centro de ensino superior do cearÁ ......À igreja batista aliança e toda a sua membresia por...

77
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ALINE GOMES LIMA ONG MINISTÉRIO SOCIAL ALIANÇA EM AÇÃO: UMA ANÁLISE SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS NA VISÃO DOS USUÁRIOS ATENDIDOS FORTALEZA 2014

Upload: others

Post on 22-Feb-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ALINE GOMES LIMA

ONG MINISTÉRIO SOCIAL ALIANÇA EM AÇÃO:

UMA ANÁLISE SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS

NA VISÃO DOS USUÁRIOS ATENDIDOS

FORTALEZA

2014

ALINE GOMES LIMA

ONG MINISTÉRIO SOCIAL ALIANÇA EM AÇÃO:

UMA ANÁLISE SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS

NA VISÃO DOS USUÁRIOS ATENDIDOS

Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharelado em Serviço Social.

Professor Orientador: Dr. Emanuel Bruno Lopes de Sousa.

FORTALEZA

2014

ALINE GOMES LIMA

ONG MINISTÉRIO SOCIAL ALIANÇA EM AÇÃO: UMA ANÁLISE SOBRE A

IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS NA VISÃO DOS USUÁRIOS

ATENDIDOS.

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: _____/____/_______.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Prof. Dr. Emanuel Bruno Lopes de Sousa (Orientador)

Faculdade Cearense

_____________________________________________ Profª Ms. Ivna de Oliveira Nunes

Faculdade Cearense

_____________________________________________ Profª Ms. Silvana Maria Pereira Cavalcante

Faculdade Cearense

A Deus.

Aos meus pais.

AGRADECIMENTOS

A Deus que me deu coragem para questionar a realidade e propor sempre

um novo mundo de possibilidades.

Aos meus pais, José Edinardo e Maria Alzenira, quero agradecer de forma

honrosa, obrigado pelo apoio, investimento, amor, paciência e consideração.

Às minhas irmãs Bruna e Brenna Lima por estarem tão presentes em meio

a aparente distância.

Aos meus avós paternos Carmelita e Antônio e avós maternos Cecília (in

memoriam) e Assis (in memoriam), que sempre me incentivaram na busca do

conhecimento.

Aos meus familiares que sempre me deram ânimo para prosseguir no

caminho dos estudos.

À Igreja Batista Aliança e toda a sua membresia por serem meu alicerce.

À Mazé Camurça e toda a sua família, obrigado pelo amor concedido.

À Cinara Teixeira, por me fazer acreditar que ainda existe amor ao próximo

nesse mundo.

Aos amigos mais estourados de todos, palavras não conseguem alcançar

a imensa gratidão que tenho pela a vida de vocês. Muito Obrigado, Alady Nascimento,

Aritana Kelly, Larissa França, Marcelo Michiles, Fátima Evilene, Sara Samla,

Jaqueline Freitas, Kelvia Karla e a todos aqueles que no meio do caminho

contribuíram de forma singular na minha vida. Citando Carl Sagan: “Diante da vastidão

do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta

e uma época com vocês."

Ao Centro Acadêmico do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense,

agradeço pela oportunidade de ter estado com vocês, compreendendo a nossa

realidade como estudante, na busca pela excelência profissional. Tenham a plena

certeza que A luta não para!

Aos professores da banca examinadora, a Profª Ivna Nunes e a Profª

Silvana Cavalcante agradeço o grande apoio nesse momento. Em especial ao meu

orientador Prof. Bruno pela dedicação aos meus questionamentos e por me trazer ao

rumo, com muito humor, quando o caminho parecia nebuloso.

Aos amigos da Qualygraf Editora e Gráfica que sempre entenderam as

minhas dificuldades acadêmicas e sempre foram solícitos quando precisei de

dispensa.

À minha amiga Natália Nunes por seu apoio imensurável. Admiro seu modo

peculiar de ver o mundo, sempre se propondo ao novo, lançando-se nos desafios com

confiança.

Aos livros e aos discos.

“A filantropia é muito louvável, mas não

deve permitir que o filantropo ignore as

injustiças econômicas que fazem com

que a filantropia seja necessária”.

(Martin Luther King)

RESUMO

O presente estudo trata da importância dos projetos realizados pela ONG Ministério

Social Aliança em Ação de acordo com a visão dos usuários atendidos. A fim de

problematizar essa e outras questões é que nós discutimos sobre a atuação das

instituições frente às desigualdades sociais que assolam o nosso País, bem como,

sobre as relações existentes entre Estado e Sociedade Civil na busca da garantia dos

direitos sociais intuídos na Constituição Federal Brasileira de 1988. Os processos de

diminuição das ações do Estado protagonizaram a ascensão de novos atores sociais,

acarretado principalmente, pela reorganização do Estado de acordo com novo projeto

societário e econômico, o chamado neoliberalismo. Nesse contexto há uma inclinação

no deslocamento do trato da questão social, o que fez ascender à criação e ampliação

do chamado "Terceiro Setor". Outro ponto recorrente é que as ações da ONG

Ministério Social Aliança em Ação são construídas a partir de anseios percebidos

pelos membros da Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona, da qual a ONG está

vinculada estatutariamente. A pesquisa se baseou na busca pelo esclarecimento da

atuação dessa organização. O objetivo principal foi buscado através da fala dos

usuários a partir de um estudo qualitativo com entrevistas e observações baseando-

se em pesquisas bibliográficas e nos documentos da instituição, procurando analisar

se a instituição consegue garantir os direitos sociais dos usuários ou retoma através

dos seus projetos a concepção filantrópica e caritativa arraigada na história das

instituições religiosas. O presente estudo demonstrou que a ONG Ministério Social

Aliança em Ação consegue alcançar os usuários através dos seus projetos sociais na

superação de anseios físicos e emocionais.

Palavras-chave: Estado. Sociedade Civil. Filantropia. Direitos Sociais. ONG.

ABSTRACT

This study addresses the importance of the projects undertaken by the NGO Social

Action Ministry Alliance in accordance with the vision of the trainees. To discuss this

and other issues is that we discuss on the role of institutions across the social inequities

that plague our country, as well as on the relationship between State and Civil Society

in search of the guarantee of social rights in the Federal Constitution intuited Brazilian

1988. Processes decrease the actions of the state staged the rise of new social actors,

brought about mainly by the reorganization of the State according to new societal and

economic project, called neoliberalism. In this context there is a shift in the slope of the

tract of the social question, which he did ascend to the creation and expansion of the

"Third Sector". Another recurring point is that the actions of the NGO Social Action

Ministry Alliance are built from wishes perceived by members of Covenant Baptist

Church in Carlito Pamplona, which the NGO is statutorily bound. The research was

based on the search for clarifying the role of this organization. The main objective was

pursued through speech users from a qualitative study, based on literature searches

and the documents of the institution, assessing whether the institution can guarantee

the social rights of users or resumes through their philanthropic projects design and

charitable rooted in the history of religious institutions. The present study demonstrated

that the NGO Social Action Ministry Alliance can reach users through their social

projects in overcoming physical and emotional longings.

Keywords: State. Civil Society. Philanthropy. Social Rights. NGOs.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Gazofilácio (ofertas $) e Cesta para mantimentos................................... 72

Figura 2 – Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade.................................................. 72

Figura 3 – Servir 2013 – Cidade de Bela Cruz (CE)................................................. 73

Figura 4 – Projeto Feliz Idade................................................................................... 73

Quadro 1 – Categorias de análises/autores.............................................................. 14

Quadro 2 – Identificação dos entrevistados............................................................... 20

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABONG Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais.

BPC Benefício de Prestação Continuada.

CADÚNICO Cadastro Único.

CAPS Centro de Atenção Psicossocial.

CRAS Centro de Referência de Assistência Social.

HSJ Hospital São José de Doenças Infecciosas.

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

MSAA Ministério Social Aliança em Ação.

ONG Organização Não Governamental.

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

SESC Serviço Social do Comércio.

SUAS Sistema Único de Assistência Social.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

1.1 A escolha do tema de pesquisa, os objetivos e as categorias discutidas............ 13

1.2 O percurso metodológico, a pesquisa de campo e a escrita do texto ................. 14

1.3 Os interlocutores da pesquisa ............................................................................. 19

1.4 A estruturação da monografia ............................................................................. 21

2 O LUGAR DAS ONGs NA GESTÃO SOCIAL DOS PROJETOS SOCIAIS .......... 23

2.1 A relação entre Estado e Sociedade Civil: possibilidades e parcerias na

garantia dos direitos sociais. ............................................................................... 23

2.2 O que são projetos sociais? ................................................................................ 29

2.3 Caridade, filantropia, assistencialismo ou assistência social? ............................. 34

2.4 Atuação das ONGs e algumas críticas ................................................................ 37

3 O MSAA E SUA ATUAÇÃO: DEMANDAS, CONDIÇÕES DE TRABALHO

E FUNCIONAMENTO ............................................................................................ 43

3.1 A criação do MSAA e os usuários atendidos: algumas reflexões ........................ 43

3.2 Observação e descrição do campo empírico: estrutura e funcionamento. .......... 50

3.3 Os projetos desenvolvidos e sua atuação. .......................................................... 52

3.4 A importância dos projetos realizados pela ONG Ministério Social Aliança

em Ação e os desafios na garantia dos direitos sociais. ..................................... 56

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 64

ANEXOS ................................................................................................................... 68

12

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma exigência do Curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense – FAC, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

E tem como principal objetivo, conhecer os projetos da ONG Ministério Social Aliança

em Ação - MSAA, investigando e analisando a importância desses projetos na vida

dos usuários atendidos. Também buscou concomitantemente, contribuir para o debate

o Estado e a Sociedade Civil na garantia dos direitos sociais na realidade brasileira.

Tomamos como campo para a nossa pesquisa, os projetos sociais

realizados pela Igreja Batista Aliança do Bairro Carlito Pamplona - IBA, no município

de Fortaleza/Ceará. Instituição religiosa que se viu desafiada a atender as

necessidades da comunidade que vivem ao redor da Igreja, promovendo projetos que

tem como objetivos mudar significativamente a vida dos usuários. A instituição do

MSAA é parte da história da IBA em Carlito Pamplona para a consolidação de projetos

de cunho social.

A Igreja Batista Aliança foi organizada em abril de 1962, no bairro Carlito

Pamplona, Fortaleza (CE). A instituição religiosa tem como missão “Propagar o

evangelho para libertação e compromisso integral do homem com Cristo”. E como

visão, “Ser uma referência de igreja saudável”1. Desde a criação da instituição, mesmo

que timidamente, à igreja diz possuir, uma visão social com a realização de trabalhos

voltados para a comunidade, distribuição de alimentos e de medicamentos.

É necessário, então, compreendermos as relações que as instituições

religiosas desempenham no trato das desigualdades sociais, papel que

historicamente passou a ser atribuído às igrejas. Diante do exposto, escolhemos a

Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona por seu destaque na comunidade através

de projetos sociais contínuos e relevantes, como informado nas falas dos

interlocutores durante a nossa pesquisa.

O objetivo principal é investigar e analisar qual a importância dos projetos

realizados pela ONG Ministério Social Aliança em Ação na vida dos usuários

atendidos.

Os objetivos específicos consistem em descrever como funcionam os

projetos sociais desenvolvidos pela organização, identificar como se realiza o acesso

1 Missão e Visão foram copiadas de um banner no mural interno da IBA.

13

dos usuários à organização, e traçar um perfil socioeconômico dos usuários

atendidos.

Nesta primeira parte do trabalho explanaremos o porquê do nosso

interesse pela temática, o trajeto metodológico escolhido, os interlocutores da

pesquisa e a estruturação da monografia.

1.1 A escolha do tema de pesquisa, os objetivos e as categorias discutidas.

O interesse por essa temática ocorreu assim que iniciamos o Curso de

Serviço Social na Faculdade Cearense no ano de 2010 e percebemos que na Igreja

Batista Aliança em Carlito Pamplona, instituição religiosa da qual somos membro,

eram oferecidos serviços à comunidade. O serviço mais visível é a distribuição de

cestas básicas às famílias, em vulnerabilidade, da Igreja e também do Bairro Carlito

Pamplona.

No decorrer do curso e especialmente durante a disciplina de Pesquisa I

em Serviço Social no ano de 2012, quando nós, estudantes devemos iniciar o nosso

projeto de pesquisa, questionamos sobre o trabalho realizado pela ONG.

Somente uma pesquisa com o devido rigor acadêmico, através do

referencial teórico-metodológico estudado durante as disciplinas do Curso de Serviço

Social e a pesquisa de campo, poderia nos apontar para importância desses projetos

na vida dos usuários. Explicitando também outros fatores, dentre eles, como se

apresenta a intervenção de associações, fundações, entidades religiosas e ONGs na

vida dos usuários que são atendidos, através dos projetos realizados por tais

instituições.

Questionamos também, qual seria o papel dessas instituições frente à

supressão do Governo, diante das dificuldades sociais que se encontra a nossa

sociedade brasileira?

Na busca da reflexão dessas e de outras questões que ao longo do texto

vão surgindo estas, serão esclarecidas, pretendemos apresentar um trabalho que traz

considerações sobre os projetos realizados pelo MSAA, buscando compreender a

atuação das ONGs dentro do contexto brasileiro.

Nosso referencial teórico fora proposto a partir do levantamento de

categorias de análises que subsidiariam as discussões levantadas. A seguir,

14

utilizaremos de quadro para esboçar as principais categorias utilizadas e os principais

autores que orientariam a pesquisa.

Quadro 1 – Categorias de análises/autores. CATEGORIAS DE ANÁLISES PRINCIPAIS AUTORES

ESTADO/SOCIEDADE CIVIL BEHRING (2006); BOSCHETTI (2006);

DAGNINO (2004); DURIGUETTO (2011); MONTAÑO (2010/2011); SIMÕES (2012).

PROJETOS SOCIAIS BEHRING (2006); BOSCHETTI (2006); CURY (2001).

CARIDADE/FILANTROPIA/ ASSISTENCIALISMO/ASSISTÊNCIA SOCIAL

MESTRINER (2011/2012); SOUZA (2008); SPOSATI (2010).

ONG/TERCEIRO SETOR MONTAÑO (2010/2011); GOHN (2005); DAGNINO (2004).

Fonte: A autora.

Outros autores também foram basilares para a composição desse trabalho.

Dentre eles, destacamos o livro que fora muito utilizado para compreendermos a visão

da Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona, o livro intitulado Ministério Social

Cristão – Base bíblica, mobilização da igreja e ações práticas, dos autores Alice

Carolina Barbosa Cirino e Mark Edward Greenwood, que expressam através dos seus

escritos a fundamentação da visão social que a igreja evangélica deve ter frente a

desigualdade social existente em nosso País.

Esperamos através das reflexões levantadas trazermos respostas aos

questionamentos que perpassaram durante a maior parte do Curso de Graduação em

Serviço Social para a pesquisadora.

No próximo tópico, iremos assinalar o caminho realizado durante a

pesquisa, como se deu a entrada em campo e como escrevemos o referido trabalho.

1.2 O percurso metodológico, a pesquisa de campo e a escrita do texto

Durante a pesquisa sempre são levantadas questões que serão colocadas

de forma bem imediata, e outras que irão aparecer no decorrer da pesquisa. A

necessidade de concluirmos todas as etapas para podermos encerrar o trabalho, nos

leva a refletir sobre todos os problemas enfrentados, equívocos cometidos, escolhas

e dificuldades descobertas (DUARTE, 2000).

Outro ponto considerável, é que, a investigação é a pedra fundamental de

toda a nossa formação acadêmica e de maneira mais específica, no Curso de Serviço

Social, onde para agirmos na realidade precisamos previamente conhecer a realidade

15

para investigarmos. Sobre a investigação de forma conceitual concordamos com

Baptista (2006), quando ela diz que:

[...] a investigação é um estudo sistemático em busca de conhecimentos e respostas em relação a determinado objeto com o fim de incorporá-lo, de maneira comunicável e comprovável, a um corpo de conhecimento de que se dispõe em dada área de reflexão, esse estudo sistemático expressa uma concepção determinada do que seja essa área, do sentido e do lugar que ela ocupa no amplo contexto dos conhecimentos (BAPTISTA, 2006, p.15).

Para alcançarmos o conhecimento e para que ele possa ser considerado

científico, é necessário determinar o método que possibilitou chegar a esse

conhecimento (GIL, 1987).

Minayo (2009) diz que:

Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade) (MINAYO, 2009, p.14).

O objeto da pesquisa será analisado a partir de uma abordagem qualitativa,

pois, a resposta para a pergunta principal da nossa pesquisa não consegue relativo

alcance apenas com dados quantitativos. Entendendo também, que, quando usamos

a expressão pesquisa qualitativa dentro do campo das Ciências Sociais pretendemos

traduzir e expressar o sentido dos acontecimentos dentro do mundo social, onde

dentro da pesquisa qualitativa admitem diferentes significados (MAANEN 1979, apud

NEVES, 1996).

Tornando-se explícito que, muito mais que a descrição do objeto, se busca

conhecer as trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos pesquisados, o que

exige do pesquisador disponibilidade e um real interesse de vivenciar a pesquisa

(MARTINELLI, 1999).

Para nos apropriarmos do universo pesquisado, inicialmente realizamos a

Revisão de Literatura, com o intuito de levantarmos maiores dados sobre autores que

abordam a temática, bem como na busca de aliar com os dados obtidos na pesquisa

de campo. Da mesma maneira que, durante todo o processo de construção foram

realizadas pesquisas bibliográficas para subsidiar a escrita do referencial teórico, da

entrada em campo, na análise dos dados, concordamos com as palavras da autora

Linda Gondim.

16

Note-se que o levantamento bibliográfico é um processo que se verifica ao longo de toda a elaboração da tese: irá continuar durante a pesquisa de campo e na fase de análise dos dados, e mesmo durante a redação dos capítulos da dissertação, quando se constatar a necessidade de leituras complementares. Contudo, a preparação de um bom projeto de pesquisa requer um volume razoável de leituras, capaz de subsidiar uma revisão de literatura que dê conta dos principais autores que estudaram o tema, tanto em termos teóricos, como empíricos (GONDIM, 1999, p.32).

Assim como a Revisão de Literatura, segundo Köche,

É feita buscando-se nas fontes primárias e na bibliográfica secundária, que registram os relatos e resultados das pesquisas efetuadas, as informações relevantes que foram produzidas e que têm relação com o problema investigado (KÖCHE, 2009, p.132)

Consideramos essa fase como a exploratória da pesquisa, e que consistiu

na produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos necessários para a

entrada em campo (MINAYO, 2009, p.26).

Como já dito anteriormente a fase dedicada a escolha da temática ocorreu

na disciplina de Pesquisa I em Serviço Social, essa fase, denominada por autores de

fase preparatória é necessária para que haja uma identificação com tema, na busca

da delimitação do problema e é, quando se apresenta as principais dificuldades para

o pesquisador (KÖCHE, 2009).

A ida ao campo aconteceu durante os meses de março, abril e maio de

2014, esse contato aconteceu através de uma prévia conversa com a responsável

pelas ações do MSAA. As primeiras visitas aconteceram de forma supervisionada, ou

seja, durante todo o momento fomos acompanhadas pela responsável que sempre se

apresentou disponível para questionamentos e para o levantamento dos dados

necessários para a pesquisa.

A finalidade desse momento era a observação e o levantamento de dados

sobre o funcionamento da ONG para as respostas de dois objetivos específicos. Que

são: Descrever como funcionam os projetos realizados pelo MSAA e a identificação

de como se realiza o acesso dos usuários na organização.

Observar é aplicar atentamente os sentidos físicos a um objeto para dele obter um conhecimento claro e preciso. A observação é de importância capital nas ciências. É dela que depende o valor dos outros processos. Sem a observação, o estudo da realidade e de suas leis seria reduzido à simples conjectura e adivinhação (CERVO, BERVIAN e DA SILVA, 2007, p.31).

Todas as informações fornecidas eram escritas em um caderno de campo

durante e depois das visitas, de forma a não perder elementos presenciados que

seriam necessários para a pesquisa.

17

Quanto aos outros objetivos que é a busca pelo perfil socioeconômico dos

usuários e a importância dos projetos na vida deles, foram realizadas em um segundo

momento, quando se fez necessário a utilização de instrumentos de pesquisa como a

entrevista.

Concordamos com Cervo, Bervian e Da Silva (2007) quando falam que a

entrevista não é uma simples conversa, mas uma conversa orientada para um objetivo

definido: recolher, por meio do interrogatório do informante, dados para a pesquisa.

A entrevista se deu de forma semiestruturada que, para Triviños (1987,

p.146 apud MANZINI, 2004, p. 2) “tem como característica questionamentos básicos

que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa”.

[...] a entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. [...], esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas (MANZINI, 1990/1991, p.154).

Na entrevista buscou-se contemplar todos os objetivos. As perguntas feitas

para os usuários, que tinham a finalidade de levantar dados socioeconômicos e

familiares, tiveram caráter de entrevista estruturada e as questões a respeito da

importância e a visão dos usuários referentes aos projetos foram realizadas de modo

aberto.

Solicitamos à responsável pelos projetos uma lista dos usuários, de acordo

com os projetos, para que pudéssemos abordá-los, convidando-os para a entrevista.

Foram informadas cerca de dez pessoas que, conforme ela, estavam regularmente

participando, dentre esses escolhemos seis participantes. Tentamos distribuí-los da

melhor maneira possível entre os projetos, ficando da seguinte forma: (01) uma

pessoa que participasse do Projeto Bombeiro Saúde e Sociedade, (01) uma pessoa

que participasse do Celebrando Restauração, (02) duas pessoas que participassem

do recebimento das Cestas Básicas e (02) pessoas que participassem do Projeto Feliz

Idade2.

No caso das pessoas entrevistadas que recebiam as cestas básicas, foi

salientado durante as entrevistas que as respostas não influenciariam no recebimento

ou cancelamento do benefício. Nosso receio enquanto pesquisadora era que alguns

2 Maiores informações sobre os projetos realizados na ONG MSAA e seus objetivos encontram-se no

Capítulo 3, desse trabalho.

18

fatos pudessem ser suprimidos na fala das entrevistadas, por recearem alguma

consequência.

Na coleta de dados utilizamos durante a entrevista um gravador, assim

como foram feitas anotações de próprio punho durante os diálogos. Tentamos buscar

os entrevistados nos horários de funcionamento dos respectivos projetos e no dia do

recebimento do benefício. A apresentação da pesquisadora e do intuito da pesquisa

se deu no momento da entrevista.

A coleta de dados para Lakatos e Marconi (2003, p.165) “é a etapa de

pesquisa que se inicia na aplicação dos instrumentos elaborados e das técnicas

selecionadas, a fim de se efetuar a coleta de dados previstos”.

Contemplamos em todo o momento da pesquisa, as três etapas definidas

por Oliveira (2000): o olhar, o ouvir e o escrever. Momentos que apreendem os

fenômenos sociais, como um exercício para a pesquisa e a elaboração do

conhecimento. Para o olhar diferenciado, se faz necessária previamente a obtenção

de dados. Esse olhar disciplinado nos faz entrar no campo empírico à procura do

objeto levando também em consideração, toda a nossa bagagem acadêmica,

conduzindo-nos a ter um olhar sensível com a realidade. No saber ouvir, também é

importante o nosso ouvir como pesquisador. Não se pode separar esses dois

momentos um complementa e esclarece o outro. Quanto ao escrever, significa o

momento que descrevemos o campo junto ao embasamento teórico anterior fazendo

com que os dados ganhem novos contextos.

A elaboração dos dados realizou-se a partir de uma seleção útil para o

trabalho, que segundo Lakatos e Marconi (2003, p.166) “é realizada de acordo com

procedimentos indicados anteriormente, e eles são elaborados e classificados de

forma sistemática”.

[...] a análise é a tentativa de evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores. Essas relações podem ser estabelecidas em função de suas propriedades relacionais de causa-efeito, produtor-produto, de correlações, de análise de conteúdo etc. (TRUJILLO, apud LAKATO; MARCONI, 2003, p.167).

Nesse momento de análise dos dados deve ser incluída a análise

documental, no sentido de que ambas possam fortalecer a pesquisa trazendo um

caráter autêntico e confiável. Foram selecionadas revistas periódicas, artigos

científicos de bases de pesquisa confiáveis como Scielo, além de documentos

institucionais; esses dados consideramos como de natureza secundária.

19

Os dados de natureza primária compreenderam a pesquisa de campo e a

entrevista.

Em todo momento, as informações foram sendo redigidas, com intuito de

ordenar a pesquisa e para que o estabelecimento de metas pessoais do pesquisador

fosse cumprido. Buscamos trazer impessoalidade, clareza e concisão que, conforme

Gil (1987), são qualidades básicas para a redação científica.

Outros aspectos foram utilizados para melhor organizar o texto, como as

notas de rodapé, que se fizeram necessárias para explicar determinados termos, além

de outras informações, sem ter que quebrar a lógica do texto, servindo também como

fonte (GIL, 1987).

No tópico seguinte, apresentaremos o perfil dos entrevistados participantes

de nossa pesquisa.

1.3 Os interlocutores da pesquisa

Durante o processo de escolha do tema e a delimitação do objeto,

entendemos que era primordial a fala dos sujeitos3 que participassem dos projetos

para construirmos e alcançarmos nossa finalidade.

Inicialmente, o número de pessoas que fariam parte da pesquisa seria de

10 beneficiados do projeto, que em nossas pesquisas prévias, recebiam as cestas

básicas, porém, fomos surpreendidos, em nossas visitas ao campo, pelos demais

projetos que eram desenvolvidos e que precisariam ser contemplados com a fala dos

seus respectivos usuários.

No decorrer da pesquisa, como informado no nosso percurso metodológico

(Tópico 1.2), o número de participantes se estabeleceu em seis entrevistados. Esse

número de entrevistados seria suficiente para que pudéssemos contemplar todos os

nossos objetivos e, como a técnica de pesquisa escolhida foi à entrevista

semiestruturada, com alguns momentos de fala livre, o usuário poderia então ter a

liberdade de responder da forma que compreendia as questões.

Quanto ao relacionamento entre pesquisadora e pesquisado, como já

citado, estabelecemos antes da entrevista um diálogo com a apresentação da

pesquisadora, os objetivos da pesquisa e o questionamento quanto a disponibilidade

3 Todas as falas dos entrevistados (relevantes e pertinentes ao estudo) foram dispostas no terceiro

capítulo deste trabalho, assim como as análises e comentários da autora.

20

do usuário de realizar ou não a entrevista. Procuramos encontrar um local adequado

para que a entrevista ocorresse de forma tranquila e fluida. Uma das entrevistas

aconteceu na residência do próprio entrevistado e as demais aconteceram dentro das

dependências da IBA em Carlito Pamplona em local reservado. Nenhum dos

entrevistados se opôs a realização da entrevista, e todas aconteceram de forma

tranquila; quando estes não compreendiam as questões, solicitavam que

repetíssemos e mesmo que não fizesse algum sentido, em conformidade com o que

estava estabelecido nas perguntas, tentávamos de outra forma retomar a questão,

porém, com a preocupação de que o entrevistado se sentisse confortável ao

responder ao questionário.

Os entrevistados foram identificados, neste trabalho, conforme o quadro

abaixo:

Quadro 2 – Identificação dos entrevistados.

INTERLOCUTOR PROJETO

A SAÚDE, BOMBEIRO E SOCIEDADE

B CESTA BÁSICA

C CESTA BÁSICA

D FELIZIDADE

E FELIZIDADE

F CELEBRANDO RESTAURAÇÃO

Fonte: A autora.

Conforme informado no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,

reforçamos que os nomes deles seriam mantidos em sigilo e que as respostas não

acarretariam em nenhum momento na suspensão da participação e/ou dos benefícios

dos projetos.

Importante salientar, que das seis pessoas entrevistadas (05) cinco eram

do sexo feminino e (01) uma do sexo masculino. A idade dos participantes variava

entre 25 anos e 69 anos de idade. Os entrevistados moram no Bairro Carlito

Pamplona, há cerca de (20) vinte e (52) cinquenta e dois anos. Um dos entrevistados

mudou-se recentemente para o Bairro Presidente Kennedy e o outro entrevistado

mora há mais de 20 anos no Bairro Colônia.

Entre os entrevistados, (06) seis, (02) dois moram em casas alugadas

(Ressalte-se que são os que participam do Projeto Cesta Básica) e os demais, (04)

quatro, moram em casa própria.

Em relação à ocupação no mercado de trabalho: três (03) encontram-se

aposentados, dois (02) por Invalidez e (01) um por Tempo de Serviço. Um (01)

21

entrevistado encontra-se desempregado, porém, com emprego informal. E outro (01)

um é Dona de Casa, não contribuinte do INSS e outro um (01) encontra-se empregado

há mais de um (01) ano.

A partir da ocupação dos entrevistados, levantamos também os dados da

renda dos mesmos, levando em consideração a renda total de todas as pessoas que

moram em suas residências: Três (03) possuem renda familiar entre 1 e 2 salários

mínimos, um (01) entrevistado mantém-se com menos de um salário mínimo mensal.

Outra, uma (01), vive com mais de três (03) salários mínimos. Um dos entrevistados

não respondeu.

Achamos pertinente perguntar se os entrevistados recebem algum

benefício do Governo, como: Bolsa Família, PETI, ou BPC. Apenas um dos

entrevistados recebia um dos benefícios (Bolsa Família), há três meses.

Para finalizar os dados que foram levantados através das perguntas

objetivas da nossa entrevista, questionamos se alguém participava de algum projeto

dentro dos equipamentos governamentais, no caso foram dados exemplos de grupos

dentro dos CRAS e/ou CAPS: nenhum dos entrevistados participava de projetos

desse tipo. Apenas, um dos entrevistados informou que trabalhava voluntariamente

em Casas de Recuperação, mais de forma espontânea, sem nenhum vínculo à

instituição na qual prestava o serviço.

Diante do breve perfil socioeconômico dos entrevistados, podemos

compreender minimamente em que realidade eles se encontram, bem como,

contribuir para a análise dos dados subjetivos durante a produção da pesquisa, e em

seguida informamos como a estruturamos.

1.4 A estruturação da monografia

O presente trabalho encontra-se dividido em três capítulos da seguinte

forma: o primeiro capítulo denominado de Introdução, o segundo com o nome de O

Lugar das ONGs na Gestão Social dos projetos sociais e o terceiro chamado de A

ONG pesquisada e sua atuação: Demandas, Condições de Trabalho e

Funcionamento.

O Primeiro capítulo trata sobre a escolha do tema diante da realidade

observada em nosso entorno, questionamentos que perpassaram durante todo o

Curso de Serviço Social, e que nos levou a uma pergunta inicial: Qual a importância

22

dos projetos realizados pela ONG Ministério Social Aliança em Ação na vida dos

usuários atendidos?

Mediante a principal pergunta expomos também os objetivos específicos

que seriam obtidos durante o nosso trabalho. Indicamos também, no capítulo, todo o

percurso metodológico e as aproximações com o campo, levantando breves dados

socioeconômicos dos interlocutores da pesquisa, como estabelecemos o vínculo entre

entrevistadora e entrevistado, a forma como coletamos os dados e o processo de

escrita do texto e, por fim como está estruturada a monografia.

O Segundo capítulo vem apontar o referencial teórico adotado em conjunto

com as algumas apreensões em campo, procurando elencar termos e conceitos

ligados ao tema em questão. Primeiramente discutimos a Relação entre o Estado e a

Sociedade Civil trazendo conceitos diferentes para os dois através da história,

destacamos também o papel que cada uma tem estabelecido frente às políticas de

interesse social. No segundo tópico tentamos conceituar o que são os projetos sociais

buscando realizar um comparativo com os projetos realizados pela ONG Ministério

Social Aliança em Ação, estabelecendo semelhanças e diferenças com a visão dos

autores. No terceiro tópico, tentamos apreender qual o conceito que mais se adequa

a realidade estabelecida entre a ONG MSAA e seus usuários. Caridade, Filantropia,

Assistencialismo ou Assistência Social? No quarto e último tópico, tentamos a luz do

referencial teórico apontar as principais críticas dos autores referente a atuação das

ONGs no contexto brasileiro.

No Terceiro capítulo apresentamos um histórico da ONG Ministério Social

Aliança em Ação, a percepção dos usuários quanto aos projetos que participam,

descrição dos projetos realizados, condições de funcionamento, os apontamentos dos

usuários referente a importância dos projetos que participam e finalizamos com os

desafios postos a instituição.

Nas considerações finais realizamos um resgate, criando as reflexões

necessárias acerca da pesquisa, as principais contribuições e os principais desafios

quanto ao limite da pesquisa. Assim como, buscamos trazer anexos que norteassem

visualmente onde ocorrem alguns dos projetos e ações realizadas pela instituição.

23

2 O LUGAR DAS ONGs NA GESTÃO SOCIAL DOS PROJETOS SOCIAIS

Nesse capítulo será apresentado todo o nosso Referencial Teórico e

algumas percepções do campo pesquisado. Foram elencados os principais termos

ligado ao tema: Estado, Sociedade Civil, Caridade, Filantropia, Assistencialismo,

Assistência Social, ONG e Terceiro Setor. São colocados termos e citações

importantes para que seja possível uma melhor compreensão do que nos propusemos

a estudar e esclarecer com o nosso trabalho de conclusão de curso. Como

reconhecimento e crédito a autores que anteriormente problematizaram alguns

elementos desse trabalho, segundo Gondim (1999):

[...] indicar como o problema tem sido tratado por autores diversos, comparando diferentes enfoques e perspectivas teóricas e indicando aqueles que prometem ser mais relevantes para a pesquisa proposta. Estes aspectos, acrescidos das categorias e conceitos que serão utilizadas na análise, constituem o quadro referencial teórico, que pode ser objeto de item específico, dependendo de seu grau de complexidade e de sua extensão (GONDIM, 1999, p.19).

2.1 A relação entre Estado e Sociedade Civil: possibilidades e parcerias na

garantia dos direitos sociais.

Inicialmente, elencamos alguns conceitos fundamentais para a nossa

pesquisa, dentre eles, a discussão diante da dicotomia entre Sociedade Civil e Estado,

o que se compreende atualmente diante de leituras e indagações é que, não se pode

definir somente o que é Sociedade Civil, o seu significado e delimitação do seu

alcance, sem entendermos as relações que definem o Estado. Pois,

inconvenientemente, entende-se que as relações que são desenvolvidas dentro da

Sociedade Civil não são reguladas pelo Estado (BOBBIO, 2007). Isto é, desde a

instituição da chamada política liberal clássica4 se tenta forçadamente criar uma

4 Idealizadores e adeptos acreditam que os bens necessários ao consumo mostram a quantidade de

trabalho usado para produzi-los, e, os preços desses bens são determinados pelo mercado. Assim, o mercado fica livre de regulações externas para que o mecanismo de preços assegure a livre compra, por parte de todos, mas, para tanto, o Estado não deve prover, a ninguém, esses bens. Ou melhor, os liberais reconhecem que existem “bens públicos” (saúde, educação), contudo, consideram que estes só devem ser providos pelo Estado quando, não forem mercantilizáveis. Ao Estado caberia apenas prevenir ou controlar o que chamam de “maus públicos”, como: poluição, epidemias, desordem social, crimes. Para além disso, a intervenção do Estado ameaçará o equilíbrio da economia do qual o bem-estar depende (DEAN, apud PEREIRA, Potyara. Proteção social contemporânea: cui prodest? pg. 637) In: Serviço Social e Sociedade, 116, Ed. Cortez, out/dez. 2013).

24

divisão entre Estado e Sociedade Civil, além do Mercado, atribuindo para a Sociedade

Civil o meio natural da vida social e produtiva, do que diz respeito ao privado; e ao que

denominamos de Estado, as funções estritamente necessárias do que se considera

um bom funcionamento para a sociedade (SIMÕES, 2012).

A partir dos estudos feitos sobre Hegel, os autores definem que, do ponto

de vista teórico, Hegel é o primeiro a fixar o conceito de Sociedade Civil como algo

distinto e separado do Estado Político, coexistindo com este (e não substituindo o

estado de natureza) (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011, p.31, grifo do autor).

Contrapondo as ideais de Hegel, Karl Marx em sua produção teórica,

elabora entre os seus escritos as conceituações de Sociedade Civil (Base Econômica)

e Estado (Superestrutura), a Sociedade Civil (sociedade burguesa) é entendida como

a esfera da produção e reprodução da vida material. Desse modo, a Sociedade Civil

e estrutura econômica são a mesma coisa. Marx define que é na Sociedade Civil que

se alicerça a natureza estatal, e não o contrário, como pensava Hegel. Quer dizer, o

Estado é um produto da Sociedade Civil, com a reprodução das suas contradições

perpetuamente, diferentemente dos pensamentos de Hegel, que pensava em uma

esfera diferente, com racionalidade própria (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011).

Antônio Gramsci, já pertencente ao século XX, tendo como mestre Karl

Marx, vem trazer significados diferentes para a Sociedade Civil e para o Estado, não

contrapondo inteiramente a base de Marx, porém, trazendo maiores funções. Para o

Estado, ele vem trazer o conceito de Estado Ampliado, pois, para Gramsci, existe uma

socialização da política, então o Estado amplia as suas atividades, incluindo no seu

interior as lutas de classes (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011).

Complementando a análise feita pelos autores anteriores, temos um

conceito geral de Sociedade Civil a partir dos estudos feitos em Gramsci.

[...] a sociedade civil gramsciana faz parte do Estado (superestrutura), que por sua vez é permeado por interesses e conflitos das classes sociais conformadas na estrutura econômica. A sociedade civil expressa a articulação dos interesses das classes pela inserção econômica, mas também pelas complexas mediações ideopolíticas e socioinstitucionais (COUTINHO 1992 apud MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011 p. 46).

Avançado nas relações entre Estado e Sociedade Civil, apresenta-se

através dos anos, na chamada modernidade, o estabelecimento de uma nova forma

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010166282013000400004&s cript=sci_arttext >. Acesso em: 9 maio 2014.

25

de relação do Estado para com a Sociedade Civil, a chamada proteção social

conhecida como o Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State5. Diante dessa nova

proposta houve uma consequente crise do Estado Liberal (Política Liberal Clássica).

Esse novo momento aconteceu principalmente nos Países europeus e nos Estados

Unidos (SIMÕES, 2012).

Os princípios que estruturam o Welfare State, [...] 1) responsabilidade estatal na manutenção das condições de vida dos cidadãos, por meio de um conjunto de ações em três direções: regulação da economia de mercado a fim de manter elevado nível de emprego; prestação pública de serviços sociais universais, como educação, segurança social, assistência médica e habitação; e um conjunto de serviços sociais pessoais; 2) universalidade dos serviços sociais; e 3) implantação de uma “rede de segurança” de serviços de assistência social (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p.94).

Diante do que é exposto pelos autores a respeito desse cenário, o Welfare

State proporcionou avanço nos direitos sociais dos cidadãos, através da intervenção

direta do Estado na sociedade, dentro de um contexto de economia capitalista. O

Welfare State mais fortalecido das décadas de 1960, vê na década de 1970 seus

ideais extinguindo-se devido, entre outros fatores, à crises fiscais, desemprego

estrutural e aumento das despesas públicas.

No Brasil, não houve o Welfare State nos padrões europeus e norte-

americanos, o que podemos destacar nesse período foram os avanços nas Leis

Trabalhistas durante os mandatos do presidente Getúlio Vargas, a criação da Lei Eloy

Chaves6 em 1923, a implantação do Ministério da Educação e Saúde Pública, entre

outros. Direitos que a classe trabalhadora passou a ter, porém dentro de uma

perspectiva de um governo considerado por muitos autores como populista7.

Durante a década de 1980 vemos mudanças acontecerem dentro do

cenário internacional, que afetaram diretamente a economia do Brasil, como o

ajustamento neoliberal desencadeado pelo os Estados Unidos da América. Passamos

pela crise em consequência da dívida da crise externa, inflação, estagnação que

5 [...] definiremos o Welfare State como um conjunto de intervenções públicas visando à promoção de

bem-estar e envolvendo (algum grau de) redistribuição de renda. (KERSTENETZKY, 2012, p. 447). 6 A Lei Eloy Chaves, publicada em 24 de janeiro de 1923, consolidou a base do sistema previdenciário

brasileiro, com a criação da Caixa de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias. Após a promulgação desta lei, outras empresas foram beneficiadas e seus empregados também passaram a ser segurados da Previdência Social. Disponível em: <http://mps.jusbrasil.com.br/noticias/2063032/87-anos-lei-eloy-chaves-e-a-base-da-previdencia-social-brasileira>. Acesso em: 9 maio 2014, às 12h27.

7 Resumidamente, é quando o líder do governo é conhecido pelo seu carisma com a população mais carente e por suas ações governamentais.

26

repercutiu nitidamente nas políticas públicas, o que vem de encontro as garantias

instituídas a pouco na Constituição Federal de 1988 (GOMES, 2006).

Dentre os ganhos da Constituição de 1988, vemos a concepção do Estado

Democrático de Direito, instituído no 1º artigo8, onde essa divisão instituída entre o

Estado/Sociedade Civil é reformulada, concluímos então que, os dois setores não têm

mais responsabilidades distintas, além das atividades públicas, as atividades privadas

no âmbito social passam também a serem consideradas de interesse social.

Além disso, implica a ampla participação das classes e dos grupos sociais, socialmente organizados, nas decisões políticas. Por isso, os limites estatais não são uma simples média entre os da concepção estatizante e a liberal. Na democracia, são relativamente reduzidos, mas o Estado assume inúmeras atividades, consideradas de interesse social e, por outro lado, a sociedade civil participa ativamente das atividades estatais, tanto no campo legislativo, quando no executivo (SIMÕES, 2012, p.472).

Contribuindo com o debate do Estado Democrático de Direitos e as

atribuições de novas responsabilidades para esses “novos” atores,

Na mesma proporção em que o público se confunde com o privado, a sociedade civil, progressivamente, interpenetra-se ao Estado. Na transição do Estado Liberal de Direito do Estado Social se efetiva essa interpenetração e esse deslocamento dos limites entre o público e o privado. Tanto o estado amplia as suas funções, interferindo na esfera privada, quanto esta passa a participar de debates em espaços da esfera pública ampliada (FREIRE, FREIRE; CASTRO, 2010, p.120).

O nosso País, compreendendo agora a década de 1990, considerada por

muitos estudiosos como a “década perdida”, vê em seu meio eclodir o protagonismo

da Sociedade Civil, levantando questões como o agravamento da questão social9,

aumento da pobreza e da miséria, e da luta pela democracia no Estado e na

sociedade, acentuando-se então os debates sobre as políticas públicas especialmente

as de corte sociais (RAICHELIS, 2008).

A presença da Sociedade Civil participando na realização de ações sociais

junto ao Estado vem ressaltar também um novo período para a população brasileira:

que é o de buscar os direitos sociais no Brasil, através da luta de classe, desde as

8 Fonte: < http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_04.02.2010/CON1988.pdf >.

Acesso em: 12 maio 2014, às 17h50. 9 A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe

operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão (CARVALHO; IAMAMOTO, 2013, p. 83-84).

27

restrições de direitos políticos e civis vividas na época da ditadura. Na sua grande

maioria reivindicações buscando, sobretudo, ganhos na área trabalhista e

previdenciária.

Porém, o que se percebe é que mesmo com os avanços das legislações

sociais que alteraram a visão de direitos sociais da nossa sociedade, observamos que

uma grande parcela da população não reconhece e não compreende que direitos são

esses.

A distância entre a definição dos direitos em lei e sua implementação real persiste até os dias de hoje. Tem-se também uma forte instabilidade dos direitos sociais, denotando a sua fragilidade, que acompanha uma espécie de instabilidade institucional e política permanente de configurar pactos mais duradouros e inscrever direitos inalienáveis (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p.79).

Atualmente conceitos como conselhos, fóruns de discussão, orçamentos

participativos, entre outros, ganham grande visibilidade e se firmaram como uma

estratégia privilegiada, na busca de novos espaços de participação para a Sociedade

Civil, entre outras características, pela definição do texto da constituição de

instrumentos ativadores da publicitação10 das políticas sociais (RAICHELIS, 2008).

O que percebemos através da literatura, é que, a participação de setores

da Sociedade Civil que discutem e formulam as políticas públicas, através do que

citamos anteriormente (conselhos, fóruns, orçamentos participativos) acabam

assumindo a responsabilidade e funções restritas de serviços considerados deveres

do Estado, do que diferentemente é o objetivo dela, que na realidade é o de

compartilhar o poder de decisão quanto à formulação dessas políticas (DAGNINO,

2004).

Ainda ressaltando as responsabilidades na participação da Sociedade Civil,

se faz necessário encontrarmos o equilíbrio entre as esferas que agora estão

renovadas, na busca de fortalecer uma nova ordem social, política e econômica, que

se aproximam por meio de uma ação comum, na esfera do público, interesses do

Estado, da sociedade e do mercado (FREIRE, FREIRE E CASTRO, 2010).

10 O conceito de publicitação, [...] funda-se numa visão ampliada de democracia, tanto do Estado quanto

da sociedade civil, e pela incorporação de novos mecanismos e formas de atuação, dentro e fora do Estado, que dinamizem a participação social de modo que ela seja cada vez mais representativa dos segmentos organizados da sociedade, especialmente das classes dominadas (RAICHELIS, 2008, p.7)

28

Porém, não se deve conceber de Sociedade Civil tudo aquilo que é

diferente de Estado e Mercado, bem como não fazer a diferença entre a sociedade

civil e a sociedade civil organizada, o que também não condiz com o conceito de

organizações da sociedade civil (PINTO, 2006).

A sociedade civil é, em si, a forma de organização da própria sociedade, na qual cada indivíduo encontra sua pertença como cidadão de direito. O Brasil apresenta pelo menos uma grande peculiaridade em relação ao fenômeno, na medida em que convivem, no mesmo espaço, uma afluente sociedade civil e parcelas significativas da população, que dela está excluída (PINTO, 2006, p.653).

Mais adiante iremos discutir como a Sociedade Civil se organizou através

dos anos 1990 e 2000 com a criação de novos atores sociais, na busca pela garantia

dos direitos sociais11. Sabe-se que o estabelecimento de novas parcerias trouxe,

como dito anteriormente, novas possibilidades e responsabilidades no trato da

garantia dos direitos. Antes adormecidos, os movimentos sociais também passam a

figurar como uma voz ativa no meio da “sociedade passiva” devido a chamada crise

de cidadão12.

Recentemente, no ano de 2013, o Movimento Passe Livre13 trouxe para a

história do nosso País, o retorno com maior vigor, da luta pela garantia do direito de ir

e vir, com a máxima de passe livre nos transportes coletivos, sobreveio também outras

questões como o direito a moradia, fim da corrupção, melhorias na educação e saúde.

Retomando as ruas como antes feito.

A seguir, explanaremos o que são os projetos sociais, que são ações que

atendem diretamente aos cidadãos e que buscam suprir as suas necessidades

sociais. Até que ponto esses projetos feitos pelo Estado ou pela Sociedade Civil, ou

11 São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança,

a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Art. 6º da Constituição Federal de 1988.

12 Os direitos estão complicados, [...] porque temos hoje no mundo, e portanto também no Brasil, uma espécie de crise da ideia de cidadão. [...]. É uma consequência do clima geral, de pouca perspectiva coletiva e muito individualismo. Junto com a crise da ideia de cidadão há uma crise da ideia de República, ou seja, o cidadão republicano está hoje gravemente reduzido ou à condição de consumidor ou à condição de eleitor, de alguém que é chamado a referendar decisões que são tomadas em âmbitos aos quais ele não tem acesso. Os cidadãos reclamam, protestam, fazem plebiscitos, votam regularmente de dois em dois anos ou de quatro em quatro, mas não conseguem entrar no ventre em que são geradas as decisões (NOGUEIRA, 2002, p.20).

13 O Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da iniciativa privada. O MPL deve ter como perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação do transporte coletivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indenização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da população. Material Extraído do site http://www.mpl.org.br/. Acesso dia 19/06/2014 as 21:49.

29

em conjunto, consegue alcançar os usuários e atender em sua totalidade os seus

direitos sociais?

2.2 O que são projetos sociais?

Os direitos sociais como conhecemos, partiram de lutas, na sua grande

maioria, promovida pelos movimentos sociais, bem como por movimentos políticos

complexos (NOGUEIRA, 2002). Por um lado, os direitos sociais, principalmente os

que se referem aos trabalhistas e aos previdenciários, estão sempre em evidência nos

movimentos e manifestações da classe trabalhadora. Por outro, representam a busca

por legitimação das classes que estão no poder, que, como no tempo da ditadura

instituíram a tutela e o favor, destacamos, pois, a Era Vargas como exemplo.

(BEHRING, BOSCHETTI, 2006).

As políticas de saúde, educação, habitação, trabalho, assistência, previdência, recreação e nutrição são objeto de luta entre diferentes forças sociais, em cada conjuntura, não constituindo, pois, o resultado mecânico da acumulação nem a manifestação exclusiva do poder das classes dominantes ou do Estado. Essas políticas não caem do céu, nem são um presente ou uma outorga do bloco do poder. Elas são ganhos conquistados em duras lutas e resultados de processos complexos de relação de forças (FALEIROS, 1991, p.62)

Para entendermos como esses direitos são desfrutados pelos cidadãos

brasileiros, façamos um pequeno recorte teórico e histórico, no que tange a política

de um modo geral até as políticas públicas brasileiras pós 1988.

A política tem origem na Grécia, em associação à polis (cidade) e faz

relação com toda a atividade humana que estivesse presente os elementos sociais,

públicos e cidadão (PEREIRA, 2008). Quando falamos sobre atividades humanas e

suas relações sociais, dentro de um momento histórico apreendemos que:

[...] as políticas sociais e a formação de padrões de proteção social são desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – em geral setorializadas e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social no capitalismo, [...], os sujeitos históricos engendram formas de seu enfrentamento. Contudo, sua gênese está na maneira com que os homens se organizaram para produzir num determinado momento histórico, [...] o de constituição das relações sociais capitalistas – e que tem continuidade na esfera da reprodução social (BEHRING; BOSCHETTI, 2006, p. 51-52).

30

Tomando como referência teórica o debate que Pereira (2008) faz sobre a

política, no contexto de política pública. A mesma informa que a política social é uma

espécie do gênero política pública.

Dentre as competitivas interpretações conhecidas, destacam-se duas, [...]: a que privilegia o Estado como produtor exclusivo de política pública, a ponto de conceber o termo público como sinônimo do termo estatal; e a que privilegia a relação dialeticamente contraditória entre Estado e sociedade como o fermento da constituição e processamento dessa política. Neste sentido, a política pública não é só do Estado, visto que, para a sua existência, a sociedade também exerce papel ativo e decisivo; e o termo público é muito mais abrangente do que o termo estatal (PEREIRA, 2008, p.94, grifo do autor).

Portanto, como ressalta a autora, a política pública, não tem a sua principal

característica por ser pública, ou porque não é estatal, ou de algo coletivo, ou de mera

vontade particular. O que caracteriza política pública é o fato único de que é um

conjunto de decisões e intervenções do Estado e sociedade. A autora no seu texto

vem apresentar diversas características sobre essas decisões e intervenções, porém

nós pretendemos citar apenas uma das características que ampliará o debate para os

próximos momentos. Essa característica,

[...] Visa concretizar direitos sociais conquistados pela sociedade e incorporados nas leis. Ou melhor, os direitos sociais declarados e garantidos nas leis são, de regra, conquistas da sociedade e só têm aplicabilidade por meio de políticas públicas, as quais, por sua vez, operacionalizam-se por meio de programas, projetos e serviços sociais. Segundo Sétien e Arriola (1998), são os programas, projetos e serviços sociais (especialmente estes últimos, que cumprem o papel de materializar, de fato, as propostas, as ideias, os desenhos de ação, os objetivos e meios especificados pelas políticas públicas. São os serviços sociais, dizem as mencionadas autoras, “que tornam evidente uma política pública” (p.323) (PEREIRA, 2008, p.94).

A concretização dessas intervenções estabelecidas pelo Estado e pela

Sociedade Civil se dá a partir do que os autores chamam de Gestão Social, tendo

como principal característica, com a sociedade e os cidadãos, o compromisso de

assegurar, por meio de políticas e programas públicos, o acesso efetivo de bens,

serviços e riqueza da sociedade. (CARVALHO, 2001, p.17).

Nesse contexto, é que tentamos entender o que são projetos sociais,

buscando relacionar com a ONG pesquisada e elencar as principais semelhanças e

diferenças dos projetos sociais governamentais, por exemplo.

No Capítulo três do presente trabalho, elencamos todos os projetos

realizados pelo MSAA. O que percebemos inicialmente é que não são projetos nos

31

padrões governamentais ou de organizações privadas com as etapas bem definidas

de planejamento, implementação e avaliação, como veremos nas conceituações a

seguir.

Inferimos que, os projetos realizados pela ONG visam atender, sob nosso

olhar, as necessidades reais, imediatas sem tempo prévio para finalizar as suas

intervenções. Os processos de planejamento e avaliação dos projetos não foram

contemplados por nós quando estivemos presente em campo, porém, através da

pesquisa, descobriu-se que eles tendem a acontecer em consonância com os anseios

da comunidade e da articulação dos membros da igreja através de uma necessidade

encontrada. Continuaremos a nos aprofundar mais nos conceitos conforme o nosso

referencial teórico.

Um projeto social é a unidade mínima de alocação de recursos que, através

de um conjunto integrado de atividades pretende transformar uma parcela da

realidade, reduzindo ou eliminando um déficit, ou solucionando um problema (CEPAL,

1997, p. 5).

Frequentemente, os termos projetos, programas e políticas sociais são confundidos. Um programa social é um conjunto de projetos; e uma política social, por sua vez, é um conjunto de programas. Projetos e programas são a tradução operacional das políticas sociais. Um projeto envolve ações concretas a serem desenvolvidas em um horizonte de tempo e espaço determinados, restritas pelos recursos disponíveis para tal. Os programas, em geral, envolvem horizontes de tempo mais longos que os projetos. Pode-se, portanto, analisar um programa por meio do estudo dos projetos que o compõem (CEPAL, 1995,1998 apud COUTINHO; SOARES; SILVA, 2006, p.768).

Utilizemos também outro conceito para projetos sociais:

Um projeto “é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados”. O projeto é a unidade mais específica e delimitada dentro da lógica do planejamento, é a unidade mais operativa de ação, o instrumental mais próximo da execução (CURY, 2001, p.41)

De acordo com os autores pesquisados, todos os projetos sociais devem

essencialmente passar por três momentos, são eles: os processos de planejamento,

a implementação e a avaliação. Essas etapas são constituídas juntas, tendo o mesmo

grau de importância; esses momentos se cruzam, se relacionam, seguem e retornam

em um movimento dinâmico. A avaliação começa com a proposta de projeto, onde se

analisa o ambiente, onde será a sua inserção, bem como o contexto social. Na

32

implementação é onde colocamos o projeto em prática, como monitoramento das

atividades, coleta de dados para a avaliação e mudança de rumo se for necessário. E

a avaliação, que é necessária para que sejam vistos os resultados, bem como eficácia,

eficiência e efetividade no projeto (CURY, 2001).

Do mesmo modo quando pensamos em um projeto, temos que analisar o

contexto daquela realidade, o chamado diagnóstico de situação, análise situacional

ou análise do cenário (CURY, 2001).

Cada projeto tem uma população-objetivo, espacialmente localizada, que

deveria receber seus benefícios. É definida normalmente por pertencer a uma faixa

etária (lactantes), por uma localização geográfica (zona rural), por uma carência

específica (desnutridos), entre outros (CEPAL, 1997).

De acordo com as pesquisas em campo, outra circunstância que é levada

em consideração pelo MSAA é que os projetos realizados através dos anos

procuraram seguir essas orientações, na busca pela estipulação de públicos alvos,

bem como os impactos sociais que pretendem atingir nos projetos.

Os projetos deveriam atuar em três níveis, quando levados em

consideração os impactos sociais, aos quais se propõe o MSAA. São eles:

Auxílio Social diz respeito a auxílio temporário, curativo, tal como doações de cesta básicas ou ajuda a uma comunidade após uma calamidade. Planejamento para estas ações pode fazer parte de um programa de MSC (Ministério Social Cristão). Oportunidade Social é definida pelas ações que providenciam oportunidades para pessoas marginalizadas participares ativamente na sociedade; por exemplo, através de alfabetização para adultos ou cursos profissionalizantes. Transformação Social é quando a comunidade engaja-se na transformação das condições sociais em que ela vive. Isso pode ser feito através de ações comunitárias, mutirões, associações, ou ações políticas; por exemplo, pressionando politicamente para que direitos de trabalhadores sejam respeitados (CIRINO; GREENWOOD, 2012, p.65, grifo do autor).

Atualmente, os projetos desenvolvidos pela ONG são esses: Cesta

Básica, Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade, Celebrando Restauração e o Projeto

Feliz Idade.

De acordo com as nossas interpretações, o primeiro nível, levando em

consideração a literatura antes citada, o auxílio social pode ser encontrado no

fornecimento das cestas básicas.

33

Quanto às oportunidades sociais, aconteceram na história do MSAA com a

criação dos Cursos de Informática, de Alfabetização de Adultos e Curso de Língua

Estrangeira. Atualmente esses cursos estão desativados14.

Na transformação social e em especial da comunidade, percebemos que o

projeto Celebrando Restauração tem essa finalidade, de atender aos usuários que

realizam uso abusivo de álcool e outras drogas a partir de uma metodologia própria,

visando recuperar os usuários.

Quanto aos recursos para a manutenção dos projetos, diferentemente de

outras ongs, a instituição estudada não recebe nenhum recurso financeiro externo

para o funcionamento dos projetos, não tem parcerias estabelecidas com órgãos

públicos, não possuem selos legais de reconhecimento que qualifiquem o seu trabalho

como os projetos sociais de Assistência Social.

O recurso na sua grande maioria é proveniente das doações dos fiéis

durante os cultos e reuniões da Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona e das notas

e cupons fiscais arrecadas para o Programa Sua Nota vale Dinheiro da Secretaria da

Fazenda do Estado do Ceará, através de urnas dispostas dentro da igreja. Essas

diferenças são consideráveis para compreendermos como se estabelecem as

relações entre o MSAA, com a manutenção dos projetos, e a realidade da população

do Bairro Carlito Pamplona.

Percebemos então, que o MSAA encontra barreiras dentro dos projetos

devido as suas limitações financeiras frente ao modelo de outras ONGs, que

trabalham com a busca de recursos através de editais e fomentos financeiros. Alguns

projetos como veremos adiante tornaram-se onerosos impossibilitando a manutenção

do mesmo.

Outro ponto que vale ressaltar é que notavelmente percebemos, em todo o

momento, a presença da Igreja Batista Aliança durante o processo de execução dos

projetos. Diante desse fato é necessário minimamente conceituarmos esse fenômeno,

que pode ser considerado como práticas assistencialistas, filantrópicas, caritativas, ou

nenhuma das alternativas indicadas.

14 O curso de informática foi descontinuado devido à dificuldade de obter, através de parcerias,

equipamentos minimamente compatíveis com a tecnologia da época; já o curso de alfabetização de adultos foi encerrado pela falta de professores voluntários. O curso de inglês foi desativado em decorrência do fim da parceria com a Missão Britânica – que enviava voluntários cristãos, mas, por um determinado período, apenas.

34

2.3 Caridade, filantropia, assistencialismo ou assistência social?

As noções de Assistência e Filantropia se fazem presente nesse trabalho,

devido à preocupação da Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona com a vida da

população do bairro Carlito Pamplona, que tem como principal objetivo, através do

MSAA, buscar a transformação social da população através dos projetos realizados.

Responsabilidade tal, que tem sido bastante discutida através dos autores

pesquisados, desde a inserção de instituições filantrópicas, na sua grande maioria de

cunho religioso, a partir da década de 1930 no Brasil.

Iniciadas desde a Era Vargas pelo Estado Novo, a educação, a saúde e a

assistência formaram um elo entre o governo, a Igreja Católica e burguesia, visando

a monitoração e o atendimento aos conflitos sociais que passavam a ocorrer na época,

que em muito é consequência da nova era de industrialização que iniciava no nosso

País. Ou seja, as várias políticas que existiam e eram implementadas pelo Estado

sempre tramitavam no campo da solidariedade, filantropia e benemerência, o que nem

sempre representava direitos sociais, mas apenas o que a autora vem chamar de

benevolência paliativa (MESTRINER, 2012).

Assistência, filantropia e benemerência têm sido tratadas no Brasil como irmãs siamesas, substitutas uma da outra. Entre conceitos, políticas e práticas, tem sido difícil distinguir o compromisso e competências de cada uma destas áreas, entendidas como sinônimos, porque de fato escondem – na relação Estado-sociedade – a responsabilidade pela violenta desigualdade social que caracteriza o País (MESTRINER, 2011, p.14).

Observa-se então a partir dos autores, a relação existente entre Estado e

a Igreja, de que, por mais que existisse um compromisso cristão com a pobreza do

nosso País, elas eram apoiadas de forma indireta pelo Estado, pois não havia

compromisso para alterar a realidade daqueles que precisavam das instituições

religiosas, muito menos políticas públicas que resolvessem os problemas sociais. A

expressão benevolência paliativa vem perfeitamente descrever o que acontecia e que

ainda acontece na realidade do nosso País.

Portanto, o atendimento emergencial não consegue atingir o cerne da

questão, somente revela práticas assistencialistas que, conforme Faleiros, podem

estabelecer futuras relações de troca de favores ou sentimento de admiração.

Na prestação de uma ajuda arbitrária, inconstante e vinculada a relações personalizadas entre aqueles que “dá” e aquele que “recebe”, com ênfase na

35

subordinação do ato de receber. Quem recebe fica devendo favor, fica obrigado a retribuir a doação numa oportunidade qualquer, com serviços, com lealdade ou com o voto de cabresto nas eleições (FALEIROS, 1991, p.68).

Contribuindo ao debate e revelando o que vem acontecer no decorrer dos

anos, no trato dos problemas sociais, algumas ações instituídas anteriormente por

instituições filantrópicas, que tomavam a dianteira para a “solução” desses problemas,

foram incorporadas como responsabilidades públicas, e dentre elas, estão a

Assistência (SPOSATI et al. 2010).

A assistência, no seu sentido mais lato, significa auxílio, socorro. Onde quer que haja uma necessidade que o interessado não pode resolver por si e não consiga pagar com seu dinheiro, a assistência tem o seu lugar. Assistência a famintos, a sedento, nus, desabrigados, doentes, tristes, ativos, transviados, impacientes, desesperados, mal aconselhados, pobres de pão ou pobres de consolação, tudo é assistência, auxílio, socorro (CORREIA 1999, apud MESTRINER, 2011, p.15).

Historicamente, podemos pontuar como marco institucional importante na

Assistência do nosso País, quando a partir de 1942, institui-se a criação da LBA15, e

no ano de 1946, quando toma suporte nacional, com órgãos organizados (centrais,

estaduais e municipais) na defesa da maternidade e infância. Como também, começa

a sua atuação em quase todas as áreas de assistência social na busca de ações

permanentes (MESTRINER, 2011).

A área assistencial foi se estruturando nas relações entre a Sociedade Civil

dentro do âmbito estatal, pois as responsabilidades existentes eram “fáceis” de serem

administradas, pois não exigia o compromisso de uma política pública. Por isso, na

história da assistência deu-se a resistência do Estado em transformá-la em política, o

que somente veio acontecer no ano de 1988 (MESTRINER, 2012).

A principal diferença entre as práticas anteriores, a partir da Constituição

de 1988 e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) é que, como Assistência Social

ela se torna uma política pública, ou seja, direito do cidadão, portanto dever do Estado.

Como política pública perde o seu caráter de seletividade transformando-se em um

15 A Legião Brasileira de Assistência (LBA), primeiro órgão de proteção social de serviços assistenciais,

promoveu inicialmente suas ações por intermédio de instituições, utilizando a atribuição de subvenções para implementar o trabalho voluntário, influenciar a adoção de novas técnicas e procedimentos, introduzindo concepções e metodologia do serviço social. Por meio desse sistema indutivo, ganhou credibilidade e firmou sua centralidade na área da assistência social, fazendo inclusive, surgir a relação entre assistência social e o primeiro-damismo, visto que Getúlio Vargas encarregou sua esposa da direção desse órgão (MESTRINER, 2012, p.46).

36

princípio universal (SOUZA, 2008). Portanto ao ser elevada como status de política

pública,

[...] coube a assistência social a difícil tarefa de agregar as demais políticas sociais como forma de viabilizar-lhes o acesso. A assistência social, do ponto de vista legal, é, então a política que tem por objetivo possibilitar o acesso da população às demais políticas sociais, garantindo assim, o exercício da cidadania (SOUZA, 2008, p.86).

No campo jurídico, rompeu com a concepção de assistência como

benemerência social e dos seus destinatários como tutelados.

Por meio dela (LOAS), a assistência tornou-se uma instituição constitucional, integrante da estrutura política do Estado. A população em risco ou em vulnerabilidade social deixou de ser assistida ou favorecida para se tornar usuária e beneficiária. Uma instituição, cujo serviço propicia a universalização dos direitos sociais; ao contrário do clientelismo, que apenas conservava os privilégios e reproduzia os processos sociais de risco e vulnerabilidade social. Um serviço que, portanto não é uma simples prática, mas uma ação orientada institucionalmente e fundamentada numa concepção teórica que a transforma em uma ação política. Esse, aliás, o conceito adotado pela LOAS, em seu art. 1º, instituindo a assistência como um conjunto integrado de ações de iniciativas pública (SPOSATI 1995 apud SIMÕES, 2012, p.299).

A pobreza é um dos principais campos de atuação da Assistência, desde a

inserção dessas práticas no nosso País. O levantamento daqueles que mereciam ou

não o auxílio estava sob a responsabilidade daqueles que gerenciavam as ações.

Atualmente, a principal fonte de informações para calcular as taxas de

pobreza no Brasil é através dos dados do IBGE e a do CadÚnico (Cadastro Único)16

do Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome. São existentes também outras

formas de critérios como o Salário Mínimo, que elege ou não a determinados

benefícios como o BPC. A partir das características da sociedade brasileira, de sua

história, o enfrentamento da pauperização reclama que no seu bojo contenha o

fortalecimento da sociedade civil (SPOSATI, et al.,2010, p.25, grifo nosso).

No Brasil, salvo exceções, a pobreza até a década de 1930, não era

compreendida enquanto expressão da questão social. Quando esta se apresentava

era como questão para o Estado, de imediato reconhecido como “caso de polícia”.

Considerada, pois, a pobreza como problema pessoal do indivíduo (SPOSATI et al.,

2010).

16 O Cadastro Único é um sistema de informações sobre as condições sociais e econômicas de famílias

com renda, por pessoa, de até metade de um salário mínimo, ou renda total da família de até três salários mínimos. Disponível em: <http://www.fortaleza.ce.gov.br/semas/cadastro-unico>. Acesso em: 21 maio 2014, às 15:28 h.

37

Porém, o que se percebe atualmente, mesmo levando em consideração

todo o histórico da assistência no nosso País é que, no surgimento dessa nova via de

prestação de serviços, através de ONGs e outras instituições, perceptivelmente existe

mais uma saída para o Estado diante das suas reponsabilidades sociais,

possivelmente nunca assumidas de fato.

Tornando para o nosso campo, atualmente as organizações não

governamentais buscam modificar a realidade do entorno através de projetos que

mudem as condições precárias da comunidade. No caso do MSAA eles têm um algo

a mais, que é a inserção dos valores cristãos em alguns projetos.

A missão do MSAA já revela a bagagem da instituição cristã que pensa nos

projetos e executa. Como missão, a bandeira levantada pelo MSAA, é “Propagar o

evangelho, unidos em amor, atuando nas necessidades sociais da sociedade”. Ou

seja, o viés religioso encontra-se muito presente nas atividades dos projetos. A maioria

dos projetos acontece dentro do prédio da Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona,

as pessoas responsáveis pela execução dos projetos são membros da instituição

religiosa.

Podemos tentar conceituar como discutido acima, como sendo meras

práticas filantrópicas, entretanto concordando com Mestriner, essas ações de

filantropia, assistência e caridade sempre revelam a relação Estado/Sociedade e na

verdade escondem de fato a desigualdade social que permeia o nosso País desde o

seu descobrimento.

Desde as visitas realizadas, nas entrevistas, não conseguimos identificar a

troca de favor, como exposto acima por Faleiros, a obrigação de participar dos eventos

da igreja para receber tal benefício ou como pré-requisito para participar de outro.

Outro fator também discutível são as instituições de ONGs no meio das

comunidades buscando fornecer, de acordo com os seus princípios, os mínimos

direitos sociais através de parcerias com o Estado e as Instituições Privadas, mais

uma vez, percebemos as relações se entrecruzando, da qual tentaremos discutir a

seguir.

2.4 Atuação das ONGs e algumas críticas

A existência e atuação das ONGs no nosso País têm sido bastante

discutidas no decorrer dos últimos 20 anos. O seu protagonismo, no que tange a busca

38

pela garantia dos direitos, é vista como necessária, por alguns membros da Sociedade

Civil, quando eles explicitam as dificuldades da realidade brasileira, e por sua vez as

ONGs se colocam como as vozes dos excluídos dentro da sociedade.

Nas décadas de 1970-80 as ONGs surgiram como instituições de apoio aos

movimentos sociais e populares, davam todo o suporte aos movimentos na luta contra

o regime militar e pela democratização do País, elas preocupavam-se com a

representatividade das organizações populares, ajudando-as na organização, e na

conscientização. Eram consideradas ONGs cidadãs, de cunho movimentalista e/ou

militantes. Essa fase considerada de movimentalista trouxe inovações no que tange

as demandas sociais (GONH, 2005).

Para Gonh (2005), o que podemos perceber mais à frente, relacionado às

ONGs nas últimas décadas é que, o cenário em que ela se estabelecem deixa de ser

dentro dos movimentos sociais colocando-se à frente, como instituições autônomas e

desvinculadas do movimento. Às ONGs, em sua maioria:

[...] adotam perspectivas de intervenção direta no meio popular e não mais se posicionam apenas como executoras de atividade de assessoria. A intervenção direta confere às ONGs um novo protagonismo: trata-se de exercer um papel ativo, que tem como perspectiva produzir conhecimentos e democratizar informações; b) as ONGs se especializam em temas e assuntos tais como: atuação com mulheres sobre problemas de saúde, crianças e adolescentes (principalmente depois do estabelecimento do ECA); políticas públicas (saneamento, problemas urbanos, e especificidades no seu interior como o orçamento público), formação sindical, produção alternativa no campo (GOHN,2005, p.306, grifo nosso).

Outra característica para as organizações não governamentais

(FERNANDES, 1994, apud PINTO, 2006, p.655-656) é de que as ONGs não são

governamentais, não são lucrativas, não fazem parte de estruturas maiores, não são

representativas, não financiam. Elencam vários nãos, o que torna difícil a sua

definição.

As ONGs, entretanto, têm outras características importantes, ainda no campo do “não”: todas elas se apresentam como não-partidárias, mesmo assim, quer tomemos o Brasil como referência, que tomemos as reuniões alternativas promovidas pela ONGs nas grandes conferências da Organização das Nações Unidas – ONU durante a década de 1990, [...]. Em síntese, tantos as pequenas ONGs, muitas vezes ocupando-se de um problema muito localizado, como as grandes ONGs internacionais dividem a característica de serem organizações comprometidas com causas humanitárias que pretendem intervir para provocar mudanças nas condições de desigualdade e de exclusão (PINTO, 2006, p. 656).

39

Entretanto Camargo (2001) consegue definir essas instituições, o termo

ONG – Organização Não Governamental, referindo-se a um tipo especial de

organização, um agrupamento de pessoas, estruturado sob a forma de sociedade

civil, sem finalidades lucrativas, estabelecendo como um, dos seus principais

objetivos, lutar pelas causas coletivas ou apoia-las. E o grande predomínio dessas

organizações no nosso País,

[...] expressa, por um lado, a difusão de um paradigma global que mantém estreitos vínculos com o modelo neoliberal, na medida em que responde às exigências dos ajustes estruturais por ele determinados. Por outro lado, com o crescente abandono de vínculos orgânicos com os movimentos sociais que as caracterizava em períodos anteriores, a autonomização política das ONGs cria uma situação peculiar onde essas organizações são responsáveis perante as agências internacionais que as financiam e o Estado que as contrata como prestadoras de serviços, mas não perante a sociedade civil, da qual se intitulam representantes, nem tampouco perante os setores sociais de cujos interesses são portadoras, ou perante qualquer outra instância de caráter propriamente público. Por mais bem intencionadas que sejam, sua atuação traduz fundamentalmente os desejos de suas equipes diretivas (DAGNINO, 2004, p. 101).

Desta forma, parafraseando a autora acima, percebemos que as ONGs

passam a ter uma identidade própria, não estão mais ligadas com os movimentos

sociais, procuram agora a estabelecer parcerias com órgãos internacionais, e o

Estado passa a entender que junto com as ONGs podem constituir alianças. Na busca

da prestação de serviços à comunidade.

Essa linha é defendida por autores que acreditam que o Estado passou a

ver nas ONGs uma maior capacitação no trato com o usuário, em comparação com o

próprio Estado, uma maior experiência no trato das questões sociais, fortes vozes na

comunidade e o que levou em consequência a se tornarem parceiros governamentais.

A partir dessas articulações entre ONG (que denominando-se como Sociedade Civil)

e Estado percebe-se então a inserção das ONGs nas definições das políticas públicas

(BECKER, 2003).

Outros autores acreditam, que o Terceiro Setor e consequentemente as

ONGs, não passam de organizações, que foram concebidas com a ótica neoliberal,

com atribuições e atividades que antes pertenciam ao Estado (MONTAÑO, 2010). Na

verdade, segundo o autor:

[...] o que os autores chamam de “terceiro setor”, nem é terceiro, nem é setor – numa segmentação do social entre Estado, mercado e sociedade civil autônomos -, nem se refere às organizações desse setor – ONGs, instituições, fundações e outros (MONTAÑO, 2010, p.184).

40

Ainda em Montaño (2010) esse termo “terceiro setor” encontra-se

equivocado, pois nos leva a pensar que as organizações da sociedade civil nos

conduzem a uma desarticulação do real, nos propiciando um entendimento que essas

organizações são mais aceitas, pois, toma o lugar do Estado (1º setor) que é

burocrático e ineficiente e o do mercado (2° setor) que somente visa o lucro – para

responder as demandas sociais, as organizações assumem esse papel.

Montaño e Duriguetto (2010) comentam a esse respeito, dizendo que:

Com isto, os “atores” do chamado “terceiro setor” inserem-se (numa generalizada cooptação ideológica) num processo de ação social que se torna despolitizado e sustentado na suposta parceria entre classes e entre sujeitos com interesses antagônicos, supostamente perseguindo objetivos comuns: o combate à fome, à miséria, a defesa do meio ambiente etc. (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p.307).

A melhor compreensão do real conceito de Terceiro Setor nos leva a

identificar de uma maneira melhor o fenômeno das ONGs na sociedade brasileira.

Atualmente, segundo Fernandes (1994), a delimitação do Terceiro Setor

permite compreender que os três setores interagem e que Mercado e Estado não são

regidos somente por uma lógica intrínseca. Neste contexto, o comportamento do

Terceiro Setor de um País muito provavelmente influenciará as esferas políticas e

econômicas.

No que tange o campo organizacional, tomamos como referência o Manual

do Terceiro Setor, feito pelo Instituto Pro Bono17. Segundo o Manual, de acordo com

o Código Civil Brasileiro existe uma distinção entre as pessoas naturais (físicas) das

jurídicas. Quanto às pessoas jurídicas podem ser de direito público (interno ou

externo) ou de direito privado. As pessoas jurídicas de direito privado são subdivididas

nos termos do Código Civil, no artigo 44 em:

a) Sociedades:

- constituem em um agrupamento de pessoas que visam a um fim

econômico ou lucrativo, não se valendo de atividade mercantil, mas de

prestação de serviços ou do exercício de profissão.

b) Associações:

17 Fonte: http://www.abong.org.br/final/download/manualdoterceirosetor.pdf. Acesso em: 9 fev. 2014,

às 21:55.

41

- constituem também como um agrupamento de pessoas como as

sociedades, porém, as associações perseguem a defesa de

determinados interesses, sem ter o lucro como objetivo.

c) Fundações:

- constituem numa universidade de bens ou direitos, dotados de

personalidade e destinados a uma determinada finalidade social,

estabelecida pelo seu instituidor.

Com a Lei Nº 10.825/2003 as organizações religiosas e partidos também

se tornaram uma espécie de pessoa jurídica.

As denominações ONG, Instituição, Entidade, entre outros, não são

denominações jurídicas, e sim, ainda de acordo com o Manual do Terceiro Setor,

formas de autodenominação de pessoas jurídicas utilizadas no dia a dia, e muitas

vezes na razão social.

No campo quantitativo, no que tange as instituições que se consideram

vinculadas ao que chamamos de Terceiro Setor, desde 2002, o IPEA e o IBGE,

realizam um estudo sobre as Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos

(FASFIL). Tomando como referência a 20ª publicação, do estudo chamado de “As

Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil” do ano de 2010,

realizada pelo o IPEA e IBGE, em parceria com a ABONG e o GIFE, segundo o estudo

são levantados dois grupos de entidades: as voltadas para a defesa dos direitos e

interesses dos cidadãos e as religiosas. E que essas entidades religiosas são 82,9 mil

que administram diretamente serviços ou rituais religiosos, são isoladamente 28,5%

das FASFIL.

Das unidades religiosas, como já citado acima, a Lei N° 10.825/2003, que

no artigo 5º, no 1º inciso, traz a norma que é livre a criação, a organização, a

estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao

poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e

necessários ao seu funcionamento.

Retomando as ideias de Gohn (2005) é necessário também que levemos

em consideração as pesquisas de opinião realizadas por institutos de opinião pública

que legitimam a confiança da população nas ONGs. Pois muitas delas com poucos

recursos conseguem efetivar trabalhos positivos para a sociedade.

42

Nas ONGs, esta legitimidade é obtida porque a sociedade reconhece a

necessidade de atuação nas áreas-problemas, assim como conhece a inoperância do

Estado para resolver aqueles problemas (GOHN, 2005, p.306).

Com isso, as ONGs conseguem se justificar perante o Estado, Estado esse,

que provê o mínimo para as causas sociais, e as ONGs conseguem, geralmente, de

forma desburocratizada responder às necessidades das comunidades que delas

necessitam.

A crítica que autores diversos têm levantado é de que, até quando, o Estado

estará sendo desresponsabilizado das suas funções e instituindo a outros a

responsabilidade que lhe é própria. A esse respeito, Couto et al. (2012) diz que:

Ao priorizar o repasse e execução dos serviços, programas e projetos para as entidades, corre-se o risco dos serviços de responsabilidade do Estado serem terceirizados, ou serem efetuados dentro dos espaços como o Cras, com verbas e materiais públicos, por técnicos contratados sob condições empregatícias e de trabalho precarizado. (COUTO et al., 2012. p. 268).

Em apoio a essa visão, Pastorini mais uma vez reforça que a principal

causa do “encolhimento” do Estado, é que ele deixa de ser um Estado Intervencionista

desregulando as relações sociais é presente devido ao sistema econômico vigente, e,

além disso:

A ideia de desregulação faz parte do próprio corpo ideológico no neoliberalismo, colocando e redefinindo os papéis (do mercado, do Estado, do capital e do trabalho). É um Estado que desregula, regulando de uma outra forma, como diz Netto (1993), é um Estado mínimo para o social e máximo para o capital (PASTORINI, 2007, p.39).

Retrocesso este que é presenciado não somente nos estudos acadêmicos

ou na ausência de regulação dos programas e projetos realizados nas ONGs

brasileiras, o recebimento de recursos por parte de algumas ONGs se faz concretizar

aquilo que muitos criticam. Que não existe uma solidariedade entre Estado, Sociedade

Civil e Mercado, e sim a desresponsabilização de uns em detrimento de outros que,

se alguns estão atentos para o social, também outros utilizam de má fé dos recursos

vindos via Governo, desviando recursos, visando somente isenções fiscais e

mostrando a população a imagem de bons amigos.

Diante do Referencial Teórico proposto para fundamentar a nossa entrada

em campo e a nossa escrita, a partir do próximo capítulo nos aprofundaremos mais

nos projetos, funcionamento e usuários do MSAA.

43

3 O MSAA E SUA ATUAÇÃO: DEMANDAS, CONDIÇÕES DE TRABALHO E

FUNCIONAMENTO

Nesse capítulo será apresentado um histórico da ONG Ministério Social

Aliança em Ação, trazendo as percepções durante o período de observação e durante

a entrevista com os usuários. Dados sobre o funcionamento, estrutura e os projetos

realizados. Levantando também reflexões acerca da importância dos projetos para os

usuários entrevistados.

3.1 A criação do MSAA e os usuários atendidos: algumas reflexões

A Responsabilidade Social é tema debatido entre a Convenção Batista

Brasileira, dentre as várias considerações a respeito desse tema, destacamos

algumas a seguir18.

Segundo a Convenção Batista Brasileira, para a Responsabilidade Social

é levado em consideração o versículo bíblico de Mateus 22.39, onde é citada a

passagem “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, destacam também que a ação

social do cristão é entendida através de todo esforço no atendimento integral ao ser

humano buscando o seu desenvolvimento biopsicossocial e espiritual.

Na ação social, segundo o documento pesquisado, procura-se trabalhar as

causas dos problemas sociais e não apenas os efeitos delas, portanto consideram

que a ação social tem um teor maior de profundidade e responsabilidade. Em

consequência, tem-se a transformação social que visa remover barreiras sociais à

justiça social e ao desenvolvimento pleno de indivíduos e comunidades, buscando

criar uma sociedade mais justa e repleta do amor de Deus, e implica em, além de

outras coisas, ações sociais a nível estrutural e político, no sentido de envolver-se no

cenário público e em processos democráticos, para o bem público.

Ainda mediante analise do documento, identificamos que entre os

principais objetivos da Ação Social para os batistas brasileiros estão os de: Suscitar

entre os batistas brasileiros uma consciência de Responsabilidade Social capaz de

tomar a Ação Social uma realidade efetiva na prática da denominação, da igreja local

e dos crentes individualmente e transformar a sociedade e suas estrutura por meios

18 Disponível em: http://batistas.com/images/acao_social/FILOSOFIA%20DE%20RESPONSABILID

ADE%20SOCIAL%20DA%20CBB%20-%20012013.pdf. Acesso em: 21 maio 2014, às 11 h.

44

da influência junto a instituições existentes que atuam nas áreas de repercussão

social, atuação nas causas profundas que determinam a existência de injustiças e

sofrimentos na vida dos brasileiros, influência junto aos poderes públicos,

conferências, conselhos, em especial legislativo, com o objetivo de criar leis e

instituições necessárias à consecução dos objetivos de bem-estar social e da justiça.

Para finalizar, destacamos também que a Convenção Batista Brasileira

(CBB) entende que Ação Social, é todo o esforço compreendido em benefício do ser

humano em sociedade, relativo ao aprimoramento da organização social e das

condições dos indivíduos e das comunidades; aos problemas de relação do ser

humano com o capital e com o trabalho; à melhoria das condições de vida dos menos

favorecidos e marginalizados; aos esforços das pessoas, grupos e organizações em

prol de uma transformação social que se expresse em termos de dignidade humana,

melhor qualidade de vida e sustentabilidade social; à cooperação dos interessados

para instauração de uma ordem social mais humana, leis justas, influência sobre as

instituições, tentativas de reforma.

Diante do levantamento que expomos a respeito da Responsabilidade

Social para os Batistas Brasileiros, procuramos apresentar, diante da realidade da

Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona, como se realizam as ações voltadas para

a comunidade através de um breve histórico da instituição.

A Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona sempre teve em sua história

- 52 anos de criação em 2014 - ações que incluíam o atendimento as famílias mais

vulneráveis do Bairro Carlito Pamplona. De acordo com a responsável pelo MSAA, a

instituição sempre promoveu através do seu ministério de ação social19, projetos

voltados para a comunidade.

Com o passar dos anos os serviços foram se ampliando. Nas décadas de

1980 e 1990, a igreja passou a realizar cursos de profissionalização para a

comunidade, como corte de cabelo, maquiagem, artesanato, entre outros.

A partir de 2000, a Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona passa a

organizar administrativamente as ações sociais desenvolvidas. Em 2003 é escrito o

Estatuto Social e em 10 de Agosto de 2004 passa a existir uma pessoa jurídica

19 A definição do plano chamado Ministério Social Cristão da igreja está revelada pelo próprio nome -

um ministério que se expressa em mais que se expressa em mais que um método. É um plano pelo qual a igreja local, usando o seu prédio durante os dias úteis, pode atuar eficazmente no seu bairro, através de um programa de atividades variadas (CIRINO; GREENWOOD, 2012, p.29).

45

distinta, porém estatutariamente ligada à igreja, e a partir desse momento, o Ministério

Social Aliança em Ação passa a se reconhecer como ONG Ministério Social Aliança

em Ação passando a articular parcerias com entidades locais e internacionais,

ampliando também o número de pessoas atendidas na comunidade.

Nem sempre se faz necessário a criação de associação para a realização

de ações sociais, (CIRINO; GREENWOOD, 2012), porém percebe-se no histórico da

Igreja Batista Aliança que esse momento culminou devido aos estabelecimentos das

parcerias, como os trabalhos para o Curso de Informática e Cidadania (CDI), parcerias

com o SENAI para tratamento odontológico, Cursos de Inglês, Alfabetização de

Adultos, entre outros.

A criação do Estatuto foi um marco relevante da Igreja Batista Aliança em

Carlito Pamplona, onde através do Ministério Social Aliança em Ação buscou-se obter

cada vez mais respaldo da comunidade com suas ações, agora pensadas, segundo a

responsável do Ministério, para além do assistencialismo, uma visão de “Missão

Integral da Igreja” visando maiores parcerias e ampliação dos seus atendimentos.

Nesse período foi criado também o “Servir”, que é um seminário anual, de

nível estadual, com o objetivo de despertar às igrejas para o trabalho social, como

também à consciência política. Com o passar dos anos, o foco do seminário foi

mudado, no mês de Novembro – mês onde é realizado o Servir – tem-se uma semana

de prestação de serviços a comunidade, na área da saúde, beleza, recreação e

emissão de documentos. Mais recentemente, no ano de 2013, a igreja se mobilizou e

conseguiram arrecadar durante o mês do Servir, uma tonelada e meia de alimentos

que foram distribuídos no município de Bela Cruz, no Ceará.

O Ministério Social Aliança em Ação é atualmente uma associação20 de

personalidade civil e jurídica de fins não econômicos, sediada na cidade de Fortaleza,

na Rua Coelho da Fonseca, 287, Carlito Pamplona. É composto pelos membros da

Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona e das suas congregações que queiram

fazer parte, com foro jurídico em Fortaleza.

A associação tem por finalidade desenvolver trabalhos sociais, baseados

em princípios cristãos, trabalhando nas comunidades onde situa a referida instituição.

As atividades da associação são:

20 Fonte: Estatuto Social do Ministério Social Aliança em Ação, de 21 de setembro de 2003.

46

1. Promover atividades que visam divulgar informações úteis sobre saúde,

educação, habitação, urbanismo, segurança pública, lazer e todos os

outros aspectos da vida da população, através de cursos, palestras,

atividades artísticas, culturais, esportivas e recreativas, com o fim de

preparar os moradores para alcançar os seus objetivos comuns;

2. Promover pesquisas dos reais problemas das comunidades e elaborar

planos de urbanização e serviços que melhor convenham aos interesses

da população;

3. Desenvolver atividades que garantam a execução de programas e/ou

projetos de proteção socioeducativo destinados a menores;

4. Desenvolver programas e/ou projetos de proteção à família, maternidade

e infância, adolescência e velhice, promoção à integração do mercado

de trabalho, habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de

deficiência visando sua integração à vida comunitária;

5. Promover a articulação comunitária/institucional, visando o

fortalecimento das ações;

6. Participar de cursos de capacitação, encontros e outros eventos que

propiciem a melhoria das ações desenvolvidas.

O Estatuto também estabelece que a associação não tem fins lucrativos e

não distribui resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela do seu

patrimônio, sob nenhuma forma ou pretexto.

Durante as nossas pesquisas a responsável pelos projetos, nomeada entre

os membros da Igreja Batista Aliança para este fim, considera o Ministério Social

Aliança em Ação uma Organização Não Governamental. Porém, compreende que

com o passar dos anos, esse caráter de ONG foi se perdendo devido as diversas

limitações que foram se apresentando, dentre eles a finalização de alguns projetos e

a perda de parcerias com instituições internacionais e nacionais.

Atualmente a pessoa jurídica instituída para trazer a formalidade da

organização apenas é utilizada para o estabelecimento de parcerias existentes. Não

houve, conforme a nossa pesquisa, uma busca através dos anos pelo

estabelecimento de novas parcerias, por financiamentos externos, entre outros.

No que tange à estipulação de certificação de entidades beneficentes de

assistência social e a isenção para a seguridade social Lei 12.101, de 27 de novembro

de 2009, não se aplica ao MSAA, pois também não houve, através dos anos, a busca

47

pelo estabelecimento de parcerias como os governos municipais, estaduais ou

governamentais.

As verbas que atendem atualmente a ONG não vêm de setor público e nem

de parcerias internacionais, o que de certa forma também vem descaracterizar e

estabelecer um fim do que um dia foi considerada uma organização não

governamental, pela Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona.

Quanto à existência do MSAA como pessoa jurídica, por convenção

realizada pelos membros do Ministério Social Aliança em Ação, terá seu termino em

julho de 2014; as ações ainda continuarão sendo desenvolvidas pela igreja, porém a

pessoa jurídica será fechada e, também, a responsável precisará afastar-se de suas

atribuições por motivos pessoais. Atualmente o MSAA procura uma pessoa que se

torne a responsável geral pelos projetos.

Por fim, optamos durante o trabalho utilizar a denominação ONG por se

tratar de uma organização que não tem vínculos estabelecidos no âmbito

governamental, o que muito se assemelha com o que a sigla historicamente se

propõe, mesmo sabendo que atualmente as ONGs, na sua imensa maioria, para

realizar trabalhos sociais necessitam de vínculos com instituições privadas e

governamentais.

No Brasil, as entidades conhecidas como ONGs, caracterizadas como sem fins lucrativos, são constituídas sob a forma jurídica de associações e de fundações privadas. Porém, habitualmente, são identificadas como ONG, OSCIP, OS, Instituto, Instituição etc. ONG é uma tradução de Non-governmental organizations (NGO), expressão muito difundida no Brasil e utilizada, de uma forma geral, para identificar tanto associações como fundações sem fins lucrativos. Instituto, Instituição, por sua vez, é parte integrante do nome da associação ou fundação [...]. Portanto, associação e fundação são os dois modelos possíveis, de acordo com o Código Civil brasileiro, de constituição de pessoas jurídicas integrantes do Terceiro Setor, que podem também receber títulos de OSCIP, OS, dentre outros. (Disponível em: http://www.terceirosetoronline.com.br/ong-os-oscip/. Acesso em: 23/06/2014, às 00:34).

No que diz respeito aos recursos humanos, ocorre que em algumas ações

são necessárias a atuações dos membros da Igreja, que voluntariamente realizam o

trabalho e outros recebem, a depender do projeto, uma ajuda de custo.

A base territorial dos usuários dos projetos realizados pelo MSAA se

encontra na circunvizinhança da Igreja Batista Aliança, comunidade e membros

participam dos projetos, no caso do projeto Cesta Básica a quantidade de usuários já

é pré-estabelecida. A informação sobre quantitativo de pessoas que participam dos

48

projetos ao total não é levantado, pois, como algumas atividades são abertas a

comunidade, a participação é livre.

No caso dos beneficiados do projeto da Cesta Básica, maiores detalhes

serão apresentados no tópico 3.3 do presente trabalho, contudo, antecipamos que

nesse caso, por ser uma quantidade pré-estabelecida, tem-se alguns dados sobre as

famílias que recebem o benefício, os dados que nos referimos foram levantados em

conjunto com a ONG Ministério Social Aliança em Ação dia 08 de Maio de 2014.

Segue:

De aproximadamente 20 famílias que recebem o benefício:

25% dos usuários são pessoas que não tem nenhum tipo de renda, que

são considerados para o MSAA extremamente carentes.

50% dos usuários procuraram o benefício porque estão desempregados

temporariamente ou acometidos de alguma enfermidade.

25% se enquadram em outros motivos, como usuários que recebem um

(01) salário mínimo e/ou moram de aluguel e não tem como cobrir

despesas totais de âmbito alimentícios.

Quanto ao conhecimento dos projetos do MSAA, no que se fez revelar

durante as entrevistas, todos os entrevistados conheceram os projetos, que

participam, através de informações que diríamos ter sido feitas através da divulgação

“boca a boca”. Três dos entrevistados ficaram sabendo através de membros da Igreja

Batista Aliança em Carlito Pamplona. Os demais ficaram sabendo através de

terceiros.

O interesse em conhecer e continuar participando desses projetos, se dá

de forma individual, a depender de cada projeto. No caso da entrevistada do Projeto

Saúde, Bombeiros e Sociedade, o que mais foi relevante para a Interlocutora A, é que

ela precisava imediatamente realizar exercícios físicos para auxiliar no tratamento de

saúde. Para a Interlocutora B e a Interlocutora C, que recebem a Cesta Básica, no

caso da Interlocutora B percebemos a necessidade do benefício como ato

emergencial devido a problemas pessoais que acarretaram assim em dificuldades

financeiras e a Interlocutora C devido a situação financeiramente precária que

atualmente acomete a sua família.

No caso da Interlocutora D do projeto Feliz Idade informou que precisava

de algo para realizar no período da tarde e que convenientemente coincidiu com as

suas habilidades manuais. E que, através da ida até o projeto despertou o entusiasmo

49

antes adormecido. Para a Interlocutora E, a inserção no projeto foi uma oportunidade

para interagir com as pessoas através dos serviços manuais e para o Interlocutor F a

inserção se deu através de familiares que achavam o projeto oportuno para o

momento em que ele estava vivendo.

Eu fiquei sabendo através da “bombeirinha” que tava com a roupa, aí tinha o nome bombeiro e tal, e a que me indicou a doutora, faça nos bombeiros, aí eu vi o nome delas, porque eu moro aqui perto e eu vi elas passarem com o nome de bombeiro (blusa das participantes), aí eu me informei com elas, desde que eu adoeci eu vim para cá (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora A, Maio, 2014) Eu sempre via as pessoas passar (para buscar a cesta básica), ai quando foi um dia minha mãe conversou com alguém (do MSAA), não sei se foi com “nome preservado”, ou com alguém, não sei (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora B, Maio, 2014).

Ressaltam também, que através da sua introdução ao projeto conseguiram

alterar a rotina da sua vida, assim como a forma de encarar os problemas com mais

motivação.

Aqui é casual [conhecimento do projeto], [...] um dia, [nome preservado] chegou em casa e comecei a chorar né, [nome preservado] estou com depressão, como nós somos assim dois em um, somos muito ligado nós dois, ele sabe como conseguir as coisas comigo, aí ele disse mãe lá na Batista tem um projeto, ele falou daqui, [...], aí caso a senhora queira da uma passada lá ver como é, se a senhora gostar vai, se não gostar num faz, aí eu gostei da proposta dele. Aí vim, Deus foi tão maravilhoso para mim que na semana que eu vim estavam fazendo chinelo, eu tenho maior vontade de bordar chinelo, [...]. É tanto que na primeira semana, na primeira aula, no outro dia já fui no centro da cidade, comprei chinelo comprei material, e tenho, já estou fazendo alguma clientela, e gostei, aí depois dá risada, aí eu vi que eu comecei a ocupar a mente, não pensar em bobagem, não é para pensar em coisas que não era para pensar, gostei do projeto. Lamento que tenha poucas pessoas porque é um projeto muito bom (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora D, Maio, 2014).

Em nossa analise, as necessidades que vão sendo supridas através dos

projetos realizados pelo MSAA podem ser, por vezes, consideradas de cunho

emergêncial e assistencial. Contudo, na fala dos usuários existe um reconhecimento

que, os projetos conseguem alcançar, além de necessidades físicas, também anseios

emocionais, vem revelar que essa foi a porta mais “próxima” de obter algo que antes

não era proporcionado. Os projetos conseguem alcançar a subjetividade das pessoas,

fazendo com que elas alcancem a superação de problemas físicos e emocionais

através das atividades propostas.

Por outro lado, consideramos importante refletir os limites da organização,

pois, um ponto que se torna relevante apresentar, é que a instituição não possui

50

profissionais especializados para o trato das demandas dos usuários, todo recurso

humano vem através de voluntários - com exceção da responsável - que se identificam

com a proposta do projeto e se comprometem, junto a outros, a realizar a

programação das atividades. O que acaba possivelmente limitando os resultados dos

projetos, talvez com a inserção de profissionais, ou de uma equipe multidisciplinar

existisse um melhor acompanhamento das demandas e possíveis encaminhamentos

para os usuários, tornando os resultados mais respaldados perante a sociedade.

Diante do exposto nos propomos avançar um pouco mais na realidade do

Ministério Social Aliança em Ação, procurando compreender seu papel diante da

realidade desses usuários.

3.2 Observação e descrição do campo empírico: estrutura e funcionamento.

A ONG MSAA como citado anteriormente, localiza-se no Bairro Carlito

Pamplona, bairro considerado vulnerável, como analisado através dos dados do

IPECE 2010, que mostra o bairro na 83º posição em relação a renda per capita da

capital, no total de 119 bairros do município de Fortaleza. Com a população de mais

29 mil pessoas, a média de renda da população per capita é de R$ 500,01.21

Fortaleza que vive nos 10 bairros mais ricos se apropriam de 26% da renda pessoal total da cidade. Por outro lado, os 44 bairros de menor renda, que juntos somam quase metade da população total de Fortaleza (49%), se apropriam dos mesmos 26% da renda pessoal total. Esse quadro sugere uma forte concentração de renda em uma pequena área de Fortaleza. (IPECE, 2010).

Historicamente de acordo com a pesquisadora Leila Nobre, que possui um

site da internet sobre a história do Carlito Pamplona22, o bairro iniciou-se com a

construção da sede da fábrica Brasil Oiticica, a proximidade com ferrovia e da zona

fabril estimulou o crescimento e o aumento populacional nessa área.

O Carlito Pamplona é considerado pela pesquisadora Leila Nobre, como o

primeiro polo industrial do Ceará, em contrapartida, o bairro associado como bairro

industrial viu também crescer, em torno da sua área, comunidades de trabalhadores.

21 Fonte: http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/ipece-informe/informe%2042-ultimaversao.pdf. Aces-

so em: 1 mar. 2014 às 15:35 h. 22 Fonte: http://www.fortalezanobre.com.br/2010/10/carlito-pamplona-primeiro-bairro.html. Acesso em:

1 mar. 2014, às 22:00 h.

51

O que fez surgir o que a pesquisadora chama de Bolsões de Pobreza, o que hoje são

considerados os bairros mais violentos do município de Fortaleza, o Pirambu, Álvaro

Weyne e as Goiabeiras. Diante da realidade apresentada, frente às dificuldades que

enfrentam a comunidade do bairro Carlito Pamplona, é onde se insere o MSAA.

A estrutura física utilizada é a da própria Igreja Batista Aliança em Carlito

Pamplona, bem como, durante toda a semana, a igreja está aberta para o atendimento

dos usuários que demandam participar dos projetos realizados. A funcionária

responsável permanece na igreja de segunda à sexta em horário comercial. Caso

demande por parte da comunidade alguma informação e a responsável não se

encontre no local, funcionários da igreja realizam também esse serviço.

As visitas ao MSAA, para dar andamento ao presente trabalho ocorreram

nos meses de Março, Abril e Maio/2014. A observação inicial já tinha ocorrido durante

o 4º semestre do Curso de Serviço Social na Faculdade Cearense (2012), quando,

para o projeto de pesquisa, precisamos coletar algumas informações para o

embasamento do projeto, porém, a visita foi bem informal, necessitando durante o

período de monografia conhecer mais a instituição.

Durante uma conversa, na primeira visita à responsável, tratando sobre o

propósito do presente trabalho, apresentou-se uma senhora montada em sua bicicleta

procurando-a. A senhora veio trazendo os documentos para participar do

fornecimento da cesta básica, além da xerox desses documentos (RG e comprovante

de endereço). A responsável nos informou que a Sra. M estava no projeto já fazia

alguns meses, mas somente naquele momento trouxe os documentos para oficializar

o cadastro. Para o cadastro no projeto da Cesta Básica são solicitadas algumas

informações, que em muito se parecem com a entrevista proposta pela pesquisadora:

dados como renda familiar, condição de moradia, entre outros. Na ocasião, a

responsável nos permitiu participar das perguntas do cadastro. A situação notada por

nós, em relação a Sra. M. é de perceptível carência econômica, conforme relatado ela

e sua filha vivem com o vírus HIV/AIDS, moram em casa cedida, recebe ajuda dos

vizinhos, que reside no Bairro Álvaro Weyne e informa que necessita demais da cesta

básica. Perguntada se ela conhece o Hospital São José, respondeu que sim, e que a

Assistente Social do hospital está “ajeitando a aposentadoria dela” e que assim que

“desse certo” ela pediria o desligamento do recebimento das cestas.

Durante todo o momento a Sra. M. se queixou de coceiras, e enquanto a

responsável ausentou-se do ambiente, ela nos perguntou se trabalhávamos lá, e

52

informamos que não, que nossa condição era de estudante. Questionou também se

poderíamos dar algum dinheiro para ela comprar uma pomada para aliviar o incômodo

das coceiras. A responsável, que já havia retornado, informou que o MSAA não possui

esse tipo de atendimento, com repasse financeiro. Sugerimos que quando ela tivesse

em atendimento no HSJ solicitasse o remédio correto para aquela enfermidade. A Sra.

M. agradeceu a cesta que recebeu da funcionária, colocou na garupa da bicicleta e

retornou para a sua residência (Caderno de Campo, Março, 2014).

Nesse primeiro contato com o campo, um fato chamou a atenção dessa

pesquisadora: durante o momento de cadastro da Sra. M. a responsável informou que,

infelizmente não poderia fornecer cestas básicas para todas as pessoas que

buscavam aquele auxílio, e que era importante que a Sra. M. não divulgasse o

recebimento desse benefício para os seus conhecidos. Isso se deve ao fato da não-

regularidade na arrecadação dos alimentos, pois, não é sempre que o alvo mensal,

que depende dos membros da igreja, é atingido; mesmo desenvolvendo um trabalho

com aproximadamente 20 famílias é comum faltar algum item na cesta.

Conforme conversa com a responsável da ONG, o MSAA finaliza um

período, como exposto no tópico (3.1); e na visão da responsável a ONG sempre

buscou inovar nos seus serviços, procurando sempre alcançar a comunidade. Vários

projetos iniciados desde a criação da ONG permanecem até hoje. Outros foram

substituídos ou finalizados por dificuldades em conciliar facilitadores, recursos

escassos, mas outros, tomaram proporções maiores como o Projeto Espaço Voar.

Maiores detalhamentos, sobre os projetos realizados, faremos no próximo tópico.

3.3 Os projetos desenvolvidos e sua atuação.

Explanaremos os projetos que mais se destacaram durante o período de

existência do MSAA23.

O projeto/programa de distribuição de cestas básicas atualmente beneficia

entre 15 e 20 famílias, que de seis em seis meses passam por uma avaliação para

confirmar a necessidade de continuar ou não recebendo o benefício. O público alvo

são pessoas da comunidade e também da Igreja Batista Aliança em Carlito Pamplona

que estejam necessitando em situação emergencial. A arrecadação dos itens da cesta

23 Todas as informações foram colhidas na sede da ONG e complementadas em consultas via internet.

53

é feita nos cultos através de ofertas de mantimentos e dinheiro. Cada mini cesta

contém os seguintes itens: 2 kg de arroz, 1 kg de feijão, 1 kg de farinha, 1litro de óleo,

1 pacote de macarrão e 1 pacote de farinha de trigo. As cestas são preparadas por

três pessoas responsáveis na 3ª quinta-feira do mês pela manhã. A entrega das

cestas é feita na 3ª quinta-feira do mês no período da tarde a partir das 16 horas. No

mês de Dezembro é realizado para todas as famílias uma Confraternização Natalina.

E o cadastramento de novas pessoas é feito durante os meses de janeiro e julho.

O projeto Jovem Bombeiro Voluntário – JBVC, funcionou do ano de 2009

até o ano de 2011 em parceira com o Corpo de Bombeiros do Ceará. O projeto tinha

como objetivo educar adolescentes e jovens da comunidade para saberem como agir

diante de situações de emergência através da educação preventiva, com aulas

práticas e teóricas. Atualmente esse projeto encontra-se suspenso devido à falta de

horário dos bombeiros (facilitadores) que realizam esse trabalho.

O projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade24 é ofertado desde 2009, também

em parceria com os bombeiros, e tem movimentado os idosos do entorno da Igreja

Batista aliança. O projeto tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos idosos

por meio de atividade físicas, com hábitos saudáveis de alimentação e integração

social. O local do encontro é na Casa do Cantador, um local próximo a igreja com

bastante espaço para os idosos realizarem atividades aeróbicas. Atualmente o

encontro acontece nos dias de terça e quinta-feira a partir das 17 horas, e tem duração

de aproximadamente uma hora. Durante o ano são realizadas festas para os homens

e mulheres que participam do projeto, como Chá de Boas Vindas, Festa do Dia das

Mães, Festa Junina, bem como, a Confraternização Natalina. O cadastramento é feito

sempre no começo do ano, e existem também reuniões a cada dois meses no Centro

de Treinamento e Desenvolvimento Humano ou no Quartel Central dos Bombeiros.

Duas pessoas são responsáveis pelas atividades realizadas pelo projeto.

O Programa de Educação Pré-Escolar – PEPE é um projeto de cunho

educacional voltado para crianças de bairros carentes, com faixa etária de quatro a

seis anos. O programa encerrou-se devido à falta de recursos, pois, este no seu

cronograma, continha várias etapas, que ao final tornava o projeto muito dispendioso

para a realidade do MSAA, bem como, a perceptível falta de interesse dos pais

24 Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/projetodesaudebeneficiaidosos

-1.405034. Acesso em: 04 maio 2014, às 19h23.

54

observada pela equipe que trabalhava no PEPE. O projeto contava com um facilitador

que recebia uma ajuda de custo no valor de meio salário mínimo.

O projeto Espeço Voar - decolando na leitura, na matemática e na vida25

nasceu da observação e inquietação diante da realidade de crianças em áreas menos

privilegiadas do Estado do Ceará. O projeto foi criado por Maria Paz de Brito e Suzana

Greenwood e funcionou nas dependências da Igreja Batista Aliança durante o ano de

2008 até 2010. A faixa etária das crianças que participavam do projeto era de sete a

onze anos. O projeto tem como objetivo geral de proporcionar à criança um ambiente

que estimula o amor pelos estudos, valores morais, espirituais e sociais. Atualmente,

o projeto não é mais realizado pelo MSAA, porém, ainda existe em outros locais, o

projeto gerado na Igreja Batista Aliança ganhou notoriedade nacional, fazendo parte

hoje de várias comunidades do País.

O programa Celebrando a Restauração é um programa bíblico que tem

como objetivo ajudar as pessoas a superar seus traumas, vícios e maus hábitos. A

reunião na Igreja Batista Aliança acontece toda segunda-feira às 19h30min no prédio

anexo da igreja, participam pessoas entre jovens e adultos que buscam superar na

sua grande maioria vícios como o alcoolismo e a drogadição. As reuniões inicialmente

com o grupo todo e depois se dividem em grupos menores onde irão compartilhar dos

seus problemas. Duas pessoas são responsáveis pelas atividades realizadas.

O CR da Igreja Batista Aliança tem apoiado o projeto Reciclando Vidas26

que é uma ONG que trabalha com responsabilidade socioambiental há três anos, que

tem estabelecido parcerias com as iniciativas públicas e privada, visando à reinserção

familiar, social, econômica, educacional e no trabalho. Além de realizar a coleta

seletiva de lixo, a ONG promove palestras de sensibilização da preservação da

natureza e da vida humana, bem como combate o uso e abuso de drogas realizando

o tratamento do dependente químico e dos seus codependentes. Atualmente o

Ministério Social Aliança em Ação custeia uma pessoa no Reciclando Vidas, para

tratamento contra a drogadição, com o fornecimento de alimento, produto de higiene

pessoal e roupas.

O programa de Consultas Médicas, opera desde 2003 através de uma

parceria firmada com o Dr. Elpídio Nogueira para o fornecimento de atendimento

25 Fonte: http://www.batistasunidos.com.br/espaco-voar/. Acesso em: 06 maio 2014, às 10h:34. 26 Fonte: http://reciclandovidasce.org.br/quem-somos/reciclando-vidas/. Acesso em: 06 maio 2014, às

10h51.

55

ginecológico e obstétrico às mulheres da comunidade. Uma vez por mês o médico

atendia por volta de 20 a 25 mulheres sem nenhuma cobrança. O projeto está

suspenso temporariamente devido agenda do profissional médico.

O projeto Feliz Idade completou, em 2014, um ano. O objetivo do projeto é

contribuir para um envelhecimento com qualidade de vida. A proposta é trabalhar com

pessoas a partir de 50 anos (igreja e comunidade), para que tenham momentos de

descontração e juntas desenvolvam sua criatividade e habilidades. O foco do projeto

é trabalhar com o artesanato, com materiais recicláveis, confecção de bijuterias,

palestras sobre saúde e momentos de lazer. Além de palestras com assuntos de

interesses dessa faixa-etária, e entretenimentos. As atividades do projeto ocorrem às

sextas-feiras a partir das 16 horas, contudo, conforme funcionária do MSAA, os idosos

começam a chegar às dependências da igreja a partir das 14h, devido ao entusiasmo

que alguns sentem em participar desse projeto; duas pessoas são responsáveis pelas

atividades realizadas pelo projeto Feliz Idade.

Ao longo dos anos outros projetos também fizeram parte do MSAA, e

consideramos relevante elencar tanto os projetos que estão em atuação hoje como os

que não são mais realizados pela ONG, isso se fez necessário para compreendermos

a dimensão do alcance social que os projetos possuem.

Acreditamos ser relevante a opinião dos interlocutores a respeito dos

projetos que participam. Por isso, em uma questão da entrevista, abordamos o que

poderia ser melhorado no projeto do qual os usuários faziam parte. Para as duas

entrevistadas do projeto Feliz Idade a melhoria na divulgação do projeto seria ideal

para alcançar mais pessoas. Do projeto Celebrando Restauração a melhoria do

espaço físico onde acontecem as reuniões, seria algo que deveria acontecer.

No caso das entrevistadas que recebem o benefício da Cesta Básica, foram

unânimes em afirmar que em nada precisava melhorar, que estavam satisfeitas com

o projeto.

O que poderia melhorar? (risos) pra mim tá bom, o que poderia melhorar... (risos) é porque eu não entendo muito de projetos. Assim não tem nem como [...] Não para mim tá ótimo, até porque eu estou recebendo agora e não tenho muito que falar entendeu. Estou sendo sincera, bem sincera. (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora B, Maio, 2014).

Eu não sei nem dizer, é porque já está tão bom, bom demais. “Ave Maria”, melhor do que isso, meu Deus do céu. (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora C, Maio, 2014).

56

Durante o processo de entrevista, tentando compreender as respostas

através de um olhar diferenciado, não conseguimos perceber constrangimento ou

receio de dar sugestões, o que mais ficou evidenciado para a pesquisadora, acredito

ter sido uma possível insegurança ou um pensamento de uma possível incapacidade

de propor melhorias para o projeto.

Outra perspectiva que podemos ressaltar é que pode existir uma

complacência do que está sendo fornecido para elas. Talvez uma indicação de

submissão para aquilo que de forma imediata consegue suprir as suas necessidades.

Elas não conseguem nem imaginar uma melhoria. Podendo vir, a demonstrar também

uma falta de perspectiva diante do futuro.

No próximo tópico, continuaremos através das falas dos sujeitos

entrevistados, alcançar dados sobre os desafios da garantia dos direitos sociais e

sobre a importância dos projetos na vida deles.

3.4 A importância dos projetos realizados pela ONG Ministério Social Aliança em

Ação e os desafios na garantia dos direitos sociais.

Como antes mencionado, alguns projetos tocam os direitos sociais

estabelecidos pela Constituição Federal do Brasil de 1988, reiterando os direitos

sociais já abordados no tópico 2.1, são direitos sociais o direito a educação, a saúde,

a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e a infância, a assistência aos desamparados, que se

constituíram como conquistas da população brasileira através dos anos.

Porém, o levantamento desses direitos não necessariamente contempla a

sua efetividade, percebemos isso diante das falas apresentadas dos usuários.

Depende-se muito mais do favor humano - não desconsiderando as políticas

existentes e seus resultados- do que a atuação do Estado, na busca de atender as

necessidades dos cidadãos. Quando questionado sobre a atuação do Estado na

garantia dos direitos sociais. “Podia ser, mas faz tanto tempo que eu ganho assim a

cesta básica da igreja e nunca veio nenhum (projeto do governo), que chegasse a

oferecer nem nada”. (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora C, Maio,

2014).

Consideramos importante tocar nesse assunto durante as entrevistas,

porém, no decorrer da coleta das informações, percebemos que a maioria dos

57

usuários não entendiam ou não conheciam quais eram os seus direitos ou opinaram

como deveria ser. A pesquisadora teve que fazer um brevíssimo resgate sobre os

direitos sociais em alguns momentos da entrevista. “Oferecendo aquilo que o governo

não supre. [...] Assim os eventos que eles fazem né, sabe aqueles programas que tem

até dentista? [...] Ação social, deveria incluir a entrega das cestas e isso ajuda muito”

(Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora B, Maio, 2014).

Eu acho que é assim, o Estado deixa a desejar, ou seja, deveria assim o projeto do governo, deveria ter um projeto que cada bairro tivesse ou uma instituição que só para a terceira idade, projetos para trabalhar mais com a terceira idade entendeu? Aqui nós temos no SESC, mais o SESC para se locomover é mais difícil, seria assim no bairro entendeu? Então é para suprir a necessidade (os projetos realizados pela ONG MSAA), aquilo que o governo deixa muito a desejar (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora E, Maio, 2014).

Outra entrevistada, não conseguiu compreender ao questionamento,

apenas manifestou a vontade de participar de mais projetos relacionados à área de

saúde. Outro interlocutor respondeu que existem sim, projetos iguais ao que ele

participa, no caso o Projeto CR, a diferença está diante do comprometimento da

pessoa, pois a própria pessoa tem que querer mudar e se dedicar a isso, e que

independentemente do projeto ser promovido pelo Estado ou por uma Igreja a

recuperação é de cunho individual. Essas colocações expressam aquilo que

ressaltamos em nossas análises: uma desresponsabilização por parte do Estado e

uma culpabilização ao indivíduo. Seria oportuno também comparar a ideia de que a

superação é individual, como algo também que é muito peculiar dentro do nosso

sistema econômico neoliberal.

Contudo, o mais intrigante é que não por acaso, os usuários em busca de

novas alternativas através das organizações não-governamentais, na busca pelo

“refúgio”, acabam na maioria das vezes esquecendo o papel das instituições

governamentais, esvaziando espaços já existentes, e enfraquecendo a luta dos

usuários que estão em projetos verdadeiramente governamentais, consequentemente

enfraquecendo a sua própria luta.

Corroborando essa pressuposição, evidencia-se através dos dados

coletados, que nenhum dos entrevistados participa de outros projetos de mesmo

caráter em equipamentos públicos, como rodas de conversas, oficinas nos CRAS,

CAPS, entre outros. Ainda quando durante a conversa sobre projetos da ONG MSAA

realizando um possível papel que os projetos governamentais não realizam, a

58

entrevistada replicou, dizendo: “Se bem que tem né, o governo, no centro comunitário

da periferia, no meu caso é que eu fui privilegiada [com a participação no projeto da

ONG MSAA]” (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora D, Maio, 2014).

Quanto ao nosso objetivo principal, que é de investigar e analisar a

importância dos projetos do MSAA na vida dos usuários atendidos, que se deu através

de uma das questões da entrevista, conforme nossa avaliação, isso se deu de forma

bastante objetiva, pois não foi solicitado uma história de vida, nem solicitado do

entrevistado um resgate através de suas memórias até o ponto que eles conheceram

o projeto e a partir disso de que forma eles estão atualmente. Talvez por isso,

conseguimos atingir palavras ou frases que explicitam adequadamente o fenômeno

que pretendemos estudar, logicamente que não finalizando em nossa pesquisa.

Tivemos a oportunidade de realizar a visita na residência de uma das

entrevistadas. Quando adentramos no conjunto de casas no qual a entrevistada

morava, prontamente fomos atendidos e em meio aos afazeres da dona de casa,

puxou-se uma cadeira de balanço e a entrevista aconteceu informalmente. Diante da

realidade apresentada, casa de aluguel, a única renda da família era a sua

aposentadoria, que conforme a entrevistada, não conseguia suprir a necessidade de

alimentação que a família necessita. O recebimento da Cesta Básica é a única

alternativa, mesmo que mínima, para por um período curto do mês, de compor os

mantimentos alimentícios. Diante disso, quando questionada sobre a importância do

projeto a entrevistada diz, “Ah, muda tudo, porque a gente tem o que comer em casa.

Aí já é outra coisa, muda tudo” (Depoimento concedido em entrevista pela

Interlocutora C, Maio, 2014).

Uma das entrevistadas nos informou que recebe o benefício do Bolsa

Família e que trabalha informalmente, o benefício recebido através do projeto lhe

ajuda a suprir outras necessidades.

Bom, me ajuda muito, porque eu pego aqui e compro alguma coisa para o meu filho, pago as contas, porque junta o Bolsa Família com o que eu faço, é um complemento, ajuda bastante (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora B, Maio, 2014).

Para os outros entrevistados a perspectiva por eles apresentada é outra,

não deixando de ser uma necessidade imediata, a importância dos projetos ocorre

muito mais significativamente na busca pela superação dos problemas de saúde, de

caráter físico ou psicológico. “A importância é que eu diminui de 94 quilos e agora

59

estou com 88 quilos, eu faço mais para perder a gordura localizada e então, que é

bom para a saúde” (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora A, Maio,

2014, em relação ao projeto dos bombeiros - saúde).

Ocupar a mente, ocupar a mente, é mente ocupada, ocupar a mente. Porque quando não tinha esse projeto eu ficava o que em casa, televisão muito medíocre, não tinha programação que preste. É ler a Bíblia, sou muito sincera em dizer, muito cansativo, muitas vezes, a gente não está nem preparada para decifrar o que tem na Bíblia se ela não for uma leitura moderna, se for uma leitura antiga piorou. E aí eu ficava deitada, ligava o ventilador, ficava deitada, colocava a casa toda em ordem, lavava a roupa. Aí no período da tarde eu ficava ociosa mesmo, aí vamos pensar o que não é para pensar. Decepções não sei de onde, hoje eu não tempo para isso (Depoimento concedido em entrevista pela Interlocutora D, Maio, 2014).

A importância do projeto para o próximo entrevistado, é que trouxe para ele

uma mudança de vida, da sua realidade, superação das suas dificuldades.

A importância que ele teve foi à restauração na verdade, que eu, a minha vida estava completamente degradada e foi através do CR que eu comecei a olhar para a minha vida como ela deve ser vista. Mudou no lado físico, eu comecei a olhar para mim como pessoa, através do CR. Mudou tudo porque eu mudei meus hábitos que me prejudicava, eu pude ver o que me levava a esses atos, tratar especificamente os problemas que afetavam a minha vida. Especificamente as drogas. (Depoimento concedido em entrevista pelo Interlocutor F, Maio, 2014).

A análise dos dados através das entrevistas propõe possivelmente

tentativas de enfrentamento das desigualdades sociais de forma focalizada e

imediata, quando tomamos como base o nosso referencial teórico.

O desafio que está proposto no cotidiano é a superação do fenômeno que

atingi a garantia dos direitos sociais, que podem estar sendo violados através de

projetos idealizados e promovidos pela Sociedade Civil, descaracterizando o papel do

Estado, descaracterização que é amplamente promovida pela a política neoliberal que

submerge o nosso País.

[...] a inexistência de uma política mais ampla que articule as ações assistenciais, explicite competências e defina a alocação de recursos para as diversas instâncias de governo acaba por estimular ações emergenciais e circunstanciais em que não se altera o perfil da desigualdade e se nega a dimensão redistributiva que deveria orientar a intervenção no campo da política assistencial. (YAZBEK, 1999, p. 51)

O funcionamento de organizações que se propõem a garantir os direitos

sociais, carregam em seu cerne apenas a complementação de projetos

governamentais, ou seja, já se encontram limitadas dentro de um contexto social muito

maior do que elas podem alcançar. Por isso, que na sua grande maioria exercem

60

resultados mínimos frente ao máximo de investimento possível. Porque não é

atribuição total delas a garantia desses direitos. Consequentemente, apresenta

novamente as “velhas” relações de filantropia antes combatidas com a proposta da

criação de uma política pública no âmbito assistencial.

No caso do MSAA podemos concluir diante do que expomos, que os

serviços oferecidos, apresentam na sua concepção as noções antes debatidas como

filantrópicas, tanto devido ao seu projeto está vinculado a uma instituição religiosa,

quanto ao papel que essas organizações exercem dentro da sociedade brasileira,

dissociando da concepção da garantia dos direitos sociais, como no direito a

alimentação no que se refere ao projeto da Cesta Básica e a saúde (na busca pela

qualidade de vida e lazer) mediante aos projetos Saúde, Bombeiros e Sociedade,

Projeto Feliz Idade e Celebrando Restauração.

Entretanto, não podemos estar alheios às graves desigualdades sociais

enfrentadas pela população brasileira, que deixa a população sem alternativas, a

mercê da solidariedade, uma grande parte da sociedade que evidentemente mais

sofre com as crises financeiras, com a quase inexistente distribuição de renda, com

os péssimos investimentos públicos em obras que somente beneficiam interesses

particulares.

Não é de se admirar que quanto ao questionamento de duas das

entrevistadas, sobre possíveis sugestões que pudessem melhorar no projeto, o que

nos foi respondido é que em nada precisava melhorar no projeto existente, porque

“tudo já estava tão bom”. Ou seja, já não temos muita coisa, não temos moradia,

possuo o Bolsa Família que não consegue alcançar todas as minhas despesas, então

sensação que nos passa é para que melhorar? Se “melhorar estraga”.

A luta por melhores condições de vida demanda da população estratégias

diárias que superem as suas dificuldades do “aqui e agora”. E as instituições

religiosas, organizações, fundações, entre outros, hoje em todo o País ainda

conseguem alcançar significativamente essa população em vulnerabilidade.

Na utopia da pesquisadora, que em um futuro próximo, elas (as ONGs) não

deixem de existir, mas que sejam uma segunda opção no trato das desigualdades

sociais que enfrentam a população brasileira.

61

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A trajetória que propomos estabelecer quando construímos a base do

nosso trabalho não termina com as discussões propostas desde o início das nossas

indagações e nem representa o encerramento a respeito desse assunto.

Diante de toda a história do Estado e da Sociedade Civil, o entendimento

que se tem é que, de todas as relações estabelecidas entre as partes, sempre haverá

algo mais para se discutir, principalmente no que se diz respeito ao trato das

desigualdades sociais.

Não é tarefa fácil estabelecer o quanto as ações do Estado têm sido

diminuídas através dos anos, a partir de então surgem novos atores – talvez não tão

novos assim – que de forma desburocratizada conseguem perceber as dificuldades

enfrentadas pela população carente ao seu redor, analisam e implementam os seus

próprios trabalhos na busca pela garantia mínima dos direitos sociais.

A pesquisa atingiu as expectativas propostas. Além de ampliar a

compreensão da pesquisadora a respeito do tema e do campo, a pesquisa apontou

que os projetos da ONG Ministério Social Aliança em Ação tem ampla importância na

vida dos usuários atendidos. Além das necessidades físicas, percebemos também

que necessidades emocionais são supridas, sendo inclusive citadas durante a fala dos

usuários.

Demonstramos também como funcionam os projetos realizados pelo

Ministério Social Aliança em Ação e como se dá o acesso dos usuários aos projetos.

Bem como, opinião dos entrevistados a respeito do que poderia melhorar. Levantamos

também durante as entrevistas breves dados socioeconômicos para a melhor

compreensão do universo pesquisado.

Lamentavelmente, não conseguimos estabelecer um maior número de

interlocutores devido à dupla jornada da pesquisadora, vínculo empregatício durante

manhã/tarde e estudos acadêmicos durante a noite. As entrevistas precisariam

acontecer minimamente durante o horário dos projetos, que na sua grande maioria

acontecem durante o período da manhã e da tarde. Oportunamente, nos foi concedido

a listagem de possíveis usuários e seus correspondentes projetos e durante o período

de maio/2014 aconteceram as entrevistas.

62

Não tivemos muitas dificuldades para a realização das entrevistas com os

interlocutores, todos se mostraram receptivos e prontamente atenderam as nossas

perguntas.

A pesquisa nos apresenta que os projetos realizados conseguem modificar

a realidade dos usuários participantes. Concluímos, pois, que o Ministério Social

Aliança em Ação, a partir do que, conseguimos alcançar com as entrevistas, realiza

um trabalho efetivo diante da proposta de cada projeto.

Quanto a metodologia escolhida se tornou a melhor opção para que o

trabalho conseguisse alcançar os objetivos propostos.

Tentamos estabelecer um diálogo com os autores apresentados mediante

o estabelecimento de conceitos-chave para o embasamento e delimitação da nossa

pesquisa. Procuramos contemplar autores conceituados dentro do Curso de Serviço

Social, como forma de enobrecer a categoria da qual pretendemos em breve fazer

parte.

Entretanto, apontamentos devem ser registrados, dentre eles a dificuldade

da pesquisadora de compreender até que ponto existe de fato uma Organização Não

governamental estabelecida dentro da Igreja Batista Aliança? Se a criação da ONG

anuncia o estabelecimento de parcerias, uma proposta de organização administrativa,

porque percebemos o fim eminente da pessoa jurídica, o último resquício do que a

ONG já fora nos anos anteriores?

Podemos elencar diversos fatores que podem ter sido cruciais para a

finalização da ONG Ministério Social Aliança em Ação, a possível falta de profissionais

qualificados para o acompanhamento dos projetos, provável falta de interesse na

busca parcerias com outras ONGs, limitação do espaço físico, a maioria dos projetos

acontecem dentro da estrutura física da Igreja Batista. A possível falta de diálogo com

a população para o levantamento de demandas que surgiriam e que possivelmente

tornariam efetivo o sucesso dos projetos. Os projetos realizados são propostas que a

ONG oferece para a população, ou seja, foram pensadas para a população através

dos membros da Igreja Batista Aliança e não planejadas juntamente com os usuários.

Perceptível também é o não reconhecimento da existência da ONG por

parte dos usuários atendidos27. Todos reconhecem a importância dos projetos na sua

27 Entende-se que todos atribuam os projetos e programas à Igreja Batista Aliança, porquê, na verdade

a ONG “pertence” à igreja, e é isso que todos entendem e acreditam.

63

vida, porém, apontam para a realização dos projetos em relação a Igreja Batista

Aliança em Carlito Pamplona, o que de fato é o que foi visto durante a pesquisa.

Diante do que vivemos durante o percurso do trabalho, percebemos

inúmeras questões que poderão ser estudadas e que da mesma forma contribuirão

para o debate das ações realizadas pelo MSAA. Dentre elas, destacamos, porque o

Ministério Social Aliança em Ação nunca buscou recursos financeiros externos?

Alguns projetos citados na pesquisa acabaram, além de outros motivos, devido à falta

de recursos dos mantimentos necessários para o funcionamento do projeto.

Acreditamos que o nosso trabalho também possa servir para apresentar

um dos “novos” espaços de atuação do Assistente Social, pois, seja em que campo

ele vier a intervir, o profissional deve estar comprometido com os valores ético-

políticos da profissão, não se conformando com o que está exposto no cotidiano, mas

buscando a superação e a consolidação dos direitos dos usuários.

64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA, Myrian Veras. A investigação em serviço social. São Paulo: Veras Editora; Lisboa [Portugal]: CPIHTS, 2006. BECKER, Daniel. Organizações da sociedade civil e políticas públicas em saúde. In: GARCIA, Joana; LANDIM, Leilah; DAHMER, Tatiana. Sociedades & políticas: novos debates entre ONGs e universidade. Rio de Janeiro: Revan, 2003. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: Fundamentos e História. São

Paulo: Cortez, 2006. BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006. BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade - para uma teoria geral da política. 14 ed. Trad. Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Paz e Terra, 2007.

BOSCHETTI, Ivanete et al. Capitalismo em Crise. Política social e direitos, São

Paulo: Cortez, 2011. CAMARGO, Mariângela Franco. Gestão do Terceiro Setor no Brasil. São Paulo: Futura, 2001. CARVALHO, Maria C. Brant, Introdução à tematica da gestão do social. In:

AVILA, C. M (Coord.) Gestão de projetos sociais. 3 ed. São Paulo: AAPCS – Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária, 2001, p.13-19 (Coleção gestores sociais). CERVO, Amado Luís; BERVIAN, Pedro A.; DA SILVA, Roberto. Metodologia Científica. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

CIRINO, Alice C. B.; GREENWOOD, Mark E. Ministério Social Cristão: base bíblica, mobilização da igreja e ações práticas. Rio de Janeiro: Convicção Editora, 2012. COUTO, Berenice Rojas (Orgs.) [et.al]. O sistema único de assistência social no Brasil: uma realidade em movimento. 3 ed ver. e atual. São Paulo: Cortez, 2012. CURY, T.C.H. Elaboração de projetos sociais. In: AVILA, C. M (Coord.) Gestão de projetos sociais. 3 ed. São Paulo: AAPCS – Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária, 2001, p.37-59 (Coleção gestores sociais). DAGNINO, Evelina. ¿Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos falando? In: Políticas de Ciudadanía y Sociedad Civil en tiempos de globalización.

Caracas: Editora FACES - Universidad Central de Venezuela, 2004. DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu, MINAYO, Maria Cecília de Souza (organizadora). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 28 ed. Petrópolis,

RJ: Vozes, 2009.

65

FALEIROS, Vicente de Paula. O que é política social. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. FERNANDES, Rubem César. Privado Porém Público: o Terceiro Setor na América Latina. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. FREIRE, L. M. B.; FREIRE, S. de M.; CASTRO, A. T. B. de. Política Social, Serviço Social e Trabalho: desafios e perspectivas para o século XXI. São Paulo: Cortez;

Rio de Janeiro: UERJ, 2010. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social, São Paulo: Atlas, 1987. GOHN, Maria da Glória. O protagonismo da Sociedade Civil: Movimentos sociais, ONGs e redes solidárias. São Paulo: Cortez, 2005. GONDIM, Linda Maria de Pontes (org.). Pesquisa em Ciências Sociais: o projeto da dissertação de mestrado. Fortaleza, CE: Edições UFC, 1999. IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil – esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 39 ed. São Paulo: Cortez, 2013. KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e

iniciação à pesquisa. 26ed. Petrópolis, RJ, Vozes, 2009. MANZINI, Eduardo José. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, 1990/1991. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva. Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2003. MARTINELLI, Maria Lúcia. O uso de abordagens qualitativas na pesquisa em serviço social. In: Martinelli, Maria Lúcia (org.). Pesquisa qualitativa: um instigante

desafio. São Paulo: Veras editora. 1999. Série Núcleo de Pesquisa. MESTRINER, Maria Luiza. A intricada relação histórica entre a assistência social e a filantropia no Brasil. In: STUCHI, Carolina Gabas; PAULA, Renato

Francisco dos Santos; PAZ, Rosangela Dias Oliveira da (Orgs). Assistência Social e Filantropia: cenários contemporâneos.São Paulo: Veras Editora, 2012 – (Coleção coletâneas). MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2011. MONTAÑO, Carlos; DURIGUETTTO, Maria Lúcia. Estado, classe e movimento social. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

66

MONTAÑO, Carlos Eduardo. Terceiro setor e questão social - Crítica ao Padrão Emergente de intervenção social. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2010. OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O trabalho do antropólogo. 2 ed. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Ed. UNESP, 2000. PASTORINI, Alejandra. A categoria “questão social” em debate. 2 ed. São Paulo:

Cortez, 2007. (Coleção questões da nossa época). PEREIRA, Potyara A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania. In: BOSCHETTI, Ivanete; BHERING, Elaine

Rosseti; SANTOS, SILVANA Mara de Morais dos; MIOTO, Regina Célia Tamaso (Orgs). Política Social no Capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2008. RAICHELIS, Raquel. Democratizar a Gestão das Políticas Sociais – Um desafio a ser enfrentado pela sociedade civil. Serviço Social e Saúde: formação e trabalho

profissional. 3 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: OPAS, OMS, Ministério da Saúde, 2008. RIVINÕS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo, Atlas, 1987. SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. 6ed. São Paulo: Cortez, 2012. SOUZA, Fátima Valéria Ferreira de. A política de assistência social: começando o debate. In: Rezende, Ilma; Cavalcanti, Ludmila Fontenele (Orgs). Serviço Social e políticas sociais. 2ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. Série Didáticos. SPOSATI, Aldaíza de Oliveira (Orgs.) et al. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2010. YAZBEK, Maria Carmelita. Classe subalternas e assistência social. 3 ed. São Paulo: Cortez Editora, 1999.

WEBGRAFIA

CEPAL. Manual para o Curso de Formulação, Avaliação e Monitoramento de Projetos Sociais - CEPAL/ OEA/ CENDEC, 1997. Disponível em: <http://www.ssc.wisc.edu/~jmuniz/CEPAL_manual%20de%20formulacao%20e%20avaliacao%20de%20projetos%20sociais.PDF>. Acesso em: 09 fev. 2014, às 23h05. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 1988. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_04.02.2010/CON1 98 8.pdf>. Acesso em: 12 maio 2014, às17h50.

67

COUTINHO, R. B. G.; MACEDO-SOARES. T. D. L. V. A. de; SILVA, J. R. G. da. Projetos sociais de empresas no Brasil: arcabouço conceitual para pesquisas empíricas e analises gerenciais. RAP. Rio de Janeiro, 40(5), p. 763-787, Set/Out.

2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n5/a02v40n5.pdf>. Acesso em: 09 fev. 2014, às 20h. DUARTE, Rosália. Pesquisa Qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa, Rio de Janeiro, n. 115, Marco, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n115/a05n115.pdf>. Acesso em: 25/04/2014 as 22:37.

GOMES, Fábio Guedes Gomes. Conflito social e welfare state: desenvolvimento social no Brasil Estado. RAP. Rio de Janeiro, 40(2), p. 201-236, Mar./Abr. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rap/v40n2/v40n2a03>. Acesso em: 09 maio 2014, às 12h39. NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Caderno de pesquisa em administração. FEA-USP. São Paulo, v. 1. n. 3. 2º sem, 1996. Disponível em: <http://www.dcoms.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/pesquis a_qualitativa_caracteristicas_usos_e_possibilidades.pdf>. Acesso em: 01 maio 2014, às 15h32. NOGUEIRA, Marco Aurélio. Os direitos sociais como causas cívicas. Saúde e Sociedade. São Paulo, v.11, nº 01, p. 15-24, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v11n1/04.pdf>. Acesso em: 20 maio 2014, às 17h50. PINTO, Céli. As ongs e a política no Brasil: presença de novos atores. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 49, n. 3, p. 651-670, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/dados/v49n3/a08v49n3.pdf>. Acesso em: 09 maio 2014, às 09h03.

68

ANEXOS

69

ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) participante:

Sou estudante do curso de graduação no curso de Serviço Social na

Faculdade Cearense. Estou realizando uma pesquisa sob a supervisão do Professor

Dr. Emanuel Bruno Lopes, cujo objetivo é investigar e analisar qual a importância dos

projetos realizados pela ONG Ministério Social Aliança em Ação na vida dos usuários

atendidos?

Sua participação envolve uma entrevista, que será gravada, se assim você

permitir, e que tem a duração aproximada de 15 minutos.

A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar ou

quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida

no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-

lo (a).

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você

estará contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de

conhecimento científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela

pesquisadora pelo telefone (85) 8652-3168.

Atenciosamente,

Aline Gomes Lima

Estudante do Curso de Serviço Social

___________________________ Nome e assinatura do(a) estudante

Matrícula: 10002548

____________________________ Local e data

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste

termo de consentimento.

_____________________________ Nome e assinatura do participante

______________________________ Local e data

70

ANEXO B - ENTREVISTA

1. Qual o seu nome e idade?

2. A quanto tempo reside no Bairro Carlito Pamplona, se não reside, qual o

bairro que você mora?

3. Quantas pessoas moram na sua casa, contando com você?

a) Entre 01 e 03 pessoas

b) 04 e 06 pessoas

c) Acima de 06 pessoas

4. Qual a sua situação de moradia?

a) Própria

b) Alugada

c) Cedida

d) Outro. Qual?____________

5. Atualmente, qual é a sua ocupação?

a) Empregado;

b) Desempregado;

c) Aposentado;

d) Pensionista;

e) Outro. Qual? _______________

6. Somando a renda de todas as pessoas da sua casa, qual a renda familiar

total?

a) Menos de 1 (UM) salário mínimo;

b) Entre 1 e 2 salários mínimos;

c) Mais de 3 salário mínimos;

d) Outro. Qual?_______________

7. Recebe algum outro benefício, como o Bolsa Família, PETI, BPC?

a) Sim

b) Não

c) Outros. Qual? ____________________

8. Participa de algum serviço municipal, como os projetos dos CRAS, CAPS,

outros? Se, sim. Qual?

a) Sim

b) Não

71

c) Outros. Qual? ____________________

9. Como você ficou sabendo do projeto que você participa na ONG Ministério

Social Aliança em Ação?

10. Qual a importância que o projeto realizado, através da ONG Ministério Social

Aliança em Ação, tem na sua vida?

11. Na sua opinião, a ONG Ministério Social Aliança em Ação, através dos

projetos que realiza, atua garantindo os seus direitos sociais ou oferecendo

aquilo que o Estado Brasileiro não supre?

12. Na sua avaliação, o que poderia melhorar no projeto que você faz parte?

72

ANEXO C – FOTOS

Figura 1 – Gazofilácio (ofertas $) e Cesta para mantimentos.

Fonte: A autora.

Figura 2 – Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade.

Fonte: A autora.

73

Figura 3 – Servir 2013 – Cidade de Bela Cruz (CE).

Fonte: Igreja Batista Aliança.

Figura 4 – Projeto Feliz Idade.

Fonte: A autora.

74

ANEXO D - D E C L A R A Ç Ã O

Eu, PAULO HENRIQUE DE OLIVEIRA NUNES, CPF. 936.245.495-53, graduado em Letras

– Português/Inglês, declaro ter realizado a correção ortográfica da Monografia da Aluna:

ALINE GOMES LIMA, portadora do RG: 2002009019259, de matrícula: 10002548 na

instituição, tendo como título: “ONG MINISTÉRIO SOCIAL ALIANÇA EM AÇÃO:

UMA ANÁLISE SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS NA VISÃO

DOS USUÁRIOS ATENDIDOS”, do curso de Graduação em Serviço Social da Faculdade

Cearense (FAC).

Por ser verdade firmamos o presente.

Fortaleza, 27 de Junho de 2014.

75

ANEXO E – DIPLOMA DO REVISOR (Anverso)

76

ANEXO E – DIPLOMA DO REVISOR (Verso)