cecília mireles "e eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se...

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Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

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Page 1: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Cecília Mireles

"E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto...”

Page 2: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

A morte liberta o escravo,

A morte submete o rei e o papa

E paga a cada um o seu salário,

E devolve ao pobre o que ele perde

E toma ao rico o que ele abocanha.

Hélinand de Froidmont, em ‘Os Versos da Morte’

Page 3: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

MISSÃOOldney Lopes

Page 4: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

A noite invade, fatalmente, o fim do diaO tempo avança, a vida alcança o termo rude

Page 5: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

O rio leva a correnteza forte e friaAs águas correm, a torrente entorna o açude

Page 6: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

E como o açude em profundeza é nossa vidaQuanto mais passa o tempo mais completa ficaPois somos plantas desfolhando pela lidaQue a cada folha morta torna-se mais rica

E como o açude em profundeza é nossa vidaQuanto mais passa o tempo mais completa fica

Page 7: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Pois somos plantas desfolhando pela lidaQue a cada folha morta torna-se mais rica

Page 8: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

É por despetalar-se inteira em pouco tempoQue a rosa reina nos jardins como rainha

Page 9: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

É por evaporar-se ao bel prazer do ventoQue a gota d’água é nuvem, chove e rega a vinha

Page 10: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Assim também passamos ágeis pelo mundoCeleremente vão passando nossas horas

Page 11: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Mas quanto mais e mais esvaem-se os segundosMais aprendemos a riqueza do agora

Page 12: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

E cada dia findo é como folha mortaQue quando cai dá nova força para a planta

Page 13: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

É transitório e tênue limiar da portaQue quanto mais aberta mais se agiganta

Page 14: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Nós somos tal qual uma grande tessituraComo um tapete costurado a firmes mãos:

Page 15: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Quanto mais sofre o espezinhar da bota duraMais plenitude tem no esforço da missão

Page 16: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Da mesma forma que o açude já foi gotaDo mesmo jeito que o remanso vira rio

Page 17: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Quanto mais fica, a nossa veste, velha e rotaMais vamos nos fortalecendo fio a fio.

Page 18: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Só desta forma que se cumprem os destinos:Passamos pelo tempo, e o tempo vem sem dó

Page 19: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Viemos da poeira ou do sopro divinoE fatalmente vamos retornar ao pó!

Page 20: Cecília Mireles "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem

Texto: “MISSÃO” Autor: Oldney Lopes

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Música incidental: Serenade (Schubert)Criação e formatação: Oldney LopesImagens colhidas de sites diversos da internet.

Contato com o autor:[email protected]

Visite o site do autor:www.oldney.net

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