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CARLOS ATUSHI NAKAMUTA UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003 Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras PUC/SP SÃO PAULO 2006

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  • CARLOS ATUSHI NAKAMUTA

    UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO

    DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003

    Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras

    PUC/SP SÃO PAULO

    2006

  • CARLOS ATUSHI NAKAMUTA

    UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO

    DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003

    PUC/SP SÃO PAULO

    2006

    Dissertação apresentada à Banca

    Examinadora da Pontifícia Universidade

    Católica de São Paulo, como exigência

    parcial para obtenção do título de Mestre

    em Ciências Contábeis e Financeiras, sob

    a Orientação do Prof. Dr. Roberto

    Fernandes dos Santos.

  • ii

    UMA AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA CORREÇÃO MONETÁRIA NÃO RECONHECIDA NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO PERÍODO

    DE 31 DE DEZEMBRO DE 1995 A 31 DE DEZEMBRO DE 2003

    Data da aprovação: _____________________________

    Banca Examinadora: Prof. Dr.: ___________________________________ Prof. Dr.: ___________________________________ Prof. Dr.: ___________________________________

  • iii

    Agradecimentos A Deus.

    Ao Professor Dr. Roberto Fernandes dos Santos, amigo e orientador, pelos

    ensinamentos e pela dedicação e entusiasmo com que orientou esta dissertação

    durante o meu desenvolvimento acadêmico.

    À Professora Dra. Neusa Maria Bastos, pelos ensinamentos e incentivos durante o

    curso.

    Ao Professor Dr. José Roberto Securato e ao Professor Dr. Gideon Carvalho de

    Benedicto pelas sugestões e críticas construtivas que, sem dúvida, engrandeceram

    este trabalho.

    Aos Professores Drs. Sérgio de Iudícibus, José Carlos Marion, Rubens Famá,

    Napoleão Verardi Galegale, pela convivência e ensinamentos durante o curso.

    Aos amigos, Alexandre Bess, André Oda, Aquiles Polleti, Claudia Yoshinaga, Eduardo

    Shiroma, Patrícia Oda, José Cláudio Securato, Marco Antônio Fabbri, Masao Fujino,

    Sergio Lucchesi, Wilson Carlos Oliveira e Toshio Nishioka. Obrigado pela convivência

    acadêmica e profissional.

    Aos meus pais, pelo carinho e zelo constantes e pelo exemplo de esforço e dedicação

    sempre transmitidos.

    À minha esposa, Iara, e a meus filhos, Fernando Henrique e Bárbara, pelo apoio,

    carinho, motivação e, principalmente, pela compreensão nos momentos de ausência.

    A eles dedico este trabalho.

  • iv

    Resumo

    Esta dissertação tem por objetivo verificar a existência de defasagem no valor dos

    ativos e, por conseguinte, do patrimônio líquido, em função do não reconhecimento dos

    efeitos inflacionários nas demonstrações contábeis. Propõe, também, a verificação,

    como conseqüência, nos resultados dos exercícios, na carga tributária e em alguns

    indicadores que têm por base as contas influenciadas pela sistemática de correção

    monetária de balanço. A metodologia adotada foi a mesma que vigorou até o exercício

    de 1995, ou seja, a prevista na Lei 6.404/76 e no Decreto-Lei 1.598/77, com suas

    alterações posteriores. Uma amostra de 182 empresas de capital aberto que

    apresentaram demonstrações contábeis no período de 1996 a 2003, foi selecionada

    para pesquisa. O índice adotado para correção monetária das contas de ativo e

    patrimônio líquido foi o IGP-M, apurado mensalmente pela Fundação Getúlio Vargas.

    Os resultados da pesquisa mostraram serem relevantes os efeitos de inflação não

    reconhecidos ao valor dos ativos e, conseqüentemente, do patrimônio líquido. A

    dimensão da defasagem do patrimônio líquido corrigido, do total das empresas da

    amostra, representava, em 31 de dezembro de 2003, 16,40% do PIB do ano. Os efeitos

    são, igualmente, relevantes para os outros itens analisados, como os resultados dos

    exercícios, da carga tributária e nos indicadores que utilizam dados de contas de

    balanço em que a sistemática de correção monetária era aplicada. Após a extinção da

    sistemática de correção monetária de balanço determinada pela Lei 9.249/95, as

    empresas adotaram a prática de distribuir juros sobre o capital próprio, como parte, ou

    até mesmo representando a totalidade dos dividendos obrigatórios de cada exercício.

    Essa opção foi introduzida pela mesma Lei que extinguiu a correção monetária de

    balanço, como forma de amenizar um eventual aumento na carga tributária em

    decorrência da extinção daquela sistemática. A redução na carga tributária ocorre pelo

    registro do valor dos juros sobre o capital próprio como uma despesa dedutível,

    diminuindo as bases para cálculo do imposto de renda e contribuição social do período,

    sendo esse o seu único objetivo. Conclui-se que a sistemática de correção monetária

    de balanço que vigorou até o exercício de 1995 era um importante mecanismo de

    preservação do valor do patrimônio das empresas. Logo, a sua extinção trouxe

    inquestionáveis prejuízos, principalmente quanto à queda da qualidade e da

    capacidade informativa das demonstrações contábeis.

  • v

    Abstract

    This dissertation intended to verify the existence of balance sheet imbalance, more

    specifically in the assets and equity values once there is no recognition of the

    inflationary effects in the financial statements since 1996. It was also analyzed the tax

    burden and some financial rations that are obtained by using accounts which are

    affected by monetary correction methodology. The adopted criteria was the same one

    that invigorated until the 1995, defined by Law 6.404/76 and Decree 1.598/77. The

    sample contemplates 182 companies that presented financial statements for all periods

    from 1996 to 2003. The inflation index chosen to adjust the assets and equity values

    was the IGP-M, published monthly by Fundação Getúlio Vargas. The research results

    proved that non-recognized asset and equity values are relevant. The dimension of the

    imbalance of the corrected equity of the total of the companies of the sample

    represented in 31 of December of 2003 about 16.40% of the annual GDP. The effects

    are also relevant for other analyzed items, such as the annual results, the tax burden

    and financial ratios that makes uses of the balance sheet data in which the monetary

    correction methodology has been applied. Since the extinction of Law 9.249/95,

    companies adopted the practice to distribute interests on the owner’s equity as a part of

    or even the totality of obligatory dividend. This alternative was created by the same law,

    as a way to diminish a tax burden raise as a consequence of the extinction of monetary

    correction. These expenses can be deductible to achieve the EBIT, and this is the only

    purpose for their existence.The results show that balance sheet monetary correction

    methodology used until 1995 was an important preservation mechanism of company

    patrimony, since its extinction brought unquestionable losses, specially a quality

    reduction and information capacity of the financial statements.

  • vi

    Sumário

    Agradecimentos ....................................................................................................................................................iii Resumo.................................................................................................................................................................. iv Abstract ................................................................................................................................................................... v Sumário.................................................................................................................................................................. vi Lista de Ilustrações ............................................................................................................................................viii Lista de Tabelas ................................................................................................................................................... ix Introdução ............................................................................................................................................................... 1 Considerações Iniciais .......................................................................................................................................... 1 Justificativa ............................................................................................................................................................. 4 Objetivo ................................................................................................................................................................... 6 Delimitação da Pesquisa ...................................................................................................................................... 6 Metodologia de Pesquisa ..................................................................................................................................... 7 Revisão de Literatura ............................................................................................................................................ 8 Estrutura da Obra ................................................................................................................................................ 13

    1 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................................... 15 1.1 Inflação ................................................................................................................................................... 18 1.2 Indicadores de Inflação no Brasil........................................................................................................ 19

    1.2.1 IGP-M ................................................................................................................................................. 19 1.2.2 IPA ...................................................................................................................................................... 20 1.2.3 IPC-M ................................................................................................................................................. 21 1.2.4 INCC ................................................................................................................................................... 22

    1.3 Correção Monetária .............................................................................................................................. 23 1.3.1 Definição ............................................................................................................................................ 23 1.3.2 Histórico ............................................................................................................................................. 24

    1.4 As diferenças entre os juros sobre o capital próprio e a correção monetária do balanço ......... 31 1.5 Sistemática de Correção Monetária de balanço............................................................................... 33

    1.5.1 Correção Monetária de Balanços................................................................................................... 34 1.5.2 Correção Monetária Integral ........................................................................................................... 35

    1.6 Impactos da Extinção da Correção Monetária.................................................................................. 36 2 METODOLOGIA DE PESQUISA................................................................................................................. 49

    2.1 O Método da Pesquisa ......................................................................................................................... 50 2.2 Hipóteses Formuladas.......................................................................................................................... 51 2.3 População e Amostra ........................................................................................................................... 52 2.4 Coleta de Dados.................................................................................................................................... 54 2.5 Construção da tabela de UMC ............................................................................................................ 55

    2.5.1 Escolha do Índice de Preços .......................................................................................................... 56 2.5.2 UMC média do período.................................................................................................................... 58 2.5.3 UMC ao final do período.................................................................................................................. 59

    2.6 Correção Monetária do Ativo Permanente ........................................................................................ 59 2.6.1 Investimentos .................................................................................................................................... 60 2.6.2 Imobilizado ........................................................................................................................................ 63 2.6.3 Diferido ............................................................................................................................................... 65 2.6.4 Cálculo do valor da Correção Monetária no Ativo Permanente ................................................ 65

    2.7 Correção Monetária do Patrimônio Líquido....................................................................................... 67 2.7.1 Cálculo do Valor da Correção Monetária no Patrimônio Líquido .............................................. 68

    2.8 Apuração do Resultado de Correção Monetária .............................................................................. 69 2.8.1 Cálculo do valor do Resultado da Correção Monetária .............................................................. 71

    2.9 Apuração do Valor do Efeito Líquido da Correção Monetária ........................................................ 71 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................................................... 73

    3.1 Defasagem do Ativo Permanente e Patrimônio líquido................................................................... 73 3.1.1 Taxa de crescimento dos lucros das empresas da Amostra ..................................................... 77 3.1.2 O índice de Imobilização das Empresas da Amostra ................................................................. 78 3.1.3 As taxas de depreciação e amortizações “teóricas” das empresas da amostra .................... 80

    3.2 Alteração no Resultado do Exercício ................................................................................................. 81 3.2.1 Resultado de Correção Monetária do Balanço ............................................................................ 82 3.2.2 Despesa de Depreciação Adicional............................................................................................... 83

  • vii

    3.2.3 Equivalência patrimonial complementar ....................................................................................... 85 3.3 Efeitos tributários das empresas da amostra.................................................................................... 87 3.4 Influências relevantes nos principais indicadores apurados a partir dos grupos de contas afetadas pela correção monetária de balanço ................................................................................................ 89

    3.4.1 Estrutura de capital .......................................................................................................................... 90 3.4.2 Índice de Rentabilidade do Patrimônio líquido............................................................................. 92 3.4.3 Preço de Mercado sobre Valor de Livros (P/BV)......................................................................... 94

    3.5 Síntese dos Principais Resultados ..................................................................................................... 95 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................ 105 5 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................ 109 6 ANEXOS ........................................................................................................................................................ 117

    Anexo 1 – “Tela” do sistema Economática das empresas da amostra ..................................................... 118 Anexo 2 – Tabela de “UMC” mensal do período de 1995 a 2003. ............................................................ 121 Anexo 3 – Movimentação anual do ativo permanente (R$ e “UMC”) no período de 1996 a 2003. ...... 124 Anexo 4 – Movimentação anual do patrimônio líquido (R$ e “UMC”) no período de 1996 a 2003. ..... 125 Anexo 5 – Demonstrativo dos resultados dos exercícios encerrados de 1996 a 2003, com e sem os efeitos de correção monetária do balanço. ................................................................................................... 126 Anexo 6 – Demonstrativo da correção monetária do ativo permanente e patrimônio líquido no período de 1996 a 2003. ................................................................................................................................................. 127 Anexo 7: Demonstrativo do recálculo do Imposto de Renda e contribuição social do período de 1996 a 2003..................................................................................................................................................................... 128

  • viii

    Lista de Ilustrações Figura 1 – Correção Monetária....................................................................................70 Gráfico 1 - Defasagem dos valores do Ativo Permanente e do Patrimônio Líquido

    apurados de acordo com a sistemática de correção monetária da Lei 6.404/76 e Decreto-lei 1.598/77 em relação aos apurados consoante a legislação vigente, referente ao período de 1995 a 2003. ................................76

    Gráfico 2 - Diferenças entre os resultados apurados consoante a legislação vigente e a que vigorou até o exercício de 1995 com resultado de correção monetária, relativo ao período de 1996 a 2003. ...............................................81

    Gráfico 3 – Variação da participação do capital próprio por setor .............................103 Gráfico 4 - Efeito da correção monetária na rentabilidade de cada setor..................104

  • ix

    Lista de Tabelas Tabela 1 - Períodos de apuração do IGP-M................................................................20 Tabela 2 - Resumo das práticas adotadas pela Correção Monetária Integral .............36 Tabela 3 – 1º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................40 Tabela 4 – 1º Exemplo – Com correção monetária .....................................................41 Tabela 5 – 1º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................41 Tabela 6 – 1º Exemplo – Com correção monetária .....................................................41 Tabela 7 – 2º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................42 Tabela 8 – 2º Exemplo – Com correção monetária .....................................................42 Tabela 9 – 2º Exemplo – Conforme legislação vigente ...............................................43 Tabela 10 – 2º Exemplo – Com correção monetária ...................................................43 Tabela 11 – 3º Exemplo – Conforme legislação vigente .............................................44 Tabela 12 – 3º Exemplo – Com correção monetária ...................................................44 Tabela 13 – 3º Exemplo – Conforme legislação vigente .............................................45 Tabela 14 – 3º Exemplo – Com correção monetária ...................................................45 Tabela 15 - 4º Exemplo – Conforme legislação vigente ..............................................46 Tabela 16 – 4º Exemplo – Com correção monetária ...................................................46 Tabela 17 – 4º Exemplo – Balanço pela legislação vigente e demonstrações do

    resultado ...........................................................................................................47 Tabela 18 – 4º Exemplo – Balanços finais comparativos ............................................47 Tabela 19 - Distribuição da amostra por setor.............................................................54 Tabela 20 - Inflação apurada no período de 1996 a 2003...........................................57 Tabela 21 – Quadro-resumo da amostra do estudo (em R$ milhões) – Valores

    nominais ...........................................................................................................74 Tabela 22 – Defasagens da correção monetária do Ativo Permanente e Patrimônio

    Líquido por setor, relativo ao período de 1996 a 2003......................................74 Tabela 23 - Índice de crescimento acumulado do patrimônio líquido apurado

    consoante práticas da legislação vigente, no período de 1996 a 2003.............77 Tabela 24 - Índice de Imobilização do patrimônio líquido médio por setor, relativo ao

    período de 1996 a 2003....................................................................................79 Tabela 25 - Taxas de depreciação calculada por setor a partir das empresas

    utilizadas na amostra, relativo ao período de 1996 a 2003...............................80 Tabela 26 - Efeito líquido dos ajustes relacionados com a sistemática da correção

    monetária de balanço, relativo ao período de 1996 a 2003. .............................82 Tabela 27 - Resultado de correção monetária de balanço das contas do Ativo

    permanente e patrimônio líquido, relativo ao período de 1996 a 2003. ............83 Tabela 28 - Depreciação Adicional das contas do ativo imobilizado e diferido,

    relativo ao período de 1996 a 2003. .................................................................84

  • x

    Tabela 29 - Resultado da equivalência complementar, relativo ao período de 1996 a 2003...............................................................................................................86

    Tabela 30 - Ajuste de imposto de renda e contribuição social sobre os efeitos de correção monetária refletidos ao resultado.......................................................88

    Tabela 31 - Total das empresas que apresentaram complemento no valor de imposto de renda e contribuição social, caso fosse reconhecido aos resultados a correção monetária de balanços, relativos ao período de 1996 a 2003..................................................................................................................88

    Tabela 32 - Total das empresas em que a carga tributária seria reduzida, caso fosse reconhecido aos resultados a correção monetária de balanço, relativo ao período de 1996 a 2003...............................................................................89

    Tabela 33- Estrutura de capital próprio e de terceiros considerado o patrimônio líquido apurado consoante a legislação vigente e o corrigido...........................92

    Tabela 34 - Índice de Rentabilidade do patrimônio líquido, sem correção monetária e com o reconhecimento dessa ao valor do patrimônio líquido. .......................93

    Tabela 35 - Índice do Valor de Mercado sobre valor de livros, relativo à data base de 31 de dezembro de 2003. ............................................................................95

    Tabela 36 - Índice de Imobilização e Defasagem por setor.........................................97 Tabela 37 - Maiores taxas de depreciação por setor...................................................98 Tabela 38 - Menores taxas de depreciação.................................................................98 Tabela 39 - Índice de crescimento de alguns setores .................................................99 Tabela 40 - Consolidação dos ajustes realizados no resultado, relativos ao período

    de 1996 a 2003...............................................................................................101 Tabela 41 - Totais das empresas que teriam redução da carga tributária, caso fosse

    reconhecida a correção monetária de balanço, no período de 1996 a 2003 ..102

  • 1

    Introdução

    Considerações Iniciais

    A sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários no balanço das

    empresas, introduzida pela Lei n° 6.404/76, para fins societários, e pelo Decreto-lei n°

    1.598/77, para efeitos fiscais, foi aplicada até 31 de dezembro de 1995. Essa

    sistemática se mostrou efetiva e, portanto, se manteve quase inalterada ao longo de

    quase dezoito anos de utilização. A mensuração dos efeitos inflacionários era realizada

    mediante correção das contas do ativo permanente, representadas pelos

    investimentos, imobilizado e diferido, e pelas contas do patrimônio líquido, formadas

    principalmente pelos valores do capital social, reservas de capital, de reavaliação, de

    lucros e dos lucros acumulados.

    No que se refere à sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários, a

    sua regulamentação foi feita pelo Decreto-lei n° 1.598/77, cabendo às empresas a sua

    implementação, consoante essas normas. Ao longo de sua vigência, muito se discutiu

    sobre essa sistemática, tendo sido, muitas vezes, classificada como um dos fatores de

    realimentação da inflação e reindexação de preços.

    Dessa forma, uma primeira tentativa de acabar com a sistemática de

    reconhecimento dos efeitos inflacionários nos balanços das empresas ocorreu no ano

    de 1989, quando a Lei n° 7.730 (Plano Verão) revogou o artigo 185 da Lei n° 6.404/76,

    que tratava da correção monetária. Contudo, a sistemática foi logo restabelecida, por

    meio da Lei nº 7.799, editada naquele mesmo ano.

  • 2

    Passado o período de altas taxas inflacionárias e dos frustrados planos

    econômicos e tendo em vista a eficácia do Plano Real em controlar esses altos índices

    de inflação, o Governo Federal, com a Lei n° 9.249 de dezembro de 1995, extinguiu as

    normas que tratavam da sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários nos

    balanços das empresas. Essa Lei passou a produzir efeitos a partir de 1° de janeiro de

    1996, assim a sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários foi aplicada

    pela última vez nos balanços encerrados até 31 de dezembro de 1995.

    A sistemática de correção monetária de balanço, na forma introduzida pela Lei

    6.404/76 e regida para efeitos fiscais pelo Decreto-lei 1.598/77, foi um importante

    mecanismo de manutenção dos valores à nível de preços constantes (histórico

    corrigido pelo nível de inflação), nas contas em que essa sistemática era aplicada,

    basicamente as do ativo permanente e patrimônio líquido. O resultado da correção

    monetária do ativo permanente e do patrimônio líquido era registrado ao resultado de

    cada exercício e posteriormente transferido para a conta de Lucros/Prejuízos

    Acumulados no patrimônio líquido. Por meio dessa sistemática, pode-se observar que a

    contrapartida da correção monetária do ativo permanente era transferida para o

    patrimônio líquido no momento do encerramento das contas de resultado do exercício.

    Dessa forma, a efetiva manutenção do valor do patrimônio líquido ocorria por meio da

    correção monetária das contas do ativo permanente.

    Uma vez quebrada essa sistemática, por lei, os custos históricos das contas do

    ativo permanente deixaram de ter essa restauração de valor, defasando-se à medida

    que ocorre inflação, trazendo consigo a própria defasagem do patrimônio líquido. Como

    a contrapartida da correção desses dois grupos era o resultado do período, este

    também acaba por sofrer esses efeitos.

  • 3

    É sabido que uma grande parte dos itens do ativo permanente, precisamente do

    imobilizado e do diferido, é passível de depreciação e amortização, duas formas

    recorrentes de realização desses ativos. É, igualmente, de conhecimento geral que as

    empresas estão em continuidade, o que faz com que haja sempre novos investimentos,

    decorrente de novos negócios e também para repor a parte depreciada, o que acaba

    perpetuando a defasagem dos custos históricos do ativo permanente e, por

    conseqüência, do valor do patrimônio líquido e resultado do período, sempre que

    houver inflação.

    Dos estudos realizados sobre a sistemática de correção monetária de balanço,

    evoluí-se para um sistema tecnicamente mais adequado e com reconhecimento

    unânime pelos diferentes tipos de usuários das demonstrações contábeis. Essas

    demonstrações não produziam efeitos societários ou fiscais, e ficaram conhecidas

    como Sistema de Correção Monetária Integral (CMI). O verdadeiro significado da

    correção monetária de balanço, apurado consoante as leis societárias e fiscais, era,

    então, apresentadas pela sua essência, ou seja, de forma distribuída nas várias

    rubricas das contas de resultado de cada período. As demonstrações contábeis

    elaboradas na versão CMI se encontravam em moeda de capacidade aquisitiva

    constante da data-base em que eram elaboradas e a qualidade dessas informações

    era algo inquestionável à época.

    Iudícibus (2004, p.250), em capítulo que trata da contabilidade e das flutuações

    de preços, assim se refere sobre o requisito desejado nos relatórios contábeis: “Os

    agentes econômicos, os usuários externos e internos das informações contábeis que

    se utilizam os relatórios contábeis em suas tomadas de decisões desejam uma

  • 4

    relevância cada vez maior das informações contábeis, no sentido de que produzam

    com a maior fidelidade possível à realidade empresarial”.

    Nesse sentido, a contabilidade talvez não esteja desempenhando,

    adequadamente, o seu papel, pois a ausência de correção monetária dos balanços nas

    demonstrações contábeis, a partir do exercício de 1996, desempenha um papel

    contrário a esse objetivo.

    Justificativa

    Decorridos aproximadamente dez anos da promulgação da Lei n° 9.249/95, que

    aboliu a sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários nas demonstrações

    contábeis das empresas, discutem-se, ainda, os efeitos produzidos pela sua essência.

    O assunto é discutido pela relevância das distorções geradas nos valores dos ativos,

    patrimônio líquido e resultados, quando imputados os efeitos da inflação não

    reconhecidos em cada período desde sua extinção. Acrescentem-se a isso os

    diferentes efeitos gerados na carga tributária das empresas, demonstrados em estudos

    produzidos no período pós-extinção da sistemática de correção monetária de balanço.

    Nesse período, foram produzidas obras que trataram desse assunto, seja no

    âmbito da perda da qualidade das demonstrações contábeis ou do aumento da carga

    tributária.

    É de conhecimento dos principais usuários das informações contábeis (credores,

    acionistas, investidores, entre outros) que elas perderam muito a sua qualidade com a

    extinção da sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários nas

  • 5

    demonstrações contábeis. Entretanto, sua dimensão nas demonstrações contábeis e

    suas conseqüências nos vários indicadores não são plenamente conhecidas. Alguns

    indicadores poderiam conter discrepâncias relevantes, como, por exemplo, o de

    rentabilidade sobre o patrimônio líquido e de estrutura de capital, além da relação price

    to book value.

    Além disso, essa extinção da sistemática de reconhecimento dos efeitos

    inflacionários provocou alterações na carga tributária das empresas que ainda não são

    totalmente conhecidas. O efeito na carga tributária das empresas decorrente da

    extinção da sistemática de correção monetária de balanço, mesmo não sendo objeto

    desta pesquisa, também será tratado de maneira simplificada. Essa análise será

    realizada a partir de uma nova apuração do lucro antes do Imposto de Renda (LAIR),

    imputando a esse o resultado da correção monetária apurada em cada período e

    conseqüente recálculo das despesas com imposto de renda e contribuição social. A

    diferença apurada indicará os efeitos ocorridos na carga tributária das empresas.

    O efeito provocado na carga tributária das empresas, em razão da extinção da

    sistemática de correção monetária, tem sido objeto de vários estudos e está associado

    a uma série de variáveis, principalmente pelo fato de o Governo ter reduzido a alíquota

    base do imposto de renda de 25% para 15% e introduzido a figura dos juros sobre o

    capital próprio, tornando os prejuízos fiscais sem prescrição, bem como ter restringido

    sua utilização a 30% da base tributável de cada período. Dessa forma, entende-se que

    a mensuração do real efeito gerado pela extinção da correção monetária dos balanços

    na carga tributária das empresas não é factível para um número elevado de empresas

    e não é totalmente conhecido, pois depende da análise de uma série de variáveis,

    muitas vezes não disponíveis.

  • 6

    Portanto, um modelo que permita mensurar esses efeitos a partir de eventos já

    conhecidos e registrados pelas empresas, parece oportuno e relevante para os

    diversos usuários dessas informações.

    Objetivo

    Esta pesquisa tem como objetivo dimensionar a defasagem nos balanços das

    empresas gerada a partir da extinção da sistemática de correção monetária de balanço,

    além de fazer uma análise geral dessa defasagem sobre empresas de diferentes

    setores da economia brasileira.

    Além dos objetivos centrais, espera-se que o trabalho possa contribuir

    positivamente com as questões relacionadas ao tema, com a complementação do

    corpo de pesquisas existentes, auxiliando os usuários das informações contábeis,

    como, por exemplo, os gestores das empresas, acionistas, contadores, administradores

    e demais interessados.

    Delimitação da Pesquisa

    A sistemática de correção monetária utilizada, nesta pesquisa, é a prevista na

    Lei vigente 6.404/76 e regulamentada pelo Decreto-Lei 1.598/77. O grupo de contas

    sobre as quais incide a regra de correção monetária, sofreu algumas alterações ao

    longo do período em que esteve vigente e essas não estão sendo consideradas nesta

    pesquisa. Outras abordagens, como a da correção monetária integral (CMI), não serão

    objeto de estudo neste trabalho. Além disso, as causas da inflação brasileira, também,

  • 7

    não serão discutidas, pois é de interesse deste trabalho verificar somente suas

    conseqüências e efeitos nas demonstrações contábeis.

    Delimitou-se, do mesmo modo, a pesquisa ao mercado brasileiro de companhias

    abertas, que apresentem liquidez e sejam de interesse do mercado, esses são os

    parâmetros adotados pelo banco de dados do Economática para a listagem de

    empresas. Um outro requisito é ter balanços disponibilizados para todo o período do

    estudo, ou seja, de 31 de dezembro de 1995 a 31 de dezembro de 2003.

    Deve-se ressaltar, também, que a indisponibilidade de alguns dados pode ter

    gerado alguma distorção que, devido ao grande número de empresas, não é de grande

    relevância.

    Metodologia de Pesquisa

    O método empregado, nesta dissertação, foi o hipotético-dedutivo, em que se

    parte da definição do problema, com uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto, e daí

    para a construção de hipóteses, que deverão ser testadas empiricamente (LAKATOS;

    MARCONI, 1983, p. 62).

    O modelo proposto está fundamentado na sistemática de correção monetária do

    balanço introduzida pela Lei n° 6.404/76 e regulamentada para finalidade fiscal pelo

    Decreto-lei n° 1.598/77. A partir dos dados do exercício de 1995, foi dada continuidade

    à correção monetária de acordo com a legislação mencionada, até o exercício de 2003.

  • 8

    Para verificar a defasagem das contas do Ativo Permanente e do Patrimônio

    Líquido, foi elaborada uma estrutura semelhante à que vigorava até dezembro de 1995.

    Além disso, analisou-se o efeito líquido de impostos da correção monetária, calculando-

    se o valor complementar dos tributos, quando pertinente.

    Para isso, desenvolveu-se um modelo de mensuração da correção monetária de

    balanço na forma prevista pela Lei 6.404/76 e pelo Decreto-lei 1.598/77, ou seja, a

    correção do ativo permanente e patrimônio líquido, as exceções também previstas

    nessas normas, tais como correção de estoque e alguns outros itens, que poderiam

    afetar empresas de determinados setores econômicos, não foram contempladas nesse

    modelo.

    A relação completa de fórmulas e indicadores utilizados, assim como um

    detalhamento da metodologia, podem ser encontrados no Capítulo 2 – Metodologia da

    Pesquisa.

    Revisão de Literatura

    No período após a extinção da sistemática da correção monetária do balanço,

    foram produzidos alguns trabalhos relacionados aos efeitos contábeis e fiscais gerados

    nas empresas pela falta desse mecanismo. As obras se deram na forma de

    dissertações de mestrado e em maior proporção como artigos. Nesse item, procuram-

    se destacar algumas dessas obras que se relacionam ao tema. Assim, representam

    mais um reforço para a discussão do papel da Contabilidade na divulgação de

    informações corretas para a melhor tomada de decisões.

  • 9

    Oliveira (1997) analisou o impacto nas demonstrações financeiras e na

    tributação das empresas após a extinção da sistemática de correção monetária em

    1996. Os casos analisados, neste trabalho, envolvem empresas com balanços

    publicados de janeiro a março de 1997, com o objetivo de ilustrar as conseqüências da

    extinção para as empresas brasileiras. Oliveira (1997) analisou, por meio de

    simulações, os efeitos do fim da correção monetária e concluiu que (p. 119) “o

    reconhecimento dos efeitos inflacionários [...] trata-se de procedimento técnico que,

    comprovadamente, se mostra necessário ao ajustamento das informações visando o

    atendimento aos princípios fundamentais da contabilidade”. Ainda segundo ele, o não

    reconhecimento da correção monetária implica tributação incorreta, além de a

    subavaliação do ativo imobilizado acarretar o reconhecimento de depreciações e

    baixas por valores indevidos. Oliveira (1997), em seu trabalho, desenvolve um modelo

    para simular os efeitos contábeis e fiscais ocasionados pela extinção da sistemática de

    correção monetária. As premissas adotadas no modelo foram: a) projeção para um

    horizonte de 5 anos; b) inflação de 10% ao ano; c) duas empresas: uma com saldo

    devedor e outra com saldo credor de correção monetária; d) estrutura de capital de

    70% e 30% de capital próprio e capital de terceiros, respectivamente e e) taxa de

    depreciação média de 10% ao ano.

    Para o primeiro caso, com correção monetária devedora, os resultados

    apresentados foram: superavaliação do lucro líquido em um percentual médio de 70%

    nos 5 anos, tendo o patrimônio líquido, ao final do quinto ano, apresentado uma

    defasagem de aproximadamente 13% quando comparado com o resultado sem os

    efeitos da correção monetária.

  • 10

    No segundo caso, com saldo credor de correção monetária, o resultado, a partir

    do segundo ano, também se mostrou superavaliado, como segue:

    Percentual de superavaliação

    2° ano 10,2% 3° ano 23,7% 4° ano 34,8% 5° ano 44,2%

    O patrimônio, ao final do quinto ano, para a segunda empresa, mostrou-se

    também sub-avaliado em aproximadamente 18%.

    Porto (1998, cap. 4) realiza uma análise do efeito do não-reconhecimento dos

    efeitos inflacionários. Em geral, segundo a autora, as principais conseqüências são: a)

    distorção nos valores patrimoniais e taxa de retorno; b) superavaliação do lucro e c)

    aumento da carga tributária. Foi analisado o caso prático de uma companhia,

    considerando os dois possíveis resultados, com e sem correção monetária do balanço,

    abrangendo os exercícios de 1995 a 1997. Constatou-se, no caso prático estudado,

    que o lucro líquido ficou reduzido em 7,03% ante uma inflação acumulada de 35,56%

    (IGPM-FGV) no período analisado. Seu propósito foi avaliar a importância e a

    necessidade da utilização da correção monetária de balanços em economias em que a

    inflação é considerada baixa, mostrando os impactos ocasionados pela sua ausência.

    O estudo consistiu em analisar os efeitos verdadeiros causados pela inflação entre

    1995 e 1997, período “pós-Real”, nas demonstrações contábeis para uma empresa

    específica, a Mercedes Benz. Como em outros estudos, Porto (1998) concluiu que as

    taxas de retorno sobre o patrimônio líquido estão defasadas por duas razões principais:

    o valor do lucro apurado é incorreto e a base está distorcida, uma vez que o valor do

    PL está defasado. Como conclusão do estudo, Porto (1998) observou que, no período

  • 11

    de 1995 a 1997, houve em torno de 20% de defasagem nos grupos de ativo

    permanente e patrimônio líquido. Outro resultado interessante de Porto (1998) foi a

    constatação de que nas 497 maiores empresas do país, conforme a edição da revista

    Exame Maiores e Melhores de 1997, a variação média entre os resultados de 1996

    com e sem correção monetária foi de 10,7%.

    Dominas (1998) analisa se os Princípios Fundamentais da Contabilidade

    impedem a adoção do Custo Corrente Corrigido, se esses princípios são considerados

    imutáveis e se existem impedimentos de ordem prática para a adoção do Custo

    Corrente Corrigido. Para Dominas (1998, p. 108), “A não consideração da inflação

    entre os períodos (...) leva a elaboração de relatórios contábeis incompletos. Os

    balanços de datas diferentes não são comparáveis por não estarem atualizados para a

    moeda de mesma data e a base de distribuição de resultados não fica bem definida”.

    Iftoda (1999) realiza simulações de balanços patrimoniais e de demonstrações

    dos resultados dos exercícios com o intuito de mostrar que a correção monetária é um

    método eficaz para medir os efeitos da inflação e que existe influência da estrutura

    patrimonial no resultado dessa conta. Para isso, elabora demonstrações contábeis com

    e sem correção monetária, dividindo-as em dois grupos: metade delas é elaborada com

    patrimônio líquido maior que o ativo permanente e a outra metade de maneira inversa.

    As simulações sugerem que as demonstrações contábeis elaboradas sem correção

    monetária obtêm resultados melhores, porém com aumento do valor a ser pago em

    tributos. Nas demonstrações em que o patrimônio líquido era maior que o ativo

    permanente, os resultados da conta de correção monetária apresentaram saldo

    devedor e, portanto, com tributos menores.

  • 12

    Feitosa (2002) conduziu um estudo cujo propósito era observar as diferenças

    entre as demonstrações contábeis elaboradas em BR GAAP e US GAAP, com relação

    ao reconhecimento da inflação. A discussão de que diferentes práticas contábeis levam

    a diferentes apresentações de resultados é bastante antiga,e por diversas vezes

    demonstrada. O objetivo foi o de evidenciar que os valores em dólares apresentam

    distorções causadas em função da inflação. A amostra inicial foi composta pelas

    empresas brasileiras que negociaram suas ações na Bolsa de Valores de Nova York no

    período de 1996 a 1999. Algumas empresas foram excluídas em função de

    privatizações, fusões, reestruturações. Dessa forma, a amostra final foi composta por:

    Aracruz, CSN, Copel, Copene e Embratel. Os métodos de correção utilizados foram:

    temporal, monetário/não-monetário, corrente/não-corrente e o da taxa corrente. A

    conclusão do estudo de Feitosa (2002) foi de que “o efeito cumulativo da inflação pode

    ser assustador e o abandono da correção monetária das demonstrações contábeis vem

    tornando inócuos os números apresentados pela Contabilidade”.

    Gabriel (2004) teve como objetivo comprovar que há distorções na análise de

    indicadores de demonstrações contábeis não corrigidas pela correção monetária.

    Dessa forma, todas as análises estariam equivocadas, reforçando, assim, a

    importância de se reconhecerem os efeitos da inflação nas demonstrações, mesmo

    quando as taxas de inflação não são consideradas precisamente “elevadas”. Uma das

    constatações foi a de que a rentabilidade apresentada pelos Bancos, quando ajustada

    pela inflação, é significativamente reduzida, assim como o índice de Basiléia. A

    amostra do estudo compreendeu os 50 maiores Bancos Comerciais, considerando-se o

    valor dos ativos, para o período de 1996 a 2002. As demonstrações contábeis foram

    corrigidas por meio da metodologia de Correção Monetária de Balanços, utilizando o

    IGP-DI como índice de preços. O teste do estudo envolveu a análise de diferença de

  • 13

    médias entre os indicadores nominais e reais (deflacionados), cuja hipótese de

    nulidade entre as médias foi rejeitada com 1% de significância. A conclusão do estudo

    demonstra a importância do reconhecimento dos efeitos inflacionários na análise dos

    índices financeiros dos Bancos, uma vez que seus valores nominais estão distorcidos.

    Silva (2004) analisou o efeito da criação dos juros sobre o capital próprio (JSCP)

    na política de dividendos das empresas de capital aberto no Brasil, como decorrência

    da extinção da correção monetária de balanços em 1995. Neste estudo, procurou-se

    comprovar a influência que a legislação tributária exerce sobre a política de dividendos

    das empresas. Assim, desejou-se mensurar o benefício tributário não aproveitado pelas

    empresas que não fizeram uso dos JSCP como forma de distribuir os lucros. Como

    conclusão do estudo, Silva (2004) observou que os JSCP já fazem parte da política de

    distribuição de lucros das empresas no Brasil, sendo este um valioso instrumento de

    redução tributária para as empresas. Entretanto, ainda há empresas que nunca fizeram

    uso desse instrumento, o que deveria ser justificado para seus acionistas, uma vez que

    a não utilização não maximiza a sua receita.

    Estrutura da Obra

    A obra está dividida em quatro capítulos. O primeiro traz os fundamentos

    teóricos que dão sustentação ao desenvolvimento do trabalho. Nessa parte, faz-se uma

    revisão da literatura sobre o tema e apresentam-se os resultados dos testes empíricos

    mais relevantes dessa área.

    O segundo capítulo trata da metodologia de pesquisa, das hipóteses formuladas

    e da justificativa da amostra utilizada. Apresenta, também, os instrumentos utilizados

    na coleta, processamento e análise dos dados.

  • 14

    No capítulo 3, tem-se a apresentação e discussão dos resultados obtidos no

    trabalho.

    O último capítulo traz as Considerações Finais e as recomendações para

    estudos futuros.

  • 15

    1 Referencial Teórico

    Desde 1996 está extinta a sistemática de correção monetária de balanços. Com

    o advento do Plano Real e seu relativo sucesso na redução dos níveis inflacionários, o

    governo considerou desnecessária a utilização da correção monetária nas

    demonstrações contábeis. Porém, passados quase dez anos de sua implantação e a

    euforia inicial causada pelo Plano, tem-se discutido a necessidade da volta dessa

    sistemática.

    Quando foi extinta, segundo González (1999, p.2) a sistemática de correção

    monetária adotada pela legislação brasileira, por meio da metodologia evoluída

    representada pela correção monetária integral, havia atingido tal nível de excelência,

    que chegou a ser reconhecida mundialmente por organizações de renome como a

    ONU e o IASC - International Accounting Standards Committee, como sendo o modelo

    mais avançado de correção monetária existente. Esse modelo foi fruto de um longo

    período de evolução, tendo sofrido algumas modificações durante a sua aplicação.

    Pode-se dizer que a sistemática de correção monetária teve o seu início com a

    Lei n° 3.470/58. Porém, essa era de cunho opcional, facultando às empresas corrigir o

    valor original dos bens do ativo imobilizado, ficando excluídos o diferido e os

    investimentos. Sua obrigatoriedade veio por meio da Lei n° 4.357/64, que

    regulamentou a correção do ativo imobilizado, cujo resultado deveria ser registrado no

    passivo não-exigível e, posteriormente, incorporado ao capital. Criou, também, de

    forma optativa, a reserva para manutenção do capital de giro próprio, que foi

    posteriormente autorizada pelo Decreto-lei n° 401/68 e passou a ser efetivamente

    utilizada.

  • 16

    Um grande avanço veio a ser atingido com a Lei n° 6.404/76, que alterou de

    forma substancial a sistemática de reconhecimento dos efeitos inflacionários sobre os

    dados do balanço, introduzindo novos conceitos, o que contribuiu para eliminar

    distorções relevantes existentes na legislação anterior. Por exemplo, foi, a partir dessa

    lei, que os itens do Patrimônio Líquido passaram a ser corrigidos e as contrapartidas

    das contas de ajuste de correção monetária passaram a ser registradas no resultado

    do exercício, sendo, conseqüentemente, passíveis de tributação. Além disso, a

    correção passava a incidir sobre o Ativo Permanente como um todo, não só sobre o

    Imobilizado como era feito anteriormente.

    Posteriormente, por meio do Decreto-lei n° 1.598/77, os ajustes de correção

    monetária propostos na Lei n° 6.404/76, foram normatizados e passaram a ser

    obrigatórios para todas as sociedades que apurassem o imposto de renda pelo sistema

    de lucro real.

    Ao longo do tempo, verificou-se que a sistemática instituída pela Lei n° 6.404/76

    já não era mais tão eficiente para os níveis inflacionários que vinham sendo atingidos.

    Visando à atualização da sistemática de correção, a CVM instituiu, por meio da

    Instrução Normativa (IN) n° 64/87, em caráter obrigatório para as companhias de

    capital aberto, a sistemática de Correção Monetária Integral (CMI).

    A sistemática de correção monetária de balanço foi, muitas vezes, considerada

    como um dos fatores de realimentação e reindexação de preços.

  • 17

    Assim, a Lei n° 7.730/89 (Plano Verão) revogou a correção monetária, porém,

    logo ela seria re-introduzida por meio da Lei n° 7.738/89. O índice oficial utilizado como

    referencial para a correção monetária, era o BTNF (Bônus do Tesouro Nacional Fiscal),

    que em 1990 teve reconhecida a sua defasagem em relação a outros índices de preço

    e foi determinada a sua extinção com a Lei n° 8.177/91. Para efeito corretivo, o

    Governo aprovou a Lei n° 8.200/91 que estabelecia o reconhecimento dessa

    defasagem ocorrida em 1990, entre o IPC e o BTNF, por meio de um registro de

    correção monetária complementar de cunho obrigatório e que teria seus efeitos fiscais

    reconhecidos a partir de 1993. Adotou, também, como referencial para a correção

    monetária a variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

    Em 1992 a CVM, com a IN n° 191/92, introduziu o conceito de UMC (Unidade

    Monetária Contábil), que passaria a ser a unidade de referência na elaboração das

    demonstrações contábeis em moeda de capacidade aquisitiva constante.

    E, finalmente, em 1995 o Governo aprovou a Lei n° 9.249/95, que proibiu a

    correção monetária dos balanços a partir de 1° de Janeiro de 1996. A CVM,

    acompanhando as mudanças impostas na Lei, editou a IN n° 248/96, exigindo a

    apresentação das informações trimestrais e demonstrações contábeis nos moldes da

    nova Lei e tornando facultativa a elaboração e divulgação das demonstrações

    financeiras em moeda de poder aquisitivo constante.

    Com a mudança do nível geral de preços, os sistemas de contabilização

    utilizados, atualmente, geram informações que não são comparáveis ao longo do

    tempo, entre outras distorções.

  • 18

    1.1 Inflação

    Segundo o dicionário Houaiss (2004), uma das definições da palavra inflação é:

    “desequilíbrio que se caracteriza por uma alta substancial e continuada no nível geral

    dos preços, concomitante com a queda do poder aquisitivo do dinheiro, e que é

    causado pelo crescimento da circulação monetária em desproporção com o volume de

    bens disponíveis”.

    Para Rossetti (p.695), a inflação “corresponde a uma alta generalizada dos

    preços dos bens e serviços, expressos pelo padrão monetário corrente. A alta, que

    varia de intensidade de país para país e de época para época, implica desvalorização

    da moeda em relação aos demais ativos”.

    Feitosa (2002, p. 55) define inflação como “a alta contínua no nível de preços

    dos diversos bens e serviços do país, que corrói o poder aquisitivo da moeda”.

    Conforme Iudícibus e Marion (2001, p.110), as modalidades de inflação podem

    ser definidas como:

    • Inflação de custo: denominação dada ao processo inflacionário

    desencadeado pela prática das grandes empresas de defender as

    margens de lucro repassando para os preços as elevações de seus

    custos unitários de produção. Tal modalidade de inflação pressupõe duas

    coisas: (a) crescimento do custo de produção acima do ritmo da inflação e

    dos ganhos de produtividade e (b) estruturas concentradas de mercado

    em que os preços não são determinados pelo livre jogo de oferta e

    demanda, mas fixados unilateralmente pelas empresas.

  • 19

    • Inflação de demanda: consiste no processo de elevação do nível geral de

    preços que decorre da existência de uma demanda que não pode ser

    atendida pela disponibilidade interna de bens e serviços.

    Martins e Assaf Neto (1986, p. 44) definem o processo inflacionário numa

    economia como “o incremento generalizado dos preços dos vários bens e serviços

    transacionados”. Deve-se ter em mente que a inflação não produz resultados sempre

    compensáveis nos elementos de estrutura patrimonial, ou seja, eventuais perdas

    inflacionárias são somente compensadas por ganhos de mesma natureza em situações

    puramente casuais.

    1.2 Indicadores de Inflação no Brasil

    Uma empresa brasileira convive com diversos indicadores de inflação, que

    procuram refletir a evolução periódica de preços de diferentes cestas de fatores e

    produtos. O uso adequado desses parâmetros requer, no entanto, conhecimento

    básico de seus critérios de cálculo e finalidades de uso, conforme pode ser visto nas

    sub-seções seguintes.

    1.2.1 IGP-M

    O IGP-M é o Índice Geral de Preços do Mercado calculado, mensalmente, pela

    Fundação Getúlio Vargas. Esse índice representa a média ponderada do índice de

    preços por atacado (IPA), do índice de preços ao consumidor (IPC-M) e do índice

    nacional de custos da construção (INCC), obedecendo às proporções de 60%, 30% e

    10%, respectivamente.

  • 20

    Para o cálculo final do IGP-M são realizadas três apurações entre o vigésimo

    primeiro dia do mês anterior e o vigésimo dia do mês de referência. As duas primeiras

    são consideradas como valores parciais (prévias) e a última apuração resulta no valor

    definitivo do mês.

    Tabela 1 - Períodos de apuração do IGP-M

    Períodos de Coleta de Preços

    Mês Anterior Mês de Referência

    11 21 01 10 20 30

    IGP – 10

    IGP – M

    IGP - DI Fonte: Fundação Getúlio Vargas (FGV)

    A seguir, são apresentados os índices componentes do IGP-M.

    1.2.2 IPA

    Atualmente, o índice de preços por atacado é a média ponderada de preços de

    uma cesta composta pelos 462 produtos mais importantes comercializados no país.

    A ponderação é calculada com base ou no “valor adicionado” ou no valor de

    transformação industrial, para que não haja efeitos indesejados causados por duplas

    contagens. A estrutura de ponderações utilizada baseia-se nos dados fornecidos no

    Censo Econômico de 1985 e também nas informações fornecidas por entidades

    sindicais, associações regionais e pela Confederação Nacional da Indústria.

    O IPA é calculado em três versões: IPA-10, IPA-M e IPA-DI. Essas têm em

    comum a amostra de produtos, a estrutura básica de pesos e o sistema de cálculo. A

    diferença entre eles está no período de pesquisa de preços. O IPA-DI utiliza o período

    compreendido entre o primeiro e o último dia do mês de referência, o IPA-10 baseia-se

    no período que vai do décimo primeiro dia do mês imediatamente anterior ao décimo

  • 21

    dia do mês de referência e o IPA-M utiliza o período entre o vigésimo primeiro dia do

    mês anterior e o vigésimo dia do mês de referência, sendo essa última, a versão

    utilizada no cálculo do IGP-M.

    1.2.3 IPC-M

    O primeiro índice de custo de vida foi calculado em 1920 e referia-se a uma

    família relativamente rica do Rio de Janeiro, o que não correspondia à média da

    população da cidade, e, portanto, apresentava um viés de seleção da amostra.

    Com o intuito de melhorar sua representatividade, foram realizadas várias

    revisões na metodologia de cálculo desse índice, que foi apurado até 1989 na Cidade

    do Rio de Janeiro.

    Entre 1985 e 1986, foi realizada uma ampla pesquisa de orçamentos familiares

    nos Municípios de São Paulo e Rio de Janeiro que priorizava famílias com renda

    variando entre 01 e 33 salários mínimos, que representa a classe média brasileira, ou

    seja, o grupo de maior participação na composição da renda nacional. Baseando-se

    nas informações obtidas nessa pesquisa, a FGV e a ANDIMA, em 1989, criaram o

    Índice de Preços ao Consumidor – Mercado (IPC-M).

    A cesta básica do IPC-M é constituída por 432 produtos que são pesquisados

    em 2500 estabelecimentos.

    A coleta de preços é dividida em dois segmentos de pesquisa: primeiro,

    levantam-se os preços dos produtos que representam os grupamentos alimentação no

    domicílio, artigos de limpeza e higiene e setor de serviços. Esse levantamento é

    repetido, ininterruptamente, a cada dez dias, nos mesmos estabelecimentos, conforme

  • 22

    um calendário previamente determinado; na segunda etapa do processo, pesquisam-se

    os demais grupos de bens e serviços que fazem parte da cesta básica.

    1.2.4 INCC

    O primeiro índice de custos da construção foi concebido com a finalidade de

    acompanhar a evolução dos custos de construções habitacionais. Inicialmente, referia-

    se aos padrões e gabaritos simples da década de 50 e, desde então, tem sido

    adaptado aos novos produtos e especialidades da área da construção civil.

    O INCC foi introduzido em 1985 e incluía, além do Rio de Janeiro, mais sete

    Capitais do país. Atualmente, o índice engloba doze Capitais brasileiras, 723 itens

    específicos e considera os seguintes padrões de construção habitacional:

    H1: casa de um único pavimento, com uma sala, um quarto e demais

    dependências, medindo em média 30 m2;

    H4: edifício habitacional de quatro pavimentos, constituído por unidades

    autônomas de sala, três quartos e dependências, com área total média de 2.520 m2;

    H12: edifício habitacional de doze pavimentos, composto de apartamentos de

    sala, três quartos e dependências, com área total média de 6.013 m2.

    Os padrões habitacionais acima citados referem-se a construções de boa

    qualidade mas sem luxo, pois o objetivo é calcular um índice que reflita os custos de

    construção de um mercado compatível com a realidade econômica brasileira.

  • 23

    1.3 Correção Monetária

    1.3.1 Definição

    A definição de correção monetária pode ser dada com a utilização do termo

    indexação, haja vista ter o mesmo significado da primeira.

    Segundo Fernandez e Hansen (1976), a indexação pode ser definida como o

    instrumento pelo qual o valor em moeda corrente, proveniente de uma transação,

    passa por um reajuste para evitar mudanças no seu valor real.

    De acordo com Martins e Assaf (1986, p.45) a indexação pode ser considerada

    como o processo de: “transformar determinados valores nominais em moeda

    representativa de um mesmo poder aquisitivo posterior, isto é, a indexação supõe a

    transformação de dados, disponíveis no início de um período, em valores compatíveis

    com a capacidade de compra verificada numa data posterior”.

    Segundo a Receita Federal, dentre os fatores que podem contribuir para que um

    país venha a introduzir no seu ordenamento jurídico a correção monetária estão: a)

    desvalorização acentuada da moeda; b) dificuldade para obtenção de empréstimos

    públicos, especialmente os de longo prazo e c) a necessidade de alongamento de

    prazo para pagamento de dívida mobiliária. Esses fatores estavam presentes no

    cenário econômico vivenciado pelo país no ano de 1.964, quando foi editada a Lei No

    4.357/64 que autorizou, entre outras medidas, o Poder Executivo federal a emitir

    Obrigações do Tesouro Nacional com vencimento entre três e vinte anos e juros

    mínimos de 6% ao ano, calculado sobre o valor nominal atualizado periodicamente, em

    função das variações do poder aquisitivo da moeda nacional. Para que houvesse um

    equilíbrio, principalmente para a União, haja vista que de um lado estava à dívida

    mobiliária, revelou-se conveniente estender o uso da correção monetária, também,

    para os tributos pagos depois de vencidos os prazos fixados em lei. Posteriormente, o

  • 24

    uso da correção monetária ocorreu de forma generalizada entre os agentes

    econômicos, sendo um mecanismo de proteção contra os efeitos da inflação. A

    correção monetária, então, pode ser definida como a indexação de valores, por meio

    de reajuste periódico e automático, de acordo com os índices oficiais de inflação.

    A correção monetária procura eliminar dos balanços distorções como: a

    desatualização da expressão monetária do custo histórico, a sub-avaliação dos ativos

    não-monetários e a sub-avaliação do capital aplicado e do capital próprio, por meio do

    ajuste da expressão do custo histórico dos ativos não-monetários e do capital próprio

    registrado nas contas do patrimônio líquido, à moeda da data do balanço. Em resumo,

    a correção visa a fazer com que o custo histórico fique expresso na moeda com o

    poder aquisitivo do mês do balanço, e não na moeda histórica da época de aquisição

    ou produção dos ativos (PEDREIRA; CRUZ, 1977).

    1.3.2 Histórico

    Latorraca apud Corrêa (2002, p. 24) cita que os primeiros institutos que previam

    a correção monetária na legislação brasileira permitiam a correção, apenas, do ativo

    imobilizado: “Durante os anos de 1944, 1951 e 1956, as autoridades fiscais permitiram

    a atualização do ativo dentro de certos limites, e de forma excepcional”.

    Mas foi pela Lei nº 3470, de 28 de novembro de 1958, que se criou, de forma

    opcional, a figura da correção monetária no Brasil, conforme o artigo 57 reproduzido a

    seguir:

    “Art 57. As firmas ou sociedades poderão corrigir o registro contábil do valor original dos bens do

    seu ativo imobilizado até o limite das variações resultantes da aplicação, nos termos deste artigo, de

    coeficientes determinados pelo Conselho Nacional de Economia, cada dois anos. Essa correção poderá

  • 25

    ser procedida a qualquer tempo, até o limite dos coeficientes vigentes à época, e a nova tradução

    monetária do valor original do ativo imobilizado vigorará, para todos os efeitos legais até nova correção

    pela firma ou sociedade”.

    Alves (1982, p. 64 e 65) faz uma descrição histórica das alterações feitas nas

    leis para a aplicação da correção monetária. Segundo o autor, a lei 3.470/58, que

    inaugurou a correção monetária no Brasil tinha como características principais:

    1) Correção monetária facultativa;

    2) Incidia, apenas, sobre o ativo imobilizado, não afetando o diferido e os

    investimentos;

    3) Cotas de depreciação calculadas sobre o valor original dos ativos;

    4) O capital deveria ser aumentado em parcela equivalente àquela

    acrescida aos ativos;

    5) A correção limitava-se aos coeficientes publicados pelo Conselho

    Nacional de Economia a cada dois anos; era tributada na base de 10%

    pelo Imposto de Renda, no momento da incorporação do capital;

    6) Podia ser efetuada a qualquer tempo.

    Mais tarde, com a Lei 4.357/64, alguns dispositivos foram alterados e a correção

    monetária tornou-se obrigatória.

    1) As depreciações passaram a ser calculadas sobre o valor do ativo

    corrigido e os coeficientes a ser anuais;

    2) A tributação foi reduzida para 5% sobre o aumento de capital

    decorrente da correção;

  • 26

    3) O resultado da correção monetária era registrado no Passivo Não-

    Exigível e, posteriormente, incorporado ao capital;

    4) A correção deveria ser efetuada até o quarto mês seguinte ao

    encerramento do balanço anual;

    5) Os ativos adquiridos no decorrer do exercício da correção não sofriam

    alteração.

    Anos depois, a Lei nº 6.404/76 alterou o modo de reconhecimento dos efeitos

    inflacionários no balanço, eliminando várias distorções existentes na legislação anterior

    e introduzindo novos conceitos. Um problema, nessa reformulação, foi a defasagem

    para a incorporação dos efeitos da correção monetária no balanço, pois os seus efeitos

    eram contabilizados, apenas, no exercício seguinte.

    A Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, representou um avanço sobre as

    regras da correção monetária das demonstrações financeiras. Os cálculos foram

    simplificados e eliminaram-se as deformações existentes nas leis anteriores.

    A sistemática para a correção monetária foi definida de maneira concisa,

    conforme o artigo 185:

    Art. 185. Nas demonstrações financeiras deverão ser considerados os efeitos da modificação no

    poder de compra da moeda nacional sobre o valor dos elementos do patrimônio e os resultados do

    exercício.

    § 1º Serão corrigidos, com base nos índices de desvalorização da moeda nacional reconhecidos

    pelas autoridades federais:

    a) o custo de aquisição dos elementos do ativo permanente, inclusive os

    recursos aplicados no ativo diferido, os saldos das contas de depreciação,

    amortização e exaustão, e as provisões para perdas;

  • 27

    b) os saldos das contas do patrimônio líquido.

    § 2º A variação nas contas do patrimônio líquido, decorrente de correção monetária, será

    acrescida aos respectivos saldos, com exceção da correção do capital realizado, que constituirá a

    reserva de capital de que trata o § 2º do artigo 182.

    § 3º As contrapartidas dos ajustes de correção monetária serão registradas em conta cujo saldo

    será computado no resultado do exercício.

    Pode-se observar que a lei definiu os critérios genéricos da correção monetária,

    mas não estipulou a sua forma de apuração, tampouco como seriam tratadas as

    particularidades.

    Assim, as principais mudanças introduzidas pela Lei 6.404/76 podem ser

    resumidas nos seguintes pontos:

    1) A correção monetária passou a incidir sobre todo o ativo permanente e

    não mais apenas sobre o ativo imobilizado;

    2) O patrimônio líquido, também, passou a ser corrigido;

    3) O saldo da correção monetária, seja credor ou devedor, transita pelas

    contas de resultado do exercício;

    4) O registro da correção era feito pelo total apurado e a manutenção do

    capital de giro limitava-se ao lucro realizado no exercício;

    5) Os saldos das contas são diretamente atualizados, sem passar por

    contas de reservas;

    6) Os ajustes são efetuados dentro do próprio exercício, eliminando o

    problema da defasagem.

  • 28

    Em 1989, o artigo 185 da Lei 6.404/76 foi revogado pela Lei 7.730/89, conforme

    divulgado no artigo 29:

    Art. 29. A partir de 1º de fevereiro de 1989, fica revogado o art. 185 da Lei nº 6.404, de 15 de

    dezembro de 1976, bem como as normas de correção monetária de balanço previstas no Decreto-Lei nº

    2.341, de 29 de junho de 1987, ressalvado o disposto no artigo seguinte.

    A ressalva no caso tratava principalmente a obrigatoriedade de proceder a correção monetária

    até o mês de janeiro de 1989, os demais itens não afetam diretamente o disposto no artigo.

    Meses mais tarde, em 10 de julho de 1989, a Lei 7.799 retoma a correção

    monetária, por meio dos seguintes artigos:

    Art. 2° Para efeito de determinar o lucro real - base de cálculo do imposto de renda das pessoas

    jurídicas, a correção monetária das demonstrações financeiras será efetuada de acordo com as normas

    previstas nesta Lei.

    Art. 3° A correção monetária das demonstrações financeiras tem por objetivo expressar, em

    valores reais, os elementos patrimoniais e a base de cálculo do imposto de renda de cada período-base.

    Parágrafo único. Não será admitido à pessoa jurídica utilizar procedimentos de correção

    monetária das demonstrações financeiras que descaracterizem os seus resultados, com a finalidade de

    reduzir a base de cálculo do imposto ou de postergar o seu pagamento.

    Art. 4° Os efeitos da modificação do poder de compra da moeda nacional sobre o valor dos

    elementos do patrimônio e os resultados do período-base serão computados na determinação do lucro

    real mediante os seguintes procedimentos:

    I - correção monetária, na ocasião da elaboração do balanço patrimonial:

  • 29

    a) das contas do ativo permanente e respectiva depreciação, amortização ou exaustão,

    e das provisões para atender a perdas prováveis na realização do valor de

    investimentos;

    b) das contas representativas do custo dos imóveis não classificados no ativo

    permanente;

    c) das contas representativas das aplicações em ouro;

    d) das contas representativas de adiantamentos a fornecedores de bens sujeitos à

    correção monetária, salvo se o contrato previr a indexação do crédito;

    e) das contas integrantes do patrimônio líquido;

    f) de outras contas que venham a ser determinadas pelo Poder Executivo, considerada

    a natureza dos bens ou valores que representem;

    II - registro, em conta especial, das contrapartidas dos ajustes de correção monetária de que

    trata o item I;

    III - dedução, como encargo do período-base, do saldo da conta de que trata o item II, se

    devedor;

    IV - observado o disposto na Seção III deste Capítulo, cômputo no lucro real do saldo da conta

    de que trata o item II, se credor.

    Em 28 de junho de 1991, foi alterada a forma de cálculo da correção monetária,

    conforme dita o artigo 1º da Lei 8.200/91:

    Art. 1º Para efeito de determinar o lucro real - base de cálculo do imposto de renda das pessoas

    jurídicas - a correção monetária das demonstrações financeiras anuais, de que trata a Lei nº 7.799, de

    10 de julho de 1989, será procedida, a partir do mês de fevereiro de 1991, com base na variação mensal

    do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

    No entanto, em 26 de dezembro de 1995, pela Lei 9.249/95, a correção

    monetária das demonstrações contábeis foi extinta, conforme disposto no seu artigo 4º:

  • 30

    Art. 4º Fica revogada a correção monetária das demonstrações financeiras de que tratam a Lei

    nº 7.799, de 10 de julho de 1989, e o art. 1º da Lei nº 8.200, de 28 de junho de 1991.

    Parágrafo único. Fica vedada a utilização de qualquer sistema de correção monetária de

    demonstrações financeiras, inclusive para fins societários.

    Com a extinção da correção monetária em 1995, de acordo com Gomes (2000),

    o Governo criou a sistemática de juros sobre o capital próprio (JCP), em parte, como

    uma compensação dos reflexos decorrentes da inexistência de mecanismos de

    indexação.

    Essa sistemática permitiu às empresas que remunerassem os investimentos dos

    sócios ou acionistas, por meio de pagamento ou crédito de juros calculados sobre o

    patrimônio líquido e esses juros se refletiam, contabilmente, nos resultados do

    exercício como despesa financeira, para efeito de tributação. Em resumo, a

    remuneração dos sócios ou acionistas por meio dos JCP, proporcionava à empresa

    uma redução das despesas tributárias, diferentemente da opção por distribuição de

    lucros ou dividendos, devido ao fato de que não eram admitidos pela legislação fiscal

    como despesas dedutíveis.

    Em seu primeiro ano de vigência (1996), a dedutibilidade estava prevista,

    apenas, para efeito da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica

    (IRPJ). Somente a partir de 1997, a dedutibilidade dos juros passou a abranger,

    também, a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

  • 31

    1.4 As diferenças entre os juros sobre o capital próprio e a correção monetária do balanço

    A possibilidade de as empresas distribuírem juros sobre o capital próprio tem

    origem na mesma lei que extinguiu a sistemática de correção monetária do balanço, ou

    seja, a Lei n° 9.249 de 1995.

    O sistema de Juros sobre o capital próprio possibilita a dedutilidade da

    remuneração do capital próprio. A Lei 9249/95 prevê que o valor pago a título de juros

    sobre o capital próprio poderá ser imputado como valor dos dividendos previsto nos

    estatutos das empresas. Dessa forma, para as empresas que apresentaram lucro

    tributável, sua adoção poderá: ser um mecanismo para redução da carga tributária,

    representado pelo imposto de renda e contribuição social.

    A base de cálculo dos juros é o capital acrescido das reservas de capital e do

    lucro, não se computando o lucro do período. Além disso, não se incluem, nessa base,

    os valores oriundos da reserva de reavaliação de ativos e da reserva especial de

    correção monetária (artigo 2°, da lei n° 8.200 de 1991). A taxa de juros utilizada para o

    cálculo dos juros está limitada à variação da TJLP do período.

    A Lei n° 9.249 de 1995 deixou como opcional às empresas a distribuição de

    juros sobre o capital, que poderão exercê-la desde que haja lucro no exercício ou

    lucros acumulados, em dobro do valor dos juros.

    As empresas poderão computar o valor dos juros sobre o capital no cálculo dos

    dividendos mínimos obrigatórios. Se, assim, o fizerem, no caso de companhias abertas,

    a instrução CVM 207/96 orienta que a empresa poderá computar como dividendo

  • 32

    somente o valor líquido do imposto de renda na fonte, de 15%, que incide sobre o valor

    dos juros.

    Assim, as empresas que adotarem essa opção estarão distribuindo sempre um

    valor superior, no percentual do imposto, se comparado com a opção de distribuição

    somente de dividendos, sobre a qual não existe tributação. Todavia, continuará

    havendo o benefício fiscal se for considerado que, via de regra, o imposto de renda

    incide pela alíquota de 25% para lucros tributáveis superiores a R$ 240 mil (abaixo

    disso, a alíquota é de 15%) e a contribuição social em 9%.

    Apesar de amenizar a carga tributária das empresas, os juros sobre o capital

    próprio apresentam efeitos diferentes quando comparados com a sistemática de

    correção monetária de balanços que vigorou até 31 de dezembro de 1995. Esses

    efeitos são produzidos pelas seguintes diferenças básicas:

    a) A correção monetária do balanço era obrigatória para todas as empresas

    tributadas com base no lucro real.

    Os juros sobre o capital próprio estão condicionados à existência de lucros, do

    exercício ou acumulados, em dobro do valor distribuído, além de ser opcional.

    Destaque, ainda, que a decisão da empresa está baseada na existência de lucro

    tributável, haja vista ser ele diferente do lucro contábil.

    b) Na sistemática de correção monetária do balanço, a médio e longo prazo, a

    totalidade da correção monetária do patrimônio líquido seria dedutível, tendo em

    vista que a correção do ativo permanente retornaria no futuro, via depreciações

    e baixas a valores corrigidos.

  • 33

    Utilizando a opção de se distribuir juros sobre o capital próprio, como a base é

    nominal, existe a possibilidade de ela apresentar defasagens ao longo do tempo.

    Além disso, caso a empresa efetuasse, em um determinado exercício, uma

    distribuição de juros superior ao seu lucro tributável, acabaria produzindo um

    efeito indesejável, que seria gerar um prejuízo fiscal, sobre o qual a legislação

    fiscal restringe a sua utilização em 30% do lucro tributável do exercício seguinte.

    c) A sistemática de correção monetária do balanço preservava o patrimônio de

    tributação, à medida que os efeitos inflacionários eram reconhecidos,

    inicialmente nas contas do ativo permanente e patrimônio líquido, refletido no

    resultado de cada período, e a partir do qual era apurado o lucro base para

    tributação, fato que preservava o valor do patrimônio de tributação.

    Da comparação entre a sistemática de correção monetária e a de juros sobre o

    capital próprio, constata-se que os objetivos são diferentes, sendo o sistema de juros

    sobre o capital próprio uma possibilidade que as empresas têm de reduzir sua carga

    tributária.

    1.5 Sistemática de Correção Monetária de balanço

    Pode-se encontrar em Famá (1986, p. 62) a justificativa para retirar a inflação

    das análises de balanço:

    “quando há inflação, a moeda perde sua característica de homogeneidade que é

    exigida na tarefa de somar ou agregar todas as transações ocorridas durante o

    ciclo operacional. A presença da inflação ‘dificulta’ ou ‘ofusca’ a percepção do

    ‘real’ em oposição ao ‘nominal’”.

  • 34

    Portanto, para fazer comparações por prazos longos, é necessário trabalhar em

    termos reais, como em Fisher (1886):

    ( )( )Inflação de Índice Número1

    Nominal Taxa1 Real Taxa+

    +=

    Dentre as formas de mensuração dos ativos e, conseqüentemente, do lucro, o

    custo histórico não considera os efeitos da inflação. O lucro com base no custo

    histórico limita-se, apenas, a corrigir os valores registrados em livros, mantendo o seu

    poder aquisitivo, com o uso de índices gerais de preços. Há, assim, duas sistemáticas

    de reconhecimento dos efeitos da inflação nas demonstrações contábeis: a Correção

    Monetária de Balanço (CMB) e a Correção Monetária Integral (CMI).

    1.5.1 Correção Monetária de Balanços

    A CMB, quando comparada com a sistemática da CMI, pode ser considerada

    uma forma simplificada e parcial de mensuração dos efeitos inflacionários nas

    demonstrações contábeis, ao aplicar um índice geral de preços a fim de corrigir os

    valores do ativo permanente e do patrimônio líquido (itens não-monetários). A

    contrapartida das correções deve ser lançada em uma conta de Correção Monetária,

    cujo saldo é transferido para o resultado como despesa ou receita, em função de o

    saldo ser devedor ou credor.

    Essa metodologia considera os efeitos da inflação numa única conta de

    resultado, cujo saldo, se for considerado de uma forma mais ampla, será a diferença

    líquida entre os ganhos nos passivos monetários, perdas nos ativos monetários e

    correção monetária não efetuada das receitas e despesas do exercício. Dessa forma, o

    lucro apurado após o reconhecimento do resultado da correção monetária corresponde

  • 35

    à diferença entre o patrimônio líquido final e inicial devidamente corrigido para a moeda

    de fim de período, excluindo os efeitos de variações de capital e distribuição de

    dividendos.

    A elaboração de balanços corrigidos pela CMB é parcial, uma vez que algumas

    contas da demonstração permanecem com os valores originais.

    1.5.2 Correção Monetária Integral

    Segundo Almeida (1988, p. 50), “a teoria da correção integral está associada ao

    conceito de apresentar todas as informações das demonstrações financeiras por

    cruzados de poder de compra da data de encerramento do exercício social”. Para

    tanto, é necessário proceder a certos ajustes nas demonstrações financeiras

    tradicionais, que estão resumidos na tabela a seguir:

  • 36

    Tabela 2 - Resumo das práticas adotadas pela Correção Monetária Integral

    Itens avaliados Critério

    Da data do balanço

    - caixas e bancos

    - aplicações financeiras

    - empréstimos

    - direitos e obrigações realizáveis

    e exigíveis até 90 dias da data

    do balanço

    Não se ajustam

    Do passado

    - estoques

    - despesas antecipadas

    - investimentos

    - imobilizado

    - diferido

    - patrimônio líquido

    - adiantamento de clientes ou a

    fornecedores

    - receitas

    - despesas

    Ajustam-se pela variação da OTN,

    tomando por base o mês de sua

    formação ou aquisição

    Do futuro

    - direitos e obrigações realizáveis

    ou exigíveis após 90 dias da

    data do balanço

    Ajustam-se ao valor presente com

    base na média aritmética da

    variação da OTN nos três últimos

    meses do exercício social.

    Fonte: Almeida (1988, p.50 e 51)

    1.6 Impactos da Extinção da Correção Monetária

    A estrutura da Contabilidade está apoiada na hipótese de preços constantes ou

    pelo menos na manutenção da capacidade aquisitiva da moeda. Assim, todos os

    princípios e critérios que definem a elaboração de demonstrações financeiras foram

    desenvolvidos dentro do “Princípio do Denominador Comum Monetário”, o que significa

    que, para todos os componentes patrimoniais e do resultado, é utilizada, como base

    comum de comparação, uma única moeda.

  • 37

    Considerando um ambiente isento de inflação, o uso de valores puramente

    históricos na elaboração das demonstrações contábeis era válido. Em países como os

    Estados Unidos, apesar da desvalorização de sua moeda, elabora-se a sua

    contabilidade supondo-se que é a mesma moeda ao longo do tempo.

    Santos (2001) argumenta que a revogação da utilização da correção monetária

    das demonstrações contábeis no Brasil impossibilita a contabilidade de reconhecer

    efeitos provocados pela inflação e a perda (ou ganho) por ela ocasionada

    eventualmente.

    Apesar de a estabilização da moe