capa especial vinicius 100 anos

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SALVADOR DOMINGO 13/10/2013 Meu tempo é quando A CHEGADA Em 1970, o poeta e compositor Vinicius de Moraes mudava-se para a Bahia com aquela que se tornaria sua sétima esposa, a atriz baiana Gesse Gessy ESPECIAL 100 anos Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE A mesa do poeta Vinicius de Moraes reconstituída em Itapuã: o cigarro aceso, o copo de uísque, os óculos escuros, um caderno e uma caneta MARIANA PAIVA As malas estavam prontas para embarcar para Salvador, mas a verdade é que Vinicius de Moraes morria de medo de avião. O jeito era fazer como Mãe Menininha do Gantois tinha ensinado: um bolinho com farinha de man- dioca e água. Vinicius esfregou o bolinho pelo corpo inteiro pedindo proteção e jogou fora. Só depois disso entrou no avião, sentou na poltrona ao lado de Gesse Gessy e viajou em paz. O ano era 1970 e o casal ficava hospedado numa pousada na ladeira da Barra. Seu Virgílio, o dono, um dia quis fazer um agrado ao hós- pede famoso, pedindo uma sugestão de nome para a pousada. Muito simples, Vinicius res- pondeu: “O hotel não fica na ladeira da Barra? Então, é Hotel Ladeira da Barra”. Em Salvador, Vinicius deixou o cabelo cres- cer, comprou um Opala branco e abriu mais um botão da camisa. Andava de mocassim nos dias que se arrastavam preguiçosos, sem relógio nem cueca. Nas mãos, o copo sempre cheio de seu “uisquinho”. Alegre mesmo ele ficou quando se mudou para Itapuã, bairro que eternizaria depois na música. “Vinicius veio para a Bahia para ser gente”, conta Gesse, que em Salvador se tornou a sétima esposa do poeta. No início eles viviam de aluguel, numa casa próxima ao largo de Itapuã. Vinicius, que gos- tava de falar as palavras no diminutivo, tratou logo de arranjar um apelido carinhoso para a casa provisória: “tendinha”.

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capa do especial Vinicius de Moraes - 100 anos, no caderno 2+ do Jornal A Tarde. textos de Mariana Paiva, fotografia de Marco Aurélio Martins, design de Vado Alves

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Page 1: Capa especial Vinicius 100 anos

SALVADORDOMINGO13/10/2013

Meu tempoé quandoA CHEGADA Em 1970, o poeta ecompositor Vinicius de Moraesmudava-se para a Bahia comaquela que se tornaria sua sétimaesposa, a atriz baiana Gesse Gessy

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A mesa do poeta Vinicius deMoraes reconstituída emItapuã: o cigarro aceso, o copode uísque, os óculos escuros,um caderno e uma caneta

MARIANA PAIVA

As malas estavam prontas para embarcar paraSalvador, mas a verdade é que Vinicius deMoraes morria de medo de avião. O jeito erafazer como Mãe Menininha do Gantois tinhaensinado: um bolinho com farinha de man-dioca e água.

Viniciusesfregouobolinhopelocorpointeiropedindo proteção e jogou fora. Só depois dissoentrou no avião, sentou na poltrona ao lado deGesse Gessy e viajou em paz.

O ano era 1970 e o casal ficava hospedadonumapousadanaladeiradaBarra.SeuVirgílio,o dono, um dia quis fazer um agrado ao hós-pede famoso, pedindo uma sugestão de nomepara a pousada. Muito simples, Vinicius res-pondeu: “O hotel não fica na ladeira da Barra?Então, é Hotel Ladeira da Barra”.

Em Salvador, Vinicius deixou o cabelo cres-cer, comprou um Opala branco e abriu mais umbotão da camisa. Andava de mocassim nos diasque se arrastavam preguiçosos, sem relógionem cueca. Nas mãos, o copo sempre cheio deseu “uisquinho”.

Alegre mesmo ele ficou quando se mudoupara Itapuã, bairro que eternizaria depois namúsica. “Vinicius veio para a Bahia para sergente”, contaGesse,queemSalvadorsetornoua sétima esposa do poeta.

No início eles viviam de aluguel, numa casapróxima ao largo de Itapuã. Vinicius, que gos-tava de falar as palavras no diminutivo, tratoulogo de arranjar um apelido carinhoso para acasa provisória: “tendinha”.