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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMISAS (RS) Anderson Borges (a) , Daniella R.M. de Oliveira (b) , Jacson Gosman Gomes de Lima (c) , Karina Gazola (d) (a) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, [email protected]. (b) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná,[email protected]. (c) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, [email protected]. (d) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, [email protected]. Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas. Resumo: O trabalho apresenta a caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do rio Camisas na região Nordeste do Rio Grande do Sul. A caracterização foi obtida a partir de cartas topográficas do IBGE e do Exército, na escala de 1:50.000, em seguida houve coleta dos dados morfométricos (altimetria e extensão do curso fluvial) dos Rios Camisas e Garrafa, realizados no programa Global Mapper V.12.0. Depois, os dados foram organizados e tabelados no Microsoft EXCEL TM . Para a construção do perfil longitudinal dos rios foi calculado o trecho e a extensão com aplicação da técnica denominada “Relação Declividade-Extensão - RDE”, também conhecida como “Índice de Hack”, que busca estabelecer a classificação das anomalias de trechos em equilíbrio e desequilíbrio para definição dos padrões de drenagem (Normal, 1ª Ordem e 2ª Ordem). Foram diagnosticadas anomalias de 1ª e 2ª ordem, que estão associadas a lineamentos estruturais, mudanças litológicas e confluência de canais. Palavras chave: Perfil longitudinal, Rio Camisas, Anomalias de drenagem. 1. Introdução O termo bacia hidrográfica é caracterizado como uma área que funciona a partir da captação natural da água das chuvas, que direciona os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório. É composta basicamente por um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos d’água que confluem até resultar um único leito no exutório (SILVEIRA, 2001). Segundo Lima (1986), a bacia hidrográfica pode ser definida como um sistema geomorfológico aberto, mesmo quando não perturbada, em contínua flutuação, num estado de

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1

CARACTERIZAÇÃO MORFOMÉTRICA DA BACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO CAMISAS (RS)

Anderson Borges (a)

, Daniella R.M. de Oliveira(b)

, Jacson Gosman Gomes de

Lima(c)

, Karina Gazola(d)

(a) Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, [email protected]. (b)

Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do

Paraná,[email protected]. (c)

Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, [email protected]. (d)

Discente do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do

Paraná, [email protected].

Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas.

Resumo: O trabalho apresenta a caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do rio Camisas na

região Nordeste do Rio Grande do Sul. A caracterização foi obtida a partir de cartas topográficas do

IBGE e do Exército, na escala de 1:50.000, em seguida houve coleta dos dados morfométricos

(altimetria e extensão do curso fluvial) dos Rios Camisas e Garrafa, realizados no programa Global

Mapper V.12.0. Depois, os dados foram organizados e tabelados no Microsoft EXCEL TM

. Para a

construção do perfil longitudinal dos rios foi calculado o trecho e a extensão com aplicação da técnica

denominada “Relação Declividade-Extensão - RDE”, também conhecida como “Índice de Hack”, que

busca estabelecer a classificação das anomalias de trechos em equilíbrio e desequilíbrio para definição

dos padrões de drenagem (Normal, 1ª Ordem e 2ª Ordem). Foram diagnosticadas anomalias de 1ª e 2ª

ordem, que estão associadas a lineamentos estruturais, mudanças litológicas e confluência de canais.

Palavras chave: Perfil longitudinal, Rio Camisas, Anomalias de drenagem.

1. Introdução

O termo bacia hidrográfica é caracterizado como uma área que funciona a partir da

captação natural da água das chuvas, que direciona os escoamentos para um único ponto de

saída, seu exutório. É composta basicamente por um conjunto de superfícies vertentes e de

uma rede de drenagem formada por cursos d’água que confluem até resultar um único leito no

exutório (SILVEIRA, 2001).

Segundo Lima (1986), a bacia hidrográfica pode ser definida como um sistema

geomorfológico aberto, mesmo quando não perturbada, em contínua flutuação, num estado de

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equilíbrio transacional ou dinâmico, sendo assim, a adição de energia e a perda de energia do

próprio ecossistema encontram-se sempre em delicado balanço, possibilitando compreender

possíveis mudanças, sejam elas pelo homem ou natural, pois a mesma é considerada unidade

de gestão dos elementos naturais e sociais (GUERRA; CUNHA, 1996).

Uma das formas utilizadas para o entendimento da dinâmica ambiental e evolução

geomorfológica de uma região é o uso de parâmetros morfométricos (FUJITA, 2014). A

caracterização morfométrica de uma bacia hidrográfica se faz necessária, afim de esclarecer

as questões relacionadas ao equilíbrio dinâmico, desajustes fluviais e anomalias de drenagem

(LIMA; FUJITA; FUJITA, 2015).

O trabalho apresenta uma caracterização delineada no estudo do perfil longitudinal

(McKeown et al. 1988 apud ETCHEBEHERE, 2000 ), análise da rede de drenagem

(HOWARD, 1967) e aplicação da técnica denominada “Relação Declividade-Extensão -

RDE” (HACK, 1973), também conhecida como “Índice de Hack”, para obter os dados de

deformações crustais a partir do parâmetro morfométrico na bacia de hidrográfica do Rio

Camisas, localizado no setor nordeste do Rio Grande do Sul.

A partir do aprimoramento do método RDE que possibilitou a Seeber e Gornitz (1983)

a delimitar as zonas em equilíbrio e zonas com anomalias de 1ª e 2ª ordem, podendo então

caracterizar ou definir o grau de evolução geomorfológica de uma região.

2. Materiais e Métodos

2.1. Materiais

A bacia hidrográfica do rio Camisas (BHRC) está situada na região nordeste do Estado

do Rio Grande do Sul como apresentado na figura 1, ela abrange os municipios de Cambará

do Sul e Jaquirana. Os princiapis rios da BHRC são o Camisas e o Garrafa, que são afluentes

do rio das Antas, um dos principais tributários da Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas.

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Figura 1- Localização da BHRC (RS) e divisão da bacia do sul para o norte (Alto, Médio e Baixo).

O Rio Camisas possui aproximadamente 74 km de extensão apartir de sua nascente.

Essa bacia é formada por dois cursos fluviais, o rio Camisas (figura 1 a leste) e o rio Garrafa

(figura 1 a oeste), o primeiro nasce no município de Cambará do Sul, com altitude que varia

de 1000 m a 640 m (próximo a foz), o Rio Garrafa nasce no mesmo município, e tem

aproximadamente 63 km de extensão, com altitude variando de 1040 m a 640 m (na foz

adjacente). A confluência dos canais acontece na divisa dos municípios de Cambará do Sul e

Jaquirana. A área de estudo está localizada no planalto meridional Sul Rio Grandense, onde

predomina planaltos, chapadas, platôs e vales encaixados. Predomina riolitos e riodacitos,

rochas resitentes ao intemperismo, resultado de um vulcanismo fissural Mesozóico. Nessa

área do planalto meridional, se observa 3 fácies geológicas, sendo elas Caxias, Gramado e

Várzea do Capivarita (CPRM, 2006).

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2.2. Método

Neste trabalho foram utilizadas cartas topográficas do IBGE e do Exército, na escala

de 1:50.000, a coleta dos dados morfométricos (altimetria e extensão do curso fluvial) dos

Rios Camisas e Garrafa foi realizada no programa Global Mapper V12.0. Os dados foram

organizados e tabelados no Microsoft EXCEL TM.

, para posteriormente construir o perfil

longitudinal dos rios.

Na análise do perfil longitudinal, foi utilizada a metodologia descrita por McKeown et

al. (1988 apud ETCHEBEHERE, 2000), onde aborda que todo curso fluvial busca o

equilíbrio, seja por erosão ou agradação do próprio leito. Dessa forma, foi determinada uma

linha de melhor ajuste e uma equação, considerando anomalias, os deslocamentos superiores a

10 metros dessa linha. Os deslocamentos acima da linha de melhor ajuste são considerados

áreas ascendentes, e os deslocamentos abaixo da linha, áreas subsidentes (LIMA; FUJITA;

FUJITA, 2015).

A análise da rede de drenagem vai ser baseada nos padrões propostos por Howard

(1967) e o gabarito apresentado por Soares e Fiori (1978).

Para o cálculo do Índice de Gradiente (RDE), por trecho e em sua totalidade, é

utilizado o método de Hack (1973), baseado nas seguintes equações:

RDE trecho = (DH/DL) x L ...(1)

Onde:

DH é a diferença altimétrica entre dois pontos selecionados do curso d’água;

DL é o comprimento do trecho analisado;

L corresponde à extensão acumulada do rio até o ponto médio do trecho onde o índice RDE

está sendo calculado.

RDE total = (DH/Lg L) ...(2)

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Onde:

DH é a diferença altimétrica entre a cota superior e a inferior do canal, ou seja, a diferença

entre a cota localizada à montante do rio e a cota localizada na foz;

Lg L é o logaritmo natural da extensão total do curso d’água.

Para definição das anomalias de drenagem, é utilizado a razão entre RDETrecho/

RDEtotal, conforme tabela 1:

Tabela 1 – Definição das anomalias de drenagem

RDETrecho/ RDEtotal Anomalia Forma/Cor <2 Normal

Entre 2 e 10 1ª Ordem

>10 2ª Ordem

3. Resultados e discussões

A bacia do rio Camisas possui um perímetro de 149,9Km e uma área de

aproximadamente 322,7 km². Com base em uma análise da drenagem foi possível realizar

uma pré-compartimentação da bacia em três segmentos: alto, médio e baixo curso.

No alto curso, á um predominio de drenagens dendríticas e paralelas. O médio curso

ocorre maior densidade de drenagem e os padrões são dendrítico, paralelo e treliça. Já o baixo

curso apresenta uma densidade de drenagem menor e a presença de padrões dendrítico e

treliça.

Para as propriedades de drenagem, foi utilizado o gabarito proposto por Soares e Fiori

(1978) para a BHRC, a classificação (tabela 2) foi realizada de acordo com a

compartimentação feita anteriormente na bacia.

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Tabela 2 – Resumo da classificação das propriedades da rede de drenagem

Com

part

imen

to

Den

sid

ad

e

Sin

uosi

dad

e

An

gu

lari

dad

e

Tro

pia

Ass

imet

ria

Ân

gu

lo d

e

jun

ção

Alto Alta Misto Média Bidirecional Fraca Arcos

Médio Alta Misto Média Tridirecional Fraca Arcos e cotovelos

Baixo Alta Misto Média Desordenado Fraca Arcos

Com base nos padrões de drenagem apontados acima e o resultado das propriedades

da drenagem na área de estudo indica um contexto de controle estrutural marcado por

lineamentos estruturais (fraturas/falhas).

O rio Camisas nasce no munícipio de Cambará do Sul (RS) a 1.000m e percorre

aproximadamente 74 km até desaguar no rio das Antas a 640m de altitude. O rio Garrafa

tambem nasce no munícipio de Cambará do Sul (RS) a 1.040m e percorre aproximadamente

63 km até desaguar no rio Camisas a 740 m, na divisa dos municípios de Cambará do Sul e

Jaquirana. No perfil longitudinal dos dois rios (figura 2 e 3) foram diagnosticados dois

segmentos em subsidência e um em ascensão, apenas um pequeno trecho em equílibrio fluvial

(figura 3) no rio Garrafa. De acordo com VOLKOV et al. (1967), as irregularidades

observadas nos perfis longitudinais resultam de fatores como entrada de tributários,

heterogeneidade da litologia ou ainda atividade tectônica.

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Figura 2-Perfil Longitudinal do Rio Camisas, em escala aritmética.

No rio Camisas os segmentos em ascensão são verificados entre as altitudes 1.020 a

980m, com 1,6 Km de extensão, e entre 780 a 640m, que representa os últimos 30 Km do

curso fluvial. O segmento em ascensão corresponde a um trecho de 41,7 Km entre as cotas de

980 a 780m de altitude.

Figura 3- Perfil Longitudinal do Rio Garrafa, em escala aritmética.

Em relação ao rio Garrafa os segmentos em ascensão são verificados entre as altitudes

1.050 a 1.040m, com 0,7 Km de extensão, e entre 840 a 750m, que representa os últimos 27,8

Km do curso fluvial. O segmento em ascensão corresponde a um trecho de 29,1 Km entre as

cotas de 1.040 a 850m de altitude. O trecho em equilíbrio fluvial esta situado entre a cota de

850 a 840m de altitude, e representa 5,1 Km de extensão do canal fluvial.

y = -57,46ln(x) + 1399,7

R² = 0,7173

600650700750800850900950

1000105011001150

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000

Alt

itu

de

(m)

Extenção do Rio (m)

Perfil Longitudinal do Rio Camisas

Perfil de Equílibrio

y = -51,26ln(x) + 1383,3

R² = 0,7829

700750800850900950

1000105011001150

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000

Alt

itu

de

(m)

Extenção do Rio (m)

Perfil Longitudinal do Rio GarrafaPerfil de Equílibrio

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Ao longo do rio Camisas, se observa alguns ressaltos topográficos (knickpoints), que

representam níveis de base local. Nos locais onde as rochas apresentam resistência litológica

maior, são observados os gradientes mais elevados (GORNITZ; SEEBER, 1990).

Com aplicação do índice de Hack foi possível segmentar o rio Camisas em 24 trechos

(figura 4), sendo 14 com a presença de anomalias. Onde 7 dessas anomalias de 1ª ordem e 7

anomalias 2ª ordem. Os outros 10 trechos estão em equilíbrio. O Rio Garrafa foi dividido em

19 trechos (figura 4), apresentando 13 com anomalias, todas de 2ª ordem.

Figura 4- Espacialização dos pontos anômalos na BHRC (RS).

Os trechos do rio Camisas em equilíbrio ocorrem entre as cotas de 1020 m e 900 m,

880 m e 850 m e próximo a foz do Rio Camisas, cota de 640 m. Estes trechos compreendem

respectivamente 19.625,86 m, 16.654 m e 669,33 m.

Dos 24 segmentos do rio Camisas, 10 estão em equilíbrio, ou seja, apresentam

RDEtrecho/RDE total abaixo de 2 (segmentos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10 e 24). Anomalias de 1ª

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ordem (RDEtrecho/RDEtotal maior que 10) ocorrem em 7 segmentos (12, 14, 15, 16, 20, 21 e

24). Os segmentos 9, 13, 17, 18, 19, 22 e 23 foram classificados como anomalias de 2ª ordem

(tabela 1).

Assim como no rio Camisas, ao longo do seu principal afluente o rio Garrafa, foram

verificados trechos em equilíbrio e trechos em desequilíbrio fluvial (figura 4).

Os trechos em equilíbrio ocorrem entre as altitudes de 1050 m e 980 m, 950 m e 940

m e entre 880 e 860. Estes trechos compreendem respectivamente 8.042,48 m, 2.222 m e

9.521 m.

O rio Garrafa foi dividido em 19 segmentos. Destes, apenas 6, estão em equilíbrio, ou

seja, apresentam RDEtrecho/RDEtotal abaixo de 2 (segmentos 1, 2, 3, 4, 7 e 11). Neste rio

ocorrem apenas anomalias de 2ª ordem (RDEtrecho/RDEtotal entre 2 e 10), são ao todo 13

segmentos (5, 6, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19) (tabela 3).

Tabela 3-Tabela-resumo das variáveis morfométricas do Rio Camisas (RDEtotal = 33,9) e Garrafa (RDEtotal =

28,1).

Rio Camisas

Tre

cho

Cota

Su

p.

Cota

In

f.

Dif

. A

lt.

Ext.

Tre

cho

Ext.

tota

l

EX

T

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livid

ad

e

RD

E T

rech

o

RD

E T

rech

o /

RD

E T

ota

l

1 1020 1000 20 169,74 169,74 -630,3 0,118 -74,3 -2,19

2 1000 980 20 400,12 569,86 -230,1 0,050 -11,5 -0,34

3 980 960 20 1055 1624,86 824,9 0,019 15,6 0,46

4 960 950 10 1532 3156,86 2356,9 0,007 15,4 0,45

5 950 940 10 1685 4841,86 4041,9 0,006 24,0 0,71

6 940 920 20 4057 8898,86 8098,9 0,005 39,9 1,18

7 920 900 20 10727 19625,86 18825,9 0,002 35,1 1,04

8 900 880 20 2113 21738,86 20938,9 0,009 198,2 5,85

9 880 860 20 9228 30966,86 30166,9 0,002 65,4 1,93

10 860 850 10 7426 38392,86 37592,9 0,001 50,6 1,49

11 850 840 10 1142 39534,86 38734,9 0,009 339,2 10,01

12 840 820 20 2511 42045,86 41245,9 0,008 328,5 9,69

13 820 800 20 147,48 42193,34 41393,3 0,136 5613,4 165,63

14 800 780 20 817,05 43010,39 42210,4 0,024 1033,2 30,49

15 780 760 20 352,23 43362,62 42562,6 0,057 2416,8 71,31

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16 760 750 10 6390 49752,62 48952,6 0,002 76,6 2,26

17 750 740 10 4364 54116,62 53316,6 0,002 122,2 3,60

18 740 720 20 4673 58789,62 57989,6 0,004 248,2 7,32

19 720 700 20 3393 62182,62 61382,6 0,006 361,8 10,68

20 700 680 20 1236 63418,62 62618,6 0,016 1013,2 29,90

21 680 660 20 4786 68204,62 67404,6 0,004 281,7 8,31

22 660 650 10 3436 71640,62 70840,6 0,003 206,2 6,08

23 650 640 10 1730 73370,62 72570,6 0,006 419,5 12,38

24 640 640 0 669,33 74039,95 73240,0 0,000 0,0 0,00

Rio Garrafa 1 1050 1040 10 107,44 107,44 -692,56 0,0931 -64,5 -2,30

2 1040 1020 20 614,04 721,48 -78,52 0,0326 -2,6 -0,09

3 1020 1000 20 1318 2039,48 1239,48 0,0152 18,8 0,67

4 1000 980 20 3661 5700,48 4900,48 0,0055 26,8 0,95

5 980 960 20 2342 8042,48 7242,48 0,0085 61,8 2,20

6 960 950 10 993,11 9035,59 8235,59 0,0101 82,9 2,96

7 950 940 10 2222 11257,59 10457,59 0,0045 47,1 1,68

8 940 920 20 1638 12895,59 12095,59 0,0122 147,7 5,26

9 920 900 20 1935 14830,59 14030,59 0,0103 145,0 5,17

10 900 880 20 1439 16269,59 15469,59 0,0139 215,0 7,66

11 880 860 20 9521 25790,59 24990,59 0,0021 52,5 1,87

12 860 850 10 2969 28759,59 27959,59 0,0034 94,2 3,36

13 850 840 10 1044 29803,59 29003,59 0,0096 277,8 9,90

14 840 820 20 5116 34919,59 34119,59 0,0039 133,4 4,75

15 820 800 20 4009 38928,59 38128,59 0,0050 190,2 6,78

16 800 780 20 5802 44730,59 43930,59 0,0034 151,4 5,40

17 780 760 20 10951 55681,59 54881,59 0,0018 100,2 3,57

18 760 750 10 3359 59040,59 58240,59 0,0030 173,4 6,18

19 750 740 10 3739 62779,59 61979,59 0,0027 165,8 5,91

De modo geral, a litologia exerce influência nas anomalias de primeira e segunda

ordem verificadas próximo a junção do rio Camisas com o rio das Antas, outro fator que

influenciou nessas anomalias foi a junção do rio Camisas com o rio Garrafa, anomalias

associadas a confluência de canais, ocorrem devido modificações na velocidade do fluxo,

vazão e sedimentação (LIMA; FUJITA; FUJITA, 2015). As demais anomalias de primeira e

segunda ordem na BHRC estão associadas a influência estrutural, pois varias dessas

anomalias se correlacionam com a presença de falhas e fraturas.

4. Conclusão

O resultado desse trabalho foi obtido apartir de uma análise no perfil longitudinal e

integração do indice de RDE realizados ao longo do rio Camisas e Garrafa, que se localizam

no nordeste do Rio Grande do Sul, são afluentes do rio das Antas, que é um dos principais

tributários da Bacia Hidrográfica do Taquari-Antas;

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O rio Camisas possui uma extensão de 74 Km. Dos 24 trechos analisados, 10 estão em

equilibrio e 14 possuem anomalias (7 com anomalias de 1ª ordem e 7 com anomalias

de 2ª ordem).

As anomalias do rio Camisas estão ligadas aos lineamentos estruturais e encontro de

canais fluviais.

O rio Garrafa possui uma extensão de 62,7Km. Dos 19 trechos analisados, 6 estão em

equilibrio e 13 possuem anomalias (todas anomalias de 2ª ordem).

As anomalias do rio Garrafa também estão ligadas aos lineamentos estruturais e

encontro de canais fluviais.

Os pontos com anomalia de 1ª Ordem estão localizados em duas áreas do Rio

Camisas, a primeira é marcada por lineamentos estruturais e a segunda é a partir do

encontro com o rio Garrafa e mudanças de fácies litológicas.

5. Agradecimentos

"O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001”.

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