caracterização das neurotransmissões gabaérgica e...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIEIRÃO PRETO – FMRP-USP DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA Caracterização das neurotransmissões GABAérgica e glutamatérgica em um núcleo envolvido no processamento auditivo em pássaros canoros André Luiz Andreotti Dagostin Dissertação apresentada ao Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Fisiologia. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Maurício Xavier Leão. RIBEIRÃO PRETO – SP 2008

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIEIRÃO PRETO – FMRP-USP

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA

Caracterização das neurotransmissões GABAérgica e glutamatérgica em um núcleo envolvido no processamento auditivo em pássaros canoros

André Luiz Andreotti Dagostin

Dissertação apresentada ao Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Fisiologia.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Maurício Xavier Leão.

RIBEIRÃO PRETO – SP 2008

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FICHA CATALOGRÁFICA

Dagostin, André Luiz Andreotti

Caracterização das neurotransmissões GABAérgica e glutamatérgica em um núcleo envolvido no processamento auditivo em pássaros canoros 87p.:

Dissertação apresentada ao Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Fisiologia. Orientador: Leão, Ricardo Maurício Xavier

1. Neurotransmissão; 2. Eletrofisiologia; 3. GABA; 4. Glutamato; 5.

Mandarim; 6. Canto

FOLHA DE APROVAÇÃO

André Luiz Andreotti Dagostin

Caracterização das neurotransmissões GABAérgica e glutamatérgica em um núcleo envolvido no processamento auditivo em pássaros canoros

Dissertação apresentada ao Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Fisiologia.

Aprovado em: ___/___/___

Banca examinadora

Prof. Dr. Ricardo Maurício Xavier Leão (Orientador)

FMRP-USP

Assinatura___________________________________________

Profa. Dra. Eliane Comoli

FMRP-USP

Assinatura___________________________________________

Prof. Dr. Christopher Kushmerick

ICB-UFMG

Assinatura___________________________________________

ii

DEDICATÓRIA

Aos meus heróis, meus ídolos: meus pais.

iii

AGRADECIMENTOS

A Deus,pela vida e por colocar em meus caminhos pessoas maravilhosas, que me

apoiaram e andaram comigo em algum momento na caminhada da vida, algumas das quais

encontram-se abaixo.

Pai, a você devo tudo o que sou, meus valores, caráter, idéias e ambições. Não existem

palavras para expressar a minha gratidão e admiração por você. Se um dia me tornar metade do

que és, dar-me-ei por feliz.

Mãe, obrigado por todas as idéias, conselhos, cafunés e por que não, pelas broncas. Para

mim, és um exemplo de dedicação, perseverança e aplicação no labor, tanto em casa quanto fora.

João e Eloisa, meus irmãos amados. Fontes de alegria e felicidade. Nenhum de nós é

santo, mas ter vocês em minha vida, me dá um porquê a mais para continuar a batalhar e deixá-los

orgulhosos de mim, da mesma forma que sou de ambos.

Família Andreotti e Dagostin, obrigado por me acolherem e constituírem ninhos

aconchegantes aos quais vôo de volta sempre que possível para um alento a mais.

Minha namorada Ana Flávia, que viu todo o processo desde a entrada no mestrado até a

sua conclusão. Que passou pelos bons e maus momentos de minha vida nesses anos que estamos

juntos, pela compreensão e pelo amor e companheirismo em todos os momentos.

Família Winz e Nery, obrigado por me aceitarem em seu meio e serem comigo pessoas tão

queridas.

Rato, Felipe, Célio, Juju, Becker, Darlan, Fran, Chile. Obrigado por todas as festas, folias,

churrascos e risadas, mas principalmente pela amizade que sempre dispensaram a mim. Foz não

seria tão bonita se vocês não estivessem lá.

Cláudia, Clodoaldo, Alexandre e Henrique. Grandes amigos de colégio que moram em

meu coração. Sei do apoio de vocês, mesmo nos vendo uma vez a cada muitos anos.

Carla Straub. Minha amiga e confidente desde a graduação.

Forno e AZ... Companheiros de bons momentos, maus momentos, presepadas, folias,

vídeo game. Todos seguimos os caminhos da pós-graduação, e ter amigos como vocês é oq eu faz

da vida uma experiência sem igual.

Alessandro, Kiti, Éder e Ângela. Obrigado pelo companheirismo, conselhos, pizzas, jogos,

futebol e, principalmente, amizade incondicional.

iv

Povo das “amarelinhas”: vocês fizeram daquelas quitinetes safadas o melhor lugar para se

viver em toda Cascavel!

Ernane, Augusto, Carlos e Berel. A convivência no lar deve ser harmoniosa para que

nossa casa seja um porto seguro em momentos tempestuosos. Obrigado por serem as pessoas que

fazem isso acontecer.

Ernane e Lígia, obrigado pelas vezes que me ouviram, que riram comigo, me apoiaram e

me ajudaram. Vocês são duas pessoas que vou levar no coração para o resto da vida.

Meninão, João Paulo, João Henrique, Sevi, Renata Maria, Fabi, Fernandinha, Lys,

Augusto, Ernane, Lígia, Cadu, Thiago, Elaine, Paula, Dani, Chefe, Lílian, Dezão. Kusuda,

Marcelo, Roberta, Dawitt, Edu, Ângelo, Adriano, Ricardinho, Renato Rizzo, Renato Soriano e

Roberta Ribeiro. Se rir é um santo remédio, viverei até os 150 anos ao lado desse povo.

Márcio, Mateus, Bruno, Leandro, Zoca, Berel, Thiago Malardo, Zé, “Meu Amigo”, Zé (de

novo), Bebinho, Rodrigo, Rafa e os distantes Valtão e Felipe. Esse grupo faz a quarta feira ser o

dia mais esperado da semana! A pelada no seu Luis é o highlight da semana e estes caras,

jogadores de fibra com os quais tenho o prazer e orgulho de dividir a quadra!

Fernandinho, você eu só tenho a agradecer. Tu és o homem que faz chover! Obrigado

pelas dicas e ajudas na hora das “adaptações técnicas”. Juntamente com Renatão, obrigado pelo

companheirismo nas pedaladas dominicais.

Cláudia B. Vanzela, Elisa M. Aleixo, Fernando C. Rastello e Carlos Belini, funcionários

dedicados que quebram todos os galhos e desfazem todos os nós burocráticos nessa jornada da

pós-graduação.

Bioteristas de Departamento de Fisiologia, Leonardo Sidelis Filho e Eduardo Gomes,

pelos cuidados dispensados aos animais.

Professores do departamento de Fisiologia, pelas aulas ministradas e conhecimento

repassado.

Professor Wamberto Varanda por nos ajudar com a estrutura inicial para nossos

experimentos, pelos ensinamentos repassados nesses anos de convivência e pelas memoráveis

reuniões de laboratório em sua casa.

Marcelo Cairrão, obrigado pela amizade, alto astral no laboratório, pelos ensinamentos

sobre hiopocampo e por confiar a mim os experimentos com a carambola!

v

Cadu, companheiro de laboratório, de risadas, de histórias, de almoços. Você é uma

pessoa especial, meu caro. Se as pessoas fossem prestativas, compreensivas e companheiras uma

centena de vezes menos que você, esse mundo certamente seria um lugar melhor.

Thiago, a organização é uma necessidade dentro do ambiente de trabalho, mas tudo que é

em demasia, faz mal... Mas nem por isso deixo de gostar de você.

Dani, Você me ensinou muita coisa desde o momento que entrei no laboratório e me deu

muitas dicas e conselhos a respeito de tudo dentro da universidade. Obrigado por todo o apoio e

atenção!

Chefe... Deixei você por último pra fechar com chave de ouro. Você me ensinou muita

coisa, me deu uma liberdade de me expressar e trabalhar que poucos dão. Foi alguém que me

incentivou a sempre buscar um pouco mais, que me questionou, elogiou e confiou muito na minha

pessoa. Vou sempre levar você na minha memória exatamente como você se descreveu para mim

a algum tempo atrás “Não sou seu chefe, sou seu amigo que sempre tem razão”. Ricardo, muito

obrigado!

vi

CONTEÚDO

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................... VIII

RESUMO ............................................................................................................................... XI

ABSTRACT ...........................................................................................................................XIII

1 – INTRODUÇÃO................................................................................................................ 18

O NIDOPÁLIO CAUDOMEDIAL (NCM)..................................................................................... 25

2 - OBJETIVO....................................................................................................................... 29

3 - METODOLOGIA ............................................................................................................. 31

3.1 - ANIMAIS ....................................................................................................................... 32 3.2 - ESTÍMULO ...................................................................................................................... 32 3.3 - CONFECÇÃO DAS FATIAS ............................................................................................... 33 3.4 - ELETROFISIOLOGIA ......................................................................................................... 35 3.4.1 - VISUALIZAÇÃO DOS NEURÔNIOS ..........................................................................................35 3.4.2 - WHOLE CELL PATCH CLAMP...................................................................................................35 3.4.3 - REGISTRO DAS CORRENTES SINÁPTICAS...................................................................................36 3.5 - ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................... 37 3.6 - IMUNOCITOQUÍMICA...................................................................................................... 39

4 - RESULTADOS ................................................................................................................. 40

4.1 – EXPRESSÃO DA PROTEÍNA ZENK EM RESPOSTA AO CANTO. .............................................. 41 4.2 – CARACTERIZAÇÃO DAS CORRENTES SINÁPTICA ESPONTÂNEAS (SPSCS) REGISTRADAS S NO NCM.................................................................................................................................... 43 4.2.1 - CORRENTES PÓS-SINÁPTICAS MINIATURA (MPSCS) ..............................................................46 4.2.2 - CARACTERIZAÇÃO DOS SIPSCS E DOS SEPSCS QUANTO AO POTENCIAL DE REVERSÃO. ........50 4.3 – EFEITO DA ESTIMULAÇÃO CANORA NA NEUROTRANSMISSÃO NO NCM ............................. 54 4.3.1 SEGREGAÇÃO SEXUAL DOS PÁSSAROS CONTROLE E ESTIMULADOS............................................56 4.3.2 – ISOLAMENTO DA TRANSMISSÃO GABAÉRGICA PELO DNQX EM PÁSSAROS CONTROLE E ESTIMULADOS. ..................................................................................................................................59 4.3.3 - ISOLAMENTO DA TRANSMISSÃO GLUTAMATÉRGICA...............................................................61 4.3.4- EXCITABILIDADE AUMENTADA DOS NEURÔNIOS GLUTAMATÉRGICOS .....................................63 4.4- NEUROTRANSMISSÃO NO NCM DE FÊMEAS SUBMETIDAS A UM ISOLAMENTO PROLONGADO DO ESTÍMULO CANORO. ............................................................................................................... 65

5 - DISCUSSÃO.................................................................................................................... 68

5.1 – EXPRESSÃO DA PROTEÍNA ZENK EM RESPOSTA AO CANTO. .............................................. 69 5.2 – CARACTERIZAÇÃO DAS CORRENTES SINÁPTICA ESPONTÂNEAS (SPSCS) REGISTRADAS S NO NCM.................................................................................................................................... 69

vii

5.3 – EFEITO DA ESTIMULAÇÃO CANORA NA NEUROTRANSMISSÃO NO NCM ............................. 73 5.4-DIFERENÇAS SEXUAIS NA RESPOSTA AO CANTO NO NCM. ................................................. 75 5.5-CONCLUSÕES. ................................................................................................................. 76

6 – TABELAS ........................................................................................................................ 77

7 – BIBLIOGRAFIA................................................................................................................ 82

viii

LISTA DE ABREVIATURAS

2-AG 2-araquidonoiglicerol

aCSF Fluido Cefalorraquidiano Atificial

AMPA Ácido α-amino-3-3hidroxi-5-metil-4-isoxazolepropiônico

ANOVA Análise de Variância

ATP-Mg Adenosina Trifosfato, sal de Magnésio

BSA Albumina de Soro Bovino

CB1 Receptor Canabinóide Tipo 1

Cm Capacitância da Membrana Celular

CsMSO4 Metanosulfonato de Césio

DAB Diaminobenzidina

DIC Contraste por Interferência Diferencial

DNAÁcido Desoxirribonucléico

DNQX 6,7-Dinitroquinoxalina-2,3-Diona

DSE Supressão da Excitação por Despolarização

DSI Supressão da Inibição por Despolarização

EGTA Ácido Etileno Glicol-bis (2-aminoetileter)-Tetra acético

EPM Erro Padrão da Média

FC Fêmeas Controle

FE Fêmeas Estimuladas

GABA Ácido Gama-Aminobutírico

GTP Guanosina Trifosfato

HEPES Ácido 4-(2-hidroxietil)-1-Piperazino Etano Sulfônico

HW Half Width

ICC Imunocitoquímica

IEG Gene de Expressão Imediata

KGlu Glucontao de Potássio

LTD Depressão a Longo Prazo

LTP Potenciação a Longo Prazo

MC Machos Controle

ME Machos Estimulados

mEPSC Corrente Excitatória Pós-sináptica em miniatura

mGluR1 Receptor Metabotrópico de Glutamato Tipo 1

mGluR5 Receptor Metabotrópico de Glutamato Tipo 5

ix

mIPSC Corrente Inibitória Pós-sináptica em miniatura

PA Potencial de Ação

PBS Tampão Fosfato com Salina

PCA-Na Fosfocreatina, sal de Sódio

PLCβ Fosfolipase Cβ

RNAm Ácido Ribonucléico Mensageiro

RS Resistência em Série

sEPSC Corrente Excitatória Pós-sináptica Espontânea

sIPSC Corrente Inibitória Pós-sinápticas Espontâneas

sPSC Corrente Pós-sináptica Espontânea

TTX Tetrodotoxina

ZENK

Núcleos do cérebro de pássaros canoros:

Av Núcleo Avalanche

B Núcleo Basolateral

CLM Mesopálio Caudolateral

CMM Mesopálio Caudomedial

CN Núcleo Coclear

DLM Núcleo Dorsolateral do Tálamo Medial

DM Núcleo Medial Dorsal

E Núcleo Entopalial

HVC Centro Vocal Superior

L (1,2,3) Campo L (porções 1, 2 e 3)

L Area X Porção Lateral da Área X do Estriado

LLD Núcleo Dorsal – Lemnisco Lateral

LLI Núcleo Intermediário - Lemnisco Lateral

LLV Núcleo Ventral - Lemnisco Lateral

LMAN Núcleo Magnocelular Lateral do Nidopálio Anterior

LMO Núcleo Oval do Mesencéfalo

MLd Núcleo Dorsolateral do Mesencéfalo

NCM Nidopálio Caudomedial

Nif Núcleo Interfacial do Nidopálio

nXIIts Porção Traqueosiringial do Núcleo do Hipoglosso

x

Ov Ovoidalis

PAm Paraambíguo

RA Núcleo Robusto do Arcopálio

RAm Retroambíguo

SO Oliva Superior

TSM Trato Septomesencefálico

Uva Núcleo Uviforme

xi

RESUMO

xii

DAGOSTIN, A.L.A., CARACTERIZAÇÃO DAS NEUROTRANSMISSÕES GABAÉRGICA E

GLUTAMATÉRGICA EM UM NÚCLEO ENVOLVIDO NO PROCESSAMENTO AUDITIVO

EM PÁSSAROS CANOROS. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São

Paulo, Ribeirão Preto, 2008.

O canto em pássaros canoros é usado para a demarcação territorial e para o acasalamento.

Assim, para que um indivíduo seja bem sucedido em seu contexto social, é necessário que

aprenda a cantar e reconhecer o canto de sua espécie de maneira adequada. A habilidade de

aprender o canto não é característica geral dos pássaros, mas sim, de um grupo específico: os

pássaros canoros (subordem oscine). O circuito telencefálico responsável pelo reconhecimento do

canto é presente tanto em machos quanto em fêmeas, sendo o nidopálio caudomedial (NCM) um

núcleo proeminentemente relacionado a esse reconhecimento e à memória auditiva. O NCM

responde especificamente ao canto da espécie induzindo a expressão do gene de expressão

imediata (IEG) zenk, um fator de transcrição responsável pela expressão de diversos genes alvo.

Porém, os mecanismos neurais e sinápticos no NCM e como eles respondem ao estímulo canoro

são pouco conhecidos. O objetivo deste trabalho é a investigação das características da

neurotransmissão dos neurônios do NCM em fatias frescas. Para isso, mandarins (Taeniopyia

guttatta) adultos machos e fêmeas foram estimulados com canto específico da espécie ou

mantidos em isolamento. O registro da atividade sináptica foi feito utilizando-se a técnica de

patch-clamp em modo voltage clamp para registros de correntes pós-sinápticas espontâneas

(sPSCs). Em nossos registros, observamos que as correntes que compõem a neurotransmissão no

NCM são geradas pelos neurotransmissores GABA (sIPSCs) e glutamato (sEPSCs), sendo os

sIPSCs muito mais abundantes que os sEPSCs. Os registros de correntes em miniatura (na

presença de TTX) mostraram que as sEPSCs correspondem a mEPSCs, diferentemente dos

sIPSCs, que são bastante sensíveis à TTX. A estimulação pelo canto aumentou a excitabilidade da

rede glutamatérgica evidenciada pelo aparecimento de bursts de correntes glutamatérgicas após a

desinibição por bicuculina. Em machos estimulados, essas correntes apareceram mesmo sem a

inibição da transmissão GABAérgica e provavelmente são a causa do aumento da freqüência dos

sISPCs no NCM desses pássaros. Experimentos em fêmeas isoladas de machos por 7 a 30 dias

sugerem que a conectividade da rede glutamatérgica no NCM dependa de um contínuo estímulo

canoro. Concluímos que o estímulo canoro desencadeia um aumento da excitabilidade dos

neurônios glutamatérgicos no NCM que poderia representar uma forma de plasticidade induzida

pelo canto relevante para o reconhecimento vocal do pássaro.

xiii

ABSTRACT

xiv

DAGOSTIN, A.L.A, CHARACTERIZATION OF THE GABAERGIC AND

GLUTAMATERGIC NEUROTRANSMISSIONS WITHIN A NUCLEUS INVOLVED WITH

THE AUDITORY PROCESSING IN SONGBIRDS. School of Medicine of Ribeirão Preto,

University of São Paulo, Ribeirão Preto, 2008

The bird song is mainly used for territory delimitation and mating. Thus, to biologically

succeed, the bird must learn how to sing and recognize the song from its species properly. This

skill is not a general characteristic of the birds; instead it is present within one specific group: the

songbirds (oscine suborder). The telencephalic circuit responsible for recognition of the song is

present in both males and females, being the caudal medial nidopallium (NCM) a prominent area

related to this recognition and to auditory memory. The NCM responds to the song specifically,

evidenced by the expression of the immediate expression gene (IEG) zenk, a transcriptional factor

responsible for the expression of a variety of genes. Notwithstanding, the neural and synaptic

mechanisms of the NCM and how they behave under song stimulation are poorly understood. The

aim of this work is to investigate the characteristics of the neurotransmission of the neurons

within the NCM in fresh brain slices. For this, adult zebra finches (Taeniopyia guttatta) males and

females were stimulated with a species-specific song or kept in isolation. The synaptic activity

record was made using the patch-clamp technique in voltage-clamp mode to acquire data about

the spontaneous post synaptic currents (sPSCs). We observed that the neurotransmission within

the NCM is generated by the neurotransmitters GABA (sIPSCs) and glutamate (sEPSCs), being

the sIPSCs much more abundant than the sEPSCs. The miniature currents records (TTX present)

showed that the sEPSCs actually correspond to the mEPSCs, on the other hand, it showed that the

sIPSCs are quite sensitive to TTX. The song stimulation increased the glutamatergic network

excitability, evidenced by the appearance of glutamatergic current bursts after disinhibition by

bicuculine. In stimulated males, sometimes, these currents appeared even with the GABAergic

inhibition of the neurotransmission present. This is probably the cause of the observed increase in

the sISPCs frequency in the NCM from these birds. Experiments with prolonged male-isolated

females (7-30 day isolation) suggest that the connectivity of the glutamatergic network within

NCM relies on a continuous song stimulus. We conclude that the song stimulus triggers an

increase of the excitability of the glutamatergic neurons within the NCM that could represent

some kind of song-induced plasticity relevant for the bird’s vocal recognition.

18

1 – INTRODUÇÃO

19

A vocalização é uma forma de comunicação amplamente usada por diversos animais,

atingindo, na espécie humana, níveis extremos de complexidade tanto na produção de sons quanto

nos significados embutidos neles. É evidente a importância do correto reconhecimento do padrão

de sons da voz para a comunicação precisa entre dois indivíduos, bem como as características

tonais e de timbre da voz, as quais representam uma assinatura específica importante para o

reconhecimento individual num contexto social. A habilidade de comunicação através da

vocalização, apesar de ser amplamente utilizada em mamíferos, contrasta com a habilidade restrita

de seu aprendizado entre os indivíduos dessa classe, já que apenas uma espécie de primatas

(humanos), os cetáceos (baleias e golfinhos - Guinee & Payne, 1988) e duas espécies de

morcegos (Boughman, 1998) possuem mecanismos que os permitem aprender padrões complexos

de vocalização. Por outro lado, na classe das aves, três grandes grupos possuem essa capacidade:

papagaios, beija-flores e passeriformes pertencentes à sobordem oscine (também conhecidos

como pássaros canoros).

A subordem dos oscinos (ordem passeriformes) é o grupo mais amplamente utilizado para

pesquisas em neurobiologia do canto, sendo os canários (Serinus canaria), mandarins

(Taeniopygia guttata) e manons (Lonchura domestica) os mais largamente utilizados (Brenowitz

& Beecher, 1995). Esses animais possuem uma forma similar de aprendizado do canto, onde um

modelo, como por exemplo um tutor ou até mesmo um canto gravado, servem para ensinar o

animal a vocalizar, porém, cada espécie tem suas preferências inatas em relação à estrutura do

canto que preferem aprender. Testes onde animais são treinados para pressionar diferentes botões,

sendo que cada um dos botões é responsável pela produção de um canto, entre os quais, o do

tutor, mostram que o botão relacionado ao canto do tutor é pressionado muitas vezes mais (cerca

de 60%) do que os demais, evidenciando a preferência inata do animal (Marler, 1989).

O canto aprendido tem em geral uma duração longa que pode variar de alguns segundos

até algumas dezenas de segundos, chegando até mesmo a minutos, e é diferenciado dos chamados

inatos, que são vocalizações curtas e normalmente não aprendidas (Doupe & Kuhl, 1999). O canto

possui uma estrutura temporal em que componentes silábicos se agrupam em motivos ou frases,

que são séries de sílabas iguais ou diferentes. Diferentes espécies de pássaros podem agrupar

diferentes frases em diferentes ordens ou vocalizar sílabas em várias ordens. Essa estrutura se

assemelha à sintaxe (entenda-se sintaxe simplesmente como a ordem das sílabas dentro das frases)

da linguagem humana, evidentemente sem as regras complexas de gramática que a regem. Porém,

diferentemente da fala humana, o canto dos pássaros não possui semântica, ou seja, significado

abstrato, servindo basicamente para demarcação de território e acasalamento, porém, este assunto

é ainda controverso, pois existe evidência de que o canto ou outras vocalizações também podem

20

conferir significado num sentido mais abstrato. Por exemplo, o número de chamados no chapim-

de-cabeça-negra (Poecile atricapillus), correlacionado com aparecimento de predadores, parece

anunciar a presença e ameaça que diferentes predadores representam (Williams, 2004), podendo

usar diferentes cantos para essas funções (Catchpole, 1983). Ao fazermos um paralelo com

humanos, vemos que existem diferenças marcantes, como a produção do canto ser, na maioria das

vezes, restrita aos machos, pois apenas eles possuem um aparato neural específico para essa

função (ver mais abaixo). Por outro lado, semelhanças expressivas existem, como a habilidade de

discriminar sons diversos e memorizar os sons específicos da espécie, aspectos essenciais para a

comunicação vocal e, da mesma forma que em humanos, diferentes estruturas cerebrais de

pássaros canoros têm sido descritas como participantes na discriminação de sons.

Uma das peculiaridades no uso de pássaros canoros para o estudo do reconhecimento

vocal é a distância filogenética existente entre pássaros e mamíferos, o que culmina em diferenças

pronunciadas entre estrutura do cérebro de um e de outro. Devido a isso, interessa-nos discutir

alguns estudos a respeito da homologia entre o sistema nervoso central de humanos e outros

animais. Esses estudos foram iniciados por Edinger entre 1885 e 1908, usando como base de

estudos “A Origem das Espécies” de Darwin (Jarvis et al., 2005). Posteriormente, uma teoria

sobre a evolução do cérebro de vertebrados formulada por estudiosos como J.B. Johnston, G.C.

Huber, E.C. Crosby, C.U. Ariëns-Kappers, e C.J. Herrick dizia que as funções cerebrais se

transferiam gradualmente entre diferentes áreas no decorrer da evolução (Reiner et al., 2004).

Tanto é que, usando os humanos e seu córtex evoluído como base para comparação com outros

indivíduos, postulou-se, no começo do século 20, que pássaros seriam seres inferiores no que diz

respeito à inteligência, pois teriam suas ações embasadas em impulsos instintivos provenientes de

seus gânglios da base bastante desenvolvidos, faltando-lhes base neural para cognição e

aprendizado (Reiner, 2005). Nessa linha de raciocínio, acreditava-se que em répteis, apenas uma

pequena porção cortical era presente, enquanto os gânglios da base ocupavam um volume

desproporcionalmente maior que nos mamíferos, assim, avançando na filogenia animal, essa

porção cortical haveria hipertrofiado para a formação do córtex dos mamíferos e essa proporção

manter-se-ia dependendo da posição da classe dentro da linha evolutiva (Reiner et al., 2004).

Devido a essas idéias inicialmente equivocadas, por muito tempo se pensou que o cérebro do

pássaro seria composto basicamente de gânglios da base e seu comportamento seguiria apenas

padrões pré-estabelecidos e estáticos. Entretanto, no decorrer do século XX, um grande número de

evidências mostrou que o cérebro dos pássaros possui um grande território palial com funções

similares ao do córtex dos mamíferos (Figura 1.1).

21

Figura 1.1: Em A, interpretação e nomenclatura defasadas do cérebro de pássaro (pombo); em B, interpretação e

nomenclatura aceitas atualmente para o cérebro de pássaro (pombo) e em C, as áreas correspondentes em mamífero

(rato). Adaptado de Jarvis et al, 2004.

Porém, anatomicamente o pálio das pássaros constitui-se de uma maneira um pouco

diferente (Figura 1.2), organizando-se de forma globular (em núcleos), e seu homólogo mamífero,

o córtex, organizado em estrutura laminar (Jarvis et al., 2005).

Fig 1.2: O cérebro de Mandarim (Taeniopygia guttata) em corte parassagital, sendo a região do pallium destacada em

cinza e a correspondente ao NCM, listrada (Adaptado de AvianBrain.org).

Com essa visão de um pallium grande e bem desenvolvido que processa informações da

mesma forma que o córtex mamífero, uma reavaliação das habilidades cognitivas das aves desde

os anos 50 mostrou de maneira progressiva que estas são bem mais complexas do que

inicialmente imaginado (Marler, 1955); (Thorpe, 1958). Exemplos dessas habilidades são os

Ven

tral

Dor

sal

Medial Lateral

Caudal Rostral

Ven

tral

Dor

sal

22

pombos, que conseguem memorizar até 725 padrões visuais (Von Fersen & Elius, 1989) ou

corvos que fazem uso de galhos e folhas como ferramentas para obtenção de alimento e passam

esse conhecimento para outros de sua espécie (Pollok et al., 2000; Hunt & Gray, 2003). Outros

pássaros, como Aphelocoma californica (membro da família dos corvos) mostram memória

episódica, habilidade antes atribuída apenas a humanos (Clayton & Dickinson, 1998), corujas

possuem uma capacidade de localização sonora altamente sofisticada desenvolvida através da

aprendizagem (Knudsen, 2002) e, finalmente, pássaros como papagaios, beija-flores e da

subordem oscine que possuem a habilidade de aprendizagem vocal (Jarvis et al., 2000). O estudo

do canto desses pássaros que aprendem a vocalizar (pássaros canoros) começou em 1958 com

William Thorpe, que mostrou a necessidade do tentilhão (Fringilla coelebs) de ouvir a canção de

um macho tutor adulto para a produção posterior de um canto individual próprio. Outros

investigadores, como Peter Marler, Masakazu Konishi e Fernando Nottebohm seguiram a linha de

Thorpe e abriram caminhos para uma geração de estudiosos contribuindo no estudo do

comportamento e controle neural do canto (revisto em:(Brenowitz et al., 1997).

Pássaros canoros tem sido um sistema atrativo para o estudo das bases neurais do

aprendizado devido à maneira com a qual aprendem a cantar imitando o pai ou um tutor, criando

um padrão de canto próprio, que dura para o resto da vida do animal. O canto possui algumas

características que o tornam um modelo versátil para o estudo da neurobiologia comportamental

(Doupe & Kuhl, 1999; Williams, 2004), como (1) sua natureza estereotipada e mensurável; (2) a

similaridade entre seu aprendizado e o aprendizado da fala humana, onde ambos aprendem essa

vocalização complexa no início da vida, sendo ela dependente da escuta de um modelo (adulto)

para que possa ser copiada e da escuta do seu próprio canto para que haja refino e manutenção

deste na vida adulta e, para discernir qual o canto a imitar, existe uma predisposição inata para o

aprendizado dos sons produzidos por indivíduos da própria espécie em detrimento daqueles

produzidos por outros animais; (3) a caracterização precisa de um circuito dedicado

exclusivamente à aquisição e outro à produção do canto onde centros motores e auditivos no

telencéfalo interagem para controle da vocalização e (4) um período crítico para a aprendizagem

desta. Em mandarins, essa aprendizagem do canto ocorre entre 30 e 95 dias, período conhecido

como sensível para a aprendizagem vocal, porém, o desenvolvimento do canto acontece apenas

nos machos, pois nesta espécie (como em vários outros oscinos), o tamanho dos núcleos do

sistema do canto dos machos é aumentado quando comparados aos das fêmeas, que são bastante

atrofiados (Nottebohm & Arnold, 1976); (MacDougall-Shackleton & Ball, 1999). Esse

desenvolvimento depende de um tutor (sempre um macho) e é dividido em fases. Inicialmente,

pássaros jovens apenas escutam o tutor para aquisição de um modelo de canto (aquisição de

memória ou sensória). Em seguida, vem a fase sensório-motora, onde o animal começa a

23

vocalizar e escutar seu próprio canto. Essa retroalimentação (escutar o próprio canto) é necessária

para a comparação do canto produzido com o canto aprendido (daí o nome “sensório-motora”).

Esse canto inicial se desenvolve até um ponto bem estruturado, porém ainda variável. O processo

estará apenas totalmente concluído quando o canto for cristalizado e se apresentar de forma

estereotipada semelhante ao modelo apresentado pelo tutor. Esse processo de cristalização

depende de testosterona para que seja completado (Brenowitz et al., 1997) e também da síntese

local de ácido retinóico no núcleo HVC (Denisenko-Nehrbass et al., 2000).

Nos pássaros canoros, uma extensa rede de núcleos interconectados foi identificada como

a responsável pelo reconhecimento, aprendizado e produção do canto, adequadamente chamada

de “sistema do canto” (Nottebohm, 2000) que inexiste nos demais pássaros. O sistema do canto

dos pássaros canoros consiste de três circuitos: um auditivo e dois ligados ao canto (um posterior

e outro anterior). Os circuitos auditivo e vocais se comunicam sinapticamente via conexões da

área auditiva do mesopálio caudolateral (CLM) para as áreas vocais do centro vocal superior

(HVC) e núcleo interface (Nif) (Bauer et al., 2008) (ver tabela 6.7 para a definição das siglas).

-Vias ligadas ao canto:

As vias do canto destinadas à sua produção são exclusivas de pássaros que aprendem a

vocalizar (oscinos, piscitaciformes e troquiliformes) (Jarvis et al., 2000). Nos pássaros canoros, a

via posterior inicia-se no HVC, com neurônios projetando para o núcleo robusto do arcopálio

(RA). Deste, projeções atingem o mesencéfalo no núcleo medial dorsal (DM) e tronco cerebral na

parte traqueosiringeal do núcleo do hipoglosso (nXIIts), núcleos que controlam o órgão vocal

(siringe) e os motoneurônios respiratórios. Nos pássaros canoros, esta via é responsável pela

produção de vocalizações aprendidas (Nottebohm et al., 1976). A via anterior forma uma volta,

iniciando na região palial, mais especificamente no núcleo magnocelular lateral do nidopálio

anterior (LMAN), gânglios da base (área X), região talâmica (núcleo dorsolateral do tálamo

medial - DLM) e de volta ao LMAN. Esta via é responsável pelo aprendizado vocal (Bottjer et al.,

1984; Scharff & Nottebohm, 1991) e parece ter papel no contexto social, sintaxe e manutenção do

canto adulto (Jarvis et al., 1998; Hessler & Doupe, 1999; Williams & Mehta, 1999; Brainard &

Doupe, 2000; Kobayashi et al., 2001) (Figura 1.3A).

24

Figura 1.3: Esquemas dos circuitos responsáveis pelo canto. Em A, o circuito auditório de reconhecimento do canto

e, em B, as vias posterior (setas pretas) e anterior (setas brancas), além das vias de comunicação entre ambas (setas

tracejadas). As siglas das estruturas apontadas estão apresentada na tabela 6.7. Modificado de Jarvis, 2005.

-Via auditiva.

Inicia nas células ciliadas auditórias, que se comunicam com o núcleo coclear (CN -

tronco cerebral), núcleos da via lemnisco lateral (núcleos dorsal [LLD], intermediário [LLI] e

ventral [LLV]), núcleos mesencefálicos (núcleo dorsolateral do mesencéfalo [MLd]), ovoidalis

(Ov - núcleo talâmico), daí para neurônios telencefálicos primários no campo L (L2) e finalmente

para neurônios secundários (L1, L3, mesopálio caudomendial [CMM], mesopálio caudolateral

[CLM], NCM, shelf e cup). Dos núcleos superiores, mais especificamente da shelf adjacente ao

HVC, vias descendem para a cup adjacente ao RA, e desta, de volta para os núcleos auditórios

talâmicos e mesencefálicos (Mello et al, 1998). Recentemente foram identificadas conexões

diretas do CMM com os núcleos vocais Nif e HVC tanto anatomicamente quanto funcionalmente

(Bauer et al., 2008).

A

B

25

O Nidopálio Caudomedial (NCM)

O NCM (estrutura listrada na figura 1.2), juntamente com as demais áreas auditórias

aferentes ao HVC e o resto do sistema do canto (representado na figura 1.3) é, em pássaros,

considerado análogo às porções supragranulares dos córtices auditivo primário e de associação em

mamíferos (Doupe & Kuhl, 1999). O NCM é facilmente identificado por ser uma região grande,

com bordas ventral, dorsal e caudal definidas pela zona periventricular. Na parte rostral, seu limite

é o Campo L2, porém lateralmente, seus limites não são distintos (esquema de cortes

evidenciando o NCM na figura 3.2 – metodologia) (Mello & Clayton, 1994).

Quando um pássaro canoro recebe um estímulo acústico de um canto espécie-específico,

seu telencéfalo é estimulado, e é o NCM a região que exibe a expressão mais robusta do gene de

expressão imediata (IEG) zenk (também conhecido como zif-268, erg-1, NGFI-A e Krox-24

(Milbrandt, 1987; Christy et al., 1988; Lemaire et al., 1988; Sukhatme et al., 1988; Mello et al.,

1992)). O IEG zenk é considerado um gene dependente de atividade neural e é expresso em

resposta à despolarização neuronal (Milbrandt, 1987; Sukhatme et al., 1988). Ele é um fator de

transcrição do tipo zinc-finger, que se liga ao seu sítio específico no DNA presente em genes

distintos (Christy & Nathans, 1989; Pavletich & Pabo, 1991; Swirnoff & Milbrandt, 1995). Em

mamíferos, a indução do zenk é relacionado com o fenônemo de potenciação a longo prazo (LTP)

e formação de memória (Cole et al., 1989; Wisden et al., 1990; Abraham et al., 1993; Roberts et

al., 1996; Jones et al., 2001). Além do zenk, o NCM expressa outros IEGs em resposta ao canto,

como Arc, c-fos e c-jun (Mello & Clayton, 1994; Nastiuk et al., 1994; Bolhuis et al., 2000; Bailey

& Wade, 2003; Velho et al., 2005). Para espressão de zenk e Arc no NCM, a via responsável é a

iniciada com a ativação da MAP quinase (Velho et al., 2005). A expressão do zenk ocorre rápida e

transientemente após o estímulo do canto (Mello et al., 1992; Mello & Clayton, 1994) tanto em

machos quanto em fêmeas (Mello et al., 1992; Bailey & Wade, 2005) e é abolida quando o animal

é ensurdecido (Jarvis & Nottebohm, 1997) e a expressão do mRNA zenk atinge seu pico em 30

minutos após o início do estímulo, ao passo que o da proteína ZENK ocorre entre 1 e 2 horas após

o início do estímulo (Mello & Ribeiro, 1998).

Além da marcação do RNAm do zenk por hibridização in situ e da proteína por

imunocitoquímica, dados eletrofisiológcos de registro multiunitário confirmam o fato de que o

NCM é bastante responsivo à estímulos auditivos, em especial, àqueles específicos da espécie, o

que confirma sua participação no processamento da informação sonora (Chew et al., 1995; Chew

et al., 1996a; Stripling et al., 1997; Stripling et al., 2001). Evidências recentes sugerem que o

NCM contenha a representação neural do canto aprendido (Bolhuis et al., 2000; Terpstra et al.,

26

2004; Phan et al., 2006). Recentemente, Gobes & Bolhuis (2007) mostraram que a lesão bilateral

do NCM leva à uma deficiência no reconhecimento desse canto do tutor, sem prejudicar a

produção do canto do animal

Quando um canto diferente é apresentado ao pássaro (seja um som reproduzido em

laboratório ou o canto de um indivíduo na natureza), os neurônios do NCM são ativados e dois

fenômenos ocorrem: uma resposta vigorosa de aumento da atividade neuronal no NCM, como

visto por registros multiunitários (Chew et al., 1995) e um aumento na expressão de zenk (Mello

et al., 1992; Mello et al., 1994). Isso se deve ao fato de que neurônios do NCM de mandarins são

mais responsivos a cantos de pássaros da mesma espécie do que outras classes de sons, sejam eles

sons artificiais ou mesmo cantos de outras pássaros (Chew et al., 1996a), ao contrário de outros

núcleos do sistema do canto, como o HVC (Margoliash, 1983), que mostram amplitudes de

registro de campo in vivo similares para todos os sons testados, corroborando a hipótese de que o

NCM tem função no reconhecimento do canto específico da espécie.

O NCM também apresenta plasticidade na forma de uma habituação à canção. Enquanto

que a apresentação de um novo estímulo espécie-específico a um pássaro canoro desencadeia um

aumento na atividade dos neurônios do NCM, à medida que o estímulo sonoro é repetidamente

apresentado, a amplitude dos potenciais multiunitários registrados neste núcleo decresce, bem

como a resposta unitária (figura 1.4 – Chew, Mello et al. 1995).

Figura 1.4: Registros eletrofisiológicos de NCM de mandarins evidenciando o fenômeno da habituação. Em A,

registro multiunitário da resposta à apresentação de novas canções repetidamente a 25 pássaros. Os pontos representam

as médias das respostas ±EPM como função do número de repetições das canções. As amplitudes dos registros foram

normalizadas com o valor obtido na primeira apresentação (100%). Em B, registros unitários de um mesmo pássaro

com estimulação por uma canção apenas. Todos os pontos indicam média ± EPM. Adaptado de Chew, Mello et al.

1995.

27

Isso constitui o processo da habituação, que ocorre especificamente para cada um dos

novos estímulos aplicados ao animal, ou seja, para cada canto novo, uma atividade aumentada é

observada, seguida de decréscimo da magnitude da resposta ao estímulo conforme o número de

repetições. Essas alterações podem durar até 20 horas para as canções espécie-específicas e até 4

horas para os demais sons (Chew et al., 1995) e são dependentes da síntese de proteína para a sua

manutenção (Chew et al., 1996a).

Além das alterações eletrofisiológicas que ocorrem no NCM no processo de habituação,

alterações em nível molecular também são observadas. Um estímulo de apenas 10 minutos já é o

suficiente para que haja um aumento no RNAm do gene zenk nos neurônios do NCM, com um

pico de indução desse RNAm após aplicação de um estímulo de 30 minutos (Mello & Clayton,

1994). Porém, se o estímulo for sustentado por um período maior do que o de meia hora, o que

ocorre é uma diminuição nos níveis de zenk e, quanto mais prolongado o estímulo, menor a

indução do RNAm, como mostrado na figura 1.5. Da mesma maneira que os registros

eletrofisiológicos, os níveis de indução do RNAm do zenk são restabelecidos após um período de

“treinamento” de 2,5 horas se um estímulo diferente de 30 minutos de duração é aplicado (Mello

et al., 1995).

Figura 1.5: Níveis de RNAm de zenk e sua indução perante os diferentes tempos de estimulação. Cada ponto

representa a quantificação de RNAm por densitometria após uma hibridização in situ do NCM de um mandarim macho

logo após o término da estimulação (círculos fechados). Os animais tidos como controle basal foram mantidos isolados

de qualquer estímulo (círculos abertos) e a quantidade de zenk é mostrada como múltiplos da quantidade contada em

níveis basais. Adaptado de Mello et al (1995).

28

Pouco se sabe quanto à fisiologia celular e sináptica dos neurônios do NCM. Pinaud et al.

(2004) mostraram que aproximadamente metade dos neurônios do NCM são GABAérgicos, e que

podem expressar zenk em resposta à canção. Esses neurônios parecem estar inibindo uma

atividade glutamatérgica forte, pois a inibição das correntes sinápticas por bicuculina levou ao

aparecimento de correntes glutamatérgicas espontâneas não vistas previamente à aplicação da

droga (Pinaud et al., 2004). Alem disso, o NCM recebe intensa inervação noradrenérgica (Mello

et al., 1998) e expressa a enzima aromatase em sua parte caudal (Pinaud et al., 2006). Entretanto,

os substratos sinápticos da fisiologia do NCM ainda são desconhecidos.

29

2 - OBJETIVO

30

Apesar da quantidade de informações obtidas por análise de expressão gênica e

eletrofisiologia in vivo no NCM, nada se sabe sobre a fisiologia da neurotransmissão nesse núcleo.

Tendo em vista a relevância desse núcleo para o reconhecimento da memória auditiva em

pássaros e das potenciais correlações que podemos fazer com esses processos em mamíferos,

resolvemos investigar usando técnicas eletrofisiológicas in vitro a fisiologia da neurotransmissão

em fatias a fresco do NCM de mandarins (Taenopyigia guttatta) (o modelo mais utilizado no

estudo da neurobiologia do canto) e sua plasticidade em resposta ao estímulo biológico, no caso, o

canto específico do pássaro. Para isso, usamos pássaros em duas condições: isolados

acusticamente por 12 horas (controles) e estimulados pelo canto (estimulados). Nosso paradigma

é que a estimulação canora ativaria neurônios específicos do NCM (evidenciados pela expressão

do IEG zenk) e alteraria sua fisiologia gerando um substrato para o fenômeno de plasticidade da

habituação ao canto.

31

3 - METODOLOGIA

32

3.1 - Animais

Os animais utilizados nos experimentos foram mandarins machos e fêmeas (Taeniopygia

guttata) (Figura 3.1), pássaros pertencentes à ordem passeriforme, subordem passeri (oscine),

família passeridae e subfamília estrildinae, nativos da região da Austrália, Timor Leste e

Indonésia, porém criados como pássaros ornamentais em todo o mundo.

Figura 3.1: Espécimes de mandarins. À esquerda, uma fêmea e à direita, um macho. Notar o dimorfismo no fenótipo

da plumagem dos animais.

Todos os espécimes foram adquiridos de criadores locais, mantidos no biotério do

Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto em gaiolas com água e

comida à vontade e mantidas junto à janela para um ciclo claro/escuro com luz naturalPara cada

experimento, um animal foi usado por vez. Um dia antes do experimento, o animal escolhido foi

retirado do biotério e transferido para uma câmara acústica (Insight Instrumentos) dentro do

Laboratório de Fisiologia e Plasticidade Sináptica e mantidos dentro de uma gaiola com água e

comida à vontade pelo período de uma noite. Um temporizador automático acoplado a uma

luminária foram usados para ditar o ciclo claro/escuro da câmara.

3.2 - Estímulo

Na manhã do dia seguinte ao isolamento, os animais tiveram um dos dois destinos:

_Animais controle: os mandarins foram sacrificados por decapitação cerca de 15 minutos

após o acender das luzes da caixa de isolamento acústico.

_ Animais estimulados: os mandarins foram estimulados acusticamente com uma

reprodução de 7 canções espécie-específicas jamais ouvidas por estes animais durante 15 s em

intervalos de 45 s por aproximadamente meia hora. Após uma hora do término das canções (esse

33

intervalo após o estímulo corresponde ao tempo necessário para que ocorra o pico de expressão do

ZENK (Mello & Ribeiro, 1998)) os animais foram então sacrificados por decapitação.

O estímulo acústico foi aplicado aos animais pela reprodução de um CD contendo as

canções dos mandarins por um tocador de CDs portátil conectado a duas caixas acústicas

localizadas dentro da caixa de isolamento. O nível de intensidade acústica (72 - 76 dB) foi medido

por um medidor de decibéis portátil (Radio Shack). As canções foram obtidas no zebrafinch song

archive (http://wso.williams.edu/~hwilliam/ZFsongs/) na página da Internet da Dra. Heather

Williams (Departamento de Biologia, Williams College, Williamstowm, MA. EUA). O protocolo

de estimulação usado seguiu os parâmetros dos protocolos utilizados para a estimulação da

expressão da proteína ZENK (Mello & Clayton, 1994).

Todo o procedimento foi aprovado de acordo com o protocolo do comitê de ética no

024/2003 aprovado pelo CETEA-FMRP.

3.3 - Confecção das fatias

Os cérebros dos mandarins foram cuidadosamente removidos após a decapitação e

imediatamente colocados em solução de corte, o aCSF (artificial cerebrospinal fluid) modificado

para corte (com alta sacarose – Tabela 6.2), gelado e pré-borbulhado com mistura carbogência

(95%O2 e 5% CO2) para ajuste do pH (7,3 – 7,4). Depois de mergulhados no aCSF, os

hemisférios foram separados com a ajuda de uma lâmina de bisturi e colados independentemente

em uma plataforma, apoiados por um bloco de agar 4% para corte em vibrátomo (Vibratome,

série 1000 - manual), onde foram feitos cortes parassagitais de 200 µm de espessura orientados da

porção medial para a porção lateral.

O NCM não possui limites claramente identificáveis em sua porção lateral. Devido a essa

característica, em nosso protocolo de corte, retiramos de cada um dos hemisférios no máximo 4 –

5 fatias de 200 µm, como ilustrado pelos desenhos em câmara clara da figura 3.2, onde o esquema

do NCM usado em nossos registros eletrofisiológicos está pintado em cinza.

Depois de cortadas as fatias, transferimo-las para um becker com a mesma solução de

corte borbulhada com mistura carbogência, porém à temperatura ambiente, onde ficaram

descansando por pelo menos uma hora antes dos registros.

34

Figura 3.2: Desenho em câmara clara de diferentes níveis do cérebro de mandarim. Os cortes são mostrados

iniciando na porção medial (mais acima) e terminando na porção lateral (abaixo). A estrutura pintada em cinza e

apontada como “1” é a porção do NCM utilizável em experimentos. 1 – NCM; 2 – Terceiro ventrículo; 3 –

Hipocampo; 4 – Cerebelo; 5 – Campo L. Desenho: Dr. Eric Jarvis, Duke University, NC-USA, disponibilizado em

http://avianbrain.org/.

35

3.4 - Eletrofisiologia

3.4.1 - Visualização dos neurônios

Os neurônios do NCM foram visualizados através de um microscópio Olympus BX51WI

com sistema de Contraste por Interferência Diferencial (DIC) acoplado a uma câmera Hamamatsu

(modelo C7500-50) e um monitor monocromático SONY. Ao visualizar o NCM no monitor, este

não apresenta uma organização celular distinta, sendo composto de neurônios homogeneamente

distribuídos, como pode ser visto na figura 3.3. Todo o sistema é permanentemente mantido sobre

uma mesa pneumática (TMC) para o isolamento mecânico do ambiente.

Figura 3.3: Imagem capturada com sistema DIC com uma objetiva de 60x de neurônios do NCM.

3.4.2 - Whole cell patch clamp

O sistema de registro é composto por um amplificador HEKA, modelo EPC-10, com

ligação direta via fibra óptica a uma placa de aquisição integrada (LIH 1600) acoplada a um

computador tipo PC para processamento e armazenamento dos dados no disco rígido para

posterior análise. A configuração usada para todos os registros foi a de whole cell patch clamp,

com fixação da voltagem para visualização das correntes sinápticas – voltage clamp.

Pipetas de borossilicato (DE: 1,5 mm; DI: 0,86 mm) com filamento interno (Sutter

Instruments) foram confeccionadas com um puxador de pipetas Sutter P-97 e preenchidas com

solução interna de pipeta contendo cloreto de césio como soluto principal (Tabela 6.3) ou

36

metanosulfonato de césio (Tabela 6.4), filtradas com filtros de 20µm (Millipore), resultando em

pipetas com resistências entre de 3-6MΩ aproximadamente quando mergulhadas na solução de

registro. A solução de perfusão da fatia usada foi o aCSF (Tabela 6.1) borbulhado com mistura

carbogênica (95%O2 e 5% CO2). As soluções e drogas foram aplicadas às fatias por um sistema

de múltiplas vias impelido por força gravitacional, confeccionado no próprio laboratório. A

remoção das soluções foi toda feita através de pressão negativa por bomba de sucção.

Depois da pipeta preenchida e acoplada ao probe com um eletrodo de prata cloretado, esta

foi então mergulhada no aCSF do banho e uma pressão positiva aplicada através de uma seringa

de 10 mL. A aproximação da pipeta ao neurônio foi feita com um micromanipulador hidráulico

(Syskiu Instruments). Quando a ponta da pipeta tocava o neurônio escolhido, a pressão era

inicialmente igualada à atmosférica e em seguida, aplicava-se uma leve sucção. Com isso,

resistência da pipeta aumentava para algumas centenas de MΩ e a configuração cell attached era

formada e a capacitância da pipeta eletronicamente cancelada. Com um pouco mais de sucção, o

retalho da membrana na boca da pipeta era rompido e o modo whole cell, configurado. Os

neurônios foram mantidos a -70 mV e os valores de capacitância de membrana (Cm) e resistência

em séria (RS) obtidos. Os valores de RS foram constantemente monitorados e, registros com

valores de RS superiores à 30 MΩ foram descartados. A maioria dos registros teve sua RS

compensada digitalmente (lag de 10 µs) em até 80%.

3.4.3 - Registro das correntes sinápticas

As correntes foram filtradas low-pass a 3 KHz e adquiridas a 10 kHz. Dois registros de 60

segundos cada um foram adquiridos por condição (com ou sem droga). Os dados de corrente

foram adquiridos com o software PULSE (HEKA). Todos os registros foram iniciados após 5

minutos da configuração de whole cell ter sido estabelecida, para estabilização do sistema. Para os

protocolos de aplicação de droga, o registro foi feito apenas depois de 5 mL de solução com droga

ter passado pelo banho (aproximadamente 4 minutos).

As correntes inibitórias pós-sinápticas espontâneas (sIPSCs) foram isoladas através da

aplicação de 6,7-dinitroquinoxalina-2,3-diona (DNQX) numa concentração de 20 µM. Os

registros foram feitos em um holding de -70 mV (ao menos quando indicado um valor diferente) e

solução interna de pipeta com CsCl como soluto principal. As correntes excitatórias pós-

sinápticas espontâneas (sEPSCs), foram isoladas pela aplicação de bicuculina 10 µM e todos os

registros foram feitos a -70 mV quando o CsCl foi usado como soluto principal da solução interna

de pipeta. Alguns experimentos foram conduzidos com solução interna contendo metanosulfonato

37

de césio como principal sal a fim de medirmos as correntes sinápticas em uma situação de baixo

cloreto intracelular, assim como alguns neurônios foram registrados em current-clamp usando

solução interna de pipeta com gluconato de potássio como principal soluto (tabela 6.5).

As correntes pós-sinápticas miniatura (mPSCs) foram registradas na presença de

tetrodotoxina (TTX) 1 µM ao banho associada a um dos dois antagonistas (DNQX ou bicuculina)

nas concentrações descritas.

3.5 - Análise dos dados

Todos os gráficos e análises estatísticas foram realizadas no programa Prism (GraphPad;

versão 4.02), com exceção da análise das curvas de fração cumulativa, as quais foram feitas no

Microsoft Excel. As análises consistiram de Análise de Variância (ANOVA) de duas vias quando

duas variáveis foram confrontadas, teste t pareado e não pareado quando apenas uma variável foi

levada em consideração e parâmetros “D” (maior diferença entre as duas distribuições) e mediana

para comparação de curvas de fração cumulativa.

As análises das correntes espontâneas foram feitas no programa Mini Analysis

(Synaptosoft). Os registros foram primeiramente escolhidos e transformados em um formato

legível pelo sistema (ABF), em seguida, os parâmetros de análise do programa foram ajustados

para cada arquivo individual e as correntes foram visualizadas uma a uma e marcadas

manualmente. O programa nos retornou os dados de interesse (freqüência, amplitude e half-width

[medida correspondente à largura do sPSC no ponto médio de sua amplitude]) em forma de uma

tabela com as médias de cada um dos registros, de onde foram anotados e organizados em

planilhas no Microsoft Excel.

A análise da cinética das correntes sinápticas em miniatura foi feita no programa Mini

Analysis usando-se a média de todos os eventos registrados em um arquivo de um minuto após o

isolamento farmacológico dos sIPSCs ou sEPSCs e aplicação de TTX, como mostrado na figura

2.3. A partir do traçado médio, os valores de constante de tempo (τ), decaimento e half width

foram calculados e os gráficos montados no GraphPad-Prism.

38

Figura 2.3: Traçados individuais agrupados (A) e a média dos mesmos (B) calculados na interface de análise de grupo

do programa Mini Analysis.

Os gráficos de fração cumulativa foram construídos no GraphPad-Prism como média de

vários traçados distintos gerados pelo programa Mini Analysis (Figura 2.4).

Figura 2.4: Exemplo de construção do gráfico das médias das curvas de fração cumulativa.

O nível de significância dos testes realizados foi de 0,05 e os resultados em barra são

apresentados como média ± erro padrão da média (EPM).

A B

39

3.6 - Imunocitoquímica

Usamos a imunocitoquímica (ICC) para evidenciar a expressão do gene zenk através da

marcação com diaminobenzidina (DAB) de seu transcrito ZENK. O material que utilizamos para

tal foram fatias obtidas através do mesmo protocolo de corte daquelas utilizadas nos experimentos

de eletrofisiologia, as quais retiramos diretamente do vibrátomo para o paraformaldeído (4%),

onde permaneceram por meia hora e depois as lavamos em tampão fosfato com salina (PBS –

Tabela 6.6 da lista de soluções) por 3 vezes com duração de 20 minutos cada lavagem. Depois de

fixadas as fatias, as estocamos em geladeira por até quatro dias para que as reações de ICC das

demais fatias coletadas durante a semana fossem desenvolvidas em conjunto.

Iniciamos as ICCs incubando as diferentes fatias em poços numa placa de cultura de

acrílico e mergulhando-as em solução de H2O2 a 0,3% por 10 minutos, seguida de lavagem em

PBS, 3x por 20 minutos cada. Um bloqueador, a albumina de soro bovina (bovine serum albumine

- BSA) foi adicionado e mantido por uma hora. Após essa etapa, incubamos as fatias com o

anticorpo primário para ZENK (Anti-erg1, Santa Cruz Biotechnology – SC189) a uma diluição de

1:500 (estoque: 200µg/mL) em geladeira por dois dias. O passo seguinte foi a lavagem das fatias

em PBS 3x por 15 minutos seguido da aplicação do anticorpo secundário biotinilado goat-anti-

rabbit (Chemicon International ap132b – 2mL) diluído 1:50 durante duas horas. O preparo do

complexo amplificador avidina-biotina (Vectastain Elite ABC Kit) feito pelo menos meia hora

antes de sua adição, consistiu na reação de 40 µL da solução com avidina combinada com 40µL

da solução com biotina com volume completado pra 1mL. Após a ligação do antígeno com o

anticorpo secundário, as fatias foram lavadas em PBS 3x por 30 minutos e colocadas para reagir

com o complexo AB por duas horas, com posterior lavagem com PBS 3x de 15 minutos. A reação

de coloração com DAB foi feita pingando-se a solução previamente preparada (1 mg/mL de DAB,

H2O2 (30%) 1:1000 em PBS) sobre as fatia montadas em uma lâmina super frost por pelo menos

5 minutos.

A montagem das lâminas com Etellan foi feita no dia seguinte, após desidratação com

lavagem dos espécimes em uma série de soluções alcoólicas (70%, 90% e 100%) e deslipidização

em Xilol.

40

4 - RESULTADOS

41

4.1 – Expressão da proteína ZENK em resposta ao canto.

A expressão do gene zenk pode ser evidenciada pela marcação por imunocitoquímica de

seu transcrito ZENK. Como essa proteína é expressa quando o pássaro é estimulado por um canto

co-específico, sua expressão nas fatias serve como um controle da eficácia do protocolo de

estimulação e do isolamento acústico do pássaro. Após um protocolo de estimulação, espera-se

que a proteína ZENK seja expressa em grande quantidade; por outro lado, se o animal é mantido

sem estímulo, sua expressão é esperada ser baixa.

Na figura 4.1B, observamos que no NCM de pássaros controle a expressão de ZENK é

baixa, enquanto que no NCM dos pássaros estimulados é claramente maior (figura 4.1A)

(pássaros controle: 85 ± 43 células marcadas, n = 5; pássaros estimulados: 411 ± 196 células

marcadas, n = 4). Dentro de nossas estimativas observamos uma grande variação da resposta ao

zenk intra-grupo e, um possível motivo de variação pode ter sido diferentes qualidades da

marcação. Para isso comparamos 4 fatias (2 controle e 2 estimuladas) que foram submetidas ao

mesmo protocolo de marcação por DAB na mesma lâmina (Figura 4.1C). Nessas fatias, fica claro

que mesmo com essas variações, os pássaros estimulados apresentaram uma expressão de ZENK

maior do que os controles. Esses dados mostram que tanto o isolamento acústico quanto a

estimulação canoro à qual submetemos os pássaros são eficientes e que o procedimento de

sacrifício do animal e obtenção das fatias não estimula a expressão de ZENK.

42

Figura 4.1: Número de células que expressam ZENK no NCM. ICC para ZENK mostrando células do NCM de um

pássaro estimulado marcadas positivamente (A) e ausência de marcação no NCM do pássaro controle (B). Em C,

médias do número de células marcadas no NCM de mandarins machos e fêmeas pertencentes a uma mesma reação de

ICC. Traços expressam médias e pontos, os valores individuais.

C

A B

43

4.2 – Caracterização das correntes sináptica espontâneas (sPSCs) registradas s no NCM.

Quando as células do NCM dos mandarins foram mantidas em voltage clamp a -70mV,

observamos quase sempre a presença de correntes sinápticas espontâneas, representadas por

deflexões rápidas da corrente basal com um retorno à linha de base mais lento (Figura 4.2). Essas

correntes refletem a liberação de neurotransmissores pelos neurônios que fazem sinapses com o

neurônio registrado.

Figura 4.2: Exemplo de registro de sPSCs em voltage clamp de neurônio do NCM de mandarim. Registro feito a

-70 mV com solução interna de pipeta de CsCl.

Para que pudéssemos observar quais os transmissores responsáveis pelos sPSCs no NCM,

aplicamos antagonistas farmacológicos dos receptores ionotrópicos glutamatérgicos

AMPA/kainato (DNQX) e GABAA (bicuculina) no NCM de pássaros controle. A aplicação de

bicuculina ao banho produziu uma redução significativa tanto na freqüência (de 3,0 ± 0,31 Hz

para 0,5 ± 0,1 Hz [85 ± 3 %]; n = 22; p<0,001) quanto na amplitude (de 44 ± 4 pA para 25,5 ± 1,3

pA [20,5 ± 1,3 %]; n = 22; p<0,001) dos sPSCs (Figuras 4.3A [traçado] e 4.4 [gráfico]). Já a

aplicação de DNQX teve um pequeno efeito inibitório, porém não significativo, sobre a

freqüência e a amplitude dos sPSCs (de 4,3 ± 0,4 Hz para 3,14 ± 0,3 Hz [21,6 ± 5,5 %] e de 50,5

± 4 pA para 40 ± 2,5 pA [16,2 ± 3,2 %] respectivamente; n = 41; p<0,05 – Figuras 4.3B [traçado]

e 4.43 [gráfico]). Quando aplicamos ambos DNQX e bicuculina ao banho, os sPSCs foram

totalmente bloqueados (Figura 4.3C). Assim, concluímos que os sPSCs registrados nos neurônios

do NCM são gerados pela ativação de receptores glutamatérgicos e GABAérgicos, e que a

transmissão GABAérgica é mais abundante do que a glutamatérgica.

44

Figura 4.3: Efeito dos antagonistas glutamatérgico (DNQX) e GABAérgico (bicuculina) sobre os sPSCs no NCM

de mandarins. Em A, exemplo de registro em voltage clamp (-70 mV) de sPSCs (controle) seguido da aplicação de

bicuculina. Em B, exemplo de registro em voltage clamp (-70 mV) de sPSCs seguido da aplicação de DNQX. Em C, o

efeito da bicuculina e DNQX aplicados juntos ao banho. A figura D mostra a fração cumulativa referente às

freqüências em situação controle (sem droga), com aplicação de DNQX (GABA) e aplicação de bicuculina

(Glutamato).

D

45

Figura 4.4: Neurotransmissões GABAérgica e glutamatérgica no NCM de mandarins. Gráficos das médias ±

EPM das freqüências (A) e amplitudes (B) dos sPSCs, sIPSCS e sEPSCs. Teste t pareado entre “sem droga” e “com

droga” (bicuculina ou DNQX); ***=P<0,001.

A

B

46

4.2.1 - Correntes Pós-sinápticas Miniatura (mPSCs)

Visto que GABA e glutamato são os responsáveis pela transmissão espontânea que

observamos no NCM, decidimos estudar as características cinéticas das correntes sinápticas

inibitórias e excitatórias no NCM. Para isso, utilizamos as correntes sinápticas miniaturas

registradas na presença do bloqueador de canais de sódio tetrodotoxina (TTX). As correntes

miniaturas refletem a liberação de uma ou poucas vesículas por vez (quanta) e por isso são ideais

para o estudo da cinética dos receptores presentes na fenda sináptica.

Observamos que as correntes GABAérgicas são muito sensíveis à aplicação de TTX,

sofrendo uma grande inibição tanto da freqüência (3,1 ± 0,4 Hz para 0,2 ± 0,02 Hz; n = 17;

p<0,001) quanto da amplitude (40,5 ± 4,2 pA para 30,2 ± 2,3 pA; n = 17; p<0,05) (Figura 4.5A

[gráfico] e 4.6A [traçados]). As correntes glutamatérgicas por sua vez, não foram

significativamente inibidas pela aplicação de TTX (freqüência de 0,78 ± 0,3 Hz e amplitude de

35,1 ± 3,7 pA apenas com bicuculina para 0,5 ± 0,2 Hz e 30,3 ± 3,1 pA com bicuculina e TTX; n

= 6; p>0,05) (Figura 4.5B [gráfico] e 4.6B [traçado]). Com isso, concluímos que os sIPSCs no

NCM são gerados pelo disparo de potenciais de ação de neurônios GABAérgicos, enquanto que

os sEPSCs são basicamente independentes de potenciais de ação, podendo ser consideradas per se

como correntes miniatura (mEPSCs) (notar a semelhança do registro dos sEPSCs e mEPSCs nas

ampliações da figura 4.6B).

Figura 4.5: Sensibilidade dos sEPSCs e sIPSCs à TTX: Efeitos da aplicação de TTX 1 µM sobre a freqüência e a

amplitude dos sIPSCs (A) e sEPSCs (B). Barras expressam médias ± EPM. Teste T; *=p<0,05.

B

A

47

Figura 4.6: Ação da TTX sobre os sPSCs. Em B, exemplos de traçados em Voltage Clamp onde a TTX

1µM é aplicada junto com DNQX (A) ou bicuculina (B). Os quadros em B mostram em maior detalhe os formatos dos

sIPSCs e mIPSCs.

A

B

48

A partir dos mesmos registros analisados para medida de freqüência amplitude dos

mEPSCs e mIPSCs da figura 4.5, obtivemos off-line um traçado que representa a média das

correntes miniatura em 4 células escolhidas aleatoriamente para cada uma das neurotransmissões

(figura 4.7A) (vide métodos). Deste traçado, medimos os valores de amplitude, half width e

ajustamos o decaimento com uma função exponencial dupla, obtendo com isso os valores das

constantes de tempo (τ1 e τ2). Observamos que os mIPSCs possuem amplitude e half width

maiores que as dos mEPSCs (Tabela 4.1 e Figura 4.7B). As medidas calculadas de half-width e de

τ (Tabela 1 e Figura 4.5B) são menores nos mEPSCs do que nos mIPSCs, mostrando sua cinética

de decaimento mais rápida.

Amplitude (pA) Half Width τ 1 (ms) τ 2 (ms)

mIPSCs 29,1 ± 1,6 12,2 ± 1 12,4 ± 1,8 40,1 ± 7,1

mEPSCs 15,8 ± 1,2*** 5 ± 0,3*** 3,4 ± 0,4** 11,6 ± 4,02*

Tabela 4.1: Valores de amplitude, half width e τ 1 e 2 para mIPSCs (4 células) e mEPSCs (4 células) do

NCM de mandarins. Teste T; *=P<0,05; **=P<0,01; ***=p<0,001.

49

B i

iii

ii

A i ii

Figura 4.7: Cinética dos mPSCs do NCM de

machos. Em Ai, o registro médio de 27 mIPSCs;

em Aii, registro médio de 20 mEPSCs, ambos de

uma única célula. Rise time (10-90%): pontos

amarelos; decay (90-37%): pontos lilás; pico: “X”

vermelho: linha de base: “X” e linha verdes;

curva de ajuste da dupla exponencial: linha

vermelha [equação de ajuste: y = A1 * exp ( -x /

tau1) + A2 * exp (-x / tau2) + Baseline]. Em Bi, as

medidas de amplitude dos mIPSCs e mEPSCs, em

Bii, suas half width e em Biii seus respectivos τ1 e

τ2. Barras expressam médias ± EPM. Teste T.

*=p<0,05; **=p<0,01; ***=p<0,001.

50

4.2.2 - Caracterização dos sIPSCs e dos sEPSCs quanto ao potencial de reversão.

Com uma solução interna de pipeta contendo CsCl como íon principal, onde a

concentração de cloreto é alta, as correntes inibitórias e excitatórias exibem padrões de sentido e

reversão similares (correntes para dentro e reversão em 0mV) devido à força eletromotriz que age

sobre os íons, puxando os cátions para dentro da célula e empurrando os ânions para fora dela

com a mesma intensidade. Para investigar o comportamento das diferentes correntes

isoladamente, sem a intervenção farmacológica, utilizamos uma solução interna de pipeta

contendo, como íon principal, o metanosulfonato de césio (CsMSO4). Com ela, separamos os

sIPSCs e sEPSCs de acordo com seus respectivos potenciais de reversão. Nessa solução

obtivemos um potencial de reversão calculado para o cloreto de –52 mV, descontando um

potencial de junção estimado em 14 mV (estimado usando-se a mobilidade do gluconato), um

valor próximo ao observado experimentalmente, de -47 mV.

Para registrarmos os sEPSCs, mantivemos o neurônio no potencial de reversão observado

para o cloreto (-47 mV) (Figura 4.8Ai). Para registrarmos os sIPSCs, mantivemos o neurônios a -

20 mV onde os sIPSCs apresentavam polaridade positiva e sEPSCs polaridade negativa (Figura

4.8Aii). Inicialmente, observamos que as freqüências dos sIPSCs e dos sEPSCs foram pouco

alteradas após a aplicação de droga (Figura 4.6B). Porém, observamos uma redução não

significativa da freqüência dos sIPSCs em -20mV comparados com os valores a -70mV (Tabela

4.2). O mesmo não foi observado com os sEPSCs nos diferentes potenciais. Com isso, concluímos

que a interação entre as neurotransmissões (estimulação da neurotransmissão GABAérgica pela à

glutamatérgica), se existir, deve ser pequena.

Tabela 2: Freqüências e amplitudes dos sIPSCs e sEPSCs registrados em diferentes potenciais antes e após a aplicação

de DNQX (sIPSCs) ou bicuculina (sEPSCs). Resultados mostrados como média ± EPM. Testes t; p>0,05.

Grupo (n) Freqüência (Hz)

sIPSCs -70 mV (n = 43) 3,2 ± 1,9

sIPSCs -20 mV (n = 21) 2,0 ± 0,3

sIPSCs -20 mV [DNQX] (n = 21) 2,1 ± 0,4

sEPSCs -70 mV (n = 27) 0,5 ± 0,4

sEPSCs -47 mV (n = 3) 0,5 ± 0,1

sEPSCs -47 mV [Bicuculina] (n = 3) 0,6 ± 0,2

51

A

-47 mV

ii

-20 mV

i

Figura 4.8: Correntes registradas com uma solução interna de baixo cloreto (metanosulfonato de césio). Em

A, (i) registro a -47 mV, onde a corrente glutamatérgica é observada e a GABAérgica encontra-se no seu ponto de

reversão e (ii) a -20 mV, onde as correntes GABAérgicas (correntes de saída) são observadas junto às glutamatérgicas

(correntes de entrada) num mesmo registro. Em B, (i) freqüência dos sIPSCs num potencial de -20mV antes e após a

aplicação de DNQX 20 µM e (ii) freqüência dos sEPSCs num potencial de -47mV antes e após a aplicação de

bicuculina. Barras expressam médias ± EPM. ANOVA de duas vias. P>0,05.

B

52

Como é sabido que sinalização retrógrada por neurotransmissores liberados por

despolarização neuronal inibem a neurotransmissão GABAérgica quando o neurônio pós-

sináptico é despolarizado (Kreitzer & Regehr, 2001; Ohno-Shosaku et al., 2001; Wilson & Nicoll,

2001), decidimos, estudar porque a -20mV a freqüência observada dos sIPSCs era menor do que a

observada a -70mV.

Assim, testamos se o potencial do neurônio registrado teria influência na freqüência dos

sIPSCs. Para tal, registramos os sIPSCs (DNQX presente) em dois potencias simétricos (-50mV e

+50mV – Figura 4.9A). Observamos que a freqüência dos sIPSCs foi significativamente menor no

potencial positivo do que no potencial negativo (-50 mV = 2,1 ± 0,4 Hz; +50mV = 1,1 ± 0,3 Hz; n

= 6; p<0,05) (Figura 4.9Bi), enquanto que a amplitude não foi alterada (-50 mV = 36 ± 5,7 e +50

mV = 33,2 ± 7,8; p>0,05). Com isso, concluímos que o potencial da membrana do neurônio pós-

sináptico inibe freqüência dos sIPSCs no NCM possivelmente por um mecanismo de sinalização

retrógrada semelhante ao observado no hipocampo e cerebelo de roedores.

53

Figura 4.9: Diferença na freqüência

dos sIPSCs em potenciais de

membrana com mesma força

eletromotriz e sentidos opostos. Em A,

exemplos dos registros feitos a -50 mV e

a +50 mV em um dos neurônios do

NCM. As setas indicam em A os sIPSCs

observados a +50 mV. B, valores de

freqüência (i) e amplitude (ii) nos

potenciais de membrana de -50 mV e

+50 mV. Barras expressam médias ±

EPM. n = 6 (4 machos e 2 fêmeas).

Teste t; *=p<0,05.

B

ii

i

(6)

(6)

(6) (6)

500 ms 50 p

A

-50 mV

+50 mV

A ↓ ↓↓ ↓

54

4.3 – Efeito da estimulação canora na neurotransmissão no NCM

O principal interesse em nossa investigação foi saber se a apresentação do canto pode

resultar em alterações nas propriedades da neurotransmissão GABAérgica e glutamatérgica no

NCM. Dessa forma, registramos os sPSCs do NCM dos mandarins em duas situações de estímulo:

pássaro em situação controle (isolado e sem qualquer estímulo auditivo apresentado) e pássaro

estimulado (quando lhe foi apresentado um canto espécie-específico), sacrificados no tempo

correspondente ao pico da expressão do ZENK. (Mello & Ribeiro, 1998).

Observamos que os valores de freqüência dos sPSCs no grupo controle foi menor, mas

não significativo (p>0,05), do que o observado no estimulado (3,8 ± 0,4 Hz (n = 38) e 4,5 ± 0,6

Hz (n = 29) respectivamente; p>0,05) (Figura 4.10A). As amplitudes dos sPSCs do grupo controle

também não diferiram significativamente das observadas no grupo estimulado (54,3 ± 5,7 pA e

48,1 ± 3,5 pA respectivamente; p>0,05) (Figura 4.10B).

55

(38)

Figura 4.10: Freqüências e amplitudes de sPSCs do NCM de pássaros controle e estimulados registradas a

-70mV. Em A, freqüências de sPSCs mostradas individualmente (pontos negros) e como médias (barras). Em B,

amplitudes também mostradas individualmente (pontos negros) sobrepostos às barras. Barras expressam médias ±

EPM. Teste T, p>0,05.

Controle Estimuladas 0

5

10

15

Freq

üênc

ia (H

z)

A

(38)

(29)

Controle Estimuladas 0

50

100

150

200

Am

plitu

de (p

A)

B

(29)

(38)

56

4.3.1 Segregação sexual dos pássaros controle e estimulados

O estímulo sonoro espécie-específico não produz efeito significativo na freqüência ou

amplitude dos sPSCs no NCM, porém, o canto não é o único fator que nós levamos em

consideração. Estudos recentes evidenciaram que o NCM pode sofrer influência do sexo do

animal (Pinaud et al., 2006; Tersptra et al., 2004, 2006) e, como o NCM é bem desenvolvido e

presente em pássaros de ambos os sexos, (diferentemente dos núcleos envolvidos com a produção

do canto, desenvolvidos apenas nos machos (Nottebohm & Arnold, 1976; MacDougall-

Shackleton & Ball, 1999)), segregamos os resultados de acordo com estímulo (controle e

estimulados) e sexo do animal para observar se o NCM de machos e fêmeas responde de forma

diferente ao canto.

Neste novo arranjo dos dados, notamos uma maior freqüência dos sPSCs nos machos

estimulados (MEs) (5,9 ± 1,0 Hz, n = 14; p<0,05), em relação aos demais grupos (fêmeas

estimuladas (FEs): 3,2 ± 0,4 Hz, n = 15; machos controle (MCs): 3,9 ± 0,5 Hz, n = 15; fêmeas

controle (FCs): 3,7 ± 0,5 Hz, n = 23) (Figura 4.11). A ANOVA de duas vias mostrou que o

“gênero” tem efeito significativo sobre a freqüência dos sPSCs (p=0,02) ao contrário da

“condição” (controle versus estimulado; p=0,2) e que existe uma interação entre ambas variáveis

(p=0,04). Um pós-teste de Bonferroni considerou significativa a diferença entre as freqüências de

machos e fêmeas do grupo estimulado.

Os valores de amplitude não apresentaram diferenças significativas entre os grupos (MCs

= 47,4 ± 5,3 pA, n = 15; FCs = 48,8 ± 7,2 pA, n = 3; MEs = 51,7 ± 5,4 pA, n = 14; FEs = 46,2 ±

4,0 pA, n = 15; p>0,05) (Figura 4.9). Esses dados mostram que o sexo do pássaro é um fator que

influencia a resposta do NCM ao canto.

57

Figura 4.11: Segregação por estímulo e sexo dos valores de freqüência e amplitude dos sPSCs do NCM de

mandarins. Em A, freqüência do sPSCs e em B suas respectivas amplitudes. Barras expressam médias ± EPM.

ANOVA de duas vias. ** indica o fator (sexo - machos) que mais tem efeito na comparação, com P= 0,02; *=p<0,05.

Pós-teste de Bonferroni.

(14)

(15)

(15) (23)

(14) (15)

(15) (23)

58

Esses resultados podem ser mais bem evidenciados nos histogramas cumulativos de

intervalo inter-evento e amplitudes (Figura 4.12). Neles fica claro um aumento da freqüência

(intervalos inter-eventos menores) nos ME em relação aos MC (D = 0,18; medianas ME = 120,

MC = 185), enquanto nas fêmeas a distribuição dos intervalos inter-eventos não é muito afetada

(D = 0,05; medianas: FE =252, FC = 281). A distribuição das amplitudes também não é afetada

pela condição (D = 0,05; medianas: ME= 36 MC = 40; D =0,09; medianas: FE = 33, FC = 29).

Esses valores de D mostram que, ME e MI diferem na distribuição de suas freqüências quando os

dados são comparados dentro dos gêneros, enquanto os demais grupos não, reafirmando o

observado no gráfico da figura 4.11.

Figura 4.12: Frações cumulativas das freqüências e amplitudes de sPSCs do NCM de pássaros machos e fêmeas

controle e estimuladas. Em A, as freqüências (i) e suas respectivas amplitudes (ii). Em B, traçados de todos os grupos

seguindo uma distribuição logarítmica, evidenciando as diferenças entre as curvas. Número de células nos traçados de

freqüência e amplitude respectivamente: ME→ 12 – 4; MI→ 11 –15; FE→ 6 – 6; FI→ 6 – 10. As barras

transversaiscortando as curvas indicam os pontos onde o EPM teve maior valor.

59

4.3.2 – Isolamento da transmissão GABAérgica pelo DNQX em pássaros controle e estimulados.

Como a neurotransmissão no NCM é composta por correntes geradas por GABA e

glutamato, fizemos um estudo mais detalhado do que o apresentado na figura 4.3 para observar

seus comportamentos e suas participações individuais nas diferentes condições em ambos os

sexos.

Ao isolarmos as correntes sinápticas GABAérgicas pela aplicação de DNQX, observamos

uma inibição significativa da freqüência dos sPSCs no NCM dos ME (p<0,05), enquanto que nos

outros grupos, a freqüência dos sPSCs dos pássaros não foi significativamente afetada (p>0,05)

(Tabela 4.3). Resultado similar foi observado com as amplitudes, que foram significativamente

inibidas nos ME (p<0,05), mas pouco alteradas nos demais grupos (p>0,05) (Tabela 4.3).

Analisando as freqüências e amplitudes das correntes GABAérgicas isoladas, não

observamos diferença significativa desses parâmetros entre os diversos grupos (ANOVA de duas

vias, p>0,05 – Figura 4.13). Concluímos, com esses experimentos, que o aumento na freqüência

dos sPSCs nos machos estimulados não se deve a um aumento da freqüência dos sIPSCs

GABAérgicos, mas provavelmente a um aumento da excitação glutamatérgica.

Grupo (n) Freqüência (Hz) Amplitude (pA)

Sem Droga DNQX 20µM Sem Droga DNQX 20µM

ME (11) 6,4 ± 1,2 3,9 ± 0,6 * 55,8 ± 6,5 38,1 ± 4 **

MC (11) 4,1 ± 0,6 3,9 ± 0,6 46,3 ± 5,7 43,7 ± 6,2

FE (8) 3,7 ± 1,2 2,8 ± 0,7 53,1 ± 7,9 37,9 ± 4,1

FC (12) 3,8 ± 0,8 3,2 ± 0,2 51,2 ± 10,8 39,1 ± 4,9

Tabela 4.3: Valores de freqüência e amplitude de neurônios de NCM de machos e fêmeas antes e depois da

aplicação de DNQX 20µM. ** = P<0,01; * = P<0,05; teste t pareado.

60

Figura 4.13: Fração GABAérgica dos sPSCs no NCM. Freqüências e amplitudes dos sIPSCs em neurônios do

NCM de machos e fêmeas controle ou estimulados, isolados pela aplicação de DNQX 20 µM ao banho. Barras

expressam médias ± EPM. ANOVA de duas vias; p>0,05.

Controle

61

4.3.3 - Isolamento da transmissão Glutamatérgica.

Em vista da maior fração das correntes sinápticas inibida por DNQX no NCM dos ME,

seria de se esperar que após a aplicação de bicuculina no NCM desses pássaros, observássemos

um maior número de correntes glutamatérgicas (sEPSCs) em relação aos outros grupos.

A bicuculina inibiu fortemente a freqüência e a amplitude das correntes sinápticas no

NCM de todos os grupos de pássaros (Tabela 4.4). Entretanto, após a aplicação de bicuculina, as

freqüências dos sEPSCs foram todas similares. Em experimentos onde medimos as correntes

glutamatérgicas usando uma solução de baixo cloreto e mantivemos o neurônio em um potencial

próximo ao de reversão do cloreto (-47 mV), a freqüência dos sEPSCs nos machos estimulados

(0,63 ± 0,16 Hz; n = 3) foi similar ao observado com CsCl após aplicação de bicuculina (Tabela

4.4). Isso mostra que não é a freqüência dos ePSCs glutamatérgicos a responsável direta pela

diferença observada.

A amplitude foi, entretanto, significativamente menor nos pássaros estimulados em

relação aos pássaros isolados (efeito observado em ambos os sexos) (p<0,05, ANOVA de duas

vias – Figura 4.12), enquanto a freqüência não mostrou essa redução significativa (P>0,05,

ANOVA de duas vias – Figura 4.14).

Grupo (n) Freqüência (Hz) Amplitude (pA)

Sem Droga Bicuculina Sem Droga Bicuculina

ME (4) 3,4 ± 1,5 0,3 ± 0,1 44,2 ± 11,4 21,5 ± 2,7

MC (6) 4 ± 0,8 0,5 ± 0,1** 64,3 ± 14 30,3 ± 3,8*

FE (6) 3,1 ± 0,5 0,6 ± 0,2** 38,5 ± 3,8 18 ± 1,6**

FC (11) 3,3 ± 0,7 0,6 ± 0,1* 60,5 ± 15,4 24 ± 3*

Tabela 4: Freqüências e amplitudes das correntes sinápticas no NCM de mandarins machos e fêmeas antes da

aplicação de bicuculina. (sPSCs - “Sem Droga”) e após a aplicação (“Bicuculina”), isolados ou estimulados. Teste t

pareado. *=p<0.05; **p<0,01.

62

Figura 4.14: Valores de freqüência e amplitude dos sEPSCs. Os valores apresentados dizem respeito apenas aos

registros obtidos em presença da bicuculina de machos e fêmeas controle e estimulados. Em A, as freqüências e em B

as amplitudes. Barras expressam médias ± EPM. ANOVA de duas vias; **=p<0,05.

A

B

63

4.3.4- Excitabilidade aumentada dos neurônios glutamatérgicos

No decorrer dos experimentos, a aplicação de bicuculina eventualmente gerava fenômenos

distintos dos sEPSCs. Esses fenômenos eram bursts de eventos glutamatérgicos de grande

amplitude e duração (figura 4.15A) como descrito anteriormente por Pinaud et al (2004). Estes

bursts apareceram com maior freqüência dependendo do sexo e do protocolo de estimulação

aplicado ao animal, sendo os ME mais suscetíveis ao aparecimento destes (9 em 11 células) e as

FC, menos (nenhum registro em 7 células) (figura 4.15D).

Esses fenômenos, ao contrario dos sEPSCs, são grandes o suficiente para deflagrar o

disparo de potenciais de ação no neurônio pós-sináptico quando registrado com uma solução

interna de pipeta contendo potássio fisiológico (no caso, gluconato de potássio [KGlu]) (Figura

4.15B).

Em 8 neurônios provenientes de machos estimulados, estes bursts glutamatérgicos foram

observados mesmo na ausência de bicuculina, isso pode ser visto em um registro feito com

solução interna de pipeta contendo CsMSO4, onde o burst ocorre ao mesmo tempo em que sIPSCs

são vistos como deflexões da corrente para cima (Figura 4.15C). Em ambos os casos (com ou sem

bicuculina), a aplicação de DNQX eliminou o aparecimento dos bursts, mostrando sua origem

glutamatérgica (não mostrado).

64

C

Figura 4.15: Bursts glutamatérgicos em

pássaros estimulados e controles. Em A,

exemplo de bursts registrados na presença de

bicuculina a -70 mV. Em B, potenciais de ação

(4) sendo disparados no pico de um dos bursts

registrados com KGlu em Current Clamp. Em

C, exemplo de burst ocorrido a -20 mV sem a

aplicação de bicuculina, onde podemos ver o

burst propriamente dito juntamente com

sIPSCs (deflexões para cima). Em D, a

freqüência de aparecimento dos bursts nos

diferentes protocolos. Notar a escala das barras

de escala para noção de amplitude e duração.

A i ii

B

D

C

0

2 5

5 0

7 5

1 0 0 9 / 1 1

3 / 1 0

7 / 1 4

0 / 7

% d

e cé

lula

s

ME

FC

MC

FE

65

4.4- Neurotransmissão no NCM de fêmeas submetidas a um isolamento prolongado do estímulo canoro. Machos estimulados

Todos os pássaros foram mantidos em um mesmo recinto dentro do biotério setorial antes

de serem isolados no dia anterior ao experimento. Com isso, eles ouviram constantemente cantos

dos machos presentes nas gaiolas. Para descobrir se essa exposição crônica ao canto estava ou não

mascarando quaisquer resultados, mantivemos um grupo de fêmeas sem a presença dos machos

por pelo menos uma semana no biotério setorial antes do registro dos sPSCs.

Estas fêmeas prolongadamente isoladas mostraram um aumento significativo da

freqüência dos sPSCs tanto dos pássaros controle (5,4 ± 1,4 Hz; n = 10) quanto dos estimulados

(5,9 ± 0,9 Hz; n = 7; p<0,05) em relação às fêmeas normais (controle = 3,6 ± 0,6 Hz; n = 23 e

estimuladas = 3,2 ± 0,4 Hz; n = 15), sendo que a variável “manutenção” (basais versus normais) é

apontada pela ANOVA de duas vias como o fator que mais influencia na diferença observada

(p=0,0075). As amplitudes não apresentaram diferenças significativas entre os dois protocolos de

manutenção dos pássaros (basais controle = 48,9 ± 0,9 pA; basais estimuladas = 58,3 ± 3,2 pA;

FCs = 48,9 ± 7,2 pA; FEs = 46,2 ± 4 pA; p>0,05 - Figura 4.16A).

Um fenômeno em particular que nos chamou atenção neste protocolo foi o fato de três

células de fêmeas isoladas apresentarem freqüências elevadas depois da aplicação de bicuculina,

como mostrado pelo registro da figura 4.17A e pelo gráfico da figura 4.17B, que mostra as

freqüências e amplitudes antes e após a aplicação da droga. As setas indicam os casos citados. A

half-width dessas correntes foi menor e similar à dos sEPSCs, sugerindo que essas correntes são

de fato glutamatérgicas (Figura 4.17C).

Mesmo nesses pássaros não observamos uma resposta mais pronunciada à canção,

descartando assim, algum efeito de longo prazo de habituação no NCM. Por outro lado, esse

isolamento alterou de alguma forma a fisiologia do núcleo, parecendo que a privação do canto

parece eliminar a conectividade da rede glutamatérgica do NCM, gerando uma atividade

glutamatérgica exacerbada ao invés dos bursts observados anteriormente.

66

Figura 4.16: Análise das correntes sinápticas das pássaros prolongadamente isoladas. Os gráficos representam

freqüência e amplitude dos sPSCs de fêmeas normais e prolongadamente isoladas quando estimuladas ou controle.

Barras expressam médias ± EPM. ANOVA de duas vias. * = P<0,05; **=p<0,01.

67

C

Figura 4.17: Fêmeas com isolamento prolongado: Em A, registros de sPSCs antes e sEPSCs após a aplicação de

bicuculina. Traçados em correspondem à célula do dia 11/12/2006. Em B, os valores individuais de freqüência e

amplitude antes e após a aplicação de bicuculina com as setas indicando os casos de alta freqüência após essa

aplicação. Em C, médias das half widths dos três casos isolados antes e após a aplicação de bicuculina.

A

B

68

5 - DISCUSSÃO

69

5.1 – Expressão da proteína ZENK em resposta ao canto.

Mello et al (1998) mostraram que a expressão de zenk ou de sua proteína no NCM ocorre

de maneira acentuada em resposta a canções espécie-específicas tanto em machos quanto em

fêmeas. Os resultados obtidos em nosso laboratório com a ICC do ZENK estão de acordo com os

descritos na literatura.

Os protocolos para a ICC foram desenvolvidos à medida que os experimentos de

eletrofisiologia foram realizados, pois as fatias que marcamos vinham dos mesmos animais

utilizados nos registros. Para normalizar as variações do processo de marcação com DAB,

mostramos na figura 4.1 apenas quatro espécimes de uma mesma reação (2 controle e 2

estimulado) para comparação. Os resultados dessa ICC mostram que os protocolos de isolamento

e estimulação são eficazes, exibindo uma marcação da proteína muito mais alta em animais

estimulado comparada àquela dos animais isolados. Tal é a diferença que, por área estimada,

alguns animais isolados apresentam 2 ou 4 células marcadas, enquanto animais estimulados

apresentaram contagens tão grandes quanto 997 células.

Uma preocupação nossa foi a indução da expressão de ZENK em resposta aos demais

protocolos aplicados ao tecido nervoso do animal, como corte, manipulação e tempo de espera na

solução de corte antes do registro. Porém, nenhum desses itens foi estímulo para mudança da

expressão da proteína.

5.2 – Caracterização das correntes sináptica espontâneas (sPSCs) registradas s no NCM.

Quando fizemos registros em voltage clamp dos neurônios do NCM, observamos sPSCs

com facilidade. Isolando farmacologicamente os neurotransmissores responsáveis pelos sPSCs,

vimos que dentro do NCM, apenas GABA e glutamato dominam a neurotransmissão espontânea

presente em nossos registros e que, em termos de porcentagem, a contribuição das correntes

GABAérgicas é muito maior do que a das glutamatérgicas. Os potenciais de reversão por sua vez,

quando da utilização da solução interna com baixo cloreto, reverteram de acordo com o esperado,

com a corrente GABAérgica em aproximadamente -47 mV, e a glutamatérgica em 0 mV .

Curiosamente, o RNAm dos receptores glicinérgicos GlyRα2 e GlyRβ foram

identificados no NCM de mandarins (Mello et al., 2007). Sua ação foi observada pela injeção

unilateral de estriquinina no NCM de mandarins (antagonista dos receptores glicinérgicos), o que

aumentou a atividade espontânea de bursting e o tamanho da resposta fásica ao canto registrada

70

no lado injetado. Já a microinjeção de glicina, como seria de se esperar, teve efeito oposto no

NCM. Entretanto em nossos experimentos não observamos nenhuma corrente que não fosse

completamente antagonizada pela aplicação concomitante de bicuculina e DNQX. É possível que

esses receptores glicinérgicos sejam extra-sinápticos, porém a origem da glicina que ativaria

fisiologicamente esses receptores ainda é obscura.

As correntes GABAérgica e glutamatérgica, quando analisadas através das correntes

miniatura, foram nitidamente diferentes uma da outra. Quanto à cinética das correntes, os

parâmetros utilizados para comparação se mostraram muito distintos. Os valores de amplitude,

half width e τ dos mIPSCs evidenciaram características de uma corrente mais lenta (em termos de

decaimento) do que a corrente deflagrada pelos mEPSCs, da mesma maneira que normalmente se

observa em preparações de mamíferos.

Ao contrário da relação entre ePSCs e iPSCs, os mEPSCs foram mais abundantes no

NCM do que os mIPSCs, sendo os valores de freqüência e amplitude dos mEPSCs muito

similares aos observados nos sEPSCs. Esta observação nos permite afirmar que os sEPSCs são, na

verdade, eventos quantais, que ocorrem sem a necessidade de um potencial de ação (PA). Já os

sIPSCs por sua vez, foram significativamente afetados pela TTX, evidência que prova que os

sIPSC são dependentes do disparo de potenciais de ação dos neurônios GABAérgicos para

ocorrerem. Outra característica relacionada aos neurônios GABAérgicos é a falta de efeito do

DNQX em inibir os sPSCs. Isso sugere que a excitação glutamatérgica não é necessária para a

atividade dos neurônios GABAérgicos (pelo menos nas condições basais). Experimentos

anteriores de nosso grupo em pássaros retirados diretamente do aviário obtiveram o mesmo

resultado.

Esses dados sugerem que a transmissão glutamatérgica no NCM está sob controle da

ativação dependente de estímulo das aferências (como do campo L), enquanto que a transmissão

GABAérgica possui uma atividade intrínseca independente (em condições basais) da estimulação

glutamatérgica. Observamos, entretanto, que em machos, principalmente após a estimulação

canora, a desinibição pela bicuculina produziu uma atividade de bursting glutamatérgico

espontâneo, o que sugere que os neurônios glutamatérgicos podem ter a capacidade de gerar

atividade espontânea e que devem estar fortemente conectados entre si (ver discussão posterior).

Para estudarmos isoladamente as transmissões glutamatérgica e GABAérgica sem a

necessidade de aplicação de antagonistas, fizemos registros das correntes sinápticas em solução de

baixo cloreto em diferentes potenciais. No caso, -47 mV para observar as correntes

glutamatérgicas (reversão do cloreto) e a -20mV para observar as correntes GABAérgicas (acima

da reversão do cloreto, produzindo correntes positivas). Os antagonistas bicuculina e DNQX

71

foram posteriormente aplicados para analisarmos seus efeitos sobre a neurotransmissão. Nessas

condições, bicuculina e DNQX tiveram o efeito esperado sobre as correntes GABAérgicas e

glutamatérgicas respectivamente, mas não afetaram as correntes remanescentes, confirmando que

o bloqueio de um tipo de corrente sináptica não afeta o comportamento do outro (em condições

basais).

As freqüências dos sEPSCs mantiveram-se inalteradas quando comparamos registros a -

70mV e -47mV na presença de bicuculina, porém, os valores de freqüência dos sIPSCs obtidos a -

20mV foram menores do que aqueles observados a -70 mV na presença de DNQX. Para

confirmar essa observação e saber se o potencial da membrana pós-sináptica dos neurônios do

NCM pode interferir com a liberação de GABA, realizamos experimentos usando solução interna

de CsCl em potenciais de membrana simétricos (-50 mV e 50 mV) e registramos os sIPSCs na

presença de DNQX. Nessas condições, o módulo da força eletromotriz para o cloreto é igual, mas

de polaridade oposta, para os dois potenciais de membrana. A partir desse protocolo, observamos

que os sIPSCs foram significativamente menos freqüentes a 50 mV do que a -50mV, sugerindo

uma retroinibição da liberação de GABA pelo neurônio pós-sináptico. Esse tipo de inibição

retrograda é associado à liberação de endocanabinóides pelos neurônios pós-sinápticos.

No sistema nervoso central são dois os tipos de endocanabinóides encontrados: a

anandamida (N-araquidonoiletanolamida) (Devane et al., 1992), que é sintetizada a partir de

lipídio da membrana pela N-acetiltransferase e fosfolipase D (Di Marzo et al., 1994; Sugiura et

al., 1996a; Sugiura et al., 1996b) e o 2AG (2-araquidonoiglicerol) (Mechoulam et al., 1995;

Sugiura et al., 1995), o qual é presente numa quantidade maior que a anandamida no cérebro e é

sintetizado também a partir de lipídios da membrana através da fosfolipase C juntamente com a

diacilglicerol lipase (Freund et al., 2003).

Quando sua via de produção é ativada, os endocanabinóides são sintetizados pelos

neurônios pós-sinápticos e se difundem retrogradamente até o neurônio pré-sináptico, onde se

ligam aos receptores CB1 (Matsuda et al., 1990) que são acoplados à proteína Gi/o

(Hashimotodani et al., 2007), inibindo correntes de cálcio pré-sinápticas (Kushmerick et al., 2004)

e conseqüentemente a liberação de neurotransmissores pelo terminal pré-sináptico (Kreitzer &

Regehr, 2001; Ohno-Shosaku et al., 2001; Wilson & Nicoll, 2001). Essa supressão da liberação de

neurotransmissores devido à influência do neurônio pós-sináptico foi primeiramente evidenciada

pelo fenômeno conhecido como “supressão da inibição por despolarização” (depolarization

supression of inhibition – DSI), descrito por (Llano et al., 1991) no cerebelo e em seguida por

(Pitler & Alger, 1992) no hipocampo. O fenômeno consiste na redução da freqüência de sIPSCs

registrada logo após a aplicação de um pulso despolarizante, desencadeado pelo influxo de cálcio

72

nos terminais pós-sinápticos (Pitler & Alger, 1992). O aumento na concentração de cálcio

citoplasmático inicia, por uma via ainda desconhecida (Hashimotodani et al., 2007), a produção

de endocanabinóides, que se difundem retrogradamente pela fenda sináptica e agem sobre seus

receptores, reduzindo transitoriamente a liberação de neurotransmissores. Prova disso é a

supressão do fenômeno pela aplicação de antagonistas CB1 (AM281 e SR141716A) em neurônios

de hipocampo em cultura (Ohno-Shosaku et al., 2001) ou fatia (Wilson & Nicoll, 2001).

Da mesma forma que o DSI ocorre em sinapses inibitórias, um fenômeno similar ocorre

em sinapses excitatórias, a supressão da excitação por despolarização (depolarization supression

of excitation – DSE), descrito por Kreitzer e Regehr (2001) em células de Purkinje no cerebelo.

Sua indução, assim como a do DSI, é mediada por endocanabinóides e é suprimida na presença de

antagonista CB1.

Além da via ativada pela entrada de cálcio no termina pós-sináptico, a ativação dos

receptores metabotrópicos de glutamato 1 e 5 (mGluR1 e mGluR5) também pode estimular a

síntese de endocanabinóides. Estes receptores são acoplados à proteína Gq e, quando ativados,

estimulam as fosfolipases Cβ (PLCβ), que produzem diacilglicerol, o qual é convertido pela

diacilglicerol lipase em 2-AG que finalmente se difunde para a fenda sináptica e age sobre seu

receptor (revisto por Hashimotodani, 2007). Essa inibição retrógrada da transmissão sináptica tem

sido descrita em sinapses por todo o cérebro, sugerindo uma abrangência difusa desse mecanismo

de regulação sináptica (Kreitzer & Regehr, 2002; Wilson & Nicoll, 2002).

Baseado nisso, seria então plausível supor que o fenômeno da DSI poderia ocorrer

também no NCM. Porém, experimentos preliminares por nós iniciados tentando reproduzir o DSI

no NCM usando o mesmo protocolo aplicado no hipocampo por Pitler e Alger (1992) para a

indução do fenômeno, não produziram a inibição transitória típica do DSI. Possivelmente, no

NCM, uma despolarização mais prolongada seja necessária para promover esse fenômeno,

diferente das despolarizações de 2 segundos usadas para promover o DSI. Nosso grupo pretende

continuar a investigação deste fenômeno, especialmente porque receptores CB1 são encontrados

no NCM dos mandarins (Soderstrom & Johnson, 2000) e sua ativação inibe a expressão do zenk

(Whitney et al., 2003). Finalmente, deve-se salientar que esse efeito do potencial da membrana

pós-sináptica sobre a neurotransmissão GABAérgica gera problemas na interpretação dos

resultados registrados em potenciais despolarizados, fato que deve ser levado em conta.

73

5.3 – Efeito da estimulação canora na neurotransmissão no NCM

Em nossos experimentos, observamos que a apresentação do canto gerou 3 efeitos sobre a

neurotransmissão no NCM: (i) um aumento, dependente da ativação de receptores

glutamatérgicos, da freqüência dos sIPSCs GABAérgicos nos machos; (ii) um aumento na

probabilidade do aparecimento de bursts glutamatérgicos em resposta à desinibição por bicuculina

ou espontaneamente, em especial nos machos e (iii) uma diminuição na amplitude dos sEPSCs no

NCM de pássaros de ambos os sexos.

Como não foi observado um aumento na freqüência ou na amplitude dos sEPSCs no NCM

dos machos estimulados, acreditamos que o aumento da atividade de bursts glutamatérgicos

espontâneos pelo canto deva ser responsável por esse aumento na transmissão GABAérgica. Esses

bursts poderiam ativar tanto receptores sinápticos como extra-sinápticos por spill-over (Kullmann

& Asztely, 1998) nos neurônios GABAérgicos, potenciando o disparo desses. É interessante notar

que, olhando individualmente alguns registros de machos estimulados, observamos que o aumento

da freqüência dos sPSCs não foi homogêneo, mas localizados temporalmente (intervalos de pouco

segundos com alta freqüência de sPSCs durante o registro), o que foi atenuado pela aplicação de

DNQX. Portanto, o aumento da freqüência dos sIPSCs nos machos estimulados é provavelmente

uma conseqüência do aumento da neurotransmissão glutamatérgica em bursts.

Por outro lado, não podemos descartar a hipótese de que essas sinapses GABAérgicas

potenciadas sejam provenientes de neurônios de projeção de outros núcleos (como o CMM, o qual

também é responsável pelo processamento de informações complexas relacionadas ao canto e

possui comunicação recíproca com o NCM (Vates et al., 1996) ou o campo L2 (origem das

aferências primárias do NCM (Vates, Broome et al., 1996))), que estariam sendo ativadas por

esses neurônios glutamatérgicos os quais estariam, por sua vez, sendo ativados pelo canto.

Entretanto, como não se sabe se esses neurônios de projeção GABAérgicos realmente existem e

devido ao número grande de neurônios GABAérgicos no NCM (Pinaud et al., 2004),

consideramos essa hipótese menos plausível.

O aumento da neurotransmissão glutamatérgica em bursts foi, em nossa opinião, o efeito

mais marcante do canto sobre o NCM. Isso sugere veementemente que os neurônios

glutamatérgicos se encontram conectados formando redes locais ou globais de excitação neural,

sendo esse efeito curiosamente mais intenso nos machos do que nas fêmeas. Correntes de cálcio

de baixo limiar (tipo T) e correntes catiônicas de entrada do tipo Ih são associadas com atividade

auto-regenerativa e disparo em bursts em neurônios (McCormick, 2004) e, um aumento de sua

expressão ou uma regulação positiva dessas correntes pelo canto poderia ser o mecanismo de

74

geração da atividade em bursts. Exemplos de alterações da excitabilidade da membrana em

resposta à experiência já foram reportadas o sistema nervoso de vertebrados e invertebrados

(Zhang & Linden, 2003). Recentemente alterações na expressão da corrente catiônica retificadora

de entrada Ih foram observadas em conjunto com a indução de LTP e LTD em neurônios

hipocampais (Fan et al., 2005; Brager & Johnston, 2007), sendo que LTP induziu um decremento

da Ih e LTD um aumento. Esses resultados suportam nossa hipótese que a ativação de neurônios

do NCM pelo canto pode alterar a excitabilidade neuronal.

O fato de o canto desencadear o disparo de neurônios do NCM é um forte indicativo de

um fenômeno de plasticidade neural que deve ter implicações fisiológicas nesse núcleo. Esses

neurônios após serem ativados pelo canto, teriam então uma excitabilidade aumentada, facilitando

o disparo de PAs apenas em resposta ao canto que estimula a via potenciada específica em

detrimento a qualquer outra.

Chamou nossa atenção que em 3 neurônios do NCM de fêmeas isoladas prolongadamente

dos machos, a aplicação de bicuculina ao invés de produzir o aparecimento de bursts

glutamatérgicos induziu um aumento da freqüência dos sEPSCs, fenômeno que nunca observamos

em nenhum outro protocolo, seja no NCM das fêmeas mantidas com machos ou no NCM dos

próprios machos. Esse dado sugere que nessas fêmeas a falta do estímulo canoro desorganizou a

rede glutamatérgica no NCM. Ou que possíveis alterações nos níveis de estrógeno devido ao

isolamento dos machos tenha alterado a rede glutamatérgica do NCM. Suportando essa hipótese

foi observado que em fêmeas pardais de garganta branca (Zonotrichia albicollis) a resposta à

canção no NCM (medida pela expressão de ZENK) só foi específica em fêmeas com níveis de

estrógeno suficientes para gerar resposta copulatória (Maney et al., 2006).

Uma alternativa à hipótese de um aumento da excitabilidade neuronal glutamatérgica seria

que os neurônios glutamatérgicos já tivessem propriedades de membrana que levassem a disparos

de potenciais de ação espontâneos e que em resposta ao canto e estes se tornassem mais

conectados, talvez por um fenômeno semelhante a potenciação em longo prazo (LTP), gerando

assim os bursts. Consideramos essa hipótese menos provável pelas seguintes razões: (i) os

sEPSCs registrados após a aplicação de bicuculina foram equivalentes às correntes miniatura; (ii)

não observamos um aumento da freqüência dos sEPSCs, o que poderia ser sugestivo do

aparecimento de sinapses antes “silenciosas” (Liao et al., 1995; Liao et al., 2001; Poncer &

Malinow, 2001) ou de LTP pré-sináptico (Dolphin et al., 1982; Malinow & Tsien, 1990) e (iii) a

amplitude dos sEPSCs foi de fato diminuída pelo canto, o contrário do que seria esperado no LTP

(Barrionuevo et al., 1986), sendo mais parecido a um fenômeno que pode ser relacionado à

depressão a longo prazo (LTD) do hipocampo (Lee et al., 1998).

75

Curiosamente, o NCM apresenta habituação à repetição do estímulo do canto, o que

contrasta com o que observamos. Isso pode significar que o efeito final do aumento da

excitabilidade glutamatérgica seja uma diminuição da atividade neuronal, talvez devido a

neurônios pós sinápticos com excitabilidade reduzida ou talvez por aumento da inibição

GABAérgica, como vimos nos machos estimulados. Como neurônios GABAérgicos são ativados

pelo canto (identificados pela expressão de ZENK; Pinaud et al., 2004) essa hipótese não é

improvável. É possível, dessa maneira, pensar que a habituação ocorra em neurônios inervados

pelos neurônios glutamatérgicos que foram potenciados pelo canto. Adicionalmente a inibição da

amplitude dos sEPSCs observada nas aves estimuladas poderia também contribuir com a

expressão da habituação.

5.4-Diferenças sexuais na resposta ao canto no NCM.

Ao contrário das vias envolvidas com a produção e o aprendizado do canto, as vias

auditivas telencefálicas são presentes em pássaros de ambos os sexos. Normalmente, assume-se

que não existam diferenças sexuais na fisiologia dessas áreas, o que torna nossos resultados, a

princípio, inusitados. No seu estudo pioneiro sobre a expressão do zenk no NCM em resposta à

canção, Mello et al, (1992) não encontraram nenhuma diferença quantitativa na expressão do zenk

no NCM de machos e fêmeas. Posteriormente Bailey e Wade (2005) não observaram diferença na

expressão de ZENK e FOS no NCM e CMM de mandarins machos e fêmeas juvenis (p45 -

correspondente à fase sensorimotora dos machos). A resposta eletrofisiológica à canção também

foi semelhante em mandarins de ambos os sexos (Chew et al., 1996b). Por outro lado, Pinaud et

al, (2004) encontraram um maior número de neurônios GABAérgicos que expressam calbidina no

NCM de mandarins machos do que no NCM das fêmeas. Além disso, Terpstra et al. (2006)

observaram que o NCM de mandarins fêmeas apresentava uma reposta menor à apresentação da

canção do macho tutor (a fêmea, apesar de não cantar, também precisa aprender a reconhecer o

canto da espécie por um tutor durante seu desenvolvimento) (Miller, 1979; Clayton & Dickinson,

1998) do que o CMM, enquanto nos machos essa preferência não foi observada (Terpstra et al.,

2004). Esses dados sugerem que o NCM não obstante não apresentar um claro dimorfismo sexual,

deve possuir diferenças sexuais mais sutis que influem em sua fisiologia.

Nossos dados mostram um aumento na excitabilidade glutamatérgica mais acentuada ao

canto no NCM de machos do que de fêmeas, sugerindo que o NCM dos machos seja mais

responsivo ao canto do que o das fêmeas. É interessante notar que o NCM de mandarins machos e

fêmeas expressa em sua porção caudal a enzima aromatase, que converte a testosterona em

76

estrógeno (Pinaud et al., 2004), sugerindo que o NCM receba influência dos níveis de hormônios

sexuais. Entretanto, é prematuro afirmar que essa diferença seja relacionada às diferenças na

resposta fisiológica ao canto no NCM antes que controles mais rigorosos sejam feitos para

sabermos se houve alguma auto-estimulação dos machos pela canção antes do sacrifício, já que

este ocorreu num intervalo de cerca de 10 minutos após o acender das luzes e também pelo fato de

que nos machos estimulados, a própria produção do canto durante a estimulação pode ter

aumentado o número de neurônios ativados no NCM em relação às fêmeas estimuladas.

5.5-Conclusões. Nossos experimentos são pioneiros na investigação da fisiologia sináptica do NCM de sua

plasticidade ao canto. Concluímos que o NCM aumenta a excitabilidade de sua rede

glutamatérgica em resposta a audição do canto específico do pássaro e que a amplitude dos

sEPSCs é diminuída pela estimulação canora. Esses fenômenos podem estar implicados na

memória auditiva do canto e podem ser um substrato fisiológico do fenômeno da habituação ao

canto observado no NCM.

77

6 – TABELAS

78

Tabela 6.1

aCSF

Soluto Concentração (mM)

NaCl 125

KCl 2,5

NaHCO3 25

NaHPO4 1,25

Glicose 25

Mio-Inositol 3

CaCl2 2

MgCl2 1

Piruvato de sódio 2

Ácido ascórbico 0,4

Tabela 6.2

aCSF modificado para corte

Soluto Molaridade

NaCl 87

KCl 2,5

NaHCO3 25

NaHPO4 1,25

Sacarose 75

Glicose 25

Mio-Inositol 3

CaCl2 0,2

MgCl2 7

Piruvato de sódio 2

Ácido ascórbico 0,4

79

Tabela 6.3

Solução interna de Cloreto de Césio

Soluto Concentração (mM)

CsCl 140

EGTA 5

HEPES 10

ATP-Mg 4

PCA-Na* 20

GTP 0,3

pH 7,2-7,2 com CsOH

310 mOsm

*Fosfocreatina - sal dissódico

Tabela 6.4

Solução interna de Metanosulfonato de Césio

Soluto Concentração (mM)

CsCMeSO4 130

KCl 10

EGTA 5

HEPES 10

ATP-Mg 4

PCA-Na* 20

GTP 0,3

pH 7,2-7,2 com CsOH

310 mOsm

*Fosfocreatina - sal dissódico

80

Tabela 6.5

Solução Interna de Gluconato de Potássio

Soluto Concentração (mM)

Gluconato de Potássio 130

EGTA 5

HEPES 10

KCl 20

ATP-Mg 2

GTP-Na 0,2

PCA-Na* 5

pH = 7,3 com KOH

310 mOsm

*Fosfocreatina - sal dissódico

Tabela 6.6

PBS

Soluto Concentração (mM)

NaCl 142

KCl 2,7

KH2PO4 1,5

NaHPO4 8,1

pH 7,4

81

Tabela 6.7

Núcleos do sistema do canto dos pássaros canoros. Sigla Nome

Av Núcleo Avalanche

B Núcleo Basorostral

CLM Mesopálio Caudolateral

CMM Mesopálio Caudomedial

CN Núcleo Coclear

DLM Núcleo Dorsolateral do Tálamo Medial

DM Núcleo Medial Dorsal

E Núcleo Entopalial

HVC Centro Vocal Superior

L (1,2,3) Campo “L” (porções 1, 2 e 3)

LArea X Porção Lateral da Área X do Estriado

LLD Lemnisco Lateral – núcleo dorsal

LLI Lemnisco Lateral – núcleo intermediário

LLV Lemnisco Lateral – núcleo ventral

LMAN Núcleo Magnocelular Lateral do Nidopálio Anterior

LMO Núcleo Oval do Mesopálio

MLd Núcleo Dorsolateral do Mesencéfalo

NCM Nidopálio caudomedial

Nif Núcleo Interfacial do Nidopálio

nXIIts Parte Traqueosiringeal do Núcleo do Hipoglosso

Ov Ovoidalis

PAm Paraambíguo

RA Núcleo Robusto do Arcopálio

RAm Retroambíguo

SO Oliva Superior

TSM Trato septomesencefálico

Uva Núcleo Uviforme

82

7 – BIBLIOGRAFIA

83

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