carlosmateus_eticadeontologica

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  • 8/13/2019 carlosmateus_eticadeontologica

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    compilaes doutrinais

    VERBOJURIDICO

    A TICA DEONTOLGICAE AS VRIAS FORMAS DE EXERCCIO DA PROFISSO

    ___________

    Carlos Mateus

    ADVOGADO

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    Deontologia Forense

    A tica deontolgica e as vrias formas de exerccio da profisso

    A tica, a moral e a lei

    O valor subjacente funo de advogado na sociedade, em geral, e na administrao

    da Justia, em particular, o interesse pblico na prossecuo do Direito.

    A actividade de advocacia est sujeita a princpios ticos. tica (do grego ethos, que

    significa modo de ser, carcter, comportamento) o modo de viver no quotidiano e na

    sociedade.

    A tica diferencia-se da moral, pois esta fundamenta-se na obedincia a normas,

    tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierrquicos ou religiosos recebidos.

    A moral trata de aspectos de condutas especficas, varia com o decorrer dos tempos ede regio para regio, uma conduta cultural de regra e uma questo de ordem

    prtica social.

    A tica procura fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano. no

    plano dos princpios, permanente, universal, deve ser a regra e uma questo de

    ordem terica dos actos.

    A tica, que est relacionada com o sentimento de justia social, tambm no se

    confunde com a lei, pese embora esta ter como base princpios ticos.

    Ao contrrio do que se passa no plano normativo legal, ningum pode ser forado,

    pelo Estado ou por outros indivduos, a cumprir as normas ticas, nem sofrer qualquer

    sano pela desobedincia a estas; acresce que a lei pode ser omissa quanto a

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    questes abrangidas no desgnio da tica ou no ser eticamente correcta para muitos

    dos seus destinatrios.

    Se quero estar de bem comigo e com os outrosuma maneira de ser feliztenho depreviamente pensar quais sero as consequncias das escolhas dos meus actos, do

    meu modo de proceder e de estar em sociedade.

    O comportamento tico tem a ver com a propriedade do carcter, o modo de ser de

    um indivduo, aquele que considerado bom. Visa a realizao das pessoas, de fazer o

    que certo, na procura da perfeio do ser humano.

    O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar

    e responder seguinte pergunta: Como devo agir perante os outros?.

    Trata-se de uma pergunta fcil de ser formulada, mas difcil de ser respondida.

    Como deve ser o comportamento pblico e profissional do advogado?

    Antes de ser advogado, j o pretendente deve ser uma pessoa eticamente

    irrepreensvel, isto , honesta, observadora dos deveres de justia, da verdade e da

    moral, honrada, recta, leal, corts e sincera.

    Estes valores adquirem-se ao longo da formao da personalidade, num progresso

    gradual, complexo e nico de cada indivduo.

    Pode escamotear-se a falta de tica na inscrio e durante o estgio, mesmo na

    inscrio definitiva como advogado, mas ao longo da vida profissional acaba por vir ao

    de cima, mesmo que as provas permaneam camufladas acumulando teias de aranha,

    durante algum tempo.

    O advogado deve seguir o exemplo de Paulo Tarso, num esforo permanente de lutacontra o mal: No fao o bem que quero, mas o mal que no queroRomanos 7:19.

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    O Bem , desde Aristteles, o conceito central da tica.

    Para Kant, a nica coisa que merece a denominao de bom a boa vontade, definida

    como uma vontade pura, sem qualquer determinao ou influncia sensvel. umavontade desinteressada.

    Kant apresentou algumas frmulas, em termos de imperativo categrico (o dever de

    toda pessoa de agir conforme os princpios que ela quer que todos os seres humanos

    sigam, que ela quer que seja uma lei da natureza humana):

    - O prprio imperativo categrico: "Age apenas segundo uma mxima tal que possas

    ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal";

    - O imperativo universal: "Age de tal modo que trates a humanidade, tanto na tua

    pessoa como na do outro, sempre como um fim e nunca como um meio";

    - O imperativo prtico: O reino dos fins une os seres racionais, sob uma legislao

    comum. A pessoa tem um valor e uma dignidade sem preo.

    Os advogados tm o seu prprio cdigo de tica profissional, que um conjunto de

    normas de cumprimento obrigatrio, derivadas essencialmente da tica, denominado

    deontologia profissional, que por ter expresso normativa leva a que o seu

    incumprimento faa incorrer o infractor em sanes disciplinares.

    Por deontologia profissional (do grego: don, dontos" que significa dever e "lgos"

    que se traduz por discurso ou tratado), entende-se o conjunto de deveres, princpios e

    normas que regulamentam o comportamento pblico e profissional do advogado.

    A deontologia profissional tratada no Estatuto da Ordem dos Advogados (Ttulo III,

    arts. 83. a 108.), nos Regulamentos aprovados pela Ordem, noutras ordenaes de

    leis e disposies legais avulsas. A ttulo de exemplo, art. 9. do Regulamento Nacional

    de Estgio, os art. 154. (conduta nos actos processuais), 266. (princpio de

    cooperao), 266.-A (dever de boa f processual) e 266.-B (dever de recproca

    correco) do Cdigo de Processo Civil, o art. 326. (conduta dos advogados edefensores) do Cdigo de Processo Penal, o art. 43., n. 2 da Lei 34/04, de 29 de Julho

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    (acesso ao Direito e aos Tribunais), os arts. 5., n. 5, 60., 61. e 62. do Decreto-Lei

    n. 229/2004, de 10 de Dezembro (sociedade de advogados), Lei n. 49/2004, de 24 de

    Agosto (actos prprios de advogados e solicitadores), Lei n. 25/2008, de 5 de Junho

    (Combate ao branqueamento de capitais) e o Cdigo de Deontologia dos AdvogadosEuropeus.

    Conforme dispe o n. 1 do art. 83. do EOA, o advogado deve ter um comportamento

    pblico e profissional adequado dignidade e responsabilidade da funo que exerce,

    cumprindo pontual e escrupulosamente os deveres consignados no presente Estatuto

    e todos aqueles que a lei, os usos, costumes e tradies profissionais lhe impem.

    Os usos, costumes e tradies profissionais do advogado para serem atendidos,

    maxime, para a sua violao ser considerada infraco disciplinar (art. 110. do EOA),

    no devem ser contrrios aos princpios da boa f, e s so aceitveis quando a lei o

    determinar e a Ordem dos Advogados os reconhecer como tal (art. 3. do Cdigo Civil).

    A ttulo de exemplo, o art. 110., n. 3 do EOA e o art. 1158., n. 2 do Cdigo Civil

    atendem aos usos profissionais para a fixao da retribuio devida ao advogado.

    Os actos da vida privada do advogado s podem provocar a reaco do poder

    disciplinar da Ordem dos Advogados quando forem escandalosos, impliquem a

    desconsiderao pblica, enodoem o carcter de quem as pratique e sejam

    susceptveis de lesar o bom nome da Ordem Acrdo do Conselho Superior de

    15.11.1962, publicado na R.O.A 23, pgina 182.

    A honestidade, probidade, rectido, lealdade, cortesia e sinceridade so obrigaes

    profissionais art. 83., n. 2 do EOA e Ponto 2.2 do Cdigo de Deontologia dos

    Advogados Europeus.

    O advogado e o advogado estagirio esto, portanto, sujeitos a um conjunto de

    deveres, e, no seu pressuposto, devem exercer a sua actividade de forma urbana e

    independente, de modo a manter a confiana do cliente e a salvaguardar o segredoprofissional.

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    A advocacia em prtica isolada

    A advocacia pode se exercida individualmente ou em grupo.

    H diferenas entre o exerccio da profisso nas sedes dos Conselhos Distritais, ou nos

    grandes centros urbanos, e na provncia.

    Felizmente que a Ordem dos Advogados tem apostado em levar a formao jurdica

    aos territrios mais interiores, atravs de iniciativas das suas delegaes, o que

    permite aos advogados manterem-se actualizados. H muitos profissionais da rea do

    Direito (docentes, magistrados, conservadores, notrios, advogados, tcnicos

    tributrios, administradores de insolvncia) dispostos a colaborar no conhecimento e

    cultura jurdicas dos advogados.

    Ser advogado em prtica isolada torna mais difcil a escolha das causas por

    preferncias e especializao. O advogado no pode menosprezar a clientela que o

    procura com os mais variados assuntos, por ser a sua fonte de rendimento.

    Fora dos grandes centros urbanos ou empresariais, o advogado em prtica isolada ,

    salvo raras excepes, um generalista, ainda que obtenha o mestrado e ps-

    graduaes, o que o obriga a um maior investimento no conhecimento, equipamentos

    e instalaes. Por outro lado, o advogado do interior no beneficia da maior parte dos

    protocolos que a Ordem dos Advogados celebra com outros prestadores de servios,

    principalmente no campo do lazer e da sade.

    O excesso de advogados concentrados em determinadas zonas, propicia o

    aparecimento da concorrncia desleal e a violao de alguns deveres deontolgicos

    considerados matriciais da profisso.

    O advogado em prtica isolada tem muitos encargos e as receitas dependem da

    clientela, que em termos per capita, calha pouco a cada advogado ou muito a uns equase nada a outros. Um dos seus suportes financeiros a colaborao no acesso ao

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    direito e aos tribunais (vulgo apoio judicirio), a defender arguidos e a patrocinar

    cidados mais carenciados economicamente, a troco de honorrios prefixados em

    portaria do Governo, cujo atraso no pagamento desequilibra o oramento do

    advogado.

    Para evitar ou diminuir os encargos com a profisso, alguns advogados em prtica

    isolada, com o domiclio profissional em casa prpria ou familiar, atendem os clientes

    pelo telemvel, nos cafs ou ao domiclio, sem se fazerem acompanhar das

    ordenaes legais e cdigos necessrios, logo hoje que h uma disenteria legislativa, o

    que aumenta a responsabilidade civil do advogado pelo incumprimento dos deveres de

    competncia e de zelo.1

    J comea a ser comum ver jovens advogados a agruparem-se para o exerccio da

    profisso, ainda que em prtica isolada de cada um, tendo em vista a repartio das

    despesas (das instalaes, funcionria, telefone, fax, internet, fotocopiadora) e

    entreajuda no campo do conhecimento e prtica jurdica.

    Importante para quem exerce a profisso em prtica isolada formao contnua, o

    domnio das novas tecnologias, a comunicao com os colegas, a troca de informaes,

    a participao em fruns na net e as parcerias.

    O advogado em prtica isolada pode limitar a sua responsabilidade civil para com o

    cliente.

    A regra que na prtica isolada da advocacia, a responsabilidade civil do Advogado

    pessoal e ilimitada. Porm, permite a lei circunscrever o quantumindemnizatrio a um

    determinado montante.

    O advogado com inscrio em vigor deve celebrar e manter um seguro de

    responsabilidade civil profissional tendo em conta a natureza e mbito dos riscos

    1Sobre o assunto, PAULO CORREIA, Da Responsabilidade civil dos Advogados pelo incumprimento dosdeveres de competncia e zelo, na Revista do Ministrio Pblico 119, Jul/Set 2009, pags. 149 e segts.

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    inerentes sua actividade, por um capital de montante no inferior ao que seja fixado

    pelo Conselho Geral e que tem como limite mnimo 250.000 euros, sem prejuzo do

    regime especialmente aplicvel s sociedades de advogadosart. 99. do EOA.

    Quando a responsabilidade civil profissional do advogado se fundar na mera culpa, o

    montante da indemnizao tem como limite mximo o correspondente ao fixado para

    o seguro referido no pargrafo anterior, se o advogado inscrever no seu papel

    timbrado a expresso responsabilidade limitada.2

    Junto do Conselho Geral da Ordem dos Advogados funciona o Instituto de Apoio a

    Jovens Advogados (IAJA), para os advogados que exeram a profisso, h dez ou

    menos anos, quer de forma liberal em regime de prtica individual, quer integrados

    em organizaes societrias, regulares ou irregulares, com particular ateno aos

    advogados que iniciem a vida profissional.

    Existe tambm a Associao dos Jovens Advogados Portugueses (ANJAP), que tem por

    finalidade contribuir para uma adequada integrao e afirmao profissional dos

    jovens advogados portugueses, inspirada na qualidade e prestgio da profisso de

    advogado, comprometendo-se a zelar pelos direitos e interesses dos seus associados,

    em estrita colaborao com a Ordem dos Advogados e com os demais parceiros

    pblicos e privados, da qual podem fazer parte os advogados com menos de 10 anos

    de profisso.

    Por seu turno, o Instituto dos Advogados em Prtica Individual (IAPI), criado no mbito

    da Ordem dos Advogados, como estrutura de apoio para questes relevantes para os

    advogados que exercem a profisso de forma liberal, visa incentivar a integrao dos

    advogados na Ordem, fazer propostas que conduzam criao de condies

    adequadas ao exerccio da profisso de forma prestigiada, auscultar de forma regular a

    situao deste grupo de advogados, provocar a reflexo e elaborar propostas de

    solues para os seus problemas.

    2Sobre o tema, pode ler-se o nosso estudoA limitao da responsabilidade civil dos advogados emprtica isolada, emwww.verbojuridico.com(doutrina/Direito e processo civil/Responsabilidade civil).

    http://www.verbojuridico.com/http://www.verbojuridico.com/http://www.verbojuridico.com/http://www.verbojuridico.com/
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    O advogado de Empresa

    Os advogados de empresa pblica ou privada so profissionais licenciados em Direito

    com a inscrio na Ordem dos Advogados que exercem a advocacia em regime desubordinao, em moldes diferentes da prtica isolada ou societria.

    Pode haver advogado e jurista de empresa. O EOA aplica-se apenas aos licenciados em

    Direito inscritos na Ordem dos Advogados, em regime de contrato de trabalho, de

    outsourcing e de avena.

    O regime de incompatibilidades e impedimentos, aplicvel a todos os advogados, tem

    uma maior ateno relativamente aos advogados de empresa, sujeitando-se ao

    disposto nos artigos 68. e 76. do EOA.

    Cabe exclusivamente Ordem dos Advogados a apreciao da conformidade com os

    princpios deontolgicos das clusulas de contrato celebrado com advogado, por via do

    qual o seu exerccio profissional se encontre sujeito a subordinao jurdica, sendo

    nulas as clusulas de contrato celebrado com advogado que violem aqueles princpios.

    Tambm so nulas quaisquer orientaes ou instrues da entidade empregadora que

    restrinjam a iseno e independncia do advogado ou que, de algum modo, violem os

    princpios deontolgicos da profisso.

    Todas as entidades pblicas tm o especial dever de prestar total colaborao aos

    rgos da Ordem dos Advogados, no exerccio das suas funes, e os particulares,

    sejam pessoas singulares ou colectivas, tm do dever de colaborar com os rgos da

    Ordem dos Advogados, no exerccio das suas atribuiesart. 8. do EOA.

    O Conselho Geral da Ordem dos Advogados pode solicitar s entidades pblicas

    empregadoras, que hajam intervindo em contratos com advogados, a entrega de cpia

    dos mesmos, a fim de aferir da legalidade do respectivo clausulado.

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    Quando a entidade empregadora seja pessoa de direito privado, qualquer dos

    contraentes tem a faculdade de solicitar ao Conselho Geral parecer sobre a validade

    das clusulas ou de actos praticados na execuo do contrato, o qual tem carcter

    vinculativo, pedido de parecer esse que passa a ser obrigatrio em caso de litgio entreas partes.

    Por outro lado, qualquer forma de provimento ou contrato, seja de natureza pblica

    ou privada, designadamente o contrato individual de trabalho, ao abrigo do qual o

    advogado venha a exercer a sua actividade, deve respeitar a plena autonomia tcnica e

    de forma isenta, independente e responsvel do advogado e todas as demais regras

    deontolgicas que constam do Estatuto da Ordem dos Advogados.

    As incompatibilidades ou os impedimentos so declarados e aplicados pelo Conselho

    Geral ou pelo conselho distrital que for o competente, o qual aprecia igualmente a

    validade das estipulaes, orientaes e instrues a que se refere o pargrafo

    anterior.

    O advogado de empresa pode acumular a prtica do exerccio da advocacia, isolada ou

    em sociedade, excepto se sofrer de incompatibilidades, impedimentos ou conflitos de

    interesses, previstos nos arts. 76., 77., 78. e 94. do EOA.

    Junto da Ordem dos Advogados funciona o Instituto dos Advogados de Empresa (IAE),

    vocacionada para uma colaborao especializada ao Bastonrio e ao Conselho Geral na

    representao, enquadramento, qualificao e tratamento especficos da advocacia

    exercida em regime de subordinao jurdica, pblica ou privada, seja ou no em

    regime de exclusividade.

    O jurista de empresa, pode praticar alguns dos actos prprios de advogados, previstos

    na Lei n. 49/2004, de 24 de Agosto (lei dos actos prprios dos advogados e

    solicitadores), no exclusivo interesse da entidade empregadora, que no considerada

    terceiros, na terminologia legal.

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    Jurista uma pessoa que conhece as leis e a cincia jurdica, podendo ser ou no

    licenciado em Direito.

    O jurista, como empregado, funcionrio ou agente de pessoas singulares ou colectivaspblicas e privadas, no exerccio da sua actividade subordinada e em exclusividade

    para a sua entidade empregadora, pode aconselhar, elaborar contratos, praticar actos

    preparatrios tendentes constituio, alterao ou extino de negcios jurdicos,

    designadamente os praticados junto das conservatrias e cartrios notariais,

    negociaes tendentes cobrana de crditos, exercer o mandato no mbito de

    reclamao ou impugnao de actos administrativos ou tributrios. S no pode

    efectuar cobrana de dvidas para a entidade empregadora se esse for o objecto ou

    actividade principal destaart. 1., n. 7 da Lei n. 49/204, de 24 de Agosto.

    Nos processos da competncia dos tribunais administrativos obrigatria a

    constituio de advogadoart. 11. do CPTA.

    O jurista, licenciado em direito no inscrito na Ordem dos Advogados, pode ainda

    exercer a representao jurdica nos tribunais administrativos. Sem prejuzo da

    representao do Estado pelo Ministrio Pblico nos processos que tenham por

    objecto relaes contratuais e de responsabilidade, as pessoas colectivas de direito

    pblico ou os ministrios podem ser representados em juzo por licenciado em Direito

    com funes de apoio jurdico, expressamente designado para o efeito, cuja actuao

    no mbito do processo fica vinculada observncia dos mesmos deveres

    deontolgicos, designadamente de sigilo, que obrigam o mandatrio da outra parte.

    A representao da Fazenda Pblica nos tribunais tributrios compete: na Seco de

    Contencioso Tributrio do Supremo Tribunal Administrativo, ao director-geral dos

    Impostos e ao director-geral das Alfndegas e dos Impostos Especiais sobre o

    Consumo, que podem ser representados pelos respectivos subdirectores-gerais ou por

    funcionrios superiores das respectivas direces-gerais licenciados em Direito; na

    Seco de Contencioso Tributrio dos tribunais centrais administrativos, aosubdirector-geral dos Impostos e ao subdirector-geral das Alfndegas e dos Impostos

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    Especiais sobre o Consumo, que podem ser representados por funcionrios superiores

    das respectivas direces-gerais licenciados em Direito; nos tribunais tributrios, aos

    directores de finanas e ao director da alfndega da respectiva rea de jurisdio, que

    podem ser representados por funcionrios licenciados em Direito das Direces-Geraisdos Impostos e das Alfndegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo arts. 53.

    e 54. do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (ETAF). Quando estejam em

    causa receitas fiscais lanadas e liquidadas pelas autarquias locais, a Fazenda Pblica

    representada por licenciado em Direito ou por advogado designado para o efeito pela

    respectiva autarquia.

    No existe ainda um regulamento de advogado da empresa, mas j necessrio,

    devido s especificidades de quem trabalha por conta de outrem.

    O EOA cuida do exerccio da advocacia em regime de subordinao nos arts. 68. e

    76., ns 3 a 5, em especial.

    Por sua vez, o art. 116. do Cdigo do Trabalho preceitua que a sujeio autoridade e

    direco do empregador no prejudica a autonomia tcnica do trabalhador inerente

    actividade prestada, nos termos das regras legais ou deontolgicas aplicveis.

    Na medida em que h advogados a prestar o seu servio internamente a uma ou mais

    empresas, distintas ou pertencentes ao mesmo grupo econmico, e que podem no

    exercer a advocacia externa ou, pelo menos, no o fazerem de forma exclusiva, h

    necessidade de regulamentar mais pormenorizadamente a relao jurdica do

    advogado de empresa, quer seja em regime de subordinao jurdica, outsourcing ou

    avena.

    A imposio de selos, arrolamentos, apreenso de documentos e busca em escritrios

    de advogados gozam de especial tutela nos arts. 70. e 71. do EOA. No entanto, o

    EOA no responde a questes que se podem levantar relativamente ao regime da

    actividade de advogado em regime de subordinao, tais como:- Qual a definio de escritrio do advogado dentro da empresa?

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    - E se o advogado tiver a seu cargo vrias empresas, distintas ou dentro do mesmo

    grupo econmico, qual a definio de escritrio?

    - E se o advogado, nas mesmas circunstncias do pargrafo anterior, trabalha a partir

    de casa, do hotel ou de uma outros lugares alternativos?- H alguma justificao para tratar igual ou diferentemente o advogado que actua

    dentro do departamento jurdico, daqueloutro que actua na rea de negcios e da

    gesto econmica e financeira?

    - O computador, telefones, documentos, instrues, informaes escritas,

    correspondncia, e-mails, arquivo e comunicaes na(s) empresa(s) onde o advogado

    trabalha, mormente se no tiver instalaes e/ou um departamento jurdico fixo, so

    protegidos pelo segredo profissional e da devassa pelas autoridades policiais e

    judicirias?

    - Como tratar e proteger os dados dos e-mails e documentos electrnicos que ficam

    espalhados no(s) computador(es) e servidor(es) da(s) empresa(s)?

    Questes diversas que o EOA, pensado para o exerccio da actividade de advogado de

    forma exclusiva em instalaes fixas e determinadas, no responde de forma cabal, o

    que cria dvidas e insegurana jurdicas.

    A sociedade de advogados

    A associao de advogados pode acontecer de facto (irregular) ou segundo o regime

    jurdico das sociedades de advogados, aprovado pelo DL 229/204, 10 de Dezembro

    (RJSA).

    As sociedades de advogados so sociedades civis em que dois ou mais advogados

    acordam no exerccio em comum da profisso de advogado, a fim de repartirem entre

    si os respectivos lucros.

    O exerccio da prtica da advocacia no regime societrio est disciplinado no art. 203.

    do EOA e no regime jurdico das sociedades de advogados.

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    O contrato de sociedade deve constar de documento particular, salvo quando haja

    entrada de bens imveis, caso em que deve constar de escritura pblica ou documento

    particular autenticado.

    Pese embora o Decreto-Lei n. 33/2011, de 7 de Maro, ter liberalizado o montante do

    capital social das sociedades comerciais por quotas, pelo que, nos termos do art. 201.

    do CSC, passou o montante do capital social a ser livremente fixado no contrato de

    sociedade, isso no se aplica s sociedades de advogados, dado que o Decreto-Lei n.

    229/2004, de 10 de Dezembro, uma lei especial para os advogados e a lei geral no

    revoga a lei especial, excepto se outra for a inteno inequvoca do legislador (art. 7.,

    n. 3 do Cdigo Civil), para mais que as sociedades de advogados so civis e no

    comerciais.

    O capital social mnimo das sociedades de advogados de (euro) 5000, a subscrever e

    a realizar integralmente em dinheiro. Todos os scios integram obrigatoriamente a

    sociedade com participaes de indstria (trabalho) e todos, alguns ou algum deles,

    segundo o que for convencionado, tambm com participaes de capital.

    As sociedades de advogados devem optar, no momento da constituio, pelo regime

    de responsabilidade ilimitada ou limitada por dvidas sociais, nas quais se inclui as

    geradas por actos praticados ou por omisses imputadas a scios, associados e

    advogados estagirios, no exerccio da profisso.

    A prtica societria pressupe a dedicao exclusiva do advogado sociedade. Os

    advogados s podem fazer parte de uma sociedade de advogados e devem consagrar a

    esta toda a sua actividade profissional de advogados. No entanto, qualquer dos scios

    pode exercer actividade profissional de advogado fora da sociedade, desde que

    autorizado no contrato da sociedade ou em acordo escrito de todos os scios.

    De acordo com um estudo da Associao das Sociedades de Advogados Portuguesas

    (ASAP), das 111 firmas participantes, 63% esto sedeadas na capital, tendo 84% atcinco scios.

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    A sociedade de advogados permite distribuir os scios por ordem de preferncias dos

    ramos e reas do Direito e promove a especializao em determinadas matrias. Por

    outro lado, a admisso de advogados como associados exigente, por apostarem na

    mais-valia do conhecimento de lnguas e cultura jurdica comparada, mormentecurrculo e experincia em determinadas reas, mestrados e ps-graduaes.

    A nvel fiscal, as sociedades de advogados esto sujeitas transparncia fiscal,

    imputando-se a matria colectvel por elas gerada na esfera dos respectivos scios ou

    membros, sejam eles pessoas singulares ou colectivas.

    Este regime contempla tambm os agrupamentos complementares de empresas (ACE)

    e os agrupamentos europeus de interesse econmico (AEIE), com sede ou direco

    efectiva em territrio portugus e que se constituam e funcionem nos termos legais.

    O Instituto das Sociedades de Advogados (ISA) da Ordem dos Advogados tem por

    objecto a prestao de uma colaborao especializada ao Bastonrio e ao Conselho

    Geral relativamente a todas as matrias especficas das Sociedades de Advogados.

    Existe desde 2002 a Associao das Sociedades de Advogados de Portugal (ASAP),

    criada para defender os interesses das sociedades de advogados portuguesas, da qual

    podem fazer parte as sociedades de advogados registadas na Ordem dos Advogados.

    Advogados de Empresa.

    Os advogados da Unio Europeia que, no respectivo Estado, sejam membros de uma

    sociedade de advogados podem exercer a sua actividade em Portugal com o seu ttulo

    profissional de origem no mbito de uma sucursal ou agncia dessa sociedade, desde

    que tenham dado prvio conhecimento desse facto Ordem dos Advogados e a

    respectiva sociedade se encontre ali registada, em conformidade com o legalmente

    estabelecidoart. 202. do EOA.

  • 8/13/2019 carlosmateus_eticadeontologica

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    O defensor pblico

    A Constituio da Repblica Portuguesa prescreve o acesso ao direito e tutela

    jurisdicional efectiva no art. 20., ns 1 e 2.

    O sistema de acesso ao direito e aos tribunais, vulgo Apoio Judicirio, destina-se a

    assegurar que a ningum seja dificultado ou impedido, em razo da sua condio

    social ou cultural, ou por insuficincia de meios econmicos, o conhecimento, o

    exerccio ou a defesa dos seus direitosLei 34/2004, de 29 de Julho, alterada pela Lei

    47/2007, de 28 de Agosto.

    Quem paga a consulta jurdica, o patrocnio e a defesa oficiosas a Segurana Social,

    mas quem indica o advogado a Ordem dos Advogados, podendo o consulente,

    patrocinado ou defendido pedir a sua substituio, justificadamente.

    O actual sistema de apoio judicirio tem gasto ao Estado muito dinheiro. A ttulo de

    exemplo, s no ano de 2010, o Estado gastou em apoio judicirio mais de 56 milhes

    de euros.

    Comeam a surgir defensores da substituio do apoio judicirio pela figura do

    defensor pblico.

    No fundo, o defensor pblico seria um licenciado em direito, com a misso de

    defender os direitos e interesses dos cidados que no tm possibilidade econmica

    de recorrer aos servios da advocacia privada.

    O defensor pblico seria um gnero de jurista de empresa, licenciado em direito,

    funcionrio do Ministrio da Justia, a quem o Estado asseguraria formao e uma

    retribuio condignas.

    A opo entre o defensor oficioso e o defensor pblico promete estar na ordem do dia.

  • 8/13/2019 carlosmateus_eticadeontologica

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    Do ponto de vista de alguns advogados, a extino do apoio judicirio, vai diminuir os

    direitos, liberdades e garantias dos cidados e violar o princpio constitucional da

    igualdade dos cidados no acesso ao Direito e aos Tribunais, para alm de

    corresponder a uma diminuio de receitas, ainda que pagas em pouca quantidade etarde.

    Para o Estado, a opo pelo defensor pblico pode significar uma poupana (viso

    economicista), embora seja ainda preciso fazer contas ao nmero de defensores

    pbicos necessrios, s instalaes, funcionrios de apoio e equipamentos condignos.

    Do ponto de vista dos cidados, a questo reside em saber se ficaro menos

    protegidos pelo defensor pblico e se a instituio desta figura ir aumentar a

    diferena entre os ricos, por um lado, que contratam os melhores advogados, e os

    pobres, por outro, que tm de se sujeitar ao que h (que at podem ser bom litigantes,

    com bons conhecimentos prticos e tericos do Direito), pese embora na roda do

    apoio judicirio no ser seguro que lhes seja nomeado um bom advogado, apesar de

    ter sempre a faculdade de pedir a sua substituio, fundadamente.

    O defensor pblico, ao exercer o patrocnio judicirio em representao das partes no

    poder guiar-se por um cdigo deontolgico diferente do dos advogados, mandatrios

    privados da contraparte.

    Pvoa de Varzim, 2011-07-12