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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL CARACTERIZAÇÃO DE BAMBUS E SEU POTENCIAL ENERGÉTICO CURITIBA 2016

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Page 1: CARACTERIZAÇÃO DE BAMBUS E SEU POTENCIAL … - AMANDA... · hidráulica e outras fontes renováveis, é uma forma indireta de energia solar, pois é convertida em energia química,

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

CARACTERIZAÇÃO DE BAMBUS E SEU POTENCIAL ENERGÉTICO

CURITIBA

2016

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AMANDA APARECIDA FALCOSKI VIEIRA

CARACTERIZAÇÃO DE BAMBUS E SEU POTENCIAL ENERGÉTICO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia Florestal, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, como requisito para a conclusão da disciplina ENGF006 e requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Florestal. Orientador: Prof. Dimas Agostinho da Silva

CURITIBA 2016

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RESUMO

A crise energética mundial traz à tona uma realidade perturbadora, que é a

escassez de recursos e das fontes não-renováveis para geração de energia. Essa

problemática está também atrelada a outros fatores ambientais como o aquecimento

global e a degradação de áreas. Com isso, as chamadas energias renováveis

aparecem como parte da solução para amenizar o problema. Dentre as alternativas

para se compor uma matriz energética renovável, encontramos a chamada

bioenergia, proveniente de biomassa, sendo ela já plantada para esse fim, ou ainda,

vinda de resíduos agrossilvipastoris. O presente trabalho teve como objetivo

apresentar diversas espécies de bambus existentes que podem ser usados como

insumo para essa finalidade. Através de pesquisas e revisões bibliográficas buscou-

se mostrar suas qualidades potenciais energéticas, apontando as características que

mostram a viabilidade da planta nesse sentido. Entre os destaques estão a facilidade

de implantação e manejo, alto índice de sequestro de carbono, alta capacidade de

adaptação e recuperação de áreas, além de dispensar a necessidade de replantio,

devido a sua rebrota contínua.

Palavras-chave: energias renováveis, biomassa, bioenergia

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ABSTRACT

The global energy crisis brings to the surface a disturbing reality, which is the scarcity

of resources and non-renewable sources for energy generation. This problem is also

linked to other environmental problems, such as global warming and the degradation

of areas. Then, the so-called renewable energies appear as a part for the solution to

mitigate the problem. Among the alternatives to make up a renewable energy matrix,

we find the so-called bioenergy, coming from biomass, being already planted for that

purpose or coming from agrossilvipastoris systems. This present work aims to present

several species of bamboo that can be used as input for this purpose. Through

researches and bibliographical revisions, the aim was to show its potential energetic

qualities, pointing out the characteristics that show the viability of the plant in this

sense. Prominent among the main ones are the ease of implementation and

management, high carbon sequestration rate, high capacity for adaptation and

recovery of areas, besides the need to replant due to its constant regrowth.

Keywords: renewable energies, biomass, bioenergy

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1

2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 3

2.1 Objetivos gerais................................................................................................... 3

2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 3

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 4

4 METODOLOGIA .................................................................................................... 14

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 16

5.1 PROPRIEDADE FISÍCIO-QUIMICAS DO BAMBU ............................................ 16

5.1.1 Densidade ....................................................................................................... 16

5.1.2 Propriedades químicas .................................................................................. 17

5.1.3 Poder calorífico .............................................................................................. 21

5.1.4 Densidade energética e Índice de Valor de Combustível do Bambu ........ 23

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 25

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1 INTRODUÇÃO

Os plantios florestais, além de fornecerem matéria-prima para os mais

diferentes usos, tanto industriais quanto domésticos, cumprem ainda diversas funções

ambientais e sociais, desempenham um papel importante no desenvolvimento

sustentável e contribuem com a conservação das florestas nativas (SILVA, 2016). A

busca por soluções alternativas que minimizem a degradação ambiental através de

materiais e tecnologias limpas que permitam o desenvolvimento sustentável é notável

em todo o mundo (BARROS; SOUZA, 2004).

Desde a percepção de mudanças ambientais a níveis globais, como os

desastres ecológicos, o chamado efeito estufa, a extinção em massa de espécies e a

ameaça de escassez de recursos naturais, tais como a água, o petróleo e outros, a

questão ambiental vem sendo amplamente discutida em todas as partes do mundo.

Esses problemas são, notoriamente, agravados por ações advindas da interferência

humana no equilíbrio natural do ambiente, como queimadas e atividades industriais,

além da falta de conscientização ambiental por parte da população (BARROS;

SOUZA, 2004).

Um dos fatores que causam diversas consequências negativas ao meio

ambiente do mundo todo é a necessidade crescente de geração de energia, pois ela

vem de fontes não-renováveis, como por exemplo o petróleo, que além do risco de

escassez ainda causa danos ambientais na sua obtenção, ou de fontes renováveis,

contudo algumas tão impactantes negativamente ao meio quanto a extração e uso do

combustível fóssil, como por exemplo o represamento das águas para a construção

de usinas hidrelétricas, que causam danos a flora e fauna da região afetada, além do

desvio do curso natural do leito dos rios.

O crescimento da população mundial é um fator que amplia a necessidade

global por energia. A redução da disponibilidade de fontes energéticas e o aumento

da sua demanda tem direcionado estudos para o melhor aproveitamento de materiais

alternativos, naturais e renováveis. Um importante segmento das denominadas

energias renováveis é a chamada bioenergia, que cada vez mais se torna uma fração

representativa entre as matrizes energéticas de vários países do mundo (LEMOS;

STRADIOTTO, 2012).

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Para fins de uso energético, biomassa é todo recurso renovável proveniente

de matéria orgânica (de origem animal ou vegetal) das quais, através de processos

específicos, pode ser produzida energia. Esse recurso, assim como a energia

hidráulica e outras fontes renováveis, é uma forma indireta de energia solar, pois é

convertida em energia química, através da fotossíntese, base dos processos

biológicos de todos os seres vivos (ANEEL, 2005).

Resíduos agrícolas, florestais, urbanos e até mesmo de dejetos animais

podem ser utilizados como combustíveis para geração energética. Por apresentar um

custo inferior ao utilizar como insumo um resíduo, a geração de bioeletricidade torna-

se mais viável frente ao custo de outras fontes renováveis. Por sua grandeza em

dimensões territoriais e pelas condições climáticas favoráveis o Brasil apresenta um

gigantesco potencial na geração de biomassa (CASTRO; DANTAS, 2008)

Visto que a produção de bioenergia é viável no Brasil frente ao seu baixo custo

e comprovada eficiência, gerando inclusão social, mostrando-se capaz de recuperar

áreas improdutivas e ainda provendo uma significativa parcela na deficiência

energética atual, o desafio consiste, porém, no estudo e na busca por matérias-primas

que apresentem bons níveis de geração energética atreladas aos benefícios já

citados. Uma das alternativas que se mostra capaz de suprir todas as características

requeridas para essa finalidade, é a espécie conhecida pelo nome popular de bambu.

O bambu apresenta-se com grande relevância em diversos usos, tanto

domésticos, quanto industriais. Apresenta-se como material de relevante potencial

econômico de utilização, devido ao rápido crescimento, pois completa o seu ciclo em

poucos meses e atinge resistência máxima em poucos anos (MARINHO, 2012), além

de suas possibilidades de uso irem desde matéria-prima para construção civil,

recuperação de áreas degradadas, mix de fibras para papel e para a indústria têxtil,

passando por fontes de biomassa, entre outras, podendo até ser utilizada em

“bionanomateriais”, como demonstram as mais recentes pesquisas (SANTI, 2015), ou

seja, pode ser cultivado para atender especificamente o setor de bioenergia, ou ainda,

quando usado para outros fins, utilizar os resíduos e/ou realizar uma cogeração de

energia.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Reunir informações sobre o potencial energético de espécies de bambu

2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO

Analisar dados sobre as propriedades energéticas, produtividade e qualidade

das diferentes espécies de bambu;

Avaliar e interpretar os parâmetros densidade energética e de índice de valor

combustível.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com a classificação botânica o bambu enquadra-se como tribo

Bambusae. Todas as plantas pertencentes à subfamília Bambusoideae são

classificadas como bambu. Pelas características de seu colmo é considerado uma

planta pertencente às angiospermas e ao grupo das monocotiledônea (PEREIRA,

2012). São plantas lenhosas e herbáceas, pertencentes à família das Poaceae ou

Gramineae, com mais de 1.250 espécies classificadas e distribuídas em cerca de 90

gêneros distintos. Desenvolvem-se, de maneira geral, em regiões com clima tropical

e subtropical, com temperaturas moderadas, e adaptam-se tanto ao nível do mar

quanto em altitudes próximas de quatro mil metros (LÓPEZ, 1974, citado por NETO

et al., 2009).

O bambu é um vegetal com mais de 200 milhões de anos e cerca de 1.300

espécies, das quais 50 domesticadas e 38 estudadas. Do total de florestas do planeta,

o bambu corresponde a 3% (REVISTA O PAPEL, 2015).

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O bambu não se caracteriza como uma espécie exigente quanto ao solo,

contudo se desenvolvem melhor em solos bem drenados, soltos e férteis. Seu

desenvolvimento pode ser inibido em locais muito úmidos ou com lençol freático alto,

também como em solos salinos. (ESPELHO; BERALDO, 2008). Duarte et al (2007)

reforça que em relação ao tipo de solo têm-se pouca exigência, entretanto respondem

bem ao uso de adubos. De maneira geral não aceitam areia pura, solos muito

argilosos ou banhados (DUARTE et al., 2007)

O bambu ocorre naturalmente em todos os continentes, exceto na Europa,

onde ele é cultivado apenas em alguns parques e viveiros. Quanto a pluviosidade,

apresenta preferência a chuvas bem distribuídas ao longo de todos os meses do ano,

porém, também pode ocorrer em regiões onde as precipitações são concentradas

apenas em certas épocas do ano ou em regiões menos chuvosas, todavia com menor

produtividade (DUARTE et al., 2007)

A copa localiza-se na parte superior dos colmos e é composta por ramos

laterais, que sustentam a folhagem. Vale destacar que o bambu pode ser cultivado a

uma temperatura média entre -15ºC e 40ºC, com melhor produtividade em solos de

pH entre 4,5 e 7,5, de 0 a 3.800 metros de altitude, enfrentando umidade relativa de

35% a 100% e com índice pluviométrico de 500-4500 mm/ano. Além disso, suas fibras

celulósicas têm largura média de 15 a 20 micrômetros e comprimento médio de 1,6 a

3,5 mm (REVISTA O PAPEL, 2015).

Outra característica do bambu se deve a estrutura morfológica de suas fibras

estreitas e compridas, paredes celulares espessas e com pouco lúmen que lhe

conferem baixa porosidade e alta resistência ao rasgo. Em sua composição química

destacam-se elevadas proporções de cinzas e pentosanas, seu poder calórico

assemelha-se ao das árvores lenhosas e há também baixa proporção de lignina, alta

solubilidade em água quente, álcool, benzeno e soda (DUARTE et al., 2007)

Dentre as vantagens do bambu pode-se citar a sua composição química em

relação a outro material lignocelulósico, pois ele apresenta menor teor de lignina, bem

como alto teor de holocelulose, economizando assim energia na purificação da

celulose, além disso a espécie apresenta bons resultados de ângulo de microfibrila e

alta razão de aspecto entre suas fibras, sinalizando boas propriedades mecânicas e

dimensionais (REVISTA O PAPEL, 2015).

Externamente a parede do colmo é constituída por uma camada cutinizada e

com cera, além de duas camadas de células epidermais. Internamente uma camada

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altamente lignificada e mais espessa é encontrada, formada por muitas células

esclerenquimáticas, dificultando assim movimentos laterais de líquidos. Seu tecido é

constituído por células parenquimáticas, além de fibras e feixes vasculares, numa

proporção de aproximadamente 10% de tecidos condutores, 40% de fibras e 50% de

células de parênquima. Compreendendo o floema e o xilema tem-se os feixes

vasculares que se localizam em maior quantidade, porém de menor tamanho na

periferia e menos numerosos, porém maiores na parte interna. No interior da parede

os feixes diminuem no sentido da base para o topo, ao contrário de sua densidade,

que aumenta nesse sentido. Verticalmente no colmo, as fibras aumentam em

quantidade no sentido base ao topo, enquanto que a quantidade de parênquima

diminui, concluindo assim que não se utilizar as partes mais altas é um grande

desperdício de material, pois lá se encontram um grande conteúdo de fibras

(ESPELHO; BERALDO, 2008)

O ciclo do bambu inicia-se na primavera ou no início do verão quando

emergem seus brotos, os quais crescem muito rapidamente, alcançando sua máxima

altura entre quatro e seis meses juntamente com a formação de seus galhos e folhas

(DUARTE et al., 2007). Sua altura máxima é alcançada em aproximadamente cento e

oitenta dias para as espécies gigantes e trinta dias para as de menor porte (PEREIRA,

2012). Nesse período a espécie Bambusa vulgaris, a mais comum em territórios

brasileiros, pode crescer até 20 cm por dia. Terminada a fase de crescimento, os

colmos passam por um período em que aumentam sua resistência mecânica até

completarem três anos. Entre três a seis anos os colmos consideram-se maduros e já

podem ser usados em aplicações que exijam a máxima resistência física do material.

A partir do sexto ano ocorre a redução gradativa da resistência, motivo pelo qual não

se recomenda o uso depois dessa fase (DUARTE et al., 2007)

Com periodicidade bienal, após o primeiro corte realizado aos três anos de

idade, quando se adota a área de produção e o tempo essa característica representa

uma maior produção de matéria-prima, apresentando vantagem em relação a outras

fibras (REVISTA O PAPEL, 2015).

Até os dois anos de idade os colmos são considerados imaturos e com baixa

resistência, sendo assim, dependendo da intenção de uso, como por exemplo para

fins estruturais, devem ser deixados na moita para maturação, assim possibilitam

também novas brotações (ESPELHO; BERALDO, 2008)

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Considerando uma mesma espécie, o diâmetro dos colmos se dá em função

das condições locais, principalmente pelo solo e pelo clima, e pela idade da moita,

atingindo seu tamanho máximo por volta do quarto ano após o plantio (PEREIRA,

2012).

Exercendo um fundamental papel o rizoma possui a função não só de

armazenar nutrientes para depois distribui-los, mas também atua como responsável

pela propagação do vegetal, pois para que novos colmos nasçam, fatores como

nutrição fornecida pelo rizoma e pelos colmos mais velhos, são fundamentais.

Anualmente, novos colmos nascem de maneira assexuada, através da ramificação

desses rizomas, podendo ocorrer de duas formas e dando origem aos dois principais

tipos de bambu, o tipo moita e o alastrante. No grupo tipo alastrante os colmos se

desenvolvem separados uns dos outros, e no tipo moita, se desenvolvem de maneira

agrupada (ESPELHO; BERALDO, 2008). De acordo com Duarte et al. (2007) os

alastrantes formam florestas homogêneas com colmos mais distanciados entre si, e

os entouceirantes ou tipo moita, formam florestas com grupos de colmos agrupados e

de formato arredondado com espaços livres somente entre as touceiras.

O bambu do grupo alastrante também pode ser chamado de leptomorfo ou

ainda monopodial. Se desenvolvem melhor em zonas temperadas e são resistentes

às baixas temperaturas, com seu período de brotação ocorrendo no início de uma

estação chuvosa. Possui rizomas de formato cilíndrico, delgados e longos, que podem

crescer entre 1 a 6 metros por ano, formando uma teia que pode vir a atingir entre 50

a 100 mil metros lineares por hectare. São ocos e segmentados em cada nó por um

diafragma, comumente de diâmetro ou espessura menor do que os colmos que vão

se originar. No rizoma existem vários nós e neles várias gemas laterais em estado de

dormência, que podem vir a produzir novos colmos ou ainda novos rizomas, que se

desenvolvem lateralmente, porém germinam apenas 10% das gemas (ESPELHO;

BERALDO, 2008)

O bambu do tipo moita também pode ser chamado de entouceirante,

paquimorfo ou grupo simpodial. Se distribuem por regiões tropicais e quentes. Seus

rizomas são grossos, sólidos e curtos, com raízes na parte inferior e com internós

assimétricos, possuem gemas laterais que se ativam e desenvolvem novos colmos e

novos rizomas, contudo grande parte das gemas se mantem inativa ou dormente,

porém, quando se desenvolvem se fazem de maneira horizontal, em curtas distâncias

e comumente seu ápice volta-se para cima dando origem a um novo colmo.

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Anualmente, uma formação de rizomas se desenvolvem perifericamente e acarreta

em um agrupamento de entre 30 a 100 colmos, formando uma moita. Conforme a

espécie e as condições ambientais, 5 a 10 novos colmos podem se formar a cada

ano, geralmente entre o verão e o outono ou na estação chuvosa seguinte a uma

estação seca (ESPELHO; BERALDO, 2008).

Contudo os bambus raramente florescem e com isso as espécies dificilmente

são identificadas com exatidão (DUARTE et al., 2007).

Comumente os colmos do tipo alastrantes se desenvolvem mais e

preferencialmente a noite, enquanto que os do tipo entouceirantes crescem de

maneira mais lenta e geralmente durante o dia (PEREIRA, 2012).

A dispensa do replantio é outra de suas vantagens, visto que novos brotos

surgem espontaneamente por mais de 100 anos, fato que conta muito nos processos

em que é utilizado (DUARTE et al., 2007). O corte de uma ou algumas varas não

compromete a sobrevivência da touceira, pois a produção de novos colmos são clones

da planta original e são produzidos através de propagação vegetativa (REVISTA O

PAPEL, 2015).

As características botânicas das diversas espécies dessa planta, oferecem

inúmeras vantagens para o seu uso, tais como:

- Rápido crescimento: Depois que se estabelece o bambu apresenta uma

rápida velocidade de propagação, sendo que seu tempo de estabelecimento acontece

entre três e quatro anos, ou seja, comparativamente é mais rápido do que a mais

rápida árvore. Seus brotos e colmos já podem ser coletados a partir do terceiro ou

quarto ano e em média a sua produção anual de biomassa, por hectare, é de

aproximadamente 10 toneladas (NETO et al., 2009);

- Facilidade de estabelecimento, manutenção e colheita: O bambu se

estabelece facilmente como plantação, não sendo necessário técnicas complexas

para isso. Não é necessária a aplicação de agrotóxicos e sua manutenção é feita

através de irrigação. A colheita é feita com instrumentos manuais e ainda fortalece o

bambual quando realizada. Em comparação às madeiras seu transporte é facilitado

pelo seu peso leve (NETO et al., 2009);

- Inserção Cultural: O bambu já é um material muito explorado na Ásia,

movimentando uma parte significativa da economia e sendo encarado como forma de

desenvolvimento econômico. Culturas utilizam o bambu em muitos aspectos da vida,

como: música, cerimônias, alimentação, moradia, etc. Em alguns países existem

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grandes projetos de reflorestamento de bambu para estimular a economia local e

utilizá-lo como matéria-prima para diferentes usos. Em outros, o reflorestamento está

sendo usado para empregar uma parte da população que se encontra desempregada

(NETO et al., 2009);

Possuindo uma das maiores taxas de crescimento e também uma elevada

resistência mecânica devido a suas fibras, o bambu apresenta-se como uma opção

viável para o uso industrial além de ser uma promissora alternativa de fonte renovável

e sustentável (MARINHO, 2012);

O bambu surge como uma opção construtiva viável ecologicamente, visto que

se trata de um material de reduzido consumo energético, baixo custo e de fácil

obtenção (BARROS; SOUZA, 2004);

Estudiosos de diversas áreas de todo o mundo vem apreciando essa planta

como forma alternativa na confecção de materiais e na aplicação de estruturas em

construções, substituindo assim, os resíduos gerados, que passam a ser passíveis de

decomposição pelo meio ambiente. A lista de uso do bambu é extensa passando

desde utilizações simples e rotineiras até usos mais sofisticados, porém esse material

sofre preconceito por alguns que o consideram uma matéria-prima de segunda

categoria. O principal uso do bambu no Brasil está concentrado nas áreas rurais,

empregado tradicionalmente em usos pontuais, como pequenas construções e

cercas, devido a sua grande disponibilidade e facilidade de obtenção, caracterizando

um uso mais casual do que estratégico (NETO et al., 2009).

Além de apresentar ótimas características mecânicas, químicas e físicas,

também é considerado um eficiente sequestrador de carbono e possui ainda,

características que o tornam viável a ser utilizado no desenvolvimento de produtos

normalmente produzidos com madeira de reflorestamento ou nativa. O bambu pode

ser utilizado in natura ou após sofrer um processamento adequado (PEREIRA, 2012).

Para países em desenvolvimento que planejam obter rendimentos na

comercialização de créditos de carbono, por meio do florestamento e do

reflorestamento, ele também se apresenta como opção viável pois possui altas taxas

de sequestro de gás carbônico. Porém, para salvaguardar uma maior diversidade de

espécies, outras plantas podem, e devem ser associadas ao plantio (BARROS;

SOUZA, 2004).

O bambu possui o status de planta com um dos maiores graus de

sustentabilidade do planeta, pois caracteriza-se como o maior consumidor de gás

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carbônico do reino vegetal. Através da fotossíntese, o bambu retira o gás carbônico,

incorporando-o aos seus compostos, libera oxigênio para a atmosfera, contribuindo

para o sequestro de dióxido de carbono (BARROS; SOUZA, 2004).

Algumas espécies de bambu apresentam grande capacidade de ocupação de

solos marginais e erodidos, além de maiores taxas de crescimento dentre os vegetais

de porte arbóreo (FILHO; SALGADO, 1987). Apresenta também um grande potencial

em várias atividades silviculturais, como: quebra-vento, recuperação de margens de

rio, corredor ecológico, plantios de encosta e em áreas degradadas e plantação

comercial integrada a agricultura e pecuária (REVISTA O PAPEL, 2015). Além disso

é um importante aliado no combate a devastação das florestas podendo substituir a

madeira em diversas aplicações (NETO et al., 2009)

A alta velocidade de crescimento do bambu torna-o acessível em um curto

espaço de tempo, assim verifica-se a potencialidade do mesmo como meio alternativo

no reflorestamento de áreas devastadas por desmatamentos (BARROS; SOUZA,

2004). A cultura do bambu é condicente com preceitos de sustentabilidade, além de

que, se manejada adequadamente, pode ser utilizada, geração após geração, por

longos períodos de tempo num mesmo local (PEREIRA, 2012).

O bambu não se apresenta como uma única solução para os problemas

ligados à diminuição acentuada dos recursos florestais e/ou ao meio ambiente, porém

pode ser estudado e considerado como uma alternativa ou um material alternativo e

de baixo custo a ser explorado. O cultivo da cultura do bambu e o estudo da sua cadeia

produtiva podem gerar renda e emprego, beneficiar o meio ambiente e contribuir para

fixar o homem ao campo. (PEREIRA, 2012).

A maioria das espécies de bambu oferece baixa resistência ao ataque de

organismos xilófagos, sendo fungos ou insetos. Assim, técnicas que possam

aumentar a durabilidade dos colmos devem ser buscadas e é favorável quando se

pode utiliza-las em escala industrial, assim o bambu se torna competitivo quando

relacionado com materiais convencionais. Sua durabilidade pode ser aumentada de

dois modos: pelo tratamento com produtos químicos ou por procedimentos culturais

(ESPELHO; BERALDO, 2008). Outra desvantagem em seu uso está no fato de conter

sílica e amido em sua composição. O amido acelera a degradação do bambu durante

a estocagem, enquanto que a sílica dificulta a recuperação do licor negro na indústria

papeleira, por exemplo. (DUARTE et al., 2007).

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A extração do bambu é comumente realizada de forma manual, utilizando-se

de facões, serrotes, machados, ou ainda de forma semi-mecanizada, através de

motosserras. Para espécies do tipo alastrantes, o corte deve ser realizado rente ao

solo, pois seu rizoma localiza-se protegido abaixo do mesmo e para as espécies do

tipo entouceirantes deve ser realizado a aproximadamente 20cm acima do solo e logo

acima de um nó, para que assim se evite a entrada e o acumulo de água, e

consequentemente, o apodrecimento do colmo remanescente (ESPELHO;

BERALDO, 2008). Além disso, a extração do bambu deve ser realizada nos meses

mais frios, pois nessa condição há menos seiva nas varas, diminuindo assim a

probabilidade de ataques por insetos. Nessa época também há menor quantidade de

água nos colmos, facilitando o transporte, visto que eles ficam mais leves. Após

realizada a extração dos colmos desejados, deve-se limpar e excesso de folhas no

restante da touceira, para facilitar o crescimento sadio e rápido dos colmos

remanescentes, renovando assim a touceira (BARROS; SOUZA, 2004).

Os países do Sudeste Asiático mostram-se como a maior região produtora de

bambu de todo o mundo. Até a metade do século passado, utilizavam as florestas

naturais como único meio de obtenção da espécie, contudo ampliaram a escala de

produção com a introdução do plantio e sua industrialização (DUARTE et al., 2007).

Estima-se que por ano, na China e na Índia, sejam processados 5 milhões de

toneladas de bambu em cada país (REVISTA O PAPEL, 2015). Embora milenar, a

cultura do bambu tem maior pesquisa e utilização no oriente, embora que cada vez

mais o ocidente está dedicando atenção a essa cultura (PEREIRA, 2012). Também

há grandes reservas naturais na América Latina especialmente do gênero Guadua

(DUARTE et al., 2007).

Existem diversas espécies de bambu espalhadas pelo mundo e centenas

nativas pelo Brasil, porém o conhecimento básico de suas aplicações, características

e seus usos ainda é pouco difundido e conhecido no ocidente. A necessidade de

pesquisa vai desde sua introdução no meio, seu plantio, o manejo de espécies tanto

nativas, quanto exóticas, suas características mecânicas e físicas, necessitam ser

estudadas (PEREIRA, 2012).

De acordo com Filho e Salgado (1987) o Brasil, país que se utiliza

intensamente de biomassa para atendimento de suas necessidades energéticas, deve

também considerar o bambu como uma alternativa de matéria-prima, destacando a

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possibilidade da utilização dos seus colmos para a geração de energia, carvão,

briquetes, carvão ativado, etc.

A criação da Lei n.º 12.484/2011, que dispõe sobre a Política Nacional de

Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu (PNMCB) se caracterizou

como um marco no país pois incentivou a destinação de terras por produtores rurais

para o cultivo desse vegetal (REVISTA O PAPEL, 2015).

O Grupo Penha, usava um mix de outras fibras secundárias com a fibra de

bambu na linha de produção de papel para embalagens, porém descontinuou seu uso

e passou a investir no bambu como biomassa para geração de energia nas caldeiras.

Com isso, o custo de operação e na implantação baixou aproximadamente 36%

quando comparado à cultura do eucalipto (REVISTA O PAPEL, 2015).

A tendência do uso do bambu para fins energéticos cresce anualmente. No

Nordeste, florestas energéticas são a aposta de empresas como a Proflora, empresa

de gestão e consultoria de bambu no Maranhão, que as cultivam para a utilização das

industrias da região. O racionamento e a crise energética já são uma realidade

brasileira, justificando a necessidade de implantação de fontes renováveis, como a

biomassa, surgindo o bambu com potencial energético para atender essa demanda

(REVISTA O PAPEL, 2015).

O retorno econômico do investimento com a cultura do bambu é muito

vantajoso, pois novos colmos brotam assexuadamente a cada ano, além de atingir

seu crescimento máximo em alguns meses (REVISTA O PAPEL, 2015).

Através de um banco clonal de touceiras selecionadas em florestas plantadas

pela proflora são obtidas mudas de bambu com um alto nível técnico de

melhoramento, através de hastes secundárias com o gênero Bambusa vulgaris.

Resultados em produção de mudas de viveiro, espaçamento, adubação de

implantação e manutenção, preparo de solo, ciclo de corte, bem como em tratos

culturais de implantação e pós-colheita, foram obtidos após vinte e cinco anos de

estudos (REVISTA O PAPEL, 2015).

O cultivo do bambu ainda não é uma realidade em larga escala pois sofre

resistência por parte de grandes indústrias ao seu uso como insumo por não estar

totalmente consolidado, no entanto médias empresas, que usam tonelagens menores,

bem como em biorrefinarias e para produção de energia, essa matéria-prima já é uma

realidade, além de, atualmente, ser objeto de estudo em universidades e institutos de

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pesquisas de todo o Brasil como uma fibra substituta de materiais não renováveis

(REVISTA O PAPEL, 2015).

A Universidade Federal de Viçosa está desenvolvendo pesquisas para

verificar a aplicação do bambu no conceito de biorrefinaria, ou seja, a possibilidade

de, além da produção de polpa celulósica, avalia-se o potencial de se produzirem

paralelamente biocombustíveis. Entre as alternativas observadas pela UFV, tem-se

por exemplo, a extração do amido presente no bambu promovendo sua sacarificação

e posterior fermentação para a produção de etanol, paralelamente à produção de

polpa celulósica, foco de um projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq (REVISTA O PAPEL, 2015).

Para se obter retorno sobre o investimento em uma plantação de bambu para

biomassa alguns fatores podem interferir, como o preço na região da plantação, custo

da terra, demanda, transporte das mudas e custos de mão de obra local (REVISTA O

PAPEL, 2015).

Alguns desafios terão de ser superados para que essa atividade possa ser

ampliada, como por exemplo o adequado manejo da espécie e as estratégias de

mercado. Um dos maiores gargalos do setor é a plantação de mudas, por se tratar de

uma planta rústica e sem normatizações ou estudos adequados para sua reprodução,

pois a fase reprodutiva do bambu leva cerca de 30 anos para se produzir sementes,

geralmente inviáveis, sendo assim seu cultivo se dá melhor por micropropagação

(REVISTA O PAPEL, 2015).

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) já está trabalhando em um

projeto para produção em larga escala de mudas de várias espécies de bambu, com

apoio técnico da BambuSC e apoio financeiro do CNPq (REVISTA O PAPEL, 2015).

O mercado do bambu ainda é incipiente, irrisório quando se compara com

outras espécies plantadas no Brasil, com uma baixa demanda e oferta, por esse

motivo e pelo apelo estético único, os preços presentes no mercado são muitas vezes

exorbitantes, principalmente quando é para os setores de arquitetura e construção. É

um mercado visto como muito promissor, porém, deve-se trabalhar nele para que se

alcance maiores patamares (REVISTA O PAPEL, 2015).

Outro empecilho que compromete o desenvolvimento do bambu é o

preconceito que muitos brasileiros têm ao considerá-lo como praga, devido ao tipo

alastrante. Poucos sabem as inúmeras possibilidades de seu uso e desconhecem a

existência do outro tipo, o entouceirante (REVISTA O PAPEL, 2015).

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13

4 MATERIAL E MÉTODO

O presente trabalho foi elaborado através de pesquisa bibliográfica. As

informações foram obtidas de material já publicado, constituído de livros, artigos de

periódicos e materiais disponibilizados na Internet.

Além da pesquisa bibliográfica de materiais publicados, foi realizada uma

busca em órgãos de governos, entidades profissionais, institutos de pesquisa e dados

de empresas obtidos em endereços eletrônicos.

Para as espécies Bambusa vulgaris, Bambusa vulgaris vittata, Bambusa

tuldoides, Dendrucalamus giganteus e Guadua angustifolia utilizou-se dados

referentes a estudos já publicados na literatura, a título de comparação.

Para as espécies Phyllostachys bambusoides, Phyllostachys nigra cv henonis

e Phyllostachys pubescens foram realizadas análises, no Laboratório de Energia de

Biomassa da Universidade Federal do Paraná, com amostras provenientes de Santa

Catarina. Para a determinação das propriedades químicas seguiu-se: a norma TAPPI

T264 (TAPPI, 2007) no preparo das amostras, a norma TAPPI T222 (TAPPI, 2002)

para obtenção do teor de lignina, a norma TAPPI T204 (TAPPI, 1997) para a obtenção

do teor de extrativos totais. Para os teores de materiais voláteis, carbono fixo e cinzas

sua determinação de acordo com a NBR 8112 (ABNT, 1983).

Para se determinar o poder calorífico superior usa-se uma bomba

calorimétrica, onde água é formada durante a combustão e depois condensada,

recuperando o calor derivado, conforme Norma NBR 8333 (1984). Já no poder

calorífico inferior a água presente no combustível é encontrada, ao final, no estado de

vapor. A diferença entre os dois relaciona-se com a umidade e a presença de H no

material, conforme mostra a Equação (SILVA, 2001, 2013).

𝑷𝑪𝑰 = 𝑷𝑪𝑺 − (𝟔𝟎𝟎 𝒙 𝟗𝑯)

𝟏𝟎𝟎

Onde:

PCI = Poder Calorífico Inferior (kcal/kg)

PCS = Poder Calorífico Superior (Kcal/Kg)

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H = Teor de Hidrogênio (%)

A densidade energética considera a energia contida em um determinado

volume de madeira. Ela é obtida através da equação a seguir:

𝑫𝑬 = (𝑷𝑪𝑺 𝒙 𝑫𝑩)/𝟏𝟎𝟎𝟎

Onde:

DE: Densidade energética (Mcal/m3)

PCS: Poder calorífico superior (kcal/kg)

DB: Densidade básica (Kg/m³)

O Índice de valor do combustível (IVC), para melhor comparação das

propriedades e o potencial enérgico é calculado com base em Mayer e Silva (2016) e

é calculado pela equação seguinte:

𝑰𝑽𝑪 = (𝑫𝑬)

(𝑼𝒃𝒖 𝒙 𝑻𝒁)

Onde:

IVC: Índice de valor combustível

DE: Densidade básica (Kg/m³)

U: Umidade da amostra em base úmida (%)

TZ: Teor de cinzas (%)

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como informação geral, a composição da biomassa de bambu distribui-se na

forma de 15% a 20% de folhas e ramos, 15% a 20% raízes e rizomas e 50% a 70%

nos colmos (LIESE 1985, citado por GUARNETTI, 2013) justificando assim o fato da

colheita apenas de colmos para fins de biomassa.

5.1 PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO BAMBU

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5.1.1 Densidade

A madeira, sendo utilizada como matéria prima pode ter diversos usos e cada

qual exige propriedades específicas que são essenciais para tal escolha. Para a

destinação de carvão vegetal por exemplo, uma das primordiais características a

serem observadas é a densidade do material (SILVA, 2016), ela é obtida a partir da

relação entre o volume saturado e a massa seca da madeira (SANTOS, 2010 citado

por SILVA, 2016), com isso altos valores de densidade são desejáveis para a

destinação de bioenergia. Na Tabela 1 estão dispostos os valores obtidos para

diferentes espécies de bambu:

TABELA 1 – DENSIDADE BÁSICA DE ALGUMAS ESPÉCIES DE BAMBU

Espécies Densidade básica (g/cm³) Fonte

Bambusa vulgaris 0,687 Brito et al 1987

Bambusa vulgaris vittata 0,744 Brito et al 1987

Bambusa tuldoides 0,712 Brito et al 1987

Dendrucalamus giganteus 0,744 Brito et al 1987

Guadua angustifólia 0,629 Brito et al 1987

Phyllostachys bambusoides 0,780 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys pubescens 0,790 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys nigra cv henonis 0,860 Laboratório de biomassa - UFPR

Percebe-se que as diversas espécies de bambus listadas demonstram ter

altos níveis de densidade, qualidade requerida para a biomassa, com o menor valor

ficando para a espécie Guadua angustifolia e o maior valor para a espécie

Phyllostachys nigra cv henonis. Quando comparado ao Eucaliptus, espécie

comumente utilizada para carvoaria, por exemplo, a densidade das espécies de

bambu se mostra superior, conforme Tabela 2:

TABELA 2 – COMPARAÇÃO ENTRE DENSIDADE BÁSICA DE BAMBU E EUCALIPTO PARA ENERGIA

Espécies Densidade básica (g/cm³)

Eucalyptus urophylla 0,496

Eucalyptus benthamii 0,470

Phyllostachys nigra, P.bambusoides e P. bissetii 0,512 a 0,698

Bambusa vulgaris vittata 0,744

B. tuldoides 0,712

B. vulgaris 0,687

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Dendrocalamus giganteus 0,744

Guadua angustifólia 0,624 FONTE: RIBEIRO (2005) citado por MANHÃES (2008), adaptado.

Mesmo a espécie G. angustifolia que apresentou o menor valor de densidade

entre as espécies estudadas, mostrou valores de densidade superior ao de algumas

espécies de eucalipto.

5.1.2 Propriedades químicas

A estrutura da madeira está relacionada com a resistência dos constituintes

químicos da mesma. Do ponto de vista térmico, quanto mais condensada for a

estrutura, mais rígida e mais complexa, mais estável será seus correspondentes

componentes químicos (ANDRADE, 2004 citado por SILVA 2016).

Conhecer as características químicas e térmicas dos combustíveis é essencial

quando se tem a pretensão de estudar seu potencial energético, sejam eles

provenientes de biomassa ou de origem fóssil. A maneira como se comporta o

combustível nos processos de combustão pode ser avaliada a partir de tais

informações. Visando melhores resultados nos processos, as tomadas de decisões e

melhorias nos sistemas térmicos podem ser realizadas a partir dos parâmetros

fornecidos (GUARNETTI, 2013).

As características mais importantes a serem analisadas em materiais para fins

de biomassa são: a composição química elementar (carbono, hidrogênio, oxigênio e

enxofre) e os conteúdos de carbono fixo, materiais voláteis e cinzas; umidade e poder

calorífico. Destes, o hidrogênio e o carbono são elementos que oxidam na presença

de oxigênio e são responsáveis diretos da qualidade do combustível, sendo assim

altos valores de Nitrogênio e Oxigênio diminuem o poder calorífico do material.

A análise elementar consiste na obtenção dos valores de compostos

orgânicos que são utilizados em cálculos energéticos. A Tabela 3 apresenta os valores

obtidos para a espécie Bambusa vulgaris por KLEINLEIN (2010) citado por

GUARNETTI (2013).

TABELA 3 – VALOR ILUSTRATIVO ENCONTRADO NA LITERATURA PARA COMPOSIÇÃO

ELEMENTAR DE BAMBUS

Elementos químicos %

Carbono 47

Hidrogênio 6

Nitrogênio 0,9

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Enxofre 0,8

Oxigênio 45

FONTE: KLEINLEIN (2010) citado por GUARNETTI (2013).

As propriedades químicas da madeira, como a lignina, a holocelulose e os

extrativos totais (TABELA 4), juntamente com a umidade, influenciam no chamado

poder calorífico, ainda mais quando associados à massa específica. Para a

destinação de biomassa são desejáveis altos teores de lignina e de extrativos totais.

TABELA 4 – COMPOSIÇÃO MÉDIA DOS CONSTITUINTES QUÍMICOS DE DIFERENTES ESPÉCIES DE BAMBUS

Espécies Lignina (%)

Holocelulose (%)

Extrativos totais

(%) Fonte

Bambusa vulgaris 17,5 66,3 16,2 Brito et al 1987

Bambusa vulgaris vittata 20,2 66,1 13,7 Brito et al 1987

Bambusa tuldoides 19,0 66,7 14,3 Brito et al 1987

Dendrucalamus giganteus 23,4 63,7 12,9 Brito et al 1987

Guadua angustifólia 20,6 60,4 19,0 Brito et al 1987

Phyllostachys bambusoides 21,2 56,1 22,7* Laboratório de biomassa -

UFPR

Phyllostachys pubescens 23,5 44,9 31,6* Laboratório de biomassa -

UFPR

P. nigra cv henonis 23,8 52,1 24,1* Laboratório de biomassa -

UFPR

*dados parciais.

Browning, 1963, citado por Kerschbaumer (2014) aponta que madeiras com

maiores teores de lignina e extrativos apresentam valores menores de teor de

oxigênio, tornando mais alto o poder calorífico. Na Tabela 5 visualiza-se um

comparativo entre os valores de teor de lignina entre espécies de bambus,

comparados ainda, com outras espécies.

TABELA 5 – TEOR DE LIGNINA EM BAMBU E EM DIFERENTES ESPÉCIES VEGETAIS

Espécies Lignina (%) Referências

Phyllostachys bambusoides 21,3 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys nigra cv henonis 23,9 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys pubescens 23,5 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys heterocycla 26,1 Higuchi, (1955) citado por Li, (2004)

Phyllostachys nigra 23,8 Higuchi, (1955) citado por Li, (2004)

Phyllostachys reticulata 25,3 Higuchi, (1955) citado por Li, (2004)

Bambusa vulgaris 14,5 Beraldo e Azzini, (2004)

Eucalyptus saligna 25,5 Beraldo e Azzini, (2004)

Pinus elliottii 26,0 Beraldo e Azzini, (2004)

Mimosa scabrella 23,7 Pereira e Lavoranti, (1986) FONTE: KERSCHBAUMER (2014).

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O teor de cinzas encontrado depois do processo de carbonização é

geralmente pequeno, podendo incluir magnésio, potássio, cálcio e outros materiais

(ANDRADE, 1993 citado por SILVA 2016). Com o aumento da temperatura, a madeira

passa a sofrer transformações e com isso a eliminação de produtos voláteis, além de

uma crescente concentração de material mais resistente à ação do calor (carbono

fixo) no produto sólido residual (BRITO, 1992 citado por SILVA 2016). Na Tabela 6

pode-se observar os teores de materiais voláteis, de cinzas e de carbono fixo, de

carvão vegetal oriundo de diferentes espécies de bambus.

TABELA 6 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA IMEDIATA PARA CARVÃO VEGETAL DE ALGUMAS ESPÉCIES DE BAMBU

Como a geração de cinzas é um resíduo resultante do processo,

porcentagens altas da mesma não é desejado. Na Tabela 7 a seguir é possível

comparar a porcentagem de cinzas encontradas em processos com bambus, e ainda,

com outras espécies. Os valores observados de cinzas situam-se intermediariamente

entre as espécies vegetais analisadas

TABELA 7 – TEOR DE CINZAS EM DIFERENTES ESPÉCIES DE BAMBUS E DISTINTAS ESPÉCIES FLORETAIS

Espécies Cinzas (%) Referências

Phyllostachys bambusoides 1,6 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys nigra cv henonis 0,8 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys pubescens 1,3 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys heterocycla 1,3 Higuchi, 1955 citado por Li, 2004

Phyllostachys nigra 2,0 Higuchi, 1955 citado por Li, 2004

Espécies Materiais Voláteis (%)

Cinzas (%)

Carbono fixo (%)

Fonte

Bambusa vulgaris 10,2 3,5 86,3 Brito et al 1987

Bambusa vulgaris vittata

10,7 5,1 84,2 Brito et al 1987

Bambusa tuldoides 6,6 3,0 90,4 Brito et al 1987

Dendrucalamus giganteus

7,3 5,0 87,7 Brito et al 1987

Guadua angustifólia 8,4 12,3 79,3 Brito et al 1987

Phyllostachys bambusoides

14,2 3,6 82,2 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys pubescens

15,1 3,3 81,6 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys nigra cv henonis

16,2 2,8 80,5 Laboratório de biomassa - UFPR

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Phyllostachys reticulata 1,9 Higuchi, 1955 citado por Li, 2004

Dendrocalamus giganteus 1,1 Marinho et al. 2012

Bambusa vulgaris 1,8 Beraldo e Azzini, 2004

Eucalyptus saligna 0,3 Beraldo e Azzini, 2004

Pinus elliottii 0,3 Beraldo e Azzini, 2004

Mimosa scabrella 1,9 Pereira e Lavoranti, 1986

Mimosa scabrella 0,5 Lisbão Jr., 1981

Casca de palmito 5,9 Feitosa Netto et al., 2006

Fibra de coco 4,7 Feitosa Netto et al., 2006

Fibra de dendê 4,2 Feitosa Netto et al., 2006

Palmito 6,1 Feitosa Netto et al., 2006

FONTE: KERSCHBAUMER (2014)

Marinho (2012) aponta os teores de cinzas, extrativos e de lignina para a

espécie Dendrocalamus giganteus de acordo com sua idade (Tabela 8).

TABELA 8. PARTICIPAÇÃO DE CONSTITUINTES QUÍMICOS PARA A ESPÉCIE Dendrocalamus

giganteus

Idade Extrativos em

água quente (%) Extrativos em água fria (%)

Extrativos em NaOH (%)

Extrativos totais

(%)

Teor de cinzas

(%)

Teor de lignina

(%) 2 12,04 a 10,25 a 25,72 a 12,91 a 0,74 a 22,66 a

3 9,62 ab 7,96 b 24,04 bc 9,21 bc 1,09 b 22,77 a

4 7,06 bc 4,61 c 21,01 bc 10,27 b 0,66 ac 23,48 a

5 10,02 ab 8,14 b 21,64 bcd 9,93 b 0,64 ac 24,11 a

6 7,25 c 4,86 c 20,17 e 7,87 c 0,84 a 23,28 a

Fonte: Marinho (2012)

Os valores médios dos constituintes químicos mostram que a espécie tem

elevado teor de extrativos em diferentes idades do bambu. O teor de cinzas é baixo

enquanto o teor de lignina situa-se próximo a valores encontrados para madeira de

reflorestamento no Brasil. Os resultados também mostram que as diferentes

expressões de extrativos e teor de cinzas variam em diferentes idades, porém não de

forma direta com a variação com o aumento da idade. O teor de lignina não diferiu

com o aumento da idade do plantio de bambu.

5.1.3 Poder Calorífico

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No intuito de caracterizar a biomassa proveniente do bambu para ser utilizada

para fins energéticos, ensaios em laboratórios podem ser realizados análises voltadas

a determinar seu poder calorifico, além de pesquisas em publicações com o objetivo

de caracterizar de forma complementar o material. Para que se possa entender a

variação do poder calorífico superior ao longo do colmo, corta-se as amostras em três

regiões (topo, meio e base), de acordo com a Figura 1, para que as análises sejam

concentradas nesses pontos. O teor de umidade das amostras deve estar em torno

de 30% (GUARNETTI 2013).

FIGURA 1– PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS DE BIOMASSA DE BAMBU FONTE: Projeto bambu, citado por Guarnetti (2013).

A quantidade de energia liberada na forma de calor durante a combustão

completa de uma unidade de biomassa é o que chamamos de poder calorífico de um

combustível. São divididos de duas formas, poder calorifico superior (PCS) conforme

apresentado na Tabela 9 e poder calorifico inferior (PCI) (GUARNETTI, 2013). O poder

calorífico superior é entendido como o valor máximo ou téorico da expressão

energética, enquanto o poder calorífico inferior representa a expressão real e prática

deste potencial energético para biomassa com teor de umidade zero (Silva,2001).

TABELA 9 – RESULTADOS DOS ENSAIOS DE PODER CALORÍFICO (PCS) DE DIFERENTES ESPÉCIES DE BAMBU E DE SEU CARVÃO VEGETAL

Espécies Poder calorífico

superior (Kcal/kg) Fonte

Bambusa vulgaris 4219 Brito et al 1987

Bambusa vulgaris vittata 4750 Brito et al 1987

Bambusa tuldoides 4473 Brito et al 1987

Dendrucalamus giganteus 4462 Brito et al 1987

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Guadua angustifólia 4387 Brito et al 1987

Phyllostachys bambusoides

4588 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys pubescens 4575 Laboratório de biomassa - UFPR

Phyllostachys nigra cv henonis

4569 Laboratório de biomassa - UFPR

Considerando o valor médio encontrado para a Bambusa vulgaris de PCS =

4.000kcal/k e de acordo com análise química elementar (TABELA 3), a porcentagem

de hidrogênio na composição da biomassa de bambu foi considerada 6%

(GUARNETTI, 2013).

Quando comparado com outras espécies (Tabela 10) frequentemente

utilizadas para obtenção de energia, como por exemplo, o Eucaliptus e o Pinus, o

bambu pode ser considerado igual ou até superior, conforme ilustrado por Ribeiro

2005 citado por Manhães (2008).

TABELA 10 – COMPARAÇÃO ENTRE PODER CALORÍFICO INFERIOR DE BAMBU E EUCALIPTO PARA ENERGIA

Espécies Poder calorífico (Kcal/Kg)

Eucalyptus urophylla 4531

Eucalyptus benthamii 4587

Phyllostachys nigra, P.bambusoides e P. bissetii 4567 a 4682

Bambusa vulgaris vittata 4750

B. tuldoides 4473

B. vulgaris 4219

Dendrocalamus giganteus 4462

Guadua angustifolia 3879

FONTE: RIBEIRO (2005) citado por MANHÃES (2008).

Salgado e colaboradores (SALGADO, 1987 citado por GUARNETTI, 2013)

realizaram experiências com carvão de bambu. Em laboratório, as amostras de bambu

foram carbonizadas e caracterizadas em carvões e depois comparadas a carvões

obtidos a partir do Eucalyptus. Dentre as diferenças resultadas, destacam-se: Maior

teor de extrativos totais nos colmos, menor teor de holocelulose e lignina e maior

densidade básica. Os carvões de bambu caracterizaram-se como mais densos e com

maiores teores de cinzas.

5.1.4 Densidade energética e Índice de Valor de Combustível do Bambu

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22

A densidade energética e índice de valor do combustível para diferentes

espécies de bambus são mostrados na Tabela 11.

TABELA 11 – RESULTADOS DOS CÁLCULOS DE DENSIDADE ENERGÉTICA E INDICE DE VALOR COMBUSTÍVEL DAS DIFERENTES ESPÉCIES DE BAMBU

Espécies Umidade*

(%) Densidade

básica (g/cm³)

Cinzas (%)

Densidade energética (Mcal/m³)

Índice de valor

combustível

Bambusa vulgaris 30 0,687 3,5 2898,45 2760,43

Bambusa vulgaris vittata

30 0,744 5,1 3534,00 2309,80

Bambusa tuldoides 30 0,712 3,0 3184,78 3538,64

Dendrucalamus giganteus

39 0,744 5,0 3319,73 2213,15

Guadua angustifólia 30 0,629 12,3 2759,42 747,81

Phyllostachys bambusoides

30 0,780 1,61 3578,64 7409,19

Phyllostachys pubescens

30 0,790 1,32 3614,25 9126,89

Phyllostachys nigra cv henonis

39 0,860 0,81 3929,34 16170,1

*considerou, para umidade base úmida, o valor de 30% por ser próximo ao ponto de saturação das fibras e também

um valor adequado e usual para utilização da biomassa em caldeiras no Brasil

Os resultados mostram diferenças entre as espécies. Este parâmetro

reflete resultados distintos tanto de poder calorífico e de densidade básica.

O índice de valor combustível (IVC) caracteriza-se por utilizar propriedades

que tem influência para uso energético; sendo as positivas como densidade básica e

poder calorífico superior, e as negativas como umidade e teor de cinzas.

Na Tabela 11 pode-se observar uma grande variância nos índices. Isso

ocorre devido a diferença de valores entre as variáveis que compõe sua equação,

como por exemplo, a densidade energética das espécies. Com os resultados obtidos

observa-se que a espécie Phyllostachys nigra cv henonis, seguidas por Phyllostachys

pubescens e Phyllostachys bambusoides possuem melhor índice de valor de combustível em

relação as outras espécies de bambus analisadas;, mostrando assim melhor potencial

energético. Já a espécie Guadua angustifólia demonstrou inferior valor de IVC,

significando qualidade inferior para energia devido menor densidade e poder calorífico

e elevado teor de cinzas.

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6 CONCLUSÕES

Conclui-se que o bambu representa potencial na produção de biomassa para

fins energéticos. Mostra-se como alternativa viável ao uso de combustíveis fósseis e

fontes renováveis exauridas pela extração e uso constante. Seus níveis de densidade

energética e de índice de valor combustível apontaram valores desejáveis para a

destinação de bioenergia.

A espécie Phyllostachys nigra cv henonis, seguidas por Phyllostachys

pubescens e Phyllostachys bambusoides possuem melhor índice de valor de

combustível em relação as outras espécies de bambus analisadas.

A espécie Guadua angustifólia demonstrou inferior valor de IVC, significando

qualidade inferior para energia devido menor densidade e poder calorífico e elevado

teor de cinzas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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