castro, zília cardoso de. cultura e política de manuel borges carneiro e o vintismo

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    Cultura M oderna e Contempornea 5

    Cultura e Poltica

    Manuel Borges Carneiro

    e o Vintismo

    Zlia

    Osrio de Castro

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    Cultura e Poltica

    Manuel Borges Carneiro e o Vintismo

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    uiLuici iviuucrim e Contempornea 5

    Cultura e Poltica

    Manuel Borges Carneiro

    e o Vintismo

    Zlia Osrio de Castro

    Volume I

    2 ^

    Centro de Histria da Cultura da

    Universidade Nova de Lisboa

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    TITULO

    Cultura e Polt ica

    Manuel Borges Carneiro e o Vintismo

    1.* edi o 1990

    Srie Cultura Mo derna e Contempornea

    ISBN 972-667-120-5

    AUTOR

    Zlia Osrio de Castro

    EDI O

    Tiragem: 1000 exemplares

    Instituto Nacional de Investigao Cientfica

    Centro de Histria da Cultura da Universidade Nova de Lisboa

    C A P A

    Arra njo grfico de M rio Vaz a partir de desenho de D. A. de Sequeira

    Sala da primeira assemblia constituinte Palcio das Necessidades

    (MNAA)

    C OM POSI O E IM PR ESSO

    Tipografia Guerra Viseu

    Contribuinte n. 500 295 697

    DISTRIBUIO

    Imprensa Nacional / Casa da Moeda

    Rua Marqu s S da Bandeira, 16 1000 Lisboa

    Depsito legal

    n.

    35282/90

    Copyright ZUa Osrio de Castro

    TRABALHO PREPARADO NO CENTRO DE HISTRIA

    DA CULTURA DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA.

    DIRECO CIENTFICA DO PROF. J . S . DA SILVA DIAS

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    INSTITUTO NACIONAL DE INVESTIGAO CIENTFICA

    CENTRO DE HISTRIA DA CULTURA

    DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

    P UBL ICAE S E M CIRCUL AO (L IVROS OU ART IGOS ) :

    CUL T U RA HIS T RIA E F IL OS OF IA

    Vo l. I 1982

    Vo l. II 1983

    Vol. III 1984

    Vol. IV 1985

    Vol. V 1986

    Vol. VI 1987

    ART IGOS / SEPARATAS

    1.

    J. S. da Silva D ias:

    a)

    Pomb alismo e Teoria Poltica,

    1982;

    b)

    Pom balismo e Projecto Poltico,

    1983-1984;

    c)

    O Cnon e Filosfico Conimbricense (1592-1606).

    1985.

    2 . Joo F . de Almeida Pol icarpo,

    Deveres de Estado e pensamento social n'

    A

    Palavra.

    Uma interpretao,

    1982;

    Os Crculos Catdllcos de Operrios. Sentido e fontes de inspi

    rao,

    1986.

    3. M aria Lusa Braga, A Inquisio na poca de D. Nuno da Cunha de Ataide e Melo

    (1707-1750), 1982-1983; A polmica dos Terramotos em Portugal, 1986.

    4 . Mr io Sot to Mayor Cardia , O pensamento filosdfico do jovem Srgio, 1982.

    5. Fernando

    Gil,

    Um caso de inovao conceptual. A formao da teoria kantiana do espao

    (1746-1768),

    1983.

    6. Man uel M aria Carri lho, O empirismo analtico de Condillac, 1983; A Ideologia e a

    transmisso dos saberes. 1986.

    7. Piedade Braga Santos, Actividade da Real Mesa C ensdria. Um a sondagem (1983).

    8. Jo o Sgua , O problema do fundamento nas Investigaes Ldgicas de Husserl, 1983.

    9. Gra a Silva Dias , O Pr-Deismo. Esboo de uma interpretao,

    1983.

    10. Joo Paulo M ontei ro , Ideologia e economia em Hobbes, 1984.

    11 . Jos Esteves Pereira , Kant e a Resposta pergunta: o que so as Luzes?, 1984; Pensa

    mento

    filosdfico

    em Portugal. Conhecimento, Razo e Valores nos sculos

    XVIIl

    e XIX,

    1986; A Ilustrao em Portugal.

    12. Lus Fi lipe Barre to,

    O tratado da esfera de D. Joo de Castro,

    1984;

    Introduo sabe

    doria do Mar,

    1986;

    Introduo ao pensamento tcnico de Fernando Oliveira: em torno

    do Livro da Fbrica das Naus.

    13.

    M aria Lusa Co uto Soares,

    A linguagem como mtodo nas Prelaces Filosdficas de Sil

    vestre Pinheiro Ferreira,

    1984.

    14. An a M aria P. Ferreira, Mar

    Clausum.

    Mar

    Liberum. Dimenso doutrinai de um

    foco de tenses polticas,

    1984.

    15 . Diogo Pires Au rl io,

    O Mos

    Geomtricas

    de Thomas Hobbes,

    1985;

    A racionalidade

    do possvel, de S. Toms a Leibniz,

    1986.

    16. Antn io Marques ,

    A teoria da causalidade na terceira crtica de Kant,

    1986.

    17. Zlia Os rio de Ca stro,

    Constitucionalismo Vintista. Antecedentes e pressupostos,

    1986;

    O regalismo em Portugal. A ntdnio Pereira de Figueiredo.

    18. M aria Ivone de Ornel las de An drad e,

    Razo e Maioridade. Sculos XVII e

    XVIII, 1985;

    Sete reflexes sobre o Marinheiro,

    1986;

    Jos Sebastio da Silva Dias.

    Historia

    da Cul

    tura e Cultura da Hlstdria.

    19. Mar ia Laura Arajo , Jlio de Matos e a Psicologia do Sc. XIX.

    20. A. Coxi to , Para a Hlstdria do Cartesianismo e do Anticartesianismo na Filosofia Portu

    guesa (Sc. XVII-XVIII).

    21 .

    Joaqu im Ferre ira Gom es,

    Alguns Vcios da Universidade de Coimbra no Sculo

    XVII.

    segundo a Devassa de 161 9-1624.

    22. Nicolau de Almeida Vasconcelos Ra pos o, Alguns Aspectos da Teoria das Formas Subs

    tanciais de Antdnio Cordeiro

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    23. Lus Reis To rgal,

    Passos Ma nuel e a Un iversidade. Do Vintismo ao Setembrismo .

    24.

    Jos Manuel Teixeira dos Prazeres,

    D.

    Francisco

    M anuel de Melo e a Sociedade do seu

    tempo (1608-1666).

    25 .

    Maria Laura Pimenta Henriques Simes,

    D a Orgnica do Estado.

    26 .

    Jlio Gonalves Barreto,

    O Vintista perante o s problema s da Educao e do Ensino.

    11.

    Olmpia Silva Oliveira Valena Rebe lo,

    O Conceito da Liberdade em Joaquim Antdnio

    de Aguiar.

    28 .

    lida da Conceio Ferreira Saldanha,

    D.Francisco Alexandre Lobo e as Reformas dos

    Estudos

    29. Ma nuel Alberto deCarvalhoPrata. Reforma Pombalina da Universidade. F aculdade de

    Filosofia.

    30 .

    Maria Helena Pais de Sousa, Reformas Escolares. Ensino Primrio e Secundrio

    31.

    Maria Manuela Tavares Ribeiro,AImprensa Portuguesae asRevolues Europiasde1848

    Til. Fernando Catroga,Laicizao

    e

    Democratizao

    na Necrpole em P ortugual

    (1756-1911)

    33 . Rosa Esteves,

    Dilogos sobre a Justia. AlmeidaGarrett,

    Louis-Franois

    Raban e Vlctor

    Hugo.

    34.

    Isabel Nobre Vargues,

    Do Sculo das Luzes s Luzes do Sculo.

    35. Jos Henrique Dias,

    A Carta Constitucional Prom etida

    36 .

    Norberto Cunha,

    A Ilustrao de Jos da Cunha Brochado

    37 .

    Ftima Nunes,

    Notas para o estudo do periodismo cientfico: Annaes d as

    Scienciais

    das

    Artes e das Letras (1818-1822).

    38.

    Ana Maria Pina,

    Fidelidade e Suspeita.

    39.

    Jos Augusto dos Santos Alves, O Portuguez e o

    Discurso do Saber / Poder.

    40 .

    Francisco Contente Dom ingues,

    A Oraoda Abertura da Academia dasCinciasde Lis

    boa. Aspectos de uma polmica.

    41. Joo Pedro Rosa Ferreira, A Proposta Constitucional do Correio Braziliense.

    42 . Joo Lus Lisboa,

    Imagens de Cincia na Leitura Comum em Portugal.

    LIVROS

    CULTURA MODERNA E

    CONTEMPORNEA

    1. Maria deFtima Nunes, O Liberalismo em Portugal. Iderios e Cincias. O Universo

    de Marino Miguel Franzini (1800-1860).

    1 volume

    2.

    Jos Henrique R. Dias,

    JosFerreira Borges. Poltica e Economia.

    1 volume

    3.

    Ana Maria Ferreira Pina,

    D e Rousseau ao Imaginrio da revolu o n o discurso consti

    tucional das cortes de 1820-1822. 1 volume

    4.

    Maria Benedita Cardoso Cm ara,Francisco Soares Franconoperodode 1804-1823. Open

    samento crtico. 1 volume

    5.

    Zlia Osrio de Castro,Culturae Poltica. M anuelBorges Carneiroe o Vintismo. 2volumes

    PUBLICAES NO PRELO

    CULTURA HISTRIA E FILO SOFIA , VOL. VII (1988)

    1.

    J. F. de Almeida Policarp o,

    O pensamento social do grupo catdlico de APalavra

    (1872-1913). 2

    volumes de 600 pp. (previstas).

    2. Jos A. Santos Alves, Ideologia e Poltica na Imprensa do Exlio. O Portuguez

    (1814-1826).

    1 volume de 320 pp . (previstas).

    3. Joo Pedro Rosa Ferreira, O Jornalismo na Emigrao. Ideologia e Poltica no Correio

    Braziliense (1808-1822). 1 volume de 400 pp. (previstas).

    4.

    Jos S. da Silva Dias, O (novo) Erasmismo e a Inquisio em Portugal no sculo XVI,

    2

    volumes, no tota l de 700 pp . (previstas);

    A Inquisioe ostextos pedaggicosde Erasmo.

    1 volume de 120 pp. (previstas).

    5.

    Graa Silva Dias,

    Do deismo ao tesmo:

    Jos Anastcio

    da Cunha e o seu crculo.

    1 volume

    de cerca de 550 pp. (previstas).

    6. Jlio J. da Cos ta Rodrigues da Silva,

    Teses em confronto nas Cortes Constituintes de

    1837-1838.

    1 volume de 350 pp. (previstas).

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    A MEUS PAIS

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    PREFACIO

    O meu primeiro contado coma problemtica vintista remontaao

    tempo em que

    freqentava

    a

    cadeira

    de H istria da Cultura Portuguesa,

    ento

    regida,

    na Faculdade de Letras daUniversidadede Co imbra, pelo

    Prof. Silva Dias. Optei, nessa altura pela possibilidade, oferecidapor

    este Professoratodoocurso,detrocaromtodo tradicional de apren

    dizagem pelo regimede seminrio, substituindo preleco m agistral

    a investigao pessoal como fonte deaqu isiodeconhecimentos.Fiz

    assim parte dopequeno grupo dealunos que, sob aorientao ime

    diata

    do Prof.

    Jos Esteves Pereira

    (ao

    tempo,

    no

    incio

    da

    carreira

    universitria), participaram numa experinciadeensino cujos a spectos

    positivos no sopara olvidar.

    O contado com textos representativosdopensamento

    liberal

    por

    tugus dos princpios do sculo XIX iniciadodeste modo, iria ter conti

    nuao natural nafreqncia doSeminrio deCultura Portuguesae,

    finalmente, na escolhade umtemadeinvestigao.A dissertaoque

    em

    1987

    apresentei Faculdade de Cincias Sociais e Hum anas da Uni

    versidade Nova de Lisboa representa, portanto,

    o

    resultado

    de um

    tra

    balho depesquisa e anlise cujos primeiros passos, a nvel doutrinai

    e metodolgico, foram dados no mbitodeum aexperinciapiloto. Ape

    sarde tudo, nemsemprefoi fcil prosseguir num caminho, aliciante

    sem dvida, mas paraoqualosestudos

    curriculares

    da licenciaturaem

    Cincias histricas pouca ounenhuma preparao ministravam. M uito

    fiquei adever,porisso, aoProf. Silva Dias, meu orientador cientfico,

    no

    s

    pelo incentivo prestado nalguns mom entos

    de

    desnimo,

    mas

    tambm, e sobretudo, pelo saberdo seumagistrioepela pertinncia

    dos seus conselhos, revelados nospontos cruciaisda investigaoe

    durante o tempo em que,como suaassistente, colhiosbenefciosdas

    perspectivas

    abertas

    pelas

    cadeiras

    de H istria das

    Idias

    PolticaseCul

    tura Portuguesa.

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    PREFACIO

    Sob os auspcios desta orientao realizei as pesquisas necessrias

    ao estudo da figura po ltica de Manuel B orges C arneiro segundo atr

    plice perspectiva que viria a encontrar expresso formal na diviso do

    presente texto em trs partes. N a primeira, de

    caracter

    biogrfico, pro

    curei definir a personalidade do deputado, situando-o como cidado,

    como magistrado e como poltico na sociedade do tempo, mediante o

    conhecimento das vicissitudes sofridas e do

    caracter

    revelado pelo juzo

    dos contemporneos. Na segunda, pretendi caracterizar o personagem

    sob o ponto de vista da actividade parlamentar, integrando-o nos deba

    tes suscitados por questes de reconhecido interesse (j que a sua capa

    cidade de participao, verdadeiramente excepcional, tornou imprati

    cvel um estudo exaustivo), para determinar, pelo teor das intervenes

    e pela forma de votar, a posio relativa ocupada en tre os mem bros

    da primeira assemblia liberal portuguesa. Na terceira e ltima parte,

    intentei valorar o contributo do magistrado no estabelecimento, evolu

    o e objedivos do regime vintista, indo procurar as razes doutrinrias

    do seu discurso (oral e escrito) aos autores representativos do pensa

    mento europeu em matria poltica, religiosa e

    econmica,

    e avaliando

    a receptividade manifestada relativamente s

    idias

    enunciadas.

    Por

    fim,

    unindo num todo as trs partes apenas metodologicamente divididas,

    apresentei na sntese final a dimenso cultural de um deputado liberal,

    fortemente empenhado no regime vintista e com um perfil pessoal e

    social definido com um mximo de objedividade.

    No obstante julgar fora de discusso o reconhecimento de M anuel

    Borges Carneiro como figura representativa do primeiro

    liberalismo

    por

    tugus, estou consciente da relatividade do meu contributo para a com

    preenso do vintismo. Na verdade, passar do particular para o geral

    no plano dascincias culturaistem, inevitavelmente, um significado redu-

    tor e, como tal, tarefa contestvel aplicar aprioristicamente ao todo,

    aquilo que apenas conhecimento fundamentado da parte. Isto signifi

    caria, no presente caso, entender o poltico, no com o um ente situado,

    mas como um ente universal. Significaria tambm entender o libera

    lismo vintista como algo de homogneo, sem tenses nem confrontos,

    ou seja, fora da perspectiva dinmica revelada no processo de implan

    tao,

    queda e

    seqelas

    do m ovimento liberal. Seria, em ltima anlise,

    assumir uma atitude a-histrica, j que ser difcil compreender a His

    tria, nomeadamente a Histria das Idias, sem os indivduos concre

    tos

    os homens situados

    quer se coloquem no incio, quer no fim

    do esquema interpretativo de uma poca ou de um acontecimento. Neste

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    PREFCIO

    sentido, se a histria do vintismo no se pode fazer sem a histria de

    Borges Carneiro, tambm no se pode fazer sem a histria de tantos

    outros que, na mesma poca, fizeram seu o ideal de liberdade. Da,

    o

    caracter

    problemtico, que no dogm tico, das concluses a que

    cheguei.

    Para terminar, resta-me dirigir umas palavras de agradecimento.

    Em primeiro lugar, ao Prof.Silva Dias pelo encorajamento e orienta

    o com que ficaram assinalados certos perodos da realizao deste

    trabalho. Depois, para todos os que, dando provas de sincera e leal

    amizade, suavizaram os momentos difceis com palavras de nimo e

    nunca deixaram de manifestar, das mais

    diversas

    formas, o seu apoio

    e ajuda.

    Quero tambm lembrar aqui, com reconhecimento, a boa-vontade

    e disponibilidade encontradas junto dos funcionrios do Arquivo Nacio

    nal da Torre do Tombo, Arquivo da

    Universidade

    de Coimbra, Arquivo

    Histrico-Parlamentar

    da

    Assemblia

    da Repblica,

    Biblioteca da

    Ajuda,

    Biblioteca Nacional de Lisboa, Biblioteca Pblica de vora e Biblio

    teca Geral da Universidade de Coimbra.

    Lisboa, 13 de Junho de 1989.

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    ABREVIATURAS

    AAR Arquivo Histrico-Parlamentar da Assemblia da Repblica

    AU C Arquivo da Universidade de Coimbra

    BGUC Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

    BNL Biblioteca Nacional de Lisboa

    BPE Biblioteca Pblica de vo ra

    DC Dirio das Cortes Gerais e Extraordinrias da Nao Portuguesa

    (1821-1822)

    DCD Dirio da Cm ara dos Senhores Deputados da Nao Portuguesa

    DG Dirio do Governo

    DL Dirio das Cortes da Nao Portuguesa (1822-1823)

    IGP Intendncia Geral da Polcia

    ANTT Arquivo Nacional da Torre do Tom bo

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    CAPITULO I

    EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    1.

    Traar o perfil de um a individualidade , no mbito sectorial

    e redutor de membro de uma comunidade politicamente organizada,

    implica, antes de mais, encar-la sob o ponto de vista das condies

    sociais, econmicas, culturais e profissionais que a distingue, para alm

    da igualdade nascida da sujeio aos imperativos de uma mesma lei.

    Nesta perspectiva, a personalidade de Borges Carneiro, apresenta-

    -se particularizada. Nascido numa famlia de proprietrios rurais, com

    um certo nvel scio-econmico e cultural, viria a ocupar, pelos pr

    prios mritos, um lugar de destaque na carreira escolhida, depois de

    se ter salientado nos estudos conducentes ao desempenho das respecti

    vas funes.

    Como cidado, Manuel Borges Carneiro, define-se, portanto, em

    primeiro lugar, pelos laos que o ligam a uma famlia e a uma profis

    so.So laos naturais e laos criados, mas complementares no contri

    buto para o conhecimento do homem e da poca.

    I N F N C I A E A D O L E S C N C I A

    2. Quem percorrer, ao longo da margem esquerda do Dou ro a

    estrada de Lamego ao Porto, goza de uma das mais belas paisagens

    entre quantas se podem adm irar em Portug al. De facto, o percurso entre

    aquela cidade e a pequena vila de Resende, justamente destacado do

    todo,

    um deslumbramento de cor, harmonia e perspectiva. As encos

    tas de ambas as margens, cobertas de vinhas, descem suavemente para

    o rio, cicHcamente pintadas de castanho, verde e vermelho, e sempre

    salpicadas de bra nco do branco luminoso das casas. Na periferia

    de Resende, numa pequena elevao, est a Quinta das Cotas, inte-

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    2 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    grando-se, tambm ela, na cultura que deu nome e riqueza quela parte

    do territrio nacional.

    Nesta quinta nasceu Manuel Borges Carneiro quando em 1774, as

    vinhas apresentavam as cepas nuas, mas promissoras de uma nova

    colheita, e a Igreja Catlica rezava pelos seus mortos: 2 de Novembro.

    Era filho do Dr. Jos Borges Botelho e de D. Joana Tomzia de Melo,

    da Quinta das Cotas, neto paterno de Manuel Borges Botelho, natural

    de Vinhos, e de Rosa Botelho, natural de S. Cens, e neto materno de

    Antnio Carneiro e de Tereza Cardoso, tambm da Quinta das

    Cotas

    KO

    nome ligava-o aos ascendentes paternos e maternos; o local

    do nascimento, terra dos antepassados, nomeadamente Quinta das

    Cotas pertencente me. Aqui, teriam tambm nascido e vivido as

    irms . A duas viriam a aproxim-lo de forma particular laos cria

    dos em situaes especiais. A mais velha, Bernardina, ao lado do tio

    Antnio Borges Botelho, representante do padrinho Manuel Rosa

    de Oliveira tomara por procura o, o lugar da mad rinha Catarina

    Lana de Oliveira na cerimnia do seu baptismo . A mais nova,

    Mariana Raquel, seria presa por razes polticas, vtima tambm das

    represlias do governo de D. Miguel sobre os partidrios dasidiaslibe

    rais.

    E sofreria durante quatro anos, na priso de Lamego, os incmo

    dos, tormentos e desgostos de quantos se vem privados de liberdade'*.

    Tudo indica que a famlia vivia com um certo desafogo. O pai

    formara-se em cnones e, embora com habilitao para os lugares de

    letras , nunca teria exercido qualquer funo pblica. Alm disso, na

    inquirio civil da praxe pode ler-se textualmente: ... no consta que

    seus pais e avs exercitassem em tempo algum officio mecnico antes

    se faz por certo que

    sempre vivero de suas fazendas ^.

    Por seu

    lado.

    ' Vide Apndice documental, doe. n. 1.

    2 Ignora-se o nm ero de irms de Manuel Borges Ca rne iro. data da sua

    priso, por ordem de D. Miguel, sabe-se que existiam trs; se uma est perfeita

    mente identificada o mesmo no se pode afirmar das outras (Vid.

    BRITO REBELO,

    Manuel Borges Carneiro,in O O ccidente, vol.2, n.48, 15 de Dezembro de 1879,

    p.

    186).

    3 Vid. Apndice documental, doe. n. 1.

    " Vid.

    BRITO REBELO,

    Manuel Borges Carneiro, in O Occidente, vol. 2,

    n. 48, 15 de Dezembro de

    1879,

    p. 186.

    5 Cfr. AUC, Livro de actos e graus, 1755, fl. 87 v.

    6 Cfr. ANTT, Leitura de

    bacharis

    (1761), M. 26, n. 3 .

    ' Idem, ibldem. O itlico nosso.

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    INFNCIA E ADOLESCNCIA 3

    a Quinta das Cotas evidencia abastana, com claros sinais de melhoria

    de condies econmicas, e de aumento de importncia social. Prova

    irrefutvel desta evoluo encontra-se na arquitectura da casa. A parte

    mais antiga est construda apenas num andar onde a cozinha, muito

    espaosa, com uma enorme chamin e grandes mesas de pedra, ocupa

    o lugar principal, quer pelas dimenses, quer pela localizao. As res

    tantes dependncias so pequenas e sem beleza. Ligada a esta casa, foi

    posteriormente construda outra de maiores dimenses: dois andares,

    janelas de sacada, zago , com partimentos espaosos, tectos de m aceira.

    Ao lado, mas unida, a capela. Alm destes indcios de bem-estar eco

    nmico e social, materializados em pedra, outros existem personaliza

    dos no prprio Borges Carneiro. Com efeito, deve ter recebido uma

    educao humanstica cuidada que despertou nele o gosto e a admira

    o pelos autores antigos, pagos e cristos, freqentemente citados;

    e, alm disso, tevepossibiUdade de continuar os estudos universitrios

    depois de trs anos de interrupo.

    As obras de melhoramento da casa da Quinta das Cotas incluram,

    como se referiu, a construo da capela. Este facto, seja qual for a data

    da construo e os eventuais significados que se lhe possam atribuir,

    testemunha o caracter religioso da famlia. Borges Carneiro insere-se

    nesta tradio familiar. Baptizado a 17 de Novembro, ou seja, quinze

    dias depois do nascimento, pelo abade Jos Marques de Paiva , nunca

    renegou a f crist. Mais. Chegou mesmo a afirmar publicamente no

    s o seu credo catlico como tambm a observncia dos preceitos da

    Igreja. Eu me tenho por muito catUco dissera e] no

    duvido declarar aqui em pblico, que sempre serei muito solcito em

    no faltar a ouvir missa nos dias de preceito da igreja '^.

    Foi provavelmente nesta casa mais tarde propriedade sua ^

    e neste ambiente familiar, que decorreu o tempo despreocupado da infn

    cia e da adolescncia do ilustre jurisconsulto, do qual no temos alis

    nenhum conhecimento directo. Podem, contudo, considerar-se vrias

    hipteses quan to educao recebida, tendo em conta o estado do ensino

    em Portugal e as exigncias do futuro ingresso na Universidade.

    8 Vid. Apndice documental, doe. n. 1.

    9 BORGES CARNEIRO,

    DC,

    t. 2, n. 139, 30 de Julho de 1821, p. 1687.

    'O

    Idem, DC,

    t. 7, 5 de Outubro de 1822, p. 696. Vid. tambm

    Infra,

    p. 66.

    '

    Vid. BRITO REBELO,

    Manuel Borges Carneiro,

    in O Occidente, t. 2,

    n.

    39, 1 de Agosto de

    1879,

    p. 166.

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    INFNCIA E ADOLESCNCIA 5

    secundrio. Este inclua a gramtica latina, o grego e a retrica as

    humanidades e, tambm, uma cadeira de filosofia acrescentada a

    este

    curriculum

    tradicional pela carta de lei de 6 de Novembro de 1772,

    e, ao mesmo tempo, tornada obrigatria para o ingresso em todos os

    cursos universitrios

    ^ .

    Como se sabe foram duas as pocas em que

    o Marqus se ocupou de modo especial dos problemas de educao:

    a primeira, em finais dos anos

    cinqenta;

    a segunda, no im'cio da dcada

    de setenta. Ligam-nas os m esmos princpios orientadores; separam-nas

    os circunstancialismos que enformaram ou acompanharam uma e outra.

    De facto, a reforma de

    cinqenta,

    decorrente da aco anti-jesutica

    de Pombal, no teve, por isso, autonomia prpria nos planos polticos

    do ministro de D. Jos. Ela aconteceu, devido ao vcuo deixado no

    campo do ensino pelo encerramento, provisrio primeiro, definitivo

    depois '^, das escolas da Companhia de Jesus e, como tal, abrangeu

    unicamente o ensino secundrio, ou seja o estudo das chamadas letras

    hum anas. Caracterizou-se pela introduo de um novo m todo no ensino

    do latim , grego , hebraico e retrica e pela substituio dos compndios

    de latim, inovaes estas acompanhadas pela nomeao de novos mes

    tres;

    numa palavra, substituiu o ensino tradicional dos jesutas por outro

    mais conforme s luzes que brilhavam na Europa* .

    Estas medidas extemporneas, ditadas pela agudizao dos pro

    blemas que haviam de conduzir ruptura total com a Companhia e

    expulso dos seus membros do territrio nacional, integraram-se depois

    perfeitamente no p lano geral da reforma do ensino, traado pelo minis

    tro de D. Jos. De facto, nos anos

    setenta.

    Pombal retomou a poltica

    iniciada pelo alvar que pusera termo a um m agistrio considerado ultra

    passado. Previra ento a criao de vrios lugares de professores de

    gramtica latina em Lisboa (um por bairro) e um, pelo menos, em cada

    vila de provncia, assim como a existncia de quatro professores de grego

    e retrica na capital, dois em Coimbra, vora e Porto, um nas cidades

    1 Vid.

    Carta de

    lei

    de 6 de Novem bro de 1772,

    in CoUeco das leys, decre

    tos e alvars, t. 3.

    >8 Vid.Alvar de 28 de Junho de1759 in CoUeco das leys, decretos e alva

    rs,

    t. 1.

    '9 Vid. Idem, Ibldem; e Instrues para os professores de gramtica latina,

    grega, hebraica,

    e deretrica ordenadase m andadas publicar porEl-reiNosso Senhor,

    para uso das escolas novam ente fundadas nestes reinos e seus dom nios, ibldem.

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    6 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    e vilas cabeas de comarca

    ^.

    Pretendia agora dar total concretizao

    a este projecto e seus ajustamentos.

    O significado desta poltica no se reduz, embora este aspecto seja

    digno de nota, ao aumento das possibilidades de acesso cultura ofere

    cidas populao ^'. Com efeito, o Estado ao chamar a si a respon

    sabilidade do ensino, tirou Igreja uma prerrogativa que at ento a

    ela pertencia, assumindo uma das atribuies do estado polcia moderno,

    e abrindo as portas secularizao da cultura. Para a sociedade do

    tempo este ltimo aspecto era verdadeiramente revolucionrio. Tes

    temunha-o, por exemplo, a aco do governo de D. Maria I ao refor

    mar compulsivamente um certo nmero de professores e ao entregar

    s corporaes religiosas a responsabilidade do ensino de certas reas

    do saber, nomeadamente da filosofia racional ^ . Borges Carneiro fez,

    portanto, os estudos secundrios e os preparatrios para a entrada na

    Universidade num ambiente com reflexos evidentes da crise de valores

    que, ao tempo, abalava a sociedade a diversos nveis.

    4.

    De acordo com as directrizes pom balin as, Resende ficou ofi

    cialmente dotada de professor de gramtica latina ^ , mas s em

    Lam ego, cabea de comarca, se ministrava o ensino d o grego e da ret

    rica. E tambm s ali se viria a exercer o magistrio da filosofia ^ .

    A reforma mariana de 1779 alterando em Lamego, quer o quadro de

    estudos, quer o dos professores ^ , no se fez sentir em Resende. Aqui,

    com efeito, manteve-se no s a classe de gramtica latina, como o seu

    professor, Antnio Pereira^ ,

    Manuel Borges Carneiro poder, p ortan to, ter comeado a preparar-

    -se para o ingresso na Universidade na terra natal, e Antnio Pereira

    poder ter sido o seu primeiro mestre. Tambm possvel que o pai.

    2 0

    Vid. Alvar de 28 de Junho de 1759, Ibldem.

    21 Vid.Carta de

    lei

    de 6 de Novem bro de 1772, in CoUeco das leys, decre

    tos e alvars, t. 3.

    2 2

    Vid.

    JOAQUIM FERREIRA GOMES,

    ob. cit.,

    p p .

    40-73.

    Vid. Mapa de professores e mestres das escolas menores, apud Idem,

    3

    ob. ctt

    2 Vid. Idem, ibldem.

    2 5 Vid.

    Infra,

    p. 25.

    2 6 Vid. Lista dos professores rglos, in JOAQUIM FERREIRA GOMES, ob. clt..

    p. 51.

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    INFNCIA E ADOLESCNCIA 7

    matriculado em cnones com certido delatim ^ o tenha auxiliado no

    estudo desta matria to importante no

    curriculum

    escolar do tempo ^.

    O mesmo no ter acontecido, todavia, quanto s restantes disciplinas

    preparatrias. De facto, no havendo em Resende professores de ret

    rica, nem de filosofia, afigura-se inevitvel a sada da casa paterna. Para

    onde? As hipteses mais plausveis visto no ter freqentadoo Col

    gio das Artes seriam Lam ego, dada a proximidade, e o Porto , onde

    viviam os padrinhos. E foi realmente nesta cidade que o futuro depu

    tado estudou filosofia racional e moral, como consta do respectivo reque

    rimento de exame^ . A questo do grego no se pe por ser exigido

    somente aos estudantes moradores em local onde o respectivo ensino

    se ministrasse ^ . Fica-se, portanto, apenas em dvida quanto ret

    rica e ao aperfeioamento do latim , provas que viria a prestar no mesmo

    dia. Pressupunham, por isso, uma preparao simultnea, com iguais

    possibihdades de ter sido feita tanto numa como noutra cidade, e sem

    nada indicar qual a escolhida.

    Ora, Borges Carneiro, quando resolveu prosseguir os estudos secun

    drios na capital do Norte, optou ao mesmo tempo pelo magistrio

    dos oratoriano s. Na verdade, em Lam ego, D . Maria entregara o ensino

    da filosofia racional confiado por Pombal ao padre Manuel da Madre

    de Deus Carvalho

    ^'

    aos

    rehgiosos

    eremitas de

    St.

    Agostinho

    ^ ,

    e

    no Porto, onde fora ministrado por um presbtero secular ^ , Con

    gregao do Oratrio

    ^'^.

    Por este mesmo motivo, se o futuro jurista

    escolheu esta cidade logo que se viu obrigado a abandonar a Quinta

    das Cotas, foi tambm nos

    Nerys

    que seguiu as lies de retrica.^

    E, neste caso, pela razo j apontada, ter eventualmente aperfeioado

    2 7 Veja-se AU C, Livro de Matrculas, 1749-1750, fl. 310 v.

    2 8 Veja-se Alvar de 28 de Junho de 1759,e Instruo para os professores,

    in CoUeco das leys, decretos e alvars, t. 1.

    2 9 Vid. Apndice documental, doe. n. 5.

    3 0

    Cfr.

    Estatutos da Universidade de Coimbra (1772),

    t. 2, p. 255.

    31 Vid. Lista dos professores rglos, in

    JOAQUIM FERREIRA GOMES,

    ob. cit.,

    p.

    34.

    3 2 Vid. Lista de terras, conventos e pessoas destinadas para professores,

    in Idem, ob. cit., p. 54.

    3 3 Vid. Lista dos professores, in Idem, ob. cit., p. 34.

    3 4 Vid.

    Lista de terras, conventos e pessoas, destinadas para professores,

    in Idem, ob. clt., p. 57.

    3 5 Vid. Idem, ibldem; Lista dos professores rglos, in Idem, ob. cit., p. 34.

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    8 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    O latim com Ricardo de Alm eida ou com Jos Teixeira, professores

    nomeados por Pombal e mantidos pela reforma mariana ^ . Se, pelo

    contrrio, Lamego recebeu, de incio, a preferncia probabilidade

    reforada pelo teor do requerimento de exame ^ foi talvez alun o

    de Bento Jos de Sousa, em retrica e de Joo Bernardo Loureiro, em

    gramtica latina^ .

    A um destes grupos de mestres ficaria Borges Carneiro devendo

    apenas parte da prepara o necessria para o ingresso n a Un iversidade,

    pois D. Maria, por CartaRegia de 28 de Janeiro de 1790, acrescentara

    a este

    curriculum,

    em vigor desde 1772, as disciplinas de geometria e

    de catecismo ^ . Deste modo, a aprovao em cada uma, assim como

    em filosofia racional, retrica e latim, mediante exame no Colgio das

    Artes, ficou sendo condio

    sine qua non

    de matrcula. Desconhece-se

    em absoluto aonde e por quem foi ministrado a Manuel Borges Car

    neiro o ensino destas matrias. Se, quanto doutrina crist no haveria

    decerto dificuldade em encontrar na terra natal quem lhe ensinasse as

    noes claras, slidas e breves exigidas^, o mesmo no acontecia

    provavelmente em relao outra cadeira. No entanto, o facto de ter

    sido examinado em cada um a com poucos dias de intervalo, parece indi

    car, tambm neste caso, uma preparao simultnea. Fosse como fosse,

    os resultados no podiam ter sido melhores, tendo concludo com xito

    todos os exames.

    T E M P O D E C O I M B R A

    5, Os primeiros passos com o estudante de Co imb ra, deu-os Bor

    ges Carneiro num dia de vero do ano de 1789. A 22 de Julho, na sala

    dos exames prepa ratrios do C olgio das Arte s, sendo presidente o lente

    da Faculdade de Teleologia, Lus Antnio Lopes Pires e examinadores

    36 Vid.

    Idem, Ibldem; idem, ibldem.

    3''

    Vid.

    Apndice documental,

    doe. n. 2.

    3 8 Lista de terras, conventos e pessoas, destinadas para professores, in

    JOA

    QUIM FERREIRAGOMES,

    ob. clt.,

    pp. 50 e 51;

    Lista dos professores rglos,

    in

    Idem,

    ob. clt., p. 31.

    3 9 Vid.

    Carta

    Rgla

    de 29 de Janeiro de

    1790,in

    Legislao

    acadmica,p. 37.

    'O Idem, ibldem.

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    10 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    ceiro ano, pelo curso de leis. Todos seguiram, assim, quando muito

    com uma diferena de dias, o mesmo itinerrio quanto s aulas, aos

    exames e s matrculas.

    Borges Carneiro prestou as primeiras provas como estudante uni

    versitrio, com os outros sete colegas includos na stima turma ^ , a

    6 de Julho de 1792. Assinaram o registo de exame os lentes de

    Institua

    e de

    Direito natural,

    respecdvamente Jos Carlos Barbosa e Manuel

    Barreto Perdigo. Aprovado

    nemine discrepante

    ^ nas disciplinas de

    direito natural e das gentes, histria do direito civil romano e ptrio ^ ,

    e instituies de direito civil romano, integrantes do primeiro ano jur

    dico^, pde matricular-se no segundo ano ^ efreqentar as aulas no

    perodo lectivo de 1792-1793. Beneficiou, no final do ano, do

    perdo

    de ado

    ^ concedido pela carta regia de 24 de Abril de 1793 para fes

    tejar o nascimento da Princesa da Beira, D, Maria Teresa, primeira

    filha do Prncipe Regente D. Joo ^ . Prosseguindo na carreira univer

    sitria e tendo escolhido o curso de leis, matriculou-se no terceiro ano

    a 2 de Outubro ^ , e a 12 passou no exame de grego ^ , requerido dias

    antes como preparatrio para o 6. ano ^ . Por motivos desconheci-

    5 7 Os exames do primeiro ano dos cursos jurdicos pod iam ser feitos por tur

    mas para maior brevidade (Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), t. 2,

    p. 596). Veja-se Cadernos de Actos das diversas Faculdades. Leis, t. 3, 1791 para

    1792, 1. Anno Jurdico, 4.* feira, 6 de Junho, hora 8.

    5 8

    Cfr.

    Apndice documental,

    doe. n. 13.

    5 9 A regncia desta cadeia estava ento confiada a Ricardo Raimundo

    Nogueira, nico dos mestres de Coimbra a ser distinguido por Borges Carneiro.

    Dedicou-lhe o

    Resumo chronolglco das

    leis

    mais

    teis

    no foro e uso na

    vida

    civil,

    evocando a qualidade de antigo discpulo: Havendo tido a honra de ser discpulo

    de V. Excelncia no primeiro e quinto ano do Curso Jurdico da Universidade de

    Coimbra, e recebido em um e outro as primeiras lies dos Direitos Romano e Por

    tugus, entendi que me ser permitido oferecer a V. Ex.* a presente obra.... Acei

    tai,

    pois, Ex."*" Senhor a dedicao deste meu pequeno trabalho, pelo qual desejo

    mostrar os sentimentos do profundo respeito e gratido.... (BORGES CARNEIRO,

    Resumo chronolglco, t. 1).

    6 0 Vid. Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), t. 2, p. 595.

    61 Vid. Apndice documental,

    does. ,

    n.s 14 e 15.

    6 2

    Vid.

    Idem,

    doe. n. 16.

    6 3 Vid. TEFILO BRAGA, Histria da Universidade de Coimbra, t. 3, p. 733;

    veja-se tambm AUC, Actas das congregaes de

    leis,

    fls. 72, 72 v.

    6 4 Vid. Apndice documental,

    does.

    n. 17 e 18.

    6 5 Vid. Idem, doe. n. 20.

    6 6 Vid. Idem, doe. n. 19. Veja tambm Carta Rgla de 28 de Janeiro de

    1790,

    in Legislao

    acadmica,

    p. 35.

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    TEMPO DE COIMBRA 11

    dos, no foi admitido s provas finais por falta de freqncia ^ e inter

    rompeu os estudos. S trs anos depois, a 3 de Outubro de 1797, o

    seu nome consta novamente dos livros de matrcula^ .

    6. Havia, contudo, abandonad o a idia inicial de seguir o curso

    de leis e, seguindo as pisadas do pa i, op tara pelo de cnones. O afasta

    mento da vidaacadmicadu rante aquele lapso de tem po , relativamente

    longo, proporcionou-lhe, ao regressar, conhecer um ou tro grupo de cole

    gas.Dos novos companheiros apenas viria a reencontrar dois no grupo

    dos primeiros deputados vintistas. Um, Jos Homem Correia Teles

    Pacheco ^ seria eleito pela provncia da Beira; o outro, Joo Jos de

    Freitas Arago ^ , pela Madeira. Foram seus contemporneos terceira-

    nistas, embora cursando leis, os bem conhecidos Bento Pereira do

    Carmo^^ eleito como ele, em 1820, pela provncia da Estremadura,

    e Jos Joaquim Ferreira de Moura ^ , pela provncia da Beira.

    Reiniciados os estudos, prosseguiu-os normalmente at final do

    curso,

    tendo obtido sempre, em cada acto realizado, a aprovao de

    todos os professores. No ano do regresso Universidade, foi instrudo

    nos princpios do

    Direito Cannico Pblico

    e seguiu as preleces do

    Decreto de Graciano,

    disciplinas que constituam matria de exame do

    terceiro ano de cnones''^. Prestou provas a 11 de Outubro, perante

    um jri constitudo pelos lentes Antnio Jos Cordeiro, presidente, e

    Fernando Saraiva Fragoso de Vasconcelos, a quem coube o papel de

    examinador ' ' .O sucesso abriu-lhe as portas do bacharelato ^ .No ano

    escolar seguinte, ouviu as lies sobre asDecretais

    de

    Gregrio

    IX,

    tendo

    sido examinado, a 13 de Julho, pelo lente Simo de Cordes Brando' .

    6 7 Veja-se a aeta do dia 22 de Maio de 1794, in Actas das

    Congregaes

    de

    Leis, fl. 76 V.

    6 8 Vid. Apndice documental, doe. n. 22; veja-se tambm

    doe.

    n. 20.

    6 9 Vid. AU C, Livro de Matrculas, n. 26, 1797, fls. 89 v.

    7 0 Vid.

    Idem,

    fls. 95 v.

    71 Vid. Idem, fls. 138.

    7 2

    Vid.

    Idem,

    fls. 193 v.

    7 3 Vid. Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), t. 2, p. 604.

    7 4 Vid. Apndice documental, doe. n. 23; veja-se tambm Cadernos dos

    Actos das diversas Faculdades. Cnones,

    liv. 3, fl. 91 v.

    7 5

    Vid. Apndice documental, does. 24 e 25.

    7 6 Vid. Idem, doe. n. 26; veja-se tambm Cadernos dos Actos das diversas

    Faculdades. Cnones, liv. 3, fl. 120.

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    12 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    Presidiu ao acto o Doutor Rodrigo Rolo Couceiro Pimentel, que lhe

    conferiu o grau de bacharel '', o primeiro grau acadmico

    ''^.

    O cerimonial obedecia a directrizes estabelecidas pelos Estatutos.

    O

    grad uad o, de p, diante da cadeira do Presidente, proferia breve ora

    o pedindo o grau de bacharel. Seguidamente, prestava o juramento

    da Conceio '^^, ajoelhava-se e recebia o grau ^. A concesso era feita

    pelo lente que presidia, mediante ritual simblico: O presidente lhe

    por ento o barrete na cabea, meter-lhe- um livro aberto nas mos

    e lhe dar poder para subir cadeira e explicar nela algum lugar da

    Escritura

    ou da

    Tradio

    ^ A cerimnia terminava com palavras de

    louvor a Deus, de agradecimento assistncia e de obedincia Igreja,

    proferidas pelo novo b acharel, depois de ter exercido, pela primeira vez,

    o poder concedido ^ . Encerrada a sesso, a Universidade contava,

    entre os seus membros m ais um g raduado ... e se haver por diante

    7 7 Vid. Apndice documental, doe. n. 26.

    7 8 Vid. Estatutos da Universidade de Coimbra (1772), t. 1, p. 179.

    7 9

    Vid.

    Apndice documental,

    doe.

    n.

    26. Segundo os Estatutos da Univer

    sidade publicados em 1654 ningum podia ser admitido aos graus e cadeiras sem

    fazer o juramento da Conceio, pela forma que ali se estabelecia. No tendo a

    reforma pombalina introduzido qualquer alterao no formulrio ento estatudo,

    Borges Carneiro prestou juramento nos seguintes termos: Purssima Virgem e

    Senhora Nossa, Santssima Me de Deus, Rainha dos Cus, eu, Manuel Borges Car

    neiro, reconhecendo a piedade e santo zelo com que o serenssimo Rei D. Joo o

    quarto, nosso senhor, levado da devoo que sempre teve e mostrou ao sacrossanto

    mistrio de vossa purssima conceio, convocados em Cortes os trs estados do

    Reino, de unnime consentimento de todos, solenemente vos elegeu por padroeira

    dele, e em venerao do mesmo mistrio se fez vassalo vosso com tributo anual

    vossa santa casa; e jurou com todo o dito Reino de defender sempre, que fostes

    concebida sem pecado original. Aqui neste acto presente prometo e juro firmemente,

    de minha prpria e livre vontade a Deus todo poderoso e a vs Santssima Me

    sua, de defender pblica e particularmente, que vs Virgem bemaventurada, santa,

    imaculada e bendita entre todas as mulheres, pelos merecimentos de Jesus Cristo,

    filho vosso, previstos desde a eternidade, fostes totalmente preservada da mcula

    do pecado original por particular favor e privilgio da divina graa, de sorte que

    em nenhum instante a contraistes; e que fostes sempre pura, santa, imaculada e

    cheia de graa. E prostado humildemente diante de vossa sagrada imagem, vos fao

    esta promessa, assim Deus me ajude e estes santos Evangelhos {Estatutos da Uni

    versidade de Coimbra, (1654), p. 299).

    8 0

    Vid.

    Estatutos da Universidade de Coimbra (1772),

    t. 1, p . 183.

    8'

    Idem, pp. 182-183.

    82 Veja-se Idem, p. 183.

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    TEMPO DE COIMBRA 13

    por bacharel corrente ^ , No caso presente, chamava-se Manuel Bor

    ges Carneiro e ficaria na Histria.

    Chegou, finalmente, o quinto ano do curso '*. Pela ltima vez,

    seguiu, de Outubro de 1799 a Julho de 1800, a seqncia das aulas e

    dos trabalhos escolares. Despediu-se da Universidade com as discipH-

    nas curriculares do de rradeiro ano de cnones: o

    Direito

    Cannico

    pelo

    mtodo analtico

    e o

    Direito Ptrio^^.

    Do que aprendeu foram jui

    zes os Doutores Manuel Pais de Arago Trigoso e Jos Xavier

    Teles ^ , terminando nesse dia 3 de Julho de 1800 a vida acad

    mica.

    Nos dois ltimos anos do curso, Manuel Borges Carneiro distinguiu-

    -se como um dos melhores alunos. Foi, por isso, galardoado no quarto

    e no quinto ano ^ com um dos prmios criados por D. Maria para

    recompensar os estudantes que, anualmente, mostrarem, por seus exa

    mes e actos, serem os mais benemritos ^ . Recebeu, assim, das duas

    vezes, a quantia de quarenta mil reis arbitrada pela Universidade de

    acordo com a indicao da Rainha ^ . Mas no foram estas as nicas

    provas de distino. As informaes secretas enviadas em cumprimento

    da carta regia de 3 de Junho de 1782, pela congregao da faculdade

    ao soberano, sobre o procedimento e costumes, merecimento literrio

    e prudncia, probidade e desinteresse dos novos bacharis ' foram

    igualmente elogiosas. Borges Carneiro no s mereceu aplauso unnime

    pelas suas qualidades morais, como foi um dos catorze (num total de

    cinqenta e nove) a ter qualificao de muito bom quanto ao mereci-

    8 3 Idem, Ibldem.

    84 V i d .

    Apndice

    documental,

    d o e s .

    n.s

    27 e 28 .

    8 5 Veja-se supra, p. 28, not. 59.

    8 6 Vid.

    Idem,

    doe. n. 29; veja-se tambm

    Cadernos dos Actos das diversas

    Faculdades, Cnones,

    liv. 3, fl. 151.

    8 7 Vid. Apndice documental, does.

    n.s

    30 e 33. Veja-se, tambm no Livro

    de Actas da Congregao da Faculdade de Cnones, fls. 138 e

    142,

    as actas do

    dia 27 de Julho de 1799 e 29 de Julho de 1800, respectivamente.

    8 8 Veja-se Aviso Rgio de 25 de Setembro de 1787, inLegislao acadmica,

    p.

    92.

    8 9 Veja-se, a acta do dia 6 de Outu bro de 1794, in Actas das Congregaes

    da Faculdade de Cnones (1772-1820), vol. 1, p. 249; e ainda, Aviso Rgio de 25

    de Setembro de 1787,

    supracitado.

    9 0 Veja-se

    Carta Rgla

    de 3 de Junho de 1782, in

    Legislao acadmica,

    pp. 13-14. Veja-se tambm o que sobre o assunto escreveu TEFILO BRAGA,

    ob.

    clt., p. 3, pp. 666-668.

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    16 EPISDIOSDAVIDADOCIDADO

    VIDA

    PROFISSIONAL

    8. Concludo o curso universitrio, soou a hora de Manuel Borges

    Carneiro escolher a actividade profissional adequada aos conhecimen

    tos adquiridos. Optando pela magistratura, tratou de cumprir as for-

    maUdadesnecessrias ao ingresso na carreira . D e posse da c arta de for

    matura, pedida mal acabara o ltimo exame^ , requereu, no ano

    seguinte, a habilitao para os lugares de letras e a admisso leitura

    perante o Desembargo do Pao ^ . Seguiram-se, ento, os trmites do

    processo. Foram inquiridas pelo Corregedor de Lamego, Antnio de

    Gouveia Arajo Coutinho, sete testemunhas ^ , entre as pessoas que

    conheciam pessoalmente o candidato. Face s respostas dadas, pessoal

    e individualmente, pde o magistrado fazer a declarao solicitada:

    o habilitando ... no he Hereje, Apstata da nossa Santa F, nem

    seus Pais e Av Paterno, cometessem crime de Leza Magestade, Divina

    ou H um ana , por que fossem sentenciados e condenad os nas penas esta

    belecidas nas Leis destes Reinados; Nem to bem os mesmos Pais e

    Avs tivessem algum officio ou exerccio, dos que costum am professar,

    exercitar as Pessoas Plebias. Finalmente confirmo ser o dito Habili

    tando pessoa de boa vida, costumes, sem nota em contrrio, ainda sol

    teiro^ .

    Prosseguindo o processo de habilitao, foi pedida aos diversos

    juzos ordinrios, de correio e do Desembargo do Pao decla

    rao das culpas que, em cada um deles, o suplicante, porventura,

    tivesse. Em resposta, foi-lhe passado alvar de folha corrida, encerrando,

    na forma do costume, as respostas dos escrives do juzo ordinrio de

    Resende ^^; outro, contendo as do juzo de correio de Lamego ^^;

    e, ainda, um ltimo, com as dos vogais competentes do Desembargo

    do Pao

    ^ .

    Todos o declararam sem culpa nos respectivos juzos.

    Entretanto, em Lisboa, Borges Carneiro apresentou-se s audincias do

    96

    Vid.

    Apndice

    documental, doe. n. 30;

    veja-se tambm

    does.n.s 31, 32,

    33 e 34.

    97

    Vid. Idem, doe. n. 35.

    98

    Vid. Idem, doe. n. 36.

    99 Idem,

    doe. n. 37.

    1 0 0 Vid.

    Idem,

    doe.

    n.

    38.

    101 Vid. Idem. doe. n. 39.

    1 0 2

    Vid. Idem, doe. n. 40.

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    18 E P I S D I O SDA VIDA DO CIDADO

    vila e seus habitantes. De facto, no crcere, ao acusar as autoridades

    de lhe negarem a defesa a que todos tm direito ^^\ queixou-se de o

    terem preso sem que se produz a o testem unho / hon roso de um a vila,

    que me estima / E que fiel me pede, no ingrata / A quem sempre

    ao seu bem fora fiel^^^.

    Restitudo liberdade e declarado inocente, foi reintegrado no lugar

    que ocupara

    ^^\

    Ali se manteve at 1810, j que o dia 18 de Junho

    desse ano marcou o termo dessa situao ^ , e, passado tempo, da

    estadia no Alentejo "''. Ignoram-se as razes desta deciso e da subse-

    113

    Vid.

    infra,

    p. 49, nota 7.

    114

    BORGES CARN EIRO,

    Pensamentos do

    Juiz

    de Fora de Viana do Alentejo,

    p . 3. No mera figura de retrica esta afirmao de Borges Carneiro. Grande

    parte das testemunhas ouvidas como era da praxe, para lhe ser passada certido

    de residncia do tempo que servira como juiz de fora em Viana d o A lentejo, refere-

    -se no s integridade manifestada no desempenho do cargo, mas tambm ao

    zelo pelo bem pblico. Algumas particularizaram, mesmo, aspectos deste inte

    resse, falando do encanamento da Agoa da Fonte da Praa, da reparao de

    fontes e caladas, da enxertia de muitos zambugeiros no Baldio do Concelho,

    ou referindo-se, genericamente, a varias obras de im portncia, que eram de grande

    necessidade para a como didade de todos (Autos de Rezidencla que

    tira

    o Dezem-

    bargador Jos Francisco Fernandes Correia ao Bacharel Manoel Borges Carneiro

    Juiz de Fora quefoi desta Vllla de Vianna do Alemtejo, A N T T , Desembargo do

    Pao.

    Alentejo,

    M . 633, n. 9). Alm deste em penham ento, o magistrado, no intuito

    de fazer cessar situaes de prepotncia e privilgio, no deixou de recorrer directa-

    mente ao pod er rgio, q uand o se lhe afigurava ser esse o nico recurso. Isto aconte

    ceu para defender um lavrador das prepotncias do senhorio

    {Carta ao Prncipe

    Regente. ANTT Desembargo do Pao. Alentejo e Algarve, M. 575, n. 55) e para

    acautelar os rendimentos da ermida de Nossa Senhora

    d'Aires

    das dissipaes da

    respectiva irmandade {Carta ao Prncipe Regente, idem, M. 575, n. 68).

    115 Vid. Apndice documental, doe. n. 48.

    116 Vid.

    Apndice documental,

    doe. n. 49. As providncias que iriam pr

    termo s funes de Borges Carneiro com o juiz de fora de Viana do Alentejo foram

    levadas a efeito pelo doutor Jos Francisco Fernandes Correia, nomeado para tirar

    residncia ao magistrado de todo o tempo que servira o dito lugar (cfr. ANTT,

    Desem bargo do Pao. Alentejo e Algarve, M. 270,

    n.

    1). Iniciadas com a sua sus

    penso e afastamento para Ouriolas, vila situada a seis lguas, continuaram-se com

    a inquirio de sessenta e oito testemunhas e as declaraes necessrias das autori

    dades com petentes. Tendo-se verificado que o sindicado servira bem, com limpeza

    de mos, bom acolhimento das partes e cumprira as formalidades legais, a Mesa

    do Desembargo d o Pa o m andou passar-lhe a certido de residncia solicitada (cfr.

    A N T T ,

    Desembargo do Pao. Alentejo e Algarve,

    M. 633, n.os 9

    e

    13).

    117 Mais tarde Borges Carneiro referiu-se expressamente aos anos de perma

    nncia nesta provncia: .... estive no Alentejo sete anos....

    (BORGES CARNEIRO,

    DC, t . l , n. 37, 20 de Maro de 1821, p. 287).

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    VIDA PROFISSIONAL 19

    quente interrupo da carreira. Com efeito, terminado o servio naquela

    vila, s viria a retomar a vida profissional em 1812, ao ser nomeado,

    a 30 de Maio ^ , provedor da comarca de Leiria. Durante os quatro

    anos de exerccio deste ministrio salientam-se vrios factos ligados

    vida do magistrado.

    Seguindo uma ordem crescente de importncia, menciona-se, em

    primeiro lugar, o novo contacto com as tropas francesas, do qual alis

    nada se conhece , a no ser esta simples referncia, feita anos mais tarde

    pelo prprio Borges Carneiro: Quando entraram os franceses em Lei

    ria, sendo eu aU ministro. ... ^'.

    Em segundo lugar, refere-se o desentendimento com o corregedor

    de Alcobaa, Lus Amado da Cunha e Vasconcelos, a propsito da aber

    tura, quase simultnea, de duas correies. Foi a seguinte a marcha

    do processo que se lhe seguiu. Perante uma queixa apresentada por este

    ltimo magistrado, o Regente incumbiu o corregedor de Leiria de ave

    riguar os factos e de o informar dos resultados obtidos ^^. Feitas as

    diligncias necessrias para dar cumprimento ao ordenado, este magis

    trado enviou ao Prncipe parecer sobre quanto lhe fora dado conhe

    cer ' . Fundamentava-o em elementos colhidos na resposta represen

    tao do regedor pedida, por escrito, ao prprio Borges Carneiro^ ,

    e noutros documentos apensos ao processo ' , dados, alis, tambm

    constantes dos depoimentos de vrias testemunhas ' '*. Este ltimo

    documento completa o conhecimento de certas facetas do diferendo,

    cujo resultado se ignora. Quando, porm, dois anos mais tarde foram

    tirados a Borges Carneiro autos crime de residncia do tempo em que

    exercera funes de Provedor, declarou-se, no respectivo acrdo da

    Relao que ele servira muito bem o dito lugar, com muita prontido

    no despacho das partes, zelo do Real servio na arrecadao da Real

    Fazenda, limpeza de mos e inteireza pelo que seja digno continuar o

    Real Servio ' . Fosse qual fosse o termo do litgio, no lhe deslus-

    trou o nome, nem lhe afectou a carreira.

    118 Vid. Apndice documental, doe. n. 50.

    119

    BORGES CARN EIRO,

    DC,

    t. I, n. 60, 18 de Abril de 1821, p. 623.

    1 2 0

    Vid. Apndice documental, does.

    n.

    51, 52, 53, 54.

    121 Vid. Idem, doe. n. 55.

    1 2 2

    Vid. Idem, doe.

    n.

    56.

    1 2 3

    Vid. Idem, does.

    n."

    57, 58, 59, 60.

    1 2 4

    Vid. Idem, doe. n. 61.

    1 2 5

    Idem, doe. n. 62.

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    20

    E P I S D I O S

    D AVIDA DO CIDADO

    O terceiro e ltimo facto assinalvel durante a estadia do futuro

    deputado em Leiria diz respeito elaborao e publicao do

    Extrado

    dasleis,avisos, provises, assentos e editaes e de algumas notveis pro-

    clamaes, accordos e tratados publicados nasCortes de Lisboa e Rio

    de Janeiro desde a pocha da partida d El-Rei Nosso Senhor para o

    Brasil em 1807 at Julho de

    1816

    para servir de subsdio

    jurisprudn

    cia e histria portuguesa

    e do

    Appendice ao Extrado das leis, avisos,

    etc. publicadas desde 1807 at Julho de 1816. O

    interesse destes traba

    lhos transparece da notcia sobre a publicao do primeiro, ao fazer

    por estas palavras a sua apresentao: E steExtrado a respeito de algu

    mas leis mostra as enrgicas medidas empregadas para regenerao de

    Portugal e do Brasil depois dos acontecimentos de 1807 e 1808. Serve

    de continuao ao estimvel

    ndice Chronolglco do Desembargador

    Joo Pedro Ribeiro ^^^.

    Estava aberto o caminho para o incontest

    vel lugar de destaque de Borges Carneiro como compilador da legisla

    o portuguesa.

    9. As duas obras prep arad as, seno na totalidade , pelo menos

    em grande parte, durante a permanncia do autor na comarca de Lei

    ria, representam um trabalho complementar das actividades oficiais.

    Ambas saram luz em 1816. A primeira, como se deduz do epteto

    de ex-provedor de Leiria aplicado ao au tor, qua nd o Borges C arneiro

    j no desempenhava as referidas funes ^ . A segunda, consoante

    referncia expressa, depois de ter sido indigitado para secretrio da junta

    encarregada de elaborar o Cdigo Pen al M ilitar. Esta jun ta fora criada

    por decreto de 27 de Maio de 1816 e, segundo este mesmo diploma,

    seria composta por seis membros um presidente, quatro vogais e

    um secretrio ^'^^. Por outro decreto haviam sido nomeados o presi-

    126 Gazeta de Lisboa,

    n. 239, 8 de Outubro de 1816.

    27 A notcia de que esta obra sara e fora posta venda vem publicada

    na

    Gazeta de Lisboa

    de 3 de Outubro o que d uma data aproximada da publi

    cao.

    128 Decreto de 27 de Maio de 1816, transcrito por

    MRIO TIBRCIO GOMES

    CARNEIRO,

    A Comisso que elaborou o Cdigo Penal Militar de 1820 e a partici

    pao que teve nele o Visconde da Cachoeira, in Arquivo de Direito Militar, Rio

    de Janeiro,n. 3, Janeiro a Abril de

    1943,

    p. 225; veja tambm, no mesmo artigo,

    o

    doe.

    n. 3.

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    22 E P I S D I O S DA VIDA D O CIDADO

    do primeiro banco ^ Por tal merc Borges Carneiro passava a ter,

    como magistrado de Lisboa, assento no primeiro banco das Cortes.

    Ficava assim equiparado ajuiz de primeira classe ^ ; ou seja, era pro

    movido na escala da magistratura. Tem-se aqui um exemplo, no dizer

    de Adelino da Pa lma Ca rlos, da desactualizao extrema da legislao

    portuguesa daquela poca, uma vez que as Cortes no reuniam desde

    1674, no reinado de D. Pedro II ' ^.

    A Junta do Cdigo Penal Militar terminou a 11 de Fevereiro de

    1820 os trabalhos, concluindo assim o importante objecto da sua comis

    so ^ . Borges Carneiro dedicou-lhes grande parte do seu tempo e

    saber e, mais tarde, no escondeu a satisfao por ter participado numa

    obra daquela envergadura ^ . Tal dedicao foi, alis, apreciada e pre-

    135 Vid. Idem, Ibldem.

    '36 Vid. BRITO REBELO, Manuel Borges Carneiro, in O Occidente, t. 2,

    n. 39, 1 de Agosto de 1879, p. 118.

    1 3 7 ADELINO DA PALMA CARLOS,

    Manuel Borges Carneiro,

    inJurisconsultos

    portugueses do sculo XIX, vol. 2, p. 4.

    1 3 8 BORGES CARNEIRO,

    DC, t. 4,

    n.

    219, 6 de Novembro de 1821, p. 2955.

    Beresford levou depois o Cdigo Penal para o Brasil com o intuito de obter do

    rei a sua aprovao e promulgao imediata. No conseguiu, porm, os seus inten-

    tos,

    visto que o texto s viria a ser aprovado pelo alvar de 7 de Agosto de 1820.

    (Vid. MRIO TIBRCIO GOMES CARNEIRO, O cdigo penal militar de 1820, in

    Arquivo de Direito Militar, Rio de Janeiro,n. 1, Maio-Agosto de 1942, p. 134).

    Devido ao desenrolar dos acontecimentos que a partir do dia 24 do mesmo ms

    se sucederam em Portugal, o Cdigo Penal Militar, embora aprovado, no chegou

    a entrar em vigor. Mais tarde, nas Cortes, Borges Carneiro props que se entre

    gasse a uma comisso o trabalho de rever aquela obra de legislao para se lhe

    introduzirem as alteraes que o sistema constitucional exigia, de modo a poder

    o exrcito beneficiar de leis adequadas a uma boa administrao de justia (vid.

    BORGES CARNEIRO, DC, t. 4, n. 219, 6 de Novembro de 1821, p. 2956). E, com

    este intuito, ter entregue o exemplar que possua como secretrio da Junta (Vid.

    Idem, ibldem), o qual se encontra presentemente no Arquivo Histrico-parlamentar

    daAssembliada Repbca juntamente com um ndiceideogrfico da prpria autoria

    c por ele assinado (Vid. AA R, ndice do Cdigo Penal Militar). Queremos manifes

    tar aqui o nosso reconhecimento ao Ex. Senhor Dr. Manuel Pinto dos Santos

    por nos ter assinalado a existncia deste manuscrito.

    1 3 9

    A Jun ta havendo m editado e discutido por mais de trs anos com o vigor

    que pedia a importncia da matria, revisto as diversas leis criminais militares deste

    reino.. . . ; consultado os cdigos das mais polidas naes da Europa; e reflectido

    enfim sobre as opinies de publicistas e filsofos, que escreveram com mais reputa

    o sobre matrias da jurisprudncia criminal.... entendeu que o referido trabalho

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    24 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    A elaborao destas obras fazia parte de um plano mais vasto.

    Borges Carneiro, julgava-se capaz de o realizar mediante a ajuda de

    Deus e com o auxlio que Sua Magestade for servido conceder-

    -Ihe ''* , pois o projecto envolvia dispndio de muito tempo, traba

    lho e dinheiro ^'^. Pediu, por isso, o privilgio de exclusivo da publi

    cao pelo perodo de 10 anos '* .

    Era evidente a oportunidade de tais publicaes numa poca em

    que as fontes de direito portugus eram as Ordenaes, as leis ptrias

    (extravagantes) e os usos ou costumes do reino (servindo de direito sub

    sidirio), o direito romano enquanto expresso de verdades essen

    ciais,

    intrnsecas e inalterveis o direito das gentes e as leis polti

    cas, econmicas, mercantis e martimas das naes crists ^^^.Esta

    complexidade legislativa dificultava a boa administrao da justia e,

    em ltima anlise, lesava os direitos dos cidados.

    No antigo regime, os jurisconsultos, ou porque mais sensveis ao

    primeiro aspecto ou sem possibilidades de proceder a reformas profun

    das, procuraram superar as dificuldades mediante a publicao de com

    pilaes que tornassem conhecidas e acessveis as leis promulgadas sem

    o que o juiz seria o legislador, o seu arbtrio a lei ''*''. Com o advento

    do estado moderno Hberal e a consagrao poltica dos direitos indivi

    duais,

    tornou-se indispensvel pr termo incerteza do direito de cada

    um derivado do

    caracter

    obscuro e dbio do sistema legislativo em

    vigor *'* . Foi dentro deste esprito que nas Cortes se props e aprovou

    a nomeao de uma comisso especial para organizar o Projecto de

    C d i g o C i v i l

    149.

    Borges Carneiro revelou sensibilidade a um e outro aspecto da ques

    t o ,

    dando o seu contributo para a boa administrao da justia, pri-

    '43 Apndice documental,

    doe.

    n. 66.

    '44 Idem, Ibldem.

    '45 Vid. Idem, Ibldem.

    '46 Veja-se GUILHERME BRAGA DA CRUZ, O direito subsidirio na histria do

    direito portugus,

    in Revista Portuguesa de Histria, t.

    14,

    1975, pp. 279-304,

    especialmente, 293-294.

    1 4 7 Vid. VICENTE JOS FERREIRA CARDOZO DA COSTA, Compilao systema-

    tlca das leis extravagantes de Portugal, p. 1-2; veja-se tambm, pp. 5-20.

    1 4 8 Vid.

    Idem, Que he o

    Cdigo

    Civil?,

    pp. 81-91.

    1 4 9 Vid. DC, t. 5, 29 de Maro, 24 e 25 de Abril de 1822, pp. 665-666, 946,

    954-955, respectivamente.

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    VIDA

    PROFISSIONA L 25

    meiro pela elaborao de obras de compilao, depois com a apresen

    tao do

    Direito Civil de Portugal

    ^^^. Assim o deve ter entendido, a

    seu tempo, o Desembargador Jos Maria Cardoso Soeiro ao afirmar

    no Parecer dado quele pedido, referindo-se s obras j publicadas:

    Facilito o exame do que em diversos tempos se legislou e tm tobm

    a utilidade de reduzir a methodo a confuzo que se segue da multiplici

    dade das Leys ^^^. Estas palavras, fundamentando a opinio de ser

    o suplicante muito digno do privilgio exclusivo ' , tiveram eco na

    mesa do Desembargo do Pao ' , qual se enviara o pedido i *,e con

    triburam para que fosse feita a concesso solicitada pelo autor de obras

    to interessantes

    ^^.

    10. O empenhamento poltico de Borges Carne iro depois da revo

    luo de 1820 obrigou-o a interromper a produo literria no campo

    da jurisprudncia

    ^^^,

    a qual s viria a ser retomada posteriormente aos

    sucessos de 1823. Com efeito, com o triunfo do absolutismo, iniciaram-se

    as represlias contra quem mais se tinha salientado no regime anterior

    e Borges Carneiro viria a ser um dos abrangidos pelas medidas ento

    tomadas. Uma destas, emanada da Intendncia Geral da Polcia, e publi

    cada com data de 10 de Julho de

    1823,

    fixou-lhe compulsivamente resi

    dncia em Resende

    i ;

    outra, o decreto de 17 do mesmo ms, demi-

    '50 Vid.

    Infra,

    p. 44.

    '5 '

    Apndice documental,

    doe.

    n. 68.

    '52 Idem, Ibldem.

    '53 Vid.

    Idem,

    doe.

    n.

    69.

    '54 Vid. Idem, doe. n. 67.

    '55 Vid. Idem, doe. n. 70.

    '56 A ateno do depu tado no perodo de 1820-1823 esteve inteiramente vol

    tada para poltica. Por isso, neste campo que se mostram os frutos da sua activi

    dade literria (vid. infra, pp. 50-52).

    157 Na Gazeta de Lisboa, suplemento ao

    n.

    162, II de Julho de 1823, vinha

    pubUcadaa seguinte relao, encabeada pelo nome da entidade responsvel, aInten

    dnciaGeralda Policia. Relao dos indivduos que foram mandados sair da capi

    tal com passaportes desta Intendncia Geral da Polcia, para os lugares indicados,

    por serem notoriamente suspeitos e muitos deles havidos como fabricantes ou per

    tencentes s defendidas associaes secretas e por isso perigosos sua e segurana

    do estado.... O Desembargador Manuel Borges Carneiro, para Resende.... N.B.

    Todos os indivduos acima relacionados por ocasio de se lhes entregarem os passa

    portes, assinaram nesta mesma Intendncia a intimao que se lhes fez de regula

    rem a sua conduta futura de maneira que se no torne suspeitosa e que no induza

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    26 EPISDIOS DA VIDA DO CIDADO

    tiu-0 de desembargador da Relao e Casa do Porto ^^^. Durante os

    trs anos decorridos entre este acontecimento e a morte de D. Joo VI,

    Borges Carneiro, na Quinta das Cotas, ocupou, decerto, grande parte

    do tempo na preparao do

    Direito Civil de Portugal. O

    resultado

    tornou-se patente aos olhos de todos com a publicao do primeiro to m o,

    em 1826, e do segundo e terceiro, nos dois anos seguintes. A obra

    um testemunho de que, apesar do exlio, a esperana de regenerar a

    sociedade portuguesa no morrera no corao do acrrimo defensor do

    regime constitucional e nem mesmo a morte, a iria fazer desaparecer.

    Com efeito, o quarto tomo do

    Direito Civil

    saiu do prelo quando o

    autor j deixara de pertencer ao nmero dos vivos

    ^^.

    A mudana de rumo da poltica portuguesa verificada com o

    advento de D. Pedro IV, teve incidncias no s na actividade poltica,

    mas tambm na vida profissional de Borges Carneiro

    '^.

    Como se

    sabe, a

    Carta Constitucional

    representava um compromisso entre o tra

    dicional e o revolucionrio qua nto a o poder do soberano e condi

    o poltica da burguesia e da aristocracia, cujos direitos, e res

    pectivas aspiraes e privilgios no podiam ser ignorados. A

    Carta

    traduzia, assim, um desejo de conciliao com reflexos na prtica pol-

    a crer-se que os seus ideais se acham em oposio legitimidade do governo de

    Sua Magestade; e bem assim para nofreqentarem ou formarem de futuro socie

    dades secretas proibidas pelas leis. E nesta conformidade se lhes ordenou assinas

    sem termo perante os juizes do territrio em que cada um dos sobreditos se acha,

    pelo qual se obrigasse a cum prir a referida in tima o, com a com inao de se haver

    contra eles o procedimento regulado pelas leis, no caso de transgresso. Lisboa,

    10 de Julho de

    1823.

    Simo da Silva Ferraz de Lima e Castro. O

    teor deste comu

    nicado indica que data da sua publicao j tinha sido dada ordem s pessoas

    nele mencionadas de recolherem s residncias indicadas. No caso de Borges Car

    neiro,

    este facto corroborado por notcia inserta no mesmo peridico mencio

    nando a sua passagem por Coimbra a 14 de Junho {Gazeta de Lisboa, n. 144,

    19 de Junho de 1823, p. 1106).

    '58 Vid. Idem, n. 169, 19 de Ju lho de 1823, p . 1250.

    '59 Foi publicado em 1840. A edio foi prefaciada e dirigida por Emdio da

    Costa, o qual, resume assim a tarefa realizada: Sendo-me apresentado em manus

    crito o 4. volume do

    Direito Civil de Portugal

    do sr. Manuel Borges Carneiro,

    mas incorrecto porque a morte ceifara este nclito jurisconsulto antes de lhe haver

    dado a ltima demo; persuadi-me que faria servio corrigindo-o; para isso no

    poupei fadigas, coordenei as matrias, aqui, aU dispersas, supri lacunas, imitei o

    estilo e linguagem do autor quanto em mim cabia; segui sempre ou procurei adivi

    nhar o seu pensamento; corrigi imensas citaes, nesta parte o pbheo decidir se

    consegui o meu intento {Direito Civil de Portugal, t. 4, prefcio).

    '60 Vid.

    Infra,

    p p . 65-71.

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    VIDA PROFISSIONAL 27

    tica. Tomaram-se ento medidas tendentes a remediar a intransigncia

    para com tantos homens ilustres, no raras vezes votados a total ostra

    cismo. O ex-deputado vintista foi um dos beneficiados. Por alvar de

    16 de Outubro de 1826 ^ baseado no decreto de 30 de Setembro do

    mesmo ano ^^^, a Infanta Regenterestituiu-lhe o lugar na Relao do

    Porto e nom eou-o, no a no seguinte. Desembargador ordinrio da Casa

    da Suplicao ' . Os merecimentos do conhecido jurisconsulto foram

    assim plenamente reconhecidos pelo novo governo.

    Durou pouco tempo o perodo de pacificao. Em 1828,D . Miguel

    regressou a Portugal; e tornou-se, de imediato, o plo centralizador

    de todo s os esforos tendentes a derruba r o regime representativo. Pa s

    sado pouco tempo proclamou-se rei absoluto. Seguiu-se, ento, uma

    poca de grande agitao, em que os partidrios da revoluo foram

    sistematicamente perseguidos e presos. Entre eles, estava Borges Car

    neiro.

    Como tal, sofreu a demisso do cargo de Desembargador da Casa

    da SupHcao e foi mandado riscar da magistratura '^; por ltimo,

    entrou na priso onde havia de passar os ltimos anos da vida ' ^.

    As represlias do governo de D. Miguel sobre o ex-deputado tive

    ram ainda outros aspectos. Alm da perseguio feita s irms

    ^^,

    foram criadas dificuldades distribuio da obra, nomeadamente, de

    um dos tomos do

    Direito Civil.

    Demonstra-o o seguinte pedido dirigido

    ao Infante: Diz o Desembargador Manoel Borges Carneiro que, tendo

    remetido na passada viagem do barco de vapor um pacote contendo

    sessenta e seis exemplares do segundo tomo do seu

    Direito C ivil de Por

    tugal.... sucedeu mandar o Juiz daAlfndegada mesma cidade [Porto]

    conduzir o dito pacote para a alfndega e no o entregar sem ordem

    de V.A. Serenssima. E porque o dito tomo foi impresso e publicado

    com a licena necessria e se acha venda nesta cidade, peo a V. A.

    Serenssima se digne mandar expedir ordem ao dito juiz para a referida

    entrega^ .

    '6 ' V i d .Apndice documental, doe . n . 73 .

    '62 V i d . Gazeta de Lisboa, n. 2 3 1 , 2 d e Ou tubro de 1826, p . 9 45 .

    '63

    V i d .

    Apndice documental,

    d o e .

    n .

    74.

    '64 V i d .

    B R I T O R E B E L O , Manuel Borges Carneiro,

    in O

    Occidente,

    t. 2,

    47, 11 de

    Dezembro

    de 1879, p . 179.

    '65 V i d . infra, p p . 77 ss .

    '66 V i d .

    B R I T O R E B E L O ,

    Manuel Borges Carneiro, in O

    Occidente,

    t. 2,

    48, 15 de

    Dezembro

    de 1879, p . 186. V id.supra, p . 20.

    '67 Apndice documental,

    doe.

    n. 75.

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    4 E F E M R I D E S D A E X I S T N C I A D O P O L T I C O

    idias de liberdade e igualdade '^, destruir a unidade crist

    ^'^

    e dera

    origem a perseguies religiosas

    '^.

    Numa palavra, nos sucessos de

    Frana, e depois nos da Europa, havia a deplorar algo mais alm dos

    excessos cometidos. Na realidade, os princpios laicos enunciados tra

    ziam o germen da destruio de todo o edifcio poltico e a alterao

    da ordem social, pois, tanto um como a outra, no podiam prescindir

    dos valores religiosos que sempre lhes tinham servido de base.

    Sendo assim, afigura-se plausvel, em 1808, a imagem de Borges

    Carneiro como defensor da ordem tradicional assente na concepo jus-

    divinista do poder e no

    caracter

    imprescindvel da religio para a exis

    tncia da sociedade. O nico aspecto de modernidade residia (embora

    limitado a um caso pontual) no respeito pelos direitos naturais dos indi

    vduos exigido s autoridades,

    3. U m a dzia de ano s decorreram .,,; 1820 m arcou o comeo do

    perodo ureo de actuao poltica de um dos mais ilustres deputados

    vintistas, O acto inicial de uma interveno que iria acompanhar, ponto

    por ponto, os destinos da revoluo, teve lugar, nesse mesmo ano,

    escassas semanas depois do dia 24 de Agosto, com a publicao do pri

    meiro de uma srie de textos de caracter poltico, Borges Carneiro,

    intitulou-o

    Portugal Regenerado em 1820

    e assinou-o com um pseud

    n imo D,C,N,

    Publicola ^^.

    O escrito teve de imediato uma segunda

    13 ... . liberda de, / igualdade altares alevanta, / a estes dois fantasmas,

    que destroem / Por si ss a humana convivncia.

    {Idem, Ibldem).

    4 O- pensam ento cvico introd uz, / Inven o, que reprov a a S de Roma,

    / Destinado a forar as conscincias, / A mudar as Catlicas Igrejas, / Em Consti

    tucionais e a promover / O Cisma dos Padresjuradores. / Desde ento a catlica

    unidade/ dissolvida se v.... {Idem, ibldem).

    15 A perseguio nasce, oh Deus que horro res / C on tra aqueles fiis ao

    vosso nome, / Que a comunho cismtica rejeitam. / ... Os claustros arrombados

    se profanam; Os meiis entregues so ao desumano / Impetuoso furor dos Sans-

    -eulottes. / Corre dos sacerdotes

    no jurados / O

    sangue a borbotes. Dizei-o vs

    Santo Bispo d'Arles, Santos Padres / Que martrio no templo carmelita / supor-

    tastes; dizei-o os que tivestes / Sobre vs furibundo o tigre d'Avinho; / Dizei-o

    Lamballe ilustre, e quantos vistes / A sanguinosa raiva dos Manueis, / A dos Robes-

    pierres, dos Marats; / A dos Clubs Jacobino e Brissontino. / E outras medonhas

    frias, que podero / Do trtaro sair. Feliz quem pode / salvar-se transmigrando

    em terra estranha

    {Idem,

    p p . 10-12).

    16 Vid.

    MARTINHO AUGUSTO DA FONSECA,

    Subsdios para um diccionario de

    pseudnimo s, iniciais e obras anonym as de escritores portugueses, p .

    105.

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    6 EFEM RIDES DA EXISTNCIA DO POL TICO

    de declaraes feitas por este na imprensa peridica. Estavam em causa

    acontecimentos ocorridos numa sesso das Cortes, no perodo quente

    da discusso da questo brasileira, os quais haviam levado o represen

    tante do Brasil a pedir a demisso. Ao relatar o sucedido, Andrada e

    Silva acusou Borges Carneiro de falta de correco e queixou-se da forma

    como alguns deputados e a assistncia haviam reagido a declaraes

    suas. A estas palavras de crtica, respondeu o deputado com a citada

    carta 2^. Os outros dois textos, pubHcados com um escasso ms de

    intervalo, tm de comum a defesa do regime perante a crescente onda

    contra-revolucionria que , internacional e nacionalm ente, se erguia con

    tra ele

    2^

    Ao mais antigo deu a forma de carta dirigida ao monarca

    francs

    Carta a sua Magestade Lus XVIII2^;

    e apresentou o

    seguinte, como uma proclamao

    Aos portuguezes

    ^ .

    2 2 Veja-se o D irio do Go verno , n. 90, 18 de Abril de 1822, pp. 627-628.

    A carta que lhe deu origem foi tambm publicada no mesmo peridico (veja Di

    rio do Governo,

    n.

    89, de 17 de Abril de 1822, p. 618 e, ainda, n. 88, 16 de

    Abril de 1822, pp. 612-613). Veja-se igualmente sobre o mesmo episdio. Borboleta

    Constitucional,

    nmeros 93 e 96, 23 e 26 de Abril de 1822, respectivamente;

    Cam

    peo Lisbonense, n. 52, 23 de Abril de 1822;Jornal da sociedade

    literria

    patri

    tica, t. 1,

    n.

    2, 19 de Abr de 1822, pp. 58-64.

    2 3 Vid. infra, pp. 62-64.

    2 4 Vid.

    BORGES CARNEIRO,

    Carta a Sua Magestade Luis

    XVIII,

    in Dirio

    do Governo,n.42, 18 de Fevereiro de 1823, pp. 326-328 (veja-se infra, pp . 62-63).

    O peridico intitulado A Trombeta Luzitana publicou non.42, de 20 de Fevereiro

    de 1823, uma resposta a esta carta, segundo ele, publicada no Boletim do Exrcito

    dos Pirinus, por um granadeiro francs. O estUo irnicoda missiva no deixa dvidas

    (se dvidas podia haver) quanto ao quadrante poltico do autor (vid. Infra, p. 102).

    O mesmo acontece, contudo, em relao ao aplauso publicado sobre o mesmo

    assunto: Saiba embora El-rei de Frana, que c o coxo, no fica atrs do sr. Bor

    ges Carneiro : sempre h , na verdade u m patriota que se no receou e s ele se lem

    brou de pegar na pena, para bem o contestar, dizendo-lhe: se o Deus de S. Lus

    no ser o mesmo que o Deus de S. Fernando e de Afonso Henriques? vejam-me

    vv. mm. em outro tempo, quem seria que se atrevesse a falar com tal energia a

    um rei? no que a verdade ento se afastava do trono, e hoje com impavidez ele

    se apresenta ante o mesmo. E acrescentava o mesmo autor: verdade.... no

    h dignidade hoje em quem escreve. Olhe o melhor escrito que tem aparec ido, alm

    de outros do mesmo A. a carta do sr. Borges Carneiro a El-rei de Frana, aquilo

    sim, aquilo que dignidade de escritor portugus

    (VIII Conversao dos pobres

    do Lausperenne da segunda colleco ....,

    pp. 3-4).

    2 5 Veja-se BORGES CARNEIRO,

    AOS

    portuguezes, in Dirio do Governo,

    n. 61, 12 de Maro de 1823, pp. 507-508 (veja Infra, pp. 63-64). Uma crtica a

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    ACTIVIDAD E POLTIC A 7

    Sob o ponto de vista dasidiase das concepes, um abismo separa

    o texto escrito na priso de Beja do textopubUcadono dealbar do pri

    meiro regime liberal portugus. Este apresenta um caracter program-

    tco, Com efeito, os tpicos fundamentais e as grandes linhas de reforma

    das estruturas polticas da sociedade portuguesa encontram-se ali apon

    tados e traados, Haviam sido inspirados nas idias que, em Frana,

    dnham marcado a rotura com o Antigo Regime sendo, assim, evidente,

    que o tribuno nortenho no condenava j, globalmente, a Revoluo,

    Pelo contrrio. Aceitava a experincia francesa nos princpios orienta

    dores,em bora continuasse a critic-la q uanto aos meiosutihzadospara

    a sua concretizao. Em 1820, escreveu as seguintes palavras, testemu

    nho claro da evoluo do seu pensamento: Convm que a grande obra

    da nossa regenerao siga um a m archa regular e pacfica.... e que no

    penetre em Po rtugal aquele esprito de vertigem que acarretou Frana

    tanto sangue e tantas lgrimas.... Ns sabemos que aUberdadeciv il....

    no se confunde com a

    Ucena,

    com a audcia, com a insubordinao

    s leis e s autoridades^ .

    Qual ter sido a influncia determinante da mudana inequivoca

    mente expressa ao esboar, no dealbar da revoluo, um projecto

    poltico abrangendo os pontos fulcrais do futuro iderio vintista? Bor

    ges Carneiro no podia ignorar as dificuldades polticas, sociais e eco

    nmicas de Portugal, agravadas umas, nascidas outras, com as inva

    ses francesas e a ida da Corte para o Brasil. No podia, tambm, ter

    ficado alheio abortada revoluo de 1817 e execuo do seu chefe.

    Gomes Freire de Andrade, nem podia ainda desconhecer asidias em

    confron to, tan to mais que chegara j a Lisboa, como secretrio da Jun ta

    do Cdigo Penal Militar, quando se deram esses acontecimentos^ .

    esta proclamao foi publicada no Argos Lusitano, jornal anti-ministerial e anti-

    -trombeteiro,

    n.^

    54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, respectivamente de 14, 15, 17, 18, 20,

    21, 22 de Maro de 1823, pp. 219-246. Segundo o autor, o jornal fora injustamente

    visado pelas palavras do deputado contra os peridicos que davam cobertura a ata

    ques contra o regime. Empenhou-se pois na sua defesa, lembrando a preocupao

    presente em todas as pginas de no perder de vista que a regularidade das COI

    SAS e no o cmodo e vantagem das PESSOAS, deve fazer o objecto essencial

    dos verdadeiros

    constitucionais

    (p. 225). Preocupou-se tambm em salientar nem

    sempre ter sido a atitude do deputado a mais adequada suas responsabilidades

    (vid.infra,p. 120). Invocou a autoridade de Benjamin Constant, traduzindo e trans

    crevendo extractos do Tratado dasreacespolticas para definir o dever do escri

    tor (p. 229) e para mostrar quais eram as normas que deviam guiar a aco do

    legislador (pp. 244-245).

    2 6 BORGES CARN EIRO,

    Portugal Regenerado em 1820, 3.* ed., p. 69.

    2 7

    Veja-se supra, pp. 38-40.

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    8 E F E M R I D E S D A E X I S T N C I A D O P O L T I C O

    Conhecer uma situao no implica todavia necessariamente, empenhar-

    -se na sua modificao,

    tal

    como o conhecimento de um ideal no se

    traduz de forma imprescindvel numa adeso. Por isso, o facto de ter

    aderido no s aos sucessos do Porto mas faco que viria a dominar

    a situao e convocar Cortes, corresponde a uma mutao ideolgica

    posterior redaco dos Pensamentos. Ter sido mao ilustre

    ^

    e, neste caso, a maonaria no deixou, por certo, de influir na forma

    o da sua

    forma mentis

    hberal

    ^ .

    Pode mesmo ter tido contactos com

    o grupo denominado Segurana, visitado em 1818 pelos regeneradores

    Jos da Silva Carvalho e Jos Pereira de Menezes

    ou com o prprio

    Fernandes Toms, quando este visitou os amigos da capital

    ^^

    2 8

    Ter, Borges Carn eiro pertencido, de facto, m aon aria? A resposta a esta

    pergunta foi dada pelo Prof. Silva Dias ao apresentar o deputado como grande

    chanceler do Grande Oriente Lusitano (vid. G R A A e J. S. SILVA DIAS,

    OS

    primr-

    dios da maonaria em Portugal, t. 1, p. 815); veja-se tambm Vria. Maons ilus-

    tes, in GRANDE ORIENTE LUSITANO UNIDO . SUPREMO CONSELHO DA MAON ARIA POR

    TUGUESA,

    Boletim Oficial,

    n.

    12, Dezembro de

    1923,

    p. 13. Fora, alis, invocando

    a sua fiUao manica que, em 1823 a Intendncia da Polcia o intimara a sair

    da capital e lhe fixara residncia em Resende {Gazeta de Lisboa, Suplemento, 11

    de Julho de 1823). certo que ele negou ter pertencido a qualquer sociedade secreta

    e desafiou as autoridades a prov-lo como se l na seguinte carta: Senhor Redac-

    tor Vi naGeizetade Lisboan. 144 o