caroline lauermann tc o que isso quer dizer

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0 UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL ULBRA/Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Caroline Leszczynski Nunes Lauermann O que isso quer dizer? Canoas, 27 de novembro de 2013.

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA/Canoas/RS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Caroline Leszczynski Nunes Lauermann

O que isso quer dizer?

Canoas, 27 de novembro de 2013.

1

Caroline Leszczynski Nunes Lauermann

O que isso quer dizer?

Trabalho de Curso apresentado como pré-

requisito parcial para a obtenção de título

acadêmico de Licenciada em Artes Visuais,

pelo Curso de Licenciatura em Artes Visuais

da Universidade Luterana do Brasil, sob

orientação dos professores Drª. Rejane

Reckziegel Ledur, Ma. Ana Lúcia Beck e Me.

Renato Garcia dos Santos.

Canoas, 27 de novembro de 2013.

2

Resumo

O presente Trabalho de Curso apresenta o estágio desenvolvido na escola Celina

Westphalen Weissheimer, localizada na Estrada da Branquinha, na cidade de Viamão,

com os alunos da turma 71, do sétimo ano do ensino fundamental. O tema definido a

partir da análise das observações foi “Conceitos, Linguagens e Manifestações Artísticas

Contemporâneas” porque nas observações feitas percebi que na maioria das aulas não

havia envolvimento dos alunos com o conteúdo e por isso considerei importante falar de

questões contemporâneas que instigassem a reflexão visando estimular a participação

dos alunos. Além disso, após analisar os questionários respondidos pelos alunos,

percebe-se que a grande maioria da turma afirma não sentir emoção frente a uma obra

de arte e desconsidera a qualidade artística de obras que não possuem um realismo

fotográfico. Isso reafirma a importância de abordar conceitos que permeiam a produção

artística contemporânea e contribuir com questões que incentivem os alunos a buscar

relações mais significativas com a arte. Os principais autores consultados, além de Ana

Mae Barbosa que elucida a respeito da importância do trabalho com a imagem e Paulo

Freire que orienta minha caminhada docente foram: Ferreira Gullar, Anne Cauquelin e

Katia Canton. O principal objetivo do projeto foi estimular a reflexão acerca de conceitos

que permeiam a produção artística e as interpretações das obras de arte na

contemporaneidade e busquei diversificar as metodologias contemplando atividades

práticas e teóricas visando o fazer artístico, o conhecimento e a apreciação. Como

resultado deste trabalho posso citar a positiva mudança de postura dos alunos frente às

obras expostas nas aulas, comentários progressivamente mais relevantes, além do

significativo envolvimento nas propostas das aulas.

Palavras-chave: Arte Contemporânea, reflexão, participação.

3

Sumário

Introdução...................................................................................................... ................5

Capítulo 1 Reconhecimento do Espaço de Ensino........................................................................12 1.1 Dados gerais da escola..........................................................................................13 1.2 Observações silenciosas........................................................................................14 1.2.1 Primeira observação silenciosa..........................................................................14 1.2.2 Segunda observação silenciosa.........................................................................16 1.2.3 Terceira observação silenciosa..........................................................................17 1.2.4 Quarta observação silenciosa............................................................................19

1.2.5 Quinta observação silenciosa.............................................................................21 1.3 Análise das observações silenciosas.................................................................23

Capítulo 2

Conceitos, Linguagens e Manifestações Artísticas Contemporâneas...................26

Capítulo 3

Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais.......................................................40

3.1 Dados gerais da escola e turma em que foi realizada a prática de ensino.......41

3.2 Dados gerais do Projeto de Ensino..................................................................42

3.3 Prática de Ensino.............................................................................................44

3.3.1 Primeiro encontro.........................................................................................44

3.3.2 Segundo encontro.........................................................................................58

3.3.3 Terceiro encontro..........................................................................................71

3.3.4 Quarto encontro............................................................................................83

3.3.5 Quinto encontro............................................................................................94

3.3.6 Sexto encontro............................................................................................110

3.3.7 Sétimo encontro..........................................................................................118

3.3.8 Oitavo encontro..........................................................................................138

3.3.9 Nono encontro............................................................................................144

3.3.10 Décimo encontro......................................................................................163

Conclusão............................................................................................................172

Referências..........................................................................................................183

Apêndice 1...........................................................................................................186

Apêndice 2...........................................................................................................188

4

Apêndice 3...........................................................................................................191

Apêndice 4...........................................................................................................194

Anexo 1................................................................................................................200

Anexo 2................................................................................................................203

Anexo 3................................................................................................................209

Anexo 4................................................................................................................222

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Introdução

Este trabalho de curso visa organizar minha trajetória acadêmica dos estágios

no curso de licenciatura em Artes Visuais, na Universidade Luterana do Brasil. Durante

o estágio I, no primeiro semestre de 2012, foi realizado o contato com as escolas

escolhidas para realização do estágio, realizadas observações e análises para definição

do tema de pesquisa. No segundo semestre de 2012 foi realizada a prática de ensino

nas turmas de ensino fundamental e médio e por fim, no segundo semestre de 2013,

sistematizo o trabalho, reunindo a experiência como docente em Artes na turma

escolhida. O trabalho é composto pelo capítulo 1 que corresponde ao reconhecimento

do espaço de ensino, capítulo 2 que trata do tema da pesquisa realizada e o capítulo 3

que contém o projeto e a prática de ensino.

O que me impulsionou a buscar o contemporâneo e linguagens, movimentos e

conceitos que valorizassem mais a participação e interação do público foi a falta de

envolvimento que percebi na maioria das aulas de ambas as turmas observadas.

Constatar que 70% dos alunos (do ensino médio) não conseguem nomear

acertadamente o tipo de imagens que costumam trabalhar em aula me fez buscar uma

linha de pesquisa focada nas possíveis interpretações e reflexões acerca da arte, a

produção artística e seus significados. Questões que basicamente só fazem sentido se

o trabalho é focado na participação dos alunos porque jamais existirá reflexão se não

houver envolvimento na proposta por parte dos alunos.

Alunos que em sua grande maioria (fundamental e médio) afirmam não sentir

emoção frente a uma obra de arte podem ser incentivados a adquirir maior interesse

pela arte se o trabalho em aula estiver focado na busca de uma interação com a arte. A

exploração de conceitos que permitem diversas relações e interpretações encontra

território fértil nos tenuosos caminhos da arte contemporânea e pode incentivar que os

alunos busquem relações mais significativas com a arte.

O que também foi crucial para reafirmar a importância de um trabalho focado

em obras contemporâneas foi 63% dos alunos do ensino fundamental e 65% dos

6

alunos do ensino médio marcarem a obra renascentista “Santa Catarina de Alexandria”

de Rafael como a que eles consideram boa obra de arte. Verificar esta escolha dos

alunos diante das opções que eu havia selecionado não me causou total

estranhamento porque acredito que a maioria das pessoas que não possuem certo

conhecimento a respeito de algumas questões artísticas contemporâneas considere a

qualidade de uma obra pelo seu realismo fotográfico. Esta constatação me fez conduzir

o projeto buscando o entendimento e a compreensão das poéticas que inspiraram a

produção das obras selecionadas, mas em contrapartida me fez perceber a

necessidade de também incentivar uma relação com a arte que não dependa apenas

de uma compreensão na esfera inteligível para estimular nos alunos uma autonomia na

relação com a arte.

Após essas considerações, a pesquisa que realizei foi focada nos movimentos

Neoconcretismo, Arte Conceitual e Pop Arte porque a abordagem das experiências e

questionamentos explorados por estes movimentos possibilitou considerar questões

como a participação do espectador com a obra e a força e o apelo popular que as

imagens possuem. Ter a intenção de valorizar obras contemporâneas fez com que eu

lançasse um breve olhar para a história da arte visando diferenciar os contextos e

intenções envolvidas a fim de salientar seus discursos.

Detive-me em artistas que produziram obras que possuem um discurso que é

tão ou mais importante do que a forma visual final para dar base a um discurso

conceitual formulado com a intenção de combater o antigo pensamento de aceitação de

uma arte exclusivamente acadêmica. Para isso selecionei Nelson Leirner, Siron Franco,

Claudio Tozzi, Helio Oiticica, Rubens Gerchman, entre outros. Minha pesquisa é

permeada por questionamentos e por assuntos relacionados à Arte Contemporânea

como a sugestão que as imagens possuem e as diversas interpretações das obras de

arte. Para abordar estas questões os principais autores consultados foram: Ferreira

Gullar, Lúcia Santaella, Ana Mae Barbosa, Katia Canton e Anne Cauquelin.

Percebo que minha pesquisa não é focada neste ou naquele conceito,

linguagem ou manifestação e sim na relação humana com a arte e nos discursos

advindos da necessidade de teorizar a respeito das produções artísticas e seus

possíveis sentidos, significados e intenções.

7

O tema que escolhi para o projeto é “Conceitos, linguagens e manifestações

artísticas contemporâneas” porque abordei nas aulas reflexões relacionadas à

intencionalidade das obras de arte, a valorização de diferentes obras e poéticas e a

respeito das possibilidades interpretativas diante da arte que podem ser encaixadas na

parte de conceitos. Com a intenção de diversificar as aulas expus diferentes linguagens

como: Assemblage, pintura, performance, xilogravura, instalação e apropriação. Além

das manifestações artísticas vinculadas ao Neoconcretismo, Arte Conceitual e Pop Arte.

Tendo como justificativa o fato de que os alunos estão inseridos em uma

sociedade acostumada com tantos estímulos visuais onde se torna praticamente

impossível que as imagens não sejam absorvidas sem serem refletidas, torna-se crucial

promover propostas que visem refletir e entender a imagem como possuidora de uma

intenção comunicativa. Considerando também a dificuldade encontrada pra entender e

apreciar as obras de arte contemporâneas é necessário contribuir com o

desenvolvimento de pessoas que consigam ter o princípio da reflexão, a prática de

interpretar e a habilidade de relacionar pontos de vista. Alunos que em sua maioria

assinalaram não sentir emoção frente a uma obra de arte podem ser incentivados a

ampliar a concepção e o entendimento sobre a arte explorando conceitos, linguagens e

manifestações artísticas contemporâneas.

O objetivo geral do projeto de ensino é focado em proporcionar o

desenvolvimento de uma postura contemplativa e crítica diante das linguagens

contemporâneas da arte com o intuito de estimular a reflexão acerca de conceitos que

permeiam a produção artística e as interpretações das obras de arte na

contemporaneidade.

A prática no ensino fundamental foi realizada na Escola de Ensino Fundamental

Celina Westphalen Weissheimer localizada na Estrada da Branquinha em Viamão na

turma 71, de sétimo ano, no segundo semestre de 2012. A faixa etária dos alunos desta

turma varia entre 12 e 14 anos. Esta prática de ensino foi desenvolvida em oito

encontros de um período e dois encontros de dois períodos que foram realizados no

turno da tarde em dias da semana e períodos diversos devido a alterações constantes

no horário da turma. A escola onde foi realizada esta prática de ensino atende em

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média 350 alunos, distribuídos em 14 turmas nos turnos manhã e tarde advindos de

famílias que possuem uma condição socioeconômica baixa e média.

A prática no ensino médio foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio

Farroupilha localizada na Avenida Senador Salgado Filho em Viamão na turma 109 que

corresponde ao primeiro ano do ensino médio com alunos com faixa etária de 15 e 17

anos. Esta prática de ensino foi desenvolvida em dez encontros de um período e um

encontro de dois períodos realizados no turno da tarde, na maioria das vezes no

primeiro período, durante o segundo semestre de 2012.

Ambas as práticas de ensino foram desenvolvidas tendo em vista os mesmos

objetivos e propostas. O que varia de uma prática para outra é a cobrança a respeito

dos assuntos abordados. Na turma de ensino médio foi exigido um grau maior de

compreensão e a elaboração melhor na produção dos trabalhos. Na turma do ensino

fundamental a prática também foi focada na busca pela compreensão sobre os

conteúdos, mas muitos assuntos foram explorados de uma forma introdutória e

adquiriram um caráter inicial por considerar a idade dos alunos da turma e o quanto era

novidade para este grupo trabalhar assuntos da arte sistematicamente.

Os principais objetivos das aulas de ambas as práticas de ensino são aqueles

relacionados à busca pela reflexão e pelo interesse sobre as questões abordadas.

Entre os objetivos específicos que acompanharam a elaboração das aulas planejadas

estão: Desenvolver a capacidade de refletir acerca das obras apreciadas para se

posicionar com argumentação pessoal, conhecer a vida e a obra da artista Vera Chaves

Barcellos visando despertar o interesse pela Fundação desta artista e a valorização de

um espaço local destinado à exposição de arte contemporânea, estimular a fruição e a

compreensão das obras selecionadas com o intuito de desenvolver a prática

interpretativa assim como valorizar e enriquecer a experiência estética de cada aluno,

etc.

O que determinou que eu escolhesse a prática no ensino fundamental para

compor o trabalho de curso foi considerar que com a experiência no ensino

fundamental consegui obter ou quem sabe perceber mais momentos, situações e

reflexões interessantes. Talvez isso se deva, muito provavelmente, ao fato de eu já

fazer parte a sete anos do corpo docente da escola onde foi feita a prática de ensino do

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fundamental. Acredito que os alunos já me conhecerem como professora da escola

facilitou os diálogos em aula, e isso possibilitou reflexões que considero preciosas em

virtude de que desde o início do projeto a maior proposta sempre foi incitar a reflexão.

Também fiquei mais satisfeita com a prática realizada com a turma do ensino

fundamental porque pude perceber que os alunos demonstravam certa curiosidade

diante das propostas, diferente da postura que percebi na maioria das observações

silenciosas. Sempre preferi turmas barulhentas, mas que produzem do que o silêncio

apático e sonolento de quem não se interessa por aquilo que está se desenvolvendo

em aula.

Pesquisar sobre Arte Contemporânea fez que eu me deparasse com uma

incrível diversidade de possibilidades de abordagens e isso me motivou a expor um

pouco desta diversidade no projeto desenvolvido, inclusive nas questões interpretativas.

Foi abordado o ponto de vista do público, do artista e houve uma aula que assistimos o

documentário sobre a artista Vera Chaves Barcellos na qual foi comentado a respeito

da crítica de arte. Aproveitei para incentivar a autonomia interpretativa porque neste

documentário foi citada a possibilidade de uma obra de arte se tornar algo diferente

daquilo previsto pelo artista, assim aproveitei para afirmar que todas as opiniões são

válidas e, portanto os alunos não precisavam ter receio ao falar sobre uma obra. Foi

este pensamento que gerou certa insatisfação após a visita à exposição Julio Plaza:

Construções poéticas e mesmo que eu tenha considerado bastante produtivo que os

alunos pudessem ter contato com uma Instituição destinada à exposição de Arte

Contemporânea localizada na própria cidade, achei que a condução do mediador podia

ter favorecido mais a interação dos alunos com as obras expostas.

A pertinência do trabalho com manifestações artísticas contemporâneas se

deve ao fato de que os alunos têm o direito de conhecer questões conceituais que

norteiam muitos trabalhos contemporâneos. Foi na busca pelo envolvimento dos alunos

com estas questões que os questionamentos acabam norteando o projeto e

incentivando minha pesquisa. As perguntas acompanham tanto a pesquisa quanto o

projeto e não acredito que encontrar respostas certas seja superior à capacidade de

elencar diversas possibilidades.

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Observar os aspectos da realidade na escola e na turma antes da prática

docente é importante para que se consiga desenvolver uma proposta que de fato seja

significativa para determinado grupo de alunos. No caso deste trabalho um dos

aspectos que considerei mais relevante para definir o tipo de proposta que seria

desenvolvida foi a observação das respostas dos alunos a partir do questionário

aplicado e objetivando intervir na maneira como os alunos olham para a arte a

pretensão era contribuir na ampliação de seus pontos de vista para contemplar a

formação de educandos mais críticos e reflexivos. Julgar apropriado buscar o

envolvimento dos alunos para que eles possam se identificar como protagonistas do

processo de ensino/aprendizagem fez que eu identificasse minha prática de ensino com

a tendência pedagógica progressista de Paulo Freire que considera o conhecimento

como uma forma de intervir no mundo. Pretender contribuir com uma mudança de

pensamento dos alunos frente à arte contemporânea não é tão palpável quanto

pretender uma evolução gráfica, por exemplo. Portanto, mensurar o progresso da turma

da prática de ensino que relato neste trabalho torna-se possível na medida em que é

observado o envolvimento e a postura dos alunos frente às propostas de aula. Sendo

assim poderei afirmar que onde há participação é inevitável que haja aprendizagem e

os resultados alcançados nesta prática, portanto, não se estabeleceram apenas no

registro escrito ou nos trabalhos produzidos pelos alunos. Sem dúvida os alunos

conheceram outras possibilidades artísticas e foram encorajados a pensar a arte numa

dimensão que vai além da superficialidade, assim não consigo visualizar os resultados

alcançados distante da própria prática em si.

Posso afirmar que ter uma pergunta como título do projeto não é sinal de que

pretendia encontrar uma resposta, mas buscar a diversidade de abordagens e

principalmente a diversidade de pontos de vista. Em diversas aulas é explicitado para

os alunos esta questão a respeito do quanto é relativo, pessoal e questionável uma

interpretação e um julgamento de alguma obra de arte.

Não selecionei um recorte específico para o trabalho porque pretendi ampliar a

visão dos alunos e promover o contato com diversas questões da Arte Contemporânea

para quem sabe encorajar futuros contatos que estes alunos podem ter com a arte.

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Enfim, pretendo que este trabalho exponha que a prática de ensino

desenvolvida foi calcada na diversidade de interpretações e considero ter sido relevante

a explícita busca pela interação e envolvimento dos alunos.

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Capítulo 1

Reconhecimento do Espaço de Ensino

13

1.1 Dados gerais da escola

O presente estágio foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino

Fundamental Celina Westphalen Weissheimer, localizada na Estrada Luis Pinto Chaves

Barcellos, 599, na cidade de Viamão.

A escola iniciou seu funcionamento em 2006 com turmas de 1ª a 4ª séries e em

2010 teve seu primeiro grupo de formandos. Atualmente atende 375 alunos distribuídos

em 7 turmas no turno da manhã e 7 turmas no turno da tarde.

O espaço físico interno é composto por dois prédios onde se encontram as

salas de aula, banheiros, biblioteca, refeitório, secretaria, sala dos professores, sala da

direção, sala da supervisão e laboratório de informática.

A escola possui uma área externa não muito extensa onde há uma pracinha e

uma quadra aberta.

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1.2 Observações silenciosas

1.2.1 Primeira observação silenciosa

Aulas 1 e 2

Data: 12/04/2012

Professora titular: Nara Luiza dos Santos

O sinal para começar a aula tocou às 12h55min, mas os alunos entraram em

sala às 13h10min. porque a professora estava procurando a chave da sala. Assim que

entramos eu expliquei para turma sobre as observações que precisava fazer para meu

estágio e depois a professora começou a aula perguntando se alguém da turma tinha

visto pela escola algum cartaz sobre alguma data comemorativa daquela semana.

Alguns da turma responderam que sim, tinham visto que era a semana do livro e dia do

Monteiro Lobato. Então a professora falou que a tarefa da turma seria... Um aluno

completou a frase dizendo “inventar uma história”, daí a professora continuou dizendo

que a tarefa da turma não seria inventar uma história e sim inventar a capa do livro de

alguma história. Continuou explicando que era pra fazer de conta que o autor do livro

tinha pedido para que eles fizessem a arte da capa de uma história e que só eles

sabiam por enquanto e que eles precisavam criar uma capa que chamasse atenção

para leitura desta história. Disse que era para eles escolherem um tipo de letra

interessante e que escolhessem também uma ilustração que chamasse atenção dos

leitores para a história do livro. Cada um recebeu duas folhas de ofício para que se

errassem em uma pudessem fazer na outra. Os alunos começaram a produzir as capas

individualmente, mas conversando e trocando ideias constantemente com os colegas

que sentavam próximos. Vários alunos chamaram a professora para perguntar como

faziam e pedir uma explicação melhor, e a professora foi indo de mesa em mesa

orientando aqueles que chamavam. Teve três alunos que não fizeram nada do trabalho,

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eles não ficaram conversando nem perturbando, mas não produziram nada, a

professora perguntou para um deles se não iria fazer e o aluno fez uma careta e se

espreguiçou na cadeira. Quando bateu para o segundo período, alguns já tinham

terminado e a professora solicitou que trocassem as capas com algum colega e que na

outra folha fizessem o final da história, escrevendo a parte final e também fazendo o

desenho. Alguns já tinham usado a outra folha para rascunho da capa, portanto a

professora passou folhas novamente para quem precisava. A professora ficou

caminhando pelas classes auxiliando as trocas de alguns que ainda não tinham trocado

com nenhum colega. Quando passou pelas classes daqueles três meninos que não

tinham feito nada da primeira proposta ela cobrou que fizessem então dois destes

começaram a fazer ficando apenas um ainda completamente parado dizendo que

estava com sono e dor de cabeça.

Os alunos foram escrevendo e mostrando para professora que foi lendo e

mostrando os erros de português para que arrumassem. Houve muitos erros

principalmente de letra maiúscula em início de frase e organização das frases para que

fiquem compreensivas, ouvi a professora comentar para vários alunos que tinha muito

“e” nas frases e que era para que eles fizessem as frases mais curtas colocando ponto

final mais vezes para melhorar a estrutura do texto. Alguns só escreveram e foram

cobrados para que também desenhassem o final da história. Às 14h10min alguns já

tinham terminado e ficaram conversando tornando a sala mais agitada, o aluno que não

estava fazendo nada neste momento dormia com a cabeça deitada nos braços e alguns

se trocavam novamente os trabalhos para ler o que o colega tinha escrito sobre sua

capa. Os alunos foram entregando os trabalhos para professora e ficaram conversando

até o sinal tocar às 14h25min.

16

1.2.2 Segunda observação silenciosa

Aulas 3 e 4

Data: 26/04/2012

Professora titular: Nara Luiza dos Santos

A professora dirigindo-se a mim comentou que na aula passada tinham

assistido alguns vídeos e que todos tinham achado interessante uma das animações

que era com sombras de mãos. Ela então pediu atenção de todos para ler uma poesia

com o título “Mãos”. Todos ouviram atentos e ao término da poesia a professora

escreveu no quadro os questionamentos contidos no final da poesia: Existem mão e

mãos. As tuas quais são? De quem são? Para que são? E disse que era para eles

fazerem um desenho com o contorno das mãos. Solicitou que fizessem grupos e

disponibilizou em sua mesa folhas coloridas e brancas para que escolhessem e

pegassem. Rapidamente eles formaram grupos e já foram pegando as folhas, mas

começaram a pedir orientações sobre o que era e como era pra fazer. Como a maioria

não tinha entendido, ela explicou novamente e foi passando nos grupos para dar

orientações e exemplos. Os grupos faziam o trabalho com bastante interação e

conversa descontraída e amigável. No final do período alguns já haviam terminado e

ficavam apenas conversando, as conversas ficaram mais altas e alguns começaram a

implicar e fazer brincadeiras de mau gosto com colegas. Às 15h foram para o lanche no

refeitório, apenas alguns ficaram na sala, os que lanchavam retornavam para sala e

ficavam conversando até o sinal tocar às 15h10min. para o recreio. Na volta do recreio

a professora abriu a sala, esperou todos acomodarem-se e disse que era para terminar

o trabalho e que havia tempo para todos fazerem com bastante criatividade. Os alunos

que já haviam terminado ficaram livres apenas conversando. Às 15h45min. todos já

haviam terminado e ficaram conversando, a professora chamou alguns alunos para

ajudar a fixar com fita crepe os trabalhos na parede do lado de fora da sala, enquanto

os outros ficaram esperando tocar o sinal para troca de período.

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1.2.3 Terceira observação silenciosa

Aulas 5 e 6

Data: 07/05/2012

Professora titular: Aline Andreoli

Às 13h40min. tocou o sinal e entramos na sala, que agora é no corredor

principal da escola. A professora deu boa tarde e chamou um aluno para ajudar a

buscar a televisão e o dvd que fica na sala dos professores bem próximo a sala.

Ligaram a televisão e a professora pediu para um aluno chamar a supervisora porque

não estavam conseguindo ligar o dvd. Conseguiram ligar e antes de iniciar o filme a

professora salientou que era um curta de 22 minutos chamado “Vista minha pele” e que

era pra prestar bem atenção porque ao final ela iria perguntar quem vestiu a pele de

quem e disse que eles fariam um trabalho de artes sobre o assunto.

Todos assistiram bem atentos e depois do filme a professora fez algumas

perguntas relacionadas ao filme. Alguns alunos juntos iam respondendo as perguntas,

depois foi solicitado que um por vez falasse sobre o filme e justificasse o nome. Quatro

alunos deram suas opiniões e após isso ela ficou falando e explicando sobre

discriminação, escravidão e preconceito, durante suas explicações às vezes indagava a

turma pedindo a opinião sobre determinado assunto, mas mesmo sem muito retorno

dos alunos ela continuava a falar, a impressão que deu é que ela queria ouvir dos

alunos determinada resposta que não foi dita e então ela continuava a explicar sobre

discriminação. Falou sobre leis, consciência negra, cultura afro, religião e cotas raciais

por 40 minutos. No ínicio da explicação os alunos estavam atentos, mas depois pode-

se observar que a maioria já não prestava muita atenção, um aluno no fundo da sala

começou a fazer ruídos e piadinhas para interferir e alguns outros grupinhos falavam

conversavam, então a professora percebendo os barulhos em aula falava cada vez

mais alto, ao meu ver, na tentativa de chamar a atenção da turma. Às 14h45min. ela

passou uma folha para os alunos escreverem seus nomes para que depois ela

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passasse para o caderno de chamada e disse que era pra esperar o lanche. Ficaram

todos conversando até às 15h. quando então todos desceram para o lanche, a

professora fechou a porta e ficou esperando bater o sinal para o recreio no refeitório

com alguns que lanchavam, os outros já estavam no pátio.

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1.2.4 Quarta observação silenciosa

Aula 7

Data: 11/06/2012

Professor titular: Leonardo Costa Dias

O professor é novo na rede municipal de ensino, foi nomeado e designado para

a escola há duas semanas, sendo que já tinha ministrado duas aulas anteriores com

esta turma.

Assim que entramos na sala ele disse que a turma deveria colaborar porque

estava sem voz. Disse que faria a chamada e antes de começar uma aluna perguntou

se deveriam apresentar os trabalhos de artes que tinha sido pedido na aula anterior. O

professor pediu para esperar porque ele explicaria após a chamada.

Depois da chamada, de pé disse para turma que trabalhariam na aula um

pouco da presença cênica necessária para teatro e que o objetivo era que todos

conseguissem fazer o que ele estava fazendo naquele momento, falando alto e bom

tom para que todos pudessem ouvir.

Então disse que um por vez apresentaria na frente da sala e perguntou o que a

turma seria no momento em que um colega estivesse apresentando. Alguns

responderam que a turma seria a plateia. Aí o professor falou sobre como seria a

postura adequada de uma plateia, sobre a atenção e a concentração que eles deveriam

ter com o intuito de entender o que esta sendo falado no suposto palco. Alguns falaram

antes dele completar a frase sobre a postura da plateia que o necessário seria o

silêncio e o professor questionou sobre o fato de em casos de cenas engraçadas se a

plateia não poderia rir, concluindo que o silêncio então as vezes é rompido em casos de

comédia.

Em seguida uma aluna se prontificou de começar a apresentar, foi até a frente

das classes e mostrou o desenho que tinha feito. Ela disse que escolheu fazer o

desenho de um vestido porque gostava de moda e pretendia ser estilista.

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Outros alunos foram expondo os trabalhos que tinham feito em casa, indo um

por vez na frente da sala. Pôde ser verificado que a pergunta que foi feita na aula

passada era o que significava arte para cada um e que a partir deste questionamento

era para eles produzirem um trabalho usando qualquer linguagem que mostrasse o que

eles gostavam e consideravam arte. Teve uma aluna que fez história em quadrinhos,

uma que escreveu uma letra de música, outra que apenas colocou para tocar no celular

um trecho de uma música do Legião Urbana, etc. Depois que oito alunos dos 20 que

estavam presentes, apresentaram os trabalhos que tinham feito o professor pediu para

que fizessem um círculo entre as classes para fazerem um jogo. Logo que formaram o

círculo ele já começou dizendo: Era uma vez uma borboleta réptil que saiu de sua caixa

e foi para Nova Zelândia. Disse que era para o próximo da roda continuar a história,

mas houve certa resistência. Ele disse que a história não precisava ter lógica nenhuma,

que eles podiam falar sem medo inventando qualquer coisa porque o objetivo era ser

rápido. O professor começou de novo outra história, de um macaco albino que queria

ser cantor e foi para Califórnia, desta vez o próximo da roda continuou e quase todos

participaram contribuindo com uma parte que desse continuidade para a história. A

turma se divertiu porque muitas vezes surgiam partes engraçadas, algumas vezes o

professor precisou chamar a atenção pedindo que colaborassem ouvindo a história,

mas a maioria da turma interagiu muito bem. Quando a história chegou nele

novamente, ele finalizou a história e comentou que já tinha observado fazendo esta

atividade em outras turmas que sempre quando alguém não sabe o que falar, acaba

matando o personagem e isso gerou muita graça porque realmente tinham matado o

personagem da história deles várias vezes inclusive. O professor começou mais uma

história, mas logo em seguida deu o sinal para acabar a aula.

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1.2.5 Quinta observação silenciosa

Aula 8

Data: 18/06/2012

Professor titular: Leonardo Costa Dias

O professor entrou, fez a chamada e perguntou se alguém tinha trabalho para

apresentar. Disse para os alunos que não tinham apresentado o trabalho na aula

passada que aceitaria no máximo até a aula que vem. Dois alunos se manifestaram

para mostrar os desenhos que tinham feito e explicaram sobre o que gostavam.

O professor fez uma retomada sobre a postura de uma plateia e afastou as

classes mais para trás delimitando um espaço para o palco. Falou sobre a presença de

palco que o artista deve ter, conversando sobre a necessidade de desenvolver a

consciência de que quando faz uma cena, está mostrando para a plateia alguma coisa,

portanto precisa se colocar no palco de forma que a plateia consiga ver o que esta

fazendo, não ficando de costas, por exemplo, a não ser que a intenção seja esta. A

maioria da turma escutou com atenção as explicações do professor e alguns

participaram fazendo comentários ou perguntando alguma coisa.

Então o professor disse que fariam um Jogo de improvisação teatral em que um

aluno entraria em cena no espaço delimitado para o palco e deveria fazer alguma coisa

sustentando essa ação até a interação de outro colega que entraria para interagir com o

primeiro. Cada um assim deveria inventar uma ação e sustentá-la em um ambiente

imaginado, articulando sua ação com os colegas. Ele explicou que quando tivessem no

palco cinco alunos, estes sairiam e começaria outra cena com outros alunos até que

todos participassem. Os alunos ficaram um pouco confusos e ficaram fazendo

perguntas. O professor chamou um aluno e disse para ele fazer como se estivesse

lavando as mãos, depois chamou outro e perguntou onde este que estava lavando as

mãos poderia estar. O aluno respondeu que ele estava no banheiro então o professor

disse para ele fazer outra coisa que interagisse com isso, por exemplo, batendo na

22

porta porque queria entrar. Assim eles fizeram e o professor foi chamando os próximos.

Teve alguns alunos que interagiram mais e outros que não interagiram tanto, mas no

geral toda a turma participou da atividade. Desenvolveram este jogo de improvisação

em que encenavam ações com o professor fazendo alguns comentários e auxiliando

com algumas ideias até tocar o sinal para acabar a aula.

23

1.3 Análise das observações silenciosas

A turma observada teve aulas de artes durante as observações feitas, com três

professores diferentes, as duas primeiras professoras não tinham formação na área de

artes, portanto as atividades que desenvolviam nas aulas na maioria das vezes

correspondiam a outras áreas do ensino. Na primeira e segunda aula observada a

professora pretendendo fazer um trabalho interdisciplinar relacionou o trabalho feito

com a semana do livro, falou de Monteiro Lobato, pediu que fizessem capas de livros e

propôs que escrevessem o final da história a partir desta capa criada. Esses dois

períodos de artes focados em atividades de português e literatura fez um aluno no

questionário aplicado posteriormente citar Monteiro Lobato como o nome de obras

vistas em aula, demonstrando a confusão com relação aos conhecimentos de artes que

ocasiona aulas ministradas por professores que não têm formação para esta área de

ensino. O que podemos salientar então nas quatro primeiras aulas observadas é a falta

de proposta para dois períodos de aula, onde alguns alunos realizavam o que havia

sido proposto em apenas um período e ficavam sem ter o que fazer no restante do

tempo. Isso acabava gerando entre os alunos conversas e brincadeiras às vezes

inadequadas como forma de ocupar o tempo ocioso principalmente na terceira e quarta

aula onde a proposta de inventar figuras com as mãos além de não ser suficiente para

ocupar o tempo destinado à aula não demonstrava ter objetivo definido.

Na quinta e sexta aula foi a professora de português que assumiu os períodos

de artes para completar sua carga horária na escola e assim a aula continuou afastada

de ser uma aula de artes. O assunto que ela abordou em aula era bastante

interessante, mas ela não desenvolveu com os alunos nenhuma atividade. Poucos

alunos participaram expondo opiniões depois do curta assistido e extensivamente a

professora falou sobre o assunto sem sequer tentar perceber ou percebendo e não se

importando que a turma já não estava prestando atenção ao seu discurso sobre o

assunto. Saliento aqui a necessidade de que é fundamental para que haja

aprendizagem o desenvolvimento de aulas que sejam significativas para os alunos e

24

que busquem envolver a turma nos conteúdos que precisam ser abordados. Neste

sentido o autor Moacir Gadotti em seu livro Boniteza de um sonho, contribui acerca de

reflexões sobre o papel que o professor atualmente deve exercer construindo

significados com seus alunos para que a aprendizagem possa ir além da mera

transmissão de conhecimentos.

O novo profissional da educação precisa perguntar-se: por que aprender, para quê, contra o quê, contra quem. O processo de aprendizagem não é neutro. O importante é aprender a pensar, a pensar a realidade e não pensar pensamentos já pensados. Mas a função do educador não acaba aí: é preciso pronunciar-se sobre essa realidade que deve ser não apenas pensada, mas transformada (GADOTTI, 2008, p.69).

No âmbito da necessidade de proporcionar uma reflexão acerca da realidade o

professor titular que assumiu a turma a partir da sétima aula parece corresponder as

expectativas no momento em que ao responder o questionário afirma considerar as

referências culturais dos alunos e utilizar o que os alunos ouvem e assistem nos meios

de comunicação para relacionar com conceitos a serem desenvolvidos em aula.

Este professor é formado em Teatro e deixou claro que suas aulas seriam

voltadas para o desenvolvimento de atividades relacionadas especificamente ao Teatro.

Mesmo assim, ao propor que a turma fizesse um trabalho sobre o que era arte

possibilitou que outros tipos de manifestações artísticas fossem considerados visto que

na apresentação desses trabalhos pode-se notar que não havia uma padronização e

que foi permitida a diversidade no momento em que deveriam manifestar seus gostos

pessoais. O equívoco seria relacionar a arte simplesmente ao gostar ou não, mas se

houve uma constatação por parte dos alunos diante da diversidade do que cada um

considerou como arte, isso pode auxiliar para inicialmente permitir uma noção de que

arte vai além do gosto pessoal.

O que também deve ser comentado é a mudança da turma na questão do

envolvimento nas atividades na sétima e na oitava aula observada que embora tenha

aqueles que não participam muito, a maioria dos alunos demonstrava-se atentos à

proposta desenvolvida pelo professor. Esta questão, a meu ver, reafirma a importância

de sempre buscar atividades que possibilite a participação dos alunos, pois não faz

25

sentido desenvolver um trabalho sem que haja envolvimento daqueles que devem

necessariamente ser os principais envolvidos no processo de ensino/ aprendizagem.

Nos questionários respondidos por estes alunos pude notar algumas questões

significativas como o fato de 63% deles marcarem a obra renascentista “Santa Catarina

de Alexandria” de Rafael como a que eles consideram boa obra de arte. Verificar esta

escolha dos alunos diante das opções que eu havia selecionado não me causa total

estranhamento. Acredito ser bastante compreensível que a maioria das pessoas que

não possuem certo conhecimento a respeito de algumas questões artísticas

contemporâneas considere a qualidade de uma obra pelo seu realismo fotográfico. Por

isso acredito que a preferência pela obra de Rafael ao invés das obras de Anita Malfatti,

Siron Franco ou de Nelson Leirner, que era as opções disponíveis aos alunos no

questionário, seja devido à falta de conhecimento das questões valorizadas na arte

moderna e contemporânea. Percebo que os alunos valorizaram o realismo fotográfico

porque ao justificarem a escolha que fizeram escreveram que consideraram boa aquela

obra porque “tem detalhes reais”, porque “está como um desenho de verdade, tipo uma

foto”, etc. Em várias justificativas pude perceber que esta escolha se deve ao fato de

que esta é uma obra compreensível porque há na imagem semelhança com a

realidade, nas cores, na perspectiva, etc. Isto, a meu ver, além de ser um indício de

uma possível falta de repertório artístico da turma, porque nitidamente demonstram que

não estão acostumados a trabalhar com conteúdos relacionados à disciplina de artes,

também ressalta o quanto levam em consideração o fato de entender o que estão

olhando. É como se os alunos relacionassem a qualidade artística com o fato de

entenderem. Assim o que entendem pode ser bom e o que os alunos não conseguem

definir exatamente o que é, por exemplo, torna-se ruim.

26

Capítulo 2

Conceitos, Linguagens e Manifestações Artísticas

Contemporâneas

27

A arte é um fenômeno cultural e nós, como seres produtores de cultura,

estamos destinados a produzi-la. Ela existe desde que se tem conhecimento do ser

humano na terra e sempre existirá porque o ser humano tem necessidade de se

expressar. O que modifica no decorrer do tempo são as maneiras e linguagens para

que essa expressão aconteça.

Se outrora a arte acadêmica se entendia ao olhar, ao menos a compreensão do

que se tratava aquilo porque figurativamente falando ela trazia elementos

compreensíveis de imediato, na contemporaneidade a arte pode confundir,

desestruturar conceitos historicamente consolidados e tornar difícil a organização das

ideias em torno de uma concepção clara e unilateral. Essa inconstância nos obriga a

questionar a respeito da legitimação da arte e gera um desconforto causado pelo fato

de que cada vez fica mais difícil ter certeza a respeito de quais características e

exatamente o que se deve considerar frente à arte. Em suma, no lugar de uma antiga

certeza se instaurou a atual incerteza e a sensação de que, se tratando de arte, não se

sabe ao certo o que aquilo pode significar, representar, querer dizer e, portanto torna-se

difícil saber o que pensar e como se posicionar a respeito.

A maioria das obras contemporâneas não expõe de imediato o que são. Não

estamos aqui falando de abstracionismo, as figuras nas obras de arte que estamos

abordando estão presentes, mas são signos que podem estar representando conteúdos

distintos dependendo do contexto em que estão expostas. Por exemplo: Todos

conhecem um parafuso e sabem de sua função, mas na obra de Claudio Tozzi ele não

parece estar ali para exercer sua função habitual. O que ele estaria então

representando? Qual relação o artista pretendeu fazer com o cérebro ali desenhado?

Que desconforto isso nos causa? Por quê? São tantas as associações que podem ser

feitas diante de questionamentos deste tipo que se conclui ser mais coerente considerar

a arte como um ponto de partida e não como um ponto de chegada. A arte pode nos

levar a inúmeras relações que conduzem a tantos caminhos quanto há de associações

possíveis nas vertentes dos conhecimentos existentes. Dito isso, já se pode anunciar

que diante do tema e abordagem que foram escolhidos qualquer consideração será

insuficiente em virtude de todas as possibilidades que certamente não serão

28

consideradas devido à incapacidade de serem concomitantemente aprofundadas e

elencadas em um singelo trabalho de pesquisa e, portanto não nos espantaremos ao

chegar à conclusão com tantos ou mais questionamentos do que ao iniciar o trabalho.

O que inevitavelmente encontramos foi a certeza do quão fantástico é poder mergulhar

no universo artístico a fim de percorrer por entre seus meandros.

Claudio Tozzi, 1972. (Fonte: http://catracalivre.folha.uol.com.br/2012/03/galeria-monica-filgueiras-eduardo-machado-

recebe-exposicao-papeis-6070/)

O que acontece na arte contemporânea é que muitas vezes para se chegar as

desejadas respostas é preciso parar um pouco e pensar, coisa que hoje em dia há certa

resistência em se fazer. Com certeza parece mais fácil dizer que isso não faz sentido ou

apenas dizer gosto ou não gosto. É neste contexto que entra a figura do mediador em

exposições, orientando e explicando o que é aquilo que estamos vendo. A mediação

nas visitas a museus e galerias é uma intervenção positiva se for bem conduzida é

claro, mas as pessoas não podem se resumir a escutar o mediador como se a obra

tivesse sentido apenas com o respaldo de uma explicação para ela. Se assim acontecer

perde-se o contato pessoal que se estabeleceria e as múltiplas interpretações possíveis

que poderiam surgir. Como quem produz sentido é cada um que vê a obra, poderão

surgir diferentes interpretações por vezes longe da ideia do que o artista “quis” mostrar,

sem que estejam erradas.

Pode parecer ambíguo defender duas ideias que se contrapõem: O tentar saber

o que quer dizer tal obra e ao mesmo tempo deixar a obra proporcionar um sentido

único muitas vezes diferente da intenção do artista. O fato é que interpretar uma obra é

29

um exercício que deve inevitavelmente passar pela pessoalidade do interpretante.

Dessa forma ninguém pode nos dizer o que sentir, achar ou entender sobre alguma

obra, apenas dar pistas ou provocar questionamentos, pois o interpretar envolve fazer

relações mais ou menos assertivas de acordo com o grau de prática e contato com o

universo da interpretação.

Essa prática em interpretar pode se iniciar com uma mediação de alguém mais

experiente, mas jamais desenvolveremos autonomia interpretativa tendo sempre

alguém nos dizendo o que pensar sobre determinada coisa, é neste sentido que a

mediação deve ser cuidada para não se tornar uma constante indução. O crítico de arte

Fernando Cochiarale, ressalta a dificuldade das pessoas em compreender a arte

produzida na atualidade:

O problema é que essas pessoas usam um único verbo: Entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível. Eu nunca ouvi ninguém dizer: Eu não consegui sentir essa obra. Como as pessoas tem medo de sentir, elas entendem, reduzem sua relação ao ato inteligível e, por isso, esperam pelo socorro do suposto farol da opinião daqueles que sabem: Historiadores, filósofos, críticos, artistas, curadores... (COCCHIARALE, 2006, p.14).

A imagem nos fala muito e em muitas línguas que transcendem as palavras. É

possível tentar explicar uma imagem, mas toda explicação que se der jamais substituirá

o ato de ver a imagem. Se apenas a explicação bastasse não seria necessário se fazer

arte, não podemos deixar que entender o que se está vendo torne-se mais importante

do que estabelecer essa relação intransponível com a obra. Segundo Barbosa (2010,

p.99) “A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não

podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal como a

discursiva ou a científica”.

Visando abordar este entender e também a defesa deste sentir e captar a

transmissão desses significados implícitos na obra, que a série “O césio” de Siron

Franco (1947) pode contribuir com o fato de que mesmo sem conhecer o que mobilizou

o artista nesta produção, se lançarmos um olhar interessado para a obra veremos se

tratar de alguma coisa ruim, alguma coisa tende a incomodar naquela série, ou seja, ela

carrega indícios de que se trata de alguma tragédia. E podemos chegar a esta

conclusão sem que alguém nos diga para pensar isso. Basta olharmos com atenção,

30

interesse e praticar o ato de interpretar. Se procurarmos alguma informação, esse

sentimento fará sentido porque descobriremos se tratar de uma denúncia de um

acidente com o elemento radioativo césio em Goiânia acontecido em 1987.

Siron Franco, 1987. (Fonte: http://cherryouth.wordpress.com/tag/siron-franco/)

Ao praticarmos essa leitura de imagem em obras atuais poderemos chegar à

constatação de que a temática de uma obra é fundamental e muitas vezes determina a

importância e o valor que ela tem. Visando a superioridade da intenção do artista, surge

a arte conceitual na década de 60 que valoriza a importância das ideias em torno da

obra e defende ser mais importante o conceito do que a própria obra de arte

apresentada. Este termo, arte conceitual, foi usado pela primeira vez em 1961, pelo

artista Henry Flynt, em atividades do Grupo Fluxus nos Estados Unidos e trazia esta

questão da superioridade do campo das ideias.

O que se pode inferir é que nenhum artista que segue a arte conceitual deixou

de lado a produção de imagens, nem que sejam imagens compostas no campo mental

do expectador. Exemplo disso é o artista Cildo Meireles (1948) que com o intuito de

questionar e de polemizar sobre o falso suicídio do jornalista Herzog em 1975, no auge

da ditadura militar no Brasil, carimbava a pergunta “Quem matou Herzog?” em notas de

um cruzeiro, transpondo assim os limites dos lugares onde a obra pode estar. Fugindo

de seus domínios, a ideia estava lançada, mas essa ideia tinha uma visualidade tanto

material como mental. Assim pode-se dizer que na arte conceitual a imagem mental é

31

considerada. O que a obra proporcionará no espectador é levado em consideração e

muitas proposições vão sendo surgidas em obras de artistas contemporâneos

preocupados em querer propor situações, experiências, reflexões e imagens mentais.

Cildo Meireles, 1970. (Fonte: http://www.iuuk.com.br/?x=colunas-interna/perambulando-aide/carimbando-dinheiro-e-

pintando-garrafa/5030)

Características de experimentação e de propor ao público momentos de contato

sensorial encontra-se nas obras “Os penetráveis”, “Tropicália” e “Parangolé”, de Hélio

Oiticica, artista que fez parte do movimento neoconcreto surgido no Rio de Janeiro.

Esse movimento vinha justamente propor a participação efetiva do observador,

resgatando sensibilidade, expressividade e subjetividade na obra de arte brasileira. A

obra sem o espectador não fazia sentido, mas os objetos, cores e formas compunham

toda uma visualidade crucial para aquela experiência do público com a obra.

Helio Oiticica, 1965. (Fonte: http://www.rioecultura.com.br/expo/expo_resultado2.asp?expo_cod=1612)

32

Helio Oiticica, 1967 (Fonte:

http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_obras&acao=

mais&inicio=49&cont_acao=7&cd_verbete=2020)

O artista quando realiza uma obra, inevitavelmente apresenta muito mais do

que sua produção, lança um diálogo, propõe uma comunicação porque externa aquilo

que é interno como, por exemplo, pensamentos e sentimentos. Considerando que o

indivíduo é reflexo de um coletivo, uma produção artística é uma expressão individual,

mas que revela muito do tempo e da sociedade que está inserida.

Carregamos conceitos que vão sendo consolidados ao longo da vida no

convívio com o outro e somos reflexo de uma sociedade que está em constante

movimento e por isso a obra produzida pelo homem não pode ser interpretada

separada do seu contexto. É esse contexto que modela, inspira e impulsiona o artista à

produção que carregará traços de personalidade individual, mas resquícios

inseparáveis de cultura. O que expressamos é o que vivemos, é o que sentimos e

pensamos na nossa relação com o mundo e se não considerarmos esses fatores, a

análise de uma obra de arte corre o risco de ficar na superficialidade.

Segundo Pignatari¹ “O olho não é um passivo captador biológico-perceptivo do

real: há nele um fator cultural fundante do real” (PROCOPIAK, 2009, P.8). Portanto

quando produzimos uma obra ao revelar, revelamos e é nesse contexto que a arte deve

ser analisada. Todas as manifestações artísticas não podem ser vistas isoladamente

porque elas surgiram rodeadas de fatos históricos e sociais que contribuem

inevitavelmente para o seu surgimento.

33

Ao criar uma determinada obra, o artista se vale da matéria construída socialmente. Como parte da cultura, a arte é a maneira de indicar os caminhos poéticos trilhados por aquele grupo. Criar uma obra de arte vai além da utilização da linguagem (desenho, pintura, escultura), vai além do domínio técnico, porque criar uma forma demanda reflexão, conhecimento sobre o objeto. Além disso, a obra de arte comunica ideias. (PEREIRA, 2009, p.9).

A arte sob esse prisma existe como necessidade de expressar algo e pode

servir como registro de uma determinada época ou situação vivida por um indivíduo ou

grupo. Por isso é importante contextualizar a arte com o propósito de entendê-la e

compreendê-la, pois em diferentes épocas a arte assumiu papéis e significados

diferentes em função da sociedade em que estava inserida. Por muito tempo a arte

serviu para representar o que estava sendo visto, servindo de captação de uma

realidade, mesmo que idealizada. Assim acontecia que em movimentos artísticos

anteriores à arte moderna a questão de dar a impressão de estar vendo uma cena real

era o que caracterizava uma boa obra.

Com o impressionismo essa questão de uma representação tão nítida da

realidade muda. O importante passa ser a captação rápida de luz, cor e tons e a

plasticidade da obra começa a ser explorada com pesquisas de cor. Pode-se também

levar em consideração avanços tecnológicos como o advento da fotografia como sendo

uma das contribuições para que a arte pudesse passar a se libertar da representação

fiel da realidade e explorar outras possibilidades. Essa liberdade pode no princípio

confundir o apreciador das obras de arte, como o cubismo que faz o público se deparar

com imagens que definitivamente não são reais, mas sim uma representação do real

mostrado pela pessoalidade do artista. Se antes a arte devia ser bela, com uma

perspectiva bem feita e com os elementos bem distribuídos na tela, agora ela pode

causar estranhamento.

Com o movimento expressionista as possibilidades para a arte se expandiram

no sentido de dar vazão a expressão humana. Surgem questões psicológicas e sociais

do indivíduo como temas e justificativa para determinados traços na pintura. Por serem

tão abrangentes as possibilidades do expressionismo, os artistas permitem-se

desenvolver características próprias, exemplo disso é a infinidade de artistas com obras

tão diferentes entre si que não seguem um padrão pictórico.

34

Todo o movimento surgido, de alguma forma rompe com o anterior e inova em

algum aspecto que antes não era explorado, mas no sentido de dar “voz” a questões

individuais sejam de aflições pessoais ou sociais, o expressionismo se torna um marco

por permitir a expressão que prioriza aspectos psicológicos e não apenas aspectos

estéticos da obra.

A partir do expressionismo movimentos artísticos com aporte teórico que

fundamentam as obras dos artistas surgem concomitantemente em vários países,

tornando muitas vezes tão importante a fundamentação e as ideias em torno daquele

movimento quanto a obra em si. Exemplo disso são os movimentos envolvidos ao

Futurismo, Dadaísmo, Suprematismo, Concretismo, Neoplasticismo, Surrealismo, etc.

Rompendo com argumentações plásticas da obra de arte, Duchamp mexe de

vez com questões sobre o que pode ser considerado arte, com os famosos ready-made

que são objetos prontos em que ele acrescenta sua pseudo assinatura e expondo-os

em lugar destinados a arte, torna-os obras. A arte então sai da tela e invade o espaço.

Espaço que cada vez mais se torna difícil de determinar. O que a arte pode ocupar?

Duchamp, 1917. (Fonte: http://artemodernafavufg.blogspot.com.br/2009/05/marcel-duchamp.html)

Na contemporaneidade a determinação de que e quais materiais podem ser

usados extrapola limites. O artista tem a liberdade de determinar como e com quais

materiais fazer. Exemplo disso são as assemblages, vídeos instalações, manipulações

35

e apropriações de imagens, etc. São as mais variadas linguagens sendo utilizadas sem

que se possa dizer que utilizar determinado material não seria válido como arte. O que

então é válido como arte? Bastaria a intenção de ser? É claro que há um sistema

impulsionando a produção e aceitação de determinadas obras e artistas, ditando assim

o que é aceitável como arte, porém hoje se rompe com esse sistema limitado que há

pouco tempo atrás ficava restrito a galerias de artes e marchands, sujeitando-se a

aceitação ou não.

O mundo em rede, caracterizado pela comunicação e tecnologia, em constante

modificação permite uma divulgação e circulação de conteúdos de todos os tipos

produzidos sem que se tenha um exato controle sobre eles. Ter acesso a produções

artísticas recentes está mais fácil, assim como espaços informais para exposição

destas produções também estão mais fáceis de se fazerem presentes na sociedade. O

que então é determinante para ter valor como arte? Esses questionamentos não são

respondidos com facilidade. Artistas podem não estar sendo reconhecidos

simplesmente porque estão mostrando o que o público não está querendo ver naquele

momento. E assim como o modernismo que causou muito assombro e espanto (e ainda

causa em alguns) em sua época, hoje a arte contemporânea pode chocar e incomodar

muitos que ainda não se adaptaram a olhar e tentar entender ou apreciar e permitir-se

sentir.

O reconhecimento de boas obras, então por vezes não acontece em razão de

uma resistência do público diante do novo, de uma incapacidade de lidar com o reflexo

da realidade atual ou ainda pela difundida justificativa de não entender. Muitos ainda

parecem desconhecer que arte também é uma linguagem e que as obras “dizem”

sempre alguma ou várias coisas, e para que se tenha o entendimento do que elas

dizem requer interpretação. Isso precisa ser ensinado e praticado.

Eu acredito ainda que a história da arte, de qualquer ponto de vista que seja ensinada, tende a demonstrar que o objetivo de se fazer arte, como já sugeri, é comunicar algo a alguém. A força que impulsiona a arte não é a atividade exibicionista da pessoa que cria, mas, a resposta do público. Essa resposta pode ser de um atraso cruel – Van Gogh é um exemplo que é sempre citado. Mas, até que essa reação seja ativada, o trabalho de arte, enquanto realidade, não existe. (SMITH, 2010, p.38).

36

O público tece suas opiniões pessoais do que é exposto como arte, mas muitas

vezes não faz o diálogo necessário com a obra, ficando a mercê de mediadores que

digam o que significa e por estar em algum espaço destinado à arte, considera como

arte. O que não pode se perder neste processo é o ato de apreciar e tentar lançar sobre

a obra um olhar curioso e inquietante que tenta significar. A arte contemporânea, alguns

poderão dizer, é mais difícil porque requer certo esforço para estabelecer uma relação

de “diálogo” com a obra e muitas vezes o público pode não estar disposto para essa

“conversa”.

Se no mundo contemporâneo somos estimulados por um bombardeio de

imagens que assimilamos sem fazer sequer esforço, assimilar a arte pode parecer uma

tarefa difícil para quem resiste em analisar. Para educar o olhar e enxergar além do

estímulo de formas e cores é necessário estabelecer uma relação com o que se está

vendo. Essa relação pode ser dificultada porque na contemporaneidade há um

estreitamento entre arte e vida e os artistas cada vez mais acompanham as inovações

tecnológicas e incorporam elementos do cotidiano, valendo-se deles para a produção

de suas obras.

Movimento artístico de vanguarda que se caracterizou com a incorporação de

imagens do cotidiano foi a Pop Art que nos Estados Unidos trazia elementos da

sociedade de consumo apoiando-se no crescente desenvolvimento tecnológico.

O pioneiro no Brasil a incorporar temas e linguagens pop em seus trabalhos

utilizando-se de símbolos da cultura de massa, é o artista Wesley Duke Lee (1931-

2010) que foi um dos primeiros a realizar happenings no Brasil com “O Grande

Espetáculo das Artes” em 1963.

Influenciando aqui no Brasil artistas como Rubens Gerchman (1942 - 2008),

Claudio Tozzi (1944) e Carlos Vergara (1941) o pop aparece refletindo a situação em

que o país encontrava-se com obras que se engajavam em temáticas

predominantemente sociais e políticas, como nota-se nas obras abaixo.

37

Rubens Gerchman, 1965. (Fonte: http://www.art-bonobo.com/artes/rubensgerchman/rubens01.htm)

Carlos Vergara, 1967.

(Fonte: http://www.carlosvergara.art.br/novo/pt/anos1960/galeria.php)

É no contexto da ditadura que a arte aqui no Brasil na década de 60 manifesta-

se gerando o que nomearam de A nova objetividade brasileira que uniu um grupo de

artistas focados em criar e desenvolver expressões nacionais. Artistas que interessados

em ir além da plasticidade da obra, e romper com a exacerbação racionalista

desenvolveram trabalhos relacionados à arte experimental articulando arte e vida.

38

Assim a arte não pode ser considerada apenas imagem, pensamento ou

apenas emoções. Ela chega como ideia em vanguardas artísticas, mas nunca se

desvencilhando do campo das emoções propagada pelo modernismo, seja como o

sentimento impulsionador para a criação, seja como sentimento desencadeado no

espectador, a ideia, a emoção e a imagem, portanto estarão sempre presentes.

A arte está sempre em constante movimento assim como está à sociedade.

Quanto mais plural e globalizado se torna o mundo, mais múltipla será a arte. Numa

sociedade onde o consumo desenfreado é amplamente estimulado se faz importante

desenvolver a capacidade de interpretar o que se vê e além de interpretar ser capaz de

refletir e questionar. E é neste aspecto que a arte contribui como treino para o olhar e

desenvolvimento para capacidades perceptivas de entender o que está além do que é

visto.

Numa sociedade em que os meios de comunicação dominam os mercados, influenciando e direcionando o gosto das pessoas, em que a tecnologia permeia todas as áreas de conhecimento e também as relações humanas, em que o consumo aumenta a cada dia e dita os hábitos familiares e pessoais, a arte seria uma forma de ativar e de estimular as sensações, o potencial criativo e as emoções humanas (ZAGONEL, 2008, p. 29).

Pessoas capazes de refletir sobre os fatos sociais são pessoas capazes de

transformar a realidade em que vivem sendo assim fundamental estimular o

entendimento das manifestações artísticas como forma de expressão, crítica e

intenção. Neste sentido o pensar sobre a intencionalidade das imagens favorece muito

a questão de estimular a reflexão, provocando positivamente uma geração acostumada

com imagens prontas e inquestionáveis de forma que sejam encorajados a sair da

cômoda posição de meros espectadores que a maioria dos apelos midiáticos sugerem.

A arte e a cultura são um meio de expressão humana, um meio de comunicação importante. O indivíduo expressa, por meio da arte, seus sentimentos, suas angústias, suas alegrias e se sente participativo na sociedade na qual está inserido. A arte proporciona atividades que permitem a inclusão, e por isso são meios de transformação social (ZAGONEL, 2008, p. 30).

Portanto considero que as aulas de artes podem e devem ser utilizadas para

proporcionar além de momentos de expressão, momentos em que o desenvolvimento

interpretativo do universo visual seja levado em consideração porque é trabalhando o

39

significado das imagens que torna possível desenvolver nos alunos habilidades de

análise interpretativa que os conduzirão a adquirir autonomia de pensar no que estão

sendo estimulados a considerar nas diversas esferas da vida e repensar suas escolhas

de forma a promover possibilidades de transformação social.

40

Capítulo 3

Projeto e Prática de Ensino em

Artes Visuais

41

3.1 Dados gerais da escola e turma em que foi realizada a

prática de ensino

O presente estágio foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino

Fundamental Celina Westphalen Weissheimer, localizada na Estrada Luis Pinto Chaves

Barcellos, 599, na cidade de Viamão que iniciou seu funcionamento em 2006 com

turmas de 1ª a 4ª séries e em 2010 teve sua primeira turma de formandos.

A escola atende 375 alunos que estão distribuídos em 14 turmas sendo que 7

turmas no turno da manhã e 7 turmas no turno da tarde.

O espaço físico interno é composto por dois prédios onde se encontram as

salas de aula, banheiros, biblioteca, refeitório, secretaria, sala dos professores, sala da

direção, sala da supervisão e laboratório de informática. A área externa possui uma

pracinha e uma quadra aberta e o espaço para circulação é restrito.

A filosofia da escola contemplada no PPP é: “Acreditamos em um processo de

crescimento do educando onde ele seja capaz de exercer a cidadania, ter consciência

crítica da realidade em que vive e buscar meios para desenvolver-se sendo

participativo, ético, humano, autônomo, democrático, responsável e preparado para os

desafios da vida, contribuindo, assim, para a transformação da sociedade”.

42

3.2 Dados gerais do projeto de ensino

Título:

O que isso quer dizer?

Tema do projeto:

Conceitos, linguagens e manifestações artísticas contemporâneas.

Justificativa:

Tendo em vista alunos inseridos em uma sociedade acostumada com tantos

estímulos visuais em que imagens vão sendo absorvidas sem serem refletidas se faz

necessário promover um incentivo no sentido buscar entender que toda imagem tem

uma intenção comunicativa. Considerando também a dificuldade encontrada pra

entender e apreciar as obras contemporâneas é necessário contribuir com o

desenvolvimento de pessoas que consigam ter o princípio da reflexão, a prática de

interpretar e a habilidade de relacionar pontos de vista. Alunos que em sua maioria

assinalaram não sentir emoção frente a uma obra de arte podem ser incentivados a

ampliar a concepção e o entendimento sobre a arte explorando conceitos, linguagens e

manifestações artísticas contemporâneas.

Objetivo Geral:

Proporcionar o desenvolvimento de uma postura contemplativa e crítica diante

das linguagens contemporâneas da arte com o intuito de estimular a reflexão acerca de

conceitos que permeiam a produção artística e as interpretações das obras de arte na

contemporaneidade.

43

Objetivos específicos:

Desenvolver a capacidade de refletir acerca das obras apreciadas para se

posicionar com argumentação pessoal.

Viabilizar que os alunos familiarizem-se com o termo assemblage conhecendo

algumas obras de artistas que utilizam diferentes tipos de materiais prontos em seus

trabalhos.

Proporcionar um momento de produção individual e contato com a

materialidade das coisas que serão utilizadas para compor o trabalho a partir das

informações obtidas sobre assemblage e tendo em vista a intenção previamente

definida.

Estimular a análise e uma percepção de que toda imagem publicitária foi

produzida com uma finalidade e promover a reflexão para que os alunos consigam

ampliar o entendimento a respeito de que todas as imagens produzem algum tipo de

mensagem, mesmo que subjetiva.

Conhecer a vida e a obra da artista Vera Chaves Barcellos visando despertar o

interesse pela Fundação desta artista e a valorização de um espaço local destinado à

exposição de arte contemporânea.

Proporcionar a reflexão acerca do papel da crítica de arte e sobre a importância

concedida as interpretações de quem supostamente se considera ter um maior

conhecimento sobre arte.

Estimular a fruição e a compreensão das obras selecionadas com o intuito de

desenvolver a prática interpretativa assim como valorizar e enriquecer a experiência

estética de cada aluno.

Oportunizar que os alunos conheçam a Fundação Vera Chaves proporcionando

que tenham um contato direto e mediado com as obras de arte de Julio Plaza.

Promover o conhecimento sobre o Neoconcretismo, Pop Arte e elucidar a

respeito de apropriações de imagens em composições de obras contemporâneas a

partir da observação e análise da obra de Julio Plaza.

Incentivar o desenho a partir da observação da obra de Julio Plaza propiciando

a percepção das possibilidades de apropriação de imagens já existentes em uma

experimentação gráfica.

44

3.3 Prática de ensino

3.3.1 Primeiro encontro

Aula 1

Data: 03/09/12

Horário: Das 16:10 às 16:55

Tema da aula:

Avaliando as obras de arte.

Conteúdos:

Noção cronológica a partir da linha do tempo com ênfase no Academicismo,

Expressionismo e Arte contemporânea.

Lista de Atividades:

Apreciação das obras selecionadas do Academicismo, Expressionismo, Arte

contemporânea e Instalação.

Registro na planilha com palavras que caracterizem como os alunos

consideram cada obra apreciada e suas respectivas justificativas.

Relato das palavras que cada aluno escolheu para avaliar as obras e refletir

acerca das justificativas dadas.

Fechamento com uma breve explanação mostrando uma linha do tempo.

45

Objetivos:

Refletir acerca das obras apreciadas e se posicionar com argumentação

pessoal.

Sintetizar como considera as obras apresentadas utilizando uma palavra-

chave.

Argumentar por que escolheu determinada palavra para definir a obra expondo

sua opinião para a turma.

Refletir sobre as obras que foram avaliadas em aula e o período histórico em

que foram produzidas propiciando a conclusão que o resultado da obra depende da

intenção e contexto do artista.

Propiciar uma noção cronológica do Academicismo até a Arte Contemporânea.

Metodologia:

Leitura de imagens.

Argumentações.

Reflexão.

Expositiva.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Reproduções coloridas tamanho A3 das obras selecionadas.

Xerox de tabelas para registro das palavras-chave e justificativas.

Painel impresso de uma linha do tempo da história da arte.

Avaliação:

Será avaliado o envolvimento dos alunos ao analisarem cada imagem

apresentada e a maneira como argumentam e justificam as palavras atribuídas. Se

espera que sejam reflexivos e que façam comparações com as opiniões dos colegas.

46

Planejado:

No início da aula cumprimentar a turma, fazer uma breve apresentação e falar

que o projeto que será desenvolvido baseasse na arte contemporânea e tem como foco

a intencionalidade da obra de arte. Fazer a chamada e fixar as reproduções das

seguintes obras: 1-“The Nut Gatherers” de William-Adolphe Bouguereau, 2-“É proibido

dobrar a esquerda” de Rubens Gerchman, 3-“O grito” de Edvard Munch, 4-“O césio” de

Siron Franco e 5-“Relevos espaciais” de Helio Oiticica. Ao ir fixando as imagens citar e

escrever no quadro o nome da obra e o nome do artista e incentivar a turma a observar

atentamente. Numerar as obras e explicar aos alunos que eles deverão apreciar e

refletir sobre cada obra para que consigam argumentar sobre como consideram cada

uma delas. Para essas considerações iniciais são previstos mais ou menos 10 minutos.

William-Adolphe Bouguereau, 1882. (Fonte: http://obviousmag.org/archives/2007/03/w_bouguereau.html)

47

Rubens Gerchman, 1965. (Fonte:

http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/2010/ea_6468/img8.asp)

Edvard Munch, 1893. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(pintura)

48

Siron Franco, 1987. (Fonte: http://cherryouth.wordpress.com/tag/siron-franco/)

Helio Oiticica, 1960 - 1963. (Fonte: http://www.grandmastolemycloset.com/2012_04_01_archive.html)

Após todas as imagens estarem expostas será proposta a atividade “Avaliando

as obras de arte” que consiste em escolher para cada obra uma palavra-chave que

expresse a opinião pessoal sobre aquela obra. Os alunos receberão xerox de uma

tabela onde deverão preencher os nomes das obras e dos artistas, escrever palavras-

chave de acordo com o que acham de cada obra e articular uma justificativa para cada

palavra escolhida. Será reforçada a explicação sobre a escrita das justificativas e

incentivado que reflitam sobre o porquê de cada palavra escolhida. Para ajudar na

reflexão para os alunos escreverem as justificativas será escrito no quadro: “Por que

você considera que a palavra escolhida exprime e sintetiza sua opinião sobre a obra?”

Na medida em que os alunos forem terminando de escrever será incentivado que

49

troquem os registros escritos para que constatem semelhanças ou diferenças nas

considerações dos colegas e logo em seguida será incentivado que alguns alunos

relatem para turma toda o que colocaram nos registros escritos para então ser

promovido um debate de opiniões. Para estas atividades são previstos 25 minutos.

Após esta atividade será mostrado um painel com uma linha do tempo da

história da arte e explicado brevemente sobre as mudanças na arte no decorrer do

tempo destacando que todas as manifestações artísticas não podem ser vistas

isoladamente porque elas surgem rodeadas de fatos históricos e sociais que

contribuem para o seu surgimento. Citando a obra de Bouguereau será comentado

sobre o academicismo em que a busca por uma representação mais real possível era

um ideal a ser atingido e característica de qualidade artística. Mostrando a obra de

Munch será citado o modernismo onde há a valorização e busca por uma expressão

própria, não necessariamente realista e falando da arte contemporânea onde há o

surgimento da questão conceitual como prioridade para produção artística será citado

as obras de Siron Franco, Oiticica e Gerchmann comentando sobre a intenção de cada

artista com aquela obra. Para esta explanação são previstos 10 minutos.

Realizado:

Ao entrar na sala, cumprimentei os alunos, me apresentei como estagiária da

turma e disse que a partir desta aula eu desenvolveria um projeto que elaborei a partir

das observações e questionários aplicados na turma no semestre anterior. Disse que o

foco das aulas seria a arte contemporânea e que o título era “O que isso quer dizer?” e

que a interrogação no título do projeto já dá indícios de que o trabalho é voltado à

reflexão e que, portanto a participação e envolvimento deles seria fundamental. Como a

pasta da chamada estava com o professor titular, eu passei uma folha para que cada

um escrevesse o seu nome dizendo que depois eu passaria para o caderno de

chamada. Nem todos os alunos ouviram minha breve apresentação com interesse

(alguns continuaram conversando), acho que porque a maioria já me conhece e já

50

sabia que eu daria aulas de artes para eles, então eu não estava dizendo nenhuma

novidade.

Logo que passei a folha que serviria como chamada, comecei a fixar as

reproduções das obras selecionadas no quadro e assim que eu ia colocando as

imagens alguns alunos faziam comentários do tipo: “Ah! Esse eu já vi na internet.”

“Esse eu conheço.” “Ai que coisa feia.” Deixei que fossem falando o que achavam

enquanto eu ia colocando as imagens e de vez em quando eu olhava para a turma

numa postura de diálogo para que percebessem que eu estava ouvindo e aprovando

que comentassem porque acredito que desta maneira os alunos sentem-se mais

motivados a participar e se envolver na aula.

Às vezes, vemos o diálogo como um procedimento para melhorar a relação entre professores e alunos, ou entre os próprios alunos. Em outros casos, o diálogo é um método didático que permite superar as aulas expositivas e transformar a aprendizagem em um intercâmbio de pontos de vista que possibilite a construção de novas ideias e explicações (GARCÍA, 2010, p.77).

Neste momento, o professor titular entrou na sala e perguntou se podia também

assistir a aula e eu respondi prontamente que ele não só podia como deveria. Então

comecei a escrever o nome das obras e dos artistas no quadro e pedi para uma aluna ir

passando a tabela solicitando que já fossem escrevendo essas informações

observando a numeração indicada no quadro. Depois que escrevi todos os nomes,

expliquei a atividade pedindo que eles observassem bem cada uma das obras e que

escolhessem uma palavra para caracterizar como consideravam essa obra. Continuei

dizendo que precisavam justificar a escolha desta palavra e escrevi no quadro: “Por que

você considera que a palavra escolhida exprime e sintetiza sua opinião sobre a obra?”

A maioria começou a escrever e fiquei em silêncio por uns minutos, porém ao ir

caminhando pelas classes, percebi que vários alunos estavam escrevendo palavras

sobre o que viam na obra, por exemplo: amizade, desabafo, confusão e não palavras

que expressavam a opinião deles sobre a obra. Na verdade, o que me ocorre agora é

que todas as palavras que antes também estavam colocando, de certa forma também

expressam opinião porque remete a alguma relação subjetiva que cada um faz ao ver a

obra e, portanto a palavra “desabafo” usada anteriormente pela aluna Hellena, por

exemplo, é mais expressiva em termos de opinião do que a palavra “foto” que escreveu

51

após minha intervenção. Não consegui imediatamente perceber e aceitar as palavras

vindas de alguns alunos porque minha inicial intenção era que eles julgassem e

avaliassem as obras, ou seja, eu estava interessada que me dissessem o que era bom

e o que era ruim para o gosto de cada um, mas se essa era a minha intenção, vejo que

seria mais contundente que eu tivesse sido mais direta e que tivesse perguntado

exatamente isso, porém dessa forma eu acabaria também restringindo a atividade e se

por um lado eu a tornaria mais direta e abreviada por outro, a deixaria reduzida. Então

sublinhei a palavra opinião naquela pergunta que eu tinha escrito no quadro,

reforçando que eles precisavam expressar a opinião sobre a obra; disse que eles

tinham que avaliar como se fossem dar uma nota, mas, em vez de usar um número

usariam uma palavra. Depois disso, alguns alunos mudaram suas palavras, mas alguns

mesmo assim continuaram fazendo um pouco de confusão como aparace nas três

primeiras palavras abaixo da tabela da aluna Hellena em que ela troca as palavras na

tentativa de fazer uma avaliação, mas continua descrevendo o que vê na reprodução da

obra como mostra as palavras: “foto”, “acumuladas” e “misturadas” que ela usou.

52

Fora esta confusão de alguns alunos, a maioria da turma conseguiu escrever

uma palavra avaliativa para cada obra depois da minha segunda explicação, como

demonstro abaixo nos trabalhos dos alunos Jennifer e Cristian. É interessante observar

que apesar de usarem palavras positivas, considerando como boa a obra número 1 de

Bouguereau, em nenhuma das justificativas aparece o fato de ela ser uma pintura mais

real de uma cena como motivo de ser uma boa obra. Neste sentido, apesar de não ter

exposto sua opinião sobre como considera a referida obra, a aluna Hellena, ao colocar

a palavra “foto” faz uma associação com uma cena fotográfica o que provavelmente ela

considera como algo positivo. Outra observação a se fazer é a constatação de que a

maioria avaliou o que considera ser a temática da obra para justificar sua opinião de

como considera esta obra, ou seja, aparecem respostas como: “É bacana porque nessa

obra tem duas meninas catando nozes.” Sobre isso até fiz algumas provocações do

tipo: “Ah! Porque têm meninas catando nozes então é bacana. As obras que têm

meninas catando nozes são boas...” Falei com tom de ironia, mas com respeito, é claro,

Tabela preenchida pela aluna Hellena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

53

por que percebi que muitos alunos se referiam a temática vista para avaliar a obra.

Essa característica é observada no estágio 2 dos estágios evolutivos da leitura da

imagem que Michael Parsons refere-se em sua tese elaborada a partir de pesquisas

onde identificou cinco estágios referentes a diferentes maneiras pelas quais as pessoas

entendem e se relacionam com as imagens de uma obra de arte onde ao explicar sobre

o segundo estágio, apresenta o exemplo: “o Renoir pode ser considerado um bom

quadro porque representa um cão, e os cães são bonitos. Mas esta última observação

sublinha agora uma característica própria do cão, e não os gostos do observador, ao

contrário do que acontecia no primeiro estádio” (PARSONS, 1992, p. 40).

Há também a incidência de vários alunos classificarem o “Césio” de Siron

Franco ou “O grito” de Munch com uma palavra negativa por que consideram não ter

sentido ou não ter entendido o significado. Sendo assim a explanação que fiz no final

da aula foi interessante para começar uma reflexão sobre o fato de que cada obra tem

sua intenção de ser, mesmo que não saibamos ou não entendamos o que ela está

querendo dizer, ela tem um sentido e pode ser uma boa obra mesmo que eu

desconheça esse sentido.

54

Tabela preenchida pela aluna Jennifer (Fonte: LAUERMANN, 2012)

55

Tabela preenchida pelo aluno Cristian

(Fonte: LAUERMANN, 2012)

Nenhum aluno negou-se a realizar a atividade, mas houve cinco alunos que não

preencheram toda a tabela, sendo que um deles, o Fábio, avaliou apenas uma das

obras expostas.

56

Tabela preenchida pelo aluno Fabio (Fonte: LAUERMANN, 2012)

No momento em que percebi que alguns já tinham terminado solicitei que

fossem trocando as tabelas para ler e comparar o que os colegas tinham escrito. Deixei

que eles trocassem por alguns minutos enquanto os outros terminavam e isso serviu

para que aqueles que ainda estavam fazendo se apressassem. Já eram 16h e 40min. e

comecei a dizer o nome do artista e obra seguindo a numeração indicada no quadro

pedindo que fossem dizendo as palavras que colocaram para cada obra que eu citava.

Eles iam dizendo como consideravam as obras e às vezes eu perguntava: “Por quê?” E

depois que liam a justificativa eu instigava com afirmações com o intuito de provocar

que analisassem se era consistente aquele argumento que tinham escrito. Eu dizia, por

exemplo: “É... Se eu não entendo o que é, então não é bom... Já que eu não entendi,

então é uma obra feia!" Depois que eu fazia essas afirmações alguns reafirmavam

dizendo: “Sim” ou “É claro”, mas, notadamente com ar de ironia, acredito que

percebendo que aquele argumento não bastava para avaliar a obra. Percebi que eles

gostaram desta parte de ir dizendo o que tinham escrito e também vi que alguns iam

57

terminando suas tabelas aproveitando o que alguns respondiam. Depois que

proporcionei que alguns verbalizassem suas opiniões de todas as obras apreciadas

disse que para finalizar a atividade eu iria falar rapidamente de cada uma delas. Assim

eu encerrei mostrando um painel com uma linha do tempo e dizendo que toda obra era

“fruto” de um tempo e de um lugar e que para que se considere como boa ou ruim é

necessário ter em mente em que tempo esta obra foi produzida e com que intenção.

Falei do Academicismo e daquele tipo de representação em que só era considerado

como belo se fosse pintado de maneira mais real possível. Comentei que houve o

movimento expressionista que valorizava o artista que conseguisse transmitir com sua

obra além do real, uma expressão pessoal e que na contemporaneidade as

possibilidades se alargaram de tal forma a permitir as mais diversas criações artísticas.

Comentei sobre a obra de Rubens Gerchmann e de seu cunho político numa época de

repressão, da catástrofe radioativa em Goiânia denunciada com a série “Césio” de Siron

Franco e da intenção de uma proposição ao público na obra de Helio Oiticica. Não me

aprofundei em nada, até por causa do tempo que me restava, mas considero ter

proporcionado um bom fechamento da atividade porque pelas expressões nos rostos

dos alunos e pelo silêncio penso que estavam bem interessados e atentos no que eu

disse sobre cada obra. Deu o sinal para a saída e os alunos ainda tiveram que guardar

suas coisas e me entregar as tabelas porque eu estava terminando a explanação sobre

“Os relevos espaciais” e sobre considerar a experimentação do público como

fundamental para a produção da obra. A maioria dos alunos esperou eu terminar de

falar para guardar suas coisas, mas alguns guardaram e já levantaram quando ouviram

o sinal tocar, então pedi que me entregassem as tabelas e disse que podiam ir saindo.

58

3.3.2 Segundo encontro

Aula 2

Data: 13/09/12

Horário: Das 14:25 às 15:10

Tema da aula:

As máscaras.

Conteúdos:

Opinião: O que é bom e o que é ruim.

Assemblage.

Lista de atividades:

Recortar uma folha de ofício no formato de uma máscara escrevendo de um

lado coisas que gosta e do outro lado coisas que não gosta em relação a tudo na vida.

Andar pela sala ao som da música “Primavera de Vivaldi”, lendo o que os

colegas escreveram nas máscaras do lado número um.

Andar pela sala ao som da música “O fortuna de Carl Orff”, lendo o que os

colegas escreveram nas máscaras do lado número dois.

Troca de experiências.

Leitura de imagens e debate sobre os possíveis materiais que podem ser

usados para representar sua temática.

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Objetivos:

Proporcionar um momento de interação entre os alunos no qual eles possam

compartilhar suas opiniões pessoais a respeito de coisas que acham boas e coisas que

acham ruins na sua vida.

Tornar as leituras das máscaras mais performáticas utilizando o som da música

com a finalidade de gerar um clima propício para que os alunos se movimentem em

sala.

Viabilizar que os alunos se familiarizem com o termo assemblage conhecendo

algumas obras de artistas que utilizam diferentes tipos de materiais prontos em seus

trabalhos.

Estimular o debate a respeito de quais são as possibilidades de materiais que

podem ser utilizados para representar a temática própria da sua máscara.

Metodologia:

Trabalho prático.

Dinâmica de grupo.

Leitura de imagem e debate.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Folhas duplo ofício.

Barbante.

Músicas: Primavera de Vivaldi e O fortuna de Carl Orff.

Aparelho de som.

Reproduções coloridas tamanho A4 das obras selecionadas.

Avaliação:

60

Espera-se que os alunos se envolvam na atividade demonstrando interesse

pelo assunto abordado e que exponham suas ideias no debate sobre o uso de

diferentes materiais para representar uma temática.

Planejado:

Depois de cumprimentar os alunos e fazer a chamada, eu distribuirei uma folha

de ofício e um pedaço de barbante para que cada um faça uma máscara. Explicarei que

esta máscara terá dois lados e que cada um destes lados revelará um pouco do

proprietário desta máscara. Direi que do lado número um deverá ser escrito o que

gosta, suas alegrias e o que o faz feliz e que do lado número dois deverá ser escrito o

que não gosta, o que o irrita e o que o inquieta. Orientarei para apenas recortar,

escrever e colocar os cordões sem se preocupar muito com o acabamento ou

decoração porque as máscaras apenas irão servir de ponto de partida para outro

trabalho. Para ajudar na orientação sobre o que deve ser escrito nas máscaras, eu

escreverei no quadro: Lado 1- O que me faz feliz? O que me faz bem? Que tipo de

coisas, lugares ou pessoas eu gosto? Quais são minhas alegrias? Lado 2- O que me

deixa triste? O que não me faz bem? Do que eu não gosto? Quais são minhas

angústias e inquietações? Para estas atividades descritas acima são previstos 20

minutos.

Quando a maioria dos alunos já tiver terminado suas máscaras, será explicado

que deverão colocar as máscaras do lado número um e se movimentar pela sala lendo

a escrita nas máscaras de alguns colegas ao som da música “Primavera” de Vivaldi. Os

que ainda estiverem fazendo, serão estimulados a concluir rapidamente para

integrarem-se ao grupo que estará se movimentando na sala. Depois de alguns

minutos, será desligada a música e será solicitado que todos virem suas máscaras para

fazer o mesmo feito anteriormente, porém com a música “O fortuna” de Carl Orff. Após

o término da música de Carl Orff, será pedido para todos voltarem aos lugares e

incentivado que alguns façam um breve relato sobre a atividade desenvolvida. São

previstos 15 minutos para a dinâmica.

61

Serão passadas então as obras: “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana

André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e

“Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes para que todos possam observar o

uso de diferentes tipos de materiais e conversar sobre esta possibilidade utilizada por

alguns artistas contemporâneos de incorporar elementos prontos em seus trabalhos

que caracteriza o que se chama de assemblage. Então será solicitado que deem

algumas ideias sobre quais elementos poderiam ser usados para representar a sua

máscara ou a de algum colega. Será solicitado que pensem nas sugestões de materiais

surgidas nesta conversa ou que procurem outras para trazer na próxima aula. Será lido

um cartazinho que depois ficará fixado na parede da sala no qual está escrito: “Trazer

na próxima aula de artes qualquer material para usar no trabalho que será feito em

aula. Trazer materiais para representar o que gosta e o que te faz bem e também trazer

materiais que considerar representar o que não gosta. (Aquilo que foi escrito nas

máscaras).” Depois da leitura deste cartazinho, será avisado que esses elementos

trazidos na próxima aula serão para produção de um trabalho prático. São previstos

para este fechamento 10 minutos.

Ana André, 2005. (Fonte:

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=1041&cd_item=1&cd_idioma=28555)

62

Ana André, 2005. (Fonte:

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=1041&cd_item=1&cd_idioma=28555)

Domenico Rotella, 1955. (Fonte: http://comicsando.wordpress.com/2008/11/09/mimmo-rotella/)

63

Leda Catunda, 2009. (Fonte: http://www.fortesvilaca.com.br/blog/arquivo/release-leda-catunda/)

Gilvan Lopes, 1960. (Fonte: http://acurandeira.blogspot.com.br/)

Realizado:

Quando tocou o sinal para o terceiro período, fui até a porta da sala e tive que

esperar uns cinco minutos até a professora que estava com a turma no segundo

período sair. Assim que ela saiu, eu entrei, cumprimentei a turma e já comecei dizendo

que a proposta da aula era que eles fizessem máscaras para que escrevessem de um

lado o que eles gostavam e do outro lado o que eles não gostavam. Disse que eu ia

64

escrever no quadro para que eu pudesse explicar melhor, mas já era para irem

recortando o formato da máscara e o buraco para os olhos. Entreguei as folhas para a

aluna que estava sentada na minha frente já pegar uma e solicitei que fosse passando

para os colegas irem pegando também. Então escrevi no quadro: “Lado 1- O que me

faz feliz? O que me faz bem? Que tipo de coisas, lugares ou pessoas eu gosto? Quais

são minhas alegrias?” E disse que era para responder a essas questões de um lado da

máscara, e que este lado caracterizaria o lado bom desta máscara. Também escrevi:

“Lado 2- O que me deixa triste? O que não me faz bem? Do que eu não gosto? Quais

são minhas angústias e inquietações?” E da mesma forma falei que eles precisavam

responder a essas questões no lado que caracterizaria o lado ruim da máscara, onde

escreveriam as coisas que consideravam ruins. Já aproveitei para salientar que o mais

importante seria a parte da escrita, que não era para se preocuparem com detalhes

porque a máscara apenas serviria de ponto de partida para a elaboração de um

trabalho.

Comecei a cortar dois pedaços de barbante passando de classe em classe e

percebi que havia alguns alunos desenhando uma máscara no papel. Relembrei a

turma que eu tinha dito anteriormente para não se deterem muito na elaboração da

máscara, que o mais importante seria que eles pensassem na escrita do que tinha sido

solicitado, então peguei uma folha e mostrei para a turma como poderia ser feita

rapidamente uma máscara. Recortei direto uma forma oval, dobrei para cortar os olhos

e mostrei que deveriam ter cuidado para não fazer os buraquinhos para passar o

cordão muito na ponta para que não rasgasse a máscara na hora de amarrar. Com a

máscara que eu recortei, aproveitei para mostrar os dois lados que a máscara tinha

(frente e verso) e reafirmei que deveriam responder aqueles questionamentos que eu

tinha escrito no quadro, determinando qual seria o lado um e qual seria o lado dois

desta máscara.

65

Máscara feita por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Notei que a maioria dos alunos teve dificuldade em recortar as máscaras com a

agilidade que eu havia solicitado, muitos inclusive me pediram auxílio na parte de cortar

o buraco para os olhos ou para recortar os buraquinhos para o cordão, então precisei ir

passando entre as classes e orientando ainda os que não tinham recortado. Todos os

alunos demonstraram interesse na produção das máscaras, mas percebi que eles

portaram-se como se fosse apenas esta a atividade de toda a aula. Pegaram as folhas,

e ao invés de logo recortarem, a maioria ficou conversando sobre assuntos diversos

como se fosse um momento de descontração. Eu ter dito no início da aula que a

proposta era a confecção de máscaras sem mencionar que também faríamos a

dinâmica, debate e apreciação de obras, pode ter contribuído para esta postura dos

alunos, porém é também possível que seja porque, como já foi constatado nas

observações feitas anteriormente, é costumeiro a turma ter nas aulas de artes um

grande tempo livre, inclusive dois períodos, mesmo quando era para a execução de

uma atividade que não necessitaria de tanto tempo disponível. Percebendo isso, eu

reforcei que era preciso que não demorassem em fazer as máscaras porque o foco era

66

o registro de opiniões. Também comentei que eu daria aula para eles senão até o fim,

quase até o fim do ano e que a nota do trimestre seria advinda dos trabalhos feitos nas

minhas aulas. Falei: “Infelizmente tem aluno que só faz alguma coisa se vale nota,

então sou obrigada a informar que todos estes trabalhos feitos em aula vão ser

somados para compor a nota final.” Só agora percebo que eu deveria também, neste

momento, ter falado sobre a dinâmica, até porque ajudaria no entendimento, que se

movimentar pela sala lendo as máscaras dos colegas era uma atividade prevista e isso

poderia ajudar para que eles desenvolvessem o entendimento do que havia por trás

daquele fazer. Poderia ajudar na percepção de que certas vezes a materialidade de

alguma coisa não tem tanta importância quanto seu sentido, que, afinal, é um dos

conceitos que norteia a maioria das aulas porque tende a valorizar muito mais as

ações, interações e proposições de aula do que o resultado propriamente dito de

alguma produção. Seria uma boa oportunidade para fazer a turma identificar que o

sentido era mais importante do que aquele fazer, o motivo de estarmos fazendo aquilo

seria mais valorizado do que especificamente o que se produziu. Ou seja, eu poderia já

nesta aula ter conduzido melhor para que os alunos já estabelecessem uma reflexão

acerca de uma afirmação que permeia o projeto: A intenção da obra é mais importante

do que propriamente a obra em si. Oportunizar reflexões acerca disso é um dos

grandes objetivos de meu trabalho e com certeza eu poderia desenvolver essa

atividade de maneira a aproveitar melhor a ocasião para abordar essa questão.

O que aconteceu foi que os alunos demoraram mais tempo do que o previsto

para envolverem-se de fato na confecção das máscaras e até que um número

significativo conseguisse terminar, já havia passado mais tempo do que eu havia

previsto, sendo assim eu já tinha percebido que após a dinâmica, deveria passar direto

para a conversa sobre assemblage e a solicitação de materiais.

Quando um grupo de alunos já havia terminado as máscaras, eu disse que uns

ajudassem os outros amarrando as máscaras com o lado número um à mostra, ou seja,

com a escrita das coisas que gostavam para fora, para que compartilhássemos o que

cada um tinha escrito “lendo uns aos outros”.

Expliquei que eu colocaria uma música que serviria para tornar o clima mais

propício para a movimentação na sala e que era para eles irem fazendo a leitura das

67

máscaras dos colegas. Os alunos que haviam terminado suas máscaras fizeram o que

eu havia proposto, porém sem muita interação porque eles liam a máscara de algum

colega próximo e não se movimentavam para ler a máscara de outros mais distantes na

sala. Enquanto alguns já estavam em pé fazendo as leituras, eu ia estimulando que os

outros concluíssem e que se levantassem para se juntar ao grupo em pé.

Consideraria muito positivo que todos conseguissem participar deste momento

e que de forma performática (caminhando seguindo o ritmo da música, por exemplo)

fizessem a leitura das máscaras dos colegas, mas se “o fazer” a máscara não era o

mais importante do trabalho, eu deveria ter deixado isso bem claro, não apenas

salientando a importância de os alunos exporem suas opiniões e sim o fato de que se

movimentar com as máscaras caracterizaria o significado delas terem sido produzidas.

Talvez houvesse uma participação mais intensa se eu tivesse salientado que o

fundamental da atividade era o momento em que estaríamos vendo (lendo) o que a

máscara do colega estava “querendo” dizer e especificado que o sentido de toda a

produção estaria em fazer isso. Esse pensamento acerca da produção das máscaras

encontra amparo nas reflexões registradas na teoria dos não-objetos escrita por

Ferreira Gullar sobre algumas obras de artistas como Lygia Clark e Helio Oiticica na

década de 1960:

O espectador é solicitado a usar o não-objeto. A mera contemplação não basta para revelar o sentido da obra –e o espectador passa da contemplação à ação. Mas o que a sua ação produz é a obra mesma, porque esse uso, previsto na estrutura da obra, é absorvido por ela, revela-a e incorpora-se à sua significação (GULLAR, 2007, p. 99).

O que difere aqui é a questão espectador e obra, pois na atividade proposta em

aula, para a máscara ter sentido, o solicitado a usar seria a própria pessoa que a

produziu, porém o sentido se completaria apenas com a participação de mais pessoas

usando suas respectivas produções em uma relação de “ler” uns aos outros, e esse era

o caráter a ser salientado mesmo antes desta ação.

68

Máscara feita pelo aluno Cristian (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Máscara feita pela aluna Estéfany (Fonte: LAUERMANN, 2012)

69

Na máscara da maioria dos alunos é observada a falta de noção espacial de

tamanho do rosto e da posição dos olhos. A maioria dos alunos fez o formato da

máscara grande demais comparado ao tamanho do seu rosto, não que isso fosse

relevante para o trabalho, mas me fez perceber que eu devo considerar que em uma

turma de sétimo ano, eles ainda não têm algumas habilidades manuais bem

desenvolvidas e que também alguns deles ainda são bem infantis, como pude constatar

pelo que o aluno Cristian escreveu na máscara no lado referente ao que gostava:

“Brincar de polícia ou ladrão.”

Dois alunos apenas fizeram as máscaras com formato diferente do que eu tinha

demonstrado: o aluno Cristian e a aluna Estéfany, que fizeram no formato de abóbora e

morango respectivamente. Achei interessante eles terem criado formatos diferentes,

mas vi o quanto eles têm dificuldade de concluir uma atividade focando no objetivo

determinado para a atividade. Mesmo eu orientando várias vezes que a máscara em si

não tinha grande valor, percebi que apenas a atividade de confeccioná-las poderia

ocupá-los o período inteiro.

Depois de um tempo fazendo as leituras do lado número um das máscaras com

a música de Vivaldi, eu solicitei que trocassem o lado das máscaras e mudei para a

música de Carl Orff. Neste momento quase todos os alunos já haviam concluído, mas

nem todos se levantaram para se movimentar pela sala, alguns ficaram sentados

mesmo lendo a máscara de algum outro colega.

Quando acabou a música, pedi que eles se aproximassem e espalhei nas

mesas a minha frente, as obras “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana André,

“Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e

“Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes e perguntei o que viam em comum

naquelas obras. Um aluno disse “mulher” e eu apontei para a obra “Outono”, afirmando

que nem todas tinham mulher. Outro aluno disse pintura e então apontei para a obra de

Domenico Rotella perguntando se achavam que aquela obra era uma pintura. Então fui

apontando para cada obra e perguntando com o que eram feitas. Eles foram me

dizendo, algumas vezes com certa incerteza na voz e depois de terem me dito todos os

elementos que apareciam nas obras perguntei novamente o que tinha em comum e

uma aluna conseguiu identificar que todas tinham “coisas coladas”. Foi interessante na

70

hora em que disseram que a obra de Leda Catunda era com tecido, um aluno passou a

mão em cima para tentar sentir e diante do deboche de uns colegas eu fiz o comentário

que o grande valor de ir a um museu ou outro espaço destinado a obras de arte seria

justamente de ver a obra verdadeira e percebê-la realmente como ela é. Dei o exemplo

brincando que se os guardas do museu não vissem e a gente pudesse passar a mão na

obra, sentiríamos o material de que ela foi feita, que isso não era permitido porque

acabaria estragando a obra, mas falei que seria muito mais interessante para poder

perceber os materiais. Completei dizendo que ali na sala nós tínhamos apenas

reproduções, ou seja, fotografias das obras, e passando a mão a gente não sentiria o

material que compõe a obra verdadeira, apenas perceberíamos do que ela é composta.

Ao dizer isso, falei que esta possibilidade de utilizar elementos prontos para a produção

de obras é o que caracteriza o que se chama de assemblage e que seria isso que

faríamos na próxima aula. Fiz a leitura do cartazinho que solicitava que trouxessem

materiais na próxima aula que representassem as máscaras e como já era 15h e 05min.

deixei que fossem lanchar.

71

3.3.3 Terceiro encontro

Aula 3

Data: 18/09/12

Horário: Das 12:55 às 13:40

Tema da aula:

Produzindo assemblage.

Conteúdos:

Materialidade da obra.

Assemblage.

Lista de atividades:

Retomada e leitura das máscaras.

Produção prática individual com diálogo sobre assemblage.

Objetivos:

Refletir acerca das possibilidades de utilização de materiais para representar

alguma temática.

Proporcionar um momento de produção individual e contato com a

materialidade das coisas que serão utilizadas para compor o trabalho a partir das

informações obtidas sobre assemblage e tendo em vista a intenção previamente

definida.

72

Metodologia:

Trabalho prático individual utilizando assemblage.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Materiais trazidos pelos alunos.

Cola quente e fita crepe.

Papelão e folhas brancas.

Tintas acrílicas, guaches e pincéis.

Botões, cordões e tecidos.

Revistas.

Avaliação:

Será avaliado o envolvimento dos alunos na produção dos trabalhos e

verificado se os materiais escolhidos para a produção do trabalho foram coerentes com

a temática que se pretendia retratar. Também será considerada a capacidade de o

aluno argumentar sobre a escolha dos materiais assim como a capacidade de avaliar o

resultado de seu trabalho.

Planejado:

Cumprimentarei a turma, farei a chamada e disponibilizarei as máscaras que

foram feitas na aula passada para que cada aluno pegue a sua para poder relembrar

tudo o que foi escrito em cada lado. Será solicitado que os alunos mostrem o que

trouxeram para representar cada um dos lados das máscaras e que digam como

pretendem fazer o trabalho. Então eu disponibilizarei o material que a turma também

poderá utilizar para a produção dos trabalhos que serão: cordões, botões, tecidos,

tintas acrílicas, tintas guaches, revistas, cola quente e papelão. Tempo previsto: 10

minutos.

73

Logo depois das orientações gerais para o uso dos materiais, será solicitado

que iniciem as produções. Quando a turma já tiver começado suas produções, eu

acompanharei a realização dos trabalhos incentivando que reflitam sobre questões

como: “Por que esse determinado material pode representar o que escreveu nas

máscaras?” “Que impressão pretende causar com esses materiais?” “Que cores

pretende usar? Por quê?”

Enquanto os alunos estiverem fazendo seus trabalhos, eu irei ajudando e

orientando sobre a fixação dos materiais, sobre o tamanho do papelão a ser usado, a

mistura de alguma tinta, etc. Também irei indagando de vez em quando sobre o porquê

de estarem usando este ou aquele material e questionando sobre o que acharam do

resultado obtido.

Assim que os alunos forem terminando, os trabalhos serão fixados nas paredes

da sala reunidos pela temática. Tempo previsto para a execução do trabalho: 35

minutos.

Realizado:

Tocou o sinal, fui até a sala, cumprimentei a turma e fiz a chamada. Havia

apenas onze alunos porque o dia estava muito chuvoso e a estrada onde fica a escola

estava quase alagada. Pedi que me ajudassem a arrumar as classes em dois grandes

grupos e enquanto arrumávamos já fui brincando: “É claro que vocês lembraram que

hoje nós iríamos fazer o trabalho prático e que tinha que trazer algum material que

representasse o que escreveram nas máscaras, né?!” A maioria dos alunos, após essa

minha afirmação irônica, fizeram cara de espantados. Então eu continuei dizendo: “A

proposta hoje é a produção de uma assemblage, na verdade, uma não; duas. Uma

representando cada lado da máscara que vocês fizeram, e como eu tinha certeza que

todos se lembrariam de trazer os materiais solicitados, eu trouxe diversos materiais que

vocês podem usar.” Ao falar isso, já fui colocando as caixas em cima das mesas desses

dois grupos e dizendo que tipos de materiais havia nas caixas: revistas, botões,

missangas, lantejoulas, cordões, lãs, fitas, tintas, etc. Disse que começaríamos

74

representando as coisas que nos deixavam felizes e pedi que eles já fossem

procurando os materiais que pudessem servir para representar aquilo que escreveram

do lado número um da máscara. Ouvi um aluno dizer que nem lembrava o que tinha

escrito na máscara, então eu disse que era por isso mesmo que eu as havia trazido e

solicitei para eles fazerem a leitura para relembrarem-se dos registros. Peguei as

máscaras na minha pasta e, espalhando-as em cima da minha mesa, solicitei que cada

aluno pegasse a sua.

Comentei que o suporte para o trabalho seria papelão e pedi que cada um

pegasse o pedaço que achasse necessário para o seu trabalho, tomando cuidado para

“eliminar” bem os vestígios caso tivesse alguma escrita no papelão que pudesse

interferir no trabalho. Um aluno perguntou: “Como assim?” E eu expliquei novamente

dizendo que era para representar o que tinha escrito na máscara utilizando algum

material que considerasse mais indicado para representar aquilo que escreveu no lado

um e no lado dois da sua máscara. Outro aluno perguntou se era no mesmo papelão e

eu disse que seriam dois trabalhos separados, mas que poderíamos juntar na hora de

pendurar para expor para que ficassem como as máscaras com dois lados. Reforcei

que começaríamos pelo lado número um da máscara e pedi que já começassem a

selecionar os materiais que usariam. Ao ver alguns indecisos e conversando diante dos

materiais, eu disse que o trabalho deveria ser concluído neste período e uma aluna que

já havia começado a pintar o seu perguntou: “Os dois?” Então, neste momento, percebi

que seria muita “correria” produzir os dois trabalhos em um período e disse que

realmente não daria tempo de fazer os dois, que era para ao menos terminar um e na

próxima aula faríamos o outro.

Na medida em que faziam os trabalhos, eu ia comentando ou incentivando a

pensarem inclusive nas cores que usariam e percebi que algumas alunas estavam

usando as palavras que tinham usado nas máscaras em vez de pensar em outra

maneira para representar aquilo que tinham escrito. Então fui até o quadro e escrevi o

seguinte: “Capacidade de representar alguma ideia utilizando coisas, objetos, cores,

etc.” Chamando atenção da turma para o que eu tinha escrito comentei que o objetivo

era que eles utilizassem outras maneiras para representar as máscaras, ou seja, outro

tipo de linguagem além da escrita. Mas ao falar isso, me dei conta que o uso da palavra

75

também está presente em obras na contemporaneidade e completei dizendo que na

verdade eu não desconsideraria o uso de palavras porque isso seria também uma

possibilidade interessante e conflitante a ser explorada na arte contemporânea.

Considero que mesmo que ao planejar a aula a minha intenção fosse a

produção de assemblage e que meu objetivo fosse que eles utilizassem algum material

para representar as palavras que escreveram, se a minha pretensão desenvolvendo um

projeto focado na arte contemporânea é proporcionar que os alunos sejam estimulados

a refletir sobre a produção e intenção das obras de arte contemporânea eu não posso

deixar de valorizar e de permitir que hajam produções que diferem de alguma maneira

do solicitado. Porque, afinal de contas, o que é a arte senão uma constante quebra de

paradigmas? A atitude destas alunas de escrever as palavras nas suas produções traz

uma questão interessante para se pensar a respeito do fato de que se a finalidade da

produção seria “dizer” o que se escreveu de um lado da máscara, porque não dizer logo

escrevendo o que gostaria de dizer? Esta questão pode ser utilizada para trazer a

abordagem de princípios distintos presentes em duas manifestações artísticas

contemporâneas: a arte conceitual e o neoconcretismo. Ao citar a arte conceitual, me

remeto a alguns trabalhos de artistas como Julio Plaza e Cildo Meireles onde se

encontra o uso da palavra e ao que ela pode provocar no espectador como elemento

principal, ou seja, comunicação direta, mas nem por isso, menos subjetiva. E o

neoconcretismo que traz argumentações onde a obra de arte seria uma representação

dela mesma em uma auto significação onde ela própria se bastaria.

Esses princípios distintos podem ambos ao seu modo ser utilizados para

problematizar essa produção de assemblage a partir das máscaras. Um deles

contestando a procura de algum material para representar o que já está dito com a

palavra e o outro que questiona porque a produção precisaria significar algo se ela

pode ser produzida para simplesmente ser algo e representar a si própria.

Essas questões não foram exploradas com os alunos, apenas as utilizei aqui

porque são conceitos que fazem parte das referências que utilizei para fundamentar o

projeto e estou citando com a única intenção de conflitar minha própria prática docente

e as utilizo para, inclusive rever a condução dada à atividade.

76

Acredito que se nesta aula eu fosse deter-me na exploração de questões como

essas, apenas causaria confusão para uma turma que recém está começando a ter

contato mais sistematizado com a arte contemporânea. Não deixei de abordar com os

alunos a respeito de questões também bastante reflexivas, mesmo que informalmente

e, às vezes, individualmente com os questionamentos que ia fazendo durante as

produções dos trabalhos sobre cores, impressão que o trabalho causaria no

espectador, a intenção e os resultados alcançados, etc.

Como há de minha parte a intenção de, acima de tudo, valorizar a produção

artística, é preciso salientar o princípio que: “A arte como linguagem aguçadora dos

sentidos transmite significados que não podem ser transmitidos por meio de nenhum

outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou a científica” (BARBOSA, 2010, p.99).

Sendo assim, mesmo querendo dizer alguma coisa com o trabalho feito e tendo

discussões contemporâneas pertinentes sobre o sentido e finalidade da arte é esse

caráter de arte como exclusiva linguagem que não deve ser esquecido no momento da

produção artística. Porque, afinal de contas, o que pretendemos transmitir com aquela

determinada produção é a arte e ressaltar a necessidade da presença dela no nosso

meio. Este foi o enfoque dado quando durante os trabalhos comentava com os alunos a

respeito da materialidade da obra. É esta materialidade da obra que clama seu espaço

entre a gente ou é a gente que precisa da sua presença no nosso espaço? Não

pretendia obter resposta dos alunos e tampouco responder a eles essa pergunta.

Apenas tinha a intenção de lançar alguns pensamentos para incentivar que a produção

dos trabalhos adquirisse certo caráter reflexivo e com isso valorizar a relação deste

fazer.

A escrita constatada em alguns trabalhos são todas de nomes de banda ou

música, como “Ponto Fraco” e “Cone Crew” verificado abaixo nos trabalhos

fotografados. A música aparece representada em quase todos os trabalhos das alunas

que estavam presentes nesta aula, porém de formas diferentes, quatro usaram

palavras, três usaram notas musicais e uma fez a representação de um disco com

papelão recortado. Quando alguns alunos já estavam quase terminando suas

produções, eu comentei que era para eles cuidarem na hora de assinar seu nome para

que essa assinatura não interferisse muito na obra produzida. Falei que a assinatura

77

deveria ser discreta ou atrás e isso dificultou para que eu pudesse identificar quem

produziu o trabalho depois de ter fotografado porque muitos preferiram escrever atrás.

Na medida em que iam terminando, eu já fotografava e pedia que eles fossem

colocando na estante que tem no fundo da sala porque não teria como eu fixar na

parede os trabalhos com as tintas ainda molhadas.

Sobre os trabalhos produzidos, também se pode notar que, se tratando de

finalização, os meninos deixaram um pouco a desejar porque três dos quatro meninos

presentes na aula não fizeram com tinta a cobertura completa da superfície que

escolheram para fazer o trabalho ou não se preocuparam em cortar o papelão do

tamanho adequado para suas produções.

Trabalho feito por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

78

Trabalho feito pela aluna Rafaela

(Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho feito por um aluno (Fonte: LAUERMANN, 2012)

79

Trabalho feito pelo aluno Cleiton (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Considero que a atividade foi produtiva porque de fato eles manusearam e se

envolveram no trabalho procurando elementos que pudessem ajudá-los a representar

aquilo que foi proposto. Fora a falta de acabamento constatada em alguns trabalhos, o

que talvez possa ser em virtude do pouco tempo, os trabalhos foram desenvolvidos de

forma satisfatória.

Achei interessante o trabalho da aluna Milene porque usou a tinta apenas para

pintar o fundo e para dar forma aos elementos do trabalho ela usou pedaços de lã e

lantejoula, explorando, portanto a proposta de representar usando materiais e não

apenas a tinta. Neste trabalho se percebe nitidamente dois dos três elementos que

essa aluna pretendia representar: a música e internet. O terceiro elemento formado com

pedaços de lã vermelha, amarela e verde pode representar o reggae, música gaúcha, a

tradição gaúcha ou o Rio Grande do Sul. Acredito que, pelas características desta aluna

e do grupo de alunos que normalmente se relaciona, a intenção dela provavelmente era

representar uma cultura reggae.

80

Trabalho feito pela aluna Milene (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Dentre as coisas que gosta, a aluna Paula destacou em seu trabalho apenas a

música. Representou o nome da banda que gosta e um disco feito de papelão. Cheguei

a propor que esta aluna pegasse um cd de verdade que eu havia levado, mas ela

preferiu fazer. Acho que a intenção dela talvez não era destacar qualquer portador de

música, por exemplo o cd, da sua banda preferida. Talvez o que ela pretendeu foi

representar um disco vinil e considerar também um resgate do que é antigo e que ela

considera positivo. Ou também pode ser que mesmo com o incentivo e a aceitação da

possibilidade de usar coisas prontas, esta aluna ainda tenha ficado resistente, ou quem

sabe com certo receio, de fazer esse uso. Digo isso porque muitas vezes, eu mesmo

em outras aulas, antes do estágio com esse grupo de alunos já abordei de forma

transversal com outros conteúdos a questão do resgate e valorização do artesanal, das

pequenas produções e da cultura local como forma de resistência a uma demasiada

industrialização e padronização do consumo. Portanto talvez essa aluna tenha preferido

fazer a representação do disco em vez de utilizar algo pronto, buscando essa

valorização do fazer com as próprias mãos.

81

Trabalho feito pela aluna Paula (Fonte: LAUERMANN, 2012)

A aluna que fez o trabalho com a imagem do planeta, não utilizou nenhum

material além da tinta, mas seu trabalho adquiriu uma visualidade interessante porque

foi o único a meu ver que obteve aspecto de unicidade. A aluna não ficou tentando

representar as diversas coisas que gostava e que havia escrito na máscara, escolheu

uma imagem que pudesse contemplar tudo, ou quem sabe selecionou uma das coisas

que escreveu e focou apenas nisso. Acredito que a imagem que escolheu contempla

tudo que pode ter escrito na máscara. Visto que todas as coisas boas e ruins existem e

adquirem sentido porque estamos inseridos em um lugar que constantemente tecemos

nossas relações de gostos e desgostos. Acho que essa imagem acaba adquirindo mais

do que uma dimensão mundana devido ao contraste do fundo preto com os vários

pontos brancos, representando o universo. O significado adquire uma profundidade

reflexiva porque transmite um sentimento de amplitude. Mesmo que não se consiga

entender claramente qual era a intenção desta aluna ao representar o planeta,

considerei o trabalho bastante interessante até porque afirmei que eles deveriam

explorar a capacidade de representar o que escreveram utilizando outra linguagem,

mas em nenhum momento eu disse para os alunos que eles precisavam ser claros e

diretos.

82

Trabalho feito por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

O que me surpreendeu e que considero negativo foi o fato de que nenhum

aluno lembrou que deveria levar algum elemento que representasse as máscaras e

mesmo que eu já esperasse que muitos esquecessem, e por isso levei bastante

material, não achava que seriam todos. Isso pode ser o reflexo de uma falta de

engajamento dos alunos em atividades de uma disciplina que normalmente não é

levada a sério pelos alunos por não ter aquela cobrança tão grande de notas como há

em outras disciplinas da escola ou também pelo fato de que ainda não estão

acostumados com esse tipo de trabalho. Quando acabou o período, demoramos mais

uns minutinhos para terminar de organizar os materiais, mas a professora do próximo

período foi atenciosa em aguardar uns instantes na porta da sala.

83

3.3.4 Quarto encontro

Aula 4

Data: 24/09/12

Horário: Das 16:10 às 16:55

Tema da aula:

Produzindo assemblage.

Conteúdos:

Materialidade da obra.

Assemblage.

Lista de atividades:

Retomada e leitura das máscaras.

Produção prática individual com diálogo sobre assemblage.

Objetivos:

Refletir acerca das possibilidades de utilização de materiais para representar

alguma temática.

Proporcionar um momento de produção individual e contato com a

materialidade das coisas que serão utilizadas para compor o trabalho a partir das

informações obtidas sobre assemblage e tendo em vista a intenção previamente

definida.

84

Metodologia:

Trabalho prático individual utilizando assemblage.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Materiais trazidos pelos alunos.

Cola quente e fita crepe.

Papelão e folhas brancas.

Tintas acrílicas e pincéis.

Botões, cordões e tecidos.

Revistas.

Reproduções tamanho A3 das obras selecionadas.

Avaliação:

Será avaliado o envolvimento dos alunos na produção dos trabalhos e

verificado se os materiais escolhidos para a produção do trabalho foram coerentes com

a temática que se pretendia retratar. Também será considerada a capacidade de o

aluno argumentar sobre a escolha dos materiais assim como a capacidade de avaliar o

resultado obtido em seu trabalho.

Planejado:

Cumprimentar a turma, fazer a chamada e disponibilizar novamente as

máscaras feitas. Desta vez será solicitado que relembrem o que haviam escrito no lado

número dois da máscara para representar no trabalho as coisas que não gostam.

Perguntarei se alguém se lembrou de levar algum tipo de material e também já

direi que estariam disponíveis aqueles mesmos materiais nas caixas e que cada um já

poderia ir selecionando o que usaria. Tempo previsto: 10 minutos.

Logo depois de novamente orientar para um melhor e mais organizado uso dos

materiais, será solicitado que iniciem as produções. Quando a turma já tiver começado

85

suas produções eu escreverei no quadro: “Por que esse determinado material pode

representar o que escreveu no lado número dois da máscara?” “Que impressão

pretende causar com esses materiais?” “Que cores pretende usar? Por quê?” Depois de

escrever essas perguntas no quadro, será chamada a atenção da turma para que

realizem o trabalho pensando na resposta para aquelas perguntas.

Também fixarei no quadro, para que sirvam de inspiração, as obras: “Outono”

de Ana André, “Reflexos” de Ana André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem

com onça” de Leda Catunda e “Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes.

Enquanto os alunos estiverem fazendo seus trabalhos, eu irei ajudando e

orientando sobre a fixação dos materiais, sobre o tamanho do papelão a ser usado, a

mistura de alguma tinta, etc. Também irei indagando de vez em quando sobre o porquê

de estarem usando este ou aquele material e questionando sobre o que acharam do

resultado obtido. Assim que os alunos forem terminando, os trabalhos serão colocados

em lugar onde possam ficar secando até a próxima aula. Tempo previsto para a

execução do trabalho: 35 minutos.

Realizado:

Tocou o sinal, fui até a sala, cumprimentei a turma e fiz a chamada. Relembrei

que na aula passada tínhamos feito os trabalhos que representavam aquilo que

gostávamos, e disse que a proposta agora seria produzir assemblage que

representasse aquilo que nos angustia e o que nos aflige, ou seja, representar o que

não gostamos. Enquanto estava fazendo essa breve explicação inicial para relembrá-

los rapidamente sobre o trabalho e também para orientar sobre a atividade, justamente

alguns daqueles alunos que não estavam no último encontro não fizeram silêncio para

prestar atenção, continuaram com algumas conversas paralelas. Mesmo assim, concluí

a explicação para aqueles que prestavam atenção e logo já solicitei que começassem a

separar o material que gostariam de utilizar para representar o lado número 2 da

máscara. Pedi para os alunos abrirem as caixas e disse que podiam mexer no carrinho

que eu tinha levado porque todas as coisas e materiais que tinha ali poderiam ser

86

utilizados nos trabalhos. Pedi que um aluno colocasse água no pote para lavar os

pincéis e disponibilizei jornal para que eles colocassem em cima da classe para fazer as

pinturas. Solicitei, então que pegassem suas máscaras e pedi para relerem o lado

número dois, referente às coisas de que não gostavam, tendo a intenção de focar nas

possibilidades de retratar o que haviam escrito. Na medida em que os alunos

começavam a fazer os trabalhos, alguns daqueles alunos que estavam conversando

enquanto eu explicava começaram a pedir para os colegas explicação sobre o trabalho.

Deixei que alguns colegas explicassem para aqueles que perguntavam enquanto fui

fixando no quadro a reprodução das obras: “Outono” de Ana André, “Reflexos” de Ana

André, “Acciaio Blu” de Domenico Rotella, “Paisagem com onça” de Leda Catunda e

“Suburbano II -Lençol vermelho” de Gilvan Lopes. Já havia mostrado estas obras em

uma aula anterior para que os alunos considerassem e pensassem em algumas das

diversas possibilidades de materiais que podem ser utilizadas em uma obra. Também

pretendia que pudesse servir de incentivo para eles trazerem para aula algum material

e que inspirasse as produções individuais. Porém, admito que não relembrei os alunos

na aula passada sobre que eles ainda deveriam trazer materiais para usar nos

trabalhos porque continuaríamos com as produções de assemblage. Muitas vezes a

sequência do trabalho pode estar implícita de forma óbvia no pensamento do educador,

mas não necessariamente explicitamente clara no entendimento dos alunos. E assim,

dei sequência nas produções dos trabalhos apenas com os materiais que havia levado

para sala de aula, sem contar com nenhum elemento próprio e diferenciado vindo dos

alunos, como inicialmente havia previsto.

Expliquei para os alunos que havia selecionado aquelas obras tendo em vista

estas questões a respeito dos diferentes tipos de materiais. Disse que visava poder

exemplificar e mostrar modelos para um ponto de partida para a produção de

assemblage. Apontando para as obras salientei mais uma vez que elas poderiam servir

de exemplo para exemplificar as possibilidades de uso e dos tipos de materiais que

poderiam ser agregados à tela. Mesmo eu tendo elucidado a respeito de diferentes

possibilidades de uso de materiais, acredito que o pouco tempo de um período tenha

corroborado para que a maioria dos alunos se restringisse ao uso das tintas. E foi em

virtude deste curto tempo disponível que também reconheço que nesta aula me limitei a

87

deixar que cada um fosse produzindo do seu jeito sem muitas interferências da minha

parte durante as produções.

Depois desse meu breve comentário sobre as obras, expliquei mais uma vez

sobre a proposta da aula e disse que nós tínhamos apenas aquele período para

concluir o trabalho e que era preciso que eles não demorassem na produção para que

pudéssemos ainda guardar as coisas antes de acabar a aula. Teve um aluno que

começou a fazer o trabalho apenas depois que fui até o lugar onde ele estava sentado

e solicitei que participasse. Os outros alunos se envolveram logo na produção e

concluíram com mais agilidade do que na aula anterior.

Quando todos já estavam fazendo seus trabalhos, eu escrevi no quadro: “Por

que esse determinado material pode representar o que escreveu no lado número dois

da máscara? Que impressão pretende causar com esses materiais? Que cores

pretende usar? Por quê?”

Turma 71 (Fonte: LAUERMAN, 2012)

Vários alunos usaram palavras em seus trabalhos, mas a maioria utilizou

apenas uma palavra entre outros elementos o que a meu ver tornou o trabalho mais

criativo. A forma de distribuição destes elementos também interferiu no resultado final

para apreciação, como no trabalho da aluna Hellena em que a palavra “não”

88

centralizada lembrando uma onomatopeia com os outros desenhos ao redor ficou

visualmente mais agradável de olhar. E o trabalho de um aluno que usou apenas o

cigarro como um desenho identificável e uma forma espiralada ao lado que preencheu

o vazio e deu um equilíbrio visual no trabalho. Neste trabalho a palavra “rock” que o

aluno escreve fazendo o uso de reticências, pode estar expressando que existem mais

coisas além daquilo que ali está representado que lhe desagrada e assim tornou-se um

trabalho além de visualmente interessante, também instigante. O contrário acontece

com o trabalho da aluna Milena em que a maneira como organizou os desenhos não

valorizou a palavra escrita e nem tornou interessante visualmente a composição de sua

produção.

Trabalho feito pela aluna Hellena (Fonte: LAUERMAN, 2012)

89

Trabalho feito por um aluno (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho feito pela aluna Milena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

90

Trabalho feito pela aluna Amanda (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Bastantes alunos, assim como a Amanda, continuaram usando palavras numa

tentativa de, talvez, conseguir deixar mais claro o que estavam querendo representar.

Na aula passada comentei sobre o uso da palavra e considerei este uso como uma

possibilidade comentando a respeito de algumas obras em que a palavra se faz

presente. Nesta aula deixei os alunos mais livres nas suas representações e não

interferi com muitas explicações, apenas ia fazendo alguns comentários e

considerações sobre o uso das cores e sobre o pensar naquilo que eles pretendiam

retratar. Reconheço que até poderia ter proposto que fossem mais ousados com

relação à materialidade das coisas, porque os alunos poderiam ter explorado e utilizado

mais possibilidades de materiais que tínhamos disponível na sala ou até quem sabe no

pátio da escola. Por outro lado, já me justificando, saliento que o pouco tempo me

deixou limitada e assim optei como em muitas aulas, em evitar a exploração de

determinado conteúdo em prol de tentar não se distanciar muito do cronograma das

aulas. Não considero que este fato possa ter tornado as aulas superficiais, pois a opção

de não permanecer mais tempo na exploração dessas possibilidades de uso de

materiais foi tendo em vista o contato com outras linguagens artísticas que ainda

pretendia possibilitar e respaldada na intenção de evitar que os conteúdos se

tornassem enfadonhos.

Todos os alunos se envolveram satisfatoriamente na proposta de aula e o que

também colaborou para que eles se detivessem mais no uso das tintas foi o fato de

91

nenhum aluno ter levado material para utilizar na produção. O aluno Cleiton, por

exemplo, utilizou exclusivamente a tinta para representar aquilo que não gostava, e a

aluna Stéfani, que exceto por um pequeno pedaço de lã colado no contorno de seu

coração partido também utilizou basicamente tintas. Acabaram ambos deixando um

pouco de lado a outra proposta que era focada em experimentar a utilização de outros

tipos de materiais para compor a obra.

Trabalho feito pelo aluno Cleiton (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho feito pela aluna Stéfani (Fonte: LAUERMANN, 2012)

92

Talvez o fato de termos partido da escrita, usado exemplos de assemblage para

enfim fazer uma produção tenha deixado restrito um discurso sobre a obra como

produto de arte em si. Visto que a intenção da aula era uma produção com um sentido

específico para elucidar sobre o fato de que a argumentação e o discurso podem não

só anteceder a obra como serem mais cruciais do que a produção em si, ficou um

pouco de lado uma discussão sobre a experiência estética, embora admita que ela

poderia ser determinante para se atingir uma determinada impressão que inclusive

poderia favorecer e reafirmar o sentido do trabalho. Espero que depois de os trabalhos

estarem expostos possamos falar nem que seja brevemente sobre a impressão que

eles causam e instigar na turma outras questões como: Qual é a necessidade de que o

espectador perceba claramente a intenção que tivemos ao produzir os trabalhos? Seria

importante a apreciação dos trabalhos unicamente com experiência de fruição? Será

possível classificar o que seria mais importante: A primazia de uma ideia ou a

experiência estética frente a uma obra? Ou ainda: É realmente necessário responder a

essas perguntas para se justificar a arte?

A arte ensina justamente a desaprender os princípios das obviedades que são atribuídas aos objetos, às coisas. Ela parece esmiuçar o funcionamento dos processos da vida, desafiando-os, criando para novas possibilidades. A arte pede um olhar curioso, livre de “pré-conceitos”, mas repleto de atenção. (CANTON, 2009, p.12 e 13).

Por não contemplar esse princípio da obviedade é que a arte torna-se tão

encantadora. Afinal de contas, ela permite que façamos nossas relações e que teçamos

nossas opiniões frente ao outro com relações e opiniões talvez distintas e nem por isso

determinando quem está longe da verdade. Podemos nos dar conta que são infinitas

verdades ou quem sabe curiosos pontos de vista que vão surgindo de acordo com o

grau de atenção a ela dispendido.

A respeito de gostos pessoais lembro também de ter comentado com a aluna

Joana, enquanto ela produzia seu trabalho que ao olhar para o trabalho dela eu jamais

o consideraria como negativo porque gostava de chuva e da cor preta, e que uma

interpretação feita por mim, por exemplo, seria exatamente inversa à intenção que

gerou a produção do trabalho. Pensar nessa questão é um passo, mesmo que

pequeno, para despontar a reflexão e aceitação acerca das possíveis ambiguidades de

93

interpretações e opiniões tanto na arte como na vida. No trabalho desta aluna também

acontece o uso de outro material além da tinta apenas singelamente aplicado no cabelo

da figura que ela desenhou para se representar, mas nem comentei com ela a respeito

disso porque preferi destacar a respeito desta ambiguidade de interpretação. Elogiei o

trabalho até para poder afirmar que mesmo tendo uma proposta clara e uma intenção

ao produzir os trabalhos, eles não precisariam ser explicitamente óbvios. O trabalho

artístico não carrega a obrigação de ter que revelar sua original e real intenção de ser.

Trabalho feito pela aluna Joana (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Os alunos que terminavam o trabalho colocavam no chão para que eu pudesse

tirar foto e depois deixavam na estante junto com os outros trabalhos. Os primeiros a

terminarem os trabalhos atrapalharam um pouco porque ficaram conversando e

brincando, então quando quase todos já haviam terminado, pedi que eles ajudassem a

guardar as coisas enquanto eu tirava as fotos dos últimos trabalhos. Eles conseguiram

organizar quase todas as coisas antes do sinal tocar e deixei que ficassem

conversando enquanto eu colocava as coisas no carrinho que eu havia levado.

94

3.3.5 Quinto encontro

Aula 5

Datas: 08/10/12

Horário: Das 16:10 às 16:55

Tema da aula:

Desvendando o subjetivo mundo da publicidade.

Conteúdos:

Obra do artista Nelson Leirner.

Publicidade.

Subjetividade.

Lista de atividades:

Leitura de imagem da foto de reprodução da instalação de Nelson Leirner.

Análise de alguns materiais publicitários.

Produção de cartazes em grupos com as análises dos materiais publicitários.

Objetivos:

Desenvolver a capacidade de refletir acerca da intenção de uma produção

contemporânea articulando relações com a realidade.

Estimular a análise e a percepção de que as imagens publicitárias são

produzidas com uma finalidade.

95

Compartilhar opiniões com os colegas sobre o que pode ser identificado de

subjetivo nas imagens publicitárias analisadas, produzindo um cartaz com o registro

dessas conclusões.

Metodologia:

Leitura de imagem.

Expositiva dialogada.

Trabalho em grupo.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Reprodução colorida tamanho A3 da instalação de Nelson Leiner.

Imagens impressas de campanhas publicitárias e embalagens de produtos.

Tiras de papel.

Cola.

Papel pardo.

Avaliação:

Espera-se que os alunos participem falando suas interpretações sobre a obra

exposta e analisem as imagens publicitárias conseguindo chegar ao entendimento

acerca do propósito das imagens em propagandas.

Planejado:

Cumprimentarei os alunos, farei a chamada e fixarei a imagem da instalação de

Nelson Leiner. Comentarei sobre as assemblages que vimos nas aulas anteriores e

direi que objetos prontos também podem ser utilizados em uma composição pensada

em determinado ambiente e se caracterizar como instalação que é outra linguagem

usada na arte contemporânea. Explicarei que a imagem exposta trata-se de uma

96

fotografia de uma instalação feita pelo artista Nelson Leiner e solicitarei que olhem

atentamente para que me digam o que acham que significa a obra. Num primeiro

momento, estimularei que os alunos citem os elementos que identificam na obra e logo

depois solicitarei que me digam o que acham que aqueles elementos organizados

daquela maneira podem representar. Duas questões serão abordadas: A primeira

questão é que podemos dizer sobre o que a imagem daquela obra nos faz pensar, ou

seja, a interpretação própria e a outra questão é dizer o que cada um acha que o artista

quis mostrar com a obra, ou seja, a intenção do artista. Expondo para a turma que

essas duas questões abordadas são válidas na hora de analisar uma obra de arte, eu

deixarei que eles façam seus comentários por alguns minutos. Tempo previsto: 20

minutos.

A partir dessa leitura de imagem, será proposto que os alunos façam relação

com a realidade pensando sobre o consumo, propaganda, mídia, etc. Explicarei que

nas propagandas e embalagens de produtos é comum o uso de subjetividade com

imagens e slogans que são produzidos com a intenção de persuadir um público alvo.

Direi que estas propagandas e embalagens acabam sendo associadas a mensagens

que incentivam o consumo do produto em questão e atingem o público alvo muitas

vezes sem que as pessoas percebam. Salientarei que, acima de tudo, a intenção da

publicidade e da propaganda é incentivar o desejo para o consumo do que está sendo

divulgado. E que esta subjetividade se refere ao que não está prontamente declarado,

ao que é subentendido e não explicitado claramente.

Após fazer essas explicações, eu distribuirei impressões coloridas de

campanhas publicitárias e de embalagens de produtos para os alunos e solicitarei que

se reúnam em grupos de no máximo cinco alunos. Direi para os alunos analisarem

aquelas imagens e pedirei para eles escreverem nas tiras de papel que distribuirei a

conclusão sobre o que pode estar subentendido naquelas imagens de publicidade e

propaganda que receberam. Solicitarei que colem as imagens e as conclusões que

escreveram no papel pardo para que possamos expor na parede da sala de aula.

Tempo previsto: 35 minutos.

97

Nelson Leirner (Fonte: http://imediata.org/?p=550)

98

Realizado:

O sinal para trocar de período não tocou porque tinha faltado luz na escola.

Como a turma estava na biblioteca, fui até lá avisar para a professora que estava com

eles que já estava no horário da troca de período. A professora liberou os alunos e

fomos para a sala de aula. Algumas mesas na sala de aula estavam organizadas em

grupos e como eles já estavam começando a recolocá-las nos lugares eu disse que

eles poderiam deixar as mesas do jeito que estavam.

Quando todos já tinham se acomodado, pedi que a turma me dissesse o que

tínhamos feito nas últimas aulas. Eles falaram que fizeram máscaras e que

representaram o que gostavam e o que não gostavam. Então eu perguntei o que eram

os trabalhos que eles tinham produzido. Uma aluna disse que eram trabalhos sobre o

que tinham escrito na máscara e outro aluno falou que era o trabalho que representava

o que eles gostavam e o que não gostavam. Eu perguntei se eles lembravam como

eram as obras que eu havia mostrado e o que elas tinham em comum. Alguns falaram

sobre a boneca que tinha em uma das obras e de outras “coisas”. Então eu perguntei

99

como se chamava este tipo de obra em que os artistas utilizavam elementos prontos

como as que tínhamos visto e qual era, afinal, o nome do trabalho que tínhamos feito e

sua principal característica. Como nenhum aluno respondeu, eu falei que se eles

tivessem levado para aquelas aulas aquilo que eu tinha pedido que levassem talvez se

lembrassem do tipo de trabalho que era, pois não se tratava apenas de representar o

que tinham escrito nas máscaras ou apenas de trabalharem com tinta. Uma das

questões principais era a utilização de qualquer elemento pronto para compor o

trabalho e que isso era característica de uma linguagem que os artistas

contemporâneos também utilizam chamada assemblage. Precisei interromper por um

momento essa conversa inicial porque, a pedido do professor titular de artes, vários

alunos da outra turma começaram a entrar e largar no chão da sala os instrumentos da

banda da escola que eles usam para as aulas de música e a turma ficou eufórica

achando que eles tocariam. Quando o professor entrou na sala e me viu, disse que

tinha errado (provavelmente querendo dizer que tinha esquecido que eu daria aula),

que era falha dele e pediu desculpas. Ele deixou ali no chão mesmo os instrumentos e

foi sentar em uma classe no fundo da sala. Os alunos ficaram perguntando se eles

poderiam tocar. Então eu falei sobre a necessidade de que eu cumprisse as atividades

planejadas seguindo um cronograma e a importância da atividade que

desenvolveríamos naquela aula para que o assunto que estávamos trabalhando tivesse

uma continuidade. Os alunos aceitaram meu pedido, mas a turma ficou bastante

agitada depois disso e foi difícil conseguir a concentração de todos durante as

explanações referentes aos conteúdos da aula.

Mostrei a imagem da instalação de Nelson Leirner e disse que ali também havia

a presença de coisas prontas como em uma assemblage, mas por ocupar um

determinado espaço, ou seja, ser instalada em um lugar era nomeada como instalação.

Destaquei a afirmação de que a obra do artista era a presença daqueles elementos

organizados em um espaço, em uma exposição e que, portanto o que eu estava

mostrando não era a reprodução da obra e sim a fotografia da obra que estava

instalada em um local específico para que fosse vista daquela maneira como estava

colocada lá e não “para ser pendurada, por exemplo, em uma moldura ou na parede

como aqui está”.

100

Primeiro pedi que cada um fosse me dizendo alguma coisa que conseguia

identificar na fotografia daquela instalação e no momento que eu ia passando para

mostrar mais de perto, os alunos iam citando os elementos: “Latas, bandeira,

embalagens, carrinho de supermercado, lixo, etc.” Deixei que cada um dissesse o que

estava vendo e depois disse que gostaria que alguns falassem sobre o que aquela obra

comunicava a eles, o que aqueles elementos organizados daquela maneira

transmitiam, ou seja, ao verem a obra, no que pensavam. Fui chamando alguns alunos

para dizerem sobre o que eu havia proposto e precisava várias vezes chamar atenção

de outros que ao mesmo tempo conversavam. Teve um aluno que citou “recicláveis” e

comentei que podia dar essa impressão de se tratar de reciclagem porque nitidamente

percebe-se que o artista em sua obra utilizou-se de embalagens e latas vazias, mas

salientando o fato de que estas embalagens estavam dentro de um carrinho de

supermercado e perguntando o que é que fazíamos com este tipo de carrinho, alguns

citaram “compras”.

Depois que alguns falaram sobre as ideias que a obra transmitia a eles como,

por exemplo, a ideia de “compras” e de “reciclagem”, eu disse que tinha outra questão

que poderia se levar em consideração em uma análise de uma obra, que seria a

intenção do artista. Perguntei o que eles achavam que o artista quis mostrar e o que

consideravam ser a intenção do artista ao produzir esta instalação. Então fui

direcionando a imagem e pedindo que alguns falassem sobre isso. Os comentários que

surgiram foram: “Quis mostrar que o Brasil está cheio de lixo.” “Que estamos

comprando muito.” “Compras.” “O lixo que produzimos.”

Fui até o quadro e escrevi a palavra “compras” e levantei a questão se

precisamos realmente de tudo que compramos. Falei que tem uma coisa que muitas

vezes está extremamente relacionada ao nosso ato de comprar e que é o papel da

publicidade: Propaganda. Escrevi no quadro, abaixo da palavra “compras”, as palavras

“publicidade”, “propaganda”, “mídia” e “subjetividade”. Um aluno perguntou o que era

mídia e eu na hora não disse meios de comunicação que acho que seria uma resposta

mais clara e direta. Falei que na televisão, por exemplo, não transmitem apenas

programação, que no intervalo das programações são veiculadas propagandas que são

usadas para divulgação de uma marca. Como eu fiquei em dúvida sobre a eficiência da

101

minha explicação, complementei que isso acontecia no rádio também e já conduzi o

assunto para a última palavra da listinha que eu tinha escrito no quadro. Perguntei se

alguém sabia o que era subjetividade, e todos disseram que não. Então mostrei

algumas das imagens de propagandas e produtos que eu tinha levado e perguntei qual

era a intenção da publicidade daquelas marcas em fazer as letras daquelas cores, a

escrita daquele jeito e por que na propaganda usavam determinadas imagens ou

slogans. Quando mostrei a propaganda do refrigerante Dolly, alguns alunos começaram

a cantar uma musiquinha do comercial e aproveitei para comentar também sobre as

músicas relacionadas às marcas, perguntando qual era a intenção dessas musiquinhas

nas propagandas. Uma aluna falou “é pra grudar na nossa cabeça” e outra aluna falou

“é chamar atenção”. Eu então fiz as perguntas: “Por que eles querem que a musiquinha

grude na nossa cabeça? Por que eles querem chamar a nossa atenção?” Nenhum

aluno respondeu então falei: “Querem chamar nossa atenção para que a gente...”, e

uma aluna enfim completou a frase dizendo “compre”. Então eu disse que isso era

subjetividade, uma coisa que estaria escondida, não claramente exposta, tanto que eles

tinham demorado a se darem conta da real intenção da musiquinha, por exemplo.

Porém agora percebo que o certo seria que eu não tivesse feito referência à

subjetividade e sim a um poder de sugestão que é a grande busca da publicidade.

Acredito que este seria um termo que se encaixaria melhor naquilo que eu pretendia

abordar nesta aula e, portanto, um dos objetivos seria: Compartilhar opiniões com os

colegas sobre o que pode ser identificado de sugestivo nas imagens publicitárias

analisadas, produzindo um cartaz com o registro dessas conclusões. Visto isso, o tema

da aula seria mais assertivo se fosse: Desvendando o sugestivo mundo da publicidade.

Então mostrei as outras imagens e disse que a proposta era que eles olhassem

com atenção aquelas imagens e que tentassem perceber a intenção de cada elemento,

cor, slogan, etc. escrevendo essas informações na tira de papel que eu distribuiria.

Como a turma estava um pouco mais agitada do que normalmente neste dia, optei por

não pedir que fizessem as análises em grupo.

Distribui as imagens e as tiras de papel e alguns alunos disseram que não

tinham entendido. Expliquei mais uma vez dizendo que tendo em vista que aquelas

marcas queriam vender, qual seria o motivo de elas terem usado aquelas imagens para

102

fazer a propaganda? Percebi que muitos alunos ainda estavam confusos e ainda tive

que explicar individualmente para alguns. Talvez eles tenham custado para entender o

assunto que estava sendo abordando na aula porque estavam muito agitados e

desconcentrados ou quem sabe este assunto seja complexo demais para pretender que

alunos de sétimo ano do ensino fundamental compreendam em uma aula. Mesmo que

o assunto seja complexo e que eu tenha me deparado com uma ligeira confusão na

explicação dos conteúdos, considero que não poderia deixar de abranger este assunto

durante o projeto porque este é um assunto que permeia muitos conceitos e linguagens

nas manifestações artísticas contemporâneas.

Vivemos diariamente cercados por imagens e precisava destacar em alguma

aula a respeito da importância de analisar e entender o quanto somos induzidos pelas

imagens das propagandas. Entender que o nosso consumo é, sim, bastante induzido

por imagens de propaganda é um caminho para conseguir se livrar dessa indução.

Como Paulo Freire afirma no livro Pedagogia da autonomia “Gosto de ser gente porque,

inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que

posso ir mais além dele” (FREIRE, 1996, p. 31). Esta é uma reflexão que Paulo Freire

tece acerca de uma busca pela consciência e aceitação deste condicionamento como

um meio de lutar contra ter que ser determinado.

Com o objetivo de que os alunos pudessem ter consciência da presença de

uma intenção na produção das imagens também no “mundo” da publicidade, pretendia

instigá-los a refletir sobre o poder que as imagens têm em nossas vidas. Assunto

também explorado pelos artistas da Pop Art que se valeram de imagens da sociedade

de consumo em suas produções.

Acredito ser importante desenvolver com os alunos a percepção que todas as

imagens podem ser analisadas e que às vezes precisamos pensar em buscar o

entendimento da intenção de uma imagem como forma de escapar da indução

articulada pelos sugestivos mecanismos elaborados que tentam conduzir nossas

vontades.

Percebo que foi mais fácil para a maioria dos alunos falar sobre as obras de

arte que foram apresentadas até então, do que falar sobre as imagens de publicidade e

propaganda desta aula. Parece que fica difícil conseguir desassociar aquela imagem da

103

marca referida, fazendo uma análise das formas, cores ou mensagens sem que o

produto seja lembrado, o que reforça a meu ver o domínio da propaganda na mente dos

jovens. É isso que percebo quando o aluno Fábio cita apenas que o salgadinho é bom.

Trabalho feito pelo aluno Fábio (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Essa questão pode também ser observada no comentário do aluno Cristian em

que ele na verdade apenas reforça exatamente o que esta marca pretende, que seria

chamar atenção para um nome próprio de alguém ao invés do nome da marca,

pretendendo simular assim uma relação que dá a ideia de ser interpessoal.

104

Trabalho feito pelo aluno Cristian (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Considerei interessante o trabalho da aluna Jennifer, porque ela se posiciona

criticamente e constata a presença de uma mensagem de felicidade com o logotipo da

marca. O aluno Denílson também escreve sobre a felicidade que está sendo sugerida

pelo slogan da Coca-cola, dizendo inclusive que a marca pretende indicar que se

alguém está triste pode alcançar a felicidade ao tomar o refrigerante.

105

Trabalho feito pela aluna Jennifer (Fonte: LAUERMANN, 2012)

106

Trabalho feito pelo aluno Denílson (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Toda imagem da publicidade pode ser interpretada e pensada de forma a

decifrar a quem ela se destina e qual mensagem está querendo transmitir. Eu poderia

ter facilitado o entendimento sobre essa questão se de repente tivesse escrito isso no

quadro finalizando com uma pergunta do tipo: “O que esta imagem está querendo

transmitir?” Digo isso porque percebi que na turma há alguns alunos que são inseguros

e que na hora de realizar alguma atividade sempre querem a confirmação do que é

para ser feito e também há aqueles que são dispersos e que não prestam atenção no

momento em que estou fazendo a explicação da proposta, sendo que em ambos os

casos a escrita da proposta da aula no quadro facilitaria bastante. Talvez seja assertivo

falar também que os alunos em geral dão maior importância para a atividade quando

esta não é apenas falada.

Uma coisa que eu poderia ter aproveitado foi um comentário que uma aluna fez

sobre o slogan usado pela Pepsi. Ela comentou que o “pode ser” da propaganda da

Pepsi era uma coisa que realmente acontecia quando as pessoas iam comprar

107

refrigerante. Este slogan advém de uma propaganda que foi bastante veiculada nos

meios de comunicação há pouco tempo atrás e representava alguém indo comprar

refrigerante e o garçom dizia: Só tem Pepsi. Pode ser? Na encenação desta

propaganda se percebe uma nítida alusão ao que realmente identificamos acontecer

quando ao pedir um refrigerante em um bar, por exemplo, Coca-Cola, o garçom

oferece alguma marca similar à que foi pedida, neste caso, a Pepsi.

Assim como as técnicas e os conteúdos escolares, as tecnologias e as mensagens expressas pelas mídias também são submetidas a um prévio trabalho de seleção. A partir de critérios do mercado, procura-se escolher informações, narrativas ou saberes pelos quais a sociedade de certa forma se interessa. Em outras palavras, para se conquistar audiências ou um público consumidor fiel a seus produtos, a cultura das mídias deve se preocupar em exercer um trabalho contínuo de escuta, deve estar aberta a travar diálogos com seu público (SETTON, 2010, p.108).

Visto isso, poderia ter salientado sobre o constante “diálogo” com a vida das

pessoas em que a publicidade se ancora. Destacando que um dos principais objetivos

da propaganda é fazer sentido na vida das pessoas com uma narrativa que proporcione

a impressão de sermos os protagonistas, poderia ter conduzido para uma reflexão

sobre que o viés modelador da produção da propaganda encontra-se na teia de

relações do público alvo.

Trabalho feito por uma aluna (Fonte: LAUERMANN, 2012)

108

Embora eu possa considerar que a maioria dos trabalhos feitos atingiu o

objetivo com os alunos tendo identificado ao menos uma mensagem positiva que teria o

propósito de estimular a compra daquele produto anunciado na imagem daquela

publicidade, fiquei um pouco insatisfeita com a aula porque percebi que a minha

apropriação deste conteúdo ainda era um pouco superficial e que eu deveria ter

estudado mais sobre esta temática para conduzir melhor as reflexões acerca do

assunto.

Verificando que não é novidade a intenção que as mídias têm de exprimir uma

ideia, percebo que o desconhecido está em como estas ideias são digeridas de acordo

com o mundo pessoal de cada um. Portanto, faço a constatação de que seria mais

coerente se eu tivesse feito referência a essa busca de tentar revelar como é que se

manifesta em cada um esse estímulo da publicidade. Percebendo agora mais

claramente que é esse o enfoque de cunho realmente subjetivo deste conteúdo vejo

que o correto seria estimular a percepção de que é essa reflexão que muitas vezes não

acontece na relação produto/consumo/consumidor.

Quando a maioria dos alunos já tinha escrito nas tiras de papel, solicitei que

fossem colando no papel pardo junto com a imagem e disse que os que já haviam

colado poderiam sair para o lanche.

O desenvolvimento desta aula oportunizou que eu fosse tecendo reflexões

conjuntamente com os alunos acerca do assunto da aula, acredito que a riqueza do

diálogo e as relações não autoritárias em torno de um conhecimento podem sempre

proporcionar uma antítese e uma nova tese. Esse crescimento em torno de um

conhecimento só é possível se aceitamos que há um momento de instabilidade. Ouso

dizer que na verdade é nesta instabilidade, a partir da incerteza, no ato de desconstruir

é que se concebe um conhecimento mais fundamentalmente sólido. Portanto afirmo

que minha ideia sobre o conteúdo que abordei em aula adquiriu agora uma

profundidade bem maior do que antes. Concluo com o pensamento: “Mais importante

do que saber é nunca perder a capacidade de aprender” (GADOTTI, 2008, p.70) que

advêm de uma das máximas do educador Paulo Freire e que me serve de inspiração na

minha caminhada docente porque a ideia de que o educador enquanto ensina também

aprende acompanha o meu entendimento de que para ser professor é preciso

109

desenvolver a capacidade de ser humilde e assumir-se enquanto ser em constante

aprendizado.

110

3.3.6 Sexto encontro

Aula 6

Datas: 26/10/12

Horário: Das 14:25 às 15:10

Tema da aula:

Vera Chaves Barcellos e a crítica de arte

Conteúdos:

Vida e obras de Vera Chaves Barcellos.

Crítica de arte e mediação nos museus.

Lista de atividades:

Assistir ao documentário “Imagens em migração: Uma exposição de Vera

Chaves Barcellos” com a duração de vinte e seis minutos.

Relatos.

Explanação sobre interpretação e julgamento de obras de arte, crítica de arte e

mediação em museus.

Objetivos:

Conhecer a vida e a obra da artista Vera Chaves Barcellos visando despertar o

interesse pela Fundação desta artista e a valorização de um espaço local destinado à

exposição de arte contemporânea.

Oportunizar que alguns alunos comentem sobre a produção artística de Vera

Chaves Barcellos e/ou assuntos referentes ao documentário assistido viabilizando

contrastar percepções individuais e comentários distintos.

111

Proporcionar a reflexão acerca do papel da crítica de arte e sobre a importância

concedida às interpretações de quem supostamente se considera portador de maior

conhecimento sobre arte.

Metodologia:

Exposição do documentário.

Aula expositiva dialogada.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Documentário “Imagens em migração: Uma exposição de Vera Chaves

Barcellos”.

Data show.

Note book.

Avaliação:

Espera-se que os alunos assistam ao documentário com atenção e que possa

ser observado algum interesse vindo dos alunos pelas obras da artista Vera Chaves

Barcellos. Espera-se também que os alunos demonstrem envolvimento durante a

explanação e diálogos sobre crítica de arte.

Planejado:

Logo depois dos cumprimentos e chamada, já iniciarei o documentário pedindo

que todos prestem bem atenção para que consigam fazer comentários posteriormente.

Tempo previsto: 30 minutos.

Depois de assistir todo o documentário “Imagens em migração: Uma exposição

de Vera Chaves Barcellos”, eu incentivarei que alguns alunos comentem sobre o que

112

consideraram interessante ou que destaquem algum assunto referente às questões

abordadas no documentário.

Quando alguns alunos já tiverem falado, eu comentarei sobre as duas questões

que foram abordadas na aula passada referentes às maneiras diferentes de analisar

uma obra. Relembrarei que a primeira questão seria: Analisar alguma obra falando

sobre o significado que esta obra pode ter para a gente e ao que ela pode nos remeter.

A segunda questão seria: Analisar o que consideramos ser a intenção do artista e o que

acreditamos ser o propósito que ele teve. Então, farei referência a uma parte do

documentário em que a artista cita o papel da crítica de arte. Abordarei a questão de

analisar alguma obra de arte de acordo com a opinião e a interpretação de pessoas que

se presume que têm um conhecimento consistente sobre o meio artístico: críticos de

arte, curadores, mediadores, etc.

Depois de ter comentado sobre os mediadores em museus que, principalmente

na arte contemporânea, orientam o público nas visitações e contribuem com

explicações sobre as obras, incentivarei que eles reflitam sobre até que ponto devemos

considerar que estas pessoas “detêm” a verdade. Afirmarei que não se pode negar o

conhecimento que pessoas como os críticos e mediadores têm sobre as obras de que

falam por provavelmente terem uma formação específica em artes e devido a isso

merecem respeito em suas considerações, mas salientarei que o que não pode

acontecer é deixar que o contato do público com a arte fique limitado e dependente

apenas do intermédio e veredito dessas pessoas.

Farei a leitura, então, de um trecho do livro de Fernando Cochiaralle sobre a

arte contemporânea e pedirei que reflitam a respeito disso:

O problema é que essas pessoas usam um único verbo: Entender. Entender significa reduzir uma obra à esfera inteligível. Eu nunca ouvi ninguém dizer: Eu não consegui sentir essa obra. Como as pessoas tem medo de sentir, elas entendem, reduzem sua relação ao ato inteligível e, por isso, esperam pelo socorro do suposto farol da opinião daqueles que sabem: Historiadores, filósofos, críticos, artistas, curadores, etc. (Cocchiarale, 2006, p.14).

Para os relatos e explanação depois do documentário o tempo previsto é: 15 minutos.

113

Realizado:

Antes de dar o sinal para começar o período, eu fui até a biblioteca da escola e

já deixei as cadeiras, a televisão e o aparelho de DVD preparados para passar o

documentário “Imagens em migração”. Quando tocou o sinal, eu fui até a sala de aula e

chamei a turma pedindo que eles fossem para a biblioteca porque assistiríamos um

documentário. Quando todos já tinham se ajeitado nos lugares disponíveis, eu solicitei

que prestassem bastante atenção para que pudéssemos absorver o máximo de

informação possível do documentário que tinha apenas vinte e seis minutos de duração

e que, portanto não era muito tempo. Falei também que gostaria que eles entendessem

para que no final pudéssemos comentar. Escrevi em um quadro branco fixado na

parede ao lado da televisão o nome da artista em questão e iniciei o documentário.

Durante o documentário, a maioria da turma ficou atenta e em silêncio. Apenas

algumas vezes alguns alunos começavam a conversar um pouco e quando

continuavam e eu percebia que a conversa era sobre assuntos que não condiziam com

o momento, eu ficava olhando com feição de desagrado por alguns instantes para estes

alunos que estavam conversando e isso os fazia silenciar. Precisei fazer isso umas três

vezes com duplas ou trios distintos de alunos para manter o silêncio na turma durante a

exibição do documentário.

Em algumas partes do documentário, os alunos às vezes falavam alguma coisa

que estava sendo mostrada, considerando legal, estranho ou manifestando que não

tinham entendido, e eu apenas fazia uma breve intervenção, esclarecendo alguma

questão com a intenção de ajudar no entendimento dos processos de produção das

obras mostrados no documentário. Uma das partes do documentário que na hora os

alunos se manifestaram considerando legal foi quando a artista estava mostrando sua

obra impressa em placas de acrílico que ficavam em um suporte que permitia modificá-

las de posição. Uma das partes do documentário que tive que dar uma rápida

explicação foi quando a artista falava sobre sua obra “Epidermic”, porque teve um aluno

que comentou não ter entendido. Então expliquei que era como se o corpo carimbasse

o papel e aquele papel “carimbado” era digitalizado e ampliado.

114

Quando acabou o documentário, eu falei sobre que a artista Vera Chaves

Barcellos havia fundado o primeiro espaço, da cidade de Viamão, destinado à

exposição de arte. Para evitar que os alunos ficassem confusos com a palavra

fundação, falei: “O único museu de Viamão” com o intuito de que todos entendessem

sobre o que me referia. Quando falei isso, percebi o espanto dos alunos e já imaginava

o total desconhecimento da presença de uma fundação destinada à arte na cidade.

Então, expliquei onde ficava, disse que era aberta ao público e que justamente por ser

um local infelizmente ainda desconhecido é que pretendia levá-los para fazer uma

visitação no final das nossas aulas. A turma demonstrou-se bastante empolgada e pude

perceber que ficaram curiosos em conhecer a fundação e a artista Vera Chaves

Barcellos.

Incentivei que alguns alunos comentassem sobre o que tinham considerado

interessante ou que destacassem algum assunto referente às questões abordadas no

documentário e os alunos foram falando sobre as obras que lembravam. Os alunos

falaram sobre as obras que acharam interessantes, mas nenhum aluno fez referência a

algum tipo de comentário sobre as questões artísticas mais reflexivas ou questões

conceituais abordadas no documentário.

Depois de alguns comentários, eu perguntei se eles recordavam-se das duas

questões que tínhamos abordado na aula passada referentes às maneiras diferentes de

analisar uma obra. Falei que na aula passada, diante da instalação de Nelson Leirner,

eu pedi que primeiramente eles analisassem a obra falando sobre o que ela significava

para cada um e que depois eu tinha pedido que eles analisassem a obra dizendo sobre

o que consideravam ser a intenção do artista e o que acreditavam ser o propósito que

ele teve. Então falei que agora eu incluiria outra questão que havia sido abordada no

documentário, e perguntei: “Que comentário a artista fez a respeito de quando aquela

obra dos nadadores foi exposta? Ela falou que teve alguém que escreveu elogiando a

obra e que inclusive atribuiu um significado para a obra que ela nem mesmo havia

pensado. De quem ela falou?” Uma aluna respondeu que ela havia falado sobre um

crítico de arte, eu elogiei e disse que era justamente papel dos críticos de arte tecer

ideias e opiniões a respeito de alguma obra e que o julgamento e a interpretação

dessas pessoas que supostamente têm um conhecimento maior do que o nosso é

115

deveras muito importante no meio artístico. Porém, salientei que seria péssimo que as

pessoas dependessem apenas dos críticos para elaborarem suas opiniões acerca de

uma obra de arte. Eu interrompia as explicações, vez que outra, para pedir a

colaboração de alguns alunos que conversavam, mas a maioria da turma estava atenta.

Citei que cada vez é mais comum notar que as pessoas quando vão visitar um

museu, principalmente quando se trata de arte contemporânea, ficarem dependendo

que os mediadores do museu expliquem o significado de determinada obra. Uma aluna,

então, perguntou quem eram os mediadores e expliquei que são aquelas pessoas que

provavelmente são formadas ou estudantes de artes que foram contratadas para

explicar ao público sobre as obras ali expostas. A aluna disse: “Ah sei! Mas não sabia

que o nome era esse.”

Ao continuar minha explanação, comentei que não havia nenhum problema

ouvir as explicações dos mediadores sobre alguma obra, muito pelo contrário, que isso

até na verdade era positivo, pois era uma forma de conhecer e entender a arte. Mas

salientei que o impróprio era quando as pessoas ficam dependentes apenas dessas

explicações para ter o contato com a arte. Disse que eu leria para eles um trecho

retirado de um livro sobre arte contemporânea que justamente falava sobre isso e li o

trecho que eu tinha selecionado a respeito da crítica de arte do livro “Quem tem medo

da arte contemporânea?”

Depois que eu fiz a leitura, perguntei o que eles tinham entendido e um aluno

disse “que as pessoas são preguiçosas e não querem pensar”. Eu considerei o

comentário e complementei dizendo que o contato com a arte não pode se dar

exclusivamente pelo ato de entender.

Quando fiz essa consideração, deu o sinal para acabar o período e eu disse

que continuaríamos essa reflexão na próxima aula.

Faço uma avaliação positiva da postura da turma durante o documentário,

porque na maioria do tempo eles permaneceram atentos e demonstraram interesse

pelas obras da artista, que era uma intenção que permeava o objetivo de despertar o

interesse pela Fundação Vera Chaves Barcellos.

Também considero positivo o espanto demonstrado pelos alunos quando falei

do museu em Viamão porque isso gerou curiosidade em saber sobre a existência da

116

Fundação Vera Chaves Barcellos em Viamão, instigando o interesse na possibilidade

de uma futura visitação junto com a turma.

Infelizmente, devido a conversas paralelas, ainda preciso pedir algumas vezes

a colaboração dos alunos principalmente durante as explicações, mas acredito que isso

não impede que os objetivos sejam atingidos porque além de incentivar o interesse pela

artista em questão e pela fundação, consegui iniciar uma reflexão acerca da crítica e

mediação na arte, inserindo assim um novo ponto de vista nas argumentações a serem

abordadas com a turma referentes ao projeto que está sendo desenvolvido.

Abordar a questão sobre alguém dizer algo sobre determinada obra que não

necessariamente refere-se àquilo que o artista pretendeu mostrar com aquela obra é

uma reflexão que deve ser lançada em aula caso haja pretensão de se contribuir na

formação de habilidades voltadas à leitura visual dos alunos. Acredito que se essa

permitida, digamos assim, incoerência não for tratada claramente, corre-se o risco de

termos alunos sempre buscando o óbvio, falando o que já foi dito, nunca se

encorajando a buscar novas e inusitadas interpretações pessoais. Ou seja, teremos

alunos inseguros e sempre dependentes que alguém diga o que significa aquilo que

veem.

Essa reflexão que pretendi conduzir encontra certa referência no chamado

“coeficiente de arte” que, segundo Cristina Freire, foi usado por Duchamp para se referir

à relação de proporções quase matemáticas na criação de uma obra:

Essa fração seria resultante da relação entre o que o artista desejou manifestar e ficou latente na obra, de um lado, e aquilo que o observador apreende do trabalho, mas que não foi deliberadamente intencionado pelo artista, de outro (FREIRE, 2006, p. 35).

Com essa abordagem pretendo, além de estimular a reflexão sobre as distintas

interpretações e julgamentos da arte, tentar encorajar que os alunos desenvolvam

autonomia e que articulem interpretações pessoais sem que tenham medo de se

aventurar neste universo artístico.

“É dever do educador apresentar uma útil seleção de possibilidades.”

(BARBOSA, 2010, p. 39) E são justamente essas múltiplas possibilidades na

elaboração e análise artística que podem desenvolver um teor filosófico no ensino da

117

arte e vislumbrar a possibilidade do enriquecimento de uma capacidade reflexiva

oportunizando que a aprendizagem se torne mais abrangente.

118

3.3.7 Sétimo encontro

Aulas 7 e 8

Data: 09/10/12

Horário: Das 13:40 às 15:10

Tema da aula:

O conceitual na arte.

Conteúdos:

Obra “Testarte” da artista Vera Chaves Barcellos.

Obra sem título de Julio Plaza.

Arte conceitual.

Lista de atividades:

Leitura de imagem de duas obras da série “Testarte” de Vera Chaves Barcellos

e de uma obra sem título de Julio Plaza.

Explicação sobre arte conceitual.

Sorteio de temáticas.

Registro escrito das ideias surgidas nos grupos.

Trabalho de colagem em grupo.

Objetivos:

119

Estimular a fruição e a compreensão das obras selecionadas com o intuito de

desenvolver a prática interpretativa assim como valorizar e enriquecer a experiência

estética de cada aluno.

Promover o conhecimento sobre a Arte Conceitual e o entendimento sobre suas

características a partir da análise das obras selecionadas e outros exemplos.

Proporcionar um diálogo em grupo para contrastar ideias distintas ou identificar

pensamentos similares sobre determinada temática a fim de definir os conceitos que

serão utilizados para o trabalho de colagem.

Expressar as ideias que surgiram no grupo com um trabalho de colagem que

visa oportunizar que os alunos, inspirados nas obras de Vera Chaves Barcellos e de

Julio Plaza, sintam-se propositores de uma reflexão referente à temática do grupo.

Metodologia:

Leitura de imagem pela via de acesso iconográfica.

Aula expositiva dialogada.

Trabalho em grupo.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Duas reproduções tamanho A3 da série “Testarte” de Vera Chaves Barcellos.

Reprodução tamanho A4 da obra sem título de Julio Plaza.

Palavras impressas: Consumo, poluição, beleza, violência, cidade e futuro, para

sorteio.

Folha para registro escrito.

Revistas.

Tesouras e colas.

Folhas duplo ofício.

Avaliação:

120

Espera-se que os alunos participem da aula com comentários e que

demonstrem interesse pelos assuntos abordados sobre crítica de arte, mediação nos

museus e arte conceitual. Com o trabalho em grupo, espera-se que realmente

conversem sobre o assunto referente à temática sorteada e que demonstrem interesse

na produção do trabalho.

Planejado:

Cumprimentarei os alunos, farei a chamada e relembrarei sobre o documentário

assistido na aula anterior, fazendo uma retomada sobre crítica e mediação em arte.

Tempo previsto para este momento inicial: 10 minutos.

Fixarei no quadro duas imagens da série “Testarte” de Vera Chaves Barcellos e

uma imagem de uma obra sem título de Julio Plaza. Pedindo que os alunos observem,

encorajarei para que falem livremente sobre algo que gostariam de considerar sobre as

obras. Depois que alguns alunos tiverem falado, eu conduzirei para que seja analisado

o que poderia estar simbolizando a imagem daquelas obras, o motivo dessas imagens

terem sido escolhidas por esses artistas, ou seja, uma leitura de imagem pela via de

acesso iconográfica.

A partir disso, farei uma explanação sobre arte conceitual e algumas de suas

características. Direi que nesta tendência, voltada para o conceitualismo, o que se

valoriza é a primazia das ideias e não tanto o aspecto estético da obra e justamente

essas são as características que podem ser encontradas nessas obras analisadas.

Darei alguns exemplos de obras conceituais como “Quem matou Herzog?” de Cildo

Meireles e “Trouxas ensanguentadas” de Artur Barrio explicando um pouco sobre que

essas obras produzidas em um contexto de ditadura militar no Brasil, assim como

tantas outras desse período, tiveram intenções que podem ser consideradas

questionadoras por provocarem uma intervenção de cunho social e político, além de

emergirem como rompimento de paradigmas estéticos da arte.

Tempo previsto para leitura de imagem e explicação sobre arte conceitual: 30

minutos.

121

Então será feito um sorteio de seis temáticas para serem exploradas em um

trabalho em grupo: Consumo, poluição, beleza, violência, cidade e futuro.

Direi que num primeiro momento faremos um registro escrito e que depois

faremos um trabalho de colagem, explicando que o objetivo é que o trabalho tenha um

discurso conceitual. Direi que deverá expressar as ideias e opiniões do grupo sobre o

tema sorteado, solicitarei que o grupo primeiro converse sobre os assuntos que

surgirem referentes à temática sorteada para registrarem as ideias que surgirem em

uma folha e que somente depois comecem a procurar as imagens que considerarem

úteis para compor o trabalho.

Explicarei que não é necessário que cheguem a um consenso, ou seja, não é

preciso que todos tenham a mesma opinião sobre o assunto. O trabalho que será feito

pode justamente tentar mostrar esses diferentes pontos de vista, então darei a

sugestão de que o papel que foi distribuído para o registro seja passado entre o grupo e

que um por vez escreva uma ou duas linhas sobre o que acha do assunto e que depois

estes registros sejam lidos para todos.

Reforçarei a informação de que este trabalho de colagem deverá ser feito em

um período e direi que todos do grupo deverão colaborar para compor uma imagem

tamanho A3, com recortes de revistas e de jornais que justapostas em uma montagem

não apenas transmitam a mensagem, ou as mensagens que o grupo registrou, mas que

estimulem o espectador a responder perguntas mentais, a pensar a respeito de

determinadas coisas ou a fazer opções e escolhas. Salientarei que abaixo da colagem

que os grupos produzirem, deverá constar algum registro escrito parecido com o que foi

lido na obra “Testarte” de Vera Chaves Barcellos.

Depois dessas explicações, eu deixarei que conversem sobre o assunto por

alguns minutos para que façam os registros escritos, logo depois já disponibilizarei as

revistas e solicitarei que comecem com o trabalho. Tempo previsto: 50 minutos.

122

Julio Plaza, 1976. (Fonte: http://gramatologia.blogspot.com.br/2009/09/encarte-lei-seca.html)

123

Vera Chaves Barcellos, 1976. (Fonte: [email protected])

124

Vera Chaves Barcellos, 1976. (Fonte: [email protected])

Realizado:

Tocou o sinal para iniciar o período, fui até a sala de aula, cumprimentei os

alunos e fiz a chamada.

Relembrando os alunos do documentário sobre Vera Chaves Barcellos que

assistimos na aula passada, perguntei se eles lembravam-se de uma parte em que a

artista comentou sobre o papel da crítica de arte falando sobre o comentário de um

crítico que elogiou sua obra e atribuiu significados que nem mesmo ela havia pensado.

Alguns sacudiram a cabeça afirmativamente e eu então instiguei se isto estava certo:

125

“Dizer algo sobre uma obra diferente daquilo que o artista teve em mente para produzi-

la?” Percebi que alguns alunos ficaram em dúvida com minha pergunta, então

completei que havia várias possibilidades de analisar uma obra e que dentre essas

possibilidades não havia o certo e o errado e que era por isso que eu havia lido aquele

trecho de um livro sobre arte contemporânea que questiona uma relação com a arte

que dependa unicamente do intermédio de uma mediação. Disse que eu até tinha

ficado na dúvida se deveria ler para eles aquele trecho que critica a mediação em

museus, visto que pretendia levá-los para verem uma exposição de arte em que

justamente haveria uma mediação.

Aproveitei para falar sobre a data e as autorizações para a visitação à

Fundação Vera Chaves Barcellos e afirmei que obviamente eles deveriam prestar

bastante atenção na mediação durante a exposição e que isso estava longe de ser

considerado errado porque provavelmente a pessoa que está no papel de mediador,

falando sobre determinada obra, tem um conhecimento sobre o que está falando e com

certeza aprenderemos muito ouvindo. Porém, disse que o questionamento que tinha

levado era com a intenção de refletir o fato de uma relação com a arte acabar se

reduzindo a apenas ouvir explicações. Reforcei que proporcionar essa reflexão era o

motivo de eu ter abordado com a turma essa questão e fiz um apelo para que todos se

encorajassem a tecer suas próprias impressões e ideias acerca de uma obra. Afirmei

que não havia motivos para ter medo de uma errônea interpretação, porque é de novas

relações pessoais que a cada momento a arte é refeita. Neste momento provoquei com

a pergunta: “Se apenas ficássemos sempre aceitando o que era dito como certo,

possível e existente, por acaso descobriríamos coisas novas?” Perguntei ainda: “Será

que tudo já foi inventado? Tudo já foi dito e descoberto? Quem vai inventar e descobrir

coisas novas? Thomas Edison, Santos Dumont, Salvador Dali?” Falei esses nomes

aleatoriamente, completando apenas com a informação de que já haviam morrido e

mesmo que provavelmente não soubessem quem especificamente haviam sido aqueles

a que me referi, entenderam o sentido das minhas provocações porque ao final alguns

responderam “nós”. Concordei com a resposta e completei dizendo: “Aqueles dispostos

a pensar e ousar ir além.”

126

Fixei no quadro duas obras da série "Testarte” de Vera Chaves Barcellos e

expliquei que na FVCB não iríamos ver as obras da artista, e sim a exposição Julio

Plaza. Disse que uma das obras que faz parte da exposição eu pretendia ter

conseguido imprimir para mostrar à turma, mas como tive problema com a impressora,

expliquei que faria uma imitação para eles poderem ter uma ideia do que se tratava

essa obra e também para poderem refletir sobre alguns conceitos que iria abordar. Ao

dizer isso, peguei um palito de fósforo, acendi e deixei que apagasse logo. Em seguida

fixei este palito com um pedaço de fita crepe em uma folha A3 e olhando para turma eu

disse: “Pronto. Está é a obra!” Quando fiz isso teve uma aluna que disse: “Ah, isso eu

também faço!” Então eu disse que era muito interessante essa questão e que a arte

contemporânea por ser feita muitas vezes com poucos elementos ou de maneira

simples, propõe muitos questionamentos inclusive trazendo uma reflexão do que afinal

poderia ser considerado arte. Ao falar sobre isso eu disse que citaria exemplos de

obras consideradas conceituais que também mexeriam com questões como essa. Citei

“Quem matou Herzog?” de Cildo Meireles e “Trouxas ensanguentadas” de Artur Barrio e

expliquei um pouco sobre que essas obras produzidas em um contexto de ditadura

militar no Brasil tiveram intenções que podem ser consideradas questionadoras por

provocarem uma intervenção de cunho social e político, além de emergirem como

rompimento de paradigmas estéticos da arte.

Expliquei então que a questão que gostaria de abordar era referente ao que

poderiam estar significando os elementos identificados nas obras ali expostas, quais

pensamentos aquelas obras remetiam e poderiam estar simbolizando e salientei que

justamente a profundidade dessas ideias é que tornavam essas obras valorizadas no

meio artístico. Complementei dizendo que obras como essas que tinham o conceito e

as ideias como principais norteadores para sua produção poderiam ser caracterizadas

como conceituais.

Então pedi que dissessem o que imaginavam que significava a obra de Julio

Plaza e uma aluna disse que o artista queria queimar a obra, perguntei porque e ela

disse que o fósforo simbolizava o fogo. Outra aluna disse que o artista queria “fazer a

gente pensar”, mas quando perguntei sobre o que o artista queria que pensássemos,

ela não soube completar a resposta. Outro aluno disse que o artista poderia ter feito

127

essa obra para ver se iriam mesmo considerar arte, se as pessoas por considerarem

ele um artista aceitariam tudo que fizesse. Eu completei dizendo que poderia se tratar,

então de uma provocação sobre o que as pessoas consideram arte ou sobre quem

deve dizer o que é afinal arte. Eu completei com outras provocações do tipo: “A

propaganda me diz que tal coisa é boa e que vai me deixar feliz, então aceito como

verdade e compro? Ou, todos dizem que o azul é bonito e por isso também tenho que

achar o azul bonito e não posso querer o vermelho?” Depois que fiz essas provocações

uma aluna fez o comentário “nós precisamos ter opinião própria e pensar pela nossa

cabeça” o que me deixou bem animada porque pude perceber nesse comentário uma

autonomia crítica que gostaria de ter percebido na aula em que abordei a publicidade e

a propaganda como possuidores de um forte apelo sugestivo.

Os alunos demonstraram-se bem participativos e contribuíram com vários

comentários bastante pertinentes durante minhas explicações e, quando acabou a aula,

pela primeira vez fiquei pensando que seria interessante que eu tivesse um gravador

para não esquecer os diversos comentários dos alunos.

Peguei uma das reproduções da série “Testarte” por vez e aproximei de um

aluno pedindo que lesse em voz alta, depois fui chamando alguns alunos para que

dissessem o que achavam e eles foram bem participativos. Alguns alunos responderam

a pergunta contida na obra, uma aluno citou alguns lugares onde achava que talvez

aquelas fotografias tinham sido feitas, outra aluna disse que “fazer a gente pensar” era

o propósito daquela obra e o comentário que considerei mais reflexivo foi o da aluna

Hellena que relacionou a obra com um momento artístico que a artista poderia estar

passando e disse que a obra estaria representando esta busca por uma nova

expressão onde a artista se via fazendo escolhas e as vezes indecisa em permanecer

como estava ou descobrir novas possibilidades.

Acredito que o fato de ter dois períodos juntos e, portanto um tempo mais

confortável para o diálogo possa ter contribuído para uma participação mais satisfatória,

mas, sinceramente, suponho ter sido relevante minhas explicações e espero que o

desenvolvimento do projeto tenha contribuído para proporcionar o entendimento de que

podem existir diversos pontos de vista, diferentes tipos de análise e principalmente

conseguir despertar o interesse dos alunos em tecer suas próprias relações com a arte.

128

A respeito dos momentos de argumentações discorridas durante a aula sobre a

arte contemporânea e sobre a relevância de uma ruptura de alguns padrões estéticos,

posso dizer que mesmo que uma aluna tenha se manifestado diante da “simplicidade”

da obra de Julio Plaza, pude perceber que a maioria dos alunos considerou

interessante que as obras de arte tivessem um caráter inusitado na maneira de

representar algo ou no seu discurso e, portanto fiquei satisfeita em diagnosticar que a

maioria foi capaz de perceber que a simplicidade de uma obra pode levar a riquíssimas

interpretações contrapondo-se a algo dado prontamente e de imediato sem que se

precise refletir. Durante minhas explicações sobre essas questões, teve uma aluna que

inclusive citou a obra “É proibido dobrar à esquerda” de Rubens Gerchmann, dizendo

considerar mais interessante porque provoca uma reflexão, do que uma obra mais

acadêmica como a obra de Bouguereau que eu estava mostrando para exemplificar

esta ruptura na estética da qual eu falava.

Por último, temos o critério mais inusual: a ideia de que a obra de arte deve ser saboreada, que requer para isto uma concentração de significados que advêm de sua complexidade. A obra para ter qualidade estética deve ter o poder de sumarizar múltiplos significados. Daí se conclui que uma obra de significado único, evidentemente percebido à primeira olhada, não tem a qualidade estética de saboreo para o espectador. Ele a deglute de imediato (BARBOSA, 2010, p. 44).

É nesse critério, mais inusual a respeito de uma análise do objeto artístico

proposta por Samuel Messick e Philip Jackson, que considero encontrar o mote da

abordagem que viso promover porque considero que “o saboreo” advêm do poder de

sumarizar da obra, da sua condensação que implica a possibilidade do observador

exercitar sua capacidade de criar múltiplas interpretações” (BARBOSA, 2010, p. 45).

Quando tocou o sinal para o nosso segundo período, eu me apressei em

explicar o trabalho de colagem e disse que o trabalho que faríamos seria inspirado na

obra “Testarte”. Fiz o sorteio das temáticas e disse que o trabalho seria com imagens

de jornais e revistas, mas salientei que o mais importante não seria a colagem em si e

sim as proposições pensadas pelo grupo porque a intenção era que o trabalho tivesse

um discurso conceitual. Expliquei que em primeiro lugar o grupo deveria conversar um

pouco sobre as ideias que surgissem sobre o tema e que depois eles deveriam registrar

na folha que eu distribuiria o que haviam conversado. Eu disse que não era necessário

129

que todos do grupo tivessem a mesma opinião sobre o assunto porque o trabalho

poderia justamente tentar mostrar uma divergência de ideias em torno do tema e,

portanto disse que minha dica era que passassem a folha para que todos do grupo

escrevessem.

Alguns alunos não focaram em conversar sobre a temática, então eu

disponibilizei as revistas e propus que eles já começassem a recortar imagens que

pudessem servir para o trabalho. Disse que teríamos apenas aquele período e que

todos do grupo deveriam ajudar.

Apenas o grupo da temática sobre consumo que teve o registro escrito por dois

alunos, os outros grupos preferiram que apenas um aluno escrevesse.

No geral considero que os registros escritos ficaram muito superficiais e embora

os grupos sobre a violência e sobre a poluição tenham escrito demonstrando uma

criticidade um pouco maior, minha pretensão era que os alunos conseguissem elaborar

uma reflexão um pouco mais significativa sobre cada assunto.

Aqueles que mais se distanciaram da proposta na parte escrita foi o grupo

sobre o consumo porque o registro escrito não teve consonância com o sentido que eu

pretendia que a palavra consumo tivesse e, portanto, percebo que é sempre necessário

disponibilizar tempo para conseguir proporcionar um atendimento mais individualizado

que possa sanar eventuais equívocos.

Registro escrito do grupo da temática consumo (Fonte: LAUERMANN, 2012)

130

Trabalho de colagem do grupo com a temática consumo (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Observei um distanciamento entre o registro escrito e o trabalho de colagem no

grupo com a temática violência porque uma aluna do grupo escreveu uma reflexão

focada em uma violência verbal e as colagens não pareceram se propor a elucidar

essas ideias. A respeito disso posso considerar que o grupo não conversou apenas

aquilo que registraram na escrita, provavelmente eles falaram sobre muitas outras

formas de violência que não foram contempladas no registro. A fragilidade de uma

formação voltada a desenvolver alunos que se expressam bem com a escrita pode ter

131

contribuido para que os grupos não tenham produzidos registros significativos e que

dessem conta de todas as questões que provavelmente foram abordadas nas

conversas durante o trabalho sobre as temáticas.

Também nos grupos sobre o consumo e sobre a cidade percebi a elaboração

de coisas distintas no registro escrito e na colagem o que me faz, portanto, considerar

três opções: A primeira é que talvez os alunos não tenham entendido que a intenção do

trabalho era que o registro escrito fosse um impulso criador para a composição da

imagem e por isso talvez não tenham focado em articular a ideia registrada com o

trabalho de colagem. A segunda opção é considerar a dificuldade encontrada em

retratar e expressar uma opinião tramitando entre tipos diferentes de linguagem. E por

fim, a terceira opção é a já citada dificuldade na escrita que nitidamente se percebe ao

ler os registros dos grupos.

Ao inferir sobre a dificuldade de tramitar entre o oral, o escrito e o artístico

pode-se considerar que devido ao grau de exigência e o envolvimento com o conteúdo

que esse processo requer, talvez essa dificuldade pode ser verificada quando a

proposta envolve relações de conceitos que não estão prontos e que devem ser

tramados por eles próprios. É um processo que exige dos alunos capacidades de

relacionar/ comparar que não vejo serem suficientemente trabalhadas na escola. Não é

algo simples e identifico que se trata de uma competência que precisa ser trabalhada

durante toda a formação do educando e não em apenas uma aula.

Reconheço que eu até poderia ter reservado um tempo maior para ajudar os

grupos nesse processo, porém não me arrependo de ter utilizado o período anterior

inteiro para os diálogos a respeito da arte conceitual porque justamente devido ao

tempo disponível é que foi possível que tantos alunos contribuíssem com comentários

bastante válidos para a discussão em que pude perceber um satisfatório envolvimento

com o tão almejado teor reflexivo que se insere na justificativa da minha prática de

ensino.

132

Registro escrito do grupo da temática violência (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho de colagem do grupo com a temática violência (Fonte: LAUERMANN, 2012)

133

Registro escrito do grupo da temática poluição (Fonte: LAUERMANN, 2012)

134

Trabalho de colagem do grupo com a temática poluição

(Fonte: LAUERMANN, 2012)

135

Registro escrito do grupo da temática cidade (Fonte: LAUERMANN, 2012)

136

Trabalho de colagem do grupo com a temática cidade (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Considero como positiva a participação e envolvimento dos alunos tendo em

vista o primeiro período, mas fiquei insatisfeita com o resultado das colagens porque

ficaram parecendo apenas cartazes e não um trabalho artístico. Chego à conclusão de

que eu deveria ter levado alguns exemplos de trabalhos feitos com colagens para que

os alunos conseguissem visualizar o tipo de trabalho que eu pretendia que eles

elaborassem e também, presumo que se a folha fosse um pouco menor evitaria que os

alunos deixassem tantos espaços vazios ou que utilizassem o espaço como se fosse

um cartaz.

Como já estava no final do nosso segundo período de aula, certamente

precisaríamos de outra aula caso eu fosse me deter em buscar com os grupos

produções visualmente mais elaboradas, então priorizando uma sequência didática do

137

projeto, mais uma vez optei por aceitar o que foi desenvolvido naquela aula, mesmo

sabendo que poderia ser mais bem explorado. A respeito disso, percebo que meu

projeto em nenhum momento pretendia explorar um assunto e desenvolvê-lo ao

máximo, proporcionando que os alunos se tornassem ao final das aulas grandes

conhecedores de determinado conteúdo. Em cada aula abordava algum enfoque que

de certa forma permeia a arte contemporânea. Abordando alguns conceitos, algumas

linguagens e possibilidades tinha em vista despertar o interesse dos alunos pela arte,

além de encorajar a reflexão e não a simples aceitação dos conceitos abordados. Com

tudo isso pretendia que os alunos desenvolvessem autonomia e pudessem pensar

acerca da arte contemporânea. Promovendo possibilidades, estimulava que os alunos

saíssem de cada aula com ao menos uma certeza: é uma possibilidade. Isso me faz

perceber que, vários conteúdos abordados nas aulas poderiam ser assuntos para

serem explorados em várias outras aulas. Este fato, por um lado, muitas vezes me fez

ficar insatisfeita porque via que determinados assuntos poderiam ser mais

aprofundados, mas por outro lado tinha claro que esta não era a intenção do projeto.

Não considero negativo desenvolver e focar em apenas um assunto, muito pelo

contrário, acho mais produtivo deter-se na qualidade do que na quantidade. Mas

pretendia ir além, proporcionar uma visão ampla e principalmente reflexiva. Não

gostaria de reduzir o foco detendo-me em determinado conteúdo ou selecionando um

recorte específico e sim pretendia ampliar a visão dos alunos para quem sabe encorajar

os futuros contatos que estes alunos virão a ter com a arte.

138

3.3.8 Oitavo encontro

Aula 9

Data: 21/11/12

Horário: Das 12:55 às 13:40

Tema da aula:

Visita à Fundação Vera Chaves Barcellos.

Conteúdos:

Obras do artista Julio Plaza.

Lista de atividades:

Visita guiada pela exposição Julio Plaza: Construções poéticas.

Objetivos:

Oportunizar que os alunos conheçam a Fundação Vera Chaves proporcionando

que tenham um contato direto e mediado com as obras de arte de Julio Plaza.

Incentivar que os alunos obtenham interesse na continuidade de um processo

de fruição estimulando futuras visitas à instituição.

Metodologia:

Leitura de imagem espontânea.

Mediação.

139

Materiais e recursos a serem utilizados:

Ônibus de transporte.

Obras da exposição: Construções poéticas de Julio Plaza.

Avaliação:

Espera-se que, durante a visitação à exposição, os alunos demonstrem

interesse em observar as obras e que além de permanecerem atentos às explicações

da mediação, busquem interpretar e fazer relações de uma maneira pessoal.

Planejado:

Farei a chamada pela lista de autorizações, embarcarei os alunos no ônibus e,

durante a visita à exposição, solicitarei que os alunos prestem atenção nas explicações

da mediadora. Incentivarei que observem as obras a fim de que consigam tecer

relações e interpretações próprias para que, se quiserem, possam compartilhar com os

colegas.

Tempo previsto: 45 minutos.

Realizado:

Quando tocou o sinal para começar o período, o ônibus já estava esperando na

frente da escola e chamei os alunos para que eu pudesse fazer a chamada pela lista

dos que haviam entregado as autorizações. Dois alunos que ainda não tinham

entregado as autorizações vieram correndo me entregar, e então os adicionei na lista.

Conferi a lista e junto com outra professora da turma, partimos em direção à Fundação

Vera Chaves Barcellos.

No ônibus, reforcei a explicação de que a exposição era de obras do artista

Julio Plaza e que haveria uma mediadora ou um mediador que guiaria a visitação. Falei

que eles ficassem bem atentos às explicações complementando que não gostaria que

eles apenas ouvissem a mediação, mas que procurassem também observar as obras

em busca de relações próprias. Quando estava dizendo isso, percebi que os alunos que

140

estavam sentados na parte de trás do ônibus não estavam prestando atenção porque

alguns estavam conversando, então depois que terminei de falar, fui para o fundo do

ônibus e repeti para os alunos que estavam mais atrás.

Chegando à Fundação, pedi que os alunos deixassem as mochilas e lanches

dentro do ônibus e, ao descermos, fomos recebidos pelo mediador que se apresentou

para os alunos e nos encaminhou até a entrada da exposição onde fez uma explicação

de algumas informações contidas no painel cronológico com a foto do artista Julio

Plaza.

Os alunos ficaram bem silenciosos e a maioria demonstrou interesse. Alguns

alunos mais ansiosos se anteciparam em olhar o espaço e as outras obras ao redor já

no momento em que o mediador fazia a apresentação inicial da exposição.

O mediador disse então que primeiro todos ficariam juntos para fazer o

percurso guiado porque ele iria comentar a respeito de algumas obras e falou que

depois disso, eles iriam poder olhar livremente as obras que eles quisessem. Ao falar

isso, ele pediu que os alunos confirmassem se todos prestariam atenção em silêncio e

os alunos afirmaram que sim.

O mediador foi conduzindo então os alunos e às vezes parava em frente a

alguma obra dizendo o nome, a técnica utilizada e fazia algumas explicações teóricas a

respeito de alguns conceitos artísticos em torno da obra referida. Ele fez comentários a

respeito da Op Art, Movimento concreto, Arte postal, holografia, apropriação, etc.

Durante algumas explicações do mediador, alguns alunos começavam a conversar por

um momento e quando eu percebia que estavam muito dispersos, eu fazia alguma

intervenção solicitando que mantivessem o silêncio. Não gostaria que eles se

dispersassem conversando sobre outras coisas, mas com certeza não atrapalhariam se

falassem a respeito do que estávamos vendo. Quando eu intervinha solicitando silêncio,

na maioria das vezes, eu não dizia nada, apenas olhava para aqueles que

conversavam e fazendo uma expressão de desaprovação, fazia o gesto de silêncio

apontando para o mediador e para as obras que na hora estávamos observando.

Pretendia evitar que se dispersassem, mas de forma discreta, sem expô-los e sem

interromper o mediador que seguia as explicações e para isso as vezes eu me

aproximava daqueles que conversavam para fazer essa intervenção. Mas agora,

141

pensando a respeito, considero que eu deveria, sim, ter interrompido um pouco a

mediação e solicitado que os alunos participassem ou que perguntassem alguma coisa.

Acho que eu fiquei esperando, pensando que o mediador reservaria um momento

destinado a perguntas, e como isso não ocorreu, fiquei um pouco frustrada neste

aspecto. É claro que esse fato não faz com que a visitação deixe de ter valor para o

desenvolvimento do projeto e principalmente como contribuição para a formação dos

alunos. Considero que proporcionar aos alunos um contato com a arte contemporânea

em um espaço destinado à exposição de arte, tem um valor estimável e este é o maior

objetivo pretendido de inevitável alcance desta proposta.

Durante toda a visitação guiada, a maioria dos alunos manteve o silêncio, mas

não participaram muito com comentários ou dúvidas, acredito que tenha faltado

incentivo neste sentido por parte do mediador. Dentre os poucos comentários, teve um

aluno que logo no início da visitação falou que parecia que em algumas obras as

imagens se moviam, uma aluna disse que gostaria que fosse permitido mexer no livro

“Poemóbile” e outra aluna exclamou que eles já tinham visto aquela obra em aula

quando chegaram ao andar de cima e depararam-se com uma obra sem título feita com

um palito de fósforo colado com fita crepe. Eu achei graça que todos foram para perto

olhar essa obra quando a aluna salientou que era aquela obra que em aula eu havia

reproduzido. Os alunos ficaram olhando com uma expressão de admiração parecendo

não acreditar que realmente estava exposta uma obra daquele tipo. Eu fiquei apenas os

observando e certamente deixei transparecer minha satisfação em vê-los parados por

uns instantes contemplando uma obra como essa. O que estariam pensando? Eu não

perguntei. Mas agora vejo que de repente eu poderia ter aproveitado esse momento

para pedir que alguns alunos falassem o que eles pensavam a respeito. Afinal eu

salientei que eles deveriam considerar as intervenções do mediador, mas deixei claro

que também deveriam pensar a respeito das obras buscando uma interpretação

pessoal.

A partir desta atitude dos alunos, eu comprovo que ver uma reprodução de uma

obra em sala de aula não substitui a relação de vê-la pessoalmente em um espaço

específico destinado à arte, embora também possa considerar que o fato de eu ter

apresentado a obra em aula certamente contribuiu para esse interesse.

142

Depois que o mediador passou com a turma por todas as obras, ele disse que

os alunos podiam olhar novamente as obras que quisessem e então os alunos se

espalharam pela exposição. Neste momento, percebi que teve alguns alunos que

conversavam sobre as obras que novamente iam olhando, alguns que passavam

olhando rapidamente as obras sem demonstrar muito interesse e outros que

caminhavam pelo espaço conversando sobre outros assuntos. Para olhar um livro do

artista que era preciso que colocassem luvas, um dos alunos por vez colocava as luvas,

enquanto os outros que estavam juntos permaneciam em volta como se quisessem

comprovar a experiência daquele colega ao manusear o livro. Até alguns alunos que

viram o livro enquanto o colega manuseava quiseram colocar as luvas para poder pegar

o livro.

Considero que foi bastante produtivo eles conhecerem uma instituição

localizada na própria cidade destinada à exposição de Arte Contemporânea e percebi

que a maioria da turma achou interessante diversas obras que observaram. Porém

avalio que a intervenção da mediação poderia ter sido mais provocativa e menos

informativa porque pude constatar que depois de algum tempo os alunos já

demonstravam estar cansados de ouvir tantas explicações teóricas e já não prestavam

tanta atenção como no início da visitação.

Não se pode esquecer que mediar implica a presença do sujeito fruidor como um todo. Isso significa não apenas provocar o seu olhar cognitivo, como também conscientizá-lo de todas as nuances presentes na obra ou em sua relação com ela; acima de tudo, promover um contato que deixe canais abertos para os sentidos, sensações e sentimentos despertados, para a imaginação e a percepção, pois a linguagem da arte fala e é lida por sua própria língua. Talvez seja esse o espaço do silêncio externo, com falas internas nem sempre traduzíveis (MARTINS, 1998, p.76).

A respeito disso, posso inferir que quando se tem uma intenção de promover

um contato com a arte que vá além do entendimento formal e a pretensão de estimular

que espectadores desenvolvam a capacidade de fruição, uma mediação deve ser

conduzida de forma a proporcionar momentos que as palavras muitas vezes não

conseguem traduzir e não são necessárias numa relação com o que se vê.

143

Visita á exposição “Construções poéticas” de Julio Plaza (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Visita à exposição “Construções poéticas” de Julio Plaza (Fonte: LAUERMANN, 2012)

144

3.3.9 Nono encontro

Aulas 10 e 11

Data: 28/11/12

Horário: Das 13:40 às 15:10

Tema da aula:

Produzir imagens interessantes que cativem o espectador.

Conteúdos:

Neoconcretismo.

Pop Arte.

Obra sem título de Julio Plaza.

Composição gráfica.

Lista de atividades:

Explicação sobre as características do movimento Neoconcreto, Pop Arte e

análise das obras selecionadas.

Trabalho prático individual com as placas de isopor.

Registro escrito da análise da imagem do trabalho produzido por um colega.

Objetivos:

Promover o conhecimento sobre o Neoconcretismo, Pop Arte e elucidar a

respeito de apropriações de imagens em composições de obras contemporâneas a

partir da observação e análise da obra de Julio Plaza.

145

Desenvolver a capacidade de pensar na produção do trabalho evidenciando a

preocupação em obter um resultado gráfico interessante utilizando o princípio de

xilogravura com as placas de isopor e inspirando-se nos conceitos teóricos abordados.

Analisar o trabalho produzido por algum colega demonstrando capacidade de

refletir acerca da composição em geral, da qualidade visual ou da intencionalidade da

imagem.

Metodologia:

Aula expositiva.

Trabalho prático individual com as placas de isopor.

Leitura de imagem individual de um trabalho produzido por algum colega.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Reprodução colorida tamanho A3 da obra “Relevos espaciais” de Helio Oiticica.

Reproduções coloridas tamanho A4 das obras “Parangolé” de Helio Oiticica,

“Bichos” de Lygia Clark e obra sem título de Julio Plaza.

Livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara com obras da

vertente Pop Arte.

Placas de isopor, rolinhos de espuma, tintas plásticas coloridas, colheres de

pau, cordão, palitos e prendedores.

Avaliação:

Espera-se que os alunos demonstrem interesse pelas explicações e imagens

apresentadas e evidenciem uma preocupação em produzir trabalhos que possam ser

considerados graficamente interessantes utilizando o princípio de xilogravura com as

placas de isopor.

146

Planejado:

Cumprimentarei os alunos, farei a chamada e fixarei no quadro as reproduções

das obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark

escrevendo acima dessas obras “Movimento neoconcreto”. Fixarei uma obra sem título

de Julio Plaza e escreverei acima as palavras “apropriação” e “paródia”. Colocarei os

livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara abertos nas páginas onde

há imagens de obras que podem ser consideradas de vertente pop e escreverei “Pop

Arte” próximo ao local onde eu colocar os livros. Tempo previsto: 10 minutos.

Depois que as obras estiverem fixadas, eu começarei dizendo que eu faria as

últimas explicações teóricas e reforçarei que todas as informações que até agora já

tinham sido abordadas nas aulas estariam na avaliação que eles fariam na próxima

aula. Salientarei que essa avaliação poderia ser feita em duplas, que seria objetiva (de

múltipla escolha), com apenas uma questão dissertativa e que valeria como nota de

recuperação para aqueles que não fizeram alguns trabalhos, portanto reforçarei que

seria bom que todos fizessem com o intuito de obter nota máxima porque seria bem

tranquilo acertar as respostas corretas.

Depois disso, direi que antes da produção do último trabalho prático e para que

possamos organizar uma exposição com esses trabalhos, pretendo abordar os últimos

conceitos a respeito daquelas obras que havia exposto no quadro e completarei que

minha intenção era que essas últimas explicações pudessem contribuir para a produção

de trabalhos com uma forma visual atrativa.

Então eu apontarei para as obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio

Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark, lerei o termo “Movimento neoconcreto” e pedirei que

observem para que percebam a intenção que esses artistas tinham em fazer com que o

público participasse e se envolvesse na obra.

Explicarei que a proposta para a exposição dos nossos trabalhos, a exemplo do

Neoconcretismo, é desejar a participação do público, mas uma participação relacionada

ao querer ver, despertar o interesse das pessoas que passam e propor que se

desloquem para analisar o que está exposto. Direi que para as pessoas terem vontade

de olhar e analisar as imagens que colocaremos em exposição gostaria que

produzissem formas figurativas ou não figurativas com a principal intenção de produzir

147

imagens interessantes que chamem a atenção e despertem o interesse do público.

Direi que para isso talvez sejam necessárias mais de uma tentativa na busca por

formas interessantes que considerem que chamarão a atenção do espectador.

Apontando para a obra de Julio Plaza, direi que também é possível que se

apropriem de imagens de obras de arte já conhecidas e explicarei que Julio Plaza

produziu aquela obra “juntando” obras dos artistas Victor Vasarely e Frank Stella com

um personagem de história em quadrinhos.

Mostrando algumas obras dos livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e

Carlos Vergara, direi que também faz parte da contemporaneidade o movimento

chamado Pop Arte que justamente caracteriza-se por uma incorporação de elementos

do cotidiano e da sociedade de consumo. Citarei que os artistas dessa vertente utilizam

como temática os quadrinhos, cinema, ícones populares, acontecimentos ou imagens

em evidência no momento e com isso acabam aproximando esses trabalhos artísticos

do público. Tempo previsto: 30 minutos.

Depois dessas explicações, eu comentarei que o trabalho que faremos será

uma espécie de xilogravura, mas com placas de isopor e, portanto se alguém for usar

alguma imagem já existente, essas imagens não precisam ser feitas tal e qual elas

realmente são porque elas podem ser uma reinterpretação pessoal ou serem

desenhadas com a intenção de reduzir os elementos e formas originais. Ao dizer isso,

eu mostrarei dois exemplos prontos e já explicarei como será o processo de riscar com

o palito na placa de isopor, passar o rolinho com tinta e esfregar a colher de pau para

pressionar a folha no isopor. Tempo previsto: 5 minutos.

Depois das orientações a respeito de como fazer o trabalho, direi que cada um

poderá produzir mais de uma imagem até que fiquem satisfeitos com o resultado, desde

que não excedam o tempo estipulado de trinta minutos. Pedirei que os alunos coloquem

nome e pendurem no cordão que estenderei na sala para essa finalidade. Tempo

previsto: 30 minutos.

Quando eu perceber que a maioria já tiver feito ao menos uma imagem,

comentarei que nos trabalhos que tínhamos feito até agora nas aulas anteriores

havíamos tentado expressar através de imagens (pinturas, assemblages, imagens de

revistas) algum pensamento que tínhamos escrito. Explicarei que também propus a

148

produção destas imagens com a intenção de inverter esse processo e solicitarei que

troquem uma imagem que produziram com algum colega para analisar e escrever sobre

essa imagem. Direi que depois que trocarem a imagem com algum colega eles devem

escrever em uma folha separada o que vem à mente quando olham a imagem e devem

identificar o nome do colega que produziu a imagem analisada. Para salientar a

orientação desta atividade, eu escreverei no quadro: “Escrita de palavras ou frases que

consideram caracterizar a imagem que estão analisando. Analisar formas, cores,

composição das imagens, harmonia, intencionalidade, etc.” Tempo previsto: 15 minutos.

Helio Oiticica, 1960 – 1963. (Fonte: http://www.grandmastolemycloset.com/2012_04_01_archive.html)

149

Helio Oiticica, 1965. (Fonte: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=856&titulo=Parangole:_anti-

obra_de_Helio_Oiticica)

Lygia Clark, 1960.

(Fonte: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/lygia-clark-da-pintura-aos-objetos-

tridimensionais.htm)

150

Julio Plaza, 1975.

(Fonte: http://www.bolsadearte.com/oparalelo/a-poetica-de-julio-plaza)

Rubens Gerchmann, 1966.

(Fonte: MAGALHÃES, 2006, P. 84)

151

Claudio Tozzi, 1967.

(Fonte: MAGALHÃES, 2007, P. 58)

Claudio Tozzi, 1967.

(Fonte: MAGALHÃES, 2007, P. 60 e 61)

152

Carlos Vergara, 1967.

(Fonte: VERGARA, 2010, P. 128)

Realizado:

Cumprimentei os alunos, fiz a chamada e fixei no quadro as reproduções das

obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark

escrevendo acima dessas obras “Movimento neoconcreto”. Fixei uma obra sem título de

Julio Plaza e escrevi acima as palavras “apropriação” e “paródia”. Também coloquei

encostado ao quadro os livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos Vergara

abertos nas páginas onde havia imagens de obras que podem ser consideradas de

vertente pop e escrevi logo acima: “Pop Arte”.

Depois que as obras estavam fixadas, eu comecei dizendo que faria as últimas

explicações teóricas e reforcei que todas as informações que até agora já tinham sido

abordadas nas aulas estariam na avaliação que eles fariam na próxima aula. Disse que

antes da produção do último trabalho prático e para que pudéssemos organizar uma

153

exposição com esses trabalhos, pretendia abordar os últimos conceitos a respeito

daquelas obras expostas no quadro e completei dizendo que minha intenção era que

essas últimas explicações também contribuíssem para a produção de trabalhos que

obtivessem uma forma visual atrativa.

Então, eu apontei para as obras “Parangolé” e “Relevos espaciais” de Helio

Oiticica e “Bichos” de Lygia Clark, e falei sobre o Movimento Neoconcreto, ressaltando

a preocupação dos artistas desse movimento em envolver o espectador em suas obras.

Expliquei cada uma das obras dizendo o nome e suas características e pedi que

observassem para que percebessem que essas obras tinham em comum essa intenção

de fazer com que o público participasse e se envolvesse na obra, sendo que essa

relação espectador-obra era o que completava o sentido e “criava” a obra.

Apontando para a obra de Julio Plaza, disse que uma possibilidade que vários

artistas contemporâneos utilizam é o que se pode chamar de apropriação, porque se

apropriam de imagens já existentes. Como exemplo disso, falei que Julio Plaza

produziu aquela obra “juntando” obras dos artistas Victor Vasarely e Frank Stella com

um personagem de história em quadrinhos da Marvel. Alguns alunos falaram um pouco

sobre alguns comentários do mediador diante desta obra e, confusos, disseram que o

artista tinha feito esta obra por causa da guerra nos Estados Unidos. Então expliquei

melhor especificadamente sobre o personagem Capitão América e disse que a história

que o mediador havia falado era sobre este personagem que foi usado como um

símbolo para realçar o poder americano para a população durante a segunda guerra

mundial. Então outra aluna disse que na verdade aquele não era o Capitão América da

Marvel porque o uniforme era diferente e estava faltando o escudo então brinquei

dizendo que realmente aquele não era o Capitão América da Marvel, era do Julio Plaza

e provoquei afirmando que o Mickey que eu desenhei no meu caderno era meu porque

eu havia desenhado. Eu disse: “Tá certo que desenhei observando um desenho que já

existe, mas eu fiz do meu jeito, então é meu!” E complementei falando que essa era

uma ideia que também era levada em consideração no movimento artístico chamado

Pop Arte e mostrando as obras dos livros de Claudio Tozzi, Rubens Gerchman e Carlos

Vergara, disse que naquelas obras podia-se observar também um tipo de apropriação,

mas de elementos do cotidiano e da sociedade de consumo do país daquela época:

154

cinema, futebol, imagens conhecidas, fotografias de notícias de jornal (que

proporcionava certo teor político), etc. Citei que os artistas dessa vertente utilizam como

temática os quadrinhos, cinema, ícones populares, acontecimentos ou imagens em

evidência do momento, com a intenção de aproximar esses trabalhos artísticos do

público e torná-los mais populares. Quando disse que esse era o apelo “pop” daquelas

obras, uma aluna se impressionou em saber que “pop” significava popular.

Expliquei então que a proposta para os nossos trabalhos, a exemplo do

Neoconcretismo, era desejar a participação do público, mas uma participação

relacionada ao querer ver, despertar o interesse das pessoas que passam e propor que

se desloquem para analisar o que está exposto. Disse que para que as pessoas

tenham vontade de olhar e analisar as imagens que colocaremos expostas, gostaria

que produzissem formas figurativas ou não figurativas com a principal intenção de

produzir imagens atrativas que chamem atenção e despertem o interesse do público.

Falei que para isso talvez fosse necessário que fizessem mais de uma tentativa na

busca por formas interessantes que considerassem chamar atenção do espectador.

Comentei que o trabalho que faríamos seria uma espécie de xilogravura, mas

com placas de isopor, expliquei que na xilogravura o desenho é feito em placas de

madeira e “riscado” com goivas afiadas e que por ser arriscada a utilização em sala de

aula, imitaríamos este processo utilizando isopor e palitos. Ao dizer isso eu mostrei

como deveria ser feito pedindo que todos prestassem atenção para que logo após, eles

já começassem a fazer os seus desenhos.

Depois das orientações, pedi que fossem pegando os materiais e fui auxiliando

para que se organizassem com as tintas, rolinhos, isopores, etc. Salientei que eles

poderiam produzir mais de uma imagem, se não tivessem ficado satisfeitos e pedi que

fossem pendurando as folhas dos trabalhos com prendedores no cordão que eu

colocaria na parede ao lado de fora da sala de aula.

Na minha opinião, os alunos demonstraram estar bem empolgados com a

técnica e não se dedicaram tanto no traçado do desenho, visto que muito rapidamente

alguns alunos fizeram algum desenho e já começaram a passar tinta para ver a

impressão no papel. Claro que estes que logo se apressaram em imprimir no papel não

tiveram um bom resultado e precisei auxiliar vários alunos fazendo com eles a

155

constatação do que havia sido feito de forma equivocada. Dentre as tentativas

frustradas, a maioria era problema no traçado do desenho que havia sido feito sem ter a

profundidade necessária do traço, desta maneira eu orientava que limpassem a matriz

e traçassem novamente o desenho para que as linhas ficassem mais marcadas.

Houve muito desperdício de material porque aqueles alunos que

apressadamente fizeram desenhos precipitados, em vez de elaborarem melhor seus

desenhos, pegaram outras placas de isopor mesmo sem antes consultar minha opinião.

Não houve problema de falta de material porque havia o suficiente, mas isso explicita

como no geral os alunos têm dificuldade em se concentrar, ter calma e manter o foco

para elaborar alguma coisa que foi orientada. Exemplo disso foi que imediatamente

depois da minha breve explicação demonstrativa de como se fazia o processo para

gravar no papel, um aluno pegou o isopor, passou tinta no rolinho e já iria passar no

isopor sem sequer ter feito o desenho, então precisei intervir demonstrando novamente,

porque ele não havia entendido. Posso considerar isso um reflexo do imediatismo em

que vivem, uma falta de disposição para a aprendizagem ou apenas falta de atenção?

Ou quem sabe um pouco de cada um desses itens contribua para esta falta de foco

constatada.

É claro que nem todos os alunos foram precipitados e aqueles que

permaneceram elaborando suas matrizes de isopor após eu ter organizado todos os

materiais e estendido o cordão com os prendedores, puderam receber de minha parte

uma atenção mais especial e então pude comentar sobre a possibilidade de produzir

diferentes texturas, falar sobre a escrita invertida, o negativo e positivo no desenho, etc.

Alguns alunos não produziram imagens que possam ser consideradas

satisfatórias, mas a maioria destes alunos foi em busca de um resultado melhor. A

maioria fez várias tentativas, mas mesmo assim muitos não conseguiram superar todas

as dificuldades apresentadas na elaboração do trabalho. O que me faz inferir que este

processo de desenhar na placa de isopor é mais um trabalho que também, assim como

outros que desenvolvi neste projeto, pode ter uma continuidade em busca do

aperfeiçoamento da técnica e de um melhor desenvolvimento de habilidades

específicas para o desenvolvimento da atividade. Uma questão que poderia interferir no

resultado das produções dos alunos de forma positiva seria considerar o uso de outro

156

tipo de tinta mais adequado para esse tipo de trabalho. Neste caso, em vez de usar

tinta plástica, me parece que tinta óleo daria nas placas de isopor uma cobertura mais

uniforme e, por conseguinte um melhor acabamento.

No trabalho da aluna Milena, eu percebi que ela ficou insatisfeita com sua

produção, principalmente em virtude da escrita invertida, mas ao produzir outro trabalho

em busca de melhor resultado, ela resolveu simplesmente suprimir as palavras em vez

de tentar superar essa dificuldade.

Impressão da aluna Milena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

157

Impressão da aluna Milena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Muitos alunos usaram duas cores nas suas matrizes, o que eu achei que deu

um resultado interessante, mas alguns não conseguiram unir bem a parte onde

acontece a troca de cor e, como no trabalho da aluna Thainá, se percebe uma falha

entre as cores usadas. Esta falha na impressão com duas cores também aconteceu

devido ao fato de eu ter separado um rolinho diferente para cada cor e salientado

bastante que os alunos deveriam cuidar para não manchar os rolinhos com outra cor

para evitar ter que perder tempo lavando. Porém, na hora não me ocorreu de explicar

que, para esses casos que os alunos usaram duas cores era inevitável que um dos

rolinhos sobrepusesse a outra cor colocada na matriz e assim poderíamos inclusive ter

explorado uma mistura de cores. Esta aluna, a Thainá, foi a única que usou uma forma

não figurativa e valorizei sua tentativa de criar algo inusitado.

158

Trabalho da aluna Thainá (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho da aluna Estefany (Fonte: LAUERMANN, 2012)

159

Em alguns trabalhos os alunos usaram imagens que são comuns entre eles e

que estão presentes em roupas e marcas como caveiras, corações alados, cupcakes,

etc. e assim trabalharam com o sentido de apropriação de que eu havia falado e é

muito interessante notar como essas imagens que podemos chamar de símbolos são

importantes entre eles para que se sintam parte de um universo jovem e o quanto

essas imagens aparecem quando é permitido que eles manifestem seus interesses.

Isso corrobora com o conceito elucidado na declaração de princípios básicos da

vanguarda que em 1967, quando escrito por artistas como Rubens Gerchmann, Carlos

Vergara, Helio Oiticica e Lygia Clark acentuava que “a criação artística estava ligada ao

lugar onde era produzida” (REIS, 2006, p. 27) sendo assim a arte sempre surgirá como

“uma relação entre a realidade do artista e o ambiente em que vive” (REIS, 2006, p.

28), portanto os trabalhos dos alunos também expressaram inevitavelmente esses

símbolos que são veiculados na publicidade, incentivados pelas mídias e expõem certo

momento histórico consequentemente revelando um determinado contexto em que um

grupo está inserido.

Deixar emergir esses símbolos difundidos pela mídia não seria incongruente

com a proposta de alguém que julga necessário desenvolver nos alunos a criticidade

nas análises de imagens veiculadas pelos meios de comunicação? Por outro lado,

como medida de entender e perceber o quanto estes símbolos estão inseridos no

contexto dos jovens, deixa-los fluir e torna-los perceptíveis, seria uma maneira para

podermos melhor observar a intensidade de suas influências. Considerando que essas

imagens muitas vezes são usadas pelos alunos como forma de uma comunicação

visual, proporcionar um espaço onde eles possam expressar essas imagens torna-se

importante para que os alunos possam perceber e verificar a força que a imagem

possui. Se as imagens são tão onipresentes no nosso cotidiano, não deveríamos ter

mais tempo na escola destinado a trabalhos que contemplem discussões como essa?

Agora percebo que mesmo trabalhando com a possibilidade de apropriação de imagens

já existentes, unindo o apelo pop com a intenção de envolver um espectador com os

trabalhos produzidos, deveria ter salientado mais a questão da força de sugestão que

as imagens possuem e como somos constantemente influenciados e atraídos por essas

formas que, sim, têm a intenção de chamar nossa atenção. Dessa maneira eu estaria

160

aproveitando para dar uma continuidade sobre o assunto que foi abordado na aula

sobre publicidade e propaganda.

Trabalho da aluna Tauane (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Trabalho da aluna Hellena (Fonte: LAUERMANN, 2012)

161

O trabalho do aluno Denílson é o que contém uma forma que pode ser

considerada a mais sintética de todos os trabalhos e embora perceba-se que ele

elaborou seu trabalho de forma rápida sem detalhar sua forma ou deter-se em cobrir

toda a matriz com a tinta, considerei o resultado interessante porque o borrão azul dá

uma ideia de uma continuidade além daquilo que está dentro do nosso campo de visão.

Este aluno fez outras tentativas anteriores a esta e ele ter se resumido a apenas uma

forma simples para apresentar como seu trabalho a meu ver reafirma sua insegurança

e, por ser um aluno que se demonstra retraído durante as aulas, isso pode também

evidenciar uma autoestima baixa reiterada pelo fato de ter colocado fora todas as

impressões anteriores que ele fez ao invés de expor também suas tentativas frustadas

como muitos alunos fizeram. Quando este aluno foi expor este trabalho, eu justamente

comentei sobre o fato de que, neste caso, a tinta não tinha cobrido toda a matriz,

proporcionando um resultado interessante e depois que eu disse isso ele lançou

novamente um olhar sobre seu trabalho que considero ser um olhar de curiosidade

talvez duvidando de minha afirmação.

Trabalho do aluno Denílson (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Embora eu tenha considerado que os alunos foram muito ansiosos, e portanto a

preocupação que eu gostaria que eles tivessem para elaborar o desenho tenha ficado

em segundo plano, fiquei satisfeita com a aula porque todos foram bem participativos e

agora pondero que a ansiedade dos alunos talvez esteja também relacionada com o

interesse e curiosidade pela técnica apresentada. Portanto, não posso deixar de

162

reconhecer como positivo o envolvimento dos alunos com o trabalho prático, assim

como valorizar o interesse que a maioria da turma demonstrou durante as explicações

teóricas.

Depois dos trabalhos práticos, eu pretendia que os alunos fizessem uma

análise das formas, porém eu percebi que não haveria condições de propor que eles se

envolvessem em mais uma atividade que iria requerer concentração em virtude do

pouco tempo que tínhamos disponível e também porque muitos alunos ainda

solicitavam minha orientação para maiores explicações sobre o trabalho até o final do

período.

163

3.3.10 Décimo encontro

Aula 12

Data prevista da aula:

Dia 29/11/12

Horário: Das 14:25 às 15:10

Tema da aula:

Desenho e apropriação

Conteúdos:

Obra do artista Julio Plaza.

Apropriação no desenho.

Lista de atividades:

Desenho inspirado na obra de Julio Plaza.

Conversa e avaliação do projeto desenvolvido.

Objetivos:

Incentivar a realização do desenho a partir da observação da obra de Julio

Plaza propiciando a percepção das possibilidades de apropriação de imagens já

existentes em uma experimentação gráfica.

164

Proporcionar um feedback da aprendizagem de forma que os alunos possam

trocar informações e verificar entre os colegas o nível de compreensão sobre todos os

conteúdos que foram abordados durante o projeto em um registro escrito.

Metodologia:

Leitura de imagem espontânea.

Trabalho gráfico individual.

Trabalho avaliativo.

Materiais e recursos a serem utilizados:

Reprodução tamanho A4 da obra de Julio Plaza.

Giz pastel oleoso, folhas, tesouras e colas.

Xerox do trabalho avaliativo.

Avaliação:

Espera-se que os alunos se envolvam na atividade de desenho inspirados na

obra de Julio Plaza e troquem informações articulando-se em duplas para realizarem a

atividade avaliativa visando sistematizar os conteúdos abordados durante o projeto.

Planejado:

Farei a chamada, fixarei a reprodução da obra sem título de Julio Plaza no

quadro e explicarei que esta será a última aula e que no final da aula eu distribuirei um

trabalho avaliativo. Salientarei que esta avaliação poderá ser feita em duplas, que será

objetiva (de múltipla escolha), com apenas uma questão dissertativa que será onde eles

vão expor sua a opinião a respeito do que foi desenvolvido durante o projeto. Eu falarei

que valerá como nota de recuperação para aqueles que não fizeram alguns trabalhos e

que eles poderão fazer em duplas.

165

Então, distribuirei duas folhas para cada aluno explicando que eles deverão

desenhar um fundo em uma das folhas como, por exemplo, o utilizado na obra de Julio

Plaza e que depois eles deverão escolher um personagem, símbolo ou imagem que já

existe ou que eles normalmente já desenham para fazer na outra folha, recortando e

sobrepondo sobre o fundo feito anteriormente.

Deixarei que façam seus desenhos e passarei dando algumas sugestões

individuais que talvez possam ajudar para que os alunos obtenham um melhor

resultado nos trabalhos.

No final da aula, eu distribuirei a folha de avaliação para que eles façam em

duplas e direi que eles podem me entregar na próxima semana porque mesmo

terminando meu estágio, eu estarei no colégio na próxima semana para fechar as

notas. Também aproveitarei para, informalmente, pedir que alguns alunos se

pronunciem sobre o que aprenderam durante o projeto e se manifestem se houve

alguma mudança na concepção que eles tinham sobre a Arte Contemporânea.

Julio Plaza,1975.

(Fonte: http://www.bolsadearte.com/oparalelo/a-poetica-de-julio-plaza)

166

Realizado:

Cumprimentei a turma e disse que esta seria a nossa última aula, mas que eu

estaria na escola na próxima semana porque eu entregaria hoje no final da aula um

trabalho avaliativo, como eu já havia dito na aula anterior, para que eles fizessem em

duplas ou trios e reforcei a informação de que essa avaliação valeria como recuperação

para aqueles que não tinham feito algum trabalho.

Fixei a reprodução da obra de Julio Plaza no quadro e disse que eles deveriam

fazer um desenho inspirado naquela obra. Mostrando a parte da obra que Julio Plaza

fez se inspirando nas obras de Victor Vasarely, disse que em uma das folhas eles

deveriam fazer um fundo como aquele e na outra folha eles deveriam desenhar um

personagem, símbolo ou imagem que já existe para recortar e sobrepor ao fundo feito.

Distribuí as folhas, solicitei que começassem a fazer seus desenhos e disse que

depois que tivessem colado era para eles escolherem no máximo duas cores para dar

destaque a alguma parte do desenho a que eles pretendessem chamar a atenção.

Mostrei os gizes pastéis oleosos que eu havia levado e deixei a caixa aberta em cima

da mesa dizendo que depois era para eles pegarem as cores que quisessem para

colorir uma pequena parte do desenho.

Enquanto os alunos desenhavam, eu fui passando e dando algumas sugestões

individuais para que eles pudessem obter um melhor resultado, mas não interferi nas

ideias que eles manifestavam. Alguns alunos me perguntaram se eles podiam fazer

determinado desenho, outros pediam minha opinião, se tinha ficado legal, e outros

queriam que eu desse alguma ideia de desenho para que eles fizessem. Então,

perguntei para esses que estavam indecisos sobre o desenho que fariam, se eles não

tinham no caderno algum desenho que gostavam ou que costumavam desenhar e a

maioria me respondeu que não. Isso me fez perceber que nesta turma são poucos os

que têm o hábito de desenhar ou exercitar traçados e formas se apropriando de figuras

existentes. Sendo assim, surgiram nos desenhos as mesmas figuras que já tinham sido

usadas em trabalhos anteriores e que fazem parte de acessórios e marcas usadas por

eles como caveiras, símbolo do infinito, bigodinho, etc.

167

Desenho da aluna Hellena

(Fonte: LAUERMANN, 2012)

Desenho da aluna Tauane (Fonte: LAUERMANN, 2012)

O trabalho do aluno Cleiton foi feito com o desenho do Zorro que ele observou

em um cartaz da outra turma que estava na parede da sala de aula e a aluna Thainá

utilizou o Bob Esponja em seu trabalho por ser um personagem com formas bem

simplificadas, mesmo sem ela ter o desenho deste personagem para observar, ela

conseguiu se aproximar bastante do aspecto original deste personagem.

168

Desenho do aluno Cleiton (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Desenho da aluna Thainá (Fonte: LAUERMANN, 2012)

169

O trabalho da aluna Ana Júllia foi feito com o personagem Pikachu, mas ela

comentou que primeiro ela tinha pretendido fazer a Hello Kitty e como as colegas

disseram que tinha ficado parecido com o Pikachu, ela terminou fazendo este mesmo.

Uma das coisas que percebi propondo que fizessem primeiro o fundo para que

depois fizessem a sobreposição do personagem, é que provavelmente de outra

maneira o fundo atrás do desenho não teria ficado completo como o apresentado na

maioria dos trabalhos.

Desenho da aluna Ana Júllia (Fonte: LAUERMANN, 2012)

A aluna Manoela desenhou a personagem Pucca que ela mesma considerou

não ter ficado muito semelhante com a personagem original, mas esta aluna me disse

que mesmo assim iria utilizar aquele desenho porque ela se identificava com essa

personagem. Também me falou que fez um fundo com números para que fizesse

sentido com o momento que ela estava passando, pois estava em recuperação em

matemática. Elogiei dizendo que era interessante que ela estivesse produzindo um

trabalho pensando em dar um sentido à ele e isso me faz perceber que eu poderia ter

dado a sugestão de que os trabalhos fossem produzidos com a intenção de dizer

alguma coisa sobre o momento que os alunos estavam vivendo e isso faria com que

inclusive esta proposta tivesse mais consonância com o que vínhamos desenvolvendo

no projeto.

170

Desenho da aluna Manoela (Fonte: LAUERMANN, 2012)

Quando os alunos foram me entregando os desenhos, eu fui distribuindo a folha

do trabalho avaliativo salientando que eles me entregassem na próxima semana e

então eles já foram conversando e manifestando com quem iriam fazer o trabalho. Eu já

aproveitei para perguntar se eles consideravam que tinham aprendido alguma coisa

com o projeto que tínhamos desenvolvido e se eles tinham mudado o pensamento a

respeito da Arte Contemporânea. Um aluno se manifestou dizendo que conheceu obras

de arte que não conhecia, outra aluna disse que ela começou a pensar algumas coisas

que antes não pensava sobre arte e outra aluna, em tom de brincadeira, disse que não

tinha aprendido nada. A brincadeira dessa aluna me fez perceber o quanto é difícil que

os alunos não aprendam nada quando se desenvolve um projeto buscando

constantemente a interação e a participação da turma. Muito provavelmente, cada um

teve uma relação diferente com o conteúdo e os conceitos abordados talvez não

tenham sido completamente elucidados. Posso parecer pretenciosa, mas me arrisco em

afirmar que certamente nenhum aluno saiu deste projeto com as mesmas concepções a

respeito da Arte Contemporânea que tinha quando iniciamos as aulas.

Ora, a principal contribuição da Filosofia é criar obstáculos, de modo a impedir que as pessoas fiquem prisioneiras do óbvio, isto é, que circunscrevam a sua existência dentro de limites estreitos, de horizontes indigentes e de esperanças delirantes. A Filosofia não é a única que pode dificultar a nossa mediocrização, mas é aquela que tem impacto mais significativo nessa empreita, pois requer um pensamento e uma reflexão que ultrapassem as bordas do evidente e

171

obriga a introduzir alguma suspeita naquilo que vivemos e acreditamos (CORTELLA, 2008, p. 151).

Sem a pretensão de ensinar Filosofia, mas com o objetivo de promover um

rompimento de paradigmas e com a intenção de estimular que os alunos não se tornem

restritos em aceitar uma única concepção de algo é que esse projeto acabou

desenvolvendo proposições filosóficas, porque abrangeu atividades de análise,

discussão e reflexão e não se reduziu a ter como foco apenas um ponto de vista.

Portanto, afirmo que, ao ultrapassar as bordas do evidente, um desconforto foi gerado

e, para sanar este desconforto, os alunos se depararam não com uma, mas com várias

possibilidades de respostas o que me faz ponderar se a sabedoria está em respoder

certo a uma pergunta ou está na capacidade de estabelecer diversas possibilidades de

respostas.

172

Conclusão

Pesquisar sobre Arte Contemporânea fez com que eu me deparasse com uma

diversidade de enfoques que inicialmente eu desconhecia. Expor um pouco sobre toda

essa diversidade foi o que eu imaginava contemplar no projeto. Queria proporcionar o

desenvolvimento de uma postura contemplativa e crítica diante das linguagens

contemporâneas da arte. Gostaria que os alunos adquirissem gosto pela Arte

Contemporânea se interessando por suas possíveis poéticas e intenções.

Com o intuito de estimular a reflexão acerca de conceitos que permeiam a

produção artística busquei contrapor ideias conflitantes com os alunos, e ao mesmo

tempo em que falava de uma possibilidade, expunha outra inversa. Assim foram as

aulas que abordei a respeito das interpretações das obras de arte. Abordei o ponto de

vista do público, do artista e, embora a questão da crítica de arte seja um assunto

complexo para aprofundar em uma turma do ensino fundamental, achei importante

trazer também essa questão, mesmo que superficialmente, para que os alunos

pudessem ter ideia dos possíveis desdobramentos da arte. Este assunto sobre a crítica

de arte foi citado no documentário que assistimos em uma aula e trouxe a possibilidade

de uma obra se tornar algo diferente daquilo previsto pelo artista, o que me ajudou a

afirmar que todas as opiniões são válidas e, portanto os alunos não precisavam ter

receio ao falar sobre uma obra. Usei essa questão para incentivar a autonomia

interpretativa. Queria incentivar que os alunos perdessem o medo do desconhecido.

Queria encorajar que eles buscassem tecer relações e quem sabe novos significados,

mas tendo consciência de que se trata de uma dentre outras possibilidades. A minha

insatisfação após a visita à exposição Julio Plaza: Construções poéticas deveu-se a

essa minha proposição de incentivar a autonomia porque considero que a condução do

mediador não favoreceu a interação dos alunos. É claro que essa insatisfação da minha

parte não impossibilitou que eu considerasse bastante produtivo a visitação porque foi

oportunizado que os alunos conhecessem uma Instituição localizada na própria cidade

173

destinada à exposição de Arte Contemporânea, além de também possibilitar a extensão

e ampliação dos assuntos abordados em aula porque alguns conceitos que foram

explicados pelo mediador tinham consonância com alguns conteúdos do projeto. A

questão da participação do espectador com a obra, por exemplo, abordada pelo

mediador nas explicações a respeito das holografias e dos “Poemóbiles” encontra

similaridade com os manifestos do movimento neoconcreto que citei no projeto e isso

serviu de certo modo para uma ideia de continuidade e de relação da visitação com os

conteúdos das aulas.

É pertinente o trabalho com manifestações artísticas contemporâneas na

medida em que se acredita que os alunos têm o direito de conhecer questões

conceituais que norteiam muitos trabalhos contemporâneos. Os alunos têm o direito de

terem contato com a arte atual e perceberem o valor que esta arte pode ter, mesmo que

pareça “confuso” ou “estranho”, palavras que os alunos usaram na primeira aula para

definir algumas obras contemporâneas que eu havia exposto.

Tendo em vista esses direitos de aprendizagem e a receptividade da turma

diante do assunto, acredito que o tema de pesquisa demonstrou ser importante para

que o desenvolvimento do projeto pudesse alcançar o objetivo que era principalmente,

envolver os alunos com os discursos da Arte Contemporânea.

Pretendia desmistificar a arte. Por que ela deve ser algo inalcançável e distante

da realidade? Os questionamentos nortearam não só a pesquisa como também o

projeto. Escolhi uma pergunta como título do projeto para reforçar essa ideia de

questionamento e participação. Uma pergunta só faz sentido na lógica de um diálogo e

se existe alguém perguntando, supõe-se que exista alguém para responder. Sendo um

projeto baseado na dialética e na participação, abordar movimentos que buscavam a

participação do público com a obra e o estreitamento arte/ vida parece bastante

assertivo. Na busca pelo envolvimento e participação dos alunos mais perguntas iam

sendo formuladas e ironicamente o projeto foi finalizado com mais perguntas do que

respostas. Isso me fez perceber que não formulei a pergunta que serviria de título do

projeto para que ela fosse respondida. Do mesmo modo que não acredito que encontrar

respostas certas seja superior à capacidade de elencar possibilidades.

174

Com relação aos aspectos da realidade na escola e na turma que foram

observados diante da minha prática docente, algumas constatações importantes

contribuíram para meu amadurecimento enquanto profissional de ensino. Estas

constatações foram surgindo como resultado de interações professor/ aluno/ objetivos/

realidade. Pude constatar que quando há proposta, os alunos envolvem-se. É claro que

a proposta de trabalho advinda de uma observação e pesquisa com os próprios alunos

possui mais chances de tornar-se envolvente porque o que é desenvolvido parte de

algum interesse percebido naquela realidade, ou como no caso deste projeto, da falta

de interesse em determinada questão em que se pretende intervir, de uma necessidade

que se considera relevante para aquele grupo ou de uma seleção de conteúdos que se

julga importante abordar. Enfim vejo que trabalhar com a metodologia de projetos, pode

exigir um pouco mais do professor porque a pesquisa e o planejamento são

indispensáveis, mas acredito que o resultado deste trabalho possui mais chance de se

tornar produtivo. Identificando em Paulo Freire a defesa de uma prática docente

baseada no fundamento epistemológico da tendência progressista que considera o

conhecimento como uma forma de intervir no mundo, é irrefutável contemplar a

formação de cidadãos capazes de atuar como protagonistas na busca de uma positiva

transformação social. Assim posso dizer que o projeto tinha a aspiração de intervir na

maneira como os alunos olham para a arte contribuindo na diversificação e ampliação

de seus pontos de vista objetivando contemplar a formação de educandos mais críticos

e reflexivos.

Mesmo alcançando a maioria dos objetivos de cada aula, o projeto acabou se

tornando inacabado (que pode soar uma incoerência) porque ao incentivar que os

alunos pensassem a respeito dos movimentos e das obras selecionadas, eu no fundo

não pretendia fazê-los, propriamente dito, apenas pensar, mas pretendia proporcionar

que a reflexão desse embasamento servisse para um futuro agir, intervir e quem sabe

uma futura atuação em prol da transformação da realidade em que vivem. Coisas que

ao futuro pertencem.

Estas são pretensões que não envolvem uma mudança tão visível como um

progresso na execução do traçado de um desenho ou uma melhora em um trabalho

pictórico. São aspirações que pretendem intervir no campo mental, que se focam em

175

uma mudança de pensamento. Mudanças de pensamento e melhoras na capacidade

reflexiva não se obtêm de uma hora para outra. Elas se desenvolvem com o auxílio de

um ambiente instigador e propostas que não sejam limitadas e reduzidas a um ponto de

vista. Dito isso, afirmo não conseguir de forma palpável mensurar o quanto realmente

os alunos aprenderam. Não tenho dúvidas do progresso do grupo frente à arte. Pude

perceber que nos últimos encontros os alunos agiam com maior naturalidade frente aos

assuntos das aulas e demonstravam mais confiança na maneira que falavam a respeito

das obras trabalhadas. Verifiquei que gradativamente surgiam comentários mais

pertinentes e maior adesão nas propostas e só posso concluir que se houve

envolvimento, houve aprendizagem. Jamais desconsiderarei o progresso dos alunos

pelo fato de não conseguir mensurar a real aprendizagem de cada um. As assertivas

nas avaliações recolhidas após o encerramento do projeto podem ser um indicativo real

de aprendizagem? Eu acredito que não. A participação nas propostas em aula é um

indicativo mais significativo, a meu ver, do que o registro escrito que disponibilizei com a

intenção de proporcionar um feedback dos conteúdos abordados no projeto.

Acredito que a turma, no geral, compreendeu a maior parte dos conteúdos

que foi abordado no projeto e não faço essa afirmação em virtude das respostas

assertivas no trabalho avaliativo que distribuí na última aula porque o trabalho era em

duplas e salientei que todos poderiam trocar informações sobre as respostas, mas

embasado na participação deles no decorrer das aulas, nas participações orais e nas

perguntas que faziam durante as explanações dos conteúdos, enfim acho que posso

considerar que os resultados alcançados nesta prática não se estabeleceram apenas

no registro escrito ou nos trabalhos produzidos pelos alunos. Como considero que uma

das intenções mais relevantes da minha prática de ensino era proporcionar momentos

de reflexão e contato com a arte contemporânea, posso considerar que alcancei, sim,

um bom resultado. Os alunos sem dúvida conheceram outras possibilidades artísticas

que antes não conheciam e foram encorajados a pensar a arte numa dimensão que vai

além da superficialidade para que possam fugir do óbvio e de rotulações prontas ou

impostas e por isso não consigo visualizar os resultados alcançados distante da própria

prática, da ação, do desenvolvimento do projeto em si.

176

A prática de ensino, em irrisórios períodos de 45 minutos, fez com que eu

refletisse também a respeito de uma descarada hierarquia das disciplinas que vem

sendo historicamente reproduzida e aceita, onde determinadas disciplinas são mais

valorizadas do que outras em prol de algumas competências que são consideradas

mais importantes e que devem, portanto, ter mais tempo do que outras para serem

trabalhadas.

Sobre as metodologias escolhidas posso destacar que algumas foram

adequadas e outras nem tanto. Houve algumas aulas que percebi e constatei nas

reflexões dos realizados que as atividades poderiam ter sido aplicadas considerando

algumas adaptações, mas no geral sempre consegui vislumbrar o envolvimento dos

alunos nas atividades. Houve aulas em que não fiquei plenamente satisfeita com os

resultados, mas não houve aula sem a obtenção de resultados positivos. Com relação a

isso posso comentar sobre a metodologia aplicada na aula a respeito do poder

sugestivo da publicidade porque identifiquei a necessidade de uma adaptação no termo

usado. Neste caso a palavra subjetividade, além de confundir os alunos, também não

foi assertiva para definir o poder sugestivo que, na verdade, era o que eu pretendia

abordar. Conclui a reflexão do realizado desta aula afirmando-me como ser em

constante aprendizado e reiterando a importância de também aprender enquanto se

ensina.

Outra aula que identifiquei necessidade de certa adaptação foi na aula sobre

Arte Conceitual, a participação dos alunos durante as explicações foi excelente, mas as

colagens poderiam ter sido visualmente mais consistentes.

A respeito das metodologias que considerei adequadas posso salientar que,

fora estes dois casos citados, em todas as outras aulas a maior parte dos objetivos

foram alcançados. Na maioria das aulas houve a constatação da existência de algumas

questões que poderiam enriquecer o desenvolvimento do projeto como a presença dos

objetos solicitados aos alunos na aula de produção de assemblage, um tempo maior

disponível para propiciar uma possível performance na aula das máscaras, uma maior

articulação da minha parte com a Fundação Vera Chaves Barcellos para possibilitar

que a Fundação pudesse ter conhecimento do trabalho que eu estava desenvolvendo

177

com a turma e assim promover uma mediação que também contasse com a interação

dos alunos, entre outras.

A proposta da primeira aula, de sugerir para os alunos analisar as obras que

selecionei, por exemplo, é permeada por pelo menos três questões que de certa forma

conduziram todo o projeto. Uma das questões que pretendi com a atividade desta

primeira aula foi demonstrar a importância de um envolvimento com as imagens no

intuito de tecer uma opinião até mesmo antes de alguém dizer alguma coisa sobre ela.

Pretendia que os alunos já pudessem perceber que não é preciso esperar alguém falar

sobre uma imagem para começar a formular hipóteses a respeito desta imagem, além

da intenção de tentar perceber qual o juízo de valor que acompanha os alunos diante

de obras de arte tão diferentes entre si.

A segunda questão que não se dissocia da primeira é a intenção de estimular

certa independência, mesmo que pequena e inicial, para os alunos se encorajarem a

tecer opiniões sem que alguma coisa fosse lhes dado pronto.

A última questão a ser salientada desta primeira proposta é o motivo que me

levou a selecionar as obras apresentadas nesta aula. Possibilitar que após esta

proposta, eu pudesse desenvolver uma retórica a respeito de alguns momentos

distintos da história da arte abordando uma sucinta linha do tempo foi uma das

intenções para separar exemplares de obras de alguns momentos que contrastassem

bastante entre si para chegar às reflexões acerca da arte contemporânea.

Não tentei proporcionar o entendimento de evolução, mas elucidar certo

desencadeamento e abordar a relevância da contextualização. Estimular o

entendimento de que a arte por ser fruto de um tempo e de um lugar poderia ser vista

de diversas formas de acordo com o posicionamento adotado, auxiliaria para chegar à

ideia de que compará-las é um tanto inapropriado. Portanto a escolha das obras e da

atividade inicial foi uma maneira que encontrei de problematizar essas questões e

provocar uma percepção de que qualquer julgamento positivo ou negativo que

atribuíssemos valeria como opinião pessoal, mas jamais seria suficiente para julgar uma

obra como boa ou ruim.

Sondar como os alunos se manifestariam diante de uma obra com um realismo

fotográfico como um exemplar do academicismo de William-Adolphe Bouguereau e

178

outra com ares de rupestre como a de Siron Franco era o que eu tinha em mente ao

contrapor estas obras. Apurar que tipo de estranhamento seria gerado e quais critérios

os alunos usariam para qualificar uma obra melhor que a outra foram questões que

considerei para a elaboração da atividade inicial e que de certa forma acompanharam

várias provocações posteriores.

Não parti do “O que isso quer dizer” para ficar nele, da mesma maneira que

Paulo Freire afirma que não se deve partir da realidade do aluno para nela permanecer

e sim para ir além. No desenrolar do projeto percebi o quanto essa pergunta se tornaria

reducionista e banal se me empenhasse apenas em buscar meios de respondê-la.

Portanto posso afirmar que o desenrolar do projeto encaminhou a constantes buscas.

Durante as proposições em torno da arte contemporânea, percebi que na maioria das

vezes a minha dedicação não estava na busca por respostas, mas na busca da

diversidade de abordagens e principalmente na diversidade de pontos de vista. Posso

citar que nas aulas que abordei questões interpretativas e leitura de imagem, os alunos

puderam perceber o quanto é relativo, pessoal e questionável uma interpretação e um

julgamento de alguma obra, porque sempre há vários pontos de vista. Busquei explicitar

que a beleza e a qualidade artística na arte estavam muitas vezes ancoradas em

conceitos e em discursos que talvez pudéssemos desconhecer e por isso selecionei o

Neoconcretismo e a Arte Conceitual que mantém seu discurso em algo que está além

da forma visual da obra. Queria que os alunos soubessem da existência de um discurso

por trás da feitura de uma imagem. Queria que os alunos valorizassem e pensassem

sobre essas propostas que fazem parte das obras contemporâneas, considerando-as.

Em algumas aulas propus trabalhos que fossem focados na interação entre eles, ou na

relação entre eles e os materiais como na aula das máscaras e das produções de

assemblage porque a exemplo do Neoconcretismo gostaria de salientar a interação

com a obra. Na aula sobre arte conceitual que já comentei acima, salientei que o

principal era a discussão da temática que cada grupo recebeu e as ideias surgidas dali.

Afirmei que o principal era que eles fossem propositores de uma reflexão referente à

temática do grupo e ao salientar que isso seria mais valorizado do que o resultado

visual da obra, de certa forma incentivei que eles não se detivessem na colagem. Eu

esperava colagens visualmente mais interessantes, mas como havia destacado que o

179

principal valor estava na discussão entre o grupo e no registro sobre a temática,

considerei o trabalho válido porque acredito ter conseguido proporcionar que os alunos

vislumbrassem e tivessem contato com a proposta da arte conceitual de maneira

acessível. Coincidindo com esse apelo conceitual, essa foi a aula que mais fiquei

satisfeita com o comentário e participação dos alunos e acredito que esse envolvimento

deve ser valorizado. Considero, portanto a obtenção de dois resultados bem nítidos

nesta aula: O pleno sucesso da aula expositiva dialogada no primeiro período onde

explicitamente percebi fluir nos alunos a motivação para uma prática interpretativa. E o

resultado das produções em grupo, no segundo período, que não considerei

satisfatórios porque visava produções elaboradas de forma mais consistentes, que

remetessem às ideias do grupo. Todos os grupos produziram, mas a meu ver faltou

uma criticidade que eu pretendia que eles explorassem. Eu gostaria que as temáticas

que selecionei para os grupos, instigassem proposições mais problematizadoras. Notei

teor maior de criticidade no trabalho do grupo com a temática violência, mas a

visualidade da colagem podia ter sido mais elaborada. Cheguei a conclusão que propor

a colagem em uma folha menor ajudaria para que as colagens atingissem um resultado

estético mais interessante e ter levado imagens de trabalhos feitos com colagem para

que servisse de exemplo para as produção dos alunos também poderia ter sido

bastante válido. Lembro-me de até ter me referido à reprodução da obra de Domenico

Rotella que mostrei na aula sobre assemblage que parecia ser feita com revistas ou

cartazes de cinema, mas confesso que não me detive muito em interferir nas

produções.

Muitas vezes foi explicitando as controvérsias da arte que via brotar mais

perguntas que também poderiam ser contempladas. Decidi não me deter em alguma

resposta, escolhi abordar possibilidades diversas. Queria mostrar diversos enfoques e

tantas questões interpretativas que podem girar em torno de uma obra de arte e

pretendi deixar claro que estas não se esgotam. Em muitas reflexões dos realizados

percebia que os conteúdos poderiam ser mais desenvolvidos e acabava sentindo a

necessidade de justificar a minha escolha de não me aprofundar em determinada

questão em prol da continuidade do projeto. Volto a dizer que não selecionei trabalhar

com determinado conceito, pois em nenhum momento foquei em explorar um assunto e

180

desenvolvê-lo ao máximo, proporcionando que os alunos se tornassem ao final das

aulas grandes conhecedores de determinado conteúdo. Em cada aula abordava algum

enfoque que de certa forma permeia a Arte Contemporânea. Abordando alguns

conceitos, algumas linguagens e possibilidades tinha em vista despertar o interesse dos

alunos pela arte, além de encorajar a reflexão e não a simples aceitação dos conceitos

abordados. Com tudo isso pretendia que os alunos desenvolvessem autonomia e

pudessem pensar acerca da arte contemporânea. Promovendo o contato com diversas

questões da arte, estimulava que os alunos saíssem de cada aula com ao menos uma

certeza: é uma possibilidade. Isso me faz perceber que, vários conteúdos abordados

nas aulas poderiam ser assuntos para serem explorados em várias outras aulas. Este

fato, por um lado, muitas vezes me fez ficar insatisfeita porque via que determinados

assuntos poderiam ser mais aprofundados, mas por outro lado tinha claro que esta não

era a intenção do projeto. Não considero negativo desenvolver e focar em apenas um

assunto, muito pelo contrário, acho mais produtivo deter-se na qualidade do que na

quantidade. Mas pretendia ir além, proporcionar uma visão ampla e principalmente

reflexiva. Não gostaria de reduzir o foco detendo-me em determinado conteúdo ou

selecionando um recorte específico e sim pretendia ampliar a visão dos alunos para

quem sabe encorajar e servir como base para os futuros contatos que estes alunos

virão a ter com a arte.

Ainda falando a respeito da pergunta que serviu de título para o projeto reflito

se por acaso não é essa pergunta que sempre acabamos fazendo diante de todas as

coisas da vida. É o nosso instinto tentar tudo entender? Ter tudo sob controle acho que

é o desejo se não de todos, de uma grande maioria. Há uma tendência de se ver brotar

o receio e o medo diante do que é desconhecido. Esse será que foi, de certa forma até

inconscientemente, o meu desejo de conduzir por esse caminho as minhas pesquisas?

O temor do desconhecido e o desejo de ter “tudo” sob controle? Retomando Paulo

Freire, é necessário partir “da” e não ficar “na” e foi assim que aconteceu no caminho

das aulas desenvolvidas do projeto. O que isso quer dizer muitas vezes foi substituído

por questões: Quem diz o que significa? Quem tem autoridade e credibilidade para

dizer o que significa? O significado atribuído por outrem é o mesmo significado que

interpreto? E por fim, por que, afinal tenho que dizer o que isso quer dizer? Não há

181

possibilidade de não ser necessário dizer nada? O valor das coisas está na articulação

dos significados que elas têm?

Todos esses questionamentos para dizer que se pretendia a abordagem de um

trabalho onde existisse a criticidade, a autonomia e acima de tudo o envolvimento e

reflexão dos educandos, jamais poderia defender uma racionalidade demasiada contida

nas entrelinhas de uma pergunta como “O que isso quer dizer?”. Se por um lado

instiguei que os alunos buscassem entender a intenção de uma obra de arte, por outro

lado sinalizei que não encontrariam apenas uma resposta. Focando em buscar a

valorização do discurso que respalda e dá embasamento à produção de diversas obras

de arte contemporâneas, também, em contrapartida, incentivei a busca por algo que

muitas vezes não se explica. Ou seja, ao enaltecer o conteúdo discursivo das obras,

deparei-me na necessidade de também contradizê-lo por vezes, cedendo à busca por

uma forma visual que possibilitasse uma experiência estética por ela mesma, sem a

necessidade de outra explicação. Foi necessário contrastar essas questões porque por

mais que eu pretendesse contribuir na formação de alunos interpretantes, jamais

poderia resumir a arte na esfera do inteligível e do explicável. Sempre haverá algo na

arte visual que fugirá ao alcance das outras linguagens, senão sua existência seria

injustificada. Esse princípio me incentivou nas últimas aulas a propor a busca por

imagens que os alunos considerassem visualmente interessantes e que talvez

ironicamente tenha proporcionado um contraste com a busca pela superioridade das

ideias das aulas anteriores. Identifico que contrapontos nas reflexões proporcionadas

nas aulas acompanharam o projeto desenvolvido e fundamentei a prática na

diversidade de interpretações e nos diferentes pontos de vista.

Por outro lado, justificando a busca pelo entender, temos o fato de que para que

possamos nos apropriar de algum conhecimento e façamos relações de forma que

possua significado efetivo em nossa vida, é necessário que consigamos estabelecer

algum significado para o objeto de conhecimento em questão, senão de que maneira

estabeleceríamos relação? De que maneira algo que está fora e alheio a mim pode

encontrar paralelos com o subjetivo sem que de alguma forma passe pelo entender?

Diante disso tudo o que posso afirmar é que a pergunta norteadora do projeto não pode

jamais ter a intenção de ser respondida sem escapar do perigo de se tornar

182

reducionista demais diante de uma perspectiva de ensino baseada na tendência

progressista libertadora e em uma concepção sócio crítica dos conteúdos. Desta

maneira posso dizer que o pontapé inicial que impulsionou o projeto serviu literalmente

de ponto de partida e a ironia é que todo o trajeto percorrido não conseguiu nos

encaminhar para a resposta que moveu a caminhada, mas proporcionou novas

considerações sobre a questão. Sinceramente não espero que tenha servido para

sanar todas as dúvidas sobre as questões abordadas a respeito da arte

contemporânea, mas sim para encorajar novas relações e reflexões diante de uma

concepção que se fundamenta que a arte não está acabada, dada, explicada,

terminada porque deve constantemente ser ressignificada, contextualizada,

reinterpretada e deve continuar sendo feita. Se a aprendizagem é um processo, sim,

alcancei os objetivos. Desenvolvemos um processo e nos relacionamos com novos

conhecimentos, mesmo que nem todos os conceitos que foram abordados em aula

tenham sido plenamente consolidados. Todos tiveram a oportunidade de conhecer

diversas possibilidades e um caminho para o conhecimento onde a valorização está na

busca e na capacidade de questionamento, não na obtenção de uma resposta.

183

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http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction

=artistas_biografia&cd_verbete=877. Acesso em: 15 nov. 2011.

186

Apêndice 1

Avaliação da aluna estagiária pelo

professor titular

187

188

Apêndice 2

Questionário respondido pela

supervisora da escola

189

190

191

Apêndice 3

Questionário respondido pelo

professor titular

192

193

194

Apêndice 4

Questionário respondido pelos

alunos

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197

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Anexo 1

Gráfico dos questionários

respondido pelos alunos

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Você gosta das aulas de artes? Você já visitou algum museu ou exposição de arte?

Nas aulas de artes costumam trabalhar com imagens? Quais?

Marque abaixo as imagens que considerar como boas obras de arte e justifique por quê?

Você sente alguma emoção em frente a uma obra de arte?

202

Você prefere aulas teóricas, práticas ou mistas? Qual o significado de Arte para você?

Com qual linguagem artística você mais se identifica?

*Pesquisa feita com os 19 alunos que estavam presentes na última aula das observações silenciosas.

203

Anexo 2

Avaliação entregue aos alunos na

última aula

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205

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207

208

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Tabelas realizadas para construção

da conclusão

Anexo 3

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

1º Por já ser professora na escola onde a prática de ensino foi desenvolvida, me senti a vontade com os alunos e logo de início já falei claramente sobre o caráter reflexivo das aulas e sobre a importância da participação de todos nas propostas do projeto. A novidade para mim foi o fato de ali estar no papel de estagiária e com o professor titular junto observando as aulas. Acredito que um pequeno desconforto sempre é gerado quando se está sendo observada por um colega, mas não é nada que não se possa lidar com tranquilidade.

Os alunos, no geral, ficaram a vontade desde a primeira aula. Apenas poucos alunos não concluíram a atividade proposta, mas todos participaram. Um dos motivos que faz alguns alunos não concluírem alguma atividade pode ser a insegurança porque percebo que o receio de estar errado acompanha ainda muitos alunos. Considerando que os alunos que não preencheram toda a tabela da atividade podem estar demonstrando insegurança e receio de revelarem-se errado, posso ponderar se essa dificuldade não revela certa aversão ao erro. Ainda existem muitas práticas escolares ancoradas na proposição de que há uma resposta certa que deve ser encontrada pelo aluno, e por isso o erro acaba assumindo um papel negativo que, portanto deve ser evitado. Estes fatos acabam certamente contribuindo para que os alunos ainda carreguem uma dificuldade quando se trata de expressar opinião.

A proposta de sugerir para os alunos analisar as obras que selecionei é permeada por pelo menos três questões. Uma das questões que pretendi com a atividade foi demonstrar a importância de um envolvimento com as imagens no intuito de tecer uma opinião até mesmo antes de alguém dizer alguma coisa sobre ela. Pretendia que os alunos já pudessem perceber que não é preciso esperar alguém falar sobre uma imagem para começar a formular hipóteses a respeito desta imagem, além da intenção de tentar perceber qual o juízo de valor que acompanha os alunos diante de obras de arte tão diferentes entre si. A segunda questão que não se dissocia da primeira é a intenção de estimular certa independência, mesmo que pequena e inicial, para os alunos se encorajarem a tecer opiniões sem que alguma coisa fosse lhes dado pronto. A última questão a ser salientada é o motivo que me levou a selecionar as obras apresentadas nesta aula. Possibilitar que após esta proposta, eu pudesse desenvolver uma retórica a respeito de alguns momentos distintos da história da arte abordando uma sucinta linha do tempo foi uma das intenções para separar exemplares de obras de alguns momentos que contrastassem bastante entre si para chegar às reflexões acerca da arte contemporânea. Não tentei proporcionar o entendimento de evolução, mas elucidar certo desencadeamento e abordar a relevância da contextualização.

Os alunos tiveram uma boa postura no decorrer da aula e durante a atividade proposta. O momento que os alunos mais ficaram distraídos foi no início da aula, durante minha apresentação, posteriormente nas propostas que apresentei, alguns participaram parcialmente, mas todos participaram e fiquei contente porque já pude perceber a disponibilidade da turma para o diálogo que é essencial para imbuir de significativo sentido a prática docente.

Quando propus a atividade de avaliar as obras de arte, eu tinha diversas intenções implícitas que agora consigo melhor elucidá-las como descrevi na metodologia, mas não consegui deixar plenamente explícito aos alunos, o que não significa necessariamente um problema porque fazem parte de uma elaboração docente que respalda a intencionalidade de uma seleção de conteúdos. Esta atividade que pode ser considerada um tanto limitada, na verdade carrega por trás uma função de posteriormente instigar algumas provocações sobre o julgamento da arte. O fato de que a maioria dos alunos julgou as obras com palavras que foram além do bom ou ruim, que era o que eu tinha em mente, confesso, porque inicialmente a tabela que eu havia elaborado reduzia-se a classificar as obras entre péssimas, ruins, regulares, boas ou ótimas, e por sugestão da orientadora de estágio alterei para palavras-chave sem ter, portanto modificado as minhas intenções porque a tabela não era apenas uma ferramenta para desenvolver a capacidade de refletir a respeito das obras apresentadas, mas sim uma atividade a ser aproveitada como estratégia de retórica posterior. Em virtude de que a atividade era originalmente um tanto fechada e foi alterada para deixar os alunos escolherem uma palavra- chave acabou

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Estimular o entendimento de que a arte por ser fruto de um tempo e de um lugar poderia ser vista de diversas formas dependendo de diversos posicionamentos auxiliaria para chegar à ideia de que compará-las é um tanto inapropriado. Portanto a escolha das obras e da atividade inicial foi uma maneira que encontrei de problematizar essas questões e provocar uma percepção de que qualquer julgamento positivo ou negativo que atribuíssemos valeria como opinião pessoal, mas jamais seria suficiente para julgar uma obra como boa ou ruim. Sondar como os alunos se manifestariam diante de, por exemplo, uma obra com um realismo fotográfico como um exemplar do academicismo e outra com ares de rupestre como a de Siron Franco, além de apurar que tipo de estranhamento seria gerado e quais critérios usariam para qualificar uma obra melhor que a outra, foram questões que acompanharam a elaboração da atividade inicial.

proporcionando que eles pudessem “fugir” do tal juízo de valor que eu tinha em mente sem isso, no entanto ter interferido na sondagem e na problematização da contextualização posterior. Portanto os alunos acabaram dando respostas mais ricas e produtivas que deram margem para uma leitura de imagem mais ampla e subjetiva porque os alunos não revelaram apenas se consideravam boas ou ruins as obras expostas, mas revelaram associações que estavam fazendo ao olhar a imagem o que de forma alguma considero como algo ruim, mesmo que tenha divergido do que eu tinha em mente e mesmo que eu tendo demorado um pouco para perceber claramente que esta confusão, na verdade, não adveio dos alunos gerada pela falta de entendimento da proposta, mas sim pela ambiguidade do que eu tinha em mente e o que redigi como proposta.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS

2º Uma das coisas que considero como ponto negativo nas aulas de artes e que, de certa forma, passou a me acompanhar em todas as outras aulas foi o fator tempo, quer dizer, a falta dele. Durante a realização da primeira atividade planejada eu já havia percebido que o tempo não colaboraria para que pudéssemos realizar com todo o envolvimento pretendido todas as atividades previstas e, portanto atalhei algumas propostas que havia planejado. Terminei esta aula constatando a importância de salientar e deixar claro para os alunos, desde o início da aula o que se pretende naquele período. Percebo que expor os objetivos para os alunos proporciona transparência e credibilidade ao processo ensino/ aprendizagem, além de facilitar o empenho dos alunos em chegar aos objetivos propostos.

Os alunos envolveram-se na atividade de confeccionar as máscaras e percebo que acharam interessante a proposta. Acredito que o fato de eu ter solicitado aos alunos que fizessem as máscaras sem antes ter explicado a respeito de toda a proposta da aula corroborou para ocasionar uma postura descontraída da maioria dos alunos e contribuiu para gerar a falta de agilidade na conclusão das máscaras que, na verdade, não seria o principal foco desta aula. Percebi que os alunos realmente expressaram aquilo que gostavam e o que não gostavam na escrita das máscaras, mas deixaram a desejar na leitura das mesmas porque a minha pretensão era propor as leituras de uma forma mais performática o que na verdade não ocorreu.

No intuito de agilizar o processo de confecção das máscaras, propus que já fossem começando enquanto eu ia escrevendo no quadro as perguntas que indicariam que o trabalho partiria da manifestação de opiniões pessoais. Percebo que embora isto tenha ajudado a otimizar o tempo, também fez com que os alunos tivessem que começar algo sem saber ao certo o que exatamente era a proposta e talvez isto tenha ajudado a ocasionar uma postura um pouco mais distraída da turma diante desta proposta. Meu sentimento de insatisfação diante da maneira como ocorreu a performance faz com que eu repense a metodologia utilizada. O fato de que alguns alunos continuaram sentados concluindo suas máscaras pode ter deixado aqueles que estavam de pé mais tímidos para movimentarem-se pela sala. Por uma busca de unicidade deveria ter pensado em todos da turma realizando a performance juntos, mas em razão do tempo restrito acabei optando em propor a dinâmica enquanto alguns ainda faziam suas máscaras. Estas constatações fizeram com que eu tivesse noção do tempo que representa um período e percebesse que deveria reduzir os números de propostas de cada aula para não acabar priorizando a quantidade em vez da qualidade.

Os alunos realmente registraram o que gostavam e o que não gostavam e pude perceber que apesar de terem demorado mais tempo do que eu havia previsto em virtude de certa descontração na hora desta atividade, houve verdadeira entrega na proposta de buscar suas opiniões sobre seus gostos e desgostos. Esta mesma entrega não foi percebida na hora de movimentarem-se pela sala e acredito que um dos motivos para isso se deve ao tipo de metodologia utilizada para a dinâmica, além do restrito tempo que restava para que eu investisse em buscar a motivação dos alunos para uma performance mais elaborada. Quando chamei os alunos para mostrar as obras, fiquei satisfeita porque percebo que a maioria da turma tem no olhar certa curiosidade e olham para as imagens que apresento com interesse de quem não está acostumado a trabalhar em aula com reproduções de obras de arte. Considero recompensador poder proporcionar para os alunos momentos de ver e falar sobre arte. Confesso que o fato de um aluno ter passado o dedo em uma das reproduções quando foi comentado que a obra era feita com tecido me deixou contente, primeiro por julgar que isso demonstra interesse por parte do aluno e segundo porque pude abordar com naturalidade algo que não comentaria por considerar óbvio demais e que as vezes para alguns alunos não é. Mesmo tendo restado pouco tempo para esta última atividade, consegui proporcionar um breve momento de interação com as obras que apresentei e pude comentar sobre as diversas possibilidades de materiais de uma produção artística.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

3º Fiquei um pouco decepcionada por nenhum aluno ter levado material para usar nas produções, mas como eu já contava com essa possibilidade, as produções puderam ser desenvolvidas porque levei materiais diversos em caixas de papelão. Porém os trabalhos que poderiam atingir um nível mais peculiar se os alunos tivessem trazido coisas que representassem as suas máscaras, acabaram ficando em torno do uso das cores das tintas. Isso não me deixou insatisfeita com as produções dos alunos porque eles se envolveram na aula, mas admito que poderiam ser mais exclusivos e inusitados.

Acho que é unanimidade a preferência por aulas práticas. É difícil encontrar alguma turma com alunos que não gostem de “colocar a mão na massa”. Muitos professores acabam evitando as aulas práticas por medo da bagunça que essas práticas podem gerar e os alunos vão sendo privados de desenvolverem habilidades plásticas por causa de uma apática e acomodada preferência de deixar tudo como está. Estou citando isso genericamente, mas realmente não observava nesta turma aulas prática com materiais de pintura, etc.

Durante a produção dos trabalhos pude ir conversando sobre algumas questões como a escolha para o uso das cores, a impressão que estas cores poderiam causar, etc. Esta interação pode ter sido facilitada em virtude de haver um número reduzido de alunos nesta aula. Lembro-me de ter inclusive comentado com um aluno a respeito da ambiguidade de uma impressão causada por uma cor, por exemplo, que para alguém pode significar alguma coisa e outra coisa distinta para outra pessoa. Falei que as opiniões deles não precisavam coincidir e que, portanto o que era bom para um poderia ser ruim para outro, sendo assim isso poderia acontecer também na hora de apreciar os trabalhos expostos. Enquanto produziam os trabalhos havia conversas paralelas, sem que isso atrapalhasse porque eu não estava explicando algum conteúdo para todos da turma e sim interagindo com eles hora conversando com um, hora conversando com outro. Considero ser esta a questão que contribui para a maioria dos alunos gostar de aulas assim e justamente esta mesma questão colabora para tantos professores evitarem essas aulas, pois nelas o distanciamento torna-se impossível e faz que o professor tenha que lidar com uma movimentação e interação difícil de ser exatamente prevista.

Todos os alunos fizeram suas produções e foi positivo o envolvimento deles durante a atividade. Houve colaboração inclusive na hora de arrumar a bagunça e foi bastante tranquilo trabalhar com diversos materiais. Duas coisas poderiam inferir para um melhor resultado nesta aula: Os alunos terem levado os materiais que eu tinha solicitado para compor o trabalho e mais tempo disponível para a produção prática.

A minha principal reflexão desta aula foi referente à proposição de representar o que havia escrito na máscara. Algumas alunas terem escrito palavras me fez inicialmente dizer que elas deveriam buscar outros meios de representar o que haviam escrito sem usar a linguagem escrita. Ou seja, pretendia trabalhar com uma transição de linguagens e a capacidade de diversificar uma representação/ opinião. Porém, haveria falta de consonância com uma proposta inspirada na contemporaneidade se por acaso eu desconsiderasse o que estavam produzindo em prol daquilo que eu imaginava que elas devessem produzir. Ao reafirmar para os alunos que eles deveriam tentar pensar em outras maneiras para representar o que haviam escrito lembrei que em alguns trabalhos de artistas contemporâneos a palavra é utilizada. A palavra nestas obras as vezes assume a posição de elemento principal e instigador por também adquirir uma subjetividade relacionada as variadas possibilidades de interpretação do mesmo jeito que ocorre em outras relações com diferentes elementos visuais de uma obra, por exemplo. Foi respaldando-me neste pensamento que considerei os trabalhos que continham palavras e dando exemplos de alguns artistas que utilizam a palavra como Julio Plaza e Cildo Meireles, afirmei que era válido a utilização da mesma.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

4º Nesta aula assumi uma postura mais tranquila com relação à aceitação do curto tempo, aceitei que a atividade de produção de assemblage adquiriu novos contornos porque os alunos mantiveram-se mais focados no uso das tintas.

Considero bastante interessante que as aulas sejam sempre focadas na busca de uma interação. Sou completamente contra aulas inertes e procuro sempre incentivar que os alunos fujam da apatia. Assim incentivo essa movimentação como forma de buscar o envolvimento nesta relação única que é estar em uma sala de aula em torno de objetivos, conteúdos e atividades em comum buscando, acima de tudo, o crescimento pessoal individualmente e coletivamente. Somos seres sociais e a escola é lugar onde deve haver a busca de proporcionar espaços para promover e conduzir esta interação de forma produtiva e positiva. Coloquei os materiais em várias classes e os alunos movimentavam-se para buscar o que precisavam isso facilitou a relação e o envolvimento em aula. Precisei fazer uma solicitação extra para apenas um aluno que não estava produzindo porque todos os outros se envolveram de forma bem positiva na proposta da aula. Na hora das explicações sempre tem alguns que não se concentram nas explicações, mas na hora de começar o trabalho uns ajudam os outros reafirmando, portanto, a questão da importância das relações e interações em aula.

Ter novamente fixado as reproduções das obras selecionadas proporcionou uma reafirmação da aceitação de variados usos de materiais, mesmo que muitos alunos não tenham explorado essa possibilidade, considero que a arte envolve tantas alternativas que vislumbrá-las já é uma contribuição importante para o repertório visual dos educandos. Sobre a aula prática, reafirmo a consideração de que os alunos, em geral, gostam de aulas assim.

Os alunos não experimentaram muitas possibilidades de uso de materiais, mas empenharam-se na proposta de representar o que haviam escrito nas máscaras. Alguns trabalhos que os alunos fizeram o uso de palavras ficaram visualmente interessantes. E considero que aqueles alunos que utilizaram menos elementos na produção do trabalho, não se detendo em representar tudo que haviam escrito na máscara, souberam pensar melhor no espaço que tinham disponível e produziram trabalhos visualmente mais interessantes. Mas acho que o resultado mais positivo desta aula foi, realmente o momento destinado ao fazer. Uma relação entre uma proposta que deve ser considerada, colegas, materiais e possibilidades entre esses elementos.

Surgiu nesta aula uma questão que abordo novamente nas aulas posteriores ao documentário sobre Vera Chaves Barcellos. A busca em entender a obra e saber o que ela significa não deve superar uma relação com a arte afastada da esfera inteligível.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

5º Tinha em mente que esta aula seria uma aula tranquila, porque nas duas aulas anteriores as aulas foram essencialmente práticas e exigia uma maior mobilização de recursos, orientações individuais, movimentação, interação, etc. Porém nesta aula me deparei com dois principais imprevistos. Entre eles o que provavelmente contribuiu para que a turma ficasse mais dispersa foi o professor titular ter entrado na sala com os instrumentos musicais porque havia esquecido que eu daria aula. Outro imprevisto a se destacar foi certa falta de domínio do conteúdo de minha parte. Eu considerava que o conteúdo sobre o poder sugestivo da publicidade seria bem simples de abordar com os alunos, mas, no entanto, percebi dificuldade de conduzir que os alunos refletissem acerca disso.

Os alunos, devido ao fato dos instrumentos, obviamente ficaram interessados em tocar e isso pode ter dificultado que a aula e o entendimento dos conteúdos fluíssem de maneira mais tranquila. Tive, portanto mais dificuldade em motivá-los para que se envolvessem no assunto que pretendia desenvolver. Minha impressão é que nesta aula os alunos envolveram-se mais por obrigação do que por estarem interessados no assunto e talvez por isso custaram a chegar em uma conclusão a respeito da intenção da propaganda. Também não descarto a hipótese a respeito da possibilidade de uma dificuldade na análise das imagens publicitárias ser devido a elas estarem tão intrincadamente relacionadas às verdades do dia a dia da maioria das pessoas, advindo disso a dificuldade em isolar criticamente os elementos destas publicidades para fazer uma análise destas imagens.

Contemplei três momentos para que a aula não ficasse enfadonha: Uma leitura da obra de Nelson Leirner, uma breve explicação sobre o assunto e uma parte mais prática.

Embora eu possa considerar que a maioria dos trabalhos feitos atingiu o objetivo com os alunos tendo identificado ao menos uma mensagem positiva que teria o propósito de estimular a compra daquele produto anunciado na imagem daquela publicidade, fiquei um pouco insatisfeita com a aula porque os alunos estavam mais dispersos do que o de costume.

. Acredito ser importante desenvolver com os alunos a percepção que todas as imagens podem ser analisadas e que às vezes precisamos pensar em buscar o entendimento da intenção de uma imagem como forma de escapar da indução articulada pelos sugestivos mecanismos elaborados que tentam conduzir nossas vontades.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

6º Nesta aula tive menos participação porque obviamente durante o documentário, evitei fazer muitas interferências. Fiquei contente quando percebi que o documentário havia despertado interesse da maioria dos alunos porque me fez estar segura de que quando eu comentasse sobre a Fundação Vera Chave Barcellos os alunos ficariam curiosos.

Alguns alunos não interagiram da maneira que eu gostaria, e precisei pedir colaboração algumas vezes, mas a maioria se envolveu satisfatoriamente no que havia proposto para esta aula. Fico satisfeita quando os alunos comentam alguma coisa relacionada ao assunto que está sendo abordado em aula, portanto gostei dos comentários, como “que legal”, “não entendi” ou “ai o que é isso” mesmo que ingênuos, que fizeram durante o documentário e outras participações que fizeram durante as explicações a respeito da mediação em museus.

Utilizei o documentário para que as explicações e os comentários mais teóricos não se resumissem às minhas explanações em aula. E considero que também precisava falar brevemente sobre crítica de arte para abordar claramente a questão das diversas possibilidades de interpretação de uma obra.

Acredito que o grande resultado desta aula foi a curiosidade que pude perceber nos alunos após saberem a respeito da Fundação Vera Chaves Barcellos. O interesse que demonstraram durante o documentário também foi interessante. Nunca há unanimidade, é claro. Sempre têm aqueles alunos que se dispersam mais facilmente e que conversam sobre assuntos alheios à aula, mas na maioria das aulas, grande parte dos alunos geralmente participa. Isso acaba proporcionando uma relação que pode ser considerada mais produtiva com os conteúdos abordados.

Vejo que expor no documentário e destacar uma interpretação feita por um crítico que difere da intenção do artista possibilitou a ampliação da visão a respeito das obras de arte. Acredito que possibilitei que os alunos percebessem a amplitude a respeito das interpretações da arte para que eles não ficassem restritos em tentar acertar uma resposta para a pergunta: O que isso quer dizer?

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

7º Estava bastante empolgada no primeiro período porque percebi o grau de receptividade dos alunos naquele momento. Fiquei bastante a vontade em explicar o conteúdo conduzindo a explanação de forma aberta ao diálogo. Acredito que os exemplos que na hora foram surgindo encaixaram acertadamente no discurso e proporcionaram uma positiva participação dos alunos. Não havia planejado, por exemplo, pegar as reproduções das obras que tinha mostrado na primeira aula do projeto, mas acabei mostrando para elucidar um exemplo e isso proporcionou que alguns alunos já falassem de outras obras para fazer comparações e reflexões. Isso também proporcionou uma ideia de relação entre uma aula e outra e o sentido de uma continuidade entre as aulas.

Os alunos foram muito participativos, principalmente no primeiro período. Notei a turma bem interessada no que eu estava falando. Eles estavam atentos às minhas explicações e a explanação fluiu sem que eu tivesse que chamar atenção de alguns alunos como precisava fazer na maioria das aulas. Isso permitiu que muitos alunos também falassem e dessem suas opiniões. No segundo período, que era para a produção dos trabalhos em grupo, muitos alunos não focaram suficientemente na proposta e se distraíram conversando sobre outras coisas. Todos os grupos produziram, mas não se envolveram tanto nas produções como nas reflexões do período anterior.

Consegui explorar de forma satisfatória a metodologia expositiva dialogada porque expus o conteúdo, expliquei, dei exemplos e os alunos durante toda a abordagem do assunto participaram contribuindo com comentários pertinentes e reflexivos. Considero que a metodologia dos trabalhos em grupo foi interessante, mas deveria ter feito alguns ajustes tendo em vista uma qualidade nas produções.

Considero a obtenção de dois resultados bem nítidos nesta aula: O pleno sucesso da aula expositiva dialogada no primeiro período onde explicitamente percebi fluir nos alunos a motivação para uma prática interpretativa. E o resultado das produções em grupo, no segundo período, que não considerei satisfatórios porque visava produções elaboradas de forma mais consistentes, que remetessem às ideias do grupo. Todos os grupos produziram, mas a meu ver faltou uma criticidade que eu pretendia que eles explorassem. Eu gostaria que as temáticas que selecionei para os grupos instigassem proposições mais problematizadoras. Notei teor maior de criticidade no trabalho do grupo com a temática violência, mas a visualidade da colagem podia ter sido mais elaborada. Cheguei a conclusão que propor a colagem em uma folha menor ajudaria para que as colagens atingissem um resultado estético mais interessante e ter levado imagens de trabalhos feitos com colagem para que servisse de exemplo para as produção dos alunos também poderia ter sido bastante válido. Lembro-me de até ter me referido à reprodução da obra de Domenico Rotella que mostrei na aula sobre assemblage que parecia ser feita com revistas ou cartazes de cinema, mas confesso que não me detive muito em interferir nas produções.

Como já estava no final do nosso segundo período de aula, certamente precisaríamos de outra aula caso eu fosse me deter em buscar com os grupos produções visualmente mais elaboradas, então priorizando uma sequência didática do projeto, mais uma vez optei por aceitar o que foi desenvolvido naquela aula, mesmo sabendo que poderia ser mais bem explorado. A respeito disso, percebo que meu projeto em nenhum momento pretendia explorar um assunto e desenvolvê-lo ao máximo, proporcionando que os alunos se tornassem ao final das aulas grandes conhecedores de determinado conteúdo. Em cada aula abordava algum enfoque que de certa forma permeia a arte contemporânea. Abordando alguns conceitos, algumas linguagens e possibilidades tinha em vista despertar o interesse dos alunos pela arte, além de encorajar a reflexão e não a simples aceitação dos conceitos abordados. Com tudo isso pretendia que os alunos desenvolvessem autonomia e pudessem pensar acerca da arte contemporânea. Promovendo possibilidades, estimulava que os alunos saíssem de cada aula com ao menos uma certeza: é uma possibilidade. Isso me faz perceber que, vários conteúdos

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abordados nas aulas poderiam ser assuntos para serem explorados em várias outras aulas. Este fato, por um lado, muitas vezes me fez ficar insatisfeita porque via que determinados assuntos poderiam ser mais aprofundados, mas por outro lado tinha claro que esta não era a intenção do projeto. Não considero negativo desenvolver e focar em apenas um assunto, muito pelo contrário, acho mais produtivo deter-se na qualidade do que na quantidade. Mas pretendia ir além, proporcionar uma visão ampla e principalmente reflexiva. Não gostaria de reduzir o foco detendo-me em determinado conteúdo ou selecionando um recorte específico e sim pretendia ampliar a visão dos alunos para quem sabe encorajar e servir como base para os futuros contatos que estes alunos virão a ter com a arte.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

8º Na situação de visitar a exposição com a turma eu também acabei assumindo uma postura de expectadora. O mediador foi conduzindo a visitação e fazendo as explicações. Como eu não sabia exatamente como ele conduziria e não tinha o conhecimento de todo o conteúdo que ele iria abordar, não interferi com medo de atrapalhar a mediação.

O fato de sair da escola sempre deixa os alunos animados. Eles sempre gostam de passeios, mas, além disso, também percebi que os alunos estavam curiosos em conhecer a Fundação. Eles conversaram bastante no ônibus, mas durante a visitação da exposição, na maioria do tempo, manteram a concentração. Até gostaria que eles falassem mais sobre as obras apreciadas, mas a mediação não teve o direcionamento que incentivasse essa participação.

É uma aula que precisa de um tempo maior do que o tempo que se tem para o período de artes porque envolve deslocamento, mas definitivamente isso não deve ser encarado como um empecilho porque é uma excelente prática e deveria ser mais explorada em virtude de seu grande valor na formação de apreciadores e fruidores de arte. Foi uma legítima saída de campo porque proporcionou a ampliação de conteúdos que em aula estavam sendo abordados.

Oportunizar que os alunos conhecessem uma instituição localizada na própria cidade destinada à exposição de Arte Contemporânea foi um objetivo que incontestavelmente foi atingido. Proporcionar o contato direto e mediado com as obras na exposição possibilitou a extensão e ampliação dos assuntos que estávamos abordando em aula porque alguns conceitos que foram explicados pelo mediador tinham consonância com alguns conteúdos do projeto. A questão da participação do espectador com a obra, por exemplo, abordada nas explicações a respeito das holografias e dos “Poemóbiles” encontra similaridade com os manifestos do movimento neoconcreto que citei mais especificamente na aula seguinte e isso serviu de certo modo para uma ideia de continuidade e de relação.

Como eu não sabia a maneira que seria conduzida a mediação, eu apenas seguia com a turma, porém agora percebo que eu poderia, sem problema nenhum ter contribuído, principalmente instigando perguntas aos alunos que a meu ver foi uma das fragilidades da condução do mediador. Com medo de incomodar, talvez porque o mediador passou a impressão de possuir tanta segurança sobre aquilo que dizia que preferi não interferir, mas acho que além dos conhecimentos sobre o assunto os alunos poderiam ter explorado melhor a questão de interpretar as obras. Também há a possibilidade de que o mediador não tinha ideia que a arte contemporânea estava sendo abordada em aula com aquele grupo de alunos e neste caso, acreditava que os alunos não estariam à vontade para falar sobre essas questões. A respeito disso vejo que seria interessante se houvesse uma maior articulação da minha parte com a Fundação para possibilitar que eles pudessem ter conhecimento do trabalho que eu estava desenvolvendo com essa turma e de repente eu pudesse sugerir um enfoque na visitação complementasse ainda mais o projeto.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

9º Eu fiquei satisfeita de perceber os alunos já familiarizados com a metodologia de leitura de imagem e posso considerar que no momento em que eu ia fixando as imagens possivelmente alguns já buscavam analisá-las porque lançavam olhares atentos para cada uma delas. Consegui explicar três questões: A busca dos artistas neoconcretos por uma interação do público com a obra, a apropriação e a utilização de elementos populares na Pop Art. Abordagens distintas que busquei relacioná-las entre si e explica-las de forma a facilitar e resumir o conteúdo teórico norteador da atividade proposta.

Nesta aula eu percebi que a turma já demonstrava uma postura diferente diante das imagens que eu fixava no quadro. Acho que eles olhavam mais interessados, talvez mais atentos às imagens porque sabiam que a aula que seguiria partiria das imagens ali fixadas. Os alunos se interessaram bastante pelo trabalho prático e se envolveram na proposta. Muitos alunos se atrapalharam um pouco com algumas experiências nas placas de isopor, mas acredito que seja devido a afobação de fazer com pressa sem a calma necessária para primeiro entender como funciona a técnica.

Com dois períodos destinados a essa aula, novamente obtive dois momentos. O primeiro momento foi destinado às últimas explicações teóricas. Expliquei de forma simples e resumida porque minha pretensão não era que eles soubessem tudo a respeito dessas manifestações artísticas e sim que pudessem ter em mente que essas questões abordadas embasavam uma linha de pensamento e norteavam o trabalho que produziríamos depois. O segundo momento foi destinado à prática e percebi que todos os alunos gostaram e se envolveram fazendo as produções.

Fiquei satisfeita com o envolvimento dos alunos durante as explicações teóricas. Achei interessante observar que pela postura dos alunos, parece que os conteúdos abordados já não faziam parte de algo desconhecido. Aquela complexidade que nas primeiras aulas sempre parecia pairar por entre as atividades propostas, já não existia. Ao menos era o que parecia. Pode ser que essa impressão seja devido a minha própria confiança e segurança diante do conteúdo tratado ou também devido a minha familiaridade com o grupo de alunos, mas não posso desconsiderar o inverso.

Agora percebo que mesmo trabalhando com a possibilidade de apropriação de imagens já existentes, unindo o apelo pop com a intenção de envolver um espectador com os trabalhos produzidos, deveria ter salientado mais a questão da força de sugestão que as imagens possuem e como somos constantemente influenciados e atraídos por essas formas que, sim, têm a intenção de chamar nossa atenção. Dessa maneira eu estaria aproveitando para dar uma continuidade sobre o assunto que foi abordado na aula sobre publicidade e propaganda.

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TABELA REALIZADA PARA CONSTRUÇÃO DA CONCLUSÃO ENC. PROFESSOR ALUNOS METODOLOGIA RESULTADOS OUTROS

10º Por ser o último encontro e porque para essa aula não planejei abordar nenhum assunto polêmico ou atividade que exigiria mais tempo, estava tranquila, principalmente com relação ao tempo. Digo isso porque durante o projeto na maioria das aulas “brigava com o tempo” porque percebia que as atividades que planejava poderiam ter melhor resultado se tivéssemos um tempo maior. De maneira nenhuma acredito que deveria simplificar as abordagens que trabalhei durante o projeto porque como já afirmei anteriormente, tinha a intenção de proporcionar aos alunos o contato com diversas linguagens, conceitos e questões que estão presentes na arte contemporânea. Eu jamais conseguiria alcançar esse objetivo se reduzisse a diversidade de abordagens do projeto.

Os alunos estavam receptivos. Todos produziram seus desenhos tranquilamente e iam mostrando para os colegas que estavam sentados próximos. Considero interessante essa relação de troca entre eles. Em muitas aulas percebi e considerei positiva essa interação. Eles são um grupo e não estão em aulas individuais, particulares. É impossível e não é necessário querer que os alunos comportem-se como se estivessem sozinhos. Não estão. Acho que essa questão de trabalhar coletivamente em vez de ser evitada deveria ser mais explorada em todas as disciplinas. Esse trabalho que propus nesta aula, por exemplo, era um trabalho individual, mas não era um trabalho produzido individualmente porque há trocas, há a relação e a interferência alheia. As considerações que cada aluno faz a partir dessas intervenções de seus pares e na relação com o professor é a parte dinâmica e inusitada que fazem parte de um currículo oculto que está sempre presente em todas as aulas. Longe de ser um problema, acho que esse dinamismo é o que enriquece cada proposta e é o que torna cada momento único e inigualável.

Em praticamente todas as aulas havia reproduções de obras fixadas no quadro que serviam como ponto de partida para proposta da aula. Nesta aula partimos de um conceito de apropriação a partir da obra de Julio Plaza. Propus que os alunos explorassem a visualidade com desenhos em uma experimentação gráfica apropriando-se de formas conhecidas. Queria explorar uma questão que entre os jovens é bastante usual: as imagens populares, os desenhos, os símbolos que são incorporados na arte contemporânea a partir do movimento Pop Art.

Percebo que mesmo sendo a última aula poderia ter complementado a proposta explorando também a questão de querer dizer alguma coisa com a produção. Propor que os alunos produzissem os desenhos querendo comunicar alguma coisa, como no caso do trabalho da aluna Manuela em que ela representou sua preocupação com a matemática seria bastante consonante com o projeto. É engraçado o que acontece quando refletimos a nossa prática docente. Por mais que se pense e se planeje uma proposta, parece que sempre surgem questões que poderiam ser contempladas no planejamento e que poderiam complementar o trabalho desenvolvido. Não acho que isso seja negativo porque se a perfeição não existe. Estamos eternamente buscando aperfeiçoar aquilo que fazemos. Deste modo, é evidente que tudo que se faz pode ser feito melhor se tivermos a humildade de nos aceitarmos em uma posição de constante busca.

Com a intenção de ultrapassar as bordas do evidente, acredito que no desenvolvimento deste projeto um desconforto foi gerado. Para sanar este desconforto, sempre estimulei que os alunos se deparassem não com uma, mas com várias possibilidades de respostas. A minha prática se fundamenta na busca e considero que a sabedoria não está em responder certo a uma pergunta e sim na capacidade de estabelecer diversas possibilidades de respostas.

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Anexo 4

Linha do tempo que foi ampliada e

mostrada aos alunos

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(Fonte: http://www.ensinoarterede-eav.org.br/matApoio/linhaDoTempo/index.htm)