carbono, nitrogÊnio e atividade da biomassa.pdf

8
R. Bras. Ci. Solo, 28:819-826, 2004 CARBONO, NITROGÊNIO E ATIVIDADE DA BIOMASSA MICROBIANA EM DIFERENTES ESTRUTURAS DE SERAPILHEIRA DE UMA FLORESTA NATURAL (1) M. T. MONTEIRO (2) & E. F. GAMA-RODRIGUES (3) RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da qualidade nutricional e orgânica sobre a atividade C e N da biomassa microbiana em diferentes estruturas da serapilheira de uma mata atlântica montana no entorno do Parque Estadual do Desengano-RJ. As amostras de serapilheira foram coletadas em setembro de 1999. Realizou-se a separação das estruturas em: folhas, galhos e raízes superficiais; mistura de material mais fragmentado (estrutura F) e matéria orgânica menor que 2 mm (estrutura H). A qualidade nutricional e orgânica da serapilheira influenciou a atividade da biomassa microbiana. Das estruturas, as folhas apresentaram uma biomassa microbiana mais eficiente na imobilização de C e N. O qCO 2 foi um indicador de condições de estresse, presença de celulose e polifenol, para a biomassa microbiana nas diferentes estruturas. Utilizando a técnica de agrupamento de Tocher, observou-se a formação de três grupos distintos. Um constituído pelas raízes superficiais e estrutura H; o segundo pelas folhas e o terceiro grupo pela estrutura F. Por meio da contribuição relativa dos caracteres para a divergência entre as estruturas, a variável que mais contribuiu foi a relação polifenol: N, seguida do carbono da biomassa microbiana, polifenol, celusose e relação lignina: N. Termos de Indexação: folhas, serapilheira, biomassa microbiana, atividade microbiana, qualidade nutricional e orgânica. (1) Parte da Tese de Mestrado da primeira autora, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF. Recebido para publicação em novembro de 2003 e aprovado em agosto de 2004. (2) Mestre em Produção Vegetal, Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF. CEP 28015-620 Campos dos Goytacazes (RJ). E-mail: [email protected] (3) Professora Associada do Laboratório de Solos, UENF. E-mail: [email protected] SEÇÃO III - BIOLOGIA DO SOLO

Upload: kenzel-kache-verborge

Post on 17-Aug-2015

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

CARBONO, NI TROGNI O E ATI VI DADE DA BI OMASSA MI CROBI ANA EM DI FERENTES... 819R. Bras. Ci . Sol o, 28:819-826, 2004CARBONO, NITROGNIO E ATIVIDADE DA BIOMASSAMICROBIANA EM DIFERENTES ESTRUTURAS DESERAPILHEIRA DE UMA FLORESTA NATURAL(1)M. T. MONTEIRO(2) & E. F. GAMA-RODRIGUES(3)RESUMOO objetivo deste trabalho foi avaliar a influncia da qualidade nutricional eorgnica sobre a atividade C e N da biomassa microbiana em diferentes estruturasda serapilheira de uma mata atlntica montana no entorno do Parque Estadualdo Desengano-RJ .As amostras de serapilheira foram coletadas em setembro de1999.Realizou-seaseparaodasestruturasem:folhas,galhoserazessuperficiais; mistura de material mais fragmentado (estruturaF) e matriaorgnica menor que 2mm (estruturaH).A qualidade nutricional e orgnica daserapilheira influenciou a atividade da biomassa microbiana.Das estruturas,as folhas apresentaram uma biomassa microbiana mais eficiente na imobilizaode C e N.O qCO2 foi um indicador de condies de estresse, presena de celulosee polifenol, para a biomassa microbiana nas diferentes estruturas.Utilizando atcnica de agrupamento de Tocher, observou-se a formao de trs gruposdistintos.Um constitudo pelas razes superficiais e estrutura H; o segundopelas folhas e o terceiro grupo pela estrutura F.Por meio da contribuio relativados caracteres para a divergncia entre as estruturas, a varivel que maiscontribuiu foi a relao polifenol: N, seguida do carbono da biomassa microbiana,polifenol, celusose e relao lignina: N.Termos de Indexao: folhas, serapilheira, biomassa microbiana, atividademicrobiana, qualidade nutricional e orgnica.(1)Parte da Tese de Mestrado da pri mei ra autora, apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Produo Vegetal , Uni versi dadeEstadualdo Norte Fl umi nense UENF. Recebi do para publ i cao em novembro de 2003 e aprovado em agosto de 2004.(2)Mestre em Produo Vegetal , Uni versi dade Estadualdo Norte Fl umi nense UENF. CEP28015-620 Campos dos Goytacazes(RJ). E-mai l : marcel atm@bol .com.br(3)Professora Associ ada do Laboratri o de Sol os, UENF. E-mai l : emanuel [email protected] III - BIOLOGIA DO SOLO820 M.T. MONTEI RO & E.F. GAMA-RODRI GUESR. Bras. Ci . Sol o, 28:819-826, 2004SUMMARY: CARBON, NI TROGEN, AND MI CROBI AL BI OMASS ACTI VI TYI NDI FFERENTLI TTERSTRUCTURESOFANATURALFORESTThe objective of this work was to evaluate the influence of the organic and nutritionalquality on the activity and C and N contents of the microbial biomass in different structuresof litter from a Mountain Atlantic Forest from around the Desengano State Park-RJ , Brazil.Litter samples were collected in September 1999.The litter structures were leaves, branches,andsuperficialroots;finedebris(Fstructure);andorganicmattersmallerthan2mm(Hstructure).Thenutritionalandorganiclitterqualityinfluencedtheactivityofthemicrobial biomass.The leaves had the most efficient microbial biomass in the immobilizationof C and N.The qCO2 (metabolic quotient) was an indicator for the stress condition andpresence of cellulose and polyphenol for the microbial biomass in the different structures.The formation of three distinct groups was observed by the Tocher group technique.Thefirst group consisted of superficial roots and H strucuture; the second comprised leaves andthe third group consisted of F strucuture.Through the relative contribution of the charactersto the divergence between components, the variable that most contributed was polifenol: Nratio, followed by carbon microbial biomass, polifenol, cellulose and lignin: N ratio.I ndex terms: leaves, litter, microbial biomass, microbial activity, organic and nutritionalquality.INTRODUOAs cober tur as fl or estai s pr opor ci onam gr andeapor te de estr utur as vegetai s que i r o for maraser api l hei r aacumul ada.Dentr eosfator esqueafetam a quanti dade de res duos produzi dos, os mai srel evantes so as vari vei s cl i mti cas (preci pi taoe temperatura); a di sponi bi l i dade de nutri entes nosol o; a caracter sti ca genti ca das pl antas; a i dade ea densi dade de pl anti o (Correi a & Andrade, 1999).Regi es com al to ndi ce pl uvi omtr i co, em ger al ,pr oduzemmai or quanti dadedeser api l hei r aemcompar aocomas r egi es debai x o n di cepl uvi omtr i co (Gonzal ez & Gal l ar do, 1982).Emfragmentos de mata atl nti ca montana na regi onor te fl umi nense, a pr oduo de ser api l hei r a naestao chuvosa foitrs vezes mai or em rel ao estao seca (Cunha et al ., 2000).Na serapi l hei ra, avegetao a pri nci palresponsvelpel a vari abi l i dadehori zontal , sendo a vel oci dade de decomposi o oagente responsvelpel a heterogenei dade verti cal(di fer enci aoemestr utur as),noqual ,emumecos s i s temadel en tadecompos i o,pode-s eencontr ar umaser api l hei r abastanteespessa(Correi a & Andrade, 1999).O acmul o de serapi l hei ra na superf ci e do sol o medi ado pel a quanti dade de materi alque caidapar tear eadas pl an tas epor s u atax adedecomposi o.O mai or acmul o de serapi l hei ra devi do menortaxa de decomposi o e mai orentrada de materi alno si stema sol o.A decomposi ou mpr oces s odi n mi co,emqu eocor r em,si mul taneamente, a fragmentao f si ca das suasestruturas, a transformao qu mi ca e a s ntese denovoscompostosetr anspor tedestespr odutosformados para hori zontes mai s profundos da mantaorgni ca e, ou, do sol o (Healet al ., 1997). regul adopel acomposi odacomuni dadedecomposi tor a(macro e mi crorgani smos), qual i dade do materi alorgni co e condi es f si co-qu mi cas do ambi ente,que,por suavez,sor egul adaspel ocl i maecar acter sti casedfi casdol ocal .Confor meascon di es edafocl i mti cas ,av el oci dadededecomposi o da serapi l hei ra vari a de acordo comos teores de l i gni na, pol i feni s, cel ul ose, carbono,n i tr ogn i o,fs for oeen x ofr e,den tr eou tr oscomponentes.Al tos teores de l i gni na, pol i feni s ecel ul ose esto r el aci onados com a bai xa taxa dedecomposi o, menor l i berao de nutri entes e commai or acmul o de serapi l hei ra (Swi ft et al ., 1979).Comoadecomposi oeami ner al i zaodosres duos vegetai s dependem da ati vi dade mi crobi ana,aav al i aodabi omas s ami cr obi anafor necei nformaes i mportantes para o entendi mento daci cl agem de nutri entes (Paul& Cl ark, 1989).Porapr es en tar r pi daci cl agem,es teatr i bu tomi crobi ol gi co responde i ntensamente a fl utuaessazonai s de umi dade e temperatura, ao cul ti vo e aomanej oder es duos,sendoumi ndi cador mai ssens vel dasmudanasnosn vei sdematr i aorgni ca do que o teor de Corgni co (Anderson &Domsch,1989;Spar l i ng,1997).Contudo,mai si mpor tantequeoval or absol utodabi omassami crobi ana o estudo das rel aes entre a bi omassae a ati vi dade mi crobi ana e atri butos qu mi cos parao mel hor entendi mento sobre a funci onal i dade dosi stema sol o-serapi l hei ra.CARBONO, NI TROGNI O E ATI VI DADE DA BI OMASSA MI CROBI ANA EM DI FERENTES... 821R. Bras. Ci . Sol o, 28:819-826, 2004Gama-Rodri gues et al . (1997), trabal hando comsol oeser api l hei r asobdi fer entescober tur asfl orestai s, na quala serapi l hei ra com mai ores teoresdeNapr esentoumenor quanti dadeacumul ada,encontr ar amcor r el aonegati vaentr eoNdabi omassa mi crobi ana e o N da serapi l hei ra (r=-0,52,P