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77 CAPÍTULO VI AÇÕES DO PNCRC/MAPA NA ÁREA DE CONTAMINANTES INORGÂNICOS Helena Müller Queiroz 1 1 Laboratório Nacional Agropecuário – Lanagro-SP, Rua Raul Ferrari, s/n , 13100-105 Campinas - SP, Brasil ([email protected]) RESUMO Para garantir o alimento seguro os governos precisam considerar dois aspectos estratégicos: saúde pública nacional e competitividade no comércio internacional. Um componente fundamental de qualquer programa que visa garantir a segurança do alimento é o controle e monitoramento de resíduos e contaminantes na produção de alimentos. Atualmente, os Lanagros (Laboratórios Nacionais Agropecuários) realizam as análises oficiais relativas aos programas de investigação e monitoramento e na pesquisa e desenvolvimento de métodos analíticos, provendo recomendações técnicas na elaboração de guias e normativas, negociações internacionais e na avaliação de outros laboratórios. Os Lanagros trabalham com sistema de gestão da qualidade em conformidade com a ISO/ IEC 17025 e já possuem grande parte do escopo acreditado. Uma das áreas de relevância no Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (PNCRC/MAPA) é a área de contaminantes inorgânicos. Muitas ações vêm sendo tomadas nos últimos anos para preparar os Lanagros na resposta às crises relacionadas à presença de resíduos e contaminantes em alimentos, com a velocidade e confiabilidade requeridas em situações emergenciais. Esse texto relata tais ações, pesquisas e tendências adotadas no âmbito da Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários, com ênfase na área de contaminantes inorgânicos, na busca da concretização da missão do MAPA “Prover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em benefício da sociedade brasileira”. PALAVRAS CHAVES: contaminantes inorgânicos, equivalência, ISO/IEC 17025, Lanagro, PNCRC.

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CAPÍTULO VI

AÇÕES DO PNCRC/MAPA NA ÁREA DE CONTAMINANTES INORGÂNICOS

Helena Müller Queiroz1

1 Laboratório Nacional Agropecuário – Lanagro-SP, Rua Raul Ferrari, s/n , 13100-105 Campinas - SP, Brasil ([email protected])

RESUMO Para garantir o alimento seguro os governos precisam considerar dois aspectos estratégicos: saúde pública nacional e competitividade no comércio internacional. Um componente fundamental de qualquer programa que visa garantir a segurança do alimento é o controle e monitoramento de resíduos e contaminantes na produção de alimentos. Atualmente, os Lanagros (Laboratórios Nacionais Agropecuários) realizam as análises oficiais relativas aos programas de investigação e monitoramento e na pesquisa e desenvolvimento de métodos analíticos, provendo recomendações técnicas na elaboração de guias e normativas, negociações internacionais e na avaliação de outros laboratórios. Os Lanagros trabalham com sistema de gestão da qualidade em conformidade com a ISO/IEC 17025 e já possuem grande parte do escopo acreditado. Uma das áreas de relevância no Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (PNCRC/MAPA) é a área de contaminantes inorgânicos. Muitas ações vêm sendo tomadas nos últimos anos para preparar os Lanagros na resposta às crises relacionadas à presença de resíduos e contaminantes em alimentos, com a velocidade e confiabilidade requeridas em situações emergenciais. Esse texto relata tais ações, pesquisas e tendências adotadas no âmbito da Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários, com ênfase na área de contaminantes inorgânicos, na busca da concretização da missão do MAPA “Prover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em benefício da sociedade brasileira”.

PALAVRAS CHAVES: contaminantes inorgânicos, equivalência, ISO/IEC 17025, Lanagro, PNCRC.

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REVISÃO DA LITERATURA A segurança do alimento abrange dois aspectos estratégicos: saúde pública nacional e competitividade no comércio internacional.

Atualmente o mercado interno consome cerca de dois terços da produção dos diversos produtos do agronegócio (Contini, 2012), o que ressalta a necessidade de adoção de medidas que assegurem a segurança do alimento ofertado ao consumo.

Contudo, nas últimas duas décadas, as exportações do agronegócio têm exercido um papel de destaque na economia brasileira. O saldo do comércio internacional do agronegócio expandiu de US$ 11 bilhões em 1989 para US$ 77,5 bilhões em 2011 (615 %) o que consolidou a posição ocupada pelo agronegócio como principal setor responsável pelo bom desempenho do saldo da balança comercial brasileira.

Outro fator de grande importância em relação ao crescimento das exportações do agronegócio brasileiro é a diversificação do mercado de destino. Em 2000, o agronegócio brasileiro exportou para 186 destinos; já em 2011, foram 214 (Contini, 2012). Dessa forma, o Brasil, na posição de maior produtor e fornecedor de algumas commodities para muitas regiões do mundo, tem como dever garantir que os produtos comercializados estejam de acordo com os critérios de segurança e qualidade exigidos pelos consumidores (Mauricio, 2009).

Paralelamente aos recentes avanços tecnológicos e ao aumento nos volumes de produção e consumo de alimentos, há uma crescente demanda relativa ao desempenho dos laboratórios oficiais, principalmente, no sentido de que os mesmos sejam completamente capazes de manter sua evolução tecnológica e analítica em consonância com as legislações relativas à segurança do alimento elaboradas pelos governos de todo o mundo. Isso também requer uma nova abordagem do controle oficial, no qual a atividade laboratorial é integrada e fundamental nas operações de fiscalização. Dessa forma, os laboratórios passam a atuar diretamente na verificação e validação das etapas dos sistemas de processamento e produção de alimentos, sendo responsáveis por fornecer avaliações científicas, no lugar de simplesmente fornecer relatórios de ensaio (Mauricio, 2012).

Essas pressões fizeram com que o governo brasileiro reorganizasse o Sistema Laboratorial do MAPA, com o objetivo de atualizar e aprimorar as atividades analíticas e de fiscalização relacionadas à saúde e defesa animal e vegetal. Ainda, a rede nacional de laboratórios foi estabelecida com a responsabilidade de conduzir estudos e ensaios no sentido de avaliar a conformidade das etapas da cadeia produtiva de alimentos nacional e compreende os laboratórios oficiais e laboratórios credenciados (Mauricio, 2012).

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Atualmente a rede compreende seis Laboratórios Nacionais Agropecuários, formalmente criados, em 2005, por meio do Decreto n. 5351 e designados como laboratórios oficiais do MAPA pelo Decreto Presidencial n. 5741, em 2006.

As atividades dos Lanagros incluem:• Análises oficiais;• Ensaios para inspeção e monitoramentos para outros

propósitos legais;• Auditoria em Laboratórios;• Pesquisa e desenvolvimento de métodos analíticos;• Elaboração de revisão da legislação e guias técnicos;• Participação em negociações internacionais.

Além disso, foram introduzidos nos Lanagros os estudos exploratórios relativos à antecipação de riscos emergentes numa abordagem proativa focada na resposta rápida e preparo ao atendimento de situações de emergência (Mauricio, 2012).

Um componente fundamental de qualquer programa que visa garantir a segurança do alimento é o controle e monitoramento de resíduos e contaminantes. Assim, uma importante ferramenta para monitorar de perto e garantir a adequação dos produtos brasileiros aos padrões internacionais é o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes – PNCRC/MAPA (Mauricio, 2009). O Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes – PNCRC é um programa federal de inspeção e fiscalização de alimentos, baseado em análise de risco, que verifica a presença de substâncias químicas potencialmente nocivas à saúde do consumidor, como resíduos de medicamentos veterinários, de agrotóxicos ou afins, de contaminantes ambientais (ex: aflatoxinas) e de contaminantes inorgânicos. Os objetivos principais do PNCRC são: a. verificar e avaliar as boas práticas agropecuárias (BPA), as boas práticas de fabricação (BPF) e os autocontroles ao longo das etapas das cadeias agroalimentares; b. verificar os fatores de qualidade e de segurança higiênico-sanitária dos produtos de origem animal e vegetal, seus subprodutos e derivados de valor econômico e dos produtos importados; c. fornecer garantias de um sistema que provê alimentos seguros e inócuos aos consumidores, além disso, que esse sistema seja equivalente aos requisitos sanitários internacionais estabelecidos pelo MERCOSUL, CODEX, OMC, e órgãos auxiliares (FAO, OIE, WHO) (MAPA, 1999).

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A Equivalência de Sistemas é uma forma de prover o reconhecimento e garantia mútuos entre os países facilitando as relações comerciais. Ela é demonstrada pelo atendimento aos preceitos do Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias – SPS e a conformidade aos parâmetros do Codex Alimentarius, no caso de alimentos.

O Acordo SPS é um conjunto de medidas que estabelecem as regras básicas dos padrões para garantir a segurança dos alimentos e saúde animal e vegetal. O acordo não impede que os países tenham seus próprios padrões, desde que eles tenham fundamentação científica e não sejam utilizados como forma de discriminar países com condições idênticas ou similares. Ele ainda estimula a harmonização de critérios pela adoção dos guias, recomendações e padrões internacionais (FAO, Codex Alimentarius, OMC, OIE, OMS etc.), uma vez que os mesmos são resultado de exames detalhados realizados por especialistas e são revisados freqüentemente à luz da evolução científica.

A União Européia (EU) reconheceu a equivalência do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC/Animal) do Brasil para os programas setoriais: bovinos, aves, eqüinos, pescado e mel, por meio da Decisão de Execução da Comissão, n. 21, de junho de 2012. A equivalência é publicada anualmente como resultado das diversas avaliações documentais e auditorias realizadas pelo Food and Veterinary Office – FVO (Comissão Européia, 2012). Os procedimentos de avaliação de equivalência são executados por todos os países com os quais o Brasil possui relações comerciais. No ano passado, considerando apenas os Lanagros, foram recebidas mais de cinco auditorias externas para a área de Resíduos e Contaminantes (FSIS/USA e DG/SANCO/EU) e, em 2012, já foram recebidas ao menos três (FSIS/USA, DG/SANCO/EU e Federação Russa).

As recomendações do Codex Alimentarius para o planejamento e implementação de Programas Oficiais Nacionais para Garantir a Segurança dos Alimentos estão descritas no documento CAC/GL 71-2009 (Codex, 2009). No caso de laboratórios envolvidos no controle oficial de alimentos, as recomendações do Codex Alimentarius são: adequação à ISO/IEC 17025, participação em ensaios de proficiência, validação de métodos em consonância com as orientações da Comissão do Codex e o uso dos procedimentos de controle de qualidade interno descritos no Guia harmonizado para controle de qualidade interno em laboratórios de química analítica (Codex Alimentarius, 1997 e IUPAC, 1995).

Atualmente, todos os Lanagros possuem escopos acreditados na ISO/IEC 17025:2005 pelo organismo de acreditação nacional, INMETRO. Em 2011, foram 40 métodos acreditados, sendo que 38% dos mesmos foram relativos aos métodos para a determinação de contaminantes inorgânicos em alimentos e alimentos para animais.

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Os métodos analíticos utilizados na área de resíduos e contaminantes seguem rígidos protocolos de validação e controle de qualidade interno. No final de 2011, foi publicado o Manual de Garantia da Qualidade Analítica (MAPA, 2011 b) que reuniu conceitos, procedimentos e critérios de aceitação tecnicamente e metrologicamente fundamentados e em consonância com os requisitos internacionais. Este guia trata de forma harmonizada os assuntos: validação de métodos, cálculo de incerteza e garantia da qualidade analítica. E ainda, quando necessário, esse documento particulariza os tratamentos a serem aplicados a ensaios específicos como resíduos de drogas veterinárias, resíduos de pesticidas, contaminantes inorgânicos e micotoxinas, respeitando as características individuais de cada técnica.

A manutenção da proficiência nos métodos validados e acreditados é comprovada pela participação dos laboratórios da rede oficial em ensaios de proficiência. Entre 2011 e 2012, considerando os seis Lanagros responsáveis pelas determinações de contaminantes inorgânicos, foram 11 participações, com 16 resultados satisfatórios (100% dos resultados).

Em relação aos ensaios de proficiência dois pontos importantes devem ser ressaltados: a publicação do Guia orientativo para importação de insumos para a Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários (MAPA, 2010) e o PRIMAR (Programas Interlaboratoriais e Materiais de Proficiência).

O Guia orientativo supracitado (MAPA, 2010) sistematizou os procedimentos necessários para a importação dos ensaios de proficiência e foi resultado de vários ajustes entre os órgãos anuentes (Receita Federal, MAPA e ANVISA). Por se tratar de um assunto interinstitucional, muitas etapas e ajustes ainda deverão ser realizados, mas a iniciativa do MAPA promovida pela área de Resíduos e Contaminantes em Alimentos da Coordenação Geral de Apoio Laboratorial (RCA/CGAL) facilitou os trâmites e aumentou sensivelmente o número de ensaios realizados na Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários. A área de contaminantes inorgânicos foi responsável por cerca de 20% das solicitações de importação, para internalização de ensaios de proficiência realizadas pela RCA no período de 2011 a 2012.

O PRIMAR foi criado pela CGAL como uma ferramenta para realizar o controle de qualidade dos resultados obtidos a partir dos métodos utilizados pelos Lanagros. Sua coordenação é realizada pela RCA e pelo Lanagro-MG, que também é responsável pela execução operacional do programa. Atualmente, o PRIMAR é um dos programas interlaboratoriais inscritos na Rede Interamericana de Laboratórios de Análises de Alimentos – RILAA e tem expressão internacional. Na última rodada realizada em 2011 o provedor ofereceu os seguintes ensaios: sulfonamidas (sulfametazina) em fígado de suíno, avermectinas (ivermectinas) em músculo bovino, contaminantes inorgânicos (cádmio e chumbo) em rim suíno e micotoxinas (Aflatoxinas B1+B2+G1+G2)

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em castanha do Brasil. Apenas para os ensaios de determinação de cádmio e chumbo em rim suíno participaram 33 laboratórios dos seguintes países: Belize, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Nos últimos anos foi empreendido também um grande esforço na construção do conhecimento científico dos Lanagros. Para tanto, foram estabelecidas cooperações técnicas com centros de referência do mundo todo nas áreas relativas ao PNCRC. Essas iniciativas propiciaram uma inestimável experiência para o intercâmbio de técnicas avançadas aliadas ao desenvolvimento e inovação com foco na melhoria contínua e na rápida resposta a riscos emergentes na produção e consumo de alimentos (Mauricio, 2012). Exemplos dessas cooperações são os projetos EU/Mercosur/SPS ALA 2005/17887, que teve como objetivo a cooperação para a harmonização dos padrões e procedimentos fitossanitários, veterinários e de segurança do alimento e o Projeto EU/Brasil ALA/2004/006-189 que visava à internacionalização de empresas brasileiras, bem como cooperação bilateral com centros de referência internacionais como o CFIA no Canadá, Wageningen-UR e o RIKILT na Holanda (Projeto LNV-BOCI 2010), SARAF/LABERCA na França e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA). Outros projetos incluem iniciativas de pesquisa dentre as quais o Projeto MycoRed - Centro para química analítica IFA-Tulln, Áustria e FSA – RRD 31 Aflatoxinas em Castanha do Brasil e suas Cascas (Mauricio, 2012).

Na área de contaminantes inorgânicos dois projetos merecem destaque: a colaboração com o EURL para Contaminantes Inorgânicos localizado na Itália e o Projeto ARCAL RLA 5060, com a Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA. Em Roma (2008), durante a visita ao Istituto Superiore di Sanità foram treinados quatro dos seis Lanagros em validação de métodos, técnicas analíticas para determinação de contaminantes inorgânicos e preparo de material de referência e organização de ensaio de proficiência. Depois de quatro anos, no Projeto de Cooperação Técnica ARCAL RLA 5060 - “Harmonização e Validação de Métodos Analíticos para Monitorar o Risco de Resíduos e Contaminantes em Alimentos para Saúde Humana”, iniciado em 2012 e promovido pela IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o Brasil atua como centro divulgador de tecnologia promovendo treinamentos nas diversas áreas do PNCRC. O primeiro foi o “Curso teórico práctico en validación, incertidumbre y metodología específica en contaminantes inorgánicos” que ocorreu no período de 6 a 17 de agosto de 2012. O Lanagro-SP, recebeu participantes de Cuba, Panamá, México, Venezuela, Peru, Uruguai, Costa Rica e Brasil.

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Outra ação relevante nos últimos anos ocorreu entre o MAPA e o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), esse projeto vem promovendo a alocação de especialistas com mestrado e doutorado especificamente nas áreas de resíduos e contaminantes dos Lanagros. Essas contratações são realizadas via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq por meio da disponibilização de bolsas classificadas como Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (DTI), EV (Especialista Visitante) e EXP (Extensão no País). Os especialistas e cientistas têm os seguintes objetivos: a execução de projetos de pesquisa aplicada, execução de projetos de desenvolvimento tecnológico e atividades de inovação e transferência de tecnologia. Desde 2008, mais de 109 bolsistas com mestrado e doutorado em química analítica, engenharia, farmácia, veterinária, agronomia, matemática, estatística, biologia, gestão da qualidade, arquitetura, administração etc. foram contratados. Em última análise, o projeto visa estabelecer os Lanagros como instituições de orientação científica de alto nível, capazes de fornecer soluções tecnológicas avançadas e respeitadas pela comunidade científica e com credibilidade perante a sociedade (Mauricio, 2012). Também foram alocadas bolsas ATP (Apoio Técnico em Extensão no País) para auxílio às atividades de rotina e de validação. As ações voltadas ao desenvolvimento científico dos Lanagros ampliaram o número de publicações de resumos em congressos e artigos em periódicos oriundas dos Lanagros e culminaram na publicação, em abril de 2012, da edição especial (volume 29, número 4) da Revista Foods Additives & Contaminants – Part A – “Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil – Laboratórios Nacionais Agropecuários: Methods of analysis for residues and contaminants in the food chain.

ANÁLISES DO PNCRC: ATUALIDADES E PROJEÇÕES FUTURAS O PNCRC atualmente compreende um total de quase 20.000 amostras coletadas anualmente em todos os estados do país. São determinados atualmente 362 analitos. As amostras são distribuídas em programas setoriais, sendo cinco deles para produtos de origem animal e quadro para produtos de origem vegetal: carne (bovino, eqüino, suíno, avestruz, aves), pescado (peixes de captura e cultivo e crustáceos), leite, mel, ovos, frutas e hortaliças; grãos, sementes, nozes e cereais; plantas aromáticas e especiarias e produtos processados (MAPA, 2011 a). A maior parte das amostras é proveniente das regiões sul e sudeste, principalmente de estabelecimentos produtores de aves e suínos que correspondem a quase 50% das amostras do PNCRC (Lins, 2012). Utilizando a correlação entre a vocação agropecuária de cada estado e a capacidade instalada dos Lanagros, a RCA/CGAL elaborou uma matriz estratégica dos

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Lanagros, estabelecendo prioridades a serem cumpridas em relação aos métodos a serem desenvolvidos e validados, bem como disponibilizados entre os laboratórios da rede, minimizando custos de implementação e agilizando o processo de otimização e início da rotina nos diferentes laboratórios. Na área de contaminantes inorgânicos, por exemplo, a matriz leite é prioritária para o Lanagro-MG, enquanto vegetais e carne são prioridades no Lanagro-SP. Das 19.267 amostras analisadas em 2011, 98,6% das amostras, nas quais foram determinados os contaminantes inorgânicos, foram consideradas conformes em relação aos teores máximos de contaminantes (TMC) estabelecidos na legislação (MAPA, 2012 a). A determinação dos TMCs é uma atribuição do Ministério da Saúde e todos os anos o PNCRC publica os TMCs que serão adotados, bem como o número de amostras a serem analisadas para a condução do PNCRC do ano de exercício (MAPA, 2012 b). Para a realização das análises a equipe de contaminantes inorgânicos conta com 47 pessoas distribuídas nos seis Lanagros, uma vez que não há laboratório credenciado e com autorização válida para esse fim atualmente na rede. As técnicas utilizadas e os equipamentos disponíveis para essa finalidade são:

• Lanagro-RS: espectrometria de absorção atômica com forno de grafite (GF AAS), AAnalyst 600, marca PerkinElmer; espectrometria de absorção atômica com geração de hidretos (HG AAS), AAnalyst 200 com FIAS 100, marca PerkinElmer; espectrometria por vapor frio (CV AAS), FIMS 400 Mercury Analysis System, marca PerkinElmer.

• Lanagro-PE: GF AAS, AAnalyst 600, marca PerkinElmer; HG AAS, AAnalyst 100 com FIAS 400, marca PerkinElmer, CV AAS, Quick Trace M-6100, marca CETAC, espectrometria de massas com plasma de acoplamento indutivo (ICP MS), NexIon, marca PerkinElmer (em instalação).

• Lanagro-GO: GF AAS, AAnalyst 600, marca PerkinElmer; HG AAS, FIAS 100, marca PerkinElmer, CV AAS, Quick Trace M-6100, marca CETAC.

• Lanagro-SP: GF AAS, AAnalyst 600 e AAnalyst 800, marca PerkinElmer; HG AAS, FIAS 400, marca PerkinElmer, espectrometria de absorção atômica com decomposição térmica e amalgamação (SS TDA AAS), DMA-80, marca Milestone, HPLC-ICP MS, 7700, marca Agilent (em instalação).

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• Lanagro-PA: GF AAS, AAnalyst 800, marca PerkinElmer; HG AAS, FIAS 400, marca PerkinElmer, CV AAS, Quick Trace M-6100, marca CETAC, SS TDA AAS, DMA-80, marca Milestone.

• Lanagro-MG: GF AAS, AAnalyst 600, marca PerkinElmer; HG AAS, FIAS 400, marca PerkinElmer, SS TDA AAS, DMA-80, marca Milestone, ICP MS, 820-MS, marca Varian.

Atualmente, a determinação de contaminantes inorgânicos é voltada para a quantificação total destes analitos na matriz analisada. São determinados As, Cd, Pb e Hg nas matrizes do Programa Setorial de Carnes, Pescado e Mel (exceto mercúrio) (MAPA, 2012 b). Os TMCs para os analitos nessas matrizes estão em consonância com os padrões internacionais (Codex, 2010; European Commission, 2006; European Commission, 2008 e MERCOSUL, 2011). A observação de casos como arsênio (As) em pescados, responsável pela porcentagem de 1,4% dos resultados acima do TMC relativos apenas à área de contaminantes inorgânicos, principalmente em músculo de peixe de captura (MAPA, 2012 a), fez com que essa abordagem de determinar a quantidade total do elemento na matriz fosse substituída pela introdução de uma visão toxicológica dos contaminantes inorgânicos. Essa também é uma tendência global nessa área.

Assim, quando necessário, sob o ponto de vista toxicológico, os métodos passariam a identificar e quantificar as espécies individuais dos elementos químicos nos alimentos, de acordo com as formas químicas presentes de elementos como arsênio, mercúrio e estanho, por exemplo. Tal tipo de análise é chamado de “especiação” e diversas iniciativas contemplando essa nova abordagem estão em andamento, sobretudo na Europa, haja vista a perspectiva da Comunidade em estabelecer limites legais para espécies ou frações de elementos específicos em alimentos. Projetos temáticos, redes de trabalho e até um instituto virtual (EVISA - European Virtual Institute for Speciation Analysis) foram criados para atender à demanda pela evolução das técnicas de especiação (Sloth, 2009; Harrington, 2009 e Welz, 1999). Atualmente o Lanagro-SP trabalha em uma estratégia dividida em duas partes voltada a atender a demanda da Coordenação Controle de Resíduos e Contaminantes (CRC), gestora do PNCRC, por métodos que discriminem as espécies de As em pescados: a. implementar a área de especiação química (longo prazo), b. desenvolver, otimizar e validar o método para a quantificação do arsênio total e das frações orgânica e inorgânica de arsênio em pescado (médio prazo). O fracionamento permite a utilização do parque de equipamentos instalados atualmente no Lanagro-SP, viabilizando uma resposta mais ágil e econômica e satisfatória, pois a informação fornecida (fração inorgânica com

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maior toxicidade presente na amostra) é suficiente para iniciar a gestão do risco atribuído ao alimento.

É importante ressaltar que ainda não existem limites máximos para as espécies de As disponíveis na legislação internacional (CE, MERCOSUL e Codex Alimentarius), embora já existam muitos projetos em andamento na CE para o desenvolvimento e validação de métodos para a determinação das mesmas. Assim, o método estará disponível para o monitoramento no PNCRC brasileiro antes de estar previsto na legislação internacional. Outra tendência é a aplicação de métodos rápidos, com preparo de amostras reduzido em termo de reagentes e tempo e, preferencialmente, com a detecção simultânea de vários analitos. Os assim chamados métodos multielementares possuem vantajosa relação entre custo e benefício quando utilizados como ferramenta para realizar a prospecção de cenários (Moauro, 2009).

Mais um aspecto importante na manutenção da segurança do alimento é a investigação da origem de possíveis contaminações, permitindo a rastreabilidade do contaminante na cadeia produtiva de alimentos (Brereton, 2009; Cannavan, 2009 e Nakashita, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAISConsiderando todos os argumentos apresentados e a perspectiva

crescente das projeções do agronegócio brasileiro, o PNCRC deve continuar o aprimoramento em todas as áreas. Em relação aos contaminantes inorgânicos, a associação de diversas abordagens analíticas, contemplando a determinação de espécies químicas individuais, a detecção de elementos emergentes ou inesperados por análises multielementares e a possibilidade de identificar a procedência dos contaminantes, por meio de métodos e instrumentação ágeis e eficientes, tornará os Lanagros e as equipes responsáveis pela determinação de contaminantes inorgânicos preparados para o gerenciamento de emergências. E, dessa forma, possibilitando o cumprimento dos objetivos estratégicos estabelecidos pela CGAL para os Lanagros: desenvolver, validar e divulgar métodos, ampliar acreditação na ISO/IEC 17025, harmonizar procedimentos na Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários e fortalecer a integração com centros de referência nacionais e internacionais. E, principalmente, tornar possível a realização da missão do MAPA de “Prover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em benefício da sociedade brasileira”.

AGRADECIMENTOS O autor agradece ao MAPA e à agência CNPq que fornecem suporte aos trabalhos de pesquisa e rotina desenvolvidos no Lanagro-SP.

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DECISãO DE EXECUçãO DA COMISSãO, N. 21. Altera a Decisão 2011/163/UE relativa à aprovação dos planos apresentados por países terceiros, em conformidade com o artigo 29 da Diretiva 96/23/CE do Conselho. Comissão Européia, Junho de 2012.

HARRINGTON, C. F., CLOUGH, R., HANSEN, H. R., HILL, S. J., PERGANTISE, S. A., TySON, J. F. Atomic Spectrometry Update. Elemental speciation, J. Anal. At. Spectrom., Vol. 24, 999–1025, 2009.

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