cartilha com a lei do piso salarial nacional do magistério

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O Piso Salarial Nacional é uma conquista histórica de todos(as) os(as) que lutam por melhorias da educação pública brasileira e representa importante passo na larga caminhada pela valorização dos nossos profissionais da educação.

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EM DEFESA DO PISO

O PISO SALARIAL NACIONAL é uma conquista histórica de todos(as) os(as)

que lutam por melhorias da educação pública brasileira e representa importante

passo na larga caminhada pela valorização dos nossos profissionais da educação.

Garantir a oferta de uma educação pública de qualidade por parte dos

entes federados (União, estados e municípios) passa, necessariamente, por

mudanças das condições de trabalho a que estão submetidos(as) os(as)

profissionais da educação básica em nosso país. Isto quer dizer, entre outras

coisas, mudar os atuais parâmetros salariais da categoria.

O PISO NACIONAL, cujo valor ainda não representa o que necessita e

merece os(as) educadores(as), reconheçamos, tem um significado especial no

contexto da luta por uma educação de qualidade

A sua implantação não será tarefa fácil e encontrará as mais variadas

barreiras. O arsenal de desculpas e justificativas para que estados e municípios

não adotem o piso é infindável, como já se observa.

É preciso lutar, e muito, para que esta tão sonhada bandeira saia do papel e

se concretize em ganhos reais em cada município e estado brasileiros.

Para defender o PISO NACIONAL é preciso conhecê-lo. Aqui você

encontrará a íntegra da Lei que o criou e breves comentários sobre cada um de

seus artigos.

Precisamos defender esta conquista com unhas, dentes e mentes.

Fique por dentro de seus direitos e defenda-os.

Fernando Mineiro

Professor e Deputado Estadual – PT/RN

LEI Nº 11.738, DE 16 DE JULHO DE 2008.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1°. - Esta Lei regulamenta o piso salarial profissional nacional para os

profissionais do magistério público da educação básica a que se refere a

alínea “e” do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias.

COMENTÁRIO

Este artigo fixou, desde logo, a categoria a ser beneficiada:

profissionais do Magistério Público (excluiu-se a iniciativa privada)

da educação básica. Mais adiante (parágrafo 2º do artigo II) a lei

esclarecerá a expressão “profissionais do magistério”.

Art. 2°. - O piso salarial profissional nacional para

os profissionais do magistério público da

educação básica será de R$ 950,00 (novecentos e

cinqüenta reais) mensais, para a formação em

nível médio, na modalidade Normal, prevista no

art. 62 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de

1996, que estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional.

COMENTÁRIO

O piso de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) é garantido aos

profissionais de nível médio. Aos demais profissionais, os

vencimentos serão definidos de acordo com os Planos de Carreiras e

Salários específicos.

§ 1°. - O piso salarial profissional nacional é o valor abaixo do qual a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão fixar o vencimento

inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a jornada

de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais.

COMENTÁRIO

Neste parágrafo, a União vinculou a si própria, os Estados e

Municípios ao pagamento do valor mínimo previsto no Piso Nacional

da Educação (R$ 950,00) e definiu a carga horária máxima. Fala em

VENCIMENTO INICIAL, que é igual a salário-base mais as

gratificações.

§ 2° - Por profissionais do magistério público da educação básica entendem-

se aqueles que desempenham as atividades de docência ou as de suporte

pedagógico à docência, isto é, direção ou administração, planejamento,

inspeção, supervisão, orientação e coordenação educacionais, exercidas no

âmbito das unidades escolares de educação básica, em suas diversas etapas e

modalidades, com a formação mínima determinada pela legislação federal de

diretrizes e bases da educação nacional.

COMENTÁRIO

O que se encontra disposto neste parágrafo é a explicação da

expressão “profissionais do magistério”, utilizada no art. 1º. e tem

importância fundamental para aplicação da Lei, pois evidencia que

não apenas os professores - assim se entendendo como o profissional

que está diretamente em sala de aula – são beneficiados com a Lei.

Todos os que estiverem em atividades correlatas, desde que possuam

a formação mínima determinada pela LDB, serão beneficiados com a

implementação do Piso.

§ 3° - Os vencimentos iniciais referentes às demais

jornadas de trabalho serão, no mínimo,

proporcionais ao valor mencionado no caput

deste artigo.

COMENTÁRIO

Este parágrafo legaliza a aplicação do

“princípio da proporcionalidade”. Se são

R$ 950,00 para 40 horas, proporcionalmente,

serão R$ 712,56 para 30 horas, por exemplo.

§ 4° - Na composição da jornada de trabalho, observar-se-á o limite máximo

de 2/3 (dois terços) da carga horária para o desempenho das atividades de

interação com os educandos.

COMENTÁRIO

Definição clara. Basta aplicar o percentual estipulado no parágrafo.

§ 5° - As disposições relativas ao piso salarial de que trata esta Lei

serão aplicadas a todas as aposentadorias e pensões dos profissionais

do magistério público da educação básica

alcançadas pelo art. 7º da Emenda Constitucional

nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e pela Emenda

Constitucional nº 47, de 5 de julho de 2005.

COMENTÁRIO

Os benefícios da nova legislação serão também

concedidos aos(as) aposentados(as).

Art. 3° - O valor de que trata o art. 2º desta Lei passará a vigorar a partir de 1º

de janeiro de 2008, e sua integralização, como vencimento inicial das

Carreiras dos profissionais da educação básica pública, pela União, Estados,

Distrito Federal e Municípios será feita de forma progressiva e proporcional,

observado o seguinte:

COMENTÁRIO

O artigo fixa a data de início da vigência dos efeitos da legislação:

janeiro de 2008. A Lei entrou em vigor a partir de 1º de janeiro

de 2008, mas a integralização inicia-se em 2009, de acordo com o

inciso II.

I – (VETADO);

II – a partir de 1º de janeiro de 2009, acréscimo de 2/3 (dois terços) da

diferença entre o valor referido no art. 2º desta Lei, atualizado na forma do

art. 5º desta Lei, e o vencimento inicial da Carreira vigente;

COMENTÁRIO

Este inciso começa a fixar o aumento proporcional da remuneração

dos profissionais: os governos em todos os níveis terão que iniciar

2009 pagando os 2/3 da diferença existente entre a atual

remuneração e o valor de R$ 950,00. Aqui, o

debate será acirrado, devido à formula do

cálculo. Duas questões:

1 – Debate entre salário-base e vencimento

(lembrar que vencimento inclui salário-base

mais gratificação).

2 – Debate relacionado à carga horária de 40

horas e ao Piso de R$ 950,00 para esta carga

horária.

III – a integralização do valor de que trata o art. 2º desta Lei, atualizado na

forma do art. 5º desta Lei, dar-se-á a partir de 1o de janeiro de 2010, com o

acréscimo da diferença remanescente.

COMENTÁRIO

O valor remanescente da diferença existente

entre jan/2009 e o montante de R$ 950,00

terá que ser corrigido até o início de 2010,

data em que o valor terá que ser pago em sua

integralidade e prazo final para implantação

total do piso.

§ 1°. - A integralização de que trata o caput deste

artigo poderá ser antecipada a qualquer tempo

pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

COMENTÁRIO

Facultou aos governos a possibilidade de antecipar o benefício.

§ 2°. - Até 31 de dezembro de 2009, admitir-se-á que o piso salarial

profissional nacional compreenda vantagens pecuniárias, pagas a qualquer

título, nos casos em que a aplicação do disposto neste artigo resulte em valor

inferior ao de que trata o art. 2º desta Lei, sendo resguardadas as vantagens

daqueles que percebam valores acima do referido nesta Lei.

COMENTÁRIO

Este parágrafo admite que o valor pago como gratificação possa ser

somado ao salário-base para efeito do cálculo da complementação

para se chegar ao piso nacional, até 31 de dezembro de 2009.

O valor

remanescente da

diferença

existente entre

jan/2009 e o

montante de R$

950,00 terá que

ser corrigido até

o início de 2010.

Art. 4°. - A União deverá complementar, na forma e no limite do disposto no

inciso VI do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias e em regulamento, a integralização de que trata o art. 3º desta

Lei, nos casos em que o ente federativo, a partir da consideração dos

recursos constitucionalmente vinculados à educação, não tenha

disponibilidade orçamentária para cumprir o valor fixado.

COMENTÁRIO

Mecanismo que prevê o auxílio da União às unidades federadas que

comprovadamente não conseguirem pagar o valor do piso. Veja

parágrafo seguinte.

§ 1°. - O ente federativo deverá justificar sua necessidade e incapacidade,

enviando ao Ministério da Educação solicitação fundamentada, acompanhada

de planilha de custos comprovando a necessidade da complementação de

que trata o caput deste artigo.

COMENTÁRIO

Formalidade a ser seguida por Estados e Municípios, a fim de

receberem o auxílio da União.

§ 2°. - A União será responsável por cooperar tecnicamente com o ente

federativo que não conseguir assegurar o pagamento do piso, de forma a

assessorá-lo no planejamento e aperfeiçoamento da aplicação de seus

recursos.

COMENTÁRIO

Intervenção positiva da União, no sentido de oferecer cooperação

técnica para adequação orçamentária, a fim de cumprir com o

pagamento do piso.

Art. 5° - O piso salarial profissional nacional do magistério público da

educação básica será atualizado, anualmente, no mês de janeiro, a partir do

ano de 2009.

Parágrafo único. A atualização de que trata o caput deste artigo será

calculada utilizando-se o mesmo percentual de crescimento do valor anual

mínimo por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano,

definido nacionalmente, nos termos da Lei no 11.494, de 20 de junho de

2007.

COMENTÁRIO

O caput e o art. 1º fixam os mecanismos de

correção do valor fixado pelo piso. Ou seja, a

partir de janeiro de 2009 o piso será mais do

que R$ 950,00.

Art. 6° - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão

elaborar ou adequar seus Planos de Carreira e Remuneração do Magistério

até 31 de dezembro de 2009, tendo em vista o cumprimento do piso salarial

profissional nacional para os profissionais do magistério público da educação

básica, conforme disposto no parágrafo único do art. 206 da Constituição

Federal.

COMENTÁRIO

Mecanismo da Lei para que o texto não se torne letra morta, no

instante em que obriga a todos os entes federados a adequar seus

Planos de Carreira e Remuneração do Magistério até 31 de

dezembro de 2009.

Art. 7°. (VETADO)

- Vetado, pois era redundante. Já está na Lei da Improbidade Administrativa.

Art. 8°. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 16 de julho de 2008; 187º da Independência e 120º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

Nelson Machado

Fernando Haddad

Paulo Bernardo Silva

José Múcio Monteiro Filho

José Antonio Dias Toffoli

PISO SALARIAL DO MAGISTÉRIO: O RESGATE DE UMA DÍVIDA

Francisco das Chagas Fernandes*

Finalmente, a sociedade brasileira começa a assumir o resgate de uma dívida com

o Magistério da Educação Básica: foi instituído o Piso Salarial Profissional Nacional.

Digo que começa, porque não é apenas o salário que faz a dignidade do

Profissional em Educação, seja ele o professor ou o funcionário administrativo. Pois é

igualmente necessário estarem presentes a formação, as condições de trabalho,

uma carreira promissora, a efetiva participação na construção do conhecimento e

acima de tudo, o reconhecimento da sociedade.

Para se instituir o Piso, foi preciso reivindicá-lo por décadas, por meio de

mobilizações, congressos, passeatas, paralisações. Foi preciso ter propostas

seguidamente derrotadas no Congresso Nacional, e que se aperfeiçoaram

continuamente, tendo a categoria à frente, chamando a atenção da sociedade.

Foi necessário eleger-se um Governo Federal que entendesse e aceitasse a

reivindicação, transformando-a numa proposta legítima para tramitar no

Congresso. E, para que tramitasse com sucesso, foi imprescindível se criar as

condições políticas e financeiras: sem ajustes do texto constitucional e sem a prévia

aprovação do FUNDEB, um novo modelo de financiamento, com mais de 5 bilhões

do Governo Federal para os Municípios e Estados que não conseguem garantir um

padrão mínimo de investimento na manutenção e desenvolvimento do ensino, a

proposta não se viabilizaria financeiramente, nem teria o selo da legalidade.

Acima de tudo, na reta final, foi necessário o Congresso Nacional discutir e

melhorar tanto a proposta do FUNDEB quanto a do Piso, para aprová-las por

unanimidade, marca de sua força política.

O resgate dessa dívida histórica se dá não apenas porque o Piso vai melhorar o

salário de milhões de profissionais, mas pela conquista de um conceito novo, que

articula remuneração com qualidade do trabalho. Trata-se de um Piso de R$ 950,00

para o professor com formação de nível médio em regime de 40 horas semanais de

trabalho, com pelo menos um terço dele dedicado a qualificar sua docência, no

preparo e avaliação de suas atividades com os estudantes. Isso significa que é preciso

fazer modificações ou atualizações nos Planos de Carreira dos Profissionais do

Magistério nos Estados e Municípios ou criá-los onde não existe. Até 31 de

dezembro de 2009, como está dito na própria Lei do Piso.

Estabelecidos o conceito e o valor do Piso, ele só se concretiza com a definição

das carreiras.

Como é quase impossível termos uma carreira nacional dos Profissionais do

Magistério da Educação Básica, dadas as especificidades regionais, é necessária a

definição de Diretrizes Nacionais. Até podemos dizer que existem Diretrizes

Nacionais, pois temos a Resolução Nº 03, de 1997, do CNE. Mas sem dúvida, ela

precisa ser atualizada. Como o assunto extrapola a questão da normatividade,

entendo que precisamos avançar mais e termos uma Lei que estabeleça essas dire-

trizes, para dar mais amplitude e peso político à conquista do Piso e de seu conceito.

Portanto, o resgate da dívida com os profissionais do magistério avança com a

definição de um sistema de financiamento com regime de cooperação e

colaboração dos entes federados, através do FUNDEB, onde, no mínimo 60% dos

recursos se destinam obrigatoriamente para a remuneração do Magistério; com

definição do Piso Nacional Profissional Nacional; com a definição das Diretrizes

Nacionais de Carreira e a conseqüente reorganização dos Planos de Carreira.

Avança, finalmente, com a perspectiva de termos instituído um sistema nacional

de formação inicial e continuado, onde não apenas os Estados e Municípios tenham

responsabilidades, mas também a União, pelo engajamento de seus órgãos

legislativos, normativos e científicos e pelo compromisso das universidades e outras

unidades de educação federal, responsabilizadas por dar respostas concretas às

demandas dos respectivos territórios.