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Susana Isabel Oliveira Lopes Caracterização clínica e virológica do efeito do interferon peguilado e ribavirina no retratamento da hepatite C crónica em doentes récidivantes e nâo respondedores a tratamentos prévios de combinação Porto 2004

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Susana Isabel Oliveira Lopes

Caracterização clínica e virológica do efeito do interferon peguilado e ribavirina no retratamento da hepatite C crónica

em doentes récidivantes e nâo respondedores a tratamentos prévios de combinação

Porto 2004

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MESTRADO EM MEDICINA MOLECULAR DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Caracterização clínica e virológica do efeito do interferon

peguilado e ribavirina no retratamento da hepatite C

crónica em doentes récidivantes e não respondedores

a tratamentos prévios de combinação

Susana Isabel Oliveira Lopes

Porto 2004

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DISSERTAÇÃO DE CANDIDATURA AO GRAU DE MESTRE APRESENTADA À FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

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Artigo 48°, § 3 - A Faculdade não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação. (Regulamento da Faculdade de Medicina do Porto - Decreto n° 19337, 29 de Janeiro de 1931)

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ÍNDICE

1. Agradecimentos - 5

2. Abreviaturas 6

3. Introdução 7

3.1. O vírus da hepatite c: biologia, estrutura 9

e patogenicidade

3.2. Doença hepática, doença multissistémica 28

3.3. Os tratamentos actuais: eficácia e limites do 31

interferon peguilado e da ribavirina

4. Objectivos do trabalho da Tese de Mestrado 49

5. Material e Métodos 51

6. Resultados 56

6.1. Sumário dos resultados ' 75

7. Discussão 78

8. Conclusões 90

9. Resumo 93

10. Bibliografia 97

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AGRADECIMENTOS

1. AGRADECIMENTOS

Ao Doutor Guilherme Macedo, orientador da Tese de Mestrado, pela atitude

entusiástica, disponível e incentivadora que sempre demonstrou ao longo deste

percurso.

Ao Prof. Doutor Manuel Sobrinho Simões, pelo exemplo de motivação.

Ao Prof. Doutor António Luís Tomé Ribeiro e ao Prof. Doutor Fernando

Ta varela Veloso, por terem possibilitado a execução deste trabalho.

Ao Dr. Fernando Araújo, responsável pelo Centro de Biologia Molecular do

Serviço de Imunohemoterapia do H. São João, pela sua disponibilidade e

ensinamentos na análise dos parâmetros virológicos, e pela simpatia com que

sempre nos recebeu.

Ao Dr. Fernando Azevedo, pelo seu contributo empenhado no tratamento

estatístico dos dados obtidos.

À Dra. Eva Martins e à Dra. Maria Manuel Beleza, dos Serviços Farmacêuticos

do H. São João, pela grande disponibilidade demonstrada, e por terem

facultado todas as condições institucionais para a obtenção dos meios

adequados para o tratamento dos nossos doentes.

À Alzira Vila Real, pela sua dedicação amiga.

À Alfredina Cardoso, da Consulta Externa de Gastrenterologia, pelo apoio

administrativo prestado, fundamental para vencer tantas dificuldades

logísticas.

Aos meus pais, pela sua presença constante, pela sua confiança inabalável e

estímulo em tantos momentos e tantas privações.

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2. ABREVIATURAS

ADN - Ácido desoxirribonucleico ALT - Aminotransferase da alanina APC - Células apresentadoras de antigénio ARN - Ácido ribonucleico ARNase - Enzima ribonuclease ARNm - Ácido ribonucleico mensageiro AST - Aminotransferase do aspartate cADN - Ácido desoxirribonucleico complementar CM - Crioglobulinemia mista d.p. - Desvio padrão HVR - Região hipervariável IFN - Interferon IL - Interleucina IMC - índice de massa corporal ISDR - Interferon sensitivity determining region LDL - Lipoproteína de baixa densidade LSN - Limite superior da normalidade LT - Linfócitos T MHC - Complexo major de histocompatibilidade NK - Natural killer NS - Não estruturais OAS - Oligoadenilato sintetase ORF - Open reading frame PCR - Polymerase chain reaction PCT - Porfiria cutânea tarda PEG-IFN - Peginterferon (Interferon peguilado) PKR - Proteína cínase R RBV - Ribavirina RVS - Resposta virológica sustentada UTR - Untranslated region VHB - Virus da hepatite B VHC - Virus da hepatite C VHD - Virus da hepatite D VIH - Vírus da imunodeficiência humana VLDL - Lipoproteína de muito baixa densidade

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INTRODUÇÃO

3. INTRODUÇÃO

Após a identificação dos vírus da hepatite A e da hepatite B na década de 70,

tornou-se evidente que algumas formas de hepatite não se correlacionavam

etiologicamente com aqueles dois vírus12. Esta entidade passou a ser

denominada de hepatite não-A não-B até 1989, quando o vírus da hepatite C

(VHC) foi identificado por técnicas de biologia molecular3. Seguiu-se o

desenvolvimento de testes serológicos capazes de detectar a presença de

anticorpos anti-VHC, o que permitiu uma redução drástica na incidência de

hepatite pós-transfusional.

A infecção pelo VHC é uma das principais causas de morbilidade hepática,

existindo actualmente em todo o mundo cerca de 170 milhões de indivíduos

infectados, o que constitui aproximadamente 3% da população mundial4. Em

Portugal estima-se que 1,5% da população seja positiva para o an ti-VHC5"7.

Nos países industrializados, após ter sido estabelecido o controle dos produtos

derivados do sangue, o principal grupo de risco para a infecção pelo VHC

passou a ser o grupo dos toxicodependentes, com taxas de infecção de 80%89.

Em cerca de 15-30% dos indivíduos infectados permanece por identificar o

factor de risco de contágio.

O grande impacto da hepatite C em termos de saúde pública reside na sua

evolução para a cronicidade na maioria dos doentes infectados, com valores que

podem atingir os 85 %10"12. Uma das dificuldades em controlar esta evolução

prende-se com as características da infecção aguda, que é assintomática em 70-

85% dos casos. Dos indivíduos com infecção crónica, a progressão da fibrose

faz-se de forma muito variável, com indivíduos que podem evoluir para cirrose

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INTRODUÇÃO

rapidamente, enquanto que outros permanecem em estádios precoces após 20

anos ou mais de infecção. Nesta evolução parecem ter maior importância

factores relacionas com o hospedeiro, do que as características do vírus

infectante. As estimativas apontam para uma evolução para cirrose em 20% dos

indivíduos com infecção crónica13, com uma incidência anual de 3%-4% de

hepatocarcinoma, nos indivíduos cirróticos14.

A década de 90, graças aos avanços no domínio das técnicas de biologia

molecular, foi particularmente florida em termos de conhecimento vírico. Foi

possível a caracterização genómica e estrutural do vírus, um maior

conhecimento dos seus mecanismos patogénicos, a compreensão do espectro

das suas manifestações clínicas, hepáticas e extrahepáticas, e o seu papel na

carcinogénese hepática.

O maior conhecimento em termos de estrutura e ciclo de vida vírico,

mecanismos patogénicos e resposta imunológica suscitada no hospedeiro,

permitiu a utilização de novos fármacos e novos esquemas terapêuticos.

Um dos marcos no tratamento da hepatite C foi a associação da ribavirina

(RBV) ao interferon (IFN), permitindo alcançar taxas de resposta de cerca de

45 %15-16.

Uma nova etapa foi alcançada nos últimos anos, no âmbito do tratamento desta

doença, com a introdução da molécula peguilada de interferon.

Apesar destes avanços significativos persistem muitas dificuldades na

orientação dos doentes com hepatite crónica C, pela eficácia relativa dos

regimes terapêuticos, pelos efeitos laterais que condicionam e que por vezes são

limitativos, e pela necessidade de uma melhor compreensão da biologia

molecular da infecção pelo VHC, bem como do próprio ciclo de vida do vírus.

O futuro do conhecimento da hepatite C deverá passar pelo desvendar dos

segredos e mecanismos de escape do vírus às respostas imunológicas do

hospedeiro e às acções dos fármacos disponíveis.

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INTRODUÇÃO

3.1. O VÍRUS DA HEPATITE C: BIOLOGIA, ESTRUTURA E

PATOGENICIDADE

O vírus da hepatite C é um vírus de ARN (ácido ribonucleico) que infecta cerca

de 170 milhões de pessoas a nível mundial4. É um vírus particular pela sua

capacidade em manter uma infecção crónica e desenvolver mecanismos que lhe

permitem um escape às respostas de defesa do hospedeiro. A evolução da

infecção para a cronicidade, com estabelecimento de cirrose hepática e

carcinoma hepatocelular, torna-a uma das principais causas de transplante

hepático, com grande repercussão em termos médicos e socio-económicos.

Apesar da descoberta do VHC há mais de uma década, o seu conhecimento tem

sido dificultado pela não existência de sistemas de cultura celular, o que

condicionou a incapacidade na criação de uma vacina protectora, e limitou as

opções terapêuticas17. Os progressos da biologia molecular possibilitaram um

conhecimento da estrutura vírica mas ainda não foram capazes de desvendar na

totalidade os mecanismos de infecção e replicação vírica intracelular, de

persistência da infecção, e de patogénese da doença hepática.

Genoma vírico e processamento proteico

O VHC é um vírus ARN, com invólucro, da família Flaviviridae, género

Hepacivinis, capaz de causar nos humanos uma doença hepática aguda e

crónica, incluindo hepatite crónica, cirrose e hepatocarcinoma, bem como

manifestações sistémicas.

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INTRODUÇÃO

O seu genoma é constituído por uma cadeia única de ARN, formada por 9600

nucleotídeos, e polaridade positiva3. Esta cadeia contém uma única open reading

frame (ORF), que codifica uma poliproteína de 3010 a 3033 aminoácidos,

dependendo do genótipo. Nas extremidades da ORF localizam-se as regiões 5' e

3' untranslated (UTR), com cerca de 340 e 230 nucleotídeos de extensão,

respectivamente. A estrutura destas regiões 3' e 5' é altamente conservada e

necessária à transdução da poliproteína e replicação vírica. A poliproteína

precursora é posteriormente processada a nível do retículo endoplasmático de

forma a dar origem a 10 proteínas maduras. As proteínas estruturais consistem

nas proteínas do invólucro El e E2, e na proteína do core, que forma o

nucleocapsideo vírico. O peptideo p7 separa as proteínas estruturais das não

estruturais (NS), que incluem as proteínas NS2 a NS5B, e que estão envolvidas

no processamento da poliproteína e na replicação vírica. A proteinase NS2-NS3

dependente do zinco, e a proteinase da serina NS3, são responsáveis pela

clivagem da poliproteína NS nas suas diversas proteínas constituintes. O

terminal C da proteína NS3 possui actividade helicase do ARN e NTPase. A

NS4B é uma proteína de membrana cuja função não é totalmente conhecida e

parece estar envolvida na adesão vírica à membrana hepatocitária; a funçaõ da

proteína NS5A não é conhecida, e a proteína NS5B tem actividade polimerase

do ARN dependente do ARN.

Ciclo de vida

A inexistência de sistemas de cultura in vitro dificultou até á actualidade o

verdadeiro conhecimento dos mecanismos moleculares da replicação vírica. Os

mecanismos de adesão e invasão celular permanecem parcialmente

desconhecidos e o ciclo replicativo baseia-se na analogia com outros vírus ARN

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INTRODUÇÃO

de cadeia mais da família Flaviviridae. A adesão à célula alvo

(fundamentalmente hepatócitos, mas também células mononucleares

periféricas e gânglios linfáticos) provavelmente envolve interacções entre as

proteínas El e E2 e moléculas celulares que actuam como receptores. A

identidade destes receptores permanece especulativa, sendo implicados os

receptores das lipoproteínas de baixa densidade, o CD 81 e

glicosaminoglicanos18. Após a endocitose as proteínas El e E2 são responsáveis

pela fusão da membrana vírica com a membrana do endossoma, permitindo a

libertação do nucleocapsideo para o citoplasma19. O nucleocapsídeo é em

seguida "descapsulado" (uncoated) e o ARN vírico fica disponível para se ligar

ao ribossoma e iniciar a transdução com a formação da poliproteína vírica.

Após clivagem da poliproteína por proteases víricas e celulares, as proteínas

víricas permanecem associadas a membranas intracelulares, formando uma

rede membranosa. Esta rede membranosa, em associação com as proteínas NS3-

NS5B, forma o complexo replicativo20. Neste complexo, a cadeia ARN mais é

utilizada para a síntese da cadeia menos de ARN, que posteriormente serve de

modelo à síntese de novas cadeias mais. As cadeias de ARN recém formadas

ligam-se às proteínas do core sintetizadas e constituem novos nucleocapsídeos

víricos. O reconhecimento de que as proteínas do envólucro não são

transportadas para além do Golgi, pressupõe que as novas partículas víricas

sejam formadas no interior do retículo endoplasmático, onde os

nucleocapsídeos víricos adquirem o seu envólucro19. Provavelmente a

eliminação dos vírus do interior da célula faz-se através dos mecanismos

secretores celulares.

Cada um dos passos do ciclo de vida vírico constitui um alvo potencial para a

terapêutica antivírica. As 3 principais enzimas víricas, a protease da serina NS3,

a helicase NS3 e a polimerase NS5B, são por assim dizer, os alvos intensamente

estudados com o objectivo do desenvolvimento de fármacos capazes de

inibirem a replicação do ARN e o processamento da poliproteína vírica. As

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INTRODUÇÃO

regiões 5'e 3 ' UTR, pela sua elevada conservação, são também alvos potenciais

de intervenção terapêutica, com o desenvolvimento de oligonucleotideos

antisense ou ribozimas capazes de inibirem a replicação vírica.

Morfologia vírica e proteínas estruturais

Supõe-se que, por analogia a outros flavivírus, a estrutura do VHC seja

icosahédrica, com o ARN genómico no interior, rodeado por múltiplas cópias

da proteína do core, que constituem o nucleocapsídeo, e na superfície pelas

proteínas do envólucro El e E2. Estudos por microscopia electrónica de

partículas víricas detectadas em culturas celulares ou isoladas no plasma,

demonstraram a existência de vários tipos de partículas com diâmetros entre 30

e 50 nm21'22. Para além da partícula vírica completa isolada, existem partículas

associadas a imunoglobulinas, lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e

lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL)23, partículas do core, e

partículas de nucleocapside sem envólucro.

Proteína do core

Reconhece-se actualmente que a função da proteína do core não se limita à

formação do nucleocapsídeo, estando envolvida na modulação da transcrição

de genes, proliferação e morte celular, sinalização celular, metabolismo lipídico

e supressão da resposta imune do hospedeiro24"26. Há um conjunto crescente de

evidências a implicar esta proteína na patogénese do carcinoma hepatocelular27.

Foram descobertas recentemente formas alternativas da proteína do core,

resultantes de mutações na região codificadora do core no ARN. Estas proteínas

quiméricas ocorrem durante a infecção natural pelo VHC coexistindo com as

proteínas do core "selvagens", e poderão abrir novas perspectivas no combate à

doença.

12

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INTRODUÇÃO

Glicoproteínas do envólucro El e E2 e peptídeo p7

As glicoproteínas El e E2 participam na organização da partícula vírica, na

adesão e entrada do vírus na célula e induzem a fusão entre o envólucro vírico e

a membrana do endossoma. Ambas as proteínas são do tipo transmembranar,

com um ectodomínio na extremidade N e um domínio transmembranar na

extremidade C. Os aminoácidos iniciais do ectodomínio E2 formam a região

hipervariável 1 (HVR1), possuidora de uma diversidade aminoácida que pode

atingir os 80X.28 A grande variabilidade desta região resulta da selecção de

variantes de escape à pressão imune desencadeada pelos anticorpos. Não existe

correlação entre a variabilidade da HVR1 e o genótipo, carga vírica ou

gravidade da doença hepática. Não é conhecida uma função específica para esta

região, embora pareça participar na entrada do vírus na célula a infectar.

A região hipervariável 2 (HVR2) é uma sequência de 7 aminoácidos, localizada

entre as posições 91-97 da proteína E2 (genótipo 1), com uma diversidade de

100%. Não foi ainda identificada nenhuma função para esta região.

Para além da sua participação no envólucro vírico, a proteína E2 interage com a

proteína cinase activada pelo ARN (PKR), inibindo a sua actividade,

contribuindo para a resistência do VHC ao tratamento com IFN-alfa29.

O pequeno péptideo p7, assim denominado pelo seu peso molecular de 7 kDa,

separa as proteínas estruturais das não estruturais. A sua função e importância

são ainda desconhecidas.

13

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INTRODUÇÃO

Proteínas não estruturais e complexo replicativo

O grupo das proteínas não estruturais é mais vasto do que o das proteínas

estruturais e engloba as seguintes proteínas: NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A e

NS5B.

A proteína NS2 é uma proteína de membrana não glicosilada cuja função, para

além de autocatalizar a sua dissociação da NS3 é desconhecida, não sendo

necessária à formação do complexo de replicação30.

A proteína NS3 é multifuncional, com actividade protease, NTPase e helicase

do ARN. A protease serínica NS3 autocataliza a dissociação NS3/NS4A, e em

conjugação com a proteína NS4A, promove a dissociação das ligações 4A/4B,

4B/5A,e5A/5B.

O domínio helicase NS3 participa no processo de replicação vírica ao separar as

cadeias duplas de ARN em cadeias simples.

Foram identificados alguns epitopes imunodominantes para a resposta T

helper, com elevada imunogenicidade, e outros com elevada probabilidade de

formar variantes de escape, dificultando a resposta das células T e contribuindo

para a persistência vírica31. Uma mutação no aminoácido 1449, epitope das

células CD8+, da região NS3, foi correlacionada com a cronicidade da

infecção32.

Estudos in vitro, demonstraram algum potencial oncogénico da proteína NS3.

Para além da sua ligação às proteínas víricas NS5B, NS5A e NS4B, a proteína

NS3 interactua com proteínas celulares, incluindo a proteína cinase A e C, p53 e

histonas H2B e H4.

14

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INTRODUÇÃO

A proteína NS4A para além de activar e estabilizar a proteinase NS3, promove a

sua ligação à membrana do retículo endoplasmático, interage com as proteínas

NS4B e NS5A e regula a fosforilação da NS5A33.

A proteína NS4B é uma proteína de membrana, com 6 segmentos

transmembranares, de função desconhecida, mas que presumivelmente está

envolvida na replicação vírica34. Participa também na hiperfosforilação da

NS5A33 e parece desempenhar um papel determinante na organização do

complexo replicativo.

A proteína NS5A é uma fosfoproteína associada à membrana, presente na

forma fosforilada e hiperfosforilada. A sua estrutura e função ainda

permanecem desconhecidas, mas as evidências apontam o seu envolvimento no

complexo de replicação vírica. É uma das regiões do VHC com uma

distribuição do tipo quasispecies, sofrendo várias mutações pontuais na região

ISDR (interferon sensitivity determining region), cujo número se parece relacionar

com a resposta ao interferon. Parece que um número mais elevado de mutações

se associa a uma resposta sustentada à terapêutica com interferon35"38. No

entanto nem todos os trabalhos apontam no mesmo sentido39"41 e ainda não foi

encontrada o número nem o tipo de mutação determinante do tipo de resposta.

Actua como inibidora da actividade antivírica induzida pelo IFN ao interactuar

com a PKR42, ao induzir a IL-843, e ao inibir a fosforilação do factor de iniciação

eIF2a.

A sua localização comum com a proteína do core em gotículas lipídicas e a

interacção com a apolipoproteína Al, sugere um potencial envolvimento no

desiquilíbrio do metabolismo lipidico e uma contribuição para a esteatose

hepática.

15

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INTRODUÇÃO

A proteína NS5B tem actividade polimerase do ARN, o que lhe confere um

papel fulcral na replicação vírica e por isso constitui um novo foco para o

desenvolvimento de antivíricos.

As interacções directas e indirectas das diferentes proteínas não estruturais

entre si são fundamentais para a organização do complexo replicativo

funcional. Provavelmente fazem também parte deste complexo elementos do

hospedeiro ainda não identificados. A ligação de todas as proteínas não

estruturais à membrana do retículo endoplasmático , faz supor que a formação,

organização e estabilização do complexo replicativo membranar depende da

interacção entre os domínios membranares das proteínas NS. Para além disso, a

produção das proteínas do VHC faz-se na proporção 1:1, ou seja, por cada

proteína El, E2, e do core, igual número de cada uma das proteínas NS é

também sintetizado. A produção de grande quantidade de proteínas NS faz

supor que possuam uma capacidade de oligomerização e formação de inúmeros

agregados de complexos de replicação. Este fenómeno parece ser responsável

pela recentemente descrita alteração ultraestrutural das membranas

intracelulares e pode participar na patogénese do VHC.

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INTRODUÇÃO

Variabilidade genética e suas implicações clínicas e patogénicas

Em todas as espécies a diversidade genética tem como objectivo e consequência,

a selecção das variantes melhor adaptadas ao meio ambiente. O mesmo se passa

com o VHC, em que a variabilidade genética permite o escape virológico aos

mecanismos de defesa do hospedeiro. A elevada taxa de replicação vírica e a

ausência de capacidade de proofreading da polimerase vírica levam a uma

elevada taxa de mutação, na ordem dos KH-IO"5 por nucleotídeo copiado. Deste

modo, cada molécula de ARN sintetizada possui em média uma mutação44. As

mutações incorporadas nas moléculas menos têm o maior impacto porque são

rapidamente transmitidas a um elevado número de cadeias mais de ARN. O

aparecimento e selecção permanente de novas mutações tem 2 consequências

importantes: por um lado, a selecção de variantes durante a evolução em

populações epidemiológica ou geograficamente distintas, o que conduz à

progressiva diversificação dos genótipos45; por outro lado, a existência de

quasispeciesfieA7rvu.Ta mesmo indivíduo infectado.

a) Genótipos

A análise filogenética das sequências de estirpes do VHC permitiu a

identificação de 6 genótipos víricos e vários subtipos. Os genótipos diferem

entre si em 31-34% da sequência nucleotídica e 30% da sequência de

aminoácidos, enquanto que os subtipos diferem em 20-23% da sequência

nucleotídica, com diferenças significativas dependentes da região genómica48.

A análise dos genótipos e dos subtipos víricos permite determinar as rotas de

propagação do VHC, bem como compreender os seus mecanismos de

diversificação45. A elevada prevalência e diversidade dos genótipos 3 e 6 no

Continente Asiático, e do genótipo 1, 2 e 4 em África, sugere o seu aparecimento

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INTRODUÇÃO

e diversificação nestas regiões, onde provavelmente se transmitem há muito

tempo entre a população autóctone. Em contraste, a pouca diversidade dos

genótipos infectantes do continente Europeu, Estados Unidos da América,

Japão ou Austrália, sugerem uma aquisição recente da infecção, ainda sem o

mesmo tempo de propagação e diversificação.

Na Europa Ocidental, o genótipo 1 constitui 60-65% das estirpes infectantes, e o

genótipo 3a constitui 20%. Nos últimos anos registou-se um decréscimo da

importância do genótipo lb , devido ao controlo dos produtos sanguíneos, e um

crescimento proporcional dos genótipos la e 3a, cujo modo de contágio é

fundamentalmente o consumo de drogas endovenosas, que constitui cerca de

80% dos novos casos diagnosticados49. Do mesmo modo, tem-se observado um

incremento do genótipo 4a na população dos toxicodependentes endovenosos.

Em termos clínicos, o genótipo vírico não pode ser utilizado como indicador

prognóstico, não influenciando a evolução para a cronicidade, a apresentação

clínica da doença incluindo manifestações extrahepáticas, ou a gravidade das

lesões crónicas, nomeadamente actividade necro-inflamatória e fibrose50.

Aparentemente a única lesão directamente relacionada com o genótipo vírico é

a esteatose, que se associa ao genótipo 3a50<51 e parece estar na dependência da

interacção entre a proteína do core e o metabolismo lipídico52-53.

Em contraste, o genótipo vírico influencia de forma determinante a resposta à

terapêutica antivírica54. Na infecção crónica, a inibição da replicação vírica pelo

IFN é feita de forma mais eficaz para os genótipos 2 e 3 do que para os

genótipos 1 e 4, o que parece traduzir uma resistência intrínseca dos genótipos 1

e 4 à terapêutica antivírica com interferon54. Simultaneamente, é frequente a

ocorrência de um acréscimo na replicação vírica durante as 2 primeiras semanas

de tratamento com interferon peguilado e ribavirina nos genótipos 1 e 4, o que

não está descrito com o genótipo 3. Um dos mecanismos presumivelmente

envolvido na diferente sensibilidade dos vários genótipos ao mesmo esquema

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INTRODUÇÃO

terapêutico, relaciona-se com a produção de diferentes proteínas com diferentes

funções, entre os vários genótipos, consequência das diferenças nucleotídicas

inter-genómicas. Como as proteínas víricas interactuam com algumas das vias

efectoras antivíricas induzidas pelo IFN, isto explicaria as diferentes

sensibilidades dos vários genótipos ao IFN.

Uma proteína sobre a qual tem recaído a atenção para explicação deste

fenómeno é a proteína não estrutural NS5A. Estudos in vitro sugerem que o

principal mecanismo de resistência vírica ao INF resulta da inibição, pela NS5A,

da PKR induzida pelo INF42-55-56.

O conhecimento actual da sensibilidade à terapêutica do genótipo 1 na infecção

aguda57, sugere a existência de mecanismos complexos de interacção entre o

vírus e o sistema imune do hospedeiro, que justifiquem a resistência durante a

infecção crónica.

b) Quasispecies

As quasispecies do VHC definem-se como "pools" de variantes víricas

geneticamente distintas, embora com uma base genética comum, que infectam o

mesmo indivíduo. O termo variante aplica-se a cada sequência vírica

individual. A diferença genómica das quasispecies é de 1-6%, resultante de

mutações que ocorrem desde o início da infecção, e cuja consequência é a

coexistência de várias variantes em simultâneo. Esta característica do VHC

confere-lhe uma vantagem em termos de sobrevivência, pois a presença

simultânea de múltiplas variantes genómicas e a elevada taxa de aparecimento

de novos "mutantes", permite uma rápida selecção dos vírus mais adaptados a

determinado meio ambiente em determinado momento. A pressão de selecção

ambiental modifica-se frequentemente, de forma espontânea, dependente de

interacções metabólicas no hospedeiro, ou por factores externos, como infecções

intercorrentes, consumo de fármacos ou terapêuticas antivíricas.

19

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INTRODUÇÃO

É esta capacidade de transformação do vírus que o torna resistente às

terapêuticas actualmente disponíveis, permitindo o "escape" de uma

subpopulação que perpetua a infecção.

No vírus da hepatite C a região hipervariável 1 (HVR1) constitui a base do

desenvolvimento das quasispecies. A elevada taxa de replicação vírica, a baixa

capacidade de correcção dos erros de replicação pela polimerase do ARN, e a

pressão imunológica do hospedeiro contribuem para o aparecimento de

mutações e diversidade vírica. Os indivíduos com um número elevado de

quasispecies têm maior probabilidade de evolução para a cronicidade e de menor

resposta à terapêutica com IFN58'59. No entanto, ainda não está perfeitamente

estabelecido se a cronicidade se deve ao escape imunológico, ou se a

diversidade e multiplicidade das quasispecies resulta de uma maior taxa de

replicação vírica secundária a uma falência do hospedeiro em controlar a

infecção. A atenuação da magnitude da resposta imune do hospedeiro,

especialmente das respostas celulares citotóxica e Thl, favorece a persistência

da infecção e o desenvolvimento de novas variantes e o seu escape

imunológico60-61.

A complexidade genética das quasispecies pré tratamento antivírico constitui um

factor preditivo independente de resposta sustentada62. Os doentes com uma

complexidade vírica elevada, traduzida por um grande número de

quasispecies, têm uma probabilidade muito reduzida de obterem uma resposta

sustentada, dada a maior probabilidade de uma ou várias variantes pré-

tratamento escaparem aos mecanismos efectores do IFN e serem seleccionadas.

A falência da terapêutica antivírica associa-se a uma alteração na composição

das quasispecies, já que se verificam mutações na HVR1 durante o tratamento

com IFN63, enquanto que o sucesso terapêutico se acompanha de um

decréscimo acentuado do número de variantes de quasispecies previamente à

eliminação vírica64.

20

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INTRODUÇÃO

Uma vez que a HVR1 é um dos principais epitopes neutralizantes, é provável

que parte das mutações na HVR1 sejam consequência da pressão exercida pelos

anticorpos neutralizantes anti-VHC, permitindo ao vírus uma fuga permanente

ao controlo imunológico.

Para além da sua importância na persistência da infecção e da sua influência

nas resposta à terapêutica, as quasispecies estão envolvidas na

compartimentalização vírica. Apesar do hepatócito ser o principal local de

replicação vírica, esta ocorre também em células sanguíneas mononucleares e

células dendríticas. Em cada um destes elementos celulares foram identificadas

estirpes víricas com diferentes sequências genómicas, tradutoras de uma

evolução divergente e de uma compartimentalização das quasispecies65'67. Esta

compartimentalização reflecte um tropismo tecidular diferente das várias

quasispecies, reflectindo interacções específicas do genoma ou proteínas víricas

com factores intracelulares, sendo o conteúdo vírico de um determinado tipo

celular diferente do conteúdo vírico dos restantes.

21

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INTRODUÇÃO

Imunopatogénese

A resposta imune específica desencadeada pela infecção vírica envolve uma

resposta humoral mediada pelos linfócitos B e uma resposta celular mediada

pelos linfócitos T. As células CD4+ desempenham uma função reguladora da

resposta imune ao activarem os linfócitos B e a produção de anticorpos, e ao

activarem as células dendríticas, que posteriormente activam as células CD8+,

efectoras finais da resposta imune antivírica.

A) Resposta Humoral

Após a infecção pelo VHC verifica-se o aparecimento de anticorpos dirigidos

contra múltiplas proteínas víricas. No entanto, a capacidade de neutralização

destes anticorpos é limitada, devido à rápida selecção de variantes de escape.

Embora sejam eficazes a neutralizar as partículas víricas circulantes, são

incapazes de eliminar os vírus localizados no interior das células68. Ao contrário

dos anticorpos que surgem noutras infecções víricas, a presença de anti-HCV

não significa o estabelecimento de uma imunidade protectora, mas sim a

presença de uma infecção activa. De facto, a maioria dos indivíduos

seropositivos apresenta também ARN do VHC detectável em circulação, e a

presença de anticorpos não impede a reinfecção por estirpes homólogas ou

heterólogas69-70.

Com a resolução da infecção aguda, o título de anticorpos diminui e pode

mesmo desaparecer, o que provavelmente ajuda a compreender o

subdiagnóstico da infecção aguda.

Uma característica da resposta humoral é a sua policlonalidade e

multiespecificidade, traduzida pela existência de anticorpos contra

praticamente todos os antigénios víricos. Os mais frequentes são os dirigidos

22

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INTRODUÇÃO

contra as regiões do core, proteína E2 e NS3, que surgem em 90-100%, e as

regiões NS4 e NS5, que surgem em 50-70%. Apesar disso, os anticorpos contra a

região hipervariável (HVR) da proteína E2 parecem ser os que possuem carácter

neutralizante, tendo sido demonstrada a sua capacidade em evitar a infecção71.

Na infecção aguda, o aparecimento de anticorpos anti-HVRl parece relacionar-

se com a resolução da infecção; no entanto, está descrito o aparecimento de

variantes de escape aos anti-HVRl, que condicionam uma evolução da infecção

para a croniddade72.

A reacção imunológica humoral contra o VHC é limitada, e os anticorpos são

produzidos em títulos baixos, comparativamente com a resposta a outras

infecções.

Relativamente ao seu papel na patogénese da doença hepática, as informações

actualmente existentes são limitadas. Alguns relatos sugerem uma progressão

mais rápida da doença hepática em indivíduos com hipogamaglobulinemia73"75,

com probabilidade de evolução para cirrose num curto período de tempo. Por

outro lado, o aparecimento precoce de anticorpos contra a região hipervariável

da proteína E2 associar-se-ia a um curso autolimitado da infecção, enquanto

que uma maior distribuição inicial de quasispecies seria indicador de persistência

da infecção76. Outros estudos demonstraram a diminuição ou eliminação de

determinados anticorpos (anti-NS4 e IgM anti-core) na presença de resposta ao

IFN77. No entanto, actualmente parece ainda prematuro estabelecer uma relação

definitiva entre os títulos de anticorpos e as manifestações clínicas, não havendo

dados suficientes para o estabelecimento de um mecanismo patogénico comum.

Apesar dos inúmeros avanços no conhecimento da infecção pelo VHC,

permanece por definir o papel dos anticorpos no controlo da infecção e na

patogénese da doença hepática, embora seja de supor que a sua expressão

deficiente seja responsável pela persistência vírica.

23

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INTRODUÇÃO

B) Resposta Celular

Uma vez que a imunidade humoral não é suficiente na erradicação do VHC, a

resolução da doença depende de uma resposta celular coordenada e eficaz.

A resposta imunológica específica engloba células CD4+ e CD8+ estimuladas

pela apresentação de antigénios víricos processados pelas células

apresentadoras de antigénios (APC).

As células CD4+ subdividem-se em TM, Th2, e ThO. As células Thl segregam

citocinas pró-inflamatórias (IL-2, IL-3, TNF-0, IFN-y), cuja acção amplifica a

actividade inflamatória desenvolvida pelos macrófagos, e a citotoxicidade das

células CD8+ e natural killer (NK). Por seu lado as células Th2, participam na

resposta humoral, sintetizando IL-4, IL-5, IL-6, IL-9, IL-10 e IL-13, que

estimulam os linfócitos B na presença de antigénios específicos, induzindo a

síntese de imunoglobulinas. Estas citocinas promovem um feed-back negativo

sobre as respostas Thl , conduzindo a uma tolerância imunológica. As células

ThO segregam um padrão misto de citocinas, podendo funcionar como

percursores dos fenótipos Thl ou Th2, ou manterem-se como uma linha celular

estável e diferenciada.

Nas doenças infecciosas, o equilíbrio entre uma resposta Thl e Th2 condiciona a

evolução da infecção. A polarização da resposta para Thl associa-se a um

combate activo à infecção, enquanto que uma resposta Th2, pode conduzir à

persistência da infecção e progressão para a cronicidade.

Na hepatite C, a resolução da infecção aguda associa-se a uma resposta celular

do tipo Thl, enquanto que a evolução para a cronicidade se acompanha de uma

preponderância da resposta Th278.

Na infecção aguda, detectam-se células CD4+ específicas para o VHC, tanto no

fígado, como na circulação periférica. A resposta linfocitária periférica

correlaciona-se com a evolução clínica, na medida em que uma resposta

linfocitária específica, sustentada e vigorosa, se associa a um clearance vírico. Em

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INTRODUÇÃO

contraste, nos indivíduos que evoluem para a cronicidade, a resposta CD4+ é

fraca, transitória e pouco expressiva.

Nos indivíduos com doença crónica, a resposta CD4+ é dirigida contra o

antigénio do core, em contraste com os indivíduos com infecção autolimitada,

em que a resposta é fundamentalmente direccionada para os antigénios não

estruturais (NS3, NS4, NS5)79-80. Embora não exista correlação evidente entre a

resposta CD4+ intrahepática e os parâmetros clínicos, a intensidade da resposta

periférica associa-se a um curso clínico mais benigno79'80. Para além disso, a

eliminação vírica com a terapêutica com IFN, acompanha-se por um aumento

sustentado da resposta proliferativa CD4+ VHC-específica81'82.

Outro tipo celular com papel preponderante na infecção pelo VHC são os

linfócitos T CD8+. Estas células são o último elo da via efectora da resposta

imune, conduzindo directa ou indirectamente à morte da célula infectada. Na

infecção aguda, uma resposta precoce e multiespecífica CD8+ associa-se à

eliminação vírica. Após a fase aguda, verifica-se um decréscimo na proliferação

destas células, com um número muito baixo de células CD8+ em circulação. No

tecido hepático, os LT CD8+ encontram-se em maior número e com um

fenótipo activado, comparativamente às células em circulação83, embora

partilhem as mesmas especificidades84. Tal como os linfócitos CD4+, as células

CD8+ adoptam preferencialmente um perfil de citocinas do tipo 1, tanto a nível

periférico como hepático.

Sumariando, podemos dizer que a resposta imunológica é insuficiente para

controlar a infecção pelo VHC, que se torna persistente na maioria dos doentes.

Relativamente à resposta humoral, apesar do desenvolvimento de anticorpos

neutralizantes dirigidos à região HVR1, é ineficaz talvez devido ao rápido

aparecimento de variantes de escape. Por seu lado, uma resposta celular CD4 e

CD8 vigorosa e multiespecífica durante infecção aguda associa-se à eliminação

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INTRODUÇÃO

vírica. Após a supressão da replicação, a resposta CD4 é mantida a longo prazo,

enquanto que a resposta das células CD8 de memória é mantida de forma

menos eficaz. Na infecção crónica estabelecida, a resposta dos linfócitos T é

pouco expressiva, contribuindo apenas para a pressão de selecção de mutantes

de escape.

C) Mecanismos imunológicos de eliminação vírica e lesão hepática

A eliminação vírica e a lesão hepática provocada por mecanismos imunológicos

é iniciada por linfócitos T específicos do vírus, que infiltram o fígado, e

posteriormente ampliada por células não específicas de antigenio. A infecção

hepática pelo VHC, aumenta de forma substancial a população linfocitária

intrahepática, que é fundamentalmente composta por linfdócitos T CD8+

activados85. A maioria dos linfócitos encontra-se numa fase não proliférante do

ciclo celular (fase G0/G1), e uma percentagem pré determinada destas células

sofre apoptose86 diariamente, de modo a manter constante o pool de linfócitos

intrahepáticos. O mecanismo de lesão hepatocitário envolve diferentes vias de

actuação: citotoxicidade directa dos CD8+ sobre as células infectadas, através

da secreção de perforinas ou granzimas87; citotoxicidade mediada pela ligação

fas(hepatócitos)-fas L (CD8+)88; e secreção de linfocinas inibidoras da replicação

vírica, como o IFN-y e o TNF-a89. Os LT específicos do VHC produzem ainda

outras citocinas como o GM-CSF {granulocyte-macrophage colony stimulating

factor), e a IL-8, que funcionam como quimiotáticos para os neutrófilos. O

aumento de expressão das moléculas MHC I à superfície das células infectadas,

estimulado pelos IFNs, favorece o reconhecimento das células infectadas pelos

linfócitos CD8+90. Após exercerem as suas funções efectoras, a maioria dos

linfócitos T infiltrantes do fígado, sofrem apoptose.

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INTRODUÇÃO

Estes mecanismos imunológicos de resposta vão ter primordial importância na

eliminação da infecção após terapêutica antivírica. Os doentes que mantém uma

resposta sustentada após o tratamento apresentam uma carga vírica baixa e

uma resposta linfocítica T específica activa pré-tratamento, que vai ser ampliada

durante a terapêutica91-92. Em contraste, os indivíduos que na fase pré-

tratamento apresentam uma resposta linfocítica T pouco expressiva, não vão

modificar muito esta resposta durante o tratamento, e vão ser não

respondedores no final93.

Simultaneamente, a eficácia dos esquemas terapêuticos utilizando IFN depende

de uma resposta celular do tipo Thl, o que sugere um papel imunomodulador

ao IFN e à ribavirina (RBV). O IFN estimula as resposta CD4+ e CD8+ e a RBV

inibe as respostas Th294. Muitos dos doentes com infecção crónica pelo VHC

apresentam concentrações elevadas de citocinas Th2, e os que exibem níveis de

IL-10 persistentemente aumentados geralmente não são capazes de eliminar a

viremia após o tratamento combinado9596. Supõe-se assim, que novas

estratégias terapêuticas passem pela modificação da resposta T ou do equilíbrio

Thl /Th2, tal como já tem sido verificado com o tratamento de combinação de

interferon e ribavirina.

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INTRODUÇÃO

3.1. DOENÇA HEPÁTICA E DOENÇA MULTISSISTÉMICA

O fígado é o principal alvo do VHC, sendo responsável pelo desenvolvimento

de um quadro de hepatite. A infecção aguda passa despercebida na maioria das

vezes, pois ou é assintomática ou se acompanha de sintomas ligeiros e

inespecíficos (astenia, anorexia, mal estar e dor abdominal). Nos poucos casos

sintomáticos (icterícia) a duração do quadro clínico varia entre 2 e 12 semanas.

Os valores de transaminases sobem precocemente alcançando o seu máximo

por volta das 4 semanas, coincidindo geralmente com os títulos máximos de

viremia. Em cerca de 15% a 25% dos indivíduos o sistema imune é capaz de

conter de forma eficaz a agressão vírica, e a doença aguda é autolimitada, com

normalização das transaminases e negativação persistente do ARN do VHC no

soro. Na maioria dos doentes (75%-85%)97 verifica-se a persistência do ARN do

VHC em circulação, com o desenvolvimento de algum grau de lesão hepática

crónica e risco de progressão para cirrose e carcinoma hepatocellular. Os

factores reconhecidos como associados a uma maior progressão da lesão

hepática foram a idade avançada no momento da infecção98, o sexo masculino98,

o consumo de álcool99"103, a coinfecção pelo vírus da hepatite B104-105 ou pelo

vírus da imunodeficiência humana106107, a existência de depósitos de ferro no

tecido hepático108"110, a esteatose hepática e a sobrecarga ponderal. Para além

das repercussões em termos de morbilidade, a infecção crónica pelo VHC

também influencia a sobrevida destes doentes, que é inferior à da população

geral.

Para além das principais manifestações relacionadas com o atingimento

hepático, a infecção pelo VHC é responsável por um atingimento sistémico com

manifestações extrahepáticas de cariz autoimune ou linfoproliferativo. Estes

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INTRODUÇÃO

factos parecem depender das características linfotrópicas do VHC, capaz de

causar uma estimulação persistente do sistema imunitário.

Para estas situações, parecem também contribuir os fármacos utilizados no

tratamento, como o IFN, ao desencadearem ou agravarem fenómenos de

autoimunidade. A situação clínica extrahepática que mais frequentemente se

associa à infecção pelo VHC é a Crioglobulinemia Mista (CM) do tipo II ou do

tipo III. Em 80% dos indivíduos com CM é possível detectar a presença do ARN

do VHC em circulação111, não havendo correlação com o genótipo vírico. Do

crioprecipitado característico da doença, para além do factor reumatóide, faz

parte o ARN do VHC.

Outra das doenças muitas vezes referida como associada à hepatite C é a

Porfiria Cutânea Tarda (PCT), sendo esta associação de 70-90% em alguns

países112-113.

Também tem sido descrita a associação do VHC com diversas situações clínicas

heterogéneas, e que incluem o linfoma de células B, a glomerulonefrite, o

síndrome de Behcet, o liquen plano, a púrpura trombocitopénica autoimune, a

úlcera da córnea de Mooren, a fibrose pulmonar idiopática, a anemia aplástica,

a artrite reumatóide, a poliarterite nodosa, o síndrome anti-fosfolípido, a

tiroidite autoimune e a sialoadenite. A disfunção tiroideia parece estar, em

alguns casos, relacionada com o vírus e não estritamente dependente da

terapêutica com IFN. Em indivíduos com predisposição genética, o IFN induz o

aparecimento de autoanticorpos antitiroideus, transitórios, mas que acarretam

compromisso da função tiroideia.

Tem sido descrita uma elevada prevalência (20%-40%) de anticorpos anti-VHC

em doentes com linfoma não Hodgkin de células B. Esta associação tem sido

mais evidente em neoplasias de baixo grau associadas com a CM, e parece estar

relacionada com a proliferação crónica das células B estimulada por antigénios,

com o eventual desenvolvimento de monoclonalidade.

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INTRODUÇÃO

Uma outra manifestação de autoimunidade comprovadamente associada à

infecção pelo VHC é o aparecimento de autoanticorpos. Os autoanticorpos

(factor reumatóide, anticorpo anti-nuclear, anti-músculo liso, anti-liver kidney

microsomal, e anti-cardiolipina) estão presentes em 10-25% dos casos114 . Os anti-

músculo liso e anti-nuclear são os mais frequentes, estando presentes em títulos

baixos115. Na maioria das vezes a presença destes autoanticorpos não influencia

as manifestações clínicas, a evolução da doença ou a resposta ao tratamento.

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INTRODUÇÃO

3.3 OS TRATAMENTOS ACTUAIS: EFICÁCIA E LIMITES DO

INTERFERON PEGUILADO E DA RIBAVIRINA

O uso do Interferon (IFN) no tratamento da hepatite C remonta ao ano de

1986116, antes mesmo do isolamento e caracterização vírica, e a avaliação das

taxas de resposta baseava-se na normalização das transaminases. Com os

progressos serológicos e de biologia molecular, o indicador de eficácia

terapêutica passou a ser o desaparecimento do vírus da circulação, objectivado

pela negativação do ARN do VHC de forma sustentada, pelo menos 6 meses

após a conclusão do tratamento- resposta virológica sustentada (RVS).

No início da utilização do IFN, em monoterapia e por períodos de 6 meses, as

taxas de sucesso eram diminutas, na ordem dos 6%. Quando se aumentou o

período de tratamento para 48 semanas, obtiveram-se taxas de sucesso de 12 a

16%, o que se mantinha manifestamente insuficiente.

A baixa eficácia, os efeitos laterais associados ao fármaco, e as incertezas acerca

dos candidatos ideais a tratamento, motivou muita controvérsia até aos finais

dos anos 90, relativamente a quem e como tratar. Estas dúvidas e incertezas

motivaram a realização de diversas reuniões de consenso, nomeadamente a

Reunião de Consenso de Bethesda em 1997, e posteriormente em 2002,

reunindo um abrangente painel de especialistas, da qual emanou uma série de

recomendações relativamente ao tratamento da hepatite C.

Regimes terapêuticos

Os IFNs são citocinas com propriedades antivíricas, imunomoduladoras e

antiproliferativas, capazes de estimular a resposta imune antívírica117118. A

família dos IFN é subdividida em 2 subfamílias : Tipo I e Tipo II. Os IFN da

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INTRODUÇÃO

família Tipo I são citocinas monoméricas com uma constituição aminoácida

comum em 30-80%, uma estrutura tridimensional semelhante e que usam o

mesmo receptor celular (IFNAR) na iniciação da resposta de sinalização. O IFN

usado no tratamento da hepatite C é o IFN alfa, pertencente á subfamília Tipo I.

Os IFN do tipo I são libertados algumas horas após a infecção vírica, inibindo a

sua replicação de forma inespecífica, e constituem um dos factores solúveis

mais importantes na defesa contra agentes intracelulares. O receptor celular do

IFN é formado por 2 componentes (IFNAR1 e IFNAR2), ambos com domínios

intra e extracelulares. O IFNAR1 apresenta baixa afinidade para o IFN e a sua

actuação está dependente da presença simultânea do IFNAR2. A interacção do

IFN com os seus receptores activa os sistemas de sinalização celular, com a

propagação da informação aos diferentes compartimentos citoplasmáticos e

nucleares, levando à transcrição de genes.

A capacidade do IFN estabelecer um "estado antivírico" é a sua característica

diferenciadora , essencial à sobrevida dos vertebrados face a infecções víricas.

Deve ser realçado no entanto, que a actividade antivírica do IFN não é

intrínseca, mas sim dependente da indução da expressão de genes antivíricos.

Após a ligação do IFN aos receptores da membrana do hepatócito activam-se

vários sinais intracelulares, como a indução da 2'-5'-OAS (oligoadenilato

sintétase) e a activação da proteína cínase dependente do ARN (PKR), da

família das cínases da serina-tirosina. A cínase activada leva, por sua vez, à

fosforilação da subunidade a do factor de iniciação 2 da síntese das proteínas

(eIF2a), inibindo a síntese proteica119120. A 2'-5'-OAS activa uma

endoribonuclease (ARNase L) que degrada o ARN celular e vírico.

As proteínas Mx pertencem à família das GTPases e são induzidas pelo IFN. A

sua actuação ao nível da replicação faz-se pela inibição da transcrição, inibindo

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INTRODUÇÃO

as polimerases víricas. Outras proteínas que se sabem interferirem com a

replicação vírica são as GBP (Guanylate Binding Protein), a proteina 9-27 e a

sintase do óxido nítrico (iNOS).

As propriedades antiproliferativas do IFN foram demonstradas através da sua

eficácia no tratamento de doenças neoplásicas. No entanto, ainda não são

conhecidos os mecanismos exactos de inibição da proliferação celular, não se

tendo identificado genes específicos relacionados com esta função.

As propriedades imunomoduladoras do IFN traduzem-se pela indução da

expressão das moléculas MHC classe II à superfície das células apresentadoras

de antigénios; pela estimulação da proliferação dos linfócitos B, com

consequente estímulo da imunidade humoral; pelo aumento da expressão de

moléculas MHC classe I à superfície celular, com consequente estimulação da

resposta T citotóxica (CD8+); e pela interacção com outras citocinas,

aumentando a expressão da resposta Thl, através do aumento da IL-2, e

diminuindo a resposta Th2, através da diminuição da expressão de IL-4 e IL-5.

A inibição da produção periférica de IL-1, IL-8 e TNF-a, bem como a

estimulação da produção de IL-10, confere ao IFN uma acção anti-inflamatória.

Apesar do conhecimento de todas estas acções do IFN, ainda não é totalmente

conhecida a relação do IFN com as proteínas víricas. Sabe-se actualmente que a

proteína do core é capaz de activar o gene da 2'-5'-OAS, sendo esta acção

potenciada pelo IFN121. Por outro lado, os indivíduos que não respondem ao

IFN têm uma baixa actividade basal e induzida da 2'-5'-OAS122. As proteínas E2

e NS5A têm também a capacidade de se ligarem à PKR, inibindo-a. Outros

factores que poderão contribuir para a não resposta ao IFN são a inibição da

actividade dos linfócitos CD8+ intrahepáticos123, a diminuição dos receptores

citoplasmáticos necessários à acção do IFN124, e a presença de anticorpos anti-

IFN (neutralizantes ou não neutralizantes). Estes anticorpos estão envolvidos

nos fenómenos de breakthrough, que ocorrem em 10% a 30% dos doentes em

tratamento125126, e se traduz pelo reaparecimento da viremia e/ou elevação das

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INTRODUÇÃO

transaminases após controle inicial da infecção.

Em termos de cinética vírica, o declínio da replicação vírica após a

administração do IFN, tem um padrão bifásico, em que se verifica um declínio

muito rápido de cerca de 0,5-2,0 loglO, nas primeiras 48 horas, dependente de

dose, e uma segunda fase mais lenta, na dependência da lise dos hepatócitos

infectados127. Em ambas as fases se verifica uma inibição na produção de novos

vírus. As proteínas E2 e NS5A inibem a acção do IFN na fase inicial de declínio

rápido128. Os indivíduos que não respondem ao tratamento não apresentam

inibição da replicação na segunda fase.

Apesar destas limitações, a capacidade de interferência nos mecanismos de

replicação vírica e de estimulação da resposta imunológica, tornaram o IFN o

agente principal no tratamento da hepatite C. No entanto, o seu uso em

monoterapia, na dose de 3 UM, 3x/ semana, durante 48 semanas, apenas

permitiu alcançar taxas de resposta sustentada de cerca de 12-16%129.

Surgiu então um novo fármaco que passou a ser utilizado em associação com o

IFN, na tentativa de aumentar as taxas de resposta sustentada, a Ribavirina

(RBV). A RBV é um análogo sintético do nucleosido guanosina, com actividade

contra vírus ADN e ARN. A sua utilização na prática clínica remonta há mais

de 20 anos, no tratamento das infecções pelo vírus sincicial respiratório130. A

RBV passou a ser utilizada no tratamento da hepatite C há cerca de 14 anos131,

de modo combinado com o IFN. A sua eficácia em monoterapia não foi

demonstrada, mas actua de forma sinérgica com o IFN aumentando a taxa de

resposta e diminuindo a recidiva após o final do tratamento. A sua

administração é feita por via oral, possui uma biodisponibilidade de 65% e o

equilíbrio das concentrações séricas é alcançado após 4 semanas de terapêutica.

Um dos seus mecanismos de acção, e talvez o mais importante, consiste na

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INTRODUÇÃO

inibição competitiva da inosina monofosfato desidrogenase (IMPDH). Esta

inibição enzimática conduz a uma depleção celular dos nucleotídeos de guanina

(GTP e dGTP), necessários à síntese de ADN e ARN. No entanto o seu

mecanismo de acção molecular ainda não está totalmente esclarecido, e pensa-

se que a RBV possa actuar por outros mecanismos: inibição da elongação do

ARN vírico, inibição da formação do cap de guanina pirofosfato na extremidade

5' do ARNm, supressão directa da actividade da polimerase vírica, e

polarização da resposta imunológica para um perfil de citocinas tipo 1,

favorecendo o clearance imunológico do vírus. Este último mecanismo de

modulação das citocinas, despertou um interesse particular, observando-se in

vitro a estimulação de uma resposta tipo 1 das CD4+ e CD8+ (IL-2, IFN-y, TNF-

cc), e a inibição da resposta tipo 2 (IL-4, IL-5, IL-10) ao nível da expressão do

ARNm e da proteína132'133. Os trabalhos de Fang e colaboradores134 confirmaram

estes dados, ao demonstrarem a indução da actividade NK e da produção de

IL-12, promotores da diferenciação das células CD4+ naïve em Thl. Este tipo de

diferenciação é particularmente importante na imunidade celular para a

cooperação das CD4+ com a actividade citotóxica das CD8+.

Os ensaios randomizados comparando o uso de IFN isolado ou a sua associação

com RBV, demonstraram um aumento na RVS no grupo da terapêutica

combinada (42% vs 16%)135-137. Os 2 grandes ensaios multicêntricos138-139

realizados para comparar estes 2 esquemas terapêuticos, obtiveram resultados

muito promissores ao alcançarem respostas no final do tratamento de 55% e

51%, no grupo dos doentes em terapêutica combinada por 24 e 48 semanas,

respectivamente, face a respostas de 29% no grupo de monoterapia com IFN,

durante 24 ou 48 semanas. Do mesmo modo as RVS foram também

significativamente melhores no grupo IFN+RBV (33% e 41% vs 6% e 16%),

independentemente da duração do tratamento ser de 24 ou 48 semanas.

35

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INTRODUÇÃO

Apesar da maior eficácia demonstrada com a associação da RBV ao esquema

clássico de IFN, verificou-se também uma maior necessidade de redução de

dose ou interrupção do tratamento por efeitos laterais, bem como a persistência

de um grupo de doentes (aproximadamente 50%) não respondedor ou

récidivante.

A principal causa de redução de dose foi a anemia hemolítica causada pela

acumulação da forma trifosfatada da RBV nos eritrócitos, enquanto que os

quadros depressivos e os distúrbios emocionais atribuídos ao IFN, foram os

principais implicados na suspensão do tratamento.

Efeitos laterais do IFN

Os IFNs do tipo 1 actualmente disponíveis têm efeitos laterais semelhantes. Os

mais frequentes são a astenia, o síndrome gripal, mialgias, artralgias e

diminuição de peso (Tabela 1) 140-142. Apesar de frequentes, as alterações da

função tiroideia e a depressão da medula óssea, são facilmente avaliadas e

controladas. A capacidade de exacerbação de patologia depressiva e

psiquiátrica, pressupõe um rastreio dessas patologias previamente ao início do

tratamento, com apoio psiquiátrico se necessário.

Efeitos laterais da RBV

Aproximadamente 10% dos doentes tratados com RBV desenvolvem anemia

hemolítica dependente da dose. É relativamente comum, observar-se um

decréscimo de 2-3 gr / dl, no valor da hemoglobina, nas primeiras 4-8 semanas

de tratamento143; se o valor ultrapassar a barreira dos 10 gr/ dl, a dose de RBV

deve ser ajustada para 600 mg/dia. Esta diminuição de dose permite aumentar

o valor da hemoglobina em cerca de 1-1,5 gr/ dl, possibilitando a manutenção

36

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INTRODUÇÃO

da terapêutica combinada. Um a dois meses após a suspensão do tratamento, os

valores da hemoglobina retornam aos valores basais pré-tratamento. Os doentes

com anemia prévia, doença coronária, doença vascular periférica, ou incapazes

de tolerar a anemia, não são candidatos a esquema combinado, devendo ser

considerados para tratamento isolado com IFN. Cerca de 15-30% dos doentes

desenvolvem tosse, dispneia, insónia, prirido, rash e anorexia, secundários ao

uso da RBV (Tabela 1)138. A teratogenicidade da RBV proibe a sua utilização em

grávidas e indivíduos incapazes de realizar uma contracepção eficaz.

Para além do aumento dos efeitos adversos persistia um grupo de doentes que,

apesar da associação de RBV ao esquema terapêutico, continuava a não

responder ou recidivava após uma resposta no final do tratamento. O grupo de

Poynard determinou 5 variáveis independentes associadas a resposta ao

tratamento: genótipo 2 e 3, carga vírica basal inferior a 3,5 milhões de

cópias/ml, ausência de fibrose portal, sexo feminino e idade inferior a 40

anos143. Enquanto que os indivíduos infectados com genótipos 2 e 3 obtiveram

taxas de RVS de 65%, independentemente da duração do tratamento ser de 24

ou 48 semanas, os indivíduos infectados com o genótipo 1, o mais prevalente

nos Estados Unidos, alcançaram apenas RVS de 17% e 29% após 24 e 48

semanas de tratamento138-139'144.

Por outro lado a carga vírica pré tratamento parece ser também um factor

preditivo de resposta nos indivíduos com genótipo 1, obtendo-se uma taxa de

RVS de 10% e 27%, às 24 e 48 semanas, quando a carga vírica é superior a 2

milhões de cópias/ml, enquanto que a duração do tratamento não parece

influenciar a resposta se a carga vírica for inferior a 2 milhões de cópias/ml

(RVS=33%). Nos indivíduos infectados com genótipo 2 e 3 a carga vírica e a

duração do tratamento não influenciam a resposta, que se situa na ordem dos

60% 145,146 A determinação do RNA do VHC sérico durante o tratamento parece

também auxiliar na determinação dos indivíduos com maior probabilidade de

37

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INTRODUÇÃO

Efeitos laterais comuns Efeitos laterais raros

IFN Fadiga, mal estar, artralgias, febre,

diminuição de peso

Dificuldade de concentração

Distúrbios do sono

Irritabilidade, ansiedade, depressão

Diminuição plaquetas e leucócitos

Susceptibilidade a infecções:bronquite,

sinusite, infecções urinárias

Hiper ou hipotiroidismo

RBV Anemia hemolítica

Tosse, dispneia

Insónia

Prurido, rash

Intolerância gastrointestinal

Anorexia

Ideação suicida ou paranóide

Retoma de consumo de

álcool ou drogas

Púrpura trombocitopénica

Nefrite, S. Nefrótico

Insuf renal aguda, proteinuria

Agravamento insuf hepática

Sépsis

Diabetes

Teratogenicidade

Tabela 1. Efeitos laterais do interferon e ribavirina

não resposta, possibilitando a suspensão precoce da terapêutica nesse grupo de

doentes. Nos indivíduos tratados durante 48 semanas com a associação IFN e

RBV, a determinação do RNA VHC às 24 semanas identificou 98% dos não

respondedores, enquanto que a sua determinação às 12 semanas identificou

apenas 89%138139. A interrupção do tratamento à semana 12 impossibilitaria a

obtenção de uma RVS em 11% dos doentes, enquanto que a interrtipção à

semana 24 apenas negaria a resposta a 2% dos indivíduos tratados.

A elevada prevalência de indivíduos considerados "maus candidatos" ao

tratamento, a ainda baixa eficácia do esquema combinado de IFN e RBV, e a

elevada incidência de efeitos indesejáveis, motivou a persecução da

investigação no sentido de se encontrarem alternativas válidas e eficazes. Um

38

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INTRODUÇÃO

estudo de Lam e colaboradores147 realçou a importância da inibição precoce da

replicação vírica com consequente decréscimo acentuado da carga vírica nas

fases iniciais do tratamento. Este estudo demonstrou que doses elevadas de IFN

produziam um decréscimo maior na carga vírica às 24 horas, efeito esse que

desaparecia após 48 horas da toma (Fig 1). Estes dados comprovaram que o

esquema terapêutico habitual de 3 doses semanais de IFN era insuficiente e

possibilitava o rebound vírico antes da administração da dose subsequente147.

0

Redução ~™ RNAHCV (%) -40

-60

-80

Injecção 24 h 48 h Tempo após injecção única

Fig 1. Modificações no ARN VHC após injecção única de IFN alfa-2b em doentes infectados com

genótipo 1 (Adaptado de Lam NP e colaboradores: Dose dependent acute clearance of hepatitis

C genotype 1 virus with interferon alfa, Hepatol 26:226-231,1997).

^L*». \ ****- . . . " * " 3 M U

>N. ' - . .

\ \ 5MU

\ 11̂ —" 10 MU

Outros trabalhos que contribuíram para um maior conhecimento da cinética

vírica foram os trabalhos de Neumann148, nos quais se observou que o

tratamento com IFN resulta numa descida bifásica da carga vírica: uma fase

inicial em que se observa um decréscimo acentuado da carga vírica (< 2 dias, > 2

log), resultante de um efeito antivírico directo, e uma segunda fase, mais lenta,

relacionada com a morte dos hepatócitos infectados e diminuição da taxa de

infecção de novos hepatócitos. Este reconhecimento da importância do

clearance vírico inicial na obtenção de uma resposta sustentada serviu de

39

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INTRODUÇÃO

fundamento para as elevadas expectativas criadas com o interferon peguilado

(IFN-PEG).

O polietilenoglicol (PEG) é um polímero neutro, hidrofílico, linear, não tóxico e

não imunogénico (Fig. 2). A peguilação consiste na adição de polímeros de PEG

a proteínas biologicamente activas. Esta reacção permite a modificação das

propriedades imunológicas, farmacocinéticas e farmacodinâmicas das

proteínas, mantendo a sua actividade intrínseca. Assim, é possível melhorar a

actividade farmacológica, aumentar a semivida, a segurança e tolerância,

diminuindo a antigenicidade e imunogenicidade, o que se traduz num aumento

da eficácia, compliance e melhoria da qualidade de vida.

H-(OCH2CH2)„-OH PEG-OH Linear

CH HOCI^CH^-OH MPEG-OH Linear

o

/ \ MPEG2 Ramificada

' OH M P E G - O - C - N - C C H Ï ) »

'il H

Fig 2. Estrutura química de algumas moléculas de polietileno glicol [MPEG,

monometoxipoli(etilenoglicol)].

Os produtos peguilados exibem características novas que os distinguem das

moléculas originais - alterações conformacionais e nas propriedades

electrostáticas149150. A molécula de PEG permite uma absorção mais sustentada,

uma diminuição da proteólise, uma diminuição do clearance renal (o clearance

é proporcional ao peso da molécula de PEG, sendo exclusivamente renal abaixo

de determinado peso molecular, e combinado renal-hepático, para pesos mais

40

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INTRODUÇÃO

elevados), um aumento da semivida plasmática151 e diminuição da

imunogenicidade, ao mascarar os locais antigénicos do IFN, impedindo o

reconhecimento imunológico. O aumento da semivida explica o aumento da

eficácia do PEG-IFN comparativamente ao IFN (Fig 3). Factores determinantes

da eficácia biológica são a massa da molécula de PEG ligada e os locais de

ligação152. A ligação da molécula de PEG à molécula de IFN pode ser feita de 3

formas: uma molécula de PEG grande ligada a um local único, uma molécula de

PEG ramificada (2 ou mais cadeias PEG médias unidas) ligada a um local único,

ou múltiplas cadeias pequenas ligadas a múltiplos locais.

Maior

Meno :

Semi-vida

Molécula de PEG ideal

Actividade antivírica

Peso molecular PEG

Fig 3. Efeitos da peguilação na semi-vida e actividade antivírica. Quanto maior o peso

molecular do PEG, menor a actividade antivírica e maior a semi-vida sérica

Actualmente existem duas formulações de PEG-IFN aprovadas para o

tratamento da hepatite C: PEG-IFN alfa-2a e PEG-IFN alfa 2b. O PEG-IFN alfa

2b consiste na adição de uma molécula linear de PEG de 12 kDa de peso

molecular, enquanto que o PEG-IFN alfa 2a consiste na adição de uma molécula

ramificada de PEG com 40 kDa. O racional para o uso de PEG-IFN no

tratamento da hepatite C foi estabelecido pelo conhecimento da semi-vida curta

41

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INTRODUÇÃO

do IFN convencional (aproximadamente 6 horas) 153, o que origina grandes

flutuações nas concentrações plasmáticas de IFN, desde níveis muito elevados

após a administração até níveis praticamente indetectáveis, permitindo o

rebound da replicação vírica e justificando as baixas taxas de RVS, e a

emergência de mutantes víricos resistentes ao tratamento.

Por seu lado, os PEG-IFNs exibem uma semivida prolongada em circulação,

resultante de um aumento da resistência à degradação e diminuição do

clearance renal (Tabela 2).

Parâmetro farmacocinético

IFN convencional 2a 2b

PEG-IFN a-2b PEG-IFN a-2a

Tempo médio de absorção (h)

2.3 2.3 4.6 50

Volume de distribuição

31-73 1 981 (1.4 l/kg)

69.31 Í0.991/kg)

6-141

Tmax (h) 3-8 3-8 15-44 72-96 Duração da Q max (h)

<24 <24 48-72 168

Tempo médio de eliminação (h)

5.1 2-3 40 77

Clearance 11800 ml /h 16170 m l / h 1540 ml /h 80 m l / h

Tabela 2. Propriedades farmacocinéticas dos interferons

Na figura 4 compara-se o perfil farmacocinético do IFN alfa-2a, com um PEG-

IFN linear de 5 kDa de primeira geração, e com o PEG-IFN alfa-2a de 40 kDa

ramificado.

O objectivo final da peguilação é a obtenção de níveis séricos constantes e

sustentados de IFN alfa, que permitam a supressão vírica permanente entre as

diversas tomas e a diminuição dos efeitos laterais. Estes progressos

farmacocinéticos permitiram que a sua administração pudesse ser feita em toma

única semanal. A eficácia da peguilação no alcance destes objectivos depende,

como foi atrás mencionado, da estrutura e tamanho da molécula de PEG e do

42

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INTRODUÇÃO

Ë

28

20

15

10 -

S -

0

Time (h/wk)

Fig. 4. Comparação entre a concentração plasmática do IFN alfa-2a convencional e duas formulações de PEG-IFN. (A) IFN 3MU, TIW; (B) PEG-IFN alfa-2a linear de 5 kDa; (C) PEG-IFN alfa-2a ramificado 40 kDa.

c c

0 1

2 5 I

SO 1

7 5 1 0 0 1 2 5 I S O

tipo de ligação à molécula de IFN. Na molécula PEG-IFN alfa 2b, a ligação é

feita através de pontes hidrolíticas instáveis de uretano, tornando o composto

peguilado uma pró droga, cuja actividade depende da libertação da molécula

activa de IFN alfa. A sua absorção é imediata e a semivida sérica é de

aproximadamente 40-64 horas151. A sua distribuição por vários tecidos e fluidos,

torna o volume de distribuição e a dosagem a administrar largamente

dependente do peso do doente154.

Os ensaios clínicos comparando IFN alfa-2b em monoterapia com PEG-IFN alfa

2b isolado na dose de 1,5 jj,g/Kg, durante 48 semanas, demonstraram taxas de

43

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INTRODUÇÃO

RVS de 25% no grupo de PEG-IFN, face a apenas 12% no grupo do IFN

convencional. Os efeitos laterais foram semelhantes nos 2 grupos, e a falta de

eficácia no genótipo 1 ficou também demonstrada com o PEG-IFN, com taxas

de recidiva ao ano de 40-50%155. Como havia sido demonstrado para o IFN

convencional, era provável que a combinação de PEG-IFN com RBV

aumentasse as taxas de RVS no tratamento da hepatite C.

Num ensaio multicêntrico156 englobando 1530 doentes tratados durante 48

semanas, a taxa de RVS o grupo de doentes tratado com PEG-IFN 1,5 |ag/Kg +

RBV 800 mg/dia foi de 54%, versus uma taxa de RVS de 47% nos doentes

tratados com IFN alfa 2b 3 MU TIW + RBV 1000-1200 mg/dia (Tabela 3). Dos

doentes tratados com PEG-IFN que alcançaram uma RVS, 90% também

normalizaram as transaminases. Todos os grupos apresentaram melhoria da

inflamação hepática, mais evidente nos indivíduos que apresentaram resposta

sustentada, embora 44% dos não respondedores também tenham beneficiado

de melhoria histológica. Neste ensaio, uma análise secundária identificou o

peso corporal como um factor preditivo independente de resposta156, indicando

que a dose de RBV, em mg/kg, se relaciona com uma RVS. Os doentes tratados

com a dose mais elevada de PEG-IFN, e com uma dose de RBV superior a 10.6

mg/kg, alcançaram as taxas de RVS mais elevadas (61%).

O perfil de efeitos laterais observado com a combinação PEG-IFN alfa 2b + RBV

foi semelhante aos efeitos laterais observados com IFN alfa 2b + RBV. Em 13%

dos indivíduos houve necessidade de suspender o tratamento por efeitos

adversos e em 36% foi necessário proceder a modificações de dose.

Face aos benefícios inequívocos alcançados com a terapêutica combinada de

PEG-IFN + RBV, actualmente este é o esquema terapêutico preconizado para o

tratamento inicial de indivíduos infectados com o VHC.

44

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INTRODUÇÃO

PEG-EFN 1x5 Hg/kg

+RBV tn=511i

PEG-IFN 1,5/0,5 x 5jig/kg IFN 3MU+RBV

+RBV (n=5141 ^=5051

RVS 54% (doentes todos)

RVS por genótipo

1 42%

2/3 82%

4/5/6 50%

RVSporVHC >2M 42%

<2M 78%

RVS por fibrose

Fibrose 0/mínima 57%

Fibrose ponte/cirrose 44%

47%

34%

80%

33%

42%

59%

51% 43%

47%

33% 79% 38%

42%

56%

49% 41%

Tabela 3. Resposta virológica sustentada com peginterferon alfa-2b e ribavirina

Os factores pré tratamento associados a maior probabilidade de RVS, tal como

na terapêutica combinada de IFN convencional e RBV, foram o genótipo 2 e 3, a

carga vírica baixa, a ausência de fibrose significativa, o sexo feminino e a idade

jovem156. Embora estes factores forneçam uma estimativa da probabilidade de

se obter uma resposta, geralmente não são eficazes na identificação dos doentes

que irão responder. A variável ou teste ideal seria aquele que identificasse o não

respondedor numa fase inicial do tratamento, de modo a que este fosse

interrompido precocemente e desse modo se evitasse a morbilidade de uma

terapêutica prolongada, mantendo-se a terapêutica nos indivíduos com maior

probabilidade de resposta. Os dados disponíveis indicam que a não obtenção

de uma diminuição da carga vírica de pelo menos 2 loglO às 12 semanas de

tratamento é indicativo de não resposta. Em contrapartida, os indivíduos que

obtêm essa diminuição têm 80% de probabilidade de uma resposta sustentada

45

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INTRODUÇÃO

no final do tratamento. Convém no entanto utilizar estas regras com precaução

e de forma individualizada, uma vez que estes dados não dão relevo à melhoria

histológica que se obtém nos não respondedores.

Os dados obtidos nos diversos ensaios realizados permitiram definir um grupo

de doentes que se sabe ser mais resistente aos tratamentos disponíveis:

indivíduos infectados com genótipo 1, com cargas víricas elevadas, com fibrose

hepática, indice de massa corporal elevado e idade superior a 40 anos. Para

além deste grupo de doentes existem dois outros grupos que colocam algumas

dificuldades e incertezas quanto à sua orientação: os indivíduos não

respondedores ou récidivantes, e os indivíduos com cirrose. A recidiva define-

se como a perda do ARN do VHC durante o tratamento, seguido do seu

reaparecimento nos 6 meses seguintes à conclusão da terapêutica; a não

resposta é definida como a persistência do ARN do VHC. O aparecimento da

molécula peguilada, ao demonstrar a sua maior eficácia comparativamente aos

esquemas terapêuticos prévios, justificou o entusiasmo no retratamento de

indivíduos que não obtiveram uma RVS com o tratamento inicial.

Dos resultados obtidos nas duas metanálises157158 publicadas relativamente ao

retratamento dos não respondedores ao IFN em monoterapia, conclui-se que

apesar da variedade dos resultados obtidos nos diversos estudos, a terapêutica

combinada de IFN e RBV permitiu alcançar RVS de 12% a 15%. À semelhança

do que acontecia com os indivíduos nãive, neste grupo de doentes os indivíduos

que apresentaram melhores taxas de resposta foram os infectados com os

genótipos 2 e 3, os que apresentaram menores cargas víricas iniciais, diminuição

significativa do ARN do VHC nas fases iniciais do tratamento e recidiva ao

tratamento inicial.

Até ao momento ainda só foram realizados dois estudos159-160 utilizando PEG-

IFN e RBV no retratamento de não respondedores a IFN e RBV. Ambos os

estudos englobam doentes não respondedores a monoterapia e terapêutica

46

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INTRODUÇÃO

combinada. Esta é portanto uma área de significativo interesse e expectativa,

embora a dificuldade de recrutamento de doentes já submetidos a terapêuticas

prévias, seja um factor limitativo e condicionante da escassa experiência

mundial relatada.

Apenas existem dados publicados relativamente a um dos trabalhos161, no qual

se obtiveram taxas de RVS de 18%, tendo sido identificados como factores

preditivos de resposta o tratamento prévio com IFN em monoterapia, a infecção

pelos genótipos 2 e 3, uma relação AST:ALT baixa, a ausência de cirrose, e a

manutenção da dose de RBV nas 20 semanas iniciais de tratamento.

Nos 2 estudos multicêntricos desenhados para o retratamento de doentes

récidivantes após IFN isolado162163 utilizando IFN e RBV, as respostas no final

do tratamento foram de 82% e 74%, com RVS de 47% e 56%, respectivamente.

Os resultados preliminares159 disponíveis relativos ao retratamento de

indivíduos récidivantes a terapêutica combinada, utilizando PEG-IFN e RBV,

demonstraram uma negativação do ARN do VHC no final do tratamento em

87% dos doentes, com uma resposta sustentada de 60%.

Embora o conhecimento actual favoreça o retratamento dos indivíduos não

respondedores ou récidivantes a tratamentos prévios com IFN isolado, não

existem ainda determinações definitivas sobre a orientação dos não

respondedores ou récidivantes ao tratamento combinado (IFN e RBV).

Um outro esquema terapêutico já proposto para este grupo de doentes inclui a

amantadina, isolada ou em associação com o IFN. A amantadina é um agente

antivírico, cuja acção é sinérgica com a de outros agentes. Um ensaio

randomizado e controlado, utilizando terapêutica tripla com IFN, RBV e

amantadina em doentes não respondedores, obteve uma resposta no final do

tratamento de 67%, comparativamente com 10% dos indivíduos tratados apenas

47

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INTRODUÇÃO

com IFN e RBV. Quarenta e oito por cento dos indivíduos em terapêutica tripla

obtiveram uma RVS, comparativamente a apenas 5% no grupo de terapêutica

dupla164. Mantém-se assim a dúvida quanto ao interesse da amantadina no

tratamento da hepatite Q uma vez que a maioria dos estudos não demonstrou a

sua eficácia, e no entanto, em alguns trabalhos os seus resultados são

extraordinariamente promissores.

Os indivíduos com cirrose constituem um grupo particularmente difícil de

tratar, quer pelas taxas de resposta inferiores aos indivíduos não cirróticos, quer

pelo risco de descompensação da sua insuficiência hepática e menor

tolerabilidade aos efeitos laterais dos fármacos. Por outro lado é precisamente

este grupo de doentes que apresenta um maior risco de descompensção

hepática, carcinoma hepatocelular e morte num período de 5 a 10 anos. Desta

forma, torna-se importante considerar este grupo de doentes como candidato à

forma mais eficaz de tratamento disponível. No estudo de Heathcote e

colaboradores^65, que consistiu no tratamento de indivíduos com cirrose (76%) ou

fibrose em ponte (24%), com PEG-IFN alfa 2a ou IFN convencional, a taxa de

RVS no grupo PEG-IFN foi de 30% versus 8% no grupo do IFN convencional.

Nos indivíduos com genótipo não 1 as taxas de RVS foram de 51%. Para além

da resposta virológica foi também possível obter uma resposta histológica

significativamente superior no grupo do interferon peguilado (54% versus 31%,

p=0,02). Em termos de efeitos laterais, o esquema terapêutico com PEG-IFN foi

bem tolerado, com necessidade de redução transitória da dose por efeitos

hematológicos em 10%-19% dos doentes, e interrupção permanente do

tratamento em 13%. Face a estes resultados promissores em termos de controlo

da replicação vírica e possibilidade de prevenção de complicações, cada vez

mais as indicações para tratamento são mais abrangentes, o que leva a que

sejam incluídos os indivíduos com cirrose compensada.

48

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OBJECTIVOS

4. OBJECTIVOS DO TRABALHO DA TESE DE MESTRADO

Apesar das evoluções verificadas ao longo da última década no conhecimento

da hepatite C, em termos de biologia molecular do vírus, e da progressiva

expansão do arsenal terapêutico, esta infecção crónica permanece ainda como

um desafio clínico, com grandes implicações em termos socio-económicos. O

conhecimento da estrutura vírica, a evolução nos meios de diagnóstico e o

aparecimento de novas moléculas com aplicação terapêutica faria pressupor

que finalmente seria possível a cura da infecção. A introdução de esquemas

terapêuticos com maior eficácia, tornou premente a questão do retratamento,

pois levantou a hipótese de se poder obter respostas virológicas sustentadas

numa proporção de indivíduos anteriormente não respondedores a esquemas

terapêuticos menos eficazes. O aparecimento do interferon peguilado,

constituiu um avanço em termos de tratamento, pelo que nos propusemos a

avaliar a sua eficácia e tolerância num grupo particularmente difícil de doentes,

indivíduos récidivantes e não respondedores a terapêutica prévia combinada de

interferon e ribavirina, alguns dos quais em estádio de cirrose. Uma das

limitações mas simultaneamente, uma das motivações para a realização deste

estudo, foi a escassa informação à data relativamente ao retratamento de não

respondedores ou récidivantes a terapêutica combinada, dado que os trabalhos

existentes eram referentes a retratamento de doentes que falharam a

monoterapia com IFN.

Assim, os objectivos deste trabalho foram os seguintes:

1- Avaliar a eficácia em termos virológicos e clínicos da terapêutica

combinada com Interferon Peguilado e Ribavirina no retratamento de

49

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OBJECTIVOS

doentes não respondedores ou récidivantes a esquemas terapêuticos

prévios de combinação.

2- Definir factores preditivos de resposta ou não resposta a esta nova

terapêutica, atribuíveis primariamente ao vírus ou ao hospedeiro,

detalhando-se os parâmetros clínicos , analíticos e imunológicos dessas

circunstâncias, e caracterizar a dinâmica das variações observadas.

3- Definir o perfil de segurança e de tolerância da associação neste grupo de

doentes.

50

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MATERIAL E MÉTODOS

5. MATERIAL E MÉTODOS

Procedeu-se ao estudo prospectivo de doentes com infecção crónica pelo VHC,

definidos como resistentes ou récidivantes a terapêutica prévia com Interferon e

Ribavirina, originários da Consulta de Hepatologia da Unidade de

Gastrenterologia do Hospital de São João, onde eram tratados sob a

responsabilidade do Doutor Guilherme Macedo. O estudo decorreu no período

compreendido entre Dezembro de 2001 e Dezembro de 2002, também sob a sua

orientação.

Foram incluídos no estudo os doentes com infecção crónica pelo VHC, com as

seguintes características:

ARN do VHC detectado no soro por PCR;

- Elevação das transaminases séricas, no mínimo duas vezes acima do

limite superior do normal;

- Terapêutica prévia com Interferon e Ribavirina em combinação, e

recidiva ou não resposta após/no final do tratamento;

Ausência de contraindicações conhecidas à administração de IFN e

RBV.

Foram considerados como não respondedores os doentes que não apresentaram

supressão do ARN do VHC durante o tratamento, e récidivantes, os doentes

nos quais se observou a supressão do ARN do VHC no final do tratamento, e o

seu reaparecimento nos seis meses após a suspensão da terapêutica.

Todos os doentes incluídos neste estudo tinham avaliação histológica prévia,

permitindo a sua categorização em doentes com cirrose, fibrose (portal, septal),

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MATERIAL E MÉTODOS

e sem fibrose, bem como a quantificação da actividade necroinflamatória

(ligeira /moderada) .

O estudo anatomopatológico dos fragmentos de biópsia hepática foi realizado

no Departamento de Anatomia Patológica do Hospital de São João, dirigido

pela Prof. Doutora Fátima Carneiro.

Foram excluídos deste estudo, doentes coinfectados com o vírus da hepatite B,

D ou VIH; doentes com patologia psiquiátrica grave, patologia tiroideia,

autoimune, oncológica ou cardiovascular que condicionasse grave

compromisso biológico ou agravamento clínico com o uso do PEG-IFN e/ou

RBV; doentes com cirrose descompensada (ascite, hemorragia digestiva por

ruptura de varizes, encefalopatia, plaquetas < 50x109/1, hemoglobina < 10 g/dl ,

leucócitos < l x lOVi albumina < 3,5 g/dl , bilirrubina > 1,5 mg/dl , INR >1,5);

doentes com consumo activo de drogas, etanol ou outra doença hepática

concomitante; doentes incapazes de cumprir uma contracepção eficaz até 6

meses após a conclusão do tratamento.

A avaliação analítica prévia ao início do novo tratamento consistiu em:

- determinação serológica do VHC, VHB, VHD, e VIH;

- quantificação do ARN do VHC por PCR;

determinação do genótipo do VHC;

hemograma;

- bioquímica, com função hepática, renal, perfil lipídico, função

tiroideia, parâmetros serológicos do metabolismo do ferro, e estudo

da coagulação;

determinação de autoanticorpos (anti-tiroideus, anti-nucleares, anti-

ADN, anti-musculo liso, anti-plaquetários) e doseamento de

imunoglobulinas (IgM, IgG, IgA);

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MATERIAL E MÉTODOS

- determinação das subpopulações linfocitárias.

O tratamento consistiu na administração de Peginterferon alfa-2b, 1,5

ug/ kg / semana, subcutâneo, e Ribavirina 800-1000 mg/dia, oral, de acordo com

o peso corporal (< 75kg versus >75kg), durante 48 semanas.

Todos os doentes foram avaliados clinica e analiticamente com periodicidade

mensal nos primeiros 4 meses de tratamento e posteriormente com

periodicidade bimensal.

A determinação do ARN do VHC foi feita às 12, 24 e 48 semanas de tratamento.

O genótipo vírico foi determinado usando o teste INNO-LiPA HCV II da

INNOGENETICS® e a carga vírica foi determinada usando o teste COBAS

AmpliPrep / COBAS AMPLICOR HCV MONITOR™, versão 2.0, da ROCHE®.

O teste INNO-LiPA HCV II permite uma determinação rápida e fácil dos 6

genótipos víricos e seus subtipos. A possibilidade de genotipagem do VHC

resulta das variações encontradas na região 5' (5'UR) dos diferentes genótipos.

Este teste baseia-se no princípio da hibridização reversa, no qual o ARN

biotinilado previamente amplificado é hibridizado com sondas de

oligonucleotídeos específicas, imobilizadsa em linhas paralelas em tiras de base

membranar. O produto marcado com biotina obtido da região 5'-UR apenas

hibridiza com a sonda cuja sequência é totalmente compatível, permitindo uma

discriminação rigorosa ao nível do subtipo. Após a hibridização é adicionada

streptavidina marcada com fosfatase alcalina que se vai ligar ao composto

híbrido biotinilado formado previamente, seguido-se a incubação com os

cromogeneos BCIP/NBT resultando na formação de um precipitado de cor

castanho. Deste modo, apenas se verifica a formação de uma linha

castanho/arroxeada ou positiva, quando se obtém um emparelhamento total

entre a sonda e o produto de PCR. O genótipo é então deduzido usando o

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MATERIAL E MÉTODOS

painel de interpretação da INNO-LiPA HCV II, após agrupamento de todos os

números das linhas positivas.

O teste COBAS AmpliPrep/COBAS AMPLICOR HCV MONITOR, v2.0 é um

teste de amplificação de ácidos nucleicos utilizado na quantificação do ARN do

VHC no soro ou plasma. Este teste baseia-se em 5 processos fundamentais:

obtenção do ARN do VHC; transcrição reversa do ARN com formação de ADN

complementar (cADN); amplificação por PCR do cADN alvo com primers

complementares específicos do VHC; hibridização dos produtos amplificados

com sondas de oligonucleotídeos específicas dos alvos; e determinação

colorimétrica dos produtos amplificados ligados à sonda.

Após o isolamento do ARN do VHC a partir de uma amostra de sangue do

doente, o ARN é transcripto de forma reversa obtendo-se ADN complementar

que posteriormente era amplificado pela técnica de PCR, dando origem a várias

moléculas de ADN de cadeia dupla com 244 pares de bases, denominadas

amplicon. A amplificação não envolve todo o genoma do VHC, apenas a região

entre os primers. O passo seguinte à amplificação é a desnaturação química do

amplicon de modo a serem obtidas cadeias simples de ADN. Em seguida

adiciona-se uma sonda de oligonucleotídeos específica para o amplicon do VHC,

ocorrendo a hibridização entre ambos. A detecção é feita após a adição de

3,3',5,5'-tetrametilbenzidina (TMB), que é oxidada na presença de peróxido de

hidrogéneo originando um complexo colorido, cuja absorbância é medida pelo

COBAS AMPLICOR Analyzer a um comprimento de onda de 660nm.

A quantificação do ARN vírico é feita utilizando uma segunda sequência alvo -

HCV Quantification Standard. O HCV Quantification Standard é um

transcripto ARN não-infeccioso possuidor de locais de ligação ao primer

idênticos aos do ARN do VHC e uma região única de ligação à sonda, que

permite a diferenciação entre o amplicon do VHC e o amplicon do HCV

Quantification Standard. O HCV Quantification Standard é adicionado a cada

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MATERIAL E MÉTODOS

uma das amostras a testar num número de cópias conhecidas sendo

incorporado no processo de transcrição reversa, amplificação por PCR,

hibridização e detecção juntamente com o ARN VHC. A concentração é

expressa em Unidades Internacionais (UI)/ml.

O limite de detecção do teste utilizado é de 400 Ul/ml.

As técnicas de biologia molecular foram realizadas no Serviço de

Imunohemoterapia, sob a coordenação do Dr. Fernando Araújo.

A resposta à terapêutica combinada de PEG-IFN e RBV foi avaliada através de

determinações séricas sequenciais do ARN do VHC e das transaminases.

Foi considerada como resposta virológica a supressão do ARN do VHC no final

do tratamento, e como resposta bioquímica a normalização das transaminases

no final do tratamento. Os indivíduos que apresentaram simultaneamente

resposta virológica e resposta bioquímica no final do tratamento, foram

considerados como tendo resposta completa.

Foi ainda considerada resposta virológica precoce, a negativação da carga

vírica ou um decréscimo de 2 loglO relativamente ao valor basal, à décima

segunda semana de tratamento.

Consideraram-se não respondedores todos os doentes que não negativaram o

ARN do VHC no final do tratamento.

Para análise dos resultados, a carga vírica pré tratamento foi definida como

muito elevada se superior a 1 milhão IU/ml e as transaminases foram

categorizadas em 2 grupos: > 3 vezes o limite superior do normal e < 3 vezes o

limite superior do normal.

A análise estatística dos resultados foi realizada utilizando o programa SPSS

11.0 para o Windows. Os testes utilizados foram o^2 e o t de Student. O

significado estatístico foi considerado para valores de p inferiores a 0,05.

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RESULTADOS

6. RESULTADOS

Características da população

As características dos 44 doentes englobados neste estudo estão resumidas na Tabela 4.

n % Sexo Masculino 26 59 Feminino 18 41 Tipo de resposta a tratamentos prévios Não respondedores 18 41 Récidivantes 26 59 Genótipo 1 35 79 3 6 14 4 3 7 Carga vírica > 1 milhão 7 16 < 1 milhão 37 84 Estádio histológico Sem fibrose 17 39 Com fibrose 19 43 Cirrose 8 18 Modo de transmissão Drogas endovenosas 15 34 Transfusão 18 41 Esporádica 11 25 índice de Massa Corporal (kg/m2) <25 14 32 >25 30 68

média d.p.

48,75 13,33 72,05 12,7 134,65 85,11 88,79 53,23 5.551ogl0 0,921ogl0

Tabela 4 . Caracterização da população

Idade (anos) Peso (kg) ALT pré tratamento AST pré tratamento ARN VHC pré tratamento

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RESULTADOS

Dos 44 doentes tratados, 26 (59%) eram do sexo masculino e 18 (41%) do sexo

feminino. A idade média foi de 48,75 ± 13,33 anos (22-72 anos). Sessenta e oito

por cento dos indivíduos foram considerados obesos (índice de massa corporal

> 25), com peso médio de 72,05+12,7 kg.

Relativamente ao modo de transmissão do VHC, 15 doentes (34%) eram ex-

toxicodependentes por via endovenosa, 18 (41%) terão adquirido a infecção

através de produtos sanguíneos contaminados, e em 11 (25%) indivíduos não

foi possível identificar o modo de infecção.

O genótipo 1 foi o mais prevalente, presente em 79% dos doentes, enquanto que

os genótipos 3 e 4, estiveram presentes em 14% e 7% dos indivíduos,

respectivamente.

No início do tratamento 7 doentes (16%) apresentavam viremias determinadas

por PCR quantitativo superiores a 1 milhão IU/ml.

Em relação ao tipo de resposta obtida com a terapêutica prévia combinada, 18

doentes (41%) não tinham obtido resposta e 26 doentes (59%) tinham recidivado

nos seis meses seguintes à conclusão do tratamento.

A concentração média das transaminases foi de 134,65±85,11 U/L para a ALT e

de 88,79±53,23 para a AST. Categorizando os valores séricos das transaminases

pré tratamento, 21 doentes (48%) apresentaram valores inferiores a 3 vezes o

limite superior do normal e 23 doentes (52%) apresentaram valores iguais ou

superiores a 3 vezes o limite superior do normal.

Em termos de estádio histológico, 8 doentes (18%) apresentavam cirrose, em 19

(43%) descrevia-se fibrose e em 17 (39%) não se observou fibrose. Considerando

a actividade necroinflamatória, 33 doentes (75%) apresentaram actividade

ligeira e 11 (25%) apresentaram actividade moderada.

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RESULTADOS

Na Tabela 5 estão resumidos os parâmetros analíticos avaliados pré tratamento.

média d.p mín-max

Hemoglobina (g/dl) 15,28 1,54 11,6-17,9

Leucócitos (xlO/1) 5,84 1,96 2,91-9,75

Plaquetas (xlO/1) 168,0 79,61 42-389

Creatinina (mg/l) 7,44 1,05 5,6-9,4

Albumina (g/l) 46,78 2,90 40,5-52,4

Bilirrubina total (mg/l) 8,92 3,80 2,9-19,4

Colesterol total (g/l) 1,69 0,40 1,01-1,37

Tempo de protrombina (seg) 11,81 0,70 10,5-13,5

Alfa-fetoproteína (ng/ml) 14,8 39,72 2-245

Tabela 5. Parâmetros analíticos pré-tratamento

Resposta à terapêutica : supressão do ARN do VHC e normalização das transaminases

A terapêutica combinada de PEG-IFN e RBV conduziu à supressão dos níveis

séricos de ARN do VHC às 12 semanas de tratamento em 21 doentes (48%), e à

diminuição da carga vírica em > 2 loglO em 4 doentes (9%). Considerando a

resposta no final do tratamento às 48 semanas, 13 doentes (30%) mantinham a

negativação do ARN do VHC no soro. Dos doentes que não apresentaram

resposta parcial à 12a semana, apenas 1 obteve resposta virológica no final do

tratamento.

Em termos de resposta bioquímica, às 12 semanas de tratamento 20 doentes

(45%) tinham normalizado os valores de transaminases, número que diminuiu

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RESULTADOS

para 13 doentes às 48 semanas, tendo sido obtida uma resposta bioquímica em

30% dos doentes. A média da ALT variou de 134,6±84/9 para 56,18±34,93 e a da

AST variou de 88,79±53,23 para 46,32±29,86.

Na Tabela 6 estão sumariadas as principais características da resposta ao tratamento com PEG-INF + RBV.

i i % Supressão do ARN do VHC

Semana 12 21 48 Semana 24 11 25 Semana 48 13 30

Normalização das transaminases Semana 12 20 45 Semana 24 14 32 Semana 48 13 30

Tabela 6 Características da resposta virológica e bioquímica ao tratamento com

Interferon Peguilado e Ribavirina.

Nos Gráficos 1 e 2 estão representadas as variações da carga vírica e do valor

de transaminases ao longo das 48 semanas de tratamento.

MêsO Mês 3 Mês 6 Mês 12 Tempo

Gráfico 1. Variação da virémia durante as 48 semanas de tratamento

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RESULTADOS

700

600 -—* 3 500-'***' « 0 400 -c E 300 -(0 w c ra 200-H

100 -

0 Mês 0 Mês 3 Mês 6 Mês 12

Tempo

Gráfico 2. Variação das transaminases durante as 48 semanas de tratamento

Quando se procedeu à análise da variação da carga vírica ao longo das 48

semanas de tratamento verificamos que dos 21 doentes com ARN do VHC

indetectável às 12 semanas de tratamento, apenas 11/21 (52%) mantiveram a

supressão vírica. Observou-se também, que os outros 2 doentes que obtiveram

resposta virológica no final do tratamento tinham carga vírica detectável às 12 e

24 semanas de tratamento. No entanto, um desses doentes apresentou resposta

virológica precoce. Dos outros 10/21 doentes com resposta virológica precoce,

apenas 3/10 (30%) mantiveram o ARN do VHC indetectável às 24 semanas de

tratamento, tendo o ARN do VHC positivado às 24 semanas nos restantes 7

doentes ("breaktrough").

Em suma, e como representado de forma esquemática na Figura 5, no final do

tratamento, 13 doentes apresentaram negativação do ARN do VHC. Desses 13

doentes, 12 apresentaram resposta virológica precoce (onze negativaram o ARN

do VHC e um apresentou uma diminuição da carga vírica >2 loglO). Apenas

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RESULTADOS

um doente que respondeu no final do tratamento mantinha carga vírica positiva

à semana 12 e semana 24, sem diminuição significativa do seu valor.

Semana 0 ARN VHC +

(n=44)

Semanal2 ARN VHC + (n-23)

ARN VHC-(n-1)

ARN VHC+ (n=19)

ARN VHC+ (n= 21)

ARN VHC-(n=l)

ARN VHC (n=21)

ARN VHC-(n= 11)

ARN VHC+ (n=10)

Fig. 5. Variação da carga vírica ao longo das 48 semanas de tratamento.

Relativamente à variação das transaminases, dos 13 doentes (30%) que

apresentaram normalização das transaminases no final do tratamento, 4 (30%)

apresentavam valores acima do limite superior do normal à décima segunda

semana de tratamento, enquanto que os restantes 9 doentes (70%) já tinham

normalizado as transaminases a essa data. Dos 4 doentes respondedores com

valores elevados às 12 semanas, apenas 2 tinham transaminases normais às 24

semanas de tratamento. Dos 14 doentes com transaminases normais às 24

semanas, 12 apresentavam valores normais às 12 semanas, e apenas 9 (64%)

mantiveram transaminases normais no final do tratamento.

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RESULTADOS

N a Figura 6 esquematiza-se a evolução das t ransaminases ao longo das 48

semanas de t ra tamento.

Semana 0

Semana 12

Semana 24

Semana 48

ALTN (n-20)

ALTN (n=9)

ALT AN (n=44)

ALTN (n-11)

ALT AN (n-24)

ALTN (n-4)

ALTN ALT AN ALTN ALT AN (n=12) (n=8) (n-2) (n-22)

i r i r

^

ALTN (n=20)

Fig 6. Variação das transaminases ao longo das 48 semanas de tratamento.

Q u a n d o se pre tendeu analisar a ocorrência simultânea de resposta virológica e

resposta bioquímica-resposta completa (Tabela 7), verificou-se que dos 13

doentes que apresentaram negativação d o ARN do VHC, 9 (69%) normal izaram

s imul taneamente as t ransaminases . Os restantes 4 doentes apresentaram apenas

resposta virológica, m a n t e n d o valores de t ransaminases acima d o limite

superior d o normal e semelhantes aos valores pré t ra tamento. Em 4 / 1 3 (31%)

doentes verificou-se apenas u m a resposta bioquímica persist indo detectável no

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RESULTADOS

soro o ARN do VHC. Apenas 20% (9/44) dos doentes tratados durante 48

semanas obtiveram uma resposta completa (negativação do ARN do VHC e

normalização das transaminases).

Transaminases N Transaminases AN

ARN do VHC negativo 9 (20%) 4 (9%)

ARN do VHC positivo 4 (9%) 27 (62%)

Tabela 7. Correlação entre resposta virulógica e resposta bioquímica no final do tratamento.

Efeito do tratamento nas subpopulações de linfócitos CD4 e CD8 e autoanticorpos

Avaliamos a evolução das subpopulações de linfócitos CD4 e CD8 e a razão

CD4/CD8, antes e após o tratamento com PEG-IFN e RBV. Na Tabela 8

apresentamos a comparação entre os valores médios basais e à semana 48.

Semana 0 Semana 48

média ±d.p. média ± d.p.

49,44 ± 5,58

P

Linfócitos CD4 48,12 ± 7,5

média ± d.p.

49,44 ± 5,58 0,205

Linfócitos CD8 24,95 ± 6,35 23,86 ± 4,64 0,242

Razão CD4/CD8 2,51 ± 1,74 2,52 ± 0,88 0,235

Tabela 8. Evolução das subpopulações linfocitárias com a terapêutica combinada PEG-IFN e RBV

O tratamento combinado de PEG-IFN e RBV não produziu alterações

significativas nas subpopulações linfocitárias. Embora se tenha verificado um

aumento do valor médio dos linfócitos CD4 e da razão CD4/CD8 após o

tratamento, nenhuma destas variações adquiriu significado estatístico.

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RESULTADOS

Durante o tratamento não detectamos a presença de novo de autoanticorpos,

excepto no doente que desenvolveu hipotiroidismo com anticorpos

antitiroideus positivos. O doseamento das imunoglobulinas também não

mostrou variação ao longo do tratamento.

Factores pré tratamento e resposta à terapêutica

Os parâmetros analisados foram o sexo (feminino versus masculino), a idade

(<40 anos versus > 40 anos), o índice de massa corporal (< 25 versus > 25), o

modo de infecção (drogas endovenosas versus outros), o genótipo (genótipo 1

versus genótipo não 1), a carga vírica basal (<1 milhão cópias/ml versus >1

milhão cópias/ml), o valor basal de transaminases (< 3N versus > 3N), o tipo de

resposta ao tratamento prévio (não resposta versus recidiva), a carga vírica à

semana 12 (negativa versus positiva), a resposta vírica parcial à semana 12

(positiva versus negativa), a actividade necroinflamatória na histologia (ligeira

versus moderada), e o estádio histológico (com cirrose versus com fibrose versus

sem fibrose).

Em seguida apresentam-se as várias Tabelas que demonstram os resultados

obtidos para as diferentes variáveis estudadas.

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RESULTADOS

Tabela 9. CORRELAÇÃO ENTRE SEXO E RESPOSTA NO FINAL DO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

SEXO

Masculino 34,6% (n=9) 65,4% (n=17) 100% (n=26)

Feminino 22,2% (n=4) 77,8% (n=14) 100% (n=18)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,376

Não se registaram diferenças significativas entre o sexo masculino e o sexo

feminino nas taxas de resposta.

Tabela 10. CORRELAÇÃO ENTRE IDADE E RESPOSTA NO FINAL DO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

IDADE

< 40 anos 61,5% (n=8) 38,5% (n=5) 100% (n=13)

> 40 anos 16,1% (n=5) 83,9% (n=26) 100% (n=31)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,03

O grupo dos doentes com idade inferior a 40 anos, apresentou taxas de resposta

significativamente mais elevadas do que o grupo de doentes com mais de 40

anos.

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RESULTADOS

Tabela 11. CORRELAÇÃO ENTRE O IMC E RESPOSTA NO FINAL DO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

IMC

<25 50% (n=7) 50% (n=7) 100% (n=14)

>25 20% (n=6) 80% (n=24) 100% (n=30)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p= 0,042

Os indivíduos com índice de massa corporal inferior a 25 apresentaram taxas de

resposta significativamente mais elevadas.

Tabela 12. CORRELAÇÃO ENTRE MODO DE INFECÇÃO E RESPOSTA NO FINAL DO

TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

MODO INFECÇÃO

Tox 53,3% (n=8) 46,7% (n=7) 100% (n=15)

Não Tox 17,2% (n=5) 82,8% (n=24) 100% (n=29)^

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,019

Os indivíduos toxicodependentes, com aquisição do VHC pelo consumo de

drogas endovenosas apresentaram taxas de resposta significativamente

superiores aos que adquiriram a infecção de forma esporádica ou pela

administração de derivados sanguíneos contaminados.

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RESULTADOS

Tabela 13. CORRELAÇÃO ENTRE RESPOSTA AO TRATAMENTO PRÉVIO E

RESPOSTA NO FINAL DO NOVO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

TX PRÉVIO

Não resposta 16,7% (n=3) 83,3% (n=15) 100% (n=18)

Recidiva 38,5% (n=10) 61,5% (n=16) 100% (n=26)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,119

Apesar dos indivíduos récidivantes a terapêutica prévia responderem em maior

percentagem do que os não respondedores a tratamento anterior, essa diferença

não foi estatisticamente significativa.

Tabela 14. CORRELAÇÃO ENTRE GENÓTIPO E RESPOSTA NO FINAL DO

TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

GENÓTTPO

Genótipo 1 31,4% (n=ll) 68,6% (n=24) 100% (n=35)

Genótipo nãol 22,2% (n=2) 77,8% (n=7) 100% (n=9)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,589

Não se verificaram diferenças quanto ao genótipo na taxa de resposta.

67

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RESULTADOS

Tabela 15. CORRELAÇÃO ENTRE CARGA VÍRICA BASAL E RESPOSTA NO FINAL DO

TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

GENÔTIPO

< lmilhão Ul /ml 24,3% (n=9) 75,7% (n=28) 100% (n=37)

> lmilhão Ul /ml 57,1% (n=4) 42,9% (n=3) 100% (n=7)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,099

A carga vírica basal não influenciou de forma significativa a resposta ao

tratamento, com 57% dos indivíduos com carga vírica superior a 1 milhão a

responderam no final do tratamento.

Tabela 16. CORRELAÇÃO ENTRE ALT/AST BASAL E RESPOSTA NO FINAL DO

TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

ALT/AST

<3N 30,4% (n=7) 69,6% (n=14) 100% (n=21)

>3N 28,6% (n=6) 71,4% (n=17) 100% (n=23)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,438

O valor das transaminases antes do início do tratamento não influenciou de

forma significativa a resposta.

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RESULTADOS

Tabela 17. CORRELAÇÃO ENTRE SUPRESSÃO VÍRICA À SEMANA 12 E RESPOSTA

NO FINAL DO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

ARN VHC12 SEM

NEG 52,4% (n=ll) 47,6% (n=10) 100% (n=21)

POS 8,7% (n=2) 91,3% (n=21) 100% (n=23)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,002

A supressão do ARN do VHC às 12 semanas de tratamento associou-se

estatisticamente a resposta no final do tratamento.

Tabela 18. CORRELAÇÃO ENTRE DIMINUIÇÃO DA CARGA VÍRICA À SEMANA 12 E

RESPOSTA NO FINAL DO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

ARN VHC SEM 12

< 2 loglO 5,2% (n=l) 94,8% (n=18) 100% (n=19)

> 2 loglO 48% (n=12) 52% (n=13) 100% (n=25)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,001

Uma resposta virológica precoce (a diminuição da carga vírica superior a 21ogl0

inclui os doentes que negativaram o ARN do VHC) associou-se a uma resposta

virológica no final do tratamento.

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RESULTADOS

Tabela 19. CORRELAÇÃO ENTRE FIBROSE E CIRROSE E RESPOSTA NO FINAL DO

TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

FIBROSE

Sem Fibrose 17,6% (n=3) 82,4% (n=14) 100% (n=17)

Com Fibrose 36,8% (n=7) 63,2% ín=12) 100% ín=19)

Cirrose 37,5% (n=3) 62,5% (n=5) 100% (n=8)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,586

A presença ou ausência de fibrose, bem como a existência ou não de cirrose não

se correlacionou com a taxa de resposta.

Tabela 20. CORRELAÇÃO ENTRE ACTIVIDADE NECRO-INFLAMATÓRIA E

RESPOSTA NO FINAL DO TRATAMENTO

RESPOSTA 48 SEMANAS

Total Resposta Não Resposta Total

ACTIVIDADE

Ligeira 21,2% (n=7) 78,8 % (n=26) 100% (n=33)

Moderada 54,5% (n=6) 45,5% (n=5) 100% (n=ll)

Total 29,5% (n=13) 70,5% (n=31) 100% (n=44)

p=0,074

O grau de actividade necroinflamatória não se correlacionou com a taxa de

resposta.

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RESULTADOS

Dos factores dependentes do hospedeiro, a idade inferior a 40 anos, o índice de

massa corporal inferior a 25, e a aquisição da infecção através do consumo de

drogas por via endovenosa, foram os que demonstraram influenciar de forma

significativa a resposta ao tratamento combinado com interferon peguilado e

ribavirina. Dos factores relacionados com o vírus, apenas a supressão ou a

diminuição superior a 2 loglO da virémia à décima segunda semana de

tratamento, foram preditivos de resposta.

Comparação entre parâmetros clínicos e virológicos

Para além dos factores relacionáveis com a obtenção de resposta, também

estudamos algumas correlações possíveis entre parâmetros virológicos e

características clínicas, apresentando-se em seguida os resultados obtidos.

Quando comparamos o tipo de resposta ao tratamento prévio (recidiva versus

não resposta) relativamente à carga vírica basal, ao genótipo, aos valores basais

de transaminases e à presença ou ausência de cirrose, verificamos diferenças

com significado estatístico apenas em relação ao estádio histológico (Tabela 21).

Embora em ambos os grupos predominassem os não cirróticos (constituem 82%

da população estudada), esta diferença é mais evidente no grupo dos

récidivantes, enquanto que no grupo dos não respondedores é mais equilibrada

a proporção cirróticos/não cirróticos.

Em termos de carga vírica e transaminases basais a diferença entre os dois

grupos não foi significativa (p=0,33 e p=0,42 respectivamente). O genótipo 1

estava presente em 77,8% dos não respondedores e 80% dos récidivantes

(p=0,86).

71

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RESULTADOS

Tabela 21. CORRELAÇÃO ENTRE RESPOSTA AO TRATAMENTO ANTERIOR E

HISTOLOGIA

HISTOLOGIA

Total Cirrose Não cirrose Total

TX PRÉVIO

Não resposta 33,3% (n=6) 66,7% (n=12) 100% (n=18)

Recidiva 7,7% (n=2) 92,3% (n=24) 100% (n=26)

Total 18,2% (n=8) 81,8% (n=36) 100% (n=44)

p=0,03

Na comparação entre os parâmetros virológicos (carga vírica e genótipo), e os

valores basais de transaminases e estádio histológico, encontraram-se os

seguintes resultados:

- a média da ALT para carga vírica inferior a 1 milhão Ul/ml, foi de

141,73±88,85 e para carga vírica superior a 1 milhão Ul /ml foi de 91,0±36,72

(p=0,32);

- a média da AST para carga vírica inferior a 1 milhão Ul/ml, foi de 93,84±55,4 e

para carga vírica superior a 1 milhão Ul /ml 57,67±18,85 (p=0,10);

- o valor médio da carga vírica pré-tratamento foi semelhante no grupo com

cirrose (5,47 logl0±0,43) e sem cirrose (5,56±0,99) (p=0,264);

- o genótipo vírico não se relacionou com o valor de transaminases, ou seja, o

genótipo 1 e não-1 associaram-se a valores médios de transaminases sem

diferença significativa (AST:89,06±9,57 e ALT:121,59±11,49 para o genótipo 1, e

AST:87,78±14,96 e ALT:184,0±42,2 para o genótipo não 1) (p=0,39);

- quando comparamos o genótipo e a carga vírica basal não verificamos

diferenças: os indivíduos com genótipo 1 apresentavam uma carga vírica média

de 5,5 loglO, e os indivíduos com genótipo não-1 apresentavam uma carga

vírica média de 5,7 loglO (p=0.68);

72

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RESULTADOS

- nenhum genótipo se associou de forma significativa à presença ou ausência de

cirrose. Dos indivíduos com genótipo 1, seis (17,1%) apresentavam cirrose, e

dos indivíduos com genótipo não-1, dois (22,2%) apresentavam cirrose

(p=0,637).

Como um dos factores preditivos de resposta encontrado foi o modo de

infecção, comparamos algumas variáveis entre as diferentes vias de contágio.

Os indivíduos toxicodependentes eram significativamente mais jovens do que

os outros 2 grupos, com uma média de idade de 38,5±9,3 anos (p=0,04). Os

indivíduos infectados através de derivados do sangue contaminados

apresentavam uma média de idade de 52,5+13,43 anos, e os indivíduos com

infecção esporádica apresentavam uma média de idade de 57,8±7,92 anos.

Neste último grupo de 11 doentes não se encontrava nenhum indivíduo com

idade inferior a 40 anos.

Em relação ao genótipo infectante não encontramos diferenças com significado

estatístico entre os 3 tipos de contágio (p=0,39), o que também se verificou em

relação à duração média da infecção (p=0,76).

Tolerabilidade e reacções adversas à terapêutica

Verificaram-se efeitos laterais clinicamente importantes em 11 doentes (25%),

tendo motivado a interrupção do tratamento em 8 doentes (18%) e redução de

dose de ribavirina em 3 doentes (7%). As causas que motivaram a suspensão do

tratamento foram as seguintes: hepatite aguda, em 2 doentes; toxicodermia,

num doente; alterações psiquiátricas graves num doente; hipotiroidismo num

doente; infecções de repetição e diabetes mellitus de difícil controlo num

doente; e não aderência ao tratamento em 2 doentes. A redução de dose,

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RESULTADOS

necessária em 3 doentes, deveu-se aos efeitos hematológicos registados (axiemia

em 1 e trombocitopenia em 2). Após a suspensão da terapêutica verificou-se

uma recuperação total e progressiva das alterações clínicas e analíticas

observadas. Os 3 doentes que necessitaram de diminuição de dose puderam

desse modo completar a duração prevista do tratamento.

Na totalidade dos 44 doentes tratados, os efeitos laterais observados com maior

frequência foram os seguintes: astenia em 41 doentes (93%), emagrecimento

superior a 5% do peso basal em 40 doentes (90%); alterações do humor em 40

doentes (90%); dispepsia em 23 doentes (52%); prurido em 20 doentes (45%);

xerodermia em 15 doentes (34%); e atrofia cutânea no local da injecção em 3

doentes (7%). Nenhum destes efeitos secundários motivou redução de dose ou

interrupção do tratamento.

74

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RESULTADOS

SUMÁRIO DOS RESULTADOS

Características ãa população

Dos 44 doentes estudados, 26 (59%) eram do sexo masculino e 18 (41%)eram do

sexo feminino. A média de idade desta população era de 48,75±13,33 anos.

Dezoito (41%) dos doentes não tinham respondido a tratamentos prévios

combinados de interferon e ribavirina, e os restantes 26 doentes (59%) tinham

recidivado após a suspensão do tratamento.

O modo de transmissão foi em 18 doentes (41%) pela administração de

produtos sanguíneos contaminados, em 15 doentes (34%) pelo uso de drogas

por via endovenosa e 11 doentes (25%) faziam parte da categoria de

transmissão esporádica.

O genótipo 1 foi o mais prevalente, estando presente em 35 doentes (79%), e o

genótipo 3 e 4 infectavam respectivamente 6 (14%) e 3 (7%)doentes.

A carga vírica basal era superior a 1 milhão de Ul /ml em 7 doentes (16%).

Em termos de estádio e actividade histológica, 8 doentes (18%) apresentavam

;, e 11 doentes (25%) apresentavam actividade inflamatória moderada. cirrose,

Todos os doentes apresentavam valores de transaminases superiores a 2xLSN,

sendo a média pré-tratamento de 134,65±85,11 U / l para a ALT e de 88,79±53,23

U / l para a AST.

75

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RESULTADOS

Resposta à terapêutica : supressão do ARN do VHC e normalização das transaminases

Observámos a supressão do ARN do VHC em 13 (30%) dos 44 doentes, no fim

das 48 semanas de terapêutica combinada de interferon peguilado e ribavirina.

A normalização dos valores de transaminases ocorreu também em 13 dos 44

doentes (30%). A ocorrência simultânea de resposta virológica e bioquímica

verificou-se em 9 doentes (20%).

Efeito do tratamento nas subpopulações de linfócitos CD4 e CD8e autoanticorpos

Quando comparámos a percentagem média de linfócitos CD4, CD8 e a média

da razão CD4/CD8, antes e após o tratamento, não observamos diferenças com

significado estatístico. Um doente desenvolveu manifestações de

autoimunidade com o aparecimento de anticorpos antitiroideus e consequente

hipotiroidismo.

Factores pré tratamento e resposta à terapêutica

Em relação aos parâmetros pré tratamento analisados, os que se associaram de

forma estatisticamente significativa com a obtenção de resposta virológica no

final do tratamento foram os seguintes: obtenção de resposta virológica parcial

às 12 semanas de tratamento; infecção por meio de drogas endovenosas; idade

inferior a 40 anos e índice de massa corporal inferior a 25.

Dos restantes parâmetros analisados (carga vírica basal, transaminases basais,

genótipo, tipo de resposta a tratamento prévio, sexo e grau de actividade

inflamatória e fibrose), nenhum mostrou correlação com significado estatístico

na obtenção de resposta ao tratamento.

76

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RESULTAEOS

Comparação entre parâmetros clínicos e virológicos

Quando avaliamos a associação entre as características virológicas (genótipo e

carga vírica basal) e as caracterísicas clínicas dos nossos doentes (transaminases,

estádio histológico) não encontramos nenhuma correlação. Do mesmo modo, o

tipo de resposta ao tratamento anterior também não se correlacionou com o

genótipo ou carga vírica, nem com o valor basal das transaminases. Porém,

encontramos uma associação entre o tipo de resposta prévia e a presença ou

ausência de cirrose. Noventa e dois por cento dos indivíduos récidivantes não

apresentavam cirrose, enquanto que no grupo dos não respondedores 33,3%

apresentavam cirrose (p=0,03).

Verificámos também que o grupo dos toxicodependentes, parâmetro clínico

preditivo de resposta, apresentava uma média de idade inferior aos outros 2

grupos e à média geral (p=0,04).

Tolerabilidade e reacções adversas à terapêutica

Dos 44 doentes que iniciaram a terapêutica, 8 (18%) tiveram de suspender a sua

administração previamente às 48 semanas de tratamento, pelo desenvolvimento

de efeitos laterais graves, e em 3 (7%) foi necessário proceder a redução da dose

inicial. Os efeitos laterais que motivaram a suspensão da terapêutica foram: hepatite

aguda ao PEG, toxicodermia, alterações psiquiátricas graves, hipotiroidismo,

infecções de repetição e diabetes mellitus não controlável.

Para além destes efeitos laterais verificaram-se outros com frequência elevada,

mas que não impediram a manutenção e conclusão do tratamento: astenia,

emagrecimento, alterações do humor, dispepsia, prurido, xerodermia e atrofia

cutânea no local da picada.

77

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DISCUSSÃO

7. DISCUSSÃO

O nosso estudo pretendeu caracterizar os parâmetros clínicos e virológicos que

influenciam a resposta ao tratamento com interferon peguilado e ribavirina, em

indivíduos que não responderam ou recidivaram a tratamento prévio com

interferon e ribavirina. Tratando-se de um grupo de doentes particularmente

difícil, sobre os quais escasseiam dados na literatura, tentamos ainda estabelecer

critérios preditivos de resposta. A dificuldade acrescida deste grupo, ocorre não

só pela componente motivacional que condiciona a aderência a este tratamento

prolongado e incómodo, como também pela possível resistência real que

representam estes doentes, seja pelas suas características imunológicas, seja

pelas circunstâncias decorrentes do convívio prolongado hospedeiro/ vírus.

Neste estudo prospectivo foram incluídos 44 doentes com infecção crónica pelo

VHC, com sinais de replicação vírica activa e marcadores de citólise hepática,

traduzidos por ARN do VHC detectado no soro, e valores de transaminases

séricas elevados. Todos os doentes tinham sido previamente submetidos a

tratamento com interferon e ribavirina, ao qual não responderam ou

recidivaram. O estudo teve a duração de 48 semanas.

Tendo em conta a evolução da infecção crónica pelo VHC,o objectivo

primordial do tratamento é a erradicação vírica sustentada e a cura da doença.

No entanto nem sempre é possível alcançar estes objectivos, sendo então

importante definir objectivos secundários, como sejam a diminuição da

inflamação hepática e o atraso da progressão para cirrose, a prevenção da

descompensação hepática e do carcinoma hepatocelular, e a diminuição da

mortalidade.

Embora se saiba que os indivíduos tratados com terapêutica antivírica

apresentam melhoria histológica mesmo que não obtenham resposta virológica,

o significado e a duração desta melhoria permanece ainda desconhecido. Vários

78

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DISCUSSÃO

estudos156165166167168 demonstraram uma melhoria significativa das alterações

histológicas nos indivíduos submetidos a tratamento da hepatite C, mais

evidente nos indivíduos que obtiveram RVS. A fibrose e mesmo a cirrose

hepática parecem ser entidades dinâmicas e parcialmente reversíveis com uma

terapêutica eficaz, possivelmente mesmo na ausência de uma resposta

virológica.

Torna-se assim plausível admitir que o aparecimento de fármacos mais eficazes,

podem permitir obter uma maior taxa de eliminação vírica, e que isso seja o

factor determinante para se obter um atraso na progressão da doença hepática

ou mesmo a sua regressão.

Os doentes incluídos neste estudo, ao não terem previamente respondido de

forma sustentada ao tratamento combinado, não podiam ser considerados à

partida como tendo um prognóstico mais favorável do que os indivíduos que

nunca haviam sido tratados, legitimando a sua admissão a propostas

terapêuticas potencialmente mais eficazes, quer em termos de acção antivírica,

ou de imunomodulação. A disponibilidade de um novo fármaco,

comprovadamente mais eficaz, capaz de obter taxas de resposta superiores às

descritas anteriormente, justificou a inclusão destes indivíduos num novo ciclo

terapêutico.

A enorme maioria dos estudos publicados na literatura acerca de retratamento

da hepatite C, são relativos a falências de tratamento em esquemas de

monoterapia com IPN. Nestes estudos, ficou demonstrado que o tipo de

resposta (não resposta versus recidiva) à terapêutica inicial e a diferença de

eficácia entre os dois regimes utilizados são factores determinantes do sucesso

do retratamento. A informação disponível na literatura sobre retratamento dos

indivíduos não respondedores ao IFN demonstrou de forma inequívoca, que a

79

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DISCUSSÃO

utilização do mesmo esquema terapêutico não acrescenta qualquer benefício,

enquanto que o uso concomitante de RBV possibilitou um aumento

significativo das respostas, permitindo que 12% a 15% dos indivíduos que

inicialmente não responderam atingissem uma resposta sustentada157-158'169-170.

De igual modo, a utilização do esquema combinado de IFN e RBV permitiu

obter respostas sustentadas de 49%, nos indivíduos récidivantes a

monoterapia162.

No grupo de doentes récidivantes, o genótipo e a carga vírica basal influenciam

a resposta162, enquanto que no grupo dos não respondedores, a existência de

uma resposta parcial (diminuição da carga vírica >2 loglO) ao tratamento inicial

parece ser um indicador de resposta ao retratamento.

Relativamente ao uso do PEG-IFN no retratamento, os dados são no entanto

mais limitados, pois só recentemente o seu uso foi aprovado para retratamento

de não respondedores. Mais uma vez os dados disponíveis são relativos ao

retratamento de não respondedores ou récidivantes a monoterapia com IFN,

existindo escassos estudos que englobam (e não os incluem em exclusividade)

doentes previamente tratados com terapêutica combinada159161. A terapêutica

combinada de PEG-IFN e RBV nos indivíduos tratados em monoterapia

permitiu oter respostas sustentadas de 34%-40% para os não respondedores e

60% para os récidivantes171.

Até ao momento ainda só foram realizados dois estudos159-161 utilizando PEG-

IFN e RBV no retratamento de não respondedores a IFN e RBV. Ambos os

estudos englobam doentes não respondedores a monoterapia e terapêutica

combinada. Apenas existem dados publicados relativamente a um dos

trabalhos161, no qual se obtiveram taxas de RVS de 18%, tendo sido

identificados como factores preditivos de resposta o tratamento prévio com IFN

80

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DISCUSSÃO

em monoterapia, a infecção pelos genótipos 2 e 3, uma relação AST:ALT baixa,

a ausência de cirrose, e a manutenção da dose de RBV nas 20 semanas iniciais

de tratamento. Os resultados preliminares do estudo de Jacobsen et ai159

objectivaram uma taxa de resposta global de 25% no grupo que utilizou uma

dose de PEG-IFN 1,5 ug/kg/sem, e de 40% no grupo que utilizou PEG-IFN 1,0

ug/kg/sem, associado a doses mais elevadas de RBV. Quando os resultados

foram analisados de acordo com não resposta versus recidiva prévia, o grupo

dos não respondedores demonstrou as taxas de resposta mais baixa, com RVS

de apenas 10-11%.

Relativamente ao retratamento de récidivantes à terapêutica combinada, os 15

indivíduos tratados com PEG-IFN e RBV obtiveram uma resposta no fim do

tratamento de 87% e uma resposta sustentada de 60%.

No nosso grupo de doentes, e de acordo com os resultados preliminares

descritos na literatura, obtivemos uma taxa de resposta completa (virológica e

bioquímica) no final do tratamento de 20% (9 doentes). No entanto, foi possível

obter algum tipo de resposta em mais 8 doentes: 4 obtiveram resposta

virológica sem resposta bioquímica e 4 obtiveram resposta bioquímica sem

resposta virológica. Quando analisamos estes doentes, de acordo com os

parâmetros que havíamos estabelecido, não se encontraram diferenças que

pudessem justificar esse facto. No entanto, sabe-se que cerca de 10% dos

indivíduos tratados com IFN obtêm uma resposta bioquímica sem erradicação

do ARN do VHC172"174, o mesmo ocorrendo em 80% dos indivíduos tratados

com RBV em monoterapia175"176. Mesmo com a associação dos 2 fármacos

observam-se casos de resposta bioquímica isolada138-139. Relativamente à

obtenção de uma resposta virológica isolada, este achado era frequentemente

81

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DISCUSSÃO

observado em estudos utilizando altas doses de IFN em monoterapia172174,

tendo sido também observado recentemente durante o tratamento com PEG-

IFN alfa-2a177. A razão para este facto permanece desconhecida, e no nosso

grupo de doentes não encontramos diferenças clínicas ou virológicas que o

pudessem justificar. É postulável a hepatotoxicidade do próprio interferon ou

do rearranjo molecular introduzido pela peguilação, que pudesse explicar

alguns casos de hepatite aguda como os que observamos, ou o desenvolvimento

de fenómenos de autoimunidade (embora nos nossos dois doentes com hepatite

aguda, não se tenha verificado o aparecimento de autoanticorpos, num vasto

painel explorado).

Contrariando no entanto os dados disponíveis da literatura, o tipo de resposta a

tratamentos prévios (recidiva versus não resposta) não influenciou, no nosso

estudo, de forma significativa, as taxas de resposta. Apesar da taxa de resposta

dos récidivantes ter sido superior -38,5% (10/26)- à dos não respondedores -

16,7% (3/18)- esta diferença não atingiu significado estatístico (p =0,119).

Embora a resposta nos récidivantes tenha sido superior aos não respondedores

e à resposta global, foi expressivamente mais baixa do que os dados disponíveis

na literatura. À semelhança do que se verificou na maioria dos estudos não foi

possível obter dados referentes à ocorrência de uma resposta virológica precoce

no grupo dos não respondedores, durante o tratamento prévio com IFN e RBV.

Quando analisamos estes 2 grupos, récidivantes e não respondedores,

relativamente a factores pré-tratamento que os distinguissem, verificamos que

apenas o estádio histológico apresentou diferenças com significado estatístico,

com uma percentagem significativamente mais elevada de indivíduos não

cirróticos no grupo dos récidivantes.

Na nossa série, 18% dos doentes apresentavam cirrose e 43% apresentavam

fibrose. Num estudo recente165 englobando 271 doentes, com cirrose (76%) ou

82

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DISCUSSÃO

fibrose em ponte (24%), os autores obtiveram resposta sustentada de 30% nos

indivíduos tratados com PEG-IFN. O esquema terapêutico foi bem tolerado

nesta população, com necessidade de redução de dose em apenas 10% -14% dos

doentes por efeitos hematológicos.

Neste estudo, 20% dos indivíduos com cirrose e 36,8% dos indivíduos com

fibrose responderam, em comparação com 30% de respondedores nos doentes

sem fibrose (p=0,932). Estes dados, em consonância com a literatura,

demonstram que a cirrose compensada não é uma contraindicação para o

tratamento, e que a presença de fibrose não significa uma taxa de resposta

significativamente menor.

Nos nossos doentes a terapêutica teve uma tolerância aceitável, com

necessidade de redução de dose em 7% e suspensão do tratamento em 18%.

Relativamente aos efeitos laterais que motivaram a suspensão do tratamento

nenhum esteve directamente relacionado com o estádio histológico. Em relação

aos doentes que

necessitaram de redução de dose, pela ocorrência de efeitos hematológicos,

todos apresentavam cirrose na histologia.

As variáveis demográficas e virológicas associadas com uma resposta

sustentada já estão bem estabelecidas para o IFN convencional, associado ou

não a RBV138'139'178. Os estudos recentes sugerem que os factores pré-tratamento

preditivos de resposta ao PEG-IFN são semelhantes aos estabelecidos para o

IFN, com algumas excepções179. O genótipo não-1 permanece como o indicador

mais importante de resposta. Como factores adicionais foram referidos o valor

basal de ALT superior a 3 vezes o limite superior do normal e um índice de

actividade histológica superior a IO*79. Uma outra variável com grande

fiabilidade a predizer a não resposta ao tratamento, é a determinação

quantitativa do ARN do VHC. Os estudos com PEG-IFN em indivíduos naïve

indicaram também a importância da obtenção de uma resposta virológica

83

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DISCUSSÃO

precoce, definida como a diminuição do ARN do VHC para valores

indetectáveis ou superior a 2 loglO, às 12 semanas de tratamento. Esta resposta

precoce, mais do que ser preditiva de uma resposta sustentada, identifica os

indivíduos com maior probabilidade de não resposta, permitindo a interrupção

do tratamento. Outro factor de grande importância é a aderência ao tratamento,

com a possibilidade de manter pelo menos 80% das doses iniciais dos fármacos

por um período superior a 80% do tempo previsto180.

Na ausência de dados referentes ao grupo particular de doentes que estudamos,

fomos avaliar nesta série de 44 doentes os factores que se associariam a resposta

no final do tratamento.

Dos parâmetros biológicos analisados (sexo, idade, índice de massa corporal),

apenas o sexo não seguiu os padrões descritos na literatura, verificando-se uma

maior resposta no sexo masculino (34,6% versus 22,2%), embora sem significado

estatístico (p=0,376). Os dados relativos à idade e índice de massa corporal

confirmaram os estudos anteriores, tendo-se obtido uma maior percentagem de

resposta nos indivíduos com idade inferior a 40 anos (61,5% versus 16,1%; p=

0,03) e sem excesso de peso (50% versus 20%; p-0,042).

Relativamente ao modo de aquisição da infecção, o grupo dos

toxicodependentes por via endovenosa respondeu numa percentagem mais

elevada (53,3% versus 17,2%; p=0,019) comparativamente ao grupo em que a

transmissão teria ocorrido através de produtos sanguíneos contaminados ou de

forma esporádica. Estes dados poderiam ser tradutores de diferenças entre o

genótipo infectante, o tempo de infecção ou a idade. Na análise efectuada

verificamos que estes resultados não se relacionaram nem com o genótipo nem

com o tempo de infecção, mas apenas com a idade. O grupo dos indivíduos ex-

toxicodependentes era significativamente mais jovem do que os restantes

doentes, o que está de acordo com os dados disponíveis na literatura

evidenciando a influência da idade na taxa de resposta à terapêutica.

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DISCUSSÃO

Quando analisámos os valores das transaminases (< 3x LSN versus >3x LSN), e

a actividade necroinflamatória (ligeira/moderada), não verificamos que a

presença de sinais tradutores de agressão hepática (citólise) se associassem a

uma maior taxa de resposta. Apenas 28,6% dos indivíduos com transaminases

superiores a 3x LSN obtiveram resposta, comparativamente a 30,4% dos

indivíduos com valores inferiores a 3x LSN. Do mesmo modo, embora os

indivíduos com uma actividade necroinflamatória mais acentuada na

biópsiahepática tenham respondido numa maior percentagem (54,5% versus

21,2%), esta diferença não adquiriu significado estatístico (p=0,074). Verificamos

também que valores de transaminases mais elevados não se associaram a cargas

víricas mais elevadas, nem a genótipos particulares. Tanto o genótipo 1 como o

genótipo não-1 se associaram a subidas semelhantes nos valores de ALT e AST.

A valores mais elevados de cargas víricas basais não corresponderam valores de

transaminases significativamente mais elevados. Estes dados estão de acordo

com o conhecimento da biologia e comportamento da infecção pelo VHC, pois

sabe-se que o genótipo e a carga vírica não influenciam a magnitude da lesão

hepática.

Dos factores relacionados com o vírus, em oposição ao que estava descrito na

literatura, o genótipo e a carga vírica basal não foram factores preditivos de

resposta. Dos 13 doentes com ARN do VHC indetectável no final do

tratamento, 12 obtiveram uma resposta virológica precoce, o que está de acordo

com a literatura. Dos 21 indivíduos que negativaram o ARN do VHC à 12a

semana de tratamento, 52% responderam no final, enquanto que apenas 8% dos

que não negativaram, responderam. Do mesmo modo, dos indivíduos que

tiveram uma diminuição da carga vírica superior a 2 loglO (incluindo os que se

tornaram PCR negativos) à semana 12, 48% respondeu no final do tratamento,

comparativamente a apenas 5% dos doentes com uma diminuição da carga

vírica inferior a 2 loglO.

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DISCUSSÃO

Nesta série confirmamos que a obtenção de uma resposta virológica precoce é

um factor preditivo de resposta à terapêutica.

Quando comparamos o número de doentes que negativaram o ARN do VHC à

décima segunda semana (21), com o número no final do tratamento (13),

constatamos que 38% dos doentes voltaram a ter ARN do VHC detectável no

soro. Este fenómeno é referenciado na literatura como fenómeno "breakthrough",

e é definido como o reaparecimento do ARN do VHC (ou uma subida das

transaminases acima do limite superior do normal) durante o período de

tratamento, num indivíduo que já havia obtido resposta. Este padrão de

resposta parece corresponder ao aparecimento de uma nova mutação ou

quasispecies do VHC, seleccionada pela pressão farmacológica, e que deixa de

ser sensível à terapêutica181182, ou pelo desenvolvimento de anticorpos contra o

IFN183.

Os nossos doentes já haviam sido submetidos a uma pressão de selecção prévia,

e provavelmente a população vírica infectante actual seria diferente da

população inicial, com uma maior complexidade genética. Sabe-se que durante

o tratamento com IFN ocorre uma modificação na composição das quasispecies,

resultante dessa designada pressão de selecção184. Uma maior complexidade e

diversidade de quasispecies pré-tratamento associa-se a uma menor taxa de

resposta ao IFN. Pawlotski63 demonstrou que durante o tratamento com IFN se

observam alterações nas variantes major das quasispecies HVR1. Um estudo

recente utilizando análise sequencial, demonstrou que os indivíduos que

respondem apresentam uma diminuição marcada da diversidade das

quasispecies numa fase inicial do tratamento, o que não se verifica nos não

respondedores185. Uma das diferenças entre o interferon convencional e o

interferon peguilado é a capacidade de se manterem nivéis plasmáticos

constantes de fármaco entre doses consecutivas. Desse modo mantém-se uma

supressão vírica permanente, o que teoricamente limitaria a capacidade de

86

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DISCUSSÃO

"escape" vírico e a constituição e proliferação de uma população resistente ao

tratamento.

Os resultados obtidos no nosso estudo contrastam com este pressuposto, na

medida em que, parece evidente que durante o tratamento se desenvolveu uma

população resistente ao interferon, explicando o reaparecimento do ARN do

VHC, e que passou a ser a população dominante, condicionando a não resposta

no final do tratamento.

Até ao momento permanecem por esclarecer os mecanismos moleculares

envolvidos na resistência do HCV ao IFN. Enomoto186 descreveu uma região

específica no gene NS5A associada à sensibilidade ao IFN, no genótipo lb , que

foi denominada IFN-sensitivity-determining region (ISDR). Os indíviduos que

responderam à terapêutica apresentavam inúmeras substituições de

aminoácidos nessa zona, enquanto que os não respondedores apresentavam

uma região muito conservada. Outros estudos40187"189 surgiram com dados

contraditórios e até ao momento não foi identificada uma sequência consensual

associada à resistência ao IFN. Um dos possíveis mecanismos de interferência

vírica com a actividade antivírica do IFN, resulta da interacção da NS5A com a

proteína cínase (PKR), uma enzima celular induzida pelo IFN42. Esta interacção

resultaria na inibição da cínase. Subsequentemente foi identificada uma região a

jusante da ISDR, essencial para a ligação à PKR, e que demonstrou apresentar

uma maior heterogeneidade no grupo dos respondedores190.

Entretanto foi identificada uma outra região56provavelmente envolvida na

resistência ao IFN, na glicoproteína E2, denominada PePHD (PKR-eIF-2a

phosphorylation site), embora os resultados dos diversos estudos sejam

contraditórios e inconclusivos.

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DISCUSSÃO

Com os nossos dados, relativos ao possível fenómeno de escape observado no

tratamento com IFN peguilado, também subscrevemos a noção de que um dos

caminhos para a evolução do tratamento da hepatite C passará pela

identificação precisa dos mecanismos moleculares de resistência vírica e sua

aplicabilidade clínica, com determinação das quasispecies pré tratamento,

seguimento da sua evolução durante o tratamento, e determinação das zonas

do genoma vírico determinantes da resposta.

As referências relativamente aos efeitos laterais da terapêutica evidenciam uma

elevada tolerância, mesmo nos indivíduos com cirrose, com taxas de suspensão

da terapêutica ou redução da dose entre os 10-15%. Na nossa série,

encontramos uma elevada incidência de efeitos laterais, comparativamente com

os encontrados por Fried et ai166 quando comparou PEG-IFN com IFN

convencional; no entanto apenas tivemos de proceder a redução da dose de

RBV para 600 mg/d ia em 3 doentes (7%), por repercussão hematológica. Em 8

doentes(18%) houve necessidade de interromper o tratamento, por efeitos

laterais graves. Em 2 doentes diagnosticou-se hepatite aguda grave191, um

doente desenvolveu uma toxicodermia à RBV, num doente houve necessidade

de interromper o tratamento por apresentar glicemias elevadas de difícil

controlo farmacológico associadas a prostatites de repetição, um doente

desenvolveu alterações psiquiátricas graves com ideação suicida e outro doente

desenvolveu um hipotiroidismo, resultante do aparecimento de anticorpos anti-

tiroideus. Dois doentes suspenderam o tratamento por não aderência.

Salienta-se que esta associação de fármacos, não se acompanhou, ao longo do

ano, do aparecimento de fenómenos de autoimunidade com desenvolvimento

de autoanticorpos, à excepção da doente referida. Também as subpopulações

linfocitárias não registaram alterações significativas com a terapêutica

instituída.

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DISCUSSÃO

Todos os doentes que não foram capazes de concluir as 48 semanas pré

estabelecidas e que foram considerados como não respondedores,

condicionaram um peso significativo quanto à relativização da eficácia deste

novo retratamento. Este facto permite-nos sublinhar que para além do papel

estritamente virológico quantificável, que indiscutivelmente define critérios de

eficácia duma associação de fármacos, o impacto clínico e as circunstâncias

individuais do doente são sempre variáveis mais subjectivas, mas definitivas

quanto ao desempenho final duma estratégia terapêutica.

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CONCLUSÕES

8. CONCLUSÕES

Em resumo, e em resposta aos objectivos por nós delineados, podemos afirmar

que:

1. A resposta à terapêutica tendo sido avaliada em termos de supressão do

ARN do VHC (resposta virológica) e normalização das transaminases

(resposta bioquímica), permitiu constatar que o retratamento de

indivíduos não respondedores ou récidivantes a terapêutica de

combinação, com a formulação peguilada de interferon associada a

ribavirina, conseguiu obter uma resposta virológica e uma resposta

bioquímica em 30% dos doentes tratados. Em 20% dos doentes obtive-se

uma resposta completa (uma resposta virológica e bioquímica em

simultâneo).

2. O estudo dos parâmetros clínicos pré-tratamento, permitiu estabelecer

como factores preditivos de resposta a este novo esquema de

retratamento de combinação, a idade inferior a 40 anos, o índice de

massa corporal inferior a 25, e a aquisição da infecção pelo consumo de

drogas endovenosas. Relativamente aos parâmetros virológicos, apenas a

obtenção de uma resposta virológica precoce à décima segunda semana

de tratamento, se associou de forma significativa com a resposta no final

do tratamento.

Dos restantes parâmetros estudados (sexo, estádio histológico e

actividade necroinflamatória, tipo de resposta obtida com o tratamento

anterior, valor basal das transaminases, genótipo vírico e carga vírica

basal) nenhum se associou de forma significativa com a resposta obtida

no final do tratamento.

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CONCLUSÕES

Não se observou alteração dos parâmetros imunológicos ao longo do

tratamento, à excepção do desenvolvimento de tiroidite com

autoanticorpos numa doente. As subpopulações linfocitárias não

apresentaram modificação significativa.

3. Podemos afirmar que este esquema terapêutico foi relativamente bem

tolerado. Houve necessidade de interrupção do tratamento em 18% dos

doentes por efeitos laterais graves (hepatite tóxica, toxicodermia,

alterações psiquiátricas graves, hipotiroidismo, infecções de repetição e

diabetes mellitus não controlada), e 7% dos doentes necessitaram de

redução de dose por citopenias. Os restantes doentes tratados

experimentaram efeitos laterais numa proporção significativa, mas sem

compromisso da actividade diária.

Da análise dos resultados obtidos, parece-nos que a terapêutica combinada de

interferon peguilado e ribavirina poderá constituir uma opção válida nos

indivíduos não respondedores ou récidivantes a tratamento com interferon

convencional e ribavirina. Um esquema terapêutico com maior eficácia permitiu

obter resposta numa percentagem importante destes doentes. O desafio que se

nos coloca nesta fase é o seguimento destes doentes no sentido de avaliar a taxa

de resposta sustentada. Para além disso poderá ser importante uma reavaliação

histológica e a ponderação da instituição de uma terapêutica de manutenção

com interferon peguilado, nos indivíduos que apesar de não suprimirem a

replicação vírica, apresentaram uma resposta bioquímica e uma melhoria

histológica.

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CONCLUSÕES

Conseguimos também identificar parâmetros preditivos de resposta, alguns dos

quais num sentido divergente dos estudos publicados na literatura, e que nos

parecem ampliar o grupo de doentes passíveis de beneficiar com um novo ciclo

terapêutico. É o casos dos indivíduos com fibrose avançada e cirrose, que não

responderam significativamente pior do que os indivíduos sem fibrose e

poderão ser o grupo que mais beneficie com o tratamento.

Uma outra área que nos parece de interesse desenvolver é o estudo molecular

vírico, com a avaliação pré tratamento, no decurso do tratamento e no fim do

tratamento, da composição genómica do isolado, possibilitando desse modo um

melhor conhecimento das modificações estruturais induzidas pela pressão

farmacológica, e desse modo ser possível prever em termos moleculares quais

os indivíduos com maior ou menor probabilidade de resposta, bem como

compreender a importância da biologia do vírus na resistência à terapêutica.

Pensamos que embora permaneçam por esclarecer diversas dúvidas relativas à

patogenia, evolução e resistência ao tratamento de alguns doentes com hepatite

crónica C, a realização de trabalhos prospectivos, como o que encetamos,

poderá vir a permitir o estabelecimento de normas de orientação e de boa

prática clínica, adaptadas à nossa realidade, e que consigam responder à

inquietação dos clínicos e dos doentes sobre o possível e o ideal a oferecer

nestas situações.

92

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RESUMO

9. RESUMO

A infecção pelo vírus da hepatite C é uma das principais causas de doença

hepática, sendo um agente etiológico importante na cirrose hepática, carcinoma

hepatocelular e transplante hepático.

Actualmente estima-se que existam cerca de 170 milhões de indivíduos

infectados em todo o mundo, o que constitui aproximadamente 3% da

população mundial.

A sua evolução para a cronicidade em 80% dos casos, contribui para o grande

impacto desta doença em termos de saúde pública.

Na última década, os avanços em termos de biologia molecular permitiram um

conhecimento mais aprofundado da estrutura e cinética vírica, o que se

traduziu na sua aplicabilidade em termos terapêuticos.

A introdução do interferon peguilado no tratamento da hepatite C veio

revolucionar o conceito de tratamento desta infecção, ao permitir ultrapassar

uma deficiência muito limitativa da eficácia dos esquemas terapêuticos prévios,

possibilitando a manutenção de níveis constantes de supressão vírica. As taxas

de resposta sustentada passaram de 45% com terapêutica combinada de

interferon e ribavirina, para 56% com terapêutica combinada de interferon

peguilado e ribavirina, chegando aos 80% em indivíduos infectados com os

genotipos 2 e 3. A maior eficácia deste regime terapêutico relançou o interesse

no retratamento de indivíduos que não responderam ou recidivaram a

terapêuticas prévias comprovadamente menos eficazes.

Até ao momento apenas existiam 2 trabalhos versando o retratamento deste

grupo particular de doentes, mas englobando também doentes não

respondedores a IFN em monoterapia. Os resultados desses estudos foram

promissores com respostas sustentadas de 18%.

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RESUMO

Realizamos um estudo prospectivo envolvendo 44 doentes com infecção crónica

pelo vírus da hepatite C, previamente tratados com interferon e ribavirina, sem

resposta ou com recidiva. O estudo teve a duração de 48 semanas e pretendeu

avaliar a eficácia em termos de supressão do ARN do VHC e normalização das

transaminases, de um novo esquema terapêutico, utilizando interferon

peguilado e ribavirina. Pretendemos também estabelecer factores clínicos e

virológicos preditivos de resposta e determinar o perfil de segurança e

tolerância deste esquema terapêutico.

Em todos os doentes foi realizado estudo analítico de rotina, determinação de

marcadores de infecção pelo VHB e VIH, estudo imunológico e exclusão de

condições associadas que contraindicassem o tratamento. Todos os doentes

possuíam estudo histológico prévio, e foram avaliados clinica e analiticamente

com periodicidade mensal nos 4 primeiros meses de tratamento e

posteriormente de 2 em 2 meses.

A dose terapêutica utilizada foi de Peginterferon alfa-2b 1,5 ug /kg / semana, se,

e ribavirina 800-1000 mg/dia, oral.

A determinação do genótipo vírico foi efectuada utilizando o teste INNO-LiPA

HCV II da INNOGENETICS®, e a carga vírica foi determinada pelo teste

COBAS Amplicor HCV Monitor™, versão 2.0 da ROCHE®, cujo limiar de

detecção é de 400 IU/ml.

A avaliação da carga vírica foi realizada antes do início do tratamento, às 12, 24

e 48 semanas.

A análise estatística dos resultados foi efectuada utilizando o programa SPSS

11.0 para o Windows®, e os testes utilizados foram o e o t de Student. O

significado estatístico foi considerado para valores de p inferiores a 0,05.

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RESUMO

Este grupo de doentes desenvolveu efeitos laterais numa percentagem

significativa, a maioria deles sem grande significado clínico e sem condicionar

uma diminuição de dose. Apesar disso houve necessidade de interromper o

tratamento em 8 doentes por efeitos laterais graves (hepatite aguda tóxica,

toxicodermia, diabetes mellitus não controlável, infecções de repetição,

alterações psiquiátricas e hipotiroidismo), e em 3 doentes foi necessário

diminuir a dose de ribavirina ou do interferon peguilado por citopenia.

Não se detectaram outras alterações imunológicas, para além do aparecimento

de anticorpos antitiroideus no doente que desenvolveu hipotiroidismo.

Em resumo, o nosso estudo demonstrou a eficácia do interferon peguilado

associado à ribavirina, no tratamento de doentes não respondedores ou

recidiventes a terapêuticas prévias. Permitiu constatar que mesmo durante o

tratamento contínuo com PEG-IFN e RBV, ocorrem fenómenos de escape numa

percentagem significativa de doentes. Permitiu também confirmar o perfil de

segurança destes fármacos, embora se tenham registado numa percentagem

elevada os efeitos laterais tradicionalmente descritos na literatura.

Os dados disponíveis atribuiram à idade, índice de massa corporal, modo de

infecção e resposta virológica parcial um valor preditivo do tipo de resposta ao

tratamento.

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