capa e editoração virtual: léo pimentel · zea, do méxico, augusto salazar bondy, do perú) e...

65

Upload: dokhue

Post on 15-Oct-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,
Page 2: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,
Page 3: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Capa e editoração virtual: Léo Pimentel

Interior: Rafael Alves

Correção: Julio Cabrera

2013, textos de Julio Cabrera e Rafael Alves

2013, edição do FIBRAL.

http://fibral.blogspot.com

Cabrera, Julio e Alves, Rafael

Cartilha de Filósofos da América Latina :Pensamento desde América Latina e

Filósofos latino-americanos - 1a ed. - Brasília :FIBRAL, 2013.

65 p. ; 29x21 cm. - (FIBRAL)

ISBN 978-85-916170-0-5

Page 4: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

ÍNDICE

Introdução ...p. 05

Antiguidade: Pensamento indígena ...p. 10

Pensadores do período colonial (Séculos XVI a XVIII) ...p. 18

Pensadores do século XIX ...p. 29

Passagem do século XIX para o XX ...p. 34

Século XX – Primeira metade ...p. 40

Século XX – Segunda metade ...p. 49

Referências bibliográficas ...p. 63

Page 5: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

INTRODUÇÃO

Oferecemos ao leitor brasileiro uma relação comentada de pensadores latino-

americanos, pouco ou nada conhecidos, por estarem quase sistematicamente excluídos

ou ignorados nos currículos de filosofia do Brasil, exclusivamente centrados em autores

europeus. A principal fonte de consulta foi o livro do espanhol Carlos Beorlegui,

Historia Del Pensamiento Filosófico Latino-americano (Universidad Del Deusto,

Bilbao, 2006), mas outras fontes foram consultadas, segundo consta na lista final de

referências.

Antes de passar para a relação de pensadores latino-americanos, alguns

esclarecimentos preliminares. O primeiro concerne à própria denominação “América

Latina”, que provém de uma reordenação do mundo colonial moderno (Cfr. Mignolo

Walter. La Idea de América Latina, capítulo 2). Melhor seria utilizar a denominação

“Ibero-americano”. Entretanto, nesta cartilha manteremos a expressão “latino-

americano” por ser um termo mais utilizado nas discussões sobre a temática.

Os outros esclarecimentos têm a ver com a noção mesma de “filosofia”.

Page 6: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina6

FILOSOFIA

Já desde os primórdios do pensamento filosófico em América Latina, aparecem

dois tipos de reflexão, diferenciados, porém vinculados:

(a) O pensamento acadêmico das instituições de ensino, baseado

fundamentalmente na exposição do pensamento europeu dominante, a Escolástica, o

Aristotelismo, mais adiante o cartesianismo, depois o positivismo, a fenomenologia e

atualmente todas as correntes.

(b) O pensamento da emancipação, surgido não apenas dos livros, mas da

própria situação que estava sendo vivida pelos países latino-americanos: chegada dos

europeus, choque de culturas, colonização, conquistas, escravidão, resistências,

submissão de culturas a outras, etc, situação de dependência e exploração que atravessa

os tempos e chega até os dias de hoje.

O primeiro tipo de pensamento aceita a situação de colonização como um fato e

simplesmente tenta implantar e desenvolver o pensamento filosófico europeu tentando

inserir-se e destacar-se dentro dele; o segundo tipo de pensamento não aceita a situação,

desenvolve resistências e pensa a emancipação. Estas duas formas de filosofar se

mantêm até os dias de hoje, embora mais vinculados, já que a enorme maioria dos

filósofos que pensam na emancipação e tentam superar a condição de dependência, são

também catedráticos profissionais da filosofia e ensinam filosofia hegemônica.

Os pensadores aqui relacionados foram escolhidos pelo fato deles – escrevendo

sobre ética, lógica, estética, política ou metafísica – pertencerem ao segundo tipo de

reflexão filosófica, por refletirem sobre a situação de dependência e as condições da

emancipação, e também sobre as condições e possibilidades de um filosofar desde

América Latina. Não teria muito interesse elaborar uma listagem de profissionais

universitários latino-americanos especializados em pensamentos europeus (em filosofia

grega ou em Nietzsche ou Wittgenstein), por mais meritórios que sejam estes trabalhos.

O pensamento latino-americano terá que ser aquele que surja da circunstância latino-

americana, mesmo que se utilize de pensamentos europeus para formular seus projetos.

Page 7: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina7

Nesta relação, parte-se da convicção de não haverem filosofias universais não

situadas; o que hoje consideramos como sendo “problemas filosóficos universais”

constitui, na verdade, uma universalidade pensada desde Europa, e não algo universal

em sentido absoluto. Nesse sentido, não se considera aqui que existam “problemas

universais da filosofia” que comporiam um conjunto duro e objetivo de problemas, mas

que os pensamentos universais são sempre pensados desde algum lugar. O fato de hoje

considerar-se o universal como idêntico ao pensamento europeu, é o resultado de uma

ação política específica e não algo “natural”.

É claro que não existe uma lógica europeia ou uma lógica latino-

americana; existe, simplesmente, lógica. Mas um pensador uruguaio de início do século

XX, Carlos Vaz Ferreira, (que está presente na relação de autores), escreveu um livro de

lógica chamado “Lógica Viva”, uma apropriação originalíssima do tema das falácias

que um europeu dificilmente escreveria. Esse livro não é sobre “lógica uruguaia”, mas

simplesmente um livro de lógica escrito desde o Uruguai.

Muitas pessoas podem estar aguardando que os filósofos latino-americanos

apresentem teorias do conhecimento que possam competir com a teoria de Kant, teorias

éticas que possam confrontar-se com Spinoza ou Habermas, ou ontologias que possam

comparar-se com Heidegger. Bom, não existem tais teorias na história do pensamento

latino-americano, de maneira que será inútil esperá-las dos pensadores desta lista. Pois a

própria noção de “filosofia” tem que ser reformulada quando feita desde América

Latina, em lugar de adotar sem crítica a visão predominante e pensar que estamos

obrigados, para valer como filósofos, a apresentar “contribuições” à filosofia europeia.

Dada a sua inicial situação de dependência e de saber imposto, o problema da

emancipação plena pode ser um problema filosófico – teórico-prático – que tenha

prioridade sobre, por exemplo, o estudo da situação atual do pensamento kantiano na

Ética, ou o atual desenvolvimento das lógicas não clássicas, embora estas questões

possam continuar interessando. Filosofar desde América Latina nunca foi apenas pura

contemplação; praticamente a totalidade dos pensadores mencionados a seguir não

apenas escreveram obras filosóficas teóricas, mas foram também jornalistas, ou

desempenharam atividades políticas, desde a diplomacia até a militância direta; ao

escreverem seus textos, não procuravam uma “verdade” puramente objetiva que não

estivesse vinculada com as análises da dependência e as lutas pela emancipação.

Page 8: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina8

Contra uma “objeção” muito corriqueira – de que seria uma contradição pensar

contra o pensamento europeu utilizando pensamento europeu – trata-se de entender que

a filosofia europeia continuará sendo estudada; apenas o euro-centrismo e o

exclusivismo europeu será rejeitado, e a nossa própria relação com Europa deverá

mudar.

De todas maneiras, devemos trabalhar para que, num futuro próximo, não

tenhamos mais que aludir à nacionalidade dos filósofos. Infelizmente, ainda não chegou

esse momento, pois somente quando somos excluídos é que nos lembramos das nossas

origens. Enquanto vivermos numa comunidade que estuda a questão da vaidade dos

homens e conheça apenas os escritos de Hume sobre essa questão mas não tenha ouvido

falar de Matias Aires, teremos que continuar falando em nacionalidades.

ACERCA DA PRESENTE SELEÇÃO

Nesta cartilha introdutória, tentamos relacionar alguns dos marcos principais do

pensamento desde América Latina, começando com rudimentos do pensamento

indígena – onde ainda não existe a rigor a categoria de autor – focando depois os

pensamentos oriundos do choque cultural com o invasor europeu no período colonial,

de 1500 a 1820, aproximadamente; logo, o período de reação contra esse passado – de

1820 a 1940 aproximadamente - e finalmente o período contemporâneo.

Mas aqui tem que ter uma cautela; as “reações” contra a Escolástica do primeiro

período são constituídas, em América Latina, seguindo pautas europeias: por exemplo,

pela “modernidade” cartesiana, pelo “Iluminismo” alemão e escocês, pelo positivismo,

pela atual crítica contra a Metafísica, etc. Muitos destes referenciais europeus servem de

apoio teórico para as “independências formais” dos países latino-americanos, quase

todas acontecidas nas primeiras duas décadas do século XIX. Mas numa história do

pensamento filosófico desde América Latina, ainda deveriam ser descobertas as

genuínas reações contra a hegemonia do pensamento europeu colonizador, além das

reações internas a esse pensamento.

Page 9: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina9

Essas genuínas reações desde América Latina acontecem somente quase um

século depois das independências formais, na passagem do século XIX para o XX, com

o pensamento americanista (José Marti, de Cuba, José Enrique Rodó do Uruguai, José

Carlos Mariátegui, do Perú), logo depois com o pensamento da emancipação (Leopoldo

Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da

libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne, Horacio Cerutti Gulberg).

No Brasil, o pensamento da emancipação se da principalmente através das

ciências sociais: pela Antropologia (Darcy Ribeiro, Eduardo Viveiros de Castro), a

Sociologia (Gilberto Freyre), a história (Sérgio Buarque de Holanda), a Educação

(Paulo Freire), a teologia (Leonardo Boff) ou a literatura (Oswald de Andrade), mais do

que pela filosofia.

Uma última observação: embora os títulos das obras escritas em espanhol

estejam traduzidos para o português, para melhor entendimento do leitor brasileiro,

quase nenhuma delas foi nunca traduzida no Brasil. Além do mais, as obras latino-

americanas mencionadas, com raras exceções, nunca foram reeditadas, apenas sendo

encontradas em sebos em péssimo estado. Algumas exceções são a publicação em

português do clássico argentino do século XIX, “Facundo” de Domingo Sarmiento; as

obras do positivista argentino José Ingenieros, alguns livros do pensador mexicano

Leopoldo Zea, os de Enrique Dussel e algumas poucas mais. O resto permanece

desconhecido. Isto já é um fato político importante, indica para uma estratégia editorial

e uma lógica da visualização (e não visualização) da produção filosófica.

Page 10: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

0

PENSAMENTO INDÍGENA

Pensamento americano milenar

A inclusão das culturas indígenas na história do pensamento latino-americano

tem o efeito imediato de derrubar o conhecido argumento das nossas tradições serem

“recentes”, ao lado das tradições milenares da China, da Índia ou da Grécia. Isto decorre

de estabelecermos o início do pensamento latino-americano no século XIX ou inclusive

no XX, como querem as ideologias oficiais, que identificam filosofia com

“modernidade” ou com “filosofia profissional”; mas algumas culturas indígenas são

muito antigas; a suposta “brevidade” das tradições americanas não é, pois, um dado

“objetivo” ou cronológico, mas algo politicamente construído.

A história da filosofia não começa, desde América Latina, com os pré-

socráticos; é a cultura do dominador que começa com eles. O começo do filosofar desde

América Latina é o pensamento indígena milenar, a invasão, exclusão e destruição das

suas culturas e a imposição de uma cultura que começa com os pré-socráticos; os pré-

socráticos não fazem parte da circunstância latino-americana, a não ser como objetos

culturais inicialmente impostos pela força, e, hoje, junto com o resto do acervo europeu,

como objetos de interesse intelectual e eventual aproveitamento para um pensamento da

emancipação.

Existem três atitudes a respeito das culturas indígenas: (a) Pretender voltar a

essas culturas sem as mediações atuais; trata-se de uma postura romântica insustentável.

(b) Esquecer totalmente o passado indígena como culturas perdedoras e ultrapassadas;

esta parece uma postura conformista e superficial; (c) Estudar os pensamentos indígenas

em interação com nossa circunstância atual, tentando implantar uma relação de

igualdade e intercâmbio entre ambas (precisamente o que não houve no século XVI e

seguintes, e possivelmente não há até hoje). Esta terceira parece a atitude mais

adequada.

Page 11: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

1

Problemas metodológicos no estudo dos pensamentos indígenas.

Em primeiro lugar, não há algo como “o pensamento indígena”, mas

pensamentos indígenas em plural, muito diversificados em comunidades diferenciadas,

com culturas e línguas diversas. (O problema da DIVERSIDADE). Em segundo lugar, a

persistente tendência – mesmo nos indigenistas de mente aberta, como o mexicano

Miguel León Portilla - a definir “filosofia” da maneira ocidental europeia – como

indagação racional, teórica, argumentativa, objetiva - e ver os pensamentos indígenas

como não sendo “filosofia” em absoluto ou como sendo “quase filosofia”, no sentido de

“quase racional”, “não puramente mítica”, etc. (O problema do REDUCIONISMO). Em

terceiro lugar, as tremendas dificuldades no estudo das fontes de pensamentos que

foram e são ainda ignorados ou marginalizados, e que têm que ser desenterrados, até o

ponto de nunca termos a certeza de estarmos realmente estudando pensamentos

indígenas, e não alguma das suas muitas deturpações. (O problema do

ENTERRAMENTO). Quarto, o risco de, mesmo conseguindo dados razoavelmente

fidedignos sobre pensamentos indígenas, que eles representem para nós algo de

totalmente outro, dificilmente compreensível, ou talvez definitivamente inescrutável. (O

problema da ININTELIGIBILIDADE).

Por estes motivos, tudo o que se dizer sobre pensamento indígena será hoje

unilateral, incompleto e em muitos pontos incompreensível. Nestas condições precárias,

os pensamentos indígenas terão que entrar na perspectiva latino-americana aceitando-se

estas opacidades insuperáveis; jamais teremos acesso a esse pensamento tal como foi

existido pelos indígenas, mas já numa interação complexa com as culturas do

dominador e, no caso do Brasil, também com a cultura africana, que entra na

circunstância latino-americana num outro viés.

A abertura ao pensamento indígena não significa considerar o universo indígena

como uma espécie de “paraíso” que teria sido maculado pela invasão espanhola e

portuguesa; trata-se de sistemas simbólicos a serem considerados e estudados, mas não

de “milagres” a serem idealizados (no viés de um Montaigne ou, sobretudo, de um

Rousseau, visão criticada por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro “Visão do

Paraíso”, de 1959) ou adotados atualmente sem mediações como sendo melhores que

outros sistemas simbólicos.

Page 12: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

2

Pensamentos indígenas

Existe uma boa dose de arbitrariedade na escolha oficial das “principais”

culturas indígenas como sendo as mesoamericanas (nahuas, maias) e as andinas (incas);

critérios como, por exemplo, as construções de pedra, o sedentarismo, ou mesmo a

escrita, não são absolutos, e muitas culturas indígenas consideradas “menores” podem

trazer elementos muito importantes para entender pensamento indígena. A presente

cartilha, pelas suas características introdutórias, limita-se a essa escolha padrão, com o

acréscimo de algumas culturas indígenas brasileiras (não tratadas no livro de Beorlegui

que em parte seguimos), mas deixando abertura para o estudo futuro de muitos

pensamentos indígenas considerados “de menor importância”.

Nahuas

Os nahuas são grupos de índios da América Central (mesoamericanas) que

falam a língua náhuatl, sendo os principais os aztecas ou mexicas. As primeiras

comunidades nahuas remontam a 2000 anos a.C., as mais notáveis sendo de

aproximadamente 1200 anos a.C. (cultura olmeca), do século XV a.C. (toltecas) e

finalmente os aztecas, que floresceram a partir do século XIV d.C, com a fundação de

Tenochtitlán (1325), nome que significa “Lugar das tunas sobre as pedras”. Os aztecas

foram submetidos por Hernan Cortez em 1521. A fonte principal de estudo da cultura

nahua são os escritos de Frei Bernardino de Sahagún (1499-1590), um missionário

franciscano que se ocupou com historiografia e etnografia mexicana.

1000 anos antes da invasão espanhola, predominava a cosmovisão tolteca, cujo

centro era Quetzalcóatl, a serpente emplumada, uma das principais deidades do panteão

nahua. Quetzalcoatl representa as energias telúricas que ascendem, a abundância da

vegetação, o alimento físico e espiritual para o povo. Durante a conquista, os indígenas

acreditaram que Hernán Cortez era Quetzalcóatl e essa parece ter sido uma das razões

pela qual os espanhóis dominaram tão facilmente estes povos. Estes indígenas tinham

uma ideia do Ometéotl, que era um princípio dual, deidade que se inventa a si mesma e

Page 13: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

3

não precisa nenhum outro fundamento ontológico; nele se reúnem os opostos e o caos,

mas também os princípios ordenadores; espírito/matéria, branco/preto, vida/morte,

masculino/feminino, criação/destruição. Teoltl é uma força vivificante e destruidora,

incansável, uma espécie de devir instável que não é agentiva, pessoal ou intencional;

Ela não é, ela devém, transforma-se e transforma; diferentemente da cultura ocidental,

que considera o essencial como imóvel, os nahuas consideram o essencial como em

perpétuo movimento. Segundo os nahuas, o mundo é um lugar muito perigoso para

humanos; o equilíbrio é facilmente perdido; a pergunta fundamental é: “Como podem

os humanos caminhar e florescer na terra?”.

Os sacrifícios humanos tinham a ver com tentativas de estabelecer certos

equilíbrios cósmicos e compensar os deuses. Há um forte sentimento de acabamento, do

risco de acabar de maneiras calamitosas. Muitas das práticas indígenas são maneiras de

demorar ou evitar essas calamidades, de maneira de estabelecer um elo entre o destino

do mundo e as ações dos homens. Uma preocupação básica é se todos os esforços

humanos conferem algum sentido à vida, ou se tudo é absurdo e não merece a pena,

dado que morremos. Três preocupações básicas dos nahuas: o destino humano, a

linguagem adequada aos deuses e a questão da morte e o além.

Os “tlamatinime” são os sábios nahuas, “aqueles que conhecem as coisas por

experiência”, capazes de enfrentar os problemas de acabamento e falta de sentido e

tentar orientar as ações para seu tratamento ou resolução em ações e atitudes. Algumas

das funções dos tlamatinime são: tornar sábios os rostos alheios, por um espelho diante

dos outros, humanizar o querer dos homens, confortar os corações. Bernardino de

Sahagun registrou uma interessante e intensa polêmica entre os sábios nahuas e os

frades conquistadores, se queixando aqueles de ter sua cultura devastada e pedindo

morrer uma vez que seus deuses foram mortos.

Maias

Os Maias são também mesoamericanos, ocupando os atuais territórios de

Honduras e El Salvador. Muito antigas; nascem em torno de 1000 a.C, sendo seu

período clássico entre 300 e 900 d.C. Continuaram ao longo dos séculos, mas já não

Page 14: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

4

eram florescentes na época da invasão espanhola. Para este povo, as forças da natureza e

as diversas vicissitudes da vida, esforçada e difícil, são vistas como ações e lutas entre

os deuses; a própria passagem do tempo, seu efeito demolidor, é também endeusada. Os

maias desenvolveram um pensamento sofisticado e complexo sobre a temporalidade;

organizaram o espaço da vida em 3 andares: deuses, mundo e homens. O próprio

conflito interior humano, entre seus desejos animais e sua inteligência superior, é vista

como uma luta entre forças favoráveis e desfavoráveis (não como bem ou mal,

conceitos ocidentais); a atitude dos maias diante dessas forças não é de amor ou

devoção, mas de reverência e temor, de incerteza e cautela. Aqui também aparece a

deidade da serpente emplumada, mas com outros nomes; como nos astecas e incas, o

Sol aparece como um deus (pela sua relação com o tempo, a luz, a vida, os ciclos); a

matemática maia, a sua medição do tempo e seus calendários, estão a serviço da lida

com a vida, do ameaçador e dos deuses protetores.

Os maias não falaram uma única língua, chegaram a ter até 28 línguas diferentes,

a diferença das culturas nahuas, que estiveram fortemente ligadas a uma única língua, a

nahuatl. Mas houve na cultura maia mais textos escritos importantes, que atravessaram

os tempos, em parte transmitidos oralmente, depois escritos e desaparecidos, e tornados

a escrever depois da invasão espanhola, alguns deles transcritos e protegidos pelos

próprios frades. O mais importante texto maia é o Popol Vuh (Livro do Conselho, ou da

Comunidade); foi primeiro desenhado, pintado, transmitido oralmente, reescrito no

século XVI, por um indígena, chegando às mãos de Francisco Ximenez, um padre da

Guatemala, no século XVII ou XVIII. O livro está perpassado por influências cristãs

frutos da invasão.

O Popol Vuh está escrito em língua quiché, e é um livro sobre o nascimento, do

mundo e dos humanos; contam-se 3 tentativas de criar o humano: de barro, de madeira e

de milho (maíz). Os deuses dispensam as duas primeiras tentativas porque esses seres

criados não têm memória nem capacidade de adorá-los e servi-los. “Nossa adoração é

imperfeita se vocês não nos invocais” (Popol Vuh, 3). Também temos os livros do

Chilam Balam, de tom profético, escrito muito tempo depois da invasão, durante o

século XVIII; as suas profecias são retrospectivas e alguns intérpretes consideram que

previram a invasão europeia; narram também um mito originário onde os deuses do

inframundo – que aparecem no Popol Vuh – dominavam e tinham o universo cativo; no

viés apocalíptico típico de muitas culturas indígenas, este escrito relata a destruição e

Page 15: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

5

renascimento dos níveis do inframundo, o desmoronamento do céu e o afundamento da

terra.

Incas

Os Incas são comunidades sul-americanas; viveram na região da Cordilheira dos

Andes nos atuais Peru, Chile, Bolívia, Argentina e Equador. No século XIII fundaram a

cidade sagrada de Cusco. Falavam a língua quechua. Foram submetidos por Francisco

Pizarro. Não conheceram a escritura, mas construíram os Kipú, espécies de contas

entrelaçadas que constituem uma espécie de registro. Não houve apenas incas na região

andina, de maneira que deveria falar-se de andinos incas e não incas; mas incas e não

incas partilham numerosos temas sobre o mundo, o humano e o não humano.

Tawatinsuyu era o nome da região inca; significa “as quatro partes juntas,

unificadas”. A realidade inca compõe-se de deus (Wiracocha), mundo (Pacha) e homem

(Runa). Os “amautas” eram os sábios incas, ou poetas filósofos, ou sacerdotes. Temas

muito semelhantes aos nahuas aparecem nas filosofias andinas: consideram o cosmos e

tudo o que há nele como vivificado por uma força vital única; tudo é dinâmico, em

fluxo e em constante circulação. Esta força assume a forma de dualidades

complementares, não de dualismos antagônicos de tipo ocidental, pois trata-se de forças

que se opõem mas não se excluem nem destroem. O cosmos consiste na contínua

alternância destas dualidades; às vezes, esta complementariedade rompe-se provocando

um desequilíbrio, uma desintegração cataclísmica (pachacuti), marcando etapas; o

cosmos tem passado já por quatro etapas, ou “soles”. Mas o cosmos andino é aberto, no

sentido de sujeito a ações humanas transformadoras, que contribuem a manter o mundo

funcionando; mesmo os deuses estão em constante mudança, e a participação humana é

absolutamente necessária; existe uma sabedoria em apreender a interagir com o mundo

ao qual se pertence.

Page 16: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

6

Indígenas brasileiros

Existe ainda um elevado número de tribos indígenas no Brasil, aproximadamente

128 comunidades espalhadas na Amazônia, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso,

Acre, Tocantins, Goiás, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa

Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro,Ceará, Alagoas, Amapá, Minas Gerais e Bahia. Há

outros censos que registram em torno de 200 tribos com quase 200 línguas diferentes.

As tribos brasileiras remetem a 4 troncos linguísticos fundamentais: tupi (litoral),

macro-jê (interior), karib e aruak. A denominação “tapuia” não indicava uma etnia, mas

um termo depreciativo, como “bárbaro”, que o grupo tupi utilizava para denominar

todas as outras tribos (o que prova que a discriminação e o etnocentrismo também

vigoravam entre indígenas). Os invasores espanhóis contribuíram para esta

simplificação entre tupis e tapuias, considerados rebeldes à evangelização e ao

“processo civilizatório”.

Afirma-se que não houve no Brasil grandes culturas indígenas comparáveis às

incas, maias e astecas, mas isto também é relativo a critérios controversos, como o

considerar “superiores” as culturas urbanas e edificadoras, portanto, sedentárias. Não

obstante, o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro escreve, no início de seu

texto “Xamanismo e sacrifício”, falando das práticas sacrificiais nos Araweté: “Eles não

diferem, enquanto a isso, da maioria dos povos das terras baixas sul-americanas, onde

se encontram aqui ou ali práticas que poderiam talvez ser ditas de „tipo sacrificial‟,

mas que jamais atingem a elaboração sociológica, a formalização ritual e a densidade

cosmológica alcançada, por exemplo, nos sistemas religiosos das culturas andinas ou

mesoamericanas” (Em: A inconstância da alma selvagem, p. 459).

Nas populações indígenas brasileiras, os sábios são os pajés (ou xamãs), que

poderiam ser postos ao lado dos tlamatinime nahuas, dos amautas incas e dos

philosophoi gregos; cada cultura possui algum tipo de sábio que lida com o

desconhecido que tem que se esclarecer, algum tipo de sacerdote, de líder espiritual

capaz de fornecer um domínio sobre as forças ameaçadoras, ou de colocar-se em

perspectivas diversas, ou de ver além das aparências, etc. Segundo Viveiros de Castro,

as culturas indígenas brasileiras estão caracterizadas por certa fragmentação, por uma

rejeição de toda acumulação, de qualquer tentativa de centralização (na forma de um

Page 17: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

7

Estado, por exemplo); em certa forma, cada humano, cada ser vivo, cada coisa, é um

Estado, uma perspectiva sobre o mundo; não há ponto privilegiado, mas uma

horizontalidade dispersa, uma destruição cerimonial do excedente a través da guerra

perpétua, da vitória sobre o inimigo não pela destruição mas pela incorporação de sua

perspectiva, nunca uma eliminação total, mas uma deglutição, uma assimilação ritual. A

metafísica tupinambá, por exemplo, é uma metafísica perspectiva, caleidoscópica,

múltipla e descentrada; não há nenhuma “fusão de horizontes”, nenhuma compreensão

universal das coisas, nenhuma verdade objetiva e única.

Para o ocidental, conhecer é despojar de subjetividade, des-subjetivizar, ver o

objeto nu como ele seria em si mesmo; é des-animar o objeto, tirar-lhe qualquer alma,

des-encantar. Para o indígena tupinambá, é o contrário, conhecer é atribuir uma

intencionalidade, uma perspectiva, é animar; algo impessoal lhe seria totalmente

ininteligível. Em certa forma, para eles tudo é humano, os animais já foram humanos,

ou podem ser alternadamente humanos e animais; e é por isso que tudo é perigoso, por

ser humano, por ter uma intencionalidade, em geral maligna; há um fundo comum que é

humano (a diferença do ocidental que pensa a humanidade como um desdobramento de

um fundo animal). Este perspectivismo fragmentado está intimamente ligado com os

rituais antropofágicos, como assimilação ritual de outras perspectivas, desvinculada da

função nutritiva. Morrer devorado era, por sua vez, uma morte digna e personalizada

para o tupinambá; não apenas devorar, mas ser devorado, acolhido pelo humano; morrer

“naturalmente” – de uma peste, por exemplo - interromperia a cadeia simbólica das

vinganças, e seria uma morte sem qualquer sentido.

Mapuches

Os Mapuches (que significa “gente da terra”) são um povo indígena da região

centro-sul do Chile e sudoeste da Argentina, também chamados araucanos, nome

possivelmente colocado pelos espanhóis ou pelos incas. Com os sucessivos fracassos de

submetê-los, os espanhóis se viram obrigados, no ano 1641, a firmar com eles o Tratado

de Quilín, declarando as terras austrais ao rio Bio-Bío “território autônomo Mapuche".

Essa persistente resistência, que sacrificou três quartos da sua população, fez com que,

Page 18: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

8

dentre todos os grupos indígenas de América Latina, os Mapuches fossem os únicos a

conseguir autonomia territorial frente ao império espanhol. Após a “independência”

chilena em 1818, embora o Estado chileno formalmente ratificasse o “território

autônomo Mapuche”, a existência deste povo era um obstáculo para o projeto de

“modernização” do país. A partir de ali, diversas políticas nacionais foram reduzindo

gradativamente os territórios mapuches, ocasionado a morte de milhares de indígenas e

o despojo de grande parte de seus territórios. A resistência mapuche persiste ainda hoje,

e é por isso que o estudo deste povo e sua cultura merece destaque especial.

Pensamento indígena hoje

Alguns dos pontos mais promissores para uma possível interação com as

culturas indígenas, através da mediação europeia, podem ser os seguintes: (a) A ideia de

um pensar não conceitual, ou conceitual através de imagens e narrativas, pensar fluído,

temporal, poético; (b) A ideia de um pensar como sobrevivência diante dos rigores e

agruras da natureza e da sociedade humana e animal; admiração, curiosidade ou dúvida

seriam tributárias de um sentimento mais básico, sem as transcendências puramente

teóricas e pretensamente “desinteressadas” do pensamento ocidental; (c) Aprender a ver

os próprios mitos sacrificiais das nossas culturas, tudo o que é sacrificado para a

“civilização” moderna continuar a se desenvolver; (d) Visualizar a espantosa

persistência da religiosidade e o sentimento do sagrado nos povos através das épocas até

hoje, o que sugere um vínculo profundo com os povos originários; (e) Visualizar o

sentido atual das resistências indígenas contra um sistema de organização da vida

humana que está levando o planeta a uma situação de inevitável destruição.

Page 19: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina1

9

PENSADORES DO PERÍODO COLONIAL (Séculos XVI a XVIII)

Observação preliminar: A visão americana da filosofia é aqui concebida como

um evento histórico-existencial, não como mero fato geográfico ou nacional. Isto

significa que quando europeus assumem, mesmo que de maneira limitada, o ponto de

vista americano, por exemplo, na questão da resistência indígena, não interessa que,

geograficamente, esses pensadores tenham nascido na Europa. Para os efeitos da relação

desta cartilha, pensadores do período colonial nascidos em Portugal ou na Espanha que

pensaram o problema americano, fazem parte do pensamento americano em sentido

histórico-existencial.

Fray Antón de Montesinos (1482, local desconhecido –

1540, Venezuela). Frei dominicano espanhol; chegou em

1510 à Espanhola (atual República Dominicana) junto com a

primeira comunidade de sua ordem. Em 1511 Montesinos fez

o primeiro sermão de denúncia dos abusos e crimes contra os

índios, diante dos colonos espanhóis, incluindo o governador

Diego Colombo, filho de Cristovam Colombo. Bartolomé de

Las Casas foi um dos ouvintes deste famoso sermão, ficando

profundamente impressionado. Montesinos foi acusado pelos

colonos e pelo próprio Diego Colón de professar uma

“doutrina nova” e colocar em perigo o governo espanhol nas

Índias. Acredita-se que foi envenenado por colonos na

Venezuela.

Page 20: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

0

Francisco de Vitoria (1483, Burgos – 1546, Salamanca), foi

um filósofo, teólogo católico e jurista espanhol que lecionou

na Universidade de Salamanca. Foi notável principalmente

por suas contribuições a teoria da “guerra justa”. Tem sido

considerado por alguns acadêmicos como o pai do direito

internacional e fundador da filosofia política global. Foi

educado em Paris no Collège Saint-Jacques e em 1504

tornou-se dominicano. Principais obras: De potestate civili,

1528, Del Homicidio, 1531, De potestate ecclesiae I and II,

1532, De Indis, 1532, De Jure belli Hispanorum in barbaros,

1532, Relectiones Theologicae, 1557, De Indis et De Jure

Belli (1917).

Bartolomé de las Casas (Sevilha, 1484 - Madri, 1566).

Sacerdote dominicano, cronista, teólogo, bispo de Chiapas.

Em 1510 foi ordenado primeiro padre das Américas. Em

1511, ouve um sermão de Antonio de Montesinos contra as

atrocidades contra os índios, mas só em 1514 convence-se da

injustiça das ações espanholas na colônia, começa a pregar

em defesa dos nativos e abdica de seus privilégios. Seus

posicionamentos levaram-no a ser perseguido pelos

colonizadores. Em 1527 começa a escrever a Historia de las

Índias, reportando seu testemunho dos anos da conquista. Em

1550-51, envolve-se num debate na cidade de Valladolid com

Juan Ginés de Sepúlveda, que defendia a tese de que os

indígenas deviam ser pacificados à força. Em 1552,

publica Brevísima relación de la destrucción de las Indias,

relatando as atrocidades cometidas nos primeiros anos da

conquista.

Page 21: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

1

Juan Ginés de Sepúlveda (Pozoblanco (Espanha), 1489 -

1573). Bacharel em Artes e Teologia. Membro da Ordem

Dominicana, conhecido por sua fluência em línguas clássicas.

Tradutor de Aristóteles, a passagem da Política onde o autor

discorre sobre a escravidão por natureza exerceria grande

influência em seu pensamento. Foi crítico das reformas

eclesiásticas e da ideia de livre-arbítrio defendida por Erasmo

e Lutero. Considerado o defensor oficial da conquista,

colonização e evangelização dos indígenas da América. Em

1550, participou da famosa Controvérsia de Valladolid com

Bartolomé de Las Casas a questão da humanidade dos

indígenas. Obras principais: De rebus hispanorum gestis ad

Novum Orbem Mexicumque, De justis belli causis apud

índios, Democrates, sive de justi belli causis.

Bernardino de Sahagún (Sahagún, Espanha, 1499 - México,

1590). Foi um frade franciscano que desembarcou na “Nova

Espanha” (México) em 1529, onde estudou por mais de 50

anos a história e cultura astecas, além de contribuir para o

conhecimento da língua nahuatl, sendo por isso considerado

como o primeiro etnógrafo. Sua obra principal é Historia

General de las Cosas de la Nueva España, escrita entre 1540

e 1585, célebre por apresentar a história do choque de

culturas na visão dos indígenas. Ajudou a fundar uma das

primeiras escolas europeias da América, o Colegio Imperial

de Santa Cruz de Tlatelolco, centro de recrutamento de

nativos para estudos do evangelho e lugar de estudo da

língua nahuatl.

Page 22: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

2

Manuel da Nóbrega (Sanfins do Douro (Portugal) 1517 –

Rio de Janeiro, 1570) foi um padre jesuíta português, o

primeiro provincial da sociedade de Jesus no Brasil colonial.

Ao lado de José de Anchieta, esteve muito presente no

começo da história do Brasil, participando da fundação de

muitas cidades, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São

Paulo, e de vários colégios e seminários jesuíticos. Nóbrega

foi contra a escravização dos índios e essa postura gerou

graves confrontos com os habitantes e autoridades da nova

colônia. Principais obras: Cartas do Brasil (1549-70),

Diálogos sobre a Conversão do Gentio (1557), Caso de

Consciência sobre a Liberdade dos Índios (1567) e Tratado

Contra a Antropofagia (1559).

Pedro da Fonseca (Cortiçada, Portugal,1528 - Lisboa,

1599). Filósofo e teólogo jesuíta português, profundo

conhecedor da filosofia de Aristóteles, dedicou-se com afinco

aos c omentários pormenorizados deste filósofo,

especialmente em seus “Comentários à Metafísica de

Aristóteles”, obra que teve mais de 50 reedições. Também

escreveu “Instituições dialéticas”. Mas, como Suarez,

pensava que comentar Aristóteles não era suficiente, que

havia que adaptá-lo aos tempos novos. Também participou

das controvérsias sobre liberdade e graça divina. Em

Coimbra, promoveu a ideia de um Cursus Conimbricencis,

que depois foi realizado pelos jesuítas. Morando em Roma,

participou da elaboração da famosa Ratio Studiorum,

posteriormente adotada pela Companhia de Jesus.

Page 23: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

3

Felipe Guaman Poma de Ayala (San Cristóbal de Suntuntu,

1534 – Lima, 1615). Cronista peruano, de ascendência nobre,

autor da narrativa Nueva Crónica y Buen Gobierno, escrita

entre 1600 e 1615, considerada como o primeiro depoimento

da conquista espanhola feita desde a perspectiva de um

indígena. A obra está escrita numa língua mista, de espanhol

e línguas indígenas, ilustrada com desenhos do próprio autor,

na forma de uma carta ao rei da Espanha, Felipe II. O

manuscrito da obra foi perdido durante séculos e somente foi

encontrado em 1908 em Copenhague. O autor elogia as

formas de governo indígenas anteriores à invasão,

considerando-as mais adequadas ao espírito cristão. Junto

com Las Casas, Poma é um dos grandes representantes da

chamada “visão dos vencidos”.

Luis de Molina (Cuenca (Espanha), 1535 – Madri, 1600) foi

jesuíta, teólogo e jurista espanhol. Estudou Direito em

Salamanca e teologia em Coimbra. A doutrina defendida em

sua obra De Concordia é conhecida como molinismo. Nela,

procura conciliar a liberdade humana com a graça divina.

Defende a capacidade do homem, servindo-se de sua razão

natural, de realizar os atos de acordo com a fé cristã, sem

necessidade de revelação divina, Deus intervindo nas ações

humanas pela ciência media, que lhe garante conhecimento

prévio de todas as possíveis ações de cada indivíduo. As

ideias dessa obra geraram uma polêmica com os dominicanos

conhecida como Polêmica de auxiliis. Em De Iustitia et Iure,

Molina nega que a superioridade cultural e civilizacional

fossem justificativas para a dominação de outros povos, por

mais bárbaros que fossem.

Page 24: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

4

Francisco Suárez ( Granada, 1548 – Lisboa, 1617) foi um

padre jesuíta, filósofo e teólogo espanhol, tido como um dos

maiores escolásticos. Participou do famoso método da Ratio

Studiorum. Escreveu uma Defesa da fé católica e apostólica

contra os erros da seita anglicana que foi queimada em

público em Inglaterra e França. Participou da disputa de

auxiliis sobre o livre arbítrio e a graça divina, entre

dominicanos e jesuítas, iniciada por Molina. Suas posturas

jurídicas são avançadas, incluindo o direito de gentes de

derrocar o mal governante; criou um sistema filosófico coeso

magistralmente exposto nas célebres Disputações Metafísicas

de 1597. Outras obras: Disputatio ultima de bello (1584),

Quaestiones de iustitia et iure (1585), De homicidio in

defensionem propriae personae (1592), De Legibus tractatus

(1601-1603), De triplice virtute theologica (1621, obra

póstuma).

Antônio Rubio (La Roda, Espanha, 1548 – Espanha, 1615).

Estudou filosofia na Universidade de Alcalá, e, antes de

concluir o curso, entrou na Companhia de Jesus. Viaja ao

México na primeira leva de jesuítas às Américas em 1575. A

partir de então se dedica à docência. Foi grande admirador de

Aristóteles, tornando-se conhecido pelos seus volumosos

comentários a esse autor. Porém, sua maior contribuição à

filosofia se deu em lógica com seu livro “Lógica Mexicana”

de 1605, um livro tão importante que filósofos como

Descartes aprenderam lógica com ele. Escreveu também “De

Physico Auditu”, (1605), e comentários ao “De Ortu et

Interitu Rerum Naturalium”, (1609), ao “De Anima”, (1611),

e ao “De Caelo et Mundo”, (1615).

Page 25: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

5

Francisco Sanches (Tuy ou Braga, Espanha, 1550 - França,

1622). Filósofo e médico, judeu sefardita, nasceu na Espanha

mas foi batizado como cristão-novo em Braga (Portugal).

Aos 12 anos, mudou-se para Bordeaux e em seguida foi

estudar medicina em Roma. Em 1575, tornou-se professor de

filosofia e medicina em Toulouse, onde praticou durante 30

anos dedicando-se a investigar em cadáveres. Além de

médico, foi eminente filósofo, crítico declarado do

aristotelismo e da Escolástica, e defensor de um tipo de

ceticismo radical, pelo qual é considerado um precursor de

Hume. Em sua obra mais famosa Que nada se sabe (1581),

afirma que o conhecimento humano é meramente provável,

só alcançando aparências, nunca essências; contra a “dúvida

metódica” de Descartes, declara que os sentidos são o único

que pode nos dar algum tipo de conhecimento seguro.

Antônio Vieira (Lisboa, 1608 – Salvador, 1697). Jesuíta,

filósofo e orador luso-brasileiro. Aos 6 anos faz a sua

primeira viagem ao Brasil. De imediato impressionam seus

extraordinárias dotes de orador e pregador. Em 1661, teve

que enfrentar o Tribunal da Inquisição por causa de algumas

das suas teses. Foi autor de numerosos Sermões, que ele

muitas vezes elaborava de acordo com circunstâncias

específicas, textos notáveis por sua retórica, beleza e

contundência, versando sobre temas como a questão

indígena, a escravidão dos negros, a condição humana,

religião, moral e política. Também merecem destaque suas

obras proféticas, entre as quais a História do Futuro (iniciado

em 1649, mas publicado postumamente em 1718).

Page 26: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

6

Sor. Juana Inês de La Cruz (San Miguel Nepantla, México,

1651 – Cidade de México, 1695). Talvez a escritora mais

importante do século XVII, pensadora católica, poetisa e

dramaturga. Possuía um desejo insaciável de compreender

tudo; mesmo num meio adverso, acometeu estudos em

filosofia clássica e medieval, defendendo o direito da mulher

de fazer investigação. Parece ter escolhido a vida religiosa

mais para preservar seu espaço de estudo do que por genuína

vocação; sua cela se converteu em ponto de encontro de

intelectuais e até em lugar de experimentos científicos. Suas

reflexões estão perpassadas pela dúvida no poder dos

sentidos e do intelecto para atingir verdades profundas.

Grande parte da sua obra foi perdida; se conservam sua

Resposta a sor Filotea de la Cruz, sobre críticas que Sor Inés

tinha feito ao sermão do Mandato de Antonio Vieira; e o

poema filosófico Primer Sueño.

Nuno Marques Pereira (Bahia ou Portugal, 1652 - Lisboa,

em torno de 1733). Foi um padre e escritor luso-brasileiro de

cunho moralista. A única produção que nos deixou é uma

obra de moral religiosa, chamado Compêndio narrativo do

peregrino de América, escrito “contra os abusos introduzidos

pela malícia diabólica no Estado do Brasil”. Este livro teve

enorme sucesso editorial no século XVIII; trata-se de um

manual de educação piedosa incluindo narrativas, parábolas e

meditações filosóficas, escrito em forma de diálogo,

destacando a condição dos humanos no mundo como

peregrinos. Em muitos momentos da obra o tom é pessimista

e moralista, mas o escravagismo e anti-semitismo são

justificados usando categorias religiosas.

Page 27: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

7

Matias Aires (São Paulo, 1705 – Portugal, 1763) foi filósofo

luso-brasileiro, passando apenas os primeiros 11 anos da sua

vida no Brasil, tendo estudado com os jesuítas. Em 1716

mudou-se com a família para Portugal e nunca mais voltou

para o Brasil. Matias formou-se em direito em Coimbra e

morou um tempo em París. Levou uma vida de estudo e

reclusão. Autor de Reflexões sobre a vaidade dos homens e

Carta sobre a fortuna. A primeira obra teve muito sucesso no

Brasil. Nela, Matias faz uma análise sobre o comportamento

humano que se vê fundamentado na vaidade, paixão que

ganha status metafísico na sua fina reflexão de fundo cético e

pessimista.

Javier Clavijero (Veracruz, 1731 – Bolonha, 1787). Jesuíta,

historiador e pensador mexicano, figura eclética que cultivou

uma escolástica modernizada. Viveu em várias regiões quase

todas com forte presença indígena, chegando a aprender a

língua náhuatl ainda criança. Ensinou em México e Puebla

para alunos indígenas e em Valladolid e Guadalajara, até a

expulsão dos jesuítas em 1767. Depois refugiou-se na Itália,

onde faleceu. Pensou diversas questões sobre a sua pátria,

além de criticar o barroquismo na linguagem e preconizar a

modernização da escolástica. Escreveu uma Física

particular, parte de um Curso de Filosofia que tinha

projetado, uma Historia antigua de México, onde recupera o

passado indígena e os defende das acusações da historiografia

oficial, De las colonias de los tlaxcaltecas, Diálogo entre

Filaletes y Paeófilo, entre outros.

Page 28: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

8

Juan Benito Díaz de Gamarra (Zamora, México, 1745 -

1783). Figura representativa da ilustração no continente

americano. Sua obra mostra uma atitude científica e anti-

aristotélica, bom exemplo do ecletismo ilustrado hispânico –

de influência cartesiana e leibniziana - que tenta conciliar

sistemas aparentemente incompatíveis. Considerado

precursor das ideias da independência mexicana. Escreveu

Elementos de filosofía moderna e Academias filosóficas

(ambas de 1774), Errores del entendimiento humano (1781) e

Memorial ajustado (1790).

Page 29: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina2

9

PENSADORES DO SÉCULO XIX

Silvestre Pinheiro Ferreira (Lisboa, 1769 - 1848). Filósofo

e político português que ocupou importantes cargos. No

início do século XIX teve oportunidade de ir à Alemanha e

acompanhar o debate pós-kantiano e as conferências de

Fichte e Schelling. Foi figura importante para o Brasil, talvez

acidentalmente, pois acompanhou a família real na sua

viagem ao Brasil fugindo das invasões napoleônicas, e

acabou morando no Brasil entre 1810 e 1821, onde desen

volveu grande parte da sua obra mais importante, as

Preleções Filosóficas, publicadas em 1813, resultado de suas

lições de filosofia ministradas no Real Colégio de São

Joaquim, no Rio de Janeiro, obra de forte influência na

formação filosófica brasileira. Autor de Noções elementares

de filosofia e suas aplicações às ciências morais e políticas,

de 1839.

Andrés Bello (Caracas, 1781 – Santiago de Chile, 1865).

Filósofo, filólogo, pedagogo e jurista humanista venezuelano;

de formação fortemente autodidata, desenvolve reflexões de

estética, filosofia da linguagem e filosofia da lógica, e sobre

filosofia em Hispano-américa. Foi professor de Simón

Bolivar e precursor da independência. Morou em Londres por

muitos anos e depois no Chile, onde desenvolve intensa

atividade política e jornalística. Com seu apoio cria-se a

Universidade do Chile em 1842, da qual seria reitor. Obras:

Gramática de la lengua castellana destinada al uso de los

americanos y los esclavos españoles, Principios del derecho

de gentes e a Filosofia del entendimiento (publicação

póstuma).

Page 30: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

0

Juan Bautista Aberdi (Tucumán, Argentina, 1810 – França,

1884). Jurista, diplomata e pensador argentino, o primeiro a

utilizar o termo “filosofia americana” e a colocar o problema

de um pensar próprio. Em 1835 se ligou com o Salão

Literário, um grupo de jovens liberais, continuadores da

revolução de maio. Em 1837 redige o Fragmento preliminar

ao estudo do direito, onde faz um diagnóstico da situação

nacional. No início partidário de Rosas, o controverso

governador de Buenos Aires, mais tarde torna-se seu

opositor, o que o leva a exilar-se em Uruguai e mais tarde em

Paris. Após a queda de Rosas em 1852, Alberdi redige Bases

y Puntos de Partida para la Organización Política de la

República Argentina, que seria o esboço da constituição

argentina de 1853. Diante de um país despovoado,

popularizou a frase: “governar é povoar”. Teve polêmica

memorável com Sarmiento nas Cartas quillotanas. Sua obra

O crime da guerra foi publicada póstuma.

Nísia Floresta (Rio Grande do Norte, 1810, Rouen (França),

1885). Pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, educadora,

escritora e poetisa potiguar. Uma importante representante do

positivismo no Brasil, amiga pessoal de Auguste Comte.

Considerada pioneira do feminismo no Brasil, Nísia Floresta

escreveu, em 1831, uma série de artigos de jornal sobre a

condição feminina numa publicação pernambucana

chamada Espelho das Brasileiras. Em 1853, vivendo na

França, escreveu Opúsculo Humanitário, uma coleção de

artigos sobre a emancipação da mulher que teria sido

elogiada pelo próprio Comte. Sua obra mais conhecida é

Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), tida

como a primeira obra feminista da América Latina. Também

escreveu Conselhos à minha filha (1842) e A lágrima de um

Caeté (1849).

Page 31: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

1

Domingos José Gonçalves de Magalhães (Rio de Janeiro,

1811 – Roma, 1882) Escritor, diplomata e filósofo,

conhecido por ter inaugurado o romantismo brasileiro com a

publicação de seus Suspiros poéticos e saudade (1836). Sua

obra poética trata de temas como a pátria, a religião e a

natureza e às vezes exprime um amargo pessimismo.

Enquanto filósofo e psicólogo escreveu obras como A alma e

o cérebro, Comentários e pensamentos, e sua obra mais

importante, Os fatos do espírito humano (1865), publicada

primeiramente em Paris e considerado o texto inaugural da

filosofia moderna no Brasil, dialogando com filósofos

europeus tais quais Descartes, Condillac e Locke.

Considerado um representante do ecletismo brasileiro, seu

pensamento é marcadamente espiritualista.

Domingo Faustino Sarmiento (San Juan (Argentina), 1811

– Asunción (Paraguai), 1888). Escritor e político argentino,

de origem humilde, foi autodidata e chegou a ser presidente

da Argentina. Durante o governo de Juan Manuel de Rosas,

de quem foi forte opositor, foi no exílio no Chile onde

escreveu sua obra mais famosa, Facundo: civilização e

barbárie (1845), uma biografia do caudilho Facundo Quiroga

mas que visava indiretamente Rosas, e onde coloca o

dualismo civilização (Europa) e barbárie (índios, gaúchos),

como categoria filosófica, sendo um dos propulsores da

ideologia “civilizatória”. Fez parte do Exército Grande que

derruba Rosas em 1852. Foi governador da sua cidade natal,

embaixador nos EEUU e presidente entre 1868 e 1874.

Durante sua presidência, abriu numerosas escolas públicas e

bibliotecas, incentivando a imigração. Recuerdos de

provincia (1850) é outra das suas obras mais notáveis, ao

lado de Las ciento y uma (1853), na sua famosa polêmica

com Alberdi.

Page 32: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

2

Francisco Bilbao (Santiago de Chile, 1823 – Buenos Aires,

1865). Filósofo espiritualista, teórico da filosofia hispano-

americana e militante político. Com um grupo de amigos

formou um movimento radical, a Sociedad de la Igualdad,

que foi depois fechada, obrigando Bilbao a trabalhar na

clandestinidade. Seus textos críticos contra a religião católica

lhe valeram uma excomunhão; em Paris, utilizou pela

primeira vez, numa de suas conferências, a expressão

“América Latina”. Autor de Sociabilidad chilena (1844),

onde criticava o sistema autoritário e a igreja, La ley de la

historia (1858), La América en peligro (1862), onde critica as

invasões europeias de Santo Domingo e México, e El

evangelio americano (1864).

Tobias Barreto (Vila de Campos, Sergipe, 1830 - 1899).

Jurista, filósofo e poeta, membro-fundador da Escola de

Recife; estuda o positi vismo na sua vertente teórica, sem os

elementos religiosos dos antecessores, transformando-se mais

tarde em crítico dessa corrente desde uma posição metafísica

de corte monista e evolucionista, influenciado pelo

espiritualismo francês e por Haeckel. Tobias era um orador

notável e estudioso autodidata da filosofia. Aprofundou seus

estudos de alemão para poder ler os filósofos em seus textos

originais. De fato, contribuiu para a difusão do pensamento

alemão no Brasil, redigindo inclusive um jornal em alemão, o

"Deutscher Kampfer" (O lutador alemão), e escrevendo

depois os Estudos alemães (1883). Autor de Estudos de

Filosofia (1868-1882), Menores e loucos (1884) e o Discurso

em mangas de camisa (1887), entre muitos outros discursos.

Page 33: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

3

José Martí (La Habana, Cuba, 1853 – Dos Ríos, Cuba,

1895). Político revolucionário, pensador, jornalista e poeta,

Partido Revolucionário Cubano e organizador da chamada

“guerra necessária” de 1895 contra a dominação espanhola.

Muito novo, foi preso e processado pelo governo espanhol

por distribuir panfletos revolucionários e condenado a 6 anos

de trabalhos forçados, dos que foi dispensado pela sua má

saúde, sendo deportado para Espanha; lá ele escreveu El

presídio político em Cuba, onde denunciava os horrores da

prisão. Seu estilo era predominantemente o ensaio, de estilo

vigoroso e idealista. Em 1895, comandando um grupo de

patriotas cubanos, foi atingido morrendo na hora. Com

apenas 42 anos de vida escreveu uma obra de 28 volumes,

contendo reflexões entre romantismo e positivismo e o

caráter prático e político da filosofia. Um dos principais

ensaios de Martí é Nuestra América.

Page 34: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

4

PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

Enrique José Varona (N. Camagüey, 1848 – La Habana,

1933). Nascido em Cuba, Varona exerceu grande influência

no pensamento da época, com obras e ensaios marcados pela

filosofia, política e pedagogia. É considerado um dos

principais representantes do positivismo cubano do período,

tendo alguns de seus trabalhos de juventude sido

caracterizados por uma influência do pessimismo.

Posteriormente, seus textos de maturidade passam a refletir

sobre educação e os movimentos estudantis contrários à

ditadura de Gerardo Machado. Dentre suas obras, podem ser

citadas: La metafísica en la Universidad de La Habana, De

la Colonia a la República e El imperialismo a la luz de la

sociología.

Alejandro Deustúa (Huancayo, Perú, 1849 – Lima, 1945). O

mais longevo dos pensadores americanos (96 anos), o que faz

com que atravesse várias faces do processo: de positivista a

antipositivista convicto e pensador espiritualista; educador e

diplomata; filósofo da liberdade, de forte influência no

pensamento peruano das três primeiras décadas do século

XX. Envolvido na discussão sobre o estatuto das ciências do

espírito; era em favor da educação das elites dirigentes e

contra a cultura popular, considerando as culturas indígenas

definitivamente derrotadas e ao índio como intelectualmente

inferior. Autor de As ideias de ordem e liberdade na história

do pensamento humano (1922), Filosofia moral, e de uma

importante Estética Geral (1923).

Page 35: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

5

Silvio Romero (Lagarto (Sergipe)- Brasil, 1851 – Rio de

Janeiro, 1914) Crítico, ensaísta, folclorista, filósofo e

historiador da literatura brasileira, fez parte da escola de

Recife junto com Tobias Barreto, que pretendia uma

renovação da mentalidade brasileira. Inicialmente se

identificou com o positivismo, porém se afasta da influência

de Comte e aproxima-se da filosofia evolucionista de Spencer

em seu propósito de construir uma análise crítica do texto

literário. Em 1878 publica Cantos, obra poética. Também

escreveu uma série de perfis políticos. Na obra

Zeverissimações Ineptas da Crítica polemiza com José

Veríssimo. Interessava-se pela cultura popular, e escreve em

1878 uma Filosofia no Brasil. Em 1882 publica sua obra

prima A História da Literatura Brasileira.

Miguel Lemos (Niterói (Brasil), 1854 – Petrópolis (Brasil),

1917). Filósofo brasileiro de orientação claramente

positivista. Criador, com Teixeira Mendes e Benjamin

Constant, da Sociedade Positivista de Rio de Janeiro em

1876. Em Paris relaciona-se com discípulos de Comte,

especialmente Émile Littré e Pierre Lafitte, que

representavam respectivamente a versão filosófica e a

religiosa do positivismo, e com o chileno Jorge Lagarrique.

No Brasil militou ativamente em favor do positivismo

religioso em questões sociais, políticas e religiosas, como o

abolicionismo, os direitos trabalhistas e o pacifismo,

transformando a sociedade positivista na igreja positivista do

Brasil. Autor do Resumo histórico do movimento positivista

no Brasil, a Ortografia positivista (1888) e o Apostolado

positivista no Brasil (junto com Teixeira Mendes).

Page 36: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

6

Raimundo Teixeira Mendes (Caxias (Brasil), 1855 – Rio de

Janeiro, 1927). Filósofo, matemático e ativista político de

orientação positivista; igual que seu colega Lemos, primeiro

aderiu apenas a versão filosófica do positivismo comtiano,

mas depois se envolveu na “religião da humanidade” e a

igreja positivista. Ambos tentaram uma interpretação da

realidade brasileira desde o positivismo, defendendo a

abolição da escravatura e a proclamação da república.

Teixeira apresentou ao novo governo um projeto de bandeira

nacional, com as palavras – de nítido corte positivismo –

“ordem e progresso”, que foi aceito. Envolveu-se em

questões sociais (separação da igreja e o Estado, limites

territoriais, legislação trabalhista, direitos da mulher). Autor,

com Miguel Lemos, dos livros Circulares anuais do

Apostolado positivista no Brasil (1881) e A nossa iniciação

no Positivismo (1889).

Alejandro Korn (San Vicente, Buenos Aires, 1860 – La

Plata (Argentina), 1936). Filósofo, médico psiquiatra e

político, pensador da reação antipositivista, o mais importante

filósofo argentino deste período. Graduou-se em medicina em

1882 com uma tese sobre Loucura e Crime, trabalhando em

diversos hospitais. Ocupou diversos cargos (intendente,

deputado provincial), afiliando-se ao partido socialista

argentino em 1931. Vinculou-se aos movimentos da reforma

universitária, feita dentro de uma reação contra o positivismo.

Reivindica o pensamento metafísico com influências

marcantes de Ortega y Gasset e Kant; reflete sobre a natureza

do filosofar e a situação da filosofia na Argentina e em

América. Autor de: A liberdade criadora (1922), Axiologia

(1930), Apuntes filosóficos, Filosofia argentina, Novas Bases

(alusão ao livro clássico Bases, de Alberdi) (1935), e Sistema

filosófico (1959).

Page 37: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

7

Raimundo de Farias Brito (São Benedito, Brasil, 1862 –

Rio de Janeiro, 1917). Jurista e filósofo, pensador

espiritualista, existencial, pessimista e anti-positivista, o mais

importante filósofo brasileiro deste período. Formou-se em

direito na Faculdade de Direito de Recife, onde foi aluno de

Tobias Barreto. Trabalhou como advogado e ocupou cargos

públicos. Venceu o concurso para a cátedra de Lógica no

Colégio Pedro II, mas o presidente da República escolheu o

segundo colocado, Euclides da Cunha; tendo este sido morto

num duelo, Farias Brito assumiu a cátedra. De forte espírito

religioso, combateu o materialismo e o evolucionismo, em

favor de um Deus fundamento da natureza. Autor da

ambiciosa obra Finalidade do Mundo (em 3 volumes

publicados em 1894, 1897 e 1905), A base física do espírito,

A verdade como regra e O mundo interior (1914).

Graça Aranha (São Luis de Maranhão (Brasil), 1865 – Rio

de Janeiro, 1931). Romancista, pensador da estética e

diplomata, graduou-se em direito em Recife, onde foi aluno

de Farias Brito. Nas suas viagens diplomáticas teve contato

com os movimentos vanguardistas europeus, sendo um dos

organizadores da famosa Semana da arte moderna de 1922,

onde proferiu a conferência “A emoção estética na arte

moderna”, rompendo logo depois (em 1924) com a Academia

brasileira de letras, à que acusou de passadismo e imobilismo

literário. Buscou inspiração em diversos municípios

brasileiros, especialmente em Espírito Santo, para escrever

seu romance mais famoso, Canãa, publicado em 1902,

apresentando nele uma visão filosófica peculiar. Autor de

Estética da vida (1921), um curioso livro de estética

metafísica e de Viagem maravilhoso (1929).

Page 38: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

8

José Enrique Rodó (Montevideu, Uruguai, 1871 – Palermo,

Itália, 1917). Escritor, historiador e político uruguaio,

desenvolveu atividades como jornalista e publica suas

primeiras obras. Apesar de ter vivido apenas 46 anos, escreve

volumosa obra literária e filosófica, sendo um dos autores

ibero-americanos indispensáveis. Retratou com estilo

modernista o mal-estar hispano-americano de passagem de

século, com forte inspiração clássica, num estilo

espiritualista. Embora não tendo acabado seus estudos

formais de literatura, sua fama lhe permitiu ser professor de

literatura na universidade de Montevidéu. Em seu clássico

Ariel (1900), obra literário-filosófica, muito lida na época e

ainda hoje, defende o americanismo e dirige uma crítica

poética contra o materialismo individualista, especialmente

norte-americano; a partir dessa obra cria-se o movimento

chamado “arielista” em todas as nações de Hispano-américa.

Outra obra importante de Rodó é Motivos de Proteu (1909).

Enrique Molina Garmendia (Chile, 1871 – 1956). Filósofo

espiritualista crítico do positivismo, mas ao mesmo tempo

pensador imanentista, atento à precariedade da vida humana.

Também pedagogo de vasta influência em seu país e em

América. Fundador da Universidad de Concepción, em 1919.

Sua filosofia é uma espécie de ontologia espiritualista onde

são estudadas as relações entre o ser e a consciência.

Escreveu: Do espiritual na vida humana (1936), Para os

valores espirituais (1939), Confissão filosófica (1941), A

filosofia em Chile na primeira parte do século XX (1951),

Tragédia e realização do espírito (1952).

Page 39: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina3

9

José Ingenieros (Palermo, 1877 – Buenos Aires, 1925).

Médico psiquiatra, psicólogo, filósofo e sociólogo, o mais

importante positivista argentino; desempenhou diversos

cargos em instituições médicas argentinas, completou seus

estudos em Paris, Genebra e Heidelberg, e proferiu muitas

conferências em universidades europeias. Em 1919 renuncia

a seus caros docentes e dedica-se plenamente à política

progressista e anti-imperialista, colaborando depois com

periódicos anarquistas. Autor da trilogia ético-sociológica, de

viés positivista: O homem medíocre, Para uma moral sem

dogmas e As forças morais. Escreve Proposições relativas ao

porvir da filosofia e Evolução das ideias argentinas, tendo

forte influência na reforma universitária ibero-americana.

Page 40: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

0

SÉCULO XX – PRIMEIRA METADE

Carlos Vaz Ferreira (Montevidéu, 1872 - 1958). Filósofo e

sociólogo uruguaio, formou-se em direito em 1903, ocupando

cargos inclusive de reitor da universidade da República. Como

pensador, se forma no positivismo dominante no Uruguai do

final do século XIX, mas depois recebe as influências de Henri

Bergson, William James e José Enrique Rodó, mudando de

orientação. Ocupa-se com questões de linguagem, lógica

informal e argumentação. Considera a filosofia como capaz de

cultivar um saber inclusivo inatingível para as ciências positivas.

Na ética, defende uma abordagem empírica e aplicada. Vaz tem

abundante produção filosófica, entre as principais obras estão:

Moral para intelectuais (1909), Lógica viva (1910), e Os

problemas da liberdade e o determinismo (1957).

José Vasconcelos (Oaxaca, México, 1882 – Cidade de México,

1959). Um dos mais importantes e prolíficos pensadores de

Ibero-américa. Filósofo, jurista e militante político, pensador

antipositivista, e grande escritor. Graduado em direito, foi

ministro de educação de seu país desenvolvendo vasta obra

pública (criação de escolas, bibliotecas). Em 1909 fundou o

Ateneo de la Juventud; foi partidário da revolução mexicana e

candidato a presidente da República mas foi derrotado pelo

candidato oficial; denunciou fraude nas eleições chegando a

organizar uma revolta armada, pelo qual foi preso exilando-se

mais tarde em Paris. Influenciado pelo pensamento de

Schopenhauer, lutou contra o positivismo e o utilitarismo. Autor

de Prometeu vencedor (1916), O monismo estético (1918), A

raça cósmica (1925), Tratado de Metafísica (1929), Lógica

Orgánica (1945). Esteve sempre preocupado com a questão da

unidade ibero-americana, escrevendo textos históricos e

biográficos sobre Hernán Cortés e Simón Bolívar.

Page 41: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

1

Antonio Caso (Cidade de México, 1883 - 1946). Fundador,

junto com Vanconcelos, de El Ateneo de la Juventud, em 1908,

grupo antipositivista propulsor dos estudos filosóficos no

México; defensor de uma filosofia espiritualista, voluntarista e

anti-racionalista. Participou da fundação da revista literária

Savia Moderna junto com Pedro Henriquez Ureña. Autor de A

pessoa humana e o estado totalitário, O perigo do homem, A

existência como economia, como desinterés e como caridad, o

Ensayo sobre la esencia del cristianismo e El peligro del

hombre (1942). Caso ocupou-se intensamente da questão do

americano, em obras como Discurso a la nación mexicana

(1922) e El problema de México y la ideologia nacional (1924),

temática que depois será desenvolvida por Samuel Ramos e

Leopoldo Zea.

Pedro Henriquez Ureña (Santo Domingo, República

Dominicana, 1884 – Buenos Aires, 1946). Filósofo e crítico

literário, fortemente influenciado por Eugenio Maria de Hostos,

reformador porto-riquenho do ensino, desenvolveu suas

atividades intelectuais em México, Argentina e EEUU. Jorge

Luis Borges considerou Henriquez Ureña injustiçado na

Argentina, onde nunca conseguiu ser professor titular. Vincula-

se especialmente com Alejandro Korn na Argentina e com

Vanconcelos no México. Pensador anti-intelectualista e vitalista,

realiza uma crítica interna ao positivismo. Sua obra crítica

abrange imenso universo de assuntos e está perpassada pela

preocupação pela unidade e independência cultural e espiritual

de América. Autor de Seis ensayos em búsqueda de nuestra

expresión (1928) e de As correntes literárias na América

hispana (1945).

Page 42: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

2

Coriolano Alberini (Milão, Itália, 1886 – Buenos Aires, 1960).

Nascido na Itália e criado na Argentina, onde passa toda a sua

vida, teve destacada labor docente e política na época da

reforma universitária. Estuda na Faculdade de Filosofia e Letras

e de Direito. Autor precoce de Amoralismo subjetivo (1908, com

22 anos), uma crítica contra o formalismo na ética e o

imperativo categórico. Apresenta seu exame de finalização, anti-

positivista, mostrando um pensamento da intuição influenciado

por Bergson e Meyerson (aos que conhecerá pessoalmente

depois na França), diante de uma banca toda ela composta de

positivistas (Korn, Ingenieros, Francisco Quesada, etc). Na

Europa, faz contato com Gentile, Hartmann, Gilson, Croce,

Husserl e Heidegger. Escreve Introdução à axiogenia (1921),

um livro de tendência vitalista sobre a origem dos valores, e

Problemas de la historia de las ideas filosóficas em la

Argentina.

Alfonso Reyes (Monterrey, México, 1889 – Cidade de México,

1959). Filósofo, crítico literário e diplomata, de estilo ensaísta.

Participa de El Ateneo de la Juventud, junto com Henriquez

Ureña, Caso e Vasconcelos. Em 1911, aos 21 anos, publica seu

primeiro livro Cuestiones estéticas. A revolução mexicana não

favorece a família Reyes, que tinha boas relações com o

presidente Porfírio Diaz. Alfonso exilou-se na Espanha, entre

1914 e 1924. Publica trabalhos sobre Góngora (Cuestiones

gongorinas), Sor Juana Inés de la Cruz, a sua breve obra-prima,

Visão de Anáhuac, e O suicida (1917). Escritor notável, a sua

candidatura ao Nobel de Literatura foi bloqueada pelo

movimento nacionalista mexicano que achava que Reyes

escrevia muito sobre os gregos e muito pouco sobre os aztecas.

Page 43: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

3

Oswald de Andrade (São Paulo, 1890 – 1954), escritor e

ensaísta brasileiro, um dos principais organizadores da Semana

de Arte Moderna de 1922, autor dos manifestos modernistas,

“Manifesto pau Brasil” (1924) e “Manifesto antropofágico”

(1928). Trabalha e polemiza com Mário de Andrade, outro

escritor importante da Semana (autor de Manunaíma). Ele se

interessa por filosofia em seus ensaios A crise da filosofia

messiânica e A marcha das utopias, e mesmo de maneira

diletante, Oswald estabelece um marco na constituição da

identidade cultural brasileira, na busca de formas de expressão

próprias que vinculam, de maneira criativa, o mais moderno e

inovador com o mais primitivo, a tecnologia e a antropofagia, no

que se chamou “vanguarda primitiva”. Esta atitude não teve

influência apenas na arte, mas também na filosofia, na medida

em que propõe uma nova relação do pensamento nacional com a

cultura europeia.

Jackson de Figueiredo (Aracaju, Sergipe (Brasil), 1891 –

1928). Pensador espiritualista cristão, de tendência fideísta,

estuda direito na Faculdade de Direito da Bahia. Publica seu

primeiro livro, Algumas reflexões sobre a filosofia de Farias

Brito (1916, com 25 anos). Depois de ler uma carta pastoral, se

converte ao catolicismo. Em 1922 funda o Centro Dom Vital,

irradiador do pensamento católico, onde participaram Alceu

Amoroso Lima, Gustavo Corção e outros. Jackson tinha uma

personalidade forte e avassaladora mostrando um envolvimento

vital em suas indagações metafísicas e religiosas. Entusiasmou-

se enormemente pela obra metafísica de Farias Brito. Morreu

afogado quando pescava junto com seu filho e um amigo. Em

apenas 37 anos de vida, publicou A questão social na filosofia

de Farias Brito, Humilhados e luminosos, Do nacionalismo na

hora presente e Pascal e a inquietação moderna (1922).

Page 44: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

4

Francisco Romero (Sevilla (Espanha), 1891 – Buenos Aires,

1962). Nascido na Espanha, mas radicado na Argentina,

influenciado por Alejandro Korn e Ortega y Gasset, ambos

interessados numa “razão histórica”, e pelo pensamento alemão,

sendo conhecedor profundo da língua alemã e tradutor muito

competente. Considerado um dos primeiros pensadores da toma

de consciência de um pensar desde América. Romero é autor da

ideia de uma evolução das atividades filosóficas latino-

americanas em etapas, superando o autodidatismo e chegando

numa filosofia profissional, “normalizada” como exercício

cultural pleno. Autor de: Sobre a filosofia em ibero-América

(1940), Filosofia de ontem e de hoje (1947), Filosofia da pessoa

(1944) e Teoria do homem (1952).

José Carlos Mariátegui (Moquegua (Peru), 1894 - Lima,

1930). Escritor, jornalista, sociólogo e ativista político,

destacou-se como um dos primeiros e mais influentes

pensadores do marxismo latino-americano. Em seu livro

conhecido internacionalmente, Sete Ensaios de Interpretação da

Realidade Peruana, traça uma história econômica do Peru sob a

perspectiva materialista. Também publicou A cena

contemporânea. Fundou em 1928 o Partido Comunista

Peruano e a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru. Foi

um autodidata, rejeitando a educação formal, viajando pela

Europa com auxílio de bolsas e se vinculando de maneira direta

com escritores e políticos. Na sua atividade jornalística, fundou

em 1926 a revista El Amauta (em quechua, significa "sábio" ou

"professor"), por seu grande interesse pelos povos indígenas

peruanos. Por causa de uma antiga doença teve uma perna

amputada, mas continuou suas atividades políticas em cadeira de

rodas, falecendo aos 36 anos.

Page 45: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

5

Carlos Astrada (Córdoba, Argentina, 1894 – Buenos Aires,

1970). Pensador de tendência marxista dialética e existencial,

estudante presencial de Husserl, Heidegger, Scheler e

Hartmann durante os anos 20. Desenvolveu uma peculiar

filosofia da existência onde a noção de “jogo” é fundamental,

exposta em obras como O jogo metafísico: para uma filosofia

da finitude (1942), O jogo existencial (1933), Idealismo

fenomenológico e metafísica existencial (1936), Ser,

humanismo, existencialismo (1949) e A revolução

existencialista (1952). Em seu viés marxista dialético escreveu

Hegel e a dialética (1956), O marxismo e as escatologias

(1957), A dupla face da dialética (1962) e Dialética e história

(1969). De suas preocupações metafísicas com a questão

argentina e americana surge O mito gaúcho. Martin Fierro e o

homem argentino (1948).

Samuel Ramos (Zitácuaro, México, 1897 – Cidade de

México, 1959). Estudioso da situação da filosofia mexicana e

ibero-americana, influenciado por Ortega y Gasset e Antonio

Caso, fez parte do grupo Hiperion em torno de uma

investigação em torno da alma mexicana e os valores

nacionais, denunciando o “complexo de inferioridade” do

mexicano desde a conquista espanhola. Autor de O perfil do

homem e da cultura no México (1934), onde critica o

mimetismo cultural dos mexicanos diante do europeu. Outras

obras: Para um novo humanismo (1940), História da filosofia

em México (1943) e Filosofia da vida artística (1950).

Page 46: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

6

José Gaos (Gijón, Espanha, 1900 – Cidade de México, 1959).

Um dos importantes exilados (ou “transterrados”, em seus

próprios termos) espanhóis, radicado no México depois da

guerra civil espanhola. Obtém a nacionalidade mexicana em

1941. Sofreu influências de Husserl, Heidegger, Ortega y

Gasset, Hartmann, García Morente e Javier Zubiri. Autor de

uma copiosa obra filosófica, entre as quais: Da Filosofia,

Filosofia da filosofia (1947) (uma reflexão sobre a natureza da

filosofia diante do fato de cada filosofia apresentar-se como

verdade absoluta), Em torno da filosofia mexicana (1952), A

filosofia na universidade (1956), Confissões profissionais

(1958), além de traduzir ao espanhol mais de 70 obras

filosóficas, entre elas Ser e Tempo de Heidegger.

Mário Ferreira dos Santos (Tietê, 1907 – São Paulo, 1968).

Foi um filósofo brasileiro, criador de um sistema filosófico a

que chamou Filosofia Concreta. Escreveu muitos livros sobre

Filosofia, Psicologia, Oratória, Ontologia, Lógica, etc,

publicados com sua própria editora, muitos dos quais

compunham sua "Enciclopédia de Ciências Filosóficas e

Sociais". Mário nunca teve vínculos acadêmicos, mas se

dedicava inteiramente à filosofia, dando aulas particulares para

grupos pequenos. Teve enorme sucesso durante a década de

60. Algumas obras: Lógica e Dialética (1954), Análise

Dialética do Marxismo (1954), Tratado de Simbólica (1955),

Filosofia da Crise.(1955), Noologia Geral (1956), Filosofia

Concreta (3 volumes) (1956), Filosofias da Afirmação e da

Negação.(1957), Invasão Vertical dos Bárbaros (1967,) e A

Sabedoria das Leis Eternas (póstumo), 2001.

Page 47: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

7

Arturo Ardao (Minas, Lavalleja (Uruguai), 1912 –

Montevidéu, 2003). Pensador dedicado principalmente a

história do pensamento latino-americano, analisado naquilo

que tem de original, e a construção de uma filosofia própria,

em que concilia dois extremos antagônicos: a valorização dos

feitos e a valorização das ideias, entre razão e afetividade,

instituições e indivíduos. Promove esta tarefa não recorrendo

ao discurso estritamente argumentativo, mas por meio de uma

longa procura por documentos e testemunhos, que servem

como reveladores das circunstâncias culturais produtoras de

reflexões, ideias, sentimentos, juízos, desejos, valores,

aspirações, etc. Suas principais obras: Espaço e Inteligência,

Espiritualismo e Positivismo no Uruguai, Espanha na Origem

do Nome América Latina, e Lógica e Metafísica em Feijoo.

Vicente Ferreira Da Silva (São Paulo, 1916 - 1963).

Começou como estudioso da lógica matemática, publicando

um dos primeiros livros sobre a área, Elementos de lógica

matemática (1940), sendo o assistente de Willard Quine na sua

visita ao Brasil em 1942. Mas depois sofreu uma

transformação e se tornou um dos mais importantes pensadores

existenciais e metafísicos do Brasil, com uma reflexão em

torno de mitologias fundantes inspirada em Schelling e

Heidegger. Autor de: Exegese da ação (1949), Dialética das

consciências (1950), Introdução à filosofia da mitologia

(1955) entre outras. Morreu num acidente de automóvel antes

de fazer 50 anos. Vilém Flusser o considerou um grande

filósofo, ignorado em seu próprio país, e escreveu vários

ensaios sobre seu pensamento.

Page 48: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

8

Rodolfo Kusch (Buenos Aires, 1922 – 1979). Escritor e

filósofo argentino, desenvolveu trabalhos em torno do

pensamento indígena e popular. Foi importante pensador da

situação latino-americana. Estudou filosofia em Buenos Aires;

fez viagens de investigação no norte argentino e altiplano

boliviano; participou de muitos encontros americanistas,

interessado na sabedoria dos povos como lugar hermenêutico.

Escreveu obras teatrais e ensaios sobre estética, sempre de

forte inspiração poética americanista. Algumas obras: La

seducción de la barbarie: análisis herético de un continente

mestizo, (1953), América profunda, (1962), Indios, porteños y

dioses, (1966), De la mala vida porteña, (1966), El

pensamiento indígena y popular en América, (1971),

Geocultura del hombre americano, (1976), Esbozo de una

antropología filosófica americana, (1978) e as peças de teatro

La muerte del Chacho. (1960) e La leyenda de Juan Moreira.

(1960)

Page 49: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina4

9

SÉCULO XX - SEGUNDA METADE Observação: No caso de filósofos vivos, apenas se menciona o país de origem.

José David Garcia Bacca (Pamplona, Espanha, 1901 – Quito,

Equador, 1992). Outro dos importantes emigrados espanhóis,

estuda filosofia e teologia na Espanha e se ordena sacerdote

claretiano em 1925. Foge da Espanha em 1936, se estabelecendo

primeiro em Paris e depois no Equador. Em 1946 se transfere a

Caracas, trabalhando na recentemente fundada Faculdade de

Filosofia e Letras, e se naturalizando venezuelano. Passa por

várias fases: marxismo, vitalismo; mas também se ocupa com

lógica e filosofia da ciência, sendo autor de uma Introdução á

Lógica moderna (1936) e de diversos “exercícios” de lógica.

Autor de: Filosofía en metáfora y parábolas. Introducción

literaria a la filosofía (1945), Siete modelos de filosofar (1950),

Metafísica natural estabilizada e problemática, metafísica

espontánea (1963), Antología del pensamiento filosófico

venezolano. (1964), Elogio da técnica (1968), Cosas y personas.

(1977), Vida, Muerte, inmortalidad (1983) e Sobre el Quijote

(1991).

María Zambrano (Málaga, 1904 – Madri, 1991). Foi uma

filósofa e escritora espanhola, uma das figuras capitais do

pensamento espanhol do século XX, mas que, por causa de seus

exílios, teve destacada influência no pensamento americano.

Exerceu seu magistério em Cuba, México e Porto Rico. Premiada

com o prêmio Príncipe das Astúrias (1981) e Cervantes (1988).

Seu pensamento vinculado às correntes vitalistas do século XX,

gira em torno da busca de princípios morais e formas de conduta

aplicáveis nos problemas cotidianos. Obras: Filosofía y

poesía (1939), La confesión, género literario y método (1943), La

agonía de Europa (1945), España, sueño y verdad (1965), El

sueño creador (1965), El nacimiento. Dos escritos

autobiográficos (1981), e Los sueños y el tiempo (1992).

Page 50: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

0

Miguel Reale (São Bento de Sapucaí, 1910 – São Paulo, 2006).

Jurista e filósofo brasileiro, autor da chamada teoria

tridimensional do direito ligando fato, valor e norma em torno do

conceito de Direito. Cofundador do Instituto de Filosofia

brasileira de Lisboa e do Instituto brasileiro de filosofia. Autor de

vasta obra filosófica, especialmente na área do Direito e a teoria

dos valores; entre as principais: Teoria Tridimensional do

Direito (1968), O Direito como experiência (1968), Lições

preliminares de Direito (1973), Experiência e Cultura (1977),

Estudos de Filosofia e Ciência do Direito (1978), A Filosofia na

Obra de Machado de Assis (1982), Verdade e Conjetura (1983),

Introdução à Filosofia (1988), Estudos de Filosofia

Brasileira (1994), Face Oculta de Euclides da Cunha (1993), Das

Letras à Filosofia (1998).

Leopoldo Zea (Cidade de México, 1912 - 2004). Um dos

mais importantes filósofos ibero-americanos, pensador da

circunstância americana. Fundador do grupo Hiperión, junto com

Luis Villoro e outros, grupo cuja preocupação central era a

indagação sobre a o ser do mexicano. Também investiga acerca

da integração americana e da significação de 1492 como um

“encobrimento” de América; mais tarde liga-se com a filosofia da

libertação sobre a qual tem influência. Algumas obras: En torno a

una filosofía americana, Esquema para una historia del

pensamiento en México, Conciencia y posibilidad del mexicano,

América como conciencia, América en la historia, La filosofía

americana como filosofía sin más, Colonización y

descolonización de la cultura latinoamericana, Latinoamérica:

Emancipación y neocolonialismo, Simón Bolívar: Integración en

libertad, e América como autodescubrimiento.

Page 51: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

1

Mário Vieira de Mello (Inglaterra, 1912 - 2006). Nascido na

Inglaterra, onde se encontrava seu pai diplomata, carreira que ele

mesmo depois seguiria, foi educado no Brasil, onde concluiu a

Faculdade de Direito. Como diplomata, serviu em vários postos

em países europeus, encerrando a sua carreira como embaixador

em Gana (África), Guatemala e Hungria. No Brasil exerceu

grande presença na discussão de temas de maior relevância da

cultura brasileira, especialmente na temática do desenvolvimento

econômico e a moralidade social. Principais obras:

Desenvolvimento e cultura: o problema do estetismo no Brasil

(1963), O conceito de uma educação da cultura (1986),

Nietzsche, o Sócrates de nossos tempos (1993), O humanista: a

ordem na alma do indivíduo (1996), e O homem curioso (2001).

Octavio Paz (Cidade de México, 1914 - 1998). Escritor premio

Nobel de Literatura 1990, considerado um dos grandes poetas

hispânicos de todos os tempos, embora difícil de classificar.

Combateu no bando republicano na guerra civil. Em 1941, com

27 anos, começa a escrever “Entre la piedra y la flor”, um poema

sobre a exploração dos campesinos de Yucatán. Na década de 40

escreve seu livro mais famoso, O labirinto da solidão, publicado

em 1950, sobre a situação da cultura e da questão da identidade

dos mexicanos. Sempre participou em atividades antifascistas,

mas quando foi preciso também denunciou os campos de

concentração soviéticos, o que lhe valeu a animosidade das

esquerdas latino-americanas. Também lhe interessaram as

questões existenciais, como a solidão, a temporalidade e a

incomunicação. Algumas obras: Libertad bajo palabra, (1949),

Pasado en claro (1975),El arco y la lira (1956),Posdata,

continuación de El laberinto de la soledad. (1969),Sor Juana Inés

de la Cruz o las trampas de la fe (1982).

Page 52: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

2

Francisco Miró Quesada (Lima, Perú). Ocupado com filosofia

analítica, lógica e pensamento ibero-americano, participa da

declaração de Morelia, junto com Dussel, Zea, Roig e outros.

Estuda filosofia e direito e desempenha atividades jornalísticas.

Participa durante muito tempo da Ação Popular peruana, um

partido que formulou sua doutrina em conexão com a tradição

indígena incaica. Se destacou por introduzir os estudos de lógica e

epistemologia no Perú. Miró se interessou pela elaboração de um

novo conceito de razão, em relação com seus estudos lógicos,

especialmente em suas obras Uma teoria de la razón (1963) e

Sobre el concepto de razón (1975); posteriormente diferencia

formas de racionalidade, uma mecânica, outra poética. Autor de:

Curso de lógica matemática (1946), Lógica jurídica (1956),

Despertar e projeto do filosofar latino-americano (1974) e

Projeto e realização do filosofar latino-americano (1981).

Vilém Flusser (Praga, 1920 – 1991). Ensaísta estudioso dos

novos meios de comunicação e de filosofia da cultura e da

linguagem. Nascido numa família judia numa Tchecoslováquia

recentemente independente, no decorrer da Segunda Guerra Mundial,

fugindo do nazismo, muda-se para Londres e depois para o Brasil, onde

posteriormente se naturaliza. Seus pais e irmãos são exterminados. No

Brasil, aprofunda seus estudos filosóficos, enquanto trabalha como

jornalista. Torna-se mem bro do Instituto Brasileiro de Filosofia e

leciona na Escola Politécnica da USP. Em 1970, quando todos os

professores de filosofia são agregados ao departamento de Filosofia,

Flusser não é contratado, talvez por ser visto como um conservador

político pelos seus pares e por falta de títulos acadêmicos. Obras:

Língua e realidade (1963), A História do Diabo (1965), Da

religiosidade: a literatura e o senso de realidade (1967),

Natural:mente (1979), Pós-história (São Paulo, 1982), Filosofia da

caixa preta(1983) Fenomenologia do brasileiro(1994), e Bodenlos.

Uma autobiografia filosófica (2007, póstuma).

Page 53: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

3

Paulo Freire (Brasil, 1921 - 1997). Pedagogo e pensador social,

possivelmente o pensador brasileiro com maior projeção

internacional da atualidade. Formado em Direito pela

Universidade de Recife, suas reflexões se centraram na educação,

propondo uma pedagogia libertadora voltada para a

conscientização da opressão e desenvolvendo um pensamento

pedagógico assumidamente político, contra a educação

“bancária”, burocrática, rotineira e sem compromisso. Dentre suas

principais obras estão: Educação como práxis da liberdade

(1967), Pedagogia do oprimido (1970), obra de enorme influência

mundial, Pedagogia da esperança (1992), Pedagogia da

autonomia (1996) e Pedagogia da indignação (2000, póstumo).

Arturo Andrés Roig (Mendoza, Argentina, 1922 - 2012). Um

dos mais importantes pensadores americanos. Se aproxima da

filosofia da libertação, participa da declaração de Morelia junto

com Zea, Villegas, Dussel e Miró Quesada. Obrigado a exilar-se

em 1975, residiu por muitos anos no Equador, onde funda o

Instituto de Estudos Latino-americanos e escreve Esquema para

una história de la Filosofía Ecuatoriana. Defendeu a tese de que

enquanto no século XIX o tema central do pensamento era a

“liberdade”, nos dias atuais a questão principal é a “libertação”.

Crítico do eurocentrismo, insistiu em que os latino-americanos

deveriam pensar “desde lo nuestro”, adequando as ferramentas da

filosofia europeia à realidade latino-americana. Sua obra mais

famosa é Teoría y Crítica del Pensamiento Latinoamericano.

Também autor de: Filosofia, Universidade e filósofos em América

Latina (1981) e O pensamento latino-americano e sua aventura

(1994), entre outros.

Page 54: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

4

Ernesto Mayz Vallenilla (Maracaibo, Zulia -Venezuela). Foi

fundador e reitor da Universidade Simón Bolivar, Caracas. Aluno

de Heidegger em Freiburg. Entre as suas obras, destacam-se:

Fenomenología del conocimiento (1956), Ontología del

Conocimiento (1960), El problema de la nada em Kant (1965),

Del hombre y su alienación (1966), Hacia um nuevo humanismo

(1970), Esbozo de una Crítica de la Razón Técnica (1974), El

Domínio del Poder (1982), e muitas outras sobre educação. Maiz

Vallenilla, na sua grande obra El problema de América (1959),

propõe a possibilidade de um pensamento filosófico original na

América Latina.

Luis Villoro (Barcelona - México). Nascido na Espanha e

instalado no México, foi fundador do importante grupo Hiperión.

Investigador do Instituto de Investigações Filosóficas da Unam.

Também desempenhou atividades como embaixador de México

na Unesco. Seu pensamento se ocupa com a questão da

racionalidade e da alteridade, a injustiça e a questão do poder, em

suas relações com o conhecimento. Escreveu: Los grandes

momentos del indigenismo en México (1950), El proceso

ideológico de la revolución de independencia (1953), Páginas

filosóficas (1962), Signos políticos (1974), Creer, saber, conocer

(1982), En México, entre libros. Pensadores del siglo XX (1995),

El poder y el valor. Fundamentos de una ética política (1997),

Estado plural, pluralidad de culturas (1998) e Los retos de la

sociedad por venir (2007).

Page 55: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

5

Augusto Salazar Bondy (Lima (Perú), 1925-1974). Filósofo,

político e reformador educativo. Esteve em vários países como

México, França e Alemanha, tendo no México travado contato

com José Gaos e Leopoldo Zea. Envolveu-se ativamente com a

política do Peru, ocupando diversos cargos em instituições de

ensino. Teve livros premiados em concursos e considerado um

dos mais importantes precursores da filosofia da libertação. Foi

influenciado pelo pensamento marxista, pelo existencialismo e

pela análise da situação peruana de Mariátegui. Iniciou em 1968

uma importante polêmica com Leopoldo Zea entorno da

existência de uma filosofia latino-americana com seu livro

¿Existe una filosofía de nuestra América?. Outras obras: Valor y

Estética, Bases para un socialismo humanista peruano, Historia

de las ideas en el Perú contemporáneo, La cultura de la

dominación, Filosofía de la dominación y filosofía de la

liberación, Bartolomé o de la dominación (póstuma).

Maria do Carmo Tavares de Miranda (Pernambuco, 1926 –

2012) foi filósofa, pedagoga e teóloga brasileira, de notável

erudição clássica e bíblica. Foi assistente de Heidegger em

Freiburg em 1955, e obteve seu doutorado na Sorbonne em 1957,

com o trabalho Théorie de la Verité chez Edouard Le Roy. Fez

parte de instituições como a Academia Pernambucana de Letras, a

Academia Internacional de Filosofia da Arte e o Instituto

Brasileiro de Filosofia. Escreveu obras como Educação no Brasil,

Os Franciscanos e a Formação do Brasil, Pedagogia do Tempo e

da História, O Ser da Matéria, Caminhos do Filosofar e Aventura

Humana.

Page 56: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

6

Newton Da Costa (Brasil) lógico de projeção internacional, com

publicações no Journal of symbolic logic e outras revistas de

primeira linha. Com formação em matemática e engenharia civil

pela Universidade Federal do Paraná, é criador das Lógicas

Paraconsistentes, sistemas que consegue trabalhar com

contradições sem trivializar o sistema, lógica empregada em

vários sistemas de computador. Escreveu Introdução aos

Fundamentos da Matemática, Ensaio sobre os Fundamentos da

Lógica e Lógica Indutiva e Probabilidade.

Ignácio Ellacuría (Espanha, 1930 – 1989). Pensador político,

integrou a Companhia de Jesus e atuou em El Salvador por volta

de quatro décadas, período em que fez parte da Universidade

Centro Americana (UCA) "José Simeón Cañas"; fundou o Centro

de Reflexión Teológica e assumiu a revista Estudios Centro

Americanos (ECA). Teve relevante contribuição para filosofia e

teologia da libertação latino-americana, sendo tema primordial de

seu pensamento suas constatações acerca das injustiças na

América Latina o que o levou a se dedicar a filosofia centrada na

realidade histórica e na prática da política. Algumas obras:

Filosofía y Política (1972), Universidad y Política (1980), El

objeto de la Filosofía (1981), Función Liberadora de la Filosofía

(1985) e Centroamérica como problema (1986). Foi assassinado

pelo exército de El Salvador junto com outros colegas jesuítas.

Page 57: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

7

Carlos Cirne-Lima (Porto Alegre, Brasil). Filósofo gaúcho; fez

seu doutorado na Universidade de Innsbruck na Áustria,

lecionando em Viena e Porto Alegre, e na Unisinos. É autor de

uma teoria dialético - neoplatônica a partir de uma crítica interna

à Hegel, na forma de um sistema que evita a anulação do

indivíduo pelo necessitarismo. Autor de Acerca da contradição

(1993), Dialética para principiantes (1996), e Depois de Hegel.

Uma reconstrução crítica do sistema neoplatônico (2006).

Luiz Sérgio Coelho de Sampaio (Rio de janeiro, 1933 – 2003).

Engenheiro e economista por formação, mas com extensa obra

filosófica na área da lógica. Criador do sistema lógico

hiperdialético, dedicou-se a fixar uma noção historicamente justa,

equilibrada e precisa do que seja a lógica, abrangendo diferentes

modos de pensá-la. Em sua obra filosófica, sustentou que a cada

lógica (seriam, ao todo, cinco) corresponde um modo específico

de ser e, portanto, toda verdade é verdade de um modo de pensar

e, por conseguinte, correlata a um modo de ser. Defendeu que o

dualismo brasileiro não é representado pelo par modernidade e

atraso, mas sim pela recusa de ingressar nessa modernidade. Seu

pensamento abriu caminho para o surgimento da antropologia

hiperdialética de Mércio Gomes, estudioso dos povos indígenas

brasileiros. Autor de: Lógica ressuscitada (2000), e A lógica da

diferença (2001).

Page 58: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

8

Juan Carlos Scannone (Argentina). Sacerdote jesuíta, um dos

pensadores ligado com a fundação da filosofia da libertação,

quando organiza com Enrique Dussel as Jornadas Filosóficas na

Universidade do Salvador (Argentina) em 1970, acontecimento

que dará origem a esse movimento. Professor da Universidad del

Salvador, Argentina, da Gregoriana de Roma, Frankfurt e

Salsburgo. Entre suas obras estão: Ser y encarnación (1968),

Teología de la liberación y praxis popular (1976), Teología de la

liberación y doctrina social de la Iglesia (1987), Evangelización,

cultura y teología (1990), Nuevo punto de partida en la filosofía

latinoamericana (1990), Sabiduría y liberación (1992) e mais de

duzentos artigos.

Enrique Dussel (Argentina). Fundador da filosofia da libertação,

radicado em México desde 1975. Influenciado por Lévinas e

Heidegger, apropria-se destes e outros filósofos para pensar a

questão crucial da emancipação dos povos a través de uma

reflexão ao mesmo tempo ontológica e política. Trata-se

possivelmente do pensador ibero-americano de maior projeção

internacional no momento atual, com obras traduzidas a muitas

línguas. Na década de 90 iniciou polêmicas com o filósofo

alemão Karl-Otto Apel sobre ética do discurso e ética da

libertação. Algumas obras: Método para uma filosofia da

liberação (1974), Para uma ética da liberação latino americana

(1979-80, em 5 volumes), Para um Marx desconhecido (1988),

1492. O encobrimento do outro (1992), As metáforas teológicas

de Marx (1993), e Ética da libertação na época da globalização e

a exclusão (1998).

Page 59: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina5

9

Ernildo Stein. (Brasil) Filósofo gaúcho, vem do pensamento

heideggeriano e elabora uma filosofia hermenêutica. Graduado em

Direito e em Filosofia, fez doutorado em Filosofia pela Universidade

Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutorados pela Universidade de

Erlangen-Nürnberg, a Universidade de Freiburg e outras universidades

na Alemanha. Trabalha questões em torno de hermenêutica,

fenomenologia, antropologia filosófica, psicanálise e direito. Autor de

vasta obra filosófica, entre as quais: Melancolia, Mundo vivido,

Racionalidade e existência, Órfãos da utopia. A melancolia da

esquerda, Pensar é pensar a diferença, Inovação na filosofia, Nas

proximidades da antropologia. Autor de numerosos livros em torno de

diversos aspectos do pensamento de Heidegger num viés apropriativo.

Zeljko Loparić (Croácia - Brasil) Filósofo croata instalado no

Brasil desde a década de 60. Desenvolve pesquisas em torno da

lógica, ética, psicanálise, dialogando com autores tais como Kant,

Heidegger e Winnicott. Fez sua tese de doutorado sobre

"Scientific Problem-Solving in Kant and Mach" defendida em

Louvain. Tentou interpretar a analítica transcendental em termos

semânticos, na sua "A Semântica Transcendental de Kant"

(2000), onde afirma que a sua atitude diante da obra de Kant

nunca foi de comentador, mas de aprender formas de abordar a

ciência como atividade de solução de problemas. Desenvolveu

uma apropriação original da psicanálise e uma interpretação do

pensamento de Heidegger – de quem foi aluno presencial - como

uma ética existencial do deixar-ser e do cuidado, em obras como

Sobre a responsabilidade (2003) e Ética e Finitude (2004).

Também escreveu Heidegger réu (1990), uma defesa de

Heidegger diante das acusações de Victor Farias sobre o nazismo

do filósofo alemão.

Page 60: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina6

0

Walter Mignolo (Argentina- EEUU) Pensador político e

semiótico, professor na Duke University, publica sobre

pensamento pós-colonial, interculturalidade, semiótica e teoria

literária, refletindo sobre os diferentes aspectos do mundo

moderno e colonial, trabalhando conceitos como a colonialidade

global, as geopolíticas do conhecimento, transmodernidade,

pensamentos de fronteira e pluriversalidade. Dentre suas

principais obras estão: The Darker Side of Western Modernity:

global futures, decolonial options, La Idea de America Latina,

Histórias Locais/ Projetos Globais.

Carlos Cullen (Argentina). Professor titular das cátedras de

Filosofia da Educação e de Problemas Filosóficos em Psicologia

na Universidade de Buenos Aires, Carlos Cullen licenciou-se em

filosofia pela Universidad del Salvador em Buenos Aires e

doutorou-se na Universidade de Freiburg - Alemanha. Um dos

fundadores da filosofia da libertação, Cullen ocupa-se com

reflexões nos campos da ética e da educação e promove

numerosas atividades de capacitação docente. Preocupa-se,

notavelmente, com as mutações no sentido ético-político da

educação no contexto atual de crise da modernidade. Publicou,

entre outros títulos: Fenomenología de la crisis moral,

Reflexiones desde América, Autonomía moral, participación

ciudadana y cuidado del otro, Crítica de las razones de educar e

Perfiles ético-políticos de la educación.

Page 61: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina6

1

Raúl Fornet-Betancourt (Cuba). Filósofo cubano residente na

Alemanha, professor em Aachen, é diretor do departamento de

América Latina do Instituto de Missiologia, onde desenvolve uma

linha de investigações interculturais, numa tentativa de

descentralização do logos filosófico. A tese central de seu

pensamento é a superação do eurocentrismo em sua dimensão

epistêmica, defendendo que a filosofia deixe de ser puramente

uma atividade intelectual, para ser um conjunto de manifestações

simbólicas dos vários tipos de razão. Suas reflexões seguem

algumas linhas como: epistemologia pós-eurocentrica,

hermenêutica pluritópica, ética da libertação e antropologia

dialógica. Na década de 90, promoveu o diálogo Norte-Sul entre

Enrique Dussel e Karl-Otto Apel. Autor de Estudos de filosofia

latino americana (1992), Para uma filosofia intercultural latino

americana (1994), Filosofía Intercultural (1994),

Aproximaciones a José Martí (1998), Crítica intercultural de la

filosofía latinoamericana actual (2004).

Ofélia Schutte (Cuba – EEUU). Nascida em Cuba, mora nos

EEUU, professora nas Universidades da Florida e de Yale. Suas

pesquisas incluem feminismo, Niezsche, niilismo, filosofia latino-

americana e filosofia pós-colonial, Também estuda literatura

feminina cubana e o pensamento político do cubano José Marti.

Obras: Beyond Nihilism: Nietzsche without Masks (1984),

Cultural Identity and Social Liberation in Latin American

Thought (1993), “Cultural Alterity: Cross-Cultural

Communication and Feminist Thought in North-South Dialogue”

(1998), “Negotiating Latina Identities (2000), “Dependency

Work, Women, and the Global Economy,“Postcolonial

Feminisms: Genealogies and Recent Directions“ (2007). È

membro do corpo editorial das revistas feministas Hypatia (U.S.)

e Mora (Argentina).

Page 62: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina6

2

Horácio Cerutti Gulberg (Mendoza, Argentina). Radicado em

México e naturalizado mexicano. Estuda a filosofia da libertação

latino-americana numa visão crítica e avaliativa do movimento, e

inclusive a sua superação. Em suas críticas acentua o papel da

linguagem e os novos meios de comunicação. Investigador no

Centro de Investigações sobre América Latina e o Caribe. Autor

de Para uma metodologia da história das ideias filosóficas em

América Latina (1986). Filosofar desde nossa América. Ensaio

problematizador de seu modus operandi (2000), La utopía de

Nuestra América (2007), Filosofar desde Nuestra América.

Ensayo problematizador de su modus operandi (2000),

Configuraciones de un filosofar sureador. (2006), Democracia e

integración en Nuestra América (2008), Filosofías para la

liberación ¿liberación del filosofar? (2008), Doscientos años de

pensamiento filosófico Nuestroamericano (2011).

Page 63: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina6

3

REFERÊNCIAS

BEORLEGUI Carlos. Historia del pensamiento filosófico latinoamericano.

Universidad de Deusto, Bilbao, 2006 (2ª edição).

BUARQUE DE HOLANDA Sérgio. Visão do paraíso. Companhia das Letras,

São Paulo, 2010.

CASTRO Augusto. La filosofia entre nosotros. Cinco siglos de filosofia em el

Perú. Fondo editorial, Universidad Católica del Perú, Lima, 2009.

CURRUHUINCA – ROUX. Las matanzas de Neuquén – Crónicas mapuches.

Editorial Plus Ultra, Buenos Aires, 1993.

DEVES VALDEZ Eduardo, BOSIO Beatriz (Org). Pensamiento paraguayo del

siglo XX. Editora Intercontinental, Asunción, 2006.

FARRÉ Luis, LÉRTORA MENDOZA Celina. La filosofia em la Argentina.

Editorial Docencia, Buenos Aires, 1981.

GUY Alain. La filosofia em América Latina. Acento editorial, Madrid, 1998.

IBARGUENGOITIA CHICO Antonio. Suma filosófica mexicana. (Resumen de

historia de la filosofía en México). Editorial Porrúa, México, 1989 (2ª edição).

JAIME Jorge. História da filosofia no Brasil. Editora Vozes, Petrópolis, 2001 (4

volumes).

LEON PORTILLA. La filosofia Nahuatl estudiada en sus fuentes. Unam,

México, 2006 (10 a edição).

MIGNOLO Walter. La Idea de América Latina. La herida colonial y la opción

decolonial. Gedisa, Barcelona, 2007.

PAIM Antonio. História das ideias filosóficas no Brasil. Editorial Grijalbo, São

Paulo, 1967.

POPOL VUH . Iluminuras, São Paulo, 2011.

RABOSSI Eduardo e outros. La enseñanza, la reflexión y la investigación

filosóficas en América Latina y el Caribe. Técnos, Madrid, Unesco, 1990.

ROIG Arturo Andrés. Esquemas para una historia de la filosofía ecuatoriana.

Ediciones de la Universidad Católica de Quito, 1982.

Page 64: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,

Pág

ina6

4

INFORMAÇÕES SOBRE OS ORGANIZADORES

Julio Cabrera (Argentina-Brasil). Nascido em Córdoba,

Argentina, radicado no Brasil desde 1979. Em seu período

argentino se dedica especialmente a filosofia da linguagem e

filosofia da lógica num viés crítico, tentando emancipar a

filosofia da linguagem do referencial exclusivamente

analítico, e endereçando críticas filosóficas à lógica formal,

em obras como A Lógica condenada (1987), e Inferências

lexicais e interpretação de redes de predicados (2007, escrita

em colaboração com o físico Olavo Da Silva filho). No

Brasil, desenvolve a sua teoria ética, a ética negativa, exposta

em livros como Projeto de Ética negativa (1989), Crítica de

la moral afirmativa (1996) e numerosos artigos. Seus estudos

de filosofia da linguagem se continuam numa filosofia da

linguagem do cinema, especialmente em sua obra Cine: 100

años de Filosofía (1999; tradução brasileira: O cinema

pensa). Mais recentemente, começa a interessar-se pela

situação da filosofia na América Latina, escrevendo o Diário

de um filósofo no Brasil (2010).

Rafael Alves Reis (Brasil). Formado em Filosofia pelo

Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília. Se

interessa por filosofia ibero-americana e outros assuntos que

são excluídos das universidades. A presente cartilha tem

como base seu trabalho de Iniciação Científica (Pibic),

intitulado: A filosofia da América Latina. Nesse trabalho ele

faz um breve resumo da historia da filosofia da América

latina e reflete sobre a polemica entre a qualidade e a

autenticidade dos escritos filosóficos.

Agradecimentos especiais para: Aline Matos, Aristinete Bernardes, David

Wilkerson Silva, Éder Wen, Erivaldo Fernandes Neto, Gabriel Silveira, Léo

Pimentel, Rodrigo Costa e Tiago Barros.

Page 65: Capa e editoração virtual: Léo Pimentel · Zea, do México, Augusto Salazar Bondy, do Perú) e posteriormente na filosofia da libertação (Enrique Dussel, Juan Carlos Scannonne,