capital social e a emergência do desenvolvimento local sustentável

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Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras e Ciências Sociais Mestrado em Sociologia Rural e Gestão de Desenvolvimento Dissertação de Mestrado Capital Social e Emergência de Desenvolvimento Local Sustentável Uma leitura a partir da localidade de Mtengo wa Mbalame no Distrito de Tsangano Domingos Elias Bihale Maputo, Novembro de 2010

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Dissertação de Mestrado a ser submetida à Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Mestre em Sociologia Rural e Gestão de Desenvolvimento

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Page 1: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

1

Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais Mestrado em Sociologia Rural e Gestão de Desenvolvimento

Dissertação de Mestrado

Capital Social e Emergência de Desenvolvimento Local Sustentável

Uma leitura a partir da localidade de Mtengo wa Mbalame no Distrito de Tsangano

Domingos Elias Bihale

Maputo, Novembro de 2010

Page 2: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

Capital social e a Emergência do Desenvolvimento Local Sustentável:

Uma leitura a partir da localidade de Mtengo wa Mbalame no Distrito de Tsangano

Dissertação de Mestrado a ser submetida à Faculdade de Letras e Ciências Sociais da

Universidade Eduardo Mondlane como parte dos requisitos necessários para a obtenção do

Grau de Mestre em Sociologia Rural e Gestão de Desenvolvimento.

O Candidato: Domingos Elias Bihale

O Supervisor: Professor Doutor Arlindo Gonçalo Chilundo

O JÚRI

O Presidente O Supervisor O Oponente

Professor Catedrático Armando Jorge F. Lopes

Professor Doutor Arlindo Gonçalo Chilundo

Professor Doutor Manuel José Macia

Data: _____/_____/ 2011

Maputo

Page 3: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

ii

ÍNDICE Dedicatória ......................................................................................................................................... i Agradecimentos ................................................................................................................................. ii Declaração ....................................................................................................................................... iii Lista de abreviaturas ........................................................................................................................ iv Lista de figuras, tabelas e gráficos ..................................................................................................... v Figuras .............................................................................................................................................. v Tabelas .............................................................................................................................................. v Gráficos ............................................................................................................................................ vi Resumo............................................................................................................................................ vii INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 1 1. ABORDAGEM TEÓRICO – CONCEPTUAL DA PESQUISA ................................................. 7 1.1. Fundamentos Teóricos do Capital Social ............................................................................... 7 1.2. Definição e discussão de conceitos – chave ...........................................................................10 1.2.1. Capital social ........................................................................................................................10 1.2.2. Formas e dimensões do capital social ....................................................................................19 1.2.3. Medição do capital social .....................................................................................................21 1.3. Desenvolvimento ..................................................................................................................24 1.4. Desenvolvimento local .........................................................................................................29 1.5. Desenvolvimento sustentável ................................................................................................34 1.6. Desenvolvimento local sustentável .......................................................................................38 1.7. Capital social e desenvolvimento local sustentável ................................................................42 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...............................................................................49 2.1. Metodologia .........................................................................................................................49 2.2. Análise e apresentação dos resultados ...................................................................................51 2.2.1. Informação geral ..................................................................................................................51 2.2.2. Comunidades abrangidas pelo estudo ....................................................................................51 2.2.3. Sexo, idade, posição social e tempo de residência .................................................................52 2.2.4. Grupos e redes ......................................................................................................................53 2.2.5. Bem-estar .............................................................................................................................58 2.2.6. Participação política .............................................................................................................66 2.2.7. Sociabilidade, interacções diárias..........................................................................................67 2.2.8. Actividades comunitárias ......................................................................................................68 2.2.9. Relações com o governo .......................................................................................................69 2.2.10. Violência e crime .............................................................................................................71 2.2.11. Comunicação ...................................................................................................................73 2.2.12. Demografia ......................................................................................................................75 3. CAPITAL SOCIAL E A EMERGÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL NA LOCALIDADE DE MTENGO WA MBALAME ...........................................77 3.1. Discussão dos resultados ......................................................................................................78 3.1.1. Sexo, posição social .............................................................................................................78 3.1.2. Grupos e redes ......................................................................................................................80 3.1.3. Bem-estar .............................................................................................................................86 3.1.4. Participação política .............................................................................................................90 3.1.5. Interacções diárias e participação comunitária.......................................................................92 3.1.6. Violência e crime .................................................................................................................94 3.1.7. Comunicação........................................................................................................................95 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 102 ANEXOS........................................................................................................................................ 109

Page 4: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

i

Dedicatória

À minha Mãe Verónica Lafione e

À memória do meu Pai

Page 5: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

ii

Agradecimentos

Tenho dívida de gratidão para com as seguintes pessoas:

As minhas filhas Nayendani e Mercedes e o meu irmão Alano, pelo sacrifício, compreensão e

amor.

Amélia Sumbana (my dear), Paula Abdala, Rosário Dobiala, Benedito Bihale e Emílio Jei,

pelo apoio moral e material incondicional.

Os meus colegas do curso, pelo companheirismo, críticas e carinho.

O General Graça Chongo, Dra. Bendita Donociano e Dr. Aly Jamal.

As autoridades administrativas, comunitárias e comunidades da localidade de Mtengo wa

Mbalame, pelo apoio durante a realização da pesquisa de campo.

Page 6: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

iii

Declaração

Declaro por minha honra que o trabalho apresentado nesta dissertação para a obtenção do

Grau de Mestre em Sociologia Rural e Gestão de Desenvolvimento é fruto de uma pesquisa

conduzida por mim e nunca foi antes submetido a qualquer instituição. As fontes de

informação usadas em consultas estão indicadas na bibliografia anexa ao trabalho.

Page 7: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

iv

Lista de Abreviaturas

DADR – Direcção de Agricultura e Desenvolvimento Rural

EDR – Estratégia de Desenvolvimento Rural

HIV/SIDA – Vírus de Imunodeficiência Humana/Sindrome de Imunodeficiência Adquirida

INE – Instituto Nacional de Estatística

MAE – Ministério de Administração Estatal

FIIL – Fundo para Investimento de Iniciativas Locais

ONGs – Organizações Não Governamentais

PARPA – Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta

PIB – Produto Interno Bruto

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Page 8: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

v

Lista de figuras, tabelas e gráficos

Figuras

Figura 1: Dimensões do desenvolvimento sustentável……………………………………….38

Tabelas

Tabela 1: Comunidades abrangidas pelo estudo e o número de agregados inquiridas…….…51

Tabela 2. Grupo mais importante……………………………………………………………..55

Tabela 3. Proveniência de fundos para o funcionamento dos grupos………………………...56

Tabela 4. Nível de benefícios das actividades do grupo para a comunidade…………………56

Tabela 5. Razões que mantêm o grupo mais activo…………………………………………..57

Tabela 6. Razões que mantêm o grupo menos activo………………………………………...58

Tabela 7. Nível de felicidade…………………………………………………………………58

Tabela 8. Solidariedade………………………………………………………………………59

Tabela 9. Nível de confiança entre as pessoas na comunidade……………………………….69

Tabela 10. Contributo para tornar a comunidade um bom lugar para viver………………….60

Tabela 11: Modus vivendi das pessoas da comunidade………………………………………60

Tabela 12. Nível de união entre as pessoas da comunidade………………………………….60

Tabela 13. Satisfação com a vida……………………………………………………………..61

Tabela 14. Satisfação com a situação financeira da família…………………………………..61

Tabela 15. Descrição da família em termos económicos……………………………………..61

Tabela 16. Perspectiva da situação económica das famílias…………………………………62

Tabela 17. Força/motivação para mudar a vida………………………………………………62

Tabela 18. Participação política………………………………………………………………66

Tabela 19. Impacto das actividades das ONGs existentes……………………………………68

Tabela 20. Confiança…………………………………………………………………………69

Tabela 21. Competência das instituições……………………………………………………..70

Tabela 22. Avaliação do grau de honestidade das instituições……………………………….70

Tabela 23. Tensões, desentendimentos e conflitos entre grupos……………………………..71

Tabela 24. Recurso à violência para resolver conflitos………………………………………71

Tabela 25. Densidade de grupos……………………………………………………………...81

Page 9: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

vi

Gráficos

Gráfico 1. Sexo e idade……………………………………………………………………….52

Gráfico 2. Chefes de família por sexo………………………………………………………...53

Gráfico 3. Problemas económicos……………………………………………………………63

Gráfico 4. Problemas de saúde………………………………………………………………..64

Gráfico 5. Problemas de infra-estruturas……………………………………………………..64

Gráfico 6. Problemas políticos………………………………………………………………..65

Gráfico 7. Problemas de segurança…………………………………………………………...65

Gráfico 8. Problemas sociais………………………………………………………………….66

Gráfico 9. Níveis de violência comparativamente há 5 anos…………………………………72

Gráfico 10. Segurança e protecção…………………………………………………………...73

Gráfico 11. Acessibilidade e estado das estradas……………………………………………..74

Gráfico 12. Membros por agregado familiar…………………………………………………75

Page 10: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

vii

Resumo

Este trabalho debruça-se sobre a relação entre o capital social e o desenvolvimento local

sustentável na localidade de Mtengo wa Mbalame. A localidade de Mtengo wa Mbalame

situa-se no distrito de Tsangano, na província de Tete e debate-se com pouca capacidade

financeira e material para as comunidades desenvolverem as suas actividades e iniciativas. Os

índices de produção agrícola são baixos, comparativamente ao potencial agrícola. O

escoamento de produtos é deficiente devido ao mau estado das vias de acesso. As terras para a

prática de agricultura e criação de animais são escassas e há falta de recursos florestais.

Assim, a pesquisa visava estudar a forma como o capital social poderia contribuir para a

emergência de um desenvolvimento local sustentável na localidade de Mtengo wa Mbalame,

olhando para estes problemas na óptica do paradigma de interacção social. Partiu-se do

pressuposto de que O capital social na localidade de Mtengo wa Mbalame é pouco

diversificado e é ineficiente. Os resultados do estudo mostram que os índices de capital social

na localidade de Mtengo wa Mbalame são fracos. Apesar de se ter constatado um défice de

capital social na localidade, não se pode arriscar em afirmar que a falta de diversificação e a

ineficiência do capital social estão na origem dos problemas que retardam o processo de

desenvolvimento na Localidade de Mtengo wa Mbalame. A deficiência de capitais físico,

humano e financeiro também podem obstruir os avanços rumo ao desenvolvimento local

sustentável na localidade. Por isso, conclui-se que a relação entre o capital social e o

desenvolvimento local sustentável é complexa e que muda com o tempo, não sendo, por isso,

redutível ao impacto positivo da cultura cívica que favorece a cooperação e a reciprocidade

entre membros da comunidade. O papel da política na mediação da relação entre as redes e o

mercado é importante porque as políticas bem definidas podem ajudar no estabelecimento de

óptima relação entre o capital social e o desenvolvimento local sustentável, através do

encorajamento das redes sociais por um lado e, através da regulação de atitudes tendentes ao

rent seeking, por outro.

Palavras – Chave: capital social; desenvolvimento; desenvolvimento local; desenvolvimento

sustentável; desenvolvimento local sustentável.

Page 11: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

1

INTRODUÇÃO

Em 2006, o Governo de Moçambique aprovou o segundo Plano de Acção para a Redução da

Pobreza Absoluta (PARPA II), visando reduzir níveis de pobreza absoluta e promover um

crescimento económico rápido, sustentável e abrangente. O mesmo documento elege o

desenvolvimento rural como um dos pilares para o desenvolvimento económico do país

(Governo de Moçambique, 2006:31 -34).

O privilégio do rural neste documento prende-se com o facto de se reconhecer que o maior

número da população moçambicana vive nas zonas rurais e a pobreza tem uma face rural. Por

outro lado, há uma convicção por parte do Governo que o ritmo do desenvolvimento rural

depende directamente do nível do investimento concentrado no fomento do capital rural,

nomeadamente: humano, financeiro, comercial, intelectual e social (ibid:70).

De facto, as infra-estruturas quer físicas (estradas, electricidade, comunicações entre outras)

quer institucionais (legais, administrativas, entre outras) são fracas nas zonas rurais; o nível de

capital humano, produtividade e formação técnico – profissional é baixo; a desigualdade de

género é elevada; a investigação e divulgação científicas sobre produtos agrícolas são fracas;

a política fiscal não é favorável ao sector privado produtivo e a contribuição fiscal do meio

rural é baixa. Em adição, a renda per capita é baixa, o poder de compra é fraco e os custos de

transacção são elevados; os investimentos no sector bancário são fracos e a sensibilidade e

percepção dos riscos associados à manutenção e conservação do meio ambiente são reduzidos

(Governo de Moçambique, 2007:17).

A Agenda 2025 elege o capital social como uma base sólida para a formação de uma Nação

coesa e indivisível (Comité de Conselheiros, 2003:25). O PARPA II faz referência à auto –

estima dos cidadãos, ao zelo, à honestidade, à transparência e prestação de contas, à

valorização da cultura de trabalho, à unidade – algumas das manifestações importantes para a

melhoria do capital social. Nesse âmbito, em Setembro de 2007 o Governo de Moçambique

aprovou a Estratégia de Desenvolvimento Rural (EDR) assente em cinco pilares,

nomeadamente, capital humano, inovação e tecnologia; capital social, eficácia eficiência

institucional; competitividade e acumulação de capital rural; boa governação e planeamento

dos mercados; bem como gestão produtiva e sustentável dos recursos naturais e ambiente.

Page 12: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

2

Um dos objectivos da EDR é diversificar a eficiência do capital social, as infra-estruturas e

instituições, pois, há um reconhecimento de que o capital social diversificado e eficiente pode

acelerar o desenvolvimento nas zonas rurais (Governo de Moçambique, 2007:43-48).

É nesse contexto, que o trabalho “ Capital Social e a Emergência do Desenvolvimento Local

Sustentável: leitura a partir da Localidade de Mtengo wa Mbalame” surge com o intuito de

perceber a forma como o capital social pode contribuir para a emergência de um

desenvolvimento local sustentável na Localidade de Mtengo wa Mbalame.

A localidade de Mtengo wa Mbalame tem vindo a experimentar um crescimento económico

devido aos recursos que dispõe, associando-se por outro lado à paz e à estabilidade política.

Contudo, as populações são ainda totalmente vulneráveis, com pouca capacidade financeira e

de materiais afins para desenvolver as suas actividades e implementar as suas iniciativas. A

localidade e todo o posto administrativo não dispõem de um sistema formal de crédito, nem

está representada no distrito de Tsangano alguma instituição bancária, tornando cada vez mais

difícil o desenvolvimento de qualquer tipo de actividade que necessite de um investimento

financeiro para o seu sucesso.

Em adição, a terra já não se mostra suficiente para satisfazer as necessidades dos habitantes da

região, podendo até ser motivo de conflitos entre membros pertencentes às mesmas redes

consuetudinárias, isto é, familiar, parentesco e comunidade.

Finalmente, o desmatamento é uma realidade inócua. A cobertura vegetal é quase inexistente

devido ao uso intensivo e abates indiscriminados, facto que obriga as populações,

essencialmente mulheres, a recorrerem ao vizinho Malawi para conseguirem a lenha para o

uso doméstico.

A situação que acabamos de descrever leva-nos a uma reflexão sobre como o capital social,

apontado na EDR como um dos motores do desenvolvimento rural, contribui, de forma

sustentável, para o desenvolvimento da localidade de Mtengo wa Mbalame.

Julgamos que o estudo sobre “Capital Social e a Emergência do Desenvolvimento Local

Sustentável: leitura a partir da Localidade de Mtengo wa Mbalame” poderá servir directa ou

indirectamente para o desafio de operacionalização dos princípios e objectivos prescritos na

EDR, onde a “gestão produtiva e sustentável dos recursos naturais e do ambiente” e a

“diversificação e eficiência do capital social…”constituem algumas das prioridades de

desenvolvimento rural.

Page 13: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

3

De uma forma geral pretendemos estudar a forma como o capital social contribui para a

emergência de um desenvolvimento local sustentável na localidade de Mtengo wa Mbalame.

A materialização do estudo da forma como o capital social contribui para a emergência de um

desenvolvimento local sustentável na localidade de Mtengo wa Mbalame passa

incontornavelmente pelos objectivos específicos seguintes:

Identificar Grupos e Redes (a natureza e a extensão da participação de um membro de um

domicílio em vários tipos de organização social e redes informais, assim como as várias

contribuições dadas e recebidas nestas relações) existentes;

Avaliar o grau de confiança e solidariedade dos habitantes da região em relação a

vizinhos, provedores de serviços essenciais, e estranhos, e como essas percepções vêm

evoluindo com o tempo;

Analisar as formas de difusão de informação e comunicação relativas às condições de

mercado e serviços públicos, e até sobre práticas socioeconómicas ambientalmente

amigáveis;

Avaliar o nível de coesão e inclusão social, ou seja, identificar a natureza e o tamanho de

várias formas de divisão e diferenças que podem levar ao conflito, os mecanismos por

meio dos quais elas são geridas, e quais os grupos que são excluídos dos serviços

públicos.

Para o desenvolvimento do presente trabalho partimos dos seguintes pressupostos:

O capital social na localidade de Mtengo wa Mbalame é pouco diversificado e é

ineficiente;

A pouca diversificação e a ineficiência do capital social na localidade de Mtengo wa

Mbalame retarda a emergência de desenvolvimento local sustentável

O estudo de campo foi feito na localidade de Mtengo wa Mbalame no distrito de Tsangano.

O Distrito de Tsangano localiza-se na região Norte da província de Tete junto à fronteira com

o Malawi.

Tsangano foi elevado à condição de distrito aquando da nova divisão administrativa do País,

feita com base na resolução nº 6/86 de 25 de Julho, aprovado pela décima quinta Sessão

Ordinária da Assembleia Popular, realizada de 21 a 26 de Julho de 1986, tendo assim herdado

parte do território pertencente ao distrito da Angónia, o qual foi dividido sensivelmente a

meio, naquilo que constituía a sua região sul-sudeste, e tem uma superfície de 3.828km². Tem

Page 14: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

4

limite, a norte e noroeste com o distrito de Angónia, a oeste com o distrito de Chiuta, a sul

com o distrito de Moatize e a leste com o Malawi.

De acordo com Censo 2007, o Distrito de Tsangano possui cerca de 169.392 habitantes (INE,

2007). A língua local é o Chichewa que também é falado na parte malawiana correspondente

ao mesmo grupo étnico.

O distrito apresenta condições agro – ecológicas muito adequadas para a prática agrícola o

que lhe torna um autêntico celeiro para o vizinho Malawi. O distrito consiste basicamente de

um planalto cuja altitude varia entre os 800 e os 1500 m, embora a variação seja mais

significativa na região sul do distrito que a norte (700m ao nível dos blocos Mphulu e

Monekera e 1655m no bloco de Chitambe, todos na parte sul).

A estação das chuvas tem início em meados de Dezembro, com o período de crescimento de

80 a 110 dias no caso da região norte do distrito embora a duração do período de crescimento

no sul do distrito seja em geral superior a 140 dias em 75% dos anos. O período poderá

mesmo ser mais longo no caso de Chitambe, Tsangano e Dzenza, resultando em menores

necessidades de irrigação ou a possibilidade de produzir uma segunda cultura de sequeiro

entre Março e Junho. A precipitação média anual varia consideravelmente no distrito, com

regiões apresentando 645mm (norte do distrito) até 1140mm (Tsangano). A temperatura

média anual por extrapolação dos valores de altitude é de 20ºC, embora nos meses mais frios

a temperatura média anual possa variar entre 17,6ºC e 19,8ºC.

Assim como no caso do distrito de Angónia, Tsangano devido às suas potencialidades

agrícolas e agro-ecológicas, conheceu significativo desenvolvimento sócio-económico. A

produção agrícola é feita predominantemente em condições de sequeiro, nem sempre bem

sucedida, uma vez que o risco de perda das colheitas é alto, dada a baixa capacidade de

armazenamento de humidade no solo durante o período de crescimento das culturas.

Algumas famílias empregam métodos tradicionais de fertilização dos solos como o pousio das

terras, a incorporação no solo de restolhos de plantas, estrume ou cinzas. Para além das

questões climáticas, a insuficiência de sementes e pesticidas.

Os sistemas de produção compreendem consociações de milho e feijão vulgar. Há

observância ainda da produção de culturas de rendimento tais como batata reno e feijão

manteiga. É assinalar ainda que a cultura de feijão manteiga pode ser feita em duas épocas.

Durante a época fresca, em particular nos vales, é comum a produção de hortícolas.

Page 15: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

5

Não obstante, o seu clima chuvoso tem prejudicado aos camponeses menos protegidos, o que

afecta na conservação dos seus excedentes agrícolas depositados em celeiros.

Dada a existência de boas áreas de pastagem, há condições para o desenvolvimento da

pecuária. Contudo, o fomento pecuário no distrito tem sido fraco, sendo as doenças e a falta

de fundos e de serviços de extensão, os principais obstáculos ao seu desenvolvimento. Apesar

disso, dada a tradição na criação de gado e algumas infra-estruturas existentes, verificou-se

um crescimento do efectivo bovino de 10 mil cabeças em 2000, para cerca de 14 mil em 2004

(MAE, 2005).

As vias de acesso não são das melhores, e o facto de se encontrar muito distante da capital

provincial de Tete e próximo de Blantyre - Malawi faz com que os seus produtos agrícolas

sejam escoados para este último.

A fauna bravia é muito importante para a dieta alimentar das populações. Os animais mais

caçados são as gazelas, os coelhos e javalis.

A lenha é a fonte de energia mais utilizada para a confecção de alimentos. É grande o

potencial das árvores indígenas, tais como a Tsamba, Ndindo ou Cacinja para a construção.

Porém, o distrito debate-se com sérios problemas de erosão e desflorestamento nas

montanhas, com maior incidência na zona fronteiriça.

Outras actividades de artes e ofícios como a carpintaria, serviços de electricidade,

canalização, ferreiros, etc. não estão desenvolvidas à um nível considerável no distrito, o que

faz com que os residentes vivam maioritariamente da agricultura. No comércio, o

abastecimento dos produtos de 1ª necessidade às populações é assegurado pelo sector

informal, através de uma rede de bancas e feiras. A indústria moageira continua a ser a

actividade principal do sector e está em franco crescimento devido à chegada da energia

eléctrica às sedes dos Postos Administrativos. Até 2005 existiam no distrito entre lojas,

moagens, oficinas, padarias, serrações, cerâmicas e outras, 82 infra-estruturas operacionais e

39 não-operacionais, sendo as operacionais 4 lojas, 29 moagens, 1 carpintaria, 4 serrações e

48 bancas (MAE, 2005). A falta de capacidade financeira dos proprietários impede a

reabilitação das infra-estruturas destruídas.

Por outro lado, no distrito têm existido alguns conflitos pela posse de terra, pastagens, água e

lenha principalmente ao longo da fronteira com o Malawi. Em algumas zonas, os conflitos

devem-se ao facto de a população não querer ir para o interior, preferindo ficar perto da

Page 16: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

6

fronteira. O regresso das pessoas às suas zonas de origem ou de preferência, tem gerado

conflitos pela posse e uso da terra, para cuja solução e moderação, tem contribuído a

Administração e a DADR (Serviços de Geografia e Cadastro) em coordenação com anciões

locais influentes.

Comparativamente a muitas zonas rurais de Moçambique, Tsangano apresenta características

naturais que lhe dão vantagens económicas, turísticas e culturais. Embora sem infra-estruturas

de grande vulto, a maior parte do campesinato local tem as suas moradias construídas na base

de tijolo queimado e chapas de zinco.

De referir que o distrito tem dois Postos Administrativos: Mtengo wa Mbalame e Tsangano

que, por sua vez, se subdividem em seis localidades, sendo dois para Mtengo wa Mbalame e

quatro para Tsangano. As localidades do Posto Administrativo de Mtengo wa Mbalame são

Mtengo wa Mbalame-Sede e Banga. A localidade de Ntengo wa Mbalame é um exemplo

típico de habitações melhoradas e construídas pelos camponeses locais. Este aspecto peculiar

de Tsangano deve-se, quiçá, à prosperidade dos camponeses favorecida pelas condições agro-

ecológicas. É na Localidade de Mtengo wa Mbalame-Sede onde se circunscreveu a

pesquisa.

Desenvolvemos este trabalho em três capítulos. No primeiro capítulo, por um lado,

abordamos o referencial teórico, onde apresentamos os pressupostos básicos do paradigma de

interacção social e a forma de enquadramento do trabalho a partir deste paradigma e, por

outro, definimos os conceitos de capital social, desenvolvimento, desenvolvimento

sustentável, desenvolvimento local e desenvolvimento local sustentável. Estes conceitos são

considerados chaves para a compreensão do presente trabalho. O segundo capítulo é referente

aos procedimentos metodológicos. Neste capítulo, descrevemos a sequência metodológica

para a condução da pesquisa e fazemos a análise e apresentação dos resultados. No terceiro

capítulo, discutimos os resultados, cruzando os resultados da pesquisa de campo e as

referências teóricas que tratam do capital social, desenvolvimento, desenvolvimento

sustentável, desenvolvimento local e desenvolvimento local sustentável, guiando-nos sempre

pelo paradigma de interacção social. Depois do terceiro capítulo, tecemos as considerações

finais. Apresentamos as referências bibliográficas e os instrumentos de pesquisa no fim.

Page 17: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

7

1. ABORDAGEM TEÓRICO – CONCEPTUAL DA PESQUISA

Neste capítulo abordamos o referencial teórico, onde apresentamos os pressupostos básicos do

paradigma de interacção social e a forma de enquadramento do trabalho a partir deste

paradigma. Definimos, igualmente, os conceitos de capital social, desenvolvimento,

desenvolvimento sustentável, desenvolvimento local e desenvolvimento local sustentável.

1.1. Fundamentos Teóricos do Capital Social

A leitura do capital social e a emergência do desenvolvimento local sustentável na localidade

de Mtengo wa Mbalame fundamenta-se no paradigma de interacção social, cujo expoente

máximo é George Herbert Mead (1863 – 1931).

Interacção social pode ser definida como um processo social feito de símbolos culturais que

sustenta a sociedade, a cultura e o bem-estar social (Turner, 2000:62-63). A interacção, de

acordo com Mead (1973, apud Turner, 2000:62), envolve a emissão recíproca de sinais e

leitura de gestos e o ajuste de respostas a emissão de gestos. Em sentido mais largo, a

interacção social “envolve a comunicação face a face e acção orientada para o comportamento

de outras pessoas” (Brym et al, 2006:157).

Segundo Turner (2000:73) a interacção social ocorre nas estruturas sociais, em que as

considerações de papéis sociais se tornam importantes. Lemos ainda em Turner, que a

interacção implica a consciencialização de, e adaptações para, expectativas dos outros e ponto

de vista de grupos de referência que geralmente orientam e moldam comportamentos e

reacções de indivíduos. Tais grupos de referência podem estar, fisicamente ou não, presentes

numa situação. O argumento de Turner é que a interacção, a estrutura social e a cultura são

inter-relacionadas.

Os pressupostos básicos do paradigma de interacção social são apresentados precisamente por

Brym et al (2006:137). De acordo com estes autores:

O carácter de toda interacção social depende das posições que as pessoas ocupam no

sistema de interacção (seu status), seus padrões de conduta (normas) e seus conjuntos

de comportamentos esperados (papéis);

Diversas emoções são envolvidas nas interacções sociais. Entretanto, as emoções não

são tão naturais, espontâneas, autênticas e incontroláveis quanto se acredita. Diversos

aspectos de estrutura social influenciam a constituição de vida emocional das pessoas.

Page 18: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

8

As pessoas interagem, principalmente, baseadas no medo, na inveja ou na confiança.

A dominação, a competição e a cooperação fazem surgir essas três emoções;

Em geral explica-se as acções das pessoas em termos de seus interesses e suas

emoções. No entanto, as pessoas as vezes agem contra seus interesses e suprimem suas

emoções porque diversas colectividades sociais (grupos, redes e burocracias) exercem

forte influência sobre seu comportamento;

Os padrões de laços sociais por meio dos quais fluem recursos matérias e emocionais

formam redes sociais. Informação, doenças infecciosas e ajuda mútua, entre outras

coisas, se espalham por meio de redes sociais;

As pessoas que se mantêm juntas pela interacção e por uma identidade comum

formam grupos sociais;

Burocracias são organizações grandes e impessoais que operam com graus variáveis

de eficiência. Burocracias eficientes mantêm a hierarquização em um nível mínimo,

distribuem os processos decisórios entre todos os seus níveis e mantêm abertos os

canais de comunicação entre as suas diferentes unidades.

À luz do paradigma de interacção social, vemos o capital social como um recurso imaterial

disponível nas relações sociais. Como tal, o capital social incorpora as redes ou grupos, as

normas e os valores, a confiança e a reciprocidade, que promovem a cooperação entre

membros da sociedade, facilitando a acção colectiva. A realização da acção colectiva facilita

o alcance de objectivos comuns, os quais os membros da sociedade, individualmente, teriam

dificuldades de atingir.

Higgins (2005:29) ilustra que a construção do capital social é uma “espécie de elipse com dois

focos”: um político e outro utilitarista ou económico. No primeiro deles, distinguem-se

assimetrias na obtenção de recursos por intermédio de redes de relação social; no segundo,

parte-se do pressuposto de que relações de troca simétricas permitem a obtenção de recursos

presentes nas estruturas de relação social. As duas perspectivas são convergentes, na ideia que

as relações sociais constituem um património “não visível”, mas altamente eficaz, a serviço

dos sujeitos sociais, sejam estes individuais ou colectivos. Tal acontece quando as relações

sociais estão baseadas na reciprocidade e na expectativa de cumprimento mútuo. Caso

contrário haveria sanção social. Para Higgins, os motores da acção colectiva serão a confiança

e a cooperação.

Page 19: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

9

Nessa perspectiva, lemos o capital social como um conjunto de características da organização

social – confiança, normas e sistemas – que tornam possíveis acções coordenadas. Ao

entendermos o capital social em termos de confiança e normas que promovem a cooperação,

assumimos que este constitui um activo económico não material que pode contribuir

significativamente, senão de forma decisiva, para o desenvolvimento. Nesta asserção

corroboramos com Higgins (2005:249), quando afirma que o uso do conceito de capital social

teria permitido às agências multilaterais compreender como o não-económico, o não-mercado

faz trabalhar melhor o económico, possibilitando assim a produção de um novo consenso,

“mais selectivo a respeito de onde e como direccionar o rol dos factores não-económicos no

desempenho económico”.

Por esta razão é importante vermos o capital social em quatro perspectivas: utilitarista,

estrutural, tradicional e moral-comunicativa. Na utilitarista somos chamados a olhar para o

papel das normas sociais, que têm por função controlar, pela inibição ou pelas sanções

positivas ou negativas, os comportamentos oportunistas que geram efeitos negativos sobre os

demais actores. Estruturalmente o capital social garante a exequibilidade das regras do jogo.

A corrente tradicionalista apela à confiança, na forma de regras de reciprocidade e sistemas de

participação, como solução motivacional mais relevante.

Entretanto, ao abordarmos o capital social na perspectiva tradicionalista não devemos perder

de vista que esta corrente releva muito pouco a iniciativa das burocracias estatais

(institucionalismo) na criação da confiança social. Portanto, é sempre importante deixarmos

de tratar o capital social como uma solução quase misteriosa nas profundezas da história de

um povo. É daí que, a corrente denominada moral-comunicativa concebe a ideia de que pode

haver discussão pública sobre interesses generalizáveis. Esse enfoque considera que levar em

conta as posições dos outros só implica superação das posições estratégicas se a acção for

orientada ao “entendimento”, para moderar os interesses individuais em benefício de dever

colectivo que busca fundamentos racionais (não-dogmáticos) para as normas sociais (ibidem).

Estas perspectivas sobre o conceito de capital social conduzem-nos à conclusão de que a

acção económica é só um fio na trama das relações humanas. A noção de capital social, mais

do que reduzir as relações sociais a relações de mercado, tenta “entender como o intercâmbio

económico depende de um complexo tecido de relações humanas, onde são de vital

importância os fluxos de informações, os níveis de confiança e as formas institucionais e não

institucionais de controle social” (Higgins, 2005: 242-243).

Page 20: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

10

A grande lição que se tira de Higgins é a de que a teorização do conceito de capital social está

apenas no início, não obstante haver sistematização, testes empíricos e inúmeros esforços que

visam oferecer subsídios teóricos, empíricos e históricos.

1.2. Definição e discussão de conceitos – chave

1.2.1. Capital social

O capital social é um conceito largamente difundido nas ciências sociais, especialmente em

sociologia, ciência política, economia e antropologia. Emanado de pensadores como John

Locke (1632 — 1704), Alexis-Charles-Henri Clérel de Tocqueville (1805 -1859), John Stuart

Mill (1806 — 1873), Émile Durkheim (1858-1917), Georg Simmel (1858 — 1918),

Maximillian “Max” Carl Emil Weber (1864 -1920), por volta dos séculos XVIII e XIX

(Claridge, 2004), actualmente “o capital social está na moda” (Higgins, 2005), isto é, capital

social é um dos conceitos mais utilizados nas ciências sociais. Por exemplo, existem cerca de

39.900.000 publicações sobre capital social na internet, entre livros, revistas científicas,

working papers e documentos de orientação (policy papers).

Se os autores acima referenciados largamente buscam consenso quanto as raízes históricas do

conceito de capital social, existe entre eles uma controvérsia em relação ao primeiro uso do

conceito nas ciências sociais. Alguns atribuem a primeira utilização do conceito à Lyda

Judson Hanifan (1916). Outros identificam Jane Jacobs (1961) e ainda a Comissão Real sobre

as Perspectivas Económicas do Canadá (Claridge, 2004; Islam e tal, 2006). Hanifan sublinhou

àquilo que chamou de “substâncias tangíveis do quotidiano” referindo-se à boa vontade,

solidariedade, ao companheirismo e convívio entre os indivíduos e as famílias que compõem

uma unidade social, bem como contacto entre pessoas vizinhas, como sendo condições para

haver acumulação de capital social. Assume-se que o capital social pode satisfazer as

necessidades sociais e ostentar uma potencialidade social suficiente para a melhoria

substancial das condições de vida em toda a comunidade. Jacobs usou o termo capital social

para descrever o valor de redes sociais em cidades americanas “moribundas”, sem no entanto

tê-lo definido (ibidem). Como se pode notar, o termo capital social de Hanifan salienta a

importância da estrutura social para as pessoas numa perspectiva económica. A perspectiva

sociológica é trazida por Jacobs.

Os desenvolvimentos recentes da teoria de capital social devem gratidão aos trabalhos de

Pierre Bourdieu (1980), James Coleman (1988, 1990) e Robert Putnam (1993ª, 1995) (Boix e

Page 21: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

11

Posner, 1996; Aquino, 2000; Petty, 2003; Claridge, 2004; Islam et al, 2006; Quillian e Redd,

2006).

Bourdieu (1980) define o capital social com base em três elementos: agregado de recursos,

durabilidade da rede de relações sociais e a vinculação ou ligação a um grupo. Assim,

O capital social é o conjunto de recursos actuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de interreconhecimento ou, em outros termos, à vinculação a um grupo, como conjunto de agentes que não somente são dotados de propriedades comuns (passíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por eles mesmos), mas também são unidos por ligações permanentes e úteis. (...) O volume do capital social que um agente individual possui depende então da extensão da rede de relações que ele pode efectivamente mobilizar e do volume de capital (económico, cultural ou simbólico) que é posse exclusiva de cada um daqueles a quem está ligado (Bourdieu, 1980:2-3).

Na óptica de Bourdieu, o capital social exerce um efeito multiplicador sobre o capital

económico e cultural ou simbólico), razão pela qual não deve ser completamente

independente destes. O capital social permite obter-se ganhos económicos e culturais.

Podemos dar exemplo de dois comerciantes, sendo um estrangeiro e outro nacional. O

comerciante estrangeiro que investe na exploração de um estabelecimento comercial num

outro país, cuja língua não lhe é familiar terá imensas dificuldades de se relacionar quando

comparado com o nacional que fala a língua e conhece os hábitos locais. Quando assim

acontecer, o primeiro comerciante terá de investir no capital cultural (aprender a língua e os

hábitos locais), no capital social (estabelecimento de ralações sociais de confiança que

permitam aprender a língua e os hábitos locais, condições que permitirão vender mais

produtos, porque tal comerciante passará a pertencer a um grupo ou uma rede social.

Entendemos por rede social um conjunto de ligações entre actores sociais. Actores sociais

podem ser definidos como indivíduos, papéis (ex. presidentes de um empresa transnacional),

ou grupos (por exemplo: uma alcateia de terroristas) (Fischer, 1977:33). Nesta perspectiva,

capital social é uma rede de relações que liga indivíduos e actores colectivos e que pode

promover cooperação e confiança (Trigilia, 2001:427).

A existência de uma rede social, segundo Bourdieu, não é dom natural mas sim produto de

um trabalho de instauração e de manutenção que é necessária para produzir e reproduzir às

vinculações duráveis e úteis, próprias para procurar ganhos materiais e simbólicos. Em

sentido mais largo estamos a dizer que, a rede de vinculações é produto de estratégias de

investimento social conscientemente ou inconscientemente orientadas para a instituição ou

reprodução de relações sociais directamente utilizáveis a curto ou longo prazo. Trata-se de

Page 22: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

12

transformação de relações contingentes tais como relações de vizinhança, de trabalho ou

mesmo de parentesco, em relações necessárias e electivas, implicando obrigações duráveis

subjectivamente ressentidas (sentimento de respeito, reconhecimento, de amizade, etc) ou

institucionalmente garantidas (direitos), graças a comunicação. Por isso, podemos ler em

Bourdieu (1980:3) que a reprodução do capital social é da responsabilidade de todos os

indivíduos e de todas as instituições.

Para Coleman (1988:98) o capital social constitui um recurso particular disponível no actor

social. O capital social é definido pela sua função. Não é uma entidade singular mas uma

variedade de diferentes entidades, com elementos em comum: todos consistem em algum

aspecto de estruturas sociais e facilitam certas acções de actores – sejam pessoas ou empresas

– dentro da estrutura. Coleman acrescenta ainda que, à semelhança de outras formas de

capital, o capital social é produtivo, tornando possível o alcance de certos fins que na sua

ausência não seriam possíveis.

A partir da asserção de Coleman, podemos entender que o capital social é variedade de

diferentes entidades que consistem em um aspecto de estrutura social e facilita certas acções

de actores dentro de uma estrutura. Por exemplo, a confiança entre indivíduos numa

comunidade pode ditar a existência de uma maior cooperação. A maior cooperação pode

facilitar a realização de actividades que, um membro da comunidade, isoladamente, não seria

capaz de realizar. De acordo com Aquino (2000:24), o conceito de capital social de Coleman

permite compreender a racionalidade de acção dos indivíduos na produção de bens colectivos.

Certamente Coleman parte de um pressuposto segundo o qual as pessoas conseguem ter mais

ganhos e menos custos agindo em conjunto do que individualmente. Em adágio popular

traduziríamos o pressuposto de Coleman pela máxima de que “ a união faz a força”.

Todavia, Coleman (1988:98) chama-nos atenção ao facto de o capital social não ser sempre

benéfico. Uma dada forma de capital social que é valiosa na facilitação de certas acções pode

ser inútil ou mesmo prejudicial para outras. Quillian e Redd (2006), corroboram com esta

posição ao afirmarem que “as relações sociais podem ter consequências negativas para os

participantes [de um grupo], e [que] as relações que beneficiam um grupo muitas vezes

prejudicam outro1”. Por exemplo, um grupo de pessoas bem organizado, guiado pela

confiança e cooperação, com o sistema de comunicação eficiente, pode opor-se a certas

1“[…] social relationships can have negative consequences for participants, and relations that advantage one group often disadvantage another”.

Page 23: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

13

políticas governamentais e semear uma instabilidade sociopolítica, paralisando a economia de

um município ou mesmo um país, tal como aconteceu no dia 5 de Fevereiro de 2008 em

Maputo2.

Ainda sobre os efeitos negativos do capital social, Higgis (in Em Tese, 2005:1-21) afirma que

a “dificuldade de discernir entre causas e efeitos, além das dúvidas sobre falsa causalidade,

torna bastante suspeitoso o argumento de que o alto estoque [sic] de capital gera

desenvolvimento nacional”. Discutiremos a relação entre o capital social e desenvolvimento

mais adiante. Por ora, reconheçamos, entre tanto, que diferentes tipos de relações entre

membros de um grupo ou organização tais como: as relações de expectativas e obrigações

entre indivíduos que trocam favores; a existência de normas, com suas sanções e prémios

aplicáveis pelos actores beneficiários da norma sobre os actores alvos da norma; as relações

de autoridade, em que um indivíduo concorda em ceder a outro o direito sobre suas acções em

troca de uma compensação (financeira ou de outra espécie, como status, honra, deferência

etc.); as relações sociais que permitem a um indivíduo obter informações de seu interesse por

um baixo custo (por meio de um simples telefonema, por exemplo), permitem a compreensão

de acção colectiva organizada.

Coleman faz uma comparação entre o capital físico (máquinas, ferramentas, instalações

físicas e outros equipamentos de produção) e capital humano (habilidades e conhecimentos

pessoais). Para este autor, “diferentemente de outras formas de capital, o capital social é

inerente à estrutura de relações e entre actores, isto é, não se fecha nos actores em si ou nos

meios físicos de produção” (Coleman, 1988:100). Nesta comparação subjaz a ideia de que

sem descartar a importância das máquinas, ferramentas, instalações físicas e de outros

equipamentos de produção e habilidades e conhecimentos pessoais para o alcance dos seus

objectivos, as relações sociais assentes na confiança, favoráveis à acção colectiva organizadas

são fundamentais, pois, “ […] ajudam a atingir objectivos que, sem tais relações, seriam

inalcançáveis ou somente a custo mais elevado” (Aquino, 2000:24).

2 A 5 de Fevereiro de 2008, a partir do período de manhã, a capital moçambicana (Maputo) foi palco de violentas manifestações, que fizeram seis feridos. A população revoltou-se contra o aumento de 15% no preço dos transportes semi-colectivos de passageiros, alegadamente por ser alto de mais comparando com os rendimentos de que usufruíam. Como resultado, o governo sentiu-se obrigado a subsidiar os combustíveis aos transportadores semi-colectivos, facto que culminou com a manutenção dos preços então em vigor. Situação similar veio acontecer nos dias 1 e 2 de Setembro de 2010. Entre 1 e 2 de Setembro de 2010, a população das cidades de Maputo e Matola levantaram-se, de forma violenta, contra o anúncio de subida generalizada dos preços de produtos básicos. Em resposta, o governo de Moçambique tomou “medidas de impacto imediato” que se resumem na contenção de preços, subsídio de farinha de trigo e racionalização dos gastos públicos.

Page 24: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

14

O capital social também pode ser definido como características de organização social tais

como redes, normas e confiança social que facilitam a coordenação e a cooperação em

benefício recíproco (Putnam,1995:67). Para Putnam, o stock de capital social se forma

historicamente a partir da existência de confiança social, normas de reciprocidade, redes de

engajamento cívico e uma democracia cívica e vital.

Esses elementos ainda na esteira do pensamento de Putnam são estabelecidos, promovidos e

crescem graças à existência de organizações básicas da vida social tais como partidos

políticos, grupos religiosos, sindicatos de trabalho, associações de pais e professores e outros

tipos de organizações cívicas e fraternais, inclusive encontros e actividades cívicas informais,

o trabalho voluntário e filantropia. Putnam argumenta que o capital social é resultado de

interacção humana, para além de organizações voluntárias. Algumas organizações juntam

pessoas com mesmos ideais, criando aquilo que Putnam chama de “bonding social capital”,

isto é, capital social que tende a reforçar as entidades excludentes e grupos homogéneos (por

exemplo: grupo de pessoas homossexuais, pessoais de mesma raça, origem étnico – tribal) e

“bridging social capital” – capital social que visa fortalecer as relações com o mundo fora do

grupo e que abarcam pessoas de diferentes sectores sociais.

Enquanto a definição de capital social trazida por Bourdieu é descrita como egocêntrica pelo

facto de considerar capital social como algo possuído por indivíduos e redes sociais, Coleman,

ao analisar os resultados dos grupos, organizações, instituições ou sociedades, dá um salto

qualitativo para uma perspectiva sociocêntrica do capital social. Por sua vez, Putnam introduz

alguns dos elementos essenciais na avaliação do capital social, nomeadamente: a confiança

nas pessoas e instituições, normas de reciprocidade, redes e pertença a associações voluntárias

(Aquino, 2000; Claridge, 2004).

Para além das definições trazidas pelos expoentes da teoria do capital social - Bourdieu,

Coleman e Putnam – encontramos muitas outras definições de capital social na literatura.

Porém, de uma forma geral, quase todas definições se referem a redes de relações sociais

caracterizadas por normas de confiança e reciprocidade que podem melhorar a eficiência da

sociedade e facilitar acções (Lehtonen, 2004:204). Por exemplo, para Stone (2001:4) capital

social são redes de relações sociais caracterizadas por normas de confiança e reciprocidade e

que conduzem a resultados mutuamente benéficos; capital social é igualmente um recurso

para acção colectiva que conduz a maiores resultados em várias escalas sociais.

Page 25: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

15

Fukuyama (2001:7, 2002:27) define capital social como normas informais que promovem a

cooperação entre dois ou mais indivíduos. As normas que constituem o capital social podem

alcançar desde normas de reciprocidade entre dois amigos, até as formas doutrinais mais

elaboradas e complexas como o cristianismo ou o confucionismo.

A definição que nos é dada por Fukuyama parece-nos muito simplista, pois, o capital social

transpõe as barreiras da informalidade das relações. A despeito das normas sociais informais

serem importantes na edificação do capital social, as instituições burocráticas exercem um

papel importante porque são responsáveis pela institucionalização das normas sociais, tirando-

as da informalidade para formalidade, ou mesmo complementando-as, transformando o

capital social em bem público.

A esse respeito, Islam et al (2006) ilustram-nos com clarividência que,

Entre outros pontos de vista, capital social pode ser considerado como um produto de relações sociais resultante de trocas recíprocas entre membros envolvidos em associações sociais ou redes e pode ser reconhecido como um bem público que gera externalidades positivas, facilitando a cooperação para o alcance de objectivos comuns3 (Islam et al, 2006: 4).

Portes (1998:1-24) enaltece os esforços granjeados por diversos autores na busca da definição

do conceito de capital social, com destaque para Bourdieu, Coleman e Putnam, visto que o

conceito chama a atenção para fenómenos reais e importantes. Contudo, Portes acha

exagerada a popularidade do conceito, por duas razões. Em primeiro lugar, os processos que o

conceito abarca não são novos e foram já estudados no passado sob outros nomes. Chamar-

lhes capital social é, para Portes, em grande medida, um modo de os apresentar sob uma

aparência mais sedutora. Em segundo lugar, há poucos fundamentos para acreditar que o

capital social se revelará um remédio imediato para grandes problemas sociais, tal como é

prometido pelos seus mais ousados proponentes. Segundo este autor, as proclamações

recentes nesse sentido limitam-se a reformular os problemas originais e não têm sido

acompanhadas, até agora, por nenhuma proposta convincente sobre como criar os tão

desejados stocks de civilidade pública.

Em outro desenvolvimento, Portes defende que ao nível individual, os processos a que o

conceito se refere revelam-se facas de dois gumes, porque: primeiro, os laços sociais podem

produzir um maior controlo sobre comportamentos desviantes e fornecer acesso privilegiado a

3 Among other views, social capital can be considered as a by-product of social relationships resulting from reciprocal exchanges between members involved in social associations or networks and can be recognized as a public good that generates positive externalities facilitating cooperation for the achievement of common goals.

Page 26: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

16

recursos; segundo, os laços sociais podem também restringir as liberdades individuais e vedar

a terceiros o acesso aos mesmos recursos através de preferências particularistas. Por esta

razão, Portes propõe que estes processos multifacetados, enquanto factos sociais, sejam

estudados em toda a sua complexidade, e não como exemplos de um determinado valor. Para

tanto, de acordo com a fonte, é necessário ter uma visão mais desapaixonada sobre o conceito,

o que permitirá aos investigadores considerar todas as facetas do evento em questão e evitar

transformar a bibliografia subsequente numa celebração sem restrições da comunidade.

Concordamos com Portes quanto à necessidade de olhar para o capital social sem emoções.

Aliás, estamos convictos que em qualquer estudo a visão desapaixonada tem sua razão de ser

porque permite melhor discernimento dos factos ou fenómenos. No caso vertente do capital

social afirmamos copiosamente que é importante primar por uma visão desapaixonada pois, o

conceito de capital social é eclético no sentido de que está a ser largamente utilizado em

diferentes áreas de saber. Tal como diz Portes, o capital social detém um lugar assegurado na

teoria e na investigação empírica como rótulo para os efeitos positivos da sociabilidade, desde

que sejam reconhecidas as suas diferentes fontes e os seus diferentes efeitos, e que os seus

aspectos negativos sejam examinados com a mesma atenção.

Woolcock (2002:18-40) aborda o capital social a partir da importância de se fazer parte de um

grupo ou rede de informações. Aponta a existência de custos e benefícios do capital social e

alerta que os laços sociais são positivos ou negativos, dependendo do contexto. De acordo

com o autor, a ausência ou fraqueza de instituições formais são, frequentemente, compensadas

pela criação de organizações informais.

Efectivamente, a ausência de instituições formais de crédito por exemplo, tal como acontece

em diversas áreas de Moçambique, tem sido compensada com organizações informais de

poupança rotativa. Tais instituições por vezes surgem não como resultado de ausência de

instituições formais de crédito, mas porque os juros cobrados pelas instituições formais não

abrem grandes oportunidades para as pessoas de baixa renda. Ainda podemos citar outros

exemplos.

Woolcock considera o capital social como um factor de produção a par de outros factores e

para tal busca a história do pensamento económico. Nesta perspectiva, o autor sublinha o

papel dos economistas clássicos na identificação de terra, trabalho e capital físico como os

três factores básicos do crescimento económico; dos neoclássicos na introdução da noção de

capital humano, destacando que a qualidade da educação, da formação e saúde dos

Page 27: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

17

trabalhadores determinavam o quão produtivos os factores ortodoxos poderiam ser e dos

sociólogos e economistas contemporâneos na introdução do conceito de capital social. Assim,

enquanto o capital humano reside nos indivíduos, o capital social reside nas relações. Dessa

forma e de acordo com Woolcock, o capital humano é dependente do capital social.

O conceito de capital social inclui, não somente redes e relações sociais, mas também,

aspectos psicológicos (habilidades sociais, cooperação, honestidade) e medidas políticas

(liberdade civil, por exemplo), o que permite que o capital social seja medido através do grau

de confiança e governação no âmbito nacional. Assim, o capital social pode ser utilizado

como um factor de crescimento macroeconómico. Para Woolcock, muitos críticos acusam o

capital social de ter se tornado tudo para todas as pessoas e nada para ninguém. Portanto,

Woolcock traz algumas possibilidades de como superar essa indefinição do capital social: o

capital social é um fenómeno micro, macro; ambos ou não, para este autor não importam.

O autor contesta as acusações ao capital social, segundo as quais: o capital social é uma

simples recriação de antigos conceitos sem consistência; o capital social é mais um modismo;

o capital social reduz as variáveis sociais ao viés económico ao colocar as relações sociais

como capital; o capital social reforça e legitima o “Consenso de Washington” e suas políticas

ortodoxas de desenvolvimento; o capital social ignora a importância do poder e suas

disparidades; o capital social é um conceito ocidental (americano) com mínima relevância no

resto do mundo.

Para Woolcock, a definição do termo capital social é importante devido à sua

interdisciplinaridade. Apesar das discussões existentes em torno do termo, o autor afirma que

já existe um consenso quanto à definição de capital social: se refere a normas e redes que

facilitam a acção colectiva. Na óptica de Woolcock, a definição de capital social deveria

focar-se mais em suas fontes do que em suas consequências e que o capital social faz mais

sentido se entendido como uma variável relacional (sociológica) do que psicológica ou

política.

Porém, somos chamados a assumir com alguma dúvida a afirmação de Woolcock sobre o

consenso quanto à definição de capital social. Se de facto o capital social se refere a normas e

redes, não é categórico que tais normas e redes sempre facilitam a acção colectiva. Veremos

mais adiante que o capital social nem sempre é benéfico.

Page 28: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

18

Entretanto, Woolcock impressiona-nos pelo facto de assinalar a existência de pesquisas

empíricas que sustentam a manutenção do termo e sua importância para a propagação das

disciplinas sociais. O autor destaca que o capital social preenche a lacuna que separa as

teorias sociais do desenvolvimento das teorias económicas e propõe uma abordagem das

diferentes disciplinas e mecanismos que podem contribuir para a maior sinergia entre

governos, firmas, organização de sociedade civil e cidadãos.

Para Woolcock, a interdisciplinaridade traz um maior entendimento da problemática social. O

autor defende que, para que o capital social possa se tornar um indicador de bem-estar, deve-

se buscar variáveis que o componham. Desta feita, chama para o compromisso com o debate e

pesquisa acerca do capital social, que tem implicação importante para todos que procuram

uma sociedade mais justa. Por último, Woolcock fornece algumas bases para uma política

efectiva de desenvolvimento, nomeadamente: maior interacção entre os diferentes níveis

sectoriais da sociedade; a interdisciplinaridade; a prática de desenvolvimento de recursos e

projectos; desenvolvimento de uma economia sustentável e; a necessidade de mais inovações

críticas.

O trabalho de Woolcock fascina-nos por trazer esta visão interdisciplinar. A

interdisciplinaridade no processo de desenvolvimento, sobretudo de desenvolvimento local

sustentável, afigura-se importante incluir equipas multidisciplinares para colher melhores

resultados. Por isso, não duvidamos que a abordagem interdisciplinar do capital social como

factor de desenvolvimento tem a sua razão de ser, porque, tal como fizemos referência no

início desta secção, o conceito de capital social é largamente difundido em ciências sociais,

com destaque para a sociologia, ciência política, economia e antropologia.

Em suma, Portes e Woolcock assumem que o capital social é o conceito bastante discutido

nas ciências sociais, embora entre eles exista uma relativa divergência quanto a linha que os

estudos sobre o capital social devem seguir. Por isso, é útil e os dois autores bem o fizeram,

buscar as várias concepções e abordagens existentes sobre o conceito de capital social, de

modo a encontrar um certo posicionamento perante o debate, ou mesmo descortinar o

conceito para torna-lo mais acessível e, portanto, compreensível. Desta maneira poderá ser

fácil conhecer o contributo que o capital social pode dar ao desenvolvimento local

sustentável, que constitui o cerne do presente trabalho.

No presente trabalho, definimos o capital social como sendo as normas, instituições e

organizações ou redes sociais, quer informais quer formais, que, norteadas por confiança e

Page 29: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

19

reciprocidade, promovem e facilitam a cooperação entre as pessoas, as comunidades e no

conjunto da sociedade, para o alcance de objectivos comuns.

1.2.2. Formas e dimensões do capital social

O conceito de capital social é multidimensional, conhecendo, portanto, diferentes tipificações.

Coleman (1988:101-105) apresenta três formas de capital social: obrigações, expectativas e

confiança em estruturas; canais de informação e; normas e sanções efectivas.

É crucial notarmos que a primeira dimensão depende de dois elementos: confiança no

ambiente social de que as obrigações serão compensadas e o grau de cumprimento das

obrigações vigentes. Assim, a concentração de obrigações constitui capital social importante

não apenas para o funcionamento de instituições mas também para a convivência social sã.

A segunda dimensão fornece base de acção. A informação é incontornável no processo de

desenvolvimento local sustentável, se tivermos em conta que é com base na informação que

se faz a organização da sociedade e se leva a cabo certas acções, tais como campanhas de

saúde, reuniões comunitárias, educação cívica, entre outros aspectos.

Na terceira dimensão consideramos que se uma norma existe e é efectiva constitui uma forma

poderosa, embora algumas vezes frágil, de capital social. Por exemplo, o código de estradas

facilita a circulação de veículos e pessoas na via pública. As normas que inibem o crime

garantem segurança e protecção de pessoas. As normas que proíbem o abate indiscriminado

de árvores e animais protegidos são fundamentais na preservação do meio ambiente.

Siisiäinen (2000:4-9), tal como Coleman, divide o capital social em três dimensões: confiança

(e mais geralmente valores “positivos” com respeito ao desenvolvimento); normas sociais e

obrigações e; redes sociais de actividades de cidadãos, especialmente as associações

voluntárias.

Aqui podemos depreender que, não obstante Siisiäinen ter dividido o capital social em três

dimensões à semelhança de Coleman, não faz referência aos canais de informação e inclui um

elemento diferente – redes sociais. Esta contradição, ao nosso ver, mostra o quão é complexo

o conceito de capital social assim como o é a sua tipificação.

Page 30: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

20

O Banco Mundial (1997, apud Costa 2007:24), inspirado no trabalho de Putnam (1993)

subdivide o capital social em três dimensões: capital social de ligação ou bonding social

capital, capital social de ponte ou bridging social capital e capital social de conexão ou

linking social capital. O capital social de ligação ou bonding social capital resulta de ligações

entre pessoas que compartilham características demográficas similares (conexões entre

indivíduos de uma família, amigos próximos, vizinhos e associações de negócios); o capital

social de ponte ou bridging social capital forma-se da união entre pessoas de diferentes

origens étnicas ou profissionais (conexões horizontais que unem pessoas com poderes

políticos e status económicos comparáveis) e; capital social de conexão ou linking social

capital compõe-se da ligação entre as pessoas da classe pobre e aquelas que detêm posições

influentes em organizações formais.

Islam et al (2006:5) dividem o capital social em duas formas: capital social cognitivo e capital

social estrutural. O capital social cognitivo é composto de normas, valores, atitudes e crenças.

Os componentes cognitivos avaliam as percepções das pessoas em relação ao nível de

confiança interpessoal, partilha e reciprocidade. O capital social estrutural refere-se aos

aspectos da organização social externamente visíveis, tais como densidade de redes sociais,

ou padrões de engajamento cívico. Os componentes estruturais do capital social são

contextuais e avaliam a medida e intensidade das ligações entre associações e/ou organizações

e actividades na sociedade, tais como medidas de sociabilidade informal, densidade de

associações cívicas e indicadores de engajamento cívico.

A asserção de Islam et al é dissecada pelo Grupo Temático do Banco Mundial (2003:35-61).

O Grupo Temático Banco Mundial produziu um inquérito para medir o capital social em

várias partes do mundo, subdividindo-o em seis dimensões: grupos e redes, confiança e

solidariedade, acção colectiva e cooperação, informação e comunicação, coesão e inclusão

social, autoridade (ou capacitação) [empowerment] e acção política.

Grupos e redes é uma categoria mais comummente associada ao capital social, que considera

a natureza e a extensão da participação de um membro de um domicílio em vários tipos de

organização social e redes informais, assim como as várias contribuições dadas e recebidas

nestas relações. Também considera a diversidade das associações de um determinado grupo,

como suas lideranças são seleccionadas, e como mudou o envolvimento da pessoa com o

grupo ao longo do tempo.

Page 31: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

21

Confiança e solidariedade buscam levantar dados sobre a confiança em relação a vizinhos,

provedores de serviços essenciais e estranhos, e como essas percepções mudaram com o

tempo.

Com a acção colectiva e cooperação investiga-se como os membros do domicílio têm

trabalhado com outras pessoas em sua comunidade, em projectos conjuntos e/ou como

resposta a uma crise. Também considera as consequências do não cumprimento das

expectativas em relação a participação.

Informação e comunicação exploram os meios pelos quais os domicílios pobres recebem

informações relativas às condições de mercado e serviços públicos, e até grupos e redes onde

têm acesso às infra-estruturas de comunicação.

Coesão e inclusão social buscam identificar a natureza e o tamanho dessas diferenças, os

mecanismos por meio dos quais elas são geridas, e quais os grupos que são excluídos dos

serviços públicos essenciais. Questões relativas às formas quotidianas de interacção social

também são consideradas. Finalmente, autoridade (ou capacitação) [empowerment] e acção

política averigua o sentimento de felicidade, eficácia pessoal e capacidade dos membros do

agregado doméstico para influenciar tanto eventos locais como respostas políticas mais

amplas.

De uma forma geral, essas dimensões resumem-se em duas: “estrutural” (associação do

grupo) e “cognitiva” (percepções subjectivas da confiança e das normas) do capital social.

1.2.3. Medição do capital social

A natureza multidimensional do capital social levanta debate e controvérsia relacionados com

a medição. A operacionalização do capital social é problemática, porque o capital social não

pode ser medido directamente pelo facto de se situar entre duas pessoas e dentro de

interacções sociais (Claridge, 2004: http://www.socialcapitalresearch.com). Outro problema é

que qualquer actividade de medição requer interacção com os actores sociais. Dado que os

actores sociais, especialmente os indivíduos, podem mudar de opiniões em função dos seus

interesses, a natureza e a estrutura de capital social também mudam. Para além disso, teorias

sobre o capital social abrangem construções abstractas e requerem interpretações subjectivas

na sua tradução para medidas operacionais (Narayan & Cassidy, 2001:61).

Page 32: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

22

De acordo com Islam et al (2006:6), quase todas as abordagens de medição de capital social

confundem as diferenças entre capital social como um recurso, como um produto, ou como

uma resposta individual. Em adição, a operacionalização e a medição do capital social

continua desafio para pesquisadores. Por exemplo, na pesquisa empírica, quantificar o capital

social envolve a identificação de variáveis observáveis que podem ser usadas como

características do capital social. Para além disso, reconhece-se que indicadores tais como

normas e valores partilhados são notoriamente difíceis de medir. Por outro lado, os

indicadores de capital social geralmente não estão disponíveis nos censos governamentais.

Para Stone (2001:5), a medição do capital social é consideravelmente complicada pelo facto

de a pesquisa do capital social cingir-se frequentemente nos resultados do capital social como

indicadores do próprio capital social. Em outras palavras Stone quer dizer que muitas vezes se

confunde os resultados do capital social com os indicadores do capital social. Por exemplo, a

medida de norma de confiança (exemplo: crianças mais velhas cuidarem de crianças mais

novas) é diferente dos resultados comportamentais de tal norma (exemplo: a forma como as

crianças mais velhas vão cuidar das crianças mais novas).

Os estudos empíricos avançaram o uso de três abordagens de medição do capital social. A

primeira abordagem mede as relações sociais directamente. Avalia o número, a estrutura, ou

as propriedades das relações entre os indivíduos. A segunda abordagem busca as crenças dos

indivíduos em ralação ao seu relacionamento com outros. A confiança e a atitude são as

variáveis mais avaliadas. A terceira abordagem usa medidas da qualidade de membro em

organizações ou associações voluntárias (Quillian & Redd, 2006:6).

Dudwick, Kuehnast, Jones e Woolcock (2006:2-7) recomendam a necessidade de se

enveredar por métodos quantitativos e qualitativos na análise do capital social. Para esses

autores, a aplicação de métodos qualitativos e quantitativos pode ser útil para ultrapassar os

problemas de medição do capital social advindos da sua natureza multidimensional, porque

facilita a captação da ligação entre diferentes dimensões do capital social4 e a pobreza, bem

como a construção de uma imagem mais abrangente das estruturas e percepções do capital

social.

O Australian Institute of Family Studies (2002:1-2) defende que para se evitar os problemas de

medição de capital social, a medição e a “prática” do capital social o pesquisador precisa de ser 4 Esses autores indicam seis dimensões: grupos e redes, confiança e solidariedade, acção colectiva e cooperação, informação e comunicação, coesão e inclusão social, autoridade (ou capacitação) [empowerment] e acção política.

Page 33: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

23

teoricamente informado, para evitar que nada ou tudo seja rotulado de capital social. Para além

disso, o capital social deve ser entendido como um recurso para uma acção colectiva.

Na medição do capital social é igualmente importante ter em mente que as dimensões

resultam de processos e relacionamentos que operam entre os determinantes do capital social,

a estrutura ou elementos do capital social e consequências ou manifestações do capital social.

Deve-se também considerar factores tais como relacionamentos causais, contextos

específicos, externalidades, níveis (Claridge, 2004: http://www.socialcapitalresearch.com).

Os determinantes de capital social merecem especial atenção, porque é com base neles que se

desenrolam muitos estudos sobre o capital social. Existem muitos determinantes de capital

social. Porém os mais evidentes na literatura incluem história e cultura, estruturas sociais,

família, educação, meio ambiente, a mobilidade, aspectos económicos, classes sociais,

sociedade civil, consumo, valores, redes, associações, sociedade política, instituições,

políticas e normas sociais a vários níveis.

Como se pode depreender, medir o capital social é tanto complexo quanto a definição do termo

capital social. Adicionalmente, o debate sobre a medição do capital social é grande e ainda não há

consenso entre diferentes estudiosos da matéria. Portanto, considerando as recomendações do

Grupo Temático do Banco Mundial (2003), acolhendo o argumento do Australian Institute of

Family Studies (2002) e assumindo que ainda existem assuntos não resolvidos5 na medição de

capital social, medimos o capital social na localidade de Mtengo wa Mbalame com base nas

seguintes dimensões e determinantes: grupos ou redes, bem-estar, participação política,

sociabilidade, interacções diárias, actividades comunitárias, relações com o governo, violência

e crime, comunicação e, finalmente, a demografia.

Estávamos convictos que com essas dimensões e as categorias a elas ligadas era possível

dissecar a interligação entre o capital social e o desenvolvimento local sustentável. E para que

tal interligação fosse perceptivelmente descrita e discutida, vislumbrou-nos importante definir 5 Cavaye (2004: 13, apud Claridge, 2004) identified the following issues in the measurement of social capital that remain unresolved:

A clear understanding of the context and purpose of the measurement of social capital Understanding the limitations of evaluation and measurement, and ensuring that the interpretation of

measures is held within these limitations The practical mechanics of gaining community feedback such as community representation and

coverage, feedback to communities, use in local decision making, and resourcing measurement Benchmarking vs. measures of incremental change Dealing with qualitative information, diversity, variation and complexity The nature and rigor of indicators The interpretation and use of measurement information How evaluation itself can contribute to fostering social capital.

Page 34: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

24

e discutir os conceitos de desenvolvimento, desenvolvimento local e desenvolvimento

sustentável.

1.3. Desenvolvimento

O que é desenvolvimento? Desenvolvimento económico ou simplesmente desenvolvimento

pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes (Todaro & Smith, 2006:15).

Economistas e profissionais de desenvolvimento económico vêm tentando, mais do que

nunca, definir o seu campo, em termos que são mais concretos e mais salientes para os

decisores políticos, o público, e outros profissionais. Mas, não há ainda consenso sobre a

definição do desenvolvimento, embora haja provavelmente tantas definições de

desenvolvimento, assim como hão pessoas que a praticam.

Os estudos do desenvolvimento económico floresceram depois da Segunda Guerra Mundial6 e

naquela altura o conceito de desenvolvimento girava em torno do crescimento económico

(Sen, 1988; Furtado, 1989; Dudley, 1995; Ayres, 1995; Ghatak, 1995; Ingham, 1995; Cowen

& Shenton, 1996; Grabowski, Richard & Shields, 1996; PNUD, 2000). O desenvolvimento

era visto sob um prisma empírico, que poderia ser facilmente medido por economistas. Para

tal bastava calcular o produto interno bruto7 (PIB) para se determinar se havia ou não

desenvolvimento. Porém, nesta abordagem simplista de desenvolvimento, sobretudo sua

ligação estreita com o crescimento, é uma fonte considerável de confusão, apesar de ser

importante (Sen, 1988:12). A confusão, na opinião de Dudley (1995:3), nasce do facto de se

olhar para o PIB como um indicador básico singular.

6 A reflexão sobre o desenvolvimento económico depois da Segunda Guerra Mundial surge em virtude de se ter notabilizado o atraso económico da maior parte da humanidade e o debate durante este período desenvolvia-se em torno da degradação dos termos de troca externos; inadequação do sistema de preços ma orientação de investimentos; fraca acumulação nas sociedades da África, América Latina e Ásia; insuficiência das instituições tradicionais face a novas funções do estado; inadequação da tecnologia importada aos factores e dimensões do mercado interno; anacronismo de mercados agrários; tendências estruturais à concentração da renda; inflação crónica; desequilíbrio persistente da balança de pagamentos, entre outros (Furtado, 1988:27).

7 O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma dos valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos na economia doméstica, durante um determinado período de tempo, normalmente de um ano, pelos factores de produção residentes nessa economia. Ou seja, é a quantificação do valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território económico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços – funciona como medida do desempenho global de determinada economia (PNUD, 1990:182; Freitas, http://www.fep.up.pt/docentes/moutinho/icicom/teaching/medir_activ_ec.pdf).

Page 35: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

25

Três correntes europeias nortearam os teóricos de desenvolvimento. A primeira concebia a

história como progresso para o racional, a segunda considerava a acumulação de riqueza

como forma de melhorar o futuro e a terceira olhava para a expansão geográfica de influência

europeia como caminho para “civilizar” outros povos (Furtado, 1989:11). Assim, o

desenvolvimento era concebido como uma evolução de um sistema social de produção através

de acumulação e progresso técnico que elevam a produtividade de um conjunto da sua força

de trabalho (ibidem: 23).

Nesta perspectiva, as teorias ortodoxas vigentes até 1970 davam ênfase no crescimento

económico, na acumulação de capital, nas políticas de comércio livre, abertura de mercados e

privatização da economia, com o argumento de que a especialização da produção e a dotação

de factores era o melhor caminho para o desenvolvimento (Ayres, 1995:98). Por outro lado,

sustentava-se que as nações poderiam adquirir riqueza seguindo quatro regras básicas:

primeiro, os meios de produção – as coisas necessárias para produzir bens e serviços tais

como mão-de-obra, recursos naturais, tecnologia e capital (prédios, maquinaria, e dinheiro

que pode ser usado para comprá-los) – têm de ser possuídos ou controlados por indivíduos;

segundo, tem de haver mercados nos quais os meios de produção e os bens e serviços

produzidos sejam produzidos e vendidos livremente; terceiro, tem de haver firmas capitalistas

que convertam os meios de produção em bens e serviços; quarto, deve haver comércio sem

restrição nos níveis local, nacional e internacional (Seitz, 1988:12).

O conceito de desenvolvimento é definido como mudanças institucionais, estruturais e das

condições de produção, que incluem mudanças nos valores, atitudes, e normas de pessoas,

resultantes de motivação individual e acumulação de capital e fluxos de investimento.

Adicionalmente, o desenvolvimento é produto da interacção entre mudanças nas condições de

produção tais como a terra, a mão-de-obra, capital e a tecnologia e factores não económicos

tais como o surgimento de uma nova elite para construir indústrias modernas, ambiente

cultural e social. Este processo decorreria em fases ou estágios, desde a tradicional, take off

até sociedade de alto consumo em massa (cf. Marx, Rostow, apud Grabowski, Richard &

Shields, 1996:14- 17).

Parafraseando Todaro & Smith (2006:17) podemo-nos referir que o desenvolvimento neste

período é visto como o aumento da renda nacional ou alteração na estrutura de produção e de

emprego explicada pelo declínio do sector agrícola e ascensão do sector industrial

(manufactureiro e de serviços) – desenvolvimento visto como industrialização.

Page 36: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

26

Todavia, a visão de que desenvolvimento pode ser identificado com a industrialização não é

aceite por todos cientistas sociais, porque algumas actividades industriais envolvem a

degradação ambiental (Ingham, 1995:40). Em adição, problemas da pobreza, discriminação,

desemprego e distribuição de renda são relegados ao segundo plano (Todaro & Smith,

2006:19).

Assim, nos anos 80, os economistas do desenvolvimento começaram a preocupar-se com a

distribuição da renda, pobreza e necessidades básicas, a par do crescimento da renda nacional,

mudança estrutural, industrialização e modernização como manifestações do desenvolvimento

(Ingham, 1995:47). Desenvolve-se rapidamente a abordagem de crescimento equitativo que

apregoa a necessidade e a urgência de o crescimento económico passar a atender questões

ligadas a equidade tais como a expansão de oportunidades de emprego, correcção das

distorções do mercado, transferência de investimentos de capital dos países desenvolvidos

para os menos desenvolvidos, atendimento às necessidades básicas – água potável, vestuário e

abrigo, serviços incluindo planeamento familiar, educação e participação no processo de

tomada de decisões –, desenvolvimento das áreas agrícolas e rurais e adopção de uma nova

ordem internacional (Seitz, 1988:18-19).

Trata-se não apenas de substituição progressiva do termo convencional de “desenvolvimento

económico” por “desenvolvimento social” e sua ligação com as noções de “necessidades

básicas” e “qualidade de vida”. É uma autêntica mudança de paradigma (Dube, 1988:48).

A mudança de paradigma é resultante de críticas feitas às abordagens históricas ortodoxas e

radicais ou da dependência (Seitz, 1988:18). É também fruto da concepção de que

desenvolvimento é um conceito normativo e como tal deve olhar para a criação de condições

para a realização da personalidade humana, seguindo três critérios de avaliação: redução da

pobreza, do desemprego e da desigualdade (Dudley, 1995:3). Trata-se de abandono do PIB

como indicador do desenvolvimento? A resposta é não. Não se trata do abandono do PIB

como indicador do desenvolvimento, pois o PIB é um indicador importante de crescimento

económico e o crescimento económico não é todo ele avesso ao desenvolvimento. Ora

vejamos:

Primeiro, o crescimento pode gerar recursos para o aumento de investimentos na educação,

saúde e até minimizar ou eliminar a pobreza. Segundo, o crescimento possibilita o aumento

crescente dos rendimentos se as políticas de distribuição equitativa estiverem garantidas,

constituindo assim uma base material para o desenvolvimento. Terceiro, o melhoramento do

Page 37: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

27

desempenho económico, numa perspectiva de equidade, aumenta as possibilidades de

distensão política e ao mesmo tempo cria novas oportunidades de desenvolvimento social. Por

último, o desenvolvimento precisa do crescimento (PNUD, 2000:8).

Porém, o crescimento por si só não é condição suficiente para engendrar “desenvolvimento”

na sua perspectiva mais abrangente (ibidem). A importância do crescimento económico

depende da forma como é visto (Sen, 1988:12). Por exemplo, a expansão de oferta de

alimentos, vestuário, abrigo, facilidades de educação, serviços de saúde, etc., bem como a

transformação da economia são assuntos de crescimento económico de que o

desenvolvimento económico não pode se abstrair. O crescimento contribui para o

desenvolvimento quando visto na óptica de distribuição do PIB pela população, ou quando

inclui bens não transaccionáveis tais como felicidade, liberdade, enfim, quando integra todos

os aspectos do bem-estar (Sen, 1988:14-15).

Ghatak (1995:35) alerta que a distribuição da renda nacional e a qualidade de vida devem ser

consideradas antes de falar sobre os níveis de desenvolvimento, pois, é possível haver

crescimento sem desenvolvimento. Na opinião deste autor, o crescimento sem

desenvolvimento resulta de má distribuição da renda nacional.

Percebemos, a partir do alerta de Ghatak, que desenvolvimento, enquanto distribuição

equitativa e melhoria da qualidade de vida das pessoas, é um imperativo de justiça

socioeconómica (cf.Ingham, 1995:60).

A qualidade de vida deve ser considerada um indicador chave de desenvolvimento e sua

medição deve incorporar os índices de literacia, esperança de vida, níveis de nutrição,

consumo de energia percapita, consumo de ferro e aço percapita, taxas de mortalidade

infantil, níveis de participação política e económica (Dube, 1988:49; Ghatak, 1995:35).

Por isso, Sen (1988:23) defende que desenvolvimento deve ser definido em termos de

questões relativas à vida e a morte; bem-estar e doença; felicidade e miséria; liberdade e

vulnerabilidade. Em outras palavras, reafirma-se a necessidade de definir o desenvolvimento

em termos sociais, isto é, desenvolvimento que se preocupe com as necessidades biológicas e

sociais das pessoas. É desta forma que surge o conceito de desenvolvimento humano.

Page 38: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

28

“Desenvolvimento humano é um processo de alargamento de escolhas” (UNDP, 1990:108).

De acordo com (Todaro & Smith, 2006:18), desenvolvimento humano é um processo

multidimensional e envolve maiores mudanças nas estruturas sociais, atitudes das pessoas, e

nas instituições nacionais, bem como aceleração do crescimento económico, a redução da

desigualdade e na erradicação da pobreza. Na essência, representa uma mudança de todo o

sistema social, rumo à satisfação das necessidades básicas humanas. Para Sen (1999:19-25),

desenvolvimento humano deve ser definido em termos de capacidades e liberdade de escolha,

isto é, o que uma pessoa é, ou pode ser, o que faz e pode fazer, como resultado do crescimento

económico e deve ser medido em termos de distribuição da renda, igualdade, saúde, educação,

estabilidade político-social, meio ambiente, liberdade religiosa, género, felicidade, em suma:

bem-estar.

O desenvolvimento nesta perspectiva procura responder a três valores centrais:

sustentabilidade, auto-estima e liberdade de escolha (Todaro & Smith, 2006:18-19). A

sustentabilidade refere-se à habilidade para satisfazer as necessidades básicas: alimentação,

habitação, saúde e protecção. O aumento da renda per capita, a eliminação da pobreza

absoluta, a criação de mais oportunidades de emprego e a diminuição da desigualdade são

necessários mas não suficientes para o desenvolvimento. É necessário haver sustentabilidade.

A auto-estima não é mais do que ser pessoa. É uma das componentes universais de bem-estar.

É o sentido de valor, auto-respeito, identidade, dignidade, honra e reconhecimento. A

Liberdade de escolha permite as pessoas escolherem livremente os alimentos, vestuário,

habitação, religião, filiação partidária, serviços de saúde e educação, entre outros.

O desenvolvimento, na opinião de Todaro & Smith, persegue três objectivos centrais. O

primeiro objectivo é aumentar a disponibilidade e alargamento da distribuição das

necessidades básicas tais como alimentação, habitação, saúde e protecção. O segundo

objectivo é elevar o nível de vida, aumentando a renda, postos de trabalho, qualidade de

ensino e dar maior atenção à cultura e os valores sociais, como forma de gerar bem-estar

individual e auto estima nacional. O terceiro objectivo é expandir as medidas económicas e

escolhas sociais a indivíduos e nações, libertando-as da dependência em relação a outras

pessoas e nações, bem como da ignorância e da miséria.

8 Human development is a process of enlarging people's choices.

Page 39: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

29

Assim, o alcance ou a realização dos três objectivos apontados por Todaro e Smith passa por

erradicar a pobreza extrema e a fome, alcançar o ensino primário universal, promover a

igualdade de género e a autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a

saúde materna, combater ao HIV/SIDA, assegurar a sustentabilidade ambiental e desenvolver

uma parceria global para o desenvolvimento (PNUD, 2005:39), enfim, alcançar os oito

Objectivos do Desenvolvimento do Milénio.

No presente trabalho, concebemos desenvolvimento como um processo de alargamento de

escolhas, que procura aumentar a disponibilidade e alargamento da distribuição das

necessidades básicas, como forma de gerar bem-estar individual e auto-estima nacional e,

expandir as medidas económicas e escolhas sociais a indivíduos e nações, libertando-as da

dependência em relação a outras pessoas e nações, bem como da ignorância e da miséria.

1.4. Desenvolvimento local

Depois de definirmos o conceito de desenvolvimento importa agora percorrer a definição de

desenvolvimento local. De acordo com Bachelard (1993:53-55), o conceito de

desenvolvimento local está associado à afirmação social e cultural colectiva que prima pela

diferença de opiniões e não pela unanimidade dos interessados. Bachelard releva assim a ideia

da necessidade de se respeitar a diversidade social, cultural e de opiniões, mas não define

claramente o conceito de desenvolvimento local. Quem tenta definir directamente o conceito

de desenvolvimento local é Bassard (1993:83). Para Bassard, desenvolvimento local é o ponto

de convergência de certo número de conhecimentos internos e externos, que se vai

cristalizando como um ponto de partida de uma nova política de gestão de desenvolvimento

espacial.

A importância da definição de Bassard reside na ideia de local como espaço físico onde

factores internos tais como o regionalismo, a rurbanização, a prática da agricultura e

sindicatos intercomunais e factores externos como é o caso de centralismo estatal, pressão

exercida pelo sistema económico dominante, crises e suas consequências, interagem. De

facto, uma vez definido o desenvolvimento, a tarefa que fica é de definir claramente o

conceito de local para, de seguida, ligá-lo ao desenvolvimento.

Local, de acordo com Cooke (1989a:10-11) refere-se ao uso do espaço para fornecer

ferramentas de interacções, com vista a especificar a sua contextualidade. Porém, o local

quando dissociado da componente de interacção social desvirtua-se do sentido mais alargado

Page 40: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

30

e pode não se compadecer com o ideal de desenvolvimento. O local sem a componente de

interacção social “carece de qualquer significado social, continuando a ser sinónimo de

espaço que pode ser ocupado por entidades socio-políticas como é o caso de Estado – Nação”

(ibidem). Por isso, Cooke recomenda o uso de localidade no contexto de desenvolvimento,

porque, na opinião de Cooke, localidade é um espaço onde os cidadãos vivem, trabalham e

exercem os direitos fundamentais. É uma base de mobilização individual e social para a

activação, extensão ou defesa dos direitos, quer políticos e económicos quer sociais e

culturais.

Com base na recomendação de Cooke, podemos aferir que localidade é a base a partir da qual

os sujeitos podem exercer a sua capacidade para a proactividade, através de intervenções

individuais e colectivos dentro ou fora desta mesma base, em função de factores estruturais

que ajudam a definir a composição social, política e económica. Nesta perspectiva,

assumimos o desenvolvimento local como a transformação social, política e económica a

partir do local ou da localidade como base, através de intervenções individuais e colectivas

dentro ou fora desta mesma base, em função de factores estruturais.

De Haan (1997:155-161) define localidade como uma unidade geográfica ou administrativa

caracterizada por elementos comuns tais como estrutura comum, densidade populacional ou

paisagem e aspectos ecológicos. Nestes termos, a localidade requer um significado de unidade

territorial. De Haan acrescenta que o conceito de localidade pode ser visto como um sistema

social definido em termos de coordenadas espaciais de relações e processos sociais.

Neste sentido, localidade traduz a ideia de um espaço geográfico contíguo, onde as pessoas

vivem juntas e partilham o mesmo espaço. No tal espaço o sistema social é relevante,

especialmente às comunidades9 camponesas. As comunidades preocupam-se com

interdependências através de consanguinidade, vizinhança, propriedade e relações laborais. É

a partir do local/localidade que a rede de relações sociais pode ser mobilizada para diversos

propósitos.

9 Existem várias definições de comunidade. Lammerink (1998), por exemplo, define comunidade como sendo grupo de pessoas que vivem na mesma aldeia, bairro ou localidade e, entanto que tal, está organizado sob uma entidade social e administrativa. No presente trabalho, comunidade (local) “é o conjunto de população e pessoas colectivas compreendidas numa determinada base de organização territorial nomeadamente (…) posto administrativo, localidade e povoação, agrupando famílias, que visam a salvaguarda de interesses comuns, tais como protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, quer sejam cultivadas ou em pousio, florestas, lugares de importância cultural, pastagens, fontes de água, áreas de caça e de expansão” (Artigo 104 do Decreto 11/2005 de 10 de Junho).

Page 41: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

31

No contexto moçambicano a localidade é a base de organização de Estado. A autoridade do

Estado ao nível mais baixo é representada na localidade e é a partir desta unidade territorial

que as acções de desenvolvimento económico, social e cultural são desenvolvidas. Podemos

ainda acrescentar que é a partir da localidade que se mobiliza e se organiza da comunidade

local na resolução de problemas diversos, tais como a construção e/ou reabilitação de infra-

estruturas socioeconómicas, combate a doenças endémicas e às queimadas descontroladas, só

para citar alguns exemplos.

No o artigo 12 do Decreto 11/2005 de 10 de Junho, que regulamenta a Lei nº 8/2003, de 19 de

Maio, referente aos princípios e normas de organização, competências e funcionamento dos

órgãos locais do Estado nos escalões de província, distrito, posto administrativo, localidade e

de povoação,

1. A localidade é a unidade territorial base da organização da administração local do Estado e constitui a circunscrição territorial de contacto permanente dos órgãos locais e respectivas autoridades;

2. A localidade compreende povoações, aldeias e outros aglomerados populacionais situados no seu território.

Portanto, podemos entender o local como uma unidade territorial onde os cidadãos vivem,

partilham valores, trabalham e exercem os direitos fundamentais e estão interligadas através

de consanguinidade, vizinhança, propriedade e relações laborais, podendo ser mobilizadas

para diversos propósitos, dentre os quais os de desenvolvimento. É a partir da localidade/local

que se mobiliza e se organiza a participação da comunidade local na resolução dos problemas

sociais e se promove acções de desenvolvimento económico, social e cultural.

Definido o local já podemos buscar o conceito de desenvolvimento local. A expressão de

desenvolvimento local incorpora diversas expressões. Trata-se da elevação dos níveis locais

de desenvolvimento. Os níveis locais de desenvolvimento podem ser elevados através da

extensão do poder local, atracção de recursos externos (exemplo: do Governo central ou

firmas multilocais) ou mobilização local e melhor organização dos recursos locais endógenos

e actualização da tecnologia (tecnology upgrading), acções que implicam a promoção de

iniciativas locais (Stöhr, 1990:36).

O conceito de desenvolvimento local, na opinião de Conti (1993, apud Neil and Tykkyläinen,

1998:6), implica um processo de activação de factores de transformação territorial específicos

e é entendido como desenvolvimento endógeno activado muito exclusivamente por actores

locais. Actores locais incluem governos locais, os produtores locais e suas associações,

Page 42: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

32

organizações de base comunitária, bem como organizações não governamentais (ONGs) e

doadores.

Neil e Tykkyläinen (1998:6) definem desenvolvimento local como mobilização e gestão de

recursos para a criação de riqueza na comunidade. Na óptica desses autores, o

desenvolvimento local é ligado a medidas de política económica adoptadas por autoridades na

comunidade ou região. No caso de Moçambique podemos dar exemplo dos distritos ou

autoridades administrativas. Os governos distritais ou as autoridades administrativas podem

por iniciativa própria mobilizar as comunidades sob sua administração a construírem escolas,

centros de saúde, manterem as estradas transitáveis, entre outras actividades, com recurso a

matéria-prima disponível no local sem dependerem do governo provincial ou central.

Segundo Buarque (2002:25), o desenvolvimento local pode ser concebido como um processo

endógeno de mudança, que leva ao dinamismo económico e à melhoria da qualidade de vida

da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos.

Buarque sugere-nos a ideia de que o desenvolvimento local está ligado ao processo de

descentralização e à promoção de iniciativas económicas, sociais e culturais das comunidades

locais. Em Moçambique o processo de desenvolvimento local ainda é premente, se nos

apoiarmos no facto de o processo descentralização ter iniciado nos primórdios dos anos 90

com a elaboração pelo governo do programa de reforma dos órgãos locais10.

Todavia, os avanços no campo de descentralização são notórios e resultam do ímpeto que o

processo de descentralização ganhou com a aprovação da Lei nº 8/2003, de 19 de Maio que

estabelece os princípios e normas de organização, competências e funcionamento dos órgãos

locais do Estado nos escalões de província, distrito, posto administrativo, localidade e de

povoação, bem como o seu regulamento aprovado através do Decreto 11/2005 de 10 de

Junho.

10 O processo de descentralização teve o seu início em 1991 com a elaboração pelo governo do programa de reforma dos órgãos locais (PROL), que tinha como objectivo a reformulação do sistema de administração local do Estado vigente e a sua transformação em órgãos locais com personalidade jurídica própria distinta da do Estado, dotados de autonomia administrativa, financeira e patrimonial. Este programa consistia na elaboração de um diagnóstico e estudos aprofundados nas áreas jurídica, administrativa, financeira, de infra-estruturas e meio ambiente dos quais resultou a lei 3/94, aprovada com unanimidade pela Assembleia (mono-partidária) em Setembro de 1994. Elaborada após uma longa e intensa fase de consultas a nível nacional e debatida igualmente em fóruns internacionais, a lei 3/94 era um produto essencialmente interno, apesar do apoio dos dadores externos, que reunia o consenso de uma ampla parte da sociedade civil moçambicana e das elites (modernas e tradicionais) (Faria e Chichava, 1999:5).

Page 43: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

33

De acordo com Nel e Rogerson (2005:1) o desenvolvimento local pode significar promoção

agressiva de um espaço, desenvolvimento endógeno e intervenções baseadas na comunidade.

Desta feita Nel e Rogerson corroboram com Buarque. De facto devemos concordar com estes

autores no que respeita ao carácter endógeno e intervenções baseadas na comunidade.

Todavia, chamamos atenção ao facto de o processo de promoção do desenvolvimento

endógeno e intervenções baseadas na comunidade requerer respeito pelos aspectos sócio-

culturais bem como transparência e cultura de prestação de contas. Afinal, as comunidades

locais são detentoras de conhecimentos e técnicas, quer de produção quer de conservação dos

produtos, têm suas normas de convivência e de interacção, para além de melhor

compreenderem e se adaptarem às condições climáticas das suas localidades ou regiões. Por

outro lado, as políticas e as normas de funcionamento do aparelho administrativo não passam

despercebidas pelas comunidades locais por serem elas o alvo directo dessas políticas no

escalão inferior de governação que a localidade. Portanto, ignorar esses aspectos pode tornar o

processo de promoção de desenvolvimento local contraproducente.

A missão do desenvolvimento local é resgatar o potencial económico e de organização social

e política da população local, dando ênfase aos aspectos do protagonismo das bases da

sociedade e do resgate do potencial económico e de organização social e política da

população local, seja região, cidade ou bairro (IBAM, 2005:7-14).

Podemos notar que as definições vistas até aqui jazem implicitamente sobre a ideia de

participação e empoderamento das comunidades locais. A participação comunitária é

incontornável no desenvolvimento local porque, parafraseando Lammerink (1998:26), inclui o

engajamento das populações no processo de tomada de decisão e na implementação de

programas, partilha de benefícios de programas de desenvolvimento e o envolvimento das

populações na avaliação de tais programas. Desta arte, a participação implica esforços

coordenados para permitir um melhor controlo dos recursos e das instituições reguladoras por

grupos ou movimentos que reagrupam os tidos como excluídos ou marginalizados desse

controlo.

A participação funciona assim, ainda no diapasão de Lammerink, como instrumento que

facilita a implementação de intervenções externas, instrumento de intervenção nos processos

de tomada de decisão e na elaboração de programas e políticas de intervenção externa e

Page 44: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

34

instrumento de autonomia de grupos sociais para acederem aos recursos e processos de

tomada de decisão e controlo.

Desenvolvimento local implantado sobre a participação comunitária ganha mais sentido,

porque como se viu anteriormente, deve ser endógeno. Como tal deve promover a cultura

democrática por se considerar uma forma de democracia. E porque “democracia é um regime

que reconhece os indivíduos e as colectividades como sujeitos, quer dizer, os protege e os

estimula na sua vontade de ‘viver a vida’, de dar uma unidade e um sentido a sua experiência

vivida” (Touraine, 1994:262), o desenvolvimento local deve alimentar a liberdade de cada

um, a parte de iniciativa de cada um e a sua busca de felicidade.

No presente trabalho definimos desenvolvimento local como processo participativo de

alargamento de escolhas das comunidades locais, que procura aumentar a disponibilidade e

alargamento da distribuição das necessidades básicas, como forma de gerar bem-estar

individual e auto-estima da população local, bem como expandir as medidas económicas e

escolhas sociais a indivíduos e das comunidades, libertando-as da dependência em relação a

outras pessoas e ao governo central, bem como da ignorância e da miséria.

1.5. Desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu no fim da década setenta como

ecodesenvolvimento11 e é normativo (Romeiro, 2003:5). Por ser normativo, é alvo de

diferentes, divergentes e incontáveis definições (ibidem: 6-7). Não obstante a multiplicidade e

variada interpretação, todas definições partem da definição dada pelo Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente, no Relatório de Brundtland (Nosso Futuro Comum), divulgado

em 1987. No Relatório de Brundtland (1987 apud Kirby, O’Keefe and Timberlake, 1999;

Romeiro, 2003; Camargo, 1995) o desenvolvimento sustentável é definido como “aquele que

atende [ou satisfaz] às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as

gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades”. O conceito de desenvolvimento

sustentável foi consolidado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, que teve lugar no Rio de Janeiro, Brasil, em 1992.

11 O termo ecodesenvolvimento integra basicamente seis aspectos considerados como guias de desenvolvimento: (1) a satisfação das necessidades básicas; (2) a solidariedade com as gerações futuras; (3) a participação da população envolvida; (4) a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; (5) a elaboração de um sistema social garantindo o emprego, segurança social e respeito a outras culturas; (6) programas de educação (Camargo, 2005:66).

Page 45: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

35

Na conferência do Rio reiterou-se a necessidade de o direito ao desenvolvimento ser exercido

de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento

e o do meio ambiente das gerações presentes e futuras. Foi igualmente a partir de Rio -92 que

a concepção de desenvolvimento sustentável foi evoluindo, em parte como fruto de criticas12

a que foi sendo sujeita e como forma de abarcar em si todas as questões que inter-relacionam

o meio ambiente e o desenvolvimento (Camargo, 2005:71).

Assim, encontramos várias definições de desenvolvimento sustentável na literatura. Na

opinião de Todaro e Smith (2006:464) a sustentabilidade é o equilíbrio entre o crescimento

económico e a preservação do meio ambiente e, porquanto, o desenvolvimento sustentável é

aquele que permite as futuras gerações viverem em padrões mínimos aceitáveis tal como a

geração actual.

Nesta definição notamos que Todaro e Smith incorporam a ideia de que ao promover os

padrões de vida, a política económica deve assegurar que o meio ambiente será salvaguardado

a favor do bem-estar das gerações futuras. Esta definição não é diferente da definição de

Brundtland e como se viu é alvo de críticas por ser bastante limitada e ambígua (cf. Camargo,

2005:71).

Por isso, consideramos a definição que nos é dada por Todado e Smith como simplista, pois

se resume nos aspectos da criação de riqueza e preservação dos recursos naturais. O conceito

de desenvolvimento sustentável ultrapassa as fronteiras da criação da riqueza e a preservação

dos recursos. Repare-se que não estamos a negar a importância desta definição. Estamos sim a

olhar para a criação de riqueza e a preservação dos recursos como alguns dos elementos que

compõem, de forma abrangente, a definição do conceito de desenvolvimento sustentável.

Jacobs (1991:60) defende que o desenvolvimento sustentável se preocupa não só com a

criação da riqueza e a conservação dos recursos mas também com a distribuição.

Jacobs traz-nos um elemento importante no processo de desenvolvimento – a distribuição.

Poderíamos até dizer equidade, porque a distribuição tem por objectivo garantir a equidade na

partilha dos benefícios de desenvolvimento económico. Dai que Jacobs (ibidem: 61) afirma

que a sustentabilidade expressa uma ideia de que o meio ambiente será preservado para o 12 Uma das críticas a concepção de desenvolvimento sustentável apresentada no Relatório de Brundtland é que ela centra-se mais na satisfação das necessidades básicas humanas (não nos desejos humanos) do que na protecção do meio ambiente em geral. Para além disso, Relatório não examina especificamente o que considera necessidades básicas (Kirby, O’Keefe and Timberlake, 1999).

Page 46: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

36

benefício das gerações futuras. Segundo este autor, é um compromisso com a equidade inter –

geracional.

No mesmo diapasão de Jacobs, Pomfret (1992:67) diz que desenvolvimento sustentável como

objectivo rejeita políticas e práticas que suportam actuais padrões de vida, degradando a base

produtiva, inclusive os recursos naturais. Na opinião de Pomfret, o desenvolvimento

sustentável requer uma mudança positiva dos stocks de recursos naturais e qualidade

ambiental.

Pomfret refere-se aos padrões de vida, mas não disseca este termo. A falta de clareza desse

termo torna a concepção de desenvolvimento sustentável apresentada por Pomfret fraca

porque não inclui, evidentemente, a função do bem-estar social.

Assim, Dasgupta e Mäler (2000:185) apelam à agregação de função do bem-estar social no

desenvolvimento sustentável, porque, na óptica destes autores desenvolvimento sustentável

significa que nunca se deve permitir que o bem-estar (e, portanto, consumo) entre em

declínio.

Dasgupta e Mäler abrem um caminho para um conceito mais largo do desenvolvimento

sustentável quando associam o desenvolvimento sustentável ao bem-estar. Vejamos, por

exemplo, que o bem-estar social pode estar associado a indicadores que cruzam diferentes

dimensões como a demografia, a educação, a cultura, a saúde, a protecção social, o

saneamento básico, os padrões de consumo e de conforto e a dieta alimentar. Pode estar,

igualmente, correlacionado com o nível de infra-estruturas básicas disponíveis tais como

hospitais, escolas, instituições de cultura, saneamento básico, transportes, comunicações e

com a segurança alimentar, com o padrão de consumo (que deverá atingir no mínimo os

níveis de satisfação primários), e com a existência de um sistema de protecção social

equitativo e com uma boa cobertura. Assim, podemos dizer que para Dasgupta e Mäler

desenvolvimento sustentável é aquele que assegura a continuidade desses elementos do bem-

estar.

De acordo com Adams (1990:207-218) desenvolvimento sustentável implica a revitalização

do crescimento económico; a mudança na qualidade de crescimento económico; a satisfação

das necessidades de emprego, alimentação, energia, água e saneamento; o controle do

crescimento da população; a conservação e melhoria da base de recursos; a reorientação da

tecnologia e gestão de riscos e; o entrosamento do meio ambiente e economia na tomada de

Page 47: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

37

decisão. Como podemos depreender, Adams introduz a função do bem-estar social no termo

desenvolvimento sustentável.

Efectivamente, desenvolvimento sustentável é um conceito que por um lado envolve

compromissos entre objectivos sociais, ecológicos e económicos e, por outro, relaciona as

aspirações colectivas de paz, liberdade, melhoria das condições de vida e de um meio

ambiente saudável (National Research Council 1999, Hediger, 2000 apud Camargo, 2005:72).

O desenvolvimento sustentável é um conceito integral e abrangente. Preocupa-se

necessariamente com o presente e o futuro das pessoas; com a produção e consumo de bens e

serviços; com as necessidades básicas de subsistência; com os recursos naturais e o equilíbrio

ecossistémico; com práticas decisórias e a distribuição de poder e com os valores pessoais e a

cultura. Essas preocupações se integram nas seguintes dimensões de desenvolvimento:

ambiental, económica, social, política e cultural (Jara, 1998:33; Camargo, 2005:91), conforme

a figura 1, que se segue:

Figura 1: Dimensões do desenvolvimento sustentável

Fonte: Adaptado de Camargo (2005:92)

De acordo com Jara (1998:33), desenvolvimento sustentável refere-se aos processos de

mudança sociopolítica, socioeconómica e institucional que visam assegurar a satisfação das

necessidades básicas da população e equidade social, tanto no presente quanto no futuro,

promovendo oportunidades de bem-estar económico, que além de mais, sejam compatíveis

com circunstâncias ecológicas a longo prazo. Em outras palavras podemos dizer que o

desenvolvimento sustentável é aquele que garante às pessoas, de forma equitativa e contínua,

o direito à alimentação, habitação, saúde e protecção, eleva o nível de vida, aumenta a renda,

Económica: possibilitar uma alocação eficiente dos recursos e um fluxo regular dos investimentos públicos e privados.

Cultural: respeitar as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local

Política: participação pública; instituições democráticas; boa governação; liberdade de expressão; tomada de decisão integrada

Ambiental: intensificar o uso dos recursos potenciais dos vários ecossistemas – com um mínimo de dano a eles – para propósitos socialmente válidos; limitar o consumo de combustíveis fósseis e de outros produtos facilmente esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais; reduzir o volume de resíduos e poluição; reciclar e conservar; limitar o consumo material; investir em tecnologias limpas; definir e assegurar o cumprimento de regras para uma adequada protecção ambiental.

Social: consolidar um processo de desenvolvimento baseado em outro tipo de crescimento e orientado por outra visão do que uma “boa: sociedade

Desenvolvimento sustentável

Page 48: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

38

postos de trabalho, qualidade de ensino e dá maior atenção à cultura e aos valores sociais,

preservando em simultâneo o meio ambiente para o benefício das gerações futuras.

A definição apresentada por Jara (ibidem) chama-nos atenção para três aspectos. O primeiro

aspecto é que no processo de aumento da disponibilidade e alargamento da distribuição das

necessidades básicas tais como alimentação, habitação, saúde e protecção, elevação o nível de

vida, e expansão das medidas económicas e escolhas sociais a indivíduos e nações, é preciso

prestar-se atenção para a conservação dos recursos naturais e o meio ambiente. O segundo

aspecto está relacionado com a necessidade de a conjugação da satisfação das necessidades

básicas humanas com a preservação dos recursos naturais e o meio ambiente ser duradoira ou

contínua. O terceiro aspecto é que, não basta haver um equilíbrio entre a satisfação das

necessidades básicas da população, equidade social e conservação do meio ambiente. É

preciso respeitar as especificidades ou circunstâncias ecológicas de cada lugar. Dai que se fala

actualmente do desenvolvimento local sustentável.

Neste âmbito, “o desenvolvimento local aparece como um elemento de eficiência económica

e equilíbrio ambiental, no sentido de que os espaços micro-regionais passam a produzir de

forma ‘sustentável’, na plenitude de suas potencialidades” (Jara, 1998:272).

No presente trabalho, desenvolvimento sustentável denomina os processos de mudança

sociopolítica, socioeconómica e institucional que garantem às pessoas, de forma equitativa e

contínua, a satisfação das necessidades básicas e dá maior atenção à cultura e aos valores

sociais, preservando em simultâneo o meio ambiente para o benefício das gerações futuras.

1.6. Desenvolvimento local sustentável

Depois de percorrermos pelas definições de desenvolvimento, desenvolvimento local e

desenvolvimento sustentável, já podemos buscar o conceito de desenvolvimento local

sustentável.

O desenvolvimento sustentável ao nível local pode ser alcançado quando as comunidades

locais conseguem alcançar as suas necessidades económicas, considerando e protegendo,

simultaneamente, o meio ambiente.

Page 49: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

39

Há quem diga claramente que “o desenvolvimento local sustentável resulta (…) da interacção

e sinergias entre a qualidade de vida da população local – redução da pobreza, geração de

riqueza e distribuição de activos –, a eficiência económica – com a agregação de valor na

cadeia produtiva – e a gestão pública eficiente” (Buarque, 2002:27).

Podemos entender que se trata de um processo de melhoria de vida das comunidades locais

sem incorrer grandes custos, sobretudo os custos ambientais, visto que,

O desenvolvimento sustentável é uma estratégia através da qual as comunidades buscam um desenvolvimento económico que também beneficie o meio ambiente local e a qualidade de vida. Tem-se tornado um importante guia para muitas comunidades que descobriram que os métodos tradicionais de planejamento (sic) e desenvolvimento estão criando, em vez de resolver, problemas sociais e ambientais. Enquanto os métodos tradicionais podem levar a sérios problemas sociais e ambientais, o desenvolvimento sustentável fornece uma estrutura através da qual as comunidades podem usar recursos mais eficientes, proteger e melhorar a qualidade de vida, e criar novos negócios para fortalecer as suas economias. Isso pode nos auxiliar a criar comunidades saudáveis que possam sustentar nossa geração tão bem quanto as que viverem (O Center of excellence for sustainable development, 2001, apud Camargo 2005:73).

Buarque (1998:32) define desenvolvimento local sustentável como o “processo de mudança

social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o

crescimento e a eficiência económicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a

equidade social, partindo do compromisso com futuro e a solidariedade entre gerações”.

Elementos tais como qualidade de vida, eficiência económica, competitividade, finanças

públicas e conservação são chaves para a definição de desenvolvimento local sustentável.

Com estes elementos, o desenvolvimento local sustentável se constitui como um processo que

leva a continuado aumento de qualidade de vida com base numa economia eficiente e

competitiva, com relativa autonomia de finanças públicas, combinado com a conservação dos

recursos naturais e do meio ambiente (ibid:33).

Na opinião de Jara (1998:304), o desenvolvimento local sustentável coloca-se como uma

resposta dialéctica, entre uma forma de desenvolvimento regional centralizado, quantitativo e

predatório, e uma abordagem assistencialista e compensatória de desenvolvimento

comunitário, procurando condições e capacidades nos espaços sociais nos quais a sociedade

ainda é sociedade, para que os actores sociais e institucionais possam protagonizar a

construção do seu próprio destino.

Page 50: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

40

As ilações que podemos tirar da opinião deste autor são de que antes de mais o

desenvolvimento local sustentável procura elevar as potencialidades e capacidades das

populações locais, tirando-as do ciclo de dependência em relação aos níveis superiores

(distrital ou provincial ou regional), assim como da assistência das organizações não

governamentais e outras instituições de ajuda. O desenvolvimento local sustentável encarna

em si a ideia de promoção de apropriação (ownership) das populações locais.

Porém, repare-se que a promoção de apropriação implica o envolvimento das comunidades

em todo o processo de desenvolvimento e implica que haja uma máquina organizacional

operacional em todos os níveis a que nos referimos.

Por exemplo, as comunidades podem ser incitadas a engajarem-se em acções de

melhoramento das técnicas de produção agrícola e de uso de solos, ou mesmo a melhorarem

as suas habitações rumo à sustentabilidade. Essas acções poderão ser sustentáveis se as vias

de acesso forem de boa qualidade e o sistema de transportes e comunicações estiver a

funcionar em pleno. De igual forma, a disponibilidade de serviços básicos é essencial, assim

como é crucial haver políticas sociais adequadas e oportunidades de emprego. Como podemos

verificar, há uma estreita ligação entre os níveis local, regional, nacional e, quiçá, global.

Nesta perspectiva, Frueb e Pesce (1999:2-3) afloram com clarividência. De acordo com estes

autores, o desenvolvimento local sustentável requer a participação das comunidades locais na

gestão de recursos naturais, acção ambiental colectiva e consulta, forte compromisso das

populações na manutenção de investimentos a longo prazo e a equidade, equilíbrio entre

actividades sociais e produtivas a curto e longo prazos e a manutenção, a longo prazo, de

investimentos e actividades ambientais. Implica igualmente uma ênfase no combate à pobreza

através de apoio às actividades produtivas bem como a melhoria da saúde e a promoção da

educação.

Frueb e Pesce lançam-nos o desafio de percebermos que no processo de desenvolvimento

local sustentável, as instituições comunitárias são chamadas a serem representativas e

efectivas de modo a assegurarem uma igual participação dos membros da comunidade. E para

complementar a acção comunitária, os níveis superiores tais como os níveis distrital e

provincial têm a responsabilidade de ajudar as comunidades a enfrentarem problemas que

suplantam as suas capacidades. Cite-se actividades como a organização de mercado local, a

construção de estradas, criação de sistema de comunicações, estabelecimento de serviços

sociais, da banca, de créditos e de administração local.

Page 51: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

41

A partir das asserções acima, podemos conceber o desenvolvimento local sustentável como

um processo de revitalização do crescimento económico; a mudança na qualidade de

crescimento económico; a satisfação das necessidades de alimentação, habitação, educação,

saúde, emprego, energia, água e saneamento, incluindo meios de transporte e comunicação; o

controle do crescimento da população; a conservação e melhoria da base de recursos; a

reorientação da tecnologia e gestão de riscos e; o entrosamento do meio ambiente e economia

na tomada de decisão, ao nível das comunidades locais.

Buarque (2002:43) entende que, para ser consistente e sustentável o desenvolvimento local

deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e contribuir para elevar as potencialidades

sociais e a viabilidade e competitividade da economia local; ao mesmo tempo, deve assegurar

a conservação dos recursos naturais locais, que são, ao mesmo tempo, a base das

potencialidades e condição para a qualidade de vida da população local. Esse processo, ainda

segundo Buarque, demanda, normalmente, um movimento de organização e mobilização da

sociedade local, explorando as suas capacidades e potencialidades próprias, de modo a criar

raízes efectivas na matriz socioeconómica e cultural da localidade.

Concordamos com Buarque que o movimento de organização e mobilização da sociedade são

importantes no processo de desenvolvimento local sustentável, porque estamos convictos que

o desenvolvimento local sustentável deve privilegiar a participação, inclusive o respeito e

atenção pelas ideias, valores e crenças locais, o grau de controlo que as pessoas locais têm na

definição de objectivos, tomada de decisões, planificação, implementação e avaliação de

iniciativas, as formas de acesso à informação e sua capacidade de resolução de problemas,

utilizando os seus próprios métodos de avaliação, análise e experimentação.

No entanto, chamamos atenção ao facto de a oferta de um movimento de organização e

mobilização da sociedade rumo ao desenvolvimento local sustentável requerer, por sua vez,

normas, instituições e organizações ou redes sociais que, norteados por confiança e

reciprocidade, promovem e facilitam a cooperação entre as pessoas.

Com estes requisitos, as comunidades e a sociedade como um todo facilmente poderão atingir

os objectivos e interesses comuns. Daí ser legítimo e lógico afirmar que o desenvolvimento

local sustentável se interliga estreitamente com o capital social.

Por isso, falar de desenvolvimento local sustentável no presente trabalho, é referirmo-nos

aos processos participativos de mudança sociopolítica, socioeconómica e institucional que

Page 52: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

42

garantem às comunidades locais, de forma equitativa e contínua, a satisfação das necessidades

básicas e dá maior atenção à cultura e aos valores sociais locais, preservando em simultâneo o

meio ambiente para o benefício das gerações futuras.

1.7. Capital social e desenvolvimento local sustentável

Nesta secção procuramos perceber as formas através das quais o capital social pode contribuir

para a emergência do desenvolvimento local sustentável, na perspectiva de diferentes autores.

Putnam (2000:21) diz que o capital social permite maior produtividade, promove

voluntarismo e encoraja a preocupação com o bem público. Para além disso, Putnam sublinha

que o capital social contribui para o aumento da igualdade, liberdade e tolerância.

Evidentemente, as normas, instituições e redes sociais, guiadas pela confiança e reciprocidade

impulsionam o aumento da produção e, consequentemente, da produtividade. Citemos o caso

das 18 cooperativas que compõem a União de Camponeses da Machava, na Província de

Maputo.

Com o apoio da Organização espanhola a Agência Andaluza de Cooperação Internacional

para o Desenvolvimento em cooperação com a União Geral das Cooperativas Agropecuárias

de Maputo, as 18 cooperativas integrantes da União de Camponeses da Machava viram a sua

produção incrementada, através de desenvolvimento de várias acções: construção/reabilitação

dos sistemas de rega; construção de cercados tradicionais formado por arbustos espinhosos;

reforço de suas capacidades técnicas na produção agrícola através de uma assistência técnica

continuada; disponibilidade pontual de insumos agrícolas; fortalecimento das capacidades das

cooperativistas em diversas áreas como contabilidade e gestão, liderança e planificação e

diminuição dos níveis de analfabetismo dos membros associativos.

No que tange ao contributo do capital social para o aumento de igualdade, liberdade e

tolerância, a nossa apreciação é positiva. Porém, somos da opinião que a contribuição de

capital social para o aumento de igualdade liberdade e tolerância seja vista com algumas

reservas, porque, conforme temos vindo a referir, o capital social nem sempre é benéfico.

Remetemos esta discussão ao fim desta secção, onde vamos falar dos efeitos negativos do

capital social.

Page 53: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

43

Rupasingba, Goetz e Freshwater (2000:165-167) defendem que o capital social fomenta a

interacção interpessoal. Por sua vez, a interacção interpessoal, quando repetida, facilita a

comunicação e implica a informação sobre a confiança e cooperação de outras pessoas, o que

reduz os custos de transacção associados a trocas comerciais. Para estes autores, a principal

causa do fracasso económico e colapso social é a falta de capital social, isto é, falta de

cuidado, boa vontade, lealdade, senso de pertença e comunidade, ou mesmo de coesão social.

Podemos perceber destes autores que o maior efeito do capital social na economia é a redução

dos custos de informação e transacção. Entendemos que, quando os custos de transacção e os

custos de recolha e disseminação de informação reduzem, os riscos diminuem e as trocas

comerciais aumentam. Pelo contrário, a falta de capital social tem como consequência maior

controlo externo, tal como a aplicação de leis duras e sistemas cerrados de segurança.

Rupasingba, Goetz e Freshwater (ibidem) terminam, afirmando que o capital social faz parte

de factores de produção no processo de produção, pois afecta a oferta de certos bens públicos.

Estes autores acreditam que, o capital social pode melhorar o desempenho económico através

do aumento do número de relações comerciais mutuamente benéficas, da resolução dos

problemas de acção colectiva, da redução dos custos de transacção e monitoria e da melhoria

dos fluxos de informação. A tese desses autores é que a presença de capital social é a chave de

sucesso económico.

Os autores que acabamos de citar levam-nos a concluir que o capital social afecta o

desenvolvimento principalmente através da facilitação de transacções entre indivíduos,

famílias e grupos nos países em desenvolvimento da seguinte forma:

Primeiro, a participação de indivíduos em redes sociais aumenta a disponibilidade de

informação e reduz os custos. Esta informação se for relativa a preços de produtos agrícolas,

localização de novos mercados, fontes de crédito, ou tratamento de doenças de animais, pode

jogar um papel importante no aumento de rendimentos agrícolas e comerciais.

Segundo, a participação em redes locais e atitudes de confiança mútua facilita a tomada de

decisões colectivas para qualquer grupo, bem como a implementação de acções colectivas.

Finalmente, as redes e atitudes reduzem comportamentos oportunistas entre membros da

comunidade através de pressões sociais e medo de exclusão social que induzem as pessoas a

comportarem-se de acordo com as normas do grupo.

Page 54: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

44

Trigilia (2001:8-10) entende que as redes sociais – uma das manifestações de capital social –

influenciam a emergência de actividades empresariais e, consequentemente, facilitam o

desenvolvimento económico local em determinadas áreas. Para Trigilia, o capital social

contribui positivamente para a criação de capital humano apropriado e eficiente locação de

capital físico e capital financeiro através da cooperação efectiva entre actores locais. Em

adição, o capital social permite a exploração de conhecimento tácito e do capital humano

enquanto factores competitivos ligados a especialização da produção. Por outro lado, uma boa

rede de relações entre os grupos de interesse e as instituições públicas pode favorecer a

melhoria de facilidades infra-estruturais e a provisão eficiente de serviços económicos e

sociais, bem como o fluxo de capital e investimento doméstico e estrangeiro.

A explicação que podemos dar é que uma comunidade com baixos índices de criminalidade e

conflitos está em melhores condições de atrair investimentos que outra com características

opostas. O mesmo exemplo se pode extrapolar para dois países, sendo um em paz e

estabilidade político-social como Moçambique e outro em conflito e instabilidade política

como a Somália. Neste caso, Moçambique posiciona-se melhor que a Somália em termos de

atracção de investimentos público-privados, quer nacionais quer estrangeiros.

De acordo com Serageldin (2001:xi) o capital social deve ser visto no contexto de

desenvolvimento sustentável porque desenvolvimento sustentável é um conceito largamente

aceite. Serageldin olha para o capital social como uma cola que mantém as sociedades juntas

e acredita que, sem o capital social, não haveria coerência interna das sociedades e sem

coerência interna das sociedades, a sociedade, em geral, entraria em colapso e, assim sendo,

não se falaria do crescimento económico, sustentabilidade ambiental, ou bem-estar humano.

De acordo com este autor, o capital social contribui para o crescimento económico porque

permite a criação de políticas que oferecem condições para o crescimento. O autor cita o

exemplo de instituições e organizações que permitem a melhoria da eficiência, facilitam a

troca de informação e promovem a cooperação entre o governo e a indústria. Serageldin diz,

igualmente, que o capital social contribui para o funcionamento do mercado, através de

instituições, instrumentos legais e o papel do governo na organização da produção que

afectam o desempenho macroeconómico. Por fim, Serageldin defende categoricamente que,

evidentemente, o capital social afecta o desenvolvimento e crescimento económicos,

incluindo a equidade e redução da pobreza. Na óptica do autor, esse processo ocorre através

de associações e instituições. As associações e as instituições fornecem instrumentos

Page 55: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

45

informais para a partilha de informação, coordenação de actividades e tomada de decisões

colectivas. Adicionalmente, instituições formais e informais podem ajudar a evitar as falhas

de mercado.

A tese central de Serageldin é que o capital social contribui para desenvolvimento sustentável.

Para a defesa do seu posicionamento, o autor recorre aos exemplos de estudos empíricos

feitos na Somália, no Ruanda e na Jugoslavia em 1996. Nestes países, os índices de

desenvolvimento humano eram manifestamente baixos devido a guerras que destruíram o

stock de capital social existente.

Woolcock (2002:24) concorda com Serageldin quanto a estreita ligação entre o stock de

capital social e desenvolvimento. De acordo com Woolcock, as comunidades com um alto

stock de redes sociais e associações cívicas estão em melhores condições de enfrentar a

pobreza e a vulnerabilidade, resolver conflitos e partilhar informação benéfica. Visto desta

forma, o capital social afigura-se como um activo que pode ser acumulado e investido numa

determinada sociedade, de modo a colher benefícios mútuos entre os membros de tal

sociedade.

Com recurso aos estudos empíricos feitos na Indonésia, em Madagáscar e Bangladesh,

Grootaert e van Bastelaer (2002:8-9) completam o raciocínio de Woolcock ao afirmarem que

o capital social reduz os custos de transacção e actua como um canal informal de aquisição de

seguro contra riscos de liquidez e aumenta a habilidade das comunidades organizarem,

elaborarem e gerirem sistemas de abastecimento de água. Estes autores acrescentam ainda que

o capital social facilita a transmissão de conhecimento sobre o comportamento dos outros,

reduzindo o problema de oportunismo através de repetição de transacções e estabelece assim a

confiança e a reputação. Ainda na opinião de Grootaert e van Bastelaer, o capital social

facilita a transmissão de conhecimento sobre tecnologia e mercados e reduz o problema de

egoísmo individual. A transmissão de conhecimento sobre tecnologia e mercados e a redução

do problema de egoísmo individual, por sua vez, reduzem as falhas de mercado na informação

e facilita a acção colectiva.

O argumento central destes autores é que o capital social complementa as outras formas de

capital e pode estimular o impacto de investimentos nos capitais humano, físico e natural.

Page 56: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

46

Do argumento destes autores podemos entender que em comunidades bem organizadas,

coordenadas, unidas, norteadas por confiança e reciprocidade, e guiadas por normas,

instituições e organizações ou redes sociais, facilmente poderão cooperar para o

desenvolvimento de actividades que concorram para a melhoria de suas vidas tais como: a

produção de alimentos, a construção de escolas, hospitais, vias de acesso, bem como a

conservação dos recursos naturais.

Solow (2001:10), não se distancia deste ponto de vista. Para Solow, a confiança, a vontade, a

capacidade de cooperar e coordenar, o hábito de contribuir para o esforço comum, mesmo

sem assistência de ninguém, enfim, todos estes padrões de comportamento e outros têm uma

recompensa na produtividade agregada. Solow partilha a opinião de Grootaert e van Bastelaer

(2002), Woolcock (2002) e Serageldin (2001) segundo a qual, o capital social reduz os custos

de transacção, diminui o comportamento defensivo e melhora o desempenho económico.

Solow defende, entretanto, que isto acontece quando houver confiança entre as partes.

Efectivamente, e tal como observa François (2002:9), na produção moderna, quando as

pessoas são vulneráveis ao oportunismo por parte de seus parceiros, a confiança facilita a

interacção económica mutuamente vantajosa. Ainda de acordo com François, certos padrões

normativos de justiça são importantes para a interacção sustentável do mercado.

Pretty (2003:4) condensa o posicionamento de Grootaert e van Bestelaer ao afirmar que,

evidentemente, o alto nível de capital social está associado à melhoria do bem – estar

económico e social. De acordo com Pretty, famílias mais unidas tendem a ter maiores

rendimentos, melhor saúde, maior nível de escolaridade e ligações mais construtivas com o

governo, que as com baixos índices de capital social. Por isso, Pretty defende a fortificação do

capital social na gestão dos recursos naturais.

Depois de percorrermos pelas diferentes perspectivas sobre o contributo do capital social para

o desenvolvimento local sustentável, podemos concluir que os processos de mudança

sociopolítica, socioeconómica e institucional que garantem às comunidades locais, de forma

equitativa e contínua requerem a participação de todos actores sociais envolvidos. Tal

participação implica haver normas, instituições e organizações ou redes sociais que, norteados

por confiança e reciprocidade, promovam e facilitem a cooperação entre as pessoas, as

comunidades e no conjunto da sociedade, para o alcance de objectivos comuns. Os objectivos

comuns neste caso podem ser o direito à alimentação, habitação, saúde e protecção; elevação

do nível de vida, aumento da renda, dos postos de trabalho, da qualidade de ensino e

Page 57: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

47

valorização da cultura e dos valores sociais locais, preservando em simultâneo o meio

ambiente para o benefício das gerações futuras.

No entanto, e conforme temos vindo a fazer referência do longo do trabalho, o capital social

nem sempre é benéfico. O capital social pode ter efeitos negativos no desenvolvimento local

sustentável. Coleman (1988:98) é categórico neste aspecto. De acordo com este autor, uma

dada forma de capital social que é valiosa na facilitação de certas acções, pode ser inútil ou

mesmo prejudicial para outras.

Rupasingba, Goetz e Freshwater (2000:565-567), apontam para gangs e grupos terroristas

como um exemplo de “mau” capital social. Para estes autores, este tipo de grupos pode

destabilizar a harmonia social e inibir os esforços de desenvolvimento. Rupasingba, Goetz e

Freshwater acrescentam ainda que fortes ligações dentro de um grupo podem levar à exclusão

de outros, impossibilitando-as, porquanto, de aceder aos benefícios do grupo.

A asserção desses autores remete-nos ao exemplo de certos grupos étnicos que dominam

certas profissões, indústrias e comércio, recusando a outros grupos étnicos o acesso a estas

benesses (Ex: na Índia, Ruanda antes de 1994).

Por outro lado, as redes sociais podem ser um instrumento para evitar ou limitar a competição

e, por conseguinte, reduzir a eficiência como resultado da colisão entre os actores.

Adicionalmente, as redes podem ser extremamente densas e fortes para exercer um forte

controlo sobre os comportamentos dos indivíduos, desencorajando, desta feita, a inovação

económica (Trigilia, 2001:15).

Recorde-se que Serageldin (2001:xi) recomenda que o capital social seja visto no contexto de

desenvolvimento sustentável porque desenvolvimento sustentável é um conceito largamente

aceite Fukuyama (2002:34), chama atenção à complexidade da aplicação do capital social no

contexto de desenvolvimento. Diz o autor “ não é suficiente ir para uma aldeia, notar a

existência de redes, denominá-la capital social e afirmar que é boa coisa13”. Este autor

argumenta que, actualmente, muitos países em desenvolvimento têm abundância de capital

social em forma de grupos sociais tradicionais, tais como linhagens, tribos, ou associações

comunitárias. Porém, falta-lhes organizações modernas e mais abrangentes na sua forma de

13 (…) “It is not sufficient to go into a village, note the existence of networks, label it social capital, and pronounce it a good thing”

Page 58: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

48

actuação, que possam ligar as fronteiras tradicionais de classes, etnias, ou status e servir de

base para as organizações políticas e económicas modernas.

É difícil não concordar com Fukuyama nesse aspecto. O facto de haver abundância de redes

sociais, ou melhor linhagens, tribos, ou associações comunitárias, não implica

automaticamente que haja maiores possibilidades de desenvolvimento. Os hábitos culturais,

os valores e as normas podem inviabilizar os objectivos de desenvolvimento local sustentável,

para além de que os interesses dos membros das redes nem sempre são convergentes.

Pretty (2003), ao analisar a relação existente entre o capital social e a gestão de recursos

naturais, nota que ainda prevalece um perigo de aparecer demasiado optimista sobre os grupos

locais e a sua capacidade de gerar benefícios económicos e ambientais.

Na óptica deste autor, as divisões dentro da comunidade e entre comunidades podem resultar

no prejuízo ambiental. Pretty acrescenta que nem todas relações sociais são benéficas para

todos. Uma sociedade pode ter fortes instituições e assentar-se sobre bons mecanismos de

reciprocidade, mas baseadas no medo e no poder. Pretty dá exemplo das sociedades feudais e

injustas.

Da opinião de Pretty podemos entender que algumas associações podem actuar como

obstáculos à emergência da sustentabilidade, encorajar o conformismo, perpetuar a

desigualdade e permitir certos indivíduos a formarem suas próprias instituições apenas para

servir interesses individuais. Porém, a referência dos efeitos negativos do capital social sobre

o desenvolvimento local sustentável não deve nos fazer perder de vista o objectivo geral do

presente trabalho, que consiste em compreender como o capital social pode contribuir para a

emergência do desenvolvimento local sustentável. Aliás, esta constitui a razão pela qual no

trabalho de campo preocupamo-nos mais com os efeitos positivos de capital social do que

com os negativos, embora estes não sejam colocados de lado.

Page 59: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

49

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

No presente capítulo, descrevemos a sequência metodológica para a condução da pesquisa e

fazemos a apresentação e análise dos resultados.

2.1. Metodologia

As estatísticas oficiais não mostram dados sobre o número da população da localidade de

Mtengo wa Mbalame. Por conseguinte, a partir do número da população do distrito, 169.392

habitantes (INE, 2007) e tendo em conta que o distrito possui dois postos administrativos,

podemos deduzir que o posto administrativo de Mtengo wa Mbalame possui estimativamente

84.696 habitantes. Já fizemos referência na introdução do trabalho que o posto administrativo

de Mtengo wa Mbalame se divide em duas localidades (Mtengo Mbalame Sede e Banga). Ao

dividirmos o número dos habitantes do posto administrativo obtemos o resultado de 42.348.

Deste modo, podemos deduzir que a população da Localidade de Mtengo wa Mbalame é

estimada em 42.348 habitantes distribuídos por várias aldeias ou comunidades.

Como se pode depreender não é fácil inquirir a totalidade dos habitantes de toda a localidade,

para além de que este número surge de uma dedução. O ideal seria que cada conglomerado

representasse tanto quanto possível o total da população, numa amostra de 3.091,2 habitantes

distribuídos pela totalidade de aldeias ou comunidades que compõem a Localidade14, ou pelo

menos 50% desse número.

Contudo, esse exercício não seria exequível e realístico do ponto de vista metodológico, pois

requereria muito tempo e recursos materiais, financeiros e humanos. Desta feita, escolhemos,

dentro das comunidades, alguns agregados familiares que perfizessem pelo menos 10% do

número pretendido.

Por isso, optámos por amostragem por conglomerado. A população foi dividida em diferentes

conglomerados (aldeias/comunidades), extraindo-se uma amostra apenas dos conglomerados

seleccionados, e não de toda a população, isto é, 13 comunidades, em função da proximidade

geográfica à sede do posto administrativo de Mtengo wa Mbalame. A nossa exigência era que

cada indivíduo inquirido respondesse por um agregado familiar.

14 Não conseguimos obter o número total das comunidades/aldeias que compoem a localidade.

Page 60: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

50

Assim, seriam inquiridos pelo menos 13 agregados por cada aldeia/comunidade seleccionada,

de modo a somar 156 agregados familiares no mínimo.

Note-se, no entanto, que apesar de termos tentado ser rigorosos em termos técnicos, a amostra

não chega a ser representativa. Alias, não há intenção de representatividade, pelo facto de não

haver dados estatísticos sobre o número exacto ou aproximado de toda a população da

localidade e das comunidades/aldeias seleccionadas para o estudo.

Na prática procurámos estabelecer a relação existente entre o capital social e o

desenvolvimento local sustentável. Para o efeito, dirigimos o estudo de campo aos agregados

familiares residentes em treze comunidades previamente seleccionadas, nomeadamente

Mtengo wa Mbalame – Sede, Magumbo, Lidowo, Chiwonde, Mthini, M’nyowani, Bifolo,

Kalipale, Kachenya, Mtengeza, Mangombo, Phenda e Minga.

Assim, para a recolha de dados, inquirimos 200 agregados familiares. Definimos o número de

agregados a em cada aldeia/comunidade em função da sua disponibilidade, tempo e esforço

do inquiridor e o limite foi ditado pelo fim do prazo estabelecido para a condução da pesquisa.

Além dos agregados inquiridos, entrevistamos em contacto com às autoridades comunitárias e

administrativas. As entrevistas foram acompanhadas de observação de alguns fenómenos

sócio – naturais interessantes ao estudo, tais como o estado das vias de acesso, o nível de

cobertura florestal, o tipo de habitações, entre outros. Os dados recolhidos através de

inquéritos e entrevistas foram cruzados com as informações obtidas de material bibliográfico

existente e disponível sobre o problema e objecto de estudo.

No trabalho de campo contamos com o apoio técnico de cinco alunos da 10ª classe da Escola

Secundária de Mtengo wa Mbalame. Seleccionados os alunos em função do seu

aproveitamento pedagógico na disciplina de português e seu domínio de Chichewa – a língua

local. Após a selecção, submetemos os alunos a uma formação de dois dias, de modo a

garantir a qualidade da recolha de dados. Para além dos alunos, tivemos a facilitação pela

ajuda de alguns professores da Escola Secundária de Mtengo wa Mbalame, Escola Primária

Completa de Lidowo e das autoridades comunitárias e administrativas, de quem obtemos

autorização para a realização do estudo.

Desta feita, o trabalho de campo durou 17 dias. Analisamos os resultados decorrentes do

trabalho com recurso ao pacote informático SPSS.

Page 61: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

51

2.2. Análise e apresentação dos resultados

Com o trabalho de campo pretendíamos recolher dados relativos às dimensões ou

determinantes de capital social. Assim, para além da informação geral tangente ao sexo,

idade, responsabilidade na família (saber se é ou não é chefe da família) e tempo que os

inquiridos residem na comunidade, avaliamos as seguintes dimensões: grupos e redes, bem-

estar, participação política, sociabilidade, interacções diárias, actividades comunitárias,

relações com o governo, violência e crime, comunicação e demografia.

2.2.1. Informação geral

A informação geral é referente às comunidades abrangidas pelo estudo, ao sexo, a idade,

responsabilidade na família e ao tempo que os inquiridos residem na comunidade.

2.2.2. Comunidades abrangidas pelo estudo

O trabalho de campo decorreu durante o mês de Julho em 13 comunidades da localidade de

Mtengo wa Mbalame. Conforme se fez referência, o estudo abrangeu 200 agregados

familiares divididos pelas comunidades de Mtengo wa Mbalame – Sede, Magumbo, Lidowo,

Chiwonde, Mthini (Jimo, Bungwe), M’nyowane (Bintoni), Bifolo, Kalipale, Kachenya,

Mtengeza, Mangombo, Phenda e Minga, tal como ilustra a tabela 1 que se segue:

Tabela 1: Comunidades abrangidas pelo estudo e o número de agregados inquiridos

Fonte: pesquisa de campo

Como se pode depreender, o maior número dos agregados inquiridos foi alcançado na

comunidade de Magumbo (26 agregados) e o menor em Kachenya (9 agregados). O número

dos agregados a inquirir em cada comunidade não era pré-definido, variando, portanto, em

Comunidade Nº de inquiridos

Nhoane Kalipale Phenda Mtengo wa Mbalame - sede Lidowo Magumbo Mwalazonde Bifolo Kachenya Minga Ntengeza Nsangu Mthini

14 14 16 12 24 26 12 10 9 10 13 12 19

Total 200

Page 62: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

52

função do esforço empreendido pelo inquiridor, a disponibilidade das pessoas a inquirir e

tempo.

2.2.3. Sexo, idade, posição social e tempo de residência

No estudo procuramos obter alguma informação relativa ao equilíbrio do género na localidade

de Mtengo wa Mbalame. Por isso, incorporamos a categoria sexo no inquérito.

Adicionalmente, a idade, a posição social que o inquirido/a ocupa no seio da família (ser ou

não chefe da família) e o tempo de residência na comunidade foram outras categorias

avaliadas. A escolha partiu do princípio de que as pessoas com diferentes idades,

responsabilidades assim como o facto de serem antigas ou novas na comunidade, poderiam ter

diferentes sensibilidades sobre as dimensões do capital social.

Com efeito, 56,5% dos inquiridos foram indivíduos do sexo masculino e 43,5% foram do

sexo feminino. A idade mínima dos inquiridos foi de 15 anos (0,5%) e a máxima de 70 anos

(0,5%). A idade mais frequente (a moda) foi de 27 anos (8,5%). Vide o gráfico 1 que se

segue:

Gráfico 1. Sexo e idade

7 0

6 0

5 0

4 0

3 0

2 0

1 0

Id a d e

3 0 2 0 1 0 0 F r e q u ê n c i a

7 0

6 0

5 0

4 0

3 0

2 0

1 0

3 02 01 00

F e m i n i n o M a s c u l in oS e x o

Fonte: pesquisa de campo

Do total dos inquiridos, 63,8% são chefes de família e 36,2% não, conforme ilustra o gráfico

2. que se segue:

Page 63: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

53

Gráfico 2. Chefes de família

NãoSim

chefe de familia

70.0%

60.0%

50.0%

40.0%

30.0%

20.0%

10.0%

0.0%

Perc

ent

36.17%

63.83%

Fonte: pesquisa de campo

É importante realçar que os 63,83% dos chefes de família eram maioritariamente indivíduos

do sexo masculino e os 36,17% dos que não são chefes de família eram constituídos

maioritariamente por indivíduos do sexo feminino.

De salientar que 9.2% dos inquiridos vive na localidade há 17 anos. Este dado se contrasta

com os 2,3% que vivem na localidade há um ano e 0,5% que vivem na localidade há 70 anos.

O tempo médio de vivência é de 28,65 anos.

2.2.4. Grupos e redes

Grupos e redes constituem uma das dimensões ou manifestações de capital social. No

presente trabalho procurava-se identificar grupos ou organizações, redes, associações, quer

formais quer informais. Deste modo, procurava-se saber se os inquiridos pertenciam a um

grupo e qual era o nível de frequência em tal grupo. Os grupos poderiam ser: religioso ou

espiritual (igreja, mesquita, grupo de estudo, bíblico, outro); cultural, social, de apoio

emocional (arte, dança, musica, teatro, solidariedade, juventude, velhice); grupos desportivos

(futebol, basket, andebol); grupo de serviços básicos (saúde, educação, infra-estruturas,

estradas, água, saneamento, estudos); grupos étnicos (tribo, organizações comunitárias);

comités comunitários/bairro/localidade; grupos financeiros, de crédito ou de poupança;

Page 64: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

54

grupos de produção (cooperativas camponeses, pescadores, vendedores); partido politico;

movimento social, movimento de protesto ou outro grupo.

Grupo religioso ou espiritual. No referente ao grupo religioso, constatámos que 70,6% dos

inquiridos pertenciam a um grupo religioso e 29.4% não eram membros de nenhum grupo

religioso. Dos que pertenciam a um grupo religioso, 54,4% frequentavam no grupo pelo

menos uma vez por semana, 25,6% duas vezes, 10,4% três vezes e 9,6% quatro vezes por

semana, respectivamente.

Grupo cultural, social, de apoio emocional. Neste aspecto, o estudo revelou que 11,9%

eram membros de um grupo cultural e 88,1% não faziam parte de nenhum grupo de carácter

cultural, social ou de apoio emocional. Entretanto, 31,3% dos que pertenciam a um grupo

juntavam-se ao grupo pelo menos uma vez por semana, 50% duas vezes, 6,3% três vezes e

12,5% quatro vezes semanais.

No que diz respeito aos grupos desportivos, apurámos que 9,3% dos inquiridos eram

membros de, pelo menos, um grupo desportivo e, 90,7% não faziam parte de nenhum grupo.

Os membros dos grupos encontravam-se semanalmente, sendo que 23,1% iam ao encontro do

grupo uma vez, 38,5% juntavam-se ao grupo duas vezes, 7,7% três vezes e 30,8% quatro

vezes.

Em relação a grupos de serviços básicos notamos que 8,5% dos inquiridos pertenciam a

grupos de serviços básicos e 91,5% não eram membros de nenhum grupo. A frequência nos

grupos varia entre 18,2% e 36,4% para uma e duas vezes por semana, respectivamente.

Quanto às organizações étnicas, constatámos que apenas 2,6% dos inquiridos eram

membros de pelo menos um grupo de viés étnico, número que se contrasta com os 97,4% dos

que não faziam parte de nenhuma organização de caris étnico. Verificou-se, adicionalmente,

que 50% dos membros dos grupos se juntavam uma vez por semana, 16% duas vezes por

semana e 33% quatro vezes por semana.

No concernente aos comités comunitários, revelou-se que 5,6% faziam parte de comités

comunitários e 94,4% não pertenciam a nenhum comité. Dos que eram membros, 50% iam ao

comité uma vez em cada mês, 33,3% iam sempre que o comité se reunisse e 16,7% se

juntavam ao comité pelo menos três vezes por ano.

Page 65: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

55

Estes dados se assemelham aos referentes aos grupos financeiros, de crédito ou poupança.

A diferença está na frequência dos membros. Neste aspecto foi possível notar que 33,3%

frequentavam no grupo uma vez por mês e 66,7% se juntavam ao grupo duas vezes em cada

mês.

Relativamente a grupos de produção, apurámos que 6,2 % pertenciam a grupos de produção

e 93,8% não pertenciam a nenhum grupo de produção. A frequência dos membros situa-se

entre 51,1% e 28,6% para uma e duas vezes por mês, respectivamente.

Por outro lado, constatámos que 25,8% dos inquiridos pertenciam a partidos políticos, com

uma frequência de 60% e 30% para uma e duas vezes por mês, respectivamente, e, 74,2% não

eram membros de nenhuma formação política.

No que respeita ao movimento social ou de protesto, 1,5% dos inquiridos faziam parte de

algum movimento social ou de protesto e todos eles (100%) frequentavam no movimento uma

vez em cada mês. Contrário a este número, 98,5% não era membros de nenhum movimento

social ou de protesto.

Fora dos grupos acima, o estudo revelou que apenas 0,5% dos inquiridos pertenciam a outros

grupos, cuja frequência nesses grupos era de uma e duas vezes por semana, com 50%,

respectivamente.

De salientar que, dos grupos mencionados, os grupos religiosos ou espirituais são

considerados os mais importantes, seguidos de grupos culturais e partidos políticos, conforme

ilustramos na tabela 2 que se segue:

Tabela 2. Grupo mais importante

Grupo Frequência absoluta (fi) Percentagem (%) Grupo religioso 109 73.2 Grupo cultural 14 9.4 Grupo desportivos 7 4.7 Grupos de serviços básicos 4 2.7 Grupos financeiros 4 2.7 Grupos de produção 3 2.0

Partido politico 8 5.4

Total 149 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Conforme podemos ler na tabela 2,73,2% dos inquiridos privilegiam os grupos religiosos,

9,4% grupos culturais e 5,4% os partidos políticos. Os fundos para o funcionamento dos

Page 66: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

56

grupos considerados mais importantes provêem das contribuições dos membros em forma de

cota e jóias (86,8%), tal como ilustramos na tabela 3.

Tabela 3. Proveniência de fundos para o funcionamento dos grupos

Proveniência de fundos fi % Governo 5 3.1

Negocios 7 4.4

Politicos 1 .6

ONg`s 2 1.3

Cotas e joias 138 86.8 Inscrições dos membros 1 .6

Não envolve fundos 2 1.3

Total 159 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Assim, para o primeiro grupo mais importante, os membros contribuem com 78,76 kwachas

malawianas em média, seguindo os 175 e 5,00 kwachas para o segundo e terceiro grupos

considerados mais importantes, respectivamente. Para além destas contribuições, na maioria

dos casos, os membros fazem, conjuntamente, trabalhos remunerativos, conhecidos por

ganyu. O apoio do governo se situa em 3,1%, das ONGs em 1,3% e dos políticos em 0,6%.

Por outro lado, 50% dos inquiridos participam uma vez por semana nas actividades do grupo

considerado mais importante, 29,8% participam duas vezes, 10,5% participam três vezes e

9,6% participam quatro vezes. Em adição, 45% dos inquiridos participam activamente no

processo de tomada de decisões nos grupos considerados mais importantes, 34,4% são pouco

activos, 7,8% são líderes, igual percentagem dos que são mais ou menos activos e, 5% não

participam.

Importa referir que uma das questões relacionadas com os grupos e redes visava saber dos

membros sobre o nível de benefícios das actividades desenvolvidas pelos grupos para a

comunidade. Na tabela 4 que segue são arroladas algumas opiniões e seus respectivos

resultados.

Tabela 4. Nível de benefícios das actividades do grupo para a comunidade

Nível fi % Muito alto 49 27.5 Alto 68 38.2 Nenhum 10 5.6 Baixo 34 19.1 Muito baixo 17 9.6 Total 178 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Page 67: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

57

Com efeito, 27,5% dos inquiridos consideram que o nível de benefícios das actividades dos

grupos a que pertencem é muito alto, 38,8% colocam os benefícios das actividades dos grupos

no nível alto de benefícios para a comunidade. Noutro lado do eixo,19,1% partilham a opinião

de que o nível de benefícios é baixo e 9,6% consideram muito baixo o nível de benefícios das

actividades que os seus grupos desenvolvem na comunidades. Apenas 5,6% não vêem

nenhum benefício das actividades dos grupos para a comunidade.

Outro aspecto a relevar é o carácter heterogéneo dos grupos ou redes. Na maior parte dos

grupos, os seus membros provêem de comunidades diferentes (65,5%), famílias diferentes

(91,3%), incluem tanto homens como mulheres (98,3%) e possuem diferentes níveis de

escolaridade (94,3%). Contudo, note-se que em caso de grupos religiosos, os seus membros

são da mesma religião (71%). No cômputo geral, 84,1% dos membros dos grupos pertencem

ao mesmo grupo étno-linguístico (Chewa).

Não obstante os grupos serem heterogéneos, os grupos se mantêm fortes. Várias razões

concorrem para a força dos grupos, conforme a tabela 5

Tabela 5. Razões que mantêm o grupo mais activo

Razões fi % Lideres fortes 38 22.2 Um alto sentido de comunidade/unidade da comunidade 109 63.7 Políticos 5 2.9 Facilitadores/dinamizadores 2 1.2 ONG`s 3 1.8 Apoio do Governo ou Conexões 2 1.2 Tomar a vida melhor 12 7.0 Total 171 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Segundo se mostra na tabela 5, a forte liderança, o alto sentido de comunidade ou união, o

desejo de crescer economicamente, a perspectiva de melhorar a vida e o papel dos

facilitadores, são os principais factores que contribuem para que os grupos se mantenham

activos na localidade de Mtengo wa Mbalame.

Todavia, existem outras razões que, sobremaneira, enfraquecem os grupos, de acordo com a

tabela 6 abaixo:

Page 68: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

58

Tabela 6. Razões que mantêm o grupo menos activo

Razões fi % Faltas de lideres fortes 16 9.8 Falta de União 18 11.0 Pessoas são muito ocupadas 76 46.6 Conflitos de terras entre membros da comunidade 6 3.7 Falta de interesse 20 12.3 Falta de apoio do Governo/Conexões 2 1.2 Falta de ONG para ajudar 12 7.4 Falta de recursos 13 8.0 Total 163 100.0 Fonte: pesquisa de campo

O factor principal que enfraquece os grupos é a ocupação das pessoas. As pessoas se ocupam

mais com os afazeres individuais do que com as actividades do grupo. Aliado a este factor

está a falta de interesse e o terceiro factor está relacionado com a falta de união.

2.2.5. Bem-estar

O bem-estar é outra dimensão do capital social e, simultaneamente, do desenvolvimento

sustentável. As questões do bem-estar no presente trabalho estão relacionadas com os níveis

de felicidade, confiança nas pessoas da comunidade, satisfação com a vida, com a situação

financeira, união ou sentimento de proximidade entre pessoas na comunidade, forma de vida

das pessoas da comunidade, a descrição da família em termos económicos, perspectivas de

vida e a força ou motivação para mudar a vida. Procura ainda avaliar a capacidade de

sobrevivência das famílias em caso de más colheitas, perda de emprego, doença e outras

dificuldades. Neste aspecto, o nível de confiança perante crises é avaliado assim como o apoio

que os inquiridos recebem e dão aos familiares mais próximos. Por fim, procura-se identificar

os principais problemas que, uma vez resolvidos, a vida das comunidades se pode tornar

melhor.

Assim, conseguiu-se apurar que, primeiro, 47.7% dos inquiridos se consideram felizes, 20%

se consideram muito felizes, 16.4% não sabem se são felizes ou infelizes, 13.3% se

consideram infelizes e apenas 2,6% se sentem muito infelizes (vide. Tabela 7 que se segue). Tabela 7. Nível de felicidade Nível de felicidade fi % Muito feliz 5 2.6 Infeliz 26 13.3 Não feliz nem infeliz 32 16.4 Feliz 93 47.7 Muito feliz 39 20.0 Total 195 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Page 69: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

59

Podemos ler na tabela 8 que o nível de satisfação embora se apresente alto em termos

percentuais, situa-se abaixo de 50%.

Segundo, 47,2% são da opinião que as pessoas da comunidade são solidárias, isto é, estão

dispostas a ajudar e 52,8% têm opinião contrária, ou melhor, do seu ponto de vista, as pessoas

da comunidade não estão dispostas a ajudar (vide a tabela 8 que se segue).

Tabela 8. Solidariedade

Predisposição para ajudar fi % Estão dispostas a ajudar 91 47.2 Não importam e cuidam apenas de si mesmas 102 52.8 Total 193 100.0 Fonte: pesquisa de campo

À semelhança do que acontece com os níveis de felicidade, o nível de solidariedade se situa

abaixo da metade. A tabela acima ilustra que um pouco acima da metade dos inquiridos

partilha a opinião de que as pessoas da comunidade não se importam com as outras e cuidam

apenas de suas vidas.

Terceiro, o nível de confiança entre as pessoas na comunidade está abaixo da metade, tal

como podemos ver na tabela 9 que se segue:

Tabela 9. Nível de confiança entre as pessoas na comunidade

Nível de confiança fi % A maioria das pessoas pode ser confiada 84 44.0 É priciso ter muito cuidado ao lidar com elas 107 56.0 Total 191 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Conforme notamos, 44% dos inquiridos confiam nas pessoas da comunidade, número que se

contrasta com os 56% dos que desconfiam das pessoas da comunidade, recomendando,

portanto, maior cuidado com elas.

Quarto, não obstante os níveis de felicidade e confiança se situarem abaixo da metade, 59,6%

dos inquiridos acreditam que o seu contributo pode trazer um grande impacto para tornar a

comunidade num bom lugar para viver, 27,5% consideram que podem trazer pouco impacto e

13% é da opinião que o seu contributo não pode trazer nenhum impacto para tornar a

comunidade num bom lugar para viver.

Page 70: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

60

Tabela 10. Contributo para tornar a comunidade num bom lugar para viver

Contributo para a comunidade fi % Nenhum impacto 25 13.0 Pouco impacto 53 27.5 Grande impacto 115 59.6 Total 193 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Quinto, questionado sobre o modus vivendi das pessoas da comunidade nos dias que

antecederam o estudo, 37,4% dos inquiridos disseram que as pessoas viviam bem, 28,3%

consideraram normal o modus vivendi das pessoas da comunidade e a opinião de 26,3% dos

inquiridos é de que as pessoas da comunidade viviam mal (vide a tabela 11).

Tabela 11: Modus vivendi das pessoas da comunidade

Modus vivendi fi % Muito mal 6 3.0 Mal 52 26.3 Bem 74 37.4 Muito bem 10 5.1 Normal 56 28.3 Total 198 100.0 Fonte: pesquisa de campo

De uma forma geral existe uma apreciação de que as pessoas vivem bem, apesar dos níveis

percentuais não ultrapassarem os 50%.

Sexto, os níveis de união entre as pessoas da comunidade não ultrapassam a metade,

conforme apresentamos na tabela 12 que se segue:

Tabela 12. Nível de união entre as pessoas da comunidade

Nível de união fi % Não unidas 15 7.6 Pouco unidas 40 20.3 Mais ou menos unidas 56 28.4 Unidas 77 39.1 Muito unidas 9 4.6 Total 197 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Lemos na tabela que 39,1% dos inquiridos sentem que as pessoas da comunidade são unidas,

28,4% têm dúvida quanto a união das pessoas da comunidade, 20% consideram as pessoas da

comunidade pouco unidas e 7,6% avaliam negativamente o nível de união entre as pessoas da

comunidade.

Sétimo, o estudo procurava avaliar o nível se satisfação enquanto componente de bem-estar.

Neste âmbito, constatamos que 47,7% dos inquiridos se consideravam satisfeitos com a vida,

Page 71: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

61

26,9% consideravam normal o seu nível de satisfação e 14,7% estavam de alguma maneira

satisfeitos.

Tabela 13. Satisfação com a vida

Grau de satisfação fi % Muito insatisfeito 9 4.6 De alguma maneira insatisfeito 29 14.7 Normal 53 26.9 Satisfeito 94 47.7 Muito satisfatório 12 6.1 Total 197 100.0 Fonte: pesquisa de campo

De igual modo, procurámos avaliar os níveis de satisfação com a situação financeira das

famílias. Os resultados são indicados na tabela 14 que se segue:

Tabela 14. Satisfação com a situação financeira da família

Grau de satisfação fi % Muito insatisfeito 36 18.4 De alguma maneira insatisfeito 63 32.1 Normal 40 20.4 Satisfeito 55 28.1 Muito satisfeito 2 1.0 Total 196 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Podemos ver na tabela 14 que 28,1% dos inquiridos se sentiam satisfeitos com a situação

financeira das suas famílias, 32,1% estavam de alguma forma satisfeitos, 20% consideravam

normal a situação financeira das suas famílias e 18,4% se sentiam muito insatisfeitos.

Oitavo, em termos económicos, 43,9% descreviam as suas famílias como sendo mais ou

menos pobres, 24,7% consideravam as suas famílias médias em termos económicos e, para

19,7% dos inquiridos, as suas famílias eram muito pobres (vide a tabela 15).

Tabela 15: Descrição da família em termos económicos

Descrição fi % Muito pobre 39 19.7 Mais ou menos pobre 87 43.9 Média 49 24.7 De alguma maneira rica 20 10.1 Muito rica 3 1.5 Total 198 100.0 Fonte: pesquisa de campo

No cômputo geral, os inquiridos descrevem as suas famílias como sendo pobres.

Nono, apesar de, em termos gerais, os inquiridos descreverem as suas famílias como pobres,

há perspectivas positivas de tornar a vida melhor. Por exemplo, 51,5% têm a perspectiva de

Page 72: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

62

que as suas famílias terão uma situação económica mais ou menos melhor no futuro e 22,2%

sonham com uma situação económica melhor para as suas famílias. Estes números superam

em grande os que não acreditam na transformação da situação económica das suas famílias

(16,7%) e os que pensam que a situação económica das suas famílias piorará. Vide a tabela

16.

Tabela 16. Perspectiva da situação económica das famílias

Perspectiva de vida das famílias fi % Muito pior 9 4.5 Mais ou menos pior 10 5.1 Nao vai mudar 33 16.7 Mais ou menos melhor 102 51.5 Muito melhor 44 22.2 Total 198 100.0 Fonte: pesquisa de campo

É interessante notar que as pessoas, reconhecendo a situação de pobreza em que as suas

famílias vivem, não se deixam dominar pelo pessimismo, embora a maioria (51,5%) não

perspective grandes melhorias. Notamos um alto grau de vontade e motivação de mudar a

vida para melhor. A tabela 17 que se segue ilustra esta constatação.

Tabela 17. Força/motivação para mudar a vida

Força/motivação para mudar a vida fi % Muito fraco 5 2.5 Mais ou menos fraco 18 9.1 Equilibrado 34 17.2 Mais ou menos forte 57 28.8 Muito forte 84 42.4 Total 198 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Conforme podemos conferir na tabela 17, 42,4% dos inquiridos acreditam serem muito fortes

e com plenos direitos para mudarem as suas vidas, 28,8% consideram-se mais ou menos

fortes, 17,2% equilibradamente se sentem fortes. No sentido oposto, 9,1% sentem-se mais ou

menos fracos e sem plenos direitos para mudarem as suas vidas e apenas 2,5% se consideram

muito fracos para o efeito.

Por outro, o estudo procurou avaliar a capacidade das famílias sobreviverem em casos de

crises tais como más colheitas, perda de emprego, doença, indigência, entre outras

dificuldades. Assim, 38,5% dos inquiridos sentem-se muito seguros, 38,8% são mais ou

menos seguros e 17,4% colocam-se no médio. Comparativamente há cinco anos, 55% dos

inquiridos consideram que se sentem confiantes perante crises, 21,9% sentem-se mais

confiantes do que há cinco anos e 11,2% se sentem menos confiante.

Page 73: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

63

Importa referir que em caso de crises, 67,2% dos inquiridos recebem apoio da família,

parentes, amigos ou vizinhos e 17,7% recorrem à agiota ou créditos informais.

Adicionalmente, 50,5% consideram suficiente o apoio que dão aos filhos, pais e parentes, em

oposição aos 24,5% dos que acreditam ser pouco o apoio que disponibilizam aos filhos, pais e

parentes. A tendência idêntica verifica-se em relação ao apoio que se recebe dos filhos, pais e

parentes. Neste aspecto, 56,9% dos inquiridos satisfazem-se com o apoio que recebem dos

filhos, pais e parentes vis –à-vis os 14,4% dos que consideram pouco o apoio que recebem dos

filhos, pais e parentes.

Em outro desenvolvimento, o estudo procurava saber dos inquiridos sobre os principais

problemas que, uma vez resolvidos, a vida poder-se-ia tornar melhor. Os problemas poderiam

ser de carácter económico, de saúde, de infra-estruturas, políticos, de segurança e sociais.

No âmbito económico os problemas poderiam ser o desemprego, a pobreza, a inflação, a falta

de crédito, os impostos, a falta de terra e a baixa qualidade de terra. Destes problemas,

destacaram-se a falta de terra, a baixa qualidade de terra e o desemprego, conforme o gráfico

3 que se segue.

Gráfico 3. Problemas económicos

Fonte: pesquisa de campo

Page 74: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

64

Os problemas de saúde poderiam ser as doenças ou epidemias, os cuidados de saúde prestados

por agentes de saúde, o acesso a água potável e o saneamento do meio. Assim, constatou-se

que o acesso a água potável, os cuidados de saúde e as doenças se afiguram como os

principais problemas de saúde que a população enfrenta. Vide o gráfico 4 a seguir:

Gráfico 4: Problemas de saúde

Fonte: pesquisa de campo

As estradas e os sistemas de transporte posicionam-se como principais problemas de infra-

estruturas, conforme se indica no gráfico 5 abaixo.

Gráfico 5. Problemas de infra-estruturas

Fonte: pesquisa de campo

Page 75: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

65

Na política, a corrupção constitui o grande problema, seguido dos políticos, segundo se ilustra

no gráfico 6 que se segue.

Gráfico 6: Problemas políticos

Fonte: pesquisa de campo

Já no campo de segurança o principal problema está relacionado com crimes ou roubos.

Gráfico 7. Problemas de segurança

Fonte: pesquisa de campo

Por último, os conflitos de terra, a exclusão social e a educação destacam-se no âmbito social,

segundo se pode ler no gráfico 8 a seguir:

Page 76: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

66

Gráfico 8. Problemas sociais

Fonte: pesquisa de campo.

2.2.6. Participação política

A participação política é outra categoria de capital social. A participação política averigua a

capacidade que os membros do agregado doméstico têm para influenciar tanto eventos locais

como respostas políticas mais amplas, através da realização de diversas actividades, dentre as

quais a reunião da comunidade, reunião com um político local, participação em audiência

pública, manifestação política, votação.

Do estudo realizado, apuráramos que 94,5% dos inquiridos haviam participado da reunião da

comunidade. Este número contrasta-se com 3,8% dos que haviam tido pelo menos uma

reunião com um político local e 1,6% dos que participaram de uma audiência pública,

segundo se pode verificar na tabela 18, que se segue.

Tabela 18. Participação política

Forma de participação fi %

Reunião da comunidade 173 94.5

Audiência pública 3 1.6

Reunião com um politico local 7 3.8

Total 183 100.0

Fonte: pesquisa de campo

Page 77: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

67

Adicionalmente, 77,4% dos inquiridos votaram nas últimas eleições15, contra os 19,5% dos

que não votaram e 3,1% dos que não podiam votar por não reunir condições para o efeito (a

idade mínima para votação). Quando questionado se, eventualmente, os inquiridos poderiam

votar num candidato com que não comungasse a mesma religião, etnia, comunidade, distrito,

província ou região, 68,4% responderam positivamente e 29,6% negaram tal condição, facto

que revela que o nível de tolerância política na localidade é alto.

2.2.7. Sociabilidade, interacções diárias

Para além de participar em actividades de grupos e associações, as pessoas fazem também

outras actividades de forma informal, com as outras. Tais actividades podem consistir em

passar refeições, visitar e receber visitas, participar em convívios ou actividades recreativas,

confiar os filhos ao cargo de alguém ou mesmo pedir ajuda em caso de alguma aflição

repentina.

A este respeito verificámos que, frequentemente (89,8% dos casos), as pessoas passam

refeições com os membros da família ou parentes e algumas vezes (8,7%) com amigos de

diferente religião, igreja, formação, género ou posição económica. A mesma tendência se nota

quando se trata de visitas. Normalmente, 78,3% dos inquiridos são visitados por membros da

família e ou parentes e 17,7% são visitados por amigos de diferente religião, igreja, formação,

género ou posição económica.

Apurámos, igualmente, que 68,4% dos inquiridos normalmente se juntam a membros da

família ou parentes para convívios ou actividades recreativas e 26,6% normalmente convivem

com amigos de diferente religião, igreja, formação, género ou posição económica. Por outro

lado, o nível de confiança em relação aos vizinhos é alto (75%).

Todavia, 82,9% dos inquiridos preferem recorrer aos membros da família ou parentes em caso

de preocupação ou doença a recorrer por, por exemplo, aos vizinhos, amigos ou amigas de

confiança ou da igreja.

15 Refere-se as eleições gerais, que se realizaram junto com as eleições para as Assembleias Provinciais, a 28 de

Outubro de 2009, em Moçambique.

Page 78: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

68

2.2.8. Actividades comunitárias

Nas actividades comunitárias buscamos a participação em actividades sociais, as barreiras

para a participação social, o número de organizações ou associações activas na comunidade.

Averiguamos, igualmente, o apoio nos eventos comunitários, as atitudes perante a capacidade

de tomada de decisão da comunidade e perante a cooperação social e cívica, assim como o

funcionamento do sistema de sanções, para além da confiança em certos grupos de pessoas

seja na família, na comunidade, na igreja ou religião, sejam comerciantes, juízes, a polícia ou

o governo local.

Na localidade de Mtengo wa Mbalame existem algumas organizações não governamentais

(ONGs). As mais activas e, por conseguinte, mais conhecidas, são três, nomeadamente: a

Total Land Care, a Icraf e o Gapi. As duas primeiras dedicam-se ao reflorestamento e a última

é vocacionada ao fomento de créditos ou poupanças rurais. O impacto das actividades destas

ONGs recebe uma apreciação positiva dos membros das comunidades, tal como mostramos

na tabela 19 que se segue:

Tabela 19. Impacto das actividades das ONGs existentes

Impacto fi % Muito negativo 12 8.3 Negativo 8 5.5 Nenhum 9 6.2 Positivo 82 56.6 Muito positivo 34 23.4 Total 145 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Como podemos ver na tabela 19, 56,6% dos inquiridos avaliam positivamente o impacto das

actividades das ONGs existentes e 23,4% consideram que o impacto das acções das ONGs em

referência é muito positivo.

O nível de participação em actividades voluntárias das comunidades se situa em 94,8%. A

participação das pessoas em trabalhos voluntários constitui um costume na localidade. Esta

afirmação é dada por 94,7% dos inquiridos. Aliado ao costume de participação em actividades

voluntárias está o sistema de sanções. A existência de sistema de sanções foi confirmada por

77,9% dos inquiridos contra 21,1% dos que negaram a existência de sistema de sanções.

Assim, as pessoas que se furtam à participação em trabalhos voluntários nas suas

comunidades são criticadas ou multadas. Por outro lado, 79,6% acreditam que a maioria das

pessoas das comunidades onde vivem faz uma contribuição justa para as actividades das

comunidades e 75% disseram que não havia barreiras à participação.

Page 79: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

69

Importa referir que o espírito de ajuda mútua é alto, pois nos últimos seis meses a contar a

partir da data da realização do estudo, 94,8% tinham ajudado alguém. Por último, interessava

ao estudo saber em quem os inquiridos depositariam mais confiança e em quem confiariam

menos, entre pessoas da família, comunidade, igreja ou religião, comerciantes, juízes,

tribunais ou polícia, líderes comunitários e o governo. Os resultados são descritos na tabela 21

que segue:

Tabela 20. Confiança

Grupo de pessoas N Média Pessoas da família 189 5.03 Pessoas da comunidade 185 3.86 Pessoas da igreja ou religião 161 3.99 Comerciantes 178 2.52 Juízes, tribunais ou polícia 184 4.05 Líderes comunitários 186 4.66 Governo 184 4.77 Fonte: pesquisa de campo

Esta tabela mostra-nos que, não obstante haver altos índices de participação comunitária e alto

espírito de ajuda mútua, o maior índice de confiança regista-se no seio da família e os

comerciantes são, em média, os menos confiados.

2.2.9. Relações com o governo

A vida das pessoas é afectada pelo governo através de suas instituições. Esta situação implica

que as instituições do governo sejam competentes, e, sobretudo, honestas para melhor

servirem aos cidadãos que procuram os seus serviços. Obriga-se também ao governo a

procurar consentimento dos cidadãos na mudança de normas e políticas que incidem

directamente sobre o bem-estar das famílias, considerando as suas preocupações.

Neste sentido, procurámos saber dos inquiridos sobre a competência das instituições que

trabalham na localidade de Mtengo wa Mbalame. De igual forma, afigurava-se importante

sabermos se as normas, leis e políticas que afectam o bem-estar da população local mudavam

com consentimento prévio dos visados, assim como se as preocupações da população local

em tais processos eram tidas em conta.

No que respeita a competência das instituições que desenvolvem as suas actividades na

localidade, obtivemos os seguintes resultados:

Page 80: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

70

Tabela 21. Competência das instituições

Instituição

Avaliação da competência em média Muito

incompetentes Incompetentes Mais ou menos

competente competente Muito

competente Total Governo local 1.80 3.35 3.40 3.77 4.21 3.60 Autoridades tradicionais 2.44 3.76 3.89 3.80 4.33 3.81 Autoridade tributãria/fiscais 2.30 3.69 3.58 3.69 4.00 3.63 Hospitais/centros de saúde 3.30 4.00 3.71 3.68 3.90 3.72 Professores 4.50 3.33 3.00 3.45 3.50 3.35 Juízes/sistema de justiça 2.30 2.25 3.26 3.38 3.44 3.20 ONGs 3.88 3.58 3.30 3.67 3.94 3.63 Fonte: pesquisa de campo

Esta tabela mostra-nos que as autoridades tradicionais são, em média, muito competentes,

seguidos do governo local. Os professores se posicionam no extremo oposto, seguidos dos

centros de saúde, sendo, portanto, considerados de muito incompetentes e incompetentes

respectivamente.

Na mudança de normas, leis e políticas constatou-se que, geralmente, não tem havido

consentimento da população local. Esta constatação é confirmada por 77% dos inquiridos. Por

conseguinte, 85,5% dos inquiridos foram unânimes em afirmar que o governo não considera

as suas preocupações na mudança de normas, leis e políticas que afectam o dia a dia das suas

famílias.

Além disso, a melhor prestação de bons serviços aos cidadãos por parte dos funcionários

públicos depende de pagamento de dinheiro extra normal. Por exemplo, 53,7% dos inquiridos

já foram obrigados a pagar um dinheiro adicional ao que normalmente deveriam pagar aos

funcionários de Estado para se beneficiarem de serviços públicos. Uma vez pago o dinheiro

extra, tal como afirmam 75,4% dos inquiridos, a prestação dos serviços melhora. Porém, o

grau de honestidade varia de instituição para instituição, conforme se pode ver na tabela 22 a

seguir:

Tabela 22. Avaliação do grau de honestidade das instituições

Instituição Grau de honestidade honestidade em média

Muito desonesta desonesta Mais ou menos hinesta Honesta Muito honesta Total Governo local 3.33 3.00 3.62 3.36 3.92 3.46 Autoridades tradicionais 3.44 3.00 3.77 3.65 4.04 3.69 Autoridade tributãria/fiscais 3.22 3.00 3.50 3.31 3.76 3.38 Hospitais/centros de saúde 3.22 3.17 3.20 3.60 3.75 3.56 Professores 3.50 3.40 3.42 3.40 3.79 3.47 Juízes/sistema de justiça 2.17 3.20 3.50 3.63 4.50 3.28 ONGs 3.75 1.80 2.77 2.99 3.16 3.00

Fonte: pesquisa de campo

Page 81: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

71

Esta tabela reflecte que, enquanto os juízes ou o sistema de justiça e as autoridades

tradicionais gozam de um alto grau de honestidade, os professores apresentam o alto grau de

desonestidade. Por exemplo, “para passar na escola, as vezes é preciso pagar dinheiro. O

governo deveria punir os professores desonestos16”.

Não obstante o cenário acima exposto, 94,4% dos inquiridos se sentem bem por serem

moçambicanos e viverem na localidade de Mtengo wa Mbalame.

2.2.10. Violência e crime

Às vezes diferentes grupos ou pessoas, habitantes da mesma área vivem pacificamente.

Outras vezes a partilha do mesmo espaço geográfico pode ser motivo de tensões,

desentendimentos e conflitos entre grupos ou pessoas. Na tabela 23 que se segue descrevemos

a situação na localidade de Mtengo wa Mbalame.

Tabela 23. Tensões, desentendimentos e conflitos entre grupos

Tensões, desentendimentos e conflitos entre grupos fi % Não há tensões e diferentes pessoas vivem juntas pacificamente 13 6.8 Já houve tensões e conflitos, mas agora vivem pacificamente 23 12.0 Há tensões e conflitos entre membros do grupo, mas sem violência 137 71.4 Há tensões e conflitos entre membros do grupo com violência 19 9.9 Total 192 100.0 Fonte: pesquisa de campo

Segundo mostramos na tabela 23, na localidade de Mtengo wa Mbalame há tensões e

conflitos entre membros de grupos, mas, na maioria das vezes (71,4%), as tensões e os

conflitos ocorrem sem violência. Com isso, porém, não se descarta totalmente a ocorrência de

conflitos violentos.

Existem pessoas que ocasionalmente recorrem à violência para resolverem conflitos, segundo

ilustramos na tabela 24 que se segue:

Tabela 24. Recurso a violência para resolver conflitos

Frequência de recurso a violência fi % Frequentemente 19 11.4 Ocasionalmente 136 81.4 Nunca 12 7.2 Total 167 100.0 Fonte: pesquisa campo

16 Eulália Paulo Chisale, 17 anos, entrevistada no dia 10/07/2010, na Comunidade de Nhoane, Localidade de Mtengo wa Mbalame.

Page 82: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

72

Conforme podemos ler na tabela, 81,4% afirmam que, ocasionalmente, as pessoas recorrem à

violência para resolverem os conflitos.

Contudo, comparativamente há cinco anos, o nível de violência diminuiu muito, tal como

podemos ver no gráfico 9 abaixo.

Gráfico 9. Níveis de violência comparativamente há 5 anos

Fonte: pesquisa de campo

De acordo com o gráfico 9, 40,3% dos inquiridos são da opinião que o nível de violência

diminuiu muito nos últimos cinco anos, 37,4% pensam que diminuiu pouco e 10,5% sentem

que o nível de violência aumentou pouco. No geral, podemos dizer que o nível de violência

diminuiu nos últimos cinco anos. Assim, 46,1% sentem-se seguros, contra os 19,2% que se

sentem inseguros. Como resultado da segurança que é sentida, 58,6% depositam confiança

nas autoridades do governo responsáveis pela segurança e protecção de si e suas famílias,

pois, nem eles nem os membros das suas famílias tinham sido vítimas de crime nos últimos

doze meses17, tal como podemos observar no gráfico 10 que segue:

17 Últimos doze meses a contar a partir do mês de Julho de 2010, mês da realização do estudo.

Page 83: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

73

Gráfico 10. Segurança e protecção

Podemos ler no gráfico que o nível de confiança nas autoridades do governo que garantem a

segurança e protecção é directamente proporcional à segurança e protecção. Quanto mais

seguro e protegido se sente, mais confiança se deposita nas autoridades do governo que zelam

pela segurança e protecção.

2.2.11. Comunicação

Nesta secção analisamos a frequência ou intensidade da rede e formas de comunicação, sejam

– contactos face a face e telefónicos com parentes e amigos, sejam outras formas de

comunicação. Analisamos igualmente o acesso às vias de comunicação tais como estradas e o

seu estado de transitabilidade. Olhamos, igualmente, para a questão de acesso aos meios de

comunicação, tais como rádio, televisão e telefone, e, por último, procuramos identificar a

fonte mais usada para se comunicar com o governo.

Deste modo, o estudo revelou que na localidade de Mtengo wa Mbalame não há correios.

Geralmente as pessoas têm acesso às estradas. Todavia, o estado das vias é de tal forma mau

Page 84: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

74

que garante a transitabilidade ininterrupta a apenas 20,3% da população. A maioria (76,9%)

acede às estradas e transitam-nas com alguma facilidade somente em certas estações do ano,

neste caso, estação seca, conforme mostra o gráfico 11 que segue:

Gráfico 11. Acessibilidade e estado das estradas

Além disso, o acesso e a leitura de jornais são muito fracos, de forma que 82,4% dos

inquiridos não têm acesso a jornais e dos que têm acesso aos jornais, 8,6% lêem jornal pelo

menos uma vez por semana e 7% lêem jornal pelo menos duas vezes por semana.

Pelo contrário, o estudo revelou que 72,4% dos inquiridos tinham receptores de rádio em casa

ou perto de casa e 68,5% destes escutavam à rádio diariamente. Por outro lado, 23,7% dos

inquiridos tinham televisão em casa ou perto de casa contra 73,3% que não tinham televisão.

De igual modo, 39,8% tinham telefone em casa ou perto de casa, número que se opõe aos

60,2% de pessoas que não tinham telefone em casa nem perto de casa.

No que diz respeito à comunicação com o governo local, as comunidades usam diferentes

canais de informação. Porém, a mais usada são os líderes comunitários. O estudo apurou que

Page 85: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

75

85,6% dos inquiridos se comunicavam com o governo local muito mais através dos líderes

comunitários do que, por exemplo, através de jornais, magazines, rádio, vizinhos, pessoas da

família, pessoas da comunidade, pessoas da igreja ou religião e funcionários da administração

local.

2.2.12. Demografia

Interessava ao estudo inteirar-se do nível de escolaridade dos inquiridos, para além do número

de membros dos seus agregados familiares, sua profissão, o ramo e sector de trabalho, as

línguas e a religião.

Em primeiro lugar, constatamos que 60,7% dos inquiridos tinham o nível primário, 20,4%

não tinham frequentado a escola, 12,8% tinham ensino secundário, 5,1% eram de nível

técnico profissional e apenas 1% tinham formação superior.

Em segundo lugar, o número médio por agregado familiar é de 6 membros e a moda é de 4

membros, conforme mostramos no gráfico 12 que se segue

Gráfico 12. Membros por agregado familiar

Fonte: Pesquisa de campo

Em termos de frequência e conforme ilustramos no gráfico, 18,9% dos agregados inquiridos

são constituídos por 4 membros, 16,6% por 7 membros e 14,9% por 5 membros.

Page 86: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

76

Em terceiro lugar, apurámos que 83,9% dos inquiridos são camponeses e 9,7% são

professores. A agricultura é o ramo de actividade mais importante da localidade de Mtengo

wa Mbalame, pois, 90,2% dos inquiridos trabalham neste ramo, contra apenas 9,8% dos que

trabalham noutros ramos. O sector privado informal ocupa 84,7% dos inquiridos e o sector

formal é responsável pela ocupação de 13,8%. O sector privado formal ocupa apenas 1,6% da

população em idade activa.

Em último lugar, foi possível verificarmos que 97,9% dos inquiridos falam chichewa. A

língua portuguesa é falada por apenas 1,6% dos inquiridos e 0,5% falam chinyungwe. A

religião mais predominante é a cristã com 95,2%, seguida da religião tradicional africana com

3%. A religião islâmica é praticada por apenas 0,5% dos inquiridos.

Page 87: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

77

3. CAPITAL SOCIAL E A EMERGÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL NA LOCALIDADE DE MTENGO WA MBALAME

Neste capítulo, discutimos os resultados, cruzando os resultados da pesquisa de campo e as

referências teóricas que tratam do capital social, desenvolvimento, desenvolvimento

sustentável, desenvolvimento local e desenvolvimento local sustentável, à luz do paradigma

de interacção social.

De acordo com Bossel (1999:15-16), os estudos de desenvolvimento sustentável se

preocupam como aspectos sociais tais como a educação, o emprego, a saúde, o abastecimento

de água e o saneamento básico, a habitação, a pobreza, a distribuição de renda, o crime, a

população, os valores éticos e sociais, o papel da mulher, a estrutura comunitária, acesso à

terra e aos recursos, a igualdade ou exclusão social. Preocupa-se também com aspectos

económicos, dentre eles a dependência económica, o sistema de transportes, a estrutura

económica e o desenvolvimento, o comércio e a produtividade. Por outro lado, é tarefa de

peritos em desenvolvimento sustentável estudar aspectos ambientais relacionados com a

gestão de recursos naturais, com destaque para as florestas, a água e uso da terra. Por último,

os estudos de desenvolvimento sustentável não se distanciam de aspectos institucionais tais

como tomada de decisão integrada, governação e papel da sociedade civil, instrumentos

normativos e institucionais e participação pública.

É sobre os mesmos assuntos que os estudos de capital social se debruçam, porém com ênfase

nas normas, redes e interacções sociais que, com base na reciprocidade e cooperação,

facilitam a acção colectiva, com vista ao alcance de objectivos e interesses comuns.

Por isso, se afigura legítimo afirmarmos que o capital social não é mais nem menos do que

uma das dimensões do desenvolvimento local sustentável. Três razões suportam esta

afirmação.

A primeira razão é que o desenvolvimento procura responder a três valores centrais:

sustentabilidade, auto-estima e liberdade de escolha (Todaro & Smith, 2006:18-19). Parte-se

do princípio que, as pessoas, para além de terem, continuamente, a habilidade para

satisfazerem as necessidades básicas, tais como alimentação, habitação, saúde e protecção,

devem possuir a auto-estima, isto é, o sentido de valor, auto-respeito, identidade, dignidade,

honra e reconhecimento e, sentirem a liberdade de escolherem livremente os alimentos, o

vestuário, a habitação, religião, filiação partidária, os serviços de saúde e educação, entre

outros.

Page 88: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

78

A segunda razão é que o processo de desenvolvimento no contexto local obriga-se a ser

participativo, respeitar à cultura e aos valores sociais locais, como forma de gerar o bem-estar

individual e auto-estima da população local e expandir as medidas económicas e escolhas

sociais a indivíduos e das comunidades.

A terceira razão emana do facto de o desenvolvimento sustentável ser um conceito integral e

abrangente, que envolve compromissos entre objectivos sociais, ecológicos e económicos e,

por outro, relaciona as aspirações colectivas de paz, liberdade, melhoria das condições de vida

e de um meio ambiente saudável (National Research Council 1999, Hediger, 2000 apud

Camargo, 2005:72).

Assim, o estudo sobre o capital social na localidade de Mtengo wa Mbalame para além

aspectos sócio-demográficos tangentes ao sexo, idade, responsabilidade na família e tempo de

permanência na comunidade, preocupou-se com seguintes dimensões: grupos e redes, bem-

estar, participação política, sociabilidade, interacções diárias, actividades comunitárias,

relações com o governo, violência e crime, comunicação. É dentro destas dimensões de

capital que as dimensões de desenvolvimento sustentável acima indicadas foram analisadas e

são discutidas.

3.1. Discussão dos resultados

3.1.1. Sexo, posição social

O carácter de toda a interacção social depende das posições que as pessoas ocupam no sistema

de interacção (seu status), seus padrões de conduta (normas) e seus conjuntos de

comportamentos esperados (papéis) (Brym et al, 2006:137).

Este pressuposto do paradigma de interacção social melhor sustenta as constatações tangentes

às relações de género na localidade de Mtengo wa Mbalame. Os resultados mostram que os

homens continuam com o papel dominante nos agregados familiares em detrimento das

mulheres. Por exemplo, do total dos inquiridos, 63,8% são chefes de família,

maioritariamente homens e 36,2% não são chefes de família, maioritariamente mulheres.

Este desnível significa que as mulheres, para além de não terem grande poder de decisão no

seio da família, ficam à margem dos canais de troca de informação útil para o desempenho

económico. Em outras palavras, o custo de informação nas famílias chefiadas por mulheres é

mais alto que nas chefiadas por homens. Quando a troca de informação for mais alta entre

famílias chefiadas por homens do que entre as famílias chefiadas por mulheres, os programas

Page 89: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

79

de desenvolvimento irão falhar, porque isto significa que as mulheres não têm o controle

sobre os factores de produção, nem o poder de influenciar o rumo das políticas socio-

económicas (Katungi, Edmeades & Smale, 2006:4-5).

Ainda de acordo com Katungi, Edmeades e Smale (ibid), mulheres e homens têm também

diferentes dotações de recursos quando perseguem estratégias da vida, que poderiam ter

consequências, a longo prazo, na formação de capital social e troca de informação. Porém, as

mulheres têm alto custo de oportunidade e de tempo que reduzem os seus incentivos de

participar em certas redes sociais.

Na localidade de Mtengo wa Mbalame, por exemplo, notamos que as mulheres não

participam em grupos desportivos e sua participação em grupos financeiros ou de poupança é

tímida. Além disso, as normas nas comunidades podem excluir as mulheres de actividades

que impulsionam o capital social. Em Mtengo wa Mbalame, as mulheres raras vezes se

misturam com os homens nas igrejas, nos falecimentos, nas danças e nas reuniões. Esta

situação cimenta o papel secundário da mulher no processo de tomada de decisão, aprofundando as

suas desvantagens no desenvolvimento.

Se assumirmos que, efectivamente, diversos aspectos de estrutura social influenciam a

constituição de vida emocional das pessoas tal como preconiza o paradigma de interacção

social, então podemos afirmar que na localidade de Mtengo wa Mbalame, as mulheres, devido

ao seu status em desvantagem, não têm um desempenho económico desejado. O desempenho

económico ideal seria alcançado através do aumento do número de relações comerciais

mutuamente benéficas, da resolução dos problemas de acção colectiva, da redução dos custos

de transacção e monitoria e da melhoria dos fluxos de informação. Este processo implica a

elevação dos níveis de capital social entre mulheres.

A elevação dos níveis de capital social entre mulheres na localidade de Mtengo wa Mbalame

passa necessariamente pela criação de organizações de defesa de direitos da mulher, porque,

segundo apurámos, não há nenhuma organização vocacionada para o efeito. Adicionalmente,

há necessidade de se promover campanhas de divulgação dos direitos da mulher. Esta

actividade pode ser desenvolvida pela administração local em parceria com ONGs

interessadas.

Outro factor muito importante para a elevação do capital social nas mulheres rumo ao

desenvolvimento local sustentável é a criação de projectos de geração de renda e emprego,

Page 90: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

80

virados à mulher. Os projectos de geração de emprego e renda podem reforçar a autonomia

das mulheres e ampliar seu empoderamento no sentido de participarem nas decisões pessoais,

domésticas e no espaço público, colocando assim as mulheres num patamar de igualdade de

oportunidades em termos de desenvolvimento sustentável e cidadania plena.

Rupasingba, Goetz e Freshwater (2000:165-167) acreditam que o capital social faz parte de

factores de produção no processo de produção, pois afecta a oferta de certos bens públicos.

Como não bastasse, o capital social pode melhorar o desempenho económico através do

aumento do número de relações comerciais mutuamente benéficas, da resolução dos

problemas de acção colectiva, da redução dos custos de transacção e monitoria e da melhoria

dos fluxos de informação.

O argumento central destes autores é de que o capital social fomenta a interacção interpessoal.

Por sua vez, interacção interpessoal, quando repetida, facilita a comunicação e implica a

informação sobre a confiança e cooperação de outras pessoas, o que reduz os custos de

transacção associados a trocas comerciais. Entendemos que, quando os custos de transacção e

os custos de recolha e disseminação de informação reduzem, os riscos diminuem e as trocas

comerciais aumentam.

A transposição deste argumento para o panorama cultural de Mtengo wa Mbalame encontraria

alguma descontextualização, porque, primeiro, as mulheres raras vezes se juntam aos homens

conforme nos referimos anteriormente. Segundo, porque o estudo revelou que os homens

possuem largas vantagens de acesso à informação em relação às mulheres. Terceiro,

observámos que, na maioria das vezes, o comércio é realizado pelos homens. As mulheres

dedicam-se mais aos trabalhos agrícolas e doméstico.

Podemos assim depreender que, só com a criação de organizações de mulheres, educação e

sensibilização das comunidades da localidade para a necessidade de olhar para a mulher como

um agente de mudança económica e social, os custos de transacção e os custos de recolha e

disseminação de informação reduzirão, os riscos diminuirão e as trocas comerciais

aumentarão.

3.1.2. Grupos e redes

O paradigma de interacção social pressupõe que as pessoas interagem, principalmente,

baseadas no medo, na inveja ou na confiança. A dominação, a competição e a cooperação

fazem surgir essas três emoções. Adicionalmente, há uma explicação geral, segundo a qual, as

Page 91: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

81

pessoas as vezes agem contra seus interesses e suprimem suas emoções porque diversas

colectividades sociais (grupos, redes e burocracias) exercem forte influência sobre seu

comportamento. Os padrões de laços sociais por meio dos quais fluem recursos materiais e

emocionais formam redes sociais. Informação, doenças infecciosas e ajuda mútua, entre

outras coisas, se espalham por meio de redes sociais. Por último, lemos no paradigma de

interacção social que, as pessoas que se mantêm juntas pela interacção e por uma identidade

comum formam grupos sociais.

Na localidade Mtengo wa Mbalame foram identificados grupos ou organizações, redes,

associações, quer formais quer informais, dos quais afiguram os seguintes: grupos religiosos

ou espirituais; culturais, sociais, desportivos; de apoio emocional; de serviços básicos;

étnicos; comités comunitários/bairro/localidade; grupos financeiros, de crédito ou de

poupança; de produção; partidos políticos; movimento social, movimento de protesto.

De uma forma geral a densidade de grupos ou redes em Mtengo wa Mbalame é fraca, um aspecto

considerado como negativo pelas autoridades administrativas da localidade. Efectivamente,

verificámos uma grande afluência em grupos religiosos em detrimento de outros grupos, conforme se

pode ver na tabela 25 que se segue:

Tabela 25. Densidade de grupos

Grupo fi % Grupo religioso 109 73.2 Grupo cultural 14 9.4 Grupo desportivos 7 4.7 Grupos de serviços básicos 4 2.7 Grupos financeiros 4 2.7 Grupos de produção 3 2.0 Partido politico 8 5.4 Total 149 100.0 Fonte: pesquisa de campo

A tabela mostra que 73.2% dos inquiridos privilegiam os grupos religiosos, 9.4% grupos

culturais e 5.4% os partidos políticos, os outros grupos não atraem a muitas pessoas.

Esta situação pode ser benéfica para os objectivos de desenvolvimento sustentável.

Reparemos, por exemplo, que os grupos predominantes (religiosos) perseguem

essencialmente fins espirituais, que por sua vez catalisam o desenvolvimento sustentável.

A religião fundamenta-se na fé. Julgamos por isso que a religião é a fonte privilegiada de

acumulação de capital social porque, para além de unir pessoas em redes, estimula boas

práticas tais como a honestidade, a integridade, a solidariedade e auto – superação.

Page 92: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

82

Adicionalmente, a religião promove a paz e a liberdade espirituais que são muito importantes

no processo de desenvolvimento.

Por isso, os crentes muitas vezes trabalham juntos e de forma autónoma no desenvolvimento

de obras de beneficiação. Na localidade de Mtengo wa Mbalame temos a destacar o Igreja

católica. Relevamos a Igreja Católica por esta estar empenhada em diversas acções de

formação na Missão de Fonte – Boa e pelo esforço que despende na construção de pequenas

represas para irrigação nas comunidades circunvizinhas da Missão de Fonte-Boa.

Observámos, igualmente, que nas Comunidades de Nhoane e Mangombo os missionários

católicos da Fonte-Boa, em colaboração das comunidades locais, construiriam pequenos

centros de acolhimento para crianças órfãs e desfavorecidas. Os centros de acolhimento são

constituídos por dormitórios, furos de água e moagens.

Nos centros, as crianças envolvem-se em acções de formação de artes e ofícios como forma

de garantir o seu futuro profissional. Os furos de água e as moagens não apenas beneficiam as

crianças dos centros como também todos membros das comunidades residentes e

circundantes, independentemente da sua corrente religiosa.

Em suma podemos dizer que o encorajamento de grupos religiosos em acções de

desenvolvimento local sustentável é fundamental, porque permite a capacitação e projecção e

implementação de programas de alfabetização que tocam directamente na vida das

comunidades locais, contribuindo assim para a resolução dos problemas persistentes de

pobreza extrema, alta mortalidade infantil, a fome, o analfabetismo, a desigualdade e a

doenças, através da garantia de alguns serviços básicos.

Outro aspecto que salientamos é a necessidade de se diversificar as redes sociais, porque

acreditamos que o aumento de produtividade poderia muito bem ser impulsionado por grupos

ou redes sociais diversos, com destaque para os grupos de produção e de crédito ou poupança.

Tinha que haver organizações para nos conceder créditos. Para o desenvolvimento

precisamos de créditos para agricultura, comércio e construção de uma rede comercial. A

comercialização agrícola não é justa. Há falta de organizações diversas para apoiarem nos

esforços de desenvolvimento de agricultura e comercialização dos produtos (Adelino Samuel,

28 anos, agricultor)18.

18 Adelino Samuel, 28 anos, agricultor e comerciante, entrevistado no dia 13/07/2010, na Comunidade de Nhoane, Localidade de Mtengo wa Mbalame.

Page 93: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

83

De acordo com Bourdieu (1980:3), a existência de uma rede social não é dom natural mas

sim produto de um trabalho de instauração e de manutenção que é necessária para produzir e

reproduzir às vinculações duráveis e úteis, próprias para procurar ganhos materiais e

simbólicos.

Nesta perspectiva, defendemos a necessidade de criação de grupos e associações de crédito

e/ou poupança, com o objectivo de colmatar a situação de falta de organizações diversas para

apoiarem nos esforços de desenvolvimento de agricultura e comercialização dos produtos. Os

grupos religiosos, desportivos, culturais, entre outros, devem ser encorajados, como forma de

diversificar o capital social para maior cooperação e coordenação na realização de actividades

diversas no âmbito de desenvolvimento local sustentável.

Paralelamente à criação de grupos e associações de crédito deve-se encontrar formas de

encorajar a aderência dos membros da comunidade, porque, conforme constatámos, há uma

fraca aderência a grupos de produção e de crédito existentes. A aplicação de taxas de juro

promocionais pode encorajar maior aderência e, consequentemente, dinamizar o processo de

desenvolvimento local sustentável.

Outra preocupação em relação a grupos ou redes sociais na localidade de Mtengo wa

Mbalame é relativa a sua composição. Embora os grupos geralmente sejam heterogéneos19,

71% dos grupos predominantes (neste caso religiosos) juntam pessoas de mesma religião.

Sendo predominantes, os grupos religiosos podem semear exclusão social, porque “os grupos

impõem a conformidade de seus membros e procuram excluir não – membros” (Brym et al

2006:172), o que levanta certas preocupações, embora não tenhamos constatado casos de

exclusão social ligados à religião durante o estudo.

Rankin (2002:3) reconhece que as redes sociais são importantes para o comércio, mercado de

trabalho, as artes, na academia e para o próprio bem-estar20. Trigilia (2001:13) trilha pela

19 Na maior parte dos grupos, os seus membros provêem de comunidades diferentes (65,5%), famílias diferentes (91,3%), incluem tanto homens como mulheres (98,3%) e possuem diferentes níveis de escolaridade (94,3%).

20 (….) social networks enhance social opportunity is relatively uncontroversial and has animated public intellectual life for centuries. Most everyone knows from experience how important networks are to success – in business, in the job market, in the arts, in academia, in human well-being itself. Yet never before have social networks and associational life been featured so prominently among the leading development institutions as prescriptions for sustainable development and economic growth. In particular, the World Bank has in recent years advocated social capital as a key ingredient for development.

Page 94: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

84

mesma opinião de Rankin ao entender que as redes sociais influenciam a emergência de

actividades empresariais e, consequentemente, facilitam o desenvolvimento económico local

em determinadas áreas.

Partilhamos a mesma opinião com Rankin e Trigilia, pois o benefício dos grupos ou redes

para as comunidades locais foi confirmado por 65,7% dos inquiridos na localidade de Mtengo

wa Mbalame. Observámos alguns dos membros de grupos produção tinham casas

melhoradas, televisores, telefones celulares e motorizadas, adquiridos graças a adesão aos

grupos de produção. Outros tinham pequenos estabelecimentos comerciais.

Para Trigilia (2001:15), o capital social contribui positivamente para a criação de capital

humano apropriado e eficiente locação de capital físico e capital financeiro através da

cooperação efectiva entre actores locais. Em adição, o capital social permite a exploração de

conhecimento tácito e do capital humano enquanto factores competitivos ligados a

especialização da produção. Por outro lado, uma boa rede de relações entre os grupos de

interesse e as instituições públicas pode favorecer a melhoria de facilidades infraestruturais e

a provisão eficiente de serviços económicos e sociais, bem como o fluxo de capital e

investimento doméstico e estrangeiro. Putnam (2000:23) diz que o capital social permite

maior produtividade, promove voluntarismo e encoraja a preocupação com o bem público.

Neste aspecto, as autoridades administrativas confirmaram o envolvimento das comunidades

em trabalhos de melhoramento e limpeza das vias de acesso, abertura de fontes de água e

construção de salas de aula. De facto, nas comunidades de Nhoane, Kalipale, Mthini, Phenda,

Lidowo e Magumbo observarmos furos de água construídos por ONGs com a participação

das comunidades, segundo as autoridades comunitárias.

De acordo com Woolcock (2002:47), as comunidades com um alto stock de redes sociais e

associações cívicas estão em melhores condições de enfrentar a pobreza e a vulnerabilidade,

resolver conflitos e partilhar informação benéfica.

Visto desta forma, o capital social afigura-se como um activo que pode ser acumulado e

investido numa determinada sociedade, de modo a colher benefícios mútuos entre os

membros de tal sociedade, porque, parafraseando Collier (2002:29), capital social é “social”

porque gera externalidades [positivas] a partir da interacção e é “capital” se o seu efeito

persistir.

Page 95: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

85

Para Serageldin (2001:xi), o capital social contribui para o funcionamento do mercado,

através de instituições, instrumentos legais e o papel do governo na organização da produção

que afectam o desempenho macroeconómico. Sem discordarmos com este autor, defendemos

que o capital social só pode contribuir efectivamente para o funcionamento do mercado, se as

instituições, os instrumentos legais e o papel do governo na organização da produção que

afectam o desempenho macroeconómico estiverem a funcionar em pleno, com justiça e

transparência.

Explicamos: na localidade de Mtengo wa Mbalame as instituições públicas não gozam de alto

prestígio nem de alta reputação ao ponto de influenciar incontestavelmente a organização da

produção que afecta o desempenho macroeconómico. A falta de honestidade, mais

simbolizada por práticas de corrupção, é o factor que concorre para a depreciação do capital

social nas relações comunidade – governo.

De acordo com a pesquisa de campo, a melhor prestação de bons serviços aos cidadãos por

parte dos funcionários públicos depende de pagamento de dinheiro extranormal. Por exemplo,

53,7% dos inquiridos já foram obrigados a pagar um dinheiro adicional ao que normalmente

deveriam pagar aos funcionários de Estado para se beneficiarem de serviços públicos. Uma

vez pago o dinheiro extra, tal como afirmam 75,4% dos inquiridos, a prestação dos serviços

melhora.

A prática de corrupção ora apresentada diminui os níveis de confiança dos cidadãos em

relação as instituições públicas locais. Diferentes autores são unânimes em afirmar que o

capital social reduz os custos de transacção, diminui o comportamento defensivo e melhora o

desempenho económico (Solow, 2001; Collier, 2002;Grootaert, Christiann e van Bastelaer,

2002; Woolcock, 2002; Serageldin, 2001).

Porém, Solow (2001:6-10) alerta que isto acontece quando houver confiança entre as partes.

Concordamos com Solow. A falta de confiança pode, de facto, minar a cooperação e

coordenação de actividades de desenvolvimento. Por exemplo, na comunidade de Nhoane, até

à data da realização do estudo, havia dificuldades de encontrar um espaço para construir salas

de aula anexas à Escola Primária de Bungwe, localizada em Bungwe (Mthini), porque

nenhum membro da comunidade se predispunha a ceder algum espaço. A razão por detrás da

relutância em ceder espaços é a falta de confiança na autoridade local, em consequência desta

(autoridade local, com o aval das autoridades administrativas) ter cedido um campo de futebol

Page 96: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

86

local à Igreja Católica, que pretendia construir obras de caridade, sem consulta prévia dos

responsáveis desportivos da comunidade.

François (2002:9) observa que na produção moderna, quando as pessoas são vulneráveis ao

oportunismo por parte de seus parceiros, a confiança facilita a interacção económica

mutuamente vantajosa. Ainda de acordo com François, certos padrões normativos de justiça

são importantes para a interacção sustentável do mercado.

Neste âmbito, na localidade de Mtengo wa Mbalame, os juízes ou o sistema de justiça e as

autoridades tradicionais gozam de um grau de honestidade mais alto do que professores,

apontados como sendo muito desonestos. Sendo os professores veículos da transmissão de

conhecimentos e valores, o quadro ora apresentado levanta preocupações com relação ao

futuro do capital humano, para cuja formação se encarrega aos professores.

Por fim, Serageldin (2001:xi.) defende categoricamente que, evidentemente, o capital social

afecta o desenvolvimento e crescimento económicos, incluindo a equidade e redução da

pobreza. Na óptica do autor, esse processo ocorre através de associações e instituições. As

associações e as instituições fornecem instrumentos informais para a partilha de informação,

coordenação de actividades e tomada de decisões colectivas. Adicionalmente, instituições

formais e informais podem ajudar a evitar as falhas de mercado.

Com a asserção de Serageldin fica reforçado o nosso posicionamento colocado no início desta

secção, segundo o qual é importante a fortificação das redes sociais na localidade, porque, tal

como vimos, a densidade institucional na localidade é fraca.

3.1.3. Bem-estar

O bem-estar é, simultaneamente, uma dimensão do capital social e uma categoria do

desenvolvimento sustentável. O bem-estar pode ser indicado através dos níveis de felicidade,

confiança nas pessoas da comunidade, satisfação com a vida, com a situação financeira, união

ou sentimento de proximidade entre pessoas na comunidade, forma de vida das pessoas da

comunidade, a descrição da família em termos económicos, perspectivas de vida e a força ou

motivação para mudar a vida.

Na localidade de Mtengo wa Mbalame, o grosso dos indicadores do bem-estar não transpõe a

barreira dos 50%. Por exemplo, foi notório que 47.7% dos inquiridos se consideravam felizes,

47,2% foram de opinião que as pessoas da comunidade eram solidárias. Por outro lado, 44%

Page 97: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

87

dos inquiridos confiavam nas pessoas da comunidade e 37,4% dos inquiridos avaliavam

positivamente o modus vivendi das pessoas nas comunidades. Para além disso, 39,1% dos

inquiridos sentiam que as pessoas da comunidade eram unidas, 47,7% se consideravam

satisfeitos com a vida, 28,1% se sentiam satisfeitos com a situação financeira e, em termos

económicos, 43,9% descreviam as suas famílias como sendo mais ou menos pobres.

Apesar de alguns destes índices serem singularmente altos, no geral são indubitavelmente

baixos. Desta forma, os desafios de desenvolvimento sustentável na localidade Mtengo wa

Mbalame são enormes. Ora vejamos:

O desenvolvimento sustentável implica a garantia contínua do bem-estar social. Esta linha de

pensamento é sustentada pelo posicionamento reflexiva de Serageldin (2001). Serageldin

recomenda que o capital social seja visto no contexto de desenvolvimento sustentável porque

desenvolvimento sustentável é um conceito largamente aceite. Serageldin olha para o capital

social como uma cola que mantém as sociedades juntas e acredita que, sem o capital social,

não haveria coerência interna das sociedades e sem coerência interna das sociedades, a

sociedade, em geral, entraria em colapso e, assim sendo, não se falaria do crescimento

económico, sustentabilidade ambiental, ou bem-estar humano.

A tese central de Serageldin é que o capital social contribui para desenvolvimento sustentável.

Para a defesa do seu posicionamento, o autor recorre aos exemplos de estudos empíricos

feitos na Somália, no Ruanda e na Jugoslávia em 1996. Nestes países, os índices de

desenvolvimento humano eram manifestamente baixos devido a guerras que destruíram o

stock de capital social existente.

A localidade Mtengo wa Mbalame, porém, debate-se com certos problemas relacionados tanto

com o capital social quanto com o desenvolvimento sustentável. No campo económico, a

localidade depara-se, principalmente, com a falta e baixa qualidade de terra. No âmbito de

saúde destaca-se o problema de falta de água potável e cuidados de saúde deficientes. Nas

infra-estruturas evidencia-se o problema de o mau estado das estradas e pontes e o sistema de

transportes deficiente.

As estradas estão em péssimas condições. As fontes de água, as escolas e os hospitais fazem

parte das nossas necessidades. Além disso, para o desenvolvimento faltam investimentos que

podem gerar emprego. Bebemos água dos poços (....). Nós produzimos, apesar de falta de

adubo. Porém, não temos onde vender os nossos produtos. É necessário fortificar a rede

Page 98: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

88

comercial e aumentar/fomentar a indústria moageira (Nachisale Mkutumula, 44 anos,

camponesa21).

Miguel Moreia reforça esta opinião quando diz:

Vivo numa comunidade (...) onde há (...) insuficiência ou mesmo carência de infra-

estruturas bem como instituições públicas como a saúde, polícia, lojas. [As] pessoas são

obrigadas a percorrer grandes distâncias para obter esses serviços, dificuldades agravadas

pela carência de transportes e vias de acesso precárias (Miguel Moreia, 30 anos,

professor22)

No que respeita a segurança, o crime ou roubos afiguram-se como grandes preocupações. No

campo político se destaca o problema de corrupção e no âmbito social sublinha-se os conflitos

de terra.

Todavia, acreditamos ser prematuro afirmar que os problemas ora referenciados estão ligados

ao baixo stock de capital social, porque para tal afirmação seria necessário, doravante,

voltarmos ao local de estudo para avaliarmos o stock de capital social existente e o nível de

desenvolvimento local sustentável e compará-los com os níveis actuais. O que podemos dizer

agora é que a superação dos problemas que identificamos requer um esforço redobrado por

parte do governo local em coordenação das comunidades locais e ONGs activas na localidade.

Adams (1996:217) diz que o desenvolvimento sustentável implica a revitalização do

crescimento económico; a mudança na qualidade de crescimento económico; a satisfação das

necessidades de emprego, alimentação, energia, água e saneamento; o controle do

crescimento da população; a conservação e melhoria da base de recursos; a reorientação da

tecnologia e gestão de riscos e; o entrosamento do meio ambiente e economia na tomada de

decisão.

21 Nachisale Mkutumula, 44 anos, camponesa, entrevistada no dia 15/07/2010, na Comunidade de Kalipale, Localidade de Mtengo wa Mbalame.

22 Miguel J.S. Moreira, 30 anos, professor, entrevistado no dia 15/07/2010, na Comunidade de Lidowo, Localidade de Mtengo wa Mbalame.

Page 99: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

89

No mesmo diapasão, Jara (1998:304-307) defende que desenvolvimento sustentável deve

assegurar a satisfação das necessidades básicas da população e equidade social, tanto no

presente quanto no futuro, promovendo oportunidades de bem-estar económico, que além do

mais, sejam compatíveis com circunstâncias ecológicas a longo prazo.

A ilação que podemos tirar desses dois autores (Adams 1996 e Jara 1998) é de que o

desenvolvimento sustentável na localidade de Mtengo wa Mbalame ainda é um grande

desafio. Todavia, chamamos atenção para facto de o processo de desenvolvimento local

sustentável não ser visto de forma linear. Os passos a dar não devem ser copiadas rigidamente

de livros e muito menos devem ser ditadas por teóricos de desenvolvimento. O processo de

desenvolvimento local sustentável caminha em função de cada realidade política, económica,

social e cultural.

Por esta razão, o processo de desenvolvimento local sustentável na localidade de Mtengo wa

Mbalame terá que passar, incontornavelmente, pela resolução dos problemas de falta e baixa

qualidade de terra, de falta de água potável e cuidados de saúde deficiente de o mau estado

das estradas e pontes e o sistema de transportes deficiente, do crime ou roubos, de corrupção e

dos conflitos de terra.

Dasgupta e Mäler (2000:185) apelam à agregação de função do bem-estar social no

desenvolvimento sustentável, porque, na óptica destes autores, desenvolvimento sustentável

significa que nunca se deve permitir que o bem-estar (e, portanto, consumo) entre em

declínio. Para Jacobs (1991:60) o desenvolvimento sustentável se preocupa não só com a

criação da riqueza e a conservação dos recursos mas também com a distribuição.

Na localidade de Mtengo wa Mbalame há evidências de que os critérios de distribuição não

são claros. Um exemplo concreto está ligado ao Fundo de Investimento para Iniciativas

Locais (FIIL), mais conhecido por “Sete milhões de meticais”, instituído pelo governo de

Moçambique para financiar projectos de desenvolvimento ao nível local. Um membro da

comunidade de Nhoane23, entrevistado na condição de anonimato, a seu pedido, foi categórico

nesse aspecto, ao afirmar que,

23 Anónimo, 33 anos, camponês, entrevistado no dia 10/07/2010, na Comunidade de Nhoane, Localidade de Mtengo wa Mbalame.

Page 100: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

90

Algumas organizações e partidos políticos fazem promessas, mas não as cumprem (...)

Moçambique é um país rico só o problema é a distribuição da nossa economia, visto que

mesmo com ajuda que o Governo dá para os pobres deverem, falo dos tais sete milhões, a

corrupção estraga...tem que se combater a corrupção (anónimo, 33 anos, camponês).

Efectivamente, é impressionante ter se constatado que nenhum dos inquiridos confirmou ter

recebido o fundo, embora as estruturas administrativas tenham aceitado que o posto

administrativo recebia e distribuía o fundo segundo “os tramites legalmente instituídos”24.

3.1.4. Participação política

A participação política é outra categoria de capital social. A participação inclui o engajamento

das populações no processo de tomada de decisão e na implementação de programas, partilha

de benefícios de programas de desenvolvimento e o envolvimento das populações na

avaliação de tais programas (Lammerink, 1998:74).

Nos estudos de capital social, a participação política averigua a capacidade dos membros do

agregado doméstico para influenciar tanto eventos locais como respostas políticas mais

amplas, através da realização de diversas actividades, dentre as quais a reunião da

comunidade, reunião com um político local, participação em audiência pública, manifestação

política, votação.

Assim, na localidade de Mtengo wa Mbalame apurámos que 94,5% dos inquiridos haviam

participado da reunião da comunidade e 3,8% haviam tido pelo menos uma reunião com um

político local. Adicionalmente, 77,4% dos inquiridos votaram nas eleições gerais de 2009.

Estes números mostram, evidentemente, que os habitantes da localidade participam mais em

reuniões de comunidade do que em reuniões com o político local, não obstante uma larga

maioria ter votado nas eleições de 2009.

Apreciamos positivamente a participação dos membros das comunidades nas reuniões da

comunidade, porque significa que o nível de hierarquização não é rígido e pode estar ao nível

mínimo, conforme preconiza o paradigma de interacção social.

24 Informação obtida de um técnico da administração na Sede do Posto Administrativo de Mtengo wa Mbalame, entrevistado a 10 de Julho de 2010. Nota: reserva-se-lhe o anonimato a seu pedido.

Page 101: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

91

À luz do paradigma de interacção social, as burocracias eficientes mantêm a hierarquização a

um nível mínimo, distribuem os processos decisórios entre todos os seus níveis e mantêm

abertos os canais de comunicação entre as suas diferentes unidades. Por isso, o maior nível de

participação em reuniões da comunidade significaria maior autonomia das comunidades em

relação ao governo local ou políticos locais.

Contudo, poderíamos também interpretar a forte participação dos membros da comunidade

nas reuniões da comunidade como consequência de falta de interesse das comunidades nos

assuntos da localidade como um todo, não se descartando a possibilidade de os políticos

locais se distanciarem das comunidades, com alguma frequência.

Frueb e Pesce (1999:2-3) defendem que o desenvolvimento local sustentável requer a

participação das comunidades locais na gestão de recursos naturais, acção ambiental colectiva

e consulta, forte compromisso das populações na manutenção de investimentos a longo prazo

e a equidade, equilíbrio entre actividades sociais e produtivas a curto e longo prazos e a

manutenção de a longo prazo de investimentos e actividades ambientais.

Na localidade de Mtengo wa Mbalame constatámos que apenas 1,6% dos inquiridos tinham

participado de uma audiência pública. Isto pode revelar-nos que as comunidades locais não se

beneficiam da oportunidade de influenciar as políticas locais. Por esta razão, as normas, leis e

políticas mudam sem consentimento da população local. Esta constatação é confirmada por

77% dos inquiridos.

A falta de consulta pública implica, inevitavelmente, que as preocupações dos cidadãos

fiquem alheias ao processo de mudanças. Por exemplo, e de acordo com a pesquisa de campo,

85,5% dos inquiridos foram unânimes em afirmar que o governo não considerava as suas

preocupações na mudança de normas, leis e políticas que afectam o dia a dia das suas

famílias.

Este quadro pode resultar na perda de credibilidade e legitimidade do governo local. Não

tendo credibilidade, o governo local dificilmente poderá promover o desenvolvimento de

actividades económicas, sociais e culturais, muito menos promover e organizar a participação

das comunidades locais, na solução de problemas locais, conforme o artigo 63 do Decreto

11/2005, de 10 de Junho.

Page 102: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

92

3.1.5. Interacções diárias e participação comunitária

Enquanto o capital social é baixo na relação com o governo, a sociabilidade e as interacções

diárias são altas no seio das famílias. A este respeito verificou-se que, frequentemente (89,8%

dos casos), as pessoas passam refeições com os membros da família ou parentes. A mesma

tendência se nota quando se trata de visitas. Normalmente, 78,3% dos inquiridos são visitados

por membros da família e ou parentes. Em adição, foi possível apurar que 68,4% dos

inquiridos normalmente se juntam a membros da família ou parentes para convívios ou

actividades recreativas. Por último, 82,9% dos inquiridos preferem recorrer aos membros da

família ou parentes em caso preocupação ou doença a recorrer, por exemplo, aos vizinhos,

amigos ou amigas de confiança ou da igreja, apesar de o nível de confiança em relação aos

vizinhos ser alto (75%).

Estes dados denotam que o capital social é alto nas famílias. De acordo com Pretty (2003:3-

6), as famílias mais unidas tendem a ter maiores rendimentos, melhor saúde, maior nível de

escolaridade e ligações mais construtivas com o governo, que as com baixos índices de capital

social, porque o alto nível de capital social está associado à melhoria do bem – estar

económico e social.

Os níveis de capital social são, de igual modo, altos quando se trata de participação

comunitária. O nível de participação em actividades voluntárias das comunidades se situa em

94,8% e a participação das pessoas em trabalhos voluntários constitui um costume na

localidade, conforme afirmam 94,7% dos inquiridos. Adicionado a isso, está o alto grau de

solidariedade ou o espírito de interajuda, pois nos últimos seis meses a contar a partir da data

da realização do estudo, 94,8% tinham ajudado alguém. Por outro lado, 79,6% acreditam que

a maioria das pessoas das comunidades onde vivem faz uma contribuição justa para as

actividades das comunidades e 75% disseram que não havia barreiras à participação.

Os níveis elevados de capital social na participação comunitária são importantes para a

emergência do desenvolvimento local sustentável. Recordemos que o desenvolvimento local

sustentável no presente trabalho é concebido como processos participativos de mudança

sociopolítica, socioeconómica e institucional que garantem às comunidades locais, de forma

equitativa e contínua, o direito à alimentação, habitação, saúde e protecção; eleva o nível de

vida, aumenta a renda, postos de trabalho, qualidade de ensino e dá maior atenção à cultura e

aos valores sociais locais, preservando em simultâneo o meio ambiente para o benefício das

gerações futuras.

Page 103: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

93

Com recurso aos estudos empíricos feitos na Indonésia, em Madagáscar e Bangladesh,

Grootaert e van Bastelaer (2002:8-9) demonstram que o capital social complementa as outras

formas de capital e pode estimular o impacto de investimentos nos capitais humano, físico e

natural.

Embora no presente estudo não tenhamos conseguido trazer esta constatação à prática,

podemos afirmar que em comunidades bem organizadas, coordenadas, unidas, norteados por

confiança e reciprocidade, e guiadas por normas, instituições e organizações ou redes sociais

facilmente poderão cooperar para o desenvolvimento de actividades que concorram para a

melhoria de suas vidas tais como: a produção de alimentos, a construção de escolas, hospitais,

vias de acesso, bem como a conservação dos recursos naturais, tal como fizemos referência

anteriormente.

Solow (2001:7), confirma que a confiança, a vontade, a capacidade de cooperar e coordenar, o

hábito de contribuir para o esforço comum, mesmo sem assistência de ninguém, enfim, todos

estes padrões de comportamento e outros têm uma recompensa na produtividade agregada.

Todavia, reparemos que o alto stock de capital social que dita uma maior participação em

actividades comunitárias nas comunidades pode não estar apenas relacionado com a

confiança, a vontade, a capacidade de cooperar e coordenar, o hábito de contribuir para o

esforço comum. O sistema de sanções pode, também, ter a ver com altos níveis de

participação comunitária. Nesta asserção, importa recordarmos que um dos pressupostos do

paradigma de interacção social é de que as pessoas interagem, principalmente, baseadas no

medo, na inveja ou na confiança, emoções que são geradas pela dominação, a competição e a

cooperação (Brym et al, 2006:137).

Na localidade de Mtengo wa Mbalame seria legítimo afirmarmos que aliado ao costume de

participação em actividades voluntárias está o sistema de sanções, porque a existência de

sistema de sanções foi confirmado por 77,9% dos inquiridos. Assim, apurámos que as pessoas

que se furtam à participação em trabalhos voluntários nas suas comunidades são criticadas ou

multadas.

Page 104: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

94

3.1.6. Violência e crime

Criminalidade e violência afectam negativamente os stocks de capital físico, humano, social e

natural, minam o clima para investimentos e esgotam a capacidade das instituições públicas

para arquitectar e gerir o desenvolvimento (Ayres, 1998:65). Para além disso, a violência

corrói o capital social como um activo quando ela reduz a confiança e compreensão dentro de

organizações formais e informais e seus membros (Mose e Shrader, 1999: 23).

Na localidade de Mtengo wa Mbalame, o crime e os roubos afligem a 90,2% dos inquiridos.

Entretanto, os níveis de violência são baixos e não ocorrem com muita frequência. Este é um

ponto positivo, porque, pelo contrário, o aumento da violência concorreria para o

enfraquecimento de capital social e, consequentemente, dos esforços colectivos de

desenvolvimento.

De acordo com Mose e Shrader, (ibid) o aumento das actividades criminosas provoca

mudanças sociais com consequências negativas para o capital social, pois aumenta o grau de

desconfiança da sociedade para com elementos externos à rede de relacionamentos,

dificultando a inclusão de novos membros e, portanto, o alargamento do capital social. A

respeito, o Banco Mundial (2003:9) mostra com exemplos da América Latina, que o crime e a

violência afectam projectos de fornecimento de água e electricidade, serviços de saúde e

educação, que ocorrem em certas comunidades.

Destes autores, devemos entender que o aumento de actividades criminosas e violência pode

ter como resultados: a transmissão inter-geracional da violência, a depreciação da qualidade

de vida, os efeitos sobre a cidadania e, sobretudo, o funcionamento e a confiança no processo

democrático, no governo e suas instituições, enfim, a erosão do capital social.

Todavia, 40,3% dos inquiridos na localidade de Mtengo wa Mbalame são da opinião que o

nível de violência diminuiu muito nos últimos cinco anos, pelo que 46,1% dos inquiridos se

sentiam seguros. Como resultado da segurança que é sentida, 58,6% depositavam confiança

nas autoridades do governo responsáveis pela segurança e protecção.

Esta situação mostra que a localidade é segura e, porquanto, não apresenta riscos (ligados a

segurança e protecção) para os investimentos socioeconómicos necessários para o

desenvolvimento local sustentável.

Page 105: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

95

3.1.7. Comunicação

Um dos pressupostos do paradigma de interacção social é que as burocracias são organizações

grandes e impessoais que operam com graus variáveis de eficiência. Burocracias eficientes

mantêm a hierarquização em um nível mínimo, distribuem os processos decisórios entre todos

os seus níveis e mantêm abertos os canais de comunicação entre as suas diferentes unidades

(Brym et al, 2006:137).

Efectivamente, a comunicação é indispensável, sobretudo no processo de desenvolvimento

local sustentável. A comunicação não só facilita a troca de informação entre o governo e as

comunidades, como também divulga e promove objectivos de programas e estratégias de

desenvolvimento e encoraja uma maior participação da comunidade (Banco Mundial,

2003:13).

Na localidade de Mtengo wa Mbalame, o estudo procurou inteirar-se da frequência ou

intensidade da rede e formas de comunicação, o acesso às vias de comunicação e aos meios de

comunicação, a identificação da fonte mais usada para se comunicar com o governo.

Neste âmbito, constatámos que na localidade de Mtengo wa Mbalame não há correios. O

estado das vias de acesso é mau e a maioria (76,9%) acedem às estradas e transitam-nas com

alguma facilidade somente na estação seca. O acesso e a leitura de jornais são muito fracos,

de forma que 82,4% dos inquiridos não têm acesso a jornais.

Contudo, as pessoas facilmente acedem à rádio. De acordo com o estudo, 72,4% dos

inquiridos tinham receptores de rádio em casa ou perto de casa e 68,5% destes escutavam a

rádio diariamente. Por outro lado, 23,7% dos inquiridos tinham televisão em casa ou perto de

casa contra 73,3% que não tinham televisão. De igual modo, 39,8% tinham telefone em casa

ou perto de casa, número que se opõe aos 60,2% de pessoas que não tinham telefone em casa

nem perto de casa.

No que diz respeito à comunicação com o governo local, apurámos que 85,6% dos inquiridos

se comunicavam com o governo local muito mais através dos líderes comunitários do que, por

exemplo, através de jornais, magazines, rádio, vizinhos, pessoas da família, pessoas da

comunidade, pessoas de igreja ou religião e funcionários da administração local.

Este quadro revela-nos que a comunicação entre o governo local e as comunidades locais é

fraca, porque privilegia um e único canal – os líderes comunitários.

Page 106: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

96

O desenvolvimento sustentável requer, porém, uma comunicação efectiva por duas razões.

Primeiro, o desenvolvimento sustentável é uma abordagem integrada e holística que apela a

participação de indivíduos, grupos e organizações, o público e os governos aos níveis

individual, local, regional, nacional e global.

Segundo, a comunicação no contexto de desenvolvimento é geralmente útil para apoiar

iniciativas, através de disseminação de mensagens que encorajam o público, com vista a

apoiar projectos orientados para o desenvolvimento (Balaswamy, 2006; Sarvaes and

Malikhao, 2007). Por isso, o privilégio a um só canal pode ser insuficiente para disseminar

mensagens variadas sobre desenvolvimento local sustentável.

Os líderes comunitários por si só, ou melhor, sem auxílio de jornais, magazines, rádio,

vizinhos, pessoas da família, pessoas da comunidade, pessoas da igreja ou religião e

funcionários da administração local, não podem, com sucesso, informar e consciencializar os

cidadãos sobre programas de alívio à pobreza. A rádio, por exemplo, seria um canal de

informação muito importante não apenas no fortalecimento de capital social como também no

processo de desenvolvimento local sustentável, porque, como já se fez referência, 72,4% dos

inquiridos tinham receptores de rádio em casa ou perto de casa e 68,5% destes escutavam a

rádio diariamente.

Notemos, porém, que não basta aceder à rádio e escutá-la com frequência para afirmar que a

rádio pode fortalecer o capital social e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento

local sustentável.

A rádio pode fortalecer o capital social e, extensivamente, contribuir para o desenvolvimento

local sustentável se os conteúdos dos programas através dela difundidos promoverem acções

ligadas ao desenvolvimento, tais como os métodos de cultivo, reflorestamento, uso racional

de recursos naturais, prevenção de doenças endémicas, abertura de vias de acesso, construção

de salas de aula, desporto, danças culturais, entre outras.

A constelação de diferentes fontes de informação é fundamental para que a comunicação seja

um veículo seguro de participação no processo de desenvolvimento, porque “ a comunicação

integra conhecimento, organizações e poder e estabelece uma ligação entre a memória do

Homem e as constantes e nobres aspirações para uma vida melhor” (Balaswamy, 2006:61).

Desta forma e parafraseando Sarvaes and Malikhao (2007:3), a comunicação poderá

contribuir para a melhoria de oportunidades de desenvolvimento, garantindo o acesso

Page 107: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

97

equitativo ao conhecimento e à informação a todos sectores da sociedade, especialmente aos

grupos vulneráveis, tais mulheres, crianças e idosos. Poderá também fomentar uma gestão

efectiva e uma coordenação de iniciativas de desenvolvimento através de planificação bottom

–up, para além de promover a equidade por meio de redes e plataforma social capazes de

influenciar a definição de políticas.

Temos uma convicção de que uma comunicação eficaz assegura a participação efectiva dos

cidadãos, das comunidades locais, das associações e de outras formas de organizações no

processo de tomada de decisões. Sarvaes e Malikhao (2007:19) consolidam esta convicção

quando afirmam que comunicação para o desenvolvimento é para o diálogo, participação e

partilha de informação25.

Adicionalmente, a diversificação de fontes de informação e uma comunicação efectiva são

importantes na medida em que encorajam mudanças de comportamento e estilos de vida,

promovendo padrões de consumo sustentáveis através de sensibilização e educação das

comunidades.

Poderá, igualmente, concorrer para a promoção do uso sustentável de recursos naturais,

considerando interesses e perspectivas múltiplas e apoiar uma gestão corroborativa através de

consulta e negociação.

Como não bastasse, a comunicação efectiva é susceptível de servir para o incremento da

prontidão e mobilização da comunidade nos assuntos sociais e ambientais, assegurar

oportunidades económicas e de emprego através de informação tempestiva e adequada e,

garantir o diálogo entre diferentes componentes da sociedade, de modo a resolver conflitos

múltiplos. Ao terminar, é importante dizer, à luz do paradigma de interacção, podemos

afirmar que a comunicação no contexto do capital social e desenvolvimento sustentável não se

restringe aos média ou mensagens, mas sim à interacção numa rede de relações sociais.

25 Communication for development is about dialogue, participation and the sharing of knowledge and information. It takes into account the needs and capacities of all concerned through the integrated and participatory use of communication processes, media and channels. It responds to three main functions:

Facilitating participation: giving a voice to different stakeholders to engage in the decision-making process.

Making information understandable and meaningful. It includes explaining and conveying information for the purpose of training, exchange of experience, and sharing of know-how and technology.

Fostering policy acceptance: enacting and promoting policies, especially when these bring new opportunities for rural people to access services and resources (Sarvaes and Malikhao, 2007:19)

Page 108: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

98

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para o desenvolvimento do presente trabalho partimos do pressuposto de que o capital social

na localidade de Mtengo wa Mbalame é pouco diversificado e é ineficiente. Assumimos,

igualmente, que a pouca diversificação e a ineficiência do capital social na localidade de

Mtengo wa Mbalame retarda a emergência de desenvolvimento local sustentável.

Efectivamente, os resultados mostram-nos que o capital social na localidade de Mtengo wa

Mbalame não está muito diversificado. Contudo, não foi possível examinar a eficiência do

capital social do ponto de vista de desenvolvimento local sustentável, pelo que não podemos

arriscar em afirmar que a falta de diversificação e a ineficiência do capital social estão na

origem dos problemas que retardam o processo de desenvolvimento na Localidade de Mtengo

wa Mbalame.

Apesar de ser legítimo reconhecermos que a diversificação e a eficiência do capital social

pode facilitar a resolução de certos problemas socioeconómicos, ambientais e políticos, o

estudo permitiu-nos notar que o processo de desenvolvimento local sustentável na localidade

de Mtengo wa Mbalame passa também pela melhoria de outros capitais: físico, humano,

financeiro.

Por exemplo, a agricultura é o ramo de actividade mais importante da localidade de Mtengo

wa Mbalame, pois, 90,2% dos inquiridos trabalham neste ramo, contra apenas 9,8% dos que

trabalham noutros ramos. Este quadro justifica a necessidade de disponibilização de insumos

agrícolas, principalmente sementes, fertilizantes e motobombas. A disponibilidade de insumos

concorrerá para o aumento da produção.

O aumento da produção cria a necessidade da reabilitação de estradas para o escoamento de

produtos e mercados agrícolas, visto que o estado das estradas é mau. Os inquiridos apontam

mesmo para a necessidade de se asfaltar a principal via que liga Mtengo wa Mbalame à sede

distrital de Tsangano, Malawi e Vila Ulongwe em Angónia.

Enfrentamos o problema de mercados agrícolas. O desenvolvimento da localidade requer a

disponibilização de insumos agrícolas, especialmente fertilizantes. Precisamos de fertilizantes

e sementes. Precisamos igualmente de mercados para a venda de nossos produtos. Não temos

onde comprar fertilizantes. Quando compramos no Malawi, deparamo-nos com as Forças da

Guarda Fronteira que nos mandam pagar dinheiro, muito dinheiro. Os níveis de corrupção

Page 109: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

99

são preocupantes, principalmente na fronteira. Os oficiais da migração não nos deixam

passar com os produtos, mesmo sabendo que não temos como comprá-los internamente. As

estradas estão em mau estado de transitabilidade. Não permitem o escoamento de produtos. É

preciso criar condições para o escoamento de nossos produtos. Clamamos pela asfaltagem da

estrada Tsangano-Mtengo wa Mbalame, Vila-Ulongwe – Biriwiri (Yotamo Mulauze, 28

anos, agricultor26).

Acreditamos que a asfaltagem da estrada irá dinamizar a localidade em termos de

comercialização de produtos agrícolas e melhorará a circulação de pessoas e bens, se

considerarmos que irá contribuir para o melhoramento do sistema de transporte.

A segunda questão está ligada ao desenvolvimento de capital humano. De acordo com o

estudo de campo, 60,7% dos inquiridos tinham o nível primário, 20,4% não tinham

frequentado a escola, 12,8% tinham ensino secundário, 5,1% eram de nível técnico

profissional e apenas 1% tinham formação superior. É evidente que existe um grande défice

de quadros na localidade. Sem que esta componente esteja desenvolvida, o processo de

desenvolvimento na localidade irá continuar a enfrentar adversidades.

O fomento e/ou a criação de instituições bancárias ou instituições de crédito formais é o

terceiro factor impulsionador de desenvolvimento local sustentável. Vimos que a localidade e

todo o posto administrativo não dispunham de um sistema formal de crédito, nem estava

representada no distrito de Tsangano alguma instituição bancária, tornando cada vez mais

difícil o desenvolvimento de qualquer tipo de actividade que, para o seu sucesso necessitasse

de um investimento financeiro.

Os dados colhidos no campo de estudo ilustraram que apenas 5,6% dos agregados familiares

pertenciam a grupos de poupança e crédito. Os grupos referidos estão a ser incentivados pela

Gapi – Sociedade de Investimentos Lda – uma instituição financeira de desenvolvimento de

Moçambique. A Gapi constitui a única organização com esses fins na localidade e no distrito

inteiro. Por isso, Adelino Samuel afirma que

“Há falta de organizações diversas para apoiarem nos esforços de desenvolvimento de

agricultura e comercialização dos produtos. Tinha que haver organizações para nos conceder

26 Yotamo Mulauze, 28 anos, agricultor, entrevistado no dia 14/07/2010, na Comunidade de Mthini, Localidade de Mtengo wa Mbalame.

Page 110: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

100

créditos. Para o desenvolvimento precisamos de créditos para agricultura, comércio e

construção de uma rede comercial. A comercialização agrícola não é justa” (Adelino Samuel,

28 anos, agricultor e comerciante).

A criação e fortalecimento de grupos de poupança e crédito afiguram-se importantes para

acelerar o processo de desenvolvimento na localidade.

A combinação dos capitais físico, humano e financeiro é importante porque fortifica o capital

social. Porém, o capital social será suficientemente forte ao ponto de contribuir para a

emergência de um desenvolvimento local sustentável se houver vontade política das

autoridades do Estado e sentimento de felicidade, eficácia pessoal e capacidade dos membros

da comunidade para influenciar tanto eventos locais como respostas políticas mais amplas.

Assim, para o capital social fortificar-se e dinamizar o processo de desenvolvimento local

sustentável na localidade de Mtengo wa Mbalame requer o aumento ou a melhoria das redes

sociais.

No geral as redes sociais são fracas. Com a excepção de grupos religiosos, a presença de outro

tipo de redes é menos frequente. A título de exemplo, vimos que a frequência em grupos

religiosos é de 70,6%, contra 11,9% de grupos culturais, 9,3% de grupos desportivos, 8,5% de

grupos de serviços básicos, 2,6% de organizações étnicas, 5,6% de comités comunitários e

grupos de poupança ou crédito, 6,2% de grupos de produção, 25,5% de organizações políticas

e 1,5% de movimento social ou de protesto.

A densificação das redes sociais é indispensável no processo de desenvolvimento local

sustentável porque facilita a articulação entre o governo local sob sua responsabilidade na

consolidação da unidade nacional, produção de bens materiais e serviços com vista à

satisfação das necessidades básicas da vida e de desenvolvimento local (artigo 116 do Decreto

11/2005). Para o efeito, uma comunicação eficiente é importante.

Para que haja uma comunicação eficiente é preciso utilizar, para além de líderes comunitários,

outros meios de comunicação, com destaque para a rádio, porque a rádio é acessível a 72,4%.

Impera-se igualmente que as mensagens sejam veiculadas em chichewa por ser a língua

predominante (97,9% dos inquiridos falam esta língua, contra apenas 1,6% que falam a língua

portuguesa é 0,5% falantes de chinyungwe).

Page 111: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

101

Como podemos ver, a relação entre o capital social e o desenvolvimento local sustentável é

complexa e que muda com o tempo, não sendo, por isso, redutível ao impacto positivo da

cultura cívica que favorece a cooperação e a reciprocidade entre membros da comunidade.

Por esta razão, afigura-se importante o papel da política27 na mediação da relação entre as

redes e o mercado.

As políticas bem definidas podem ajudar no estabelecimento de óptima relação entre o capital

social e o desenvolvimento local sustentável, através do encorajamento das redes sociais por

um lado e, através da regulação de atitudes tendentes ao rent seeking, por outro. Nesta

perspectiva, o problema de desenvolvimento local sustentável não se deve reduzir apenas à

questão de custos e benefícios, mas sim deve incluir em si uma aparatosa carga social e

ambiental, considerando que hoje, mais do nunca, as dimensões social e ambiental do

desenvolvimento não podem ser relegadas ao segundo plano.

Por último, o presente trabalho remete-nos à necessidade de se fazer um estudo mais

aprofundado sobre o tema o capital social e desenvolvimento local sustentável na localidade

Mtengo wa Mbalame, olhando para os seguintes vectores: religião, capital social e

desenvolvimento local sustentável; capital social, grupos de produção, crédito e

desenvolvimento local sustentável; contributo de vias de acesso para o desenvolvimento local

sustentável; impacto da corrupção sobre o desenvolvimento local sustentável.

Estas são algumas questões interessantes que o estudo despertou, mas que por limitações

metodológicas não foram profundamente tratadas.

27 O papel dos chefes das localidades em Moçambique é definido pelo artigo 62 do Decreto 11/2005.

Page 112: Capital social e a Emergência do Desenvolvimento  Local Sustentável

102

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109

Anexos

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1

ANEXO 1.

INQUÉRITO SOBRE CAPITAL SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL NA LOCALIDADE DE MTENGO WA MBALAME, DISTRITO DE TSANGANO -TETE

Destinatário: Membros da Comunidade N°

PARTE A: INFORMAÇÃO GERAL

Introdução Viemos da Universidade Eduardo Mondlane em Maputo e estamos a conversar com os membros da comunidade sobre a sua vida e a vida da comunidade ou aldeia. As respostas que nos der serão confidencialmente asseguradas e usadas para os propósitos académicos. Estamos particularmente interessados nas suas relações com outras pessoas e grupos na sua comunidade ou aldeia, com Organizações não Governamentais (NGOs) e funcionários públicos. As suas respostas vão ajudar na conclusão do nosso curso, pelo que agradecemos antecipadamente pela calorosa recepção e colaboração.

A. Informação geral A.0 Coloque da data Data Mes Ano

A.1 Nome do(a) inquiridor(a) A.2 Nome do(a) inquirido(a) A.3 Nome da Povoação/aldeia/comunidade A.4 Nome da Paroquia

O(a) Inquirido(a) A.8 Idade A.9 Há quanto tempo vive e Chefe da Família? A.7. Sexo (Anos) na povoação/comunidade?

1. Sim 2. não 1. Masculino 1. Anos 2. Meses

2. Feminino

PARTE B: GRUPOS E REDES

Instrução: assinalar com X na resposta. Ex. X 1. Gostaria de começar por perguntar sobre grupos ou organizações, redes, associações, quer informais quer formais. Estes podem ser grupos religiosos, equipas desportivas ou grupos simples que se reúnem regularmente para fazerem alguma actividade ou conversar. Dos grupos que a seguir vou mencionar, por favor diga-me em qual pertence e com que frequência se integra?

a) Grupo religioso ou espiritual ( 1. Sim Quantas vezes? 2. não igreja, mesquita, grupo de estudo (enumerar) bíblico, outro)

b) Cultural, social, de apoio, emocional 1. Sim Quantas vezes? 2. não ( arte, dança, musica, teatro, (enumerar) solidariedade, juventude, velhice) c) Grupos desportivos 1. Sim Quantas vezes? 2. não (futebol, basket, andebol) (enumerar)

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2

(saúde, educação, infra-estruturas, 1. Sim Quantas vezes? 2. não estradas, agua, saneamento, estudos) (enumerar)

e)Grupos étnicos (tribo, organizações 1. Sim Quantas vezes? 2. não comunitárias) (enumerar)

f)Comités comunitários/bairro 1. Sim Quantas vezes? 2. não localidade (enumerar)

g) grupos financeiros, de credito 1. Sim Quantas vezes? 2. não ou de poupança

h) Grupos de produção (cooperativas 1. Sim Quantas vezes? 2. não camponeses, pescadores, vendedores) (enumerar)

i) Partido politico 1. Sim Quantas vezes? 2. não

(enumerar)

j) Movimento social, movimento 1. Sim Quantas vezes? 2. não de protesto (enumerar)

k) Outro grupo? 1. Sim Quantas vezes? 2. não

(enumerar)

ESPECIFICAR: _________________________________ 2. Dos grupos/organizações a que pertence, Tenho poucas questões sobre os grupos que mencionou. Vamos começar qual e o/a MAIS importante para a sua vida(1)? pela MAIS importante que e ________________________________ SEGUNDA mais importante(2)? TERCEIRA mais importante (3)? 3. Quanto dinheiro, se existir, contribui em media para esse grupo? Instrução: Por no circulo o numero correspondente

Ex: a) Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

a) Grupo religioso ou espiritual (Ex: 1 4. Quantas vezes participa nas actividades desse grupo? igreja, mesquita, grupo de estudo 2 bíblico, outro) 3 5. Qual e o seu nível de participação no processo de tomada de decisões?

Mais ou b) Cultural, social, de apoio, emocional 1 Líder Muito activo menos pouco activo não

participa ( arte, dança, musica, teatro, 2 1 2 3 4 5 solidariedade, juventude, velhice) 3

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3

6. Qual e o nível de beneficio das actividades do grupo para a comunidade c) Grupos desportivos 1 ou local? (futebol, basket, andebol) 2

3 Muito Alto Alto Nenhum Baixo Muito baixo

1 2 3 4 5 d)Grupo de serviços básicos 1

(saúde, educação, infra-estruturas, 2 7. Pensando nos membros desse grupo, diria que a maioria deles vem de... estradas, agua, saneamento, grupos de 3 Sim 1 não 2 estradas, agua, saneamento, estudos) Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

Mesma comunidade ou local 1 1 1 e)Grupos étnicos (tribo, organizações 1 2 2 2 comunitárias) 2

3 Mesma família ou parentesco 1 1 1 2 2 2

f)Comités comunitários/vizinhança 1 localidade 2 Mesma etnia/grupo linguístico 1 1 1

3 2 2 2

g) grupos financeiros, de credito 1 Mesma religião 1 1 1 ou de poupança 2 2 2 2

3 Mesmo nível de escolaridade 1 1 1

h) Grupos de produção (cooperativas 1 ou de renda 2 2 2 camponeses, pescadores, vendedores) 2

3 Mesmo género 1 1 1 2 2 2

i) Partido politico 1 2 8. Os fundos do grupo/ 3 organização provem de: Governo 1 1 1

j) Movimento social, movimento 1 Negócios 2 2 2 de protesto 2 Políticos 3 3 3

3 ONG's 4 4 4 Cotas e jóias 5 5 5

k) Outro grupo? 1 Inscrições dos membros 6 6 6 2 não envolve fundos 7 7 7

3 ESPECIFICAR: _________________

9. Existem varias razoes que mantêm o grupo mais activo. Das razoes abaixo indicadas, aponte as que considera

a MAIS importante (1)? SEGUNDA mais importante(2)? TERCEIRA mais importante (3)?

Lideres fortes Um alto sentido de comunidade Políticos Facilitadores/dinamizadores ONGs

1 /unidade da comunidade 1 1 1

2 1 2 2 2 3 2 3 3 3

3

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4

Apoio do Governo ou conexões

Falta de Serviços públicos básicos

Necessidade de nos protegermos

Desejo de crescermos economicamente

Tornar a vida melhor

1 1 1 1 1

2 2 2 2 2 3 3 3 3 3

Existem varias razoes que mantêm o grupo mais activo. Das razoes abaixo indicadas, diga qual considera a MAIS importante (1)? SEGUNDA mais importante(2)? TERCEIRA mais importante (3)?

Falta de lideres fortes

Falta de união Pessoas são muito ocupadas

Conflitos de terras entre membros da comunidade

Falta de interesse

1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3

Falta de apoio do Gover- Falta de ONG Politica/políticos Falta de recursos no/Conexões para ajudar

1 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3 3

PARTE C: BEM - ESTAR

11. Se juntarmos todos os pontos acima mencionados, o (a) Sr.(a) se considera uma pessoa

Muito infeliz Infeliz não feliz nem infeliz Feliz Muito

feliz 1 2 3 4 5

12. Na sua opinião, as pessoas estão dispostas a ajudar ou não se importam com os outros e cuidam apenas de suas vidas?

Estão dispostas a ajudar 1 não se importam e cuidam apenas de si mesmas 2

13. De uma forma geral, pode dizer que a maioria as pessoas da comunidade pode ser confiada ou precisa de ter cuidado?

A maioria das pessoas 1 E preciso ter muito cuidado ao lidar com elas 2

esta disposta a ajudar 14. Que impacto pessoas como o(a) Sr.(a) traria para tornar a comunidade um bom lugar para viver ?

Nenhum impacto pouco impacto Impacto moderado Grande impacto

1 2 3 4

15. Como e que as pessoas da sua comunidade estão a viver nesses dias? Muito Mal Mal Normal Bem Muito

bem 1 2 5 3 4

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5

16. Como avalia o nível de união ou sentimento de proximidade entre as pessoas na sua comunidade?

não unidas Pouco unidas Mais ou menos unidas Unidas Muito unidas

1 2 3 4 5

17. De uma forma geral, qual e o seu nível de satisfação com a vida nesses dias?

Muito insatisfeito(a) De alguma maneira insatisfeito(a) Normal Satisfeito(a) Muito satisfeito 1 2 3 4 5

18. Qual e o seu nível de satisfação com a situação financeira da sua família?

Muito insatisfeito(a) Mais ou menos insatisfeito(a) Normal Satisfeito(a) Muito satisfeito

1 2 3 4 5

19. Como descreve a sua família em termos económicos?

Muito pobre Mais ou menos pobre media De alguma maneira rica Muito rica

1 2 3 4 5

20. Olhando para actual situação, o que se espera que a sua família no futuro?

Muito pior Mais ou menos pior não vai mudar Mais ou menos melhor Muito melhor

1 2 3 4 5

21. O(a) Sr. (a) acredita ser muito forte e com plenos direitos para mudar a sua vida?

Muito fraco Mais ou menos fraco Equilibrado Mais ou menos forte Muito forte

1 2 3 4 5

22. Algumas pessoas vivem em situações extremamente difíceis e outras tem outros recursos para sobreviverem. Em caso de crise tais como mas colheitas, perda de emprego, doença, algumas pessoas tornam-se indigentes enquanto outras mantêm-se seguras. Como avaliaria a capacidade da sua família sobreviver de tais crises?

Muito insegura Mais ou menos insegura Media Mais ou menos segura Muito

segura 1 2 3 4 5

23. Actualmente qual e o seu nível de confiança perante crises, em comparação com o que era a 5 anos atrás? Muito menos confiante Menos confiante confiante Mais confiante Muito

mais confiante

1 2 3 4 5

24. Como avalia o apoio que o(a) Sr.(a) da aos pais, filhos e parentes, quer os que vivem consigo quer os que longe de si? Muito pouco apoio Pouco apoio suficiente Algum apoio Muito

apoio 1 2 3 4 5

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6

25. Como avaliaria o apoio que o(a) Sr.(a) recebe dos pais, filhos e parentes, quer os que vivem consigo quer os que longe de si?

Muito pouco apoio Pouco apoio suficiente Algum apoio Muito apoio

1 2 3 4 5

26. Algumas vezes as pessoas tem muitas dificuldades financeiras por causa de ma colheita, doença, morte ou perda de emprego Em caso dessas situações, em que confiaria ou a quem pediria ajuda, dentre os grupos abaixo indicados?

Família, parentes, amigos, vizinhos 1

Agiota, créditos informais 2 Grupos, associações 3 Governo, banco 4 Outros créditos formais 5 27. Pessoas tem diferentes opiniões sobre principais problemas a resolver para tornarem a sua vida melhor. Na sua opinião, Qual e o grande problema o(a) Sr.(a) esta a enfrentar? Qual e o SEGUNDO? E o TERCEIRO?

ECONÓMICO Desemprego 1 2 3

Pobreza 1 2 3 Inflação 1 2 3 Falta de Credito 1 2 3 Impostos 1 2 3 Falta de terra 1 2 3 Baixa qualidade de terra 1 2 3

SAÚDE Doença/epidemia 1 2 3 Cuidados de saúde 1 2 3 Agua potável 1 2 3 Saneamento do meio 1 2 3 INFRA-ESTRUTURAS

Habitação 1 2 3 Estradas e pontes 1 2 3 Sistema de transporte 1 2 3 POLITICO Corrupção 1 2 3 Instabilidade politica 1 2 3

Políticos 1 2 3 SEGURANÇA Crime/roubos 1 2 3 Violência/segurança 1 2 3

SOCIAL Educação 1 2 3 Violência domestica 1 2 3 Exclusão social 1 2 3 Luta entre grupos 1 2 3 Embriagues/drogas 1 2 3

Conflito de terras 1 2 3

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7

PARTE D: PARTICIPAÇÃO POLITICA

28. Nos últimos tempos, quantas vezes, se for o caso, fez alguma das actividades abaixo:

Reunião da comunidade Audiência publica Reunião com um politico local

Participou num manifestação politica

29. Votou nas ultimas eleições? Sim não não aplicável/ não pode votar 1 2 3

30. Votaria num candidato que não e da sua religião, etnia, comunidade, seu distrito, sua província, região. Sim 1 não 2 não aplicável/ não

pode votar 3

PARTE E: SOCIABILIDADE, INTERACÇÕES SOCIAIS DIÁRIAS

31. Para alem de participar em actividades de grupos e associações, as pessoas fazem também outras actividades de forma informal, com as outras. Pode dizer se com frequência faz o seguinte?

Passar refeições com membros da família ou parentes 1 Amigos da mesma religião/igreja/formação/género/ posição económica 2 Amigos de DIFERENTE religião/igreja/formação/género/ posição económica 3 32. Quem normalmente te visita em casa?

Membros da família ou parentes 1 Amigos da mesma religião/igreja/formação/género/ posição económica 2 Amigos de DIFERENTE religião/igreja/formação/género/ posição económica 3 33. Com quem normalmente se junta para convívios ou actividades recreativas?

Membros da família ou parentes 1 Amigos da mesma religião/igreja/formação/género/ posição económica 2 Amigos de DIFERENTE religião/igreja/formação/género/ posição económica 3

34. Aceitaria deixar seus filhos ao cargo de vizinho em caso de doença ou preocupação Sim não

1 2 35. Em caso de alguma preocupação ou doença a quem pediria ajuda

Membros da família ou parentes Amigo/amiga de confiança Vizinho Amigo da igreja

1 2 3 4

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8

PARTE F: ACTIVIDADES COMUNITÁRIAS

36. Existem Organizações não governamentais (ONG) na sua área? Sim 1 37. são activas? Sim 1 não 2 não 2

37. Como avalia o impacto das actividades das ONGs existentes? Muito negativo 1 Negativo 2 Nenhum 3

Positivo 4 Muito positivo 5

38. Participa nas actividades voluntárias da comunidade Sim 1 não 2 . Se sim, quantas vezes/ mes? ___________ _________

39. Na sua comunidade e costume as pessoas ajudarem ou participarem em trabalhos voluntários? Sim 1 não 2 40. As pessoas que não participam em actividades voluntárias são criticadas ou multadas? Sim 1 não 2 41. Pensa que maioria das pessoas na sua comunidade faz uma contribuição justa para as actividades da comunidade?

Sim 1 não 2 não sabe 3 42. Existem algumas actividades em que o (a) Sr. (a) não permitido de participar? Sim 1 não 2 não sabe

3

43. Porque não e permitido participar? Pobreza 1; Género 2 Etnia/raça 3 Religião 4 Educação 5 Idade 6 não líder, nem funcionário 7 Especificar ______________________________8.

44. Ajudou alguém nos últimos seis meses? Sim 1 não 2 45. Do grupo de pessoas abaixo indicadas, em qual confiarias mais? E menos?

Muito pouco pouco Mais/ menos Nenhum muito Muito mais

Pessoas na sua família 1 2 3 4 5 6 Pessoas na sua comunidade 1 2 3 4 5 6 Pessoas da sua igreja ou religião 1 2 3 4 5 6

Comerciantes que te vendem produtos 1 2 3 4 5 6 Juízes, tribunais/policia 1 2 3 4 5 6 Líder comunitário 1 2 3 4 5 6 Governo 1 2 3 4 5 6

PARTE G. RELAÇÕES COM O GOVERNO

46. As nossas vidas são afectadas pelo governo, através de suas instituições. Das instituições que a seguir vou ler, indique as que considera competentes?

Muito incom- incompetente Mais/menos Compe- Muito petente Competente tente Competente

Governo local 1 2 3 4 5 Autoridades tradicionais 1 2 3 4 5 Autoridade tributaria / Fiscais 1 2 3 4 5

Hospitais/centros de saúde 1 2 3 4 5 Professores 1 2 3 4 5 Correios 1 2 3 4 5 Juízes/sistema de justiça 1 2 3 4 5 ONGs 1 2 3 4 5

47 As normas, leis e politicas que o bem-estar da sua família mudam sem o seu consentimento? Sim 1 não 2 não sei 3

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9

48.O governo considera as preocupações de pessoas como o (a) Sr.(a) quando na mudança de normas, leis e politicas que afectam o seu dia a dia ou o dia a dia da sua família? Sim 1 não 2 não sei 3 49. Alguma vez já foi obrigado a pagar um dinheiro adicional para se beneficiar de um serviço publico? Sim 1 não 2

50. Quando pagou um dinheiro adicional ao funcionários do Estado, os seus serviços melhoraram? Sim 1 não 2

51. Algumas vezes somos obrigados a pagar um dinheiro adicional pelo serviço prestado por instituições do Estado/Governo Das instituições abaixo indicadas, como avalias o grau de sua honestidade?

Muito desonesta Mais/menos Honestas Muito desonesta honesta honesta

Governo local 1 2 3 4 5 Autoridades tradicionais 1 2 3 4 5 Autoridade tributaria / Fiscais 1 2 3 4 5 Hospitais/centros de saúde 1 2 3 4 5

Professores 1 2 3 4 5 Correios 1 2 3 4 5 Juízes/sistema de justiça 1 2 3 4 5 ONGs 1 2 3 4 5

52. Sente-se bem por ser moçambicano e viver nesta comunidade, localidade ou distrito? Sim 1 não 2

PARTE H: VIOLÊNCIA E CRIME

53. Algumas vezes diferentes grupos/pessoas habitantes na mesma área vivem pacificamente. Outras vezes a partilha do mesmo espaço geográfico pode ser motivo de tensões, desentendimentos e conflitos entre grupos/pessoas. Como descreve a sua comu nidade nos últimos dias? não há tensões e diferentes pessoas vivem juntas pacificamente 1 Já houve tensões e conflitos, mas agora vivem pacificamente 2

Há tensões e conflitos entre membros do grupo, mas sem violência 3 Há tensões e conflitos entre membros do grupo com violência 4

54. Existem pessoas que recorrem a violência para resolver conflitos? Frequentemente 1 Ocasionalmente 2 Nunca 3

55. Nos últimos 5 anos o nível de violência aumentou ou diminuiu? Diminuiu muito 1

Diminuiu pouco 2 Manteve-se na mesma 3 Aumentou pouco 4 Aumentou muito 5 não havia violência há 6 5 anos

56. Como avalia o nível de segurança para si e sua família Muito inseguro 1 em termos de crime e roubos? Inseguro 2

Nem inseguro nem seguro 3 Seguro 4 Muito seguro 5

57. Qual o nível de confiança que o(a) Sr.(a) tem nas autoridades Nenhuma confiança 1 do governo quanto a protecção de si, sua família e seus bens? Pouca confiança 2

Muita confiança 3

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10

58. Nos últimos 12 meses, quantas vezes o (a) Sr.(a) ou membro da sua família foi vitima de crime não violento? Ex. Insultos roubo, furto, roubo ou destruição de propriedade.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

PARTE I: COMUNICAÇÃO

60. Quanto tempo leva para chegar aos correios mais próximos? Perto de casa 1 10 minutos 2

20 minutos 3 30 minutos 4

40 minutos 5 50 minutos 6 60 minutos

ou mais

7

não há

carreiros 8

61. Da sua casa tem acesso a estradas durante todo o ano, apenas certas estacões do ano, ou não tem acesso a estradas?

Sim, durante todo o ano 1 Sim, apenas durante certas estacões do ano 2 não, não tem acesso a estradas 3

62. Como avalia o estado das estradas na sua área? Muito mau 1 Mau 2 Normal3 Bom 4 Muito

bom 5

63. Quantas vezes por semana o(a) Sr.(a) lê jornal? 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

64. Tem rádio em sua casa ou perto da sua casa onde possa escutar? Sim 1 não 2

65. Quantas vezes escutas a rádio? Nunca 1 Diariamente 2 Semanalmente 3 Mensalmente 4

66. Tem televisão em casa ou perto de casa? Sim 1 não 2

67. Tem telefone em casa ou perto de casa? Sim 1 não 2

68. Qual das fontes de informação abaixo listadas, qual e a mais usada para ter informações/comunicação do Governo?

Muito Menos Menos Mais/ menos Nunca mais Muito mais

Jornais, magazines 1 2 3 4 5 6 Rádio 1 2 3 4 5 6 Líder comunitário/regulo 1 2 3 4 5 6 Vizinhos 1 2 3 4 5 6

Pessoas na sua família 1 2 3 4 5 6 Pessoas na sua comunidade 1 2 3 4 5 6 Pessoas da sua igreja ou religião 1 2 3 4 5 6 Comerciantes/ Associações 1 2 3 4 5 6 Funcionários da Administração Local 1 2 A 4 5 6

69. A sua família tem algum dos bens seguintes? Sim 1 não 2 Poço de Agua 1 2 Relógio 1 2 Bicicleta 1 2 Gado bovino 1 2 Televisão 1 2 Gado caprino 1 2 Telefone 1 2 Casa 1 2 Rádio 1 2 Terra ou ma- 1 2 Mota 1 2 chamba

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MUITO OBRIGADO PELA COLABORAÇÃO

PARTE J: DEMOGRAFIA

70.Qual e o seu nível de escolaridade? Nenhum 1 Primário 2 Secundário 3 Técnico profissional 4 Superior 5

71. Qual o seu estado civil? Solteiro (a) Casado (a) União de facto Viúvo (a) Separadora) Divorcia

do(a) 1 2 3 4 5 6

72. Quantos são na sua família? Total Homens 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Mulheres 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Filhos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

73. Qual e a sua profissão? Domestica) 1 74. Qual e o seu ramo de trabalho Desempregado 2 Estudante 3 Agrícola 1 Professor 4 não agrícola 2 Enfermeiro 5 Trabalhador -

Conta própria 6

Camponês 7 75. Qual o seu sector de trabalho? Motorista 8 Comerciante 9 Publico 1 Outra

(indicar____ 10 Privado formal 2

Privado in formal 3 76. Que linguas fala? Chichewa 1

Chinyungwe 2 77. Qual e a sua religiao? Chisena 3 Crista 1 Portugues 4 Islamica 2 Ingles 5 Tradicional

Africana 3

Frances 6 Budista 4 Outra

(indicar)________________

7 Hindu 5

Judaica 6 Outra

(indicar)________________

7

78. Para alem de tudo o que conversamos, que gostaria de dizer mais? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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1

Anexo 2

Inquérito sobre Capital Social e Desenvolvimento Local Sustentável na Localidade de Mtengo wa Mbalame, Distrito de Tsangano -Tete

Destinatário: Oficiais da Administração e Autoridades comunitárias N° Introdução O presente questionário insere-se no Projecto de Dissertação para o Curso de Mestrado em Sociologia Rural e Gestão de Desenvolvimento ministrado na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo. A dissertação intitula-se: Capital Social e Desenvolvimento Local Sustentável: uma leitura a partir da localidade de Mtengo wa Mbalame, no Distrito de Tsangano. Com efeito, o questionário visa colher alguma informação sobre o desenvolvimento local sustentável na Localidade de Mtengo wa Mbalame, particularmente os aspectos económicos, sócio –culturais, ambientais e institucionais do desenvolvimento. As respostas que nos der serão confidencialmente asseguradas e usadas para os propósitos académicos. Cientes que as suas respostas são uma contribuição valiosa para a conclusão do nosso curso, agradecemos, antecipadamente, pela calorosa recepção e colaboração.

1. Dados do inquirido/entrevistado: (informação confidencial)

Sexo: Feminino Masculino Idade: Até 24 anos 25-39 anos 40-54 anos ≥ 55 anos

Estado Civil: Solteiro Casado / União de facto Divorciado Viúvo

Nível de escolaridade:

Curso superior

Médio (11ª - 12ª Classe)

Básico (8ª -10ª classe) “Primário” (1ª - 7ª classe) Função desempenhada na organização:

Administração Quadro Dirigente ou Director (Comercial, RH, …) Técnico Superior Técnico Administrativo Operário Auxiliar Outro. Qual?

______________________________________

2. Dentre os seguintes aspectos ambientais indique 2 aspectos que considere: 1 - mais negativos, 2 - negativos, 3 - positivos e 4 - mais positivos, na Localidade de Mtengo wa Mbalame (colocar dentro de círculo o número correspondente a opção escolhida).

Aspectos ambientais 1 2 3 4 Espaços florestais 1 2 3 4 Queimadas descontroladas 1 2 3 4 Plantio de árvores 1 2 3 4 Qualidade de água dos rios 1 2 3 4 Gestão de recursos minerais 1 2 3 4 Extracção de areias 1 2 3 4 Educação e sensibilização ambiental 1 2 3 4 Qualidade de água para o consumo 1 2 3 4 Terra arável para agricultura 1 2 3 4 Uso de fertilizantes e pesticidas na agricultura 1 2 3 4 Exploração de carvão vegetal 1 2 3 4 Áreas de conservação 1 2 3 4 Segurança alimentar 1 2 3 4 Pesca 1 2 3 4 Caça 1 2 3 4 Existência de espécies animais (bravia) 1 2 3 4

3. Dentre os seguintes aspectos sócio-culturais indique 2 aspectos que considere: 1 - mais negativos, 2 - negativos, 3 - positivos e 4 - mais positivos, na Localidade de Mtengo wa Mbalame (colocar dentro de círculo o número correspondente a opção escolhida).

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2

Aspectos sócio -culturais 1 2 3 4 Habitação 1 2 3 4 Acesso à saúde 1 2 3 4 Ensino básico 1 2 3 4 Ensino secundário 1 2 3 4 Alternativas de lazer e de tempo livre 1 2 3 4 Iniciativas culturais 1 2 3 4 Actividades desportivas 1 2 3 4 Colectividades/associações 1 2 3 4 Segurança/crime 1 2 3 4 Bem-estar e qualidade de vida 1 2 3 4 Pobreza/distribuição de renda 1 2 3 4 Valores sociais e éticos 1 2 3 4 O papel da mulher 1 2 3 4 Doenças endémicas, incluindo o HIV/SIDA 1 2 3 4 Crescimento populacional 1 2 3 4 Acesso à terra e aos recursos 1 2 3 4 Igualdade/exclusão social 1 2 3 4 Emprego 1 2 3 4 Abastecimento de água e saneamento básico 1 2 3 4 Serviços públicos 1 2 3 4 Coesão social 1 2 3 4 Civismo 1 2 3 4 Conflitos de terras 1 2 3 4 Estrutura comunitária 1 2 3 4

4. Dentre os seguintes aspectos económicos indique 2 aspectos que considere: 1 - mais negativos, 2 - negativos, 3 - positivos e 4 - mais positivos, na Localidade de Mtengo wa Mbalame (colocar dentro de círculo o número correspondente a opção escolhida).

Aspectos económicos 1 2 3 4

Fixação de indústrias 1 2 3 4 Actividades agrícolas 1 2 3 4 Criação de animais 1 2 3 4 Turismo 1 2 3 4 Restauração 1 2 3 4 Comércio 1 2 3 4 Serviços 1 2 3 4 Transportes 1 2 3 4 Infra-estruturas rodoviárias 1 2 3 4 Uso de energia 1 2 3 4 Mineração 1 2 3 4 Produtividade 1 2 3 4

5. Dentre os seguintes aspectos político - institucionais indique 2 aspectos que considere: 1 - mais negativos, 2 - negativos, 3 - positivos e 4 - mais positivos, na Localidade de Mtengo wa Mbalame (colocar dentro de círculo o número correspondente a opção escolhida).

Aspectos político – institucionais 1 2 3 4 Participação da sociedade civil 1 2 3 4 Participação comunitária 1 2 3 4 Boa governação 1 2 3 4 Liberdade de expressão e de opinião 1 2 3 4 Participação nas eleições (gerais e provinciais) 1 2 3 4 Protecção de minorias 1 2 3 4 Divisão de poderes 1 2 3 4 Liderança comunitária 1 2 3 4 Direitos humanos e fundamentais 1 2 3 4 Justiça 1 2 3 4 Transparência nos assuntos públicos 1 2 3 4 Inclusão das comunidades e da sociedade civil na tomada de decisões 1 2 3 4 Ciência e tecnologia 1 2 3 4 Prontidão e Preparação para desastres naturais 1 2 3 4 Acesso à informação 1 2 3 4 Meios de comunicação 1 2 3 4

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3

6. Quais são os meios de comunicação e instâncias que, na sua opinião, mais apoiam o desenvolvimento (escolha no

máximo cinco opções).Rádio ( ) Família ( )

Clubes ( )

Associações/sindicatos ( )

Internet ( )

Escola ( )

Igreja ( )

Imprensa ( )

Universidade ( )

Partidos ( )

Grupos informais ( )

Televisão ( )

Organizações da juventude ( )

Outros (especificar) ___________________

7. Na sua opinião, quais são os principais problemas que a localidade enfrenta?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. O que seria necessário para a localidade atingir níveis desejáveis e duradoiros de desenvolvimento? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. Observações e sugestões ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Zikomo Kwambiri pakuthandiza kwanu. Muito Obrigado pela sua colaboração