cem pensamentos sem sentido

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Chiado Editora chiadoeditora.com COLECÇÃO P R A Z E R E S P O É T I C O S

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O meu livro

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Page 1: Cem pensamentos sem sentido

Chiado Editorachiadoeditora.com

COLECÇÃO

P R A Z E R E S P O É T I C O S

Page 2: Cem pensamentos sem sentido

www.chiadoeditora.com

Portugal | Brasil | Angola | Cabo VerdeAvenida da LiberdadeNº 166, 1º Andar1250-166 Lisboa

Portugal

Chiado Editorial Chiado ÉditeurEspanha França | Bélgica | LuxemburgoCalle Gran Vía Porte de Paris71 - 2.ª planta 50 Avenue du President Wilson28013 Madrid Bâtiment 112España La Plaine St Denis 93214

France

Chiado Verlag Chiado PublishingAlemanha U.K | U.S.A | IrlandaKurfürstendamm 21 Kemp House10719 Berlin 152 City RoadDeutschland London

EC1CV 2NX

© 2014, António Martins e Chiado EditoraE-mail: [email protected]

Título: Cem Pensamentos Sem SentidoEditor: Afonso Oliveira Rodrigues

Coordenação editorial: Afonso Oliveira RodriguesComposição gráfica: Ricardo Heleno – Departamento Gráfico

Capa: XXXXXXXXX – Departamento GráficoRevisão: XXXXXXXXXX

Impressão e acabamento: Chiado Print1.ª edição: Junho, 2014

ISBN: XXXXXXXXXXXDepósito Legal n.º XXXXXXXXXX

Um livro vai para além de um objecto. É um encontro entre duas pessoasatravés da palavra escrita. É esse encontro entre autores e leitores que aChiado Editora procura todos os dias, trabalhando cada livro com a dedicaçãode uma obra única e derradeira, seguindo a máxima pessoana “põe tudoquanto és no mínimo que fazes”. Queremos que este livro seja um desafiopara si. O nosso desafio é merecer que este livro faça parte da sua vida.

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antónio martins

Cem Pensamentossem sentido

Chiado EditoraPortugal | Brasil | Angola | Cabo Verde

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Para a minha família, a minha âncora, o meu portoseguro de abrigo! Para o “meu príncipe” Duarte!

Para os amigos.

N.B. Possíveis lucros desta publicação reverterão integralmente paraobras sociais!

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Eu........................................,considero-te,........................................,uma pessoa especial.

Admiro-te e estimo-te.

Partilho contigo estelivro.

Gostaria que sentissesas palavras e vibrassescom os valores que aquise promovem.

Aquele nosso abraço!

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Prefácio

por Pedro Chagas Freitas*

olhemos, irmãos

Há obras literárias que nascem sem querer – obras literáriasque não eram para ser obras literárias. Mas que o são depleno direito. Esta é uma delas.

António Martins, um sacerdote mas antes de mais nadauma pessoa na mais profunda acepção da palavra, emtextos simples, diretos, claros, consegue viajar por aquiloque é o Homem em todas as suas vertentes – ou em quasetodas as suas vertentes. E o que daí resulta é uma obralúcida, coerente, interessante – sem qualquer tipo depretensão mas com todos os tipos de leituras.

Delicie-se, pense, revisite-se, procure em redor, viaje comas palavras que aí vêm, escritas por uma voz que sabe olharpara além do que os olhos vêem e encontrar em tudo aquiloque escreve um caminho – e nunca um final sem reversãopossível. É sempre essa – a humildade perante a dimensãodo todo que nos deixa existir – a melhor solução para vivermelhor. António Martins sabe-o – e quer que todos o quei-ram saber também. Não é coisa pouca, convenhamos.

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Olhar melhor para viver melhor: eis então a receitaabsoluta, talvez, que este livro nos entrega.

Olhemos, Irmãos.

* escritor

ANTÓNIO MARTINS

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1. Lema de vida

Nas tuas mãos, ó Pai;Entrego a minha vida!Eu quero o que Tu queres,Meu Deus, minha guarida!

Amar, confiar e partirPara sonhar e viver.

Caminharei a sorrirPor saber que estou“In manus Tuas, Pater!”

A Tua mão protetoraSempre me há-de acompanhar!Seguir-Te-ei, pois me chamas…Eu sei quem quero amar!

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2.“Pseudopsíco-filo-teologia” – os meusdiferentes “eus”!

Todos temos um “eu” superficial, aparente ou social: o eucorpo, o eu emprego, o eu aquilo que faço, tenho, expe-rimento ou vivo.Todos temos também um “eu” psicológico: eu e os meusprincípios, valores, eu e a minha religião, eu e a minhaforma de amar.Todos estes “eus” constituem a minha personalidade. Asoma de todos estes “eus” serão o mais completo Bilhetede Identidade que de mim próprio poderei apresentar.Falta ainda aquele que considero o “eu” mais importante:o “eu místico”. Isto é: o eu da minha relação com Deus (otempo e lugar que dou a Deus; o tempo e o lugar que vivoem e para Deus). Para mim depende deste “eu místico” a realização maisprofunda dos diversos “eus”. O “eu místico”, isto é, unificae realiza todos os outros “eus”.

“Todas as coisas encobrem algum mistério. Um mistérioé um véu que encobre Deus.”Pascal

ANTÓNIO MARTINS

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3.Qual é o meu abrigo seguro?

É uma das questões que mais vezes me coloco a mimmesmo.Neste caminhar de esperança que é a minha vida,semeando a boa semente que espero que Jesus ajude afazer frutificar, onde posso eu verdadeiramente descansar,enquanto peregrino, nos caminhos atribulados da minhaexistência?

A família... sem dúvida.É porto e abrigo seguro onde consigo ancorar a minhaexistência e sentir que estou bem e humanamente prote-gido.

Os amigos... sem reserva.Aqueles que estão atentos e são comigo generosos. Sãoporto de abrigo que sabe bem ter. Conhecem-me, partilhamo que são e têm – e partilhar a amizade é o abrigo maisseguro.

O Deus... em quem acredito.Que envia o seu Espírito que constantemente me envolve,motiva e envia. Para que me sinta bem quando preciso deabrigo seguro ou quando tenho de partir e correr riscos.

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4.definitivo?

Nada é definitivo...Absolutamente nada; nem esta vida!Então, se nada permanece para sempre, porquê tantoorgulho? Porquê tanta disputa sem objetividade? Porquêtanta ganância estúpida e tantas mágoas sem sentido?Só Deus é o horizonte definitivo porque é o horizonteprimeiro. Só Deus é definitivo porque é eterno e nos queroferecer essa eternidade.

ANTÓNIO MARTINS

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5.“C’um Catrino!”

Era a expressão que mais caraterizava o meu bisavô.Utilizava-a de forma desmedida, a torto e a direito. “C’umcatrino“para tudo!Zangava-se e não dizia asneiras. Um “c’um catrino” oudois chegava para desabafar.Alguém dizia mal de alguém. Um “c’um catrino” diziatodos os seus sentimentos.Estava alegre, a vida sorria-lhe e dizia, com brilho nosolhos, um “c’um catrino” bem sentido.Hoje, como ele, quero eu dizer “c’um catrino”... nãotentem adivinhar o motivo. É por tudo e por nada.

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6.Coração de criança!

Hoje quero pedir-TeA inocência das criançasO seu sorriso sinceroA sua confiança desmedida

Ensina-me a sua purezaA alegria verdadeiraO seu amor total.

Hoje quero aprender A maravilhar-me com as coisas mais simplesA brincar com tudo e todosA sorrir intensamenteA doar o coração.

Dá-me, Senhor, a inocência de uma criançaNunca corrompida pela “sabedoria” de um adulto!

ANTÓNIO MARTINS

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7.Folha seca

Medo de envelhecer? Não tenho. Reparem nas folhas que nascem e morrem tão depressa,num ritmo anual. A vida das folhas passa a correr. Mas envelhecem com umabeleza incomparável. A nossa vida, felizmente, é sempre maior que a vida deuma folha. Por isso, ao envelhecer, fruto da sabedoriaacumulada, a nossa vida há de continuar a ser bela.

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8. onde estão?

Avida fica mais fácil quando sabemos:Onde estão os beijos de que precisamos;Onde estão os abraços que, mesmo invisíveis, nos

[arrebatam.A vida fica mais bela quando sabemos:Onde estão os olhos que nos encantam;Onde estão os sorrisos que dão sentido à nossa vida.A vida fica com mais sentido quando sabemos:Onde estão as verdades e os valores;Onde está a família da fé que connosco quer caminhar.Eu vou sempre procurando saber.Deus vai comigo!

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9.o meu carro

Tenho de deixar de pensar que a marca do meu carro é“Ford” e passar a dar conta que a marca do carro que usoé “vida”.Tenho de deixar de pensar que ando habitualmente emestradas nacionais e na A23 e A25. A estrada que eupercorro com o meu carro de marca “vida” é a estrada dosmeus sonhos: dos que concretizo e daqueles que buscoconstantemente.Tenho de pensar que habitualmente no meu carro não andosozinho; ando com os meus amores que dão sentido àminha vida – a minha Família e o “Amigo maior” que é opróprio Deus.Mais ainda: tenho de deixar de pensar que sou eu queconduzo o meu carro. Jesus é o motorista e só com Ele aovolante poderei chegar ao meu destino; o sucesso e arealização na santidade de cada dia bem vivido.Com Jesus ao volante, com o GPS que é o Espírito Santo,hei de chegar à prosperidade se usar os quatro pneus damarca “amei”, “lutei”, “renovei” e “venci”.

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10.não são números... são pessoas!

Às vezes os números são somente números.Escutamos tantos números com frequência na comuni-cação social que nem reparamos: “Morreram 200 pessoasno Iraque”; “A percentagem de desempregados aumentoudez por cento este semestre”; “Faleceram 100 pessoas numatentado bombista na Palestina”; “Neste fim-de-semanaperderam a vida sete pessoas nas estradas portuguesas”. Há tempos li, num jornal diário, que uma certa empresa daregião iria despedir 700 pessoas.Neste caso, para mim, o número é muito mais que umnúmero. São pessoas! Pessoas que conheço! O Paulo, a Joana, a minha prima, o Nuno e a esposa… etantos outros. Os números não podem mesmo ser apenas númerosquando falamos de pessoas.

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11.Carta de demissão

Quero hoje apresentar a minha carta de demissão.Venho por este meio apresentar oficialmente o meu pedidode demissão da categoria dos adultos.Resolvi que quero voltar a ter as mesmas ideias epossibilidades de uma criança de oito anos no máximo.Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoassão honestas e boas.Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as com-plexidades da vida passem despercebidas por mim porquequero apenas ficar encantado com as pequenas maravilhasdeste mundo que acontecem a todos os momentos, todosos dias.Demito-me de adulto porque quero uma vida simples esem complicações desnecessárias. Cansei-me de diascheios de computadores que falham, montanhas de pape-lada, notícias sempre deprimentes e alarmistas, contas apagar, o disse que disse, doenças; mas principalmentecansei-me de atribuir um valor monetário a tudo o queexiste.Chega de fazer contas para ver se o vencimento chega paratodo o mês. Quero acreditar que as pastilhas e as gomassão a melhor coisa do mundo e que as moedas de chocolatesão melhores que as outras porque se podem comer e ficarcom a cara toda lambuzada.Também não quero dizer adeus às pessoas que me sãoqueridas e que fazem parte da minha vida. Por isso demito-

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-me de ser adulto. Porque quero ter a certeza de que Deusestá no céu e de que é Ele que orienta todas as coisas.Quero deitar pedrinhas na água e dar a volta ao mundo nosonho de um barco de papel. Demito-me de adulto porquequero continuar a sonhar.Quero poder passar as tardes de verão numa bela praia,construindo castelos na areia e dividindo-os com os meusamigos.Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro morango,a primeira maçã ou quando a cerejeira ficar totalmenteflorida.Quero que as maiores competições em que eu tenha deentrar sejam um jogo de futebol ou uma corrida ao“sprint”.Demito-me de ser adulto porque quero voltar ao tempo emque eu aprendia o nome das cores, a tabuada, as cantigasde roda e rezava com os olhos fechados, cheio de vontadede ser escutado.Quero voltar ao tempo em que se era feliz, simplesmenteporque se vivia na bendita ignorância de coisas que podiampreocupar ou aborrecer e que isso nada me incomodava,porque agora mesmo que saiba muito nunca sei o mínimosuficiente.Demito-me de adulto porque quero poder acreditar nopoder dos sorrisos, dos abraços, das palavras gentis ealegres. Quero acreditar no poder da verdade, da justiça,da paz, dos sonhos e da imaginação, dos castelos no ar ena areia.Demito-me de adulto porque ser grande é chato e eu queroser feliz porque sei que ser feliz é mais que ter dinheiro outer muita influência.Ser feliz é confiar em Deus. É saber que o Deus em quemacreditamos é um Deus de vivos e não um Deus de mortos. Porque para Deus todos estão vivos.

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12.sob a capa...

Sob a capa da eliminação de tabus e preconceitos pareceque tudo vale.Concordo totalmente com a eliminação de muitos precon-ceitos e tabus que, durante séculos, a sociedade e a Igrejaforam incutindo e mantendo. No entanto parece-me queestamos a cair no extremo oposto.A educação das gerações mais recentes parece-me dema-siado liberal. Parece-me que tudo favorece a libertinageme a falsa responsabilidade.Viva a eliminação de tabus e preconceitos! Mas onde ficaa educação para os valores e o bom senso na relação entreas pessoas e no trato social?

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13.Viver como as flores!

Repara bem nas flores.As mais belas nascem porque Deus assim quer,algumas nascem entre pedras e espinhos, mesmo assimflorescem.

Outras nascem até no esterco, mas não permitem que oazedume da terra manche o frescor de suas pétalas. Extraem do adubo malcheiroso tudo que lhes é útil esaudável e mantêm-se sempre puras e perfumadas.É humano e verdadeiramente justo angustiar-se com aspróprias culpas, mas não é sábio permitir que os vícios dosoutros nos importunem demasiado.Os defeitos dos outros são deles e não nossos.Se não são meus, não há razão para preocupação exage-rada.Exercitemos, pois, a virtude de rejeitar todo o mal que vemde fora.Há muitas formas de aprender pela imitação ou peloconfronto.Imitamos as virtudes e recusamos o resto.Isto é viver como as flores.

ANTÓNIO MARTINS

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14.a saudade, às vezes

Rouba-nos o sorrisoAperta-nos o peitoTolhe-nos o coraçãoDeixa-nos com um nó na garganta.

Faz-nos falta o sorrisoO carinho, o mimoA alegria que tu estejas.

Completa insatisfaçãoTudo fica sem corNem sonhar apetece.Como pode um único sentimento, a saudade,Controlar e influenciar todas as coisas?

Talvez porque as outras não sejam importantesQuando falta essa.

(para ti, Duarte)

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15.o que vejo?

Corações fechados. Empedernidos, azedos. Por mil válidos motivos tristes e magoados.O que queria ver?Corações em paz. Alegres por dentro. Generosos e atentos.Disponíveis.

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16.surdo/mudo!

Li há tempos que o vizinho de um salão de uma seitaqualquer processou os membros dessa confissão religiosapelo excesso de barulho.Havia sempre muito barulho e berravam muito dentrodesse salão. Esse homem escreveu ao tribunal que respei-tava muito ideias diferentes e novas a respeito da fé, masqueria que o tribunal lhe desse razão na expressão: DEUSNÃO É SURDO!

Para falar com Deus não é preciso gritar. Ele ouve semprecom a máxima atenção vigilante. E mesmo que pareça queé um Deus mudo, que não fala connosco, que está distante,não é de certo assim.Deus fala connosco de muitas formas, por muitos sinais emuitas pessoas. Apenas exige que estejamos atentos.É um Deus que não vive apenas para cumprir os nossos“caprichosinhos”, mas, como Pai providente, nada de es-sencial deixa faltar aos seus filhos.

Mais ainda: o Deus em quem acreditamos deseja que nãosejamos nunca surdos à voz d’Ele e à voz dos queconnosco estão. Nem deseja que calemos a nossa voz facea injustiças ou problemas que temos de enfrentar.

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17.somos fracos?

Reparem bem como a escuridão termina quando a luz (pormais pequena que seja) é acesa.Demasiadas vezes continuamos a pensar como dissipartotalmente a escuridão e ficamos mais preocupados com aluz que ainda falta do que com a luz que já será suficiente.Olhando para nós parece-me que está na altura de parar-mos de pensar apenas nas nossas fraquezas e limitações.É tempo de dar o devido valor às nossas qualidades ecapacidades – para assim vivermos em paz, com sincera esentida alegria, capaz de superar tudo o que é negativo.

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18.sucesso

O sucesso é algo que perseguimos sempre, ainda que porvezes seja de forma inconsciente.A necessidade de ganhar, de conseguir isto ou aquilo é umasede insaciável, é como uma essência maravilhosa quecorre pelas nossas veias e que nos impulsiona a seguirsempre em frente.Durante o tempo da nossa existência terrena vamos perse-guindo uma série de sonhos e metas. Constantemente osvamos alterando e ajustando. Outros conseguimos concre-tizar e, nesses momentos, parece que todo o mundo cabeno nosso coração e transbordamos de alegria como se otempo parasse.Quando realizamos os nossos sonhos e tocamos o sucesso,renovamos a esperança e a crença na nossa força interior.Hoje quero pedir a Deus este sucesso.Só este tipo de sucesso.

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19.onde está o teu coração?

Aí está o teu tesouro.Onde está o meu coração?Interessante e importante esta pergunta. De todas as per-guntas que a existência nos pode trazer, esta será semdúvida das mais importantes.A que temos preso o nosso coração? A quem? Ao quê?À família, aos amigos, aos sonhos, à esperança. Se forassim estamos de parabéns!

Aos bens, ao que queremos, ao que achamos merecer?Cuidado. Atenção. Assim vamos perder o tesouro e jamaisvoltaremos a ter coração.

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20.Homenagem aos meus amigos!

Um amigo é alguém que consegue fazer parar o tempo.Ainda que não haja tempo e o tempo passe a correr juntodele.Um amigo é aquele que sente vontade de estar contigo, dete ver. Antecipando-se até à tua necessidade de estar comele.Um amigo é alguém que consegue perceber quando devefalar e quando tem de escutar.Um amigo verdadeiro é aquele que sabe que é tão bomnecessitar como ser necessitado.Um amigo é alguém com quem nunca terminamos as nos-sas conversas: mesmo que passe imenso tempo sabemossempre onde recomeçar o diálogo.Um amigo genuíno é aquele que consegue apagar o passardo tempo com o som inesperado da sua voz.Um amigo verdadeiro sabe quando é necessário preparartudo para que tu sejas surpreendido. Tudo faz para queaprendas que a vida é assim mesmo, uma sucessão defracassos e vitórias, mas que vale a pena pela atenção quedamos uns aos outros.Um amigo és tu sempre que quiseres.Obrigado!

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21.agradar a todos!

Como é tempo perdido o tempo gasto a odiar. Não hátempo mais mal aplicado.O tempo e a energia são para gastar a amar. Não há desobrar tempo para perder com aqueles que te querem mal.Na vida só nos podem fazer aquilo que nós permitirmosque nos façam. Não percas tempo a tentar justificar-te, por-que quem acredita em ti não precisa das tuas explicaçõese quem não acredita se calhar não as merece.Para, escuta, sente e deixa entrar o amor e o carinhodaqueles que te querem bem. Aprecia esta felicidade queé ter quem gosta mesmo de nós. Toma atenção: não esban-jes esta felicidade.Um sorriso, um conselho, uma palavra, podem mudar avida de alguém e também a nossa. Portanto vamos sergenerosos nos sorrisos e nas atenções uns pelos outros.Querer agradar a todos é não agradar a ninguém...

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22.ele conta cada lágrima

Só Deus sabe quanto tu estás cansado e desencorajado portantos esforços que não deram frutos.Só Deus sabe o quanto tu tentaste, o quanto até choraste,com o coração cheio de angústia.Só Deus sabe como tu te sentes quando parece queperdeste a vida a colher insucessos e, com voz suave eserena, Ele te convida novamente a recomeçar. Uma eoutra vez. Sempre.Quando sentires que já tentaste tudo não te esqueças desimplificar. Faz como fazias em criança: pede ao Pai;insiste.Faz birra com Ele.

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23.Hoje é um dia especial

Hoje é um dia especial.Simplesmente porque todos os dias são especiais.Hoje quero que seja especial.Nós estamos aqui.Não vale a pena passar o tempo a chorar lágrimas derra-madas por motivos do passado ou medo do futuro.Este dia tem de ser um espetáculo de emoções.Não podemos perder tempo.Cada segundo que passa terá de ser uma nova conquista.Não é o tempo que nos agarra a nós. Somos nós que temosde agarrar o tempo.Sente-te livre de indecisões e dúvidas e abraça a vida sempensar.Vive o dia de hoje porque o ontem é passado, o amanhãmistério.Interessa o hoje; e o hoje é dádiva.Por isso lhe chamamos presente.

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24.transformar cada momento...

Aqui ando eu a correr ao “sprint” para chegar a todo olado.Parece-me que a vida é isto mesmo, uma corrida ao“sprint”, mas que exige que em muitos momentostenhamos a coragem de ver e rever as corridas em “slow-motion”: em câmara lenta e bem atentos para descobrircomo haveremos de correr da próxima vez.Pedem-me que transforme cada momento com a alegria ea força da minha presença. Mas cansa ser o centro dasatenções. Se vamos e convivemos não deveríamos; se nãovamos deveríamos porque temos de conviver.Os finais de domingo são assim. Depois do “stress” e da correria celebrativa ficamos assim:pensativos. Por mais que eu queira e tente não cabem todosno meu coração; também alguns não querem mesmo estar.Mas eu não desisto.Transforma-me, bom Pai do Céu! Preciso da tua força paraque nas tempestades da minha vida me dês a mão comodeste a Pedro quando ele se afundava ao tentar caminharnas águas.

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25.Pois é...

Pois é, a vida é assim mesmoQuase nunca é como queremosDificilmente é como sonhámos

Demasiadas vezes temos de enfrentar situações que nos [afligem.

E temos medo. Revoltamo-nos. Choramos até!

Pois é, a vida é assim mesmo…Consola-me a certeza que cada momento da minha vida,Cada lágrima derramada,Cada sorriso partilhado,Está escrito no diário de Deus.Ele toma nota de todos os segundos,Não esquece as nossas lutas,Os nossos desânimos e fracassos.Luta a nosso lado e conduz-nos por onde entende.

Confiamos e avançamos.Sofremos, mas venceremos!

Não vale a pena desistir dos nossos sonhos e projetos.Deus olha por nós. Deus está connosco!

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26.Quem gosta de nós?

Secretamente todos gostamos que gostem de nós. Queapreciem o que fazemos, que saibam dar valor ao que nospreocupa ou conseguimos.

Todos precisamos secretamente deste reconhecimento deterceiros daquilo que nos vai ocupando e inquietando.

Tanto gostamos que gostem de nós que temos tendência,até, a guardar, só para nós, aquilo que achamos que podemagoar as pessoas que olham por nós. Temos tendência para esconder insucessos ou derrotasapenas com o receio que isso magoe aqueles de quem tantogostamos e a quem queremos sempre proteger.

Amar é mesmo isto: tão simples como estar atento! Tão atentos que conseguimos antecipar aquilo que podeferir ou magoar o outro que tanto amamos. Amar é tudofazer para que o outro não seja arrastado pelas nossaslimitações e dificuldades. Amar é tudo fazer para que ooutro se sinta a estrela que mais brilha na nossa existência.

O melhor disto tudo é quando sentimos isso, da parte dosoutros, em relação a nós. Quando sentimos que nosenvolvem e protegem ao limite máximo de nos quereremproteger daquilo que a eles próprios tanto magoa.

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27.Cansado!

Parece que a nossa sina é correr de um lado para o outrocomo um bombeiro voluntário que não sabe a que incêndioacorrer primeiro.Precisamos de reencontrar aquela paz interior que emcriança de forma tão evidente se manifestava. Um dia de cada vez e cada problema a seu tempo. Des-cobrir que a vida é muito mais e muito maior que os nossosproblemas. Por maiores e mais complicados que sejam.Cansa sentir a nossa limitação. Cansa sentir que não con-trolamos quase nada por mais poderosos que possamos ser.Cansa correr tanto e descobrir que o resultado do nossoesforço é sempre limitado e parcial. Cansa correr tanto esentir que a maior parte das vezes este esforço máximo quefazemos não é minimamente reconhecido e justamenteretribuído.Mas continuamos a correr porque a vida não é uma provade cem metros; é uma longa maratona e no final se farãoas contas.É constantemente acertar o passo, encontrar o ritmo econtinuar. Estoicamente.

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28.silêncios!

Fazer silêncio é das coisas que mais custa. Permanecercalados ainda vamos conseguindo mas silenciar asinquietações interiores é bem complicado; para muitos émesmo impossível.Um facto que considero inegável é a necessidadeimperiosa que todos temos de fazer verdadeiro silêncio.Precisamos fazer silêncio para nos encontrarmos profunda-mente com a nossa consciência. Principalmente, vejocomo fundamental fazer silêncio para escutar a voz deDeus, que sussurra no mais profundo do nosso coração.Quem experimenta com frequência fazer silêncio sabe queé mais difícil do que na realidade parece! Enfrentar a nossasubjetividade, enfrentar os nossos erros e limitações,escutar as interpelações que Deus faz ressoar no maisíntimo de nós, faz-nos tremer interiormente. É desagra-dável, por isso, na maior parte das vezes, criar autênticosilêncio.Há silêncios que criamos, há silêncios que falam. Outrosnem por isso.Inquieto-me com os silêncios que se criaram nas comu-nidades cristãs. Onde está o “feedback” ao trabalho dospadres?Queixam-se de forma genérica que os padres falamdemais, que dizem sempre o mesmo, que são “chatos”.Poderei até concordar parcialmente.Pergunto-me, no entanto, o porquê de tantos silêncios nofinal das nossas celebrações. Será que a mensagem não

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chegou às pessoas? Será que não lhes interessa mi-nimamente? Custa-me bastante terminar uma qualquercelebração e não sentir minimamente se fui entendido.Sei que tenho um vício terrível. Eu sei que falo depressademais. Quiçá na nossa formação académica não tenhamospassado demasiado tempo em estudos filosóficos, quandoseria necessário estudar a comunicação, a dicção. Masgostava mesmo assim de sentir o “feedback” das pessoas. Silêncios destes incomodam mais que muitos berros.

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29.Propósitos!

Meu Senhor e meu Deus, nesta cultura violenta querotestemunhar-Te, levando ao mundo palavras de união.

Neste tempo onde todos querem ser servidos, que eumanifeste no mundo a alegria que é servir.

Quando tantos fecham a mão para bater, para agredir, queeu abra o coração para acolher.

Num mundo que adora a máquina e a técnica que eu saibahumanizar a pessoa.

Neste mundo que perdeu o sentido do valor da vida, queeu ajude a dignificar a existência humana como dom doTeu amor.

Meu Pai do céu: em Ti confio! Em Ti deposito meussonhos, projetos e anseios! Serei feliz porque jamaisabandonas aqueles que amas.

Neste mundo onde todos olham apenas a terra, que eusaiba sempre olhar e apontar o céu.

Nas tuas mãos, ó Pai, entrego confiadamente a minha vida.Faz de mim teu fiel instrumento. Para sempre.

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30.o que procuras?

“– Na vida ou procuramos estabilidade ou dinheiro ouconhecimento!”Alguém me queria vender esta ideia como verdade reve-lada. Até posso concordar parcialmente. Se pensar a vidaapenas com o intelecto. A verdade é que todos procuramos pelo menos duas destasvariantes: estabilidade e dinheiro ou estabilidade e conhe-cimento. Preferia a segunda à primeira.No entanto acho que na vida procuramos algo mais. É issoque faz andar inquieto o nosso coração enquanto nãorepousa em Deus.

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31.minuto de silêncio!

Quem me conhece pessoalmente sabe que gosto mesmomuito de vibrar com o futebol. Tenho assistido a umfenómeno muito interessante. Este fim de semana res-peitou-se, antes do início dos jogos, um minuto de silêncio. Um minuto de silêncio como quem diz; agora já não sefazem minutos de silêncio – batem-se palmas.Será que este facto não quer dizer ou simbolizar algo?Claro que simboliza uma bela homenagem. O aplauso ésempre simpático.Eu acho que sim. As pessoas agora têm medo do silêncio. O silêncio interpela e convida à oração. E isso nunca!

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32.a fé das velinhas!

Sexta-feira. Noite do dia 12 de maio.Junto da porta principal da igreja matriz da cidade umgrupo grande de gente, de todas as idades, de vela na mão,aguarda a saída da procissão de velas.Tarda a procissão a sair. Alguém espreita dentro da igrejae reza-se o terço.As pessoas do lado de fora ficam em estado de choque.Então não há procissão de velas este ano?Opinião unânime: os padres tiram-nos a fé e este padrevelho já devia ter ido embora.Alguns vão-se embora enquanto outros ficam mais algumtempo.Se tivessem entrado na igreja teriam descoberto que opároco havia sido internado no hospital há alguns dias eaquele terço estava a ser rezado pelas suas melhoras.“Haja paciência para tão pouca inteligência”– e nenhumamor ao serviço sacerdotal.

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33.Prestígio ou serviço!

Durante muitos anos era um grande prestígio nas pro-cissões levar as insígnias, as bandeiras, a cruz ou o pálio.Havia terras onde só podia levar a andor do padroeiro aautoridade civil maior presente na terra.Era um prestígio desfilar ao lado do Senhor Prior no pontoalto da vida anual da localidade. Atualmente nota-se cadavez maior dificuldade em encontrar gente generosa paraprestar esse serviço.As comissões de festas, as irmandades ou as comissõesfabriqueiras debatem-se com dificuldades em arranjarpessoas para levar os símbolos nas procissões. Ainda bem que deixou de ser prestígio e agora é serviço!Descubram as diferenças.

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34.Um restaurante “chique”

Aconteceu faz já algum tempo, num restaurante chiqueonde fui a convite de dois amigos.Antes de me sentar, discretamente, muito discretamentemesmo, fiz a minha oração pessoal e terminei fazendo osinal da cruz.Que cara feia, que cara de escândalo, fizeram na mesa dolado!Aposto que se tivesse dito dois grandes palavrões o es-cândalo não seria tão grande.Peço desculpa por ter ferido sensibilidades. A fé é o maiormal que afeta a humanidade e por isso tem de ser reduzidaao foro privado de cada um.

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35.Porque será?

Às vezes vou a casamentos onde me custa imenso estarpor diversos motivos. O principal é sentir que o casamentoé um pró-forma necessário para a aparência social e paraa beleza das fotografias.Habitualmente pouca gente responde na cerimónia. Parecetudo muito distante.Outro motivo é a camada de verniz com que se reveste estacerimónia. A maior parte dos convidados não se conheceenquanto outros estão por obrigação – e a maior parte estáchateada por ter de dar uma prenda ou por ter gasto riosde dinheiro na “toilette”.Hoje estive na ordenação de colegas: três novos padres edois novos diáconos.Que diferença abismal! Tantos sorrisos e tanta esponta-neidade nos aplausos. Gente que canta com alegria, jovense adultos e mesmo até os idosos vivem este momento comintensidade.Porque será?

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36.oração: gozo ou sacrifício?

Amim custa-me bastante rezar e calculo que não seja sódificuldade minha. Ou porque estou com calor ou tenhofrio, ou porque julgo que fazer outras coisas é maisimportante, ou porque estou eufórico ou porque estou comtédio...Tudo serve como desculpa para descurar ou minimizar otempo de oração.Mas vou tentando rezar; tentando sempre. Esta tentativa eeste esforço já são, de certo, oração.Às vezes buscamos na oração um tempo de gozo pessoale de satisfação espiritual interior.Tantas vezes a oração não é nada disto. Tantas vezes aoração é sacrifício e aridez. Tantas vezes se trava uma lutainterior de motivação para rezar – e nada.A oração não terá de ser necessariamente um tempo degozo e de satisfação (não quer isto dizer que muitas vezesnão seja) mas a aridez e a dificuldade em rezar são, porcerto, uma bela forma de oração.

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37.os meus óculos

Disseram-me que os óculos de sol foram inventados peloschineses que os utilizavam sempre que faziam negócios.Parece que, quando gostamos muito de uma coisa, a pupilados olhos se dilata; por isso os chineses utilizavam osóculos para disfarçar a vontade de adquirir algum produtoe conseguiam assim adquiri-lo a um preço mais baixo.Aderi à moda dos óculos de sol. Realmente são práticos,principalmente para conduzir.Uma coisa me incomoda bastante: não consigo falar comninguém enquanto utilizo os óculos de sol e custa-mebastante estar a falar com alguém que não os retira quandointerage comigo.Quando isto acontece parece-me que falta intensidade eautenticidade na conversa.“Cada burro com a sua mania...”

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38.Conversas do PaC!

Parece-me que a cultura religiosa (não estou a falar de fé)cada vez é mais diminuta.Reparo que as conversas informais, as conversas de caféou de circunstância entre um padre e outras pessoas (commaior ou menor formação) acabam por ir parar quasesempre ao PAC.Para as pessoas a vida religiosa resume-se ao PAC. Os problemas da Igreja são só os do PAC. A falta de fé ou de cultura religiosa é do PAC. Será?Será que na Igreja só temos três problemas para resolver?Preservativo, Aborto, Celibato?

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39.os defeitos dos outros!

Facilmente admiro as capacidades das pessoas. Cresciaprendendo a admirar gente que se entrega a causas, asonhos. Gente abnegada, esforçada.Tenho agora o privilégio de ser colega, irmão no sacer-dócio, de alguns desses que tanto admiro.Acho interessante descobrir, no mais secreto de mim, umacerta satisfação quando descubro nessas pessoas algumpequeno defeito ou limitação.Paradoxalmente, admito que estas pequenas descobertassão para mim um incentivo, não a esconder as minhaslimitações e defeitos, a não desistir de procurar ser um sinalpositivo da presença e do amor de Deus no mundo – comoessas pessoas que admiro sempre foram.

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40.Geração do polegar!

Eu assumo!Pertenço à chamada geração do polegar ou geração SMS.Durante a minha adolescência generalizaram-se ostelemóveis e na altura chegou a ser para mim um vícioenviar SMS.Atualmente, muito mais moderado, assumo que continuoa gostar muito de trocar/receber SMS.Desde as mais simples como seja um “bom dia”, “boanoite”, àquelas que eu gosto mais como “reza por mim”,“entrei na universidade” ou “hoje estou triste, não queresligar?”.Ainda bem que temos estas facilidades de comunicação.Graças a estas “smallmessages”, parece que as conver-sas nunca acabam e a amizade pode partilhar-seininterruptamente.A nossa relação com Deus também deveria ter algumacoisa disto. Algo que permanece. Deveríamos permanecerem contínuo contato. Contato simples mas permanente,sincero e intenso – como as SMS.E hoje: já enviaste uma SMS ao Pai do Céu?

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41.“rally” paroquial...

“– Senhor padre, eu nunca vi o seu colega em oraçãopessoal frente ao Santíssimo, não me admira!”

Disse-me alguém, um destes dias, a respeito de um sacer-dote que abandonou o ministério.Assustou-me esta constatação. Eu que sou um apressa-dinho e “stressadinho”. Se calhar também paro poucasvezes em frente ao Santíssimo. Se calhar também entro,demasiadas vezes, nas Igrejas pela porta da sacristia e saio,pela mesma porta, mal retiro os paramentos.Que padres para este tempo?É uma pergunta que me coloco constantemente.Se calhar este tempo, apesar de exigir padres do “rally”paroquial sacramental (missas),não precisa assim tantodeles. Se calhar precisa de padres que sejam verdadeiros mestresde oração.

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42.Um estranho colar!

Numa conversa informal, de amigos, uma das partici-pantes, que eu mal conhecia (de 16/17 anos), falavaconvictamente do seu cristianismo não praticante.Conversa fiada e afiada sobre celibato. Depois as larachashabituais, como“a missa é uma seca”.Falámos durante algum tempo sobre os temas habituais. Adeterminada altura, já cansado de repetir os mesmosargumentos sobre a insensatez da afirmação cristão nãopraticante, resolvi mudar o rumo da conversa e elogiei-lheo que trazia ao pescoço. Perguntei-lhe:– Foi alguma dádiva familiar?– Não! Vi-o, gostei e comprei este colar.– Colar – perguntei eu.– Sim! Este fio – respondeu-me.– Isso que trazes ao pescoço é um terço! Não sabias?– Terço?! Aquilo que se reza?E lá tive eu de explicar, pacientemente, a finalidade docolar.Parece-me que temos perdido muitas batalhas naapresentação da proposta de Jesus, mas o pior é queestamos a perder até a guerra da cultura.

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43.“Café desca(fe)inado”

Omeu vício é o café! Aquele aroma, aquele gosto forte.Criei esta necessidade do café para andar bem disposto!Intriga-me bastante o café descafeinado. Já tentei até, pordiversas vezes, trocar – mas sem sucesso.Para mim o descafeinado não substitui o café com acafeína que tanto mal faz mas que, convenhamos, tão bemme sabe!Às vezes penso que podia comparar o café descafeinado àfé cristã.O descafeinado sabe a café e cheira a café, até parece café,mas… não é capaz de nos tirar o sono.O descafeinado pede-se para matar o vício e para fazerconvívio social.A fé que vemos generalizada é um pouco assim, tal qualcomo o café descafeinado.As pessoas vão à igreja como quem vai tomar umdescafeinado.Parece fé; mas não tira o sono e não desafia. Tudo fica namesma.As pessoas vivem a fé como vício tradicional ou comoforma de convívio social. E mais nada. Ficamos peloaroma da fé.Tomar café é um ritual que criamos. Fico triste quandovejo que a fé está tantas vezes reduzida a um ritual querealizamos e normalmente de forma tão... descafeinada.

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44.Bruxinhas!

Estive há tempos a trocar ideias com um professor deReligião e Moral. Queixava-se das dificuldades que tinhapara exercer da melhor forma a sua missão.Julguei que as dificuldades fossem colocadas por parte dosalunos devido ao fraco substrato familiar e à dificuldadeque têm em cumprir regras e aceitar a autoridade de quemexerce o ministério de ensinar.Explicou-me o professor que essa nem era a maiordificuldade que tinha. O maior problema era o próprioambiente escolar que tem pouco de humano e nada decristão. E passou a explicar-me com alguns exemplos.Colocar um cartaz alusivo a qualquer festividade cristã éexpressamente proibido. Explicar o que é a Quaresma, oAdvento, a Páscoa ou até mesmo celebrar o Natal não épermitido; viva a liberdade e laicidade!O mais hilariante, e para mim vazio de sentido, é promo-verem o enfeite da escola na época do halloween (quesignifica véspera de todos os santos, mas que vive umamística nada cristã).Acho desconcertante porque pode ser publicitado e viven-ciado na escola este tipo de festividade e valores dando,em alguns casos, até, direito a folga para atividadesextracurriculares.

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45.Um simples código de barras!

Fui com um dos meus meninos às urgências de um centrode saúde e, apesar das contingências, posso dizer quefomos bem atendidos e muito bem tratados. Havia bastante tempo que não recorria a estes serviços epor isso surpreendeu-me uma novidade. Agora colocamno pulso dos doentes, depois do rastreio inicial, umapulseira autocolante com um código de barras.Podem dizer-me que utilizam este procedimento comoforma de organização e podem até argumentar com umamaior eficácia, rapidez e qualidade no serviço prestado.No entanto, por limitação minha de certo, não consigodeixar de pensar na desumanização das pessoas.Cada vez mais somos um número e não uma pessoa.Qualquer dia implantam-nos um chip e deixamos de ternome e subjetividade. Seremos um registo informático.Um simples código de barras.

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46.a guerra é um aborto!

Um homem, muito inteligente, decidiu um dia convocaruma conferência de imprensa.Chamou todos os meios de comunicação social e declarousolenemente:– Somos todos contra a guerra e bem sabemos que a guerraé errada e temos de legislar a este respeito. No entanto, aguerra é inevitável, temos por isso de arranjar uma soluçãopara a tornar lícita e legal. Temos de arranjar uma maneirapara que a guerra não incomode terceiros e possa fazer-seda forma mais silenciosa possível.Toda a gente na sala se agitou. Aquele homem não deviaestar perfeitamente lúcido. Mas ele continuou:– Sugiro que façamos (melhor: aluguemos) grandes pavi-lhões longe das populações, e quem quiser guerrear queentre nesses espaços. Temos de colocar um limite máximode tempo que a guerra possa durar (dez ou 12 semanas; ou20...isso depois poderemos discutir). O que importa agora é saber que nesses pavilhões aspessoas poderão matar, em condições de higiene e segu-rança e com acompanhamento médico. O problema daguerra fica assim automaticamente resolvido.Esta será a solução para a guerra no futuro. Quem quiserguerrear basta ter vontade disso e deslocar-se a estesespaços. Assim a guerra será legal, digna e justa. Mesmoque não concorde, os governos deverão usar os seusimpostos para pagar o aluguer destes pavilhões.

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47.santos da terra!

Faz já algum tempo fui celebrar uma festa a uma terraonde nunca tinha ido. Ninguém me conhecia nem euconhecia tal localidade. Por isso fui cedo para descobrir acapela do santo que se pretendia honrar.Desta vez correu bem e facilmente descobri o lugar.Como tinha muito tempo decidi ir tomar o meu medica-mento matinal: o meu café!Entrei no primeiro café que encontrei e o tema, por todosdiscutido, era a festa do mártir e as tradições de antiga-mente. Discutiam-se ainda as qualidades do pároco daterra, que por motivo de doença não podia estar.Como ninguém me reconheceu como padre (não cumproo código que me recomenda traje eclesiástico), a conversacontinuou animada. O nosso padre é isto, anda com aquela,só liga ao doutor fulano tal, já cá está há tempo demais,diz sempre o mesmo e é controlado por tal grupo.Não sei até que ponto tudo isto seria verdade. Conhecendoa pessoa em questão sei que exageravam nitidamente.Nada disse. Saí e celebramos demoradamente a festareligiosa com todas as tradições habituais.No final, alguém com quem eu tinha cruzado o olhar nocafé dirigiu-se a mim e disse convictamente:– O senhor padre é que devia vir para cá! O senhor bispodevia mandar para aqui um padre assim novo e simpático!A minha resposta pronta foi:– … (Pi) Santo é o que cá têm e dizem tão mal dele...Imagino de mim!Acho que escandalizei alguém.

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48.Quem me dera ser frigorífico

Hoje apetece-me pedir a Deus que me faça ser mais comoum frigorífico.Pode parecer estranho, mas é isso que peço hoje a Deus.Que eu seja cada vez mais como um frigorífico.Por isso não importa o meu exterior, se sou branco oupreto, lacado ou cor de metal. Não importa se me revisto de forma mais elegante ou meapresento de forma mais simples.Hoje quero ser como um frigorífico. Descobrir que apenas interessa o meu interior. O queguardo. O que cuido. O que conservo.Quero, como o frigorífico, apenas precisar de eletricidadee do gás invisível que refrigera. A eletricidade, acredito, é o próprio Deus que torna pos-sível que eu conserve e cuide. O gás há-de ser o EspíritoSanto que me dá a força para nunca deixar de cuidar o queguardo.

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49.dizer mal da igreja!

De tempos a tempos, como padre, apetece-me dizer malda Igreja.Apetece-me falar dos erros que comete e das omissões quepratica. Da carga demasiadamente institucional de quetantas vezes se reveste.Penso muito nisto e procuro fazer a minha parte para que,cada vez mais, isto seja coisa do passado.Mesmo assim, às vezes, apetece-me dizer muito mal destaIgreja que amo e, porque a amo, preocupo-me com ela edesejo constantemente que seja ainda mais santa para sermais fiel a Jesus, seu fundador, e claramente guiada peloSeu Espírito.Procuro publicamente não criticar esta Igreja e não consi-dero que isto seja uma atitude cobarde ou amedrontada daminha parte.De certo teria muito sucesso. A comunicação social adoraum padre “espalha brasas” e, mesmo que só diga asneirase barbaridades (e por isso mesmo), tem direito a algumtempo de antena na televisão.Parece-me que dizer mal é muito fácil e já temos até gentedemais para desempenhar essa importante missão (tantacrítica injusta, desajustada e exagerada): dizer mal só pordizer, ou para ser mais popular ou fazer parte do grupo damaioria.Prefiro olhar e fazer parte do outro lado. Daqueles queamam e servem os irmãos e que, apesar de reconheceremas limitações e fragilidades da instituição que servem, nãodesistem de a amar. Sou mais necessário deste lado.

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A santa democracia constrói-se sobre maiorias; a Verdadepercorre outros caminhos.Aposto que o título fez muita gente ler este artigo. Se otítulo fosse “dizer bem da Igreja” certamente, julgo eu, nãoteria tanto sucesso.

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50.Pairar...

Acredito que todas as decisões que temos de enfrentarexigem de nós várias coisas:1º – Hipóteses múltiplas;2º – Tempo para amadurecimento e para a reflexão pon-derada;3º – Oração;4º – Correr o risco de tentar.Como gostava de poder pairar sobre o mundo e as coisas. Como gostava de poder elevar-me até distanciar-me e verassim mais claramente a realidade que me cerca – e maisfacilmente encontrar o rumo mais correto e direto para osproblemas e dificuldades que tantas vezes se colocam nocaminho.

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51.tipologia

Em matérias de fé, e sem querer ser demasiado taxativo,considero ser necessário distinguir três tipos genéricos depessoas:– as que duvidam;– as indiferentes;– os distraídos.Para mim a dúvida (quando sincera) é sempre legítima epenso ser sinal de quem anda à procura. De quem procuraa verdade na fidelidade à sua consciência ou inteligência.Já a indiferença considero-a própria de quem procura fugirà questão central do sentido da vida e da existência – ouporque se julga superior à questão ou porque prefere viveralienado dessa problemática.Mas pior que tudo isto é viver distraído. Viver culpandotudo e todos por causa das questões a que não consigo darresposta. O pior de tudo, penso, é encher o coração de rancores e/oucolecionar erros de terceiros para lançar confusão. Ouandar de tal forma ocupado em faitsdivers como se estespudessem alguma vez dar sentido à existência – ou pelomenos serenar ou minimamente saciar a ânsia íntima defelicidade autêntica.Que forma tão estranha tenho eu de pensar. Porque hei-deeu julgar que terei razão?

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52.a.m.a. – as três atitudes fundamentaisda vida

ABANDONAR tudo aquilo que não condiz com o nossocaráter, sentido de vida, objetivos e metas. Tudo aquilo quenão agrega, nos distrai e afasta da direção que decidimosdar à nossa vida deve ser abandonado em favor desta causamaior. Muitas pessoas não chegam onde desejam porqueficam prisioneiras do apego a hábitos e a circunstâncias.O apego a coisas erradas é uma âncora que nos mantémpresos e nos impede de navegar ao largo.

MANTER tudo aquilo que agrega valor e está emcoerência com o sentido de nossa vida, objetivos e metas.Mesmo que muito custe, temos de ser capazes de manterpelo tempo necessário os esforços que fazemos para que,a seu tempo, apareçam os resultados – e estes possamcrescer em quantidade e qualidade.

ADQUIRIR o conhecimento, as habilidades e as atitudespara fortalecer as nossas competências – para construir ofuturo que buscamos. Deveremos procurar adquirir o quenos falta para tornar as nossas forças mais fortes e trabalharpara diminuir ao máximo as nossas fraquezas e limitações.

Se praticarmos os princípios A-M-A (Abandonar, Mantere Adquirir), a nossa realização e os nossos sonhos estão aser conseguidos.

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53.encontros e desencontros

Encontramo-nos por tantos motivos.Por motivos sérios, por causas nobres, por motivos laborais– e também por motivos fúteis ou para simples convívio epartilha da amizade.Todos estes encontros, espontâneos ou não, formais ouinformais, exigem de nós atitudes próprias adaptadas àscircunstâncias. A nossa inserção na família social dependemuito da forma como sabemos estar.Viver é isto mesmo: encontrar e desencontrar.Tenho pensado como têm sido os meus encontros comDeus?Mesmo como grupo (familiar, laboral, social) não valeriaa pena fomentar mais este tempo de encontros com (e em)Deus? Acredito, sinto e vivo na certeza que o tempo que Lhedamos é o tempo que nós ganhamos.

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54.Comigo são generosos!!!

Contam, como tendo acontecido na minha terra natal hálongos anos, que uma senhora cheia de generosidade foilevar à casa paroquial um cesto de maçãs. Esta senhora foi recebida pela irmã do senhor prior dafreguesia (naquela época era habitual as irmãs do senhorpadre serem as governantas da casa paroquial). Contam as pessoas mais idosas que terá acontecido oseguinte diálogo:A irmã do senhor padre terá dito:– Temos cá muitas maçãs. As pessoas têm-nos dado, temoque estas se estraguem! A generosa senhora, sem medir e com certeza sem in-tenção, terá dito:– Aceite-as, menina, porque eu também lá tenho muitas.Olhe que se não são para o senhor prior tenho de fazercomo fiz às outras: vão para o porco.

Parece-me que estamos a crescer numa cultura poucogenerosa. Damos apenas daquilo que nos sobra – mesmoo nosso tempo.Dar até doer, pelo menos a mim, continua a desafiar-me.

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55.o último ou o primeiro?

A sabedoria popular vai nos ensinando que, se quisermosser felizes, deveremos viver a nossa vida como se cada diafosse o último dia da nossa existência.Tem muita razão esta sabedoria genericamente aceite.Cada dia deve ser vivido com o máximo de intensidade,alegria e entrega. Como se fosse o último dia da nossapassagem pela terra. Apesar de fazer sentido esta sabedoria tradicional, euprefiro remar contra a maré do senso e sentido comuns epensar que não deveremos viver a nossa vida como se cadadia fosse o último. Deveremos viver a nossa vida como secada dia fosse o primeiro.Se cada dia for vivido como o primeiro dia da nossa vida,vamos constantemente surpreender-nos com a beleza dacriação, vamos encantar-nos com os afetos e vamos sentira novidade que é poder ter 24 horas todos os dias paraadministrar o mais belo tesouro que temos.A vida, claro.

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56.Visualizando rostos...

Tenho amigos com um sorriso radiante, um olhar límpido,um rosto que evidencia verdade.Tenho amigos sempre atentos e próximos, verdadeira-mente solidários e empenhados em colaborar comigo.Tenho amigos que tornam, pela alegria, mais leve a cruzdo meu dia a dia.Tenho amigos que continuamente me surpreendem pelaforma como na simplicidade são capazes de me estimar.Tenho amigos que considero como “anjos da guarda” quetenho o privilégio de ver.

Os amigos são os irmãos que podemos escolher – dissealguém com muita verdade; eu digo mais ainda: para mimos amigos são um sinal visível de que Deus nos amamesmo, e de que é possível viver desde já, e aqui, no seuReino.

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57.o menino do balão

Presenciei certo dia esta deliciosa cena: alguém dá umbalão a um menino, que estava, durante o dia, confiado aoscuidados de um tio por indisponibilidade da mãe.O menino tentou de todas as formas encher o balão. Mas,porque era ainda muito pequeno (não tinha muito mais dedois anos), não conseguiu.Entretanto liga a mãe e pergunta se tudo está a correr bem.O tio do menino, para atestar o momento engraçado, passao telefone à criança que, colando o telemóvel junto da bocado balão, pede:– Mãe, enche o balão. Enche!

Às vezes a nossa relação com Deus é assim como criançasbirrentas que apenas sabem fazer uma coisa: ajuda-me, Pai.Ajuda-me!Fazemo-lo de forma consciente e de forma inconsciente.O que é certo é que habitualmente confiamos e sabemosque é Deus e só Ele que, em última instância, nos podesocorrer. Somos, tantas vezes, assim como a criança quenão consegue encher o balão e pede, sem duvidar, ajuda àmãe para encher um balão ao telefone.

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58.o símbolo que não é...

Enquanto me paramentava aproximou-se de mim umacriança dos seus seis anos. Intrigado, questionou-me:– Como se chama isto que estás a vestir?– Alva ou túnica – respondi eu.Pouco depois interpelou-me novamente e disse:– Agora puseste uma corda na cintura e um cachecol.Prontamente emendei.– Chama-se cíngulo a isto e estola a isto e agora voucolocar a casula. Cada cor tem seu símbolo. – E expliqueide forma muito simples as cores litúrgicas.A criança olhou-me, admirada.– Então isto que vestes é tudo um símbolo. Representaalguma coisa. Só ainda não entendi uma coisa. O cachecoltambém é um símbolo?– A estola? Sim, claro.– Mas tu escondes o símbolo debaixo da casula.

Quando um símbolo basta… basta! Para muitos símboloslitúrgicos as palavras serão supérfluas ou mesmo desne-cessárias! Mas quando o símbolo não é claro ou escondido:como efetivá-lo?

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59.Procura-se

Todos gostamos de ser procurados. Estimados.Gostamos que seja reconhecida a nossa presença. E mes-mo, especialmente, a nossa falta.Parece-me que é isto que está em falta no nosso tempo:Que olhemos não apenas uns para os outros – mas unspelos outros.Procuremos e deixemo-nos encontrar. Busquemos os ou-tros e deixemos que os outros nos descubram.Aposto que até Deus quer ser procurado. E aposto quegosta de ser procurado.Só nos encontramos se O encontrámos.

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60.“ode” aos meus ombros...

Li, num desses “powerpoints” com português do Brasilque recebemos em doses admiráveis da parte dos amigos,um texto de que gostei bastante e me fez pensar.Defendia o texto que a parte mais importante do corpo sãoos ombros. E argumentava longamente na importância queos ombros desempenham na vida humana.Realmente a vida vale pelos ombros que somos capazesde dar aos outros. Vale na medida em que somos capazesde disponibilizar os nossos ombros aos outros, para sabo-rear vitórias ou conquistas e para amparar e servir de basee apoio nas derrotas e dificuldades.Não tenho os ombros muito largos. Sou por naturezafranzino mas tenho muita boa vontade e, se há coisa queme faz feliz e sinto valer a pena, é poder disponibilizar osmeus ombros para os meus amigos e para todos aquelesque me procuram – seja para uma palavra amiga, para oSacramento da Reconciliação ou simplesmente paradesabafar.Obrigado, Senhor, pelos meus ombros.

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61.Vida...

Como gostamos de ser importantesDe ser o centro das atençõesOs mais sábios nas opiniões

Tanto que parecemos figurantesDe uma peça teatralQue de tão malPreparadaEncenadaFica sem públicoSem nada

Fica sem sentidoSem rumoSem futuroSem prumoSem viverApenas existir.

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Fazer silêncioSilenciar tudo à minha voltaTenho medoDe escutar o silêncioDesafia-meInterpela-meMas sabe bemEntrar no coraçãoSentir-me em comunhãocontigocomigo mesmo

Orar é silenciar o que nada interessa.Orar é partilhar o silêncio do amor, da confiança e da

[entrega nas mãos de Deus.

Para quê as palavras?Se o silêncio bastaPara estar comigoPara Te encontrarPara me encontrarPara ser mais em Ti

Faço silêncioPara Te falarPara me falares.

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63.Greve... de zelo!

Hoje vou fazer greveDe zeloVou rezar maisMuito mais que habitualmente

Por todos os que se sentem injustiçadosE pelos que são injustos

Vou rezar pelos que lutamE pelos que se submetem

Pelos que mandamE pelos que obedecem

Vou pedir sem desfalecerJustiça socialSolidariedade fraternalAmor verdadeiroEntre todos e para todos

Junta-te à minha greve!

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64.o meu guarda-chuva

Em questões de Igreja ou em matéria de fé ou testemunhocristão parece-me que nos abrigamos demasiadas vezesdebaixo do guarda-chuva.Até ouvimos, entendemos e aceitamos como válida, amensagem eclesial mas pessoalmente vivemos como queignorando esta mensagem e os constantes desafios que estanos faz. Como que abrigados e protegidos debaixo donosso egoístico e egocêntrico guarda-chuva. Só aquilo que nós pensamos é que está correto. Só aquiloque vivemos tem valor. Só eu me basto, por isso, que nadame incomode demasiado.Eu até podia ser leitor ou acólito na igreja… mas avergonha, o trabalho que dá, o incomodo que causa… me-lhor ficar abrigado debaixo do guarda-chuva da vergonha!Eu até podia ajudar nos cânticos ou no arranjo da igreja ouem alguma comissão paroquial. Mas estão lá aquelaspessoas. Nunca me relacionei muito com elas ou nemgosto muito delas! Será melhor ficar bem resguardadodebaixo do meu guarda-chuva da indiferença ou da minhasuperioridade moral em relação aos outros.Eu até podia ser mais generoso, dedicar-me ao volunta-riado ou dedicar mais tempo àqueles que mais precisam…mas prefiro, quase sempre, ficar debaixo do meu guarda--chuva do comodismo e do “não te rales… não teincomodes”!Experimentem, este domingo, não levar um guarda-chuvapara a igreja.

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65.o sono dos justos...

Fui, faz já algum tempo, pregar a uma festa num domingoao final da tarde. Estava já algum calor.O colega que me pediu este favor é já um sacerdote dealguma idade e com bastantes comunidades cristãs ao seuencargo (calculo que sejam pelo menos seis).Pediu-me na sacristia, antes de iniciarmos as cerimónias,para que eu presidisse à celebração, que ele ficaria noprimeiro banco porque já tinha celebrado demasiado(admito que não me atrevi a perguntar quantas).– Com certeza – acedi prontamente a mais esta solicitação,e começou a celebração. Eu presidi e ele não concelebrou. Durante as leituras tudo correu bem; no entanto, malcomecei a homilia, passados nem dois minutos, reparo queno primeiro banco alguém dormia. E tão profundamente...Fiquei preocupado. Pensei estar a dizer banalidades quenem ao colega interessavam. No entanto, no final dacelebração, fiquei mais sossegado quando uma daquelas“santas”, que há em todas as comunidades cristãs, medisse:– O nosso prior é um santo. Consegue estar em todo o lado.Não pude deixar de sorrir.

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66.50€

“Dou 50 euros a quem me indicar para batizados ecasamentos.”

Foi esta a mensagem que recebi no meu telemóvel.Desconhecia o número remetente. E fiquei inquieto.Será alguma piada de algum colega? Algum padre gostaassim tanto destas festas? Descobri, passados alguns dias, que se tratava do númerode um fotógrafo profissional.Admito que me apeteceu responder:“Dou 50 euros a quem quiser substituir-me naqueles queeu já aceitei e só me querem lá por causa das fotografias.”

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67.ao mais importante...

Não tenho tempo paraNão tenho disposição paraNão me lembro deNão seiRezar

Vivo inquietoDesassossegadoPreocupadoTalvez porque me esqueçoDo mais importante

O importante é amarAo próximoA Deus

O mais importante É viver em comunhãoCom DeusCom o próximo

O fundamental é viverCom as mãos no trabalhoO coração em DeusE o espírito disponível para amar.

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68.a igreja em constantes “cuidadospaliativos”.

Parece-me a mim que muitas das coisas que faço, muitasdas cerimónias em que participo, alguns dos projetos quesou desafiado a participar, são cuidados paliativos quetenho de prestar. Os últimos cuidados que se prestam antesde morrer.Certas cerimónias, tão só produto da tradição, e até certosprojetos, parece que é aguentar até acabar.Preocupa-me bastante descobrir nas paróquias umareligião tão só de tradições e hábitos. Apetece desligar amáquina e deixar mesmo morrer.Mas depois o que fica? Que propomos em troca? Estarãoas pessoas dispostas a trocar a religião do “sempre foiassim” pela religião verdadeira e viva?Pior ainda: certos projetos eclesiais que resultaram numasociedade de cristandade e que ainda mantemos. Avancemos com confiança em quem tudo pode. Di-gnifiquemos o que está em cuidados paliativos, masprocuremos novas formas e novos caminhos de levar oEvangelho às pessoas. Este não é só o trabalho do padre.Esta é também a tua missão.Estou certo ou estou errado?

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69.aqui...exatamente aqui

Li recentemente alguns relatos de pessoas que escaparamem Nova York aos atentados do 11 de setembro por seterem atrasado por coisas banais.Um dos casos descritos era o de um advogado que seirritou bastante porque o dono do café permitiu que outrosclientes lhe passassem à frente. Outro caso descrito era ode um gestor que apanhou demasiado trânsito e passou otempo a lamentar a sua falta de sorte. Outro caso era o deuma jovem mãe que se atrasou porque as crianças deci-diram fizer birra logo pela manhã e ela demorou maistempo do que habitualmente a deixá-las no infantário.Intrigante…Naquele dia, para aquelas pessoas, se tudo corresse bem,sem dificuldades ou problemas, estariam no emprego ahoras e teriam provavelmente falecido. Estariam no lugarerrado na hora errada.Fiquei a pensar.Por mais que me custe a missão que tenho a desempenhar,por maiores que sejam as dificuldades que tenho deenfrentar, onde eu estiver procurarei sempre assim pensar: – É aqui, exatamente aqui, que Deus quer agora que euesteja.

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70.a sinceridade das crianças!

Numa dessas festas de catequese, o sacerdote percorria aala central da igreja, durante a homilia, em diálogo abertocom as crianças. Tentava desta forma explicar agradavel-mente as leituras usando este método dialogado.Foram surpreendendo o sacerdote a forma como as crian-ças respondiam com qualidade às perguntas colocadas.Estavam muito bem preparadas!Pior foi quando quis falar sobre a importância da Euca-ristia, a centralidade deste sacramento e a necessidade dea Eucaristia ser sempre uma festa. Dizia o sacerdote:– Se a missa não é uma festa não faz sentido celebrá-la! E,se a missa não é uma festa, a culpa será de quem?As crianças ficaram envergonhadas e a resposta não foipronta, como nas questões anteriores. Surgiu entretantoalguém corajoso, que disse baixinho:– … do padre?Não conseguiu o padre deixar de rir pela sinceridade daresposta.Muita gente crescida também pensa assim. Vivem comose Jesus tivesse dito:– Fazei isto, padres e bispos, em memória de mim e se algoestiver mal a culpa será só vossa!Pobre culpa que morre sempre solteira.

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71.Para tudo “PP”

Quando tudo parece estar mal e não consegues os teusobjetivos, pensa PP.Quando te sentires sozinho, triste ou doente, pensa PP.Quando desanimares com a vida, ou com as pessoas quefazem a tua vida, pensa PP.Quando te sentires impotente face ao mal, pensa PP.Quando disserem mal de ti de forma injusta, pensa PP.Entendido?Então não te esqueças de pensar PP: Paciência e perse-verança. Sempre!

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72.maravilhas

Foram há tempos divulgados os resultados das novas setemaravilhas do mundo. A maior maravilha são as pessoas;por isso, aqui apresento aquelas que considero ser asminhas sete maravilhas pessoais:

1– Saber que sou amado por Deus, por isso vivo.2– Saber que tenho na minha família o meu porto segurode abrigo.3– A certeza da amizade sincera de tantos.4– A alegria de poder ajudar de forma descomprometida.5– A grandeza do meu ministério.6– Saber que estou nas mãos de Deus.7– Todos os dias poder aprender e crescer na comunhão.

E as tuas: quais são?

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73.descubro-me!

“Não existe nada mais sem sentido do que procurar osentido das coisas!”(Frase que retirei de um e-mail que recebi e desconheço oautor.)

Se pudesse atribuir um Óscar à frase mais sem sentido dosúltimos tempos, sem dúvida escolheria esta.Enquanto nos contentarmos com as aparências e osuperficial, ou com as respostas mais evidentes, tenho acerteza de que jamais seremos capazes de encontrar a raiz(essência) da felicidade.Qual a nossa essência? Qual o nosso sentido? O que nosdefine mais profundamente? Que horizontes buscamos?Que conquistas interiores ansiamos?Voltas e voltas poderemos dar, mas tenho a certeza de quea Jesus iremos sempre parar, pois apenas Ele poderesponder-nos a estas inquietações tão profundas.Apenas Ele nos pode conduzir na autêntica e profundadescoberta de nós mesmos. Na exata medida em que conheço a Deus descubro-me amim próprio.

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74.saudades do verão

Verão, férias para o descanso e para a diversão. Quebra--se, num curto ou longo espaço de tempo, a rotina do diaa dia. Cada um, a seu modo, aproveita para fazer algo quegosta: um passeio cá dentro ou fora, uma praia parabronzear, um espaço para visitar, um encontro com amigosque não se veem constantemente, entre outras tantascoisas.No entanto, outros também aproveitam para pensar eavaliar o que têm feito, outros anseiam pelo futuro: se irãoou não entrar na universidade tão desejada, onde irão sercolocados no próximo ano letivo, onde irão exercer edesempenhar aquilo para que se formaram ao longo detodo um curso. E todos anseiam pelo melhor, com mais oumenos entusiasmo.Neste período de tempo, Deus continua presente, embora,às vezes, mais esquecido pelos seus filhos. Ele continuapresente em qualquer espaço em que nos encontremos. Econtinua a amar-nos, a contar com a nossa atenção.Deus chama em qualquer estação do ano, em qualquerlugar. Basta estarmos um bocadinho atentos, disponíveispara O escutar.

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75.serenidade

“Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitascoisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu amelhor parte, que não lhe será tirada».(Lc 10, 42)

Sempre a correrSempre inquietosSempre ocupadosPor issoSempre longe De Deus

Jesusporque nos amaPorque se preocupa connoscoQuer ver-nos serenosTranquilosQuer encontrar-nosCentrados No que é mais importanteNele próprio E na sua mensagem

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Da conversa à conversãoDa conversão Ao verdadeiro acolhimentoDos irmãosDe Deus

Muito que fazer? Nunca.Muito que rezar: sempre!

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76.milagres: que os há...há!

Como gostávamos de os ver e de os atestar constante-mente!Como gostávamos de ver as leis da natureza seremconstantemente alteradas em função das nossas vontades,desejos ou caprichos…Eu acredito que todos os dias sucedem milagres, pequenose grandes. O mais difícil é estar atento e ser capaz de osdescobrir.Reparemos em casos concretos: este ou aquele venceu,pelo seu esforço e apoio divino, esta ou aquela dificuldade;teve sucesso em determinado empreendimento ou venceutentações ou limitações que impedem a liberdade e felici-dades mais profundas.As coisas mais simples do dia a dia são muitas vezes asmais ignoradas; no entanto, parece-me que, na maior partedos casos, são as mais grandiosas. Constituem, em sipróprias, os maiores milagres.Hoje quero falar de uma pessoa que faz milagres… Sim!Faz! E já conseguiu muitos.São milagres pequenos, praticamente impercetíveis, mastenho a certeza de que fez, pela perseverança na oração e pela confiança em Deus, ao longo da vida, imensosmilagres.Ultimamente essa pessoa precisa ela própria de ummilagre. A doença grave ameaça-a de forma violentíssimae, com a mesma confiança em Deus que com ela aprendi,peço eu hoje ao bom Pai do céu um milagre. No entanto,

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sei e sinto, quero e anseio que se faça sempre a VossaVontade. Mas como eu gostava que, neste caso, a VossaVontade fosse a minha.Bendito sejais Senhor agora e para sempre!Ámen.

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77.tantos s(s)...

Se tudo for feito com Amor e ingenuidade,Se todos se amarem mutuamente,Se a felicidade for uma Eternidade,Se a tristeza for mera passagem,Se a amizade for sincera e de Verdade,Se a vida, for um Dar acima de receber,Então descobriremos que foi em cada um dessesmomentos que nosso coração bateu mais fortee que agimos pura e simplesmente como seres Humanos.

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78.a minha mochila

A vida é uma caminhada. Para uns uma caminhada longa.Para outros uma caminhada mais breve. Para alguns umacaminhada mais intensa; para outros uma caminhada maisserena.Importa que caminhemos, trilhemos o nosso caminho enão passemos o tempo a ver os outros caminhar e apenasapontar o dedo como juízes de todos os outros.Todos caminhamos. Peregrinamos na vida.Ao longo da vida vamos completando a maior univer-sidade. Os maiores ensinamentos são trazidos pelos diasque passam e pelos anos que se somam. Enquanto caminhamos vamos arranjando bagagem quecolocamos às costas. Enquanto peregrinos da existêncialevamos como que uma mochila, na qual colocamos tudoaquilo que serve para caminharmos tranquilos, prontospara cada acontecimento e para estarmos seguros de chegaronde queremos.A mochila que carregamos ao longo da nossa existênciahumana dá-nos a segurança de termos o essencial paraprogredir dia a dia; e vamos ao longo dos dias acrescen-tando coisas. Importa não carregar demasiado a mochila, para não noscondenarmos a carregar com pesos excessivos, para nãonos sentirmos tentados a não prosseguir viagem. Hoje queria interrogar-me sobre aquilo que trago na minhamochila da existência.

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Que coisas carrego? Serão assim tão importantes e funda-mentais para mim ou ando a sobrecarregar-me com coisassupérfluas que em nada me ajudam a caminhar?Quero em primeiro lugar transportar, na minha mochila daexistência, a linha do horizonte. Quero ao longo da vidaser capaz de subir mais alto, para ver mais longe. Queroser capaz de colocar a esperança mais longe do que otempo que dura a caminhada. Quero colocar as mãos notrabalho com generosidade, mas sem nunca esquecer decolocar o coração em Deus. Sempre mais, sempre melhor,sempre mais próximo de Deus.Quero transportar também comigo a minha família eamigos. Eles são os mais importantes ao longo da cami-nhada. Eles são o nosso porto de abrigo, são a nossa âncorada existência.Na mochila invisível que carregamos todos os dias, con-vêm também levar uma toalha que pode servir paradescansar, para me renovar, para me limpar daquilo quenão me dignifica. Deus quer sempre perdoar-me e tudo oque deseja é que eu me levante sempre mesmo que caiamuitas vezes.Convêm também carregar um par de chinelos – para ocaminho. Quero na minha mochila transportar uns chineloscomo sinal de quem está disponível para seguir a vontadede Deus – mesmo que essa vontade não seja a minha.Queremos ter sempre a coragem para nos colocarmos nocaminho a caminho de Deus (Deus não nos faz sempre asvontade todas; mas não nos há de deixar faltar o essencialpara o caminho).Terço – porque convém trazer sempre uma arma connosco.Uma arma poderosa que vence todas as outras. A arma daoração.Quero também carregar alguns medicamentos – para trataras feridas do caminho. As minhas e as dos outros. Ao longo

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do caminho podemos magoar-nos e precisamos do abraço,do beijo, do carinho, da saudade de quem gostamos. Quetenha sempre medicamentos destes para mim e parapartilhar com os outros que no caminho precisam.Transportarei na minha mochila alguma água – querenova, limpa, refresca, revigora. Quero carregar tambéma alegria e a responsabilidade de ser batizado.Na mochila que carregamos todos os dias, importa tambémlevar alguns valores – não apenas valores financeiros quedão apenas segurança aparente, mas os valores da pa-ciência para o caminho, silêncio, fraternidade, amor e fé.Deus não pesa na mochila; pelo contrário, ajuda-nos acaminhar – não somos nós que O levamos. É Ele que nos leva a nós.Que Deus abençoe a nossa caminhada diária e nos ensinea distinguir o essencial do acessório. Que caminhemos com Deus e para Deus.

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79.Um abraço

Quem não gosta de um bom abraço? Um abraço forte esentido? Dizem que um abraço é o espaço mais curto entredois amigos.Os abraços são dados de muitas formas e com diferentessignificados. Há abraços que dizem: “Fico muito contentecom a tua amizade...” Existem abraços que expressam oorgulho que se sente por alguém especial.Também há abraços que dizem: “Não existe ninguém nomundo igual a ti.”Há abraços doces e ternos que são dados em momentos detristeza... Com um abraço também podemos dizer “Sinto muito”,quando alguém está a passar por um momento difícil.Há abraços que damos para dizer “Que bom teres vindo”,e outros que dizem: “Sentirei a tua falta quando estivereslonge de mim...” Não faltam também abraços perfeitos para fazer as pazes.E os abraços cheios de carinho, que nascem do coração.Existem abraços para diferentes ocasiões; abraços rápidose abraços demorados, um para cada razão, um para cadamomento.Porém, de todos os abraços, o mais carinhoso é aquele quediz: “Tu estás sempre no meu pensamento. Porque és meuamigo e eu quero-te sempre muito bem”.Diz a sabedoria popular que só se realiza um grande amigodepois de um grande abraço.

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80.Justo juiz

Ninguém é justo juiz em causa própria. E menos justossomos quando julgamos os outros.A cegueira do orgulho impede-nos demasiadas vezes dever e assumir os nossos limites e defeitos e, nessa mesmamedida, impede-nos de ver e reconhecer o valor e asqualidades dos outros. Por isso, somos habitualmentedemasiado condescendentes para connosco e excessiva-mente severos para com os outros.Deus não se deixa ir em cantigas, não se deixa cativar pormeras palavras – por mais belas que sejam. Deus não se deixa impressionar pelas aparências. Por maishábil que alguém seja na arte de iludir, não consegueenganar a Deus.Por isso, para quem quer e procura a salvação de Deus, sólhe resta o caminho da humildade e da sinceridade, daverdade e do amor, do arrependimento e do perdão. Quemvive deste modo passará, muito provavelmente, desperce-bido aos olhos dos homens.Mas conseguirá a aprovação e a recompensa de Deus.

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81.o único tesouro

Um tesouro é algo raro, recorda histórias de piratas,diálogos de namorados, sonhos de riqueza.Um tesouro acorda esperanças, ultrapassa comodismos emedos, dá coragem e confiança. Deus como tesourosignifica que Ele não é uma renúncia, uma diminuição,uma mortificação, mas é uma conquista, um luxo abundan-te, mais vida dentro da própria vida. Quando conquistadonão se troca por nada, não se vende, não se perde.Como tesouro, Deus é o contrário das coisas banais esupérfluas, o oposto de uma vida qualquer, mas é multi-plicação de vida, de projetos, de possibilidades. É surpresa,encanto, horizonte ilimitado.Por um tesouro arrisca-se tudo. É o que Deus sempre faz;o seu tesouro é o homem. Por nós, abandona a tranquili-dade da eternidade para contemplar o homem na palma dasua mão, como pérola preciosa, resplandecente do Espíritoque anima a argila modelada. Deus vende tudo, entregatudo, por causa do tesouro da humanidade. Até o seu bemmais precioso: o próprio Filho – no Calvário.

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82. sem título

No mais profundo do nosso ser ansiamos pela imorta-lidade.Na rotina do dia a dia ansiamos pelo reconhecimento donosso trabalho ou das nossas ideias.Talvez este desejo de imortalidade aliado à necessidade dereconhecimento das nossas ideias me leve a quererescrever estes textos.Apetece-me chamar sempre ao que escrevo: “Sem Título”.Porque é assim que começa: sem título, sem ideias, sempretensões.Sinto a inquietação de olhar uma folha em branco.Uma folha vazia pode ser algo assustador ou, pelocontrário, será algo extremamente libertador. Ambas ascoisas serão verdade.Assusta porque responsabiliza; mas também liberta deamarras o que apenas pensamos.Escrevo apenas porque acho importante fazê-lo; porquepenso que as palavras que ressoam dentro do meu coraçãonão podem ficar amordaçadas.Atraiçoar-me-ia se não partilhasse estas ideias desconexasque, de forma tantas vezes arrebatadora, guerreiam o meuespírito e me ocupam fechado no meu mundo mais secretoe interior.Gostava que este texto fosse catártico. Escrever é com-prometer e só assim faz sentido.Por onde hei-de começar?Talvez por aquilo que é mais importante: o amor.

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O que saberá um padre sobre o que é amar? Poderãopensar que pode ter amado, mas não experimentou ocompromisso que o amor sempre traz consigo.Poderá buscar o Amor de Deus e procurar de que formaDeus ama.Por isso, quando um dia escrever um livro, ele deverá teros seguintes capítulos:1 – Capitulo I – O Amor – Fé;2 – Capitulo II – A Paz – Amor Prático – Caridade;3 – Capitulo III – A Esperança – O Sentido e Meta.Aposto que nunca o conseguirei escrever em papel.Tentarei, no entanto, escrever nas páginas da vida quetodos os dias, queira ou não, escrevo.

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83.Uma prenda: aceita-a

Habitualmente falta-nos o tempo. Dizemos que não temostempo para nós, que não temos tempo para concretizar osnossos sonhos, que não temos tempo para ir à igreja. Nãotemos tempo para estar com os amigos ou para simples-mente descansar.Mas felizmente vai havendo pessoas que conseguemaumentar o tempo e de forma generosa colocam ainda oseu tempo ao serviço dos outros.Como gostaria de oferecer, como prova de gratidão, a todasessas pessoas um relógio.Uma prenda muito simples e bem singela. Esta prendaseria o símbolo que orgulhosamente poderiam usar nobraço por usarem bem o tempo que de Deus generosa-mente receberam. Que Deus lhes dê muito tempo para poderem gastá-loconnosco.Que nós consigamos aprender, da melhor forma possível,os valores cristãos que transmitem pelo seu exemplo.

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84.recordo-vos

Recordo mentalmente muitos rostos e muitos sorrisos!Recordo momentos únicos e pessoas que, sendo humanas,têm a centelha divina.Recordo tantos que se levantam cedíssimo, arrumam epreparam tudo, para que durante o dia a casa fique emcondições e não falte a refeição a nenhum dos membrosda família, trabalham todo o dia e suportam tantosproblemas. Isto todos os dias.Heróis sem nome próprio: o pai, a mãe, aquele amigo.Recordo aqueles que, apesar disto tudo, ainda encontramtempo para ajudar alguma associação ou grupo eclesial.Recordo aqueles que ainda são capazes de dar o seu tempo,a sua motivação e a sua energia para o bem comum.E agradeço a Deus por nos colocar tantos anjos nocaminho. Agradeço a Deus por todos os dias nos ensinar adignidade do trabalho e de aprender com os outros.Agradeço a Deus por colocar no nosso caminho tantos quemereciam uma estátua – como exemplo e testemunho paraos outros. Exemplo de luta, esforço, trabalho, persistência.No fundo: exemplos de amor.

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85.as coisas mais belas

1 – O sorriso é o cartão-de-visita das pessoas saudáveis.Tenho de o distribuir gratuitamente e de forma generosa.

2– O diálogo é a ponte que liga as duas margens, do Eu edo Tu. O diálogo há de ajudar a resolver todos osproblemas de relação entre as pessoas.

3– A bondade há de ser a flor mais atraente do jardim de um coração bem cultivado. Temos de oferecê-lagentilmente.

4– A fé é a bússola certa para os corações errantes. Temosde utilizá-la sempre.

5– A alegria é o perfume gratificante, fruto do dever bemcumprido. O mundo precisa deste perfume.

6– A esperança é o bom vento que empurra as velas dabarca da vida. Deixemo-nos guiar.

7– O amor é a melhor música na partitura da vida. Semamor, a vida será desafinada.

8– A paz interior é o melhor travesseiro. Que sempreconsigamos viver em paz com Deus, com os irmãos e comnós mesmos.

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86.estimada vida...abre o coração!

Estimada vida! Fica a saber que tu és a “pendura”; eu sou o motorista.Estimada vida! Fica a saber que tu vais no lugar do morto e eu queroencontrar a VIDA.

Por isso, hoje quero dar conta de que o coração que tragono peito é como uma porta que tanto abre para dentro comoabre para fora. Quem quiser viver em paz consigo e comDeus tem de ser capaz de abrir, em primeiro lugar, a portado coração para dentro:– Para se conhecer bem.– Para constantemente verificar os valores e princípiosmais marcantes que ocupam o seu coração.– Para permanentemente se desafiar a melhorar e a crescerpor dentro no amor a Deus e ao próximo.

Também será importante, para quem queira alcançar asalvação, abrir a porta do seu coração para fora:– Para ajudar os outros.– Para partilhar valores e princípios.– Para manifestar externamente a alegria e paz em quequeremos sempre viver.

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87.Pedrinhas...

Encontrei na Internet a seguinte história que conto àminha maneira.Certo monge encontrava-se muito doente na sua cama. Erajá idoso e havia tropeçado numa pequena pedra quando iabuscar água para o convento e tinha fraturado alguns ossosnas costas.Com muitas dores, mas lúcido como sempre, recebeu deum monge seu colega um importante ensinamento.– Caro amigo. Que esta queda te sirva de ensinamento.Habitualmente são as pedras pequenas que nos conseguemderrubar, pois nas grandes nós tomamos atenção e des-viamo-nos a tempo.Assim acontece na nossa vida. Habitualmente negligen-ciamos os pequenos factos e acontecimentos, deixando-osde lado, o que mais tarde nos poderá trazer grandestranstornos ou problemas.Nós, porque somos racionais e inteligentes, vemos bem, eantecipamos os problemas grandes e tomamos as devidasprovidências para resolvê-los. O problema habitualmenteestá nas pedras pequenas que, no caminho que percor-remos, podem facilmente derrubar-nos.A pequena pedra da preguiça, a pequena pedra do nossoorgulho, a pequena pedra da nossa distração, fazem-noscair demasiadas vezes e esquecer a fidelidade a Deus e aosirmãos.Na nossa vida poucas são as pedras grandes que nosafastam de Deus. Habitualmente são as pedras pequenas

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da rotina, do não te rales, que nos fazem cair e nosimpedem de ser mais de Deus e mais próximos do nossopróximo.

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88.Caminho parecido... destino comum

Durante a nossa vida terrena todos percorremos umcaminho parecido. Para uns mais longo, para outros maiscurto; para uns mais fácil, para outros mais exigente.

Durante a nossa vida terrena todos percorremos um cami-nho parecido. Lutamos por sonhos e projetos, construímosas nossas relações de familiaridade e amizade de formamuito semelhante.Na vida todos temos um caminho parecido e um destinocomum.Durante a nossa vida terrena cada um percorre o seucaminho, busca os seus sonhos, tenta situar-se da melhorforma possível nas circunstâncias que tem de enfrentar.São caminhos diferentes que cada um de nós percorre emrelação aos outros; mas são sempre caminhos muitopróximos e semelhantes.Para todos o caminho da vida física termina de forma igual. O caminho da vida é semelhante, mas o fim da vida terrenaé igual para todos.Todos um dia partiremos, deixaremos este lugar e teremoscontas a apresentar Àquele que, por dom gratuito de amor,nos quis dar a vida e este tempo de partilha da existência,cruzando os nossos caminhos com o caminho de tantooutros.O nosso destino comum é este desejo profundo quesentimos de repousarmos na paz e no amor pleno que oCriador nos tem.

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Durante o caminho que é a nossa existência deveremosprocurar merecer esse destino comum.Deveríamos pensar muitas vezes nesta realidade. Sentirque percorremos um caminho semelhante aos outros queconnosco partilham a existência. Se nós temos problemase dificuldades, os outros também têm. Se nos sentimos porvezes desanimados ou perdidos, de certo não estamossozinhos: muitos dos que conhecemos passam por iguaisou maiores dificuldades.Sentir que percorremos um caminho semelhante aos outrosdeve fazer de nós pessoas mais tolerantes, generosas epacientes.Sentir que temos todos o mesmo destino comum devefazer de nós pessoas mais fraternas, sentir que todos somosirmãos, que caminhamos para o mesmo fim: a comunhãoplena com o Pai que, Misericordioso como é, nos iráacolher e dar a bem-aventurança. Se temos o mesmodestino de que vale a pena tanta confusão, tanta trapalhadae desassossego?

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89.toda a minha força

Um menino pequeno estava a esforçar-se ao máximo paramover um pesado armário, mas o móvel não cedia. Eleempurrava e puxava com toda a sua força, mas nãoconseguia movê-lo nem um centímetro. O pai, que alichegava, parou para observar os vãos esforços do filho.Finalmente perguntou: – Filho, estás a usar toda a tua força?– Sim, estou – gritou o garoto, exasperado.– Não – disse calmamente o pai. – Não estás.O menino parou de tentar empurrar o móvel e interrogouo pai porque dizia tal coisa, visto que já suava por todosos poros por fazer tanto esforço.O pai, calmamente, disse-lhe:– Sabes porque é que ainda não estás a usar toda a tuaforça? Porque ainda não me pediste para te ajudar.

Acontece-nos isto, por certo, muitas vezes. Lutamos muito.Fazemos imensos esforços e, se calhar, até reclamamosporque ninguém nos ajuda. Pensamos que usamos toda anossa força e coragem para resolver os nossos problemas– mas, se calhar, com frequência esquecemo-nos de pedirajuda ao nosso Pai do Céu (ou à nossa Mãe).

Hoje queria pensar sobre esta necessidade, que sempredeveremos sentir, de pedir ajuda ao Pai do Céu. Igualmentetambém pedir ajuda à nossa Mãe e Mãe de Jesus – e sóestaremos a usar a nossa força toda quando os sentirmosconnosco.

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90.Faltar o combustível

Os Evangelhos contam-nos uma parábola sobre as lâm-padas que se apagaram porque faltou o combustível. Faltouo azeite para manter as lâmpadas acesas.Falta-nos também o combustível para tantas coisas:1 – Falta combustível nos carros (cada vez está mais caroe sentimos a dificuldade em manter todas as deslocaçõesque fazíamos); vivemos na ditadura da economia e temosde manter toda esta estrutura económica pesadíssima quenão olha nem cuida das pessoas – apenas se serve delas.2 – Falta combustível nas relações: parece-me que está afaltar verdade nas relações e as pessoas relacionam-serevestindo-se de poderosas armaduras interiores, para nãocorrerem riscos de ser mal interpretadas ou mal avaliadas.3 – Falta combustível na nossa relação com Deus. Faltadar tempo Àquele que nos dá o tempo todo.

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91.Vamos dialogar

O que é dialogar? É comunicar do coração ao coração.

1º A clarezaPara que todas as palavras e gestos sejam compreendidospor ambas as partes. Esta clareza supõe atenção ao que sediz e atenção ao que o outro diz. Esta clareza exige falarverdade. Faltar à sinceridade é destruir, pela base, qualquerdiálogo.

2º A mansidãoO diálogo não é orgulhoso, não é altivo, não é ofensivo. Aautoridade vem-lhe da verdade que expõe, da caridade quedifunde, do exemplo que propõe; é proposto – não éimposto. O diálogo é pacífico, evita os modos violentos, épaciente e é generoso. Por isso, ele supõe a humildade, adisposição para reconhecer com apreço a parte de verdadeque o outro tem e a parte de erro ou culpa que eu possa ter.

3º A confiançaA boa fé, a reta intenção, com que cada uma das partes,parte para a conversa, sem preconceitos, aceitando o outro,respeitando-o – e colocando-se até, por vezes, do seu lado,para compreender o seu ponto de vista.

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4º A prudênciaÉ preciso saber as condições psicológicas e morais, da-quele(s) com quem quero falar, se é criança, se é inculto,se está indisposto, se parte para a conversa desconfiado ouhostil. Essa prudência leva a tomar pulso à sensibilidadealheia e a modificarmos as nossas palavras e modos, paranão sermos desagradáveis ou incompreensíveis.

5º A seriedadeSaibamos ainda preparar um diálogo sério com o outroconversando primeiro com Deus, pedindo-lhe discerni-mento e sabedoria para aquilo que queremos compreender,propor, mudar ou alcançar.

Se conseguirmos assim dialogar sempre uns com os outros,o nosso mundo será de certeza absoluta muito melhor.Haverá muito menos palavras balofas. Haverá muitomenos líderes sem coração e muito menos egoísmos narelação entre as pessoas.

ANTÓNIO MARTINS

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92.aprende!

1– Podes ser importante, podes ser fundamental, podesser absolutamente necessário. Mas não és insubstituível. 2– Só és essencial a quem te ama. 3– Às vezes é preciso sair de cena e esperar que o sábiotempo termine o filme de forma feliz.4– Sem egoísmos, cuida mais de ti. Não podes nem devesviver a vida que os outros querem que vivas. A vida é domde Deus para ti. Arruma-te. Administra-te.

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93.solução

Como gostava de ter sempre uma resposta pronta e sábiapara todas as questões que me levantam.Como gostava de ter um conjunto de receitas prontas a servir face às dúvidas e inquietações que tantos melevantam.Como gostava de saber citar sábios autores e ter semprena ponta da língua a resposta da Sagrada Escritura.Mas não tenho.Então: serenidade e trabalho.A pressa é má companheira para quem busca a autênticasabedoria.

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94.o que deixo

Desta vida nada se leva, só se deixa.Então vou procurar deixar sempre o meu melhor sorriso,o meu maior abraço. Vou procurar sempre deixar atrás de mim a mais lindahistória, a mais compreensiva com todos.

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95.Uma ideia absurda!

O absurdo é talvez a única realidade que verdadeiramentefaz sentido.Não resolvo nada de absoluto, não entendo nada de formafinal. Então só o absurdo consigo assumir como realidadeque faz sentido. Por isso acredito em Deus. Ele éabsolutamente absurdo.Sabiam que absurdo não significa apenas “incompreen-sível”? Esta palavra tem a sua raiz no Latim “absurdus”,que significa “desagradável ao ouvido”. É isto mesmo que, hoje, Deus é para a nossa cultura.

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96.Quero ser cruzeta

Para segurar os outros.Para manter sem vincos os que em mim se amparam.Para carregar tudo o que tiver de ser pendurado, sabendoque hei de ficar bem preso ao varão do armário que me háde sempre segurar. Peçam-me e convençam-me a mudarde opinião, mas nunca tentem mudar-me os sentimentos!

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97.ser ombro

Ombro amigo. Todos precisam de um ombro amigo e precisam tambémde ser um ombro amigo. Ajudar os outros a carregar as suascargas é nobre e produz a experiência de se sentir útil, paraque aquele “osso fraturado” seja colocado no lugar e secalcifique. Mais do que simplesmente dar a mão. Mais que permanecer atento ao outro.Procuremos ser ombros uns dos outros. Carregando-nos e sendo carregados.

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98.simplifiquemos!

Temos uma tendência natural para complicar as coisas,para tornar tudo demasiado confuso e complexo.Isto aplica-se a todas as dimensões da nossa vida e aopróprio sentido e finalidade da existência.

De onde viemos? Que fazemos aqui? Para onde vamos? Serão sempre as grandes interrogações da humanidade quese hão de sempre colocar a todos os que vivem comintensidade a vida e não passam apenas pela vertigem dotempo – sem se interrogarem sobre o seu sentido, caminhoe destino.Viemos de Deus. Acreditamos em Deus Pai Criador.Acreditamos que, por amor primeiro e por amor generoso,Deus quis criar todas as coisas e criar o ser humano. Cadaum de nós é obra-prima, obra especialmente amada, doDeus Criador e Senhor de todas as coisas.Nenhum de nós pediu a vida; acredito que é dom gratuitode Deus.Estamos aqui enquanto peregrinos e temos como modeloJesus Cristo – a revelação plena de Deus para nós.Acreditamos em Jesus Salvador!Não estamos sozinhos. Acreditamos no Espírito Santo quenos fortalece, auxilia e caminha connosco. Acreditamos na presença constante e íntima de Deus emnós pela força do seu Espírito.Sabemos e de alguma forma sentimos que a força de Deusnos ajuda, a cada dia, a carregarmos a cruz das nossas

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dificuldades e inquietações – a continuarmos a ter es-perança que o dia de amanhã há de ser melhor e maispositivo na dimensão humana e na dimensão da paz espi-ritual que todos gostaríamos de sentir permanentemente.

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99.sensibilidade(s)

Quem não gosta de aplausos? Por mais tímidos quesejamos gostamos da alegria de um aplauso sentido.Hoje, ao assistir na televisão à transmissão das cerimóniasde Fátima, feriu-me a sensibilidade tantos aplausos. Con-sigo entendê-los (sei da sinceridade de muitos) mascusta-me suportá-los. Cada vez mais as coisas sagradas parecem um espetáculoa que se assiste – mas que não compromete.

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100.Posso passar a limpo?

Acontece, com muita frequência, quando peço aos meusalunos algum trabalho escrito ou marco algum exercícioprático: perto da hora de entregar o resultado final hásempre alguém que me pede:– Posso passar a limpo? Ainda tenho tempo?Às vezes não deixo. Outras vezes, facilito ao máximo para que voltem a ler oque escreveram e acrescentem mais qualquer coisa.

A vida é assim mesmo. Queremos fazer tudo muito bem enem sempre conseguimos. Riscamos e tentamos de novo.Às vezes fazemos um balanço e olhamos para o global eapetece-nos passar a limpo.O melhor de tudo é que Deus deixa-nos sempre passar alimpo. Para Deus estamos sempre a tempo de passar a vidaa limpo.

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Posfácio

Flashes da vida que fazem pensar

A vida que vivemos, no deslizar imparável do tempo,aparece-nos sempre como sendo uma sequência de mo-mentos mais ou menos relacionados entre si e ponto final.De facto, não é assim, porque cada acontecimento é, defacto, um alçapão que pode abrir ou não para dimensõesnovas, embora desconhecidas de quem, por inércia ouculpa da cultura ambiente, anda distraído.Ora, esta sequência de textos, que se leem com prazer, é,na realidade, sequência de flashes de luz que pretendemtão só abrir brechas e alçapões na vida quotidiana para aoutra dimensão.Podem ser realidades materiais, como o carro e a casa;realidades das novas tecnologias, como um simples“power-point” que nos traz desassossegos; são sentimentosque atravessam a alma da pessoa, como a relação com osamigos; mas também podem ser experiências de perda einsucesso que levam a lágrimas contadas; é o sentimentode fazer com que cada momento seja o primeiro elocriativo da novidade que sonhamos; é o silêncio, por vezespesado, que abre para novas dimensões da vida. Tudo istoé o dia a dia da nossa existência no tempo, que, de facto,nos questiona sobre o presente e sobre o futuro. O que estáem causa é encontrar o fio da meada e com a originalidadeque lhe é própria e em que mais ninguém o pode substituir.É este entusiasmo pela vida e pela vida com verdadeirosentido que encontramos no texto Cem pensamentos sem

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sentido (ou com muito sentido). Cada um sentirá, no fioda sua leitura pessoal, que o muito sentido se vai sobrepon-do ao sem sentido aparente desta sequência de reflexõesfeita ao ritmo do dia a dia. É este também o meu voto.

Guarda, 13 de fevereiro de 2014 Manuel R. Felício, Bispo da Guarda

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