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CAPITAL SÓCIOTERRITORIAL, MICROCRÉDITO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO SERTÃO BAIANO Sylvio Bandeira de Mello e Silva Programa de PósGraduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social Universidade Católica de Salvador. Email: [email protected] Maria Olívia Vianna Berenguer Doutoranda em Geografia Universidade de Barcelona/ Espanha. Email: olí[email protected] br As análises do capital social, aqui atendido como a expressão da capacidade organizacional de uma determinada comunidade, coesa e solidária, em busca da consecução de objetivos comuns, direcionados para o desenvolvimento, têm sido feitas em diferentes contextos e escalas, o que demonstra sua grande abrangência e relevância. Sua materialização se através da construção de uma forte territorialização, ou seja, através da valorização do enraizamento territorial, fundamental para desenvolver formas de cooperação institucionalizada, e orientar o enredamento global. Isto significa minimizar os conflitos e maximizar os interesses comuns. Com esta perspectiva, este trabalho prioriza o estudo da dinâmica social de pequenos agricultores da região sisaleira da Bahia, uma das mais pobres do Estado, em seu esforço de implantar uma alternativa de crédito, com assistência técnica adaptada às suas condições ecológicas, econômicas e sócioculturais. 1. HISTÓRICO O SICOOBCOOPERE – Sistema de Cooperativas de Crédito da Bahia Cooperativa Valentense de Crédito Rural Ltda foi fundado em 3 de março de 1993, a partir da iniciativa de pequenos agricultores da região semiárida, pertencentes à região sisaleira do Estado da Bahia, Brasil, já organizados através da Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB), antiga Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente. Esta associação articulou a criação do SICOOBCOOPERE, considerando que o trabalho iniciado com os pequenos produtores começava a delinearse como uma alternativa viável a partir da combinação do crédito com assistência técnica adaptada às condições do semiárido. O SICOOBCOOPERE, então, foi criado para atuar como intermediário de programas de crédito do governo federal, repassados aos cooperados, e para

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CAPITAL SÓCIO­TERRITORIAL, MICROCRÉDITO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO SERTÃO BAIANO

Sylvio Bandeira de Mello e Silva Programa de Pós­Graduação em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social ­ Universidade Católica de Salvador. E­mail: [email protected]

Maria Olívia Vianna Berenguer Doutoranda em Geografia ­ Universidade de Barcelona/ Espanha. E­mail: olí[email protected] br

As análises do capital social, aqui atendido como a expressão da capacidade

organizacional de uma determinada comunidade, coesa e solidária, em busca da

consecução de objetivos comuns, direcionados para o desenvolvimento, têm sido

feitas em diferentes contextos e escalas, o que demonstra sua grande abrangência e

relevância. Sua materialização se dá através da construção de uma forte

territorialização, ou seja, através da valorização do enraizamento territorial,

fundamental para desenvolver formas de cooperação institucionalizada, e orientar o

enredamento global. Isto significa minimizar os conflitos e maximizar os interesses

comuns. Com esta perspectiva, este trabalho prioriza o estudo da dinâmica social de

pequenos agricultores da região sisaleira da Bahia, uma das mais pobres do Estado,

em seu esforço de implantar uma alternativa de crédito, com assistência técnica

adaptada às suas condições ecológicas, econômicas e sócio­culturais.

1. HISTÓRICO

O SICOOB­COOPERE – Sistema de Cooperativas de Crédito da Bahia ­

Cooperativa Valentense de Crédito Rural Ltda foi fundado em 3 de março de 1993, a

partir da iniciativa de pequenos agricultores da região semi­árida, pertencentes à

região sisaleira do Estado da Bahia, Brasil, já organizados através da Associação de

Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (APAEB), antiga

Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente. Esta associação

articulou a criação do SICOOB­COOPERE, considerando que o trabalho iniciado

com os pequenos produtores começava a delinear­se como uma alternativa viável a

partir da combinação do crédito com assistência técnica adaptada às condições do

semi­árido. O SICOOB­COOPERE, então, foi criado para atuar como intermediário

de programas de crédito do governo federal, repassados aos cooperados, e para

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financiar os agricultores, através de outras linhas de crédito, em face da

necessidade de diminuir o antagonismo existente entre o crédito e o agricultor

familiar da região sisaleira.

O SICOOB­COOPERE tem como principal objetivo proporcionar, através da

mutualidade, assistência financeira aos cooperados em suas atividades específicas,

com a finalidade de fomentar a produção rural, sua circulação e a produtividade das

lavouras e criatórios. Considerando sua modalidade social, poderá praticar todas as

operações ativas, passivas, acessórias e especiais, de acordo com as normas do

Banco Central do Brasil.

O SICOOB­COOPERE iniciou suas atividades com 340 cooperados e,

atualmente, possui 8.742 cooperados, distribuídos em diversas localidades: Valente

– 3.944 cooperados, Conceição do Coité – 1.101 cooperados, Capim Grosso – 849

cooperados, Retirolândia – 827 cooperados, Nova Fátima – 812 cooperados,

Quixabeira – 734 cooperados e Gavião – 475 cooperados (Figura 1).

No início de sua implantação, o SICOOB­COOPERE contou com a ajuda da

ONG CESI – Coordenação Ecumênica e de Serviços de Salvador, que liberou

recursos para a compra de equipamentos, e com a ajuda da II Canale – Società

Cooperativa di Solidarietà per lo Svilluppo, da Itália, que liberou recursos para capital

de giro.

A sede social e sua administração estão localizadas no Município de Valente,

Estado da Bahia. Conforme o estatuto, a cooperativa possui sete postos, distribuídos

nos municípios de Valente, Quixabeira, Nova Fátima, Capim Grosso, Conceição do

Coité, Retirolândia e Gavião, entretanto atua em 22 municípios do semi­árido,

pertencentes à Região Sisaleira: Retirolândia, São Domingos, Santa Luz, Araci,

Ichu, Serrinha, Queimadas, Cansanção, Itiúba, Nordestina, Senhor do Bonfim,

Jaguarari, Gavião, Nova Fátima, Conceição do Coité, Quixabeira, Capim Grosso,

Campo Formoso, São José do Jacuípe, Monte Santo, Mairi e Valente, pois possui

cooperados que residem nestas localidades e utilizam os postos mais próximos das

suas residências.

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Figura 1 – Intensidade da atuação do SICOOB­COOPERE Fonte: Dados fornecidos pelo SICOOB­COOPERE, 2005 Elaboração cartográfica: Blinder, D. 2005

Atualmente, a cooperativa, como associada da Cooperativa Central de

Crédito da Bahia – SICOOB CENTRAL BAHIA, participa do Sistema de

Cooperativas de Crédito do Brasil (SICOOB), regendo­se, também, por suas

normas, só podendo demitir­se com autorização da Assembléia Geral. As

cooperativas integrantes do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil são

independentes administrativa e juridicamente. No entanto, estão integradas

operacionalmente, funcionando como uma rede.

Segundo Oliveira et al (2005), o Sistema de Cooperativas de Crédito do

Brasil, é constituído por 15 Cooperativas Centrais, atuantes em 20 unidades da

Federação, dele fazendo parte 738 cooperativas singulares, com 763 postos de

atendimento cooperativos. Uma rede que beneficia, com seus produtos e serviços,

aproximadamente 1 milhão e 100 mil associados. Todas as Cooperativas de Crédito

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integrantes do sistema SICOOB utilizam a prestação de serviços financeiros e

acesso à compensação de papéis do Banco Cooperativo do Brasil (BANCOOB).

O SICOOB­COOPERE é uma cooperativa de crédito rural de

responsabilidade limitada, instituição financeira, sociedade de pessoas, de natureza

civil, sem fins lucrativos e não sujeita à falência. Rege­se pelo disposto nas leis de nº

4.595, de 31/12/64 e nº 5.764, de 16/12/71, nos atos normativos baixados pelo

Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central do Brasil e pelo Estatuto Social

da própria cooperativa.

2. MISSÃO E ESTRUTURA FUNCIONAL

O objetivo da Cooperativa é o de promover a economia solidária, através da

prestação de serviço financeiro e da assistência técnica, visando ao

desenvolvimento sustentável da região sisaleira do Estado da Bahia: esta é a

missão do SICOOB­COOPERE, que tem como princípios: adesão livre e voluntária;

gestão democrática e livre; participação econômica dos sócios; autonomia e

independência; educação; formação e informação; intercooperação e interesse pela

comunidade. Estes fundamentos estão de acordo com os princípios universais do

Cooperativismo.

“O SICOOB­COOPERE é uma instituição livre”. Tal colocação, feita pelo

presidente e demais gestores que formam a cooperativa de crédito, reflete uma

organização social democrática, completamente integrada aos princípios universais

do cooperativismo. Nesta instituição, os associados participam ativamente na

tomada de decisões e escolhem a equipe que será responsável pelo Conselho de

Administração e Diretoria Executiva e pelo Conselho Fiscal.

O órgão supremo da Cooperativa é a Assembléia Geral Ordinária (AGO) ou

Assembléia Geral Extraordinária (AGE) que, dentro dos limites da Lei e do Estatuto,

toma decisões de interesse da Sociedade e suas deliberações vinculam a todos,

ainda que ausentes ou discordantes. A realização das assembléias ocorre após

Edital de Convocação e as deliberações destas somente poderão versar sobre o(s)

assunto(s) constante(s) no referido edital.

A Assembléia Geral Ordinária se realiza obrigatoriamente uma vez por ano no

decorrer dos três primeiros meses após o término do exercício social, geralmente no

mês de março. Além da eleição dos componentes dos Conselhos e outros assuntos

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mencionados no Edital de Convocação, delibera sobre prestação de contas dos

órgãos de Administração, destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas

decorrentes da insuficiência das contribuições aos Fundos Obrigatórios, fixação do

valor dos honorários e gratificações dos membros dos Conselhos. A Assembléia

Geral Extraordinária realizar­se­á sempre que necessário e poderá deliberar sobre

quaisquer assuntos de interesse social.

O Conselho de Administração do SICOOB­COOPERE tem função normativa

e executiva, tendo poderes para resolver todos os atos de gestão, inclusive transigir

e contrair obrigações e empenhar bens e direitos, bem como para realizar a

contratação de operações de crédito, com instituições financeiras, destinadas ao

financiamento das atividades rurais dos associados. É composto por sete membros,

sendo três executivos nas funções de Presidente, Vice­Presidente e Secretário

formando a Diretoria Executiva, e quatro Conselheiros, todos eleitos exclusivamente

entre associados pela Assembléia Geral.

A administração da cooperativa é fiscalizada por um Conselho Fiscal que tem

função estratégica, pois é composto de três membros efetivos e de três suplentes,

escolhidos entre os associados e eleitos anualmente pela Assembléia Geral

Ordinária com a função de atuarem como monitores dos administradores e da

gestão, alertando sobre fatos relevantes e que possam comprometer a estabilidade

da instituição, observadas as disposições do Estatuto da cooperativa.

Os Conselhos de Administração e Fiscal são remunerados da seguinte forma:

Os executivos – Presidente, Vice­Presidente e Secretário recebem honorários, por

dedicarem tempo integral à Cooperativa e os demais funcionários recebem salário

mensal.

A Diretoria Executiva é composta por três dos membros participantes do

Conselho de Administração, responsáveis pela administração direta da cooperativa.

Tal Diretoria representa a cooperativa e empreende ações operacionais,

coordenando a atuação dos gerentes nos níveis hierárquicos inferiores.

A Controladoria coordena, controla e monitora as áreas operacionais. Atua na

execução dos controles internos, através de mecanismos que garantem maior

eficiência nos serviços e, conseqüentemente, diminuição nas falhas. É considerada

o elemento de ligação entre os componentes operacionais e políticos (estratégicos).

A Gerência Administrativa coordena as subgerências nos setores de finanças

(pagamentos, recebimentos e tesouraria), recursos humanos (contratação de

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pessoal, treinamento e gestão de folha) e tecnologia (informática, comunicações e

segurança patrimonial) e ainda as ações dos gerentes de agências.

A Gerência de Crédito coordena as ações e operações de crédito e todas as

modalidades derivadas. Controla as carteiras (amortizações, liquidações) e os

procedimentos de cobrança e execução. Delibera sobre ações das gerências de

agências e intermedia o relacionamento com entidades parceiras financiadoras e

repassadoras.

A Contabilidade desenvolve todas as atividades inerentes à área contábil,

consolidando informações originadas dos setores e sistemas diversos, gerando

posições para a tomada de decisões, como também interfere diretamente nas

agências subordinadas na coordenação e normatização de procedimentos internos.

As Agências são unidades responsáveis pelo desenvolvimento de negócios

da cooperativa, que prestam serviços financeiros aos associados e à comunidade

em expediente diurno de segunda a sexta.

2.1 Instâncias Participativas

Com o objetivo de aumentar os espaços de participação e melhorar o

funcionamento da cooperativa, outros recursos foram criados pelo Conselho de

Administração para atender os cooperados. São eles:

• Comitê de Crédito do SICOOB­COOPERE (CCSC), composto pela Diretoria

Executiva, Gerente de Controladoria, Gerente de Crédito e Gerente Administrativo,

que se reúnem duas vezes por semana na sede da cooperativa, para analisar e

decidir as propostas de crédito apresentadas pelos associados de cada município;

• Comitês de Crédito de Agência (CCAs), compostos pelos gerentes, mais dois

colaboradores, também com o propósito de analisar as propostas de empréstimos,

dentro de suas alçadas, cujos valores variam de acordo com a agência. Os referidos

comitês ocorrem sempre que houver propostas para serem analisadas;

• Reuniões de Gerentes: reuniões mensais dos gerentes de todas as agências

com a Diretoria Executiva, objetivando a troca de experiências, um maior

acompanhamento das atividades desenvolvidas, avaliação do trabalho realizado e

análise conjunta das dificuldades encontradas;

• Conselhos Consultivos Colaboradores (CCCs), que são órgãos consultivos

com função de avaliar, recomendando ou desaconselhando a entrada de

pretendentes a se associar. Funciona como um filtro em cada município onde existe

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agência, integrado por colaboradores e cooperados representantes de organizações

locais. As reuniões ocorrem mensalmente;

• Pré­Assembléias: trata­se de reuniões municipais dos sócios para a

discussão de assuntos ligados à situação local; possíveis dificuldades e resultados

conquistados ao longo de determinados períodos. É através destas reuniões anuais,

criadas para democratizar decisões e dar voz a um maior número de cooperados,

que surgem questões, que serão futuramente integradas ao Edital de Convocação

da Assembléia Geral Ordinária. As convocações das Pré­Assembléias, assim como

da Assembléia Geral, são feitas utilizando todos os meios de comunicações

existentes na região: rádios, jornais de circulação regional, TV, publicação de edital

de convocação em lugares visíveis, correspondências para as organizações

parceiras e “corpo a corpo”.

2.2 Características Administrativas

Em entrevista com os representantes das áreas de administração, controle,

crédito e educação/comunicação, mais uma vez foram levantados dados que

refletem uma instituição bem administrada; amplamente articulada no quesito de

suas atribuições organizacionais, como é demonstrado a seguir.

O Comitê de Crédito de Agência conduz as operações de crédito da

Cooperativa de acordo com as condições mínimas de enquadramento financeiro

estabelecidas pelo SICOOB BAHIA CENTRAL, por meio do Manual de Política de

Crédito e Avaliação de Riscos do SICOOB e demais resoluções. Em Valente, este

Comitê é formado pelo Gerente de Crédito mais dois colaboradores. Atualmente, o

SICOOB­COOPERE empresta 70% dos depósitos totais; 100% do capital de giro

próprio – valor resultante da subtração entre patrimônio de referência e ativo

permanente – e 100% dos recursos repassados, inclusive empréstimos. Este Limite

Global de Empréstimo denominado CRESI é apurado mensalmente, com base na

média mensal dos depósitos totais do mês imediatamente anterior. Nos casos dos

repasses e do capital de giro próprio, pelo saldo do fechamento do mês

imediatamente anterior. Segundo dados do Gerente de Crédito do SICOOB­

COOPERE, com relação à linha de microcrédito, no período compreendido entre os

meses de maio de 2004 a julho de 2005, a instituição emprestou R$ 802.079,00.

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A Controladoria, por sua vez, foi implantada em 2003, e está em constante

fase de “planejamento e aprendizagem”, pois desenvolve função imprescindível no

SICOOB­COOPERE, devido ao porte da instituição e à exigência legal do BACEN.

Com a ajuda do Comitê de Crédito, o controle “alimenta”, através de dados

fornecidos à Diretoria da Cooperativa, dando suporte inclusive às demais agências.

É o maior departamento, formado por: 1 Gerente de Controladoria; 1 Gerente

Administrativo; 1 Gerente de Crédito; 2 Assistentes de Controle; 4 Auxiliares de

Controle; 1 Atendente; 1 Servente e 1 Técnico de Informática, atingindo um total de

12 pessoas. Segundo o representante entrevistado, além da Controladoria interna e

da auditoria realizada pelo SICOOB CENTRAL BAHIA, duas vezes por ano, existe

um repasse Interamericano, no qual o SICOOB­COOPERE é auditado a pedido do

Banco Interamericano de Desenvolvimento.

O Gerente Administrativo é responsável pela estrutura operacional do

SICOOB­COOPERE, tendo suas atribuições entre as demais áreas da Cooperativa.

Fazem parte das suas atribuições: Controle dos Pagamentos – pagamentos de

fornecedores, acompanhamentos dos pagamentos e despesas realizadas entre as

Agências, autorização de pequenas despesas, colher autorização do Diretor da

cooperativa, responsável pelo setor; Administrar o Edifício Sede – controle da

Agência e do Auditório, limpezas, manutenção, etc.; Almoxarifado e Malotes –

cotação, compra e remessa de material de expediente. Controlar e acompanhar

transportes de malotes entre as Agências (Convênio com Empresa de Correios e

Telégrafos e outros); Setor de Transporte – Agenda dos veículos (moto e carro),

controle de quilometragens, combustíveis e manutenção; Setor Patrimonial, que

efetua a cotação e compra de equipamentos, móveis e máquinas, manutenção e

acompanhamento dos equipamentos de uso; Setor de Comunicação – cuja

atribuição é controlar, acompanhar e dar suporte: Links, Internet e Telefones;

realizar contatos com as operadoras de telefonia, etc; elaborar Estatística Mensal;

elaborar minutas de normas internas emanadas pelo Conselho de Administração e

Diretoria; entre outras.

Outro departamento que exerce papel de destaque no SICOOB­COOPERE é

o Departamento de Educação Cooperativista (DEC), implantado em abril de 2003. O

DEC surgiu para integrar o associado ao SICOOB­COOPERE e é formado por uma

Pedagoga e por um Técnico em Desenvolvimento Comunitário, que atuam no

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campo da educação, da comunicação interna e da informação, orientando o quadro

de associados da Cooperativa.

Através de reuniões, cursos e palestras com o foco em Desenvolvimento

Regional Sustentável e Economia Solidária, o DEC visa formar e conscientizar seus

membros. Seus projetos, inclusive, contam com parceiros importantes, a exemplo do

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA); da Associação das Cooperativas de

Apoio à Economia Familiar (ASCOOB); do Movimento de Organização Comunitária;

da APAEB Valente, entre outros.

O DEC emprega ainda um conjunto de ações que interferem diretamente no

Acompanhamento Institucional da Cooperativa; no Apoio à Gestão Administrativa e

no Desenvolvimento Humano e Social do SICOOB­COOPERE, como demonstra o

Quadro 1 a seguir:

Quadro 1 – Ações de acompanhamento institucional realizadas pelo DEC

PROGRAMA LINHA

PROGRAMA DE ACOMPANHAMENTO

INSTITUCIONAL

– Acompanhamento das Capacitações do BID – Acompanhamento do COGEFUR/Prosperar – Suporte Pedagógico ao Programa de Microcrédito – Acompanhamento Pedagógico do PRONAF – Acompanhamento do CODES

PROGRAMA DE APOIO À GESTÃO ADMINISTRATIVA

– Suporte Técnico à Diretoria – Estruturação do Departamento – Comunicação Institucional – Programa de Nucleação de Base – Acompanhamento dos Conselhos Consultivos

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL

– Desenvolvimento de Atividades com Colaboradores, Diretores e Gerentes

– Programa de Desenvolvimento de Pessoas – Desenvolvimento de Atividades com Parceiros

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) Fonte: SICOOB­COOPERE, 2005

Já o Quadro 2 informa os principais parceiros do DEC:

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Quadro 2 – Principais parceiros do DEC

LOCAIS E REGIONAIS

APAEB – Valente – Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente ASCOOB – Associação das Cooperativas de Apoio à Economia Familiar Banco do Nordeste do Brasil Cooperafis – Cooperativa de Artesãs Fibras do Sertão MOC – Movimento de Organização Comunitária FATRES – Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal (Pólo Sindical) Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Valente Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Monte Santo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itiúba Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Queimadas Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Quixabeira Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Luz Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Retirolândia Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Coité Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Fátima Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Domingos Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Gavião Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Capim Grosso APPJ – Associação dos Pequenos Produtores de Jaboticaba Associação Comercial Industrial e Agrícola de Capim Grosso Escola Família Agrícola Avani de Lima Cunha Câmara de Dirigentes Lojistas de Valente Câmara de Dirigentes Lojistas de Retirolândia Câmara de Dirigentes Lojistas de Conceição do Coité Câmara de Dirigentes Lojistas de Capim Grosso COGEFUR – Conselho Gestor de Fundo Rotativo Cooperativa Mista Agropecuária de Capim Grosso Conselho de Desenvolvimento Municipal de Retirolândia DISOP – BRASIL Paróquia São Cristóvão de Capim Grosso – BA Prefeitura Municipal de Retirolândia Prefeitura Municipal de Nova Fátima Prefeitura Municipal de Gavião Prefeitura Municipal de Quixabeira ProRenda Bahia Associações Comunitárias Rurais da Região UNANF – União das Associações Comunitárias de Nova Fátima Rádio Comunitária Contorno de Capim Grosso Rádio Comunitária Valente – FM INTERNACIONAIS DISOP – BÉLGICA BILANCE CORDAID Banco Interamericano de Desenvolvimento

Fonte: SICOOB­COOPERE – Relatório Anual, 2004.

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Existe, ainda, um setor de tecnologia formado por 1 técnico altamente

capacitado. Em 2004, um novo sistema de informática, o SisBR, desenvolvido pelo

Banco Cooperativo do Brasil, foi implementado no SICOOB­COOPERE, a fim de

padronizar e interligar nacionalmente as operações das cooperativas de crédito,

trazendo uma série de facilidades: o associado passou a utilizar caixas eletrônicos e

a fazer operações pela Internet; houve melhoria dos controles internos, dando mais

segurança e agilidade aos processos; as sete agências da cooperativa foram

interligadas e o SICOOBCOOPERE foi integrado ao Banco 24 horas, que possui

terminais de auto­atendimento em todo o Brasil.

É importante ressaltar que os dirigentes dos departamentos, funcionários e

cooperados vêm­se integrando a cursos para conhecerem mais o sistema da

Cooperativa e a desempenharem melhor o seu papel. Conselheiros e diretores

participam constantemente de cursos promovidos pelo Sicoob Central­BA, assim

como os caixas, gerentes, funcionários do atendimento e da controladoria, que

fazem cursos específicos para as suas atividades.

Criar a Ouvidoria é um dos projetos futuros do SICOOB­COOPERE, que

pretende, através do Ouvidor, identificar de forma mais rápida a necessidade de

demanda dos cooperados, buscar soluções para as questões por eles levantadas,

oferecer as informações e sugestões cabíveis, visando ao aprimoramento das

relações e da prestação de serviço.

3. ADESÃO LIVRE E VOLUNTÁRIA

O número de associados da Cooperativa é ilimitado quanto ao máximo, não

podendo ser inferior a 20 pessoas físicas. Para adquirir a qualidade de associado, o

candidato deve preencher proposta de admissão e, tendo seu nome aprovado pelo

Conselho de Administração, subscrever e integralizar as quotas­partes sociais na

forma prevista do estatuto da instituição, além de assinar uma ficha ou livro de

matrícula. O associado poderá, por sua vez, a seu pedido, demitir­se, ou ser

excluído da cooperativa por infração legal ou estatutária – mediante termo firmado

pelo Conselho de Administração na Ficha ou Livro de Matrícula, com os seguintes

motivos que o determinaram: dissolução da pessoa jurídica; por morte da pessoa

física; por perda da capacidade civil se esta não for suprida ou ainda por perda das

condições de ingresso ou permanência na cooperativa.

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Desde a sua criação, grande parte dos associados do SICOOB­COOPERE

são produtores rurais; homens e mulheres que mantêm vínculo com a atividade

sisaleira na região valentense, muitos inclusive trabalhadores da APAEB. No

entanto, representantes da Cooperativa afirmam que o SICOOB­COOPERE

“trabalha com todo mundo” e que pensam futuramente numa cooperativa de livre

adesão, sem distinção. Hoje, a instituição dá atendimento a pessoas físicas e

jurídicas e está mais voltada para o crédito rural.

Segundo o Estatuto Social do SICOOB­COOPERE, os associados têm os

seguintes direitos: a) tomar parte nas Assembléias Gerais, discutir e votar os

assuntos que sejam tratados ressalvadas as disposições legais e estatutárias em

contrário; b) ser votado para os cargos sociais, desde que atendidas as disposições

legais ou regulamentares pertinentes; c) beneficiar­se das operações e serviços

objeto da Cooperativa de acordo com o Estatuto e as regras estabelecidas pela

Assembléia Geral ou pelo Conselho de Administração; d) examinar e pedir

informações relativas à documentação financeira do exercício e demais documentos

a serem submetidos à Assembléia Geral; e) demitir­se da Cooperativa quando lhe

convier; f) retirar o capital, juros e sobras, nos termos do estatuto da Cooperativa,

além de tomar conhecimento dos regulamentos internos da cooperativa. Os deveres,

por sua vez, são: a) o cumprimento das disposições do Estatuto e do regimento

interno, e respeitar as deliberações tomadas pelos órgãos sociais e dirigentes da

Cooperativa; b) satisfazer pontualmente seus compromissos perante a Cooperativa;

c) zelar pelos interesses morais e materiais da Cooperativa; d) responder pelos

compromissos da Cooperativa, depois de judicialmente exigidos desta, até o valor

das quotas­parte subscritas e pelos prejuízos verificados nas operações sociais

proporcionalmente à sua participação nestas; e) não desviar a aplicação de recursos

específicos obtidos na Cooperativa para finalidades não previstas nas propostas de

empréstimos e permitir ampla fiscalização da aplicação; f) acatar as instruções e

recomendações dos serviços de assistência técnica e extensão rural; g) ter sempre

em vista que a cooperação é obra de interesse comum ao qual não deve sobrepor

seu interesse individual; h) depositar preferencialmente suas economias e

poupanças na Cooperativa; i) não exercer, dentro da Cooperativa, atividades que

impliquem discriminação racial, política, religiosa ou social.

O capital social do SICOOB­COOPERE é ilimitado quanto ao máximo e

variável conforme o número de quotas­parte subscritas, não podendo, porém, ser

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inferior a R$ 200,00. O capital é dividido em quotas­parte indivisíveis de R$ 1,00

cada uma, que não podem ser negociadas, nem a eles ser transferidas ou dadas em

garantia. As quotas­parte podem ser integralizadas 50% no ato da matrícula e os

50% restantes em até doze parcelas sem juros. Para os demais associados, as

quotas­parte são integralizadas, no mínimo, 50% à vista, e o restante em até 12

prestações iguais e sucessivas de acordo com deliberação do Conselho de

Administração.

Pelo Estatuto Social da instituição, um único associado não pode deter mais

de um terço do capital social. Caso qualquer associado seja desligado da

cooperativa, a restituição do capital será sempre feita após a aprovação do balanço

do exercício financeiro em que se deu o desligamento, e o Conselho de

Administração poderá determinar que a restituição do capital seja feita em parcelas

mensais, iguais e sucessivas, a partir do mês em que se realizou a Assembléia de

prestação de contas do exercício em que se deu o desligamento do associado.

Ocorrendo demissão, eliminação ou exclusão de associados em número tal que a

devolução do capital possa afetar a estabilidade econômico­financeira da

Cooperativa, o Conselho de Administração, mais uma vez, determinará o prazo

adequado, de forma a resguardar a continuidade de funcionamento da sociedade.

O associado que se aposentar por limite de idade ou por invalidez

permanente, após 10 (dez) anos de associação, poderá receber, a juízo do

Conselho de Administração, o valor do seu capital social menos o valor mínimo de

quotas­parte exigido pelo estatuto do SICOOB­COOPERE, mantendo todos os

direitos sociais.

O SICOOB­COOPERE, quando iniciou suas atividades em 1993, possuía de

capital social o equivalente a pouco mais de R$ 4.000,00. Em dez anos o capital

social do SICOOB­COOPERE cresceu de forma significativa, alcançando o valor de

R$ 1.331.986,29 (Figura 2).

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Figura 2 – Evolução do Capital Social do SICOOB­COOPERE – 1994/2004 Fonte: SICOOB­COOPERE, Anuários 2003 e 2004 (*) Valores apresentados em Reais (R$)

O SICOOB­COOPERE é uma sociedade, cujos membros contribuem

conforme as possibilidades de cada um e independentemente do valor integralizado

em Assembléia, tem o direito de decidir o destino das sobras anuais ou, se for o

caso, a responsabilidade por possíveis perdas. No entanto, a distribuição das sobras

anuais entre os associados obedece às disposições estatutárias e legais: são feitas

somente após a destinação de 30% para o Fundo de Reserva, para garantir

possíveis perdas futuras e 10% para o Fundo de Assistência Técnica Educacional e

Social (FATES). Nos últimos anos, os recursos do FATES têm sido aplicados nas

atividades de formação e capacitação de colaboradores e dirigentes.

4. LINHAS DE FINANCIAMENTO E SERVIÇOS PRESTADOS

O SICOOB­COOPERE conta com uma carteira diversificada de operações de

crédito, atualmente separadas em dois grandes grupos:

• Crédito Geral para atender às necessidades dos cooperados na aquisição

de bens e serviços e viabilização de pequenos negócios através das linhas de

Crédito Pessoal, Cheque Especial, Capital de Giro, Desconto de Cheques, Desconto

de Duplicatas e Microcrédito;

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• Crédito Rural para atender às necessidades dos associados em custeios e

investimentos em atividades rurais, com recursos oriundos de repasses de

instituições financeiras públicas e privadas, nacionais e internacionais e de agências

de cooperação nacional e internacional, a exemplo do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), Fundo Rotativo, Conselho Gestor

do Fundo Rotativo (COGEFUR) e Banco Cooperativo do Brasil – Rondônia.

As carteiras de crédito geral e rural do SICOOB­COOPERE vêm evoluindo de

forma significativa. No período de 2000 a 2004, o volume de empréstimos gerais

cresceu 375%, atingindo a marca de, aproximadamente, R$ 8 milhões. Já o volume

de empréstimos rurais, cresceu mais de 200% no mesmo período observado,

conforme Figuras 3 e 4.

Figura 3 – Evolução de empréstimos Figura 4 – Evolução de empréstimos gerais rurais Fonte: SICOOB­COOPERE, 2005 Fonte: SICOOB­COOPERE, 2005

Com relação à linha de microcrédito, esta foi idealizada em 2003 a partir do

Projeto Microfinanças, consolidando a concepção da Cooperativa em manter os

recursos locais na própria comunidade. As ações que formaram tal Projeto visam

compor uma poupança local; viabilizar pequenos empreendimentos e negócios;

equilibrar orçamentos familiares e aumentar a qualidade de vida da comunidade.

Os serviços prestados pelo SICOOB­COOPERE atualmente são: pagamento

e recebimento de convênios, carnês e cobranças; saque no Banco 24h; saque na

Rede Shop; transferência de recursos entre agências e instituições financeiras,

Cartões de Crédito e Débito, além de Seguros.

16

5. IMPLANTAÇÃO DO MICROCRÉDITO

A linha de microcrédito oferecida pelo SICOOB­COOPERE, antes de ser

implantada, passou por uma fase de planejamento na qual a Cooperativa, com o

objetivo de promover a inclusão social, buscou conhecer o cenário no qual a

população de Valente e região estava inserida. Desta forma, em janeiro de 2004, o

SICOOB­COOPERE através da Assessoria, Pesquisa e Avaliação de Projetos

Sociais (ASPA), realizou uma pesquisa, intitulada “Iniciativas de Atividades

Produtivas e Microcrédito na Região de Valente­Bahia”, com o foco nos interesses e

necessidades do pequeno produtor da região. A análise levantada, portanto, veio

confirmar as necessidades de um público carente de crédito e ávido por

oportunidades solidárias, há muito sentidas pelo SICOOB­COOPERE.

Neste estudo, grande parte dos entrevistados demonstrou interesse em iniciar

alguma atividade produtiva, e as mais citadas tratavam­se de atividades ligadas à

criação de animais e comércio próprio. E o mais importante: a grande maioria não

possuía recurso algum para dar início a tais atividades.A percepção do Conselho

Administrativo da cooperativa, aliada à análise dos dados levantados pela

Associação de Pesquisa e Avaliação de Projetos Sociais em 2004, identificou a

melhor forma de viabilizar um possível empréstimo que viesse a contribuir com o

desenvolvimento regional, definindo inclusive quantia, prazos e formas de quitação

da linha de microcrédito vigente, que começou a ser implantada em maio de 2004.

Em outubro de 2004, a Cooperativa de Crédito Rural Valentense firmou um

convênio com a Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região

Sisaleira. A partir daí, o SICOOB­COOPERE passou a conceder empréstimos no

valor de até R$1.000,00 para trabalhadores da Associação.

6. PROCESSO DE CONCESSÃO DO CRÉDITO

Os cooperados podem dirigir­se a um dos sete postos de atendimento,

incluindo a agência sede em Valente, os quais possuem boa estrutura e uma equipe

de atendimento treinada para orientá­los e efetivar possíveis operações. Os

documentos necessários para a formalização da operação de microcrédito são:

carteira de identidade, Cadastro de Pessoa Física (CPF) e comprovante de

17

endereço, os quais serão analisados para realização de Contrato de Abertura de

Crédito junto ao SICOOB­COOPERE.

O prazo máximo da operação de microcrédito é de 12 meses para pagamento

por parte do associado creditado. Atualmente, demais associados, ainda que não

tenham vínculo empregatício também se podem beneficiar dessa linha de crédito,

cuja taxa de juros em março/05 era de 3,5% ao mês. Novos associados, no entanto,

só podem usufruir dos produtos/serviços do SICOOB no prazo de 30 dias após

integralização do capital social. Além disto, os comitês de crédito existentes nos

diversos níveis hierárquicos analisam as propostas de crédito com base nos dados

do proponente, valor, taxa de juros, prazo de carência, capacidade de pagamento

(valor e quantidade de parcelas), limites de crédito baseados no capital e nos

depósitos à vista e a prazo, garantias e parecer do gerente da agência. A análise

passa pelos diversos níveis da instituição, dependendo do valor e da alçada de cada

um.

O Programa de Microcrédito do SICOOB­COOPERE se propunha a atender o

seguinte público:

• Pessoas físicas que sobrevivam de aposentadoria ou pensão que recebam

seus rendimentos através do SICOOB­COOPERE, sem limite de renda, não

podendo o valor da parcela mensal do pagamento do empréstimo ser superior a

30% da sua renda bruta mensal;

• Pessoas físicas trabalhadores da iniciativa pública ou privada com convênio

firmado com a cooperativa para pagamento da folha de salários;

• Demais pessoas físicas que exerçam qualquer atividade formal ou informal,

com renda bruta mensal de até R$500,00, sendo que a parcela mensal do

pagamento não pode ultrapassar 30% da sua renda bruta mensal.

Em quaisquer dos casos, o valor máximo permitido do valor do empréstimo é

de R$1.000,00 à taxa de juros de 3,5% ao mês para pagamento em até 12 parcelas

mensais.

Segundo a Diretoria do SICOOB­COOPERE, a taxa de inadimplência em

maio de 2005 foi de 8,15%. Este percentual é considerado pela Cooperativa muito

alto e preocupante, pois vem aumentando de maneira muito acentuada, já que em

setembro de 2004 a taxa de inadimplência era de 1,14%. Comparando­se a taxa de

inadimplência do programa de microcrédito, no mesmo período, com as taxas dos

demais produtos oferecidos pela instituição: desconto de recebíveis (cheques,

18

duplicatas), contrato de abertura de crédito (CAC) (empréstimos) e créditos rurais

diversos (investimento e custeio) que foi de 7,51%, verifica­se que a linha de

microcrédito possui uma média mais elevada.

Diante da situação observada, a gerência de controladoria encaminhou, ao

comitê de crédito, uma análise da evolução da taxa de inadimplência na linha de

microcrédito, que, por sua vez, constatando seu impacto negativo sobre toda a

carteira de crédito, encaminhou à Diretoria executiva um parecer técnico que levou à

suspensão temporária do referido programa.

O critério de cobrança adotado para as operações de microcrédito, segundo o

gerente de crédito da agência em Valente, é o mesmo adotado para todas as

operações de crédito da cooperativa, ou seja: a partir do 5º dia de atraso, o

associado recebe telefonema ou aviso formal, comunicando que o seu título/parcela

está vencido e que não há saldo para efetuar o débito; no 15º dia de atraso, o

associado recebe o 2º aviso formal, ou telefonema, dando o prazo de cinco dias para

regularização, caso contrário, será negativado no Serviço de Proteção ao Crédito

(SPC). No 31º dia de atraso, é encaminhado novo aviso de cobrança informando o

cadastramento do cliente nos órgãos de restrição ao crédito. A partir do segundo

mês de atraso, o débito é encaminhado à área jurídica da cooperativa para proceder

à cobrança ou renegociação. No terceiro mês de atraso, é dado início à Cobrança

Judicial.

O SICOOB­COOPERE conta basicamente com o capital dos seus

associados, além dos depósitos à vista e a prazo. Em 2004, o capital social

alcançado foi de R$ 1.331.986,29, os depósitos à vista, R$ 2.548.106,00, e os

depósitos a prazo, R$ 6.504.252,00. Os recursos liberados ficaram em torno de R$

7.247.507,00 para empréstimo pessoal e R$ 3.109.170,00 para empréstimo rural.

Tratando­se da linha de microcrédito, enquadrada como linha de empréstimo

pessoal pelo SICOOB­COOPERE, os números se mostraram bem expressivos,

levando­se em consideração que o microcrédito encontra­se ainda no seu primeiro

ano de vigência (Tabela 1).

Apesar de ser uma instituição que conta com a captação dos seus

associados, o SICOOB­COOPERE mantém uma postura ativa e está sempre

buscando novas formas de conseguir recursos para a cooperativa; estas, por sua

vez, podem ser comprovadas através das figuras 5 e 6, que demonstram a evolução

das fontes de recursos locais que no período de 2000 a 2004, cresceram 595% e

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fontes de recursos externas que cresceram 175% mesmo tendo ocorrido quedas nos

anos de 2001 e 2003. O SICOOB­COOPERE busca a fixação dos recursos locais

para que estes não sejam redirecionados para outros centros, ao contrário do que

ocorre com o Sistema Financeiro tradicional – levantam recursos num município e os

transferem para os grandes centros.

Tabela 1 – Volume de Recursos Liberados desde a Implantação da Linha de Microcrédito

Meses Nº de Operações Valor total das operações (R$)

Média por operação (R$)

mai/04 2 1.200,00 600,00 jun/04 29 24.565,00 847,07 jul/04 94 76.800,00 817,02 ago/04 83 67.600,00 814,46 set/04 62 46.575,00 751,21 out/04 119 91.810,00 771,51 nov/04 168 125.715,00 748,30 dez/04 145 105.305,00 726,24 jan/05 116 78.195,00 674,09 fev/05 74 54.780,00 740,27 mar/05 59 40.460,00 685,76 abr/05 39 26.117,00 669,67 mai/05 36 27.350,00 759,72 jun/05 28 20.287,00 724,54 jul/05 20 15.320,00 766,00 Total 1.074 802.079,00 746,81

Fonte: SICOOB­COOPERE, 2005 (*) Não inclui outras linhas de crédito.

Figura 5 – Evolução das fontes de Figura 6 – Evolução das fontes de recursos locais recursos externos Fonte: SICOOB­COOPERE, 2005 Fonte: SICOOB­COOPERE, 2005

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Em maio de 2005, o SICOOB­COOPERE fechou acordo com o Banco do

Brasil, que permitiu o repasse de R$ 1,5 milhão à Cooperativa através de recursos

do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), na

modalidade Custeio. Linha criada para atender as demandas de custeio da atividade

agroindustrial, estoque de embalagens, rótulos, matéria­prima, produto final e outros.

Esta parceria, inclusive, é vista de forma muito positiva pelo engenheiro agrônomo

do Banco do Brasil, que em entrevista ao Informativo Interno do SICOOB­

COOPERE, considerou a parceria realizada com a cooperativa, uma maneira de

atender melhor o produtor rural da região, já que as cooperativas possuem redes

extensas de associados, capazes de alcançar um maior número de pessoas. O

SICOOB­COOPERE busca ainda parcerias internacionais, a exemplo do Banco

Interamericano de Desenvolvimento.

7. OS COOPERADOS – ANÁLISE DE DADOS

A pesquisa foi realizada com uma amostra representativa do universo de 390

cooperados do SICOOB­COOPERE que estavam com operações de microcrédito

ativas no período entre março e junho de 2005. A necessidade de conhecer a visão

do associado, diante do processo de concessão do microcrédito do SICOOB­

COOPERE, exigiu da pesquisa uma organização sistemática dos dados que aqui se

apresentam sob os seguintes blocos: Perfil dos Entrevistados; Agricultura

Familiar/Empreendedorismo; Crédito; Satisfação com o SICOOB­COOPERE e

Cruzamento de Variáveis. É necessário lembrar que o microcrédito concedido pelo

SICOOB­COOPERE é uma linha de crédito recente, em vigência desde maio de

2004, e que muitas questões aqui analisadas levam em consideração este aspecto.

Foram 276 entrevistados, dos quais 52,54% são homens e 47,46% são

mulheres. Quanto à faixa etária, o estudo demonstrou que muitos tomadores dessa

linha de crédito são jovens, na faixa etária entre 18 e 30 anos (26,81%) e entre 31 e

35 anos (16,67%). Outros 22,83% possuem de 36 a 45 anos. A maioria dos

cooperados é de casados ou possui união estável (62,32%); tem três ou mais

dependentes (27,17%); reside na zona urbana (61,59%) e tem domicílio próprio

(88,04%), com tempo de residência que varia de acordo com a Figura 7.

21

Como já era previsto, grande parte dos associados que tomaram a linha de

microcrédito no SICOOB­COOPERE possui baixo nível de instrução: 59,78% não

completaram sequer o 1º grau e apenas 26,45% concluíram o ensino médio.

Segundo dados do IBGE, em 2002, havia 14,6 milhões de analfabetos no Brasil

(11,8 % da população de 15 anos ou mais de idade, contra 17,2% em 1992). Quanto

à renda familiar mensal, 65,68% dos associados vivem com rendimentos que variam

entre 2 e 4 salários mínimos, porém 24,64% afirmaram que a renda familiar é inferior

a 1 salário mínimo, o que, em março de 2005, correspondia a R$ 260,00 (Figuras 8

e 9).

Figura 7 – Distribuição dos cooperados por tempo de domicílio (%) Fonte: Pesquisa direta, 2005 (n = 276).

Figura 8 – Distribuição dos cooperados por grau de instrução (%) Fonte: Pesquisa direta, 2005 (n = 276)

22

Figura 9 – Distribuição dos cooperados por renda familiar (%) Fonte: Pesquisa direta, 2005 (n = 276) Nota: Valores em salários mínimos (SM)

Ao serem questionados quanto à ocupação principal, a maioria dos

participantes da amostra (39,13%) afirmou que atua no setor de serviços,

desenvolvendo atividades como as de costureira, professor, cabeleireira, pedreiro,

vigilante, entre outros; 28,26% são aposentados e 19,57% atuam no setor de

produção (fiador, revisor de fábrica de tapetes, caldeirista, etc.); 7,61% desenvolvem

atividade agropecuária; 3,99% atuam no setor de comércio e apenas 1,45% não

possuem ocupação.

Do total da amostra, 59,06% não possuem vínculo empregatício. A Figura 10

apresenta a distribuição dos 40,94% restantes (113 cooperados) por tipo de vínculo

empregatício mantido.

Grande parte dos cooperados possui vínculo empregatício com a APAEB e

isto se justifica devido à ligação entre as duas instituições e à parceria mantida

através do Convênio de Crédito firmado entre elas em outubro de 2004, o que deu

partida à linha de microcrédito concedida pelo SICOOB­COOPERE. Além disso, a

APAEB destaca­se na região valentense, empregando boa parte da população da

cidade, considerando que em 2005 foi responsável por 900 empregos diretos.

23

Figura 10 – Distribuição dos cooperados por tipo de vínculo empregatício (resposta)

Fonte: Pesquisa direta, 2005 (n = 276) % de respondentes = 40,94 Nota: As respostas foram organizadas por tipos de vínculos empregatícios

Quanto aos cônjuges dos cooperados casados (62,32%), 61,63% deles

trabalham e estão distribuídos principalmente nos ramos de serviços (61) e

atividades agropecuárias (26). Outros 11,63% são aposentados, que também

contribuem ativamente com a renda familiar (Figuras 11 e 12).

Figura 11 – Distribuição dos cooperados cujos cônjuges trabalham (%)

Fonte: Pesquisa direta, 2005 (n = 276). (*) questão respondida apenas pelos cooperados casados/possui união estável (62,32%).

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Figura 12 – Distribuição dos cônjuges dos cooperados segundo o ramo de trabalho (resposta)

Fonte: Pesquisa direta, 2005 (n = 276). (*) questão respondida apenas pelos cooperados casados ou que possuem união estável, cujo cônjuge trabalha (38,40% do total da amostra).

Concluindo, constata­se que a COOPERE, hoje a maior cooperativa de

crédito da Bahia, agregou um novo dinamismo à região, que já vinha sofrendo

impactos positivos com a atuação da APAEB. O exemplo mostra, portanto, a

estratégica integração entre o capital social, formado pelo aporte financeiro dos associados da região, com o capital social, constituído pelas redes territoriais de relações, pela construção de laços de confiança e pela implementação de ações

concretas em benefício de toda a comunidade, resultando em seu empoderamento.

REFERÊNCIAS

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COOPERATIVA VALENTE DE CRÉDITO RURAL LTDA – SICOOB­COOPERE. Apresentação sobre desenvolvimento sustentável. Valente, Bahia, [2004].

COOPERATIVA VALENTE DE CRÉDITO RURAL LTDA – SICOOB­COOPERE. Convênio de abertura de microcrédito. Valente, Bahia, 15 out. 2004.

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COOPERATIVA VALENTE DE CRÉDITO RURAL LTDA – SICOOB­COOPERE. Relatório Anual 2004. Valente, Bahia, 31 dez. 2004.

COOPERATIVA VALENTE DE CRÉDITO RURAL LTDA – SICOOB­ COOPERE/DEC­Departamento de Educação Cooperativista. Mapa de ações. Valente, Bahia, [2005?].

NASCIMENTO, H. M. do. Conviver o sertão: origem e evolução do capital social em Valente/BA. São Paulo: Annablume, 2003.

OLIVEIRA, D. et al. Microcrédito e Sustentabilidade: a experiência do SICOOB­ COOPERE. 2005. 102f. Monografia (Curso de Cooperativismo de Crédito)­ Universidade Estadual de Feira de Santana/SICOOB­CENTRAL ­ BAHIA, Feira de Santana.

PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

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