causas e impactos dos Êxodos rurais na África subsariana

Causas e Impactos dos Êxodos Rurais na África Subsariana

Sónia Frias [email protected]

Seminários CEsA 2011 • 24 de Fevereiro

Causas e Impactos dos Êxodos Rurais na África Subsariana:

Sónia Frias [email protected] Seminários CEsA 2011 • 24 de Fevereiro

TEMÁTICA

Fluxos migratórios campo-cidade na África subsariana

Presentemente as características dos processos migratórios na África Subsariana, distanciam-se muito daquelas tradicionais.



Fluxos migratórios campo-cidade na África subsariana

Tradicionalmente as análises sobre migrações centravam-se sobretudo nas questões laborais.

Os fluxos migratórios para as cidades eram constituídos essencialmente por homens (mobilidade de trabalhadores).



Fluxos migratórios campo-cidade: principais actores

Esta realidade acabou por determinar o desenvolvimento de um conjunto de estudos muito particularmente centrados nas motivações económicas dos camponeses (homens), para se transferirem para as cidades.




Ligava-se a análise da migração masculina em geral, à responsabilidade dos homens no tocante ao sustento familiar.




Os êxodos rurais no feminino, entendia-se, acabavam por decorrer de um compromisso conjugal e por ser analisados no âmbito das questões relativas ao parentesco e não às migrações.



A mudança na estrutura migratória

Estudos mais recentes, dão-nos a conhecer um conjunto de alterações de grande importância, que o padrão migratório tem vindo a sofrer.




Essas alterações derivam das profundas transformações que a conjuntura de muitos países africanos sofreu nas últimas décadas.




As guerras recentes deram origem a graves crises de orientação administrativa e foram dos factores que mais contribuíram para o despoletar de uma nova etapa da fuga de populações do campo para as cidades.




Muitos estudos têm vindo a sublinhar agora, o substancial aumento da proporção de mulheres, sobretudo de mulheres de um segmento etário mais jovem, em trânsito entre o campo e a cidade.




O empobrecimento/isolamento do campo é um dos factores que mais tem contribuído para o aumento da emigração rural feminina.




Estima-se que muitas mulheres procuremhoje a cidade por sua própria iniciativa, com a expectativa de aí poderem encontrar trabalho ou outros expedientes que lhes permitam melhorar a vida.




Com a deslocação das mulheres para as cidades, tem-se vindo a verificar, a transferência para o espaço urbano de agregados relativamente extensos.




As mulheres adultas, ao emigrarem para a cidade acabam por arrastar consigo um conjunto de familiares (filhos, velhos e por vezes outros parentes próximos), que não podem deixar no campo à guarda de parentes ainda mais velhos e/ou mais pobres.



A fuga de população empobrece o mundo rural e o próprio ambiente

Deste facto resulta não apenas o empobrecimento, mas um desinvestimento nas regiões rurais, na produção e na própria terra:

•Aldeias abandonadas• Empobrecimento das colheitas;• Enfraquecimento da dieta das populações; • etc.



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: a educação

Mudança:Tradicionalmente, quanto mais elevado fosse o grau de instrução detido pelos indivíduos, maior seria a sua disposição para abandonarem o campo (Renger 1978).



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: a educação.

Hoje, na região subsariana, a vontade dos indivíduos para emigrar, parece ter cada vez menor relação com o grau de instrução e ligar-se cada vez mais com a fuga à pobreza absoluta (Britton 2006) .



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: a distância da aldeia à cidade.

Tradicionalmente também se ponderava a existência de uma relação entre a propensão dos camponeses para se transferirem para as cidades e a distância a que estas ficavam das suas aldeias de origem.



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: a distância da aldeia à cidade.

Hoje, quem foge do campo dirige-se directamente para a(s) grande(s) cidade(s).;

O processo de emigração encadeado – invasão e sucessão), deixa cada vez mais de se verificar;

Os camponeses fazem apenas um (1) investimento no processo de transferência (que se torna definitivo).



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: retorno destes imigrantes às suas aldeias e seus lugares de origem.

Estudos revelam que, até aos anos 60’s, muitos adultos imigrados nas cidades ou mesmo noutros países, quando atingiam uma idade próxima dos quarenta e cinco a cinquenta anos tendiam a regressar às suas aldeias de origem (Caldwell 1969)..



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: retorno destes imigrantes às suas aldeias e seus lugares de origem.

Presentemente este fenómeno tem deixado de se verificar (Potts 1990 e 2006).



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: irreversibilidade do processo migratório campo-cidade em África

Nos anos de 1990 grande parte das famílias urbanas encontrava-se empobrecida, vítima das reformas operadas pela aplicação dos PAEs.

Tudo levava a indicar que naquela altura se pudesse começar a desenhar um movimento migratório já não no sentido campo-cidade, mas um processo de êxodo urbano.



Alguns indicadores a referir na análise da mudança: irreversibilidade do processo migratório campo-cidade em África

A realidade deu então a conhecer o fenómeno a que Potts (1995) chamou: migração circular.

As populações do campo continuam a chegar, mas paralelamente, observa-se a circulação de um número interessante de indivíduos, entre a cidade e o campo.



Outros indicadores a referir na análise da mudança: as alterações climáticas

Outros dados:

Êxodos rurais nos países afectados pela desertificação



Indicadores a referir na análise da mudança: as alterações climáticas

Em especial nos países mais afectados pela sahelização, os êxodos rurais têm também outras causas.



Indicadores a referir na análise da mudança: as alterações climáticas

O empobrecimento dos solos é outro factor que tem forçado a um sério movimento de populações.




No Burkina Faso, no Mali, no Senegal e no Sudão por exemplo, países muito afectados pelo avanço do Deserto, a maior parte dos que emigram são ainda hoje os homens.




Os motivos são vários:

• o factor religioso• forte preponderância de comunidades pastoras,• etc.




As populações destes países têm lidado com o avanço da seca e consequente transformação da qualidade do solo, seguindo diferentes estratégias adaptativas ao longo do tempo.




Procura de pastos em regiões cada vez mais distantes (povos pastores).

Terras perdem qualidade e os agricultores vêem-se forçados a plantar outro tipo de produtos (agricultores).




• Novas aprendizagens e adequação de saberes com vista ao sucesso das novas sementeiras;

• Alteração da dieta e hábitos alimentares;(redução do produto das colheitas leva ao êxodo)




Empobrecimento do campo tem dado lugar a:

• Conflitos e alianças entre comunidades – povos pastores e

povos agricultores;• Processos de invasão e sucessão na ocupação de terras;• Migração de homens (remessas);• Alianças entre mulheres (para a produção);




Emigrados nas cidades os homens dedicam-se sobretudo à venda de artesanato e de produtos produzidos pelo seu grupo no campo, nomeadamente:

• Artesanato (pastores)• Tapetes (pastores)• Peles (pastores)• Cereais (agricultores)




Lentamente contudo, também se tem vindo a verificar a transferência de agregados (reunião familiar), para os centros urbanos (David 2005).



O mundo vai-se urbanizando

Os governos parece não terem capacidade para investir em políticas de desenvolvimento rural capazes de reter as populações no interior dos seus países.




O mundo vai-se urbanizando.

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