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Secretaria de Estado de Recursos Minerais, Hídricos e EnergéticosCompanhia Mineradora de Minas Gerais - COMIG
PROJETO ESPINHAÇO EM CD-ROM
CAPÍTULO 4
GEOLOGIA DA FOLHA PADRE CARVALHO,
MINAS GERAIS
por
Maria Antonieta Alcântara Mourão & João Henrique Grossi Sad
Universidade Federal de Minas Gerais - Instituto de GeociênciasDepartamento de Geologia
Projeto Espinhaço em CD-ROM
Publicação da
COMPANHIA MINERADORA DE MINAS GERAIS - COMIG
Rua dos Aimorés, 1697 - Belo Horizonte, 30.140-070, MG.
Copyright 1997 - COMIG
Reservados todos os Direitos.Permitida a reprodução,
desde que seja mencionada a fonte.
MOURÃO, M. A. A. & GROSSI-SAD, J. H. 1997. Geologia da Folha Padre Carvalho . In: GROSSI-SAD, J. H.; LOBATO, L. M.; PEDROSA-SOARES, A. C. & SOARES-FILHO, B. S. (coordenadores e editores). PROJETO ESPINHAÇO EM CD-ROM (textos, mapas e anexos). Belo Horizonte, COMIG - Companhia Mineradora de Minas Gerais. p.315-418.
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Geologia da Folha Padre Carvalho
PROJETO ESPINHAÇO - ÓRGÃOS E EQUIPES
Credita-se os órgãos e equipes que atuaram na realização do Projeto Espinhaço e publicação de seus produtos:
EQUIPE EXECUTORA
O Projeto Espinhaço foi realizado pelo Departamento de Geologia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, que cedeu professores, estagiários e secretária, em convênio com a Companhia
Mineradora de Minas Gerais vinculada à Secretaria de Estado de Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos. Os membros da equipe executora e suas principais atividades no projeto estão listados a seguir:
Coordenação
Prof. João Henrique Grossi Sad (coordenação geral; elaboração de relatórios)
Profa. Lydia Maria Lobato (vice-coordenação geral de 7/92 a 12/93; petrografia microscópica; tradução de resumos)
Prof. Carlos Maurício Noce (coordenação de campo de 7/92 a 12/93; mapeamento; elaboração de relatórios)
Prof. Luiz Guilherme Knauer (vice-coordenação geral de 10/94 a 5/95; mapeamento; elaboração de relatórios)
Demais Executores
Prof. Alexandre Uhlein (mapeamento)
Prof. Antônio Carlos Pedrosa Soares (mapeamento; elaboração de relatórios)
Prof. Antônio Celso Campolim Fogaça (mapeamento; elaboração de relatórios)
Prof. Antônio Claúdio Foscolo Nery (compilação e interpretação de dados geofísicos)
Prof. Antônio Wilson Romano (petrografia microscópica)
Geól. Elisabeth da Fonseca (petrografia microscópica)
Prof. Friedrich Ewald Renger (revisão de mapas e relatórios)
Geól. Franciscus Jacobus Baars (mapeamento; elaboração de relatórios; tradução de resumos)
Prof. Geraldo Norberto Chaves Sgarbi (compilação de dados geográficos)
Geól. Juliana Maria Mota Magalhães (organização e montagem de relatórios; revisão de mapas)Geól. Marcelo Lopes Vidigal Guimarães (mapeamento; elaboração de relatórios)
Geól. Maria Antonieta Alcântara Mourão (mapeamento; elaboração de relatórios)
Géol. Maria José Resende Oliveira (mapeamento; elaboração de relatórios)
Prof. Miguel Antônio Tupinambá Araújo Souza (UERJ; mapeamento; elaboração de relatórios)
Geól. Natanael Costa Roque (mapeamento; elaboração de relatórios)
Prof. Ricardo Diniz da Costa (organização do banco de dados; assessoria em informática)
Secretaria
Rosália Aparecida Santos Martins (secretaria geral; digitação e editoração dos relatórios)
Estagiários
Berenice Bitencourt Rodrigues; Danilo Carvalho de Almeida; Edson Bortolini; Flávio Scalabrini Sena; Leandro Barros Reis; Leonardo Antônio Custódio Souza; Leonardo Figueiredo de Faria; Mara Regina de Oliveira; Marcus Vinícius Diláscio; Maria Cristina Vaz Magni; Nathan da Silva Bastos; Paulo Henrique
Matias; Pedro Paulo de Lima Filho
Colaboradores
Desenhista Antônio Rodrigues de Faria; Prof. Carlos Alberto Rosière; Sra. Elisabeth Christina Renger; Prof. Joachim Karfunkel; Prof. Joel Jean Gabriel Quéméneur; Desenhista Vinícios José Mota Couto.
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Projeto Espinhaço em CD-ROM
EQUIPE EXECUTORA DA CARTOGRAFIA DIGITAL
Os mapas geológicos produzidos pelo Projeto Espinhaço foram editados, por técnicas de cartografia digital, no Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais. Estas cartas encontram-se publicadas, em papel a cores, em conjuntos de vinte e três folhas que acompanham este livro, além de sua disponibilidade em multimídia neste CD-ROM. A equipe executora dos trabalhos de cartografia digital foi a seguinte:
Coordenação Geral e Execução
Prof. Britaldo Silveira Soares FilhoProf. Philippe Maillard
Equipe Técnica
Eliane VollLeandro Barros ReisFabiana Silva Ribeiro
Fernando Rosa Guimarães
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EDIÇÃO DO CD-ROM PROJETO ESPINHAÇO
A edição deste livro em CD-ROM foi realizada no Centro de Sensoriamento Remoto do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, em convênio com a Companhia Mineradora de Minas Gerais, pela seguinte equipe:
Coordenação Geral e Execução
Prof. Britaldo Silveira Soares FilhoProf. Antônio Carlos Pedrosa Soares
Equipe Técnica
Profa. Silvania de Avelar Pinto (apoio técnico)
Ricardo Avelar Drummond (programação multimídia)
Rosália Aparecida Santos Martins (edição dos capítulos)
Eliane Voll (edição cartográfica e programação visual dos mapas geológicos)
Andréa Vaz de Melo França (conversão digital das ilustrações)
Revisão dos Textos dos Capítulos
Prof. Carlos Maurício NoceProfa. Lydia Maria Lobato
Secretaria
Simone Justino de Moraes
Vinheta de Abertura
“As Minas”, por Juarez Moreira
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Geologia da Folha Padre Carvalho
AGRADECIMENTOS
O Departamento de Geologia do IGC-UFMG e a Companhia Mineradora de Minas Gerais (COMIG-SEME) agradecem a todos os orgãos públicos, empresas e pessoas que contribuiram, de formas diversas, para que o
Projeto Espinhaço e a publicação de seus produtos se tornasse realidade, em particular a:
Aços Especiais Itabira (ACESITA)Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN-CNEN)
Centro de Geologia Eschwege (CGE-IGC-UFMG)Centro de Pesquisa Prof. Manoel Teixeira da Costa (CPMTC-IGC-UFMG)
Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM)Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA)
Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)Departamento de Geologia e Geofísica da UERJ
Escola de Biblioteconomia da UFMGFundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM)
Geologia e Sondagens Ltda (GEOSOL)Rio Doce Geologia e Mineração (DOCEGEO)
Geól. Adriana ZapparoliGeól. Armando Álvares Campos Cordeiro
Geól. Breno Augusto dos SantosEng. Célio Augusto BandeiraGeól. Fábio Sampaio MasottiDr. Fernando Soares Lameiras
Geól. João Carlos Christophe da SilvaDr. Kazuo Fuzikawa
Eng. Leonardo de AndradeGeól. Osvaldo Fritzsons Jr.
Geól. Otoniel VilelaGeól. Saulo Augusto de Oliveira
Geól. Sebastião FiumariDr. Osvaldo Castanheira
Prof. Pedro Ângelo Almeida AbreuProf. Roberto Nogueira Cardoso
Dr. Ronald FleischerProf. Rui Luiz Baptista Pereira Monteiro
Geól. Tágides FerreiraGeól. Ulisses Cyrino Penha
Prof. Walter Schöll
A direção do Instituto de Geociências da UFMG é particularmente grata:· Ao Prof. João Henrique Grossi Sad, idealizador e coordenador do Projeto Espinhaço;
· Ao Dr. Carlos Alberto Cotta, Presidente da COMIG, pela viabilização financeira do projeto;· Ao Geólogo Marcelo Arruda Nassif, Coordenador de Apoio Técnico da COMIG, por seu permanente
empenho.
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Projeto Espinhaço em CD-ROM
CRITÉRIOS GERAIS ADOTADOS PARA PUBLICAÇÃO DESTE LIVRO EM CD-ROM
Nos capítulos deste livro em CD-ROM publicam-se os relatórios referentes a cada uma das cartas geológicas em escala 1:100.000, que são produtos do Projeto Espinhaço. Entretanto, o convênio para esta publicação foi firmado cerca de dois anos e meio após a desmobilização da equipe executora do Projeto Espinhaço, impossibilitando que revisões mais profundas, envolvendo todos os autores de relatórios, fossem realizadas no período do contrato (maio a agosto de 1997) de produção do CD. Por este motivo e tendo em vista as particularidades dos produtos gráficos a serem publicados, a coordenação da equipe produtora deste CD-ROM adotou os seguintes critérios:
a) Editar os textos dos relatórios contidos nos disquetes fornecidos pela COMIG em maio de 1997.
b) Efetuar a revisão de todos os relatórios, visando apenas dirimir erros de digitação e eventuais equívocos na aplicação de conceitos geológicos, evitar repetição excessiva de termos, reformatar frases dúbias ou de difícil compreensão e atenuar usos de expressão visando manter os limites da linguagem técnico-científica.
c) Arquivar as figuras dos relatórios por captura em scanner de mesa, sempre que possível a partir dos originais, e organizá-las, sem mudança de sua ordem original, ao longo dos capítulos.
d) Arquivar as pranchas (contendo seções geológicas, mapas de detalhe e cartas temáticas), anexas aos relatórios, através de captura em scanner contínuo, a partir dos originais, disponibilizando-as para impressão preferencialmente em impressoras de grande porte.
e) Uniformizar a grafia das unidades de medida.
f) Manter as listagens de referências bibliográficas conforme seus originais.
g) Adequar os resumos ao programa de multimídia. Os textos originais dos mesmos são mantidos apenas na forma de abstracts.
Desta forma, o conteúdo técnico dos capítulos e suas referências bibliográficas são de exclusiva responsabilidade dos respectivos autores.
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320
C O N T E Ú D O
RESUMO 324
ABSTRACT 327
INTRODUÇÃO 330
A Serra do Espinhaço Mineira 331
Folha Padre Carvalho 333
Localização e Aspectos Gerais 333
Rede Fluvial e Aspectos Topográficos 334
Aspectos Geológicos 335
Investigações Geológicas Anteriores 335
Projeto Atual de Investigação 337
Agradecimentos 338
SÍNTESE GEOLÓGICA REGIONAL 339
AMBIÊNCIA GEOLÓGICA 348
Complexo Córrego do Cedro 348
Generalidades 348
Litologia e Estrutura Interna dos Gnaisses 348
Anfibolitos 350
Rochas Metaultramáficas 351
Distribuição e Relações de Contato 351
Idade 352
Rochas Intrusivas 352
Suíte Rio Itacambiruçu 352
Corpo Central 353
Corpo Centro Norte 355
Corpo Norte 356
Metadiabásios 357
Supergrupo Espinhaço 357
Generalidades 357
Relações de Contato 359
Unidade Inferior 359
Unidade Superior 361
Projeto Espinhaço em CD-ROM
Ambiente de Deposição 361
Grupo Macaúbas 364
Generalidades 364
Formação Rio Peixe Bravo 365
Litologia e Distribuição 365
Relações de Contato 366
Ambiente de Deposição 366
Formação Nova Aurora 368
Litologia e Distribuição 368
Relações de Contato 369
Membro Riacho Poções 369
Ambiente de Deposição 372
Formação Chapada Acauã 373
Litologia e Distribuição 373
Membro Filítico 374
Membro Metadiamictítico-Quartzítico 374
Membro Xistoso-Quartzítico 376
Ambiente de Sedimentação 377
Ambiente Glaciomarinho Proximal 378
Ambiente Glaciomarinho Distal 381
Formação São Domingos 384
GEOLOGIA ESTRUTURAL 385
Descrição das Estruturas 385
Interpretação das Estruturas 395
As Deformações Meso- e Neo-proterozóica 398
A Tectônica Cenozóica 399
METAMORFISMO 401
GEOLOGIA ECONÔMICA 403
Minério de Ferro 403
Canga 408
Veios de Quartzo e Cascalheiras 409
Filitos Carbonosos 409
Material de Construção 409
Zonas de Cisalhamento Sulfetadas 410
Água Subterrânea 410
BIBLIOGRAFIA 412
322
FIGURAS
1. Mapa de situação e localização 332
2. Modelo esquemático das relações entre unidades do Grupo Macaúbas 343
3. Corpo Granítico Central 354
4. Contato de granito com gnaisse bandado do Complexo Córrego do Cedro 354
5. Quartzito com estratificação marcada por alternâncias ferruginosas e não ferruginosas
360
6. Estratificação cruzada com foresets de forma côncava 363
7. Marcas onduladas simétricas, em quartzito fino laminado 363
8. Quartzito da Formação Rio Peixe Bravo 367
9. Representação esquemática da sedimentação glaciomarinho proximal 380
10. Modelo esquemático para ambiente glaciomarinho distal 383
11. O Craton do São Francisco 386
12. Diagramas de contorno de polos de acamamento. Grupo Macaúbas 38813. Diagrama de contorno de polos da foliação S1. Grupo Macaúbas 388
14. Diagrama de contorno de polos da lineação mineral e alongamento de seixos. Grupo
Macaúbas 389
15. Seções geológicas (Viveiros) 390
16. Diagrama de contorno de polos para o Grupo Macaúbas 391
17. Estrutura dobrada e falhada de Padre Carvalho 392/393/394
18. Plano de falha subvertical em quartzito do Supergrupo Espinhaço 397
19. Perfil esquemático da Serra Mineira 399
20. Seções geológica e de teor em jazida de minério de ferro 407
TABELA
1. Composição química de minérios de ferro 406
PRANCHAS
UM. Mapa Geológico
DOIS. Seções Geológicas
R E S U M O
A Folha Padre Carvalho (Folha SE-23-X-B-II, Carta do Brasil, escala 1:100.000),
posicionada entre as latitudes 16°00' e 16°30' S e longitudes 43°00' e 43°30' W, é parte
integrante do Projeto Espinhaço que resultou no mapeamento geológico de 68.000 km² da
região da Serra do Espinhaço em Minas Gerais, totalizando vinte e três folhas na escala
1:100.000.
O Complexo Córrego do Cedro compõe o embasamento policíclico, cuja evolução teve
início no Arqueano. Este complexo é constituído por gnaisses bandados nos quais se
intercalam anfibolitos e rochas metaultramáficas. O conjunto ocupa terreno de morfologia
suave, com cotas cimeiras variando de 850 a 950 m. Os gnaisses têm composição
granodiorítica a granítica, apresentando quartzo, albita-oligoclásio, microclina e biotita, com
granada ocasional. São cinzentos e de granulação fina a média. O bandamento é caracterizado
por alternâncias mais ou menos ricas em biotita, relativamente à soma de quartzo e feldspatos.
Migmatização limitada, com arranjo schlieren ou venular, é observada. A foliação gnáissica
orienta-se segundo direção ao redor de N-S com mergulho elevado, sendo paralela ao
bandamento (exceto em charneiras de dobras). A lineação mineral é paralela ao mergulho. Em
zonas de cisalhamento ocorrem milonito xistos. Os anfibolitos constituem corpos concordantes
ao bandamento gnáissico, têm espessura métrica, cor verde escuro, granulação fina a média e
são mal foliados. Contêm hornblenda verde, plagioclásio e algum quartzo. As rochas
metaultramáficas são pouco frequentes e ocorrem em corpos pequenos.
A Suíte Rio Itacambiruçu é representada por granitóides de cor cinza, granulação fina a
média, mal foliados ou não foliados e equigranulares, de idade pré-Espinhaço, que intrudem o
Complexo Córrego do Cedro. O Corpo Central (diâmetro de 6 km) desta suíte é constituído
por tonalito e granito a duas micas, ambos muito claros, com eventuais xenólitos de rochas
xistosas e anfibolíticas. O Corpo Centro-Norte tem cerca de 10 km de diâmetro. A granulação
de suas rochas, compostas de quartzo, plagioclásio (oligoclásio), microclina e biotita, é
grosseira e o corpo é heterogêneo. O Corpo Setentrional (Lagoa Nova) tem rocha mal foliada e
seu contato com o gnaisse encaixante é marcado por apófises discordantes, até métricas em
dimensão.
Metadiabásio de granulação média a grossa, não ou discretamente foliado, injeta
gnaisses e granitos. Observa-se textura ígnea original, mas a rocha encontra-se anfibolitizada.
O Supergrupo Espinhaço, do Proterozóico Médio, destaca-se por seus quartzitos que
ocupam uma faixa de 4 km de largura média. Na Unidade Inferior, predominantemente
constituída por quartzitos puros e/ou ferruginosos, localmente conglomeráticos, foram
discriminadas intercalações de quartzito micáceo e de quartzito puro recristalizado.
Escarpamentos notáveis marcam a morfologia da Unidade Inferior, com cotas de até 1344 m.
A Unidade Superior é composta de quartzitos finos, sericíticos, localmente ferruginosos ou
arcoseanos. O Supergrupo Espinhaço apresenta estrutura homoclinal mergulhante para leste. A
xistosidade é pouco pronunciada. O contato com os gnaisses do embasamento é dado por falha
de descolamento basal.
O Grupo Macaúbas, depositado no Proterozóico Superior, foi subdividido, da base para
o topo, nas formações Rio Peixe Bravo (metapelitos com intercalações de quartzito), Nova
Aurora (metadiamictitos contendo camadas ferruginosas) e Chapada Acauã (metapelitos,
quartzitos, metadiamictito e rara formação ferrífera). Os metadiamictitos da Formação Nova
Aurora apresentam partículas de quartzo, quartzito, rocha carbonática, rocha granitóide, filito e
filito carbonoso, com granulometria desde grânulos a matacões. A matriz é quartzo-xistosa e
contém feldspato, carbonato, biotita, moscovita, opacos ocasionais e granada. As litologias
ferruginosas da formação constituem o Membro Riacho Poções, composto por
metadiamictitos, filitos e quartzitos, hematíticos, além de formação ferrífera bandada
parcialmente coberta por canga.. Esse membro representa notável exemplo de ocorrência de
formação ferrífera do tipo Rapitan. Considera-se que as formações Nova Aurora e Chapada
Acauã representam sedimentação em ambiente glácio-marinho plataformal, proximal e distal
respectivamente. O arranjo estrutural interno do Grupo Macaúbas é definido por uma
xistosidade mergulhante para leste. Clivagem rochosa de crenulação, mergulhante para oeste, é
comum.
A Formação São Domingos, do Terciário Superior, ocorre em chapadas e é composta
de arenitos e argilitos. Nesta folha são muito extensas as coberturas detrito-coluvionares de
chapadas, sendo muito pouco significativos os aluviões.
A arquitetura tectônica é marcada por um cinturão de empurrões vergente para oeste,
que envolve o Supergrupo Espinhaço, o Grupo Macaúbas e parte do embasamento. O principal
horizonte de deslocamento é o contato entre a cobertura pré-cambriana e o embasamento. Nesta
cobertura manifestam-se rampas de mergulho elevado, preferencialmente posicionadas em
contatos litológicos. Dobras apertadas, com flanco invertido e com mais de uma dezena de
quilômetros de extensão, marcam o Membro Riacho Poções. Essas dobras afetam
especialmente a Formação Nova Aurora, mas são difíceis de caracterizar, por falta de
horizontes de referência. No bordo leste da folha ocorre notável estrutura sinclinal, falhada
longitudinalmente por empurrão, que afeta as formações Nova Aurora e Chapada Acauã.
Os gnaisses do embasamento foram gerados em ambiente correspondente à fácies
anfibolito alto (migmatização, recristalização de feldspato). Retrometamorfismo afeta a
paragênese original. As rochas do Supergrupo Espinhaço mostram preservação da forma
original dos grãos, relíquias do cimento primitivo e baixo grau de cristalização da mica,
Projeto Espinhaço em CD-ROM
evidenciando muito baixo grau metamórfico. Os metassedimentos do Grupo Macaúbas
mostram zoneamento metamórfico crescente, de oeste para leste, da fácies xisto verde à fácies
anfibolito, com isógradas da clorita, biotita e granada. No extremo leste da folha aparece
estaurolita na paragênese.
Na Folha Padre Carvalho destaca-se a presença de jazimentos de ferro de baixo teor
(35% Fe) que, juntamente com uma parcela posicionada na Folha Rio Pardo de Minas,
totalizam uma reserva de cerca de 3,5 bilhões de toneladas.
326
A B S T R A C T
The Padre Carvalho Sheet (SE-23-X-B-II, Carta do Brasil, 1:100 000 scale), situated
between the latitudes 16º00' and 16º30'S and longitudes 42º30' and 43º00'W, is part of the
Espinhaço Project, which effected the geological mapping of the region covered by the Serra
do Espinhaço in the State of Minas Gerais, involving an area of 68 000 km². The Project
comprises the geological cartography of 23 sheets at the scale of 1:100 000, with the
preparation of reports.
The Padre Carvalho Sheet is constituted by three major geological units, which are
distributed in NS-trending tracts. They consist of a gneissic basement, the Córrego do Cedro
Complex, of Archean age, injected by granites of the Rio Itacambiruçu Suite. These are
younger than the Espinhaço Supergroup. This assemblage is positioned at the western portion
of the mapped area. The quartzites of the Espinhaço Supergroup border the basement by thrust
fault contact. The central eastern portion has a wide belt of rocks of the Macaúbas Group, of
the Upper Proterozoic age, constituted of metadiamictites, quartzites, phyllites and schists.
Near the base, the metadiamictites contain ferruginous intercalations, partly comprising a
banded iron formation.
The Córrego do Cedro Complex consists of banded gneisses, with concordant
intercalations of amphibolites and ultramafic rocks of unknown form. The assemblage
occupies a terrain of gentle morphology with altitudes between 850 and 950 m, higher than
those of the Macaúbas Group and, in places, of the Espinhaço rocks.
The mineralogy of the gneisses corresponds to granodiorite and granite. They are grey
and fine- to medium-grained. The banding is characterized by leuco- and mesocratic
alternations. Limited displays of migmatization have schlieren or venular fabric arrays.
The granitic gneisses are composed of quartz, microcline of high triclinicity, albite-
oligoclase and biotite, locally with garnet, while the granodioritic gneisses contain quartz,
albite-oligoclase, microcline and biotite. The foliation at the gneisses approximately N-S
striking, and steeply dipping, parallel to the banding, except at fold hinges. Mineral stretching
lineation is dip-parallel. Shear zones give rise to mylonitic schists in the gneisses.
Amphibolites have thicknesses of a few meters, are dark green, fine- to medium-
grained and are weakly foliated. They contain green hornblende, plagioclase and some quartz.
Ultramafic rocks are rare and occur in small, chemically-decomposed bodies.
The Itacambiruçu Suite is represented by grey-coloured, fine- to medium-grained
equigranular, weakly- or unfoliated granitoids. The suite is represented by three bodies in the
Projeto Espinhaço em CD-ROM
mapped area. The Central Body, with a diameter of 6 km, is composed of light-coloured, two
mica tonalite and granite. They may contain xenoliths of schistose and amphibolitic rocks: the
Central-Northen Body has a diameter of circa 10 km. Rocks are coarse-grained and the body is
heterogeneous. It contains quartz, plagioclase (oligoclase), microcline and biotite. The
Northern Body contains weakly-foliated rocks and its contact with the host gneisses is marked
by discordant apophyses, with up to metric dimensions.
Green, fine- to medium-grained presently metamorphosed discretely- or unfoliated
diabase, injects gneisses and granites. The original igneous structure is preserved. Pyroxenes
are altered to amphiboles, and plagioclase is saussuritized.
The Espinhaço Supergroup is represented by quartzites, that occupy a tract of 4 km
average width in a east-dipping, homoclinal structure. They are composed of two units. The
Lower Unit contains pure and/or ferruginous, locally conglomeratic quartzites. The Upper Unit
is comprised of narrow sericitic quartzites. Imposing escarpments mark the morphology of the
Lower Unit, with altitudes up to 1344 m. The dip of the NS-striking quartzites is low. The
schistosity is not very pronounced. The contact with the basement gneiss is marked by a fault
surface, thrust or reverse faulting. The contact with the rocks of the Macaúbas Group reflects
the same situation.
The Macaúbas Group, of widespread occurrence in the mapped area is subdivided,
from base to top into the Rio Peixe Bravo (metapelites with quartzite intercalations), Nova
Aurora (metadiamictites with ferruginous layers) and Chapada Acauã Formations (metapelites,
quartzites and metadiamictites). The structural arrangement of the Group is defined by a
schistosity organized in folds of varying dimensions, with east-dipping axial planes. Rock
cleavage is common.
The metadiamictites of the Nova Aurora Formation contain clasts of quartz, quartzite,
carbonate rock, granitoid rock, phyllite and carbonic phyllite, with grain size from granules to
boulders. The matrix is quartz-schistose and contains feldspar, carbonate, biotite, muscovite,
occasional opaques and garnet. The ferruginous lithologies of the Formation constitute the
Riacho Poções Member with metadiamictites, phyllites and hematitic quartzites, as well as low
in to high grade banded iron formation. This Member represents a notable example of an iron
formation occurrence in a glaciogenic, Rapitan-type, sequence similar to the Jacadigo Group in
Mato Grosso do Sul State.
The Nova Aurora and Chapada Acauã Formations are considered to represent
sedimentation respectively in proximal and distal glaciomarine environments.
A Cenozoic unit, denominated the São Domingos Formation, composed of arenites and
argilites, covers some of the plateaux of the mapped area.
The structural geology of the sheet is marked by a west-vergent thrust belt which
involves rocks of the Espinhaço Supergroup, the Macaúbas Group and part of the basement.
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The principal horizon of dislocation is the cover-basement contact. Dislocation was transferred
to the cover along high angle ramps, preferentially positioned along lithologic contacts.
Tight folds, with inverted flanks and that extend for more than 10 km are characteristic
of the ferruginous Riacho Poções Member. These folds particularly affect the Nova Aurora
Formation, but their characterization is hampered by the absence of marker beds. At the eastern
margin of the mapped area, a notable synclinal structure occurs. It is cut by a longitudinal
thrust fault, which affects rocks of the Nova Aurora and Chapada Acauã Formations. The
structure occupies parts of the Salinas, Grão Mogol and Minas Novas Sheets.
The basement gneisses were formed in a metamorphic environment which corresponds
to the upper amphibolite facies, being characterized by well-developed banding, migmatization
and feldspar recrystallization. Retrometamorphism affects the original paragenesis. The rocks
of the Espinhaço Supergroup display well-preserved sedimentary grain forms, relics of the
original matrix and a low index of mica crystallinity. Low grade metamorphism characterizes
those rocks. The metasediments of the Macaúbas Group show an increasing metamorphic
zonation from greenschist facies in the west to amphibolite facies in the east, across the
chlorite, biotite and garnet isograds. In the extreme east of the mapped area staurolite appears
in the paragenesis.
Low grade iron ore deposits, with 35% Fe, stand out as the principal mineral resource
of the area of the Padre Carvalho Sheet. Together with those of the Rio Pardo de Minas Sheet,
circa 3.5 billion tons of reserve are estimated.
I N T R O D U Ç Ã O
De longa data é conhecida na literatura especializada a Região da Serra do Espinhaço,
principalmente por causa de seus depósitos de diamante, intensamente trabalhados no século
XVIII. No século passado, diversos pesquisadores publicaram contribuições à geologia da
região, com ênfase sobre o diamante, destacando-se os trabalhos pioneiros de Eschwege
(1822,1832), que considerava um tipo especial de quartzito por ele denominado "itacolomito"
como a rocha matriz do diamante. Pesquisadores subsequentes continuaram a adotar a hipótese
de Eschwege e, em Grão Mogol, Helmreichen (1846) descreve com minúcias tal rocha, o mesmo
acontecendo com Heusser & Claraz (1859). Mesmo reconhecendo o aspecto conglomerático do
itacolomito, tinham dúvida sobre sua origem clástica.
Em 1881, Derby, em claríssimo ensaio, demonstra a origem sedimentar do itacolomito;
pouco após, Gorceix (1884) divulga estudo sobre a rocha de Grão Mogol, considerando o
conjunto de estratos como clástico. Derby retoma o tema em 1898, de modo mais detalhado.
Trabalhos diversos foram divulgados no presente século, mas só em 1937 Moraes divulga
a primeira contribuição ao entendimento regional da geologia da região da Serra do Espinhaço,
incluindo um mapa geológico na escala 1:2.000.000, de ótima qualidade.
A moderna fase de estudos sobre a região é retomada nos anos sessenta, através de Pflug
e seus colaboradores (Pflug, 1965, 1967, 1968; Pflug & Renger, 1973), com investigações
concentradas entre as latitudes 17oS e 19o30'S. É interessante comentar que, pela primeira vez, a
região foi trabalhada com apoio de aerofotos, que também serviram para preparar bases
planimétricas semicontroladas na escala 1:100.000. Razões diversas impediram que fossem
preparados mapas integrados, havendo contudo um conjunto de folhas geológicas na escala
1:100.000, integradas de modo preliminar e não publicadas, pertencentes ao acervo do Centro de
Geologia Eschwege, em Diamantina.
Porções discretas da região vêm sendo cartografadas na escala 1:25.000, através do
Centro de Geologia Eschwege, da Universidade Federal de Minas Gerais. Compreendem boa
parte das folhas Diamantina e Presidente Kubitschek, além de trechos das folhas Serro e
Conceição do Mato Dentro (folhas da Carta do Brasil, 1:100.000).
Mesmo com a enorme massa de informações existentes, a Região da Serra do Espinhaço
não dispõe de estudos suficientemente compreensivos, persistindo questões contraditórias,
maiormente dependentes de cartografia geológica regional. A deficiente produção cartográfica
sob a responsabilidade de agências governamentais federais levou à realização do Projeto
Espinhaço, fruto de convênio entre a Secretaria do Estado de Recursos Minerais, Hídricos e
Energéticos – Companhia Mineradora de Minas Gerais (COMIG) e o Departamento de Geologia
do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, que compreende a
investigação geológica da quase totalidade da Região da Serra do Espinhaço, no Estado de
Minas Gerais (Figura 1). O trabalho foi desenvolvido entre 1992 e 1995. O relatório ora
preparado refere-se a uma das vinte e três folhas levantadas, chamada Padre Carvalho.
A S E R R A D O E S P I N H A Ç O M I N E I R A
A Região da Serra do Espinhaço destaca-se na fisiografia do Estado de Minas Gerais por
servir de divisor de águas entre as bacias do Rio São Francisco e dos rios Doce, Mucuri,
Jequitinhonha e Pardo. O nome Espinhaço refere-se ao caráter rugoso e alcantilado da sua
topografia. A mineração de diamante e ouro serviu como base para a fixação do homem na
região; essa atividade foi substituída pela agricultura e pela pecuária, ainda hoje os principais
sustentadores da economia, mesmo que a mineração de diamante tenha ganho, nas duas últimas
décadas, importância singular. A mineração de ferro poderá ser, no futuro, a alavanca propulsora
do desenvolvimento regional. Nos últimos anos o reflorestamento em escala regional tem sido
importante atividade, visando a produção de carvão e celulose.
A Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, ocupa faixa de cerca de 550 km de extensão
segundo direção norte-sul, com largura variável, podendo atingir mais de 100 km na porção
centro-sul. Trata-se de um conjunto de serras que se inicia a norte da cidade de Ouro Preto,
dirige-se para Diamantina e tem, nesse trecho, altitude comumente superior a 1300 m e, por
vezes, 1400 m. Orienta-se segundo N-NW, seguindo aproximadamente o meridiano 43o30'. De
Diamantina para o norte, tem-se porção discreta de serra, predominando um planalto elevado,
até as proximidades de Itacambira e desse local para Grão Mogol, mais ao norte, volta a aparecer
a morfologia de serra, rugosa e de perfil abrupto.
A Serra do Espinhaço exibe antigas superfícies erosivas aplainadas. Enquanto a sul de
Diamantina as cristas de serras tendem ao agrupamento, para norte são isoladas, com encostas
íngremes e desnudadas. Quartzitos suportam tal relevo.
A superfície aplainada na Serra do Espinhaço, que mais chama a atenção do observador, é
aquela presente nas porções altas da mesma; essa superfície é uniforme e seu termo mais
evoluído é a chapada, com capeamento de solo laterítico, em geral discreto.
O principal curso d'água a banhar a Serra do Espinhaço é o Rio Jequitinhonha, que tem
cabeceiras na altura de Presidente Kubitschek. Flui para norte até o paralelo 17o30'; em seguida
flete para N45E, até sair da região, próximo a Araçuaí. Tem como afluentes importantes, pela
margem esquerda os rios Itacambiruçu, Vacaria e Salinas e pela margem
Projeto Espinhaço em CD-ROM
Figura 1. Mapa de situação e localização das folhas no âmbito do Projeto Espinhaço.
1. Janaúba2. Rio Pardo de Minas3. Francisco Sá4. Padre Carvalho5. Salinas6. Botumirim
7. Grão Mogol 8. Araçuaí 9. Itacambira10. Minas Novas11. Jenipapo12. Curimataí
13. Carbonita14. Capelinha15. Malacacheta16. Diamantina17. Rio Vermelho18. S. S. do Maranhão
19. Pres. Kubitschek20. Serro21. Guanhães22. Baldim23. C. Do Mato Dentro
332
direita, o Rio Araçuaí. O Rio Doce desenvolve-se fora da Serra do Espinhaço, mas tem afluentes
nascidos da mesma, destacando-se os rios Santo Antônio e Suaçuí Grande. O Rio Gorutuba, na
porção norte da serra é afluente do Rio Verde Grande, que por sua vez lança águas no Rio São
Francisco. Os rios na serra mostram-se, normalmente, encachoeirados.
A altitude na região varia de cerca de 650 m a cerca de 1600 m. O ponto culminante é o
Pico do Itambé, com 2002 metros.
Muitas cidades de pequeno porte são encontradas na Serra do Espinhaço, algumas delas
datando do antigo e importante período de lavra de diamantes, na época do colonialismo
português. Diamantina é desta época. Outras cidades singulares no contexto da serra são:
Salinas, Janaúba, Araçuaí, Capelinha, Serro, Guanhães e Conceição do Mato Dentro.
Não há estradas de ferro na região: no passado, um ramal ligava Diamantina a Corinto e
daí, a Belo Horizonte. Até pouco mais de dez anos atrás, apenas Diamantina era servida por
rodovia asfaltada. Atualmente a região tem várias rodovias asfaltadas. Além disso, inúmeras
estradas encascalhadas, tortuosas e estreitas, permitem acesso à região.
Em vista da altitude em que se situa, a Região da Serra do Espinhaço tem clima
temperado, com temperatura variando em torno de 21oC. A precipitação anual varia de cerca de
1400 mm a cerca de 850 mm, do sul para o norte. O verão é chuvoso e o inverno seco. As
chuvas são mais constantes entre Dezembro e Março.
A região era coberta por uma vegetação de cerrado, a qual se intercalavam trechos de
campo limpo, com pequenas matas em terrenos mais ricos. Atualmente, devido à incessante
derrubada da vegetação para produção de carvão, pouco se tem do que era original. Contudo,
extensas áreas, com milhares de quilômetros, estão sendo reflorestadas com eucalipto e pinheiro
para produção de carvão e de celulose.
A única atividade de mineração de grande porte existente no Espinhaço é a dragagem
fluvial no Rio Jequitinhonha, a norte de Diamantina. A garimpagem ainda é importante como
meio de subsistência, envolvendo diamante e ouro, além de minerais de pegmatito.
Recentemente foi estabelecida extração sistemática de ouro nas proximidades de Riacho dos
Machados.
F O L H A P A D R E C A R V A L H O
L o c a l i z a ç ã o e A s p e c t o s G e r a i s
A Folha Padre Carvalho (Folha SE-23-X-B-II, da Carta do Brasil, escala 1:100.000)
situa-se entre as latitudes 16o00' e 16o30'S e longitudes 42o30' e 43o00'W, compreendendo 2960
km². Posicionam-se na área da folha cinco municípios, a saber: Grão Mogol, Riacho dos
Projeto Espinhaço em CD-ROM
Machados, Salinas, Porteirinha e Rio Pardo de Minas. Nenhum deles possui sede municipal na
mesma.
O Município de Grão Mogol ocupa cerca de 65% da área da folha e a ele pertence a Vila
de Padre Carvalho. Outra vila é Fruta de Leite (Município de Salinas). Pequenos agrupamentos
de casas são vistos aqui e ali na área, que é atravessada, de ocidente para oriente, pela rodovia
federal BR-251. Essa estrada é asfaltada, existindo outras, encascalhadas ou não, posicionadas
preferencialmente sobre as várias chapadas.
A quase totalidade da população se ocupa de atividades ligadas à agricultura e à pecuária,
com parte significativa absorvida no reflorestamento (eucalipto e pinheiro), principalmente em
terras do Município de Grão Mogol.
O clima da região é tropical, quente e úmido, com chuvas de verão e estações secas bem
definidas (de Abril a Setembro). A temperatura média anual é de 21,5o C. As precipitações
máximas ocorrem nos meses de Novembro, Janeiro e Fevereiro, com média anual de 1 050 mm.
A vegetação natural presente nas chapadas é representada pelo cerrado típico, onde
ocorrem a lixeira, o araticum e o pequizeiro, árvores comuns, às quais se associam gramíneas de
espécies diversas. A vegetação natural vem sendo progressivamente retirada em função do
reflorestamento.
Os solos presentes na folha são pouco desenvolvidos e aluminosos como, por exemplo, ao
longo do Vale do Rio Vacaria. Manchas isoladas de solos bem desenvolvidos, também
aluminosos, ocorrem no extremo oeste e nas partes central e sudeste. Uma faixa contínua de
afloramentos rochosos desenvolve-se de sul para norte na folha e os solos nessa faixa, quando
existentes, são rasos, secos e inférteis.
R e d e F l u v i a l e A s p e c t o s T o p o g r á f i c o s
A Folha Padre Carvalho posiciona-se na bacia do Médio Rio Jequitinhonha, sendo
banhada, de oeste para leste, pelo Rio Vacaria, afluente da margem esquerda do Rio
Jequitinhonha, que deixa a folha no seu canto SE. Outro curso é o Rio Ventania, que flui para
sul, bordejando o flanco oriental da Serra da Bocaina (denominação local da Serra do
Espinhaço); desemboca no Rio Itacambiruçu. No lado ocidental desta serra, desenvolve-se uma
drenagem mais esparsa, com vários lagos e cursos perenes ou intermitentes.
O aproveitamento do Rio Vacaria, para implantação de duas usinas hidrelétricas,
(capacidade inferior a 15 MW) vem sendo estudado.
A porção de relevo mais proeminente é representada pela Serra da Bocaina, uma faixa
estreita de terras altas que se estende de sul para norte, localizada na parte centro-oeste da folha.
O relevo total da área é de 520 m, variando desde 824 m nas imediações da barra do Córrego da
334
Forquilha com o Rio Peixe Bravo (ao norte da folha), até 1.344 m, na Serra da Bocaina, nas
imediações das nascentes do Rio Ventania. As terras altas ocupam parte subordinada da folha,
exibindo cotas normalmente acima de 1.000 a 1.100 m. O restante constitue-se de terras com
cotas entre 850 e 1.000 m, e áreas isoladas chegando a 1.050 m.
A s p e c t o s G e o l ó g i c o s
O mapa geológico da folha (Prancha Um) mostra a distribuição das unidades pré-
cambrianas. O lado ocidental é ocupado por gnaisses do embasamento (Complexo Córrego do
Cedro, de idade Arqueana) e granitos da Suíte Rio Itacambiruçu (de idade pré-Espinhaço). As
rochas do Supergrupo Espinhaço (Mesoproterózoico) expõem-se ao longo da Serra da Bocaina,
nome local da Serra do Espinhaço, prosseguindo para o norte e para o sul (folhas Rio Pardo de
Minas e Grão Mogol, respectivamente), mantendo direção constante segundo o meridiano. A
serra tem arranjo arqueado, com concavidade voltada para o oriente.
O contato dos quartzitos Espinhaço com as rochas do embasamento se faz através de
complexa combinação de falhamento de empurrão e falhamento vertical, de tal modo que a linha
que define o mesmo é um tanto sinuosa.
O restante da folha é ocupado por rochas do Grupo Macaúbas (Neoproterozóico), sobre
as quais se desenvolve extensa morfologia de chapadas apresentando delgado capeamento de
solo detrito-laterítico. Excepcionalmente, pequenas porções de uma chapada no bordo oriental
da folha são constituídas por sedimentos terciários da Formação São Domingos. Uma estreita
faixa de filitos e quartzitos basais do Grupo Macaúbas segue, a leste, a Serra da Bocaina,
enquanto o espesso pacote de metadiamictitos da porção média do grupo, capeado por xistos,
filitos e quartzitos da porção superior, organiza-se segundo arranjo monoclinal. Usualmente, os
mergulhos das rochas Macaúbas são fracos e apontam para leste. Na sua porção mais próxima da
base, os metadiamictitos contêm intercalações ferruginosas dobradas de modo apertado. Quando
o material é rico em ferro, pode despertar interesse econômico. Na sua maior parte são
metadiamictitos com filitos e quartzitos subordinados. Corpos lenticulares de rochas ferruginosas
são observados no pacote superior. Um sistema de falhas afeta o pacote, organizando-o de modo
intrincado.
I n v e s t i g a ç õ e s G e o l ó g i c a s A n t e r i o r e s
Um número bastante reduzido de trabalhos de mapeamento geológico foi realizado na
área abrangida pela Folha Padre Carvalho. Correspondem a dois projetos de cunho regional:
Projeto Jequitinhonha (escala 1:250.000; Fontes et al., 1978) e Projeto Porteirinha-Monte Azul
(escala 1:50.000, Drumond et al., 1980), além de trabalho relacionado à pesquisa mineral
Projeto Espinhaço em CD-ROM
executado na porção norte da folha pela Companhia Vale do Rio Doce - CVRD (Viveiros et al.,
1978).
O mapeamento realizado por Fontes et al. (1978) englobou toda a área da folha. Foram
identificadas cinco unidades (na folha): Complexo Gnáissico-migmatítico, Supergrupo
Espinhaço, Grupo Bambuí e Formação das Chapadas. No Complexo Gnáissico-migmatítico
incluíram-se os gnaisses, migmatitos e gnaisses graníticos da porção oeste da folha. O
Supergrupo Espinhaço é caracterizado por quartzitos sericíticos, feldspáticos a ferruginosos e
conglomeráticos. No Grupo Bambuí foram reunidas as formações Macaúbas (de topo), definida
por Moraes & Guimarães (1929) e Paraopeba (basal).
Na Formação Macaúbas foram incluídas, por Fontes et al. (1978), rochas pertencentes ao
atual Grupo Macaúbas (Schöll, 1973), englobando as atuais formações Rio Peixe Bravo, Nova
Aurora, Chapada Acauã e Salinas. A Formação das Chapadas engloba os sedimentos areno-
argilosos com níveis conglomeráticos hoje reunidos na Formação São Domingos (Pedrosa-
Soares, 1981).
O mapeamento executado por Drumond et al. (1980) abrangeu a metade leste da folha.
Os gnaisses e granitos da porção ocidental da mesma foram incluídos na unidade Gnaisses-
granitos Cataclásticos. No Supergrupo Espinhaço são identificadas três unidades: Inferior
(quartzitos micáceos e feldspáticos), Média (quartzitos e ritmitos) e Superior (xistos
conglomeráticos). Essa unidade de topo é considerada, no Projeto Espinhaço, como pertencente
ao Grupo Macaúbas e engloba a Formação Rio Peixe Bravo e parte da Formação Nova Aurora.
O Grupo Macaúbas não se encontra representado no trabalho de Drumond et al. (1980). Os
depósitos de cobertura de idade terciária e quaternária são reunidos nas formações superficiais.
A pesquisa dos depósitos de minério de ferro na porção norte da área, realizada pela
Companhia Vale do Rio Doce - CVRD envolveu, dentre outros trabalhos, mapeamento
geológico em escala 1:20.000. A maior parte da área estudada encontra-se no domínio do Grupo
Macaúbas. Duas unidades litoestratigráficas foram definidas: Formação Rio Peixe Bravo (basal),
constituída por quartzo filitos, quartzitos e filitos grafitosos, e Formação Nova Aurora (superior)
com quartzitos e metadiamictitos e da qual foi separado o Membro Riacho Poções, representado
pelas rochas hematíticas.
Deve-se mencionar, ainda, a seção geológica realizada por Moraes (1937) entre as
cidades de Barrocão e Salinas, na qual a divisão estratigráfica e a descrição das grandes unidades
aflorantes mostram pronunciada conformidade com as observações feitas no Projeto Espinhaço.
Uma exceção corresponde aos micaxistos da Formação Salinas, que foram classificados como
gnaisses.
336
P r o j e t o A t u a l d e I n v e s t i g a ç ã o
No Projeto Espinhaço a escala adotada para o mapeamento foi de 1:100.000 e a
metodologia empregada seguiu a mesma sequência de atividades em praticamente todas as
quadrículas integrantes.
Os trabalhos de escritório, preliminares às saídas de campo, envolveram pesquisa
bibliográfica para coleta de informações a respeito da área e fotointerpretação (de caráter
preliminar) para identificação de litologias ou estruturas que merecessem detalhamento maior
durante os trabalhos de campo. Para a fotointerpretação preliminar foi utilizada imagem de radar
em escala 1:100.000.
Os trabalhos de campo do projeto foram iniciados em agosto de 1992, na porção norte da
área da Serra do Espinhaço. Os primeiros dias foram dedicados à realização de perfis regionais,
com a participação de todos os integrantes da equipe do projeto. Estes perfis tiveram papel
fundamental para uniformização da nomenclatura e reconhecimento das principais unidades
litoestratigráficas ocorrentes.
O trabalho sistemático de mapeamento da Folha Padre Carvalho foi iniciado em Outubro
de 1992. As estações de campo foram registradas em base cartográfica (Folha SE-23-X-B-II,
escala 1:100.000) da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), editada em
1980. As descrições litoestruturais foram registradas em fichas individuais. Para identificação
das estações de campo e amostras utilizou-se um referencial alfa numérico, representado pela
sigla PA e um número arábico a partir de l (um). Usou-se o sistema UTM para registrar o
posicionamento das estações de campo. Foram selecionadas espécimes para confecção de
lâminas delgadas e seções polidas.
Os dados de campo foram transferidos para uma base planimétrica e uma interpretação
cuidadosa de fotografias aéreas na escala 1:60.000 (Serviço AST-10, 1966) foi executada,
visando aprimoramento do mapa geológico. Objetivando o monitoramento dos horizontes
ferruginosos, quanto à sua continuidade e estruturação, foram utilizadas imagens em cor
produzidas pelo Centro de Sensoriamento Remoto de Minas Gerais (CSRMG), além de mapas
de aeromagnetometria gerados no Convênio Geofísica Brasil-Alemanha, durante o qual foi
produzida cartografia geofísica no Estado de Minas Gerais.
Os trabalhos de campo na folha foram executados por Maria Antonieta Alcântara Mourão
que compilou o mapa geológico e preparou o texto do relatório. Natanael Costa Roque
participou desta etapa; Carlos Maurício Noce levantou três perfis e redigiu o capítulo de Síntese
Geológica Regional; Maria José Resende Oliveira realizou um perfil na porção sul da área e
Marcelo Lopes Vidigal Guimarães levantou um perfil detalhado das unidades superiores do
Grupo Macaúbas na extremidade leste da folha. A fotointerpretação foi executada por J. H.
Projeto Espinhaço em CD-ROM
Grossi Sad, que participou da redação do texto, enquanto Antônio Wilson Romano descreveu as
seções delgadas elaborando sínteses que constam no relatório.
A revisão do mapa geológico foi executada por Luiz Guilherme Knauer, J. H. Grossi Sad
e Friedrich E. Renger; Antônio Carlos Pedrosa-Soares foi de grande valia na representação
geológica da faixa limítrofe entre as folhas Padre Carvalho e Grão Mogol de um lado e Salinas e
Araçuaí, de outro. Com o conhecimento disponível no momento, o que se encontra mostrado nos
mapas geológicos dessas folhas, na faixa mencionada, é o arranjo mais adequado.
A revisão final do texto do relatório foi executada por Friedrich E. Renger. Juliana M. M.
Magalhães colaborou nessa tarefa e participou da correção do mapa geológico, no Centro de
Sensoriamento Remoto de Minas Gerais.
Deve ser mencionado por fim, que além do relatório, mapa geológico e seções geológicas
gerados para a Folha Padre Carvalho no Projeto Espinhaço, existem coleções de amostras
petrográficas e seções delgadas, além de fichas de campo e mapa de estações de campo
compondo o acervo de materiais. Todos esses dados, conforme os preceitos do convênio
celebrado entre o Governo do Estado de Minas Gerais e a Universidade Federal de Minas
Gerais, servirão aos usuários interessados no entendimento e desenvolvimento da geologia da
Região da Serra do Espinhaço.
A G R A D E C I M E N T O S
Muitas pessoas e organizações contribuíram para a realização desse trabalho. A
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais -CPRM cedeu, para consulta, imagens de radar; a
FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente, imagem de satélite a cores; a CEMIG -
Companhia Energética de Minas Gerais, dados de barragens e a COPASA - Companhia de
Saneamento de Minas Gerais, dados sobre poços de água subterrânea.
Os autores sentem-se recompensados pelo apoio recebido, da parte dos colegas e das
organizações citadas.
338
S Í N T E S E G E O L Ó G I C A R E G I O N A L
Em um contexto geotectônico amplo, a província pré-cambriana estudada no Projeto
Espinhaço situa-se no domínio da faixa móvel que define o limite oriental do Craton do São
Francisco, no Estado de Minas Gerais. O Supergrupo Espinhaço está exposto nesta faixa em
duas grandes áreas, separadas na altura do paralelo l7°30' por uma área de exposição do Grupo
Macaúbas. A geologia regional da área a norte deste paralelo, conhecida como Espinhaço
Setentrional, constitui o objeto deste capítulo.
A distribuição das unidades geológicas maiores é condicionada pela presença de uma
faixa alongada no sentido meridional, com largura média em torno de 30 km, onde está exposto
o embasamento pré-Espinhaço. Esta faixa é, comumente, interpretada como o núcleo de uma
grande estrutura antiformal com caimento para sul, flanqueada pelas unidades mais novas, quais
sejam, Supergrupo Espinhaço e grupos Macaúbas e Bambuí. Em termos gerais, o embasamento
pré-Espinhaço apresenta uma extensa exposição de rochas gnáissicas, geralmente bandadas, com
frequentes corpos concordantes de anfibolito e podendo exibir feições de migmatização.
Completam o conjunto do embasamento, diversos corpos granitóides, foliados ou não, intrusões
máfico-ultramáficas e uma seqüência vulcano-sedimentar.
As primeiras descrições dos litotipos do embasamento pré-Espinhaço foram realizadas
por Moraes (l937). Outras referências são encontradas em Amaral et al. (1976), Moutinho da
Costa et al. (l976) e Fontes et al. (1978). Drumond et al. (1980) cartografaram parte da área
ocupada pelo embasamento. A cartografia dos terrenos granito-gnáissicos da região é tarefa das
mais difíceis, face à variedade litológica, à evolução policíclica, ao intemperismo profundo e à
descontinuidade dos afloramentos. No mapeamento realizado no Projeto Porteirinha - Monte
Azul (Drumond et al., 1980) foram discriminadas vinte e uma unidades. Pelo número excessivo,
essa subdivisão não é aplicável, aliado à falta de clareza em relação à definição das unidades,
bem como à ausência de critérios objetivos, utilizados na separação. No Projeto Espinhaço, os
critérios adotados para a caracterização de unidades cartografáveis no embasamento foram os de
variação composicional e/ou textural, relações de contato e presença de litotipos específicos ou
conjunto de litotipos distintos.
Extensas áreas do embasamento são constituídas por gnaisses, geralmente com estrutura
bandada bem desenvolvida. Este bandamento pode apresentar-se intensamente dobrado e
transposto. Feições de migmatização são observadas localmente. A composição dos gnaisses é,
predominantemente, granodiorítica-granítica, embora termos mais máficos sejam também
observados. Os gnaisses apresentam frequentes intercalações de corpos concordantes de
anfibolito. Ocorrem também corpos intrusivos metaultramáficos, geralmente com anfibolitos
Projeto Espinhaço em CD-ROM
associados. Para este conjunto de gnaisses bandados, metamafitos e metaultramafitos adotou-se a
designação Complexo Córrego do Cedro, em referência à localidade tipo, um curso d`água ao
norte da Folha Francisco Sá. O nome foi utilizado primeiramente pela DOCEGEO - Rio Doce
Geologia e Mineração S.A. (comunicação verbal de Osvaldo A. Belo de Oliveira)
Contrastando com o caráter heterogêneo dos terrenos gnáissicos, foram individualizados
diversos corpos granitóides relativamente homogêneos. As relações de contato entre os
granitóides e gnaisses circundantes são expostas muito raramente, embora feições de intrusão
tenham sido observadas em alguns afloramentos. A rocha dos corpos granitóides pode ser muito
foliada a homófana e sua composição varia de granítica a granodiorítica. Acredita-se que
constituam uma suíte intrusiva em uma crosta mais antiga, representada pelos gnaisses bandados.
Tais corpos granitóides ocorrem no trato de terreno entre Riacho dos Machados e Itacambira e
foram atribuídos à Suíte Rio Itacambiruçu. A idade desta suíte é certamente pré-Espinhaço. . A
norte da área citada, nas folhas Janaúba e Rio Pardo, os granitóides intrusivos no Complexo
Córrego do Cedro apresentam tendência alcalina e são representados por sienitos e monzonitos.
Para os corpos individualizados no presente projeto procurou-se manter as denominações
propostas por Drumond et al. (1980).
As datações radiométricas disponíveis para o embasamento são devidas a Siga Jr. (1986)
e interessam rochas gnáissicas e migmatíticas provenientes dos arredores de Botumirim e
Barrocão. As isócronas Rb-Sr e Pb-Pb forneceram idades em torno de 2,7 Ga e 2,1 Ga. Em
ambos os casos os parâmetros isotópicos indicam tratar-se de eventos de retrabalhamento
Na Serra do Coco, a oeste de Porteirinha, e na área de Riacho dos Machados, ocorre uma
seqüência de natureza vulcano-sedimentar. A primeira referência à mesma é devida à Moutinho
da Costa et al. (1976). Drumond el al (1980) reconheceram a presença naquelas áreas de
anfibolitos e anfibolitos xistificados, e definiram duas unidades de metabasitos, cuja natureza
(vulcânica ou plutônica) não é explicitada. Nos últimos anos, a mencionada seqüência tem sido
objeto de pesquisa mineral pela DOCEGEO - Rio Doce Geologia e Mineração S.A, que
culminou com a descoberta do depósito aurífero de Ouro Fino. Fonseca et al. (1991) usam a
denominação Seqüência de Ouro Fino para descrever o pacote composto por xistos aluminosos,
xistos quartzo-feldspáticos, anfibolitos e metaultramáficas. No presente trabalho, adotou-se a
designação Grupo Riacho dos Machados para tal seqüência, visto que a expressão Ouro Fino
designa outras feições geológicas na literatura especializada, sendo também uma expressão de
uso comum no Estado de Minas Gerais e alhures.
O Supergrupo Espinhaço bordeja o embasamento a Leste, Sul e parcialmente a Oeste,
interrompendo-se na altura da localidade de Francisco Sá. A literatura sobre esta unidade é
extensa e diversas revisões sobre a evolução dos conhecimentos estão disponíveis (por exemplo,
Almeida & Litwinski, 1984). Para o Espinhaço Setentrional, na área abrangida pelo atual
projeto, trabalhos mais detalhados sobre a unidade são devidos à Karfunkel & Karfunkel (1975)
e Drumond et al. (1980). Os primeiros autores estabeleceram uma coluna estratigráfica para a
340
Geologia da Folha Padre Carvalho
faixa Itacambira – Botumirim, envolvendo quatro formações. A basal, designada Formação
Itacambiruçu, constitui-se por mica xistos, filitos quartzosos, quartzitos e metarcósios. Em seu
trabalho de 1937, Moraes assinalava a presença de um "micaschisto branco" na base dos
quartzitos "Itacolomi" (i.e., Espinhaço) que provavelmente pertenceria à "série gnáissica". As
observações efetuadas pelos geólogos do Projeto Espinhaço levaram à reinterpretação destas
rochas xistosas como constituintes da zona milonítica basal do Supergrupo Espinhaço, incluindo
tanto milonitos derivados dos quartzitos como dos gnaisses e granitóides subjacentes. As demais
unidades definidas por Karfunkel & Karfunkel (1975) incluem duas formações quartzíticas com
características muito semelhantes, separadas por uma formação contendo conglomerados de
ocorrência extremamente restrita, descritos apenas a NW de Itacambira e na área de Grão
Mogol. É difícil manter a divisão estratigráfica proposta. Em resumo, o Supergrupo Espinhaço é
constituído na faixa em questão (Itacambira – Botumirim – Grão Mogol) por um pacote
monótono de quartzitos, bastante puros e exibindo estratificação cruzada, não separáveis em
formações, na escala do trabalho. Os metaconglomerados são de ocorrência restrita e têm caráter
intraformacional. Em apenas um local, a oeste de Botumirm, foi constatado a ocorrência de um
metaconglomerado basal.
No trabalho de Drumond et al. (1980) descreve-se o Supergrupo Espinhaço a Norte do
paralelo 16°15'. Os autores dividem-no em três unidades (Inferior, Média e Superior). A
Unidade Inferior apresenta metaconglomerados basais, polimíticos, com seixos de rochas
gnáissicas e granitóides, metabasitos e quartzo de veio. São descontínuos e sua maior expressão
se daria a Norte da área do projeto, embora algumas ocorrências na área de Porteirinha tenham
sido identificadas. Sotopostas ao metaconglomerado, ou diretamente sobre o embasamento,
aparecem rochas vulcânicas, primeiramente descritas por Schobbenhaus (1972); incluem lavas
de caráter ácido a intermediário e rochas vulcanoclásticas, (tufos e aglomerados). Seu limite
meridional de ocorrência estaria imediatamente a Leste de Porteirinha (Drumond et al. 1980). O
topo da Unidade Inferior e a Unidade Média, ainda segundo Drumond et al. (1980), são
constituídos por rochas quartzíticas puras ou impuras e com intercalações pelíticas. Já a Unidade
Superior apresenta quartzitos, ferruginosos ou não, intercalados com metassiltitos, sotopostos
por xistos de aspecto conglomerático, que encerram a formação ferrífera do Rio Peixe Bravo –
Alto Vacaria. A seqüência que contém estes depósitos de ferro havia sido anteriormente
atribuída ao Grupo Macaúbas (Schobbenhaus, 1972, Viveiros et al., 1978). As investigações
atuais suportam inteiramente esta última interpretação. As rochas conglomeráticas, encaixantes
da formação ferrífera bandada, são os metadiamictitos típicos do Grupo Macaúbas, como citado
em Viveiros et al. (1978). Adicionalmente, horizontes enriquecidos em ferro são recorrentes no
Grupo Macaúbas e observados inclusive na Formação Capelinha, muito a leste das ocorrências
do Rio Peixe Bravo. Como resultado destas constatações, a faixa do Supergrupo Espinhaço, a
Norte do paralelo 16° é, na realidade, muito mais estreita que aquela representada nos mapas
regionais em escala 1:1.000.000 ( Bruni, 1976) e 1:2.500.000 (Schobenhaus et al., 1984).
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Projeto Espinhaço em CD-ROM
A ocorrência de rochas ígneas metabásicas (metadiabásios), na forma de soleiras, diques e
plugs, é amplamente documentada no Espinhaço Meridional. Na porção do Espinhaço
Setentrional estas ocorrências são muito mais raras, a mais expressiva sendo encontrada a NW
de Itacambira e referida por Moraes (1937) e Karfunkel & Karfunkel (1975). Outras ocorrências
são descritas na Serra do Espinhaço, a norte da área mapeada (Drumond et al.,1980).
O Grupo Macaúbas é a unidade de maior expressão na área do Espinhaço Setentrional.
Estende-se a Leste, Sul e Oeste do Supergrupo Espinhaço e, numa faixa entre Francisco Sá e
Janaúba, encontra-se diretamente em contato com os litotipos do embasamento granito-
gnáissico. A definição original desta unidade advém dos trabalhos de L. J. de Moraes na década
de 30 e uma revisão da evolução dos conhecimentos pode ser encontrada em Karfunkel et al.
(1985). Embora a contribuição glaciogênica na sedimentação do Grupo Macaúbas seja hoje
amplamente aceita, não existe uma subdivisão estratigráfica aplicável ao conjunto desta unidade.
A questão é bem exemplificada na frase extraída de Almeida & Litwinski (1984): "O Grupo
Macaúbas apresenta acentuadas variações de litofácies, tanto vertical como horizontalmente. As
tentativas de sua subdivisão têm por hora valor meramente local".
Os trabalhos de mapeamento do Projeto Espinhaço permitiram ampliar em muito o
conhecimento da distribuição em área dos litotipos do Grupo Macaúbas, bem como das
variações faciológicas. Para um melhor entendimento destas variações faciológicas nos parece
apropriado, inicialmente, analisar a sucessão litoestratigráfica do Grupo Macaúbas em três
setores, ocidental, meridional e oriental (Figura 2).
O setor ocidental compreende a faixa do Grupo Macaúbas limitada pelo Grupo Bambuí a
oeste e o embasamento granito-gnáissico e Supergrupo Espinhaço, a leste. A sucessão litológica
do Grupo Macaúbas, nesta área, foi levantada anteriormente por Moraes (1937) e Drumond et al.
(1980). Propõe-se que esta sucessão seja englobada em uma unidade designada Formação Serra
do Catuni, por ser este o local de uma das sessões típicas descritas por Luciano Jaques de
Moraes, em seu clássico trabalho de 1937. A Formação Serra do Catuni é composta por
metadiamictitos e intercalações subordinadas de quartzitos e filitos. O metadiamictito é o litotipo
mais característico do Grupo Macaúbas, cuja descrição e gênese têm sido discutidas em diversos
trabalhos (ver revisões de Hettich, 1977 e Karfunkel et al., 1985). Trata-se de uma rocha de
matriz filítica a quartzítica, de grão fino, contendo de grânulos a matacões, de forma e
composição as mais variadas. A atribuição desta rocha a um ambiente de deposição glacial é
hoje amplamente aceita. A unidade de metadiamictitos,
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Geologia da Folha Padre Carvalho
Figura 2. Modelo esquemático das relações entre as unidades litoestratigráficas do Grupo Macaúbas e suas principais litologias. Segundo Noce et al. (inédito).
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Projeto Espinhaço em CD-ROM
na faixa do Espinhaço Setentrional, ocorre continuamente desde a área a norte de Janaúba até o
sul de Itacambira, numa extensão superior a 200 km e segue em faixa estreita, as vezes
descontínua, ao longo da borda ocidental da Serra do Espinhaço Meridional sobre
aproximadamente 250 km até a Folha Baldim.
Na área a norte da Folha Francisco Sá e na Folha Janaúba, a Formação Serra do Catuni
contém uma sequência basal de quartzitos, frequentemente impuros e mal selecionados.
Drumond et al. (l980) acentuam o caráter arcosiano dos mesmos, na maior parte de sua faixa de
exposição e assinalam a presença de estratificação cruzada, que caracteriza depósitos de canais
de maré. Estes quartzitos estão particularmente bem expostos na estrutura sinformal da Serra do
Gado Bravo. Podem também ser encontrados na Serra de São Calixto, próximo a Barrocão. Na
área da Folha Janaúba ocorre um pacote expressivo de quartzitos e filitos no topo da Formação
Serra do Catuni. Os filitos se desenvolvem no Vale do Rio Gorotuba representando,
aparentemente, uma transição lateral e vertical do pacote de metadiamictitos. Já os quartzitos
ocorrem principalmente na Serra do Coco, onde formam uma extensa placa subhorizontal,
recobrindo os metadiamictitos. São rochas de grão fino, com termos bastante puros. Em um
trecho da Serra do Catuni, a Sul de Francisco Sá, aparecem novamente quartzitos recobrindo os
metadiamictitos.
O setor meridional do Grupo Macaúbas compreende essencialmente a área da Folha
Itacambira, onde Karfunkel & Karfunkel (1975) levantaram a seguinte coluna estratigráfica:
Formação Carbonita: quartzitos e metassiltitos;
Formação Terra Branca: metadiamictitos, quartzitos e metassiltitos;
Formação Califorme: quartzitos imaturos; raras intercalações de metaconglomerado.
Como será discutido mais adiante, a Formação Califorme encontra-se em continuidade
com a seqüência designada Formação Rio Peixe Bravo (Viveiros et al., l978), descrita nas folhas
Padre Carvalho e Rio Pardo de Minas. Sugere-se que seja mantido apenas o segundo nome, por
designar um acidente geográfico de localização bem conhecida, ao contrário do que acontece
com o termo Califorme.
Os metadiamictitos da Formação Terra Branca (Karfunkel & Karfunkel, 1975)
encontram-se em continuidade com aqueles da Formação Serra do Catuni, devendo portanto ser
incluídos nesta última unidade. Propõe-se que a expressão Formação Terra Branca não seja
mais usada, pois a unidade que, efetivamente, ocorre na localidade de Terra Branca pertence ao
Supergrupo Espinhaço. O termo Formação Carbonita deve ser abandonado por situar-se esta
localidade já no domínio da Formação Salinas. Segundo nossa proposta, o nome Formação
Carbonita deve ser substituído por Formação Chapada Acauã, definida na Folha Minas Novas. A
Formação Chapada Acauã é constituída por uma sequência interestratificada de quartzitos
micáceos, quartzo filitos e sericita filitos, com mega-lentes de metadiamictitos.
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Geologia da Folha Padre Carvalho
Os xistos verdes anteriormente atribuídos ao Grupo Macaúbas, posicionam-se na base do
Supergrupo Espinhaço (Folha Itacambira); têm sua maior expressão, com feições vulcânicas
ainda preservadas, a sul, nas folhas Carbonita e Rio Vermelho.
O setor oriental compreende toda a faixa do Grupo Macaúbas que se estende a leste do
Supergrupo Espinhaço. A unidade conhecida como Salinas é considerada parte integrante do
Grupo Macaúbas (Pedrosa-Soares et al., 1990). A coluna litoestratigráfica do Grupo Macaúbas,
na sua parte basal, segue aquela proposta por Viveiros et al. (1978), conforme se expõe a seguir.
Formação Rio Peixe Bravo (Viveiros et al., 1978). Esta unidade basal apresenta grande
continuidade, bordejando o Supergrupo Espinhaço desde a área de Itacambira até o Norte de Rio
Pardo de Minas. Segundo Viveiros et al (1978), é constituída por quartzo filitos com
intercalações de quartzitos e, localmente, filitos grafitosos. No entanto, apresenta significativas
mudanças faciológicas a Norte e a Sul da área-tipo. A Norte, quartzitos e filitos mostram-se
intercalados, predominando ora um ou outro dos litotipos. A Sul, torna-se essencialmente
arenosa, com predomínio de quartzitos impuros e mal selecionados.
Formação Nova Aurora (Viveiros et al., 1978). É constituída por metadiamictitos, com
intercalações de quartzitos e, subordinadamente, filitos. Estende-se desde o limite Norte da faixa
de ocorrência do Grupo Macaúbas, até a área a sul de Cristália. O litotipo dominante, o
metadiamictito, e a posição estratigráfica são similares às da Formação Serra do Catuni, mas a
Formação Nova Aurora distingue-se por apresentar horizontes de formação ferrífera, refletindo
importante variação faciológica. Estes horizontes ferruginosos, localmente, encerram depósitos
de minério de ferro de volume muito expressivo e foram individualizados como Membro
Riacho das Poções dentro da Formação Nova Aurora (Viveiros et al., 1978).
Viveiros et al. (1978) consideraram o Membro Riacho Poções como um nível único que
se repete por dobramento. Entretanto, a interpretação mais provável é que exista mais de um
horizonte ferruginoso, mostrando uma recorrência dos processos de aporte de ferro na bacia de
sedimentação. Esta hipótese é reforçada pela presença de horizontes ricos em ferro, tanto na
formação basal, Rio Peixe Bravo, como na Formações Chapada Acauã. Em termos litológicos, o
Membro Riacho Poções encerra metadiamictitos com matriz rica em hematita, com intercalações
de quartzitos e filitos hematíticos.
Sobrejacente à Formação Nova Aurora encontra-se, neste setor oriental, a Formação
Chapada Acauã, exibindo as características já mencionadas. No sentido leste a Formação
Chapada Acauã passa lateral e verticalmente para a Formação Salinas, conforme descrito por
Mourão & Pedrosa-Soares (1991). Contudo, na Folha Carbonita, a base da Formação Salinas é
marcada por espesso pacote de grafita xisto, o mesmo acontecendo na Folha Capelinha.
A Formação Salinas é constituída por quartzo-mica xistos feldspáticos, com
intercalações de quartzitos puros ou micáceos e arcosianos, xistos calcíferos, xistos grafitosos,
metaortoconglomerados e rochas calciossilicáticas.
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Projeto Espinhaço em CD-ROM
A Formação Capelinha recobre a Formação Salinas e o contato é assinalado em alguns
locais por metabasito (anfibolito), sob forma de soleira. A formação é constituída essencialmente
por quartzitos, impuros na base e puros no topo.
As rochas magmáticas associadas ao Grupo Macaúbas compreendem metabasitos e
granitos. Os metabasitos ocorrem na forma de diques, soleiras e derrames, cujo maior
desenvolvimento se dá na área do Alto Jequitinhonha. Sua presença já havia sido assinalada por
Moraes (1937).
O segundo tipo de rocha ígnea relacionada ao Grupo Macaúbas compreende os corpos
graníticos intrusivos na Formação Salinas, que ocorrem a leste de uma linha que liga as cidades
de Salinas e Capelinha. Estes granitos foram interpretados como intrusões pós-tectônicas,
compreendendo biotita granitos, granitos a duas micas, granitos pegmatóides e granodioritos, os
últimos muito subordinados (Pedrosa-Soares et al., 1987).
O Grupo Bambuí, na área do projeto, ocorre na porção ocidental das folhas Janaúba,
Francisco Sá, Botumirim, Curimataí, Presidente Kubitschek e Baldim. Constitui uma seqüência
pelito-carbonática, exibindo calcários, margas e metassiltitos ardosianos. O contato com o Grupo
Macaúbas, conforme observou Moraes (1937), se dá através de uma falha inversa de alto ângulo,
sendo que o Grupo Bambuí constitui o bloco baixo.
Na faixa do Médio Rio Jequitinhonha algumas chapadas são recobertas por um pacote de
sedimentos (presumivelmente de idade terciária), que atinge espessura de até 100 m, próximo a
Virgem da Lapa. A primeira referência a estes sedimentos se deve a Hartt (1870). Moraes &
Guimarães (1930) e Moraes (1937) ampliaram sua área de ocorrência e propuzeram correlação
com a Formação Barreiras. Guimarães (1931) sugeriu um ambiente lacustre de deposição.
Fontes et al. (1978) adotaram a denominação Formação das Chapadas para sua descrição. Este
termo, aliado à representação no Mapa Geológico de Minas Gerais (Costa & Romano, 1976),
induziu à concepção errônea de que os sedimentos terciários recobriam todas as chapadas da
região. A descrição de perfis do pacote sedimentar pode ser encontrada em Araújo et al. (1980) e
Barbosa et al. (1980). Pedrosa-Soares (1981) ressaltou o fato de que apenas algumas das
chapadas apresentavam cobertura sedimentar terciária e propôs a designação Formação São
Domingos, para a mesma, por ser esta a chapada onde sua espessura é maior. Segundo esse
autor, a Formação São Domingos é composta por "sedimentos semi-consolidados, estratificados,
de atitude horizontal, pelítico-psamíticos, com leitos pouco espessos de conglomerados e micro-
conglomerados". Apresentam, caracteristicamente, cores brancas a variegadas, registrando-se a
ocorrência de material caolínico.
Saadi (1991) sugeriu que a sedimentação da Formação São Domingos ocorreu em uma
bacia do tipo graben, ressaltando a grande variedade faciológica observada no pacote
sedimentar. Este pacote seria composto, predominantemente, por depósitos fluviais de canal e de
planície aluvionar.
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