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CAO – Crim Boletim Criminal Comentado n° 070 Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais Mário Luiz Sarrubbo Coordenador do CAO Criminal Arthur Pinto Lemos Junior Assessores Fernanda Narezi Pimentel Rosa Marcelo Sorrentino Neira Paulo José de Palma Ricardo José Gasques de Almeida Silvares Rogério Sanches Cunha Analista Jurídica Ana Karenina Saura Rodrigues

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CAO – Crim Boletim Criminal Comentado n° 070

Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais

Mário Luiz Sarrubbo

Coordenador do CAO Criminal

Arthur Pinto Lemos Junior

Assessores

Fernanda Narezi Pimentel Rosa

Marcelo Sorrentino Neira

Paulo José de Palma

Ricardo José Gasques de Almeida Silvares

Rogério Sanches Cunha

Analista Jurídica

Ana Karenina Saura Rodrigues

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Boletim Criminal Comentado n° 070 – outubro 2019

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SUMÁRIO

SUMÁRIO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2

ESTUDOS DO CAOCRIM--------------------------------------------------------------------------------------------------- 3

1-Tema: ENUNCIADOS DO CAOCrim E SETOR DO ARTIGO 28 DO CPP (CONFLITOS CRIMINAIS) ............ 3

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM ------------------------------ 6

DIREITO PROCESSUAL PENAL ------------------------------------------------------------------------------------------- 6

1- Tema: Violência doméstica. Lesão corporal leve. Representação. Retratação no cartório da Vara.

Irrelevância. Art. 16 da Lei n. 11.340/2006. Audiência específica. Necessidade. .................................. 6

2- Tema: Falta de perícia em área com vestígios de degradação leva à absolvição de acusado de crime

ambiental ..............................................................................................................................................7

DIREITO PENAL -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 9

1- Tema: Roubo e extorsão- Concurso Material- Exigência da entrega de cartões bancários com as

senhas e apoderamento de demais bens ............................................................................................... 9

2- Tema: Para Sexta Turma do STJ, prazo de prescrição não é suspenso durante o cumprimento de

transação penal ..................................................................................................................................... 9

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Boletim Criminal Comentado n° 070 – outubro 2019

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ESTUDOS DO CAOCRIM

1-Tema: ENUNCIADOS DO CAOCrim E SETOR DO ARTIGO 28 DO CPP (CONFLITOS

CRIMINAIS)

ENUNCIADO 33- USO DE ATESTADO MÉDICO FALSO

O uso de atestado médico falsificado por particular se subsume ao crime do art. 304, do CP, c.c. arts.

297 ou 298 do CP, conforme a natureza pública ou privada do estabelecimento de saúde ao qual

tenha sido atribuída a emissão do documento.

ENUNCIADO 34 -FITA ADESIVA EM PLACAS DE VEÍCULO AUTOMOTOR - ART. 311, DO CP

Constitui adulteração de sinal identificador de veículo automotor (CP, art. 311) a alteração dos

sinais alfanuméricos de placas mediante aposição de fita isolante ou expediente similar, pois o tipo

penal não exige que a adulteração ou remarcação tenha caráter permanente.

ENUNCIADO 35- RECEPTAÇÃO DOLOSA DERIVADA DO ART. 311 DO CP

Quando não esclarecida a autoria do crime de adulteração do sinal identificador de veículo

automotor, remanesce a possibilidade, em caráter subsidiário, de imputar ao agente o crime de

receptação dolosa (CP, art. 180), na modalidade de conduzir coisa que sabe ser produto de crime (no

caso, o crime contra a fé pública).

ENUNCIADO 36- LESÃO CORPORAL QUALIFICADA – ART. 129, §9º, DO CP (aviso)

Nos casos que envolvam lesão corporal cometida contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge

ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das

relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, deve o Promotor de Justiça, observada sua

independência funcional, atentar-se que o fato não constitui infração de menor potencial ofensivo,

ainda que não se aplique ao caso a Lei Maria da Penha, pois a pena máxima cominada no tipo é de

três anos de detenção.*1*

1 ** O CAOCRIM observa, contudo, que este crime continua sendo perseguido mediante ação penal pública condicionada, pois é de natureza leve, nos termos do art. 88 da Lei 9.099/95, aplicado, a exemplo do art. 89, a crimes mesmo que não de menor potencial ofensivo.

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ENUNCIADO 37- FURTO SIMPLES CONSUMADO – REDUÇÃO DE PENA NOS TERMOS DO § 2º, DO

ART. 155, DO CP, NÃO O TORNA CRIME DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

O crime de furto se consuma no momento em que o bem é retirado da esfera de disponibilidade da

vítima, mesmo que haja, logo em seguida à subtração, a prisão em flagrante do furtador, de tal

maneira que, mesmo quando incidente, em tese, o privilégio (CP, art. 155, §2.º), o fato não constitui

infração de menor potencial ofensivo.

ENUNCIADO 38- EXECUÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

A atribuição para oficiar na execução penal de penas restritivas de direitos e de multa impostas pelo

Juizado Especial Criminal é do Promotor de Justiça oficiante neste Órgão, pois este é o competente

para tais execuções penais (Súmula 81 do TJSP).

Súmula 81 do TJSP: Compete ao Juízo do Juizado Especial Criminal executar seus julgados apenas

quando a pena aplicada é de multa ou restritiva de direitos, sendo irrelevante o fato de o réu estar

preso em razão de outro processo.

ENUNCIADO 39- MEDIDA ANTERIOR À PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL E ATRIBUIÇÃO PARA

FUNCIONAR NO INQUÉRITO POLICIAL

A circunstância de ter o Promotor de Justiça funcionado em autos de medida anterior à propositura

da ação penal faz com que ele tenha atribuição para funcionar no inquérito policial correlato àquela

medida, salvo quando a divisão de atribuições da Promotoria de Justiça dispuser de forma diversa,

quando o inquérito policial for distribuído a outro Juízo, perante o qual aquele Promotor de Justiça

não tenha atribuição, ou quando a manifestação em medida cautelar houver sido exarada em plantão

judiciário ou em acumulação ou auxílio em cargo distinto.

ENUNCIADO 40- FORO COMPETENTE NO CRIME DE ESTELIONATO

No crime de estelionato, segundo atual diretriz do Superior Tribunal de Justiça, a competência se

define pelo lugar e momento da obtenção da vantagem indevida, onde se considera consumado o

delito (STJ, CC 161.881/CE, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, 3.ª SEÇÃO, julgado em 13/03/2019,

DJe de 25/03/2019; CC 162.076/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, 3.ª SEÇÃO, julgado em

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13/03/2019, DJe 25/03/2019; CC 167.025/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, 3.ª

SEÇÃO, julgado em 14/08/2019, DJe 28/08/2019). Admite-se, contudo, em situações excepcionais, a

relativização desse critério, se as circunstâncias do caso concreto revelarem que a colheita da prova

será mais viável e adequada em foro diverso daquele em que o agente obteve a vantagem indevida.

ENUNCIADO 41- GAECO E PROMOTOR NATURAL

Nos termos do Ato Normativo n.º 1.047/17 (GAECO), confere-se preponderância à atuação do

Promotor Natural em detrimento do Grupo, o qual deverá oficiar: a) nos procedimentos

investigatórios criminais por ele instaurados, nos inquéritos policiais por ele requisitados e nas

subsequentes ações penais, até decisão final, mediante atuação integrada com o Promotor de Justiça

Natural; b) nas representações por ele recebidas, nas peças de informações a ele endereçadas e nas

notícias de fato autuadas até a deliberação pela eventual instauração de procedimento investigatório

criminal ou requisição de inquérito policial; c) quanto a inquéritos policiais em curso, não requisitados

pelo Grupo, sua intervenção somente ocorrerá quando esta se revelar útil ou conveniente a critério

de seus integrantes.

ENUNCIADO 42- CRIMES MILITARES POR EXTENSÃO – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR

A Lei nº 13.491/17 ampliou a competência da Justiça Militar e alcança os crimes militares por

extensão, ou seja, aqueles que, embora não previstos no Código Penal Militar, mas no Código Penal

ou em leis esparsas, sempre que praticados por policiais militares em serviço ou em local sujeito à

Administração Militar, ressalvado que o crime de homicídio praticado por policial militar contra civil

compete ao Tribunal do Júri.

ENUNCIADO 43- COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL – AFASTADA EM CONCURSO DE

CRIMES QUANDO AS PENAS MÁXIMAS ABSTRATAMENTE COMINADAS SUPERAM DOIS ANOS E

QUANDO INCIDE CAUSA DE AUMENTO DE PENA

A competência do Juizado Especial Criminal é afastada quando há concurso de crimes e a somatória

das penas máximas abstratamente previstas para cada infração penal supera o limite de dois anos.

Também é afastada quando há incidência de causa de aumento de pena que faz com que a pena

máxima prevista para a infração penal supere dois anos.

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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1- Tema: Violência doméstica. Lesão corporal leve. Representação. Retratação no cartório da

Vara. Irrelevância. Art. 16 da Lei n. 11.340/2006. Audiência específica. Necessidade.

INFORMATIVO 656 DO STJ -QUINTA TURMA

Não atende ao disposto no art. 16 da Lei Maria da Penha, a retratação da suposta ofendida ocorrida

em cartório de Vara, sem a designação de audiência específica necessária para a confirmação do ato.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR:

A Lei Maria da Penha disciplina procedimento próprio para que a vítima possa eventualmente se

retratar de representação já apresentada. Dispõe o art. 16 da Lei n. 11.340/2006 que, "só será

admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal

finalidade" (HC 371.470/RS, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em

17/11/2016, DJe 25/11/2016). Dessarte, considerando que, no caso em apreço, a retratação da

suposta ofendida com relação ao art. 129, § 9°, do Código Penal (lesão corporal de natureza leve

praticada com violência doméstica) ocorreu somente no cartório da Vara, sem a designação de

audiência específica necessária para a confirmação do ato ilegal, deve ser cassada a decisão que

rejeitou a denúncia com base unicamente na retratação.

PROCESSO: HC 138.143-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em

03/09/2019, DJe 10/9/2019.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

A decisão em comento causa espécie. É que o crime, em tese cometido, foi o de lesão corporal de

natureza leve no ambiente doméstico e familiar (art. 129, §9º., do CP). A sua persecução criminal não

depende de pedido-autorização da vítima, pois inaplicável a Lei 9.099/95.

O STF, em sede de controle concentrado de constitucionalidade (ADI 4424), pacificou a questão,

reconhecendo que o art. 41 da Lei 11.340/06 (que proíbe a aplicação da Lei 9.099/95) não viola a

Carta Maior. Decidiu que a ação penal nos crimes de lesão corporal dolosa (mesmo que de natureza

leve) cometido contra a mulher no ambiente doméstico e familiar é pública incondicionada. Na

mesma esteira, o STJ editou a súmula 542:

“A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher

é pública incondicionada”.

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Dentro desse espírito, mesmo que exista (dispensável) representação, sua retratação não opera

qualquer efeito.

2- Tema: Falta de perícia em área com vestígios de degradação leva à absolvição de acusado de

crime ambiental

DECISÃO DO STJ- Publicado em notícias do STJ

Em razão da falta de perícia técnica ou de justificativa para não a realizar em área com vestígios de

degradação ambiental, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolveu um réu

condenado a dois anos de detenção, em regime aberto, pela prática dos crimes ambientais previstos

nos artigos 38 e 38-A da Lei 9.605/1998.

"O delito deixou vestígios (imagens do local, laudo de verificação de denúncia, auto de infração do

IAP), sendo possível a realização do exame direto. E não foram apresentadas justificativas idôneas

para a não realização do exame pericial, impondo-se a absolvição do acusado diante da ausência de

prova acerca da materialidade delitiva", afirmou o relator do recurso, ministro Reynaldo Soares da

Fonseca.

De acordo com o artigo 38 da Lei 9.605/1998, é crime destruir ou danificar floresta de preservação

permanente – mesmo que em formação –, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção. Já

o artigo 38-A prevê como delito destruir ou danificar vegetação primária ou secundária – em estágio

avançado ou médio de regeneração – do bioma Mata Atlântica.

No caso dos autos, o réu teria destruído região de floresta considerada de preservação permanente,

parte dela localizada dentro da Mata Atlântica. A devastação teria ocorrido em cerca de quatro

hectares de uma propriedade particular, onde haveria, inclusive, uma nascente.

Tema complexo

Com base nos artigos 38 e 38-A da Lei 9.605/1998, o juiz de primeiro grau fixou a pena em dois anos

de detenção, em regime aberto, com substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de

direito e suspensão condicional da pena. A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Paraná.

O ministro Reynaldo Soares da Fonseca destacou que, de acordo com o texto dos artigos da Lei

9.605/1998 utilizados para fundamentar a condenação, "o tema é complexo, não facilmente

identificável por leigos, sendo imprescindível a realização de perícia", na medida em que não é

qualquer supressão ou destruição de mata que caracteriza os crimes previstos naqueles dispositivos.

Exame direto

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O ministro ressaltou que o TJPR, ao manter a condenação, considerou o laudo pericial dispensável

quando o auto de infração, elaborado por autoridade competente para apurar a infração ambiental,

atesta a ocorrência do delito.

Entretanto, Reynaldo Soares da Fonseca ponderou que, nos casos em que a infração deixa vestígio,

o artigo 158 do Código de Processo Penal estabelece a necessidade do exame de corpo de delito

direto. Por outro lado, nos termos do artigo 167 do CPP, não sendo possível o exame de corpo de

delito quando desaparecem os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir o atestado pericial.

O relator também trouxe precedentes da Terceira Seção do STJ no sentido de que, havendo vestígios

do crime, a elaboração de perícia é imprescindível.

"Somente será possível a substituição de exame pericial por outros meios probatórios, na forma

indireta, para fins de comprovação da materialidade dos crimes ambientais de natureza material –

no caso, o artigo 38 da Lei 9.605/1998 –, quando a infração não deixar vestígios ou quando o lugar

dos fatos tenha se tornado impróprio à análise pelos experts, circunstâncias excepcionais que não se

enquadram na hipótese sub judice", concluiu o ministro ao decidir pela absolvição.

Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): AREsp 1571857.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

A perícia direta será realizada quando os vestígios materiais estiverem presentes, admitindo-se,

excepcionalmente, quando aqueles desaparecerem, o exame indireto, feito por meio de informes,

dados ou elementos fornecidos por terceiros (art. 167 do CPP).

No caso em comento, embora o local onde ocorreu o dano ambiental estivesse preservado, não foi

realizada perícia direta, tendo-se procedido a auto de verificação de dano indireto com base em

outros elementos existentes no inquérito policial.

Assim, inexistindo laudo direto afirmando o grau da supressão ou destruição de mata, tampouco

havendo justificativas acerca de eventual impossibilidade de sua elaboração, constatou-se a

ineficácia dos demais elementos de prova para a caracterização da materialidade do delito.

Em resumo, tratando-se de delito ambiental, inserido entre os que deixam vestígios, apenas poderia

ter sido comprovada a materialidade do crime por meio de exame pericial, já que os vestígios não

haviam desaparecido.

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DIREITO PENAL:

1- Tema: Roubo e extorsão- Concurso Material - Exigência da entrega de cartões bancários com as

senhas e apoderamento de demais bens

STJ- RECURSO ESPECIAL Nº 1.827.183 - SP

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PENAL. ROUBO E EXTORSÃO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL E VIOLAÇÃO DOS

ARTS. 157, § 2º, E 158, CAPUT C/C O § 1º, AMBOS DO CP. PLEITO DE RECONHECIMENTO DO

CONCURSO MATERIAL. PROCEDÊNCIA. EXIGÊNCIA DA ENTREGA DE CARTÕES BANCÁRIOS COM AS

RESPECTIVAS SENHAS E APODERAMENTO DE DEMAIS BENS. CONDUTAS DIVERSAS. DELITOS

AUTÔNOMOS. INCABÍVEL O RECONHECIMENTO DE CRIME ÚNICO. PRECEDENTES DO STJ.

RESTABELECIMENTO DA DOSIMETRIA CONSTANTE DA SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE SE IMPÕE.

Recurso especial provido nos termos do dispositivo.

Esta jurisprudência foi incluída a pedido do Setor de Recursos Criminais Extraordinários e Especiais.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Previsto no artigo 71, caput, do Código Penal, dá-se o crime continuado genérico (ou comum) quando

o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e,

pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os

subsequentes ser havidos como continuação do primeiro.

Apresenta os seguintes requisitos: a) pluralidade de condutas; b) pluralidade de crimes da mesma

espécie; c) elo de continuidade.

O crime continuado aproxima-se do concurso material ao exigir condutas provocando vários crimes.

Diferencia-se, no entanto, ao restringir sua aplicação a crimes da mesma espécie. Atualmente, parece

pacificado nos Tribunais Superiores que crimes da mesma espécie são aqueles previstos no mesmo

tipo penal, protegendo igual bem jurídico.

No caso do roubo (art. 157 do CP) e da extorsão (art. 158 do CP), em que pese protegerem o mesmo

bem jurídico, não estão previstos no mesmo tipo, sendo inviável, ainda que por ficção jurídica, falar-

se num só crime. Deve prevalecer o sistema do cúmulo material (art. 69 do CP).

2- Tema: Para Sexta Turma do STJ, prazo de prescrição não é suspenso durante o cumprimento de

transação penal

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DECISÃO DO STJ- Publicado em notícias do STJ

Durante o tempo transcorrido para o cumprimento das condições impostas em acordo de transação

penal (artigo 76 da Lei 9.099/1995) não há, por falta de previsão legal, a suspensão do curso do prazo

prescricional.

A tese foi fixada pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao dar provimento a recurso

em habeas corpus para reconhecer a prescrição e declarar a extinção da punibilidade em um caso de

lesão corporal no trânsito.

Segundo o processo, o acusado bateu o carro e causou graves lesões na passageira que estava ao seu

lado. Fugiu sem prestar socorro e, em seguida, retornou à Argentina, onde estudava, sem dar

esclarecimentos à polícia nem o devido auxílio à vítima.

Foi celebrado acordo de transação penal, consistente no pagamento de R$ 150 mil à vítima da lesão

corporal, em 60 parcelas mensais. O acordo, porém, deixou de ser cumprido – o que levou o

Ministério Público a pedir a instauração da ação penal. A defesa alegou que já teria ocorrido a

prescrição da pretensão punitiva e pediu o trancamento da ação.

O Tribunal de Justiça do Ceará negou o pedido sob o argumento de que não se pode falar em

prescrição durante período de prova e sem o cumprimento total da transação penal oferecida pelo

Ministério Público.

No recurso em habeas corpus apresentado ao STJ, o recorrente alegou constrangimento ilegal por

estar sendo indevidamente processado com base em pretensão punitiva já prescrita. Disse que já

tinham transcorrido 12 anos desde o acidente e que não havia causa suspensiva ou interruptiva da

prescrição, motivo pelo qual pediu o trancamento da ação penal.

Sem previsão

Segundo o relator do recurso, ministro Antonio Saldanha Palheiro, a orientação jurisprudencial do

STJ considera que as causas suspensivas da prescrição exigem expressa previsão legal.

O ministro explicou que, embora a transação penal implique o cumprimento de uma pena restritiva

de direitos ou multa pelo acusado, não se pode falar em condenação, muito menos em período de

prova, enquanto durar o cumprimento da medida imposta, razão pela qual não se revela adequada

a aplicação do artigo 117, V, do Código Penal.

"A interrupção do curso da prescrição prevista no referido dispositivo legal deve ocorrer somente em

relação às condenações impostas após o transcurso do processo, e não para os casos de transação

penal, que justamente impede a sua instauração", afirmou.

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Antonio Saldanha Palheiro destacou ainda que o regramento da transação penal prevê apenas que a

aceitação da proposta não gera o efeito da reincidência, bem como impede a utilização do benefício

novamente em um prazo de cinco anos.

Ele observou que, como disposto na Súmula Vinculante 35 do Supremo Tribunal Federal, se o acordo

for descumprido, o Ministério Público poderá oferecer a denúncia, momento em que se dará início à

persecução penal em juízo.

"Não há previsão legal de que, celebrado o acordo, e enquanto não cumprida integralmente a

avença, ficará suspenso o curso do prazo prescricional", esclareceu.

Princípio da legalidade

De acordo com o relator, ao tratar de um instituto diverso, a suspensão condicional do processo, a

Lei 9.099/1995 previu de forma expressa, diferentemente da transação penal, que não correrá a

prescrição durante o prazo de suspensão. Semelhante previsão – destacou – consta do artigo 366 do

Código de Processo Penal, que, ao cuidar da suspensão do processo, impõe, conjuntamente, a

suspensão do curso do prazo prescricional.

"Assim, a permissão de suspensão do curso do prazo prescricional sem a existência de determinação

legal consubstancia flagrante violação ao princípio da legalidade", concluiu.

Como, no caso analisado, o prazo prescricional é de oito anos, e entre a data do fato e a denúncia

passaram-se mais de dez anos, a turma acompanhou o voto do relator e, de forma unânime,

reconheceu a prescrição da pretensão punitiva.

Esta notícia refere-se ao(s) processo(s): RHC 80148.

COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM

Cometido um crime de menor potencial ofensivo, isto é, cuja pena máxima não seja superior a dois

anos, o art. 76 da Lei 9.099/95 permite ao Ministério Público a proposição de transação penal, desde

que: a) o agente não tenha sido definitivamente condenado, pela prática de crime, a pena privativa

de liberdade; b) nem tenha sido beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela transação

penal; c) indiquem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os

motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.

A transação penal é medida despenalizadora que evita a deflagração da ação penal por meio do

cumprimento de obrigações normalmente correspondentes a penas restritivas de direitos ou multa.

Uma vez oferecida a proposta, designa-se audiência para que o agente tome ciência de seu conteúdo

e se manifeste sobre se concorda em se submeter à medida indicada. Caso concorde, aguarda-se o

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Boletim Criminal Comentado n° 070 – outubro 2019

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tempo necessário para o cumprimento da medida, que, a depender do caso, pode ser executada ao

longo de meses.

Mas, ao contrário do que faz na suspensão condicional do processo (art. 89, § 6º), a Lei 9.099/95 não

dispõe sobre a suspensão do prazo prescricional enquanto o agente cumpre a medida alternativa a

que se obrigou na transação. Em razão da falta de previsão legal, e por se tratar de medida que

prejudica o autor do crime, o STJ deu provimento a recurso em habeas corpus para afastar a

possibilidade de suspensão do prazo e reconhecer a extinção da punibilidade.

No caso julgado, o agente havia provocado culposamente um acidente de trânsito do qual

decorreram lesões corporais graves em uma pessoa. A transação penal consistiu no pagamento de

R$ 150.000,00 em sessenta prestações mensais, que não foram integralmente pagas, o que levou o

Ministério Público a oferecer denúncia.

A defesa alegou que o prazo prescricional havia transcorrido integralmente, mas o Tribunal de Justiça

local decidiu que não se poderia cogitar a prescrição durante o período em que o agente deveria

cumprir a transação penal. Manteve, assim, a decisão de primeira instância:

“Em que pese o requerimento ministerial no sentido de que seja reconhecida a prescrição da

pretensão punitiva após o decurso de oito anos contados da data do fato, cumpre reconhecer que

indiciado se encontra em período de prova, e, portanto, em fase de cumprimento da pena alternativa

imposta, cujo cumprimento efetivo e integral se constitui como causa extintiva da punibilidade do

autor.

(…)

Proposta a transação penal pelo titular da ação penal, não há que se falar em inércia, mas na adoção

de providência prevista em lei e cuja propositura se atribui de modo exclusivo ao Ministério Público,

que, observados os requisitos autorizadores, poderá utilizar-se desse instituto – idealizado como

alternativa menos gravosa ao oferecimento da denúncia – nos casos de infrações reconhecidas como

sendo de menor potencial ofensivo.

Desse modo, admitir a consolidação do fenômeno prescritivo durante o período de prova implicaria

em injustificável esvaziamento da proposta de transação penal, tornando-a ineficiente, além de

frustrar as justas expectativas de reparação da vítima.

Irrazoável que um instituto, no qual o autor da infração submete-se voluntariamente ao

cumprimento de pena alternativa, ainda que de modo antecipado, como forma de evitar os

constrangimentos decorrentes do ajuizamento de uma ação penal, tenha os seus efeitos exauridos

por força de prescrição, no exato momento em que o agente é obrigado a suportar um ônus a ele

imposto como condição suspensiva de um gravame ainda maior”.

Page 13: CAO Crim - Principal · 2020-07-13 · ENUNCIADO 42- CRIMES MILITARES POR EXTENSÃO – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR A Lei nº 13.491/17 ampliou a competência da Justiça Militar

Boletim Criminal Comentado n° 070 – outubro 2019

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O STJ, contudo, refutou a tese, pois a Lei 9.099/95 não dispõe a respeito da suspensão do prazo

prescricional em decorrência da aceitação da transação penal. Admitir a suspensão, portanto,

caracteriza ofensa ao princípio da legalidade:

“Vale destacar que o regramento do referido instituto despenalizador prevê somente que a aceitação

da proposta não gerará o efeito da reincidência, bem como impedirá a utilização do benefício

novamente em um prazo de 5 anos (art. 76, § 4º, da Lei n. 9.099/1995).

Além disso, de acordo com o disposto na Súmula Vinculante n. 35 do Supremo Tribunal Federal,

descumprido o acordo, poderá o Ministério Público oferecer a denúncia, momento em que se dará

início à persecução penal em juízo.

Portanto, não há previsão legal de que, celebrado o acordo, e enquanto não cumprida integralmente

a avença, ficará suspenso o curso do prazo prescricional.

Impende rememorar, nesse sentido, que, “em observância ao princípio da legalidade, as causas

suspensivas da prescrição demandam expressa previsão legal” (AgRg no REsp n. 1.371.909/SC, relator

Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 23/8/2018, DJe de 3/9/2018).

Cabe destacar que a Lei n. 9.099/1995, ao tratar da suspensão condicional do processo, instituto

diverso, previu, expressamente, no art. 89, § 6º, que “não correrá a prescrição durante o prazo de

suspensão do processo”. Assim, determinou, no caso específico do sursis processual, diferentemente

da transação penal, que durante o seu cumprimento não correria o prazo prescricional.

Da mesma forma, semelhante previsão consta do art. 366 do Código de Processo Penal, que, ao

cuidar da suspensão do processo, impõe, conjuntamente, a suspensão do curso do prazo

prescricional.

Assim, a permissão de suspensão do curso do prazo prescricional sem a existência de determinação

legal consubstancia flagrante violação ao princípio da legalidade”.