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MEMORIAL DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO ESCRITOR (1940 – 1960) Luanda/2014

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No dia 19 de Setembro de 2014 realizou-se uma apresentação do Memorial Drº. Agostinho Neto e Seu Percurso histórico como Poeta, Pai, Médico e Humanista, pelas Sras. Carolina Mabele e Hilda Lemos. Inicialmente a apresentação cingiu-se sobre a vida de António Agostinho Neto, desde o seu nascimento, adolescência, juventude, vida adulta, e como poeta, médico e politico. Dizer, que Dr. Agostinho Neto é de origem Kimbundo e Umbundo, nasceu no Icolo Bengo província do Bengo em 17 de Setembro de 1922. Os seus pais tiveram 9 filhos do qual um faleceu durante a sua infância. Agostinho Neto estudou no Liceu Salvador Correia e formou-se em Medicina em Coimbra. Durante o período que esteve a estudar Dr. Agostinho Neto foi preso, o que atrasou formação académica por treze anos. Amnistia Internacional escolheu Dr. Agostinho Neto como seu “primeiro prisioneiro de consciência” no momento da founndation deste famoso organização de direitos humanos. Outro aspecto espelhado durante o debate sobre Dr. Agostinho Neto é em relação o seu lado poético e como homem de cultura na senda de obras publicadas destacamos as seguintes: Renúncia Impossível, Sagrada Esperança e vários poemas: Confiança, Havemos de Voltar e Adeus a Hora da Largada.

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Page 1: Carolina Mabele e Hilda Lemos - Memorial Dr. Agostinho Neto e Seu Percurso historico como Poeta, Pai, Medico e Humanista, 19/09/2014:

 

 

 

 

 

MEMORIAL DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO       

DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO ESCRITOR (1940 – 1960)

     

Luanda/2014 

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INTRODUÇÃO

Agostinho Neto foi um homem de cultura. Fez os seus estudos primários e secundários em Angola, licenciou-se em

medicina em Portugal.

Antes da sua partida para Portugal em 1947, colaborou na publicação “Farolim” com textos sobre as duras

condições humanas dos angolanos. Em Portugal sempre esteve ligado a actividade política. Empenhou-se na vida

associativa da Casa dos Estudantes do Império (CEI). Nesta cidade com Lúcio Lara, Antero Abreu e Orlando de

Albuquerque, lançou os cadernos “Momento”. Filiou-se no Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, tendo

sido igualmente um dos fundadores com Mário de Andrade, Amílcar Cabral e Francisco José Tenreiro do Centro de

Estudos Africanos (CEA) que teve grande actividade entre 1951-1954. O objectivo do CEA, segundo Mário de

Andrade, era relacionar os sentimentos de se pertencer a um mundo de opressão e despertar a consciência nacional

através de uma análise dos fundamentos do continente.

Agostinho Neto e os seus companheiros de caminhada sentiram que, particularmente no contexto angolano, a

verdadeira missão da poesia deveria ser a identificação com as aspirações populares, reflectindo a condição social e

a humilhação do colonizado angolano, no espírito da palavra de ordem lançada em Luanda “Vamos Descobrir

Angola”, em finais dos anos 40. A poesia devia descer a rua, não se limitando à exteriorização de estados de alma;

poesia almejando fins políticos concretos de total negação face à ordem social injusta vigente, neste caso, contra o

sistema colonial e o fascismo português.

 

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Percurso Literário: época e geração

Agostinho Neto escreveu poemas entre 1945 e 1960. Que se saiba, não terá escrito poemas nesta

data.

Poeta da Geração Mensagem, Agostinho Neto emergiu como escritor na década de 50, durante o

período político-cultural angolano, conhecido como “Vamos Descobrir Angola”.  Ao longo de toda a

sua vida de homem público, a escrita revelou-se uma atividade fundamental. Participou, como

colaborador, em várias publicações periódicas de Angola, de Portugal e do Brasil. Seus textos foram

publicados em diversos jornais e revistas, como: Mensagem, Cultura, Itinerário e Notícias de

Bloqueio. As suas primeiras colaborações escritas datam do período compreendido entre 1942 e

1944 e foram publicadas no jornal O Estandarte. Além das obras mencionadas, encontram-se

também publicados alguns dos seus discursos e reflexões sobre a cultura angolana, tais como:

Introdução a um colóquio sobre a poesia angolana, de 1959; Sobre a União dos Escritores Angolanos,

de 1975; Sobre a Literatura, de 1977; Sobre a Cultura Nacional, Sobre as Artes Plásticas e Sobre a

Associação dos Escritores Afro-Asiáticos, de 1979; ... Ainda o Meu Sonho...e  Discursos sobre a

Cultura Nacional, de 1985.

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Agostinho Neto é considerado um dos grandes autores de expressão portuguesa no mundo. O

poeta é comparado muitas vezes a Léopold Sédar Senghor, senegalês de expressão francesa e

um dos fundadores da Négritude- movimento que, nos anos 30 do século passado, lutava em

favor da restituição dos valores e da dignidade negra. Agostinho Neto ultrapassou, sem dúvida,

o que se podia esperar de um homem de grande cultura. Utilizava a sua inteligência e

conhecimento para reagir contra a opressão, na denúncia da injusta situação colonial. Com

implacável vigor, o poeta também buscou construir um futuro de liberdade e igualdade para

todos. Foram-lhe atribuídos diversos prémios políticos e literários, dentre os quais: o Prémio

LOTUS, em 1970, e o Prémio Nacional de Literatura, em 1975. Sagrada Esperança, de

1974, é a sua obra mais publicada. Foi traduzida para diversas línguas e serve de base para

muitos estudos, sobretudo na área das Ciências Sociais e Humanas.

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SAGRADA ESPERANÇA

Os poemas de Sagrada esperança, escritos aproximadamente entre o ano de 1945 a 60, podem dividir-se

em três fases não cronologicamente estaques, correspondentes a temas, estilo e imagens diferenciados.

- De 1945 a 1948-50, a fase do Neo – realismo, caracterizada pelos textos geralmente mais curtos, a que

têm os bairros populares de Luanda, o mato e lavras circundantes por palco, com figuras de colonizados,

traçada com esquissos rápidos de personagens narrativas, prefigurando situações de alineação, exploração

ou tenção/repressão, em linguagem contida, descritiva, geralmente de serenidade e constatação.

Correspondendo principalmente ao Neo-realismo, agrupa os primeiros 16 poemas do livro, de «Adeus a hora

da largada» até «Contratados».

- De 1949 a 1955, a fase da negritude, do Negro genérico, negro de todo mundo, mas também africano e

angolano, sem demasiados pormenores regionais, em que aparecem algumas excepções («Não me peças

sorrisos», «Um aniversário», «Kinaxixi», «Mussunda amigo», etc.), uns ainda tocados pelo Neo – realismo,

outros mais intimamente líricos e outros ainda versando sobre temas como o massacre e a solidariedade

africana. Do texto «Confiança» até «O verde da palmeiras da minha mocidade», o livro de Neto engloba 21

poemas, curiosamente é nesta parte que aparecem os três poemas da negritude («As terras sentidas»,

«Criar» e «Fogo e Ritmo»).

- De 1950 a 1960, uma fase do combate, do apelo a liberdade nacional, formada por 14 poemas, escritos nas

prisões do regime fascista português (Caxias, Aljube de Lisboa, PIDE do Porto e de Luanda e Ponta Sol, em

Cabo Verde). Estes poemas referem-se genericamente à libertação nacional.

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Identificação dos grupos temáticos

A leitura dos livros de poesia, segundo Luís Kandjimbo, em especial o Sagrada Esperança e renúncia Impossível,

este último publicado a título póstumo, permite efetivamente detetar os vários sinais de descontinuidade que

dão origem ao discurso poético de ruptura.

Ao pretender traçar o perfil identitário do poeta, Luís Kandjimbo iniciou tal exercício pela identificação dos grupos

temáticos em que se organiza o livro:

a) Poemas libertários (revolucionárias): Adeus a hora da largada; Consciencialização; Assim clamava

esgotado; Noites de Cárcere; Aqui no Carcere; O içar da Bandeira; Depressa; Luta; Campos verdes; Havemos

de Voltar; Criar; Não me peças sorrisos;

b) Poemas radicalmente líricos poemas que comportam temas intimistas, subjectivos, sentimentais,

como o amor, a saudade: Um universitário; Mussunda amigo; Poema; Um bouquet de rosas para ti; Para

enfeitar os teus cabelos; Dois anos de distância; Desterro; Sombras; Desfile de sombras, etc.

c) Poemas da relação do homem angolano com a sua paisagem: Sinfonia; Caminho do Mato; Kinaxixi; O

verde das palmeiras da minha mocidade;

d) Poemas tematizando a miséria social colectiva: Desfile de sombras; Civilização ocidental; Noite; Para

além da poesia, etc.

e) Poemas Pan-africanistas: Velho Negro; Comboio Africano; Confiança; A reconquista, etc.

 

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Obra Poética: cronologia e publicações

1952 – Náusea. In: Revista Mensagem

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1957 – Quatro Poemas de Agostinho Neto.

1961 – Poemas. Lisboa: Casa dos Estudantes do Império.

1963 – Com os olhos secos.

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1963 – Con occhi asciutti.

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1974 – Sagrada Esperança

1982 – A Renúncia Impossível – negação. In: A renúncia impossível – poemas inéditos. (edição póstuma).

1998 – Agostinho Neto: Poesia. In: Colecção Kiamba (edição póstuma).

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CONCLUSÃO

As reflexões sobre o perfil e a trajectória de Neto revelam-nos traços de distinção do

seu caracter.

A poesia de Neto forma um processo contínuo de resistência nas suas variadas

manifestações. Ao interpretarmos a obra de Neto, estaremos a alcançar a dimensão

social, ideológica, cultural, filosófica e política do seu legado.

A poesia do Dr. Agostinho Neto traz o reconhecimento de que nunca se está só, de que

não se pode ignorar a presença do outro, mesmo que o outro reduza suas

possibilidades de ser.

Revela um grande humanismo, em que são evidentes o amor profundo pela vida e o

conhecimento do sofrer humano, que amiúde obriga o poeta a utilização de um

realismo feroz nos seus versos. A sua obra principal, Sagrada Esperança, é uma

amostra valiosa não só da poesia de combate e contestação (sem ser panfletária, no

entanto) mas também da poesia lírica e intimista, frequentemente modulada por uma

religiosidade profunda.

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BIBLIOGRAFIA

LARANJEIRA, Pires, Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa,

Universidade Aberta – 1995;

NETO, António Agostinho, Sagrada Esperança;

LARANJEIRA, Pires; ROCHA, Ana T. Noção de Ser – Textos

Escolhidos Sobre a Poesia de Agostinho Neto, Fundação António

Agostinho Neto e Colecção Novo Rumo, 2014.