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153 ARTIGO DE REVISÃO Resumo: a cardiomiopatia dilatada é uma das doenças cardio- vasculares mais comuns na práctica clínica diária. Os autores propõem-se fazer uma revisão bibliográfica sobre a doença, focando o interesse da compreensão da sua patofisiologia no diagnóstico através do exame físico, conhecimento de patologia especifica das diferentes raças e utilização de meios complemen- tares de diagnóstico. Estes incluem os exames radiográfico, elec- trocardiográfico (em repouso e ambulatório) e ecocardiográfico, permitindo este um diagnóstico definitivo. Por fim dão-se algu- mas indicações de tratamento nos diversos estadios da doença, bem como de prognóstico. Summary: dilated cardiomyopathy is one of the most common cardiovascular diseases routinely dealt with in medical practice. The authors propose, first, a review of bibliographical data on the disease, focusing their interest simultaneously on the under- standing of the Pathophysiology, the performance of the physi- cal exam and on the knowledge of breed specific pathology in order to reach a diagnose. Secondly, the use of complementary diagnostic tests, such as radiography, electrocardiography (at rest and ambulatory) and echocardiography, will give us a defini- tive diagnosis. Finally we also indicate some therapeutic options (during different stages of the disease) and prognoses. O termo cardiomiopatia dilatada (CMD) é aplicado quando há insuficiência de contração do miocárdio por razões desconhecidas (idiopática), significando literalmente uma doença do músculo cardíaco no qual o coração se encontra dilatado (Kittlesson e Kienle, 1998). É uma doença primária, ou seja, não se refere a dilatações cardíacas que surgem secundariamente a alterações valvulares ou congénitas (Keene, 1994). Prevalência É uma das doenças cardiovasculares adquiridas mais comuns (Maseda et al., 1999). No entanto, a sua prevalência é relativamente baixa se comparada com as alterações degenerativas das válvulas e, em certas regiões, a dirofilariose, que são bastante mais comuns que a CMD (Sisson et al., 1999). A prevalência pode ser bastante mais elevada se a considerarmos em deter- minados grupos ou raças de cães, como mais à frente se explicitará. Pode aparecer em qualquer idade, mas é mais fre- quente o seu aparecimento em animais com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos (Maseda et al., 1999). Foi descrita no Cão de Água Português, uma nova forma de CMD. Esta afecta cães jovens entre as 2 e as 32 semanas de idade e que morrem em pouco tempo, devido a ICC (insuficiência cardíaca congestiva). Os neonatos morrem subitamente, sem sinais prévios ou com manifestação discreta de sinais de ICC, 1 a 5 dias antes de morrerem. Não há, nesta raça, predilecção para o sexo. O facto de aparecer em cães jovens e a progressão da doença ser rápida torna- a numa forma distinta de CMD canina (Sleeper et al., 1998). Os machos parecem ser mais predispostos para a CMD, sendo a relação com as fêmeas de 2:1 respecti- vamente (Keene, 1994). Predisposição racial Afecta fundamentalmente raças grandes e em geral todas as raças gigantes. Pode, no entanto, atingir também algumas raças pequenas (Kittlesson e Kienle, 1998). Assim, podemos destacar Doberman, Boxer, Irish Wolfhound, Grand Danois, Labrador Retriever, Terra Nova, Cocker Spaniel e Cão d’Água Portu- guês. De referir, em relação às raças portuguesas, a referência da doença em Cães da Serra da Estrela (Luis, 1998), também observada na prática clínica dos autores. O Doberman é a raça mais atingida, sendo o número de casos descritos nesta raça maior do que o das outras raças juntas (Kittlesson e Kienle, 1998; Sisson et al., 1999; Vollmar, 2000). Etiologia A etiologia é, como já foi referido, desconhecida (Calvert, 1995). Existem inúmeras causas que predis- põem a esta patologia. De referir as causas com base genética ou familiar, infecção vírica, autoimunidade, toxinas miocárdicas, hiper-reactividade microvascular, deficiência nutricional (taurina e carnitina), taquicar- Cardiomiopatia dilatada canina Canine dilated cardiomyopathy Luis Lima Lobo e Raquel Pereira Hospital Veterinário do Porto, Travessa Silva Porto, 174, 4250 – 475 Porto REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

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Page 1: Cardiomiopatia dilatada canina Canine dilated cardiomyopathy

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ARTIGO DE REVISÃO

Resumo: a cardiomiopatia dilatada é uma das doenças cardio-vasculares mais comuns na práctica clínica diária. Os autores propõem-se fazer uma revisão bibliográfica sobre a doença, focando o interesse da compreensão da sua patofisiologia no diagnóstico através do exame físico, conhecimento de patologia especifica das diferentes raças e utilização de meios complemen-tares de diagnóstico. Estes incluem os exames radiográfico, elec-trocardiográfico (em repouso e ambulatório) e ecocardiográfico, permitindo este um diagnóstico definitivo. Por fim dão-se algu-mas indicações de tratamento nos diversos estadios da doença, bem como de prognóstico.

Summary: dilated cardiomyopathy is one of the most common cardiovascular diseases routinely dealt with in medical practice. The authors propose, first, a review of bibliographical data on the disease, focusing their interest simultaneously on the under-standing of the Pathophysiology, the performance of the physi-cal exam and on the knowledge of breed specific pathology in order to reach a diagnose. Secondly, the use of complementary diagnostic tests, such as radiography, electrocardiography (at rest and ambulatory) and echocardiography, will give us a defini-tive diagnosis. Finally we also indicate some therapeutic options (during different stages of the disease) and prognoses.

O termo cardiomiopatia dilatada (CMD) é aplicado quando há insuficiência de contração do miocárdio por razões desconhecidas (idiopática), significando literalmente uma doença do músculo cardíaco no qual o coração se encontra dilatado (Kittlesson e Kienle, 1998). É uma doença primária, ou seja, não se refere a dilatações cardíacas que surgem secundariamente a alterações valvulares ou congénitas (Keene, 1994).

Prevalência

É uma das doenças cardiovasculares adquiridas mais comuns (Maseda et al., 1999). No entanto, a sua prevalência é relativamente baixa se comparada com as alterações degenerativas das válvulas e, em certas regiões, a dirofilariose, que são bastante mais comuns que a CMD (Sisson et al., 1999). A prevalência pode ser bastante mais elevada se a considerarmos em deter-minados grupos ou raças de cães, como mais à frente se explicitará.

Pode aparecer em qualquer idade, mas é mais fre-quente o seu aparecimento em animais com idades compreendidas entre os 4 e os 10 anos (Maseda et al., 1999). Foi descrita no Cão de Água Português, uma nova forma de CMD. Esta afecta cães jovens entre as 2 e as 32 semanas de idade e que morrem em pouco tempo, devido a ICC (insuficiência cardíaca congestiva). Os neonatos morrem subitamente, sem sinais prévios ou com manifestação discreta de sinais de ICC, 1 a 5 dias antes de morrerem. Não há, nesta raça, predilecção para o sexo. O facto de aparecer em cães jovens e a progressão da doença ser rápida torna-a numa forma distinta de CMD canina (Sleeper et al., 1998).

Os machos parecem ser mais predispostos para a CMD, sendo a relação com as fêmeas de 2:1 respecti-vamente (Keene, 1994).

Predisposição racial

Afecta fundamentalmente raças grandes e em geral todas as raças gigantes. Pode, no entanto, atingir também algumas raças pequenas (Kittlesson e Kienle, 1998). Assim, podemos destacar Doberman, Boxer, Irish Wolfhound, Grand Danois, Labrador Retriever, Terra Nova, Cocker Spaniel e Cão d’Água Portu-guês. De referir, em relação às raças portuguesas, a referência da doença em Cães da Serra da Estrela (Luis, 1998), também observada na prática clínica dos autores. O Doberman é a raça mais atingida, sendo o número de casos descritos nesta raça maior do que o das outras raças juntas (Kittlesson e Kienle, 1998; Sisson et al., 1999; Vollmar, 2000).

Etiologia

A etiologia é, como já foi referido, desconhecida (Calvert, 1995). Existem inúmeras causas que predis-põem a esta patologia. De referir as causas com base genética ou familiar, infecção vírica, autoimunidade, toxinas miocárdicas, hiper-reactividade microvascular, deficiência nutricional (taurina e carnitina), taquicar-

Cardiomiopatia dilatada canina

Canine dilated cardiomyopathy

Luis Lima Lobo e Raquel Pereira

Hospital Veterinário do Porto, Travessa Silva Porto, 174, 4250 – 475 Porto

R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

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RPCV (2002) 97 (544) 153-159Lobo, L. L. e Pereira, R.

dia persistente ou recorrente (Sisson et al., 1999). Em relação a este último ponto, sabe-se que, experimen-talmente, uma taquicardia induzida por marca-passos artificial, ao fim de algum tempo pode induzir uma insuficiência miocárdica. Em algumas raças gigantes, que normalmente apresentam fibrilhação atrial com frequências cardíacas altas, antes de apresentarem evi-dência de disfunção ventricular, coloca-se a questão se a insuficiência do miocárdio é o resultado da evolução de um processo patológico miocárdico primário ou se, por outro lado, é a consequência de uma fibrilhação atrial crónica.

Hoje sabe-se que a maioria dos cães com CMD não apresenta lesão ou perda significativa de miócitos do miocárdio, pelo que se sugere a existência de anor-malidades bioquímicas ou estruturais que induzam uma deficiente função contráctil, sem destruição celular. Esta sugestão leva-nos a pensar que a causa específica da doença nos cães possa ser determinada e que a CMD possa ser reversível ou, pelo menos, parcialmente reversível, como acontece nos casos de deficiência em taurina. Em medicina humana, o desenvolvimento de técnicas de biologia molecular tem permitido a identificação de causas especificas de CMD que era considerada idiopática. O uso de técnicas similares em medicina veterinária poderá ter resultados semelhantes, direccionando-nos para novas estratégias terapêuticas (Spier et al., 2001).

O facto de haver predisposição de algumas raças para esta patologia e de, em certas raças, ter caracte-rísticas especiais, sugere que exista uma base genética para CMD. O padrão de transmissão autossómico dominante é o mais comum. É caracterizado pelo aparecimento da doença em muitas gerações, igual ocorrência nos dois generos e transmissão de macho para macho. Este padrão de transmissão é descrito no Boxer. No Doberman a transmissão é feita por um gene autossómico dominante de baixa penetrância, no entanto nem todos seguem o mesmo padrão (Meurs, 1998). Ainda nesta raça, foram efectuados estudos que tentaram demonstrar a existência de mutações nos genes, semelhantes àquelas encontradas em humanos com CMD familiar, mas aparentemente sem sucesso (Meurs et al., 2001). No Cão d’Água Português o padrão de transmissão descrito é por um gene autos-sómico recessivo (Sleeper et al., 1998), não se encon-trando nesta raça alterações nas concentrações séricas e miocárdicas de carnitina e taurina (Sleeper, 2002).

A taurina é o aminoácido livre mais abundante no coração, tendo grande importância na cinética interce-lular do cálcio e ajudando na eliminação de radicais livres de oxigenio. Estudos realizados com Cocker Spaniel e Golden Retriever, demonstraram que em animais com CMD os níveis de concentração de tau-rina estavam baixos (< 25 ηmol/ml), observando-se, em alguns deles, uma melhoria da função miocárdica após a suplementação com taurina (Sisson et al., 1999). A hipótese da carnitina também poder desem-

penhar um papel na etiologia da CMD, nomeadamente em Boxers (Keene et al., 1991), já é mais controverso. Extrapolando da medicina humana, sabe-se que, na maior parte das doenças cardíacas, as concentrações da carnitina, mesmo a nível do miocárdio, tendem a ser baixas como consequência directa da insuficiência cardíaca e não como causa desta. A suplementação em carnitina pode ser em parte benéfica pela substituição da deplecção de carnitina, mas não há evidência cien-tifica, do conhecimento dos autores, que a suplementa-ção com esta substância possa ser causa da doença ou possa reverter a função miocárdica primária na grande maioria dos cães.

Por último de referir que a associação de hipotiroi-dismo com CMD, referida em alguns textos, não tem sido comprovada (Calvert et al., 1998).

Patologia

A CMD caracteriza-se por uma dilatação moderada a severa das câmaras cardíacas.A espessura das paredes ventriculares pode estar diminuída, mas pode também encontrar-se normal, o que nos introduz a noção de hipertrofia excêntrica, que é caracterizada por um aumento de tamanho das câmaras cardíacas relati-vamente à espessura das paredes. Nos Dobermans e Boxers predomina uma dilatação do átrio e ventrículo esquerdo, enquanto que noutras raças há, normal-mente, uma dilatação de todas as câmaras (Maseda et al., 1999). O anel de inserção das válvulas semilunares está aumentado e estas estão ligeiramente espessadas. Os músculos papilares encontram-se atrofiados e apla-nados e as cordas tendinosas podem estar finas e alon-gadas (Kittlesson e Kienle, 1998). A nível histológico normalmente não são observadas lesões significativas, suficientemente severas para causar o marcado grau de insuficiência cardíaca observado clinicamente

Patofisiologia

A sua compreensão é fundamental para a obtenção de um diagnóstico e prognóstico correctos e para ins-taurar um tratamento adequado. Inicialmente a dimi-nuição da contractibilidade miocárdica é moderada, tornando-se mais severa com o tempo. Cria-se uma disfunção ventricular sistólica, com diminuição do débito cardíaco e consequente activação de mecanis-mos compensatórios que levam, basicamente, à reten-ção de água e sódio a nível renal. Isto traduz-se num aumento do volume de sangue e consequente aumento do volume intracardiaco, com retenção de sangue no ventrículo esquerdo (Hamlin, 1999). Ventrículos volu-metricamente sobrecarregados adaptam-se a aumentos crónicos de volume, sofrendo hipertrofia excêntrica, que se traduz num aumento das câmaras cardíacas e da massa muscular. Assim, numa fase de doença ligeira a moderada, o coração consegue compensar a sua defi-

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ciente contractilidade e manter um adequado volume de ejecção, sem que as pressões intraventriculares no final da diástole estejam aumentadas (Hamlin, 1999).

Esta situação pode reverter-se se a doença for severa e a capacidade de compensação do sistema cardiovas-cular for ultrapassada. A progressão da doença leva a que a contractilidade se deteriore paulatinamente levando o coração a dilatar até ao seu limite. Por outro lado, os rins continuam a reter sódio e água, aumen-tando cada vez mais o volume sanguíneo sem o cora-ção compensar (Hamlin, 1999). A pressão diastólica final do ventrículo esquerdo aumenta, o que se trans-mite retrogradamente ao átrio, veias e leito capilar, resultando em edema pulmonar (ICC) (Hamlin, 1999). Se o lado direito estiver também severamente afectado, o mesmo processo resultará em ascite.

Nesta fase, com vista a aumentar o débito cardíaco, há estimulação do sistema nervoso simpático, com aumento da frequência cardíaca e vasoconstrição. Com a vasoconstrição periférica, o fluxo sanguíneo para os rins, tracto gastrointestinal, pele e músculos inactivos, fica diminuído, para que seja possível haver uma cor-recta perfusão do cérebro e coração (Knight, 1995).

Por fim e após falharem todos os mecanismos com-pensatórios, o débito cardíaco diminui a tal ponto que, mesmo com um aumento marcado da resistência vascular periférica, a pressão arterial sistémica baixa significativamente levando a um estado de choque cardiogénico.

Os animais com CMD estão também sujeitos a alterações do ritmo cardíaco. Em Boxers e Dober-mans, predominam as arritmias ou taquiarritmias ventriculares. Nestes casos a capacidade de enchi-mento ventricular diminui, diminuindo assim o débito cardíaco. Havendo comprometimento da circulação o animal pode morrer de um colapso ou de morte súbita (Hamlin, 1999). Nas outras raças, como por exemplo no Irish Wolfhound (Brownlie e Cobb, 1999), pre-domina a fibrilhação atrial. Nestas situações há um aumento da frequência cardíaca, que inicialmente mantém o débito cardíaco, mas que depois leva à falência do miocárdio (Hamlin, 1999; Vollmar, 2000).

De referir por último que a função miocárdica é também agravada pela hipóxia consequente a um ina-dequado fornecimento de oxigénio ao miocárdio.

Apresentação clínica

Existe um padrão geral de apresentação clínica para a CMD, no entanto a variação racial é bastante acentu-ada (Sisson et al., 1999). Os animais podem apresentar uma fase subclínica mais ou menos longa, até apresen-tarem sintomatologia. Esta fase pode durar anos, em que o animal se mantém practicamente assintomático, podendo desenvolver uma IC (insuficiência cardíaca) de uma forma aguda e apresentando um quadro muito exuberante.

Na fase subclínica já existe insuficiência do miocár-

Lobo, L. L. e Pereira, R.

dio sem a presença de sinais clínicos e, numa primeira fase, não há sequer evidência ecográfica de insufici-ência ventricular (Kittlesson e Kienle, 1998). Quando se desenvolve a insuficiência cardíaca, os sinais geralmente observados são: letargia, intolerância ao exercício, fraqueza, anorexia, síncope, dispneia, tosse e distensão abdominal (Keene, 1994).

A raça em que a CMD está mais bem estudada é o Doberman (Kittlesson e Kienle, 1998). Nesta raça estão descritos padrões diferentes da doença, havendo dois grupos. Um dos grupos representa os animais que desenvolvem sinais de ICC, o outro grupo representa os animais que têm morte súbita, que pode ser o pri-meiro e único sinal (Calvert, 2001).

Nos Boxers a doença encontra-se separada em três categorias. Na categoria I estão os animais com CMD assintomática, mas em que uma arritmia cardíaca pode ser detectada durante um exame de rotina ou em des-pistes com Holter. Na categoria II estão os que sofrem sincopes ou episódios de tosse, no entanto pode ocorrer morte súbita sem que apareçam sincopes e é frequente a detecção de arritmias ventriculares. Na categoria III encontram-se os Boxer que desenvolvem sinais de ICC (Meurs, 1998).

Em Dobermans e Boxers predominam os sinais de IC esquerda, tais como tosse e dispneia devido a edema pulmonar. Nas outras raças predominam os sinais de IC biventricular, desenvolvendo para além dos sinais acima mencionados, ascite, hepatomegália e efusão pleural (Vollmar, 2000). Os sinais atribuíveis às arritmias cardíacas aparecem frequentemente, tais como a sincope, episódios de fraqueza ou colapso (Sisson et al., 1999).

Exame físico

Por auscultação cardíaca pode detectar-se um ritmo de galope protodiastólico (S

3), de baixa frequência,

constituindo um dado clinico frequente e importante. Os sopros cardiacos de alta intensidade não são carac-terísticos da CMD, podendo-se ouvir, em cerca de metade dos animais afectados (Sisson et al., 1999), um sopro sistólico de regurgitação de baixa a média intensidade (I-III/VI). Mediante auscultação cuidadosa podemos ouvir um ritmo irregular que corresponde a fibrilhação atrial, complexos supraventriculares ou ventriculares prematuros (CVPs), taquicardia ventricu-lar e supraventricular (Sisson et al., 1999).

Por auscultação pulmonar detectam-se sons bronco-vesiculares, estretores e fervores devido a IC esquerda e edema pulmonar. As crepitações são ouvidas na região peri-hilar e, em casos mais severos, podem ser ouvidas ao nível de todo o campo pulmonar (Sisson et al., 1999), sendo a auscultação dificultada nos casos em que existe efusão pleural.

A evidência de uma arritmia cardíaca (fibrilhação atrial e CVPs) inclui alteração do pulso para fraco, rápido, irregular e não síncrono (Keene, 1994), pelo

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que é importante sentir o pulso ao mesmo tempo em que se efectua a auscultação cardiaca. O pulsus alter-nans é caracterizado pela sua variação em amplitude com ausência de arritmia cardíaca. Este sinal indica IC severa (Sisson et al., 1999). Distensão e pulso jugular, hepatomegália e ascite são frequentes em casos de IC direita. Em casos graves existe edema periférico (Maseda, 1999).

Exame electrocardiográfico

O exame electrocardiográfico é utilizado para iden-tificar o tipo de arritmia que está presente (Brownlie e Cobb, 1999; Keene, 1994; Meurs, 1998). Os electro-cardiogramas (ECGs) podem variar de raça para raça. A maioria dos animais têm ECGs anormais. Podem aparecer alterações indicativas de dilatação atrial ou ventricular (eg. QRS e P de duração e amplitude aumentadas). É importante ter em atenção que, nos casos em que existe efusão pleural, a onda R pode-se encontrar de baixa amplitude. O eixo eléctrico será normal (Sisson et al., 1999).

Em Dobermans com CMD, três quartos dos animais apresentam CVPs (Figura 1) e taquiarritmias ventri-culares (Figura 2). Um estudo efectuado (Calvert et al., 1997) em cães desta raça, em que se diagnosticou CMD e que tiveram morte súbita ou que desenvol-veram sinais de ICC, demonstrou que estes animais apresentavam arritmias ventriculares em 100% dos casos.

Nos Boxers é também frequente a presença de CVPs. Podem ter arritmia sem evidência ecográfica de disfunção miocárdica. Estas arritmias são observadas em 84% dos casos e muitos deles têm mais que 20 CVPs por minuto. A morfologia é indicativa da ectopia ter origem no ventrículo direito (Sisson et al., 1999). Outras anormalidades electrocardiográficas, encontra-das nesta raça com bastante menos frequência, são os bloqueios sino-atriais e bloqueios atrioventriculares de 3º grau (Calvert et al., 1996; Harpster, 1991). Noutras raças, o mais comum, entre 75 a 80%, é encontrarmos a fibrilhação atrial como principal alteração electro-cardiográfica (Brownlie e Cobb, 1999; Vollmar, 2000). Este grupo de raças inclui as raças gigantes como o

Irish Wolfhound, o Dog Alemão ou o Cão da Terra Nova (Tidholm e Jonsson, 1996) De referir que, pela experiência dos autores, também o Cão da Serra da Estrela parece poder ser incluído neste grupo.

Juntamente com o ECG, o monitor ambulatório (Holter) é útil para relacionar o ritmo cardíaco com os sinais clínicos (Keene, 1994). O Holter é um meio não invasivo, ideal para quantificar a frequência e a com-plexidade da arritmia, no ambiente habitual, durante um período de tempo determinado (normalmente 24 horas) (Calvert, 1995). É um método precoce de diagnóstico e rastreio para Boxers e Dobermans, que têm tendência a arritmias ventriculares. Isto deve-se ao facto de estas ectopias poderem preceder em meses ou anos uma CMD clinica (Keene, 1994; O’Grady e Horne, 1992). Desta forma é possível actuar de uma forma mais eficaz contra a arritmia, efectuar um diag-nóstico precoce e detectar linhas familiares de cães afectados.

Exame radiográfico

Serve para avaliar a dimensão cardíaca e detectar a presença e severidade do edema pulmonar ou efusão pleural. O tamanho cardíaco não deve ser utilizado para avaliar a severidade da IC, porque há uma pequena relação entre o tamanho cardíaco e os sinais clínicos (Le Bobinnec, 1999).

A cardiomegália generalizada é o mais comum em raças gigantes e Cocker Spaniel. Em Dobermans e Boxers a cardiomegália é menos marcada. O mais frequente nestas duas raças é o aparecimento de alte-rações compatíveis com dilatação do átrio esquerdo e edema pulmonar. A IC biventricular gera edema pulmonar (Figura 3), aumento da veia cava caudal, hepatomegália, ascite e, em alguns casos, efusão pleu-ral (Maseda, 1999).

Exame ecocardiográfico

A ecografia é a ferramenta de trabalho essencial, pois permite fazer correctamente um diagnóstico final, descartando efusões pericárdicas e insuficiências val-vulares crónicas, permitindo também emitir um prog-nóstico (Maseda, 1999).

Em modo M e 2D é possível definir a magnitude de distensão das câmaras cardíacas em sístole e em diás-tole, bem como a diminuição da contractilidade cardí-aca. Estes dois parâmetros são indicativos de CMD. Para além disto, pode-se observar um aumento do diâmetro ventricular no fim da diástole e da sístole e hipocinese do ventrículo esquerdo, estando as paredes ventriculares em diástole aparentemente finas devido à dilatação das câmaras (Figura 4). Pode ser visualizada uma contração assimétrica na parede do ventrículo esquerdo com maior movimentação do septo e regur-gitação mitral moderada ou severa. A relação átrio

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Figura 1 - ECG : CVPs em bigéminos em cão com CMD.

Figura 2 - ECG : Taquicardia ventricular em cão com CMD e ICC.

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e continuavam assintomáticos, não havendo, durante este período, um aumento, em modo-M, do diâmetro interno do ventrículo esquerdo em diástole (DIVEd) e do diâmetro interno do ventrículo esquerdo em sístole (DIVEs), em mais do que 5mm e nem uma diminui-ção da FE mais do que 5%. Os valores em média, dos cães que preenchiam estes requisitos, são: FE=21%; DIVEd=39,1mm; DIVEs=31mm. Todos os cães que demonstraram um CVP ou DIVEs >38,8mm desen-volveram CMD. Além disto, a maioria dos cães que apresentavam uma DIVEd >46 mm também desenvol-veram CMD.

As ecocardiografias de stress com dobutamina (ESD) representam um teste sensível para a detecção de CMD assintomática. As alterações ionotrópicas provocadas pela dobutamina (5µg/kg/min) poderão revelar mais precocemente uma disfunção cardíaca que numa eco-cardiografia clássica (Minors e O’ Grady, 1998).

Os estudos electrocardiográficos são muito importan-tes para detecção de arritmias. O melhor método para esta detecção é a utilização do Holter (Calvert, 2000) (Figura 5). O não aparecimento de CVPs indica uma ausência de CMD. Um exame anual deve ser realizado em animais de alto risco, mesmo quando são detecta-dos menos de 50 CVPs por 24 horas, o que pode ser considerado normal. Provavelmente anormal será o aparecimento entre os 50 e 100 CVPs por 24 horas , havendo recomendação para repetição do exame com intervalos de 3 a 6 meses. Mais de 100 CVPs em 24 horas é anormal, significando que o animal vai desen-volver doença cardíaca progressiva (Calvert, 1995).

Tratamento

O tratamento tem como objectivo aliviar os sinto-mas de IC, aumentar a qualidade de vida do animal e diminuir a mortalidade (Keene, 1994; Mallery et al., 1999). É um tratamento individual, tendo de se ajustar ao estadio da doença e à severidade dos sinais clínicos presentes (Calvert, 2001; Kenne, 1994). O tratamento em estadios finais é geralmente insatisfatório (Calvert, 1995).

É normal os cães com cardiomiopatia dilatada serem apresentados à consulta em estados de ICC moderada a fulminante. Nestes casos o objectivo do tratamento consiste na redução da formação do edema pulmonar e na melhoria da oxigenação. As drogas efectivas no tratamento do edema pulmonar nesta fase, são a furo-semida (6-8 mg/kg q 4h, nas primeiras 12 h ou 2-4 mg/kg IV q hora até que a frequência respiratória seja menor que 30 rpm; depois passar para uma dose de 4 mg/kg cada 6 h) e a nitroglicerina ou nitroprussiato sódico. Nesta fase os autores dão especial atenção à monitorização da frequência respiratória, pressão arte-rial, função renal/débito urinário, electrólitos e moni-torização electrocardiográfica. Pode-se coadjuvar este tratamento com dobutamina, que é um β-bloqueante e potente inotrópico positivo, na dose de 2,5-5 µg/kg/

Lobo, L. L. e Pereira, R.

esquerdo/aorta, sendo o valor normal 1,3:1, pode-se encontrar aumentada (Sisson et al., 1999).

Os índices de encurtamento e de ejecção e a velo-cidade média de encurtamento circunferêncial estão diminuídos em relação com a severidade da disfunção sistólica. O índice de separação do septo ao ponto E em diástole aumenta, como reflexo de uma fracção de ejecção diminuída (Calvert, 1995).

A fracção de encurtamento (FE) traduz a percenta-gem de alteração entre o final da diástole e o final da sístole. Os valores indicam: 20-25%: doença ligeira; 15-20%: doença moderada; <15%: doença severa (Kittlesson e Kienle, 1998). Não esquecer que raças grandes têm uma FE baixa (20 a 25%) e nem por isso têm CMD (Keene, 1994), o que ainda é mais verdade tratando-se de Dobermans.

O Doppler pode ajudar a determinar a função cardí-aca. Permite fazer um estudo das válvulas e estimar a insuficiência valvular.

Detecção da doença subclínica

Ainda hoje não é fácil detectar quais os animais que vão desenvolver CMD, de modo a poder afastá-los da reprodução e criar linhas de cães livres da doença, como acontece com outras patologias. A duração da fase subclínica pode ser bastante longa e vários métodos têm sido estudados para detectar animais que potencialmente possam desenvolver a doença. Esta detecção é particularmente difícil e tem sido bastante estudada em cães da raça Boxer e Doberman.

Em Dobermans assintomáticos, foi demonstrado que a contractibilidade miocárdica estava diminuída e havia evidências histológicas de CMD (Sisson et al., 1999). Foi realizado um estudo com Dobermans (O’Grady e Horne, 1992) em que se tentaram defi-nir as medições ecocardiográficas normais para esta raça. Estas medições normais foram definidas como aquelas obtidas no exame inicial de Dobermans assintomáticos que preenchiam os seguintes critérios : tinham pelo menos 18 meses e eram assintomáticos num primeiro exame, não apresentando ectopias ven-triculares no ECG. Foram seguidos durante dois anos

Figura 3 - Radiografia torácica. Incidência latero-lateral . Edema pulmonar agudo em Doberman pinscher com CMD.

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min. Esta droga está relativamente contraindicada em cães com fibrilhação atrial, pelo risco de aumento da condução átrio-ventricular, que levará a uma resposta ventricular mais rápida à fibrilhação (Laste, 2001). Em cães com taquiarritmias severas será necessário um tratamento antiarritmico adequado. Para as taquiarrit-mias ventriculares a lidocaína é normalmente a droga de eleição (2mg/kg ou em infusão continua). Por outro lado, cães com fibrilhação atrial e taquicardia atrial, que normalmente apresentam frequências cardíacas superiores a 200 bpm e que se encontram em IC aguda descompensada, necessitam de digoxina e/ou diltia-zem.

O tratamento de pacientes em fase de IC crónica é feito basicamente e classicamente com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs), usando os autores o enalapril (0,5 mg/kg BID), furosemida (dada primeiro a altas doses para aumentar a excrecção de água e sódio, diminuindo depois a dose para valo-res mínimos que controlem os sinais congestivos) e digoxina (0,006-0,011 mg/kg ou 0,22 mg/m2) (Calvert, 2001). Este fármaco controla a frequência cardíaca, diminui a actividade do sistema nervoso simpático e sistema renina-angiotensina-aldosterona, sendo fundamental controlar os seus sinais de toxicidade e quantificar os valores de digoxina no plasma (0,9 a 1,5 ng/ml). Além destas medidas recomendamos restrição de sódio na dieta e restrição de exercício.

Recentemente os autores têm utilizado o pimoben-dan, que é uma droga recente, chamada inodilatador, que combina efeitos inotrópicos positivos e vasodi-latadores, podendo ser associada a diuréticos, IECAs e antiarritmicos. É uma droga bastante útil que pode trazer novas perspectivas de tratamento da ICC, espe-cialmente em cães com CMD (Ynaraja et al., 2001).

Está também recomendada a suplementação com taurina, como nos casos dos Cocker Spaniel e Golden Retriever, na dose de 250 mg BID (Keene, 1994).

Por último referimos o tratamento de arritmias, quer em pacientes assintomáticos quer em pacien-tes em tratamento para ICC crónica. A digoxina, em fibrilhação atrial, diminui o débito cardíaco em 25%,

aumentando as pressões devido à perda de sincroniza-ção entre átrios e ventrículos e diminuindo o tempo de enchimento ventricular devido a frequência cardíaca aumentada. Manter a frequência entre 140-160 bpm é o objectivo da digoxina.

O tratamento das ectopias ventriculares é contro-verso, especialmente na ausência de síncopes ou into-lerância ao exercício ou se não houver taquicardias ventriculares com mais de 30 segundos de duração (Calvert, 2001). Estão indicados a quinidina, a pro-cainamida, os β-bloqueantes, o sotalol, a mexiletina e a amiodarona. Os autores têm obtido resultados bas-tante satisfatórios, especialmente em Boxers, com este último antiarritmico de classe III, que tem uma acção inotrópica negativa pouco significativa. Além disto possui qualidades dos quatro grupos de antiarritmicos: efeitos significativos de bloqueador de canais de sódio e efeitos moderados de bloqueador de canais de cálcio e de β-bloqueante (Laste, 2001). Foram descritos casos de hepatopatia em cães tratados com amiodarona (Jacobs et al., 2000), pelo que se deve monitorizar regularmente a função hepática. Os autores observa-ram um caso de hepatotoxicidade com esta droga, que foi completamente revertida após se ter descontinuado o tratamento com amiodarona e substituído por um outro antiarritmico (neste caso atenolol).

Prognóstico

Os proprietários devem ser informados que o seu animal morrerá inevitavelmente da doença, devido à progressão da ICC.

Em humanos, os indicadores mais sugestivos de capacidade de sobrevivência são a presença de arrit-mias ventriculares, alterações hemodinâmicas e neu-rohormonais (aumento do peptídeo natriurético atrial ou a concentração de catecolaminas) (Mallery et al., 1999). O prognóstico é muito variável de raça para raça. O tempo de sobrevivência é geralmente curto. Muitos cães morrem sem se conseguir estabilizar o primeiro episódio de descompensação cardíaca. Os Doberman têm, provavelmente, o pior prognóstico de entre todas as raças. Há cães nos quais se conseguem fazer varias estabilizações e podem sobreviver mais de

Lobo, L. L. e Pereira, R.

Figura 4 - Ecocardiografia de cão com CMD. Corte paraster-nal direito, eixo longo, modos 2D e M. De notar o aumento do volume ventricular em sístole e diástole, a dilatação atrial e a hipocinese e discinese das paredes ventriculares.

Figura 5 - Exame de Holter

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um ano. Em geral, os animais morrem num prazo de seis meses (Calvert, 1995).

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