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LIVROS NA CAMPANHA PELA ANISTIA 1 Flamarion Maués 2 Campanha da Anistia: a “ruptura com o silêncio” As primeiras reivindicações de anistia após o golpe de 1964, surgiram ainda naquele ano. Antes mesmo que hou- vesse passado um mês da deposição do governo de João Gou- lart, o jornalista Carlos Heitor Cony deu o título de “Anis- tia” à sua coluna do dia 18 de abril no jornal carioca Correio da Manhã 3 . Outro dos porta-vozes da reivindicação naquele ano foi o pensador cristão Alceu Amoroso Lima 4 . Em 1971, em encontro do partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB) realizado em Recife, foi lançada a “Carta de Recife”, que propunha, entre outras coisas, a anistia 5 . E, em seu pro- grama de 1972, o MDB reivindicava anistia “ampla e total” 6 .

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Campanha Anistia

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(Acervo CSBH-FPA)LIVROS NA CAMPANHA PELA ANISTIA1Flamarion Maus2Campanha da Anistia: a ruptura com o silncioAs primeiras reivindicaes de anistia aps o golpe de 1964,surgiramaindanaqueleano.Antesmesmoquehou-vesse passado um ms da deposio do governo de Joo Gou-lart, o jornalista Carlos Heitor Cony deu o ttulo de Anis-tia sua coluna do dia 18 de abril no jornal carioca Correio da Manh3. Outro dos porta-vozes da reivindicao naquele ano foi o pensador cristo Alceu Amoroso Lima4. Em 1971, em encontro do partido Movimento Democrtico Brasileiro (MDB) realizado em Recife, foi lanada a Carta de Recife, que propunha, entre outras coisas, a anistia5. E, em seu pro-grama de 1972, o MDB reivindicava anistia ampla e total6.N 6, Ano 5, 2011258Aideiaganhouflegononalde1974,quandofoilembradaporD.Paulo Evaristo Arns7, que a reforou na Quinta-Feira Santa de 1975, ao encaminhar um pedido de ampla e generosa anistia para os presos polticos s autorida-des brasileiras8.Foiem1975,queacampanhapelaanistiacomeouefetivamentede modomaisorganizado,comosurgimentodoMovimentoFemininoPela Anistia(MFPA),organizadoinicialmenteemSoPaulosobocomandode Therezinha Zerbini, e que depois constituiu ncleos em Minas Gerais, Bahia, Pernambuco,RiodeJaneiro,Sergipe,Cear,Paraba,SantaCatarinaeRio Grande do Sul9.E em 1 de fevereiro de 1978, foi lanado ocialmente no Rio de Janei-ro, o primeiro Comit Brasileiro de Anistia (CBA). Em seguida, surgiram os CBAs de Gois e da Bahia (abril); os de So Paulo, Londrina e Rio Grande do Norte (maio); os de Santos, So Carlos e Braslia (junho); e assim seguiu at que, em novembro de 1978, foi realizado oI Congresso Nacional pela Anistia, em So Paulo10.Nesse contexto, o incio do movimento pela anistia consequncia da ruptura com o silncio11 e da superao da cultura do medo12 imposta pela ditaduramedianteacensuraearepressopolticaquetorturava,matavae fazia desaparecer.Esse processo concomitante com a deciso da cpula militar no poder de implementar o que foi chamado de distenso poltica, a qual evoluiu depois paraaabertura,quegrossomodocomeaem1974(noinciodogoverno Geisel) e vai at 1985 (eleio indireta de Tancredo Neves para a Presidncia da Repblica, aps mais de 20 anos de governos militares)13.Nesse momento, a reivindicao da anistia para presos e perseguidos polticos, para cidados cujos direitos polticos haviam sido cassados e para os banidos e os exilados, marca e cristaliza o ponto de inexo em que im-portantes setores da esquerda brasileira passam a apresentar, como principal bandeira, a defesa das liberdades democrticas, deixando em segundo pla-no outras propostas mais radicais de transformao poltica e social. Assim, ganhava primaziaa deniode que aprincipal luta naquele momentoera derrubar a ditadura e estabelecer um governo democraticamente eleito e leg-timo, que pusesse m ao regime de exceo.ImprensaO processo de desenvolvimento da campanha da anistia, ao ganhar fora e agregar o conjunto das oposies, se tornou o primeiro grande momento, aps o Ato Institucional (AI) n 5 de 1968, em que se apresentou a oportunidade de 259negociao pblica, por intermdio do parlamento, de instituies da socieda-de civil e da imprensa, de um projeto que poderia signicar, efetivamente, um importante passo para o m do governo ditatorial.Nesteartigodareinfaseatuaodaseditorasdelivrosnessepro-cesso, tendo em vista que a atuao da imprensa tanto a chamada grande imprensa como a imprensa alternativa j foi bem estudada14.Mas, apenas para que no quem sem registro alguns pontos importantes relacionados imprensa, lembro que hoje est bastante documentado que a gran-de imprensa teve um papel de destaque no processo de abertura poltica iniciado no governo Geisel. Para o novo governo, era interessante uma certa liberalizao da imprensa, com o m da censura nos principais veculos de comunicao, des-de que isso se desse dentro dos marcos do projeto de abertura proposto. Dessa forma,partedagrandeimprensafoi,decertaforma,instrumentalizadapelos interesses polticos do grupo de Geisel e at mesmo se engajou nesse projeto.SegundoCelinaRabelloDuarte,antesde[Geisel]tomarposse[em 1974], seus principais assessores reuniram-se por diversas vezes com jornalis-tas proeminentes e donos de jornais, a quem apresentavam o projeto poltico donovogovernoegarantiamqueacensuraseriabrevementesuspensa15. Estes assessores eram o futuro ministro-chefe do Gabinete Civil, general Gol-bery do Couto e Silva, o futuro ministro da Justia, Armando Falco, o major Heitor Ferreira de Aquino (assistente de Golbery de 1964 a 1967, no Servio NacionaldeInformaes(SNI)esecretrioparticulardeGeiselde1972a 1979, na Petrobras e na Presidncia da Repblica) e Humberto Barreto (amigo de Geisel e seu secretrio de Imprensa de 1974 a 1977)16.Ainda de acordo com Celina Duarte,Dos contatos realizados entre os assessores mais diretos do general Geisel e oshomensdeimprensa,formou-se,noRiodeJaneiroeemSoPaulo,um grupo de jornalistas inuentes, completamente engajado no projeto poltico do governo. Esse grupo detinha especial inuncia nos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, e nas revistas Veja e Isto. Esses jornalistas chegavam a participar da elaborao de projetos e estratgias polticas junto com o grupo palaciano.17Situao oposta a esta viveu a imprensa alternativa, que esteve sob fr-rea censura por perodo maior do que a grande imprensa, no participou de negociaes com o governo e, quando a censura j havia diminudo muito, aindafoivtimadiretadeatentadosdadireitacontrasiou,indiretamente, contra bancas de jornais que vendiam suas publicaes, o que criou para estes jornais srios problemas de ordem econmica.N 6, Ano 5, 2011260Essasdiferenasentreagrandeimprensaeaimprensaalternativale-varam a que tivessem papis distintos na campanha pela anistia. Enquanto os alternativos se destacaram na denncia das torturas da represso poltica, dos mortos e desaparecidos polticos, dando voz aos presos ou ex-presos e aos exilados, divulgando quais eram os principais centros de tortura, listas de tor-turadores etc., a grande imprensa, at setembro de 1978, pouco abordou essas questes, dando mais destaque s negociaes parlamentares e palacianas em tornodasdivergnciasdentrodoregimeedaoposiolegalemrelaoao alcance e aos limites da anistia.As denncias de torturaIsso relevante, pois um dos pontos fortes da campanha pela anistia eram as denncias de tortura contra dissidentes polticos no Brasil, particu-larmente a partir de 1969, fato que era relativamente pouco conhecido pela maiorpartedapopulaoouaomenosseudetalhamentoesuaextenso eram pouco conhecidos. E a partir dessa questo que gostaria de abordar a atuao de algumas editoras de livros no pas nesse perodo.Desde o golpe de 1964, a tortura passou a ser (ou voltou a ser, se pen-sarmosnoEstadoNovo)utilizadapelosquetomaramopodercomoarma derepressopoltica.Atorturafoicertamenteomaisvilecovardemtodo utilizado pela ditadura brasileira de 1964, contra seus adversrios polticos. Principalmenteapartirde1969,quandoaorganizaodeumsistemare-pressivoaltamentecentralizadoeseletivo18,foiumadasmarcasdoregime. Arepressoeatorturanotiveramnadadeimprovisado,nosetratoude excesso de um ou outro militar mais violento. Foi algo planejado e estrutu-rado e realizado sob o comando das Foras Armadas, que empregaram seus homens, instalaes e conhecimentos para esse m.A estrutura da represso foi reorganizada em novos moldes a partir de 1969, com a nalidade de combater e eliminar a dissidncia poltica, princi-palmente a armada, de forma seletiva. Em julho surgiu a Operao Bandei-rante (Oban), em So Paulo, que inovou ao criar uma estrutura mais dinmica para a represso, mantendo o comando com as Foras Armadas, mas incluin-do tambm setores das polcias civis estaduais.Omodelotevexitoefoiinstitucionalizadoem1970,comacriao dos Destacamentos de Operaes de Informaes-Centros de Operaes de Defesa Interna (Doi-Codi). Entre 1969 e 1975, foram assassinados sob tortura ou desapareceram a grande maioria dos mortos e desaparecidos da ditadura brasileira. De acordo com o Dossi Ditadura, dos 426 mortos e desaparecidos por motivos polticos, 322 foram atingidos nesse perodo19.261Asvtimasdatorturalevamsuasmarcasparasempre.Nohcomo apag-las. um mal que no tem m, um crime cujas sequelas so perma-nenteseatingemtambmosfamiliareseamigosdasvtimase,abemda verdade, toda a sociedade.Anal, no se pode esquecer que a tortura tem tambm um lado social e poltico da maior importncia. Como destaca Maria Helena Moreira Alves:O uso generalizado e institucionalizado da tortura numa sociedade cria um efeitodemonstrativocapazdeintimidarosquetmconhecimentodesua existncia e inibir a participao poltica. [No Brasil] A evidncia da represso de Estado criou uma cultura do medo na qual a participao poltica equi-parou-se ao risco real de priso e consequente tortura [e] coibiu a participao em atividades de oposio comunitria, sindical ou poltica.Esta cultura do medo tinha trs importantes componentes psicolgicos: o primei-ro era o silncio imposto sociedade pela rigorosa censura [...] Este silncio impos-to provocou profundo sentimento de isolamento naqueles que sofriam diretamente a represso e/ou explorao econmica. [...] Amplos setores da populao viram-se marginalizados e isolados de outros segmentos que poderiam oferecer-lhes apoio e ajuda. [...] Parecia impossvel enfrentar o poder do Estado. Um sentimento de total desesperana passou a prevalecer na sociedade [...] Silncio, isolamento e des-crena eram os fortes elementos dissuasivos da cultura do medo.20Por isso os livros que denunciaram a tortura e lutaram pela anistia no Brasil tm importncia, pois deram a sua contribuio para romper este cerco da cultura do medo, o cerco do silncio, do isolamento e da descrena, le-vando ruptura com o silncio de que falamos no incio deste texto.Livros e editoras de oposioAqui tomo como referncia algumas ideias do historiador norte-ameri-cano Robert Darnton, em particular aquelas que mostram que preciso com-preender o livro como uma fora da histria21 e, principalmente, sua conclu-so de que os livros no se limitam a relatar a histria: eles a fazem22. o que acredito que ocorre com os livros dos quais falaremos.A maior parte deles de denncia da tortura e da represso poltica no Brasil, surgiu no mago de uma retomada da ao poltica, mesmo no quadro de uma ditadura que ainda torturava e matava. quando se inicia o perodo da luta democrtica, em queaps a derrota poltica e militar da experincia da luta armada [...] as esquerdas N 6, Ano 5, 2011262brasileiras se reorganizam em torno de uma proposta de luta pelas liberdades democrticas,ajudandoaconstituire,emmuitoscasosaliderar,umamplo campo de oposio poltica ditadura militar.23A partir desse perodo, meados da dcada de 1970, podemos vericar um movimento editorial e cultural marcado pela revitalizao de editoras com per-l marcadamente poltico e de oposio ao governo militar iniciado em 1964. Editoras j existentes, como Brasiliense, Civilizao Brasileira, Paz e Terra e Vo-zes retomaram uma atuao poltica mais acentuada, editando livros que trata-vam de temas que questionavam a ideologia, os objetivos e os procedimentos do regime de 1964. E, ao mesmo tempo, editoras surgidas nos anos 1970 como Alfa-Omega, Codecri, Edies Populares, Global, Graal, Hucitec, L&PM e Vega tambm comearam a publicar livros de claro carter poltico.Seroeditorasquesecaracterizarocomoeditorasdeoposio,pelo fato de ter perl de oposio ao governo civil-militar e terem publicado cer-to nmero de livros contrrios ao regime24. Boa parte dessas editoras estava ligada ao campo das ideias de esquerda, mas havia tambm uma parte delas que tinha uma viso poltica de outro matiz, esposando ideias liberais, refor-mistas, nacionalistas etc.Em funo do diferente grau de engajamento poltico de seus proprie-trios, editores e colaboradores que podia ir desde a militncia orgnica em partidos ou grupos polticos at uma postura de oposio mais geral diante dos propsitos do regime, sem que isso implicasse vinculao ou militncia em alguma organizao , deni um subgrupo entre as editoras de oposio, as editoras de oposio engajadas, que eram aquelas que:a)publicavampredominantementelivrosdeoposioeb)tinhamenvolvi-mento poltico claro, isto , tinham ligaes com organizaes polticas opo-sicionistas, caracterizando-se algum tipo de vinculao entre empresa e orga-nizao poltica. Geralmente, seus proprietrios e/ou editores militavam em partidos ou organizaes de oposio ao regime militar.25A maioria das editoras de oposio se enquadrava neste subgrupo.Taiseditorasdeoposioseenquadramnoquesepodechamarde literaturapoltica,cujaspublicaespodemserclassicadasnasseguintes categorias: livros de denncias contra o governo, depoimentos de exilados e ex-presospolticos,obrasdeparlamentaresdeoposio,livros-reportagem, memrias,romancespolticos,romances-reportagem,clssicosdopensa-mentosocialista.Estesegmentoganhouimpulsomaissignicativoapartir de 1977-1978, com o retorno cena pblica do movimento estudantil e do 263movimento sindical, em particular com as greves no ABC paulista, e o avano da campanha pela anistia.Livros na luta pela anistiaSeroaseditorasdeoposioqueeditarooslivrosdedennciada tortura, que foram elementos constitutivos da luta pela anistia e tambm os livros que tratavam j diretamente da reivindicao da anistia, dos seus mo-tivos e justicaes.Apresento a seguir um levantamento preliminar e certamente ainda in-completo, de livros que tratavam da luta pela anistia, da questo dos presos polticos, dos exilados e da tortura, editados no perodo entre 1975, quando ocorre a criao do Movimento Feminino Pela Anistia e 1979, ano da aprova-o da Lei de Anistia:Dosgovernosmilitares1969-1974,deHlioSilva.SoPaulo:Editora Trs, 1975. Nas pginas 132 a 136 do livro descrita a morte sob tortura de StuartEdgarAngel,militantedoMovimentoRevolucionrio8deOutubro (MR-8), desaparecido em 14 de maio de 1971, nas mo da represso. A me de Stuart, Zuzu Angel, comprou vrios exemplares do livro antes do seu reco-lhimento pela censura, e os distribuiu a conhecidos26. Zero: romance pr-histrico, de Igncio de Loyola Brando. Rio de Janei-ro: Ed. Braslia, 1975. Segundo o autor, era um livro violento: falava de tor-tura, esquadro da morte, ditadura. Tanto que foi proibido27. No livro, entre outros casos, aparece o depoimento do personagem Carlos Lopes, que descre-ve a narrao das torturas que ouviu de um preso poltico. Lanado primeiro na Itlia, em 1974, o livro foi censurado no Brasil logo aps seu lanamento, no ano seguinte, sendo liberado em 1979, quando saiu a sua segunda edio no pas (Rio de Janeiro: Codecri).Cadeia para os mortos, de Rodolfo Konder. So Paulo: Alfa-Omega, 1977. Apresentava, inseridas no texto ccional (contos), descries de torturas vivi-das pelo prprio autor em 1975, quando esteve preso no Doi-Codi/SP.O canto na fogueira: cartas de trs dominicanos quando em crcere poltico, deFreiFernandodeBrito,FreiIvoLesbaupineFreiBetto(CarlosAlberto Libnio Christo). Petrpolis: Vozes, 1977. Rene 171 cartas escritas individu-almente ou em conjunto pelos trs religiosos entre 1969 e 1973.Cartas da priso, de Frei Betto (Carlos Alberto Libnio Christo). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1977; e Das catacumbas: cartas da priso (1969-1971), de Frei Betto (Carlos Alberto Libnio Christo). Rio de Janeiro: Civiliza-o Brasileira, 1978. Os livros contm as cartas escritas pelo autor entre 1969 e1973,quandoestevepresopeladitaduramilitar.Dascatacumbascontm N 6, Ano 5, 2011264ascartasde1969a1971,eCartasdaprisoasde1972e1973.Antesde editado no Brasil, o primeiro volume de cartas saiu na Itlia sob o ttulo Nos subterrneos da histria (Mondadori), em 1971. Em seguida, traduziram-no em francs, espanhol, sueco, holands, alemo e ingls. No Brasil, as cartas dos ltimos dois anos (1972-1973) foram as primeiras a serem editadas, pela Civi-lizao Brasileira, em 1977, com o ttulo Cartas da priso. Em 1978, as demais foram publicadas, pela mesma editora, com o ttulo Das catacumbas28.Emcmaralenta,RenatoTapajs.SoPaulo:Alfa-Omega,1977.Ro-mance que aborda a guerrilha urbana no Brasil e faz uma autocrtica desse processo.DescrevecenasdetorturasofridasporAuroraMariaNascimento Furtado (mas sem mencionar seu nome), militante da Ao Libertadora Na-cional (ALN) morta em 10 de novembro de 1972. O livro foi proibido e seu autor preso29.Naooprimida,deMarcosFreire.RiodeJaneiro:PazeTerra,1977. Conjuntodetextosbaseadosnospronunciamentosdosenadorautntico do MDB pernambucano. Entre eles h alguns com denncias de violaes de direitos humanos no Brasil, mortes e desaparecimentos de perseguidos polti-cos. De acordo com a revista Veja, foi um dos dez livros mais vendidos do ano de 1977, na categoria no co30.Salgando a terra, de Alencar Furtado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. Livro que reproduz pronunciamentos na Cmara Federal do ex-lder do MDB, cassado em 30 de junho de 1977. Entre os textos h alguns que abordam a ques-to da violao dos direitos humanos, dos presos e desaparecidos polticos.Anistiaparaumhomemquesonhoucomaliberdade:romancelibelo,de Aldenoura de S. Porto: ries Didtica Editorial, 1978. Caso Herzog, a sen-tena.PrefciodeRaymundoFaoro.SoPaulo:Salamandra,1978.Traza ntegra do processo movido por Clarice, Ivo e Andr Herzog contra a Unio e a setena condenatria pela morte do jornalista Vladimir Herzog em 1975, no Doi-Codi/SP.Ensaio geral, de Antnio Marcello. So Paulo: Alfa-Omega, 1978. Mem-rias romanceadas de um militante que foi preso poltico entre 1971 e 1974, com uma avaliao crtica da luta armada.A guerrilha do Araguaia, de Palmrio Dria, Vincent Carelli, Srgio Bu-arque e Jaime Sautchuck. So Paulo: Alfa-Omega, agosto de 1978; e Dirio da guerrilha do Araguaia. Apresentao de Clvis Moura. So Paulo: Alfa-Omega, 1979. Estes dois livros, ao publicarem documentos sobre a Guerrilha do Ara-guaia, colaboravam para divulgar a existncia e a histria dessa luta, at ento pouco conhecida, e da forte represso a que foi submetida. O silncio ocial emrelaoGuerrilhadoAraguaiafoiumdospontosquestionadospela campanha da anistia.265Inventriodecicatrizes,deAlexPolari.SoPaulo;RiodeJaneiro:Glo-bal;TeatroRuthEscolar;ComitBrasileiropelaAnistia-RJ,1978.Descreve situaes vividas pelo autor na priso como preso poltico, entre as quais as torturas de que foi vtima.Liberdade para os brasileiros: anistia ontem e hoje, de Roberto Ribeiro Mar-tins. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978. Livro inserido na campanha pela anistia. Mais informaes neste artigo, adiante, no item Dois livros na campanha pela anistia.O Livro Negro da USP: o controle ideolgico na Universidade. Obra organi-zada pela Adusp (Associao dos Docentes da Universidade de So Paulo). So Paulo: Adusp, 1978. Investiga e documenta a perseguio poltica na USP aps o golpe de 1964, que levou cassao e ao afastamento de dezenas de professo-res. O livro reivindicava a anistia para esses professores. A obra foi reeditada em 2004, pela Adusp com o ttulo O controle ideolgico na USP (1964-1978).Memrias do exlio: Brasil 1964-19??, coordenado por Pedro Celso Uchoa Cavalcanti e Jovelino Ramos. So Paulo: Livramento, setembro de 1978. Apre-sentado como obra coletiva realizada sob o patrocnio de Paulo Freire, Abdias do Nascimento e Nelson Werneck Sodr, o livro, que j havia sido publicado em 1976 em Portugal, foi editado no Brasil somente em 1978. Entre diversos depoimentos e entrevistas com exilados brasileiros, destaca-se o Dossier Frei Tito, que descreve em detalhes as atrocidades a que Tito de Alencar Lima foi submetido, levando ao seu suicdio, na Frana, em 1974. Na contracapa do livro aparece o logotipo do Comit Brasileiro pela Anistia (CBA).A sangue-quente: a morte do jornalista Vladimir Herzog, de Hamilton Al-meida Filho. So Paulo: Alfa-Omega, 1978. Livro decorrente de longa repor-tagem que havia sido publicada originalmente no jornal alternativo EX, em novembro de 1975. Desmontava a verso de suicdio apresentada para a morte de Herzog e descrevia o clima de medo e terror que se vivia naqueles dias. Tempo de ameaa (autobiograa poltica de um exilado), de Rodolfo Kon-der. So Paulo: Alfa-Omega, 1978. As mesmas cenas de tortura narradas no livro Cadeia para os mortos so novamente descritas, dessa vez no mais como parte de um texto de co, mas sim como memrias do autor.131-D.Linhares:memorialdaprisopoltica,deGilneyAmorimViana. CoediocomComitBrasileiropelaAnistiaeMovimentoFemininoPela Anistia. Contagem: Histria, agosto de 1979. Traz as memrias e as reexes do autor, ento ainda preso no Rio de Janeiro por sua militncia poltica.Anistia, semente de liberdade, de Therezinha Godoy Zerbini. So Paulo: Edio da autora, 1979. Rene artigos e textos publicados desde 1975, pela au-tora relacionados ao tema da anistia e ao surgimento do Movimento Feminino Pela Anistia, alm de matrias de jornal sobre sua atuao nesse campo.N 6, Ano 5, 2011266CartasobreaAnistia.AentrevistadoPasquim.Conversaosobre1968, de Fernando Gabeira. Rio de Janeiro: Codecri, 1979. Pequeno livro reunindo textos do jornalista e ex-exilado Fernando Gabeira, um deles sobre a anistia.Confessoquepegueiemarmas,dePinheiroSalles.BeloHorizonte:Vega, 1979.Livrodememrias,publicadoquandooautoraindaestavapreso,que relata sua experincia na luta armada e na priso, inclusive as torturas de que foi vtima. O livro foi reeditado em 2009, pela Universidade Federal de Gois.Depoimento de um torturado: a defesa da dignidade da pessoa humana e dos direitosdopovo,deDimasPerrin.RiodeJaneiro:Novacultura,1979.Rene um dossi com cartas, documentos e matrias de jornal sobre a priso em maio de 1974, no Rio de Janeiro e torturas sofridas pelo autor, jornalista e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB).Desaparecidos polticos, prises, sequestros, assassinatos: artigos, entrevistas, documentos, reportagens. Organizado por Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa. Co-edio com o Comit Brasileiro pela Anistia/RJ (CBA). Rio de Janeiro: Opo, 1979. O livro organizado pelo Comit Brasileiro pela Anistia-RJ uma espcie de dossi de casos de pessoas presas, torturadas, mortas ou desaparecidas por motivos polticos, reunindo informaes detalhadas sobre cada caso.DossiHerzog:priso,torturaemortenoBrasil,deFernandoPacheco Jordo. So Paulo: Global, maio de 1979. Longa reportagem que narra deta-lhadamente a farsa montada em torno do assassinato de Herzog em 1975 e descreve todo o movimento de solidariedade e de resistncia a que sua morte deu origem.Esquerda armada: a luta continua (Testemunho dos presos polticos do Pre-sdio Milton Dias Moreira, no Rio de Janeiro), organizado por Luzimar Nogueira Dias. Vitria: Edies do Leitor, 1979. Nos depoimentos constantes do livro, presos polticos denunciam as diversas formas de tortura de que foram vti-mas e as condies de priso a que foram submetidos.Os exilados: 5 mil brasileiros espera da anistia, de Cristina Pinheiro Ma-chado. So Paulo: Alfa-Omega, 1979. Livro-reportagem que conta a histria de vriosexilados,desdeomomentodogolpe,em1964,atasegundalevado exlio, a partir do nal da dcada de 1960. A contracapa do livro traz a seguinte informaao: Este livro recomendado pelo Comit Brasileiro pela Anistia.A fbrica de chocolate, de Mrio Prata. So Paulo: Hucitec, 1979. Texto da pea teatral de Mrio Prata, que, nas palavras de Ruy Guerra no prefcio ao livro, faz uma anlise das vsceras do torturador, encarando frontalmente um tema que at h bem pouco tempo era tabu em letra de forma. A pea foi encenada em So Paulo, com a direo de Ruy Guerra, no nal de 1979.Guerra de guerrilhas no Brasil, de Fernando Portela. So Paulo: Global, 1979. Reportagem pioneira sobre a Guerrilha do Araguaia. Primeiro trabalho 267de flego sobre a Guerrilha do Araguaia, resultou de uma srie de reportagens realizadas pelo autor e publicadas inicialmente no Jornal da Tarde, de So Pau-lo.Relatatambmahistriadarepressoguerrilhaesuasconsequncias sobre a populao da regio.Itinerrio,deHaroldoLima;organizadoporJovinianoNeto.Salvador: Comit Brasileiro pela Anistia Ncleo da Bahia, 1979. Depoimento do au-tor sobre sua experincia poltica na esquerda crist, na AP, no PCdoB, e no perodo de priso31. Livro editado pelo ncleo baiano do Comit Brasileiro pela Anistia.Milagre no Brasil, de Augusto Boal. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1979. Livro de memrias em que o teatrlogo narra a sua priso em So Paulo em 1971, pelos rgos de represso e o perodo que cou preso, denunciando torturasquepresenciou.OlivrofoipublicadoinicialmenteemPortugale posteriormente no Brasil.Nasprofundasdoinferno,deArthurPoerner.RiodeJaneiro:Codreci, 1979.Romanceescritoem1976,publicadoepremiadonaItliaem1978, o livro somente foi editado no Brasil em 1979. Aborda a priso poltica e as torturasaquefoisubmetidoopersonagemJosdaMangueira.Olivrofoi reeditado em 2007 (Rio de Janeiro: Booklink).Poemasdopovodanoite.SoPaulo,EditorialLivramento,1979.Livro de poemas de Pedro Tierra, pseudnimo de Hamilton Pereira da Silva, escri-toduranteoperodoemqueoautorestevepreso,entre1972a1977.Seus poemasdescrevemosdurosmomentospassadospelospresospolticos,as torturas, a morte de muitos deles e a luta pela vida dos que resistiram s sev-cias. A primeira edio do livro, artesanal e no comercial, ocorreu em 1975. A primeira edio comercial foi na Espanha, pela editora Sgueme, de Sala-manca, em 197832. A 3 edio ampliada do livro foi lanada, em 2010, pela Publisher em coedio com a Editora Fundao Perseu Abramo.O que isso, companheiro?, de Fernando Gabeira. Rio de Janeiro: Codecri, 1979. Memrias romanceadas do jornalista que participou do sequestro do embaixador norte-americano, em setembro de 1969. O livro fala de sua priso e do exlio. Teve enorme sucesso de vendas.Querida famlia, de Flvia Schilling. Porto Alegre: Coojornal, 1979. Car-tas da brasileira presa no Uruguai sua famlia. A campanha pela libertao daautoratevegranderepercussonoBrasilesemescloucomacampanha pela anistia.Tortura: a histria da represso poltica no Brasil, de Antonio Carlos Fon. So Paulo: Global, julho de 1979. O livro consequncia de uma reportagem de Fon para a revista Veja e descreve a montagem e a atuao do sistema re-pressivo no pas desde 1969, com a criao da Operao Bandeirante (Oban). N 6, Ano 5, 2011268Mais informaes neste artigo, mais adiante no item Um livro de denncia da tortura.Dois livros na campanha pela anistiaAqui, destacarei dois livros de oposio, editados em 1978 e 1979, pro-curando vericar o seu alcance e as consequncias da sua publicao, parti-cularmente em relao campanha pela anistia.Um livro retoma a histria da anistia no Brasil33Lanado em agosto de 1978, Liberdade para os brasileiros: anistia ontem e hoje, de Roberto Ribeiro Martins, escrito com a colaborao de Paulo Ribeiro MartinseLusAntnioPalmeira(RiodeJaneiro:CivilizaoBrasileira),foi um livro claramente engajado na campanha pela anistia.Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o autor havia sido preso poltico, condenado a cinco anos de priso e tivera seus direitos pol-ticos cassados por dez anos. Foi ainda no presdio do Barro Branco, em So Paulo, no nal de 1976, que iniciou as pesquisas para o livro, inuenciado pela recente chegada dos companheiros sobreviventes do Massacre da Lapa (Aldo Arantes, Haroldo Lima e Vladimir Pomar).J fora da cadeia, o trabalho do autor sobre o tema teve continuidade com a publicao dos estudos Anistia ontem e hoje (Coorjornal, Porto Alegre, n. 26, maro de 1978) e Anistia, tema atual (Cadernos do Ceas, Salvador, n. 54, mar./abril 1978), e ganhou maior amplitude e profundidade com o convite paraaelaboraodosuplementoespecialsobreanistiaparaojornalMovi-mento, um dos mais importantes da imprensa alternativa, que porporcionou o auxlio de uma equipe maior para a pesquisa sobre o tema34, alm de passar a contar com colaboradores diretos.Nesseperodo,MartinsparticipoutambmdafundaodoComit Brasileiro pela Anistia (CBA) do Rio de Janeiro.O livro traz uma narrativa da ideia e da prtica da anistia na histria, desdeaAntiguidadegregaatosculoXX,comespecialdestaqueparaa histria das anistias no Brasil, mostrando que no pas havia uma tradio de encerrarcadacicloderevolta,contestaoouguerracomoatodaanistia, para a pacicao da famlia brasileira35.A publicao foi feita pela Civilizao Brasileira, editora das mais con-ceituadas e atuantes politicamente, em 1978 ainda sob a direo de nio Sil-veira, um dos mais importantes editores do pas em todos os tempos. A Civi-lizao Brasileira sofreu perseguies por parte do governo militar nos anos 2691960 e 1970, que levaram quebra da editora e sua venda36. A indicao para a edio do livro pela editora foi do historiador Hlio Silva o prefacia-dor da obra , que havia estabelecido contato com Roberto Martins por meio de alguns presos polticos.Olivroteveduastiragensde4milexemplarescadaumaechegoua constar das principais listas de livros mais vendidos, como a da revista Veja, por algumas semanas. Recebeu tambm vrias resenhas na imprensa, entre as quais destaco a de Antnio Houaiss, na revista Isto (6/9/1978, p. 67), que referia-se obra como livro urgentemente oportuno, serenamente corajoso, didaticamente aliciante. E tambm o comentrio do advogado Jos Gregori, no Encontro Nacional pela Democracia (Rio, dez. 1978, Centro Brasil Demo-crtico), que armou constituir o livro um dos instrumentos mais eloquazes, mais esclarecedores na presente luta pela anistia. Acho que sua contribuio nessa luta, no sentido de tomar o tema e decomp-lo completamente, uma contribuio altamente construtiva.De acordo com Roberto Martins,Houve lanamentos do livro no Brasil inteiro, a comear pelo Rio, sendo os mais signicativos os da Bahia e do Rio Grande do Sul. Sempre eram acompanhados de debates, fundao de CBAs, entrevistas imprensa, visitas s mais inuentes ins-tituies da sociedade civil, como as seccionais da OAB. Em Porto Alegre fomos recebidos[na]AssembleiaLegislativa,almdeparticipardesessoespecialda Cmara de Vereadores de Caxias do Sul. Em Curitiba deu-se a fundao do CBA e um debate onde estavam presentes, entre outros, o Fernando Henrique Cardoso.Alm desses, houve tambm lanamentos em Belm, So Lus, Fortale-za, Natal, Recife, Macei, Aracaju, sempre promovidos pelos CBAs locais.Como salienta Martins, esses eventos ajudaram a levar o debate sobre a anistia a cada canto do pas, e ajudaram na formao de comits pela anistia edireitoshumanos,pormeiodecomcios,debates,entrevistasereunies, tendo sempre o livro como bandeira de luta.Trinta anos aps o lanamento, Martins arma que a obra desempe-nhouimportantepapelnalutapelaanistia.Emprimeirolugar,porquefor-neceu uma base histrica, jurdica e poltica para fundament-la. Como tal, constituiu-se num manancial de argumentos e exemplos para toda a socieda-de. E completa: Seu lanamento, sem dvida, muito contribuiu para quebrar resistncias e ampliar a adeso causa da anistia.Ainda em 1979, Jos Gregori destacava: Quando se zer a histria da anistia,achoque[este]livro,semdvidanenhuma,seinscreverentreas colaboraes mais positivas.N 6, Ano 5, 2011270Um livro de denncia da tortura O livro Tortura: a histria da represso poltica no Brasil, do jornalista An-tonio Carlos Fon, foi publicado em 1979 pela editora Global, de So Paulo37.O livro consequncia de um trabalho de investigao jornalstica de cerca de cinco meses realizado por Fon para a revista semanal Veja, peridico em que trabalhava. O resultado inicial dessa reportagem foram duas matrias publicadas em Veja (n. 546, 21/2/1979), intituladas Descendo aos pores e Um poder na sombra. Fon havia sido militante da Ao Libertadora Nacio-nal (ALN), tendo sido preso e torturado em 1969.A reportagem mostrava em detalhes como havia sido organizado o apa-relho repressivo do regime militar ps-1964 e como a tortura de presos pol-ticos passara a ser utilizada de forma sistemtica e cientca contra os sub-versivos. A descrio das tcnicas de suplcio feita de forma circunstanciada nas matrias da revista e no livro, de modo impactante para o leitor.Em julho de 1979, cinco meses aps a publicao da matria de Fon em Veja, foi lanado o livro Tortura: a histria da represso poltica no Brasil, com a ntegra da reportagem, sem as limitaes de espao a que a matria estava sujeita na revista. um pequeno livro de 79 pginas, denso de informaes e de revelaes sobre a forma como foi montado o esquema de represso da ditadura brasileira.A editora Global, que publicou o livro, era uma editora relativamente nova, que estava se destacando por lanar livros de esquerda, lembra Fon38. Fundada na cidade de So Paulo em outubro de 1973, a Global foi uma das editoras mais atuantes no nal dos anos 1970, tendo publicado inmeros t-tulosdecunhopoltico,emparticularclssicosdopensamentosocialista. Caracterizava-se claramente como uma editora de oposio. Criada por Luiz Alves, a editora teve seu perl e linha editorial profundamente modicados com a contratao do livreiro, editor e militante socialista moambicano Jos Carlos Venncio, em 1976. Com ele, a editora passou a ter uma linha marca-damente poltica e de esquerda39.O livro foi lanado com uma tiragem inicial de 5 mil exemplares40 e, alm da distribuio normal em livrarias, foi tambm colocado venda em bancas de jornais41. A primeira tiragem esgotou-se em apenas uma semana. Houve pelo menos sete reimpresses e o livro vendeu, no total, cerca de 30 mil exemplares.Uma das caractersticas particulares dessa obra que, em todas as edi-es,oautordoouseusdireitosautorais.Acadaedio,ospagamentosde direitos autorais eram direcionados para uma entidade: Comit Brasileiro pela Anistia (CBA), Sindicato dos Jornalistas de So Paulo, Partido dos Trabalha-271dores (PT), Unio Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento Contra a Ca-restia etc. A editora pagava diretamente em livros para os movimentos, que os revendiam para fazer nanas.De acordo com Fon, foram feitos lanamentos do livro em vrias cida-des do Brasil, como Porto Alegre, So Paulo, Rio de Janeiro, Recife. Em Recife ocorreu o lanamento que, entre todos, mais me emocionou. Foi na vspera da chegada do [Miguel] Arraes do exlio, lembra Fon. Geralmente os lanamentos eram feitos com noite de autgrafos e de-bates.Oslanamentoseramumpoucocomerciaiseumpoucopolticos. Algumas entidades se juntavam para pagar a minha ida aos eventos em outros estados, faziam os folhetos de divulgao. E a editora ajudava, diz Fon. Jos Carlos Venncio completa, armando: O livro vendeu muito bem, e teve uma repercusso enorme. Foi intensamente trabalhado em sindicatos, universida-des, na campanha pela anistia. E continua: Entrou rapidamente na lista dos mais vendidos da Veja e continuou sendo vrias vezes reeditado42.Em relao ao papel do livro na luta poltica naquele momento, Jos Car-los Venncio arma que O livro do Fon ajudou a levantar o vu da ditadura.Breves comentriosAps esta preliminar e sumria apresentao de obras publicadas na-quele perodo sobre a questo dos presos polticos, dos exilados, das denn-cias de torturas e em favor da anistia, uma das concluses a tirar que parece claro que o xito e a repercusso desses livros indicam que eles cumpriram um certo papel na denncia das arbitrariedades da ditadura e nas lutas em de-fesa dos direitos humanos e pela anistia, as quais se desenvolviam com fora em 1979, no quadro poltico de embate entre os setores que se opunham ao regime e o governo recm-empossado do general Joo Baptista Figueiredo.Ao mesmo tempo, devemos lembrar que os livros no foram pioneiros em abordar essas questes. Mesmo com as severas restries que a imprensa sofria,jornaiserevistasestamparamemsuaspginas,mesmonoperodo mais duro da represso, entre 1969 e 1975, algumas notcias e cartas que tra-tavam do tema da tortura, e abordaram, ainda que nem sempre com destaque, as discusses sobre uma possvel anistia.Todavia, o papel desse tipo de livro no Brasil de oposio no deve ser subestimado. Alguns deles tiveram sucesso de vendas, ocupando as listas dos livros mais vendidos poca, como o caso das duas obras que aborda-mos com mais detalhes. Mesmo outros livros que no se tornaram best-sellers tiveramtambmcertarepercusso,comoocasodoromanceEmcmara lenta, que levou priso de seu autor em virtude da publicao da obra.N 6, Ano 5, 2011272O impacto desses trabalhos se dava por reunirem um conjunto de in-formaes e anlises sobre temas fortes da luta poltica contra a ditadura. Nos casos que analisamos, o livro de Antnio Carlos Fon trazia informaes at certo ponto consolidadas sobre os mtodos de represso aos grupos de oposi-o clandestinos que atuaram no Brasil entre o nal dos anos 1960 e meados da dcada de 1970, com diversos testemunhos em primeira mo sobre tortu-ras, mortes e desaparecimentos, mostrados no de forma isolada, como acon-tecia em geral quando a imprensa conseguia tratar desse tema, mas sim como uma poltica de governo que havia sido utilizada para aniquilar a esquerda. E o livro de Roberto Martins, ao apresentar um exaustivo histrico das anistias j ocorridas no Brasil e da luta pela anistia nos anos 1970, transformava-se em importante elemento na campanha pela ansitia ampla, geral e irrestrita que ento ganhava fora, vindo a participar diretamente da mesma. importante notar que o tema da poltica sistemtica de tortura, morte ou desaparecimento de presos polticos durante a ditadura promovida e re-alizada por membros do governo, militares, policiais e civis, em dependncias ociais e extraociais era ainda conhecido por uma parcela relativamente pequena da sociedade. Ou melhor, a maior parte da sociedade no dispunha derelatostodetalhadossobreessasprticascomoosfornecidospelaobra de Fon. Assim, livros como esses colaboraram para que to importante tema e to sensvel para os militares, muitos dos quais negam at hoje que tenha existido tortura entrasse na pauta do debate poltico nacional.Ofatodealgumasdessasobrasapareceremdurantemesesseguidos nas listas dos livros mais vendidos tambm um elemento revelador de sua repercusso e importncia. Pode ser visto como a comprovao de que esses livros responderam a um anseio de informao existente na sociedade ao menos naquela parcela que comprava livros. Foi tambm um fator que rea-limentouoprocessodecirculaodessasobras,umavezqueestimulouos livreiros a mant-las em destaque em suas lojas e motivou leitores que ainda no haviam comprado a obra a faz-lo, alm, claro, de motivar os editores a lanar outras obras assemelhadas, que ampliavam as informaes e os pontos de vista existentes sobre o tema.Em relao ao papel poltico que esses livros desempenharam, vale lem-brar que muitas vezes eles proporcionavam como foi o caso dos dois livros que abordamos a realizao de eventos de lanamento e noites de autgra-fos, que ocorriam em diversas cidades e se transformavam, em muitos casos, em atos polticos e/ou se integravam na campanha da anistia. Esse um dos aspectos que marca as possibilidades diferenciadas que o livro possui em re-lao a outros tipos de veculos impressos. Por exemplo, as revistas semanais e os jornais dirios, apesar de sua grande tiragem e do seu maior alcance, tm 273uma repercusso muito concentrada no tempo, ou seja, tal repercusso se d na semana em que a matria publicada e, de forma j bem mais atenuada, nas semanas seguintes, por meio de cartas dos leitores ou de repercusso nas prprias publicaes ou em outros veculos de comunicao. Mas a tendncia que logo a matria perca fora, deixe de ser considerada quente.Olivro,apesardesuatiragememgeralmuitomenor,permitedeta-lhamento de informaes e, ao mesmo tempo, d ao texto mais perenidade, proporcionandoqueelecirculeerepercutaporumtempomaior.Permite tambmquediversoseventos,comoosjmencionados,sejampromovidos em torno da publicao, fazendo com que o livro seja lanado diversas vezes, em lugares diferentes, possibilitando, em cada ocasio, a realizao de debates emobilizaessobreotemaabordado,almdepermitiraoautorconceder entrevistas, realizar palestras e outras atividades relacionadas sua obra.Assim,livrosdeoposiocomoessescumpriramumpapelpoltico decertodestaquenoperododaaberturapoltica,inclusivenacampanha pela anistia, principalmente entre os setores mdios da sociedade, nos quais o hbito da leitura e a possibilidade de acesso aos livros so maiores. Foram instrumentos da luta poltica que se travava naquele momento no Brasil, dan-do voz a denncias e reivindicaes das oposies, alm de proporcionarem condies para o debate e a realizao de eventos pblicos em torno dos te-mas que abordavam.RESUMOApartirdemeadosdosanos1970,livrosdeoposioquetratavamdaluta pela anistia, dos presos polticos, dos exilados e da tortura comearam a ser publicados. Apresento um levantamento preliminar desses livros editados no perodo entre 1975 (surgimento do Movimento Feminino Pela Anistia) e 1979 (aprovao da Lei de Anistia). Analiso em especial dois deles Liberdade para osbrasileiros:anistiaontemehojeeTortura:ahistriadarepressopolticano Brasil mostrando a repercusso e o papel poltico que ambos tiveram, des-tacandoaspossibilidadespolticasdiferenciadasqueoslivrospossuemem relao a outros veculos impressos.PALAVRAS-CHAVELivros de oposio; Campanha da Anistia; Abertura poltica.ABSTRACTFrom around the 1970s, opposition books that treated the ght for amnesty, the political prisoners, the exiled people and the torture started being publi-shed. I introduce a preliminary survey of these books, edited between 1975 (emergence of the Feminine Movement for the Amnesty) and 1979 (approval oftheAmnestyLaw).IparticularlyanalyzetwoofthesebooksLiberdade N 6, Ano 5, 2011274para os brasileiros: anistia ontem e hoje e Tortura: a histria da represso poltica no Brasil presenting the repercussion and the political role that both had, and emphasizing the differentiated political possibilities that books have in relation to other printed vehicles.KEYWORDSOpposition books; Amnesty campaign; Political opening.NOTAS1 TextoescritocombasenacomunicaoapresentadanoseminrioOBrasilda anistia, realizado na Fundao Getlio Vargas do Rio de Janeiro em 24 de setembro de 2009.2 Doutorando em Histria na Universidade de So Paulo. Autor de Livros que tomam partido: editoras de oposio ditadura no Brasil ps-1964 (Brasiliense, no prelo). his-toriador e editor de livros. Bolsista da Capes. Endereo eletrnico: [email protected] ou [email protected] CONY, Carlos Heitor. Anistia. In: O ato e o fato. Rio de Janeiro: Civilizao Bra-sileira,1964,p.25-27.AcrnicafoioriginalmentepublicadanojornalCorreioda Manh do dia 18 de abril de 1964. 4 MARTINS, Roberto Ribeiro. Liberdade para os brasileiros: anistia ontem e hoje. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978, p. 122.5 Devo essa informao a Janaina Teles, a quem agradeo. Sobre a Carta de Recife ver FREIRE, Roberto. A marcha democrtica de uma esquerda. In: SOUZA, Daniel e CHAVES, Gilmar (Orgs.). Nossa paixo era inventar um novo tempo: 34 depoimentos de personalidades sobre a resistncia ditadura militar. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1999, p. 158-159.6 MARTINS, op. cit., p. 129.7 TELES, Janaina de Almeida. Os herdeiros da memria: a luta dos familiares de mortos e desaparecidos polticos no Brasil. Dissertao (Mestrado em Histria) FFLCH-USP, 2005, p. 91.8 Continuaremos nossa misso de falar s conscincias, entrevista de D. Paulo Eva-risto Arns. Opinio, 18/4/1975.9 GRECO, Helosa Amlia. Dimenses fundacionais da luta pela anistia. Tese (Doutora-do em Histria) FAFICH/UFMG, 2003, p. 34.10 Ibidem, p. 59-60; e Maria Quitria. Boletim do MFPA, So Paulo, Ano II, n. 3, jul. 1978.11 TELES, J. de A. Op. cit., p. 69.12ALVES,MariaHelenaMoreira.EstadoeoposionoBrasil1964-1984.Bauru: Edusc, 2005, p. 204-205.27513 No cabe nos limites deste artigo uma anlise das origens e motivaes do proces-so de abertura. H vasta bibliograa sobre o tema.14Sobre a imprensa alternativa, a obra mais importante KUCINSKI, Bernardo. Jor-nalistas e revolucionrios: nos tempos da imprensa alternativa. So Paulo: Scritta, 1991 (reeditadoem2003pelaEdusp).Vertambm,entreoutros,BRAGA,JosLuiz.O Pasquim e os anos 70: mais para epa que para oba. Braslia: Ed. UnB, 1991; ARAUJO, MariaPaula.Autopiafragmentada.RiodeJaneiro:EditoradaFGV,2001.Esobre agrandeimprensa,verespecialmente:DUARTE,CelinaRabello.Imprensaerede-mocratizao no Brasil: um estudo de duas conjunturas, 1945 e 1974-1978. Dissertao (Mestrado) PUC-SP, 1987; KUCINSKI, Bernardo. A sndrome da antena parablica. So Paulo: Editora Fundao Perseu Abramo, 1998; AQUINO, Maria Aparecida de. Censura,imprensa,Estadoautoritrio(1968-1978).Bauru:Edusc,1999;KUSHNIR, Beatriz. Ces de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 Constituio de 1988. So Paulo: Boitempo, 2004.15 DUARTE, C. R. Op. cit., p. 90.16 Ibidem, p. 90. Para as funes de Aquino e Barreto ver GASPARI, Elio. A ditadura encurralada. So Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 15.17 DUARTE, C. R. Op. cit., p. 101.18 TELES, J. de A. Op. cit., p. 25-26.19COMISSOdeFamiliaresdeMortoseDesaparecidosPolticos.DossiDitadura: mortos e desaparecidos polticos no Brasil (1964-1985). So Paulo: Ieve/Imprensa Ocial, 2009.20ARAUJO,MariaPaula.Alutademocrticacontraoregimemilitar,1974-1985 (Estratgias de luta e resistncia contra a ditadura). In: 1964-2004: 40 anos do golpe: ditadura militar e resistncia no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras, 2004, p. 205.21 DARNTON, Robert. O Iluminismo como negcio: histria da publicao da Enciclop-dia, 1775-1800. So Paulo: Cia. das Letras, 1996, p. 14.22 DARNTON, Robert. O que a histria dos livros. In: O beijo de Lamourette. So Paulo: Cia. das Letras, 1990, p. 131.23 ARAUJO, M. P. Op. cit., p. 243.24 Os referenciais bsicos para se saber se uma editora pode ser chamada de editora de oposio so o perl poltico e ideolgico da editora, determinado pelas simpatias e liaes polticas de seus proprietrios e/ou editores, e o seu catlogo de livros pu-blicados. MAUS, Flamarion. Editoras de oposio no perodo da abertura (1974-1985): negcio e poltica. Dissertao (Mestrado em Histria) Departamento de Histria da FaculdadedeFilosoa,LetraseCinciasHumanasdaUniversidadedeSoPaulo (FFLCH-USP), 2006.25 MAUS, F. Op. cit., p. 55.26 TELES, J. de A. Op. cit., p. 73.N 6, Ano 5, 201127627 Entrevista de Igncio de Loyola ao Almanaque Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 20 set. 2008.28 Prefcio de Frei Betto nova edio de Cartas da priso em um nico volume, pela editora Agir (Rio de Janeiro, 2008). Disponvel em . Acesso em: 27 jul. 2009.29RenatoTapajsfoipresoemagostode1977,emSoPaulo,emfunodapu-blicaodeEmcmaralenta,esoltoummsdepois.MAUS,ElosaArago.Em Cmara Lenta, de Renato Tapajs: a histria do livro, experincia histrica da represso e narrativa literria. Dissertao (Mestrado em Histria) Departamento de Histria da Faculdade de Filosoa, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo (FFLCH-USP), 2008.30 Seo Literatura. Veja, n. 487, 4/1/1978.31RIDENTI,Marcelo.Asesquerdasemarmascontraaditadura(1964-1974):Uma bibliograa. Cadernos AEL, Campinas, Unicamp, v. 8, n. 14/15, 2001. Disponvel em: . Acesso em: 20 mar. 2011.32 Mais informaes em MAUS, Flamarion. Ter simplesmente este livro nas mos j um desao: Livros de oposio no regime militar, um estudo de caso. Em Ques-to, Revista da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, UFRGS, v. 11, n. 2, jul./dez. 2005, p. 259-279. Disponvel em: . Acesso em: 20 mar. 2011.33 As informaes utilizadas nesse item provm do posfcio de Roberto Ribeiro Mar-tinspublicadonanovaediodolivrodesuaautoriaLiberdadeparaosbrasileiros, lanada em 2010 pela editora Brasiliense com o ttulo de Anistia ontem e hoje; e de mensagem eletrnica de Roberto Ribeiro Martins a mim enviada em 12 set. 2009. 34 MARTINS, Roberto Ribeiro. Explicao e agradecimentos. In: Liberdade para os brasileiros: anistia ontem e hoje. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1978, p. 9.35 SILVA, Hlio. Apresentao. In: MARTINS, R. R. Op. cit., p. 12.36 Atualmente a Civilizao Brasileira pertence ao grupo editorial Record. Sobre a hist-riadaeditoraCivilizaoBrasileiraverALMEIDA,MartadeAssisetalii.EnioSil-veira.SoPaulo:Com-Arte/Edusp,ColeoEditandooEditor(coord.JerusaPires Ferreira), v. 3, 1992; FELIX, Moacyr (Org.). Enio Silveira: arquiteto de liberdades. Rio deJaneiro:BertrandBrasil,1998;VIEIRA,LuizRenato.Consagradosemalditos:os intelectuais e a Editora Civilizao Brasileira. Braslia: Thesaurus, 1998; e GALUCIO, Andra Lemos Xavier. Civilizao Brasileira e Brasiliense: trajetrias editoriais, empres-rios e militncia poltica. Tese (Doutorado em Histria Social) Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2009.37 As informaes sobre o livro Tortura: a histria da represso poltica no Brasil provm de meu artigo A tortura denunciada sem meias palavras: um livro expe o aparelho repressivo da ditadura, publicado em SANTOS, Ceclia MacDowell; TELES, Edson 277Lus de Almeida; TELES, Janana de Almeida. Desarquivando a ditadura: memria e justia no Brasil. v. 1. So Paulo: Hucitec, 2009.38 Entrevista com Antonio Carlos Fon, So Paulo, 11 jan. 2007.39 A editora Global existe at hoje, em plena atividade, e ainda sob a batuta de Luiz Alves. Mas sua linha editorial mudou. Hoje ela edita principalmente literatura, livros infanto-juveniseobrasdestinadassescolaspblicas.Venncio,depoisdepassa-gens pela poltica, continua tambm na rea editorial, como proprietrio das edito-ras Ground e Aquariana.40JosCarlosVenncio,oeditordolivro,eLuizAlves,odonodaeditoraGlobal, armam que a tiragem da primeira edio foi de 5 mil exemplares. A revista Veja, em matria sobre o lanamento do livro, arma que a tiragem foi de 6 mil. J segundo Fon, foram 10 mil exemplares. Entrevista com Jos Carlos Venncio, So Paulo, 17 jan. 2007; entrevista com Lus Alves em 4 ago. 2004; entrevista com Antonio Carlos Fon, So Paulo, 11 jan. 2007; Mapa do inferno. Veja, 18/7/1979, p. 110-111.41 Mapa do inferno. Veja, 18/7/1979, p. 110-111.42 De fato, na edio n. 570 de Veja (8/8/1979) a obra aparece pela primeira vez na lis-ta dos livros mais vendidos (no co) da semana, na nona posio. J na segunda semana na lista, passa para o terceiro lugar. Um ms depois, em meados de setem-bro, chegava ao segundo lugar, at que no incio de outubro estava em primeiro lugar entreoslivrosdenocomaisvendidos.Nototal,olivropermaneceunalista por 20 semanas consecutivas, at a edio n. 589 (19/12/1979), ou seja, por quatro meses seguidos, de agosto a dezembro de 1979. Pesquisa na coleo da revista Veja de julho de 1979 a janeiro de 1980.