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6 Métodos e Técnicas da Pesquisa 6.1. Delineamento da Pesquisa 6.1.1. Tema Interfaces homem-máquina disponibilizadas em automóveis (rádios, nave- gadores GPS, celulares, piloto automático, etc.) para serem utilizadas por motoris- tas, para tanto ajudar na condução e no controle do veículo, quanto para entrete- nimento durante a viagem. 6.1.2. Problema Nos últimos anos, com o avanço das novas tecnologias, muitos sistemas ele- trônicos como rádios (com tocadores MP3 e DVD), sistemas de comunicação sem fio (wireless), telefones celulares e navegadores vêm sendo desenvolvidos para serem utilizados em automóveis. Estes sistemas muitas vezes estão disponíveis aos motoristas enquanto dirigem o veículo e, aliados à falta de tempo fora do tra- balho e ao congestionamento das vias de transporte, vêm sendo bastante utiliza- dos. A maioria dos sistemas eletrônicos veiculares disponíveis no mercado pos- suem displays muito pequenos, devido ao arranjo do painel de instrumentos e ao custo dos mesmos, e sistemas informatizados com muitos níveis de navegação, devido ao tamanho do display e a quantidade de informação disponível. Por estas características, existe uma demanda visual ainda maior do motorista para dentro do automóvel e, conseqüentemente, uma maior distração ou falta de atenção do motorista com a via e o ambiente exterior. Com exceção da resolução do CONTRAN número 242_07, que proíbe a re- produção de imagens computadorizadas para o motorista durante a condução de

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6 Métodos e Técnicas da Pesquisa

6.1. Delineamento da Pesquisa 6.1.1. Tema

Interfaces homem-máquina disponibilizadas em automóveis (rádios, nave-

gadores GPS, celulares, piloto automático, etc.) para serem utilizadas por motoris-

tas, para tanto ajudar na condução e no controle do veículo, quanto para entrete-

nimento durante a viagem.

6.1.2. Problema

Nos últimos anos, com o avanço das novas tecnologias, muitos sistemas ele-

trônicos como rádios (com tocadores MP3 e DVD), sistemas de comunicação sem

fio (wireless), telefones celulares e navegadores vêm sendo desenvolvidos para

serem utilizados em automóveis. Estes sistemas muitas vezes estão disponíveis

aos motoristas enquanto dirigem o veículo e, aliados à falta de tempo fora do tra-

balho e ao congestionamento das vias de transporte, vêm sendo bastante utiliza-

dos.

A maioria dos sistemas eletrônicos veiculares disponíveis no mercado pos-

suem displays muito pequenos, devido ao arranjo do painel de instrumentos e ao

custo dos mesmos, e sistemas informatizados com muitos níveis de navegação,

devido ao tamanho do display e a quantidade de informação disponível. Por estas

características, existe uma demanda visual ainda maior do motorista para dentro

do automóvel e, conseqüentemente, uma maior distração ou falta de atenção do

motorista com a via e o ambiente exterior.

Com exceção da resolução do CONTRAN número 242_07, que proíbe a re-

produção de imagens computadorizadas para o motorista durante a condução de

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um automóvel, não existe no Brasil normas ou legislações de segurança que regu-

lamentem o desenvolvimento, a aplicação e a validação destes equipamentos. Paí-

ses como Estados Unidos, os da União Européia e Japão vêm trabalhando nestas

questões em seus governos nos departamentos de transporte, desde o final da dé-

cada de 90, no desenvolvimento de guidelines para serem seguidas e atendidas

tanto pelas montadoras quanto pelos fornecedores destes sistemas.

Acredita-se que os sistemas eletrônicos veiculares disponibilizados no mer-

cado brasileiro não estejam de acordo com os princípios de usabilidade e seguran-

ça, mesmo que seus desenvolvedores sejam de origem estrangeira, como os países

citados acima. É possível encontrar no mercado brasileiro rádios tocadores de

MP3, por exemplo, com informações das músicas correndo na tela (scrooling),

botões muito pequenos e identificações pequenas com pouca legibilidade. Já em

sistemas de navegação GPS, pode-se observar a concepção de longas etapas de

interação para a conclusão de tarefas de entrada de dados, assim como rótulos de

menus e comandos mal traduzidos e mal concebidos. Estas características, de a-

cordo com os guidelines já existentes, são itens não conformes aos princípios de

usabilidade e segurança. Conclui-se, então, que os sistemas eletrônicos veiculares,

disponíveis no mercado automobilístico brasileiro, podem causar distrações ao

motorista e afetar na condução segura de um automóvel.

Portanto, delimita-se como problema da pesquisa o fato dos projetos das in-

terfaces de sistemas eletrônicos veiculares não estarem de acordo (não conformi-

dade) com os princípios de usabilidade e segurança, para uso durante a condução

do automóvel.

6.1.3. Objeto da Pesquisa

O objeto da pesquisa é a interação entre os motoristas e os sistemas de na-

vegação GPS disponíveis para uso em automóveis.

6.1.4. Hipótese e Variáveis

A hipótese considerada na pesquisa é a de que os sistemas de navegação

GPS comercializados no Brasil apresentam diversos problemas de usabilidade.

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Estes problemas na interação humano-computador (motorista-sistema) podem

causar distrações ao motorista e, consequentemente, influenciar na tarefa de diri-

gir.

Variáveis Independentes: Alguns sistemas de navegação GPS portáteis dis-

poníveis no mercado brasileiro.

Variáveis Dependentes: os problemas de usabilidade encontrados nas inter-

faces dos sistemas de navegação (mensurados através de medidas de usabilidade:

completude de tarefas, eficiência das tarefas e satisfação do usuário); o tempo gas-

to para a realização de tarefas típicas nos sistemas de navegação; a discrepância

entre o agrupamento de menus/comandos e a hierarquia (taxonomia) dos sistemas

e o modelo mental do usuário.

6.1.5. Objetivos

O objetivo global é definir recomendações de projeto para o desenvolvimen-

to de sistemas de navegação GPS, que sejam fáceis de usar e seguros durante a

condução de automóveis.

Tem-se como objetivos operacionais:

• Levantar os princípios de usabilidade para projeto de produtos eletrôni-

cos e seus métodos e técnicas de avaliação e concepção;

• Levantar os fatores que levam à distração do motorista, relacionados ao

projeto de sistemas eletrônicos em automóveis, e seus métodos e técni-

cas de avaliação;

• Levantar as diretrizes e as recomendações de órgãos governamentais,

instituições de pesquisa e associações nacionais e estrangeiras, relacio-

nados a veículos de transporte, para o desenvolvimento e aplicação de

sistemas eletrônicos utilizados por motoristas durante a condução de au-

tomóveis;

• Identificar e analisar os problemas de usabilidade em alguns sistemas

de navegação, para a execução de tarefas típicas de entrada de dados;

• Verificar e analisar o tempo gasto para a realização de tarefas típicas de

entrada de dados, em alguns sistemas de navegação;

• Descobrir o modelo mental dos usuários relacionado ao agrupamento e

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hierarquia de menus/comandos em sistemas de navegação;

• Propor recomendações para o projeto de interfaces de sistemas de na-

vegação GPS.

6.1.6. Justificativa / Aplicabilidade

As conclusões e os produtos da pesquisa servirão:

• de apoio aos cursos de Ergonomia para designers e engenheiros, no que

se refere ao desenvolvimento e aplicação de sistemas de navegação

GPS em automóveis e, também,

• de apoio aos pesquisadores da Ergonomia, no que se refere à aplicação

de métodos e técnicas de avaliação da Usabilidade e de avaliação da

Distração do Motorista;

• como base e auxílio para os órgãos governamentais e associações brasi-

leiras, relacionados a veículos de transporte, na definição de leis, nor-

mas e recomendações para a validação e implementação de sistemas de

navegação GPS em automóveis;

• como diretrizes para projetistas de fornecedores de sistemas eletrônicos

para montadoras de automóveis;

• como diretrizes para projetistas das montadoras de automóveis.

6.2. Método, Técnicas e Procedimentos

A pesquisa realizada tem o caráter descritivo dos fenômenos observados – a

interação entre os motoristas e os sistemas de navegação GPS e seus problemas de

usabilidade. Gil (2007) coloca que o objetivo principal deste tipo de pesquisa é

descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabele-

cimento de relações entre variáveis. Nestas pesquisas são possíveis, segundo o

autor, levantar as opiniões, atitudes e crenças de uma população, como também

descobrir a existência de associações entre variáveis.

Portanto, o método utilizado na pesquisa foi o hipotético-dedutivo. Sendo

assim, para a verificação do problema e a comprovação da hipótese desta pesqui-

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sa, buscaram-se aplicar técnicas e procedimentos quantitativos e qualitativos tanto

da área de Usabilidade (Ergonomia) quanto da área de Distração do Motorista

(Engenharia de Tráfego/Segurança de Tráfego), visando as questões relacionadas

ao projeto de interfaces.

As técnicas e os procedimentos utilizados nesta pesquisa são os seguintes: a

pesquisa bibliográfica; o teste de usabilidade; o procedimento descrito na prática

recomendada pela SAE – J2365 e o modelo KLM-Estendido; e o card sorting.

Para a realização da pesquisa bibliográfica foram levantados livros, teses,

artigos de revistas acadêmicas e papers atualizados de ergonomistas e projetistas

com conhecimento nas áreas de usabilidade, projeto de produtos eletrônicos vei-

culares, projeto de automóveis e distração do motorista, identificando seus concei-

tos, métodos, procedimentos e teorias. Teve como objetivo compreender, analisar

e avaliar suas contribuições teóricas sobre o tema da pesquisa. Com esta pesquisa

buscou-se marcar o conhecimento disponível e utilizá-lo como base e fundamen-

tação na construção do modelo teórico explicativo do problema.

O teste de usabilidade aplicado em alguns softwares de sistemas de navega-

ção GPS teve o objetivo de coletar dados quantitativos e qualitativos, para se co-

nhecer quais são os principais problemas de usabilidade que podem ocorrer nestes

sistemas. A escolha desta técnica de avaliação se deu pelo fato de ser uma técnica

que dá resultados bem ricos e reais sobre o desempenho de tarefas em interfaces,

pois esta trabalha com usuários finais na coleta de informações.

Mesmo sendo possível medir o tempo total das tarefas em testes de usabili-

dade, optou-se por fazer esta medição do tempo com os procedimentos descritos

na prática recomendada pela SAE – J2365 e no modelo KLM-Estendido, pois esta

medição não deveria ser realizada junto com as verbalizações dos participantes no

teste de usabilidade. Portanto, como o tempo total da tarefa é um dos pontos fun-

damentais na distração do motorista, este deveria ser medido de forma extrema-

mente controlada, como foi realizado nestes procedimentos mencionados.

Como foram detectados muitos problemas relacionados aos sistemas de or-

ganização e rotulação dos navegadores testados, optou-se por aplicar a técnica de

Card Sorting para investigar o modelo mental que os usuários têm para o uso de

sistemas de navegação GPS. Como foi visto no capítulo sobre usabilidade, esta

técnica é uma das mais adequadas para a verificação deste modelo e através de

seus resultados pode-se comparar os padrões mais freqüentes de organização e

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rotulação com o projeto dos sistemas avaliados e, posteriormente, propor reco-

mendações.

A seguir, apresentam-se as descrições das técnicas e procedimentos aplica-

dos.

6.2.1. Teste de Usabilidade

O projeto e a estrutura do teste de usabilidade foram organizados de acordo

com as etapas definidas por Rubin e Chisnell (2008), como foi apresentado no

capítulo 4 (item 4.4.2.).

6.2.1.1. Proposta e Objetivos

A proposta do teste foi explorar o design das telas, os modos de entrada de

dados e a facilidade da interação humano-computador de três sistemas de navega-

ção GPS (softwares) disponíveis no mercado brasileiro, instalados em um Pocket

PC com tela touch-screen – Airis T620 com antena GPS embutida. Optou-se pelo

uso do mesmo hardware nos testes para que o foco fosse apenas nos problemas e

soluções da interface computadorizada, sem que questões relacionadas a controles

físicos influenciassem no desempenho das tarefas.

Os objetivos do teste de usabilidade foram:

• Levantar e avaliar os problemas de usabilidade no desempenho de tare-

fas típicas em sistemas de navegação GPS;

• Medir e avaliar a preferência e a satisfação dos usuários em relação aos

três sistemas;

• Enumerar os elementos que são melhores e piores entre os sistemas pa-

ra determinadas interações/tarefas.

6.2.1.2. Questões da Pesquisa

Com os objetivos definidos, determinaram-se, então, quais seriam as ques-

tões do teste. De acordo com Rubin e Chisnell (2008), a definição de questões é

extremamente importante no planejamento de um teste, pois através delas direcio-

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na-se o foco da pesquisa. Segundo os autores, as questões devem ser as mais pre-

cisas, acuradas, claras e mensuráveis (ou observáveis) possíveis. Portanto, as

questões definidas no teste aplicado foram:

• Em qual sistema é mais fácil inserir e definir um endereço de destino?

• Em qual sistema é mais fácil encontrar um POI (ponto de interesse) es-

pecífico?

• Em qual sistema é mais fácil armazenar um endereço favorito?

• Em qual sistema é mais fácil configurar as preferências?

Como seriam avaliados softwares completos, já desenvolvidos e comerciali-

zados, estas questões tiveram como base tarefas típicas realizadas em sistemas de

navegação GPS e tarefas que fossem possíveis de realizar nos três sistemas que

seriam avaliados. A partir destas questões determinou-se as tarefas que deveriam

ser desempenhas pelos participantes do teste.

6.2.1.3. Tarefas

1. Definir um destino por endereço;

2. Selecionar como destino o posto de gasolina (POI) mais próximo do si-

nal GPS (mais próximo da posição atual);

3. Armazenar o endereço da nova “Residência/Casa” (favorito pré-

determinado);

4. Trocar as cores do mapa (entre modo de cores diurnas e noturnas);

5. Determinar a unidade de medida a ser utilizada no guia de rota.

6.2.1.4. Perfil dos Participantes

Para avaliar o desempenho das tarefas, estipulou-se como critério principal

para a seleção dos participantes, pessoas que nunca tivessem usado sistemas de

navegação GPS e pessoas que já tivessem usado os sistemas pelo menos uma vez,

com o objetivo de avaliar se o conhecimento deste tipo de interface computadori-

zada influenciaria nos resultados. Além deste critério, outros foram estabelecidos

para um melhor equilíbrio entre os participantes, como mostra o quadro abaixo.

(quadro 6.1.)

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Para selecionar os participantes foi elaborado um questionário de recruta-

mento com 7 questões que pudessem filtrar as pessoas conforme estes critérios.

Todos os participantes foram convidados e recrutados por e-mail e responderam o

questionário por meio de um formulário na internet. No Apêndice I apresenta-se o

questionário de recrutamento. Além disso, como a participação nos testes era vo-

luntária, a maioria dos participantes recrutados foi estudantes de pós-graduação

(especialização, mestrado e doutorado) da universidade onde a pesquisa foi reali-

zada. Característica Número desejado de

participantes Tipo de participante:

• Piloto • Regular

5

18 Número total de participantes: 23

Uso de computador: • Mais de 5 anos

18

Uso de sistema de navegação GPS: • Nunca usou • Já usou pelo menos uma vez

9 9

Licença para dirigir: • É habilitado há mais de 2 anos

18

Freqüência na condução: • Mais de 4 horas por semana

9

Idade: • 21 – 30 • 31 – 40 • 41 – 50 • 51 – 60

4 a 5 5 a 6 5 a 6 4 a 5

Sexo: • Feminino • Masculino

8 a 10 8 a 10

Quadro 6.1. – Perfil dos participantes do teste de usabilidade

Como houve muita dificuldade para recrutar pessoas que já tivessem utili-

zado um sistema de navegação GPS pelo menos uma vez, por ser ainda um siste-

ma relativamente novo no Brasil, priorizou-se esta característica em detrimento da

distribuição dos participantes nos critérios de idade e sexo conforme o planejado,

porém considerou-se que uma distribuição desigual do participantes nestes crité-

rios não invalidaria os resultados dos testes. No capítulo de análise dos testes de

usabilidade apresentam-se as proporções na distribuição dos participantes nestes

critérios.

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6.2.1.5. Sistemas Avaliados

Os softwares selecionados para o teste foram: sistema A – Nav N Go iGO 8

v.8.3.2.64873, sistema B – Route 66 Navigate 7 v.7.0.1895; sistema C – Tomtom

Navigator 7 v.7.450. Estes softwares foram escolhidos por três motivos: porque

dois deles (A e C) eram os mais utilizados nos hardwares vendidos no Brasil em

2008, porque eles tinham a possibilidade de serem instalados em aparelhos como

Pocket PC (como o utilizado na pesquisa) e, principalmente, porque os três ti-

nham modos de entrada de dados de endereço bastante distintos, conforme é apre-

sentado a seguir.

• sistema A – Nav N Go iGO 8 – neste primeiro, a entrada de dados é fei-

ta por um teclado virtual (smart keyboard) que reduz as possibilidades

de entrada de teclas conforme é feita a digitação dos nomes das ruas,

das cidades e dos números do endereço (figura 6.1.).

Figura 6.1. – Modo de entrada de dados do sistema A – Nav N Go iGO 8 Neste exemplo da inserção da “Rua Piraúba”, conforme o usuário vai digitando, o siste-ma desabilita as letras que não são possíveis, de acordo com seu banco de dados (2ª tela), até sobrar um número reduzido de possibilidades de nome de rua (3ª tela)

• sistema B – Route 66 Navigate 7 – neste segundo, o usuário digita

completamente ou parcialmente o endereço e depois o procura numa

lista de possibilidades, numa tela seguinte (figura 6.2.).

Figura 6.2. – Modo de entrada de dados do sistema B – Route 66 Navigate 7 Neste exemplo, o usuário digita primeiramente o endereço (2ª tela) e depois o seleciona na tela seguinte (3ª tela), onde são apresentados todos endereços do banco de dados com o nome da rua digitada (“Rua Piraúba”), independente da cidade

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• sistema C – Tomtom Navigator 7 – por último, neste terceiro, conforme

o usuário digita os nomes, o sistema filtra os nomes no banco de dados

e apresenta as possibilidades numa lista de duas linhas (figura 6.3.).

Figura 6.3. – Modo de entrada de dados do sistema C – Tomtom Navigator 7 Neste exemplo, conforme o usuário vai digitando, o sistema apresenta na parte de cima da tela as possibilidades de ruas do seu banco de dados até surgir a rua desejada, que deverá ser selecionada

Quanto ao “menu principal” das interfaces, o primeiro tem arranjos de sub-

grupos bem diferente dos outros dois, que são semelhantes em termos de disposi-

ção dos comandos na interface (figura 6.4.).

Sistema A Sistema B Sistema C

Figura 6.4. – Menu Principal dos sistemas testados (sistema A – Nav N iGO 8; sistema B – Route 66 Navigate 7; sistema C – Tomtom Navigator 7, respectivamente)

6.2.1.6. Ambiente e Equipamentos do Teste

Para criar uma situação mais próxima do real, optou-se por aplicar os testes

dentro de um veículo de passeio (sempre o mesmo veículo), parado em um esta-

cionamento ao ar livre, pois desta forma permitia-se que os sistemas de navegação

se conectassem à antena GPS. Esta conexão era requisito para alguns sistemas pa-

ra a conclusão da tarefa 2 – selecionar como destino o posto de gasolina mais pró-

ximo.

Os testes ocorreram durante a parte da manhã, entre 9hs e 12hs, e na parte

da tarde, entre 13hs e 16hs, para que a incidência de luz dentro do veículo pudesse

ser semelhante. Devido ao clima da cidade do Rio de Janeiro, onde foram aplica-

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dos os testes, optou-se por realizá-los durante o inverno, nos meses de julho e a-

gosto.

O equipamento GPS onde foram instalados os sistemas sempre esteve insta-

lado no mesmo local – preso na parte mais baixa do pára-brisas próximo a parte

central do painel de instrumentos. Este local é o recomendado para a realização de

tarefas secundárias em veículos com displays, que precisam ser vistos e acionados

sem a obstrução da visão com a via e sem interferir nos controles do veículo, con-

forme recomenda as diretrizes européias (EC, 2008) e americanas (AAM, 2003) –

ver quadro 5.2. – princípios relativos à instalação.

Todas as etapas do teste foram gravadas em vídeo digital através de uma

câmera instalada em um tripé no banco de trás do veículo. Como um veículo é um

ambiente pequeno, estiveram dentro dele somente o participante da pesquisa, sen-

tado no banco do motorista, e o moderador, que alternava entre o banco do passa-

geiro da frente, durante as entrevistas, e o banco de trás, durante a realização das

tarefas. Também, foi solicitado que o participante se acomodasse em sua posição

normal de dirigir antes de começar o teste.

Figura 6.5. – Ambiente e equipamentos do teste de usabilidade

6.2.1.7. Procedimento das Sessões do Teste

A partir das definições anteriores, o próximo passo do planejamento do teste

foi organizar o desenrolar das sessões do teste. As sessões foram programadas pa-

ra ter um duração de aproximadamente 90 minutos, sendo: os 15 minutos iniciais

dedicados à aplicação de um questionário pré-teste, à leitura e assinatura do termo

de consentimento, à explicação do procedimento do teste e à entrevista inicial (de

background); os 60 minutos seguintes para o ensaio com os sistemas, o desempe-

nho das tarefas e a aplicação dos questionários pós-teste; e os 15 minutos finais

para a entrevista de revisão (debriefing) com o participante. O quadro abaixo

(quadro 6.2.) apresenta os detalhes e os objetivos de cada etapa da sessão.

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ETAPAS DA SESSÃO E CRONOGRAMA Pré-Teste (3 minutos) Para o participante:

- ler e assinar o termo de consentimento; - responder ao questionário pré-teste.

Introdução à sessão (9 minutos) Para a discussão entre o participante e o moderador sobre:

- a importância do envolvimento do participante com o estudo; - o papel do moderador; - a configuração do ambiente (carro), os sistemas de gravação, modo de observação; - o protocolo de descanso; - o protocolo verbal; - o procedimento do teste.

Entrevista de Background (3 minutos) Para a discussão de como funcionam os sistemas GPS e quais são as experiências, o conheci-mento e as expectativas do participante com relação aos sistemas. Ensaio (5 minutos x3) – para cada um dos três sistemas Para o participantes conhecer o sistema que será testado e começar a criar uma familiaridade com o mesmo. Tarefas (12 minutos x3) – para cada um dos três sistemas Para o participante desempenhar as tarefas de acordo com a ordem preestipuladas. Pós-Teste (3 minutos x3) – para cada um dos três sistemas Para o participante responder o questionário pós-teste. Debriefing (10 minutos) Para discussão das questões que ficaram pendentes e/ou aprofundar alguns problemas ocorridos durante o teste; para saber das preferências e opiniões do participante.

Quadro 6.2. – Etapas e cronograma da sessão do teste de usabilidade

O questionário pré-teste aplicado no início da sessão foi elaborado com 7

perguntas fechadas (múltipla escolha), com o intuito de confirmar os critérios de

seleção do perfil do participante. Além disso, neste questionário foi incluído uma

pergunta sobre quais produtos eletrônicos portáteis que o participante usava ou já

tinha usado. Esta pergunta foi incluída no questionário com a intenção de verificar

a experiência do participante com outras interfaces computacionais pequenas, di-

ferentes de um computador desktop, para avaliar se esta experiência poderia influ-

enciar nos resultados do teste.

Para a introdução à sessão foi criado, como material do teste, o roteiro do

moderador, para garantir que todos os participantes tivessem as mesmas instru-

ções. Segundo Rubin e Chisnell (2008), a criação e a leitura destes roteiros é sem-

pre importante para garantir a imparcialidade do moderador, evitando que qual-

quer instrução possa ser esquecida. Outros materiais do teste foram criados, tam-

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bém, para o decorrer das atividades, como: o termo de consentimento, o caderno

de anotações (com o roteiro das entrevistas de background e debriefing), os car-

tões com as tarefas e o questionário pós-teste. Todos os materiais do teste de usa-

bilidade encontram-se no Apêndice I.

Após a leitura do roteiro para o participante, iniciaram-se os testes com os

sistemas, um a um, e cada tarefa foi apresentada por cartões contendo a tarefa

descrita através de cenários típicos (quadro 6.3.). Como duas das tarefas (tarefa 1

e 3) necessitavam de endereços de locais específicos, selecionaram-se três endere-

ços para cada uma das tarefas, um para cada sistema. Os endereços escolhidos fo-

ram endereços simples, com apenas uma palavra no nome da rua e com a mesma

quantidade de letras, o mesmo número e o mesmo bairro (quadro 6.4.). Os ende-

reços foram testados anteriormente nos três sistemas para verificação da possibili-

dade de conclusão das tarefas.

Cenários das Tarefas 1. Você mandou imprimir uns convites numa gráfica em São Cristóvão e precisa buscá-los. Como você não sabe chegar lá, você vai utilizar o seu sistema GPS para guiá-lo. Para isso, você precisa colocar o endereço (abaixo) no sistema para que ele calcule a sua rota e o guie. Como você faria isso? ENDEREÇO 2. Você está dirigindo numa região que não conhece direito e, de repente, você verifica que pre-cisa abastecer o carro. Sabendo que seu sistema GPS pode informar qual é o posto de gasolina mais próximo da posição em que você está e guiá-lo até lá, como faria para selecionar como destino o posto de gasolina mais próximo? 3. Você sabe que em todos os sistemas GPS é possível armazenar o endereço de casa, para que você possa selecioná-lo rapidamente toda vez que você quiser voltar para casa. Você recente-mente mudou de casa e ainda não armazenou o seu novo endereço (abaixo) no seu sistema GPS. Como você faria isso? ENDEREÇO 4. Na última vez que você usou o seu sistema GPS era dia e as cores do mapa do guia de rota estavam claras (cores diurnas). Porém, hoje à noite você vai a um jantar num lugar que você não conhece. Então, você percebe que as cores do mapa estão muito claras para usar a noite e po-dem ofuscar a sua visão dentro do carro. Como você faria para mudar as cores do mapa para cores mais escuras (cores noturnas)? 5. Seu sistema GPS está apresentando todas as medidas em milhas e jardas, porém você quer que ele apresente as medidas em quilômetros e metros, como você está acostumado a ler. Como você mudaria isso no sistema?

Quadro 6.3. – Cenários das tarefas

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144

Endereços da Tarefa 1:

a) Rua Cabrita, 26 – São Cristóvão – Rio de Janeiro – RJ, 20920-400 b) Rua Itabuna, 26 – São Cristóvão – Rio de Janeiro – RJ, 20920-060 c) Rua Piraúba, 26 – São Cristóvão – Rio de Janeiro – RJ, 20940-250

Endereços da Tarefa 3:

a) Rua Sambaíba, 94 – Leblon – Rio de Janeiro – RJ, 22450-140 b) Rua Redentor, 94 – Ipanema – Rio de Janeiro – RJ, 22421-030 c) Rua Tonelero, 94 – Copacabana – Rio de Janeiro – RJ, 22030-002

Quadro 6.4. – Endereços selecionados para a tarefa 1 e a tarefa 3

Para comparação dos resultados, determinou-se que as tarefas seriam iguais

para todos os participantes, inclusive para os dois subgrupos preestabelecidos – os

que nunca usaram navegadores GPS e os que já tinham usado pelo menos uma

vez. Também, as tarefas foram apresentadas de maneira aleatória para os partici-

pantes para evitar impactos nos resultados quanto a aprendizagem das tarefas.

Mesmo assim, como foram utilizados três sistemas diferentes, no decorrer dos tes-

tes piloto foi observado que as tarefas tornavam-se mais fáceis ou aprendidas con-

forme o uso dos sistemas, isto é, os participantes depois que realizavam o conjun-

to de 5 tarefas no primeiro sistema, realizavam os outros dois conjuntos de 5 tare-

fas com mais facilidade nos outros dois sistemas, pois a idéia geral de um funcio-

namento de um sistema GPS já era aprendida no primeiro sistema. Portanto, para

evitar que os resultados fossem tendenciosos para um ou outro sistema, optou-se,

também, por contrabalançar os sistemas e não apresentá-los de forma aleatória.

Cada sistema foi apresentado para os participantes 6 vezes em primeiro lugar, 6

vezes em segundo lugar e 6 vezes em terceiro lugar, distribuídos entre os 18 parti-

cipantes. A distribuição da apresentação e aplicação dos sistemas e das tarefas pa-

ra os participantes é apresentada no quadro do Apêndice I.

Para avaliar a satisfação de uso dos sistemas avaliados, após a execução das

tarefas no sistema, foi solicitado ao participante o preenchimento de um questio-

nário (pós-teste) bastante conhecido na área de usabilidade e interação humano-

computador – o questionário SUS (System Usability Scale). O SUS foi criado por

Brooke (1996) com o objetivo de ser um método “rápido e sujo” (“quick and

dirty”), barato e que pudesse fornecer pareceres gerais sobre sistemas. O modelo

de questionário SUS é uma escala de Likert contendo 10 itens para serem respon-

didos. Nestes itens existem questões positivas e negativas, cinco de cada tipo e

alternadas, com o objetivo de forçar o respondente a ler todas as questões (ver e-

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

145

xemplo figura 6.6). O resultado deste questionário é uma nota de 0 a 100, definida

através de um cálculo específico em cima das respostas, e quanto mais próximo de

100 melhor e mais satisfatório é o sistema. Tullis e Albert (2008) consideram a

nota 60 como relativamente pobre e a nota 80 como bastante boa, como critérios

de satisfação para o resultado do questionário SUS.

Discordo plenamente Concordo

plenamente

1. Acredito que eu usaria este sistema freqüentemente

2. Achei o sistema desnecessariamente complexo

3. Achei que o sistema foi fácil de usar

Figura 6.6. – Exemplo das 3 primeiras questões do questionário SUS e sua escala

Desde a sua criação, este modelo de questionário vem sendo aplicado em

diversos estudos, principalmente para comparações entre sistemas. Tullis e Stet-

son (2004) realizaram uma pesquisa que comparava cinco modelos de questioná-

rio usualmente aplicados em estudos de usabilidade, incluindo o SUS. Os autores

chegaram a conclusão que o SUS foi um dos modelos que apresentou dados mais

confiáveis, ainda mais para comparações entre sistemas. Portanto, optou-se por

este modelo de questionário para a aplicação neste teste de usabilidade, para com-

parações dos sistemas de navegação GPS.

Ao final dos testes dos três sistemas com cada um dos participante, foram

feitas entrevistas de revisão (debriefing) com o intuito de esclarecer algumas

questões que foram observadas durante o teste. Também, com um roteiro de per-

guntas estipuladas no caderno de anotações, pode-se aprofundar mais nas questões

de preferências e opiniões dos participantes durante a entrevista.

6.2.1.8. Dados Coletados

Por fim, para análise da eficácia, eficiência e satisfação do usuário nos sis-

temas testados, foram selecionadas as seguintes medidas de usabilidade: a com-

pletude das tarefas, o grau de eficiência das tarefas e a satisfação do usuário com

os sistemas.

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146

Através da completude da tarefa é possível avaliar a eficácia do sistema,

pois uma vez que a tarefa é completada num sistema sabe-se que este tem um pro-

jeto adequado e que o seu objetivo naquela tarefa foi alcançado. Como critério de

acerto e completude das tarefas foram desenhados todos os fluxogramas com as

atividades das tarefas para cada um dos sistemas (Apêndice 1). Porém, esta com-

pletude pode ter níveis, como: tarefa completada sem problemas (quando foi de-

sempenhada exatamente como descrito no fluxograma das atividades), tarefa

completada com problemas (quando houve desvios no fluxograma até chegar ao

fim) ou tarefa não completada (quando houve desvios no fluxograma e não che-

gou ao fim).

Nas tarefas que foram completadas com problemas avalia-se, então, as difi-

culdades que os participantes enfrentam para concluir a tarefa. Desta forma, é

possível medir a eficiência dos sistemas para uma determinada tarefa. Portanto,

para avaliar a eficiência das tarefas completadas com problemas, foi mensurada a

quantidade de cliques errados e/ou excedentes realizados pelos participantes para

completar a tarefa.

Para avaliar a satisfação do usuário com os sistemas, como um todo inde-

pendente das tarefas desempenhadas, os métodos adequados são entrevistas e

questionários aplicados após o uso dos sistemas. Portanto, com a entrevista reali-

zada no final dos testes e o questionário aplicado (SUS) após o uso de cada siste-

ma, pôde-se mensurar qual sistema foi mais satisfatório entre os participantes e

por que.

Após o levantamento das medidas coletadas, optou-se pela abordagem top-

down (Barnum, 2002) para a organização e interpretação dos problemas encontra-

dos no desempenho das tarefas. Para tanto, foram usados como categorias os prin-

cípios de usabilidade apresentados no capítulo 4 (item 4.1.), onde cada um dos

princípios recebeu um código (tabelas 6.1, 6.2, 6.3, 6.4) para a geração de tabelas

onde foram agrupados os problemas encontrados por categoria e por sistema (veja

o exemplo na figura 6.7). Uma outra tabela também foi gerada para agrupar os

comentários e observações dos participantes em relação tanto às tarefas quantos

aos sistemas como um todo, coletados através das respostas dadas às perguntas do

debriefing e das falas feitas durante os testes. Através destas tabelas foi possível

analisar de maneira minuciosa os problemas que levaram a não completude das

tarefas e a ineficiência das tarefas, assim como verificar quais são as categorias de

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

147

problemas que mais ocorreram nos sistemas avaliados.

Código da Categoria

Bastien & Scapin (1993)

Nielsen (1994) Shneiderman (1998)

Jordan (1998) Norman (2002; 2006)

A1

8. Compatibilidade 2. Compatibilidade entre o sistema e o mundo real

2. Compatibilidade 9. Transferência apropriada da tecnologia

A2 1. Condução

A3 1.1 Incentivo

10. Transparência (Explicitness)

1. Usar ao mesmo tempo o conheci-mento no mundo e o conhecimento na cabeça (interno ao indivíduo) 4. Fazer mapea-mentos corretos (boas correspon-dências)

Tabela 6.1. – Categoria A – Facilitar o aprendizado do sistema

Código da Categoria

Bastien & Scapin (1993)

Nielsen (1994) Shneiderman (1998)

Jordan (1998) Norman (2002; 2006)

B1

1.2 Agrupamento / Distinção pelo formato ou pela localização.

7. Clareza visual. 8. Priorização de funcionalidades e de informação.

B2 1.4 Legibilidade. 7. Clareza visual.

B3 2. Carga de Traba-lho.

6. Reconhecer ao invés de relem-brar.

2.1 Brevidade. B4 2.2 Densidade

informacional

8. Estética e de-sign minimalista.

8. Reduzir a carga de trabalho da memória a curto prazo.

3. Considerar as capacidades dos usuários.

2. Simplificar a es-trutura das tarefas.

B5 6. Homogeneidade / Coerência.

4. Consistência e padrões.

1. Buscar a con-sistência.

1. Consistência.

7. Quando tudo fracassar, padroni-zar

B6 7. Significado dos Códigos e Deno-minações.

B7 10. Ajuda e docu-mentação.

Tabela 6.2. – Categoria B - Facilitar a procura, a percepção, o reconhecimento e a com-preensão das informações no sistema

Código da Categoria

Bastien & Scapin (1993)

Nielsen (1994) Shneiderman (1998)

Jordan (1998) Norman (2002; 2006)

C1

1.3 Feedback imediato.

1. Visibilidade do status do sistema.

3. Oferecer um feedback informa-tivo. 4. Projetar diálo-gos que indiquem quando a tarefa terminou.

4. Feedback.

3. Tornar as coisas visíveis.

3. Controle explíci-to. 3.1 Ações Explíci-tas. C2

3.2 Controle do Usuário.

3. Controle do usuário e liberda-de.

7. Facilitar o con-trole do sistema pelo usuário.

6. Controle por parte do usuário.

C3 5. Gestão de Er-ros.

C3a

5.1 Proteção con-tra os Erros.

5. Prevenção de erros.

5. Explorar o poder das restrições, se-jam naturais e artifi-ciais.

C3b 5.2 Qualidade das Mensagens de Erro.

5. Fornecer pre-venção e manipu-lação simples de erros.

C3c 5.3 Correção dos Erros.

9. Ajudar o usuário a reconhecer, diagnosticar e recuperar-se dos erros.

6. Propor possibi-lidades fáceis de desfazer as ações.

5. Prevenção e recuperação de erros.

6. Projetar um pro-duto considerando que haverá sempre erros.

Tabela 6.3. – Categoria C - Facilitar o controle da interação com o sistema

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148

Código da Categoria

Bastien & Scapin (1993)

Nielsen (1994) Shneiderman (1998)

Jordan (1998) Norman (2002; 2006)

4. Adaptabilidade. 4.1 Flexibilidade.

D1 4.2 Consideração da Experiência do Usuário.

7. Flexibilidade e eficiência de uso.

2. Permitir que os usuários freqüen-tes usem atalhos.

Tabela 6.4 – Categoria D - Considerar o contexto de uso do sistema e o tipo de usuário

Figura 6.7. – Exemplo da tabela de categorização dos problemas encontrados no teste de usabilidade (abordagem top-down)

6.2.1.9. Teste piloto

Com o intuito de avaliar se o plano de teste estava adequado à proposta e

aos objetivos do teste de usabilidade, foram aplicados testes piloto com alguns

potenciais usuários de sistemas de navegação GPS. Participaram dos testes piloto

um total de cinco pessoas, sendo três do sexo masculino e dois do sexo feminino,

com idades variando da faixa etária de 21 a 30 anos à faixa etária de 41 a 50 anos.

Destes participantes, apenas um já tinha usado e possuía um sistema GPS.

Devido a época em que os sistemas foram testados, o sistema A avaliado no

teste piloto foi a versão anterior ao sistema testado no teste definitivo – o sistema

testado no piloto foi o Nav N Go iGO My Way 2006, enquanto que o sistema tes-

tado no teste definitivo foi o Nav N Go iGO 8. A escolha da nova versão do sis-

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

149

tema A se deu por dois motivos: primeiro, no momento da aplicação dos testes

definitivos, o sistema já estava bem difundido no mercado brasileiro, e segundo,

muitas melhorias em termos usabilidade já tinham sido feitas na nova versão. A-

lém disso, foi verificado que todas as tarefas do teste também poderiam ser reali-

zadas na nova versão.

Com o teste piloto, também foi possível fazer um ensaio de como seriam co-

letados e apresentados os resultados do teste. Geraram-se, portanto, gráficos das

medidas coletadas e a análise dos potenciais problemas que poderiam aparecer

durante o teste definitivo. Porém, apesar dos testes piloto terem apresentado resul-

tados bastante robustos, algumas alterações tiveram que ser feitas no teste defini-

tivo para se obter mais e melhores resultados, como:

• na entrevista de background, devia-se explicar melhor, principalmente

para o participante inexperiente, qual é a principal tarefa de um sistema

de navegação GPS – entrar com um endereço – e dizer quais são as in-

formações que são, normalmente, solicitadas (país, cidade ou CEP, no-

me da via e número da edificação). Alguns participantes inexperientes

não tinham noção do funcionamento de um sistema como este e como é

feita a entrada de dados;

• na entrevista de background, devia-se, também, explicar melhor o que é

um POI e os tipos de referência de proximidade que existem. O POI

(ponto de interesse) é uma característica bem específica desse tipo de

sistema e foi observado que nenhum participante inexperiente sabia o

que era e como ele funcionaria;

• devia-se deixar os participantes mais tempo nos ensaios com os siste-

mas antes da execução das tarefas;

• nas tarefas de entrada de dados de endereço (tarefa 1 e 3), devia-se e-

quiparar melhor os sistemas na configuração inicial quanto a entrada do

nome da cidade. A cidade “Rio de Janeiro” foi selecionada como pa-

drão (default) nos sistemas onde era possível a deixar selecionada (sis-

tema A e C), pois desta maneira aproximava-se de uma situação real de

uso e permitia que os dados coletados fossem mais controlados;

• era necessário sublinhar nos cartões da tarefa 2 o trecho “o posto de ga-

solina mais próximo da posição em que você está”, para ressaltar o tipo

de referência que o participante deveria escolher, pois alguns partici-

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

150

pantes não atentavam para este detalhe e escolhiam o posto conforme o

seu gosto (por exemplo, escolhiam a bandeira do posto que costumam

abastecer o seu próprio veículo);

• não devia-se aplicar o teste no final da tarde para tentar evitar que o

comando “cores noturnas > automático” (no sistema A) induzisse ao er-

ro, pois era necessário que o participante selecionasse o comando “co-

res noturnas > ligado”. Quando o comando “cores noturnas > automáti-

co” é selecionado no final da tarde, o sistema troca as cores do mapa

automaticamente para cores noturnas, porém na tarefa estipulada para o

teste era necessário que o participante forçasse a troca de cores do ma-

pa, sendo a seleção do comando “cores noturnas > ligado” um requisito

para a completude da tarefa;

• devia-se evitar conduzir ou dar dicas durante o teste quando o partici-

pante fizesse muitas perguntas. O teste piloto serviu, também, neste ca-

so como um aprendizado na moderação do teste de usabilidade;

• devia-se explorar mais questões nas entrevistas de revisão (debriefing)

sobre: as dificuldades específicas de cada participante; sobre os modos

e estratégias de entradas de dados dos sistemas, comparando-os; e sobre

a preferência quanto ao formato do teclado (ABCDE ou QWERTY) u-

sados nos sistemas;

• na entrevista de revisão (debriefing), devia-se perguntar, também, sobre

a aparência gráfica (design) dos sistemas, sobre os ícones, gráficos e i-

dentificações (questões que poderiam levar à satisfação ou à insatisfa-

ção com o sistema); e

• devia-se contrabalançar a aplicação dos sistemas entre os participantes,

pois o funcionamento básico de um sistema de navegação GPS já era

aprendido com o primeiro sistema testado, como foi comentado anteri-

ormente.

A partir destas alterações pôde-se fechar o plano de teste definitivo, con-

forme descrito nos itens anteriores. Os materiais do teste foram alterados e suas

versões finais encontram-se no Apêndice I.

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

151

6.2.2. Prática Recomendada SAE J2365 e o Modelo KLM-Estendido

Com o intuito de avaliar se as tarefas observadas no teste de usabilidade po-

deriam ser desempenhadas com o veículo em movimento, considerando sua de-

manda visual, foram feitas estimativas de tempo de desempenho através dos pro-

cedimentos da SAE J2365 (SAE, 2002) e do modelo KLM-Estendido (Pettitt,

2008), descritos no capítulo 5 – itens 5.2.5. e 5.2.7. Através dessas estimativas e

os critérios de conformidade de demanda visual pôde-se avaliar se o projeto as

soluções das tarefas estavam adequadas nos sistemas.

6.2.2.1. Procedimentos da prática recomendada SAE J2365

Para a aplicação do procedimento da SAE J2365, seguiram-se os passos da

prática recomendada conforme descrito no capítulo 5 (ver item 5.2.5.). O primeiro

passo do procedimento foi identificar os objetivos de cada uma das cinco tarefas.

A partir desta identificação, o próximo passo foi, também, identificar seus subob-

jetivos para cada sistema, considerando a solução determinada para cada tarefa.

As tabelas a seguir apresentam os objetivos e seus subojetivos das tarefas para

cada sistema:

Sistema A – Nav N Go iGO 8 Tarefas: T1 T2 T3 T4 T5

obje

ti-vo

s: Definir um destino

por endereço Selecionar como destino o posto de gasolina mais próximo

Armazenar o ende-reço da nova resi-dência/casa

Trocar as cores do mapa (de diurnas para noturnas)

Determinar a uni-dade de medida a ser utilizada no guia de rota

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

1: Selecionar o modo de entrada desejado

1: Selecionar o modo de entrada desejado

1: Selecionar o mo-do de entrada dese-jado

1: Selecionar o mo-do de entrada dese-jado

1: Selecionar o modo de entrada desejado

2: Selecionar a rua 2: Selecionar a categoria de POI

2: Selecionar a rua 2: Selecionar o gru-po para configura-ção do mapa

2: Selecionar o grupo para confi-guração de unida-des

3:Selecionar o número

3: Selecionar o posto de gasolina

3: Selecionar o nú-mero

3: selecionar o sub-grupo de cores do mapa

3: Definir a unida-de de medida

4: Selecionar o comando de cál-culo da rota

4:Selecionar o comando de cál-culo da rota

4: Selecionar o co-mando para arma-zenar o endereço

4: definir o modo de cores

5: Escolher o local para armazenar o favorito

subo

bjet

ivos

:

6: Editar o nome do favorito

Tabela 6.5. – Objetivos e subobjetivos das tarefa no sistema A – Nav N Go iGO 8

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

152

Sistema B – Route 66 Navigate 7 Tarefas: T1 T2 T3 T4 T5

obje

ti-vo

s: Definir um destino

por endereço Selecionar como destino o posto de gasolina mais próximo

Armazenar o ende-reço da nova resi-dência/casa

Trocar as cores do mapa (de diurnas para noturnas)

Determinar a uni-dade de medida a ser utilizada no guia de rota

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

1: Selecionar o modo de entrada desejado

1: Selecionar o modo de entrada desejado

1: Selecionar o mo-do de entrada dese-jado

1: Selecionar o mo-do de entrada dese-jado

1: Selecionar o modo de entrada desejado

2: Inserir a rua e o número

2: Selecionar a categoria de POI

2: Inserir a rua e o número

2: Definir o modo de cores

2: Selecionar o subgrupo para configuração de unidades su

bobj

etiv

os:

3: Selecionar o endereço e con-firmar o cálculo da rota

3: Selecionar o posto de gasolina e confirmar o cál-culo da rota

3: Selecionar o en-dereço e confirmar o armazenamento

3: Definir a unida-de de medida

Tabela 6.6. – Objetivos e subobjetivos das tarefa no sistema B – Route 66 Navigate 7

Sistema C – TomTom Navigator 7 Tarefas: T1 T2 T3 T4 T5

obje

ti-vo

s: Definir um destino

por endereço Selecionar como destino o posto de gasolina mais próximo

Armazenar o ende-reço da nova resi-dência/casa

Trocar as cores do mapa (de diurnas para noturnas)

Determinar a uni-dade de medida a ser utilizada no guia de rota

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

0: Alcançar a inter-face do sistema

1: Selecionar o modo de entrada desejado

1: Selecionar o modo de entrada desejado

1: Selecionar o mo-do de entrada dese-jado

1: Selecionar o mo-do de entrada dese-jado

1: Selecionar o modo de entrada desejado

2: Selecionar a cidade

2: Selecionar a categoria de POI

2: Selecionar a ci-dade

2: Definir o modo de cores

2: Definir a unida-de de medida

3: Selecionar a rua 3: Selecionar o posto de gasolina

3: Selecionar a rua

4: Selecionar o número

4: Conferir os dados da rota calculada e con-cluir

4: Selecionar o nú-mero

subo

bjet

ivos

:

5: Conferir os dados da rota calculada e con-cluir

Tabela 6.7. – Objetivos e subobjetivos das tarefa no sistema C – TomTom Navigator 7

Considerando os métodos e as regras de seleção da maioria dos participan-

tes do teste de usabilidade e as regras heurísticas para a identificação de operado-

res mentais, foram feitas as decomposições das tarefas, determinando cada um dos

operadores de cada subobjetivo. Para o cálculo do tempo estimado foram atribuí-

dos valores para cada operador.

Os operadores e seus respectivos valores utilizados nesta pesquisa foram os

mesmos utilizados na pesquisa de Pettitt (2008), já que os operadores estipulados

na SAE J2365 consideram uma interface de sistema de navegação diferente de

interfaces touch-screen. Na pesquisa de Pettitt (2008), onde foram feitos estudos

com sistemas de navegação com interface touch-screen, os operadores e seus va-

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Métodos e Técnicas da Pesquisa

153

lores são mais condizentes para a interface usada nesta pesquisa. Portanto, para a

decomposição das tarefas dos sistemas avaliados, foram estipulados os seguintes

operadores:

Rf – mover a mão entre o volante e a interface do sistema – 0,45 segundos;

M – preparar-se mentalmente para executar ações físicas – 1,35 segundos;

H – mover de um comando/tecla para outro – 0,40 segundos;

K – clicar em um comando/tecla – 0,20 segundos.

Com a decomposição da tarefa e a estimativa para o tempo total de desem-

penho, como mostra o exemplo a seguir, pôde-se verificar qual sistema apresenta

a melhor solução de tarefa, assim como a sua conformidade com os 15 segundos.

A tarefa que excede 15 segundos para ser desempenhada não deve ser realizada

com o veículo em movimento, conforme assume a prática recomendada SAE

J2365. Objetivo: Selecionar como destino o posto de gasolina (POI) mais próximo do sinal GPS

Tempo estimado

Sub-objetivo: Ação Operador

jovem (18-30 anos)

idoso (55-60 anos)

0: Alcançar a interface do sistema de navegação

mover a mão até o aparelho Rf 0,45 0,77 0,45 0,77

1: Selecionar o comando de entrada desejado ler o menu principal M 1,35 2,30 clicar em "Navegar até..." K 0,20 0,34 ler o menu de "Navegar até..." M 1,35 2,30 mover para o botão "Ponto de Interesse" H 0,40 0,68 clicar no botão "Ponto de Interesse" K 0,20 0,34 ler o menu opções de proximidades do POI M 1,35 2,30

mover para o botão "PI próximo de si" H 0,40 0,68 clicar no botão "PI próximo de si" K 0,20 0,34 5,45 9,27

2: Selecionar a categoria de POI ler o menu das categorias M 1,35 2,30 mover para o botão "Posto de gasolina" H 0,40 0,68 clicar no botão "Posto de Gasolina" K 0,20 0,34 1,95 3,32

3: Selecionar o posto de gasolina (POI) ler o menu com opções de postos de gasolina M 1,35 2,30 mover para a 1ª opção H 0,40 0,68 clicar na 1ª opção K 0,20 0,34 ler a tela com dados do posto selecionado M 1,35 2,30 mover para o botão "Selecionar" H 0,40 0,68 clicar no botão "Selecionar" K 0,20 0,34

3,90 6,63 4: Conferir os dados da rota calculada

ler a tela de resumo da rota calculada com o mapa M 1,35 2,30

mover para o botão "Concluído" H 0,40 0,68 clicar em "Concluído" K 0,20 0,34 1,95 3,32 Tempo Total: 13,7 23,3

Tabela 6.8. – Exemplo de decomposição da tarefa e sua estimativa de tempo de desem-penho

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154

Neste exemplo apresentado acima, pode-se verificar que a tarefa está apta a

ser realizada com o veículo em movimento, pois sua estimativa de tempo de de-

sempenho (13,7 segundos) foi menor que o critério de 15 segundos, para usuários

jovens (18 a 30 anos). Porém, se forem considerados os usuários idosos (55 a 60

anos), onde os valores dos operadores foram multiplicados por 1,7 (multiplicador

de idade para idoso, estabelecido na SAE J2365), pode-se constatar que esta tarefa

não esta adequada para sua realização por este público, com o veículo em movi-

mento.

Nos final desta tese, no Apêndice III apresentam-se as decomposições das

cinco tarefas, com seus respectivos endereços, para os três sistemas avaliados.

6.2.2.2. Procedimentos do modelo KLM-Estendido

A partir das decomposições das tarefas na prática recomendada J2365, fo-

ram feitas, também, a decomposição das tarefas ao longo da seqüência de interva-

los de visão e oclusão (1,5 segundos por intervalo), como é feito no segundo está-

gio do modelo KLM-Estendido. Para esta segunda decomposição foram conside-

radas as três suposições estabelecidas pelo autor do modelo (Pettitt, 2008), de

forma a avaliar quais operadores poderiam ser executados em períodos de oclu-

são. Na figura abaixo (figura 6.8.), apresenta-se esta nova decomposição grafica-

mente, para o mesmo exemplo de tarefa exposto na tabela 6.8.

Figura 6.8. – Exemplo de decomposição da tarefa ao longo da seqüência de intervalos de visão e oclusão, conforme o modelo KLM-Estendido (retângulos cinzas representam os intervalos de oclusão e os retângulos brancos os intervalos de visão)

Com estas novas decomposições pôde-se estimar os valores de TSOT (tem-

po total do obturador aberto), ou seja, o tempo total para a realização da tarefa

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com interrupções, assim como, também, o valor de R (“retomabilidade”) da tare-

fa. Neste exemplo acima, observa-se que a tarefa quando interrompida tem uma

demanda visual um pouco menor do que quando o tempo da tarefa é estimado

sem interrupções. O valor de R = 0,98 mostra, também, que esta determinada tare-

fa é “particionável”, pois seu valor não excede a 1,00.

Para todas as tarefas nos três sistemas avaliados foram feitas suas decompo-

sições de acordo com o modelo KLM-Estendido e suas representações gráficas

são apresentadas no Apêndice IV.

6.2.3. Card Sorting

Para a aplicação desta técnica utilizaram-se os procedimentos apresentados

no livro de Donna Spencer (Spencer, 2009), conforme a descrição feita no capítu-

lo 4 (ver item 4.4.3.).

O primeiro passo foi determinar qual era a necessidade do estudo. Como o

objetivo desta pesquisa é propor recomendações gerais de projeto, a necessidade

básica para a aplicação card sorting foi aprender idéias gerais de como os usuá-

rios organizariam os comandos/itens e os menus de sistemas de navegação GPS.

Para isso, optou-se por utilizar o método de card sorting aberto, com a apli-

cação remota através da internet, utilizando-se o programa WebSort1, para a apre-

sentação e o agrupamento dos itens. A escolha da aplicação remota foi devido a

dificuldade de encontrar, em local próximo a realização da pesquisa, usuários fi-

nais que possuíssem um sistema GPS. Ser proprietário de um sistema destes foi

definido como requisito do estudo, pois o pleno conhecimento de seu uso era fun-

damental para a utilização da técnica, devido a complexidade e as especificidades

do produto.

Para a seleção do conteúdo utilizado nos cartões virtuais, antes da definição

dos itens, foi elaborado um questionário online (utilizando-se o aplicativo Wu-

foo2) com o objetivo de conhecer quais eram as principais tarefas realizadas por

usuários de GPSs brasileiros (ver o questionário no Apêndice V). Este questioná-

rio conteve quatro perguntas que possibilitaram compreender os hábitos dos res-

pondentes, procurando saber quais eram os sistemas usados, há quanto tempo eles 1 http://websort.net/ 2 http://wufoo.com/

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estavam sendo utilizados, quais tarefas já tinham sido realizadas e, principalmen-

te, quais eram as tarefas mais freqüentes de uso para os respondentes. A elabora-

ção da lista de tarefas apresentadas no questionário foi baseada nas tarefas básicas

possíveis de serem realizadas, tanto nos sistemas avaliados quanto em outros sis-

temas vendidos no Brasil. Para isso foi utilizado os manuais de instruções, dispo-

níveis na internet, dos navegadores mais vendidos.

Como o questionário deveria ser respondido por proprietários de sistemas

GPS, seu endereço (link) foi enviado para diversas listas de discussão, para comu-

nidades do Orkut3 e para o Twitter4 (redes sociais) sobre GPS. A partir deste en-

vio, foram obtidos 176 questionários respondidos, porém, como alguns não foram

considerados válidos, devido ao tipo de GPS utilizado (para trilha, por exemplo)

ou pelas respostas equivocadas, foram tratados os dados de um total de 157 ques-

tionários válidos. As respostas, apresentadas no Apêndice V, possibilitaram a ela-

boração de rankings das tarefas já realizadas e das tarefas mais freqüentes. Além

disso, como foi solicitado o nome e o e-mail dos respondentes, pôde-se criar um

banco de dados dos possíveis participantes do card sorting.

A partir destas respostas pôde-se elaborar uma lista de comandos utilizados

na maior parte das tarefas mais freqüentes. Estes comandos foram usados como os

itens (conteúdo) que seriam distribuídos nos cartões do card sorting. Também,

para a definição dos melhores títulos dos comandos, foram consultados, mais uma

vez, os manuais de instruções dos navegadores brasileiros mais populares, para a

escolha dos rótulos de comandos mais comuns e mais claros, para a compreensão

dos participantes da técnica, além da consideração das dicas de seleção de conteú-

do estabelecidas por Spencer (2009).

Esta seleção do conteúdo resultou em uma lista de 47 comandos (cartões) e,

para cada um deles, foi feita uma descrição, para ajudar, mais uma vez, a compre-

ensão dos participante durante a sessão de agrupamento dos itens. Buscou-se fazer

uma descrição do comando a mais imparcial possível para evitar uma tendência a

uma atividade no agrupamento. O quadro abaixo apresenta a lista de itens e suas

respectivas descrições. É importante ressaltar que estes pertencem, em geral, a um

mesmo nível (2º) na hierarquia dos sistemas GPSs.

3 http://www.orkut.com/ 4 http://twitter.com/

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nº Título do cartão: Descrição

1 Navegar para endereço Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até um endereço que você irá inserir

2 Navegar para casa Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até a sua casa

3 Navegar para favorito Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até um endereço da sua lista de favoritos

4 Navegar para escritório Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até o seu escritório

5 Navegar para POI Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até um ponto de interesse que você irá definir

6 Navegar para destino recente (histórico)

Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até um endereço que você esteve recentemente

7 Navegar para latitu-de/longitude

Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até um ponto definido por valores de latitude/longitude

8 Navegar para ponto no mapa

Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota do ponto em que você está até um ponto que você irá clicar no mapa

9 Adicionar um favorito Comando que você dá para que o navegador guarde o endereço inseri-do na sua lista de favoritos

10 Editar um Favorito Comando que você dá para mudar uma informação (nome ou endereço) de um favorito específico

11 Excluir um Favorito Comando que você dá para eliminar um endereço da sua lista de favori-tos

12 Mostrar favoritos no mapa Comando que você dá para visualizar o ícone de favoritos no mapa durante a navegação

13 Adicionar um POI Comando que você dá para inserir um novo ponto de interesse nas suas listas de POIs (ex. uma nova padaria)

14 Editar um POI Comando que você dá para mudar uma informação de um ponto de interesse específico

15 Excluir um POI Comando que você dá para eliminar um ponto de interesse específico das suas listas de POIs

16 Mostrar POIs no mapa Comando que você dá para visualizar os ícones de POIs no mapa �urante a navegação

17 Editar categoria de POI Comando que você dá para mudar o nome da categoria de pontos de interesse específicos

18 Calcular rota alternativa Comando que você dá para que o navegador calcule uma outra rota diferente da que ele acabou de calcular

19 Recalcular rota original Comando que você dá para que o navegador volte para a rota que ele

calculou pela primeira vez, antes de você mandar ele calcular uma outra rota

20 Evitar parte da rota Comando que você dá para que o navegador recalcule uma rota sem considerar do percurso especificada

21 Cancelar a rota Comando que você dá para que o navegador elimine a rota que foi cal-culada

22 Alterar método/tipo de cálculo de rota

Comando que você dá para que o navegador mude a maneira com a qual ele calculou a rota (ex. rota mais rápida ou rota mais curta)

23 Preparar rota (antecipa-damente)

Comando que você dá para que o navegador calcule uma rota de um ponto especificado até um outro ponto também especificado, sem con-siderar o sinal GPS

24 Planejamento de itinerário Comando que você dá para especificar vários pontos de parada numa rota a ser calculada

25 Visualizar a rota no mapa Comando que você dá para ver todo o percurso da rota no mapa

26 Ver manobras do itinerário Comando que você dá para ver passo a passo as manobras necessá-rias da origem até o destino da rota calculada

27 Trocar para cores notur-nas/diurnas

Comando que você dá para mudar as cores do mapa entre cores diur-nas (cores mais claras) e cores noturnas (cores mais escuras)

28 Alterar visualização do mapa 2D/3D

Comando que você dá para mudar o ponto de vista do mapa de nave-gação entre duas dimensões (2D) e três dimensões (3D)

29 Alterar orientação do ma-pa

Comando que você dá para mudar o ponto de vista do mapa de nave-gação entre mapa voltado para o norte e mapa volta para onde se dirige

30 Alterar esquema de cores do mapa

Comando que você dá para selecionar um grupo específico de cores para cores diurnas ou noturnas

31 Definir opções de zoom Comando que você dá para estipular os níveis de aproximação do ponto de vista no mapa (ex. ativar/desativar o zoom automático)

32 Mostrar status do sinal GPS

Comando que você dá para ver a precisão da captação do sinal do saté-lite GPS

33 Alterar volume do som Comando que você dá para mudar numa escala a intensidade de som que será emitido pelo navegador

34 Ligar/Desligar o som Comando que você dá para deixar o navegador mudo ou não

35 Alterar o idioma da voz Comando que você dá para mudar a língua falada nas manobras (ex. português ou inglês)

36 Alterar idioma do progra-ma

Comando que você dá para mudar a língua escrita nas opções do pro-grama (ex. português ou inglês)

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37 Alterar a base do mapa

(continente/país) Comando que você dá para mudar a base de dados do mapa que será utilizado (ex. mapa do Brasil, mapa da Europa, etc.)

38 Definir alerta de velocida-de

Comando que você dá para definir um valor de velocidade em km/h ou mph para que o navegador acione um alarme quando você atingir tal velocidade

39 Definir unidades Comando que você dá para definir unidade de medida que o navegador irá lhe mostrar as informações (ex. quilômetros/metros ou milhas/jardas)

40 Definir formato do teclado Comando que você dá para definir o tipo de teclado apresentado pelo navegador (ex. QWERTY, AZERTY ou ABCD)

41 Definir data e hora Comando que você dá para inserir a atual data e hora

42 Definir formato da data e hora

Comando que você dá para definir como será visualizada a ordem e a forma da data e a hora (ex. 24hs ou 12hs am/pm)

43 Ajuda Comando que você dá para receber instruções de como funcionam os comandos do navegador

44 Adicionar radar de veloci-dade

Comando que você dá para inserir um radar de velocidade num ponto específico no mapa

45 Editar radar de velocidade Comando que você dá para mudar informações de um radar de veloci-dade específico (ex. valor em km/h)

46 Excluir radar de velocida-de

Comando que você dá para eliminar um radar de velocidade específico do mapa

47 Ativar/Desativar avisos de radar de velocidade

Comando que você dá para ligar ou desligar o aviso de proximidade de um radar de velocidade

Quadro 6.5. – Lista de itens utilizados como conteúdo para a aplicação da técnica de card sorting

Com o conteúdo definido, pôde-se preparar o aplicativo onde seriam feitos

os agrupamentos. Todos os 47 itens e suas respectivas descrições foram inseridos

no WebSort, através da internet, e também, foram elaboradas e inseridas no apli-

cativo as instruções para a atividade (quadro 6.6.). INTRODUÇÃO: Estamos realizando esta pesquisa para que você nos ajude a obter um melhor entendimento de como os navegadores GPS automotivos devem ser organizados, para torná-los mais fáceis de usar. INSTRUÇÕES: Na coluna da esquerda, você verá uma lista de itens, que representam comandos normalmente utilizados em GPSs, os quais nós gostaríamos que você classificasse em grupos. Clique nos itens e arraste-os até a área branca vazia no meio da tela. Uma categoria (um grupo) irá aparecer e o item será colocado dentro dela. Repita esta operação com os outros itens que sobrarem, colocando-os conforme você acha que eles devem estar agrupados. Você pode criar quantos grupos achar necessário. Quando terminar, clique no botão "Finalizar" abaixo na esquerda. Que itens devem estar juntos? Pense em onde você espera encontrar estes itens nos navegadores GPS. Em seguida, dê um nome para cada grupo com uma palavra (ou palavras) que descreve melhor o conjun-to de itens que ele contém. Assim, podemos ver como os comandos poderiam ser organizados e como as pessoas pensam a respeito do agrupamento de comandos em navegadores GPS. Não existe um número certo de grupos, mas tenha certeza que os itens que você agrupou se relacionam entre si. Também, se você tem um grupo com uma grande quantidade de itens, você pode ser capaz de dividi-lo. Gostaria de enfatizar que você não está sendo testado, queremos apenas a sua opinião sobre como os comandos devem ser organizados num navegador GPS. Também peço que você não se baseie na orga-nização do navegador que você usa, organize os itens da maneira que você acha mais lógica.

Quadro 6.6. – Instruções para os participantes do card sorting

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As imagens abaixo apresentam a interface do aplicativo onde os participan-

tes realizaram os agrupamentos.

Figura 6.9. – Interface do aplicativo onde os participantes do card sorting fizeram seus agrupamentos – tela inicial onde eram dadas as instruções

Figura 6.10. – Interface do aplicativo onde os participantes do card sorting fizeram seus agrupamentos – tela onde eram agrupados os itens

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Note que, na segunda figura (figura 6.10.), o botão “Finalizar” embaixo a

direita está desabilitado, isto porque muitos itens ainda não tinham sido agrupados

neste exemplo. Isso significa que foi definido que os participantes seriam obriga-

dos a classificar todos os itens para conseguir concluir a sessão. Além disso, não

foi permitido a criação de outros itens pelo participante, devido a limitações do

aplicativo, mas isso não foi visto como um problema, pois existia um campo para

comentários dos participantes e, aqueles que sentiram a necessidade de adicionar

itens, deixaram uma mensagem. Também, os itens apresentados na coluna da es-

querda eram dispostos de maneira aleatória, automaticamente pelo aplicativo, para

evitar que os participantes recebessem a mesma ordem de itens.

Com tudo planejado, foram convidados, através de e-mail, o total 129 pes-

soas para participar da técnica, sendo 8 pessoas escolhidas para as sessões de card

sorting piloto e 121 pessoas para as sessões definitivas. Dentre estas pessoas, fo-

ram convidados tanto os participantes do teste de usabilidade, que já tinham expe-

riência com sistemas GPS, quanto os respondentes do questionário (proprietários

de sistemas GPS). A partir deste convite, foram obtidas quatro respostas para o

piloto e 36 respostas para o card sorting definitivo.

Como as sessões piloto foram bem sucedidas, não houve nenhuma modifi-

cação no planejamento do card sorting, porém, as quatro respostas não foram

consideradas no definitivo, pois nem todos eram proprietários de GPS, eles só ti-

nham tido experiência com o sistema. Das 36 respostas do card sorting definitivo

obtidas, foram consideradas válidas 30 delas, pois foi observado que nas outras 6,

os participantes se equivocaram quanto ao conceito da técnica. Por exemplo, al-

guns desses participantes agruparam os comandos conforme sua freqüência de

uso, provavelmente, por desatenção às instruções e por influência do questionário

respondido anteriormente. Portanto, em resumo, foram obtidas como válidas

30 classificações dos itens.

A partir das respostas, optou-se por utilizar a planilha de cálculo de Spencer

(2009) para a análise exploratória, onde foram inseridas as ordens de classificação

de todos participantes e foi organizada, também, a padronização das categorias.

Esta padronização das categorias é importante ser feita, porque muitas vezes os

participantes criam grupos com o mesmo conceito porém com nomes semelhan-

tes, mas não idênticos, e para uma melhor análise dos padrões de grupos, é neces-

sário que isso se normalizado. Portanto, com esta planilha montada, pôde-se ana-

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lisar os grupos, o posicionamento dos itens, os rótulos definidos, os esquemas or-

ganizacionais dos participantes e seus comentários.

Além desta análise, como foi gerado um dendrograma pelo aplicativo utili-

zado (WebSort), optou-se também, por analisar os padrões mais consistentes de

agrupamentos – análise quantitativa. É importante ressaltar que o aplicativo utiliza

o algoritmo “Average Linkage” para a análise dos agrupamentos, considerado o

mais adequado para a análise do card sorting (Spencer, 2009; Tullis e Albert,

2008).

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