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  • Revista CONASEMSJaneiro - Fevereiro 2014 • Ano X • Nº 53ISSN 1679-9259

    Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

    DIRETORIA EXECUTIVA

    Presidente - Antônio Carlos Figueiredo Nardi

    Vice-Presidente - José Fernando Casquel Monti

    Vice-Presidente - Raul Moreira Molina Barrios

    Diretor Administrativo - Rodrigo Cesar Faleiro de Lacerda

    Diretor Administrativo - Adjunto - Frederico Marcondes Neto

    Diretor Financeiro - Mauro Guimarães Junqueira

    Diretor Financeiro - Adjunto - Carlos Henrique Casartelli

    Diretor de Comunicação Social - Adjunto - Marcelo Lima Lopes

    Diretor de Descentralização e Regionalização - Charles Cesar Tocantins de Souza

    Diretor de Descentralização e Regionalização - Adjunto - Sinvaldo dos Santos Moraes

    Diretor de Relações Institucionais e Parlamentares - Willames Freire Bezerra

    Diretor de Relações Institucionais e Parlamentares - Adjunto - Ana Claudia Callou Matos

    Diretoria Extraordinária de Pequeno Porte - Murilo Porto de Andrade

    Diretoria Extraordinária de Pequeno Porte - Adjunto - Pedro Hermann Madeiro

    Diretoria Extraordinária das Populações Ribeirinhas - Januário Carneiro da Cunha Neto

    Representante no Conselho Nacional de Saúde - Arilson da Silva Cardoso

    Representante no Conselho Nacional de Saúde - José Eri Borges de Medeiros

    1º Vice-Presidente Regional - Região Centro Oeste - Jairo José dos Santos Ayres

    2º Vice-Presidente Regional - Região Centro Oeste - Amilton Fernandes do Prado

    1º Vice-Presidente Regional - Região Nordeste - Maria da Salete Fernandes Cunha

    2º Vice-Presidente Regional - Região Nordeste - Ubiratã Pedroso Moreira

    1º Vice-Presidente Regional - Região Norte - Afonso Emerick

    2º Vice-Presidente Regional - Região Norte - Roberto Wagner Bernardes

    1º Vice-Presidente Regional - Região Sudeste - Andrea Passamani Barbosa Corteletti

    2º Vice-Presidente Regional - Região Sudeste - Francisco D’Angelo Pinto

    1º Vice-Presidente Regional - Região Sul - Maria Regina de Souza Soar

    2º Vice-Presidente Regional - Região Sul - Maria do Horto Salbego

    Conselho Fiscal - 1º Membro - Soraya Galdino de Araujo Lucena

    Conselho Fiscal - 1º Membro / Suplente - Conceição de Maria Soares Madeira

    Conselho Fiscal - 2º Membro - José Carlos Cancigliere

    Conselho Fiscal - 2º Membro / Suplente - Claudia Costa Meirelles

    Conselho Fiscal - 3º Membro - Gilmar Vedevoto Gervásio

    Conselho Fiscal - 3º Membro / Suplente - Vanio Rodrigues de Sousa

    Conselho Fiscal - 4º Membro - Geronimo Paludo

    Conselho Fiscal - 4º Membro / Suplente - João Carlos Strassacapa

    Conselho Fiscal - 5º Membro - Rogério Márcio Alves Souto

    Conselho Fiscal - 5º Membro / Suplente - Dinaci Vieira Marques Ranzi

    SECRETARIAS EXTRAORDINÁRIAS

    Sec. Extraordinária Amazônia Legal - Nilson Kokojiski

    Sec. Extraordinária Amazônia Legal - Carlos Tadeu Lopes

    Sec. Extraordinária Amazônia Legal - Karan Simão Martins

    Sec. Extraordinária Assistência Farmacêutica/Centro Oeste - Silvio C. Suassuna de Moraes

    Sec. Extraordinária Assistência Farmacêutica/Nordeste - Michele da Silva Oliveira

    Sec. Extraordinária Assistência Farmacêutica/Norte - Joseilson Camara Silva

    Sec. Extraordinária Assistência Farmacêutica/Sudeste - Simone Cristina Martins Lucca

    Sec. Extraordinária Assistência Farmacêutica/Sul - José Carlos Wink

    Sec. Extraordinária Atenção à Saúde/Centro Oeste - Fernando Machado de Araujo

    Sec. Extraordinária Atenção à Saúde/Nordeste - Iolete Soares Arruda

    Sec. Extraordinária Atenção à Saúde/Norte - Nicolau Carvalho Esteve

    Sec. Extraordinária Atenção à Saúde/Sudeste - José Marcio Zanardi

    Sec. Extraordinária Atenção à Saúde/Sul - Enilson de Freitas

    Sec. Extraordinária Atenção Básica/Centro Oeste - Rosangela de Rezende Amorim

    Sec. Extraordinária Atenção Básica/Nordeste - Maria Neuma Azevedo

    Sec. Extraordinária Atenção Básica/Norte - João Edis de Oliveira

    Sec. Extraordinária Atenção Básica/Sudeste - Kelen Cristina Rampo Carandina

    Sec. Extraordinária Atenção Básica/Sul - Douglas Calheiros

    EXPEDIENTE

    Sec. Extraordinária Atenção Urgência e Emergência - Alana Soares Brandão Barreto

    Sec. Extraordinária Capitais e Regiões Metropolitanas/Centro Oeste - Bethania F. de Assis

    Sec. Extraordinária Capitais e Regiões Metropolitanas/Nordeste - Josete Malheiro Tavares

    Sec. Extraordinária Capitais e Regiões Metropolitanas/Norte - Yuji Magalhaes Ikuta

    Sec. Extraordinária Capitais e Regiões Metropolitanas/Sudeste - Hans Fernando R. Dohmann

    Sec. Extraordinária Capitais e Regiões Metropolitanas/Sul - Adriano Massuda

    Sec. Extraordinária Ciência e Tecnologia - Katia Cilene de Monte Pereira

    Sec. Extraordinária de Fronteiras - Natalia Ivone Steinbrenner

    Sec. Extraordinária Descentralização e Regionalização/Centro Oeste - Marildes Ferreira do Rego

    Sec. Extraordinária Descentralização e Regionalização/Nordeste - Adalberto F. dos Santos Júnior

    Sec. Extraordinária Descentralização e Regionalização/Norte - Antonio Evandro Melo de Oliveira

    Sec. Extraordinária Descentralização e Regionalização/Sudeste - Laerte Mateus

    Sec. Extraordinária Descentralização e Regionalização/Sul - Ana Maria Rodrigues

    Sec. Extraordinária Direito Sanitário/Centro Oeste - Evanilde Fernandes Costa Gomides

    Sec. Extraordinária Direito Sanitário/Nordeste - Manoel Batista Moura Ribeiro

    Sec. Extraordinária Direito Sanitário/Norte - Maria da Conceição Farias Rego

    Sec. Extraordinária Direito Sanitário/Sudeste - Carlos Alberto Motinho Saldanha

    Sec. Extraordinária Direito Sanitário/Sul - Ademar Possamai

    Sec. Extraordinária Financiamento/Centro Oeste - Adeliza Maria Santos Abrani

    Sec. Extraordinária Financiamento/Nordeste - Saulo Menezes Calazans Eloy dos Santos Filho

    Sec. Extraordinária Financiamento/Norte - Josuelido Nascimento Sousa

    Sec. Extraordinária Financiamento/Sudeste - Flávio dos Santos Antunes

    Sec. Extraordinária Financiamento/Sul - Marcelo Bosio

    Sec. Extraordinária Gestão Trabalho e Educação/Centro Oeste - Eduardo Kanir da Silva

    Sec. Extraordinária Gestão Trabalho e Educação/Nordeste - Gessyane do Vale Paulino

    Sec. Extraordinária Gestão Trabalho e Educação/Norte - Marluce Brilhante de Souza

    Sec. Extraordinária Informação e Informática - Fabio Volnei de Nardin

    Sec. Extraordinária Mercosul - Helton Pedro Pfeifer

    Sec. Extraordinária Modelos de Gestão - Norma Firminiano Rodrigues Barradas

    Sec. Extraordinária Municipio Médio Porte/Centro Oeste - Eliane Cristina F. Brilhante

    Sec. Extraordinária Municipio Médio Porte/Nordeste - Lucia Cristina Giesta Soares

    Sec. Extraordinária Municipio Médio Porte/Norte - Lucila Brunetta

    Sec. Extraordinária Municipio Médio Porte/Sudeste - Bruno Diniz Pinto

    Sec. Extraordinária Municipio Médio Porte/Sul - Cristiane Martins Pantaleão

    Sec. Extraordinária Municipio Pequeno Porte/Centro Oeste - Silvia Regina Cremonez Sirena

    Sec. Extraordinária Municipio Pequeno Porte/Nordeste - Stela dos Santos Souza

    Sec. Extraordinária Municipio Pequeno Porte/Sudeste - Armando Alberto Erminio de Nijs

    Sec. Extraordinária Municipio Pequeno Porte/Sul - Clodoaldo Fernandes

    Sec. Extraordinária Participação e Controle Social/Centro Oeste - Fábio Henrique Lago

    Sec. Extraordinária Participação e Controle Social/Nordeste - Angelo Luiz Leite Nobrega

    Sec. Extraordinária Participação e Controle Social/Norte - Jesse Andrade Cruz

    Sec. Extraordinária Participação e Controle Social/Sudeste - Adauto de Almeida Oliveira

    Sec. Extraordinária Participação e Controle Social/Sul - Cleidenara Maria Mohr Weirich

    Sec. Extraordinária Planejamento e Programação/Centro Oeste - Maria Angelica Benetasso

    Sec. Extraordinária Planejamento e Programação/Nordeste - Leopoldina Feitosa Cipriano

    Sec. Extraordinária Planejamento e Programação/Norte - Maria de Jesus Sousa Caldas

    Sec. Extraordinária Planejamento e Programação/Sudeste - Luis Fernando Nogueira Tofani

    Sec. Extraordinária Planejamento e Programação/Sul - Nissandra Karsten

    Sec. Extraordinária Promoção Vigilância em Saúde/Centro Oeste - Hisham Mohamad Hamida

    Sec. Extraordinária Promoção Vigilância em Saúde/Nordeste - Débora Costa dos Santos

    Sec. Extraordinária Promoção Vigilância em Saúde/Norte - Sara dos Santos Riça

    Sec. Extraordinária Promoção Vigilância em Saúde/Sudeste - Celso Ruela Albino

    Sec. Extraordinária Promoção Vigilância em Saúde/Sul - Marines Eseckert

    Sec. Extraordinária Relações Interfederativas/Centro Oeste - Luis Roberto Pascotto Mariani

    Sec. Extraordinária Relações Interfederativas/Nordeste - Maria do Socorro Candeira Costa

    Sec. Extraordinária Relações Interfederativas/Norte - Rubens Carlos Neves

    Sec. Extraordinária Relações Interfederativas/Sudeste - Almir Fernando Loureiro Fontes

    Sec. Extraordinária Relações Interfederativas/Sul - Erildo Vicente Muller

    Sec. Extraordinária Saúde Bucal - Ana Emilia Gaspar

    Sec. Extraordinária Saúde indígena/Centro Oeste - Claudiomiro Bottin

    Sec. Extraordinária Saúde indígena/Nordeste - Alexandre Miranda leite

    Sec. Extraordinária Saúde indígena/Norte - Gilson Almirante de Souza

    Sec. Extraordinária Saúde indígena/Sudeste - Nalva Bernardete Barros de Amorim

    Sec. Extraordinária Saúde indígena/Sul - Aline Soares Alves

    Sec. Extraordinária Saúde Mental - Lumena Almeida Castro Furtado

  • RELAÇÃO NACIONAL DE COSEMS

    COSEMS - AC - Tels: (68) 3212-4123 Josianis Araújo RodriguesCOSEMS - AL - Tel: (82) 3326-5859Normanda da Silva SantiagoCOSEMS - AM - Tels: (92) 3643-6338 / 3643-6300Januário Carneiro da Cunha NetoCOSEMS - AP - Tel: (96) 3271-1390Roberto Wagner BernadesCOSEMS - BA - Tels: (71) 3115-5915 / 3115-5946Raul Moreira Molina BarriosCOSEMS - CE - Tels: (85) 3101-5444 / 3219-9099Wilames Freire BezerraCOSEMS - ES - Tel: (27) 3026-2287Luis Carlos ReblinCOSEMS - GO - Tel: (62) 3201-3412 Amilton Fernandes PradoCOSEMS - MA - Tel: (98) 3256-1543 / 3236-6985Iolete Soares de ArrudaCOSEMS - MG - Tels: (31) 3287-3220 / 3287-5815Mauro Guimarães JunqueiraCOSEMS - MS - Tels: (67) 3312-1110 / 3312-1108Frederico Marcondes NetoCOSEMS - MT - Tel: (65) 3644-2406 Jairo José dos Santos AyresCOSEMS - PA - Tels: (91) 3223-0271 / 3224-2333Charles César Tocantins de SouzaCOSEMS - PB - Tel: (83) 3218-7366Soraya Galdino de Araújo LucenaCOSEMS - PE - Tels: (81) 3221-5162 / 3181-6256Ana Claudia Callou MatosCOSEMS - PI - Tel: (86) 3211-0511Maria do Socorro Candeira Costa COSEMS - PR - Tel: (44) 3330-4417Antônio Carlos Figueiredo NardiCOSEMS - RJ - Tel: (21) 2240-3763Maria Juraci de Andrade DutraCOSEMS - RN - Tel: (84) 3222-8996Maria da Salete Fernandes CunhaCOSEMS - RO - Tel: (69) 3216-5371Afonso Emerick DutraCOSEMS - RR - Tel: (95) 3623-0817Marcelo Lima LopesASSEDISA - RS - Tel: (51) 3231-3833Arilson da Silva CardosoCOSEMS - SC - Tels: (48) 3221-2385 Luis Antonio SilvaCOSEMS - SE - Tels: (79) 3214-6277 / 3346-1960Saulo Menezes Calazans Eloy dos Santos FilhoCOSEMS - SP - Tels: (11) 3066-8259 / 3066-8146José Fernando Casquel MontiCOSEMS - TO - Tel: (63) 3218-1782Sinvaldo dos Santos Moraes

    CONSELHO HONORÁRIORaimundo Bezerra (em memória), Paulo Dantas, José Eri Medeiros,Armando Martinho Bardou Raggio, Gilson Cantarino O´Dwyer,Edmundo Gallo, Gilberto Tanos Natalini, Neilton Araújo de Oliveira,Silvio Mendes de Oliveira Filho, Luiz Odorico Monteiro de Andrade,Silvio Fernandes da Silva, Edmundo Costa Gomes eHelvécio Miranda Magalhães Júnior.

    DISTRIBUIÇÃO: Ministério, Secretarias Estaduais, Secretarias Municipais,Prefeituras, Universidades, Instituições Nacionais e Internacionais,Diretores e Administradores de Entidades Públicas e Privadas ligadas à saúde.

    Esplanada dos Ministérios - Ministério da SaúdeBloco G, Edifício Anexo, Ala “B”, sala 144 - Cep: 70.058-900 - Brasília-DFTel: (61) 3223-0155Homepage: www.conasems.org.brEmail: [email protected]

    PRODUÇÃO

    Projeto GráficoId arteseventos

    Edição Geral Giovana de Paula

    Criação e Direção de arteHelma Kátia

    DiagramaçãoJadson AlvesPablo Valença

    RevisãoNilo Brêtas Junior

    Reportagens free lancerEthel de PaulaValéria FeitozaTarciano Ricarto

    IlustraçõesJadson AlvesPablo ValençaWilson Neto

    ImpressãoAthalaia Gráfica e EditoraTiragem: 20.000 exemplaresMiolo: Papel Couche Fosco 150 g/m2

  • O ano de 2014 traz o prenúncio de mudanças impor-tantes no Sistema Único de Saúde. Logo no mês de fevereiro houve a troca do ministro da Saúde, com a saída de Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo do estado de São Paulo, e a posse de Arthur Chioro, um ministro que sai diretamente da gestão municipal para assumir o comando nacional da política de saúde.

    Além dos avanços consideráveis do ex-ministro Padilha, com destaque para o enfrentamento da deficiência de profissionais médicos nos serviços públicos do país, Chioro garante ir além, não somente reconhecendo o papel do município como ator fun-damental na condução das políticas de saúde, mas prometendo fortalecer a gestão nos territórios, onde de fato o SUS se materializa. O ministro revela ainda a intenção de mexer com a burocracia governamental e investir nas instâncias de pactuação do SUS.

    O ano também se desenha a partir da perspectiva de mudanças decorrentes das eleições, com a escolha do presidente da República, dos governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Aos que buscam ga-rantir que o Sistema Único de Saúde se mantenha como uma política de Estado, e não de governo, estando assim respaldado contra as vicissitudes de quem assume o poder, cabe defender o cumprimento da Constituição e das leis que regulamentam o SUS. Está tudo lá.

    No entanto, o SUS é um sistema vivo, dinâmico, e como tal está sempre se reinventando para se adequar às necessidades de mudança. Sem que se alterem os princípios que o regem, é imperativo mudar. Como os últimos anos foram de um intenso processo de aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão, com o fortalecimento da regionalização e o redesenho do pacto interfederativo, espera-se que os próximos governantes tenham o compromisso de dar continuidade a essa evolução.

    A presente edição da revista CONASEMS procura se debruçar sobre essas questões, trazendo a opinião de especialistas sobre o cenário que se avizinha. Esperamos que o futuro seja de grandes conquistas para o SUS. Boa leitura!

  • índice05061317253032343540414648

    Curtas

    Entrevista

    Teses

    Construindo o SUS

    Especial

    Artigo

    Artigo

    Hiper Texto

    Recortes do Brasil

    Artigo

    Equidade

    Perfil

    Memória

  • Dia 31 de janeiro, o secretário municipal de saúde de Bauru, José Fernando Casquel Monti, foi empossado como novo presidente do COSEMS/SP, cargo até então ocupado pelo novo ministro da Saúde, Arthur Chioro. A vigência do cargo termina em 2015, quando serão promovidas novas eleições durante o XXIX Congresso do COSEMS/SP. A solenidade contou com a presença de prefeitos, deputados federais e estaduais, secretários municipais de saúde do estado de São Paulo e do ex-ministro, Alexandre Padilha. Acompanhe no site do CONASEMS matérias com os novos presidentes dos COSEMS.

    Novo presidente

    A diretoria do CONASEMS esteve reunida com o novo ministro da Saúde, Arthur Chioro, no dia 5 de fevereiro, para discutir assuntos diversos relacionados ao SUS. Estiveram presentes o presidente do CONASEMS, Antonio Carlos Figueiredo Nardi, o secretário executivo, Enio Servilha, os diretores Mauro Junqueira (COSEMS/MG), Wilames Freire (COSEMS/CE), Charles Tocantis (COSEMS/PA) e o vice presidente Fernando Monti (COSEMS/SP). Dois dias antes, o ministro foi empossado pela presidenta Dilma Rousseff, numa cerimônia onde tomaram posse também os novos ministros da Casa Civil, Educação e Secretaria de Comunicação. Veja as fotos da posse e transmissão de cargo: flickr.com/conasems.

    Posse

    Curtas

    Entre os dias 12 e 15 de março, acontece a IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília/DF. O evento é um importante dispositivo de incen-tivo à reflexão sobre as práticas de saúde e valorização dos profissionais das equipes multiprofissionais que atuam na Rede de Atenção Básica, como equipes de Saúde da Família e Atenção Domiciliar. São esperadas mais de 10mil pessoas.

    Atenção Básica

    Texto: Jossie Medcalf

    Acompanhe os eventos em tempo real no:

    Facebook: /paginaconasems

    Twitter: @conasemsoficial

    Youtube: /canalconasems

    Flickr: /conasems

    Curtas 7

  • Arthur Chioro Por Giovana de Paula

    Um processo de gestão “singular”. É assim que o novo ministro da Saúde, Arthur Chioro, pretende liderar um dos ministérios mais importantes do país. O que ele defende é um modo de conduzir a política de saúde dando mais capacidade ao espaço da singularidade, para buscar maior sintonia e aproximação entre as diretrizes nacionais e a política que se efetiva no cotidiano dos serviços de saúde. Experiente na gestão do SUS, seja na condição de secretário municipal ou de dirigente do próprio Ministério da Saúde, ele reconhece a potência e a necessidade de valorização do espaço micropolítico e aposta na conquista dos profissionais de saúde para fortalecer o SUS. “Nosso grande objetivo, mais do que fazer grandes consensos, pactos, é conseguir estabelecer compromissos dos nossos trabalhadores com os seus usuários”, afirma. Nesta entrevista, o ministro fala sobre seus projetos prioritários à frente da pasta e reflete sobre temas como o financiamento, a relação público privado e a valorização da atenção básica.

    Entrevista8

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    aúde

  • Revista CONASEMS - Qual a sua trajetória profis-sional na saúde pública?

    Arthur Chioro - Formei em 1986, e desde então a minha trajetória profissional, como médico, gestor público e professor, sempre esteve fortemente relacionada com a construção da política pública de saúde, implementando o Sistema Único de Saúde (SUS), que concebo como um projeto ético-político civilizatório, que vai além de uma mera organização burocrática de organizações e sistemas de saúde. Já estive na gestão do Ministério da Saúde, entre 2003 e 2005, como Diretor do Departamento de Atenção Especializada, onde coordenei projetos inovadores e de fundamental importância para o SUS. Nunca deixei, após sair do Ministério da Saúde, de acompanhar, passo a passo, o que vinha ocorrendo.

    RC - O senhor assume o ministério da Saúde insti-gado pelo desejo de colocar em prática seus sonhos e ideais de sanitarista. O que o senhor sonha como um projeto ideal para o SUS e quais limites à realização desse ideário o senhor tem enfrentado nesses 25 anos de gestão pública?

    AC - Meu sonho é que o SUS seja efetivamente um sistema nacional de saúde da população, ou seja, que ele garanta um acesso de qualidade para que a população tenha capacidade de se sentir protegida e amparada, para que ela possa defender o próprio sistema público, como seu sistema de saúde. Acredito que o grande desafio é transformar toda essa cons-trução política, colocada como um plano ideal, com conceitos fundamentais que estão presentes na nossa constituição como a universalidade, a equidade, a integralidade e o controle social, efetivamente em uma estrutura que garanta esse desejo da população de ser bem atendida com qualidade, impactando na sua qualidade de vida. Ou seja, transformar este SUS de forma que o ideal se aproxime do real, pois o que idealizamos é uma coisa, mas na prática temos uma saúde extremamente frágil e que precisa ser ampliada, qualificada.

    RC - O senhor tem um longo trabalho no COSEMS SP e no próprio CONASEMS. Qual a importância des-sas entidades na condução das políticas públicas de saúde?

    AC - Na estrutura federativa brasileira é impossível pensar um processo de construção de pactuação entre as três esferas (estadual, municipal e federal) sem envolver as instituições e organizações que representem os 26 estados e o Distrito Federal, no caso o CONASS, e os mais de 5 mil municípios representados pelo CONASEMS. A história do SUS se confunde com a própria história do CONASS e CONASEMS. Não há nenhuma dúvida quanto à legitimidade e a capacidade que essas duas institui-

    ções têm de representar respectivamente os gestores estaduais e municipais e é com elas que pretendo trabalhar cotidianamente, ouvindo e compartilhando as responsabilidades nas decisões que beneficiem a saúde nos estados e municípios.

    RC - Que propostas o senhor tem de fortalecimento da gestão municipal na execução das políticas de saúde? O que é necessário para viabilizar a cooperação entre as diferentes instâncias de governo e como pretende fortalecer mecanismos de pactuação como o COAP e os colegiados de gestão regional?

    AC - Em primeiro lugar é fundamental fortalecer a capacidade de gestão de cada município, reconhecendo as suas diferenças. Não é possível tratar na realidade brasileira os municípios como se fossem todos iguais, todos tivessem a mesma trajetória, a mesma capacidade, a mesma autonomia. Precisamos ter um olhar de maneira singular e compreender isso. Claro que isso não é um papel só do Ministério da Saúde, também é uma tarefa que exige repensar o papel das secretarias estaduais de saúde que têm uma missão fundamental no sentido de fazer o sistema funcionar, dando apoio financeiro e na implantação de políticas. O dia em que as secretarias estaduais de saúde cumprirem, efetivamente, esse papel, ou seja, apoiarem fortemente os municípios para que eles possam se qualificar, autonomizar, teremos profundos avanços no SUS. E essa é uma das questões fundamentais que quero discutir e implementar junto ao CONASS e CONASEMS. Ou seja, fortalecer, respeitando a autonomia junto a cada ente federado, a capacidade

    Entrevista 9

  • de cada um cumprir o seu papel no sistema, aliás, delimitar mais claramente quais são as atribuições e responsabilidades de cada um. Não é possível imaginar que o Ministério da Saúde possa dar certo sem que estados e municípios também deem certo. Tem que haver uma parceria em que a soma e o sinergismo seja sempre uma busca permanente.

    RC - O senhor faz uma crítica à falsa sensação de controle que o mundo gerenciado nos dá, que tem limitado a capacidade de produzir o novo. Como na condição de ministro da saúde é possível possibilitar essa capacidade de mudança?

    AC - Sem separar as dimensões da gestão e da política, como se fossem coisas distintas. Não faz sentido planejar e fazer gestão se não for para atingir objetivos políticos muito claros. No caso especifico do SUS, é garantir a todos os brasileiros o acesso universal e qualificado ao sistema de saúde. Portanto, a mera substituição do objetivo de transformar a vida das pessoas, de envolver os trabalhadores, de disputar o coração e a mente das pessoas em torno de um projeto de defender a vida, de qualificar cada vez mais a oferta que nós fazemos e o próprio arranjo que o sistema de saúde é capaz de produzir. A qualificação

    da gestão deve estar a serviço de um objetivo muito claro de transformar a vida das pessoas, de qualificar o SUS, de conseguir impor respostas objetivas. O que tenho visto, muitas vezes, é um planejamento quase que asséptico do ponto de vista da política: planilhas, planilhas, metas, mas que no fundo, no fundo, elas não materializam a capacidade de transformação do mundo concreto, onde as coisas acontecem, que é nos serviços de saúde, para produzir mais saúde com qualidade de vida. Devemos utilizar tudo o que a gestão tem a nos fornecer: ferramentas de planejamento, de avaliação, de monitoramento, instrumentos de aperfeiçoamento da capacidade de gestão, mas sem deixarmos de perceber quem é efetivamente o sujeito das nossas intenções, que é o usuário, e qual é o objetivo central, que é a transformação da vida e da saúde dos brasileiros e brasileiras.

    RC - O que preferencialmente o senhor pretende priorizar para cumprir a missão atribuída pela presidenta Dilma de ir além do que já foi feito pelo ministro Padilha?

    AC - Em primeiro lugar consolidar tudo aquilo que já vem sendo colocado. O Programa Mais Médicos, as redes, todo esse investimento na gestão do trabalho

    Entrevista10

  • e da educação médica, qualificação dos processos. Mas nós precisamos discutir, temos que pensar novos objetivos estratégicos, até porque a partir de 2015 teremos o desafio de fazer o nosso processo de planejamento de médio prazo, que é o PPA e o Plano Nacional de Saúde de 2015 a 2018. Tenho algumas convicções e quero discuti-las no âmbito da 15ª Conferência Nacional de Saúde, com o CONASS, principalmente, com o CONASEMS, que considero parceiros prioritários, mas entendo que nós estamos devendo uma modernização da nossa capacidade administrativa para dar respostas mais objetivas. Precisamos simplificar as regras de pactuação, olhar mais a singularidade de cada região do País, as necessidades de cada município, para investirmos além da gestão do trabalho médico, colocando na agenda o conjunto de profissões que atuam na área da saúde. Nós temos que buscar soluções urgentes para o processo de judicialização da saúde, trabalhar na perspectiva de construção de carreiras para o SUS, ainda que não sejam carreiras nacionais, sejam carreiras estaduais, ou que nós possamos construí-las de uma maneira mais adequada à realidade do Brasil. Devemos encarar esse debate. Nós temos alguns temas ainda não resolvidos em definitivo, ou alguns pouco enfrentados. A incorporação tecnológica é outro tema, quer dizer, como trabalhar a questão da incorporação tecnológica do complexo produtivo para a saúde dando ao Brasil autonomia na capacidade da produção não só dos equipamentos médico hospitalares, mas dos próprios insumos, diminuindo a dependência, até porque nós temos um mercado de 200 milhões de usuários que dependem de medicamentos e assistência.

    RC - O senhor destaca o Programa Mais Médicos como a medida mais ousada, correta e corajosa já to-mada por um chefe de Estado na história da saúde pública do Brasil. O que esse programa traz de impacto na atenção à saúde da população e o que o senhor pretende fazer para fortalecê-lo e ampliá-lo?

    AC - O Programa garante o acesso de mais de 40 milhões de brasileiros, muitos que nunca tiveram acesso a um médico ou a uma equipe de saúde da família completa. Isso por si só tem um impacto na vida da população. Em menos de 6 meses, pôde-se observar a ampliação do número de diagnósticos realizados na atenção básica, além do acompanhamento de casos de pessoas com diabetes e hipertensão. Outro ponto importante é que com a chegada desses profissionais, teremos mais controle para reduzir a mortalidade materna e infantil, além da diminuição por internações. Estamos garantindo à população o acesso à atenção básica, que antes era negado. Sem contar que o Programa introduz um fator importante de regulação de mercado, permitindo que prefeituras gastem menos com o transporte sanitário desnecessário de pacientes para as capitais, que antes enchiam as emergências dos hospitais com casos que poderiam ser resolvidos no próprio município. O Programa ficou muito demarcado

    pela dimensão assistencial, mas as ações mais impor-tantes são as medidas estruturantes no que dizem respeito à ampliação no número de vagas para o curso de medicina, mudanças no campo da residência médica, reorientação do ensino e da assistência para a atenção básica, medidas que serão percebidas a médio e longo prazo. Essa foi a ação mais ousada em relação a uma política de saúde. Nós não suportaríamos mais de três a cinco anos sem essa medida, por um simples motivo: nesse governo houve uma enorme expansão assistencial, construção, ampliação e reforma de unidades básicas de saúdes, implantação de UPAs, além da ampliação dos pontos de atenção no SUS. Se esta ação não fosse realizada teríamos um imenso parque assistencial, mas sem profissionais para trabalhar em prol da saúde da população. Temos que aprimorar diariamente a implantação do Programa e seus impactos no atendimento, avaliar a qualidade dos profissionais e, principalmente, apoiar o MEC e as instituições de ensino no processo de formação para termos mais médicos brasileiros que queiram encarar os desafios da nossa população.

    RC - O senhor afirma que irá manter a expansão e a qualificação da Atenção Básica, por meio da Estratégia Saúde da Família, como eixo estruturante do SUS, como também dará continuidade à implantação das redes regionais de atenção à saúde. De que forma o senhor pretende dar maior agilidade a esse processo, levando em conta a diversidade regional?

    Entrevista 11

  • AC - Simplificando ao máximo possível as redes, as relações, os compromissos e atribuindo a cada região maior autonomia para definição de suas prioridades, ou seja, amarrar menos a vida, dar mais capacidade ao espaço da singularidade, ao espaço da construção regional das prioridades do jeito de produzir a saúde. Uma UPA não pode ter em Tabatinga (AM) a mesma configuração que tem em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo. Ela precisa se inserir na rede de urgência a partir das necessidades. Não posso ter as mesmas exigências no campo da atenção hospitalar, seja para uma rede de oncologia, seja para a rede cegonha na

    cidade do Rio de Janeiro, do que terei no sertão do país. Então se a gente tentar formatar o sistema de saúde em um país continental, com tantas diversidades, a partir da padronização de uma política de forma rígida, nós vamos impor mais sofrimento e menos adesão, não a contratualização, porque o financiamento induz os gestores a fazerem a regra do jogo, mas o jogo não necessariamente é jogado ou ele é feito depois que os papéis são assinados exatamente da maneira que é possível. Então nós vamos transformar mais a realidade a partir das necessidades e das potencialidades locais e induzir, a partir daí, os processos de qualificação região a região.

    RC - O senhor fala da necessidade de modernizar e viabilizar a administração pública sem incorrer em riscos como as privatizações. Que propostas o senhor tem nesse sentido?

    AC - Nós que defendemos o SUS, nós que estamos na administração pública, estamos devendo ao longo desses 25 anos de história a propositura de uma

    reforma do modo de fazer a gestão dos serviços de saúde, que seja compatível com os princípios do SUS. Não consigo mais defender os mecanismos da ad-ministração direta com todas as amarras, com todas as impossibilidades e com a lógica com que ela foi criada na época da ditadura militar. Os regramentos, que são de 1966, respondem exatamente à lógica do estado patrimonialista daquele momento, que não era para atender os interesses da população e muito menos adequado às exigências cada vez mais delicadas de serviços de saúde, serviços hospitalares, UTI’s, enfim, o conjunto de serviços de saúde. Então, eu acho que nós temos que discutir olhando para as

    experiências em curso e para o conjunto de propostas que está sendo experimentado, e propor um novo desenho, que seja público, que tenha controle social, que respeite os princípios da administração pública, mas que tenha a agilidade e a eficiência que os serviços de saúde exigem e, mais do que isso, que a população brasileira exige da gente. A população não quer saber se o serviço é de natureza jurídica ‘x’ ou ‘y’, o que ela quer é que funcione, seja qualificado, seja ágil, seja humanizado e que atenda seus interesses. Nós temos a obrigação de discutir no âmbito do Sistema Único de Saúde propostas de modernização que garantam exatamente esses anseios.

    RC - O senhor está conclamando o CONASS e o CONASEMS a rever o modelo centralizado e buro-crático de operar as políticas nacionais de saúde, reconhecendo no espaço micropolítico o verdadeiro locus onde se dá a disputa de modelos assistenciais. Como o senhor pretende enfrentar o desafio de induzir, amparar e fortalecer a gestão local sem centralização política, considerando a complexidade do país?

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  • AC - Defendo exatamente a descentralização da condução e da forma como são coordenadas as ações políticas que impedem a construção, inclusive, de políticas. Tenho chamado isso de processo de gestão singular, ou seja, pensar a partir da realidade de cada estado e muitas vezes dentro dos estados, de cada região, a necessidade de implementar adequações que respondam as necessidades, ao estágio de evolução do processo de gestão de cada região de saúde. É fundamental que a gente faça isso no processo de gestão, mas nunca se esqueça de que quem executa efetivamente o conjunto de política, seja de uma rede, como por exemplo, a Rede Cegonha, são as equipes de saúde. Não adianta desenvolver um processo de contratualização entre os gestores que não consiga

    aos gestores no âmbito das três esferas zelar pela integração e qualidade assistencial. Tem que haver interação o tempo inteiro nessa relação público e privado, por exemplo, no ressarcimento dos pacientes do SUS, na incorporação tecnológica, na qualificação assistencial, aonde se tem plano de saúde. Não adianta querer controlar a mortalidade materna e infantil olhando só para os partos realizados no SUS, tem que ter controle como um todo. Não se controla AIDS, hepatites ou qualquer outra enfermidade olhando só para os pacientes do SUS, não dá para ser meio gestor da saúde, tem que ser gestor inteiro. Então é preciso lidar com essa dimensão e a ANS tem que cumprir seu papel a partir das diretrizes nacionais que o SUS estabelecerá, no caso sobre coordenação do MS. O

    ser internalizado e que não atinja efetivamente os trabalhadores, que são aqueles que implementam no dia a dia as políticas. Nosso grande objetivo, mais do que fazer grandes consensos, pactos, é conseguir estabelecer compromissos dos nossos trabalhadores com os seus usuários. Se nós não conseguirmos trabalhar na produção de políticas com este objetivo, olhando para a singularidade daquilo que acontece no momento em que a porta do consultório é fechada e a relação se dá entre médico e paciente, estamos buscando construir políticas que são absolutamente descoladas da realidade e incapazes de transformar a realidade dos nossos usuários.

    RC - O senhor afirma que a relação público privado será uma prioridade do Ministério e que pretende incentivar o fortalecimento da produção industrial na área da saúde. Quais os projetos para essas duas áreas?

    AC - Em primeiro lugar é compreender que a saúde suplementar faz parte do SUS e que compete

    desenvolvimento do complexo produtivo, que já está em curso mas precisa ser muito alavancado, estimulado, é uma das prioridades do governo federal. Praticamente nenhum país no mundo possui como o Brasil um sistema universal e um mercado em potencial para consumo de insumos do ponto de vista da quantidade de usuários que irão demandar medicamentos, equi-pamentos hospitalares. Nós precisamos inverter essa balança comercial, precisamos ter auto suficiência, não podemos ficar reféns dos produtores mundiais, dos monopólios internacionais que nos trazem, por exemplo, a necessidade de ter que pagar um absurdo por um medicamento para poder garantir o acesso dos nossos usuários. Ou seja, nós temos que ter soberania, autonomia e capacidade de ofertar e isso a gente só vai fazer se não perdermos os avanços proporcionados pela biotecnologia. Nós estamos crescendo nesse setor graças às parcerias que foram desenvolvidas. É fundamental compreender, buscar aprimorar a indústria nacional tanto dos laboratórios públicos quanto privados, fazer a transferência de tecnologias e estabelecer parcerias que permitam isso.

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  • RC - Como o senhor pretende estabelecer um diálogo com os conselhos e os movimentos sociais?

    AC - O controle social é um dos princípios do SUS, então me parece absolutamente claro e por isso tenho mantido um contato prioritário com o Conselho Nacional de Saúde. A minha primeira audiência foi com a presidente do CNS e é fundamental que a gente aprimore essa relação. Nós iremos ter uma 15° Conferência Nacional de Saúde e estou provocando o CNS, as entidades nacionais, os militantes da reforma sanitária para que possamos reinventar a maneira de fazer a conferência. Nós temos um evidente esgotamento do modo de produzir nossos encontros. Precisamos centrar mais na discussão de diretrizes, de documentos que efetivamente norteiem os rumos do nosso sistema nacional de saúde e menos as reivindicações pontuais de cada segmento, de cada setor, de cada entidade. Olhar mais para o todo, para os desafios, e para isso precisamos cada vez mais investir nesse diálogo, respeitar o caráter deliberativo dos conselhos, mas também fazer com que eles possam ser aprimorados, possam ser mais qualificados, que os conselheiros possam exercer o seu papel de uma maneira mais representativa e estimular que o debate seja sempre democrático, porque não existe democracia participativa onde não haja espaço para o conflito, mas também não existe democracia representativa e participativa sem que haja solidariedade e respeito, mesmo quando pensamos diferentes.

    RC - O senhor tem propostas para aumentar o financiamento da saúde, já que reconhece a insuficiência do gasto público?

    AC - A União, os estados e os municípios vêm alocando cada vez mais recursos no financiamento da saúde, mas não posso deixar de apontar a insuficiência do gasto público diante do desafio de construir um sistema universal de saúde que atenda aos anseios da população por mais e melhor atendimento. Por um lado, estamos construindo respostas concretas a esta necessidade, como o programa Mais Médicos; por outro, precisamos, além de gerir com cada vez mais eficiência os recursos públicos, avançar no caminho de boas propostas como a destinação de parcela dos royalties do pré-sal à saúde. Essa é uma tarefa que deve envolver a sociedade brasileira, os governos, o Conselho Nacional de Saúde e o Congresso, como legítima caixa de ressonância dos interesses nacionais.

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  • A ordem é descomplicar ...

    Reportagem: Tarciano Ricarto

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  • Ao assumir o Ministério da Saúde no início de fevereiro, o médico sanitarista Arthur Chioro trouxe na bagagem para Brasília a experiência de um militante do Sistema Único de Saúde (SUS). Já no seu discurso de posse, ressaltou a intenção “de aprimorar ainda mais os processos em curso, de inovar onde for preciso, de ir além”. Muito do que planeja fazer à frente do ministério vai ao encontro das demandas prioritárias do CONASEMS.

    “Muitas das nossas necessidades de curto, médio e longo prazos foram expostas ao ministro e obtiveram grande receptividade”, conta Antonio Carlos Figueiredo Nardi, presidente do CONASEMS, que, juntamente com a diretoria da entidade, reuniu-se com Chioro três dias depois da posse. “A primeira questão tratada com ele foram as portarias já pactuadas e não operacionalizadas, bem como as portarias já publicadas, mas que necessitam de alguma revisão”, avalia Nardi.

    Nardi ressaltou que, da mesma forma que o CONASEMS, o novo ministro acredita ser fundamental reduzir a burocracia para que os resultados práticos apareçam. “Avaliamos isso como uma coisa muito positiva, porque é o que o CONASEMS mais tem defendido na questão operacional: a necessidade de diminuir a burocracia de papel e de garantir mais ação”, completa.

    Um segundo tema exposto ao ministro e acatado por ele foi o do fortalecimento das instâncias gestoras e o da necessidade de operacionalizar a assinatura do Contrato Organizativo de Ação Pública (COAP) em todos os estados do país a partir de uma metodologia que respeite as necessidades e especificidades de cada região de saúde. “Não pode ser algo cartorial, meramente burocrático, de assinatura de papel sem que exista operacionalização. Para nós, essa postura do ministro representa uma conquista”, comemora Antonio Nardi.

    A ideia é que, dentro dessa perspectiva de fortalecimento da gestão, as várias instâncias que participam do processo – COSEMS nos estados, Comissões Intergestores Bipartites, Comissões Intergestoras Regionais – possam juntas traduzir a realidade dos serviços disponíveis e das necessidades existentes, a fim de prover o atendimento completo e universal à população.

    “O fortalecimento dessas instâncias, com a assinatura de COAPs não burocráticos, que pensam os investimentos para suprir as carências apontadas em uma avaliação prévia, representa a nossa maior expectativa com relação ao trabalho do ministro Arthur Chioro e de seus secretários”, avalia o presidente do CONASEMS.

    A origem e a história de luta do Ministro pela reforma sanitária e pelo SUS continuam com ele.

    Nilo Brêtas Júnior coordenador da Assessoria

    Técnica do CONASEMS

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  • Muitas das nossas necessidades de curto, médio e longo prazos foram expostas ao ministro e obtiveram grande receptividade.

    Antonio Carlos Figueiredo Nardi, presidente do CONASEMS

    EXPOGEP

    Na mesma semana em que assumiu a pasta, o novo ministro teve a oportunidade – após os discursos protocolares de posse e de transmissão de cargo – de falar pela primeira vez em público para uma plateia formada exclusivamente por quem conhece de perto o dia a dia do SUS: gestores, técnicos, trabalhadores, pesquisadores e usuários de todo o Brasil, que participavam da II Mostra Nacional de Experiências em Gestão Estratégica e Participativa do SUS (II EXPOGEP), realizada em Brasília.

    Nesta segunda edição, a mostra destacou questões centrais para o sistema público, divididas em cinco ei-xos temáticos: governança e regionalização em saúde; escuta e participação social; mobilização social: o direito à saúde e diversidade; e-Saúde e Informação; e Transparência e Controle na Gestão Pública. Durante o evento, ocorreram mesas redondas, exposições orais, oficinas, seminários e reuniões entre representantes de municípios, estados, União e parceiros nacionais e internacionais.

    O discurso de Chioro, que ocorreu no dia do encer-ramento do evento, voltou-se ao reforço do seu empenho em prol da construção do SUS. “As pessoas com quem eu trabalho, e vão continuar comigo, são absolutamente comprometidas com o Sistema Único de Saúde. E, digo mais, com a política nacional de saúde pública de qualidade, com a participação social, com o controle social e com transparência que me permitam

    garantir, a cada brasileiro, a possibilidade de viver de forma mais digna e saudável”, disse.

    Nilo Brêtas Junior, coordenador da Assessoria Técnica do CONASEMS, destaca que o teor do discurso do ministro reforça em vários momentos os pleitos da entidade. “Ele fez um balanço geral e revelou suas impressões, detalhando o que temos pela frente de agenda em conjunto. A origem e a história de luta do Ministro pela reforma sanitária e pelo SUS continuam com ele”, afirma Nilo Brêtas.

    Chioro reforçou novamente seu interesse no fortalecimento de uma agenda interfederativa – de cunho municipalista – para enfrentar os desafios dos SUS (financiamento, organização, recursos humanos etc). Segundo Nilo Brêtas, esse debate tem a ver com a organização da região de saúde, para fazer com que o SUS se aproxime de resolver o que é necessidade para a população. “Isso é fundamental para que a gente conquiste cada vez mais governabilidade”, afirmou.

    O novo ministro também pontuou a importância de garantir um COAP efetivo, estruturado a partir da cogestão regional entre estados e municípios, bem como destacou a necessidade de fortalecimento técnico e financeiro das comissões bipartite, tripartite e regionais, com efetivo papel de decisão. Ressaltou ainda a necessidade de resgatar a educação permanente na região.

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  • Dentro da temática da EXPOGEP, Chioro abordou a questão da auditoria como ferramenta efetiva de gestão, que deve distanciar-se do viés burocrático e relatorial. Segundo Nilo Brêtas, a ideia passada pelo ministro é de romper com a visão, por exemplo, de que a auditoria se resume a avaliar se o dinheiro foi executado corretamente. “Pode ter sido executado, mas a população pode continuar sem acesso e sem resposta. Por isso, é preciso mudar esse caráter da auditoria para buscar, de fato, resultados”, explica Nilo.

    Considerando a semelhança dos pontos elencados pelo ministro com a agenda proposta pelo CONASEMS, importante destacar um dos trechos do seu discurso de posse, que, de modo apurado, sintetiza essa visão em comum:

    “Precisamos reconhecer que é no espaço micropolítico que se dá a verdadeira disputa de modelos assistenciais. É ali que se opera um cuidado melhor ou pior, humanizado ou desrespeitoso, implicado ou descomprometido, qualificado e capaz de promover mais saúde ou produtor de mais dor, sofrimento e morte. Essa concepção, mais complexa e desafiadora, será a baliza para a produção de novas políticas e a revisão e aperfeiçoamento do que fizermos a partir de agora. Pensar e levar em consideração – sempre – o mundo real onde se dá o processo de cuidado é a palavra de ordem. A ordem é simplificar, descomplicar, envolver, implicar.”

    Pensar e levar em consideração – sempre – o mundo real onde se dá o processo de cuidado é a palavra de ordem. A ordem é simplificar, descomplicar, envolver, implicar.

    Arthur Chioro, ministro da Saúde

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  • Ouvidorias do SUS: o diálogo possível

    Reportagem: Ethel de Paula

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  • A escuta como um canal de abertura para o Outro. Ou o dizer como parte constituinte do fazer, de uma ação crítica e concreta sobre o mundo. Em permanente disputa, os discursos validam ou negam ideias e atitudes, definindo os rumos dos acontecimentos. Portanto, se a palavra prepara o gesto, é esse poder transformador em potencial que tem animado estados e municípios a criarem espaços de ouvidoria no âmbito da saúde pública. Não à toa, iniciativas do tipo saltam aos olhos e já são dignas de premiação. Assim é que o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP) e do Departamento de Ouvidoria Geral do SUS (DOGES), uniu interesses junto ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) para fazer valer a primeira edição do Prêmio Cecília Donnangelo de Ouvidoria SUS, permitindo que experiências bem sucedidas em todo o País sejam conhecidas e estimuladas, contribuindo diretamente na implementação da Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa.

    Setenta inscritos e 20 selecionados, 10 na categoria “Narrativas e Relatos”, outros 10 na categoria “Pes-quisas e Sistematizações”. Coordenadora da Comissão Executiva do Prêmio Cecília Donnangelo e do Sistema Nacional de Ouvidoria, Maria Moro vê a premiação como momento estratégico para dar visibilidade a gestores e trabalhadores de saúde que investem na qualidade da escuta como ferramenta de governo, transformando a voz do cidadão usuário do SUS em termômetro e baliza para o planejamento e a execução de políticas públicas para a saúde. “No Ministério da Saúde nós temos como uma das incumbências organizar o Sistema Nacional de Ouvidorias e hoje já são 1.261 implementadas em

    estados e municípios. Entre as capitais somente Natal não tem. O prêmio, que no próximo ano também vai contemplar a área de Tecnologia da Informação, é para compartilhar conhecimento e descobrir experiências inovadoras para compor o Laboratório de Inovação em Escuta e Participação Social”, adianta.

    Para a coordenadora, o esforço conjunto pela qualificação da escuta não deve ser somente em nome do cumprimento de um direito constitucional reafirmado em 2011 pelo decreto 7508, que versa sobre o direito à saúde e aponta a Ouvidoria Ativa como instância de mediação entre as necessidades do cidadão e as ofertas dos serviços públicos de Saúde. “A ouvidoria não é representante do cidadão, mas vocaliza suas necessidades e esse conjunto de dados sistematizados fornece informações para o gestor avaliar os serviços de saúde a partir da ótica do usuário. Também democratiza e horizontaliza as relações entre cidadão e gestor, já que não depende de agenda, além de fortalecer a participação individualizada na gestão do SUS, considerando que nem todos fazem parte de conselhos e de movimentos sociais”, destaca.

    No Ministério da Saúde, diferentes caminhos levam ao diálogo possível com o cidadão: complementares entre si, o Disque Saúde 136; a carta SUS; a pesquisa de satisfação; e a ouvidoria itinerante, que vai ouvir o usuário in loco, são canais de aproximação e escuta. A carta SUS vai para quem passou por atendimento de alta complexidade ou foi internado. Mede a satisfação e é um mecanismo de controle para saber se o serviço foi prestado de forma idônea. Já a pesquisa é feita através de contato telefônico, enquanto a ouvidoria itinerante se dá em parceria com movimentos sociais e populações

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  • Maria Moro, coordenadora da Comissão Executiva do Prêmio Cecília

    Donnangelo e do Sistema Nacional de Ouvidoria

    A ouvidoria não é representante do cidadão, mas vocaliza suas necessidades e esse conjunto de dados sistematizados fornece informações para o gestor avaliar os serviços de saúde a partir da ótica do usuário.

    vulneráveis, a partir de escutas individuais nos próprios locais de atendimento ou moradia. Como incentivo a estados e municípios, o Ministério também apoia a qualificação e formação da equipe de profissionais interessados em se dedicar à ouvidoria, assim como disponibiliza o Ouvidor SUS, sistema informatizado para o registro e acompanhamento de demandas estaduais e municipais, visando melhor resolutividade.

    Até 2010, o Ministério da Saúde também dispo-nibilizava kits com mobiliário para estados ou municípios melhor instalarem suas ouvidorias. Mas a ação foi suspensa. “Hoje o MS dá ênfase à formação e qualificação da equipe, já que não existe curso técnico de formação para ouvidor. Ou seja, ouvidores podem ser advogados, enfermeiros, médicos, geógrafos, economistas, administradores... Então, ajudamos a formar esse profissional e em âmbito federal iremos disponibilizar em 2014 mestrado pela Fiocruz em Gestão Pública com foco em ouvidoria, auditoria e gestão participativa. Também com a Fiocruz teremos cursos de ouvidoria nas escolas de saúde pública, tanto presenciais quanto à distância”, anuncia Maria Moro. Segundo ela, é da rubrica financeira do ParticipaSUS que o recurso destinado à implantação de ouvidorias nos estados e municípios deve sair. “A existência e eficácia de uma Ouvidoria vai depender mesmo é de decisão política. Se o gestor não quiser a ouvidoria não funciona”, enfatiza.

    Aos gestores de todo o país, o MS sugere que municípios com 50 ou até 100 mil habitantes tenham ouvidoria do SUS. Em municípios menores há a opção pela Ouvidoria Geral e Regional para atender aos cidadãos e dar respostas às suas demandas. “Essa ouvidoria pode estar na secretaria de saúde, na unidade de saúde (hospital) ou ser uma ouvidoria geral do município (pequeno porte) que atenda as demandas da saúde. Também podem ser estruturados serviços de ouvidoria para região de saúde. Ainda não existe uma experiência de ouvidoria de Região de Saúde, assim como nem todos os estados e municípios fizeram adesão ao sistema Ouvidor SUS para facilitar a tramitação de demandas”, informa a coordenadora. Por outro lado, o próprio Ministério ainda não dispõe do indicador nacional estabelecido para avaliar a qualidade das ouvidorias. “Ainda precisamos aprimorar muito a gestão de informação no SUS e ter uma boa resolutividade. É sempre um desafio, como também é o reconhecimento por parte do gestor com relação à importância da formação para a qualificação da ouvidoria e sua capacidade de dar respostas de forma ágil e eficiente”, sublinha.

    Americana

    Americana, município do estado de São Paulo, foi um dos agraciados com o prêmio Cecília Donnangelo de Ouvidoria SUS. Com o projeto Ouvidoria Itinerante em curso desde o final de maio de 2013, apostou justamente no deslocamento da ouvidoria até os usuários – não

    o contrário - e alcançou todas as unidades de saúde registrando cada crítica, opinião ou proposição popular. Segundo o próprio secretário de saúde de Americana e diretor do COSEMS-SP, Fabrizio Bordon, foi assim que no período de maio a setembro último a ouvidoria registrou 420 manifestações. Do total, 51% estavam relacionadas a elogios aos serviços e profissionais da rede pública de saúde; 32% eram reclamações e o restante trouxe solicitações e sugestões. O resultado animou o gestor e a responsável pela Ouvidoria, Eliane Piovezan, que perceberam o acesso à informação sobre os serviços de saúde que a Ouvidoria proporciona, assim como a importância da utilização prática dos dados coletados na busca por melhorias que podem se reverter em um atendimento humanizado junto aos moradores de Americana.

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  • Foi através de um Ato Administrativo que estabelece prazo de 15 dias para o envio das respostas pelas unidades de saúde à Ouvidoria que conseguimos dinamizar e agilizar os retornos.

    Fabrizio Bordon,secretário de saúde de Americana

    e diretor do COSEMS-SP

    Ação que gera reação. Segundo Bordon, a criação da Ouvidoria do SUS de Americana, em julho de 2006, assim como seu desdobramento posterior em ouvidoria itinerante, funcionam hoje como profícuos instrumentos de gestão participativa e controle social, gerando consequentes cobranças para dirimir as insatisfações dos cidadãos, que também são representados pelo Conselho Municipal de Saúde. “Com o tempo, houve a necessidade de criar uma ferramenta administrativa para garantir agilidade nas respostas ao usuário. Foi através de um Ato Administrativo que estabelece prazo de 15 dias para o envio das respostas pelas unidades de saúde à Ouvidoria que conseguimos dinamizar e agilizar os retornos”, ressaltou, informando que os atendimentos aos usuários SUS de Americana atualmente são realizados através do serviço telefônico 0800 e 160, e-mail, formweb no Sistema OuvidorSUS, carta, atendimento presencial na sala da Ouvidoria, localizada na sede da Secretaria de Saúde, e junto à Ouvidoria Itinerante.

    Falta de medicamentos, demora no atendimento, insatisfação com os procedimentos, falta de médicos, críticas ao serviço de enfermagem e em relação às rotinas/protocolos. Diante de um quadro complexo de insatisfações, a escolha e capacitação do ouvidor exi-giram atenção redobrada. “Por não ter sido criada por lei a função, buscamos dar o perfil a esse profissional: um mediador de conflitos, bom ouvinte, paciente, com empatia, liderança, bom relacionamento com os setores da Rede, apto ao trabalho em equipe, conhecedor dos serviços da Rede SUS. Posteriormente, ele foi se capacitando com todos os cursos que surgiram, realizou treinamentos nos Serviços Internos da Rede e no SAC – Serviço de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura de Americana, além de estágio nas Unidades de Saúde para conhecer melhor in loco o fluxo de atendimento”, detalha o gestor, certo de que a qualificação foi fundamental para a identificação das reincidências dos registros e das necessidades prementes dos usuários, assim como influiu na redução do número de reclamações reincidentes e, por fim, das reclamações.

    Guarulhos

    Vontade política foi o que também determinou o sucesso da Ouvidoria em Guarulhos, segundo a ex-ouvidora do município paulista, hoje Coordenadora Executiva da Ouvidoria da Secretaria de Estado de São Paulo, Carmen Piccirillo. Como um dos primeiros a aderir ao Sistema Informatizado OuvidorSUS, Guarulhos construiu sua metodologia empiricamente, sem manuais de implantação. Hoje, a experiência é modelo, contribui com as capacitações e se expande pela rede de saúde pública através de atendimento pessoal, 0800, formulário web, carta/urna, ouvidoria itinerante e Núcleo Participativo, através do acolhimento das demandas surgidas nas plenárias da Saúde Participativa, que ocorrem a cada dois anos, atingindo cada um dos 18 distritos com população usuária dos serviços de saúde, funcionários da saúde, conselheiros e gestores das unidades. “A ouvidoria teve início com a escuta do cidadão somente na secretaria de saúde e hoje já temos esta estrutura em nossos três hospitais municipais. Acredito que seja o único município a ter este número de ouvidorias em funcionamento, já que, normalmente, só se tem uma ouvidoria por município”, destaca Piccirillo.

    Uma escola para o exercício da cidadania. Esse é o legado que a ex-ouvidora acredita ter deixado e estar levando de Guarulhos após a implantação do serviço de ouvidoria. “O bem maior é o fato das pessoas exercitarem o direito de dizer. Por outro lado, os gestores também exercitam a escuta devolutiva”, observou. Ouvir para agir cirurgicamente sobre o problema, muitas vezes lançando mão de simples procedimentos. “Por exemplo: a ouvidoria tinha a informação de que muitas pessoas aguardavam por consulta e a central de regulação informava que o número de absenteísmo era altíssimo.

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  • O bem maior é o fato das pessoas exercitarem o direito de dizer. Por outro lado, os gestores também exercitam a escuta devolutiva.

    Carmen Piccirillo,coordenadora executiva da Ouvidoria

    da Secretaria de Estado de São Paulo

    A ouvidoria começou a identificação das razões que levavam a isso e descobriu-se que alguns não dispunham de dinheiro para o transporte. Isso porque haviam agendado atendimentos para locais distantes. Quando isso foi levado ao conhecimento da Central de Regulação, o agendamento passou a considerar a proximidade geográfica, facilitando fluxos”, ilustrou.

    O gráfico, no entanto, não lhe parece crescente. “Hoje posso falar que o incentivo dado aos estados e municípios está muito aquém do que já foi. A equipe técnica está menor, com menor capacidade para nos auxiliar, apesar de toda a boa vontade. E mais grave ainda foi que o recurso de material deixou de existir. Isso é fundamental, além do repasse fundo a fundo. Tenho a impressão que nossos dirigentes no Ministério da Saúde deixaram de dar a importância devida à Ouvidoria e sinceramente não entendo como isso pode acontecer exatamente no momento em que se faz tão importante a escuta da população”, criticou Piccirillo, apontando a participação popular como condição básica para a formulação de políticas públicas mais próximas das aspirações e necessidades da população.

    Novo Hamburgo

    Em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, o pulo do gato foi atrelar a ouvidoria itinerante à elaboração do Plano Municipal de Saúde. “Tínhamos como objetivo conceber um plano da forma mais democrática possível, ouvindo todas as regiões e comunidades da cidade e conhecendo as necessidades locais. Como o plano era elaborado pela Secretaria da Saúde e aprovado pelo Conselho Municipal da Saúde, poucos opinavam e davam a sua contribuição. Foi quando surgiu a ideia

    de criação de uma Ouvidoria Itinerante, capaz de ir até as comunidades e ouvir a população local sobre os serviços de saúde disponibilizados para, a partir dos relatos colhidos, elaborar o Plano Municipal da Saúde”, contextualizou o Gerente da Ouvidoria do SUS do município, Márcio Possebon.

    Morada dos Eucaliptos, Lomba Grande, Roselândia, Boa Saúde, Primavera, Iguaçu. Aos poucos, cidadãos e usuários do SUS de todas as localidades foram ouvidos in loco, em encontros organizados por representantes das próprias comunidades, como líderes comunitários e membros de associações de bairros, além dos representantes da Secretaria Municipal de Saúde e profissionais do SUS. Assim, foi possível não só ouvir como dar peso legal às demandas da população, tornando a escuta um instrumental eficiente para o planejamento administrativo e para uma projeção orçamentária com base nas necessidades prementes de cada região. O caminho que leva à participação popular de fato e de direito, porém, ainda vem se traçando. E os desafios são muitos.

    “Inicialmente, há quase quatro anos, quando im-plantamos a Ouvidoria, participamos de capacitações, aderimos ao sistema informatizado OuvidorSUS e passamos a ser convidados a participar de muitos eventos que debatem a política de Ouvidoria do SUS. Recebemos também o kit de Ouvidoria, que ajudou a estruturar o serviço, com cadeiras, mesas, computadores e impressoras. Ainda hoje recebemos cursos de qualificação e mesmo assim ainda há muitos desafios no dia a dia que devemos superar. As principais dificuldades são em relação à qualidade e ao prazo de resposta dada ao usuário, que nem sempre é cumprido pela sub-rede”, admite o Ouvidor. Para Possebon, a sensibilização dos trabalhadores da Rede SUS e dos gestores para a importância das Ouvidorias como instrumentos de gestão capazes de qualificar o atendimento ao cidadão também é algo que ainda merece atenção e investimento por parte do Governo Federal e demais entes federados envolvidos.

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  • (...) surgiu a ideia de criação de uma Ouvidoria Itinerante, capaz de ir até as comunidades e ouvir a população local sobre os serviços de saúde disponibilizados para, a partir dos relatos colhidos, elaborar o Plano Municipal da Saúde.

    Márcio Possebon, gerente da Ouvidoria do SUS do

    município de Novo Hamburgo

    Araguaína

    A prevenção à judicialização é o trunfo da Ouvidoria do SUS municipal de Araguaína, no estado de Tocantins, experiência também contemplada com o prêmio Cecília Donnangelo. Atuando em conjunto com o Núcleo de Apoio Técnico – NAT desde maio de 2011, virou a mesa ao viabilizar soluções administrativas para os conflitos relacionados à Saúde que até então iam às raias do Ministério Público e da Defensoria Pública Estadual. “Antes da criação da Ouvidoria, a maioria das demandas relacionadas a medicamentos, consultas e demais procedimentos na área da saúde pública era ajuizada e submetida ao Tribunal de Justiça do Tocantins. Com o apoio de toda a sub-rede na Secretaria Municipal de Saúde e do gestor municipal, foi estabelecido um diálogo com a Defensoria Pública e o Ministério Público em Araguaína, resultando numa mudança de paradigma e definição de novos fluxos de trabalho. Exemplo: as demandas registradas naqueles órgãos poderiam ser encaminhadas previamente à consulta da Ouvidoria do SUS/NAT, antes de serem ajuizadas”, esmiuçou a ouvidora Musa Denaise de Souza.

    O estímulo à solução extrajudicial e administrativa de demandas via Ouvidoria do SUS deu resultados mais do que animadores, alcançando uma redução de mais de 80% no total de demandas ajuizadas pela Defensoria Pública Estadual – Regional de Araguaína, segundo dados fornecidos pela própria Defensoria, no período aproximado de um ano desde a implantação da Ouvidoria do SUS e do NAT. Segundo Denaise, outra atuação fundamental da Ouvidoria/NAT de Araguaína,

    respaldada pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, diz respeito à elaboração de pareceres técnicos para subsidiar magistrados na área da saúde pública. “Antes de julgarem os pedidos liminares, por exemplo, a Ouvidoria/NAT responde aos questionamentos formulados pelos juízes solicitantes e presta os devidos esclarecimentos sobre a urgência dos casos em questão, se os medicamentos requeridos são contemplados pelo SUS, se podem ser modificados por fármacos preconizados pelo Ministério da Saúde, de quem é a competência pelo atendimento (União, estado ou município), dentre outros questionamentos”, ilustrou a Ouvidora, reafirmando o poder articulador da gestão. “Consideramos fundamental o comprometimento tripartite para a efetiva atuação do Sistema Nacional de Ouvidorias do SUS”.

    Porto Alegre

    Primeiríssimo lugar na categoria “Narrativas e Relatos” do prêmio Cecília Donnangelo, a experiência de ouvidoria ativa experimentada no Grupo Hospitalar Conceição, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, foi muito além da escuta, procurando esclarecer e mobilizar o cidadão para a afirmação de seu papel de co-gestor. Implantada em junho de 2011 no próprio local onde o usuário está sendo atendido, se valeu, para tanto, de duas formas de abordagem: divul-gação através de material informativo e realização de

    Construindo o SUS24

  • Consideramos fundamental o comprometimento tripartite para a efetiva atuação do Sistema Nacional de Ouvidorias do SUS.

    Musa Denaise de Souza,ouvidora do município de

    Araguaína

    pesquisas. Segundo a ouvidora Mara Inês de Lima, foram duas pesquisas realizadas durante o biênio 2011-2012, uma na Emergência e outra no Ambulatório do Hospital Nossa Senhora da Conceição: “Pesquisa Emergência 100 dias + 1 no lugar certo” e “Pesquisa no Ambulatório do Hospital Nossa Senhora da Conceição”. Em 2013, mais uma pesquisa de satisfação nas quatro unidades hospitalares do Grupo Hospitalar Conceição veio atualizar o quadro de demandas e contribuir efetivamente com as diretrizes traçadas para a saúde na capital.

    A pesquisa “Emergência 100 dias + 1 no Lugar Certo”, realizada pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição, foi uma estratégia de enfrentamento da superlotação na Emergência. “Ao todo, 787 usuários que estiveram internados no setor durante o período da campanha foram ouvidos e com exceção das instalações físicas, os demais itens avaliados foram considerados satisfatórios pelos entrevistados”, recuperou a ouvidora. Entre os meses de setembro e outubro de 2012, foram ouvidos mais 2.496 usuários, desta vez no Ambulatório do Hospital Nossa Senhora da Conceição, visando avaliar o grau de satisfação com os serviços e instalações do espaço, bem como identificar os pontos críticos.

    “Durante 37 dias úteis, cinco pesquisadores cir-cularam pelo Ambulatório. O contato direto com o usuário resultou em relatos marcantes. Ficou claro o interesse de quem acessa o serviço do Ambulatório em

    contestar a imagem negativa apresentada pela mídia de um modo geral, quando aborda este serviço específico. Existe uma relação de afeto entre a comunidade e a instituição. O descontentamento com algumas situa-ções é suplantado pela certeza de ser acolhido. Uma entrevistada resumiu o pensamento culturalmente enraizado: “... até tem que melhorar algumas coisas, mas o ‘Conceição’ nunca fecha as portas e não manda ninguém embora”, observou Mara Inês, acrescentando que as críticas apontadas referiam-se basicamente à estrutura física e à forma de reagendamento das consultas.

    Em 2013, a Ouvidoria Geral do Grupo Hospitalar Conceição ousou ainda mais, desenvolvendo pesquisas simultâneas em quatro unidades hospitalares: Hospital Nossa Senhora da Conceição, Hospital Cristo Redentor, Hospital Fêmina e Hospital da Criança Conceição. Até o final de maio deste ano foram ouvidas cerca de três mil pessoas. “Os relatos emocionam. Muitos usuários aguardam próximo ao pesquisador para serem ouvidos. É possível identificar em simples manifestações o pleno exercício de cidadania”, assinalou Mara. A flagrante necessidade de ser ouvido também pode ser impressa sobre o papel. É o que vem provar o material de divulgação produzido pela Ouvidoria Geral do Grupo Hospitalar Conceição para ser distribuído no local, de mão em mão. Segundo Mara, foram distribuídos mais de dez mil folders e, aproximadamente, dez mil cartões de visita aos usuários. Paralelo a isso, banners e cartazes ganharam destaque nos locais de maior circulação.

    Construindo o SUS 25

  • Ao dar rosto à informação e à atenção, a ouvidora sentiu na pele a potência do diálogo possível. “Deixando um pouco de lado as definições acadêmicas de Ouvidoria Ativa, destacamos uma experiência... Em certa ocasião, a equipe de Ouvidoria estava circulando pelos andares, deixando material em todos os leitos. Ao entrarmos em um quarto, a acompanhante de um paciente acamado nos recebeu sorridente e disse: “Que bom que vocês estão circulando. Só em saber que tem alguém vindo de quarto em quarto perguntando como estão nos tratando, o serviço já melhora!”. Creio que esse tipo de observação é estimulante. O cidadão atual não se resigna a ser somente um número: ele tem voz. E quer ser ouvido porque tem especificidades que merecem ser consideradas. Então, de uma forma simplificada, poderíamos dizer que o ouvidor é o ouvido do gestor e a voz do usuário”, concluiu Mara.

    CONASEMS

    Para manter firme a ligação entre o ouvido do ges-tor e a voz do usuário, o CONASEMS também vem apertar o laço. Como instância representativa do gestor municipal junto ao Ministério da Saúde, apoia e delibera sobre cada projeto ou ação governamental desenvolvidos em prol das ouvidorias do SUS no País. Foi assim com o prêmio Cecília Donnangelo, para o qual foi convocado a debater e contribuir desde a criação coletiva do regulamento até a viabilização financeira do mesmo. A respeitabilidade não se firmou à toa. Segundo a assessora técnica do CONASEMS, Denise Rinehart, desde 2007 a entidade conta com o Núcleo de Participação da Comunidade na Saúde, que pauta direta e permanentemente o assunto junto à mídia interna e externa, como também em congressos e eventos afins, esclarecendo gestores, conselheiros, profissionais do SUS e demais agentes envolvidos com a saúde pública no Brasil sobre a importância da Ouvidoria como ferramenta de participação popular e controle social.

    “O CONASEMS contribuiu fortemente com a apro-vação da Política Nacional de Ouvidoria, justamente trazendo a visão dos gestores municipais. Mas continuamos na luta para que ela avance entre os municípios brasileiros. Por isso, é importante cobrar do Ministério da Saúde o apoio financeiro a essas iniciativas, seja no que se refere à instalação ou à manutenção. Não defendemos que haja um carimbo específico para tal, mas um aumento desse recurso através do ParticipaSUS voltado à discussão do tema, sempre com o acompanhamento dos Conselhos Municipais de Saúde. Acreditamos que as Ouvidorias podem inclusive ajudar a descontruir essa constante propaganda negativa que insiste em fazer crer que o SUS não funciona. Funciona, é democrático e cada vez mais vem se adequando à realidade de quem está na ponta: os municípios. Isso graças a canais de escuta e diálogo felizes como esse”, finaliza Denise.

    Os relatos emocionam. Muitos usuários aguardam próximo ao pesquisador para serem ouvidos. É possível identificar em simples manifestações o pleno exercício de cidadania.

    Mara Inês de Lima, ouvidora do Grupo Hospitalar

    Conceição, em Porto Alegre

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  • QueremosMais Saúde

    Reportagem: Tarciano Ricarto

    Especial 27

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  • Conta a recente história do Brasil que em meados de 2013 pipocaram pelos quatro cantos do país uma articulação cidadã que arregimentou via ambientes virtuais (espaços onde pessoas compartilham inte-resses e ideias comuns) um número expressivo de seguidores para sair às ruas e clamar aos governantes por saúde, segurança, educação, transporte...

    Independentemente da avaliação que se faça dos protestos, eles fizeram soar um alerta que deverá ser bastante considerado nas eleições de 2014: a oferta de serviços públicos é ponto nevrálgico da sociedade brasileira e requer de governos e legisladores ações efetivas para prover o atendimento dessas demandas sociais. Não por acaso, o serviço público de saúde esteve na berlinda e, sem dúvidas, vai pautar boa parte dos debates do período eleitoral que se avizinha.

    Na perspectiva de discutir e propor soluções para as demandas dessa área, o CONASEMS sempre de-sempenhou papel fundamental para buscar inserir na pauta do Legislativo e do Executivo temas voltados à estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), segundo os preceitos constitucionais. Essa ação estratégica sempre se acentuou em época de campanhas eleitorais.

    “A ideia é trazer para o centro da discussão a pauta da saúde. Dentro dessa pauta, tanto para os governos estaduais quanto para o governo federal, o primeiro processo é a relação interfederativa solidária de financiamento e de custeio. Nessa lógica, temos que trabalhar junto de todos os candidatos a presidente, governadores, deputados e senadores com o foco voltado para o financiamento”, explica o presidente do CONASEMS, Antonio Carlos Figueiredo Nardi.

    Essa divisão de reponsabilidades entre os entes federados – tão essencial ao funcionamento do SUS e que ao longo dos 25 anos de sua existência sobrecarregou os munícipios – é certamente um tema que norteará os debates eleitorais. O próprio ministro da Saúde, Arthur Chioro, em seu discurso de posse no início de fevereiro, deixou claro que pretende chamar todos os estados da federação para discutir o papel da gestão estadual na condução das políticas públicas de saúde.

    Chioro foi enfático ao afirmar que a gestão do SUS pressupõe a reafirmação permanente desse pacto interfederativo – o que requer, segundo o ministro, aprofundar alianças e rever compromissos. “Há estados que ainda estão absolutamente consumidos pela administração de serviços hospitalares e ambulatoriais de média complexidade, com prejuízos para a gestão dos sistemas estaduais e das regiões de saúde”, avaliou, propondo mudanças nesse modelo de atuação dos entes estaduais.

    Ao falar do panorama das eleições estaduais, Antonio Nardi detalha que, a partir da perspectiva de renovação dos quadros de governadores que serão eleitos nas próximas eleições, é preciso vencer o discurso da descontinuidade dos serviços de saúde nos estados. “Precisamos consolidar projetos e programas, sobre os quais a população se empodere e garanta sua continuidade, independentemente de quem esteja ocupando o cargo naquele momento”, afirma Nardi.

    Intimamente atrelado ao tema da responsabilidade interfederativa está o financiamento da saúde pública. Não é de hoje que essa questão centraliza os debates do período eleitoral no país. Nas últimas eleições presidenciais, o CONASEMS conseguiu reunir no seu congresso, realizado em 2010, os três presidenciáveis que lideravam as pesquisas de intenção de votos.

    Naquela ocasião, todos eles se comprometeram em lutar pela regulamentação da Emenda Constitucional 29, que, além de definir claramente o que era gasto em saúde e o que não era, determinava um percentual fixo de custeio da União com o setor. O desfecho acabou não sendo o esperado. Ocorreu avanço na definição dos gastos, mas não houve acordo nem no Congresso nem no Executivo para estabelecer o índice de investimento federal. O tema do financiamento por parte da União continua em aberto.

    Outro ponto que o presidente do CONASEMS consi-dera fundamental, ao trazer o tema saúde para o centro das discussões eleitorais, é que isso seja feito de maneira positiva. “Infelizmente, nas eleições, o que temos visto é que todos querem uma saúde melhor, mas, na hora de colocarem os seus programas, atacam a saúde, mancham a sua imagem, desconsiderando todas as conquistas que já obtivemos”, ressalta o presidente do CONASEMS.

    Precisamos consolidar projetos e programas, sobre os quais a população se empodere e garanta sua continuidade, independentemente de quem esteja ocu-pando o cargo naquele momento.

    Antônio Carlos Figueiredo Nardi, presidente do CONASEMS

    Especial28

  • Segundo Nardi, é imprescindível enaltecer o que há de positivo e prosseguir com o que está dando certo, sempre aperfeiçoando o que pode ser melhorando. “Importante lembrar que não devemos apenas induzir programas, mas precisamos passar a fazer o custeio de ações. Então, o financiamento continua sendo a tônica, o foco, o norte principal das nossas bandeiras”, complementa.

    Mais Médicos

    Outro tema que certamente estará na pauta do período eleitoral de 2014 é o Mais Médicos. O programa foi lançado pelo governo federal em julho do ano passado com o objetivo de prover médicos em áreas remotas do país ou em subúrbios de grandes cidades onde há dificuldade para garantir a lotação permanente de profissionais da área. Outros objetivos do programa são levar infraestrutura às localidades que carecem de equipamentos de saúde e investir na formação profissional.

    O programa, ao buscar resolver um problema recor-rente do SUS (a falta de médicos), acabou por promover um intenso debate sobre saúde pública no país. Toda essa efervescência não passará desapercebida a eleitores que indicarão os escolhidos às vagas do legislativo e do executivo, estadual ou federal.

    Ao falar sobre a maneira como esse tema deve repercutir em 2014, o secretário-executivo do CONASEMS, José Enio Sevilha Duarte, antecipa que a saúde sempre foi uma questão que apareceu muito forte nas campanhas eleitorais. “Foi assim nas últimas eleições para prefeito, já que o município é o responsável pela execução, pelo funcionamento do SUS”, recorda. “E vai ser assim nas próximas eleições, já que o Mais Médicos foi uma resposta a uma série de apelos e questionamentos”.

    Ele avalia ainda que, como já são visíveis os resultados do trabalho dos médicos estrangeiros que aceitaram participar do programa, a essência dos debates eleitorais acerca da iniciativa será em grande medida voltada a ressaltar os pontos positivos em detrimento dos negativos. “Penso que as críticas acontecerão por motivos pontuais, como a saída de médicos do programa, mas no geral a avaliação será muito positiva”, prevê.

    Momento político

    Ao analisar a conjuntura das próximas eleições, quando serão escolhidos presidente, governadores, deputados e senadores, Jurandi Frutuoso, secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), também guarda certo otimismo.

    Ele acredita que o pleito de 2014 trará uma nova realidade para o SUS em função de o tema saúde ter sido exposto de uma maneira muito forte dentro das

    recentes discussões, “não mais como esforço, mas como ação de quem, na verdade, vai governar”.

    Nesse contexto, ele avalia que as eleições estaduais terão um papel muito acentuado na consolidação do sistema, já que, pela primeira vez após a Constituição de 88, a temática da saúde, a partir de um debate com a sociedade, transitou de maneira direta da teoria à prática. “A discussão sobre a situação do sistema evidenciou complicações, e isso foi um sinal de alerta para os governantes”, completa.

    O atual ministro da Saúde, Arthur Chioro, destacou em seu discurso a importância estratégica de cada estado brasileiro, sobretudo na coordenação das regiões de saúde. Para o ministro, a mera soma de diversos sistemas municipais de saúde em uma região, por mais eficiente que possa ser, não produz um sistema regional de saúde, articulado e capaz de atender as necessidades de saúde. “Queremos apoiar as secretarias estaduais de saúde para que possam cumprir suas finalidades”, enfatizou.

    (...) o Mais Médicos foi uma resposta a uma série de apelos e questionamentos.

    José Enio Sevilha Duarte,secretário-executivo do CONASEMS

    Especial 29

  • Acerca da proposta do ministro, o presidente do CONASS, Wilson Alecrim, lembra que, com o advento da Constituição de 1988 e com a municipalização da saúde após a ditadura militar, a União e os municípios tiveram atribuições muito bem definidas no que diz respeito ao Sistema Único de Saúde. Porém, segundo destaca, o mesmo não ocorreu com os estados.

    “Eles ficaram por algum tempo com um papel indefinido na coordenação do SUS. E o que o ministro Arthur Chioro ressaltou é que pretende resgatar essa tarefa do estado como coordenador de ações, principalmente por causa da implantação das regiões de saúde”, detalha o presidente do CONASS.

    De certa forma, o ministro deu o tom do nível das discussões que ocorrerão este ano com relação aos estados da federação, o que provavelmente trará para o centro do debate nas campanhas estaduais o tema da regionalização e da assinatura do Contrato Organizativo de Ação Pública (COAP).

    Regionalização

    O COAP é um novo instrumento legal previsto no Decreto 7.508, de junho de 2011, assinado pela presidente Dilma Rousseff, que regulamenta a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/90). Não havia até a assinatura desse decreto ferramenta jurídica que permitisse aos gestores dentro de uma região de saúde – formada por determinado número de municípios – firmar contratos interfederativos, definindo meios de organização e responsabilidades dos entes federados na oferta de serviços à população.

    A criação do COAP veio preencher essa lacuna e permitir um rearranjo federativo para prover aos usuários do SUS a chamada integralidade do atendimento em saúde dentro de uma região, já que, isoladamente, os municípios não têm condições – em vista de suas especificidades geográficas, financeiras e demográficas – de prover a seus habitantes todos os serviços de saúde.

    O presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Saúde do Pará (COSEMS-PA), Charles Tocantins, afirma que um dos pontos que devem ser abordados pela próxima gestão “é intensificar o debate sobre regionalização, trabalhando também com a perspectiva de vencer as desigualdades regionais”, seja por meio de políticas afirmativas e compensatórias, seja por meio da implementação de novos recursos para dar conta das especificidades de cada região.

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  • A discussão sobre a situação do sis-tema evidenciou complicações, e isso foi um sinal de alerta para os governantes.

    Jurandi Frutuoso, secretário-executivo do CONASS

    Ele avalia que a assinatura do COAP ainda padece de uma indefinição de como será a participação dos entes federados no financiamento dos recursos para os serviços de saúde na região. E, segundo ele, esse é um dos motivos que tem emperrado a continuidade do processo. “Até agora, o COAP avançou muito pouco, com exceção do Ceará e do Mato Grosso do Sul”, afirma.

    Ao falar da possível alternância de governo, o presidente do COSEMS-PA ressalta os recentes avanços que ocorreram na região amazônica, sobretudo na área da atenção básica, e diz existir compromissos ainda em curso, como a implementação das unidades de atendimento fluviais, que precisam de continuidade, independentemente de quem venha a ocupar o poder.

    Ainda tratando de política local, ele avalia que é preciso discutir o panorama do financiamento, que, para ele, é “muito complicado”, em vista de não haver por parte do estado o cumprimento das contrapartidas pactuadas. “Só com os recursos federais, os municípios não conseguem bancar o sistema”, queixa-se.

    Realidades distintas

    O presidente do COSEMS-CE, Wilames Freire, ao avaliar a conjuntura das próximas eleições no seu estado, espera que o próximo governo dê sequência ao projeto de investimento que vem sendo implementado nos últimos anos no Ceará.

    “A intenção é que o próximo governo que entre continue com esse projeto de investimento e tenha condições de investir cada vez mais no custeio das unidades de saúde, o que certamente vai promover uma melhoria na qualidade de vida e no acesso da população”, avalia Wilames, que faz a ressalva de que ainda é preciso avançar em muitos pontos.

    No início de fevereiro, durante o Seminário de Articulação Interfederativa que integrou a programação da II Mostra Nacional de Experiências em Gestão Estratégica e Participativa no SUS (II EXPOGEP), em Brasília, Vera Coelho, coordenadora de Política e Atenção à Saúde da Secretaria de Saúde do Ceará, descreveu o panorama do COAP no seu estado.

    Os 184 municípios cearenses estão divididos em 22 regiões de saúde, sendo que 20 já assinaram o COAP. “As regiões que estavam pendentes – Fortaleza e Iguatu – já estão finalizando. Em breve, estas regiões também assinarão o contrato e o Ceará estará com 100% das regiões guiadas pelo Contrato Organizativo”, detalhou.

    No Paraná, que está dividido em 22 regiões de saúde, ainda não foi assinado nenhum contrato organizativo. Segundo Cristiane Martins, presidente do COSEMS-PR, a estratégia é assinar todas as regiões conjuntamente, em vez de realizar o processo de maneira repartida.

    “Para este ano, já temos um calendário que foi pactuado no fim do ano passado, com uma programação definida. O que foi pactuado é que este ano a gente deve fechar o contrato. O que está dificultando é a questão financeira”, detalha Cristiane.

    Em Goiás, o processo também não avançou. O presidente do COSEMS-GO, Amilton Prado, diz esperar que uma mudança na política estadual possa favorecer e acelerar a implementação das regiões de saúde por meio da assinatura dos contratos organizativos. “Essa questão aqui no nosso estado está muito parada”, avalia.

    Acerca da política nacional para a área da saúde, Amilton Prado avalia que houve consideráveis avanços nos últimos anos. “A expectativa é pela continuidade do processo e pelo aperfeiçoamento das relações interfederativas tanto da União com os municípios, como do estado com os municípios”.

    Ele cita como avanços o enfrentamento do problema da escassez de médicos; a questão relacionada ao exercício da medicina; o investimento baseado na qualidade da assistência e a discussão da saúde na metodologia das redes de atenção. “Isso foi uma evolução garantida recentemente pelo governo federal”.

    Todas as questões que saltaram das ruas em forma de grito tiveram destinatários certos: prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores e presidente. Muitos desses postos serão renovados nas pr