catequese de oração

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    Feliz aquele cuja ofensa absolvida, cujo pecado coberto (Sl 31/32,1).

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    www.fatima2017.org

    www.fatima.pt

    Como Ftima no existe em toda a Igreja Catlica no Mundo (Papa Bento XVI, 12/05/2010).

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    Estrutura Teolgica dos Temas Abordados

    Parte I A Liturgia das Horas como Orao Oficial da Igreja

    1. A Espiritualidade Litrgica2. Definio de Liturgia

    3. O Movimento Litrgico4. A Liturgia no Conclio Ecumnico Vaticano II

    5. Constituio Apostlica Laudis Canticum, do Papa Paulo VI

    Parte II A Espiritualidade Monstica como Origem da Liturgia dasHoras

    1. O Fundamento da Orao

    2. Princpios da Vida Monstica: os Padres do Deserto

    O Abade AntoO Abade Poimm

    O Abade EvgrioO Abade Joo Clmaco

    3. So Bento, o Pai do Ofcio Divino no Ocidente

    Sobre Os Instrumentos das Boas ObrasSobre a HumildadeSobre o SilncioSobre a Obedincia

    4. Influncia da Regra de So Bento na vida da Igreja

    5. O Canto Gregoriano: um dos Maiores Tesouros da Igreja

    Adoro Te DevoteTantum Ergo Sacramentum

    Ave Maris StellaSalve Regina

    Ave MariaAve Regina CaelorumMissa VII (De Angelis)

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    Parte III O Mistrio Pascal: Centro de Toda a Vida da Igreja

    Ubi CaritasEcce Lignum Crucis

    Hagios Thes

    RessurrexiVeni Creator Spiritus

    Parte IV Centenrio das Aparies em Ftima (1917 2017)

    1. Apresentao pelo Bispo de Leiria-Ftima

    Cem anos depois: memria e profeciaSete luzes para o nosso caminho (O Candelabro Espiritual)

    2. Contemplao do Candelabro Espiritual de Ftima

    Primeira LuzSegunda LuzTerceira LuzQuarta LuzQuinta LuzSexta LuzStima Luz

    3. Mistrios do Rosrio Contemplados Luz do Centenrio das Aparies de Ftima

    Mistrios GozososMistrios LuminososMistrios DolorososMistrios Gloriosos

    4. Via Sacra Luz do Centenrio das Aparies de Ftima

    5. Catequese de Orao Recomendada pelo Anjo da Paz

    Convite oraoConvite adoraoConvite reparao

    6. As Aparies em Ftima

    Aparies do Anjo em 1916Aparies de Nossa Senhora em 1917

    7. Adorao Eucarstica

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    Parte I A Liturgia das Horas como Orao

    Oficial da Igreja

    1. A Espiritualidade Litrgica

    O que Espiritualidade Litrgica? Espiritualidade Litrgica aquela que faz daLiturgia (Eucaristia, Sacramentos e Ofcio Divino, principalmente) os grandesreferenciais da vida do cristo. Quem compreende o que a Liturgia, h de concluir quea espiritualidade litrgica a espiritualidade clssica, ou, por excelncia, aespiritualidade da Igreja. No prpria de alguma corrente particular, mas fundamental e comum a todos os fiis, porque todos so chamados a viver a Eucaristia,

    que tem por preliminar o Batismo e que leva a constituir o corpo eclesial de Cristo. Aespiritualidade litrgica no exclui as respostas pessoais do cristo graa de Deus ous devoes particulares; ao contrrio, deve suscit-las, de tal modo, porm, que estejamsempre em conformidade com o culto oficial da Igreja. Ter uma espiritualidadelitrgica, embora seja uma das primeiras conseqncias do ser cristo, algo que faltaem muitos fiis por no possurem uma catequese ou formao devida 1.

    2. Definio de Liturgia

    Essencialmente, a Liturgia pode ser definida como Anamnesi do Mistrio deCristo e Epclesi de Pentecostes, ou seja: uma atualizao do Mistrio de Cristo para odia de hoje, na presena do Esprito Santo2.

    1 D. Estevo Bettencourt, OSB, Curso de Liturgia - Escola Mater Ecclesiae

    www.pastoralis.com.br/pastoralis/html/modules/smartfaq/faq.php?faqid=4552 Anscar Chupugno, OSB Scientia Liturgica Manuale di Liturgia (I) Introduzione alla Liturgia Cap. 1 (1998).

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    3. O Movimento Litrgico3

    O Movimento Litrgico foi verdadeiramente uma preparao para a Revoluocausada na Igreja pelo Conclio Ecumnico Vaticano II. No sculo XIX, priorizou-se na

    Igreja a reforma da msica sacra. O canto se achava impregnado do esprito teatral, oconcerto e o bel canto se haviam apropriado do marco formal do culto. Fez-se umtrabalho srio de depurao do gosto e do estilo da msica sacra. Procurou-se arestaurao do canto gregoriano autntico, tarefa a qual os monges de Solesmes(www.solesmes.com) se dedicaram com afinco, especialmente Dom Guranger (1805-1875). O esprito de Dom Guranger se espalhou pelos mosteiros de sua poca, comoBeuron (www.erzabtei-beuron.de), Maredsous (www.maredsous.be), Silos(www.abadiadesilos.es), etc.

    Podemos enunciar os seguintes princpios gerais de D. Guranger:

    (i) A Liturgia por excelncia a orao do Esprito Santo na Igreja(ii) tambm a voz do Corpo de Cristo e da Esposa Orante(iii)H na Liturgia uma presena privilegiada da Graa de Deus(iv) Na Liturgia se encontra a melhor expresso da Igreja e de sua Tradio.(v) Na Liturgia, a chave da compreenso a leitura crist do Antigo Testamento,

    bem como a leitura do Novo Testamento apoiada no Antigo.

    Dom Guranger (1805-1875)

    3 Texto compilado a partir de Dionsio Borbio, A Celebrao na Igreja, vol. 1, Captulo 7 OMovimento Litrgico (1990).

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    A descoberta da Liturgia foi para Dom Guranger a descoberta do Mistrio daIgreja, por meio da experincia espiritual dessa mesma Liturgia e da leitura assdua dosPadres (Movimento Patrstico). Ele aprendeu, tambm, o que se considerou a chave decompreenso dos textos e aes simblicas do culto da Igreja: a leitura crist do AntigoTestamento e do Novo Testamento com apoio no Antigo (Movimento Bblico). Com

    isso,foi lanada uma nova viso sobre todo o pensamento teolgico, fundamentada notrip Sagrada Escritura, Liturgia e Patrstica.

    A Abadia de Solesmes

    Em 1909, foi lanado o chamado Movimento Litrgico, por Dom LambertBeauduin (1873 1960), monge beneditino de Mont Csar (www.keizersberg.be). Maisescritor do que pesquisador, deu continuidade obra de Dom Guranger, ao mesmotempo em que a desenvolveu. Essa obra permaneceu com suas caractersticas, masrecebeu um novo direcionamento: a Pastoral Litrgica nas Parquias. O objetivo erainspirar a piedade e a vida crist no culto da Igreja; para isso, era necessrio promover aparticipao dos batizados na Liturgia. Dom Lambert Beauduin editou a partir de 1910 arevista Questes Litrgicas, e promoveu semanas de Liturgia destinadas conscientizao do clero, que foram publicadas em Cursos e Conferncias.

    Entre 1929 e 1947, veio tona a problemtica entre Liturgia e Espiritualidade. Obeneditino Dom Andr-Jean Festugire (1898 1982) defendeu que a Liturgia aorao do Cristo Total. Os membros da Igreja devem personificar a Liturgia por meio

    de uma participao consciente e ativa. Deste pensamento, brotou com toda a fora osentido eclesial-comunitrio e a exaltao dos valores objetivos da Liturgia. Os centros

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    de estudos especializados em Liturgia estavam na Frana, como o Instituto Superior deLiturgia de Paris (www.icp.fr/fr/Organismes/THEOLOGICUM-Faculte-de-Theologie-Sciences-Religieuses/ISL-Institut-Superieur-de-Liturgie/Institut-Superieur-de-Liturgie-

    ISL). Este Instituto se destacou pelo estudo sobre as origens do culto cristo, sobre ahistria da Missa e do Brevirio e tambm sobre a arqueologia crist e litrgica. No

    mosteiro de Maria Laach (www.maria-laach.de), a partir de 1918, foi fundada a coleoEcclesia Orans, destinada a divulgar o conhecimento sobre Liturgia. Neste mesmomosteiro, Dom Odo Casel (1886-1948) influenciou definitivamente a Teologia domovimento litrgico da Igreja, com a sua obra: O Mistrio Salvfico no Culto e naVida da Igreja. Os congressos internacionais de Liturgia, iniciados no mosteiro deMaria Laach em 1953, chamaram a ateno e tiveram a participao dos membros dahierarquia da Igreja. Eles foram decisivos para a reforma litrgica efetuada peloConclio Vaticano II.

    Em 1947, o papa Pio XII publica sua Carta Encclica Mediator Dei, sobre aSagrada Liturgia. Na verdade, esta Encclica significa a recepo do Movimento

    Litrgico na Igreja. Pela primeira vez o Magistrio da Igreja apresentava uma doutrinalitrgica completa e estruturada.Os temas fundamentais da Mediator Dei do a estaEncclica a autoridade de ser a predecessora da Constituio Conciliar SacrosanctumConcilium, documento mais importante do Conclio Ecumnico Vaticano II.

    4. A Liturgia no Conclio Ecumnico Vaticano II

    A grande contribuio litrgica do Conclio Ecumnico Vaticano II est na

    Constituio Sacrosanctum Concilium. Todas as contribuies litrgicas dos outrosdocumentos conciliares no modificam o que h nela de fundamental. A SacrosanctumConcilium aborda, depois de um Promio, os princpios que fundamentam o planolitrgico do Vaticano II. Este primeiro captulo o mais longo e o de maior importncia.Em seguida, so desenvolvidos, a partir da perspectiva particular da Constituio, osseguintes temas: Eucaristia, os outros Sacramentos e Sacramentais, o Ofcio Divino, oAno Litrgico, a Msica Sacra, a Arte e os Objetos Sagrados. A cada tema correspondeum captulo.

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    O Conclio Ecumnico Vaticano II

    A estrutura interna dessa constituio formada por princpios doutrinais enormas prticas. O entrelaamento entre o princpio e a prtica corresponde relaoentre Teologia e Celebrao, isto , essncia de toda a Teologia Litrgica. Vemosabaixo algumas palavras da Sacrosanctum Concilium que podem inspirarprofundamente a ao litrgica nas Comunidades, especialmente nos Grupos de Oraoque desejem mergulhar mais profundamente na Espiritualidade oficial da Igreja.

    A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifcio eucarstico, se opera o frutoda nossa Redeno4, contribui em sumo grau para que os fiis exprimam na vida emanifestem aos outros o mistrio de Cristo e a autntica natureza da verdadeira Igreja,que simultaneamente humana e divina, visvel e dotada de elementos invisveis,empenhada na ao e dada contemplao, presente no mundo e, todavia, peregrina 5.

    Pelo Batismo so os homens enxertados no mistrio pascal de Cristo: mortoscom Ele, sepultados com Ele, com Ele ressuscitados 6.

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    IX Dom. depois de Pentecostes, orao sobre as oblatas.5Sacrosanctum Concilium (SC), pargrafo 26 SC, n. 6

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    Cristo est sempre presente na sua Igreja, especialmente nas aeslitrgicas7.

    Qualquer celebrao litrgica , por ser obra de Cristo sacerdote e do seuCorpo que a Igreja, ao sagrada par excelncia 8.

    Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a j, da Liturgia celeste,celebrada na cidade santa de Jerusalm, para a qual, como peregrinos, nos dirigimos eonde Cristo est sentado direita de Deus 9.

    A Liturgia simultaneamente o cume para a qual se encaminha a ao daIgreja e a fonte donde emana toda a sua fora 10.

    desejo ardente da me Igreja que todos os fiis cheguem quela plena,consciente e ativa participao nas celebraes litrgicas 11.

    Para promover a reforma, o progresso e a adaptao da sagrada Liturgia, necessrio desenvolver aquele amor suave e vivo da Sagrada Escritura de que dtestemunho a venervel tradio dos ritos tanto orientais como ocidentais 12.

    Efetivamente, na Liturgia Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciaro Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a orao 13.

    Jesus Cristo, sumo sacerdote da nova e eterna Aliana, ao assumir a naturezahumana, trouxe a este exlio terrestre aquele hino que se canta por toda a eternidade naceleste manso. Ele une a si toda a humanidade e associa-a a este cntico divino delouvor. Continua esse mnus sacerdotal por intermdio da sua Igreja, que louva oSenhor sem cessar e intercede pela salvao de todo o mundo, no s com a celebraoda Eucaristia, mas de vrios outros modos, especialmente pela recitao do Ofciodivino 14.

    O Ofcio divino, segundo a antiga tradio crist, destina-se a consagrar, pelolouvor a Deus, o curso diurno e noturno do tempo. E quando so os sacerdotes quecantam esse admirvel cntico de louvor, ou outros para tal deputados pela Igreja, ou osfiis quando rezam juntamente com o sacerdote segundo as formas aprovadas, ento verdadeiramente a voz da Esposa que fala com o Esposo ou, melhor, a orao queCristo, unido ao seu Corpo, eleva ao Pai 15.

    Todos os que rezam assim, cumprem, por um lado, a obrigao prpria daIgreja, e, por outro, participam da imensa honra da Esposa de Cristo, porque esto emnome da Igreja, diante do trono de Deus, louvando o Senhor 16.

    7 SC, n. 78 Idem9 SC, n. 810 SC, n. 1011 SC, n. 1412 SC, n. 2413 SC, n. 3314

    SC, n. 8315 SC, n. 8416 SC, n. 85

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    Recomenda-se tambm aos leigos que recitem o Ofcio divino, quer juntamentecom os sacerdotes, quer uns com os outros, ou mesmo particularmente 17.

    Como vemos nesta ltima citao, o Conclio Ecumnico Vaticano II recomendaque tambm ns, leigos, bebamos desta riqussima fonte espiritual que o Ofcio

    divino. Desta maneira, a Graa de Deus ser muito mais intensamente derramada sobreas Comunidades e os Grupos de Orao, porque, uma vez que estamos celebrando oOfcio divino, estamos em comunho com a orao oficial da Igreja, e esta comunhocertamente resultar em uma nova e mais intensa experincia de Deus.

    Com efeito, a partir do Mistrio Pascal (Paixo, Morte e Ressurreio deNosso Senhor Jesus Cristo) que tudo o que a Igreja celebra tem sentido: como que ocentro de toda a vida dos cristos, chamados a escutar a Palavra de Deus e a obedec-la com uma vida que O glorifique.

    5. Constituio Apostlica Laudis Canticum, do PapaPaulo VI

    O Conclio Vaticano II renovou a valorizao da Liturgia das Horas (tambmconhecida como Ofcio Divino), procurando rever esta orao, a fim de que os padres eoutros membros da Igreja pudessem rez-la melhor e mais perfeitamente. um desejoardente da Igreja que sua Orao Oficial seja usada e valorizada pelo povo de Deus.Com a Constituio Apostlica Laudis Canticum, o Papa Paulo VI promulgouoficialmente a nova verso da Liturgia das Horas, conforme instrues da constituio

    conciliar Sacrosanctum Concilium, nas seguintes palavras:

    O Cntico de Louvor, que ressoa eternamente nas moradas celestes, e que JesusCristo, Sumo Sacerdote, introduziu nesta terra de exlio, foi sempre repetido pela Igreja,durante tantos sculos, constante e fielmente, na maravilhosa variedade de suas formas.A Liturgia das Horas desenvolveu-se pouco a pouco, at se tornar orao da Igreja local,onde veio a ser, em tempos e lugares estabelecidos, sob a presidncia do sacerdote,como que complemento necessrio a todo o culto divino, que se encerra no Sacrifcioeucarstico, que devia ter repercusso e estender-se a todas as horas da vida humana 18.

    Todo o trabalho da reforma litrgica foi recomeado por Pio XII, que aprovou,

    para recitao tanto particular como pblica, o uso de uma nova verso do Saltrio,preparada pelo Pontifcio Instituto Bblico. Tendo-se constitudo em 1947 umaComisso Especial, Pio XII encarregou-a de estudar a questo do Brevirio. Sobre omesmo assunto, a partir de 1955, foram consultados os Bispos de todo o mundo.Comeou-se a gozar dos frutos desse trabalho solcito, com o Decreto sobre asimplificao das rubricas, de 23 de Maro de 1955, e com as Normas sobre oBrevirio, que Joo XXIII publicou no Cdigo das Rubricas em 1960. O ConclioVaticano II tratou da Liturgia em geral e da Orao das Horas em particular, de maneiraampla e precisa, vlida sobre o ponto de vista espiritual; e o fez de tal maneira que nadaigual se encontra em toda a histria da Igreja. Durante o mesmo Conclio Vaticano II,

    17 SC, n. 10018 Paulo VI, Constituio Apostlica Laudis Canticum, Introduo.

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    tivemos a preocupao de pr em prtica os decretos da Constituio sobre a SagradaLiturgia, imediatamente aps a sua promulgao 19.

    Como pediu a Sacrosanctum Concilium, foram levadas em considerao ascondies em que se encontram atualmente os sacerdotes dedicados ao apostolado.

    Sendo orao de todo o Povo de Deus, o Ofcio Divino foi disposto e preparado de talmaneira que nele possam tomar parte, no apenas os clrigos, mas tambm os religiosose at os leigos. Introduzindo vrias formas de celebrao, o que se quis foi dar respostas exigncias especficas das pessoas de ordem e grau diferentes. A orao podeadaptar-se s diversas comunidades que celebram a Liturgia das Horas, segundo a suacondio e vocao 20.

    Vrios subsdios so propostos para a meditao sobre os salmos. So ttulos,antfonas, oraes slmicas, momentos de silncio: tudo isso deve introduzir-se segundoa oportunidade 21.

    Muito confiamos em que se desperte a conscincia dessa orao, a ser feitasem interrupo, e por nosso Senhor Jesus Cristo recomendada sua Igreja. de fatopara apoi-la continuamente, e tambm para ajud-la, que se destina o livro da Liturgiadas Horas, repartido pelos devidos tempos. A celebrao mesma, particularmentequando por esse motivo a comunidade se rene, manifesta a verdadeira natureza daIgreja orante, da qual se revela como sinal maravilhoso 22.

    Antes de tudo, a orao crist a orao da famlia humana inteira, que Cristoassocia a Si. Celebrando essa orao, cada um participante, mas ela prpria doCorpo todo. Por isso, funde-se a voz da esposa dileta de Cristo com os desejos e votosde todo o povo cristo, com as splicas e peties em prol das necessidades de toda ahumanidade 23.

    muito desejvel que a orao pblica da Igreja brote de ampla renovaoespiritual e da comprovada necessidade intrnseca de todo o corpo da Igreja. Esta, semelhana do seu Chefe, s pode apresentar-se como Igreja orante 24.

    Unindo-se ao que os Santos e Anjos cantam nas moradas celestes, e crescendoem perfeio no decorrer dos dias deste exlio terreno, aproximemo-nos cada vez maisdaquele louvor pleno, eternamente tributado quele que est sentado no trono e aoCordeiro 25.

    19 Idem.20 Ibidem, n. 121 Ibid., n. 322 Ibid., n. 823

    Idem24 Idem.25 Idem

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    Papa Paulo VI

    Parte II A Espiritualidade Monsticacomo Origem da Liturgia das Horas

    E eis que o Senhor passou. Um grande e impetuoso furaco fendia asmontanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor, mas o Senhor no estava no

    furaco; e depois do furaco houve um terremoto, mas o Senhor no estava noterremoto; e depois do terremoto um fogo, mas o Senhor no estava no fogo; e depoisdo fogo, o rudo de uma leve brisa.

    (1 Rs 19, 11-12)

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    1. O Fundamento da Orao

    A Humildade o fundamento da orao 26. Essencialmente, podemos meditarsobre os principais aspectos da Humildade:

    (i) Temor de Deus: o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo oirmo sempre diante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualqueresquecimento, e esteja, ao contrrio, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou.Revolva sempre, no esprito, no s que o inferno queima, por causa de seus pecados, osque desprezam a Deus, mas tambm que a vida eterna est preparada para os que temema Deus 27. O temor de Deus uma atitude de profundo respeito diante da DivinaMajestade. O princpio da sabedoria temer ao Senhor (Sl 110/111, 10). Considere-se o homem visto do cu, a todo momento, por Deus, e suas aes vistas em toda parte

    pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos28. O Senhor sondaos coraes e os rins (Sl 7, 10). Ele conhece os pensamentos dos homens (Sl 93/94,11).

    (ii) Obedincia Vontade de Deus: Desci do cu no para fazer a minhavontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6, 38).Jesus Cristo abaixou-se,tornando-se obediente at a morte, morte sobre uma cruz (Fl 2, 8). Todas asadvertncias que fao neste livro se referem necessidade de nos dar por inteiro aoCriador, de entregar a nossa vontade Dele, de nos desapegar das criaturas 29.

    (iii) Pacincia: que o irmo abrace a pacincia, de nimo sereno, nas coisasduras e adversas, ainda mesmo que se lhe tenham dirigido injrias, e, suportando tudo,

    no se entregue nem se v embora

    30

    . Trata-se da experincia de viver o Mistrio desofrer em paz, unindo os prprios sofrimentos aos Sofrimentos de Cristo: regozijo-menos meus sofrimentos por vs, e completo o que falta s tribulaes de Cristo em minhacarne pelo seu Corpo, que a Igreja (Cl 1, 24). Esta a essncia do Mistrio Pascal:sofrendo e morrendo com Cristo, com Ele ressuscitaremos. Desta maneira, colaboramospara a salvao de todo o mundo. Aquele, porm, que perseverar at o fim, esse sersalvo (Mt 10, 22).

    (iv) Pobreza: assumir-se como criatura miservel diante da Misericrdia deDeus. Eu era imbecil e no sabia, eu era um animal junto a ti (Sl 72/73, 22). JesusCristo se despojou, tomando a forma de escravo (Fl 2, 7). Homem sujeito dor,

    familiarizado com o sofrimento. Foi trespassado por causa das nossas transgresses,esmagado por causa das nossas iniqidades. O Senhor quis esmag-lo pelosofrimento (Is 53, 3.4.10). A prtica da slida e perfeita virtude est na renncia detodas as suavidades em Deus, abraando toda a aridez, desgosto, trabalho, numapalavra, a cruz puramente espiritual e o despojamento completo na pobreza de Cristo. O verdadeiro esprito antes procura em Deus a amargura que as delcias, prefere o

    26 Catecismo da Igreja Catlica, no 2559.27Regra de So Bento (RB), Captulo 7, 10-11.28

    Ibidem 7, 1329 Santa Teresa de Jesus, Caminho de Perfeio, Captulo 32, pargrafo 9.30 RB 7, 35-36.

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    sofrimento consolao, por Deus, de todo o bem ao gozo; a aridez e as aflies sdoces comunicaes do cu, sabendo que isto seguir a Cristo e renunciar-se 31.

    (v) Desprezo de si mesmo: considerao de que somos inferiores e mais fracosque todos. Quanto a mim, sou verme, no homem, riso dos homens e desprezo do

    povo (Sl 21/22, 7). Para mim bom ser humilhado, para aprender teus estatutos(Sl 118/119, 71). Basta-te a minha graa, pois na fraqueza que a fora manifesta todoo seu poder (2Cor 12, 9).

    (vi) Silncio: Quem domina os lbios prudente (Pr 10, 19). Quem vigia aprpria boca guarda a sua vida (Pr 13, 3). Aquele que no peca no falar realmentehomem perfeito, capaz de refrear todo o corpo. Quando pomos freio na boca doscavalos, a fim de que nos obedeam, conseguimos dirigir todo o seu corpo. Notai quetambm os navios, por maiores que sejam, e impelidos por ventos impetuosos, so,entretanto, conduzidos por um pequeno leme para onde quer que a vontade do timoneiroos dirija. Assim tambm a lngua, embora seja pequeno membro do corpo, se gaba de

    grandes feitos! Notai como pequeno fogo incendeia floresta imensa. Ora, tambm alngua fogo (Tg 3, 2-6).

    (vii) Reconhecer-se pecador: Que no s no corao tenha o monge ahumildade, mas a deixe transparecer no prprio corpo. Quer esteja sentado, andando ouem p, tenha sempre a cabea inclinada, os olhos fixos no cho, considerando-se a cadamomento culpado de seus pecados; tenha-se j como presente diante do tremendo juzode Deus 32. O publicano, mantendo-se distncia, no ousava sequer levantar os olhospara o cu, mas batia no peito dizendo: Meu Deus, tem piedade de mim, pecador! (Lc 18, 13).

    Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o mongeatingir logo aquele amor de Deus, que, quando perfeito, afasta o temor. Eis o que, noseu operrio, j purificado dos vcios e pecados, se dignar o Senhor manifestar pormeio do Esprito Santo 33. A alma no estado de transformao de amor temordinariamente o hbito do mesmo amor, assim como a lenha sempre incandescentepela ao do fogo. esta arrebatada e absorta na prpria chama do Esprito Santo 34.

    Suplico-te, Senhor, cheio de gozo e sabor no Esprito Santo: rompe a telafinssima desta vida, e no me deixes chegar at ser cortado de modo natural pela idadee tempo, a fim de que eu possa te amar desde logo com a plenitude e fartura que deseja

    a minha alma, sem termo nem fim

    35

    .

    2. Princpios da Vida Monstica: os Padres do Deserto

    O termo Padres do Deserto inclui um grupo influente de eremitas e cenobitasdo sculo IV que se estabeleceram no deserto egpcio. As origens do monaquismo

    31 So Joo da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro 2, Captulo 7, pargrafo 5.32 RB 7,62-64.33

    RB 7,67.7034 So Joo da Cruz, Chama Viva de Amor, Cano 1, pargrafo 4.35 Ibid., pargrafo 36.

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    oriental se encontram nessas ermidas primitivas e comunidades religiosas. Paulo deTebas o primeiro eremita do qual se tem notcia, a estabelecer a tradio do ascetismoe contemplao monstica, e Pacmio de Tebaida considerado o fundador docenobitismo e do monaquismo primitivo. Ao final do terceiro sculo, contudo, ovenerado Anto do Egito orienta colnias de eremitas na regio central. Logo, ele se

    torna o prottipo do recluso e do heri religioso para a Igreja oriental - uma fama devidaem grande parte vasta louvao na biografia de Atansio sobre ele. Esses primitivosmonsticos atraram um grande nmero de seguidores aos seus retiros austeros, atravsda influncia de sua simples, individualista, severa e concentrada busca pela salvao eunio com Deus. Os Padres do Deserto eram frequentemente solicitados para direoespiritual dos seus discpulos. Suas respostas foram gravadas e colecionadas numtrabalho chamado Paraso ou Apoftegmas dos Padres 36.

    O Conclio Vaticano II nos convida a renovar a Teologia luz de suas fontes noEvangelho, nos Padres da Igreja e nos Padres do Deserto: no Oriente se encontramtambm as riquezas daquelas tradies espirituais, expressas, sobretudo pelo

    monaquismo. Pois desde os gloriosos tempos dos santos Padres floresceu no Orienteaquele elevada espiritualidade monstica, que de l se difundiu para o Ocidente e daqual a vida religiosa dos latinos se originou como de sua fonte, e em seguida, semcessar, recebeu novo vigor. Recomenda-se, por isso, vivamente, que os catlicos seabeirem com mais freqncia destas riquezas espirituais dos Padres do Oriente queelevam o homem todo contemplao das coisas divinas 37. So Bento foi o principalresponsvel por trazer essa riqussima espiritualidade monstica do Oriente para oOcidente.

    2.1. O Abade Anto

    38

    O Abade Anto viu todas as armadilhas do inimigo estendidas sobre a terra, e,gemendo, perguntou: Quem escapar a elas? Ouviu ento uma voz que dizia: A

    Humildade.

    O santo Abade Anto, certa vez sentado no deserto, foi acometido de acdia(desnimo na vida espiritual) e grande turbilho de pensamentos; disse ento a Deus:Senhor, quero ser salvo, e no me deixam os pensamentos; que farei na minhatribulao? Como serei salvo? Pouco depois, levantando-se para sair, Anto viu

    algum, semelhante a ele mesmo, sentado e trabalhando, a seguir levantando-se dotrabalho e rezando, para de novo sentar-se e tecer a corda, e mais uma vez levantar-separa a orao; era um anjo do Senhor mandado para reerguer e robustecer Anto. Ora,este ouviu o anjo dizer: Faze assim, e sers salvo. Ao ouvir isto, Anto muito sealegrou e animou, e, assim fazendo, era salvo.

    Certa vez, considerando atentamente o abismo dos juzos de Deus, Antoperguntou: Senhor, por que que alguns homens morrem aps breve vida, enquantooutros se tornam extremamente velhos? E por que que alguns so pobres e outrosricos? E por que que os injustos se enriquecem, enquanto os justos sofrem

    36

    www.padresdodeserto.net37Unitatis Redintegratio, n. 1538Apoftegmas - A Sabedoria dos Antigos Monges, Editora Lumen Christi, Rio de Janeiro, p.11 - 20.

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    necessidade? Veio-lhe, ento uma voz, dizendo: Anto, cuida de ti mesmo, pois istoso juzos de Deus, e no te convm penetr-los.

    Estava algum no deserto a caar animais selvagens, quando viu o AbadeAnto em conversa alegre com os irmos. O ancio, querendo ento persuadi-lo de que

    preciso de vez em quando recrear-se com os irmos, disse-lhe: Pe uma seta no teuarco, e deixa-o esticado. Ele assim fez. Disse-lhe de novo: Estica-o mais. Respondeu-lhe o caador: Se o esticar alm da medida, o arco quebrar. Anto disse: Assimtambm para a obra de Deus: se exigirmos dos irmos alm da medida, em brevedesistiro. necessrio, pois, de quando em quando, recrear-se com eles. Ouvindo isto,o caador foi tocado de compuno, e, levando muito proveito, retirou-se, enquanto osirmos, edificados, voltavam para sua morada.

    O Abade Anto disse ao Abade Poimm: Este o grande trabalho do homem:assumir sobre si mesmo a culpa prpria diante de Deus, e esperar a tentao at oltimo suspiro.

    Como os peixes que se demoram na terra seca morrem, assim tambm osmonges, permanecendo fora da cela, ou vivendo com os seculares, relaxam-se da tensoda vida recolhida. preciso, pois, que, como o peixe para o mar, assim tambm nosapressemos para a cela, para que no acontea que, demorando-nos fora, esqueamos aguarda interior.

    Um irmo pediu ao Abade Anto: Reza por mim. Disse-lhe o ancio: Nemeu terei compaixo de ti, nem Deus, se tu mesmo no te encheres de zelo e rogares aDeus.

    O Abade Anto disse: Tem sempre ante os olhos o temor de Deus. Odiai omundo e tudo o que nele h. Odiai todo repouso da carne. Renunciai a esta vida, a fimde viverdes para Deus. Recordai-vos do que prometestes a Deus, pois Ele o pedir devs no dia do juzo. Sofrei fome, sede, suportai a nudez, vigiai, arrependei-vos, chorai,gemei no vosso corao; provai-vos, para saber se sois dignos de Deus; desprezai acarne, para salvar as vossas almas .

    Disse tambm: J no temo a Deus, mas amo-o. Pois a caridade afasta otemor.

    Alguns irmos chegaram ao Abade Anto e pediram-lhe: Dize-nos umapalavra pela qual sejamos salvos. Respondeu-lhes o ancio: Escutastes a Escritura?Est bem para vs. Eles, porm, replicaram: Tambm de ti queremos escutar algumacoisa, Pai. Respondeu-lhes: O Evangelho diz que se algum nos d um tapa na facedireita, devemos oferecer-lhe a esquerda. Os irmos disseram-lhe: no podemos fazeristo. Anto respondeu: Se no podeis oferecer a outra face, suportai ao menos numaface. Replicaram-lhe: Nem isto o podemos. O ancio, ento, disse: Se nem istopodeis, no retribuais o golpe que recebestes. Os irmos responderam: Tambm isto,no o podemos. Ento o ancio mandou ao seu discpulo: Prepara-lhes um pouco demingau, pois esto doentes. Se no podeis isto, e no quereis aquilo, que vos farei?Precisais de oraes.

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    Disse o Abade Anto: Conheo monges que, aps muitas fadigas, caram, eperderam o controle da mente, porque nutriram esperana nas suas prprias obras enegligenciaram o preceito daquele que disse: Interroga teu pai, e ele te ensinar(Dt 32, 7).

    Disse tambm: Tempo vir em que os homens enlouquecero, e, ao veremalgum que no esteja louco, se erguero contra ele, dizendo: Tu s louco, porque noser semelhante a eles.

    O inimigo, incapaz de abater Anto, e vendo-se rejeitado de seu corao,rangia os dentes fora de si, como est escrito. Tal espiritualmente, tal se mostravasensivelmente, aparecendo-lhe sob as feies de um menino negro. Caindo sobre ele,assaltava-o no mais com pensamentos (esse ardil fracassara), mas dizendo com vozhumana: Enganei a muitos, venci a maior parte, e eis que, atacando, como a muitos, ati e a teus trabalhos, fracassei. Anto o interrogou: Quem s tu, que me dizes essascoisas? Esse respondeu logo, com voz lastimosa: Sou o amigo da impureza, pela qual

    armei contra os jovens ciladas e excitaes; chamam-me o esprito de fornicao.Enganei quantos queriam viver retamente; seduzi e os fiz mudar de idia, excitando-os,a quanto eram continentes. por causa de mim que o profeta censura aqueles quecaem: Um esprito de prostituio vos desencaminhou (Os 4, 12). Foi por mim, comefeito, que foram arruinados. Fui eu quem muitas vezes te perturbou, e todas as vezes tume puseste em fuga. Anto deu graas ao Senhor, se encorajou contra o demnio e lhedisse: Tu s verdadeiramente muito desprezvel, porque, espiritualmente, s negro, e s

    fraco como um menino. No tenho mais nenhuma preocupao a teu respeito. OSenhor meu socorro, desprezarei meus inimigos (Sl 117, 7). A estas palavras, odemnio fugiu: ele temia a voz de Anto e receava at aproximar-se dele 39.

    Meus filhos, apliquemos nossa ateno ascese, no nos descuremos. OSenhor colabora conosco; est escrito: Deus coopera em tudo para o bem daquelesque o amam (Rm 8, 28). Para no sermos fracos, bom que meditemos a palavra do

    Apstolo: Diariamente estou exposto morte (1Cor 15, 31). Se vivermos comodevendo morrer todo dia, no pecaremos. Eis como se deve entender isso. Todo dia, aonos levantarmos, pensemos que no chegaremos at a noite, e noite, ao nosdeitarmos, pensemos que no acordaremos no dia seguinte. A nossa vida, por natureza, incerta; todo dia nos medido pela providncia. Dispostos e vivendo assim todo dia,no pecaremos, no teremos desejo de nada, no teremos ressentimento contraningum, no ajuntaremos tesouros na terra, mas, esperando morrer todo dia, seremos

    pobres e perdoaremos tudo a todos

    40

    .Anto ouviu uma voz do alto: para onde vais, Anto, e por qu? Ouviu sem se

    perturbar, habituado a ser assim interpelado, e respondeu: no me deixam viver comoeremita; quero ir para a alta Tebaida, a fim de evitar os freqentes incmodos, porqueme pedem coisas que ultrapassam os meus poderes. A voz lhe disse: irias para aTebaida, como pensas, mas at entre os bois terias de suportar trabalho maior e aindadobrado. Se queres realmente ser eremita, vai para o deserto interior 41.

    39

    Santo Atansio, Vida e Conduta de Santo Anto, Editora Paulus, So Paulo, pargrafo 6.40 Ibid., pargrafo 19.41 Ibid., pargrafo 49.

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    Quando, pois, brilhou igualmente o conhecimento de Deus, a sabedoria e avirtude da virgindade, quando a morte foi to desprezada, seno quando apareceu a cruzde Cristo? Quem v os mrtires desprezar a morte por Cristo, quem v as virgens daIgreja guardar, por Cristo, seu corpo puro e intacto no duvida disso 42.

    Respirai sempre o Cristo, crede nele, vivei cada dia como se tivsseis demorrer, sede atentos a vs mesmos e lembrai-vos dos conselhos que vos dei 43.

    O Abade Anto

    2.2. O Abade Poimm44

    Em certa ocasio Pasio, o irmo do Abade Poimm tinha colquios comalgum fora da cela. Ora, o Abade Poimm no queria isto; levantou-se, pois, e fugiupara junto do Abade Amonas, dizendo a este: Pasio, meu irmo, tem colquios com

    42

    Ibid., pargrafo 79.43 Ibid., pargrafo 91.44Apoftegmas - A Sabedoria dos Antigos Monges, Editora Lumen Christi, Rio de Janeiro, p.223 - 257.

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    algum, e, em conseqncia, eu no sossego. Perguntou-lhe o Abade Amonas:Poimm, ainda vives? Vai, senta-te em tua cela e coloca em teu corao a idia de que

    j h um ano que jazes no sepulcro.

    Em dada ocasio, os presbteros da regio foram ao mosteiro em que estava o

    Abade Poimm. O Abade Anube chegou-se ento a ele e disse-lhe: Convidemos ospresbteros hoje. E esperou em p muito tempo, sem que Poimm lhe desse resposta;aps isso, Anube se retirou triste. Ento os que estavam sentados juntos a Poimm,perguntaram-lhe: Abade, por que no lhe deste resposta? O Abade Poimm explicou-lhes: Nada tenho que ver, pois morri. Ora, o morto no fala.

    Como o espadrio do rei a este assiste, pronto em todo tempo, assim precisoque a alma esteja pronta diante do demnio da fornicao.

    Se o deleite da gula no entrasse na alma, a mente no cairia quandoimpugnada pelo inimigo.

    Se temos um ba cheio de vestes e as deixamos fechadas, apodrecero com otempo. Assim tambm so os pensamentos: se no executamos com o nosso corpo, nodecorrer do tempo extinguem-se ou apodrecem.

    Certa vez, quando o Abade Poimm andava pelo Egito, viu uma mulhersentada junto a um tmulo, a qual chorava amargamente. E disse: Ainda que venhamtodos os deleites deste mundo, no lhe tiraro a alma da tristeza em que se acha. Assimtambm o monge deve sempre trazer a tristeza em si mesmo.

    A respeito do Abade Poimm contavam que, antes de ir para o Ofcio, sesentava a ss, ficando a examinar os seus pensamentos durante cerca de uma hora.Depois disto que se punha a caminho.

    Refrear-se, vigiar sobre si mesmo e usar de discernimento, estas trs virtudesso as guias da alma.

    Todo repouso do corpo abominao aos olhos do Senhor.

    A distrao o comeo de todos os males.

    O homem precisa da humildade e do temor de Deus como do sopro queprocede de suas narinas.

    H quem passe todo o tempo de sua vida a carregar o machado sem encontrar omodo de derrubar a rvore. H tambm o homem perito de cortar, que com poucosgolpes derruba a rvore. O machado smbolo do discernimento.

    A vontade do homem um muro de bronze entre ele e Deus, uma rocha quereverbera. Se o homem a abandona, encontra a Deus.

    Como a fumaa afasta as abelhas e ento se desfaz a doura do trabalho delas,

    assim tambm o repouso do corpo afasta da alma o temor de Deus e esvazia todas assuas boas obras.

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    Certa vez um irmo foi ter com o Abade Poimm e disse-lhe: que hei de fazer,pois sou perseguido pela fornicao? Eis que fui procurar o Abade Ibistio, o qual medisse para eu no permitir que ela me ataque. Respondeu o Abade Poimm: o AbadeIbistio, os seus atos esto no alto com os anjos, e fica-lhe oculto que eu e tu estamosem meio fornicao. Se o monge domina o ventre e a lngua e vive na qualidade de

    estrangeiro, tem confiana, ele no morrer.

    No momento em que encobrimos a falta de nosso irmo, Deus encobre a nossa,e, no momento em que a manifestamos, tambm Deus manifesta a nossa.

    Os demnios no nos atacam enquanto seguimos os nossos prprios desejos.Com efeito, os nossos desejos se tornaram demnios, e so eles que nos atormentam,

    para que os realizemos.

    Um irmo perguntou ao Abade Poimm: o que a F? Ele respondeu: A F viver em Humildade, e praticar a Misericrdia.

    Certa vez o Abade Poimm passava com o Abade Anube pela regio de Diolco.Quando se aproximavam dos sepulcros, viram uma mulher mergulhada em profundoluto, que chorava amargamente. Depois de a terem observado, caminharam ainda um

    pouco e encontraram algum a quem o Abade Poimm perguntou: que tem essamulher para chorar amargamente? Respondeu aquele: que lhe morreram o marido,o filho e o irmo. Ento, o Abade Poimm dirigiu-se ao Abade Anube: digo-te que, seo homem no mortifica todos os desejos da carne e adquire tal luto, no se pode tornarmonge. Pois toda a vida e a mente desta mulher esto totalmente mergulhadas noluto.

    Se desprezares a ti mesmo, ters tranqilidade, qualquer que seja o lugar quehabites.

    A vontade prpria, o repouso e a familiaridade com ambas derrubam ohomem.

    Se fores um silencioso, ters tranqilidade em todo lugar.

    O monge no se queixa de sua sorte; o monge no retribui o mal pelo mal; omonge no dado ira.

    Se o homem acusa a si mesmo, persevera em toda a parte.

    Na hora em que o homem, tendo cado em culpa, diz: pequei, a culpa cessa.

    Enquanto a panela aquecida pelo fogo de baixo, nem uma mosca ou algumdos outros insetos voadores a podem tocar; logo, porm que esteja fria, estes se

    pousam sobre ela. Assim tambm o monge; enquanto se entrega aos atos da vidaespiritual, o inimigo no encontra como abat-lo.

    Hipcrita aquele que ensina ao prximo algo que ele mesmo no chega a

    praticar.

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    Perguntaram ao Abade Poimm a quem que se aplica a palavra da Escritura:no vos preocupeis com o dia de amanh. O ancio respondeu: foi dita para o homemque, acometido de uma tentao, perde a coragem, a fim de que no perguntepreocupado: quanto tempo deverei sofrer esta tentao? Antes, reflita um pouco, e acada dia, diga: Hoje !

    Tudo que excede a justa medida provm dos demnios.

    De nada precisamos a no ser de uma mente vigilante.

    O desnimo na vida espiritual (acdia) se encontra em todo incio, e no hpaixo pior do que ela. Se, porm, o homem a descobre e reconhece que ela, encontraa paz.

    O Abade Jos referiu a seguinte narrativa do Abade Isaque: certa vez euestava sentado com o Abade Poimm e vi-o entrar em xtase; j que eu tinha grande

    familiaridade com ele, prostrei-me depois diante dele e perguntei-lhe: dize-me ondeestavas. Constrangido, respondeu: minha mente estava no lugar em que Santa Maria,a Me de Deus, esteve, e chorava junto Cruz do Salvador; eu quisera chorar sempredesse modo.

    O Abade Poimm

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    2.3. O Abade Evgrio45

    bom cultivar a tranqilidade. Quando existe calma no corao, toda apessoa est tranqila. Esta a Apatheia (estado de Paz Interior, que ocorre na

    ausncia das paixes), tpica de um corao que alcanou a Puritas Cordis (Pureza deCorao).

    O demnio da gula rapidamente sugere ao monge o fracasso de sua ascese.Coloca-lhe diante dos olhos o estmago, o fgado, o bao, uma doena prolongada, afalta do necessrio, a ausncia de um mdico. Muitas vezes leva-o a pensar tambm emdeterminados irmos que foram vtimas dessas doenas. s vezes ainda impele essesdoentes a dirigirem-se aos ascetas e falarem-lhe de seu destino, pretextando que vierama se tornar assim por causa da ascese.

    Remdio contra a Gula: Contra o pensamento que me deixa amargurado por

    causa de minha vida de dura pobreza: O Senhor o meu pastor, nada me faltar(Sl 23, 1).

    O demnio da luxria fora a desejar outros corpos. Ele ataca cruelmente osque praticam a continncia, para que a abandonem, j que no leva a nada. Enlameia aalma e a seduz a aes vergonhosas. Faz a alma pronunciar certas palavras, tornandosempre a ouvi-las, como se o objeto estivesse visvel e presente.

    Remdio contra a Luxria: Contra os pensamentos impuros que se demorampor muito tempo e que freqentemente fazem surgir em ns imagens abominveis queprendem o esprito por meio de desejos e de paixes vergonhosas, usar o seguinteversculo: afastai-vos de mim, malfeitores, porque o Senhor ouviu a minha splica (Sl6, 9).

    A cobia lembra idade avanada, incapacidade das mos para trabalhar, a vindados tempos de necessidade e de doena, o amargor da pobreza e a vergonha quesignifica ter que esperar dos outros o necessrio.

    Remdio contra a Cobia: Contra o pensamento que me impede de dar algumacoisa ao irmo necessitado, ou de emprestar dinheiro a um pedinte: No feches a mo

    para o irmo pobre, mas abre-lhe a mo e empresta-lhe o bastante para a necessidade

    que o oprime (Dt 15, 7).

    A tristeza surge s vezes por frustrao dos desejos, outras vezes ela umaconseqncia da ira. Quando nasce da frustrao dos desejos, acontece assim:primeiramente surgem pensamentos que fazem a pessoa lembrar-se de casa, dos pais eda vida passada. E quando vem que a alma, em vez de resistir a estes pensamentos, osacolhe e se alegra interiormente com o prazer, ento eles tomam posse da alma emergulham-na na tristeza porque j no se tem mais o que se tinha antes, nem se podeter por causa da vida presente. E quanto mais ela se alegrou com os pensamentos deantigamente, tanto mais se desencoraja e sente-se oprimida pelos que vm depois.

    45 Trechos do texto original de Evgrio encontrados em Convivendo com o Mal, de Anselm Grn.

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    Remdio contra a Tristeza: Contra a alma que cai em temor e tremor peranteos demnios que a tentam, e que acha que o Senhor a abandonou: o Senhor teu Deus um Deus misericordioso. Ele no te abandonar nem te destruir (Dt 4, 31).

    A ira uma paixo muito ardente. Dizemos que como uma fervura da parte

    emocional da alma contra quem nos fez uma injustia ou contra quem nos parece haverfeito uma injustia. Ela azeda a alma o dia inteiro, mas, sobretudo, arrasta consigo arazo durante a orao, ao manter diante dos olhos a face do ofensor. Quando perdura ese transforma em ressentimento, provoca confuso noite, desmaio e palidez do corpo eataques de feras selvagens. Estes quatro sinais que se seguem ao ressentimento soquase sempre acompanhados de numerosos outros pensamentos. Os pensamentos dohomem irado so brotos de vboras venenosas e devoram o corao que os faz nascer.

    Remdio contra a Ira: Contra os pensamentos da ira, que apresentam todaespcie de razes para evitar que nos reconciliemos com os irmos, pois isto seria umavergonha, que no demonstraria outra coisa seno medo ou vaidade, ou ainda que com

    isto ns estaramos contribuindo para que aquele que pecou volte a cair nos mesmoserros: mesmo na raiva, no pequeis, no se ponha o sol sobre o vosso ressentimento(Ef 4, 26).

    O demnio da acdia (desnimo na vida espiritual), tambm chamado demniodo meio-dia, o mais trabalhoso de todos. Ele ataca o monge pelas 10 horas da manh eo combate at as 2 horas da tarde. Primeiro faz com que o sol se mova muito devagar,ou que no se mova de maneira nenhuma, fazendo com que o dia parea ter 50 horas.Depois impele o monge a sempre olhar para a janela e a correr para fora da cela, paraver se o sol ainda est longe das 3 horas da tarde, e olhar ao redor para ver se no vemchegando algum irmo. Alm disso, injeta uma averso contra o lugar em que se vive econtra a prpria forma de vida, contra o trabalho manual, e inocula a idia de que acaridade desapareceu entre os irmos e que no existe mais ningum que possa trazeralgum consolo. Atrs deste demnio no segue diretamente nenhum outro: um estado depaz e de indizvel alegria toma posse da alma aps o combate.

    Remdio contra a Acdia: Contra a alma que na acdia acolhe em sipensamentos de desnimo, de que a vida monstica de fato to rdua que difcilsuport-la, aplicar o versculo: confia no Senhor e faze o bem (Sl 37, 3).

    O pensamento da vaidade um pensamento muito sutil, que com facilidade

    infiltra-se entre os virtuosos. Inspira-lhes o desejo de publicar suas lutas e de irem atrsda glria dos homens. F-los fantasiar que esto expulsando furiosos demnios, curandoas mulheres, que multides procuram tocar-lhes os mantos. Prediz-lhes que ho detornar-se sacerdotes, e j fazem o povo vir bater sua porta em busca de conselho. E sepor acaso eles no quiserem, ho de ser levados fora. E os faz criar esperanas vs,entregando-os s tentaes pelo demnio do orgulho ou da tristeza, que lhes inspirapensamentos contrrios s suas esperanas. s vezes entrega-os tambm ao demnio daluxria, eles que pouco antes ainda apareciam como um santo e como um sacerdotedigno de venerao.

    Remdio contra a Vaidade: Contra a alma que por vaidade revela aos

    seculares alguma coisa dos mistrios da vida monstica: no fales para os ouvidos deum insensato (Pr 23, 9). Contra o pensamento da vaidade que nos leva a ensinar,

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    apesar de no possuirmos a sade da alma e o conhecimento da verdade: No hajamuitos entre vs a se aventurar como mestres, sabendo que sero julgados maisseveramente(Tg 3, 1).

    O demnio do orgulho leva a alma a uma profundssima queda. Convence-a a

    no reconhecer a ajuda de Deus, mas a acreditar que a causa de suas boas aes elamesma, e a olhar os irmos de cima para baixo, como pessoas ignorantes e semcompreenso. Depois do orgulho vm a ira e a tristeza, e mais tarde, como ltimo mal, aconfuso do esprito, a loucura, e vises de uma legio de demnios nos ares.

    Remdio contra o Orgulho: Contra o pensamento de orgulho, que me impedede visitar os irmos, j que no esto mais avanados no conhecimento do que eu:quem anda com os sbios torna-se sbio (Pr 13, 20). Contra os pensamentos deorgulho, que me revelam os pecados dos irmos: No faas caso de tudo quanto se diz,

    para no ouvires que teu servo te amaldioa (Ecl 7, 21).

    Uma prova da apatheia (ausncia de paixes) quando a razo comea a versua prpria luz, quando frente s imagens da fantasia ela permanece em repouso e olhaas coisas com tranqilidade. Da mesma maneira como um espelho no se mancha comas imagens que ele reflete, assim a alma que se libertou das paixes permaneceimaculada atravs das coisas deste mundo.

    O Abade Evgrio

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    2.4. O Abade Joo Clmaco (A Escada do Paraso)46

    Recordar a morte morte cotidiana, morrer a cada dia.

    O temor da morte sinal de que nossas faltas no foram totalmente perdoadas.Cristo no experimentou este temor, apesar de ter receado a morte, a fim de mostrar acondio da natureza que havia tomado.

    Assim como o po o mais necessrio dos alimentos, assim tambm arecordao da morte o mais necessrio de todos os exerccios espirituais.

    Quanto mais livre est o homem das paixes, mais disposto est para pensarem sua morte.

    Os grandes sinais para reconhecer quando o pensamento da morte proveitososo: negao da prpria vontade e desapego pelas coisas visveis.

    santo aquele que deseja a morte a cada hora do dia.

    H alguns que, vencidos pelo hbito, pecam continuamente, e, por isso, parano pecar mais, desejam a morte com humildade. H outros que no querem fazer

    penitncia, e por isso desejam a morte com desespero. E h outros que, movidos peloesprito de caridade, desejam sair deste corpo para unir-se a Cristo.

    Alguns se perguntam por que, sendo a recordao da morte algo toproveitoso, o Senhor no quis que soubssemos a hora certa em que ela chegaria nanossa vida. Deus ordenou deste modo para nossa sade. Porque ningum, se soubessea hora certa de sua morte, receberia logo o batismo nem abraaria a vida monstica,mas, antes disso, gastaria todo o tempo de sua vida em maldades e pecados, e quando ahora da morte estivesse chegando, correria para o batismo e para a penitncia. Mas,depois de toda uma vida nos vcios, sua penitncia no seria louvvel, nem to virtuosaquanto necessrio.

    Aquele que por um momento trabalha para carregar dentro de si a recordaoda morte e do juzo divino, e que por outro momento se entrega aos cuidados do mundo, semelhante ao nadador que pretende dar suas braadas com ambos os braos aomesmo tempo.

    At os pagos sentiram que a essncia de toda a filosofia era a meditao sobrea morte.

    Aquele que chegou Hesichia (Perfeita Paz Interior) conhece o abismo detodos os mistrios.

    de grande a utilidade a leitura, para esclarecer e recolher o esprito.

    46Joo Clmaco, em: www.fatheralexander.org/booklets/spanish/escala_juan_climaco.htm

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    Os habitantes do Cu no cessam de progredir na Caridade, e os habitantes daterra que alcanaram a Hesichia (Perfeita Paz Interior) tambm se esforam em

    progredir, rivalizando a cada dia com os Anjos. Os habitantes do Cu tm a plenaconscincia da riqueza dos seus progressos; os habitantes da terra tm a conscinciado seu amor apaixonado pela ascenso ao Cu. Bem-aventurado aquele est preparado

    para alcanar o Cu, pois haver de se tornar semelhante a um Anjo.

    O Abade Joo Clmaco

    3. So Bento, o Pai do Ofcio Divino no Ocidente

    A grande essncia da vida de So Bento est registrada na sua Regra47, que verdadeiramente um tratado completo sobre espiritualidade e orao. Nascido emNrcia, na mbria (Itlia) por volta do ano 480, estudou em Roma, e comeou apraticar a vida eremtica em Subiaco, onde reuniu um grupo de discpulos, indo maistarde para Monte Cassino. A fundou um clebre mosteiro e escreveu a Regra que,difundida em muitos pases, lhe valeu os ttulos de patriarca do monaquismo doOcidente e padroeiro da Europa. Morreu em 21 de maro de 547. Contudo desde fins dosculo VIII, sua memria comeou a ser celebrada em muitas regies no dia 11 de

    julho.

    A expanso que alcanou esta iniciativa monstica de So Bento foiimpressionante. Duzentos anos mais tarde, a Regra beneditina vigorava em toda aEuropa, eliminando praticamente todas as demais formas de vida consagrada. Este

    sucesso no foi casual, mas inerente ao equilbrio e sensatez da Regra beneditina, pois o47 www.osb.org.br/regra.html

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    fim da Regra de So Bento era formar cristos perfeitos, seguindo os ensinamentos deJesus Cristo, mediante a prtica dos mandamentos e dos conselhos evanglicos. Outroprecioso fator era o equilbrio e a moderao. A Regra devia ser possvel a todos eadaptvel capacidade de cada um. Ora et Labora (Ora e Trabalha) o lema da Regrade So Bento. Orao transformada em trabalho e trabalho em orao pela f e

    obedincia. O convvio fraterno na comunidade resulta sempre no completo equilbriopsicolgico. A poucos quilmetros de Monte Cassino, Santa Escolstica, irm de SoBento, adotou a Regra para as mulheres, dando origem s monjas beneditinas 48.

    O Abade So Bento

    Leiamos alguns trechos da Regra de So Bento que falam especialmente sobreObedincia & Orao:

    Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina o ouvido do teu corao; recebede boa vontade e executa eficazmente o conselho de um bom pai, para que voltes, pelolabor da obedincia, quele de quem te afastaste pela desdia da desobedincia. A ti,pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando s prpriasvontades, empunhas as gloriosas e poderosssimas armas da obedincia para militarsob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei 49.

    48 www.osb.org.br/oblatosrj/wom.hist.htm49Regra de So Bento (RB), Prlogo.

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    Levantemo-nos ento finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: J hora de nos levantarmos do sono (Rm 13,11). E, com os olhos abertos para a luzdefica, ouamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos osdias: Hoje, se ouvirdes a sua voz, no permitais que se enduream vossos coraes (Sl94, 8), e de novo: Quem tem ouvidos para ouvir, oua o que o Esprito diz s igrejas

    (Ap 2,7). E que diz? Vinde, meus filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor doSenhor(Sl 33,12). Correi enquanto tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morteno vos envolvam (Jo 12,35) 50.

    3.1. Sobre Os Instrumentos das Boas Obras

    So Bento, no captulo sobre os Instrumentos das Boas Obras, resume toda avida espiritual em uma lista de ensinamentos prticos, que so verdadeiramente umaessncia sobre a perfeio da vida crist:

    Primeiramente, amar ao Senhor Deus de todo o corao, com toda a alma,com todas as foras.

    Depois, amar ao prximo como a si mesmo.Em seguida, no matar.No cometer adultrio.No furtar.No cobiar.No levantar falso testemunho.Honrar todos os homens.E no fazer a outrem o que no quer que lhe seja feito.Abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo.Castigar o corpo.No abraar as delcias.Amar o jejum.Reconfortar os pobres.Vestir os nus.Visitar os enfermos.Sepultar os mortos.Socorrer na tribulao.Consolar o que sofre.

    Fazer-se alheio s coisas do mundo.Nada antepor ao amor de Cristo.

    No satisfazer a ira.No reservar tempo para a clera.No conservar a falsidade no corao.No conceder paz simulada.No se afastar da caridade.No jurar para no vir a perjurar.Proferir a verdade de corao e de boca.No retribuir o mal com o mal.

    50 Idem.

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    No fazer injustia, mas suportar pacientemente as que lhe so feitas.Amar os inimigos.No retribuir com maldio aos que o amaldioam, mas antes abeno-los.Suportar perseguio pela justia.No ser soberbo.

    No ser dado ao vinho.No ser guloso.No ser apegado ao sono.No ser preguioso.No ser murmurador.No ser detrator.Colocar toda a esperana em Deus.O que achar de bem em si, atribu-lo a Deus e no a si mesmo. Mas, quanto ao

    mal, saber que sempre obra sua e a si mesmo atribu-lo.

    Temer o dia do juzo.

    Ter pavor do inferno.Desejar a vida eterna com toda a cobia espiritual.Ter diariamente diante dos olhos a morte a surpreend-lo.Vigiar a toda hora os atos de sua vida.Saber como certo que Deus o v em todo lugar.Quebrar imediatamente de encontro ao Cristo os maus pensamentos que lhe

    advm ao corao e revel-los a um conselheiro espiritual.Guardar sua boca da palavra m ou perversa.No gostar de falar muito.No falar palavras vs ou que s sirvam para provocar riso.No gostar do riso excessivo ou ruidoso.Ouvir de boa vontade as santas leituras.Dar-se freqentemente orao.Confessar todos os dias a Deus na orao, com lgrimas e gemidos, as faltas

    passadas e da por diante emendar-se delas.No satisfazer os desejos da carne.Odiar a prpria vontade.Obedecer em tudo s ordens do Abade, mesmo que este, o que no acontea,

    proceda de outra forma, lembrando-se do preceito do Senhor: Fazei o que dizem, masno o que fazem.

    No querer ser tido como santo antes que o seja, mas primeiramente s-lo para

    que como tal o tenham com mais fundamento.Pr em prtica diariamente os preceitos de Deus.Amar a castidade.No odiar a ningum.No ter cimes.No exercer a inveja.No amar a rixa.Fugir da vanglria.Venerar os mais velhos.Amar os mais moos.

    Orar, no amor de Cristo, pelos inimigos.

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    Voltar paz, antes do pr-do-sol, com aqueles com quem teve desavena.E nunca desesperar da misericrdia de Deus.

    Eis a os instrumentos da arte espiritual: se forem postos em ao por ns, dia enoite, sem cessar, e devolvidos no dia do juzo, seremos recompensados pelo Senhor

    com aquele prmio que Ele mesmo prometeu: O que olhos no viram nem ouvidosouviram preparou Deus para aqueles que o amam(1Cor 2,9). So, porm, os claustrosdo mosteiro e a estabilidade na comunidade a oficina onde executaremos diligentementetudo isso 51.

    3.2. Sobre a Humildade

    Um outro captulo fundamental sobre a Humildade:

    Irmos, a Escritura divina nos clama dizendo: Todo aquele que se exalta serhumilhado e todo aquele que se humilha ser exaltado (Lc 14,11 ; 18,14 ; Mt 23,12).Indica-nos com isso que toda elevao um gnero da soberba, da qual o Profeta mostraprecaver-se quando diz: Senhor, o meu corao no se exaltou, nem foram altivos meusolhos; no andei nas grandezas, nem em maravilhas acima de mim. Mas, que seria demim se no me tivesse feito humilde, se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que desmamado de sua me, assim retribuirias minha alma (Sl 130, 1-2).

    Se, portanto, irmos, queremos atingir o cume da suma humildade, e sequeremos chegar rapidamente quela exaltao celeste para a qual se sobe pela

    humildade da vida presente, deve ser erguida, pela ascenso de nossos atos, aquelaescada que apareceu em sonho a Jac, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam edesciam. Essa descida e subida, sem dvida, outra coisa no significa, para ns, senoque pela exaltao se desce e pela humildade se sobe. Essa escada ereta a nossa vidano mundo, a qual elevada ao cu pelo Senhor, se nosso corao se humilha. Quantoaos lados da escada, dizemos que so o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocaodivina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.

    Assim, o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o mongediante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, eesteja, ao contrrio, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no

    esprito, no s que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam aDeus, mas tambm que a vida eterna est preparada para os que temem a Deus; e,defendendo-se a todo tempo dos pecados e vcios, isto , dos pecados do pensamento,da lngua, das mos, dos ps e da vontade prpria, como tambm dos desejos da carne,considere-se o homem visto do cu, a todo momento, por Deus, e suas aes vistas emtoda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos. Mostra-nosisso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente aos nossos pensamentos:Deus que perscruta os coraes e os rins(Sl 7,10). E tambm: Deus conhece ospensamentos dos homens (Sl 93,11). E ainda: De longe percebestes os meuspensamentos (Sl 138,3) e o pensamento do homem vos ser confessado (Sl 75,11).Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre, em

    51 RB, Captulo 4

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    seu corao, o irmo empenhado em seu prprio bem: se me preservar da minhainiqidade, serei, ento, imaculado diante dEle (Sl 17,24).

    Assim, -nos proibido fazer a prpria vontade, visto que nos diz a Escritura:Afasta-te das tuas prprias vontades (Eclo 18,30). E, tambm, porque rogamos a Deus

    na orao que se faa em ns a Sua vontade.

    Aprendemos, pois, com razo, a no fazer a prpria vontade, enquanto nosacautelamos com aquilo que diz a Escritura: H caminhos considerados retos peloshomens cujo fim mergulha at o fundo do inferno (Pr 16,25), e enquanto, tambm, nosapavoramos com o que foi dito dos negligentes: Corromperam-se e tornaram-seabominveis nos seus prazeres (Sl 13,1). Por isso, quando nos achamos diante dosdesejos da carne, creiamos que Deus est sempre presente junto a ns, pois disse oProfeta ao Senhor: Diante de vs est todo o meu desejo (Sl 37,10).

    Devemos, portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi

    colocada junto porta do prazer. Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: No andesatrs de tuas concupiscncias (Eclo 18,30). Logo, se os olhos do Senhor observam osbons e os maus (Pr 15,3), e o Senhor sempre olha do cu os filhos dos homens paraver se h algum inteligente ou que procura a Deus (Sl 13,2) e se, pelos anjos que nosforam designados, todas as coisas que fazemos so, cotidianamente, dia e noite,anunciadas ao Senhor, devemos ter cuidado, irmos, a toda hora, como diz o Profeta nosalmo, para que no acontea que Deus nos veja no momento em que camos no mal,tornando-nos inteis, e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasio porque Bom eespera sempre que nos tornemos melhores, no venha a dizer-nos no futuro: Fizesteisto e calei-me (Sl 49,21).

    O segundo grau da humildade consiste em que, no amando a prpria vontade,no se deleite o monge em realizar os seus desejos, mas imite nas aes aquela palavrado Senhor: No vim fazer a minha vontade, mas a dAquele que me enviou (Jo 6,38).

    O terceiro grau da humildade consiste em que, por amor de Deus, se submeta omonge, com inteira obedincia ao superior, imitando o Senhor, de quem disse oApstolo: Fez-se obediente at a morte (Fl 2,8).

    O quarto grau da humildade consiste em que, no exerccio dessa mesmaobedincia abrace o monge a pacincia, de nimo sereno, nas coisas duras e adversas,

    ainda mesmo que se lhe tenham dirigido injrias, e, suportando tudo, no se entreguenem se v embora, pois diz a Escritura: Aquele que perseverar at o fim sersalvo(Mt 10,22). E tambm: Que se revigore o teu corao e suporta o Senhor (Sl 26,14). Ea fim de mostrar que o que fiel deve suportar todas as coisas, mesmo as adversas, peloSenhor, diz a Escritura, na pessoa dos que sofrem: Por vs, somos entregues todos osdias morte; somos considerados como ovelhas a serem sacrificadas (Rm 8,36).Seguros na esperana da retribuio divina, prosseguem alegres dizendo: Massuperamos tudo por causa daquele que nos amou (Rm 8,37). Tambm, em outro lugar,diz a Escritura: Deus, provastes-nos, experimentastes-nos no fogo, como no fogo provada a prata: induzistes-nos a cair no lao, impusestes tribulaes sobre os nossosombros (Sl 65, 10-11). E para mostrar que devemos estar submetidos a um superior,

    continua: Impusestes homens sobre nossas cabeas (Sl 65,12). Cumprindo, alm disso,com pacincia o preceito do Senhor nas adversidades e injrias, se lhes batem numa

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    face, oferecem a outra; a quem lhes toma a tnica cedem tambm o manto; obrigados auma milha, andam duas; suportam, como Paulo Apstolo, os falsos irmos e abenoamaqueles que os amaldioam (cf. Mt 5, 39-41).

    O quinto grau da humildade consiste em no esconder o monge ao seu Abade

    todos os maus pensamentos que lhe vm ao corao, ou o que de mal tenha cometidoocultamente, mas em lho revelar humildemente, exortando-nos a este respeito aEscritura quando diz: Revela ao Senhor o teu caminho e espera nele (Sl 36,5). Equando diz ainda: Confessai ao Senhor porque ele bom, porque sua misericrdia eterna (Sl 105,1 ; 117,1). Do mesmo modo o Profeta: Dei a conhecer a Vs a minhafalta e no escondi as minhas injustias. Disse: acusar-me-ei de minhas injustias diantedo Senhor, e perdoastes a maldade de meu corao (Sl 31,5).

    O sexto grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o queh de mais vil e com a situao mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, seconsidere mau e indigno operrio, dizendo-se a si mesmo com o Profeta: Fui reduzido

    a nada e no o sabia; tornei-me como um animal diante de Vs, porm estou sempreconvosco (Sl 77, 22-23).

    O stimo grau da humildade consiste em que o monge se diga inferior e mais vilque todos, no s com a boca, mas que tambm o creia no ntimo pulsar do corao,humilhando-se e dizendo com o Profeta: Eu, porm, sou um verme e no um homem, avergonha dos homens e a abjeo do povo (Sl 21,7); exaltei-me, mas, depois fuihumilhado e confundido (Sl 87,16). E ainda: bom para mim que me tenhaishumilhado, para que aprenda os vossos mandamentos (Sl 118, 71.73).

    O oitavo grau da humildade consiste em que s faa o monge o que lhe exortama Regra comum do mosteiro e os exemplos de seus maiores.

    O nono grau da humildade consiste em que o monge negue o falar sua lngua,entregando-se ao silncio; nada diga, at que seja interrogado, pois mostra a Escrituraque no muito falar no se foge ao pecado (Pr 10,19) e que o homem que fala muitono se encaminhar bem sobre a terra (Sl 139, 12).

    O dcimo grau da humildade consiste em que no seja o monge fcil e pronto aoriso, porque est escrito: O estulto eleva sua voz quando ri (Eclo 21,23).

    O undcimo grau da humildade consiste em, quando falar, faz-lo o mongesuavemente e sem riso, humildemente e com gravidade, com poucas e razoveispalavras e no em alta voz, conforme o que est escrito: O sbio manifesta-se compoucas palavras.

    O duodcimo grau da humildade consiste em que no s no corao tenha omonge a humildade, mas a deixe transparecer sempre, no prprio corpo, aos que ovem, isto , que no ofcio divino, no oratrio, no mosteiro, na horta, quando emcaminho, no campo ou onde quer que esteja, sentado, andando ou em p, tenha sempre acabea inclinada, os olhos fixos no cho, considerando-se a cada momento culpado deseus pecados, tenha-se j como presente diante do tremendo juzo de Deus, dizendo-se

    a si mesmo, no corao, aquilo que aquele publicano do Evangelho disse, com os olhospregados no cho: Senhor, no sou digno, eu pecador, de levantar os olhos aos cus

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    (Lc 18,13). E ainda, com o Profeta: Estou completamente curvado e humilhado (Sl37,9).

    Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o mongeatingir logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor; por meio

    dela tudo o que observava antes no sem medo comear a realizar sem nenhum labor,como que naturalmente, pelo costume, no mais por temor do inferno, mas por amor deCristo, pelo prprio costume bom e pela deleitao das virtudes.

    Eis o que, no seu operrio, j purificado dos vcios e pecados, se dignar oSenhor manifestar por meio do Esprito Santo 52.

    3.3. Sobre o Silncio

    Faamos o que diz o profeta: Eu disse, guardarei os meus caminhos para queno peque pela lngua: pus uma guarda minha boca: emudeci, humilhei-me e calei ascoisas boas (Sl 38, 2-3). Aqui mostra o Profeta que, se, s vezes, se devem calarmesmo as boas conversas, por causa do silncio, quanto mais no devero sersuprimidas as ms palavras, por causa do castigo do pecado? Por isso, ainda que se tratede conversas boas, santas e prprias a edificar, raramente seja concedida aos discpulosperfeitos licena de falar, por causa da gravidade do silncio, pois est escrito: Falandomuito no foges ao pecado (Pr 10,19) e em outro lugar: a morte e a vida esto empoder da lngua (Pr 18,2). Com efeito, falar e ensinar compete ao mestre; ao discpuloconvm calar e ouvir.

    Por isso, se preciso pedir alguma coisa ao superior, que se pea com toda ahumildade e submisso da reverncia. J quanto s brincadeiras, palavras ociosas e queprovocam riso, condenamo-las em todos os lugares a uma eterna clausura, para taispalavras no permitimos ao discpulo abrir a boca53.

    3.4. Sobre a Obedincia

    O primeiro grau da humildade a obedincia sem demora. peculiar quelesque estimam nada haver mais caro que o Cristo; por causa do santo servio que

    professaram, por causa do medo do inferno ou por causa da glria da vida eterna,desconhecem o que seja demorar na execuo de alguma coisa logo que ordenada pelosuperior, como sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor: Logo ao ouvir-me,obedeceu-me (Sl 17,45). E do mesmo modo diz aos doutores: Quem vos ouve a mimouve (Lc 10,16).

    52 RB, Captulo 753 Ibid., Captulo 6

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    Pois so esses mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhes dizemrespeito e abandonando a prpria vontade, desocupando logo as mos e deixandoinacabado o que faziam, seguem com seus atos, tendo os passos j dispostos para aobedincia, a voz de quem ordena. E, como que num s momento, ambas as coisas - aordem recm-dada do mestre e a perfeita obedincia do discpulo - so realizadas

    simultnea e rapidamente, na prontido do temor de Deus. Apodera-se deles o desejo decaminhar para a vida eterna; por isso, lanam-se como que de assalto ao caminhoestreito do qual diz o Senhor: Estreito o caminho que conduz vida (Mt 7,14), eassim, no tendo, como norma de vida a prpria vontade, nem obedecendo aos prpriosdesejos e prazeres, mas caminhando sob o juzo e domnio de outro e vivendo emcomunidade, desejam que um Abade lhes presida. Imitam, sem dvida, aquela mximado Senhor que diz: No vim fazer minha vontade, mas a dAquele que me enviou (Jo6,38).

    Mas essa mesma obedincia somente ser digna da aceitao de Deus e doceaos homens, se o que ordenado for executado sem tremor, sem delongas, no

    mornamente, no com murmurao, nem com resposta de quem no quer. Porque aobedincia prestada aos superiores tributada a Deus. Ele prprio disse: Quem vosouve, a mim me ouve (Lc 10,16). E convm que seja prestada de boa vontade pelosdiscpulos, porque Deus ama aquele que d com alegria (2 Cor 9,7). Pois, se odiscpulo obedecer de m vontade e se murmurar, mesmo que no com a boca, mas sno corao, ainda que cumpra a ordem, no ser mais o seu ato aceito por Deus que vseu corao a murmurar; e por tal ao no consegue graa alguma, e, ainda mais,incorre no castigo dos murmuradores se no se emendar pela satisfao 54.

    4. Influncia da Regra de So Bento na vida da Igreja

    Sobre a influncia de So Bento na vida da Igreja, sero transcritas as palavrasdo Papa Bento XVI, por ocasio da Audincia Geral de 09 de Abril de 2008:

    Queridos irmos e irms!

    Gostaria hoje de falar de So Bento, Fundador do monaquismo ocidental, etambm Padroeiro do meu pontificado. Comeo com uma palavra de So Gregrio

    Magno, que escreve sobre So Bento: O homem de Deus que brilhou nesta terra comtantos milagres no resplandeceu menos pela eloqncia com que soube expor a suadoutrina 55. O grande Papa escreveu estas palavras no ano de 592; o santo monge tinhafalecido 50 anos antes e ainda estava vivo na memria do povo, sobretudo naflorescente Ordem religiosa por ele fundada. So Bento de Nrcia, com a sua vida e asua obra, exerceu uma influncia fundamental sobre o desenvolvimento da civilizao eda cultura europia. A fonte mais importante sobre a sua vida o segundo livro dos

    Dilogos de So Gregrio Magno. No uma biografia no sentido clssico. Segundo asideias do seu tempo, ele pretende ilustrar mediante o exemplo de um homem concreto,precisamente de So Bento, a subida aos cumes da contemplao, que pode ser

    54 Ibid., Captulo 555 So Gregrio Magno,Dilogos II, 36

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    realizada por quem se abandona a Deus. Portanto, tem-se um modelo da vida humanacomo subida para o vrtice da perfeio. So Gregrio Magno narra tambm, nestelivro dos Dilogos, muitos milagres realizados pelo Santo, e tambm aqui no quernarrar simplesmente algo de estranho, mas demonstrar como Deus, admoestando,ajudando e tambm punindo, intervenha nas situaes concretas da vida do homem.

    Quer mostrar que Deus no uma hiptese distante colocada na origem do mundo, masest presente na vida do homem, de cada homem.

    Esta perspectiva do bigrafo explica-se tambm luz do contexto geral do seutempo: entre os sculos V e VI o mundo estava envolvido por uma tremenda crise devalores e de instituies, causada pela queda do Imprio Romano, pela invaso dosnovos povos e pela decadncia dos costumes. Com a apresentao de So Bento comoastro luminoso, Gregrio queria indicar nesta situao atormentada, precisamente aquinesta cidade de Roma, a sada da noite escura da histria. De fato, a obra do Santo e,de modo particular, a sua Regra revelaram-se portadoras de um autntico fermentoespiritual, que mudou no decorrer dos sculos, muito alm dos confins da sua Ptria e

    do seu tempo, o rosto da Europa, suscitando depois da queda da unidade poltica criadapelo Imprio Romano uma nova unidade espiritual e cultural, a da f crist partilhadapelos povos do continente. Surgiu precisamente assim a realidade qual ns chamamosEuropa.

    O nascimento de So Bento datado por volta de 480. Provinha, assim diz SoGregrio, ex provincia Nursiae, da regio da Nrcia. Os seus pais abastados enviaram-no para Roma para a sua formao nos estudos. Mas ele no permaneceu por muitotempo na Cidade eterna. Como explicao plenamente credvel, Gregrio menciona ofato de que o jovem Bento sentia repugnncia pelo estilo de vida de muitos dos seuscompanheiros de estudos, que viviam de modo dissoluto, e no queria cair nos mesmoserros deles. Desejava agradar unicamente a Deus; soli Deo placere desiderans 56.Assim, ainda antes da concluso dos seus estudos, Bento deixou Roma e retirou-se nasolido dos montes a leste da cidade. Depois de uma primeira estadia na aldeia de Effide(atualmente Affile), onde durante um certo perodo se associou a uma comunidadereligiosa de monges, fez-se eremita na vizinha Subiaco. Ali viveu durante trs anoscompletamente sozinho numa gruta que, a partir da Alta Idade Mdia, constitui ocorao de um mosteiro beneditino chamado Sagrada Espelunca. O perodo emSubiaco, marcado pela solido com Deus, foi para Bento um tempo de maturao. Alitinha que suportar e superar as trs tentaes fundamentais de cada ser humano: atentao da auto-suficincia e do desejo de se colocar no centro, a tentao da

    sensualidade e, por fim, a tentao da ira e da vingana. De fato, Bento estavaconvencido de que, s depois de ter vencido estas tentaes, ele teria podido dizer aosoutros uma palavra til para as suas situaes de necessidade. E assim, tendo a alma

    pacificada, estava em condies de controlar plenamente as pulses do eu, para destemodo ser um criador de paz em seu redor. S ento decidiu fundar os seus primeirosmosteiros no vale do Anio, perto de Subiaco.

    No ano de 529, Bento deixou Subiaco para se estabelecer em Monte Cassino.Alguns explicaram esta transferncia como uma fuga das maquinaes de um invejosoeclesistico local. Mas esta tentativa de explicao revelou-se pouco convincente, dadoque Bento no regressou para l depois da morte repentina do mesmo57. Na realidade,

    56 So Gregrio Magno,Dilogos, Prol., I57 Ibid.,Dilogos II, 36

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    esta deciso foi-lhe imposta porque tinha entrado numa nova fase da sua maturaointerior e da sua experincia monstica. Segundo Gregrio Magno, o xodo do valeremoto do Anio para Monte Cassino, uma altura que, dominando a vasta planciecircunstante, se v ao longe, reveste um carter simblico: a vida monstica noescondimento tem sua razo de ser, mas um mosteiro tem tambm sua finalidade

    pblica na vida da Igreja e da sociedade, deve dar visibilidade f como fora de vida.De fato, quando, em 21 de Maro de 574, Bento concluiu a sua vida terrena, deixou coma sua Regra e com a famlia beneditina por ele fundada um patrimnio que deu nossculos passados e ainda hoje continua a dar frutos em todo o mundo.

    Em todo o segundo livro dosDilogos Gregrio ilustra-nos como a vida de SoBento estava imersa numa atmosfera de orao, fundamento importante da suaexistncia. Sem orao no h experincia de Deus. Mas a espiritualidade de Bentono era uma interioridade fora da realidade. Na agitao e na confuso do seu tempo,ele vivia sob o olhar de Deus e precisamente assim nunca perdeu de vista os deveres davida cotidiana e o homem com as suas necessidades concretas. Ao ver Deus,

    compreendeu a realidade do homem e a sua misso. Na suaRegra ele qualifica a vidamonstica como uma escola ao servio do Senhor58, e pede aos seus monges que Obra de Deus (ou seja, ao Ofcio Divino) nada se anteponha 59. Mas ressalta que aorao em primeiro lugar um ato de escuta, que depois se deve traduzir em aoconcreta. O Senhor aguarda que ns respondamos todos os dias com os atos aos seusensinamentos,60 afirma ele. Assim, a vida do monge torna-se uma simbiose fecundaentre ao e contemplao para que em tudo seja Deus glorificado 61. Em contrastecom uma auto-realizao fcil e egocntrica, hoje com freqncia exaltada, o primeiroe irrenuncivel compromisso do discpulo de So Bento a busca sincera de Deussobre o caminho traado pelo Cristo humilde e obediente, ao amor do qual ele nadadeve antepor, e precisamente assim, no servio do outro, se torna homem do servio eda paz. Na prtica da obedincia realizada com uma f animada pelo amor, o mongeconquista a humildade, qual a Regra dedica um captulo inteiro. Desta forma o homemtorna-se cada vez mais conforme com Cristo e alcana a verdadeira auto-realizaocomo criatura imagem e semelhana de Deus.

    obedincia do discpulo deve corresponder a sabedoria do Abade, que nomosteiro desempenha as funes de Cristo. A sua figura, delineada sobretudo nosegundo captulo da Regra, com um perfil de espiritual beleza e de compromissoexigente, pode ser considerada como um auto-retrato de Bento, porque como escreveGregrio Magno o Santo no pde de modo algum ensinar de uma forma diferente da

    qual viveu

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    . O Abade deve ser ao mesmo tempo terno e mestre severo, um verdadeiroeducador. Inflexvel contra os vcios, , contudo, chamado a imitar a ternura do BomPastor, a ajudar e no a dominar, a acentuar mais com os atos do que com as palavrastudo o que bom e santo, e a ilustrar os mandamentos divinos com o seu exemplo. Paraser capaz de decidir responsavelmente, tambm o Abade deve ser homem que escuta osconselhos dos irmos, porque muitas vezes Deus revela ao mais jovem a melhorsoluo. Esta disposio torna surpreendentemente moderna umaRegra escrita h quasequinze sculos! Um homem de responsabilidade pblica, e tambm em pequenos

    58Regra de So Bento, Prlogo, n. 4559 Ibid., Cap. 43, 360

    Ibid., Prlogo, n. 3561 Ibid., Cap. 57, 9.62 So Gregrio Magno,Dilogos II, 36

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    mbitos, deve ser sempre tambm um homem que sabe ouvir e aprender de quantoouve.

    Bento qualifica a Regra como mnima, traada s para o incio 63, mas narealidade ela pode oferecer indicaes teis no s para os monges, mas tambm para

    todos os que procuram um guia no seu caminho rumo a Deus. Pela sua ponderao, asua humanidade e o seu discernimento entre o essencial e o secundrio na vidaespiritual, ele pde manter a sua fora iluminadora at hoje. Paulo VI, proclamando a24 de Outubro de 1964 So Bento Padroeiro da Europa, pretendeu reconhecer a obramaravilhosa desempenhada pelo Santo mediante a Regra para a formao dacivilizao e da cultura europia. Hoje a Europa, que acabou de sair de um sculoprofundamente ferido por duas guerras mundiais, e depois do desmoronamento dasgrandes ideologias que se revelaram como trgicas utopias, est em busca da prpriaidentidade. Para criar uma unidade nova e duradoura, so, sem dvida, importantes osinstrumentos polticos, econmicos e jurdicos, mas preciso tambm suscitar umarenovao tica e espiritual que se inspire nas razes crists do Continente, porque de

    outra forma no se pode reconstruir a Europa. Sem esta linfa vital, o homem permaneceexposto ao perigo de sucumbir antiga tentao de querer se remir sozinho, utopia que,de formas diferentes, na Europa do sculo XX, causou, como revelou o Papa Joo PauloII, um regresso sem precedentes ao tormento histrico da humanidade 64. Procurandoo verdadeiro progresso, ouvimos tambm hoje a Regra de So Bento como uma luz

    para o nosso caminho. O grande monge permanece um verdadeiro mestre em cujaescola podemos aprender a arte de viver o humanismo verdadeiro 65.

    5. O Canto Gregoriano: um dos Maiores Tesouros daIgreja

    Vemos abaixo alguns dos principais cantos litrgicos celebrados na Igreja. Sopeas de profunda beleza e riqueza espiritual:

    63Regra de So Bento, Cap. 73,864

    Joo Paulo II,Insegnamenti, XIII/1, 1990, p. 5865 www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2008/documents/hf_ben-xvi_aud_20080409_po.html

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    Visus, tactus, gustus in te fallitur,Sed auditu solo tuto creditur.

    Credo quidquid dixit Dei Filius;Nil hoc verbo verittis verius.

    In cruce latebat sola Deitas,

    At hic latet simul et Humanitas,Ambo tamen credens atque confitens,

    Peto quod petivit latro pnitens.

    Plagas, sicut Thomas, non intueor:Deum tamen meum te confiteor.

    Fac me tibi semper magis credere,In te spem habere, te diligere.

    O memoriale mortis Domini!Panis vivus, vitam prstans homini!

    Prsta me menti de te vvere,Et te illi semper dulce sapere.

    Pie Pelicane, Jesu Domine,Me immundum munda tuo sanguine:

    Cujus una stilla salvum facereTotum mundum quit ab omni scelere.

    Jesu, quem velatum nunc aspicio,Oro, fiat illud quod tam sitio:

    Ut te revelata cernens facie,Visu sim betus tu glori. Amen

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    Genitori, genitoqueLaus et jubilatio

    Salus, honor, virtus quoqueSit et benedictio

    Procedenti ab utroqueComparsit laudatio. Amen

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    Sumens illud Ave,Gabrielis ore,

    Funda nos in paceMutans Evae nomen.

    Solve vincla reis,Profer lumen caecis,Mala nostra pelle,

    Bona cuncta posce.

    Monstra te esse Matrem,Sumat per te preces,Qui pro nobis natus

    Tulit esse tuus.

    Virgo singularis,Inter omnes mitis,

    Nos, culpis solutos,Mites fac et castos.

    Vitam praesta puram,Iter para tutum:Ut, videntes Jesum,Semper collaetemur.

    Sit laus Deo Patri,Summo Christo decus

    Spiritui Sancto,Tribus honor unus. Amen.

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    Missa VIII (De Angelis)

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    Parte III O Mistrio Pascal: Centro de Toda

    a Vida da Igreja

    Com efeito, a partir do Mistrio Pascal (Paixo, Morte e Ressurreio deNosso Senhor Jesus Cristo) que tudo o que a Igreja celebra tem sentido. Por esta razo,uma contemplao mais ntima deste Mistrio se faz necessria, em uma catequeseeficaz sobre vida contemplativa e espiritualidade litrgica.

    Lava-ps

    Antes da festa da Pscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passardeste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os at ofim. Durante a ceia, quando j o diabo pusera no corao de Judas Iscariotes, filho deSimo, o projeto de entreg-lo, sabendo que o Pai tudo pusera em suas mos e que eleviera de Deus e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depe o manto e, tomando umatoalha, cinge-se com ela. Depois pe gua numa bacia e comea a lavar os ps dosdiscpulos e a enxug-los com a toalha com que estava cingido. Depois que lhes lavouos ps, retomou o manto, voltou mesa e lhes disse: Compreendeis o que vos fiz? Vsme chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e oSenhor, vos lavei os ps, tambm deveis lavar-vos os ps uns aos outros. Dei-vos oexemplo para que, como eu vos fiz, tambm vs o faais (Jo 13, 1-5.12-17).

    O Mandamento Novo

    Quando Judas saiu, disse Jesus: Agora o Filho do Homem foi glorificado eDeus foi glorificado nele. Se Deus foi nele glorificado, Deus tambm o glorificar em simesmo e o glorificar logo. Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Vs meprocurareis e, como eu havia dito aos judeus, agora tambm vo-lo digo: para onde euvou vs no podeis ir. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros.Como eu vos amei, amai-vos tambm uns aos outros. Nisto reconhecero todos que soismeus discpulos se tiverdes amor uns pelos outros (Jo 13,31-35).

    Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aqueleque ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que no ama no conheceu a Deus,porqueDeus Amor (1 Jo 4, 7-8).

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    Instituio da Eucaristia

    Enquanto comiam, Jesus tomou um po e, tendo-o abenoado, partiu-o e,distribuindo-o aos discpulos, disse: Tomai e comei, isto o meu corpo. Depois,

    tomou um clice e, dando graas, deu-o a eles dizendo: Bebei dele todos, pois isto omeu sangue, o sangue da Aliana que derramado por muitos para remisso dospecados (Mt 26, 26-28). Todas as vezes, pois, que comeis deste po e bebeis desteclice, anunciais a morte do Senhor, at que ele venha (1 Cor 11, 26).

    Eu sou o po da vida. Quem vem a mim, nunca mais ter fome, e o que cr emmim nunca mais ter sede. Eu sou o po vivo descido do cu. Quem comer deste poviver para sempre. O po que eu darei a minha carne para a vida do mundo. Este opo que desceu do cu. Ele no como o que os pais comeram e pereceram; quem comeeste po viver eternamente (Jo 6, 35.51.58).

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    Agonia no Getsmani

    Jesus foi com seus discpulos a um lugar chamado Getsmani e disse-lhes:Sentai-vos a enquanto vou at ali para orar. Levando Pedro e os dois filhos deZebedeu, comeou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, ento: Minha alma est

    triste at a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo. E, indo um pouco adiante,prostrou-se com o rosto em terra e orou: Meu Pai, se possvel, que passe de mim esteclice: contudo, no seja como eu quero, mas como tu queres (Mt 26,36-39).

    Flagelao

    Pilatos tomou Jesus e o mandou flagelar (Jo 19,1).

    Coroao de Espinhos

    Em seguida, os soldados do governador, levando Jesus para o Pretrio,reuniram contra ele toda a corte. Despiram-no e puseram-lhe uma capa escarlate.Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe na cabea e um canio na modireita. E, ajoelhando-se diante dele, diziam-lhe, caoando: Salve, rei dos judeus! Ecuspindo nele, tomavam o canio e batiam-lhe na cabea (Mt 27,27-30).

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    Crucifixo

    Jesus, ento, saiu, trazendo a coroa de espinhos e o manto de prpura. E Pilatoslhes disse: Eis o homem. Quando os chefes dos sacerdotes e os guardas o viram,gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! (Jo 19, 4-6a).

    E levaram-no fora para que o crucificassem. Requisitaram certo Simo Cireneuque passava por ali vindo do campo, para que carregasse a cruz. E levaram Jesus aolugar chamado Glgota, que, traduzido, quer dizer o lugar da Caveira (Mc 15, 20-21a.22).

    Primeira Palavra da Cruz

    Chegando ao lugar chamado Caveira, l o crucificaram, bem como aosmalfeitores, um direita e outro esquerda. Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes: no sabem oque fazem (Lc 23, 33-34).

    Segunda Palavra da Cruz

    Um dos malfeitores suspensos cruz o insultava, dizendo: No s tu o Cristo?Salva-te a ti mesmo e a ns. Mas o outro, tomando a palavra, o repreendia: Nemsequer temes a Deus, estando na mesma condenao? Quanto a ns, de justia:pagamos por nossos atos; mas ele no fez nenhum mal. E acrescentou: Jesus, lembra-

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    te de mim quando vieres com teu reino. Ele respondeu: Em verdade, eu te digo, hojeestars comigo no Paraso(Lc 23, 39-43).

    Terceira Palavra da Cruz

    Perto da cruz de Jesus, permaneciam de p sua me, a irm de sua me, Maria,mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, ento, vendo sua me e, perto dela, odiscpulo a quem amava, disse sua me: Mulher, eis teu filho! Depois disse aodiscpulo: Eis tua me! (Jo 19,25-27)