capitalismo industrial

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Capitalismo industrial Capitalismo e revoluções das novas tecnologias Fernanda Machado* Especial para a Página 3 - Pedagogia & Comunicação O capitalismo industrial é uma nova fase desse sistema econômico, que surge em meio a um processo de revoluções políticas e tecnológicas, na segunda metade do século 18. Com essa nova fase é superado o capitalismo comercial, também chamado de mercantilismo, que surgiu em fins do século 14 e vigorou até então. Muitos fatores econômicos, sociais e políticos contribuíram para o desenvolvimento dessa nova forma de capitalismo. Na economia, o grande impacto foi trazido pelas transformações nas técnicas e no modo de produção. As máquinas passaram a ser utilizadas em larga escala, tornando ultrapassados os métodos de produção anteriores, de caráter artesanal. Esse processo ficou conhecido como Revolução Industrial e teve seu início na Inglaterra. Tanto do ponto de vista da economia, quanto da política, outra transformação importante foi a independência dos Estados Unidos, a chamada Revolução Americana, de 1776. Ela constituiu o primeiro grande abalo numa das bases do mercantilismo, o sistema colonial, em que as colônias americanas, africanas ou asiáticas se mantinham submissas aos interesses das metrópoles européias. A nobreza e o clero Finalmente, a terceira transformação radical foi a Revolução Francesa de 1789. Essa Revolução pretendeu a derrubada do Antigo Regime, constituído em torno de monarquias absolutas, em que o poder dos nobres e da Igreja prevalecia sobre os outros grupos sociais. Tantas revoluções, quase simultâneas, deixam claro que essa velha ordem não podia mais se manter. A sociedade baseada no absolutismo e no mercantilismo oferecia privilégios aos nobres e ao clero, mas concedia poucos direitos ao povo. "Povo", naquela época, significava tanto os burgueses ricos, mas sem direitos políticos, como o mais miserável dos trabalhadores. Assim, diferentemente dos nossos dias, a expressão "povo", até meados do século 19, abrangia todos aqueles que não tinham sangue nobre, nem pertenciam à Igreja. Os burgos e a burguesia Essas lutas e transformações que ocorriam no mundo ocidental passaram por duas fases. Num primeiro momento, tanto pobres quanto ricos queriam acabar com os privilégios da nobreza e do clero. Mas, no decorrer das lutas, os ricos souberam se beneficiar do processo, para garantir seu direito à propriedade. Isso quer dizer que a nova fase do capitalismo pode ser

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Page 1: Capitalismo industrial

Capitalismo industrial

Capitalismo e revoluções das novas tecnologias

Fernanda Machado* Especial para a Página 3 - Pedagogia & Comunicação

O capitalismo industrial é uma nova fase desse sistema econômico, que surge em meio a um

processo de revoluções políticas e tecnológicas, na segunda metade do século 18. Com essa

nova fase é superado o capitalismo comercial, também chamado de mercantilismo, que surgiu

em fins do século 14 e vigorou até então. Muitos fatores econômicos, sociais e políticos

contribuíram para o desenvolvimento dessa nova forma de capitalismo.

Na economia, o grande impacto foi trazido pelas transformações nas técnicas e no modo de

produção. As máquinas passaram a ser utilizadas em larga escala, tornando ultrapassados os

métodos de produção anteriores, de caráter artesanal. Esse processo ficou conhecido como

Revolução Industrial e teve seu início na Inglaterra.

Tanto do ponto de vista da economia, quanto da política, outra transformação importante foi

a independência dos Estados Unidos, a chamada Revolução Americana, de 1776. Ela constituiu

o primeiro grande abalo numa das bases do mercantilismo, o sistema colonial, em que as

colônias americanas, africanas ou asiáticas se mantinham submissas aos interesses das

metrópoles européias.

A nobreza e o clero

Finalmente, a terceira transformação radical foi a Revolução Francesa de 1789. Essa Revolução

pretendeu a derrubada do Antigo Regime, constituído em torno de monarquias absolutas, em

que o poder dos nobres e da Igreja prevalecia sobre os outros grupos sociais.

Tantas revoluções, quase simultâneas, deixam claro que essa velha ordem não podia mais se

manter. A sociedade baseada no absolutismo e no mercantilismo oferecia privilégios aos

nobres e ao clero, mas concedia poucos direitos ao povo. "Povo", naquela época, significava

tanto os burgueses ricos, mas sem direitos políticos, como o mais miserável dos trabalhadores.

Assim, diferentemente dos nossos dias, a expressão "povo", até meados do século 19,

abrangia todos aqueles que não tinham sangue nobre, nem pertenciam à Igreja.

Os burgos e a burguesia

Essas lutas e transformações que ocorriam no mundo ocidental passaram por duas fases. Num

primeiro momento, tanto pobres quanto ricos queriam acabar com os privilégios da nobreza e

do clero. Mas, no decorrer das lutas, os ricos souberam se beneficiar do processo, para

garantir seu direito à propriedade. Isso quer dizer que a nova fase do capitalismo pode ser

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interpretada como a ascensão da burguesia, que se transformou na classe social mais

poderosa a partir de então.

Mas quem são esses burgueses, afinal? Esse nome vem da palavra burgo. No período final da

Idade Média, os burgos eram vilas, locais situados fora dos feudos, onde grupos de

comerciantes e negociantes moravam e realizavam suas atividades. Assim, os burgueses

passaram a ser identificados com os indivíduos que praticavam o comércio e ganhavam

dinheiro. Em decorrência disso, com o desenvolvimento do capitalismo Industrial, a expressão

"burguesia" passou a designar a classe dos ricos proprietários de indústrias e dos grandes

negociantes.

Isso tudo indica que, a partir do século 18, a maior fonte de riqueza era a propriedade dos

meios de produção (fábricas e equipamentos) pelos capitalistas (aqueles que têm o capital, ou

seja, o dinheiro para adquirir esses meios). Já a maior parte das outras pessoas da sociedade,

que não tinham esses recursos, viam-se forçados a se empregar nas fábricas, vendendo seu

trabalho em troca de um salário. Através do trabalho, os operários (também chamados de

proletários) geram riqueza para os capitalistas. Estes, além de cobrir seus custos com a

produção, também conseguem obter lucros.

Adam Smith e o liberalismo

O funcionamento da economia industrial baseava-se em idéias que constituíram um sistema

filosófico chamado de liberalismo. Essas idéias surgiram juntamente com a Revolução

Industrial, no final do século 18. Na economia, um dos principais teóricos do liberalismo foi

Adam Smith, que defendia a não intervenção do Estado na economia (tal como acontecera no

Mercantilismo).

Segundo Smith, o jogo econômico era regido pela lei da oferta e da procura. Dentro dessa

lógica, ninguém - particularmente o Estado - deve interferir no mercado, onde vigora uma

competição, em que os mais capazes obterão melhores resultados.

A primeira Revolução Industrial

Esse modelo de capitalismo começou a se desenvolver a partir de 1760, quando a Inglaterra

viveu a primeira Revolução Industrial. O que marca essa fase é a invenção do tear mecânico e

da máquina a vapor, o uso de carvão e do ferro. Essas são características da indústria têxtil,

que empregou os camponeses, forçados a deixar o campo pela falta de trabalho. Desde então,

eles passaram a compor a população das grandes cidades.

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A partir de 1860, outros países investiram também na formação de suas indústrias, numa fase

que é denominada de segunda Revolução Industrial. Assim, França, Alemanha, Itália, Bélgica,

Holanda, Estados Unidos e Japão iriam, até o começo do século 20, aplicar grandes capitais na

produção de aço, energia elétrica e produtos químicos.

Durante essa fase, também, o capitalismo industrial se transformou em capitalismo financeiro,

quando empresas e bancos se uniram, para obterem maiores lucros. Isso gerou a formação de

grandes empresas multinacionais (que funcionam em várias nações ao mesmo tempo). Muito

ricas e poderosas, elas impunham normas de produção e definiam os preços de seus produtos

no mercado.

O sistema capitalista no século 20

No entanto, o capitalismo industrial e financeiro passou por várias transformações e desafios

no decorrer do século 20. Primeiramente, com a Revolução Russa de 1917, que se propôs a

construir uma sociedade comunista, ameaçando a ordem burguesa mundial. O risco de o

comunismo se espalhar pelo mundo, acabou por dividi-lo em dois blocos econômicos, um

capitalista e outro comunista, entre os anos de 1945 e 1989, no período denominado de

Guerra Fria.

Além disso, o capitalismo enfrentou crises internas, inerentes ao próprio funcionamento do

sistema.. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-18), os Estados Unidos emergiram como

potência industrial e passaram a produzir mercadorias para uma Europa devastada pelo

conflito. No entanto, com o passar dos anos, a produção norte-americana tornou-se maior do

que a necessidade de consumo, o que gerou a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em

1929.

Esse fato acarretou uma revisão do modelo capitalista liberal, a partir da qual passou-se a

considerar a necessidade de o Estado também intervir na economia para evitar ou controlar

crises. A livre iniciativa e a propriedade privada não foram questionadas, mas o governo

passou a intervir na definição dos preços dos produtos, a conceder empréstimos a produtores

e a procurar gerar empregos, através da realização de obras públicas e da recuperação das

indústrias privadas.

Por fim, a partir da década de 1970, o capitalismo financeiro passou por uma nova fase,

chamada por alguns economistas de terceira Revolução Industrial. Essa fase decorre da Era da

Informática, ou seja, do desenvolvimento dos microcomputadores e da ampliação crescente

da oferta de informação, que deu um salto com a popularização da Internet, nos anos de 1990.

A partir de então, com a queda do regime comunista soviético em 1989, estabeleceu-se a

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chamada Nova Ordem Mundial, cujas principais características são a globalização e o

neoliberalismo.

*Fernanda Machado é historiadora.