casaca de couro - alexandre santos remeter à eneida, epopéia sobre a origem mítica do império...

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Casaca de Couro Casaca de Couro Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional de Pernambuco Fundada em 24 de fevereiro de 1972 Memorial da Medicina de Pernambuco Rua Amaury de Medeiros, 206, Derby, 52010-120 - Recife - PE Fone (81) 3423-0961 e-mail: [email protected] sobrames-pe.webnode.com Boletim Sobrames Pernambuco Boletim Sobrames Pernambuco ANO 14 Nº 166 OUTUBRO 2017 O título de uma obra Admiro a simplicidade do título de in- contáveis telas que são expostas nos museus do mundo, legendas que nos ajudam a enten- der um quadro ao primeiro olhar. Um exemplo clássico: Criança brincando com um caminhão, de Picasso. Não há dúvida que você está vendo uma criança. E, a partir daí, descobre que aquela cri- ança não é um menino, e sim uma menina, e que os traços decorativos atrás dela não fazem parte de um papel de parede: representam um jardim. Van Gogh pintou a si mesmo usando um chapéu de feltro e o nome da tela é Autorretrato com chapéu de feltro. Outro exemplo: Campo de trigo com cotovia, onde o mesmo Van Gogh, com suas pinceladas geniais, mostra um campo de trigo sendo sobrevoado por uma cotovia. Não há metáfora. É como se a obra falasse por si própria: acredite no que está vendo! O nome que damos às coisas é apenas um identificador, pois o que importa é o nosso olhar. Cada pessoa, cada gesto, cada coisa é rica de significados e irreprodutível. O título está ali somente para nos pegar pela mão e nos levar para dentro de um quadro, um texto ou até da vida de alguém. Eduardo Galeano disse que, ao contemplar um quadro, a gente está viajando no tempo e no espaço. Ele conta que uma vez dois amigos estavam contem- plando um quadro que retratava um campo de flores no tempo da colheita. Um dos dois amigos tinha os olhos cravados numa mulher, uma das muitas mulhe- res que no quadro colhiam amapolas em suas cestas. Ela estava com os cabelos soltos, chovidos sobre os ombros. Ela, finalmente, devolveu o olhar, deixou cair a cesta, estendeu os braços e, sabe-se lá como, o levou. Ele se deixou levar e com aquela mulher pas- sou as noites e os dias, sabe-se lá quantos, até que um vendaval o arrancou de lá e devolveu-o à sala onde seu amigo continuava plantado na frente do quadro. Tão brevíssima fora aquela eternidade, que o amigo nem tinha percebido sua ausência. E tam- bém não tinha percebido que aquela mulher, uma das muitas mulheres que no quadro colhiam amapolas em suas cestas, estava, agora, com os cabelos presos na nuca. Na literatura, as coisas podem até fun- cionar assim, com a simplicidade que se re- quer para conquistar o leitor. Mas existem casos complicados e incompreensíveis que exigem cuidadoso estudo para chegar ao ver- dadeiro sentido que o autor pensou. Segundo a ata do júri que premiou Fer- nando Pessoa em segundo lugar, em 1934, por Mensagem, o único livro em português que publi- cou em vida (quatro livrinhos seus em inglês tinham sido lançados em 1918 e 1921), era “um alto poema de evocação e interpretação histórica, mística e simbólica”. De fato, Mensagem recria a história de Portugal. De início, o próprio título do livro era, simplesmente, “Portugal”, palavra com o mesmo número de letras de “Mensagem”: oito. Há três explicações relacionadas à mudança do título por Fernando Pessoa: 1. A alteração teria ocorrido de última hora, com o mesmo número de caracteres de Portugal. 2. O título Mensagem poderia ser desmembrado em três partes significativas, codificando, em forma abreviada, uma frase em latim da Eneida de Vir- gílio: “mens ag\itat mell\em” ( a mente move a matéria ). Ao remeter à Eneida, epopéia sobre a origem mítica do império romano, Pessoa equi- parava Roma a Portugal. Os anagramas também são inesgotáveis. Fernando Pessoa embaralha as letras de Mensagem de três formas diferentes, cada uma delas gerando uma expressão latina distinta e, com isso, um novo significado: ENS GEMMA - Ou seja, Ente em Gema, ou Em Ovo. O ente será Portugal templário, cuja essên- cia, ou gema, será o Portugal templário. Mensagem é assim, não a Mensagem do Portugal histórico, mas a mensagem do ovo primordial, da nação, da gema portuguesa. (Continua na página 2) José Arlindo Gomes de Sá

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Casaca de CouroCasaca de Couro

Sociedade Brasileira de Médicos EscritoresRegional de PernambucoFundada em 24 de fevereiro de 1972

Memorial da Medicina de PernambucoRua Amaury de Medeiros, 206, Derby, 52010-120 - Recife - PEFone (81) 3423-0961 e-mail: [email protected]

sobrames-pe.webnode.comBoletim Sobrames PernambucoBoletim Sobrames Pernambuco

ANO 14 Nº 166OUTUBRO2017O título de uma obra

Admiro a simplicidade do título de in-contáveis telas que são expostas nos museusdo mundo, legendas que nos ajudam a enten-der um quadro ao primeiro olhar. Um exemploclássico: Criança brincando com um caminhão, dePicasso. Não há dúvida que você está vendo umacriança. E, a partir daí, descobre que aquela cri-ança não é um menino, e sim uma menina, e queos traços decorativos atrás dela não fazem partede um papel de parede: representam um jardim.

Van Gogh pintou a si mesmo usando umchapéu de feltro e o nome da tela é Autorretratocom chapéu de feltro. Outro exemplo: Campode trigo com cotovia, onde o mesmo Van Gogh,com suas pinceladas geniais, mostra um campode trigo sendo sobrevoado por uma cotovia.

Não há metáfora. É como se a obra falasse porsi própria: acredite no que está vendo! O nome quedamos às coisas é apenas um identificador, pois oque importa é o nosso olhar. Cada pessoa, cada gesto,cada coisa é rica de significados e irreprodutível. Otítulo está ali somente para nos pegar pela mão e noslevar para dentro de um quadro, um texto ou até davida de alguém.

Eduardo Galeano disse que, ao contemplar umquadro, a gente está viajando no tempo e no espaço.Ele conta que uma vez dois amigos estavam contem-plando um quadro que retratava um campo de floresno tempo da colheita. Um dos dois amigos tinha osolhos cravados numa mulher, uma das muitas mulhe-res que no quadro colhiam amapolas em suas cestas.Ela estava com os cabelos soltos, chovidos sobre osombros. Ela, finalmente, devolveu o olhar, deixou caira cesta, estendeu os braços e, sabe-se lá como, olevou. Ele se deixou levar e com aquela mulher pas-sou as noites e os dias, sabe-se lá quantos, até queum vendaval o arrancou de lá e devolveu-o à salaonde seu amigo continuava plantado na frente doquadro. Tão brevíssima fora aquela eternidade, queo amigo nem tinha percebido sua ausência. E tam-bém não tinha percebido que aquela mulher, uma das

muitas mulheres que no quadro colhiamamapolas em suas cestas, estava, agora, comos cabelos presos na nuca.

Na literatura, as coisas podem até fun-cionar assim, com a simplicidade que se re-quer para conquistar o leitor. Mas existemcasos complicados e incompreensíveis que

exigem cuidadoso estudo para chegar ao ver-dadeiro sentido que o autor pensou.

Segundo a ata do júri que premiou Fer-nando Pessoa em segundo lugar, em 1934, por

Mensagem, o único livro em português que publi-cou em vida (quatro livrinhos seus em inglês tinham

sido lançados em 1918 e 1921), era “um altopoema de evocação e interpretação histórica,mística e simbólica”. De fato, Mensagem recria

a história de Portugal. De início, o próprio título dolivro era, simplesmente, “Portugal”, palavra com omesmo número de letras de “Mensagem”: oito. Hátrês explicações relacionadas à mudança do título porFernando Pessoa:1. A alteração teria ocorrido de última hora, com o

mesmo número de caracteres de Portugal.2. O título Mensagem poderia ser desmembrado em

três partes significativas, codificando, em formaabreviada, uma frase em latim da Eneida de Vir-gílio: “mens ag\itat mell\em” ( a mente move amatéria ). Ao remeter à Eneida, epopéia sobre aorigem mítica do império romano, Pessoa equi-parava Roma a Portugal. Os anagramas tambémsão inesgotáveis. Fernando Pessoa embaralha asletras de Mensagem de três formas diferentes,cada uma delas gerando uma expressão latinadistinta e, com isso, um novo significado:ENS GEMMA - Ou seja, Ente em Gema, ou

Em Ovo. O ente será Portugal templário, cuja essên-cia, ou gema, será o Portugal templário. Mensagemé assim, não a Mensagem do Portugal histórico, masa mensagem do ovo primordial, da nação, da gemaportuguesa.

(Continua na página 2)

José Arlindo Gomes de Sá

MENSA GEM MARUM - Outra hipótese quepoderíamos traduzir por mesa das gemas, as pedraspreciosas da nação portuguesa.

GENS MEA - Se é assim, quereria FernandoPessoa dizer Minha Gente.

E existe a explicação de Fernando Pessoa porter abandonado o título Portugal. Ao estudar a rela-ção entre Fernando Pessoa e Alberto da Cunha Dias,o historiador José Barreto lembra que foi Cunha Diasquem sugeriu a mudança ao poeta. Considerado lou-co pelos familiares, o amigo de Pessoa encontrava-se internado num manicômio quando fez a importan-te sugestão. E Pessoa explicou que fez a mudançado título “porque o meu velho amigo Da Cunha Diasme fez notar que o nome de nossa Pátria estava hoje

O título de uma obra (continuação)prostituído entre coisas banais e à sua melhor Dinas-tia”. O poeta fazia referência a uma fábrica de sapa-tos com o nome Portugal e a dinastia de d. Sebasti-ão, o “Encoberto”, um dos protagonistas de Men-sagem. “Concordei e cedi, como concordo e cedosempre que me falam com argumentos. Tenho prazerem ser vencido quando quem me vence é a Razão,seja quem for o procurador ocasional”, finalizou Fer-nando Pessoa, dando por encerrada a questão.

Fernando Pessoa não se convenceu de uma re-forma ortográfica. Em Mensagem, mais de vinte anosapós a reforma de 1911, empregava uma ortografiaarcaizante, ignorando a então vigente - o que refor-çava a mensagem de Mensagem sobre as origens dacultura portuguesa.

IX Jornada NacionalA Regional do Rio de Janeiro tem o prazer de

convidar os confrades de todo o Brasil à IX JornadaNacional de Médicos Escritores da SOBRAMES,que se realizará nos dias 19, 20 e 21 de outubro de2017, no Auditório Júlio Sanderson do CREMERJ,situado na Praia de Botafogo, 228, Botafogo, Rio deJaneiro.

As inscrições estão abertas e devem ser envia-das para o e-mail do confrade Augusto Xavier deBritto [email protected], junto com o comprovan-te da taxa de inscrição paga. Os membros titularesdevem estar com sua anuidade em dia, excetuando-se os membros honorários, cuja condição de títulodeve ser informada pela presidência de cada Regio-nal.

Haverá concurso literá-rio, nas categorias de prosae poesia. Os trabalhos deve-rão cumprir rigorosamente oregulamento.

Da Regional de Pernam-buco já estão inscritos e com-parecerão os sobramistasLuiz Barreto, com Mariluce;José Arlindo, com Tânia;Meraldo Zisman, com Gra-ça; Eni Ribeiro e Fátima Al-meida.

Mais informações po-dem ser adquiridas no sitehttp://sobramesnacional2017.blogspot.com.br/p/jornada-literaria-nacional.html

Homenagem ao professorHélio Mendonça

O Conselho Regional de Medicina de Pernam-buco e os familiares do professor Hélio Mendonçaprestaram justa e significativa homenagem na come-moração do centenário do seu nascimento.

Na oportunidade, além do presidente do Con-selho Regional de Medicina, Dr. André Dubeux, usa-ram a palavra os médicos Paulo Mendonça Filho,João Guilherme, Francisco Barreto, Carlos Moraese Victorino Spinelli, dissertando sobre a vida e a obrado homenageado.

A Sobrames-PE e a Academia Pernambucanade Medicina estiveram presentes nessa homenagem.

Eleita nova diretoria da Sobrames-PENa Assembleia Geral Ordiná-

ria realizada na manhã de 4 de se-tembro foi apresentada a chapapleiteante à nova diretoria da So-brames-PE, que, por ser chapaúnica, foi eleita por aclamação,juntamente com o Conselho Fis-cal, para o biênio 2018/2019, ini-ciando essa gestão em 1º de ja-neiro de 2018. A diretoria ora eleitaassim está composta: Presidente:Luiz Coutinho Dias Filho; Vice-presidente: Paulo Camelo de An-drade Almeida; Secretário geral:

José Ar-l i n d oGomes

de Sá; Tesourei-ro: Paulo AfonsoCorreia de Pai-va; Bibliotecário:Claudio RenatoPina Moreira. OConselho Fiscalficou assim for-mado: Titulares:Luiz de GonzagaBraga Barreto,Maria de FátimaBarros CalifeBatista e Pedro Fernandes Neto;Suplentes: Zélia Maria CunhaMonte Bezerra, Maria de FátimaAlmeida Rego da Silva e Luiz Gui-

Foto do acervo de Fátima Allmeida

marães Gomes de Sá.A posse da nova Diretoria

será agendada posteriormente pelopresidente eleito.

Luiz Coutinho Paulo Camelo José Arlindo Paulo Paiva Cláudio Pina

Luiz Barreto Fátima Calife Pedro Fernandes Zélia Monte Fátima Almeida Luiz Guimarães

Fotos do acervo de P

aulo Cam

elo

Posse na Academia Recifense de LetrasO escritor romancista, compositor, de-

senhista, pintor, geógrafo e gourmet Melchia-des Montenegro Filho tomou posse na presi-dência da Academia Recifense de Letras nodia 14 de setembro, pelas 16 horas, em ceri-mônia rea-lizada nasede daUBE-PE,Santana ,Recife.

Fotos do acervo de Z

élia Monte

Sobramistas pelomundo

Como ocorre anualmente e jáse tornou tradição, o casal LuizBarreto / Mariluce partiu para umaviagem ao Leste Europeu neste fi-nal de setembro, retornando aoBrasil no começo de outubro.

No programa de viagemconstam as visitas a Berlim, Vie-na, Praga e Budapeste, regressan-do por Lisboa.

EXPEDIENTEDIRETORIAPresidente:

José Arlindo Gomes de SáVice-presidente:

Luiz de Gonzaga Braga BarretoSecretário:

Luiz Coutinho Dias FilhoTesoureiro:

Paulo Afonso Correia de PaivaDiretor Cultural:

Cláudio Renato Pina Moreira

CORPO REDATORIALPaulo Camelo de Andrade Almeida

Luiz de Gonzaga Braga BarretoJosé Arlindo Gomes de Sá

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA EIMPRESSÃO

Paulo Camelo de Andrade Almeida

AniversariantesParabenizamos os aniversari-

antes do mês de outubro:3 - Cláudio Aguiar8 - Elizabeth Brandt Feijó12 - Luiz Barreto

Rosa Pena16 - Alaíde Correia Lima17 - Zélia Monte Bezerra

Flávio ChavesOlimpio bonald NetoTelma Brilhante

20 - Nadjânia Nogueira22 - Bernadete Serpa Lopes

André Luiz Castilho Freire23 - José Maria Chaves

Mauro Barbosa de ArrudaWalter Whiton Harris

24 - Fernando Aguiar27 - Sérgio Bruscky28 - Alfredo Pereira da Costa30 - Rommel Werneck

Posse de PauloAlmeida

Tomou posse na cadeira nº 50da Academia Pernambucana deMedicina o nosso confrade PauloAlmeida. A solenidade aconteceuno dia 13 de setembro e ele foisaudado pelo acadêmico e sobra-mista Dr. Fernando Pinto Pessoa.

Lançamento darevista

A Sobrames de Pernambuco pro-moveu o lançamento da sua Revista Ofi-cina de Letras nº 32 no dia 4 de setem-bro, durante a sua reunião mensal.

Dessa publicação participaram 25escritores sobramistas, apresentando 64trabalhos literários.

Livro no preloNosso confrade sobramista

Luiz Coutinho ainda este ano es-tará lançado mais um livro. Nessapublicação mostra poemas quetêm como inspiração a RevoluçãoPernambucana de 1817.

O livro terá o sugestivo títulode “Cancioneiro da Revolução”.

Livros para a memória da SobramesO Presidente José Arlindo registra e agradece o recebimento de

várias publicações enviadas pelo Dr. Luiz Alberto Soares, da Sobramesdo Rio Grande do Sul.

Esses livros e documentos estão sendo analisados para cataloga-ção pelo colega Cláudio Renato Pina Moreira e passarão a integrar opatrimônio cultural e a memória da Sobrames.

Outros livros e documentos ainda serão enviados pelo sobramistaLuiz Soares.

As publicações são livros da sua lavra e importantes documentosque ele colecionou em suas pesquisas e guardados ao longo de suacarreira de escritor e pesquisador.

Ideia que deu certoNa reunião literária mensal

da Sobrames-PE de setembro,em que houve a eleição da novadiretoria, o administrador PauloMaranhão proferiu a palestra“Suape: uma ideia que deu cer-to”, onde narrou, com detalheshistóricos, o nascedouro da ideiado Padre Lebret de implantar umporto no Nordeste, que levou aoprojeto de construção do Portode Suape.

Fotos: Luiz Barreto

Paulo CameloTelefones: (55) (81)3445-15929-9976-1197

E-mail:pau [email protected]@gmail.com

w w w .p a u lo .c a m e lo .n o m .b r

Editoração eletrônicaRevisão gramatical e gráficaImpressão por laser

médico escritorPaulo Camelo de Andrade Almeida