Organizar significa otimizar espaços, diminuir o estresse, a ansiedade e encontrar paz em casaTEXTO E ENTREVISTAS ÉRIKA ALFARODESIGN GUILHERME LAURENTE/COLABORADOR

CASA

Tudo no devido lugar

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No decorrer da história, filó-sofos, sociólogos e cientistas de todas as partes do mundo tentaram entender as relações estabelecidas pelos seres hu-

manos, desde as interações com outros até a ligação e a influência do meio que os cercam. Tempo, clima, espaço, cultura e emoções são algumas das variáveis capazes de interferir nesses vínculos.

Quando falamos em ambientes, podemos considerar os mais diversos âmbitos: o país, o estado, a cidade, o bairro, a casa e os fatores que os envolvem. Dessa forma, pode-se dizer que a residência – e até mesmo um cômodo destinado especificamente ao indivíduo, como o quarto – têm muito a revelar sobre alguém. A disposição dos objetos, caraterísticas visuais e sons são capazes de gerar sensações, influenciar o humor e, muitas vezes, o comportamento, justamente porque as pessoas percebem o mundo por meio dos senti-dos: visão, audição, tato, paladar e olfato. Para muitos, a mistura de gritos, músicas e ruídos, por exemplo, resultará em desconforto da mesma maneira que uma sala desarrumada – ambas as situações mexem com os aspectos sensoriais.

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Não é à toa que hoje em dia existem profissionais para ajudar os indivíduos a serem mais organizados: pesquisas têm demonstrado que a bagunça está ligada ao estresse, à ansiedade e, em quadros mais graves, à depressão e obesidade. “A desorganização pode ser crônica. São casos em que a desordem existe há muito tempo, e a pessoa tentou várias vezes mudar sozinha, sem sucesso. Tais circunstâncias podem causar também culpa, isolamento, além de outros sentimentos e transtornos – o que acaba afetando a vida pessoal, familiar, social e até profissional”, afirma Yolanda Hollaender, consultora, profissional de organização e sócia-fundadora da Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade (ANPOP).

Desafio diário Arrumar o armário, organizar a mesa de trabalho, limpar a cozi-

nha, ordenar a prateleira de livros: tais tarefas podem parecer banais se comparadas aos compromissos pessoais e profissionais que todos possuem. No entanto, são situações desafiadoras: abrir o guarda--roupa, separar as peças que não servem mais, doá-las e estabelecer um método para armazenar de forma eficiente aquelas vestimentas que sobraram. Posteriormente, é preciso manter esse sistema para que tudo não fique desarrumado de novo. Tal processo leva tempo, exige disposição e demanda certa dose de desapego.

A dificuldade de organizar os espaços e de doar ou jogar fora aquilo que não se usa está mais presente do que nunca na vida das pessoas. Em um mundo tomado pelo consumo, acumular bens é quase sinônimo de realização e felicidade, sem contar o valor emocional depositado no material. Para Yolanda, diversas causas levam ao apego, como a sensação de que as coisas podem faltar no futuro, o uso de sucata para projetos de artesanato e o medo de perder a lembrança que o objeto representa.

Programados para acumularOs seres humanos foram programados para armazenar pensando

a longo prazo. Afinal, nossos antepassados não possuíam recursos disponíveis para se “dar ao luxo” de descartar um utensílio que poderia garantir uma refeição, por exemplo. Embora as situações e o mundo tenham mudado, a sensação continua a mesma. “Mas o importante é entender: coisas guardadas sofrem a ação do tempo e podem se deteriorar; as boas lembranças não precisam ser materializadas, pois ficam na memória pessoal; ter projetos é muito bom, mas é preciso determinar uma data para colocá-los em prática, senão vira acúmulo de planos engavetados e incompletos”, assinala a profissional.

Uma pesquisa realizada por estudiosos da Universidade de New South Wales, na Austrália, demonstrou que ambientes bagunçados são geradores de estresse e podem motivar as pessoas a saírem da dieta. Grupos de mulheres foram colocados em cozinhas organizadas e desordenadas, e aquelas presentes no segundo cômodo comeram duas vezes mais biscoitos se comparadas ao primeiro.

Outra investigação, encomendada pela empresa americana de limpeza Rubbermaid, mostrou que “estresse”, “ansiedade” e “es-gotamento” são as palavras utilizadas pelos entrevistados quando falam sobre suas casas bagunçadas. Os resultados ainda apontaram: 91% sentem-se sobrecarregados pela desorganização de seus lares; 88% desejam reverter a situação; quase 50% não se sentem bem ao convidar amigos para suas residências por causa da confusão e um terço não sabe como arrumar seus espaços.

“A ORGANIZAÇÃO TRANSFORMA E, BASICAMENTE, TRAZ GANHOS EM CINCO ÁREAS:• TEMPO: ACHAR O QUE PROCURA MAIS RAPIDAMENTE; • ECONOMIA: NÃO GASTAR COMPRANDO PRODUTOS QUE VOCÊ ESQUECEU QUE TINHA EM CASA; • ESPAÇO: OTIMIZAR A UTILIZAÇÃO DOS OBJETOS E DEIXAR TUDO MAIS VISÍVEL E PRÁTICO; • QUALIDADE DE VIDA: DIMINUIÇÃO DO ESTRESSE; • E PRAZER: CURTIR SUA VIDA E SUA CASA COMO VOCÊ MERECE”, EXPLICA YOLANDA HOLLAENDER, CONSULTORA E PROFISSIONAL DE ORGANIZAÇÃO.

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COMECE!Agora, você se encaixou no quadro de ansiedade gerado pela desordem, quer saber como ser mais organizado e aproveitar os benefícios? Confira as técnicas.

ORGANIZE POR

CATEGORIA

Marie Kondo é a autora do livro A Mágica da Arrumação e se tornou conhecida internacionalmente por suas técnicas de organização – a japonesa chegou a ser considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista americana Time. E essa dica é dela: esqueça a divisão por cômodos, aposte nas funções de cada item. Por exemplo, não deixe um livro em cada armário, nem uma caneta na sala e uma no quarto. Com os pertences espalhados, você nunca terá a noção da quantidade que possui de cada objeto.

MANTENHA O ESSENCIAL E O QUE TE FAZ BEM

Está em dúvida se deve ou não jogar algo no lixo? Marie Kondo sugere um exercício: abrace a peça e

pense se ela te faz feliz. Caso a resposta seja negativa, dê adeus. Para ela, mesmo aquela roupa que você comprou e nunca usou já cumpriu o seu papel e pode ser descartada. Se você achou o método um pouco estranho, apenas raciocine e reflita sobre a real necessidade de possuir o objeto.

“O MAIOR VILÃO DA ORGANIZAÇÃO É TIRAR ALGO DO LUGAR E NÃO

COLOCAR DE VOLTA”, AFIRMA YOLANDA.

DEIXE À VISTA

Outra recomendação de Kondo é não fazer pilhas. Amontoar itens faz com que alguns deles fiquem esquecidos no fim do monte. A regra é deixar tudo visível e acessível.

FAXINADA CASA

Faça um cronograma e um roteiro. Primeiro, determine quantas vezes por semana ou por mês os lugares devem ser limpos, assim a sujeira não acumula em locais que podem ser esquecidos. Depois, faça um passo a passo para cada cômodo. Por exemplo: cozinha (geladeira, fogão, freezer, dentro dos armários e etc). Marque as tarefas já realizadas.

TODOS OS DIAS

Marie Kondo acredita que uma bagunça deve ser arrumada toda de uma vez. Outros profissionais afirmam que, para não se tornar cansativo, é melhor ir aos poucos. Dessa forma, cabe a cada um tomar essa decisão. Mas é fato que ações do dia a dia podem deixar sua casa sempre em ordem: • Toda vez que tirar algo do lugar, obrigue-se a colocar de volta imediatamente, sem deixar para depois;• Não acumule muita louça para lavar• Arrume a cama ao se levantar;• Todos os dias, separe as roupas a serem lavadas;• Jogue fora embalagens e produtos acabados ou vencidos.

GUARDA-ROUPAS Quando começar a organizar, separe roupas para conserto, para doação e para manter. Uma dica de desapego é: descarte primeiro os itens mais fáceis (por exemplo, uma meia rasgada e com o elástico solto).Depois de analisar as peças, você pode optar pela classificação por cores ou tipos. Também selecione as peças para pendurar e guardar em gavetas. A recomendação é que meias, roupas íntimas, pijamas, camisetas e blusinhas fiquem nas gavetas, pois são mais difíceis de amassar. Vestidos, camisas sociais, casacos e jaquetas podem ser armazenados com a ajuda do cabide – para não escorregar ou amassar, feche o primeiro botão das roupas, quando for o caso. Moletons e blusas de lã podem ser dobradas e colocadas em prateleiras.

CONSULTORIA Yolanda Hollaender, consultora, profissional de organização e sócia-fundadora da Associação Nacional de Profissionais de Organização e Produtividade (ANPOP).

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