capurro, r. epistemologia e ciência da informação (2003)

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EPISTEMOLOGIA E CIENCIA DA INFORMAÇÃO Rafael Capurro V Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, Belo Horizonte (Brasil) 10 de Novembro de 2003. Tradução de Ana Maria Rezende Cabral, Eduardo Wense Dias, Isis Paim, Ligia Maria Moreira Dumont, Marta Pinheiro Aun e Mônica Erichsen Nassif Borges. Versión original en castellano aquí. Presentación: PowerPoint Sobre este tema ver: - Renato Fabiano Matheus: Rafael Capurro e a filosofia da informação: abordagens, conceitos e metodologias de pesquisa para a Ciência da Informação. En PERSPECTIVAS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (2005) Vol. 10, No. 2 - Rosa Lidia Vega-Almeida, J. Carlos Fernández-Molina, Radamés Linares: Coordenadas paradigmáticas, históricas y epistemológicas de la Ciencia de la Información: una sistematización. En: IRinformationresearch, vol. 14, No. 2, June, 2009. Ver también los siguientes trabajos del autor: - Epistemology and Information Science (1985) - Information (Munich 1978) - Hermeneutik der Fachinformation (1986). - Hermeneutics and the Phenomenon of Information. - Rafael Capurro, Birger Hjørland: The Concept of Information (2003) Epistemologia e Ciencia da Informacao http://www.capurro.de/enancib_p.htm 1 de 23 23-10-2012 12:59

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EPISTEMOLOGIA

E

CIENCIA DA INFORMAÇÃO

Rafael Capurro

V Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, BeloHorizonte (Brasil) 10 de Novembro de 2003. Tradução de Ana MariaRezende Cabral, Eduardo Wense Dias, Isis Paim, Ligia Maria MoreiraDumont, Marta Pinheiro Aun e Mônica Erichsen Nassif Borges.

Versión original en castellano aquí. Presentación: PowerPoint

Sobre este tema ver:- Renato Fabiano Matheus: Rafael Capurro e a filosofia da informação:abordagens, conceitos e metodologias de pesquisa para a Ciência daInformação.En PERSPECTIVAS EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO (2005) Vol. 10, No. 2- Rosa Lidia Vega-Almeida, J. Carlos Fernández-Molina, RadamésLinares: Coordenadas paradigmáticas, históricas y epistemológicas de laCiencia de la Información: una sistematización. En:IRinformationresearch, vol. 14, No. 2, June, 2009.

Ver también los siguientes trabajos del autor:- Epistemology and Information Science (1985)- Information (Munich 1978)- Hermeneutik der Fachinformation (1986).

- Hermeneutics and the Phenomenon of Information. - Rafael Capurro, Birger Hjørland: The Concept of Information (2003)

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Indice

IntroduçãoI. Correntes epistemológicas do Século 20II. Paradigmas epistemológicos da ciência da informaçãoConclusão: Conseqüências práticas dos paradigmas epistemológicas

Bibliografía

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Resumo

Analisa-se na introdução o conceito de paradigma e identifica-se oescopo da investigação epistemológica no campo da ciência dainformação. A primeira parte menciona alguns paradigmasepistemológicos que influenciaram a ciência da informação, a saber:hermenêutica, racionalismo crítico, semiótica, construtivismo, cibernéticade segunda ordem e teoria de sistemas. Na segunda parte sãoaprofundados três paradigmas epistemológicos. Em primeiro lugarexpõe-se o paradigma físico. Tomando como ponto de partida a teoria deShannon e Weaver, mencionam-se os experimentos de Cranfield e ateoria „informação-como-coisa“ de Michael Buckland. Em segundo lugaranalisa-se o paradigma cognitivo, representado dentre outros por B.C.Brookes, Nicholas Belkin, Pertti Vakkari e Peter Ingwersen. Por fim,expõe-se o paradigma social que tem suas origens na obra de JesseShera, atualmente representado pelas teorias de Bernd Frohmann,Birger Hjørland, Rafael Capurro e Søren Brier. Finalmente, indicam-se asconseqüências práticas dos paradigmas epistemológicos para aconcepção e avaliação de sistemas de informação bem como para ainvestigação em ciência da informação.

Palavras-chave

Epistemologia – Ciência da informação – Recuperação da informação –Tecnologia da informação – Paradigmas – Cognitivismo – Sociedade

Abstract

In the introduction the concept of paradigm as well as the scope ofepistemological research in information science are analized. The firstpart mentions some epistemological paradigms that have influenced

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information science so far such hermeneutics, critical rationalism, criticaltheory, semiotics, constructivism, second-order cybernetics, and systemtheory. The second part is dedicates to a detailed analysis of threeepistemological paradigms in information science. The first one is thephysical paradigm that goes back to Shannon's theory of communication.The Cranfield tests and Michael Buckland's conception of "information-as-thing" are mentioned. The second one is the cognitive paradigmrepresented by B.C. Brookes, Nicholas Belkin, Pertti Vakkari and PeterIngwersen. Finally the social paradigm, going back to Jesse Shera's"social epistemology", is explained with regard to criticisms and theoriesby Bernd Frohmann, Birger Hjørland, Rafael Capurro, and Søren Brier.Practical consequences of epistemological research concerning thedesign and evaluation of information systems as well as research ininformation science are considered.

Introdução

Há aproximadamente vinte anos, a biblioteca do Royal Institute ofTechnology de Estocolmo convidou-me para proferir uma série deconferências sobre a ciência da informação, uma delas intitulada„Epistemology and information science“ (Capurro 1985). Foi a primeiravez que falei sobre a relação entre hermenêutica e tecnologia dainformação, fazendo uma exposição da tese que um ano mais tardeseria aceita pela Universidade de Stuttgart como tese de pós-doutorado(‘habilitação’) em filosofia, intitulada „Hermenêutica da informaçãocientífica“ (Capurro 1986). Nessa tese indicava que desde o ponto devista hermenêutico o conhecimento está ligado à ação, mostrando ospressupostos e as conseqüências a respeito dos processos cognitivos epráticos relacionados com a busca de informação científica armazenadaem computadores, assim como com a concepção de tais sistemas e seupapel na sociedade.

As relações entre epistemologia e ciência da informação têm umacomplexa história, que não é possível aqui mostrar numa visãodetalhada. Isso é válido em maior grau para a própria epistemologia quemencionarei brevemente na primeira parte, ao me referir a algumasmudanças paradigmáticas do século passado que deixaram vestígio nanossa disciplina. Em segundo lugar, vou-me aprofundar em trêsparadigmas epistemológicos predominantes na ciência da informação, asaber: o paradigma físico, o cognitivo e o social. Naturalmente que essaseleção e esquematização não só simplificam de forma extrema acomplexidade das proposições, como podem dar lugar a um malentendido, considerando a presente exposição como avanço histórico,posto que muitas teorias se entrecruzam com distintas intensidades eem diversos períodos.

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Antes de iniciar, gostaria de me referir brevemente ao conceito deparadigma. Thomas Kuhn o utiliza em sua famosa análise da estruturadas revoluções científicas com múltiplas conotações (Kuhn 1962/1970,Mastermann 1970). Como a palavra paradigma mesmo o indica — dogrego paradeigma = exemplar, mostrar (déiknumi) uma coisa comreferência (pará) a outra — o paradigma é um modelo que nos permitever uma coisa em analogia a outra. Como toda analogia, chega omomento em que seus limites são evidentes, produzindo-se então umacrise ou, como no caso de teorias científicas, uma „revolução científica“, na qual se passa da situação de „ciência normal“ a um período„revolucionário“ e em seguida a novo paradigma. Kuhn identifica aexistência de uma situação „pré-paradigmática“ na qual não seproduzem progressos científicos, como seria o caso das ciências sociais,incluindo também a ciência da informação. David Ellis tem razão quandomostra, retomando a crítica a Kuhn de Margaret Masterman, que tanto asituação de dualismo como de multiplicidade de paradigmas não sãonecessariamente sinais de estado científico pré-paradigmático, mas simcaracterísticas da ciência normal (Ellis 1992). Em outras palavras, adicotomia entre „ciência normal“ e „período revolucionário“ é demasiadoesquemática se se considerar que crises, rupturas, erros, malentendidos, equívocos, analogias, dados empíricos, conceitos,hipóteses, dúvidas, retrocessos e buscas sem saída assim como asinstituições, os instrumentos, as visões e paixões que suportam porassim dizer os processos cognitivos, constituem o cerne mesmo, emparte latente e em parte explícito, de todo campo científico, pois o êxitoou o predomínio de um paradigma científico está sempre em partecondicionado às estruturas sociais e aos fatores sinergéticos, incluindoeventos fora do mundo científico, cujo efeito multicausal não só é difícilde prever, como também de analisar a posteriori.

Minha tese é que a ciência da informação nasce em meados doséculo XX com um paradigma físico, questionado por um enfoquecognitivo idealista e individualista, sendo este por sua vez substituído porum paradigma pragmático e social ou, para tomar um famoso conceitocunhado por Jesse Shera e sua colaboradora Margaret Egan em meados do século passado (Shera 1961, 1970) e analisado emprofundidade por Alvin Goldman (2001), por uma „epistemologia social“(„social epistemology“), mas agora de corte tecnológico digital. Umnúmero recente da revista Social Epistemology (v.16, n.1, 2002) édedicado à relação entre epistemologia social e ciência da informação.Como se pode ver, o que aparentemente surge no final desserelativamente curto processo histórico, a saber, o paradigma social, já seencontrava no início, se bem que não como paradigma da ciência dainformação, mas sim de seus predecessores, em particular abiblioteconomia e a documentação.

Uma definição clássica da ciência da informação diz que essa ciênciatem como objeto a produção, seleção, organização, interpretação,armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso dainformação (Griffith 1980). Essa definição é válida naturalmente tambémpara campos específicos, de modo que, se queremos identificar o papel

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de uma ciência da informação autônoma, devemos transportá-la a nívelmais abstrato. Para isso torna-se necessária uma reflexãoepistemológica que mostre os campos de aplicação de cima para baixo,ou top down, e desde que se veja também a diferença entre o conceitode informação nessa ciência em relação ao uso e à definição deinformação em outras ciências assim como em outros contextos, como ocultural e o político, e é claro também em outras épocas e culturas. Essainvestigação é uma das tarefas mais amplas e complexas de uma futuraciência da informação unificada, que não seja meramente reducionista,mas que veja as relações análogas, equívocas e unívocas entre diversosconceitos de informação e respectivas teorias e campos de aplicação(Capurro/Hjørland 2003). Peter Fleissner e Wolfgang Hofkirchner, doiscolegas da Universidade Técnica de Viena, batizaram com meu nomeesse problema entre as relações análogas, equívocas e unívocas dosdiversos conceitos da informação, chamando-o de „o trilema de Capurro“(Fleissner/ Hofkirchner 1995).

I. Correntes epistemológicas do Século 20

Comecemos esta breve passagem pelas teorias epistemológicas doséculo passado, com a que foi, por assim dizer, a herdeira das correntestranscendentais, idealistas e vitalistas dos séculos XVIII e XIX.Refiro-me a hermenêutica. A hermenêutica como teoria filosófica foidesenvolvida por Hans-Georg Gadamer (1900-2002) (Gadamer 1975),seguindo os caminhos abertos no século XIX por FriedrichSchleiermacher (1768-1834) e Wilhelm Dilthey (1833-1911), e no séculoXX por Edmund Husserl (1859-1938) e Martin Heidegger (1889-1976),para lembrar somente alguns dos seus representantes mais notáveis.Algumas escolas filosóficas muito influentes como o racionalismo críticode Karl Popper (1902-1994), a filosofia analítica e a teoria da açãocomunicativa de Jürgen Habermas (1981) e Karl-Otto Apel (1976)criticaram a hermenêutica. Um ponto crucial da citada crítica estárelacionado com o problema da separação entre a metodologia dasciências humanas, ou ciências do espírito ("Geisteswissenschaften") e adas ciências naturais, ("Naturwissenschaften"). Enquanto as últimasteriam como finalidade a explicação causal ("erklären") dos fenômenosnaturais, as primeiras aspirariam a compreender ("verstehen") ouinterpretar ("auslegen") os fenômenos especificamente humanos como ahistoria, a política, a economia, a técnica, a moral, a arte e a religião. Otermo grego hermeneuein significa „interpretar“, mas também „anunciar“,sendo Hermes o mensageiro dos deuses e o intérprete de suasmensagens. De seu pendant egípcio, o deus Theut, inventor daescritura, fala Platão em uma famosa passagem do "Fedro" (Phaidr.174c-275b).

A hermenêutica seria, assim, o título do método das ciências doespírito que permitiria manter aberto o sentido da verdade históricaprópria da ação e pensamento humanos, enquanto que o método dasexplicações causais somente poderia aplicar-se a fenômenos naturaissubmetidos exclusivamente a leis universais e invariáveis. O título da

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obra de Gadamer „Verdade e método“ (Gadamer 1975), indica por suavez uma distinção e uma conexão entre a "verdade“ das ciências doespírito e o "método" das ciências naturais. Sem entrar agora em umaexposição detalhada desse debate, pode-se constatar que ambas ascorrentes, a hermenêutica e o racionalismo crítico, aparentementeinimigos irreconciliáveis, afirmam, acima de suas diferenças, o caráterfundamentalmente interpretativo do conhecimento, sendo ahermenêutica a que atribui maior ênfase à relação entre conhecimento eação, ou entre epistemologia e ética.

A tese de Karl Popper de que todo conhecimento científico tem umcaráter conjectural (Popper 1973) não está muito distante da afirmaçãode Gadamer de que toda a compreensão se baseia em umapré-compreensão ("Vorverständnis") ou em um "pré-julgamento"("Vorurteil"). Dessa maneira o falsificacionismo e o monismometodológico-popperiano, questionado, dentre outros, por Thomas Kuhn(1970) e Paul Feyerabend (1986), está relacionado à tese hermenêuticasobre o papel ineludível do intérprete, ou melhor dizendo, de umacomunidade de intérpretes, à qual logo se refere a ética comunicativa deKarl-Otto Apel e Jürgen Habermas. Enquanto os racionalistas críticosenfatizam o conteúdo das hipóteses e sua justificação (context ofjustification), os historiadores da ciência e, com eles também, ahermenêutica, não se cansam de afirmar que tais contextos sãocondicionados, em parte, pela situação histórica (context of discovery).

Essas correntes de pensamento tiveram repercussão na ciência dainformação e, em especial, na compreensão dos processos relacionadoscom o armazenamento e a busca da informação (information retrieval)como se mostrará, em breve. Porém há que se notar que, pelo contrário,nem a ciência da informação, nem a tecnologia da informação, temdesempenhado pepel importante na discussão filosófica mesma, que sepode interpretar como um sinal da alienação mútua entre o discursofilosófico e essa disciplina, bem como o processo tecnológico. E, mais, ahermenêutica, porém não só ela — basta recordar as críticas da escolade Frankfurt, aos meios de comunicação de massa — tem-se mostrado,na maioria dos casos, como inimiga dos avanços tecnológicos, em geral,e das redes digitais em particular (Capurro 2003, 95-96).

O desenvolvimento da computação e a investigação empírica dosprocessos neuronais cerebrais vêm revolucionando a teoria clássica doconhecimento baseada na idéia da representação, ou duplicação deuma realidade externa na mente do observador. Essa revolução começacom a chamada teoria da informação de Claude Shanon e WarrenWeaver (Shannon/Weaver 1972) e com a cibernética, que em meadosdo século passado tematiza o vínculo entre os seres vivos e, em geral,entre sistemas logo chamados autopoiéticos e o meio ambiente como seexpressou, claramente, Norbert Wiener (1961). Daí deriva a cibernéticade segunda ordem, baseada em modelos recursivos de auto referênciasdesenvolvidos, dentre outros, por Heinz von Foerster (Foerster 1974,Foerster/Poerksen 2001), pelos biólogos Humberto Maturana eFrancisco Varela (1980, 1984) e pela teoria de sistemas de Niklas

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Luhmann (1927-1998) (Luhmann 1987). Essas correntes conexas com asemiótica de Charles S. Peirce (1839-1914) influenciam a discussãoepistemológica da ciência da informação (Brier 1999). Cabe ressaltar,finalmente, que o pensamento tardio de Ludwig Wittgenstein(1889-1951), com sua virada ao mesmo tempo lingüística e pragmática,haja feito também suas incursões, lamentavelmente pouco profundas,em nossa disciplina (Blair 2003). Finalmente gostaria de citar opensamento de Michel Foucault (1926-1984) e Gianni Vattimo (1936-),os quais também influenciaram a reflexão filosófica da ciência dainformação.

No início do século XXI, a epistemologia, entendida como estudo dosprocessos cognitivos e não no sentido clássico aristotélico de estudo danatureza do saber científico e de suas estruturas lógico-racionais(episteme), adquire não só um caráter social e pragmático, mas tambémse relaciona intimamente com a investigação empírica de todos osprocessos cerebrais. Ou, mais genericamente, com todos os tipos deprocessos relacionados com a forma como os seres vivos conhecem,isto é, como fazem a construção e autogênese de suas realidades. Essaproposição epistemológica de tipo naturalista e tecnológico questiona, dediversas formas, as teses clássicas metafísica, idealista etranscendental. A tecnologia digital permite a simulação de processoscognitivos em artefatos, como nos mostram a robótica e diversos tiposde sistemas bio-tecnológicos.

Em outras palavras, as proposições epistemológicas atuais sãotecnológicas e naturalistas, no sentido de que o lugar privilegiado doconhecer humano é, pelo menos parcialmente, questionado, não sóatravés dos esforços para explicar cientificamente, por exemplo, aemergência da consciência ou da identidade pessoal, como também emrelação à tendência niveladora de tais teorias com relação a processoscognitivos no mundo natural não humano, que levam a outros novosprojetos tecnológicos, como o da inteligência e o da vida artificial. Issosignifica um agravio cognitivo da auto consciência do ser humano, quese soma aos agravantes e à descentralização cósmica, evolutiva eracional provocados pelas teorias e descobertas de Copérnico, Darwin eFreud. Podemos dizer, além do mais, que, dado o fluxo generalizado datécnica digital, não só na atividade científica como também em todas asesferas da ação humana, vivemos no horizonte de uma ontologia digital,entendido o termo ontologia não no seu sentido clássico de um estudodos seres, nesse caso dos seres digitais, mas no sentido Heideggerianode um projeto existencial, cujas conseqüências sociais e ecológicas sãodifíceis de prever (Capurro 1992, 2001, 2003, 2003a). A esse projetovinculam-se, também, os avanços em campos como o dananotecnologia e as aplicações relacionadas com uma tecnologiacomputacional distribuída (ubiquitous computing). É paradoxal, assim,que neste momento, em que a computação invade todos os campos doconhecimento e ações humanas e não humanas, a máquinacomputacional, ela mesma, se torne cada vez menos visível.

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II. Paradigmas epistemológicos da ciência da informação

A ciência da informação tem, por assim dizer, duas raízes: uma é abiblioteconomia clássica ou, em termos mais gerais, o estudo dosproblemas relacionados com a transmissão de mensagens, sendo aoutra a computação digital. A primeira raiz nos leva às próprias origens,certamente obscuras, da sociedade humana entendida como umentrelaçamento ou uma rede de relações, — Hannah Arendt fala da„‘web’ of human relationships“ (Arendt 1958, p. 183) — baseadas nalinguagem, isto é, em âmbito hermenêutico aberto, onde osentrecruzamentos metafóricos e metonímicos permitem não apenasmanter fluido o mundo das convenções e fixações que tornam possíveluma sociedade humana relativamente estável, como também nospermitem gerar a capacidade de perguntar pelo que não sabemos apartir do que cremos que sabemos.

É claro que essa raiz da ciência da informação ou, como tambémpoderíamos chamá-la, da ciência das mensagens (Capurro, 2003b), estáligada a todos os aspectos sociais e culturais próprios do mundohumano. A outra raiz é de caráter tecnológico recente e se refere aoimpacto da computação nos processos de produção, coleta,organização, interpretação, armazenagem, recuperação, disseminação,transformação e uso da informação, e em especial da informaçãocientífica registrada em documentos impressos. Este último impactopermite explicar porque o paradigma físico torna-se predominante entre1945 e 1960, seguindo a periodização proposta por Julian Warner(2001). O problema dessa periodização consiste não apenas no fato deque antes de 1945 existisse já, no campo da biblioteconomia, o que hojechamamos de paradigma social, mas também, como veremos a seguir,nas transformações posteriores desse paradigma que chegam até osdias de hoje.

1) O paradigma fisico

A ciência da informação inicia-se como teoria da information retrievalbaseada numa epistemologia fisicista. A esse paradigma, intimamenterelacionado com a assim chamada information theory de ClaudeShannon e Warren Weaver (1949-1972), que já mencionei, e tambémcom a cibernética de Norbert Wiener (1961), denominou-se o„paradigma físico“ (Elis 1992, Øron 2000). Em essência esse paradigmapostula que há algo, um objeto físico, que um emissor transmite a umreceptor. Curiosamente a teoria de Shannon não denomina esse objetocomo informação ("information"), mas como mensagem ("message"), ou,mais precisamente, como signos ("signals") que deveriam ser emprincípio reconhecidos univocamente pelo receptor sob certas condiçõesideais como são a utilização dos mesmos signos por parte do emissor edo receptor, e a ausência de fontes que perturbem a transmissão("noise source" – fonte de ruído) (Shannon/Weaver 1972). Uma vez queessas condições sejam apenas postulados ideais, a teoria propõe umafórmula, na qual se parte do número de seleções ("choices") que implica

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tal codificação, assim como de um fonte de perturbação no momento datransmissão. É justamente tal número de seleções que é chamado porShannon de „informação“ ("information"). À maior quantidade deseleções possíveis corresponde maior informação e, portanto, maiorinsegurança por parte do receptor em virtude da possibilidade de ruído("noise"). Aqui se vê, claramente, como o indica Weaver, manifestandoestranheza, que esse conceito de informação é justamente oposto aouso dessa palavra em linguagem comum, quando afirmamos queprecisamos da informação porque queremos reduzir uma situação deinsegurança ou de não saber. Em outras palavras, na terminologia deShannon, é a mensagem e não a informação que reduz a incerteza("uncertainty").

Essa teoria, tomada como modelo na ciência da informação, implicanuma analogia entre a veiculação física de um sinal e a transmissão deuma mensagem, cujos aspectos semânticos e pragmáticos intimamenterelacionados ao uso diário do termo informação são explicitamentedescartados por Shannon. Os famosos experimentos de Cranfield,realizados pelo Cranfield Institute of Technology em 1957 para medir osresultados de um sistema computadorizado de recuperação dainformação, marcam o começo, problemático sem dúvida, da influênciadesse paradigma em nosso campo ou, mais precisamente, em umasubdisciplina desse campo, a information retrieval, na qual os valores derecall e precision em relação a um sistema de indexação, sãocontrolados em situação similar à de um laboratório de física (Ellis 1992).Vêem-se aqui claramente os limites da analogia entre a linguagem, oumais precisamente, entre os conceitos semântico e pragmático dainformação, e um mecanismo de transmissão de sinais. Odesenvolvimento posterior da teoria de Shannon e Weaver mostra aintenção de incluir as dimensões semânticas e pragmáticas excluídaspor Shannon, fazendo referência seja ao processo interpretativo dosujeito cognoscente, seja a situações formalizadas de intercâmbio(Mackay 1969, Bar-Hillel 1973, Dretske 1981, Barwise/Perry 1983,Barwise/Seligman 1997, Perez Gutiérrez 2000). Torna-se evidente que,no campo da ciência da informação, o que esse paradigma exclui é nadamenos que o papel ativo do sujeito cognoscente ou, de forma maisconcreta, do usuário, no processo de recuperação da informaçãocientífica, em particular, bem como em todo processo informativo ecomunicativo, em geral. Não por acaso, essa teoria refere-se a um„receptor“ (receiver) da mensagem. Não é de se estranhar que os limitesdessa metáfora hajam conduzido ao paradigma oposto, o cognitivo.

Entretanto, antes de analisá-lo, convém indicar — tratando de evitar,como eu afirmava no início, a impressão de um processo linear histórico—, que Michael Buckland, reconhecido cientista em nosso campo e, nãooriginário por certo nem da física nem da engenharia, há pouco mais dedez anos propôs a informação em nosso campo como fenômenoobjetivo ("infomation-as-thing"), isto é, algo tangível como documentos elivros, ou, mais genericamente, qualquer tipo de objeto que possa tervalor informativo, o qual pode ser, em princípio, literalmente qualquercoisa (Buckland 1991). É claro que, visto dessa forma, o paradigma

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físico tem suas raízes bem como seu sentido em atividades clássicasdos bibliotecários e documentalistas. Entretanto, ao mesmo tempo, éclaro também que o valor informativo a que alude Buckland não é umacoisa nem a propriedade de uma coisa, mas um predicado de segundaordem, isto é, algo que o usuário ou o sujeito cognoscente adjudica a„qualquer coisa“ num processo interpretativo demarcado por limitessociais de pré-compreensão que o sustentam. Retomamos essa questãono contexto do terceiro paradigma.

2) O paradigma cognitivo

Comecemos por lembrar que, na idéia de uma bibliografia universal dePaul Otlet y Henri Lafontaine, que levaria à fundação do InstitutInternacional de Bibliographie de Bruxelas em 1895, denominadoposteriormente Institut International de Documentation (1931) efinalmente Fedération Internationale de Documentation (FID) em 1937,está explícita a intenção de distinguir entre o conhecimento e seuregistro em documentos. A documentação e, em seguida, a ciência dainformação têm a ver, aparentemente, em primeiro lugar com ossuportes físicos do conhecimento, mas na realidade sua finalidade é arecuperação da própria informação, ou seja, o conteúdo de tais suportes.Isso nos leva à ontologia e à epistemologia de Karl Popper queinfluenciaram diretamente o paradigma cognitivo proposto por B. C.Brookes (1977, 1980), entre outros. A ontologia popperiana distinguetrês „mundos“, a saber: o físico, o da consciência ou dos estadospsíquicos, e o do conteúdo intelectual de livros e documentos, emparticular o das teorias científicas. Popper fala do „terceiro mundo“ comoum mundo de „objetos inteligíveis“ ou também de „conhecimento semsujeito cognoscente“ (Popper 1973). Essa é a razão pela qual secostuma designá-lo como modelo platônico (Capurro 1985, 1986, 1992),se bem que o mundo popperiano dos „problemas em si próprios“ nãotenha caráter divino como é o caso do „lugar celestial“ (topos ouranós)das idéias de Platão. Brookes subjetiva, por assim dizer, esse modelo noqual os conteúdos intelectuais formam uma espécie de rede que existesomente em espaços cognitivos ou mentais, e chama tais conteúdos de„informação objetiva“. Dado o seu caráter cognitivo potencial para umsujeito cognoscente, não é de se estranhar que Peter Ingwersen tenteintegrar dinamicamente o objeto perdido desse paradigma cognitivo semsujeito cognoscente, que é o usuário (Ingwersen 1992, 1995, 1999).Mas, apesar desse enfoque social, sua perspectiva permanece cognitivano sentido de que se trata de ver de que forma os processosinformativos transformam ou não o usuário, entendido em primeiro lugarcomo sujeito cognoscente possuidor de „modelos mentais“ do „mundoexterior“ que são transformados durante o processo informacional.Ingwersen toma elementos da teoria dos „estados cognitivos anômalos“("anomalous state of knowledge" abreviado: ASK), desenvolvida porNicholas Belkin e outros (Belkin 1980, Belkin/Oddy/Brooks 1982). Essateoria parte da premissa de que a busca de informação tem sua origemna necessidade ("need") que surge quando existe o mencionado estado

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cognitivo anômalo, no qual o conhecimento ao alcance do usuário, pararesolver o problema, não é suficiente. Tal situação inicial geralmentetambém se denomina „situação problemática“ (Wersig 1979). A teoriados modelos mentais tem tido impacto no estudo e na concepção desistemas de recuperação da informação, como mostram as análisesempíricas realizadas por Pertti Vakkari com relação à conexão entreestado anômalo do conhecimento e estratégias de busca (Vakkari 2003).Nesse sentido, podemos falar, tanto no caso de Ingwersen quanto no deVakkari, de uma posição intermediária entre o paradigma cognitivomentalista de Brookes e o paradigma social.

3) O paradigma social

Os limites do paradigma cognitivo se apóiam precisamente nametáfora, ou pars pro toto, de considerar a informação, ou como algoseparado do usuário localizado em um mundo numênico, ou de ver ousuário, se não exclusivamente como sujeito cognoscente, em primeirolugar como tal, deixando de lado os condicionamentos sociais emateriais do existir humano. É essa visão reducionista que é criticadapor Bernd Frohmann, que considera o paradigma cognitivo não só comoidealista mas também como associal. Frohmann escreve:

„o ponto de vista cognitivo relega os processos sociais deprodução, distribuição, intercâmbio e consumo de informação a umnível numênico, indicado somente por seus efeitos nasrepresentações de geradores de imagens atomizadas. Aconstrução social dos processos informativos, ou seja, aconstituição social das „necessidades dos usuários“, dos „arquivosde conhecimentos“ e dos esquemas de produção, transmissão,distribuição e consumo de imagens, exclui-se, pois, da teoria dabiblioteconomia e da ciência da informação." (Frohmann 1995,282) (minha tradução)

A crítica de Frohmann é baseada em parte implicitamente naepistemologia do Wittgenstein das „Investigações Filosóficas“(Wittgenstein 1958), bem como na teoria do discurso como manifestaçãode poder, de Michel Foucault (1994). Mais precisamente, pode-se dizerque Frohmann critica a epistemologia baseada em conceitos como„imagens mentais“, „mapas cognitivos“, „modelos do mundo“,„realidades internas“, etc.

Costuma-se indicar comumente que, para além das diferenças,existem caminhos de pensamento paralelos entre a crítica deWittgenstein aos conceitos internalistas que culmina em sua crítica à„linguagem privada“, e a crítica de Heidegger à epistemologia que parteda separação entre um sujeito cognoscente encapsulado e um mundoexterior que ele tenta contatar. É mais, a hermenêutica do existirhumano, como mostra Heidegger em „Ser e tempo“ (Heidegger 1973),parte da premissa de que não necessitamos buscar uma ponte entre osujeito e o objeto localizado em um „mundo exterior“ visto que existir

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significa estar já sempre „fora“ e socialmente envolvido em uma rede derelações e significados que Heidegger chama de „mundo“. Sua famosafórmula „ser-no-mundo“ torna explícita justamente essa situação fáticado „estar ali“ („Dasein") do existir humano. Mas é mais, tal envolvimentoé para Heidegger originariamente também um „estar ali“ em uma relaçãosocial primordialmente prática („Sorge“) com os outros („Mitsein“) e comas coisas. Daí que a epistemologia heideggeriana, assim como a doWittgenstein tardio, com seus conceitos de „jogos de linguagem“ como„formas de vida“ (Wittgenstein 1958), sejam, por assim dizer,antiepistemologias, ou pragmatologias, no sentido de que fundam oconhecimento teórico num pré-conhecimento prático tácito. Essascorrentes epistemológicas influem em nossa disciplina.

Como indicava no começo, é possível mostrar o aporte dessesparadigmas para o processo de recuperação da informação (Capurro1986) ou, de forma mais geral, para uma sociedade informatizada(Capurro 2003, 97ss e 130ss, 2003a). Isso se vê claramente também emcampos afins ao nosso como na crítica de Winograd y Flores (1986) aosmodelos em parte hoje vigentes na informática. A hermenêuticaconectada aos „speech acts“ de John Austin (1962) permite a FernandoFlores construir um programa, o COORDINATOR, que apóia e nãosubstitui as conversações e os compromissos no marco das empresas(Winograd/ Flores 1986). A corrente epistemológica relacionada com afilosofia externalista da linguagem wittgeinsteiniana permite conceber ossistemas de recuperação da informação, não sob a divisa física do bestmatching, mas como um tipo de conversação sustentada por umandaime („scaffolding“) (Blair 2003, 38-39). Em outra ocasião aludi aoconceito heideggeriano de andaime („Gestell“) relacionando-o com asestruturas informativas no marco de um mundo digitalmente enredado(Capurro 2000, 2003). O que podemos chamar de uma hermenêuticaartificial (Capurro 2003) está próximo da teoria de Karl-Otto Apel (1976)e Jurgen Habermas (1981) mas sem compartilhar sua tendência aidealizar contrafaticamente a comunidade de intérpretes, como mostrouGianni Vattimo (1989). Ambas as correntes, a hermenêutica e a teoriacrítica, proporcionam um marco epistemológico possível para nossadisciplina (Benoît 2002).

Birger Hjørland desenvolveu, junto com Hanne Albrechtsen (Hjørland2003, 2003a, 2000, 1998, Hjørland/Albrechtsen 1995) um paradigmasocial-epistemológico chamado „domain analysis“ no qual o estudo decampos cognitivos está em relação direta com comunidades discursivas(„discourse communities“), ou seja, com distintos grupos sociais e detrabalho que constituem uma sociedade moderna. Uma consequênciaprática desse paradigma é o abandono da busca de uma linguagemideal para representar o conhecimento ou de um algoritmo ideal paramodelar a recuperação da informação a que aspiram o paradigma físicoe o cognitivo. Uma base de dados bibliográfica ou de textos completostem caráter eminentemente polissêmico ou, como o poderíamos chamartambém, polifônico. Os termos de um léxico não são algo definitivamente fixo. O objeto da ciência da informação é o estudo dasrelações entre os discursos, áreas de conhecimento e documentos em

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relação às possíveis perspectivas ou pontos de acesso de distintascomunidades de usuários (Hjørland 2003). Isso significa, em outraspalavras, uma integração da perspectiva individualista e isolacionista doparadigma cognitivo dentro de um contexto social no qual diferentescomunidades desenvolvem seus critérios de seleção e relevância.

Essa seleção está conectada ao conceito hermenêutico depré-compreensão („Vorverständnis“) assim como à crítica da concepçãode sujeitos isolados, separados do mundo exterior, derivada dopensamento cartesiano (Capurro 1986, 1992). Informação não é algoque comunicam duas cápsulas cognitivas com base em um sistematecnológico, visto que todo sistema de informação está destinado asustentar a produção, coleta, organização, interpretação,armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso deconhecimentos e deveria ser concebido no marco de um grupo socialconcreto e para áreas determinadas. Só tem sentido falar de umconhecimento como informativo em relação a um pressuposto conhecidoe compartilhado com outros, com respeito ao qual a informação pode tero caráter de ser nova e relevante para um grupo ou para um indivíduo.

A diferença entre mensagem, ou oferta de sentido, e informação, ouseleção de sentido, é, ao meu ver, a diferença crucial de nossa disciplinaentendida assim como teoria das mensagens e não só como teoria dainformação. Para dizê-lo em termos da teoria de sistemas, trata-se dadiferença entre o que o sociólogo alemão Niklas Luhmann chama„mensagem“ („Mitteilung“) ou também „oferta de sentido“(„Sinnangebot“), e a seleção feita pelo sistema com base em suaestrutura e seus interesses, um processo que Luhmann denomina com otermo „informação“ („Information“), que em alemão é, na linguagemcotidiana, sinônimo de „dar notícia“ („Mitteilung“). O sentido selecionadopelo sistema é integrado através de um processo de compreensão(„Verstehen“) em que sua estrutura dessa maneira realiza a suaautogênese cognitivamente e, portanto, também vitalmente. Luhmannchama comunicação à unidade desses três momentos: oferta de sentido,seleção e compreensão (Luhmann 1987).

Vê-se aqui claramente que a avaliação de um sistema de informaçãonão está baseada meramente no matching de um dado de entrada(input) com outro dado previamente registrado, mas que esse dadoregistrado é concebido como uma oferta frente à qual o usuáriodesempenhe um papel eminentemente ativo. Tal atividade procede nãosó de sua consciência ou de seus „modelos mentais“, mas seusconhecimentos e interesses prévios à busca estão de início entrelaçadosnas redes social e pragmática que os sustentam. O assim chamado„estado cognitivo anômalo“ é na realidade um estado existencialanômalo. Vakkari é objeto de mal entendido quando escreve que oconceito hermenêutico de informação é idêntico ao de pré-compreensãoe, portanto, inadequado para ser utilizado em nossa disciplina (Vakkari1996, Ørom 2000).

A hermenêutica como paradigma da ciência da informação postula

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justamente a diferença entre pré-compreensão, oferta de sentido eseleção, tomando como marco de referência, não a pré-compreensãode um sujeito ou usuário isolado, mas a de determinada comunidadeassim como a de um campo específico de conhecimento e/ou de açãono qual o usuário está já implícita ou explicitamente inserido. Nessesentido, o paradigma hermenêutico está próximo da semiótica, assimcomo do construtivismo e da cibernética de segunda ordem. Comoafirma Ian Cornelius,

„cada bit de informação só é informação se se a entende nocontexto cultural no qual está empacotada, o qual nos permiteinterpretá-la“ (Cornelius 1996, 19) (minha tradução).

Embora normalmente se considere a informação como um elementoprévio necessário à criação de conhecimento, sendo a tríade dados,informação, conhecimento um locus comunis de muitas teorias (Bogliolo/de Azevedo 2003) , Rainer Kuhlen vê a relação entreinformação e conhecimento ao contrário, e a formula assim: „Informaçãoé conhecimento em ação“ (1996, 34). Em outras palavras, o trabalhoinformativo é um trabalho de contextualizar ou recontextualizarpraticamente o conhecimento. O valor da informação, sua mais-valiacom respeito ao mero conhecimento, consiste precisamente dapossibilidade prática de aplicar um conhecimento a uma demandaconcreta. Assim considerado, o conhecimento é informação potencial.Não é difícil ver aqui a relação entre nossa disciplina e o trabalhosempre difícil e arriscado de interpretar, sobretudo se esse trabalho nãose reduz a decifrar um texto obscuro, mas, sim, abrange todos osproblemas reais e não menos obscuros e „anômalos“ do existir humano.

Søren Brier (1992, 1996, 1999) mostrou como a semiótica de CharlesS. Peirce (1839-1914) ligada à cibernética de segunda ordem, leva aoque Brier chama de „cybersemiotics“, a qual considera a relação entresigno, objeto e intérprete como dinâmica e adaptável a diversoscontextos. Essa relação triádica permite também integrar os aportes emetodologias dos paradigmas físico e cognitivo, abrindo-lhes adimensão social. Nesse sentido, pode-se dizer que a „cybersemiotics“ deBrier é uma hermenêutica de segunda ordem que amplia o conceito deinterpretação para além do conhecimento humano relacionando-o a todotipo de processo seletivo.

Ao mesmo tempo, vê-se aqui também como a discussão sobre oconceito de informação, que no marco de nossa disciplina refere-se aprocessos cognitivos humanos ou a seus produtos objetivados emdocumentos, evidencia uma vez mais os limites de todo o paradigma oumodelo, nesse caso do paradigma social, no momento em que a relaçãoentre informação e significado torna-se problemática quando se desejatransportá-la para sistemas não sociais. É aqui que surge o apelo poruma teoria unificada da informação (Hofkirchner 1999). Essa teoriadeveria entrecruzar ou, por assim dizer, enredar ou tramar diversosconceitos de informação mostrando a tessitura complexa da linguagemcomum e da teorização científica em torno desse conceito e a sua

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relação com a realidade social e natural que o possibilita(Capurro/Hjørland 2003, Capurro 2001 a).

Conclusão:

Conseqüências práticas dos paradigmas epistemológicas

Diz-se, com freqüência, que as discussões filosóficas têm pouca, ounenhuma, conseqüência prática. Embora certo que as teorias filosóficasnão aspirem a resolver imediatamente nem problemas práticos nemproblemas científicos, ambos repousam nolens volens sobre umapré-compreensão de seus objetos. O dualismo mesmo entre teoria epraxis é produto de um argumento implícito que o impede de ver suaprópria falha. Essa é uma das grandes lições da discussãoepistemológica do século XX. A análise aqui apresentada deixa ver, paraalém de seus limites e simplificações, que os pressupostosepistemológicos implícitos ou explícitos da nossa disciplina apresentamconseqüências relevantes para a concepção de sistemas de informação,para o uso de tais sistemas e para a própria pesquisa científica. Comose sabe, o conceito de relevância desempenha um papel preponderantena ciência e na prática dos processos informativos. Os critérios clássicosde recall e precision surgem, como vimos, dentro do marco doparadigma físico, revelando ao mesmo tempo, ex negativo, aimportância do usuário, considerado individual ou coletivamente comoelemento chave no que diz respeito ao julgamento sobre a qualidade detais sistemas. Mas é claro também que tanto o usuário como o sistemase relacionam a uma coleção determinada, como o destaca o paradigmada "domain analysis". Em outras palavras, o conceito de relevância temque ser considerado, como o sugere Thomas Froehlich (1994), emrelação a três processos hermenêuticos que condicionam a concepção euso de qualquer sistema informacional, a saber:

1) uma hermenêutica dos usuários, capazes de interpretar suasnecessidades em relação a si próprios, a intermediários e aosistema,

2) uma hermenêutica da coleção que seja capaz de fundamentaros processos de seleção de documentos ou textos e a forma comoesses são indexados e catalogados, e

3) uma hermenêutica do sistema intermediário, na qual tem lugar oclássico matching a que se refere o paradigma físico.

Essa análise coincide exatamente com minha tese sobre umahermenêutica da informação científica de que falei no começo (Capurro1986, 2000). Todo processo hermenêutico leva a uma explicitação e comele também a uma seleção. Como dizíamos anteriormente, a diferençaem que se baseia a ciência da informação consiste em poder distinguirentre uma oferta de sentido e um processo de seleção cujo resultadoimplica na integração do sentido selecionado dentro da

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pré-compreensão do sistema, produzindo-se assim uma novapré-compreensão. É claro também que toda explicitação é de certamaneira uma tipificação, já que, como sugere Wittgenstein, não existeuma "linguagem privada". Esse é o fundamento epistemológico para acriação de estruturas de (pre-)seleção ou de pré-compreensãoobjetivada, chamadas em suas origens "disseminação seletiva dainformação" ("selective dissemination of information" SDI) ou tambémperfis informacionais individuais ou de grupo que permitem ao usuárioreconhecer sua pré-compreensão na redundância e ver também o novoe potencialmente relevante, ou seja, a informação. A comunicação e ainformação são, vistas assim, noções antinômicas (Bougnoux 1995,1993). Pura comunicação significa pura redundância e pura informaçãoé incompreensível. A ciência da informação se situa entre a utopia deuma linguagem universal e a loucura de uma linguagem privada. Suapergunta chave é: informação - para quem? Numa sociedadeglobalizada em que aparentemente todos comunicamos tudo com todos,essa pergunta torna-se crucial. À globalização segue-senecessariamente a localização (ICIE 2004).

Vê-se aqui também claramente, como as proposições epistemológicasnão podem ser desligadas das perguntas éticas, e como ambas asperspectivas se entrelaçam em nós ontológicos que giram hoje em diaem torno da pergunta: quem somos como sociedade(s) no horizonte darede digital? É evidente também que tal pergunta surge não apenascomo conseqüência de um mero estado anômalo de conhecimento, masde um estado anômalo existencial que nos acostumamos a chamar deexclusão digital. Em outras palavras, toda epistemología está baseadanuma epistemopraxis. No centro dessa se encontra a sociedade humanaentendida como sociedade de mensagens com suas estruturas e centrosde poder (Capurro 2003).

É claro que a rede digital provocou uma revolução não apenasmediática mas também epistêmica com relação à sociedade dos meiosde comunicação de massa do século XX. Mas é claro também que essaestrutura, que permite não só a distribução hierárquica, ou one-to-many,das mensagens, mas também um modelo interativo que vai além dastecnologias de intercâmbio de mensagens meramente individual, como otelefone, cria novos problemas sociais, econômicos, técnicos, culturais epolíticos, os quais mal começamos a enfrentar teórica e práticamente.Esse é, ao meu ver, o grande desafio epistemológico e epistemopráticoque a tecnologia moderna apresenta a uma ciência da informação queaspira a tomar consciência, sempre parcial, de seus pressupostos. AldoBarreto sinaliza a direção em que teremos que avançar com estaspalavras:

"Assim é nossa crença que o destino final, o objetivo dotravalho com a informação é promover o desenvolvimento doindivíduo de seu grupo e da sociedade. Entendemos pordesenvolvimento de uma forma ampla, como un acréscimode bem estar, un novo estágio de qualidade de convivência,alcançado através da informação. A ação social maior é fazer

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Ultima modificación: 24 de enero de 2010

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