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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
GESSYCA CORREIA AMORIM
A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO FAMILIAR NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS
FORTALEZA
2013
GESSYCA CORREIA AMORIM
A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO FAMILIAR NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS
Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientador: Prof. Ms. Mário Henrique Castro Benevides
FORTALEZA
2013
Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
.
A524iAmorim, GessycaCorreia
A influência da educação familiar na socialização de crianças de 7 a 10 anos/Gessyca Correia Amorim. Fortaleza – 2013.
80f.Il. Orientador:Prof.º Ms. Mario Henrique Castro Benevides.
Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.
1. Família - criança. 2. Educação - religião. 3.Socialização. I.Benevides, Mario Henrique Castro. II. Título
CDU364
GESSYCA CORREIA AMORIM
A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO FAMILIAR NA SOCIALIZAÇÃO DE CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS
Monografia apresentada como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data da aprovação:____/____/____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Professor Ms. Mário Henrique de Castro Benevides (Orientador)
_______________________________________________
Professor Ms. José Cleyton Vasconcelos Monte (Examinador)
_______________________________________________
Professora Ms. Priscila Nottingham de Lima (Examinadora)
Dedico este trabalho ao meu amado
DEUS, aos meus pais e irmãs, ao meu
esposo e as minhas amigas, que com
muito carinho me apoiaram e acreditaram
em minha capacidade de chegar nesta
formação.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, ao meu querido e amado DEUS, que me ajudou em todos os momentos e não me deixou perder a fé de que tudo daria certo. Senhor, muito obrigada pela Tua constante presença em minha vida, pois é isto que me faz permanecer de pé. A minha família, em especial aos meus queridos pais. Minha valiosa mãe, Zélia Liduína, mulher forte e guerreira, que com muita garra e perseverança venceu na vida e me ensinou o valor de lutar pelos nossos sonhos. Meu precioso pai, Adevaldo Amorim, que sempre me ensinou o dom da paciência e acreditou nos meus sonhos junto comigo. A eles que, além de terem me concedido o dom da vida, foram tão constantes desde os meus primeiros passos, me ensinando a difícil caminhada da vida; que me ensinaram a ser forte e a buscar os meus objetivos. Sem vocês eu não estaria aqui. Ao meu amado esposo, Jefferson, por sua compreensão e apoio ao longo desta caminhada, estando sempre ao meu lado. Obrigada por ter sonhado comigo e sido fiel companheiro nesta jornada. Ao meu orientador, professor Mário Benevides, por sua atenção, paciência e dedicação ao longo deste percurso. Os meus sinceros agradecimentos pelo seu apoio. A todos os professores do Curso de Serviço Social, que muito me ensinaram transferindo seus conhecimentos, além de se dedicarem a formar novos profissionais. As amigas que conheci no decorrer deste curso. Vocês se tornaram pessoas especiais, Ana Virgínia e Devany. Também não poderia deixar de agradecer, em especial, as que estiveram comigo até o final desta trajetória, compartilhando os anseios, ajudando nas horas difíceis e dividindo conhecimentos: Ana Maria e Deborah. Vocês tornaram esta jornada mais prazerosa e agradeço imensamente pelas produções que juntas fizemos, pelos momentos dedicados a tirar dúvidas e pelas conversas amigas na hora das angústias com este trabalho. Vocês foram essenciais para esta formação. A todos que de alguma forma estiveram presentes ao longo destes quatros anos e acreditaram na minha vitória. Muito obrigada!
“Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”.
(Provérbios 22:6)
RESUMO
O presente trabalho toma como objeto de investigação as influências que a família exerce sobre a criança, tendo como principal foco a socialização da mesma. O estudo abordou categorias como infância, família, educação e religião, tendo como objetivo compreender de quais formas as ações e ensinamentos da família interferem na socialização das crianças, incluindo também o aspecto religioso, tendo em vista que as famílias pesquisadas fazem parte de atividades religiosas. Buscou-se compreender então, se a educação religiosa também afeta na formação das crianças e de que forma isto acontece. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, que se desenvolveu através de entrevistas semi-estruturadas para os adultos da pesquisa, e por meio de um grupo focal com as crianças. Nesse sentido, o objeto proposto para a pesquisa busca desvendar a relação família e educação e suas influências na socialização das crianças de 7 a 10 anos. Esta pesquisa revelou a importância que os sujeitos pesquisados dão a educação familiar, demonstrando, assim, a relação existente entre família e educação, compreendendo a família como principal agente de socialização das crianças. Constatou-se nesta pesquisa, as influências que a família exerce sobre a criança, mas que também existem outros fatores relevantes na formação da criança.
Palavras-chave: Família. Criança. Educação. Religião. Socialização.
ABSTRACT
This paper takes as its object of investigation the influence that family has on the child, focusing mainly on the socialization of the same. The study addressed categories such as childhood, family, education and religion, aiming to understand what shapes the actions and teachings of the family influence the socialization of children , including also the religious aspect , considering that the families surveyed are part of religious activities . We sought to understand then, if religious education also affects the education of children and how this happens. The methodology was based on semi - structures interviews for adults of research, experience and a focus group with children. In this sense, the proposed research seeks to discover the object relationship and family education and its influence on the socialization of children 7-10 years. This research revealed the importance of the subjects studied provide family education, demonstrating the relationship between family and education, comprising the family as the primary agent of socialization of children. It was found in this study the influences that family has on the child, but there are also other relevant factors in the formation in children
Key Words: Family. Child. Education. Religion. Socialization.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Desenho da criança Érica ......................................................................... 60
Figura 2 - Desenho da criança Sofia ......................................................................... 61
Figura 3 - Desenho da criança Michele ..................................................................... 62
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 9
2 CRIANÇA, EDUCAÇÃO E FAMÍLIA ............................................................... 13
2.1 A História Da Criança E O Seu Desenvolvimento .......................................... 13
2.2 Educação ........................................................................................................ 17
2.2.1 A Educação e Seus Diferentes Conceitos ...................................................... 18
2.2.2 Instituições Religiosas e a Educação ............................................................. 21
2.3 Família ............................................................................................................ 23
2.3.1 A História da Família e Suas Modificações ..................................................... 23
2.3.2 Família Como Espaço de Construção de Saberes ......................................... 25
2.3.3 O Papel da Família na Formação e na Socialização das Crianças ................ 27
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 31
3.1 Aproximação Com O Objeto ........................................................................... 31
3.2 Breve histórico do campo de pesquisa ........................................................... 33
3.3 Os dois universos da pesquisa ....................................................................... 34
3.4 Percurso metodológico ................................................................................... 36
3.5 A pesquisa com crianças ................................................................................ 39
3.6 As famílias como sujeitos da pesquisa ........................................................... 39
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............................................. 41
4.1 Infância ........................................................................................................... 41
4.1.1 Percepção de infância para os adultos da pesquisa ....................................... 41
4.1.2 Percepção de infância para as crianças da pesquisa ..................................... 42
4.2 Educação ........................................................................................................ 44
4.2.1 Educação para os adultos da pesquisa .......................................................... 44
4.2.2 Educação para as crianças da pesquisa ........................................................ 50
4.3 Família e educação ........................................................................................ 52
4.3.1 A percepção dos adultos da pesquisa sobre a relação educação familiar e
infância.......................................................................................................................52
4.3.2 A percepção das crianças da pesquisa sobre a relação educação familiar e
infância.......................................................................................................................59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 66
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70
ANEXOS ................................................................................................................... 71
9
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa irá abordar aspectos teóricos sobre o objeto
estudado e coletar informações através de pesquisa de campo a fim de
compreender se a família influencia no comportamento das crianças e de quais
formas isso pode acontecer. A educação familiar, conforme Witter (2009), é um
espaço de construção de conhecimentos que possibilita a socialização da criança
através dos ensinamentos e dos exemplos passados.
A família pode ser compreendida como um conjunto de pessoas que por
laços afetivos permanecem juntas, com responsabilidades mútuas (SZYMANSKI,
2002). Compreende-se que este espaço seja o primeiro de construção de
conhecimento e, por este motivo, buscou-se analisar como isso ocorre e quais as
influências que tal fato pode exercer na vida das crianças.
A escolha desse objeto de estudo, atribui-se ao fato da relevância do
tema abordado, principalmente, em sua relação com a educação. A educação está
presente em diversos contextos, sendo abordada nesta pesquisa a educação
voltada para o contexto familiar, no qual se buscou compreender se a família exerce
papel importante no desenvolvimento das crianças entre 7 a 10 anos, tendo em vista
que ser ela considerada como primeiro espaço de afeto e de orientações.
O presente estudo analisará a relação existente entre o ambiente familiar
e a formação das crianças, fazendo um levantamento de quais as influencias que a
família tem sobre a criança, bem como mostrar, de forma comparativa, o
comportamento das crianças. Pretende-se, assim, mostrar de forma clara, se a
família influencia na socialização da criança.
Tem-se como intuito compreender se existe uma importância do ambiente
familiar na socialização da criança, observando-se que a família pode ser um espaço
harmônico, mas que também pode ser um espaço de conflitos. Portanto, a pesquisa
buscará mostrar como a educação familiar pode ou não influenciar no
desenvolvimento da criança como um ser social.
Compreender a educação como um forte vínculo entre a criança e sua
socialização irá levar ao entendimento de qual a importância da educação na
infância, e qual a ligação existente entre a educação e a família.
10
Este estudo tem como base o interesse pelo tema crianças e educação
familiar, tendo como principal motivo o trabalho voluntário executado pela autora
desta análise há aproximadamente oito anos, com crianças da comunidade
Presidente Kennedy, no qual é nítida a percepção dos diferentes comportamentos e
a ligação disso com o convívio familiar.
Por compreender a educação como um fator extremamente relevante
para a sociedade, buscou-se, então, entendê-la desde o início, desde o primeiro
espaço no qual ela é construída. A família, sendo a base deste estudo, mostrará de
que forma é possível observar sua relevância para a socialização das crianças.
A pesquisa tem como objetivo compreender se a família exerce
fundamental importância na formação da criança e quais as influências que esta traz
para a socialização das mesmas, através de sua educação, observando, assim, os
sujeitos da pesquisa.
O presente estudo visa compreender os diferentes aspectos das famílias
e suas diferentes consequências na formação da criança, tendo em vista que a
família deve ser um espaço harmonioso de construção de valores. Apesar disso, em
muitos casos, a realidade é diferente e esse espaço familiar acaba se transformando
em um lugar de conflitos, trazendo consequências para os indivíduos envolvidos
neste processo.
A pesquisa aborda importantes categorias para a análise do que está
sendo proposto, como família, criança, educação e religião, categorias estas
abordadas no sentido de compreender se esta última influencia na educação, tendo
em vista que a pesquisa será realizada com pessoas de uma comunidade que
participam de atividades religiosas. Para se compreender as questões apontadas,
torna-se necessário realizar um regaste histórico acerca de algumas categorias,
como família e criança.
A família geralmente é vista como núcleo de práticas educativas,
referência de valores e afeição para as crianças, mas isso nem sempre foi assim;
esta mesma família passou por diversas mudanças ao longo dos séculos e,
atualmente, sofre transformações na sua estrutura e nas suas relações, tendo em
vista os vários modelos de família existentes na sociedade atual. Segundo Ariès
(1981), a família e a infância foram construídas e transformadas com o passar dos
anos. No século XII, nem a arte representava a infância e não havia lugar para as
crianças, sendo elas confiadas a pessoas estranhas, além de o carinho e a afeição
11
entre os membros dessa família não ser necessário para o equilíbrio familiar. Com o
passar dos anos, a criança começa a aparecer como um membro que faz parte da
família e passando a ser retratada na arte. “Por volta do século XIII, surgiram alguns
tipos de crianças um pouco mais próximas do sentimento moderno” (ARIÉS, 1981,
p.52). De acordo com Ariès (1981), foi apenas no final da idade média que a criança
conquistou um lugar junto de seus pais.
É no ambiente familiar, segundo Szymanski (2002), que a criança recebe
suas primeiras orientações, sempre existindo situações desafiadoras. E é neste
espaço que se constrói o conhecimento e que as oportunidades vivenciadas irão
refletir futuramente na vida da criança, quando esta se tornar adulta.
A família é vista como responsável pelos cuidados da criança, devendo,
assim, assegurar os seus direitos. Segundo Kaloustian e Ferrari (2011), a família é
um espaço indispensável, responsável por garantir o desenvolvimento da criança e
sendo decisiva para a educação, sendo vista como um espaço de construção de
valores.
Para compreender o espaço da educação familiar, torna-se necessário
analisar as distintas realidades, compreendendo que nem toda família é construída
por um espaço harmonioso e que, algumas vezes, esse espaço se torna lugar de
conflitos. Assim, o intuito desta pesquisa é entender quais as consequências desses
distintos espaços na vida das crianças.
A pesquisa realizada é de vertente qualitativa, na qual foi realizado
primeiramente, um levantamento bibliográfico, a fim de compreender os estudos já
realizados acerca do objeto abordado e compreender os aspectos históricos de
algumas categorias, bem como a visão de diferentes autores sobre o mesmo tema.
Logo após, foi feita uma aproximação com o estudo de campo para conhecer as
diferentes realidades em que vivem os sujeitos da pesquisa.
Para a realização da pesquisa de campo, os instrumentos usados para
colher os dados foram a entrevista semi-estruturada com os adultos da pesquisa, e
um grupo focal com as crianças, no qual as mesmas tiveram oportunidade de,
juntas, trazer relatos que enriqueceram a pesquisa e foram fundamentais para a
conclusão da mesma. Durante a pesquisa muitas questões sobre família, educação,
infância e religião foram abordadas, de forma a buscar uma maior compreensão
sobre cada indivíduo. Ressaltando que a pesquisa foi realizada com seis famílias
que foram dividas em dois grupos, conforme o universo a ser explorado.
12
Este estudo será abordado em três capítulos, elaborados com o intuito de
melhorar a compreensão acerca das etapas realizadas até se chegar a uma
consideração final.
No primeiro capítulo realizou-se uma discussão envolvendo diferentes
autores e suas concepções a respeito das categorias criança, educação, religião e
família. Nesse capítulo foram explanados aspectos históricos da infância, com o
intuito de facilitar a compreensão acerca das distintas épocas que a mesma
ultrapassou e entender de que forma as mudanças ocorreram. A educação foi
abordada no aspecto da família e da religião, trazendo os conceitos de autores para
a compreensão da dimensão que esta categoria tem para a sociedade. A família foi
abordada, a princípio, também em seu sentido histórico para facilitar a compreensão
desta instituição que está em constante mudança, e que merece ser entendida para,
então, ser discutida.
No segundo capítulo foi apresentado todo o percurso metodológico da
pesquisa, no qual foi abordado: a aproximação com o objeto de estudo; a justificativa
pela escolha do tema; os métodos utilizados para coleta de dados; o contexto
histórico dos universos da pesquisa; como foi a pesquisa realizada com as crianças;
além do perfil dos sujeitos da pesquisa. Nesse capítulo, foi discutida a pesquisa
como um todo, sendo ela de cunho qualitativo, que foi realizada através de uma
entrevista semi-estruturada com os adultos, por meio de um grupo focal com as
crianças, que, além de responderem as perguntas da entrevista, também fizeram um
desenho e uma redação sobre a família. Esses métodos foram utilizados por terem
sido considerados os mais viáveis para o objeto abordado.
No terceiro capítulo foi destacada a análise dos dados coletados, sendo
que durante toda sua extensão foi feita de forma a articular as falas dos sujeitos
pesquisados com as concepções dos autores abordados do decorrer deste estudo.
Destacaram-se as compreensões dos adultos e das crianças da pesquisa sobre o
objeto observado, analisando e refletindo sofre os pontos que mais se destacaram e
fazendo uma leitura dos desenhos feitos pelas crianças. Dessa forma, nesse
capítulo foi realizado um diálogo entre sujeitos da pesquisa e as teorias dos autores,
a fim de proporcionar uma maior compreensão do objeto estudado.
Por fim, nas considerações finais foi realizada uma reflexão acerca do
objeto da pesquisa, abordando as percepções durante todo o processo de pesquisa
e quais as conclusões que o estudo de campo proporcionou descobrir.
13
2 CRIANÇA, EDUCAÇÃO E FAMÍLIA
2.1 A História Da Criança E O Seu Desenvolvimento
A história da criança não é algo que se manteve desde o início dos
séculos, ao contrário disso, sofreu várias transformações. Das diversas mudanças
ocorridas, serão abordadas aquelas que mais se destacam.
Nos dias de hoje, quando uma criança nasce, logo os pais se preocupam
em ensiná-la seu nome, seus primeiros passos e, assim, conforme vão crescendo,
os ensinamentos e as preocupações aumentam. Mas no século XVI e XVIII não era
dessa forma que os ensinamentos seguiam. Naquela época, não se dava tanta
importância às crianças pequenas. Talvez, devido à demografia da época, houvesse
uma grande fragilidade e muitas crianças morriam, havendo uma grande indiferença
quanto a isso. Nas sociedades romanas e chinesas havia até mesmo o hábito de
abandonar as crianças recém-nascidas. Segundo Ariés (1981, p. 22):
Compreendemos então o abismo que separa a nossa concepção da infância anterior à revolução demográfica ou a seus preâmbulos. Não devemos nos surpreender diante dessa insensibilidade, pois ela era absolutamente natural nas condições demográficas da época (1981, p. 22).
É a partir desses cenários que se percebe a diferença na concepção de
infância, que conforme o desenvolvimento da sociedade foi criando novas formas de
ser percebida e ganhando novos valores. Torna-se possível perceber através do
trecho de Ariès (1981) que houve uma época em que as crianças não eram vistas
com grande importância e nem tinham espaço na sociedade como nos dias atuais.
Na sociedade antiga não se tinha uma grande preocupação com a
educação das crianças pequenas, estes eram tratados com grande liberdade e,
muitas vezes, eram feitas brincadeiras grosseiras de forma totalmente natural, sem
nenhum espanto ou zelo. Os adultos costumavam fazer brincadeiras sobre assuntos
sexuais com as crianças pequenas e isso era um costume da época, não causando
estranhamento em ninguém.
A educação praticamente só começava depois dos sete anos. E esses escrúpulos tardios de decência devem também ser atribuídos
14
a um início de reforma dos costumes, sinal da renovação religiosa e moral do século XVII. Era como se o valor da educação começasse apenas com a aproximação da idade adulta (ARIÈS, 1981, p. 75).
Esta forma de percepção da moral e dos bons costumes não estava
relacionada apenas a uma determinada classe social da época, mas era um
costume de todas as famílias. Percebe-se através dos trechos de Ariès (1981) que
não havia respeito pelas crianças até determinado período histórico da sociedade.
Acreditava-se que a criança antes de atingir o período de puberdade era alheia e
indiferente a sexualidade, portanto os gestos e contatos físicos aconteciam sem que
houvesse nenhum estranhamento por parte dos adultos. Assim, eles também
acreditavam que os assuntos sexuais não iriam interferir na inocência infantil. Ainda
segundo Ariès (1981, p. 80), “na realidade, não se acreditava que essa inocência
realmente existisse”.
A história da criança se inicia muito distante do sentido que se tem nos
dias atuais, sendo que a princípio havia um grande distanciamento da ideia de
inocência infantil. Para modificar essa realidade era necessário buscar meios que
transformassem os hábitos da educação e se buscasse um novo comportamento a
fim de preservar a infância.
Mas no fim do século XVI uma mudança muito mais nítida teve lugar. Certos educadores, que iriam adquirir autoridade e impor definitivamente suas concepções e seus escrúpulos, passaram a não tolerar mais que se desse às crianças livros duvidosos. Nasceu então a ideia de se fornecer às crianças edições expurgadas de clássicos. Essa foi uma etapa muito importante. É dessa época realmente que podemos datar o respeito pela infância (ARIÈS, 1981, p. 83).
Foi então, no final do século XVI, que se começou a ter novas visões e
surgiram modificações importantes para a história da criança, iniciando-se
verdadeiramente uma preocupação com estes. Mas, até alcançar esse patamar, um
longo caminho foi percorrido. Houve também uma grande influência dos livros,
surgindo no início do século XVII uma literatura pedagógica voltada aos pais e
educadores. Esta literatura trazia as crianças na visão religiosa, fazendo menção a
trechos que diziam que o Senhor (se referindo a Deus) chama os pequenos
inocentes para si, e comparando as crianças com anjos. Logo em seguida, era
questionado como os homens rejeitam as crianças e afirmava-se que as educando
os adultos estariam seguindo o exemplo dos anjos.
15
Del Priore (1991) aborda a história da criança tendo a mesma visão de
Ariès (1981), no qual aponta o passado desta história como sendo melhor ignorá-la,
pois reflete sobre esta realidade um mundo cheio de tragédias que penetraram na
vida de muitas crianças no Brasil.
A infância era desprezada, as pessoas a viam apenas como uma rápida
fase de transição que logo seria superada, e, portanto não lhe atribuíam nenhum
valor, conforme aponta Ariès (1981, p. 85):
Essa ênfase dada ao lado desprezível da infância talvez tenha sido uma conseqüência do espírito clássico e de sua insistência na razão, mas acima de tudo foi uma reação contra a importância que a criança havia adquirido dentro da família e dentro do sentimento da família.
Ariès (1981) aborda em sua obra alguns autores que escrevem acerca da
visão de Deus sobre as crianças. Autores estes que tentam mostrar aos leitores
através da literatura moral e pedagógica, que o filho de Deus permitiu que as
crianças se aproximassem dele e não aceitou que as desprezassem, explanando
ainda o respeito que se devia ter com eles, pois no caso destes autores da literatura
moral do século XVII, eles acreditavam na inocência das crianças e que nelas
habitava o Espírito Santo. Durante toda a obra de Ariès (1981) ele menciona
pensamentos de diversos autores que fazem alusão a trechos do Evangelho de
Jesus, bem como de outros com distintas percepções acerca da infância.
No final do século XVII, a literatura pedagógica permitiu abordar com
grande relevância uma nova concepção moral sobre a infância:
Formou-se assim essa concepção moral da infância (...) que associava sua fraqueza à sua inocência, verdadeiro reflexo da pureza divina, e que colocava a educação na primeira fileira das obrigações humanas. Essa concepção regia ao mesmo tempo contra a indiferença pela infância, contra um sentimento demasiado terno e egoísta que tornava a criança um brinquedo do adulto e cultivava seus caprichos, e contra o inverno deste último sentimento, o desprezo do homem racional. (ARIÈS, 1981, p. 87).
O autor trata todas estas novas ideias como uma doutrina, que para ele
seria o motivo pelo qual se aumentou as instituições de educação. Ainda aponta que
esta doutrina trouxe princípios a literatura da época, sendo alguns deles: não deixar
as crianças sozinhas; evitar mimar as crianças para que elas aprendessem desde
novas à seriedade; e se preocupar com a decência de forma a ter cuidado com os
hábitos e linguagens. É notável que a partir deste período ocorreram mudanças que
16
refletiram no comportamento das crianças, e a partir de então, foram implantadas
novas formas de educação, apesar de algumas dificuldades. Dificuldades estas
oriundas dos pais que acreditavam que mimar uma criança não teria nenhum
problema, pois enquanto ela fosse pequena, não havia necessidade de seriedade.
Apenas depois de crescida, é que deveria ser ensinado a ela as boas maneiras e
serem feitas as devidas correções, bem como a mudança de hábito, a preocupação
com a linguagem e com o comportamento na frente das crianças. A partir de então,
começou-se uma preocupação com os livros dados as crianças e com as letras das
canções, que deveriam ter pureza na linguagem.
Uma dupla atitude moral, talvez até mesmo contraditória, foi resultado da
visão de inocência infantil daquele período, e a busca por tentar preservar essa
inocência, protegendo-a das impurezas da vida, além da tentativa de fortalecê-la, na
perspectiva de produzir o caráter e a razão.
Nessa época, foi estabelecida a religião para as crianças, que começaram
a aprender a devoção pelo anjo da guarda. É importante destacar, que o anjo da
guarda é tratado como um privilégio apenas das crianças, talvez pela suavidade e
pureza dos mesmos. A primeira comunhão, a partir do século XVIII passou a ser
uma cerimônia realizada nos conventos e nos colégios, tornando-se visivelmente
uma manifestação do sentimento da infância, que permaneceu durante os séculos
XVII e XIX. Era uma forma de celebração de dois aspectos: a inocência da infância e
sua apreciação racional dos mistérios sagrados.
Uma importante concepção deve ser mencionada: o sentimento da
infância diz respeito à consciência da particularidade infantil, da diferenciação entre
o adulto e a criança. Na sociedade medieval esse sentimento não existia; assim que
a criança conseguia viver sem o cuidado da mãe, ela era inserida no meio dos
adultos, sem nenhuma distinção de idade, e este sentimento foi construído somente
com o tempo e aos poucos. Então, com o tempo, surgiu um sentimento da infância
chamado de “paparicação”, que tornava a criança uma fonte de distração para os
adultos, que brincavam com elas. Mas, através dos moralistas e educadores do
século XVII, surgiu um novo sentimento de infância, sentimento este muito
importante, pois influenciou na educação até o século XX. A partir desse momento,
passou-se a perceber a infância por outro ângulo, pelo aspecto do interesse
psicológico e da preocupação moral, como menciona Ariès (1981, p. 105):
17
O primeiro sentimento da infância – caracterizado pela “paparicação” – surgiu no meio familiar, na companhia das criancinhas pequenas. O segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior à família: dos eclesiásticos ou dos homens da lei, raros até o século XVI, e de maior número de moralistas no século XVII, preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes. Esses moralistas haviam se tornado sensíveis ao fenômeno outrora negligenciado da infância, mas recusavam-se a considerar as crianças como brinquedos encantadores, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus que era preciso ao mesmo tempo preservar e disciplinar. Esse sentimento, por sua vez, passou para a vida familiar.
Durante muito tempo, esses dois sentimentos foram presentes e
percebidos como contraditórios. Mas é a partir desse período que surge uma
preocupação com a educação das crianças: elas começam a ser percebidas e
compreendidas como importantes, e, só então, tratadas com respeito e atenção.
2.2 Educação
A educação pode ser compreendida, de modo geral, como o meio de
comunicação utilizado pelos indivíduos de uma sociedade para transferir
conhecimentos e valores entre uma geração e outra. A educação se desenvolve
através das circunstâncias vividas pelos indivíduos ao longo de sua vida. Para
Durkheim (2012, p.43):
A educação já foi empregada com um sentido bastante vasto para designar o conjunto das influências que a natureza ou os outros homens podem exercer sobre a inteligência ou vontade (...). Em sua acepção mais larga, ele compreende inclusive os efeitos indiretos produzidos no caráter e nas faculdades do homem por coisas cujo objetivo é completamente diferente: leis, formas de governo, artes industriais e mesmo fatos físicos, independentes da vontade do homem [...].
O conceito de educação envolve distintos níveis, que vão desde a forma
de se comportar, os hábitos, os valores, até mesmo ao constante desenvolvimento
das faculdades físicas, intelectuais e morais do indivíduo, que determinarão a sua
maneira de interagir na sociedade.
Pode-se compreender que a educação tem um sentido muito amplo, e
está presente em distintas situações do cotidiano. Dessa forma, este estudo irá se
deter na educação somente no sentido em que os homens exercem influências
sobre os outros, para então compreender-se de que forma a família pode influenciar
na socialização das crianças.
18
2.2.1 A Educação e Seus Diferentes Conceitos
Através da educação é revelado o desenvolvimento do sentimento da
infância, e durante a Idade Média foi possível perceber a evolução deste sentimento,
principalmente na escola, que no começo dos tempos modernos se tornara um meio
de isolar as crianças durante o tempo de formação moral e intelectual, separando-as
dos adultos e ensinando-as de forma mais autoritária.
As diversas discussões sobre a educação abordam o aspecto da
transferência de conhecimentos, el passa para as diferentes gerações os valores
culturais e éticos que permitem a socialização dos indivíduos. Sendo assim,
desempenha importante papel na sociedade, no qual é fundamental que se dê o
devido valor, extraindo dessa educação o melhor possível, visando-se alcançar os
seus objetivos e funções. Segundo Toscano (1984, p. 22):
São tantas as funções que, se espera, sejam cumpridas pela educação, que esta já não se pode limitar às instituições especificamente educacionais. Daí a importância de se estudar também, além da escola, da universidade, todas as demais instituições que, embora não estejam diretamente vinculadas à educação, desempenham papel de magna importância na socialização das gerações mais jovens; a família, as organizações religiosas e políticas, os veículos de comunicação de massa também têm uma palavra a dizer e não podemos deixar de ouvi-los. Mais do que nunca, comprova-se a veracidade do postulado segundo o qual “a Educação só pode ser entendida como integrando uma totalidade cultural, nunca como um fenômeno isolado”.
Esse tema se torna palco de discussões modernas com uma nítida
consciência da importância da educação que acompanha o desenvolvimento, e
desta como instrumento de afirmação individual e valorização coletiva. Cada
indivíduo é percebido como um resultado histórico, ou seja, um ser que vai
construindo sua própria identidade e história conforme o seu cotidiano lhe ensina a
viver. “A importância do papel da educação no processo de socialização do ser
humano, dado que o homem não é „naturalmente‟ social, mas esta sociabilidade é
projetada, inculcada nele pelo meio cultural, que vai explorar as potencialidades...”
(TOSCANO, 1984, p. 40).
A sociedade, de um modo geral, mantém historicamente seus valores, a
fim de tornar as convivências saudáveis, bem como em busca de garantia do melhor
para cada um. Dessa forma, a própria sociedade se torna, em parte, responsável
19
pela educação moral, o que segundo Witter (2009, p.118), deve ocorrer através de
exemplos:
[...] para a própria sobrevivência da sociedade, torna-se muito importante a Educação Moral. Certamente ela começa no lar, onde pais, irmãos, avós ensinam a ser ético, a respeitar os valores sociais, religiosos etc., quer conversando, quer sendo exemplo ou modelo de respeito e cultivo aos valores que tornam um ser cidadão digno.
A educação proporciona a interação social e cultural dos indivíduos, o que
viabiliza as várias expressões e formas de construção de saberes. O conhecimento
oportuniza a abertura de diversas portas, seja na vida pessoal ou profissional, e a
educação é vista como importante instrumento para o desenvolvimento de uma
sociedade com qualidades, sendo usada como meio de transferir conhecimento
entre as mais diversas gerações.
Em cada um de nós, pode-se dizer, existem dois seres que, embora sejam inseparáveis – a não ser por abstração -, não deixam de ser distintos. Um é composto de todos os estados mentais que dizem respeito apenas a nós mesmos e aos acontecimentos da nossa vida pessoal: é o que se poderia chamar de ser individual. O outro é um sistema de idéias, sentimentos e hábitos que exprimem em nós não a nossa personalidade, mas sim o grupo ou os grupos diferentes dos quais fazemos parte; tais como as crenças religiosas, as crenças e práticas morais, as tradições nacionais ou profissionais e as opiniões coletivas de todo tipo. Este conjunto forma o ser social. Constituir este ser em cada um de nós é o objetivo da educação. (DURKHEIM, 2012, p. 54)
Para Durkheim (2012), a educação é algo extremamente social, pois não
se nasce um ser sociável; a princípio qualquer um é um ser individual, composto de
estados mentais que estão ligados somente a si, ou seja, quando se nasce, entra-se
na vida apenas trazendo a natureza de indivíduo, mas que conforme a sociedade na
qual o indivíduo está inserido o ensina, lhe mostra valores e condutas, os indivíduos
se tornam seres sociais, com ideias, sentimentos e hábitos, que mostram os grupos
dos quais fazem parte. Formar este ser social em cada ser é o intuito da educação.
Algumas concepções de Durkheim (2012) relacionam-se a diferentes
pensadores. Ele diz, por exemplo, que para Kant (apud DURKHEIM, 2012, p. 44) “o
objetivo da educação é desenvolver em cada indivíduo toda a perfeição da qual ele
é capaz”. Nesse sentido, o papel da educação seria um meio de desenvolver as
potencialidades que cada indivíduo possui dentro de si, mas Durkheim (2012) afirma
que o desenvolvimento de todas as potencialidades de forma harmônica é algo não
20
realizável, e, sendo assim, cada ser tem distintas funções a desempenhar e cada
qual deve fazer aquela que lhe é estimado. Ele traz também alguns pensamentos
utilitaristas de James Mill (apud DURKHEIM, 2012, p. 45), em que defende que a
educação tem como objetivo “transformar o indivíduo em um instrumento de
felicidade para si mesmo e seus semelhantes”. Assim, vários autores tentam definir o
que significa a educação.
Esta questão sempre foi controversa. Para Fontenelle, “a boa educação não forma o bom caráter, e a má tampouco o destrói”. Para Locke e Helvétius, ao contrário, a educação é onipotente. Segundo este último, “todos os homens nascem iguais e com aptidões semelhantes; somente a educação dá origem às diferenças”. A teoria de Jacotot se aproxima da anterior. A solução que se dá ao problema depende, de um lado, da idéia que se tem da importância e da natureza das predisposições inatas e, de outro, do poder dos meios de ação disponível para o educador. (DURKHEIM, 2012, p.65)
Para Durkheim (2012) a educação, por muito tempo, fazia referência às
influências que a natureza e os outros homens exerciam sobre a inteligência ou a
vontade de outros, podendo ser compreendida através dos estudos sociológicos
como uma ação de gerações adultas sobre as gerações mais jovens, que ainda não
amadureceram para a vida social, desta forma podendo ser percebida como a
socialização da criança.
A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais exigidos tanto pelo conjunto da sociedade política quanto pelo meio específico ao qual está destinada em particular. (DURKHEIM, 2012, p.53)
A educação para Durkheim (2012) é uma influência exercida pelos adultos
sobre as crianças, permitindo o processo de socialização. Partindo desse ponto de
vista, Toscano (1984, p. 19) faz uma análise sobre o assunto e afirma que “(...) a
educação é o processo social através do qual a sociedade sistematiza a transmissão
de sua herança cultural, sendo esta transmissão à garantia de continuidade da
espécie humana, enquanto tal”.
Dessa forma, pode-se compreender que para a educação existem
diferentes conceitos conforme os distintos pensadores. Alguns conceitos aproximam-
se entre si, outros possuem ideias bem distintas dos demais, como Durkheim (2012)
mencionou o pensamento de Fontenelle, que não percebe a educação como
21
influência no caráter do indivíduo. O certo, é que partindo da visão de Durkheim
(2012), que afirma que a educação satisfaz as necessidades sociais, busca-se
compreender se a educação influencia no comportamento do indivíduo e de que
forma esta se manifesta.
2.2.2 Instituições Religiosas e a Educação
Durkheim (2007) faz uma análise da religião primitiva buscando
compreender os aspectos essenciais e permanentes. Em suma, nas religiões há
sempre elementos que são comuns, elementos que formulam a ideia de religião de
um modo geral. Durkheim (2012) afirma que as religiões primitivas são mais fáceis
de serem compreendidas por possuírem uma maior simplicidade, mas, com o
decorrer do tempo, foram sofrendo modificações e buscando novas explicações.
Para compreender todos esses fatos, é preciso abandonar as noções pré-
concebidas e deixar de lado a concepção de religião em geral, observando-se o que
há em comum nelas, bem como sua realidade concreta.
A religião tem se demonstrado no meio da sociedade como um fator
constante, que independente de grupos sociais, se manifesta com práticas ligadas à
crença. Essas práticas, atualmente, são bem diversificadas e abrangentes e, tendo
em vista esta gama tão variada, será tratado o aspecto da religião do ponto de vista
sociológico:
[...] a Sociologia da Religião – enquanto ramo da ciência social – volta-se, principalmente, para o estudo das instituições religiosas em suas relações com os outros campos da vida social, preocupando-se, se assim podemos dizer, com os aspectos sociais do fato religioso, com suas implicações sobre a coletividade, desvinculando-se, “ab initio”, de qualquer posição valorativa. (TOSCANO, 1984, p.130).
Percebe-se a religião como fator de influência na socialização dos
indivíduos, estando ligada ao aspecto educação. Desde a antiguidade até os dias
atuais, muitas práticas da vida social dos homens estão influenciadas pela religião. É
por este motivo que a pesquisa torna-se relevante, envolvendo a influência da
instituição religiosa na socialização dos indivíduos.
A igreja, além de um espaço onde se pode rezar e cantar (dependendo da religião que se professa e frequenta) é também uma instituição que, na sociedade brasileira, tem um peso muito grande no processo de
22
socialização e integração dos indivíduos, pois a maioria das crianças, no Brasil, tem alguma ligação com a religião desde muito cedo, qualquer que seja ela. (TOMAZI, 1997, p.35).
A história da educação está vinculada à história das instituições religiosas.
Ao certo, estas instituições, desde a antiguidade, tinham a preocupação de ensinar
os indivíduos, e dessa forma influenciar em sua socialização. É válido salientar que
no período da Idade Média, a ação educativa se intensificou com a
institucionalização progressiva da Igreja.
A sociedade carrega a responsabilidade da educação moral, seja ela
ensinando através do diálogo, de exemplos ou cultivando valores. Esta
responsabilidade, não menos cobrada, também é atribuída aos líderes, sejam eles
da área social, política ou religiosa, mas, certamente, as pessoas de destaque na
sociedade possuem maiores influências e são também responsabilizadas pela
formação dessa educação. E podendo ela ser ensinada através de diálogo ou de
exemplos, estes líderes carregam a responsabilidade de auxiliar na construção de
valores, mas, dependendo de suas posturas, podem, também, destruir ou modificar
valores.
Witter (2009) nos fala de educação tendo a família como cenário principal
do desenvolvimento desta, porém, a mesma traz a ideia de que muitas famílias não
conseguem desenvolver este papel e acabam deixando por conta de outras
instituições, e, muitas vezes, a própria igreja assume estas influências:
Com a estratificação diversificada e crescente complexidade da sociedade e do conhecimento a ser transferida de uma para outra geração, a família tornou-se incapaz de manter por si mesma a responsabilidade educacional das novas gerações. Outras instituições passaram a assumir parte significativa desta educação. A igreja assumiu a educação religiosa [...]. (WITTER, 2009, p.16)
As instituições religiosas ocupam um espaço de influência na educação,
pois as mesmas assumem um papel que reflete na vida dos indivíduos,
sugestionadas na formação e na socialização dos mesmos.
23
2.3 Família
2.3.1 A História da Família e Suas Modificações
As famílias da Idade Média viviam de modo bem diferente das famílias
atuais: o desenvolvimento da infância e o posicionamento em relação à educação
dos filhos também tiveram momentos bem distintos. Os estudos de Ariès (1981)
acerca do sentindo da infância e do sentimento de família na Idade Média foram o
início de muitos outros estudos que permitiram compreender o relacionamento entre
criança e família, e qual a dimensão disso a partir de um período histórico no qual as
ideias e pensamentos são diferentes das atuais concepções.
Na Idade Média, a família desenvolvia um papel que não era o de educar,
de transferir conhecimentos, além de não se manter um vínculo afetivo com os
filhos. É preciso entender que durante aquele período, as crianças quando atingiam
uma idade que se julgava não precisar mais dos cuidados da mãe, eram entregues a
outras famílias para que pudessem ser educadas e ensinadas acerca das coisas da
vida. Mas, ainda assim, é possível refletir sobre esse hábito, no que tange ao fato
das crianças serem entregues para aprender determinadas funções ou se era para
servirem, para serem criadas. Segundo Ariès (1981, p. 156):
O serviço doméstico se confundia com a aprendizagem, como uma forma muito comum de educação. A criança aprendia com a prática (...). Era através do serviço doméstico que o mestre transmitia a uma criança, não ao seu filho, mas ao filho de outro homem, a bagagem de conhecimentos, a experiência prática e o valor humano que pudesse possuir.
A participação familiar da criança na vida dos adultos permitia adquirir o
conhecimento que era transmitido de uma geração a outra, e elas aprendiam a viver
através do contato do dia a dia. Nesse período, quando a criança era afastada de
sua própria família, não se podia alimentar um sentimento profundo entre pais e
filhos, pois mesmo que as crianças voltassem um dia para suas famílias de origem,
isso só ocorreria depois de alcançar a vida adulta, nem sempre isso acontecia. A
família carregava um aspecto muito mais moral e social do que afetivo.
Os sentimentos da família começaram a ser modificados a partir do
século XV, com a extensão da frequência escolar, mas isso ocorreu de forma lenta. A
partir desse período, a educação passou a ser oferecida bem mais através da escola
24
do que pelo convívio com os adultos, como ocorria na Idade Média. A escola passou
a ser um instrumento da iniciação social, em um momento de transição entre a
infância e a vida adulta. A mudança ocorreu devido à necessidade de separar as
crianças dos adultos, como tentativa de manter a inocência primitiva. Foi uma
necessidade de aspecto moral, bem como da preocupação dos pais de estarem
mais próximo dos filhos, com o intuito de vigiá-los e de não abandoná-los mais aos
cuidados de outra família. “A substituição da aprendizagem pela escola exprime
também uma aproximação da família e das crianças, do sentimento da família e do
sentimento da infância, outrora separados.” (ARIÈS, 1981, p. 159).
Ao longo da história, a família sofreu diversas transformações que
ocorreram conforme o tempo e as mudanças sociais de cada momento. Não se
pode afirmar que estas transformações ocorreram de forma rápida e intensa; ao
contrário disso, foi um processo profundo e demorado. A princípio, as escolas eram
distantes e os pais precisavam se afastar um pouco para permitir este ensinamento
através da instituição escolar, mas ainda havia as pessoas que defendiam uma
maior eficácia na educação em casa. Porém, era percebido que embora a criança se
afastasse um pouco dos pais por um determinado período para frequentar a escola,
isso não o atingiria tanto se comparado ao período em que era levado para viver
com outra família. Sendo assim, pode-se dizer que com a implementação da escola,
os pais puderam ter os filhos mais próximos de si e acompanhar mais de perto a
educação dos mesmos. A partir desse momento, pode-se compreender uma grande
mudança no sentido da família, pois a família passou a criar laços afetivos muito
diferenciados de épocas anteriores, passando a ter espaço na sociedade, ao mesmo
tempo em que cultivava o hábito de educar as crianças na escola.
Alguns contemporâneos inquietaram-se com essa proliferação das escolas. Ela correspondia ao mesmo tempo a essa necessidade de educação teórica, que substituía as antigas formas práticas de aprendizagem, e ao desejo dos pais de não afastar muito as crianças, de mantê-las perto o mais tempo possível. Esse fenômeno comprova uma transformação considerável da família: este se concentrou na criança, e sua vida confundiu-se com as relações cada vez mais sentimentais dos pais e dos filhos. (ARIÉS, 1981, p. 160).
Inicialmente, essa nova forma de se educar não tomou grandes
proporções e grande parte da população demorou um pouco para aderir a essa
escolarização, que trouxe a transformação do sentimento da família. As famílias que
25
se encaixaram nesse novo aspecto, quanto mais próximas ficavam de seus filhos
mais o sentimento de união familiar ganhava novas proporções. Durante o século
XVII, alguns pensadores moralistas traziam opinião hostil em relação à escola, mas
outros tentavam conciliar a importância da educação escolar com a educação da
família, afirmando que as crianças aprenderiam com mais facilidade a civilidade
através do convívio social.
Com os diferentes períodos históricos, a infância e a família vêm sofrendo
modificações em sua forma de viver e de ser percebida. Conforme a mudança da
sociedade, a família ganhou uma nova roupagem e teve a oportunidade de mudar o
sentimento em relação à infância. Com este novo espaço, a criança e a família
encontram um novo posicionamento, e Ariès (1981) aponta que a infância estando
em um diferente momento da vida adulta está mais propícia biologicamente à
socialização.
Com o passar do tempo, a criança deixou de ser confiada a estranhos e
conquistou, no final da Idade Média, um espaço ao lado dos pais, e, com esta
mudança, no século XVII surge uma importante característica da família que a torna
distinta da família do período medieval: os adultos passam a se preocupar com os
cuidados e com a educação dos filhos e as crianças, por sua vez, ganham espaço e
se tornam fundamentais no cotidiano de seus pais. A civilização medieval não tinha
conhecimento a respeito da educação; já a sociedade moderna reconhece que a
educação é uma ferramenta essencial para a socialização.
A família deixou de ser uma instituição que apenas transmitia bens e
nome e ganhou um aspecto moral e espiritual, sendo responsável pela educação e
formação de seus filhos. A nova família inspirou novos sentimentos e uma
preocupação em formar as crianças para a vida.
2.3.2 Família Como Espaço de Construção de Saberes
Acredita-se que é no ambiente familiar que a criança recebe suas
primeiras orientações, embora existam situações desafiadoras, é neste ambiente
que as oportunidades e conquistas experimentadas e compartilhadas no cotidiano
irão influenciar na sua vida adulta. A relação entre adultos e crianças em um
ambiente doméstico exige cuidados e garantias de condições desses adultos para
com as crianças, compreendendo que este ambiente deva ser um lugar no qual elas
26
se desenvolvam com segurança, saúde, alimentação, educação, respeito e
liberdade, direitos estes garantidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Embora cada família se constitua dos mais diversos modos de pensar, o respeito às
diferentes culturas e às diferentes classes sociais se fazem importantes para um
bom relacionamento entre família, criança e sociedade. Com os diferentes conceitos
de família e de infância, é que se oportuniza a diferenciação de cada uma delas,
pois não há receitas de como enfrentar os desafios da sociedade moderna.
Pais e mães compreendem sua tarefa socializadora das mais diferentes maneiras e assumem essa incumbência conforme os modos de ser que tornam desenvolvendo ao longo de suas vidas. Aqueles não ocorrem em um vazio, mas situados social e historicamente. (SZYMANSKI, 2002, p. 14)
A família é vista como fator importante para o desenvolvimento social,
uma vez que a mesma é entendida como espaço de construção de valores e como
base da sociedade, conforme explicita a Constituição Federal (1988):
Artigo 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Alguns pensadores abordam a família como principal responsável pelos
cuidados da criança, tendo como dever assegurar os seus direitos básicos. Também
é visto que é nesse espaço de contexto familiar que a criança tem o primeiro contato
com a construção de valores, e onde recebe as primeiras orientações. Por isso, a
importância de compreender a educação que as famílias têm dado as crianças.
A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando (...). Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. (FERRARI; KALOUSTIAN, 2012, p.11).
Torna-se necessário compreender ambos os lados e os diferentes
aspectos da educação familiar, não se deixando cair na hipocrisia de acreditar que
toda família exerce seu dever, conforme mencionado, com um bom desempenho. A
27
família, muitas vezes, deixa de ser esse espaço privilegiado de construção de
saberes e, por ser um ambiente de conflitos, acaba por trazer consequências à vida
de seus membros. Afinal, conforme aponta Vicente (2012, p. 32), “o fato da família
ser um espaço privilegiado de convivência não significa que não haja conflitos nesta
esfera”.
2.3.3 O Papel da Família na Formação e na Socialização das Crianças
A família aparece como espaço privilegiado de formação e socialização,
no qual desempenha importante e decisivo papel na educação das crianças,
percebendo-se que é através deste espaço que os valores éticos e morais são
absorvidos. Conforme cita Toscano (1984, p. 110):
As funções básicas da família estão de tal modo identificadas com a educação que não se pode tratar de uma, sem referir-se à outra.É pacífico que a ação socializadora da família exerce um papel destacado na formação da personalidade dos jovens e que tal ação ainda é mais decisiva na primeira infância.
Dentro da família se tem um lugar de construção de valores e os adultos
que representam tal instituição precisam ter o entendimento e a clareza de tal
responsabilidade, que serve como orientação para a forma de se conduzir a vida e
de se fazer escolhas. Esses valores são observados diariamente, conforme as
ações desenvolvidas pelos indivíduos. De modo geral, o primeiro contato com esses
ensinamentos surgem de dentro do próprio lar e ajudam na construção da identidade
de quem os aprende.
A família quando é percebida como alicerce, possui a capacidade de
mostrar diversos valores éticos e morais que irão refletir na vida de seus membros,
e, possivelmente, irão transmitir e manter esses mesmos valores na sociedade e nos
grupos sociais nos quais interagirem. Muitos autores abordam essa questão,
inclusive Bazílio e Kramer (2003, p. 42) que trazem a ideia de que “não é possível
educar sem cuidar”. Embora a família não seja o único espaço de referência para a
criança, é nela que se recebe o maior número de estímulos e de exemplos.
Para Witter (2009, p. 16), as influências da família refletirão no futuro das
crianças:
O presente decorre, em grande parte, de influências, decisões e percursos decididos no passado, da mesma forma que o futuro será, em grande parte,
28
resultado do presente. As relações e obrigações da família para com a educação não escapam a estas ligações temporais. Nas sociedades mais simples tanto no passado distante como hoje, a família assumia e tomava para si a maior parte das responsabilidades educacionais de sua prole [...].
Destarte, a autora mostra, indubitavelmente, a importância do
ensinamento da família no que diz respeito à educação das crianças, tendo como
base que o futuro depende do presente, e que o futuro da sociedade será as
crianças de hoje. Mas não se pode deixar de abordar que a família, muitas vezes,
deixa de ser este espaço tão importante e de influências positivas. Por não
desenvolver um ambiente harmônico ou por não trazer os ensinamentos que
condizem com a sociedade em que se vive, incide sobre a criança dessa família
uma grande probabilidade de se tornar um adulto ausente de responsabilidades,
além do fato de que a falta de uma boa educação poderá torná-lo um adulto com
consequências graves de caráter.
Durkheim (2012, p. 54) afirma que “pode-se concluir que a educação
consiste em uma socialização metódica das novas gerações”. Sendo assim, a
socialização da criança ocorre através da educação, e esta é dada através das
pessoas mais velhas que ensinam valores e trazem o comportamento moral e ético
para os demais, podendo ser compreendido que em cada indivíduo existem dois
seres inseparáveis, porém distintos. Um é o ser individual e outro é o ser social. Este
último é o ser que cada indivíduo possui, mas para que existisse foi preciso construí-
lo, ou seja, nenhum indivíduo nasce um ser sociável, ele se torna através das ideias,
dos sentimentos e dos valores construídos no decorrer de sua vida.
“É preciso que, pelos meios mais rápidos, ela substitua o ser egoísta e
associal que acaba de nascer por um outro capaz de levar uma vida moral e social.
Esta é a obra da educação, cuja grandeza podemos reconhecer” (DURKHEIM, 2012,
p. 55). Compreende-se que a educação de forma alguma se limita às tendências
naturais do organismo de cada indivíduo, ao contrário disso, ela se encarrega de
desenvolver as potencialidades a fim de criar um novo ser no homem.
A família é percebida como um importante espaço de formação e
socialização da criança, por ser, em grande parte, o primeiro espaço de contato com
valores e com ensinamentos que, muitas vezes, são mantidos a vida toda, e nos
quais se aprende a interagir com o meio em que se vive. Dessa forma, a definição
29
de educação, muitas vezes, afasta as responsabilidades do Estado perante a
mesma e compromete tão somente a família. Como fala Durkheim (2012, p. 61):
A estes opõem-se os direitos da família. Acredita-se que a criança pertence primeiro aos seus pais; portanto, é a eles que cabe dirigir, como bem entenderam, o seu desenvolvimento intelectual e moral. A educação é então concebida como uma coisa essencialmente privada e doméstica. Quando adotamos este ponto de vista, tendemos de forma natural a reduzir a intervenção do Estado ao mínimo possível.
Pode-se dizer que, de fato, a família é, geralmente, um espaço de
construção de conhecimentos do ser social, mas não se pode cair no pragmatismo
de acreditar que somente ela é responsável pela educação das crianças. Se fosse
assim, se tiraria a responsabilidade do Estado, que por sua vez, deve agir de forma
a garantir que os direitos da criança ao convívio familiar, com desenvolvimento
através da educação, com saúde, moradia, liberdade, cultura e lazer, sejam
respeitados.
De fato, a educação desempenha um papel coletivo a fim de adaptar a
criança ao meio social em que vive. Algumas vezes, já foi afirmado que muitas
crianças herdavam de seus parentes determinados tipos de comportamento, mas
Durkheim (2012) defende a ideia de que essas afirmações passam distante da
realidade, pois ele acredita que não é por ter um pai criminoso que a criança irá
nascer um criminoso; ou mesmo quanto a questão das aptidões profissionais, que
não significa que filho de médico será médico por herdar as aptidões dos pais.
O que a criança recebe de seus pais são faculdades bastante gerais, como, por exemplo, determinada capacidade de atenção, certa dose de perseverança, bom discernimento, imaginação, etc. Mas cada uma destas faculdades pode servir a diferentes tipos de propósitos. A criança dotada de uma imaginação vivaz pode, conforme as circunstâncias e influências que pesarão sobre si, tornar-se pintor ou poeta, engenheiro criativo ou empresário ousado. É, portanto, considerável a distância que existe entre as qualidades naturais e a forma específica que elas devem adotar para serem utilizadas na vida. Isto significa que o futuro não se encontra estreitamente predeterminado pela nossa constituição congênita. (DURKHEIM, 2012, p.67).
A criança desenvolve seus hábitos e costumes conforme as
circunstâncias em que vive e as influências que recebe. Não se pode afirmar que a
mesma herda algo dos familiares, mas sim que os hábitos familiares a ensinam
como agir nas circunstâncias da vida. Para os indivíduos, o sentimento do dever é
30
que os impulsionam para o esforço, e, dessa forma, Durkheim (2012) diz que a
criança só aprende o dever com os professores e com os pais, e que estes últimos
carregam a responsabilidade da forma de demonstrar o dever através da linguagem
e do comportamento. Sendo assim, pode-se compreender que os pais precisam
tomar para si o dever para então demonstrar aos filhos e servir de exemplo. “Isso
significa que a autoridade moral é a principal qualidade do educador” (DURKHEIM,
2012, p. 71). A autoridade é o que torna o dever realmente um dever, e o respeito
por quem possui a autoridade é o que faz o dever ser cumprido.
Deve-se refletir e pensar: quais as relações existentes entre a educação e
a família em meio ao universo social contemporâneo? Como a família influencia na
socialização da criança? Será que a família é realmente fundamental nesta
discussão?
Pensar em família como sendo responsável pela socialização e formação
da criança é uma questão desafiadora, tendo em vista que a sociedade
contemporânea tem cada vez mais modificado suas ideias sobre família e também
por entender que ainda nos dias de hoje, muitas crianças se desenvolvem sem uma
família como exemplo de referência.
31
3 METODOLOGIA
3.1 Aproximação Com O Objeto
Esta pesquisa é decorrente de um olhar investigativo, com o intuito de
buscar compreender as dinâmicas da realidade acerca da educação familiar na vida
das crianças. Foram analisadas as consequências dessa educação, tendo em vista
o comportamento e a socialização das crianças. Assim, serão destacados quais
fatores foram determinantes na formação das crianças pesquisadas, segundo o
presente levantamento.
O estudo tem como base a relevância do tema e a sua
contemporaneidade, tendo em vista os diferentes contextos familiares e o grande
quantitativo de crianças que não possuem a família como referência, devido a vários
contextos. Nesse intuito, esta pesquisa buscou compreender se a família,
tipicamente vista como primeiro espaço de afeto e de orientações, exerce papel
importante no desenvolvimento e na socialização das crianças entre 7 a 10 anos.
Analisando, assim (muito embora tenha as situações desafiadoras), se neste mesmo
ambiente as oportunidades e conquistas experimentadas e compartilhadas no dia a
dia irão influenciar na formação das crianças. A relação família e criança em um
ambiente doméstico, exige cuidados e garantias de condições desses adultos para
com as crianças, pois segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, este
ambiente deve ser um lugar onde elas possam se desenvolver com segurança,
saúde, alimentação, educação, respeito e liberdade.
O interesse em estudar o tema crianças e educação familiar, que retrata
as mais diversas realidades, justifica-se pelo trabalho voluntário que executado pela
autora do presente trabalho, há aproximadamente oito anos com crianças da
comunidade do Bairro Presidente Kennedy, em Fortaleza. O trabalho é feito dentro
de duas realidades distintas, mas ligadas entre si: uma por meio da Igreja Batista do
Povo de Deus, que é uma comunidade evangélica, na qual o trabalho é feito através
de aulas, cultos, festas e momentos de lazer; e a outra é pelo Projeto Hefzibá, que é
um projeto social, de responsabilidade da mesma igreja, no qual o trabalho é voltado
para famílias mais carentes da comunidade, de forma a desenvolver ações sociais,
momentos de lazer e interação, bem como, atividades e cursos gratuitos. Durante o
32
contato com estes trabalhos, foram observados diferentes tipos de comportamento
das crianças e das respectivas famílias.
Diversas formas de expressão e assuntos variados foram observados
entre os mesmos. A forma de se comportar também variava: alguns carinhosos,
outros violentos, outros muito envergonhados, se excluindo do contato com os
demais, outros com temperamento forte, alguns com brigas entre si e sempre se
justificando com o fato de que “minha mãe não gosta da mãe dele” ou “minha mãe
disse que não posso falar com ela”.
Essa realidade se tornou o objeto da pesquisa por entender a relevância
dos aspectos observados. A percepção dos diferentes comportamentos e da ligação
disso com o convívio familiar foi a porta de entrada para esta temática. A educação
que as crianças recebem de sua família, foi analisada de forma mais científica,
aprofundando-se as observações feitas.
A pesquisa representa a busca por respostas aos problemas através da
utilização dos procedimentos científicos. De acordo com Gil (2008. p. 26), “(...) pode-
se, portanto, definir pesquisa social como o processo que, utilizando a metodologia
científica, permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade
social”. Nesse sentido, a pesquisa realizada surgiu do desejo de conhecer mais
profundamente o objeto e da satisfação de estar no campo, podendo-se perceber
claramente várias questões sociais envolvidas.
Em um período onde muito se escuta falar da importância da educação na
vida das crianças, são perceptíveis muitos conflitos relacionados à deficiência na
formação dos indivíduos. Trata-se de um assunto de fundamental importância para
se compreender o comportamento e os reflexos das pessoas. A família, peça
essencial na formação, carrega um papel de grande responsabilidade, onde os pais
podem favorecer ou prejudicar o processo de formação e socialização de seus
filhos. É na família que se criam as primeiras raízes do homem, tornando-o ou não
um ser capaz de assumir suas próprias responsabilidades. Portanto, a família,
geralmente, é a primeira instituição social formadora da criança (WITTER, 2009).
A realidade da família nos dias atuais consiste em um grande desafio no
que se refere à educação de filhos, afinal, a sociedade tem cada vez mais
apresentado questões inerentes ao desenvolvimento, que trazem tarefas
desafiadoras aos que educam. Vive-se uma modernidade que tem trazido aspectos
que tem prejudicado o desenvolvimento dos indivíduos, colocando implicações que
33
exigem dedicação e cuidados para que as crianças possam se desenvolver de forma
a não prejudicar sua formação enquanto indivíduo.
É nesse contexto que a pesquisa foi desenvolvida, tendo nascido o tema
através da reflexão da importância de se perceber a família como principal agente de
construção da socialização das crianças e de sua própria formação como indivíduo
dentro da sociedade.
3.2 Breve histórico do campo de pesquisa
Para a pesquisa de campo foi utilizado como cenário o bairro Presidente
Kennedy, na cidade de Fortaleza, bairro este composto por diversas classes sociais,
principalmente, pessoas de classes baixa e média, mas com relevantes números de
pobreza e violência. Os sujeitos da pesquisa são crianças entre 7 e 10 anos de
idade, integrantes da comunidade, bem como as famílias referentes a estas
crianças. A referida pesquisa foi realizada através de uma amostra.
A pesquisa foi realizada com famílias de dois universos: as que fazem
parte da Igreja Batista do Povo de Deus e as que participam de um Projeto chamado
Hefzibá, projeto este que é coordenado pela Igreja mencionada anteriormente.
A Igreja Batista do Povo de Deus fica localizada na Avenida Sargento
Hermínio, número 3412, no bairro Presidente Kennedy, cidade de Fortaleza. A
mesma foi fundada em 18 de agosto de 1998, sendo neste período apenas uma filial
da Igreja Batista de Porangabussu, mas, alguns anos depois, tornou-se uma igreja
independente. Atualmente, a igreja é dirigida pelo Pastor Lúcio Rubens de Sousa e
atende toda a comunidade, no sentido de estar constantemente realizando cultos,
cursos de crescimento espiritual, missões evangelísticas e atividades para crianças,
tendo como visão a busca e o acolhimento das pessoas, e como missão alcançar
vidas para Jesus Cristo.
Alguns anos depois, esta Igreja, criou o projeto Hefzibá, que significa:
meu prazer está nela. O projeto é aberto a toda população do bairro Presidente
Kennedy, mas tem foco maior em abranger as famílias da Comunidade 2000, que
fica localizada dentro deste bairro. Essa comunidade é de uma população onde as
desigualdades sociais são bastante notáveis e que enfrentam grandes dificuldades
com as diversas questões sociais. Para esta comunidade, o projeto oferece cursos
gratuitos do SENAC, fazem dias de ações sociais com verificação de pressão, corte
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de cabelo e exames de vista. Também realizam bazar de roupas seminovas, além de
desenvolverem atividades para crianças, como escolas bíblicas, festinhas com
brincadeiras, palhaços, exibição de filmes, dentre outros.
3.3 Os dois universos da pesquisa
A pesquisa foi realizada no contexto do bairro Presidente Kennedy,
localizado na cidade de Fortaleza, porém utilizando dois universos, sendo, assim,
observados aspectos diferentes. O primeiro universo no qual a pesquisa foi realizada
se refere às famílias que fazem parte da Igreja Batista do Povo de Deus e estão
inseridas nas atividades desta instituição. O segundo universo foi composto por
famílias que fazem parte de uma comunidade bem carente, localizada no mesmo
bairro da Igreja, chamada de Comunidade 2000. As famílias escolhidas dentro deste
segundo universo são famílias que em algum momento participaram das atividades
do Projeto Hefzibá. Assim, a pesquisa foi realizada de forma comparativa entre os
indivíduos pesquisados e suas diferentes realidades.
O método comparativo procede pela investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. Sua ampla utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo comparativo de grandes grupamentos sociais, separados pelo espaço e pelo tempo. Assim é que podem ser realizados estudos comparando diferentes culturas ou sistemas políticos. Podem também ser efetivadas pesquisas envolvendo padrões de comportamento familiar ou religioso de épocas diferentes (GIL, 2011, p.16).
Primeiramente, vale ressaltar que os dois universos da pesquisa possuem
aspectos distintos. O primeiro trata de famílias que estão inseridas nas atividades
religiosas de uma igreja e, além disso, são famílias de classe média, com realidades
diferentes do segundo universo. Já este outro universo, trata de famílias de uma
comunidade, na qual as pessoas possuem um padrão de vida econômica mais
baixo, e não fazem parte da igreja, mas que em algum momento já participaram do
projeto Hefzibá.
De um modo geral, as famílias do universo da Igreja são indivíduos que
vivem uma realidade mais pacata, que possuem certa estabilidade em suas
condições de sustento e modo de viver. Já as famílias do segundo universo, da
Comunidade 2000, são indivíduos que enfrentam diariamente as dificuldades de
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quem mora dentro de uma “favela”, assim denominada por eles mesmos. Esses
indivíduos presenciam vendas de substâncias químicas ilegais e o constante uso
destas substâncias por parte dos jovens que moram no local. Os moradores dessa
Comunidade relatam que não podem reclamar de tal fato. Além do mais, o local é
constantemente invadido por policiais que, segundo relatos, entram na Comunidade
e nas casas a procura dos pontos de vendas de substâncias químicas e a procura
de supostos suspeitos de assaltos. Enfim, os moradores dessa Comunidade são
indivíduos que vivem dentro de uma realidade com várias expressões da questão
social e que vivenciam conflitos com estas situações difíceis de serem enfrentadas.
Em meio às diferenças observadas, inegavelmente também foram
constatadas semelhanças que aproximam os diferentes sujeitos da pesquisa. Dentre
elas, pode-se destacar o fato de todos, em algum momento, já terem tido contato
com o ensino religioso. Outro fato importante é a questão de que as famílias
envolvidas na pesquisa, independente do universo, destacaram pontos que acham
desafiadores na hora de educar, o que mostra que qualquer que seja o universo,
sempre há dificuldades. Todos os sujeitos da pesquisa disseram que educar os filhos
é tarefa complicada.
O primeiro universo foi de mais fácil acesso, tendo em vista o trabalho que
já realizo com as crianças das famílias pesquisadas. Sendo assim, somente foi
preciso comunicar ao responsável pela Igreja que a pesquisa estava sendo feita e
conversar com as famílias escolhidas para que autorizassem o contato com as
crianças a respeito do tema em questão e para realizar as entrevistas.
No segundo universo, embora os sujeitos da pesquisa já tenham algumas
vezes participado das ações do projeto Hefzibá, a primeira dificuldade foi a de
conseguir entrar na Comunidade para estabelecer o primeiro contato e pedir
autorização para a participação dos indivíduos na pesquisa. Sendo assim, foi
necessário pedir ajuda de uma pessoa que mora dentro da Comunidade 2000, para
que me acompanhasse até o local a fim de conversar com as famílias. Nesse
universo, outras dificuldades surgiram no decorrer da pesquisa. Ao terminar a
primeira entrevista, houve um encontro com vários jovens usando drogas na saída
da Comunidade, sendo perceptível que eles se sentiram coagidos por haver alguém
não conhecido do local e, por isso, ficaram observando toda a duração da pesquisa.
No decorrer da segunda entrevista, as pessoas relatavam as dificuldades de educar
seus filhos em meio àquela comunidade cercada de “maus exemplos” e que os
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jovens faziam uso de substâncias químicas na frente da sua casa. Ao reclamar, eles
diziam “quem mora na favela só manda da porta pra dentro”, e no momento desses
relatos, tais pessoas tiveram que baixar o tom da voz para que nenhum dos
indivíduos considerados perigosos os ouvissem falar, pois na comunidade, as casas
são pequenas, parede com parede, e a porta da casa já sai nas vielas, não
possuindo privacidade para conversar mais a vontade, pois as conversas de dentro
de casa são ouvidas do lado de fora.
É nessa perspectiva que deve-se observar que pensar em educação e
família juntas leva a uma reflexão com cuidado em determinados pontos, e, para
isso, serão tomadas como base perguntas norteadoras. Qual a relação entre a
família e educação? De que forma os pais influenciam na socialização dos filhos?
Qual a influência da educação familiar na formação da criança? Quais as
consequências de uma “má” educação? Como a realidade ao redor da criança pode
influenciá-la? Até que ponto a educação religiosa enfluencia na educação familiar?
Desse modo, a presente pesquisa abordará todos esses questionamentos
e mostrará a relevância que cada sujeito pesquisado demonstrou em relação a
temática trazida e, assim, tentar contribuir para o desenvolvimento do objeto
estudado.
3.4 Percurso metodológico
A pesquisa, conjunto de procedimentos utilizados a partir de uma
abordagem metodológica, resulta na obtenção de informações sobre a realidade. O
percurso metodológico adotado na presente pesquisa se caracteriza por um estudo
de cunho qualitativo que analisou a influência da educação familiar na formação e
socialização das crianças. Segundo Gil (2011, p.12), “pode-se definir método como
caminho para se chegar a determinado fim”. Existem vários caminhos que poderiam
ter sido escolhidos para percorrer durante a pesquisa, mas o caminho escolhido está
relacionado com o lugar onde se pretende chegar. A metodologia científica busca
opções historicamente construídas para conhecer a essência do objeto abordado e
assim fazer reflexões acerca dos atuais acontecimentos e fenômenos. Sendo assim,
a escolha metodológica foi feita com o intuito de se aproximar do objeto de estudo,
sem qualquer pré-noção de superioridades de métodos.
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A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilha com seus semelhantes. O universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em número e indicadores quantitativos. (MINAYO, 2012, p.21)
O método escolhido está relacionado com o objetivo a ser alcançado e
com os propósitos de investigação. Sendo assim, através da pesquisa qualitativa foi
possível observar os significados dos relatos das entrevistas e analisá-los conforme
a realidade em que esses sujeitos estão inseridos.
Para a realização desta pesquisa foi feita uma pesquisa bibliográfica
documental, a fim de compreender melhor os estudos já realizados a respeito da
influência familiar no aspecto da educação infantil, e conhecer as pesquisas já
elaboradas acerca do assunto. Essa pesquisa possibilitou ter um trabalho mais
consistente, embasado em estudos já realizados e possibilitando unir mais
informações para acrescentar ainda mais ao assunto abordado. Conforme explicita
Minayo (2010, p. 20):
O pesquisador que assumir tal objeto de pesquisa deve partir para uma busca bibliográfica sobre cada uma das expressões citadas e trabalhá-la historicamente, com as divergências e convergências teóricas, para só depois colocar sua posição e suas hipóteses.
Uma aproximação com pesquisadores que tenham afinidade com o objeto
de pesquisa será buscada para que se possa analisar e se aproximar mais da
realidade, tendo como embasamento a visão crítica de outros pesquisadores, de
forma que estes possam colaborar com a referida pesquisa. Conforme afirma
Gondim (1999, p. 25):
A preparação de um projeto de pesquisa, por si só, requer um mínimo de familiaridade com o objeto a ser investigado (...), este só pode ser definido ao longo de um processo de construção do conhecimento, mediante sucessivas aproximações com a realidade empírica e com a construção de elaborações teóricas sobre o fenômeno pesquisado. (GONDIM, 1999, p.25)
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Uma aproximação com o campo foi realizada antes da realização da
pesquisa, para proporcionar um maior conhecimento da realidade pesquisada e dos
sujeitos. Dessa forma, realizou-se apenas uma observação simples, para,
posteriormente, ter-se mais propriedade para analisar os fatos narrados pelos
próprios sujeitos pesquisados.
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados se deram através da
entrevista semi-estruturada, que permitiu uma maior flexibilidade durante a
abordagem com as famílias e para obtenção de um maior conhecimento a respeito
das informações relacionadas ao objeto pesquisado. Com as crianças, utilizou-se a
observação flutuante do comportamento delas, além de ter sido realizado um grupo
focal, a fim de ouvir deles próprios os seus significados sobre família e entender
como eles se percebem nesse processo de educação, bem como também
desenhos, para enriquecer o projeto com as informações reveladas pelos indivíduos.
Foram abordadas questões que englobam a família, de um modo geral,
na educação das crianças, buscando compreender as informações referentes à
realidade vivida pelas famílias entrevistadas. As técnicas escolhidas constituem os
métodos que se acredita serem os melhores para obtenção de resultados diante de
tal questionamento e dos objetivos da pesquisa, uma vez que possibilitou apreender
as diferentes visões de mundo dos sujeitos entrevistados. Dessa forma, buscou-se
através de um olhar sensível para a realidade e de uma escuta qualificada,
identificar os principais aspectos mencionados pelos indivíduos da pesquisa.
No tocante a natureza empírica do estudo, a pesquisa foi realizada com
seis famílias do bairro Presidente Kennedy, no qual três estão inseridas nas
atividades da Igreja Batista, e as outras três fazem parte da Comunidade 2000,
localizada no mesmo bairro, e que participam das atividades do Projeto Social
Hefzibá.
Para a realização das entrevistas, foi pedida autorização de cada família,
e elas assinaram um termo de consentimento, como orienta a ética da pesquisa.
Todos os sujeitos pesquisados terão suas identidades preservadas, sendo utilizados
apenas nomes fictícios.
O registro de informações colhidas durante a pesquisa de campo foi
através do uso de um gravador e com anotações em forma de diário de campo. Logo
após, as entrevistas foram transcritas a fim de manter cada depoimento conforme
sua forma original. A partir desses registros é que foi possível compreender as
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percepções de cada indivíduo e fazer as devidas análises, finalizando com uma
comparação entre as famílias pesquisadas e as informações do levantamento
bibliográfico.
3.5 A pesquisa com crianças
Para a realização da pesquisa com as crianças foi necessário utilizar de
um olhar investigativo para observar a realidade em que cada uma está inserida, e
analisar de forma detalhada e cuidadosa suas respostas frente ao grupo. A pesquisa
com crianças ao passo que é uma experiência enriquecedora para conhecer melhor
este universo, também é uma experiência que exige maior atenção, a fim de
compreender suas respostas. Também foi necessário ter uma flexibilidade com os
entrevistados mirins e articular as discussões para que eles pudessem se sentir a
vontade para responder.
Como pesquisadora social, torna-se necessário estar atenta à realidade
que está sendo estudada, com o intuito de entender a dinamicidade em que está
inserida, tendo em vista que a realidade vive em constante movimento, sendo
necessário compreender que demandas distintas surgirão. Deve-se observar com
um olhar crítico as relações sociais para então compreender como ocorre esta
dinâmica.
3.6 As famílias como sujeitos da pesquisa
A pesquisa se faz necessária, visando-se aprofundar na realidade social
para investigar e interpretar o objeto de estudo no processo social, as situações
desafiadoras, as contradições e a relação entre os sujeitos da pesquisa e a
sociedade. Foi através da pesquisa de campo que muito se observou as múltiplas
expressões da questão social, as quais estão claramente expressas nas
desigualdades e nas contradições da sociedade.
Inicialmente, foi traçado um perfil para as pessoas que participaram das
entrevistas, tendo como base os objetivos definidos pela pesquisa.
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1º Grupo de Pesquisa - Este primeiro grupo é de pessoas que fazem
parte da Comunidade 2000 e que em algum momento participaram de alguma
atividade oferecida pelo Projeto Hefzibá.
1ª Família: Rosa - Do lar, casada e possui três filhas, Larissa (11 anos),
Luciana (09 anos) e Laura (07 anos).
2ª Família: José - Autônomo, casado e possui dois filhos, Davi (07 anos)
e Daniele (06 anos).
3ª Família: Bianca – Doméstica e solteira. Possui três filhos, Pedro (27
anos), Júlio (25 anos) e Sofia (10 anos). Sofia teve pouco contato com seu pai, que
nos últimos anos não tem procurado a filha. Dessa forma, ela vê seu irmão Júlio
como a figura paterna; mesmo sabendo que ele é seu irmão, ela o chama de pai.
2º Grupo de Pesquisa - Este segundo grupo é referente às pessoas que
participam ativamente da Igreja Batista.
4ª Família: Antônia – Costureira e casada. Possui quatro filhos, Lucas
(25 anos), Mateus (22 anos), Alice (18 anos) e Michele (10 anos).
5ª Família: Eduarda – Autônoma e casada. Possui duas filhas, Thaís (08
anos) e Elane (02 anos).
6ª Família: Roberta - Auxiliar de enfermagem. Possui três filhas, Amanda
(25 anos), Gisele (23 anos) e Letícia (16 anos). A criança da pesquisa é Érica, de 07
anos, e é neta, porém mora com a mesma desde quando nasceu. O pai da criança,
seu filho mais velho, faleceu há 05 anos, e a mãe da criança desde quando a
mesma tinha 01 ano esta deixou o pai da criança e achou por bem deixar a criança
com a avó paterna.
A pesquisa de campo foi bastante proveitosa para a abordagem do tema
em questão, mas ao mesmo tempo foi uma situação desafiadora. Para a realização
das entrevistas com os pais das crianças, um dos grandes desafios foi conseguir
deixar os entrevistados à vontade, pois todos tiveram certo receio ao falar, devido ao
gravador, sendo observado que alguns se intimidaram com isso. Já na pesquisa com
as crianças, o desafio foi a timidez de alguns e também de fazer com que as elas
dessem respostas verdadeiras, sem repetir o que os colegas estavam falando, já
que foi um grupo focal e a entrevista foi realizada com todas as crianças juntas. Mas
essas situações serviram de amadurecimento para próximas pesquisas, e a
pesquisa foi concluída com material suficiente para o estudo.
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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
4.1 Infância
A infância há alguns anos atrás não era vista de forma a ser valorizada,
pois na abordagem de Ariés (1981), no período da sociedade medieval, a ideia de
infância nem ao menos existia, ou seja, nesse período faltava atenção à natureza
particular da infância, que pudesse diferenciar a criança do adulto. Esta falta de
percepção da infância, por muito tempo se estendeu e não se tinha muito interesse
em realizar estudos sobre crianças. Por esse motivo, havia uma quase que total
ausência de estudos e pesquisas sobre criança. Mas, segundo Corsaro (2011, p.17):
Atualmente, a situação é muito diferente. Um grande e crescente número de monografias, obras publicadas e artigos de periódicos abordam questões teóricas e relatam conclusões empíricas relacionadas ao estudo sociológico das crianças e da infância. A socialização da infância tem recebido extensa cobertura em textos introdutórios básicos da sociologia; novos periódicos e seções de associações nacionais e internacionais dedicados à sociologia da infância foram criados [...].
É possível perceber que grandes mudanças ocorrem no decorrer do
tempo no que diz respeito à valorização da infância. Ainda é habitual ver que os
indivíduos percebem as crianças de forma prospectiva, estão sempre observando e
pensando no que se tornarão quando crescer, o futuro costuma ser o que faz os
adultos se preocupar com as crianças. Afirma Jens Qvortup (apud CORSARO, 2011,
p. 17) que “as crianças não foram tão ignoradas quanto foram marginalizadas”. A
expressão utilizada se refere ao fato de as crianças serem vistas em um processo de
socialização apenas, e são colocadas pelos adultos às margens da estrutura social.
4.1.1 Percepção de infância para os adultos da pesquisa
A infância nos dias atuais é percebida como um estágio no qual todos
passam e que deve preparar para a fase adulta. Durante a pesquisa foram colhidos
vários relatos de pais que demonstraram a preocupação com esta infância relatando
a importância de ter uma infância bem planejada, a fim de construir alicerces para o
futuro.
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É notável que as famílias possuem uma visão sempre prospectiva em
relação as crianças, estão sempre pensando no que elas poderão ser quando
crescer. Segundo Corsaro (2011, p.18), esta visão nos dias atuais é comum:
[...] é comum que os adultos vejam as crianças de forma prospectiva, isto é, em uma perspectiva do que se tornarão – futuros adultos, com um lugar na ordem social e as contribuições que a ela darão. Raramente as crianças são vistas deforma que contemple o que são – crianças com vidas em andamento, necessidades e desejos.
Nesse sentido, compreende-se que os adultos envolvidos com as
crianças desenvolvem uma preocupação e um cuidado com o seu futuro. Dessa
forma, percebe-se que a ideia trazida por Ariès (1981) a respeito da época Medieval
se modificou com o decorrer do tempo.
Com o decorrer da pesquisa também foi possível perceber que a ideia
mostrada por Durkheim (2012) em relação à percepção da criança como um ser
individual que com os ensinamentos vai se tornando um ser social, que internaliza a
sociedade é bastante aceita por esta atual sociedade. Embora nos dias de hoje já
haja um discurso um pouco mais modificado, Corsaro (2011) aborda a história das
crianças não apenas como indivíduos que internalizam os conhecimentos dos
adultos, mas que também são sujeitos que participam das atividades coletivas e
também compartilham e criam culturas entre si.
4.1.2 Percepção de infância para as crianças da pesquisa
As crianças da pesquisa demonstraram diferentes comportamentos e
diferentes percepções quando a infância e quanto a si mesmo. Todas as seis
entrevistadas possuem a mesma faixa etária, entre sete e dez anos, mas com
diferentes observações.
Ao serem questionados sobre desenhos animados, sobre programas e
passeios, cada um se colocou com diferentes posturas. As crianças do primeiro
grupo se posicionaram da seguinte forma: “Gosto de brincar de tudo. Gosto de
passear pro North Shopping, de ficar brincando na pracinha, é legal. E gosto de
assistir seriado e desenho, iCarly, Todo mundo odeia o Cris” (SOFIA, 10 anos).
Observa-se que Sofia se posicionou bem aberta às brincadeiras, desenhos e
seriados, colocando-se como uma criança que gosta de passear para locais onde
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possa brincar. Igualmente a ela, Luciana: “Gosto de brincar de pega-pega, jou ajuda,
de todas as brincadeiras. E gosto de assistir Carrossel, quando passa iCarly é legal
também” (LUCIANA, 2013). Da mesma forma Davi, demonstrou seu gosto por
brincadeiras: “Gosto de brincar de pega-pega. Eu gosto de futebol” (DAVI, 2013).
As crianças do primeiro grupo demonstraram gostar de brincar e as
meninas de assistir seriados e desenhos, que, para a idade delas, Lívia com 09 anos
e Sofia com 10 anos, demonstram gostar bem mais de seriado. Elas também
falaram de brincadeiras que as agradam. As crianças do segundo grupo tiveram
respostas bem semelhantes: “Ai eu gosto de ser engraçada, oh, brincar de várias
coisas, ir pra restaurante que tem brinquedo (...). Gosto de assistir Bob Esponja,
Chaves, porque ele é engraçado” (ERICA, 2013).
[...] eu gosto de passear pra lugares que nunca fui, eu gosto de descobrir as coisas, e a minha mãe diz que eu sou aventureira (risos). E a brincadeira que eu gosto é todo tipo de brincadeira, o que inventar eu brinco, sempre gostei de brincar só que eu não tenho ninguém pra brincar, aí as vezes eu brinco sozinha, fico falando sozinha, as vezes vou lá pra Thaís brincar. Eu gosto de assistir Bob Esponja, gosto de assistir na Sky, Icarly, se minha mãe tiver assistindo filme eu assisto com ela qualquer coisa, mas meu desenho preferido mesmo é bob esponja” (MICHELE, 2013).
Eu puxei mais minha tia porque ela gosta de tá saindo pros cantos e sempre que ela vai na minha casa e peço pra sair com ela. Aí eu gosto de sair pra shopping, pro Iguatemi (...) Aí as vezes a Michele ela vai lá pra minha casa pra gente brincar, as vezes ela tá lá no pé da minha porta, mas as vezes quando eu tô assistindo ninguém me tira, só minha mãe e meu pai.E eu sou viciada em Chiquititas e Violeta” (THAÍS, 2013).
As crianças do segundo grupo tiveram respostas semelhantes a respeito
de brincadeiras em relação ao primeiro grupo. As diferenças foram no que diz
respeito a passeios e as desse último grupo se expressam bem mais a respeito de
lugares que gostam de frequentar.
Através das falas é possível compreender que as crianças percebem,
mesmo que de forma inconsciente, sua infância e que gostam de brincar, de assistir
desenhos, de passear. Também foi possível notar que já nesta faixa etária elas já
começam a se perceber um pouco mais maduras para determinadas coisas. Como a
mãe da Thaís relatou: “ela não gosta mais de desenhos, diz que é coisa de bebê, só
assiste seriado” (EDUARDA, 2013), mesmo que só tenha oito anos Thaís já acha
que desenho animado é uma programação para bebês e não para ela.
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4.2 Educação
A educação, executora de importante papel na sociedade, é vista como o
ato de ensinar e aprender, compreendida por Durkheim (2012) como o ato de
socialização das gerações mais jovens.
Segundo Durkheim (2012, p. 51), “[...] a educação, a partir de
determinada idade, não pode mais continuar a mesma para todos os sujeitos aos
quais ela se aplicar. É por isto que, em todos os países civilizados, ela tende cada
vez mais a se diversificar e se especializar”.
É importante compreender que Durkheim (2012) traz em sua obra que a
especialização da educação está voltada para a formação da criança, conforme a
mudança de sua idade. Os ensinamentos mudam de acordo com o tempo que a
criança cresce e se desenvolve. Sendo assim, deve-se compreender que a
educação tem diversas expressões e é diferente em sua forma de se aplicar a cada
sujeito.
4.2.1 Educação para os adultos da pesquisa
A princípio, pode-se dizer que os sujeitos da pesquisa ao serem
questionados sobre o significado de tal expressão demonstraram um pouco de
surpresa e, a princípio, certa dificuldade em responder. Logo em seguida
demonstraram que a educação é tida como de fundamental importância para a
formação e socialização das crianças. A dificuldade pode ter surgido devido ao
grande contexto que engloba a educação em si, podendo ser levada para o lado
familiar, escolar ou até mesmo dos pequenos detalhes diários que, algumas vezes,
se deixam esquecer. Segundo Durkheim (2012, p. 50):
Ainda hoje, não vemos a educação variar com as classes sociais ou mesmo com os habitats? A da cidade não é igual à do campo, a do burguês não é igual à do operário. Dirão por aí que esta organização não é moralmente justificável e pode ser considerada como um anacronismo destinado a desaparecer. A tese é fácil de defender. É óbvio que a educação dos nossos filhos não deveria depender do acaso que os faz nascer aqui ou lá, de tais pais em vez de outros. Porém, mesmo que a consciência moral de nosso tempo tivesse sido satisfeita neste ponto, nem por isso a educação seria mais uniforme.
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Entende-se que a educação possui várias formas que variam
constantemente, dependendo do local e da classe social, ou seja, não há um
padrão. De fato, a educação não poderia depender de fatores aparentemente tão
supérfluos, mas foi possível perceber este discurso presente na realidade dos
sujeitos da pesquisa.
A afirmação de Durkheim (2012) foi identificada nos relatos da Sra. Rosa,
que ao ser indagada sobre educação, afirmou que a educação não depende
somente do que ela enquanto mãe ensina para suas filhas, mas também do que elas
presenciam, seja na escola ou no local onde moram, dando ênfase às dificuldades
que enfrenta na comunidade onde mora.
[...] se eu for te dizer o que é educação é tanta coisa, né, porque a gente ensina de um jeito e o mundo ensina de outro, minha filha. A gente educa, eu ensino a respeitar os mais velhos, eu ensino a não falar nome feio, porque tudo isso é educação, né. Eu sempre ensino isso a elas, eu acredito que, pra mim tudo isso é educação. E eu ensino elas dessa forma, mas só que eu ensino de um jeito e o mundo de outro. Aí é difícil, principalmente no lugar onde eu moro. (ROSA, 2013)
Observa-se nos relatos de Rosa, que para ela a educação de suas filhas
é comprometida pelo espaço em que vive, relatando que dentro da Comunidade
2000, há local de vendas de substâncias químicas ilegais, os jovens frequentemente
fazem uso das mesmas e não se importam se as pessoas que moram no local estão
vendo, se são crianças ou não. A senhora ainda afirmou que tais indivíduos não
respeitam a presença dos filhos das pessoas da Comunidade, demonstrando
preocupação em saber que embora a mesma ensine os caminhos que acha correto
para as filhas, está ciente de que o que elas estão vendo é diferente. Demonstrou
também uma grande aflição em morar no local, pois afirmou que quando as filhas
querem brincar fora de casa, à mesma se preocupa por ser um local onde residem
pessoas que são “marcadas” por policiais e até mesmo por gangues. Essas pessoas
convivem no mesmo espaço que suas filhas, pois o local é feito de pequenas vilas, e
o medo da Sra. Rosa é que, em meio às confusões entre estes indivíduos, que
constantemente andam de posse de armas de fogo, algo de ruim possa acontecer
com suas filhas.
A educação é vista de várias formas pelos diferentes sujeitos da pesquisa:
“educação é ensinar e aprender ao mesmo tempo. Você ensinando seu filho, né,
como a Bíblia diz, ensina teu filho no caminho que deve andar. Eu acho que uma
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boa educação é tudo pro futuro de uma criança” (ANTÔNIA, 2013). Neste relato,
Antônia mostra que sua realidade já faz parte de outro contexto, reflete a educação
fazendo menção a trechos da Bíblia, e afirma que é através de uma educação de
qualidade que se faz um bom futuro para a criança.
Educação é ensinar a realidade da vida, é saber dizer sim e saber dizer não na hora certa, e se impor. Ensinar o respeito, respeitar as pessoas. A má educação reflete em um futuro sem qualidade. Porque uma má educação prejudica o crescimento dela, o futuro de uma criança depende do agora. (ROBERTA, 2013)
Nos relatos acima, Roberta, que faz parte do segundo grupo de pesquisa,
também demonstrou a mesma preocupação com o futuro da filha, relatando a
educação de forma que se deva fazer a criança compreender sobre o cotidiano e
que os responsáveis por esta educação saibam impor limites.
A educação também foi interpretada como desafiadora, na qual muitos
relatos trouxeram situações que, segundo os sujeitos da pesquisa, necessitam de
sabedoria para saber lidar com elas. Conforme Eduarda (2013):
A educação traz muitos desafios. Eu acho que é você ter uma família bem estruturada, aí você consegue enfrentar os desafios, no caso, se eu não tiver bem estruturada eu não vou conseguir da uma boa educação e eu vou encontrar desafio pela frente. Tem criança que tudo o que quer grita e se a gente liberar uma vez aí sempre vai querer ganhar no grito, uma vez o pediatra ate explicou porque a criança ela não pode ganhar a gente no grito, porque tem criança que chora, chora, berra, berra, até você dar aquilo, diz até que prefere dar pra não tá chorando né? E é errado. É porque a gente quer se livrar do problema, pra não chorar dentro da igreja, pra não chorar nos cantos, pra não acontecer outras coisas aí a gente prefere ceder, e isso é que é errado. E não podemos ceder, tem que ser firme. Aí o pediatra dizendo, né, deixe chorar três dias, quando ver que não vai ter mesmo aí a criança sabe. (...) Isso aí pra mim eu acho que já começa a ser um desafio, porque isso ele vai levar pro resto da vida. (EDUARDA, 2013)
Muitas vezes, para tentar evitar situações constrangedoras no meio de
pessoas ou em determinados locais, os responsáveis pelas crianças acabam
cedendo aos desejos destes e, segundo a entrevistada Eduarda, acabam mal
acostumando os filhos, que veem nesta situação uma forma de conseguir o que
querem, e, para não se sentir constrangido, o adulto acaba acatando a vontade da
criança. Para ela isso pode desenvolver um grande problema para o futuro da
criança, que irá se habituar a conquistar seus desejos através de gritos,
constrangendo seus pais, e levará essa maneira de conquista para toda a vida.
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A educação possui tantas vertentes a serem discutidas, e em meio a
estes desafios, os pais relataram quais ensinamentos procuram trazer aos filhos:
O que eu ensino mais assim pra Thaís é que eu não quero que ela minta, fale sempre a verdade, porque a mentira um dia pode prejudicar, que ela venha a obedecer, que ela tenha respeito às pessoas. Porque a Talita, por ela ter tudo, às vezes ela quer se desfazer das pessoas, e eu digo a ela que não pode ser assim, que a gente tem que compartilhar com todos, se a fulaninha não tem então ela tem que chamar e dizer que da o dela, sempre ajudar um ao outro. (EDUARDA, 2013)
Eu tento trazer o melhor mulher, eu tento ensinar o que eu acho melhor pras elas, né. É o que eu tava lhe falando no início, eu ensino essas coisas pra elas que já lhe falei: respeitar, não dizer nome feio, e também elas não ficarem perto dessas criaturas porque aqui dentro é muita droga, todo mundo sabe, eu tento ensinar olha não fica perto, não fica aí de frente a essas criaturas. Porque são umas pessoas que são marcadas, né? Aí elas ficam ali fora e eu digo, porque eu tento fazer o melhor por elas. Eu tento afastar pra prevenir, mas só que não tem nem como. Porque aqui dentro é direto, eles ficam aí na porta da gente, é fumando, é usando droga. Às vezes ate umas meninas da igreja vem aqui dentro chamar elas, e eles ficam é fumando na cara da mulher, aí elas chegam até a reclamar. Mas eles não querem saber disso, né? Eles dizem pra gente que “quem mora na favela só manda da porta pra dentro”. Aí eu mando elas ficarem de porta fechada, não ficar perto deles, eu tento fazer do melhor que eu posso mesmo, mas nunca, menino é bicho sem vergonha, quando da fé já tão tudo lá fora, aí pronto, é difícil. Porque pra gente criar menino hoje em dia eu vejo assim, eu vivo com o pai delas já é difícil, imagine quem vive só com a mãe, mas é o que eu to lhe dizendo, tem pai elas tem, mas só cai pra cima de mim, porque quem fica mais sou eu, ele trabalha direto, aí é mais é pra mim. (ROSA, 2013)
Embora aparentemente os ensinamentos sejam bem semelhantes, em
termos de como se comportar e de como agir, há algo de diferente que se pode
comparar nos relatos entre os diferentes grupos: o segundo grupo, que se trata das
famílias envolvidas na Igreja e possuem uma maior estabilidade, demonstram
maiores preocupações apenas com o comportamento dos filhos, enquanto o
primeiro grupo, de pessoas que vivem em um contexto com várias expressões da
questão social demonstram que sua maior preocupação é com o que eles aprendem
fora de casa, são com os exemplos que eles têm na rua.
É muito difícil educar porque é muito desafio que a gente tem, porque eu tenho medo assim até do que eles possam aprender no colégio, porque eu tento passar o melhor pra eles, levo eles pra igreja, já parei de beber, já parei de fumar, só pra tentar educar eles melhor. Mas até no colégio mesmo eles aprendem outras coisas que aqui dentro de casa eles não vão ver. (JOÂO, 2013)
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João, que faz parte do primeiro grupo, também demonstra a mesma
preocupação que a Sra. Rosa, pois afirma ele que, muitas vezes, os próprios
colegas chegam na escola tendo ações que, para ele, conforme é coloca pela
sociedade são ações incorretas, que ele tem o cuidado de ensinar aos filhos porém
os colegas dão outros exemplos. Ele afirma que crianças costumam fazer aquilo que
veem.
A educação na realidade das famílias tem demonstrado ser um aspecto
importante ao mesmo tempo em que não depende somente da família em si,
segundo relatos dos sujeitos da pesquisa, por não depender somente desses que
enfrentam a educação como uma situação desafiadora.
A religião, segundo Toscano (1984), possui aspectos sociais que incidem
sobre a coletividade e, portanto, exerce influência na socialização dos indivíduos.
Dessa forma, o intuito é analisar a religião de forma a compreender quais as
influências que os ensinamentos desta também possui em relação à educação das
crianças.
Para Tomazi (1997), a Igreja é uma instituição que possui peso nesse
processo de indivíduo e sociedade, alegando que muitas crianças possuem algum
tipo de ligação desde cedo com a religião, seja qual for.
De acordo com os relatos durante as entrevistas, os pais do segundo
grupo afirmaram a ideia de que os ensinamentos da Igreja fortificam os seus
ensinamentos, e que seus filhos aprendem conforme lhes são ensinados dentro
desta instituição. Conforme fala Antônia (2013), “ela comenta muito o que aprende
na Igreja. É um bom espaço de aprendizado. Tudo o que ela aprende, tudo o que ela
vê, ela aprende assim, rapidinho. Tanto na Igreja como na escola”.
Mas para Eduarda, assim como a igreja pode ser um espaço de
ensinamentos positivos para sua filha, ela também pode ser um espaço negativo,
onde através dos exemplos ela aprenderá, como relata:
Às vezes, porque ela é muito detalhista, curiosa, ela é muito ativa, às vezes ela conta do que se passa na Igreja pra gente. Nem tanto do que é ensinado, é mais das brincadeiras e, às vezes, alguma coisa de alguma professora que ela não acha legal, né? Que eu quero combater. Ela em casa, aí ela diz: “ah, a professora faz isso, porque que eu não vou fazer?” Tá entendendo? A professora pra ela é um exemplo.(EDUARDA, 2013)
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É possível notar através dessa fala, que Thaís, filha de Eduarda, se
compara com a professora que tem dentro da igreja, e ela faz da pessoa que lhe
ensina uma figura de exemplo, e que, embora sua mãe lhe diga que não deve fazer
algo, ela consegue rebater usando a professora como justificativa. Ou seja, a criança
não aprendeu somente com o que ela ouviu ensinarem a ela, mas com o que ela
também viu. Porque se ela vê a professora da igreja fazendo, ela entenderá que
também poderá fazer, tendo em vista que essa pessoa é quem traz os ensinamentos
dentro dessa instituição.
Witter (2009) aborda em sua obra a responsabilidade que todos dentro de
uma sociedade possuem a respeito da educação moral:
[…] todos em uma sociedade são responsáveis pela educação moral, pela formação e manutenção de valores. Certamente, os líderes sociais, políticos, religiosos, bem como outras pessoas de destaque na sociedade por sua evidência e possivelmente maior impacto, são também responsáveis por esta formação, são modelos que podem ajudar, destruir ou substituir valores relevantes. (WITTER, 2009, p.119)
Compreende-se através deste trecho de Witter (2009), que pessoas que
exercem papéis de destaque, que são pessoas de cargos de liderança, trazem uma
maior influência, pois, devido ao seu cargo, causam impacto na vida dos indivíduos
que normalmente usam as pessoas de papéis de destaque na sociedade como
exemplo. Sendo assim, pode-se perceber nessas palavras o que Eduarda relatou
anteriormente a respeito dos exemplos que sua filha observa e busca seguir.
Já as pessoas do primeiro grupo trouxeram relatos apenas de contatos
mais supérfluos a respeito da religião, pois conforme falaram nas entrevistas, não
percebem nenhuma forte influência da religião na vida das crianças, tendo em vista
que são famílias que participam esporadicamente das atividades do projeto,
observam que as crianças apenas comentam sobre brincadeiras que participaram ou
de outras situações.
“Ela falava das brincadeiras, sem falar que, às vezes, sempre tem uma
criança, né? Aí ela comentava: „mãe, fulano de tal arengou comigo‟. Só essas coisas
de menino mesmo, de criança” (ROSA, 2013).
“Não, só falava que era bom mesmo, eles gostavam. Falavam da aulinha,
que desenhavam” (JOÃO, 2013).
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Nesse contexto, as famílias não demonstraram nenhum tipo de influência
da religião sobre a vida de seus filhos, aparentemente com as entrevistas estes não
fizeram nenhum relato que fosse possível perceber que os ensinamentos da
instituição incidiram sobre a forma de ser ou de se comportar.
4.2.2 Educação para as crianças da pesquisa
As crianças também possuem sua forma de perceber a educação e
trazem expressões educacionais conforme o que seus pais as ensinam. Todas, ao
serem questionadas sobre isso, responderam conforme o que os pais dizem para
elas.
“Educação é obedecer meus pais, não falar palavrão, quando minha mãe
me mandar eu fazer alguma coisa, eu pego e faço. Tudo que ela falar pra mim eu
tenho que fazer porque ela é minha mãe, né?” (SOFIA, 2013).
“Educação pra mim é não ser teimosa, é chegar nos cantos e sentar
direito, que minha mãe vive falando isso pra mim, é não responder na frente dos
outros. Às vezes, ela me dá um beliscão pra mim se aquietar” (THAÍS, 2013).
Embora sejam crianças, elas já compreendem os ensinamentos trazidos
por seus pais e ao serem perguntadas sobre a educação, imediatamente deram
respostas envolvendo os ensinamentos dos pais. Nenhuma delas falou a respeito de
escola ou de outra instituição, apenas da educação da família.
Segundo Durkheim (2012, p. 68):
Entre as virtualidades indecisas que constituem o homem no momento em que ele acaba de nascer e a personalidade bastante definida que ele deve modelar para desempenhar um papel útil na sociedade, a distância é, portanto, imensa. É esta distância que a educação deve fazer a criança percorrer. Um vasto campo está aberto para a sua ação.
Há um grande espaço entre o nascimento de uma criança e a definição de
sua personalidade, e segundo Durkheim (2012), esta distância deve ser preenchida
com a educação, que deve ser aproveitado espaço para agir de forma a contribuir
para a formação da personalidade da criança, modelando conforme os padrões
sociais.
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A educação religiosa traz alguns aspectos de espaço de ensinamento
para as crianças do segundo grupo, pois para elas, a igreja é compreendida como
um espaço de ensinamento a respeito da Bíblia. Conforme mencionado:
“Ah, na Igreja eu aprendo sobre Deus, as histórias da Bíblia, o que é certo
e errado. Eu gosto” (ÉRICA, 2013).
Observa-se que para a criança a instituição onde a educação religiosa é
proposta é um espaço de aprendizado, de conhecer sobre histórias da Bíblia. Mas
outra criança fez menção à educação religiosa sem fazer ligação com a igreja, mas
associando com os ensinamentos dos pais, que, de certa forma, pode-se dizer que
estão relacionados ao que os próprios pais aprendem na igreja e levam para seus
filhos.
Meu pai e minha mãe me ensinam assim: que eu tenho que me aproximar mais de Deus, porque mesmo meu pai não sendo crente, ele me ensina isso. E minha mãe que é da igreja, me ensina que ter educação é obedecer a ela e não só a ela, mas também os outros. Eu tenho que obedecer a qualquer pessoa e, principalmente, a Deus. (MICHELE, 2013)
Em contrapartida, as crianças do primeiro grupo não mencionaram nada a
respeito de religião e não associaram os ensinamentos de seus pais a qualquer tipo
de instituição religiosa. Essas são crianças que participam das atividades sociais do
Projeto Hefzibá, mas não de forma ativa e constante. O Projeto tem vários
momentos durante suas ações sociais onde os indivíduos abordam os ensinamentos
da Bíblia, a fim de que a comunidade os conheça, mas, aparentemente, através das
falas das crianças não foi notado nenhum tipo de influência em suas vidas por parte
desses ensinamentos.
Durkheim (2012, p. 63) aborda o fato de que a educação não pode deixar
de ter a ação do Estado, “uma vez que a educação é uma função essencialmente
social, o Estado não pode se desinteressar dela. Pelo contrário, tudo o que é
educação deve ser, em certa medida, submetido à sua ação”. Muitas vezes, o
Estado se ausenta do dever de garantir a educação de todos e essa
responsabilidade é transferida, seja para os pais ou para outras instituições que a
tomam para si e tentam desenvolver ações que possibilitem o acesso a educação.
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4.3 Família e educação
Para compreender o termo família, torna-se necessário entender que
atualmente existem diferentes formações familiares e que cada uma possui uma
realidade distinta, que influencia na sua forma de ser e nas suas ações com os
demais membros.
O que é família hoje? É ilusório supor que ela seja um organismo padrão em todas as nações, mesmo dentro de uma nação, de uma pequena vila ou da zona rural. Há inúmeros tipos e combinações de pessoas e de relações que são denominadas “famílias”. Hoje sobrevivem famílias que se mantêm e seguem padrões e relações os mais tradicionais e outras onde grandes são as inovações encontradas (WITTER, 2009, p.17).
Para Szymanski (2002), a família deve ser compreendida como espaço de
cuidado, no qual muitos desafios são enfrentados com as mudanças ocorridas na
mesma. É importante perceber a família como uma associação de pessoas que
convivem juntas, por motivos afetivos e cuidados mútuos. Pode-se considerar que
existem vários tipos de composição familiar que podem ser levadas em
consideração, e esta diversidade obriga a mudar o foco da estrutura familiar.
Os indivíduos, muitas vezes, carregam marcas em suas vidas referentes
às trocas afetivas que envolvem suas famílias, o que demonstra direções no modo
de ser uns com os outros e na forma de agir afetivamente. Esse mesmo modo de
ser uns com os outros, pode ser constante e se estender por muito tempo, pois
geralmente irá se projetar nas famílias que irão se formar posteriormente.
A maneira de ser um com outro se distingue de um indivíduo para o outro,
em cada família, e isso depende do modo de compreensão das experiências do
cotidiano, da linguagem utilizada, das formas afetivas relacionadas. Os pais tendem
a perceber sua tarefa socializadora junto aos filhos de distintas formas e ocupam
essa função segundo a forma de ser que desenvolveram durante suas vidas.
4.3.1 A percepção dos adultos da pesquisa sobre a relação educação familiar e
infância
Muito se observa a forma que a família se relaciona com a criança na
perspectiva de compreender as formas de ensinamentos, e como funciona a relação
entre família, educação e criança. Ao serem questionados a respeito dessa relação,
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responderam: “tem tudo a ver, porque a educação parte da família. Lá fora é só o
complemento, mas, na verdade, a família é o principal” (ROBERTA, 2013).
Essa primeira noção de que a educação se inicia em casa está presente
no discurso de todos os entrevistados, tanto do primeiro grupo quanto do segundo, e
ambos defendem a importância da educação de outras instituições como escola e
igreja, mas entendem que a de casa é a principal.
Muitos relatos foram colhidos acerca da forma de se relacionar entre a
família e a criança. Conforme se verifica abaixo:
“Ah, eu trato ela bem, apesar dela ter assim umas raivas, mas aqui todo mundo trata ela bem, e eu acredito que ela esteja super satisfeita, né? Em eu ser mãe dela, porque eu amo ela, e o amor é a base de tudo. E o pai dela também, dá muita atenção a ela, ama também ela, é tanto que todo dia ela dorme na casa do pai dela, e é isso, eu gosto muito dela, ela é uma filha exemplar. Meus filhos nunca me deram trabalho viu, graças a Deus.” (ANTÔNIA, 2013)
“Tem que tá sempre junto, porque a educação começa dentro da família,
então tem que tá sempre junto. Porque os pais ensinam o que na escola eles não
ensinam, né?” (JOÃO, 2013).
A relação família e criança foi relatada sempre de forma positiva pelos
adultos entrevistados. O primeiro grupo expressou de forma mais clara esta relação,
e o segundo grupo também afirmou uma boa relação, mais observada nas
entrelinhas da conversa. Witter (2009) traz em sua obra reflexões a respeito do
comportamento dos pais que servem de exemplo para os filhos.
Os pais por suas relações naturais com os filhos constituem-se em modelos para os mesmos. Por querer bem a seus pais os filhos tendem a reproduzir os comportamentos dos mesmos (...). Os pais estimulam para que façam ou atuem como eles próprios o fazem quando querem ensinar algum comportamento aos seus filhos. Por admirá-lo e querer ser como eles, ou mesmo para agradá-los a criança imita, ou tenta fazê-lo em busca de atenção. (WITTER, 2009, p. 27).
Segundo o texto acima, por algum motivo, seja ele amor pelos pais ou por
vontade de ter atenção destes, as crianças tendem a seguir os modelos que os pais
trazem para elas. Para Witter (2009), as crianças imitam o que observam seus pais
fazer. E o texto foi confirmado pelos sujeitos da pesquisa.
Deus me livre tá dizendo isso, mas, assim: se eu não cair em cima delas, o que é que elas vão fazer? O que acontece aqui, o que eu vejo aqui, que,
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tipo assim, o pessoal tem aquele dizer que costume de casa vai à rua, e se eu ficar aqui esculhambando elas, se eu ficar aqui brigando com o pai delas, aí eu já tô incentivando elas a ser violenta mais na frente. Porque se eu for violenta dentro de casa, elas vão ver o espelho, né? E mais na frente vão fazer a mesma coisa. A gente é um espelho pra elas, porque se a gente vê bem, se você ensinar seu filho a ir pra igreja, eles vão, mas e se você não ensinar? E nesse caso eu sou culpada, eu me sinto, porque não era pra mim colocar só elas pra ir, como eu também era pra ir junto. (...) Mas a família é um espelho. (ROSA, 2013)
Dessa forma, segundo o relato de Rosa, que faz parte do primeiro grupo
da pesquisa, a família serve de espelho para as crianças, e afirma que não é
somente ela falar o que as crianças devem fazer, mas ela também deve fazer para
que possam ver seu exemplo e seguir. Seria como se um adulto quisesse ensinar
uma criança que comer verdura é bom e importante para seu desenvolvimento e
este não comer. Dessa forma, a criança não entenderia o porque comer verdura é
bom se o adulto que está ensinando não come.
Essa relação de família, educação e criança é uma relação repleta de
desafios no cotidiano, que até nas coisas mais simples podem ser usadas como
modelos.
Durante as entrevistas, foi questionado a respeito de que forma uma má
educação poderia afetar na vida de uma criança, e, para João, representante do
segundo grupo da pesquisa, uma má educação ou até mesmo um mau exemplo
podem trazer sérias consequências.
A má educação traz muitas consequências, com certeza, porque se ela não tem educação desde pequena, quando for mais lá pra frente ela pode se tornar uma pessoa ruim, uma pessoa que seja “pestializada”, né, que use droga, que se prostitua. Um medo que eu tinha muito grande, sabe, era porque que eu fumava aqui dentro de casa, e eu já peguei eles dois com o palito de um pirulito fazendo que estavam fumando. (JOÃO, 2013)
Na fala de João, percebe-se que ele mesmo sabe que o exemplo que
estava dando aos filhos poderia prejudicá-los, já que o mesmo ensinava que eles
não poderiam fumar, mas fumava na frente deles. Para compreender isso, ele teve
que presenciar os filhos querendo imitá-lo e entender que não podia tentar corrigi-los
antes de ser um modelo para eles.
Muitas vezes, os pais apresentam modelos negativos em termos de comportamentos sociais e reclamam ao ver que os mesmos se refletem nos filhos. Pais que brigam freqüentemente diante dos filhos estão oferecendo aos mesmos modelos agressivos, estão ensinando a terem este
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comportamento. Não há porque estranhar que a criança também passe a procurar resolver as situações recorrendo a agressão, mesmo em relação aos próprios pais. (WITTER, 2009, p.27)
O comportamento dos pais, segundo Witter (2009), é importante para o
desenvolvimento dos filhos. Ela relata que muitos pais exortam os filhos por
determinadas ações, mas não se policiam para não lhes oferecer modelos
negativos. A autora fala que não deve causar espanto se uma criança agir de forma
agressiva, sendo que isto é o que ela observa nos próprios pais. Essa discussão foi
reafirmada nos discursos de todos os adultos entrevistados, pois todos se percebem
como exemplos perante seus filhos.
Quando a criança não tem uma boa educação, assim, são muitas consequências mesmo. É uma coisa que se você não der um bom exemplo, como é que você vai querer cobrar alguma coisa da criança, se ele não tem um exemplo? Porque nós somos um espelho, e se eu não der um bom exemplo pra minha filha, a primeira coisa que ela vem fazer é me apontar. Se eu vestir um short curto, ela vai dizer: 'ah, a senhora veste, porque que eu não visto?' Se eu mentir na frente dela: 'ah, a senhora mente então eu também posso mentir'. Então, tudo isso, se eu fizer de errado na frente dela vai trazer consequências, porque ela tá vendo meu exemplo, e é por isso que eu procuro sempre fazer certo pra que mais na frente ela venha ver. E eu aprendi, porque assim, eu mesma fui criada só pela minha mãe, mas ela me deu um bom exemplo. (EDUARDA, 2013)
Eduarda, em seus relatos também aponta a família como espelho. Esta
participa do segundo grupo e traz exemplos do que sua filha, enquanto criança em
processo de socialização pode vir a fazer apenas em observar seu exemplo.
Acrescenta, ainda, que tudo o que ela mesma aprendeu foi por observar o modelo
de sua mãe, e, por este motivo, acredita que sua filha fará o mesmo e tem cuidado
com suas próprias ações. Eduarda relatou que foi criada apenas por sua mãe, que
seu pai tinha comportamentos “errados”, que bebia e roubava dentro da própria casa
para sustentar o vício, mas que na disso afetou em seu comportamento, tendo em
vista que não foi criada por ele, tendo pouco contato. Já sua mãe sempre lhe deu
bons ensinamentos, acompanhados de bons exemplos, o que ela acredita ser o
motivo dela ter se tornado “uma pessoa do bem”, conforme relato. Dessa forma, ela
afirmou que tenta fazer o mesmo com sua filha, ser um bom modelo.
Muitas vezes, não têm autocontrole suficiente para manter-se como modelo que pretende ser ou que gostaria de ser. Que ocasionalmente isto ocorra pode não ter, dependendo do caso, maiores conseqüências para a criança. Todavia, se isto ocorre com muita freqüência, há maior probabilidade de vir
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a ter reflexos no comportamento, no desenvolvimento e na personalidade da criança (WITTER, 2009, p. 28).
Witter (2009) alerta para a importância de se ter autocontrole na hora de
educar e servir de modelo, para que isso não traga consequências para a vida da
criança, pois poderá ter reflexos em seu desenvolvimento.
DURKHEIM (2012) também aborda esse tema e faz uma alerta a respeito
da importância dos adultos envolvidos com a criança em ter ações conforme a
conduta que ensinam a criança a seguir. Ele diz:
Se professores e pais percebessem, de modo mais constante, que nada acontece diante da criança sem deixar algum vestígio nela, que a configuração do seu intelecto e caráter depende daquelas milhares de açõezinhas insensíveis que ocorrem a todo instante sem chamar a nossa atenção em função de sua aparente insignificância, como eles tomariam mais cuidado com a sua linguagem e conduta! Certamente, a educação não se mostra eficaz quando age com brusquidão e intermitência. (DURKHEIM, p. 69).
Na abordagem de Durkheim (2012), ele alerta para as ações do cotidiano
que para os adultos podem passar despercebidas ou até mesmo julgarem sem
importância, mas ele afirma que são nessas pequenas coisas do cotidiano que as
crianças se exemplam, pois nada passa aos olhos destes sem que observem.
Para educar uma criança cada pai adota a forma que acredita ser a
melhor. Ao serem questionados sobre isso, as respostas foram várias e distintas,
independente de grupo. Para os sujeitos do primeiro grupo, as respostas foram:
Com rigor, botando limites nas coisas deles, olhando, acompanhando, né, sendo presente, mas bater eu não bato, só falo mais alto e ele já me obedece. Mas é muito desafio que a gente tem, né, porque eu tenho medo, assim, até do que eles possam aprender no colégio, porque eu tento passar o melhor pra eles. Levo eles pra igreja comigo, já parei de beber, já parei de fumar, tô só com Jesus mesmo agora, pra tentar educar eles melhor. Mas até no colégio mesmo eles aprendem outras coisas que aqui dentro de casa eles não veem. (JOÃO, 2013).
A melhor forma de educar é conversando ou tirando alguma coisa que ela goste. Mulher, bater eu acho que não é bom, eu não faço. Eu sei que, às vezes o pessoal diz que não é pra bater, aí eu não vou mentir pra você não, eu meto é a peia em todas as três, eu meto mesmo. Não vou bater por qualquer coisa, mas tiver desobedecendo eu faço mesmo. Falei, falei, não ouviu, é peia. Eu sei que o pessoal diz que peia não dá jeito, mas melhora minha filha, porque se eu não bater, se eu não fizer elas chorar hoje, mais tarde quem chora sou eu. E eu não vou criar cobra pra me morder. A mais velha, principalmente, porque acha que tá crescendo, aí, às vezes, ela quer né. Eu digo: você me respeite, me respeite que eu sou sua mãe! Tá
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pensando que sou sua „pariceiras‟ da rua? Pois eu num sou não, viu? Me respeite. Aí ela vem falar alto, eu mando baixar a voz e meto a peia, má rapaz! Que conversa é essa?! Aí vem o povo falar de uma tal de uma lei pros pais não bater, aí quer dizer: a gente vai deixar os filhos bater na gente? Num vai, né? E, às vezes, até quando eu vou bater, ela fica me empurrando com os pés, eu meto a chinela no meio das canelas, me respeite menina. O pai delas num bate não, mas eu minha filha, eu bato. Mas eu acho que ele não bate porque ele passa o dia fora, pois é, mais eu não, eu não aguento não, o dia todim elas se matando dentro de casa, eu meto a peia (risos). (ROSA, 2013).
Observa-se nos relatos acima duas posturas bem diferentes. João,
apesar de falar que para se educar tem que ter rigor, diz que não bate nos filhos, que
apenas em seu tom de voz mais elevado e mais sério os mesmos já o obedecem.
Mas expressa medo do que os filhos observam fora de casa. Já Rosa, se contradiz;
começa dizendo que a melhor forma de educar é conversando ou tirando algo que a
filha goste, que não concorda em bater, mas, logo em seguida, se exalta e afirma
que bate para impor limites. Rosa chega a comentar sobre o que ouve falar da lei
sobre bater nos filhos e se expressa de forma exaltada, afirmando que se não bater,
se não fizer as filhas chorarem enquanto são crianças, no futuro será ela quem
sofrerá as consequências. Os sujeitos do segundo grupo também se posicionam da
mesma forma, com divergências entre si, mas com semelhanças com os indivíduos
do primeiro grupo:
Conversando. Eu acho que bater não é o melhor, pra mim eu não gosto de bater; é falar, conversar. Às vezes, a minha outra filha de 18 anos tá até aqui, aí diz: a mãe só vai resolver assim? Eu digo: eu não gosto de bater, então pra mim pra educar meus filhos, eu não vou bater. Não vou ensinar nada a ela batendo, porque eu sei que ela não vai aprender. Então eu tento ir na conversa. Porque a minha educação não é essa, de tá batendo, de tá dizendo olha você não faça isso, senão eu vou lhe bater. Não, ela tem que saber que não pode fazer aquilo sem eu ameaçar. (ANTÔNIA, 2013)
Assim, duas coisas também: às vezes, a gente pensa que a peia resolve, né? Mas nem sempre. Às vezes, fica é a criança mais agressiva, mais revoltada contra o pai. Mas eu acho que é um castigo, uma disciplina, você disciplinar melhor seu filho ou colocar num castigo, porque até mesmo o dia a dia hoje é muito estressante, então, você se estressa muito rápido do nosso dia a dia. E, às vezes, quer descontar no filho. É assi. Então, eu acho que, no fundo no fundo, eu penso que peia vai resolver, peia, não espancar, né, ou então botar de castigo. Só que a minha aqui não tem castigo, aí ela vai na peia. (EDUARDA, 2013)
“A melhor forma é conversar, tirar aquilo que ela gosta. Mas quando
extrapola, eu bato. Quando passa dos limites tem que dar umas palmadas”
(ROBERTA, 2013).
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Os sujeitos da pesquisa desse segundo grupo também se manifestaram
de diferentes formas, e apenas uma pessoa é totalmente contra bater e afirmou, no
decorrer da entrevista, que não bate de forma alguma em sua filha. Já as outras
duas são a favor de castigar o filho quando necessário, tirando algo que goste muito,
mas afirmam que quando é preciso também castigam batendo.
Pode-se perceber que, independente do grupo e da realidade na qual
estão inseridos, os sujeitos da pesquisa se manifestam de formas distintas a respeito
da maneira que educam seus filhos. Cada um possui uma forma que defendem ser
a melhor.
Nas famílias também foi percebido algumas dificuldades para conciliar
essa educação. Conforme os relatos da entrevistada Eduarda, uma grande
dificuldade é conciliar a sua forma de educar com a do pai das crianças, pois diferem
entre si. A mesma acredita que isso prejudique muito suas filhas, tendo em vista que
as crianças ficam divididas, sem saber a quem devem seguir e, no final, optam pelo
pai, que, segundo seus relatos, é o que sempre cede aos desejos das crianças.
Pois é, família e educação. Às vezes, as crianças ficam muito rebelde em termos de educação, e educação é coisa que tem que ter muita sabedoria pra educar hoje um filho. Principalmente, você tem que ter muita concordância entre o pai e a mãe, porque, às vezes, a gente quer ajeitar, quer controlar a criança e o pai às vezes estraga, faz tudo o que a criança quer, e se você não conciliar entre você e o casal junto, você não consegue dar uma boa educação pros seus filhos. Por exemplo, no meu caso, a minha filha sempre me acha ruim e o pai o bom, porque o pai concorda com tudo e eu não concordo, e eu sempre vou ficar sendo a ruim pra ela, ela sempre vai ter mais amizade com o pai dela e não comigo (EDUARDA, 2013).
Nos relatos de Eduarda fica claro sua preocupação com a divergência
entre ela e seu esposo. Ressaltando que durante a entrevista, essa diferença de
comportamento entre os dois ficou bem clara, pois ambos estavam no momento da
entrevista, porém o esposo preferiu que somente Eduarda respondesse às questões
colocadas, afirmando que por ser a mãe saberia melhor falar do cotidiano das
crianças. Ocorre que ao relatar essa dificuldade, seu esposo começou a relatar
também como se sentia quanto a isso, afirmando que ela “pegava pesado” com as
filhas sem necessidade, e que para ele, depois que a criança se arrependeu não
tinha motivo para continuar com castigo. Contou, assim, a história de um dia que
Eduarda tomou o tablet da filha porque ela a estava desobedecendo e disse que só
devolveria depois de três dias. Porém, ao ver a filha chorando, o pai devolveu e
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disse que a criança já havia se arrependido do erro. Nesse momento o casal ficou
discutindo sobre o que para cada um seria o certo ou o errado.
Dessa forma, é possível observar que o casal em questão entra em
conflito devido à educação das filhas, e que isso é para eles uma grande barreira.
Como Eduarda relatou, para a filha o pai sempre será o “bonzinho”, e isso foi
confirmado durante a roda de conversa com as crianças: a filha deste casal falou
várias vezes sobre o pai fazer suas vontades e sobre ela gostar muito dele.
A relação educação familiar e crianças foi observada como grande
influenciadora de comportamento, conforme relatos dos sujeitos da pesquisa, que
deram muita importância a esta educação, tendo-a como principal e fundamental na
formação de seus filhos. Muitas foram as formas de se educar relatadas e muitos
foram também os desafios. O certo é que foi observado que, independente da
realidade social, da classe social ou das realidades nas quais estejam inseridos,
todos percebem o ato de educar como desafiador e todos se percebem como
exemplos para os filhos. Mas, vale ressaltar que as dificuldades mudam conforme
cada realidade.
4.3.2 A percepção das crianças da pesquisa sobre a relação educação familiar e
infância
Família para as crianças da pesquisa representa um espaço de afeto e de
harmonia. Durante a pesquisa, as crianças tiveram oportunidade de se expressar
através da roda de conversa, feita através de entrevista com todos juntos; através de
desenhos, nos quais eles desenharam o que para eles representa a família; e
através de uma pequena redação, que escreveram sobre suas famílias. Percebe-se
suas noções de família através dos seguintes trechos extraídos das redações:
“Minha família, pra mim, é muito especial, eu gosto de brincar com eles.
Eu adoro minha família”. (DAVI, 2013).
Família pra mim é um conjunto de pessoas que nasce amor, paz, alegria, carinho. Meu pai e minha mãe me amam, eu adoro minha família. Família para mim é um presente de Deus. Família não pode brigar, tem que ter confiança. A família não pode se desviar dos caminhos do Senhor! (THAÍS, 2013).
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“A família me ensinou o amor, não bater é o que eu aprendi a não fazer. A
família é o amor, a saudade e o carinho por que eu sinto por ela. A família é minha
paz e minha alegria que eu sinto a cada dia” (ÉRICA, 2013).
Através desses trechos, torna-se possível compreender que família para
as crianças é um espaço de afeto, e a representação de pessoas especiais em suas
vidas. Thaís se expressa como um presente de Deus, podendo ser entendido que
isto é o ensinamento que seus pais lhe passam, conforme citações anteriores de sua
família. Já Érica, além de expressar os bons sentimentos pela família, também diz
que família é saudade, e isso expressa a falta que ela sente de alguém. Durante a
entrevista com a mãe desta criança, ela contou que o pai de Érica faleceu quando
esta tinha apenas três anos, mas, por ser muito apegada a ele até hoje, com sete
anos, sempre que se fala em família ela faz menção a ele. A mãe de Érica também
falou que em casa ela sempre comenta sobre o pai e chora. Pode-se observar o
desenho de Érica:
Figura 1 - Desenho da criança Érica
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Neste desenho está representada a família de Érica: sua mãe, que no
caso é sua avó, que a cria desde seu nascimento; ela; suas duas tias que moram
em sua casa; e seu pai, que é o avô. Percebe-se que família para ela são as
pessoas mais próximas, são as pessoas que moram em sua casa. Diz-se isso
porque ela conhece e tem contato com sua mãe biológica e tem dois irmãos, mas
não os colocou em seu desenho de representação de sua família. Para esta criança,
o entendimento de família são as pessoas que moram e são próximas dela.
Um segundo desenho analisado foi o de Sofia, que, assim como todos,
desenhou o que para ela representava a família:
Figura 2 - Desenho da criança Sofia
Sofia mora com a mãe e dois irmãos; ela conhece seu pai biológico, mas,
por não possuir muito contato, não desenvolveu nenhum afeto por ele, segundo
relatos da mãe. Então, neste desenho, o seu irmão Júlio, de 25 anos, é o que ela
desenhou e identificou como pai. É importante dizer que ela sabe que Júlio é seu
irmão, mas criou nele a imagem do pai que não tem presente em sua vida.
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Compreende-se que as crianças dos dois desenhos mostrados conhecem suas
realidades quanto às suas famílias, mas sentiram a necessidade de nomear alguém
próximo que representasse para si e para os outros a figura de pai. Talvez, por elas
compreenderem que em uma família assim como tem a mãe, necessita-se de um pai
também.
Um terceiro desenho a ser analisado é o de Michele, que entende por
família não somente as pessoas mais próximas ou que moram dentro da mesma
casa com ela:
Figura 3 - Desenho da criança Michele
Michele a desenhou, bem como os seus três irmãos, sua mãe e seu pai.
Seus dois irmãos já são casados e moram em outra casa, mas, diferente do
entendimento de Érica, Michele representou eles em seu desenho por entender que,
embora não morem juntos, são sua família, assim como seu pai, sua mãe e sua irmã
que estão diariamente mais próximos. Na casa de Michele mora uma prima de sua
mãe, mas esta não está representada no desenho como família.
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As crianças falaram sobre suas relações com a família e trouxeram
algumas ideias semelhantes e outras distintas. As crianças do primeiro grupo
mencionaram:
Eu me dou muito bem com a minha família, só as vezes que eu brigo com meu pai porque eu acho que ele é um pouquinho chato, porque eu tô fazendo uma coisa, eu tô assistindo televisão, aí ele muda o canal pra assistir o desenho dele. Aí eu digo: “ô eu tava assistindo!”. Não, mas quem vai assistir agora é ele, aí eu levo carão por causa dele. Mas fora essas horas, eu brinco muito com ele. Minha mãe fica só fazendo as coisas e com meu irmão eu me dou bem também (SOFIA, 2013).
Com minhas irmãs é mais ou menos, mas com meu pai e minha mãe a gente se dá bem. Eu só brigo com minhas irmãs, porque, às vezes, eu tô fazendo uma coisa e ela quer outra. Aí eu digo pra minha mãe e quem apanha sou eu, porque ela é mais nova. Com meu pai e minha mãe a gente se dá bem, ela me bate quando eu fico respondendo ela, e meu pai só me dá carão, ele num me bate não. (LUCIANA, 2013).
A relação com a família foi compreendida pelas crianças conforme as
ações cotidianas, sendo mencionados momentos de brigas e momentos onde são
chamados atenção de alguma forma. As crianças do segundo grupo também fizeram
comentários semelhantes:
Eu, em casa, me dou muito bem, muito bem, muito bem com meu pai. Ele faz os meus gostos. Agora minha mãe, quando meu pai tá trabalhando e ela fica em casa, eu peço pra ela fazer alguma coisa ela não faz, aí eu fico com muita raiva, né, porque eu já sou acostumada com o meu pai (...). Meu pai só conversa: “olha, faz isso, deixa isso quieto, olha tua irmã, num sei o que, e num sei o que”. Agora minha mãe (gritando): “Thaís, vem cá! Thaís, olha sua irmã!”. Eu digo: “mãe calma, (...). Porque eu ajudo a cuidar da minha irmã, mas, às vezes, eu só atrapalho (risos). Meu pai só conversa comigo, minha mãe briga e, às vezes, me bate. (THAÍS, 2013).
Eu e meus irmãos a gente se dá muito bem, agora eu e Alice a gente briga muito, a gente não tem harmonia. Com meu pai e minha mãe também, a gente se dá bem, só eu que fico, às vezes, com raiva quando eles brigam comigo quando eu falo muito alto, quando eu mexo nas coisas que não é pra eu mexer. Meu pai não me bate não, ele só ameaça. Minha mãe é mais de chegar e conversar porque ela sabe que ela vai me tocar só falando, mas meu pai me ameaça, só me ameaça; bater, bater ele num me bate não (risos). Ele sabe que só me ameaçando eu já fico com medo. Minha mãe
gosta de conversar comigo. (MICHELE, 2013).
As relações familiares foram expressas através das noções que as
crianças têm do espaço que ocupam dentro de suas casas e das ações que
observam que seus familiares têm com elas. A expressão de Thaís ao falar que com
seu pai se dá muito bem e já com sua mãe é diferente, confirma as afirmações que a
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Sra. Eduarda já havia falado anteriormente. Sua preferência pelo pai se dá devido
este último fazer suas vontades. Então, quando a mãe chega e tenta corrigir
determinados erros, a criança já diz que fica “com muita raiva”. Witter (2009, p. 27)
afirma que: “... é preciso que o adulto esteja atento ao seu próprio comportamento
para que não apresente modelos socialmente inadequados...”. Dessa forma, o tema
abordado pela autora e relacionando com a fala de Thaís, gera a compreensão de
que o pai precisa ter cuidado com o que está passando para a filha, para esta não
apreender modelos que serão vistos como inadequados. Pois, mesmo que
aparentemente o pai esteja querendo apenas agradar a criança, ele pode estar
prejudicando ao fazer todas as suas vontades, como a própria mãe afirmou.
A educação familiar foi entendida pelas crianças como os ensinamentos
que seus pais lhes repassam, e assim trouxeram relatos, como se pode observar:
“Minha mãe me ensina o que é certo e o que é errado; me ensina a
estudar muito pra quando eu crescer eu ter um dinheirinho e poder ajudar a ela, né?
Porque ela já vai tá velha” (SOFIA, 2013).
Sofia faz parte do primeiro grupo de pesquisa e vive em uma realidade
social bem precária, em que sua mãe trabalha de doméstica e é a única em casa
que trabalha. Diante disso, relatou que a família enfrenta dificuldades financeiras,
que ficou nítida na fala de Sofia, e que isso afeta a criança, pois ao ser questionada
sobre os ensinamentos que a família traz, a mesma relatou que sua mãe lhe orienta
a estudar, para quando crescer ter “um dinheiro” para ajudá-la. Percebe-se que a
criança que presencia a difícil realidade já compreende o que enfrenta e já criou a
noção de que para ter dinheiro para se sustentar quando estiver maior é preciso
estudar muito para ter espaço no mercado de trabalho. As crianças do segundo
grupo relataram:
Às vezes minha mãe me pede pra não falar palavrão, né? Se eu falar ela me bate, essas coisas. Mas quando eu fico triste, eu vou correndo pro meu quarto e tranco e fico na minha cama. Ela me ensina também a estudar pra quando eu crescer eu ser muito estudiosa. Meus pais me ensinam a não bater nas pessoas, não falar palavrão, minha tia também me ensina as tarefas de casa, essas coisas. Minha mãe só briga comigo quando eu falo alto ou quando eu teimo (ÉRICA, 2013).
Minha mãe me ensina que eu tenho que ajudar a ela, porque é ela sozinha, porque a Alice não ajuda. Ela diz que eu tenho que aprender a ajudar desde cedo, porque se eu crescer e eu casar aí eu já vou tá sabendo. Ela também me ensina sobre a Bíblia, e quando eu faço uma coisa errada ela me ensina que Deus não gosta disso; me ensina até o porquê dela tá falando isso comigo. Eu digo: “mãe, a senhora é muito chata”. E ela diz: “Michele, é
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porque eu te amo, eu te amo, eu falo pro teu bem”. Aí ela me ensina também a Bíblia, fala o que é certo e o que é errado, porque quando eu faço alguma coisa errada, ela me diz que Deus não se agrada disso. Aí eu procuro sempre melhorar pra mim não levar muito carão dela. Meu pai, ele conversa às vezes comigo, ou então ele fica só calado, porque ele sabe que eu tenho medo dele. Num é nem porque ele me bate não, é o jeitão dele, sério, que eu tenho medo. Mas meu pai num é de chegar e conversar não, é mais minha mãe: chega, conversa, dá conselho, até quando eu teimo com ele quem vem falar comigo é ela, ele fica só calado (MICHELE, 2013).
As crianças aprendem constantemente, através do que seus pais lhe
ensinam e através de seus modelos. Pode-se dizer que a família é o primeiro espaço
de acesso a educação que a criança possui. Seu primeiro contato com os primeiros
ensinamentos, que, segundo Witter (2009), por obediência, admiração ou por
vontade de chamar atenção, a criança tende a respeitar ou a imitar os pais. Dessa
forma, compreende-se a importância da família no processo de socialização da
criança. Para Durkheim (2012, p. 54), a socialização ocorre com um longo período
de tempo:
[...] este ser social não somente não se encontra já pronto na constituição primitiva do homem como também não resulta de um desenvolvimento espontâneo (....). Ora, com exceção de tendências vagas e incertas que podem ser atribuídas à hereditariedade, ao entrar na vida, a criança traz apenas a sua natureza de indivíduo.
A família desenvolve importante papel neste processo de socialização.
Conforme os relatos da pesquisa entende-se que a família é quem desempenha
fundamental papel na educação das crianças. Os pais, através de suas atitudes,
influenciam as crianças na construção do seu ser social e, consequentemente,
influenciam nas ações da criança, que se espelha nas pessoas que as educam.
As crianças da pesquisa deixaram transparecer seus fortes laços com os
pais, e através dos relatos compreende-se que a família estimula as crianças através
de seu espaço de construção de saberes, a interação destas com a sociedade,
ensinando-lhes a se comporta conforme os padrões de sua sociedade.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo se iniciou com o objetivo de compreender o papel que a
família exerce na socialização da criança e quais as influências que esta traz através
da educação para a formação das crianças, observando assim os sujeitos da
pesquisa.
Pensar a educação juntamente com o ambiente familiar requer
compreender de que forma essas duas podem atuar juntas, e para isso a presente
pesquisa trilhou de forma a articular durante o estudo o espaço familiar como local
de aprendizado e buscou colher informações dos sujeitos da pesquisa que
pudessem enriquecer os resultados buscados.
A educação exerce importante papel na formação dos indivíduos, no qual
se pode dizer que quando uma criança nasce ela não vem com determinações sobre
o seu ser social, ela não nasce com uma personalidade formada, mas é através da
educação que exerce papel de socializar as pessoas, é que esta criança vai
aprendendo desde a falar e andar até a forma de agir e se comportar. A educação
produz na criança uma noção do que ela deve ser, de como ela deve agir. A
educação tem a potencialidade de moldar os indivíduos, de trazer novas formas de
pensar, de mostrar valores.
A família é tipicamente vista como primeiro espaço de afeto, de
ensinamentos, e é compreendida como o local de aprendizagem, exercendo assim
fundamental importância no desenvolvimento da criança. Pensar família e educação
significa articular o ensinamento passado juntamente com a forma que eles refletem
na vida da criança. Pensando nisto a pesquisa de campo ocorreu de forma a
analisar as respostas tanto dos adultos responsáveis pela educação das crianças
como também das próprias crianças, não se atendo somente a isto, mas também
observando o comportamento destes últimos.
Para analisar o objeto proposto procurou-se primeiramente fazer um
resgate histórico a cerca do sentimento de família e infância, para compreender
como foi se formando as concepções e entender as modificações ocorridas com o
passar dos anos.
Ainda para analisar a influência da família neste contexto de educação
buscou-se entender a concepção de educação para cada sujeito pesquisado, visto
que sua compreensão pode nortear suas ações na hora de transmitir valores e
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conhecimentos para a criança. Dessa forma identificou-se que os sujeitos da
pesquisa percebem a educação como de fundamental importância para a formação
de seus filhos, e que compreendem que é através dela que definem como será o
futuro deles. No entanto, percebem que a formação não depende apenas da família,
mas de outros critérios que envolvem a criança, tendo como o exemplo mais
relevante a situação que presenciam ao seu redor, ou seja, o que a criança vê no
ambiente no qual está inserido.
Dessa reflexão foi possível perceber a importância que os sujeitos da
pesquisa dão a educação da família, no qual mencionaram ser a mais importante.
Foi possível entender as relações existentes entre família e educação, bem como as
influencias que exercem sobre a formação da criança.
A família e a educação caminham lado a lado, pode-se dizer que o papel
da família, fora os de garantir direitos é o de educar, no qual a sociedade espera que
formem cidadãos que aprendam a conviver conforme os padrões. Através desta
reflexão é possível concluir que a família, como primeiro espaço de construção de
valores, exerce importante papel na educação das crianças, sendo ela o principal
agente de socialização da criança e traz grande influencia para os mesmos. A família
ensina os primeiros valores e saberes para a criança se socializar, mas, além disto,
a família é como uma espécie de modelo, que a criança quando está se
desenvolvendo ela tende a observar e imitar, seja para agradar a família de quem
gosta e admira, ou para chamar atenção daqueles que estão em sua volta.
Ressalta-se então que um fator relevante para a socialização da criança é
a realidade em que está inserida, percebendo assim que o local muito exerce
influência sobre a criança. Desta forma, a desigualdade social também irá influenciar
em sua formação, tendo em vista que o local onde a criança constantemente está
inserida existe refrações da questão social, tais como o uso exacerbado de
substâncias químicas, que poderão influenciar naquilo que irão aprender. Este foi um
dos relatos repetidos pelos pais da pesquisa, que acreditam que não somente o que
ensinam tem influência sobre a criança, mas também o que a criança vê pode
influenciar em seus atos.
Para a socialização da criança existem vários fatores que são
englobados, no qual se percebeu que a religião também exerce certo tipo de
influencia, ou seja, os ensinamentos que os familiares recebem na igreja interferem
na forma como estes educam seus filhos. Desta forma, podemos compreender a
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educação religiosa como outro fator de influência na socialização dos indivíduos.
Observando que não somente atualmente, mas que desde a antiguidade muitas
práticas da vida social dos homens estão influenciadas pela religião.
Mesmo diante os desafios encontrados na educação familiar, percebeu-se
que os sujeitos da pesquisa demonstraram cuidado e afeto pelos seus filhos, se
preocupam com o melhor para eles e evidenciando a responsabilidade que cada um
assume com a educação das crianças.
Diante do que foi investigado e analisado, evidenciou-se que a visão de
Durkheim (2012) sobre a educação como algo eminentemente social, no qual é
representada pela ação das gerações adultas sobre as gerações mais novas foi
compreendida e percebida de forma clara durante a pesquisa junto aos sujeitos.
Bem como, a ideia de Corsaro (2011) quando menciona que as pessoas tendem a
perceber a criança apenas em uma visão prospectiva também foi observada esta
ideia nos sujeitos da pesquisa, que sempre abordam a questão dos ensinamentos
na infância como fundamental para o que irá refletir futuro.
De acordo com o levantamento neste trabalho, compreendeu-se o quanto
uma boa educação pode trazer influências positivas na formação de um indivíduo,
bem como, o quanto uma “má” educação, os maus exemplos podem refletir em
consequências para a vida da criança.
Direcionando este estudo para o trabalho do assistente social pode-se
destacar a educação como um meio de se formar os sujeitos sociais, e é necessário
se dá a devida importância para a formação destes indivíduos que serão o futuro da
nossa sociedade. Refletir sobre isto requer compreender a relevância de fortificar as
relações familiares e transferir o entendimento a cerca da importância de educar, a
fim de intensificar os vínculos que levam a uma sociedade mais avigorada. Podendo
ainda acrescentar a discussão da questão social, como fator relevante para a
educação, no qual as desigualdades também irão refletir na forma de socializar a
criança.
Diante de todo esse trabalho conclui-se que a família exerce importante
papel na socialização da criança, que é esta instituição que representa em primeiro
momento o papel da educação e que é através desta relação que a criança inicia
sua vida agindo conforme os ensinamentos que recebe. Ainda podendo acrescentar
que mais do que os ensinamentos falados, é de fundamental importância os
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ensinamentos demonstrados, ou seja, a família precisa ser um exemplo para que a
criança aprenda não somente com o que escuta, mas também com o que vê.
Desta forma, com esta pesquisa pretendeu-se colaborar, através das
informações teóricas e das informações obtidas durante a pesquisa de campo, para
os conhecimentos acerca da educação familiar, mas por se tratar de um amplo
assunto que envolve diversos fatores e categorias não foi possível tratar de todos.
Por isso, recomenda-se para os futuros pesquisadores deste objeto que estudem a
esfera da influência da desigualdade social e de que forma as refrações da questão
social interferem na socialização dos indivíduos.
Estudar família representa um viés importante ao serviço social, para
analisar a família em uma perspectiva crítica e compreender as suas demandas,
observando a realidade e investigando as relações existentes. Desta forma
compreende-se que a família exerce funções que estão vinculadas a sociedade,
mas que muitas vezes deixando de cumprir estas funções a família gera demandas
para o serviço social, ou a própria sociedade gera refrações da questão social que
refletem na vida da família.
O profissional de serviço social deve ter uma ação transformadora,
buscando a garantia dos direitos da família e providenciando respostas para as
demandas. O assistente social deve atuar nas expressões da questão social, que
surgem no espaço familiar quando existe uma situação de vulnerabilidade social, ou
quando há uma ruptura de vínculos afetivos, incluindo ainda o fator econômico e o
fator social, ou em casos de violências. O fato é que o assistente social atua na
demanda da família, e geralmente isso ocorre em situações de desigualdade social,
como expressão da questão social.
Assim com esse estudo pretendeu-se aproximar um pouco o contexto
família e educação, observando a relação de ambas as categorias a fim de
compreender as influencias existentes. Ressaltando desta forma, a importância do
estudo como fonte de aproximação com o contexto família para a atuação nas
diversas demandas.
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1981. BAZÍLIO, Luiz Cavalieri; KRAMER, Sonia. Infância, educação e direitos humanos. São Paulo: Cortez, 2003. BRASIL. Constituição da República do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. CORSARO, William A. Sociologia da infância. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Lisboa: Edições 70, 2007. _______________. Educação e Sociologia. Tradução de Stephania Matousek. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. FERRARI. Mário; KALOUSTIAN, Sílvio Manoug. “A importância da família”. In: Família Brasileira: a base de tudo. 10. ed. São Paulo: Cortez. Brasília: UNICEF, 2011. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2011. GONDIM, Linda Maria Pontes (Org.). “O projeto de pesquisa no contexto do processo de construção do conhecimento”. In: Pesquisa em ciências sociais: o projeto da dissertação de mestrado. Fortaleza: UFC, 1999. MINAYO, Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. PRIORE, Mary Del (Org.). História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 1991. SZYMANSKI, Heloisa. “Viver em família como experiência de cuidado mútuo: desafios de um mundo em mudança”. In: Revista Serviço Social & Sociedade. n. 71. São Paulo: Cortez, 2002. TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia da educação. São Paulo: Atual, 1997. TOSCANO, Moema. Introdução à sociologia educacional. Petrópolis: Editora Vozes, 1984. VICENTE, Cenise Monte. “O direito à convivência familiar e comunitária: uma política de manutenção de vínculos”. In: Família Brasileira: a base de tudo. 10. ed. São Paulo: Cortez. Brasília: UNICEF, 2011. WITTER, Geraldina Porto. Família, Educação e Cidadania. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.
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ANEXOS
Anexo A - Desenho da criança Davi representando sua família chegando ao North
Shopping. A imagem azul representa o canal próximo ao shopping e na parte de
baixo os carros no estacionamento.
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Anexo B - Desenho da criança Luciana, representando seus pais, suas irmãs e sua
casa.
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Anexo C - Desenho da criança Thaís, representando seus pais com ela e sua irmã,
no meio de uma paisagem natural.
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Anexo D - Redação da criança Davi sobre sua família.
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Anexo E - Redação da criança Luciana sobre sua família. Os nomes das irmãs
foram apagados a fim de manter a identidade dos sujeitos preservados.
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Anexo F - Redação da criança Sofia sobre sua família.
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Anexo G - Redação da criança Érica sobre sua família.
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Anexo H - Redação da criança Michele sobre sua família.
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Anexo I - Redação da criança Thaís sobre sua família.
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Anexo J - Perguntas da entrevista
1. Você participa do projeto/igreja? Fale um pouco o que acha do lugar.
2. Fale um pouco do seu histórico de relação com projeto/igreja.
3. Seu filho comenta do que aprende no espaço?
4. O que você acha que é a educação?
5. O que você acha da relação família e educação?
6. Qual a melhor forma dos pais agirem na hora de educar uma criança?
7. Quais os desafios na hora de educar uma criança?
8. Quais ensinamentos e valores você ensina ao seu filho?
9. Quais as conseqüências de uma “má” educação?
10. O que você acha de “bater” para ensinar?
11. Qual a melhor de forma de educar?
12. A família influencia na socialização da criança?
13. Fale das relações da família com a criança?
14. Que tipo de passeio ou brincadeira a criança gosta?
15. Que tipo de programa de televisão a criança assiste?
16. Programas violentos incentivam o comportamento violento da criança?
17. Que tipo de correção você usa com seu filho?
18. Como seu filho reage às correções?
19. Como a família impõe limites?
20. A criança ajuda nas tarefas de casa?