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maisesportes DRAMA FAMILIAR » CRIANÇAS ALBINAS SEM O DIREITO DE BRINCAR Ao contrário da maioria dos meninos e meninas urbanos, Esthefany e Kauan, albinos do V-9, Olinda, na foto com a prima Tainá, torcem para que chova. Só assim podem brincar na rua, como os outros amigos. O problema genético os obriga a fugir da luz, principalmente por causa do preço do protetor solar, inacessível para eles. » cidades 4 Das obrigações com o condomínio à mensalidade escolar, quem honra compromissos é prejudicado pelos inadimplentes. Os reflexos negativos se reproduzem nos preços dos serviços, na falta de descontos e até na alta da taxa de juros. » economia 1 a 4 SEGUNDA GUERRA Novata na seleção, atleta mostrou toda sua fibra pernambucana ao assumir local de destaque entre as meninas de ouro do vôlei. » página 6 Sport tenta parar Galo em Minas Apesar dos 39 gols sofridos, Magrão segue ídolo do Sport. Ele é arma para o time derrubar o Atlético/MG e reagir no Brasileirão. » páginas 1 e 2 Gordura animal vira biodiesel e movimenta economia Após 30 anos, anistia aos torturadores ainda gera polêmica Pneumonia é o grande pesadelo da saúde da infância Enem está chegando e é hora de o fera começar a se cuidar ELIANA ESTREIA Série sobre os 70 anos do conflito mostra hoje como o Recife viveu aqueles dias. O Lafayette era ponto de debates acalorados. » páginas 18 e 19 Alexandre Arruda/CBV Dani Lins é Pernambuco no pódio Marcos Michael/JC Imagem B OM PAGADOR SUSTENTA DEVEDORES Alexandre Severo/JC Imagem Em série sobre a riqueza das sobras, veja que o sebo de boi se transformou em matéria-prima para mover motores. » economia 6 No último dia da série, matéria discute se os torturadores merecem punição ou devem ser tratados como criminosos políticos. » página 8 Somente no Estado, metade das internações por infecção respiratória é de menores de 5 anos. Série mostra os estragos da doença. » cidades 6 Com o teste realizado mais cedo, o estresse também foi antecipado, mas é preciso calma. Confira orientações para evitar transtornos. » cidades 2 Apresentadora está de volta à tela do SBT/TV Jornal e garante que não vai aderir à baixaria para se firmar na guerra pela audiência. » jc na tv 6 Acervo/Rostand Paraíso Divulgação/SBT

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Page 1: CBV Apesar dos 39 gols sofridos, Magrão Novata na seleção ... · Em série sobre a riqueza das sobras, veja que o sebo de boi se transformou em matéria-prima para mover motores

maisesportes

DRAMA FAMILIAR » CRIANÇAS ALBINAS SEM O DIREITO DE BRINCAR

Ao contrário da maioria dos meninos e meninas urbanos, Esthefany e Kauan, albinos do V-9, Olinda, na foto com a prima Tainá, torcem para que chova. Só assim podembrincar na rua, como os outros amigos. O problema genético os obriga a fugir da luz, principalmente por causa do preço do protetor solar, inacessível para eles. » cidades 4

Das obrigações com o condomínio à mensalidade escolar, quem honra compromissos é prejudicado pelos inadimplentes.Os reflexos negativos se reproduzem nos preços dos serviços, na falta de descontos e até na alta da taxa de juros. » economia 1 a 4

SEGUNDA GUERRA

Novata na seleção, atleta mostroutoda sua fibra pernambucana aoassumir local de destaque entre asmeninas de ouro do vôlei. » página 6

Sport tentaparar Galoem MinasApesar dos 39 gols sofridos, Magrãosegue ídolo do Sport. Ele é armapara o time derrubar o Atlético/MGe reagir no Brasileirão. » páginas 1 e 2

Gordura animalvira biodiesel emovimenta economia

Após 30 anos, anistiaaos torturadoresainda gera polêmica

Pneumonia é ogrande pesadelo dasaúde da infância

Enem está chegandoe é hora de o feracomeçar a se cuidar

ELIANA ESTREIA

Série sobre os 70 anos do conflitomostra hoje como o Recife viveuaqueles dias. O Lafayette era pontode debates acalorados. » páginas 18 e 19

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Em série sobre a riqueza dassobras, veja que o sebo de boi setransformou em matéria-primapara mover motores. » economia 6

No último dia da série, matériadiscute se os torturadores merecempunição ou devem ser tratadoscomo criminosos políticos. » página 8

Somente no Estado, metade dasinternações por infecção respiratóriaé de menores de 5 anos. Série mostraos estragos da doença. » cidades 6

Com o teste realizado mais cedo, oestresse também foi antecipado, masé preciso calma. Confira orientaçõespara evitar transtornos. » cidades 2

Apresentadora está de volta à telado SBT/TV Jornal e garante que nãovai aderir à baixaria para se firmar naguerra pela audiência. » jc na tv 6

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Sem dinheiro para comprar protetor solar, irmãosalbinos se escondem da luz, na favela V-9, em Olinda.Nascidos numa família negra, tentam superar preconceito

João [email protected]

N asceram sem cor, numa família de pretos. Trêsirmãos que sobrevivem fugindo da luz, procuran-do alegria no escuro. O mais novo diz que é

branco vira-lata. Os insultos do colégio viraram identida-de. A mãe cochicha que são anjinhos. Eles têm raçasim. São filhos de mãe negra. O pai é moreno. Estira-ram língua para as estatísticas e, por um defeito genéti-co, nasceram albinos. Negros de pele branca. A chancedos três nascerem assim na mesma família era de umaem um milhão. Nasceram. Dos cinco irmãos, apenas amais nova é filha de outro pai. Esta é a história do con-trário. Os dedos cruzados são sempre para chover. É oconvite para o banho de mar na Praia Del Chifre, emOlinda. Rezam para espantar o domingo de sol. Só as-sim, com o céu pintado de preto, são crianças. Kauan, 5anos, Ruth Caroline, 10, e Esthefany Caroline, 8, têm aliberdade controlada pelo fator do protetor solar. Não ésó isso. São pobres e feridos. Não há dinheiro para parce-lar a proteção. O PhotoDerm 100 é o maior sonho dos“galeguinhos” da V-9, favela de Olinda. Custa R$ 96 esó dura três semanas. O jeito é se esconder em casa mes-mo. Televisão grudada no rosto. Vez por outra, Kauan,num estouro de criança, desafia o maior inimigo. Fechaos olhos e corre feito louco no meio da rua. Grita para osol e escuta outro grito maior lá de dentro. É a mãe, Ro-semere Fernandes de Andrade, 27, tentando evitar maisuma noite de ardor e ventilador ligado no máximo.

Sem protetor, ir para a escola, distante 200 metros decasa, é um martírio. A menina mais velha se veste demenino. “Tem que colocar camisão. Não ligo. Tenho or-gulho de ser assim.” Os dias de vaidade são também osdias de ferida. O sol não quer saber da teimosia. Quei-ma onde não tem pano. Moraram um tempo no meioda rua, na Avenida Presidente Kennedy. Era bem pior.“Hoje, as feridas diminuíram muito. Ainda aparecem.Tenho medo do câncer de pele porque não tenho dinhei-ro para o protetor. Há dois meses, eles não usam. Ficamem casa. É tudo para comida. Entreguei a mais nova aopai porque não tinha como comprar leite. Passamosum tempo na rua e, de manhã, era sol na cara e feridasenormes”, conta Rosemere.

Há uma ferida pior, maior ainda, daquelas que nãovira casca nunca. A mãe quer ser chamada de mãe. Nãotem remédio que dê jeito. “Só me chamam de babá.”Lembra uma vez que foi passear no shopping com osmeninos e o avô, também negro. “Os seguranças nosabordaram porque estávamos com os meninos brancos.Fomos revistados. Não acreditavam que eu era mãe dosmeus filhos.” Mas, na maternidade, nem ela mesmoacreditou. Teve certeza de que Ruth havia sido trocada.“Não havia como ela ser assim. A gente era escuro.” De-pois veio João, da sua cor. Mesmo com as explicaçõesmédicas de que era possível, na cabeça de Rosemere,João era a confirmação de que havia algo errado comRuth, a primeira. “Ele era da minha cor e Ruth daquelejeito.” Só com o nascimento de Esthefany e Kauan, albi-nos, o coração de mãe deu voto de confiança à nature-za.

Rosemere conta que um bandido já tentou sequestrarum dos meninos. “Estava passando por uma casa de ri-co, muito bonita, com muro alto. O homem, na certa,pensou que eu era babá e estava passeando com a crian-ça, a dona da casa. Tentou levá-la, mas me agarrei comele e acabou fugindo.” Hoje, a preocupação é outra. “Fi-caria feliz se pudesse cuidar bem deles, comprar os prote-tores. Tô usando pasta d’água.” A conta é simples. Rose-mere ganha R$ 122 de um programa social. O pai aju-da com R$ 200. “Tive que colocá-lo na Justiça paracomprar os óculos dos três.” O albinismo afeta o desen-volvimento do olho ainda no processo embrionário. A vi-são é comprometida, mas os três óculos estão quebra-dos. As feridas aumentaram porque os olhos ficam fe-chados. As quedas são frequentes. João é o olho dos três.Para o colégio, seguem todos de mãos dadas. “Presteatenção, João. Você sabe que é o olho dele”, alerta amãe.

Logo quando chegaram ao colégio, todas as outrascrianças, grande maioria negra, tinham medo. Muitomedo. A brincadeira principal do recreio era correr daslouras. Um esconde-esconde diferente. Ninguém poderiatocá-las. Até que a professora Angélica Caldas teve umaideia. Antes da aula, fazia uma grande roda. Todos ti-nham que dar as mãos. O medo foi sumindo, sumindoe sumiu. A professora conta que Kauan sempre fecha ajanela da sala. “A mínima luz o incomoda.” Sem osóculos, o aprendizado é comprometido. Mas seguem. Aprima deles, Tainá (foto da capa do JC), 2 anos, virouirmã. O pai e a mãe foram assassinados a tiros. O paifaz um mês, na frente dos meninos. “Ele comprava sem-pre que podia o protetor. Mas mataram. Eu vi. Quandotiver um filho, vou colocar o nome de tio Glebson”, dizRuth. Ela quer ser policial, Kauan; bombeiro ou dentis-ta; e Esthefany, modelo.

O professor do Departamento de Genética da Universi-dade Federal de Pernambuco Valdir Balbino rabisca umcálculo rápido. Os dois são heterozigotos, possuem paresde genes que apresentam um gene diferente do outro. Opai e a mãe têm um gene dominante e outro recessivo.Cada filho herda metade de carga genética do pai e aoutra metade da mãe. “Com dois pais heterozigotos, achance de cada filho ser albino é de 25%.” Há outra con-ta. A chance de os pais das crianças, entre os quatro pri-meiros filhos, terem produzidos três deles albinos era de1,5%. O gene recessivo, que apresenta o defeito, ocasio-na um problema na enzima tirosinase, responsável pelasíntese de produção de melanina, pigmento responsávelpela coloração e proteção de olhos, cabelos e pele. “Pelocaso apresentado, se os pais são negros, os meninos sãotão negros quanto eles. Etnicamente e geneticamente.Só não produzem melanina.”

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NEGROS DE PELE BRANCA Ruth, a mais velha dos cinco irmãos, se veste de menino para espantar o sol. Esthefany quer ser modelo e Kauan desafia a luz, correndopelo meio da rua, para desespero da mãe, Rosemere. Ela vive de benefício social e não tem dinheiro para comprar o protetor solar que evitaria as feridas dos filhos

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