cavalcante 2014 - a consolidação da parceria público-privada na educaco em pe - expandido
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Coisas expandidas do pronatec e tal aparentemente interessantesTRANSCRIPT
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A CONSOLIDAO DA PARCERIA PBLICO-PRIVADA NAEDUCAO: O CASO DO PRONATEC NA CIDADE DO RECIFE
/PE
Thayane Maria Deodato Cavalcante UFPE([email protected])
Lgia Batista de Oliveira UFPE([email protected])
Simone Andrade Rodrigues UFPE([email protected])
1. INTRODUOCom a reforma administrativa na dcada de 1990, que teve como marco
principal o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE) de 1995,
o Estado inicia um movimento de transio de um modelo de administrao
burocrtica para o gerencial. Este modelo tem redefinido o papel do Estado
e mudado a forma de gerir e implementar as polticas educacionais que visa
transformar o Estado produtor em regulador. O PDRAE (Brasil/MARE, 1995,
p.16) aponta que a diferena fundamental est na forma de controle, que deixa
de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados.
A reforma levou o Estado a expandir para o terceiro setor a
responsabilidade da execuo de servios pblicos. O grande debate sobre a
relao entre a esfera do pblico e a do privado o de que estes so
inversamente proporcionais, e esta constatao geralmente acompanhada e
complicada por juzos de valor contrapostos. (BOBBIO, 2007 p.14).
Assim, em 2004 promulgada a Lei n 11.079 que possibilita a criao
das PPPs, que surgem como alternativa para suprir a falta estatal em
determinados servios indispensveis para o crescimento econmico e social.
Segundo Frigotto (2011), como a educao pblica insere-se na esfera dos
direitos, no pode estar subordinado esfera privada do mercado.
Como exemplo recente das PPPs temos o Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego (Pronatec), institudo pela Lei N 12.513,
de 26 de Outubro de 2011 que foi criado com o objetivo de ampliar a oferta de
cursos de educao profissional e tecnolgica. O programa envolve um
conjunto de iniciativas, dentre elas a Bolsa-Formao, que so repassadas a
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instituies de ensino onde so ministrados os cursos. De acordo com o
Pronatec:So oferecidos cursos gratuitos nas escolas pblicas federais,estaduais e municipais, nas unidades de ensino do SENAI, doSENAC, do SENAR e do SENAT, em instituies privadas deensino superior e de educao profissional tcnica de nvelmdio (BRASIL, 2011).
Esse programa emerge num momento em que se pode observar uma
situao relativa, de baixo ndice global de desemprego e
contraditoriamente, milhares de vagas de trabalho no preenchidas. Deste
modo, a qualificao profissional compreendida como investimento
econmico para o desenvolvimento dos processos produtivos e no como
direito, resgatando o princpio da Teoria do Capital Humano (FRIGOTTO,
2011). Devido necessidade de suprir esta demanda imediata o Pronatec
hoje um dos programas em maior expanso no pas, por isso o escolhemos
como exemplo da consolidao das parcerias. Portanto, o objetivo deste
trabalho discutir a dicotomia entre pblico e privado, utilizando como exemplo
o caso da expanso da Educao Profissional em Recife a partir do Pronatec.
2. METODOLOGIANeste trabalho realizamos uma anlise quanti-qualitativa de um estudo
de caso a partir do levantamento estatstico no banco de dados do INEP e do
SISTEC. Realizamos um recorte dos anos mais expressivos, referente
expanso do nmero de matrculas e de escolas de educao profissional na
cidade do Recife. Para possibilitar a anlise dos dados, a princpio, faremos um
levantamento de como surgiram s PPPs, que nos auxiliar na compreenso e
realizao de nossos objetivos. O trabalho de anlise de dados segue as
etapas de pr-anlise a partir da transcrio de dados, leitura, explorao
desses materiais e, por ltimo, o tratamento dos resultados e interpretao.
3. RESULTADOS E DISCUSSOO crescimento do nmero matrculas de 2013 em relao a 2010 (antes
do Pronatec) na rede privada foi de 258% (grfico 1).
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Grfico 1: Evoluo Matrcula na Educao Profissional em Recife
possvel perceber a partir dos dados do INEP (grfico 1) o quanto as
PPPs no Recife tem se expandido desde a criao do Pronatec. Esta realidade
nos remete aos dois sentidos que a teoria do capital humano atribui
educao, no primeiro a teoria do desenvolvimento tem em vista uma
educao em funo do desenvolvimento econmico e social, servindo como
instrumento para que o capital possa crescer; no segundo, teoria da educao
acontece uma reduo na funo educacional, delimitando-se apenas a
ajustar requisitos educacionais e pr-requisitos de uma ocupao ao mercado
de trabalho de uma dada sociedade (FRIGOTTO, 2010, p.16), assumindo uma
posio funcional de educao.
A educao neste sentido assume como principal funo a de educar
para empregabilidade, entendida como potencial para gerar produtividade,
reduzida a uma questo puramente tcnica e submetida aos desgnios do
modo capitalista de produo (FRIGOTTO, 2010). O acesso da classe
trabalhadora formao, nos segmentos pblicos ou privados, no vista aqui
como uma ao malfica populao, mas que pode assumir este carter
quando serve apenas para garantir os interesses da lgica mercantil de
desigualdade, reduzindo a educao a um fator de desenvolvimento econmico
e de distribuio de renda que desqualifica a escola pblica.
No grfico 2 possvel observar que o maior crescimento das
instituies privadas de Educao Profissional em Recife se deu em 2009, que
coincide com o perodo de maior expanso de Suape. O que mostra uma
diferena expressiva entre a expanso das Escolas Pblicas e Privadas.Grfico 2: Evoluo do Nmero de Instituies de Educao Profissional em Recife
05000
100001500020000
2010 2011 2012 2013
EstadualFederalMunicipalPrivado
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Este crescimento da oferta de instituies de educao profissional para
atender as demandas da conjuntura socioeconmica expressas pelo Porto de
Suape, especificamente na esfera privada nos remete aos conceitos elencados
por BOBBIO (2007) para tentar explicar a dicotomia entre o pblico e o privado
como uma anttese e com um significado valorativo.
O primado do pblico significa o aumento da intervenoestatal na regulao coativa dos comportamentos dosindivduos e dos grupos infra-estatais, ou seja, o caminhoinverso ao da emancipao da sociedade civil em relao aoEstado, emancipao que fora uma das conseqnciashistricas do nascimento, crescimento e hegemonia da classeburguesa (BOBBIO, 2007, p. 25).
As sociedades se transformam e se adaptam as necessidades do
mercado. Estas transformaes podem assumir duas faces, que Bobbio
caracteriza como o processo de publicizao do privado que reflete o processo
de subordinao dos interesses do privado aos interesses da coletividade
representada pelo Estado que invade e engloba progressivamente a sociedade
civil (BOBBIO, 2010, p. 26). Acompanhado e complicado por o processo
inverso da privatizao do pblico que representa a revanche dos interesses
privados atravs das formaes dos grandes grupos que se servem de
aparatos pblicos para o alcance dos prprios objetivos (Idem, ibidem, p.26).
O autor caracteriza a esfera pblica como a sociedade de iguais, uma
sociedade poltica e a esfera privada como a sociedade de desiguais, uma
sociedade essencialmente econmica. Neste sentido, o poltico assume um
carter diferente do econmico e o pblico perde substancialmente o sentido
democrtico. a partir destas circunstncias que se d a consolidao das
escolas privadas de educao profissional em Recife instituda pelo governo
atual como poltica pblica por meio do Pronatec, expressando a privatizao
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2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nme
ro de
Escola
sPblicaPrivadas
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do pblico, a partir da insero de organizaes privadas executando polticas
que seriam de responsabilidade do Estado.
3. CONCLUSOConstatamos a partir dos levantamentos estatsticos expostos que a
parceria publico-privada tm sido apresentada como uma desvantagem para o
projeto emancipatrio e liberal de educao, por considerar apenas a
quantidade e desconsiderar a qualidade.
Diante da conjuntura atual se faz necessrio retomar o debate da
relao poltica, ideolgica e econmica entre a educao e o trabalho.
Garantindo a criao de novas polticas pblicas para melhorar os servios
pblicos e diminuir a execuo privada, alm de ampliar a discusso para
analisar qual o real interesse destas instituies privadas em adentrarem ao
pblico que detm o poder de salvar a educao.
REFERNCIASBOBBIO, N. Estado, governo, Sociedade: Para uma teoria geral da poltica. 13Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
BRASIL. Ministrio da Administrao e Reforma do Estado. Plano Diretor daReforma do Aparelho do Estado. Braslia, DF: MARE, 1995.
BRASIL, Lei No 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Institui normas geraispara licitao e contratao de parceria pblico-privada no mbito daadministrao pblica. Disponvel em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l11079.htmAcessado em: 20.07.2014
BRASIL, LEI N 12.513, DE 26 DE OUTUBRO DE 2011. Institui o programaNacional de Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego (Pronatec). Disponvelem:http://pronatec.mec.gov.br/institucional-90037/cursos-gratuitos.html Acessadoem: 25.07.2014
FRIGOTTO, G. A produtividade da escola improdutiva. 9 Ed. So Paulo:Cortez, 2010.
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio TeixeiraDisponvel em: http://www.inep.gov.br Acessado em: 30.07.2014
SISTEC - Sistema Nacional de Informaes da Educao Profissional eTecnolgica Disponvel em: http://sitesistec.mec.gov.br Acessado em:30.07.2014