casos de sucesso na educação ambiental£o promover e realizar ações de conservação da natureza...

Casos de Sucessona Educação Ambiental

Autores Rebeca de Mattos Daminelli Sandro Menezes Silva

2009

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D159 Daminelli, Rebeca de Mattos. Silva, Sandro Menezes. / Casos de Sucesso na Educação Ambiental: casos

de 1 a 10. / Rebeca de Mattos Daminelli. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 108 p.

ISBN: 978-85-7638-775-6

1. Educação Ambiental. 2. Meio Ambiente – Estudo. I. Título. CDD 333.72


SumárioFundação O Boticário de Proteção à Natureza ........................................................................5

Fundo de Apoio a Projetos em Ecodesenvolvimento ..................................................................................6Reserva Natural Salto Morato .....................................................................................................................8Programa de Áreas Naturais Protegidas ....................................................................................................10Programa de Educação e Mobilização .......................................................................................................10

Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) ..........................17Ações na Floresta Atlântica .......................................................................................................................17Ações na Floresta com Araucária ..............................................................................................................23Programa de recolhimento de baterias de celular usadas ..........................................................................25

Projeto Baleia Franca .............................................................................................................31Por que o nome baleia-franca? ..................................................................................................................32Características da espécie ..........................................................................................................................32O Projeto Baleia Franca .............................................................................................................................34A Área de Proteção Ambiental da baleia-franca ........................................................................................37O Projeto Baleia Franca e o resgate da história e da cultura regional ......................................................38Perspectivas futuras para a espécie ...........................................................................................................38

A atuação da Apremavi ..........................................................................................................43Papel das organizações da sociedade civil .................................................................................................43A Apremavi – histórico da instituição .......................................................................................................44A Mata Atlântica e Santa Catarina .............................................................................................................45Planejando propriedades e paisagens .........................................................................................................45Outras ações propostas pela Apremavi ......................................................................................................47

Parque Nacional do Iguaçu ....................................................................................................53As unidades de conservação ......................................................................................................................53O Parque Nacional do Iguaçu ....................................................................................................................55A Escola Parque ........................................................................................................................................56A importância da iniciativa do Parque Nacional do Iguaçu ......................................................................57

Projeto Café com Floresta ......................................................................................................59Em meio aos conflitos agrários, quem se preocupa com conservação? ...................................................60O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) .................................................................................................61O projeto Café com Floresta .....................................................................................................................63

Faber-Castell do Brasil ..........................................................................................................71A Faber-Castell ..........................................................................................................................................71A Faber-Castell do Brasil ...........................................................................................................................72Responsabilidade social-empresarial .........................................................................................................76


Instituto Romã ........................................................................................................................79O Instituto Romã ........................................................................................................................................79

Reserva Particular do Patrimônio Natural Volta Velha ..........................................................85A RPPN Volta Velha ..................................................................................................................................85O Centro de Educação ao Ar Livre ............................................................................................................86A interação com as escolas ........................................................................................................................87

Projeto Arara-azul ..................................................................................................................91As principais causas da perda de biodiversidade ......................................................................................91O tráfico de animais silvestres ..................................................................................................................92A arara-azul ................................................................................................................................................94Como é a vida da arara-azul ......................................................................................................................97O Projeto Arara-azul ..................................................................................................................................99


Fundação O Boticário de Proteção à Natureza

Sandro Menezes Silva*

A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza foi criada em setembro de 1990, em Curitiba (PR), por iniciativa do grupo O Boticário, uma das maiores empresas de perfumaria e cosméticos do Brasil e a maior rede de

franquias dessa área no mundo. Seu fundador, Miguel Gellert Krigsner, teve na ocasião uma iniciativa que certamente estava à frente de seu tempo, que pode ser mais bem compreendida pelo depoimento abaixo:

A criação da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza foi a concretização de um so-nho antigo, ligado ao desejo de perpetuar as cenas naturais de minhas memórias e ideais. A conservação da natureza é o legado que O Boticário decidiu deixar para esta e para as futuras gerações. Agradeço a todos os que acreditaram neste sonho e investiram nele, dedicando suas vidas para salvar o verde e todas as demais cores do Brasil. Miguel Gel-lert Krigsner – Presidente da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza. (CORREA, 2005)

A Fundação O Boticário é uma instituição sem fins lucrativos, que tem como missão promover e realizar ações de conservação da natureza e faz isso em três frentes: apóia ações de conservação em todo o Brasil, realiza diretamente a prote-ção da natureza e promove ações de educação e mobilização para a conservação de todas as formas de vida.

Uma das linhas de atuação da Fundação, pela qual a instituição nasceu e deu seus primeiros passos, é o apoio financeiro para projetos relacionados à con-servação da natureza, realizado em um Programa de Incentivo à Conservação da Natureza. São projetos de pesquisa com espécies e ecossistemas ameaçados, de apoio à infra-estrutura e subsídios ao manejo1 de unidades de conservação, de apoio e valorização das áreas verdes urbanas e de restauração de ecossistemas, en-tre outros, além de inúmeras publicações e eventos relacionados à conservação.

Muitos projetos apoiaram estudos e ações de conservação para espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), a onça-pin-tada (Panthera onca), diversas espécies de mamíferos aquáticos, primatas e aves, por exemplo, assim como de inventários de diversidade biológica em todos os biomas brasileiros. A realização desses projetos resultou na realização de diversas monografias de conclusão de cursos de graduação e pós-graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado, desenvolvidas em várias instituições de ensino e pesquisa em todos os estados brasileiros.

Doutor e Mestre em Bio-logia Vegetal pela Universi-dade Estadual de Campinas (Unicamp). Licenciado em Ciências Biológicas pela Uni-versidade Federal do Paraná (UFPR).

1Manejo: todo e qualquer procedimento que vise

a assegurar a efetividade de uma unidade de conserva-ção, garantindo a conserva-ção da diversidade biológica e dos ecossistemas.

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Casos de Sucesso na Educação Ambiental

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O que é uma Unidade de Conservação? Conforme definido pelo Siste-ma Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), Lei 9 985 de 18/7/2000 e Decreto 4 240 de 22/8/2002, unidade de conservação é um “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais, com ca-racterísticas naturais relevantes, legalmente instituído pelo poder público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de adminis-tração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”. Podem ser de duas categorias, as de proteção integral e as de uso sustentável. As unidades de conservação de proteção integral têm como principal objetivo a preservação da natureza, sendo permitido somente o uso indireto dos seus recursos naturais. As de uso sustentável procuram compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais. No primeiro grupo o exemplo mais conhecido são os Parques, enquanto na segunda categoria são as Áreas de Pro-teção Ambiental (APA).

Fundo de Apoio a Projetos em Ecodesenvolvimento2

Uma linha específica de apoio a projetos é o Fundo de Apoio a Projetos em Ecodesenvolvimento, no qual a idéia básica é o apoio a ações que associam a conservação da natureza com iniciativas de desenvolvimento comunitário. Essa associação tem envolvido o trabalho de muitas organizações não-governamentais com foco socioambiental, assim como faz parte do discurso oficial nos diferentes níveis de governo. O que se vê na prática é que a conciliação entre a conservação da natureza e a utilização de recursos naturais enfrenta uma série de limitações e é uma tarefa difícil, pois envolve diversos interesses corporativos e enfrenta a falta de capacidade institucional e organizacional para viabilização de ações que integrem esses dois aspectos.

A Fundação O Boticário é uma das maiores financiadoras de projetos em conservação da natureza no Brasil. Em 15 anos de atividades doou cerca de US$ 5,3 milhões para cerca de 990 projetos, envolvendo quase 300 instituições governamentais e não-governamentais de todo o país. A distribuição desses pro-jetos conforme as diferentes regiões geográficas do Brasil assim como de acordo com os diferentes biomas3 brasileiros pode ser vista nas figuras abaixo. O Sul e o Sudeste são as regiões que receberam a maior parte dos recursos investidos, sendo também as que demandam a maior quantidade de propostas. Nos biomas, destacam-se a Floresta Atlântica, os ecossistemas costeiros e o Cerrado como aqueles nos quais foi realizado maior número de projetos.

O reconhecimento do mundo acadêmico ao apoio que a Fundação O Bo-ticário de Proteção à Natureza dá à pesquisa aplicada à conservação veio com a denominação de três espécies novas para a Ciência, com epítetos que fazem referência à palavra boticário. Trata-se de uma espécie de rã endêmica de algu-

2Ecodesenvolv imento : pode ser definido como o

resultado da junção de duas correntes de pensamento aparentemente antagônicas, o “ecologismo absoluto” e o “economicismo arrogante”, no qual a ênfase é a busca do desenvolvimento orientado pelo princípio de justiça so-cial em harmonia com a na-tureza, com a harmo-nização de objetivos sociais, ambien-tais e econômicos.

3Bioma: uma grande área geográfica forma-da por

um complexo de habitats e comunidades, condicionada a uma região relativamente uniforme quanto ao clima, relevo, geomorfologia entre outros. Exemplos de biomas brasileiros: cerrado, caatinga e Floresta Atlântica.



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mas regiões serranas de São Paulo denominada Megaelosia boticariana, uma espécie de peixe que vive em rios que atravessam a Reserva Natural Salto Mo-rato, de propriedade da Fundação, denominada Listrura boticario e uma outra espécie de peixe, esta do grupo dos chamados peixes anuais4, denominada cien-tificamente de Aphyolebias boticarioi, cuja distribuição geográfica é restrita a afluentes do rio Purus, no Acre.

Distribuição dos projetos aprovados por região geográfica do Brasil (período 1991-2004). Elaborado com base na relação de projetos apoiados presente no site <www.fundacaoboticario.org.br>.

Distribuição dos projetos aprovados por biomas do Brasil (período 1991-2004). Elaborado com base na relação de projetos apoiados presente no site <www.fundacaoboticario.org.br>.

4Peixes anuais: grupo de peixes denominados

cientificamente de Rivulidae que vivem em corpos de água temporários, cuja vida adulta é efêmera e restrita ao perío-do em que há água disponí-vel, passando o período mais seco como ovos latentes na lama.



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Na opinião de Miguel Milano (2001), diretor técnico da Fundação O Boti-cário e o principal responsável pelas definições iniciais que lançaram as bases da atuação da Instituição,

investir em meio ambiente é lucrativo para cada um de nós, para o País e para o planeta. Pode não ser necessariamente lucrativo do ponto de vista financeiro ortodoxo vigente, que requer um rendimento de mais de 10% líquidos anuais com base no regime de juros que está aí. Mas é lucrativo no que tange à proteção dos reservatórios das hidrelétricas que produzem a energia que está faltando; é lucrativo no que concerne à estabilidade climáti-ca; é potencialmente lucrativo no que tange à proteção da biodiversidade como fonte infi-nita de princípios ativos para a farmacologia e como fonte de genes de onde se desenvolve toda a agricultura e pecuária do planeta. Mais do que lucrativo, é vital a médio e longo prazos. Mas, mais do que vital, é moral e todos devem dar sua contribuição, enquanto há tempo para isso e não é tarde demais.

Reserva Natural Salto MoratoNa realização efetiva de ações de proteção da biodiversidade, a Fundação

O Boticário mantém uma reserva própria localizada no município de Guaraque-çaba (PR), denominada Reserva Natural Salto Morato. A escolha da área onde foi implantada a Reserva reúne uma ampla diversidade de espécies e de ambientes, por proteger um significativo remanescente da Floresta Atlântica do sul do Brasil. Esse importante bioma tem um dos maiores valores de riqueza biológica do plane-ta e é também um dos mais ameaçados, sendo considerado no cenário conserva-cionista internacional como um Hotspot de biodiversidade5.

Região norte do litoral do Paraná, mostrando a localização da Reserva Natural Salto Morato e sua inserção na APA de Guaraqueçaba (retirado do site <www.fundacaoboticario.org.br>).

A Floresta Atlântica chegou a ocupar cerca de 12% do território brasileiro, dos quais restam atualmente menos que 8% dessa área. A Reserva está localizada em uma região importante para a conservação da Floresta Atlântica, na Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, que foi criada pelo Governo Federal em

5A expressão Hotspot de biodiversidade refere-se

aos locais do planeta mais ricos em diversidade bioló-gica e também aos mais ame-açados. Hoje são 34 áreas propostas para todo o mundo, duas delas no Brasil: a Mata Atlântica e o Cerrado.



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1985, com área de 314 400 hectares abrangendo todo o município de Guaraqueça-ba e partes dos municípios de Paranaguá, Antonina e Campina Grande do Sul.

Outras unidades de conservação ocorrentes nessa região são o Parque Na-cional do Superagüi, a Estação Ecológica de Guaraqueçaba e a Área de Rele-vante Interesse Ecológico das Ilhas de Pinheiro e Pinheirinho. Toda a região recebeu o título de Reserva da Biosfera em 1999, concedido pela Unesco, sendo reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade. Espécies ameaçadas de extinção como a jaguatirica, a suçuarana e a jacutinga, entre outras, dividem espaço na Reserva com espécies que, apesar de não constarem nas listas de espécies ameaçadas, têm papel fundamental na manutenção do funcionamento dos ecossistemas e habitats.

A área total da Reserva Natural Salto Morato é de aproximadamente 2 340 hectares, parte instituída como uma Reserva Particular do Patrimônio Natural6 (RPPN) com o objetivo principal de conservar a diversidade biológica, e também de ser um local para a realização de pesquisas científicas, atividades de Educação Ambiental, visitação turística e recreação ao ar livre.

Quando a Reserva foi implantada, muitos moradores de uma comunidade vizinha à área, a Vila Morato, tinham como principais fontes de subsistência a caça de animais silvestres e a extração do palmito, que é a parte apical da palmei-ra-jussara (Euterpe edulis), espécie freqüente na região.

A alternativa para diminuir a pressão sobre esses recursos, agora na área da Reserva, foi fomentar a criação de um programa de artesanato com os moradores dessa localidade, sendo escolhido o artesanato com fibras naturais. Num primeiro momento houve todo um trabalho de capacitação para os interessados envolvi-dos, tanto na produção como na comercialização dos produtos, e hoje já existe uma Associação de Artesãos que gerencia todo esse processo, sem intervenção da Fundação O Boticário. O resultado disso é que a pressão por extração desses recursos, especialmente do palmito, diminuiu significativamente, e algumas espé-cies animais que eram raramente vistas na área começam a dar sinais de que estão “voltando” para a região.

Alguns números da Reserva Natural Salto MoratoEm 2 340 hectares de Floresta Atlântica estão:

mais de 1 000 espécies de plantas registradas;

83 espécies de mamíferos;

329 espécies de aves (quase 50% do total de espécies registradas para o Paraná);

39 espécies de aves ameaçadas de acordo com instrumentos legais em nível global, federal e/ou estadual;

29 espécies de répteis.

6Reserva Particular do Pa-trimônio Natural (RPPN)

– categoria de unidade de conservação prevista no Sis-tema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) formada por terras privadas que são gravadas em caráter de perpetuidade e reconhecidas oficialmente pelo Governo Federal ou Es-tadual. Sua principal função é a conservação da natureza, podendo ainda servir para a realização de pesquisas cien-tíficas, atividades de educa-ção ambiental, recreação ao ar livre e contemplação da natureza.



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Programa de Áreas Naturais ProtegidasNa linha de execução de ações para a conservação, o Programa de Áreas

Naturais Protegidas, responsável pela gestão da Reserva, ainda mantém uma base de informações sobre parques nacionais brasileiros disponível para consulta na internet, contribuindo para a valorização, e conseqüente preservação, dos locais onde estão concentradas as riquezas naturais do país, e incentiva a conservação em terras privadas através de diferentes mecanismos, sendo a criação de reservas privadas o mais enfatizado.

Programa de Educação e MobilizaçãoUma terceira frente de atuação da Fundação O Boticário reúne diversas ações

que buscam divulgar conservação para diferentes públicos, usando de meios bas-tante diversificados. É o Programa de Educação e Mobilização. São ações como eventos técnico-científicos, publicações e cursos de capacitação, entre outras.

Uma das ações mais diretas com Educação Ambiental é a Estação Natureza, uma exposição permanente situada em Curitiba (PR), que apresenta informações sobre a biodiversidade brasileira de forma lúdica e interativa, com o objetivo de sensibilizar e mobilizar as pessoas para a conservação.

A visita pode ser conduzida por educadores ambientais ou pode ser feita de forma auto-explicativa, passando por uma amostra em fotos, sons, aromas e mo-vimentos dos principais biomas brasileiros, iniciando pelas florestas com Arau-cária do sul do Brasil e terminando no Pantanal Mato-grossense. Ambientes que mostram o que o homem tem feito de bom e de ruim pela natureza do planeta concluem a “viagem” pelo Brasil, levando o visitante a refletir sobre a importância de conservar a natureza e como cada um pode dar sua contribuição.

A exposição recebe principalmente estudantes de praticamente todas as fai-xas etárias, das escolas públicas da região de Curitiba e de outros municípios do Paraná. Em três anos e meio de funcionamento, já recebeu quase 70 mil visitantes, de praticamente todas as regiões do Brasil e de outros países.

Associado à Estação Natureza, é realizado o Projeto Biomas, uma ação que envolve professores de escolas públicas e particulares em eventos de capacitação, nos quais informações sobre a natureza brasileira constituem o núcleo principal de uma ação maior. Esta visa a despertar nestes o imenso potencial que o tema apresenta para uma abordagem transversal em sala de aula.

Os cursos de capacitação que são organizados por esse programa são re-alizados na Reserva Natural Salto Morato e tratam de temas que se relacionam diretamente com o planejamento e manejo das unidades de conservação, suas respectivas necessidades técnicas e de conteúdo informativo. A prioridade na se-leção dos participantes é dada para profissionais que atuam diretamente na gestão e manejo das unidades de conservação, ligados a órgãos governamentais munici-



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pais, estaduais e federais, e a instituições não-governamentais, assim como para proprietários de reservas privadas e estudantes que estejam direcionando seus estudos para esta área de atuação.

Entre os temas que já foram tratados nesses cursos estão: Educação Am-biental, Interpretação da Natureza, Condução de Visitantes em Unidades de Con-servação, Planejamento e Implantação de Infra-estrutura em Trilhas, Planejamen-to e Manejo de Áreas Naturais Protegidas, Biologia da Conservação, Avaliação da Biodiversidade, entre outros.

Ainda como uma atividade do Programa de Educação e Mobilização há uma linha editorial, na qual são publicados um periódico técnico-científico e uma série técnica, cada qual com escopo e público específicos. Enquanto a revista Natureza & Conservação pretende ser um veículo para divulgação de artigos de opinião e contribuições científicas para a conservação, a série técnica Cadernos de Conservação caracteriza-se por ser uma publicação voltada para os aspectos mais práticos do planejamento e manejo das unidades de conservação.

Além dessas publicações seriadas, são publicados livros sobre conservação da natureza, com ênfase para temas ligados à história e filosofia da conservação, além das principais técnicas e princípios para o adequado manejo das unidades de conservação.

Um dos maiores eventos sobre conservação da natureza no Brasil, e tam-bém na América do Sul, o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, é mais uma das ações que a Fundação O Boticário empreende para disseminar conceitos e experiências sobre conservação da natureza, possibilitar o inter-câmbio de informações entre profissionais e estudantes de diferentes áreas e no mais alto nível e trazer o conhecimento científico para a prática da conserva-ção. Realizado a cada dois anos, teve em outubro de 2004, em Curitiba (PR), a sua quarta edição, na qual participaram mais de 1 200 pessoas. Durante quatro dias, profissionais de diferentes partes do Brasil e de outros países apresentaram palestras e conferências sobre temas diversos, abordando aspectos históricos da conservação, suas tendências mais atuais e suas perspectivas futuras. A co-letânea de artigos técnico-científicos e de textos das palestras publicadas nas quatro edições do evento constitui o maior acervo atualizado sobre unidades de conservação do Brasil, contendo diversos artigos que são referências temáticas em diversos trabalhos realizados no país.

A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza é, sob diversos aspectos, um bom exemplo de ação concreta em prol da conservação da natureza, pois con-cilia o apoio a ações empreendidas por terceiros, a execução de projetos visando garantir a proteção de porções significativas dos biomas brasileiros e a divulgação de resultados de iniciativas voltadas à conservação da biodiversidade e de princí-pios e técnicas importantes para tornar esse processo mais efetivo. Todo esse tra-balho tem como conseqüência a perspectiva de um futuro melhor para esta e para as futuras gerações de todas as espécies, escala de tempo que qualquer projeto consistente de conservação deve considerar.



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A mais acelerada extinção em massa da história da terra7

(AYRES, 2001)8

Cientistas acreditam que estamos em meio a uma extinção em massa até mais acelerada do que o colapso ocorrido quando os dinossauros desapareceram, há cerca de 65 milhões de anos.

Sete entre dez biólogos acreditam que o mundo esteja hoje em meio à mais acelerada extinção em massa de seres vivos nos 4,5 bilhões de anos da história do planeta, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Museu Americano de História Natural e pela empresa de pesquisa Louis Harris.

Isto a torna até mais acelerada do que o colapso ocorrido quando os dinos-sauros desapareceram, há cerca de 65 milhões de anos. Diferentemente desta e de outras extinções em massa do passado pré-humano, a atual é causada pela atividade humana e não por fenômenos naturais, declaram os cientistas.

Os cientistas consultados classificaram a perda da biodiversidade como um problema ambiental mais grave do que a destruição da camada de ozônio, aque-cimento global ou poluição e contaminação. A maioria (70%) revelou acreditar que durante os próximos 30 anos, até um quinto de todas as espécies vivas hoje estará extinto, e um terço dos consultados considerou que metade das espécies da Terra estará morta no mesmo período.

“Esta pesquisa é um alerta dramático às pessoas, governos e instituições sobre a ameaça verdadeiramente descomunal que estamos enfrentando, não apenas à saúde do planeta, mas também ao bem-estar e sobrevivência da pró-pria humanidade – uma ameaça praticamente despercebida pela população em geral,” comentou a Presidente do Museu de História Natural, Ellen V. Futter.

A pesquisa Biodiversidade no Próximo Milênio foi dirigida a 400 mem-bros do Instituto Americano de Ciências Biológicas.

Os consultados incluíram especialistas em bioquímica, botânica, biologia conservacionista, entomologia, genética, biologia marinha, biologia molecular, neurociências, fisiologia e outras áreas. Paralelamente, foi realizada uma pes-quisa entre cem professores de ciência de nível médio e secundário da Associa-ção Nacional de Professores de Ciência, e entre mil pessoas da população em geral, para avaliar as diferenças de opinião sobre questões da biodiversidade.

As comparações revelaram que “a população em geral é relativamente de-sinformada quanto à perda das espécies e às ameaças que ela representa,” decla-rou a porta-voz do Museu, Elizabeth Chapman. A pesquisa também constatou que “embora os professores de ciência tenham uma consciência mais clara do que a população em geral da dimensão e urgência da crise da biodiversidade, mais de 50% deles não acredita que estejamos em meio a uma extinção em massa, e apenas 38% se considera familiarizado com o conceito da biodiversidade”.

7WWI - Worldwatch Ins-titute / UMA-Universi-

dade Livre da Mata Atlân-tica 2001, todos os direitos reservados. Autorizada a reprodução total ou parcial citando o site <www.wwiu-ma.org.br>.

8Diretor de Redação da revista bimestral World

Watch, publicada pelo World-watch Institute em 30 idiomas. A edição brasileira é publi-cada pela Universidade Livre da Mata Atlântica (UMA).



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1. Forme grupos com no máximo quatro participantes e busque mais informações, na literatura ou na internet, sobre as extinções mais recentes, suas causas, conseqüências e o papel do ho-mem nesse processo, citando alguns exemplos clássicos ocorridos mais recentemente. Procure entender o contexto no qual o texto complementar apresentado se insere e discuta em grupo os principais aspectos levantados. Faça um resumo contendo os pontos mais relevantes discutidos no grupo.

2. Ainda em grupo, faça uma comparação entre os principais objetivos e características das uni-dades de conservação de “proteção integral” e as de “uso sustentável”, com base no conteúdo “Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza” (ver Referências). Discuta como estas áreas podem contribuir para reduzir o processo de destruição dos habitats, e conseqüente perda da biodiversidade. Procure exemplos de cada grupo de unidades em sua região.

3. Apresente os resultados sumarizados por sua equipe para os demais grupos, procurando ressal-tar aqueles aspectos mais importantes e que foram comuns a todas as discussões.

4. Você sabe quanto os números apresentados no box sobre a Reserva Natural Salto Morato repre-sentam do total de espécies de cada um desses grupos animais no Brasil? E na Floresta Atlân-tica? Faça uma pesquisa e responda a essas perguntas, não se esquecendo de anotar as fontes de onde as informações foram obtidas. As referências citadas neste livro são boas dicas para buscar as informações.

“Apesar do desconhecimento público do que a perda da biodiversidade representa, os cien-tistas são de opinião que é crucial agir imediatamente para conter a onda de extinção”, declarou Chapman.

“Em sua grande maioria, os cientistas acham que a ameaça da crise da biodiversidade é su-bestimada por quase todos os segmentos da sociedade: 95% considera que a população em geral subestima a ameaça; 87% pensa que os governos a subestimam; 80% acha que a mídia também o faz; e 58% são de opinião que os educadores não a identificam com precisão.”

Tanto os especialistas científicos quanto os professores de ciência admitiram que eles pró-prios são parte do problema de comunicação.

70% dos cientistas e 67% dos professores de ciência declararam não terem divulgado adequa-damente informações sobre as conseqüências da crise da biodiversidade. “Não sei de nenhuma geração de cientistas que tenha se defrontado com um desafio maior do que enfrentamos hoje, pois nenhuma outra geração se viu na encruzilhada entre a continuidade da existência da diversidade biológica da Terra e uma catástrofe irrevogável da biota,” comentou Michael J. Novacek, Provost Científico do Museu.



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O conjunto de referências abaixo apresentadas traz informações complementares importantes para o entendimento da importância da conservação da natureza, ações possíveis e necessárias para colocar o conhecimento ecológico a serviço da conservação, além de aspectos legais relacionados ao tema.

CORRÊA, Marcos Sá (Org.). Sinais da Vida: algumas histórias de quem cuida da natureza no Brasil. Curitiba: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 2005. p. 203.

Trata-se de um livro “biográfico” sobre a Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, que mistura a história da Fundação com uma parte da história daqueles que fizeram a instituição chegar aos 15 anos de atividades como uma das organizações não-governamentais de maior credibilidade em conservação da biodiversidade no Brasil. As histórias contadas narram trajetórias profissionais que em algum momento encontraram-se por meio da Fundação, seja na condição de quem recebe o apoio para realizar seu trabalho, seja como executor direto de ações que visam conservar a natureza do Brasil. Traz ainda um excelente perfil institucional, descrito de uma forma jornalística e de fácil entendimento, o que torna a leitura muito agradável.

Site eletrônico da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza: <www.fundacaoboticario.org.br>.

Neste site você poderá encontrar todas as informações sobre a Fundação O Boticário de Prote-ção à Natureza, com maior detalhamento sobre os principais projetos e ações realizadas. Cadastrando-se no site você poderá receber um informativo eletrônico onde são divulgados eventos e publicações sobre conservação, além de notícias sobre meio ambiente e sobre a própria Fundação.

Site eletrônico do Ministério do Meio Ambiente: <www.mma.gov.br>.

Site oficial do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, onde é possível acompanhar toda a pauta do governo brasileiro sobre o tema, permitindo o link com diversos projetos realizados em parceria com outros órgãos governamentais e com organizações não-governamentais. As principais leis que regulamentam a questão ambiental no Brasil são encontradas neste site, além de permitir acesso dire-to ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

FERNANDEZ, F. A. S. O Poema Imperfeito: crônicas de Biologia, conservação da natureza e seus heróis. 2. ed. Curitiba: Editora Universidade Federal do Paraná, 2004. p. 258.

Livro de crônicas que traz, em linguagem acessível e de fácil entendimento, alguns episódios importantes na história das relações do homem com a natureza. As conseqüências do ideal do “uso a qualquer preço” dos recursos da natureza são apresentadas sob a luz dos mais atuais conhecimentos sobre o assunto, fazendo o leitor refletir sobre algumas idéias que, para muitos, transformaram-se em verdadeiros paradigmas da conservação.

Ministério do Meio Ambiente – MMA. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Na-tureza – SNUC: Lei 9 985, de 18 de julho de 2000; Decreto 4 340, de 22 de agosto de 2002. 4. ed. Brasília: MMA/SBF, 2004. p. 52.

Traz na íntegra os textos de dois importantes instrumentos legais que regulamentam as uni-dades de conservação no Brasil. Com definições, conceitos e explicações detalhadas sobre os dife-rentes tipos de unidades e suas peculiaridades, é leitura obrigatória para todos que buscam infor-mações sobre o tema no país.



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AYRES, Ed. A Mais Acelerada Extinção em Massa da História da Terra. Disponível em: <www.wwiuma.org.br>. Acesso em: 13 out. 2005.

CORRÊA, Marcos Sá (Org.). Sinais da Vida: algumas histórias de quem cuida da natureza no Brasil. Curitiba: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 2005.

FERNANDEZ, F. A. S. O Poema Imperfeito: crônicas de Biologia, conservação da natureza e seus heróis. 2. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 2004.

FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA. Disponível em: <www.fundacaobo-ticario.org.br>. Acesso em: 13 out. 2005.

MILANO, Miguel. Entrevista concedida à Revista Planeta na Web. São Paulo, jul. 2001.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natu-reza. 4. ed. Brasília: MMA/SBF. 2004.

______. Disponível em: < www.mma.gov.br>. Acesso em: 13 out. 2005.



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