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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
TENAFLAE DA SILVA LORDÊLO
ROTINAS PRODUTIVAS FLEXÍVEIS:
As tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisivas no contexto de convergência no Brasil
RECIFE 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
TENAFLAE DA SILVA LORDÊLO
ROTINAS PRODUTIVAS FLEXÍVEIS:
As tendências e perspectivas do telejornalismo em redes televisivas no contexto de convergência no Brasil
Texto para defesa de tese, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Centro de Artes e Comunicação da UFPE, sob a orientação do Prof. Dr. Alfredo Vizeu Pereira Júnior.
RECIFE 2015
Catalogação na fonte Bibliotecário Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204
L866r Lôrdelo, Tenaflae da Silva Rotinas produtivas flexíveis: as tendências e perspectivas do
telejornalismo em redes televisas no contexto da convergência no Brasil / Tenaflae da Silva Lôrdelo. – Recife: O Autor, 2015.
208 f.: il., fig. Orientador: Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de
Artes e Comunicação. Comunicação, 2015.
Inclui referências e apêndice.
1. Comunicação de massa. 2. Jornalismo. 3. Telejornalismo. 4. Convergência (Telecomunicações). 5. Televisão – programas. I. Pereira Júnior, Alfredo Eurico Vizeu (Orientador). II.Título.
302.2 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2015-60)
TENAFLAE DA SILVA LORDÊLO
TÍTULO DO TRABALHO: Rotinas Produtivas Flexíveis: as tendências e
perspectivas do telejornalismo em redes televisas no contexto de convergência
no Brasil.
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Federal de Pernambuco,
como requisito parcial para obtenção
do título de Doutor em Comunicação.
Aprovada em: 26/02/2015
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. Alfredo Eurico Vizeu Pereira Júnior
Universidade Federal de Pernambuco
_______________________________________
Prof. Dr. Heitor Costa Lima da Rocha
Universidade Federal de Pernambuco
_____________________________________
Prof. Dr. Thiago Soares
Universidade Federal de Pernambuco
_____________________________________
Prof. Dr. Paulo Carneiro da Cunha Filho
Universidade Federal de Pernambuco
_____________________________________
Prof. Dr. Flávio Antônio Camargo Porcello
Universidade Federal de Pernambuco
À Família, Dedico esta tese a minha amada companheira Renata Florêncio de Vasconcelos e meus também amados filhos, Maria Regina Lordêlo de Vasconcelos e João Guilherme Lordêlo de Vasconcelos. Estendo esta dedicatória a minha querida Mãe, a meu Pai, minha irmã Alice e aos meus irmãos Alexandre e Talyson. In memória a inesquecível Tia Diana, Tia Conchita, ao Tio Othon, a Professora Águeda Cabral, e ao Professor André Setaro.
AGRADECIMENTOS
A Deus que conduz com inteligência e abre oportunidade para alcançar meus objetivos.
A minha família que soube me fortalecer nos momentos de dificuldades. Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE pela oportunidade e meios
para conquistar mais um título acadêmico e ampliação de conhecimento. A Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco – FACEPE pelo
recurso material, por meio de bolsa de doutorado indispensável para realização da presente tese.
Ao meu Orientador Alfredo Vizeu que com sua experiência e compreensão contribuiu
para a realização desta Tese. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação pelos conselhos
pertinentes a este trabalho, que foram de grande importância para a consolidação deste momento.
Aos professores da minha banca de qualificação Edna Mello e Heitor Rocha pelos
apontamentos necessários para a melhoria da presente Tese. Aos funcionários da Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Comunicação: Zé
Carlos, Cláudia e Lucy por toda ajuda e apoio durante estes 4 anos. Ao grupo de pesquisa de Jornalismo e Contemporaneidade - UFPE pelas sugestões
fundamentais para a organização deste presente trabalho. A todos os meus amigos e colegas do PPGCOM, da UNIFAVIP e da VIDA pela
compreensão e apoio. Agradeço aos entrevistados que se dispuseram a colaborar para a elaboração deste
trabalho e aos profissionais que contribuíram com a coleta de dados no percurso do doutorado.
E a todos aqueles que fizeram este momento ser real.
RESUMO Esta tese tem como preocupação central identificar e compreender as rotinas produtivas das notícias nas redações dos telejornais de início de noite nas redes televisivas, em contexto de convergência jornalística, considerando a produção, distribuição e perfil profissional. Nesta abordagem, apresenta-se a Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis em que nos primeiros quinze anos deste século, as rotinas produtivas noticiosas vêm se reconfigurando por meio de canais digitais de integração verticais nas redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Em que o fazer jornalístico é realizado por profissionais polivalentes multimídia e distribuído de modo multiplataforma, entre meios televisivos e digitais, flexibilizando como tendência o modelo de produção dos anos 70, na perspectiva conservadora de uma produção convergente. Tal enfoque amplia a abordagem de modelo de integração horizontal física apontada por alguns autores, tais como López-García e Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); bem como fornece precisão as fases da TV de Mattos (2010) e do telejornalismo de Rezende (2010). Para fundamentar a hipótese foi necessário refletir sobre alguns conceitos chaves: a) integração de redações; b) construção social da realidade; c) notícia; d) jornalismo de TV e e) convergência. Na análise foi realizada uma pesquisa de campo nas redações em quatro telejornais das duas principais redes televisivas do país: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife); NETV 2ª edição (Olinda); ABTV 2ª edição (Caruaru); de forma relacionada com os portais R7 (Record) e G1 (Globo). Para executar tal pesquisa foram utilizados, basicamente, quatro instrumentos metodológicos: 1) pesquisa de referencial teórico; 2) observação e monitoramento dos quatros principais noticiários nacionais; 3) entrevistas com jornalistas e gestores das emissoras e dos noticiários relacionados à produção e distribuição de notícias, formação de modelos e oportunidades de reconfiguração, para compor a pauta empírica; 4) pesquisa e análise qualitativa comparativa. Como resultados obtidos, apontam uma tendência nas redes televisivas de flexibilização na perspectiva para o processo de convergência de forma conservadora, por meio das estratégias de integração, na adoção das mídias digitais para manutenção da rentabilidade, ofuscando a credibilidade dos telejornais nas sociedades liberais democráticas. Palavras-chave: Rotinas flexíveis. Telejornalismo. Notícias. Jornalismo. Convergência
ABSTRACT
This thesis has as its central concern, identify and understand the productive routines of news in the newsroom, the evening newscasts of television networks in the journalistic convergence context, considering the production, distribution, and professional profile. This approach presents the Flexible Production routines Hypothesis in which the first fifteen years of this century the news production routines has been reconfiguring via digital channels of vertical integration in the newsroom of the evening TV news, in television networks. The journalistic job, is done by multimedia versatile professionals and distributed multi-platform mode, between television and digital media, easing trend as the production model of the 70s, in the conservative outlook of a convergent production. This approach expands the physical horizontal integration model approach considered by some authors, such as López-García and Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); and provide precision stages of TV Mattos (2010) and the television news of Rezende (2010). In support of the hypothesis was necessary to reflect on a few key concepts: a) newsrooms integration, b) social construction of reality, c) News, d) TV journalism e) convergence. This analysis was conducted through a field research in newsrooms in four newscasts, the two major television networks in the country: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife); NETV 2nd edition (Olinda); ABTV 2nd edition (Caruaru); in a way related to the R7 portals (Record) and G1 (Globo). To perform such research it was used primarily four methodological tools: 1) theoretical framework of research; 2) observation and monitoring of the four main national news; 3) interviews with journalists and managers of radio stations and news related to the production and news distribution, training models and reconfiguration opportunities to compose the empirical agenda; 4) research and comparative qualitative analysis. The results point to trends in television networks, easing the vision for the conservatively convergence through integration strategies, the adoption of digital media to profitability maintenance, overshadowing the credibility of news programs in liberal democratic society. Keywords: Flexible Routines. TV Journalism. News. Journalism. Convergence
LISTA DE FIGURA
FIGURA 1 – Integração vertical entre os telejornais e horizontal telejornais/portal 102
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Fases da TV e do jornalismo televisivo estruturado com base na distribuição 46 TABELA 2 – Predisposição para convergência horizontal 99 TABELA 3 – Predisposição para convergência horizontal dos telejornais analisados 105
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………… 12 2. SOCIEDADE, TELEVISÃO E TELEJORNALISMO …………........................... 25 2.1 A TV E O JORNALISMO TELEVISIVO NASCEM JUNTOS …………………... 28 2.2 FORMAÇÃO DAS ESTRUTURAS DAS REDES TELEVISIVAS …………….... 31 2.3 SISTEMAS CONCORRENTES E A SUSTENTAÇÃO DA TV ABERTA …….... 37 2.4 INTERNET E NOVOS RUMOS DA TV …………………......................………... 39 3. JORNALISMO E CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE ........................... 46 3.1 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE E OS ACONTECIMENTOS ….... 47 3.2 A NOTÍCIA E RELAÇÃO TECNOLÓGICA ……………………........................... 48 3.3 ACONTECIMENTOS, FATOS E NOTÍCIAS …………………………................. 50 3.4 CARACTERÍSTICA DA NOTÍCIA COTIDIANA E O SUPORTE …………….... 51 3.5 ROTINAS PRODUTIVAS DAS NOTÍCIAS ………………………………........... 53 3.6 O JORNALISTA DE TV ……………………………………................................... 55 3.7 RELAÇÃO TECNOLÓGICA, NOTICIÁRIO E NOTÍCIA ……………………..... 58 3.8 O FAZER DO JORNAL DE TV E AS PERSPECTIVAS ………………................ 60 4. O CONTEXTO TECNOLÓGICO: CONVERGÊNCIA E ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO................................................................................................................ 65 4.1 A CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA …………………........................................ 68 4.2 TELEVISÃO E CONVERGÊNCIA …………………………………....................... 75 4.3 A POLIVALÊNCIA JORNALÍSTICA …………………………………................. 81 4.4 AS NOTÍCIAS MULTIPLATAFORMAS ………………………............................. 85 4.5 INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES ……………………………………...................... 90 4.6 ROTINAS PRODUTIVAS DA NOTÍCIA E CONVERGÊNCIA ……………….... 93 5. UM OLHAR SOBRE OS TELEJORNAIS .............................................................. 97 5.1 SOBRE OS GRUPOS E TELEJORNAIS ................................................................. 100 5.2 AS DINÂMICAS E CONFIGURAÇÕES DAS REDAÇÕES ……………….......... 101 5.2.1 Dinâmicas e configurações na Rede Record ………………………………….... 102 5.2.2 Dinâmicas e configurações na Rede Globo........................................….............. 105 5.3 ROTINAS PRODUTIVAS ……………………………………………................... 108 5.3.1 Rotinas produtivas na Rede Record........................................…......................... 109 5.3.2 Rotinas produtivas na Rede Globo………………………................................... 117 5.4 ROTINAS E TECNOLOGIA…………………......................................................... 125 5.4.1 Rede Record ………………………………………............................................... 126 5.4.2 Rede Globo …………………………………………............................................. 136 5.5 ROTINAS, INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES E CONVERGÊNCIA …………….. 147 5.5.1 Rede Record …………………………………....................................................... 149 5.5.2 Rede Globo………………………………………….............................................. 166 5.6 OBSERVANDO O RESULTADO DAS ROTINAS PRODUTIVAS…....……..…. 181 5.6.1 Rede Record ……………………………………................................................... 181 5.6.2.Rede Globo …………………………………......................................................... 185 5.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA ANÁLISE............................................................. 189 6. CONCLUSÃO............................................................................................................. 194
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 200 APÊNDICES………………………………………………………………………......... 209 APÊNDICE A - Roteiro para entrevistas........................................................................... 210 APÊNDICE B - Roteiro de observação de campo............................................................. 216 APÊNDICE C - Roteiro de monitoramento....................................................................... 217 APÊNDICE D - Fotos das redações .................................................................................. 218 APÊNDICE E - Lista de Entrevistados ............................................................................. 221
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1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, as novas tecnologias da informação e comunicação – NTIC’s
vêm proporcionando uma reorganização das práticas profissionais em um complexo processo
de adoção social, relacionado aos fatores culturais, políticos e econômicos, em meio à
coexistência de meios tradicionais e digitais, elementos estes configuradores do atual contexto
de convergência. Neste contexto, profissionais dos grupos de comunicação, desde o jornalista
até o técnico de som, estão vivenciando alterações nas rotinas produtivas, bem como
diminuindo os limites que separam os perfis, espaços e atividades profissionais (SCOLARI,
2008), abrindo caminho para as flexibilizações dos perfis profissionais de comunicação, dos
ambientes produtivos e da distribuição de conteúdos.
Dentre os vários âmbitos da comunicação social e organizacional em que se aplicam
as NTIC’s, por meio dos processos de convergência e estratégias de integração dos espaços de
produção, distribuição multiplataforma e perfis polivalentes, surgiu o interesse sobre os
estudos, debates e publicações recentes que vêm identificando e tentando compreender as
tendências, perspectivas e agentes sociais das adoções tecnológicas nas rotinas produtivas
noticiosas das redações do telejornalismo de início de noite, em rede televisiva aberta
comercial no Brasil1, em contexto de convergência. O tema coloca no centro dos processos de
convergência, por meio das estratégias de integração de redações, as rotinas produtivas do
veículo jornalístico2 que completando 65 anos, desde a exibição do primeiro telejornal é “a
principal fonte de informação da sociedade brasileira: mais barata, mais cômoda e de fácil
acesso [...]. O telejornalismo ocupa hoje um lugar central na vida dos brasileiros”
(PORCELLO, 2006, p.13), colaborando para a compreensão da realidade social com
credibilidade.
Nesse sentido, as inovações e invenções das NTIC’s pavimentam perspectivas para a
reconfiguração/redesenho dos meios tradicionais, como a televisão, em que se insere o
telejornal, por meio da adoção tecnológica nas rotinas produtivas dos grupos de comunicação,
que constituem as redes televisivas. Essa adoção tecnológica possibilita alterações nas
atribuições profissionais jornalísticas, nas integrações dos processos produtivos e distribuição
da notícia nos telejornais de início de noite em rede, como parte de uma migração gradual do
processo de produção analógica para o digital. Fato este, que se evidenciou, no final dos anos
1 A expressão “telejornalismo de início de noite em rede televisiva aberta comercial no Brasil” doravante será citada como telejornalismo de início de noite em rede, com o intuito de dar mais fluidez ao texto.
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90, com as primeiras iniciativas de convergência nos veículos de comunicação tradicionais:
por meio das operações das emissoras de televisão na internet que passaram a distribuir os
conteúdos para mídias digitais, como uma extensão dos processos produtivos (LOPEZ, 2009).
Neste sentido, os grupos de comunicação, em rede televisiva, frente às gradativas inovações e
invenções tecnológicas, às adoções das mesmas nas sociedades liberais democráticas, e aos
fluxos migratórios de público dos meios tradicionais para os digitais, recolocam as
integrações de redações como estratégias para atender as demandas de um público cada vez
mais multiplataforma, com menor custo operacional. As estratégias de conservação destes
grupos empresariais, em que se inserem as integrações de redação, distribuição de conteúdos
para mídias digitais e a polivalência profissional estão relacionadas às reconfigurações que
colocam a convergência em uma perspectiva basicamente empresarial de gestão de custos e
produção. Essa tentativa de conservação do modelo de sustentação atual destes grupos
empresariais em rede televisivas coloca em justaposição os meios televisivos e as operações
em novos veículos de estruturas digitais, como os portais, para preservar as receitas e a
relevância social, aferida por índices de audiência.
Desta feita, o risco oculto da justaposição de meios tradicionais e digitais, que envolve
as estratégias de integração, está destinado prioritariamente, no atual contexto de
convergência, à redução de custos operacionais e maximização da produção e distribuição de
conteúdos, para recuperar as contínuas perdas de audiência e receitas publicitárias dos grupos
de comunicação em rede televisiva, em detrimento da função do jornalismo nas sociedades
liberais democráticas na construção social da realidade, que resvala da credibilidade do
telejornal. Neste cenário de recursos digitais e processo de convergência, abrem-se reflexões
sobre a possibilidade de Rotinas Produtivas Flexíveis – que apresentam as características do
atual estágio do fazer nas redações dos telejornais em rede televisiva, que tenciona o modelo
produtivo consolidado nos anos 70 à configuração de um modelo convergente, em que se
evidenciam diferenças, neste interstício de assimilação do digital nos grupos de comunicação
em redes televisivas. Tal distinção se apresenta por três elementos chaves: a) Produção – no
modelo consolidado nos anos 70, a configuração da produção nas redações do meio televisivo
se caracteriza de forma própria e separada de outros meios analógicos, como impresso e rádio.
Entretanto, a integração de redações não é uma estratégia recente, no percurso dos meios
analógicos ocorreram tentativas pontuais de unificação das rotinas produtivas. Desta forma,
no atual cenário apresenta-se uma tendência renovada das estratégias de integração pela
adoção dos meios digitais, configurados como canais de integração (veículos e meios) e
interação (profissionais e fontes); b) Distribuição – a distribuição tradicionalmente está
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centrada no meio televisivo, na configuração atual aponta-se uma flexibilização da produção
entre o meio televisivo e digitais; c) Perfil profissional - no modelo tradicional a orientação
empresarial pela polivalência estava relacionada à flexibilização circunstancial temática e
funcional. No modelo corrente, a polivalência passa pela flexibilização de forma estrutural,
dos temas e funções dos profissionais nas redações, somado a orientação de naturalização da
atuação em variados meios, funções e temas: polivalência multimídia.
Desta maneira, aponta-se o desafio de estudar as práticas jornalísticas do meio
televisivo para identificar e compreender como ocorrem as rotinas produtivas dos telejornais
nas duas principais redes de comunicação televisiva do Brasil, Rede Globo e Record, com
base na integração das redações, no contexto de convergência jornalística, para suprir as
necessidades destas mesmas redes: a) de cobrir os acontecimentos no território nacional e
compartilhar notícias dentro da própria rede, para abastecer os telejornais, em uma escala que
integra o local, o regional e o nacional; e b) otimizar as rotinas produtivas para competir com
a distribuição de conteúdos em mídias digitais, em meio a renovar/atualizar o modelo de
sustentação corrente.
O desenvolvimento das tecnologias digitais, em que se destaca a internet, permeia a
discussão em relação às diversas possibilidades de aplicações dos recursos digitais, tais como
a rotina produtiva, canais digitais de integração e interação, distribuição multiplataforma e
perfil profissional na cadeia produtiva do jornalismo em rede televisiva. As estruturas digitais
permitem uma abordagem, que apontam para as possibilidades de alterações, na compreensão
do próprio telejornalismo contemporâneo.
Os estudos e debates relacionados à convergência aplicada às práticas jornalísticas
vêm identificando e tentando compreender as transformações e alterações pavimentadas pelas
infraestruturas tecnológicas, socialmente adotadas, na produção de notícias; em que se
inserem as abordagens sobre rotinas produtivas, estruturadas por canais digitais de integração
de redações, distribuição multiplataforma e polivalência multimídia. Os estudos acerca das
práticas jornalísticas nos telejornais de início de noite, em rede televisiva, abrem um relevante
debate sobre: a) o desenvolvimento sócio-tecnológico das redes de comunicação televisivas e
as reconfigurações das rotinas produtivas jornalísticas em contexto de convergência; b) a
compreensão da produção da notícia televisiva em rede; c) produção de um noticiário de TV,
para além da TV, ou seja, multiplataforma; e d) reconfiguração das redações, canais digitais e
redesenho das funções/flexibilização do perfil jornalístico. O processo de convergência
tecnológica presente no jornalismo de TV no Brasil vem necessitando de um recorte temático
específico para conferir consistência às questões que envolvem as atuais rotinas produtivas,
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tais como: se as rotinas produtivas no jornalismo de TV estão em processo de
transformações/reconfigurações. É preciso identificar e compreender o que está mudando,
para que, por que, e o mais relevante, o que é esta rotina produtiva do jornalismo de TV no
momento atual, suscitando a percepção de que tais rotinas podem ser definidas como Rotinas
Produtivas Flexíveis. Para construir uma abordagem referente ao presente estudo é relevante,
também considerar as dimensões: a) externa ao telejornalismo; b) organizacional dos grupos
de comunicação, que compõem as redes televisivas; e c) produção e cultura profissional, em
virtude de tais dimensões serem inter-relacionadas. Neste sentido, o presente estudo colabora
com a ampliação da literatura em torno da relação convergência jornalística e telejornalismo
em rede televisiva, abrindo caminhos para uma qualificada compreensão do problema, por
meio de um estudo em quatro telejornais das duas principais redes de comunicação televisivas
do país: Rede Globo e Rede Record, que iniciaram a formação no dia 26 de abril 1965 e 27 de
setembro de 19533, respectivamente.
Nesse sentido, o objetivo geral da presente tese é identificar e compreender, por meio
de revisão atualizada, de discussão conceitual e estudo de caso prático nas duas principais
redes televisivas do país, apresentando a hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis no
telejornalismo de início de noite em rede, no atual contexto de convergência jornalística,
ampliando a literatura e o debate em torno deste tema. Para efetivar o objetivo geral e compor
a tese, os objetivos específicos se apresentam, como: a) Considerar, com base na teoria do
jornalismo e nos estudos de comunicação e convergência, por meio das estratégias de
integração de redações, que correspondem ao argumento sobre a hipótese das Rotinas
Produtivas Flexíveis; b) Analisar as rotinas nas redações no que se refere à produção,
distribuição e perfil profissional nas duas principais redes televisivas de capital privado, de
TV aberta do Brasil; c) Identificar e sistematizar, através de análise dos telejornais, como as
Rotinas Produtivas Flexíveis, por meio dos canais digitais de integração de um mesmo
grupo de comunicação em rede, abrem discussões sobre: autonomia dos veículos e
profissionais; jornalista polivalente; modelo de sustentação; e divergência tecnológica; d)
Argumentar sobre Rotinas Produtivas Flexíveis no telejornal de início de noite, na
perspectiva dos jornalistas sobre os processos de convergência.
Os telejornais, como corpus analítico, em que se observaram as Rotinas Produtivas
Flexíveis no telejornalismo de início de noite das duas maiores redes de comunicação
televisiva do Brasil, são: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife); NETV 2ª
3 Informações disponíveis sobre a história da Rede Globo (http://memoriaglobo.globo.com/) e sobre a Rede Record (http://rederecord.r7.com/historia/).
16
edição (Olinda); ABTV 2ª edição (Caruaru); bem como a relação com R7 (Record) e G1
(Globo). A inclusão periférica dos portais e escolhas das redes está na consideração de que na
Rede Globo e na Rede Record, os portais G1 e R7, respectivamente, estão relacionados com
um projeto interno destes grupos de comunicação para atuação na internet, e reconfiguração
das rotinas televisivas, por meio da distribuição de conteúdos produzidos pelo setor de
jornalismo.
As outras duas Redes, SBT e Band, que juntamente com a Rede Record e Rede Globo,
concentram quase 70% das emissoras afiliadas e retransmissoras do sistema de distribuição de
conteúdo televisivo aberto do Brasil (ANATEL, 2010), não possuem este desenho estratégico
de distribuição de conteúdo, os mesmos não se concentram de formas restritas aos portais das
Redes SBT e Band, mas em ambientes digitais de outros grupos empresariais como o portal
UOL, IPTVs como os disponíveis em televisores Smart da Sony. Desta maneira, Rede Record
e Rede Globo têm um projeto, para as operações em mídia digital, mais concentrado para a
distribuição multiplataforma restrita aos veículos digitais do próprio grupo, diferentemente do
SBT e Band. Na configuração dos jornais de começo de noite (everynews) escolhidos,
aponta-se que tanto a TV Record (Jornal da Record) e a TV Globo Nordeste (NETV 2ª
edição) operam com dois meios: TV e portal (internet). As afiliadas destas redes, em que os
processos de integração com a emissora ocorrem, estão configuradas com mais de dois
veículos, a TV Clube (Jornal da Clube) do Diário Associado possui TV, rádio, portal e
impresso e a TV Asa Branca (ABTV 2ª edição) do Grupo Nordeste de Comunicação, possui
TV, Rádio e Portal. Assim, a análise ocorre na relação emissora e afiliada, pertencentes às
duas principais redes de comunicação do país, que segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia de
2014, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, as duas redes
possuem juntas os dois principais telejornais do Brasil com 61% da audiência, sendo o Jornal
Nacional com 45% e o Jornal da Record com 16% (BRASIL, 2014a). Bem como também,
detém os dois portais de grupos de comunicação televisiva, segundo a mesma pesquisa, G1
com maior acesso 5,0% e R7 2,5% (BRASIL, 2014a).
A análise evidencia as Rotinas Produtivas Flexíveis em um contexto de convergência
jornalística, abrindo caminho para a compreensão das tendências e perspectivas de produção
nas redações, modo de distribuição da notícia e perfil profissional. Esta abordagem permite
caracterizar as atuais rotinas produtivas do noticiário de TV, no estágio de migração do
analógico para o digital, em meio aos experimentos e busca de um modelo de produção e
sustentação, na reconfiguração dos grupos de comunicação. Nesta perspectiva, instala-se a
necessidade de compreender como as rotinas produtivas noticiosas televisivas em rede, que
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integram o local, o regional e o nacional das duas principais redes televisivas do país, estão se
relacionando com a transição das estruturas e características do modelo consolidado, nos anos
70, com as reconfigurações e processos de produção, perfil profissional e distribuição dos
conteúdos noticiosos.
Para fundamentar o debate e análise das Rotinas Produtivas Flexíveis no
telejornalismo é necessário refletir sobre alguns conceitos chaves: a) integração de redações;
b) construção social da realidade; c) notícia; d) jornalismo de TV e e) convergência, bem
como os elementos correlacionados. Desta maneira, buscam-se compreender primeiramente a
própria relação entre a sociedade, televisão e telejornalismo, em uma perspectiva sócio-
técnica, em que a tecnologia de comunicação se apresenta para além de mero recurso
material, como um recurso lógico4 adotado, que pavimenta as alterações e (re)configurações
dos sistemas sociais, como os sistemas produtivos da notícia no telejornalismo. Neste sentido,
a presença das tecnologias de comunicação na sociedade permite delinear os processos
complexos, que envolvem fatores econômicos, políticos e culturais, de modo não equânime,
não autônomo e não determinante, na compreensão, interpretação e construção social da
realidade, em que se situa o fazer jornalístico, por meio das rotinas produtivas. Rotinas estas,
que são o conjunto de processos e tarefas necessárias, para a construção de notícias que
permitem pôr o telejornal no ar, seis dias por semana5, na periódica transformação dos fatos
em notícias. Desta feita, abre-se uma reflexão do processo de convergência de forma sócio-
técnica, de um ponto de vista que considere a teoria do jornalismo e a construção social da
realidade.
A notícia é compreendida como um produto construído por um processo que envolve o
contexto social da produção (elementos internos à redação) e suas relações econômicas,
culturais, organizacionais, as características técnico-expressivas (elementos externos à
redação), próprias de cada meio de comunicação, colaborando para a compreensão da
realidade social (VIZEU, 2005). Neste sentido, as notícias são convenções que permitem ou
auxiliam a tornar a realidade cotidiana social legível (SCHUDSON, 2010; GOMES, 2011). 4 A lógica, no presente trabalho, é compreendida nas perspectivas de Groth (2011) e Innis (2011), como algo compatível à ideia de cultura, em que lógica e cultura são as maneiras dinâmicas, cotidianas de construção do pensar em sociedade. 5 O uso do termo rotinas produtivas está associado à abordagem de Tuchman (1983) e Vizeu (2002), que apontam que as rotinizações do trabalho nas empresas jornalísticas aperfeiçoam os modos de produzir a notícia entre os profissionais. Desta forma, as rotinas produtivas são operações cotidianas de reconstrução da realidade como notícias, em que estão realizadas com as regras e as atividades dos profissionais nas redações, como local de institucionalização da produção da notícia (VIZEU, 2002), e a periodicidade de distribuição das mesmas nos telejornais. Esta periodicidade nos telejornais analisados ocorre na fixação do horário na grade de programação das emissoras em seis dias da semana.
18
Na produção das notícias estão colocadas a cultura profissional; a estrutura tecnológica; as
questões de autonomia na organização do trabalho, sobre as quais residem as convenções
profissionais que definem a notícia e legitimam o processo produtivo, desde a captação do
acontecimento, passando pela produção, edição até a distribuição (VIZEU, 2005). As notícias
são produzidas de modo a se adaptarem ao mundo social dos jornalistas, bem como às
reconfigurações das rotinas produtivas, e ao público, porque as convenções de uma sociedade
organizada pelas maneiras dinâmicas cotidianas de compreender, interpretar e construir a
realidade social, de modo não fixa.
A construção da realidade é um processo socialmente determinado, intersubjetivamente
e institucionalizado pelas práticas, pelos papéis e agentes da vida cotidiana (ALSINA, 2009).
Porque o mundo da vida cotidiana é algo que o público constrói nas relações sociais de forma
dinâmica que estabelece o convencional e não necessariamente verdadeiro. (SCHUDSON,
2010). É neste sentido que o jornalismo se apresenta como um dos fatores da construção do
espaço público, exercendo um importante papel na elaboração das regras de visibilidade e
transparência, sociabilizando informações para construção da realidade social (MARQUES,
1997). Como um processo dinâmico e complexo, o jornalismo de TV também se alimenta,
compreende e interpreta a realidade social. Desta forma, a prática jornalística também pode
ser considerada como um recurso de interpretação sucessiva da realidade social.
Na perspectiva de Rodrigo Alsina (2009), a representação social da realidade é
construída institucionalmente, considerando as características que o processo produtivo
estabelece: Obviamente, o processo depende da estrutura tecnológica que o condiciona, bem
como os agentes sociais que adotam e operam tal estrutura. Desta feita, a notícia é resultante
“da cultura profissional, da organização do trabalho, dos processos produtivos, dos códigos
particulares (as regras de redação), da língua e das regras do campo das linguagens, da
enunciação jornalística e das práticas jornalísticas” (VIZEU, CORREIA, 2008, p.13).
Estes conceitos chaves, ancorados na teoria do jornalismo e na construção social da
realidade, norteiam a compreensão do conceito de convergência no jornalismo. Conceito este
que a presente tese trabalha na perspectiva de convergência de Salaverría et al (2010), como
um processo de integração de redações, ferramentas e rotinas produtivas, em meio a adoção
tecnológica digital no fazer jornalístico, que engloba os âmbitos tecnológicos, empresariais,
profissionais e editoriais dos meios de comunicação anteriormente separados.
O referencial, que compõe os capítulos iniciais da presente pesquisa, é a lupa
conceitual para identificar e analisar o objeto estudado e os dados coletados nos quatros
telejornais analisados, das duas principais redes de comunicação televisiva do país. Em que na
19
atual configuração dos grupos de comunicação, a indumentária tecnológica digital na
produção jornalística de TV, podem tornar-se um desafio para os processos de produção
integrada e distribuição multiplataforma de notícias, executadas por perfis profissionais
polivalentes, nas redes televisivas. Por isso, as cadeias produtivas de notícias nas mídias
tradicionais, com a junção das mídias digitais, caminham na tentativa de estruturar um novo
modelo organizativo e de sustentação (SALAVERRÍA, 2010). Para uma produção integrada
de notícias mutiplataforma faz-se necessário o perfil do jornalista polivalente multimídia.
Entretanto, essa nova posição do profissional não representa, necessariamente, a melhoria na
produção da notícia (LOPEZ, 2009). Desta feita, as rotinas do jornalista no processo de
construção da notícia estão sendo alteradas por este entorno convergente, e também pela
relação que o público tem com as tecnologias de interação, as quais geram demandas por
atualização e participação que desafiam a produção e distribuição de conteúdos das redes
televisivas.
Salaverría (2010) aponta a convergência como uma perspectiva de rumo empresarial
do jornalismo, como estratégia de sustentação e sobrevivência renovadora, no cerne das
cadeias produtivas de notícias, por meio da infraestrutura tecnológica socialmente adotada,
abrindo caminho para o debate sobre as Rotinas Produtivas Flexíveis. Neste cenário, em que
os grupos de comunicação em redes televisivas caminham, em uma perspectiva de busca de
um novo modelo de produção e sustentação, pela adoção das mídias digitais, reorganizando-
se as estruturas horizontais (entre meios diferentes) e verticais (entre meios equivalentes).
A hipótese é de que nos primeiros quinze anos deste século as rotinas produtivas
noticiosas vêm se reconfigurando por meio de canais digitais de integração verticais nas
redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Em que o fazer
jornalístico é realizado por profissionais polivalentes multimídia e distribuído de modo
multiplataforma entre meios televisivos e digitais, flexibilizando como tendência o
modelo de produção dos anos 70, nas perspectivas conservadoras de uma produção
convergente. Tal enfoque amplia a abordagem de modelo de integração horizontal física
apontada por alguns autores, tais como López-García e Fariña (2010); Salaverría
(2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); bem como fornece precisão as fases da TV de
Mattos (2010) e do telejornalismo de Rezende (2010).
Nesta flexibilização das rotinas produtivas, as potencialidades do digital ainda estão em
curso, primeiramente em virtude da tradicional característica de conservação, por parte dos
grupos de comunicação que formam as redes de TV brasileiras, no que se refere à produção e
sustentação financeira, com base no modelo centrado nas mídias tradicionais (impresso, rádio
20
e TV). Tal posição conservadora6 se reforça também pela ausência de um modelo confiável
de integração, bem como modelos convergentes que envolvam o telejornalismo, na relação
qualidade jornalística (credibilidade) e custos operacionais (rentabilidade). Desta maneira, a
adoção tecnológica digital nas rotinas produtivas é marcada por experimentos, em busca de
alternativas, remontando a própria história das transformações no telejornalismo brasileiro,
em que as alterações são aparentemente sutis, mas que seguem ritmos e altos investimentos de
transformações peculiares ao veículo jornalístico. No atual estágio, o que se identifica no
fazer do telejornalismo de início de noite nas redes, não se caracteriza com um modelo
convergente de fato e muito menos um fazer jornalístico resistente preso aos anos 70,
momento inaugural do modelo corrente, mas em um interstício migratório de assimilação do
digital, de flexibilização da produção, distribuição e perfis profissionais. Neste sentido,
estabeleceu-se a opção de denominação da Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis.
Com o intuito de identificar e compreender a produção de notícias do jornalismo de TV
em Rotinas Produtivas Flexíveis abrem-se seis questões norteadoras da pesquisa: a) Como
se apresentam os processos de convergência jornalística, nas redações dos telejornais de rede
de início de noite, por meio das estratégias de integração? b) De que forma os processos de
convergência jornalística, nas redações dos telejornais de rede, influenciam as rotinas
produtivas? c) Como as estratégias de integração, em uma mesma rede televisiva, formada
por distintos grupos empresariais de comunicação, abrem discussões sobre: autonomia dos
veículos e profissionais e divergência tecnológica? d) Em que medida há uma orientação
empresarial de produção integrada de notícias multiplataformas, realizada por jornalistas
polivalentes, nas redes televisivas? e) Como as integrações podem refletir os anseios
empresariais por redução de custos, manter e ampliar a produção noticiosa dos veículos
integrados? e f) No que se refere ao produto final das redações, como as estratégias de
integração interferem na percepção da qualidade das notícias?
Para a execução da presente pesquisa qualitativa, de método hipotético-dedutivo, com
base na hipótese e questões norteadoras, realizou-se um arranjo metodológico, estruturado em
quatro instrumentos: 1) pesquisa de referencial teórico; 2) observação etnográfica e
monitoramento dos quatro noticiários das duas principais redes televisivas de capital privado,
de início de noite da TV aberta brasileira: Jornal da Record, Jornal da Clube, NETV 2ª edição
e ABTV 2ª edição; 3) entrevistas com jornalistas e gestores das emissoras e dos noticiários
relacionados às perspectivas das rotinas de produção das notícias e estratégias de integração,
6 O termo conservador para a presente tese está relacionado ao caráter de preservação de um modelo, em detrimento de uma renovação do mesmo.
21
para compor a pauta empírica; 4) pesquisa e análise qualitativa, comparando os telejornais da
mesma rede em si, no que se refere ao compartilhamento de conteúdos verticais, considerando
aspecto transversal entre as redes, e horizontais nas justapostas ao meio digital.
Instrumento 1: O primeiro instrumento de investigação consiste em um levantamento
teórico das referências clássicas e contemporâneas que trabalham com a questão da
tecnologia televisiva de abordagem sócio-técnica, da produção da notícia, do
telejornalismo na teoria do jornalismo e nos estudos de comunicação e convergência, que
correspondem ao argumento sobre estratégias de integração, distribuição de notícias
multiplataformas e polivalência multimídia, que reforçam a Hipótese das Rotinas
Produtivas Flexíveis. Deve-se ressaltar que as leituras foram realizadas com a devida
atenção ao longo da trajetória do doutorado, sendo utilizadas na elaboração de artigos, na
participação no Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade (PPGCOM/UFPE),
na realização do estágio-docência e nos debates e publicações em eventos e revistas da
área. Outros dois reforços para o aperfeiçoamento da leitura das obras e textos
fundamentais consistiram nas disciplinas ofertadas no âmbito do Programa de Pós-
graduação em Comunicação e do acesso contínuo e atualizado ao Portal de Periódicos da
Capes e Harvard Business Publishing. As leituras contribuíram para a tese, da seguinte
forma, em: a) fundamentar a compreensão sobre convergência, telejornalismo, notícia e
construção social da realidade e integração de redações; b) compreender como se realiza a
adoção da estratégia de integração e as rotinas jornalísticas, nas duas principais redes de
comunicação televisivas do país, em uma perspectiva sócio-técnica; c) revisar a literatura
clássica inerente ao jornalismo e telejornalismo; d) identificar, compreender, relatar e
criticar as perspectivas, no que se refere ao que está mudando, para que, por que, e o mais
relevante, o que é esta rotina produtiva do jornalismo de TV, estruturada por canais de
integração, distribuição multiplataforma de notícias e como a mesma pode ser definida,
considerando as dimensões: a) externa ao telejornalismo; b) organizacional dos grupos que
compõem as redes de comunicação televisivas; e c) produção e cultura profissional.
Instrumento 2: monitoramento e observação etnográfica dos telejornais de rede nacionais:
monitoramento das reportagens, veiculadas nos telejornais entre novembro de 2013 a
novembro de 2014, e na observação das redações dos quatros telejornais. As observações
etnográficas ocorreram: no Jornal da Record, em janeiro de 2014, os demais: Jornal da
Clube, NETV 2ª edição, ABTV 2ª edição, em agosto de 2014. A partir do contato e
22
acompanhamento desses noticiários de TV em rede foi possível: a) delimitar de maneira
consistente que rotinas, práticas e processos permitiram maiores contribuições à pesquisa;
b) destacar os modos mais adequados para se estudar tais rotinas, práticas e processos e c)
fundamentar e adequar os parâmetros basilares para a formulação da análise empírica.
Instrumento 3: Entrevistas com 17 jornalistas e gestores das emissoras e dos noticiários
relacionados às perspectivas nas rotinas produtivas de notícias e integração de produção
das notícias multiplataformas, realizadas por jornalistas polivalentes. Além de esclarecer
dúvidas e de fornecer informações importantes que contribuíram para o momento posterior
de considerações sobre as práticas nos jornais de TV, as entrevistas ofereceram, no
desenvolvimento da tese, a possibilidade de confrontar os dados e as impressões coletadas
na fase de observação e análise.
Instrumento 4: A última técnica de investigação apresentada consiste em uma avaliação
qualitativa dos telejornais, por meio de um estudo analítico das redes televisivas. Foi
realizada uma análise: a) das perspectivas de produção da notícia em integração vertical
das redações com vistas à compreensão de temas, como: autonomia dos veículos e
profissionais: jornalista polivalente; distribuição multiplataforma; e divergência
tecnológica; b) da forma pela qual os gestores e jornalistas se mostram abertos aos
processos de integração das redações e convergência, a atividade de um jornalista
polivalente; e c) das maneiras pelas quais a integração, distribuição multiplataforma, novos
perfis profissionais podem configurar as Rotinas Produtivas Flexíveis.
A presente tese está estruturada em quatro capítulos, que apresentam subsídios para as
questões norteadoras, e corroboram para a realização dos objetivos e argumentação da
hipótese da presente tese. Os três primeiros capítulos traçam os pressupostos teóricos que
fundamentam a pesquisa, e o quarto capítulo operativo empírico, em que são analisadas as
redes televisivas e identificadas as Rotinas Produtivas Flexíveis.
O primeiro capítulo – Sociedade, Televisão e Telejornalismo – apresenta um percurso
reflexivo sobre a relação entre sociedade, televisão e telejornalismo, que atualmente estão
sendo reconfigurados, com base na adoção social das novas tecnologias digitais. Tal percurso
fornece abordagens e contribuições para o debate sobre a produção da notícia televisiva em
rede, auxiliando a compreensão de conceitos e abordagens relacionadas ao jornalismo de TV.
Bem como argumenta no sentido de compreensão das duas primeiras questões norteadoras da
23
tese, que consideram os telejornais de rede de início de noite, e o atual contexto, e as
influências nas rotinas produtivas. Estas abordagens permitem, por meio de um percurso
histórico, atender ao objetivo especifico de analisar as rotinas produtivas de notícias em sua
configuração estrutural, produção e modos de distribuição, nas duas principais redes
televisivas de capital privado, de TV aberta do Brasil.
O segundo capítulo – Jornalismo e Construção Social da Realidade – dedica-se a
revisar as bases do jornalismo, para consolidar um repertório sobre as rotinas produtivas do
telejornalismo, no atual contexto de convergência. As reflexões e abordagens apresentadas
subsidiam elementos para as questões norteadoras da presente tese, que se referem ao produto
final das redações, e a relação das estratégias de integração na percepção da qualidade das
notícias. Tais reflexões reforçam o objetivo específico de analisar as rotinas produtivas de
notícias em sua configuração estrutural, produção e modos de distribuição, nas redes
televisivas.
O terceiro capítulo – O contexto tecnológico: Convergência e estratégia de integração
– permite debater sobre reconfiguração das redações, canais digitais e redesenho das
funções/flexibilização dos jornalistas, bem como a produção de um noticiário de TV
multiplataforma; relacionados aos conceitos de integração e convergência. Tal debate fornece
subsídios e argumentos para as questões norteadoras da tese, que envolvem os processos de
convergência jornalística, por meio das estratégias de integração nas redações, com atenção as
rotinas produtivas e discussões sobre: autonomia dos veículos, profissionais; divergência
tecnológica; redução de custos e maximização de produção noticiosa. Assim, corrobora-se
com os objetivos específicos, da presente tese, que: considera as bases teóricas do jornalismo
e os estudos de comunicação e convergência, para compreender a hipótese, e identifica e
sistematiza as discussões sobre pontos, tais como: autonomia e polivalência.
O quarto e último capítulo – Um olhar sobre os telejornais – apresenta as análises, o
fazer nas redações dos telejornalismos brasileiros, por meio das Rotinas Produtivas Flexíveis,
através do estudo de quatro redações das duas principais redes de comunicação televisiva do
país: Jornal da Record (São Paulo) e Jornal da Clube (Recife) constituintes da Rede Record; e
NETV 2ª edição (Olinda) e ABTV 2ª edição (Caruaru) com telejornais da Rede Globo; bem
como a relação com os portais R7 (Record) e G1 (Globo), justapostos nas redes com
proximidade de produção integrada horizontal e com um suporte de distribuição para além da
TV. Desta forma, as análises corroboram com o objetivo de compreender as alterações nas
rotinas de produção que referem-se as Rotinas Produtivas Flexíveis, em contexto de
convergência no telejornalismo contemporâneo. Bem como apontam os subsídios para as
24
questões norteadoras referentes à compreensão dos processos de convergência jornalística, e a
influência nas rotinas produtivas, por meio da discussão sobre: autonomia dos veículos,
profissionais, divergência tecnológica, modelo de sustentação, redução de custos,
maximização de produção, orientação empresarial para produção integrada de notícias
multiplataformas, e a percepção da qualidade da notícia produzida.
25
2. SOCIEDADE, TELEVISÃO E TELEJORNALISMO
Neste primeiro capítulo, apresenta-se o percurso reflexivo sobre a relação entre
sociedade, televisão e telejornalismo, desde a veiculação do primeiro telejornal no Brasil até
as atuais reconfigurações, com base na adoção social das novas tecnologias digitais. Tal
percurso situa o estado atual, corroborando com as perspectivas de fase de convergência e da
qualidade digital e fase da portabilidade, mobilidade e interatividade digital da televisão
brasileira de Mattos (2010) e fase da busca de novos modelos de telejornalismo de Rezende
(2010). Deste modo, fornecem-se abordagens e contribuições para o debate sobre a produção
da notícia televisiva em rede, auxiliando a compreensão de conceitos e abordagens
relacionados ao jornalismo de TV, permitindo atender ao objetivo especifico de analisar as
rotinas produtivas de notícias e modos de distribuição, nas duas principais redes televisivas do
país.
No atual contexto, a adoção de veículos de comunicação estruturados em mídias
digitais7, propicia alterações no público8 da TV, nas formas de obtenção de notícias na
sociedade. Na perspectiva deste cenário é comum verificar informações sobre corrosão no
atual modelo de sustentação econômica da TV, calcado na relação índices de audiência e
verbas publicitárias. A Folha de São Paulo On-line publicou uma notícia sobre a redução
gradativa da audiência nas principais redes de televisão do Brasil, entre os anos de 2012 e
2013: Rede Globo (-0,4 pontos com atuais 14,3 pontos); Rede Record (-0,1 pontos com atuais
6,1 pontos); Rede SBT (-0,3 pontos com atuais 5,3 pontos) e a Rede Band manteve 2,5 pontos
nos dois anos (JIMENEZ, 2013). Em 2014, o Jornal Brasil 247 publicou que a maior perda de
público entre os telejornais das quatro grandes redes televisivas no Brasil, ocorreu no Jornal
Nacional, a audiência, que era de quase 50 pontos nos anos 1990, atualmente se mantem em
29 pontos de média; e na baixa, registra 25,4 (BRASIL247, 2014). As causas para migração
de público para outros meios, em especial os meios de base digitais, residem em dois pontos:
7 O termo mídia digital está relacionado à abordagem de Monovich (2011), em que os novos meios são reproduções digitais, que compartilham o mesmo código digital, que podem ser distribuídos diferenciados suportes de apresentação multimídia, com acesso aleatório (MANOVICH, 2011). Desta forma, os meios tradicionais podem ter o conceito e a função alterados, com a adoção e difusão social das mídias digitais. Em virtude dos novos meios de representação numérica, converte os meios em dados computacionais programáveis, diferentemente dos meios analógicos. (MANOVICH, 2011). Em que o atual cenário apresenta o digital como elemento de produção, que a adoção e difusão social das estruturas computacionais, transcendendo a etapa da cadeia produtiva da informação, adentrando aos processos/etapas de distribuição. 8 Para a presente tese os termos: público, telespectador, espectador e indivíduo têm o mesmo sentido.
26
a internet informa antes dos noticiários9 televisivos, e as alterações nos formatos dos
telejornais, ainda estão muito próximas ao modelo implantado desde os anos 1970
(BRASIL247, 2014). A questão é que tal migração resvala na base do modelo de sustentação
e desenvolvimento da televisão e os grupos de comunicação, em redes televisivas, na relação
com a fonte primária.
No início da TV, a fonte primária de manutenção e desenvolvimento era o
patrocinador que orientava a produção dos programas e as emissoras veiculavam. Com base
nesta relação, os programas “eram identificados pelo nome do patrocinador. Em 1952, e por
vários anos subsequentes, os telejornais tinham denominações como: Telenotícias Panair,
Repórter Esso, Telejornal Bendix, Reportagem Ducal ou Telejornal Pirelli” (MATTOS, 2010,
p. 75-76). No segundo momento, o Regime Militar pós-1964 contribui para um aumento dos
investimentos publicitários e ao desenvolvimento do meio de comunicação televisivo,
favorecendo uma migração da atuação das multinacionais, e o governo se tornou o maior
anunciante individual, nos níveis federal, estadual e municipal (MATTOS, 2010). Desta
forma, ao longo do percurso televisivo, alterou-se a fonte primária de financiamento, mas não
o modelo de sustentação dos grupos de comunicação.
Neste sentido, é relevante perceber os desdobramentos tecnológicos da televisão na
sociedade brasileira, como suporte de distribuição das práticas jornalísticas de TV10,
relacionadas ao modelo de sustentação econômico. Elementos estes, que fornecem
abordagens para compreender as alterações, que reconfiguram as atuais rotinas produtivas dos
telejornais. As atuais estratégias de reconfiguração podem dar novos sentidos ao tradicional,
bem como evidenciar, renovar ou manter práticas consolidadas, em uma perspectiva
conservadora de flexibilização da produção, distribuição e perfil profissional do fazer no
jornalismo de TV contemporâneo, em rede televisiva.
Para identificar e compreender as mudanças na atual TV e do telejornalismo
brasileiro, em Rotinas Produtivas Flexíveis, é preciso perceber também as influências dos
distintos fatores culturais, econômicos e políticos, da histórica da adoção tecnológica11, que
perpassam o meio televisivo e o noticiário desde 1950. Desta maneira, o debate permeia as
influências que as NTIC’s produzem sobre a televisão tradicional, no que se refere à formação
9 Para a presente tese os termos: telejornal, jornal de TV e noticiário têm o mesmo sentido. 10 Para a presente tese os termos: telejornalismo, jornalístico de TV e jornalismo de TV têm o mesmo sentido. 11 O surgimento de uma tecnologia passa por várias etapas: a) inovação - um grupo social percebe a novidade; b) invenção - o novo se configurando, em meio ao caos interpretativo de teorias, experimentos, protótipos e paradigmas; e c) adoção - o novo se estabiliza e pode ser levado ao mercado com maior ou menor êxito (SCOLARI, 2008). Estes três momentos (inovação, invenção e adoção) servem para poder determinar a difusão de uma nova tecnologia e sua relação social de adoção (SCOLARI, 2008).
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e ao desenvolvimento do meio original do telejornalismo, que atualmente se apresenta como
renovada e revigorada, mediante a adaptação do meio e produtos, como o telejornal
(HOHLFELD, 2010).
Para Williams (2011) e Gomes (2011), na perspectiva sócio-técnica12 a televisão é
uma tecnologia e uma forma cultural, e o jornalismo é uma instituição social, de produção da
notícia. O telejornal é um dos formatos mais importantes e um dos mais produtivos da
televisão, em âmbito mundial (HOHLFED, 2010). Visto que este produto jornalístico é
uma construção social, no sentido de que se desenvolve numa formação econômica, social, cultural particular e cumpre funções fundamentais nessa formação. A concepção de que o jornalismo tem como função institucional tornar a informação publicamente disponível e de que o faz através das várias organizações jornalísticas é uma construção (GOMES, 2011, p.19).
Assim, as possibilidades tecnológicas não são determinantes para a prática
jornalística, pois o jornalismo, como instituição social, não se configura somente a partir das
possibilidades tecnológicas oferecidas, mas na correlação das possibilidades tecnológicas com
as condições históricas, os agentes sociais, fatores econômicos e culturais, em que no Brasil a
esfera política tem uma ativa presença no desenvolvimento e manutenção do suporte original
do telejornalismo. Contudo, isso não permite configurar o jornalismo como algo imobilizado,
frente a tais fatores, mas sim salientar e reforçar uma perspectiva de complexidade de
aspectos sociais, culturais, econômicos, políticos e tecnológicos, presentes no fazer
jornalístico brasileiro. Desta maneira, é prudente evidenciar as diferenças existentes entre as
diversas sociedades, políticas, econômicas, culturais, tecnológicas e rotinas produtivas
jornalísticas – do ponto de vista dos valores, convenções e processos (GOMES, 2011).
12 Para a presente tese a visão tecnologia, se dá na perspectiva sócio-técnica, defendida por Williams (2011). Assim, tecnologia é mais que instrumentos é uma lógica que (re)configura sistemas, como os sistemas produtivos da notícia no telejornalismo, sua relação com a sociedade depende da adoção social da mesma. Desta maneira, os processos tecnológicos são constituídos por diferentes artefatos, que configuram sistema. As mídias digitais são adotadas ou usadas, e deste modo abrem possibilidades, mas não as determina, esta perspectiva dá um novo fôlego às práticas sociais e profissionais como agente deste processo – para Williams (2011), a sociedade e os agentes sociais podem controlar os efeitos dos processos tecnológicos – neste sentido, a relação sociedade e tecnologia é uma construção em movimento – passível de representações e perspectivas ideológicas. Com base na perspectiva de prática social, pode se considerar que a tecnologia é de algum modo um subproduto de um processo social determinado por outras circunstâncias e fatores, que só adquire sua condição efetiva quando utilizada com a finalidade que já estava relacionada aos processos sociais conhecidos, e tecnologias precedentes, configurando-se como lógica (WILLIAMS, 2011). Desta forma, a tecnologia, a adoção e os usos são uma questão de prática social, que coloca tecnologia como causa, sendo possível modificar ou controlar os efeitos da mesma (WILLIAMS, 2011).
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2.1 A TV E O JORNALISMO TELEVISIVO NASCEM JUNTOS
No Brasil, a TV e o noticiário televisivo surgiram juntos, em meio a um percurso
marcado por propostas, rotinas de produção e distribuição das notícias, experimentos e
apropriação de formatos e estilos de outros meios, na formação e consolidação no modelo de
sustentação e desenvolvimento. Em 18 de setembro de 1950, a televisão brasileira ou “cinema
a domicílio”, foi inaugurada oficialmente, em estúdios improvisados, instalados em São
Paulo. A TV Tupi-Difusora (PRF-3) surge num período em que o rádio era o veículo de
comunicação de maior relevância e credibilidade no país. Neste cenário, a TV brasileira teve
o rádio como referência, utilizando inicialmente a lógica e estrutura de produção, formatos de
conteúdos, além de artistas e profissionais do sistema radiofônico, e principalmente o modelo
que o rádio se sustentava financeiramente. Nos primeiros momentos de difusão, a
programação televisiva brasileira constituiu-se de algumas horas noturnas, de imagens em
preto e branco.
Tais reflexões preliminares remontam a necessidade de compreender as referências do
noticiário brasileiro, para perceber o processo de produção, perfil profissional e possibilidade
de distribuição da notícia, bem como os desdobramentos sócio-tecnológicos e formação dos
modelos de sustentação anteriores ao atual contexto de convergência jornalística. Assim, no
dia seguinte à estreia da TV brasileira, foi ao ar o primeiro noticiário de TV - Imagens do Dia.
O noticiário, lançado há 65 anos, em 19 de setembro de 1950, as rotinas produtivas e
apresentação das notícias já apontavam o aspecto de polivalência funcional pela forma ainda
experimental da fazer Televisivo. Desta maneira, era comum um mesmo profissional ser
locutor, produtor e redator das notícias (PATERNOSTRO, 2006). Neste primeiro momento,
os telejornais “eram produzidos precariamente e careciam de um nível mínimo de qualidade.
A repercussão do programa na sociedade era pequena, pelo limitadíssimo número de pessoas
que tinham acesso às imagens de TV” (REZENDE, 2010 p. 57).
A televisão brasileira, meio original de distribuição dos telejornais, no período inicial
no Brasil, não existia nenhuma indústria do seguimento televisivo, o que implicava na
importação de componentes e televisores, que custavam pouco menos que um carro, e
somente membros da elite econômica tinham acesso aos televisores. Esta condição formou
um sistema com apenas duzentos televisores para distribuição de conteúdos do telejornal
(MATTOS, 2010). Um ano após o primeiro produto jornalístico de TV, os jornais televisivos
passaram a ser batizados com o nome dos patrocinadores, como forma de sustentar
economicamente os programas noticiosos no ar. Desta maneira, em 1952, a Tupi apresentou o
29
Telejornal Panair, patrocinado por uma companhia de aviação. Entretanto, o Telenotícias
Panair, de curta veiculação, não teve impacto nos processos de produção das notícias
televisivas, que ainda eram próximos ao rádio. Para Mattos (2010), esta era a fase elitista da
TV brasileira, e no âmbito do telejornalismo era a fase do jornalismo televisivo de influência
radiofônica (REZENDE, 2010).
O Repórter Esso, patrocinado por uma distribuidora de combustível, da TV Tupi, São
Paulo e Rio (1952 a 1970), “foi veiculado pela primeira vez no dia 1o de abril de 1952,
permanecendo no ar até o dia 31 de dezembro de 1970, época em que os anunciantes
passaram a comprar espaço entre os programas, em vez de patrocinar o programa como um
todo” (MATTOS, 2010, p.90). O Repórter Esso era constituído por profissionais conhecidos
do rádio, mas a produção jornalística começava a esboçar notícias com linguagem e narrativa
mais televisiva, os textos objetivos, com o apresentador enquadrado no plano americano, e
horário fixo: oito da noite (PATERNOSTRO, 2006). As primeiras notícias do noticiário
televisivo eram estruturadas em imagens de filme preto e branco, quase que um radiojornal de
TV. As imagens eram provenientes de agências de notícias americanas e “as notícias eram
lidas pelos locutores no estúdio e havia pouquíssimas imagens para ilustrar as informações”
(BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 106). Neste período, da década de 50, ainda não existia o
VT e o recurso do filme 8 mm era usado de forma escassa na produção noticiosa televisiva, o
jornalismo “ao vivo” direto do estúdio era “parte extremamente representativa da produção
das emissoras, no mínimo como alternativa simples e econômica” (REZENDE 2010 p. 57).
Ao final da década, o desenvolvimento do sistema brasileiro de televisão já contava com dez
emissoras em funcionamento, entre elas a TV Record, fundada em 1953, que viveu o período
de ouro com os programas musicais e o sucesso dos festivais de música, chegando a ocupar a
liderança da audiência no país (MATTOS, 2010)
Em 1960 chegaram os aparelhos em VT, as primeiras câmeras de videoteipe tinham dois metros de altura, e as fitas, enormes, mediam duas polegadas de largura [...]. Por um bom tempo o uso ficou restrito aos estúdios e às gravações de shows e jogos de futebol. O filme 8 mm só foi definitivamente aposentado no início dos anos 1980 (BISTANE; BACELLAR, 2005, p. 106).
Desta maneira, até a introdução da tecnologia do videoteipe, a televisão brasileira só
existia onde estavam erguidas as antenas de transmissão (PRIOLLI, 2003). Com o videoteipe
a “veiculação de um mesmo programa em vários dias da semana criou o hábito de assistir
televisão rotineiramente, prendendo a atenção do telespectador e substituindo o tipo de
programação em voga até então, de caráter vertical, com programas diferentes todos os dias”
30
(MATTOS, 2010, p.93). O videoteipe abre caminho para novas possibilidades de produção e
distribuição do fazer jornalístico de TV, entre as cidades em que as emissoras operavam.
Com a adoção social de novos processos produtivos, o Jornal de Vanguarda13, TV
Excelsior Rio (1962 até AI-5), inovou na rotina produtiva da notícia, por apresentar um
jornalismo que abandonou o estilo radiofônico, e iniciou a fase de busca por uma linguagem
própria, no telejornalismo brasileiro (REZENDE, 2010).
O Jornal de Vanguarda se constitui em outro marco significativo na história do telejornalismo brasileiro. Ele foi inovador por ter instituído a participação de jornalistas, a exemplo de Vilas Boas Corrêa, Newton Carlos e Cid Moreira, em programas televisivos. Na época, Cid Moreira era chamado de Sombrinha, porque juntamente com Célia Moreira e Luís Jatobá fazia a leitura em off de notícias veiculadas no programa. (MATTOS, 2010, p.93)
No noticiário Show de Notícias, TV Excelsior São Paulo, (1963 a 1964), as rotinas
produtivas mantiveram a mesma linha inovadora do Jornal de Vanguarda. Na perspectiva dos
fatores sociais e culturais, que relaciona a adoção e uso da TV brasileira, Bucci (2003)
apresenta que a TV e seus produtos, “nos anos 60 e 70, tratavam-se de um imaginário
nacional – e nacionalista” (BUCCI, 2003, p.9), mas tal nacionalismo era radicado na região
“sudeste, mas exógeno, voltada para a Europa e os Estados Unidos, de onde acredita provirem
todo o progresso e a civilização que a espécie humana pode almejar” (PRIOLLI, 2003, p. 15).
O maior mercado de produção e distribuição, do conteúdo televisivo do Brasil, está ancorado,
até os dias atuais, no Eixo Rio - São Paulo, desta maneira a indústria televisiva.
expandiu-se para todos os outros estados e vem produzindo um determinado imaginário – por meio, sobretudo, das telenovelas e dos noticiários – que se pretende nacional e que acaba sendo assim apreendido, com consequências profundas na política, na economia e nas relações sociais (PRIOLLI, 2003, p. 15).
A questão é que para colocar “uma emissora de televisão em funcionamento são
necessários grandes investimentos. Além disso, o custo de manutenção também é alto. Hoje
só quem tem essa capacidade são os grandes capitais ou o Estado” (VIZEU, 2005, p.32).
Assim, o paradigma de radiodifusão no Brasil,
tradicionalmente privado, evoluiu para o que se pode chamar de um sistema misto, onde o Estado ocupa os vazios deixados pela livre iniciativa, operando canais destinados a programas educativos (MATTOS, 2010, p.24).
13 “O Jornal de Vanguarda, mesmo tendo sido premiado na Espanha como um dos melhores jornais de informação do mundo, não conseguiu sobreviver após o Golpe de 1964, quando foi retirado do ar. Seu modelo, contudo, foi copiado por várias outras emissoras”. (MATTOS, 2010, p.93)
31
Desta forma, a TV brasileira foca nos índices de audiência, de alto custo operacional e
regulado por uma legislação frágil,
O Código Brasileiro de Telecomunicações promulgado pela Lei 4.117, de 1962, inovou na conceituação jurídica das concessões de rádio e televisão, pois amenizou as sanções, e permitia garantias às concessionárias. Contudo continuou atribuindo ao Executivo o poder de julgar e decidir, unilateralmente, a aplicação de sanções ou a renovação de concessões (MATTOS, 2010, p.92).
Fatores estes que favoreceram a consolidação de monopólios, concentrando a mídia brasileira
nas mãos de poucos grupos empresariais de comunicação.
Ao longo do desdobramento, as empresas que compõem a TV brasileira evitaram os
erros e incorporaram os acertos das experiências das emissoras anteriores, como a pioneira
Rede Tupi. Neste sentido, a Rede Globo importou um modelo de produção e sustentação que
migrou da comercialização “à moda do rádio” criando patrocínios, vinhetas de passagem, e
breaks, que ainda hoje são utilizadas (MATTOS, 2010). Neste período, também se inicia a
busca da qualidade técnica dos programas como fator de diferenciação, denominado “Padrão
Globo”, que ainda é presente na estrutura nos telejornais atuais, e porque até então existiam
poucos noticiários, em virtude da instantaneidade do rádio. Com os desdobramentos
tecnológicos nos processos de revelação de filmes e a mobilidade das câmeras sonoras foram
abrindo caminhos centrados na qualidade e otimização (MATTOS, 2010). Assim, entre 1972
e 1977, a Rede Globo completou a migração para a TV colorida de 100% da produção e
transmissão (TOURINHO, 2009).
2.2 FORMAÇÃO DAS ESTRUTURAS DAS REDES TELEVISIVAS
Ao longo da história do jornalismo de TV brasileira a adoção tecnológica,
modernização da produção nas redações, alterações das práticas profissionais, ampliação da
distribuição e interferências políticas, condicionaram avanços e recuos (VIZEU et al. 2009).
No dia 1o de setembro de 1969, a TV Globo, às 19h56, colocou no ar o Jornal Nacional,
primeiro programa de jornalismo de TV produzido e apresentado nas três principais cidades
brasileiras (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo), e transmitido ao vivo para o Brasil (VIZEU
et al., 2009). O Jornal Nacional –
primeiro noticiário em rede nacional da televisão brasileira, gerado no Rio de Janeiro, sede da TV Globo, para as suas emissoras em vários pontos do país, ao
32
vivo, através de um sistema da Embratel que associava a emissão por micro-ondas e por satélite (PATERNOSTRO, 2006, p. 36).
O primeiro Jornal da Rede Globo foi o pioneiro
nas reportagens em cores; o primeiro a mostrar imagens, via satélite, de acontecimentos internacionais no mesmo instante em que eles ocorriam. O estilo de linguagem e narrativa e a figura do repórter de vídeo tinham os telejornais americanos como modelo. Implantado os avanços tecnológicos e modificando sua linha editorial de acordo com as circunstâncias, mantém. Ainda hoje, a liderança de audiência (PATERNOSTRO, 2006, p.36).
No início dos anos 70, a estrutura tecnológica permitiu a formação e distribuição de
conteúdos por uma rede de telecomunicações em todo o território nacional, a denominada fase
do telejornalismo em redes apontada por Rezende (2010). As redes televisivas de amplitude
nacionais possuem uma distribuição maior do que as emissoras regionais, fator condicionante
do surgimento das características do modelo de jornalismo de TV, em tencionamento. Assim,
“com maior capacidade de produção, melhor artesanato e mais capital, realizam uma
programação de melhor qualidade e interesse do que aquela que a penúria das estações locais
pode lograr” (PRIOLLI, 2003, p.16).
Antes da transmissão via satélite, micro-ondas e do videoteipe, com exceção dos
filmes, cujas cópias eram distribuídas para várias cidades, não era possível distribuir
nacionalmente uma mesma programação, por meio de uma rede televisiva. A TV brasileira
era essencialmente baseada na transmissão ao vivo (em estúdio), com uma possibilidade e
limite tecnológico, distintos dos processos de transmissão ao vivo atuais (nas ruas). Com o
advento do videoteipe (VT) (1956-EUA)/(1960-BRA), abrem-se outras condições
tecnológicas para a produção noticiosa do jornalismo de TV – contudo, o custo do videoteipe
era elevado, fator que limitava ampla utilização cotidiana. O primeiro uso foi na inauguração
de Brasília, localizada longe do eixo Rio-São Paulo, em que a distância territorial não
permitia um televisionamento direto/ao vivo, na época (PRIOLLI, 2003). O processo
constituía, até então, em gravar as imagens em videoteipe e enviá-las por avião e distribuir o
conteúdo posteriormente, esta era a única forma disponível de fazer com que a população das
duas principais cidades participasse das cerimônias históricas (PRIOLLI, 2003). O uso de
meios de transportes como aviões, ônibus e carros para transportar conteúdos era um canal de
integração mecânico lento e custoso, mas presente no fazer do telejornalismo.
Antes da edição eletrônica de imagens ou do VT com uma tecnologia que
pavimentasse a configuração em linguagem expressiva, os instrumentos técnicos da época
33
possibilitavam apenas, com já foi dito, uma reprodução dos programas de forma ao vivo, em
estúdios. Com a adoção do VT abriu-se um novo mercado produtivo e começou o declínio da
produção regional. “As ‘ilhas’ regionais vão construindo pontes’ para São Paulo e Rio,
rompendo com o ‘isolamento’ e, ao mesmo tempo, anulando-se como centros produtores de
TV” (PRIOLLI, 2003, p.19).
O processo de nacionalização da distribuição da programação e a estruturação das
redes televisivas ganharam impulso pela relação tecnológica, política e legislativa a partir de
1969, quando o governo militar, com a criação do Ministério das Comunicações, em 1967,
estabeleceu o projeto político de integração nacional. O sistema brasileiro de radiodifusão
teve o fator político, na figura do governo federal, como o principal criador, bem como o seu
principal controlador, por meio do processo de concessão de licenças, em que se passou a
levar em conta não apenas as necessidades nacionais, mas também os objetivos de
nacionalizar o sistema de radiodifusão (MATTOS, 2010). Deste modo, o Ministério das
Comunicações e a Embratel inauguram “a Rede Básica de Micro-ondas, interligando as
diversas regiões do país por sistemas confiáveis de telefonia e transmissão de TV, rádio e
dados” (PRIOLLI, 2003, p.19). Com
o caminho facilitado pela decisão do governo de montar uma infraestrutura básica no setor de comunicações, que termina a médio prazo por universalizar a recepção de TV, encarada como instrumento estratégico desde o primeiro momento do novo regime (SIMÕES, 2003, p. 69).
O desenvolvimento do sistema brasileiro de televisão e as alterações nos modos de
distribuição do conteúdo televisivo, que vão do transmissor para videoteipe, e deste para a
rede de micro-ondas e o satélite – favoreceram a centralização da produção no eixo Rio-São
Paulo. Com o centro da produção televisiva no sudeste, o modelo de rede nacional com base
nas afiliadas, restringiu o número de programas e emissoras produtoras: Tupi, Globo,
Bandeirantes, Record, e ampliou o número de afiliadas e redirecionadoras de sinais. “Para
‘afiliar-se’ a uma rede, as estações regionais firmaram o compromisso de só exibir programas
adquiridos da geradora da programação, a chamada ‘cabeça de rede’” (PRIOLLI, 2003, p.19).
Neste cenário, a Globo tinha como objetivo a liderança da audiência em todos os
gêneros. Embora a emissora contasse com o apoio governamental, não bastava para explicar a
aceitação do público em todos os horários do elemento, característico da TV broadcast, a
grade de programação. A questão residiu, como reside hoje, na busca por um modelo
produtivo e sustentável convergente, em configurar uma “cadeia de produção em que custos,
34
qualidade artística e expectativas do público eram mutuamente determinantes” (MOREIRA,
2003, p. 57).
Os esforços empresariais e adoções tecnológicas, para a expansão do sistema de
distribuição da televisão comercial, marcam o período definido por Mattos (2010) de fase do
desenvolvimento tecnológico, em que se destaca também o rígido controle, sobretudo a
informação produzida e distribuída do jornalismo de TV pelo governo militar, a padronização
da programação e consolidação do conceito de rede televisiva. A TV era o meio de
comunicação mais suscetível às pressões, até porque é uma concessão pública, teoricamente
fiscalizada pela sociedade, e realmente era pelo governo e, portanto, mais suscetível ao
controle político (SIMÕES, 2003). Desta forma, o desenvolvimento tecnológico da televisão
brasileira teve um custo na autonomia jornalística televisiva, durante o governo de Médici
(1969-1974) foi exercido um controle rígido nos telejornais, por meio de punições corretivas,
“no sentido de aliviar o quadro da situação vivida no país” (MATTOS, 2010, p.110).
Durante anos Boni e Walter Clack procuraram condições empresariais para desenvolver seu trabalho. Na TV Globo, Roberto Marinho assegurou autonomia aos dois ‘profissionais’, fazendo questão apenas de manter o controle da linha editorial do Jornal Nacional (MOREIRA, 2003, p. 56).
Nas décadas de 70 e 80, a TV se tornou o meio de expressão do regime militar.
Com o endurecimento do regime militar a partir do final de 1968, a participação do jornalismo, que já era secundária na programação, ficou ainda mais reduzida. Os telejornais, geralmente feitos por equipes pequenas e usando imagens extraídas de filmes comprados ou cedidos por agências, se mantinham no ar apenas para cumprir a legislação. Exceção foi o jornal de Vanguarda – interpretava as notícias e mantinha uma equipe numerosa, com profissionais de prestígio indiscutível, saiu do ar por iniciativa própria depois do Ato Institucional no 5 (AI-5) (SIMÕES, 2003, p.71).
Os militares, por meio de uma política de crédito, facilitaram a aquisição de
televisores em 12, 24 ou 36 meses, contribuindo diretamente para a expansão do consumo de
conteúdo televisivo. Também influenciaram diretamente no desenvolvimento e na
modernização da infraestrutura de telecomunicações, para a proliferação da propaganda
governamental, criando estruturas de telecomunicações, tais como: as redes de micro-ondas, o
cabo coaxial, os satélites e a televisão a cor (MATTOS, 2010). Com a ampliação do
quantitativo de aparelhos televisivos nas residências brasileiras e a estrutura de distribuição
aperfeiçoada amplia-se o público dos conteúdos televisivos, em que se incluem os telejornais.
Assim,
35
a Embratel interliga o Brasil através de linhas básicas de micro-ondas – rotas – e adere ao consórcio internacional para utilização de satélites de telecomunicações – o Intelsat. Estava criada, então, a estrutura para as redes nacionais de televisão (PATERNOSTRO, 2006, p.31).
Com as ligações por micro-ondas e por satélites pavimentando a distribuição em
praticamente todo o território brasileiro, estavam estruturadas as condições tecnológicas para
a implantação das redes televisivas nacionais, com telejornais de um mesmo grupo de
comunicação (cabeça de rede e filial) e outros grupos de comunicação associados (afiliadas).
O Jornal Nacional, da TV Globo, produzido no Rio e distribuído ao vivo, via Embratel, para
os grupos de comunicação que formavam a rede, atingia um público de cerca de 60 milhões
de brasileiros (PATERNOSTRO, 2006).
As inovações e invenções tecnológicas que possibilitaram a adoção dos satélites de
telecomunicações favoreceram a consolidação das redes televisivas, “na década de 1960, o
Telestar I e o Intelsat viabilizaram transmissões internacionais” (BACELLAR, 2005, p.114).
Para os brasileiros, a primeira transmissão via satélite, ao vivo, foi em 3 de março de 1969,
direto do Cabo Kennedy, nos Estados Unidos, o lançamento da Apolo IX (PATERNOSTRO,
2006). Uma das vantagens da distribuição de conteúdo via satélite “é que quase nada constitui
barreira para as transmissões, como prédios altos, viadutos. Do local em que são captadas, as
imagens sobem até o satélite, descem até a emissora afiliada, são enviadas para a torre de
transmissão e chegam à casa do telespectador” (BACELLAR, 2005, p.115). Contudo, as
longas distâncias provocam delay, ou atraso de tempo, comumente percebido nas coberturas
internacionais. Outra desvantagem é o custo da utilização dos satélites em relação às
transmissões por ondas eletromagnéticas, as micro-ondas.
Neste período ocorreram alterações na imagem das reportagens telejornalísticas. A
primeira produção e distribuição de notícias ao vivo e em cores, de caráter experimental, em
coexistência da TV de imagem colorida e da preta e branca foi a copa de 1970. Entretanto, a
transmissão considerada oficial “ocorreu em 1972, na festa da Uva, em Caxias do Sul,
realizada pela TV Difusora de Porto Alegre” (BISTANE; BACELLAR, 2005, p.110). Este
processo demonstra como as mudanças tecnológicas na TV e no noticiário são gradativas,
visto que a adoção de novos instrumentos técnicos implica na troca de equipamentos e
configurações de novos processos produtivos. Na implantação da TV colorida no Brasil,
ocorria uma produção e distribuição de conteúdos coloridos e em preto e branco, mesclados,
especialmente nos noticiários (BISTANE; BACELLAR, 2005). Muito semelhante ao atual
36
processo de distribuição de imagem mesclada em formato 16:9 e 4:3, da implantação da TV
digital.
Ao final dos anos 80, com uma programação direcionada ao público, o SBT se torna a
rede vice-líder de audiência da TV brasileira. Em meio a uma lógica de programação popular,
sustentada nos índices de audiência, a emissora propõe um noticiário de credibilidade para
captar formadores de opinião e mudar a imagem da emissora, o Telejornal Brasil - TJ Brasil
(PATERNOSTRO, 2006). Como diferencial, o noticiário introduz no jornalismo de TV
brasileira, a figura do âncora, seguindo os modelos dos noticiários norte-americanos, assim “o
jornalista Bóris Casoy comentava e opinava sobre algumas reportagens que eram veiculadas.
O TJ Brasil consegue imprimir sua marca e leva as emissoras a reformular o formato de seus
telejornais” (PATERNOSTRO, 2006, p.34). Ao final desta fase, constata-se a existência de
quatro redes comerciais operando em escala nacional (Bandeirantes, Globo, Manchete e
SBT), duas regionais (Record, em São Paulo, e Brasil Sul, no Rio Grande do Sul) (MATTOS,
2010). Esta ampliação das redes televisivas está diretamente ligada a expansão do jornalismo
de TV também. Para Rezende (2010), este é o período de encontro da fase de alternativa ao
horário fixo das oito horas com a ancoragem à brasileira no telejornalismo. Mattos (2010)
aponta que, para a TV brasileira, é a fase da transição e da expansão internacional.
Mesmo após o regime militar, as quatro maiores redes de comunicação televisiva do
Brasil, que concentram quase 70% das emissoras (cabeça de rede e filiais), afiliadas e
retransmissoras no Brasil – Globo, Record, SBT e Band – mantiveram os laços de
interdependência com o sistema político. “Os governos civis e militares, que dominaram a
política brasileira durante as últimas quatro décadas, tiveram, nas emissoras de TV, fortes
aliadas para a divulgação dos assuntos de seus interesses e influências políticas”
(PORCELLO, 2008, p.49). Pois, em geral, a origem das emissoras de TV no Brasil, está
relacionada aos governos civis e militares. Na ditadura surgiram a Globo, o SBT e a
Manchete, que foram criadas desenvolvendo-se e se sustentando economicamente, até hoje -
com exceção da Manchete que posteriormente faliu - por meio de verbas publicitárias e
concessões oficiais, em uma interdependência, em que o governo, por sua vez, necessita do
sistema de comunicação televisivo como espaço político de distribuição dos ideais
governamentais (PORCELLO, 2008). Assim, uma emancipação do jornalismo de TV, no que
se refere aos conteúdos produzidos e distribuídos, parece criar constrangimentos na
interdependência entre empresariais e governamentais, pois os meios são em certos momentos
elementos de trocas entre empresas, elite e governo. Não é necessariamente uma imposição
política apenas que orienta a televisão, que reflete nas rotinas produtivas dos noticiários, mas
37
uma interdependência que caracteriza o próprio sistema brasileiro de televisão em expansão.
De 1994 até 2004, impulsionada pelo Plano Real, os brasileiros compraram mais de 40
milhões de aparelhos de televisão (PORCELLO, 2008). Esta nova política de financiamento
do governo civil, semelhante ao ocorrido no governo militar, amplia os televisores domésticos
e impacta no quantitativo do público, refletindo diretamente nas receitas dos grupos de
comunicação televisiva, provenientes da publicidade.
2.3 SISTEMAS CONCORRENTES E A SUSTENTAÇÃO DA TV ABERTA
As redes de televisão aberta comercial, constituídas por distintos grupos de
comunicação, mantêm a orientação de sobrevivência catalisando público para atrair verbas
publicitárias privadas ou governamentais, na fase da globalização e da TV paga, apontada por
Mattos (2010). Para Rezende (2010), este é o período dos canais segmentados, do
telejornalismo brasileiro. Ao longo do desenvolvimento tecnológico, e de sustentação
econômica dos grupos de comunicação, surgiram outros sistemas de transmissão de TV, que
concorreram de forma branda com a TV comercial aberta, pois o público da TV paga hoje é
de 26%, enquanto o da TV aberta chega aos 72% (BRASIL, 2014b). Mesmo em face da
diferença percentual, os sistemas concorrentes com a TV paga brasileira vêm promovendo
novas reflexões sobre a própria TV, bem como os noticiários. “Criada em 1980, a cable news
network, rede a cabo norte-americana, foi a primeira a oferecer jornalismo 24 horas por dia.
Transmissão ao vivo de uma guerra, a do Golfo Pérsico” (BISTANE; BACELLAR, 2005,
p.111).
A tevê por assinatura diferenciava, além do modelo de distribuição, pela segmentação
do público, também pelo modelo de sustentação que passava a se estruturar com mais um
elemento, a venda de conteúdos. Assim, os grupos empresariais14 implantaram o formato
americano para transmitir notícias 24 horas por dia, no sistema de TV brasileiro por meio da
Band News, da Rede Bandeirantes, Globo News, da Rede Globo, e a Record News, da Record
(BACELLAR, 2005). Na configuração de conglomerados empresariais, a televisão, bem
como o noticiário, é apenas parte de uma grande variedade de negócios, no seguimento de
comunicação. Desta forma, o desenvolvimento sócio-técnico da TV e dos noticiários,
constituintes das redes televisivas, em que
14 Na presente tese os termos: grupos de comunicação, grupos empresariais e conglomerados de comunicação têm o mesmo sentido.
38
o que se teme é que interesses corporativos sacrifiquem a produção de informações com independência e precisão, que interfiram na seleção de notícias e na abordagem das reportagens que vão ao ar (BACELLAR, 2005, p.112).
Em uma perspectiva mais critica, sobre o fato do jornalismo de TV fazer parte de um
grupo de comunicação,
a televisão é um universo em que se tem a impressão de que os agentes sociais, tendo as aparências da importância, da liberdade, da autonomia, e mesmo por vezes uma aura extraordinária (basta ler os jornais de televisão) (BOURDIEU, 1997, p. 54).
Os grupos de comunicação, na própria estrutura de sobrevivência catalizadora de
audiência, nem sempre conseguem preservar o equilíbrio financeiro, passando por crises
econômicas que influenciam na configuração dos modelos de negócios adotados no setor. Nos
anos de 1990, o sistema de comunicação brasileiro se encontrou em uma significativa crise
financeira, contraditoriamente influenciada pelo clima de otimismo gerado pelo crescimento
da economia e a estabilidade do câmbio no Plano Real (BACELLAR, 2005). Para manter a
expansão do sistema de produção e distribuição de conteúdos, bem como o domínio do setor,
alguns grupos empresariais de comunicação contraíram dívidas em dólares, com o intuito de
diversificação dos negócios e de entrada nos setores de distribuição de conteúdo como: TV a
cabo, telefone celular e internet. Entretanto, com a desvalorização do Real, as dívidas se
multiplicaram para valores muito elevados, e os grupos de comunicação recorreram ao
“parceiro” sistema político, na figura do BNDES, um valor de cerca de
dez bilhões de reais. A Globopar - holding das organizações Globo - respondeu por 5,6 bilhões de reais, 60% do total. [...] a questão é se a mídia pode pedir ajuda a um banco estatal e ao mesmo tempo manter independência e uma visão crítica em relação ao governo (BACELLAR, 2005, p.112).
As crises econômicas, tais como as geradas pela desvalorização do Real, sofridas pelo
setor e a concentração de meios, vão formando os elementos que pavimentam as buscas por
estratégias de produção, com o objetivo de redução de custos operacionais, como esperança
de sobrevivência do tradicional modelo de sustentação dos grupos de comunicação, no atual
contexto de convergência.
Com base na perspectiva de garantir público, centro do modelo de sustentação, a TV
brasileira e os jornais televisivos podem ter colocado em segundo plano a essência ou
propósito social de prestação de serviço, se obrigando a fazer concessões à lógica de mercado
e do marketing, introduzidos pelas televisões comerciais que nem sempre são fáceis ou
39
simples de conviver e/ou negociar no fazer noticioso de TV, com credibilidade. A lógica do
índice de audiência, base do modelo de sustentação, “capaz de conferir a certos produtos
(culturais ou mesmo políticos) ou a certos ‘produtores’ o substituto aparentemente
democrático” (BOURDIEU, 1997, p. 110), de legitimidade ou suposta qualidade, baseada
apenas no interesse do público. Assim, os índices de audiência, com base referencial da
captação publicitária, definem a programação televisiva, e o conteúdo dos noticiários
(BRASIL, 2005).
Os programas vinculados na televisão estão constantemente sujeitos às pressões dos
índices de audiência (BOURDIEU, 1997). Na televisão, “o índice de audiência exerce um
efeito inteiramente particular: ele se retraduz na pressão da urgência. A concorrência entre os
jornais, a concorrência entre as TVs” (BOURDIEU, 1997, p. 38). Estas disputas entre as redes
televisivas muitas vezes arbitradas pelo índice de audiência se traduz na própria lógica da TV
brasileira sustentada pela conversão das audiências em receita publicitária. Assim, os grupos
de comunicação, diante do modelo de sustentação da televisão e os indicadores, buscam
novas formas de produção e distribuição da notícia, para enfrentarem os problemas de
quantitativo do público para os conteúdos, somado ao atual contexto de convergência, em que
ocorre uma justaposição de tradicionais e novas mídias. Para Jenkins (2009), os grupos de
comunicação não devem operar do mesmo modo, pois estão “perdendo os espectadores mais
jovens, que esperam exercer maior influência sobre a mídia que consomem” (JENKINS,
2009, p. 326). A distribuição de conteúdo começa a se relacionar com a máxima: “o que eu
quero, quando eu quero e onde eu quero”. Pois recursos de estruturas digitais como
o PVR ( similar a um videocassete ‘inteligente’, que grava o que o usuário espera) e o EPG (assistente pessoal para que o espectador/usuário monte a própria grade) enfraquecem a economia do break e obrigam as empresas a pensar em novas possibilidades de financiamento. O conceito de grade de programação, que no Brasil foi implantado no final dos anos 1950 por Boni e Walter Clark, perde força (CANNITO, 2010, p.116).
O modelo de sustentação das mídias tradicionais, com a adoção das mídias digitais
vem sendo corroído15, obrigando os grupos de comunicação a reverem os custos de produção,
e novas formas de captação de público.
2.4 INTERNET E NOVOS RUMOS DA TV
15 O termo corroído está empregado no sentido de desgaste, superficial, mas que requer cuidados.
40
Na difusão das estruturas computacionais na sociedade, a internet vem se vinculando
aos artefatos16 tradicionais e aos processos de produção de conteúdos jornalísticos na TV,
como condicionante da configuração de novos modelos paradigmas, como fase atual do
telejornalismo apontado por Rezende (2010). Esta vinculação de renovação de modelo pode
ser orientada para otimizar as relações, harmonizando o sistema competitivo multimidiático
(HERREROS, 2004), evitando o que Monzoncillo (2011) chama de canibalismo de audiência,
no modelo de sustentação da rede televisiva aberta brasileira, em que as mídias digitais
podem competir com as mídias tradicionais, nas junções dos meios nos grupos de
comunicação. No contexto atual da TV que envolve as duas fases apontadas por Mattos
(2010): a) fase convergência e da qualidade digital; e b) fase da portabilidade, mobilidade e
interatividade digital17.
A proliferação de dispositivos digitais e a facilidade de distribuição de conteúdos pela
internet são dois pontos que impactam na função e no público da televisão no complexo
sistema de mídias na sociedade. Na perspectiva de Mattos (2010), o desenvolvimento
tecnológico que começou a modificar a vida das pessoas, ao longo da convergência entre a
televisão e a internet. Esta convergência entre os meios contribuem para a busca pela
interatividade cada vez maior, com base nas NTIC’s, em que se destaca a internet, como fator
de alteração/corrosão do modelo de sustentação, em meio à integração entre a televisão e a
internet. Segundo previsões, “o processo de migração deveria demorar de dez a quinze anos e
movimentaria recursos da ordem de $ 80 a 100 bilhões, incluindo investimentos das
emissoras em infraestrutura para reformular os sistemas de transmissão e renovação do parque
de televisores nos lares brasileiros” (MATTOS, 2010, p.161).
Nos últimos anos, a TV, como aparelho, vem ampliando a função de suporte para
outros dispositivos, tais como VHS, DVD, Games, e mais recentemente a internet, deixando
de ser unicamente receptor dos conteúdos radiodifundidos. Desta maneira, as características
da TV vêm se ampliando com as tecnologias digitais de alta definição de captação e
distribuição de imagem e som, com programação atravessando as madrugadas, múltiplos
canais, DTV, Televisão fechada, televisão portátil, disponibilizada em telefones celulares,
colocada no interior de metrôs, ônibus e até automóveis (HOHLFELD, 2010).
A invenção da Internet e posterior adoção coloca a televisão em um contexto
diferenciado, que reconfigura a televisão na perspectiva de redução dos conteúdos
16 Para a presente tese instrumentos, artefatos, plataformas e dispositivos são compreendido como termos semelhantes. 17 Embora Matos (2010) aponte como fases distintas e sequenciais, ambas as fases estão em cursos para a presente tese.
41
generalistas para todo tipo de público (HERREROS, 2001). Neste cenário, a TV pode estar
juntamente com um complexo conjunto de fatores sociais, culturais, políticos e econômicos,
em uma alteração ou reconfiguração dos conteúdos e das rotinas produtivas.
A convergência tecnológica implica uma reorganização do processo de produção e
distribuição jornalística, favorecendo o surgimento de novos modelos de produção
jornalísticas, com a proliferação dos recursos característicos das mídias digitais, tais como
distribuição multiplataforma. No caso específico do jornalismo de TV, além dos recursos de
distribuição multiplataforma, as grandes redes televisivas vêm incorporando, na produção
noticiosa, imagens de amadores, produzidas com telefones celulares, que não seguem
quaisquer dos critérios profissionais de controle e verificação da informação (GOMES, 2011).
A princípio, tais reconfigurações e alterações estão centradas na lógica da transposição,
calcada na crença de que a TV estava sendo digitalizada para a internet. Entretanto, a internet
também está indo para a TV, o que gera uma complexidade maior aos produtos da TV, como
os noticiários, que se encontra em um cenário de coexistência/junção de meios com funções
tradicionais e digitais, possibilitando fluxos de conteúdos multiplataformas e um
descolamento do noticiário, com o seu meio de origem: a TV.
No atual cenário, o jornalismo de TV ainda resiste, para alguns autores, como
elemento fundamental na distribuição de informação noticiosa, nas atuais sociedades liberais
democráticas18. Os noticiários das redes televisivas nacional constituem-se como “um lugar
de referência para os brasileiros muito semelhante ao da família, dos amigos, da escola, da
religião e do consumo” (VIZEU; CORREIA, 2008, p. 12). Para Porcello (2006), os
18 A expressão sociedade democrática liberal está relacionada à junção de três termos, primeiramente a sociedade civil, que são aqueles indivíduos “que se reúnem num só corpo e adotam uma lei comum estabelecida e uma magistratura à qual apelar, investida da autoridade de decidir as controvérsias que nascem entre eles, se encontram uns com os outros em Sociedades civis”; (LOCKE, 1983, p. 132-133). Este corpo, ao qual fazem parte os membros da sociedade, possui tensões no que se referem aos interesses e direcionamento do Estado e, dificilmente, constituiriam um único corpo homogêneo. O termo democracia, na presente tese é compreendido na proposta de Bobbio (2006) é estabelecer uma definição mínima de democracia. Assim, a democracia é entendida como um conjunto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelece quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais procedimentos (BOBBIO, 2006). O termo liberal está relacionado ao Estado liberal e Estado democrático, que são interdependentes basicamente em dois aspectos: o primeiro é a necessidade de garantir certas liberdades para o exercício do poder democrático dos cidadãos autorizados a decidir; o segundo aspecto é que se torna necessário o poder democrático para garantir a existência e a manutenção das liberdades fundamentais. Nesta perspectiva, dificilmente um estado não liberal pode assegurar um funcionamento pleno da democracia, porque é pouco provável que um estado não democrático seja capaz de garantir as liberdades fundamentais. “A prova histórica desta interdependência está no fato de que o estado liberal e o estado democrático, quando caem, caem juntos” (BOBBIO, 2006, p. 21). Neste sentido, o jornalismo se apresenta como um dos fatores da construção do espaço público, exercendo um importante papel na elaboração das regras de visibilidade e transparência, sociabilizando informações para construção da realidade social em democracias liberais (MARQUES, 1997).
42
noticiários “são hoje a principal fonte de informação da sociedade brasileira: mais barata,
mais cômoda e de fácil acesso [...]. O telejornalismo ocupa hoje um lugar central na vida dos
brasileiros” (PORCELLO, 2006, p.13). Segundo Lage (2004), os noticiários de horário fixo,
como os evening news (boletins do começo de noite), são os de maior audiência, entre os
jornais de TV. No reforço a essas perspectivas, a Pesquisa Brasileira de Mídia de 2014 e 2015
aponta que 79% dos brasileiros assistem TV para ver notícias, e 67% dos internautas acessam
sites em busca de notícias (BRASIL, 2014b). A Pesquisa Brasil (2014a, 2014b) também
mostra melhorias na confiança dos brasileiros nas notícias da TV, com 49% na pesquisa de
2014 e 54% para a pesquisa de 2015; com relação às notícias na internet, a confiança aponta
ascensão, como na TV, na pesquisa de 2014 registra-se 28% e na pesquisa de 2015 atinge
30%. Curado (2002) lembra que o noticiário faz parte da programação da TV brasileira pela
qualidade do produto, necessidade social, audiência numérica, mas também por uma
determinação legal, do decreto lei 52.795 de 31.10.1963. O mesmo refere-se ao regulamento
dos serviços de radiodifusão, e estipula que as emissoras dediquem 5% do horário da
programação diária ao serviço noticioso (CURADO, 2002).
Monzoncillo (2011) faz uma reflexão sobre as mutações relacionadas ao meio
televisivo que foi a referência do século passado; com o advento da internet se estabelece uma
reformulação na cadeia de valores tradicionais, que separavam produção, distribuição e
público, em que “os públicos generalistas e massivos dão origem a novos cidadãos que
exigem a liberdade de escolha e de participar” (MONZONCILLO, 2011, p.2)19. Deste modo,
estabelece-se o desenvolvimento das televisões temáticas que pressupõe uma lógica distinta
da televisão de massa e começa a estruturar a televisão de uso flexível aos interesses pessoais
(on demand / dieta de conteúdo). A TV está passando por um processo de fragmentação e
digitalização de conteúdos, além de menos coletiva e mais individual (pessoal/personalizada).
As telas ampliaram-se em termos de tamanho da imagem, e multiplicou-se em muitos
dispositivos, incluindo os dispositivos móveis. Os processos digitais, coexistentes com os
modelos e processos anteriores, estão viabilizando as condições de alteração da TV e os
conteúdos produzidos, relacionados aos fatores culturais, políticos e econômicos.
A alteração na cadeia de valores tradicionais da TV, oriunda da adoção social da
tecnologia, em especial, no que se refere à produção de conteúdos, coloca certa dificuldade
em conceituar o próprio meio.
19 Do original: “las audiencias interclasistas y masivas dan lugar a nuevos ciudadanos que reivindican la libertades de elegir y de participar” (MONZONCILLO, 2011, p.2) [Tradução nossa]
43
Esta evolução nas redes e dispositivos resultou em novas formas de entretenimento que questionam o próprio conceito de TV. Se trataria do conceito de ‘nossa Televisão’ em relação ao passado: ‘minha TV’ e ‘sua televisão’. Esta seria a nova maneira de entender a nova televisão, opinativa, mas o ponto crucial está na produção de conteúdo. (MONZONCILLO, 2011, p.2)20
Neste sentido, se estabelece o desafio de refletir o telejornalismo, bem como o suporte
original televisivo, no atual contexto tecnológico, frente às inovações, invenções e adoções
que estão transformando tanto o meio como o veículo jornalístico. Por meio do presente
panorama permite organizar as fases da televisão e o telejornalismo de rede nacional
brasileiro, com base em: produção, atuação profissional, distribuição, suporte, referência de
noticiário, notícia, captação de imagem e modelo de sustentação; para precisar o atual estágio
do meio e veículo jornalístico no percurso da compreensão das rotinas produtivas flexíveis.
Ao longo deste primeiro capítulo evidencia-se que o modo de adoção social, os aspectos
econômicos, culturais e a práticas profissionais, direcionaram as possibilidades das inovações
e invenções tecnológicas, distinto de uma abordagem determinista ou fatalista tecnológica,
que exclui o papel dos agentes sociais.
Tabela 01 – Fases da TV e do jornalismo televisivo estruturado com base na distribuição DISTRIBUIÇÃO DO TELEJORNAL NO BRASIL Regional/Local – 19 de
setembro de 1950 Rede Televisiva – 1 de setembro 1969
Rede Televisiva Flexível – 2 de dezembro de 2007
Fases da TV brasileira – Mattos21 (2010)
Fase elitista – (1950 - 1964)
Fase populista – (1964 - 1975)
Fase do desenvolvimento tecnológico – (1975 - 1985)
Fase da transição e da expansão internacional – (1985 - 1990)
Fase da globalização e da TV paga – (1990 - 2000)
Fase convergência e da qualidade digital – (2000 - ....) Fase da portabilidade, mobilidade e interatividade digital – (2010 - ....)
Fases do Jornalismo televisivo – Rezende (2010)
Influência radiofônica – (1950 -1969)
Busca da linguagem própria – (1960 - 1969)
Telejornalismo em redes – ( 1969 - 1983)
Alternativa no horário nobre – (1983 - 1990)
Ancoragem à brasileira –
Busca de novos modelos – (2002 - ....)
20 Do original: “Esta evolución de redes y dispositivos ha dado lugar las nuevas formas de entretenimiento que cuestionan el proprio concepto de televisión. Se trataría del concepto de “nuestra televisón”, frente a los del pasado: “mi televisión” y “su televisión”. Ésta sería la nueva forma de entender la nueva televisión, etiquetada, pero el punto crucial está en la producción de contenidos” (MONZONCILLO, 2011, p.2) [Tradução nossa] 21 Os termos elitista e populista estão preservados na presente tese, com base na perspectiva de Matos (2010), entretanto, aponta-se a preferência por restrita e ampla, respectivamente.
44
(1990 - 1997)
Canais segmentados – (1997 - 2002)
Estrutura dos telejornais até as rotinas produtivas
flexíveis
Referência: O Reporte Esso (TUPI), embora o primeiro tenha sido o Imagens do Dia (TUPI), foi o Jornal de Vanguarda (Excelsior) que rompeu com o rádio.
Característica da Notícia: Radiofônica em busca da televisiva (profissionais do rádio) – Estúdio.
Gravação: Filme – analógica – óptico – revelação.
Produção: relação quase nula com outros veículos, quanto ocorria eram adotados canais de integração como transporte aéreos e terrestres - canais mecânicos de integração.
Distribuição: sistema analógico de antenas de transmissão.
Atuação profissional: polivalência funcional e temática.
Suporte : TV preto e branco
Redação: sem redação própria
Modelo de sustentação 1 – patrocínio (grande interferência no telejornal).
Referência: Jornal Nacional.
Característica da Notícia: Televisiva (profissionais do rádio) – Estúdio / repórter / Correspondentes /ao vivo.
Gravação: VT – analógica – eletromagnético
Produção: relação com outros veículos, por canais de integração por rebatimento de sinais analógico vía satélite - canais analógicos de integração.
Distribuição: sistema analógica satélite.
Atuação profissional: polivalência funcional e temática.
Suporte : TV – preto e branco – transição para colorido – predominância do colorido a partir do Jornal Nacional.
Redação: específica por meios.
Modelo de sustentação 2 – anúncios (menos influência).
Referência: em flexibilização, busca de um novo modelo.
Característica da Notícia: televisiva em busca de uma possível linguagem convergente. (web cam/ imagens de celular/ ampliação das fronteiras –novo ao vivo).
Gravação: HD –Digital.
Produção: relação com outros veículos, por canais digitais de integração.
Distribuição: sistema digital – multiplataforma – dois sistemas (em transição de sistemas).
Atuação profissional: polivalência multimídia, compilando os tipos funcional, temática e midiática.
Suporte : multiplataforma.
Redação: integrada verticalmente por canais.
Modelo de sustentação 3 – em flexibilização conservadora, busca de um novo modelo.
Fontes: do Autor com base em Rezende (2010) e Mattos (2010)
O panorama traçado sobre o desenvolvimento sócio-técnico da TV e do jornalismo
televisivo, esquematizado na tabela 01 acima, permite a contextualização do ambiente
tecnológico televisivo em que a atual sociedade convive, demonstrando o modo como a
sociedade se inter-relaciona com o desenvolvimento da TV em rede televisiva, em diversos
fatores políticos, econômicos e culturais, bem como os processos de inovação, invenção e
adoção das novas tecnologias digitais, em especial as vinculadas ao noticiário de TV, em um
processo sócio-técnico. Assim, o presente capítulo abre o caminho para o debate do atual
45
contexto em que o telejornalismo se encontra, com base na síntese da Tabela 01: Rede
Televisiva Flexível.
Com base na tabela 01, o atual estágio do telejornalismo depara-se com a busca de
novos modelos, para além do último modelo consagrado dos anos 70, em uma configuração
que envolve portabilidade, mobilidade e interatividade digital. Paralelo ao cenário do
jornalismo de TV encontra-se o meio televisivo em um estágio de processo de convergência e
qualidade digital. Os aspectos do entorno de meio e veículo, apontam para distribuição de
conteúdos em formato digital para multiplataforma, em que as redações das redes televisivas
estão integradas verticalmente, em meio à busca de um novo modelo de sustentação dos
grupos de comunicação. Este é o atual contexto que a pesquisa se debruça.
O capítulo seguinte traça a abordagem sobre o jornalismo e a notícia, na perspectiva
da construção social da realidade. Para compreender e consolidar um repertório para
compreender a cadeia produtiva do telejornalismo das redes televisivas de início de noite, no
atual contexto de convergência, em que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis.
46
3. JORNALISMO E CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE
O atual capítulo dedica-se a revisar as bases do jornalismo, para consolidar um
repertório sobre as Rotinas Produtivas Flexíveis do telejornalismo comercial de início de
noite em rede televisiva, no atual contexto de convergência, com base na construção social da
realidade e na compreensão da rotina e o fazer jornalístico. As reflexões apresentadas
subsidiam as questões norteadoras da presente tese, que se refere ao produto final das
redações, e a relação com as estratégias de integração na percepção da qualidade das notícias,
considerando a dimensão de produção e cultura profissional.
O centro destas reflexões reside na notícia, que pode ser compreendida como um
produto construído por rotinas que envolvem o contexto social da produção e os fatores
econômicos, culturais, organizacionais, as características técnico-expressivas, próprias de
cada rede de comunicação televisiva, elementos de compreensão da realidade social (VIZEU,
2005). Na produção de notícias estão colocadas a cultura profissional; a estrutura tecnológica,
as questões de autonomia na organização do trabalho dos meios em uma redação, sobre as
quais residem as convenções profissionais que definem a notícia e legitimam o processo
produtivo, desde a captação do acontecimento, passando pela produção, edição até a
distribuição. Assim, as notícias, que na perspectiva da relevância social (credibilidade) são
convenções que permitem ou auxiliam a tornar a realidade social cotidiana legível
(SCHUDSON, 1993; GOMES, 2011). As notícias são produzidas institucionalmente nas
redações, de modo a se adaptarem ao mundo social dos jornalistas e público, porque as
convenções de uma sociedade, organizadas pelas maneiras dinâmicas cotidianas de pensar,
como um recurso de compreender, interpretar e construir a própria realidade social que cerca
o público.
Um ponto relevante para reflexão da produção da notícia, com base na construção social
do real, relacionado às práticas jornalísticas nas redações integradas das redes televisivas, nas
Rotinas Produtivas Flexíveis, é o produto noticioso. Segundo Mouillaud (1997), a
compreensão de notícia está diretamente ligada aos processos internos espaciais e temporais
legitimados pelos perfis profissionais e práticas jornalísticas. Para McCombs (2009), durante
o século XX foram amplamente disseminados os filmes, rádio, televisão e televisão a cabo, e
ao término do século surgiram “a internet e uma mistura caleidoscópica de tecnologias de
comunicação que continuaram a obscurecer as tradicionais fronteiras que existem entre as
várias mídias e seus conteúdos” (MCCOMBS, 2009, p. 8). Assim, as sucessivas inovações e
47
adoções tecnológicas na produção e distribuição de informações ampliaram questões
profissionais, reduziram o tempo e as etapas de produção nas redações, introduzindo “novos
modos de formatação do conteúdo adequados aos respectivos suportes de transmissão, sendo
a digitalização e a comunicação por rede manifestação deste processo na transição para o
século XXI” (FRANCISCATO, 2005, p. 19).
3.1 A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE E OS ACONTECIMENTOS
A construção da realidade é um processo socialmente determinado, intersubjetivamente
produzido, e institucionalizado pelas práticas e pelos papéis da vida cotidiana (ALSINA,
2009). Por que o mundo da vida cotidiana é algo
que as pessoas constroem por meio do uso dinâmico de suas mentes e pela aceitação dos modos de ver e falar convencionais – e não necessariamente ‘verdadeiros’ [...] que o ser humano, individual e coletivamente, constrói a realidade com a qual ele se relaciona (SCHUDSON, 2010, p. 16).
É neste sentido que o jornalismo se apresenta como um dos fatores da construção do
espaço público, exercendo um importante papel na elaboração das regras de visibilidade e
transparência, sociabilizando informações para construção da realidade social em democracias
liberais (MARQUES, 1997). O jornalismo opera na construção da realidade, mas também é
constituído por essa mesma realidade que é difundida por meio das notícias (CABRAL,
VIZEU, ROCHA, 2013). Como um processo dinâmico e complexo, o jornalismo também se
alimenta, compreende e interpreta a realidade social, podendo ser considerado como um
recurso de interpretação sucessiva da realidade social nas democracias liberais. Deste modo, o
jornalismo, como um processo de
mediação cultura de acontecimentos, selecionados, categorizados, comparados, interpretados e hierarquizados para serem transformados em notícia, e ser virem de apoio para a sociedade possa referenciar-se diante do mundo (MARQUES, 1997, p. 525).
Neste processo, a adoção de novas tecnologias para produção integrada e distribuição
multiplataforma das notícias, realizada por perfil jornalístico polivalente, estrutura-se como
recurso para a compreensão, interpretação e construção da realidade social, no atual contexto
de convergência, em que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis, nas redes televisivas
brasileiras.
48
3.2 A NOTÍCIA E A RELAÇÃO TECNOLÓGICA
Nas práticas jornalísticas residem as tecnologias, no fazer da cadeia produtiva da
notícia televisiva, e também as culturas organizacionais, dos processos de: captação do
acontecimento, produção, edição e distribuição. Para Franciscato (2005) existe uma relação
direta entre sociedade, tecnologia e notícia, a atual “percepção das notícias é diferente daquela
das populações no início da Idade Moderna porque tanto a nossa tecnologia quanto o nosso
relacionamento com ela são radicalmente diferentes” (FRANCISCATO, 2005, p. 33). Assim,
cada época detém os próprios meios de comunicação predominantes, rotinas produtivas e
processos operacionais, bem como a própria compreensão do que seja notícia.
Na perspectiva de Alsina (2009): “A notícia é uma representação social da realidade
cotidiana, gerada institucionalmente e que se manifesta na construção de um mundo possível”
(ALSINA, 2009, p. 14). O autor salienta que tal conceito varia de acordo com as
características que o processo produtivo estabelece: obviamente, o processo depende da
adoção social da tecnologia nas redações, bem como os agentes sociais e modo de
distribuição. Assim, a notícia é uma construção resultante
da cultura profissional, da organização do trabalho, dos processos produtivos, dos códigos particulares (as regras de redação), da língua e das regras do campo das linguagens, da enunciação jornalística e das práticas jornalísticas (VIZEU, CORREIA, 2008, p. 13).
Para Wolf (1985),
a notícia é o produto de um processo organizado que implica uma perspectiva prática dos acontecimentos, perspectiva essa que tem por objetivo reuni-lo, fornecer avaliações, simples e diretas, acerca das suas relações, e fazê-lo de modo a entreter os espectadores (WOLF, 1985, p. 191).
Na perspectiva de Fronticuberta (1993),
A princípio, a notícia jornalística foi definida como a comunicação para um público interessado de um fato que tinha acabado de ocorrer ou anunciado por um meio de comunicação de massa. O conjunto de notícias devia ser um reflexo de uma realidade que tinha que descrever, explicar e interpretar para o público formar a opinião pública. (FRONTICUBERTA, 1993, p. 15)22
22 Do original: “En un principio la noticia periodística se definió como la comunicación a un público interesado de un hecho que acababa de producirse o de anunciarse através de unos meios de comunicación masivos. El conjunto de noticias debía ser el reflejo de una realidad que tenía que describirse, explicarse e interpretarse a los receptores para que pudiera formarse la opinión pública”. (FRONTICUBERTA, 1993, p. 15) [Tradução nossa]
49
Schudson (2010) apresenta a notícia como algo publicamente notável dentro de um
enquadramento de natureza sócio-cultural variável de sociedade para sociedade, do que é ser
público e notório (SCHUDSON, 2010). Para Groth (2011), a notícia está relacionada primeira
e permanentemente ao presente da luta cotidiana do indivíduo por preservação e
desenvolvimento próprio, em que a mesma orienta e informa o que é diretamente útil, o que o
individuo deve adquirir, ou o que é prejudicial, do qual ele deve se defender. Nesse sentido, a
presente tese trabalha com a noção de notícia que alinha as perspectivas dos citados autores,
como: uma representação social dinâmica da realidade do mundo da vida cotidiana produzida
institucionalmente, em coexistência com as adoções tecnológicas nas rotinas produtivas
jornalísticas, como recurso para compreender, interpretar e construir, continuamente esta
mesma realidade representada.
Contudo, a definição ou compreensão de notícia não é algo estático/fixo, existem
aspectos que possibilitam modificações na estrutura do produto jornalístico, além do
tecnológico, como os já citados fatores culturais, econômicos e políticos, apresentados no
primeiro capítulo, da presente tese. Os meios de comunicação, ao longo do desdobramento
sócio-tecnológico, foram modificando a noção de notícia, em que a televisão, por exemplo,
introduziu uma nova forma de fazer jornalismo, para meios audiovisuais. Na “introdução dos
noticiários televisivos no ritual diário das notícias, a formação do presente social se há
enriquecido com a possibilidade de ‘ver as noticias’” (GOMIS, 1991, p.24)23. As novas
mídias digitais abrem novas possibilidades relacionadas à própria estrutura do meio
emergente, como compartilhar e ou escolher as notícias, em uma nova perspectiva de
distribuição do conteúdo telejornalístico em portais de um mesmo grupo de comunicação em
rede televisiva. Neste sentido, a indumentária tecnológica, socialmente adotada, gera mais
complexidade ao processo desde a cadeia produtiva da notícia do jornalismo nas redações
(integradas por canais digitais), passando pela distribuição de conteúdo noticioso
(multiplataforma) e perfil profissional (polivalente multimídia24), em rede televisiva.
23 Do origianl: “Con la introduccion de los noticiarios televisados en el ritual diario de las noticias, la formación del presente social se ha enriquecido con la posibilidad de ‘ver las noticias’”. (GOMIS, 1991, p.24) [Tradução nossa] 24 Segundo Salaverría (2014), o termo descreve um perfil de jornalista caracterizado por concentrar distintas funções em distintos meios, que no passado eram desempenhados por diferentes profissões. Este processo de multiplicação de funções e meios foi propiciado por múltiplos fatores, entre os quais se destacam a convergência das tecnologias digitais e as estratégias de integração das redações (SALAVERRÍA, 2014).
50
3.3 ACONTECIMENTOS, FATOS E NOTÍCIAS
Em uma perspectiva de construção social da realidade, Vizeu e Correia (2008)
apontam que os fatos que são transformados em notícia, nas redações, não são apenas
selecionados, mas ativamente construídos, no processo de produção da notícia do jornal de
TV. Na vida cotidiana existem os acontecimentos que são selecionados pelo padrão do fato,
no fazer jornalístico e transformados em notícias. Assim, o “’fato’ é o paradigma universal
que permite descrever os acontecimentos como uma regra” (MOUILLAUD, 1997, p. 67). Em
geral, as redes televisivas constituídas pelos grupos de comunicação, no centro das redações
jornalísticas, “pode ser entendida como uma indústria que tem como inputs os acontecimentos
e como outputs as notícias” (ALSINA, 2009, p. 12-13), circunscrito na forma pela qual os
acontecimentos são transformados em informação: o padrão do fato ou paradigma factual. Tal
padrão surge das necessidades e das estruturas das sociedades democráticas liberais
(MOUILLAUD, 1997). A questão é refletir este mesmo padrão em um contexto de
necessidade e estrutura da atual sociedade, bem como nas atuais redações jornalísticas, em
que as tecnologias digitais permeiam a captação, elaboração, redação e edição do fazer
noticioso, nas redes televisivas. Para Wolf (2005), o paradigma factual reside nos
valores/notícias, os quais definem “os acontecimentos que são suficientemente interessantes,
significativos e relevantes para serem transformados em notícias” (WOLF, 2005, p. 179-180).
Na construção social do cotidiano, os fatos tornam-se informações e perdem a relação
de próximo e de distante que os separavam territorialmente (MOUILLAUD, 1997). Desta
forma, uma notícia pode ter caráter de local, regional e nacional, porque o acontecimento,
organizado pelo padrão do fato é móvel, como “um fragmento extraído de uma totalidade que
por si só não pode ser compreendida. A cena é o local nativo do acontecimento”
(MOUILLAUD, 1997, p. 61). Neste sentido, o acontecimento tradicionalmente é a variação
comunicada do sistema em que o público se sente implicado, seguindo alguns elementos
básicos, como: a) variação do sistema; b) comunicabilidade do fato; e c) implicação da
sociedade (FONTCUBERTA, 1993; ALSINA, 2009). Contudo, o status de notícia e
acontecimento não é fixo, dentro de uma perspectiva informativa em que o acontecimento
está no âmbito do público e a notícia da produção e emissão, assim o que caracteriza notícia
para um sistema produtivo pode ser caracterizado como acontecimento para outro (ALSINA,
2009). Bem como o próprio caráter de abrangência da notícia não é fixo, o que é uma notícia
de caráter local, regional para determinado público passa a ser nacional para outros. Este
aspecto favorece o compartilhamento de notícias entre veículos jornalísticos, de uma mesma
51
rede televisiva, pelos canais digitais de integração das redações, para posterior
contextualização pelo telejornal de veiculação da matéria. Neste sentido, considerando que o
fato é a transformação do acontecimento em informação, a realidade pode fragmentar-se em
unidades completas e independentes (fatos), capazes de interpretar-se em formas de textos
curtos e autônomos (notícias) (GOMIS, 1991). Desta maneira, a notícia é a expressão
jornalística de um fato capaz de interessar e suscitar repercussões/comentários, visto que um
fato que reúna tais condições se desdobrará em outros fatos (GOMIS, 1991).
A informação é uma condição básica para as decisões da vida em sociedades
democráticas liberais, frente às ameaças e oportunidades cotidianas. As redações dos
telejornais, das redes televisivas, são instituições dinâmicas nas quais incidem diversos fatores
na produção da informação, tais como: a) forças constitutivas do mercado (dimensões
externas ao telejornalismo); b) processos e regras internas do sistema (dimensão
organizacional dos grupos, que compõem as redes de comunicação televisiva, e dimensões,
produção e cultura profissional); e c) adoções tecnológicas (dimensões externas ao
telejornalismo) (ALSINA, 2009). Uma das forças constitutivas do mercado relacionada com o
controle da redação, alterando a função da notícia, é a ampliação da função de
“entretenimento” no jornalismo, referente ao denominado de jornal multiuso, em detrimento
do jornal informativo, como alternativa de preservação conservadora do modelo de
sustentação. O jornal diário como um compêndio de dicas para sobrevivência urbana
(SCHUDSON, 2010). Na esfera dos processos e regras internas, em geral, os novos
jornalistas tendem a se esforçar para a adaptação dentro da “organização e nos seus costumes
de produção. De qualquer forma, será gerado um processo de socialização, e os novos
jornalistas imitarão o sistema de produção da organização” (ALSINA, 2009, p. 203).
Organização esta, a qual se encontra em reconfiguração de processos pela junção de
tradicionais e novas mídias, no contexto de convergência jornalística.
3.4 CARACTERÍSTICA DA NOTÍCIA COTIDIANA E O SUPORTE
Para Groth (2011), as características centrais das notícias são: a) periodicidade (oferta
e demanda); b) universalidade (de fatos ou de cotidianos); c) atualidade (proximidade
temporal e novidade); e d) publicidade (fluxo de informação). Tais características estão
presentes na cadeia produtiva dos noticiários televisivos, nos processos e etapas do fazer
jornalístico nas redações, por meio dos fluxos de distribuição da informação de novos fatos
cotidianamente ofertados. Entretanto, algumas características, como a periodicidade,
52
universalidade e atualidade eram tanto uma limitação, como uma possibilidade tecnológica,
quanto, econômica de mercado, no processo de transformação dos grupos de comunicação em
redes (FRANCISCATO, 2005).
Mattos (2010) aponta como exemplo de tais limitações, que a produção das notícias
nos primeiros noticiários brasileiros era feita com material que remetia a um cotidiano e uma
proximidade temporal, “distantes”. Neste período,
O Repórter Esso foi adaptado pela Tupi Rio de um radiojornal de grande sucesso transmitido pela United Press Internacional (UPI), sob a responsabilidade de uma agência de publicidade que entregava o programa pronto. A TV Tupi limitava-se a colocá-lo no ar. A agência usava muito mais material internacional, filmes importados da UPI e da CBS (agências fornecedoras de serviços de filmes), do que material nacional (MATTOS, 2010, p. 28).
Nos períodos dos penny papers, a importância dos acontecimentos cotidianos
próximos já era reconhecida e reforçada pela indústria da informação, ao conceber a notícia
como produto comercializável, cujas características com a atualidade puderam ser aferidas
(SCHUDSON, 2010). Por questões de limitações tecnológicas e perspectivas empresariais
não foi um foco inicial do jornalismo moderno. Antes dos penny papers, as notícias não
focavam o cotidiano próximo, com exigência, em um cenário de expansão da economia de
mercado e a crescente classe média urbana e empresarial. Desta maneira, os meios de
comunicação “são mais do que simples canal de transmissão dos principais eventos do dia. A
mídia constrói e apresenta ao público um pseudoambiente que significativamente condiciona
como o público vê o mundo” (MCCOMBS, 2009, p. 47).
A atual percepção sobre cotidiano, com a disseminação de dispositivos técnicos, pode
estar sendo reconfigurada, como forma de competir com o cotidiano de maior proximidade e
acesso do telespectador/usuário, que pode ser capturado e compartilhado, por meios digitais
como a internet. A distribuição da informação sobre esta nova possibilidade de cotidiano pode
colaborar para produzir nos telespectadores um sentimento de inclusão social, política e novas
territorialidades. Pois a televisão, ainda é a única referência de grande parte da população
brasileira, que se atualiza e percebe o cotidiano por meio dos noticiários (CURADO, 2002).
Outra reflexão relevante, sobre a produção noticiosa, e características, é a
possibilidade do jornal televisivo não prescindir da TV, como único suporte de distribuição.
Os processos de convergência jornalística, em especial a distribuição multiplataforma,
colocam em cheque a máxima de um conteúdo para um suporte (meio), pois tradicionalmente
“a partir de um suporte tecnológico, as organizações se tornaram empresas com vocação
industrial e atendimento ao mercado em ritmos cada vez mais acelerados” (FRANCISCATO,
53
2005, p.19). Na relação suporte e conteúdo, em princípio, deve-se considerar o limite em
separar a embalagem e objeto, sem que o mesmo perca a identidade (MOUILAUD, 1997).
Em geral, o conteúdo está associado a um dispositivo, entretanto, não quer dizer que isso seja
fixo, ou seja, apenas é possível visualizar, ouvir, acessar os conteúdos apenas em determinado
suporte, principalmente depois da adoção social das mídias digitais e da produção de
conteúdos multiplataforma, que relacionam os telejornais de uma rede televisiva e os portais.
As características que combinam som e imagem na televisão favoreceram uma
maneira própria de distribuir a informação cotidiana, por oferta. Com a característica de
distribuição por demanda das novas mídias, criam-se novas possibilidades e alternativas ao
modo de ofertar notícias, restrito ao suporte televisivo, e seus limites interativos. Assim, no
modo de distribuição atual por oferta,
o espectador não pode interromper o jornalista pedindo-lhe que esclareça algum, ponto não compreendido. Não pode voltar no tempo para recuperar uma frase ou uma informação que perdeu, a não ser que tenha gravado o programa (CURADO, 2002, p. 19).
Prescindir da TV como único suporte, podem alterar as características das notícias
televisivas apontadas por Groht (2011) como: a) a periodicidade pode passar a flexibilizar o
modelo de oferta em grade, com horário determinado, para o modelo por demanda, dos meios
digitais; b) na universalidade dos acontecimentos exibidos em redes televisivas e mídias
digitais, tendem as ser recontextualizados; c) bem como, a atualidade, pois os conteúdos
jornalísticos televisivos disponibilizados nos portais flexibilizam a relação temporal dos
acontecimentos; e d) a publicidade, as formas como um determinado conteúdo é distribuído,
pode ser estrategicamente com a adoção das mídias digitais, redefinido. Além das alterações
nas características das notícias, estão as possibilidades de modificações nos aspectos de
clareza, precisão e imparcialidade. Em geral, o aspecto clareza, refere-se à necessidade da
notícia ser inequívoca, em si (CURADO, 2002). Destes três aspectos, na adoção das mídias
digitais pode refletir no descuido com a precisão, que “é a exatidão como a notícia é
transmitida. [...] Demonstra a boa apuração, o que nem sempre é meta fácil de ser alcançada”
(CURADO, 2002, p. 20). Desta forma, com a velocidade da produção que integra meio
televisivo e mídias digitais, os processos de apuração, podem perder a prioridade em prol da
quantidade de notícia produzida.
3.5 ROTINAS PRODUTIVAS NAS REDAÇÕES
54
Nas atuais rotinas produtivas do jornalismo de TV, estruturadas com as adoções das
tecnologias digitais de integração, reforçam a vocação industrial dos grupos de comunicação,
na tentativa da otimização da produção de informação. A velocidade das inovações e adoções
tecnológicas e as tensões entre capital e trabalho, apresentam-se na industrialização do
jornalismo, com as transições gradativas e parciais para novas rotinas produtivas nas redações
dos noticiários na atual fase do telejornalismo brasileiro. Na transição para novas rotinas
produtivas cada vez mais integradas, multiplataforma e polivalentes em um cenário de
mudanças econômicas, tecnológicas e sociais, os grupos de comunicação distribuem
conteúdos ao longo da variedade de veículos e meios, que concentram.
Nas novas rotinas produtivas, a maioria dos portais noticiosos na internet é subsidiada
pelo conteúdo da mídia tradicional, em que os grupos de comunicação tradicionais amortizam
os custos operacionais e aumentam os lucros com a distribuição mutltiplataforma de notícias.
Do ponto de vista da organização jornalística, a ampliação da audiência e conversão em
receita por meio da publicidade, modelo de sustentação dos grupos de comunicação, deve
seguir três lógicas, com base no produto noticioso: a) a lógica da cultura de massas; b) a
lógica do jornalismo de atualidade; e c) a lógica da prestação de serviço (ALSINA, 2009,
p.198). Entretanto, a lógica central de qualquer empresa está baseada na redução dos custos
de produção, para a maximização dos lucros (ALSINA, 2009).
Dentro das rotinas produtivas situa-se a enfatizada consequência da adoção das novas
tecnologias digitais no fazer jornalístico, a polivalência do jornalista. Contudo, a polivalência
de caráter temático e funcional, não é algo novo, e pode ser pensada como um dos elementos
primordiais anterior ao jornalismo dos meios massivos. Segundo Schudson (2010),
o repórter foi uma invenção social dos anos de 1880 e de 1890. Os primeiros jornais haviam sido equipes de um homem só: um único indivíduo atuava como impressor, agente de publicidade, editor e repórter. Os ‘correspondentes’, nos jornais do século XVIII e início do século XIX, eram geralmente viajantes ou amigos do editor em portos estrangeiros, que enviavam correspondências. o Panny press foram os primeiros a empregar repórter para as notícias locais (SCHUDSON, 2010, p. 81).
A atual configuração social da tecnologia possibilita distribuir as notícias
praticamente de forma instantânea, para um público cada vez mais amplo, em múltiplos
meios, contrastando com a busca de audiência cada vez mais específica, incluindo meios tão
massivos como o rádio ou a televisão, e a manutenção da indústria da comunicação de
contínua concentração de meios. Por mais contraditório que incialmente possa ser, a
concentração de meios é uma questão negativamente discutida na academia, entretanto, a
55
contínua concentração é um fator que beneficia o processo de integração, pois os veículos
que estão sendo integrados, por canais digitais, podendo ser até convergentes25, são
propriedades, em geral de um mesmo grupo de comunicação. As concentrações tornaram-se
mais acentuadas com o desenvolvimento do rádio e da televisão, em que os complexos
conglomerados, reuniram jornais e revistas, emissoras de rádio e televisão (VIZEU, 2005).
Nas sociedades liberais democráticas, o empresariado
detém o monopólio do capital, indiretamente ela detém também o monopólio dos meios de comunicação. [...] E como o estado é uma instituição a serviço da classe dominante, ele favorece e reforça esse monopólio (MARQUES DE MELO, 2006, p.58).
É visível a ocorrência de aceleradas mutações e de incertezas empresariais em que se
desenvolve o mercado de comunicação tradicional, com a junção de meios de base analógica
e base digital. As empresas de comunicação tendem a formar grupos integrados, compostos
por televisão, rádio, imprensa e mais recentemente internet, telefonia móvel e meios digitais
em geral (CORREIA, 2011). Neste contexto, a integração horizontal de meios pode induzir
ameaças significativas ao pluralismo jornalístico e impor-se como um constrangimento à
diversidade, através da necessidade de uniformização das rotinas produtivas, além de
possíveis autocensura, com um foco maior às regras empresariais em detrimento de opções
editoriais (CORREIA, 2011). No Jornalismo de TV comercial parece muitas vezes seguir
mais a lógica da tevê do que do jornalismo, em uma complexa negociação para minimizar o
noticiário e em especial os produtos noticiosos “dos efeitos colaterais causados pelo
marketing e pelo entretenimento, reconvertendo-o à órbita do jornalismo” (MARQUES DE
MELO, 2009, p. 18).
3.6 O JORNALISTA DE TV
O jornalismo surge e se consolida em um ambiente social em que fatores tecnológicos e
econômicos estão relacionados aos aspectos sociais e culturais. Neste sentido, é necessário
compreender que o jornalista realiza uma atividade que não se reduz à técnica, embora os
instrumentos técnicos estejam presentes no modo de produção e distribuição das práticas
jornalísticas. A profissão jornalística é uma atividade empírica baseada em observação
25 É importante reforçar que a convergência é um processo que engloba as estratégias de integração, como as redações. Assim, o fato de um grupo de comunicação, de uma rede televisiva, possuir uma redação integrada não significa que seja convergente.
56
verificável (MCCOMBS, 2009), em que a função primária da informação produzida é “fazer
saber”, com credibilidade em um contrato pragmático fiduciário (ALSINA, 2005), ou relação
de confiança (VIZEU, CORREIA, 2008). Desta feita, a profissão jornalística pode ser
entendida como sendo uma atividade de interpretação sucessiva da realidade social,
estruturada em fatos que são comunicados como notícias. As notícias podem ser ampliadas
por meio de reportagens26, crônicas, editorias e debates televisivos, em que na sua função
social formam a representação e estruturam-se na mediação da realidade social (GOMIS,
1991). Esta mediação é a representação que caracteriza o papel social da competência
comunicativa, que é atribuída aos jornalistas, na geração das imagens da realidade coletiva
(ALSINA, 2005).
Atualmente, a geração das imagens da realidade pelos jornalistas, nos telejornais de
início de noite, encontra-se em um desafio no que se refere à função primária da informação
produzida, fazer saber. Uma questão pontual, que se apresenta, é como informar uma
sociedade que já tem as informações, sobre os acontecimentos noticiados. Quando os jornais
de início de noite, como os analisados pela presente tese: Jornal da Record, Jornal da Clube,
NETV 2ª edição e ABTV 2ª edição, vão ao ar, em que dependendo da notícia, já ocorreu uma
ampla circulação de informações em redes sociais, websites, ou mesmo flashes na própria TV.
Entretanto, Barbeiro e Lima (2013) apontam que o fazer do jornalista não deve considerar
“que o público já conhece os antecedentes do fato mesmo que venha sendo noticiado com
insistência” (BARBEIRO; LIMA, 2013, p.105). Em casos, em que o assunto já é conhecido, a
reportagem deve ser iniciada com um fato recente, uma prática é nas suítes, rememorar o fato
de forma breve, para que o público possa acompanhar a informação central (BARBEIRO;
LIMA, 2013). Assim, os jornalistas se encontram em contexto de mudanças tecnológicas, que
nem sempre os grupos de comunicação, que optam pelas renovadas estratégias de integração,
conseguem compreender ou dar respostas em meio aos desafios da competitividade
contemporânea (FONTCUBERTA, 1993). Os modos de
produção da notícia, enquanto uma organização complexa e multifuncional; e os efeitos diretos sobre as capacidades, habilidades e possibilidades do jornalista em manejar esta tecnologia no seu cotidiano (FRANCISCATO, 2005, p. 39).
26 Para a presente tese, matéria jornalística está relacionada ao gênero informativo reportagem, que é a forma de apresentação das notícias no telejornalismo. Considerando que “a reportagem é a principal fonte de matérias exclusivas do telejornalismo, e a busca constante da isenção jornalística é a melhor forma de passar as informações para que o telespectador possa tirar suas próprias conclusões sobre o fato relatado” (BARBEIRO; LIMA, 2013, p.101).
57
No atual processo de convergência multiplicam-se as novas plataformas e formatos que
estão diretamente relacionados às condições de exercício da profissão jornalística. Esta
perspectiva cria um receio que os profissionais tenham que insistir na aquisição de
competências para as multimídias, em detrimento de competências reflexivas (CORREIA,
2011). A organização empresarial apresenta a necessidade de flexibilidade para os
profissionais que compõem as redações integradas, em que os mesmos sejam capazes de fazer
o trabalho de qualquer outro jornalista, independentemente do fato dos profissionais estarem
prioritariamente indicados para procederem à cobertura de notícias destinadas a um
determinado meio. Uma polivalência comum, que se apresenta nas redações de um mesmo
tipo de veículo, é a temática em que ocorre nos meios a
necessidade da existência do denominado jornalismo generalista, capaz de escrever sobre qualquer tipo de tema, por oposição ao jornalismo especializado, expert em um campo determinado do conhecimento (FONTCUBERTA, 1993, p. 133).
Na TV, os profissionais dos noticiários selecionam e organizam a informação de modo
a serem distribuídas integralmente, sem a possibilidade de alterar o tamanho das notícias ou
do programa, no modo de oferta de conteúdo. Nesta perspectiva, a televisão não é mais
apenas uma caixa eletrônica, é também uma tecnologia de telefonia celular e um captador de
informação pela internet (BRASIL, 2002), podendo ampliar as perspectivas e possibilidades
de atuação profissional.
A atuação profissional, nas atuais rotinas em uma redação, obedece às regras do meio e
do veículo específico, e perfil do público, devendo considerar a existência de alguns cargos-
chaves, que participam da construção da notícia nas redações, como é a do editor-chefe, que é
responsável por escolher as reportagens que vão ao ar. “O editor-chefe deve ter a consciência
de que é preciso ir além dos fatos para que o público possa entender um assunto importante.
(...) daí a necessidade de se estabelecer uma cobertura que qualifique o jornalismo como
mediador” (BARREIRO; LIMA, 2013, p.86). Assim, o editor-chefe deve, pelo paradigma
factual, apresentar ao público notícias que reflitam as ameaças e oportunidades cotidianas.
Outra atribuição relevante do editor-chefe na rotina produtiva do telejornal é cuidar para que
não haja ausência de informações dos assuntos de interesse público, por meio do apurar, de
prover recursos para que os demais jornalistas completem a reportagem (BARREIRO; LIMA,
2013).
Na construção das notícias, aspectos de polivalência surgem em função dos
desdobramentos das notícias e das reconfigurações das atribuições nas redações. Uma
58
participação ativa em uma ou mais etapas da produção do telejornal faz com que “em muitos
casos o âncora seja também o editor-chefe do jornal” (BARREIRO; LIMA, 2013, p.112).
Desta maneira, o âncora é o apresentador que em muitos telejornais acompanha os processos
de construção do telejornal, em diferentes etapas na redação. Outro perfil profissional atuante
na construção das notícias do telejornal, na redação, é o produtor, o qual é responsável pelas
condições materiais e do conteúdo, participa do switcher, ou da técnica, organiza o script e os
VTs, coordena a preparação do programa, a “participação na produção do telejornal começa
no dia anterior, com a reunião de pauta, aberta a todos na redação, quando os temas e as
formas dos assuntos que serão mostrados no dia seguinte são apresentados” (BARREIRO;
LIMA, 2013, p.141). Perfis profissionais como os destacados anteriormente estão cada vez
mais em face do desafio da flexibilidade de função, nas Rotinas Produtivas Flexíveis em
contexto de convergência jornalística, nas redes de comunicação televisiva. 3.7 RELAÇÃO TECNOLÓGICA, NOTICIÁRIO E NOTÍCIA
O jornalismo de TV e as notícias televisivas começam a se aproximar aceleradamente
dos processos de convergência, e a “internet é simplesmente um produto, ou um sintoma, de
uma mudança tecnológica mais radical, em curso no último meio século, mas que só agora
está começando a se cristalizar: a convergência” (PAVILIK, 2005, p.15)27. A relação das
novas tecnologias com os meios tradicionais provoca uma percepção de um meio complexo,
que não é rádio na rede, também não é televisão na internet, mas uma configuração que
integra processos novos e tradicionais do fazer jornalístico (BRASIL, 2002). O
desdobramento tecnológico e as peculiaridades sociais e políticas, que se fazem presentes ao
longo da história do jornalismo televisivo no Brasil pavimentam alterações nas rotinas
produtivas, por meio de estratégias de canais digitais de integração das redações, distribuição
de notícias multiplataforma e perfil profissional multimídia, permitindo a percepção da
hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis, em que apresentam as alterações no fazer do
telejornalismo no atual contexto de convergência.
A caracterização das rotinas produtivas do jornalismo de TV permite perceber o modo
pelo qual a produção, ou fazer jornalístico, se constitui como produto noticioso nas atuais
configurações das redações. Assim, a produção integrada focada na distribuição
multiplataforma corrobora para as alterações nas características de periodicidade da notícia, 27 Do original: “Internet es simplemente un producto, o un sintoma, de un cambio tecnológico más radical, que ha estado en marcha en el último medio siglo pero que solo ahora está empezando a cristalizar: la convergencia”. (PAVILIK, 2005, p.15) [ Tradução nossa]
59
apontada por Groht (2011), como os modos de ofertar (grade) ou demandar (on demand)
conteúdos. A programação tradicional da TV é ofertada com base em um fluxo temporal,
organizada por uma grade de horários (modelo industrial), o modo de distribuição por
demanda se estrutura em acervo ou biblioteca, ou cardápio de produtos, incluindo notícia, em
que os meios estruturados em tecnologias digitais, incluindo a TV digital, distribuem sob a
demanda do usuário (modelo pós-industrial), permitindo também uma distribuição mista de
fluxo contínuo ofertado e por demanda.
A percepção do jornalismo de TV, em Rotinas Produtivas Flexíveis retoma a
perspectiva de lugar central para a sociedade brasileira de um lugar de mediação entre os fatos
do cotidiano e o mundo das notícias (VIZEU E CABRAL, 2009), ampliando as investigações
dos processos e os novos formatos e produtos a partir da tecnologia digital, compreendida na
perspectiva sócio-técnica. Em que as tecnologias de comunicação, socialmente adotadas,
também se apresentam como recurso para a compreensão, interpretação e construção da
realidade social, diretamente relacionada com os agentes e as práticas sociais; e a proposta de
notícia: como uma representação social dinâmica da realidade do mundo da vida cotidiana
produzida institucionalmente. O desafio de refletir o jornalismo de TV em contexto de
convergência permite perceber a cadeia produtiva ou rotinas produtivas na relação sócio-
tecnológica e o fazer do jornalista de TV, evidenciando o detalhe sutil que o jornalismo não é
uma profissão técnica, mas a técnica está presente no fazer, no ser e no perceber do jornalista.
Desta maneira, “percebe-se que a natureza do digital modifica o fazer e o ser jornalístico,
principalmente no uso de vários recursos de edição que antes não eram possíveis por não
serem compatíveis com o tempo do fazer da notícia televisiva” (VIZEU; CABRAL, 2009,
p.32).
Na perspectiva das mudanças que a indumentária tecnológica, no que se refere à
adoção social, está proporcionando na produção jornalística de TV, encontra-se a DTV, “que
pode contribuir para os processos de integração com outras mídias transformando a televisão
numa espécie de computador construindo o mundo a partir de bytes” (VIZEU; CABRAL,
2009, p.32). A possibilidade de um noticiário descolado ou desprendido da TV, também é
uma condição que as novas tecnologias apresentam em um noticiário de produção integrada e
em uma distribuição multiplataforma, não apenas direcionado para internet e plataformas
móveis, mas feito para este contexto de multimeios, assim superando algumas limitações da
grade da TV, como a) não ser possível mostrar tudo o que foi gravado, relacionado aos
acontecimentos, e aos fatos (VIZEU; CABRAL, 2009); e b) “o tempo do telejornal é curto, a
edição é marcada por um deadline e a sequência dos acontecimentos, assim como se deram,
60
pode ser longa e tornar as reportagens e a narrativa do telejornal entediante” (VIZEU;
CABRAL, 2009, p.33).
3.8 O FAZER DO JORNAL DE TV E PERSPECTIVAS
Nestes novos contextos, acredita-se que os jornais de TV desempenham um papel
central no conhecimento e um lugar de referência, pois “ao apresentarem as notícias
diariamente de uma forma sistematizada e hierarquizada constituem-se em um referente
importante na construção desse mundo do cotidiano” (VIZEU, 2005, p. 6), assim, o
jornalismo televisivo no início da era digital ainda mantem-se como os produtos de
informação de maior impacto das sociedades liberais democráticas, visto que os noticiários
televisivos funcionam no Brasil como expressão única e coletiva de representação e
construção da realidade social (BECKER, 2009)
Existe uma expectativa de uma maior abertura da interação do público com o padrão
brasileiro-japonês de televisão digital aberta (DTVA) implantado no Brasil. A interatividade e
a navegabilidade poderiam estar mais presentes nas rotinas produtivas, que por meio da
notícia constroem a realidade social. A questão é que os aspectos empresariais, profissionais e
políticos colocam DTVA brasileira em um perspectiva apenas de uma televisão pós-colorida
ou neo-colorida. Uma TV ancorada na lógica analógica, centrada apenas na qualidade de
imagem e som, seguindo
um caminho inverso do resto do mundo que aposta na baixa resolução para beneficiar o compartilhamento de conteúdos em suportes diferentes (multiplataforma distribuição), inclusive em celulares, o que exige alem da largura da banda e da velocidade, a formatação de textos muito breves e instantâneos divididos em blocos [...]. A produção de um jornalismo mais dinâmico e segmentado, com informações on demand, veiculando vários vídeos simultaneamente depende da inovação das linguagens de programação em plataformas digitais (BECKER, 2009, p.86).
A melhoria da qualidade da TV pode contribuir também, para alterações na produção
noticiosa, mesmo que a TV ainda seja de forma controversa um meio tradicional com
estruturas digitais. Nesta nova etapa da TV brasileira, ainda em assimilação, as duas maiores
redes de comunicação televisiva do país, que são objetos da presente tese, disputam o título de
primeira distribuição experimental de HDTV – High definition Television – ou televisão de
alta definição. “A rede Globo e a rede Record disputam o mérito de terem feito a primeira
61
transmissão experimental de HDTV no Brasil, em junho de 1998, com diferença de algumas
horas” (PATERNOSTRO, 2006, p.56).
A indumentária tecnológica digital na produção jornalística de TV é um desafio para
os processos de distribuição de conteúdo, para a produção de aplicativos, e principalmente
pela busca de jornalismo audiovisual de maior qualidade, para além das imagens, “que
pressupõe representações de fatos marcadas pela diversidade de atores sociais, pela
pluralidade de interpretações, por inovações estéticas e pela contextualização dos
acontecimentos” (BECKER, 2008, p. 87). A DTVA pode se integrar, ou até mesmo
convergir, com outros instrumentos técnicos, desde que esteja baseada no formato digital.
Assim, o sinal digital pode ser recebido multiplataforma e
editado num terminal de computador (PC) ou em notebooks, em minitelevisores móveis, instalados em aviões, automóveis e ônibus, ou em aparelhos e telefone celular. O avanço da convergência entre as mídias, como TV, Internet [...]. Surgimento de um ambiente de convergência midiática e produção de conteúdos multimídia. Isso foi possível graças ao desenvolvimento da Internet e da digitalização dos conteúdos de áudio, vídeo e texto (MATTOS, 2010, p.50).
O processo de passagem da TV analógica para a Digital, não é simples e nem
automático, existem algumas barreiras: nem os televisores nem os equipamentos de programação e transmissão em uso atualmente nas emissoras de TV são adaptáveis à DTV – televisão digital [...] pois ela usa o sistema de transmissão digital, diferente do analógico que estamos usando (PATERNOSTRO, 2006, p. 52).
A tecnologia digital opera com a transmissão de dados, informações digitalizadas,
distintas dos sinais eletromagnéticos de áudio e vídeo da TV analógica. Assim, a “produção
de novelas, jornais, programas de auditório, eventos esportivos como futebol terão que
começar do zero, experimentando soluções até que se encontrem formatos próprios para a
HDTV” (PATERNOSTRO, 2006, p. 52).
O padrão de DTVA brasileiro permite a distribuição ou disponibilização de
programação audiovisual, como os telejornais de início, “para celular, o aparelho celular
passou a integrar o grupo de dispositivos portáteis de recepção de DTV” (MATTOS, 2010, p.
51). As projeções indicam um aumento significativo no quantitativo de público de celular,
bem como o consumo de programas televisivos por meio de celular, dispositivo, em muitos
casos, mais em conta do que um televisor digital (MATTOS, 2010). A questão é que os
grupos de comunicação, que formam as redes televisivas no Brasil, parecem ter cometido um
erro estratégico, em descompasso com as necessidades e hábitos sociais atuais: o foco na
62
qualidade da imagem, e não nos canais de interação28 com o público na construção dos
programas, em especial os programas noticiosos de TV. Desta forma, teria sido mais
adequado desenvolver canais de interação com o público, pois a TV digital brasileira está
mantendo a lógica tradicional analógica, apenas tornando-se de alta definição. O custo de
produção seria reduzido e, no caso de transmissão terrestre, a banda economizada poderia ser
utilizada em conteúdos extras que oferecessem possibilidades interativas, colocando a TV
tradicional em outra perspectiva (CANNITO, 2011).
Neste mercado de expansão tecnológica e manutenção de TV brasileira no tradicional,
abre-se um desafio às duas principais redes de comunicação do Brasil (Rede Globo e Rede
Record). “Com o fim das restrições legais à presença de capital externo na mídia, ora em
debate no congresso nacional” (NEWTON, 2003, p. 23), além da concorrência com as
empresas telefônicas, no mercado de TV, visto que os lucros das empresas telefônicas estão
em expansão, enquanto as emissoras de TV se encontram em situação menos privilegiada.
“Os investimentos estrangeiros no Brasil na área das telecomunicações, a exemplo da
empresa espanhola Telefônica que, no período de 1998 a 2000, investiu mais de US$ 14
bilhões na América Latina, dos quais US$ 8 bilhões no Brasil” (MATTOS, 2010, p.170-171).
Em um cenário tão complexo, torna-se um desafio cada vez maior ter rotinas produtivas que
respaldem um telejornalismo de alto nível técnico e editorial, cabendo-lhe apenas ajustes nos
padrões éticos (NEWTON, 2003), na preservação da credibilidade.
O cenário que está se projetando é o término do modelo em que algumas poucas
emissoras distribuem centralizadamente o conteúdo, processo iniciado nos anos 60, do século
passado.
A ascensão da TV a cabo é o primeiro sinal desta transformação, mas o impacto da internet será ainda maior. Podemos imaginar, num horizonte de dez anos, que todo o patrimônio audiovisual da humanidade estará à disposição do telespectador para ser acessado a qualquer instante. É claro que os canais de distribuição tradicionais vão conseguir sobreviver, como vários conglomerados transnacionais disputando a tapa o mercado global, mas serão constantemente assediados por novos grupos que tentarão se afirmar como uso de vantagens tecnológicas. Será um contexto extremamente competitivo (MOREIRA, 2003, p.61).
Alsina (2009) afirma que as empresas têm a tendência de integrar as rotinas de
produção, principalmente em meio às circunstâncias conjunturais, como situações econômicas 28 Para a presente tese, a diferenciação da configuração das ferramentas digitais em canais de integração ou interação, refere-se à temporalidade das relações: uma interação é uma relação sazonal de compartilhamento de conteúdos; uma integração é uma relação estrutural de compartilhamento de conteúdos, ou seja, a primeira é um vínculo temporal e a segunda é prolongada.
63
desfavoráveis, mudanças tecnológicas e sociais, além de circunstâncias estruturais, como a
gradual redução de público dos meios tradicionais (impresso, rádio e TV). Para Alsina (2009),
a resposta das empresas de jornalismo tem sido parecida diante dos desafios da
competitividade em um contexto de mudanças econômicas e redução de público,
evidenciando redução de custos operacionais (ALSINA, 2009). Em virtude disso, existe uma
desconfiança de que a integração das redações ou até mesmo os processos de convergência
aplicados aos grupos de comunicação, que compõem as redes televisivas são, no fundo, uma
estratégia de redução de custos operacionais antes de uma estratégia de distribuição de
conteúdo multiplataforma, ou de renovação das rotinas produtivas. O risco oculto nesta
estratégia de integração é que a pretensa melhoria na qualidade e diversidade dos conteúdos
seja apenas uma manobra empresarial (dos meios tradicionais) para justificar um aumento da
produtividade dos jornalistas e reduzir custos operacionais (SALAVERRÍA, 2010). Em outra
abordagem, a renovada integração das redações, no atual contexto de convergência, enquanto
estratégia prioritariamente conservadora também tenderia a ofuscar o debate sobre o papel do
jornalismo, na construção social da realidade, nas sociedades liberais democráticas.
As cadeias produtivas de notícias nas mídias tradicionais caminham em uma
perspectiva de um novo modelo organizativo (SALAVERRÍA, 2010). Neste processo, criam-
se e reorganizam-se as estruturas jornalísticas em uma perspectiva econômica ou empresarial
conservadora por meio de uma possível única identidade. Na perspectiva de ampliação da
relação das redes televisivas, no atual contexto de convergência, em que a produção e
distribuição das notícias são consideradas por uma única marca de qualidade de rede. Desta
maneira, os grupos de comunicação, em redes televisivas, vão reconfigurando as estruturas e
processos que caracterizavam a profissão jornalística durante o século XX (industrial) e se
deparam com os novos hábitos e demandas do público no século XXI (pós-industrial).
García Avilés e Carvajal (2008) reforçam que a integração nas redações dos
telejornais abre caminho para a configuração da notícia de qualidade de rede, e não mais dos
grupos de comunicação, no sentido de processo produtivo e não mais de suporte ou grupo.
Em uma perspectiva mais ampla de unificação da marca de qualidade produtiva, por meio da
integração horizontal: “No futuro, a marca jornalística transcenderá o suporte impresso para
ser distribuída em múltiplas plataformas” (ROJO VILLADA, 2006, p. 411).
Para a criação deste produto mutiplataforma faz-se necessária a integração orientada
dos diversos veículos das redes de comunicação, bem como a produção jornalística. Com a
orientação da produção de notícias adequadas a diversos veículos, reforça-se a necessidade do
jornalista multimídia. Essa nova posição do profissional do cenário das mídias digitais não
64
representa, necessariamente, a melhoria na produção e da notícia de rede televisiva em si.
Assim, as rotinas do jornalista no processo de construção social da realidade estão sendo
alteradas por este entorno técnico e também pela relação que o público tem com as
tecnologias de interação e redes sociais, as quais geram demandas por atualização e
participação que desafiam os meios de comunicação e aos jornalistas.
As atuais rotinas produtivas do jornalismo de TV, estruturadas com as adoções das
tecnologias digitais integradas, reforçam a vocação industrial dos grupos de comunicação em
redes televisivas, de tentativa da otimização da produção de informação. A velocidade das
inovações e adoções tecnológicas e as tensões entre capital e trabalho, apresentam-se na
industrialização do jornalismo com as transições gradativas e parciais para novos modelos de
noticiários na atual fase do telejornalismo brasileiro. Nas transições em meio das Rotinas
Produtivas Flexíveis, no cenário de mudanças econômicas, tecnológicas e sociais, os grupos
de comunicação distribuem conteúdos ao longo da variedade de veículos de comunicação,
que concentram.
Neste capítulo, realizou-se um repertório de compreensão da cadeia produtiva do
telejornalismo de início de noite, no atual contexto de convergência. Com especial atenção as
reflexões sobre a produção da notícia com base na construção social da realidade, em relação
às práticas jornalísticas nas redações integradas verticalmente, por meio de canais digitais, e o
produto noticioso, nas tendências das Rotinas Produtivas Flexíveis. O capítulo seguinte
aborda os debates sobre convergência e integração de redações que permeiam as rotinas
produtivas do jornalismo de TV.
65
4. O CONTEXTO TECNOLÓGICO: CONVERGÊNCIA E INTEGRAÇÃO DE
REDAÇÃO
Para compreender o atual contexto tecnológico que se encontra o telejornalismo
brasileiro na abordagem das Rotinas Produtivas Flexíveis é relevante considerar as mudanças
nas reconfigurações dos veículos de um mesmo grupo de comunicação que compõem as redes
televisivas na adoção tecnológica nas redações e práticas jornalísticas, na relação com o
modelo de sustentação. Desta maneira, o presente capítulo permite refletir as reconfigurações
das redações, canais digitais e direcionamento das funções/flexibilização dos jornalistas, bem
como a produção de um noticiário de TV multiplataforma; ancorados aos conceitos de
integração e convergência. Tal reflexão fornece subsídios e argumentos para as questões
norteadoras da tese, que envolvem os processos de convergência jornalística, por meio das
estratégias de integração nas redações; com atenção as rotinas produtivas e discussões sobre:
autonomia dos veículos, profissionais; divergência tecnológica; redução de custos
operacionais e maximização da produção noticiosa. Desta forma, traça-se um panorama sobre
os desdobramentos tecnológicos no meio original do telejornalismo (a televisão), as
estratégias de redações integradas e o processo de convergência, bem como os elementos e
características destas estratégias e processos que afetam o fazer jornalístico para argumentar
sobre as Rotinas Produtivas Flexíveis.
O atual contexto tecnológico abre possibilidade pela adoção técnica, de: a) renovadas
possibilidades de rotinas produtivas configuradas em redações integradas, por meio de canais
digitais, distribuição de notícias multiplataformas e perfil polivalente de profissionais; e b)
reconfiguração do modelo de sustentação das mídias tradicionais, em situação de corrosão de
audiência. Assim, “de modo semelhante aos diversos gêneros dos programas de televisão, o
telejornalismo tem como uma de suas características a constante evolução de sua técnica e
formato” (TOURINHO, 2009, p.91). Em contexto de convergência, essas alterações se
aceleram e se constituem por uma série de experimentações nas rotinas produtivas, calcadas
em um modelo de sustentação econômica que remonta a inauguração da TV no Brasil. O
modelo de sustentação centrado na relação audiência por rendas publicitárias, em que as
mídias digitais são adotadas de forma conservadora pelos grupos, que constituem as redes de
comunicação televisiva, colaborando para a preservação do modelo tradicional de
sustentação, em virtude da falta de um modelo confiável de convergência.
66
Neste entorno, a construção da notícia por meio de estratégias de canais digitais de
integração e a distribuição multiplataforma, vem se apresentando como tendência das rotinas
produtivas nas redações realizadas por jornalistas gradativamente polivalentes multimídia,
que têm como intuito atender as demandas de notícias, tanto dos meios tradicionais (declive
de audiência), como dos meios digitais (ascensão de audiência). Desta forma, os grupos de
comunicação, frente ao fluxo migratório de audiência dos meios tradicionais para os digitais,
colocam a reconfiguração nas rotinas produtivas como estratégia que permite atender com
maior facilidade as demandas de uma audiência cada vez mais multiplataforma, com menor
custo de produção (SALAVERRÍA, 2010).
Ao longo das décadas, o modelo de sustentação e distribuição do sistema de
comunicação televisiva se desenvolveu e se aprimorou ampliando, entre outros produtos
televisivos, o respaldo de um telejornalismo com credibilidade nas sociedades e rentabilidade
para os grupos de comunicação, em rede televisiva (COSTA, 2014). As redes de comunicação
tradicionais, em especial Record e Globo, estão em um entorno de redução de custos
operacionais e público, com sinais de corrosão do modelo de sustentação que vem se
colocando como pontos de maior atenção, “desde a emergência das novidades trazidas pela
tecnologia e pela comunicação em rede.” (COSTA, 2014, p. 54)
O modelo predominante de sustentação foi viabilizador do desenvolvimento do
sistema de comunicação televisivo brasileiro, constituído pelas redes televisivas compostas
por grupos de comunicação29. Deste modo, quando um modelo é corroído ou fragilizado,
ocorre uma mudança do padrão então vigente e as mudanças nestes padrões acabam por
inaugurar um novo cenário tecnoeconômico (TOURINHO, 2009). Nesta relação tecnológica e
modelo de sustentação econômica, os grupos de comunicação tradicionais buscam algumas
estratégias para manter a relevância social, após a corrosão do modelo da comunicação
centrada na mídia tradicional de massa, na tentativa de aproximação com a adoção das mídias
digitais nas rotinas produtivas, da interação e da convergência entre diferentes mídias
(TOURINHO, 2009). Nesta perspectiva, “o campo da comunicação, incluindo o jornalismo,
sofre inumeráveis alterações desde o surgimento da tecnologia digital e sua consequente
evolução. Internet, a telefonia celular (móvel) e os recursos digitais estão provocando
29 Na compreensão da presente tese, um veículo de comunicação pode fazer parte de um grupo de comunicação, e um grupo de comunicação pode fazer parte de uma rede de comunicação, assim o conjunto destas redes de comunicação forma o sistema de comunicação televisivo.
67
alterações na sociedade e no exercício profissional do setor” (PORTO; FLORES, 2012, p.
13)30.
Na percepção das Rotinas Produtivas Flexíveis, as operações nas redações dos
telejornais vêm sendo realizadas por profissionais com perfil para atuarem em diferentes
mídias, gerando notícias em produção integrada e distribuição de conteúdo em variados
suportes. Se tal processo, como aponta parte da literatura, estiver sendo impulsionado
principalmente pelo viés econômico conservador para manutenção do modelo tradicional,
com base apenas em encaixes tecnológicos, de justaposição dos meios tradicionais e digitais,
preservando a mesma lógica de sustentação dos meios analógicos, em detrimento dos vieses
socioculturais, essenciais ao jornalismo, na construção social da realidade em sociedades
democráticas liberais. Neste sentido, o foco deste processo pode deixar também em segundo
plano as diferenças e especificidades estruturais, profissionais e socioculturais das redações
dos diferentes suportes, fragilizando o respaldo que permitiu ao telejornalismo conciliar
credibilidade e rentabilidade. No processo de convergência, a internet é considerada como
elemento viabilizador para os grupos de comunicação em redes televisivas adotarem novos
processos de coordenação e integração entre redações dos suportes/veículos (SALAVERRÍA,
2010). Tal coordenação, obviamente, vem pavimentando uma reorganização ou redesenho das
redações e atividades editoriais, o que pode resvalar na autonomia dos diversos produtos e
veículos.
Considerando as estratégias de integração de redações, verifica-se que os conteúdos
produzidos, que alimentam os telejornais de uma determinada rede televisiva, são
componentes centrais para estruturação e fortalecimento da produção, abrangência e
velocidade dos processos nas redações, que operam segundo a lógica próxima ao modelo de
jornalismo convergente. Este fato ocorre, principalmente pela proximidade, muitas vezes
físicas, entre as redações dos portais e dos telejornais. Contudo, a perspectiva viabilizadora
dos processos de integração tecnológica não dá conta dos limites de um telejornal em uma
redação, no que se refere à autonomia do telejornal4.
A questão é que para López-García et al. (2009), no ambiente de multimeios, os
jornalistas em uma redação integrada requerem uma formação específica ou atualização com
base em competências e habilidades próprias do novo perfil de jornalismo que inaugura o
30 Do original: “El campo de la Comunicación, incluido el Periodismo, sufre inumerables alteraciones desde el surgimento de la tecnología digital y sus consecuentes evoluciones. Internet, la telefonía celular (o móvil) y los recursos digitales han provocado en la sociedade y en el ejercicio professional del sector”. (PORTO; FLORES, 2012, p. 13) [Tradução nossa]
68
periodismo on-line. Por outro lado, Lossen (2002) aponta que o fenômeno atual do
jornalismo, referente à diferenciação multimídia, acompanhado por diversas formas de
integração das mídias rumo à convergência, nos aspectos: técnicos, funcionais, econômicos e
reguladores. A diferença aparentemente sutil aponta um alerta de Lossen (2002), que as
várias tentativas de definir e delimitar um tipo específico de periodismo on-line ou
webjornalismo têm ignorado os efeitos no sistema de produção jornalísticos nas mídias
tradicionais31 (impresso, rádio e tevê), no que se refere aos fluxos e rotinas de trabalho, na
justaposição entre meios analógicos e digitais. Assim, a presença tecnológica implementada
nas práticas e procedimentos jornalísticos, com base em processos de convergência, produção
em base de dados, redações integradas e cross-media32, gera um tipo, embora, específico de
jornalismo multimídia, mas não restrito ao ambiente do fazer dos portais, e meios digitais
correlatos, mas relacionados ao também fazer do telejornalismo.
Com base no cenário apresentado, o atual processo de convergência, estruturado pelas
renovadas estratégias de integração, em que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis,
pode pavimentar uma renovada concepção dos meios, da produção, distribuição de notícia e
perfil profissional (LÓPEZ-GARCÍA; FARIÑA, 2010). Assim, a notícia começa a ser
construída em um processo integrado vertical (entre telejornais) e horizontal (entre telejornais
e portal), para ser multiplataforma, como condição de orientação empresarial primeira, e não
mais acidental ou possibilidade posterior à produção, com parte das estratégias que
caracterizam este atual fazer no telejornalismo contemporâneo, que vem se flexibilizando.
4.1 A CONVERGÊNCIA JORNALÍSTICA
A convergência está para além de uma simples mudança tecnológica ou uma estratégia
de integração de redação, é uma alteração na relação entre tecnologias existentes, grupos
empresariais, mercados, gêneros e públicos (JENKINS, 2008). O contexto de convergência
nos meios de comunicação reconfigura a lógica operacional das emissoras, produtos,
distribuição de conteúdos, perfil profissional e modelo de sustentação. Nesta alteração de
modelo, os grupos de comunicação em rede estão implantando as integrações, como:
estratégias baseadas na convergência explorando as vantagens dos conglomerados; a convergência cria múltiplas formas de vender conteúdos aos consumidores; a
31 A presente tese reconhece que transformações estão ocorrendo nos meios impressos, radiofônicos e televisivos, entretanto, em virtude da não efetivação destas transformações na era digital, até os quinze primeiros anos do corrente século, optou-se pelo uso do termo tradicional para se referir a tais meios. 32 O sentido do termo está aplicado em relação a marcas dos veículos de comunicação
69
convergência consolida a finalidade do consumidor, numa época em que a fragmentação do mercado e o aumento da troca de arquivos ameaçam os modos antigos de fazer negócios (JENKINS, 2008, p. 325).
Os grupos de comunicação jornalísticos privados, estruturados em rede, frente aos desafios da
atual sociedade apresentam, como parte destas estratégias de adaptação, o processo de
convergência como chave para reestruturar o jornalismo contemporâneo. Entretanto, a
maioria destes grupos de comunicação no Brasil, em relação à convergência, parece se
encontrar em uma etapa inicial do processo, com aspectos de improvisação, na ausência de
um modelo confiável, na migração das rotinas produtivas noticiosas nas redações.
Os modelos convergentes nas redes televisivas, em que o jornalismo se insere, ainda
não são precisos e estruturados, embora exista uma percepção, que se trata de um processo
que aponta um futuro de convergência dos meios de comunicação (LÓPEZ-GARCÍA e
FARIÑA, 2010). Entretanto, dentro das estratégias empresariais existem ou residem os efeitos
não previstos, que dentro das contradições do capitalismo podem abrir outras perspectivas,
para além dos anseios empresariais, calcadas no jornalismo e na sociedade, nestes processos
de convergência.
Os grupos de comunicação acreditam e gradativamente afirmam estarem no caminho
da convergência, reforçando a tendência de identidade comum em múltiplas plataformas,
como parte de uma renovada estratégia: fusão ou integração das redações (SALAVERRÍA,
2010). “A confluência de redações em um espaço comum é a marca de uma transformação
inexorável para as empresas que desejam manter sua presença no setor infocomunicacional”.
(CORBIÈRE, 2010, p. 71). Contudo, na perspectiva apontada por López-García et al. (2012),
existem basicamente duas características claras, que diferenciam as intenções empresariais
envoltas nos processos de convergência, dos grupos que formam as rede de comunicação
televisiva: a) conservação e; b) renovação.
A estratégia de conservação está relacionada às reconfigurações que colocam a
convergência e o encaixe das mídias digitais em uma perspectiva basicamente empresarial de
gestão de custos operacionais e maximização de produção e distribuição de conteúdos. Assim,
os processos de concentração, integração e movimentos estratégicos são destinados a
reduzirem custos operacionais com a integração de redações, numa tendência de manutenção
do modelo de produção e sustentação tradicional, com a adoção das mídias digitais aos
moldes dos meios convencionais (LÓPEZ-GARCÍA at al, 2012). Desta forma, as estratégias
de conservação são caracterizadas por uma pseudo-convergência que colocam as integrações
de redações, distribuição multiplataforma, perfil profissional, não como uma etapa rumo à
70
convergência jornalística, mas como um fim ou limite estratégico para conviver com as
NTIC’s justapostas as mídias analógicas.
Na outra mão das intenções estão as estratégias de renovação, mais relacionadas com
as mudanças provocadas pela convergência tecnológica que promovem as reconfigurações
inovadoras, associando meios tradicionais e digitais. Estas estratégias apostam fortemente nas
novas tecnologias digitais em multiplataformas e na reconfiguração do modelo de sustentação
na lógica das mídias digitais. Neste sentido, buscam-se novos modelos de produção,
distribuição, perfil profissional, reorganização das estruturas empresariais, abrindo caminho
para à participação do público nos processos de produção e distribuição de conteúdos
(LÓPEZ-GARCÍA at al., 2012).
Assim, é importante perceber que a sobrevivência é o objetivo primordial dos grupos
de comunicação, em redes televisivas, seja ela renovadora ou conservadora. Entretanto, os
processos correntes de convergência são implantados com improvisos, atenção e cautela.
Visto que, as adoções de tecnologias de interação com o público, rotinas produtivas
integradas (verticais ou horizontais), polivalência e distribuição multiplataforma são
reconfigurações graduais, muitas vezes experimentais, restritas ao setor dos grupos de
comunicação. Estes experimentos ocorrem nas rotinas produtivas em si, como experimentos
isolados de produção noticiosa diferenciada que associam aos meios digitais e televisivos na
cobertura de um acontecimento especial, e não de um planejamento ou uma rotina produtiva
contínua. Neste sentido, mesmo que os experimentos, que envolvem rotinas produtivas
integradas, ocorram esporadicamente nas redes de comunicação televisivas, não
necessariamente evidencia-se que etapas contínuas rumo à convergência serão realizadas.
As renovadas integrações de redações, com base em canais digitais, de caráter
horizontal (entre diferentes meios), como etapa ou característica do processo de convergência,
são um dos estágios delicado e controverso, pois unificam lógicas e processos de meios
distintos, abrindo discussões sobre divergência e autonomia. Salavería (2010) aponta a
convergência como um rumo empresarial do jornalismo, como estratégia de sobrevivência
renovadora, no cerne das cadeias produtivas de notícias, por meio da infraestrutura
tecnológica socialmente adotada, abrindo uma porta para o debate sobre as rotinas produtivas
jornalísticas.
O termo convergência, nas redes televisivas, representa mudanças tecnológicas,
profissionais, econômicas, culturais e sociais no modo como os grupos de comunicação, em
rede televisiva, produzem e distribuem conteúdos noticiosos. Para Jenkins (2008), a
percepção do termo expressa a integração de produção para uma distribuição multiplataforma,
71
bem como a cooperação entre as múltiplas empresas midiáticas de um mesmo grupo de
comunicação, e a configuração de novos modelos econômicos de sobrevivência renovadoras,
que envolvem mídias tradicionais e digitais, relacionado ao comportamento do público.
Assim, “num conceito mais amplo, a convergência refere-se a uma situação em que múltiplos
sistemas de mídias coexistem e em que o conteúdo passa por eles fluidamente. Convergência
é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre
diferentes sistemas de mídia, não uma relação fixa” (JENKINS, 2008, p. 377).
A questão é que, na contramão, o modelo de produção por meio de redações
integradas e a distribuição de notícia multiplataforma estão sendo configurados como
estratégia de conservação na percepção dos grupos de comunicação, para, com os meios
digitais (ascensão de audiência). Desta maneira, as redações que antes eram divididas por
critérios midiáticos, agora se organizam em função dos fluxos de produção e distribuição:
podendo ser uma redação de produção de notícias factuais e outra para reportagens especiais,
independente do meio de distribuição. Nesta perspectiva, segundo Salaverría (2010)
apresenta-se “Um desafio de mudança radical de mentalidade”, a produção integrada, com
profissionais polivalentes e distribuição multiplataforma de conteúdos, pode ocorrer de
maneira estratégica para publicação imediata no portal dos grupos de comunicação, em SMS,
para a próxima edição impressa, ou segura a publicação para distribuição simultânea em
distintos suportes, como TV e mídias digitais. Desta forma, a estratégia é uma reorganização
do trabalho jornalístico para nutrir concomitantemente meios tradicionais e digitais, com
notícias. Estabelece-se a percepção de uma gestão empresarial multiplataforma – orientando a
produção e a difusão de conteúdos digitais sobre vários suportes, configurando uma operação
multiplataforma, realizada por profissionais polivalentes multimídias.
Para Salaverría (2010), o processo de convergências está na complexa reconfiguração
de produção e distribuição de conteúdos, tecnologia, grupos de comunicação e profissional,
destacando para a presente tese a produção integrada de conteúdos noticiosos nas redações
dos telejornais de uma mesma rede de comunicação televisiva, tais como Rede Record e Rede
Globo, replicado em distintas plataformas, em especial destas redes, R7 e G1
respectivamente. Este elemento pode ser identificado como um elemento ou etapa rumo à
convergência jornalística, como estratégia de renovação ou uma mera estratégia de
conservação que se limita, no máximo, à implantação de redações integradas para manter o
modelo de produção e sustentação tradicionais.
A flexibilização dos processos de um modelo centrado no analógico para o digital
parece estar mais comprometido com a rentabilidade do negócio dos grupos de comunicação
72
do que as práticas do jornalismo, na adoção das mídias digitais na composição de meios de
uma mesma rede televisiva. As estratégias para a estruturação do processo de convergência no
telejornalismo sinalizam a conservação de um negócio, do que uma prática eminentemente
jornalística, colaboradora da construção social da realidade, que une credibilidade e
rentabilidade. Neste sentido, os canais digitais de integração, a distribuição multiplataforma e
o perfil polivalente multimídia característico das Rotinas Produtivas Flexíveis têm o caráter
conservador, na manutenção do modelo tradicional de sustentação, que absorve a mídia
digital, para preservar o modelo de sustentação corrente, em face da ausência de modelo
confiável de convergência, que possa manter os respaldos que no telejornalismo uniu-se
credibilidade e rentabilidade.
Deste modo, faz-se necessário compreender a relação dos processos de convergência e
as estratégias integrações, para além dos enfoques mais otimistas ou negativos, bem como os
argumentos conformistas e relativistas centrados no funcionamento e desdobramento do
sistema social de comunicação (MIRANDA, 2008), que se insere o telejornalismo, pelas
dimensões internas à redação dos telejornais. A percepção da migração do telejornalismo
tradicional pode oscilar de uma visão otimista, “pelas quais as novas tecnologias parecem ser
o condutor de um alto grau de democratização da informação e uma participação horizontal
dos usuários, para chegar a previsões apocalípticas, que propõem o fim do jornalismo
tradicional e a vitória de internet como única forma de fazer jornalismo” (JABER, 2010, p.
77)33. Mais uma vez a tecnologia volta a estar no centro dos debates sobre alterações
profundas do fazer jornalístico, evidenciado pelo contexto de convergência (MIRANDA,
2008) com base na relação dos efeitos das integrações que podem ter nas rotinas produtivas
noticiosas nas redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Desta maneira,
o ponto reside em compreender as rotinas produtivas no que tange a integração das redações,
distribuição multiplataforma e perfil de profissionais polivalente. Na perspectiva de Miranda
(2008), este olhar nas redações do telejornalismo das duas maiores redes de comunicação
televisiva brasileira deve se considerar o exterior das redações (televisão, grupos
empresariais, modelo de sustentação e tecnologias) correlacionado ao núcleo das redações
(produção, notícias, integrações, distribuição e profissionais). Deste modo, permite-se uma
vista que a adoção dos canais digitais de integração das redações, de um mesmo grupo de
comunicação em rede televisiva, pode facilitar e acelerar a produção da notícia, bem como a
33 Do original: “las nuevas tecnologias parecem se las artífices de un alto grado de democratización de la información horizontal de los usuarios/lectores, para llegar a predicicones apocalípticas, que piensan en el fin del periodismo tradicional y la Victoria de Internet como única forma de hacer periodismo”. (JARBER, 2010, p. 77) [Tradução nossa]
73
distribuição multiplataforma, ainda que também contribua para uma ampliação dos trabalhos
de seleção dos conteúdos ofertados pelas emissoras e afiliadas, e características da atuação
jornalísticas.
No percurso conceitual da convergência, em função da complexidade inerente ao
processo, não é comum encontrar um consenso conceitual do termo. Em geral, os autores, tais
como Machado e Teixeira (2010), apontam a convergência como um conceito complexo e
polifônico utilizado para definir a produção integrada e contínua de notícias, por uma ou
distintas equipes para distribuição multiplataforma de notícias específicas de cada meio, em
um processo flexível de produção. O termo convergência, quando associado às mídias
digitais, é abordado por uma diversidade de pontos de vistas pertinentes, em sua maioria, mas
que metodologicamente tem o potencial de confundir propostas (SAAD CORRÊA, 2008).
Desta forma, quando se refere aos processos de integração nas redações, solução de adaptação
aos desafios que envolvem o digital, foca-se no aumento da produtividade dos recursos
humanos e materiais (SALAVERRÍA et al. 2010). O conceito de convergência não é unânime
para os investigadores, pois o primeiro problema, embora não único, é definir o conceito de
convergência, o qual está envolto em uma disparidade de critérios, variações de enfoques: a)
empresariais; b) tecnológicos; c) entre plataformas; d) profissional; e) cultural e f) legal e
regulatório.
Desde o final dos anos 80, o termo “convergência” surge para referir-se a uma
variedade de conceitos relacionados com a transformação tecnológica das telecomunicações,
desde a informatização e digitalização (SÁDABA et al., 2008). Entretanto, Jenkins (2008)
aponta no livro A Vida Digital, de Negroponte (1990), enfatizando as diferenças entre os
“velhos meios de comunicação passivos” e os “novos meios de comunicação interativos”, no
ponto de mutação entre o broadcasting para o narrowcasting e da produção midiática sob
demanda. Negroponte (1990) aponta que as tecnologias de comunicação estavam passando
por uma mutação, que só poderia ser compreendida como um único elemento. Neste sentido,
Negroponte (1990) seria o primeiro a chamar a atenção para os processos convergentes de
som, imagem e vídeo nos meios de comunicação, como uma multimídia. Para o autor, com a
digitalização os bits podem ser usados, e reusados, juntos e separados, nos processos de
comunicação. “Na época havia uma relação conceitual entre multimídia e convergência”
(ALZAMORA; TÁRCIA, 2012, p. 25). Desde a abordagem sobre convergência de
Negroponte (1990), o termo tem sido utilizado em diversas circunstâncias, de forma
polissêmica.
74
A polissemia e a amplitude conceitual estão relacionadas muito mais à práxis e ao
caso específico em estudos pontuais do que a um modelo conceitual estático (SAAD
CORRÊA, 2008). Neste sentido, reforça-se a perspectiva dos primeiros capítulos de adoção
social da tecnologia, como aponta Saad Corrêa (2008), a produção de conhecimento em novas
mídias, no fazer jornalístico, decorrem obrigatoriamente da tríade jornalismo, tecnologia e
sociedade. O conceito de “convergência jornalística” para SÁDABA et al. (2008) refere-se “a
um processo de integração de modos de comunicação tradicionalmente separados que afetam
as empresas, tecnologias, profissionais e audiências em todas as fases de produção,
distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo” (SÁDABA et al., 2008, p. 12).
O problema da polissemia não reside no termo convergência, mas na habilidade de
encontrar precisão para descrever o que representa a convergência no jornalismo
(ALZAMORA; TÁRCIA, 2012). A compreensão encontra cinco barreiras para o consenso
(SALAVERRIA et al, 2010): a) Polissemia – muitos significados; b) Polimorfismo – não
existe um modelo único de convergência que tenha sido implantado de modo geral ou amplo;
c) Complexidade – implicações profundas nos âmbitos: tecnológicos, empresariais,
profissionais e conteúdos; d) Instabilidade – conceito dinâmico, em desdobramento temporal,
que assume o caráter sistêmico e gradual do próprio fenômeno; e e) Proximidade – estudos de
casos pontuais como forma de delimitar o termo, os resultados encontrados.
Para minimizar as barreiras consensuais, Salaverria et al (2010) trabalham na
perspectiva da evolução da teoria sobre convergência jornalística com base em três
modalidades ou escolas, em ordem cronológica: produto, sistema e processo: a) Convergência
como produto – o termo está centrado no conteúdo, por meio da geração de novas mensagens
comunicativas através da confluência de códigos linguísticos distintos (NEGROPONTE,
1990). Para Salaverria et al (2010), a abordagem é uma visão reducionista e aponta aspectos
de um determinismo tecnológico. Assim, convergência seria multimidialidade – integração de
conteúdos da internet com outros meios analógicos, tais como televisão e telefone; b)
Convergência como sistema – o termo está centrado nos meios, em que são considerados os
aspectos puramente instrumentais, relacionado à produção e consumo dos meios de
comunicação. Os autores deste enfoque, como Jenkins (2008), assumem o caráter sistêmico
da convergência como um processo longitudinal, constituído por diversas etapas que têm
como meta a integração total, não só das redações; c) Convergência como Processo – A
convergência se configura como um processo dinâmico, em contínua mudança, em que os
meios tradicionais perdem espaço frente aos meios digitais personalizados e redes sociais, em
que os processos de captação, produção e distribuição de conteúdos estão submetidos a
75
constantes inovações (GARCÍA AVILÉS, 2009), perspectiva que a presente tese adota. A
literatura acadêmica sobre o fenômeno de convergência parece centrar-se em três áreas
distintas: a) o lado do negócio, processos de concentração econômica, por exemplo; b) o lado
profissional, especialmente vinculado para as reconfigurações, que ocorreram na profissão
jornalística e na cultura profissional; e, finalmente, b) o lado dos conteúdos, interconexão de
formatos, criação de conteúdo multimídia (LÓPEZ GARCÍA at al., 2012). Contudo, estas
abordagens acadêmicas e modalidades não são excludentes em si, permitem correlações,
principalmente quando se refere a um processo complexo, e em desdobramento temporal,
com a convergência.
Desta forma, estabelece a relevância do conceito de convergência cunhado por
Salaverría et al (2010), os quais apontam uma definição que permite um norte para a
compreensão inter-relacionada na perspectiva do processo de convergência tecnológica
midiática no jornalismo, que comumente é vista como não relacionadas.
A convergência jornalística é um processo multidimencional, que facilitado pela implementação generalizada das tecnologias digitais de telecomunicações, afeta os âmbitos tecnológico, empresarial, profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens anteriormente separados, de forma que os jornalistas elaboram conteúdos que são distribuídos através de múltiplas plataformas, mediante as linguagens próprias de cada uma (SALAVERRÍA et al, 2010, p. 59)34.
Para caracterizar um cenário em que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis
presentes no atual modelo de noticiário televisivo em redações integradas de distribuição
multiplataforma de notícias, possui uma reflexão estrutural correlacionada com três áreas
fundamentais do fazer no telejornalismo: produção da notícia, perfil profissional e
distribuição, sem descuidar das dimensões externas do telejornalismo (como os aspectos
empresariais, tecnológicos e modelo de sustentação econômico). A partir dessa abordagem,
abrem-se as vertentes aos estudos da presente tese no telejornalismo: televisão, polivalência
jornalística multimídia, as notícias multiplataformas, integração de redações, e rotinas
produtivas noticiosas.
4.2 TELEVISÃO E CONVERGÊNCIA 34 Do original : “La convergencia periodística es un proceso multidimensional que, facilitado por la implantación generalizada de las tecnologías digitales de telecomunicación, afecta al ámbito tecnológico, empresarial, profesional y editorial de los medios de comunicación, propiciando una integración de herramientas, espacios, métodos de trabajo y lenguajes anteriormente disgregados, de forma que los periodistas elaboran contenidos que se distribuyen a través de múltiples plataformas, mediante los lenguajes propios de cada una” (SALAVERRÍA et al, 2010, p. 59) [Tradução nossa].
76
A relevância do telejornal está relacionada, em boa parte, ao próprio impacto que a
TV tem na sociedade, como afirma Scolari (2008): “A televisão é o meio de massa por
excelência, o canal audiovisual que chega a maior quantitativo de público, e certamente, a
experiência comunicacional mais impressionante do século XX” (SCOLARI, 2008, p. 226)35.
Assim, o telejornal, por estar intimamente ligado ao meio televisivo, absorve as alterações
relacionadas à TV, que refletem na produção, distribuição e consumo dos conteúdos
jornalísticos.
Monzoncillo (2011) apresenta as discussões e mutações relacionadas ao meio,
referência do século passado. Para Monzoncillo, com o advento da internet se estabelece uma
reformulação na cadeia de valores tradicionais que separavam produção, distribuição e
consumo. As dificuldades de conceituar o meio televisivo, diante das mudanças tecnológicas,
permitiram uma reflexão sobre a morte do modelo36 de TV do século XX. Para Carlón (2009)
e para Scolari (2009) existem alguns indícios de uma renovada era, para a TV, marcada pela
morte do modelo televisivo do século passado. O estatuto da televisão enquanto meio de
massa impactante está se findando, e a percepção da TV se converter em dispositivo, com
base em dois eixos operacionais: transmissão ao vivo/direta e gravada.
O ao vivo encontra-se desde a origem e constitui-se no núcleo do televisivo: isso é o que diferencia do seu ilustre antecessor, O cinema. A gravação, ou seja, a vídeogravação surgiu em meados dos anos cinquenta, enriquecendo as possibilidades discursivas da televisão, que a partir de então teve, ao contrário do cinema, duas línguas, mas com uma nova especificidade: o ao vivo é a extraordinária novidade introduzida na televisão do século XX. (CARLÓN, 2009, p.170-171)37
Na reconfiguração da TV, Carlón (2009) e Scolari (2009) apontam a supremacia da
transmissão “ao vivo” e a crise do “gravado”, uma espécie de retorno ao modelo essencial e
inaugural próprio da produção televisiva, antes da introdução do vídeo-tape, em 1958. Nesta
linha da essência do meio, Carlón (2009) afirma que a transmissão “gravada” não é
essencialmente televisiva e encontra-se em colapso, ao contrário da transmissão “ao vivo” que
35 Do original: “La televisión es el medio de masas por excelencia, el canal audiovisual que llega a mayor cantidad de consumidores y, sin duda, la experiencia comunicacional más impactante del siglo XX”. (SCOLARI, 2008, p. 226) [Tradução nossa] 36 Uma observação relevante se faz necessária, não é morte da TV como meio, como os títulos das publicações parecem indicar, mas sim a reinvenção do modelo de produção, distribuição e consumo, anterior ao advento da internet. 37 Do original: “El directo estuvo desde el origen y constituye el núcleo de ló televisivo: es aquello que lo diferencio de su ilustre antecesor, el cine. El grabado, es decir, la veideograbación, aparecida a mediados de los años cincuenta, enriqueció las posibilidades discursivas de la televisión, que a partir de enronces tuvo, a diferencia del cine, dos lenguajes, pero no le brindó uma nueva especificidad: el directo es la extraordinária novedad que en el siglo XX instauró la televisión” (CARLÓN, 2009, p.170-171) [Tradução nossa]
77
tende a resistir por meio da transmissão de acontecimentos e eventos; além do
compartilhamento de tais acontecimentos e eventos entre o público.
Na perspectiva de Monzoncillo (2011), as discussões de Carlón (2009) e Scolari
(2009) ainda são o início de um processo de transformações que passa a TV, principalmente
no que se refere à relação ao consumo por parte do público. Estas transformações podem criar
dois tipos de produção de conteúdos: “uma será aberta e gratuita, e a outra será paga e
segmentada. Se abrirá um fosso social entre os tipos de televisão não só geracional, mas
também em função da renda per capita e nível cultural” (MONZONCILLO, 2011, p. 83)38.
Além da forma de produção livre/gratuita e paga/orientada, a principal alteração está no que
Monzoncillo (2011) chama de ócio audiovisual multiplataforma, uma forma de relação do
público com as notícias, que orientará a forma de produção e distribuição, anteriormente
citada.
Na última década, houve um crescimento espetacular de equipamentos domésticos, de número de dispositivos e de número de usuários com acesso à Internet. Isso foi uma grande mudança no ócio das pessoas e formas de comunicação, potencializando como nunca a individualização e personalização do ócio e a comunicação. A indústria eletrônica tem desfrutado sem precedentes da prosperidade, mas também tem sofrido grandes mudanças resultantes do aumento da concorrência no mercado e da ‘ditadura do consumidor’ tem veio a modificar o que quer, como e onde quer. (MONZONCILLO, 2011, p. 62)39
Nessa nova forma de relação da notícia. o púbico, de forma particular, monta o próprio
“cardápio” audiovisual rompendo com a padronização da TV analógica (função massiva),
predominante no século passado, em que as redes televisivas distribuíam e controlavam o
“cardápio” de conteúdo nas sociedades liberais democráticas. As transformações sociais
também estão alterando a relação do público com os conteúdos televisivos: atualmente cada
indivíduo possui plataformas de micro-conteúdos, que permitem escolher o programa, hora e
local. Isso é marca do ócio nômade, (MONZONCILLO, 2011), que dissolve a televisão,
“familiar/coletiva” da sala de estar, e pulveriza-a em diversas plataformas de micro-conteúdos
38 Do original: “Una será libre y gratuita, y otra será de pago y orientada. Se abrirá una brecha social entre los tipos de televisión que no será sólo generacional, sino también en función de la renta per cápita y el nivel cultural” (MONZONCILLO, 2011, p. 83). [ Tradução nossa] 39 Do original: “En la última década ha sido espectacular el crecimiento del equipamiento doméstico, del número de dispositivos y del número de usuarios con acceso a Internet. Eso ha supuesto un cambio importante en el ocio de las personas y en las formas de comunicación, potenciando como nunca la individualización y personalización del ocio y la comunicación. La industria electrónica ha gozado de uma bonanza sin precedentes, pero también ha experimentado grandes cambios derivados del incremento de la competencia en el mercado y de la ‘dictadura del consumidor’ que ha ido modificando lo que quiere, cómo y dónde lo quiere” (MONZONCILLO, 2011, p. 62). [Tradução nossa]
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nômades: celular, tablets entre outros, configurados como canais digitais interação, bem como
vigilância comentada dos conteúdos distribuídos nos meios.
Nesse panorama, destacam-se novas formas de televisão como a TV web, plataformas
IPTV40, vídeo blogs, podcasts, on-demand. Estes dispositivos, como novas formas de
entretenimento e distribuição, flexibilizam o conceito de televisão e alteram o tipo de relação
com o público, que seleciona e exclui conteúdos (“cardápio” audiovisual). Por meio de
receptores digitais, o público da hipertelevisão poderá saltar os anúncios e gravar os
programas desejados (SCOLARI, 2008). Para Monzoncillo, tudo isso são formas, em
perspectivas de produzir e distribuir conteúdos televisivos, distintas das tradicionais formas
analógicas de produção e distribuição, que Scolari (2008) e Carlón (2009) apontam como um
modelo findado. Neste sentido, tudo é televisão, ao mesmo tempo em que nada mais é TV
(MONZONCILLO, 2011).
Para além da morte da televisão, a essência ao vivo e as perspectivas de alteração do
tradicional, o período corrente da televisão permite uma coexistência dos modos de
transmissão na alternância da gravação ao vivo e as transmissões diretas em tempo real.
Ademais, a convergência propiciada pela adoção das tecnologias digitais permite que o
mesmo conteúdo seja exibido em várias mídias e de várias formas (CANNITO, 2011). O
modelo de distribuição que os grupos de comunicação televisivos implantaram pouco difere
do atual, com o acréscimo da transmissão em HD, em detrimento de uma colaboração mais
ampla, que poderia ser uma das grandes promotoras de mudança na televisão digital
(CANNITO, 2011). Assim, a televisão brasileira ainda se encontra na passagem do analógico
para o digital, mesmo nas iniciadas relações entre meios televisivos e digitais. A relação TV e
internet é um processo gradual que pode, em perspectiva, moldar a televisão atual, bem como
a multiplicação das telas para distribuição de conteúdos noticiosos. Este desdobramento das
redes digitais e o advento de novos dispositivos possibilitam novas formas de produção,
distribuição e consumo da TV, e vem diluindo o conceito tradicional de TV (recepção em
fluxo).
A TV plataforma original do telejornalismo vem compartilhando a distribuição dos
conteúdos noticiosos com as mídias digitais, em especial os portais de conteúdos dos próprios
grupos de comunicação, como parte das reconfigurações dos meios no atual contexto
tecnológico. Outra possibilidade de distribuição dos conteúdos telejornalisticos, que vem
sendo discutida, de forma ainda discreta, entre grupos de comunicação, em redes televisivas, e
40 O IPTV é uma forma de transmissão de sinais por meio do protocolo de internet (IP).
79
operadoras de telecomunicações, é a IPTV (televisão sob protocolo IP) (TOURINHO, 2009).
Uma perspectiva que se abre é a visão que, não é apenas a TV que está sendo
transposta para o computador, mas também o computador (ou melhor, a estrutura
computacional) está se integrando com a TV (MONZONCILLO, 2011). Esta indumentária
tecnológica, que está se unindo a TV, vem norteando abordagens sobre o meio televisivo,
colocando no centro da questão o papel do público que decide o momento de assistir uma
notícia, determinando uma reconfiguração no sistema televisivo, que implica em novas
práticas de produção do telejornal. Como Manovich (2001) coloca, não se trata de apenas uma
transposição de um conteúdo para outro meio (computacional), mas, ao contrário, uma
mudança na lógica de produção, distribuição e público, que a TV vem sofrendo com a era dos
computadores. Assim, o computador torna-se uma forma ou uma lógica líquida, mais que
uma estrutura física, que invade outros aparelhos, alterando o funcionamento e relação com o
público, com: inputs/outputs, armazenamento (memória) e interatividade (manipulação de
conteúdo). Desta forma, é preciso uma definição das novas mídias para além do senso
comum.
A definição popular de novos meios, identifica-o com a utilização de um computador para a distribuição e exibição, e não com a produção. Portanto, os textos distribuídos em um computador (sites e livros eletrônicos) são considerados novos meios; mas os textos distribuídos em papel não são. De forma semelhante, as fotografias que são colocadas em um CD-ROM e requerem um computador para visualizá-las são considerados novos meios; as mesmas fotografias impressas como um livro, não são (MANOVICH, 2001, p.43)41
Para Manovich (2001), o deslocamento de toda a cultura para as formas de produção,
distribuição e consumo mediadas por computador, ou por dispositivos baseados em estruturas
computacionais, é um processo sem precedentes, e que ainda está no começo. O que explica
em parte as imprecisões que rondam o meio televisivo, em percebê-lo como tradicional.
Monovich (2001) propõe uma análise das diferenças-chaves entre a mídia tradicional e as
novas, que são: representação numérica, modularidade, automação, variabilidade e
transcodificação.
Para a presente pesquisa, três diferenças são básicas para compreender a estrutura
computacional das novas mídias, relacionada ao sistema televisivo: a) Modularidade: é a 41 Do original: The popular definition of new media identifies it with the use of a computer for distribution and exhibition, rather than with production. Therefore, texts distributed on a computer (Web sites and electronic books) are considered to be new media; texts distributed on paper are not. Similarly, photographs which are put on a CD-ROM and require a computer to view them are considered new media; the same photographs printed as a book are not (MANOVICH, 2001, p.43) [Tradução nossa]
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fragmentação dos conteúdos das novas mídias, em que áudio, imagens e vídeo são
representados como coleções de amostras, que podem ser remontados e recombinados em
novos produtos (conteúdos). No telejornalismo a modularidade permite a fragmentação do
telejornal em blocos e os blocos em notícias, possibilitando a distribuição separadamente nos
portais dos grupos de comunicação e posterior recombinação para novas edições das notícias;
b) Variabilidade: os objetos da mídia tradicional são feitos e fixado em uma matriz que
produz cópias idênticas para todos os públicos (broadcast). Nas novas mídias são
caracterizadas pela sua variabilidade, podendo ter versões personalizadas. Assim, as notícias
do telejornal podem ser personalizadas para distintos públicos, como já ocorre no portal dos
noticiários de TV e nos portais; c) Transcodificação: possibilita um conteúdo ser
transformado em outro formato. No caso dos arquivos analógicos dos telejornais, permite a
transformação em digital por meio da digitalização, em que os conteúdos passaram a ser
dados numéricos de um computador (MANOVICH, 2001).
Os processos baseados em novas mídias não se relacionam apenas com a web, mas
também com as bases de dados (memória, digital e cambiável) nos diversos veículos
(impresso, rádio e TV). As funções dos meios digitais abriram caminhos para o jornalismo
convergente, formatando novos padrões, como as Rotinas Produtivas Flexíveis, permitindo a
gestão de fluxo de informação em distintas plataformas e integrando redações, profissionais e
fontes.
A adoção da estrutura computacional na televisão vem, segundo Scolari (2008),
alterando as práticas dos profissionais de comunicação. “Todas as profissões de comunicação,
do jornalista até o técnico de som ou o fotógrafo, não só viveu na própria carne profundas
mudanças nas rotinas produtivas e nos procedimentos de realização do próprio produto:
também foram reduzidos os limites que separam a função entre os profissionais” (SCOLARI,
2008, p.203)42. Neste sentido, os jornalistas, ao se apropriarem das ferramentas tecnológicas
que fazem parte da produção de TV, começam a configurar novas características para a
própria atuação profissional.
Um jornalista começa a usar o computador para edição de vídeo, um diagramador se aproxima do mundo da edição de som para começar a experimentar em multimídia, e do fotógrafo descobre o programa de ilustração a partir do uso de software de edição. Nos meios de comunicação está ocorrendo um processo de polivalência
42 Do original: “Todas las profesiones de la comunicación, desde el periodista hasta el técnico de sonido o El fotografo, no solo han vivido en carne propria una profunda mutación de las rutinas de trabajo y las modalidades de realización de su producto: también se han ido desenfocando los limites que separaban sus respectivos campos laborales”. (SCOLARI, 2008, p.203) [Tradução nossa]
81
profissional caracterizado pelo aparecimento de novos perfis profissionais. (SCOLARI, 2008, p.203)43
O jornalismo de TV necessita de um reposicionamento neste cenário atual de
convergência, buscando a personalização da notícia, a interatividade, o autosserviço ou
perderá a capacidade de penetração nas novas sociedades liberais democráticas, com
credibilidade (HERREROS, 2004). Entretanto, os princípios ou funções jornalísticas devem
ser os mesmos, pois mudam as técnicas, os contextos, mas não as raízes das que se alimenta o
telejornalismo: investigação de informação constante de fontes, seleção e valoração conforme
os critérios profissionais e éticos de rejeitar as imposições. Tais princípios, para Herreros
(2004) diferem os profissionais da informação do gestor econômico ou político, que usa a
informação frente à estratégia de expansão ou oscilação dos mercados (HERREROS, 2004). 3.3 A POLIVALÊNCIA JORNALÍSTICA
O efeito da convergência no fazer do jornalista de TV, não se restringe as
transformações tecnológicas no entorno organizacional e no meio televisivo, mas nas
transformações pelas renovadas experiências nas rotinas profissionais da concentração
empresarial, que resvalam na flexibilização do modelo de produção da notícia nas redações,
relacionadas com processos de produção dos meios digitais.
Neste sentido, reforça-se que nas práticas jornalísticas sempre ocorreram avanços
tecnológicos gradativamente incorporados, que alteraram o fazer jornalístico, desde a época
da imprensa. Contudo, o desafio que se coloca ao jornalista é a alteração em seu perfil
profissional na perspectiva que equacione os anseios empresariais: ser uma pessoa de mente
aberta e flexível aos avanços tecnológicos e as condições sociais; e o enfoque jornalístico de
criticidade e reflexão (DI PRÓSPERO; MAURELLO, 2010).
Este novo perfil encontra-se no interior das reconfigurações dos grupos de
comunicação na passagem do analógico para o digital, em que o atual contexto de
convergência e das estratégias de integração traz consigo novos conhecimentos e novos
modos nas rotinas produtivas nas redações (DI PRÓSPERO; MAURELLO, 2010). As novas
demandas da profissão jornalística, ou melhor, o redesenho orientado do perfil funcional nas
43 Do original: “Un periodista comienza a usar el ordenador para editar vídeos, un diseñador gráfico se acerca al mundo de la edición sonora para comenzar a experimentar en el multimedia y el fotografo descubre el programa de ilustración a partir del uso de software de retoque. En los meios de comunicación se está dando un proceso de convergência profesional caracterizado por la aparición de nuevas figuras profesionales”. (SCOLARI, 2008, p.203) [Tradução nossa]
82
atuais redações integradas é, em geral, um dos temas que perpassam pelo controverso no
processo de convergência no telejornalismo. Tal ponto envolve a reorganização das redações
e trabalho dos jornalistas, e principalmente a possibilidade de tal processo ocultar estratégias
empresariais de conservação, orientadas para a redução de custos operacionais e maximizar a
produção e distribuição que refletem na percepção da qualidade do produto noticioso, nas
sociedades liberais democráticas, que resvalam na credibilidade dos telejornais. As reflexões
dos processos de convergência, diretamente relacionados à polivalência, aglutinam as
percepções oriundas dos estudos sobre jornalismo, novas tecnologias e convergência, bem
como do âmbito profissional, para além das experiências convergentes (AGUADO; TORRES,
2010). O conceito do perfil profissional polivalente em perspectiva multimídia está associado
às habilidades e competências. E, em certos casos, uma orientação empresarial, para os
profissionais realizarem diversas funções referentes ou não ao perfil das suas atribuições
raízes, tais como: domínio de linguagem multiplataforma, atuar de forma multitarefa na
produção noticiosa, abordar variadas temáticas de forma versátil (SALAVERRÍA; AVILÉS Y
MASIP, 2010).
Os fatores que configuram a polivalência jornalística não são casuais, e nem
unidirecional, pois como um processo de mudança sistêmica, a polivalência não está
dissociada de um conjunto de forças e tendências de naturalização44 deste perfil profissional.
Desta forma, três são os fatores do processo de convergência que marcam o horizonte das
configurações da polivalência profissional, para Aguado e Torres (2010): a) O tecnológico
(informatização/ a digitalização da produção e a gestão dos recursos); b) O expressivo (a
digitalização dos formatos); e c) O econômico (a reestruturação das redações e a
transformação dos perfis profissionais, na estruturação de novos modelos de sustentação). Os
grupos de comunicação em redes televisivas, estruturados em mídias digitais, possuem uma
capacidade de aglutinar os diversos formatos, como os analógicos tradicionais, que em geral
não ampliam as formas expressivas nesta recombinação/junção produtiva, em que atuam os
profissionais.
Para Salaverría, Avilés e Maspi (2010), a polivalência é um conceito diferenciado dos
elementos que compõem a convergência. Pois, conforme aumenta o nível de convergência na
inclusão de meios na horizontal, aumenta proporcionalmente o grau de polivalência, que em 44 A naturalização coloca de forma clara a reificação nos processos para estabelecer e sustentar relações de dominação, pela retratação de uma situação transitória, histórica, como se essa situação fosse permanente, natural, atemporal. Neste sentido, “processos são retratados como coisas, ou como acontecimentos de um tipo quase natural, de tal modo que o seu caráter social e histórico é eclipsado. A ideologia como reificação envolve, pois, a eliminação, ou a ofuscação, do caráter sócio-histórico dos fenômenos” (THOMPSON, 2009, p.87).
83
parte se explica pela adoção das tecnologias digitais, para redução gradativa das atribuições
especializadas, quantitativo de pessoas necessário para coordenar e compor as equipes
redações (SALAVERRÍA; AVILÉS; MASPI, 2010). Desta forma, nas atuais integrações de
redações, a função do editor está para além da escrita, envolvendo conhecimentos de
fotografia, locução, meios digitais e audiovisuais. Na redação integrada de forma gradativa, se
espera que os editores possam produzir uma informação para o meio impresso, digital, bem
como conteúdos para os meios analógicos de radiodifusão: rádio e televisão (AGUADO;
TORRES, 2010).
À primeira vista, as redações integradas e a polivalência incrementam a produtividade
dos jornalistas e reduzem os custos operacionais de produção para as redes de comunicação
televisivas. Contudo, “a polivalência deixa de ser um mero recurso econômico para constituir
uma necessidade operativa. A digitalização minimiza o grau de especializações instrumentais
ao simplificar e acelerar os processos” (AGUADO; TORRES, 2010, p. 133)45. Ao mesmo
tempo em que as redações integradas minimizam o grau de especializações, cria-se a
necessidade de gestão de informação. Dentro dos limites e dificuldades que ainda apresenta a
tecnologia para a distribuição multiplataforma abre-se a necessidade de coordenação que
reforça a necessidade de novos perfis profissionais como o de coordenador multimídia ou
gestor de informação, cuja função resulta crucial em redações integradas (AGUADO;
TORRES, 2010). Além de coordenação multimídia, para uma eficaz produção integrada e
distribuição multiplataforma precisa-se de uma atualização profissional, em caso das mídias
tradicionais, para uma adequada aplicação das tecnologias baseadas na conectividade e
compatividade “que permita ter sinergias entre todos os meios, para o qual resulta necessária
a colaboração entre as empresas de comunicação e de desenvolvimento tecnológico”
(AGUADO; TORRES, 2010, p. 163), minimizando as divergências das rotinas produtivas da
notícia nas redações integradas.
A realização das rotinas produtivas, por meio de profissionais polivalentes, parece não
ser tão simples, “porque o jornalista que tem que fazer tudo isso tem pouco tempo para fazer
um trabalho mais reflexivo e realizar o trabalho necessário para editar um vídeo” (GARCÍA
AVILÉS et al., 2010, p. 215)46. Esta multiplicidade ou flexibilização das funções dentro do
processo de produção da notícia, em muitos casos não ocorreu alteração das condições
45 Do original: “La digitalización minimiza el grado de especialización instrumental al simplificar y acelerar los procesos”. (AGUADO; TORRES, 2010, p. 133) [Tradução nossa] 46 Do original: “Porque el periodista que ha de hacer todo eso tiene poco tiempo para hacer um trabalho más reflexivo y realizar el trabalho necessário para editar vídeo”. (GARCÍA AVILÉS et al., 2010, p. 215) [Tradução nossa]
84
laborais dos jornalistas e gratificações ou atualização tecnológica, apenas o incremento do
volume de trabalho (DÍAZ NOCI et al., 2010b).O ponto é que, na equação dos multimeios e das novas tecnologias favorece, por uma parte, uma convergência de meios e, por outra uma integração de redações para a produção da informação, independente da plataforma de destino do conteúdo. (...) Os jornalistas trabalham os denominados conteúdos jornalísticos para múltiplas plataformas, (...) trabalham mais; dispondo de menos tempo para realizar suas investigações e para escreverem, produzir informações mais superficiais (JABER, 2010, p. 78)47.
Na configuração dos processos de convergência por parte das redes televisivas estão
mais próximas da necessidade de redução de custos operativos, maximizar e melhorar a
produtividade qualitativamente, satisfação do público ou implantar a polivalência jornalística
funcional e midiática (GARCÍA AVILÉS et al., 2010). Frente a esta necessidade empresarial,
o jornalista polivalente multimídia configura-se como aquele em condições de comunicar um
mesmo fato em qualquer meio, “adaptando-se em cada caso para a tecnologia necessária e a
linguagem própria de cada meio. Mas, junto a habilidade tecnológica e a capacidade
expressiva, o jornalista polivalente pode necessitar também ser flexível em sua especialidade
temática” (GARCÍA AVILÉS et al., 2010, p. 217)48. Dentro desta perspectiva profissional, o
perfil jornalista polivalente reflete uma percepção de ameaça à profissão no que pode afetar a
inserção no mercado, pela dificuldade que se apresenta de adaptação à tecnologia em plena
mutação. Neste sentido, os jornalistas polivalentes terão que se adaptar continuamente a
unificação e compatibilidade tecnológica e de renovadas Rotinas Produtivas Flexíveis.
Entretanto, dois pontos perpassam pela percepção de ameaça: a) relação geracional e
b) a relação com o público. Na migração do analógico para o digital, abrem-se algumas
incertezas de como o jornalismo irá atuar para continuar construindo a realidade social, com
base na perspectiva jornalística, bem como o desafio do modelo de produção e sustentação
econômica de se renovar digitalizando-se (COSTA, 2014). Os jornalistas, público e até
mesmo os grupos de comunicações recentes parecem levar “vantagem sobre os mais velhos
não por saberem mais, mas justamente por saberem menos coisas que deixaram de ser
verdade. Sem o fardo de velhas premissas que já não se sustentam, perdem menos tempo e
47 Do original: “La ecuación de los multimedios y las nuevas tecnologias favorece, por una parte, una convergencia de medios y, por otra, una integración de las redacciones para la producción de la información, independentemente de las plataformas de destino de los contenidos.(...) los periodistas trabajan los denominados contenidos periodísticos para multiples plataformas (...) los periodistas trabalhan más; disponen de menos tiempo para realizar SUS investigaciones y para escribierlas; producen informaciones más superficiales”. (JABER, 2010, p. 78) [Tradução nossa] 48 Do original: “Adaptándose en cada caso a la tecnología necessária y al lenguaje propio de cada medio. Pero, junto a la habilidad tecnológica y a la capacidad expreciva, el periodita polivalente puede necesitar ser flexible en su especialización temática”. (GARCÍA AVILÉS et al., 2010, p. 217) [ Tradução nossa]
85
energia desaprendendo coisas antes de poder encarar e reagir ao mundo atual.” (COSTA,
2014, p. 58)
A flexibilização das rotinas produtivas no telejornalismo gradativamente reforçam
alterações estruturais nas redações e nas redes televisivas, que vão do ponto original analógico
ao possível destino de plena digitalização, nas etapas do fazer jornalístico, como: captação,
produção, edição e distribuição. Alguns tipos mais visíveis, que compõem as redes
televisivas, como os profissionais, rotinas e grupos de comunicação, que podem ser
percebidos ou caracterizados como nativos analógicos, nativos digitais e analógicos digitais
(em flexibilização). Costa (2014) aponta que o norte do processo de convergência está sendo
orientado na “base da confusão que a indústria do jornalismo enfrenta ante as mudanças
tecnológicas e comportamentais que viraram seu negócio de ponta-cabeça. No fundo, eles
protagonizam uma disputa geracional espraiada por toda a contemporaneidade. (...) Os
nativos analógicos tentam salvar negócios analógicos adaptando-os ao digital” (COSTA,
2014, p. 60). Entretanto, as redes televisivas, formadas por distintos grupos de comunicação,
podem estar sendo mais conservadoras ao adaptarem as mídias digitais à lógica dos negócios
e rotinas produtivas dos meios analógicos, como estratégia de sobrevivência.
Nas Rotinas Produtivas Flexíveis, frente a esse cenário de adaptações e adoção do
digital, o perfil profissional multimídia está relacionado à junção dos três tipos de
polivalência, apontados por Salavérria (2014): a) Polivalência midiática - o jornalista produz
simultaneamente conteúdos para distintos meios; b) Polivalência temática - o jornalista
produz notícias de variadas editorias, de maneira não especializada; e c) Polivalência
funcional – refere-se à abordagem de multitarefas em que o jornalista desempenha várias
funções dentro da mesma redação. Assim a polivalência multimídia caracteriza-se no
jornalismo, como o perfil de jornalista que concentra distintas funções e temas em distintos
meios, que no passado eram desempenhados por diferentes profissões (SALAVÉRRIA,
2014).
4.4 AS NOTÍCIAS MULTIPLATAFORMAS
A adoção tecnológica colabora para alterações no fazer jornalístico e os modos de
distribuição das notícias. Na tradição teórica, o jornalismo apresenta três características. Para
Fontcuberta (1993), “contudo, eram três as tradições do jornalismo: Informar (refletindo a
realidade); formar (interpretá-la) e entreter (ocupar o ócio). Em qualquer caso, a fundamental
reside na mediação entre as diversas instâncias da sociedade e os distintos públicos”
86
(FONTCUBERTA, 1993. p. 34)49. A autora também aponta quais as características que
tornam um fato em acontecimento jornalístico, passível de distribuição. “Para que uma
informação seja notícia requer três fatores: a) que seja recente; b) seja imediata; e c)
circulante. É decidir, se o que acaba de acontecer (ou que acaba de se descobrir), que se é
dado a conhecer no menor espaço de tempo possível, e que esse conhecimento circule entre
um público amplo e massivo”. (FONTCUBERTA, 1993. 21 p.)50
Com a formatação do que a notícia necessita para ser divulgada e com os formatos já
existentes, podem-se desenvolver parâmetros para comparar cada tipo de produção, dentro
das características de cada veículo, que tradicionalmente estavam isolados antes do processo
de convergência. Para analisar a produção jornalística realizada em contexto de convergência
jornalística é preciso compreender o processo de produção e divulgação anterior, nesse
sentido cada meio possuía uma certa autonomia para definir o que seria ou não noticiado,
obedecendo a critérios de noticiabilidade específicos dos meios, que na configuração dos
grupos de comunicação, em redes televisivas, operavam de forma isolada. Uma vez que um
meio seleciona um acontecimento para distribuir como notícias (o que implica a rejeição de
outros) têm que valorá-lo. Em primeiro lugar, deve-se fazê-lo por necessidade: a informação
que aparece com destaque é a mais importante para o público (FONTCUBERTA, 1993).
Assim, deve-se perceber que cada veículo adotava os critérios de noticiabilidade que lhes
eram mais propícios e que caminhavam junto com a linha editorial da produção, com relativa
autonomia.
Uma questão que se apresenta é que, com a adoção das novas tecnologias digitais, “a
natureza do conteúdo independe do meio – ainda que seja só por diversificação do canal: a
partir da gestão de base de dados, os jornalistas apontam recursos informativos em diversos
formatos (texto, áudio, imagem, vídeo.) que podem ser adaptados para diversos canais e
plataformas (suportes)” (AGUADO; TORRES, 2010, p.131)51. Para evitar uma possível
canibalização da audiência, com a junção de portais (digitais) e telejornais (analógico) nos
49 Do original: “Sin embargo, han sido tres las tradicionales Del periodismo: la de informar (reflejar la realidad); la de formar (interpretarla) y la de entretener (ocupar el ocio). En cualquier caso, la fundamental reside en la mediación entre las diversas instancias de una sociedad y los distintos públicos” (FONTCUBERTA, 1993. p. 34) [Tradução nossa] 50 Do original: “Para que una información sea noticia requiere la conjunción de tres factores: a) que sea reciente; b) que sea inmediata; y c) que circule. Es decir, que acabe de producirse (o que se acabe de descubrir), que se dé a conocer en el mínimo espacio de tiempo posible, y que ese conocimiento circule entre un público amplio e masivo” (FONTCUBERTA, 1993. p. 21) [Tradução nossa] 51 Do original: “la natureza del contenido se independiza – aunque sólo sea por diversificación – del canal: a partir de la gestión de bases de dados, los periodistas aportan recursos informativos en diversos formatos (texto, áudio, imagem, vídeo...) que puedem ser adaptados a diversos canales o plataformas”. (AGUADO; TORRES, 2010, p.131) [Tradução nossa]
87
grupo de comunicação em redes televisivas, Monzoncillo (2011) aponta que a distribuição
multiplataforma deve complementar a função informativa, aprofundar os temas. Ou seja, a
distribuição multiplataforma das noticias produzidas nas redações integradas não devem pôr
em prejuízo as audiências fixas de parte consolidada do meio, evitando, por exemplo, a fuga
de público do meio televisivo para o on-line (AGUADO; TORRES, 2010). Nesta perspectiva
conservadora, em que as mídias digitais estão justapostas aos meios tradicionais, cada meio
tem uma função especifica de ampliar, ou minimamente manter o quantitativo de público das
redes tradicionais.
Os canais digitais de integração de redações desempenham um papel central
justamente porque nelas reside o peso dos sistemas de publicação e gestão de conteúdos, os
quais permitem a integração editorial do telejornal com os distintos produtos e veículos
pertencentes aos respectivos grupos, telejornais ou não. Assim, os grupos de comunicação, em
rede televisiva, podem otimizar a gestão dos recursos, integrar a produção, adaptar conteúdos
para distribuí-los em distintas plataformas, intensificar a complementação jornalística com
maior coerência editorial e assegurar a automação de muitos processos (López-García et al.,
2009).
Para Elias Machado (2006), as estruturas digitais estabelecem as funções de formato e
espaço para composição de narrativas multimídias, em consonância com os pilares das novas
mídias, “assumindo, no atual contexto, o papel de memória coletiva” (MACHADO, 2006, p.
25-26) e se coloca como eixo do processo criativo na era digital (MANOVICH, 2001, p.
2001). Desta maneira, estruturas digitais permitem a reconfiguração do fazer no jornalismo,
podendo alterar as funções tanto dos jornalistas (polivalentes), quanto do público
(multiplataforma).
Os estudos sobre o processo de convergência perpassam pelos diferentes aspectos, e
como tal processo influencia o telejornalismo, em especial o produto noticioso. A
convergência midiática como um fenômeno estrutural define a perspectiva comunicativa nos
meios de comunicação do século XXI, podendo gerar um renovado fazer jornalismo, uma vez
que a construção das notícias aparece caracterizada pela multimedialidade, o hipertexto e a
interatividade (DÍAZ NOCI, 2001). Neste contexto, as possibilidades geradas pela
convergência, com uma melhor utilização dos recursos e uma maior integração das diferentes
áreas de produção e distribuição da notícia, bem como a emergência de novos perfis
profissionais, como opção para integrar as redações dos veículos de comunicação.
O foco das atenções dos grupos de comunicação, atualmente, está na convergência dos
centros de produção de conteúdo, ou seja, as redações. O problema é como se configuram os
88
modelos de produção da notícia televisiva em redações integradas que suscitam preocupações
devido à própria relevância e razão de se dar a notícia para as sociedades liberais
democráticas. Nas rotinas produtivas, a notícia como um produto acabado, realizada por
profissionais nas redações, dentro de um contexto social, para em um momento específico ser
distribuída (FRANCISCATO, 2005). No atual contexto, a distribuição do principal produto
do jornalismo, pode ser realizada em diversas plataformas, tornando-se mutiplataforma.
O processo de convergência, em Rotinas Produtivas Flexíveis nas redes televisivas,
auxilia na compreensão das melhorias e perdas, em uma perspectiva da relação das
tecnologias digitais e internet sobre a produção e distribuição da notícia. Desta forma,
pavimentando condições de alterações nas notícias dos telejornais, pela adaptação ao contexto
fluido e heterogêneo dos interstícios das experiências realizadas, na junção da mídia digital
aos meios tradicionais (ALZAMORA; TÁRCIA, 2012).
Esta reconfiguração dos grupos de comunicação, que compõem as redes televisivas,
em meio aos processos de convergência em que as estratégias de integração estão sendo
conduzidas por questões de cenário econômico (especialmente pela redução de audiência e
receitas publicitárias) e de necessidades estratégicas (para prosseguir com a diversificação dos
grupos, otimizando os recursos disponíveis). Desta forma, o foco do processo está em
melhorar a coordenação das diferentes áreas de negócio que conciliaram credibilidade e
rentabilidade (CALVO et al., 2012). Os grupos de comunicação tradicionais, com base em
uma lógica unidirecional (de um para muitos) do processo comunicativo, estão ampliando as
operações para as mídias digitais, como fator de sobrevivência. Na sociedade atual, as novas
tecnologias de informação e comunicação são propícias à existência de uma bidirecionalidade
potencial na qual o público pode tornar-se coprodutor de informações e de conteúdos, que os
grupos de comunicação podem absorver como sugestão de pauta ou parte dos conteúdos da
produção noticiosa.
Nesta flexibilização da produção, no atual contexto de convergência, não pode
prescindir de um produto noticioso com características de distribuição, na junção dos meios
televisivos e digitais (CANAVILHAS, 2012). Uma dessas características é a remediação, que
reflete na relação do uso de novas mídias e antigos conteúdos. O fato de a tecnologia ser
recente, a mesma pode transportar antigos conteúdos como benefício ao público. A questão
que se coloca nesta distribuição da notícia está na diferenciação entre modos convergentes e
remediados. Por remediação (remediation) entende-se o processo de reuso de antigos
conteúdos efetuados pelos novos meios (CANAVILHAS, 2012). Enquanto a distribuição
convergente ou multiplataforma implica, necessariamente, uma nova linguagem que integre
89
os conteúdos anteriores, a remediação pode ser uma acumulação de conteúdos de diferentes
origens distribuídos em distintas plataformas. Nesse sentido, a distribuição convergente é
sempre uma remediação, mas nem todas as remediações podem ser consideradas uma
distribuição convergente, porque esta última implica integração e não uma mera acumulação
de conteúdos (CANAVILHAS, 2012). Nos meios tradicionais, a remediação perpassa pela
adaptação ou assimilação do processo de convergência, pois na história das mídias
tradicionais mostra que cada novo meio passa por um período de indefinição, de assimilação
dos novos meios, até estabilizar um conjunto de características próprias. Isto significa que os
novos meios começam por misturar os conteúdos dos seus antecessores (remediação) até
estabilizarem uma linguagem própria (distribuição multiplataforma) (CANAVILHAS, 2012).
Com base em Salaverría (2010), pode se apontar que a notícia convergente pode ser
um desafio maior que os demais elementos da convergência: tecnológica (multiplataforma),
empresarial (concentração) e profissional (polivalência). A atual multimedialidade por
acumulação é uma mera remediação e não pode ser vista como um fenômeno de convergência
de conteúdos; isso apenas acontece quando é utilizada uma linguagem própria com
características únicas e diferenciadoras em relação aos restantes meios (CANAVILHAS,
2012). Em termos de conteúdos jornalísticos, e no que se refere à notícia, a convergência
implica a implementação de um conjunto de alterações ao nível da arquitetura da notícia, bem
como a existência de regras para distribuição de notícias multiplataforma (CANAVILHAS,
2012). Assim, a multimedialidade é definida como a capacidade de uma notícia incluir
conteúdos de várias naturezas (SALAVERRÍA, 2005). No caso de uma maior abertura a
colaboração, interatividade e a personalização, pode-se colocar como devido à emergência
dos dispositivos móveis como plataformas de acesso às notícias, que são pouco utilizadas nos
portais das redes de comunicação, em geral resumindo-se a seleção de conteúdo e
classificação.
Um desafio que se apresenta para estratégias de distribuições multiplataformas, é que
os pontos perdidos na audiência dos grupos de comunicação tradicionais não foram para outra
emissora. E segundo Tourinho (2009), a fonte primária de notícias e informações é a internet,
entre pessoas de 18 e 29 anos de idade, que cresceram com a rede mundial de computadores,
e não com os telejornais. Para Costa (2014), o modelo tradicional de produzir informação e
distribui-la centrada nas empresas jornalistas, mudou. “Ela agora pode ser produzida e
distribuída pelas mãos de qualquer um. Combinou-se meio e comunicação. Nasceu a
superdistribuição” (COSTA, 2014, p. 63). Assim, os editores dos telejornais se veem
desafiados para repensar a relação entre os telespectadores e os meios em função das novas
90
demandas do público e a potencial resposta deles (FOGEL Y PATIÑO, 2007). “Por mais que
se queira proteger o jornalismo, na sua forma clássica, é evidente que ele tomou outra
configuração e o jornalista deixou de ser o ator principal no sistema da informação – ele agora
é um ator coadjuvante, o que não lhe retira importância, mas muda a sua forma de atuar”
(COSTA, 2014, p. 63). A internet está corroendo os números de audiência do modelo de
sustentação tradicional, audiência por publicidade. “As receitas de publicidade dos veículos
tradicionais caíram nos últimos anos e as empresas de mídia não conseguiram recuperar as
receitas na operação online” (COSTA, 2014, p. 65).
Os processos graduais de convergência dos meios que vêm operando nos processos de
rotinas produtivas: “os jornalistas vêm reconfigurando o seu papel como profissional de
meios, em que a premissa informativa de ser propriedade exclusiva do meio tradicional e
passa primeiro para os meios digitais” (JABER, 2010, p.75)52, no caso da Rede Record e
Rede Globo, são os portais R7 e G1, respectivamente.
4.5 INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES
Na década de 90, a globalização e a desregulamentação dos mercados, oriundas dos
primeiros anos 80, evidenciaram-se em uma constante e gradativa tendência de concentração
empresarial (MIRANDA, 2008). As fusões e aquisições que ocorreram, formaram as
modernas indústrias culturais, incluindo a indústria da notícia, em redes televisivas, que
parecem caminhar em um processo de convergência, como tendência dos grupos de
comunicação midiáticos, que caminha para a integração tecnológica, multidimensional e
intersetorial (MIRANDA, 2008). A concentração e integração de veículos em um
determinado meio colaboram para a distribuição de notícias cada vez mais estandartizada e
menos plural. Contudo, a dispersão da audiência que resulta de tanta segmentação e
surgimento dos novos meios pode colaborar para outro tipo de diversificação pelo consumo
de informações concomitante de diferentes grupos de comunicação (MIRANDA, 2008).
Assim, de forma paradoxal a pretensa estandatização que a integração pode provocar em uma
mesma rede de comunicação televisiva, ameniza-se pela diversidade quantitativa dos grupos
de comunicação.
52 Do original: “los periodistas ven reconvertir su rol como profesionales de medios, y donde la primicia informativa deja se der propiedad exclusiva del medio tradicional y pasa, primero a los medios digitales”. (JABER, 2010 , p.75) [Tradução nossa]
91
A indumentária tecnológica (computadores, internet, ferramentas digitais, móveis) e a
configuração das empresas jornalísticas interconectadas por canais digitais são fatores
ampliadores da integração de veículos, pertencentes a um mesmo grupo empresarial, referente
à produção (redução de custos operacionais); à distribuição de conteúdos (ampliação da
audiência); e possíveis processos de unificação de marca para veículos e conteúdos. Assim,
surgiu um caminho unificador de redações jornalísticas de um mesmo grupo, destinado à
produção e compartilhamento de informações para o consumo em distintas plataformas, o que
pode ser conceituado como redações integradas (SALAVERRÍA, 2010) ou centros de
informação (LÓPEZ-GARCÍA et al., 2009). Neste ambiente de produção integrada, surge o
elemento de integração, que são os canais digitais no fazer jornalístico dos telejornais, os
quais reduzem barreiras espaciais e temporais entre os membros das equipes, de diferentes
funções ou veículos, compartilhando recursos e intercambiando materiais para elaboração das
notícias (MIRANDA, 2008). Estes canais são utilizados na perspectiva vertical tanto na
relação entre as equipes do telejornal, como nas equipes dos telejornais que fazem parte do
grupo de comunicação e na perspectiva horizontal, quando os mesmos canais são usados com
outros meios, como os portais G1 (Rede Globo) e R7 (Rede Record). Tais canais digitais que
possibilitam o compartilhamento de conteúdos entre profissionais e equipes se estendem à
quase todas as partes do território brasileiro e do globo terrestre, como fator de colaboração
para produção de notícias nacionais e internacionais.
Salaverría (2010) defende que os grupos empresariais de comunicação tradicionais
(impresso, rádio e TV) buscam medidas para prolongar a liderança nos negócios da
informação televisiva, que une credibilidade e rentabilidade. Em meio às circunstâncias
conjunturais (aspectos econômicos desfavoráveis) e estruturais (redução de público), neste
cenário de convergência, as redações integradas (ou centros de informação) e a unificação de
veículos distintos (integração horizontal) e os mesmos veículos de distintas regiões ou
empresas (integração vertical) são vistos como solução para manter a hegemonia dos grupos
de comunicação, preservar e ampliar a audiência, em uma perspectiva conservadora de
redução de custos operacionais, maximizando os lucros.
Os grupos de comunicação que formam as redes televisivas brasileiras são
culturalmente conservadores e não muito favoráveis à inovação, em virtude do caráter de
gestão familiar e o papel de relativo poder exercido na sociedade, reforçando um perfil de
profissional alinhado ao anseio empresarial (SAAD CORRÊA, 2008). Em que comumente
reforça-se um perfil de naturalização, construído a partir de um ideal de jornalismo em
compasso com as mudanças ocorridas com o advento das NTIC’s (SAAD CORRÊA, 2008),
92
que se tende a se distanciar de uma perspectiva de construção da realidade social, que entende
os processos sociais pelos quais o jornalista continuamente se reinventa. Nesta reinvenção do
jornalista, residem as mutações ou fases das redações integradas, em que Saad Corrêa (2008)
apresenta como dois momentos distintos: a) Fase I - Avaliação organizacional e
posicionamento estratégico – em que um determinado grupo de comunicação estrutura o
processo de integração, flexibilizando as estruturas do mesmo grupo; e b) Fase II –
Posicionamento convergente – por meio de rotinas de produção e integração das redações, a
estratégia vai de um ponto nulo (resistente) – em integração (flexível) – até uma plenitude da
estratégia que são as redações integradas.
A convergência jornalística não deve ser considerada um simples efeito das tendências
corporativas ou tecnológicas, mas um complexo processo de inovação técnica que reflete
decisões econômicas e profissionais, e os jornalistas usam novas ferramentas para contemplar
suas próprias expectativas, habilidades e práticas. Desta forma, a convergência das redações
não é um processo conduzido “pela tecnologia, mas como um processo que usa a inovação
tecnológica para atingir objetivos específicos em configurações singulares e é por isso que
cada projeto de convergência tem resultados diferentes” (LOPEZ, 2009, p. 17-18).
Uma redação é convergente, para além de uma mera iniciativa de reduzir custos
operacionais, mas sim uma oportunidade de rever o modelo de negócios atual. Desta maneira,
mais que uma estratégia de conservação dos negócios da mídia tradicional, a convergência
pode ser uma oportunidade de melhoria ou manutenção da credibilidade, que a percepção da
qualidade da notícia produzida nos telejornais, gera nas sociedades liberais democráticas; e
rentabilidade, pontos que não são, necessariamente, conflitantes, e proporcionam ao
telejornalismo de início de noite ser o principal produto dos grupos de comunicação no Brasil.
Os principais desafios, no que se refere à questão empresarial, dos grupos de
comunicação em redes televisivas, estão em como lidar com a nova organização do trabalho,
gestão das mudanças, as novas formas de liderança e de motivação da equipe, a figura do
jornalista polivalência, em redações integradas. Tais pontos perpassam pela polivalência dos
jornalistas, que se dá sem atualização tecnológica e gratificações. Assim, os jornalistas,
mesmo compreendendo a lógica da convergência e os novos modelos de produção em
redações integradas, ainda persistem no desconforto de terem que adquirir as habilidades
necessárias para produzir notícias multiplataformas (LOPEZ, 2009).
Em um modelo integrado horizontal, o jornalista tem uma flexibilidade de suas funções
não estando mais ligado a lógica de um suporte apenas. Assim, em uma redação integrada
convergente é possível combinar tecnologias, produtos, profissionais e espaços entre os meios
93
anteriormente separados da imprensa escrita, televisão, rádio e meios digitais. As rotinas
produtivas nas redações “estão sendo alteradas por este entorno jornalístico e também pela
relação que o público tem com as tecnologias e, consequentemente, as demandas por
atualização que ele impõe ao meio de comunicação e aos jornalistas” (LOPEZ, 2009, p. 22).
As rotinas jornalísticas, ainda que estejam sendo alteradas a partir do advento e do
desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, em uma perspectiva
sócio-técnica, ainda se trata de um fazer jornalístico, mesmo em redações integradas ou
convergentes, de construção social da realidade por meio das notícias, corroborando para a
credibilidade dos telejornais. Desta forma, são múltiplos os meios de comunicação, em que
cada uma deles afeta o modo cotidiano do jornalista e as rotinas produtivas que envolvem:
captação do acontecimento, produção, edição e distribuição dos conteúdos.
Scolari (2008) aponta que os profissionais das comunicações estão vivendo a transição
de uma lógica produtiva para outra, um momento de grandes tensiones equiparáveis - ao
renascimento ou a revolução industrial. O jornalista polivalente multimídia, em uma redação
convergente, é orientado por uma lógica produtiva reforçada pela necessidade de
flexibilização profissional, capaz de reinventar-se constantemente para seguir o ritmo do
desenvolvimento tecnológico (SCOLARI, 2008).
4.6 ROTINAS PRODUTIVAS DAS NOTÍCIAS E CONVERGÊNCIA A presença tecnológica digital e a integração de redações contribuem para inovações
nos processos operacionais nas empresas de comunicação, que alteram as práticas e
atribuições profissionais no jornalismo, bem como os próprios processos produtivos
noticiosos do telejornal, visto que a tecnologia sempre esteve associada ao fazer jornalístico
com reflexos na produção, circulação e consumo de informações, em uma relação sócio-
tecnológica. No final dos anos 90, o processo se evidenciou com as primeiras iniciativas de
convergência nos veículos de comunicação e com a entrada de emissoras de televisão e
jornais impressos na internet que, neste período, passaram a distribuir seus conteúdos para
web, como uma extensão. Neste processo,
os jornalistas responsáveis pelo site eram responsáveis pela adaptação do conteúdo produzido para os veículos de comunicação tradicionais. Esta adaptação acontecia em pequenas redações, como ainda hoje ocorre em alguns meios de comunicação (LOPEZ, 2009, p.59).
García Avilés e Carvajal (2008) reforçam que a convergência nas redações se constitui
como uma etapa rumo à integração dos diversos veículos e produtos dos grupos de
94
comunicação, podendo chegar inclusive à unificação de marca, compondo uma mesma rede,
como sinônimo de qualidade, para reforçar a credibilidade dos telejornais nas sociedades
liberais democráticas. Desta forma, abre-se caminho no jornalismo para a configuração de
rede, e não mais de veículos de comunicação, no sentido de processo produtivo integrado,
distinto da lógica de processo de produção e distribuição com base no suporte (impresso,
radiofônico e televisivo). Esta nova reconfiguração das empresas jornalísticas aponta uma
possibilidade, de a qualidade da marca de rede ser mais relevante do que os grupos de
comunicação, ou os suportes de distribuição das notícias. (SALAVERRÍA, 2010).
A orientação da produção de notícias adequada à distribuição em diversos veículos
implica na figura de um jornalista polivalente multimídia, que seja capaz de dar conta das
novas demandas. O surgimento de um tipo especial de jornalista3 não é mais do que a ponta
do iceberg de uma série de mudanças e migrações que o sistema produtivo mediático está
vivenciando nas últimas décadas (LÓPEZ-GARCÍA et al., 2009).
Esse perfil profissional não reflete obrigatoriamente uma melhoria das rotinas
produtivas noticiosas. Para Kischinhevsky (2009), os jornalistas foram orientados a executar
Rotinas Produtivas Flexíveis de notícias para a distribuição em diferentes veículos e
plataformas, sem gratificação e atualização. Assim, por meio das novas configurações
empresariais, o jornalista pode pôr em risco sua principal função, de mediador, além da
qualidade final do trabalho noticioso, não contribuir para a credibilidade dos telejornais, visto
que o jornalista priorizaria a produção multiplataforma em detrimento da apuração dos fatos
(KISCHINHEVSKY, 2009). A obrigação de adaptar, nas Rotinas Produtivas Flexíveis, um
mesmo conteúdo para as linguagens das mais variadas plataformas estaria criando o que
Starkman (2010) chamou de efeito da “roda do hamster”. A ideia, basicamente, é que o
aumento no volume de trabalho do jornalista, nas rotinas produtivas, para uma posterior
distribuição multiplataforma, reduz o custo de produção, e gera uma perda de profundidade
das notícias produzidas.
A convergência, enquanto estratégia prioritariamente conservadora, também tenderia a
ofuscar o debate sobre os impactos de uma integração das redações na autonomia dos veículos
e seus produtos jornalísticos, como no caso, de uma possível transformação dos telejornais em
um produto de marca de rede televisiva. Por este caminho, ocorre a naturalização da
polivalência, como alerta Deuze (2004) que entre profissionais de redações convergentes,
existe um consenso que ofusca as questões sobre autonomia, colocando o trabalho
colaborativo e cooperativo entre diferentes veículos, como a melhor forma de rotina produtiva
para conteúdos multiplataformas (DEUZE, 2004). Em geral, tais colaborações e cooperações
95
são realizadas apenas por cross-media ou cross-promotion (MICÓ et al., 2009). Desta
maneira, as questões sobre autonomia dos veículos integrados, muitas vezes não são
evidenciadas pelos supostos benefícios das cooperações, favorecendo a homogeneização dos
discursos e perda de pluralismo nas redações (MICÓ et al., 2009). O ponto é que a disputa
por autonomia nas redações, não reside nos processos colaborativos, mas em uma mudança
específica, que tradicionalmente restringia-se aos embates com setores não jornalísticos dos
grupos de comunicação, tais como: diretorias executivas e de marketing, e agora confrontam
interesses e especificidades dos veículos integrados. Fator que propicia uma disputa entre os
setores jornalísticos, podendo limitar ainda mais a autonomia dos mesmos, e a qualidade dos
resultados das rotinas produtivas.
Assim, de forma paradoxal, se a convergência vem sendo usada pelos grupos de
comunicação em redes televisivas, para potencializar a produtividade e o lucro, isso não
significa que não possam ser criadas possibilidades de adoções deste processo numa
perspectiva diferenciada, voltada, para o fortalecimento das práticas jornalísticas (VELOSO,
2011). A convergência dos meios, e reorganização de redações, faz repensar o que é e como
ocorre a atual rotina produtiva jornalística nas redações integradas. Pois, o centro da
convergência, não é tecnológico, nem só de custo-benefício ou apenas de produtividade, estas
são apenas ferramentas para viabilizar uma redação capaz de prover notícias multiplataforma,
dentro de uma lógica de manutenção dos grupos de comunicação, que formam as redes
televisivas. Em que neste processo, a flexibilização da produção integrada e distribuição
multiplataforma de caráter conservador podem conduzir a uma perda da identidade, bem
como a credibilidade pública e qualidade da notícia dentro das mudanças frequentes do
público (SALAVERRIA, 2008). O modelo de sustentação dos grupos de comunicação
relaciona-se com um público que está em plena mudança de interesses, necessidade e recursos
em um cenário abundante de conteúdos e de possibilidade de interação.
Dentro do contexto de convergência, as estratégias de redações de integradas se
apresentam como parte de caracterização das Rotinas Produtivas Flexíveis. Entretanto, as
implicações são extensas, pois é necessário, segundo Salaverría (2008), revisar os processos
de decisões editoriais e de edição, promover novos perfis profissionais, ajustar o
funcionamento de repórteres e editores, otimizar a relação entre os setores dos grupos
empresariais, bem como renovar os planos de cobertura e apuração. Os modelos de redações
integradas, em que são realizadas as Rotinas Produtivas Flexíveis, com base na escala
midiática, proposta por Salaverría (2008) as modalidade de integração: a) convergência a dois
(impresso + on-line) de monoplataforma a multiplataforma; b) convergência a três (impresso
96
+ on-line + rádio ou TV); e c) convergência a quatro (impresso + on-line + rádio + TV) o
modelo mais complexo. Em que, de forma sintética, se exemplificam as possibilidades de
integração nas quatro principais redes de comunicação do país (Tabela 02).
A Tabela 02 – Predisposição para convergência horizontal
Grupo de comunicação e Noticiário Possibilidade de integração Modalidade de convergência de Salaverría (2008)
Rede Globo – Jornal Nacional Jornal impresso O Globo; Rádio Globo; Globo News (TV); Portal Globo.com
Convergência a quatro
Rede Bandeirantes – Jornal da Band Rádio Band; Band News (TV); Portal Band.com.br
Convergência a três
Sistema Brasileiro de Televisão – SBT Brasil
Portal Sbt.com.br Convergência a dois
Rede Record – Jornal da Record Record News (TV); Portal R7.com Convergência a dois Fontes: do Autor
O presente capítulo contribui com a discussão sobre o processo de convergência que
se relaciona com a reconfiguração do modelo de sustentação e corrosão da audiência das
mídias tradicionais; e novas possibilidades de rotinas produtivas configuradas com redações
integradas, por meio de canais digitais, distribuição de notícias multiplataformas e perfil
polivalente de profissionais. Assim, as características das Rotinas Produtivas Flexíveis que
configuram o modelo produtivo do noticiário televisivo em redações integradas de
distribuição multiplataforma, estrutura-se na correlação com três áreas fundamentais:
produção da notícia, perfil profissional e distribuição. Desta forma, compondo os argumentos
para análise dos dados coletados do próximo capítulo.
97
5. UM OLHAR SOBRE OS TELEJORNAIS
Nos primeiros capítulos da tese, que configuram a base teórica da pesquisa, foram
apresentadas as perspectivas e a abordagem da construção social da realidade, o atual estágio
do telejornalismo, e os estudos sobre a convergência, como um processo de adoções e
desdobramentos tecnológicos dos grupos de comunicação, que formam as redes televisivas,
posterior à informatização e a digitalização. Tais perspectivas e abordagem permitem um
percurso reflexivo sobre a relação entre sociedade, televisão e telejornalismo, com objetivo de
compreender as alterações nas rotinas de produção que se referem às Rotinas Produtivas
Flexíveis, em contexto de convergência jornalística. Esta premissa serve de ancoragem para
compreender o telejornalismo contemporâneo, em especial a estratégia de integração de
redações, por meio dos canais digitais, distribuição multiplataforma e perfil polivalente. Desta
forma, corrobora-se com os objetivos específicos propostos de: análise das rotinas produtivas
de notícias na configuração estrutural, produção e modos de distribuição, nas duas principais
redes televisivas de capital privado, de TV aberta do Brasil; Identificar e sistematizar, através
de análise das perspectivas, como as Rotinas Produtivas Flexíveis abrem discussões sobre:
autonomia dos veículos e profissionais; jornalista polivalente; produção e custos; e
divergência tecnológica entre meios; e argumentar sobre as Rotinas Produtivas Flexíveis
considerando a perspectiva dos jornalistas sobre os processos de convergência.
O presente capítulo apresenta as análises das Rotinas Produtivas Flexíveis da notícia nas
redações do telejornal de início de noite em rede televisiva, por meio de um estudo de quatro
redações das duas principais redes de comunicação televisiva do país: Jornal da Record (São
Paulo) e Jornal da Clube (Recife) constituintes da Rede Record; e NETV 2ª edição (Olinda) e
ABTV 2ª edição (Caruaru) com telejornais da Rede Globo; bem como a relação com os
portais R7 (Record) e G1 (Globo), justapostos nas redes com proximidade de produção
integrada horizontal e com um suporte de distribuição para além da TV.
As Rotinas Produtivas Flexíveis, bem como os elementos característicos como a
estratégia de integração de redações, por meio de canais digitais, distribuição multiplataforma
e polivalência multimídia, nas redes televisivas, vêm compondo a literatura e debates
especializados, tanto acadêmicos quanto profissionais, como um fenômeno de caráter
complexo e de múltiplas dimensões que reforçam a necessidade de um arranjo metodológico
mais amplo, do que as análises de fenômenos tradicionais de comunicação. O arranjo
proposto recupera técnicas etnográficas como método de análise para investigação de
98
aproximações qualitativas, baseadas em: entrevistas semiestruturada em profundidade,
observações não participantes nas redações, e monitoramento dos telejornais.
A entrevista semiestruturada em profundidade qualitativa com perguntas abertas é um
instrumento de coleta de dados amplamente empregado nas ciências sociais aplicadas
empíricas, para obter explicações detalhadas das rotinas produtivas, impactos e juízo de
valores para os propósitos dos processos de convergência e estratégias de integração de
redações, por parte dos jornalistas (SÁDABA et al, 2008). No caso de jornalistas ou
comunicadores que participem da produção e edição nas redações, os mesmos podem falar de
maneira mais específica sobre as mudanças ocorridas através de suas histórias de vida
profissional, no processo de convergência, no que se refere às rotinas produtivas, distribuição
multiplataforma e polivalência (LOPEZ, 2009). As rotinas produtivas no telejornalismo,
como parte do mundo social, são ativamente construídas por jornalistas nas práticas
cotidianas, os quais podem “fornecer dados para testar expectativas e hipóteses desenvolvidas
fora de uma perspectiva teórica específica” (GASKELL, 2004, p.65).
Na presente tese, para a ponderação do corpus do texto provenientes das transcrições
de aproximadamente 900 minutos realizada pelo autor das entrevistas semiestruturadas, fez-se
uso da análise de conteúdo. Visto que “a grande maioria das pesquisas sociais se baseia na
entrevista” (BAUER, 2004, p.189), em que é possível por meio da perspectiva de Bauer
(2004) de análise normativa utilizar os dados coletados nas transcrições das entrevistas, em
duas redações de telejornais dos diferentes grupos de uma mesma rede de comunicação
televisiva comparando-os, com base em três categorias: a) rotinas; b) rotinas e tecnologia; c)
rotinas e convergência.
A observação não participante está colocada para compreender as dinâmicas e relações
profissionais que se estabelecem nas redações (SÁDABA et al, 2008). A etnografia nas
redações dos quatro telejornais das duas principais redes televisivas brasileira coloca em
evidência o cotidiano profissional neste espaço privilegiado das práticas produtivas, tendo em
vista os impactos que o cotidiano tem para o fazer jornalístico (VELOSO, 2011). Desta
forma, por meio do cotidiano de atuação profissional, marcado por situações e processos os
mais diversificados, evidenciam-se as complexidades do fazer jornalístico de TV.
Desta maneira, é possível identificar e compreender o que está mudando, para que, por
que, e o mais relevante, o que é esta rotina produtiva do jornalismo de TV, e estratégias de
integração, bem como as mesmas podem ser definidas e relacionadas com as dimensões: a)
externa ao telejornalismo; b) organizacional dos grupos, que compõem as redes de
comunicação televisivas; e c) produção e cultura profissional.
99
Figura 01 – Integração vertical entre os telejornais e horizontal telejornais/portal
Fontes: do Autor
Na perspectiva da estrutura das redes analisadas, a figura 01 apresenta a configuração
das duas principais redes de comunicação do Brasil, com base nos canais de integrações entre
os telejornais pesquisados, em cada grupo de comunicação, em que será realizada a análise
dos processos separadamente por grupo, bem como a abrangência desses telejornais que
possui três níveis: nacional, regional e local. Desta maneira, a figura apresenta também,
organizada por meio dos canais de integração, aponta as relações das ofertas e das demandas
na produção dos telejornais das Redes Record e Globo, pelas necessidades primárias, como já
foi apontada: a) de cobrir o território nacional e fazer com que as notícias possam ser
compartilhadas dentro da rede, para alimentar os telejornais em uma escala que relaciona o
local, o regional e o nacional; e b) otimizar as rotinas produtivas para competir com
distribuição de conteúdos em mídias digitais, colaborando para a construção social da
realidade.
Por meio dos dados coletados em entrevistas, documentos, monitoramentos e
observação busca-se compreender as Rotinas Produtivas Flexíveis nas redações do
telejornalismo brasileiro de início de noite em rede televisiva. A partir desta aproximação,
100
buscam-se subsídios para responder as questões norteadoras da pesquisa. Visto que as
mudanças sociais e tecnológicas geram modificações nos modelos e práticas comunicativas e
como eles requerem novos conceitos que abarquem a realidade contemporânea (HERREROS,
2009).
A percepção da Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis das notícias nas redações
do telejornalismo de início de noite, em rede televisiva, a qual orienta a produção integrada
vertical e a distribuição de conteúdos para variados suportes que circundam uma mesma rede
televisiva jornalística, composta por distintos grupos de comunicação, realizadas por perfil
profissional polivalente multimídia. Entre outros aspectos, também, compreender concepções
do contexto convergência, dialogando com a percepção dos profissionais que compõem as
redações dos quatro telejornais analisados, na colaboração cotidiana da construção social da
realidade em democracias liberais.
5.1 SOBRE OS GRUPOS E TELEJORNAIS
Na Rede Record de Televisão, com o intuito de compreender as Rotinas Produtivas
Flexíveis, foram analisados: Jornal da Record (São Paulo); Jornal da Clube (Recife) e R7 (São
Paulo). O Jornal da Record está no ar desde 1972, é o principal telejornal da Rede Record de
Televisão, formada por 106 emissoras no Brasil. O jornal da Record pertence ao Grupo
Record Rádio e Televisão S/A e vai ao ar de segunda a sexta às 20h40 e aos sábados às
19h45, apresentando reportagens e séries especiais sobre os mais variados assuntos, podendo
ser assistido em 150 países, por meio da Record Internacional (REDE RECORD, 2014). O
Jornal da Clube é o jornal da afiliada da Rede Record de Televisão, pertencente ao Grupo
Diários Associados em Pernambuco – TV Clube PE, é um telejornal afiliado a Rede Record
desde 2012, trabalha com os resumos dos assuntos do dia na capital pernambucana e no
estado, vai ao ar de segunda a sexta, às 18h (TV CLUBE, 2014). O portal R7, principal
produto informativo do Grupo Record, estruturado em mídia digitais, abrange conteúdos de
variedades, e é organizado de forma centrada em São Paulo nas instalações do Grupo. Na
Rede Record foram entrevistados 9 profissionais entre, apresentadores, editores, diretores e
coordenador – A opção de omitir os nomes dos jornalistas tem o intuito de evitar qualquer
constrangimento com relação às declarações, posições e afirmações, perante a sociedade.
Na Rede Globo de Televisão, formada por 152 emissoras no Brasil, a análise centrou-
se no NETV 2ª edição. (Olinda); ABTV 2ª edição. (Caruaru); bem como na relação com e G1
(Pernambuco e Agreste). O NETV 2ª edição é o principal telejornal de início de noite da
101
emissora (filial) Globo Nordeste do Grupo Globo Comunicação e Participações S/A, vai ao ar
de segunda a sábado às 19:15h. O ABTV 2ª edição é o telejornal de início de noite da afiliada
TV Asa Branca, pertence ao Grupo Nordeste de Comunicação, e vai ao ar de segunda à
sábado às 19:15h. Os telejornais apresentam resumos dos fatos que foram notícias ao longo
do dia (REDE GLOBO, 2014). O portal informativo G1, principal mídia digital informativa
relacionada à Rede Globo, abrange apenas notícias e opera de forma descentrada em cada
emissora (cabeça de rede e filial) e afiliadas, com uma estrutura em rede, possuindo sede e
São Paulo. Nestes veículos foram entrevistados 8 profissionais entre diretores, gerentes,
coordenadores, chefes de redação, apresentadores e editores – da mesma forma, a opção de
omitir os nomes dos jornalistas tem o intuito de evitar qualquer constrangimento com relação
às declarações, posições e afirmações, perante a sociedade.
Com as entrevistas foi possível compreender as percepções dos jornalistas sobre
integração e convergência, e como os mesmos pensam sobre as mudanças tecnológicas nas
rotinas produtivas. As entrevistas foram organizadas em três blocos de análise: rotinas
produtivas; rotinas produtivas e tecnológicas; e as rotinas produtivas e convergência. Assim,
com base na perspectiva de análise de conteúdo normativa de Bauer (2004), que se mantém
em toda análise dos fragmentos selecionados nas entrevistas de campo, busca-se compreender
a perspectiva dos jornalistas dos telejornais analisados, como ambientes diferentes
organizados de uma mesma rede de comunicação televisiva, relacionado à principal mídia
digital, sobre os mesmos temas que se seguem.
5.2 AS DINÂMICAS E CONFIGURAÇÕES DAS REDAÇÕES
Na perspectiva das Rotinas Produtivas Flexíveis, em um contexto de convergência
jornalística, em que se apontam os canais digitais de integração das redações, distribuição
multiplataforma e polivalência, na produção de notícias do jornalismo de TV em rede. A
observação não participante está colocada para assimilar as dinâmicas e relações profissionais
que se estabelecem nas redações (SÁDABA et al, 2008). Com o intuito de identificar e
compreender o cotidiano profissional ambiente das práticas produtivas e as possíveis
alterações na dimensão de produção e cultura profissional.
Uma primeira análise da configuração das redações dos meios refere-se às
possibilidades de integração pelo quantitativo de veículos que os grupos possuem.
Configuração esta que tem relação com a dinâmica das rotinas produtivas nas redações dos
telejornais. Com base nas modalidades de convergência de Salaverría (2008) é possível
102
compreender em que modalidade estrutural das quatro redações analisadas se encontra as
possibilidades de integração horizontal com base no quantitativo de veículos, sintetizado na
tabela 03.
Tabela 03 – Predisposição para convergência horizontal dos telejornais analisados
Grupo de comunicação e Noticiário Analisados
Potencial de integração Modalidade de convergência de Salaverría (2008)
Grupo Record – Jornal da Record
Record News (TV); Portal R7.com
Convergência a dois
Diários Associados de Pernambuco – Jornal da Clube PE
Rádio Globo; Diário de Pernambuco (impresso); Portal
Pernambuco.com
Convergência a quatro
Globo Nordeste – NETV 2ª edição
Portal G1 Pernambuco Convergência a dois
Rede Nordeste de Comunicação - ABTV 2ª edição
Portal G1 Agreste e região; Globo FM
Convergência a três
Fontes: do Autor com base em Salaverría (2008)
5.2.1 Dinâmicas e configurações na Rede Record
Na Rede Record, considerando a tabela 03, no que se refere à configuração de meios,
que compõem os grupos de comunicação, que formam a Rede Record de Televisão.
Grupo Record/Jornal da Record – [dias 22, 23, 24 de janeiro de 2014] Na sede da Rede
Record, a configuração do espaço abriga como estrutura jornalística, no que se refere a esta
pesquisa: o Jornal da Record, o Jornal da Record News e o R7. Os três veículos possuem
espaços de redações próprias em locais plenamente separados, que não impedem a
colaboração na produção noticiosa. Nas rotinas produtivas na redação do Jornal da Record
ocorrem duas reuniões significativas: a reunião de fechamento de espelho do telejornal do dia,
e a reunião de pauta do jornal do dia seguinte. As reuniões ocorrem em salas próprias para
esta finalidade, às 14 h e 14h30 respectivamente, do dia 24 de janeiro de 2014, com a
participação de editores e produtores, em que se percebe o uso de ferramentas digitais, como
os smartphones para verificação de informações. Nestas reuniões são feitas as orientações de
produção, a definição dos temas, e como os mesmos devem ser abordados, contato com as
praças (filial) e afiliadas, para fechamento ou orientação de produção de sonoras e imagens.
Na reunião de espelho é feita uma leitura de todas as retrancas que vão compor o
telejornal naqueles dias. Em média, O jornal da Record possui 44 minutos, composto por
retrancas de mais ou menos um minuto cada. Em geral, o espelho tem 40 retrancas em média
103
– neste dia, até o momento da reunião havia 35, podendo ainda algumas caírem e novas
retrancas chegarem, pela relação de ofertas e demanda com a filial e afiliadas, com o deadline
do início do telejornal, reforçando o compromisso da estrutura de rede na relação emissora
afiliada (PRIOLLI, 2003).
Durante a passagem das retrancas são feitos comentários e ajustes que podem gerar
uma solicitação de demanda nas praças, como complementação de imagem ou sonoras, para
construção das notícias, considerando que para parte da população os noticiários ainda são a
única referência de atualizar e perceber o cotidiano (CURADO, 2002). Algumas retrancas
acabam se destacando como o caso da Operação Braços Abertos – na Cracolândia em São
Paulo, que deveria ser uma desocupação pacífica, acabou em conflito com a polícia – sobre
este tema, os participantes apresentaram informações para compor a contextualização da
reportagem. Embora os profissionais presentes tivessem ampla informação do ocorrido, as
imagens do acontecimento eram de outro grupo de comunicação, o Grupo Folha, e que nestes
casos, envolve uma série de tramites e restrições de uso das imagens. Outra retranca é um
caso de um assassinato ofertado pela praça de Belo Horizonte (filial). O acontecimento
envolvia uma matéria já veiculada no Jornal da Record, e que os participantes apontaram
como válido manter o acompanhamento das repercussões e desdobramento do caso, pois
neste dia ocorreria a apresentação do assassino. Contudo, era necessário fazer o contato com a
praça para verificar as condições e quantitativo das imagens. Outro destaque nas retrancas foi
o caso de um atropelamento ocorrido em Belém, e que a motorista infratora já tinha sido presa
pelo menos quatro vezes, para finalizar o VT era necessário comprar as imagens do
atropelamento.
Na reunião de Pauta para o sábado e estimativa da segunda, visto que o sábado e a
segunda tem uma rotina diferenciada, em função das equipes que fazem o plantão do fim de
semana na redação do telejornal. Nesta reunião realizada com os produtores, logo depois da
reunião de fechamento de espelho, a produção aponta que no sábado chegariam os VTs dos
protestos contra a Copa do Mundo de 2014, pelo Brasil. Nesta pauta, é colocado o fato de que
20 mil pessoas confirmaram em redes sociais que estariam presentes no MASP, às 15 horas –
pela dificuldade de horário e pelas equipes reduzidas no plantão do fim de semana – foi citado
que muitas vezes os acontecimentos desafiam as rotinas produtivas dos telejornais. E neste
sentido, é colocada a questão da estrutura disponível: – amanhã só teremos dois repórteres –
e frente ao desafio de como otimizar a captação e cobertura com dois repórteres em São
Paulo, foram apresentadas algumas propostas – parta otimizar a cobertura do aniversário da
cidade e outros acontecimentos nos locais em que ocorreram, na perspectiva de como e em
104
que momento seriam feitos os VTs. Neste momento, são recordados situações de experiências
positivas e negativas de concorrentes e produções internas à rede. Assim, como pautar os
repórteres? – e quais os possíveis temas da segunda feira. A reunião foi finalizada com as
propostas de rotina produtiva para os dois dias.
No ambiente da redação, durantes os dias 22, 23, 24 de janeiro, sempre no período da
tarde e início da noite, foram observados a existência de televisores para monitoramento das
programações de outras TVs, como CNN. Bem como os aspectos peculiares à composição do
espelho do Jornal da Record que possui um número considerável de retrancas ofertadas pelas
praças e afiliadas, como a TV Clube, que possui um núcleo de rede ligado ao telejornalismo
local, para garantir a linha editorial dos conteúdos produzidos nas afiliadas. Percebe-se ainda,
que a estrutura física é separada por telejornais, embora exista um compartilhamento do
espaço físico, redação e estúdio entre o Jornal da Record e o Jornal Fala Brasil, mas em
horários e com equipes diferenciados. O Portal R7 também é organizado de forma separada
dos outros veículos. Em São Paulo, o Grupo Record possui dois meios: o televisivo e o
digital, Portal R7. Entretanto, existe uma tendência experimental entre as produções da
RecordNews e o R7 em que o grau de colaboração parece apontar para configurar este
experimento como o projeto modelo de convergência do Grupo Record.
Grupo Diários Associados/Jornal da Clube – [dias 28 de agosto de 2014] No grupo de
comunicação em que o Jornal da Clube pertence, a configuração do espaço abriga como
estrutura jornalística, no que se refere a esta pesquisa, o Jornal da Clube, a Rádio Globo,
Pernambuco.com (mídia digital), Diário de Pernambuco (impresso). Os quatro veículos
possuem redações próprias em locais plenamente separados, mas que não inibem as
colaborações entre os veículos, especialmente entre o portal Pernambuco.com e o
telejornalismo. Na reunião de pauta ocorrida em 28 de agosto de 2014, ao meio dia, nem a
editora-chefe, nem uma das apresentadoras participam. Contudo, os resultados e
apontamentos da reunião são compartilhados após a chegada das mesmas. O editor e
apresentador do Jornal da Clube se encarrega de transmitir à editora–chefe do telejornal e a
apresentadora o que se refere as atividades e acontecimentos de forma cooperativa, para a
montagem do espelho. Assim, não existe uma reunião formal de fechamento de espelho, o
fechamento ocorre durante o processo produtivo na própria redação.
Durante o trabalho de produção, na observação do período da tarde do dia 28 de
agosto, é muito comum encontrar profissionais do portal Pernambuco.com compartilhando
imagens de vídeo com a redação do telejornal. Na redação é possível ver monitores de TV
105
acompanhando a programação da emissora e das concorrentes, com o objetivo de avaliarem a
própria cobertura e os acontecimentos mais relevantes do dia. Uma peculiaridade é que o
Grupo Diários Associados de Pernambuco possui a Rádio Globo e uma TV afiliada da Rede
Record de Televisão. Percebe-se que a TV não tem muita proximidade com a rádio, mesmo
pertencendo ao mesmo grupo de comunicação, em virtude da linha editoria e linguagem
serem de afiliações distintas. A tendência de convergência e integração horizontal no Grupo
Diário Associados está mais ligada ao impresso e o portal Pernambuco.com, na perspectiva de
convergência a dois de Salaverría (2008), em que se observa que o grau de colaboração
parece apontar para o projeto experimental de integração, o que permite que tanto a rádio
como a TV estejam mais ligado aos portais das redes que são afiliadas. No que se refere às
dimensões de organização dos grupos pertencentes a uma rede televisiva e a produção e
cultura profissional, é a particularidade da relação com o programa Cardinot Aqui na Clube,
que produz imagens da editoria policial, a qual alimenta o Jornal da Clube, e em determinados
casos segue para os telejornais da rede. O ponto é que mesmo pertencendo a um mesmo grupo
de comunicação, nem sempre as relações são proativas, o que gera um desafio para as rotinas
produtivas do jornalismo local e para o núcleo de produção de rede, evidenciando que as
estratégias de integração estão para além da lógica da tecnologia ou dos aspectos econômicos,
e mais próxima a cultura profissional e organização dos grupos de comunicação, em uma
perspectiva de adoção social das mesmas, em uma tendência que remonta ao início das
operações digitais nas redes televisivas brasileiras, em que os conteúdos da TV são apenas
adotados para os portais (LOPEZ, 2009).
5.2.2 Dinâmicas e configurações na Rede Globo
Na Rede Globo, considerando a tabela 03, no que se refere à configuração de meios,
que compõem os grupos de comunicação que formam a Rede Globo de Televisão.
Globo Nordeste/ NETV 2ª edição – [27 de agosto de 2014] Na sede da Rede Globo no
Nordeste, a configuração do espaço abriga como estrutura jornalística, no que se refere a esta
pesquisa, o NETV 2ª edição e Portal G1 Pernambuco. Os dois veículos dividem espaço na
mesma redação, o que facilita a colaboração entre os telejornais e o portal, e corrobora com a
naturalização da polivalência midiática. Desta maneira, reforça-se a adaptação das rotinas
produtivas de cada meio, juntamente com a habilidade tecnológica e a capacidade expressiva
dos profissionais (GARCÍA AVILÉS et al., 2010).
106
Na perspectiva das reuniões, a reunião de avaliação ocorrida às 12h30, em 27 de
agosto de 2014, em que foram apresentadas quais reportagens seriam realizadas e o que já
havia sido feito até o horário da reunião, bem como nos telejornais anteriores. Assim, foi feita
uma apresentação do que foi o Jornal Bom Dia Pernambuco e o NETV 1ª edição, de forma
comentada de todas as matérias realizadas. E apresentado também, o monitoramento dos
veículos concorrentes, em que é lido um arquivo texto, com todas as retrancas que a
concorrente fez, até o momento da reunião, para avaliar o trabalho dos telejornais da
emissora, em relação aos acontecimentos e enquadramentos dos telejornais concorrentes, em
cada horário. Desta forma, situando os fatos que foram noticiados, e avaliando o que foi
realizado, pôde-se rever o que foi feito e o que pode ser aproveitada das afiliadas TV Grande
Rio (Petrolina) e TV Asa Branca (Caruaru). Nestas reuniões são apontados também, os
direcionamentos da construção das notícias, como no caso da matéria do Criança Esperança
2014, se seria feito apenas o VT ou seria um ao vivo. A reunião é realizada com base no que é
apresentado e apontado pelos participantes, para compor a análise do que será feito no NETV
2ª edição e nos telejornais do dia seguinte. A reunião acontece na sala da diretora de
jornalismo com a presença do gerente de reportagem e as equipes do NETV 1ª edição e
NETV 2ª edição.
Na Globo Nordeste, por meio das observações do dia 27 de agosto, início da manhã,
percebe-se que a redação jornalística está configurada com a junção física do NETV 1o e 2
edições, além do G1 Pernambuco. Embora cada veículo tenha equipe e chefias próprias, esta
proximidade permite uma maior colaboração e compartilhamento de informações, conteúdos
e equipes entre os veículos, reforçado pelos supostos benefícios deste modo de trabalho,
favorecendo a naturalização dos discursos e perda de pluralismo nas redações (MICÓ et al.,
2009). Assim, favorecendo a polivalência midiática na redação, além da polivalência
funcional, corroborando para um consenso que ofusca as diferenças entre funções e meios,
colocando o trabalho polivalente entre diferentes veículos e meios, como a melhor forma de
construção da notícia.
Nas rotinas produtivas, observadas no turno da tarde do dia 28 de agosto, percebe-se
que os repórteres em geral não pertencem a um telejornal exclusivamente, os mesmos podem
ser chamados para qualquer telejornal, reforçando a abordagem de alteração das rotinas
produtivas no atual contexto (SCOLARI, 2008). Entretanto, alguns estão mais localizados,
por uma questão dos horários, na equipe de determinado telejornal. Algumas peculiaridades
observadas na atuação de alguns profissionais apresentam flexibilidade de funções, que são
repórteres e editores, e na rotina produtiva existem equipamentos disponíveis para pré-edições
107
fílmica de reportagens. Bem como a apresentadora do NETV 2ª edição que colabora na edição
de reportagens. Durante a observação da tarde foi possível perceber a oferta de reportagens
para a rede, bem como a resposta positiva da aceitação da reportagem por e-mail. Fator que
enfatiza os canais digitais de integração da rede televisiva, nas rotinas produtivas.
Grupo Nordeste de Comunicação/NETV 2ª edição – [05, 06, 07 de agosto de 2014] Na
afiliada da Rede Globo de televisão, a configuração do espaço abriga como estrutura
jornalística, no que se refere a esta pesquisa, o ABTV 2ª edição, a Rádio Globo e o Portal G1
Agreste e região. O rádio possui redação própria em local plenamente separado. Contudo, os
telejornais e o Portal G1 estão integrados fisicamente em uma mesma redação.
Na Reunião, do dia 05 de agosto de 2014, às 14h, foi composta pelas equipes do
ABTV 1ª e 2ª edição. Esta reunião é de avaliação do que foi feito e o que vai compor o ABTV
2ª edição, em seguida é realizada a reunião de pautas do dia seguinte. Na reunião de
fechamento do jornal da TV Asa Branca participam as equipes do ABTV 1ª e 2ª edição e
coordenação de produção e reportagem (Dione Guimarães), em uma de sala própria para
reunião. A reunião aborda processos diferenciados de cobertura, com exemplos de situações
ocorridas na Câmara de Vereadores de Caruaru, como forma diferenciada de fazer cobertura,
que não está presa às tecnologias usadas, mas na forma de abordar os entrevistados. Durante a
reunião é visível o uso de celulares para buscar informações e compartilhar informações com
a equipe da TV ASA Branca. Desta maneira, o uso de tablet e celular para aproximar as
equipes de turnos e locais diferentes, através das redes sociais são configurados como canais
de interação. Editores do ABTV 1ª e 2ª edição. Em algumas situações, em função das
demandas da redação, a editora-chefe não participa da reunião, embora se reúna antes com a
coordenação de produção e reportagem, para ver tudo que será realizado para o ABTV 2ª
edição. Uma situação observada, que inviabiliza a participação nas redações, por parte da
editora-chefe, é a edição do AB Notícia, boletim diário que é exibido no meio da
programação da TV Asa Branca, em geral duas vezes ao dia. Fato que reforça a relação dos
suportes tecnológicos e as rotinas produtivas que se pautam por um ritmo cada vez mais
acelerado (FRANCISCATO, 2005).
A reunião segue priorizando rotinas convencionais de checagem das imagens feitas para
as pautas da noite, dentro deste processo percebe-se que algumas matérias não têm prazo, são
realizadas para compor arquivos. São apresentadas as Pautas para os produtores do ABTV2,
que envolve a realização de entrevistas para os dias dos pais, e também, sonoras que
apresentam as expectativas do comércio para a data. Com o foco na produção, segue a reunião
108
com a pauta da Câmera de Vereadores da cidade, surge à desconfiança de que a pauta não vai
render o esperado, para os dois telejornais. Desta forma, é apresentada a sugestão de fazer um
stand-up apenas para o ABTV 2ª edição. No geral, percebe-se que as ideias de novas pautas
trazem a tona outras coberturas bem sucedidas para servirem de referência na produção das
novas reportagens.
Na reunião de pauta para o dia seguinte são definidas as coberturas de fatos por
repórteres, e são comentados a dificuldade e acesso aos acontecimentos em bairros que podem
ser atendido por quadros mais populares dos telejornais. São verificadas as imagens realizadas
no dia que podem auxiliar nas rotinas produtivas do dia seguinte. Em meio a reunião surgem
dúvidas sobre um VT, de como fazer as sonoras com a fonte, bem como fazer o VT sugerido
na pauta. Pois existe a necessidade de fazer a edição do off de uma matéria ainda no dia
corrente. Isso impõe o desafio na construção da notícia, pois esbarra nas limitações das
equipes e equipamento dos telejornais.
Como peculiaridade das rotinas produtivas observadas entre os dias 5 e 7 de agosto de
2014, nos turnos da manhã e da tarde, foram percebidas algumas soluções de problemas para
organizar as equipes e apoio aos repórteres, resolvidos por canais digitais, como redes sociais.
Pelo Whatsapp foi corrigida uma escala de repórteres, que não foi informada pelo e-mail. É
fornecido um número para atualizar as informações para toda equipe de jornalismo da TV Asa
Branca, uma lista que os componentes da equipe trocam informações, fazem solicitação de
apoio, como no caso ocorrido com um repórter informando à produção na redação que o
entrevistado ainda não tinha chegado para realização do link. Outro fato que reforça as
entrevista é que são enviadas fotos pelos repórteres nas ruas, que podem servir de pautas para
o dia seguinte ou para o jornal da Noite, além do uso da lista para fornecer recados.
Durante os dias 6 e 7 de agosto, observou-se que são realizados pelos produtores um
monitoramento dos blogs da região, dos blogs de Caruaru principalmente e os sites da
concorrente, como o NE10. Para evitar o risco de furo pela concorrente televisiva, existem
TVs monitorando os canais concorrentes, com o mesmo objetivo. Ainda, são feita as rádio
escuta o dia todo, pela força que o rádio ainda possui na região. Além do monitoramento dos
blogueiros de cidades distantes onde a TV não pode, em tempo hábil, cobrir os
acontecimentos.
5.3 ROTINAS PRODUTIVAS
109
As rotinas produtivas que a presente tese se debruça, são os conjuntos de ações
necessários para consolidar os conteúdos noticiosos nas redações dos telejornais, que vão ao
ar seis dias por semana. Tal processo de produção noticioso ocorre desde as reuniões de pauta
e perpassa pela captação do acontecimento, dando sequência através da produção até a
distribuição. Com base na revisão de literatura, os autores Vizeu e Correia (2008) apontam
que a compreensão das rotinas produtivas está mais centrada na dimensão da produção e
cultura profissional, que envolve as regras da redação no fazer do jornalista de TV,
relacionados aos profissionais, as funções, os critérios de noticiabilidade, e os processos de
construção das notícias nos telejornais da rede televisiva. Nestas rotinas residem os
valores/notícias, os quais definem os acontecimentos relevantes para serem transformados em
notícias (WOLF, 2005). Desta forma, o fazer jornalístico baseado na observação verificável,
deve produzir informações com credibilidade, em um contrato pragmático fiduciário
(ALSINA, 2005), ou relação de confiança (VIZEU, CORREIA, 2008), diretamente veiculado
a credibilidade dos telejornais, em Rotinas de Produção Flexíveis, nas sociedades liberais
democráticas.
5.3.1 Rotinas produtivas na Rede Record
Os papéis e funções que operam na construção dos dois telejornais analisados da
Rede Record, dentro da relevância social (credibilidade), que os veículos possuem:
No papel aqui do editor executivo do jornal, que é nacional da segunda maior rede, e que vai falar para milhões no Brasil todo, qualquer que seja a audiência, tudo que você falar e mostrar vai ter impacto para muita gente e, então a responsabilidade de conseguir trazer para o jornal os assuntos que não sejam só da leitura pessoal (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na transformação dos acontecimentos em notícias é realizada uma série de
atividades colaborativas dentro da redação, exigindo do profissional o cuidado necessário,
para não comprometer a credibilidade da notícia. “Estou deculpando uma matéria que foi
gravada, para depois o Carlos Dornelles, com base nesta deculpagem, construir o texto dele.
Isso é uma transcrição minuciosa e atenta do que se tem” ( Editor sênior do Jornal da Record,
em entrevista concedida para esta pesquisa).
Essas atividades colaborativas entre os profissionais constituem o modo de produção
como parte das regras da redação dos telejornais.
Sou editora chefe do Jornal da Clube, e também faço a parte de edição de texto,
110
junto como os editores de imagem, que ao longo do dia já trabalharam no material. Eu e Flávio Barra (apresentado e editor do Jornal da Clube)53 espelhamos o jornal, mas a gente trabalha este tempo dentro do nosso horário, a gente não para, para espelhar, a gente já tem uma sintonia deste espalhamento do jornal ao longo do dia. O Flávio chega mais cedo, 11 da manhã, faz a reunião de transição com o pessoal da manhã para saber o que foi feito e o que está previsto para ser produzido, tudo pode mudar (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na construção do telejornal, ocorrem algumas flexibilizações das funções e papéis dos
profissionais nas redações.
Minha função é de apresentadora e editora. Como eu comecei aqui como repórter, vez por outra, se houver necessidade, eu também posso fazer reportagem. A partir do momento que eu chego na redação, dou uma olhada nas notas, que os estagiários produziram, e a gente grava o giro, que é um noticiário curto de mais ou menos 1 minuto, como 3 ou 4 destaques de natureza policial. Eu também gravo a previsão do tempo e eu sou responsável pela escalada do jornal (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O fazer nas afiliadas, que compõem uma rede televisiva no que se refere às funções e
rotinas, atende também a necessidade da rede na produção da notícia. “Minha função aqui é
mandar pautas fatuais do dia para São Paulo, pois eu cubro o Jornal da Record, minha
obrigação é o Jornal da Record, mas muitas vezes eu posso cobrir outros veículos como Hoje
em Dia, Câmera Record, enfim todos os outros jornais de outras praças também do Rio, São
Paulo” (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas funções e papéis dos profissionais que compõem a Rede Record, percebe-se que
entre emissora (cabeça de rede) e afiliada existem perspectivas diferentes para cumprir as
atividades cotidianas, embora os processos, em ambas, envolvam as equipes nas rotinas
produtivas, na transformação dos acontecimentos em notícias. Um ponto comum como regra
das redações é a colaboração entre os profissionais do Jornal da Clube, bem como do Jornal
da Record. Como ponto distinto, o fazer jornalístico do Jornal da Clube, as funções e papéis
apresentam mais flexibilidades. Nesta flexibilidade de funções, um profissional que é
apresentador, e também é editor, em determinados momentos da construção do telejornal,
pode ter, também, a função de repórter, sendo o limite da polivalência funcional a necessidade
dos processos produtivos. Na transformação dos acontecimentos em notícias, funciona na
redação da TV Clube, com parte da condição de afiliada, uma equipe de rede que é
responsável por mandar reportagens produzidas na redação do Jornal da Clube, para o Jornal
da Record, colaborando para alimentar a Rede Record, com matérias no padrão pré-
estabelecido pelo jornal de maior abrangência.
53 O uso de parênteses nas entrevistas tem o intuito de situar ou contextualizar o depoimento do entrevistado.
111
Na perspectiva dos critérios de noticiabilidade, linha editorial e construção da
notícia a Rede Record aponta a manutenção dos valores notícia, na construção noticiosa,
próximo ao modelo consolidado dos anos 70: “Eu acho que a imagem, vamos dizer, como
valor de notícia, ela ganhou uma importância, mas o valor da notícia são sempre os mesmos:
a proximidade, a relação com quem você está falando, é básico, não acho que tenha mudado
não” (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa). De
forma positiva, os valores das notícias se mantêm na percepção dos profissionais que
compõem as redações da Rede Record. Entretanto, dentro da tendência de flexibilização do
modelo dos anos 70 e a perspectiva de um modelo convergente, o Jornal da Record, ou JR, na
construção, parece estar mais voltado para as etapas iniciais das Rotinas Produtivas Flexíveis.
“O JR é um jornal muito antiquado, um jornal que parou um pouco no tempo. Eles têm uma
regra que existe um certo receio de ter que evoluir” (Produtora de Rede na TV Clube, em
entrevista concedida para esta pesquisa).
As rotinas parecem refletir um modelo tradicional de telejornalismo que ainda
possui fortes raízes na origem dos telejornais em rede colorida, que se consagrou nos anos 70.
Fato que evidencia um receio de afetar os índices de audiência, base do atual modelo de
sustentação.
Eu acho que, isso é uma coisa que se desenvolveu mais ou menos 40 anos atrás um modelo de fazer televisão no Brasil, este modelo pouco evoluiu, ele está muito parecido. Qual a estrutura de reportagem? É um off, uma passagem, talvez um encerramento, recheado com algumas entrevista e tal, este é o modelo básico não se discute outra coisa, você pega o Jornal Nacional, que foi feito lá nos anos 70, ele é muito parecido com o jornal que é feito agora, a evolução da linguagem tem sido muito pequena, eu acho que talvez as televisões não ousem mudar a forma de apresentar notícia e a forma de discutir a pauta, talvez até com receio de afugentar o seu público (Coordenador de reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Neste fazer da construção das notícias que são geradas na TV Clube para o Jornal da
Record, a linha editorial e os critérios absorvem acontecimentos característicos, distintos da
produção local. “Para o nacional tem certos critérios sim, a gente não pode mandar qualquer
VT, a rede sempre quer uma matéria mais detalhada. Por exemplo, para fazer uma pauta para
o local, só a imagem e mostra a historia é legal, mas a Rede não, sempre quer algo mais
detalhado”. (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nesta rotina produtiva, além da construção das reportagens diárias existem as séries especiais,
em uma lógica de produção diferenciada. No fazer do telejornal, que se inserem as buscas dos
acontecimentos interessantes, significativos e relevantes, que compõem a construção social da
112
realidade.
As série você precisa planejar com bastante antecedência, a série da semana que vem, ela está quase toda pronta, a da próxima semana está lá embrionária, a daqui a três semanas está sendo gravada, a de quatro semana está sendo gravada, provavelmente o da quinta semana já está gravando, porque você pensa para frente, você pensa no dia seguinte, e você pensa o que acontece no dia, porque o jornal é isso, são os fatos do dia, da semana ... (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A construção dos telejornais das redes televisivas começa no dia anterior,
perpassa por um processo que envolve os profissionais na redação, bem como a relação das
ofertas das filiais (praças) e afiliadas pelos canais digitais de integração vertical, como a
ferramenta digital AP ENPS/NEWS (Eletronic News Production System).
O JR começa sempre no dia anterior, com algumas praças oferecendo as coisas ao longo do dia pelo ENPS. Então, no dia anterior da uma da tarde às duas e meia, eu preciso fazer uma reunião com a pauta e decidir o que a gente vai fazer amanhã, e nas praças eles também fazem as ofertas para a gente ao longo do dia, pelo ENPS, aí de manhã, a gente faz uma reunião do rádio mais cedo, para ver o que vingou, o que deu para manter, porque você planeja alguma coisa, mas ela caí, porque os fatos se sobrepõem, qualquer que seja a notícia, você vai mudando ao longo do dia e às dez e meia, onze horas, a gente faz a reunião com as praças, onde define a base do que vai estar no jornal, o espelho do jornal. Às duas e meia chegam os editores e eu distribuo as matérias, cada um vai cuidar destas matérias ao longo do dia, lá pelas cinco, seis, sete as praças vão mandar as reportagens para cá, e no meio deste tempo os editores aqui vão montar as reportagens de São Paulo. Lá pelas oito horas eles começam a entregar todas estas matérias, são avaliadas, antes de ir por ar, e na hora que inicia o jornal, você vai colocando (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No processo de construção da notícia existem situações que ultrapassam as redações
dos grupos de comunicação, que formam uma rede televisiva, quando ocorre escassez de
imagens, ou o direito de uso de uma determinada imagem pertence a outro grupo de
comunicação, por exemplo.
O editor vai escolher a informação que ele vai dar, vai construir o off, com o repórter, vai assistir as entrevistas, para ver o que tem de relevante nelas, vai cobrar da chefia de reportagem, da rede: que imagens nós temos? Porque não temos? Quem tem? Ontem, por exemplo, tinha uma história do Estadão, que pegou um flagrante lá da desocupação da Cracolândia, aí quem tinha as imagens era o Estadão, negociação com Estadão, e isso foi no final da tarde, então você tem a informação, você precisa do quê? Da imagem (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Este fazer do telejornalismo, no processo da construção da notícia, se dá também em
uma relação entre a redação e a rua, na captação dos acontecimentos do dia, em uma
diferenciação, no que se refere à como se deve compor uma reportagem entre a emissora e
afiliadas.
113
O repórter quando vai para rua, sendo de rede, ele já quer tudo na mão. A produção tem que procurar saber o que foi que houve, o que aconteceu e mando para o repórter. Ele pode até apurar, mas eu tenho que fazer a maioria de tudo, rede é assim, local não, tu vai ver o que tem aí e depois você me diz. Rede eu tenho que apurar, mandar detalhes. O que foi que aconteceu? Não sei. O fato foi agora? Apurem com mais detalhes (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na construção da notícia e da oferta, compartilhamento e solicitação de conteúdos e
imagens fazem parte das rotinas produtivas, não só entre a emissora e as afiliadas, mas entre
programas televisivos de um mesmo grupo de comunicação, o qual a afiliada faz parte.
Para o Jornal da Clube a gente tem uma ajuda muito grande dos outros telejornais. O Cardinot, que é o jornal policial do meio dia. Ele quem faz a maior parte do conteúdo policial que a gente utiliza no nosso telejornal. Claro! Que se a gente tiver como uma equipe na rua no mesmo horário, a gente tá mandado nossa equipe também. Porque eles cedem para a gente, mas eles têm exclusividades. A maior parte do nosso primeiro bloco é fruto do que eles estão fazendo, claro que de uma forma refinada, a gente lapida aquele material, porque o formato é completamente diferente (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na construção da notícia, a Rede Televisiva da Record tenta estruturar um padrão para
os telejornais que a constitui, com o objetivo de reforçar os quantitativos de público que
compõem a base do modelo de sustentação econômica.
A Record não tem uma estética muito padrão. Eles estão começando a implementar isso agora. Uma estética que pelo menos tenha uma linguagem com um visual parecido com o que eles trabalham na rede. Mas é muito diferente porque ele, no caso a Record, eles estão com um projeto para implementação de um Ibope de audiência maior nas afiladas. Recife é uma delas, a gente está em quinto lugar dentro das afiliadas, que tem medição de Ibope, em melhor colocação. Mas ainda assim, eles precisam aumentar o número de Ibope da Rede, aqui no local. Isso significa que, o que eles passam não tem muito interesse para cá. E a gente consegue ver que a programação local tem muito mais interesse que a programação nacional (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No geral, o telejornal, no que se refere à construção das notícias e a estruturação dos
blocos, pauta-se com base no perfil do público, para manter ou ampliar o atual modelo de
sustentação econômico.
O Jornal da Clube tem um perfil de espectadores masculino, com homens de 35 a 65 anos de idade, a maioria como 55 anos de idade. Assim, a notícia é um bloco policial no primeiro bloco, que é o peso maior do nosso jornal e no restante são matérias fatuais, tem algumas produzidas, mas em menor quantidade, a gente tem uma série em menor quantidade também, produzida e pensada para este público (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Contudo, mesmo sem um padrão ou marca clara de qualidade de rede, alguns sinais
apontam para as proximidades entre os telejornais, referentes a critérios de noticiabilidade,
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linha editorial e modos de construção da notícia, na Rede Record.
A começar pelo padrão que é imposto de bancada, são dois apresentadores, um homem e uma mulher, aquela coisa do casal. Eles fazem questão de manter e a gente procura seguir os moldes do início. Que é a escalada até o fim. Existe este padrão, a gente tem o manual da Record, que ele sofre algumas mudanças com o passar dos anos, mas ele existe (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Percebe-se que na Rede Record de Televisão, no que se refere os critérios de
noticiabilidade, linha editorial e construção do noticiário, o fazer no telejornalismo está
ancorado ao modelo consolidado dos anos 70, na percepção dos entrevistados, mesmo
possuindo alterações significativas. Este fato reflete um período de flexibilização entre o
modelo dos anos 70 e a perspectiva de um modelo convergente. Neste processo de busca de
um novo modelo, o fazer da construção das reportagens na rede televisiva, tem uma linha
editorial e critérios que absorvem acontecimentos característicos, distintos da produção local,
em virtude da abrangência dos telejornais, ou seja, a dimensão que o telejornal ocupa na rede,
na busca dos acontecimentos relevantes, que serão transformados em notícia. A atividade de
construção do telejornal perpassa por tarefas que envolvem os profissionais na redação, bem
como a relação das ofertas das filiais e afiliadas pelos canais de integração vertical, elemento
característicos das Rotinas Produtivas Flexíveis. Neste processo de integração vertical das
redações dos telejornais das redes televisivas, no que se refere à construção das notícias, dois
pontos parecem ser relevantes: a manutenção do público; e o fortalecimento, marca de uma
qualidade das reportagens do que se é vinculado, nos telejornais da rede.
No que se refere aos perfis dos jornalistas e equipe na Rede Record, por meio dos
fragmentos extraídos, evidencia-se uma proximidade do fazer no telejornalismo com o
realizado no portal R7, que acaba perpassando a questão do perfil profissional para além da
sua função tradicional ou raiz, reforçando a tendência de flexibilidade do jornalista:
Quando a gente montou o R7, o nosso diferencial era achar gente que tivesse experiência digital e bons jornalistas que trabalham com a internet. Já se sabe hoje que tem que cortar a foto, que tem que subir vídeo, editar página, que é multitarefa, que não é mais aquele padrão antigo, quando eu comecei minha careira que ou você era repórter, ou redator, ou você era fotografo (Diretora de operações do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Este perfil que as operações em estrutura de mídia digital apresentam, tem uma
característica polivalente funcional. Contudo, este perfil, mesmo centrado no portal R7, uma
mídia digital, atende ainda a uma necessidade conservadora de fluxo de conteúdo e público
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para TV, que ainda é a ponta do modelo de negócio dos grupos de comunicação, que formam
as redes televisivas.
O profissional de web bom, já nasce com esta característica multiplataforma, a gente tem uma diferença aqui, que a gente tem já as plataformas de vídeo de TV como grandes fornecedores de conteúdo, então as pessoas aqui não precisam necessariamente pensar em uma matéria como multiplataforma de modo geral, mas ao mesmo tempo elas pensam no caminho reverso de como esta matéria pode chegar na TV ou pode interessar a TV (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A operação em mídias digitais de um grupo de comunicação abre também, a
possibilidade dos perfis de profissionais que flexibilizam as habilidades para migração de
atuação dos meios tradicionais para os de estrutura digitais.
Um profissional, que nasceu em uma mídia tradicional está em migração para web, aqui as pessoas são muito jovens, em média. Eles já nasceram na internet, a grande maioria nasceu na internet e os cargos de chefia, se eu for pensar tipo, eu chefe de reportagem, são as pessoas com mais de 40 anos, são migrantes (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Neste cenário, a configuração das equipes dos telejornais apresentam perfis de
jornalistas analógicos, natos digitais e os migrantes.
O que eu vejo é que você tem cada vez mais remanescentes de uma geração que eles chamam de migrantes digitais, ao contrário dos nativos digitais, aquele conceito de quem já nasceu com TV a cabo, então você tem hoje nas redações uma “juvenilização” grande com jovens jornalistas que já nasceram na era da TV à cabo. A TV para eles, sempre foi um entorno do computador, computador era uma coisa que fazia parte da vida deles, a única mudança que houve foi a passagem do desktop para o ipad, mas o resto eles já trabalhavam, então você tem jornalistas que conseguiram se adaptar, com mais ou menos dificuldades desta nova situação e você têm pessoas que já são nativas (digitais) deste ambiente (Editor sênior do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas rotinas atuais, as buscas por perfis polivalentes estão relacionadas com a entrada
de profissionais ainda em processo de formação.
No caso da gente mais TV, tem que ser um profissional multifuncional, a gente tem uma equipe muito reduzida, então a gente tem estagiários que fazem texto e reportagem, claro que a gente aprova e observa tudo isso, os estagiário gravam off, eles fazem locução e a gente sempre prioriza isso, ter pessoas que conseguem fazer mais do que sua atual função (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Em geral, na Rede Record, as equipes estão direcionadas as rotinas com base nos
meios, mesmo que apresentem polivalência funcional, esta flexibilização não ocorre entre
meios, televisivos e digitais. “Cada equipe é própria, a gente tem uma pessoa que cuida de
rede, que fica recebendo informações das afiliadas da Record, e tem uma pessoa que trabalha
116
em vídeo, que é responsável por captar tudo que passa na TV e converter em formatos de
vídeo para web, mas são equipes do R7” (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista
concedida para esta pesquisa).
A relação entre as equipes do R7 e do telejornalismo ocorre mais como cooperação,
entre os meios. Entretanto, a relação cooperativa entre equipes está mais vinculada ao meio
específico. “Pode ocorrer se precisar faltar um repórter, folgar um câmera, poder usar ou se
eles fizerem um material e eu posso adaptar, a gente cobre, normalmente a rotina deles é
diferente da nossa, totalmente diferente” (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista
concedida para esta pesquisa). Contudo, a busca de jornalistas para composição das equipes
dos telejornais, está sendo direcionada para o perfil polivalente. Entretanto, a principal
qualidade ainda está centrada na informação do profissional.
Essa é uma busca que sempre houve, não pela Record, mas por qualquer emissora, você sempre busca o profissional mais preparado possível, não necessariamente que ele tenha experiência em determinada coisa. Então, eu acho que o interesse sempre foi pelo mais bem informado e não por alguém que só faz determinada coisa, mesmo que ele não tenha passado por outros veículos, vamos dizer, e a busca por gente qualificada é sempre de tempo integral (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na percepção dos perfis dos jornalistas e equipe, algumas diferenciações e tendências
como as operações digitais na rede televisiva e o perfil do jornalista tradicional vêm ganhando
novas funcionalidades. Na Rede Record, o modo polivalente das operações com estrutura em
mídia digital de característica multitarefa, embora restrita, ainda, há uma necessidade
conservadora de fluxo de conteúdo e público para TV, abre-se a busca por perfis de
profissionais cada vez mais polivalentes funcionais, para compor as redações. O elemento
perfil polivalente funcional, que caracteriza as Rotinas Produtivas Flexíveis, na Rede Record,
ocorre restrita aos meios, esta flexibilização não se verifica entre os meios televisivos e
digitais. Entre o meio digital e o televisivo é comum a cooperação entre as equipes no fazer
noticioso.
Nas relações com a afiliada na Rede Record observa-se que para além da oferta e
demanda de conteúdos, as afiliadas também disponibilizam as estruturas para a produção da
Rede: “Só uso da estrutura! só tem eu que posso produzir para o JR, eles não. Então, é só
mais a estrutura mesmo, tanto eu como meu repórter ficamos mais para usar os recursos aqui”
(Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa). Uma
característica desta relação são os núcleos de rede, nas afiliadas, para otimizar a produção de
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reportagens de forma mais ampla e dentro da qualidade compatível com o jornal de cabeça de
rede, pelo território nacional.
Como a gente tem o núcleo de rede, então a gente não trabalha diretamente com o pessoal da Record de nível nacional. A gente faz o nosso conteúdo, mas a gente observa que algumas pautas podem render para o nacional. Um assunto que é muito mais amplo, a gente passa a informação para Flávia, normalmente ela produz. Quando ela não tem nenhum repórter disponível, a gente às vezes consegue adiantar com nosso repórter. A gente faz aquela reportagem para o local e dali ela (Flávia) consegue utilizar imagens, sonoras que a gente faz, para complementar o que o repórter do nacional que ela (Flávia) vai fazer. Então, a gente contribui com este trabalho (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas relações com a afiliada na Rede Record, não só ocorre a oferta e demanda de
reportagem, por meio dos canais de integração verticais das redações, que compõem a rede,
mas ocorre também o uso da estrutura das afiliadas para a produção de notícias. Nesta relação
dentro da rede televisiva é possível cobrir os acontecimentos no território nacional e fazer
com que as notícias possam ser compartilhadas, para alimentar os telejornais da própria Rede
Record. A peculiaridade desta relação é o núcleo de rede na afiliada ser praticamente uma
equipe a parte, criando uma mediação ou filtro entre o Jornal da Clube e o Jornal da Record.
5.3.2 Rotinas produtivas na Rede Globo
No que se refere aos papéis e funções na Rede Globo, são apontadas algumas
condições e atividades relacionadas às rotinas produtivas:
A figura do âncora está ligada a figura do editor também, que participa do processo de construção do Jornal, das escolha das matérias, e depois do próprio processo de edição mesmo, sempre em contato com a produção e os repórteres até o fechamento da reportagem, para que seja exibida naquele telejornal. Depois de todo este processo, a figura do editor-chefe, é que põe o jornal no ar, pelo menos meia hora antes, o ancora que também é editor, ele encerra as atividades para se preparar para o estúdio (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Dentro das funções realizadas na afiliada TV Asa Branca, relacionadas aos profissionais
na redação, as mesmas tendem a polivalência funcional. Pois, a própria estrutura do Grupo
Nordeste de Comunicação amplia as possibilidades de papéis e funções para os jornalistas, de
forma polivalente de meios, também.
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Quando eu entrei na TV só tinha a TV Asa Branca, um ano depois se criou um projeto que seria um embrião do G1, que foi o ABTV.com, tinha uma redação própria, eram naquele momento, 3 pessoas. Tinha um editor, tinha um estagiário tinha uma pessoa de suporte técnico, durou pouco tempo. Em 2007 foi criado o portal maisAb.com, e logo em seguida foi a Globo FM, e aí passamos a ter três redações. A globo FM no primeiro momento não veio com jornalismo, e a gente só tinha 2 redações, tinha o portal maisAb e tinha a TV Asa Branca, depois que foi criado o Jornal das Sete, da globo FM e aí sim, passamos a ter 3 redações ( Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas rotinas produtivas estão presentes o papel e a função dos profissionais que cuidam
do andamento dos processos que contribuem com a construção da notícia, para o telejornal
poder ir ao ar, bem como o aperfeiçoamento das rotinas produtivas.
A minha rotina começa antes do Bom Dia Pernambuco eu dou uma olha nos jornais eu assisto o Bom Dia em casa, faço alguns comentários depois, se eu acho pertinente, na mesma hora, ou eu deixo para fazer quando estou aqui, normalmente eu chego às 10h, converso com a equipe, vejo o que está acontecendo, faço os comentários do Bom Dia, ou sobre aquilo que a gente pode melhorar na primeira edição, dou uma olhada nos espelhos. Depois eu vejo e-mail, e respondo. É assim uma rotina de doze horas de trabalho, natural para mim, extremamente natural (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O papel do apresentador, nos telejornais ABTV 2ª edição e NETV 2ª edição, também
está relacionado à flexibilidade profissional, no acompanhamento da produção do telejornal.
Normalmente eu chego ao meio dia e meia, participo da reunião de pauta, que é a reunião que a gente discute o que foi feito pela manhã e o que vai ser feito à tarde, as possíveis reportagens, que serão exibidas no NETV 2ª edição, também no Bom Dia Pernambuco, e no dia seguinte no NETV 1ª edição. A partir daí a gente desce para redação e começa a preparar o telejornal. Na verdade, eu tenho uma função também à tarde, preparar o radar, que são boletins de trânsito. Ajudo também, dependendo dos intervalos destes boletins, vou para ilha de edição ajudar a editar algumas matérias, fazer textos que vão ser lidos, também no NETV, enfim, discutir com o editor o que precisa para preparar para o Jornal (Apresentadora do NETV 2ª
edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na coordenação de reportagem, a função básica é buscar os acontecimentos relevantes
pelos diversos canais de interação, em que as sugestões podem chegar, como parte da rotina
produtiva.
Eu chego às 7hs da manhã, vou dar uma olhada nos e-mails, acompanhar o estagiário que está fazendo a ronda policial, que está ligando para as delegacias, para saber o que houve de ocorrência, o que já foi escutado nas rádios, em relação também aos fatuais que aconteceram, vou dar uma olhada nos blogs, nos sites de notícias para ver o que é notícia naquele dia, o que está circulando pela internet, pelo rádio, ver o que a gente recebeu por e-mail para trazer para reunião de pauta que, a gente começa a reunião de pauta 7:30 da manhã, nesta reunião a gente está com os produtores, estagiários e com os editores justamente para trocar estas informações, ver o que está acontecendo naquele momento, o que está acontecendo naquele dia, que a gente pode dar (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
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Com a proximidade física das operações digitais, as funções e papéis exercidos no G1,
apresentam polivalência funcional mais ampla do que o percebido nas redações dos
telejornais da Rede Globo de Televisão.
A minha rotina, na maior parte do tempo, eu sou editor, mas também não deixo de ser repórter, como a equipe é pequena, todo mundo acaba editando e todo mundo acaba fazendo reportagem mais internamente. Quando há necessidade de uma coisa mais apurada, como uma matéria especial de materiais mais nossos do que de assessoria, ou de outro colaborador externo, aí a gente vai in loco (Editor e Repórter do G1, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nos papéis e funções na Rede Globo, tendo como base os telejornais analisados,
percebe-se a flexibilização dos profissionais, na redação, como uma polivalência funcional,
como elemento característico das Rotinas Produtivas Flexíveis. Contudo, no Grupo Nordeste
de Comunicação, a flexibilização de papéis e funções apresenta uma perspectiva de
polivalente midiática. Na rotina produtiva dos apresentadores nos dois telejornais de início de
noite, faz parte das atribuições o acompanhamento da produção do telejornal, e edição das
matérias. A proximidade física com o G1, nas redações dos dois telejornais, abre caminho
para a polivalência midiática, direcionando para fazer jornalístico na operação em mídia
digital, que possui uma polivalência funcional mais ampla do que o percebido nas redações
dos telejornais.
Na abordagem dos critérios de noticiabilidade, linha editorial e construção da
notícia na Rede Globo percebe-se que os critérios básicos das notícias não se alteraram.
Porém, a produção de notícias menos focada na editoria policial tem apresentado sinais de
ampliação: “Não mudou nada! A importância, a relevância, a noticiabilidade, eu acho que
uma das coisas que a gente melhorou foi a boa notícia. Isso a gente melhorou, mas isso foi
uma discussão. Eu tenho esta filosofia, eu acho que Pernambuco não produz só crime,
assassinato, e sonegador de impostos” (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em
entrevista concedida para esta pesquisa). Mesmo mantendo um caráter mais tradicional nos
critérios de seleção dos fatos relevantes que ocorrem ao longo do dia, os jornais de início de
noite buscam algumas ações para criar uma dinâmica maior no telejornal, sem perder a
abordagem editorial séria dos fatos, com o respaldo de credibilidade.
O jornal da noite a gente faz um resumo do dia e dos fatuais que aconteceram, a gente está colocando agora no ABTV 2ª edição, os links à noite ao vivo, para dar aquele caráter noturno ao jornal, aquilo que o JN (Jornal Nacional) faz muito, para que aquele público daquele horário se identifique mesmo como o jornal, parecendo mesmo aquele imediatismo. A gente está tentando também no ABTV 2ª edição dar esse caráter mais dinâmico ao Jornal, mesmo sendo um jornal mais sério
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(Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Apesar de sinalizar alterações e possuir uma linha editorial diversificada, os jornais de
início de noite da Rede Globo de Televisão seguem os padrões estabelecidos pela rede, no que
se refere aos critérios de noticiabilidade e construção da notícia.
O ABTV 2ª edição é mais um resumo de fatos que aconteceram durante o dia, e a gente tem também resumos dos fatuais, matérias policiais, matérias políticas, que são os fatuais mais comuns. E temos as matérias de economia e de comportamento, muito pouco, a não ser que tenha um São João, um Festival de Inverno, aí o jornal fica mais tomado por estas matérias mais culturais. Eu costumo dizer que o ABTV 2o edição é o JN da TV Asa Branca. Ele é mais formal, ele tem uma linguagem mais complexa, sem ser muito rebuscado, para que a pessoa possa entender em casa. É um complexo, porém simples de ser entendido. A gente segue o padrão da Globo. São as regras de construção de texto, algumas coisas estão mudando, mas as regras de construção de texto, maneira de fazer apuração, tudo isso é seguido o que a rede dita (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na construção das notícias, as reuniões de pautas servem para orientar as rotinas
produtivas que vão ser realizadas, além da verificação dos conteúdos que já foram trabalhados
em edições anteriores.
No início da tarde tem a reunião de pauta, esta reunião é feita com os produtores e editores. São 2 editores no ABTV 2ª edição, eu e Genir Machado (editora). Então, a gente se reúne com a produção e aí a produção passa tudo que conseguiu naquele dia, os fatuais, ou as matérias trabalhadas, ou eventualmente tem as gavetas, aquelas que serão feitas, mais serão guardadas para uma urgência. Então, aí são as matérias frias, que a gente chama também, então nesta reunião de pauta a gente fecha também aquela edição daquela noite, e aí durante a tarde é feita a edição daquelas respectivas reportagens até o momento da edição (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A Rede Globo, mesmo tendo uma orientação pautada em um padrão de qualidade, como
marca de qualidade de rede, na construção da notícia permite abarcar as especificidades de
cada telejornal e região.
Cada telejornal tem um tipo de pronúncia, no sentido do texto mais enxuto, mais objetivo. Para o Jornal Nacional (JN), uma matéria tem em média 1:30 min. Então tem que ter o máximo de objetivo, tem que tirar a fala bem objetiva também, aquele trechinho de fala, uso exatamente a frase mais importante que ele disse, que está mais dentro do sentido. Então muda de um jornal para o outro. O jornal é mais conciso ou o texto pode ser mais maleável, pode ser até comentado às vezes (Repórter de Rede Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As diferenciações colocam-se também na relação da captação, seleção do
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acontecimento e a apuração.
A gente costuma avaliar da seguinte forma: o fato aconteceu! A gente ficou sabendo que houve uma explosão de banco na Cidade de Ibimirim, antes de apurar a gente vai confirmar com a policia para ver se foi. A gente vai checar primeiro com as fontes oficiais, que são as polícias, para a gente avaliar se manda uma equipe, se a gente vai de nota, ou vai pegar fotos, aí a gente tem esta avaliação. Quando o fatual é aqui em Caruaru, normalmente a gente manda, porque se foi um homicídio que aconteceu dentro do parque 18 de maio e foi agora, daqui que a gente consiga falar com quem está lá no local, vai levar muito tempo, se for um tiroteio, por exemplo, aquele fato pode acabar muito rápido, a gente pode perder imagens (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No que se refere aos critérios de noticiabilidade, linha editorial e construção da notícia
na Rede Globo percebe-se uma conservação dos critérios básicos das notícias, com uma
tentativa de focar menos na editoria policial, dentro do padrão Globo de qualidade, como
marca de rede, na busca por alternativas para criar uma dinâmica maior no telejornal, sem
perder o padrão estabelecido pela rede. Na Rede Globo, o fazer no telejornalismo tenciona o
modelo consolidado dos anos 70, mesmo com a busca de novas abordagens, menos policial,
reforçando o interstício migratório. Nas rotinas produtivas da rede, embora exista um padrão
de qualidade, na construção da notícia são consideradas as especificidades de cada telejornal e
região, na captação do acontecimento e a apuração.
No que se refere aos perfis dos jornalistas e equipe da Rede Globo percebe-se a
busca de um modelo de jornalista para formar as redações e executar as rotinas produtivas,
para além dos saberes tecnológicos digitais:
A primeira coisa, a pessoa tem que gostar, segunda, ser inquieto e terceiro, tem que ser ousado. Não fazer a mesma coisa todos os dias do mesmo jeito, ele tem que ser curioso, acho que são características fundamentais. Se o profissional tem isso, todas as outras coisas, elas ficam mais fáceis. Ensinar tecnologia em uma semana você ensina, mas você não ensina a pensar. Nós recebemos uma nova geração de jornalistas que dominam e nasceram com a tecnologia, não é o meu caso, mas se ele já vem como uma cabeça aberta você consegue envolvê-lo naquilo que você quer (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Contudo, mesmo primando pela “bagagem intelectual” dos profissionais, as tecnologias
digitais vão estruturando como novo desafio ao ritmo do jornal, no que se refere às rotinas.
O perfil hoje do profissional de jornalismo é uma pessoa de raciocínio muito rápido. A informação está aqui, daqui a pouco já tem outra, daqui a pouco já tem outra, acho que por conta da dinâmica da internet, coisa que a gente não tinha há 14 anos. As matérias eram muito mais estudadas, não que hoje não sejam, mas com uma
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intensidade muito menor, mas é muito rápida a coisa. As redes sociais contribuíram muito para isso, a meu ver é coisa de está aqui, e daqui a pouco ter chegado outra informação. O importante é ter uma certa bagagem de conhecimento principalmente da cidade. A gente procura ou trazer uma pessoa já com esse perfil, que é uma pessoa que circule, que goste de andar, que goste de conversar. Tentar estimular para o cara conhecer a realidade mesmo. O outro é que o profissional goste de ler de tudo (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Outro aspecto das redações da Rede Globo é a presença física do portal G1, como um
veículo complementar do telejornalismo. Esta presença aproxima equipes distintas, que são
próprias de cada meio, mas não isoladas, o que permitem as colaborações entre as mesmas,
mas que reconfiguram a distribuição da informação e a rotina produtiva do telejornal, na
flexibilização das rotinas produtivas.
São equipes separadas, mas a gente tem uma produção conjunta, às vezes o G1 vai (em um acontecimento) e nos avisa e aí nós vamos com uma câmara maior. Às vezes nós vamos e entregamos ao G1, há uma parceira. Isso são veículos complementares, acho que o G1 tem uma necessidade dele dar primeiro esta informação, e a gente tenta complementar as informações, trabalhar em equipe, por isso ele está na mesma redação, jamais veria o G1 em outro prédio, em outro lugar distante daqui (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Esta rotina produtiva que relaciona as equipes do analógico e do digital, além da
proximidade física, ocorre em função das necessidades que um acontecimento proporciona,
mas que se evidenciam as diferenças entre os meios.
Notícias de grande apelo popular são naturais que haja uma parceria do começo ao fim. Mas existem mais diferenças quanto a forma do que conteúdo. Por exemplo, as entrevistas com os candidatos para eleição, os candidatos para governador, a gente fez todas no mesmo dia, mas o NETV tem uma limitação de tempo, que o G1 não tem. O planejamento da entrevista do NE requer mais objetividade das perguntas, e tudo mais. Tem características própria e no G1 não, como é um veículo que permite uma entrevista maior, então uma pergunta pode ser feita de uma outra forma (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Além dos veículos digitais que compõem as redações, existem as relações e
cooperações entre as equipes que se substituem nas baias das redações dos telejornais em
horários diferentes.
A equipe da manhã diz para gente: Isso rendeu! Isso não rendeu! Tal matéria merece uma exploração melhor à tarde. Então, tem esta integração, uma equipe passa para outra, meio como um bastão, passa o bastão para o outro. Muitas vezes acontece de uma reportagem que eu fiz, no fim da tarde, uma coisa que não deu para detalhar muito, por causa do deadline (Apresentadora do NETV 2ª edição , em entrevista concedida para esta pesquisa).
Tanto no NETV 2ª edição como no ABTV 2ª edição esta relação de conteúdos que
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podem ser melhor trabalhados e compartilhados pelas equipes da edição telejornal de outro
horário, ocorre nas rotinas produtivas.
São equipes separadas, pela manhã equipes de reportagem, cinegrafista e repórteres, são três, a tarde trabalham duas, temos cinco equipes no departamento de jornalismo da TV, mas em turnos separados, então três equipes trabalham pela manhã e duas trabalham à tarde, para abastecer os dois jornais, porque como existe sempre uma demanda maior, pela manhã é preciso ter uma equipe a mais, e aí, parte daquelas matérias realizadas pela manhã acabam indo para o segunda edição também (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As equipes, que compõem a Rede Globo, colaboram com os telejornais em uma
extensão que vai das demandas da cabeça de rede (emissora) até as sucursais (afiliadas) dos
grupos de comunicação que estão nos interiores dos estados.
Estas equipes fazem ao longo da manhã a primeira reportagem, que a gente chama para o primeira edição, para dar tempo de entrar na edição do meio dia no segundo horário para o jornal da noite. Então, a gente sempre conta com a primeira leva de reportagem, que os repórteres fazem é para o ABTV 1ª edição, tanto aqui como nas sucursais, e dependendo se for algum pedido da Globo Nordeste ou da rede a gente deixa específico uma equipe de reportagem para atender aquela demanda. A gente destaca mais as sucursais, geralmente a demanda de pauta vai mais para eles, e é um dia que a gente tem uma equipe a menos para o local para atender esta demanda de rede (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No que refere aos perfis dos jornalistas e equipe na Rede Globo ocorre a busca pelo
perfil de jornalista com conhecimento da realidade, para além dos saberes tecnológicos
digitais, mais característicos dos modelos polivalentes. Com o compartilhamento da redação
com o portal G1, abre-se caminho para os desafios que as mídias digitais apresentam de
polivalência funcional e midiática. Desta forma, sendo cada vez mais comum a busca por um
perfil de profissionais mais polivalentes funcionais, e até de meios, para compor as redações.
No fazer das equipes, as rotinas produtivas, além de possibilitarem a colaboração entre os
veículos do meio televisivo e digital, para a construção das notícias, atendem a necessidade de
cobrir os acontecimentos no território nacional e fazerem com que as notícias possam ser
compartilhadas dentro da própria rede.
Na abordagem das relações com a afiliada na Rede Globo evidencia-se a participação
dos telejornais, e os profissionais afiliados na produção de conteúdos noticiosos, de forma
mais ampla e ágil na rede televisiva:
O conteúdo você não muda, porque, por exemplo: Morreu Eduardo Campos! Vamos
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procurar dar aquela informação e o conteúdo é o mesmo. O que muda é o tempo. O que muda é o trabalho de pesquisa que é mais amplo. Jornal Nacional não pesquisa só aqui em Recife, o Jornal Nacional está com toda sua rede à disposição para procurar. Então, é mais ampla a informação do telejornal de rede. Eu acho que isso também é o diferencial da Rede Globo, de ter correspondente e deslocar profissional rapidamente para onde está acontecendo o fato (Repórter de Rede Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A relação entre os telejornais que compõem a Rede se estabelece por oferta e demanda
de conteúdos.
Nós temos o critério de bom gosto de notícia de importância para região, de importância para o Estado. Tem coisa que eles (TV Asa Branca) nos oferecem, e tem coisa que nos pedimos. Então, há uma relação próxima. Nós não temos uma interferência no trabalho deles. Nem eles no nosso, mas há um respeito e há uma busca por fazemos melhor juntos como Pernambuco (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Mas, todo este fluxo de compartilhamento dos conteúdos é adequado à linha editorial do
telejornal que fará a veiculação da reportagem. Além dos conteúdos, a estrutura de rede
também permite o trânsito de profissionais.
A reportagem não vem do jeito que você quer, cabe a quem tem mais recursos, quem tem pessoas mais experientes ajudá-los a chegar onde a gente quer, acho que este é o trabalho de integração. Este é o trabalho que a gente tenta fazer. Esta é nossa busca permanente, é claro que sempre que o profissional se destaca lá (na afiliada) ele é convidado para fazer parte da equipe. Então assim, você faz a integração entre as emissoras da Globo (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A estrutura de rede televisiva permite que as notícias sejam produzidas em localidades
distantes, dos telejornais de veiculação, dentro da relação de oferta e de demanda.
Os fatos acontecem no interior do Estado, então a gente entra em contato com a afiliada Asa Branca ou afiliada Grande Rio: A gente está vendo aqui na internet que aconteceu tal coisa, ou eles mandam: Olha! aconteceu tal coisa. Aí a gente pergunta: como é que vocês podem fazer isso? Ah! a gente pode fazer um ao vivo, uma matéria, um stand-up. A gente troca ideias (Apresentadora do NETV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A distância e dificuldade de mobilidade das equipes, associada à necessidade de cobrir
determinadas regiões e cidades, favorecem as relações entre os telejornais, na busca pelos
fatos mais relevantes do dia.
Eu acredito que, pelo o fato da emissora, ela alcançar 108 municípios, tem uma importância considerável. Antigamente, vinte cinco anos, por exemplo, quando não existia a TV Asa Branca. Então, quando existia somente a Globo Nordeste, com a cabeça de rede lá no Recife, era difícil. Assim com as equipes que trabalham atendendo a região metropolitana e a própria capital, conseguissem se deslocar em tempo hábil para as cidades mais distantes aqui do interior do Agreste e do Sertão,
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para abastecer os telejornais. Então a emissora dá este suporte, tanto para o Estado como para o país, porque são equipes que estão mais próximas destas cidades (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Mas esta relação de oferta e demanda não é direta, exige um entrosamento no trabalho
das equipes e qualidade de produção, pautadas por temas de relevâncias para as esferas
regionais e nacionais.
Na verdade, entrar na rede é muito bom! Para TV Asa Branca entrar na rede, a gente luta muito por isso. Não é fácil entrar nos jornais de rede, mas a gente já tem boa relação, com os jornais de rede, com o Bom Dia Brasil, com o jornal hoje, com o Jornal Nacional, existem vários critérios para ele receberem o material nosso, não é só a qualidade do material, mas também o assunto (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas relações com a afiliada na Rede Globo evidenciam-se os canais de integração
vertical das redações da rede, elemento das Rotinas Produtivas Flexíveis, para oferta e
demanda de conteúdos. Entretanto, o compartilhamento de reportagem passa por adequações,
com base na linha editorial do telejornal que fará a veiculação. O fortalecimento da relação e
integração vertical entre o telejornais da rede se estabelece pela necessidade de cobrir
determinadas regiões e cidades, que fazem parte da abrangência temática dos telejornais.
Desta forma, a estruturação da rede com emissora e afiliadas, permite cobrir praticamente
todo território nacional, com deslocamento das equipes para onde o fato ocorre, ampliando a
abrangência e contribuindo com o fluxo de compartilhamento de conteúdos dentro da própria
rede, para alimentar os telejornais, em uma escala que integra o local, o regional e o nacional.
4.4 ROTINAS E TECNOLOGIA
Nesta segunda parte da análise das entrevistas, permite compreender as percepções dos
jornalistas sobre a tecnologia nas rotinas produtivas, bem como a importância dos portais G1
e R7, nas práticas dos telejornais analisados. Visto que a adoção da tecnologia altera o meio
televisivo, em especial, à produção de conteúdos, colocando obstáculos na compreensão das
rotinas dos meios tradicionais (MONZONCILLO, 2011). Nas atuais rotinas produtivas, os
portais noticiosos são configurados com subsidiados pelo conteúdo da mídia tradicional
(LOPEZ, 2009), em que os grupos de comunicação amortizam os custos flexibilizando a
produção e a distribuição mutltiplataforma de notícias. Abre-se, desta maneira, espaço para
refletir sobre as ferramentas utilizadas para compartilhamento e orientação empresarial por
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atualização tecnológica, nesta relação entre meios digitais e televisivos. As rotinas do
jornalista no processo de construção da notícia estão sendo flexibilizadas por este entorno
convergente e também pela relação que o público tem com as tecnologias de interação e redes
sociais, a qual gera demandas por atualização e participação neste processo que desafiam os
grupos de comunicação, em redes televisivas, e aos jornalistas. As mídias digitais e as
tecnologias contribuem para as incertezas no fazer jornalísticos e nas fronteiras que existem
entre as várias mídias e seus conteúdos (MCCOMBS, 2009). Outro ponto relevante é a
reflexão sobre o próprio caráter de abrangência da notícia não ser fixo, permitindo que uma
notícia de caráter local, regional para determinado público, passe a ser nacional para outros,
na veiculação das reportagens nas redes televisivas. Este aspecto favorece o
compartilhamento de notícias entre veículos, de uma mesma rede de comunicação, pelos
canais digitais de integração verticais das redações, para a contextualização pelo telejornal de
veiculação, reforçando a Hipótese de Rotinas Produtivas Flexíveis.
5.4.1 Rede Record
A relevância dos portais dos grupos nas rotinas produtivas da Rede Record permite
refletir como o R7 é hoje um agregador de conteúdo da Rede, unido as praças, se constituindo
com uma unidade de gerenciamento de conteúdo:
O Jornal da Record já existia quando nós chegamos, ele se adaptou muito rápido a nossa existência, ele tem a chamada no final. Mas o que funciona é a chamada pontual caso a caso crossmídia veiculado a cada conteúdo. Neste repositório de mídia, Mídia Manager, chega Record, Record News, Rio, e qualquer praça que eu chaveio pela central, eu sou dentro da Record uma unidade também que é comandada pela central e mídia geral da Record, a central joga aqui para o R7 o helicóptero da Record, com um botão normal de central. O R7 começou a ser feito no começo de 2009, antes só existia um home Page da Record com a programação da TV, aí o R7 nasce para ser o braço de conteúdo de internet, 13 anos depois da internet comercial ser estabelecida no Brasil, então nós falamos, vamos usar todos os nossos veículos, a produção de conteúdos do nossos veículos, para o R7 ser um agregador destes conteúdos, vamos usar nossos vídeos, vamos usar a rede e as praças (Diretora de operações do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Esta possibilidade de agregar conteúdos permite uma distribuição das reportagens do
telejornal simultaneamente com o R7 ou posteriormente por demanda em arquivo no portal,
de forma a criar novas possibilidades de rotina produtiva e função para o jornalista.
O jornal aqui tem que estar simultaneamente na TV e no R7. Muito bem, quando a TV entra em seu horário comercial, eu continuo falando na internet, eu continuo a entrevista na internet, para você assistir este jornal na íntegra, você tem que assistir no R7, porque televisão tem intervalo, no R7 eu continuo entrevistando, aí volta os
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dois novamente. E outra coisa, mesmo trabalhando na televisão, você tem o twitter aberto, você tem mural, você tem enquete, você tem e-mail, todas estas ferramentas estão abertas simultaneamente, e você tem lidar com isso, você tem que aprender a lidar com isso (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O R7, na relação com o telejornal, oferece temas para compor pautas, além de
oferecer dados sobre quantitativo de acesso de determinado conteúdo. Bem como o
compartilhamento de profissionais do Portal como fonte para determinados temas, que
envolvem tecnologia ou internet.
Eu sei que usa muito pela quantidade de requisições que a gente recebe da TV, de participação de jornalista do R7 em material de TV. Muitas pautas obviamente saem do R7 e saem da internet. Eles aproveitam bastante o que a gente produz. A gente tem uma equipe que cuida só de redes sociais, e acompanham todos os parâmetros possíveis de redes sociais de interatividade, ela norteia muito nosso trabalho aqui. A gente assina ferramentas de aferição, a gente tem uma equipe própria para isso, porque a internet é o único meio completamente mensurável, você sabe exatamente quantas pessoas estão na sua página naquele momento, o que elas estão fazendo, da onde elas vieram, para onde elas acabam saindo, quais são os conteúdos mais atraentes (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A utilização do R7 nas afiliadas ocorre, com menor frequência, pelo foco temático do
portal e pelo fato de ser um meio digital centralizado em São Paulo.
Para a produção do Jornal da Clube, a gente utiliza ele muito mais quando a gente está buscando algumas sugestões ou está buscando alguns VTs do nacional, que possam servir, a exemplo do caso da cobertura da morte de Eduardo Campos. Além de acompanhar toda programação da rede. Às vezes, a gente quer fazer uma busca, entra nos vídeos que estão dentro do portal, para ver alguma novidade, em jornal local de São Paulo, que não vem a ser veiculado aqui, que a gente ache interessante, a gente vai puxar aquele material (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na relação com o portal R7 e a Rede Record de televisão, o portal é configurado como
um compilador dos conteúdos da Rede, proporcionando aos conteúdos produzidos nos
telejornais uma ampliação de meio de distribuição de reportagens, para além do meio
televisivo. Em contrapartida, o R7 oferece dados e temas como sugestão de pauta indireta
para a construção da notícia nos telejornais da rede televisiva. Entretanto, a colaboração do
R7 e telejornais são mais recorrentes na cabeça de rede, visto que as afiliadas de grupos
distintos, em geral possuem portais, como o caso da TV Clube, do Diários Associados de
Pernambuco, o portal Pernabucom.com.
Nas ferramentas tecnológicas adotadas no fazer telejornalístico54 na Rede Record
percebe-se que um conjunto de ferramentas digitais, em que se inserem as redes sociais, é
54 Para presente tese os termos: fazer telejornalístico e rotinas produtivas tem o mesmo sentido.
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utilizado como instrumento de sugestão de pauta, mas também como canal de interação entre
equipes, nas rotinas produtivas: “Hoje, eu uso muito o facebook. Internet hoje é uma
ferramenta essencial, consulta de informações. Eu abro o computador, eu vou ver as páginas
dos jornais principais e dou uma olhada, depois eu vou pegar o jornal, e ligo o rádio”
(Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As ferramentas digitais estão presentes também na relação do jornalista com o público,
e na rotina produtiva noticiosa do profissional de TV, como suporte de informações, mas que
também favorecem a ampliação das atividades.
Ninguém trabalha hoje sem as ferramentas da nova mídia, e está acontecendo em alguns casos um processo de confluência de mídia. Os aparelhos de televisão têm cada vez melhores acesso à internet com imagem cada vez maior. Daqui a pouco a transmissão vai ser via internet. Ora, no momento em que for via internet, você não só melhora a qualidade, mas você abre aquele canal da internet, que é o canal do compartilhamento. Eu uso o twitter e tenho o mural que faço todo dia, para o pessoal fazer comentários, eu faço uma enquete, em que as pessoas votam sim ou não, eu escrevo uma coluna semanal para o público no blog. Então, na verdade o jornalista tem que fazer um trabalho multimídia. Eu ponho o celular em cima da bancada, tenho o twitter aberto. E outra coisa, suponha que apareça uma palavra em inglês, que eu não saiba, eu não tenho dúvida de pôr (no Google) (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As ferramentas digitais, em que se inserem as redes sociais, também são utilizadas
para captar público e distribuir conteúdos. “A gente está em todas, mas as mais fortes aqui são
as que são mais fortes no Brasil de um modo geral, que são o twitter e o facebook, e a gente
usa muita coisa, e publica o restante em instagram, outras ferramentas variadas que podem ter
uma capilaridade maior de conteúdo, assim uma calda longa de conteúdo” (Diretor de
Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas rotinas produtivas, as ferramentas digitais servem para interagir com as fontes, e
integrar os telejornais que compõem a Rede Record de Televisão.
O AP ENPS (The Essential News Production System) integra quase toda a rede ou boa parte da rede. Eu mando a mensagem aqui para o editor-chefe do Rio e ele me retorna imediatamente, eu mando para o editor que está em Goiânia, ou em Porto Alegre ou Belo Horizonte, ou em Salvador, estas praças próximas são as praças da própria Record e estão todas integradas. Então, o ENPS é uma ferramenta importante que integra tudo, integra a escuta a chefia de reportagem, uma pauta, a Record news, todos os jornais, todos eles estão disponíveis aqui. Então troco mensagem com qualquer um deles, e eu consigo abrir aqui e visualizar qual espelho do jornal. Além de tudo, nos temos aqui uma reunião matinal, que chamamos de reunião de espelho. Antigamente nos chamávamos de reunião de caixa de sapato, porque era uma caixa de comunicação, uma linha telefônica, onde você conversava com todas as praças, esta reunião continua tendo, só que hoje ela é feita por videoconferência. Então, tem a videoconferência, tem o sistema ENPS, tem a internet, FTP, e tem a nossa central de controle de rede que é bastante significativa e que faz este controle com todas as praças (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
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Tais estruturas digitais também são utilizadas nas rotinas produtivas para aproximar a
produção dos repórteres com as atividades na redação, pelos canais digitais de interação.
Celular, rádio, as equipes aqui saem com rádio. Quando um repórter viaja para fora, viaja com celular e se precisar viaja com notebook. Se está viajando para fazer algo que é factual, viaja com um kit, que a gente chama de kit de geração, onde ele edita ou pré-edita e ele gera pelo FTP este material, de qualquer lugar possível. Em alguns lugares é muito isolado, aí não serve o celular, é preciso um telefone de satélite, o recurso você tem, porque dependendo dá necessidade, você viabiliza né, se você não tem, você aluga. Sempre tem esta possibilidade (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Nas rotinas produtivas noticiosas as ferramentas digitais, tais como redes sociais, e-
mails e smartphones, propiciam canais para a expansão da redação.
Whatsapp é fundamental tanto quanto facebook. Quando eu saio daqui meu facebook e meu whatsapp não param. O local (TV Clube) tem um (whatsapp) e é coligado nos e-mails da gente. Existe uma equipe lá no Diário (Diário de Pernambuco) que recebe este material e manda para a gente. Eu participo do grupo, se chegar alguma notícia fresca, eles passam para mim, e a gente sempre recebe alguma coisa por e-mail. Final de semana, eu precisei trabalhar a tarde inteira, tinha um VT para entregar. Não precisei vim para redação e eu tive que falar com toda equipe pela whatsapp, pelo facebook São Paulo e pelo wahtsapp pelo repórter que estava fazendo, e mandando e-mail para o editor. Os três pelas redes sociais (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As ferramentas digitais, configuradas como canais de integração dos processos
produtivos, estão presentes nas etapas do fazer telejornalístico na organização e integração
das equipes, bem como a captação de conteúdos externos.
A gente tem três grupos (whatsapp), tinha um que incluía as pessoas da manhã, exclusivo, e outro para equipe da tarde. A gente viu que tinha a necessidade de fazer uma integração de manhã e tarde, que a gente soubesse do conteúdo, problemas que pudessem vim a acontecer na pauta e a gente abriu um comum, onde tem equipe da manhã e equipe da tarde, todas elas estão nesta comunidade. A gente troca muita informação. Isso é fundamental. É a partir daí que chegam todos os assuntos da rua. O facebook a gente utiliza muito mais para produção, para pesquisar vídeo, algumas coisas que estejam repercutindo na internet, fontes, ir atrás de algumas pessoas, mesmos, estas buscas (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A adoção tecnológica vai configurando as ferramentas digitais como canais de
interação entre as equipes e a redação local, e com os canais de integração entre redações, nas
redes televisivas. As ferramentas digitais também são utilizadas como canais de interação
com o público, na captação e manutenção da audiência e distribuição de conteúdos. Desta
maneira, as ferramentas digitais adotadas e aplicadas às rotinas produtivas, em determinados
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casos expandem a redação aproximando-a dos repórteres nas ruas e permitindo os
profissionais trabalharem com a redação, sem a presença física.
Nas buscas por atualização tecnológica no fazer telejornalístico na Rede Record
evidencia-se que a atualização profissional, em geral, acontece mais por iniciativa e
investimento dos profissionais da redação:
Eu acho que as empresas ajudam muito pouco, principalmente no sentido de você se aprimorar. Agora eu acho que as empresas, assim como elas qualificam, por exemplo, dão um curso aqui de RH, dão um curso de vendas, etc. Tinham de dar cursos também para a gente estar se aprimorando nas novas plataformas. As empresas estão o quanto perdidas em relação a como se situar, porque a empresa é uma unidade de negócio, então a visão de uma empresa é empresarial. Enquanto nós jornalista temos que ficar acompanhado estas mudanças bastante, temos que entender o seguinte, que hoje eu tenho à disposição uma quantidade de fontes muito maior do que eu tinha no passado, e mais uma boa parte das coisas que estão acontecendo estão sendo transmitida on-line (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A questão da atualização faz parte das rotinas dos profissionais das redações, que
gradativamente se deparam com inovações e adoções tecnológicas. “Sem dúvida, eu acho que
sim, porque é a busca, ela é um pouco deste processo que hoje a gente é um pouco atropelado
por isso, porque a tecnologia chega muito rápido, para todo mundo, mas a emissora está
sempre tentando, é vamos dizer, atualizar. Então, de certa forma ela disponibiliza este recurso
para todos” (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta
pesquisa).
Esta questão se aprofunda, quando se trata de profissionais de televisão, que
historicamente ocorrem contínuos desdobramentos tecnológicos.
A televisão, ela talvez seja o setor que mais evolui, cada ano você tem novos equipamentos. Quando eu comecei, se trabalhava com filme. Comecei como repórter, depois ocupei cargos de chefias. Anos depois, a gente já estava trabalhando com videoteipe, um equipamento que era, vamos dizer, muito precário, mas era o que tinha de mais sofisticado na época. A tecnologia está sempre em evolução, o equipamento que você usa hoje, daqui a três anos está completamente defasado, e o equipamento de externa e o equipamento de fusão, e equipamento de transmissão, isso tudo está sofrendo um processo de evolução contínua (Coordenador de reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Dentro de um grupo de comunicação componente da rede televisiva, em outros veículos não
televisivos ocorre com mais frequência à busca por atualização promovida pela empresa.
“Aqui na TV Clube não, mas no Diário de Pernambuco sim, existe. Eles mandam os
repórteres para fazer cursos de profissionalização, aqui no Brasil e também fora. Na TV ainda
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não temos este tipo de incentivo… deveríamos!” (Apresentadora do Jornal da Clube, em
entrevista concedida para esta pesquisa).
Na tendência de apoio e incentivo por parte da empresa para que os profissionais das
redações acompanhem os desdobramentos das novas tecnologias, as empresas não atendem a
necessidade dos profissionais das redações, que em geral acabam arcando com a busca de
atualização tecnológica. A atualização tecnológica é um elemento relevante nas redações, que
cada vez mais estão estruturadas com inovações tecnológicas, sejam digitais ou físicas.
Na abordagem das mudanças nas rotinas no fazer telejornalístico na Rede Record as
alterações se apresentam nas rotinas de uma forma muitas vezes discretas, mas significativas:
Eu acho que as mudanças, elas vão acontecendo de uma forma suave. Porque, em qualquer emissora, quem está há mais tempo no mercado, e eu faço isso desde os 19 anos, então são 27 anos. Comecei com TV quando a gente fazia na máquina (de escrever) e editava as fitas em sistemas analógicos, as ilhas de edição não-lineares não existiam, e isso foi mudando, é um processo. A incorporação do celular depois do computador, da internet, a integração da internet com os programas de edição de telejornalismo e a velocidade da rede para que permitisse não só a apuração, mas a difusão da informação mais rápida, ao longo destes anos, eu não sei se a gente consegue perceber quando ela mudou claramente. Os grandes servidores armazenam e você tem capacidade em um clique de acessar um material de uma reportagem de um ano e meio atrás, do dia tal, do horário tal, está ali disponível para você assistir. Então, esta mudança da tecnologia digital e a incorporação da internet e todos os meios digitais, desde a produção, elas foram acontecendo de uma forma grande na comunicação, mas eu acho que na sociedade como um todo. (Algo) acontece lá em Caicó no Rio Grande do Norte, em pouco tempo talvez meia hora, talvez menos, esta imagem vai estar disponível, alguém vai postar via twitter, via facebook ou youtube, qualquer destes caminhos das redes sociais e ela vai estar disponível e você vai fazer um contato com esse cinegrafista amador, esta testemunha e rapidamente você vai ter toda história. Então, este caminho da relação da tecnologia com o jornal, a mudança é significativa (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A adoção tecnológica também possibilita alterações nos formatos e no
compartilhamento de imagens entre os telejornais da Rede Record, bem como a proximidade
dos acontecimentos, permitindo cobrir os acontecimentos no território nacional.
Eu acho que mudaram os formatos, mudou a forma de difusão, mudou muito, embora, vamos dizer, que fosse suave, foi transformando muito com a difusão, então a rotina do jornal mudou tanto que a Record tem uma rede bastante extensa, está espalhada pelo país todo. Em que todos trabalham para Record, mas não para o Jornal da Record, mas a gente acaba nesta integração conseguindo lá do Rio Branco no Acre, ou de Macapá, lugares mais isolados, se de repente você tem um repórter próximo que pode ir lá e contar a história, colocar nos caminhos certos, o iTransfer ou FTP , que acaba nos trazendo isso é muito rapidamente. (O Jornal da Record) não tem mais escalada, a gente mudou um pouco nos últimos anos, as pesquisas mostram que poucas pessoas acham que é importante e outras que não valorizam tanto, não acham que sejam fundamental. Já têm uns dois anos que a gente começa o jornal dando notícia e segue dando notícia durante uma hora (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
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Como parte das mudanças, cada vez mais as imagens veiculadas nos telejornais são
captadas por celular de telespectadores, câmeras de seguranças entre outras fontes móveis.
Estes recursos todos sejam do celular, que grava, que manda imagem, sejam da camerazinha, tudo isso facilitou muito. Na verdade facilitou muito a produção no sentido que está tudo mais (fácil), você arruma um parceiro em algum lugar e se este lugar é muito isolado e tem mais pessoas também com a tecnologia do celular de hoje (geram-se conteúdos). A gente criou um quadro do JR de olho, que é de câmeras de seguranças que estão cada vez melhores, as câmeras de segurança, então, aquilo que era uma câmera de segurança e você não conseguia visualizar, o que tinha naquela imagem, o bandido fez isso, mas será que fez mesmo? Mas hoje em dia não, algumas câmeras hoje, já têm som inclusive (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A adoção da tecnologia vem abrindo caminhos para alterações no fazer dos
profissionais nas redações de telejornalismo, como o uso de ferramentas digitais de pré-edição
para otimizar as rotinas produtivas dos editores.
Já existe a possibilidade de você fazer uma edição em baixa na estação de trabalho. No PC tem um programa que você pega uma mídia, por este equipamento copia em baixa dentro deste programa, e este é um computador normal, este é um leitor de mídia, este programa aqui PDZ1 (PDZ1 Optical XDCAM Proxy Browsing Software and FAM Driver) copia em baixa e te permite assistir aqui sem que você tenha que estar com a mídia fisicamente (Editor sênior do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Com os canais de interação, o público pode enviar para as redações sugestões de
pautas e conteúdos imagéticos como vídeos e fotografia, em formato digital, compatíveis com
a estrutura de trabalhos nas redações, incluindo as reuniões de pauta. “Todo dia na nossa
reunião de pauta, você tem umas sugestões que se tornam efetivamente em pautas, e
reportagens que você vai produzir que vieram a partir da sugestão do telespectador que enviou
por e-mail, pelo R7, pelo caminho do R7 então, esta integração existe, talvez ela pudesse ser
maior” (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Na busca cotidiana de produção de matérias diferenciadas, as rotinas produtivas
incluem as mídias digitais como forma de captar os fatos mais relevantes e de repercussão do
dia. “Com o mundo digitalizado, a gente e em qualquer site que você imaginar é a corrida
para ver quem dá o furo primeiro, a gente não só faz rádio escuta, escuta JFnews, CBN, radio
jornal, como também fica dando uma olhada nos blogs de política, nos blogs de
comportamento incluindo o site NE10 e Pernambuco.com” (Apresentadora do Jornal da
Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa). Mesmo frente ao desenvolvimento
tecnológico, o telejornal ainda de modo geral pode ser considerado como conservador na
133
adoção destas tecnologias e na construção das notícias de relevância para as sociedades
liberais democráticas.
Eu acho que o telejornalismo brasileiro, embora tenha sofrido uma grande revolução, ele ainda é uma coisa muito tímida, porque custa muito caro, exige muita especialização profissional. Porque a gente depois de mais de 20 anos após o regime de exceção, ditadura militar, censura prévia, coisa e tal, a gente está amarrado em uma série de coisas que tem receios de divulgar e de fazer. Então, eu acho que o telejornalismo ainda é muito tímido no aprofundamento de muitos temas que são importantes para a sociedade brasileira (Coordenador de reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na abordagem das mudanças nas rotinas no fazer telejornalístico, na Rede Record,
aponta-se que as alterações se apresentam de uma forma muitas vezes discretas, mas
significativas para o fazer no telejornalismo, isso explica em parte a percepção que o modelo
na migração esteja muito próximo aos anos 70. Estas discretas, mas significativa das
alterações ocorrem nos formatos e no modo de compartilhamento de imagens entre os
telejornais que compõem a rede televisiva, na perspectiva de integração vertical das redações.
Tal compartilhamento de conteúdos via canais digitais, entre as redações dos telejornais,
permite que em quase todo território nacional um acontecimento possa rapidamente chegar a
tempo de entrar no Jornal da Record, por meio de FTP (iTransfer) ou fibra ótica (Metrolan),
que substituiu o rebatimento de satélites via Embratel para transferência de conteúdos de uma
praça para outra, muito utilizado nos anos 70. Outro ponto relevante das alterações são os
canais de interação com os telespectadores/usuários que permitem a captação de sugestões de
pautas e conteúdos imagéticos como vídeos e fotografia. Bem como o uso nas rotinas
produtivas de imagens de câmeras de seguranças e circuitos de trânsitos.
Nas fontes mediadas por computador no fazer telejornalístico na Rede Record
aponta-se a utilização ferramentas digitais para a otimização da produção de notícias:
A tecnologia no celular, por exemplo, o celular grava full HD, difunde, tem o comunicador lá whatsapp que se comunica diretamente, então muitas vezes o nosso repórter, provavelmente está se comunicando do celular dele com o editor pelo whatsapp. É muito rápido e está disponível para todo mundo, e não necessariamente só da emissora, é para todo mundo, e na verdade você acha caminho mais fácil para se comunicar e ser mais rápido na sua produção de notícia (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As fontes de imagem provenientes das pautas policiais são recebidas pela redação,
mas em certos casos os caminhos facilitados pela tecnologia esbarram na cultura profissional
de cada redação.
134
A Policia Federal sempre manda, por exemplo. Mas como o Cardinot (programa da TV Clube) tem um problema, só depois que for para o ar é que eu posso abrir o espelho dele e ver o que é que tem, tanto que a Rede fica com o que tem de fatual, forte. Eu digo: olha, eu não posso abrir, a policia só mandou na madrugada porque da madrugada dá para mandar, o restante só depois do derrocar do dia (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As fontes policiais e os circuitos de câmeras de segurança e de trânsito são fontes de
imagens de vídeos e fotos para a construção de reportagens, e este material cedido, acaba
auxiliando na superação dos limites de quadro de equipes, para atender os diversos
acontecimentos relevantes da vida em sociedade.
A câmera de trânsito tem o monitoramento através do nossa switch, a gente consegue visualizar todas as câmeras da CTTU disponíveis. A Policia Federal, eles mandam muito material, a gente tem uma equipe bem reduzida, então nem sempre a gente consegue chegar lá (no acontecimento), e a Policia Federal filma muito, muitas das ações nas ruas, quando não, eles mandam muitas fotos, isso para a gente já adianta. Foto já vai vira uma nota ao vivo, matérias feitas exclusivamente com o material feito pela Polícia Federal. As imagens eles fazem, a equipe chega lá só para gravar com o assessor de comunicação e lá ele passa os detalhes (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Não só conteúdos de imagens são utilizados, mas os textos de release também,
provenientes de fontes oficiais. Além destas fontes, os canais de interação com o público, que
podem enviar conteúdos via meios computacionais otimizam as rotinas nas redações. Assim,
não só o público tem acesso à tecnologia, mas instituições oficiais também, e acabam
proporcionando as redações de imagem e informações sobre fatos e acontecimentos diários.
Tem o material que é enviado pelo release da Policia Federal ou do Governo do Estado, ou Governo Municipal eles mandam o material das produtoras. E se a gente não puder mandar uma equipe, a gente faz uso deste material. Mas, Policia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar ocorre com bastante frequência. A gente utiliza, facilita muito porque a gente é televisão e precisa da imagem. Agora, em se tratando de um telespectador fazer imagem, tanto pode chegar por acaso para gente, um furo, quanto a gente também estimular que os telespectadores façam isso e a gente exibe. O whatsapp da TV Clube e o whatsapp do Diário de Pernambuco é ótimo, quanto mais houver essa interação como o público melhor (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na rotina produtiva é observada uma tendência de fontes dispostas a compartilhar e
ceder imagens e vídeos pelos canais digitais, como as fontes oficiais tradicionais, que
costumam registrar as próprias atividades, como é o caso do Polícia Federal, Militar e Civil.
A adoção das imagens provenientes das pautas policiais recebidas pela redação, algumas
vezes esbarram na cultura profissional de cada redação. Entretanto, o fato é que cada vez é
maior o uso de imagens de vídeo e fotos provenientes das fontes policiais e os circuitos de
câmeras de segurança e de trânsito, na construção de reportagens. Neste processo, a
135
participação do público, que envia conteúdos via meios computacionais, otimiza as rotinas
nas redações, na busca dos acontecimentos relevantes diários.
No que se refere às integrações entre telejornais nas rotinas produtivas na Rede
Record apresenta-se o compartilhamento de equipes e conteúdos entre os telejornais da rede:
Uma matéria que você vê no jornal da Record, ela é fruto do trabalho de muitas equipes, são uns 500 jornalistas aqui só em São Paulo. Todo este pessoal não trabalha exatamente para o Jornal da Record, e então o cinegrafista que saiu com a equipe da Denise do Fala Brasil, ele vai produzir e eu vou usar o material dele, não é mais exclusividade de ninguém. A exclusividade, um exemplo, eu estou fazendo uma série especial, este material é meu, depois que eu ponho no ar, eu compartilho com todo mundo, mas a notícia como um todo é totalmente compartilhada inclusive com o R7. O R7 também usa este material, a Record news totalmente (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As adoções tecnológicas gradativas no telejornalismo colaboram cada vez mais para
a integração dos telejornais em rede televisiva, em que a cabeça de rede como catalizadora
das ofertas local, regionais e nacional aponta indícios de rotinas produtivas que flexibilizam o
modelo de telejornalismo dos anos 70.
Antigamente, sei lá, 20 anos atrás, você tinha as redes de transmissão da Embratel. Você tinha que comprar os canais, e você tinha uma imagem para tirar lá de Recife para receber aqui e você não tinha as linhas da Embratel. Aí, tinha que fazer uns caminhos tortuosos, para fazer com que isso saísse de lá, batessem em Brasília, uma coisa de rebater sinais mesmos, básico de telecomunicações. E hoje isso não tem mais. De vez em quando outra praça está com problema de disponibilidade de fibra ótica ou de FTP, este caminho da internet para você mandar os vídeos e as reportagens, e aí você procura uma rede Embratel para ver se compra, e não tem, porque mudou (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Os canais de integração verticais nem sempre são sofisticados como a fibra ótica
(Metrolan), em certos casos as ferramentas digitais, como as redes sociais e e-mails também
são usados nas rotinas produtivas.
A gente se fala muito pelo o telefone e facebook, a maioria das vezes eles (Jornal da Record) estão muito ocupados no telefone, a gente se fala pelo face e e-mail também, a gente se fala mais no facebook. Atualmente eles me mandaram até um e-mail. Como a gente faz de manhã, eu mando a produção da madrugada do Cardinot, tem uma equipe na madrugada, e mando a produção da manhã e a sugestão de pauta do dia. E atualmente eles estão pensando em implantar aqui, feito um skype corporativo, para participar das reuniões de São Paulo, as praças participam das reuniões e dizem sua sugestão do dia. É uma coisa mais dinâmica. A gente manda por via fibra (Metrolan) ou ftp tanto um como o outro (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
136
As ferramentas digitais são adotadas como canais de integração verticais das
redações dos telejornais nas redes televisivas, mas também possibilitam os veículos que
compõem os grupos de comunicação afiliada a rede, integrar as redações de forma horizontal.
Já que a gente faz parte dos Diários Associados, e temos TV Clube, Rádio Clube AM e Rádio Clube FM, Diário de Pernambuco, e o Portal Pernambuco.com, a gente troca sim, matérias sobre tudo com o Portal. Eles fazem vídeos, imagens e se não houver tempo hábil, a gente faz uma determinada matéria, mas o Diário de Pernambuco mandou um repórter fotográfico, e ele fez a imagem que a gente precisava? A gente usa (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As integrações entre telejornais no fazer telejornalístico, via canais digitais, na Rede
Record, cumprem o papel primário de integração das várias produções noticiosas que ocorrem
nos telejornais, da rede. Fato este que é fundamental para um telejornal como o Jornal da
Record, que necessita de conteúdos realizados, nas mais diferentes cidades brasileiras. Estes
canais digitais podem ser sofisticados e custosos como a fibra ótica (Metrolan), ou mesmo
simples e acessíveis, como as redes sociais, ftp e e-mail, para integrar as rotinas produtivas. A
integração via canais digitais pode ocorrer em duas maneiras: na rede televisiva de forma
verticalmente; e nos veículos que compõem os grupos de comunicação afiliada a rede, de
forma horizontal.
5.4.2 Rede Globo
Nas relevâncias dos portais do grupo no fazer telejornalístico na Rede Globo
percebe-se que os grupos de comunicação precisam de um veículo de comunicação que
atenda a demanda de informações que se apresenta cada vez mais rápida, catalisadas pelas
tecnologias pulverizadas na sociedade. Contudo, abre-se a perspectiva de que na ampla
quantidade de informações distribuídas nas sociedades liberais democráticas, por meio das
mídias digitais, perceber a necessidade de credibilidade destas mesmas informações. São
nestes pontos que se inserem os portais dos grupos de comunicação:
Com o avanço da internet, você tem que ter um veículo que possa competir com as informações. Hoje você vê acontecendo alguma coisa, você já filma com o celular imediatamente. É espontâneo! A diferença que há é entre a agilidade e a seriedade. Televisão tem que ter por obrigação, inclusive por respeito ao telespectador, e também ao personagem, tem que ter a convicção a confirmação de que aquilo aconteceu, então todo mundo: - ah! eu vi logo na internet! Você viu na internet, mas não viu com seriedade. Todo veículo tem seu portal que é exatamente para competir, para informar mais rápido e mais amplamente. Você vê no Jornal Nacional, ou Jornal Hoje, porque ali tem informação completa (Repórter de Rede Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
137
A agilidade de distribuição dos portais nos grupos permite uma reorganização de
distribuição dos factuais, tendo o portal como saída prioritária. “Se a gente está como
informação na mão. A gente joga! O fatual entra primeiro no G1, porque é para onde vai para
o mundo. Estou falando das notícias fatuais. As investigativas, aí ainda, de alguma forma,
prevalecem o modelo anterior” (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista
concedida para esta pesquisa). A equipe portal G1 coopera com as equipes dos telejornais na
cobertura dos fatos do dia, bem como na sugestão de cobertura e compartilhamento de
imagens.
Em alguns momentos tem a equipe da TV lá. A equipe do G1 está em outros pontos da cidade. O G1 liga para o repórter da TV, pergunta como estão as coisas por aí onde você está. Aí o repórter descreve. A gente também liga para os repórteres do G1 - onde eles estão, como é que estão as coisas por aí? Então às vezes o repórter do G1 consegue registrar alguma coisa, mesmo que não seja com imagem, mas passa a informação para a gente. Então, há uma troca de informações mútua do telejornal como o G1 (Apresentadora do NETV 2ª edição , em entrevista concedida para esta pesquisa).
Entre as equipes do portal e da TV existem uma colaboração produtiva e uma
proximidade física pela configuração da própria redação, espaços integrados, que favorecem a
naturalização da integração das rotinas produtivas entre meios.
Com relação aos portais do G1 e GE já há uma proximidade física, o espaço físico integra G1, Ge, TV e outros setores. As equipes são diferentes, são separadas, mas eventualmente, quando existem outras atividades paralelas, a gente repassa as sugestões de pauta ou recebe também. Às vezes vem do próprio GE.com ou do G1, alguma sugestão. Por exemplo, acontece um acidente no centro da cidade, a equipe de reportagem da TV está indo fazer, mas aí a equipe do G1 já tem outras ocupações, e aí o que acontece? O repórter com os celulares, que os celulares corporativos têm o recurso de gravação de vídeos ou tirar fotografias. Então, ele registra aquele evento e envia para a redação do G1, por exemplo, e isso já otimiza o tempo e o pessoal do G1 consegue publicar com a fotografia de um repórter da TV (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O portal G1, pela proximidade nas redações da rede televisiva, além da colaboração,
acaba desafiando e alterando a produção noticiosa nas redações da TV.
Nos G1s locais já é outra dinâmica, eles trouxeram para nós a urgência de se apurar com cuidado, claro, de conseguir manter atualizada aquela informação. Porque antes na TV tinha até uma certa comodidade, o material gravado, qualquer coisa você coloca na nota pé ou coloca na cabeça. Hoje não! Aquela coisa o G1 já deu, cancela o que tem, esquece o que gravou, vai lá e grava um stand-up e devolve com a informação mais atualizada possível. Talvez o G1 consiga se aprofundar um pouco mais, porque a TV acaba sendo guiada pelo fatual e talvez alguns segundos de arquivos que a gente coloque ali na reportagem, para contextualizar. A gente ainda tem a limitação do feed que é oferecido para o local (Editor e Apresentador do
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ABTV 1o edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Os portais compartilham a mesma redação dos telejornais em rede, mas possuem linhas
editorias diferentes, mesmo nos momentos de colaborações entre meios digital e televisivo.
Tem o "Vc no G1" que é a ferramenta colaborativa, que quando as pessoas mandam informações que não são da nossa linha editorial a gente encaminha para redação da TV Asa Branca. A gente não conseguiu ainda entrar totalmente no telejornal. O jornalismo da TV Asa Branca vem sofrendo algumas modificações de estética e de linha editorial. Tiveram algumas modificações e nossa linha editorial é diferente, e está muito mais veiculada a central em São Paulo, do que aqui. Apesar de a gente ter nossa linha editorial vinculada ao Grupo Nordeste de Comunicação. Por exemplo, os links que aprecem nos telejornais da TV Asa Branca têm que ser do G1, é uma recomendação da Globo Nacional. Quando se precisa de uma informação a mais, a redação do telejornalismo fala com a redação do portal, a gente faz um trabalho em conjunto e prepara uma matéria para o portal, que tenha mais informações complementares à matéria da TV (Editor e Repórter do G1, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na relevância do portal G1, no fazer telejornalístico na Rede Globo, encontra-se na
necessidade de se ter um veículo que atenda a demanda de informações de rápida distribuição,
em um cenário de ampla tecnologia digital. A velocidade de distribuição e disponibilidade
dos conteúdos nos portais colabora para a reorganização da prioridade da distribuição dos
factuais, nos grupos de comunicação que formam as redes televisivas, conservando a
credibilidade ou relação de confiança. Outro fator significativo é o compartilhamento do
espaço físico da redação com o G1, que contribui para criar desafios e colaborações nas
rotinas produtivas, que coloca gradativamente o perfil de profissional polivalente multimídia.
Entretanto, as linhas editorias do veículo televisivo e o digital são diferentes na construção
das notícias, podendo caminhar para uma divergência entre meios.
Na abordagem das ferramentas tecnológicas nas rotinas produtivas na Rede Globo
evidencia-se a utilização de smartphones, tablets e as redes sociais na produção noticiosa:
(Na redação) usa o telefone celular, o telefone fixo e a Internet. Agora o whatsapp, a gente está usando bastante, porque quando a gente precisa de fotos das polícias que eles não têm como mandar por e-mail, eles mandam pelo whatsapp e até de telespectadores mesmos, que querem sugerir algum problema. Às vezes tem um número de alguém aqui da redação que manda uma foto pelo whatsapp, para que se possa entender como é o problema. Facilita até para a apuração antes de fazer a matéria, para a gente visualizar aquele problema (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
As redes sociais são utilizadas como canais digitais de interação entre o fazer produtivo na
redação do telejornal e as fontes.
Com o whatsapp a gente tem um contato com as policias de toda nossa área de
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abrangência, e quando não tem alguém que conhece um policial, que recebe e que envia para gente. O whatsapp, eu acho que é a ferramenta mais poderosa que está sendo utilizado ultimamente. (Ainda há a busca de) blogs na região, sites na região, e perfis e sites de prefeitura, assim é basicamente essas (ferramentas): facebook, twitter, whatsapp e celular. O facebook eu olho pelas hastagh, se está acontecendo algo, com o nome da cidade, o nome do município para ver se estão falando algo (Editor e Repórter do G1, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Considerando as ferramentas tecnológicas no fazer telejornalístico, na Rede Globo,
como smartphones, tablets e as redes sociais, contribuem para uma aproximação maior entre a
redação e as fontes. Neste sentido, a adoção das ferramentas tecnológicas, refere-se à
configuração das mesmas como canais de interação entre os jornalistas na redação e os
repórteres nas ruas, bem como, entre a redação e o telespectador, no compartilhamento de
conteúdos, além de fontes oficiais, como as policiais. Tal adoção, de caráter sócio-técnico, no
processo de construção da notícia, por meio de canais, altera o modo de interação e
proximidade entre as equipes, as fontes oficiais e o público.
Nas buscas por atualizações tecnológicas na Rede Globo apresentam-se algumas
formas de atualização na aquisição de artefatos tecnológicos: “O setor de engenharia sempre
participando das feiras internacionais, Feira de Las Vegas - além de receber da Sony
(sugestões). Eles (setor de engenharia) sabem o tipo de drone que deve ser usado, eles estão
sempre atualizados com o que há de mais moderno” (Repórter de Rede da Globo Nordeste,
em entrevista concedida para esta pesquisa). Embora existam setores nos grupos de
comunicação que busquem com mais frequência inovações tecnológicas, a própria rede
oferece cursos de atualização para os profissionais, de forma discreta.
Como a Asa Branca é uma afiliada, a Rede Globo tem um sistema de treinamento: Projeto Uniglobo. Ele está ligado às várias atividades que fazem parte do dia a dia da emissora. Então, no Uniglobo tem cursos oferecidos anualmente para os jornalistas. Então, de certa forma, vai renovando o aprendizado, trazendo novos entendimentos também a respeito da prática da profissão. (Entretanto) não há uma orientação sobre atualização das ferramentas. Eu acho que são apresentadas algumas alternativas, mas ainda não chegou a um apontamento, tanto nesta parte de treinamento, em relação à rede, quanto à própria emissora, de que o profissional deve ou não utilizar este ou aquele elemento tecnológico para otimizar a produção (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Em geral, as próprias rotinas produtivas estão abertas a experimentos, que acabam
gerando experiências positivas e podem ser repetidas em outras situações, em uma tendência
de tentativas.
A gente criou um grupo no whatsapp para trocar informações mais rápidas entre produção e reportagem e acaba agilizando muito. Ontem mesmo começou com um
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tablet dentro do estúdio para acompanhar os comentários nas redes sociais, do que se fala no ABTV. A gente tem uma determinação da Globo de não poder citar o nome. Já a Central Globo de Produção tem uma maior liberdade, a Central Globo de Jornalismo não. A gente encontrou uma maneira de utilizar, não chama em momento algum de twitter ou facebook, chamamos de redes sociais. Mas quando eu peço para colocar uma Hastagh, eu já direciono o público para determina rede social, e em dois dias tivemos um número bem interessante. Acho que é uma troca, a empresa provoca isso na gente, e a gente também tenta provocar isso na empresa, uma maior liberdade de uso. A gente está conversando para que apesar da limitação que a Globo impõe, , porque ela tem muito cuidado com os usos das redes sociais, no âmbito nacional. Ela foi uma das últimas (redes televisivas) a ir liberando nos programas (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No que se refere à busca por atualização tecnológica na Rede Globo, evidenciam-se
algumas ações realizadas pelo próprio setor de engenharia da Rede, que contribuem para
atualização da estrutura tecnológica dos grupos que compõem a rede televisiva. Contudo, no
que se refere aos treinamentos do profissional propriamente dito, a rede oferece alguns cursos
de atualização de forma discreta, em que atualização é mais focada no estrutural do que no
profissional. Observa-se que nas próprias rotinas cotidianas de construção da notícia, são
feitos experimentos com adoção de ferramentas digitais, que acabam colaborando para o
aprimoramento tecnológico no fazer jornalístico.
As mudanças nas rotinas nos telejornais evidenciam a aceleração da produção e o
uso de redes sociais como ferramenta de integrar as redações e as equipes de repórteres nas
ruas, em um fazer polivalente funcional:
A informação mais imediata, esta capacidade, eu acho que é a questão de agilizar. Por exemplo, uma equipe sai para cumprir uma pauta, no meio do caminho tem um outro fato, então ele viu e fotografa, e manda pelo whatsapp. Já é algo relevante por que já vai ser uma prestação de serviço para aquela comunidade, esta capacidade de conseguir fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo, o repórter não se deve ater apenas aquela pauta, que ele saiu da redação para cumprir é algo positivo (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na rotina produtiva existe cada vez mais o uso de estruturas digitais, como canais de
interação com o público, por onde ocorre sugestão de pauta; e com os canais de integração,
que possibilitam a oferta de reportagem para os telejornais da rede televisiva.
A gente começa o dia vendo o que tem na internet. Então, hoje ela é fundamental, principalmente por conta dos e-mails, porque a gente recebe muitos e-mails, muitas sugestões legais de pautas surgem por e-mail. A gente manda por e-mail, às vezes manda até a imagem por e-mail (para o Jornal Nacional) do problema para que eles possam visualizar, e aí, a gente liga para reforçar que mandou o e-mail e para ter um retorno (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
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As tecnologias móveis e os sites de busca também são utilizados como fontes de
informações para a construção de pautas. “Altera demais, e altera para melhor. Porque todos
nós fazemos uso de internet e de celulares. Eu vivo fazendo matérias especiais no Brasil ou
fora. Eu recebo e-mail diariamente com sugestão de pauta, e aí é só pesquisar no google.
Além do e-mail o contato com as pessoas é por telefone” (Repórter de Rede da Globo
Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa). As tecnologias aplicadas às rotinas
produtivas como fator de otimização do fazer jornalísticos, para equipes nas redações, e nas
relações de interação entre redação e os repórteres nas ruas.
Você consegue produzir mais, a informação chega mais rápido, hoje com o microfone se adapta ao Iphone e se pode gravar o off pelo Iphone, e mandar pela internet. A gente comprou câmeras menores para eles (repórteres) terem na frente (dos carros). São câmeras que nos ajudam a tornar o noticiário cada vez melhor e mais próximo do que acontece na cidade. Nós temos a GoPro, a gente tem ferramentas de vídeos, as facilidades do celular, as facilidades do e-mail. Eu sou do tempo do telex, passei pelo fax, então o e-mail, ele facilita a vida porque as pessoas respondem com uma riqueza de detalhes que às vezes no telefone poderiam ter incorreções. O celular facilita muito você pode ouvir as pessoas onde elas estiverem. Antigamente você passava texto pelo telefone, hoje você leva seu computador, manda, e a equipe recebe aqui já o texto, já pode ir adiantando a página, crédito e reportagens (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A adoção das tecnologias digitais vem substituindo procedimentos e canais de
integração mecânicos e analógicos nas rotinas produtivas no jornalismo televisivo. Tais
adoções, algumas vezes refletem na redução de custos operacionais, no tamanho das equipes
que operam os artefatos tecnológicos, na construção das notícias.
A gente trabalhava com máquina de escrever, então os scripts eram datilografados em quatro vias. Era um teleprompter de esteira, a gente colocava as páginas na esteirar e uma lente jogava no espelho para o apresentador. As ilhas de edição, na época a TV Pernambuco, final da década de 80, possuíam uns equipamentos U-matic, com fitas magnéticas. Deste o começo da televisão, da máquina de escrever, a gente já tinha xerox na redação, tínhamos a comunicação entre as emissoras como telex. Depois, eu fui para a TV Manchete na TV Tribuna. Houve a chegada do sistema Betacam de fita magnética. E qual era a interferência? Você diminuía um componente na equipe de reportagem. Porque no U-matic, tinha o cinegrafista com a câmera no ombro e do lado dele tinha que andar uma outra pessoa com um gravador a tiracolo, que era onde a fita ficava, pois a fita não estava no corpo da câmera, os cabos para manter o gravador ficavam em uma mala muito pesada. No sistema seguinte, a fita já faz parte do corpo da câmera, e aí a gente usava o sistema Betacam e Hi-8. Isso dava uma agilidade maior para o cinegrafista se locomover. Com um pouco mais de agilidade já interferia nas matérias. Porque as fitas tinham uma duração maior, (permitia) gravar uma matéria em uma multidão, a gente tinha muito mais mobilidade, é fato. Os primeiros sistemas de redação de texto já eram no computador na primeira metade da década de 90. Hoje, ninguém usa mais fita, há algum tempo mudou para disco. O disco já fechou porque agora é o cartão de memória. Então, está tudo indo muito rápido (Chefe de Redação da Globo Nordeste,
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em entrevista concedida para esta pesquisa). Os canais digitais de interação com o público também vêm se alterando com as mídias
digitais, amplia-se a colaboração da sociedade, mas ainda refletem uma adoção de caráter
experimental das mídias digitais, nas rotinas produtivas noticiosas.
Antigamente as pessoas participavam também, mas elas recorriam ao telefone e nem todo mundo tinha telefone em casa, então era por orelhão, então era assim que eram passadas as informações (de sugestão) das pautas, que eram passadas para a redação. Com o advento da internet, facilitou muito. As pessoas se sentem mais próximas, ainda não há, eu acredito, nos telejornais, uma participação mais efetiva, eu digo direta dos telejornais, durante a exibição do telejornal. No panorama geral dos telejornais, acho que estão existindo testes, há ainda um ambiente experimental (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Ferramentas digitais como as redes sociais colaboram para a interação da redação com o
público, bem como alterações nas rotinas produtivas, na indicação de temas para compor as
pautas, como sugestão indireta.
Como a informação hoje circula de maneira mais fácil, e a rede social interferiu nisso, indiretamente como sugestão de pauta, mas não é uma sugestão direta. Muitas pessoas sugerem diretamente, eles marcam seu perfil e dizem: - vai render muito uma reportagem na minha comunidade, para mostrar tal coisa. Então é neste sentido, porque a gente tem muito cuidado, a gente não sai replicando o que a gente vê (Apresentadora do NETV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Os Blogs também colaboram para alterações das rotinas produtivas, no sentido dos
desafios que os mesmos apresentam às mídias tradicionais.
Com a chegada destes blogs, o rádio a gente já sabe que ele tava no fato, primeiro que os outros veículos, mas eu acho que os blogs estão ganhado muita força e o que acontece com a expansão destes blogueiros, é eles estarem lá na noticia assim como no rádio. Então, eu acho que a agilidade destes outros veículos de comunicação obriga o telejornalismo a ter uma agilidade maior (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na produção da notícia nos meios de base digital contribui como fator de aceleração dos
processos nas redações.
A internet, banda larga, foi que a gente começou realmente a trabalhar com informações vindas da internet e isso para mim foi a principal mudança. Foi o que mais colaborou para que a gente pudesse ter uma dinâmica maior na produção de reportagem, e o celular também ajudou muito, porque as pessoas começaram a ter muito mais celular que telefone fixo, do que a gente. Foram estas as principais mudanças (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista concedida para esta pesquisa).
A rotina produtiva do jornalista na sua busca pelos acontecimentos cotidianos
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relevantes, para serem discutidos e sugeridos nas reuniões de pautas, também incorporaram as
mídias digitais.
A primeira coisa que eu faço é dar uma olhada no whatsapp e ver se já chegou alguma coisa, alguma informação, eu tenho um número que é específico para pauta que eu recebo. Dou uma olhada rápida no twitter, para ver se a polícia rodoviária tem alguma coisa, as fontes primárias e os próprios usuários das redes sociais, antes da reunião de pauta eu já venho com isso. E no caminho eu já venho ouvindo rádio, a depender da minha internet, em um dos celulares eu tenho o receptor ou eu gosto de ouvir muito a CBN do Recife (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Com a possibilidade de opções de meios digitais e analógicos em uma mesma estratégia
de distribuição de conteúdos, como o portal e os telejornais, ocorre alteração, no que se refere
ao meio que a notícia será veiculada primeiro.
O compartilhamento de conteúdo é fundamental, e hoje mexe com um conceito quase que dogmático do jornalismo que é o furo. Porque antes o rádio era o veículo a dar o primeiro furo. Porque o profissional de rádio precisa só de um telefone, um orelhão, ele chega lá e diz, estou aqui na frente do assalto do banco, e ele furava todo mundo. Porque ele colocava no ar primeiro. Segundo, por esta hierarquia seria a televisão, porque se deslocaria para lá, mas ainda tinha que alguém trazer a fita para a redação, depois o jornal diário, e dentro desta cronologia a revista semanal. Hoje, isso tudo não tem mais sentido. Porque se você ou eu estivermos onde estar a notícia com um smartphone na mão e jogarmos nas redes sociais já fura todo mundo (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Com a facilidade dos canais digitais de integração vertical entre os telejornais, de uma
rede televisiva, propicia o aproveitamento e adequação de um mesmo material, ou uma
reportagem para telejornais distintos.
Uma matéria que está sendo editada, que foi feita para um programa local, e nós estamos usando este material para se tornar um especial da GloboNews com 23 minutos, e um matéria para o Jornal Hoje de três minutos. Tudo com o mesmo material, aproveitando as imagens, os depoimentos que nós fizemos. Recentemente eu estive nas Bahamas para fazer uma série de quatro VTs para o Fantástico. E além destes quatro VT's eu aproveitei para um especial da GloboNews, para dois programas Nordeste Viver e Preservar; e ainda para uma matéria para o Jornal Hoje. Então, normalmente é quando o assunto é amplo; e você tem boas imagens, bons depoimentos, você pode distribuir aquilo que ficou, além daqueles três minutos que você tirou para o Jornal Hoje, além dos dois minutos que tirou para o Jornal Nacional, aquilo dá 23 minutos de entrevistas, de especial, para uma televisão como uma GloboNews, que tem espaço para isso (Repórter de Rede da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O uso das novas tecnologias da comunicação permite um acesso mais rápido às
reportagens, em horários diferentes, por demanda, por meio dos arquivos jornalísticos nos
portais.
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Se eu chego aqui e vou assistir ao Bom Dia na internet, outra facilidade. Só voltando à tecnologia, antigamente na redação, se você não tivesse assistido o telejornal, você ia, pegava uma fita, iria para uma ilha, tirava alguém do trabalho, para você poder assistir. Hoje você assiste na internet. Agora eu assisto ao vivo, eu gosto de assistir quando ele está indo ao ar, acho que você tem que ter a percepção de quem está assistindo (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Em geral, o modo de fazer o jornalismo na TV se mantém flexionando o modelo
consagrado nos anos 70, o que está sendo alterado são as adoções das mídias digitais, a
relação com o público e a velocidade das rotinas produtivas entre os telejornais. A ampliação
da velocidade se dá pela substituição, ao longo do desenvolvimento tecnológico, dos canais
de integração mecânicos e analógicos, entre os telejornais em rede televisiva, por canais de
integração verticais.
A tecnologia não muda a forma de fazer jornalismo, ela só ajuda. Quando eu trabalhei no Jornal Nacional se pagava 20 mil para transportar uma fita em um bimotor. O que a tecnologia veio fazer? Você manda pela internet, facilita o trabalho do jornalista. Mas o jornalismo em si, não vai mudar nunca, a essência do jornalismo não muda nunca, por trás de qualquer tecnologia (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No que se refere às mudanças nas rotinas, evidenciam-se a aceleração da produção e o
uso de redes sociais como ferramentas de aproximação entre a redação e as equipes de
repórteres nas ruas, em um fazer que sinalizem aspectos de polivalência multimídia e
integração. Visto que na rotina produtiva existe cada vez mais o uso de estruturas digitais,
como canais de sugestão de pauta e oferta e demanda de reportagem entre os telejornais da
rede. Neste fazer, a adoção das redes sociais como ferramentas digitais colaboram para a
interação e alterações nas rotinas produtivas, pela indicação de temas para compor as pautas,
pelo público. Além de ampliar o leque de possibilidades dos editores e produtores nas buscas
dos acontecimentos relevantes do dia, nas redes sociais, e em blogs. Estas ferramentas acabam
auxiliando nas reuniões de pautas como sugestões e informações para a construção de
reportagens. Por fim, uma alteração que remete a amplitude da distribuição das reportagens,
são as mídias digitais, as quais permitem um acesso mais rápido às reportagens, em horários e
suporte distintos da televisão, colaborando para caracterização da distribuição
multiplataforma, elemento das Rotinas Produtivas Flexíveis.
No que se refere às fontes mediadas por computador no fazer telejornalístico na
Rede Globo apresenta-se uma relação em que as próprias fontes cedem ou são compartilhas
através de conteúdos e imagens, via canais digitais de interação, para a produção noticiosa:
“Em relação de produção, houve uma facilidade neste sentido, com relação de como a fonte
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conseguiu encontrar alguns canais de repassar informações, que podem ser transformados em
matérias, imediatamente no momento que aquilo está acontecendo” (Coordenador de
Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e
Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa). Por meio dos
canais interação digitais, as fontes oficiais, como a Policia Militar, compartilham informações
dos boletins de ocorrência, além de contarem com o blog da própria polícia, para aquisição de
imagens, como suporte imagético para a produção de reportagens.
A própria Policia Militar usa muito a internet para poder noticiar para a gente, ela manda todos os dias as resenhas policiais, que são todos os fatos que foram os boletins registrados por eles (só informações, sem imagens). Eles mandam por e-mail (conteúdos), e a Policia Militar já tem até o blog, que eles estão atualizando a todo o momento, ou colocando fotos (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A adoção das estruturas computacionais digitais auxilia na produção das reportagens,
proporcionando o recebimento na redação de conteúdos disponibilizados por fontes oficiais e
pelo público.
Mudou porque em muitos casos a gente não tem como mandar equipe para tal lugar. A equipe foi, mas as fotos chegaram primeiro. A policia mandou as fotos para a gente. Para garantir o que a produção faz, pede as fotos a polícia. E aí eles mandam, porque se não der tempo de colocar a informação do repórter, o material a gente já tem, porque já temos as informações repassadas pela policia e mais as fotos. Então, a gente consegue montar e dar a notícia. A gente (também) conseguia a foto da vítima, com a família, e aí inseria a foto da vítima no material. Hoje a gente tem a facilidade das pessoas mandarem estas fotos via internet (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na abordagem das fotos mediadas por computador, evidencia-se uma otimização do
tempo de produção pelo compartilhamento de conteúdos imagéticos ou textuais pelos canais
de interação, entre as fontes e redação do telejornal. Por estes canais de interação, fontes
oficiais, como a policia militar, são compartilhadas informações dos boletins de ocorrência,
além de imagens, que auxiliam a construção da notícia.
Nas integrações entre os jornais no fazer telejornalístico dos telejornais, que
compõem a Rede Globo de televisão, evidenciam-se os canais digitais de integração vertical
entre os telejornais que compõem a rede televisiva. Assim, vão flexionando as estruturas
ancoradas no modelo consolidado nos anos 70, como os canais de integração analógicos:
Para a geração pode ser o FTP, estes sistemas todos de geração pela internet nós usamos na Globo. Tem uma linha agora nas cinco emissoras que foi um grande facilitador para a gente, é Metrolan um canal de geração, via fibra, 24 horas. Não se depende mais de satélites, rebater sinal. É um sistema que foi comprado e tem a manutenção, mas é uma coisa que facilita a vida das cinco emissoras: Rio, São
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Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife. Acredito que com o tempo irá para as afiliadas também. Isso muda toda rotina de produção, você deixa de ter horário de geração. Antigamente você recebia das cinco, e vinha as cinco e quarenta a rota Sul, que era Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, as seis era Norte e Centro Oeste, e as seis e quinze era Belo Horizonte, interior do Rio e interior de São Paulo. Só São Paulo tinha uma linha sempre direta, passou daquele horário você dependia de comprar um canal, que este canal não estivesse sendo usado por outra emissora para você receber (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Esta integração entre os telejornais está sendo facilitada pelas estruturas das mídias
digitais. Em que os antigos canais analógicos vão cedendo espaço para os digitais, entretanto,
os processos se mantém.
A Rede Globo é muito preocupada como esta integração. Por exemplo, antes, quando eu vim trabalhar aqui em 1998, a internet engatinhava, mas a TV Globo já tinha um sistema interno de comunicação, via computador, muito semelhante ao e-mail, e já naquela época permitia ter uma integração simultânea entre as cinco praças do Brasil. As cinco Globo que são: Rio, São Paulo, Recife, Brasília e (Belo Horizonte). Aliado a isso, a gente usava um recurso disponível na época, que era a geração via Embratel. Isso possibilitava uma notícia que estava sendo feita no Recife, que foi ao ar no NETV, que é uma noticia de repercussão Nacional, seja gerada via satélite e lá no Jornal Nacional exibida para o Brasil inteiro. A gente continua usando (o processo), só não usa mais Embratel. É um sistema próprio de tráfego de imagens e áudio (Metrolan) (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Na relação entre os telejornais da rede televisiva ocorre a oferta de matérias e
monitoramento dos espelhos para solicitação de conteúdos, por meios das ferramentas digitais
de integração vertical.
Nossa relação, não é só com os fatuais que estão acontecendo, a gente troca informações do que a gente tem. A gente manda a previsão do que está sendo feito naquele dia por nossas equipes e também o que já está na casa, que é feito na noite anterior, para eles (Globo Nordeste) decidirem se querem nosso material ou não. E a gente também tem o sistema que é o eye news onde a gente acompanha o que eles estão fazendo, e se alguma notícia daquela rende para gente, é só pedir para eles (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A relação de oferta e demanda, via canais de integração digitais, entre os telejornais, é
pautada com base, também na relevância do acontecimento.
Existe, de acordo com a relevância do assunto, às vezes tem algo que é de interesse estadual e aconteceu aqui na cidade, ou em um dos 107 municípios que fazem parte da área de cobertura da TV ASA Branca. De acordo com nossa avaliação, a gente entra em contato com a redação da Globo Nordeste em Recife para saber se eles têm interesse, quando tem, a gente faz a geração daquele material, e quando é algo que a gente imagina que tem uma repercussão nacional. A gente entendeu que deveria ofertar a reportagem para a rede. Então a gente entra em contato com o Bom Dia Brasil, com o Jornal Hoje, Jornal Nacional, com o Jornal da Globo. A cabeça de rede entra em contato com a gente para também encomendar alguma matéria, algo
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assim como um evento cultural, São João ou o Festival de Inverno de Garanhuns, este eventos entram na pauta nacional e eles pedem já com uma determinada abordagem: a gente tem interesse se fosse feita sobre este aspecto (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª ed., em entrevista concedida para esta pesquisa).
A integração envolve não só os telejornais, mas também as sucursais, e uma constante
mudança que otimiza o fluxo de conteúdos noticiosos na rede, em um cenário de substituição
das operações analógicas pelas digitais.
Com (relação) as sucursais, Garanhuns, a gente tem uma geração via rota, via links terrestres, e o sinal chega aqui. E Serra Talhada é via internet, para Recife também é rota terrestre (links). Para rede, a gente precisa passar por dois processos: primeiro processo é rota terrestre via links até Recife; e Recife inserta o material em um computador, que vai via IP (internet) para rede. Há uma possibilidade de que a gente em breve venha ter isso aqui também. Aí a contribuição será muito maior. Por exemplo: uma vez a gente fez uma matéria para o JN e a gente não conseguiu mandar o material para o JN, porque faltou energia elétrica em Chã Grande, e aí, por conta desta falta de energia, o material não foi. A gente conseguiu enviar o material para Recife via FTP, mas aí chegou tarde demais (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Os canais digitais possibilitam a integração entre a emissora e afiliada na rede
televisiva. Neste sentido, os canais de integração vertical flexibilizam as estruturas ancoradas
no modelo consolidado nos anos 70. Assim, os antigos canais analógicos vão cedendo espaço
para os digitais, embora o modo de fazer no telejornalismo permaneça, o que está se inovando
são as ferramentas, não os processos. Para a integração entre os telejornais da rede televisiva
existem ferramentas digitais de compartilhamento de espelhos, solicitação e envio de
conteúdos digitais, proporcionando proximidades entre os telejornais e abrindo novos desafios
no fazer nas redações dos telejornais de início de noite em rede.
5.5 ROTINAS, INTEGRAÇÃO DE REDAÇÕES E CONVERGÊNCIA
O último ponto das entrevistas está relacionado à compreensão dos jornalistas no que
se refere a Rotinas Produtivas Flexíveis no atual contexto de convergência, atendendo aos
objetivos específicos da presente tese de analisar as rotinas produtivas de notícias em
configuração estrutural, produção e modos de distribuição, nas duas principais redes
televisivas do Brasil. Neste sentido, Salaverría (2010) aponta que no contexto convergente de
caráter conservador, os grupos de comunicação, em redes televisivas, na tentativa de reverter
o fluxo migratório de público dos meios tradicionais para os digitais, colocam as redações
integradas, por meio das mídias digitais como uma renovada estratégia, para atenderem com
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maior facilidade as demandas de um público cada vez mais multiplataforma, com redução do
custo de produção (SALAVERRÍA, 2010). Esta integração de espaço, ferramentas e métodos
de trabalhos resvalam em uma abordagem controversa deste contexto, que são as integrações
de redações, principalmente quando o processo é horizontal envolvendo meios diferentes
como rádio, impresso e TV, em que os portais são o ponto de junção destes meios. Dentro
deste ponto, abre-se a discussão sobre as perspectivas e tendências para atuação profissional
nas renovadas estratégias de integração, que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis.
Outro ponto do atual contexto está relacionado ao perfil profissional polivalente
multimídia. Para Kischinhevsky (2009), os jornalistas foram orientados a produzir para a
distribuição em diferentes veículos e plataformas, sem gratificação e atualização, de forma a
priorizar a produção multiplataforma em detrimento da apuração dos fatos
(KISCHINHEVSKY, 2009). Os grupos de comunicação que compõem as redes televisivas
apresentam a orientação de flexibilidade, para os profissionais das redações integradas, no
intuito de que os mesmos sejam capazes de fazer o trabalho de qualquer outro jornalista,
independentemente do fato dos profissionais estarem prioritariamente indicados para
procederem à cobertura de notícias destinadas a um determinado meio. Deuze (2004) alerta
que entre profissionais de redações convergentes, reside um consenso naturalizado que ofusca
as questões sobre autonomia e pluralidade nas rotinas produtivas (DEUZE, 2004). Assim, as
reflexões apontam como estas renovadas estratégias de integração, distribuição
multipaltaforma e perfil polivalente multimídia podem viabilizar um telejornalismo de alto
nível técnico, editorial e ético (NEWTON, 2003); bem como afetar a percepção da qualidade
das notícias, que respalda na credibilidade dos telejornais nas sociedades liberais
democráticas.
Este cenário estruturado em multimeios e a tendência de distribuição de notícias em
meios televisivos e digitais configura a perspectiva do jornal televisivo não prescindir da TV,
como suporte de distribuição. Os processos de convergência jornalística, em especial a
distribuição multiplataforma, rompem a máxima de um conteúdo para um suporte (meio). Em
geral, a abordagem sobre estratégias de distribuição dos conteúdos telejornalísticos em
multimeios, reconfigura a periodicidade da oferta dos meios televisivos, para a demanda dos
meios digitais, bem como o fluxo de informações para além da TV, reduzindo o percentual do
público que não teria contato, em algum meio analógico ou digital, com os fatos e
acontecimentos transformados em notícias nos telejornais. Desta forma, o cenário de
mudanças tecnológicas desafia as redes televisivas formadas pelos grupos de comunicação, no
que se refere à compreensão e construção de adequadas respostas para a atual competitividade
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de circulação de informações. Em geral, as redes televisivas formadas por distintos grupos de
comunicação, em relação à convergência, se encontram em uma etapa inicial do processo,
com aspectos de assimilação e improvisação, na ausência de um modelo confiável para o
jornalismo (credibilidade) e para perspectiva empresarial (rentabilidade), na busca de novas
rotinas produtivas e modelos de sustentação.
5.5.1 Rede Record
Sobre integrações e convergência no fazer telejornalístico na Rede Record
evidenciam-se experiências e percepções sobre as barreiras desta estratégia e processo, bem
como novas perspectivas viabilizadas pela adoção sócio-técnica das mídias digitais:
Teve um tempo que eu trabalhei na Rádio Bandeirante e sempre foi um sonho integrar, e nunca se conseguiu, porque no rádio se faz rádio, na TV se faz televisão, agora com a internet é um pouco diferente, porque a internet também faz televisão. A gente tem uma ótima relação colaborativa com o R7 no sentido da gente ajudar a fazer este cruzamento de mídias com eles, colocando caminho para que o telespectador nos ofereça coisas. Ao mesmo tempo eles (R7) têm uma relação muito próxima com a gente disponibilizando nossos vídeos no jornal na internet. (Mas) você não consegue pôr todo mundo no mesmo espaço, eu acho bom que tenha espaço para mais gente trabalhar, se você integrar demais, diminui o mercado de trabalho, já é um mercado de trabalho difícil, o mercado jornalístico, e eu acho que é importante que se vá aumentando o espaço de trabalho. Para quem trabalha para internet e naturalmente talvez, haja uma mudança no formato do profissional que trabalha para televisão. (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Entre alguns profissionais, estas estratégias e processos não parecem estar em sintonia
com o fazer jornalístico na TV.
Eu sempre vi com muita desconfiança esta coisa de experiência de integração, juntar as redações, para mim soava mais como algo determinado por uma consultoria que queria enxugar o quadro, do que por algo estratégico que juntamos as redações para fazer tal coisa, nunca tinha tal coisa, eu acho que a integração tem que partir do ponto que você vislumbra um objetivo. Para aquela integração, se você não tiver aquele objetivo, você está juntando só add count quantidade de pessoas que você tem sobre sua gestão. E aí você vai distribuindo funções e joga xadrez com peões, se eu tenho 10 peões, então você está fazendo a integração, se não, é algo que soa como enxugar a folha de pagamento. (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Nas experiências anteriores à internet, evidenciam-se barreiras para a implantação do
processo de convergência e estratégia de integração entre mídias tradicionais, bem como uma
percepção dos profissionais do foco empresarial deste processo e estratégia.
Eu acho complicado, mas por uma questão empresarial de lucro, certamente as empresas vão acabar convergindo para isso, eu acho um absurdo um repórter estar
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fazendo uma matéria e também imagem para esta reportagem, porque você não consegue fazer nada direito, porque o repórter tem que estar atento para aquilo que está acontecendo, para não errar a informação. A convergência já se tentou, não é uma coisa nova, já se tentou, antes da internet. Eu lembro, há muitos anos, começou com a TV Tupi, estava em uma crise, e eles tentavam assim, o cara que faz a matéria para TV Tupi vai escrever a matéria para o Diário Associado e vai fazer um texto para a Rádio Tupi, isso é convergência de mídia, a empresa vende um anúncio para televisão, um para rádio, o outro para o jornal. Então, ele fatura três publicidades diferentes e paga o salário de um só, então isso é um exploração e a super mais valia. (Coordenador de reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Além da percepção empresarial do processo, existem barreiras nas relações entre as
redações dos meios tradicionais (impresso, rádio e tevê). Entretanto, as renovadas estratégias
de integração horizontal, em que opera uma mídia tradicional e mídias digitais surgem como
uma possibilidade, de menor divergência.
O Diário hoje faz imagem, então uma matéria que eles fazem e interessa a gente, o local produz e produzo também (rede), dependendo da situação, mas a gente sempre interage. Eu abro o Diário e vejo uma pauta interessante eu vou lá, vejo se tem contato, pergunto se eles fizeram imagem, às vezes eles têm imagem de tudo e fecho uma matéria também. Produção da notícia da TV e internet, o rádio como a internet, ele até se integra, mas o impresso resiste mais a TV. Na Record tem isso tudo que a gente produz que passa no JR, meia hora depois está na R7, então já existe esta integração. (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Na integração horizontal, as rotinas se afastam mais, entre meios analógicos, como a
relação da redação do Jornal da Clube e a redação Diário de Pernambuco impresso.
Acho que eles estão começando a pensar cada vez mais nesta unificação. A gente trabalha no mesmo sistema, e não necessariamente, a gente sabe das pautas que o Diário de Pernambuco impresso está produzindo para o jornal, a gente não tem conhecimento. Algumas vezes temos conhecimento quando ela já é publicada. Aí a gente consegue recuperar para o dia seguinte. A gente não tem esta comunicação tão integrada. (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
As estratégias de integração, dentro dos processos de convergência, tendem a ter um
caminho, menos conflitante na relação com as mídias digitais e um meio tradicional analógico
na perspectiva horizontal (meios distintos), e na integração de redações, o processo vertical
por meio de ferramentas digitais, abrindo um caminho mais compatível com a necessidade de
compartilhar conteúdos dentro da própria rede, para alimentar os telejornais, em uma escala
que integra o local, o regional e o nacional.
Eu vejo que esta interação vai acontecer, mas eu não sei se ela precisa ser física, porque isso já não é mais relevante, antes se falava muito nisso, mas hoje não é relevante, a integração ela é virtual, e ela é muito forte. É a gente tem um amigo parceiro aqui da Record, que produz muita coisa para a gente e ele se mudou para Patagônia e produz muita coisa para a gente e viaja muito, mas ele não precisa estar
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aqui, para ele estar integrado à gente. (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa)
No que se refere à percepção dos profissionais sobre as estratégias de integrações e os
processos de convergência, na Rede Record se evidencia que o norte que a estratégia e
processo estão seguindo, não está em sintonia com o fazer jornalístico na TV, deixando claro
uma percepção por parte dos profissionais de um foco empresarial, como compensação das
perdas de audiências e receitas publicitárias distintas de uma perspectiva renovação do
modelo de produção e sustentação. Embora o processo de convergência esteja relacionado ao
atual contexto tecnológico, as estratégias de integração não o são. A integração de espaço,
ferramentas e métodos de trabalhos não são uma experiência nova para alguns profissionais
na Rede Record, nestas experiências e tentativas são recorrentes as divergências entre os
meios analógicos tradicionais. A renovação das estratégias de integração, dentro dos
processos de convergência, tende a ter um caminho menos divergente na integração das
mídias digitais com um meio tradicional analógico na perspectiva horizontal (meios
distintos), e na integração vertical de redações, de um mesmo meio, com base na adoção de
ferramentas digitais, em uma relação mais compatível com as necessidades do fazer nos
telejornais de uma mesma rede televisiva, em Rotinas Produtivas Flexíveis.
Nas abordagens das possibilidades de atuação no fazer telejornalístico na Rede
Record, aponta-se que dentro das contradições do capitalismo existem aprendizados e
perspectivas de atuações em ocupações nos meios digitais:
Sem dúvida, eu acho que quando a gente chega a uma redação integrada, no que eu tenho menos facilidade para trabalhar aqui, eu tenho que me aprimorar naquilo que eu tenho menos facilidade, porque eu não tenho conhecimento. Só para você ter uma ideia, eu tenho aquele computador (na bancada), se você me mandar uma foto pelo celular, para o e-mail que tem aí só para isso, eu ponho no ar sem passar pelo switter da TV. Eu uso muito, às vezes tem fotos da internet que o pessoal manda, não precisa fazer VT, tá ali, ponho no ar. (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Existe a possibilidade de migração da função raiz para as novas práticas e cargos
dentro dos meios digitais.
Eu sou um exemplo prático disso. Eu me formei como jornalista. Eu exerço muito mais funções administrativas do que jornalísticas e eu tive que aprender na prática, o que é gestão? que é trabalhar com equipes múltiplas? aquela coisa administrativa, que só com uma simplicidade para saber se dispor daquela sua condição, de sou jornalista. As pessoas ainda estão se aproveitando disso, e quem não souber que existe um universo maior, dentro da profissão, quem não quiser enxergar isso, tende muito mais facilmente a ser descartado, então o que as pessoas acreditam ser secundário, tornou-se muito importante e muitas vezes tão importante quanto à capacidade jornalística. (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa)
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Dentro de grupo de comunicação ou uma rede televisiva que opera
colaborativamente com mídias digitais estas possibilidades de atuação se ampliam.
Amplia porque somos profissionais de um grupo só, como é o caso dos Diários Associados. Então, se ele dispõe de vários veículos de comunicação integrados, quanto mais gente trabalhando junto, melhor, em televisão nem se fala. Aqui não se faz nada sozinho, se eu posso contar com minha equipe de produção e reportagem de TV, e ainda vou ter aqueles repórteres produtores da rádio, do jornal e do portal. (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
No que se refere às possibilidades de atuação no fazer telejornalístico na Rede Record
existem aprendizados relacionados aos novos meios; bem como perspectivas de atuação nos
processos de convergência, na passagem das rotinas produtivas centradas nas estruturas
analógicas, para as digitais. Alguns exemplos das possibilidades são as mudanças de atuação
de profissionais alocados em funções tradicionais para novas práticas e cargos dentro dos
meios digitais. Tais possibilidades se ampliam nos distintos grupos de comunicação que
formam as redes televisivas, que possuem veículos tradicionais e digitais.
Na flexibilização profissional no fazer telejornalístico na Rede Record aponta-se a
tendência na rotina produtiva noticiosa nas redações da polivalência funcional, de forma
naturalizada:
Aqui, por exemplo, eu incentivo todo mundo a gravar off, toda redação grava off. Eu estou fechando o jornal lá em cima, todo mundo palpita, todo mundo fala, todo mundo dá sugestão de entrevistados. Aquela velha hierarquia que teve em muitas gerações, ela ainda não acabou, mas ela está se deteriorando. Todo mundo queria ser chefe, ou subchefe de reportagem. Até parece que se eu não for parte da estrutura, eu não sou ninguém. Eu tenho que ser reconhecido pelo meu conhecimento, a internet e as novas mídias estão proporcionado isso. (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa)
O perfil polivalente parece ser mais comum nas operações de mídia digital, que cada
vez mais se aproxima das rotinas produtivas nas redações dos telejornais.
Eu não tenho ninguém aqui na redação que é “monofuncional”, porque é uma característica das pessoas que vão trabalhar na internet, elas já não vêm com esta característica. Então, acredito que a pessoa percebendo na prática, que quanto mais ela mostra um jogo de cintura para exercer outras funções, dentro daquela função raiz dela, mas ela tem chance de crescer e aparecer de outras formas, então é um estímulo natural que vem sendo dado pelo jornalismo de internet. (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Este processo de flexibilização está relacionado ao tensionamento do modelo
tradicional, e a renovação dos jornalistas nas redações, que em geral parecem estar mais
familiarizados com as ferramentas de base digitais.
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A polivalência é um dado hoje, por conta de você ter, apesar do geral, o modelo de negócio ainda não estar muito claro, está acoplado por outros fatores de crise do modelo do negócio tradicional. É fato hoje que você tem jovens jornalistas nas redações dos jornais fazendo registro da matéria para edição impressa do dia seguinte, para o on-line, para o tempo todo, muitas vezes gravando boletim de áudio podcast, então a tecnologia permite que você, com equipamentos muito pequenos, como o celular, que vira câmera, gravador, vira computador, e vira um transmissor que manda por internet dali, aquele registro inteiro de foto. (Editor sênior do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Os próprios grupos de comunicação, que formam as redes televisivas, estruturam
orientações nas rotinas produtivas, em que a polivalência é uma tendência característica da
atuação dos novos profissionais nas redações.
Está cada vez mais comum funcionar conforme a necessidade da empresa, hoje em dia eles gostam muito de uma palavra chamada multimídia, profissional multimídia. Os que são contratados agora, sobretudo no Diário, são profissionais do jornalismo que vão estar aptos a escrever a reportagem, como também vão ser os fotojornalistas, vão fazer imagens que podem ser usadas tanto para televisão, quanto para site, o profissional vai ser aproveitado da melhor maneira possível, ele tem que ser de fato multimídia, as empresas estão procurando cada vez mais profissionais com este perfil. (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A flexibilização também ocorre em função das próprias demandas e processos da
produção noticiosa nas redações, na construção das reportagens. “Existe sim esta
flexibilidade. Se eu quiser, (eu posso) editar e fazer outras coisas. Aqui existe muito isso, a
repórter é apresentadora, que vai entrar de férias, então quem vai ficar no lugar dela é uma
repórter de rua. Aí outro repórter editor vai para as ruas, um vai ajudando o outro” (Produtora
de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa). Contudo, é preciso
ressaltar que a polivalência, mesmo que multimídia, deve ter um limite, para não
comprometer a qualidade da produção noticiosa no telejornalismo. “Eu acho que se você vai
fazer tudo, você não vai fazer nada direito, eu não acredito que tenha um jornalista que seja
um bom cara de texto, de edição e um bom fotógrafo, editor de vídeo e captador de imagem,
eu acho humanamente impossível” (Diretora de operações do R7, em entrevista concedida
para esta pesquisa). O ponto controverso da polivalência é a remuneração pelo acúmulo de
funções.
(A flexibilidade) é bom para o profissional, mas é melhor ainda para a empresa, porque existe uma forma entre aspas de exploração, porque aquele profissional recebe um salário só. Ele é de impresso, recebe o salário de impresso, mas ele faz cinco outras funções, ele tem cinco outras atribuições, pelas quais ele não receberá um centavo, porque ele é funcionário cadastrado de tal veículo de comunicação. (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
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No que se refere às perspectivas da flexibilização profissional no fazer telejornalístico
na Rede Record, a naturalização da polivalência funcional, ocorre pela proximidade com o
meio digital R7, que na configuração de meios dos grupos de comunicação, sinalizam a
correlação das polivalência temática, funcional na configuração da flexibilidade de atuação
multimídia. Assim, a flexibilização está relacionada à migração do modelo tradicional e a
renovação dos jornalistas nas redações, bem como as próprias demandas e processos de
produção noticiosa nas redações. Contudo, é preciso ressaltar que a polivalência temática,
funcional ou de meios, dever ter um limite e uma remuneração adequada, pois a naturalização
deste perfil ofusca a orientação empresarial de uma produção para distribuição
multiplataforma, sem gratificação e, também, sem a devida apuração dos fatos.
No que se refere à autonomia e pluralidade nas redações no fazer telejornalístico na
Rede Record evidenciam-se as integrações que podem ainda preservar a heterogeneidade de
perspectivas e autonomia dos veículos nas redações. Em virtude dos compromissos dos
veículos com a credibilidade das notícias difundidas, através dos telejornais para o público:
Eu acho que não há esta homogeneização, a não ser que você trabalhe em uma empresa ou entidade, que tenha uma determinada linha definida, não pode falar nada dentro ou fora dessa nossa visão de mundo. Nosso papel é ser plural, eu não tenho que trazer aqui as pessoas que eu gosto, ou aquela que eu não gosto, ou concorde ou não. Tenho que trazer aquelas que tenham alguma coisa para falar. Mesmo integrado, o foco é no jornalismo. Uma coisa importante para lembrar multimídia, que acontece graças a este cenário de convergência: não dá mais para segurar a notícia. Porque antes você segurava, o cara é anunciante aqui segura, o cara segurava e ninguém dava. Hoje você não dá, todo mundo dá, você perde credibilidade. (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A velocidade do processo de produção e distribuição das notícias começa a refletir no
cuidado da apuração, bem como na diversidade dos enfoques nas reportagens de meios
distintos.
Acho que cada patrão tem um interesse diferente: político, econômico, industrial, visão de mundo e tal. Ele vai querer dar aquela pauta da mesma forma. Eu só acho que fica tudo muito parecido, pega todos os portais, sempre as mesmas notícias, os mesmo enfoques, uma a cópia do outro, e há um descuido da informação, ninguém checa absolutamente nada. Assim, o absurdo de você ver, notícias na internet são publicadas nos portais de notícias que não trazem informações que são básicas, há um despreocupação, ninguém questiona e todo mundo endossa. Dá manchete no jornal, os sites reproduzem, vira a verdade. Aí você começa a reproduzir uma mentira, uma mentira começa virando uma verdade e perdemos a noção de uma visão crítica. (Coordenador de reportagens especiais do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Entre os meios existem as diferenças, ou divergências, que corroboram para a
inibição da homogeneização e da redução da autonomia.
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Eles (portal) podem estar fazendo 10 pautas, mesmo eu tendo ciência das 10, apenas uma teria utilização ou encaixe na televisão. Porque tem perfis completamente diferentes, o site pode render algo que como um texto ele já rende uma história, e para televisão não necessariamente um texto, (pode) contar aquela história da melhor forma. (Assim,) Eu acho que não tem a perder, só vai ter a ganhar. Eles puderem estar veiculando numa página no portal, ou mesmo no impresso uma reportagem que a gente fez e que para eles vai ter muito mais facilidade, vai ter imagens, vai ter sonora e tudo, não vão nem precisar sair da (redação). (Mayra Morais, Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Sobre autonomia e pluralidade nas redações no fazer telejornalístico na Rede
Record aponta-se que a integração pode ainda preservar a heterogeneidade de visão de mundo
dos profissionais e autonomia dos veículos nas redações integradas. Em virtude dos
compromissos de cada veículo com a credibilidade do que é distribuído, em um contrato
pragmático fiduciário, ou relação de confiança, que caracteriza o próprio jornalista como ser
plural na construção da notícia. Isso difere da perspectiva de uma possível ameaça à
pluralidade e diversidade, por meio de uma unificação das rotinas produtivas. Entretanto, a
homogeneização depende do foco das estratégias de integração, se não houver diversificação
da pauta, colabora para a distribuição das mesmas informações, e reduz o cuidado com a
apuração dos fatos. Assim, a velocidade do processo de produção e distribuição
multiplataforma reflete na priorização da produção multimídia em detrimento da qualidade e
apuração dos fatos, que respaldam na credibilidade dos telejornais.
No que se refere ao nível técnico, editorial e ético no fazer telejornalístico na Rede
Record evidenciam-se a busca da preservação da ética, com base no jornalismo, e um
acirramento pela credibilidade entre os veículos e o público, com base na adoção das mídias
digitais:
Primeiro, questões éticas. Boa qualidade editorial é uma coisa para ser perseguida todo tempo, as novas mídias acirraram a competição entre os veículos, o que é excelente. Porque hoje eu não só comparo o noticiário brasileiro com as empresas brasileiras, mas comparo com empresas do mundo inteiro. Acho que o compromisso com um jornalismo ético não muda com o tempo. Eu acho que este compromisso não muda, é o compromisso do jornalista e da empresa, que é da sociedade. Então, eu estou aqui para dar minha contribuição da minha leitura do mundo e tentar ajudar a compartilhar esta minha visão, para que seja socialmente responsável, e eu acho que a tecnologia não afeta isso, eu acho que a tecnologia floresce e facilita a difusão. Na medida em que estas mídias vão entrando, a gente percebe o seguinte: a ética jornalística não muda, o compromisso com o interesse público não muda, a busca incessante da inserção e da ética, isso não muda. O que muda são as plataformas pelas quais estas coisas fluem. Então esta questão central não muda, ainda que estas plataformas tenham sofrido uma série de mudanças. (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa)
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Este acirramento entre veículos revela uma preocupação com a qualidade do produto
noticioso no que ser refere à credibilidade na perspectiva de manutenção da confiança do
público.
De fato muda, você integra e eu vou aproveitar um vídeo feito para internet, para um formato de televisão que o público quer ver, mas a gente tem uma linha editorial, um perfil de qualidade, tem o enquadramento, que para internet pode ser para visualizar, pode ser pequeno, acho que para televisão é outro, em relação a ética muda bastante, até porque ética da fonte, de apurar, não é só repassar aquele conteúdo, temos que manter esta qualidade, porque as pessoas não estariam só vendo televisão, de repente elas estariam no youtube (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Apesar da adoção das mídias digitais, o fator que assegura a qualidade técnica,
editorial e a busca ética no contexto de convergência ainda é o perfil profissional.
A tecnologia é muito importante. A tecnologia vai evoluir a gente tem que lançar a mão nela. Isso aí é tecnologia (celular) isso é fantástico! Eu carrego para todo lugar, não pesa quase nada, então me comunico, mando mensagem, e tal. Agora se não tiver um ser humano inteligente tocando este negócio. Até na formação do jornalista é dizer que o jornalista, ele não é um técnico de comunicação. Se você não prepara o ser humano para ser jornalista de fato, a preocupação social, política, ideológica, uma visão de mundo muito mais ampla, você acaba botando técnico de comunicação para fazer jornalismo. Você vai fazer informação barata, então o cara tem que ter uma visão de mundo e de ser muito criteriosa naquilo que ele tá veiculando. (Coordenador de reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Na abordagem do alto nível técnico, editorial e ético no fazer telejornalístico na Rede
Record evidencia-se que a busca da manutenção da ética como base do jornalismo está sendo
acirrada com base nas mídias digitais. Este posicionamento de preservação do nível técnico,
editorial e ético, reforça os vínculos de confiança, e credibilidade, para a manutenção dos
telespectadores, base de sustentação dos grupos de comunicação. Esta manutenção da
credibilidade está diretamente relacionada ao profissional de jornalismo, nas rotinas
produtivas noticiosas, que perpassam a relação com as fontes e apuração, priorizando uma
visão crítica e papel ativo no atual contexto de convergência.
A percepção da qualidade do fazer telejornalístico na Rede Record, que respalda a
credibilidade dos telejornais, está atrelada ao ponto anterior, que implica em uma produção
qualificada de alto nível técnico e editorial, e algumas vezes se veicula reportagens
deficientes: “Para o bem e para o mal! Para o mal, a gente publica coisa que não aconteceu,
porque as mídias são muito rápidas. Para o bem, a gente ajuda a divulgar coisa que no
passado nos impediam” (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista
157
concedida para esta pesquisa). O contexto de convergência jornalística também coloca
desafios para manter a qualidade nas rotinas produtivas.
Não afeta a qualidade, mas eu acho que ela impõe alguns obstáculos, às vezes, você recebeu a imagem do Estadão, ela tinha uma limitação, porque ela é parte de um acordo. Por exemplo, você está transmitindo uma notícia do esporte e ela tem limitação de uso. Então estas dificuldades que são legais, vamos dizer, mais do que tecnológicas. (Editor Executivo do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A questão da qualidade não se resume a um grupo de comunicação ou rede televisiva
especificamente, mas ao sistema de mídias televisivas, na tendência de replicação das notícias
de forma frequente.
Ela (a notícia) se multiplica e fica tudo muito parecido. Porque eu compro o Estadão, ou a Folha? Porque eu assisto a Record, porque eu assisto a Globo, porque há uma diferença, quando tudo fica muito parecido, se você abre o portal G1, você tem aquela notícia lá, você liga na CBN dá a mesma noticia, aí você assiste o jornal à noite na sua casa é com a mesma notícia, não te enriqueceu nada. Ao contrário, a diferença que te enriquece, o contraponto, que não só deve estar na linha editorial do noticiário, a forma de cobrir, a visão crítica de cobrir aquele tipo de coisa. (Coordenador de reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
No cenário de replicação de informações, a qualidade pode estar em buscar o
diferente nas rotinas produtivas noticiosas nas redações, como contraponto e reforço da
pluralidade dos veículos.
Quando não se tem uma diferenciação, o repórter tem que fazer o diferente. É mudar um pouco o texto. Você assiste a mesma matéria é completamente diferente. É engraçado isso. O repórter de rede ele tem essa flexibilidade de poder lidar como uma notícia que todo mundo esta dando. Ele sabe passar de uma forma diferenciada, tanto que ele tem uma visão diferente. Ele (Jornal da Record) pende para algo diferente, para produzir, eles (os repórteres) ajudam muito na produção, muito mesmo, dão toques. (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Contudo, o principal impacto na percepção da qualidade das notícias, que respalda na
credibilidade, em contexto de convergência jornalística ainda é a apuração.
Acho que teria que ter uma atenção redobrada, quando a gente passa uma notícia na mão de muita gente, de repente não se sabe mais se teve apuração, se aquilo foi da fonte, se foi alguém que escreveu. Um controle da qualidade, mas aí é um trabalho de jornalistas. Jornalista está aí para isso, independente de que forma venha esta informação. Ela sempre deve ser checada. Então é muito mais a responsabilidade de quem está fazendo, de vê aquilo ali e não repassar adiante sem checar. (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A percepção da qualidade referente ao fazer telejornalístico na Rede Record implica em
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variação na notícia como representação social da realidade cotidiana, institucionalmente
gerada que pode ser adequada ou deficiente na função de informar com credibilidade. Com a
adoção das mídias digitais, é possível publicar de forma mais rápida coisas que no passado
histórico do telejornalismo brasileiro não era permitido, pelo ostensivo controle das linhas
editoriais, como no regime militar. Esta facilidade de publicar acontecimentos é análoga à
possibilidade de veicular notícias que não foram devidamente apuradas. Esta questão não se
resume a um grupo de comunicação, ou mesmo rede televisiva, mas ao sistema de mídias em
que ha uma replicação das notícias, sem a devida apuração. Neste sentido, o contexto de
convergência jornalística também coloca desafios para manter a qualidade nas rotinas
produtivas, nas redações dos telejornais de início de noite em rede televisiva, com maior
apuração dos acontecimentos relevantes, que serão transformados em notícias.
No papel do jornalista no processo de integração nas redações dos telejornais na
Rede Record, com base nas estratégias de integração e processo de convergência, percebe-se
uma necessidade de participação ativa maior, no atual estágio de migração do analógico para
o digital, em que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis: “Eu acho que deveria ter
mais, quando o processo histórico muda, tudo muda, e se você não muda você vai ser
atropelado pela mudança. O processo histórico está mudando quer você não goste, quer você
concorde, está mudando” (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista
concedida para esta pesquisa). Na percepção dos profissionais dos grupos de comunicação,
esse é um processo que altera a própria dinâmica da profissão. “Quem ficar restrito ao
jornalismo que era praticado está fadado à extinção por inanição”. Porque não se consegue
mais, não existe mais a figura. Quando eu estudei jornalismo nos anos 90, era uma coisa
assim teoria da comunicação, se a formação não migrar para algo que te transforme em um
profissional mais dinâmico por regra e não por exceção, como é o meu caso. (Diretor de
Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa). Assim, o profissional de
jornalismo deve estar atento ao processo e as mudanças que vão ocorrendo na flexibilização
das rotinas, no atual contexto de convergência.
O jornalista, quando ele entra nesta profissão, ele tem que saber de tudo um pouco. Ele tem que gostar de tudo um pouco. Então o jornalista tem que estar adaptado a mudanças. Ele tem que gostar, ele tem que aceitar estas mudanças que ocorrem no decorrer, entendeu? O jornal hoje, ele tem que se adaptar a TV ele tem que se adaptar ao rádio, ele tem que se adaptar a todos os veículos, incluindo a internet que é o que mais cresce. (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
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Na perspectiva do papel dos jornalistas nas estratégias de integração e processos de
convergência evidencia-se a necessidade de participação mais ativa. Como desafio para o
jornalista de manter a qualidade da produção noticiosa, nos grupos de comunicação, que
formam as redes televisivas. A integração de espaço, ferramentas e métodos de trabalhos
resvalam em alteração da própria dinâmica da profissão, assim o profissional de jornalismo
deve ser um agente ativo as mudanças e estratégias que vão ocorrendo na migração das
rotinas, no atual contexto de convergência.
Na abordagem do descolamento do telejornal da TV e a distribuição
multiplataforma das notícias no fazer telejornalístico na Rede Record evidencia-se a
preocupação com a notícia que será veiculada nas muitas plataformas:
Eu compactuo desta ideia, só que no meio disso tudo, tem o que é o produto. O que é a pauta? A pauta eventualmente é mais visual, a pauta eventualmente ela pede um pouco um aspecto mais de texto ou ela pede um vídeo, pede imagem, pede uma interação imediata das pessoas. Eu procuro fugir um pouco da formula pronta, não por omissão, mas o produto mesmo tem variadas formas de se apresentar. Assim, e a partir do produto, a gente define a melhor forma de extrair o melhor daquele produto. Eu consigo fazer tudo isso com o celular hoje em dia. (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Neste processo de distribuição multiplataforma, a preocupação dos grupos de
comunicação, ainda está veiculada em como registrar os índices de audiência somados aos
acessos para além da TV, nas mídias digitais.
Hoje a gente pensa em produzir só para TV, mas é uma questão que eu acredito que com o longo dos anos vai mudar completamente. Até porque hoje, o Ibope de uma televisão é medido apenas com um só aparelho o peoplemater, mas a ideia do Ibope é fazer com o tempo uma contagem com uma mesma notícia em outros meios de comunicação, eles têm a ideia de unificar. Na televisão deu 10 pontos, mas no site deu isso, nas redes sociais deu aquilo, fazer uma audiência geral daquele mesmo conteúdo. (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Entretanto, a produção televisiva já está disponível em mídias digitais, até porque a
base de produção dos meios televisivos e digitais compartilha o mesmo formato digital, ou
seja, os grupos de comunicação já estão estruturalmente pré-dispostos para a distribuição
multiplataforma. “O ponto é este: distribuição. Eu tenho que estar em todo lugar. Eu faço um
vídeo que ele é captado em HD, pela TV, e eu quero colocar ele em HD no portal. Eu tenho
que ter equipamento para isso. Então, isso sim é um fluxo de produção, que é todo pensado
junto, se não uma coisa vai dessincronizar da outra”. (Diretora de operações do R7, em
entrevista concedida para esta pesquisa)
O descolamento do telejornal da TV e a distribuição multiplataforma das notícias no
160
fazer telejornalístico na Rede Record se evidenciam na preocupação com a notícia que será
veiculada nas muitas plataformas. Porque, com as redações integradas horizontais de veículos
distintos surgem duas características, uma referente: a notícia multiplataforma, e o
descolamento do jornal do meio original televisivo. Uma questão é que o modelo de
sustentação dos grupos de comunicação, que forma as redes televisivas, ainda está veiculado
em como registrar os índices das audiências, somado aos acessos em meios digitais, para além
da TV. O ponto central para as rotinas produtivas é o desafio de repensar a pauta para esta
distribuição, como um modo diferenciado de informar o cotidiano, com credibilidade. Esta
questão do descolamento dos conteúdos da TV já ocorre através da tendência de distribuição
das notícias em meio televisivo por oferta, e em mídias digitais por demanda.
No que se refere ao cenário de ampla circulação de informações no fazer
telejornalístico na Rede Record aponta-se a percepção de que os telejornais de início de noite
se deparam com o desafio de informar acontecimentos de ampla repercussão de forma
diferenciada:
Este é um problema que a gente tem aqui todo o dia. Nosso horário é nove horas, a gente discute, aí em cima, a gente: vai dar isso aqui? Espera um pouquinho, isso está na página do site deste de manhã. Negativo! Ou nós arrumamos alguma coisa dentro desta notícia, por um outro viés, que as pessoas não deram ou então não damos. Porque eu não vou repetir às nove da noite o que os sites deram o dia inteiro, aí depois teve o Jornal da Record, o Jornal da Globo, o Jornal do SBT o Jornal da Band, depois nós entramos no ar, repetindo as mesmas coisas? Não! (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Uma perspectiva que se apresenta nas rotinas produtivas, frente ao cenário de ampla
circulação de informações, é o cuidado com a informação até a veiculação, que alguns
profissionais denominam de “curadoria da notícia”. “Aí você tem a curadoria de conteúdo, e
aqui no R7 tem muito isso: como eu vou dar este conteúdo de uma forma que ninguém deu?
Como eu vou apresentar isso de uma forma que se torne atraente para o cara que está vendo o
jornal do Heródoto tarde da noite? É um desafio!” (Diretora de operações do R7, em
entrevista concedida para esta pesquisa). Mesmo frente à ampla repercussão de um
acontecimento, não se pode descuidar da parte do público que não teve acesso aos meios
noticiosos durante o decorrer do dia.
Eu acredito que a grande maioria da população tem uma rotina muito diferente da nossa, a gente está muito mais sujeito a ser um canalizador de informações o dia inteiro, na nossa profissão. A gente vê números que mais da metade da população do Brasil está conectada, hoje no Brasil cem milhões de pessoa têm acesso a internet, mas tem 100 milhões de pessoas que não têm acesso a internet. Se a gente pegar, metade da população não recebe informação durante o dia, mas uma grande porcentagem que tem a informação na hora do almoço com o amigo, mais uma
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porcentagem outra que não tem este leque. A gente vai chegar a um número muito reduzido de pessoas que são bem informadas todos os dias, todas as horas. Então, o jornal da noite acaba cumprindo ainda um papel muito importante. Eu assisto ainda o jornal, mesmo eu trabalhando com internet, com jornalismo e com todas as possibilidades, tem coisas ainda que passam por mim. (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Este desafio dos telejornais, frente à adoção das novas mídias, se aparenta como uma
reprise do que a televisão colocou ao jornal impresso. Mas que na essência ainda mantém a
busca por índices da audiência, que nem sempre é benéfica para a credibilidade do telejornal.
Este é o grande problema, e as televisões vivem hoje com a internet o desafio que a televisão trouxe para o jornal. Dizem que no dia que o Jornal Nacional estreou, no dia 1o de setembro, uma segunda-feira, em 1969, Roberto Dinis na redação do Jornal do Brasil disse: olha mudou tudo agora. A gente tem que fazer jornal, levando em conta o que a televisão deu. Até então, você não tinha um telejornal em rede, colocando no fim do dia as notícias do dia. Salvo engano, ainda se resume a olhar a escalada do Jornal Nacional e falar: temos isso?, temos aquilo? E a preocupação de ter ou não ter, independente de se ter alguma coisa, que se aprofunde na aquilo. É o medo de ser furado pelo Jornal Nacional. Eu acho que no caso das televisões abertas no Brasil, este desafio me parece que é um desafio subestimado em relação ao desafio maior que é: O que eu faço com este material que eu tenho que é um noticiário do dia tal? como eu posso captar e registrar? o que eu faço para que ele me dê mais um ponto de audiência? A preocupação hoje predominante é esta, eu acho que ela consome tanto, que você mal tem condições de formular bem, considerado estas estratégias de audiência. (Editor sênior do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O desafio maior não está só na informação qualificada, mas na quantificação de
informação atrelada à busca pela manutenção e ampliação dos índices de audiência.
Eu sempre falo que muita informação é nenhuma informação. A boa informação é aquela que te dá um caminho, olha que coisa escandalosa, tem que dizer isso, nós vamos cobrar não sei a quem. E você forma uma consciência nas pessoas. Isso é jornalismo! A boa matéria é aquela que causa indignação do leitor, do telespectador, do rádio ouvinte. Ela cumpre a finalidade, entendeu, cumprir a finalidade o resto é assessoria de imprensa. Eu acho assim, informação demasiada não significa está bem informado, por quê? Porque é o seguinte, hoje você tem em quase todos os meios de informação uma ampla cobertura de assuntos policiais, mas você não vê uma contextualização desta coisa toda. Porque a pauta é feita por audiência em todo lugar, isso dá audiência? Lá na TV Globo, eu fazia reunião do Jornal Nacional: essa matéria a gente não quer porque não dá audiência. (Coordenador de Reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A circulação ampla de informação, no contexto de convergência, impõe desafios que
refletem na aceleração das rotinas produtivas nas redações de notícias sem profundidade.
Passar uma notícia que já foi dada o dia anterior? É a diferença da notícia, se você souber passar de uma forma diferente. Eles (Jornal da Record) gostam de uma notícia que esteja de forma mais fechada possível. É basicamente isso. Eles (Jornal da Record) querem que dê a notícia, mas que seja resumida, eu vou abrir o site, abro o G1. A notícia a cada dia tem que ser mais rápida… e a cada dia está se tornando mais resumida. (Produtora de Rede na TV Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
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O direcionamento para minimizar os impactos de uma ampla circulação de um
mesmo acontecimento, recai na atualização, bem como os desdobramentos dos fatos.
Trazer o novo, sempre ver se não tem nenhuma novidade dentro daquilo, dentro dos nossos limites mesmo de equipe técnica. Uma notícia que seja vinculada pela manhã e a tarde pode ter algum desdobramento. A gente vai utilizar aquele mesmo material, mas a gente acrescenta, tenta a informação principal na cabeça, que o apresentador vai dizer. A gente tenta colocar um mochilink, como um repórter à noite. Nem que seja para mostrar como está a situação atual. Então a gente tenta trazer pelo menos o máximo de informações novas. (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Contudo, cada vez mais os telejornais do início de noite terão que considerar que
parte da reportagem, a contextualização, deve ser mais breve, pois grande parte do público já
teve contato com a informação e está buscando os desdobramentos dos fatos, em notícias
atualizadas.
Este é um desafio diário. Você tentar tornar a notícia que já está totalmente cansada durante o dia, em notícia atraente. Este é um desafio que a gente enfrenta todo santo dia. E aí, é a forma de contar a história. Se tratando de televisão, de telejornal, o assunto do dia, todo mundo vai querer ver, e todas as emissoras sem exceção, vão falar sobre ele exaustivamente. Então, a gente tenta se diferenciar no texto. Este é nosso atrativo! (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Frente a um cenário de ampla circulação de informações, os telejornais da Rede
Record se deparam com o desafio de se manter como um lugar de referência, e principal fonte
de informação de maior audiência e credibilidade entre os jornais de TV. Neste desafio está
agregada a preocupação com parte do público, que não teve acesso aos meios noticiosos
durante o dia, por meio do recurso de contextualização nas reportagens, principalmente para
factuais, que possuem certa distância temporal. Entretanto, a resposta para este desafio, não
necessariamente está na reprise dos fatos, mas na essência da busca de índices de audiências,
com os fatos, que nem sempre são benéficos para a credibilidade do noticiário, pois nas
rotinas produtivas podem prescindir, na notícia, da apuração e profundidade.
Na perspectiva do objetivo da integração das redações na Rede Record percebe-se
uma tendência a ver o processo com a desconfiança de redução de custos operacionais e
maximização da produção, como fator de compensação das perdas de público e receitas
publicitárias:
Quando se fala em empresas, o objetivo principal é reduzir custos. Claro que existe a vantagem de melhorar a capacidade profissional daquelas pessoas, mas não dá para fechar os olhos para o fato que, impreterivelmente, primordialmente, a gestão é reduzir custo. A empresa está interessada em ter o melhor serviço possível, pagando
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o mínimo possível. Isso em toda e qualquer empresa de qualquer lugar do mundo. Capitalismo selvagem! (Apresentadora do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
A perspectiva empresarial está conduzindo o processo de migração do analógico para
o digital nas redes televisivas em que os telejornais dos grupos de comunicação compõem,
ofuscando o cuidado com a qualidade do produto noticioso.
Diminuir custo e aumentar produção gera dinheiro para o empresariado. Olha, para isso precisa de uma visão do empresariado muito diferenciada. Porque se eles acharem que integrar é reduzir, e se eles vão achar que isso vai dar certo, eles vão estar como profissionais trabalhando o dobro. Eu acredito que não! Quanto mais você tem um trabalho fragmentado, que as pessoas podem fazer com excelência, aquela função que elas são contratadas para exercer, eu acho que o trabalho vai ter mais qualidade. (Editora Chefe do Jornal da Clube, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Contudo, percebe-se que existem outras abordagens para além do anseio empresarial
por redução de custo, mais relacionadas às sobrevivências dos grupos de comunicação, que
formam as redes televisivas.
Não! ela não reduz os custos não. Eu acho o seguinte, as empresas têm que fazer isso porque não há alternativa, ou você faz ou você vai ser atropelado. Não é uma questão de querer e não querer. Mudou o processo histórico, mudou o paradigma. Esta é uma coisa que está em construção aqui, nós estamos construindo isso aqui dentro, acho que nós já demos muitos passos, há muitos outros que podem ser dados, mas alguns de nós ainda estamos apegados ao passado. (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa)
No que se refere ao objetivo da integração das redações no fazer telejornalístico na
Rede Record percebe-se uma tendência de percepção do processo com a desconfiança de
redução de custo e maximização da produção, colaborando com o argumento de que os
grupos de comunicação tentam reverter o fluxo migratório de audiência dos meios
tradicionais para os digitais, colocando as redações integradas como estratégia, para atender a
demanda com o menor custo de produção. Assim, na percepção dos entrevistados o norte
empresarial parece estar conduzindo as estratégias de integração nas redes televisivas, em que
os telejornais dos grupos de comunicação compõem. Contudo, percebe-se que o anseio
empresarial por redução de custo, como compensação de perdas de público e receitas, não
colabora para o modelo de sustentação que possa desenvolver os meios de comunicação
tradicionais na junção com as mídias digitais, unindo credibilidade e rentabilidade no atual
contexto de convergência.
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No que se refere ao modelo confiável de convergência no fazer telejornalístico no
Grupo Record está relacionado a um conjunto de experiências anteriores, de outros grupos de
comunicação impressa sem a obtenção de resultados consideráveis: “No início dos ano 2000,
houve tentativa de experiência de fazer isso. Me lembro do caso do Washington Post, que
como a internet trabalha 24 x 7, e o jornal tem a cultura de trabalhar para edição do dia
seguinte isso foi uma coisa (Negativa)” (Editor sênior do Jornal da Record, em entrevista
concedida para esta pesquisa). Tais tentativas no Brasil, de aproximação entre mídias digitais
e meios tradicionais, não resultou em experimentos bem sucedidos, pelas incompreensões de
como sustentar este novo negócio de comunicação, em que envolvem diferenças significativas
na rotina produtiva, principalmente no tempo da distribuição das notícias.
Na bolha da tecnologia no fim da década de 90, tudo que se falou sobre convergência estava num contexto de especulação financeira em torno destas empresas. Então havia previsões que não se confirmaram. As histórias dos principais jornais americanos e europeus impressionam: Como jornais tão poderosos no século XX se atrapalharam com as novas tecnologias? Como entrar em uma nova forma de negócio de comunicação? Foi para todos eles um problema e fonte de prejuízo. Porque um veículo de comunicação que foi durante certo tempo nas sociedades democráticas liberais do capitalismo uma chamada fonte de quarto poder, com influência nos jogos do poder, como o Washington Post que foi o pivô do impeachment do Nixon, e como é que se explica que: empresas com tamanha importância naquele mundo político e econômico não estivessem preparadas para as novas tecnologias. Então eu acho que a discussão sobre isso tem que primeiro filtrar os interesses especulativos, e desconhecimento natural de como era o negócio. Porque era uma coisa nova. O tempo pode ser uma chave para se entender isso também. Os jornais trabalhando na medida das 24 horas, depois você tinha a TV com a média das 12 horas, na internet você inaugura o 24 x 7. Então você tem uma relação com o tempo e a produção. A internet e o fim das edições. Neste quadro, falar de convergência, o que a gente pode ver foi de um lado muita falação sem prática, e segundo, uma experiência que eu acredito que tenha sido na base da tentativa e erro. (Editor sênior do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Não só as experiências dos grupos estrangeiros, mas os grupos de comunicação
brasileiros fizeram algumas tentativas pontuais, entre meios tradicionais, impresso e
televisivo. “A Globo, no começo da Revista Globo Rural, a redação era a mesma redação do
programa Globo Rural (TV), fizeram isso por um tempo, depois descobriram que não dava
certo, porque as linguagens são diferentes, as linguagens são muito diferentes, o jornalista tem
que se adaptar a todo tipo de linguagem, mas as linguagens são diferentes” (Coordenador de
Reportagens especiais, do Jornal da Record, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Novas tentativas e experimentos continuam sendo realizadas no Grupo Record, o
projeto envolve o Jornal da RecordNews e o Portal R7, que estão relacionados aos novos
desenhos de rotinas produtivas, em um caminho que apresenta possibilidades mais confiáveis,
entre o meio televisivo e os meios digitais. Entretanto, estas novas tentativas são conduzidas,
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pela busca de modelos de sustentação econômica, para o conjunto de meios tradicionais, que
adotaram operações em mídias digitais.
O projeto do Jornal da RecordNews, ele foi criado para ser um jornal transmídia, com integração em redes sociais e tal. Com o telejornalismo é muito mais fácil porque você tem o call to action (CTA) do narrador, do apresentador, do jornalista ele mesmo pode chamar aquilo, para novela, para show para tudo você tem que fazer uma ação mais pensada. Para aquilo ficar mais natural dentro do programa que muitas vezes é gravado, para novela você faz um trabalho assim. Mas para jornalismo é muito natural você ter um grupo de mídia que tem todos os pilares, porque não fazer esta convergência naturalmente para dentro do portal. (Aline Sordili, Diretora de operações do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Embora a relação entre meios televisivos e mídias digitais represente um caminho
promissor, os grupos de comunicação ainda possuem muitas incertezas na busca por formas
de sustentar economicamente, na configuração dos meios tradicionais, com a adoção das
mídias digitais.
Esta mudança do jornalismo com o advento das novas mídias associada às mídias velhas é um processo irreversível. Eu acho que o que está acontecendo no Brasil, de certa forma, é que as empresas de comunicação, de maneira geral, não sabem ainda como elas vão manter ou aonde virá à sustentação econômica. Ou seja, o volume que tem hoje de publicidade para manter a mídia aberta. Estou falando de jornal, revista, rádio, televisão e etc... ela tem diminuído porque ela tem migrado pata outras mídias, ou para outras atividade de marketing, que não exatamente são mídias. Então, isso faz com que as empresas fiquem agarradas ao modelo antigo. Se eu não tenho o faturamento da publicidade para onde é que eu vou? como vou manter a empresa? Então, por ter colocado em cheque também o modelo de negócios, que é este que se utiliza da exibição de publicidade, para manter empresarialmente o negócio. Mudou o modelo de negócio e o chão está faltando lá em baixo. (Apresentador e editor-chefe da TV Record SP, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Dentro dos experimentos e das incertezas, alguns resultados e perspectivas guiam o
processo de convergência de forma conservadora, em que os portais completam a televisão.
Assim, os meios digitais estão sendo configurados para manter e ampliar audiências dos
meios atuais, na perspectiva do modelo de sustentação dos grupos de comunicação
tradicionais.
Agora a gente vive um momento favorável, que no começo era TV com DNA de TV, todo mundo de TV, todo mundo entendia a linguagem de TV. Aí o cara ia para web, não sabia o que fazer, botava uma parte do conteúdo na web, era tentativa e erro. Pela experiência que a gente trouxe de saber que a web complementava a TV e a TV podia complementar a web. Isso é resultado da segunda tela, pessoas que assistem TV, com o computador interagindo com os amigos ou com a plataforma. No nosso caso a gente usa muito isso pela plataforma, a gente faz com que eles assistam, se eles tiverem assistindo a TV que eles interajam com a gente na internet, a gente faz um cross com a TV. Este foi o caminho bem-sucedido que a gente encontrou. A gente não simplesmente reproduz a TV. Na segunda tela, a gente
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estimula que as pessoas que estão assistindo a TV, o façam junto com o computador ou posteriormente se não viu o programa que continue a ecoar. (Diretor de Conteúdo do R7, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A perspectiva de convergência dos grupos de comunicação reforça uma tendência
conservadora de compensar as perdas de público e receitas publicitárias, com uma tendência
de redução de custos operacionais, por meio das estratégias de integração de redações; e
maximização da produção telejornalística, com perfis profissionais polivalentes e distribuição
de conteúdos concomitantes em meio televisivo e mídias digitais. Esta perspectiva de
reconfiguração dos meios tradicionais com a adoção das mídias digitais ocorre na busca de
um modelo de sustentação econômica, dos grupos de comunicação, em migração de caráter
conservador que se evidenciam as Rotinas Produtivas Flexíveis. Contudo, o ponto que
dificulta ou retarda o estágio migratório para um modelo convergente sustentável é a ausência
de um processo de convergência confiável que equacione a rentabilidade dos grupos de
comunicação, com um produto noticioso que informe com credibilidade ao público. Visto que
as aproximações entre mídias digitais e meios tradicionais, ao longo da história, também não
resultaram em experimentos bem sucedidos, pelas incompreensões de sustentar este novo
negócio de comunicação, em que envolvem as divergências na rotina produtiva,
principalmente no tempo da distribuição das notícias. De forma aparente, a justaposição entre
meio televisivo e meios digitais, abre-se um caminho de possibilidades positivas, embora o
processo de convergência seja conservador centrado na manutenção e ampliação de
audiências.
5.5.2 Rede Globo
Sobre integrações e convergência no fazer telejornalístico na Rede Globo evidencia-
se que as estratégias de integração não são algo novo e que na história dos grupos de
comunicação já ocorreram tentativas de integrar a produção dos meios tradicionais, antes da
internet e do atual contexto de convergência jornalística:
Eu acho que pode haver uma integração de informações, mas você botar uma emissora de rádio, na redação de uma televisão, ou na redação de um jornal, isso não vai ser produtivo. Vai ser produtivo uma central de informações. Há quarenta anos, quando eu trabalhava no Jornal do Commercio, tinha a central de notícias e ela centralizava Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco, rádio e televisão, todas as informações ficavam ali naquele setor, eu trabalhei nesta central de notícias, quando chegava as informações, imediatamente passava para todo os setores, as informações, mas a produção e a linguagem cada um cuidava do seu, porque são profissionais que têm habilidades diferentes. (Repórter de Rede da Globo Nordeste,
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em entrevista concedida para esta pesquisa) Mesmo em uma integração horizontal entre televisão e meios digitais, ainda prevalecem
como tendência às características, especificidades e rotinas produtivas dos meios.
A internet eu posso integrar, o que a gente faz aqui é trabalhar um tema na internet e na televisão, mas cada um terá sempre seu espaço, a internet tem que ser o veículo que dá em primeira mão tudo. Ela terá suas investigações, suas reportagens detalhadas, que na televisão é mais difícil de fazer. Mesmo em programas especiais, mesmo em histórias que nós possamos vir a fazer. Ela (internet) tem um papel, a televisão tem outro papel. Mas eu acredito assim, não é porque eu faço televisão há 30 anos, mas eu continuo querendo e acho que as pessoas querem ter certeza que aquilo está acontecendo. Eu acho que nós poderemos convergir talvez no uso da tecnologia comum, a imagem que está na internet, esteja indo ao ar na televisão. A instantaneidade da internet, que você tenha na televisão. Mas, você vai ter alguém que faça para internet e alguém que faça par TV. (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Mesmo compartilhando a mesma redação, de forma física, as equipes da TV e do
portal G1 trabalham separadas, embora existam cooperações na produção noticiosa.
A relevância que eu acho é esta colaboração do G1 ter as informações e passar para a TV, ou vice-versa, mas cada um tem sua equipe. Uma integração que a gente tem de profissional é Anderson Melo na TV como apresentador, editor do ABTV 1ª edição, produtor e apresentador do Jornal das 7 da Globo FM. Como Almir Vila Nova fazia. (Na redação) está todo mundo junto, mas é como se tivesse uma divisória. A gente está integrada fisicamente, porém cada meio tem sua equipe. Mas eu acho que a tendência é realmente esta. (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista concedida para esta pesquisa)
Na perspectiva das integrações e convergência no fazer telejornalístico na Rede Globo
evidencia-se que o processo não é algo novo. As tentativas de integração mostram que a
possibilidade mais confiável está no compartilhamento de conteúdos, sem a necessidade de
integrar fisicamente as redações dos veículos e meios, possibilitando a distribuição e
compartilhamento de informações, por canais de integração digitais. Assim, mesmo em uma
integração horizontal entre televisão e meios digitais, prevalecem as propriedades dos meios,
ainda que compartilhem fisicamente uma mesma redação, as equipes das mídias televisiva e
digitais trabalham separadas, mas naturalizam as formas de atuação cooperativa e
colaborativas na produção noticiosa.
As possibilidades de atuação no fazer telejornalístico na Rede Globo apresentam
limites para a atuação profissional no contexto de convergência jornalística: “Eu acho que
trabalhar no veículo separadamente é uma oportunidade melhor, essa história de integrar só
seria bom para os patrões. Porque ele iria economizar e iria ter uma mão de obra que tá
168
fazendo o trabalho de três” (Repórter de Rede da Globo Nordeste, em entrevista concedida
para esta pesquisa)
O processo de integração exige mais do profissional e ao contrário de ampliar as
possibilidades, o profissional muitas vezes se depara com a necessidade de escolher onde
atuar e não necessariamente poder conciliar ou acumular funções.
Eu acho que ainda tem as questões de cunho ideológico. Não basta o fato de, digamos, ter esta capacidade de atuar em vários (meios). O profissional atua em uma redação em várias funções, mas ele vai ter a consciência que alguma coisa ele não vai ter domínio. Ele deve estar com os pés no chão com relação a isso. Acho que um momento ele vai ter que optar, porque ele não domina tudo o tempo todo. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Neste estágio de migração do analógico para o digital alguns profissionais atuam em
meios tradicionais e digitais.
O GE tem muito mais importância nessa coisa de troca de informações do que o G1 com a TV. A equipe de esporte hoje é formada basicamente pelo Globoesporte.com (GE) e por um repórter da TV, então muitas vezes Franklin Portugal, que não faz apenas esporte, mas é o repórter de esporte. Ele pode estar no fatual e aí a gente precisa fazer uma matéria do Central e Porto, por exemplo, então a equipe do Globoesporte.com vai fazer a matéria tanto para o GE.com quanto para a TV. Ele constrói o texto para internet, e faz TV. (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Diferente da TV é nos meios digitais, que estão em uma relação de proximidade física,
compartilhando a mesma redação com o meio televisivo, que a atuação profissional é
naturalizada na perspectiva de unir polivalente funcional e temática.
No G1, a gente tem a possibilidade do vídeo, tem a possibilidade da foto, da estética, da escrita e isso exige muito da nossa capacidade profissional, da questão da polivalência, fora áudio, que é importante no vídeo, apesar de não ter podcast (no portal), mas os demais, sim. Eu faço stand-up, para o G1, eu faço vídeos específicos, faço entrevistas, e isso amplia nossas possibilidades de desenvolvimento na carreira dentro da profissão. (Editor e Repórter do G1, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Com relação às possibilidades de atuação no fazer telejornalístico na Rede Globo
evidencia-se uma percepção de desafio para a atuação profissional no contexto de
convergência jornalística, na passagem das rotinas produtivas centradas nas estruturas
analógicas, para as digitais. As possibilidades de mudanças de atuação em funções
tradicionais e novos cargos dentro dos meios digitais, além da perspectiva polivalente
multimídia, existem a necessidade de escolha, pela divergência entre os meios digitais e
televisivos.
169
A flexibilização profissional no fazer telejornalístico no Grupo Globo apresenta
situações de profissionais que compõem a equipe dos telejornais, em que nas rotinas de
produção cotidiana, que envolve a demanda de rede, ocorrem polivalência funcional:
O repórter do dia a dia ele já começa a trabalhar muitas vezes às 4h da manhã, não pode ser chamado para editar, seria inadmissível. A não ser que fosse uma matéria para o Jornal Nacional. Em que o Jornal Nacional vai querer saber o que é que tem, vai querer conversar como repórter, vai querer saber como está a matéria. Mas aqui ele já conversa diretamente por telefone, ou por mensagem de celular (whatsapp). Rambrandt Jr. faz todos os textos dele no celular e manda para aqui, então há esta comunicação. Porque não se pode exigir deste que trabalha oito, nove, dez horas, que ainda venha para fazer edição da matéria dele. (Repórter de Rede da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Como os repórteres estão normalmente na produção fora da redação, e ocorre a
necessidade de maior colaboração de outros membros da equipe, o apresentador torna-se uma
opção viável de flexibilização na construção da notícia.
O repórter é mais difícil contribuir com outras questões. Porque você sai da redação, está na rua, não tem ninguém, está impossibilitado de ajudar o outro, certo. A gente trabalha em equipe, e quando há uma necessidade de ajudar o outro isso acontece. Não tem nenhuma regra, eu sou apresentadora, vou à produção, e não só no vídeo. A gente ajuda também na produção do telejornal, que inclui edição e produção em si mesmo. (Apresentadora do NETV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Nos grupos de comunicação existem incentivos e reconhecimento dos profissionais
que atuam de forma polivalente multimídia.
Quando eu cheguei foi em 2006, eu percebi que já existia uma cultura de incentivo aos profissionais que estão aqui para novos desafios, novas tentativas, o G1 é um exemplo disso. Porque o G1, muito embora tenha tido o apoio e o treinamento dado com a equipe da Globo.com, que faz esta visita em todas as afiliadas para implantar o portal. De certa forma todo mundo que ficou no G1 já era daqui. Então, estas pessoas foram redirecionadas em algumas outras atividades, seja aqui na produção, ou em outros departamentos e elas passaram a compor a redação do G1, eram jornalistas, claro, mas ficaram naquela função especificamente. Então, faz parte um pouco da cultura daqui de trazer as pessoas que já são daqui para novas atividades. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A flexibilidade funcional e temática se apresenta como uma tendência e a flexibilidade
de multimídia como uma perspectiva profissional, com um anseio e orientação empresarial,
no contexto de convergência jornalística. “Existe, na verdade eu acho, que isso é uma
tendência do jornalismo. A tendência é a pessoa ser aproveitada em outros setores. Aqui a
gente sempre faz isso com os profissionais. É bom para a empresa e também para o
profissional” (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista
170
concedida para esta pesquisa). Este perfil especial de jornalista polivalente, seja funcional ou
midiático, acaba exigindo rotinas diferenciadas para o profissional. Eu tento separar ao máximo o tempo de cada um. Eu chego às 6h, preparo os últimos detalhes do jornal, apresento, desço e me dedico à TV. Até a reunião de pauta às 14hs, quando saio da reunião a minha cabeça é focada para o rádio. Então, até 06h30, 7h da noite o tempo é dedicado a ele, claro se eu tiver uma demanda, um repórter pede para corrigir um texto, eu não vou negar, já que estou no mesmo ambiente. Mas o máximo de dedicação eu tento separar o tempo de cada veículo, para um não prejudicar o outro. (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Não é difícil, nos grupos de comunicação que compõem as redes televisivas, encontrar
exemplos de profissionais polivalentes multimídia.
Eu acho que quando é um profissional que está adaptado a todos os veículos, ou pelo menos três veículos, ele sabe como se comportar em uma situação dessas de estar fazendo rádio e ir para o jornal, e de fazer televisão, agora tem a diferença. Heródoto Barbeiro, ele é um dos que tem esta preparação para ir para rádio, para fazer (televisão). Tem muitos que estão preparados para sair do estúdio do rádio e ir para uma redação da TV, existem muitos profissionais assim. (Repórter de Rede da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A flexibilização profissional no fazer telejornalístico no Grupo Globo apresenta nas
rotinas produtivas a adoção tecnológica, as necessidades e as regras das redações,
colaborando para a ampliação das funções dos jornalistas, de forma colaborativa na produção
do telejornal. Este fator propicia na rede televisiva uma tendência de polivalência, em especial
a funcional, exigindo rotinas diferenciadas para o profissional. Neste sentido, a polivalência
temática, funcional ou midiática, de forma naturalizada de flexibilização profissional ofusca a
orientação empresarial, colocando atuação entre diferentes veículos, meios e atividades, como
a melhor forma de produzir conteúdos no atual contexto de convergência, apontando a
perspectiva de atuação multimídia.
A abordagem sobre autonomia e pluralidade nas redações no fazer telejornalístico
da Rede Globo aponta que não há interferência direta na linha editorial, nos processos de
convergência jornalística, ocorrendo apenas diferenciações na estratégia de distribuição da
informação:
Não interferir na linha editorial. Isso não seria problema, são discussões assim que é importante noticiar, o que é noticia? Ela não está muito vinculada à velocidade do meio. Se a gente percebe que aquele fato é uma notícia importante, que vai interferir na vida das pessoas, e a gente está como esta notícia checada. A gente pode dar no primeiro veículo, pode dar na internet, mesmo que depois a gente amplie a apuração, pesquise os desdobramentos desta notícia e coloque no telejornal uma matéria mais completa. (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
171
Embora não ocorra uma interferência direta, algumas barreiras se apresentam para a
autonomia dos veículos integrados, e para a pluralidade nas redações.
Na questão da pluralidade, eu acho que um fenômeno que me parece muito evidente é que houve um grau muito elevado de despolarização das redações. E esta despolarização, ela fatalmente empobreceu o conteúdo de criticidade do que é produzido jornalisticamente. Houve uma certa naturalização das coisas, dos escândalos políticos e econômicos e tal. Está se passando uma certa borracha no papel cidadão, que aquele jornalista deve ter com ele presente o tempo inteiro. Então estas compactações, e às vezes o jornalistas que faz muita coisa ao mesmo tempo não sei se é de todo positivo. No processo de construção destes veículos, eu não acredito que exista uma interdependência no modelo de construção da notícia, na condução dela e na publicação. Porque tem conteúdo de um que não vai para TV e vice-versa, ou do GE, mas já há uma mesma perspectiva. Assim, não há esta autonomia porque já nasce como os pontos de vista mais ou menos amarados. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A divergência entre os meios ajuda a inibir a redução de autonomia na relação entre
os meios, nas rotinas produtivas.
Às vezes tem esta coisa da divergência, porque o que se prega na TV, de acordo com as regras da Rede Globo, não é a mesma coisa do que se faz no G1. As diretrizes são as mesmas, são as diretrizes das Organizações Globo, mas há diferenças. Na TV a gente pode dá o nome da vítima, no G1 não pode. Tem alguns vídeos que a gente recebe dos telespectadores ou internautas que na TV, não vai, mas no G1 vai. Acho que por temática, pois a qualidade (técnica), hoje em dia, a Globo não tá mais vendo. (da colaboração dos internautas). (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista concedida para esta pesquisa)
Nas rotinas cotidianas, compartilhando fisicamente uma mesma redação, o foco de
produzir visando o veículo que o profissional está vinculado e a natureza dos meios, em
determinadas situações esbarra na divergência.
Existem as divergências de fato e existem as convergências. Por exemplo, a gente tem a necessidade de ser ágil, mas às vezes esta necessidade, ela cai, porque a gente tem toda uma série de análise de cuidado com aquele material antes de publicar. Se uma pessoa mandar um vídeo pelo whatsapp e autorizar a televisão a usar, eles podem usar normalmente. Já para a gente não. Então, até a gente conseguir a autorização para usar aquele vídeo, a TV às vezes já deu. Então, a gente pega o vídeo pela TV e pode deculpar. A responsabilidade sobre os direitos autorias daquele vídeo se tiver alguma broca vai para a TV. O G1 tem a necessidade de estar a todo o momento com notícias novas, a gente tem que correr atrás, e nem sempre há essa integração entre as duas redações. (Editor e Repórter do G1, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A abordagem sobre autonomia e pluralidade nas redações no fazer telejornalístico na
Rede Globo evidencia que o contexto de convergência não interfere na linha editorial, em
função dos compromissos dos veículos com a credibilidade que perpassa pela pluralidade na
172
construção da notícia. As barreiras que se apresentam para a autonomia dos veículos
integrados, e para a pluralidade nas redações, dependem do foco das estratégias de integração,
refletido na homogeneização das pautas, e o descuido com a apuração dos fatos. Nas rotinas
cotidianas, a divisão física de uma mesma redação abre espaço para divergência. E
contraditoriamente, as divergências dos meios preservam a autonomia na relação entre eles.
No que se refere ao alto nível técnico, editorial e ético no fazer telejornalístico na
Rede Globo evidenciam-se a necessidade da apuração e a busca pela informação correta: “Eu
acho que, com a gama de informações que ele (jornalista) está recebendo, o filtro destas
informações, que é fundamental ele saber exatamente o que é correto, quem falou isso? quem
é a fonte? Pede por escrito, pede a confirmação, manda gravar com ele ao vivo. Isso é uma
coisa fundamental você ter na integração” (Repórter de Rede da Globo Nordeste, em
entrevista concedida para esta pesquisa). Parte da qualidade e da ética do veículo recai sobre
os valores e o compromisso ético dos profissionais que formam as equipes do telejornal.
Ética para mim, uma pessoa tem ou ela não tem. Valores você tem ou você não tem. Então, são coisas que são do ser humano, elas antecedem ao jornalismo. Agora, como em toda profissão, somos seres humanos, somos passíveis a ruído, este tipo de coisa. Existem pessoas que você pode ir corrigindo ao longo da vida, mas para mim são valores que você tem como cidadão (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
E este cuidado com a apuração e os valores éticos está para além da integração entre
meios tradicionais e digitais. “Acho que preocupação com a ética é muito mais abrangente do
que o formato de veiculação da notícia. Eu acho que a preocupação, a honestidade de levar a
informação, eu não vejo como a integração de duas mídias pode interferir na ética
jornalística” (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta
pesquisa). Contudo, o acesso cada vez mais fácil às informações, em função da pulverização
tecnológica nas sociedades liberais democráticas e nas redações favorece o descuido com a
apuração dos fatos.
Há um risco maior com a tecnologia: os deslizes (falta de apuração). Eu acho que a tecnologia não influencia na questão ética, mas talvez dar ou não dar esta informação, por que foi postado em uma rede social? Aí é uma discussão a ser feita, Vale a máxima: é de interesse público? A pessoa, o que ela postou na rede social, a gente precisa replicar isso? Quem é esta pessoa? (Apresentadora do NETV 2ª edição , em entrevista concedida para esta pesquisa)
Mesmo tendo critérios de apuração para a construção das notícias, é importante o
posicionamento ético dos profissionais que cotidianamente constroem as notícias e reforçam a
credibilidade do meio na sociedade. “Na questão ética e editorial, a gente leva muito em
173
consideração as diretrizes das Organizações Globo. Eu acho que a linha editorial segue a risca
realmente, ética parte muito do profissional, parte muito da pessoa também” (Gerente de
Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista concedida para esta pesquisa).
A perspectiva de garantir o alto nível técnico, editorial e ético no fazer telejornalístico
na Rede Globo recai sobre os valores e o compromisso ético dos profissionais que formam as
equipes do telejornal, na busca pela informação correta e apuração, como fator de
credibilidade do veículo, que colaboram para a manutenção do telejornal como principal fonte
de informação do público. Desta forma, a crescente pulverização tecnológica e o fácil acesso
aos acontecimentos reforçam o compromisso com a apuração dos fatos, com o
posicionamento ético dos profissionais.
A percepção da qualidade da notícia no fazer telejornalístico na Rede Globo está
relacionada com o papel do veículo na elaboração das regras de visibilidade e transparência,
sociabilizando informações para a construção da realidade social nas sociedades liberais
democráticas, base do respaldo de credibilidade dos telejornais: “A seriedade com que você
faz para a TV, tem que ser a mesma seriedade que você faz para Internet. Que é a seriedade, o
compromisso, é o respeito. São aqueles valores que a gente tem como jornalista e como
cidadão” (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta
pesquisa). Desta forma, a integração não reflete diretamente na qualidade do conteúdo
jornalístico. “ A integração, acho que melhoraria a veiculação, mas o conteúdo não. Não acho
que haveria uma integração com interferência direta na qualidade do conteúdo” (Chefe de
Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
O contexto de convergência apresenta novos desafios para a construção da notícia nas
redações dos telejornais das redes televisivas. “Eu acho que é um desafio, mas não acho que
afeta de forma negativa a qualidade da notícia. Porque a gente tem aquele compromisso com a
informação de qualidade, como a informação correta, sem informação trucada”
(Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para
esta pesquisa). Assim, a adoção das mídias digitais na configuração dos meios tradicionais
pode possibilitar alteração nas rotinas produtivas, sem afetar a qualidade das notícias.
De forma positiva, porque se por acaso o G1 captou um áudio que seja interessante e ninguém mais tenha, há uma relevância jornalística. Por que não usá-lo na TV? Da mesma forma a rádio captou alguma coisa, a TV pode usar. Se por acaso tem um depoimento na rádio ou na TV, porque o G1 não pode transcrever? De forma bem feita eu acho que beneficia, com tanto que haja mais detalhes, que sejam relevantes para quem vai consumir aquele produto (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa)
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A percepção da qualidade da notícia no fazer telejornalístico na Rede Globo está
correlacionada com o compromisso da rede com os produtos jornalísticos, no que se refere à
credibilidade, na relação de confiança com o público. Assim, mesmo frente aos novos
desafios, no contexto de convergência, que possibilitam alterações nas rotinas produtivas,
permanece o cuidado maior com a apuração dos acontecimentos relevantes, que serão
transformados em notícias.
O papel do jornalista no processo de integração no fazer telejornalístico na Rede
Globo aponta o desafio de fazer parte do processo de convergência jornalística, para manter a
qualidade da produção noticiosa e a função jornalística que reforçam a credibilidade dos
telejornais:
Eu acho que ele tem que aceitar o novo. O que eu vejo, às vezes, são alguns profissionais que estão um pouco resistentes as novas formas de se fazer jornalismo. É uma opção de cada um, mas tenho um pouco da vivência, talvez pudesse abrir o caminho e a cabeça de muita gente. O que eu vejo é uma resistência muito grande, além da glamorização de alguns veículos (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Neste processo, apontam-se a necessidade de adequação, treinamento e atualização
dos profissionais de uma redação, para as rotinas dos veículos integrados.
Se vier a integrar, eu acho que vai precisar de um aprendizado muito grande, para que as pessoas que estão aqui se adaptarem ao jornal, e ao rádio. Porque os que estão aqui sabem fazer televisão, é diferente a redação, tudo é diferente. Então precisaria de um aprendizado. No início eu que escrevia a mão ou em uma máquina de escrever, trabalhar em um computador? Eu dizia: - como vou aprender a trabalhar em um computador? E hoje eu dependo do computador. (Repórter de Rede Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Contudo, existe a perspectiva que a adesão às estratégias de integração não seja um
caminho favorável ao jornalista.
Eu tenho muitas dúvidas sobre isso, eu tenho tentado prestar atenção para tentar entender, muitas vezes eu tenho a impressão que o pano de fundo, destas questões ligadas à convergência ou ao jornalista multimídia, me cheira muito a natureza do capitalismo. E a natureza dele de simplificar, esta ideia de enxugar mais a máquina, de deixar tudo mais compacto, uma redação mais compacta, com jornalistas mais ágeis. Eu não sei se tudo isso é muito verdadeiro. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Na perspectiva do papel do jornalista no processo de integração no fazer
telejornalístico na Rede Globo aponta-se o desafio de fazer parte do contexto de convergência
jornalística, considerando a necessidade de atualização dos profissionais de uma redação, mas
175
sem deixar de considerar uma visão crítica do processo. Desta maneira, permite-se que os
resultados da integração sejam favoráveis também para os jornalistas e sociedade
(credibilidade), e não só para os grupos de comunicação (rentabilidade) que compõem as
redes televisivas. Na integração de espaço, ferramentas e métodos de trabalhos resvalam em
alteração da própria dinâmica de atuação profissional, o jornalismo deve ser um agente ativo,
no atual contexto de convergência.
Na abordagem do descolamento do telejornal da TV e a distribuição
multiplataforma das notícias no fazer telejornalístico na Rede Globo percebe-se o cuidado
que este tema desperta nas redações, mesmo antes da adoção das mídias digitais, no
aproveitamento de conteúdos distribuídos de forma diferenciada em distintos meios:
Já pensamos nisso, porque existem também nisso com as TVs fechadas. Então, antes de pensar na internet. Claro que a internet tenta sempre deixar alguma coisa a mais, às vezes um making off. Às vezes, quando uma entrevista, por exemplo, pela circunstância obriga a botar um e meio, dois minutos, mas a pessoa disse coisas que a gente acha que o público vai gostar de ver. A gente bota na internet. A gente faz, mas eu acho assim, nós temos a TV digital, com todas as suas mudanças, acho que é um espaço também para ser ocupado. (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A distribuição de conteúdos multiplataforma é uma tendência, que em perspectiva pode
refletir na forma como o telejornalismo é conhecido. “Eu acho que em algum momento vai
até perder este nome: telejornal. Talvez em algum momento do futuro este nome já não se
justifique. Que haja uma integração a tal ponto que seja informação por imagens (circule)
instantaneamente, independente da plataforma, celular, televisão…” (Chefe de Redação da
Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Na distribuição multiplataforma coloca o desafio maior de apuração, pela amplitude de
meios que a notícia pode ser veiculada.
Se aquela redação, ela trabalha só voltada para sua produção jornalística e tudo. Ela já precisa de muitos cuidados de natureza de apuração. Porque aquela informação vai ser ali publicada e tem a mesma força e peso de um jornal impresso. Se separadamente já existe muita delicadeza em ralação aquele material que vai ser publicado, imagine quando existir várias redações atuando juntas. Assim, isso implica no risco potencializado também, criado pelas necessidades destas informações o tempo todo. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª
edição, em entrevista concedida para esta pesquisa) Com as operações em mídia digitais nos grupos de comunicação, que formam as redes
televisivas, os conteúdos do telejornal não estão sendo veiculados, exclusivamente no meio
televisivo, como forma de manter e ampliar o quantitativo de público.
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Eu acho que pode circular em todos os veículos do grupo, e a gente já pensa assim. Por exemplo, a gente, no dia das mães, fez algumas matérias especiais por ABTV 1ª e 2ª edição, mas a gente já pensou no conteúdo ampliado para o G1. Aí a gente já pensou em ter um espaço no G1, onde o ABTV 1ª edição pudesse chamar os internautas para deixarem sua participação lá no G1. (Assim,) é um desafio que a gente já fez várias reuniões em relação a isso. Porque a gente está ciente desta necessidade da tecnologia integrada no jornalismo, e quando a gente pede ao telespectador que mande um vídeo para gente, está se tentando a todo o momento atingir este público também da internet, para que ele não saia da televisão. (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Este descolamento do telejornal da TV, e a adoção de ferramentas digitais vêm
suscitando experimentos nas rotinas produtivas também com o intuito de agregar audiência
nos meios tradicionais, por meio das mídias digitais.
Eu acho que no momento que a gente abre espaço, por exemplo, desde ontem (4 de agosto), a gente está colocando participe do jornal: use as redes sociais #agoranoabtv. Uma maneira de fazer com que o telespectador esteja presente no jornal também. No momento que a gente tem sinal digital em algumas cidades, dizendo que você pode assistir no celular no tablet. Enfim, acho que esta coisa de você trazer o telespectador para o seu jornal a partir destas hashtags. No fundo isso tem uma coisa muito a ver com audiência, que a gente sabe que a Tv esta perdendo audiência, principalmente para internet. (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca, em entrevista concedida para esta pesquisa)
O descolamento do telejornal da TV e a distribuição multiplataforma das notícias na
Rede Globo evidenciam que o tema não é um debate novo, entretanto, com a internet a
distribuição para além do meio televisivo torna-se uma tendência mais compatível. A
distribuição multiplataforma ainda está veiculada em como registrar as audiências para
manutenção do telejornal como principal fonte de informação em sociedades liberais
democráticas. Assim, frente à distribuição multiplataforma coloca-se o desafio maior de
apuração, pela amplitude que a notícia telejornalística alcança, para além do meio televisivo.
Em um cenário de ampla circulação de informações no fazer telejornalístico na
Rede Globo evidencia-se uma preocupação de informar, não apenas para os indivíduos que já
têm a informação, mas para qualquer público, nos mais diferentes graus de contato com o
acontecimento noticiado, para que os mesmos possam compreender o fato: “Eu acho que o
telejornal, ele não tem que pensar se a pessoa está sabendo daquilo ou não. Ele tem que
informar com precisão. Ele deve se preocupar em dar os fatos da maneira mais clara possível
e mais comprovadamente sobre aquilo que está acontecendo” (Repórter de Rede da Globo
Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa).
Neste cenário, o meio televisivo tem na imagem o diferencial como atrativo do público,
que tenha ou não as informações dos fatos noticiados.
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Eu acho que é nosso desafio todos os dias. Porque é assim. Existem milhares que não viram nada e existem outras que já viram tudo. Aonde estará nosso ganho na televisão? na imagem! Porque a informação será da mesma qualidade. Aí eu não discuto! Você terá a mesma informação, mas aonde você vai ter a diferença e atrair seu publico? Aquele que já viu tudo, para ficar do começo ao fim? é na imagem. (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A estratégia está em garantir a qualidade jornalística para o telejornal, continuar sendo o
principal meio de informação com credibilidade para o público.
O cardápio de informações é muito amplo. Se você acorda às 6 da manhã e liga seu rádio, seu smartphone, sua TV, seja qual for a classe social, não está isolado, tem uma ligação em algum momento do dia, tem uma possibilidade de comunicação. A possibilidade de isolamento hoje é muito pequena, o que isso possibilita? Um cardápio muito grande de informações. Então, para mim o conceito de qualidade é a informação com qualidade para sobrevivência do telejornal. Cada dia a gente precisa apurar melhor, checar, transmitir melhor com critérios bem estabelecidos. (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Mesmo se voltando aos princípios jornalísticos e tendo a imagens como atrativo
principal, existe a busca pela ampliação e desdobramentos dos acontecimentos, com o intuito
de que o público tenha a informação atualizada e diferenciada.
Este é o desafio que a gente se pergunta todo o dia, faz parte da nossa rotina. A gente começa a se questionar como fazer um jornal interessante com novidades, com notícias que aconteceram pela manhã. Aqui, sempre que a gente vai fazer, o que a gente chama de versão, a repórter fez a versão para o NETV 1ª edição, e aquela reportagem que vai ser colocada no ar para o (NETV 2ª edição). Porque é uma informação que precisa ser divulgada, a gente pede sempre para a pessoa buscar algo a mais, algo novo, às vezes não é uma informação nova, mas como você conta, um detalhe curioso. (Apresentadora do NETV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Nas rotinas produtivas do telejornal noturno, a busca pela ampliação e desdobramentos
dos acontecimentos deve ser ainda reforçada, porque em muitos casos o jornal é apresentado
depois de um dia de acontecimentos relevantes.
O telejornal noturno, ele não pode mais ser um resumo do dia, ele tem que ter justamente a capacidade de antecipar as coisas do dia seguinte. Então, tem que estar dentro do conjunto de informações os principais assuntos do dia. Porque tem sempre alguém que trabalhou o dia interior e possivelmente que não conseguiu ver. Mas estas informações têm que estar juntas com as informações que já chamem algo do dia seguinte ou novo desdobramento, dentro daquele assunto, algo que não foi ainda nos blogs, não foi visto na internet, e isso cabe mesmo ao tal faro, de buscar naquela informação algo que atualize então o jornal noturno, agora tem que ter pelo menos esta característica. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Nesta busca por diferencial reside a manutenção dos índices de audiência. “A gente
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conversa muito nas nossas reuniões, para não fazer sempre o mesmo, para não cansar o
telespectador, e que aquele telespectador não mude de canal. Então, é um desafio muito
grande que a gente tenta a cada dia ver um diferencial, algo ainda que não foi abordado
naquele dia” (Coordenadora de Produção e Reportagem da TV Asa Branca, em entrevista
concedida para esta pesquisa).
O cenário de ampla circulação de informações apresenta o desafio de nas rotinas
produtivas equacionar na reportagem de conteúdos para os mais diferentes graus de
informação que o público tenha. Neste desafio, o telejornal possui o diferencial da imagem
como atrativo, para apresentar os acontecimentos mais relevantes do dia, garantindo a
qualidade e a credibilidade na veiculação. Nos telejornais de início de noite, existe a busca
pela ampliação e desdobramentos dos acontecimentos, com o intuito de que o público tenha a
informação atualizada e diferenciada, para que o mesmo não migre para outra fonte de
informações.
A perspectiva do objetivo da integração das redações na Rede Globo coloca um
contraponto ao argumento de que o objetivo da integração dos grupos de comunicação seja a
redução de custos e a maximização da produção, com base na relação de confiança e
credibilidade que o telejornal tem com o público:
Eu acho que você reduz a dor de cabeça, em vez de você deslocar duas equipes você desloca uma, mas só vai fazer aquilo. Normalmente nossas equipes de TV, fazendo dois temas por dia. A (equipe) da internet faz 3, dependendo de onde estiverem sendo feitas a cobertura. Você vai ter uma equipe aí, uma equipe aqui. Eu não vejo diferença. Pode até começar pensando que vai fazer uma redução de custo. Se você for pensar na qualidade daquilo que você está mostrando e na exigência do seu público, porque o seu público vai exigir também, hoje ele tem facilidade para reagir. E se você não agregar público você faz para quem? (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
A redução de custo para compensar as perdas de audiência e receitas publicitárias
pode resvalar em uma redução de qualidade, que respalda a credibilidade, bem como uma
indesejada redução de audiência ainda maior, corroendo de forma proporcional o atual
modelo de sustentação.
Eu acho esta visão conservadora, uma visão o quanto antiga. Eu vou integrar para cortar meu quadro funcional. O empresário de comunicação que tenha está ideia de corte. A questão é a seguinte: o público, quem recebe a informação, não deve ser subestimado nunca. E se a informação, em função do corte de pessoal, a qualidade cai, perde audiência, se for uma mídia na internet, perde acesso, porque a concorrência é muito grande. (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Mesmo que aparentemente o foco não resida na redução de custo, a maximização da
179
produção por meio de perfil polivalente multimídia e distribuição multiplataforma de notícias
parecem permanecer na percepção dos profissionais, no que se refere aos objetivos das
estratégias de integração de redações.
É preciso que o jornalista tenha consciência no momento de está inserido dentro de uma redação que tenha este tipo de formato. É preciso ter este conhecimento, para que não lhe pareça natural a ideia de que cada profissional tenha que fazer tudo, porque eu acredito que são ideias que são construídas pelo modelo econômico. (Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª edição, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Mesmo que o propósito seja outro, para além da redução de custo, esta percepção não
é consensual entre os profissionais que compõem as redes televisivas. “Infelizmente total
redução de custo. As empresas não teriam buscado isto, não é pelo bem-estar do jornalista ou
para capacitar meu profissional, para que ele possa atuar em qualquer veículo que eu
necessite. É para que se possa ao máximo extrair do profissional aquilo que estou precisando,
sem gastar tanto” (Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa Branca, Editor e
Apresentador do jornal das 7 da Globo FM, em entrevista concedida para esta pesquisa). E
muitas vezes, a compreensão da estratégia de integração está atrelada a percepção de redução
de quadro funcional. “Acho que é o sonho da empresa. Eu acho que é mais redução de custo
mesmo. No momento que você tem a integração das redações, você não precisa contratar mais
pessoas” (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista concedida para esta
pesquisa).
O objetivo das estratégias de integração no fazer telejornalístico evidencia um
contraponto ao argumento da busca por redução de custos operacionais e a maximização da
produção, com base na relação de confiança e credibilidade entre telejornal e público. Assim,
a pretensa rentabilidade pode se revelar como mais perda de audiência, se a redução de custos
operacionais afetarem negativamente a qualidade das reportagens. Entretanto, as estratégias
de integração de redações suscita a percepção de redução de quadro funcional. Esta possível
redução de profissionais poderia ser compensada pela orientação empresarial, com a
polivalência multimídia, minimizando os impactos na qualidade das reportagens, e ampliando
a produção. Assim, o perfil profissional polivalente multimídia reforça as características das
Rotinas Produtivas Flexíveis, no atual contexto de convergência.
Na perspectiva de busca de um modelo confiável de convergência no fazer
telejornalístico na Rede Globo evidencia-se a existência de alguns experimentos: “Você tem o
exemplo das agências que distribuem informações, notícias, geram imagens, tudo, e fazem
180
isso aqui para você alimentar. Nós vemos na TV Jornal, por exemplo, que tem emissora de
rádio dentro, ao lado da redação do jornal, assim é que funciona perfeitamente” (Repórter de
Rede da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa). O modelo de
convergência ainda não é uma pauta clara nos grupos de comunicação que compõem as redes
televisivas, mas evidencia-se uma visão de adoção conservadora das mídias digitais como
complementares ao meio televisivo.
Na TV Globo a gente faz TV e Internet. Existe integração do conteúdo para que não falte nada para a TV e nada para internet, que a internet seja o espelho daquilo que aconteceu e a TV também. Nós temos equipes divididas, eu diria, mas não separadas. Nós fazemos GloboNews e Globo TV, porque é possível fazer, é o mesmo veículo. Quando você põe em outro veículo diferente, próximo, porém não igual, você já muda um pouco a rotina da produção, mas nós não discutimos isso ainda não. (Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Contudo, algumas reflexões começam a se abrir para o debate, pela velocidade da
adoção e difusão tecnológica nas sociedades liberais democráticas.
Eu acho que nas televisões o assunto é discutido, porque é preciso se preparar, ficar antenado com o que está acontecendo, então as possibilidades são levadas em consideração. A TV Globo e outras emissoras também, como possibilidades a curto e médio prazo, não tão médio digamos assim… Então, é muito comum hoje a preocupação com o conhecimento das novas tecnologias. As preocupações, a análise das possibilidades, mas os prazos são cada vez menores. (Chefe de Redação da Globo Nordeste, em entrevista concedida para esta pesquisa)
Mas o processo de convergência ainda é muito experimental nos grupos pela ausência
de um modelo confiável e sustentável para efetivar a migração do analógico para o digital,
nos grupos de comunicação que compõem as redes televisivas. “Eu acho que está mais no
experimento. A experiência são estes improvisos, faltou produtor aqui, pede ajuda ao G1 e tal.
Eu não conheço nenhum modelo que esteja vigente, que seja confiável - e não vejo a gente
indo para caminho disso não” (Gerente de Jornalismo da TV Asa Branca , em entrevista
concedida para esta pesquisa).
No que se refere à existência de um modelo confiável de convergência, no fazer
telejornalístico evidencia-se que existem alguns experimentos de caráter convergente. Em
virtude de o tema ser uma preocupação nos grupos de comunicação, que compõem as redes
televisivas, mas que não se efetivou como uma pauta clara de debate. Contudo, a velocidade
da adoção e a difusão tecnológica nas sociedades atuais sinalizam a necessidade dos
processos convergentes. No processo, se evidenciam os experimentos que ocorrem nos grupos
de comunicação na ausência de um modelo confiável e sustentável de telejornalismo
convergente, na tentativa de aplicação das mídias digitais como complementares ao meio
181
televisivo, para reverterem o fluxo de audiência do meio televisivo, para os meios digitais. A
ausência de um processo de convergência que equacione a rentabilidade dos grupos de
comunicação, com um produto noticioso que informe com credibilidade, retarda o processo
migratório das rotinas produtivas noticiosas, nas redações dos telejornais em rede televisiva.
5.6 OBSERVANDO O RESULTADO DAS ROTINAS PRODUTIVAS
A presente análise refere-se aos dados coletados, por meio do instrumento de
monitoramento dos telejornais, em que foram selecionadas, entre Novembro de 2013 à
Novembro de 2014, reportagens em que se evidencia o uso nas rotinas produtivas de: imagens
de internet, redes sociais, celular, cinegrafista amador, e conteúdo compartilhado entre os
telejornais de uma mesma rede televisiva; como alteração na captação dos acontecimentos
cotidianos que são selecionados nas redações dos telejornais. As redes televisivas vêm
incorporando, nas rotinas produtivas, por meio de canais digitais de interações, imagens de
amadores, produzidas com telefones celulares, que carecem de mais critérios profissionais de
controle e apuração da informação (GOMES, 2011). Alsina (2009) afirma também, que as
empresas têm a tendência de integrar as rotinas de produção, principalmente em meio às
circunstâncias estruturais, como a gradual redução de público dos meios tradicionais, em que
se evidenciam os canais de integração digitais. Desta forma, é possível identificar o uso dos
canais digitais de integração vertical das redações dos telejornais das redes televisivas e os
canais digitais de interação com as fontes oficiais e o público, bem como outros elementos
que reforcem a hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis, que não foram encontradas na
etnografia e nas entrevistas como situações de polivalência funcionais de repórteres, que
atuam com apresentadores e vice-versa.
5.6.1 Rede Record
Fotos e vídeos da internet, incluindo Rede sociais – Durante o monitoramento foram
identificadas algumas reportagens em que parte das imagens utilizadas são provenientes da
internet ou redes sociais, como fator de adoção de canais de interação da rotinas produtivas,
as quais passam a usar com mais frequência imagens extraídas de mídias digitais, em que
muitas vezes uma captura de tela de uma rede social substitui uma sonora com uma
determinada fonte. Na Reportagem 01 do Jornal da Clube – Retranca: Coletiva Reginaldo
Rossi [dia 12/12/2013; duração de 3:05 minutos], em dois momentos é possível verificar o
182
uso de imagens oriundas de redes sociais sobre os boatos da morte do cantor. Na Reportagem
10 do Jornal da Record – Retranca: Imagens exclusivas mostram mensagens de PMs
desesperados em tiroteio no RJ [dia 21/03/2014; duração de 2:08 minutos], aparecem as
mensagens entre policiais durante o confronto na UPP de Manguinhos, que pediam por
reforço. Nesta reportagem são usadas imagens de tela de app do celular dos próprios policiais.
Além de depoimentos e situações de riscos, é possível relembrar a trajetória de uma
personalidade que faleceu, como na Reportagem 17 do Jornal da Record – Retranca: Confira
a trajetória política de Eduardo Campos [dia 13/08/2014; duração de 0:34 minutos]. A matéria
faz um resumo da carreira política de Eduardo Campos, e a tentativa de ser presidente da
república. Na reportagem são usadas além de banco de imagens e arquivos, também vídeo,
fotos da internet, e mensagens em redes sociais. Embora não seja uma opção frequente por
meio dos canais de interação digitais, o uso de conteúdos de imagens provenientes da internet
e redes sociais, esta opção ocorre mais na Rede Record, no Jornal da Record.
Câmeras de segurança, circuitos internos, câmera de trânsito e celulares – Outra fonte
que vem nutrindo os telejornais de imagens são as fotos e vídeos provenientes de câmeras de
segurança e trânsito, circuitos internos e celulares, que estão espalhados pelos mais diferente e
inusitados locais, com a possibilidade cada vez maior de registrar um flagrante, que em
muitas vezes são situações de difícil acesso, como na Reportagem 03 do Jornal da Record –
Retranca: Tempestades deixam 14 mortos e quase 50 mil desabrigados no ES [dia
24/12/2013; duração de 1:21 minutos]. A reportagem apresenta imagens de celulares cedidas
por amadores, que mostram as fortes chuvas que atingiram o Espírito Santo deixando a região
em situação de emergência. Existem situações em que as câmeras de circuito interno fazem
registro de flagrantes, como na Reportagem 06 do Jornal da Record – Retranca: Quadrilha
invade casa luxuosa e rouba até cães de família em Belo Horizonte (MG) [dia 06/01/2014;
duração de 1:41 minutos]. Na reportagem são usadas imagens de vídeo de câmera de
segurança da residência, que mostram criminosos arrombaram o portão, entraram em uma
residência e levaram joias, notebooks, e até uma televisão de 50.
As câmeras de segurança possibilitam a construção de matérias com imagens do
acontecimento, permitindo uma melhor compreensão dos fatos, como na Reportagem 07 do
Jornal da Record – Retranca: (SP) suspeito de empurrar mulher em trilhos do metrô sofre de
esquizofrenia [dia 27/02/2014; duração de 1:21 minutos]. Na reportagem são usadas imagens
de vídeo de câmeras de segurança do metrô de São Paulo e do comércio local, mostra um
indivíduo esquizofrênico que pode ser o responsável por empurrar uma mulher nos trilhos do
183
metrô. Ou ainda de situação de agressividade por motivos fúteis como na Reportagem 09 do
Jornal da Clube – Retranca: Briga em Shopping [dia 13/10/2014; duração de 1:39 minutos]. A
reportagem apresenta imagens de vídeo realizadas por celular, em que um acidente motivou a
briga em um shopping no bairro do Pina. Como também na Reportagem 25 do Jornal da
Record – Retranca: Médica agride policial após briga entre vizinhos no litoral paulista [dia
27/10/2014; duração de 1:28 minutos]. Na reportagem são usadas imagens de vídeo de celular
e circuito de segurança de um condomínio, em que uma briga entre vizinhos por causa de
barulho, em que a polícia foi chamada e, quando chegou ao local, foi atacada por um grupo de
moradores. Esta opção, dentre categorias que consideram a interação por meio dos canais
digitais, é a segunda mais frequente na Rede Record, fica atrás apenas das fontes oficias, em
especial as Polícia Militar, Civil e Federal.
Fontes oficiais - Policia Militar, Civil e Federal – As fontes policiais oficiais também
utilizam canais de interação, com a redação, para subsidiar as notícias com imagens
relevantes e de difícil produção, pelas situações adversas que envolvem apreensão e a própria
rotina policial, como na Reportagem 02 do Jornal da Clube – Retranca: Prisão em Aeroporto
[dia 10/02/2014; duração de 1:41 minutos]. Na reportagem da prisão de um ex-soldado do
exército no Aeroporto Internacional do Recife são utilizadas imagens de vídeo realizadas pela
Polícia Federal, em parte da reportagem. Imagens de prisões feitas pela polícia, como na
Reportagem 03 do Jornal da Clube – Retranca: Extorsão no Facebook [dia 24/03/2014;
duração de 2:41 minutos]. Na reportagem são utilizadas predominantemente imagens de
vídeo realizadas pela Polícia Civil, mas também são utilizadas algumas imagens oriundas da
internet, na prisão em flagrante de um suspeito de extorsão utilizando conteúdos de internet.
As atividades de apreensão que envolvem entorpecentes, como na Reportagem 11 do Jornal
da Record – Retranca: PF apreende quase quatro toneladas de cocaína em Santos, litoral de
SP [dia 31/03/2014; duração de 1:49 minutos]. Na reportagem são usadas imagens
fotográficas cedidas pela Polícia Federal, de uma investigação, no Porto de Santos, de um
embarque de mercadoria clandestina que seguia para Europa. Algumas prisões em aeroportos
em situações inusitadas, como na Reportagem 14 do Jornal da Record – Retranca: PF prende
homem que tentava deixar o país com US$ 16 mil nas meias [dia 17/07/2014; duração de 1:02
minutos]. Na reportagem são usadas imagens de vídeo e fotos realizadas pela Polícia Federal,
de uma investigação da origem do dinheiro que o acusado transportava, no Rio Grande do
Sul. Casos de comoção social que também são registrados pela polícia, como na Reportagem
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04 do Jornal da Clube – Retranca: Professor pedófilo [dia 27/08/2014; duração de 2:24
minutos]. A reportagem apresenta imagens de vídeo realizadas pela Polícia Federal de um
professor de Caruaru preso pela Polícia Federal, por manter fotos e vídeos de crianças e
adolescentes sem roupa no próprio computador. Esta é a opção, de uso de conteúdos cedidos
por canais de interação, nas reportagens na Rede Record.
Compartilhamento de conteúdos e equipe na rede televisiva – Nas Rotinas Produtivas
Flexíveis a integração vertical das redações por meio de canais digitais que possibilitam o
compartilhamento de imagens e conteúdos abre o fortalecimento da produção de rede
televisiva, como evidenciado na Reportagem 02 do Jornal da Record – Retranca: Polícia
reconstitui o assassinato do promotor Thiago Soares em Pernambuco [dia 23/12/2013;
duração de 1:27 minutos]. A matéria faz uso de imagem de apoio fornecida pela Polícia Civil,
em que o promotor Thiago Faria Soares sofreu uma emboscada na manhã do dia 14 de
outubro, no Agreste de Pernambuco. Esta reportagem foi realizada no Jornal da Clube
[duração de 2:08 minutos, veiculada no dia 23/12/2013] e compartilhada com o ajustes feitos
pelo Núcleo de Rede na TV Clube. Outra produção se evidencia com a Reportagem 12 do
Jornal da Record – Retranca: Com greve da PM, Exército reforça policiamento em Recife
(PE), [dia 15/05/2014; duração de 1:20 minutos]. As imagens apresentam o Exército
trabalhando no policiamento local para conter a onda de saques e homicídios em Pernambuco.
Esta reportagem foi realizada no Jornal da Clube [duração de 2:21 minutos veiculada no dia
15/05/2014] e compartilhada com o ajustes feitos pelo Núcleo de Rede na TV Clube. Casos
da violência urbana são compartilhados como na Reportagem 13 do Jornal da Record –
Retranca: Tiroteio em shopping deixa oito feridos em Recife [dia 02/06/2014; duração de
1:17 minutos]. Na reportagem são usadas imagens de vídeo realizadas por cinegrafistas
amadores que apresenta o tiroteio entre seguranças de um carro forte e assaltantes em uma
agência bancária dentro do shopping em Jaboatão dos Guararapes. Esta reportagem foi
realizada no Jornal da Clube [duração de 2:09 minutos, veiculada no dia 02/06/2014] e
compartilhada com ajustes feitos pelo Núcleo de Rede na TV Clube. Os temas de comoção
nacional, em que o telejornal de cabeça de rede não pôde estar no local e utiliza a estrutura da
própria rede televisiva para obter os conteúdos, como na Reportagem 18 do Jornal da Record
– Retranca: Pernambuco decreta sete dias de luto pela morte de Eduardo Campos, [dia
13/08/2014; duração de 2:20 minutos]. Esta reportagem foi realizada no Jornal da Clube
[duração de 3:10 minutos veiculada no dia 13/08/2014] e compartilhada com o ajustes feitos
pelo Núcleo de Rede na TV Clube. Operações policiais de grande repercussão acabam tendo
185
abrangência nacional como na Reportagem 23 do Jornal da Record – Retranca: Polícia de
Pernambuco faz maior apreensão de drogas em 2014 no Estado [dia 23/10/2014; duração de
0:50 minutos]. A matéria apresentada no quadro JR ao Vivo, imagens de fotografia de celular,
das drogas encontradas na casa de um traficante para serem vendidas em festas no Nordeste,
teve a participação da jornalista Nádia Alencar da TV Clube, que não faz parte do núcleo de
produção de rede, a jornalista é apresentadora e editora do Jornal da Clube, e neste quadro do
Jornal da Record fez o ao vivo como repórter, junto com a imagem (coberta) da policia civil.
Esta reportagem foi realizada pela equipe no Jornal da Clube [duração de 2:20 minutos,
veiculada no dia 23/10/2014] e sem os tradicionais repórteres do Núcleo de Rede na TV
Clube, evidenciando uma polivalência funcional. Existe o espaço para notícias fora dos temas
policias, no fluxo de conteúdos entre os telejornais das redes televisivas, como na Reportagem
27 do Jornal da Record – Retranca: Orquestra de crianças carentes do Recife faz apresentação
na Itália e em Portugal, [dia 27/10/2014; duração de 1:26 minutos]. A reportagem apresenta
meninos e meninas da comunidade do Coque, da Orquestra Cidadã, que irão se apresentar na
Itália e em Portugal. Esta reportagem foi realizada no Jornal da Clube [duração de 3:02
minutos, veiculada no dia 27/10/2014] e compartilhada com o ajustes feitos pelo Núcleo de
Rede na TV Clube. A opção pelo uso de conteúdos de telejornais da própria rede televisiva é
a base da composição do espelho do Jornal da Record. Existem situações como a que envolve
a Reportagem 18 do Jornal da Record, em que as afiliadas também recebem conteúdo de
outros telejornais da rede televisiva, evidenciando que o fluxo de conteúdo na rede não só tem
uma direção, na adoção de canais digitais de integração. Assim, a adoção como canais de
integração, é elemento de maior relevância nas rotinas produtivas noticiosas nas redações dos
telejornais da Rede Record, no atual contexto de convergência.
5.6.2. Rede Globo O monitoramento das reportagens dos dois telejornais pertencentes à Rede Globo
evidencia o uso de compartilhamento pela ferramenta easynews, configurado como canal
digital de integração entre os dois telejornais analisados; pois os textos de abertura das
reportagens, em muitos casos são os mesmos quando ocorre o compartilhamento de
conteúdos. Isso se explica, em parte, pelo horário de exibição dos telejornais serem os
mesmos e os públicos serem diferentes. Entretanto, quando as matérias produzidas para o
NETV 2ª edição é exibida no Jornal Nacional ocorrem alteração no texto de abertura e
redução da reportagem. No monitoramento no mês de setembro a bancada do ABTV 2ª edição
186
foi ocupada pelo apresentador do ABTV 1ª edição, evidenciando que as equipes não são
separadas como muitas vezes se afirma como apontado nas entrevistas. Neste mesmo sentido,
a Repórter Renata Torres também ocupou, no mesmo mês de setembro, a bancada do ABTV
2ª edição com tendência de polivalência funcional.
Fotos e vídeos da internet, incluindo Rede sociais – Durante o monitoramento foram
identificadas algumas reportagens em que parte das imagens utilizadas são provenientes da
internet ou redes sociais, como fator de utilização dos canais de interação digitais na rotinas
produtivas. Entretanto, nos telejornais analisados da Rede Globo, é uma opção pouco
utilizada, de imagens extraídas de mídias digitais, em que muitas vezes há uma captura de tela
de uma rede social ou site. Na Reportagem 14 do NETV 2ª edição – Retranca: Polícia alerta
para riscos oferecidos nas redes sociais, [dia 11/02/2013; duração de 1:19 minutos], em que é
possível verificar o uso de imagens de site apontando os perigos de crimes de pedofilia e
golpes na internet. Na Reportagem 10 do NETV 2ª edição – Retranca: Servidores e alunos da
rede estadual estão com acesso restrito à internet, [dia 10/05/2014; duração de 2:18 minutos],
aparecem imagens de tela de computadores representando a Lei que está em vigor e que
proíbe baixar material erótico nos computadores do Estado de Pernambuco. As iniciativas
populares nas redes sociais são acontecimentos que perpassam pelos canais de interação
digitais, como na Reportagem 01 do ABTV 2ª edição – Retranca: Clube de leitura de
Caruaru, no Agreste, faz mobilização nas redes sociais, [dia 14/11/2013; duração de 1:40
minutos], na reportagem são usadas imagens das redes sociais da articulação dos membros
destas mesmas redes para divulgar o projeto de leitura. Esta aplicação dos canais de interação
tem pouco uso, com base na verificação do monitoramento. Um dos fatores é a questão da
apuração e o controle da informação que os conteúdos da internet não garantem.
Câmeras de segurança, circuitos internos, câmera de trânsito e celulares – Imagens de
provenientes de câmeras de segurança, na construção das matérias podem ser observadas na
Reportagem 04 do NETV 2ª edição – Retranca: Câmeras de segurança flagram assalto a
empresa no bairro da Encruzilhada, no Recife. [dia 20/01/2014; duração de 0:31 minutos]. Na
reportagem são utilizadas imagens do circuito de segurança, fornecidas pela própria empresa,
de um flagrante da ação de criminosos em Recife. Em alguns casos o próprio contraventor faz
as imagens, como no caso da Reportagem 22 do ABTV 2ª edição – Retranca: motorista
suspeito de derrubar cones de ciclo-faixa se apresenta a policia. [dia 15/11/2014; duração de
1:00 minutos]. Em parte da reportagem são utilizadas imagens de vídeo, feita no próprio
187
celular do contraventor, a própria ação contra os cones que limitam uma ciclofaixa.
Fontes oficiais - Policia Militar, Civil e Federal – As imagens cedidas por fontes oficiais
como as polícias civil, militar e federal, por meio dos canais de interação digitais, são
observadas na Reportagem 01 do NETV 2ª edição – Retranca: Comandante de navio que ia
para Holanda é achado morto em cabine. [dia 11/12/2013; duração de 1:08 minutos]. A
reportagem utiliza fotos cedidas pela Polícia Federal, da embarcação atracada no Recife em
que foi encontrado o corpo do comandante. Como também na Reportagem 06 do NETV 2ª
edição – Retranca: Jovem é preso em flagrante extorquindo dinheiro através da internet. [dia
24/03/2014; duração de 1:44 minutos]. A reportagem utiliza fotos cedidas pela policia civil
de Pernambuco, de um suspeito que possuída dados pessoais das vítimas e cobrava para não
vender as imagens. Esta opção, na Rede Globo, de uso de conteúdos é a mais utilizada nos
telejornais analisados, no que se refere a canais digitais de interação.
Compartilhamento de conteúdos e equipe na rede televisiva – Como são telejornais de
mesmo horário e atendem juntas por quase todos os municípios de Pernambuco, com exceção
dos municípios cobertos pela afiliada Grande Rio. Existe um intenso compartilhamento de
conteúdos, e em alguns casos tem repercussão na escala nacional da rede televisiva, como na
Reportagem 03 do ABTV 2ª edição – Retranca: Ônibus com o grupo Raça Negra perde o
controle e capota em Pernambuco – [ dia 20/01/2014; duração de 2:15 minutos]. Matéria
original do NETV 2ª edição adequada para o ABTV 2ª edição. Reportagem 05 do NETV 2ª
edição – Retranca: Ônibus da banda Raça Negra vira e deixa feridos na BR-101, na Zona da
Mata de Pernambuco. [dia 20/01/2014; duração de 3:17 minutos]. A matéria foi
compartilhada com alteração também no Jornal Nacional [duração de 1:55 minutos],
apresentando o acidente, sem vítimas com o ônibus da banda Zona da Mata em Pernambuco.
Em geral, nos compartilhamento do VT entre as emissoras, ocorrem alterações.
A rede televisiva também oferta matérias de outras praças como no caso da
Reportagem 08 do NETV 2ª edição – Retranca: Avião da empresa Avianca que saiu de
Petrolina fez pouso de emergência em Brasília. [ dia 28/03/2014; duração de 0:17 minutos].
Compartilhamento de conteúdo ocorrido entre telejornais da Rede Globo de Televisão é de
um VT original da filial da Globo em Brasília, no qual ocorrem alterações nos telejornais de
veiculação. Neste sentido, os canais de integração que permitem fluxos de conteúdos não são
de sentido único, sempre do local para o nacional. A matéria só foi exibida no dia seguinte
pela TV Asa Branca na Reportagem 08 do ABTV 2ª edição – Retranca: Avião que saiu de
188
Petrolina, no Sertão, fez pouso de emergência em Brasília – [dia 29/03/2014; duração de 2:46
minutos]. Na reportagem são utilizadas imagens fornecidas pela rede, e imagens feitas de
celular (cinegrafista amador).
Os temas culturais com uso do mesmo repórter ao vivo para os dois telejornais, como
compartilhamento de equipe e conteúdos, como na Reportagem 12 do NETV 2ª edição –
Retranca: Caruaru dá início à programação do São João de 2014 . [dia 31/05/2014; duração de
0:45 minutos]. Os festejos juninos em Caruaru começam com show ao vivo. No
compartilhamento do VT entre os telejornais ocorreram alterações. Ocorreu um
compartilhamento também do repórter da TV Asa Branca, Magno Wendel, com a entrada ao
vivo para os dois telejornais. Na matéria original - Reportagem 14 do ABTV 2ª edição –
Retranca: São João começa em Caruaru; Azulão e Alceu Valença têm shows na noite deste
sábado. [dia 31/05/2014; duração de 3:58 minutos].
Em outra matéria, fica evidente o compartilhamento de profissionais como na morte
de personalidade de grande comoção popular, em que o compartilhamento de conteúdo e
equipe na escala de rede que integra o local ao nacional, permitindo o uso de conteúdos locais
e da rede, que podem envolver equipes de estados distintos. Como na Reportagem 20 do
ABTV 2ª edição – Retranca: Morre o candidato Eduardo Campos – [dia 13/08/2014; duração
de 1:10 minutos]. Uma tragédia aérea em Santos-SP encerra a trajetória política do candidato
a Presidência da Republica, e ex-governador eleito de Pernambuco. De forma peculiar não foi
exibido o telejornal ABTV 2ª edição, toda a programação jornalista fica por conta do NETV 2ª
edição. Matéria original é a Reportagem 17 do NETV 2ª edição – Retranca: Casa de Eduardo
Campos no Recife recebe amigos e parentes [ dia 13/08/2014]. O telejornal todo em função
da tragédia e trajetória política de Eduardo Campo, as imagens utilizadas no telejornal são
provenientes de variadas fontes, incluindo as equipes do Jornal Nacional, juntamente com
equipes de Recife e outras praças, além de imagens de cinegrafistas amadores. Os telejornais
foram compostos por uma série de retrancas como: Eduardo Campos era de uma tradicional
família de políticos [Jornal Nacional – duração 6:10 / NETV 2ª edição – duração de 2:53
minutos]; e Corpo de Eduardo Campos será velado na sede do governo de Pernambuco
[NETV 2ª edição – duração de 1:20 minutos].
No acompanhamento do fato com compartilhamento de conteúdo e equipe na escala
de rede do local ao nacional, e conteúdos que também são fornecidos pelos jornais da rede
televisiva. Reportagem 21 do ABTV 2ª edição – Retranca: No Palácio do Campo das
Princesas, funcionários falam sobre Eduardo Campos. [dia 14/08/2014; duração de 1:10
minutos]. Novamente não é exibido o telejornal ABTV 2ª edição. A programação jornalista é
189
gerada de Olinda pelo NETV 2ª edição, para todo o estado, substituindo a TV Asa Branca
(Caruaru) e a TV Grande Rio (Petrolina). Notícia de origem da rede televisiva, telejornais de
São Paulo que foram adaptadas na Reportagem 18 do NETV 2ª edição – Retranca: Bombeiros
tentam recuperar destroços de avião que caiu em Santos. [dia 14/08/2014; duração de 3:12
minutos], No Jornal Nacional, a reportagem sofreu alterações e a retranca :Bombeiros tentam
recuperar destroços de avião que caiu em Santos [duração de 1:12 minutos], o mesmo ocorre
na retranca: Viúva de assessor e tio de Eduardo Campos visitam casa da família, que no
Jornal Nacional teve duração de 1:29 minutos e no NETV 2ª edição 3:12 minutos. Com base
no monitoramento percebe-se que para a construção das notícias, nas rotinas produtivas nas
redações dos telejornais da Rede Globo, a adoção dos canais de integração digitais também é
elemento de relevância, frente aos demais canais digitais apresentados.
5.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA ANÁLISE
Com base na análise dos dados coletados, alinhado ao referencial teórico adotado, é
possível perceber a presença das Rotinas Produtivas Flexíveis nas redações dos telejornais das
Redes Record e Globo, como uma tentativa conservadora de minimizar as perdas de audiência
e receitas publicitárias, com uma tendência de equacionar redução de custos operacionais, por
meio das estratégias de integração de redações, orientação de naturalização da polivalência
multimídia; e maximização da distribuição noticiosa, de forma concomitante nos telejornais
das próprias redes televisivas e nos Portais R7 (Rede Record) e G1 (Rede Globo), reforçando
a perspectiva de Alsina (2009) de tendência de integração das rotinas de produção. Bem
como, a abordagem de que no contexto de convergência as redações integradas por meio das
mídias digitais são uma renovada estratégia, para atenderem com maior facilidade as
demandas de um público cada vez mais multiplataforma (SALAVERRÍA, 2010).
Nas rotinas produtivas de construção da notícia nos telejornais da Rede Record e Rede
Globo, residem a tentativa de conciliar: receitas publicitária (rentabilidade); a manutenção do
público e da qualidade das reportagens veiculadas (credibilidade). Desta maneira,
considerando a relevância da cultura profissional, apontada por Vizeu e Correia (2008), na
manutenção do público e da qualidade nas rotinas produtivas, ocorrem colaborações entre
profissionais dos telejornais e portais, em que as funções e papéis apresentam flexibilização,
caracterizando diferença entre as duas redes televisiva: configuração do ambiente produtivo
de forma justaposta (fisicamente ramificada nos telejornais da rede), como na Rede Globo; ou
separada (fisicamente isolada dos telejornais da rede), como na Rede Record.
190
De forma geral, estas configurações implicam no reforço de duas características das
Rotinas Produtivas Flexíveis: a polivalência e os canais digitais de integração. Na
configuração de justaposição ocorre a proximidade física do portal G1 nas redações dos
telejornais que compõem a Rede Globo, em um modelo ramificado, que: a) amplia a adoção,
em perspectiva, dos canais digitais interação das equipes de repórteres nas ruas com a redação
integrada; b) reforça o uso dos canais digitais de integração vertical, como tendência, entre as
redações dos telejornais da Rede Globo; e c) naturalização da polivalência multimídia, pela
percepção de que não há limite entre um meio e outro, reforçando nas rotinas produtivas
cotidianas, que esta é a forma adequada de profissional ao ambiente digital estruturado, com o
foco de produção multiplataforma em detrimento da apuração dos fatos de Kischinhevsky
(2009).
No modelo de separação física entre as redações dos telejornais e o Portal R7, calcado
no modelo centrado do Portal R7 na sede da Rede Record, reforça: a) o uso em perspectivas,
de canais de integração horizontais entre o Jornal da Record e Jornal da Clube com o Portal
R7; b) a adoção dos canais digitais de integração vertical, como tendência, entre as redações
dos telejornais da Rede Record; e c) a naturalização da polivalência funcional e temática pela
manutenção dos ambientes estritamente voltados um meio específico.
Nas duas Redes televisivas, a adoção tecnológica de ferramentas digitais, tais como
redes sociais, e-mails e smartphones e tablets, vem sendo configuradas como canais de
interação entre as equipes e a redação local. E na relação entre redações, nas redes televisivas,
tais ferramentas são adotadas como canais de integração vertical de redações. Na construção
da notícia, as ferramentas digitais também vêm sendo usadas de forma gradativa como canais
de interação com o público, na captação e manutenção da audiência e distribuição de
conteúdos. As fontes oficiais tradicionais que costumam registrar as próprias atividades, como
é o caso do polícia federal, militar e civil, também colaboram com imagens de vídeos e
fotografias para a construção das reportagens. Neste sentido, o uso das ferramentas
tecnológicas nas rotinas produtivas, refere-se à aplicação das mesmas como canais de
integração entre as redações dos meios, e como canais de interação entre jornalistas da
redação e os repórteres nas ruas; o telespectador, e fontes oficiais, como as polícias.
Com base nas reportagens monitoradas, evidencia-se que o uso dos canais de
interação mais recorrentes, esta na relação de compartilhamento de conteúdos, na Rede
Record e Rede Globo, entre a redação e as fontes oficiais policiais. Esta interação permite
subsidiar as rotinas produtivas noticiosas dos telejornais das duas redes, com imagens
relevantes e de difícil acesso, pelas situações adversas que envolvem apreensões e confrontos,
191
inerentes a própria rotina policial. Os canais de interação também propiciam a colaboração do
público com uma realidade que se amplia, na Rede Record e Rede Globo, com vídeos e fotos
realizados principalmente por tecnologias móveis, como os smartphones, juntamente com a
ampliação do uso de imagens de circuitos de segurança internos de residências e
estabelecimentos, bem como câmeras de trânsito e segurança das ruas. Os canais digitais de
interação com público, na Rede Record e Rede Globo, enfatizam que a adoção de tecnologia
nem sempre está vinculada, apenas, a possibilidade das novas mídias, mas sim a adequadas
estratégias e posicionamentos dos telejornais para com a sociedade, e a cultura profissional e
organizacional. Tal posicionamento e adoção de conteúdos do público reforçam a necessidade
de mais critérios profissionais de controle e apuração da informação, apontado por Gomes
(2011).
O uso de ferramentas digitais, nas rotinas produtivas das duas redes televisivas,
configuradas como canal de interação das equipes com a redação, em que se observa a
colaboração entre os profissionais, organiza as equipes nas coberturas dos acontecimentos.
Tais canais digitais de interação reforçam a polivalência funcional na Rede Record e Rede
Globo na adoção dos mesmos para fotografar ou filmar acontecimentos nas ruas pelos
repórteres dos telejornais, bem como a polivalência midiática, quando estes conteúdos são
enviados para a redação, no intuito de compor as notícias dos portais R7 e G1.
O uso de canais de integração vertical entre as redações dos telejornais da Rede
Record e Rede Globo, que possibilitam o compartilhamento de imagens e conteúdos,
fortalecem a marca da qualidade de produção das duas redes televisivas. A integração
vertical, por meio de canais digitais, refere-se ao compartilhamento de reportagens e cobertura
de acontecimentos geograficamente distantes de um determinado telejornal, que necessita da
equipe, equipamentos e imagens de outro telejornal, pertencente à Rede Televisiva Record ou
Globo. Tal integração na Rede Record e Rede Globo permite que em quase todo território
nacional um acontecimento possa rapidamente chegar a tempo de entrar no Jornal da cabeça
de rede, por meio de FTP ou fibra ótica, que substituiu o rebatimento de satélites via Embratel
para transferência de conteúdos de uma praça para outra, muito utilizados nos anos 70. Desta
forma, os antigos canais de integração analógicos vão cedendo espaço para os digitais,
embora o modo de fazer permaneça, pois no geral o que está se inovando são as ferramentas
não os processos, na flexibilização do modelo produtivo.
A flexibilização do modelo produtivo dos anos 70, na perspectiva de um modelo
convergente, nas Redes Record e Globo, vem colocando em segundo plano o papel dos
telejornais nas sociedades liberais democráticas, na construção social da realidade por meio
192
das notícias, informando com credibilidade, em uma relação de confiança, os acontecimentos
cotidianos ao público. Nestes interstícios migratórios entre modelo produtivos, os portais R7 e
G1 estão sendo configurados, em uma perspectiva conservadora, como um compilador dos
conteúdos dos telejornais da Rede Record e Rede Globo, respectivamente. Entretanto, pela
diferença dos meios digitais, centrada na distribuição por demanda, distante da lógica de
grade de programação da oferta televisiva, colabora para reorganização na prioridade da
distribuição dos factuais nas duas Redes, sendo os portais R7 e G1 os primeiros a informar
um acontecimento factual.
No que se refere à adoção, em perspectiva dos canais digitais de integração horizontal
para o compartilhamento de conteúdos noticiosos entre os telejornais das redes televisivas e
os Portais R7 e G1, permitindo um diferenciado olhar sobre a perspectiva de convergir todos
os meios de um mesmo grupo de comunicação que compõe as redes televisivas, que possui
uma predisposição estrutural composta de distintos meios de comunicação tradicionais, a
exemplo dos Diário Associados de Pernambuco (TV Clube) e o Grupo Nordeste de
Comunicação (TV Asa Branca). Um fator favorável à integração restrita a um meio
tradicional e mídias digitais na Rede Record e Rede Globo é o fato dos meios de comunicação
(impresso, rádio e TV) não se integrarem da mesma forma, velocidade ou necessidade. Desta
forma, os meios digitais são a chave para a perspectiva de convergência nos grupos que
formam as redes televisivas Record e Globo, mas não é simples.
As estratégias de integração, embora, não sejam uma experiência nova, a mesma
ressurge nas Redes Televisivas Record e Globo, no atual contexto de convergência, por meio
da adoção social das mídias digitais. Esta renovada integração, como estratégia dos processos
de convergência, tende a gerar um novo caminho, menos conflitante através das relações das
mídias digitais e um meio tradicional analógico na perspectiva horizontal (meios distintos), e
na integração de redações e o processo vertical (meios similares). Nesta renovada estratégia,
de produzir notícias integrando as redações dos telejornais da Rede Recorde e Rede Globo, na
tendência de distribuição dos conteúdos nos Portais R7 e G1, respectivamente, evidencia-se
um descolamento das notícias da TV no meio original dos conteúdos telejornalístico. Neste
sentido, para as Redes Record e Globo, abre-se o desafio de repensar a pauta, os mecanismos
de apuração e as rotinas de construção da notícia para uma distribuição de forma diferenciada
em distintos meios, colaborando para a pluralidade e diversidade de abordagem de um mesmo
acontecimento, reforçando a percepção da qualidade das notícias no público.
Outro desafio é a perspectiva de renovação do modelo de sustentação da Rede Record
e da Rede Globo, com a justaposição dos meios televisivos e digitais, que equacione
193
credibilidade e rentabilidade, superando a tendência conservadora de compensar as perdas de
público e receitas publicitárias, com a redução de custos operacionais e a maximização da
produção, que resvala relação de confiança e credibilidade entre telejornal e público, pela
redução na qualidade das reportagens. Assim, o suposto lucro, pode reverter-se na ampliação
da perda de público na Rede Record e Rede Globo.
194
6. CONCLUSÃO
Esta tese se apresenta no momento em que os processos de convergência jornalística
se encontram em um interstício de assimilação do digital, nos 65 anos de telejornalismo no
Brasil. Neste sentido, ao longo dos desdobramentos tecnológicos da televisão na sociedade
brasileira, como suporte primário de distribuição das práticas jornalísticas de TV,
relacionadas ao modelo de sustentação econômico que conciliou rentabilidade e credibilidade,
favoreceram as atuais estratégias de reconfiguração dando novos sentidos as tradicionais
rotinas produtivas, em uma tendência conservadora de flexibilização, dentro dos modos de
produção, distribuição e perfil profissional do fazer no jornalismo de TV contemporâneo.
Neste cenário, residem os esforços empreendidos para a construção de um referencial teórico
que permitiram cumprir os objetivos traçados e confirmar a hipótese, bem como responder as
questões norteadoras de forma articulada com o estudo empírico realizado nos quatro
telejornais analisados das duas principais redes televisiva do país, levando a identificação a
Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis, no atual contexto de convergência jornalística.
A mesma afirma que: nos primeiros quinze anos deste século, as rotinas produtivas
noticiosas vêm se reconfigurando por meio de canais digitais de integração verticais nas
redações dos telejornais de início de noite, em redes televisivas. Em que o fazer
jornalístico é realizado por profissionais polivalentes multimídia e distribuído de modo
multiplataforma, entre meios televisivos e digitais, flexibilizando como tendência o
modelo de produção dos anos 70, na perspectiva conservadora de uma produção
convergente. Tal enfoque amplia a abordagem de modelo de integração horizontal física
apontada por alguns autores, tais como López-García e Fariña (2010); Salaverría
(2010); Jenkins (2010); Corbière (2010); bem como fornece precisão as fases da TV de
Mattos (2010) e do telejornalismo de Rezende (2010).
Neste sentido, a confirmação da hipótese ocorreu pela compreensão de que no atual
estágio do telejornalismo contemporâneo em rede de início de noite, em que se inserem a
adoção tecnológica e estratégias de integração no atual contexto de convergência jornalística.
O atual estágio flexível nas rotinas se evidencia pelo tencionamento entre o modelo
consolidado na década de 70, que não foi plenamente abandonado nas atuais rotinas
produtivas, nem ocorreu a adoção de um novo modelo convergente, embora se evidenciem
alguns experimentos e práticas que apontem para a convergência, como a integração
horizontal entre os meios digitais e a mídia televisiva. Esta configuração que concentra traços
do fazer da década de 70 e sinais que apontam para a convergência reforça o estado flexível
195
das rotinas produtivas no telejornalismo contemporâneo. A perspectiva conservadora das
Rotinas Produtivas Flexíveis dar-se pela busca, pelos grupos de comunicação, que formam
as redes televisivas, de um modelo de sustentação e produção, que configura as mídias
digitais na lógica dos meios tradicionais, como compensação das perdas de público e receitas
publicitárias por meio da redução de custos operacionais e maximização da produção, em
detrimento ao papel dos telejornais nas sociedades liberais democráticas, de construção social
da realidade, informando com credibilidade em uma relação de confiança os acontecimentos
cotidianos por meio das notícias. Rotinas estas que são caracterizadas pela: a) a integração
vertical das redações, por canais digitais de uma mesma rede televisiva; b) distribuição de
notícias multiplataformas entre suporte televisivo e mídias digitais, e c) realizadas por
profissionais polivalentes multimídia.
Outros tipos de rotinas produtivas face a convergência – no percurso de elaboração
da tese, ainda foi percebido outros tipos de rotinas produtivas nos telejornais em rede de
início de noite. Foram possíveis de ser consideradas na caraterização do fazer nas redações do
telejornalismo contemporâneo, em dois polos que cercam as Rotinas Produtivas Flexíveis,
que contempla o modelo produtivo corrente consolidado nos anos 70 e o modelo convergente:
a) Rotinas produtivas resistentes – As rotinas produtivas se caracterizam como
resistentes quando a integração ocorre apenas no ambiente de trabalho, nas redações. Assim, a
integração é meramente física, em que as redações estão concentradas em um mesmo espaço
físico, mas a produção e distribuição são independentes dos demais meios, ficando a produção
orientada para um meio específico. Neste tipo de rotina produtiva, as atividades estão mais
ancoradas na lógica produtiva consolidada nos anos 70, para cada meio um tipo específico de
rotina, notícia e profissional.
b) Rotinas produtivas convergentes – A produção é centrada na integração horizontal
de meios diversos e a distribuição é multiplataforma de caráter amplo, envolvendo TV, rádio,
impresso e mídias digitais. No que se refere ao fazer jornalístico, o mesmo sofre adaptações
conforme a veiculação de meios, ou seja, polivalência de midiática. Nestas rotinas produtivas,
as notícias e profissionais assumem os formatos e atribuições dos distintos veículos de
distribuição de conteúdos, entre os meios integrados horizontalmente. Assim, na rotina
produtiva convergente dilui a ideia de rotinas produtivas veiculadas a um determinado veículo
jornalístico ou suporte específico.
A manutenção da flexibilidade e a colaboração com outros autores – Os grupos de
comunicação, em rede televisiva, buscam modelos confiáveis para implantarem novos
processos tecnológicos. Contudo, esta busca não é uma urgência, principalmente pelo fato dos
196
atuais números de quantitativo de público dos principais telejornais da rede, ainda serem
aceitáveis dentro dos índices televisivos, em que 79% dos brasileiros assistem TV para ver
notícias (BRASIL, 2014b). Embora o quantitativo de público, base do atual modelo de
sustentação ainda sejam aceitáveis, os grupos de comunicação, na adoção das mídias digitais,
não podem continuar a operar na mesma lógica dos meios tradicionais, pois estão reduzindo o
quantitativo do público jovem, elemento de renovação do público. As barreiras para avançar
do modelo flexível para o modelo convergente estão concentradas em dois fatores: a)
números ainda favoráveis e b) ausência de modelo confiável convergente, que equacione
produção noticiosa qualificada (credibilidade) e anseios empresariais (rentabilidade).
O tensionamento do modelo produtivo dos anos 70, na direção de um modelo
convergente, pontuado pelas duas barreiras apresentadas, fornece precisão as fases da TV e do
telejornalismo no Brasil de Mattos (2010) e Rezende (2010), colaborando com os
apontamentos de Fase de convergência e da qualidade digital e Fase da portabilidade,
mobilidade e interatividade digital de Mattos (2010) e Fase da busca de novos modelos de
telejornalismo de Rezende (2010). Na perspectiva de ampliação e balizamento das abordagens
dos autores: López-García e Fariña (2010); Salaverría (2010); Jenkins (2010); e Corbière
(2010). Para López-García e Fariña (2010) o cenário aponta para um futuro convergente dos
meios de comunicação, embora o processo ainda não seja preciso e estruturado. Dentro das
estratégias empresariais, os grupos de comunicação acreditam estar no caminho da
convergência, reforçando a tendência de fusão ou integração das redações (SALAVERRÍA,
2010). Em que a integração das redações em um espaço comum é a marca de uma
transformação “inexorável” para as empresas que desejam se manter (CORBIÈRE, 2010).
Neste sentido, estabelece a perspectiva para atingir o modelo de convergência jornalística
proposto por Salaverría et al. (2010) no telejornalismo de rede de início de noite, o processo
não ocorre de uma forma direta. Este posicionamento que reforça o estado flexível, de
tencionamento entre os modelos produtivos, reflete a percepção de implantação da
convergência apontada por Jenkins (2008), em que o processo envolve uma série contínua de
interstícios. Este interstício assimilatório não é privilegio da convergência, mas parece ser
uma característica das adoções tecnológicas em relação às rotinas produtivas, como no início
da TV.
Síntese das respostas as questões norteadoras da pesquisa - A primeira questão
norteadora refere-se aos processos de convergência jornalística, por meio das estratégias de
integração nas redações dos telejornais de rede de início de noite: o processo encontra-se em
um estágio de flexibilização, que concentra traços do fazer da década de 70 e sinais que
197
apontam para a convergência. Neste interstício de reconfiguração dos meios tradicionais, com
a adoção das mídias digitais, ocorre a busca de um modelo de sustentação econômica, dos
grupos de comunicação, em perspectiva de caráter conservador, que se evidencia as Rotinas
Produtivas Flexíveis. A tendência de manutenção deste processo migratório, para um modelo
convergente sustentável, reside na ausência de um processo de convergência seguro que
equacione a sustentação e desenvolvimento dos grupos de comunicação, com um produto
noticioso que informe com credibilidade ao público. Como perspectivas, a justaposição entre
meio televisivos e meio digitais, abre-se um caminho de possibilidades positivas, embora o
processo de convergência seja conservador centrado na manutenção e ampliação das
audiências.
Considerando a segunda questão norteadora, que aponta as influências na produção: A
interferência na produção do atual modelo de Rotinas Produtivas Flexíveis, em que se
evidencia, que os canais digitais de integração são elementos viabilizadores para os grupos de
comunicação, ocorre sobre os conteúdos produzidos que podem alimentar os telejornais de
uma determinada rede de comunicação e que são componentes centrais para estruturação e
fortalecimento: a produção, abrangência e velocidade dos processos das redações cada vez
mais integradas, e operando, segundo a lógica que pode se aproximar do modelo de
jornalismo convergente, principalmente pela proximidade, muitas vezes físicas entre os
portais e as redações dos telejornais, permitindo uma distribuição multiplataforma do que é
produzido para o jornal, por perfis profissionais naturalizados de polivalência multimídia.
Na terceira questão norteadora, no que se refere às estratégias de integração de uma
mesma rede televisiva, o reflexo na: autonomia dos veículos e profissionais e divergência
tecnológica. De forma contraditória, as integrações, no atual contexto de convergência,
preservam a heterogeneidade de perspectivas e autonomia dos veículos nas redações. Em
virtude dos compromissos dos veículos com a credibilidade do que é veiculado, e da
característica do próprio jornalista de ser plural na composição das redações. Assim, a
preservação das diferenças nos enfoques na construção das reportagens, inibem a
homogeneização e a redução da autonomia. Desta forma, dentro das contradições do
capitalismo, a divisão física de uma mesma redação abre espaço para a divergência. E
contraditoriamente as divergências dos meios preserva a autonomia na relação entre eles.
Com base na integração ampla dos meios, a pesquisa deu sinais que o quantitativo de meios
envolvendo a integração, esta diretamente proporcional à divergência, assim quanto mais
meios integrados, maior é a divergência e a dificuldade de manutenção do processo de
convergência.
198
Na quarta questão é apontada a orientação empresarial de produção integrada de
notícias multiplataformas realizadas por jornalistas polivalentes, nas redes televisivas: A
distribuição multiplataforma das notícias no fazer telejornalístico, é uma tendência. Com a
adoção das mídias digitais, os grupos de comunicação que formam as redes televisivas estão
disponibilizando os conteúdos dos telejornais nos portais. Com a orientação da produção de
notícias adequadas a diversos veículos, reforça-se a necessidade do jornalista multiplataforma.
Os fatores que configuram a polivalência jornalística não são casuais e nem naturais, pois
como um processo de mudança sistêmica, a polivalência não está dissociada de um conjunto
de forças e tendências. Os meios estruturados em mídias digitais possuem uma capacidade de
aglutinar os diversos formatos, como os analógicos tradicionais, que em geral não ampliam as
formas expressivas nesta recombinação/junção. No atual processo de convergência
multiplicam-se as novas plataformas e formatos que estão diretamente relacionados às
condições de exercício da profissão jornalística.
Na quinta questão é abordada a relação entre as integrações e anseios empresariais de
reduzir custos, manter e ampliar a produção noticiosa dos veículos integrados. Desta maneira,
a tendência do processo com a desconfiança de redução de custo e maximização da produção,
colaborando com o argumento de que os grupos de comunicação tentam reverter o fluxo
migratório de audiência dos meios tradicionais para os digitais colocam as redações
integradas como estratégias para atender a demanda com o menor custo de produção, como
compensação das perdas de audiências e receitas publicitárias, base do atual modelo de
sustentação. Entretanto, a busca por redução de custos e a maximização da produção, com
base na relação de confiança e credibilidade entre telejornal e telespectador. O suposto lucro,
pode se revelar como perda de audiência, se a redução de custo afetar negativamente a
qualidade das reportagens.
A última questão norteadora aponta para o produto final das redações, como as
estratégias de integração interferem na percepção da qualidade das notícias, a qual se refere à
credibilidade, na relação de confiança com o telespectador: o atual contexto de convergência
jornalística também coloca desafios para manter a qualidade nas rotinas produtivas e a
apuração dos acontecimentos relevantes, que serão transformados em notícias. Esta
manutenção da credibilidade está diretamente relacionada ao profissional de jornalismo, nas
rotinas produtivas, que perpassa a relação com as fontes e apuração, sem deixar de lado a
visão crítica no atual contexto de convergência. Assim, recai sobre os valores e o
compromisso ético dos profissionais que formam as equipes do telejornal, na busca pela
199
informação correta e apuração. Visto que a qualidade das noticias na percepção do público
respalda a credibilidade do telejornal.
No sentido dos achados é preciso viabilizar espaços e processos para a perspectiva do
fazer no telejornalismo, que considera o jornalismo como um dos fatores da construção do
espaço público, na construção da realidade social com credibilidade. Enfoque que é reforçado
nos telejornais que na configuração dos meios, apresentam-se como principal fonte de
informação noticiosa, nas atuais sociedades liberais democráticas, constitui-se como lugar de
referência para população, como principal fonte de informação com credibilidade. Esta
abordagem é fundamental para ampliar e manter a função primária da informação com
credibilidade em uma relação de confiança dos telejornais, nos 65 anos de veiculação, por
meio de noticias, no atual contexto de convergência. Assim, para garantir que o processo de
convergência se paute em objetivos renovadores, é necessário o papel ativo dos jornalistas,
visto que a estrutura tecnológica é uma causa, dentro da abordagem sócio-tecnica. Neste
sentido, é possível alterar os rumos dos processos convergentes que caminham para uma
perspectiva conservadora, que ofusca o papel do jornalista na implantação dos processos de
convergência.
Desdobramentos – Esta pesquisa doutoral não se limita aos quatro anos no Programa de
Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. O percurso
na companhia dos livros e dados coletados pelo trânsito em eventos e contatos com
pesquisadores da área reforçam a necessidade de construir uma pauta de pesquisa no Grupo
de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade (PPGCOM/UFPE) na perspectiva da
convergência do jornalismo, dentro de uma abordagem sócio-tecnica, como elemento
colaborador da construção social da realidade, para que os achados relevantes para área e para
sociedade possam ser analisados e aprofundados com o devido rigor, bem como os que não
encontraram guarida na presente tese. Assim, as pesquisas futuras se debruçaram na
ampliação da aplicação da Hipótese das Rotinas Produtivas Flexíveis, e desdobramentos no
fazer do telejornalismo contemporâneo, calcado na suspeita de que em perspectiva a
efetivação dos processos produtivos da convergência caminha na forma conservadora. Desta
forma, desafiam-se as futuras pesquisas a identificar, por meio de grupo de pesquisa ligado a
programas de pós-graduação quais as características destas rotinas produtivas convergentes.
Bem como a contínua disseminação dos achados para a academia e para a sociedade por meio
de participação em eventos, lecionamento, publicação em periódicos da área e publicação de
livros.
200
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APÊNDICE
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APÊNDICE A
ROTEIROS PARA ENTREVISTAS
Fonte 01: Função: Apresentador(a) Contatos: Local e data da entrevista: Objetivos da entrevista: Histórico: A - Rotinas 1. Qual o papel(função) do(a) apresentador(a) no telejornal? 2. Qual a rotina do(a) apresentador(a) na construção do telejornal ( o mesmo participa das reuniões de pauta ou de reportagens)? B - Rotinas e tecnologia 3. Quais as principais ferramentas tecnológicas (internet, celular, rede sociais) utilizadas em sua rotina de trabalho? E Quais as principais ferramentas de integração utilizadas pelos jornalistas e como eles as utilizam? 4. Qual a importância da integração do telejornal com outras praças, no que se refere a construção do telejornal? 5. Existe uma orientação pela atualização tecnológica dos profissionais de jornalismo que compõe a equipe do telejornal? Tal orientação vem dos próprios jornalistas ou da emissora? 6. É comum a integração de tecnologias no cotidiano profissional da equipe do telejornal? De que maneira? Quais as ferramentas utilizadas para isso? 7. Qual o papel da internet no trabalho do jornalista aqui na redação? 8. Quais as principais fontes de informação (polícia federal, sociedade, circuito de segurança) utilizadas pelos jornalistas, para buscar imagens dos acontecimentos? C - Rotinas e integração de redações (convergência) 9. O que você pensa sobre a possibilidade de integração das redações? 10. Existe uma orientação ou processo de flexibilidade dos profissionais das redações, para que os mesmos sejam capazes de fazer o trabalho de qualquer outro jornalista? 11. Em que medida a integração de uma redação pode influenciar a pluralidade ou diversidade profissional, na redação? 12. Em que medida a integração de uma redação influencia na autonomia editorial dos veículos integrados?
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13. O processo de integração pode ampliar as perspectivas e possibilidades de atuação profissional dos jornalistas? Poderia dar exemplos? 14. Qual o papel do jornalista nos processos de convergência e estratégias de integração das redações. Existem contribuições no processo? Quais? 15. Como uma produção integrada de notícias multiplataforma afeta a qualidade das notícias produzidas? 16. Em que medida uma redação integrada viabiliza um telejornalismo de alto nível técnico, editorial, e ético? 17. No atual cenário de ampla circulação de informações, como vocês visualizam o desafio de informar uma sociedade que provavelmente já tem as informações? Existem estratégias de distribuição de conteúdos? 18. Qual o objetivo da integração das redações? Está atrelado a redução de custos e maximizar a produção? 19. Por fim, gostaria de relatar algo importante, com base no tema da entrevista, que não foi colocado? Fonte 03: Função: Produtor(a)/ Editor(a) Contatos: Local e data da entrevista: Objetivos da entrevista: Histórico: Sugestões de perguntas: A - Rotinas 1. Qual o papel(função) do(a) Produtor(a)/ Editor(a) no telejornal? 2. Qual a rotina do(a) Produtor(a)/ Editor(a) na construção do telejornal? B - Rotinas e tecnologia 3. Quais os critérios de noticiabilidade seguidos pela emissora? 4. Quais as principais ferramentas tecnológicas (internet, celular, rede sociais) utilizadas em sua rotina de trabalho? E Quais as principais ferramentas de integração utilizadas pelos jornalistas e como eles as utilizam? 5. Qual a importância da integração do telejornal com outras praças, no que se refere a construção do telejornal? 6. Existe uma orientação pela atualização tecnológica dos profissionais de jornalismo que compõe a equipe do telejornal? Tal orientação vem dos próprios jornalistas ou da emissora?
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7. A emissora privilegia a apuração a partir da redação ou do palco dos acontecimentos? Quais as ferramentas utilizadas para isso? 8. Qual o papel da internet no trabalho do jornalista aqui na redação? 9. Quais as principais fontes de informação (polícia federal, sociedade, circuito de segurança) utilizadas pelos jornalistas, para buscar imagens dos acontecimentos? 10. Você acompanha a comunidade da emissora nas redes sociais e blogs? Através de quais ferramentas? Como isso afeta seu trabalho? C - Rotinas e integração de redações (convergência) 11. O que você pensa sobre a possibilidade de integração das redações? 12. Existe uma orientação ou processo de flexibilidade dos profissionais das redações, para que os mesmos sejam capazes de fazer o trabalho de qualquer outro jornalista? 13. Em que medida a integração de uma redação pode influenciar a pluralidade ou diversidade profissional, na redação? 14. Em que medida a integração de uma redação influencia na autonomia editorial dos veículos integrados? 15. Os processos de integração podem ampliar as perspectivas e possibilidades de atuação profissional dos jornalistas? Poderia dar exemplos? 16. Qual o papel do jornalista nos processos de convergência e estratégias de integração das redações. Existem contribuições no processo? Quais? 17. Como uma produção integrada de notícias multiplataforma afeta a qualidade das notícias produzidas? 18. Em que medida uma redação integrada viabiliza um telejornalismo de alto nível técnico, editorial, e ético? 19. No atual cenário de ampla circulação de informações, como vocês visualizam o desafio de informar uma sociedade que provavelmente já tem as informações? Existem estratégias de distribuição de conteúdos? 20. Qual o objetivo da integração das redações? Está atrelado a redução de custos e maximizar a produção? 21. Por fim, gostaria de relatar algo importante, com base no tema da entrevista, que não foi colocado? Fonte 04: Função: portal Contatos:
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Local e data da entrevista: Objetivos da entrevista: Histórico: Sugestões de perguntas: A – Rotinas 1. Você integra a equipe do portal desde a implantação? Quando ocorreu? Quais as principais mudanças que você observou na emissora nestas novas reconfigurações e principalmente mudanças nas rotinas produtivas e perfil profissional? 2. Qual o papel do portal nas rotinas produtivas do telejornalismo da emissora? 3. Existe uma preocupação com o uso do portal pelos jornalistas da TV? Como isso se dá? Quais as ferramentas adotadas? 5. Qual a diferença entre os processos jornalísticos entre a TV e portal? B – Rotina e Tecnologia 6. Qual a importância das tecnologias no dia-a-dia da emissora? Quais as principais ferramentas tecnológicas (internet, celular, redes sociais) utilizadas pelos jornalistas e como eles as utilizam, na construção dos telejornais? 7. Qual o papel da internet na rotina do telejornalismo? 8. Quais as principais fontes de informação (polícia federal, sociedade, circuito de segurança) utilizadas pelos jornalistas, para buscar imagens dos acontecimentos? C - Rotinas e integração de redações (convergência) 9. O que você pensa sobre a possibilidade de integração das redações? 10. Os processos de convergência jornalística, por meio das estratégias de redações integrada podem influencia a produção (negativa ou positivamente)? 11. Como as estratégias de redações integradas, podem visualizam questões específicas de autonomia dos veículos e profissionais e divergência tecnológica? Ou é possível pensar em uma rotina produtiva única? 12. Em sua opinião, qual o objetivo da integração das redações? Está atrelado a redução de custos e maximizar a produção? 13. Em geral, quando se fala em processo de convergência nos grupos de comunicação, tais processos parecem se encontrar em uma etapa preliminar, marcada pela improvisação. Existe um modelo convergente de confiança ou redação integrada no telejornalismo brasileiro? Poderia ampliar a discussão com exemplos? 14. No atual cenário de ampla circulação de informações, como vocês visualizam o desafio de informar uma sociedade que provavelmente já tem as informações? Existem estratégias de distribuição de conteúdos?
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15. Em que mediada existe uma preocupação em produzir um noticiário descolado ou desprendido da TV, dentro de rotinas de produção integrada de distribuição multiplataforma de notícias? 16. Qual o papel do jornalista nos processos de convergência e estratégias de integração das redações. Existem contribuições no processo? Quais? 17. Os processos de integração podem ampliar as perspectivas e possibilidades de atuação profissional dos jornalistas? Poderia dar exemplos? 18. Existe uma orientação ou processo de flexibilidade dos profissionais das redações integradas, para que os mesmos sejam capazes de fazer o trabalho de qualquer outro jornalista? 19. Por fim, gostaria de relatar algo importante, com base no tema da entrevista, que não foi colocado? Fonte 05: Função: Diretor Executivo de Jornalismo / setores de gestão Contatos: Local e data da entrevista: Objetivos da entrevista: Histórico: Sugestões de perguntas: 1. Você integra a equipe do telejornal desde a integração. Quais as principais mudanças que você observou na emissora nestas novas reconfigurações e principalmente mudanças nas rotinas produtivas e perfil profissional? Como foi a implantação da redação integrada? Quando ocorreu? 2. O que, para o telejornal, define o valor de uma notícia na grade de programação? 3. Qual o papel das afiliadas na grade de programação e no fazer jornalístico do telejornal? Elas definem seus critérios de noticiabilidade e os critérios de definição da programação ou há um padrão de rede, com as redações integradas? 4. Qual a importância do portal para o telejornal? Existe uma preocupação com o uso do portal pelos jornalistas da TV? Como isso se dá? Quais as ferramentas adotadas? 5. Qual o perfil profissional do telejornal? E como ele interfere na composição da notícia, em redações integradas? 6. Qual a diferença entre o conteúdo e profissionais do telejornal? E em que medida a integração de uma redação influencia na autonomia editorial dos veículos integrados? 7. Quais as principais ferramentas de integração utilizadas em sua rotina de trabalho? E Quais as principais ferramentas de integração utilizadas pelos jornalistas e como eles as utilizam?
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8. Qual a importância de uma redação integrada para a emissora? 9. Quais as principais fontes de informação mediadas por computador utilizadas pelos jornalistas? 10. Como as discussões sobre convergência na TV afetam as rotinas do Jornal local, em redações integradas? Já há perspectiva de integração total da emissora em todos os setores, configurando uma emissora convergente? Ou a emissora já é assim? 11. Que perfil de profissional o telejornal busca, para compor as redações integradas? 12. Como as estratégias de redações integradas, visualizam questões específicas de autonomia dos veículos e profissionais e divergência tecnológica? Ou é possível pensar em um rotina produtiva única?
13. Como as redações integradas podem reduzir custo, manter e ampliar a produção noticiosa dos veículos integrados? por meio de um centro de produção única que alimenta todos os veículos? 14. No que se refere ao produto final das redações, como as redações integradas interferem na qualidade das notícias resultantes desta estratégia? 15. Em geral, quando se fala em processo de convergência nos grupos de comunicação, tais processos parecem se encontrar em uma etapa preliminar, marcada pela improvisação. Existe um modelo convergente de confiança ou redação integrada no telejornalismo brasileiro? Poderia ampliar a discussão com exemplos? 16. Qual o objetivo da integração das redações? Está atrelado a redução de custos e maximizar a produção? 17) Existe a intenção de integração total da emissora em todos os setores, configurando uma emissora convergente? Ou a emissora já é assim? 18) Em que mediada existe uma preocupação em produzir um noticiário descolado ou desprendido da TV, dentro de rotinas de produção integrada de distribuição multiplataforma de notícias? 19) Como um produção integrada de notícias multiplataforma afeta a qualidade das notícias produzidas? 20) Em que medida um redação integrada viabiliza um telejornalismo de alto nível técnico, editorial, e ético? 21) No atual cenário de ampla circulação de informações, como vocês visualizam o desafio de informar uma sociedade que provavelmente já tem as informações? Existem estratégias de distribuição de conteúdos? 22) Por fim, gostaria de relatar algo importante, com base no tema da entrevista, que não foi colocado?
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APÊNDICE B
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO DE CAMPO Telejornal: Rede: Data: Local: 1. Como pode ser caracterizado o fazer do telejornalismo na redação da emissora?
( ) Resistente ( ) Flexível ( ) Convergente Descrição do ambiente: Rotinas observadas: Impressões: Considerações:
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APÊNDICE C
ROTEIRO DE MONITORAMENTO Telejornal: Rede: Data: Reportagem: Duração: 1. Percepção de canal de integração/integração
( ) Fotos e vídeos da internet, incluindo Redes sociais; ( ) Câmeras de segurança, circuitos internos, câmera de trânsito e celulares; ( ) Fontes oficiais - Policia Militar, Civil e Federal; ( ) Compartilhamento de conteúdos e equipe na rede televisiva; Descrição da reportagem: Impressões:
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APÊNDICE D
FOTOS DAS REDAÇÕES
IMAGEM – Redação do Jornal da Record – Janeiro de 2014
Fontes: do Autor
219
IMAGEM – Redação do Jornal da Clube – Agosto de 2014
Fontes: do Autor
IMAGEM – NETV 2ª edição – Agosto de 2014
Fontes: do Autor
220
IMAGEM – ABTV 2ª edição – Agosto de 2014
Fontes: do Autor
221
APÊNDICE E
LISTA DE ENTREVISTADOS
Rede Record ENTREVISTADO FUNÇÃO ENTREVISTA Heródoto Barbeiro Apresentador e editor-chefe
da TV Record SP Realizada pessoalmente em
22/01/14 Aline Sordili Diretora de operações do R7 Realizada pessoalmente em
23/01/14 Luiz César Pimentel Diretor de Conteúdo do R7 Realizada pessoalmente em
23/01/14 Hélio Matosinho Editor Executivo do Jornal
da Record Realizada pessoalmente em
24/01/14 Otavio Toste Editor sênior do Jornal da
Record Realizada pessoalmente em
24/01/14 Luiz Carlos Malavolta Coordenador de reportagem
especiais do Jornal da Record Realizada pessoalmente em
24/01/14 Flavia Marques Produtora de Rede na TV
Clube Realizada pessoalmente em
28/08/14 Mayra Morais Editora Chefe do Jornal da
Clube Realizada pessoalmente em
28/08/14 Nádia Alencar Apresentadora do Jornal da
Clube Realizada pessoalmente em
28/08/14
Rede Globo ENTREVISTADO FUNÇÃO ENTREVISTA
Jô Mazarrolo Diretora de Jornalismo da Globo Nordeste
Realizada pessoalmente em 27/08/14
Bio Antero Chefe de Redação da Globo Nordeste
Realizada pessoalmente em 27/08/14
Vanessa Andrade Apresentadora do NETV 2ª
edição Realizada pessoalmente em
27/08/14 Francisco José Repórter de Rede da Globo
Nordeste Realizada pessoalmente em
27/08/14 Claudio Rodrigues Oliveira Gerente de Jornalismo da TV
Asa Branca Realizada pessoalmente em
05/08/14 Dione Carla de Guimarães Coordenadora de Produção e
Reportagem da TV Asa Branca
Realizada pessoalmente em 05/08/14
Almir Vila Nova Coordenador de Jornalismo do G1 e GE, Chefe de
redação do departamento de Jornalismo de TV, Editor e Apresentador do ABTV 2ª
edição
Realizada pessoalmente em 05/08/14
Anderson Melo Editor e Apresentador do ABTV 1ª edição da TV Asa
Branca, Editor e
Realizada pessoalmente em 06/08/14
222
Apresentador do jornal da 7 da Globo FM
Carlos Jael Soares Editor e Repórter do G1 Realizada pessoalmente em 06/08/14