cartilha forum brasileiro de economia solidária

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CARTILHA

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Page 1: Cartilha Forum Brasileiro de Economia Solidária

C A R T I L H A

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Contato

Apoio na Diagramação

Endereço:

Fora do Eixo • [email protected]

QNM 03, Conjunto O, lote 47 Ceilandia Sul - Distrito Federal

Tel/fax: (61)3965-3268

Celulares: Tim (61)8136-1618 | Claro (61)9301-0975 Vivo (61)9606-4411 | Oi (61)8400-4113

E-mail: [email protected]

Site do FBES: www.fbes.org.br

Site da campanha: www.cirandas.net/envolvase

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SumárioApresentação

1. O QUE É O FBES? 1.1. Carta de Princípios de 2003

2. POR QUE LUTAMOS? 2.1. Economia Solidária promove o Bem-Viver 2.2. Orientações políticas 2.3. Orientações de ações

3. NOSSA HISTÓRIA: O CAMINHAR POR UMA ORGANIZAÇÃO NACIONAL DA ECONOMIA SOLIDÁRIA 3.1. FBES: uma trajetória coletiva 3.2. Breve linha do tempo

4. COMO O FBES SE ORGANIZA? 4.1. Quem participa? 4.2. Estrutura: nosso jeito de funcionar

5. COMO PARTICIPAR? 5.1. Envolva-se para o Bem-Viver

6. ALGUMAS FERRAMENTAS E APOIOS 6.1. Secretaria Executiva 6.2. Fundo Solidário 6.3. Leilão Solidário 6.4. Meios de comunicação 6.5. Cirandas 6.6. Modelo de regimento interno dos fóruns 6.7. Modelo de carta de adesão 6.8. Modelo para cadastro de participantes

7. JUNTE-SE ÀS LUTAS SOCIAIS CONVERGENTES

8. ANEXOS A: Carta Política da V Plenária Nacional de Economia Solidária B: Carta Política do Encontro Nacional de Diálogos e Convergências

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ApresentaçãoCom muita alegria trazemos esta cartilha fruto das comemorações dos 10 anos do Fórum Brasileiro de Economia Solidária com a campanha Envolva-se para o Bem-Viver.

Neste material buscamos trazer uma síntese sobre os acúmulos de nossa história, or-ganização e pauta política de forma que ajude na orientação dos fóruns locais, micror-regionais, estaduais e nacional, e para a aproximação de mais interessados na economia solidária.

Sabemos que cada um dos 164 fóruns locais, microrregionais e estaduais que formam o que chamamos de FBES tem sua própria história, conquistas e lutas locais, articuladas com o movimento da economia solidária e com os demais fóruns do país. Esperamos que este ano de comemorações ajude a cada fórum local a resgatar sua história, pensar e planejar nossa luta conjunta, à luz das recentes deliberações e orientações da V Plenária Nacional de Economia Solidária.

Durante todo o ano de 2013 comemoramos os 10 anos do FBES com a campanha En-volva-se para o Bem-Viver, mobilizando os fóruns locais e a sociedade em geral para dar visibilidade a economia solidária como promotora do bem-viver, divulgando nossa história, conquistas e realizando a campanha para contribuição dos/as militantes pela nossa organização e sustentabilidade.

Desejamos uma ótima leitura à todas e todos!

Coordenação Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária

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1. O que é o FBES?Nossa definição parte das orientações das plenárias nacionais, e mais especificamente da IV e V Plenárias. Assim, o FBES é um instrumento do movimento da Economia Solidária, um espaço de articulação e diálogo entre diversos atores e movimentos sociais pela con-strução da economia solidária como base fundamental de outro desenvolvimento sócio econômico do país que queremos.

De forma mais específica temos duas finalidades:

1. Representação, articulação e incidência na elaboração e acompanhamento de políticas públicas de Economia Solidária e no diálogo com diversos atores e outros movimentos sociais ampliando o dialogo e se inserindo nas lutas e reivindicações sociais sem perder seus princípios e autonomia.

O FBES busca a confluência entre as forças existentes no movimento de Economia Solidária e a sua participação ativa em GTs, Comitês, no Conselho Nacional de Economia Solidária e em outras instâncias de proposição e construção de políticas públicas.

Como o atual governo apoia explicitamente a Economia Solidária, um dos desafios do FBES é acompanhar estas demandas de forma ativa e crítica, buscando o estabeleci-mento de políticas públicas, compromissos e acordos entre as forças que hoje atuam na Economia Solidária.

2. Apoio ao fortalecimento do movimento de Economia Solidária, a partir das bases.

O FBES também realiza ações de animação, subsídios, potencialização e apoio ao forta-lecimento do movimento, para que os fóruns municipais, regionais e estaduais sejam a força que move e pauta e apontem para a Economia Solidária como perspectiva de de-senvolvimento sustentável, endógeno e solidário.

1.1. Carta de Princípios de 2003

Em junho de 2003, a III Plenária Nacional da Economia Solidária, após debates em 18 estados brasileiros, aprovou a Carta de Princípios que traz a identidade do Fórum Bra-sileiro da Economia Solidária, criado naquela ocasião, após um longo processo de debate e busca por consensos. A carta foi construída tem 3 partes complementares: a história e o contexto da época; os princípios gerais e específicos; o que a economia solidária não é.

Na primeira parte há um pequeno parágrafo que complementa a visão recente com a V Plenária, já nas pautas seguintes desta carta, a V Plenária traz complementações, atualizações e afirmações que complementam muitos aspectos da carta. Vale a leitura atenta para perceber o amadurecimento e o crescimento do movimento, das suas práti-cas que apontam para esta nova política e do que segue como desafio para fortalecer o movimento nacional.

Origem e cenário

A Economia Solidária ressurge hoje como resgate da luta histórica dos/as trabalhadores/as, como defesa contra a exploração do trabalho humano e como alternativa ao modo

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capitalista de organizar as relações sociais dos seres humanos entre si e destes com a natureza.

Nos primórdios do capitalismo, as relações de trabalho assalariado – principal forma de organização do trabalho nesse sistema – levaram a um tal grau de exploração do tra-balho humano que os/as trabalhadores/as organizaram-se em sindicatos e em em-preendimentos cooperativados. Os sindicatos como forma de defesa e conquista de di-reitos dos/as assalariados/as e os empreendimentos cooperativados, de autogestão, como forma de trabalho alternativa à exploração assalariada.

As lutas, nesses dois campos, sempre foram complementares; entretanto a ampliação do trabalho assalariado no mundo levou a que essa forma de relação capitalista se tor-nasse hegemônica, transformando tudo, inclusive o trabalho humano, em mercadoria. As demais formas (comunitárias, artesanais, individuais, familiares, cooperativadas, etc.) passaram a ser tratadas como “resquícios atrasados” que tenderiam a ser absorvidas e transformadas cada vez mais em relações capitalistas.

A atual crise do trabalho assalariado, desnuda de vez a promessa do capitalismo de transformar a tudo e a todos/as em mercadorias a serem ofertadas e consumidas num mercado equalizado pela “competitividade”. Milhões de trabalhadores/as são excluídos dos seus empregos, amplia-se cada vez o trabalho precário, sem garantias de direitos. Assim, as formas de trabalho chamadas de “atrasadas” que deveriam ser reduzidas, se ampliam ao absorver todo esse contingente de excluídos.

Em 2003, no Brasil, havia mais de 50% dos trabalhadores/as, sobrevivendo de trabalho à margem do setor capitalista hegemônico, das relações assalariadas e “protegidas”. Aqui-lo que era para ser absorvido pelo capitalismo, passa a ser tão grande que representa um desafio cuja superação só pode ser enfrentada por um movimento que conjugue todas essas formas e que desenvolva um projeto alternativo de economia solidária.

Neste cenário, sob diversos títulos - economia solidária, economia social, socioecono-mia solidária, humanoeconomia, economia popular e solidária, economia de proximidade, economia de comunhão etc, têm emergido práticas de relações econômicas e sociais que, de imediato, propiciam a sobrevivência e a melhora da qualidade de vida de milhões de pessoas em diferentes partes do mundo.

Mas seu horizonte vai mais além. São práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e fi-nalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular.

As experiências, que se alimentam de fontes tão diversas como as práticas de recipro-cidade dos povos indígenas de diversos continentes e os princípios do cooperativismo gerado em Rochdale, Inglaterra, em meados do século XIX, aperfeiçoados e recriados nos diferentes contextos socioculturais, ganharam múltiplas formas e maneiras de expres-sar-se.

A partir da V Plenária, mais precisamente, afirmamos que a economia solidária é um movimento social que luta pela mudança da sociedade e pela superação do capitalismo, tendo como base a democratização da economia por meio da produção e reprodução da

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vida de forma justa, solidária, autogestionária e sustentável. Contando com orientações políticas e de ações para esta luta, além de ser fundamental a articulação com outros movimentos sociais parceiros; de nossa participação em redes internacionais e na luta por políticas públicas que garantam o direito ao trabalho associado e pelo fomento às práticas solidárias. Maior detalhamento no capítulo 2 desta cartilha.

Convergências - O que é a Economia Solidária

Princípios gerais Apesar dessa diversidade de origem e de dinâmica cultural, são pontos de convergência

•avalorizaçãosocialdotrabalhohumano,

•asatisfaçãoplenadasnecessidadesdetodoscomoeixodacriatividade tecnológica e da atividade econômica,

•oreconhecimentodolugarfundamentaldamulheredofemininonuma economia fundada na solidariedade,

•abuscadeumarelaçãodeintercâmbiorespeitosocomanatureza,

•osvaloresdacooperaçãoedasolidariedade.

A Economia Solidária constitui o fundamento de uma globalização humanizadora, de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e voltado para a satisfação racional das necessidades de cada um e de todos os cidadãos da Terra seguindo um caminho in-tergeracional de desenvolvimento sustentável na qualidade de sua vida.

O valor central da economia solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humanos e não o capital- dinheiro e sua propriedade sob quaisquer de suas formas.

A Economia Solidária representa práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular.

A Economia Solidária busca a unidade entre produção e reprodução, evitando a contra-dição fundamental do sistema capitalista, que desenvolve a produtividade mas exclui crescentes setores de trabalhadores do acesso aos seus benefícios.

A Economia Solidária busca outra qualidade de vida e de consumo, e isto requer a solidar-iedade entre os cidadãos do centro e os da periferia do sistema mundial.

Para a Economia Solidária, a eficiência não pode limitar-se aos benefícios materiais de um empreendimento, mas se define também como eficiência social, em função da quali-dade de vida e da felicidade de seus membros e, ao mesmo tempo, de todo o ecossistema.

A Economia Solidária é um poderoso instrumento de combate à exclusão social, pois apresenta alternativa viável para a geração de trabalho e renda e para a satisfação direta das necessidades de todos, provando que é possível organizar a produção e a reprodução

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da sociedade de modo a eliminar as desigualdades materiais e difundir os valores da solidariedade humana.

Princípios específicos

Por um sistema de finanças solidárias

Para a Economia Solidária o valor central é o direito das comunidades e nações à sobera-nia de suas próprias finanças. São alguns dos elementos fomentadores de uma política autogestionária de financiamento do investimento do nível local ao nacional:

A nível local, micro, territorial: os bancos cooperativos, os bancos éticos, as cooperativas de crédito, as instituições de microcrédito solidário e os empreendimentos mutuários, to-dos com o objetivo de financiar seus membros e não concentrar lucros através dos altos juros, são componentes importantes do sistema socioeconômico solidário, favorecendo o acesso popular ao crédito baseados nas suas próprias poupanças.

A nível nacional, macro, estrutural: a descentralização responsável das moedas circulan-tes nacionais e o estímulo ao comércio justo e solidário utilizando moedas comunitárias; o conseqüente empoderamento financeiro das comunidades; o controle e a regulação dos fluxos financeiros para que cumpram seu papel de meio e não de finalidade da ativi-dade econômica; a imposição de limites às taxas de juros e aos lucros extraordinários de base monopólica, o controle público da taxa de câmbio e a emissão responsável de moeda nacional para evitar toda atividade especulativa e defender a soberania do povo sobre seu próprio mercado.

Pelo desenvolvimento de Cadeias Produtivas Solidárias

A Economia Solidária permite articular solidariamente os diversos elos de cada cadeia produtiva, em redes de agentes que se apóiam e se complementam:

Articulando o consumo solidário com a produção, a comercialização e as finanças, de modo orgânico e dinâmico e do nível local até o global, a economia solidária amplia as oportunidades de trabalho e intercâmbio para cada agente sem afastar a atividade econômica do seu fim primeiro, que é responder às necessidades produtivas e reprodu-tivas da sociedade e dos próprios agentes econômicos.

Consciente de fazer parte de um sistema orgânico e abrangente, cada agente econômico busca contribuir para o progresso próprio e do conjunto, valorizando as vantagens co-operativas e a eficiência sistêmica que resultam em melhor qualidade de vida e trabalho para cada um e para todos.

A partilha da decisão com representantes da comunidade sobre a eficiência social e os usos dos excedentes, permite que se faça investimentos nas condições gerais de vida de todos e na criação de outras empresas solidárias, outorgando um caráter dinâmico à reprodução social.

A Economia Solidária propõe a atividade econômica e social enraizada no seu contexto mais imediato, e tem a territorialidade e o desenvolvimento local como marcos de refer-ência, mantendo vínculos de fortalecimento com redes da cadeia produtiva (produção,

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comercialização e consumo) espalhadas por diversos países, com base em princípios éti-cos, solidários e sustentáveis.

A economia solidária promove o desenvolvimento de redes de comércio a preços jus-tos, procurando que os benefícios do desenvolvimento produtivo sejam repartidos mais eqüitativamente entre grupos e países.

A economia solidária, nas suas diversas formas, é um projeto de desenvolvimento des-tinado a promover as pessoas e coletividades sociais a sujeito dos meios, recursos e ferramentas de produzir e distribuir as riquezas, visando a suficiência em resposta às necessidades de todos e o desenvolvimento genuinamente sustentável.

Pela construção de uma Política da Economia Solidária num Estado Democrático

A Economia Solidária é também um projeto de desenvolvimento integral que visa a sus-tentabilidade, a justiça econômica, social, cultural e ambiental e a democracia participa-tiva.

A Economia Solidária estimula a formação de alianças estratégicas entre organizações populares para o exercício pleno e ativo dos direitos e responsabilidades da cidadania, exercendo sua soberania por meio da democracia e da gestão participativa.

A Economia Solidária exige o respeito à autonomia dos empreendimentos e organizações dos trabalhadores, sem a tutela de Estados centralizadores e longe das práticas coop-erativas burocratizadas, que suprimem a participação direta dos cidadãos trabalhadores.

A economia solidária, em primeiro lugar, exige a responsabilidade dos Estados nacionais pela defesa dos direitos universais dos trabalhadores, que as políticas neoliberais pre-tendem eliminar.

Preconiza um Estado democraticamente forte, empoderado a partir da própria sociedade e colocado ao serviço dela, transparente e fidedigno, capaz de orquestrar a diversidade que a constitui e de zelar pela justiça social e pela realização dos direitos e das respon-sabilidades cidadãs de cada um e de todos.

O valor central é a soberania nacional num contexto de interação respeitosa com a so-berania de outras nações. O Estado democraticamente forte é capaz de promover, me-diante do diálogo com a Sociedade, políticas públicas que fortalecem a democracia par-ticipativa, a democratização dos fundos públicos e dos benefícios do desenvolvimento. Assim, a Economia Solidária pode constituir-se em setor econômico da sociedade, dis-tinto da economia capitalista e da economia estatal, fortalecendo o Estado democrático com a irrupção de novo ator social autônomo e capaz de avançar novas regras de direitos e de regulação da sociedade em seu benefício.

A Economia Solidária não é

A economia solidária não está orientada para mitigar os problemas sociais gerados pela globalização neoliberal.

A Economia solidária rejeita as velhas práticas da competição e da maximização da lu-

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cratividade individual.

A economia solidária rejeita a proposta de mercantilização das pessoas e da natureza às custas da espoliação do meio ambiente terrestre, contaminando e esgotando os recursos naturais no Norte em troca de zonas de reserva no Sul.

A economia solidária confronta-se contra a crença de que o mercado é capaz de auto-regular-se para o bem de todos, e que a competição é o melhor modo de relação entre os atores sociais.

A economia solidária confronta-se contra a lógica do mercado capitalista que induz à crença de que as necessidades humanas só podem ser satisfeitas sob a forma de merca-dorias e que elas são oportunidades de lucro privado e de acumulação de capital.

economia solidária é uma alternativa ao mundo de desemprego crescente, em que a grande maioria dos trabalhadores não controla nem participa da gestão dos meios e re-cursos para produzir riquezas e que um número sempre maior de trabalhadores e famíl-ias perde o acesso à remuneração e fica excluído do mercado capitalista.

A economia solidária nega a competição nos marcos do mercado capitalista que lança trabalhador contra trabalhador, empresa contra empresa, país contra país, numa guerra sem tréguas em que todos são inimigos de todos e ganha quem for mais forte, mais rico e, freqüentemente, mais trapaceiro e corruptor ou corrupto.

A economia solidária busca reverter a lógica da espiral capitalista em que o número dos que ganham acesso à riqueza material é cada vez mais reduzido, enquanto aumenta rapidamente o número dos que só conseguem compartilhar a miséria e a desesperança. A economia solidária contesta tanto o conceito de riqueza como os indicadores de sua avaliação que se reduzem ao valor produtivo e mercantil, sem levar em conta outros va-lores como o ambiental, social e cultural de uma atividade econômica.

A Economia solidária não se confunde com o chamado Terceiro Setor que substitui o Estado nas suas obrigações sociais e inibe a emancipação dos trabalhadores enquanto sujeitos protagonistas de direitos. A Economia Solidária afirma, a emergência de novo ator social de trabalhadores como sujeito histórico.

Plataforma da Economia Solidária

A construção da Plataforma da Economia Solidária foi iniciada na I Plenária Nacional (em dezembro de 2002 em São Paulo), até chegar à versão que apresentamos abaixo, em 7 eixos, que é resultado da III Plenária Nacional de Economia Solidária, a mesma que criou o Fórum Brasileiro de Economia Solidária. O I Encontro Nacional de Empreende-dores Solidários, ocorrido em agosto de 2004, enriqueceu e aprofundou aspectos dessa Plataforma.

Finanças Solidárias

1. O Estado deve, no âmbito de suas políticas públicas, criar um fundo nacional para o fortalecimento e apoio dos empreendimentos da Economia Solidária, com uma gestão descentralizada, participação popular, respeito às diferenças regionais e sobre controle

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social. O Fundo deve ser constituído por fontes diversas: local, regional, nacional, inter-nacional com recursos públicos e privados.

2. Destacar linhas que apõem as comunidades de baixa renda, negras, indígenas, mul-heres em risco social e portadores de necessidades especiais. Fortalecer ainda linhas especiais para empreendimentos de autogestão em sua fase inicial ou já estruturado, bem como para comercialização de produtos.

3. Consolidar e ampliar as experiências dos fundos rotativos no Brasil, tendo o crédito solidário como um dos modelos incentivadores dos empreendimentos solidários com base na devolução de pagamentos não financeiros (banco de horas, equivalência produ-to/serviços etc).

4. Fortalecer uma rede de instituições financeiras locais como cooperativas de créditos, Bancos Cooperativos, ONGs, OSCIPs, Banco do Povo e programas governamentais com base em serviços financeiros adequados as realidades dos empreendimentos de caráter popular e solidário, destacando as moedas sociais, clubes de trocas, modalidades de aval comunitário e solidário.

5. Revogar as limitações legais impostas às instituições operadoras de crédito popular, como ONGs e OSCIPs, para que possam oferecer outros serviços financeiros além do crédito, tais como seguros, poupança, títulos de capitalização, entre outros.

6. Possibilitar o recolhimento de poupança por parte das ONGs de crédito, potencializan-do as atividades de microfinanças solidárias e viabilizando que as comunidades utilizem seus próprios recursos para promover seu desenvolvimento.

7. Ampliar o repasse de fundos públicos para instituições de finanças solidárias/microfi-nanças, inclusive de crédito popular solidário, visando fomentar o desenvolvimento local com um sistema que assegure autonomia para os empreendimentos.

8. Alterar a política de concessão de créditos para empresas em situação pré-falimentar condicionando mudanças na gestão, facilitando assim, a participação de trabalhadores e trabalhadoras no controle do passivo dessas empresas.

9. Criar linhas de crédito adequado e ajustado culturalmente para empreendimentos de Economia Solidária, facilitar aos empreendimentos populares o acesso ao crédito e, par-ticularmente, a empreendimentos autogeridos que surgem de processos falimentares, abolindo exigências que são impraticáveis para a Economia Solidária.

10. Assegurar que partes dos recursos dos bancos públicos e privados sejam destinados à Economia Solidária.

11. Possibilitar a organização aberta e o fomento de cooperativas de crédito, revendo restrições legais sobre a mesma e ampliando sua articulação em complexos e redes.

12. Modificar as regras de acesso ao Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar) e do Proger (Programa Nacional de Geração de Emprego e Renda), reduzindo os valores que são consumidos pelas taxas de transação bancárias.

13. Criar programa de fomento à constituição e fortalecimento de instituições de mi-

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crofinanças e finanças solidárias, assegurar maior volume de recursos para os bancos populares e outras formas de microfinanças solidárias.

14. Que o crédito solidário seja articulado de maneira transversal nas diversas políticas, disponibilizando mais recursos do sistema financeiro “oficial” as microfinanças solidári-as.

15. Apoio do poder público para iniciativas de empreendimento solidário, sob a forma de uma renda mínima para grupos que estão começando suas atividades de produção, comércio ou serviço.

16. A dimensão das finanças solidárias deve ser incorporada ao Projeto Fome Zero como um elemento fundamental a permitir a necessária vinculação entre as imprescindíveis políticas compensatórias e políticas estruturais, por trazer em sua concepção, além do acesso ao crédito, elementos decisivos a democratização da pequena produção, à con-solidação do trabalho cooperativo, ao estímulo à autogestão e às formas diferenciadas de produção de riquezas voltadas ao interesse comum.

17. Constituir um sistema nacional de Finanças Solidárias, relacionando-o com uma política voltada ao desenvolvimento territorial local.

18. Construir programas que fortaleçam e ampliem a rede nacional de trocas solidárias com critérios definidos de paridades e lastros baseado nas moedas sociais.

19. Garantir critérios de financiamentos, valores, juros, carências, prazos, garantia e sis-tema de cobrança e devolução, adequando as condições socioeconômicas e culturais dos empreendimentos de caráter popular e solidário, ampliando os critérios por limites de créditos estabelecidos em cálculo per capita por posto de trabalho gerado e não por em-preendimento.

Marco Legal

1. Que o Fórum Brasileiro de Economia Solidária articule, junto ao governo e a sociedade civil, políticas de interesse do movimento da Economia Solidária nas diversas reformas que se seguirão, a Tributária, Previdenciária, Trabalhista, Fiscal etc, criando e/ou atual-izando leis específicas nestas áreas.

2. Reconhecer legalmente e promover a difusão das diversas formas de Economia Solidária , tais como compras coletivas, lojas solidárias, cartões de crédito solidários, fei-ras, sistemas de trocas com moeda social, agricultura familiar orgânica, comércio justo etc.

3. Tributação específica para os empreendimentos de Economia Solidária, considerando a escala de produção, número de trabalhadores envolvidos, tipos de produtos e bens, classificando-os como essenciais, semi essenciais e não essenciais.

4. Isenção de impostos municipais, estaduais e nacionais para a compra de matéria-prima, equipamentos, máquinas, veículos etc.

5. Rediscutir a legislação em vigor que incide sobre algumas iniciativas solidárias, cri-

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ando condições especiais de sustentação e apoio para esses empreendimentos, através de ações como a alteração da Lei das Licitações, 8.666, que impossibilita a compra e venda de produtos da Economia Solidária e estabelecer critérios diferenciados para os empreendimentos de Economia Solidária.

6. Estabelecer um marco jurídico adequado para a Economia Solidária, pensando-a como um sistema próprio, reconhecendo legalmente suas diferenças frente o setor estatal e o setor privado mercantil.

7. Conceituar normativamente empresas de autogestão, cooperativas populares, bem como aquelas organizações de economia familiar.

8. Elaboração de uma nova legislação para o cooperativismo (lei 5.764) e empresas au-togestionadas, considerando aspectos como o número de participantes, não-obrigatorie-dade da unicidade da representação, acesso ao crédito, diferenciação tributária, mudança no caráter do benefício do INSS para quem é cooperado e ao mesmo tempo respeitando as diferentes concepções de cooperativismo.

9. Que o Estado reconheça formalmente as outras formas de organização para o trabal-ho, fundadas em princípios populares e solidários, elaborando Projeto de Lei que facilite a o apoio e desenvolvimento de experiências no campo da Economia Solidária.

10. Aperfeiçoamento da fiscalização dos empreendimentos autogestionários, buscando evitar fraudes que visam terceirização de mão-de-obra e redução de encargos legais.

11. Assegurar o cumprimento efetivo no Brasil das Convenções No. 100 e No. 111 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a ratificação da Convenção No. 156 (Trabal-hadores com responsabilidades familiares) pelo governo brasileiro.

12. Definir zonas especiais de interesse e de implantação de projetos de Economia Solidária a serem definidos no Plano Diretor Urbano – PDU e Estatuto das Cidades.

13. Que o Estado garanta a contratação de cooperativas para prestação de serviços nas esferas municipais, estaduais e nacional.

14. Regularização das atividades dos empreendedores populares com a emissão de um CNPJ e nota de venda especial para viabilizar a participação em licitações.

15. Pressionar os poderes competentes para que a Lei de Falências favoreça a aquisição das empresas por parte dos trabalhadores sem obter as dívidas da empresa (passivo da massa falimentar).

16. Criar legislação sobre políticas de cotas para o acesso ao mercado de trabalho, visan-do combater as discriminações de gênero, raça, etnia e promover a igualdade no acesso e na permanência no emprego.

Educação

1. Promover a educação de novas gerações através da incorporação de programas sobre a Economia Solidária junto ao MEC, da pré-escola, passando pelo ensino fundamental,

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médio, superior e pós- graduação, introduzindo valores da cultura solidária e pedagogias que favoreçam a solidariedade e a construção de um novo modelo de sociedade.

2. Financiar com linhas especiais de créditos, estudos e pesquisas mais gerais sobre o tema da Economia Solidária, além de trabalhos voltados ao desenvolvimento de me-todologias de gestão e outras tecnologias apropriadas à realidade da mesma.

3. Estímulo à extensão universitária junto ao MEC, com atuação frente às questões da Economia Solidária, privilegiando a pesquisa, a formação e também trabalhos interdisci-plinares que envolvam todos os conteúdos da Economia Solidária.

4. Formação e capacitação de profissionais membros ou não de iniciativas solidárias para a sua atuação na Economia Solidária, com financiamento público (convênios) destinadas àquelas entidades que possuem proficiência na área de Economia Solidária.

5. Subordinar o Sistema S a mecanismos de controle e estratégias tripartites, revendo suas prioridades, redirecionando recursos para a produção e sistematização de conheci-mentos e tecnologias adequadas à perspectiva da Economia Solidária.

6. Adequar os programas de formação e qualificação profissional às necessidades das mulheres, tanto em termos de locais e horários de realização, como também de oferta/conteúdo de cursos oferecidos, de forma a oferecer novas perspectivas profissionais para as mulheres.

7. Elaborar uma política específica que vise estimular as meninas e as jovens para as carreiras científicas e tecnológicas, bem como garantir o apoio social e material para as-segurar a permanência das mulheres pesquisadoras nas comunidades científicas em condições de equidade.

8. Garantir centros de referência públicos, onde sejam ofertados cursos e meios de trei-namento e aprendizagem específica para agentes e atores do associativismo/coopera-tivismo na perspectiva da Economia Solidária, assegurando formação, capacitação e as-sistência técnica adequada às características organizacionais dos empreendimentos e práticas de Economia Solidária.

9. Utilizar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador para realização de cursos profis-sionalizantes, com a participação não só de técnicos e empreendedores, mas também de multiplicadores e agentes da Economia Solidária, bem como obter apoio do SEBRAE como agente formador.

10. Estimular os trabalhadores e trabalhadoras da Economia Solidária a entrarem nos programas de capacitação e alfabetização de jovens, adultos e comunidades que não tenham acesso ao ensino formal.

11. Criação de um grupo de formadores para conscientização do cooperativismo e sua importância na atualidade.

12. O ensino da Economia Solidária deve contemplar temas transversais como gênero, raça, etnia e fazer parte dos programas de Ministérios como o da Saúde, Trabalho e Meio Ambiente.

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13. Adotar uma estratégia de formação e capacitação articulando as atividades da Eco-nomia Solidária, com estrutura metodológica que leva em consideração as diversidades culturais e o acompanhamento das novas tecnologias.

14. Criação de uma Escola Nacional de Cooperativismo.

Comunicação

1. Utilização dos meios de comunicação já existentes ou a criação de um sistema de comunicação que cubra, divulgue e sensibilize a sociedade para os valores da Economia Solidária, utilizando linguagem apropriada através de recursos como o ensino à distância, vídeos, cartilhas informativas, livros didáticos, criação de sites na internet, a criação de um disque Economia Solidária etc, garantindo a horizontalidade da informação.

2. Criar um banco nacional de políticas públicas e experiências bem sucedidas na área da Economia Solidária, de fácil acesso na internet, a ser alimentado por administradores que desenvolvem programas de Economia Solidária, facilitando a organização e extensão dessas políticas.

3. Difusão das experiências e intercâmbio de informações entre os agentes da Econo-mia Solidária e a sociedade, mostrando as experiências que obtiveram êxito nas diversas áreas de atuação.

4. Facilitar a concessão de rádios e TVs comunitárias e autogestionárias, jornais, revistas etc., melhorando o acesso da população às informações sobre a Economia Solidária, bem como o estímulo à produção de programas, pelas TVs e rádios comunitárias com o tema da Economia Solidária.

5. Divulgar continuamente a cultura, as idéias e práticas da Economia Solidária junto à população, particularmente no que se refere ao consumo solidário (como modelo de edu-cação), das vantagens sociais e éticas deste consumo quando os produtos são oriundos de empreendimentos solidários.

Redes de Produção, Comercialização e Consumo

1. Desenvolver, fortalecer e articular as redes de produção e consumo em nível local, regional, nacional e internacional, com base nos princípios da Economia Solidária, propi-ciando auto-sustentabilidade as mesmas, respeitando a regionalidade dos empreendi-mentos e estabelecendo a equidade entre os pares, como a igualdade de gênero, raça, etnia, idade etc., garantindo a emancipação dos grupos que ainda são descriminados dentro da Economia Solidária.

2. Na implementação do programa Fome Zero, priorizar ações regionalizadas de Econo-mia Solidária na produção e comercialização de bens e serviços a serem consumidos com recursos disponibilizados pelo programa, projetando a produção para atender ao con-junto das demandas reais de consumo popular, entre as quais se incluem alimentação, higiene, limpeza e vestuário.

3. Criar o portal brasileiro de Economia Solidária, apoiando a estruturação de redes na-

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cionais de comercialização e de intercâmbio de informações, localização de produtos e serviços, diagnósticos de cadeias produtivas e transferência de tecnologia, facilitando parcerias, negócios e investimentos coletivos entre os empreendimentos de Economia Solidária, dando-lhes visibilidade e projeção nacional e internacional, facilitando a elabo-ração de catálogos e o contato mais direto entre produtores e consumidores e a inte-gração entre cidade/campo.

4. Garantir recursos para a construção, articulação e monitoramento das redes de Econo-mia Solidária, viabilizando assim, sua integração, inclusive entre cidade e campo.

5. Aprofundar o debate sobre marcas e selos de certificação em sistemas participativos e o seu emprego, adaptável às realidades locais e regionais do país, facilitando o processo de identificação dos produtos e serviços da Economia Solidária para consumidores e con-sumidoras em seu ato de compra alavancando a comercialização desses produtos no mercado nacional e internacional.

6. Criar mecanismos que possibilitem compras governamentais dos produtos e serviços solidários e regionalizados, com preferência em licitações e estabelecendo cotas para compras governamentais de produtos da Economia Solidária, como forma de incentivo a Economia Solidária e possibilitando maior distribuição de renda.

7. Defender a produção familiar da competição desigual, por meio de uma adequada política de preços mínimos e de compras privilegiadas da produção familiar agroecológica e solidária.

8. Organização de cooperativas de consumo e central de compras coletivas.

9. Investir na formação de redes regionais de comercialização e consumo que congreguem os vários tipos de cooperativas, como exemplo, central de cooperativas coletivas.

10. Utilização de espaços públicos ociosos ou a construção de espaços como locais de trocas, comercialização de produtos da Economia Solidária e armazenamento de mate-riais reciclados.

Democratização do Conhecimento e Tecnologia

1. Promover o desenvolvimento de tecnologias apropriadas à Economia Solidária, com vistas ao desenvolvimento e qualificação contínua de produtos, respeitando a cultura e os saberes locais agregando-lhes maior valor, e a melhoria das condições de trabalho, de saúde e de sustentabilidade ambiental dos empreendimentos.

2. Orientar as ações de pesquisa e os programas de extensão das Universidades para a produção de tecnologias alternativas adequadas à Economia Solidária, bem como para a difusão e qualificação das suas diversas práticas e saberes, avaliando o trabalho re-alizado nestas áreas, mensurando acertos e erros, visando ao seu aperfeiçoamento na perspectiva do desenvolvimento sustentável.

3. Orientar Ministérios e organismos federais (Ciência e Tecnologia, Educação, Trabalho, FAT, Finep, BNDES, CNPq etc.) a fomentarem o desenvolvimento, qualificação e expansão da Economia Solidária.

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4. Descentralização da tecnologia e da informação resgatando e valorizando o conheci-mento acumulado pelas experiências de Economia Solidária, bem como mapeando e sis-tematizando esse conhecimento.

5. Criar programas de financiamentos voltados as ONGs, ITCPs, Rede Unitrabalho e outras organizações que atuam na área de formação e capacitação tecnológica de empreendi-mentos de Economia Solidária.

6. Criar centros solidários de desenvolvimento tecnológico, visando à promoção de pro-cessos produtivos que sejam adequados a como produzir, considerando as diversidades regionais do país, sua necessária sustentabilidade social e ecológica, às peculiaridades do público a quem se destinam essas tecnologias e às finalidades para as quais são de-senvolvidas, gerando produtos, serviços, processos, máquinas, equipamentos e técnicas adequados aos desafios atuais da Economia Solidária no país, visando superar as dificul-dades dos empreendimentos de Economia Solidária em ser eficientes, terem viabilidade e sustentabilidade.

7. Ampliar Fóruns de ciência e tecnologia para contemplar os desafios da autogestão. 8. Redefinir política de assistência técnica para os empreendedores da área urbana e da área rural.

9. Mobilizar o potencial criativo de inventores (as) e pesquisadores (as), orientando a or-ganizarem-se em cooperativas para trabalhar a Economia Solidária e colaborar em suas áreas específicas, como vem ocorrendo no campo das tecnologias da agricultura orgâni-ca, das cisternas e preservação de recursos hídricos, dos softwares livres etc. 10. Proporcionar meios para que as novas tecnologias sejam acessíveis aos empreendi-mentos solidários, valorizando sua função social em relação à visão predominante que é dada a sua função econômica.

11. Garantir que Estados e Municípios possam desenvolver discussões temáticas e con-ceituais sobre a Economia Solidária.

12. Difundir e ampliar a troca de experiências entre os grupos participantes da Economia Solidária, garantindo a transversalidade dessas ações, através de uma rede de articu-lação utilizando, por exemplo: materiais didáticos de apoio, conhecimentos técnicos es-pecíficos ao cooperativismo, como noções na área de comercialização, contábil, jurídica, administrativa etc.

Organização Social de Economia Solidária

1. Criar uma Secretaria Nacional de Economia Solidária, responsável por – em diálogo com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária – elaborar políticas de forma interdisci-plinar, transversal, intersetorial, adequadas à expansão e fortalecimento da Economia Solidária no país e executá-las de maneira estratégica, particularmente no que se refere ao marco legal, finanças solidárias, redes de produção, comercialização e consumo, de-mocratização do conhecimento e tecnologia, educação e comunicação.

2. Assegurar a representação da Economia Solidária no Conselho Nacional de Desen-volvimento Econômico e nos conselhos estaduais e municipais que vierem a serem or-

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ganizados.

3. Sistematizar os mecanismos institucionais já implementados em diversos âmbitos que possuem interface com a Economia Solidária, visando divulgá-los e aprimorá-los.

4. Fortalecer as bases através de redes por segmentos e por territórios.

5. Organizar fóruns por unidades federativas como formas de mobilização social para criar as condições socioeconômicas e jurídicas que venham a fortalecer a Economia Solidária.

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2. Porque lutamos?Na V Plenária Nacional aprofundamos a compreensão sobre o movimento social de eco-nomia solidária, causa pela qual lutamos:

A afirmação da economia solidária como movimento social se coloca pela sua articu-lação/mobilização, defesa e contraposição de uma determinada ideologia, na busca da acessibilidade dos direitos de um determinado público, podendo ter movimentos agre-gados.

Somos um movimento social amplo que dialoga com diversas esferas, segmentos e lutas na sociedade, considerando e legitimando as diversas experiências e práticas solidárias no campo da produção, comercialização, formação, finanças solidárias e etc.

A economia solidária articula lutas políticas na perspectiva de um novo projeto de socie-dade e de economia que promova o desenvolvimento territorial sustentável e solidário.

2.1. Economia Solidária promove o Bem-Viver

A expressão do Bem-Viver tem origem indígena, surge no Equador e na Bolívia, e está ligada à experiência dos povos indígenas e nativos da América Latina, e à proposição de um socialismo democrático, no entendimento da vida integrada e em harmonia com a natureza, na busca do equilíbrio entre ser humano e meio ambiente para fortalecer o bem comum, a cultura e suas identidades de forma intergeracional. Parte da percepção da interconexão da vida, resgatando princípios e valores universais na construção de sistemas comunitários.

Trata-se, segundo Euclides Mance, da efetivação de outro modelo de sociedade, em que a economia seja determinada a partir da política, subordinando assim as transações no mercado ao bem viver, eticamente orientado, de toda a humanidade. São práticas de lib-ertação para a construção de sociedades pós-capitalistas.

Este tema esta ressurgindo com força entre movimento sociais de todo mundo, a partir da reflexão crítica sobre o desenvolvimento capitalista e sua lógica racional, individual, produtiva, machista e consumista, que destrói a natureza e reverte resultados limita-dos para a/os trabalhadoras/es que o sustentam, gerando uma série de crise sociais, econômicas e ambientais.

A Economia Solidária tem como princípio a autogestão, a solidariedade, o reconhecimen-to e valorização dos saberes tradicionais. É uma estratégia de Desenvolvimento Susten-tável e Solidário, que não se confunde com o microempreendedorismo individual, nem com a economia criativa, nem com a economia verde e propõe ações urgentes para ga-rantir as condições de vida no planeta, sem degradar o meio ambiente e respeitando o ciclo completo da natureza.

A Economia Solidaria é um contraponto ao capitalismo, uma forma diferente de organizar o trabalho, onde não temos patrão nem empregado, o trabalho é coletivo e autoges-tionário e a nossa principal preocupação é com as pessoas, com a vida, com o meio ambi-ente e não com os lucros. Com isso, entendemos que é fundamental fazer valer a igual-

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dade de direitos entre homens e mulheres, respeitando a diversidade de raça, orientação sexual, gerações, pessoas em situação de vulnerabilidade, egressos do sistema prisional, portadores de transtornos mentais, usuários de álcool e outras drogas, comunidades estrangeiras e garantir a defesa dos direitos sociais, políticos e econômicos destas pes-soas.

Lutamos por construir uma nova cultura política a cultura do bem viver, que significa vivenciar práticas cotidianas de cooperação e autogestão no trabalho, na saúde, na edu-cação, na cultura, no lazer, na preservação do meio ambiente, nas finanças solidárias e na alimentação saudável. Isso se relaciona também com uma nova forma de viver em so-ciedade, de se relacionar com o Estado, provocando a reforma política e buscando eleger políticos realmente engajados com o bem comum para toda a sociedade.

Neste sentido, entendemos que a economia solidária promove o bem-viver, na medida em que suas práticas buscam a felicidade e a garantia de respeito aos direitos funda-mentais da vida, com base na organização coletiva e na valorização das diversidades e do meio ambiente. Afirmamos a importância de um projeto societário socialista, aonde o conceito de bem-viver complementa o sentido de sustentabilidade, diferenciando-o do seu uso pelo capitalismo. Trazemos a reflexão sobre a necessidade de colocar a re-produção da vida humana na centralidade do debate econômico.

O movimento de Economia Solidária se alia aos demais movimentos sociais compro-metidos com a construção de uma sociedade justa e igualitária no Brasil, na América Latina, Caribe e no mundo. As práticas de Economia Solidária estão presentes nas lutas e bandeiras de todos os movimentos sociais e devemos trabalhar nossa unidade, forta-lecer nossas alianças e buscar realizar processos de diálogos e convergências de nossas ações. Conclamamos a união de nossas forças na construção de agendas comuns, na de-fesa do bem viver, da cooperação e da autogestão para os povos das águas, das florestas, do semiárido, dos pampas, do cerrado, do pantanal, promovendo o acesso à informação para que esses grupos também possam participar da Economia Solidária que já é uma realidade.

2.2. Orientações políticas

No processo da V Plenária Nacional de Economia Solidária cerca de 10 mil trabalhadores e trabalhadoras aprofundaram nosso projeto político, definindo nosso horizonte de luta e ações concretas para a construção deste projeto, com a realização de mais de 200 plenárias preparatórias. Sem reproduzir todo o conteúdo presente no documento final da V Plenária, cuja leitura é fundamental, reproduzimos abaixo em síntese os principais itens deste projeto político:

Sustentabilidade

Na contraposição ao capitalismo, é necessário buscarmos a superação das desigualdades sociais, econômicas e políticas, construindo uma sociedade mais justa e igualitária. Isto se traduz na prática pela busca da igualdade e boas condições de vida para todas/os na sociedade, em especial com:

igualdade entre homens e mulheres, rompendo com a submissão, os preconceitos e a

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divisão sexual do trabalho, para que a esfera produtiva e reprodutiva da vida sejam ar-ticuladas. Na construção de igualdades no exercício das diferenças e na valorização da mulher trabalhadora e do trabalho do cuidado, com política públicas para issovalorizando uma concepção de desenvolvimento baseada nas potencialidades locaisnova cultura de produção e comercialização justa e sustentável, com o desafio de ampliar a renda dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e com justa distribuiçãomaior engajamento político das/os militantes da Economia Solidária, no envolvimento da sociedade como um todo e que destas ações e pressões resultem políticas públicas que criem melhores condições de consolidação das redes produtivas solidáriasNecessidade de aproximação e de fortalecimento do diálogo com o conjunto dos Movi-mentos Sociais Brasileiros, para unificação de bandeiras e de estratégias entre movi-mentos.A sustentabilidade que queremos e precisamos: o direito a vida e ao trabalho associado das gerações atuais e futuras:é desenvolvimento que queremos em todas as dimensõesconsumir os produtos dos empreendimentos, e não os oriundos do capitalismo, pelo con-sumo responsávelfomentar outras relações de mercado, com espaços de trocas de produtos e serviços, compreendendo o mercado como espaço provedor da vida, e não de lucromudança de hábitos em busca do bem estar coletivoenvolve um intenso e adequado processo educativo e solidário, entendendo que somos parte do ambientepara sustentabilidade econômica dos EES e o desenvolvimento da Economia Solidária, é necessário romper com sua dependência do Estado/governo nas três instâncias gov-ernamentais: autonomia para apresentar suas demandas ao estado, mantendo sua na-tureza, pautando e demandando políticas públicasO conceito de bem-viver complementa o sentido de sustentabilidade, diferenciando-o do seu uso pelo capitalismo, está ligado ao ser e não ao ter.Criação e articulação de planos locais de economia popular solidária.Aprender o bem viver a partir também da espiritualidade, com os modos de vida das comunidades tradicionais.O progresso tecnológico e científico esteja alinhando em relações de respeito com o am-biente.Defendemos a preservação do campo, das águas, da floresta e dos povos e populações da Amazônia, e também na orientação de replantar e não apenas preservar.Utilizar matéria prima da própria região, não precisando comprar de fora, preservando o meio ambiente.Afirmamos a importância de um projeto societário socialista.Nossa organização deve garantir que suas experiências locais, e atividades econômicas sejam conduzidas por uma lógica onde a educação, saúde, habitação, enfim, os direitos fundamentais sejam o principal objetivo.Vivenciar o bem viver em nossas organizações e no Movimento de Economia Solidária.Garantia dos direitos trabalhistas para as/os trabalhadoras/es associadas/os: uma car-ga horária de trabalho que garanta a nossa saúde e bem estar, com os tempos para lazer, descanso semanal, auxilio saúde, e etc.Produzir e consumir de forma justa, e com o fortalecimento de uma nova cultura alimen-tar entre nós.Contribuir para a consolidação do Movimento de Economia Solidária.O Movimento da Economia Solidária, a partir do Fórum Brasileiro e Fóruns Estaduais, tem que ter autonomia política e econômica em seu processo de estruturação e organicidade,

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sustentabilidade do movimento, e ampliação de sua inserção na sociedade, interagindo com outras lutas sociais.

É fundamental que lutemos pelo reconhecimento do Fórum como representante do movimento de Economia Solidária pelo Estado e pela Sociedade. Na relação com o Es-tado, é fundamental termos a coragem de nos contrapor às estratégias de avanço do capitalismo no Brasil.

Movimento de Economia Solidária deve lutar pela criação e consolidação de políticas públicas que fortaleçam os empreendimentos solidários como atores econômicos que promovem uma nova relação com a economia, a sociedade e a vida em cada um dos nos-sos territórios.

2.2.2. Autogestão e autonomia

Autogestão como princípio fundamental para todos os grupos e organizações que trabal-ham de maneira associada, sejam eles entidades de apoio, empreendimentos econômi-cos solidários ou programas e projetos de políticas públicas voltados para a Economia Solidária.

Autogestão pensa a transformação da organização da sociedade e fortalece a autoes-tima, valoriza o ser humano e fomenta práticas de partilha

Trabalho como um meio de libertação humana dentro de um processo de democrati-zação econômica, possível via autogestão

A autogestão precisa ser construída no coletivo, é um principio a ser buscado em todas as dimensões da vida, que não tem receita pronta, constrói-se no dia-a-dia, a partir do diálogo no qual cada um/a contribui

Fundamental para a contribuição com a luta feminista e para viabilizar o trabalho das mulheres, na construção da autonomia das mulheres, a autogestão pode nos levar a práticas de igualdade, garantindo às mulheres espaços de decisão e representação política, bem como para que as mulheres assumam mais as tarefas de produção, com-ercialização, gestão financeira, negociação, incorporação das tecnologias, e que seja al-terada sua relação com o crédito

É preciso que lutemos contra práticas corporativas e individualistas que se fazem pre-sentes em nossos espaços, é necessário trabalhar com os aspectos teóricos da au-togestão garantindo espaços de formação, para quebrar as relações capitalistas que pri-orizam o culto a lideranças e perpetua a competição

Para ampliar nossa capacidade de ação e organização devemos nos preocupar com a renovação de nossas coordenações através de eleição no grupo, com ações de formação, de troca de experiências com outras comunidades, de reuniões e preservando nossos conhecimentos junto as novas gerações. Mas ainda é necessário identificar e agregar novas lideranças ao movimento de Economia Solidária

A autogestão fortalece a Economia Solidária na medida em que enraizamos esta prática em nossas comunidades

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2.2.3. Economia Popular

Dialoguemos com aquelas e aqueles que fazem parte da economia popular, promovendo os princípios e o projeto político da economia solidária.

Precisamos entender melhor a economia popular que é múltipla, diversa e baseada na reprodução e na subsistência.

A economia popular é diferente da economia solidária, pois muitos procuram sobrevivên-cia em um modelo que prega uma autonomia e individualismo, visando lucro, servindo muitas vezes apenas para a manutenção do capitalismo.

A economia popular não tem um projeto de organização coletiva da sociedade, como tem a economia solidária, tem muitas vezes a lógica voltada para o empreendedorismo indi-vidual, incentivada pelos entes públicos e o Sistema S.

Precisamos partilhar com as/os trabalhadores/as da economia popular o jeito como fazemos e vivemos a Economia Solidaria, integrando-os/as aos nossos empreendimen-tos ou ajudando-os/as a criar outros. O fundamento para esta ação é de que somos todos/as trabalhadores/as e precisamos fazer alianças, não separações.

Muitos dos nossos empreendimentos vieram da economia popular, inclusive há fóruns se que autodenominam Fórum de Economia Popular Solidária. Os/as participantes da economia popular são excluídas/os na sociedade, precisam se endividar para iniciar uma atividade econômica, e precisamos pensar formas para que elas/es se organizem.O MEI apresenta facilidades que acabam por confundir as/os empreendedoras/es co-letivos e individuais, precisamos problematizar o MEI e estimular cada vez mais a or-ganização da atividade econômica pela Economia Solidária. E ainda, reforçar a nossa luta para fortalecer e aprovar a Lei Geral da Economia Solidária denunciando as artimanhas políticas e técnicas do sistema. Criar novos laços, fortalecer nosso projeto: dialogando com a economia popularDefendemos que os programas de transferência direta de renda, como o Bolsa Família, estejam associados e vinculados a ações de organização das/os beneficiárias/os em empreendimentos econômicos solidários para sua emancipação econômica via Econo-mia Solidária.É preciso que pensemos em espaços de articulação entre nós, nos quais possamos di-vulgar nosso projeto político, fazendo com que as/os empreendedoras/es individuais da economia popular reflitam sobre o seu próprio papel no processo de apoio e sustentação ao capitalismo. Há necessidade de um maior convívio entre nós.

Contribuir para a organização dos/as trabalhadores/as da economia popular em organi-zações de trabalho associado, com uso de ferramentas de comunicação, identificando aonde estão estes trabalhadores e seus locais de articulação

Promover encontros, debates entre os segmentos, desenvolvendo uma estratégia con-junta a partir dos territórios, lutando por políticas públicas articuladas e contínuas que favorecem a Economia Solidária e incluam a economia popular, a partir da promoção de sua organização em projetos coletivos.

Nossa prática precisa ser inspiradora, não de cima pra baixo, sempre trabalhada de ma-

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neira horizontal.

2.2.4. Emancipação econômica e política dos Empreendimentos de Economia Solidária

Queremos um mercado que promova o desenvolvimento sustentável e solidário no qual se dê a relação entre a produção responsável, comercialização e consumo consciente, justo e solidário, abrangendo os aspectos de convivência do bem viver entre as pessoas, trocas de saberes e sabores, produtos, serviços e uso de moeda social.

Pensar o mercado na ótica da sustentabilidade que defendemos, ou seja, não excludente, solidário e que envolva também práticas não monetárias.

A relação com o mercado capitalista deve se dar de forma consciente com critérios de trabalho decente e preservação ambiental, rompendo com os processos de acomodação, aceitação e passividade. De forma que não percamos nossos princípios e nosso projeto de organização nas bases.

O mercado para a Economia Solidária enraiza a relação entre demanda e oferta na vida comunitária, discutido de maneira ampla, buscando tecer redes e cadeias entre em-preendimentos econômicos solidários que busquem a promoção do desenvolvimento local e o bem-viver nas comunidades. Várias estratégias poderão ser utilizadas, a exem-plo dos mercados comunitários, do comércio justo, dos bancos comunitários e do esta-belecimento de relações horizontais de trabalho, etc

Queremos uma economia participativa, solidária, justa, com legislação específica e eco-nomicamente viável, com juros mais baixos, produção e comercialização direta sem atravessadoras/es, na qual todas/os produzem e se beneficiem da renda de forma justa, garantindo preço acessível e produtos de qualidade, e que localmente se produza o que precisamos para viver.

A emancipação política e econômica dos EES passa pela construção de sua autonomia na articulação em rede e construção das políticas públicas em parceria com os vários atores sociais. Compreende também um processo de formação construído a partir dos fóruns, rompendo com a cultura do clientelismo, subalternidade e de personalismo.

Buscar parcerias é fundamental na constituição e consolidação destes espaços públicos que possuam a identidade da Economia Solidária, pois não queremos disputar com os locais de comercialização do grande capital, a exemplo de shoppings e supermercadosConstruindo a emancipação e autonomia dos empreendimentos econômicos solidários, que são aqueles que se sustentam economicamente com a força de seu trabalho e que fazem sua própria gestão consolidando sua produção.

A construção da autonomia passa pela construção de outro tipo de mercado, de um outro tipo de legislação que favoreça e dê condições de trabalho aos/às trabalhadores/as as-sociados/as.

A Economia Solidária não pode ser confundida com o “Terceiro Setor” que substitui o Estado nas suas obrigações legais, não permitindo a emancipação de trabalhadoras/es, enquanto sujeitos protagonistas de direitos. Reafirmamos a emancipação de trabal-hadoras/es como sujeitos históricos na sociedade.

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A emancipação política dos empreendimentos solidários só poderá acontecer se estes não dependerem política e economicamente da economia de mercado capitalista ou do Estado e sobretudo, quando tomarem consciência de que lado está.

Afirmamos que a construção da autonomia passa por estabelecer outras formas de com-ercialização, um novo mercado: com preço justo, sem destruir a natureza, preocupando-se em repor à natureza o que dela retiramos, produzindo o que precisamos.

Emancipação é ter liberdade, autonomia, poder de decisão, influência e participação. Re-sultado de um processo de conscientização, divulgação, informação e formaçãoPrecisamos avançar na organização de novos espaços de comercialização.

Investir na estratégia do selo ou da etiqueta que explique que o produto faz parte da Economia Solidária.

Lutando na perspectiva de garantir políticas públicas de finanças solidárias de financia-mento aos empreendimentos solidários, a partir da criação do fundo público de apoio à Economia Solidária.

Espaços de comercialização da Economia Solidária devem ser fomentados pelo poder público.

Democratizar os debates sobre os processos de certificação e os sistemas participativos de garantia, para que mais pessoas compreendam como estão ocorrendo e possam levar esta proposta para suas comunidades e empreendimentos

Reforçar a nossa estratégia de articulações em redes e cadeias de produção, comerciali-zação e consumo em nível local, territorial e estadual, através da organização de grupos para consumo consciente. Ou ainda, da promoção de eventos e feiras de trocas, resga-tando práticas de trabalho em mutirão, trocas de mercadorias e moedas sociais.

2.2.5. Território e Territorialidade

Planejarmos nossas ações sem abrir mão da perspectiva do território, pois nos espaços de proximidade podemos trabalhar as dimensões da produção, da comercialização e do consumo de forma direta e articulada.

O território está na centralidade da organização da economia solidária. Mas não deve-mos simplesmente transpor as divisões territoriais adotadas pelas políticas públicas, a não ser que em determinado contexto isso faça sentido.

Para a Economia Solidária o território é onde se articulam ações em prol dos nossos valores e princípios. É o espaço onde ocorrem as relações sociais, potencializando o que é comum, respeitando as diferenças e construindo, a partir do diálogo, o sentimento de pertencimento e laços de identidade. Dessa maneira, cada território carrega as peculiari-dades de sua região de abrangência, expressando assim uma identidade.

No território também estão presentes as relações de poder, as disputa de projetos de sociedade e de economia. Assim, a construção de territórios na Economia Solidária deve

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respeitar as diferenças.

O território é espaço de construção da autogestão para além dos empreendimentos. Deve ser algo dinâmico e estar em construção permanente e de forma autônoma pelo movi-mento, partindo de um planejamento estratégico que dialogue com a proposta política da Economia Solidária.

Fortalecer nossa identidade nos territórios e nosso projeto político: a partir do resgate e reconhecimento da história e das tradições locais; e ainda, com estratégias para criarmos e consolidarmos as relações entre aqueles/as que atuam neste território, com os princí-pios e valores da Economia Solidária.

A vivência das experiências e a cumplicidade na luta são elementos potentes para a cri-ação, desenvolvimento e fortalecimento da identidade de um grupo

A clareza do que nos une no local e nos valores é o que possibilita ampliarmos a adesão ao movimento de Economia Solidária pelas pessoas que compartilham a mesma reali-dade e os mesmo valores, articulando experiências isoladas nas dinâmicas do fórum e outros espaços do movimento.

É necessária a realização de formação política para a ampliação da consciência crítica. A Rede de Educadoras/es em Economia Solidária pode auxiliar com ações educativas que tragam a concepção e as práticas da Economia Solidária.

O foco no território não deve ocorrer em detrimento do desenvolvimento de ações que articulem as pautas de nível local, estaduais e nacional do movimento de Economia Solidária, sejam estas pautas de articulação política ou mesmo de articulação comercial (fóruns, cadeias, redes, etc.).

Organizando estratégias a partir das lutas em nossos territórios: temos que organizar estratégias para identificar e buscar nos territórios os potenciais aliados, no esforço de dialogar com eles a partir da nossa pauta, tornando a Economia Solidária mais visível e com pautas mais explícitas, esclarecendo nossa proposta para a sociedade e apostando que isso possa gerar identificação e um processo de adesão; criando estratégias de con-vergência.

As estratégias de articulação com a nossa luta e criação de espaços de convergência pode se dar de várias formas e em vários níveis, desde a tentativa de integração à dinâmica dos fóruns ou partindo da formação de redes, até a proposição de estratégias que, embo-ra não incorporem esses atores nas nossas instâncias, busquem identificar, dinamizar e criar projetos comuns entre os diversos grupos pertencentes ao território, fazendo mani-festações em busca de nossos direitos e avançando rumo ao nosso projeto de sociedade.Precisamos aprofundar este ponto: é necessária a construção de um sentimento de pertencimento ao movimento de Economia Solidária.

A participação em espaços que ampliem a formação para a cidadania, através da reali-zação de debates políticos mais amplos e do incentivo à frequência dos atores em in-stâncias de participação popular (como conselhos, orçamentos participativos e conferên-cias) pode contribuir com a ampliação do entendimento sobre o próprio território e sobre as formas de fortalecer a luta.

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De qualquer maneira, articulando as ações do território com as ações dos Fóruns – em seus vários níveis – essas ações podem ganhar vulto e vir a somar com o projeto político mais amplo da Economia Solidária.

2.2.6. Diversidades

Compreendemos que gênero e raça são elementos estruturantes das desigualdades so-ciais no país. O machismo e o racismo estão presentes nas construções sociais que re-forçam lugares para mulheres, negros e negras no mundo do trabalho. A desvalorização do trabalho feminino se dá pela associação da mulher ao espaço doméstico, reprodutivo e privado, e do homem ao espaço da produção, do público.

A mulher continua submetida a uma estrutura patriarcal na qual ainda não atingiu o mercado de trabalho em condições de igualdade com o homem, apesar do significativo aumento de escolaridade. Esta desigualdade se expressa na presença hegemônica das mulheres nos espaços da Economia Solidária, que apresenta um desafio ao tentar equili-brar suas ações no âmbito produtivo e reprodutivo, e afirma de forma contundente a necessidade de redefinirmos a forma como refletimos sobre o trabalho.

O movimento reconhece as diferenças como riqueza e como valor, que no processo histórico constituem motivos para práticas das desigualdades. Mas ainda não aprofun-dou o debate nas questões das diversidades e nos mecanismos de valorização, respeito e potencialização dessas diversidades.

Queremos avançar em ações afirmativas no interior dos espaços de representação da Economia Solidária nos Fóruns Estaduais e no Brasileiro. Para isto é necessário construir e fortalecer a auto-organização das mulheres, negros e indígenas, com GTs de discussão; elaboração e articulação de propostas de políticas com abordagens específicas, que ga-rantam a integração das esferas do trabalho produtivo e reprodutivo e as especificidades raciais.

A Economia Solidária pode contribuir com a luta feminista e racial, na medida em que cria condições de desnaturalizar a separação de público e privado, produtivo e reprodutivo – desconstruindo a divisão sexual do trabalho; recolocando o olhar para o trabalho do cuidado das pessoas como uma esfera mantenedora e relacionada ao mundo produtivo.Reconhecer a diversidade das lutas, dizer não ao preconceitos e avançar na solidariedade.Desafio de afirmar as identidades e a diversidade sem perder a unidade, e sem seg-mentações que fragilizem o movimento de economia solidária na luta pela superação do capitalismo e como espaço de construção do novo.

Estas temáticas precisam estar presentes nos diversos processos educativos dinamiza-dos pelo movimento da Economia Solidária.

Identificamos a necessidade de uma articulação a partir da elaboração de uma Agenda Comum aos diversos movimentos.

Apontamos que para a superação destas desigualdades fazem-se necessárias novas formas de integração e reconhecimento das identidades culturais para além da cultura capitalista. É preciso ter uma quebra de paradigmas. É preciso avançar na superação dos

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preconceitos.

Reconhecemos as mudanças que estão ocorrendo através da aprovação de algumas no-vas leis, como a Lei de Cotas Raciais nas Universidades (Lei 152.711/2012), ações pelo reconhecimento de casamentos homoafetivos, pela garantia dos territórios quilombolas e indígenas, pelo respeito às manifestações religiosas, mas estas ações ainda mantém-se distantes de expressarem concretamente mudanças no conjunto da sociedade.

Afirmamos que uma sociedade diversa, plural e complexa deve ser uma estratégia na organização do movimento de Economia Solidária, de forma a garantir o diálogo com outros movimentos sociais.

Por outro lado, estes debates devem ser organizados a partir das Plenárias e Fóruns de forma a articular o conjunto das ações em torno de princípios comuns. Reconhecemos, assim, as bandeiras destes movimentos sociais, já que estes lutam pela igualdade social, e a Economia Solidária pensa, busca e constrói uma forma de desenvolvimento digna, sustentável e justa para todos e todas.

Em nosso movimento, as mulheres começam a se organizar para enfrentar a desigual-dade entre os sexos. Suas principais bandeiras políticas partem de alguns eixos de atu-ação: a resistência das mulheres trabalhadoras na luta pelo fim da opressão e exploração dos sistemas capitalista e patriarcal, buscando outro jeito de produzir, reproduzir e viver; a denúncia das práticas de violência contra às mulheres e da mercantilização do seus corpos e exploração do seu trabalho, transformando as relações desiguais de gênero, raça e classe nas dimensões da vida social, econômica, afetiva e política. A promoção de uma sociedade justa, solidária e sustentável, com base nas experiências de Economia Solidária, superando o patriarcado e o capitalismo.

2.2.7. Cidadania, organização da sociedade, relação entre o movimento de Economia Solidária e o Estado

O movimento precisa avançar na conscientização da sociedade para que a população entenda o que é Economia Solidária, a aproximação deve avançar de diversas maneiras, acolhendo os grupos/pessoas que vivem destas práticas para engajá-las no movimento, com a prática da autogestão.

Temos que refletir mais sobre a forma como estamos nos relacionando com o Estado no Brasil em seus diferentes níveis, principalmente no que se refere ao debate sobre a economia.

A criação de leis e estruturas no estado e governo também ampliam a visibilidade, na medida em que reconhecem a Economia Solidária como direito econômico e estratégia de inclusão social, como um meio de resgate da pessoa e preservação da vida em todas as suas esferas.

No aspecto interno, temos que buscar uma melhor organização e o fortalecimento políti-co dos fóruns, desde o local, estadual e nacional, e ainda estimular a criação de novos. Isso amplia a identidade do movimento de Economia Solidária e respalda os fóruns en-quanto instância política. Devemos, para isso, estimular e valorizar os meios de afir-mação da Economia Solidária como movimento social contra o capitalismo. Os meios

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desta afirmação podem ser a divulgação das pautas dos fóruns, seu compartilhamento nos três níveis do FBES e a presença da coordenação do fórum nos conselhos, dialogando com outros movimentos sociais e empreendimentos. Temos também que nos apropriar, divulgar e realizar processos educativos para que as bases possam utilizar melhor os mecanismos de comunicação e articulação do movimento, a exemplo do Cirandas, pois estas são ferramentas que fortalecem os processos de informação e divulgação.

É importante que possamos criar dinâmicas para divulgar as diretrizes e bandeiras desta nova opção de vida para a sociedade nos mais diversos espaços sociais.

Ainda não há políticas públicas permanentes e consolidadas para a Economia Solidária, apenas programas e ações, pulverizados na estrutura de Estado. Esta situação preci-sa mudar, para que as ações sejam direitos e não dependam do governo que esteja no poder, e ainda, que as legislações existentes sejam colocadas em prática. Para isso, o movimento precisa estar organizado, intensificando e qualificando suas intervenções através dos fóruns, conselhos e da participação popular.

Estamos descontentes quanto às políticas de Economia Solidária ligadas a secretarias municipais e estaduais que buscam submeter a Economia Solidária à lógica da micro e pequena empresa.

Orientações para o movimento de Economia Solidária na incidência junto ao estado para que possamos estabelecer uma relação qualificada com o Estado, é necessário que, em primeiro lugar, possamos olhar para nós mesmos, avaliando como temos agido e o que precisa ser modificado. Só é possível modificar a nossa relação com o Estado e sermos respeitados nesta relação. Nisso também se inserem orientações na relação do movi-mento de Economia Solidária com o Estado e orientações ditas ao próprio poder público, além de um bloco sobre as relações internacionais (ver documento final da V Plenária).

2.3. Orientações de ações

O documento final da V Plenária também traz propostas de ações ao movimento de economia solidária, para que possa consolidar assim seu horizonte político. Sem repetir o balanço de cada tema e todos os itens de orientações, cuja leitura do documento final é fundamental, seguem os principais temas:

2.3.1. Marco Legal

Seguir em luta para aprovação da Lei Geral da Economia Solidária : campanha pela lei de iniciativa popular e agora com o PL 4685

Lutar para criar as leis de Economia Solidária, fundos e conselhos, nos municípios e es-tados, além de Frentes Parlamentares de Economia Solidária, com a participação popular Reduzir as burocracias para o acesso aos selos de certificação dos produtos

Democratizar debate sobre o marco legal em nossos fóruns

Intervir nos processos eleitorais

Continuar propondo/lutando pela criação do Ministério de Economia Solidária, ou Secre-

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taria Especial

Atuação junto a Lei Geral das Cooperativas (PLS 3/2007 e 153/2007) e Pronacoop

Lutar pela criação e ampliação da dotação orçamentária (municipal, estadual e federal) para a Economia Solidária

2.3.2. Educação e Cultura

Desenvolver a pedagogia da autogestão, a partir do trabalho nos empreendimentos solidários, das ações do FBES nos territórios e na articulação nacional.

Consolidar a articulação do Grupo de Trabalho de Educação e Cultura do FBES com a organização de uma Rede de Educadoras/es da Economia Solidária (ver orientações no documento final da V Plenária)

Orientações aos processos educativos em Economia Solidária que envolvem ações de formação, assessoria técnica, elevação de escolaridade, acesso à tecnologias sociais, in-clusão digital

Avançar na ação educativa popular em Economia Solidária nos espaços formal, não-for-mal e informal (ver orientações no documento final da V Plenária)

Orientações sobre identidade, cultura e expressões da solidariedade

2.3.3. Estratégias Econômicas (produção, comercialização, consumo e finanças solidári-as)

Incidência para consolidação e fortalecimento do Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário (SCJS)

Orientações para Produção, Comercialização e Consumo

Fortalecer, criar e articular redes e cadeias de produção, comercialização e consumo

Fortalecer, criar e articular espaços e iniciativas de comercialização solidária

Fortalecer, criar e articular iniciativas de comercialização solidária virtuais

Por um Programa Nacional de Desenvolvimento da Economia Solidária (PRONADES)

Pelo reconhecimento, fomento e organização dos instrumentos de finanças solidárias

Fomentar, apoiar e fortalecer as experiências de Bancos Comunitários

Fomentar, apoiar e fortalecer as experiências de Fundos solidários

Fortalecer e apoiar as cooperativas de crédito

Sistematizar e divulgar linhas e programas de crédito de interesse à Economia Solidária

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2.3.4. Integração territorial e luta pela continuidade de políticas públicas

Construção de processos territoriais de ENvolvimento sustentável e solidário

Promover a articulação com os outros movimentos sociais para fortalecer os processos de Envolvimento territorial: Incidência política e articulação externa conjunta e Atividades em conjunto

Promover processos de incidência para a construção de políticas públicas que favoreçam a Economia Solidária desde o território, buscando ainda a continuidade das políticas públicas já conquistadas

Orientações específicas para os/as gestores/as públicos

2.3.5. Comunicação e visibilidade

Garantir comunicação constante do fórum com todos os segmentos da Economia Solidária.

Elaborar um Plano Nacional de Comunicação da Economia Solidária que se estenda aos estados, articulando a comunicação com todas as dimensões do movimento para am-pliar sua visibilidade.

Criar um coletivo ou GT de Comunicação em todas as instancias do fórum com pessoas experientes na área, para promover e animar a comunicação (externa e interna) do movi-mento.

Criar: um fundo monetário para viabilizar as ações de comunicação, uma Central de Co-municação e Marketing de Economia Solidária e construir uma Rede de Comunicação Popular e Solidária.

Potencializar e ampliar a divulgação da página do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, do seu boletim informativo e do Cirandas.

Continuar a busca pela efetivação da proposta feita na IV Plenária de criação do selo de certificação dos produtos e serviços que são da Economia Solidária.Produzir materiais de formação e divulgação da Economia Solidária, principalmente a partir dos municípios.

Apresentar e articular a Economia Solidária junto a movimentos sociais e conselhos, in-clusive propondo a inserção de notícias em seus meios de comunicação.

Estimular outras formas de comunicação (jornais, rádios comunitárias, teatro, cordel, twitter, flyer, jornais, rádio e televisão, folhetos, folder, boca-a-boca, etc.) com o cuidado de linguagem e informações corretas.

Orientações para parcerias e junto ao poder público

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3. Nossa história: o caminhar por umaorganização nacional da economia solidária

O FBES é fruto de uma grande caminhada coletiva para a construção da organização e articulação nacional da economia solidária, de muitos debates em plenárias, encon-tros regionais, locais e nacionais, com a contribuição de milhares de militantes nesta trajetória. Nossa história ultrapassa os 10 anos que estamos comemorando, porque as iniciativas de economia solidária e muitas das organizações que hoje integram ou inte-graram o FBES tem uma trajetória de mais tempo, de luta, resistência e construção de novas práticas sociais com base na cooperação e na solidariedade.

Neste capítulo você vai conhecer a semente e o desenvolvimento do FBES, com os princi-pais momentos históricos, principalmente uma analise das plenárias, instância máximas do movimento de economia solidária e a contribuição de cada uma das cinco plenárias realizadas. E por fim, uma breve linha do tempo que destaca os principais momentos nacionais de toda esta construção.

3.1. FBES: uma trajetória coletiva1

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária tem este nome porque é filho legítimo do Fórum Social Mundial (FSM), e a partir do espaço e da agenda do FSM destacam-se el-ementos constitutivos da trajetória da economia solidária no Brasil. No Primeiro FSM, realizado em Porto Alegre, 25 a 30 de janeiro de 2001, houve realização da oficina “Econo-mia Popular Solidária e Autogestão” que pela presença (de mais de 1500 pessoas) e pela qualidade das manifestações, apontou a necessidade de se articular internacionalmente e de organizar a economia solidaria no Brasil. Para promover a articulação e elaborar es-tratégias de organização da economia solidária no Brasil foi criado o Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária (GT-Brasileiro).

Além da influência do público e as repercussões favoráveis sobre o evento, três outros fatores contribuíram para o marco inicial da economia solidária junto ao FSM: a existên-cia da recém-criada rede brasileira da sócio-economia solidária (RBES), a criação da rede global da economia solidária (RGES) e a participação do ministro da economia solidária do governo francês.

O GT-Brasileiro constituiu-se por organizações e redes de uma diversidade de práticas e segmentos da economia popular solidária: campo, cidade, práticas diminutas e complex-as, igreja, bases populares, bases sindicais, universidades, movimentos sociais populares, práticas governamentais, práticas de apoio ao crédito e de redes de informação, vínculos às bases nacionais e às redes internacionais.

As 12 Entidades e Redes Nacionais de Fomento que em momentos e níveis diferentes participam do GT-Brasileiro foram: Rede Brasileira de Socioeconomia Solidária (RBSES); Instituto Políticas Alternativos para o Cone Sul (PACS); Federação de Órgãos para a As-sistência Social e Educacional (FASE); Associação Nacional dos Trabalhadores de Em-presas em Auto-Gestão (ANTEAG); Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas (IBASE); Cáritas Brasileira; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST/Concrab); Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs); Agência de

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Desenvolvimento Solidário (ADS/CUT); UNITRABALHO; Rede Brasileira de Gestores de Políticas Públicas da Economia Solidária; Associação Brasileira de Instituições de Micro-crédito (ABICRED).

Assim, graças à prática de respeitar as diferenças regionais e particularidades de suas organizações, conforme a insígnia “unidade na diversidade”, investiu-se na divulgação, na caracterização das atividades da economia solidária e, principalmente, na busca de sua dimensão nacional. É neste sentido que o primeiro livro, publicado, já em 2002, denom-inava-se: Do Fórum Social Mundial ao Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Nisso, a realização das Plenárias foram decisivas para ampliar e, ao mesmo tempo, caracterizar o seu campo de ação, bem como amadurecendo aa construção de uma instância nacional.Em que pese a grande vinculação às bases dos empreendimentos, houve pouca par-ticipação direta dos trabalhadores/as da economia solidária. Essa questão, justamente com a questão da participação de áreas de governo remeteu à preocupação com a inde-pendência e autonomia, portanto, com o caráter emancipatório do movimento em con-strução, que foram alvos prioritários dos debates das mobilizações estaduais pró-fórum Brasileiro.

A I Plenária Brasileira de Economia Solidária foi realizada em São Paulo, nos dias 9 e 10 de dezembro de 2002, contando com perto de 200 participantes de 10 estados, con-stituídos de trabalhadores de empreendimentos associativos, entidades de fomento e/ou representação, gestores de políticas públicas. A plataforma de debate compreendeu cinco eixos:

FINANÇAS SOLIDÁRIAS – As diferentes formas que a Economia Solidária vem acessando (microfinanças, crédito solidário, bancos populares, fundos solidários, cooperativas de crédito, fundos públicos constitucionais, agências de desenvolvimento, etc.).

MARCO LEGAL – não só a legislação cooperativista, mas as demais formas associativas de autogestão, a lei da licitação, a lei das OSCIP (terceiro setor), tratamento diferenciado, exportação, impostos, encargos, etc.

REDES DE PRODUÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, CONSUMO – Cadeia produtiva, abastecimen-to, feiras, comércio justo, clube de trocas, cartões solidários, etc.

DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E DA TECNOLOGIA – Redes de tecnologias apro-priadas, incubadoras, capacitação e metodologias, etc.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL DA ECONOMIA SOLIDÁRIA - articulações, fóruns locais, estaduais, redes locais, estaduais, nacionais, redes específicas, articulações no interior de outros movimentos sociais (rural, urbano, ambiental, cultural, etc.)

Os elementos de reflexão partiram de experiências de economia solidária contidos em movimentos sociais como a ASA. – Articulação do Semiárido, em práticas autogestionári-as do MST, da Usina Catende, do Mutirão de Combate à Fome da CNBB, e práticas de políticas públicas da prefeitura de São Paulo.

Além de promover o encontro de diferentes atores, pode-se afirmar que a principal con-tribuição da I Plenária Nacional de Economia Solidária foi propiciar um debate em torno da criação de uma instância nacional da e para a economia solidária. A proposta de cri-

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ação de um fórum nacional nasceu a partir desse encontro e a plenária propôs a reali-zação de encontros preparatórios “antecedendo ao encontro do Fórum Brasileiro de Eco-nomia Solidária”, afirmando pela construção do FBES, a ser aprofundado na II Plenária. Da mesma forma, iniciou-se a elaboração de diretrizes e propostas que aglutinassem o campo da economia solidária no Brasil, isto é, uma plataforma de ação e uma carta de princípios. O GT Brasileiro desempenhou um papel estratégico no encontro, desde a sua organização até a mediação e condução.

No contexto político mais amplo, no final de 2002, o Partido dos Trabalhadores (PT) gan-hou as eleições presidenciais. Uma nova janela política abriu-se e o fato mobilizou o GT Brasileiro de Economia Solidária a discutir uma estratégia de incidência junto ao novo presidente eleito. Começou, assim, a ser desenhada a criação de um espaço institucional dentro do novo governo federal que viesse atender as demandas da economia solidária. Assim, a I Plenária aprova a Carta ao Governo Lula “Economia Solidária como Estratégia Política de Desenvolvimento”, documento de interlocução com o governo onde apresen-tava diretrizes gerais e as reivindicações da Economia Solidária apontando a necessidade da criação da Secretaria Nacional da Economia Solidária (SENAES), dentro do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sob coordenação do professor Paul Singer.

Além disso, pode se ler nas deliberações e orientações da Plenária o seguinte: - “a criação da Secretaria Nacional não deve prejudicar a atuação dos movimentos sociais; - consid-erar a possibilidade de o Fórum Brasileiro agir como um fiscal desta Secretaria; - assegu-rar a representação da economia solidária no Conselho de Desenvolvimento Econômico; - o governo federal deve assumir diálogo permanente com o Fórum Brasileiro de Econo-mia Solidária; - necessidade de construir uma estratégia de ação conjunta com o governo federal que não se resuma a uma política de balcão” (conf. livro citado, pág. 56).

Publica-se para distribuição na II Plenária Nacional, o caderno: Do FSM ao Fórum Bra-sileiro da Economia Solidária, contendo a carta ao governo Lula, os acúmulos, gargalos e plataforma de propostas para políticas públicas.

Cabe ressaltar que, já em 2002, alguns fóruns estaduais de economia solidária já exis-tiam e se reuniam com certa periodicidade, como nos estados de Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

A II Plenária foi realizada durante a nova edição do Fórum Social Mundial, em janeiro de 2003, em Porto Alegre, e foi presidida pelo GT Brasileiro de Economia Solidária. O even-to reuniu aproximadamente 800 pessoas do país que realizaram suas plenárias pre-paratórias. A ideia de se criar uma instância nacional avança e amadurece e, pela primei-ra vez, é construída uma agenda de mobilização nacional envolvendo uma estratégia de discussão pelos estados a fim se debater a criação de um espaço nacional permanente. Assim, a plenária decidiu e orientou por atividades de mobilização nas bases estaduais, com os fóruns e articulações estaduais abordando os temas: Identidade (Carta de Princí-pios), Plataforma de Lutas, caráter e composição do Fórum a ser criado.

O governo Lula anuncia no Fórum Social Mundial de 2003 o compromisso de criar a Secretaria Nacional da Economia Solidária, sob a direção do professor Paul Singer. Os principais cargos da nova secretaria são ocupados principalmente por ex-integrantes de organizações do campo da economia solidária, principalmente do setor da igreja católi-ca e da universidade. O primeiro ano da Senaes foi dedicado à estruturação interna da

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secretaria, definição de orçamento, e de seu plano de ação. Cabe frisar que esse plano de ação foi fortemente influenciado pelas reivindicações já sistematizadas dos diversos atores da economia solidária. A nova secretaria assumiu, assim, e de modo integral, a plataforma de lutas do FBES como seu plano de governo.

A III Plenária Nacional foi realizada, em Brasília, nos dias 27, 28 e 29 de junho de 2003. No processo preparatório foram mobilizados 17 estados e houve participação de 900 pessoas delegados/as. Nela, o que era intensão desde a I Plenária, pode se concretizar: a organização da Economia Solidária passou a se chamar “Fórum Brasileiro de Economia Solidária”, exatamente no dia 29 de junho de 2003. Saiu desta Plenária a incumbência de articular e mobilizar as bases de economia solidária em torno da Carta de Princípio e da Plataforma de Lutas aprovadas. Foram definidas a composição e o funcionamen-to do Fórum Nacional, dos Fóruns Estaduais e dos Fóruns Regionais, fortalecendo os fóruns já existentes e fomentando a criação de outros em um processo de interiorizarão de espaços de debate permanentes por todo o país. Deliberou-se pela criação de uma Coordenação Nacional do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, constituída por três representações de cada estado (dois representantes de empreendimentos e um repre-sentante dos gestores públicos ou entidade), além das organizações que integravam o GT. Foi aprovada, também, a criação de uma secretaria executiva, de caráter provisório, que trabalharia até a primeira reunião da coordenação nacional do FBES. Quanto a con-cepção, composição, funcionamento e continuidade do FBES, deliberou-se que o debate seria aprofundado em debates nos fóruns estaduais. Também foram estabelecidos com-promissos de interlocução do FBES com a SENAES. Compromissos avessos às práticas tradicionais de dominação (dependência) e de promoção à autonomia necessária ao de-senvolvimento das organizações sociais.

Após a criação do FBES em 2003, quase cinco anos mais tarde ocorreria a próxima Plenária Nacional. Nesse período foi criada uma coordenação executiva, a partir dos rep-resentantes da coordenação nacional, que passou a desempenhar a função de acompan-har de forma sistemática as demandas cotidianas do FBES. Também foi criada, de modo permanente, uma secretaria executiva, de cunho operacional e com sede em Brasília. Entre os anos de 2003 e 2008, quando aconteceu a IV Plenária Nacional de Economia Solidária, notou-se que o FBES avançou em sua capilaridade no território nacional. De 5 fóruns estaduais em 2002, sobe para 17 em 2003 e para 27 no final de 2006. Assim, a partir de 2006, o FBES passa a estar presente em todos os estados da federação. Fóruns municipais, regionais e territoriais também passam a se organizar de acordo com as suas necessidades, demandas e características locais, além de possuírem também graus var-iáveis de organicidade e limitações de atuação e mobilização

As articulações internacionais, especialmente com os países da América Latina, por meio da participação do FBES na Rede Intercontinental para a Promoção da Economia Solidária (Ripess), também passam a ocorrer de modo mais sistemático. O FBES, cada vez mais, passa a participar e organizar espaços de discussão e troca com experiências internacio-nais, constituindo-se, gradativamente, como uma das referências de organização desse campo na América Latina.

O I Encontro Nacional dos Empreendimentos da Economia Solidária (agosto de 2004) reuniu 2.500 representantes, de todos os estados brasileiros, onde foram criados Fóruns ou comissões pró-fóruns estaduais. Em alguns estados, a ampliação do Fórum consistiu em estruturar fóruns sub-regionais e municipais. No evento foi assegurada a partici-

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pação majoritária dos empreendimentos.

No Fórum Social Mundial de 2005 a Economia Solidária foi desafiada para gerir o abas-tecimento, a comercialização, a moeda social, as rodadas de negócios, a campanha pelo consumo consciente, contra os produtos nocivos das transnacionais, e a realizar os de-bates articulados entre as redes nacionais e internacionais. Por isso diz-se que não só um outro mundo é possível, mas uma outra economia acontece!

Paralelamente, no campo da institucionalização de políticas públicas voltadas para o setor, o diálogo foi intensificado com a Senaes e, em 2006, com a posse do Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES). Todo esse contexto forçou o FBES e suas instân-cias a terem cada vez mais um papel político e estratégico frente às novas demandas e espaços de diálogos criados.

A IV Plenária foi realizada em Luziânia (GO), a 30 km de distante de Brasília, nos dias 26 a 30 de março de 2008, com o tema “Outra economia construindo outros desenvolvi-mentos”. Contou com a participação de 288 representantes escolhidos das Plenárias Es-taduais. Esta Plenária não foi um evento de apenas 4 dias, porque foi resultado de um processo que se iniciou em maio de 2006, quando começou o processo de mobilização preparatório para a IV Plenária Nacional, através de 4 fases. A preparação para esse en-contro foi mais elaborada, compreendendo etapas como encontros estaduais, sistema-tização dos encontros, encontros regionais e plenárias estaduais. Foram dois anos de encontros e debates, o processo mais longo de preparação para uma plenária nacional, cujo objetivo maior naquele contexto foi a reestruturação do FBES.

A 1ª fase começou com os encontros estaduais e regionais sob o tema: “Por um Novo Modelo de Organização da Economia Solidária”. em que foi discutida a natureza e a es-trutura do FBES. Embora o tema não fosse novo, era a primeira vez que se debatia sobre movimento social. Quanto à natureza do FBES, duas propostas estavam em pauta: FBES como movimento social ou um espaço de encontro dos diversos atores desse campo, ou seja, um instrumento do movimento. Houve um intenso debate nos encontros estaduais sobre a natureza do FBES, se espaço de articulação ou o próprio movimento de economia solidária.

A 2ª fase se deu pela sistematização dos resultados da primeira fase pela Comissão Nacional, preparando os eixos e estrutura para serem definidos na Plenária. A 3ª fase se deu pela Caravana que percorreu os cinco seminários regionais. Na Caravana Rumo à IV Plenária foram fundamentadas as questões prioritárias. A 4ª fase foi realizada pelas Plenárias Estaduais, no período de dezembro de 2007 a fevereiro de 2008, subsidiadas pelo Caderno de Aprofundamento aos Debates, que promoveram discussões estaduais que, por sua vez, produziram o documento-base para a IV Plenária.

Como fruto deste processo coletivo, tivemos a definição do FBES como instrumento de movimento da Economia Solidária, um espaço de articulação e diálogo entre diversos atores e movimentos sociais pela construção da Economia solidária como base funda-mental de outro desenvolvimento socioeconômico. Para isso definiu-se sua função para representação, articulação e incidência na elaboração e acompanhamento de políticas públicas de economia solidária e no entendimento com diversos atores e outros movi-mentos sociais, ampliando o diálogo e se inserindo nas lutas e reivindicações sociais. E também no apoio ao fortalecimento do movimento de economia solidária, a partir das

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bases, a partir dos fóruns locais.

Foram definidas as bandeiras e estratégias de ação para cada um dos eixos de Produção, Comercialização e Consumo Solidário; Formação; Sistema Nacional de Finanças Solidári-as e Marco Legal. Além do reconhecimento dos 3 segmentos, foram definidas as instân-cias constituintes: os fóruns locais com critérios obrigatórios para seu reconhecimento. Além disso, houve definição sobre Coordenação Nacional, Coordenação Executiva e Sec-retaria Executiva, e das Plenárias Nacionais como a instância máxima de deliberação do FBES, dando as diretrizes políticas para orientar a coordenação nacional e a coordenação executiva.

Também foram definidos, pela primeira vez, critérios para a participação das entidades nacionais na estrutura do FBES, comprovando a atuação em pelo menos sete fóruns estaduais. A maior crítica era de que parte expressiva das entidades nacionais, ligada historicamente ao GT Brasileiro de Economia Solidária, não possuía de fato uma atu-ação nas bases. O resultado do debate foi a redução drásticas do número de entidades nacionais na estrutura do FBES, de dezesseis para cinco, permanecendo as seguintes: União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Cáritas Brasileira, Instituto Marista de Solidariedade (IMS), Rede de ITCPs e Rede Unitrabalho. Cabe destacar que os gestores públicos passaram a integrar o FBES por representação regional e nacional, aumentando para 12 integrantes na Coordenação Nacional do FBES.A V Plenária da Economia Solidária, além de representar o resultado de uma trajetória de construção de Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), comemorando o an-iversário de 10 anos desde a realização da I Plenária, promoveu um encontro para todo o movimento de economia solidária. Diferente da última plenária que debateu e envolveu temas, sobretudo, de caráter interno do FBES, como organicidade e estrutura, a plenária teve a preocupação, desde sua preparação, em aproximar e aprofundar o diálogo e a articulação com outro movimentos sociais parceiros, para integrar lutas sociais conver-gentes à economia solidária.

O salto desta plenária foi a autogestão de sua organização, com a realização de mais de 200 plenárias preparatórias (locais, territoriais, estaduais, de balanço e temáticas), partic-ipação de mais de 10 mil trabalhadores/as coletivos em todo o processo e na afirmação da economia solidária como um movimento social. Foram dadas orientações, consolidan-do o projeto político da economia solidária nos temas de Sustentabilidade, Autogestão e autonomia, Economia Popular, Emancipação econômica e política dos Empreendimentos de Economia Solidária, Território e Territorialidade, Diversidades e Cidadania, organização da sociedade, relação entre o movimento de Economia Solidária e o Estado.

Para efetivar as orientações políticas foram propostas ações, considerando um balanço das mesmas sobre: Marco Legal, Educação e Cultura, Estratégias Econômicas (produção, comercialização, consumo e finanças solidárias), Integração territorial e luta pela con-tinuidade de políticas públicas e Comunicação e visibilidade.

Nas orientações de organicidade foram debatidos: Fortalecimento dos Fóruns Estaduais; Sustentabilidade e autonomia do movimento; Estrutura; Estratégias organizacionais; Forma de fazer política e economia: coerência entre a prática e a teoria, os princípios e valores da economia solidária; Articulação com os demais movimentos sociais, tanto nacionais quanto internacionais. A principal deliberação foi sobre as coordenações mac-rorregionais, mantendo-se a definição do FBES e aprimorando orientações para sua es-

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trutura e funcionamento.

Acesso do documento final da V Plenária em: http://e.eita.org.br/vplenaria

3.2. Breve linha do tempo

Segue abaixo os principais eventos e atividades nacionais de destaque que orientaram o rumo e as definições políticas do FBES.

2001/jan – No I Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre, foi iniciada a articu-lação nacional da economia solidária, com a presença dos diversos campos da econo-mia solidária: empreendimentos de econo-mia solidária urbanos e rurais, entidades/ongs, sindicatos, igrejas e universidades. Este momento demonstrou o grande in-teresse social pelo tema e o início das ar-ticulações nacionais, sendo então criado o Grupo de Trabalho (GT) Brasileiro de Econo-mia Solidária.

2002/jan - No II FSM a economia solidária passou a ser um dos eixos centrais do de-bate, consolidando a articulação via GT Bra-sileiro, no exercício de construir a unidade política na diversidade de práticas desta articulação nascente.

2002/dez - I Plenária, em São Paulo, teve mais de 200 participantes, definindo a plataforma da economia solidária nos eixos: finanças solidárias, marco legal, produção, comercialização e consumo, de-mocratização do conhecimento e da tec-nologia e organização social da economia solidária. Neste momento foi percebida a necessidade de avançar na articulação nacional dos trabalhadores/as da econo-mia solidária. Foi encaminhada a Carta ao governo Lula, como mobilização e pressão social para a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), para construção da política pública.

Tenda display na Cúpula dos Povos - 2012

Criação do GT Brasileiro de Ecosol - 2001

Criação do GT Brasileiro de Ecosol - 2001

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2003/jan - II Plenária ocorreu durante o III FSM em Porto Alegre, com 800 par-ticipantes, coordenada por Paul Singer. Definiu agenda de mobilização de debates e sensibilização pelas regiões, passando a dar destaque para a estrutura do movi-mento da economia solidária no país.

2003/jun - III Plenária teve mais de 900 participantes de 18 estados em Brasília, deliberou pela criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (no dia 29/06/2003), além de construir a Carta de Princípios e a Plataforma de Lutas da Economia Solidária. É dado início a definição sobre composição e funcionamento do FBES e o início do pro-cesso de interlocução do FBES com a SE-NAES.

2004/ago - I Encontro Nacional de Em-preendimentos Econômicos Solidários, mais de 2500 participantes em Brasília, com debates por ramo de atividade, levan-tando pautas, prioridades e diálogo com o governo.

2008/mar - IV Plenária contou com a par-ticipação de 320 participantes de todos os estados do país reunidos em Luziânia - GO. Os debates foram desencadeados por uma reflexão sobre o significado do FBES frente a criação do Conselho Nacional de Economia Solidária. Teve dois anos de pre-paração envolvendo diretamente mais de 4.000 pessoas, iniciando com a Caravana Rumo à IV Plenária Nacional - que consis-tiu em 5 seminários regionais de formação (120 representantes) e a realização de 25 plenárias estaduais e mais de 130 ativi-dades preparatórias desde 2006. As princi-pais deliberações foram: bandeiras e ações prioritárias (formação, marco legal, finan-ças solidárias e produção, comercialização e consumo solidários), natureza, estrutura e forma de funcionamento do FBES.

2003/jan - II Plenária ocorreu durante o III FSM em Porto Alegre, com 800 par-ticipantes, coordenada por Paul Singer. Definiu agenda de mobilização de debates e sensibilização pelas regiões, passando a dar destaque para a estrutura do movi-mento da economia solidária no país.

2003/jun - III Plenária teve mais de 900 participantes de 18 estados em Brasília, deliberou pela criação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (no dia 29/06/2003), além de construir a Carta de Princípios e a Plataforma de Lutas da Economia Solidária. É dado início a definição sobre composição e funcionamento do FBES e o início do pro-cesso de interlocução do FBES com a SE-NAES.

2004/ago - I Encontro Nacional de Em-preendimentos Econômicos Solidários, mais de 2500 participantes em Brasília, com debates por ramo de atividade, levan-tando pautas, prioridades e diálogo com o governo.

2008/mar - IV Plenária contou com a par-ticipação de 320 participantes de todos os estados do país reunidos em Luziânia - GO. Os debates foram desencadeados por uma reflexão sobre o significado do FBES frente a criação do Conselho Nacional de Economia Solidária. Teve dois anos de pre-paração envolvendo diretamente mais de 4.000 pessoas, iniciando com a Caravana Rumo à IV Plenária Nacional - que consis-tiu em 5 seminários regionais de formação (120 representantes) e a realização de 25 plenárias estaduais e mais de 130 ativi-dades preparatórias desde 2006. As princi-pais deliberações foram: bandeiras e ações prioritárias (formação, marco legal, finan-ças solidárias e produção, comercialização e consumo solidários), natureza, estrutura e forma de funcionamento do FBES.

Plenária de criação do FBES - 2003

III Fórum Social Mundial - 2003

I Encontro Nacional EES - 2004

IV Plenária - 2008

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2009/jan - Fórum Social Mundial, em Belém, organizando uma grande feira. 2010/jun - Durante a II Conferência Na-cional de Economia Solidária o FBES teve atuação marcante em todas as etapas da conferência e mobilizou uma Marcha na Esplanada dos Ministérios pela Lei da Política Nacional da Economia Solidária, realizando também um debate com parla-mentares para a aprovação do PL.

2010/dez – O FBES mobiliza a sociedade para a Campanha pela lei de Economia Solidária: iniciativa popular para um Brasil Justo e Sustentável, coletando assinatu-ras para pressionar pela aprovação da lei, abrindo diálogo educativo com a sociedade sobre a importância da economia solidária. Esta iniciativa busca o reconhecimento do direito ao trabalho associado. Também foi aberto diálogo com campanhas conver-gentes, como Contra Agrotóxicos e pela vida; Reforma Política e Defesa das Flo-restas. A campanha segue em curso para a aprovação e implementação da lei, com a vitória de ter sido apresentado o projeto de lei 4685 pelo legislativo federal.

2011/mai – Mobilizações pelo país frente ao PL 865, que propunha unificar a estrutu-ra da política pública da economia solidária com a da micro e pequena empresa. Re-alizamos 23 audiências públicas pelo país trazendo nossa identidade, projeto político e a diferença com a microempresa. O gov-erno retirou a proposta, sendo uma vitória para o movimento de economia solidária. Outro resultado das mobilizações foi a con-quista de eixo temático no Plano Plurianual 2012 – 2015.

2011/set – Nos eixos de denúncia, re-sistência e construção de alternativas foi realizado o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências, no objetivo de convergên-cia de pautas e lutas entre os movimento sociais da Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Econo-mia Solidária e Feminismo. Saiba mais em: http://dialogoseconvergencias.org/ e an-

Marcha Fórum Social Mundial - 2009

Marcha Fórum Social Mundial - 2010

Audiência Nacional - 2011

Encontro Nacional Diálogos e Convergências - 2011

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exo a Carta Política do evento.

2012/jun – Construímos junto com outros movimentos sociais a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental: contra a mercantilização da natureza e em defesa dos bens comuns, realizada no Rio de Ja-neiro no contexto da Rio + 20 pautando uma outra economia e novos paradigmas de sociedade.

2012/dez – A V Plenária foi realizada no tema Economia Solidária: bem viver, co-operação e autogestão para um desen-volvimento justo e sustentável, contou com o envolvimento de mais de 10 mil tra-balhadores/as da economia solidária do país, nas 200 plenárias locais, estaduais, temáticas e de balanço realizadas durante o ano. Teve a participação de cerca de 600 pessoas na etapa nacional, avançando na construção do projeto político, nas articu-lações com outros movimentos sociais e na organicidade da economia solidária no país. Veja os resultados em: http://ciran-das.net/v-plenaria-nacional-de-econo-mia-solidaria

Destaca-se também que nas outras versões do Fórum Social Mundial, em 2004 na Índia, em 2005 em Porto Alegre, 2006 em Caracas/Venezuela, 2007 em Nairóbi/Quênia e 2013 na Tunísia, aonde o FBES esteve presente com a participação de militantes que contribuíram com a pauta da economia solidária. E ainda, as versões das Feiras do Mercosul, que chega em sua 19ª edição em julho de 2012 e em todos os meses de julho de cada ano, é o espaço de convergência dos trabalhadores e trabal-hadoras da economia solidária.

Marcha Cúpula dos Povos - 2012

V Plenária - 2012

V Encontro Latinoamericano e Caribenho de Ecosol - 2012

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4. Como o FBES se organiza?Os fóruns são espaços de articulação para o fortalecimento da economia solidária de determinada localidade, e não se constituem formalmente com personalidade jurídica ou como uma instância do governo, confusão que as vezes ocorre visto que os gestores públicos também podem atuar nestes espaços, desde que via Rede de Gestores Públi-cos. É fundamental a nossa comunicação, tanto nas esferas locais, do fórum local com o fórum estadual, e do estadual com o nacional, visto que nossa organização é em rede para fortalecer o movimento de economia solidária no país.

4.1. Quem participa?

Podem participar do FBES todo militante que acredita e atua na economia solidária e para organizar esta participação temos os chamados “segmentos” com atuações com-plementares e fundamentais na economia solidária, são eles:

Empreendimento de Economia Solidária (EES)Entidades de assessoria e apoio (EAF)Gestores Públicos (GP)

A definição de cada um destes segmentos se encontra no documento final da IV e V Plenária, e ressaltamos que os participantes do movimento de economia solidária que não se encaixam em nenhum dos segmentos e são militantes podem participar dos Fóruns locais, se forem indicados por integrantes do mesmo.

Já os movimentos sociais podem participar dos fóruns como segmento de empreendi-mentos solidários, mas não como um segmento específico de movimentos sociais, pois entende-se que os demais movimentos sociais que são parceiros em suas lutas especí-ficas e/ou que possam ter uma ação produtiva na economia solidária para integrar um fórum local.

4.2. Estrutura: nosso jeito de funcionar

O documento final da V Plenária traz o acúmulo de toda a organização do Fórum Bra-sileiro de Economia Solidária, e para que não seja repetido todo este conteúdo segue os pontos principais de nossa organização e estrutura atual.

O FBES conta com mais de 160 fóruns locais, microrregionais e estaduais de economia solidária cuja listagem está disponível no site do FBES, lembrando que a articulação em cada estado é um processo dinâmico, pois há fóruns que ficam ativos ou inativos por circunstâncias locais.

A IV e V Plenária detalharam os critérios obrigatórios para reconhecer um fórum local, microrregional e estadual, além de critérios de avaliação.

No site do FBES há alguns documentos dos fóruns estaduais, como regimentos inter-nos, atas e relatórios que podem auxiliar na organização e troca de experiência entre os fóruns locais. Para acessar: http://www.fbes.org.br > Biblioteca do FBES > Atividades do FBES > Fóruns Estaduais de Economia Solidária.

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Espaços constituintes

4.2.1. Fóruns LocaisArticulação local do movimento de economia solidária, geralmente delimitado por um município ou menor, um espaço deliberativo, cuja dinâmica e organização depende de seus integrantes. Atua articulado junto aos demais fóruns locais, estadual e nacional.

4.2.2. Fóruns MicrorregionaisArticulação microrregional do movimento de economia solidária, geralmente delimitado por um território ou conjunto de municípios de um estado, um espaço deliberativo, cuja dinâmica e organização depende de seus integrantes. Atua articulado junto aos demais fóruns locais, estadual e nacional.

4.2.3. Fóruns EstaduaisArticulação estadual do movimento de economia solidária, que agrega representantes de todos os fóruns existentes no estado, um espaço deliberativo, cuja dinâmica e or-ganização depende de seus integrantes. Atua articulado junto aos demais fóruns locais, estadual e nacional.

4.2.4. Grupos de Trabalho (Gts)Os grupos de trabalho (GT) se conformam segundo a demanda de ações específicas do FBES, para o aprofundamento de temas estratégicos e subsídio aos fóruns locais e es-taduais de economia solidária. A orientação é que os GTs utilizem os meios eletrônicos para seus debates irem além dos encontros presenciais e para melhor comunicação com a Coordenação Nacional e Executiva do FBES. E sua criação ou extinção requer a aprovação de no mínimo 50% mais um da Coordenação Nacional, podendo haver grupos fixos ou temporários.

Os GT’s definidos na X Reunião da Coordenação Nacional (2011) foram:

Educação e Cultura; Finanças Solidárias; Marco Legal; Estratégias Econômicas; Articulação com Movimentos Sociais, Comunicação e Relações Internacionais;Mulheres; Raça, Etnia, Povos e Comunidades Tradicionais.

4.2.5. Entidades NacionaisEntidades e redes nacionais são aquelas que tem ação territorial, com presença nos es-tados, regiões e municípios, com capilaridade nos territórios. Serão reconhecidas como entidades nacionais do FBES as que tiverem participação efetiva em pelo menos 7 Fóruns Estaduais comprovada pelos mesmos. E caso seja avaliado que a entidade não tenha ação efetiva num fórum local, o fórum local poderá vetar a participação no fórum nacional.

A partir de 2011 as entidades nacionais são: Cáritas Brasileira, Instituto Marista de Soli-dariedade, Fundação Unitrabalho, Unicafes e Rede de ITCPs.

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4.2.6. Rede de Gestores Públicos

A Rede Nacional de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária é uma articu-lação de gestores e gestoras de políticas de economia solidária de Prefeituras, Governos Estaduais e do Governo Federal que surgiu por iniciativa de gestores e gestoras de políti-cas públicas que participaram do processo de criação do FBES desde 2001, com a missão de ampliar cada vez mais o debate e a proposição de ferramentas adequadas dentro do Estado brasileiro para o fomento ao desenvolvimento da economia solidária, bem como estimular e fortalecer a organização e participação social deste segmento nas decisões sobre as políticas públicas.

Para integrar a rede e saber de sua dinâmica enviar e-mail para: [email protected]

4.2.7. Secretaria Executiva NacionalTem por objetivo contribuir para o fortalecimento do FBES através da execução de ações determinadas a partir de orientações políticas das Plenárias Nacionais e da Coordenação Nacional, e de acordo com orientações, supervisão e acompanhamento da Coordenação Executiva.

ComposiçãoPessoas contratadas por projeto ou via parceria com organizações integrantes do FBES.

AtribuiçõesAcompanhamentoOrganizar, acompanhar, secretariar e disponibilizar relatórios dos encontros periódicos das instâncias do FBES (Coordenação Nacional, Coordenação Executiva e GTs)Organizar, acompanhar, garantir a relatoria (própria ou de outros) e disponibilizar relatóri-os de eventos organizados pelo FBES, tais como encontros regionais, oficinas, plenárias, feiras, festivais, entre outrosSubsidiar a participação do FBES em eventos e garantir a socialização das informações e encaminhamentos retirados

Comunicação / AnimaçãoCriar, manter e animar ferramentas de comunicação interna (para dentro do FBES e suas instâncias) e externa (público, entidades e poder público), tais como: atendimento ao público via telefone, e-mail e Fax; manutenção e animação do site fbes.org.br; manuten-ção e animação das listas virtuais de discussão; elaboração de boletins quinzenais; entre outras;Divulgar publicamente anos relatórios anuais a execução financeira e as atividades do FBES em níveis nacional e macrorregional.

Gestão / SustentaçãoAdministrar projetos de sustentação da estrutura do FBES em níveis nacional e macror-regional, com acompanhamento da Coordenação Executiva;Elaborar projetos e captar recursos para o FBES, a partir das deliberações de suas instân-cias.Arquivar, sistematizar e disponibilizar o acervo documental do FBES.

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ArticulaçãoContribuir com a integração do FBES com outros fóruns, redes internacionais, instâncias do governo federal e outros movimentos sociais;Desencadear processos de formação junto às secretarias estaduais existentes e estimu-lar a criação de novas;O tamanho da Secretaria Executiva não deve aumentar (salvo decisão da coordenação executiva mediante alteração na demanda de trabalho) e sua atuação deve concentrar-se na execução e não no desempenho de funções políticas.

Espaços de decisão nacionais

4.2.8. Plenária NacionalAs Plenárias Nacionais são a instância máxima de deliberação do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), espaço que define as diretrizes políticas mais amplas e que orientam a Coordenação Nacional e Coordenação Executiva do FBES. A partir da IV Plenária, definiu-se que as Plenárias devem ser realizadas a cada três (3) anos e não de-vem ocorrer em anos eleitorais.

4.2.9. Coordenação MacrorregionalAs regiões devem se organizar para criar coordenações macrorregionais (sul, sudeste, centro-oeste, nordeste e norte), a partir da V Plenária houve o aprofundamento sobre os critérios de organização e devem manter a proporcionalidade entre os segmentos: 50% de EES, 25% de EAF e 25% de GP.

4.2.10. Coordenação Nacional

Composição: Serão eleitos 3 representantes por Fórum Estadual, sendo 2 de empreendimentos solidários (sendo um empreendimento urbano e um empreendimento rural) e uma de entidade de assessoria. A(s) rede(s) de gestores indicará(ão) dois gestores por região e mais 2 em nível nacional, totalizando 12 gestores/as públicos/as.A representação das entidades nacionais na Coordenação Nacional, com limite de até 12 representantes, deverá seguir os critérios definidos sobre a participação de entidades e redes nacionais no FBES. Atualmente as cinco entidades citadas acima.Obs.: As entidades de representação nacional não poderão eleger representes adicionais nos Fóruns Estaduais. (Por exemplo, uma entidade de apoio e fomento que esteja con-templada como de representação nacional não pode eleger novos representantes em plenárias estaduais.)

Atribuições:Deliberar em última instância sobre decisões políticas, operacionais e administrativas do FBES;Implementar políticas e estratégias de fortalecimento de acordo com as deliberações da plenária;Contribuir para a formulação de políticas e estratégias de fortalecimento do movimento de Economia Solidária;Fazer a mediação política, diálogo e incidência no Conselho Nacional de Economia Solidária e em órgãos do governo federal;Deliberar sobre o ingresso e permanência dos membros da Coordenação Nacional (tanto

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representantes de Fóruns Estaduais quanto de entidades e redes nacionais de asses-soria), segundo critérios estabelecidos pela IV Plenária Nacional;Orientar, direcionar e, se preciso, redirecionar as ações da Coordenação Executiva e a Sec-retaria Executiva, para o período entre suas reuniões ordinárias;Criar ou extinguir Grupos de Trabalho com composição, objetivos e prazos adequados às tarefas demandadas.

4.2.11. Coordenação ExecutivaA Coordenação executiva tem como principal objetivo fazer a gestão política cotidiana, a interlocução com outros movimentos e com o governo federal, e o acompanhamento da Secretaria Executiva Nacional.

ComposiçãoA Coordenação Executiva Nacional deve ter em sua composição 13 integrantes, sendo 7 representantes de empreendimentos (2 do nordeste, 2 do norte, 1 do sul, 1 do sudeste e 1 do Centro Oeste) 5 representantes das entidades e redes nacionais e 1 representante da rede de gestores.

AtribuiçõesFazer a mediação política, de acordo com orientações da Coordenação Nacional, com a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES-MTE) e com outras instâncias do governo federal, com seus Planos de Ação e com as providências deles decorrentes;Tomar decisões políticas, operacionais e administrativas para a realização das ações de-liberadas pela Coordenação Nacional e Plenária Nacional;Acompanhar a gestão financeira e administrativa da Secretaria Executiva;Indicar representantes do FBES na participação em eventos;Propor a agenda e metodologia das reuniões da Coordenação Nacional;Definir critérios para a escolha dos membros da Secretaria Executiva.Apoiar e acompanhar os encontros macrorregionais Captar recursos para viabilizar as executivas estaduais Estimular a contribuição das entidades nacionais para o deslocamento dos empreendi-mentos para as atividades do FBES. Estimular o apoio de projetos em execução e programas governamentais, mediante a disponibilização de recursos, para apoio às atividades propostas pelos fóruns (nacional, estaduais e locais).

Por fim, é importante socializar alguns dos principais espaços nacionais em que o FBES participa com representantes:

Espaços da sociedade civil

Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e NutricionalEspacio por um Mercosul SolidárioRede Intercontinental de Promoção da Economia Social e SolidáriaPlataforma pelo Marco Regulatório Estado/ Sociedade Civil

Espaços de diálogo com o governo

Conselho Nacional de Economia Solidária Comitê Nacional de Educação de Jovens e Adultos

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Conselho Nacional de Assistência SocialConselho Nacional de Segurança Alimentar e NutricionalFórum Interconselhos - PPA Governo FederalMercosul Social e SolidárioConselhos/ Comitês Gestores de projetos governamentais de economia solidária

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5. Como participar?O envolvimento com a economia solidária pode ocorrer em inúmeras formas nas ativi-dades de produção e reprodução da vida para construção desta outra sociedade.

Participe e fortaleça os fóruns locais e estaduais de economia solidária, veja mapa e con-tatos em: www.fbes.org.br/foruns

Consumo justo e solidário: faça do seu consumo um ato político! consuma de grupos da economia solidária, agroecológicos e da agricultura familiar!

Fundo Solidário: Contribua para a sustentabilidade e autonomia financeira da organi-zação nacional da economia solidária, com doações para o fundo solidário do FBES: Caixa Econômica Federal - Agência 1041 op 003 C/c 1940-3. A conta é do FBES, mas como não temos CNPJ, por uma questão política, esta conta está em nome da Cáritas Brasileira.

Apoie a Campanha pela Lei da Economia Solidária: iniciativa popular para um Brasil justo e sustentável e pressione a Câmara de Deputados pela aprovação do PL 4685: www.cirandas.net/leidaecosol

Integre um empreendimento de economia solidária, trabalhe coletivamente na con-strução desta outra sociedade!

Fortaleça a Rede social e econômica da Economia Solidária, o Cirandas: www.cirandas.net

Fortaleça a organização e articulação dos/as formadores/as de economia solidária: http://www.fbes.org.br/mapaeducacao/

5.1. Envolva-se para o Bem-Viver

Os 10 anos do FBES são comemorados com a campanha Envolva-se para o Bem-Viver. No site da campanha constam todas as chamadas e iniciativas deste importante marco para a economia solidária, mobilizando e visibilizando nossa história e organização, den-tre eles destacamos as novidades:

Mural de fotos destes 10 anosMateriais disponíveis: logo, folder, cartilha e cartazesChamada para produção de desenhos e imagens para a campanhaConstrução de um biblioteca digital colaborativaChamada para empreendimentos de economia solidária produziram materiais promo-cionais da campanhaLoja virtual do FBES, com a comercialização de produtos via Cirandas como camise-tas, bonés, canecas, entre outros itens produzidos por empreendimentos de economia solidária de todo o país: www.cirandas.net/envolvase Convocatórias para contribuição pela sustentabilidade do FBES

Acesse o site: www.cirandas.net/envolvase

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6. Algumas ferramentas e apoiosNesta seção apresentamos algumas estruturas que fazem parte desta construção de 10 anos do FBES, esperamos que possam ajudar para o fortalecimento da organização do movimento de economia solidária em cada território. Destacamos que muitos dos itens abaixo são exemplos de textos e orientações e cada fórum local poderá adaptar esse conteúdo para sua realidade.

No site do FBES há alguns documentos dos fóruns estaduais que podem também servir de referência, acesse em: www.fbes.org.br > Biblioteca do FBES > Atividades do FBES > Fóruns Estaduais de Economia Solidária.

Além da nossa biblioteca que tem um amplo acerco, e cuja alimentação depende de to-dos e todas que praticam e sistematizam experiências da economia solidária e do campo social.

6.1. Secretaria Executiva

Na dinâmica de estruturação e organização dos fóruns é fundamental criar e fortalecer as Secretarias Executivas de cada fórum local, para buscar garantir uma estrutura míni-ma de funcionamento e articulação de cada fórum. Alguns instrumentos são necessários para isso:

Estrutura e espaço físico como local para documentação, registro do movimento, acesso a computador, impressora, internet e telefone para funcionamento da secretaria executi-va, é importante contar com parcerias para a obtenção de um espaço físico que funcione como referência do fórum (como universidades e escolas Federais, Estaduais, Privadas e Escolas Técnicas, estruturas públicas desocupadas, casas de cultura, sedes de escritórios regionais, ITCPs e outras entidades de apoio), e também para melhorar a comunicação, reconhecimento e visibilidade do movimento de Economia Solidária

A Secretaria Executiva pode fazer as seguintes atividades, a serem referendadas e plane-jadas por cada fórum local:

Convocar, mobilizar e organizar as reuniões ordinárias e extraordináriasSistematizar as reuniões, com apoio dos demais integrantes e educadores/asOrganizar o acervo do fórumOrganizar o cadastro de integrantesAgendar reuniões de articulaçãoApoio para comunicação e divulgação das ações do fórumA nível nacional do FBES tem uma secretaria executiva localizada em Brasília-DF, um pequeno escritório para dar suporte ao FBES para comunicação, sistematização, acom-panhamento e articulação de pautas nacionais. Com a existência das secretarias execu-tivas locais e estaduais, isso fortalece nossa organização e apoio para consolidar as lutas e conquistas do movimento de economia solidária.

6.2. Fundo SolidárioEnquanto estratégias para auto-organização e sustentabilidade, a V Plenária destacou que os fóruns precisam aprofundar, discutir e estruturar um plano de sustentabilidade na perspectiva de garantir autonomia política e financeira, por exemplo, organizando um

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debate ou seminário do tema.

Atividades como feiras e espaços de comercialização também podem ajudar a levantar recursos para apoio estrutural aos fóruns, além da elaboração de projetos com apoio das entidades para elaborar, capacitar e gerir os projetos, experiência já realizada em alguns estados.

A V Plenária foi unânime em orientar que todos os fóruns locais busquem constituir um fundo solidário, uma poupança gerida coletivamente pelo fórum. O fundo pode ser constituído por meio de doações voluntárias, com contribuição acessível para todos os participantes, por exemplo R$ 20,00 mensais, como ocorre com o Fundo Solidário Na-cional do FBES, ou mesmo com contribuição de materiais necessários às atividades de cada fórum. É importante que haja uma prestação de contas transparente e periódica e que estas iniciativas sejam divulgadas para ampliar as contribuições, e seja estabelecido o comprometimento de cada integrante do fórum, seja empreendimentos, entidades de apoio ou gestores públicos, nesta gestão e contribuição.

Dentro da experiência de organização dos fundos rotativos solidários no Brasil muito já está sendo pesquisado e sistematizado das inúmeras experiências, principalmente no semiárido. Para constituir um fundo solidário, os principais passos são os seguintes:

Ata e lista de assinatura da criaçãoConstituir regimento internoConstruir sistema de gestão e contribuiçãoEleger uma comissão de gestãoDivulgar a criação do FundoTermo de adesão dos membros ou aproveitar a carta de adesão do fórum para issoPrestação de contas periódicaPlanejamento de ações e atividades para fortalecer o fundo

Outra orientação é que os fundos solidários dos fóruns locais e estaduais possam fazer uma redistribuição do fundo para todas as instâncias de organização do FBES (nacional, estadual, local, redes, coletivo de formação e etc.)

Aproveitamos para informar a conta bancária do Fundo Solidário Nacional do FBES, criado em dezembro de 2011 para avançar em nossa sustentabilidade organizativa. Contribua!Conta bancária:

Caixa Econômica Federal - Agência 1041 op 003 C/c 1940-3

* A conta é do FBES, mas como não temos CNPJ, por uma questão política, esta conta está em nome da Cáritas Brasileira.

6.3. Leilão Solidário

A iniciativa do leilão solidário vem crescendo como uma iniciativa das finanças solidárias para a sustentabilidade organizativa do movimento de economia solidária desde o nível local até o nacional. Esta é também uma forma de exercitar as finanças solidárias e a sugestão é que esta metodologia seja utilizada nas atividades de formação e nos encon-tros dos fóruns locais, fortalecendo a organização do movimento de economia solidária

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no país.

Os principais passos metodológicos de um leilão solidário são:

Montar uma comissão organizadora para animar e mobilizar o leilão

Agendar e divulgar o leilão em um momento coletivo

Convocar empreendimentos de economia solidária e demais participantes a doarem produtos ao leilão, explicando a proposta

Com base nas doações montar uma tabela contendo: produto, nome do doador, lance inicial e lance final

A comissão anima o leilão, pedindo que os empreendimentos de economia solidária pos-sam explicar como o produto foi feito, suas características e história. Na sequência se convoca os participantes para os lances, e o maior lance leva o produto/serviço

Após todos os produtos serem leiloados, é divulgado o saldo final do leilão.

Se em todas as atividades do movimento de economia solidária forem realizados leilões solidários, como uma ação de rotina e também de descontração, isso poderá fortalecer nossa organização, autogestão e autonomia, desde o nível local ao nacional.

6.4. Meios de comunicação

Muitas vezes nos queixamos da falta de visibilidade das nossas ações e pautas, e por outro lado, pouco investimos em comunicação e visibilidade. A V Plenária aprofundou esta pauta e indicou elementos concretos de ação para isso, cuja leitura é essencial. De forma mais resumida o item 2.3 desta cartilha aponta alguns elementos que orientam esta pauta.

Precisamos nos aliar com os movimentos que trabalham a perspectiva da comunicação, trazendo ferramentas da comunicação popular (rádios e TVs comunitárias, jornais comu-nitários, entre outros) para que possamos nos enraizar em cada território e democratizar as informações para dentro e para fora do movimento.

E mais do que nunca, potencializar os instrumentos existentes da comunicação na eco-nomia solidária. O que o FBES dispõe hoje é:

Boletim eletrônico veiculado com periodicidade com notícias atuais sobre a Economia Solidária no Brasil e no mundo, e temas correlatos, com agenda de eventos, oportuni-dades, artigos e outras informações.

www.fbes.org.br e clicar no menu direito “Boletins do FBES”Site com notícias da economia solidária a nível nacional e internacional, biblioteca, notí-cias gerais relacionadas aos demais movimentos sociais, campanhas, página de cada fórum estadual, contatos de coordenações, agenda, links e muito maishttp://www.fbes.org.br

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Cirandas, informações abaixo

Mamulengo é o boletim autogestionário da economia solidária, aonde qualquer pessoa pode fazer um boletim personalizado com informações disponíveis nos boletins do site do FBES

http://www.fbes.org.br/mamulengo

Facebook embora esta comunicação não seja em software livre e de domínio público, o facebook é uma ferramenta muito utilizada para mobilizações e divulgação ampla de informações, mas queremos que cada vez mais pessoas do movimento de economia solidária passe a utilizar nosso Cirandas do que o Facebook.

http://www.facebook.com/fbes.org.br

Twitter para troca e mobilizações rápidas, não é uma ferramenta em software livrehttps://twitter.com/forumecosol

A organização destas informações ocorre pela Secretaria Executiva Nacional do FBES e os fóruns locais, microrregionais e estaduais são fundamentais para alimentar e di-namizar as informações. Isso tanto pode ocorrer pelo envio de notícias e pautas para o e-mail do FBES ([email protected]), quanto pela indicação de um ou mais representantes do estado para alimentar a página de cada fórum estadual. Para acessar a página de cada fórum estadual basta acessar: www.fbes.org.br/ e após a barra colocar o estado de interesse, por exemplo do Rio Grande do Norte: www.fbes.org.br/rn ou de Santa Catarina: www.fbes.org.br/sc

6.5. Cirandas

O Cirandas é uma iniciativa do FBES que tem como objetivo oferecer ferramentas na in-ternet para promover a articulação econômica, social e política de quem gosta da Econo-mia Solidária ou vive dela. Seus principais objetivos são: potencializar o fluxo de saberes, produtos e serviços da Economia Solidária; oferecer ferramentas para a constituição de consolidação de redes e cadeias solidárias; ser um espaço de divulgação da economia solidária e de busca de seus produtos e serviços para consumidores individuais e cole-tivos (públicos, privados e grupos de consumidores) e permitir a interação entre vários atores em comunidades virtuais e espaços territoriais, temáticos e econômicos.

O FBES investe nesta ferramenta para o movimento de economia solidária, promoven-do de fato esta outra economia com instrumentos e uma comunicação coerente com a proposta.

Entre nesta rede!

www.cirandas.net

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6.6. Modelo de regimento interno dos fóruns

CAPÍTULO I

Da Natureza

Art. 1º. O Fórum de Economia Popular Solidária fundado em XX, é um espaço perma-nente de diversas instituições, de representação, interlocução, articulação, discussão, proposição, troca de saberes e fomento ao apoio técnico para o desenvolvimento da Economia Solidária no estado frente a sociedade e aos poderes públicos, fortalecendo o movimento de economia solidária. Congrega empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento e gestores públicos, que atuam em consonância com os princípios e os objetivos do Fórum Brasileiro de Economia Solidária.

Art. 2º. O Fórum terá duração indeterminada.

Dos Objetivos

Art. 3º. Objetivo Geral:

Fortalecer os empreendimentos solidários, difundir o conceito e a prática da Economia Solidária e representar o movimento frente o Poder público em articulação com outros movimentos sociais com vistas a construção de um projeto popular para o Brasil.

Art. 4º. Objetivos Específicos:

promover estratégias de desenvolvimento através de planos, projetos e ações voltados para a criação e fortalecimento de Empreendimentos de Economia Solidária / EES;

promover a formação pessoal, social, econômica, técnica e política de trabalhadores e trabalhadoras dos EES;

promover ações que contribuam para a formação de uma consciência social sobre a eco-nomia solidária;

estimular a criação de Fóruns Regionais de Economia Solidária;

Articular com agentes públicos e financeiros o acesso facilitado ao crédito e apoio as fi-nanças solidárias.estimular a construção de conhecimento sobre o tema Economia Solidária;

apoiar a formação de cooperativas, associações e empresas de autogestão, com vistas à geração de trabalho e renda;

Incentivar a participação da sociedade nas ações do FEES contribuir para a transfor-mação social e desenvolvimento da cidadania ativa das categorias;

estimular a capacitação de gestores públicos federais, estaduais e municipais envolvidos com a questão da economia solidária;

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identificar fontes de financiamento e divulgá-las;

colaborar com o Estado na condução da Política Estadual de Fomento à Economia Solidária, através da atuação no Conselho Estadual de Economia Solidária;

educar para solidariedade, sem competição e individualismo e para o consumo ético e comércio justo e solidário;

incentivar legislação municipal de economia solidária;

contribuir para a criação de políticas públicas tributárias diferenciadas e buscar trata-mento especial para registro de licenças, taxas, alvarás, para o setor de economia solidária;

estimular a criação de espaços públicos para comercialização dos produtos e serviços da economia solidária;

fomentar e promover a realização de feiras municipais, regionais e estaduais de econo-mia solidária;

fomentar redes regionais de produção, distribuição, comercialização, consumo e compra coletiva por segmento;

incentivar a criação dos Fundos Estadual e Municipais de Economia Solidária;

promover o fortalecimento político da Economia Solidária.

Promover estratégias de desenvolvimento local e sustentável através de planos, proje-tos e ações voltados para a criação e fortalecimento de Empreendimentos de Economia Popular Solidária;Celebrar através de entidades de economia solidária instrumentos de parcerias de coop-eração técnica e financeira com poder público e privado, nacional e internacional respeit-ando os princípios da economia solidária.Integração campo e cidade

Promover a integração da pauta da economia solidária com demais movimentos sociais convergentes CAPÍTULO III

Das Estratégias

Art. 5º. O FEES tem como estratégias:

a) congregar as entidades envolvidas com a Economia Solidária em reunião plenária, para partilha de experiências e identificação de necessidades e exigências comuns de forma a contemplar segmentos étnicos, gênero, comunidades tradicionais dentre outros;

b) definir prioridades de ação a partir das necessidades levantadas;

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c) criar grupos de trabalho relativos às prioridades definidas;

d) articular parcerias para atender aos objetivos dos grupos de trabalho.

e) definir uma política de sustentabilidade para desenvolvimento das atividades do FEES.

CAPÍTULO IV

Dos Participantes

Art. 6º. Poderão participar do FEES:

I – 03 representantes indicados de fórum municipal ou regional ( 2 representantes de empreendimento e 01 entidades de fomento e assessoria) com direito a voto. ( caso o município não tenha EAF a vaga será preenchida por um empreendimento até o surgi-mento de uma);

II– 01 representante indicados de rede regional com direito a voto;

III – Empreendimentos e entidades vindos dos municípios, ainda não articulados em fóruns, poderão ser cadastrados no FEES, porém nas plenárias os EES e EAF se articu-larão por município para o processo de votação. E este conjunto terá direito a um voto;

IV – 03 representantes da Rede de Gestores de representação municipal com direito a voz e voto;

§ 1º: os fóruns e redes deverão apresentar à comissão executiva termo de adesão, indicando seus/suas representantes titular e suplente para os processos de votação.

§ 2º - o fórum e rede poderá, a qualquer tempo, se desligar do FEES, mediante comunicação, por escrito, à Comissão executiva.

§ 3º - a Coordenação estadual será formada pelos representantes descritos nos incisos I, II e IV.

Art. 7º. Poderão participar do FEES pessoas físicas, tendo direito a voz.

CAPÍTULO V

Das Plenárias

Art. 8º – A Plenária é o órgão máximo de deliberação do FEES.

Art. 9º – São atribuições da plenária, entre outras:

§1 - Aprovar o plano de despesa e a prestação de conta do FEES;

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§2 – eleger a comissão executiva do FEES.

3 – Aprovar ou rejeitar os termos de adesão ao FEES;

4 – Estabelecer propostas e plano de ação para economia solidária no estado;

5 – Aprovar alterações no Regimento Interno;

Art. 11 - Cada organização/entidade indicará um/a titular e um/a suplente para partici-par nas votações nas Plenárias do FEES.

Art. 12 - O não-comparecimento do/a titular ou suplente, por três vezes consecutivas às Plenárias, sem qualquer justificativa, implicará em comunicação à rede e fórum par-ticipante para que seja providenciada a substituição dos/das representantes indicados .

Parágrafo único - A não-indicação do/a representante ou o seu não-comparecimento às duas reuniões seguintes, implicará no desligamento automático da organização/enti-dade, que somente poderá pleitear seu retorno ao FEES, mediante novo termo de adesão.

Art. 13 - A convocação das plenárias será feita pela comissão executiva por edital, en-viado a todos os participantes com um prazo mínimo de 3 semanas.

§ 1º: constará da convocação a pauta, o local e horário de realização.

§ 2º: assuntos não incluídos no edital serão discutidos mediante apresentação e aprovação por maioria absoluta da plenária. (incluir este item conforme regimento inte-rior)

Art. 14 - As reuniões plenárias extraordinárias poderão ser convocadas com prazo míni-mo de uma semana somente para tratar de assuntos urgentes ou relevantes.

Art. 15 - As reuniões serão públicas, abertas à participação de pessoas físicas, entidades públicas e privadas não integrantes do Fórum, que terão inclusive oportunidade de mani-festação, sem direito a voto, mediante solicitação prévia à Comissão Executiva, por es-crito, registradas através de atas.

CAPÍTULO VI

Das Normas de Funcionamento

Art. 16 - O FEES se reunirá a cada 2 (dois) meses, em caráter ordinário e extraordinari-amente, quando convocado pela Comissão Executiva.

Art. 17 - O local de funcionamento será de acordo com as parcerias estabelecidas.

Art. 18 - O FEES constituirá grupos de trabalho temáticos de acordo com as demandas

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identificadas pela Plenária.

§ 1º - Os Grupos de Trabalhos serão coordenados por membros da Coordenação do FEES.

§ 2º - A síntese dos encaminhamentos das reuniões dos Grupos de Trabalhos serão reg-istradas em atas e encaminhadas para a Coordenação.

Art. 19 - As decisões do Fórum serão deliberadas em Plenária, por maioria simples dos/as representantes presentes.

CAPÍTULO VII

Da Comissão Executiva

Art. 20 – A Comissão Executiva do FEES ficará a cargo de 07 (sete) entidades eleitas pela Plenária, por um período de 02 (dois) anos, sendo 04 (quatro) EES e 03 (três) entidades de assessoria e fomento. Levando em consideração as regiões do estado do Espírito Santo.

Parágrafo Único - Participarão das reuniões da comissão Executiva os representantes do FEES no FBES.

Art. 21 – A Comissão Executiva do FEES se reunirá no mínimo uma vez por mês.

CAPÍTULO VIII

Das Atribuições

Art. 22 - Compete à Comissão Executiva:

a) cumprir e fazer cumprir o presente Regimento;

b) manter a articulação das entidades em torno das ações internas ou externas que tenham as mesmas finalidades;

c) organizar e coordenar a execução das ações assumidas pelo FE∕ES; d) elaborar a pauta das reuniões;

e) deliberar sobre os casos omissos neste Regimento por votação da plenária;

f) secretariar as reuniões;

g) elaborar as atas e providenciar sua distribuição aos/às integrantes do Fórum;

h) manter arquivadas atas, relatórios e correspondências.

i) manter arquivo de legislação, documentos normativos e subsídios sobre questões/foco do FEES;

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j) fazer as comunicações das reuniões e eventos aos/às integrantes do FEES;

k) buscar, receber e divulgar informações de órgãos e entidades engajadas no fo-mento da economia solidária;

l) manter, em arquivo próprio, recortes de jornais e outros periódicos sobre as questões/foco para servirem de memória e subsídio para o FE∕ES;

m) autorizar o custeio das atividades do FEES, assim como receber doações de serviços, de entidades participantes ou colaboradoras e prestar contas destas atividades nas Plenárias;

n) coordenar os grupos de trabalho.

CAPÍTULO IX

Das eleições

Art. 23 - A eleição da Comissão Executiva do FEES se realizará na primeira plenária do ano.

Art. 24 - O processo eleitoral para a Comissão Executiva do FEES competirá à Comissão Eleitoral, atendidos os seguintes procedimentos: I - a convocação dos membros do FEES, será realizada por edital, no mínimo 30 (trinta) dias antes do término do mandato dos membros da comissão executiva;

II - A eleição será feita mediante voto secreto ou por aclamação, sendo este último para o caso de indicação por todos os membros do FEES.

III – Os/as candidatos/as serão indicados/as pela Plenária do FEES no dia da eleição.

Art. 25 – Poderão participar dos processos eleitorais para eleição da comissão executiva do FEES e de representantes em Conselhos Institucionais e no FBES, representantes de empreendimentos e entidades que participaram das 3 (três) últimas plenárias do FEES.

Art. 26 - O edital de convocação da eleição deverá ser encaminhado a todas as organi-zações/entidades participantes do FEES, devendo constar desse edital o dia, hora e local da eleição.

Art. 27 - O mandato dos membros componentes da Coordenação será de 02 (dois) anos, permitida a recondução.

Art. 28 - Em caso de vacância do/a representante ou do desligamento da entidade eleita, os membros da Plenária do FEES deverão escolher a nova ocupação dos cargos.

Parágrafo único - Fica proibido o voto por procuração.

Art. 29 - A Comissão Eleitoral, composta de até 04 (quatro) membros, será escolhida pelo

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plenário, 60 (sessenta) dias antes do final do mandato da atual Coordenação.

Art. 30 - Os membros da Comissão Eleitoral estão impedidos de concorrer aos cargos eletivos.

Art. 31 - Cada entidade do Fórum ou Rede terá direito a 1 (um) voto.

Art. 32 - A posse da Comissão Executiva eleita será realizada imediatamente após a apu-ração dos votos.

CAPÍTULO X

Das Representações

Art. 33 – A plenária do FEES poderá, quando solicitado, escolher entre os presentes, pes-soas para representar o fórum em Conselhos Institucionais ou em organizações de Eco-nomia Solidária nacionais ou internacionais.

§ 1 - a escolha será feita por indicação de nomes na plenária e com votação aberta.

§ 2 - a pessoa indicada precisará da maioria simples dos votos para exercer legitimam-ente a representação.

§ 3 - Somente poderão representar o FEES representantes citados no art 6º, inciso I , II e IV. 4 – Somente poderão participar da comissão executiva os representantes citados no art 6º, inciso I e II.

CAPÍTULO XI

Das Disposições Finais

Art. 34 - O presente Regimento será aprovado pela maioria absoluta (dois terços) dos membros do FEES, em reunião convocada para este fim.

Art. 35 - As alterações do presente Regimento serão aprovadas por dois terços dos pre-sentes na reunião Plenária.

Art. 36 - Os casos omissos serão encaminhados pela Coordenação do FEES para deliber-ação em Plenária.

Art. 37 - O presente Regimento entrará em vigor a partir da data de sua aprovação em Plenária.

Local e Data.

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6.7. Modelo de carta de adesão

TERMO DE ADESÃO AO FÓRUM DE ECONOMIA SOLIDÁRIA

Nós, membros do ___________________________________________ do seguimento de _______________________________________, declaramos nossa Adesão ao Fórum Estadual de Economia Solidária- FEES, como instância de representação do Fórum Bra-sileiro de Economia Solidária (FBES) no estado. Declaramos, para os devidos fins, que conhecemos e estamos de acordo com a Carta de Princípios, os Eixos e bandeiras de luta do FEBS e nos comprometemos, como membros deste Movimento, a partir de nossa co-munidade, através de nossa iniciativa de economia solidária que juntos solidariamente vamos contribuir e participar do Fórum para a plena realização dos seus objetivos.

Nome do EES/EAF/GP:____________________________________________________Endereço: _______________________________________________________________Fone:_________________________e-mail:____________________________________Sitio/Blog/Rede Sociais: ___________________________________________________

Nome dos(as) responsáveis pelo contato com o FEES:____________________________ CPF___________________________RG________________________SSP/__________Endereço: _______________________________________________________________CEP:_______________________________ Bairro___________________________Cidade:______________________________________________________UF;_________Fone:_________________________e-mail:____________________________________

__________________________________(nome e assinatura dos responsáveis

pelo EES/EAF/GP)

Testemunhas:

1- ________________________________

2- ________________________________

Local, ___ de ____________________ de ________.

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ASSINATURA DO REPRESENTANTE DA ENTI-DADE, REDE OU EMPREENDIMENTO

ASSINATURA DO REPRESENTANTE DA COORDENAÇÃO EXECUTIVA DO FÓRUM DE ECONOMIA SOLIDARIA

6.8. Modelo para cadastro de participantes

FICHA DE CADASTRO DOS/AS PARTICIPANTES

INSTITUIÇÃO/EMPREENDIMENTO:____________________________________________NOME FANTASIA:__________________________________________________________ENDEREÇO:__________________________________________________Nº_________BAIRRO:__________________________COMPLEM.:_____________________________MUNICIPIO:___________________________ UF:_______ CEP:______________________ TELEFONE FIXO:________________________ FAX: ______________________________E-MAIL:_________________________________________________________________PÁGINA NA INTERNET: ____________________________________________________ANO DE INÍCIO:__________ Nº DE SOCIOS : ______ MULHERES: _____ HOMENS: _______PARTICIPA DESTE FÓRUM DESDE:_______/________/_________ PARTICIPA DE OUTROS FÓRUNS? ___________________________________________________________________________________________________________________QUAIS E A QUANTO TEMPO? ______________________________________________________________________________________________________________________QUAL A COMUNIDADE DE ORIGEM: _________________________________________________________________________________________________________________

QUAIS AS COMUNIDADES QUE ATUAM:_______________________________________________________________________________________________________________

QUAIS AS AÇÕES DA ENTIDADE/ATIVIDADE ECONOMICA:_________________________________________________________________________________________________

QUAIS PRINCIPAIS MATÉRIAS-PRIMAS QUE UTILIZA PARA PRODUÇÃO: ______________________________________________________________________________________

QUAIS PRINCIPAIS RESÍDUOS QUE GERA: _____________________________________________________________________________________________________________REPRESENTANTES NO FÓRUMTITULAR:________________________________________________________________E-MAIL:______________________RG:_________________TEL.: ___________________

SUPLENTE: _____________________________________________________________E-MAIL:______________________RG:_________________TEL.: ___________________

AUTORIZA DIVULGAÇÃO POR MEIO ELETRÔNICO OU CATÁLOGO: ____________________________________________________QUAL O IMPACTO DA PARTICIPAÇÃO NO FÓRUM PARA AS AÇÕES EMPREENDIMENTO OU ENTIDADE?__________________________________________________________________________________________________________________________________

DATA DE PREENCHIMENTO DA FICHA: ______/______/______

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7. Junte-se às lutas sociais convergentesA perspectiva de construção de outro desenvolvimento e sociedade com base na coop-eração, no bem-viver, na vida e na solidariedade passa pela necessidade de várias mu-danças fundamentais e estruturais em nossa sociedade. Diversos outros movimentos sociais têm defendido bandeiras importantes que são totalmente convergentes com as da Economia Solidária, como de mulheres, agroecologia, moradia, quilombolas, indígenas, soberania e segurança alimentar, reforma urbana, reforma do sistema político, refor-ma agrária, democratização dos recursos e riquezas públicas, entre outros. Nossa con-vergência com outros movimentos é uma pauta definida desde 2010, e ganhou mais for-ça com a participação no Encontro Nacional de Diálogos e Convergência e na V Plenária. Destacamos algumas campanhas e mobilizações em curso:

Campanha Permanente contra Agrotóxicos e pela vida tem o objetivo de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam, e a partir daí tomar medidas para frear seu uso no Brasil. Acesse: www.contraosagrotoxicos.org/∕

Campanha pela reforma do sistema político segue como iniciativa popular pela democra-tização do sistema político brasileiro. Acesse: http://www.reformapolitica.org.br/

Comitê Popular da Copa: estados que sediarão a Copa 2014 estão se organizando para o controle social público sobre as ações desse evento, para garantir direitos básicos da população e denunciar as violações.

Campanha pelo Fim dos Paraísos Fiscais: www.fimaosparaisosfiscais.org

Campanha pela Reforma Agrária e pela regularização dos territórios quilombolas e indí-genas, junto a vários movimentos sociais

Campanha contra os transgênicos e pelo direito a biodiversidade, junto a vários movi-mentos sociais

Associação de Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes: vamos manter viva a escola do MST e de todos os trabalhadores/as: http://www.amigosenff.org.br

Jornada de Lutas: MST e movimentos sociais: http://www.mst.org.br

Marcha das Margaridas: organizado pela Contag e movimentos feministas: http://www.contag.org.br

Grito da Terra: organizado pela Contag

Grito dos Excluídos: todo 7 de setembro, em Brasília-DF e nas capitais

Luta das mulheres de vários movimentos sociais contra violência, por justiça e igualdade entre homens e mulheres, pelo fim do capitalismo.

Luta contra a privatização da água, da energia e dos recursos naturais por vários movi-mentos sociais.

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8. AnexosA: Carta Política da V Plenária Nacional de Economia Solidária

Nós, mulheres e homens, reunidas/os na V Plenária Nacional de Economia Solidária, re-alizada de 09 a 13 de dezembro de 2012, em Luziânia, Goiás, apresentamos para toda a nação brasileira nossas propostas para o fortalecimento do “Bem viver, cooperação e autogestão para um desenvolvimento justo e sustentável”, temática da nossa plenária.A atual crise internacional provocada pelo capitalismo, afeta a América Latina e o Brasil, nos mais diferentes aspectos da vida na terra e envolve várias crises: energética, ali-mentar, ambiental, climática, econômica, ética, social e política. Essa crise é resultado do modo de produção capitalista e sua lógica concentradora e excludente, porque valoriza a acumulação do capital. No sistema econômico hegemônico, os trabalhadores e trabal-hadoras não detém os meios de produção, não possuem poder de decisão, e são subor-dinados aos donos do capital.

A atual crise estende-se para o meio ambiente, através do processo de devastação das florestas, bem como da extração mineral e ocupação desordenada do solo pelo agron-egócio, contaminando os rios pelo uso descontrolado de agrotóxicos e do apelo ao con-sumismo desregrado. Além disso, há uma tentativa constante de subordinar os saberes locais aos interesses das grandes corporações e de colocar os bens comuns da natureza a serviço das práticas mercantis egoístas. Estes setores encontram-se representados nas estruturas políticas, estimulam as pri-vatizações, apropriam-se das nossas terras, promovendo a especulação fundiária e im-obiliária, fortalecendo as grandes corporações. E, além disso, a acumulação de capital constituída ao longo dos 500 anos de história pós-colonialista faz com que estes setores sejam cada vez mais fortes. Em sua relação com os trabalhadores/as e com a natureza, tais setores permitem o trabalho escravo, a mercantilização da natureza e contribuem, através da mídia, para a criminalização dos movimentos sociais. Portanto, contrapomo-nos a estas forças para que o exercício do bem viver, por meio de um novo projeto de economia e sociedade, seja baseado nos princípios da Economia Solidária.

A Economia Solidária tem como princípio a autogestão, a solidariedade, o reconhecimen-to e valorização dos saberes tradicionais. É uma estratégia de Desenvolvimento Susten-tável e Solidário, que não se confunde com o microempreendedorismo individual, nem com a economia criativa, nem com a economia verde e propõe ações urgentes para ga-rantir as condições de vida no planeta, sem degradar o meio ambiente e respeitando o ciclo completo da natureza.

Na nossa V Plenária afirmamos que a Economia Solidaria é um contraponto ao Capital-ismo. É uma forma diferente de organizar o trabalho, onde não temos patrão nem em-pregado, o trabalho é coletivo e autogestionário e a nossa principal preocupação é com as pessoas, com a vida, com o meio ambiente e não com os lucros. Com isso, entendemos que é fundamental fazer valer a igualdade de direitos entre homens e mulheres, respeit-ando a diversidade de raça, orientação sexual, gerações, pessoas em situação de vulnera-bilidade, egressos do sistema prisional, portadores de transtornos mentais, usuários de álcool e outras drogas, comunidades estrangeiras e garantir a defesa dos direitos sociais, políticos e econômicos destas pessoas.

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O movimento de Economia Solidária se alia aos movimentos sociais comprometidos com a construção de uma sociedade justa e igualitária no Brasil, na América Latina, Caribe e no mundo. As práticas de Economia Solidária estão presentes nas lutas e bandeiras de todos os movimentos sociais e devemos trabalhar nossa unidade, fortalecer nossas alianças e buscar realizar processos de diálogos e convergências de nossas ações.

Mesmo com práticas isoladas, cada movimento vem fazendo a sua parte em prol de uma nova sociedade. Acreditamos que a convergência de nossas ações só poderá nos fortalecer na consolidação de uma economia que já acontece, mas é pouco reconhecida e apoiada pelo Estado. Portanto, devemos promover ações conjuntas a partir dos terri-tórios e dos fóruns locais e estaduais de Economia Solidária, promovendo o debate sobre as pautas comuns e sensibilizando a sociedade e o poder público.

Conclamamos a união de nossas forças na construção de agendas comuns, na defesa do bem viver, da cooperação e da autogestão para os povos das águas, das florestas, do semiárido, dos pampas, do cerrado, do pantanal, promovendo o acesso à informação para que esses grupos também possam participar da Economia Solidária que já é uma realidade.

Reafirmamos o nosso compromisso com as lutas, bandeiras e campanhas dos movi-mentos sociais no Brasil e os conclamamos a fortalecer nossas campanhas e refletir so-bre a nossa relação com os governos e a sociedade em geral. Além disso, construir juntos propostas de políticas públicas que fortaleçam a luta dos trabalhadores e trabalhadoras que querem viver numa economia sem patrão, pois o trabalho associado é um direito! O movimento de Economia Solidária propõe que os movimentos sociais construam con-osco o viver e trabalhar nos princípios da autogestão, da democracia e da solidariedade, construindo uma nova cultura política, repartindo resultados, organizando empreendi-mentos econômicos solidários, redes e cadeias de produção, comercialização e consumo, bancos comunitários, fundos rotativos solidários, clubes de troca, centrais e pontos fixos de comercialização, feiras de produtos e serviços, processos educativos baseados na pedagogia da autogestão, entre tantas outras coisas.

E, para tanto, encaminhamos ao Estado brasileiro, em suas diferentes esferas, as seguintes sugestões:

•QueaeconomiasolidáriasetorneumapolíticadeEstadoenãodegoverno, através da criação do Ministério da Economia Solidária e de Secretarias Municipais e Estaduais de Economia Solidária, garantindo o direito ao trabalho associado;

•CriaçãodeleisqueinstituamapolíticapúblicadeEconomiaSolidáriaemtodas as esferas de governo, em especial a Lei Geral da Economia Solidária que já está em tramitação no congresso, PL 4685/2012;

•Implantaçãodepolíticaspúblicas,organizadasapartirdoterritório,que fortaleçam os Empreendimentos Econômicos Solidários, priorizando o apoio ao seu financiamento, a comercialização solidária e o estímulo à sua organização em redes e cadeias econômico-solidárias;

•CriaçãodeCentrosPúblicosdeReferênciaemEconomiaSolidáriaque

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promovam processos de educação, finanças, consumo consciente e comercialização dos produtos e serviços dos Empreendimentos Econômicos Solidários;

•Criaçãodefundospúblicosespecíficosemapoioefortalecimentoaos empreendimentos;

•Criaçãodeespaçosdecontrolesocialeacompanhamentodaelaboração dos Planos Plurianuais e Orçamentos Públicos, respeitando a dinâmica territorial e monitoramento dos projetos desenvolvidos;

•Desburocratizaçãodarelaçãodoestadocomosempreendimentosdaeconomia solidária no acesso às políticas públicas e às compras governamentais, como o PAA, a PNAE, o Banco de Alimentos, os Restaurantes Populares, cozinhas comunitárias, entre outros, inclusive ampliando as leis que designam o percentual de compra de produtos da Economia Solidária pelos órgãos públicos; •InserçãoaEconomiaSolidáriacomomodelodedesenvolvimentonaeducação formal;

•Garantiaderecursoseestruturaparaseremrealizadososprocessos continuados de educação em economia solidária, como definido na I conferência temática de Formação e Assessoria Técnica realizada em 2010;

•Queosórgãosdefomentoàpesquisa,ciênciaetecnologiadevemreconhecer a importância e financiar a construção do conhecimento e de tecnologias sociais em Economia Solidária valorizando o saber local;

•FortalecimentodoSistemaNacionaldeComércioJustoeSolidárioegarantiade uma tributação diferenciada para Economia Solidária e fortalecimento de moedas sociais;

•DivulgaçãodosprodutoseserviçosdaEconomiaSolidárianasrádios,TVs, jornais e nos meios de comunicação em geral, principalmente nos espaços estatais das mídias;

•Fortalecimentodaspolíticaspúblicasdecoletaseletivacomoprotagonismodos catadores de materiais recicláveis para termos uma melhor relação com a natureza e a educação da sociedade para a cultura da reciclagem e do reaproveitamento;

•Umareformapolíticaamplacomfinanciamentopúblicodecampanhae participação popular.

Para a Sociedade brasileira queremos reafirmar algumas das nossas preocupações, pedindo que busquem apoiar o movimento de Economia Solidária:

•nascampanhasepráticasdeconsumoresponsável; •navigilânciaedenúnciadaexploraçãodeumapessoaporoutra;

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•nadivulgaçãodaspráticasdeEconomiaSolidária; •naaproximaçãoeconhecimentosobreaspráticasdetrabalhoassociadoque valorizam uma relação mais próxima das pessoas com o meio ambiente; •naparticipaçãoeengajamentonalutadaEconomiaSolidáriaemcada território, no dia-a-dia dos diversos homens e mulheres da cidade e do campo.

E, para finalizar, reafirmamos:

Economia é todo dia, a nossa vida não é mercadoria!

Brasil, Luziânia/GO, 13 de dezembro de 2012.

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B: Carta Política do Encontro Nacional de Diálogos e Convergências

CARTA DE SALVADOR

Somos 300 cidadãos e cidadãs brasileiras integrados à Articulação Nacional de Agro-ecologia (ANA), à Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia), à Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), ao Fórum Brasileiro de Eco-nomia Solidária (FBES), ao Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nu-tricional (FBSSAN), à Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), à Rede Alerta contra o Deserto Verde (RADV), à Marcha Mundial de Mulheres e à Articulação de Mulheres Bra-sileiras (AMB), em reunião na cidade de Salvador-BA, entre os dias 26 a 29 de setembro de 2011, durante o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo.

Nosso encontro resulta de um longo e fecundo processo de preparação motivado pela identificação e sistematização de casos emblemáticos que expressam as variadas for-mas de resistência das camadas populares em suas diferentes expressões sociocul-turais e sua capacidade de gerar propostas alternativas ao modelo de desenvolvimento hegemônico em nosso país. Vindos de todas as regiões do país, esses casos iluminaram nossos debates durante esses três dias e fundamentam a manifestação política que apresentamos nesta carta.

Ao alimentar esse padrão de desenvolvimento, o governo Dilma inviabiliza a justa priori-dade que atribuiu ao combate à miséria em nosso país. Tendo como eixo estruturante o crescimento econômico pela via da exportação de commodities, esse padrão gera efeitos perversos que se alastram em cadeia sobre a nossa sociedade. No mundo rural, a ex-pressão mais visível da implantação dessa lógica econômica é a expropriação das popu-lações de seus meios e modos de vida, acentuando os níveis de degradação ambiental, da pobreza e da dependência desse importante segmento da sociedade a políticas sociais compensatórias. Esse modelo que se faz presente desde o início de nossa formação histórica ganhou forte impulso nas últimas décadas com o alinhamento dos seguidos governos aos projetos expansivos do capital internacional. Materialmente, ele se ancora na expansão do agronegócio e em grandes projetos de infraestrutura implantados para favorecer a extração e o escoamento de riquezas naturais para os mercados globais.

Os casos emblemáticos que subsidiaram nossos diálogos demonstram a essência vio-lenta desse modelo que viola o “direito de ficar”, desterritorializando as populações, o que significa subtrair delas a terra de trabalho, o livre acesso aos recursos naturais, suas formas de organização econômica e suas identidades socioculturais. Os movimentos massivos de migração compulsória daí decorrentes estão na raiz de um padrão de dis-tribuição demográfica insustentável e que cada vez mais converte as cidades em polos de concentração da pobreza, ao passo que o mundo rural vai se desenhando como um cenário de ocupação do capital e de seu projeto de uma agricultura sem agricultoras e agricultores.

A progressiva deterioração da saúde coletiva é o indicador mais significativo das contra-dições de um modelo que alça o Brasil a uma das principais economias mundiais ao mes-mo tempo em que depende da manutenção e seguida expansão de políticas de combate à fome e à desnutrição. Constatamos também que esse modelo se estrutura e acentua as desigualdades de gênero, de geração, de raça e etnia.

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Nossas análises convergiram para a constatação de que os maiores beneficiários e prin-cipais indutores desse modelo são corporações transnacionais do grande capital agroin-dustrial e financeiro. Apesar de seus crescentes investimentos em marqueting social e verde, essas corporações já não conseguem ocultar suas responsabilidades na produção de uma crise de sustentabilidade planetária que atinge inclusive os países mais desen-volvidos e que se manifesta em desequilíbrios sistêmicos expressos no crescimento do desemprego estrutural, na acentuação da pobreza e da fome, nas mudanças climáticas, na crise energética e na degradação acelerada dos recursos do ambiente.

As experiências mobilizadas pelas redes aqui em diálogo denunciam as raízes perversas desse modelo ao mesmo tempo em que contestam radicalmente as falsas soluções à crise planetária que vêm sendo apregoadas pelos seus agentes promotores e principais beneficiários. Ao se constituírem como expressões locais de resistência, essas experiên-cias apontam também caminhos para a construção de uma sociedade justa, democrática e sustentável.

A multiplicação dessas iniciativas de defesa de territórios, promoção da justiça ambiental e de denúncia dos conflitos socioambientais estão na raiz do recrudescimento da violên-cia no campo que assistimos nos últimos anos. O assassinato de nossos companheiros e companheiras nessas frentes de luta é o mais cruel e doloroso tributo que o agronegócio e outras expressões do capital impõem aos militantes do povo e ao conjunto da socie-dade com suas práticas criminosas.

Nossos diálogos procuraram construir convergências em torno de temas que mobilizam as práticas de resistência e de afirmação de alternativas para a sociedade. Os diálogos sobre reforma agrária, direitos territoriais e justiça ambiental responsabi-lizaram o Estado face ao quadro de violência com assassinatos, expulsão e deslocamen-tos compulsórios de populações pela ação dos grandes projetos como as hidrelétricas, expansão das monoculturas e o crescimento da mineração; a incorporação de áreas de produção de agrocombustíveis, reduzindo a produção de alimentos; a pressão sobre as populações que ocupam tradicionalmente áreas de florestas, ribeirinhas e litorâneas, como os mangues, os territórios da pesca artesanal, com a desestruturação de seus meios de vida e ameaça ao acesso à água e à soberania alimentar.

As convergências se voltaram para a reafirmação da centralidade da luta pela terra, pela reforma agrária e pela garantia dos direitos territoriais das populações. O direito à ter-ra está indissociado da valorização das diferentes formas de viver e produzir nos ter-ritórios, reconhecendo a contribuição que povos e populações tradicionais oferecem à conservação dos ecossistemas; do reconhecimento dos recursos ambientais como bens coletivos para o presente e o futuro; e os direitos das populações do campo e da cidade a uma proteção ambiental equânime. Convergimos ainda na afirmação de que o direito à terra e os direitos à água, à soberania alimentar e à saúde estão fortemente associados.Reconhecemos a importância da mobilização em apoio ao Movimento Xingu para sem-pre - em defesa da vida e do Rio Xingu, considerado como um exemplo emblemático de luta de resistência ao atual modelo de desenvolvimento. Defendemos o fortalecimento da articulação dos atingidos pela empresa Vale e as propostas que combinem a gestão ambiental com a produção agroecológica, a exemplos de experiências inovadoras dos movimentos sociais em assentamentos da Reforma Agrária.

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No debate sobre mudanças climáticas, seus impactos, mecanismos de mercado e a agroecologia como alternativa, recusamos que a proposta agroecológica seja apropriada como mecanismo de compensação, seja ele no invisível e inseguro mercado de carbono, seja em REDD, REDD+, REDD++ (redução das emissões por desmatamento e degradação) ou ainda dentro do pagamento de serviços ambientais. A Rio +20 engendra e consolida a chamada “economia verde”, que pode significar uma apropriação, pelo capitalismo, das alternativas construídas pela agricultura familiar e camponesa e pela economia solidária, reduzindo a crise socioambiental a um problema de mercado.

A Agroecologia não é uma simples prestadora de serviços, contratualizada com setor privado. Ela reúne nossas convergências no campo e na cidade, trabalhando com gente como fundamento. É possível financiar a Agroecologia a partir da contaminação, es-cravidão, racismo e acumulação cada vez maior do capital? É possível fazer um enfren-tamento a partir do pagamento de serviços ambientais por contratos privados, parcerias público-privadas? Ao debater os impactos da expansão dos monocultivos para agrocombustíveis e pa-drões alternativos de produção e uso de energia no mundo rural, os diálogos apontaram que a energia é estratégica como elemento de poder e autonomia dos povos, mas está diretamente ligada ao modelo (hegemônico e falido) de consumo, produção e distribuição. A produção de agrocombustiveis, baseada na monocultura, na destruição do ambiente, na violação dos direitos e injustiças sociais e ambientais, associa-se ao agronegócio e ameaça a soberania alimentar.

As políticas públicas sistematicamente desvirtuam as propostas calcadas nas experiên-cias populares, colocando as cooperativas e iniciativas da agricultura familiar na lógica da competição de mercado e em patamar desigual em relação às corporações, tal qual ocorre nas áreas de geração de energia elétrica, segurança alimentar, ciência e tecnologia ou mesmo da economia solidaria.

Nas políticas para os agrocombustiveis, a agricultura familiar é inserida como mera for-necedora de matérias primas e o modelo de integração é dominante, mascarando o ar-rendamento e assalariamento do campesinato e embutindo o pacote tecnológico da revolução verde através das políticas de crédito, assistência técnica e extensão rural. O diálogo do governo com os movimentos sociais se precariza pela setorização e atomi-zação das relações, enquanto a mistura de interesses e operações entre MDA e Petro-brás acaba por legitimar o canal de negociação empresarial no marco de uma política pública.

As experiências de produção descentralizada de energia e alimentos apontam como soluções reais aquelas articuladas por organizações e movimentos sociais que inte-gram as perspectivas da agroecologia, da soberania alimentar e energética, da economia solidária, do feminismo e da justiça social e ambiental, e são baseadas na forte identi-dade territorial e prévia organização das comunidades.

Estas iniciativas têm em comum a diversificação da produção e dos mercados e a pri-oridade no uso dos recursos, dos saberes e dos espaços de comercialização locais. Es-tão sob o controle dos agricultores e têm autonomia frente às empresas e ao Estado. Articulam-se a programas e políticas públicas diversas como o Programa Nacional de

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Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), não apenas ao Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). Os processos de trans-formação estão sob o domínio das organizações em toda a cadeia produtiva, e há diver-sificação da produção de alimentos e de matriz energética e co-produtos, para além e como conseqüência da produção de combustível. As formas de produção estão em rede e têm capacidade de se contrapor aos sistemas convencionais como premissa de sua permanência no território.

Com base nestes princípios e lições, as políticas públicas para a promoção da produção de energia e alimentos devem ter: um marco legal diferenciado para a agricultura famil-iar; promover a produção e uso diversificado de óleos, seus co-produtos e outras culturas, adequadas à diversidade cultural e biológica regional; atender à demanda de adequação e desenvolvimento de tecnologia e equipamentos apropriados, acompanhada de proces-sos de formação e de redes de inovação nas universidades; além de proporcionar auto-nomia na distribuição e consumo local de óleos vegetais, biodiesel e álcool. Os diálogos sobre os agrotóxicos e transgênicos, articulando as visões da justiça ambi-ental, saúde ambiental e promoção da agroecologia, responsabilizaram o Estado pelas políticas de ocultamento de seus impactos expressas nas dificuldades de acesso aos dados oficiais de consumo de agrotóxicos e de laudos técnicos sobre casos de contami-nação; na liberação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) sem debate democrático com a sociedade e sem atender ao princípio da precaução; na frágil vigilância e fiscalização trabalhista, ambiental e sanitária; na dificuldade do acesso aos laboratórios públicos para análise de amostras de contaminação por transgênicos e por agrotóxicos no ar, água, alimentos e sangue; terminando por promover um modelo de desenvolvi-mento para o campo que concentra terra, riqueza e renda, com impactos diretos nas populações mais vulneráveis em termos socioambientais.

Há um chamamento para que o Estado se comprometa com a apuração das denúncias e investigação dos crimes, a exemplo do assassinato do líder comunitário José Maria da Chapada do Apodi, no Ceará; com a defesa de pesquisadores criminalizados por visibi-lizar os impactos dos agrotóxicos e por produzir conhecimentos compartilhados com os movimentos sociais; com políticas públicas que potencializem a transição agroecológica – facilitando o acesso ao crédito, à assistência técnica adequada e que reconheça os con-hecimentos e práticas agroecológicas das comunidades camponesas.

Não há possibilidade de convivência entre o modelo do agronegócio e o modelo da agro-ecologia no mesmo território, porque o desmatamento e as pulverizações de agrotóxicos geram desequilíbrios nos ecossistemas afetando diretamente as unidades agroecológi-cas. As políticas públicas devem estar atentas aos impactos dos agrotóxicos sobre as mulheres (abortos, leite materno, etc.) pois estas estão expostas de diferentes formas, que vão desde o trabalho nas lavouras até o momento da lavagem da roupa dos que utilizam os agrotóxicos. O uso seguro dos agrotóxicos e transgênicos é um mito e um paradigma que precisa ser desconstruído.

É fundamental a convergência de nossas ações com a Campanha Nacional Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, ampliando os diálogos e convergências com os movi-mentos sociais do campo e da cidade, agregando novas redes que não estiveram pre-sentes nesse Encontro de Diálogos e Convergências. Temos que denunciar esse modelo do agronegócio para o mundo e buscar superá-lo por meio de políticas públicas que pos-

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sam inibir o uso de agrotóxicos e transgênicos, a exemplo da proibição da pulverização aérea, ou ainda direcionando os recursos oriundos dos impostos dos agrotóxicos, cuja produção e comercialização é vergonhosamente subsidiada pelo Estado. O fim dos sub-sídios contribuiria para financiar o SUS e a agroecologia. Com relação aos direitos dos agricultores, povos e comunidades tradicionais ao livre uso da biodiversidade, constatamos que está em curso, nos territórios, um processo de privatização da terra e da biodiversidade manejada pela produção familiar e camponesa, povos e comunidades tradicionais. Tal privatização é aprofundada pela flexibilização do Código Florestal, que é uma grande ameaça e abre caminhos para um processo brutal de destruição ambiental e apropriação de terra e territórios pelo agronegócio.

A privatização das sementes e mudas, dos conhecimentos tradicionais e dos diversos componentes da biodiversidade vem se dando de forma acelerada, com o Estado cum-prindo um papel decisivo na mediação (regulamentação e políticas públicas) dos con-tratos estabelecidos entre empresas e comunidades, representando sérios riscos aos direitos ao livre uso da biodiversidade.

Causa grande preocupação que as questões nacionais sobre conservação e uso da bio-diversidade estejam sendo discutidas e encaminhadas sem a participação efetiva das populações diretamente atingidas, estando sujeitas a agendas internacionais como a Rio +20. Consideramos uma violação a atual forma de “consulta” sobre importantes in-strumentos legais e de política concentrada em poucos atores e de questionável repre-sentatividade.

Experiências presentes neste encontro demonstram avanços e se fortalecem a partir da legitimidade de suas práticas e aproveitando as brechas existentes na legislação. Este é o caso, por exemplo, dos bancos comunitários de sementes no semiárido; da produção de sementes agroecológicas a partir de variedades de domínio público; da auto-regulação dos conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais do Cerrado; da constituição de um fundo público das quebradeiras de coco babaçu através da repartição de benefí-cios que reconhece o conhecimento tradicional associado.

É necessário aprofundar a organização das agricultoras e dos agricultores, extrativistas, povos e comunidades tradicionais em seus territórios, de forma a fortalecer os princí-pios e ações de cooperativismo e suas interlocuções com as redes regionais, estaduais e nacionais como estratégia de resistência e construção de alternativas. A geração de alternativas econômicas é crucial neste contexto. A apropriação do debate em torno dos direitos pode facilitar e fortalecer o diálogo de nossas redes e movimentos com a socie-dade civil de modo geral, de modo a visibilizar a importância dos modos de vida destas comunidades para a garantia de direitos humanos, como o direito à alimentação ad-equada e saudável.

Nos diálogos sobre Soberania Alimentar e Nutricional, Economia Solidária e Agroeco-logia, as experiências apontaram o grande acúmulo na construção de alternativas ao atual modelo agroalimentar, que garantam, de forma articulada, a soberania alimentar e nutricional, a emancipação econômica dos trabalhadores e trabalhadoras nos terri-tórios, em especial as mulheres, a promoção da saúde pública e a preservação ambiental. Constatou-se que estas iniciativas contribuem com a construção concreta e material de propostas diferenciadas de desenvolvimento, calcadas nas realidades, cultura e autono-

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mia dos sujeitos dos territórios e orientadas para a justiça socioambiental, a democracia econômica e o direito à alimentação adequada.

Estes acúmulos se expressam através da existência e resistência de dezenas de milhares de empreendimentos e iniciativas de Economia Solidária e Agroecologia, especialmente quando articuladas e organizadas em redes e circuitos de produção, comercialização e consumo, que aproximam produtores e consumidores e fortalecem a economia e cultura locais, num enfrentamento à desterritorialização e desigualdades de gênero, raça e etnia inerentes ao atual padrão hegemônico de produção e distribuição agroalimentar.

Constatou-se que os programas de alimentação escolar (PNAE) e de aquisição de ali-mentos (PAA), assim como o reconhecimento constitucional do direito à alimentação e a implantação do Sistema e Política de Segurança Alimentar e Nutricional, são conquistas importantes para a agricultura familiar e camponesa. Por outro lado, de forma paradoxal, o Estado tem apoiado fortemente o agronegócio, através da subordinação de sua ação a interesses do capital, e da falta de um horizonte e estratégia definidos de expansão do orçamento do PAA e do PNAE.

As vivências e experiências denunciam também a grande quantidade de barreiras ao acesso das iniciativas e empreendimentos de Economia Solidária e Agroecologia a políti-cas públicas e ao mercado. Tais barreiras se expressam em uma legislação e inspeção sanitárias e tributárias incompatíveis às realidades das/dos produtoras/es e trabal-hadoras/es associadas/os, em especial no processamento e agroindustrialização de polpas, doces e alimentos de origem animal. Estas barreiras, somadas à burocratização na aquisição da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) e a uma ofensiva de setores empresariais que têm denunciado à ANVISA empreendimentos produtivos assim que estes começam a se fortalecer, têm impedido o escoamento da produção dentro e fora do município e o acesso ao PAA e ao PNAE. O direito à organização do trabalho e da produção de forma associada só existirá com a conquista de garantias e condições legis-lativas, tributárias e de financiamento que sejam justas.

Os diálogos apontaram também a luta pelo consumo responsável, solidário e consciente como um campo importante de convergência entre as redes e movimentos e como um desdobramento concreto deste Encontro, através da construção conjunta de um diálogo pedagógico com a sociedade, tanto denunciando os impactos e danos dos alimentos vin-dos do agronegócio e contaminados com agrotóxicos, o que exige a regulação da publici-dade de alimentos, quanto anunciando as alternativas disponíveis na Agroecologia e na Economia Solidária. Em busca de novos caminhos

Os exercícios de diálogos que estamos realizando há dois anos e os excelentes resul-tados a que chegamos em nosso encontro reiteram a necessidade de fortalecermos nossas alianças estratégicas e renovarmos nossos métodos de ação convergente. As experiências que ancoraram nossas reflexões deixam claro que os temas que identifi-cam as bandeiras de nossas redes e movimentos integram-se nas lutas do cotidiano que se desenvolvem nos campos e nas cidades contra os mecanismos de expropriação impostos pelo capital e em defesa dos territórios. Evidenciam, assim, a necessidade de intensificarmos e multiplicarmos as práticas de diálogos e convergências desde o âmbito local, onde as disputas territoriais materializam-se na forma de conflitos socioambien-

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tais, com impacto na saúde das populações, até níveis regionais, nacionais e internacio-nais, fundamentais para que as causas estruturais do atual modelo hegemônico sejam transformadas.

A natureza local e diversificada de nossas lutas vem até hoje facilitando as estratégias de sua invisibilização pelos setores hegemônicos e beneficiários do modelo. Esse fato nos indica a necessidade de atuarmos de forma articulada, incorporando formas criativas de denúncia, promovendo a visibilidade dos conflitos e das proposições que emergem das experiências populares.

Uma das linhas estratégicas para a promoção dos diálogos e convergências é a produção e disseminação de conhecimento sobre as trajetórias históricas de disputas territoriais e suas atuais manifestações. Nesse sentido, as alianças com o mundo acadêmico devem ser reforçadas também como parte de uma estratégia de reorientação das instituições do Estado, no sentido destas reforçarem as lutas pela justiça social e ambiental. Estimu-lamos a elaboração e uso de mapas que expressem as diferentes dimensões das lutas territoriais pelos seus protagonistas como uma estratégia de visibilização e articulação entre nossas redes e movimentos. O Intermapas já é uma expressão material das con-vergências.

Outra linha estratégica fundamenta-se em nossa afirmação de que a comunicação é um direito das pessoas e dos povos. Reafirmamos a importância, a necessidade e a obrig-ação de nos comunicarmos para tornar visíveis nossas realidades, nossas pautas e nos-so projeto de desenvolvimento para o país. A mudança do marco regulatório da mídia é condição para a democratização dos meios de comunicação. Repudiamos as posturas de criminalização e as formas de representação que a mídia hegemônica adota ao abordar os territórios, modos de vida e lutas. Contestamos a produção da invisibilidade nesses meios de comunicação. O Estado deve se comprometer a financiar nossas mídias, inclu-sive para que possamos ampliar projetos de formação de comunicadores e de estrutur-ação dos nossos próprios veículos de comunicação. As mídias públicas devem ser veícu-los para comunicar aprendizados de nossas experiências, proposições e campanhas. Por uma comunicação livre, democrática, comunitária, igualitária, plural e que defenda a vida acima do lucro.

Nossos diálogos convergem também para a necessidade do reconhecimento das mul-heres como sujeito político, a importância de sua auto-organização e a centralidade do questionamento da divisão sexual do trabalho que desvaloriza e separa trabalho das mulheres em relação ao dos homens, assim negando a contribuição econômica da ativi-dade doméstica de cuidados e a produção para o autoconsumo. Convergimos na com-preensão do sentido crítico do pensamento e ação feministas para ressignificar e ampliar o sentido do trabalho e sua centralidade para a produção do viver.

A apropriação do feminismo como ferramenta política contribuirá para recuperar e visi-bilizar as experiências, os conhecimentos e as práticas das mulheres na construção da agroecologia, da economia solidária, da justiça ambiental e para garantir sua autonomia econômica.

Mas a história também mostra que o permanente exercício da violência dos homens contra as mulheres é um poderoso instrumento de dominação e controle patriarcal que fere a dignidade das mulheres e impede a conquista de sua autonomia, e as exclui dos

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espaços de poder e decisão. A violência contra as mulheres não é agroecológica, não é solidaria, não é sustentável, não é justa. Por isso é fundamental que as redes que estão organizando o Encontro Nacional de Diálogos e Convergências assumam a erradicação da violência contra as mulheres como parte de um novo modelo de produção e consumo, que deve ter como um eixo fundamental a construção de novas relações humanas ba-seadas na igualdade.

O papel do Estado democrático é o de construir um país de cidadãos e cidadãs, pro-mover e defender a organização da sociedade civil e de estabelecer com ela relações que permitam à sociedade reconhecer nas instituições a expressão do compromisso com o público e com a sustentabilidade. Esse princípio é contraditório com qualquer prática de criminalização dos movimentos e organizações que lutam por direitos civis de acesso soberano aos territórios e seus recursos.

As redes e movimentos promotores deste Encontro saem fortalecidos e têm amplia-das suas capacidades de expressão pública e ação política. Estamos apenas no início de um processo que se desdobrará em ambientes de diálogos e convergências que se organizarão a partir dos territórios, o lugar onde nossas lutas se integram na prática.

Salvador, 29 de setembro de 2011

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