36 meses contribuídos e entre outras
conquistas (GOLDMAN, 2009).
A Constituição trouxe direitos importantes para os idosos, mas devido a esse
crescimento exorbitante no número da população idosa, os direitos estabelecidos na
Carta Política tornaram-se pequenos se comparados a importância desse
crescimento. Havia necessidade de elaborar legislações mais especificas para esses
idosos. Contudo foi através do impulso dado pela CF, pelas reivindicações e debates
que buscavam a ampliação dos direitos para essa população que foram criados uma
Política Nacional do Idoso (PNI) que está definida na Lei nº 8.842 (regulamentada
pelo Decreto n° 1948/96), de janeiro de 1994. E posteriormente, o Estatuto do Idoso,
regido pela Lei n° 10.741, de 1º de outubro de 2003.
A Política Nacional do Idoso foi aprovada para certificar os direitos sociais do
idoso, promovendo condições para autonomia, participação e integração efetiva na
sociedade, onde estabelecem diretrizes e princípios para a efetivação dos direitos
dessa população. Para Bruno (2003):
Ela foi pautada em dois eixos básicos: proteção social, que inclui as questões de saúde, moradia, transporte, renda mínima, e inclusão social, que trata da inserção ou reinserção social dos idosos por meio da participação em atividades educativas, socioculturais, organizativas, saúde preventiva, desportivas, ação comunitária. Além disso, trabalho e renda,
25
com incentivo á organização coletiva na busca associada para a produção e geração de renda como cooperativas populares e projetos comunitários (BRUNO, 2003, p.78).
Contudo, a Política Nacional do Idoso não vem sendo aplicada com eficiência.
Os motivos que contribuem para essa pouca aplicabilidade vão desde contradições
dos próprios textos legais até a falta de conhecimento do seu próprio conteúdo.
Percebe-se também a falta de uma ação pública conjunta na elaboração dos
projetos, pois os idosos, inúmeras vezes, são prejudicados por projetos implantados
sem qualquer articulação pelos órgãos de assistência social, saúde e educação.
(CIELO; VAZ, 2009)
Quando foi aprovado no Congresso, o Estatuto do Idoso representou uma
grande conquista, na qual foram estabelecidas sanções penais e administrativas
para quem descumprisse os direitos nele impostos. Esta norma veio garantir direitos
em diversas áreas, como saúde, transporte, distribuição de medicamentos, inserção
do idoso no mercado juntamente com sua profissionalização e principalmente um
objeto de cidadania. De acordo com Bruno (2003):
O Estatuto, além de ratificar os direitos demarcados pela Política Nacional do Idoso, acrescenta novos dispositivos e cria mecanismos para coibir a discriminação contra os sujeitos idosos. Prevê penas para crimes de maus tratos de idosos e concessão de vários benefícios. Consolida os direitos já assegurados na Constituição federal, tentando sobretudo proteger o idoso em situação de risco social (BRUNO 2003, p. 79).
O Estatuto foi um diferencial para o estudo dos direitos dos idosos no Brasil,
principalmente em relação à publicização desses direitos e da temática do
envelhecimento. Segundo Sousa apud Cielo; Vaz, (2009):
[...] O Estatuto do Idoso é um instrumento que proporciona auto-estima e fortalecimento a uma classe de brasileiros que precisa assumir uma identidade social. Ou seja, o idoso brasileiro precisa aparecer! Precisa se inserir na sociedade e, assim, passar a ser respeitado como indivíduo, cidadão e participe da estrutura politicamente ativa. (SOUSA apud CIELO; VAZ, 2009, p. 42).
Apesar de todos esses avanços conquistados no Estatuto do Idoso, estes
necessitam de uma concretização diária, onde está cada vez mais distante de
acontecer no palco das políticas públicas restritas do nosso país, de orçamento cada
vez menor, principalmente para setores da educação e saúde, e também a
transferência da responsabilidade do estado frente a questão social (GOLDMAN,
2009).
Através da Política e do Estatuto do Idoso foram previstos conselhos para
essa população, que são de natureza permanente, deliberativa e paritária. O
26
Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI) integra a estrutura da Secretaria
Nacional dos Direitos Humanos. Estes conselhos são responsáveis por
supervisionar, fiscalizar, orientar e zelar pela aplicação e efetividade da PNI, além de
ser uma forma de representação política, participação e articulação para os idosos.
Segundo Ribeiro (2008) os:
Conselhos de políticas são instituições importantes na inclusão da participação da sociedade na formulação de políticas públicas, mas apenas sua existência não garante a representação política. É preciso que haja a ativa participação dos cidadãos, grupos e organizações sociais e os representantes devem sempre sustentar uma relação positiva com a entidade que representam, além de se conscientizarem sobre o que representam os conselhos (RIBEIRO 2008, p. 41-42).
Segundo Barroso apud Ribeiro (2008), com a PNI e o Estatuto do Idoso, as
questões relacionadas para essa população passaram a ser tratadas através de
uma forma de cidadania e democracia. Estas questões saíram um pouco mais do
âmbito caritativo e familiar, adquirindo uma conotação de direitos, visto que na
própria CF de 1988 o idoso encontra-se no exercício de sua cidadania, de sua
liberdade e dos seus direitos.
Outro importante avanço para a população idosa foi a Política Nacional de
Saúde do Idoso, regulada pela portaria n° 1.395, de Janeiro de 1999, esta política
prevê um atendimento integral de saúde para essa população e para aqueles que
estão em processo de envelhecimento, buscando uma velhice saudável. Segundo
Santos (2010):
[...] O objetivo central dessa política é a promoção do envelhecimento saudável, a preservação e/ou a melhoria da capacidade funcional dos idosos, a preservação de doenças, a recuperação da saúde e a reabilitação daqueles que apresentam alguma restrição de sua capacidade funcional (SANTOS 2010, p. 25).
Outra importante lei que assiste a população idosa é a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) n° 8.742, de 07 de dezembro de 1993. Esta lei é de
caráter não contributivo, e garante os mínimos sociais á pessoa portadora de
deficiência e ao idoso com 65 anos ou mais. De acordo com o Art. 20 da LOAS o
benefício de prestação continuada (BPC), garante um salário-mínimo ao idoso com
65 anos ou mais e á pessoa com deficiência, para estes que comprovem não terem
condições mínimas de sustento e nem possuírem a renda provida por sua família.
A Lei nº 8.742 assiste apenas os idosos cuja renda mensal per capita seja
inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo, ou seja, que não possuem as mínimas
condições de sobrevivência. Apesar da restrição a LOAS foi um grande avanço para
27
os idosos, pois promoveu uma condição básica de subsistência para aqueles que
nem essas condições possuem.
No Brasil, percebe-se que os idosos estão bem amparados no que se refere
ás legislações. Tanto a Política Nacional do Idoso como o Estatuto do idoso
trouxeram mais visibilidade para essa parcela da população antes tida como
invisível. Estas contribuíram para a ampliação da cidadania e autonomia para os
idosos.
Contudo, apesar de todos os avanços que essas leis possibilitaram, é
importante ressaltar que apenas a criação de leis sem uma verdadeira efetividade
não resolvem os problemas e não garantem os direitos para essa parcela da
população. Há uma deficiência nas suas aplicações, onde percebe-se inúmeros
direitos negados para esses idosos e eles mesmo não possuem conhecimento sobre
as suas garantias contidas nessas normativas. Para Cielo; Vaz (2009, p. 46) “[...] As
leis Brasileiras, voltadas aos idosos, são mais uma carta de intenções do que
propriamente comandos legais, vez que não fiscalizados adequadamente, são
ignorados”. A sociedade como um todo deve fiscalizar a sua efetividade para tentar
diminuir o seu descumprimento evitando um retrocesso de direitos já alcançados.
Uma grande parte dos idosos brasileiros não possui seus direitos preservados
e suas condições de cidadania são mínimas. O zelo e respeito para essa população
que só cresce, deve ultrapassar as normas constitucionais, alcançando uma
dimensão ética e moral. Respeitar, promover e reconhecer esses direitos é garantir
uma igualdade para os idosos, visto que a idade avançada não tornam essas
pessoas menos cidadãos (RIBEIRO, 2008). O cuidado e respeito exercitado no
contexto familiar serviriam de exemplo do direito do idoso para além da legislação.
28
2. Família
A importância da família começa na infância e passa pela adolescência, onde
existe amparo, zelo e educação e que se prolonga até a vida adulta, com o apoio em
diversos momentos da vida, na formação, no equilíbrio afetivo e no desenvolvimento
físico e social. Segundo Simões (2011):
A família constitui a instância básica, na qual o sentimento de pertencimento e identidade social é desenvolvido e mantido e, também, são transmitidos os valores e condutas pessoais. Apresenta certa pluralidade de relações interpessoais e diversidades culturais, que devem ser reconhecidas e respeitadas, em uma rede de vínculos comunitários, segundo o grupo social em que está inserida (SIMÕES 2011, p. 194).
As promessas, expectativas e probabilidades em relação à instituição família
estão embutidas no imaginário coletivo, aonde a que representa mais legitimidade e
símbolos é a família tradicional (pais e filhos). Essa instituição carrega culturalmente
o ônus de proteção, afetividade, cuidado, sociabilidade, construção de vínculos e
identidade, e entre outras obrigações. Mas esses “deveres” não são garantias, a
família da mesma forma que pode construir relações sólidas tem o poder de
enfraquecer potencialidades e possibilidades (CARVALHO, 2002).
É através dessa relação que o ser humano cresce e se desenvolve, para logo
após construir a sua própria família, realizar suas escolhas e adquirir novas
responsabilidades. Esta é um elemento que está em frequente mudança dentro da
sociedade e não permanece imóvel, ao contrário, está sempre em um processo de
alteração, onde tem a capacidade de passar de uma forma mais simples a uma
forma mais complexa.
A família geralmente é responsável por cuidar dos idosos, mas nem sempre
essa instituição cumpre com essa responsabilidade, recaindo o papel de cuidador
para outras instituições. Segundo Héredia; Cortelletti; Casara (2010):
As transformações sociais ocorridas ao longo do século XX fizeram com que a família extensa fosse substituída pela família nuclear, e que as funções pessoais e institucionais, que antes ocupavam fossem modificadas. Algumas das funções consideradas por muitas décadas “sagradas”, tais como a biologia, a protetora, a religiosa, a educativa a integrativa foram repassadas para outras instituições como: escola, Estado, Igreja [...] (HÉREDIA; CORTELLETTI; CASARA 2010, p. 34).
2.1 Conceitos sobre família
Compreende-se o que significa ser família como a célula do organismo social
que proporciona fundamento a uma sociedade. É uma instituição composta por
histórias pessoais e coletivas, proporciona pertencimento, formação de identidade,
29
questionamentos, interiorização de valores e socialização. A família é considerada
uma instância responsável pela sobrevivência dos seus membros, e também como
uma esfera privada que proporciona um relacionamento com a esfera pública
(LOSACCO, 2010).
Para o entendimento do que seja família, precisamos estudar um pouco sobre
a sua formação e transformações no decorrer do tempo. As suas relações de
hierarquias, obrigações e pertencimentos não são mais as mesmas, e o conceito de
ser família é diferente para cada cultura e geração.
Nas comunidades primitivas, não eram caracterizadas relações familiares
individuais, visto que predominava a endogamia, onde as relações sexuais ocorriam
com todos da comunidade. Com o passar dos tempos os homens começaram a
manter relacionamentos com mulheres de outras tribos, contribuindo para alavancar
as relações individuais que originaram a monogamia. Esta foi importante para o
progresso da sociedade (SANTOS; COSTA, 2008).
De acordo com Santos; Acosta (2008), podemos perceber que a família não é
a-histórica, pois a sua influência e importância varia de acordo com cada cultura e
sociedade. Na sociedade romana, a família tinha um grande valor tendo como
responsabilidades os setores social, econômico, religioso, político e jurídico. Era
representada pelo poder do “pater” família, considerado era o membro mais
importante. Esse pater não estava relacionado a laços sanguíneos e relações de
parentescos e sim relacionado à religião. Já na Idade Média a família estava
relacionada a laços sanguíneos e tinha uma grande influência da igreja. A família
para a Idade Média era responsável pela educação dos filhos e pelos ensinamentos
religiosos.
Percebe-se que mesmo na antiguidade, a família exercia uma grande
influência para o indivíduo, repassando, cultura, conhecimento e ensinamentos
referentes toda a sociedade. Para Santos (2010) a família é considerada o campo
em que as pessoas aprendem e desenvolvem suas práticas de cuidado que são
influenciadas por sua cultura.
Segundo Simões (2011), na época das formações pré-capitalistas, onde a
economia era basicamente agrária e as relações familiares eram baseadas nas
relações de trabalho e produção. Assim, a reprodução era intensa, pois quanto mais
reprodução, mais força de trabalho. Com a revolução burguesa e o desenvolvimento
30
fabril, essas relações começaram a serem superadas, pois a organização industrial
baseou-se nas relações impessoais. Desta forma, com os vínculos excluídos das
relações de produção, a função estritamente reprodutora da família diminuiu,
tornando uma relação mais afetiva e assistencial. De acordo com Hermácula apud
Vignoli:
Com a adoção do sistema capitalista como sistema produtivo em substituição a outras formas de produção, a família foi perdendo a posse dos meios de produção. Se inicialmente era necessário haver famílias numerosas (o que implica uma alta taxa de fertilidade, uma vez que a unidade principal de produção era o grupo familiar), o desenvolvimento para a forma capitalista determinou que a família perdesse sua característica de unidade produtiva, fazendo com que cada membro desta se transformasse em vendedor de sua força de trabalho (HERMÁCULA apud VIGNOLI 2007, p.26).
Segundo Osterne, no século XVIII, com a privacidade do lar, o surgimento da
escola, a igualdade entre os filhos, o sentimento da família relacionado ao
sentimento de classe legitimado por várias instituições deu origem a chamada
família nuclear burguesa. Segundo a autora:
A família burguesa tinha uma forma nuclear, reduzida ao pai, á mãe e aos filhos, organizada hierarquicamente ao redor de uma rígida divisão sexual de papéis, na qual competia ao homem a responsabilidade pelo sustento da família e á mulher, a educação dos filhos e os cuidados com o lar. Este modelo instituiu novos padrões de educação dos filhos e devotou importância à privacidade e à intimidade nas relações entre pais e filhos. A higiene, a disciplina, as emoções, a domesticidade, o amor materno e o amor romântico tornaram-se valores basilares á manutenção desse particular modelo de estruturação (OSTERNE 2004, p. 47).
No século XXI, discutir sobre família no Brasil e em todo o mundo envolve
lidar com mudanças com vários padrões de relacionamentos, onde, muitas vezes, os
laços já estão frágeis. Vive-se em uma época, em que, a esfera social mais
naturalizada que é a família, está sofrendo abalos internos e externos. Dificultando a
sustentação de uma ideologia que associa à família a ideia de natureza, visto que as
mudanças ultrapassam as respostas biológicas universais ás necessidades
humanas (SARTI, 2010).
É fato que as famílias têm passado por alterações em suas composições,
devido as várias transformações sociais, culturais e históricas sofridas. Para Giddens
(2005), essas mudanças eram inconcebíveis para gerações antigas, atualmente, a
diversidade da família é encarada como uma mudança cotidiana na sociedade, onde
essas modificações estão acontecendo no mundo inteiro e não apenas em países
industrializados. Para Losacco (2010):
31
[...] a instituição família encontra-se em processo de desestruturação, de desagregação ou de crise, temos que ter claro que, mesmo aquelas que apresentam problemas, ela é ainda um “porto seguro” [...] é muito importante salientar que a família como organismo natural não acaba e que, enquanto organismo jurídico, requer uma nova representação (LOSACCO 2010, p. 64).
Hoje, não se pode falar em um modelo único de família, pois houve uma
heterogeneidade das composições familiares, motivadas por modificações
econômicas, jurídicas, intergeracionais e de gênero. Não podemos falar em Família
e sim em Famílias (MARANGONI; OLIVEIRA 2010).
De acordo com Ceberio apud Falcão (2010), as famílias modernas que são
aquelas que se configuraram depois de 1960, tiveram como modificações principais:
diminuição no número de filhos; relações simétricas entre os casais; espaço de
tempo maior para terem filhos durante um relacionamento, o homem mais presente
na família e nos trabalhos domésticos; nível maior de clareza nas relações; opção de
parceiros (as) homoafetivos; a mulher através da sua inserção ao mercado de
trabalho conquistou certa independência financeira. Segundo Simões (2011) estas
transformações também modificaram os valores e representações simbólicas que
sustentam a família:
[...] com o aumento da tolerância da sociedade com as uniões informais, os filhos nascidos fora do casamento, à relativa aceitação moral do divórcio, maior flexibilidade dos papéis dos membros da família, como a inserção da mulher no mercado de trabalho, sua proteção contra a violência doméstica (Lei Maria da Penha), novos valores na criação dos filhos, a consciência da identidade específica das crianças, adolescentes e idosos e a flexibilização da autoridade do antigo chefe de família. Desenvolveram-se novas referências para a institucionalização das relações familiares, face á desagregação da estrutura familiar tradicional [...] (SIMÕES 2011, p. 196).
Devido a essas mudanças ocorridas na sociedade, principalmente levando
em consideração o consumo exacerbado, houve essa mudança na composição
familiar, onde os vínculos construídos anteriormente tornaram-se cada vez mais
fragmentados. Segundo Cortelletti et al (2004):
Na verdade, a família não se preparou para enfrentar mudanças socioculturais que geraram novas demandas sociais e, consequentemente, papéis de seus membros que se adequassem a elas. A família das últimas décadas do século XX teve que fazer frente a uma série de mudanças estruturais, que afetaram as suas funções principais e criaram novas necessidades para a sua manutenção e mesmo reprodução. Urbanização (sic), industrialização, crescimento da população e a transição demográfica foram transformações sociais e econômicas que afetaram o cerne da família na sua origem, por que alteraram a base das relações sociais entre os indivíduos (CORTELLETTI et al 2004, p. 31).
32
Historicamente, o cuidado com os idosos recaíam para as mulheres que
aprendiam os cuidados com a saúde e a doença com as outras mulheres de sua
família ou com o seu grupo sociocultural. Mas, com a mudança do tipo de trabalho e
com a inserção da mulher no mercado de trabalho, transformou o modo de vida das
pessoas e criou uma série de ocupações que não existiam antigamente. Segundo
Cardoso apud Falcão (2010):
O século XX foi um marco na mudança do papel das mulheres na sociedade. Esse momento registrou a passagem de uma condição caracterizada pela reclusão da figura feminina no espaço privado para uma presença mais abrangente e diversificada das mulheres em vários processos sociais, como o produtivo e o público (CARDOSO apud FALCÃO, 2010, p. 92).
Outra importante conquista para as mulheres: a inserção da pílula
anticoncepcional no mercado trouxe mais autonomia para elas em relação a sua
função reprodutora. Além disso, as mulheres passaram a vincular mais a relação
sexual com o prazer e não apenas como uma simples reprodução, trazendo
consequências diretas para diminuição da natalidade e modificações o interior das
famílias. De acordo com Vignoli (2007):
[...] descoberta a pílula anticoncepcional [...] Possibilitou a mulher o direito de optar pela maternidade ou não. Facilitou o ingresso no mercado de trabalho remunerado e nas universidades. Ocorreu a fragilização dos laços matrimoniais, com as separações, divórcios e os novos acordos sexuais. Como consequência do divórcio e dos recasamentos, surgiu outra configuração que vem sendo chamada de “família reconstituída”. Observou-se o crescimento da família monoparental, ou seja, chefiada por mulheres (VIGNOLI 2007, p.28).
De acordo com Cortelletti et al, (2004), a mulher, que antes desempenhava
papéis definidos dentro do grupo doméstico, começa a exercer funções externas que
a deslocavam desse grupo e a obrigavam a acumular outras atividades. Todas
essas modificações, principalmente a mudança para a família nuclear, fizeram com
que as famílias entrassem em um processo de ruptura de seus vínculos.
Apesar dessas alterações nas estruturas familiares serem vistas com uma
maior naturalidade, estas ainda são complicadas para serem enfrentadas. De acordo
com Sarti (2010):
As mudanças são particularmente difíceis, uma vez, que as experiências vividas e simbolizadas na família têm como referência, a respeito desta, definições cristalizadas que são socialmente instituídas pelos dispositivos jurídicos, médicos, psicológicos, religiosos e pedagógicos, enfim, pelos dispositivos disciplinares existentes em nossa sociedade,os quais, têm nos meios de comunicação um veículo fundamental, além de suas instituições específicas. Essas referências constituem os “modelos” do que é e como deve ser a família, ancorados numa visão que a considera como uma
33
unidade biológica constituída segundo leis da “natureza”, poderosa força simbólica (SARTI 2010, p. 23).
A autora também ressalta que o conceito de família é polissêmico,
considerada ao grupo de indivíduos vinculados por laços consanguíneos,
consensuais, jurídicos ou afetivos, constituindo redes de parentescos, fatores
influenciados por aspectos biopsicossociais, históricos, culturais e econômicos.
De acordo com Santos; Costa (2008), com todas as mudanças nos lares no
século XX, a mulher conquistou certa autonomia em relação aos homens e nas
legislações ela adquiriu os mesmos direitos dos seus cônjuges. As famílias
passaram a serem nucleares, ou seja, mãe o pai e os filhos. Através dessas
mudanças, o casamento acaba perdendo o seu sentido de procriação e de
simplesmente fator para gerar uma família. O casamento começa a existir como uma
relação de afeto e afinidade, onde outros modelos de família surgem para consolidar
essas mudanças. Para Osterne (2004):
A definição dominante de família congrega um conjunto de palavras afins: pai, mãe, filhos, casa, unidade doméstica, casamento e parentesco. A família tida como “legítima”, “normal”, que se interioriza no imaginário da maioria das pessoas, caracteriza-se como um conjunto de indivíduos aparentados que se ligam entre si por aliança, casamento, filiação, adoção, ocasional ou afinidade (OSTERNE 2004, p. 34).
Nesse contexto foram criadas várias designações para nomear essas novas
famílias e relações modernas, que surgiram para modificar o conceito de família
clássica. Segundo Simões (2011):
Entende-se por família natural, de origem, biológica ou consanguínea, a comunidade formada pelos pais e seus filhos, conjuntamente ou não com avós, netos ou tios (3° grau, art. 1521 C. Civil); monoparental, a da mãe ou o pai, um sem o outro, com seus filhos; anaparental, a de familiares sem os pais, constituídas de irmãos, tios, sobrinhos, primos e outros, podendo incluir outras pessoas sem parentesco, em que a descendência biológica não é essencial e sim o vínculo afetivo; homoafetivas, as constituídas por pessoas do mesmo sexo, que se vinculam por laços de afetividade, de maneira pública, duradoura e contínua, dentro de um contexto familiar análogo ao do casamento; e, por família substituta, aquela em que é colocada a criança ou o adolescente por meio da guarda, tutela ou adoção. O ECA instituiu, ainda, o conceito de família extensa ou ampliada (art.25, parágrafo único), acrescendo á família nuclear também os parentes próximos [...] (SIMÕES 2011, p.198).
O que se percebe é que a família nuclear burguesa está, cada vez mais,
perdendo a sua força e isso não envolve necessariamente consequências negativas
para seus membros, pois a família não deve estar atrelada apenas a sua estrutura e
sim as relações que são construídas no seu interior. Uma vez que estas relações
34
estão construídas com qualidade e respeito não importa o modelo familiar. Contudo,
a sociedade ainda não enxerga tão abertamente essas mudanças, onde muitos
consideram os desvios de personalidade, desestruturas e problemas psicológicos o
fato da família está mudando as suas relações, desconsiderando a individualidade e
subjetividade do indivíduo.
A CF de 1988, no capítulo VII, art° 226 relata que a família é a base da
sociedade e tem proteção especial do Estado, onde o casamento é civil, mas o
religioso também tem efeito para lei, os direitos e deveres de efeito conjugal são
exercidos da mesma forma tanto para o homem como para a mulher, relata também
que o Estado assegurará assistência às pessoas que integram essa instituição, e
entre outras prerrogativas. No art° 229° refere que os pais possuem como um de
seus deveres criarem e educarem seus filhos, e os filhos quando adultos devem
amparar os seus pais. O que se percebe é que o Estado a todo o momento busca
uma transferência de responsabilidade para essa instituição, como se todas as
famílias tivessem as mesmas condições básicas para colocarem em práticas essas
obrigações. Segundo Goldani (1994):
As especulações sobre a precariedade e instabilidade da instituição familiar ganham força e são reforçadas pela incapacidade do Estado em prestar os serviços sociais básicos ás famílias carentes e seus dependentes. Legalmente, o Estado brasileiro deve oferecer suporte ao menor e aos idosos por meio de programas sociais, o que ajudaria a aliviar as pressões econômicas e pessoais dessas famílias. Entretanto, o que observa, atualmente é uma crescente deterioração dos serviços públicos. O Estado trata de minimizar ao máximo a sua contribuição e clama por ajuda da comunidade e da família para com seus dependentes. (GOLDANI 1994, p. 09)
As normativas básicas que incluem a família como objeto de intervenção e
participação são o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n° 8.069, de 13
de julho de 1990; a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei n° 8.742, de 07
de dezembro de 1993; o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.431, de 1º de outubro de 2003
e o Programa Bolsa Família (PBF), Lei n° 10.836, de 09 de janeiro de 2004,
regulamentado pelo decreto nº 5.209, de 17 de setembro de 2004.
É importante ressaltar que no nosso país não existe nenhuma legislação e
política social específica que ampare essa instituição como um todo. O que existe,
são políticas centralizadas nos seus membros, que não levam em consideração todo
o contexto familiar e as relações que existem naquela família. De acordo com
Schnorrenberger (2003):
35
[...] na ausência de uma política social especifica para a família, é comum deparar-se com diferentes políticas públicas focadas no indivíduo e não no grupo familiar como um todo. Isto dificulta o processo de proteção e qualidade de vida familiar. Assim predominam as propostas residuais, centralizadas em situações limites e pontuais (SCHNORRENBERGER 2003, p. 22).
A criação e efetividade de políticas sociais que tratem as famílias como
indivíduos coletivos e detentores de direitos, respeitando as diversas complexidades
que existem em suas estruturas, necessitam de ações articuladas entre recursos
governamentais e não governamentais. As políticas sociais precisam ser articuladas
com as outras políticas, visando uma integralidade de diversas dimensões como
emprego, lazer, renda, moradia, educação e entre outros direitos (FARAH, 1999
apud FONSECA, 2006, p. 05).
Apesar de todas as contradições que envolvem essa instituição tão valorizada
e desprezada na sociedade é inegável a sua importância para a evolução dos seres
humanos, pois, é através dela que existe uma primeira socialização do ser com a
sociedade. Mesmo com esse afeto que pode ter outros significados como a
justificativa para o autoritarismo, brigas de poder, exploração e submissão, a família
ainda é importante e com todas as mudanças nas suas estruturas essa instituição
ainda sobrevive na sociedade e na história. De acordo com Sawaia (2010):
[...] as tentativas e as previsões sobre o seu desaparecimento não deram certo. Ela continua sendo, para o bem ou para o mal, a mediação entre o indivíduo e a sociedade. E mais, assiste-se hoje ao enaltecimento dessa instituição, que é festejada e está em evidência nas políticas públicas, e é desejada pelos jovens. (SAWAIA, p. 41)
Para os idosos é mais complicado entender e aceitar essas modificações na
família, visto que eles nasceram em uma época em que a família tradicional era a
principal, onde os filhos eram muito submissos aos pais e as relações hierárquicas
eram claras. Devido todos esses processos as instituições asilares estão cada vez
mais requisitadas tanto pela família como pelos próprios idosos. Porém, na maioria
dos casos, é a família quem decide procurar pelos agentes profissionais nessas
organizações. Estas instituições constituem a modalidade mais antiga e universal de
atenção à pessoa idosa fora de sua família.
36
2.2 A Família e o Idoso
A família é definida como uma das instituições mais importantes em uma
sociedade, esta possui responsabilidades sociais, principalmente em relação ao
idoso. Grande parte dos cuidados com eles incide sobre suas famílias, devido à
dificuldade para ingressar no mercado de trabalho, diminuição dos recursos do
Estado e também por algumas doenças que acometem essas pessoas. De acordo
com Neri (1990):
[...] em todo mundo, a família é a principal fonte de apoio e de cuidado a idosos. Ao proporcionar cuidados por intermédio de alguns de seus membros, cumpre normas socioculturais fundamentais á continuidade da sociedade. A atribuição do papel de cuidador a alguns membros e não a outros não é arbitrária, mas obedece a normas sociais de parentesco, gênero e idade e á dinâmica das relações familiares (NERI [et al.] 1990, p. 11).
Segundo Sarti (2010, p. 33) a ideia de família “[...] define-se em torno de um
eixo moral. Suas fronteiras sociológicas são traçadas segundo o princípio da
obrigação, que lhe dá fundamento, estruturando as relações. Dispor ás obrigações
morais recíprocas é o que define a pertinência ao grupo familiar”.
Com o processo de envelhecimento necessita de uma demanda maior de
serviços públicos especializados para essa população A família brasileira como a
principal instituição responsável pelo suporte econômico e afetivo para com seus
idosos, necessitará aumentar, cada vez mais, essa sua função buscando minimizar
as lacunas deixadas pelo Estado. (GOLDANI, 1994)
De acordo com a lei 10.741/03, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso é
obrigação da família, comunidade, sociedade e Estado assegurarem bem estar,
dignidade e direito a uma vida saudável para os idosos. Para Goldman (2009) a
lógica neoliberal pretende, cada vez mais, desresponsabilizar o Estado diante da
questão social, para colocar a família e a sociedade em maior relevância.
Devido às transformações estruturais na família, além da diminuição nos
números de filhos, grande parte dos componentes dessa família trabalha ou estuda
fora de casa, tornando muito difícil a atenção com o idoso. Reduzindo essa relação
de cuidado e apoio.
Entende-se que na velhice existem várias alterações, devido à época de
vulnerabilidade, que conduzem o idoso à dependência, gerando situações que
necessitam da presença de outra pessoa por longos períodos, sendo, nestas
épocas, a família a principal fonte de cuidados. É nessa hora que os membros da
37
família deveriam assumir o papel de cuidadores, por terem uma responsabilidade
culturalmente definida e um vínculo afetivo. Essa relação de cuidado pode ser
realizada pelas redes sociais de apoio que são caracterizadas, segundo Antonucci e
Akyiama apud Neri e Sommerhalder (2006):
[...] são grupos hierarquizados de pessoas que mantêm entre si laços e relações de dar e receber. Elas existem ao longo do ciclo vital, atendendo á motivação básica do ser humano á vida gregária. No entanto, sua estrutura e suas funções sofrem alterações dependendo das necessidades das pessoas. As redes sociais de apoio a idosos são caracterizadas por normas de conduta, valores e expectativas que lhes são específicas. Dar e receber ajuda material, instrumental e emocional, e, além disso, serviços e informações são funções centrais das redes de apoio envolvendo adultos e idosos. Além disso, elas permitem ás pessoas crerem que são cuidadas, amadas e valorizadas, oferecem-lhes garantias de que pertencem a uma rede de relações comuns e mútuas [...] (ANTONUCCI E AKYIAMA apud NERI E SOMMERHALDER 2006, p. 12-13).
Segundo Neri apud Neri e Sommerhalder (2006), existe as redes sociais de
apoio formal e informal. No Brasil a rede de apoio formal é caracterizada pelos
hospitais, consultórios, casas de apoio, asilos, clinicas geriátricas e ente outras
instituições, ou seja, essa rede de apoio é baseada em uma relação mais legal, onde
envolve profissionais especializados, remuneração e contratos oficiais. A rede de
apoio informal é caracterizada pelo seu funcionamento baseado na solidariedade e
reciprocidade entre as gerações. O princípio da solidariedade é caracterizado pelos
cuidados vindos do cônjuge, parentes e amigos próximos. O princípio da
reciprocidade é relacionado ao cuidado que provém dos filhos para com os pais. Na
ausência desses o cuidado pode recair para os cônjuges dos filhos e para outros
descendentes.
A família nem sempre exerce ou cumpre essa função e responsabilidade de
cuidar dos idosos, ocasionando situações de abandono e/ou asilamento. É
significante o número de indivíduos idosos que são vítimas de abandono, falta de
alimentação, saúde, dignidade, cultura, condições de higiene adequadas e entres
outros direitos negligenciados.
Minayo (2005) descreve alguns abusos que podem acometer essas pessoas,
e alguns são realizados por familiares, podemos citar: abuso físico que são ações
que usam da força física para obrigar, forçar e constranger os idosos podendo feri-
los, machuca-los e em alguns casos leva-los até a morte; abuso sexual refere-se ao
ato sexual ou práticas eróticas utilizando as pessoas idosas, através de ameaça,
violência física ou aliciamento; abuso psicológico é caracterizado por agressões
38
verbais ou gestuais que tem por objetivo humilhar, aterrorizar, restringir e isolar o
idoso do convívio social; abandono que é manifestado pela ausência de
responsáveis governamentais, institucionais e familiares com aqueles idosos que
necessitam de proteção; abuso financeiro refere-se ao uso e exploração indevida
dos recursos financeiros e patrimoniais para com esses idosos; negligência
caracteriza-se pela recusa ou omissão de cuidados aos idosos por parte da família
ou de outra instituição; autonegligência que manifesta-se em atitudes do próprio
idoso (a) que ameaça a sua saúde e segurança com atitudes de recusas a seus
próprios cuidados.
Os estudos mostram que os idosos estão sofrendo, cada vez mais, violência e
abuso nas suas próprias residências, como se não bastasse os abusos ocasionados
no espaço de vida pública. As suas casas que deveriam ser um local de segurança e
livre de qualquer perigo, hoje é um grande espaço de violência e abuso, que
geralmente são causados pelos seus próprios familiares. Essas situações
demonstram á necessidade de intervenção do Estado, da sociedade e da família,
buscando combater essa violência que atinge essa população. Além, de tentar
converter os estereótipos, preconceitos e mitos em respeito, buscando construir uma
sociedade mais digna e com igualdade para todos (BERZINS; WATANABE, 2010).
Na atualidade, observa-se que a sociedade do consumo exacerbado, está
cada vez mais desigual e excludente. Nota-se uma modificação principalmente na
estrutura familiar, onde há uma grande alteração nos papéis dentro dessa
instituição, punindo principalmente as crianças e os idosos. Com isso, cabe a outras
instituições substituir ou preencher essa lacuna do cuidado.
Diante dessa situação, é cada vez mais frequente os parentes buscarem
auxílios nos asilos e até mesmo os próprios idosos buscarem apoio nos lares e
clínicas geriátricas para diminuir o peso para suas famílias. De acordo com Queroz
(2010):
No dia a dia, muitas são as razões que conduzem ao internamento de idosos em instituições de longa permanência. Algumas são de ordem econômica (a família não consegue suprir financeiramente as necessidades do idoso), outras são de ordem estrutural (não há pessoas adultas disponíveis para cuidar do idoso). Em alguns casos, há problemas de relacionamentos entre membros da família ou com o idoso e ocorre a institucionalização (QUEROZ 2010, p.123).
Essa institucionalização pode trazer inúmeras consequências para os idosos,
visto que eles saíram de um ambiente físico conhecido e também do convívio com
39
pessoas do seu dia-a-dia, para conviverem com pessoas desconhecidas, onde
necessitará uma construção de laços de afetividade e confiança.
A atenção e o afeto são importantes e favorecem a saúde, proporcionando
sentido e significado para as relações humanas. Porém, é importante lembrar que o
ato de oferecer cuidado e zelo vão de acordo com a liberdade de cada indivíduo. O
amor é direito individual e ninguém é obrigado a gostar de alguém e nem todas as
famílias possuem as mesmas condições para exercerem os diversos cuidados que
os idosos necessitam. É impossível forçar um filho a amar um pai ou uma mãe que
passou uma vida toda agindo com arbitrariedade e desamor, as relações familiares e
de afetividade não são mercadoria de troca. No processo de cuidado a um idoso
devem ser avaliadas outras dimensões como: saúde mental dos membros da família
e relações de convivências anteriores. Não pode generalizar essas relações
precisamos compreender que cada caso é um caso. (FALCÃO; MALUSCHKE 2010)
2.3 Família, Institucionalização e Idoso
O aumento da longevidade e as inevitáveis consequências do processo de
envelhecimento ocasionam mudanças na família, onde o idoso, muitas vezes, torna-
se dependente, necessitando de ajuda de outra pessoa, geralmente, algum familiar.
Mas, em muitos casos, o cuidado para com os idosos recaí sobre outras pessoas ou
para as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), públicas ou privadas,
que buscam preencher essas lacunas deixadas pela família. Segundo Davim et al
(2004):
A situação familiar do idoso no Brasil reflete o efeito cumulativo em eventos socioeconômicos, demográficos e de saúde ao longo dos anos, demonstrando que o tamanho da prole, as separações, o celibato, a mortalidade, a viuvez, os recasamentos e as migrações, vão originando, no desenvolver das décadas, tipos de arranjos familiares e domésticos, onde o morar sozinho, com parentes ou em asilos, pode ser o resultado desses desenlaces. (DAVIM et al 2004, p. 519)
O Decreto nº 1.948, de 03 de julho de 1996, que regulamenta a lei nº 8.842,
que dispõe sobre a PNI, prevê que só na inexistência do grupo familiar, abandono e
carência de recursos financeiros da família, os idosos podem recorrer para o
atendimento asilar. Segundo Santos:
40
[...] Em uma de suas diretrizes propõe priorizar o atendimento aos idosos por intermédio de suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar. Verifica-se, aí, a oficialização da reprivatização do cuidado e o retorno á família da responsabilidade de cuidar de seus idosos [...] (SANTOS 2010, p.24).
Existem vários motivos que influenciam a institucionalização desses idosos.
Héredia; Cortelletti; Casara (2010) citam alguns como a ausência do cônjuge, a
história de vida como conflitos na família, os interesses dos membros da família, o
descaso com a velhice dos filhos e dos outros familiares para com a pessoa idosa e
a degradação física dos idosos, dentre outras características.
Segundo Alcântara (2003), o cristianismo foi o pioneiro nos cuidados com a
pessoa idosa e as primeiras instituições filantrópicas surgiram nos primórdios do
Império Bizantino. E, acredita-se, que o primeiro asilo foi criado pelo Papa Pelágio II,
que transformou a sua própria casa em um hospital para cuidar dessas pessoas.
Contudo, apenas no século XX que essas instituições responsáveis por prestar
cuidado a idosos foram denominadas de asilo, casas de repouso, lares, abrigos,
sendo a maioria, de caráter filantrópico.
Os modelos de asilos no Brasil ainda se assemelham as instituições totais,
que caracterizam-se como locais fechados que funcionam com regime de
internação, onde um número significativo de internos vivem em tempo integral sobre
a direção de uma equipe que administra a vida da instituição. De acordo com
Héredia; Cortelletti; Casara (2010):
[...] asilos são instituições totais, criadas para cuidar de pessoas consideradas incapazes, dependentes, velhas, sem condições de decisão. Ou seja, de pessoas que não possuem autonomia- capacidade para realizar atividades diárias, tomar decisões, tendo liberdade de ação- e nem independência- possibilidade de suprir as suas necessidades (HÉREDIA; CORTELLETTI; CASARA 2010, p.20).
Para Goffman (1996), uma instituição total pode ser caracterizada como um
espaço de residência ou trabalho onde um grupo de indivíduos em situação
semelhante, separados da sociedade, levam uma vida fechada e administrada
formalmente.
Estas instituições totais podem ser classificadas em cinco grandes grupos: O
primeiro, que é considerado um local criado para cuidar de indivíduos os quais,
segundo eles são inofensivos e incapazes, caracterizando os asilos casa para cegos
41
e orfanatos. O segundo grupo, são locais onde as pessoas não podem cuidar-se
sozinhas e podem tornar-se uma ameaça para a comunidade, caracterizando os
sanatórios e hospícios. O terceiro grupo constitui-se em estabelecimentos onde as
pessoas são involuntariamente encarceradas, a exemplo das prisões, campos de
concentração e campos de guerra. O quarto grupo constitui-se de locais onde os
indivíduos adentram voluntariamente, como escolas internas, quartéis e navios. E o
quinto e último grupo caracteriza-se por instituições religiosas, mosteiros e
conventos. Nesse projeto trabalharemos com o primeiro grupo, tratando-se dos
idosos. (GOFFMAN, 1996)
De acordo com Héredia; Cortelletti; Casara (2010) as instituições asilares
possuem como atribuições o dever de cuidar, alimentar, proteger e acolher os
idosos, através de condições básicas dignas e lazer. Essas instituições possuem
duas características: a primeira, a comunidade convivendo no mesmo espaço físico
e a segunda, a de instituição formal que possui suas normas e hierarquias.
No Brasil, não existe uma história fidedigna sobre a criação das instituições
para idosos, mas acredita-se que teve a sua origem devido aos asilos de
antigamente. O processo de envelhecimento populacional e as consequências
desse envelhecimento como dependência e diminuição nas capacidades físicas,
cognitivas e funcionais criaram a necessidade de um local que fosse além da
assistência social, um local onde os idosos tivessem principalmente o acesso a uma
ótima saúde, visando uma melhor qualidade de vida. A Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia, buscando uma denominação para essa nova forma de
instituição de acolhimento para idosos, aderiu o título de Instituição de Longa
Permanência para Idosos (ILPI) (CAMARANO; KANSO, 2010).
Segundo o artigo n° 49 do Estatuto do Idoso, todas as entidades que adotam
programas de ILPI deveram seguir alguns princípios, tais como: manutenção dos
vínculos familiares; atendimento personalizado e em pequenos grupos; preservação
do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior; atividades
comunitárias internas e externas; preservação de direitos e garantias dos idosos;
zelo pela manutenção da identidade do idoso e ambiente saudável que promova o
respeito e dignidade.
A Portaria n° 810, de 22 de setembro de 1989, regula e estabelece regras e
um modelo de funcionamento a ser seguido pela ILPI, casas de repouso, clínicas
geriátricas e outras instituições. Segundo Ângelo; Silva; Lima (2011):
42
[...] consideram-se instituições de longa permanência (ILPI) os estabelecimentos com denominações diversas, correspondentes aos locais equipados para atender pessoas com 60 anos e mais. Sob regime de internato, mediante pagamento ou não, durante um período indeterminado, podem dispor de um quadro de trabalhadores para atender às necessidades de cuidados de saúde, alimentação, higiene, repouso e lazer dos usuários, além de desenvolver outras atividades características da vida institucional (ÂNGELO; SILVA; LIMA 2011, p.664).
As instituições mais comuns que assumem esse papel de cuidador para com
a pessoa idosa são nomeadas de instituições filantrópicas e são reguladas pela lei
n° 12.101, de 27 novembro de 2009. De acordo com Petrelli (2003):
[...] entenda-se aqueles cuja realização não envolva exploração de atividade mercantil, nem distribuição de lucros ou participação no resultado econômico final da entidade. Não enseja a perda da característica de entidade sem fins lucrativos, o fato de prestar serviços remunerados ou de obter resultados econômicos positivos, anualmente. (PETRELLI 2003, p. 4).
A decisão da família ou do próprio idoso ao acolhimento em uma instituição
de longa permanência acarreta várias consequências, de acordo com a história de
vida e subjetividades de cada um. Segundo Héredia; Cortelletti; Casara (2010).
O processo de internação numa instituição asilar representa muito mais do que simplesmente uma mudança de um ambiente físico para outro. Representa para o idoso a necessidade de estabelecer relações com todos os aspectos de seu novo ambiente, ajustar-se ano novo lar mais do que o lar a ele, considerar-se abandonado, ansioso e com medo da ideia (sic) de passar os últimos anos da vida num lugar estranho, em meio a desconhecidos (HÉREDIA; CORTELLETTI; CASARA 2010, p.21).
As autoras retratam ainda que ao chegar a instituição, a pessoa idosa traz
consigo uma história de vida, sustentada principalmente pelo convívio familiar, e
durante o processo de institucionalização, na maioria dos casos, ele precisará dela
abrir mão da convivência anterior devido à inserção na sua nova condição de vida.
Nessa mudança de ambiente, onde as perdas se impõem, os laços afetivos sofrem
uma ruptura que atinge profundamente o indivíduo.
43
3. Percurso metodológico e resultados da pesquisa
No processo da pesquisa é primordial a escolha do método, pois é através
dele que será construída a mesma. Segundo Marconi e Lakatos (2003):
[...] o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista (MARCONI E LAKATOS 2003, p. 83).
O objeto da pesquisa exigiu uma pesquisa de campo, com uma abordagem
qualitativa, com finalidade exploratória. As técnicas de coleta de dados foram desde
a observação e a entrevista. Os dados foram analisados através do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC) que de acordo com Lefèvre, F.; Lefèvre, A. M. C (2005), “[...]
é, em suma, uma forma ou expediente destinado a fazer a coletividade falar
diretamente”. Foi percorrendo esse caminho metodológico que se buscou obter os
resultados da pesquisa, tentando desvelar os objetivos norteadores.
3.1 Metodologia
Durante o processo de investigação de uma pesquisa, um dos passos
principais é a escolha do método, pois é através dele que se dará a melhor forma de
buscar o conhecimento para a construção da pesquisa. Segundo Demo (2009):
[...] pesquisar carece de método. Embora apenas instrumental, é indispensável sob vários motivos: de um lado, para transmitir á atividade marcas de racionalidade, ordenação, otimizando o esforço; de outro, para garantir espírito crítico, contra credulidades, generalizações apressadas, exigindo para tudo o que se diga os respectivos argumentos; ainda, para permitir criatividade, ajudando a devassar novos horizontes [...] (DEMO 2009, p. 12).
A metodologia é essencial para a pesquisa e considerada categoria central
para as teorias sociais, devido ela fazer parte da visão social de mundo veiculada na
teoria. Possui concepções teóricas para a abordagem, conjunto de técnicas para a
pesquisa que possibilitam, juntamente com a capacidade criativa do
pesquisador, uma aproximação com a que possibilite sua apreensão (MINAYO,
1999).
O objeto da presente pesquisa exige uma abordagem qualitativa, pois esta
ultrapassa os dados estatísticos. De acordo com Martinelli (1999) a pesquisa
quantitativa dimensiona os problemas, trazendo extensos retratos da realidade, mas
não consegue trazer as concepções dos sujeitos. Segundo a autora:
44
[...] tornava-se fundamental buscar novas metodologias de pesquisa que, mas do que buscar índices, modas, medianas, buscassem significados, mais do que buscar coleta de informações, buscassem sujeitos e suas histórias. Certamente, isso pressupõe um outro modo de fazer pesquisa, no qual não deixa de ser importante a informação quantitativa, mas sem que se excluam os dados qualitativos. Esses dados ganham vida com as informações outras, com os depoimentos, com as narrativas que os sujeitos nos trazem [...] (MARTINELLI, 1999, p. 21).
Streubert e Carpenter (1995) apud Santos (2010) concordam com Martinelli
(1999) quanto afirmam que a abordagem qualitativa tem como característica a
presença de várias realidades, buscando a compreensão dos fenômenos estudados
através do próprio sujeito da pesquisa. Nesta abordagem, o pesquisador é
considerado componente integrante do processo da pesquisa.
A pesquisa qualitativa possibilita um maior aprofundamento com o tema, pois
permite que o pesquisador observe a totalidade do sujeito pesquisado através da
sua subjetividade, pensamentos, modos de vida, construções sociais, cultura e entre
outros aspectos. A pesquisa quantitativa é limitada nesse sentido, uma vez que não
trabalha com essas concepções. Segundo Queiroz (2008) a abordagem qualitativa é
a melhor forma de captar a maneira de ser do objeto pesquisado, desvendando os
predicados e as divisões internas de uma sociedade.
A fonte mais privilegiada nessa pesquisa é a narrativa oral. Esse instrumento
permite que a realidade do sujeito seja descoberta a partir dos significados que por
ele são atribuídos. Então, nada melhor que a fonte oral para realizar esses
desvendamentos. (MARTINELLI, 1999)
No presente estudo de campo foram de fundamental importância o olhar, o
ouvir e o escrever. Segundo Oliveira (2000), é indispensável para a construção do
saber destacar a importância do olhar, do ouvir e do escrever, estes que são
importantes para apreensão dos fenômenos sociais. No momento de uma pesquisa
de campo o olhar é o primeiro sentido que analisa o seu objeto de estudo, este que
é transformado e visto primeiramente por um conceito que construímos dentro das
matérias e estudos prévios sobre aquele objeto, mas esse olhar por si só não é
suficiente, o pesquisador precisa utilizar outras estruturas para sua pesquisa. Outro
meio de investigação é o ouvir, importante por captar informações diretas com o
objeto pesquisado, fator que seria impossível apenas com a observação. O olhar e o
ouvir são complementares. O último estágio para a pesquisa de campo é o escrever,
este que permite passar para o papel a investigação feita através do olhar e do
ouvir. Segundo o Autor:
45
[...] essas “faculdades” do espírito têm características bem precisas quando exercitadas na órbita das ciências sociais e, de um modo todo especial, na antropologia. Se o olhar e o ouvir constituem a nossa percepção da realidade focalizada na pesquisa empírica, o escrever passa a ser parte quase indissociável do nosso pensamento, uma vez que o ato de escrever é simultâneo ao ato de pensar [...] (OLIVEIRA, 2000 p. 31-32).
Através da apropriação dessas faculdades vitais para a pesquisa é que foi
utilizada a pesquisa de campo que, segundo Gil (2002), procura o aprofundamento
de uma realidade específica. É basicamente realizada por meio da observação
direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para
captar as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade. Nessa
etapa foram realizadas as entrevistas na Associação de Assistência Social Catarina
Labouré (AASCL), na busca de compreender a percepção que a pessoa idosa
possui sobre as suas relações familiares.
Realizou-se a pesquisa de campo, onde a coleta de dados se dá no local
onde ocorrem os fenômenos, com o objetivo de obter informações sobre o problema.
De acordo com Marconi e Lakatos (2003) a pesquisa de campo tem como principal
objetivo a captação de informações ou hipóteses acerca de um assunto que o
pesquisador pretende desvelar. A pesquisa de campo trabalha assim, confirmando e
elaborando novas hipóteses, ou desvendando novas relações entre os envolvidos na
pesquisa por meio da observação direta. Segundo Marconi e Lakatos (2003):
A observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar [...] Desempenha papel importante nos processos observacionais, no contexto da descoberta, e obriga o investigador a um contato mais direto com a realidade. É o ponto de partida da investigação social (MARCONI E LAKATOS 2003, p. 190).
Como técnica de coleta de dados no campo foi utilizada a entrevista
semiestruturada, que se concretiza através de um roteiro previamente elaborado
(Lakatos, 2003). A entrevista é considerada a técnica mais segura para adquirir
algumas informações que apenas os sujeitos pesquisados podem responder, pois
alguns dados importantes não constam em fontes documentais e outros registros.
Segundo Cervo (2007):
[...] A entrevista é uma conversa orientada para um objetivo definido: recolher, por meio do interrogatório do informante, dados da pesquisa [...] possibilita registrar, além disso, observações sobre a aparência, o comportamento e as atitudes do entrevistado [...] (CERVO 2007, p.52).
46
O critério de inclusão dos sujeitos foi às idosas possuírem algum familiar vivo,
uma vez que o estudo é focado na percepção sobre suas relações familiares. As
entrevistas foram realizadas no mês de abril e maio do corrente ano. Para
resguardar o sigilo dos sujeitos foi modificado os seus nomes verdadeiros por nomes
fictícios. Os nomes fictícios começaram todos com Maria, pois a maioria dos sujeitos
possui devoção por Maria mãe de Jesus Cristo.
A pesquisa foi um estudo descritivo-exploratório, buscando uma maior e
melhor familiaridade com o objeto de estudo. Também utilizou-se da pesquisa
bibliográfica desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos (GIL,2002).
O levantamento bibliográfico tem como finalidade encontrar soluções para os
problemas formulados. A fonte são os documentos bibliográficos que podem ser
documentos escritos impressos ou guardados em meios magnéticos e eletrônicos.
O pesquisador precisa selecionar o material de acordo com o tema da sua pesquisa
para facilitar o estudo (CERVO, 2007).
Dessa maneira, foram coletados e selecionados alguns artigos científicos,
além de obras literárias e publicações periódicas diversas, tais como jornais e
revistas, cujo material seja pertinente ao tema, possibilitando um maior
conhecimento sobre a categoria do idoso e família.
Esse levantamento bibliográfico para a coleta de dados deu-se de uma forma
de natureza primária através da pesquisa de campo e a entrevista, e de natureza
secundária através de informações colhidas nos livros, revistas, jornais, dentre
outras fontes.
A técnica de análise dos resultados obtidos pelas entrevistas foi o método do
discurso do sujeito coletivo (DSC), criado por Fernando Lefèvre e Ana Maria
Cavalcanti Lefèvre. A ideia desse método, basicamente, é realizar a analise do
material verbal coletado através dos entrevistados, retirando de cada narração sua
ideia principal, palavras-chaves e expressões-chaves parecidas. Segundo Lefèvre,
Crestana e Cornetta (2002):
[...] é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos. Tendo como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos, a proposta consiste basicamente em analisar o material verbal coletado, extraído de cada um dos depoimentos. O Discurso do Sujeito Coletivo é uma modalidade de apresentação de resultados de pesquisas qualitativas, que tem depoimentos como matéria prima, sob a forma de um ou vários discursos-síntese escritos na primeira pessoa do singular, expediente que
47
visa expressar o pensamento de uma coletividade, como se esta coletividade fosse o emissor de um discurso (LEFEVRE, CRESTANA E CORNETTA, 2002 p.70).
De acordo com Levèvre e Lefèvre (2005), o DSC é um caminho metodológico
que usa da estratégia discursiva para tornar mais clara uma representação social,
onde busca captar o conjunto de individualidades semânticas presentes no
imaginário social, este pretende fazer com que a coletividade discorra diretamente.
Segundo Lefèvre, Crestana e Cornetta (2002):
Esta técnica consiste em selecionar, de cada resposta individual a uma questão, as Expressões-Chave, que são trechos mais significativos destas respostas. A essas Expressões Chaves correspondem Ideias Centrais que são a síntese do conteúdo discursivo manifestado nas Expressões Chave. Com o material das Expressões Chave das Ideias Centrais constroem-se discursos-síntese, na primeira pessoa do singular, que são os DSCs, onde o pensamento de um grupo ou coletividade aparece como se fosse um discurso individual (LEFEVRE, CRESTANA E CORNETTA, 2002 p.70).
Como poderão ser vistas nas análises, estas responderam a alguns
questionamentos que foram propostos sobre o tema, podendo vir a facilitar o
entendimento não só para o pesquisador, mas também para a sociedade através
daqueles que tiverem acesso ao presente estudo. Acredita-se que o resultado deste
trabalho científico possa também servir como fonte de pesquisa para outros
pesquisadores interessados pela mesma temática.
3.2. Campo da Pesquisa
A história do surgimento da Associação de Assistência Social Catarina
Labouré (AASCL), conhecida como Casa de Nazaré, teve sua origem através do
trabalho desenvolvido pela Companhia das Filhas da Caridade, instituição criada em
29 de Novembro de 1633, em Paris, por São Vicente de Paulo e Santa Luísa de
Marillac. A missão inicial era a de servir a Jesus Cristo – corporal e espiritual – na
pessoa dos pobres. A obra cresceu e chegou a Província de Fortaleza para atender
as idosas desamparadas, considerando a precariedade dessa assistência na cidade.
A instituição atende apenas mulheres, devido o seu surgimento ter sido atrelado ao
trabalho de filhas da caridade, que cuidavam apenas das mulheres idosas.
Nascia assim, de forma simples e espontânea, a Casa de Nazaré, em 15 de
novembro de 1941, constituindo-se como uma sociedade civil e religiosa, de caráter
assistencial social ao idoso, à educação e à saúde, sem fins lucrativos.
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A AASCL atende atualmente quarenta idosas, no sistema casa lar de
permanência sob sua responsabilidade. Sua prática segue os seguintes
princípios: dar assistência de nutrição, saúde, proteção, social e entretenimento;
respeitar autonomia, interesses, aptidões e condições físicas e mentais das idosas;
garantir, por todos os meios possíveis, oportunidades de preservação da saúde
física e mental, convivência comunitária e familiar visando o fortalecimento do
vínculo familiar; estimular a boa convivência entre elas, e, promover a harmonia do
ambiente saudável e digno; prover dentro das limitações da instituição as
necessidades materiais com qualidade; acompanhar a idosa dentro das suas
necessidades individuais; orientar e encaminhar a idosa acolhida, para os serviços
de saúde ofertados pelo município.
As idosas residentes na instituição são procedentes do interior do estado e
da capital. Possuem escolaridade restrita, mas é possível encontrar algumas
analfabetas, alfabetizadas ou letradas. A formação profissional também é limitada. A
maioria é formada por costureiras, bordadeiras, domésticas aposentadas pela
previdência social, pensionistas ou beneficiárias do benefício de prestação
continuada (BPC). Na juventude, grande número das idosas entrevistadas
desempenhava a ocupação de costureira, doméstica, bordadeira, funções
domésticas na própria residência e apenas uma era professora.
Com o rompimento do vínculo familiar, em alguns casos acarretados pela
família, ou seja: por não querer ter trabalho com elas, as mesmas recorreram à
instituição porque não tinham onde morar. E desde então, quase não recebem vista
de parentes. A carência afetiva é perceptível quando recebem visitas com distração
e distribuição de presentes. É quando elas se sentem queridas e poucas mencionam
a família.
A AASCL realiza diversas atividades com as idosas durante a semana como:
roda de conversa; terapia grupal; educação física; atividade pedagógica com
animais, orientação e prevenção para saúde; atendimento médico e campanha de
imunização pela equipe do posto de saúde do município; dança sênior e oração do
terço em grupo. A maioria dessas atividades é realizada através de parcerias
firmadas com profissionais e acadêmicos de universidades públicas e particulares.
A instituição não recebe recursos financeiros federal, estadual ou municipal. É
mantida por doações de todos os gêneros, e com a conquista do Estatuto do Idoso,
de acordo com o artigo 35, inciso 1° e 2°, algumas idosas podem contribuir com o
49
percentual de até 70% do salário mínimo para ajudar nas despesas internas e
manutenção geral.
A instituição oferece cinco refeições ao dia e possui outras despesas como
energia elétrica, água, vigilância noturna, pagamento do quadro funcional (assistente
social, cuidadoras; auxiliar de limpeza, perfazendo um total de trinta e sete
funcionários). A instituição não tem estrutura hospitalar, mas possui uma área
reservada (Acomodação Coletiva) para acolher as idosas dependentes, sendo
cuidadas por uma profissional, em regime de escala alternada.
Enfim, a instituição busca promover uma vida com qualidade e bem estar
para as idosas, sobretudo aquelas que não têm família, prestando-lhes cuidados
inerentes a sua sobrevivência humana e espiritual. Através de ações desenvolvidas
por equipes multiprofissionais e voluntárias, possibilitando uma maior qualidade de
vida para as idosas.
3.3 Sujeitos da pesquisa
QUADRO 1- Perfil dos Sujeitos da Pesquisa
Nome Idade Situação Civil
Escolaridade Tempo na Instituição
Número de Filhos
Profissão
Maria Noel 88 anos
Solteira Alfabetizada 25 anos Sem filhos Bordadeira
Maria Tânia
83 anos
Solteira Alfabetizada 03 meses Sem filhos Costureira
Maria Lúcia
89 anos
Viúva Ensino Médio 01 ano 02 filhos (falecidos)
Doméstica
Maria da Luz
76 anos
Solteira Alfabetizada 09 anos Sem filhos Doméstica
Maria Noélia
82 anos
Solteira Ensino Fundamental Incompleto
06 meses Sem filhos Bordadeira
Maria Lívia 79 anos
Viúva Ensino Fundamental Incompleto
11 anos 09 filhos Do lar
Maria da Liberdade
85 anos
Solteira Ensino Fundamental Incompleto
13 anos 02 filhos (falecidos)
Doméstica
Maria Grayce
64 anos
Solteira Técnico 04 anos Sem filhos Técnica enfermagem
Maria Estela
88 anos
Viúva Ensino Fundamental
Completo
18 anos 03 filhos (02
falecidos)
Do lar
Maria Joana
79 anos
Separada Ensino Fundamental Incompleto
15 anos 01 filho (falecido)
Costureira
Fonte: Elaboração da pesquisadora
50
As entrevistas foram realizadas com dez idosas, com idade entre sessenta e
quatro anos e oitenta e oito anos. A maioria, com estado civil solteira. Das
pesquisadas, apenas três são viúvas e uma, separada. Em relação às idosas
solteiras, apenas uma teve filhos (já falecidos) sem a constituição de um casamento.
As três viúvas e a idosa separada tiveram filhos. Dessas, apenas uma tem todos os
seus filhos vivos. Podemos identificar que, para as idosas entrevistadas, a questão
da gestação ainda está muito atrelada à constituição de um casamento.
Na AASCL a maioria das idosas é apenas alfabetizada e as outras sequer
terminaram o ensino fundamental. Apenas uma concluiu o ensino médio e outra
terminou o ensino técnico em auxiliar de enfermagem, mostrando que as idosas
entrevistadas possuem um nível de escolaridade baixo. Este baixo grau de instrução
acaba se refletindo nas suas profissões, onde três foram domésticas, duas
costureiras, duas bordadeiras, duas exerciam atividades domésticas nas suas
próprias residências e apenas uma foi auxiliar de enfermagem. O tempo de
institucionalização das idosas varia de três meses a vinte e cinco.
Durante as entrevistas, percebeu-se que nas perguntas que envolviam o
passado, a questão das visitas e as suas relações familiares, as idosas sentiram-se
constrangidas para responder. Observou-se, que mesmo quando as respostas
tinham um teor negativo das relações, elas tentavam colocar algo de positivo,
tentando principalmente não culpabilizar os familiares pela atual institucionalização.
E também as idosas que possuem ainda algum familiar vivo, mas que essas
relações familiares não são tão presentes atualmente, nas expressões faciais e no
tom de voz durante as narrativas, percebeu-se que elas sentem falta dessas
relações, mas como não tem muito que fazer em relação a essa problemática, elas
buscam esquecer e maquiar essa situação. Podemos exemplificar nessa parte do
discurso com elas falam que “Antigamente era legal, éramos cinco, todos unidos,
minha irmã casou cedo e cuidamos dos outros. Mas era bom, apesar de que eu era
doente. Eu sofri demais, mas era bom”. Percebe-se que algo não foi bom naquela
época, pois deixaram marcas nas idosas, mas em contrapartida, elas buscam
sempre reverter o quadro para algo positivo.
Durante as entrevistas a pesquisadora ficou emocionada com as narrativas e
se comoveu observando a emoção das idosas. É difícil lidar com situações tão triste
51
e perceber que essas histórias de vida e essa ausência da família deixam lacunas
profundas na vida de cada idosa que está institucionalizada.
3.4 Discurso do Sujeito Coletivo
Os discursos do sujeito coletivo foram elaborados através do material gerado
pelas dez entrevistas colhidas com os sujeitos na Associação de Assistência Social
Catarina Labouré no mês de abril, com duração de 30 a 40 minutos. As entrevistas
foram gravadas e transcritas integralmente.
Depois das entrevistas transcritas a técnica para análise das narrativas seguiu
uma sequência: primeiro, ler cada uma das narrativas; segundo, identificar e
sublinhar as expressões-chave; terceiro, identificar e agrupar as ideias centrais,
observando as expressões-chaves; quarto, denominar os agrupamentos de ideias
centrais que exprimam o mesmo sentido, categorizando os discursos e o quinto
passo, é elaborar o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) de acordo com as
expressões-chave agrupadas (QUEIROZ, 2008).
O DSC possui como um dos seus pressupostos a Teoria das Representações
Sociais, que são consideradas arranjos sociocognitivos que os indivíduos utilizam
para emitir juízos ou opiniões no seu cotidiano. As representações sociais são vistas
como um conhecimento socialmente elaborado e partilhado por uma realidade
comum (FIGUEIREDO; CHIARI; GOULART, 2013).
No decorrer do trabalho serão apresentadas vinte e duas categorias de
acordo com as expressões-chave surgidas de seis perguntas das entrevistas com os
dez sujeitos. Cada pergunta terá suas devidas categorias de estudo.
QUADRO 2- QUESTÃO 1 da Análise do discurso sujeito coletivo
QUESTÃO
EXPRESSÕES-CHAVE
SUJEITOS
COMO VOCÊ CHEGOU NA INSTITUIÇÃO ?
CATEGORIA A- MINHA FAMÍLIA NÃO ME ACEITOU CATEGORIA B- SOLIDÃO CATEGORIA C- INICIATIVA PRÓPRIA
CATEGORIA D-EXPLORAÇÃO FINANCEIRA
MARIA NOEL e MARIA LÚCIA MARIA DA LUZ, MARIA NOÉLIA, MARIA DA LIBERDADE, MARIA JOANA e MARIA TÂNIA MARIA LÍVIA, MARIA DA LIBERDADE, MARIA GRAYCE, MARIA NOEL e MARIA TÂNIA
MARIA LÍVIA e MARIA LÚCIA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
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CATEGORIA A – MINHA FAMÍLIA NÃO ME ACEITOU
DSC SUJEITOS- MARIA NOEL e MARIA LÚCIA.
Por que eu passei quatro anos no Rio de Janeiro, e resolvi vim para cá morar com minha família, mas como minha família não aceitou, então procurei um lar. Antes eu tinha uma casa na Francisco Sá, ai venderam, meus sobrinhos tomaram, Ai vim para cá.
DISCUSSÃO – MINHA FAMÍLIA NÃO ME ACEITOU
Na velhice, o idoso necessita de algum apoio, e a maioria deles procura esse
apoio nas suas famílias, mas nem sempre os familiares querem arcar com o ônus e
a responsabilidade de um parente na velhice. Devido as alterações no interior das
famílias, a estimulação do consumo exacerbado, a inserção da mulher no mercado
de trabalho, dentre outras mudanças, fragilizaram os laços familiares.
No nosso país existem várias legislações que amparam os idosos nessa fase
e que colocam a família como a primeira instituição responsável pelos idosos. De
acordo com Neri (1990) a família é considerada a principal fonte de apoio e cuidado
aos idosos. Através de cuidados proporcionados por alguns de seus membros,
cumprindo normas socioculturais da sociedade.
Segundo o decreto nº 1.948, de 03 de julho de 1996, que regulamenta
a PNI, apenas em caso da inexistência de algum familiar é que pode ocorrer
institucionalização. Podemos perceber no DSC que os sujeitos possuem algum
familiar vivo, mas mesmo assim esse vínculo de “cuidado e afeto” que se deposita
na família foi negado na velhice, fazendo com que eles sem outra opção naquele
momento procurassem um lar por iniciativa própria. Então, não necessariamente a
família garante uma proteção na velhice como a sociedade propaga, descumprindo
essas normas socioculturais impostas pela sociedade, criando, desta forma, um
comportamento hipócrita, falso.
CATEGORIA B – SOLIDÃO
DSC SUJEITOS- MARIA DA LUZ, MARIA NOÉLIA, MARIA DA LIBERDADE, MARIA
JOANA E MARIA TÂNIA.
Eu trabalhava né, ai uma amiga minha que era superiora daqui arranjou e me trouxe para morar aqui. Uma vez eu vim e coloquei o meu nome na fila de espera. Também a minha casa eu morava sozinha e vivia doente, eu rezei muito para dá certo, minha vinda para cá foi um milagre. Eu cheguei por minha conta, não foi família, foi eu mesma. Eu nem sabia de casa de idosos, uma amiga da minha patroa disse, e eu me interessei. Quase não
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tive coragem de vim, mas acabei vindo. Eu nem conhecia só escutava falar daqui, ai quando eu vim eu me apaixonei. Eu amo esse lugar. Graças a Deus que estou aqui, quando meus pais morreram eu fiquei sozinha. Eu já era viúva e só vivia com uma empregada sem nenhuma responsabilidade. Ai eu vi na televisão e vim procurar aqui quando cheguei estava lotado a casa, mas deixei o nome para ficar na fila de espera. Eu esperei muito para conseguir essa vaga. Minha cunhada tirou o peito, ela tava muito doente. Ai ela chegou para mim e disse que a amiga dela ia conseguir uma vaga para mim aqui, por que ela tava muito doente e não podia cuidar de mim, ai eu vim, trouxe minhas coisas, vim morara sozinha. Tenho um irmão, ele disse que ia mandar R$ 50,00 reais, eu mandei dizer que não quero esmola não, pode ficar.
DISCUSSÃO – SOLIDÃO
As mulheres predominantemente são mais solitárias, visto que vivem mais
que os homens, pois estão expostas a menos fatores de riscos que eles. De acordo
com Veras (2003) a violência, o consumo de álcool e tabaco e outras situações de
riscos atingem as mulheres também, mas esses fatores ainda atingem quatro vezes
mais os homens do que elas. No discurso, um dos fatores da solidão é justamente
relacionado à morte, tanto a morte do marido como o falecimento dos pais.
A velhice é uma época de grandes mudanças na vida dos idosos,
principalmente relacionado ao organismo, onde é natural com o tempo ocorrer uma
degradação no corpo, os idosos não possuem mais uma virilidade como os jovens,
adquirindo algumas doenças na velhice. Por isso é importante à presença de um
cuidador nessa fase, geralmente esse cuidador é algum membro da família.
Percebe-se no discurso que a solidão também é relacionada à fragilidade física da
idosa, pois no momento de uma doença a idosa estava sozinha. Devido à
necessidade de um cuidador a idosa recorreu à rede de apoio formal, que segundo
Neri apud Neri e Sommerhalder (2006), a rede informal é aquela baseada em
relações mais oficiais, com profissionais especializados e relações trabalhistas, ao
contrário da rede informal que é baseada no apoio de familiares, amigos e cônjuge.
CATEGORIA C – INICIATIVA PRÓPRIA
SUJEITOS: MARIA LÍVIA, MARIA DA LIBERDADE, MARIA GRAYCE, MARIA NOEL E MARIA TÂNIA.
Eu vim por que antes de ele [esposo] falecer, o meu marido falou que se eu morresse primeiro ele ia querer morar em uma casa de idosos aí eu falei que ia fazer a mesma coisa se ele morresse primeiro. Quando ele morreu eu passei 02 meses numa tristeza danada, ai uma pessoa me informou daqui. Eu vim e gostei. Minha filha não queria de jeito nenhum. Eu cheguei por minha conta, não foi família, patroa, foi eu mesma. Eu nem sabia de casa de idosos, uma amiga da minha patroa disse, e eu me interessei. Quase não tive coragem de vim, mas acabei vindo. Eu vim para cá combinada com minha irmã eu já sabia. Por que eu passei 04 anos no Rio
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de Janeiro, e resolvi vim para cá morar com minha família. Ai comprei uma cama, cômoda e geladeira, roupas e vim para cá. Tive que comprar tudo. Eu cheguei por minha conta.
DISCUSSÃO – INICIATIVA PRÓPRIA
Segundo Simões (2011), a família é uma instituição básica, a qual a
identidade social é desenvolvida e mantida, e também é um espaço de repasse de
valores e normas.
A família é considerada uma unidade principal no desenvolvimento do ser
humano, pois é a partir dela que indivíduo tem o seu primeiro contato com a
sociedade e começa o processo de construção da sua identidade. A família, tem por
seu papel primordial, o de desempenhar o cuidado e afeto para com o sujeito. Na
velhice a família é ainda mais requisitada para cumprir esse papel, visto que os
idosos estão mais vulneráveis e frágeis nessa fase. Os sujeitos do DSC, nas suas
narrativas, não demonstram fragilidade e sim iniciativa e decisão, mostrando que na
velhice não há uma perda de identidade que elas, como qualquer outra pessoa em
outra fase da vida, tomam suas próprias iniciativas, não necessitando de um familiar
ou cuidador para tomar decisões.
CATEGORIA D – EXPLORAÇÃO FINANCEIRA
SUJEITOS: MARIA LÍVIA E MARIA LÚCIA [em casa] Eu recebia só um salário para sustentar um monte de gente, aqui é só a minha despesa. Antes eu tinha uma casa na Francisco Sá, ai venderam, meus sobrinhos tomaram, queriam que eu passasse a pensão do meu marido para eles.
DISCUSSÃO – EXPLORAÇÃO FINANCEIRA
A família é considerada um espaço de boas relações, de afetividade e
cuidado, mas dentro dessa instituição é um espaço também de direitos violados
entre os seus próprios membros. De acordo com Minayo (2005), existem vários tipos
de violências que acometem as pessoas idosas como: abuso físico; abuso sexual;
abuso psicológico; abandono; negligência; autonegligência e abuso financeiro. Para
Minayo o abuso financeiro:
Consiste na exploração imprópria ou ilegal dos idosos ou ao uso não consentido por eles dos seus recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo de violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar (MINAYO 2005, p. 15).
Os sujeitos do DSC, dentro das suas próprias residências, foram exploradas
financeiramente. Principalmente, ambas as viúvas pesquisadas, uma com a
55
convivência com os filhos e a outra com os sobrinhos. As duas preferiram morar
dentro de uma ILPI a morar com suas respectivas famílias. Observa-se que as
idosas foram cientes que estavam sendo exploradas financeiramente, por isso
decidiram procurar a instituição. De acordo com Berzins e Watanabe 2010,
atualmente as residências dos idosos é o principal local de ocorrência desses
abusos praticados pelos próprios parentes, necessitando de uma intervenção do
Estado, da sociedade e da família para reverter esses casos de violência.
QUADRO 3 – QUESTÃO 2 da Análise do discurso do sujeito coletivo
QUESTÃO
EXPRESSÕES-CHAVE
SUJEITO
QUAL O SIGNIFICADO DE FAMÍLIA PARA VOCÊ?
CATEGORIA A- FAMÍLIA-
IMPORTANTE
CATEGORIA B- FAMÍLIA-AUSENTE
CATEGORIA D- FAMÍLIA-É-A-COISA-MELHOR-DO-MUNDO
CATEGORIA E- FAMÍLIA-É-PAI-E-
MÃE
MARIA TÂNIA, MARIA LÚCIA, MARIA
ESTELA e MARIA GRAYCE
MARIA DA LIBERDADE
MARIA NOEL e MARIA LÍVIA
MARIA NOÉLIA, MARIA NOEL e MARIA JOANA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
CATEGORIA A – FAMÍLIA IMPORTANTE
SUJEITOS: MARIA TÂNIA, MARIA LÚCIA, MARIA ESTELA e MARIA GRAYCE
São bons meus sobrinhos e sobrinhas são ótimos. Família é bom, nunca briguei com eles. Acho importante, ela tem muito cuidado com a gente. Família é muito bom, eu gosto muito da minha, tenho vários netos e bisnetos. Eu gosto de família, quer dizer da minha, né.
DISCUSSÃO – FAMÍLIA IMPORTANTE
A família é considerada importante desde a antiguidade, mas cada cultura
tem o seu conceito de família. Algumas valorizam esta instituição mais que outras.
De acordo com Santos (2010), essa instituição é espaço, onde as pessoas
desenvolvem o cuidado que é influenciado pela cultura.
Percebe-se que a família tem esse papel importante para o desenvolvimento
do ser humano e a sociedade em si valoriza muito essa instituição. A própria
Constituição Federal de 1988 demonstra essa valorização da família, onde no
56
capítulo VII art. 226, refere essa instituição como base da sociedade. Os sujeitos do
DSC demonstram essa importância e valorização da família nas suas narrativas,
referindo uma relação de afeto para com os familiares e relacionando essa
instituição com uma relação de cuidado. Os sujeitos do discurso ainda possuem
alguma relação com os seus parentes e ainda recebem visitas, mesmo sendo
esporádicas. Assim, é mais compreensível essa relação de positividade para com os
seus familiares.
CATEGORIA B – FAMÍLIA-AUSENTE
SUJEITOS: MARIA DA LIBERDADE e MARIA DA LUZ
Eu nunca contei com família nem quando era mais jovem imagine agora. Eu tenho que ficar aqui mesmo, não tenho saída, fico aqui mesmo. Eu vivo aqui né, me dou bem com as pessoas daqui, considerar o como da minha família. Já que não tenho ninguém mesmo e minha família é de Parnaíba.
DISCUSSÃO – FAMÍLIA-AUSENTE
A família é reconhecida por uma relação de afeto, proximidade e cuidado para
com os seus membros, mas muitos não possuem essa relação de afetividade, por
diversos motivos como: relações mal construídas no decorrer da vida; brigas entre
os membros; problemas pessoais e entre outros motivos. E também, devido as
modificações acarretadas no organismo da família, as relações familiares ficaram
cada vez mais frágeis, e o cuidado para com os idosos realizado pelos familiares se
modificou bastante, onde na falta desse cuidador a institucionalização desses idosos
em ILIPI começaram a ser mais procuradas tanto pelos familiares como pelos
próprios idosos.
Um dos motivos mais comuns que levam os filhos a renegarem os pais na
velhice são justamente essas relações mal construídas no decorrer da vida. Os pais,
muitas vezes, não constroem pontes de afeto para com os filhos e quando chega à
determinada época o filho não consegue superar esse desafeto, visto que o amor
também é uma relação de reciprocidade. E também, às vezes, a família não é unida
existindo vários conflitos na sua estrutura que impossibilitam um bom
relacionamento afetivo. Então, não se pode culpabilizar totalmente os filhos por
determinadas atitudes, importa analisar o contexto que essas relações foram
solidificadas.
O DSC deixa claro um mau relacionamento do sujeito com a sua família
quando narra “Eu nunca contei com família nem quando era mais jovem imagine
57
agora”, mostrando que ocorreu algum problema nessa relação na juventude, o qual
não foi identificado na entrevista. Percebem-se também no DSC que na ausência da
família, esta é considerada as pessoas da instituição, mostrando que o significado
de família ultrapassa os laços consanguíneos e parentais.
CATEGORIA D – FAMÍLIA-É-A-COISA-MELHOR-DO-MUNDO
SUJEITOS- MARIA NOEL e MARIA LÍVIA
Eu entendo a coisa melhor do mundo é a minha família. Família unida é uma maravilha, né? Sendo desunida não presta.
DISCUSSÃO – FAMÍLIA-É-A-COISA-MELHOR-DO-MUNDO
Para Losacco (2010), a família é uma unidade social que fundamenta a
sociedade e proporciona pertencimento, formação de identidade e socialização para
o sujeito. A família é considerada fundamental para a sobrevivência dos seus
membros.
Para os sujeitos do DSC elas demonstram essa importância da família nas
suas narrativas, referindo a melhor coisa do mundo para suas vidas. Mas elas
deixam claro que a família é boa apenas quando existe uma união entre os
membros. Os sujeitos da narrativa tiveram alguns problemas nas suas relações
familiares, onde uma não foi aceita pelas sobrinhas na velhice e a outra, mesmo
com vários filhos, tem apenas uma filha ativamente presente na vida dela. Essas
relações que elas tiveram com seus familiares podem estar relacionados a
importância da união que elas valorizam no seio dessa instituição.
CATEGORIA E – FAMÍLIA-É-PAI-E-MÃE
SUJEITOS: MARIA NÓELIA, MARIA NOEL E MARIA JOANA
A minha família, a não sei, para mim a família mesmo hoje se acabou, eu entendo como pai e mãe, né? Sobrinho mesmo nem se responsabiliza pela gente, né, é só pai e mãe. A minha sobrinha diz que a minha família é ela, mas é da boca para fora. Gosto das minhas sobrinhas, apesar delas não terem me aceitado. Nós se damos bem é bom, né? A gente se dá bem.
DISCUSSÃO – FAMÍLIA-É-PAI-E-MÃE
Segundo Osterne (2004) a família burguesa tinha um formato nuclear
composto pelo pai, mãe e filhos, e tinham a divisão dos seus papéis bem definidos
hierarquicamente.
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Essa família nuclear também é conhecida como família tradicional, mas
devido às alterações no interior das famílias, esse modelo familiar tem se modificado
bastante. Ele ainda pode até ser o hegemônico para a sociedade, mas está cada
vez mais escasso. De acordo com Ceberio apud Falcão (2010) as famílias ditas
modernas configuraram-se a partir da década de 1960. As idosas sujeitos desse
discurso coletivo, a mais nova em idade nasceu na década de 1930, então é natural
que o modelo e o significado de família para elas sejam apenas os pais.
De acordo com o artigo 25, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do
Adolescente, família extensa ou ampliada é aquela que ultrapassa a unidade dos
pais e filhos, estendendo as suas relações para os parentes mais próximos que a
criança tenha contato. Segundo Woortmann apud Sarti (2010):
[...] a relação entre pais e filhos constitui o único grupo em que as obrigações são dadas, que não se escolhem. As outras relações podem ser seletivas, dependendo de como se estabeleçam as obrigações mútuas dentro da rede de sociabilidade. Não há relações com parentes de sangue, se com eles não for possível dar, receber e retribuir, enfim, confiar (WOORTMANN 2010, p.33).
No discurso percebe-se que os sujeitos retratam muito as sobrinhas, que
podem ser consideradas família ampliada, mas nota que as relações não são boas,
pois as sobrinhas “não aceitaram” e nem se “responsabilizaram” por elas na velhice.
Além de duas das idosas do discurso ser solteiras e sem filhos, apenas uma foi
casada e teve um filho, mas o marido a abandonou e o filho morreu pouco tempo
depois do seu nascimento. Então, percebe-se que o significado da família ser
apenas os pais também pelas suas histórias de vida marcadas por abandono e
rejeição dos outros familiare.
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QUADRO 4- QUESTÃO 3 da Análise do discurso do sujeito coletivo
QUESTÃO
EXPRESSÕES-CHAVE
SUJEITO
VOCÊ SE RELACIONA COM ALGUÉM DA SUA FAMÍLIA?
CATEGORIA A- RELAÇÕES-
AUSENTES
CATEGORIA B- RELAÇÕES-EM-DIA
CATEGORIA C- RELAÇÕES-ESPORÁDICAS
CATEGORIA D- RELAÇÕES- ROMPIDAS
CATEGORIA E - RELAÇÃO-EXPLORAÇÃO
MARIA DA LUZ E MARIA NOEL
MARIA TÂNIA E MARIA NOÉLIA
MARIA LÚCIA, MARIA ESTELA, MARIA DA LIBERDADE E MARIA
GRAYCE
MARIA JOANA
MARIA LÍVIA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
CATEGORIA A- RELAÇÕES-AUSENTES
SUJEITOS- MARIA DA LUZ E MARIA NOEL
Não, não, eu não tenho contato com ninguém. Nunca vieram aqui, acho que não sabem nem onde eu moro.
DISCUSSÃO – RELAÇÕES-AUSENTES
De acordo com VALSECCHI (1999), na sociedade de hoje a velhice passa
por algumas recusas que são revestidas pelo isolamento social, segregação e
ruptura de laços com familiares e amigos.
Para os sujeitos do DSC, percebe-se na narrativa que as suas famílias não
cumprem o papel de proteção e afetividade que recaem sobre elas. Pelo contrário:
no discurso percebe essa ruptura de laços com os familiares. Para esses sujeitos os
laços são ausentes, visto que elas não possuem contato nenhum com algum
familiar, mostrando que essa idealização da família é falha, onde essa relação de
“amor incondicional”, muitas vezes, não ultrapassa o imaginário da sociedade.
CATEGORIA B – RELAÇÕES-EM-DIA SUJEITOS: MARIA TÂNIA E MARIA NOÉLIA
60
Tenho sim, muita, sempre vêm meus sobrinhos e cunhada. Essa semana santa vou passar até com eles.
DISCUSSÃO – RELAÇÕES-EM-DIA
De acordo com Falcão; Maluschke (2010), afeto e cuidado são importantes
para os idosos, mas essa relação de afetividade é uma atitude de liberdade
individual de cada ser humano.
O individuo tem o livre arbítrio de oferecer ou não esse cuidado e afeto.
Mesmo com essas obrigações que recaem sobre a família que é imposta pela
sociedade, o sujeito mesmo assim tem autonomia para decidir sobre essas relações
familiares. Os sujeitos do DSC ainda possuem essas relações presentes em suas
vidas. Assim, pode-se comprovar que com esse processo de institucionalização,
necessariamente esses laços não foram rompidos definitivamente.
CATEGORIA C – RELAÇÕES-ESPORÁDICAS
SUJEITOS: MARIA LÚCIA, MARIA ESTELA, MARIA DA LIBERDADE E MARIA
GRAYCE
Faz tempo que elas não aparecem, estou esperando esse mês, né? Recebo[visita] das minhas sobrinhas, mas não é sempre é difícil. Vem uma vez ou outra. Demora viu é uma vez na vida. Só os netos vêm de mês e mês, às vezes em três em três meses, eles são muito ocupados.
DISCUSSÃO – RELAÇÕES-ESPORÁDICAS
Como já citado anteriormente, essa relação de afeto e cuidado vai depender
da autonomia de cada um. Não se pode obrigar um individuo a se relacionar
positivamente com uma pessoa contra a sua vontade, visto que algumas relações
são frágeis devido a problemas ocasionados durante as suas construções.
Os sujeitos do DSC ainda mantêm relações com os seus familiares, mesmo
sendo relações esporádicas. Na narrativa, percebe que essa inconstância causa um
pouco de ansiedade nas idosas, pois elas não sabem ao certo quando receberão
essas visitas. Percebe também que elas buscam justificar essa ausência da família,
acrescentando no discurso que os membros são ocupados demais para a realização
de visitas periódicas.
CATEGORIAS D – RELAÇÕES- ROMPIDAS
SUJEITO: MARIA JOANA
61
Minha irmã é mesmo que não ter, ela nem vem, e eu também não ligo. Lá no céu a gente se encontra já que aqui não dá. A gente é como um vaso quando não presta mais é jogada fora.
DISCUSSÃO- RELAÇÕES-ROMPIDAS
De acordo com Beauvoir (1990), a velhice é uma fase de mudanças
biológicas e psicológicas caracterizadas pela idade avançada, onde o sujeito
modifica a sua relação com o mundo.
Nessa fase existe uma mudança natural, principalmente do corpo, no qual o
de um idoso não possui mais a mesma condição física que a de um jovem. Segundo
Mercadante (1997), na nossa sociedade as qualidades e aptidões dos idosos é a
oposição a dos jovens.
Na sociedade o idoso, muitas vezes, é descartado mesmo, pois é
caracterizado como ultrapassado e velho. Além do idoso não ser mais útil para o
sistema capitalista, visto que ele não está mais contribuindo com a sua mais-valia
para o sistema de produção. O idoso na velhice para o capitalismo só gera gastos,
pois os que contribuíram para a previdência social estão recebendo as suas
aposentadorias e os que não contribuíram, dependendo da sua condição de vida,
estão recebendo o benefício de prestação continuada (BPC), ou seja, estão
recebendo e não estão produzindo.
O sujeito do DSC relata essa relação quando diz que “A gente é como um
vaso quando não presta mais é jogada fora”, mostrando sua relação rompida com os
seus familiares e essa relação de “desuso” que muitos enxergam a velhice.
CATEGORIA E – RELAÇÃO-EXPLORAÇÃO
SUJEITOS: MARIA LÍVIA
Só a minha filha mais nova e a minha neta, o resto só no final do ano para
receber o natal. Eles não trazem nenhum fósforo para mim, vem só pegar
mesmo.
DISCUSSÃO – RELAÇÃO-EXPLORAÇÃO
De acordo com Carvalho (2002), a importância da família e suas expectativas
estão no imaginário da sociedade, onde as relações de afeto, cuidado, respeito,
proteção, dentre outras relações, são consideradas obrigações da família. Mas nem
62
sempre essas obrigações acontecem da mesma forma. Essa instituição pode
construir relações fortes como também, pode destruir possibilidades.
O sujeito do DSC possui nove filhos, onde desses apenas um a relação é
mais forte e presente no seu dia-a-dia, mostrando que essa relação é uma liberdade
individual. Muitos pensam que o fato de ter filhos é uma segurança na velhice,
quando isso não significa quase nada. O sujeito do discurso tem contato com o resto
da família apenas no final do ano, e esse contato é por causa de uma troca e não
apenas pelo laço afetivo e de cuidado. No capitalismo, há essa relação de troca e
exploração. Nas nossas vidas, muitas vezes, essa relação perpassa o campo do
capitalismo, invadindo as nossas relações pessoais. E na narrativa da idosa essa
exploração e troca ficam bem claras.
QUADRO 5- QUESTÃO 4 da Análise do discurso do sujeito coletivo
QUESTÃO
EXPRESSÕES-CHAVE
SUJEITO
COMO ERA A SUA RELAÇÃO FAMILIAR ANTIGAMENTE?
CATEGORIA A- RELAÇÕES
FAMILIARES HOJE SÃO DIFERENTES
MARIA NOEL, MARIA LÍVIA, MARIA LÚCIA, MARIA DA LUZ e MARIA DA
LIBERDADE
CATEGORIA B- PERDAS-E-
SOFRIMENTO
MARIA TÂNIA, MARIA NOÉLIA E MARIA GRAYCE
CATEGORIA C- EU-SOZINHA
MARIA JOANA E MARIA ESTELA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
CATEGORIA A – RELAÇÕES FAMILIARES HOJE SÃO DIFERENT ES
SUJEITOS: MARIA NOEL, MARIA LÍVIA, MARIA LÚCIA, MARIA DA LUZ e MARIA
DA LIBERDADE
Feliz. Muito feliz. Tinha tudo na minha casa, a minha família era pobre, mas minha mãe me dava tudo. Agora não, minhas sobrinhas me jogaram fora. Era ótimo, tinha minha casa tinha tudo. Era eu, ele, minha filha e minha neta. Eu trabalhava e minha filha cuidava da casa, era tudo diferente. A diferença é que hoje perdi o contato só no final do ano mesmo. Hoje é diferente, porque ninguém olha mais para mim, nunca mais vieram. Hoje não tenho mais contato com nenhum. Nós éramos pobres mais tinha tudo, foi bom, valeu. Eu cuidava direitinho. Hoje é muito diferente, a pessoa tem filhos e não espera nada deles.
DISCUSSÃO – RELAÇÕES FAMILIARES HOJE SÃO DIFERENTES
63
De acordo com Beauvoir (1990), “Toda sociedade tende a viver, a sobreviver;
exalta o vigor e a fecundidade, ligados a juventude; teme o desgaste e a esterilidade
da velhice”. Na sociedade que vivemos, onde o consumo, a beleza, a juventude são
valorizados exacerbadamente, o desgaste que a velhice acarreta é, muitas vezes,
marginalizada pela sociedade, como se a velhice não fosse algo natural e não fosse
acontecer com todos os seres humanos.
No DSC percebe que na época da infância e juventude era bem diferente de
hoje, onde mesmo com as dificuldades financeiras na família a vida era “ótima” e
“muito feliz”. Diferentemente da vida atual, onde depois da velhice as relações com
suas famílias se tornaram esporádicas e ausentes, mostrando a desvalorização
dessa fase.
CATEGORIA B – PERDAS-E-SOFRIMENTO
SUJEITOS: MARIA TÂNIA, MARIA NOÉLIA E MARIA GRAYCE
Antigamente era legal, éramos cinco, todos unidos, minha irmã casou cedo e cuidamos dos outros. Mas era bom, apesar de que eu era doente. Eu sofri demais, mas era bom. Como já morreram não gosto de recordar o que fizeram para mim, o que resta é rezar por eles. Era boa, por que minha mãe me tratava na palma da mão, não deixava faltar nada.
DISCUSSÃO – PERDAS-E-SOFRIMENTO
No DSC percebe que os sujeitos sofreram algumas dificuldades em algum
momento da sua vida, mas buscam a todo o momento resignificar esse sofrimento.
Mesmo com os problemas elas afirmam que a vida era boa, buscando sempre
positivar os fatos. Não foi possível identificar o que ocorreu realmente, pois os
sujeitos nas narrativas não se sentem confortáveis em falar nesse assunto
preferindo esquecer tudo o que aconteceu e relembrar apenas os bons momentos.
CATEGORIA C – EU-SOZINHA
SUJEITOS: MARIA JOANA E MARIA ESTELA
Se eu tivesse meu filho ia ser diferente, né? Hoje eu sou sozinha, né? Não tenho ninguém, pois sobrinho é o que sobra. E meu marido me deixou também se eu tivesse meu marido e meu filho, não seria tão sozinha. Eu sou sozinha só tenho Jesus. Hoje, minha família acabou. Eu sou viúva e meus dois filhos morreram fez um ano agora a diferença de um para outro foi de apenas cinco meses.
DISCUSSÃO- EU-SOZINHA
64
De acordo com Lansing apud Beauvoir (1990, pag. 17), o envelhecimento é
um “[...] processo progressivo de mudança desfavorável, geralmente ligado a
passagem do tempo, tornando-se aparente depois da maturidade e desembocando
invariavelmente na morte”.
No DSC, percebe-se a solidão ocasionada pela morte tanto dos filhos como
do esposo. Naturalmente os filhos morrem depois dos pais, devido à questão
cronológica, mas no caso dos sujeitos os filhos faleceram antes, ocasionando esse
vazio nas suas vidas. Percebe também no DSC que os sujeitos valorizam a família
nuclear quando afirmam que se os filhos e o marido estivessem vivos, e também
não a tivessem deixado no abandono, tudo seria diferente.
QUADRO 6- QUESTÃO 5 da Análise do discurso do sujeito coletivo
QUESTÃO
EXPRESSÕES-CHAVE
SUJEITO
QUAL SUA RELAÇÃO COM AS PESSOAS QUE TRABALHAM
AQUI?
CATEGORIA A- TODO-MUNDO-DOIDO-
POR-MIM
CATEGORIA B- É PRECISO SABER VIVER
CATEGORIA C- EU-GOSTO DE-TODOS
MARIA NOÉLIA, MARIA NOEL, MARIA TÂNIA, MARIA LÚCIA E
MARIA ESTELA
MARIA LUZ, MARIA DA LIBERDADE E MARIA JOANA
MARIA GRAYCE E MARIA LÍVIA
Fonte: Elaboração da pesquisadora
CATEGORIA A – TODO-MUNDO-DOIDO-POR-MIM
SUJEITOS: MARIA NOÉLIA, MARIA NOEL, MARIA TÂNIA, MARIA LÚCIA E MARIA
ESTELA
Tenho mais [contato] com as meninas do refeitório, elas são boas. Eu sou louca pelas irmãs, são demais, boas demais. As cozinheiras e as irmãs são todo mundo doido por mim, tem muito cuidado comigo. As cozinheiras daqui são ótimas, fazem tudo, eu gosto muito. São demais, as meninas do refeitório são boas demais, gosto demais.
DISCUSSÃO – TODO-MUNDO-DOIDO-POR-MIM
De acordo com Héredia; Cortelletti; Casara (2010), a mudança para uma
instituição asilar ocasiona, além de mudanças físicas, a necessidade dos idosos
estabelecer novas relações com toda a instituição.
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A mudança para um ambiente físico diferente já pode acarretar diversos
problemas para os idosos, mas as mudanças ultrapassam a mudança de ambiente,
pois os idosos precisam construir relações com pessoas desconhecidas, depois de
tanto tempo de convivência contínua com os familiares e amigos. No DSC percebe
que essas relações foram bem construídas com as colaboradoras da instituição,
principalmente as cozinheiras, onde os sujeitos possuem um contato diário maior,
devido às refeições. Essa boa relação afeta diretamente a vida dos sujeitos, pois
possibilitam uma relação de afeto e cuidado dentro da instituição.
CATEGORIA B – É PRECISO SABER VIVER
SUJEITOS: MARIA LUZ, MARIA DA LIBERDADE E MARIA JOANA
É boa sim, eles tratam bem. Eu acho que se a gente sabe viver bem, dá certo, né? Já morrei em vários lugares, como não gosto de confusão dá certo, tem que saber viver. Gosto são boas, boas demais. Tem que saber levar né? Respeitar né? A gente vive bem eu gosto delas. Eu sei levar a vida. Eu respeito até os cachorros. Respeito é bom e eu gosto. Gosto deles.
DISCUSSÃO – É PRECISO SABER VIVER
No DSC percebe também uma boa relação dos sujeitos com os
colaboradores da instituição, mas com uma diferença, nas narrativas os sujeitos
demonstram a importância do respeito para um bom relacionamento com todos.
Mostrando que não importa o local que se esteja quando se “sabe viver” e quando
existe respeito nas relações o convívio fica mais fácil.
CATEGORIA C – EU-GOSTO-DE-TODOS
SUJEITOS-MARIA GRAYCE E MARIA LÍVIA
Daqui de dentro eu gosto de todos até dos que chegam só para visitar, nunca achei ninguém enjoado não, eu gosto de todo mundo. Eu gosto de todos, não tenho nada a falar de ninguém.
DISCUSSÃO – EU-GOSTO-DE-TODOS
No DSC percebe-se também o bom relacionamento com as pessoas que
trabalham na instituição, a diferença é que nesse discurso os sujeitos não delimitam
os colaboradores e nem incluem nenhum fator para ter essa boa relação. Na
AASCL, as idosas recebem várias visitas de diversas instituições que trazem
doações e proporcionam alegria e afeto para elas. No DSC os sujeitos incluem
também essas pessoas que colaboram esporadicamente com a instituição nas suas
66
relações positivas, demonstrando que mesmo estas que “chegam só para visitar”
desempenham um papel importante.
QUADRO 7- QUESTÃO 6 da Análise do discurso sujeito coletivo
QUESTÃO
EXPRESSÕES-CHAVE
SUJEITO
HOJE, VOCÊ TEM AMIGOS (AS)?
CATEGORIA A- AMIGOS-SÃO-OS-QUE-
ATENDEM
CATEGORIA B- COLEGAS SIM, AMIGAS NÃO
CATEGORIA C- CADA-UM COM O SEU CADA-QUAL
MARIA TÂNIA, MARIA GRAYCE, MARIA LÚCIA E MARIA NOÉLIA
MARIA ESTELA, MARIA DA LUZ, MARIA NOEL, MARIA LUCIA E
MARIA NOÉLIA
MARIA LÍVIA, MARIA JOANA E MARIA DA LIBERDADE
Fonte: Elaboração da pesquisadora
CATEGORIA A – AMIGOS-SÃO-OS-QUE-ATENDEM
SUJEITOS: MARIA TÂNIA, MARIA GRAYCE, MARIA LÚCIA E MARIA NOÉLIA
Só aqueles que vem fazer as atividades. São bons, é fora de sério, são amigos mesmo. Parecem que me conhece há muito tempo, são ótimos. Bom... Eu considero amigas, mas a parte que me atende. Meus amigos aqui são as irmãs, elas tenho confiança. Só as irmãs, só nas irmãs mesmo.
DISCUSSÃO – AMIGOS-SÃO-OS-QUE-ATENDEM
A AASCL tem como um dos seus objetivos promover uma qualidade de vida
para as idosas através de ações realizadas por uma equipe multiprofissional. No
DSC percebe-se que os sujeitos possuem uma boa relação com esses profissionais
e com as irmãs de caridade da instituição, possibilitando uma relação de afeto e
confiança que é importante para a qualidade de vida dos sujeitos.
CATEGORIA B – COLEGAS SIM, AMIGAS NÃO
SUJEITOS: MARIA ESTELA, MARIA DA LUZ, MARIA NOEL, MARIA LUCIA E
MARIA NOÉLIA
Aqui dentro não, amigos não. Aqui as idosas são falsas, não confio em nenhuma interna. Não gosto das que moram. Só converso pouco e venho para casa. Colega sim, amiga não, afinal amigo é só a nossa família e olhe lá. Gosto de viver mais na minha, aqui tem fofoca, qualquer coisa fica com raiva, gostam de se meter na vida dos outros e eu não gosto. Tem muita fofoca e eu vivo na minha. A gente conversa e depois elas já falam para
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outra, ai não tenho confiança. Gostam muito de fofocas... Gostam de fazer inferno. Vamos com um tempo vendo quem merece nossa confiança.
DISCUSSÃO – COLEGAS SIM, AMIGAS NÃO
A instituição tem com um de seus princípios estimular a boa convivência entre
as idosas. No DSC percebe que os sujeitos não possuem uma boa convivência,
demonstrando uma relação de inimizade e intriga, onde cinco dos dez sujeitos
entrevistados narram essa relação. Na velhice, devido a fase de vulnerabilidade e
das mudanças psicológicas, os idosos são vistos como apáticos. No DSC, nota-se
que o envelhecimento não causou essa apatia nos sujeitos, onde as personalidades
e subjetividades ainda continuam firmes na velhice, mostrando que nessa fase essa
capacidade de construir e desconstruir relações ainda são presente e natural como
em qualquer outra fase da vida.
CATEGORIA C – CADA-UM COM O SEU CADA-QUAL
MARIA LÍVIA, MARIA JOANA E MARIA DA LIBERDADE
Tenho, eu gosto de todas, não sei se elas gostam de mim, mas eu gosto delas sim. Eu sei fazer amigos. É bom amizade é ótima. Todo mundo é amigo. Nós todas somos amigas, cada um com o seu cada qual, eu sou mais recuada, esse negócio de ficar com muita conversa, não gosto. Cada um é diferente.
DISCUSSÃO – CADA-UM COM O SEU CADA-QUAL
No DSC os sujeitos relatam a importância da amizade e demonstram uma
boa convivência com as idosas. Além de narrarem a diferença entre elas quando
dizem “cada um com o seu cada qual” e “Cada um é diferente”, mostrando que na
velhice a individualidade ainda está presente, mostrando que algumas mudanças
nessa fase que a sociedade dita não passa de mais um estereótipo.
O envelhecimento populacional é um fenômeno que atinge não só os países
desenvolvidos, mas os que se encontram em processo de desenvolvimento também.
O Brasil apresentou nos seus índices demográficos a expansão da população idosa,
exigindo ações e políticas públicas voltadas para esse público, buscando garantir,
ampliar e efetivar direitos para essa população.
A família é considerada a principal instituição responsável pelo cuidado e
atenção para com os seus familiares idosos ou que estão em processo de
envelhecimento. Mas com as mudanças ocorridas na família tradicional e o
68
surgimento de novas composições familiares esse cuidado nem sempre é prestado,
necessitando, às vezes, de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema proposto pela pesquisa foi “A percepção que as idosas
institucionalizadas na Associação de Assistência Social Catarina Labouré possuem
sobre suas relações familiares”.
O objetivo geral da pesquisa foi analisar a percepção que as idosas
institucionalizadas na Associação de Assistência Social Catarina Labouré possuem
sobre suas relações familiares. E os objetivos específicos que serviram para nortear
a pesquisa foram: investigar as relações familiares das idosas institucionalizadas na
Associação de Assistência Social Catarina Labouré; compreender a relação
existente entre as idosas e suas famílias, hoje; e conhecer as relações sociais entre
as idosas institucionalizadas. Através desses objetivos, buscamos uma maior
aproximação a cerca do tema e da realidade.
As entrevistas foram realizadas com dez idosas para as análises dos dados
colhidos na pesquisa, foi utilizado o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) de Fernando
Lefévre e Ana Maria Cavalcanti Lefére (2005), que utiliza uma estratégia discursiva
para clarear uma dada representação social, buscando compreender como os
sujeitos reais pensam.
O DSC mostrou que os sujeitos narraram nos discursos a legitimação do
papel da família e sua relação de cuidado e afeto como importante para o
desenvolvimento do ser humano. É perceptível, nos depoimentos, que as relações
familiares na velhice para as idosas da instituição foram subtraídas, as relações
presentes com seus entes são exceções para poucas e o restante quase não tem
mais contato com os familiares ou os vínculos com estes já se romperam.
No DSC, pode-se perceber que cinco dos dez sujeitos relataram que as suas
relações familiares antigamente eram muito boas, diferente de hoje em que são
distantes. Percebe-se também uma boa relação dos sujeitos com os colaboradores
da instituição, onde algumas afirmaram que eles são considerados pessoas das
suas famílias, mostrando que as relações familiares ultrapassam os laços
consanguíneos e podem ser construídas em qualquer fase da vida por necessidade
enquanto seres sociais que são. Diferente do bom relacionamento com os
colaboradores, os sujeitos demonstraram uma relação fria entre as idosas, onde
narraram situações de fofocas e falta de confiança, o que pode mostrar que na
70
velhice existe uma mesma capacidade de construir e significar, ou
não, relacionamentos, contribuindo para desfazer o estereótipo de
excessiva pacificação na velhice.
Os sujeitos da pesquisa mostraram a importância da família nos seus
discursos. Contudo, cada história de vida é singular e repleta de subjetividades. As
relações dos sujeitos foram construídas de várias formas, algumas idosas citaram
relações presentes e positivas, já outras narraram situações de exploração, solidão
e ausência dessas relações familiares. O fato da institucionalização dos sujeitos não
isenta seus familiares de participarem desse processo, ao contrário, sua presença é
fundamental para a qualidade de vida das idosas.
As dificuldades encontradas durante a pesquisa foram durante o processo
das entrevistas, onde os sujeitos se mostraram retraídos e constrangidos em falar
sobre suas famílias. As respostas sempre buscavam positivar as relações, mesmo
que estas tivessem passado por situações de solidão, negação, exploração
financeira e ausência. Foi possível observar relutância das idosas em abordar essa
temática, como se fosse dolorido para elas, como se mexesse em uma ferida.
O estudo deixou claro, a partir dos vários DSCs, que a percepção das
relações familiares pode depender da maneira de como cada relação foi construída
e como essa relação esta disposta hoje. Cada sujeito é composto de
individualidades e subjetividades não existe apenas uma percepção e sim várias
percepções acerca dessas relações. O estudo mostrou também que na velhice há
iniciativa, decisão e compreensão dessas relações que segundo Giddens (2005)
pode acenar para uma forma dos idosos não serem invisíveis.
O estudo buscou responder os objetivos propostos para a pesquisa,
buscando conhecer a percepção que as idosas institucionalizadas na Associação de
Assistência Social Catarina Labouré possuem sobre suas relações familiares. O
trabalho concluído até aqui aponta para necessidade de pesquisar outras questões
em volta dessa temática, visto que surgiram outros questionamentos, tais como
conhecer os motivos do distanciamento dessa família e como elas percebem essas
relações para com os seus idosos.
Desta forma, o conhecimento construído a partir do estudo não é estéril.
Antes, pode ser utilizado para possibilitar intervenções na problemática das relações
71
familiares de idosas institucionalizadas. É importante perceber o que seja família
para essas idosas, que mesmo lembrando de seus pais e mães, considerem muito
próximo de si os trabalhadores e cuidadores da instituição, para que as
idosas possam criar e manter suas relações pessoais e familiares que as mantém
vivas. Para elas, apesar do abandono de alguns familiares, “família, é bom! Família
é muito bom”, isso pode afirmar que a subtração das relações familiares é um golpe
para os sujeitos da pesquisa.
72
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APÊNDICE A
Identificação:
Nome: idade:
Grau de escolaridade:
Trabalho/ emprego:
Situação civil:
Quantos filhos:
Vínculos familiares mais próximos:
Roteiro da entrevista:
1. Quanto tempo você está na instituição?
2. Como você chegou aqui?
3. Qual o significado de família para você?
4. Você tem contato com alguém da sua família?
5. Como era a sua relação familiar antigamente e hoje?
6. Qual sua relação com as pessoas que trabalham na instituição?
7. Hoje, você tem amigos (as)?
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APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
Eu, Larissa Maria Gomes de França, aluna do curso de Serviço Social da Faculdade
Cearense, sob a orientação da Ms. Flaubênia Maria Girão de Queiroz estamos desenvolvendo um
estudo intitulado: “A percepção que as idosas institucionalizadas na Associação de Assistência Social
Catarina Labouré possuem sobre suas relações familiares”.
Os sujeitos desse estudo serão as idosas institucionalizadas na Associação de Assistência
Social Catarina Labouré. Desde então, convido por meio deste termo, que venha participar do estudo
que tem como objetivos: investigar as relações familiares das idosas institucionalizadas na
Associação de Assistência Social Catarina Labouré; compreender a relação existente entre as idosas
e suas famílias, hoje; e conhecer as relações sociais entre as idosas institucionalizadas.
Para conseguir estes dados utilizaremos um formulário e uma entrevista semi–estruturada
que será gravada e transcrita integralmente. As informações serão colhidas pela pesquisadora.
Esclarecemos ainda, que:
Todos os participantes terão direito de não participar deste estudo, se assim o desejarem,
sem que quaisquer prejuízos sejam acometidos.
Garantimos-lhe o sigilo e anonimato quanto ao seu nome e às informações prestadas durante
a entrevista. Não divulgaremos nomes, nem qualquer informação que possam identificá-los.
Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer circunstância, durante o andamento da
pesquisa, resolver desistir, terá total liberdade para retirar seu consentimento.
Garantimos-lhe o acesso às informações sobre todos os procedimentos e benefícios
relacionados ao estudo, inclusive para resolver dúvidas que possam ocorrer.
O Serviço Social é uma profissão comprometida com a ética profissional, possibilitando
assim, uma leitura mais crítica e detalhada sobre a realidade, reconhecendo suas particularidades e
compreendendo a dinâmica familiar de cada participante desta pesquisa, que visa compreender as
percepções que as idosas acolhidas na Associação de Assistência Social Catarina Labouré possuem
sobre as suas relações familiares. Portanto, gostaria de contar com sua valorosa colaboração, a qual,
desde já agradeço.
_________________________
Pesquisadora
TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO
Eu, ___________________________________________, declaro que tomei conhecimento do
estudo sobre “As percepções que as idosas acolhidas na Associação de Assistência Social Catarina
Labouré possuem sobre as suas famílias”, e assim, aceito participar dessa pesquisa.