catequese - desejo do templo de deus - salmo 42(42)

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Salmo 42(43) [a] [a] Biblia Hebraica, Rudolf Kittel. Pars II, Lipsiae.  J.C.Hinrichs, 1906. p. 940.

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Salmo 42(43)[a]

[a] – Biblia Hebraica, Rudolf Kittel. Pars II, Lipsiae.  J.C.Hinrichs, 1906. p. 940.

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Salmo 42(43)

Saudades do templo

 Eu vim ao mundo como luz (Jo 12,46  ).

 – 1 Fazei justiça, meu Deus, e defendei-me *

contra a gente impiedosa; – do homem perverso e mentiroso *liber tai-me, ó Senhor!

 – 2 Sois vós o meu Deus e meu refúgio: * por que me afastais?

 – Por que ando tão triste e abatido * pela opressão do inimigo?

 – 3 Enviai vossa luz, vossa verdade: *

elas serão o meu guia; – que me levem ao vosso Monte santo, *até a vossa morada!

 – 4 Então irei aos altares do Senhor, *Deus da minha alegria.

 – Vosso louvor cantarei, ao som da harpa, *meu Senhor e meu Deus!

 – 5 Por que te entristeces, ó minh’alma, *

a gemer no meu peito? – Espera em Deus! Louvarei novamente *o meu Deus Salvador!

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Catequese do Papa João Paulo II

Audiência Geral,(Salmo 42(43) – Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2002)[b]

 Desejo do Templo de Deus 

Queridos irmãos e irmãs,1. Numa Audiência geral de há algum tempo[c], ao comentar o

Salmo que antecede o que acabamos de cantar, dissemos que ele seligava intimamente com o Salmo seguinte. De fato, os Salmos 41 (42)e 42(43) constituem um único cântico, dividido em três partes pela própria antífona: “Porque estás abatida, ó minha alma, e te perturbasdentro de mim? Confia no Senhor, que ainda o hei-de louvar. Ele é aalegria do meu rosto. Ele é o meu Deus” (Sl 41(42), 6.12; 42(43), 5).

Estas palavras, semelhantes a um solilóquio[d], exprimem ossentimentos profundos do Salmista. Ele está longe de Sião, ponto dereferência da sua existência porque é sede privilegiada da presençadivina e do culto dos fiéis. Por isso, sente uma solidão feita deincompreensão e até de agressividade por parte dos incrédulos,agravada pelo isolamento e pelo silêncio por parte de Deus. Mas oSalmista reage contra a tristeza com um convite à confiança, que ele

dirige a si mesmo, e com uma bonita afirmação de esperança: eleespera poder louvar ainda a Deus, “salvação do seu rosto”. No Salmo 42(43), em vez de falar só a si próprio como no Salmo

anterior, o Salmista dirige-se a Deus e suplica-Lhe que o defenda dosadversários. Repetindo quase literalmente uma invocação anunciadano outro Salmo (cf. 41(42), 10), o orante dirige desta vez efetivamentea Deus o brado de desconforto: “Por que é que então me repelis? Por que ando eu triste sob a pressão do meu inimigo?” (Sl 42(43), 2).

[b] © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana; site:<<http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/2002/documents/hf_j

 p-ii_aud_20020206_po.html>>[c] (Salmo 41(42) – Quarta-feira, 16 de janeiro de 2002)[d] Solilóquio = ato de alguém conversar consigo próprio; monólogo; recursodramático ou literário que consiste em verbalizar, na primeira pessoa, aquilo que se

 passa na consciência de um personagem [Opõe-se ao monólogo interior, porque o  personagem, no solilóquio, articula os seus pensamentos de forma lógica,

coerente.] etim lat. soliloquìum,ìi 'solilóquio, monólogo', pal. cunhada por santo                      

 Agostinho (354-430) para o seu Liber soliloquium, do lat. solus,a,um 'sozinho' +loqui 'falar'.

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2. Contudo ele já sente o intervalo obscuro da distância que está para terminar e exprime a certeza da volta a Sião para encontrar acasa divina. A cidade santa já não é a pátria perdida, como aconteciana lamentação do Salmo anterior (cf. Sl 41(42), 3-4), mas tornou-se a

meta jubilosa, rumo à qual se está a caminho. A orientação da vinda para Sião será a “verdade” de Deus e a sua “luz” (cf. Sl 42(43), 3). O próprio Senhor será o fim último da viagem. Ele é invocado como  juiz e defensor (cf. vv. 1-2). Três verbos realçam a sua imploradaintervenção: “fazei-me justiça”, “defendei a minha causa”, “livrai-me” (v. 1). São como que três estrelas de esperança, que se acendemno céu tenebroso da prova e marcam a aurora iminente dasalvação.

É significativa a leitura que Santo Ambrósio faz desta experiênciado Salmista, aplicando-a a Jesus que reza no Getsémani: “Não queroque te admires se o profeta diz que a sua alma estava abatida, vistoque o próprio Senhor Jesus disse: agora a minha alma está abatida.De fato, quem assumiu as nossas debilidades, assumiu também anossa sensibilidade, o que fez com que ficasse entristecido até àmorte, mas não pela morte. Não teria podido causar melancolia uma

morte voluntária, da qual dependia a felicidade de todos os homens...Portanto estava triste até à morte, na esperança de que a graça fosserealizada. Demonstra isto o seu próprio testemunho, quando diz dasua morte: há um batismo com o qual devo ser batizado: e como mesinto angustiado enquanto não for realizado! (As lamentações de Jobe de David, VII, 28, Roma 1980, pág. 233).

3. Agora, na continuação do Salmo 42(43), diante dos olhos doSalmista está para se abrir a solução tão desejada: o regresso à fonte

da vida e da comunhão com Deus. A “verdade”, ou seja a fidelidadeamorosa do Senhor, e a “luz”, isto é, a revelação da sua benevolência, são descritas como mensageiras que o próprio Deusenviará do céu a fim de tomar pela mão o fiel e conduzi-lo à metadesejada (cf. Sl 42(43), 3).

É muito eloquente a sequência das etapas de aproximação de Siãoe do seu centro espiritual. Primeiro aparece “o monte santo”, a colina

na qual se eleva o templo e a fortaleza de David. Depois, vêm “ashabitações”, ou seja, o santuário de Sião com todos os seus espaços e

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edifícios que o compõem. Segue-se, depois, “o altar de Deus”, a sededos sacrifícios e do culto oficial de todo o povo. A meta última edecisiva é o Deus da alegria, é o abraço, a intimidade reencontradacom Ele, que antes estava longe e silencioso.

4. A este ponto, tudo é cântico, júbilo, festa (cf. v. 4). No originalhebraico fala-se do “Deus que é alegria do meu júbilo”. Trata-se deuma maneira de dizer para exprimir o superlativo: o Salmista quer realçar que o Senhor é a raiz de qualquer felicidade, é a alegriasuprema, é a plenitude da paz.

A tradução grega dos Setenta parece ter recorrido a uma palavraaramaica equivalente que indica a juventude e traduziu “ao Deus quealegra a minha juventude”, introduzindo, desta forma, a ideia dovigor e da intensidade da alegria dada pelo Senhor. O saltério latinoda Vulgata, que é uma tradução feita com base no grego, diz assim:“ad Deum qui laetificat juventutem meam”. Desta forma, o Salmoera recitado aos pés do altar, na anterior liturgia eucarística, comoinvocação introdutória ao encontro com o Senhor.

5. A lamentação inicial da antífona dos Salmos 41(42)  – 42(43)ressoa pela última vez no final (cf. Sl 42(43), 5). O orante ainda não

alcançou o templo de Deus, ainda está envolvido pela obscuridade da provação; mas já brilha aos seus olhos a luz do encontro futuro e osseus lábios já conhecem a tonalidade do cântico de alegria. O apelo é,a este ponto, mais marcado pela esperança. De fato, observa SantoAgostinho comentando o nosso Salmo: “Espera em Deus, responderáà sua alma aquele que por ela está perturbado... Entretanto vive naesperança. A esperança que se vê não é esperança; mas se esperamosno que não vemos é pela paciência que nós a aguardamos (cf. Rm 8,24-25)” (Exposição sobre os Salmos I, Roma 1982, pág. 1019).

Então, o Salmo torna-se a oração de quem é peregrino na terra eainda está em contato com o mal e com o sofrimento, mas tem acerteza de que o ponto de chegada da história não é um abismo demorte, mas o encontro salvífico com Deus. Esta certeza é ainda maisforte para os cristãos, aos quais a Carta aos Hebreus proclama: “Vós, porém, aproximastes-vos do monte de Sião, da cidade do Deus vivo,

da Jerusalém celeste, das miríades de anjos, da assembleia dos primogênitos que estão inscritos nos Céus, do juiz que é o Deus de

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todos, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição, de Jesus, omediador da Nova Aliança, e de um sangue de aspersão que falamelhor do que o de Abel” (Hb 12, 22-24).