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CARLOS ATUSHI NAKAMUTA
UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO
DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003
Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras
PUC/SP SÃO PAULO
2006
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CARLOS ATUSHI NAKAMUTA
UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO
DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003
PUC/SP SÃO PAULO
2006
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre
em Ciências Contábeis e Financeiras, sob
a Orientação do Prof. Dr. Roberto
Fernandes dos Santos.
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UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO
DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003
Data da aprovação: _____________________________
Banca Examinadora: Prof. Dr.: ___________________________________ Prof. Dr.: ___________________________________ Prof. Dr.: ___________________________________
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Agradecimentos A Deus.
Ao Professor Dr. Roberto Fernandes dos Santos, amigo e orientador, pelos
ensinamentos e pela dedicação e entusiasmo com que orientou esta dissertação
durante o meu desenvolvimento acadêmico.
À Professora Dra. Neusa Maria Bastos, pelos ensinamentos e incentivos durante o
curso.
Ao Professor Dr. José Roberto Securato e ao Professor Dr. Gideon Carvalho de
Benedicto pelas sugestões e críticas construtivas que, sem dúvida, engrandeceram
este trabalho.
Aos Professores Drs. Sérgio de Iudícibus, José Carlos Marion, Rubens Famá,
Napoleão Verardi Galegale, pela convivência e ensinamentos durante o curso.
Aos amigos, Alexandre Bess, André Oda, Aquiles Polleti, Claudia Yoshinaga, Eduardo
Shiroma, Patrícia Oda, José Cláudio Securato, Marco Antônio Fabbri, Masao Fujino,
Sergio Lucchesi, Wilson Carlos Oliveira e Toshio Nishioka. Obrigado pela convivência
acadêmica e profissional.
Aos meus pais, pelo carinho e zelo constantes e pelo exemplo de esforço e dedicação
sempre transmitidos.
À minha esposa, Iara, e a meus filhos, Fernando Henrique e Bárbara, pelo apoio,
carinho, motivação e, principalmente, pela compreensão nos momentos de ausência.
A eles dedico este trabalho.
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iv
Resumo
Esta dissertação tem por objetivo verificar a existência de defasagem no valor dos
ativos e, por conseguinte, do patrimônio líquido, em função do não reconhecimento dos
efeitos inflacionários nas demonstrações contábeis. Propõe, também, a verificação,
como conseqüência, nos resultados dos exercícios, na carga tributária e em alguns
indicadores que têm por base as contas influenciadas pela sistemática de correção
monetária de balanço. A metodologia adotada foi a mesma que vigorou até o exercício
de 1995, ou seja, a prevista na Lei 6.404/76 e no Decreto-Lei 1.598/77, com suas
alterações posteriores. Uma amostra de 182 empresas de capital aberto que
apresentaram demonstrações contábeis no período de 1996 a 2003, foi selecionada
para pesquisa. O índice adotado para correção monetária das contas de ativo e
patrimônio líquido foi o IGP-M, apurado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas.
Os resultados da pesquisa mostraram serem relevantes os efeitos de inflação não
reconhecidos ao valor dos ativos e, conseqüentemente, do patrimônio líquido. A
dimensão da defasagem do patrimônio líquido corrigido, do total das empresas da
amostra, representava, em 31 de dezembro de 2003, 16,40% do PIB do ano. Os efeitos
são, igualmente, relevantes para os outros itens analisados, como os resultados dos
exercícios, da carga tributária e nos indicadores que utilizam dados de contas de
balanço em que a sistemática de correção monetária era aplicada. Após a extinção da
sistemática de correção monetária de balanço determinada pela Lei 9.249/95, as
empresas adotaram a prática de distribuir juros sobre o capital próprio, como parte, ou
até mesmo representando a totalidade dos dividendos obrigatórios de cada exercício.
Essa opção foi introduzida pela mesma Lei que extinguiu a correção monetária de
balanço, como forma de amenizar um eventual aumento na carga tributária em
decorrência da extinção daquela sistemática. A redução na carga tributária ocorre pelo
registro do valor dos juros sobre o capital próprio como uma despesa dedutível,
diminuindo as bases para cálculo do imposto de renda e contribuição social do período,
sendo esse o seu único objetivo. Conclui-se que a sistemática de correção monetária
de balanço que vigorou até o exercício de 1995 era um importante mecanismo de
preservação do valor do patrimônio das empresas. Logo, a sua extinção trouxe
inquestionáveis prejuízos, principalmente quanto à queda da qualidade e da
capacidade informativa das demonstrações contábeis.
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Abstract
This dissertation intended to verify the existence of balance sheet imbalance, more
specifically in the assets and equity values once there is no recognition of the
inflationary effects in the financial statements since 1996. It was also analyzed the tax
burden and some financial rations that are obtained by using accounts which are
affected by monetary correction methodology. The adopted criteria was the same one
that invigorated until the 1995, defined by Law 6.404/76 and Decree 1.598/77. The
sample contemplates 182 companies that presented financial statements for all periods
from 1996 to 2003. The inflation index chosen to adjust the assets and equity values
was the IGP-M, published monthly by Fundação Getúlio Vargas. The research results
proved that non-recognized asset and equity values are relevant. The dimension of the
imbalance of the corrected equity of the total of the companies of the sample
represented in 31 of December of 2003 about 16.40% of the annual GDP. The effects
are also relevant for other analyzed items, such as the annual results, the tax burden
and financial ratios that makes uses of the balance sheet data in which the monetary
correction methodology has been applied. Since the extinction of Law 9.249/95,
companies adopted the practice to distribute interests on the owner’s equity as a part of
or even the totality of obligatory dividend. This alternative was created by the same law,
as a way to diminish a tax burden raise as a consequence of the extinction of monetary
correction. These expenses can be deductible to achieve the EBIT, and this is the only
purpose for their existence.The results show that balance sheet monetary correction
methodology used until 1995 was an important preservation mechanism of company
patrimony, since its extinction brought unquestionable losses, specially a quality
reduction and information capacity of the financial statements.
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Sumário
Agradecimentos ....................................................................................................................................................iii Resumo.................................................................................................................................................................. iv Abstract ................................................................................................................................................................... v Sumário.................................................................................................................................................................. vi Lista de Ilustrações ............................................................................................................................................viii Lista de Tabelas ................................................................................................................................................... ix Introdução ............................................................................................................................................................... 1 Considerações Iniciais .......................................................................................................................................... 1 Justificativa ............................................................................................................................................................. 4 Objetivo ................................................................................................................................................................... 6 Delimitação da Pesquisa ...................................................................................................................................... 6 Metodologia de Pesquisa ..................................................................................................................................... 7 Revisão de Literatura ............................................................................................................................................ 8 Estrutura da Obra ................................................................................................................................................ 13
1 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................................... 15 1.1 Inflação ................................................................................................................................................... 18 1.2 Indicadores de Inflação no Brasil........................................................................................................ 19
1.2.1 IGP-M ................................................................................................................................................. 19 1.2.2 IPA ...................................................................................................................................................... 20 1.2.3 IPC-M ................................................................................................................................................. 21 1.2.4 INCC ................................................................................................................................................... 22
1.3 Correção Monetária .............................................................................................................................. 23 1.3.1 Definição ............................................................................................................................................ 23 1.3.2 Histórico ............................................................................................................................................. 24
1.4 As diferenças entre os juros sobre o capital próprio e a correção monetária do balanço ......... 31 1.5 Sistemática de Correção Monetária de balanço............................................................................... 33
1.5.1 Correção Monetária de Balanços................................................................................................... 34 1.5.2 Correção Monetária Integral ........................................................................................................... 35
1.6 Impactos da Extinção da Correção Monetária.................................................................................. 36 2 METODOLOGIA DE PESQUISA................................................................................................................. 49
2.1 O Método da Pesquisa ......................................................................................................................... 50 2.2 Hipóteses Formuladas.......................................................................................................................... 51 2.3 População e Amostra ........................................................................................................................... 52 2.4 Coleta de Dados.................................................................................................................................... 54 2.5 Construção da tabela de UMC ............................................................................................................ 55
2.5.1 Escolha do Índice de Preços .......................................................................................................... 56 2.5.2 UMC média do período.................................................................................................................... 58 2.5.3 UMC ao final do período.................................................................................................................. 59
2.6 Correção Monetária do Ativo Permanente ........................................................................................ 59 2.6.1 Investimentos .................................................................................................................................... 60 2.6.2 Imobilizado ........................................................................................................................................ 63 2.6.3 Diferido ............................................................................................................................................... 65 2.6.4 Cálculo do valor da Correção Monetária no Ativo Permanente ................................................ 65
2.7 Correção Monetária do Patrimônio Líquido....................................................................................... 67 2.7.1 Cálculo do Valor da Correção Monetária no Patrimônio Líquido .............................................. 68
2.8 Apuração do Resultado de Correção Monetária .............................................................................. 69 2.8.1 Cálculo do valor do Resultado da Correção Monetária .............................................................. 71
2.9 Apuração do Valor do Efeito Líquido da Correção Monetária ........................................................ 71 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................................... 73
3.1 Defasagem do Ativo Permanente e Patrimônio líquido................................................................... 73 3.1.1 Taxa de crescimento dos lucros das empresas da Amostra ..................................................... 77 3.1.2 O índice de Imobilização das Empresas da Amostra ................................................................. 78 3.1.3 As taxas de depreciação e amortizações “teóricas” das empresas da amostra .................... 80
3.2 Alteração no Resultado do Exercício ................................................................................................. 81 3.2.1 Resultado de Correção Monetária do Balanço ............................................................................ 82 3.2.2 Despesa de Depreciação Adicional............................................................................................... 83
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3.2.3 Equivalência patrimonial complementar ....................................................................................... 85 3.3 Efeitos tributários das empresas da amostra.................................................................................... 87 3.4 Influências relevantes nos principais indicadores apurados a partir dos grupos de contas afetadas pela correção monetária de balanço ................................................................................................ 89
3.4.1 Estrutura de capital .......................................................................................................................... 90 3.4.2 Índice de Rentabilidade do Patrimônio líquido............................................................................. 92 3.4.3 Preço de Mercado sobre Valor de Livros (P/BV)......................................................................... 94
3.5 Síntese dos Principais Resultados ..................................................................................................... 95 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................ 105 5 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................ 109 6 ANEXOS ........................................................................................................................................................ 117
Anexo 1 – “Tela” do sistema Economática das empresas da amostra ..................................................... 118 Anexo 2 – Tabela de “UMC” mensal do período de 1995 a 2003. ............................................................ 121 Anexo 3 – Movimentação anual do ativo permanente (R$ e “UMC”) no período de 1996 a 2003. ...... 124 Anexo 4 – Movimentação anual do patrimônio líquido (R$ e “UMC”) no período de 1996 a 2003. ..... 125 Anexo 5 – Demonstrativo dos resultados dos exercícios encerrados de 1996 a 2003, com e sem os efeitos de correção monetária do balanço. ................................................................................................... 126 Anexo 6 – Demonstrativo da correção monetária do ativo permanente e patrimônio líquido no período de 1996 a 2003. ................................................................................................................................................. 127 Anexo 7: Demonstrativo do recálculo do Imposto de Renda e contribuição social do período de 1996 a 2003..................................................................................................................................................................... 128
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Lista de Ilustrações Figura 1 – Correção Monetária....................................................................................70 Gráfico 1 - Defasagem dos valores do Ativo Permanente e do Patrimônio Líquido
apurados de acordo com a sistemática de correção monetária da Lei 6.404/76 e Decreto-lei 1.598/77 em relação aos apurados consoante a legislação vigente, referente ao período de 1995 a 2003. ................................76
Gráfico 2 - Diferenças entre os resultados apurados consoante a legislação vigente e a que vigorou até o exercício de 1995 com resultado de correção monetária, relativo ao período de 1996 a 2003. ...............................................81
Gráfico 3 – Variação da participação do capital próprio por setor .............................103 Gráfico 4 - Efeito da correção monetária na rentabilidade de cada setor..................104
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ix
Lista de Tabelas Tabela 1 - Períodos de apuração do IGP-M................................................................20 Tabela 2 - Resumo das práticas adotadas pela Correção Monetária Integral .............36 Tabela 3 – 1º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................40 Tabela 4 – 1º Exemplo – Com correção monetária .....................................................41 Tabela 5 – 1º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................41 Tabela 6 – 1º Exemplo – Com correção monetária .....................................................41 Tabela 7 – 2º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................42 Tabela 8 – 2º Exemplo – Com correção monetária .....................................................42 Tabela 9 – 2º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................43 Tabela 10 – 2º Exemplo – Com correção monetária ...................................................43 Tabela 11 – 3º Exemplo – Conforme legislação vigente .............................................44 Tabela 12 – 3º Exemplo – Com correção monetária ...................................................44 Tabela 13 – 3º Exemplo – Conforme legislação vigente .............................................45 Tabela 14 – 3º Exemplo – Com correção monetária ...................................................45 Tabela 15 - 4º Exemplo – Conforme legislação vigente ..............................................46 Tabela 16 – 4º Exemplo – Com correção monetária ...................................................46 Tabela 17 – 4º Exemplo – Balanço pela legislação vigente e demonstrações do
resultado ...........................................................................................................47 Tabela 18 – 4º Exemplo – Balanços finais comparativos ............................................47 Tabela 19 - Distribuição da amostra por setor.............................................................54 Tabela 20 - Inflação apurada no período de 1996 a 2003...........................................57 Tabela 21 – Quadro-resumo da amostra do estudo (em R$ milhões) – Valores
nominais ...........................................................................................................74 Tabela 22 – Defasagens da correção monetária do Ativo Permanente e Patrimônio
Líquido por setor, relativo ao período de 1996 a 2003......................................74 Tabela 23 - Índice de crescimento acumulado do patrimônio líquido apurado
consoante práticas da legislação vigente, no período de 1996 a 2003.............77 Tabela 24 - Índice de Imobilização do patrimônio líquido médio por setor, relativo ao
período de 1996 a 2003....................................................................................79 Tabela 25 - Taxas de depreciação calculada por setor a partir das empresas
utilizadas na amostra, relativo ao período de 1996 a 2003...............................80 Tabela 26 - Efeito líquido dos ajustes relacionados com a sistemática da correção
monetária de balanço, relativo ao período de 1996 a 2003. .............................82 Tabela 27 - Resultado de correção monetária de balanço das contas do Ativo
permanente e patrimônio líquido, relativo ao período de 1996 a 2003. ............83 Tabela 28 - Depreciação Adicional das contas do ativo imobilizado e diferido,
relativo ao período de 1996 a 2003. .................................................................84
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x
Tabela 29 - Resultado da equivalência complementar, relativo ao período de 1996 a 2003...............................................................................................................86
Tabela 30 - Ajuste de imposto de renda e contribuição social sobre os efeitos de correção monetária refletidos ao resultado.......................................................88
Tabela 31 - Total das empresas que apresentaram complemento no valor de imposto de renda e contribuição social, caso fosse reconhecido aos resultados a correção monetária de balanços, relativos ao período de 1996 a 2003..................................................................................................................88
Tabela 32 - Total das empresas em que a carga tributária seria reduzida, caso fosse reconhecido aos resultados a correção monetária de balanço, relativo ao período de 1996 a 2003...............................................................................89
Tabela 33- Estrutura de capital próprio e de terceiros considerado o patrimônio líquido apurado consoante a legislação vigente e o corrigido...........................92
Tabela 34 - Índice de Rentabilidade do patrimônio líquido, sem correção monetária e com o reconhecimento dessa ao valor do patrimônio líquido. .......................93
Tabela 35 - Índice do Valor de Mercado sobre valor de livros, relativo à data base de 31 de dezembro de 2003. ............................................................................95
Tabela 36 - Índice de Imobilização e Defasagem por setor.........................................97 Tabela 37 - Maiores taxas de depreciação por setor...................................................98 Tabela 38 - Menores taxas de depreciação.................................................................98 Tabela 39 - Índice de crescimento de alguns setores .................................................99 Tabela 40 - Consolidação dos ajustes realizados no resultado, relativos ao período
de 1996 a 2003...............................................................................................101 Tabela 41 - Totais das empresas que teriam redução da carga tributária, caso fosse
reconhecida a correção monetária de balanço, no período de 1996 a 2003 ..102
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Introdução
Considerações Iniciais
A sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários no balanço das
empresas, introduzida pela Lei n° 6.404/76, para fins societários, e pelo Decreto-lei n°
1.598/77, para efeitos fiscais, foi aplicada até 31 de dezembro de 1995. Essa
sistemática se mostrou efetiva e, portanto, se manteve quase inalterada ao longo de
quase dezoito anos de utilização. A mensuração dos efeitos inflacionários era realizada
mediante correção das contas do ativo permanente, representadas pelos
investimentos, imobilizado e diferido, e pelas contas do patrimônio líquido, formadas
principalmente pelos valores do capital social, reservas de capital, de reavaliação, de
lucros e dos lucros acumulados.
No que se refere à sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários, a
sua regulamentação foi feita pelo Decreto-lei n° 1.598/77, cabendo às empresas a sua
implementação, consoante essas normas. Ao longo de sua vigência, muito se discutiu
sobre essa sistemática, tendo sido, muitas vezes, classificada como um dos fatores de
realimentação da inflação e reindexação de preços.
Dessa forma, uma primeira tentativa de acabar com a sistemática de
reconhecimento dos efeitos inflacionários nos balanços das empresas ocorreu no ano
de 1989, quando a Lei n° 7.730 (Plano Verão) revogou o artigo 185 da Lei n° 6.404/76,
que tratava da correção monetária. Contudo, a sistemática foi logo restabelecida, por
meio da Lei nº 7.799, editada naquele mesmo ano.
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Passado o período de altas taxas inflacionárias e dos frustrados planos
econômicos e tendo em vista a eficácia do Plano Real em controlar esses altos índices
de inflação, o Governo Federal, com a Lei n° 9.249 de dezembro de 1995, extinguiu as
normas que tratavam da sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários nos
balanços das empresas. Essa Lei passou a produzir efeitos a partir de 1° de janeiro de
1996, assim a sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários foi aplicada
pela última vez nos balanços encerrados até 31 de dezembro de 1995.
A sistemática de correção monetária de balanço, na forma introduzida pela Lei
6.404/76 e regida para efeitos fiscais pelo Decreto-lei 1.598/77, foi um importante
mecanismo de manutenção dos valores à nível de preços constantes (histórico
corrigido pelo nível de inflação), nas contas em que essa sistemática era aplicada,
basicamente as do ativo permanente e patrimônio líquido. O resultado da correção
monetária do ativo permanente e do patrimônio líquido era registrado ao resultado de
cada exercício e posteriormente transferido para a conta de Lucros/Prejuízos
Acumulados no patrimônio líquido. Por meio dessa sistemática, pode-se observar que a
contrapartida da correção monetária do ativo permanente era transferida para o
patrimônio líquido no momento do encerramento das contas de resultado do exercício.
Dessa forma, a efetiva manutenção do valor do patrimônio líquido ocorria por meio da
correção monetária das contas do ativo permanente.
Uma vez quebrada essa sistemática, por lei, os custos históricos das contas do
ativo permanente deixaram de ter essa restauração de valor, defasando-se à medida
que ocorre inflação, trazendo consigo a própria defasagem do patrimônio líquido. Como
a contrapartida da correção desses dois grupos era o resultado do período, este
também acaba por sofrer esses efeitos.
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É sabido que uma grande parte dos itens do ativo permanente, precisamente do
imobilizado e do diferido, é passível de depreciação e amortização, duas formas
recorrentes de realização desses ativos. É, igualmente, de conhecimento geral que as
empresas estão em continuidade, o que faz com que haja sempre novos investimentos,
decorrente de novos negócios e também para repor a parte depreciada, o que acaba
perpetuando a defasagem dos custos históricos do ativo permanente e, por
conseqüência, do valor do patrimônio líquido e resultado do período, sempre que
houver inflação.
Dos estudos realizados sobre a sistemática de correção monetária de balanço,
evoluí-se para um sistema tecnicamente mais adequado e com reconhecimento
unânime pelos diferentes tipos de usuários das demonstrações contábeis. Essas
demonstrações não produziam efeitos societários ou fiscais, e ficaram conhecidas
como Sistema de Correção Monetária Integral (CMI). O verdadeiro significado da
correção monetária de balanço, apurado consoante as leis societárias e fiscais, era,
então, apresentadas pela sua essência, ou seja, de forma distribuída nas várias
rubricas das contas de resultado de cada período. As demonstrações contábeis
elaboradas na versão CMI se encontravam em moeda de capacidade aquisitiva
constante da data-base em que eram elaboradas e a qualidade dessas informações
era algo inquestionável à época.
Iudícibus (2004, p.250), em capítulo que trata da contabilidade e das flutuações
de preços, assim se refere sobre o requisito desejado nos relatórios contábeis: “Os
agentes econômicos, os usuários externos e internos das informações contábeis que
se utilizam os relatórios contábeis em suas tomadas de decisões desejam uma
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relevância cada vez maior das informações contábeis, no sentido de que produzam
com a maior fidelidade possível à realidade empresarial”.
Nesse sentido, a contabilidade talvez não esteja desempenhando,
adequadamente, o seu papel, pois a ausência de correção monetária dos balanços nas
demonstrações contábeis, a partir do exercício de 1996, desempenha um papel
contrário a esse objetivo.
Justificativa
Decorridos aproximadamente dez anos da promulgação da Lei n° 9.249/95, que
aboliu a sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários nas demonstrações
contábeis das empresas, discutem-se, ainda, os efeitos produzidos pela sua essência.
O assunto é discutido pela relevância das distorções geradas nos valores dos ativos,
patrimônio líquido e resultados, quando imputados os efeitos da inflação não
reconhecidos em cada período desde sua extinção. Acrescentem-se a isso os
diferentes efeitos gerados na carga tributária das empresas, demonstrados em estudos
produzidos no período pós-extinção da sistemática de correção monetária de balanço.
Nesse período, foram produzidas obras que trataram desse assunto, seja no
âmbito da perda da qualidade das demonstrações contábeis ou do aumento da carga
tributária.
É de conhecimento dos principais usuários das informações contábeis (credores,
acionistas, investidores, entre outros) que elas perderam muito a sua qualidade com a
extinção da sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários nas
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demonstrações contábeis. Entretanto, sua dimensão nas demonstrações contábeis e
suas conseqüências nos vários indicadores não são plenamente conhecidas. Alguns
indicadores poderiam conter discrepâncias relevantes, como, por exemplo, o de
rentabilidade sobre o patrimônio líquido e de estrutura de capital, além da relação price
to book value.
Além disso, essa extinção da sistemática de reconhecimento dos efeitos
inflacionários provocou alterações na carga tributária das empresas que ainda não são
totalmente conhecidas. O efeito na carga tributária das empresas decorrente da
extinção da sistemática de correção monetária de balanço, mesmo não sendo objeto
desta pesquisa, também será tratado de maneira simplificada. Essa análise será
realizada a partir de uma nova apuração do lucro antes do Imposto de Renda (LAIR),
imputando a esse o resultado da correção monetária apurada em cada período e
conseqüente recálculo das despesas com imposto de renda e contribuição social. A
diferença apurada indicará os efeitos ocorridos na carga tributária das empresas.
O efeito provocado na carga tributária das empresas, em razão da extinção da
sistemática de correção monetária, tem sido objeto de vários estudos e está associado
a uma série de variáveis, principalmente pelo fato de o Governo ter reduzido a alíquota
base do imposto de renda de 25% para 15% e introduzido a figura dos juros sobre o
capital próprio, tornando os prejuízos fiscais sem prescrição, bem como ter restringido
sua utilização a 30% da base tributável de cada período. Dessa forma, entende-se que
a mensuração do real efeito gerado pela extinção da correção monetária dos balanços
na carga tributária das empresas não é factível para um número elevado de empresas
e não é totalmente conhecido, pois depende da análise de uma série de variáveis,
muitas vezes não disponíveis.
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Portanto, um modelo que permita mensurar esses efeitos a partir de eventos já
conhecidos e registrados pelas empresas, parece oportuno e relevante para os
diversos usuários dessas informações.
Objetivo
Esta pesquisa tem como objetivo dimensionar a defasagem nos balanços das
empresas gerada a partir da extinção da sistemática de correção monetária de balanço,
além de fazer uma análise geral dessa defasagem sobre empresas de diferentes
setores da economia brasileira.
Além dos objetivos centrais, espera-se que o trabalho possa contribuir
positivamente com as questões relacionadas ao tema, com a complementação do
corpo de pesquisas existentes, auxiliando os usuários das informações contábeis,
como, por exemplo, os gestores das empresas, acionistas, contadores, administradores
e demais interessados.
Delimitação da Pesquisa
A sistemática de correção monetária utilizada, nesta pesquisa, é a prevista na
Lei vigente 6.404/76 e regulamentada pelo Decreto-Lei 1.598/77. O grupo de contas
sobre as quais incide a regra de correção monetária, sofreu algumas alterações ao
longo do período em que esteve vigente e essas não estão sendo consideradas nesta
pesquisa. Outras abordagens, como a da correção monetária integral (CMI), não serão
objeto de estudo neste trabalho. Além disso, as causas da inflação brasileira, também,
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não serão discutidas, pois é de interesse deste trabalho verificar somente suas
conseqüências e efeitos nas demonstrações contábeis.
Delimitou-se, do mesmo modo, a pesquisa ao mercado brasileiro de companhias
abertas, que apresentem liquidez e sejam de interesse do mercado, esses são os
parâmetros adotados pelo banco de dados do Economática para a listagem de
empresas. Um outro requisito é ter balanços disponibilizados para todo o período do
estudo, ou seja, de 31 de dezembro de 1995 a 31 de dezembro de 2003.
Deve-se ressaltar, também, que a indisponibilidade de alguns dados pode ter
gerado alguma distorção que, devido ao grande número de empresas, não é de grande
relevância.
Metodologia de Pesquisa
O método empregado, nesta dissertação, foi o hipotético-dedutivo, em que se
parte da definição do problema, com uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto, e daí
para a construção de hipóteses, que deverão ser testadas empiricamente (LAKATOS;
MARCONI, 1983, p. 62).
O modelo proposto está fundamentado na sistemática de correção monetária do
balanço introduzida pela Lei n° 6.404/76 e regulamentada para finalidade fiscal pelo
Decreto-lei n° 1.598/77. A partir dos dados do exercício de 1995, foi dada continuidade
à correção monetária de acordo com a legislação mencionada, até o exercício de 2003.
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Para verificar a defasagem das contas do Ativo Permanente e do Patrimônio
Líquido, foi elaborada uma estrutura semelhante à que vigorava até dezembro de 1995.
Além disso, analisou-se o efeito líquido de impostos da correção monetária, calculando-
se o valor complementar dos tributos, quando pertinente.
Para isso, desenvolveu-se um modelo de mensuração da correção monetária de
balanço na forma prevista pela Lei 6.404/76 e pelo Decreto-lei 1.598/77, ou seja, a
correção do ativo permanente e patrimônio líquido, as exceções também previstas
nessas normas, tais como correção de estoque e alguns outros itens, que poderiam
afetar empresas de determinados setores econômicos, não foram contempladas nesse
modelo.
A relação completa de fórmulas e indicadores utilizados, assim como um
detalhamento da metodologia, podem ser encontrados no Capítulo 2 – Metodologia da
Pesquisa.
Revisão de Literatura
No período após a extinção da sistemática da correção monetária do balanço,
foram produzidos alguns trabalhos relacionados aos efeitos contábeis e fiscais gerados
nas empresas pela falta desse mecanismo. As obras se deram na forma de
dissertações de mestrado e em maior proporção como artigos. Nesse item, procuram-
se destacar algumas dessas obras que se relacionam ao tema. Assim, representam
mais um reforço para a discussão do papel da Contabilidade na divulgação de
informações corretas para a melhor tomada de decisões.
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9
Oliveira (1997) analisou o impacto nas demonstrações financeiras e na
tributação das empresas após a extinção da sistemática de correção monetária em
1996. Os casos analisados, neste trabalho, envolvem empresas com balanços
publicados de janeiro a março de 1997, com o objetivo de ilustrar as conseqüências da
extinção para as empresas brasileiras. Oliveira (1997) analisou, por meio de
simulações, os efeitos do fim da correção monetária e concluiu que (p. 119) “o
reconhecimento dos efeitos inflacionários [...] trata-se de procedimento técnico que,
comprovadamente, se mostra necessário ao ajustamento das informações visando o
atendimento aos princípios fundamentais da contabilidade”. Ainda segundo ele, o não
reconhecimento da correção monetária implica tributação incorreta, além de a
subavaliação do ativo imobilizado acarretar o reconhecimento de depreciações e
baixas por valores indevidos. Oliveira (1997), em seu trabalho, desenvolve um modelo
para simular os efeitos contábeis e fiscais ocasionados pela extinção da sistemática de
correção monetária. As premissas adotadas no modelo foram: a) projeção para um
horizonte de 5 anos; b) inflação de 10% ao ano; c) duas empresas: uma com saldo
devedor e outra com saldo credor de correção monetária; d) estrutura de capital de
70% e 30% de capital próprio e capital de terceiros, respectivamente e e) taxa de
depreciação média de 10% ao ano.
Para o primeiro caso, com correção monetária devedora, os resultados
apresentados foram: superavaliação do lucro líquido em um percentual médio de 70%
nos 5 anos, tendo o patrimônio líquido, ao final do quinto ano, apresentado uma
defasagem de aproximadamente 13% quando comparado com o resultado sem os
efeitos da correção monetária.
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No segundo caso, com saldo credor de correção monetária, o resultado, a partir
do segundo ano, também se mostrou superavaliado, como segue:
Percentual de superavaliação
2° ano 10,2% 3° ano 23,7% 4° ano 34,8% 5° ano 44,2%
O patrimônio, ao final do quinto ano, para a segunda empresa, mostrou-se
também sub-avaliado em aproximadamente 18%.
Porto (1998, cap. 4) realiza uma análise do efeito do não-reconhecimento dos
efeitos inflacionários. Em geral, segundo a autora, as principais conseqüências são: a)
distorção nos valores patrimoniais e taxa de retorno; b) superavaliação do lucro e c)
aumento da carga tributária. Foi analisado o caso prático de uma companhia,
considerando os dois possíveis resultados, com e sem correção monetária do balanço,
abrangendo os exercícios de 1995 a 1997. Constatou-se, no caso prático estudado,
que o lucro líquido ficou reduzido em 7,03% ante uma inflação acumulada de 35,56%
(IGPM-FGV) no período analisado. Seu propósito foi avaliar a importância e a
necessidade da utilização da correção monetária de balanços em economias em que a
inflação é considerada baixa, mostrando os impactos ocasionados pela sua ausência.
O estudo consistiu em analisar os efeitos verdadeiros causados pela inflação entre
1995 e 1997, período “pós-Real”, nas demonstrações contábeis para uma empresa
específica, a Mercedes Benz. Como em outros estudos, Porto (1998) concluiu que as
taxas de retorno sobre o patrimônio líquido estão defasadas por duas razões principais:
o valor do lucro apurado é incorreto e a base está distorcida, uma vez que o valor do
PL está defasado. Como conclusão do estudo, Porto (1998) observou que, no período
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11
de 1995 a 1997, houve em torno de 20% de defasagem nos grupos de ativo
permanente e patrimônio líquido. Outro resultado interessante de Porto (1998) foi a
constatação de que nas 497 maiores empresas do país, conforme a edição da revista
Exame Maiores e Melhores de 1997, a variação média entre os resultados de 1996
com e sem correção monetária foi de 10,7%.
Dominas (1998) analisa se os Princípios Fundamentais da Contabilidade
impedem a adoção do Custo Corrente Corrigido, se esses princípios são considerados
imutáveis e se existem impedimentos de ordem prática para a adoção do Custo
Corrente Corrigido. Para Dominas (1998, p. 108), “A não consideração da inflação
entre os períodos (...) leva a elaboração de relatórios contábeis incompletos. Os
balanços de datas diferentes não são comparáveis por não estarem atualizados para a
moeda de mesma data e a base de distribuição de resultados não fica bem definida”.
Iftoda (1999) realiza simulações de balanços patrimoniais e de demonstrações
dos resultados dos exercícios com o intuito de mostrar que a correção monetária é um
método eficaz para medir os efeitos da inflação e que existe influência da estrutura
patrimonial no resultado dessa conta. Para isso, elabora demonstrações contábeis com
e sem correção monetária, dividindo-as em dois grupos: metade delas é elaborada com
patrimônio líquido maior que o ativo permanente e a outra metade de maneira inversa.
As simulações sugerem que as demonstrações contábeis elaboradas sem correção
monetária obtêm resultados melhores, porém com aumento do valor a ser pago em
tributos. Nas demonstrações em que o patrimônio líquido era maior que o ativo
permanente, os resultados da conta de correção monetária apresentaram saldo
devedor e, portanto, com tributos menores.
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12
Feitosa (2002) conduziu um estudo cujo propósito era observar as diferenças
entre as demonstrações contábeis elaboradas em BR GAAP e US GAAP, com relação
ao reconhecimento da inflação. A discussão de que diferentes práticas contábeis levam
a diferentes apresentações de resultados é bastante antiga,e por diversas vezes
demonstrada. O objetivo foi o de evidenciar que os valores em dólares apresentam
distorções causadas em função da inflação. A amostra inicial foi composta pelas
empresas brasileiras que negociaram suas ações na Bolsa de Valores de Nova York no
período de 1996 a 1999. Algumas empresas foram excluídas em função de
privatizações, fusões, reestruturações. Dessa forma, a amostra final foi composta por:
Aracruz, CSN, Copel, Copene e Embratel. Os métodos de correção utilizados foram:
temporal, monetário/não-monetário, corrente/não-corrente e o da taxa corrente. A
conclusão do estudo de Feitosa (2002) foi de que “o efeito cumulativo da inflação pode
ser assustador e o abandono da correção monetária das demonstrações contábeis vem
tornando inócuos os números apresentados pela Contabilidade”.
Gabriel (2004) teve como objetivo comprovar que há distorções na análise de
indicadores de demonstrações contábeis não corrigidas pela correção monetária.
Dessa forma, todas as análises estariam equivocadas, reforçando, assim, a
importância de se reconhecerem os efeitos da inflação nas demonstrações, mesmo
quando as taxas de inflação não são consideradas precisamente “elevadas”. Uma das
constatações foi a de que a rentabilidade apresentada pelos Bancos, quando ajustada
pela inflação, é significativamente reduzida, assim como o índice de Basiléia. A
amostra do estudo compreendeu os 50 maiores Bancos Comerciais, considerando-se o
valor dos ativos, para o período de 1996 a 2002. As demonstrações contábeis foram
corrigidas por meio da metodologia de Correção Monetária de Balanços, utilizando o
IGP-DI como índice de preços. O teste do estudo envolveu a análise de diferença de
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13
médias entre os indicadores nominais e reais (deflacionados), cuja hipótese de
nulidade entre as médias foi rejeitada com 1% de significância. A conclusão do estudo
demonstra a importância do reconhecimento dos efeitos inflacionários na análise dos
índices financeiros dos Bancos, uma vez que seus valores nominais estão distorcidos.
Silva (2004) analisou o efeito da criação dos juros sobre o capital próprio (JSCP)
na política de dividendos das empresas de capital aberto no Brasil, como decorrência
da extinção da correção monetária de balanços em 1995. Neste estudo, procurou-se
comprovar a influência que a legislação tributária exerce sobre a política de dividendos
das empresas. Assim, desejou-se mensurar o benefício tributário não aproveitado pelas
empresas que não fizeram uso dos JSCP como forma de distribuir os lucros. Como
conclusão do estudo, Silva (2004) observou que os JSCP já fazem parte da política de
distribuição de lucros das empresas no Brasil, sendo este um valioso instrumento de
redução tributária para as empresas. Entretanto, ainda há empresas que nunca fizeram
uso desse instrumento, o que deveria ser justificado para seus acionistas, uma vez que
a não utilização não maximiza a sua receita.
Estrutura da Obra
A obra está dividida em quatro capítulos. O primeiro traz os fundamentos
teóricos que dão sustentação ao desenvolvimento do trabalho. Nessa parte, faz-se uma
revisão da literatura sobre o tema e apresentam-se os resultados dos testes empíricos
mais relevantes dessa área.
O segundo capítulo trata da metodologia de pesquisa, das hipóteses formuladas
e da justificativa da amostra utilizada. Apresenta, também, os instrumentos utilizados
na coleta, processamento e análise dos dados.
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No capítulo 3, tem-se a apresentação e discussão dos resultados obtidos no
trabalho.
O último capítulo traz as Considerações Finais e as recomendações para
estudos futuros.
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1 Referencial Teórico
Desde 1996 está extinta a sistemática de correção monetária de balanços. Com
o advento do Plano Real e seu relativo sucesso na redução dos níveis inflacionários, o
governo considerou desnecessária a utilização da correção monetária nas
demonstrações contábeis. Porém, passados quase dez anos de sua implantação e a
euforia inicial causada pelo Plano, tem-se discutido a necessidade da volta dessa
sistemática.
Quando foi extinta, segundo González (1999, p.2) a sistemática de correção
monetária adotada pela legislação brasileira, por meio da metodologia evoluída
representada pela correção monetária integral, havia atingido tal nível de excelência,
que chegou a ser reconhecida mundialmente por organizações de renome como a
ONU e o IASC - International Accounting Standards Committee, como sendo o modelo
mais avançado de correção monetária existente. Esse modelo foi fruto de um longo
período de evolução, tendo sofrido algumas modificações durante a sua aplicação.
Pode-se dizer que a sistemática de correção monetária teve o seu início com a
Lei n° 3.470/58. Porém, essa era de cunho opcional, facultando às empresas corrigir o
valor original dos bens do ativo imobilizado, ficando excluídos o diferido e os
investimentos. Sua obrigatoriedade veio por meio da Lei n° 4.357/64, que
regulamentou a correção do ativo imobilizado, cujo resultado deveria ser registrado no
passivo não-exigível e, posteriormente, incorporado ao capital. Criou, também, de
forma optativa, a reserva para manutenção do capital de giro próprio, que foi
posteriormente autorizada pelo Decreto-lei n° 401/68 e passou a ser efetivamente
utilizada.
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Um grande avanço veio a ser atingido com a Lei n° 6.404/76, que alterou de
forma substancial a sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários sobre os
dados do balanço, introduzindo novos conceitos, o que contribuiu para eliminar
distorções relevantes existentes na legislação anterior. Por exemplo, foi, a partir dessa
lei, que os itens do Patrimônio Líquido passaram a ser corrigidos e as contrapartidas
das contas de ajuste de correção monetária passaram a ser registradas no resultado
do exercício, sendo, conseqüentemente, passíveis de tributação. Além disso, a
correção passava a incidir sobre o Ativo Permanente como um todo, não só sobre o
Imobilizado como era feito anteriormente.
Posteriormente, por meio do Decreto-lei n° 1.598/77, os ajustes de correção
monetária propostos na Lei n° 6.404/76, foram normatizados e passaram a ser
obrigatórios para todas as sociedades que apurassem o imposto de renda pelo sistema
de lucro real.
Ao longo do tempo, verificou-se que a sistemática instituída pela Lei n° 6.404/76
já não era mais tão eficiente para os níveis inflacionários que vinham sendo atingidos.
Visando à atualização da sistemática de correção, a CVM instituiu, por meio da
Instrução Normativa (IN) n° 64/87, em caráter obrigatório para as companhias de
capital aberto, a sistemática de Correção Monetária Integral (CMI).
A sistemática de correção monetária de balanço foi, muitas vezes, considerada
como um dos fatores de realimentação e reindexação de preços.
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Assim, a Lei n° 7.730/89 (Plano Verão) revogou a correção monetária, porém,
logo ela seria re-introduzida por meio da Lei n° 7.738/89. O índice oficial utilizado como
referencial para a correção monetária, era o BTNF (Bônus do Tesouro Nacional Fiscal),
que em 1990 teve reconhecida a sua defasagem em relação a outros índices de preço
e foi determinada a sua extinção com a Lei n° 8.177/91. Para efeito corretivo, o
Governo aprovou a Lei n° 8.200/91 que estabelecia o reconhecimento dessa
defasagem ocorrida em 1990, entre o IPC e o BTNF, por meio de um registro de
correção monetária complementar de cunho obrigatório e que teria seus efeitos fiscais
reconhecidos a partir de 1993. Adotou, também, como referencial para a correção
monetária a variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Em 1992 a CVM, com a IN n° 191/92, introduziu o conceito de UMC (Unidade
Monetária Contábil), que passaria a ser a unidade de referência na elaboração das
demonstrações contábeis em moeda de capacidade aquisitiva constante.
E, finalmente, em 1995 o Governo aprovou a Lei n° 9.249/95, que proibiu a
correção monetária dos balanços a partir de 1° de Janeiro de 1996. A CVM,
acompanhando as mudanças impostas na Lei, editou a IN n° 248/96, exigindo a
apresentação das informações trimestrais e demonstrações contábeis nos moldes da
nova Lei e tornando facultativa a elaboração e divulgação das demonstrações
financeiras em moeda de poder aquisitivo constante.
Com a mudança do nível geral de preços, os sistemas de contabilização
utilizados, atualmente, geram informações que não são comparáveis ao longo do
tempo, entre outras distorções.
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1.1 Inflação
Segundo o dicionário Houaiss (2004), uma das definições da palavra inflação é:
“desequilíbrio que se caracteriza por uma alta substancial e continuada no nível geral
dos preços, concomitante com a queda do poder aquisitivo do dinheiro, e que é
causado pelo crescimento da circulação monetária em desproporção com o volume de
bens disponíveis”.
Para Rossetti (p.695), a inflação “corresponde a uma alta generalizada dos
preços dos bens e serviços, expressos pelo padrão monetário corrente. A alta, que
varia de intensidade de país para país e de época para época, implica desvalorização
da moeda em relação aos demais ativos”.
Feitosa (2002, p. 55) define inflação como “a alta contínua no nível de preços
dos diversos bens e serviços do país, que corrói o poder aquisitivo da moeda”.
Conforme Iudícibus e Marion (2001, p.110), as modalidades de inflação podem
ser definidas como:
• Inflação de custo: denominação dada ao processo inflacionário
desencadeado pela prática das grandes empresas de defender as
margens de lucro repassando para os preços as elevações de seus
custos unitários de produção. Tal modalidade de inflação pressupõe duas
coisas: (a) crescimento do custo de produção acima do ritmo da inflação e
dos ganhos de produtividade e (b) estruturas concentradas de mercado
em que os preços não são determinados pelo livre jogo de oferta e
demanda, mas fixados unilateralmente pelas empresas.
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• Inflação de demanda: consiste no processo de elevação do nível geral de
preços que decorre da existência de uma demanda que não pode ser
atendida pela disponibilidade interna de bens e serviços.
Martins e Assaf Neto (1986, p. 44) definem o processo inflacionário numa
economia como “o incremento generalizado dos preços dos vários bens e serviços
transacionados”. Deve-se ter em mente que a inflação não produz resultados sempre
compensáveis nos elementos de estrutura patrimonial, ou seja, eventuais perdas
inflacionárias são somente compensadas por ganhos de mesma natureza em situações
puramente casuais.
1.2 Indicadores de Inflação no Brasil
Uma empresa brasileira convive com diversos indicadores de inflação, que
procuram refletir a evolução periódica de preços de diferentes cestas de fatores e
produtos. O uso adequado desses parâmetros requer, no entanto, conhecimento
básico de seus critérios de cálculo e finalidades de uso, conforme pode ser visto nas
sub-seções seguintes.
1.2.1 IGP-M
O IGP-M é o Índice Geral de Preços do Mercado calculado, mensalmente, pela
Fundação Getúlio Vargas. Esse índice representa a média ponderada do índice de
preços por atacado (IPA), do índice de preços ao consumidor (IPC-M) e do índice
nacional de custos da construção (INCC), obedecendo às proporções de 60%, 30% e
10%, respectivamente.
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Para o cálculo final do IGP-M são realizadas três apurações entre o vigésimo
primeiro dia do mês anterior e o vigésimo dia do mês de referência. As duas primeiras
são consideradas como valores parciais (prévias) e a última apuração resulta no valor
definitivo do mês.
Tabela 1 - Períodos de apuração do IGP-M
Períodos de Coleta de Preços
Mês Anterior Mês de Referência
11 21 01 10 20 30
IGP – 10
IGP – M
IGP - DI Fonte: Fundação Getúlio Vargas (FGV)
A seguir, são apresentados os índices componentes do IGP-M.
1.2.2 IPA
Atualmente, o índice de preços por atacado é a média ponderada de preços de
uma cesta composta pelos 462 produtos mais importantes comercializados no país.
A ponderação é calculada com base ou no “valor adicionado” ou no valor de
transformação industrial, para que não haja efeitos indesejados causados por duplas
contagens. A estrutura de ponderações utilizada baseia-se nos dados fornecidos no
Censo Econômico de 1985 e também nas informações fornecidas por entidades
sindicais, associações regionais e pela Confederação Nacional da Indústria.
O IPA é calculado em três versões: IPA-10, IPA-M e IPA-DI. Essas têm em
comum a amostra de produtos, a estrutura básica de pesos e o sistema de cálculo. A
diferença entre eles está no período de pesquisa de preços. O IPA-DI utiliza o período
compreendido entre o primeiro e o último dia do mês de referência, o IPA-10 baseia-se
no período que vai do décimo primeiro dia do mês imediatamente anterior ao décimo
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dia do mês de referência e o IPA-M utiliza o período entre o vigésimo primeiro dia do
mês anterior e o vigésimo dia do mês de referência, sendo essa última, a versão
utilizada no cálculo do IGP-M.
1.2.3 IPC-M
O primeiro índice de custo de vida foi calculado em 1920 e referia-se a uma
família relativamente rica do Rio de Janeiro, o que não correspondia à média da
população da cidade, e, portanto, apresentava um viés de seleção da amostra.
Com o intuito de melhorar sua representatividade, foram realizadas várias
revisões na metodologia de cálculo desse índice, que foi apurado até 1989 na Cidade
do Rio de Janeiro.
Entre 1985 e 1986, foi realizada uma ampla pesquisa de orçamentos familiares
nos Municípios de São Paulo e Rio de Janeiro que priorizava famílias com renda
variando entre 01 e 33 salários mínimos, que representa a classe média brasileira, ou
seja, o grupo de maior participação na composição da renda nacional. Baseando-se
nas informações obtidas nessa pesquisa, a FGV e a ANDIMA, em 1989, criaram o
Índice de Preços ao Consumidor – Mercado (IPC-M).
A cesta básica do IPC-M é constituída por 432 produtos que são pesquisados
em 2500 estabelecimentos.
A coleta de preços é dividida em dois segmentos de pesquisa: primeiro,
levantam-se os preços dos produtos que representam os grupamentos alimentação no
domicílio, artigos de limpeza e higiene e setor de serviços. Esse levantamento é
repetido, ininterruptamente, a cada dez dias, nos mesmos estabelecimentos, conforme
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22
um calendário previamente determinado; na segunda etapa do processo, pesquisam-se
os demais grupos de bens e serviços que fazem parte da cesta básica.
1.2.4 INCC
O primeiro índice de custos da construção foi concebido com a finalidade de
acompanhar a evolução dos custos de construções habitacionais. Inicialmente, referia-
se aos padrões e gabaritos simples da década de 50 e, desde então, tem sido
adaptado aos novos produtos e especialidades da área da construção civil.
O INCC foi introduzido em 1985 e incluía, além do Rio de Janeiro, mais sete
Capitais do país. Atualmente, o índice engloba doze Capitais brasileiras, 723 itens
específicos e considera os seguintes padrões de construção habitacional:
H1: casa de um único pavimento, com uma sala, um quarto e demais
dependências, medindo em média 30 m2;
H4: edifício habitacional de quatro pavimentos, constituído por unidades
autônomas de sala, três quartos e dependências, com área total média de 2.520 m2;
H12: edifício habitacional de doze pavimentos, composto de apartamentos de
sala, três quartos e dependências, com área total média de 6.013 m2.
Os padrões habitacionais acima citados referem-se a construções de boa
qualidade mas sem luxo, pois o objetivo é calcular um índice que reflita os custos de
construção de um mercado compatível com a realidade econômica brasileira.
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23
1.3 Correção Monetária
1.3.1 Definição
A definição de correção monetária pode ser dada com a utilização do termo
indexação, haja vista ter o mesmo significado da primeira.
Segundo Fernandez e Hansen (1976), a indexação pode ser definida como o
instrumento pelo qual o valor em moeda corrente, proveniente de uma transação,
passa por um reajuste para evitar mudanças no seu valor real.
De acordo com Martins e Assaf (1986, p.45) a indexação pode ser considerada
como o processo de: “transformar determinados valores nominais em moeda
representativa de um mesmo poder aquisitivo posterior, isto é, a indexação supõe a
transformação de dados, disponíveis no início de um período, em valores compatíveis
com a capacidade de compra verificada numa data posterior”.
Segundo a Receita Federal, dentre os fatores que podem contribuir para que um
país venha a introduzir no seu ordenamento jurídico a correção monetária estão: a)
desvalorização acentuada da moeda; b) dificuldade para obtenção de empréstimos
públicos, especialmente os de longo prazo e c) a necessidade de alongamento de
prazo para pagamento de dívida mobiliária. Esses fatores estavam presentes no
cenário econômico vivenciado pelo país no ano de 1.964, quando foi editada a Lei No
4.357/64 que autorizou, entre outras medidas, o Poder Executivo federal a emitir
Obrigações do Tesouro Nacional com vencimento entre três e vinte anos e juros
mínimos de 6% ao ano, calculado sobre o valor nominal atualizado periodicamente, em
função das variações do poder aquisitivo da moeda nacional. Para que houvesse um
equilíbrio, principalmente para a União, haja vista que de um lado estava à dívida
mobiliária, revelou-se conveniente estender o uso da correção monetária, também,
para os tributos pagos depois de vencidos os prazos fixados em lei. Posteriormente, o
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uso da correção monetária ocorreu de forma generalizada entre os agentes
econômicos, sendo um mecanismo de proteção contra os efeitos da inflação. A
correção monetária, então, pode ser definida como a indexação de valores, por meio
de reajuste periódico e automático, de acordo com os índices oficiais de inflação.
A correção monetária procura eliminar dos balanços distorções como: a
desatualização da expressão monetária do custo histórico, a sub-avaliação dos ativos
não-monetários e a sub-avaliação do capital aplicado e do capital próprio, por meio do
ajuste da expressão do custo histórico dos ativos não-monetários e do capital próprio
registrado nas contas do patrimônio líquido, à moeda da data do balanço. Em resumo,
a correção visa a fazer com que o custo histórico fique expresso na moeda com o
poder aquisitivo do mês do balanço, e não na moeda histórica da época de aquisição
ou produção dos ativos (PEDREIRA; CRUZ, 1977).
1.3.2 Histórico
Latorraca apud Corrêa (2002, p. 24) cita que os primeiros institutos que previam
a correção monetária na legislação brasileira permitiam a correção, apenas, do ativo
imobilizado: “Durante os anos de 1944, 1951 e 1956, as autoridades fiscais permitiram
a atualização do ativo dentro de certos limites, e de forma excepcional”.
Mas foi pela Lei nº 3470, de 28 de novembro de 1958, que se criou, de forma
opcional, a figura da correção monetária no Brasil, conforme o artigo 57 reproduzido a
seguir:
“Art 57. As firmas ou sociedades poderão corrigir o registro contábil do valor original dos bens do
seu ativo imobilizado até o limite das variações resultantes da aplicação, nos termos deste artigo, de
coeficientes determinados pelo Conselho Nacional de Economia, cada dois anos. Essa correção poderá
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ser procedida a qualquer tempo, até o limite dos coeficientes vigentes à época, e a nova tradução
monetária do valor original do ativo imobilizado vigorará, para todos os efeitos legais até nova correção
pela firma ou sociedade”.
Alves (1982, p. 64 e 65) faz uma descrição histórica das alterações feitas nas
leis para a aplicação da correção monetária. Segundo o autor, a lei 3.470/58, que
inaugurou a correção monetária no Brasil tinha como características principais:
1) Correção monetária facultativa;
2) Incidia, apenas, sobre o ativo imobilizado, não afetando o diferido e os
investimentos;
3) Cotas de depreciação calculadas sobre o valor original dos ativos;
4) O capital deveria ser aumentado em parcela equivalente àquela
acrescida aos ativos;
5) A correção limitava-se aos coeficientes publicados pelo Conselho
Nacional de Economia a cada dois anos; era tributada na base de 10%
pelo Imposto de Renda, no momento da incorporação do capital;
6) Podia ser efetuada a qualquer tempo.
Mais tarde, com a Lei 4.357/64, alguns dispositivos foram alterados e a correção
monetária tornou-se obrigatória.
1) As depreciações passaram a ser calculadas sobre o valor do ativo
corrigido e os coeficientes a ser anuais;
2) A tributação foi reduzida para 5% sobre o aumento de capital
decorrente da correção;
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26
3) O resultado da correção monetária era registrado no Passivo Não-
Exigível e, posteriormente, incorporado ao capital;
4) A correção deveria ser efetuada até o quarto mês seguinte ao
encerramento do balanço anual;
5) Os ativos adquiridos no decorrer do exercício da correção não sofriam
alteração.
Anos depois, a Lei nº 6.404/76 alterou o modo de reconhecimento dos efeitos
inflacionários no balanço, eliminando várias distorções existentes na legislação anterior
e introduzindo novos conceitos. Um problema, nessa reformulação, foi a defasagem
para a incorporação dos efeitos da correção monetária no balanço, pois os seus efeitos
eram contabilizados, apenas, no exercício seguinte.
A Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, representou um avanço sobre as
regras da correção monetária das demonstrações financeiras. Os cálculos foram
simplificados e eliminaram-se as deformações existentes nas leis anteriores.
A sistemática para a correção monetária foi definida de maneira concisa,
conforme o artigo 185:
Art. 185. Nas demonstrações financeiras deverão ser considerados os efeitos da modificação no
poder de compra da moeda nacional sobre o valor dos elementos do patrimônio e os resultados do
exercício.
§ 1º Serão corrigidos, com base nos índices de desvalorização da moeda nacional reconhecidos
pelas autoridades federais:
a) o custo de aquisição dos elementos do ativo permanente, inclusive os
recursos aplicados no ativo diferido, os saldos das contas de depreciação,
amortização e exaustão, e as provisões para perdas;
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b) os saldos das contas do patrimônio líquido.
§ 2º A variação nas contas do patrimônio líquido, decorrente de correção monetária, será
acrescida aos respectivos saldos, com exceção da correção do capital realizado, que constituirá a
reserva de capital de que trata o § 2º do artigo 182.
§ 3º As contrapartidas dos ajustes de correção monetária serão registradas em conta cujo saldo
será computado no resultado do exercício.
Pode-se observar que a lei definiu os critérios genéricos da correção monetária,
mas não estipulou a sua forma de apuração, tampouco como seriam tratadas as
particularidades.
Assim, as principais mudanças introduzidas pela Lei 6.404/76 podem ser
resumidas nos seguintes pontos:
1) A correção monetária passou a incidir sobre todo o ativo permanente e
não mais apenas sobre o ativo imobilizado;
2) O patrimônio líquido, também, passou a ser corrigido;
3) O saldo da correção monetária, seja credor ou devedor, transita pelas
contas de resultado do exercício;
4) O registro da correção era feito pelo total apurado e a manutenção do
capital de giro limitava-se ao lucro realizado no exercício;
5) Os saldos das contas são diretamente atualizados, sem passar por
contas de reservas;
6) Os ajustes são efetuados dentro do próprio exercício, eliminando o
problema da defasagem.
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28
Em 1989, o artigo 185 da Lei 6.404/76 foi revogado pela Lei 7.730/89, conforme
divulgado no artigo 29:
Art. 29. A partir de 1º de fevereiro de 1989, fica revogado o art. 185 da Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, bem como as normas de correção monetária de balanço previstas no Decreto-Lei nº
2.341, de 29 de junho de 1987, ressalvado o disposto no artigo seguinte.
A ressalva no caso tratava principalmente a obrigatoriedade de proceder a correção monetária
até o mês de janeiro de 1989, os demais itens não afetam diretamente o disposto no artigo.
Meses mais tarde, em 10 de julho de 1989, a Lei 7.799 retoma a correção
monetária, por meio dos seguintes artigos:
Art. 2° Para efeito de determinar o lucro real - base de cálculo do imposto de renda das pessoas
jurídicas, a correção monetária das demonstrações financeiras será efetuada de acordo com as normas
previstas nesta Lei.
Art. 3° A correção monetária das demonstrações financeiras tem por objetivo expressar, em
valores reais, os elementos patrimoniais e a base de cálculo do imposto de renda de cada período-base.
Parágrafo único. Não será admitido à pessoa jurídica utilizar procedimentos de correção
monetária das demonstrações financeiras que descaracterizem os seus resultados, com a finalidade de
reduzir a base de cálculo do imposto ou de postergar o seu pagamento.
Art. 4° Os efeitos da modificação do poder de compra da moeda nacional sobre o valor dos
elementos do patrimônio e os resultados do período-base serão computados na determinação do lucro
real mediante os seguintes procedimentos:
I - correção monetária, na ocasião da elaboração do balanço patrimonial:
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29
a) das contas do ativo permanente e respectiva depreciação, amortização ou exaustão,
e das provisões para atender a perdas prováveis na realização do valor de
investimentos;
b) das contas representativas do custo dos imóveis não classificados no ativo
permanente;
c) das contas representativas das aplicações em ouro;
d) das contas representativas de adiantamentos a fornecedores de bens sujeitos à
correção monetária, salvo se o contrato previr a indexação do crédito;
e) das contas integrantes do patrimônio líquido;
f) de outras contas que venham a ser determinadas pelo Poder Executivo, considerada
a natureza dos bens ou valores que representem;
II - registro, em conta especial, das contrapartidas dos ajustes de correção monetária de que
trata o item I;
III - dedução, como encargo do período-base, do saldo da conta de que trata o item II, se
devedor;
IV - observado o disposto na Seção III deste Capítulo, cômputo no lucro real do saldo da conta
de que trata o item II, se credor.
Em 28 de junho de 1991, foi alterada a forma de cálculo da correção monetária,
conforme dita o artigo 1º da Lei 8.200/91:
Art. 1º Para efeito de determinar o lucro real - base de cálculo do imposto de renda das pessoas
jurídicas - a correção monetária das demonstrações financeiras anuais, de que trata a Lei nº 7.799, de
10 de julho de 1989, será procedida, a partir do mês de fevereiro de 1991, com base na variação mensal
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
No entanto, em 26 de dezembro de 1995, pela Lei 9.249/95, a correção
monetária das demonstrações contábeis foi extinta, conforme disposto no seu artigo 4º:
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30
Art. 4º Fica revogada a correção monetária das demonstrações financeiras de que tratam a Lei
nº 7.799, de 10 de julho de 1989, e o art. 1º da Lei nº 8.200, de 28 de junho de 1991.
Parágrafo único. Fica vedada a utilização de qualquer sistema de correção monetária de
demonstrações financeiras, inclusive para fins societários.
Com a extinção da correção monetária em 1995, de acordo com Gomes (2000),
o Governo criou a sistemática de juros sobre o capital próprio (JCP), em parte, como
uma compensação dos reflexos decorrentes da inexistência de mecanismos de
indexação.
Essa sistemática permitiu às empresas que remunerassem os investimentos dos
sócios ou acionistas, por meio de pagamento ou crédito de juros calculados sobre o
patrimônio líquido e esses juros se refletiam, contabilmente, nos resultados do
exercício como despesa financeira, para efeito de tributação. Em resumo, a
remuneração dos sócios ou acionistas por meio dos JCP, proporcionava à empresa
uma redução das despesas tributárias, diferentemente da opção por distribuição de
lucros ou dividendos, devido ao fato de que não eram admitidos pela legislação fiscal
como despesas dedutíveis.
Em seu primeiro ano de vigência (1996), a dedutibilidade estava prevista,
apenas, para efeito da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica
(IRPJ). Somente a partir de 1997, a dedutibilidade dos juros passou a abranger,
também, a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
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1.4 As diferenças entre os juros sobre o capital próprio e a correção monetária do balanço
A possibilidade de as empresas distribuírem juros sobre o capital próprio tem
origem na mesma lei que extinguiu a sistemática de correção monetária do balanço, ou
seja, a Lei n° 9.249 de 1995.
O sistema de Juros sobre o capital próprio possibilita a dedutilidade da
remuneração do capital próprio. A Lei 9249/95 prevê que o valor pago a título de juros
sobre o capital próprio poderá ser imputado como valor dos dividendos previsto nos
estatutos das empresas. Dessa forma, para as empresas que apresentaram lucro
tributável, sua adoção poderá: ser um mecanismo para redução da carga tributária,
representado pelo imposto de renda e contribuição social.
A base de cálculo dos juros é o capital acrescido das reservas de capital e do
lucro, não se computando o lucro do período. Além disso, não se incluem, nessa base,
os valores oriundos da reserva de reavaliação de ativos e da reserva especial de
correção monetária (artigo 2°, da lei n° 8.200 de 1991). A taxa de juros utilizada para o
cálculo dos juros está limitada à variação da TJLP do período.
A Lei n° 9.249 de 1995 deixou como opcional às empresas a distribuição de
juros sobre o capital, que poderão exercê-la desde que haja lucro no exercício ou
lucros acumulados, em dobro do valor dos juros.
As empresas poderão computar o valor dos juros sobre o capital no cálculo dos
dividendos mínimos obrigatórios. Se, assim, o fizerem, no caso de companhias abertas,
a instrução CVM 207/96 orienta que a empresa poderá computar como dividendo
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somente o valor líquido do imposto de renda na fonte, de 15%, que incide sobre o valor
dos juros.
Assim, as empresas que adotarem essa opção estarão distribuindo sempre um
valor superior, no percentual do imposto, se comparado com a opção de distribuição
somente de dividendos, sobre a qual não existe tributação. Todavia, continuará
havendo o benefício fiscal se for considerado que, via de regra, o imposto de renda
incide pela alíquota de 25% para lucros tributáveis superiores a R$ 240 mil (abaixo
disso, a alíquota é de 15%) e a contribuição social em 9%.
Apesar de amenizar a carga tributária das empresas, os juros sobre o capital
próprio apresentam efeitos diferentes quando comparados com a sistemática de
correção monetária de balanços que vigorou até 31 de dezembro de 1995. Esses
efeitos são produzidos pelas seguintes diferenças básicas:
a) A correção monetária do balanço era obrigatória para todas as empresas
tributadas com base no lucro real.
Os juros sobre o capital próprio estão condicionados à existência de lucros, do
exercício ou acumulados, em dobro do valor distribuído, além de ser opcional.
Destaque, ainda, que a decisão da empresa está baseada na existência de lucro
tributável, haja vista ser ele diferente do lucro contábil.
b) Na sistemática de correção monetária do balanço, a médio e longo prazo, a
totalidade da correção monetária do patrimônio líquido seria dedutível, tendo em
vista que a correção do ativo permanente retornaria no futuro, via depreciações
e baixas a valores corrigidos.
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Utilizando a opção de se distribuir juros sobre o capital próprio, como a base é
nominal, existe a possibilidade de ela apresentar defasagens ao longo do tempo.
Além disso, caso a empresa efetuasse, em um determinado exercício, uma
distribuição de juros superior ao seu lucro tributável, acabaria produzindo um
efeito indesejável, que seria gerar um prejuízo fiscal, sobre o qual a legislação
fiscal restringe a sua utilização em 30% do lucro tributável do exercício seguinte.
c) A sistemática de correção monetária do balanço preservava o patrimônio de
tributação, à medida que os efeitos inflacionários eram reconhecidos,
inicialmente nas contas do ativo permanente e patrimônio líquido, refletido no
resultado de cada período, e a partir do qual era apurado o lucro base para
tributação, fato que preservava o valor do patrimônio de tributação.
Da comparação entre a sistemática de correção monetária e a de juros sobre o
capital próprio, constata-se que os objetivos são diferentes, sendo o sistema de juros
sobre o capital próprio uma possibilidade que as empresas têm de reduzir sua carga
tributária.
1.5 Sistemática de Correção Monetária de balanço
Pode-se encontrar em Famá (1986, p. 62) a justificativa para retirar a inflação
das análises de balanço:
“quando há inflação, a moeda perde sua característica de homogeneidade que é
exigida na tarefa de somar ou agregar todas as transações ocorridas durante o
ciclo operacional. A presença da inflação ‘dificulta’ ou ‘ofusca’ a percepção do
‘real’ em oposição ao ‘nominal’”.
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Portanto, para fazer comparações por prazos longos, é necessário trabalhar em
termos reais, como em Fisher (1886):
( )( )Inflação de Índice Número1
Nominal Taxa1 Real Taxa+
+=
Dentre as formas de mensuração dos ativos e, conseqüentemente, do lucro, o
custo histórico não considera os efeitos da inflação. O lucro com base no custo
histórico limita-se, apenas, a corrigir os valores registrados em livros, mantendo o seu
poder aquisitivo, com o uso de índices gerais de preços. Há, assim, duas sistemáticas
de reconhecimento dos efeitos da inflação nas demonstrações contábeis: a Correção
Monetária de Balanço (CMB) e a Correção Monetária Integral (CMI).
1.5.1 Correção Monetária de Balanços
A CMB, quando comparada com a sistemática da CMI, pode ser considerada
uma forma simplificada e parcial de mensuração dos efeitos inflacionários nas
demonstrações contábeis, ao aplicar um índice geral de preços a fim de corrigir os
valores do ativo permanente e do patrimônio líquido (itens não-monetários). A
contrapartida das correções deve ser lançada em uma conta de Correção Monetária,
cujo saldo é transferido para o resultado como despesa ou receita, em função de o
saldo ser devedor ou credor.
Essa metodologia considera os efeitos da inflação numa única conta de
resultado, cujo saldo, se for considerado de uma forma mais ampla, será a diferença
líquida entre os ganhos nos passivos monetários, perdas nos ativos monetários e
correção monetária não efetuada das receitas e despesas do exercício. Dessa forma, o
lucro apurado após o reconhecimento do resultado da correção monetária corresponde
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35
à diferença entre o patrimônio líquido final e inicial devidamente corrigido para a moeda
de fim de período, excluindo os efeitos de variações de capital e distribuição de
dividendos.
A elaboração de balanços corrigidos pela CMB é parcial, uma vez que algumas
contas da demonstração permanecem com os valores originais.
1.5.2 Correção Monetária Integral
Segundo Almeida (1988, p. 50), “a teoria da correção integral está associada ao
conceito de apresentar todas as informações das demonstrações financeiras por
cruzados de poder de compra da data de encerramento do exercício social”. Para
tanto, é necessário proceder a certos ajustes nas demonstrações financeiras
tradicionais, que estão resumidos na tabela a seguir:
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Tabela 2 - Resumo das práticas adotadas pela Correção Monetária Integral
Itens avaliados Critério
Da data do balanço
- caixas e bancos
- aplicações financeiras
- empréstimos
- direitos e obrigações realizáveis
e exigíveis até 90 dias da data
do balanço
Não se ajustam
Do passado
- estoques
- despesas antecipadas
- investimentos
- imobilizado
- diferido
- patrimônio líquido
- adiantamento de clientes ou a
fornecedores
- receitas
- despesas
Ajustam-se pela variação da OTN,
tomando por base o mês de sua
formação ou aquisição
Do futuro
- direitos e obrigações realizáveis
ou exigíveis após 90 dias da
data do balanço
Ajustam-se ao valor presente com
base na média aritmética da
variação da OTN nos três últimos
meses do exercício social.
Fonte: Almeida (1988, p.50 e 51)
1.6 Impactos da Extinção da Correção Monetária
A estrutura da Contabilidade está apoiada na hipótese de preços constantes ou
pelo menos na manutenção da capacidade aquisitiva da moeda. Assim, todos os
princípios e critérios que definem a elaboração de demonstrações financeiras foram
desenvolvidos dentro do “Princípio do Denominador Comum Monetário”, o que significa
que, para todos os componentes patrimoniais e do resultado, é utilizada, como base
comum de comparação, uma única moeda.
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Considerando um ambiente isento de inflação, o uso de valores puramente
históricos na elaboração das demonstrações contábeis era válido. Em países como os
Estados Unidos, apesar da desvalorização de sua moeda, elabora-se a sua
contabilidade supondo-se que é a mesma moeda ao longo do tempo.
Santos (2001) argumenta que a revogação da utilização da correção monetária
das demonstrações contábeis no Brasil impossibilita a contabilidade de reconhecer
efeitos provocados pela inflação e a perda (ou ganho) por ela ocasionada
eventualmente.
Apesar de a estabilização da moe